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Centro Universitário Internacional- UNINTER

MARIA DOS ANJOS PEREIRA DOS SANTOS

RU 1187744 - Turma 2016/02

O BARROCO COMO FORMA DE EXPRESSÃO DA CULTURA MINEIRA

BELO HORIZONTE

Outubro/2018
Centro Universitário Internacional- UNINTER

MARIA DOS ANJOS PEREIRA DOS SANTOS

RU 1187744 - Turma 2016/02

O BARROCO COMO FORMA DE EXPRESSÃO DA CULTURA MINEIRA

Trabalho de conclusão de curso -


Monografia apresentada ao curso de
Licenciatura em Artes Visuais do Centro
Universitário Internacional - UNINTER.

Tutor (a) Local: Lana Aparecida

Centro Associado: UNINTER

BELO HORIZONTE

Outubro/2018
RESUMO

O Barroco Mineiro é uma arte genuinamente brasileira, pois ele valoriza as raízes do
povo brasileiro através da identificação de seu passado e exaltação de sua cultura.
O Barroco Mineiro é considerado um ícone da identidade nacional e foi reconhecido
no século XX como patrimônio histórico e cultural do país. O conhecimento do
patrimônio histórico e artístico nacional, através da educação, é uma forma de
civilizar e garantir o desenvolvimento da nação, se baseando no passado para
construir o futuro. Diante disso, levantou-se o seguinte questionamento: Como a
Cultura Mineira é expressa a partir do Barroco? Para responder a esta pergunta, o
objetivo deste trabalho foi apresentar o Barroco como forma de expressão da
Cultura Mineira e ferramenta de ensino de Artes Visuais. Foi realizada uma pesquisa
bibliográfica descritiva-qualitativa. A coleta de dados foi realizada através de revisão
de literatura e o material foi coletado a partir de referências publicadas em fontes
escritas, tais como livros, revistas científicas e artigos referentes ao tema. Para
atender aos objetivos propostos, num primeiro momento abordou-se o contexto
histórico no qual o Barroco Mineiro se desenvolveu; posteriormente foram
apresentados alguns dos principais elementos da arte barroca, tais como os artistas
e suas obras; por fim discutiu-se o Barroco como ferramenta de ensino da arte e
como forma de conscientização da importância da preservação deste patrimônio
cultural. Através deste trabalho pode-se concluir que é importante conscientizar a
população desde a infância sobre a importância da preservação dos bens artísticos,
históricos e culturais, pois ao se cultivar estes valores desde o ensino fundamental,
garantiremos que no futuro teremos uma sociedade ciente de que a preservação do
patrimônio não é apenas uma obrigação do Estado, mas uma responsabilidade de
todo cidadão.

Palavras-chave: Barroco, cultura, educação, artes visuais


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Capela Nossa Senhora do Ó em Sabará – MG.........................................................15

Figura 2 - Capela do Padre Faria...................................................................................................16

Figura 3 - Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar.....................................................................17

Figura 4 - Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias.............................19

Figura 5 - Igreja São Francisco de Assis, Ouro Preto.................................................................20

Figura 6 - “Assunção da Virgem”; "Ascensão de Cristo" e A Última Ceia.................................22

Figura 7 - Fachada da Igreja, Estátuas dos Profetas e Santa Ceia..........................................23


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................5
2 DESENVOLVIMENTO.....................................................................................................................9
2.1 Contexto Histórico..................................................................................................................9
2.2 Artistas barrocos..................................................................................................................10
2.2.1 Antônio Francisco Lisboa, “O Aleijadinho”............................................................11
2.2.2 Manoel da Costa Ataíde, “o Mestre Ataíde”............................................................11
2.2.3 Francisco Xavier de Brito............................................................................................12
2.2.4 João Nepomuceno Correia e Castro.........................................................................13
2.3 Obras barrocas......................................................................................................................13
2.3.1 Arquitetura barroca.......................................................................................................14
2.3.2 Pinturas............................................................................................................................21
2.3.3 Esculturas........................................................................................................................22
2.4 Barroco e educação.............................................................................................................23
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................27
REFERÊNCIAS.................................................................................................................................28
5

1 INTRODUÇÃO

O Barroco surgiu como uma estratégia dos países católicos contra o crescimento do
protestantismo e manutenção da hegemonia da igreja romana. Uma arte sinuosa e
rebuscada que se opunha à estética classicista do Renascimento. Enquanto o
Renascimento valorizava a racionalidade e o equilíbrio, com foco na simetria da
proporcionalidade, o Barroco tinha como atributo principal o contraste (VAL et al.,
2012).

Nas artes, o Barroco primou sua estética na assimetria, no excesso, no


expressivo e na dissolução dos limites das formas, tanto que, o próprio
termo barroco pode ser definido como uma pérola de formato irregular. Esse
gosto acentuado pela opulência de formas e materiais tornou-se um veículo
perfeito para a Igreja Católica da Contra-Reforma e as monarquias
absolutistas em ascensão expressarem visualmente seus ideais
(REZENDE, 2011, p. 12).

A arte barroca impressiona os sentidos do observador através de curvas, colunas


retorcidas, contrastes de luz e sombra e obras que entrelaçam a arquitetura e a
escultura. De acordo com Alves (2005), a iconografia é majoritariamente religiosa,
retratando a devoção aos santos da igreja Católica, no entanto, no Barroco, essas
representações receberam características de pessoas comuns.

