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0 HARAnlGMA HOLOGRAFlco

eoutrospandonos
Ken Wilber {oTB.)

Cienti§tas c pensadoros proemincntes aprcsen.


tan nc§t€ liyro, em linguagem aceBsivel, as tiltinas des-
cobertas no caznpo d8 ct6ncin e as teolias que buscam
damonstrar uma extmordinfirfu 8cmelh8ng8 entre ns
grandcs tradiE5es mi'8tic8s do Oriente e do OcideTite e
o peJtsamento cient{fico moderno. As y&rias correr}tes
de inv€£tieaea~o aqui leplcsentndns levarn a leito[ a
u" amph compreensao do "novo Paradigrm Hologr6-
fico". De modo caloroso a vital, so~o aqui apresentadas
c dcbatidas as muilas interpretag6cs drs novas p@squi-
s8s atrovds de sous mris significativos represontantes.

***

Organicado a prefuciado par Ken Wilber, os capi.tulos deste nvro 8ao &ssinados por Q]guns
dos mats conhecidos cientislas a pensndares da atuandrde, this coma Marilyri Fe[guson, Karl H.
Pribmm, Ren6e Weber, Ken Dychtwald, Fritjof Capm. Sam Keen. Kennetli`R. Pelletie[, Bob
Samples, Stanlcy Krippner, Jolin Shinotsu, John Welwood, Itzhck 8entov, Irwin Thompson,
Wmis Harman, William A, Tiber, John R. E&tista 8 I.eon8{d J. Duhl.

``A silperteoriii llologrdfica afrma que nclssos c6rebros constroem a reLIlidade corlereta
interpfetarido freqllelicias vtndas de urria dimensBo que transeende a tempo a a espaco. a
cerebra 6 urn hole)gmtTio qua interpreta urn univer8o hotogrdfico."
MARILYN FERGUSON
"A verdadeira cordipro do mundo materha[ 6 ti tottilidade. Se nos frogmentamos, a culpe
4 toda nossa."
DAVID B0HM
"A reletiwidade a, a que 6 ainda mats impeTtante, a rneedi.ice qu6r.tics sogeTtram com
bas[ante vigor (embora n@o c) tenl.am prcundo) qua cl muiido n@o pode set aralisado em partas i
qite existeiTi de iTlodo seprrado e indapendente. A16m disco, cacla parte, de certa f:ornra. €nvoive
todas as ou[ras. contelrdofls a.I dobraiidons dentro de si. ESSe fato sugere qua a esfara corram
da twidr iunterial e a esfera da experiencia mlstica prrtllllam de uiria certa ordem a que isso
permit ira urn relaciolmmento i]roveitaso ei.tre alas."
DAVID B0HM
"OS f{Eicos exi]laram os ntveis de matgrfu; os misticos explaram a n[ilel da mente. a qua
eles tarn eril comum em suas explorapee$ 6 qua eases il[veis, em ambos os cases, situm-se ale in
dd percepc@o sqnsorial ordiwhrin."
FR]TJOF CAPRA
•`0 paradoxQ ¢ simplesme)lie a manein como a nGndcalismo`encara a nivet merltat. a
Esp{rito, em si mgsrn®, itiio ¢ prradoanl.. ele ifro pclde set caraeterizado de modo algum."
KEN VILBER

EDITORA CULTREL
REN WELBER
Oulras ol)ras de tnteresse: ¢Orgrri¥aqor)

0 ESPECTRO DA CONSCIENCIA
Ken Wtlber

UM DEUS SOCIAL
Ken Will)er

A CONSCHINCIA SEM FRONIEIRAS - Pontos


de Vista do Oriente a do Ocidente sobre a
Crescimento Pe§soal
Kenwilber ` A HOLOGRAFICO
a TAO DA FrslcA
Frif|of Cnpra
E 0UTROS EARADOXOS
Explorando o Flancc; Dianteiro da Ciencia
SABEDORIA INCOMUM
Frif]of enpra (one.)

o roNIo DE MUTA?Ao
Ftitjof Chpra

ESPAgo - TEMPO E ALEM


Bc)b Tobe]. a Fred A. Wolf
Thadup@o
MARIA DE LOURDES EICHENBERGER
a FATOR MAIA - Urn Caminho AI6m da NEWTON ROBERVAL EICHEMBERG
TecnoloSa
Jos6 Argivelles

OS SURFISTAS DO ZUvuin - Hist6rias de


uma Viagem lriterdinensioml
Jos6 Argtlelles

A ESPREITA D0 PENDUL0 C6SMICO


Itzlmk Bentov

UM LIVR0 C6SMICO - Sabre a Mecanica da


Criag5o
ltzhak Bentov e Mirtaha

DIALOGOS COM CIENTISTAS E SABI0S


Reiige Weber

EDITORA` CULTRH
0 FuruRO DA HUMANIDADE
ago Panto
Krishiia"i\rti e David Bolrm
Tftulo do orisinal:
The Holographic ndradigm
and other paradoxes
Exploring the Leading Edge of Scierlce

SUMARlo

J#trodwfa~o -Ken Wflber ...................................


"Introduction" © 1982 par Ken Wilber. "The Physicist and the Mystic -Is a Dia-
1. UMA NOVA PERSPECTIVA SOBRE A REALIDADE 0 Ntimero Es-
logue I)etween Them Possible?", "Reflections on the New-Age Paradigm" e "The Tao of
pectal ALrfualhado do The Brain|Mind Bulletin ...................
Physics Revisited" © 1981 pot JIeyi.sfom /ow/in/. "Physics, Mysticism and the New Halo-
2. A REALDADE MUTAVEL DE KARL PRIBRAM Af4n.fy# FergrJso# . . .
graphic Pandigm" © 1979 por Re yr.s[.o# /owma/, "Commentaries on the Holographic Theory.`,
"Field Conieiousness and Field Ethics" e "What the Fuss is An About" © 1978 porRcyl.SJon 3. QUAL A CONFUsi£O QUE ESTA POR TODA A PARTE Kor/Prr.bram .
/a"/pr/. "The Enfolding-Unfolding Universe: A Conversation with David Bohm" © .1978 por 4. CONSCIENCIA DE CAMPO E ETICA DE CAMPO Jtene'e Weber ......
I)avid Bohm. "Karl Pribram's Changing Reality" © 1978 pela revista Jrw"# BeA4yfor. 5. o uNIVERso Qun DOBRA E DESDOBRA: UMA CoNVERSA COM
"A New Perspective on Reality" © 1978, pot Interface Pless, 6 uma reimpressao do
DAVID BOIIM Re#€e Weber ............................. 45
ninero do Brai.x/flfj.Hd BWJJeri.n dedicado as teorias holograficas. Os varios artigos que apare- 6. COMENTARIOS S0BRE A TEORIA HOLOGRAFICA
ceram no Bw//a/i.n como mat6Iins separadas foram recompostos sob urn tftulo geral e o cabe-
Reflexdes sobre o Paradiglna Holografico KeH D}/crfetwa/d ..........
calho original de cada artigo foi conservado como subtftulo. 0 Bw/7c/I.# foi reimpr.esso com a
Holonomja e Bootstrap Frz.fy.a/ capma ........................
permissao da organizadora, Marilyn Ferguson, e da Interface Press. 0 iBr4i.H/uri.mar Bw/Jcrrn 6
publjcado toda primeira e terceira segundas-feiras de cada mss. Assinatura: 20 d61ares por ano Amor-Pr6prib-e a Conexfro C6smica Sam Kee# ..................
na AiTi6Iica do Norte e 27 d6lares nos outros parses. Br4I.n/ari.nd Bu//cf[.H, P.0. Box 42211, Fatores tb Princi'pio da lncerteza em Modelos Holograficos da Neuro-
Los Angeles, Calif6mia 90042. filslotogiv Kenneth R. Pelle.tier .............................
Publieado rnediante acoldo com a Shambhala Publications, Inc., P.O. Box 308, Boston,
Conhecimento Holonomico J}ob S¢mp/es .....................
MA 02117.
Holonomia e Parapsicoloda sf¢#/e}J Kn.pp#er ..................
'A Edigao Abreviada, Simpnficada e Revista de Charigr.ng Rca/rty por
ndarfuyn F6rguson Jofrn Sfr!.inoi" .........................
0 Paradigma Holografico e a Estrutura da Experiencia /oAn Wc/wood . .
Comentatios sobre a Visfo Holografica da Realidade /fzA:zk Benfoy ....
•: Plecan9des William lrwin Thompson .........................

A Nova Ciencia e a Holonomia M.//I's Hamow ...............,...


Uma Visao Multidimensional WI.//i.¢m A. 7t.//er ..................
Modelo Holografico, Paradigma Holi'stico, Teoria da hformagao e Cons.
ct.er\ch John R. Battista ................................ 136
VivenciandoaHolografiafcomard/.Dwh/ ....,......,........ ` 142
7. FI'SICA, MISTICISM0 E 0 NOVO PARADIGMA HOLOGRAFICO:
UMA AVALIACA0 CRITICA Ken M.Jber ....................
8. 0 Frslco E 0 MI.sTlco -E pOssrvEL uM DIALOGO ENTRE ELEs7
UMA CONVERSA COM DAVID B0IIM Re#c'c Weber ..............
Direitos de traduea-a para a lingua portuguesa
9. o 7i4o I)4 j7r:stcA REvlsITADo: UMA CONVERSA COM FRITJOF
adquiridos coqu exclusividade pela
CAPRARendb Weber . ` .....,..........................
EDITORA CULTRK LTDA.
Rua Dr. Mfrio Vicente, 374 -04270 -S5o Paulo, SP -Fone: 272-1399 10. REFIEXOES S0BRE 0 PARADIGMA DA NOVA ERA: UMA CON-
que se reserva a propriedade fiter6ria desta traduea-o. VERSA COM KEN WILBER .................,...........
Colaboraderes...................`......................
Impresso nas of iictms grdf icas da Editora Pensamento.
I;ndice Rerrtissivo ......................,..... ` ............
-_---i ------- _

INTRODUCAO

Ken Wilber

Durante os tiltimos tres anos, aproximadamente, urn extraordinario dialogo


(e debate) teve lugar has pagivas do Jzey!.s!.o# /owm¢/. Seu tema: talvez a primeira
ocasiao em que, s6ria e per8istentemente, se prestou atengao na interface entre
"ciencia autentica" (por exemplo, a ffsica e a fisioloSa) e "relitiao autentica"

(por exemplo, o misticismo e a transcendencia), tema que mais de urn estudioso


qualificou .de "memoravel". Este livro e o produto e o contetido desse didlpgo.
0 pr6prio diflogo amplo, hist6rico, entre ciencia e reliSao retrocede por
urn longo caminho - pelo menos ate Platgo, Arist6teles e Plotino (embora a pa-
lavra "ciencia" nao significasse nessa 6poca a mesma coisa que hoje). Antes, no
entanto, as discuss6es estavam em. geral centralizadas nas dj'/ere#f4s entre ciencia
e reliSao, seus conflitos, suas reivindicac6es, competitivas e aparentemente incon-
cilifveis, de portadoras da verdade (com uma ocasional discussao mantida a con-
tragosto sobre urn possi'vel amistfcio ou algum tipo de coexistencia pacffica,
embora sujeita a atritos).
Mas agora, de maneira urn tanto stibita, na decada de 70, reuniran-se al-
giins pesquisadores muito respeitados, muito s6brios e muito habflidosos - ff.
sicos, bi61.ogos, fisi6logos, neurocinir$6es - e esses cientistas ngo estavam fa-
lando com a relitiso; estavam simplesmente /zZ¢#do re/I.giro, e (o qua 6 ainda
mais extraordinfrio) actarn assim numa tentativa de explicar os dados ft¢rd da
pr6pria ciencia. Os /¢fos reais da ciencia, diziam, os dados efetivos (da ffsica a
fisioloSa) s6 parecem fazer sentido se presuminos algum tipo de fundamento
inplfcito , ou unificador ou transcendental subjacente aos dados explfcitos.
0 pongwG de isso ser assin 6 exatamente o tema deste livro. Por ora, no
entanto, observemos apenas ale, devido a varias e sofisticadas razdes, esse.s pes-
quisadores e te6ricas das ciencias feaird estavam dizendo que, sem a suposigao
desse fundamento transcendental, independentemente do espapo e do tempo,
os pr6prios dados, os resultados mesmos de sous experimentos de laborat6rio,
n8o admitiam explicapso irrefutivel. AI6m disso - e aqui estava o impacto -
es§e fundamento transcendental, cuja existencia mesma parecia uma necessidade
requerida por dados experimentais€ientfficos, parecia identico, polo menos na
descrigao, ao fundamento do ser (ou "Deus"), independentemente do espago
e do tempo, descrito universalmente pelos maiores mfsticos e sdbios do nun.
do, hindus, budistas, crist5os e taoi`stas. E foi ess; id6ia, sem precedente e de
grandes conseqtiencias, que "disparou" e definiu o dialogo da Reyj.5z.o#.

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Diferentes correntes de investiga96es conflufram nesse dialogo. Havia, em de D.T. Suzuki), esses paralehismos foram delineados com clareza e vigor pro-
primeiro lugar, a pesquisa pioneira de Karl Pribram, neurocirurSao da Stan ford, gressivanente malores. Nun nfvel popular, Alan Watts comegou a fazer uso
cujo livro £4#gt/4!ge§ a/ fhe jBrzr!.# j5 6 reconhecido como urn classico modemo. da ffsica modema e da teoria dos sistemas para expncar o budismo e o taofsmo.
Como sera esclarecido nas paginas seguintes, os estudos de Pribram sobre o fun- Ulmi abolda;Ben mais e"dita fo£ The Medium, the Mystic,. and the Physicist,
cionamento e a mem6ria cerebrais levaram-no a conclusto de que o cerebro opera, de Lawrence Leshan. Mas nenhum outro livro prendeu tanto o interesse de eru-
sob vfrios aspectos, a semelhanga de urn holograma. Urn holograma 6 urn tipo ditos e leigos quanto a obra e'xtremamente ben-sucedida de Fritjof Capra, a
especial de sistema de ainazenamento 6ptico, que pode ser melhor explicado Too da F{stca.*
par meio de urn exemplo: se voce tira uma toto hologrifica de, digamos, urn ca. Todos esses pesquisadores - Pribram, Bohm, Capra - participaram do di4-
valo, e retira urn peda€o dela, por exemplo, urn pedago que numa foto conven- logo da Jte 7ri.sl.on. Outras vozes uniram-se a esse didlogo: Stanley Krippner, falan-
cional corresponderia a cabeea do cavalo, e entfro anplia o pedaeo retirado ate do sobre parapsicolocta, Kenneth Pelletier sobre neurofisiolotla, Sam Keen sobre
"conex8o c6smica", John Welwood sobre psicoloda, Wmis Harman sobre a nova
o tananho origival, voce nco obtera uma grande cabeea de cavalo, mas uma ima-
gem do cavalo inteiro. Em outras palavras, cada pedago individual da imagem ci6ncia, John Battista sobre teQria da informacao e psiquiatria, e muitos outros.
cont6m a imagem toda em foma condensada. A parte esta no todo e o todo esta Devese, entretanto, mencionar em especial as contribuigoes de Marilyn Ferguson
em cada parte - urn tipo de unidade-na-diversidade e de diversidade-na-unidade. e de Ren5e Weber. Marilyn -cujo livro mais recente, 77Ie ,4qw4rz.aH Conspfroc}J,
0 ponto{have esti simplesmente no fato .de que a p¢rfe ten acesso ao fodo. representa uma importante contribuig8o a todo esse assunto - colaborou (atra-
Desse modo, se o edrebro funcionasse como urn holograma, ele poderia v6s do Broz.H/Mj.#d BWJJerz.#) para que tivesse infcio o pr6prio dialogo, em suas
entao ter acesso a urn todo malor, urn domfnio de canpo ou "domthio de fre- hnhas gerais. E Ren6e Weber, al6m de contribuir com numerosos artigos e ideias,
qde^ncias holi'sticas", que transcenderia fronteiras espaciais e temporais. E esse conduziu de maneira muito habflidosa entrevistas com Bohm e Capra, o que aju-
domfnio, raciocinou Pribran, poderia muito provavelmente ser o mesmo domf- dou inensamente a esclarecer as questoes centrais.
nio da unidade-nardivel.sidade transcendental descrito (e vivenciado) pelos maio- A ordem em que os capftulos se sucedem nao se baseia em meus julgarnen-
res mfsticos e sfbios do mundo. tos de m6rito ou de importincia relativa. Ela corresponde simpl?smente a ordem
Foi aproxinadamente nessa 6poca que PI.ibram ficou sabendo dos traba- cronol6Bca em que os artigos, entrevistas e respostas apareceram mos wirios no-
th.os do fi'sico indes David Bohm. Como veremos, os trabalhos de Bohm em fi'sica meros de Rey!.s!.o#. Desse modo, a fluxo das id6ias e a ordem orianais pemane-
subatomica e sobre o "potencial quantico" levaram-no a conclusao de que enti- ceran intactos, e a maneira como o pr6prio diflogo se desenvolveu e amadureceu
dades ffsicas que pareciam separadas e discretas no espago e no tempo estavam, tornou.se evidente. AI€m disso, o dialogo prossegue, nas p4givas de j3ey!.§i.or;
na verdade, !igadas ou unificadas de maneira inplfcita ou subjacente. Na termi- os vatos autores continuam a aprimoral, a sofisticar e a atuanzar sous pensa-
nolotia de Bohm, sob o dom!.nz'o exp/I.cado de coisas e eventos separados flea mentos; por isso, o tiltimo capftulo deste lfvro nao representa, de maneira ne-
urn domrfu!.a I.mp/z.cado de totalidade indivisa, e esse todo inplicado 6 simulta. nhuma, a palavra fmal sobre o assunto, mac apenas a mais recente.
neamente disponi'vel para cada parte explicada. Em outras palavras, o pr6prio 0 que se segue nao inclui, 6 claro, todos os tipos de diflogos possfveis en-
universo fi'sico parecia urn Sgantesco holograma, cada uma das partes estando tre ci6ncia e reliSao - longe disso. Mas, a julgar. pelas evidencias, as teorias e ideias
no todo e o todo em cada uma das partes. representadas nas p6givas seguintes suscitaram tanta, ou mais, excitaggo e tanto
Foi a essa altura que nasceu o "paradigma holografico": o cerebro 6 urn entusiasmo quanto quaisquer outras. Tambem nac ha nenhuma dtivida de que as
holograma que percebe urn universo hc;lografico, e dele participa. No domfnio id6ias de te6ricos tais como Pribran, Bohm e Capra representam algumas das ten.
explicado ou manifesto do espapo e do tempo, as coisas e eventos sao de fa-to tativas mais serias e sofisticadas para estabelecer uma interface direta entre a "cien-
separados e discretos. Mas debaixo da superffcie, por assim dizer, no domfnio cia hard" e realidades es|]irituais e transcendentais. Pode-se concordar com o novo
inplicado, ou domi'nio das frequencias, todas as coisas e eventos sao, indepen- paradigma, ou discordaT dele - amttos os argumentos, pr6 e contra, estao t}em re-
dentemente do espa9o e do tempo, e intrinsecamente, unos e indivisos. E, con- presentados neste volume. A16m disso, "o" pr6prio paradigma comporta efetiva.
clufram Bbhm e Pribram, .a experiencia relitiasa em spa quintessencia, a expe- mente todo tipo de diferentes interpretag0es - alguns pesquisadores julgan ne-
riencia da unicidade mfstica e da "identidade suprema", poderia muito t)em ser cess4rio introduzir nele dimensees hier4rquicas e evolucion6rias; outros nao re-
rna experiencia geHwrfu4 e Jegrfz.m4 desse fundamento implicado e universal. conhecem uma identidade estrita entre ciencia e misticismo., mas apenas algu.
Em alguns aspectos, esse paradig[na parecia marcar a culminancia de uma mas analoSas importantes; outros ainda questionam se urn novo paradigma ou
tendencia hist6rica discemi'vel: desde a epoca da "revolueao quantica", cinquen. mapa menf¢/, nao importa o quao aparentemente unificado, seria de fato capaz
ta anos atria, virios fi'sicos descobriram intrigantes paralelismos entre os resulta- de levar a uma fr¢#scc#dencdr da pr6pria .mente (que 6 o verdadeiro objetivo
dos de suas investigap6es e certas relig6es mfstico-transcendentais. Heisenberg, do misticismo autentico). Todos esses temas foram debatidos em Rey!.§!.on', e
Bohr, Schroedinger, Eddington, Jeans, e ate mesmo Einstein sustentavam ulna todos eles sao apresentados nas pigivas seguintes.
concepc5o mfstieo€spiritual do mundo. Com o grande influxo de reli$Oes orien-
* Publieado pela Ed. Cultrix, Sgo Paulo,1985.
tals no Ocidente (comegando principalmente com os Essays I.n Zen Bwddfe!.sin
9
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Meu ponto de vista, no entanto, 6 este: concordando-se ou nao com o(s)
novo(s) paradigma(s), uma conclusfo emerge, inquestionavelmente : quando mui-
to, a nova ciencia requer espinto; e, no minimo, ela abre bastante espago para
o espfrito. Em qualquer dos casos, a ciencia modema nao est6 mais «egzzrido o
espfrito. E isso, z'sso, 6 notivel. Como observou Hans Kting, a resposta tfpica a
quest fro "Voce acredita no Espi'rito?" castumava ser: "Claro que nao, sou urn 1
cientista"; mas poderia muito em breve se tomar: "E claro que acredito no Es.
pfrito. Sou urn cientista."
Este volume - assim como o pr6prio ReTrl.s!'o» -representa urn dos pri.
UMA NOVA PERSPECTIVA S0BRE A REALIDADE
meiros passos na preparac8o.do terreno para a acolhida dessa segunda resposta,
mais fluminada.
0 Ninero Einecial Atualizado do r7!e Br4z.#/"z.#d Bw//e/z.#

0 neurocientista Karl Pribram da Stan ford e o fisico David Bohm da Uni-


versidade de Londres propuseram teorias que, em tandem, parecem responder
por todo tipo de experiencias transcendentais, eventos paranormais e ate mesmo
singularidades perceptivas "normais". As implicag6es disso para cada aspecto da
vida humana, e tambem para a ciencia, sgo tso profundas que dedicamos urn
ntlmero deste boletim a esse assunto.
Esse avango revolucionfrio realiza previs6es segundo as quais a t5o espe-
rada teoria (I) vale-se da matematica te6rica; (2) estabelece o "sobrenatural"
como parte da natureza.
A teoha, rrNIm res"mo.. Nossos c6rebros constroern matematicamente a
realidade "coricreta" interpretando frequencias provenientes de outra dinen-
s6o, urn dom{hio de redidedd prindria, significativa e padronizeda. que trans-
cende tempo e espapo. 0 c6rebro 6 urn hologra;:rna interpretando urn universo
hologrofico.
Fen@menos envolvendo estados alterados de consciencia (que refletem
estados cerebrais alterados) podem tor origem numa sintonizapso literal com
a matriz invisfvel que gera a realidade "concreta". Isso poderia possibilitar a in-
terapao com a reali4ade num nfvel primario, respondendo desse modo por fe-
n6menos como a precognigao, a psicocinese, a cura paranormal, a distor€ao ten-
poral, a aprendizagem rapida. . . e, pela experiencia da "unicidade com o uni-
verso", a convicgao de que a realidade ordin6ria e uma flusao, descrigoes de urn
vazio que 6 paradoxalmente pleno, como no proverbio taofsta: "0 real 6 vazio
e o vazio e real."
Durante valios anos, os interessados pela consciencia humana falaram, an.
siosos, sobre o "paradigma emergente", uma teoria integral que abarcaria toda
a maravilhosa e multiforme riqueza da ciencia e do espfrito. Eis aqui, rfmalmen.
te, uma teoria que faz o casamento da bioloSa com a ffsica nun sistema aberto:
o paradoxal paradigma sem fronteiras, que ten sido objeto de apelo por parte
da nossa ciencia esquizofrenica.
Em seu livro datado de 1963, yo# a#d yo#r Brtzrfe, Judith Groch obser-
vou que os eventos paranomals podiam ser ignorados apenas porque Cram in-
convenientes ao arcabougo do nosso conhecimento. Einstein, incap.az de re-
concfliar inconsistencias presentes na fi'sica newtoniana, "destravou uma por-
ta te6rica atrav€s da qual os cientistas se precipitaram, a procura do conheci-

10 ll
A REALIDADE PRIMARIA PODE SER UM
mento residente do outro lado". Groch sugeriu que o cerebro estava a espera
DOMfNIO DE FREQUENCIAS
do seu Einstein.
E significativo que esse paradigma radical, satisfat6rio, tenha emerrido
E a realidade o produto de uma matriz invisfvel?
com Pribran, urn neurocirurSgo I)esquisador do c6rebro, que era amigo do mestre "Creio que estamos no meio de uma mudan9a de paradigma que abarca tcL
ocidental de zen Alan Watts. . . e com Bohm, ffsico te6rico, amigo rfutimo de
da a ciencia", disse Karl Pribrarn em recente conferencia em Houston, "New
Krishnamurti e antigo assistente de Einstein.
Dimensions in Health Care''. Ele pretendia decifrar uma poderosa teoria mul-
tifacetada que poderia "explicar" a realidade sensorial considerando-a urn "caso
especial" construido pela matematica do edrebro mas extrafdo de urn domfnio
al6m do tempo e do espago, onde s6 existem freqtiencias.
0 QUE E HOLOGRAFIA
A teoria podia responder por todos os fen@menos que parecem violar a
"lei" cientffica existente, demonstrando que tais restricces sao em si mesmas
Holografia e urn m6todo de fotografia sem lentes no qual o campo ondu-
produtos de nossas construgdes perceptivas. A ffsica te6rica j5 demonstrou que,
lat6rio da luz espalhada por urn objeto € reBstrado numa chapa sob a foma de
em niveis subatomicos, os eventos nao podem ser descritos em termos mecanicos.
urn padrao de interferencia. Quando o retlstro fotografico - o holograrna - e
Pribram, famoso pesquisador do ctrebro, acumulou, durante uma decada,
exposto a urn feixe de luz coerente, como urn foscr, o padr5o ondulat6rio oriB-
evid6ncias de que a "estrutura profunda" do c6rebro e essencialmente hologra-
nal 6 regenerado. Uma inagem tridinensional aparece.
fica - anfloga ao processo de fotografia sem lehte pelo quad Dennis Gabor re-
Como nao ha focalizador, isto ¢, lentes focalizadoras, a chapa ten a apa-
cebeu urn premio Nobel.
rencia de urn padrao de espirais destitufdo de qualquer significado. Qw4Jq!Icr pe-
A teoria de Pribram ten obtido crescente apoio, sem sofrer objeg0es s6-
dapo do holograna pode reconstruir a i:magem inteira. rias. Urn inpressionante corpo de pesquisas em muitos laborat6rios demonstrou|
que. as estruturas cerebrais veem, ouvem, sentem o gosto, cheiram e tateiam por :
meio de sofisticadas analises matematicas de' frequsncias temporais e/ou espa-

0 HOLOGRAMA COMO MODELO PARA UMA NOVA :,;s¥:.n#st-g3:e,:59osad`:r°:?:£::'eetsan::rdt:odho°[:g:£eam::.::md:adctaref:ar£::tno-


DESCRICAO DA REALIDADE
6daificadbpapaproduzirasinfomagees ¢oto¢o. . ' -`` ....`+~
Embora o modelo hologr4fico gerasse respostas fecundas, levantou uma
0 fi'sico David Bolrm afirma que o holograma 6 urn ponto de partida para
questao que chegou a assombrar Pribram. Quem estaria omando o holograma?
uma nova descrigao da realidade: a ordem dobr¢dr.* A realidade cl4ssica foca-
Quem seria o "homenzinho dentro do homenzinho", a quem Arthur Koestler
lizava manifestagdes secundirias -. o aspecto desdobr4do das coisas, e nao sua deu o none de "o fantasma da miquina"?
fonte. Essas aparencias sao abstrai'das de urn fluxo invisfvel, intangi'vel, que nao Depois de se torturar com esse problema durante algum tempo, disse Pri-
e constitufdo de partes; e uma interconexidade inseparavel.
bram, ele concluiu que, se a quest5o pemaneceu impenetrivel a todes desde
Bohm diz que as leis fi'sicas primfrias nao podem ser descobertas por uma
Arist6teles, talvez fosse pelo fato de que se tratava da questao errada. "Entto
ciencia que se esforea por quebrar o mundo em suas parte§. eu perguntei: `E.se o mundo nao fosse, em at)soluto, feito de objetos? E se c/e
I]a inplicaeces intrigantes nun paradigma segundo o qual a c6rebro em-
fosse urn holograma?' "
prega urn processo hologrffico para abstrair a partir de urn domfrio hologrffico. Uma conversa de Pribram com seu filho, urn ff§ico, levou-o as recentes
P_arL¥S±6!.8g_o.S...P{.e9_u_r.g.r_qp+. em . vao a el}e`rSa respousavel pela transmissao da te-
•.I-. . _-
teorias de David Boha. Para sua grande excitagao, ele descobriu que Bohm es.
`1epatia, da psicocinese, da cura paranormal, etc. Mas se esses even-t-os emergem peculava que a hatureza do universo podia assemethar-se a urn holograrna, !~p
de frequen.cias que trauscendem tempo e espapo, 6le3- n§9---i-i66isari set-iiiiis.rfu--
.q.9FT.Iqipr_4€ ~fr9qapncias. e potenc.iapdaqes sust?ntan`do _¥ma nusao de capcre.ti-
tidos. Sso potenciainent6. simultaneos e onipresentes.
±]gB±;. Bohm assinalou que, desde a 6poca de Galileu, a ciencia ten objetiflcado
Mudangas em campo§ magneticos, eletromagneticos e gravitacionais e mu. a natureza observando-a atraves de lentes.
dangas nos padroes el5tricos do edrebro seriam apenas manifestac5es sup.erfi- Prit)ram estava impressionado com o pensamento de que. `a matem4tica
ciais de fatores subjacentes aparentemente nao-mensur4veis. J. 8. Rhine, urn do c6rebro poderia ser "uma foma mais grosseira de lente. Talvez a reandade
dos pioneiros da modema parapsicoloda, era c6tico quanto a possibindade nao seja aquflo que vemos com os othos. Se nao passufssemos essa lente, talvez
de que uma energjp fosse descoberta. 0 psic61ogo I.awrence I£Shan, autor de
pudessemos conhecer urn mundo organizado no domfnio das frequencias. Sem
+1Jfem4fe Re¢Jz.ty, acredita que a enerSa 6 urn conceito menos titil em cura psi'- espaco nem tempo - apenas com eventos. Poderia aquela reaudade ser algo que
quica que uma certa junc8o, ou fusao, de identidades, talvez uma r,?Ssoqancia. 6 `descartado' desse domi'nio?" A experiencia transcendental sugere que, de fato,
existe acesso ao domfnio das freqp.€p,Qia§„.a .realidade
.--.-. ` .---..--- I primatia.
. -. '-
* Vcr nota de rodap6 na pisina 45 .
13

12
"E se houvesse uma matriz que nao objetificasse, a menos que fiz6ssemos estgo a tal ponto equnibrados que o son parece prcjetar-se de urn ponto situado
alguma coisa a ela?" As br6prias representa9des do ctrebro - sua abstra?ao - a meio caminho ientre eles. Tais fenomenos envolvem altemapao de frequencias
podem ser identicas a urn estado do universo. e relag6es de fases .
Pribram assinalou os extraordinatios I.»S!'gfzf§ dos mfsticos e dos .antigos • Pribram especulou que a exper!.G#cdr fr¢#Sce#de#f¢J tambem poderia envol-
ffl6sofos, que precederan em s6culos a verifica€ao cientffica. Urn exemplo 6 a vcr algum tipo de projeego. Disse que suas observa9ces sobre experiencias transcen-
descric5o metaffsica da chandula pineal como o "terceiro olho". Recentemen- dentais sugerem urn possi'vel papel para circuitos, centrados na amfgdala, que con.
te, descobriu-se que a tlthdula pineal pQde ser uma esp6cie de tlindula super- trolaln a june5o, no Ofrebro, ¢e mecanismos de alimenta¢5o de retomo ¢eedb¢ck)
principal, pois sua secree5o de melatonina regula as atividades da pituMria, ha e de avango ¢ecd/orv¢rd). Esse.s circuitos, observou, ten sido local de pertur-
muito considerada a principal tlandula do c6rebro. bacdes patol6ticas, ben como de experi6ncias de 6ventos d€/a " e de "conscien.
0 fil6sofo Leibnie, no s6culo XVIII, descreveu urn sistema de "inonadas" cia sem contetido" , caracterfstica de estados rnfsticos.
• Eke a,oredita que se demonstra,[& que os neuropeptidios (veja B|MB. 20 de !urtho
que coincidia de.maneira not4vel com o novo paradigrna, observou Pribram. Sua
descoberta do calculo integral permitiu a Gabor inventar o holograma duzentos de J978), grandes mol6culas recenternente descobertas, regulam os transmissores
anos mais tarde. cerebrais e representam urn avaneo na compreensao do funcionaniento do cerebro.
"Como essas ideias surgivam durante mflenios antes que tivessemos a rna- • Pribrarn pensa due a experiencia mtstica nao 6 mats estranha que outros fen6-
tematica para compreende-1as?", perguntou Pribram. "E possfvel que no esta- menos, c6mo, por exemplo, a desrepressgo seletiva do ADN para formar primei-
do hologr4fico - no domfhio das freqtiencias - 4.OcO anos atris seja` amanha." ro urn 6rg5o, depois outro. Os cientistas mais produtivos, disse ele, "estso igual-
"A filosofia oriental ingressou no pensamento ocidental no passado. De
mente inclinados e c.apacitados a defender tanto o espfrito quarto os dados. Isso
vez em quando temos esses I.#si.gfets que nos levam de volta ao inflnito", disse e ciencia, como era originalmente concebida: a procura da compreensso. Os dias
a sua audiencia. "Se urn deles vai nos transpassar agora ou se, mais uma vez, con- dos tecnocratas de coraeao frio e cabeca dura parecem estar contados".
tinuaremos dando voltas, 6 algo' que depender6 de n6s. 0 espfrito do infinito • Ele sugeriu que nao existe essa coisa chamada metifora - ou, entao, nun certo
poderia tornar-se parte da nossa cultura e. nao algo `um pouquinho remoto'." sentido, que toda metafora 6 verdadeira. "Tudo e isomorfo." (Na fnosofia orien-
tal, "o que esta em cima 6 como a que est4 embaixo".) Podemos estar agora ex-
perimentando os efeitos de urn holograma social, urn padrao de interconexidade
PARADOXOS. DE PRIBRAM.. de indivi'duos. Sz.#cror!!.cz.drde e coincidencia significativa fazem sentido nun
COMO 0 CEREBRO CONHECE? universo significativo, hologrffico. Pribram propos que ate mesmo a distribui.
ggo aleat6ria baseia-se em princi'pios hologrificos e a, portanto, determinada.
A pesquisa e a teoria de Karl Pribran abrangem todo o espectro da. cons- •`A incerteza da ocorrencia de eventos e apenas superficial. . ." J7a' s!.mefr!'as swZ7/.¢-
ci6ncia humana: aprendizagem e desordens da aprendizagem, imagivagao, signi- cenfes, e nco somente ocorrencias de puro acaso. Citou recentes observagces
ficado, percepg8o, intenfao, paradoxos da fungao cerebral. Eis alguns concei. sobre o spz.# na ffsica e a insistencia de Einstein de que "Deus nso joga dados
tos-chave correntes: com o Universo".
• Os intrincados dispositivos mat;maticos do edrebro podem depender de inte-
rapdes nas jun96es entre c6lulas (stnapses) atrav6s de uma rede de fibras fmas
nas ramifica€des de ax6nios. Os impulso§ nervosos nessa rede de fibras finas rna- AS IMPLICAC6ES DA TEORIA ESTENDEM-SE A TODOS
nifestan-se em o#cfos /e#fag com potencial para efetuar a matematica. (Outros OS ASPECTOS DA VIDA HUMANA
pesquisadores especularam que o rz.two aJ/a dos ondrs cerebrzr!.s pode ser urn dis-
positivo de sincroniza98o necessfrib a essa computa9ao.) A nova teoria ten implicagdes terrrveis em termos do potencial do indi-
• As infomapdes no c6rebro podem estar distribufdas como nun fro/ogrzr". vfduo para afetar sua vida - sua "realidade" -. e urn poder impressionante para
0 cerebro, aparentemente, possui uma capacidade de processamento em para- verificar descobertas discrepantes decorrentes de pesquisas sobre a consciencia.
lelo que sugere para ele urn modelo 6ptico, no quad as conexoes sao formadas
por trajetos percorridos pela luz, alem de outras conexoes, mats limitadas, do uta;ng:P;Fa:¥#d::j¥`:%reendduecr:d,°:[e:an§::e::mhab£:C::asa:££::d:gfeodnaddaes:::::
tipo das utilizadas nos computadores diBtais a processamento serial. Urn padrao brais, a ansiedade assemema-se a estatica -urn estado ruidoso, arrftmico. Me-`;':
de distribuicso semelhante ao de urn hologr.ama tambem explicaria como` uma todos de ensino podem tentar promover nos estudantes estados harmoniosos,
mem6ria especffica nao possui uma localiza9[o ben-definida mas se encontra relaxados, pc)r meio de tecnicas de concentragso ou meditag8o, bi.a/eedhack,
espalhada por todo o c6rebro. ou combinapoes de mtisica e exercfcios de respiragao como as utinzadas pelar
• Uma especie de e/e!to esS¢reo da entrada sensorial -aud!tivo, cinestesico, etc. -
faz com que a percepeao de urn ponto "salte para fora" no espa€o (isto e, reco. :g£Ssta°d[:f:a€`¥-£TE.:h=et£[:i:ag;:td°eF:_al:rigr:::n:;dr:sp:[rteobr:::r:eT;T:,Qf:I:]nec¥£
nhe9a espacialmente esse ponto), como no caso em que dois alto-falantes est6reos
individuais no estilo da aprendizagem.
-I --.- _`-``''-`'" -.,--...,.,,, ` _ -.-....,-

14 15
`--.Satde:`.A responsabflidade individual pela sadde e enfatizada, uma vez que
Edgar A. Leveuson assinalou que tais mudangas ocorrem por todo o es-
ficoL`foem `:vidente que e:2E;it.e .a_eg.s.s`9_..?Q ``dq.p^ini_o. EUTinirig .q.e|eJdidade.Hug.._cri.?
pectro de m6todos psicanalfticos e nso devem, portanto, ter origem numa abor-
a_ doepca ou o. be.in{star.. Isso n5o significa que os fatores ambientais sejam sem
dagem especffica, mas em alguma outra coisa. A t6cnica, disse ele, nada mats
importancia: nutrientes, luz, ioniza95o e son afetam a sadde no nfvel das fre- e que uma serie de preparac6es cerimoniais para a mudan9a.
qtiencias. "Uma mudanga repentina ou insidiosa, dramatica ou ocorrendo gem ser
Abordagens da sadde que. combinam imagens com estados alterados de
percebida nao surge sob o controle de nenhuma tecnica ou procedimento. Mes-
consciencia - treinanento aut6geno, medita9ao, hipnose, psicossintese - fa- mo que sua vida dependesse dis§o, nenhum terapeuta seria capaz de produzir
zen muito sentido se a imagem interage com urn estado simultineo e onipre- urn resultado terapeutico que the fosse ordenado. . . A semelhanga da experien-
sente de. todas as possibilidades. Isso pode tranqtiilizar os pacientes ctticos - e cia mfstica ou est6tica, a experiencia psicanali'tica e caprichosa e imprevisi'vel."
economizar dirtyej!9. ga§}.o_,com placebos ! No entanto, quando a terapia esta indo ben, ha urn forte sentimento de
que urn evasivo padrao estd emergivdo, urn poderoso tema central evidente em
cia_ecg:ucm°:e.:oP=meo:tiiia:!egDn:as,C::0::nfi+g,r£:jveasn:ep:once:::t::::tv£:°_depoflduee:: todos os nfveis ao mesmo tempo. 0 terapeuta nto esti dizendo nada de #oyo
efetivamente, refletir estados de consciencia em ressonfncia com o aspecto "on- ao paciente, "mas se acha em ressonincia com algo que o paciente ja conhece,
dulat6rio" holfstico da realidade. Ansiedade, raiva e sensagao de "estar atola. e que o terapeuta focaliza com mats nitidez. A mudanga e consequencia da ex: '`
do" representarian estados fragmentados.
pansao de padroes configuracionais ao longo do tempo".
Em si mesma, a interpretagfro do terapeuta nao faria pela mudan€a "mais
rasc`;Tfi=ifn?a¥::~:-:-=m°t€';ieEa;::ri:en:Set:easss::±Sve:sra°£:u:udbajsac:n::?S;:gua]::; do que urn ponto de espaco faz por uma linha. Isso nao se deve tanto ' ao fato
--.- _ `~` . ` r --,- ' .-.,,.
sobre a consciencia ja vincularam a essas experiencias a atividade do±i_stRE`l.f~p:
ee 'up ..terapeuta estar corr.eto g~m §uas fompl.a&pe§,,pus-sin. de ?,s`ta.r„?rap..±a_mLE-
bico do c6rebro. 0 termo "transcendencia" pode vir a se evidenciar como uma .ria.9`uTes`§.Q-pap€i.?.g_o_p.9que`e§t.aQg`p,rr?.p99np_ap,pfcjfp_i.g;
aeT56HE56HI€fa desse estado - urn certo tipo de relagao de fase entre dois pro. "Tudo se passa como se uma enorme representaeao tridimensional e espa-
cessos cerebrais em geral considerados mutuamente exclusivos: o analftico e o cionalmente codificada da experiencia do paciente se desenvolvesse durante a
holfst!8~o~(eeapino parti'culas e ondas), o intelectual e o intuitivo. terapia, penetrando em cada urn dos aspectos da sua vida, da sua hist6ria e d;
sua participagao com o terapeuta. Em algum ponto hi uma especie de `sobre-
nar.sg:#::t:edo°d:Sthaif::::'uf:Cv:r¥#Adeat:n?ae:r:;doeuqcuoa::'tecn°drfrde::C£: carga', e tudo cai no lugar."
guns pacientes de bz'o/eedbarcA. curaln suas enxaquecas elevando a temperatura 0 padrao, ou tema, emerdu de maneira dram4tica para o paciente.
das maos, outros abaixando essa temperatura. Pesquisadores estag passando ? Num artigo em Cowremportzry Ptycho¢Ha/}Jsz.s (12: 1-20), Levenson citou
acreditar qu? a qualidade da atengfro pode ser mais''impoftante. que o efetivo apr?r}.- o modelo holografico de Karl Pribram sobre o funcionamento do c5rebro e a
aiz-ado a.Q autocoptrole fi§i3jl`6ij-c~6: -.-- concepcfro do ffsico David Bohm sobre a existencia de urn nfvel holografico da
`iF.€9S.o.fiL£~e.'.givol`+gSj A ideia de noosfera, introduzida por Pierre Teilhard
realidade, que se encontra "dobrado" sob as aparencias.
de Chardin - uma invisfvel teia planetaria de consciencia em evolugao - e in- 0 terapeuta nao 6 ben-sucedido pelo fato de que consegue explicar, diss6` \
teressante a luz da nova teoria. Assim como o 6 a antiga nocto esoterica de que Levenson. Ele expande a percepgao e a consciencia dc coma as padrGes proce-
existem outras dimensoes da realidade em freqtiencias que nomalmente nao sao dcm ¢a#em!.ng). Essa atividade de expansto e ressonancia atinge praticamen-
perceptfveis a n6s. Alem disso, considere os alquimistas, que acreditavam que teem.:3e£::dvee]rodahd:,i::rsauf[bcs:rastu°genreeuru°:S};:::gci:erJrae::[£9ma:itenovo.Essepar;
poderiam transmutar elementos terrestres se conseguissem atintir urn ponto de
harmonia mfxima em si mesmos, radigma poderia nos oferecer ulna estimulante maneira de perceber e conectar
t+~~art`6?.i universais que se mostram evidentes na qualidade estetica pode- fenomenos clfnicos que sempre se reconheceu serem inportantes, embora sem-
riam refletir a simetria subjacente, frequencias e rela¢Oes de fase as quais nosso pre fossem relegados a `arte' da psicoterapia. 0 erro esta em nosso modelo de
c6rebro responde. A mtisica classica estf cada vez mats sendo usada para alterar comunicagao: o transporte de uma mensagem atrav6s do espago interpessoal."
a consciencia. Urn ffsico especulou que,os grandes quartetos de corda de Beethoven \
ativan os chakras.
A ABORDAGEM QUANTICA DA ACAO CE.REBRAL
COMPLEMENT-A 0 MODELO HbLOGRAFICO
sERRE±s8NUENAc]ruED4NNAcOAASETEDCENv]8Af
Uma torrente de comentarios, livros, artigos e /cads continua afluindo,
em resposta ao ninero de 4 de juno do Brzll.#/M!.nd BWJ/cf].n, dedicado ao emer-
Urn psi.canalista .de Nova York propos o holograma como urn valioso mo- gente modelo hologrifico da realidade basaado nas teorias do cientista do edrebro
delo para o fenomenrj do I.n§!.gfrf ou da mudanea sbbita em psicoterapia. Karl Pribram e do ffsico David Bohm.

16 17
Os parapsic61ogos Stanley Krippner, Charles Tart e Doudas Dean comen- 1965 -Emmett Leith e Juris Upatnicks anunciam sua ben-sucedida cons-
taram que o modelo hologrffico 6 consistente com seus dados experimentajs, tru?so de hologramas, gragas ao rec6m-inventado feixe de Ja§er.
particulamente devido ao fato de ele postular acesso a urn do.mfnio que trans- 1969 -Karl Pribram, que trabalhou com Lashley como neurocirurtiao,
cende espago e tempo, mas Jule Eisenbud acha a teoria demasiado mecanicista. propoe o holograma como urn podero§o modelo para os processos cerebrais.
0 ffsico Evan Harris Walker concebeu uma teoria quantico-mecanica com- 1971 -0 ffsico David Bohm, que trabalhou com Einstein, propde que a
plementar sobre fenomenos psi'quicos. in pouco tempo,.ocupou-se nun artigo organizapao do universo pode ser hologr5fica.
especificamente com eventos subat6micos no c6rebro: "Quantum Mechanical 1975 -Pribram sintetiza suas teorias e as de Bohm numa pubrica9ao alema
Tunneling in Synaptic and Ephaptic Transmission" (J#fe»!¢r!'o#¢Z Jowma/ a/ sobre psicolo¢a gee.f¢/f.
0%a#"in C7!emistry 11 : 102-127). 1977 -Pribram especula sobre as implicapces metafrsicas unificadoras
Terence e Denris MCKenna formularam, em seu livro 77!e /ntJ!.sz.b/e £¢#d- da sintese.
scope (Seabury, 1975), ulna teoria aparentada, expondo-a numa excelente seeao
intitulada "Toward a Holographic Theory of Mind". Eles ampliaram a teoria
hologr4fica do c6rebro de modo a incluir a possibflidade de o ADN e ate mes- Referencias
mo partfcula§ subat6micas operarem com base em princfpios hologrificos.
0 holografista Eugene Dolgoff contou ao J}/n4iB que suas infrutfferas ten- Sobre a pesquisa de Karl Pribram e a teoria hologrifica do processanento
tativas para detectar trausferencia de enertia em ni'vel PSI, no final dos anos 60, cerebral, Zrdz#gzt4!ggE o/ £jle Brar!.# (1971); sobre sua sfntese do modelo holografico
levaram-no a concluir que nenhuma transferencia de enerSa seria necessaria. "Na- do c6rebro com a concepgfro de David Bohm do uhiverso ftsico, Cb#scfows#as
da precisa ir daqui ate ali, pois nesse domi'nio nao existe nenhum `ali'." ¢#d ffee Bntz!.#, organizado por G. Globus, ef 4/. ¢lenum, 1976), e Pencei.y!.#g,
Melvin Werbach, psiquiatra e cli.rico em bi.a/eedb¢ck, acredita que o ho- 4cft.»g, a/td Knowing, organizado por R. E. Shaw e J. Bransford (Erlbaum/John
lograma pode nao ser nosso modelo defmitivo, "mas pode servir a urn prop6- Wiley,1977).
sito da maior importfncia proporcionando a possibilidade de uma base cienti'- As teorias de David Bohm aparecem em &f4#dym 77zeory and Beyond, orga.
fica aqueles de n6s que se sent'em a vontade quando pensan em temas holi's- nizado por Ted Bastin (Cambridge University,1971); Fow#drft.o#s a/Pkysfe§ I (4),
ticos". Wfllian MCGarey, diretor da Cli'nica A.RE., em Phoenix, e George Baker, 3 (2) e 5 (I); e Mz'#d r.# Iva!Zt/re (University Press of America, Washington, D.C.).
da Graduate Theoloctcal Union, em Berkeley, sugeriram implica96es metafi'sicas
de urn modelo de ressonincia.