Segundo Valladares (1998), os principais exemplos de pintura barroca mineira se


encontram nas decorações de igrejas, com pinturas de grande extensão em
tabuados corridos nos forros.

A construção da arte barroca em Minas Gerais se deu a partir do sincretismo, pois


ela mesclava costumes, crenças e hábitos portugueses com elementos de origem
africana. Daí surge a originalidade do Barroco Mineiro, que surge das mãos de
artistas locais mulatos e autodidatas, fazendo uso de matéria-prima também local,
como a pedra-sabão e a madeira (REZENDE, 2011).

Val et al. (2012) ressalta que nesse período há uma flexibilidade da sociedade na
aceitação de artistas mulatos e caboclos, o que permite a participação de artistas
leigos e consagra o estilo diferenciado do Barroco Mineiro.
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O Barroco Mineiro nasceu mestiço como seus criadores, filtrando influências


de várias partes de Portugal e do Brasil. Muitas vezes seu esplendor se
esconde no interior das pequenas igrejas de paredes de taipa, quadradas e
brancas, revelando-se com impacto quando se abrem as portas. É o que
acontece, por exemplo, na Igreja de Nossa Senhora do Ó, em Sabará, ou
na Capela do Padre Faria, em Vila Rica, e em várias outras construções da
primeira metade do século XVIII (SAGA, 1981, p.127).

Logo, podemos dizer que o barroco mineiro nasceu mestiço, retratando seus
criadores: portugueses, brasileiros, negros, brancos, índios e mestiços. Muitos
desses artistas permaneceram no anonimato, outros se sobressaíram e ficaram
conhecidos como mestres da arte barroca, como Antônio Francisco Lisboa, “O
Aleijadinho” e Manoel da Costa Ataíde, “o Mestre Ataíde”, Francisco Xavier de Brito,
João Nepomuceno Correia e Castro, entre outros. (VAL et al., 2012).

Segundo Mário de Andrade (1928), em Macuíma, “Aleijadinho inventou,


genialmente, a forma da arte brasileira, vazada na alquimia do sangue indígena,
nativo, com a seiva africana, escrava, e com a verve do português, colonizador”. A
exuberância dos detalhes típicos de Minas Gerais era retratada por Aleijadinho em
sua arquitetura e esculturas e por Mestre Ataíde através das cores de suas pinturas.

Conforme relata Rezende (2011), pode-se encontrar obras de Aleijadinho e Mestre


Ataíde em várias cidades de Minas Gerais, tais como Ouro Preto, Tiradentes,
Mariana, São João Del Rei, Sabará, Congonhas, Prados, dentre outras. Outras
cidades mineiras tiveram um contato mais tardio com o Barroco, sem a influência de
Aleijadinho, são estas Diamantina, Serro Frio e Conceição do Mato Dentro.

Pode-se então dizer que o Barroco Mineiro é uma arte genuinamente brasileira, pois
ele valoriza as raízes do povo brasileiro através da identificação de seu passado e
exaltação de sua cultura.

[...] para nós, brasileiros, falar do barroco é falar de nossa própria origem
cultural, de nossa própria formação histórica, das raízes de nossa maneira
própria e íntima de ver, de sentir, de exprimir uma peculiar experiência do
real que a arte só faz transfundir e sublimar (ÁVILA, 1980, p. 6).
7

Ainda, de acordo com Rezende (2011), “o homem sempre terá sua identidade
formada pelo seu patrimônio, pela sua herança social, assim como a sociedade terá
sua identidade formada pelo seu patrimônio histórico, artístico, cultural e natural. ”

Justifica-se este trabalho pela relevância do tema Barroco Mineiro para as artes
visuais, para a história, para a cultura e para a sociedade. O Barroco Mineiro é
considerado um ícone da identidade nacional e foi reconhecido no século XX como
patrimônio histórico e cultural do país (REZENDE, 2011). O conhecimento do
patrimônio histórico e artístico nacional, através da educação, é uma forma de
civilizar e garantir o desenvolvimento da nação, se baseando no passado para
construir o futuro.

Além disso, o Barroco Mineiro apresenta indubitável caráter educativo, uma vez que
sua simbologia, linguagem singular e reconhecimento como patrimônio histórico e
cultural vem ao encontro da educação. Através do estudo da arte barroca, os alunos
compreendem o conceito de herança cultural, que por sua vez engloba várias áreas
do conhecimento. Essa interdisciplinaridade permite que os alunos compreendam a
arte não como um elemento isolado dos outros, mas como algo que está
intimamente relacionado à história, à sociologia, à geografia, entre outras disciplinas.

Diante do exposto, levantou-se o seguinte questionamento: Como a Cultura Mineira


é expressa a partir do Barroco? Para responder a esta pergunta, o objetivo geral
deste trabalho é apresentar o Barroco como forma de expressão da Cultura Mineira
e ferramenta de ensino de Artes Visuais. Os objetivos específicos são: 1) Analisar o
contexto histórico do Barroco no estado de Minas Gerais; 2) Descrever os principais
artistas e trabalhos relacionados ao Barroco Mineiro e 3) Abordar a importância do
estudo do Barroco Mineiro no processo de ensino e aprendizagem.

Quanto aos objetivos, esse estudo classifica-se como uma pesquisa descritiva, que,
de acordo com Gil (2002, p. 42) “têm como objetivo primordial a descrição das
características de determinada população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis”. Pela forma de abordagem, esse
estudo é qualitativo, por se tratar de uma pesquisa descritiva na qual as informações
não são quantificáveis.

Em relação aos procedimentos técnicos utilizados, essa é uma pesquisa


bibliográfica, por ser desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
8

principalmente por livros e artigos científicos (GIL 2002, p. 44). A coleta de dados foi
realizada através de revisão de literatura e o material foi coletado a partir de
referências publicadas em fontes escritas, tais como livros, revistas científicas e
artigos referentes ao tema, utilizando os termos: “barroco”, “arte”, “educação”,
“ensino” e “artes visuais”.

Dentre os trabalhos encontrados, foram selecionados os mais relevantes ao tema


proposto. Após a seleção foi realizado o fichamento das obras selecionadas, a
organização lógica dos assuntos e a redação do trabalho final.
9

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Contexto Histórico

A arte barroca teve origem na Itália durante o século XVII, mas rapidamente se
espalhou pela Europa e, no fim do século XVIII chegou ao continente americano.
Apesar de ter marcado presença nos estados de Pernambuco, Bahia, Rio de
Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, foi no estado de Minas Gerais que o estilo
barroco teve seu apogeu (VAL et al., 2012).

Em Minas Gerais, o estilo barroco se caracterizou por ser um movimento cultural


com inovações artísticas e sociais, com a atuação de artistas portugueses no início
do século XVIII e uma produção regional com características próprias por volta do
ano 1770 (CAMPOS, 2006). Por esse motivo, a arte barroca no continente
americano se apresentou de forma híbrida, pois houve uma mistura de elementos da
metrópole com outros elementos regionais e culturais da colônia. De acordo com Val
e colaboradores (2012), outro fator que contribuiu para o regionalismo da arte
barroca em Minas Gerais foi a utilização de materiais locais para confecção dos
trabalhos, uma vez que a distância do litoral dificultava a importação de materiais
provenientes da Europa.

Para Rezende (2011), as manifestações artísticas e culturais do Barroco Mineiro


foram marcadas pelo esplendor da fase áurea, que se caracterizou pelo
descobrimento de ouro no estado entre o final do século XVII e primeira metade do
século XVIII. No entanto, as manifestações artísticas e culturais em Minas Gerais
resistiram ao declínio da mineração, e o Barroco Mineiro chegou a ser consagrado
como Patrimônio Histórico da Humanidade no século XX. Segundo o autor, “Minas
Gerais proporcionou ao Brasil uma expressão artística de modo singular e
autônoma. Nota-se na expressão barroca, símbolos de liberdade, em plena fase de
dominação e opressão” (REZENDE, 2011, p.12).

De acordo com Oliveira (1998a), o Barroco no período colonial foi dividido em três
ciclos:
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a) O Primeiro Ciclo se estendeu de 1700 a 1730 e foi também conhecido como o


“estilo nacional”, pela similaridade que apresentava com o Barroco de
Portugal, com igrejas coloniais apresentando uma mudança no sentido de ter
plantas mais elaboradas e decoração nas fachadas (OLIVEIRA, 1998b), um
exemplo disso é a Igreja de São Francisco de Assis em Salvador (VALE,
2016).

b) O Segundo Ciclo ocorreu entre os anos de 1730 e 1760 e foi conhecido


também como o “estilo joanino” pela semelhança a produções do rei
português Dom João V, sendo este estilo semelhante ao romano seiscentista,
“com elementos mais dramáticos, com colunas salomônicas e ou berninianas,
estatuária integrada à talha além de dosséis no estilo do baldaquino de
Bernini” (OLIVEIRA, 1998b, p. 78). Esse período é representado pela Igreja
de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto (VALE, 2016).

c) O Ciclo Rococó, que se manifestou entre os anos de 1760 e 1800, teve


manifestações variadas nas diferentes regiões da colônia brasileira. O
Rococó se caracteriza pela busca por obras mais singelas, pela substituição
da relação entre luz e sombra do Barroco pelo contraste entre o dourado e o
branco ou ainda tons pastéis, um exemplo dessa característica é o altar e o
teto da Igreja de Nossa Senhora da Candelária na cidade de Itú, interior de
São Paulo, com uma decoração rica em detalhes, mas bem menos ostentosa,
apresentando traços simples, sem exageros, mas ainda assim requintada
(VALE, 2016).

2.2 Artistas barrocos

Vários artistas contribuíram para o surgimento e expansão do estilo Barroco no


Brasil, sendo que em Minas Gerais se destacam Aleijadinho, na arquitetura e
escultura, e Mestre Ataíde na pintura. Também merecem destaque Francisco Xavier
de Brito e João Nepomuceno Correia e Castro (VAL et al., 2012).
11

2.2.1 Antônio Francisco Lisboa, “O Aleijadinho”

Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, nasceu em Ouro Preto
(denominada então de Vila Rica) na data provável de 29 de agosto de 1730. Seus
pais eram o entalhador Manoel Francisco de Lisboa e uma escrava chamada Isabel,
contudo, não há nenhum registro oficial que comprove sua data de nascimento e sua
filiação. Aleijadinho começou a desenvolver uma doença degenerativa nas
articulações por volta dos 40 anos de idade, tal doença provocou grave deformação
e perda dos movimentos dos pés e das mãos. Mesmo assim, o artista continuou a
trabalhar na construção de igrejas e altares em cidades de Minas Gerais. A sua
morte ocorreu provavelmente em 1814 e seu corpo foi sepultado na Matriz de
Antônio Dias. A importância de suas obras, porém, só foi reconhecida muitos anos
depois de sua morte (VAL et al., 2012).