CRONOLOGIA DE UMA IDEIA

1714 -Gottfried Wilhelm von Leibniz, descobridor do calculo diferen-


cial e integral, diz que hi uma realidade metafi'sica subjacente ao universo ma-
terial e que lhe d6 origem. Espapo-tempo, massa e movinento, e transferencia
de enerSas sao construg6es intelectuais da fi'sica.
1902 -William James prop6e a id6ia de que o ctrebro normalmente fntra
uma realidade mais ampla.
1905 -Albert Einstein publica suas teorias.
1907 -Henri Bergson diz que a realidade tiltima 6 urn impulso vital com-
preensfvel apenas pela intuie5o. 0 cerebro funciona coma anteparo face a reali-
dade mais ampla.
1929 -Alfred North Whitehead, matematico e fiil6sofo, descreve a natu-
reza como urn grande nexo de ocorr6ncias em expansao, que n8o e limitada pela
percepgao dos sentidos.. Duafismos tais como mente/materia sgo falsos; a reali-
dade 6 inclusiva e intercomunicante. . . e Karl I.ashley publica seu grande corpo
de pesquisas, demonstrando que a mem6ria especffica nao 6 localizfvel em alguma
determinada reSao do c6I.ebro mac se acha distribufda por toda a sua extensao.
1947 -Dennis Gabor emprega o caloulo criado por Leibhiz para descre-
ver uma potencial fotografia tridinensional : a holografia.

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Foi residente e estaSdrio em nlinois, e depois comeeou a praticar, na Flo.
rida, como neurocirurctao, onde tanb€m tiveram ini'cio suas primeiras pesqui-
sas .-nos Yerkes Ifboratories, em Orange Park, sob a orienta9to do famoso cien-
tista do c6rebro Karl I.achley. (Tambem estavam trabalhando em Yerkes D. 0.
Hebb e Austin RIesen, que posteriormente obteriam notoriedade em pesquisas
sobre privagso sensorial, e Roger Sperry, que mais tarde se tomaria urn pioneiro
2 na pesquisa sobre divis5o cerebral (sp/j.f-a/zH.H).)
Durarite trinta anos, Lashley esteve em busca do "engrama" - o local e
A REALIDADE MUTAVEL DE KARL PRIBRAM a substancia da mem6ria. Treinava aninais de laborat6rio e depois, seletivamen.
te, danificava poredes de seus cerebros, presulnindo que, em algum ponto, aca-
Marilyn Ferguson baria "escavando" o local onde estaria re5strado aquflo que aprenderaln. A re.
mapao de partes do c6rebro piorava urn pouco seu desempenho, mas parecia que
esse tipo de dano permanente do c6rebro era incapaz de erradicar o que ties ha-
Se voce quer §al]er pnde ocorrera a pr6xina revolapao nas pesquisas sobre via sido ensinado.
o c6rebro, descubra o que atualmente interessa a Karl Pribram. No transcurso Em certa ocasiao, urn confuso Ijishley disse, de modo atravessado, que
de sua carreira, o neurocientista da Stan ford, de 58 anos, ten estado presente, sua pesquisa demonstrava que a aprendizagem sinplesmente nao era possfvel.
se n5o como incendiario principal, em quase todas as mais importantes rebelices Pribram participou da elaborag8o da monumental pesquisa de I.ashley, e estava
do pensamento predominante a respeito de como o c6rebro funciona. envolvido no misterio do engrama. Como podia a mem6ria ficar amazenada,
Atualmente ele propee urn espantoso modelo, abrangente no mais alto nao em qualquer parte do c6rebro, mas distribuir-se por toda a sua extensao?
Depois, Pribraln foi para Yale, onde, durante sua estada de dez anos, fez
grau, que esta provocando consideravel excitagao entre as pessoas intrigadas pe-
' `los rnist6rios da consciencia humana. Seu "modelo holografico" faz o casanento contribuigees de profundo alcance para a ciencia do c6rebro desenvolvendo tecni-
das pesquisas sobre o c6rebro com a fi'sica te6rica; leva em conta a percep€ao cas cirirctcas que, finalmente, permitiram o acesso ao misterioso cerebro lfri-
nomal e, ao mesmo tempo, transfere as experiencias paranormais e transcen. bico primitivo. Suas investigagdes sobre estruturas linbicas como o hipocampo
dentais para fora do canpo do sobrenatural, explicando.as como parte da natureza. e a anifgdala demonstraram que as teorias tradicionais sobre "centros superio-
` Assim como certas descobertas da ffsica quintica, a reorientagao radical res" do cerebro controlando centros inferiores precisavam ser radicalmente mo-
dessa teoria faz com que, em seu §mbito, subitamente adquiram sentido as sen- dificadas. Os centros mais antigos do cerebro evidenciaram-se dotados de uma
tengas paradoxais proferidas por mfsticos atrav6s dos tempos. Isso n5o significa complexidade mais rica e de urn maior poder de controle do que se tinha ate
entao imagiviado.
que Pribran nao estivesse nem urn pouco interessado em dar credito a I.#sl.givfs mrs-
ticos. 0 professor, cirurgigo e pesquisador do edrebro em seu grau dininutivo A seguir, Pribram demonstrou os processos por meio dos quais os edre-
estava apenas tentando compreender os dados obtidos em sou laborat6rio na bros frontal e lfmbico interagem. E em 1960, ajudou a dar infcio aquilo que des-
Stanford, onde os processos cerebrais mos mamfferos superiores - prinatas, es- creve como "gritos de dor" de colegas behavioristas. Pfor!§ 4#d ffte Sr7t""re a/
jBchayz.or, urn livro escrito por George A. Miller, Eugene Galanter e Pribram, foi
pecialmente -Cram rigorosarnente estudados.
Esse desenvolvinento mais recente no modo de pensar de Karl Pribran posteriormente creditado pela literatura especializada como o marc® que anun.
torna sua transig5o completa comegando (em suas pr6prias palavras) como urn ciava a `.revolu98o cognitiva" - a mudanga de interesse cientffico do compor.
"fiel behaviorista" na decada de 40 e se tornando urn pioneiro em psicolotia tamento para o pensamento. Ate essa epoca, |Miller e Pribram estiveram do lado
cogriitiva na d6cada de 50, urn ocasional aliado dos psic6logos humaliistas na dos behavioristas. Estes dependiarn de urn simples modelo de estfmulo.respos-
d6cada de 60 e no ini'cio da decada de 70 e urn radical defensor da experiencia ta derivado, em parte, de uma antiga pesquisa cerebral sobre o arco reflexo -
espiritual no fin da d6cada de 70. simples resposta celular - feita por Charles Sherrington. Pribram acreditava que
0 bi61ogo T. H. Huxley certa vez escreveu: "Coloque-se frente aos fatos Sherrington jamais pretendera que toda uma psicoloSa fosse construfda com
como uma criancinha e prepare-se para deixar de lado toda nogao preconcebida, base no modelo do reflexo. Devene estudar a experiencia sutietiva se se quer
siga hurnildemente seja para onde for e para quaisquer abismos aonde a Natu- que as pesquisas sobie o edrebro levem a algum lugar. Ele e sous co-autores de-
reza o conduza, ou nada aprendera." A fascinagao inocente de Pribram com fa- ram a sua abordagem o none de "behaviorismo subjetivo".
tos com os quais se deparou levouro a esses abismos.
Durante algum tempo, Pribram tambem diriSu pesquisas no Institute of
Nascido em Viena, veio para os Estados Unidos com oito anos de ida- hiving, pemutando com Yale. Tamb6m diriSu os Yerkes laboratories logo ap6s
de. Freqtientou a Universidade de Chicago, onde obteve seus graus de BA [Ba- a safda de Leshley.
charel em Artes] e MD [Doutor em Medicinal nun espantoso peri'odo de cin- Quando aceitou urn. cargo no Center for Advanced Studies em Ciencias
Behavioristas, na , Stan ford, em 1958, levou cousigo urn primeiro esbo9o de seu
co anos.

21
20
nvro I,4#gwnggs o/ ttie Brtz!.#, cuja elaboraeso levaria aproximadamente quinze feixe no qual todas as ondas sgo de uma mesma freqtl6ncia, como aquelas que se-

anos desde sua concepgao ate sua publicapso em 1971, e se tomaria urn clfssico
[jg,ger¥oucza`::Sefe°srp::dug:eckm°jdxpea;an#:ot:enq£:ei:fee::°£g:ndd°u£:!§esfe[¥isindoe.
i--`-..-
pela lucidez e inteligencia de sua eriposi9ao te6rica a respeito do c6rebro.
Urn fato bastante interessante 6 que o escrit6rio de Pribram ficava pr6xi.mo #:`¥7ulfia:.irq::Fig;°nete;'9;£o-gig:eaTeiTira.£h.;:ife°::grn#£a;gjesteouc:md:,§:%¥eesieemm.
do de Thomas S. Kuhn, que estava entgo trabalhando nun fivro que se torna- plo, urn rosto humano, a padrao resultante sera de fato muito complexo, mas ain-
ria urn dos mais influentes de nossa 6poca, 77Ie SfnJctwre a/Sc!.c#rI}?c Revo/w#.ons, da pode ser gravado. Essa gravacao sera urn holograma do ro§to.
onde descreve o processo pelo qual a visgo de mundo cientffica 6 periodicamen.
te subvertida por aquflo a que deu o none de "mudanga de paradigma". A luz incide sobre a chapa fotogrifica vinda de' duas fontes: o pr6prio otie-
Pribram e sous colaboradores estavam entre os primeiros a u§ar a mode- to e urn feixe de referencia, oriundo da mesma fonts que ilumina o objeto, mas
lagem por computador para entender certos aspectos do pensamento e do com. desviado por urn espelho que o remete diretamente para a chapa. As formas es-
: ' portamento. Uma de suas contribuiedes mais dram6ticas foi a descoberta de que piraladas, aparentemente desprovidas de significado, visi'veis sobre a chapa nao
os centros motores do edrebro est8o envolvidos nco apenas com o movimento se assemelharn ao objeto origival, mas a inagem pode ser reconstitufda por uma
•rias -t-in~b6m com pr.ocesso; de pensaTento que pTecedem o movimento - tg.§_
fonte de luz coerente, como a de urn feixe de drser. 0 resultado e uma imagem
` pdr#-o`s -d€ ¢fGo. Tomou-se evidente. que ha uma conexao neurol6aca crftica en- em terceira dimensgo projetada no espapo, a uma certa distancia da chapa.
ti-e--os centros motores do c6rebro e a aprendizagem, urn elo de que jd suspeita- Se o hologr¢:in f;or quebrado, qualquer pedapo dele recorstruird a irn4-
van os terapeutas educacionais. gem intein .
Urn rapido passar de olhos pelos tftulos dos capftulos de £¢#gr{ages a/ £fee Notfcias de que urn holograma podia realmente ser construfdo, com base
Brzzz.# d4 uma boa ideia de seu intenso interesse em relacionar processos do ct- na matematica de Gabol., despertaram amplo interesse cientffico. Urn punhado
rebro com experiencias e comportamentos humanos: "Imagens", "Sentimentos", de engenheiros observou que a id6ia podia ser apljcada a bioloda, e Bela Ulas,
"Realiza98o", "Sinais", "Sfmbolos", "Conversa e Pensamento", "A.Regulagao dos Bell Irdboratories, fez especulaeees sobre essa possibflidade, que tambem
dos Assuntos Humanos". A ciencia do edre.br_o.di§se, qgy.e. hi.ear com .o 9star. cien. passara pela cabega de Gabor.
te de estar ciente,_com a percep9ao da percepeap. El.a..nao. pode prais §9 .d.gr ,ag.__
fox.6-de ek-cruir aquela parte do mundo a que chamamos de subjetiva.
` Pribram §entia-se ainda prbfundariente inquieto .frente -a'6 nristerio que \felroEjnapdr£-:#uri::arh°:::a:.uTmalv:zstfeg[:tteanmbe?ie[:d:acommaniftrearacg°o:s::t:I:
`:srseatan£:per:q£::c££:aeriaaT:car£:a::oma:m&Sep:I,s;opmo::og:I.oQgr;Tea#.E.:d:9~%_::
o levara a pesquisar o c6rebro: Como n6s nos lembramos?
Em meados da d6cada de 60, leu urn artigo na Scl.er!#ysc 4merz.caw des- eke-`Ptibli€6b. 'seri .primeiro' artiga -p~rop`ond.o ulna conexgo. No decorrer dos va-
crevendo a primeira construgao de urn holograma, uma especie de "retrato" tri- rios anos seguintes, Pribram e outros pesquisadores descobriram o que parecia
dimensional produzido por fotografia sem lente. Dennis Gabor descobrira o prin- constituir as estrat6tias neurais do edrebro para o conhecinento e para o senso.
cfpio matematico da holografia em 1947, descoberta que posteriormente lhe riarnento, efetuadas por meio de computag0es matemfticas. Ao que parece, para
VAleria o premio Nobel, mas uma demonstragfro da holografia teria de esperar ver, ouvir, cheirar, saborear, o cerebro executa cflculos complexos sobre as fro-
pela invenezo do deser. qti6ncias de dados que recebe. Esses proce§so§ mafem¢'tr.cos te^m pouca •edrf'o!
0 holograma g uma das invengoes realmente notfveis da ffsica modema, do tii)o senso comum com a mundo real coma n6s o percebemos .
e aparenta, de fato, .ser algo misterioso quando visto pela primeira vez. Sua ima- Pribram acredita qne essa matenritica compricada pode ocorrer a medida I
gem semelhante a urn fantasma pode ser visualizada a partir de virios ingulos, que urn impulso nervoso viaja ao longo das c6lulas, e entre elas, atravis de uma
e parece estar suspensa no espapo. rede de fibras finas sobre as c6lulas. As fibras movemtse em ondas lentas a me- .
Seu princfpio 6 ben descrito pelo bi6logo Lyall Watson : dida que o inpulso atravessa a edlula e essas ondas podem executar a funeao de
calcular. Quando se "tira" urn holograma, onda's luminosas sao codificadas ?` o
Se voce deixar cair urn seixo nun tanque, ele broduziri uma s6rie de ondas le-
holograma resultante, quando projetado, decodiflca, ou "desanuvia", a imagem.
gulares que se dirigirao pan fora em ci'rculos concentricos. Deixe cain dots seinos
identicos dentro do tanque em pontos diferente8 e voc€ obteri dois conjuntos de on- 0 edrebro pode, de maneira semethante, decodificar seus tra€os de mem6ria ar- ,
das semelhantes, que se moverao urn em dire93o ao outro. Onde as ondas se `encon mazenados. Outra caracterfstica de urn holograma 6 sua eficiencia. Bilhoes 'de
trarem, have[i interferencia entre elas. Se a crista de uma atingiv a c[ista da outra, bits de informap6es podem ser armazenados nun espapo mintisculo. Q padrao
elas trabalhar5o em conjunto e ploduzirao uma onda reforcada cuja altu[a 6 duas na chapa holografica nfro ten dimensao de espago-tempo. A imagem 6 armaze-
vezes maior que a de qualquer urna delas. Se a rista de uma coincidir com o vale
nada em toda a extensao da chapa.
da outra, elas se cancelarao e produzir5o uma zo isolada de igua tranqtina. Na
verdade, `pggpgrao todas as. possfy?.i.8.'coptiina€Oi duas, e .Q.reqult?do final Era tfpico de Pribram que ele se apoderasse de uma nova descoberta reali.
6 uma complexa distribuicqg,.qg.oq.q,u!?cqgs.copheci¢? zada fora de sou canpo numa tentativa de entender a mem6ria. Foi algumas ve-
As -on-di`S lumipQg.a c6rip6rta-ri-se- exatamente me§ma maneira. 0 majs zes criticado por neurocientistas mais convencionais - constituindo, tipicamen-
puro tipo `de lu-z`-difoonfvel a n6s 6 aquele produzido por /a§er, que emite urn
te, urn grupo restrito e altamente especiauzado - por sua arrq.ada especulapao.

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Hibram relembra a observaeao de urn pioneiro pesquisador da mem6ria, Quem realiza o conhecinento efetivo? Ou entao, como Sao FI.ancisco de
Ewald Hering, de que a uma certa altura de sua vida todo cientista deve tomar Assis a;R:Imou celtol vez `.0 que estamos procarando 6 a que estd olhando" .
uma decisao. "Ele comega a se interessar pelo seu trabalho e .por aquno que suas Numa conferencia que proferiu certa noite nun simp6sio em Minnesota,
descobertas significam", disse Pribran. "Entao ele ten de escother. Se come¢a Pribram supOs que a resposta I)oderia estar no domfnio da psicoloSa gesf¢/f , uma i
a fazer perguntas e tenta encontrar respostas, e enten.¢er o que tudo isso signi- teoria que sustenta que aquilo que percebemos '`14 fora" € o mesmo que os -
fica, parecera insensato perante seu§ colegas. Por outro lado, ele pode desistir ou melhor, e I.som6/„co aos -processos cerebrais.
da tentativa de entender o que tudo isso significa; nao parecera insensato, e apren- Repentinamente, ele falou sem pensar: "Talvez o mw#do seja urn holograma!`" `i`
derf cada vez mais a respeito de cada vez menos. Ele parou, urn pouco surpreso pelas impucag0es do que acabara de dizer.
"Voce ten de decidir pela coragem de pafecer insensato." Seriam os membros da audiencia hologramas - representacees de freqfiencias,
Numa recente pequena conferencia em Stan ford, Pribram foi convidado interpretadas pelo seu ctrebro e pelos edrebros uns dos outros? Se a natureza
a debater com urn oponente da teoria holografica. Na verdade, foi atacado por da realidade 6 holografica ow sz. mesm4, e se o cerebro opera holograficamente,
entao o mundo 6, na verdade, como ensinaram as relitldes orientais, m¢!.a: urn.F
perguntas sobre pantos t6cnicos que sugeriam ser a holografia do c6rebro quase
certamente uma variante da holografia 6ptica, em vez de uma exata analotla. show de matica. Sua concretitude e uma ilusao.
"Sustentei minha posigao suficientemente ben, mas eles me pegaram em deta- Pouco tempo depois, ele passou uma semana com seu filho, urn ffsico, dis-
lhes aqui e ali", relembrou. cutindo suas id6ias e procurando possi'veis respostas na fi'sica. Seu fflho mencio-
Mais tarde, urn jovem aproximou.se e perguntou como podia ele estar as- hou que urn ffsico eminente, David Bohm, pensava segundo linhas sememantes.
sin tao convencido. Como podia prosseguir ininterruptamente, enfrentando ar- AIguns dias mais tarde, Pribram leu c6pias de artigos.chave de Bohm insistindo
sobre a necessidade de uma nova ordem na fisica. Pribram ficou arrebatado. Boftm
gumentos ben fundamentados?
"i sinples", respondeu Pribram. "Isso vein acontecendo comigo desde estava descrevendo urn universo hologrdfico.

que eu me introduzi na ciencia -e eu sempre estava certo!" . .


Se vo.ce^ esta em algum lugar do franco dianteiro, disse ele, voce nao pods euma°fl:::o?a£:ece6Sei:i:ou:d:alees{tda:::#g]`V_e};:;S`evset]a°rueaaidef:::'¥:;:.%¥g}
explicar todas as coisas. "Se voce soubesse tudo a seu respeito, ele nao seria o nomalmente vemos 6 a ordem explfcita, ou desdobrada, das coisas, algo assim
flanco dianteiro." como assistir a urn ffli me. Mas ha uma ordem subjacente que e mac e pal dessa
0 famoso ffsico Niels Bohr disse certa vez que, quando surge a grande ino- realidade de segunda gerag5o. Ele deu a essa outra ordem o none de implicada,
vag8o, ela parecera confusa e estranha. Sera entendida apenas pela metade por ou dobrada.' A ordem dobrada abriga nossa realidade, quase da mesma maneira
seu descobridor e sera urn mist6rio para qualquer outra pessoa. Nao h4 esperanga como o ADN no ndcleo da c6lula abriga potencialmente a vida e dirige a natu-
reza de seu desdobramento.
para qualquer id6ia que ngo parega bizarra de ini'cio,
Pribram disse que passamos agora por urn peri'odo onde apenas a excelen- Bohm descreve uma gotfcula de tinta insohivel em dicerina. Se o fluido 6
arrastado lentanente por meio de urn dispositivo mecanico rotacional, de modo que
cia t6cnica e recompensada; nco se conta com os pesquisadores para que fagam
nao haja difusao, a goti'cula vai sendo "esticada" nun fuete cada vez mats delgado
extrapolagees, para que pensem. "Os europeus sao muito mais orientados teori-
camente. Os norte-anericanos, no methor dos casos, testan hip6teses, esquecen- que se distribui atrav6s de todo o sistema, de tat forma que acaba deixando de ser
visfvel. Se o sentido de rota9ao do dispositivo 6 entao invertido, o flo vagarosamen-
do que elas emergem de uma tese. Mesmo em nossa ciencia muito ben-sucedida,
te ira se engrossando ate que, de repente, aglutinarse de novo numa gotfcula visfvel,
usuainente tudo o que alcangamos nada mais e que uma descrigao do terreno."
"Isso e o suficiente para muitas pessoas", diz Pribram. "Eles dizem: tBem, Antes que essa agivtinap8o ocorra, pode-se dizer que a gotfcula encontra-se
"dobrada dentro" do li'quido viscoso, ao passo que depois da aglutinagao ela
respondemos a pergunta.' Parecem sentir que nao ousam tentar entender, espe-
fica novamente desdobrada.
ciainente se ten de penetrar em canpos onde nao sao perfeitos peritos t6cnicos.
A seguir, imagine que varias goti'culas foram arrastadas para dentro do fluido
Receiam que alguma coisa saia errada com a sua ciencia."
uma ap6s a outra e em diferentes posig6es. Se essas gotas sao arrastadas continua-
0 pr6prio Pribrarn nIo mostra essa timidez; ele. ocupou-se com a tare fa
mente e com rapidez suficiente, parecera que se trata de uma thica gota de tinta,
de entender melhor a ffsica e matriculou.se em cursos de gradua¢ao sobre metodos
existindo permanentemente e se encontrando em movimento contfnuo ao longo da
matem4ticos avangados. Se os fatos o levarem ao abismo,I ele ira ben-informado.
superffcie do fluido. Nco ha tal objeto. Outros exemplos: uma fneira de lampa-
` Em 1970 ou 1971, rna pergunta angustiante e fundamental comecou a
das que, nun anbncio luminoso, apagam e acendem ordenadanente para dar a
perturbs-lo. Se de fato o cerebro chega ao conhecimento juntando hologramas - impressao de uma luz em movinento, ou urn desenho animado, que tambem
pela transformap8o matematica de frequencias vindas "la de fora" - qwem den-
tro do cerebro interpreta os hologramas? produz a nusao de movimento continuo.
`-- Esta 6 uma pergunta antiga e importuna. Desde os gregos, os fn6sofos es- Dessa perspectiva, toda substincia e todo mo.yiqu.en.tg_±p:a_rates_sag__fl.u:
-+.J ,-,----,.-.- ` ,,.,-.- `." I -

-,.=-`.-.` --,.
pecularan a respeito do `.fantarma na maquina", do "homenzinho dentro do #°-fsi.ri%i:::~:-:reg;g,-od#ouvTm?.e:uf:r.a°rdemd_°uriverso,malsprim4ria.Bohmchama
homenzinho", e assin por diante. Onde esta o Eu -a entidade que usa o c6reoro? _`q\^- -` ---- + -``- -

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usaf racioci'rio baseado em causa€€feito para compreender acontecimentos nto
Desde Galileu, diz ele, othamos para a natureza atrav6s de lentes; nosso
limitados por tempo e espaeo.
pr6prio ato de. objetificar altera aquilo que esperamos vcr, como ocorre nun
rhicrosc6pio eletro.nico. Queremos encontrar suas bordas a fin de finl-1o por
urn momento, quando sua verdadeira natureza est4 numa outra ordem de rea- n_eaonTj.:egg:net::sds=qofu::::_o::gd[::;ap:sg:s`a_g:ep.6§:utepnr:sdi;:*:smdaotTfo;:Trufa:
lidade, numa outra dimensao, onde nffo ha col.$4zS. i como se estiv6ssemas nos `,rna.i£EL Sob certas circunstancias, eles ten acesso a-todas.-is informaeoes que se
esforgando para por em foco aquilo que 6 "observado", assim como se procura ehcontram no sistema cibemetico total. A sincronicidade - aquelas ocorrencias
aumentar a resolueao de uma imagem para apreci£-la memor, quando a imagem coincidentais que parecem ter urn prop6sito, ou uma conexidade, mais elevados -
borrada seria uma representac5o mais precisa. A pr6pria inagem borrada 6 a rea-
lidade basica.
Ocorreu a mbrani que a matemftica do c6rebro pode tambem correspon- :g±6i:~pfs¥:_::;:un¥;a;:;:qu:E:a:dte:I.::x:6°r;0:¥;d::Cfiu¥:i::€o:I:-:e!ec:psaatd::£:n;`£;%:;V|eard%;:
der a uma lente. Essas transforma¢des matematicas decifram objetos a partir de resu.ltado natural de .interap5o em urn nfvel primirio. 0 modelo hologr4fico re-
imagens borradas ou freqti€ncias, transfomando-as em sons e cores e sensaeees Solve urn enigma da fun?ao psi que ha muito se impde: a incapacidade da instru.
cinest6sicas e cheiros e sabores. mentapao papa rastrear a aparente transferencia de enercta na telepatia, na cut.a
"Talvez a realidade nfro seja aquflo que vemos com os othos", diz Pribram. paranomal, na clarividencia. Se esses eventos ocorrem numa dimensao que trans.
"Se nao possufssemos essa lente - isto e, a matem4tica executada pelo nosso cende tempo e espapo, n5o 6 necessario que a enertla caminhe daqui pala 14. Co-
c6rebro - talvez pud6ssemos conhecer urn mundo organizado no domfnio das mo um`pesquisador fomulou a questao: "Nao existe nenhum dr'."
frequencias. Sem espago nem tempo - apenas com eventos. Poderia a realidade Durante anos, os interessados nos fenomenos da mente humana p[edisse.
ser algo que 5 `descartado' desse dominio, como uma informagto que 6 transfe- ram o surctmento de uma teoria revolucion4ria, e que ela contaria com a mate-
rida de urn computador, para leitura?" m6tica para estabelecer o sobrenatural como parte da natureza.
Ele sugeriu que as experiencias transcendentais - os estados mfsticos - 0 modelo hologrffico e essa teoria integral que apreende toda a "vida em
estado puro" da ciencia e do espfrito. E ben possfvel que se trate do paradigma
podem nos permitir urn ocasional acesso direto a esse domrfuio. Sem divida, re-
latos subjetivos a respeito desses estados freqtientemente soarn como descri9ces sem fronteiras, paradoxal, que ten sido, desde hi muito, objeto de aspiraeac
da realidade qufntica, coincidencia que levou vdrios ffsicos a especular de rna- por parte de nossa ciencia. .~f `
neira parecida. Desviando-nos de nosso modo de percep9fro nomal, restritivo - Sua capacidade explanat6ria enriquece e amplia muitas disciplinas, pemi-
que Aldous Huxley chamou de valor reducionista - podemos entrar em sinto. tindo a compreens5o de velhos fen6menos e levantando novas e urgentes ques-
nia com a fonte ou matriz da reali.dade. tdes. Est4 implfcita na te.oria a suppsig9o de que ps ?;tados de consciencia hal-
m6nic'os e coerentes se acham melhor sintonizados com :-9 fifv.el p.qp{rio di red. `
rE possi'vel que os padrdes de interferencia neurais do cerebro, seu.s proces.
Sos matem4ticos, constituam o pr6prio 6stado primirio do universo,' isto 6, se-
§¥gfi-;I;ad¥;;nes]j:-°-i:d;:-;:[da`e-grisa[+e££Vden£;.e[:alms::::¥:£::£'ta°dua`;ae:[om=::':tr`
i=a`ed,e-?:i:::adae]qine::a°u::::n??¥paia:'|%S-9det3J:%96¥;]PoS:[egnatna£':Sa:eor:TF'fs::orseae- pela empatia. 0 modelo hologrffico ten impricagces em vfrios campos: aprendi-:`
ast[6nomos observam as vezes que a natdr6Za.-.real do universo e iniaterial mac zagem, meio ambiente, famflia, artes, relitiao e filosofia, cura e autocura. 0 que ,`
ordenada. Einstein confessou seu sentimento de revefencia mfstica em face dessa nos fragmenta? O que mos torna completos? _
hamonia. 0 astronomo James Jeans afirmou que o uhiverso assemelha-se mats Descrig0es como aquelas que envolvem urn sentido de fluencia, de coope-
a urn grande pensamento que a uma grande maquina, e outro astronomo, Arthur rapao com o universo - no processo criativo, em desempenhos atl6ticos extraor-
Eddington, disse: "A materia-prima do universo e a materia-prima da mente." dinfrios, e is vezes na vida cotidiana - significariam nossa uhiao com a fonte?
Em anos mats recentes, David Foster, especialista em cibemetica, descreveu "urn Ndmeros cada vez maiores de indivfduos estto vivenciando estados alterados
universo inteligente" ouja concretitude manifesta seria, na r6alidade, gerada por de consciencia. Estariam eles criando uma sociedade mats coerente e ressonante, su-
dados c6smicos provenientes de uma fonte organizada mas incognoscfvel. prindo de ordem o grande holograma social, assim como cristais de certas substin-
Em resumo, a.Sap,ert9o.ria hologr5 lea afi~rma que. "ossas. cg.re4ros co#sfr_oe" cias, comportando-se i semethanga de "sementes" , cristalizam uma solugao lfquida
dessas substancias? Talvez seja esse o misterioso processo da evolu¢ao da consciencia.
%§S:£%3£:?##knasc%:chod:e;%de"o%%c%.tSd-c°arfierqo%::rfuteS_-.SFbch#iuri%:. 0 modelo holografico tanbem ajuda a expncar o estranho pqder da i.»2¢:: 1`
¢t€:¥t"£?b~"r:in:ng;{[rfi:~t¥6°£gn¢£:°'£s vezes ad|nite : "Espero que voce compreenda gem - o porque de os acontecimentos serem afetados pelo que imagivamos, `
pelo que visualizanos. Uma inagem mantida nun e§tado transcendental pode I
que eu nao enre#do nada disso." 0 fato de reconhecer isso geralmente provoca se tomar real.
urn suspiro de alfvio ate mesmo nos audit6rios mais cientfficos, onde todos, com Keith Floyd, psic6logo do intemont College, em Virginia, disse a respeito
excec5o dos frsicos - que ten melhor conhecimento -, ja tentaram aphicar pro- da possibilidade hologrifica: "Contrarianente a crenea inquestionada, do tipo
cessos de pensamento linear.es e 16givos a uma dimensao nao-linear. Nao se pods `todo mundo sabe que 6 assim', segundo a qual e o cerebro que produz a cons-

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ciencia, pode ser que, em vez disso, seja a consciencia que cria o aparecimento A Association for Humanistic Psychology patrocinou dois simp6sios de urn dia,
do ctrebro, ben como da materia, do espago, do tempo e de tudo o mais que para convidados, em dezembro passado, em Sao Francisco, de niodo que Pribram
mos apraz interpretar como sendo o universo fi'sico." pode oferecer uma explicagso plenamente satisfat6ria dos conceitos para urn
Quando urn paradigma esti mudando, assinalou Pribram, a ciencia verse, grupo interdisciplinar. Entre os que frequentaram o simp6sio estavan George
freqtientemente, for9ada a reexaminar conceitos anteriores, que tinham sido re- I.eonard, Jean Houston, Charles Tart, Rollo May, Bob Samples, John Perry, Stanley
jeitados. Leibniz, fil6sofo e matematico do seculo XVII, cuja descoberta do c4l- `1-1`-\ -,
Krippner, Arthur Deikman, Enoch Callaway, Huston Smith e Sam Keen. A teoria
foi tambem a assunto de urn recente docurient-irio~ d-a 'Canadian Broadcasting
Corporation, que estimulou uma das mais consideraveis rea¢oes de.audiencia de
gr.;:T!:s:`:q:ualep.:£F¥::T=tisse]'::lea:;i;a:¢;±fi;aado::I::a;:_¥,:b¥v:u¥uv;e::es:0:::e:`€u:e:,:a:£il qualquer programa na hist6ria dessa rede de transmissgo.
"Estamos aqui para celebrar a mudan9a de paradigma", disse Pribram de
de uma ordem de realidade radical e padronizada.
Hf numerosos casos de antigos pensadores que deram explicag0es ao maneira urn tanto divertida. Quando ele observou que a teoria concebe todas
que deveria ser inexplicavel em sua epoca. Velhos mfsticos, por exemplo, des- as coisas em termos de vibracees, a audiencia riu, e ele disse: "Pelo visto, acho
creveram corretamente a fung8o da tlfndula pineal s6culos antes que a cien- que nao e necessario dizer a voc6s o que 5 que vibra."
cia pudesse confim6-la. "Como vieram a tona id6ias como essa seculos antes Falando a uma audiencia em San Diego, em 1976, Pribram contou que
que tiv6ssemos as chav6s, as ferranentas para entende-las?", pergunta Pribram. o c6rebro com o qual fora famfliarizado em sua formaggo profissional era urn
"Talvez no estado holografico - o domrfuio das frequencias - 4.000 anos atras computador, mas "o c6rebro que conhecemos agora leva em consideragao `as ex-
seja analing." periencias provenientes de disciplinas espirituais". in pouco tempo, na grande
De maneira semethante, Henri Bergson dissera em 1907 que a realidade conferencia para convidados em S8o Francisco patrocinada pela lgreja da Uni-
tiltima 6 uma teia subjacente de conexdes e que o cerebro fn.tra a realidade maior. ficafao, Pribram discutiu sua abordagem da fisica da consciencia numa sessso
Em 1929, Alfred North Whitehead, matemftico e fui 6sofo, descreveu a natureza com cinco laureados com o premio Nobel.
como urn grande nexo de ocorrencias em expans8o, que flea alem da percepcso A maneira como os processos cerebrais podem ser alterados de modo a
dos sentidos. Apenas inaginanos que mat5ria e mente s8o diferentes, quando, pemitir a experiencia direta do domfnio das freqtiencias a ainda uma cch-
na realidade , estao entrelapadas. jectura. Pode envolver urn conhecido fen6meno perceptivo - a "projegao", que
Bergson sustentava que os artistas, a sememanga dos mfsticos, ten acesso mos pemite experinental plenamente o son estereofonico tridimensional co-
ao e'/a# v!.f¢/, o impulso criativo subjacente. Os poemas de T. S. Eliot estfro cheios mo se ele emanasse de urn ponto situado na metade da distincia entre dois al-
de imagens hologldficas: "0 ponto im6vel do mundo que giva", que nco 6 came to-falantes em vez de provir de duas fontes distintas. A pesquisa mostra que
nem deixa de ser came, que nao 6 pausa nem moviniento. "E nao o chame de os sentidos cinestesicos podem ser afetados de maneira parecida; a estimula-
fixidez, onde passado e fu.turo estso unidos. Exceto pelo ponto, o ponto im6- cao tatil em ambas as maos numa determinada frequencia faz eventualmente
vel/N8o haveria danga, e hi somente a danga." ' com que a pessoa se sinta como se possufsse uma terceira mac, exatamente
0 mfstico alemao Meister Eckhart disse que "Deus toma-se e destoma-se.'. no ponto m6dio entre as outras duas. Pribram sugeriu urn |]ossi'vel envolvimen-
David Hume, urn fil6sofo do seculo XVIII, antecipou a teoria do holomovimen- to de circuitos do cerebro centralizados na amfgdala, que se revelou ser urn lo-
to de David Bohm quando disse que urn ser humano nada mais e que urn feixe, cal de disthrbios patol6Scos, e que parecem estar relacionados com a "cons-
urn pacote de percepeees "que se sucedem umas as outras com rapidez incon- ciencia sem conteudo" da experiencia mi'stica. Algumas altemagees de frequen-
cebfvel, e se encontram nun fluxo e movinento perp6tuos". Rumi, o mfstico cias e relagdes de fase nessas estruturas podem ser o Abre-te Sesamo a estados
sufi, disse: "As mentes dos homens percebem causas segundas, mas somente os transeendentais.
A experiencia mfstica, diz Pribram, nao e mais estranha que muitos ou-
profetas percebem a ag5o da Causa Priineira."
Talvez a mais extraordinaria descrieao antiga de uma realidade hologra- tlos feneimenos da natureza, como, por exemplo, a desrepressao seletiva do ADN
fica encontre-se nun sutra budista: para formal prineiro urn 6rgao, depois outro. "Se estamos fazendo experiencias
com a PES, ou fenomenos paranormai§ - ou entso com fenomenos nucleares
da ffsica -, isto simplesmente significa que estamos fazendo a leitura, no senti-
Diz-se que no c6u de lndra h4 uma redo de p6rolas dispostas de manei[a tar que
se voce olhar para uma vera todas as outras nela refletidas. Da mesma forma, cada do inform4tico dessa palavra, de dados vindos de alguma outra dimensao. Com
otijeto no mundo nao 6 meramente ele pr6prio, mas envolve cada urn dos outros os meios de que comumente dispomos, nao podemos entender isso."
objetos, e 4, de fato, cada urn dos outros objetos. Pribram reconhece que esse modelo nao e facil de ser assimilado; al6m disso,
ele sut)verte radicalmente nossos vethos sistemas de cren9a, nossa maneira de
Desde a 6poca em que Pribram deu infcio ao desdobramento gradual de entender as coisas, ben como o tempo e o espago, por via do senso comum. Uma
sua sfntese do cerebro holografico com o universo hologr4fico de David Bohm, nova g8racao cresceri acostumada ao pensamento holografico; e para facilitar
sua id6ia ten estimulado o interesse de fu6sofos e de psicolodas humanistas. seu caminho, Pribram sugere que as criancas devem aprender a respeito do para-

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doxo desde a escola elementar, uma vez que as novas descobertas cientfficas es-
tao sempre cheias de contradig6es.
Pribram predisse, em 1977, que as atuals ciencias so/f serao o nticleo da
ciencia ftard dentro de 10 a 15 anos, assim como a p§icoloda cognitiva, antes
considerada §o/r, acabou ganhando precedencia sobre o behaviorismo. Tambem
predisse o surgivento de urn holismo livre, uma mudanca de paradigma abran- 3
gendo toda a ciencia.
Os cientistas produtivos e criativos devem estar prontos para defender tan-
to o espfrito como os dados. "Isso 6 ciencia, como era origivalmente concebida:
QUAL A CONFUSAO QUE ESTA FOR TODA A PARTE
a procura da compreensac", diz Pribram. "Os dias dos tecnocratas de coragso
Karl H . Pribram
frio e cabega dura parecem estar contados."
o FisICo

David I Bohm, em seu livro 77!e Specie/ 7%eory a/ Rcdrf].vl.OJ, inclui urn ap€n-
dice dedicado a Percepgao. Nele, aborda problemas relacionados com a psicolo-
tia das apar6ncias, especialmente com as descobertas feitas por James Gibson
numa extensa s6rie de experimentos. Esses experimentos utilizam imagens bidi-
mensionais, formadas sobre anteparos de tubos de raios cat6dicos, que sao per-
cebidas como figuras tridimensionais. Gibson argumenta, a partir de suas des-
cobertas, que a percepe§o tridimensional 6 ``di[eta", isto 6, imediata e que to-
das as outras fomas de conhecimento, e o pr6prio mundo, derivam dessa reali-
dade imediata.
Nurn artigo no qual colaborei com Gibson, sobre a "direitura" das aparen.
cias, descrevo os processos estruturais do o6rebro que se acham envolvidos mes-
mo quando as percepe6es parecem imediatas. Urn exemplo do dia-a-dia 6 o mo-
do imediato pelo qual nossa consciencia percebe uma imagem acdstica tridimen-
sional projetada gragas a reprodug8o musical estereofonica de alta fidelidade.
Sabemos ,que as fontes sonoras s8o os alto-falantes, mas sabemos tambcm que,
ajustando as relaeoes de fase entre as ondas acbsticas geradas par eles, podemos
afastar o son "para fora" das duas fontes, para uma posigao entre elas ou na
frente delas.
Nossos ouvidos e sistemas nervosos actisticos (re)constroem o son para
que seja percebido num local que sabemos ser incapaz de produzi-lo. Qual 6 en-
tgo a reandade da situaeso: a apar6ncia percebida ou aquflo que sabemos ser a
disposigao ffsica due faz surctr a aparencia? Gibson enfatizou a realidade das
aparencias e a primazia dessa realidade. Mas os outros cientistas, em sua maio-
ria, quando lhes 6 perguntado o que entendem por mundo "real", respond6m
que 6 o mundo da ffsica. Se forem instigados para falar mais, descreverao esse
mundo como sendo cchstitufdo de objetos materials e de interaeces entre esses
objetos. No exemplo acima, dariam primazia a realidade do aparetho de (re)pro-
dugao sonora estereofonica de alta fidelidade, e nao a consciencia perceptiva
derivada das operaeoes desse aparelho.
Indo a procura dessa realidade "objetiva" do universo ffsico, comecei a
estudar as investigagees dos ffsicos modemos. Imediatamente, precipitei-me so-
bre os escritos de David Bohm, de Bohr, de Einstein, de Heisenberg, de Wigner,
de Weiszacker e de outros. Bohm trabalhara com Einstein, que estava ocupado