É possível notar como a doença influenciou e dividiu sua obra em duas fases. Antes
de desenvolver a doença as suas obras apresentavam harmonia, equilíbrio e
serenidade, após a doença, contudo, é notável a presença de um sentimento gótico
e expressionista em seus trabalhos. De uma forma geral, a sua escultura é marcada
por um forte dramatismo, por formas exuberantes, expressões teatrais e luz.
Destaca-se as linhas curvas e drapeados nas vestes, além de emoções violentas
nos gestos e rostos dos personagens, o que contraria a sobriedade e racionalidade
características do Renascimento (VAL et al., 2012).

Aleijadinho era arquiteto, escultor e decorador. Ele foi considerado o maior artista
brasileiro do período colonial, que deixou para o Brasil um legado artístico de pura
genialidade. Dentre suas obras, encontradas em Ouro Preto, destaca-se a Igreja
São Francisco de Assis, que apresenta notável esplendor arquitetônico e artístico e
as esculturas dos doze profetas do Antigo Testamento, em pedra-sabão, na cidade
de Congonhas do Campo (PINTO, 2006).

2.2.2 Manoel da Costa Ataíde, “o Mestre Ataíde”


12

Manoel da Costa Ataíde nasceu na cidade mineira de Mariana em 18 de outubro de


1762, sendo filho do capitão Luís da Costa Ataíde e de Maria Barbosa de Abreu, de
nacionalidade provavelmente portuguesa. Mestre Ataíde, como foi chamado, se
especializou em diversas áreas, foi pintor, ilustrador, desenhista, dourador e
professor. Ele faleceu em 2 de fevereiro de 1830, na cidade de Mariana. (VAL et al.,
2012).

O seu primeiro trabalho conhecido data de 1781 e foi a encarnação de duas


imagens de Cristo, confeccionadas para o Santuário de Senhor Bom Jesus de
Matozinhos, localizada na cidade de Congonhas do Campo, Minas Gerais. As
características principais de sua pintura são a inquietude e a espiritualidade. Suas
obras são marcadas pelo contraste entre claro e escuro, o que aumenta a ideia de
profundidade, e pelo uso de figuras desproporcionais. O artista enfatizou a
composição assimétrica, em diagonal, revelando um estilo grandioso, monumental e
retorcido e contrastando com o equilíbrio e a geometria das obras renascentistas
(VAL et al., 2012).

2.2.3 Francisco Xavier de Brito

Francisco Xavier de Brito nasceu em Portugal em data desconhecida, vindo a residir


no Brasil posteriormente. Ele foi um escultor e entalhador e executou várias talhas
em igrejas edificadas no período do Barroco Mineiro, sendo responsável pela talha
de seis altares laterais da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
entre os anos de 1735 e 1738, na cidade do Rio de Janeiro. Posteriormente, passou
a residir em Minas Gerais, onde trabalhou na talha da Igreja Matriz de Nossa
Senhora da Conceição, na cidade de Catas Altas do Mato Dentro. Em Minas Gerais,
o artista também trabalhou na talha da Igreja de Santa Efigênia, na cidade de Ouro
Preto, onde trabalhou em escultura de anjos na capela-mor entre os anos de 1747 e
1748. Entre os anos de 1746 e 1751, também trabalhou no altar-mor da Igreja Matriz
de Nossa Senhora do Pilar. Xavier de Brito faleceu na cidade de Ouro Preto, no ano
de 1751 (CAMPOS, 2006).
13

A sua obra é marcada pela presença de numerosos querubins (CAMPOS, 2006).


Sendo a talha da capela-mor da Igreja da Matriz de Nossa Senhora do Pilar
considerada uma obra-prima do gênero naquele período (OLIVEIRA, 2007).

2.2.4 João Nepomuceno Correia e Castro

João Nepomuceno Correia e Castro era descendente direto de portugueses e


nasceu na cidade mineira de Mariana. Documentos comprovam sua atuação entre a
década de 1770 e o final do século XVIII. Ele foi um dos mais importantes pintores
da sua geração (MARTINS, 2013).

O pintor foi um dos mais valorizados do período colonial, sendo um dos artífices
mais bem pagos pelas suas pinturas no Santuário Bom Jesus de Matozinhos, na
cidade de Congonhas, que é um dos mais importantes templos que representam a
arte colonial mineira e hoje é Patrimônio Mundial da UNESCO (MARTINS, 2013).

2.3 Obras barrocas

Dentre as obras barrocas estão igrejas, santuários, capelas, oratórios, esculturas,


pinturas, painéis, casas, etc., sendo a arte barroca mineira considerada uma das
mais belas de todo o mundo. O regionalismo do Barroco Mineiro se evidencia pelo
uso de materiais peculiares, uma vez que a distância do litoral dificultava a
importação de materiais e técnicas europeias. O estilo também absorveu
características religiosas inerentes à fé da sociedade mineira da época, que
apresentava características exibicionistas, marcadas pela ostentação da riqueza,
com construção de belas casas e igrejas (PINTO, 2006).

O Barroco foi uma arma da Contra-Reforma da Igreja Católica contra o


protestantismo, enquanto este pregava rigidez e austeridade, aquela pregava o
movimento das formas. Em Ouro Preto, durante o século XVIII, irmandades
religiosas construíram várias igrejas, cada uma tentando superar a outra em riqueza
14

e beleza. A abundância do ouro, que foi empregado nas construções, tornou as


igrejas guardiãs de verdadeiros tesouros (PINTO, 2006).

Os artistas barrocos adaptaram os materiais utilizados de acordo com as condições


locais. Uma alternativa para o mármore europeu foi a pedra-sabão, matéria prima
local, que foi utilizada na confecção de colunas retorcidas e na escultura de anjos,
santos, seres mitológicos e cenas bíblicas (PINTO, 2006).

O Barroco colonial foi a época dos trabalhos em pedra lavrada e esculturas


na madeira. Decorou-se pouco as entradas e portais das igrejas, mas, o
interior mostrou-se rico em detalhes de se admirar ainda hoje. O conjunto de
ornamentos que compõem a decoração de santuários legou obras de
inestimável valor. A arte de gravar, cinzelar, esculpir teve seu momento
áureo. (PINTO, 2006, p.20)

Durante a construção da Igreja de São Francisco de Assis, Aleijadinho e Mestre


Ataíde trabalharam juntos. Enquanto o primeiro utilizou pedra-sabão para produção
de suas esculturas, o segundo criou pinturas que imitavam os famosos azulejos
portugueses (PINTO, 2006).

2.3.1 Arquitetura barroca

O amplo acervo arquitetônico Barroco de Minas Gerais é representado por


“monumentos surpreendentemente conservados em seus aspectos originais,
juntamente com o conjunto urbano no qual se insere” (VAL et al., 2012, p. 18).
Especial atenção deve ser dada às suas expressões estilísticas excêntricas e à
salvaguarda da representação de diversos ciclos históricos. O maior expoente da
arte barroca no Brasil foi a arquitetura de cunho religioso, representada por igrejas
com fachadas singelas e decoradas com entalhes em madeiras recobertos por ouro
e tetos pintados com episódios bíblicos, além de altares, colunas, esculturas, dentre
outros elementos decorativos (VAL et al., 2012).

Igreja Nossa Senhora do Ó


15

No ano de 1717, em Sabará, a construção da Capela Nossa Senhora do Ó (Figura


1) já havia sido iniciada. (VAL et al., 2012). Tal edificação:

[...] apresenta planta em duas secções, correspondentes à nave e à capela-


mor. Internamente, a nave é composta por piso em campas e paredes
revestidas de painéis emoldurados e teto em caixotões, também com
moldura. A capela-mor possui paredes com revestimentos em painéis.
Traços chineses são encontrados nessa capela nos painéis vermelhos com
desenhos em ouro, ao lado de cada cruzeiro, e na talha dourada dos painéis
octogonais de fundo azul. O único altar existente é o altar-mor, em talha
dourada, bem ao estilo “nacional português”. As paredes laterais possuem
estrutura em madeira e adobe prolongando-se, à direita, sobre os cômodos
da sacristia e dependência de acesso ao púlpito e coro. A fachada é
chanfrada, em três planos, apresentando três janelas rasgadas, com
guarda-corpo de balaústre, dispostas em planos distintos e torre central com
sineira vazada em três vãos. A unidade decorativa do seu interior advém,
principalmente, da harmonia conferida pelos elementos de policromia: o
ouro, o vermelho e o azul (VAL et al., 2012, p. 18-19).

De acordo com Lefèvre e Vasconcellos (1968, p. 18), a capela Nossa Senhora do Ó


é o “próprio ouro das Minas. Por fora, cascalho rude; por dentro, o mais valioso
metal. Por fora, posta em modéstias; por dentro, esplendendo em belezas”.

Figura 1 - Capela Nossa Senhora do Ó, em Sabará – MG. À esquerda: fachada; à direita: nave da
igreja.

Fonte: Vale, 2016.

Capela do Padre Faria


16

A Capela do Padre Faria (Figura 2) teve sua construção iniciada em Ouro Preto pelo
padre de mesmo nome no início do século XVIII, sendo reconstruída em maiores
proporções por volta do ano de 1740. Em 1756, a igreja estava em fase final de
construção (VAL et al., 2012).

Sua planta é composta por nave, capela-mor, sacristia lateral e torre sineira
isolada. A nave forma o corpo principal e constitui a parte mais alta do
conjunto. A fachada é lisa e simples, composta por uma larga porta
centralizada e duas janelas laterais rasgadas, com simples balaustradas.
Localizada no adro, encontra-se a monumental cruz de três braços,
exemplar único em Minas Gerais. Apresenta, em seu interior, magníficos
altares e retábulos inteiramente dourados no estilo D. João V. Na pintura do
forro, está representada a coroação da Virgem pelos anjos; nos quatro
painéis laterais, cenas da vida de Maria (VAL et al., 2012, p. 19).

Figura 2 - Capela do Padre Faria.

Fonte: http://www.ouropreto.com.br/atrativos/religiosos/capelas/capela-do-padre-faria

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar


17

A construção da atual Matriz de Nossa Senhora do Pilar (Figura 3) iniciou-se entre


os anos de 1728 e 1730 na cidade de Ouro Preto, sendo que sua construção já
estava praticamente concluída em 1733 (VAL et al., 2012).