30 31
na busca de uma teoria do campo unificado pois nao apreciava a concep9ao es- as percepgdes sao propriedades que emengem da interagao do edrebro (e do corpo)
tattstica e probabflfstica segundo a. qual a universo ffsico compee-se de movi- com o universo ffsico. Assim como as for9as gravitacionais e eletromagri6ticas
mentos essenciainente aleat6rios de objetos mindsculos, de partfculas tais co. compdem-se de interacees entre objetos. materials e partfculas, as percepeces
e outros fenomenos mentais compoemrse de interagces entre o edrebro (senti-
`:i::¥`;;o:nq;uu:e,f±tr:a:Sio6:i:sS:t:¥#e±s::c:i¥::e:S;s::&rs:o:ga#§tc,;:ac:u:i:a::£qfu::doeni: dos e corpo) e o mundo "real" que o circunda.
Num certo nfvel, uma expricaeto tiro facil e, naturalmente, convincente.
restrigdes, urn conjunto de variaveis "ocultas" que, quando descobertas, fome- No entanto, penetragdes mats profundas nas id€ias revistas acima sugerem outra
explicagao igualmente plausfvel. As relacoes entre observacoes $4:a fenomenos
ceriam uma base nfro€statfstica consistente para as idas e vindas aleat6rias das
mentais, uma vez que observapoes e percepcoes sao mentais. Talvez ate mesmo
as propriedades fundamentats do universo sejam mentais e nao materials. Os pro-
::::::B[j:¥]e::£;:1:ia]eosuT=tc@f¥ue9-ap::i::,I:sin:p:p:dpaodsee:::::::e:;£salc%:: prios ffsicos nucleares fazem lembrar essa possibilidade quando atribuem char-
me, cores e sabores is suas "rela¢des entre observa€des", quarks, b6sons e ou-
plementares dos mesmos conjuntos de ocorrencias, e seus seguidores passaram
a acreditar numa realidade b6sica oposta aquela sustentada por Einstein e Bohm. tras partfculas elementares que constituem o nticleo dos atomos. ne tempos em
tempos, fil6sofos como Leibniz e Whitehead propuseram ontolotias panpsi'quj-
A chamada "Solugao de Copenhagen" (Bohr era dinamarquts) insistia no fato
de que a fungao de onda - a caracterfstica de campo da microffsica - descreve cas para responder por concep9ces similares obtidas seguindo, ate chegar a uma
conclusao 16Bca, o raciocfnio de sous I.#si.givfs matemdticos sobre a ordem b4-
urn envolt6rio sobre as pertulbag0es estatfsticas Gas partfculas. E a essa concepgao
sica do universo.
da realidade primaria que Einstein e Bohm continuaram a se opor.
As seguintes afirmapdes colocam essas duas concepeces b4sicas numa jus-
taposi9ao sucinta :
talvezH`:i:-bj:galls-vypfrgirndeo.W££es£Zs:#beerrgd:;es:drveamq::ai3#:6P:-g:6°in;£t:r!`S,tda:,
estrutura ffsica b4sica do universo - parti'culas yer"s ondas - ten origem quan-
do diferentes observagdes sao feitas, diferentes t6cnicas sao usadas e diferentes
£ome\e)o%i%€Ea±t{.°&:6°s%=s3e=td,8as°,:n#6#%&Yd£.:amfn°t.acTs:nd°t`S£C°.Con-
2) As propriedades mentais sag.LQs, pringfpios ^organizadores que pe.mei.ap
experimentos sao realizados. Cada experimento produz resultados consisten-
tes, mas os resultados de alguns sao incompatrveis com os de outros. Concepeces Q universo, que inclui o c6rebro.
~Pafa-d6fflrfe-n-ieT-da.is-6lodos os behavioristas e neurocientistas concor.
complementares tiaseian-se em conjuntos discrepantes de dados. Heisenberg de-
dariarn hoje com alguma foma da afimagao urn, ao passo que, como assinala.
Inonstra em seu fanoso princi'pio que nao hf nenhuma maneira de saber qual
mar acima, a afirmae8o dois reflete a cren9a de muitos dos mais influentes ff-
dessas concepgees e a mais b4sica.
sicos te6ricos. Os matem6ticos encaram de maneira mais direta esse dilema: Coma
Wigner conceituou essa linha de raciocinio na afimagao de que a micro-
€ que as operagdes de seus ctrebros descrevem com tanta freqtiencia e fidelidade
ffsica modema 6studa as relag6es entre ot)servacoes e nao entre observ6veis. Urn
a ordem bdsica do universo que percebem?
ot)servavel 6 uma observagao que permanece consistente, constante dentro de
Sempre que uma pesquisa cuidadosa produz urn inpasse, e razoavel per.
toda uma gama de diferentes pontos de vista. Gibson, o psic61ogo, refere-se a
essas constancias como invariancias ou .`infomagees", e weiszacker volta-se igual- guntar se as questees que estao sendo feitas tambem estao sendo adequadamen-
te fomuladas. No presente caso, nao poderia ocorrer que as propriedades deri-
rnente para a conclusao, como o faz Bohm, de que a microflsica modema deve
vadas das relapoes entre o organismo (Ofrebro-sentidos-corpo) e o meio ambiente
lidar com infomapces definida8 pS!.coJogr.c¢me#fe, isto 6, atraves de observa-
(universo fi'sico), que sao denominadas mentais, e aquelas que derivarn de rela-
gees
-. comportamentais.
Pesse modo, os ffsicos atuais e os atuais psicdlogos da percepeao conver- 9des entre observagdes do universo ffsico, embora tambem denominadas men-
tais, fossem discrepantes? Em caso afirmativo, o problema seria essencialmente
givam nun conjunto de questees que nenhum deles sozinho p.ode resolver. Se o
§emantico - o mesmo none usado para propriedades diferentes. Tendo em vis-
psic6logo est4 interessado na natureza das condig0es que produzem o mundo
ta o fato de que os proponentes das duas concep90es sao pensadores extraor-
das aparencias, deve acompanhar as |]esquisas do ffsico. Se o ffsico quer com-
dinariamente sofisticados, 6 mais provavel que essa solucao simplista do proble.
preender as observagees que esta tentando sistematizar, deve aprender alguma
rm estSa errada. Os que acreditam que mente e consciencia sao extensivas ao
coisa sobre a natureza do processo psicol6Sco de fazer observacoe.s.
universo estao, na verdade, se referindo ao m6smo conjunto de propriedades a
que recorrem os que reconhecem na percepga~o,` na atengao, na consciencia, etc.
0 MENTAL manifestaeoes b6sicaL do fu.ncionamento do ctrebro. A mesm nomenclatura
indica que ten em mente o mesmo significado.
Mas uma outra possibilidade pode ser coatada, a qual nfro viola o signi.
Como cientista do Ofrebro, fiquei no centro dessa convergencia. 0 Of re.
ficado pretendido. Nao poderia ocorrer que urn aspecto das relag0es organis-
tiro 6 uma essencia do mundo material; 6 tamoem uma essencia com tase na qual
mo-meio ambiente e urn aspecto das relag0es entre observa9oes mostrasse urn
as ooservapoes sao construfdas.- Uma conceptualizagao facfl deveria sugerir que
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conjunto de pontos em comum que foi generalizado de modo a engivbar toda Gabor deu ao receptfculo que armazena o padrao de onda o none de flo/o-
a gama das propriedades mentais? Tal supergeneralizagto (ou falta de diferen- grHm¢ porque uma de suas caracterfsticas mats interessantes e que as infomagces
ciapao) 6 urn atributo ben conhecido dos processos de pensanento, e grande provenientes do objeto distribuem-se §obre a superffcie do filme fotogrffico. Cada
parte das pesquisas cientfficas e fJos6ficas dedica-se a "desempacotar" conjun- ponto luninoso difratado do objeto fica "borrado" e se dispersa sQbre toda a
tos de conceitos que, embora relacionados, diferem uns dos outros sob algum superffcie do filme (as equagdes que descrevem esse fenomeno sfro chanadas
aspecto nao-trivial. Acredito que no presente caso ha evidencia de que o "de- fungdes de dispersao), o que tambem ocorre com cada ponto luminoso vizinho. No
sempacotamento" do conceito "mente" se justifica. entanto, a dispersao n5o se plocessa caoticamente, como o fato de o pontd aparecer
borrado poderia levar a acreditar. Em vez dis§o, as ondulagdes afastam.se do panto
luminoso quase da mesma maneira como se formam ondulag0es quando urn seixo
0 NEURAL atinge a superffcie lisa de urn tanque com fgila. Atire urn punhado de seixos ou de
areia dentro do tanque; e as ondulaedes produzidas por cada seixo ou cada grao de
A evidencia prov6m do fato de se compreender a natureza do mecanismo areia se cruzarao com as produzidas pelos outros seixos ou graos, estabelecendo
cerebral envolvido na construgfro das percep90es - os mecanismos necessfrios padroes de frentes de onda interferentes. A superfrcie, lisa como espelho, torna-se
para apreender o mundo das aparencias. No entanto, a hist6ria nao comega com ofuscada, mac essa apar6ncia turva esconde dentro de si urn padrao insuspeitada-
a percep¢ao, mas com a mem6ria. Lembrangas especfficas sao incrivelmente [e- mente ordenado. Se, nesse mesmo instante, a agua do tanqu'e pudesse congelar-se
sistentes ao dano cerebral. A remo98o de urn pedaeo de tecido cerebral ou a da. repentinamente, sua superffcie seria urn holograma. QiferLeg!|r±±9gI§i_f!99.. `f .
nificagao de uma ou outra porgfro do edrebro nco extirpa uma deteminada len- justanpe:teec£:¥j:i_dEfeafgr~:fit:#:¥+-:ire-a::-r¥.S£[£:ear:einr:::;a.demem6riaspeio
branea ou conjunto de I?mbran¢as. 0 processo de recordar pode, nun certo grau,
ser perturbado ctobalmente, ou ent@o 6 ate mesmo possfvel que algum aspecto c6rebro, armazenanento esse que as distribui por todo ele, poderia assemelhar-se
do processo geral seja rompido. Mac urn tra9o isolado de mem6ria relativo a al- a esse rectstro hologrifico. Desenvolvi uma teoria, formulada de maneira precisa,
guma determinada experi6ncia nunca se perderd enquanto tudo o mats que seja baseada na neuroanatomia e na neurofisioloSa conhecidas, que pudesse respon-
memorizfvel pemanega retido. Gragas a observaEoes clfulcas em seres humanos der por tal amiazenamento em termos hologr4ficos. Cerca de doze anos depois
e tamb6m a experiencias com animals, esse fato se tomou bern estabelecido. Desse disso, muitos laborat6rios, inclusive o meu, fomeceram evid6ncias que apoiavan
modo, de uma maneira ou de outra a mem6ria deve ficar distribufda - os sinals partes dessa teoria. Outros dados tomaram-na mais apurada, aj.ustando-a de rna.
de entrada provenientes dos sentidos, e correspondentes a uma experiencia, es- neira mais precisa aos fatos conhecidos.
palham-se sobre uma extensgo do c6rebro suficiente para que a recordagfro dessa Essencialmente, a teoria diz que o edrebro, nun dos est4dos de processa-
experiencia se tome resistente a dano cerebral. mento, executa suas anflises no domi'nio das freqtiencias. Isso e realizado nas
Ate ha pouco tempo, cientistas especialzados no estudo do edrebro e do jung0e§ e#tre neur6nios e nao dentro deles. Desse modo, aumentos e diminui.
comportamento nao podian conceber nenhum mecanismo que fosse coerente com goes locais, graduados, de potenciais nervosos (ondas), de preferencia a impulsos
es fatos da anatomia e da fisiolotia cerebrais e que, ao mesmo tempo, espalhasse os •i.ervosos, sao os respons6veis por isso. Os impulsos nervosos sao gerados dentro
sinais de entrada sensoriais de modo a responder satisfatoriamente pelo armazena. dos neur6nios e sao usados na propagagao dos sinais que constituem as informa-
mento distribufdo da mem6ria. Agora, foi' descoberto urn mecanismo plausfvel. eces ao longo de grandes distincias, atrav6s de extensas fibras nervosas: As va-
No final da decada de 40, Dennis Gabor sugeriu que a resolugao da micros- riag0es de potencial, locals e graduadas, isto 6, as ondas, ocorrem nas extremi-
copia eletr6nica podia ser melhorada se, em vez de armazenar diretamente as dades dessas fibras nervosas, onde elas se ligam a ramos mais curtos que fomam
inagens, o filme fotogrifico fosse exposto aos padroes de luz difratada (ffltfa- uma rode de interconexoes entre neur6nios. Alguns deles, agora chamados neu-
da ou refletida) pelo tecido a ser exaninado. A sugestso de Gabor foi fomu- r6nios de ctrcuito local, nao possuem fibras longas e nco apresentam impulso§
lada matematicamente. Por6m, s6 depois de muitos anos, no infcio da decada nervosos. Funcionam, basicamente, no modo de onda graduada, e sto especial-
de 60, essa sugestao concretizou-se em derdwaire. Essas realizaeoes em ftandware mente responsaveis pelas conexidades horizontais em laminas de tecido nervoso,
tornaram 6bvio o fato de que as imagens de objetos que tinham, de infcio, di- conexidades nas quais podem vir a ser construfdos padrees de interferencia se-
fratado a lug podiam ser facilmente reconstrui'das. Dessa forma, a seqtiencia obje. melhantes aos hologr4ficos.
to + armazenamento de onda + constru9go de imagem podia ser considerada Ao lado dessas especificag0es anatomicas e fisiol6dcas, acumulou-se urn
urn simple§ processo linear. A1€m disso, as equa€oes de Gabor mostraram que s6lido corpo de evidencias indicando que os sistemas auditivo, somitico-senso-
a funefro matematica de transferencia identica transformava o objeto em arma- rial, motor e visual do edrebro realmente processam, em urn ou v6rios estfgos,
zenamento (ou redstro) de onda e o armazenanento de onda em imagem! 0 ar- a entrada, vinda dos sentidos, no domfnio das freqtiencias.* Essa entrada dis-
mazenamento de padrees de ondas esta, desse modo, reciprocamente relacionado
com a formagao de imagen§ de objetos!! As. .fun.9pes de onda sao transformagces * Grande parte da conferencia de fim de semana batrocinnda pen The Association for
de objetos e sues imagens. Humanistic Psychology dedicou-se a apresentaeao detalhada dessas evidencias.

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tribufda deve entao, de algum modo, talvez por meio de mudan9as na estrutura mats com nitidez daquflo que esta do lado de fora dos limites da pele. No domf-
de proteinas nas superfi'cies da membrana, ficar codificada sob a forma de tragos nio holografico, cada organismo representa, de certo modo, o universo, e cada
de mem6ria distribufdos. As moleculas de protefna desempenhariam urn papel porgao do universo representa de certo modo os organismos que ela cont6m.
auxiliar no holograma fotografico neural. Isso ja foi expresso neste artigo quando se aflrmou que as percepg0es de urn or-
A exphicapgo do fato de tra€os de mem6ria especfficos serem resistentes ganismo nfro podiam ser compreendidas sem urn entendimento da natureza do
a dano cerebral (o relembrar exige apenas que urn pequena parte do amaze- universo fi'sico e que, reciprocamente, a natureza do unjverso ffsico nao podia
namento distribufdo pemanega intacta, da mesma maneira que as imagens po- ser entendida sem uma compreens5o do processo perceptivo de observagao.
den ser reconstrufdas a partir de pequenos peda9os de urn holograma fotogra- Por isso, o fato de o domi'nio holografico estar reciprocamente relacio-
flco) e somente rna das contribuigdes da teoria holografica. Certas caracterts- nado com o domfnio imagem/objeto inplica que as opera9des mentais (como,
ticas da experiencia da formapso de imagens sao explicadas de maneira igual- por exemplo, a matem4tica) refletem a ordem basica do universo. Uma caracte-
mente vigorosa. Demonstrou-se. que a projegao de imagens longe de suas fontes rfstica da ordem holografica apresenta interesse especial. Esse domfrio trata ape-
de origem resulta do processamento de relagces de fase (exatamente como nos nas da densidade de ocorrencias; tempo e espa9o colapsam no domfnio das fre-
sistemas de audio estereofonicos descritos acina). Simulapces de processamen- qusncias. Portanto, as habituais fronteiras do espago e do tempo, as localiza90es
to de imagem por computador nao encontraram outra t6cnica, senao a hologri- no espago e no tempo, ficam suspensas e devem ser "hidas"* quando se efetuan
flea, que pudesse fomecer a rica textura de cenas como as que compdem nossas transfomag6es para o dominio imagem/objeto. Na ausencia de coordenadas de
experiencias. E as complicadas computagoes que empregan a foma¢ao tridimen- espago-tempo, o sentido usual de causalidade, do quad depende a maioria das
sional de imagens a raios X por tomografia computadorizada dependem substan. explicapoes cienti'ficas, tamb6m deve ficar suspenso. Deve-se recorrer, entao, a
cialmente do fato de que tais computagces (sendo que a maioria sao correlap8es) complementaridades, sincronicidades, simetrias e dualidades, a guisa de princi-
SSO facilmente executadas no domi'nio (holografico) das freqtiencias. pios explanat6rios.

0 FILOSOFICO

Mas talvez o mais profundo I.#s!.gftf obtido grapas a holografia seja a rela- `F¥jci
E¥\i;?ie;::;i:;::;:isi,,i:;s:t:eso:![:i:se;;:;i::;:e!oi:c:;eoiiix:tis;iejs:I;;:i;er;ai?ie:pi::iio
CsO recfproca entre o domfnio das frequencias e o domfnio imagem/objeto. Con. No entanto, ao que parece, ela foi explorada experimentalmente pelos
v6m lembrar que ~?rstao .fy.pdar!iental que.estamos examinando e se a mente misticos, m6diuns e sensitivos, e por outros indivfduos que sondarn fenomenos

€,!_QP. Qigem como .pqua propriedade emergente da intelagao de urn 9rganismo paranomais. Se as regras para "sintonizar" o domfnio hologrifico, implicado,
com seu me.id amtiiente, ou se ela reflete a organizag8o basica do universe ,(in. pudessem tonal.-se mais expli'citas, poderfamos talvez chegar a algum acordo
sobre o que constitui a ordem bisica, primata, do universo. No momento, essa
ordem parece a tal ponto indistingufvel das operagces mentais por cujo inter-
.:.aut§_=:e:r::::s°so:esqs:e°er:vano::::).o-¥:-g::;.(¥:ject:;,Sto¥9£enst£F6esn`t(:§;e:jg,eri m6dio operamos sobre esse universo que devemos concluir ou que nossa cien-
suas intera9ces con 6 meio ant>~i.ente -(considerado obj€'t`ivari6nte, isto €, sch
a foma de objetos, partfculas tais como f6tons, el6trons, atomos, mol6culas e cia 6 uma imensa miragem, uma constru€fro de emergencia de nossos c6rebros
os objetos da realidade das aparencias). As im8gens (urn aspecto da mente),s99, moldados por circunvoluedes, ou entao que, na realidade, como proclarnam to-
dessa foma, ~qn.?rg!;n`te§ . em qualquer` foqririla9'ao fflos6.flca. ot}jetivg, objetifl- das as grandes convicgees relitlosas, uma unidade caracteriza essa emergencia
cante [ob/'ecf-f'-„ing].* e a ordem bdsica do universo.
•-.. `. Mas o processo de construggo de imagem envolve urn estado recfproco,

rna transfomapso no dominio (holografico) das frequencias. Esse domfhio ca-


racteriza, como vimos, nao apenas o processamento cerebral, mac tambem a rea-
lidade ffsica. Bohm refereSe a ele como o domfnio da ordem imphcada, no qual
es pontos encontrarn-se "dobrados", distribuindo-se por todo o c6rebro.
No dominio impncado, holografico, a distingao entre pantos toma-se con-
fusa; as informapaps distribuem-se como no exemplo da superfi'cie de urn tan-
que. Aquilo que 6 organismo (com seus 6rg8os componentes) nao se distingue

* P[ibram desd6ttra, de maneira intraduzfvel, a palavla ob/.ectr./ring, para dela extrair * Plit)ram emprega analogicamente o termo read owr. usado em infpmitica papa in-

oa/.eat (objeto), I. (eu, refe|encia a mente) e /yl.ng, derivado de j}, sufixo usado em veltios dicar o processo de leitura de dados provenientes da mem6ria principal e o registlo desses
dados, em foma legi'vel, em outro diapositivo OV.. do T.).
que indicam ag0es como as de fazer, causal ou vir a se[ (N. do T.).

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Outras tradigoes hist6ricas vein a mente. No mundo ocidental, Plotino,
Leibniz e Spinoza; no Oriente., Buda, Shankara e a /.#aFT¢ ioga.. Esta, ct!ja afinidade
com Krishnamurti e Bohm 6 notivel, e a ioga do discemimento e da discrimina-
g5o. Ela evita a metafi'sica e a relict8o exot6rica, o ritual e os sistemas de sfmbolos
em favor de urn puro estado de percep¢go atenta.e livre de arcabougos ou ffltros.
E conhecida na tradigao como "a via que sobe direto pelo lado da montanha";
4 e 6 considerada a via mais direta e diffch que existe. Diz-se que somente muito
poucas. pessoas estao propensas a satisfazer suas exigencias ou sso capazes de
CONSCIENCIA DE CAMPO E ETICA DE CAMPO realizar tal faganha. De acordo com aqueles que mos deixaram o relato de suas
experfencias, seu ponto quajs alto 6 o silencio. Desse modo, Meister Eckhart (para
Ren6e Weber recorremos a uma fonte inesperada) afirma que "nao ha nada em todo o uni-
verso mais semelhante a I)eus que. o sflencio", e junta essa descoberta a meto-
dolocta: "Por que vooe tagarela a respeito de Deus? N8o sabe que tudo o que
A teoria de Bohm revela uma not4vel cosmolotia. Talvez nao memos not£- voce diz 6 falso?"
vel que seu contetldo seja a sua proveniencia, urn ffsico. Em nossa epoca de com- A16m dessas poucas observae6es, devemos deixar a tradigao para trfs. Em-
bora possa apresentar interesse hist6rico e psicol6givo unirmo-nos a outros ex-
partimentalizagao profissional, surge a questao: Por que urn eminente ffsico te6-
rico, com uma reputapao cientffica em jogo, devotatse a exploragao da conscien- ploradores dessa quietude fecunda, ficar agarrado ao passado 6 urn obsticulo e
cia? Uma abordagem abrangente e enfatica da visso de Bohm acerca do universo uma traic8o ao momento vivo rec6m€riado, para onde se dirige o foco total de
traz luz a essa quest8o. Bohm. Por mais interessantes que possam ser os fil6sofos ou os sistemas que al-
Seu contacto com a fnosofia indiana, em especial com o sabio hindu Krishna- guch introduza numa disoussso .com ele, Bohm, firmemente, os reduz a urn mf-
murti, convenceu.o de que o pensamento, a foma de consciencia que nos e mais nimo e traz o assunto de volta ao presente, a este momeHfo. E seu comprondsso
familiar e na qual habitualmente funcionanos, corrompe a realidade. A velha es. com essa manifestap8o viva da realidade, momento-a-momento, que une seu tra-
peranea da metaffsica e da ffsica, de que o pensamento pudesse revelar a reali- balho em fisica a seu interesse pela consciencia.
dade, esti necessariamente condenada. 0 pensamento 6 uma habilidade rco#.va A desintegragao do ftomo s6 pode ocorrer no presente e sempre pode ocor-
e nao ativa, sintonizando apenas parcialmente o homem com a natureza, e dis- ref de novo. A analoria do atomo com o pensamento, e com urn suposto pen-
torcendo a maior parte dela. 0 pensamento 6 uma especie de consciencia fossi- sador que produz o pensanento, 6 crucial. 0 pensador assemema-se ao itomo,
lizada, operando dentro do "conhecido" e, desse modo, por defmieao, nao e que permanece coeso ao longo do tempo gragas a sua enerSa de ligagao. Quan-
criativo. A realidade ou aquilo que 6 fundamental (Bohm nao iguala os dois, mas do a enercta de ligagao do atomo frsico 6 liberada nun acelerador, a enerSa re-
qualquer esclarecimento sobre isso est6 al6m do alcance deste artigo), as inves- sultante, vertigivosamente grande, fica livre. Analogamente, sso necessarias enor-
tigapees de Bohm o convenceram disso, 6 algo sempre novo. Trata-se de urn pro- mes qu.antidades de enercta de ligagso para criar e sustentar o "pensador", e para
cesso vivo. Uma vez que o pensamento estd limitado pelo tempo, nao pode apreen- manter sua ilusgo de que ele € uma entidade estavel. Essa enercta, estando "amar-
der aquilo que se encontra al6m de urn afcabouco finito espaeo-temporal. rada", 6 indisponfvel para outros prop6sitos, forgada a prestar servi9o aquflo
Bolm s6 admite com relutancia as teorias de outros pensadores em suas que Bohm chama de "autofrande" .¢e//-decepz7.o#) (fenomeno descrito em de-
discussces, insistindo em elaborar novamente a resolucso de urn deteminado talhe por Buda como ignorancia, ¢v!.d)/a, que significa, literalmente, "nco vcr").
problema sem se apoiar no passado. Nao obstante, ele admite que ha paralelos 0 pensamento, ou o que Bohm denomina mente tridimensional, acreditando-se,
entre suds concep€ces e as de certos fu6sofos do passado. Urn exemplo caracte- equivocadamente, aut6nomo e irredutfvel, requer e, por isso, dissipa vastas quan-
ristico 6 o de Platao, cuja Alegoria de Cavema (J2ept;b/I.co, VII) apresenta sur- tidades de enertia c6smica nessa ilusao. A energa que, desse modo, pre-desemboca
preendente coerencia com a cosmoloSa de Bohm. Quando incitado, Bohm con- nessa via n8o pode fluir por outros canais. A consequencia disso 6 uma ecolo-
corda com a correlagao entre a cavema de Platso e a ordem expncada, e tam- cta c6smica insalubre, que polui o holomovimento em pelo menos duas di[eeces
b6m com a correlag8o entre a metafora da luz em Platso e a ordem implicada. destrutivas. Primeiro, o holomovimento ilude a si mesmo, escothendo a fic9ao
Tanto a luz de Platao (Sol) como a ordem implicada de Bohm s6 podem ser apreen- em vez do fato, e por isso se escraviza. Segundo, o holomovimento se dilacera,
didas atrav5s de I.#sl.gfef, ambas se achan al6m da linguagem, e ambas sao inaces. substituindo o eu isolado pela consciencia da humanidade, numa abetra€ao ali-
si'veis exceto para indivi'duos dispostos a sofrer uma mudanca vigorosa e decidida. cergada no sofisma, escravizando outros por meio de sua ira, de sua ganancia,
Os dominios que Bohm caracteriza como estando "infmitamente alem" ate mes- de sua competitividade e de sua ambieao. 0 resultado desses dois passos erra-
mo da ordem implicada - a saber, verdade, inteligencia, I.»sl.gfzf, compaixao - dos e urn mundo de sofrimento pessoal e interpessoal.
s8o comparaveis aos princfpios fundamentais de Platgo: verdade, beleza, o ben, C) primeiro desses passos errados, a flusao de urn ego, de urn eu pessoal ou
a unidade.
pensador, achatse intimamente relacionado ao tempo e a morte. Sejamos claros.

38 39
E=d

processo, porque a enerda do todo [who/e] est£, de certa foma, intimanente .


relacionada com aquflo que charnamos de santidade [rioJfroes§]. Em resumo, a..
go~£te6ns5afe°rvi:iga::o::i:::£epnr:I:aj;i}e¥eta:a°dpeesit:.g°rrat;;oBattao'md,ecaacp°sr]::I:;:aeisees:
crita acima e nco e, necessariamente, urn sin6nino da dissolueao do corpo ff- pr6pria enertia e anor.
sico (como observaram muitos autores em seus relatos sobre a tradigso esote- A desinteglagfro at6mica aplicada a consciencia Bohm e Krishnanurti dao
rica). A morte psicol6Sca ocorre quando a consciencia candnha em compasso o none de "percep€fro (ou consciencia) atenta" ¢w4reness). Tal processo pro-
com o presente, que esta sempre em movinento e se auto-renovando, e nao per- porciona a consciencia acesso direto aquela enertia, e a conduz a certeza trxpe-
mitindo que nenhuma parte de si mesmo seja aprisionada nem fixada como ener- rinental, baseada na evidencia, de que a suprema natureza do universo e uma
enercta de amor. Os mfsticos proclamaram isso a uma s6 voz. 0 que e surpreen-
£:at:::I:ruaal;56fias-aedpo9rr,8oa::Sid:gns::teeper:Pe°:;[e°nn€anc°}a:rcnaa°o::€g:I?da:a,:sqt:d6°,£::-~ dente e' o fato de urn ffsico contemporineo interessar-se por tat teoria e pelo
-aisihiliaas nem oidenadas pe.Ia me`nte, em mem6rias, pidroes do h.4t!itg, j9gp.. sou m6todo. Naturalmente, e verdade que, em muitos aspectos, os objetivos do
•tificapdes; dos?jos,. .?.¥ers.pps, projegces e-fatiricagap de inageps. Nao se trata de mistico coincidem com os do ffsico, isto 6, o contacto com o que 6 fundamen.
inni processo .pulanente pessoal mas sin da eneraa de eons de tais processos tal. Mas hi uma diferenga cri'tica. A desintegragao do 4tomo e urn empreendi-
mento dualista; o ffsico (sujeito) trabalha sobre urn objeto que se supde estar
esclerosados com o passar do tempo, persistindo tanto em nfvel pessoal quanto
coletivo. A morte do ego desmantela essa superestrutura, deslocando-a para seu fora dele. A mudan9a do objeto nco modifica fundamentalmente o sujeito. Por
lugar correto nos bastidores de nossas vidas, em vez de dominar e desordenar outro lado, a desestruturg9so do pensador envolve necessariamente o pr6prio
o palco, como atualmente acontece. Bohm argumenta que tal movimento re- operador ou experimentador, porque 6 ele o objeto-de-teste em questfro, o agente
transfomador e, ao. mesmo tempo, o paciente, que sofre a transformacao. Daf
quer maior adaptae5o biol6Sca nao reduzida, ben como satde, e nso deve nos
a resistencia, o carater frduo e a grande raridade de tal evento.
amea9ar. Pelo contrario, a "morte" assin concebida e, na verdade, a sua nega-
Embora raro, isso ocorre, e conforme se sugeriu acima, Bohm associa sua
realizagfro a 5tica. A desintegragao de atomos psicol6Sca despolui o que incon-
tiveis atlomerados eg6icos ilus6rios (analogos a espasmos que reduzem o fluxp
:a@:i::Enod::r¥g:n:dsodae°p:a;e:g,:I:P:I:ersei:qt:!£e,gfp:a;Ce£;::doa:¥:::te:c.ufoes;s::::::I:::
dentro do todo) polui'ram com seu mau posicionado sentido de separatividade e
cia c6smica, inteligencia universal ou anor - mas o domrnio onde habita diaria-
suas priori~dades mantidas pelo ego,' resultando em sofrimento universal. 0 de-
mente permanece destrutivo e ca6tico. Isso nco nos deve surpreender. A quali-
sintegrador de atomos psicol6¢co coincide, desse modo, com o santo, que nao
dade tridimensional do pensarnento tiloqueia necessariamente a pr6pria expe-
mais contribui para o sofrimento coletivo da humanidade mas, em vez disso, tor-
riencia da realidade vivenciada polo pensador, e sobre a quad, durante s6culos,
na-se urn canal para a flimitada enertia da compaixao. A consciencia toma-se
ele fala usando palavras ocas. E a incomensurabilidade substan.tiva e 16aca, e
urn conduto alinhado com a enerSa do universo, irradiando-a para o mundo hu-
nao a rna vontade nem o esfolgo insuficiente, que responde por isso. 0 nao-rna-
mano e das criaturas sem distorce-la ou desvia-la para seus pr6prios objetivos
nifesto, como Boha meticulosamente argument.a, 6 n-dimensional e atemporal,
autocentralizados.
e nao pode set manipulado, seja como for, pelo pensanento tridimensional. A
Curiosamente, a despeito da conviceao de Bohm de que € esse o estado
consciencia, funcionando colno peusamento (ao . contr6rio do I.nsj.gJlf) nao pode
de coisas verdadeiro e desej4vel, que o nosso conhecimento simplesmente ainda
conhecer de inediato a .verdade ou a compaixao, e nisso reside a laiz de seu rna.
nao alcan¢ou, ele reluta em discuti-lo a nao ser atraves de breves alusoes. Sua
Iogro em incorporar essas enerSas a sua vida di4ria.
enfase est4 na metodoloSa do processo de autodescondicionamento, e nco na
Somente quando o individuo dissolve o ego tridimensional, que consiste
terra prometida que se encontraria no frm desse processo. Sua justificativa para
em mat6ria grosseira, a base de nossa existencia pods jo[rar atraves de n6s, sem
isso 6 simples. Em seu estado condicionado, a mente, seja como for, nada mais
ot)strug8o. Para urn ffsico te6rico, o.paralelo desse estado de coisas com a me-
catica quantica e evidente. Bohm estende sua aplicatiflidade a psicolocta, inci- pode fazer exceto traduzir o que e incondicionado para padrces condicionados
e, desse modo, ela perde a essencia daquilo que procura. Fiel ao credo da ciencia,
tando-nos a dissolucao do pensador como a mds alta prioridade que pode set
Bohm ap6ia-se em provas experimentais, e nao verbais. A consequencia desse
empreendida pot aquele que busca a verdade. Com essa concepeso, ele oscna
lnargeando a flonteil.a daquflo que 6 .culturalmente aceitavel, na interface entre posicionamento e estranha, e ate mesmo bizarra. Coisa alguma pode rivahiza-lo
no domfnio do conhecimento, nem mesmo o ardiloso paradoxo da `mecanica
a f{sica e a relidao. E urn terreno estranho, uma vez que nossa cultura atual, ca-
recendo de qualquer conceito concetilvel para explica-lo, rejeita urn tal vinculo quintica. Em certo nfvel, ele parece estar em disparidade com nossa constitui-
c5o psicol6Sca, pois ate mesmo aqueles em que ha pleno acordo intelectual com
como also confuso, e ate mesmo absurdo. Entretanto, por mats estracha e in6-
essa concep€5o acham diffcil enfrent£-1a no nfvel existencial de suas vidas, co-
dita que possa ser, essa integraggo 6 justificada pelo modelo de Bohm, segundo
mo qualquer pessoa que tenha vivenciado os ensinamentos de Krishnamurti ates-
o qual o universo 6 urn holomovimento. 0 desmantelamento do pensador pro.
tars. 0 que 6 esse paradoxo? Apenas isto: quarto mais falamos a respeito da "vcr-
duz enerSa que 6 qualitativanente carregada, n8o-neutra ou isenta de valor. E
dade", ou mesmo pensamos sobre ela, para mats longe de n6s mesmos a afasta-
enercta livle e fluente, caracterizada pela totalidade, pela n-dimensionalidade
e pela forga da compaix8o. A fi'sica e a 6tica toman-se tambch uma s6 nesse i mos (a analotla com o Princfpio da Indetermina9so de Heisenberg e 6bvia). E o ew,

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o pepsador, o criador do pensamento a respeito do sagrado ou de Deus que, nesse como Bohm insiste repetidas vezes, estado esse que acarleta uma suspensfro das
categorias kantianas e do espago-tempo tridimensional. Tal vacuidade leva a ces-
pr6prio ato, introduz as impurezas (tempo, se//, linguagem, dualismo) e, desse mo-
do, anuvia aquflo que de outra maneira seria z.m4cwdrdo (o pr6prio Krishnanurti sagao da consci6.ncia considerada como ague/e qwe co#ftece e nos transfoma
usou .essa palavra nesse contexto, numa conversa que tivemos em Qjai, em 1976). nun instrumento que, receptivamente, pemite a inteligencia numenica operar
Dificilmente se poderia considerar es§e reconhecinento como algo novo, atrav6s de n6s, irradiando sobre nossas vidas cotidianas. 0 mecanismo especf-
mas sua articulap5o s6 raras vezes foi fomulada com eloquencia tao sincera co- fico dessa operaeso 6 difi'cil de entender. Talvez mos tomemos semelhantes a
"transfomadores" el6tricos capazes de reduzir a tens5o da enertla c6smica es-
mo a que se encontra no tom e na linguagem de Krishmmurti ou expressa com
a clareza de Bohm. Nfro precisamos, de fato, peranbular ate muito longe. Kant calonada, por vias que nos permitam /ocoJ!.zd-J¢ no nfvel microc6smico onde vi-
nos v.em i mente. Ji no final do s6culo XVIII, ele insistia em nossa impossibfli- vemas e atimos. Seja como for, o raro indivfduo que funciona como urn canal
dade - fundamentada na 16ctca ou nas leis do pensamento e, desse modo, cons- desse tipo parece, aqueles que entrain em contacto com ele, pertencer a uma
tituindo urn obst6culo que nfro 6 possfvel superar - de ter acesso a experiencia nova especie de homem. (Krishnamurti, para qualquer |]essoa que o tenha co-
do que 6 fundamental. Kant deu a esse domfhio o none de coisaJ3m-si, isto 6, nhecido, e, claramente, urn exemplo tfpico.) Tat ser liumano irradia claridade,
aquno que Krishnamurti e Bohm chaman de inteligencia ou compaixao (Buda, inteligencia, ordem e amor pela sua simples presenea. Parece capaz de transmu-
o dJ!4rm¢, e Plat5o, "o ben"). Kant liqtiidou a metaffsica demonstrando cuida- tar nosso ca6tico mundo impessoal nun domfnio 6tico pela sua pr6pria amos-
dosaniente, na Cr/tr`co da R¢zGo fttrjz, que tudo o que 6 pensavel e nomeavel deve, /era, que se acha inequivocamente carregada com eneraas para as quals nao pos-
necessariamente, confomar-se com a estrutura inerente da mente: espago, ten- sufmos nomes nein conceitos. Quando muito, podemos captar vagamente a pro-
po, qualidade, quantidade, casualidade, etc. As categorias kantianas sao aquelas senga e o poder dessa atmosfera em temos metaforicos e aproxinados.
as quais Bohm se refere como sendo o domfliio da tridimensionahidade, com a Kant, em contraste com isso, nao nos deixa dtividas quarto ao seu desconhe-
distinefo de que este riltimo 6 mats amplo, abrangendo a emoeao, a vontade, cimento de tais estados do ser, que boa parte da humanidade regstrou com notavel
a inteneao e outras qualidades psicol6Scas, bern como cognitivas. Todas essas consistencia e concordancia intersubjetiva. Bohm, assim como Kant, reauza urn tra-
qualidades dizem respeito ao mundo da experiencia sensfvel (a ordem manifesta balho inestimavel ao delinear claramente onde devem situar-se os himites do conheci-
ou explicada, na linguagem de Bohm), [e respondem pela nossa aptidao para fun- mento. Parafraseando Kant: o genero humano encontra-se nun la9o simbolizado, co-
cionar no domi'nio fenomenico. Nessa dimensao, nfro temos outra escotha a nao mo poderlamos exprimir em palavras atuais, por uma raga universalmente dotada de
ser filtl.ar 4gwz./a qtie e' atrav6s do aparelho de percepgao universal descrito acima. lentes de contato. Sem essas lentes, nada podemos vcr, em absoluto, isto 5, nao po-
Nossa capacidade para a tradugfo 6 rittl quando adequadamente empregada (isto demos ter nenhum conhecimento. No entanto, coma as lentes nos chegam pr6€qui-
6, bioloticamente, ou em certas atividades priticas da vida diaria). Fazer isso, padas com ;eus pr6prios ffltros de cor embutidos, gra9as a elas s6 conseguimos
no entanto, custa-mos urn alto prego, como Kant compreendera. Uma vez que "vcr" o que os filtros permitem. Dessa foma, nao vemos nada ou vemos distorcida-
o nineno, ou coisa€m-si, nao 6 capaz de ser apanhado na nossa rede, perma- mente. Em nenhum ca§o, entramos em contacto com o que 6 fundamental.
nece imperscrutfvel para n6s. 0 conhecimento, tanto para Kant como para Bohm, Perceber (nao visualmente, e claro) as coisas como elas realmente sao exige,
6 o processo de sintonizar a manifestae5o (o fen6meno) do nao-manifesto, a fin usando o vocabulario de Bohm, a desativagao dessas lentes, contornando-se o
de torni-lo acessfvel a criaturas estruturadas da maneira como somos. Esse filtro ego ou se// que manipula o mundo atrav6s delas, e convertendo-se no canal va-
e a conseqtiente distorffro acham-se "embutidos" em n6s e sao universais. Por zio, aberto a totalidade que e a nossa fonte. Coma jf explicamos, nada nesse vazio
defmieao, a coisa-em-si nunca pode aparecer-mos como seria sem a nossa agao pode ser caracterizado, pois a caracterizagao 6 a tradugao de ntimeno em feno-
de "sintoniza-la" com nosso aparelho de recepeao finito. meno, de nao-manifesto em manifesto. Por isso, todas as linguagens falharao em
Aqui os caminhos se separam. Krishnamurti, Bohm e toda a tradieao mrs- apreender a ess6ncia do todo, ate mesmo a mais pura delas, a matemftica, como
tica concordam com a anflise de Kant referente a experiencia fenomenica. No Plat8o reconhece na Jteptzb/I.co. Apenas o sil€ncio 6 comensurfvel com sua na-
entanto, eles avangam al6m de Kant, para proclamar a possibflidade de urn estado tureza e apropriado ao seu universo de "discurso" ¢4!madf!I., a arrebatadora culmi-
de consciencia que se encontra fora dessas barreiras. Para Kant, cujas concepeces na€go extatica da meditaggo iogue descrita por Patanjali, que significa literal-
sobre o assunto foram aceitas como definitivas pela fnosofia ocidental, #e#Awm4 mente "silencio total" ou "quietude absoluta").
outra capacidade ache-se dispontvel em n6s a qual possamos lecol[e[ pAIa alcaneal Essas observae6es deviam langar luz na flme postura de Bohm. A espe-
o nineno. Bohm e os ot!tros que mencionamos sustentam que essa capacidade ranea de apreender o numeno atrav6s de olhos fenomenicos fundanenta-se nun
existe no universo, e que, estritamente falando, ela nao se encontra em n6s. 0 absurdo 16Sco, que Bohm chama de confusfro e autofraude. 0 antiqtifssimo es-
desafio para a local individual de consciencia estf em fomecer a condigao que forgo filos6fico para sintonizar a pureza de ser e percebe-la tal como seria em
permite a forga universal fluir atrav6s dele sem obstaculo. 0 resultado nco 6 co- si mesma sem ser percebida por urn conhecedor* 6, portanto, uma esperanea vg.
nhecimento, no sentido kantiano, mas compreensao e percepgao atenta, urn es-
tado de percepgao direta e naordualista para o qual Kant nao fez nenhuma pro- * Isto 6, sem lentes que se I."/erpo#Aam entre `o que 6 percebido e o que percebe
visao e nao possufa nenhun vocabuldrio. Sua precondieao a o estado de vazio,
(N. do T.).

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Aproximar-se da infinita inteligencia c6smica, do amor ou I.nst.gfr/ de que fala
Bohm requer que o conhecedor de total passagem a pura co.nsciencia. naordua-
lista. A luz dessa necessidade, as prioridades de Bohm tomam-se compreensf-
veis e parecem inevitdveis. A desintegragao atomica restrita. a matcria bruta -
o campo do ffsico de parti'culas - e apenas urn primeiro passo em nossa busca
da realidade, e e o caminho presentemente seguido pela comunjdade dos ffsicos.
5
Mas Bohm vai muito al6m. A mutabilidade das fomas (cf. £!.vro rf.6ef8no dos
morfos) das parti'culas subatomicis (mat6ria bruta) nco revelara os segredos do
0 UNIVERS0 QUE DOBRA E DESDOBRA*
universo. Tudo o que ela pode nos oferecer e conhecimento, restrito, como vi-
UMA CONVERSA COM DAVID BOHM
mos, ao domfnio tridimensional.
Mas Bohm ten em mente urn tipo mais sutfl de desintegrapto atomica:
conduzida por Ren6e Weber
retardar e, finalmente, parar a .pr6pria danea daquele que responde pelas mu-
dangas de forma ¢„apc-sftlrrer), isto 6, a morte do pensador tridimensional e
seu renascimento no dominio ndimensional da consciencia. Tal evento levaria
WEBER: Penso que a primeira questao que devemos explorar 6 esta: 0 que
ao estado dinamico a que Bohm se refere, onde criagfro, dissolugfro e cria¢ao flui-
e o modelo hologrdfico do c6rebro ou da consciencia e de que maneira ele difere
riam atraves de n6s simultaneanente, como q!tanf¢ de ene[tia que nascem e se
dos conceitos correntemente aceitos ou daquflo que sempre acreditamos ser a
vao em frag0es de microssegundo, brotando de maneira sempre renovada, sem
verdade sobre o assunto?
serem detidas, agarradas ou maculadas. A consequsncia disso -caso a tare fa seja
ben-sucedida - 6 urn novo paradigma do universo, da consciencia e da realidade
801": Ben, o modeld holografico da consciencia baseia.se na noefro de que
humana. Nao serf mais questgo de urn conhecedor que observa o conhecido atra-
as infomapoes a partir das quais a consciencia trabalha nao se acham amazena-
v6s do abismo de conhecimento que os separa. Esse modelo de consciencia desa-
das em determinados lugares, mas sin ao longo de todo o cerebro, ou sobre grari-
pontou-nos ao longo dos s6culos em que nos apegamos obstinadamente a ele. des drcas dele, e cada vez .que as informa9ces sto usadas e feita uma selegao reu-
- . Deve ser posto de lado, como Bohm argumenta com muita clareza. Sua substi.
nindo todas essas informaedes a partir de todo o cerebro, como ocorre com o ho-
tuigao 6 o austero paradigrna de urn calnpo de existencia unificado, urn universo logrina proprianente dito.
autoconsciente que se reconhece urn todo fntegro e interconexo. Conhecedor
e conhecido sso, portanto, falsidades: elaborag0es toscas baseadas na abstrapto. WEBER: Como se faz essa reuniao? t
Nso se justificam face a maneira como as coisas realmente sso, isto e, face ao
monismo que Bolrm alega ser mais plenamente compatfvel com a mensagem da BOHM: Na verdade, voce devia entrevistar o Pribram sobre esse assunto, mds
ffsica moderna, baseado nas penetragoes que, ate agora, ela empreendeu pelo in- voce pode imatlnar que o Ofrebro 6 uma rede de conexoes de celulas e, digamos, de
terior da natureza. Embora os dados sejam aceitos pelos ffsicos, sua interpreta- infomapdes. No ano passado, tive conhecimento de uma teoria segundo a qual a
g5o desses dados permanece restrita a campos que se excluem como naturezas mem6ria pode ser armazenada em an6is de circuitos que se fecham incessantemente
conscientes. entre certas c6lulas, e que deixam no c6rebro uma esp6cie de deformaeao pldstica,
E essa relutancia e essa restrigso que Boin' est4 desafiando. Ele quer ex. de modo que quando se fomece novamente energia a esses an6is, 6 evocado urn pa-
plorar /odes as consequsncias da teoria da~'m-ee'anica quantica e est4 arriscando
sua reputa€go em seu compromisso com o holomovimento. Sua visso e uma teoria * As quatro palavraachave da teoria de Bohm, dobrar, desdobrar, ordem implicada
de canpo unificado com a qual a.ci€ncia nem sequel sonha., e.na qual aquele que e ordem explicada, derivam da palavra latina PJI.care ou do verbo ro /old, que significam "do-
procura e aquflo que 6 procurqdo sao apreendidos como urn §6, o holomovimento brar". 0 verbo ro eH/old, que 6 normalmente traduzido pow "envolver", perde nessa traducfro
t-o-inando-se transparente para si pr.6prio. Tal campo unificado p`ao, e nqutro.n.em a p[oxinidade com §eu ponto de partida. A16m di8so, Bohm escolheu com precisao esse termo
destitufdb de yalores, como requer a regraha-ge-rat+-q`be. impera na ciencia £9nteap- provavelmente porque a id6ia de "dobrar" sugere de II]aneira ostensiva a presenca de uma
ordem intema, coma aquela segundo a qual uma colcha 6 doblada. OIa, a velbo "envolvel"
i;`-6ranei:
-ininio.. masnfo.nascido,
ainda uma enercta =int6ligente.
onde e. cqupassiva,
a fi'sica, a 6tica manifestando-se
e a relia8o-se nun.
fundem. Para .a .qo-
vida in-o inclui essa presenca de ``dobras", isto e, de uma ordem que se ache inplfcita no envol-
vimento. Quanto a expressao "ordem implicada", eta ten sido erroneamente tra'duzid.a po[
humana, a -plena difusgo daa transformapso
consciencia de urn tal domfniba sera r6v6luciona¢.a., "o[dem implfcita". 0 adjetivo "impli'cito", al6m de deixal ben escondida a id6ia de "dob[ar"
•e nos levifa `da .info-rinagso e do corihe6in-edto -sattedori?.
e, portanto, de ordem intema, sugere, antes de mais nada, sous signlficados mais comuns:
"subentendido", "t6cito" ou "que se acha envolvido mas nao de modo evidente". A16m disso,
6 o pr6prio David Bohm que estabelece clararnente a diferenga, ne3te trecho citado no artigo
de John Welwood: "A palavIa `implfcito. 6 baseada no verbo `implicar', que significa `dobrar
para dentro' (assim como multipnca[ significa `dobrar muitas vezes')." (N. do T.)

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drao semelhante ao que eles produzem. Isso nat> 6 muito diferente do princfpio e sempre esse todo uno. As diferentes partes do holograma nao estao em corres-
da gravaeao em fita. pondencia com as diferentes partes do. objeto. Por6m, cada uma delas esta, de
certa forma, estampando alguma coisa do todo.
WEBER: Segue o caminho da resistencia minima?
WEBER: Em outras palavras, isso poderia entrar em conflito com, ou ate
B0HM: Bern, nao 6 exatamente assim, mas quando voce ve alguma coisa mesmo enterrar, aquilo a que os fil6sofos costumavam dar o none de teoria de
que ativa urn desses aneis, isso sera gravado, mas quando voce ve algo semelhante, correspondencia da verdade : a imagem, a chapa fotografica, o objeto.
isso pode ativar uma enertla que prov6m dessa gravapao.
80": Ben, na verdade uma coisa nao ten ligagao com a outra. E de fato
wiBER: Recuperando-a? Pribram encarava isso de maneira interessante; ele estava pensando a respeito
desse modelo hologranico e depois leu meus artigos e pensou sobre isso, e fez
B0IIM: Sin. Esses an6is podem nao ser apenas locais; pode hover muitos a si pr6prio esta pergunta: "Qual 6 o holograma do. holograna?" E de acordo com
aneis semelhantes por todo o c6rebro, urn ntimero incrfvel deles, todos interco- a concep¢ao que estamos propondo, o pr6prio mundo 6 construfdo ou estrutu-
nectados, de modo que, por exemplo, se voce estd othando para urn deteminado rado com base nos mesmos princi'pios gerais do holograma. Nao sei o quanto
segmento de informac5o, tal como uma rocha, o enfoque mais simples, como da ordem implicada eu deveria esclarecer aqui.
o de uma objetiva, consistiria em dizer que a rocha esti amazenada numa c6-
lula do Ofrebro. E depois, que a segunda rocha esta numa outra edlula, a frvore WEBER: Quanto voce desejar; estamos muito interessados nisso.
numa terceira e assim por diante. Outra concepc5o seria a de que a rocha e ana-
1isada segundo muiti'ssimas caracteri'sticas, tais como rinhas, curvas, bordas, cores 801": Estou dizendo que o holograma 6 urn exemplo da ordem impli.
e iodas .as diferentes informag0es que pode.riam produzif algum tipo de defor.- cada ou dobrada.
mapso pldstica em toda a extens5o do c6rebro. Por isso, para recuperar as informa-
gees a respeito dessa rocha, deve haver, de alguma forma, uma coleta de infor`- WEBER: Pode mos dar uni modelo da ordem implicada?
mag6es provenientes de todo o c6rebro. Em outras palavras, se colocamos a ques-
tao nesses termcis, ate mesmo a palavra "rocha" pode estar armazenada em toda 801": Tinhamos em I.ondres urn dispositivo que consistia em dois cflin-
a extensao do c6rebro, e todos os vfrios atributos que a rocha possui nto sfro dros de vidro concentricos, entre os quais ficava urn fluido muito viscoso, como
necessariamente amazenados nun 's6 lugar mac em todos, e caracterfsticas co- a cticerina. Esses cilindros podiam ser givados muito lentamente, de modo que.
'`#e°o%#£=ectg=e£6Cn°=abL3La==:v%dedi:eo'3enfasd#z=[%ua=pP=aafdof%=.nt=altiqpu°est n8o houvesse difusfro do fluido viscoso. Se voce^ pingar uma gotfcula de tinta in-
soltivel nesse fluido e gird-lo lentanente, ela se alongara ate transformar-se nun
concei.to ou qualquer imagem ou lembranga ou o que quer que seja, voce pre- fflamento invisi'vel e quando `voce givar o fluido no sentido oposto, ela, repen-
cisa comer infomapees que ngo estgo em correspondencia biunfvoca com al- tinamente, tornar-se-6 visi'vel outra vez. Agora, voce pode dizer que o fflamento
guma especie de fichario, ou algo semelhante, mac que se acham, em vez disso, foi dobrado dentro do fluido assin como o ovo se acha dobrado, ou envolvido,
em seu amazenamento hologrffico. De fato, o pessoal.que faz pesquisas na area dentro do bolo. Voce nso pode desdobrar o ovo fora do bolo mas pods desdobrar o
dos coriputado'res e .estuda o armazenamento hologr.£fico de infonnaectes sabe fflamento porque ha essa mistura viscosa, e nao hi mistura difusiva; voce pode
que trabalha com urn meio muito mais eficaz que o amazenanento diatal dos desdobrar a gotfcula de tinta para fora da glicerina grando esta lentamente no
nossos dias. sentido contrario, de modo que nco ocorra difusao. Imagive agora que voce poderia
dobrar outra gotfcula de tinta e elas pareceriam ficar reduzidas quase a mesma
WEBER: Isso est£. relacionado com a noggo de que qualquer parte de qual- coisa, mas h5 uma diferenga entre as duas gotfculas dobradas porque uma delas
quer c61u]a pode reproduzir.o todo? vai-se desdobrar na primeira e a outra na segunda. Essa distingao est4 presente na
ordem dobrzzda; o que vemos aqui nso 6 a ordem desdobradr, que nos e habitual, e
BOHM: Ben, nao 6 necessariamente apenas uma c6lula mas qualquer parte
que corresponde a nossa habitual descrigao da realidade. Habitualmente, pensarnos
de uma c6lula que abriga informag6es a respeito do todo. Quanto mais celulas
que cada ponto do espago e do tempo e distinto e separado de qualquer outro
ponto, e que todas as relag6es sao relac6es entre pontos contfguos no `espago e no
:i:::I;uont£:'[o:r¥:ado;¥a:ga:eseqr::saesv%£9Tuaio::.rY#'ifaiFequ:e`]€:osvdsca6r?.:1;ei:fr9a- tempo, certo? Na ordem dobrada veremos, em primeiro lugar, que quando tomamos
as jpf.9rmaeces a respeito da imagem toda mar sera uma imagem me.nos deta: a gotfcula e a dobramos, ela passa a estar na cofsa toda e cada parte dessa coisa toda
thada e visfvel apenas a partir de urn menor ntimero de a.ngulos, de mgdo que contribui para essa gotfcula. Imagivemos agora a situaeao em que introduzimos a
4uahto maior for a area do holograpa, que voce tomar, tanto mai§ detalhadas outra gotfcula. As duas se achan em posic6es diferentes, mas quando sto dobradas,
e mais copiosas serao as informap6es. Mas o assunto, ou o objeto, das informag0es
de certo modo elas se misturam uma com a outra, est5 claro?

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WEBER: Elas se misturam uma com a outra ou se distribuem atrav6s do est4 se manifestando. Uma vez que a partfcula 6 sempre o todo mas suas partes
todo? somente se manifestam, isto e, manifestan-se aos nossos othos, porque para e]es
conseguirem ver uma gotfcula de tinta, a intensidade, a densidade dessa gotfcula
80": Elas se distribuem atrawis do todo mas ficam entremeadas uma deve estar arein de urn certo ponto. Desse modo, apenas aquelas que foram cole.
com a outra; elas se intexpenetram, mas quando vooe as desdobra, elas se sepa. tadas e reunidas nun estado muito denso ficam visfveis naquele momento. E quan-
ram e fomam duas gotfculas. Desse modo, se voce ten agora uma situacao que do elas retomam para dentro do fluido, outro conjunto vein para fora, e entao
a linguagem ordinaria nao descreve, essa situa¢ao 6 a de uma intexpenetraeao voce ter4 a impress fro de vcr uma parti'cula cruzando a superfrcie. Mas, v¢a, essa
no todo, e devemos fazer unia distingao entre aquele todo que ira produzir uma partlcula 6 apenas uma abstragto que se manifesta a no§sa visao; a realidade e a
o[dem dobrada, que 6 sempre inteira, total, e que 6 essencialmente independen.
gotfcula aqui e urn todo que produzird .uma 16 e ainda outro que produzir4 duas
te do tempo. Nso esta relacionada com o tempo porque dois elementos que es-
gotfculas, e assin por diante. Veja, a ordem habitual de descriefro em ffsica 6 a
tejam intimamente relacionados entre si sao aqueles que irfro se desdobrar urn
ordem cartesiana, na qual tomarnos uma grade ¢artesiana e dizemos que todos
ap6s o outro, mas origivalmente eles se acham entremeados urn com o outro.
os pantos sao inteiramente extemos uns aos outros e possuem apenas rela€des
E assim, a relag5o b4sica nada ten a ver com espa9o e tempo.
de contigtiidade. Voce pods, entao, constniir por exemplo uma curva continua,
IIus se dobramos essa curva obteremos urn todo onde tudo se interpenetra, e
WEBER: Para torn£-las marifestas a n6s, 6 como se tivessemos de traze-las
no entanto esse todo poderf desdobrar.se numa curva contfnua. Outra ourva
a tona sob o tipo de condigfro que n6s, seres humanos, estruturados como somos,
contfnua poderia ser igualmente dobrada. 0 resultado pareceria quase o mesmo,
e no entanto as duas curvas seriam diferentes. Desse modo, haveria urn conjunto podemos apreender.
de distingdes que precisari'amos fazer e que sao diferentes daquelas qua fazemos
801": Certo. Elas se manifestam sob uma forma que se pode abrir a nossa
na ordem cartesiana comuqu; a saber, que existem todas essas ordens dobradas,
percepgso. Nomalmente, a ordem dobrada, em seu todo, nao pode manifestar-se
que sao diferentes embora nco o parapam do ponto de vista grosseiro, habitual. a n6s, mas algum aspecto dela se manifesta. Entao, quando conduzimos essa or-
den dobrada ate esse aspecto manifesto, obtemo§ uma experiencia perceptiva.
WEBER: Isto quer dizer que o modelo cartesiano 6 urn modelo de entida-
Mas isso nao significa que a totalidade da ordem 6 apenas aquilo que e manifesto.
des atomfsticas?
Esta seria a concepc5o cartesiana: que a totandade da ordem se acha, pelo memos

80": Em tlltina instancia. Atomfsticas ou de fluxo contfnuo. 0 campo potencialmente, manifesta, embora possanos nfro saber como torn4-la manifesta
por nossa pr6pria iniciativa. Poderi'anos precisar de microsc6pios, telesc6pios
contfnuo 6 ainda o modelo cartesiano, mas todas as conexdes sao contfguas; isto
e varios outros instrumentos.
e, o campo conecta-se apenas com elementos de carnpo muito pr6ximos a ele no
espago e no tempo; nao apresenta conexao direta com elementos distantes. Agora,
WEBER: E c7res erfe#s¢. Nao e isso o que a sustenta; 6 o postulado de Des.
veremos nun instante que isto nao ocorre na ordem dobrada. Vou lhe err outra
cartes segundo o qual (exceto para o "eu" e para Deus) apenas o que 6 material.
imagem, outro modelo: dobramos uma gotl'cula Srando a maquina un certo
mente visfvel e extensi'vel e, no final das contas, real.
ndmero de vezes, # vezes. Introduzimos entao outra gotfcula numa posicao n-
geiramente diferente, e dobramo-la igualmente # vezes; enquanto isso, a primei- BOIIM: Certo. Pelo menos ela deveria ser potencialmente visfvel aos nossos
ra 6 dobrada 2H vezes, correto? Temos agora uma sutl distincao entre uma go-
instrumentos mais refinados, caso nco seja diretamente visfvel.
tfcula que foi dobrada # vezes e outra que foi dobrada 2# vezes. Elas parecem
identicas, mat se givamos uma delas « vezes obteremos eta mesma; se a ararrnos
WEBER: Atrav6s de substitutos.
outras n vezes, obteremos a outra. Agora, vamo8 prosseguir a experiencia com
uma terceira gotfcula, que tambem colocaremos nurria posi€to ligeiramente di.
BOHM: Sin. Mac agora estamos dizendo que na ordem implicada 6 dife-
ferente da segunda, de modo que ela avance # vezes, a segunda 2n vezes e a ori-
rente. Direi que essas goti'culas de tinta sao apenas urn modelo, mar o holograma
gival 3n vezes. Vamos repetindo a experiencia ate que tenhamos introduzido e infinita]'nente mais refinado; nao hi na verdade gotfculas de tinta. E agora po-
rna poreao.de gotfculas. Agora, tlramos a m4quina no sentido oposto e uma
derfamos dizer que aquilo que esta a ponto de se tomar vi§fvel e 8omente uma
gota emerge e manifestaise a nossa visao, e depois 6 a seguinte que o faz, e de-
parte muito pequena da ordem dobrada, e por isso introduzimos a distingao en-
pois a seguinte, de modo que se isso 6 feito rapidarnente, mais depressa que o tre o que 6 manifesto e o que ngo 6. Pode dobrar-se e ficar nan manifesta, ou
tempo de resolu95o do oho humano, veremos uma partfcula que cruza o cam-
pode se desdobrar na ordem manifesta e depois redobrari5e novanente. E di-
po de maneira aparentemente continua. zemos que o movimento fundamental 6 o dobrar e o desdobrar. Enquanto que
Mas essa descrie5o da parti'cula 6 absolutamente distinta da descri9ao car-
o movimento fundamental de Descartes 6 o cnizar o eapapo no tempo, uma en-
tesiana. Nesta, a partfcula existe e e sua essencia estar nun lugar, depois em ou-
tidade localizada que se moi!gLde urn lugar para outro.
tro, e depois nun terceiro. Mas na presente descricao, dizemos due i o todo que
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WEBER: Atraves do espaeo, diria ele. Ternos, assim, essa nog8o, a no9ao de parametro de inplicapao, de grau de
implicagao. Observe que a goti'cula de tinta que givou # vezes difere daquela que
BOHM: Atrav6s do espapo, 6 claro. Ou entao urn campo transmitindo uma rirou 27c vezes. Essa diferenga n8o ten a minima import§ncia na concepefro car-
forga de urn lugar para outro atrav6s do espaeo. Repare que o modelo de campo tesiana. No entanto, aqui ela 6 a coisa fl<rzdomcn/z7/, pois dizemos: aquelas coisas
que possuem quase o mesmo grau de implicagto acham-se conectadas, por mais
:ese;ar:gn?:t: ia:d:]aortedse£:i;uoTi:e °tE°adep}:radeo p=:tnt::]aj'mnam:edred[aod:;?:::{acre- / distantes que estejan uma da outra no espa¢o e no tempo.
hidrodinfmico, n5o urn modelo de partfcula.
WEBER: Poderia se estender urn ppuco mais nessa quest fro?
WEBER: Isso se apncaria aos campos usuais? Ao campo de Einstein?
801": Ben, ent5o varnos voltar ao nosso modelo da gota de tinta, e dire-
BOIIM: Exatamente ; o canpo de Einstein 6 ainda cartesiano. mos que a relay?o fundamental nesse modelo da gota de tinta fLj2Er|a±i.d£~.i`xp`p.P-
Diganios que sejam necessarias # voltas para se desdobrar uma goti'cula
WEBER: Por que 6 assim? fiEHH e ela se tome visfvel a nossa percepcao, e n+I voltas para se desdobrar a
gotfcula seguinte. Suponhamos agora que haja uma outra goti'cula que necessita
BOHM: Porque ele insiste na conexfro local, na conexao contfgua. de, digamos, urn milhao de voltas a mais para se desdobrar; dizemos entao que
essa gotfcula est4 muito distante, muito desconectada da primeira, de modo que as
WEBER: N5o hi tambem a assim chamada agfo a distincia? duas gotfculas que estfro conectadas sao aquelas que est8o pr6ximas uma da ou-
tra, em termos de dobramento. E essa a id6ia. Portanto, de urn modo geral, di-
'BOHM: N5o, isso e inteiramente estranho a vis5o de Einstein.
zemos que todas as conexoes estao.no todo, nada tendo a vcr com localizagao,
mas sin com essa qualidade de dobramento que sempre pertence ao todo.
WEBER: E? E estaria de acordo com a de Newton?
WEBER: Mas sera que isso ngo traz de volta, furtiva e sutilmente, a seqti6n-
BOHM: Newton tambem nao gostava dela. Ele dizia que tinha de aceita-la, cia temporal?
mas estava tentando hvI`ar-§e dela. Newton, Einstein e Descartes concordavam
nesse ponto, embora diferissem em varios outros pontos. BOHM: Nao, veremos que isso nso € fundamental. For ora, estamos consi-
derando a sequencia no tempo mas a exjstencia efetiva dessa seqtiencia nao estd
WEBER: Agora, exatanente em qu6 a ordem inplicada difere desses tres no tempo; voce pods vcr de imediato que a ordem imphicada se acha presente
modelos? ai' de maneira simultinea, nada tendo a vcr com o tempo. Seqtiencia nao e, ne-
cessariamente, tempo. Veja,a forma p-gip_i¥j:tjy?--`d,e..119!!:.rp
•`~-' BO": Na ordem inplicada, nao a|)enas lidamos sempre com o todo (co- L6 .a.,seq.u§pgia, po-
r6m ngo estamos introduzindo uma seqtlreTfrcla em ponto§ d6' -6-sp-aeo ou em pon-!,t'
mo tambem o faz a teoria dos campos), mas tambem dizemos que as conexdes tos do tempo.
do todo nada t6m a vcr com a posig8o no espa9o e no tempo, mas tern a ver com
uma qualidade inteiramente diversa, a saber, o dobranento. WEBER: Nao, mas pemita-me ser, por urn momento, antropom6rfica em
minha pergunta. Com base no que voce disse, capta-se a seguinte imagem: 6 co-
WEBER: Em outras palavras, o que 6 significativo aqui 6 o fato de que nfro mo se voce dissesse que todas elas estao la e estao espalhadas por toda a parte
se est4 cruzando ou atravessando certos lugares? na ordem implicada mas as gotfculas que, por assim dizer, estgo mats para tras
na fila de espera, que ainda nao estgo prontas para serem desdobradas, isto e, que
BOIIM: Nesses modelos anteriores, uma partfcula cruza certos lugares ou ainda se encontram dobradas, parecem estar mais afastadas, para tr6s, no tempo
entao e urn canpo de for9a, ou enerria, que os cruza e por isso, do ponto de vista e no espapo.
da ordem inphcada, ngo temos uma distin9ao fundamental entre Einstein e
Newton, como voce ve. Para falar a verdade, dizemos que sao diferentes, mac 801": Ben, elas nao estao mats afastadas no passado, elas estao todas
ambos diferem igualmente da ordem implicada.
presentes e juntas.

WEBER: Entao, em certo sentido, a questaoi3have, aqui, nco seria o tempo? WEBER: Mac n5o estfro prontas para aparecer.

BOHM: Bern, estanos caminhando no sentido de abordar o tempo posterior- BOHM: Sin, mas veja que h4 outra diferenea. Elas n8o estgo mais afasta-
mente . Temos de introduzir o tempo na ordem implicada, mas ainda n3o chegamos 1£. das mas devemos introduzir diferengas ou distin9ces, ben como ordens e relagoes,

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para termos algo sobre o que falar, e a questacLchave 6 esta: 0 que elas estao se de-se considera-la uma manifesta9ao do movimento do vento. Pode-se agora, de
tornando? Estariam se tomando conexoes contfguas no espago e no tempo ou maneira semelhante, considerar que a materia forma nuvens dentro do holomo-
alguma outra coisa? Digo agora que elas sao alguma outra coisa. Se voce nao ten vimento, e que elas manifestam o holomovimento de maneira percepti'vel nos
nenhuma ordem, em absoluto, nao teremos nada sobre o que falar, nada para nossos sentidos e ao nosso pensamento habituais.
olhar nem coisa alguma. Esse 6 urn exemplo muito primitivo de ordem implica-
da mas, posteriomente, teremos exemplos muito mais complexos, onde haver4 WEBER: Voce afirmou que "todas as entidades sto fomas do holomo-
muitas ordens paralelas, e n8o necessariamente apenas uma ordem sequencial, vimento". Isso, obviamente, incluiria o homem com todas as suas faculdades.
ou muitas ordens cruzadas ou ordens que se interpenetram e assim por diante.
Portanto, antes de mais nada, a noe5o de seqtiencia sinples 6 somente o comego. BOHM: Sin, todas as Oflulas, todos os atomos. E eu acrescentaria, para
Agora, para a vis5o que estou propondo, voltemos ao holograma, que funciona completar o quadro, que isso comega a proporcionar uma boa avalagao do
de maneira semelhante. que significa a mecfnica (qu@ntica): esse desdobranento 6 uma ideia direta da-
Queremos dizer que o holograma e apenas uma imagem ou uma imagem quno que se entende por matematica da (mecanica quantica). 0 que e chana-
fixada do estado do campo eletromagn6tico, ou qualquer que seja o none que do transforma95o unitfria ou descrigao matematica bfsica do movimento em
voc6 queira dar a.ele nesse espa€o onde voce poe a fotografia, a chapa foto- mecinica quattica e exatamente aquflo sobre o que estamos falando. Em for-
grifica, e esse 6 urn estado de movimento. Eu o chamo de holomovimento. E rna matematica, e simplesmente a descrigao matematica do holomovimento.
urn exemplo disso. Feixes de eletrons poderiam fazer a mesma coisa e ondas Mas atualmente nao ha, na mecinica quantica, nogao fi'sica do que significa a
sonoras poderian produzir hologramas, qualquer forma de movinento pode- movimento, e por isso usamos a matem4tica apenas para produzir resultados,
ria constituir urn holograma, movimentos conhecidos ou desconhecidos e po- para calcular resultados, dizendo que eles sfo destitui'dos de qualquer outro
demos considerar uma totalidade indefinida de movinentos, chanada holo- significado.
mowhento, e dizer: o holomovimento 6 o solo, o fundamento daquilo que 6
manifesto. WEBER: A comunidade dos fi'sicos aceitaria essa interpretaga~o?

WEBER: 0 holomovimento e o fundamento. . . BOIIM: Qual, a holografica?

BOIIM: 0 fundamento total. . . WEBER: Sua maneira de caracterizar a situa95o atual da fi'sica.

WEBER: Daquilo que 6 manifesto. BOIIM: Oh, penso que ten de aceitar, sin. Os fisicos usam a id5ia de campos
e partfculas, e assim por diante, mas quando voce os pressiona eles devem con-
801": Sin. E o que e manifesto esta, por assim dizer, flutuando no holo- cordar que n8o ten nenhuma imagem do que sao essas coisas, e nao reconhecem
movimento, e e abstrai'do dele. 0 outro contetido al6m dos resultados daquflo que podem calcular com suas equapoes.
-....movimento
J.--_ . . b4sicg do holomovimento e o do-
tira[
`mentoe oque
desdobrar. Digo,sob
se manifesta agora,
formaque toda .existencia
relativamente 6T b.asiciin6nt6,~
est5vel. h6.l'6'in`6S`i-
I.embro a voce que a
WEBER: Portanto, 5 algo pragmatico.
palavra "manifesto" baseia-se em #zam., que significa segurar com a mao, ou al-
BOHM: Ben, pelo menos 6 expresso em linguagem pragmitica, embora n9o
guma coisa que pode ser retida estavelmente na mao, algo s6lido, tangfvel e assim
seja consistentemente pragm4tica porque se permite que todo tipo de id6ias
por diante.. Tambem algo visivelmente estfvel.
nao-pragmaticas sejarn introduzidas na matem4tica. E urn tanto confuso, eu diria;
WEBER: 0 fluxo aprisionado provisoriamente. 6 uma mistura de alguns aspectos pragm4ticos e alguns aspectos nao-pragmaticos
altamente especulativos, mas que participam de uma maneira muito despropor-
801": Ben, pelo menos atinBndo a estabi|idade provisoriamente, entran- cionada. Costumai}e dizer que a especulaeao 6 apenas tolerada nas equapces, mac
do nun estado de relativo enclausuramento, como o redemoinho que se fecha nas id6ias.ffsicas ela se mostra bastante estavel; essencialmente, as ideias ftsicas
sobre si mesmo, embora esteja sempre em movimento. s8o apenas imagens das equapdes, isto 6, nao ten outro contetido que o de se-
rem vefculos adequados para se estabelecer imatlnativaquente o que as equag0es
;. WEBER: Penso que ontem voce disse tratar.se de fomas mais densas de calculam, de modo que voce pode apreende-lo sob alguma foma inagivativa,
mat6ria, em vez de formas mats sutis e memos estaveis. embora confusa.

80": Sin, sao formas de mat6ria mais estaveis, coloquemos a coisa nesses WEBER: Mas isso nao e o mesmo qtie dizer que elas nao se acham anco-
termos. Veja, ate mesmo a nuvem mantem uma foma estavel, e portanto po- radas em alguma coisa real, e que nao possuem fundamento real?

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B0IIM: Sua tinica incora esta nos resultados experimentais. Eles dizem maln dizer, ou cobertura de bolo, ou o que quer que seja, mas eles argumenta.
que esses nrimeros obtidos por intemedio dos calculos concordam com os nd- riam que nco C realmente o ponto principal.
meros que resultan dos experimentos.
WEBER: Agora, a ordem implicada muda isso completamente, mas de que
WEBER: E como voce conceberia isso de maneira diferente? maneira?

801": Ben, estamos tentando dar uma descrigao da realidade, seja ela erra- BOHM: Porque ela diz que a reandade e a ordem inplicada e que as equa-
da ou correta, e propondo uma visfro da realidade, uma descrigao da realidade edes est8o descrevendo essa 9rdem.
que, fielmente, aproximar-se-a dessa realidade, ou se ajustari a ela, e podemos
agora considerar essa matematica como urn meio de calcular o que acontece den- WEBER: Ao passo que do outro panto de vista, isto 6, daquele da maioria
tro dessa realidade. dos fi'sicos contemporineos, as equacees sfro, por assim dizer, tanto o meio co.
mo o fin?
WEBER: E uma reivindicagto muito diferente da utilitfria, que prevalece hoje .
BOHM: Sin, as equag6es sfro a verdade.
801": Sin. Na velha visao newtoniana voce supunha que a materia era
realmente constitufda de parti'culas ou qualquer outra coisa, e voce dizia .que as WEBER: A pergunta e: A verdade sobre o qut?
equagdes lhe permitian calcular o que essas coisas iriam fazer. Mas naquela 6poca
voce nao dizia que nao existe nada exceto equagees e instmmentos de medida e BOHM: Em primeiro lugar, sobre os resultados de instrumentos cientffi-
que as equagees apenas lhe pemitem calcular os ntimeros que surctrao em sous cos, mac entao as pessoas nao podem dizer que isso e tudo o que existe. Entao
instrumentos de medida. Hoje, ao contrfrio, voce introduz virias imagens que elas dizem que 5 a verdade a respeito dessas pequenas partfculas rfBidas que as
the permitem sonar rapidamente os efeitos das equagces, mas insiste no fato de equapoes negam que possam existir, e n6s partimos para a confusac, e depois
que essas imagens nffo podem, em qualquer sentido, ser consideradas como as froalmente dizemos: vamos desistir de todas essas questces porque realmente
descrie6es da realidade. nao podemos responds.las e nfro hf lugar para elas. A tinica coisa que ten urn
lugar 6 a obteng5o de resultados com os quais se possa trabalhar. De certo modo,
WEBER: Talvez seja por isso que o inpasse fflos6fico a respeito da ffsica as pessoas escorregam de uma coisa para outra, e voce nao pode obriga-las a se
quintica parece ser o de que o homem nco pode, em absoluto, co#tiecer a rea- deter precisamente em nenhuma delas porque sua confusao caracterfstica con-
lidade. Concluo que voce nco aceita isso. siste em saltar de uma ideia para outra. Toda vez que a press fro sobre uma ideia
torna-se muito grande, voce salta para outra e, conseqtientemente, continua sat-
BOHM: E uma nap fro urn tanto absurda, pois a realidade 6, por definigao, tando atrav6s de id6ias entre as quais nao ha coerencia. Penso que voce poderia
tudo o que o homem pode conhecer. A realidade e baseada na palavra res, que dizer que, atualmente, a situap5o na ffsica 6 inteiramente confusa.
significa "coisa", e a coisa 6 aquilo que g conhecido. Veja, a palavra res baseia-se
na palavra rere, que significa pensar, e a coisa 6, essencialmente, aquilo sobre o WEBER: Voce disse ontem que a mecinica qutntica, quando mapeada
qual voce pode pensar. Portanto, a realidade 6 apenas aquilo que o homem pode parcialmente na ordem inpucada, pode fidar com o outro aspecto da partfcula
conhecer. Agora, o que eles [os fi'sicos contemporineos] estao, em essencia, di- como algo que esta na ordem inplicada embo[a nao esteja na ordem manifesta.
zendo (embora isso nao fapa sentido) 6 que a realidade do homem es fa confi- Poderia abordar isso?
nada aos resultados de algumas operag0es de instrumentos cientfficos, mas eles
tampouco argumentariam seriamente a respeito disso. E uma questao confusa. BOHM: Sin. Se voce considerar esse exemplo das gotfculas de tinta con.
Veja, aos domingos, quando estfro filosofando, dizem que a realidade do homem verdndo para fomar uma partfcula e divergivdo novamente, as partfculas es-
confinai5e ao resultado de instnimentos cienti'ficos; e nos dias de semana, afir- tao efetivamente espa]hadas por todo o espago. Se voce colocasse obstfoulos
man que ela 6 realmente cons.titufda de pequenas parti'culas s6lidas e rfctdas, no caminho da partfcula, ela converctria de maneira diferente, coma uma onda.
que eles sabem que nco pode ser assim porque elas possuem todas as proprie- Passaria a exibir uma propriedade ondulat6ria e assim por diante. Portanto, veja,
dades das ondas e muitas outras propriedades que as parti'culas jamais poderiam todas as propriedades da partfcula estfo na ordem tlobal, na ordem do todo.
ter. Penso, portanto, que a resultado geral disso 6 a confusao e voce judiciosa- Elas n5o sao uma partfcula, aquflo a que damos o none de partfcula is.olada.
mente salta de uma imagem para outra a fin de capacit4Ja a obter rapidamen- Desse modo, comecamos a vcr uma realidade, urn tipo de realidade que toma-
te resultados matematicos que voce pode comparar com os experinentos, e 6 ria compreeusi'vel o comportamento tlobal dessa coisa. Entfro, poderfamos di-
realmente esse, de qualquer maneira, o panto principal da operacao; tudo o mais zer que 6 uma coisa, res, e uma coisa que conh6cemos por intermedio do pen-
e ou titil para tal prop6sito ou e fachada, decoragso de vitrine, como eles costu- sanento, /ere. A relagfo entre o pensamento e a coisa e esta: a aeto, sendo for.

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mada a partir do pensamento, encontrar5, de maneira consistente, essa coisa, e da ffsica 6 o resultado de instrumentos, com a exceg8o de que tambem se diz
portanto o papel do experimento 5 testar isso. que ha partfculas as quads, em absoluto, nao 'podem ser vistas por meio de ins-
trumentos. 0 que voce pode dizer 6 que a atual situagao da fi'sica te6rica suben-
WEBER; Poderia esclarecer urn pouco mais a relagao manifesto/nao-manifesto? tende que o espago vazio possui toda essa energa e que a .materia corresponde
a urn ligeiro aumento da energia e, portanto, que a mat6ria assemema-se a uma pe-
801": Ben, talvez devamos fmalizar esse assunto do holomovinento. quena ondulapao nesse tremendo oceano de enerSa, possuindo uma certa estabili-
Se voce percorrer a matem4tica da atual teoria qutntica, vera que ela trata a par- cede relativa, e sendo manifesta. Agora, minha sugestao g que essa ordem implicada
tfcula como urn estado quantizado do campo, como 6 chamado, isto 6, como urn supee uma realidade que se prolonga imensamente para al6m do que chamarnos rna-
campo espalhado pelo espago mas, de urn modo urn tanto misterioso, dotado de teria. A pr6pria materia 6 apenas uma ondulacfo que emerge nesse pano de fundo.
urn quantum de enerSa proporcional a sua freqnencia. E se voce considerar, por
exemplo, a campo eletromagnetico no espaeo vazio, cada onda possui aquflo WEBER: Nesse oceano de enerSa, voce quer dizer.

que 6 chamado de ponto zero de enerSa, abaixo do qual ela nao pode existir,
BOHM: Nesse oceano de energia, e ele, fundamentalmente, nao est4 em
mesmo quando nco houver nenhuma enertia disponfvel. Se voce fHesse a soma
absoluto no tempo e no espapo. Ainda nco discutimos o tempo, mas vamos dis.
de todas as ondas em qualquer re5ao do espago vazio, descobriria que elas pos-
cutir o espaeo. Ele estf origivalmente na ordem implicada.
suem uma quantidade infinita de enerria porque e possi'vel urn ninero infihi-
to de ondas. Entretanto, voce pode ter razao para supor que a enerBa pode nao
WEBER: 0 que significa dizer nao-manifesta.
ser infmita, que talvez voce nao possa continuar somando ondas que sao cada
vez mais curtas, cada uma delas contribuindo para a eneraa. Pode haver algu-
BOHM: Certo. Mac ele pode se manifestar nesse pequeno pedacinho de
ma onda que seja a menor possi'vel, e entao o ntimero total de ondas seria finito
mat6ria.
e a energia tanb6m seria finita. Agora, voce perguntara qual seria o mais curto
dos comprimentos e parece haver razao para suspeitar que a teoria gravitacional
WEBER: A ondula€8o.
pode nos fomecer algum comprimento que seja o mats curto, porque, de acordo
com a relatividade geral, o campo gravitacional tamb6m determina aquflo que
BOHM: A ondulagao, como voce ve.
se entende por .``comprimento" e por metrica. Se voce diz que o campo gravi-
tacional constitui-se de ondas quantizadas dessa maneira, voce descobre que deve
WEBER: Mas a fonte ou matriz geradora, como voce dizia, esti na ordem
haver urn certo comprimento abaixo do qual a canpo gravitacional toma.se in-
implicada e e ela esse oceano de energia, n8o-manifesto ou "nao-interceptado",
defini`vel devido a esse movimento no ponto zero e voce nao seria capaz de de.
isto 6, do qual nao foi "puxado nenhum flo" (wnlxppcd).
finir comprinento. Portanto, voc6 poderia dizer que a propriedade da medigao,
o comprimento, se desvanece a uma distincia muito curta e voce descobriria que
BOIIM: Certo. E, de fato, al6m desse oceano pode haver urn oceano ain-
o lugar onde ele desaparece mediria aproximadamente 10-33 cm. a uma distincia
da maior porque, afinal de contas, nosso conhecimento simplesmente se desva-
muito curta porque as mais curtas distincias que os fi`sicos ja sondaram medi-
nece nesse ponto. Isso nao sigriifica que, para alem desse ponto, nao exista nada.
rian 10-16 cm mais ou menos, e o caminho que resta para se Percorrer 5 ainda
muito longo. Se voce entao computar a quntidade de energia que estaria no
WEBER: Also nao{aracterizavel o.u inolnin4vel?
espaeo com aquele comprimento de onda mats curto possfvel, verificara que a
enercta nun centfmetro chbico 5 imensamente superior a enerda total de toda
B0IIM: Talvez voce pudesse, eventua]mente, descobrir alguma nova fonte
materia conhecida no universo.
de enerSa, mas poderia suspeitar que ela, por sua vez, estaria flutuando numa
fonte ainda maior, e as§im por diante. Conclui.se daf que a fonte Oltima e inen-
WEBER: Nuni centfmetro cdbico de espago?
surdvel e nao pode set captada no inbito de nosso conhecimento. Essa e a su-

80": Sin. E, portanto, como se pode compreender isso? gestfro bdsica. E realmente isso o que decorre da ffsica contempor8nea e essa im-
plica9ao ten sido evitada diz.endo-se que, na maioria das vezes, olhamos para
as equapces e apenas planejamos o que nossos instrumentos farao e como os ins-
WEBER: Como vocG entende isso?
trumentos darao resultados de acordo com essas equagdes.

Bor": Voce entende isso dizendo: a teoria atual afirma que o vaouo con-
WEBER: Essa concepgto 6, naturalmente, muito bohita, e de fato empol-
t6m toda essa enertia que 6 ent8o igriorada porque nao pode ser medida por urn
gante, mas se urn ffsico o pressionasse a respeito disso, encontraria algum tipo de
instrumento. A ffiosofia e que apenas aquilo que pode ser medido por urn ins.
base #a /rsi'ca que permitisse postular tal visao?
trumento dove ser considerado real, pois a unica evidencia acerca da realidade

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BOHM: Ben, devo pensar que e isso o que a fi'sica leva expressamente a por meio da Navalha de Occam; isso significa apenas que as pessoas, tendo sido
historicamente condicionadas de urn certo modo, acreditam que a Navalha de
concluir. Veja, voce ten de fazer a pergunta: Como os ffsicos conseguem evitar
Occam ten prioridade sobre qualquer outra coisa.
defrontar-se com essa base? E a resposta 6 que eles a evitam gragas a essa fno-
s6fia por meio da qual dizem que qualquer coisa que ngo aparega nos instrumen-
WEBER: Por6m, mesmo medida par meio desse criterio, a ordem implica-
tos nao possui interesse para os fi'sicos. Desse modo, eles decidem eliminar essa
da nao e de fato mais simples e mais elegante?
infinidade e dizem que ela nto est6 li.

80": E mais simples. Basicamente, veja, nao 6 tanto a Navalha de Occam


WEBER: Mas mos calculos e mos dados voce diz que ela tambem esta im-
mas sin a cren9a de que voce deve discutir ape'nas os seus instrumentos. Do ponto
plicada ou que estf li?
de vista de uma id6ia, isso 6 muito mais simples. Na verdade, voce deve se en-
volver numa gindstica 16aca a fin de acomodar a presente concepgao. A reagao
BOHM: Esti implicada ou esta 1£, mas entao, quando voce descobre as im-
tfpica de urn estudante que estuda mecanica quantica e que, de infcio, ele nao
plicag0es desses dados atrav6s do que nossos instrumentos mostrariam, entso
a entender4 e dentro de urn ou dais anos dirf que nao ha nada para entender
ela nao est4 la porque e eliminada; veja, os instrumentos nco respondem dire-
tamente a esse beckgrow#d. Isso porque estzo flutuando nele. E como urn peixe porque ela nada mais 6 que urn sistema de computaeao. Ao mesmo tempo, pas-
sam a dizer, nao, nao se trata exatarnente disso, estamos discutindo e a realidade.
que nzo esta consciente do oceano.
Afmal de contas, os frsicos nco teriarn motivo para realizar o trabalho que fa-
WEBER: Compreendo. Mas quanta a teoria, voce esti dizendo que a ex- zen se nao acreditassem que essas parti'culas s5o realmente os tijolos, os blocos
de construeao do universo. Portanto, veja s6, voce ten de se empenhar e adqui-
tensIo da parte te6rica da fisica garante esse tipo de inferencia?
rir habilidade em givdstica mental para sustentar esse mito. Isso nao e realmen-
BO[IM: N5o apenas garante, como tambem 6 quase inevitavel inferir isso.
te algo tso facfl. VIrios anos sgo necessarios e muita peri'cia para treinar as pes-
soas a faze.lo [isto e, para evitar as implicagoes fflbs6flcas abordadas acima].
E reainente muito engenhoso que as pessoas conseguissem evitar levi-lo em con.
Digo agora que, a partir do ponto de vista de uma id6ia, a ordem inplicada
sideragao. Quero dizer com isso que elas sentem uma tremenda pressao para nunca
levar em conta tais ideias, quando, na verdade, elas serian as coisas mais 6bvias
e muito mais simples, mas se voce diz que uma coisa que "o e retistravel por
nossos instrumentos sera exclufda pela Navalha de Occam, entto voce, natural-
para se considerar, nao fosse por essa filosofia segundo a qu.aliamais devemos
levar em consideragso essas coisas, mente, fard isso. Nem mesmo sei se Occan entendia sua navalha nesse sentido.
Quero dizer, ele nao possufa quaisquer instrumentos. Ele poderia estar se refe-
WEBER: Em outras palavras, uma suposi€ao tacita de que apenas nos 6 rindo apenas a simplicidade na constni98o das ideias, por tudo o que sei, e isso
dado reco#rfeecer aquflo que 6 mensurfvel por nossos instrumentos? seria uma visao inteiramente diversa.

BOHM: Sin, essa 6 nossa realidade. 0 que 6 mensuravel por nossos instru- WEBER: Mas t6memos o crit6rio da simplicidade. Uma citaefro de John
mentos 6 considerado como sendo nossa realidade e as coisas a respeito das quais Wheeler me vein a mente. Ele disse: "Somente compreenderemos quso estranho
fala a nossa teoria, e portanto a pr6pria teoria, nao deveria realmente falar a res- g o universo quando reconhecemos qufro simples ele 6." Qual 6 sua reagfo fren-
te a isso?
peito de coisas que nao sao mensuraveis por nossos instrumentos. Penso que isso
e admitido implicitamente, uma especie de positivismo. Ao mesmo tempo, isso ten
se mostrado consistente, porque as pessoas tamb6m querem dizer que nossa teoria 801": Ee estaria se referindo a simplicidade na ideia. Voce sabe, sin-
6 considerada uma realidade ben s6lida, tal como o 6 a partfcula, e elas gostam plicidade significa, como dirfamos, "uniplicidade" [o«c/o/d»es§], ela proven
de imaginar que nossos instrumentos est5o medindo parti'cu.las porque elas veem de algum gene simples mas poderia desdobrar-se ate abranger a complexidade
sous rastros. Mas rastros nfro sao prova de partfculas mais do .que a pegada de urn do universo.
aninal 6 uma prova de que existe urn animal. Alguem poderia ter colocado as
pegadas 1£.
WEBER: A id6ia de uma fonte ou domfnio n8o-manifestado? OJao sei se
a palavra domi'nio e excessivanente substancial,)
WEBER: Com essa metafora nao poderiam acusa-lo de violar a Navama
de Occam e o princfpio da parcin6nia? BOIIM: Ben, e uma realidade nao-manifesta. Suficientemente simples.
Quel.o dizer, as pessoas possurram essa r€.alidade durante anos, voce sabe; o 6ter
80": Sin, mas esta 6 uma outra ideia, uma outra coisa, e 6 por isso que foi uma foma dela. Parecia muito natural para as..pessoas, nun certo perfodo,
eu a chamo de "filosofia". Veja. Eu digo que a Navalha de Occam 6 uma id6ia postularem que esse 6ter nso se achava normalmente manifesto e pretenderem
ffli os6fica. Quero dizer, nto se deduz dos instrumentos que se dove interpretd-las que as coisas que vemos fossem manifestagdes dele. Agora, em certo grau, tomou-se

58 59
tica nao permitem a urn ffsico predizer quais serao os resultados m6dios rome-
ri£; com|]licado e muito diffcfl para as pessoas acomodarem-se aos fatos da
cidos por seus instrumentos, ele dira: nfro h4 lugar para isso. Ele desiste. 0 ffsico
frsica, e entao veio a filosofia positivista afimando que se ele nao se manifesta
convencional nco se preocupa com mais nada a nao ser com o que a previsfvel
diretamente, devemos ignora-lo. Depois disso, tornou-se uma esp6cie de costume
e controlavel por quaisquer meios que sejam, metodos deterndnfsticos, estatfsti-
ou moda dizer que nunca devemos levar em consideragao tais id6ias, enquanto
cos ou, como disse ontem, praticando ioga ou ficando de ponta-cabeca, se isso
que antes a moda era aceitar que tais id6ias Cram muito naturais; de fato, as pes- • ajudasse.
soas preferem essas. ideias. Portanto, nco penso que tudo isso tenha qualquer
grande significagao [isto 5, o consenso da comunidade cientffica em qualquer dado WEBER: 0 que equivale a dizer que ele, basicamente, n*o est4 interessa-
momento na hist6ria] .
do na verdade do assunto?

WEBER: Ora, vooe disse ontem que, de fato, sua teoria explicaria methor
B0HM: Bern, nfro estf interessado no que seja reahidade. Ele esta basica-
a mecanica quintica e, portanto, pelo crit6rio do poder explanat6rio, ha algo
mente interessado naquilo que pode predizer e controlar, e e urn tanto suxpreen.
a dizer sobre isso, mesmo sob o ponto de vista da fi'sica.
dente que o seu colega diga que outros fi'sicos nao est8o, e que sou eu que estou
preocupado com isso. `
BOHM: Sini. Darei uma expnca98o melhor e, por urn lado, os ffsicos pode-
rao apreciar isso. Por outro lado, eles podem estar a tal ponto influenciados por WEBER: Ele acrescentou (e esse ponto explicitaria a diferen9a entre sua
essa fiilosofia operacionalista, positivista e empirista que aflrmam que a explica- vi8ao e algumas outras): 0 que ha de errado em conceber o universo como uma
gao nao 6 o assunto da ffsica, mas sin a previs.5o e o controle. E eles dizem que m4quina? Por que Bohm nco aceita isso?
se ela nao ties permite prever e controlar alguma coisa, entao ela nco passa de
uma cobertura de bolo. E esse o tipo de linguagem que, de qualquer forma, te- BOHM: Penso que 6 algo confuso. Nfro estou objetando a concepcao do
riam usado ha trinta anos. universo como uma maquina ou o que quer que seja. Estou dizendo que a con-
cepg5o particular que eles estfro propondo 6 completamente confusa.
WEBER: Por falar em previs8o e controle, o que voce diria a respeito da
opiniao de urn ffsico, colega meu em Rutgers, que alega que Bohm, na verdade, WEBER: Como assim?
esta sut.ilmente apelando para o tipo cartesiano de previs8o e controle, por nac
aceitar os m6todos estatfsticos da mecanica quantica, que tambem esta insidio- BOHM: A mecinica quantica, atualmente, pelos meio§ a que j4 nos referimos
samente reintroduzindo o controle completo e, por conseguinte, o mecanismo, e indo urn pouco mais al6m, podemos dizer que os ffsicos quanticos, por urn
o mecaniciano? lado, afirmarn que a realidade existe, que as partfculas sao efetivamente reais,
e ten uma intensa convicgfro a respeito dessa realidade, que esta por trds de seu
80": N8o sei por que ele diz isso. Talvez nao tenha lido aqufio que es- motivo para realizar seu trabalho. Por outro lado, eles dizem que essas partfculas
crevi com tanto cuidado. A primeira questao e que eu nao afirmo que a estatfs. nao ten qualquer realidade que seja, que a tinica realidade reside em nossos ins-
tica nao existe. Nessa ordem implicada h6 espapo de sot)ra para ela. Voce tam- trumentos, e que nao h4 meio de descrever essa I.ealidade. Eles podem ter alguma
b6m pode usaf distribuieees estatfsticas como determinadas leis e, de fato, eu fe em que, de a]gum modo, ha uma realidide la, mas e confuso dizer isso.
propus distribui€des estati'sticas. Nco 6, em absolute, a estatfstica que eu fa9o
objeg0es, mas sin a afirmapao de que a estatfstica da mecinica quintica nada WEBER: Seria justo afirmar que, essencialmente, seu trabalho criativo nessas
mais 6 que urn algoritmo para articular a maneira como nossos instrumentos irao novas direcoes 6 motivado pela busca oriSnal da ffsica, a procura da realidade,
operar, e nao urn? estatfstica para aquno que na realidade esta 16. A segunda ques- e nfro apenas da estrita previsibflidade?
tgo 6, e quanto a isso eu penso que ele esta totalmente errado, o ponto de vista
do ffsico convencional, que diz: a menos que eu nao possa controlar e predizer, B0HM: E tanb6m a procura da clareza. Veja, estou dizendo que nao somente
nao estou interessado.
queremos considerar o que e a realidade mas desejamos entende-la claramente e
os ffsicos dizem que a clareza nto ten inportancia, que s6 os resultado§ inte.
WEBER: A pergunta dele e: Voce rejeita esse m6todo porque ele nao pro- ressam. Quaisquer modos de obter resultados que sfro previsfveis e controlaveis
porciona controle swficz.e#fe? farao isso.