A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar apresenta estrutura arquitetônica


caracterizada pela justaposição de duas formas quadrangulares: a primeira,
correspondente à nave ou corpo da igreja; a segunda, à capela-mor e
sacristia. A fachada atual foi construída em meados do século XIX,
substituindo a do século XVIII. Quanto à ornamentação, em número de seis,
sabe-se que os altares dedicados a Santo Antônio e Nossa Senhora das
Dores são anteriores aos demais, tendo pertencido talvez à igreja primitiva.
Os quatro altares restantes apresentam características do estilo joanino -
são profusamente dourados e excessivamente ornados. A ornamentação se
complementa com magníficos painéis de talha e painéis de pintura a óleo
nas paredes da capela-mor. O forro da nave é composto por quinze painéis
(VAL et al., 2012, p. 19).

Figura 3 - Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar.

Fonte: http://www.ouropreto.com.br/atrativos/religiosos/igrejas/basilica-menor-de-nossa-senhora-do-
pilar
18

O Museu da Arte Sacra de Ouro Preto, que foi inaugurado no ano 2000, encontra-se
na cripta dessa edificação. Nele estão expostas imagens santas, banquetas,
resplendores, documentos e vestimentas de indivíduos residentes na região na
época da edificação da matriz (VAL et al., 2012).

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias

Uma capela primitiva de taipa foi construída em Ouro Preto por volta do ano de 1690
pelo bandeirante Antônio Dias em homenagem à Nossa Senhora da Conceição.
Essa capela foi ampliada em 1705, após ser instituída matriz. Através de um projeto
de Manoel Francisco Lisboa, a construção da atual Matriz de Antônio Dias (Figura 4)
teve início em 1727, com os trabalhos se estendendo até o ano de 1756, quando
iniciou-se o trabalho na talha da capela-mor, que, por sua vez, foi finalizada 1770.
Entre os anos de 1770 e 1772 foram realizadas as obras de pintura e douramento da
talha e entre 1860 e 1863 foi construído o adro em frente à igreja (VAL et al., 2012).

A planta apresenta uma justaposição de dois blocos quadrangulares: o


primeiro, correspondente à nave, e, o segundo à capela-mor e à sacristia. A
portada é simples, com cimalha e duas pontas de volutas. Centralizado
entre elas, encontra-se um brasão imperial. De cada lado, duas janelas
laterais rasgadas no nível do coro. Na fachada, nota-se ainda o detalhe do
óculo, localizado em cima do brasão. Há duas torres sineiras em cada lado
da fachada. Possui oito altares laterais separados por pilastras encimadas
por capitéis jônicos. O coro é suportado por colunas duplas e grande arco. A
talha da capela-mor é constituída pela simplificação geral do programa
decorativo, apresentando o dossel e colunas torsas do período D. João V.
Introduz-se, nas paredes laterais da capela-mor, decoração rocalha (VAL et
al., 2012, p. 20).

O Museu Aleijadinho, no qual se encontra o túmulo de Antônio Francisco Lisboa,


encontra-se na antiga sacristia, consistório e porão da matriz (VAL et al., 2012).
19

Figura 4 - Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias.

Fonte: http://www.ouropreto.com.br/atrativos/religiosos/igrejas/santuario-de-nossa-senhora-da-
conceicao-de-antonio-dias

Igreja de São Francisco de Assis

A construção da Igreja de São Francisco de Assis (Figura 5), localizada em Ouro


preto, iniciou-se no ano de 1765 pelo trabalho na capela-mor, concluída em 1771. A
abóbada e sua ornamentação em talha e taipa foram obras de Aleijadinho, durante
os anos de 1772 e 1774. Entre os anos de 1790 e 1794 foi construído o retábulo do
altar-mor, sendo que em 1994 a obra de alvenaria estava concluída. Mestre Ataíde
foi o responsável pela pintura e douramento da capela-mor, do forro da nave e dos
painéis a óleo. Já o cemitério da ordem foi construído por Manuel Fernandes da
Costa e José Ribeiro de Carvalho entre os anos de 1831 e 1838 (VAL et al., 2012).
20

A peculiaridade da planta manifesta-se na extinção dos corredores da nave


e maior junção dos corredores da capela-mor ao conjunto, como também na
posição das torres, que se fecham para trás no corpo da igreja, projetando a
fachada - que concentra o efeito ornamental na portada e no medalhão
superior. E, ainda, há inovação nas formas circulares das torres, até então
sem precedentes. Outra novidade de Aleijadinho seria a função puramente
ornamental do óculo, o qual passa a ser vedado. Na nave, contornada por
cornija de pedra, os seis altares laterais funcionam como complemento da
decoração das paredes laterais. A decoração da capela-mor se concretiza
de forma perfeita com a introdução de figuras em relevo na ornamentação
do forro (VAL et al., 2012, p. 20).

No forro em abóbada, Mestre Ataíde empregou duas técnicas: a têmpera, para os


elementos de arquitetura ilusionista, e o oleio, para o medalhão central. Também são
de autoria do artista uma série de painéis a óleo que decoram as paredes e a nave
da capela-mor, além das barras de pintura imitando azulejos, no registro inferior das
paredes da capela-mor, que fazem alusão à vida de Abraão (VAL et al., 2012).

Figura 5 - Igreja São Francisco de Assis, Ouro Preto.