80": N5o, isso nada ten a vcr com controle. Eu o rejeito porque ele 6 WEBER: Voce atualmente fala muito em clareza, como tamb6m falava no
confuso. Afirmo que de fato o ffsico convencional s6 esta interessado em pre- passado: portanto, nfro 6 necess6rio a essa altura levar em consideragfro a cons-
visao e controle. A estati'stica tambem 6 urn meio de previsao e controle, para ciencia e o conhecedor, aquele que 6 ou que nco e claro?
predizer e controlal grandes nineros na media. Se as f6mulas da mecanica quin-
61
60
80": Sin, poderiamo§ chegar a isso. 0 problema 6 que a consciencia
desejo#3:tBie?eun#avt:Cfgfad:°£Secn£:fie;au;es{eqrue£-S:?apen§amentos,emogoes,
6 confusa. Confusao 6 falta de clareza. E se voce diz que uma pessoa n5o 6 clara,
isso significa que ela € confusa, embora seja mais cortes dizer que ela nao 6 clara. E
B0HM: Sin, a tudo isso.
qonfusao_ significa "fundir junto". Coisas que sso diferentes sao vistas como uma
s6 e -coisas que sao uma s6 sgo consideradas divididas 6m mui-tas.- A confus`ao;
WEBER: E voce esti dizendo que a fonte daquilo que percet]emos tanto
portanto, leva claranente ao caos.
no assim chanado mundo externo como em n6s. mesmos, em nossos assim cha.
WEBER: Com relacao a ordem implicada e aos dominios manifesto/nao-rna- mados processos internos, reside nesse ngo-manifesto.
nifesto, quais seriam as implicap6es dessas ideias sobre consciencia na maneira
como pensamos e, gostaria de perguntar, na maneira como agivos? 80": Sin, e o pr6prio nao-manifesto reside em algo que est5 inensa-
mente al6m dele.
BOIIM : Penso que voltarfamos ao ponto que estfvamos discutindo a respeito
de Pribrarn, o modelo de holograma do cerebro. Voce pode vcr agora que esta- WEBER: Podemos nos aproximar desse algo que esta alem, imensamente
mos dizendo que o cerebro pode funcionar sobre algo que poderia ser essa or- alem dele (e que eu ben sei que nco pode ser conhecido)?
den implicada e se manifestar na consciencia por meio da mem6ria, Mss ha uma
ordem al6m da qual ele nao e manifesto. Isso envolve tanto o espago quanto o 801": Ben, ngo. Podemos mos aproximar de qualquer coisa somente atra-
tempo. Veja, o pr6prio tempo e uma ordem de mahifestacgo. Estamos dizendo ves do manifesto. Tentemos dizer que ele pode actr, que o todo pode atir em
cada aspecto, mas que o aspecto nao pode se aproximar do todo, certo?
que e possfvel ter uma ordem implicada com rela€ao ao tempo ben como em
relapao ao espapo, e que a totalidade do tempo pode estar dobrada em qualquer
dado perfodo de tempo. Ele 6 encerrado na ordem inplicada quando voce acaba WBBER: 0 oceano e mais amplo e contem a gotfcula.
de passar por ele, de modo que o holomovimento 6 a realidade e, no holomo-
vimento, o que estd sucedendo nas profundezas daquele tinico momento do ten- BOHM: A gotfcula nao ten meios de se aproximar do oceano.
po contem informap6es sobre a totalidade do tempo.
WEBER: Mas ele pode, o oceano pode (. . . qual 6 a palavra?. . .) 4gz.r sobre
WEBER: A coisa toda. Voc6 esti dizendo, entao, que o momento 6 atemporal. a gotfcula, ele estf presente nela.

801": Sin, correto, o momento 6 atemporal, a conexao entre momentos 80" : Sin, estf presente na gotfcula e age sobre ela e dentro dela.
n5o estd no tempo mar na ordem inplicada.
WEBER: Com .virios graus de intensidade ou de enercta?
WEBER: Que voce disse que 6 intemporal.
801": Ben, sin, mas penso que ha urn certo perigo aqui devido [ao que
B0HM: Sin. Portanto, deixe-me propor isso tamb6m para a consciencia; estamos fazendo agora]. Devemos agora retroceder ao pensamento. Digo que o
deixe-me propor que a consciencia esti,. basicamente, na ordem impli.cada, assim pensamento 6 urn processo material e, uma vez que se baseia na mem6ria, 6 rna-
como toda materia o esta; portanto, .T^gg" €..qugfr .?. .q.ons¢i.epcia seja uma. 99i,Sa, e a nifesto. Veja, o pensamento 6 a manifesta9ao de alguma mente mais profunda.
•materia seja outra, mas sin que a cor!sciencia e urn processo material e .que,el,a
Agora, a relagao entre o pensamento e a mente mais profunda poderia ser seme-
pr6pria se encontra` na orde`m implicada, como toda materia, e que a consciencia lhante a relag8o entre mat6ria e essa energia do vazio, que 6 muito maior. Por-
se manifesta em alguma ordem explicada, como tambem o faz a mat6ria em geral. tanto, o pensamento 6 na verdade uma coisa muito pequena. Ma§ o pensamento
forma urn mundo pr6prio no qual todas as coisas estfo presentes, certo?

cfencia¥e:I:::p;Aft-s:-'f:::P::ac9e?eoedni::e:::efl:,aoq±:.:a:.:_=eT:{si=:i:.n_:ru:,s~:t8.:_:± WEBER: Sim, ele se encapsula e se reifica.

80": 0 estado de sutleza, sin, atry£9^ps€i€ncia 6 p6ssivelmente uma .forma BOIIM: Ele se reifica e imagina que nada mats existe exceto `aquilo que
qiais sutfl de materia e movimento., urn aspecto mais sutfl do holom6viriento. ele pode pensar sobre si mesmo e aquflo sobre o que ele pensa. Portanto, o pen.
sarnento agora laneari mao das palavras, "o ngo-manifesto", e formara a I.de'z.a
WEBER: Sin. E a mat6ria 6 muito densa ou pesada ou congelada. do n9o-manifesto; portanto, o pensamento pensa que o manifesto mais o nao-ma-
nifesto juntos fomam o todo, e que esse pensarnento global representa agora
801" : Seja o que for, mas memos sutfl. urn passo al6m do pensamento, como ve. Mas, na realidade, nfro representa. Esse

62 63
nao-manifesto que o pensamento inagiva e ainda, por defini€ao, o manifesto, cional a ela. Portanto, ate mesmo a ¢onsciencia ngo-manifesta da materia nao-rna-
pois imaginar 6 tamb8m uma forma de pensamento. E uma fonna de pensamen- nifesta, que g altamente sutil, est4 ainda dentro da possfvel area do pensamento.
to; e a manifestagao do pensarnento. Desse modo, portanto, e muito facil entrar
numa autofraude e, possivelmente, muitas pessoas que pensaram sobre isso, nesse WEBER: Isso se acha ligeiranente a parte da autofraude, mac quero ape.
sentido geral, podem ter-se enredado ai', atrav€s da8 epocas. 0 problema e que nas deixar de lado, por urn momento, o aspecto fenomenol6Sco, para voltar a
6 perigoso fazer isso, a saber, deixar que o pensarnento imagive que apreendeu cosmoloria. Voc€ disse que o n8o-manifesto gera e reinente governa o que 6
o todo. Obviamente, o nao-manifesto a respeito do qual conversamos 6 urn nao-ma- manifesto.
nifesto relativo. E ainda uma coisa, embora seja uma coisa sutn.
BOHM: Bern, o manifesto est6 realmente dentro do nao-manifesto. E co-
WEBER: E alnda material e govemado por certas condig6es. mo a nuvem dentro do ar.

B0IIM: Sin. Condigees,leis e assim por diante. E ele pode nos ajudar a com- WEBER: OK. i urn subconjunto dele?
preender a sutileza que a mat6ria pode alcancar, mas ao mesmo tempo, veja, por
mais sutfl que a mat€ria se tome, ela nao e o verdadeiro fundamento de toda exis- 801": De certa forrna, ben, e diffcfl expressar isso, mac a nuvem e uma
tencia. Lembre-se de que a palavra "verdade" em latin, veins, significa "aquilo forma dentro dele, ela nao e realmente muito substancial, mas 6 uma foma den.
que 6", e que a palavra "verdadeiro" em intles significa "reto": honesto e fiel e tro do todo. Na verdade 6 o nosso pensanento, que abstrai da nossa percepeao,
reto. Poderfamos dizer que a consciencia pode ser honesta, fiel e reta, mas ela e o pensanento que abstrai aquela nuvem; e, em certo sentido, a mem6ria abstrai
nao 6. . . ela nfro e ¢q#!.Jo que G. do todo nfro-manifesto urn certo subalgo que 6 manifesto.

WEBER: Esta certo. Ela prov6m daquilo que 6. WEBER: Mas nossa percepeao tambem, nao? Pois somente o que 6 aces-
sfvel a n6s pode ser manipulado como manifesto:
80": Certo, de certa forma e assim. Mas temos de ser cuidadosos por.
BOHM: Sin, mas estamos discutindo a consciencia. mzemos que a cons-
que postularnos implicitamente que o pensamento ja desceu ate aquflo que 6 ...,
de maneira que voce, imediatarnente, se acha I.magz.n4#do aquela coisa mais pro- ciencia 6 seja o que for, com seu contetido. E uma questao de ser cuidadosamen-
funda, que 6, e o pensamento surgindo dessa coisa. Ora, isso e uma autofraude. te 16giva; podemos discutir urn niverso mais amplo, que e material e que even-
tualmente se desvanece em alguma coisa que esti alem.
WEBER: Sin, percebo. Mas, por outro lado, se ao se tentar, For qualquer
meio que seja, 1idar com isso (esta e uma palavra pobre), enquadrando-o da ma- veBER: Espfrito?
neira mais cautelosa possfvel, nao se poderia dizer - e eu penso qua e isso que
voce esteve sugerindo - que seria possfvel coStar na possibnidade de qwe 6 mas BOHM: Aquno a que chamamos de espfrito. Vamos discutir isso urn pouco
nao na daquilo qtle a? mais. A mat6ria, eu diria, 6 aquflo que contactamos atraves de.nossos sentidos,
de nossos instrumentos e de nosso pensamento. E toda a extensao daquflo que
80": Ben. Sin, podemos considerar que talvez se trate, de fato, daquflo ainda chamamos materia. Urn canpo ainda 6 materia. Agora, o que e espfrito?
Tradicionalmente, o espfrito ten sido oposto a materia. Espfrito deriva da pala.
que 6, mac, ao mesmo tempo, precisamos ser muito cuidadosos ao dizer que o
pensamento n8o e capaz de apreend-er isso; portanto, em algum est4go, o pen-
sanento ten de colocar essa quest5o de lado, relativa aquflo que 6, coma ve. =:ts_%+;~¥ro£'ov±e`eeot-°inean?:ens::..Beasnjscoanq:ete;g@#';;.6:8:-:u9alq:ceer6can::-:s¥:etsot°6!
0 pensamento nao pode apreender aquilo que 6. E qualquer tentativa para apreen- a de alguma cciisa que es-ta.`alem da materia; por exemplo, que criou a materia.
der aquilo que 6 nos compromete em s6ria autofraude, que confunde todas as Realmente, e;sa 6 a visao que se encontra no Genesis.
coisas. Portanto, esse pensamento ten de aprender ou, de alguma forma, chegar
a urn estado de disciplina, ou como quer que voce queira chama-la, disciplina WEBER: Deus?
espontanea, sua pr6pria disciplina.
BOHM: Algunas pessoas o chanam assim. E voce pode tentar obter uma
WEBER: Ordem? visao do espirito, assin como a no9to de Deus,,como algo inanente. Mas tanto
o neus imanente como o Deus transcendente terian de estar alem do pensamen-
80": Sin, ordem, na qual ele nao tenta apreender as perguntas que es- to. Ora, n6s enganamos a n6s mesmos se o pensamento pensa que o espfrito ou
t8o al6m dele, tal como essa pergunta sobre aquflo que e. Ele pode apreender Deus e imanente, e que entao o apreende; ou que Deus 6 transcendente e, assim
sendo, ja transcendeu a si pr6prio, certo? " uma autofraude.. Temos de ser muito
qualquer pergunta relacionada, que 6 condicionada ou, de certa foma, condi-

64 65
cautelosos aqui, muito claros, como ve, de outra foma poremos em andamento e Krishnamurti chamam de I.#s!.gfrf, pode penetrar nesse estado de coisas, atraves-
a confusao. Digamos, em prineiro lugar, que o pr6prio pensamento estabeleceu sando®, e mudar a pr6pria materia.
uma distingao
•tudo entre
o que nso materia
tenha uma efoma
espfrito. E esta
s6lida 6bviaclaro o que
e que novaesta distingao
alguma coisasignifica:
mats 6
BOHM: Certo, a rnateria no pr6prio c6rebro. Veja que poderi'amos supor
chanado espfrito, como faz o vento; entao, posteriormente, descobrimos que a existencia de urn I.#s!.gftr que pode surSr nessa totalidade desconhecida, e esse
o vento 6 realmente materia, certo? Mas, da mesma forma, poderfamos dizer j.us!.gife/ atua diretamente sobre a mat6ria do cerebro ou no nfvel sutn nao-mani-
que hayia urn espfrito al6m do vento, e portanto temos esse regresso infinito. festo ou possivelmente no manifesto, ou pode, e isso e mais provavel, atuar no
~ Assim, finalmente poderfamos dizer agora que urn ponto de vista consis- sutfl nao-manifesto, que entao muda a manifesto. Desse modo, a pr6pria mate-
tente 6 o. de sustentar que algo como a mat6ria nco-manifesta esta desempenhan- ria do c6rebro pode mudar e ser colocada em ordem por meio do z.Hs!.g7zf. E, nesse
do urn papel semelhante aquele que o pensamento atribufa ao espfrito. Ele move caso, o pr6prio pensamento muda, nao por meio do pr6prio pensamento, nem
a materia manifesta, mas ambos sao materia, mat6ria sutfl e materia espessa. Agora, por meio do raciocinio, mas sin, 6 uma mudanga direta que ocorre no pensamento.
o que quer que entendamos por aquilo, 6 algo que esta alem da materia, nfro po-
demos apreende-lo em pensamento. Quero dizer, o pensamento pode colocar a WEBER: Pelo simples fato de existir. Torna-se alguma coisa mais.
questao, mas nto pode ir mais al6m.
80": i alguma`coisa mais. Transfomou-se em seu ser.
WEBER: Podemos, no. entanto, afrmar de maneira razoivel que deve fe4.
vcr algo al6m disso? WEBER: Posso levar essa pergunta urn pouco alem? Voc6 est6 dizendo
que manifestaeees mais sutis do que chamou mat6ria, ou materia-enertia, ten
801": Nao, n5o podemos. Podemos dizer que seria razogivel dizer que o poder de transfomar mat6rias memos sutis?
ha, mas nao podemos dizer, por meio do pensamento, se h4 ou nao hd.
BOIIM: Correto. Assim como o vento movimenta as nuvens, (ben, as nu.
WEBER: Podemos faze-lo For quaisquer outros meios? Yens tamb6m podem ter algum efeito sobre o vento. isso funciona em ambos os
sentidos). . . mas a fonte prinaria 6 a mais sutfl.
BOHM: Ben, essa 6 a questto. Mag, veja s6, no momento estamos discu-
tindo o pensamento. 0 pensanento que tenta fazer isso ser4 levado A autofraude WEBER: Devido ao fato de possufrem mais energa?
e produziri confusao. Entso a pergunta seria: 0 que estaria envolvido em nto se
usar o pensamento? Isso envolveria a cessaefro do pensamento. Portanto, isso 80": Tamb6m porque s5o mais abrangentes. Estamos dizendo que o
mos colocaria fora do alcance daquflo que estamos discutindo. Mas poderfamos sutil 6 que 6 bdsico e o manifesto 6 seu resultado. Veja, estamos virando a coisa
dizer que e apenas quando o pensamento, efetivamente, nGlo esAd 14 que seria de cabeea para baixo. 0 ponto de vista habitual 6 dizer que o manifesto 6 que
possfvel perceber o que estf al6m do pensamento. Quando o pensamento esta 6 real, e que a sutn 6, ao contririo, sem importancia, que ele e apenas fraco. E
la, a tentativa de apreender o que estf algm .dele nto pode funcionar. alguma coisa sem inportincia.

WEBER: i a ffli tro que o descartaria por filtragem. WEBER: Isso e exatamente o inverso. 0 nao-manifesto 6 o mais sutil, e
o mais sutil ten o poder de transformar o espesso, mas nao o contririo. 0 es-
801": Sin, e entao nao seria mats e/e. 0 pensamento ffltraria de acordo pesso bloqueia o mais sutil?
com sua medida, e sua medida e urn tanto pequena, e ele fntraria essa imensa
realidade ou totalidade, e sobraria apenas algum cantinho, alguma coisa pequena 80": Certo. Sin, o espesso n5o pode manipular o mais sutfl.
que o pensamento pode reter.
WEBER: Portanto, o i.#§[.grfef seria quase urn instrumento pare deixar essas
WEBER: Portanto, o pensamento 6 realmente a sentinela que fica de guarda, enerSas penetrarem.
tornando impossfvel que alguma coisa despiste sua vigrancia.
B0HM: E mais que urn instrumento. Penso que essas enerdas. 6 que sso
BOHM: 0 pensaniento ten o seu lugar; mas o pensanento que tenta i[ urn instrumento do insz.gfef. 0 I.H§z.gfef esta algm dessas enerBas. A srigestao 6 a
al6m de seu lugar bloqueia o que estf al6m. de que o I.#s!.gftf 6 uma inteligencia al6m de qualquer uma das enerSas que possan
ser definidas no pensamento.
WEBER: Sin, mac ontem surau alguma coisa que foi relevante com rela-
gfro a isso, a id6ia do n8o-pensamento. 0 que voce chamou de I.#Sfgfrf, o que voce WEBER: Uma inteligencta ativa?

66 67
BOHM: Sin, inteligencia ativa. E ativa no sentido de que nao presta aten- B0IIM: Sin. Podemos raciocinar a partir daf, e que esta sujeita a todas
as pressoes irracionais que tambem estao na mem6ria; pressees emociomis, te-
ego ao pensamento. Ela transforma diretamente a materia; ela, por assim dizer, "d4
a volta por cina" do pensanento, como se ele fosse coisa de pouca importancia. mores, todas essas experiencias, e assim por diante, e portanto esse tipo de racio-
cfnio 6 muito limitado. Pode ser apanhado muito depressa pela autofraude.
WEBER: Ordena que ele fique quieto, ou, diganos, coloca-o provisoria-
mente fora de servigo. WEBER: E para voce isso significa uma barreira. Nfro 6 desse raciocfnio
que voce est4 falando.
BOHM: Ben, mac nao 6 apenas isso, ela muda-o por toda parte e remove
todas as obstrugoes. dentro dole, todas as confu§6es, e assim por diante. E como 801": Certo. Mas, entao, pode haver uma razao que flua a partir do I.#§I.gfrf
e uma razso que opere como urn instrumento de inteligencia. E urn tipo de razao
pegal urn ina e reordenar as partfculas na fita, como voce sabe. A diferenga e que
isso seria feito inteligentemente, de maneira a eliminar o tianilho e manter a men- inteiramente diferente.
sagem c.orreta.
WEBER: Ela envolve o que? olden, mas n5o ordem mecanica?
WEBER: Mas essa metafora do fma, como esta dizendo, se eu a entendo,
8 que o fma s6 pode atlair de acordo com sua pr6pria natureza e constituieao. BOHM: Nao 6 ordem mecanica iiem esta limitada por pressao, como ve.
Pode ap'anhar, diganos, nessa rede, tudo o que seja capaz de apanhar. Agora, Tomemos como exemplo urn ffsico. Se ele §e §ujeitou a todos esses cursos de
reordenar esse fmg. para usar a metffora do I.#Si.gifef, significa que eu mudei a mim mecanica quantica e press6es para pensar desse modo, sera aprovado se assim
mesma de tal foma que consigo perceber realidades diferentes. o fizer, desaprovado se nao atlr de.ssa foma, arranjar4 urn emprego no primeiro
caso, no segundo, nao, e assim por diante continuamente, e no momento em
que lhe ocorre a id6ia de pensar de outro modo, haver4 uma intensa pressao que
sendoBa°¥:eEm:I:St!eg}:g'e::lea,f¥:Sasp°£VedJea'r:o'rnds:i*a:nag:r66;I::eincaet:t::{9st!i;:Tzii;; apagara essa id5ia. Desse modo, isso nao 6 mais razao, e ausencia de razao.
ado 'c6rebro, que s?I.ve.d_e .t?se ao pensamento, de modo a remover -a riensagem
WEBER: Mas ele pensara que 6 razao. Ele racionauzara isso.
difei.std-~causando
-o-~c6ret>ro a confusso,
aberto para perceber deixand6 as``d6
a feali-dade informag6es n-e6essriias
urn-a-in`in~e"ifa e ~deixina6~
difel-ente. Mast.fi6`.--

i inomento, ele esta Oloqueado, 6 con-dicionin.ento `-rio-a 6lo-ihe`iaT56^rq-tie cria uma BOHM: Sin, ele pensara que e razao, e dira que 6 razao porque ele apagou
toda essa pressao. Tudo isso acqntece depressa demais e automaticamente.
pressao para manter o que 6 fanfliar e antigo, e toma as pessoas medrosas para
cousiderar qualquer coisa nova. ASsim, a realidade 6 limitada pela mensagem que
WEBER: E ele 6 aprovado pelo con§enso da comunidade dos ffstcos?
ficou profundamente impressa has c6lulas do celebro desde a primeira infancia.
Agora, o ..ns!.g#f realmente remove essa mensagem, essa parte .da mensagem que BOIIM: Ben, todos estao fazendo a mesma coisa, como v6. Todos eles ap6iam
esta causando esse bloqueio. uns ao§ outros e todos eles dizem que isso estd certo, mas 6 tudo a m6sma coisa.

WEBER: E nos toma comensuriveis com ele? WEBER: Podemos voltar atr5s por urn momento? Esse possfvel estado de
que voce fala, onde opera a intelig6ncia ou o i."sl.gftf, porque e urn estado desblo-
80".: Ele able o pensanento ate renova-1o outra vez, de modo que possa queado, pois foran afastados os obstaculos. . .
operar racionalnente. Pode-se dizer que a pemanencia dentro desse bloqueio 6
B0HM: i o I.Hs].gfrf que afastou os obst6culos, nao fu eu, certo?
completanente irragional. E resultado de pressao. Aceita-se a`id6ia de que esse
bloqueio 6 verdadeiro porque ele alivia a pressao da incerteza.
WEBER: Esta certo. Voce sup6e que aquilo com o qual estaria em contocto
esta alem do nao-manifesto, 5 a fonte do nao-manifesto. Esta sugerindo que esse
WEBER: Percebo. Mas quando voce considela o termo "racionalmente"
e o domfnio do - podemos chami-lo assim - "sagrado"?
ou "razoavelmente", estalemos sendo Oastante claros? Voce nao esta se referin-
do ao que o nuninismo ou Descartes entendian por isso; voce se refere a algo
B0HM: Ben, ten sido chamado de sagrado. Como se sabe, a palavra ";anto"
que est6 muito al6m disso.
[faoly] e baseada na palavra "todo" [whoJc], poderia ser chanada de todo, ou to.
80": A razao pode ter duas fontes. Uma e a mem6ria, que e mecanica, talidade. Veja, a palavra "sagrado" infelizmente passou a significar algo diferente
de sua raiz origival, isto a, urn sacrifi'cio que se faz. Hoje, estf intimamente Yin-
como urn computador.
culada a id6ia de relictoes organizadas oferecendo sacriffcios e coisas assim, e ten
muitas conotac6es infelizes .
WEBER: Combinando as coisas cert?s?
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WEBER: Mas voc6 sente que a palavra "todo", a palavra "santo", 6. . . B0IIM: Sin, surgindo daquilo, nun eel.to sentido, mas, ao mesmo tempo,
v;ce ten de ter cuidado ao dizer isso, temos de ser cuidadosos para nco nos de.
B0HM: E urn pouco melhor, sin. A palavra sagrado pode ser usada, mas moramos af muito tempo.
entao voc6 deve ter em mente todas essas conotagces erradas.
WEBER : Para n5o explore-lo de maneira inconseqnente.
WEBER: Est4 certo, e dissocia.la dessas conota90es. Se algutm o questio-
nasse, dizendo: "Entto voce esti afirmando que, se a ordem impricada se ajusta BOHM: Sin, n5o fazer nada com ela realmente, porque nada h4 que POS.
a isso, ela tambem inplica a confimapgo de uma inteligencia universal?" samos fazer com ela, como ve, e portanto temos de voltar e dizer que o que fa-
zemos com a ordem implicada ainda se acha no domfnio do pensarnento. Em
BOIIM: Nao, ela nao a confirma. A ordem implicada ainda e materia, e outras palavras, podemos entso trazer ordem, a ordem inplicada pode trazer
ainda seria possfvel concebe-la, se voce se detive§se 14, como uma e§pecie de for- uma ordem ainda maior para o domfnio a que chamamos domfnio comum.
rna mais sutil de mecanismo.
WEBER: Isso 6 assin e, no entanto, com base no que voce est4 dizendo
WEBER: Ngo, quero dizer subir todo o caminho. . . e em seus trabalhos, polo que sei deles, esta o reconhecimento de que, embora
nao possamos dizer mais do que acabamos de dizer a respeito desse outro do-
801": Sin, mas entao voce est6 dizendo apenas que as implica90es da mfnio, se estamos querendo examinar minuciosamente o trabalho muito arduo
ordem implicada, as inplicapdes fundamentais, se resumem nisso [isto e, em tudo que 6 exigido para desmontar o pensamento ou o obst6culo, h4 uma possibfli-
o que precede], mac novamente voce esta correndo o perig6 de calr nessa ama- dade de os seres humanos passarem a se relacionar (talvez essa seja uma palavra
dilha do pensamento imagivando que ele captou esse fodo. pobre) com esse domfhio.

WEBER: Ben, nfro 6 isso, n6s concordamos que o pensanento atento com- BOHM: Compreendo o que voce quer dizer, que a ordem implicada ajuda
preende que 7iGlo pode captar o todo, mas estamos falando agora sobre o I.#sl.givf, a .remover algumas das barreiras 16ticas para efetuar esse trabalho. Veja, se acei-
o i.#S!.gf!f, que. . . chegando a perceber que a fonte. . . tamos a id6ia da ordem explicada de tudo, com exclusso de qualquer outra coisa,
de tudo o que 6 manifesto, entao toma-se absurdo pensar em todos os sores hu-
BOIIM: Mas voce percebe que h4 urn perigo aqui. Acho que 6 necess4rio ser manos tornandose uma unidade, e assim por diante, voce sate, o universo co-
muito disciplinado ou austero ou como quer que voce queira chama-lo, porque o mo urn todo. Mas agora dizemos que essa velha concepeao [isto e, a ordem expli-
pensamento pode, com muita facflidade, se nto est6 presente urn I.Hs!.gfef real, pos- cada como sendo a definitiva ou o todo da realidade] foi, em si mesma, uma tre.
tular o I.#s!.gJ!f, e depois, no momento seguinte, voce dira erradamente que isso 6 menda abstragao, e que foi realmente muito grpsseira, rude, a que seguindo a
I.usz.gJ!f. Temos, portanto, de ser muito, muito claros quarto ao que podemos fazer pr6pria ciencia fomos levados a uma visso que e compatfvel com a totalidade
com isso, e podemos percorrer uma certa distincia com isso, urn certo caminho e. . . [whoJe#ess] da humanidade, ou sua santidade [feo/I.r!ess], se quiser cham£.la por
esse none. A humanidade se acha agora estilhagada e fragmentada em incont4.
WEBER: E nfo projetar? veis pedacinhos, n5o somente nagdes, reliddes e grllpos, mas cada indivfduo nas
famflias, isolado de todos os outros; e por dentro, cada indivfduo tambem esti
B0HM: E nao projetar. Veja, a tentaeao de projetar precisa set entendida; dividido em muitos fraglnentos; e essa tremenda fragmentaeao origiva caos, vio-
temos de ser cautelosos quanto a isso, observar isso cuidadosamente, de outra lencia, destruigao e muito pouca esperanga de que surja qualquer ordem real. E
forma isso pdderia se tornar uma amadilha. agora, isso 6 confirmado pela visgo geral sobre tudo, como sabe, visso segundo
Tudo o que podemos dizer 6 que essa vista e compatfvel com a no€ao de a qual a realidade bdsica consiste em pequenos pedacinhos, todos isolados uns
que hi uma verdade, uma realidade, urn ser al6m daquflo que pode ser apreen- dos outros.
dido pelo pensanento, e que 6 intelig6ncia, o sagrado, o santo.
WEBER: Atomi'stica?
WEBER : Ordem?
80": Atomfstica. Em outras palavras, isso recebe sua confirma9so e sou
B0HM: E ordem, 6 verdade, varios nomes lhe foram dados, e 6 aquilo que reforgo, e portanto, quando as pessoas reconhecem es8a fragmenta9ao, quando
6, no qual todas as coisas com as quais o pensanento pode lidar se desdobram omaln para a ciencia, veem nela uma confimagao da necessidade dessa fragmen-
e se manifestam, mac como alguma coisa relativamente pequena. ta€so, certo? E isso a fortalece. Se abordamos a ciencia dessa outra maneira [ex.
plicada], dizemos que estamos fragmentados, mac quando olhanos para o nun:
WEBER: Uma conseqtiencia pequena mas natural. do material, percebemos que na realidade estamos totalmente fora de alinha-

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mento com o mundo material. Nao h4, em absoluto, justificativa para a nossa BOHM: Sin, o espago e o tempo sao construfdos por n6s, para a nossa con-
fragmentagao no mundo material. veniencia, embora sejam criados de tat maneira que, quando estamos fazendo tudo
certo, eles sfro de fato convenientes. A palavra "conveniente" baseia-se em "chegan-
WEBER: Voce quer dizer que e porque esse nao e o verdadeiro estado do juntos", em "reunir-se", chegar juntos. Ora, nossas conven€ces sao convenierites,
das coisas. e isso nao 6 puranente subjetivo; elas realmente se ajustam a realidade da materia.
Desse modo, as conven¢des nfro sfo apenas uma escotha arbitriria feita para nos
BOIIM : Nao, em absoluto, o verdadeiro estado das coisas no mundo material e a agradar, para mos gratificar; trata-se mais propriamente de convengces que sao
totalidade. Se somos fragmentados, devemos lanear sobre n6s mesmos a culpa disso. convenientes, que se ajustam a mat6ria como ela 6. E agora, estamos dizendo que
espapo e tempo 6 u.rna ordem conveniente para uma certa faixa de prop6sitos.
WEBER: Nossa falsa visgo?
WEBER: No manifesto?
80": Nossa falsa visao, certo, ou a press5o que nos faz aderir a essa visao,
I BOHM: Sin, no manifesto.
a despeito das evidencias em contrdrio.

WEBER: Voce poderia - creio que ainda nso tocamos nesse ponto -poderia WEBER: Mas voce esta dizendo que essa ordem nao ten lugar no nao-ma-
tentar dizer algo que se relacione, diretamente, com essa ligagao; em outras palavras, nifesto.
a totalidade da humanidade como uma conseqtiencia desse novo entendimento.
80": Nao 6 a ordem fundamental. Seu tinico lugar e no nao-manifesto. . .
80": Ben, nao seria uma consequencia, mas queremos dizer que e com- ela ten urn lugar, mas somente como rela98o. Ocupa urn certo lugar, mac nfro
e o lugar fundamental.
patfvel com ela. Essa nova compreens8o nao produzira a totalidade da humani-
dade. Tenho plena certeza disso.
WEBER: Tratarse daquele n-l e n-2 de que voce falou anteriormente?
WEBER: Por que 6 apenas pensanento?
BOHM: Sin, trata-se disso.
B0HM: E apenas pensarnento, mas 6 compati'vel com o todo; 6 a maneira
de pensar que 6 compatfvel com a totalidade da humanidade e, portanto, pode WEBER: Mas voce diz que, no nao-manifesto, a consciencia ou mente da
ajudar a criar urn clima melhor para a totalidade . humanidade 6, efetivamente, una. E voce entende isso nun sentido plenanente
literal, e nao metaforico ou po6tico.
WEBER: E voce pode, na medida em que isso agora se aplica ao homem,
descrever esse todo , express£-1o com suas pr6prias palavras?
801": Nao, trata-se de uma consciencia una, e voce pode ver como evi.
dencia disso o fato de que os problemas b4sicos da humaliidade sac urn s6. Veja
80": Sin, mas voltemos a ordem implicada, nao-manifesta, da conscien- que eles sao os mesmos, a saber: medo, citime, esperanga, confusa~o, voc€ conhece
a problema do isolamento, e assim por diante. Se voce andar por af, veri que, no
cia. Na ordem nao-manifesta, tudo e urn. Como ve, nao hf separa€ao no espa8o
e no tempo. Na mat6ria comun, isso 6 assim, e 6 igualmente assim ou o e ainda fundo, todos os problemas s8o os mesmos.
mais para essa materia sutfl que 6 a consciencia. Portanto, se somos separados
WEBER: Portanto, 6 uma canada universal de algum tipo.
6 porque estamos extensamente apegados ao mundo manifesto, que experimen-
tamos como sendo a realidade basica, onde a questao toda relativa ao mundo
B0rlM: Sin, podemos dizer que esses problemas ten origem na conscien-
manifesto consiste no fato de ela po§§wl.r unidades separadas. Quero dizer que,
cia da humanidade e se manifestam em cada indivfduo. Veja, cada indivlduo ma-
de qualquer forma, isso relativamente 6 assim, separadas mas interagentes, e assim
nifesta a cousciencia da humanidade. E isso o que estou dizendo.
por diante. Ora, na realidade nao-manifesta, tudo 6 interpenetrante, tudo se inter.
conecta numa unidade. Dizemos assim que, em suas profundezas, a consciencia
WEBER: isso porque ele g, nun certo sentido, essa consciencia.
da humanidade 6 una. Dizemos que isso 6 uma certeza virtual porque ate mes-
mo a materia 6 una no v6cuo; e se nao percebemos isso 6 porque nos tornanos
801": Ele e essa manifestagao.
deliberadamente cegos a essa realidade.

WEBER: Certo. E, a medida que ele percebe a si mesmo, no manifesto, ele


WEBER: E, portanto, voce esta dizendo que n6s 6 que construfmos o es-
se isola e faz de si mesmo uma abstra€ao.
papo e o tempo, realmente, no sentido kantiano e ate mesmo para al6m de Kant?
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80": Sin, se ele diz que a manifestagao ten existencia independente, isso 6 E entao, no momento seguinte, haver5 uma reviravolta e as pessoas aceitarao
o mesmo que dizer que a nuvem existe por si mesma, independentemente do ar. outra afimap8o.

WEBER: Ou a partfcula sem o oceano, o bac#growwd todo? WEBER: E voce pensa que isso tamb6m acontece no nfvel das pequenas
escalas?
BOHM: Ou a gotfcula de tinta 'sem seu bacAgroq#d todo.
801": Obvianente acontece nat famflias. As pessoas sao forgadas, na
WEBER: Desse modo, o indivfduo, a medida que ele pensa sobre si mesmo, famflia, a afirmar coisas que a press5o da famflia diz que sao verdadeiras. Is§o
nada mais e que manifestapgo aberta, assin como a cadeira tambem o e, desse acontece nas organizag6es, nas instituieees. . .
becAgrott"d subjacente ?
WEBER: Mas voce estf dizendo que isso n8o precisa acontecer.
BOHM: Certo, assim como a cadeira o 6, e a montanha, porque ssr uma
manifestap8o de uma eneraa mais profunda, de uma ordem mats profunda, de BOIIM: N5o, mas seria necessaria essa mudanga material no contetido do
uma realidade mats profunda que nao e manifesta. c6rebro.

WEBER: E voce estf dizendo que isso nao 6 misticismo, que 6 fisica de WEBER: E, portanto, o que voce e§teve dizendo 6 que a primeila ordemLE ;'
boa qualidade . de prioridade 6 recorrer a ela.

B0HM: Ben, estou dizendo que C mais compatfvel com a frsica do que BOHM: Sin, porque sem isso tudo fica confuso..
--_ __ ...,,--..--. ` --.-,--
qualquer outra visfro que eu conhe€a.
WEBER: E que ate mesmo o falar a respeito de dominios que ficam alem
WEBER: Se algu6m fosse levar isso realmente a strio na vida di4ria, quao do nfro-manifesto ira conseqtielitemente refletir essa confusao. Desse modo, uma
diferentemente ele interariria com outro ser humano? pessoa nao deve arremessar-se ate esses domfhios, mas procurar resolver aquflo
que para voc6 e o bloqueio.

80": Sin, esta certo. Podemos levar ordem aos domfnios que o pens;t`,.
+±eeasBd°e¥p:agB:T;osefare::o:;refaevna::omdue:s:9oau:aasvisv@e!aq::'fi?c::`::o?F:.:-:§a:`
mente inpressa na estrutura material do edrebro. Poderfamos cham4-la de. cor`: mento pode tocar, porque esse e o come¢o, e o i.#si.gJ!f e, basicamente, aquflo `
nipeao da humanidade, e dizer que essa polui9ao foi depositada af, no cerebro, que 6 necessdrio para introdurir essa ordem no pr6prio Ofrebro. E eu penso que i
na consciencia e mos nfveis mais profundos, nao apenas nos nfveis manifestos essa atual visgo da ciencia [po§itivista e pragmatica] contribuiu consideravelmen-
do cerebro, mac tanb6m no n8o-manifesto, e que essa polui€go 6 essa visao tlo- te para a desordem no c6rebro, pois, uma vez que as pessoas levam isso a s6rio,,,J
bal que leva a toda essa violencia, corrupc8o, desordem e autofraude. Veja, voce elas lhe dao muito peso. Por isso, contribuir8o causando confusao em tudo o;
mais `que esti no c6rebro.
ices:I;aau¥o%:auqdueeq:e?uai:dto°tmal;!dmaed:tod,°ati#:8asanp::sts°oe€adehcTfr¥nft::dJ€`s!£-Pri:d9-:
WEBER: Agora, se fosse perguntado a voce como algutm, convencido da
desordem de sua vida di4ria, comegaria por considerar prioridade sua a resolugfro
`;join?ir:::a:I:::::I:oealrqie:I:p:e:nosE6:-ii;oi:::do::pqrp:rdepi:a:S:,g:;:-:=:mfd9:a3f|:=j::.£a:-c:¥. desse problema, o que voce diria? Falaria segundo princfpios krishnamurtianos?
`.` dsse pen;amento a errado, e entso ela recorre a outro pensamento para aliviar
es§e pensamento. 80": Ben, o que voce realmente est4 perguntando, ao diri9r a questto
para Krishnamurti, 6: Qual 6 a essencia do que ele diz? Correto? E de que ma-
WEBER: E como roubar de Pedro para pagan Paulo. neira ela difere do que outras pessoas disseram?
0 primeiro ponto a considerar € que observemos o caos em nossa vida diaria,
80": Sin, e esse ten sido o principal caninho. Se voce observar como assim como na escala maior, nas relagees humanas. Vemos que. e o caos o fator
se processam as negociae6es intemacionais, nao reconhecerf nelas verdade alguma, que se acha difundido, e que a ordem g somente relativa, limitada e ocasional.
em absoluto. Elas resultam inteiramente de press5es: medo, ganho, ganincia, com- E vemos que a origem desse caos est5 no nosso pensamento, no nosso pensamen-
promisso, desistencia de eel.tas objetivos a fim de realizar outros, considerados to fragmentado e atomi.stico.
mats vantajosos, pressoes para que uma determinada meta seja alcaneada e nat sei
mais o que. Aceita-se como verdadeira qualquer afirmaeao que alivie essa pressao. WEBER: Falso, com base no que voce disse. Nossa maneira falsa de pensar.

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nao-manifesta, e que depois eta se manifesta. E, a mcdz.dr qz/e ela se manifesta,
B0IIM: Nosso pensamento falso. Se fosse verdadeiro nao produziria caos,
ela retorna para poluir ainda mais essa consciencia nao-manifesta, e entao ela
certo? Produziria ordem. Aqui voce- ten a primeira diferenfa entre ele [Krishna-
se acumula. Assin, poderfamos dizer que toda a pressao, toda a confusac,
murti] e urn grande ntimero de ffli osofias ao longo dos seculos, porque os fiil6-
ten, basicamente, urn germe. E o I'Ȥz.gfr/ que ilumina esse germe remover4
sofos exaninaram muitas dessas questces, mas, em parte, sua crenga era a de que,
esse germe e permitira que a coisa toda se tome clara. Ora, quando ele se escla-
no fmal das contas, eles seriam capazes de dispor o pensamento de uma maneira
rece, como voce sabe, mesmo quando ele comega a se esclarecer, a enerBa co-
ordenada, e que isso ajudaria a guiar a humanidade ate a ordem. Agora, estamos
meca a subir e a se armazenar, como ve. A enercta ten stdo, igualmente, da-
dizendo que o pensamento 6 a fonte da desordem.
do o none de paixao. Em outras palavras, £LTi~e`€?_¥drio que se tenha clareza e
--..--...,-. _

WEBER: Nao o contetido do pensamento, mas o pr6prio pensaniento, sua p-ap-¥.?i-?op[9?-:.=

pr6pria foma.
WEBER: A mente e o coragfro, como se costumava falar.
BOHM: Sua pr6pria natureza, em si mesma. Sua forma, sin.
80": Sin. Isso costumava ser chamado de mente e coracao. Inteligencia
WEBER: Esta nco pode ser fixada porque e. . . e paixao. Clareza e paixao.

BOHM: E desordem. Portanto, estanos dizendo que temos de ficar cientes WEBER: Ou intelige^ncia e anor?
dessa desordem, temos de ser cuidadosos para nao imagivar que estamos alem
dela, e observar como ela se processa, a medida que se manifesta ao nosso redor BOHM: Sin. Mas amor no sentido de alguma enercta muito intensa - e
e dentro de n6s, sendo que o fato 6: temos de estabelecer ordem nesse limitado nao apenas. . .
calnpo do pensamento porque 6 a fonte da desordem que impede o funciona-
mento desse canpo major. Afinal de contas, 6 preciso I.#§I.&fe/ para realizar isso,
WEBER: Sentimento.
como eu disse, e urn estado de alta enercta.

B0HM : Sentimento.
WEBER: Enquanto que, como voce est5 dizendo, a maioria de n6s vive
nun estado de baixa enertia?
WEBER: Nao. Amor sem contetido, e o que voce esti .dizendo. Sem uma
BOHM: Sin. E isso nos extenua. imagem mental. Certo, voce diz que as rafzes de todos esses problemas incon-
ciliaveis e inteminaveis com os quais tropegamos em nossa vida diaria nao resi-
WEBER: . . . Tudo isso nos extenua: pensar, viver e sentir erradamente. dem no manifesto, mas no nao-manifesto.

BOHM: Temos de chegar a urn e§tado de alta enerSa, e urn dos pontos que 80": Residem no nao-manifesto. E toda essa corrupgao do nao-mani-
Krishnamurti estabelece 6 comegar com algumas coisas simples, nao desperdiear festo - essa polui€ao que se acumulou atraves das eras - poderfamos chanar
enerSa, por exemplo, bebendo, fumando e discutindo, e varias coisas sememan- de aflieao da humanidade. Nao esta apenas nun indivfduo. Estf na consciencia
tes. /ts pessoas desperdigam nisso uma enertla fant4stica: voce pode ver, nas v£- nao-manifesta da humanidade.
rios tipos de briga em familia, quanta enerSa isso consome.
WEBER: E uma consciencia coletiva?
WEBER: Isso nos esgota.
80": Ben, 6 mais do que coletiva. Pode.se concebe-la como coletiva.
80": Sem dtivida. E muito destrutivo. Isso, portanto, em si mesmo, ja No entanto, nao e uma colecso de consciencias.
e urn comego: quando voce presta aten9ao nas pressoes que causam essa disc6rdia,
voce 6, ao mesmo tempo, obrigada a olhar interiomente para aquflo que a esta WEBER: N5o e aditiva. E una, voce disse.
compelindo a esse comportamento irracional e destrutivo. E voce pode vcr as
pressoes que a estao empurrando. Entao, voce continua a partir dai' (e n6s apenas BOHM: Sin. E una.
resumiremo`s isso agora) ate urn I.Hsi.gftf que nao se estende apenas a esta ou aquela
pressao, ou a qualquer outra pressgo, mas a pressao em seu todo, em sua raiz. WEBER: Portanto, nesse sentido, colegao talvez nao seja urn t)om termo.
Dizemos que a pressao ten origem, plovavelmente - se eu fizer uso de minha
Como a chamarlamos?
linguagem ~, eu diria que a pressao ten origem, provaveinente, nessa consci6ncia
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801": Ben, simplesmente de nao-manifesto, a consciencia universal da B0HM: Veja, 6 necessaria uma enercta ainda mais elevada para se atintlr
humanidade, Essa afligao estf af, como ve. E ela cria essa imensa pressao para o todo da consciencia da humanidade. Mas ele atingiv o princfpio da conscien-
alivi£-la, que pasteriomente corrompe e polui tudo. cia da humanidade , concorda?

WEBER: Mag, na rearidade, nao apenas na teoria.


WEBER: E no entanto a singularidade a respeito disso (e talvez seja o que
deu origem a convice8o de que o eu separado 5 primdrio e nco derivado), a sin-
BOHM: Na realidade. Mas ele ainda nco ten a plena enercta para atingir
grlaridade estd no fato de que 6, n5o obstante,.o pr6prio indivfduo que ten de
depurar, por assin dizer - que ten de linpar sua pr6pria -, o que? Sua pr6pria o todo, para desencadear o processo. E urn pouco desanimador.

parts que lhe cabe no ambito disso?


WEBER: For qu6?

BOHM: CoTreto. Sin. E portanto, veja s6, isso e muito mats sutil porque
BOHM: Ele estf encharcado, devido a poluie5o das eras.
poderfamos dizer que, em certo sehtido, o indivfduo ten acesso direto a totali.
dade c6smica. E, portanto, 6 atrav6s do indivfduo que a consciencia geral ten
WEBER: Voce quer dizer que ele estd excessivamente pesado.
de ser depurada, ten de dar infcio a depuraeao.

BOHM: Esti excessivamente pesado devido a essa poluigao maci€a que


WEBER: Mas somente no sentido da parte que the cabe nisso?
vein ocorrendo ao longo das eras. Mas essa poluigao pode ser consumida. Para
esse indivfduo ela foi consumida. A questao 6: precisamos de uma enerBa ainda
B0HM: Nao, nao 6 a parte que lhe cabe nisso, pois ele, o indivfduo, vat
mais intensa do que aquela que o indivi'duo pode oferecer. Ora, de onde vira essa
alem. 0 indivi'duo 6 uma realidade que inclui essa manifestagso da consciencia enerSa? 0 que eu proponho 6 que isso 6 possfvel agora, para wirios indivfduos
da humanidade, mas ele 6 mais que isso. Cada indivfduo e o seu pr6prio con-
que estejan em fntimo relacionamento, e que passaram por isso e podem confiar
tacto particular. Cada indivfduo esta em total contacto com a ordem implicada,
uns mos outros para estabele.cer uma mente-tinica de todo esse conjunto de in-
com tudo o que nos rodeia. Portanto, em algum sentido, ele 6 parte do todo da
divfduos. Em outras palavras, proponho que essa consciencia seja una, que aja
humanidade, e em outro sentido ele pode ir al6m disso.
como uma consci€ncia tinica. Se voc€ tivesse dez pessoas, ou uma centena, que
pudesse realmente permanecer assim, teriam urn poder que ultrapassaria imen-
WEBER: Ele 6 urn foco para o universal. samente o indivfduo.

BOHM: E urn foco para algo que estd alem da humanidade. WEBER: Porque nao e urn poder adicionavel matematicamente.