Fonte: http://www.ouropreto.com.br/atrativos/religiosos/igrejas/igreja-sao-francisco-de-assis

2.3.2 Pinturas
21

As principais representações da pintura barroca mineira estão nas decorações


internas de igrejas, contudo, também existem telas e painéis independentes. No
século XIX a prática da pintura barroca ainda estava presente, mesmo que o
Neoclassicismo já estivesse se desenvolvendo em algumas partes do Brasil, como
no Rio de Janeiro. O acervo de pinturas do período Barroco apresenta
características únicas, sendo considerado o mais original e notável do país
(VALLADARES, 1998).

Apesar de a pintura barroca apresentar características únicas, pesquisas revelam


que alguns artistas se baseavam em obras de origem europeia. Inclusive, o próprio
Mestre Ataíde se inspirou em gravuras importadas, não deixando, contudo, de
empregar originalidade aos seus trabalhos, aplicando feições mulatas a anjos e
santos (LEVY, 1944). O fato de não haver escolas de formação em artes favorecia o
intercâmbio de conhecimento entre artistas portugueses e aprendizes (MORESI,
2005).

Três das mais famosas pinturas barrocas de autoria de Mestre Ataíde estão
representadas abaixo (Figura 6), "Ascensão de Cristo", Matriz de Santo Antônio, em
Santa Bárbara (MG); “Assunção da Virgem”, teto da Igreja de São Francisco de
Assis, Ouro Preto (MG) e A Última Ceia, Colégio do Caraça em Santa Bárbara (MG).
22

Figura 6 - “Assunção da Virgem”, no teto da Igreja de São Francisco de Assis. Ouro Preto – MG (à
esquerda); "Ascensão de Cristo", na Matriz de Santo Antônio, em Santa Bárbara – MG (à direita,
acima) e A Última Ceia, Colégio do Caraça em Santa Bárbara – MG (à direita, abaixo).

Fontes: Vale, 2016 (Assunção da Virgem); https://ufmg.br/comunicacao/noticias/historia-da-arte


(Ascensão de Cristo); http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra24460/ultima-ceia-a-ceia-do-senhor
(Última Ceia).

2.3.3 Esculturas

Francisco Xavier de Brito foi um dos primeiros mestres de importância em Minas


Gerais e acabou por influenciar vários outros artistas, incluindo Aleijadinho; este
último, que coroou e encerrou o ciclo de escultura barroca mineira, tem sua obra
considerada um monumento único da arte brasileira e parte integrante do Patrimônio
Mundial da UNESCO. Aleijadinho produziu um grande número de obras que hoje se
encontram dispersas. Contudo, dentre as suas obras, dois grupos de escultura do
23

Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, se destacam. O primeiro


deles representa a Paixão de Cristo em estátuas de madeira policromada, o
segundo é composto por doze profetas esculpidos em pedra-sabão, localizados no
adro do templo (GRAMMONT, 2008; OLIVEIRA, 2000). Ambos os trabalhos estão
representados na figura 7.

Figura 7 - Fachada da Igreja (1798 ?) e Estátuas dos Profetas (1800- 1805) – Aleijadinho (acima) e
Santa Ceia – A primeira entre as Capelas dos Passos (1797) – Aleijadinho (abaixo). Santuário do
Senhor do Bom Jesus de Matosinhos, Congonha dos Campos, MG.

Fonte: Vale, 2016.

2.4 Barroco e educação

A educação deve estimular no aluno a criatividade, o pensamento crítico e ideias


para transformar-se e transformar o mundo à sua volta. É na educação que deve
ocorrer o processo de formação do ser humano, onde ele participa ativamente da
24

construção de sua identidade e de princípios sociais, dominando o seu espaço e


projetando o seu futuro.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei N.º
9394/96, a educação abrange: “[...] os processos formativos que se desenvolvem na
vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais” (BRASIL, 1996).

Assim sendo, devemos compreender a educação como um processo de formação


do cidadão, que aprende através da educação formal e informal, da convivência
familiar e social e por suas próprias experiências. A educação deve ainda contribuir
para avivar no sujeito o valor cultural e simbólico do Barroco Mineiro, e estimulá-lo a
zelar pela sua proteção.

A proteção do Barroco Mineiro enquanto patrimônio cultural, signo e


significado da identidade nacional, se justifica por ser algo intrínseco à
relação entre o homem e a sociedade brasileira, uma vez que a cultura
barroca mineira se encontra presente em inúmeras práticas
contemporâneas: na linguagem, na música, na religião, na alimentação, na
morada, no vestuário, na política, nas formas de manifestações culturais
intangíveis e em tantas outras (REZENDE, 2011, p. 71).

Dessa forma, a educação deve estar associada aos valores de identidade pessoal e
cultural e à proteção do Barroco Mineiro, abrangendo suas características, os
espaços físicos, obras de arte, seu valor cultural e histórico. Ao se trabalhar na
conscientização dos alunos quanto a importância histórica e cultural do Barroco,
busca-se “uma pedagogia cultural que capacite o educando a compreender sua
identidade e a se reconhecer em seus próprios valores e em sua memória pessoal e
coletiva” (REZENDE, 2011, p. 72).

A educação com foco na preservação do Patrimônio e na construção do conceito de


identidade e cidadania:

[...] torna-se, assim, um processo constante de ensino/aprendizagem que


tem por objetivo central e foco de ações o Patrimônio. É nesse tópico que se
encontra a fonte primária de atuação que vem enriquecer e fortalecer o
conhecimento individual e coletivo de uma nação sobre sua cultura,
25

memória e identidade. Através de ações voltadas à preservação e


compreensão do Patrimônio Cultural, a Educação Patrimonial torna-se um
veículo de aproximação, conhecimento, integração e aprendizagem de
crianças, jovens, adultos e idosos, objetivando que os mesmos (re)
conheçam, (re) valorizem e se (re) apropriem de toda uma herança cultural
a eles pertencente, proporcionando aos mesmos uma postura mais crítica e
atuante na (re) construção de sua identidade e cidadania. Identidade essa
que, cada vez mais, urge por uma atenção especial dos diversos setores da
nossa sociedade (QUEIROZ, 2010).