WEBER: Todavia, o paradoxo que me inquieta 6 este: voce pensaria que 80": Nao.
se o coletivo nao.manifesto 6 a fonte radical do conflito - entat) se urn santo,
digamos, urn ser santamente humano, atinge a integridade - nesse caso a coisa WEBER: E urn tipo completamente diverso de intensificapao.
toda devia ser, como voce disse, impoluta. Mas isso nao e assin. Ora, por que
ngo 6 assim? 801": Uma inteusificapao vigorosa, sim. E eu penso que isso comeearia
a inflamar, realmente, toda essa consciencia da humanidade. Teria esse efeito.
BOHM: Ben, penso que e preciso urn grau mais alto.de eneraa. Veja, Ate mesmo urn homem como Hitler, que tinha uma grande paixgo, tinha urn
e algo semelhante a transformap9o d`o 6tomo. No comego, eles trahsformavan efeito tremendo, embora para a destruiggo. Se houvesse dez pessoas com a paixao
apenas alguns atomos, poderfamos chamar isso de transformapao em geme - de mtler, todos trabalhando juntos, ningu6m poderia resistir a eles.
a transformapto do ftomo, como voce sabe, e .depois isso se espalhou como
urn incendio e se tomou. . . uma grande forga e uma reagao em cadeia. 0 in- WEBER: Seria uma especie de ressondncia simpdtica.
divfduo que percebe isso [esse princfpio referente a enercta interior e a inte-
lig6ncia] pode ser comparado aquele que descobriu a transformapao do ito. BOHM: Bern, eu n5o usaria essa analocta. Deixe-me acrescentar que Hitler
mo. Em princfpio, ele jd transformou a humanidade, mac isso ainda nao acon- estava, naturalmente, apenas contribuindo para a poluie5o, pois ele e` as jessoas
teceu, certo? em geral Cram ignorantes quanto ao que se acha envolvido nisso. E also muito
al6m de qualquer coisa que conhecemos. Estou apenas dizendo que sob esse an.
WEBER: E uma coisa diffcfl de entender. Poderia falar urn pouco mais
gulo, a consciencia, no fundo, 6 una, o todo da humanidade. Mas entao qualquer
sobre isso?
parte da humanidade pode estabelecer uma unicidade dentro dessa parte da cons-

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c1encia. E se dez pessoas podem ter sua parte de consciéncia unificada, essa é BOHM: Sim. Dizemqs que o germe está no não-manifesto. E emergindo
uma energia que começa a se difundir no todo. dele, como vê, surge o problema do manifesto. Penso que discutimos o exem­
plo do carvalho que cresce na Califórnia e que nunca perde sua folhagem. As
WEBER: E transformá-lo; é compelida a mudar alguma coisa nele. folhas estão continuamente se formando e, ao mesmo tempo, algumas estão caindo,
de modo que a árvore conserva uma aparência inalterável. Mas é a partir do não-ma­
BOHM: Sim.Alguma coisa nele - ou talvez profundamente. nifesto que a árvore está continuamente se formando. e em direção ao não-mani­
festo que ela está morrendo. E portanto você não entenderá a árvore. se consi­
WEBER: Profundamente. Desse modo, você está dizendo que antes de che­ derá-la como um objeto estático ou mais ou menos estático, que acaba de se ma­
garmos a essa atual situação onde ficamos cientes da centralidade da consciência, nifestar, neste momento, aos nossos conceitos.
o que estivemos tentando fazer é algo sem esperança, pois temos nos devotado
a pequenos problemas sociais, todos eles no domínio errado, por assim dizer. WEBER: Vocé quer dizer que para se entender a árvore tem-se de enten­
der que uma parte, ou mais de uma parte, daquilo que você vê é algo que você
BOHM: Sim, na verdade por não nos dirigirmos, em absoluto, à sua fonte. não vê, e que dá origem ao que você vê?

WEBER: Por não nos dirigirmos à sua fonte. E, portanto, não pareceria BOHM: Está certo. O que é manifesto, o que você pode ver e tocar, e
decorrer daí que não se trata mais de uma questão referente àquilo que os an­ assim por diante, é o resultado daquilo que não é manifesto. E, obviamente, a
tigos chamavam "a procura de minha própria salvação" mas de algo que envolve nutriçlfo da árvore e outras coisas, que são necessárias à maneira como ela se
muito mais responsabilidade para com o restante da humanidade? manifesta, baseiam-se no modo como ela está sendo continuamente mantida
ou não mantida.
BOHM: A salvação individual tem, efetivamente, muito pouco significado,
porque, como assinalei, a consciência da humanidade é una e não é, na verdade, di­ WEBER: E, como você disse, o carvalho vivo proporcionou um tão bom
visível. Cada pessoa tem uma espécie de responsabilidade; entretanto, nfo no sentido exemplo devido ao fato de que ele morre e se auto-renova ...
que lhe cabe "responder por" [answerability], ou de culpa. Mas no sentido de que
não há, realmente, nada mais a fazer, como vê. No sentido de que na:o há outra BOHM: Durante o tempo todo! Ao passo que na árvore cujas folhas caem
saída. De fato, é isso o que tem de ser feito. Fora isso, nada mais pode funcionar. anualmente você observa uma altemaçlfo temporal. Veja, parece que temos o pe­
ríodo de quietude, quando todas as folhas estão mortas, e depois todas elas res­
WEBER: Devido à própria maneirª como você analisou as conexões? surgem e então se retiram e morrem novamente. Ora, o carvalho vivo é um exem­
plo de algo que, numa observação superficial, parece sempre quase a mesma coisa,
BOHM: Você pode ver que essa concepça:o pode estar totalmente errada, e onde, todavia, o morrer e o renascer seguem constantemente lado a lado. In­
mas se o que eu disse está correto, então nada mais é possível exceto isso. terpenetrando as folhas que estão morrendo acham-se as folhas que estiro sen­
do geradas.
WEBER: Bem, é uma visão do mu'ndo bastante desafiadora.
WEBER: Desse modo, criação e dissoluç:ro e criação coexistem nesse car­
valho vivo.

SEGUNDA SESSÃO BOHM: Sim. Sim.

WEBER: Conversávamos a respeito dessa intensificaça:o de energia, dessa WEBER: Isso traz à luz outra questão que pode não ter ficado plenamente
montagem de energias. Mas penso que não tivemos tempo suficiente para decifrar esclarecida. Você disse que a fonte dos. objetos e também da raiz do conflito de
isso com clareza. Seria possível? pensamentos reside no não-manifesto, e isso deu a impressão de que o não-mani­
festo é a matriz do que poderíamos chamar de problemas. É também a fonte
BOHM: Decifrar o quê? da compaixa:o e do amor? Ou isso vem de outra parte?

WEBER: Você falava sobre a intensificaça:o da energia, uma intensificaçfo BOHM: Não. Veja, qualquer coisa que se possa colocar dentro do pensa­
tal que realmente mudaria a mente una da humanidade quando um grupo estivesse mento é limitada. O não-manifesto é muito maior que o manifesto, mas ainda
unido e em harmonia, e quando ele realmente entendesse que as raízes de seus se acha relacionado com o manifesto e os dois juntos se completam; mas eu di­
problemas residem nesse não-manifesto... ria que compaixão, amor, inteligência e insight estão alérri deles.

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WEBER: Naquilo que, antes, você chamou de espírito ou de algo que na:o WEBER: Mas quando o processo de pensamento é ordenado, e tem. seu
se pode nomear? lugar - nada usurpa qualquer outro elemento - então a fonte dessa ordem está
no pensamento não-manifesto.
BOHM: Sim.
BOHM: Está certo. Sim. E, no final das contas, talvez esteja além dele.Mas
WEBER: Isso faz parecer que os assim chamados fatores negativos residem é ainda a consciência não-manifesta que dará origem ao pensamento.
apenas nesse na:o-manifesto. Há nisso algo positivo? A dificuldade agora é que o pensamento se tornou automovente. Ele pro­
porciona estímulo ao seu próprio movimento, que é desordenado.
BOHM: Sim. Pois você percebe que se fosse perguntar a respeito de uma
WEBER: Para relacionar isso ao mundo holográfico, você diria que há duas
árvore que está vivendo, que emerge do solo para o ar, cuja matriz é a água, a
interpretações possíveis; decorrentes de· tudo o que precede: Você diria que o
luz do sol. .. há uma energia não-manifesta a partir da qual ela emerge. Mas essa
não é a verdade última sobre a qual estivemos falando. Certo? Essa árvore pode mundo ou o universo é um hológrafo... ?
estar doente ou sadia, e somente podemos saber se está doente ou sadia por in­
BOHM: Sim. Chame-0 de holomovimento, porque a palavra "grafia" é de­
termédio do não-manifesto. Se você vai cuidar da árvore, tem de levar em consi·
deração todo esse movimento invisível de sua nutrição, de sua luz, você sabe, masiado estática. É aquilo que foi escrito, certo?
de tudo o que está ocorrendo com ela.
WEBER: Certo. Há um holomovimento que olha para si mesmo? Ou há
dois - há uma consciência holográfica olhando para um holomovimento que
WEBER: Portanto, nesse sentido, sua nutrição, seus fatores nutritivos, tam­ é então dualista?
bém emergem desse não-manifesto, e não apenas os problemas.
BOHM: Bem, penso que a consc1encia é parte do todo. Agora, temos o
BOHM: Sim. Está certo. Diremos que a matéria física tem sua raiz no na:o-ma­ todo da natureza e dentro dela existimos e também estamos; o todo está em cada
nifesto. E também que o pensamento tem sua raiz em alguma consciéncia não-mani­ parte e a consciência também pertence a essa natureza. Por outro lado, a cons­
festa. Mas tudo isso é ainda limitado. ciência, como Krishnamurti discutia ontem, pode ser o instrumento de uma in­
teligência que está além de tudo isso. Ou seja, se é automovente então será de­
WEBER: Mas é essa a melhor· caracterização, se· é que é necessário lhe dar sordenada. Mas quando não é automovente, então pode ser ordenada. Ora, penso
uma caracterização? que deveríamos dizer que a consciência é um processo material se dizemos que
consciência. é pensamento, sentimento, desejo e vontade, e vários outros fato­
BOHM:Qual? res de natureza similar. E então teríamos de dizer que a consciência é um pro­
cesso material, mais sutil que os processos materiais comuns, que abordamos
WEBER: A de ser limitada. Nã"o destrutiva, nece$3riamente. com nossos sentidos ou com nossos instrumentos científicos.

BOHM: Não, absolutamente. 1! apenas quando se encaminha para a desor­ WEBER: Sim. Mas agora, como você completaria a explicação disso em
dem que ela se toma destrutiva, como vê. termos do holomovimento, do universo?

WEBER: Talvez seja esta a minha pergunta: Ela é ordenada? BOHM: Eu disse que o holomovimento é um termo indefinível. Em matemá­
tica, existe a noção do indefinível que, no entanto, pode tornar-se fonte de relações
BOHM: Sim. Dizemos que a natureza viva é ordenada. 1! manifestaç:ro definíveis. Ora, o holomovimento é, fundamentalmente, um termo indefinível, que
e é também processo não-manifesto. E, naturalmente, a vida pode sair fora da tem. vários fatores ou características, tais como luz, elétrons, som, nêutrons, neu­
ordem. Estamos perguntando se a vida da mente é ordenada. Em geral, ela se trinos, você sabe, e também pensamento, sentimento, desejo, vontade, e assim por
tomou desordenada. Da mesma maneira como ocorre no corpo, onde as cé­ diante. E, necessariamente, na:o podemos reduzir nenhum desses fatores a qualquer
lulas podem crescer harmoniosamente, ou você pode ter um câncer, que é o um dos outros, embora todos eles estejam inter-relacionados.Certo?
crescimento independente. A desordem surge quando todos os diferentes ele­
mentos crescem caótica e independentemente uns dos outros, isto é, n:ro tra­ WEBER: Sim. Mas agora voltemos a essa questão: O que torna.a conscién­
balham juntos. Ora, n°o câncer· isso começou a acontecer. E você poderia dizer cia possível nisso? Quero dizer, há dois modelos, níío é isso? O antigo modelo
que nosso processo de pensamento é um tanto semelhante a um crescimento diria - mesmo usando sua nova terminologia - ·que se trata da mente/cérebro
canceroso. holográfica olhando para o holomovimento. E você está dizendo alguma coisa mais.
82 83
BOHM: Bem, isso levaria a uma regressão infinita. Pois então teria de haver
i

e assim por diante; que estão evitando o idealismo. Mas, na verdade, esta:o é atri­
,1
· ,fr

um outro e mais um outro. holornovimento. Digamos que o holornovimento B buindo às idéias importância extrema ao fazer isso, porque esta:o dizendo que as
olhou para o holomovimento A, mas o holomovimento C teria de olhar para o idéias com as quais examinam as coisas são verdadeiras ou enta:o sa:o apenas ficçoes.
holomovimento B, e assim por diante, certo? Veja, você diz que o holomovi­
il,!
E se sa:o verdadeiras, então tudo bem. Portanto, a idéia com a qual você final­
1 mento B está olhando para o holomovimento A; desse modo, você aplica isso mente examina essa realidade material nunca é questionável. Se você a questiona,
de novo, uma vez que o holomovimento C está olhando para o holomovimen­
11
você apenas o faz utilizando-se de uma outra idéia, certo?
ti to B olhando para o holomovimento A.
WEBER: Que precisa ser atestada.
�l

WEBER: Por quê?


I:
BOHM: Correto. Ou que se acha implicitamente atestada, de modo que
BOHM: Bem, se você diz que o holomovimento B olha para o holomovi­ a idéia final com a qual você está fazend.o tudo isso seja verdadeira. Portanto, a
mento A, você já está implicitamente fora do holomovimento B olhando para
i
tentativa de dizer que você está lidando apenas com a realidade material força

1
ele. Desse modo, sua consciência já é o holomovimento C. você a pôr as idéias no domínio que fica além da realidade material, e portanto
do valor de verdade. E isso é autofraude. Portanto, digo que o pragmatismo não
WEBER:. Sim. Para descrevê-lo, para afirmar isso. Para ser capaz de de­ é na realidade pragmátfoo, pois ele não encara suas idéias pragmaticamente. Ele
clarar isso. aceita suas idéias de modo na:o-pragmático, sem absolutamente nenhuma base
pragmática, como sendo verdadeiras. Ou então ele as rejeita completamente -
BOHM: Sim. Para afirmar que há um holomovimento B, você deve ter o novamente sem base pragmática.
holomovimento C na sua consciência. Então, você imediatamente reflete sobre
isso e diz: "Esse é o holomovimento C", inas já é o holomovimento D que está WEBER: Em outras palavras, ele n:ro deu o último passo. Não compreen­
fazendo isso, certo? deu que o valor corrente que está usando não é, em absoluto, necessariamente
pragmático?
WEBER: Que era o velho modelo cartesiano e dualista.
BOHM: Na-o, mas o problema é que é pragmático. � pragmático, embora.
BOHM: Certo. Ele também leva à regressa:o infinita, a menos que você ponha ele na:o o trate pragmaticamente. Ele o trata como algo que está fora de cogita­
um fim a ela por meio de Deus ou interrompendo-a em algum lugar. ção, além de qualquer disputa, que simplesmente deve ser aceito como verdade.
Agora, penso que chegamos num ponto onde estamos levantando uma ques­ Ele não está encarando as idéias corno processos materiais. Está dizendo que as
tão semelhante àquela que abordamos na discussa:o de ontem. Por quanto tem­ idéias ou s[o ficçOes da imaginação· ou são, em si mesmas, verdade e realidade.
po podemos prosseguir na tentativa de falar sobre o que está além do pensamen­ A seguir, ele diz que descarta as idéias que são ficções, e quanto àquelas que s[o
to por meio de uma construção intelectual? Veja, porque quando fazemos essa · verdade e realidade, ele diz que com elas tudo bem, que é a maneira corno o mun;
construção intelectual temos um conteúdo e sempre subentendemos que aquele do é. Por um lado, ele não está dando às idéias importância absolutamente ne­
que a está construindo também se acha além desse conteúdo. Desse modo, ele nhuma, e por outro lado ele, num salto, lhes dá uma importância suprema.
se evade da própria coisa na qual tentamos incluí-lo e nessa própria tentativa
ele se evade. E, desse modo, parece que há algum limite para o quão longe você WEBER: Sua própria metodologia, por exemplo.
pode ir nesse processo, nessa abordagem. Portanto, é melhor dizer que nessa abor­
dagem, na qual tentamos fazer um mapa, ou algum tipo de esboço do que é a BOHM: Sim. Está certo. E ele pretende que tudo isso está provindo da ma­
realidade, estamos realmente lidando com alguma coisa limitada. Korzybski cos­ téria. Mas toda essa maneira de olhar para isso na:o provém da matéria que está
tumava dizer: "Tudo aquilo que afirmamos que é, na:o é." observando. É simplesmente a maneira que surgiu, historicamente, devido ao longo
processo de condicionamento. Ora, estávamos discutindo na noite passada que
WEBER: O mapa n!o é o território... poderíamos dizer que as idéias são processos materiais que crescem de uma se­
mente. Veja, a palavra "idéia" é baseada numa palavra grega que, basicamente,
BOHM: Está certo. Sim. E, portanto, o. que estamos fazendo é construir significa "ver"' mas que também inclui a idéia de "imagem" - a rioçio de "ima­
mapas, construir esboços, construir conc.eitos. E, veja bem, é por isso que eu disse gem", que na:o é ver, certo? A imagem é urna imitação da visa:o.
na noite passada que a ciência, por exemplo, a ciência teórica, na-o está basica­
mente preocupada em observar coisas mas em observar idéias. As pessoas pen­ WEBER: Embora isso viesse mais tarde, você não acha?
sam que ao dizer que as idéias são ·um mero complemento, um mero acessório
das coisas que elas observam, estão. evitando dar excessiva importância às idéias, BOHM: Sim. Surgiu posteriormente:Está certo.

84 85
WEBER: Platã'o queria que ideein representasse recepção direta, visão direta. BOHM: Real.

BOHM: Mas eidàlon é imagem, que vem da mesma raiz. Portanto, há a WEBER: Real. E por isso constitui tanto os dados como o assim chamado
percepça:o e há a imagem da percepça:o. Agora, a imagem da percepça:o na:o é a per· conteúdo.
cepção. Certo?
BOHM: Certo. Você deve olhar para a idéia tanto quanto você olha para
WEBER: Exatamente.•· a coisa que ela escava.

BOHM: Mas pode ser confundida com a percepça:o, pode ser tratada como WEBER: Exatamente.Ela nã"o é privilegiada e isenta ...
percepção. Agora, se considerarmos uma idéia, a percepç3"o cresce a partir de
uma semente na ordem não-manifesta e desdobra-se da mesma maneira que a se­ BOHM: Não.
mente cresce na ordem manifesta. Quando aplicamos a idéia, ela está sendo rea­
lizada. Está se desdobrando, crescendo, morrendo, e assim por diante. Que es­ WEBER: ... E inquestionável. i'.
pécie de resultado ou planta essa idéia .produz? Produzirá algo que seja harmo­
nioso .e ordenado ou, em palavras mais cruas, será uma planta útil ou uma erva BOHM: Não.Deve ser tratada tão pragmaticamente quanto os próprios dados.
daninha? Pode-se dizer que nosso cérebro é, hoje, em sua maior parte, um cam­
po de ervas daninhas. Mas na:o encaramos isso, em absoluto. N:ro dizemos que WEBER: Você está dizendo que são dados.
isso é material. Dizemos que, seja lá o que for, é nosso equipamento, é aquilo
com o qual trabalhamos, é aquilo de onde partimos. E colocamos nele várias BOHM: São dados. Sim. A idéia é um instrumento de trabalho que, de al­
prescrições, várias restrições - deveremos pensar desta maneira ou· daquela guma forma, traz para perto de nós uma certa parte da realidade, ou até mesmo
maneira. Mas n:ro questionamos que essas proibições s:ro também idéias. E ago­ ajuda a determinar a realidade. E a realidade do homem é inteiramente mode­
ra, o que estou dizendo é: Olhe para as idéias - cada idéia tem de ser encara­ lada por idéias. A realidade natural vai além de qualquer idéia humana, mas· o
da apenas pelo que ela é: O que ela é e o que ela faz? Portanto, encaremos nos­ quanto dela nós podemos trazer para o nosso mundo depende de nossas idéias.
sas idéias pragmaticamente, pois a principal funç:ro do teórico é trabalhar pragma­ Desse modo, podemos perder completamente a realidade natural porque nossas
ticamente com as idéias. idéias não a trazem até nós. Portanto, eis a questão: as idéias têm de ser encara­
das pragmaticamente. Ora, há um limite para aquilo que qualquer idéia pode
WEBER: O que, no momento, não é ainda levado em consideraçfü. escavar, se você quer se expressar dessa maneira: E uma tentativa para dizer que
podemos formar uma idéia que manipula tudo só levará ao caos. Mesmo essa
BOHM: Sim. Bem, em vez de dizer que elas sã'o a verdade ou que nã'o s:ro, idéia da ordem implicada, do não-manifesto e assim por diante, tem um certo
uma vez que você tenha a idéia correta, que foi checada por um experimento, limite. Ela efetuará um certo contacto com a realidade até algum limite vaga­
essa é a verdade. Estou dizendo que uma idéia é um instrumento pragmático... mente definido.Porém, não apreender4 o todo.

WEBER: Para quê? WEBER: Sim, devido à própria natureza do pensamento. Penso que nos
antecipamos um pouco na conversa. Dissemos isso. Mas uma vez reconhecido
BOHM: Para agarrar alguma realidade mais ampla. E, sem uma idéia, você isso, também não seria verdadeiro o fato de que, se eu aceito o que você está
n:ro pode fazer isso. dizendo,"todo o universo é um holomovirnento ...

WEBER: Mas você está dizendo que a idéia n:ro é apenas o veículo ou o BOHM: Bem, isso é apenas uma idéia, como vê. Estou dizendo que nossa
instrumento, como uma pá por meio da qual escavo um punhado de realidade, idéia - nós a chamaremos de universo do discurso em termos do holomovimento - !._
ela própria é... é limitada.O que o universo realmente é, é indizível, certo?

• Esta é a mesma pergunta que Platão faz em sua Alegoria da Caverna, na Repú­
WEBER: Sim. Tudo bem. Penso que a raza:o pela qual isso se mostrou im­
blica. Numa conversa posterior, perguntei ao professor Bohm a respeito da semelhança en­ portante, pelo menos em nossa discussã"o, foi o fato de que essa idéia está rela­
tre a filosofia de Platão e sua própria distinção não-manifesto/manifesto. Ele concordou cionada com a noção de na:o-dualismo, que já elimina uma dessas idéias que a
com a semelhança, e apontou especialmente a noção de Platio sobre as sombras e as ima­ humanidade carregou consigo, em seu próprio detrimento, durante séculos, e
gens na Caverna, contrastadas com a presença do Sol do lado de fora, que é a luz da reali­
não mais tomará como comprovada a questã'o do observador versus coisa obser­
dade para Platão. (R W)
vada, e portanto a questão do tempo (sobre a qual, incidentalmente, penso que
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';I
deveríamos dizer algumas coisas mais tarde. Você falou um pouco a respeito disso, BOHM: Vamos discutir o tempo. O tempo é algo que nossas idéias atuais
mas nlfo nos aprofundamos). Mas, voltando ao tópico em que estávamos, o que na:o al>,ar�arn muito bem. Agora veja, uma das dificuldades básicas com a atual
você está enfatizando é que o próprio holomovimento é uma idéia limitada? De­ noção de tempo está contida no paradoxo de Zenão. Em primeiro lugar, ele nlfo
vido ao fato de que a totalidade é inexprimível? lida com o movimento. Se você tem urna série de fotogramas-para a câmara cine­
matográfica, isto não é a mesma coisa que movimento. Urna coisa está aqui e não
BOHM: Sim. O que estamos dizendo é que essas idéias (sobre o holorno­ está se movendo, certo? E o fato de vê-la saltar daqui para cá, de um ponto para
vimento) têm urna capacidade muito maior para lidar com a nossa realidade, penso o mesmo ponto, na:o é movimento. De um modo mais geral, vocé pode olhar dessa
eu, que as outras idéias que temos, mas temos de notar que essas idéias também maneira o problema do tempo: digamos que, considerando o rriornento presente,
sa:o limitadas. Veja, estamos a caminho de adquirir algum tipo de idéia para lidar nós ternos o passado, que se supõe estar atrás de nós, mas o passado está efetiva­
com a realidade, e as idéias que temos agora são um caos total. Elas podem pro­ mente presente ·em nós sob a forma de memória, _e o futuro também é projetado
porcionar algum progresso técnico, mas em geral levam ao caos. Penso que essa a partir do presente. É realmente uma resposta da memória. Ora, se dizemos que
idéia é mais harmoniosa, concorda melhor com aquilo que existe e, na verdade, o passado, por conseguinte, não existe realmente corno tal, e que tampouco existe
junta as coisas harmoniosamente. o futuro, e se o presente é a linha divisória entre ambos, ele também não pode
existir, Portanto, alguma coisa está errada. Devemos dizer que nem o passado,
WEBER: Você está dizendo que essa idéia levaria a menos caos? Mesmo nem o presente e nem o futuro existem, na medida em que é o pensamento atual
que ela tenha ainda a limitação de todas as idéias? que olha para eles, e que eles realmente na:o s1fo nada mais que uma abstraça:o.
Portanto, se queremos partir do holornovimento, podemos dizer que o tempo,
BOHM: Se você considerasse que ela é ilimitada, acabaria, provavelmente, em seu todo, está em cada momento, e urna das características básicas do tem­
sendo levada a tanto caos quanto antes, mas essa idéia, como vê, contém dentro po é essa seqüência por meio da qual emerge um movimento posterior que con­
de si a idéia de que ela é limitada, ao passo que a antiga idéia contém implicita­ tém os movimentos anteriores em seu passado, mas na:o em qualquer outra via
mente a idéia de que, urna vez que você teve a idéia correta, está tudo bem. Por­ alternativa. Há, portanto, urna seqüéncia natural, corno essa série de caixas chi­
tanto, a velha idéia a encoraja, de todas as maneiras, em direçã:o ao caos. nesas que se ajustam urnas dentro das outras. E o momento presente poderia
··.., ser assimilado à caixa que contém todos esses momentos prévios corno seu con­
WEBER: Sejamos claros: ela é limitada quando posta· em contraste com teúdo, isto é, o conteúdo do pensamento. Poderíamos também dizer que qual­
aquilo acerca do qual nada pode ser dito. quer ·conhecimento contido no presente é conhecimento a respeito do passado.
Corno vê, parece que o presente não conhece a si mesmo.
BOHM: Sim. Bem, ela é limitada porque é urna idéia. Veja, toda idéia é
limitada e pode abarcar algum aspecto ou fator limitado da realidade. Ora, WEBER: Devido a esse retardamento.
estamos considerando a natureza das idéias, olhando para elas tanto pragmá­
tica como teoricamente, da mesma maneira como olharíamos para qualquer BOHM: Sim, leva tempo para ser gravado e tornar-se parte do pensamen­
outra coisa. Estamos dizendo: idéias nã:o são coisas que devam ser isentadas to e do conhecimento. Assim, o presente não conhece a si mesmo, mas podería­
de toda a abordagem científica. Não são coisas sagradas que ou sã'o verdadei­ mos dizer que ele conhece seu passado, de modo que há urna relação:· cada mo­
ras ou n:ro s:ro absolutamente nada. Todas as idéias slfo limitadas e devemos mento tem seu pass_ado e seu futuro. Agora, se tentarmos, a partir do passado
considerar todas elas. Algumas têm esta vantagem, outras têm aquela, algumas · .e no presente, predizer o futuro, o que estaremos tentando predize! é o passado do
têm muito pouco valor e assim por diante, e não existe nenhuma idéia defini­ futuro, certo? Em outras palavras, o conhecimento que existirá em algum mo­
tiva. Mas podemos considerar todas essas idéias, a maneira pela qual elas se re­ mento futuro. Desse modo, dizemos que, conhecendo o que conhecemos no pre­
lacionam ou na:o se relacionam, e assim por diante. Estamos apenas olhando sente, predizemos que no futuro seremos capazes de conhecer tais e tais coisas.
para as idéias, corno vê, assim como olhamos para o mundo corno uni todo. Portanto, o presente é, por assim dizer, não-especificável, indescritível. Urna das
Nossa mente abriga uma coleção ou um agregado de idéias que está sempre características básicas da matéria é a recorrência ou, ainda com maior regulari­
mudando. dade, a periodicidade. E se há urna tendência recorrente no desenvolvimento,
en_tllo podemos dizer que, embora n:ro conheçamos o presente e o futuro ime­
WEBER: Ou nossa mente é isso. diato, ele é recorrente o bastante para que possamos estar satisfatoriamente con­
fiantes nele, com base no passado. Oi:a, esse é o tipo de situaça:o para a qual se
BOHM: JJ isso, sim. E é aquilo para o qual podemos ol4ar, assim como olha­ dirige nossa tecnologia ou nosso conhecimento científicos, dizendo que a estru­
mos para as coisas que vemos ao nosso redor. tura do holomovirnento é tal que se mostra satisfatoriamente recorrente, e que,
em conseqüéncia disso, embora possam ocorrer surpresas, podemos obter algum
• WEBER: O tempo entr.a nessa questã"o das idéias? conhecimento satisfatoriamente confiável, mas nada de absolutamente certo.

Ii!
i_li. 88 89
Isto é, nã'o há possibilidade de uma previsão ou controle absolutamente certos, não fornece detalhes completos sobre ele. Em outras palavras, diz respeito ao
porque há sempre algo mais; há sempre contingência. Ntro há necessidade abso­ todo. O holomovimento de cada parte diz respeito ao todo, refere-se ao todo.
luta em nosso conhecimento. Mas nenhuma parte contém todos os detalhes �o todo. Portanto, não nos dá uma
visão completa do passado nem do futuro.
WEBER: Isso é Hume�
WEBER: Mas você diz que ela o implica.
BOHM: Sim. Contudo, dizemos que a própria estrutura do holomovimento
é recorrência; não dizemos que a mente humana somente contribui para essa re­ BOHM: Sim. Implica-o e refere-se a ele. Assim como o holograma parcial refe­
gularidade ou recorrência, mas a própria estrutura do holomovimehto é tal que re-se ao todo, mas exibirá menos detalhes e será de menos uso. Desse modo, você te-·
contém essa característica da recorrência. De outra forma, nosso pensamento rá de dizer que as informações contidas na parte nã'o cobrem o todo completamente.
sobre a recorrência não teria, em absoluto, valor algum. Como vê, a idéia de re­
corrência encontra-se com o fato de que a recorrência é comum na matéria: a WEBER: Mas o que significa dizer que ela o implica? Dá informações a
recorrência das estações, a recorrência contínua no carvalho vivo, que revela o respeito dele? '!
fato de que, embora tudo esteja mudando, o padra:o geral recorre repetidas vezes.
Há, desse modo, a idéia de recorrência que, de algum modo, encontra-se com BOHM: Sim. Bem, dá um certo número de informações, da mesma maneira
um fato de recorrência na matéria, justamente no holomovimento. E é essa a que se você iluminar urna parte de um holograma, obterá informações a respeito
nossa idéia. do todo, e não a respeito de alguma parte do objeto. Além disso, na:o obterá as
informações totais. Será algo um tanto vago.
WEBER: Mas nossa idéia foi encorajada a sustentar isso, pois, como você
diz, ela o encontra no holornovimento. WEBER: O que isso significa para nós enquanto conhecedores ou consciên­
cias? Dadas essas características, como deveríamos interagir inteligentemente
BOHM: Encontra-o até certo ponto, mas, uma ·vez que o holomovimento com o holomovimento?
é infinito, ele prossegue para além de quaisquer limites. Portanto, a idéia nem
sempre o encontra. Pode haver alguma coisa nova aí. BOHM: Veja, somos parte do holomovimento; na:o podemos interagir com
ele. A própria consciência é, nessa concepção, uma característica do holomovi­
WEBER: E é isso o que na:o conseguimos apreender. Excluímos isso, nos rnento. Lembre-se, sempre, de que essa é uma idéia a respeito desse assunto todo,
fechamos a isso. certo? Dizemos que a consciência é uma característica do holomovimento, e por­
tanto o conteúdo da consciência refere-se ao todo do holomovimento.
BOHM: Sim. E desse modo dizemos que, embora possamos esperar razoavel­
mente um bocado de recorrência, a mente está sempre aberta, e na:o insiste nisso WEBER: Não está lá olhando para ele. Está alojado nele.
como uma necessidade absoluta. E, portanto, a mente está sempre aberta para
dizer que não houve a recorrência. Vejamos isso novamente. BOHM: Tem uma certa semelhança com Leibniz, se é isto o que você quer
dizer: cada mônada refere-se ao todo mas com diferentes graus de completeza
WEBER: Podemos focalizar uma noça:o ligeiramente diferente, mas relacio­ e perfeição.
nada? No holomovimento, se eu o entendo, você disse que o todo está contido
em cada parte, e isso aplica-se tanto ao assim chamado espaço, certo, "o mundo WEBER: Espelha-o, diz ele.
num gra:o de areia", como também ao assim chamado tempo, a atemporalidade de
um dado momento. Falamos um pouco disso antes a respeito do espaço. Você BOHM: Espefüa-o. Eu preferiria dizer "refere-se a". Poderia dizer que o
poderia agora dizer alguma coisa sobre isso em termos de tempo? espelha, mas vamos dizer que ele se refere ao todo no sentido de que na:o é apenas
capaz de espelhá-lo mas também de se mover em direç[o a ele, e de apreendê-lo.
BOHM: Antes de mais nada, você pode ver que na memória temos o pas­
sado contido no presente, certo? � um exemplo do holomovimento. E agora, WEBER: É mais ativo.
você também tem isso no movimento que está se processando: se você pensar
sobre a luz que chega a qualquer local determinado, verá que ela contém obvia­ BOHM: É mais ativo. Sim.
mente todo o passado daquelas ondas que vieram de todas as partes para atingir
esse local. E ela contém alguma implicaçã'o a respeito do futuro, embora n[o WEBER: Mas quando o apreende: (isso é apenas outra maneira de dizer o
contenha u.ma implicação completa. Você vê que, embora ela implique o todo, que eu já disse antes, em palavras mais cruas, dualisticamente, foi o que eu disse)
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91
.. i,

quando o apreende, trata-se daquilo que costumávamos chamar de conhecimen­ DOHM: Sim. Isso é parte do apreender, do "agarrar". Este apreender afirma:
to ou de consciência. É uma parte ativa, certo? o holomovimento concorda que a idéia do holomovimento faz parte do holomo­
vimento. Ele não diz que há o holomovimento e que além deste há outra idéia do
BOHM: Sim. Bem, o próprio conhecimento é também o registro de tudo holomovimento que, de algum modo, tem de se relacionar com o holomovimento.
isso, incluindo as habilidades que foram deixadas na pessoa que o acolhe e o exe­
cuta. Mas, veja bem, o movimento total do conhecimento_ é conhecimento en­ WEBER: Isso é muito importante. Poderia dizê-lo novamente?
quanto holomovimento. Ou seja, o conhecimento é parte do holomovimento.
BOHM: Bem, a idéia do holomovimento é parte do holomovimento. E a
WEBER: Há somente o holomovimento no domínio do dizível, isto é, do idéia do holomovimento também contém a idéia de que a própria idéia é parte
exprimível em palavras. do holomovimento.

BOHM: Correto. Sim. Nesse universo do discurso, o holomovimento é tudo WEBER: E, portanto, o que mais?
o que há. Isso, no entanto, não significa que ele é tudo o que há.
i BOHM: E portanto considera-se que essa idéia apreende outros aspectos
WEBER: Compreendo. Há o que antes chamamos de espírito ou de como do holomovimento, e poder-se-ia até mesmo ir tão longe a ponto de dizer que,
quer que queiramos chamáclo. possivelmente, todo o holomovimento é, numa certa medida, da natureza de
uma idéia, no sentido de que o na-o-manifesto é o germe do manifesto, ou que
�. BOHM: Pode chamá-lo de verdade ou... o ADN é o germe do organismo vivo, e assim por diante. A idéia do holomovi­
mento será uma espécie de germe na consciência que é capaz de agarrar algo mais
WEBER: Alguma coisa... além. amplo. Esse germe cresce no todo, no solo da totalidade da existência, rumo a
alguma coisa que também pode, por sua vez, produzir mais germes.
BOHM: Além, certo.
WEBER: Mas "apreender"?
WEBER: E depois você disse que poderia ser - que ele poderia se matizar
infinitamente em muitos outros de tais domínios... BOHM: Significa encaixar, ajustar, agarrar. Veja, a palavra "perceber" é
"percipere". Significa segurar ou prender inteiramente, o mesrti.o que capturar.
'",j, BOHM: Sim. A palavra compreender significa pegar algo em seu todo, e muitas palavras se­
melhantes surgem daí. Disciplina é a mesma palavra: significa apanhar alguma
WEBER: ...acerca dos quais nada podemos dizer. coisa mentalmente, agarrá-la, agarrá-la isoladamente, "discipere".

BOHM: Sim. WEBER: É agarrá-la como você a usa, tomar-se uno com ela?

WEBER: Mas posso reformular minha pergunta? Usarei a palavra "apreen­ BOHM: Bem, é mais que isso... é contactá-la de modo que ela entre, co­
der". Uma vez que você disse que estamos repletos de desordem, e isso se tradu­ mo diria Piaget, num ciclo do movimento que é assimilado a um todo uno.
ziu num mundo perigoso e desordenado, qual é entao a via mais inteligente e
ordenada para esse holomovimento apreender a si próprio? WEBER: Portanto, de certo modo, é tomar-se uno com ela.

BOHM: Bem, veja você, até agora estivemos simplesmente construindo BOHM: É como uma espécie de digestão, por assim dizer. De fato, costu­
uma idéia, isto é, deixamos o holomovimento ter uma certa idéia de si mesmo, uma mamos dizer que digerimos a idéia mentalmente.
idéia correta de si mesmo. Essa é uma abordagem, certo?
WEBER: Ela se toma parte do organismo vivo.
WEBER: Na história, no decorrer de toda a história?
BOHM: Está correto. Quando você a toma como alimento, ela se toma
BOHM: Não. Isso é o que estamos fazendo agora. Veja, estamos dizendo parte do organismo vivo. Desse modo, quando você absorve alguma coisa mais,
que esse holomovimento está formando uma idéia correta de si mesmo, certo? ela também se toma parte da consciência viva.

WEBER: Neste exato momento. WEBER: Ela circula.

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BOHM: Circu la, e a consciéncia viva também faz parte disso. V eja, a ár­ BOHM: Bem, é matéria em seu...
vore viva é parte do me io ambiente e m seu todo, assim como e ste é parte da árvore.
WEBER: Em seu estado su til?
WEBER: Isso traz à baila, se você na:o se importa, aquilo sobre o que .con­
ve rsamos na noite passada, essa instigante idéia que você tomou ta:o clara. A no­ BOHM: É matéria sutil mas, além dela, naturalme nte , há mais, e por isso
ção de que a maioria de nós te m a idéia de que nosso próprio espaço interior te mos, e nfim, de dizer q u e a base última está além de qualquer coisa que pos ­
cessa, é interrompido, onde nós estamos limitados. Agora você alega que isso é samos chamar de matéria. Mas há esse estado muito mais sutil. Podemos fazer
falso. Poderia dizer alguma coisa a respeito? duas coisas. Uma é estender a noça:o de su tileza da matéria, que é o que estamos
fazendo agora. Pe nso q ue o universo do discurso só p ode ser o universo da ma­
BOHM: Sim. Há dois pontos de vista com relação ao espaço. Um diz que téria. Esse é o único conteúdo razoável do u niverso do discurso. A te ntativa de
a pele é a nossa fronteira, afirmando q ue há o espaço e xteri or e o espaço inte ri or. fazer com que o espírito seja parte do u niverso do discurso na:o funcionará.
O espaço interior é, obviamente, o eu separado, e o espaço exterior é o espaço
que separa os eus separados, certo? E, portanto, para superar a separaça:o, você WEBER: Exceto para dizer que há algo qu e o universo do discu rso, e n­
precisa ter um proces so para se movimentar através desse espaço, e iss o le va te m­ quanto matéria, niío e xaure.
po. Está claro?
BOHM: Não e xaure a totalidade . Isso é tudo q uanto à matéria. Mas tendo
WEBER: É de sse modo que os se re s humanos, antes, sempre pensaram acer­ dito isso,deixamos depois isso de lado.
ca disso.
WEBER: Haveria no holomoviment o um novo caminho análogo para olhar
BOHM: Sim. Correto. E ag ora, portanto, se considerarmos o ponto d e vista aquilo a que chamamos "tempo" com relaça:o a outras pessoas, da maneira que
do holomovim ento, com essa vasta re serva de energia e espaço vazio, dizendo você acaba de descre ver a respeit o das fronte iras do espaço?
que a própria matéria é essa pequena onda no espaço vazio, e nta:o, de maneira
mais adequada, pode ríamos dizer que o espaço como u m todo (e partimos do BOHM: Bem, sim. Penso q u e poderíamos considerar um inte rvalo de te m­
espaço em geral) é o solo, a base da existência, e estamos nele . Portanto, o es­
po e dizer que os dois momentos são reais e qu e o tempo entre ele s é u ma abstra­
paço na:o nos separa, ele nos u ne. É como se disséssemos q ue há dois pontos se ­ çã'o, ou dizer que o holomovimento é a realidade e q ue os momentos sa:o abstrações.
parados e q ue uma certa linha pontilhada os conecta, o que mostra a maneira Você sabe , os momentos que dão início e fim a esse intervalo de te mpo. ,·
como pe nsamos q ue eles estão relacionados, ou ent[o que há u ma linha real e
que os pontos são abstrações que resultam dela. WEBER: Desse modo, é o intervalo entre os momento.s que é real.
WEBER: Demarcamos as fronteiras da linha. BOHM: Poderíamos e ncarar desse modo. Mas veja, se considerarmos o ponto
de vista segundo o q ual o espaço é que é real, ent[o pe nso q ue te mos de admitir que
BOHM: Sim.
não é a medida do espaço q ue é real. A medida do espaço é·o q ue a matéria fornece.
Desse modo, o espaço vai além da medida do espaço. O mesmo aconte ce com o
WEBER: Portanto, é a outra via alternativa.
te mpo. Se queremos dizer qu e esse intervalo é real, então a me dida do tempo na:o
pode ser considerada fundamental. Portanto.já estamos do lado de fora daquilo que
BOHM: Certo. A linha é a realidade e os pontos sa:-o abstrações. Ne sse ordinariamente chamaríamos de tempo . Mas se tivermos o silêncio e o vazio, na:o te ­
sentido, dizemos que não há pessoas separadas, como vê; mas q ue isso é uma
remos a medida nem do espaço nem do tempo. Ora, nesse silêncio, pode aparecer
abstraça:o que surge ao se considerar certas características como separadas e
algo q ue é u ma pequena ondu lação, e que te m essa medida. Mas se pensamos que a
auto-existe ntes.
peq uena ondulação é tudo o que existe e q u e o e spaço intermediário nada é, q ue
não poss ui nenhuma significação, então te remos a concepção us ual de fragrnentaça:o.
WEBER: Pe nso que,no ou tro dia, você d eu até me smo um passo além com re­
lação a isso.Você disse q ue, onde quer q ue previame nte te nhamos pensado situar-se
WEBER: Posso retroceder u m passo? Quando você disse há pouco que,
o espaço vazio e onde não estamos, e sse é o único lu gar onde,de fato,"nós" estamos.
assim como ao conside rarmos primária a linha e não os dois pontos que a limi­
BOHM: Bem, essa seria a base n[o-manife sta da nossa e xistência. tam ou a de finem com relação ao espaço, do mesmo modo, ao considerarmos
o que chamaremos de eve ntos, como os pontos...
WEBER: Que você diz que é não-material.
BOHM: Sim.Eventos são os pontos.
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!•·'Jll
WEBER: Como a linha. Eventos slfo os pontos.

BOHM:· Bem, é a maneira usual de falar sobre isso.


são reais constituem, na verdade, minúsculas ondulações que ocupam o seu lugar,
mas que estiveram usurpando o todo, o lugar do todo.

(' ·i' 'wEBER: Mas a linha, entlfo, me parece, se você não permite que o tempo
WEBER: O vazio também não é - na:o entendemos por vazio uma vacuidade
substantiva, como a de uma caixa "vazia". Estamos falando sobre um espaço pleno.
seja medido por eventos.
BOHM: 'É a vacuidade que é um espaço pleno. Sim.
,,,· BOHM: Entiro é movimento fluente, certo?
'/ WEBER: Uma vacuidade que é um espaço pleno: agora, o que o espaço pleno
WEBER: Bem, então, de certo modo, é silêncio. Isso pareceria a implicaça:o... lhe diz? O que significa?

BOHM: É apenas fluxo. Se você olhar para a natureza e dizer que nela niro BOHM: Veja, é uma idéia bem conhecida, ainda no âmbito da física, que
1
há evento, entlro, na verdade, há somente' fluência. É a mente que abstrai, e pOe · se você considera um cristal que esteja â temperatura do zero absoluto, ele n:ro
�I
aí um evento. espalha os elétrons lançados contra ele. Eles o ·atravessam como se fosse vazio.
1: Mas logo que você eleve. a temperatura e (produza) inomogeneidades, os elétrons
1,·•
WEBER: Porém, n:ro se conclui daí que esse fluxo ou esse siléncio n:ro se espalham. Ora, se você usasse esses elétrons para observar o cristal (por exem­

�t
11 pode ser quebrado por quaisquer características distintivas, por quaisquer pro­ plo, focalizando-os com uma lente eletrônica para produzir uma imagem), tudo
priedades? o que você veria seriam essas pequenas inomogeneidades e você diria que siro
,·,·

r
�: elas o que existe, e que o cristal é o que niro existe. Certo? Penso que essa é uma
:;,. 1
BOHM: Sim. Exceto que é isso o que o pensamento coloca nele, as caracte­ idéia familiar, isto é, dizer que aquilo que vemos de imediato é, na verdade,
rísticas distintivas. uma coisa muito superficial. No entanto, o· positivista costumava dizer que aquilo
f; que vemos de imediato é tudo o que existe, ou é tudo o que conta, e que nossas
WEBER: Compreendo. Mas nessa outra maneira de encará-lo ... idéias devem simplesmente correlacionar-se com o que vemos de imediato.

BOHM: Pode ser, mas então temos de compreender que elas ocupam o seu WEBER: Com base nisso, seguir-se-ia, naturalmente, que a história e todas
lugar da mesma maneira· como estamos dizendo que o pensamento o. ocupa; se essas multiplicidades de objetos e eventos nã'o passam de ondulaçoes.
+ você conhece o lugar do pensamento, então ele niro interferirá, certo? As caracte­
rísticas distintivas ocupam seu lugar num -certo domínio limitado da ordem ex­ BOHM: Sim. Sã'o apenas ondulaçOes e seu significado depende da compreen­
pÍicada e do manifesto. são que temos daquilo que é subjacente a essas ondulações.

WEBER: Mas ainda penso que, para certas pessoas, isso parecerá muito es­
t
i.11
WEBER: E você diz que aquilo que está por baixo das ondulações é a ver­
tranho. Em primeiro lugar, isso desafia tudo o que conhecemos ou o que nos dadeira profundidade. É aquilo que é real.
ensinaram. Em segundo, isso parece, no mínimo, contra-intuitivo, e certamente o é
para aqueles que foram treinados em ciência moderna, e em terceiro, penso que BOHM: Sim.
-
,! parecerá assustador ou ameaçador. Então, tentemos decifrar isso. Você diz que os
1:
eventos são sempre distinguíveis, que eles possuem·características, que sa:o aquilo WEBER: E você também disse que o homem pode se adaptar para apreender
que chamamos de acontecimentos, que são as coísas das· quais nos apoderamos, essa vacuidade.
as coisas .que transpiram no mundo, aquilo de que o mundo se ocupa, por assim
dizer. Esses, você está dizendo, são secundários, derivados, e menos importantes BOHM: Bem, ele não a apreende, como vê. Você na:o pode agarrá-la - niro

11! ,J;
que a ausência de tudo isso. E essa auséncia é, podemos chamá-la de vazio, silên­ mais do que poderia agarrar o espaço vazio.
cio, sunyata, ou seja lá como for.
!
WEBER: Bem, entã'o qual é a palavra que deveríamos usar?
BOHM: No nível dessa teoria seria ,o holomovimento, corno vê, o movi­
!1 mento fluente. Mas vai além disso. Poderíamos dizer que, até mesmo nesse nível BOHM: Penso que no presente estágio temos de dizer que isso é uma idéia
de pensamento, há uma maneira de olhar para ele segundo a qual o vazio é o es­ e que, portanto, há um limite para o quã'o longe podemos ir.
il'
t
paço pleno da matéria, o oposto do vácuo, certo? 'É dessa maneira que esse nível 1

de pensamento trata dele. E estou dizendo que aquilo que chamamos coisas que WEBER: No discurso.

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BOHM: Isto funciona apenas no urúverso do discurso, que só funciona no WEBER: Ele patina sobre as ondulações e se concentra nessa dirnensa:o,
universo real até um certo ponto. Veja, para tornar esse vazio uma realidade na e nunca vai além delas.
consciência do homem, como Krishnamurti dizia, a consciência deveria se esva­
ziar de todas essas ondulações. Quando a mente está cheia de todas essas ondu­ BOHM: Sim. Mas ao fazer isso ele mantém todo esse caos em movimento,
lações e pequenos movimentos, eles, por assim dizer, espalham a energia, e apa­ como vê.
rentam ser tudo t> que existe. O espaço pleno que é a consciência na-o é visível,
ou não é capaz de operar. Portanto, a noçã"o é esta: se a consciência pode se es­ WEBER: Compreendo. Para mudar um pouco de assunto, você mencionou
vaziar de seu conteúdo, que é constituído de todas essas ondulações, enta:o, pos­ uma outra coisa que seria útil para nos esclarecer. Você falou antes sobre a or­
sivelmente, poderíamos dizer que esse holomovimento se acha... dem implicada, o não-manifesto. Quando discutimos a matriz que torna possí·
vel os objetos, e os governa, você afirmou que é como se houvesse uma seqüên ­
WEBER: Desobstruídamente aí? cia, ou que pelo menos podemos pensar sobre eles como uma seqüência. Mas
a seguir você disse que se tratava apenas de uma simples interpretaça:o disso, e
BOHM: Sim, desobstruídamente aí. E penso que por mais longe que vocé pos­ que havia muito mais, que eles se cruzam uns com os outros, e que todos eles
sa ir, ele estará sempre por perto. Se dizemos que a consciência é o conteúdo mani­ são partes uns dos outros. Poderia agora abordar esse cruzamento de fatores na
festo, é o movimento não-manifesto, abaixo dela,e é alguma coisa muito além disso, ordem implicada?
a questã"o é fazer cessar essas ondulações no manifesto e no não-manifesto,fazer ces­
sar essas ondulaçõ.e s no· manifesto e os germes no não-manifesto, os germes que as BOHM: Bem, você pode pergUntar: Como é descrito o espaço tridimensional?
criam, então nós temos um vazio que toma a consciência, de algum modo, um veí­ O espaço unidimensional poderia ser considerado uma seqüência simples sobre
culo ou um instrumento para a operação dessa totalidade - de inteligência, compai­ uma linha, uma das dimensões do espaço. Agora, para ter duas dimensões, de­
xão, verdade. Mas se a consciência está repleta de todo esse conteúdo, que entã"o co­ vemos ter duas seqüén cias.· Tais seqüências se inter-relacionam, e, na verdade,
meça a pôr a si mesmo em movimento,autogerando-se, toma-se justamente o caos. você poderia dizer que é uma seq üência de seqüéncias, pois cada seqüência forma
uma linha, e uma linha de linhas forma um plano, e uma linha de planos forma um
WEBER: E se a consc1encia se esvazia de todas essas ondulações, é isso o sólido, e assim por diante. Esse processo é usualmente interrompido em três di­
que ontem supus que Krishnamurti estivesse chamando de religião? mensões. Agora, mesmo n essas três dimensões você pode ver que poderia orien­
tar essas linhas de muitas maneiras diferentes e ainda assim cobrir com elas ·o
BOHM: Sim. É o primeiro passo. É ·a noção de cessar o conflito, veja, a espaço, certo? E, por isso, você precisa admitir que tem a possibilidade de um
religião como totalidade, que significa o fim da fragmentação e do conflito. número de ordens tremendamente elevado, e nl!"o apenas aquelas três que acon­
tecem de você escolher para o sistema coordenado. Está claro?
WEBER: E ele disse: "escuta total". Agora, pelo que eu suponho que ele
quis dizer, a escuta total refere.se a essa totalidade ou vazio-pleno, mas na:o às
WEBER: Ordem significando dimensão parcial, partes da dimensão?
pequenas coisas da superfície.
BOHM: Cada linha é uma ordem. Ora, o espaço ordinário poderia ser con·
BOHM: Bom, também se refere à superfície,-como vê. Escutar tudo isso.
siderado o produto de três ordens em três direções diferentes. Mas você poderia
WEBER: Tudo isso. escolher essas direções arbitrariamente. Desta maneira ou daquela maneirá. Você
pode girar seu referencial ou deformá-lo, e qualquer· um desses sistemas de refe­
rência será tão bom quanto qualquer outro. E, no entanto, cada ordem é, po·
BOHM: Sim. O que interfere com a escuta, como vocé pôde ver muito cla­
tencialmente, uma infinidade de ordens. E, agora, você poderia dizer que todas
ramente ontem, é o fato de o pensamento saltar muito depressa com uma pala­
vra e todas as suas associações, as quais então se processam tão rapidamente que elas poderiam ser reduzidas a três quaisquer dessas ordens, ou a quaisquer outras
o pensamento toma isso como sendo percepçã"o [direta]. três de tais ordens. Essa é a noção de vetor. A noçlfo de que cada vetor poderia
ser descrito por três componentes em quaisquer três direções. Portanto, você
poderia reduzir qualquer ordem a quaisquer três ordens escolhidas como seu pa­
WEBER: E assim ele termina, mais longe... sondando em profundidade?
drão. É esse o significado da tridimensionalidade do espaço. Agora, quando você
aborda a mecânica quântica de um sistema de duas partículas, vocé não encon·
BOHM: Correto. Ele diz que é isso a realidade. Desse modo, o pensamento
começa a ponderar, a mover-se dentro disso, de modo que ele é capturado em trará um espaço tridimensional, mas um espaço de seis dimensões. Em outras
si mesmo. E começa a fazer comentários a respeito de si mesmo que, por sua vez, palavras, você terá uma ordem de ordens: qualquer ordem tridimensional en­ 11
parecem reais, e prossegue nisso, construindo todas essas ondulações. contra-se, por si mesma, ordenada nas três dimensões da outra partícula. Desse
modo, ela tem de ser tratada como hexadimensional - uma partícula de seis di-
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mensões. Um objeto comum, que possui, digamos, 10 24 partículas, teria de ser BOHM: Isso não importa.
tratado como um espaço de 3 x 10 24 dimensões, e assim por diante. O universo
teria de ser tratado como um espaço de infinitas dimensões. Está claro? Chama-se WEBER: Não importa, mas você está dizendo que ele tem implicações espe­
a isso espaço de configuração ou, às vezes, espaço de fase, se nos estendermos cíficas, ou ramificações para a n-dimensionalidade do espaço.
um pouco mais.
Na mecânica clássica, esse espaço de configuraçao é considerado uma abstra­ BOHM: Para a 3n-dimensionalidade da matéria.
ção, uma abstração descritiva. Dizemos que você realmente tem de lidar com par­
tículas localizadas em certos lugares em três dimensões. Mas na mecânica quân­ WEBER: Pode explicar isso um pouco mais?
tica isso não é uma abstração. B esse o significado da experiência de Einstein,
Rosen e Podolsky, segundo a qual vocé nã'o pode reduzir esse espaço de seis di­ BOijM: A matéria manifesta deve ser colocada em três dimensões se a reali­
mensões a um espaço tridimensional. Acontecem nele algumas coisas que _só po­ dade mais profunda possui 3n-dimensões. Estudando a matemática você pode
deriam ser entendidas mantendo-o hexadimensional ou, mais geralmente, 3ri-di­ perceber que a matéria não-manifesta é 3n-dimensional e a matéria manifesta
mensional. Certo? Como devemos olhar para isso? O que acontece é que temos é tridimensional.
aquilo que é chamado função de onda, ou enta-o um operador algébrico nesse es­
paço 3n-dimensional, e as propriedades desse operador determinam ou referem-se WEBER: A matéria na-o-manifesta é 3n-dimensional?
ao sistema todo, ao passo que operadores menores referem-se a algumas partes
do sistema. Por isso, não podemos reduzir o todo. Na física clássica, podemos BOHM: Sim. :É realmente isso o que estou dizendo, e qualquer matéria
reduzir .o todo a partes. Dizemos que o todo tem, digamos, 3n-dimensoes, mas que se manifeste_ é tridimensional; a relação entre ambas ·é essencialmente o que
podemos sempre dizer que isso é uma abstração para uma porçã'o de coisas di­ a mecânica quântica diz a você. As leis da mecânica quântica essencialmente re­
ferentes que estão, todas, nas mesmas três dimensões, e portanto podemos re­ lacionam o 3n-dimensional como tridimensional. Nosso equipamento revela-se
duzir esse todo a alguma função de um conjunto de partes, a uma função matemá­ em 3n-dimens0es e o cálculo é efetuado em 3n-dimensões e por meio de certas
tica. Ora, em mecânica quântica nã'o podemos fazer isso. Temos de pensar que esse regras que os conectam. O que você faz em n-dimensOes está relacionado ao que
espaço 3n-dimensional é apenas tão elementar quanto o espaço tridimensional, e você pode observar em três dimensões.
que, fundamentalmente, as leis da mecânica quântica fornecem uma relaça-o entre o
espaço 3n-dimensional e os vários espaços tridimensionais de cada partícula. WEBER: O que isso implica?

WEBER: Já exíste a matemática para isso? BOHM: Ora, atualmente, o que a maioria dos físicos diria é que a realidade
tridimensional é tudo o que existe, e que a· mecânica quântica nada mais é que
BOHM: Oh! sim. Está sendo usada durante todo o tempo. Mas as pessoas um conjunto de regras, um diferente conjunto de regras destinadas a discutir a
dizem que ela não interessa; que é apenas um meio para calcular o que está acon­ realidade tridimensional.
tecendo a pequenas partículas sólidas no espaço tridimensional. E o paradoxo
de Einstein, Rosen e Podolsky reside no fato de que elas não s:ro compreensí­ WEBER: Eles convertem-na em algo pragmático?
veis, mas as pessoas concordam em colocá-las de lado, dizendo: isso nao é real­
mente importante porque estamos obtendo resultados. Usando essa matemá­ BOHM: Sim. Agora, o que estou propondo é ·que a realidade 3n-dimensio­
tica, estamos predizendo corretamente como nossos instrumentos irão se com­ nal é o que é, e que temos um conjunto de regras para mostrar como a realidade
portar. Dizemos que isso é verdadeiro, n:ro entendemos como acontece, mas con- 3n-dimensional manifesta-se na realidade tridimensional, as duas juntas forman­
sideramos que é um fato sem importância. do o todo maior que o todo.

WEBER: Suponho que muitas pessoas que estão lendo isto na-o sabem o ·WEBER: Caberia aqui uma analogia entre a consciéncia tridimensional, que
que é o paradoxo de Einstein, Rosen e Podolsky.• seria o pensamento, e a· consciência 3n-dimensional, que seria a percepção atenta
e esclarecida? Você diria isso?

• A. Einstein, N. Rosen e B. Podolsky, Phys. Rev., 47, 777 (1935). "... um exemplo BOI-IM: Sim, você poderia dizer isso. Eu proporia essa analogia. Quero dizer,
sugerido por Einstein, Rosen e Podolsky... oferece um caso no· qual pode-se demonstrar a consciência não-manifesta é percepçao atenta e esclarecida, inteligência e alguma
explicitamente a inconsistência de supor que os detalhes precisos das flutuações descritas coisa que possivelmente está além.
pelo princípio da indeterminação poderiam ser atribuídos a perturbações do sujeito obser­
vado provocadas pelo aparelho de observação." David Bohm, Causa/ity and Chance in Modem
Physics (Uruversity of Pennsylvania Press, Filadélfia, Pensilvârua, 1971). WEBER: Energia?

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BOHM: Energia. Agora, o pensamento poderia ser comparado ao tridimen­ Não basta dizer que iremos considerar uma consciência que vai além desse tipo
sional, exceto que ele é um pouco mais sutil que este. Mas é um tanto limitado limitado de consciência tridimensional. A dificuldade reside no fato de que ainda
em comparaç:ro com aquela profundidade maior - com aquela coisa toda. Quero estamos usando a consciência tridimensional para nos guiar.
dizer, temos. realmente mais dimensões no pensamento do que trés, mas isso é
ainda muito limitado. WEBER: Para falar a respeito disso?

WEBER: E você poderia dizer, talvez, que ele permanece nessa mesma re­ BOHM: Sim. A meditação, em sua idéia essencial, nos aconselharia que
lação com o n-dimensional, que o objeto tridimensional face à matéria 3n-dimen­ parássemos de agir assim.
sional, certo? Não que seja exatamente a mesma coisa, é algo mais fluido.· ..
WEBER: Esta era a última pergunta, se você não se importa, que eu gos­
BOHM: Sim. taria de fazer. O que a meditação nos diz sobre todos esses fatores de que esti-·
vemos falando: o holomovimento, o espaço e o tempo, e a realidade 3n-dimen­
WEBER: Você está afirmando isso, por assim dizer? sional? Você poderia dizer algo sobre a meditação?

BOHM: Sim. BOHM: Penso que a meditaçã"o nos levaria até mesmo para fora de tudo
[ de todas as dificuldades] que estivemos falando. Veja bem, a questão é que es­
WEBER: Portanto, você está dizendo que quando a consciência rompe tivemos falando a respeito de algo que é uma espécie de ponte. Toda essa cons­
as cadeias, libertando-se dessas restrições ·da tridimensionalidade, ela encontra trução da ordem implicada é uma espécie de ponte. Podemos expressar isso em
alguma coisa completamente nova e diferente. nossa ·linguagem ordinária, mas sua implicação· leva a algum lugar além. Ao mes­
mo tempo, no entanto, se você não atravessa a ponte, deixando-a para trás, co­
BOHM: Bem, ela se toma - ela é alguma coisa nova e diferente. mo sabe, estará sempre sobre a ponte. E nã'o adianta estar sobre ela!

WEBER: Ela é. Sim. E essa seria a cone,xão que você delinearia entre a nova WEBER: Sim, é verdade, você permanece fixado nela!
física e nossa compreensão da consciência.
BOHM: A finalidade de uma ponte é ser cruzada. Ou, mais precisamente,
BOHM: Sim, uma vez que consideramos a consciência como sendo um pro­ poderíamos talvez pensar num ancoradouro, a partir do qual podemos seguir
cesso material, poderíamos dizer que ela seria capaz de se mover em novos domí­ oceano afora e que nos possibilita mergulhar rumo às profundidades do oceano.
nios da matéria, assim como na física temos nos movido em regiões de supercon­ Assim, poderíamos dizer que, se nos fosse possível considerá-los seriamente, além
dutividade e ·superfluidez, domínios novos e altamente ordenados da matéria, de sua utilidade para a compreensão da matéria, a ponte ou o ancoradouro nos
e também domínios novos e altamente ordenados da consciência. Penso agora ajudariam a afrouxar nossa maneira de considerar a consciência, de modo que
que algumas pessoas estão considerando essa noção, mas, em geral, e naturalmen­ ."
ela não se mantenha tã'o rigidamente contida. Mas penso que a questã"o da cons­ 1
te, os físicos não estão terrivelmente interessados nela. ciência está além. A realidade dessa consciência 3n-dirnensional nã'o poderia ser
alcançada estudando-se a física com a nossa consciência tridimensional. Poderia
WEBER: Pelas razões que você mencionou anteriormente? formar uma ponte ou ancoradouro de algum tipo, capaz de nos incitar a mover­
mos de uma certa maneira mas, em algum lugar; temos de deixar o pensamento
BOHM: Sim. para trás e atingir de maneira total essa vacuida.de do pensamento manifesto, e
do condicionamento da mente não-manifesta pelas sementes ·do pensamento ma­
WEBER: Mas então você está dizendo que, assim como a física - a nova nifesto. Em outras palavras, a meditação efetivamente transforma a mente. Ela
física - revolucionou a maneira como olhamos para aquilo que pensamos ser o transforma a consciência.
mundo que nos cerca, você.está dizendo que a nova consciéncia revoluciona a ma­
neira como olhamos para o observador, para o que antes concebíamos como sen­ WEBER: Instantaneamente.
do o observador.
BOHM: Sim. E nã'o podemos usar o que produzimos na consciéncia para
BOHM: Sim. Bem, ela é parte disso. Mas veja, penso que, basicamente, o que substituir essa transformação.
estamos fazendo é nos livrar dessa tremenda discrepância entre a consciência
e o mundo material, que é seu conteúdo, dizendo que ambos pertencem à mes­ WEBER: Entã"o, você está dizendo que é �a própria execução disso, sem
ma natureza geral. Mas para ir além deles, temos de ir até o fun·do pensamento. qualquer lacuna, adiamento ou intença:o, que esse processo toma-se ativo.
102
103
BOHM: Sim... sim.

WEBER: Portanto, apenas para relacionar isso a essa noça:o de vacuidade,


se dizemos que nossas atarefadas atividades da vida diária sa:o, para a maioria
das pessoas, os eventos, ou a auséncia de vacuidade, ou a sobrecarga, enta:o qual
é o papel da meditação?
6
BOHM: Bem, ela esvazia a mente de tudo isso.
COMENTÁRIOS SOBRE A TEORIA HOLOGRÁFICA
WEBER: Certo. E portanto ...
Reflexões sobre o Paradigma Holográfico
BOHM: ... toma possível algo diferente. A partir desse ponto de vista,
você pode ria dizer que até mesmo o tardar da ordem implicada faria com que Ken Dychtwald, Ph.D.
ela se tomasse parte da mesma coisa usual.
Novas teorias a respeito da mente ou do corpo serve m à dupla funça:o de
WEBER: Você quer dizer que esse tardar é um obstáculo� um outro pen­ nos . e ducar para que assimilemos maneiras de entender a nós mesmos e os con­
samento. textos dentro dos quais vivemos, bem como desafiar-nos a explorar e revisar as
próprias crenças e estruturas em cujo âmbito prosseguimos na tentativa de en­
BOHM: Sim. É como o camarada que permanece no ancoradouro e nunca tendê-las. As informações que emergem da recente explosao de interesses pelo
mergulha nas profundidades do oceano. paradigma holográfico na:o constituem, certamente, exceça:o a essa regra. No do­
mínio dessa emergente visão do universo reside toda urna riqueza de informações
relativas à dinâmica e à consciência da vida, mas, para começar a apreciá-la real­
mente, deve-se desde já, num certo sentido, compreendê-la.
Agora, não pre tendo para isso dar a impressa:o de que estou falando psi­
coblablablás, mas quando tentamos vivenciar ou entender plenamente o pa­
radigma holográfico de qualquer outra maneira que na:o seja ·a holística -· com
plena inclus:ro do intelecto, dos sentidos, da intuiçao e da ·experiência acumu­
lada em toda urna vida - descobrimos por nós mesmos que a visao completa
foi negada. Ai de mim ... Alice sem a sua chave. De uma maneira altamente
provocativa, o paradigma holográfico lembra-nos de que também somos par-
te de um holograma-mestre e que quanto mais perto estive rmos de conhecer
e vivenciar plenamente a nós mesmos, tanto mais perto, portanto, estaremós
de estabelecer interfac es com a identidade dessa grandiosa informaça:o holo­
gráfica.
Uma vez que o paradigma holográfico sugere para a vida uma dinâmica
que é na-o-linear, podemos esperar que concebê-lo ou explicá-lo em moldes linea­
res provavelmente falhará, até um certo ponto, e m atingir seu objetivo, que é
o de oferecer uma representação verdade.ira e precisa da verdade e da beleza efe­
tivas de sse sistema. Além disso, desde que é inerente nesse sistema uma profunda
apreciação de modalidades nao-racionais de experiência e de expressao, nossa
dificuldade de obter explicações fica· multiplicada. Pois neste artigo nao me é
possível comunicar ao leitor informações sobre holografia usando "odores, 'tem­
peraturas, cores, sons, tons, vibrações, substâncias químicas, ·contactos táteis
ou gestos expressivos. Em vez disso, sou forçado a lidar inteiramente com os sím­
bolos da linguagem, que são estreitos em seu contexto e limitados em seu alcance.
Não .é diferente tentar explicar um verbo usando apenas substantivos... você
pode chegar muito perto e mesmo assim nao obter sucesso.

111. 105
104
. .•. ·'<--.,_
Lembro-me de u ma anedota esclarecedora que li certa ve z na capa de um Podemos expe rimentar esse mesmo evento quando lemos u m poema. Nele ,
álbum. Nela, o cantor de rock explica que para uma das cançõe s, cujo título é o poeta se esforçou para captar, numa palavra, um aspe cto-chave di' viõá. Quan­
Lost in the Woods, seu dese jo era que o refrão fosse cantado em swahili. Antes do lemos essa 'palavra, n:ro somente a vivenciamos, mas, à medida que e ntramos
que o álb um fosse efetivamente gravado, o cantor e compositor visitou a África no conte xto do poema, passamos também a compreender vivencialmente o poeta
durante uma tu rnê d e concertos..Lá, teve a oportunidade de pe rgu ntar a um chefe qu e nos oferece essa palavra. Além disso, pode mos viajar, em companhia dessa
de tribo que também "falava inglês como se diz lost in the woods [perdido nos palavra, através do poeta, qu e está atuando como um médium entre nós e algum
bosques] em swahili. O chefe olhou para ele por um momento, coçou a cabeça espectro da e xpe riência u nive rsal. Por inte rmédio dessa palavra, e ntramos nu ma

-e··, simplesmente respondeu : '_'Nós não nos perdemos nos bosques." relação holográfica c0m uma cultura, uma era, uma dinâmica energética, um es-
De maneira semelhante, é inerente em nossa linguagem, em nossos sistemas pectro da vida. ___ _
de crenças e em nossos padrões de pensamento ruro compreendermos a nós mes­ Similarmente, podemos permitir a nós mesmos vivenciar nosso�à)
mos nem ao nosso universo de u ma maneira holográfica ou holística. Por isso, como uma espécie de mandala ou e xpressão energética. Se quise rmos, po'àe-renío{
j
a tarefa de entender e explicar esse nov� paradigma com velhos símbolos e ima­ pe rceber as linhas e os fluxos deste planeta e penetrar nas informações qu e ele
gens é um procedimento cu riosa e frustrantemente esclarecedor .em si mesmo e captou dentro da sua forma. Experimentando vivencialmente a forma, podemos
de si mesmo. nos mover através de sua simbologia e compreender a vida ou a paixão de ste pla­
Descobri que me tem sido espe cialmente útil para facilitar urna cornpreen­ neta. Ou, se quise rmos, poderemos isolar um dete rminado aspecto do n osso.planeta
sa:o do paradigma holográfico relacioná-lo e compará-lo com outras imagens e e sentir sua relação holográfica com o conte xto cósmico d en tro do qu al ele existe.
construções mais familiares, porém semelliantes a ele. D escobri também que as Para fazer isso, poderíamos ir até à praia em Big Sur, e remover um dos
experiências de minha própria vida que me permitiram compreender algumas ciprestes curiosamente torcidos qu e vive ao lado do penhasco. Quando l evamos
dimensões do paradigma holográfico foram, com freqüência, de natureza na:o-ló­ essa árvore para nosso laboratório e ten tamos entende r sua natureza, compreen­
gica e ocorreram a mim através dos sentidos, em sonhos ou de vaneios, enquanto demos que, embora à tenhamos removido de seu contexto natural, as info rma­
desfrutava de urna excel ente obra de arte ou através de algum in esperado e ilu­ ções a respe ito de seu meio ambie nte ante rior ainda vivem dentro de sua forma
minador lampe jo de re organização interna. atual. Enquanto. olhamos para os galhos retorcidos, pode mos quase visualizar
Um dos e xemplos mais simples e mais funcionais d aradigma holográ­ os ventos que sopraram através de les. Em sua casca áspera e seca podemos se ntir
;,f
fico é oferecido pela expressão de uma mandala. çMandal �'J é uma palavra do a presença das estações longas, quentes e secas sob as quais essa árvore existiu
sânscrito, que se refere a um dete rminado tipo de esenho disposto de maneira desde seu nascimento. Uma rápida olhada nas raízes nos informa que e ssa árvore
circular ou ge ométrica, e que é freqüentemente usado como foco para auto-ex­ estava parcialm ente enraizada em solo fofo e parcialmente fixada e m rocha dura...
ploração rneditativa. Diz-se que a rnandala é um símbolo ou representaç:ro de suas células nos e nsinam a respe ito da gravidade e do núcleo da te rra, ao p asso que
algum aspecto particular do universo. Supostamente , aquele qu e planeja ou cria suas follias falam sobre a luz d9 sol, e sobre o céu e sobre re novaç:ro.
cada mandala procu ra, primeiro, id entificar algum dete rminado espectro de ex­ Usando esse cipreste como e xemplo, perceb emos que os vários aspectos
periên cias no âmbito global da vida, tais como relações entre pessoas, s entimen­ de nossas vidas podem existir não apenas como u m todo em si m esmos, mas tam­
tos de amor ou de ódio, dança, a história de urna civilizaç:ro, etc. Uma v ez rela­ bém e xistem em interface com outros conte xtos holográficos. Uma ve z que o
cionado o espectro de experiên cias, ele é então profundamente examinado, até e ncaixe energético entre o todo e suas .várias parte s compõe-se de informações
que o artista destile a e xpe riência completa em suas formas e dinâmic as mais ele ­ puras. e honestas, percebemos então que cada entidade particular é e xpressiva
mentares. Essas relações básicas são então traduzidas em padrões simbólicos que, não somente a respeito de si própria mas também abriga informações abrangentes
por sua vez, são reunidos e combinados no dese nho da mandala. a respeito dos contextos mais amplos dentro dos quais ela e xiste. De maneira
Ora, ess e símbolo se rve a vários propósitos. Primeiro, existe por si mesmo, semelhante, se olhássemos bem de perto um se r humano, notaríamos imediata­
como obra de arte , uma declaração de beleza. Além disso; acredita-se que, q uan. mente que ele é um holograma único em si mesmo; contido em si mesmo, ge­
do uma pessoa ollia fundo den tro da mandala, ela n:ro apenas e xperimentará as rador de si mesmo e conhecedor de si mesmo. Todavia, se tivéssemos de remo­
linhas, ·fluxos e mensagens da arte , mas começará também a penetrar no drama ver este ser de seu conte xto planetário, rapidamente compreenderíamos qu e a
simbólico que o desenho oferece. Como resultado, aquele que vivencia a man­ forma humana n:ro é diferente de u ma mandala ou de u m poema simbólico, por­
dala chega a apreciar e compreender n:ro apenas a paixão do artista original, que que no âmbito de sua forma e de seu fluxo residem informações abrangentes
serviu como t radutor das info rmações, mas também se reconhece ent rando no sobre vários conte xtos físicos, sociais, psicológicos e e volutivos dentro. dos quais
contexto unive rsal que a rnandala primorosamente apreendeu. Este é um exem­ ele foi criado. Dadas a um -ser hu mano as ferramentas ne cessárias para d ecifrar
plo perfeito da maneira pela · qual um dete rminado aspecto da vida permanece suas informações, e uma inteligência capaz de raciocinar sobre elas, poderíamos
como um todo em si mesmo, bem corno uma mina de informaçõe s r elativas a
determinar com precisão a natureza complexa e a identidade do planeta graças
algum todo maior e mais grandioso. N este sentido, a mandala-----··· é ·holográfica,
···---·- é à simbologia viva de uma de suas criaturas. Pode ríamos até mesmo estender essa
uma epifania do todo/parte.
discussão um passo além compreendendo que, provave lme nte, se ria possível iden-
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tificar a natureza deste planeta se tivéssemos apenas uma célula desse ser humano.. . De maneira semelhante, à medida que os metafísicos olham cada vez mais
talvez apenas um átomo... talvez um elétron ... talvez. uma unidade de tempo. fundo nos blocos de construção mais elementares do assim chamado mundo
A essa altura, eu também gostaria de sugerir que o tipo de racigcfi:ij2_9.!!_e "nlfo-físico" ou psicJ!ógico, também estã'o descobrindo que os mundos da ma­
� ser aplicad_o nl!_ compreens�o dos sistemas holográficos pãreCe-�ma curiosa téria e da energia, ou do corpo e da mente, na-o sa:o tã'o distintos como muitos
.
J!listÜra de _d.e.ct.11ção, in��ç�o, intuição,_ s��Sl!Ç_ãç, ê insig/!t. ,Como resultado dfs's6,"· de nós fomos levados a acreditar. De man eira igualmente semelhante, as partí­
proponho que dentro do arcabouço de compreenslfo desse novo paradigma per­ culas ou unidades básicas da consciência parecem sair de algum lugar da terra
cebemos a emergência de uma forma mais completa de raciocínio, que poderia energética do nunca entre esses dois estados extremos do ser. (Como discutirei
ser chamado de •:raciocínio holográfico". brevemente mais tarde, em minha seçlfo sobre o "tempo", matéria e energia só
É também impoitánte lembrar que o paradigma holográfico na:o é espe­ parecem existir como estados distintos no contexto ilusório onde O tempo foi
cificamente psicológico, matemático, quími��; físico o� .fi.iosófico..Em vez disso, interrompido, ou onde não há tempo, ou ainda onde a mente humana tenta con­
i._��pl<':�ffie!H_e .�Jll...sistema a. partir__dqqual. emergem _ex_ plicações,para os .váriosº gelar o tempo com pensamentos e câmaras fotográficas.)
fluxos e atividades que associamos com a vida e a consciénciª. No entanto, à foz O que essa questlfo �ugere é q�e os vários aspectos do universoqEre�sam-s;·
_ \
r desse. novo "iniradigmâ;. somos. f��ç;d�s--;--;��;ltl��-;;;;�it;-d� categorias cientí­ na forma de padrões d� mterferencia . energéticos .que,_ el!}�Or_a se_ fl:ÍSturem, per­
ficas puramente arbitrárias que têm sido estabelecidas. Isso porque, na realidade, manecem distintos. Esses padrõe�_.9,<?!1��!.!.1.•�!?��i.��-!11\.e .. c!_etf!ertl· süà · .iiitl.i: \
nlfo existem coisas tais como biologia ou psicologia ou física. Elas nada mais sao reza, seu. �Jlll.Q,.. seifesfifü;:-füá-·consistência. e, na realidade, .sua identid�d-e. Co- · \
que construções pl anejadas para facilitar o desenvolvimento e a articulaça:o do mo Buckminster Fuller uma vez propôs: "Eu pareço ser um verbo." --
conhecimento. Quando emerge um conhecimento ou uma informaça-o que nlfo 2) Cada aspecto do universo é, em si mesmo, um todo, um ser completo,
. um sistema abrangente por si mesmo, por "direito nato", contendo dentro de
J.Lajusta dentroâãscãtêgõriãs_é_. esqÜemà:s" é!ésses . éâinÍ;�;�-fi'ria m�is sentido nos
si um depósito completo de informações a seu próprio respeito. Essas informa­
?�baraçarmos a:i;.Lse.�-�ª.!UPPtdq_ qu._e âe�pr�zannos o novo corm�ciI?�n_to. E"sse'­
e, certãmérifo,-üin dós"desafios do paradigma holográfico. ções não existem necessariamente dentro de um sistema nervoso cenfiãrsob· a
Quais são, pois, os corpos básicos de significados que podemos extrair do �...fu.tgiJ?iJ.�-J�:órías;
energ,�_tiç� _ou vibratórias.
fti�i?_e_��:,'��-�ªi.s_�-�P.?��m
existir
· · · COITIO informações·
paradigma holográfico, e como essas informações nos permitem compreender
e, por isso, como podem servir a nós mesmos e a cada uma das outras pessoas · ·· Essa q��sÚ:Õ·· é -p�;ticularmente desafiadora por duas razões principais. Em
de maneira mais sensível e completa? No restante deste artigo, gostaria de par­ primeiro lu�ar, a ciéncia pré-holográfica propôs que há duas categorias gerais
tilhar algumas de minhas crenças e noções relativas à natureza e às. implicações de matéria: viva e na:o-viva. No âmbito desse arcabouço, presume-se qu·e os assim
desse paradigma. Desse modo; pretendo extrair as verdades mais elementares chamados sistemas "vivos" sejam um todo e sejam fundamental ou biologicamente
sobre as quais parece apoiar-se grande parte da teoria holográfica. Para o que inteligentes, ao passo que os assim chamados sistemas "nlfo-vivos" na-o o sa-o.
nos interessa aqui, prefiro fazer isso de uma man eira relativamente pessoal e oca­ No entanto, desde que se pode conceber todos os aspectos do universo existin-
\
do como expressões energéticas, a rígida fronteira entre sistemas vivos e na-o-vi- ,)
sional. Uma vez que estou apenas começando a entender realmente os vários signi­
vos desaparece de imediato e percebemos que tudo é plenamente vivo em algum I l
I
ficados e aspectos desse novo paradigma, minha intença-o nlfo é tanto a de "pro­
var" ou explicar totalmente esses resultados. Em vez disso, gostaria apenas de dis­ sentido muito fundamental.
cutir alguns dos pensamentos e sentimentos que venho explorando e tentando O segi.indo aspecto desafiante dessa questa:o tem a ver com o reconheci­
compreender face a esse campo de indagações altamente fascinante e, certamen­ mento de que �...EP.�to d�--�:1!,Y.e�o.,p_c>Qe . se_�._ ��n.l:i_e�i�o. Uma vez mais, a
te, controvertido ao extremo. partir do referencial pré-holográfico observamos uma espécie de "chauvinismo
A meu ver, há várias afirmações básicas sobre a vida e a consciência qu\: humano", que declara que se você tem dois braços, duas pernas, um cérebro de
emergem simultaneamente dessa teoria: certo tamanho relativamente ao peso do corpo, u_ma postura ereta, uma forma
1) Não existe, na realidade, uma coisa tal como energia pura ou matéria sexuada de reprodução, etc., então você é um ser e pode ser capaz de conhecimen­
pura. Cada aspecto do universo, ao que parece, mfo é uma coisa nem uma ntlo-coisa, to. Todavia, no domínio desse novo paradigma, todas as coisas na-o apenas esta-o
mas sim existe como uma espécie de expresslfo vibratória ou energética. vivas, existindo como um todo em si mesmas, mas também sa-o capazes de se
À medida que os físicos quânticos investigam cada vez mais profundamen­ conhecer por meios informacionais ou energéticos. Na:o estou sugerinçlo que uma
te os blocos de construção mais elementares com os quais é construído o assim pedra conhece a si própria da mesma maneira como eu me coruieço:.No.enta, nto, até
chamado "mundo físico", começam a descobrir que a fronteira entre o que é mesmo nas várias comunidades de animais e de insetos observam6s sistemas alter�a­
matéria e o que é energia nlfo é, em absoluto, uma fronteira muito clara. Em vez tivos de autoconhecimento e expressão diferentes daqueles que os seres humanos
disso, as partículas básicas da vida parecem existir em algum higar da terra do praticam. Por exemplo, a pedra poderia conhecer a si mesma de uma maneira
nunca entre esses dois estados extremos do ser. Os blocos de construçlfo da vida semelhante a um enxame de abelhas, que usam elaborados movimentos vibratórios e
parecem assemelhar-se mais a probabilidades vibratórias que a placas de madeira padrões energéticos para se comunicarem dentro do enxame destituído de um
ou a folhas de metal. sistema nervoso central e de propriedades lineares de comunicaça:o.

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Poderíamos também nos lembrar de que o mero tamanho nllo é um fator gráfica, tanto mais cônscia e inteligente ela será. Isso na-o é verdade. Tamanho
determinante na experiência da totalidade. .. um círculo é um círculo, na-o im­ não é o fator decisivo e detenninante na área da informaça:o e do conhecimento.
porta quão grande seja. Portanto, na-o apenas as mais ínfimas partículas atômi­ Na direção comunista, muitas pessoas acreditam erroneamente que cada aspecto
cas devem ser consideradas sistemas vivos, inteligentes e completos, como tam­ do universo é igual a cada um dos outros aspectos. Isto é igualmente falso. Cada
bém devemos reconhecer o planeta Terra, o Sistema Solar e a Galáxia como to- unidade holográfica é, simplesmente, ela própria e, enquanto está consciente
talidades vivas e auto-inteligentes num nível energético fundamental. de cada um dos outros aspectos do universo, ambos na:o sa:o necessariamente
3) Cada aspecto do universo parece ser parte de algum todo maior, de um os mesmos.
ser mais grandioso e de um sistema mais abrangente. Se meus dois primeiros pon­ 5) No dmbito do paradigma holográfico, o tempo não existe como um
tos são válidos, então este terceiro parece seguir rapidamente seus passos. Por­ tique-taque de momentos que se afastam viajando linear e perpetuamente do
que, quando concebemos cada aspecto do universo, na-o importa ·qua:o pequeno "agora" para o "daqui a pouco". Em vez disso, o tempo poderia muito bem exis­
ou grande ele seja, como sendo algo vivo e vibratoriamente inteligente, devemos tir multidimensionalmente, movendo-se em muitas direçaes simultaneamente .
também compreender que o universo é composto de um número na-o-abrangível Essa noção nos faz lembrar de que aprisionamos o tempo com nossos inte­
de conjuntos, subconjuntos e sistemas inter-relacionados. Contanto que o uni­ lectos e conectamos o. conceito de tempo às nossas próprias crenças a respeito
verso se revele como ilimitado, podemos esperar que sempre haverá esquemas da decadência biológica e, portanto, da morte da personalidade. Se retroceder­
holográficos maiores e mais grandiosos dentro dos quais outros sistemas exis­ mos, afastando-nos dessa ilusão, poderemos começar a vivenciar a multidirecio­
tam. Como se isso não bastasse, somos então postos frente a frente à estonteante nalidade e as propriedades misteriosamente flexíveis do tempo. Enunciando de
noção de que nosso universo sem limites poderia ser apenas urna minúscula par­ uma maneira simples, cada. momento ou aspecto do tempo parece existir sem­
tícula atômica dentro de algum outro sistema holográfico incompreensivelmen­ pre e por toda parte. Desse modo, o tempo é uma dimensa-o (ou sa:o muitas di­
te imenso. mensões) cheia de plenitude e de vida, onde cada momento coexiste, numa rela­
Essa noção em particular sugere o tradicional fenômeno do microcosmo/ma­ ção inteligente e holográfica, com cada um dos outros momentos.
/ crocosmo: uma vez que cada sistema é urna expressa:o da dinâmica de suas partes, Além disso, urna vez que, dentro desse arcabouço, o tempo também pode
_
I
cada sistema holográfico subordinado compõe-se, portanto, de muitos outros ser considerado uma expressa-o energética ou vibratória, cada aspecto do tempo :
sistemas completos, que, dentro desse conjunto maior, s:ro agora expressos co- também seria algo vivo, total, capaz de conhecer a si próprio e completamentc0
rno partes. Além disso, uma vez que agora vemos que cada todo pode conter vá­ informado a respeito de todos os outros aspectos do universo.
rias partes, e que cada todo é, também, fundamentalmente auto-inte.ligente, se­ A essa altura, somos forçados a efetuar uma revis:tff completa das imagens
gue-se daí que cada sistema holográfico é energeticamente capaz de conhecer e dos símbolos pré-holográficos que, habitualmente, associamos às trés dimen­
todas as suas várias partes. sões do espaço e à progressa:o linear do tempo, pois eles simplesmente não se
4) Desde que cada aspecto do universo se expressa vibratoriamente, e que· encaixam. Em vez disso, espaço, tempo e expressa-o energética parecem estar
todas as expressões vibratórias se misturam dentro do{s) holograma(s)-mestre(s), inter-relacionados, como urna espécie de tira de Moebius multidimensional", sem­
cada aspecto do universo contém conhecimentos sobre o(s) todo(s) dentro do(s) pre se retorcendo, movimentando-se e dobrando-se sobre si mesma sem todavia
qual(is) ele existe. Além disso, uma vez que a expressão vibratória de cada unidade dirigir-se absolutamente para lugar algum em tempo algum.
holográfica é também um enunciado de pura informação, podemos esperar que O último ponto que eu gostaria de levar em consideraça:o com relaça-o ao
cada aspecto determinado tenha a capacidade de conhecer intimamente cada paradigma holográfico é o fato de que, ao contrário do que venho sugerindo ao lon­
um dos outros aspectos particulares dentro do(s) holograma(s)-mestre(s). go deste artigo, esse paradigma certamente na-o é novo. Se fosse realmente novo,
·Portanto, cada parte ou aspecto do universo existe na:o apenas como urna enta-o as teorias subordinadas a ele seriam falsas. Mais propriamente, o que é novo é
afirmação individuada de si mesmo, como também essa mesma parte, na:o im­ nossa própria capacidade de conhecer, no nível da experiência, a natureza e as
porta quão pequena ou grande ela seja, contém dentro de si um depósito com­ possibilidades desse paradigma. Desse modo, podemos reconhecer diretamente
pleto de informações, que poderíamos traduzir para obter uma compreens:ro significados e aplicações desse paradigma na experiência que temos de nós mes­
básica a respeito da natureza eX:istencial do restante do universo. Colocando isso mos e do nosso universo. Lembro-me de um jogo de TV a que assisti quando era
de uma maneira simples, .cada parte n:ro é idêntica a qualquer outra parte, mas.
jovem. Chamava-se O;ncentration (Concentração) e funcionava mais ou menos
éJ-���9-�ente, capãzcle' confiecimêiffd;''e'é"Thteligênte�-íiõ-rnãls6ás!Co
assim: Havia um tablado dividido em trinta quadrados numerados. Cada com­
cio� .�e.!.!tido�!. a respeit dõs"oufrõs sistemas holograficàs •cteiitrõ'"dê"cújâ"prêsé�ça
o

ela existe. -
- -- --- ----·-·-··· -. ..... .. . ... .... .. . .... ··········-··-··--------·····-..._"' petidor devia apanhar dois desses quadrados. Removidas, essas superfícies nu­
_ meradas revelavam um pedaço de quebra-cabeça na camada de superfície seguinte,
..- . .Esse ponto em particular é, com freqüência, interpretado erroneamente ·�-,
em várias direções às quais eu, de maneira brincalhona, farei referência como sob essas duas regiões da superfície do jogo. Se os dois pedaços assim revelados
a direção "capitalista" e a direção "comunista". Acredita-se que, no equivoco estivessem relacionados de maneira significativa - se eles se combinassem - en­
capitalista, "o maior é o melhor" e, portanto, quanto maior for a unidade tão essas superfícies também eram removidas e ao competidor era dada a opor­
holo- tunidade de observar. mais duas secções subjacentes, embaixo do quebra-cabeça.
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111
Era nessa superfície primária que residia o último quebra-cabeça. À medida que aspectos inexplicados, ou parâmetros. No entanto, os parâmetros de um modelo
um número cada vez maior de pedaços eram explorados, combinados . e, final­ podem ser explicados por outro modelo. Desse modo, um número cada vez maior
mente, revelados, os competidores· tinham, à sua disposiçlfo, urna área cada vez de fenômenos pode ser, gradualmente, coberto com urna precisa-o sempre cres­
maior da superfície do último quebra-cabeça. Se um dos competidores fosse real­ cente. P9-! um mosaico de modelos encadeados, intercomunicantes. o ad�tivo
mente perspicaz, ele poderia adivinhar a natureza do quebra-cabeça antes que .�:?..º:!!Sfr!!Jl.''. @nca. _!, por isso, �pr(?Q!!_�g� __a Qllalqu er .,mQ,cMo ..in.di.vid.µÍÍi, rriºá{
todas as superfícies fossem removidas. póde ser aplicado apenas a uma cornqinªçao_ de.ro.ode!_os Il)µtuarnen te consistente�
De maneira semelhante, parece que a identidade holográfica do universo
e de suas partes não é diferente do último quebra-cabeça no jogo Concentration. nfn�urn _dôs quais é mais tunciamenta1 que os outros. chew -e�p��ssa isso d�endo'.
"Um físico capaz de enxergar, sem favoritismo, qualquer número de modelos
À medida que aprendemos cada vez mais a respeito de nós mesmos e da natu­ diferentes e parcialmente bem-sucedidos ·é, automaticamente, um bootstrapper."
reza da vida, há menos superfícies bloqueando nossa visito do quebra-cabeça em Já existem vários modelos desse tipo, indicando que o programa do bootstrap
seu todo. Entlro, à medida que o quebra-cabeça toma-se cada vez mais disponível, de hadríons será, muito provavelmente, realizado num futuro na:o muito distante.
algumas pessoas o adivinharao- ou o entendera-o mais depressa que outras. Isso A imagem de hadríons emergindo desses _modelos de bootstrap é freqüentemen­
também acontece com o paradigma holográfico. Ninguém o inventou, pois ele te resumida nesta provocativa frase: "Cada partícula consiste em todas as outras
sempre existiu, e ninguém o construiu, pois ele já estava feito. A tarefa de com­ partículas." Não se deve imaginar, no entanto,_qtJe_. cada hadríon contenha to­
preender ou de conhecer o pleno significado desse paradigma e de traduzir esse dos os outros num sentido clássico, estático(!;I,ad_ r__í<?i{s>na-o � ,entidades sepa­
entendimento para nossa experiência em. progresso é a tarefa que está diante de radas, x:r.ias t�?_ro�-�-�!"��-�ter-:e.l�c,io�31�9�, envolyi�_E.1:_lrg_p_!.,���-�2...Qi.n,â:
nós. Felizmente, este pequeno artigo contribuiu de algum modo para esse fim. mico progressivo. Esses padrões - n[o se "contêm" uns aos outros; mais propria:
mente, eles -s;· "envolvem" uns aos outros de um certo modo. a que se pode dar
um significado matemático preciso, mas _que não se pode exprimir facilmente
Holonomia 1 e Bootstrap em palavras.
Fritjof Capra A imagem bootstrap de uma teia interconexa de relações, na qual as par­
.tículas se mostram dinamicamente compostas umas das outras, cada uma delas
O propósito desta nota é assinalar a:laçlf� �_<_>_ncei_t�� �!1_!r�. °.� mode_!_� envolvendo todas as outras· apresenta, evidentemente muitas semelhanças com
-
ha.19._nf)rrii�gs .. d_e Bohm e de :f'.ribram e a abordagem bootst�ªE..� _ físicada,s_ Pl!�- os modelos holonômicos, No entanto, devido à sua natureza essencialmente di­
·1'i'culas; criada por Geoffrey Ç.li.ew.2 · ··· · · · ·· · · ·· · nâmica, vai além ·da analogia com o holograma. Partículas subatôrnicas sao pa­
...,�· ..A base da abordagem bootstrap é a idéia de q�e a natureza ºnão pode ser dreies dinâmicos que só podem ser descritos num âmbito relativista, onde espaço
reduzida à entid�des fundamentais,: como bÍocÓs de consfriiçã"ó fünáaÍnemãl,-­ e tempo estlfo amalgamados num continuum quadri.dimensional. A imagem es­
-
cia matéria, "rriâs' 'tern' ··de 'sér' inteii:_mente entendida por iritériniciíÔ-da ·autõêon'.
a
tática, nã'o-relativista, do holograma não é adequada para descrever suas proprie­
sistência. Tudo-nã1íska-·tem êlit decorrer unicamente da exigêncfa'·iie- qucf sêu"'s" dades e suas interações. Por essa razão, o universo não é, em definitivo, um ho­
é'ó:i:i:ip�nentes sejam consistentes uns com os outros e consigo mesmos. A filo­ lograma, como às vezes se afirma erroneamente.
sofia bootstrap não só abandona a idéia de blocos de construça:o fundamentais As limitações da analogia com o holograma foram claramente reconheci­
da matéri� mas também ���!t� 1.1.enhuma entidade fundamenial, seja ela qual das por David Bohm, que prefere usar o termo holomovirnento para descrever
for - nem leis fundamentais, e nem equaç_ões ou prig_c:ípjos, O universo é con­ a natureza holonôrnica e dinâmica da realidade. As idéias de Bohm, na verdade,
cebido como uma teia. qinâmicíide-êventÕs inter-reiacionados. Nenhuma das pro­ v[o além do atual arcabouço do bootstrap de hadríons. Em cada estágio da abor­
priedades de qualquer pai-te . dessa teia é fundamental; todas elas seguem-se das dagem bootstrap, temos de aceitar alguns aspectos inexplicados da nossa teoria.
propriedades das outras partes, e a consistência total de suas inter-relações mú­ Esses aspectos sao tratados, temporariamente, como "fundamentais", mas es­
tuas determina a estrutura de toda a teia. pera-se que emerjam, eventualmente, corno uma conseqüéncià necessária da au­
Na física das pa,rtículas, a abordagem bootstrap é atualmente aplicada à toconsistência. Num âmbito subseqüente, mais geral, alguns dos conceitos que
descrição dos;'.hadi-íons;;ou partículas sujeitas às interações fortes. o "bootstrap foram previamente aceitos sem explicação serao igualmente incorporados ao
de hadrfons" éfoimulàd;--na éstruhiiá de-·umate.Ôria.charn"á"da teÕria da matriz S, bootstrap, isto é, ser[o derivados da autoconsistência global. O conceito de es­
e seu objetivo é derivar todas as propriedades dos hadríons e d. e suas interações paço-tempo relativista desempenha o papel de tal conceito "temporariamente
unicamente da exigência de autoconsistência. fundamental" na formulação presente da teoria da matriz S, e o trabalho de Bohm,
Os fenômenos envolvendo hadríons são tão complexos que não há, de ma­ embora usando um formalismo diferente, pode ser compreendido como uma
neira alguma, certeza de que urna teoria matemática dos hadríons, completa e tentativa de realizar um bootstrap do espaço-tempo e usar alguns conceitos "fun­
autoconsistente, venha a ser descoberta. No entanto, pode-se prever uma série damentais" da mecânica quântica.
de modelos parcialmente bem-sucedidos e de alcance menor. Cada um deles des­ Desse modo, o bootstrap de hadríons funciona dentro de um âmbito mais
tinar-se-ia a· abranger apenas parte dos fenômenos observados e conteria algum limitado, mas representa, contudo, uma· inovação radical se comparada com as