Diante disso, as instituições de ensino devem abranger em sua estrutura curricular


ações pedagógicas voltadas à educação com foco na proteção do patrimônio
cultural. Práticas interdisciplinares devem reforçar os conceitos de identidade cultural
e conscientizar os alunos de que uma sociedade que não valoriza e busca proteger
o seu patrimônio, seja ele artístico, histórico ou cultural, pode vim a perder seus
valores e sua identidade. Logo, os professores devem participar do processo
civilizatório dos alunos, propagando as ideias de identidade e proteção do Barroco
Mineiro como patrimônio cultural nacional, tarefa que só poderá ser concretizada
através da educação.

O conceito de cultura identificava-se com o de civilização. Ou seja, os


valores culturais repousavam numa estrutura de avanço tecnológico, em
economias e sociedades dinâmicas, e a cultura era o resultado desses
níveis, ainda que pudesse ser pensada dialeticamente como instrumento de
transformação da sociedade. Enfim literatura, teatro, música, pintura,
escultura, arquitetura eram os níveis de expressão da sociedade enquanto
índices da sua civilização (CAMARGO, 2002 p. 73).

O patrimônio é capaz de representar simbolicamente uma identidade e através dele


a sociedade consegue manter vínculos com o passado. Através dessa identidade
conseguimos nos identificar com os outros, e nos conhecemos como iguais, uma
vez que o passado confere um sentido de pertencimento e identidade (PINTO,
2006).

A educação através das artes visuais é uma forma de expressão pessoal e uma
ferramenta importante para a identificação cultural e para o desenvolvimento, pois,
através das artes é possível compreender a representação simbólica de traços
intelectuais, materiais, emocionais e espirituais característicos de uma sociedade, de
26

suas tradições e crenças, do seu modo de vida e do seu sistema de valores (PINTO,
2006). Também se faz necessário que os alunos compreendam que:

“A despeito da origem européia e dos notórios vínculos com o catolicismo da


contra-Reforma, o nosso Barroco não foi apenas um produto imitativo. Foi
executado por gente da terra, em geral, mestiços e com materiais locais,
principalmente, no século XVIII mineiro, a pedra-sabão” (LOPEZ, 1981 p.
61).

Não obstante, para se favorecer o conhecimento individual e o comportamento do


cidadão, não basta que a arte seja incluída nos currículos escolares, pois apreciar
obras de arte e educar os sentidos é um processo contínuo que deve ser iniciado na
escola e continuado por toda a vida através de visita a museus, exposições e
monumentos artísticos (PINTO, 2006).

A preservação dos bens históricos e culturais se dá a partir da busca contínua pelo


conhecimento e pelo reconhecimento da identidade cultural brasileira. Isso somente
será possível através da oferta de oportunidades à população no geral, para que
toda a sociedade atinja um sentimento de preservação do nosso patrimônio
histórico, artístico e cultural.
27

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Barroco Mineiro é um estilo que possui características suntuosas marcantes


representadas por símbolos como anjinhos e belas igrejas, belezas que despertam a
importância de zelar por este patrimônio, para que essa herança histórica e cultural
possa ser preservada para as gerações futuras.

O objetivo deste trabalho foi apresentar o Barroco como forma de expressão da


Cultura Mineira e ferramenta de ensino de Artes Visuais. Para atender a este
objetivo, num primeiro momento abordou-se o contexto histórico no qual o Barroco
Mineiro se desenvolveu; posteriormente foram apresentados alguns dos principais
elementos da arte barroca, tais como os artistas e suas obras; por fim discutiu-se o
Barroco como ferramenta de ensino da arte e como forma de conscientização da
importância da preservação deste patrimônio cultural.

Uma limitação encontrada durante a execução deste trabalho foi a escassez de


material de referência que relaciona o Barroco Mineiro com o ensino das Artes
Visuais, em específico.

A partir deste trabalho, pode-se compreender que a história e a preservação do


Patrimônio Cultural, em especial o Barroco Mineiro, engloba diversas áreas de
conhecimento, razão pela qual seu estudo é complexo e interdisciplinar, pois o seu
acervo, composto por museus e cidades históricas, serve de testemunha das vidas
de gerações passadas. Assim sendo, a sociedade deve ser conscientizada quanto a
importância de se preservar este patrimônio, uma vez que a maior barreira para a
sua conservação é a falta de conhecimento por parte da população, sobretudo os
menos favorecidos socioeconomicamente (PINTO, 2006).

Conclui-se, portanto, que é importante conscientizar a população desde a infância


sobre a importância da preservação dos bens artísticos, históricos e culturais, pois
ao se cultivar estes valores desde o ensino fundamental, garantiremos que no futuro
teremos uma sociedade ciente de que a preservação do patrimônio não é apenas
uma obrigação do Estado, mas uma responsabilidade de todo cidadão.
28

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Devoção e Arte. 1ª edição. São Paulo: Edusp, 2005. p.69-122.

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