112 113
abordagens "fundamentalistas" adotadas pela ma10na dos físicos. Bem recen­ célula do corpo codifica todas as informações necessárias para reproduzir o corpo
temente, ocorreram vários desenvolvimentos importantes na teoria da matriz S, inteiro, qualquer mente recapitula todos os eventos· cósmicos. Aquilo que cha­
que trouxeram resultados extremamente encorajadores. Um dos maiores desa­ mamos de PES e de experiência paranormal pode ser apenas o nosso mergulhar
fios ao bootstrap de hadríons sempre foi a necessidade de explicar a "estrutura nas dimensões intemporais que elaboram a estrutura holográfica de nossas men­
quark" dos hadríons sem ter de presumir - como o faz a maioria dos físicos de tes. A ciência e o misticismo sugerem que o self pode ser onipresente. A mente
partículas - que os quarks sa-o os blocos de construçlfo fundamentais de que não conhece barreiras. No próprio centro do self, acontecimentos eternos, even­
os hadríons sa-o feitos. Um grupo de pesquisadores do Lawrence Berkeley La­ tos vibratórios na dimensão atômica e na dirnensã'o astronômica ressoam dentro
boratory, liderados por Chew, foi há pouco bem-sucedido em derivar resulta­ de nossas mentes vinculadas ao tempo. Como dizia Platão, "o tempo é a imagem
dos característicos dos modelos quark sem qualquer necessidade de postular a móvel da eternidade".
existência de quarks físicos. Esses resultados geraram um tremendo entusiasmo O corpo é um museu vivo de história natural, no qual todo o drama da
entre os teóricos da matriz S. Acreditamos agora que seremos capazes, num futuro evoluça-o é recapitulado. Estudos sobre o desenvolvimento do feto mostram que,
próximo, de ir além do modelo quark; de realizar, por assim dizer, o "bootstrap da concepção ao nascimento, uma criança passa por todos os estágios da evolu­
do quark". ção. A caminho de nossa forma humana, atravessamos a hierarquia evolucionária.
Ao se obter esses resultados, o avanço decisivo foi feito quando se passou Antes que em nós cresçam pulmões, ternos brânquias. 'Glen Doman, do Toe Ins­
a reconhecer a noção de ordem como um novo e importante ingrediente da física titutes for the Achievernent of Human Potential [Institutos para a Realizaça-o
dos hadríons. Os padrões quark emergiram como uma conseqüência da combi­ dó Potencial Humano] mostrou, ao trabalhar com crianças com danos cerebrais,
naça-o dos princípios gerais da teoria da matriz S com o conceito adicional de que se não rastejarmos sobre nossos ventres como cobras, e se na-o engatinharmos
ordem. A importância da ordem na física dos hadríons é ainda misteriosa, e ainda como cachorrinhos, a medula, a ponte de varólio e o mesencéfalo, os assim cha­
nao se sabe plenamente .até onde ela pode ser incorporada na estrutura da ma­ mados cérebro reptílico e cérebro mamífero, não se desenvolverão corretamente.
triz S. No entanto, é intrigante notar que a noça-o de ordem, que agora está emer­ fL!!!lf é um lugar de encontro da eternidade �,d<J Jernpo,.,.a-111ent\:-1!Q!2.��­
gindo como uma característica central da abordagem bootstrap, é também um fica no corpot:'vo!i.Íé°íoiíánó. Cada sísfomá nervoso conta a história de Belém.
aspecto essencial da teoria de Bohm. Para mim, isso é mais uma indicação de que Ãi, i�formi°çõés-éôdificadas ci� cosmos estão encarnadas em cada corpo histórico.
as abordagens de Bohm e de Chew poderão muito bem se fundir no futuro. Um ser humano é uma porta para o além.
Quando a questão do self é colocada no contexto da visa-o místico-cientí­
fica do self cósmico-evolucionário, as perspectivas e as possíveis aventuras de
Amor-Próprio e Conexão Cósmica amor próprio são estonteantes. Quanto podemos aprender a partir de nós mes­
Sam Keen mos? Quanto das informações codificadas que residem em nossos corpos e mentes
pode ser recuperado e trazido à consciência? O que podemos saber de· aconte­
Os antigos tabus contra o amor-próprio, o amor pelo self, emergem d_a baixa cimentos em galáxias distantes e da sabedoria animal sintonizando-os dentro de
auto-estima, da egolatria, de uma noça-o degradada e equivocada sobre a natureza nossos próprios sistemas nervosos? Podemos fugir da prisa-o do tempo e do es­
do sei[ humano. Sempre houve uma batalha entre ortodoxia e misticismo. O orto­ paço e viajar para o interior do que está além, e que é a fonte de onde todas as
doxo nos aconselha a esquecer o self, a obedecer ãs leis, a executar os rituais e a coisas fluem? Podemos viajar no tempo, para trás e para à frente? Tão logo re­
permanecer dentro dos limites dos tradicionais papéis sociais. Os místicos afir­ conheçamos que o self não é um mero prisioneiro do mundo dos fenômenos,
mam que o autoconhecimento é o caminho para a libertação. "Entre dentro de deste tempo e deste espaço, deste corpo, as possibilidades tomam-se infinitas. A
si", eles nos dizem. "Quanto mais se aprofunda na entrada, mais perto da saída. aventura do autoconhecimento leva-nos até as margens de todos os desconhecidos.
O reino de Deus está dentro de você. A eternidade está em cada grão de areia." Até onde podemos viajar? Quem sabe! Estamos no início de urna nova
Pela primeira vez num século, a ciência e a religia-o sã'o companheiras numa era de descobertas. O casamento da ciência com o misticismo abrirá novas possi­
aventura de descoberta cósmica. O misticismo e a física estão fazendo causa co­ bilidades e liberará potencialidades que mal podemos imaginar. Podemos ser ca­
mum. Pesquisas sobre o cérebro esta-o confirmando as mais extraordinárias visOes pazes de prever um pouco do futuro levando a sério as histórias sobre poderes
do misticismo perene. Parece que a evidência e a experiência mística comportam, extraordinários (siddhis) que eram atribuídos aos antigos iogues e místicos.
ambas, a noção de que cada pessoa é um microcosmo do macrocosmo. As metas da auto-exploraça-o acham-se além de nossa imaginaça:o mais fan­
Considere a imensidão do self que cada um de nós é convidado a habi­ t;istica, mas, pelo menos, os primeiros passos nesse caminho sã'o claros. A via­
tar e amar. gem dentro das dimensões cósmico-evolucionárias do self nã'o pode começar en­
A mente é um holograma que registra toda a sinfonia dos eventos vibrató­ quanto não ousarmos nos aprofundar sob as imagens do self que nos foram dadas
rios cósmicos. Karl Pribram, Itzhak Bentov e outros esta-o descobrindo que a men­ pelos nossos pais e pelos nossos semelhantes. O primeiro passo__ � .3: rt1P..tt1.rn _da i!'
te é urna rede neural que codifica, sob .uma forma holográfica, todas as informa- li
[!_eJ:§,Q!l{I..,_da couraça _d9_ ç,ar;í.ter criada pelo nósso-p�ôêêssõ-"riémnal'.' de. cies.eq­ I'
· ções do universo. Uma estrela explode e a mente treme. Assim corno qualquer volyimen to-psicÕÍógi-�o. Devemos ir além do limtar que é guardado pela buljiâi e
, .. �·· . . .. -·- \ - ,i1,
j!
114
115 i!
e pelai !_e[gg_nhaj(os guardia:es da consc1encia, que representam os valores e as poss uem conhecimentos mais detalliados sobre as vesículas sinápticas e os "po­
visões dos Gigantes (Pais e Autoridades). No teatro mágico, no rincão afastado tenciais de onda lenta" (Pribram, 1971), e sobre as transformadas de Fourier
da personalidade, descobrimos os muitos papéis que a pérsona foi proibida de que seriam, ao que parece, os princípio s-chave por meio dos quais a mente opera'.
representar. Sob o caráter, descobrimos os eus reprimidos: o assassino, o p/ayboy, As células nervosas são, na aparência, semelhantes a árvores, e geralmente
a vítima, o santo - as muitas faces de Eva, ou de Ada:o. t _some.nte depois de um dos ramos do corpo da célula é mai s longo que os outros. t O axõnio, que
atravessapnos esse teatro da multiplicidade. dCJ�. papéis do self que podef!1Ô(�ápfIT. transporta corrente elétrica desde o corpo da célula até seu ponto terminal, ou
'passagem para além_ do segundo limiar, onde tem início.a jornada nas��-imens�-� sua "ponta do pé", que se acha em estreita proximidade com outras células. Se
°

6"6sinico-e".9lµçionária s c:\C> si;lf. E que a aventura seja infinita. A esta àitura de a célula adjacente é um outro neurônio, essa zona de interaça:o é denominada
míriiiã""j1rópria vida, nada mais posso dizer. Vejo o horizonte claramente, mas sinapse, sendo o es paço entre os dois neurônios a fiss ura sináptica. Muito impor­
tenho apenas alguns sonhos, presságios e· mensagens de outros viajantes para me tante é o fato de que o espaço entre esses neurônios é da ordem de 200 A a 300 A
guiar dentro desse desconhecido. grandeza ta:o diminuta que está na faixa considerada pela física quântica. N;
atual modo de entender, a transmissão de impulsos nervosos através dessa fiss ura
tem iníci o num impulso nervoso que atinge a "ponta do pé" e provoca a libera­
· Fatores do Princípio da Incerteza em Modelos ção de "pacotes" de neurotransmissores químicos das vesículas ou bolsas sinápticas,
Holográficos de Neurofisiologia localizadas na pré-sinapse. Na verdade, ainda não .:se compreende qual é o pro­
.cesso exato, pois a atividade sináptica delicadamente equilibrada e extremamente
volátil só agora começa a ser estudada em te rmos de física quântica. Variações
Kenneth R. Pelletier

Os modelos holográficos da consciência humana requerem que os neuro­ lentas e escalonadas do potencial aumentam e diminuem continuamente nas jun­
fisiólogos levem em consideração eventos da mesma ordem de grandeza que aque­ ções entre neurônio s. Esses potenciais podem ser influenciados por quantidades
les de que trata a físic·a quântica. N:ro há nada inerente em nenhum aspecto das infinitesimais de energia, da ordem de grandeza dos eventos quânticos. O interes­
ciências naturais que exclua a consideraçao da interface entre a neurofisio!ogia sante é que, nas primeiras explorações do córtex por microscopia eletrônica, os
("matéria") e a fenomenologia da consciência ("mente"). Pelo contrário; parece pesquisadores esperavam encontrar alguma coisa excepcional a respeito da orga­
cada vez mais necessário postular a presença de tais entidades não-físicas nas áreas nização sináptica em áreas relacionadas com as funções superiores. Presumia-se
mais avançadas da ciência, inclusive da matemática, da física e da neurologia que essas células ostenta ssem uma propriedade que n[o seria encontrada nas cé­
(Young, 1976). Esses pesquisadores que tentaram penetrar no mistério último lulas da coluna es pinal. No entanto, em anos recentes, eles concluíram que a na­
da mente em interação com a matéria concentraram-se nos eventos quânticos tureza básica da sinapse é constante ao longo de todo o sistema nervoso (Pelletier,
que ocorrem dentro dos neurônios do cérebro, e entre eles. 1978). De fato, todas as sinapses são semi;:li}ante.s.._�i;n suas características essen-
Por exemplo, no início do desenvolvimento da teoria da ·mecânica quân­ � iai e en :i se l1_ � o��- Parece que �a:Ó· Jii díferençà �;;;�;ciais ·'
tica reconheceu-se que o Princípio da Incerteza de Heisenberg (que governa as entre as partes do sistema nervoso que, à semelliança da coluna espmal, estao
q�}ia.f!. � ffi��!9.:CJ!,!fpÍji.
r
s

partícula s "materiais" elementares) tinha uma relaça:o direta com o problema associadas com atividades autônomas e aquelas que, à semelhança do córtex, 1
filosófico ·do livre-arbítrio. Wemer Heisenberg demonstrou que essa incerteza esta:o as sociadas ao trabalho da mente, -à formaçao de imagens e a outros desses
não é simplesmente uma questão das limitações física s dos instrumentos atuais. fenômenos da consciência de ordem mais elevada.
Ele afirmou que a imprecis[o numa medida (posiçao ou momentum de uma par­ Comentando sobre a convergência entre a física quântica e as inovaçõe s
tícula elementar) multiplicada pela imprecisão na outra nunca pode ser menor no campo da mediçã'o neurofisiológica, o neurologi sta John C. Eccles assinalou
que a _constante de Planck (11: = 6,77 x 1027 ) (Heisenberg, 1971), de modo que que a vesícula sináptica é uma estrutura aproximadamente esférica de 400 Â de
a configuração total não é determinista. Niels Bohr sugeriu que certos pontos·-cha­ diâmetro, e que Eddington pensava que o princípio da incerteza fosse aplicável
ve nos mecanismos reguladores do cérebro talvez fo ssem a tal ponto sensíveis·e a um objeto desse tamanho, tendo calculado que a incerteza na posiçao desse
tifo delicadamente equilibrados que se poderia considerá-los como sendo de na­ objeto seria de cerca de 50 Â em um milis segundo. Esse valor é extremamente
tureza mecânico-quântica. - ou ·�nã'o-deteiminista" - e, por isso, poderia ser significativo, uma vez que 50 Â poderia ser a ordem de grandeza da latitude em
considerada como os mecanismos físicos do livre-arbítrio do indivíduo (Bohr, que a consciência poderia operar interagindo com os mecanismos neurofisioló­
1958; Capra, 1975). Outro físico, sir Arthur Eddington, examinou a possibili­ gicos do cérebro dentro dos limites permitidos pela incerteza. Grosso.modcJ,. es ses
dade de que a mente controlasse o cérebro dentro dos limites permitidos pelo 50 Â poderiam ser uma medida do "livre-arbítrio" ou da "influência da mente".
Princípio de Heisenberg, embora eventualmente descartasse a idéia, uma vez que De acordo com Eccles, "é possível,· pois, que a amplitude de comportamento
considerava o alcance da influência demasiado pequeno para afetar o cérebro permitida a uma vesícula sináptica possa ser adequada para_ levar em conta a ope­
físico (Eddington, 1935). Es peculando no contexto do conhecimento neuroló­ raçã'o efetiva das pressupostas 'influências da mente' sobre córtex cerebral ativo"

gico de meados da década de 30, Eddington tinha em mente o neurônio, que (Eccles, 1970). Pesquisas experimentais realizadas por Eccles e por outro s neu­
é um objeto relativamente grande. Atualmente, no entanto, os neurofisió!ogos rol ogistas forneceram dados que autori'zavam um grande aperfeiçoamento do

116 117
1 �I

conceito de mente efêmera atuando sobre matéria estática; propuseram um mo­ entre os herrúsférios esquerdo e direito espelliam um compromisso· com o pen­
,jl
delo de interações indizivelmente sutis entre campos energéticos infinitesimais samento dualista e dicotômico.
ocorrendo no espaço quântico. Escrevi extensamente a respeito dessas idéias, e proclamei a possibilidade
Hipóteses avançadas referentes à funçl!o cerebral nl!o mais empregam me­ de que a exaltàção do pensamento e de modos de conhecimento, de educaçl!o e de
táforas hardware, que comparam o cérebro a uma máquina, ou mesmo a um com­ psicologia metafóricos (cérebro direito) bem como racionais (cérebro esquerdo)
putador sofisticado. ·Em vez disso, pensa-se que o cérebro funciona em virtude poderia levar â experiência de um salto quântico para dentro de domínios mais
de "campos de influência espaço-temporal". Novamente, como Eccles observou: holísticos. Está claro agora que meus apelos pelo holismo, bem como os de ou­ 1
;!·'
tros educadores, psicólogos e neurofisiólogos, ficaram perdidos em meio à acei­
tação reflexiva das idéias referentes ao córtex lateralizado como um novo prin­ ·'•
... esses campos de influência espaço-temporal são exercidos pela mente sobre cípi� de manejo newtoniano. Em resumo, a dicotorrúa cerebral esquerdo/direito :�
o cérebro em ação determinada pela vontade. Se alguém usa a expressiva termi­
era politicamente mais cativante que os apelos pelo holismo. O estado de divisa:o 11
nologia. . .. o "fantasma" opera uma "máquina" que não é feita de cordas e po­
cerebral esquerdo/direito deteriorou-se rapidamente, na feira educacional, em

lias, válvulas e tubulações, mas. de microscópicos padrões de atividade espaço-tem­
poral na rede de neurônios tecida pelas conexões sinápticas de dez mil milhões slogans e instrumentos de fanatismo. {'!

de neurônios, e mesmo assim operando apenas sobre neurônios que são momen­ A especialização dos hemisférios na-o representa um deslocamento de pa­
taneamente equilibrados na imediata vizinhança de um nível quase no limiar de radigma, mas o modelo holográfico do cérebro representa. Durante muito tem­
excitabilidade. Parece que é o tipo de máquina que um "fantasma" seria capaz
de operar, se por fantasma entendemos, antes de mais nada, um "agente" cuja
po, a função cerebral foi metaforicarnente identificada a conjuntos de circuitos
ação' escapasse à detecção até mesmo pelos mais delicados instrumentos físicos mecânicos. A metáfora do computador parece representar, supostamente, a afir­
(Eccles, 1970). mação "definitiva" a respeito do cérebro. Mesmo nos modelos lateralizados, a
separação de especialidades foi rapidamente traduzida para computador digital
(herrúsfério esquerdo) e computador analógico (hemisfério direito).
Um "fantasma" que escapasse e que pudesse se esquivar ã detecção pelos A dádiva do modelo holográfico é que suas metáforas sa-o mais apropria�
instrumentos físicos, dentro dos limites do princípio da incerteza, certamente damente ligadas à ecologia. Ou seja, quando cada pessoa adquire experiências
seria uma causa de desespero se as investigações sobre à natureza da consciên­ que nE._ipl Y?.diflç.�das ,.dentro do_ cérebrci;· é. estabelecidó uin Cà111p_o de_ enêrgia.
cia tivesse de se limitar ã observaça:o física de eventos no cérebro. Por sorte, a mÜÍtidimensionaj .. Esse padrão de energia (isto. é, o pensamento) é. sirriultaneã-=­
mente é capaz de refletir sobre si mesma e, portanto, de transcender esse lirrúte Ínente. gerado"'àó longo de todo o cérebro. Outro pesquisador, Ralph Abraham,
e proporcionar outra abordagem, graças ao estudo sistemático da fenomenologia dá a essas confi_gurações de energia o nome de má�ron.s.
da consciência. Um (rÍÍácro�)pode ser concebido como·��- padrão tridimensional de energia,
altamente �sp�cífico. Abraham sugere que um pen�eni"Õ-é Ü�-gerac!Õr de má�
erans. Além dissÕ, também sugere que os mácrons estabelecem uma espécie de
Conhecimento Holonômico ecologia energética no cérebro que favorece a fixaça-o de certas configurações
Bob Samples neuroquírrúcas. Se uma pessoa repete um deterrrúnado mácron de pensamento,
ele estabelece o que chama de memória de longo prazo. Se os mácrons na:o sa-o
Não há dúvida de que a emergência do cérebro e do universo holográficos repetidos, então se trata de memória de curto prazo.
representa a mais instigante das mudanças de paradigma que ocorreram nos tem­ Além de tais especulações, é interessante notar que os mácrons propostos
pos modernos. Combinar idéias a respeito de como o cérebro cria a consciência, são altamente regulares em sua configuraça-o geométrica básica. Em outros con­
e de como essa consciência está ligada, casada, ao universo é uma terrível tarefa. textos, diferentes dos do cérebro, os mácrons também podem ser analisados ma­
Mas é precisamente isso o que Karl Pribram e David Bohm esta-o fazendo. tematicamente.
Neste artigo, explorarei apenas uma pequena faceta das implicações dessas O traballio de Pribrarn cria um modelo do cérebro compatív'el com as idéias
idéias.. . as implicações que eu reconheço no conhecimento, na aprendizagem básicas sobre o mácron. Mas ainda mais instigante é a maneira como o holograma
e na criação conforme ocorrem no processo da educaça:o. De início, parecia ani­ representa o mais sofisticado dos sistemas físicos para armazenamento, recupe­
mador o fato de que um banco de dados emergia de pesquisas neurofisiológicas ração e transformação de dados (isto é, da experiência). Mesmo assim, ainda me
relativas à lateralização de funções no córtex cerebral. Isto é, a noça-o de que as sinto apreensivo quanto às lirrútações decorrentes de usar metáforas físicas para
funções dos hemisférios esquerdo e direito do cérebro sa:o completamente d.ife­ sistemas biológicos: No entanto, estou disposto a aceitar a idéia de que o holo�--1
rentes. Essas idéias tornaram-se muito populares na arena da educaça:o pública. grama poderia ser a mellior metáfora física disponível para explicar um sistema '.
Workshops, seminários e conferências públicas sa:o muito freqüentadas por edu­ biológico infinitamente mais complexo ... o cérebro. De uma maneira desajeitada�­
cadores. Entretanto, uma visão mais refletida sobre a popularidade de tais idéias ainda somos vítimas do paradigma newtoniano, uma vez que ainda é Newton quem
sugere uma tendência cultural bem conhecida, que os inclina para .as confortáveis está de posse das pesquisas.
dicotomias das visões newtonianas do passado. As funções cerebrais divididas
118 119
�---·
A tremenda sagacidade das pesquisas de Pribram permanece seu próprio sões redutivas do pensamento e da neurofisiologia nos da:o uma mentalidade do
farol. Sua decisão de usar a matemática das transformações de Fourier cria, em tipo: Sim, Mas! Karl Pribram nos dá outra, do tipo: Sim, E...
si mesma, uma brilhante metáfora. A expressão gráfica dos resultados dessa trans­
fonnação é uma mandala - uma expressão, em duas dimensões, de simetria radial
no âmbito dos limites de certas relações matemáticas. Outro dos atributos da� Holonomia e Parapsicologia
"mandalas" de Fourier é o fato de que o padrlio inteiro pode ser regenerado a Stanley Krippner
partir de qualquer conjunto fragmentário de d.ados que se encontrem dentro dos
limites. do gráfico. Isso toma os mecanismos· que expressam a análise dos dados Assinala-se, com freqüéncia, que a parapsicologia possui uma base concreta

'!
metaforicamente compatíveis com o modelo. sobre a qual ainda tem de ser construída uma explicaçlio. Ao longo dos anos, vá­
Para aqueles de nós interessados pelo pensamento humano, Pribram, rios escritores propuseram explicações físicas para os fenômenos parapsicológicos,
1 1 Bohm, Abraham e - menos preocupados com a racionalidade do hemisfério as quais, geralmente, tinham a ver com campos eletromagnéticos ou diversos tipos
i
esquerdo - um punhado de outros, estão dando . uma espécie de consentimen­ de forças energéticas. No entanto, a enigmática habilidade da.percepça:o extra-sen­
to para o holismo. Meu próprio trabalho explorou resultados mais do que teo­ sorial e da psicocinese para transcender as fronteiras ordinárias do tempo e do es­
rias. Durante mais de uma década, com a ajuda de fundos da National Science paço traz problemas para os que esposam modelos explicativos baseados na energia.
Foundation, meus colegas e eu exploramos a tendência de pessoas de todas Talvez a PES e a PK pudessem situar-se melhor no âmbito do modelo ho:·-:
as idades para ·executar de maneira mais efetiva tarefas racionais toda vez que !ográfico da realidade descrito por David Bohm e Karl Pribram. Não é necessário
eram favorecidas formas de saber mais holísticas. Os modelos de cérebro late­ especular a respeito de como uma informaça:o pode viajar rapidamente do ponto A
ralizado ofereceram sustentáculo auspicioso embora temporário. Para um nú­ para o ponto B se essa informaçlio já se encontra no ponto B. · Não é necessário
mero muito maior de pessoas tomou-se . mais um utensílio de prestidigitaçlio especular como uma força no ponto Y pode exercer um efeito no ponto Z se as
que um modelo. faformações necessárias para ativar o objeto já esta:o presentes· no ponto Z. Se o
O trabalho de Pribrarn eleva-se acima dos hábitos newtonianos e ruma em cérebro é um holograma que interpreta um universo holográfico, a PES e a PK s:ro· ·
direçlio a um contexto "normal" ou "natural" para o holismo. Ele nos propor­ componentes necessários desse universo. Na verdade, os teorizadores holográficos
ciona a compreensão de que o padrão da experiéncia é copiado no cérebro todo teriam. de avançar a hipótese da existência da PES e da PK, caso os parapsicólogos
e não apenas localizado nas geografias redutivas do córtex, que foram conside­ não tivessem documentado cuidadosamente sua existência ao longo dos anos.
radas as preferidas. Com essa liberação neurofisiológica, nós, que nos dedicamos À medida que os detalhes da teoria holográfica vlio sendo elaborados, sinto
a profissões educacionais e psicológicas, somos encorajados pela teoria a aban­ que "unidades de informação" terão de ser definidas, e a maneirá como se dis­
donar nossas práticas redutivas. O behaviorismo pode ser encarado como um tribuem terá de ser discernida no cérebro e por todo o universo. Sob esse prisma,
tratamento de sintomas e nlio de causas. Pode ser concebido como. a imposiçao a concepção de sincroniciq�d�. de C. G. Jung, pode ganhar uma nova importân­
sobre a mente de mácrons pré-selecionados, ao mesmo tempo em que ficam re­ cia. De acordo -[oin Jung,. a sincronicidáde refere-se a uma relaça:o na:o-causal
duzidas as opções para auto-seleção. que liga dois eventos de modo significativo. Cada um dos eventos sincronistica­
O ingresso de Pribrarn nos novos paradigmas deve estar incompleto. O mes­ mente relacionados pode; é claro, ter ·seus próprios progenitores causais, mas
mo ocorre com outros exploradores que se postam no limiar do conhecimento. seu acoplamento produz urna coincidência "significativa" que faz sentido. E é
Einstein viu além do presente mas nunca agarrou o futuro. O que Pribram nos o elemento de significado que atrai a nossa atençao para aquelas unidades de in-.
oferece é um modelo de inclusão mental, em vez de exclus:ro. Ele aumenta a le­ formação envolvidas nos fenômenos PES e PK.
gitimidade de todo um leque de media mentais no processo de viver a vida. Ele Talvez todos os eventos estejam t[o intimamente relacionados que é to­
também nos impele para além do paroquialismo das vias convencionais de pro­ lice dividir o universo em suas partes. Todavia, os seres hum.anos tentam fazer
cessar a experiéncia. essa divisão, em parte para propósitos de sobrevivência. Quando um evento parece
O conhecimento holonômico é holístico. Deve exaltar tanto o n:ro-racio­ transcender essa divisão, os observadores desses eventos freqüentemente ficam
nal como o racional. É claro que os hologramas macrõnicos de Karl Pribram nos perturbados - sem compreender que foram eles próprios .que fizeram as regras
oferecem horizontes mais amplos, profundidades maiores, e alcances mais ele­ do jogo que estao jogando, um jogo que reflete mais a realidade superficial que
vados. O cérebro lateralizado deu-nos permissão para reconhecer e exaltar a di­ o Grande Holograma que é a verdadeira natureza das coisas. _;
versidade dos modos de conhecimento. O cérebro holográfico assegura a legiti­ Esse insight foi, durante séculos, objeto de apreço por parte ·dê·muitos filó­
midade simultânea da interconexidade desse conhecer. sofos orientais, e é significativo o fato de que Pribram foi amigo de Alan Watts,
·isso, basicamente, significa que podemos, de maneira legítima, entrelaçar, assim como Bohm é amigo de Krishnamurti. Mas a sabedoria oriental nao. leva ao
por dentro e por fora, todos os media mentais e modos de processamento com desenvolvimento da perícia tecnológica que permitiu ao Ocidente ganhar a fama de
muito menos trepidação. Está claro agora que a possibilidade de unidade holís­ árbitro da realidade. Chegou o momento de reunir os pensamentos oriental e oci­
tica no pensamento faz parte da estrutura e da funç:ro básicas do cérebro. As vi- dental; o modelo holográfico pode ser o veículo apropriado para esse propósito.

120 121
Se não existe o tempo ou o espaço , não existe o aqui ou o lá; os eventos psíqui­
A Edição Abreviada, Simplificada e Revista de Changing Reality,
cos e o sobrenatural podem ocorrer na natureza.
por Marilyn Ferguson
O dr. Pribram explica as ações paranormais da seguinte maneira: as c oisas
John Shimotsu
não são realmente sólidas, e portanto quando pensamos de uma certa maneira
(como alguns hindus e outro s o fazem) temos o poder de mudar aquilo que jul­
Aquilo que vemos está realmente lá? Ou é apenas .o que pensamos ver?
gamos ser real. Pessoas como Uri Geller po ssuem uma realidade que é diferente
E se não está lá, por que pensamos que o vemos? O que pensamos que é real,
da nossa po rque nela as co isas que pensamos ser impossíveis são possíveis.
a nossa realidade, pode ser diferente da verdadeira realidade. Para entendermos
Então você poderia perguntar: "Se isso é verdadeiro, por que todos nós
a nossa realidade, devemos entender o cérebro e suas funções, pois o cérebro é
vemos a mesma coisa?" Uma resposta é que nossos cérebros registram uma rea­
o órgão que computa o que pensamos e sentimos.
lidade relativa po rque foram estabelecidos pela nossa cultura e, desse modo, a
Talvez um do s maiores mistério s a serem decifrados é o de como o cérebro
computação matemática será similar. Se uma pessoa está drogada, isso distor­
funciona. Uma teoria muito em voga e muito surpreendente sobre isso está sendo
cerá sua computação de modo que ela verá uma realidade diferente.
pro posta pelo Dr. Karl Pribram, um neurocientista da Stanford. O Dr. Pribram
Você é um bom exemplo disso. Por que não consegue executar ações que
esteve envolvido e m muitas das mais importantes teorias relacio nadas com a pes­
consideramos paranormais ou sobrenaturais? Penso que é porque você não pensa
quisa cerebral. Ele propõe um modelo que abrange todas as áreas das funções
que pode. Você pode dizer que deseja fazê-lo, ou pode sinceramente querer fa.
do cérebro. Esse modelo é um hológrafo, e combina pesquisas sobre o cérebro
zê-lo, mas isso· não mudará o que você pensa subconscie ntemente. Nossa cul­
c om física teórica, cobre as áreas das percepções normal e paranormal e, tirando
tura diz que essas ações n[o seriam po ssíveis, de modo que é isso que você pensa ser .
as coisas do âmbit o do sobrenatural, explica-as como parte da natureza.
Para entender sua teoria, devemos, antes de mais nada, saber o que é a ho­ real. Para mudar sua realidade, você teria de alterar seus pensamentos mais íntimos.
l ografia. Ho lografia é uma forma de .fotografia. Nesse processo, o campo lumi­ A_ pro posta completa do dr. Pribram sobre o universo holográfico é fasci­
noso ondulatório espalhado por um objeto é registrado sobre uma chapa foto­ nante. Poderia ser a maior das revoluç(5es em pesquisa cerebral. O que é te oria
gráfica sob a forma de um padrão. Quando esse registro fot ográfico é colocado hoje poderá ser fato amanhã.
na frente de um feixe de laser, o padrão ondulatório o riginal é regenerado. Uma
image m tridimensional aparece, e qualquer pedaço do holograma reconstruirá
a imagem inteira. O Paradigma Holográfico e a Estrutura da Experiência
Talvez, à semelhança do holograma, no sso cérebro lide com as operações John Welwood
de decodificar, armazenar e exibir imagens. Para ver, ouvir ou fazer uso de ou­
tros sentidos, nossos cérebros, como o holograma, executam complexas compu­ Até agora, a maioria das discussões sobre o paradigma holográfico têm se
tações matemáticas so bre as freqüências das informações. E talvez, assim como mantido num nível conceitual genéric o, descrevendo transformações no cérebro
o u organizações de partículas subatómicas. 0....__gue falta é uma apreciação de co­
as ondas de luz viajam através do holograma, o s impulsos nervosos viajem através .
de uma rede de fibras finas nas células do cérebro. mo a estrutura da experiência ordinária pode ser orgàniza dasÕÕie ptiii.t"ípí6S--·
A seguir, o dr. Pribram afirmou que talvez o mundo seja um holograma. liÕ!Õgráúêos. "côstariã.de discutfr neste artigo a estrutura hoiográfica dessa ex."
Se isso é verdade, nã"o existe essa coisa que é a ·solidez; ela é apenas uma ilusão. péiiência';� também de fazer considerações a respeito de uma limitação inerente
Isso significa que vemos as co isas c omo uma criança vê um desenho animado, do paradigma holográfico com relaçã'o ao c onhecimento experimental. ,.
por meio de ilusões. Os hologramas são definidos, basicamente, como meios de armazenar in­
Durante muito tempo, o homem tem olhado para as coisas através de len­ formações em termos de uma rede de padrões de interferência, que representam
tes que as alteram para que possamos vê-las. Queremos ver uma amostra para a interação de freqüências de energia, tais como a das ondas de luz. Esses padrões
que possamos entender o que ela é. Mas, ao fazê-lo, não estaremos vendo b que de interferência são gravados no holograma de um mo do que não se assemelha
reahnente está lá. O cérebro po de muito bem ser a nossa lente, e podemos estar literalmente aos objetos que representam. Em vez disso, esses padrões de inter­
vendo uma realidade que foi limitada para que possamos entendê-la. ferência formam um "borrão [blur] holográfico", que não tem forma reconhe­
,...-- cível, mas que contém, em cada parte em que o fragmentemos, numerosos bits
--
Pribram também sugeriu que se víssemos a realidade sem nossas compu-
tações matemáticas executadas pelo cérebro, conheceríamos um mundo no do­ de informações sobre o padrão .inteiro.
mínio _das freqüências, sem tempo ou espaço, apenas com eventos. Ele diz que
as computações do nosso cérebro constro em a realidade física explicando fre­
qüências provenientes de uma dimensão além do tempo e do espaço. O cérebro O Significado Percebido Visto como Compressão Holográfica
é um holograma, explicando um universo holográfico.
Pelo fato de os nossos cérebros serem parte do grande holograma, eles têm A estrutura de um holograma fornece uma analo gia para aq uilo que expe­
acesso, sob certas condições, a todas as informações nos princípios de controle. rimentamos quando nos referimos ao nosso "experimentar interior", que Gendlin
122 123
(1962) descreveu em termos de "felt meaning" [significado percebido). Se per­ neira corno você age e responde a seu pai de momento a momento será grande­
guntar a si próprio como se sente agora, o que você obtém, quando se refere in­ mente afetada por esse felt sense global de fundo (que, no entanto, na:o é está­
timamente, pela primeira vez, ao felt sense [sentido percebido] com que experi­ tico, mas se mantém sempre mutável).
menta sua presente situaçao, é um todo indistinto [blurred]. Ou tente se referir Par_ec.e_.qu_e_ grande parte d{: nossa experi�ncia diária funciona dessa maneira·
ao íntimo felt sense que _você experimenta por uma pessoa em sua vida. Qual é holfstfé""a, Gendl� (1973b) exprime esse fato do se�inte modo:
o sentimento global que você tem a respeito de seu pai? Qual é, em seu todo, a
percepção que você tem dele? Sinta a qualidade global do seu relacionamento Aquilo que passa por nós é muito mais do que aquilo que "temos" [o explí­
com ele, sem se concentrar em pensamentos ou em imagens específicos. Observe cito]. .. Qualquer momento é uma miríade de riquezas, mas raramente arranjamos
que esse sentido total não tem fonna definida, mas é urna "qualidade de sentir" tempo para "p.ossuí-lo" ... A passagem por um simples ato envolve um número
enorme de familiaridades, aprendizagens, sentidos para a situação, entendimentos
bastante global. Se aquilo que veio â mente em primeiro lugar foi uma determi­ da vida e das pessoas, bem como as muitas especificidades de uma dada situaçã:o.
nada imagem, veja se consegue deixá-la ampliar-se num felt sense global indistinto. Tudo isso participa do mero ato de dizer "olá" de uma maneira ad equada a um
11::, Gendlin assinalou que esse felt meaning representa nossa interaçã'o com o amigo não muito íntimo. Nós passamos por isso, somos tudo isso, mas só conse­
=
mundo. Sentimos nossas situações aessa�mâri.êfrã global antes de .conseguirmos--·--. guimos "possuir" uns poucos pedacinhos focais disso. O sentimento de fazer J.i
�rtíêulá-ias ou deiineâ-las. Qjelt meànzni as�-�pieJJi.a:se a uma rede de padrões guma· coisa envolve nosso sentido da situaçtro total em cada momento, a despeito !
de não refletirmos foca/mente sobre ele como tal (pg.370, o itálico é meu). �,. ]
annterferénélã--foririadÓs 'e� iiôssã'(efaç«.9,,.cqIT1, 0° rnüricfo: ·o que é sentido �o
corpo implica o mundo (por exemplo, a 'tensão em seu estômago "contém" em
si urna detenninada situação do mundo). Além disso, nosso sentido da "situação total. em cada momento" vai além
do evento particufa�·-·qÜe está cié:ÔiréndÔ agora, Inclui também a m�neira com.�
Q_jj_lJ _rne_aning pode se_r c�ncebidc:> _cqrno uma rnanifestaçao_1 no nível da a i i n s s .
experiência,-da c.ornpréensão holográfica; onde muitos bits de informações fim� �ti· p ���:(r1:1.�p 9�� 4:npl�_ç t�.e�!.:._:.� : .\Í.s�� .!�La_ç,� ,a,t_trni�,,..em. nossa,orien- _
cionam todos juntos, corno uin todo. Por ex.ernplo, volte ao felt sense com que t�ça�t:'.'ri'.WP. 3:q_ futuro, bem__ corno em !11Uitas_ C>utras dirrl.ensoes. Corno afinna
·você pércebé o seu pai. Observe ·agora que você não apenas pode ter essa per­ BÓhm (1973) ao falar sobre o ar;;,iazénainento hol�gi-it'co das ondas de luz: "Na
cepção global dele desassociada de qualquer imagem, memória, ernoçã'o ou pen­ verdade, em princípio, essa estrutura estende-se sobre todo o universo e sobre
samento particulares a respeito dele, corno também que seu felt sense inclui efe­ todo o passado, com implicações para todo o futuro (pg. 148)." Ele sugere além
tivamente todas as maneiras pelas quais você o vivenciou ou interagiu com ele. disso que não somente as interações de_ partículas ou funções cerebrais, "mas
/Esse felt sense assemelha-se a um registro holográfico de todos os aspectos do também nossos pensamentos, sentimentos, anseios, vontade e desejo" têm seu
\ seu relacionamento com ele (padrões de interferência). Todas as suas alegrias, fundamentei último na ordem implicada do universo maior (1977):
f dores, desapontamentos, estimas, raivas - tudo sobre a sua total experiência com William James expressou essa compressão holográfica à sua maneira, com
' ele se acha holograficarnente comprimida nesse único felt sense. ()felt ser:zse é seu estilo cheio de brilho:
indistinto devido ao fato de incluir tudo isso implicitamente. Esse caráter. irnpÜ­
.cito nlio- é Tôcãl õU niÜêlarnenté definido; mas sêrnpre fundõ�a corno um· pa�o No palpitar da vida interior, que se acha imediatamente presente, agora, em
cada um de nós, há um pouco de passado, um pouco de futuro e um pouco de
de fundo global. Quando, dessa maneira, prestamos atenç[o a um' /elt sensé' ün':·' consciência de nosso próprio corpo, de cada uma das outras pessoas, dessas subli­
plícito, e�tarnos usando um tipo de atenção que opera por varredura e que não midades sobre as quais estamos tentando falar, da geografia da terra e da direção
escolhe objetos focais específicos um de cada vez. Esse tipo global de atençtlo da história, de verdade e de erro, de bom e de mau e de quem sabe quantas coisas
difusa pennite-nos perceber de repente urna mancha holográfica indistinta, sem mais? (1967, pgs.295-96, o itálico é meu).
' impor sobre ela urna grade, filtro ou foco preconcebidos. Quando tentamos fo­
calizá-la ou distinguir nela detalhes com precisa:o, começamos então a tornar ex­ Este "quem sabe quantas coisas mais?" abrange as muitas maneiras de o orga­
plícitos (por explicação) certos aspectos dela. nismo processar as informações de que na:o ternos consciência ou nem mesmo cate­
David Bohrn (1973) assinala que: gorias para entender. Nessa frase, James abre a porta aos domínios da psicologia
transpessoal e a quem sabe que tipos de disciplina que podem ser desenvolvidas
para iluminar os padrões de infonnação sutis e complexos que se processam além
a palavra "implícito" baseia-se no verbo "implicar", que significa "dobrar para
dentro" (assim como "multiplicar" significa "dobrar muitas vezes"). Desse modo, do alcance da consciência normal. ..:.r:.-

podemos ser levados a explorar a noção de que, num certo sentido, cada região con­
total "dobrada" dentro dela (pg. 147).
_ uma estrutura
tém
Explicação: Referência Direta e Desdobramento
A referência que Bohm faz aqui à ordem implicada do universo físico apli­
ca-se igualmente bem à natureza implícita da experiência vivencial. Tudo sobre Gendlin (1964) esboçou uma série de passos experimentais para tornar
as experiências com seu pai foi "dobrado para dentro" em seu felt sense. A ma- explicito o implícito, de modo .a colocar em foco o borrão holográfico. Se você

124 125
perguntar a si mesmo, ou melhor, se pedir a seu felt sense que responda: "Qual
l estava holografi camente comprimido no primeiro felt sense "borrado" que você
é a principal qualidade de meu relacionamento com meu pai?", você cria uma teve. Como Pribram assinala ao falar de hologramas ópti cos: "Cerca de dez bi­
moldura ou lente para focalizar de maneira mais det alhada o felt"sense. Como isso lhões de bits de informações foram proveitosamente armazenados sob forma
funciona? Talvez surja agora uma palavra (por exemplo, "pesado"), ou talvez você holográfica num centímetro cúbico" (pg. 150).
possa sentir uma mudança corpórea (por exemplo, uma agitaça:o no estômago,
ou um suspiro), ou talvez apareça urna imagem que· expresse esse sent imento
pelo seu pai. Gendlin dá a esse enquadramento do implíci t o o nome de __'.,ef._e!/n-, PsicoterapÍL1; Intuição
cÍL1 direta: "um uso de palavras para realçar, para de s ta car... algum aspecto da
;�p�-riéncia que pode, desse modo, ser chamado de 'esta' ou 'aquela' experiên­ fysicoterap�•. que pode ser concebida como "uma investigaça:o dos pou­
cia, ou de 'uma' experiência" (1973a, pg. 293). c os elementos - cerca de cinco por cento - que possuem... um efeito perce­
Apli car urna moldura sobre o implícito t em urna certa analogia com o pro­ bido diretàment e" (Gendlin, 1973a, pg. 309), é um meio de transformar o im­
cedimento que, para melhorar a nitidez de urna fotografia impre c isa, ilumina seus plícito por vias. que afetam a vida de
.
Y:lil., a pesi o �.
.
�ementosqu� possuem esse
principais contornos ou freqüências espaciais, de modo que formas particulares efeito frwifomiâdor sici aqueies que entram em ressonânéia- com o implíéifo e
possam emergir da imagem "borrada". Em fotografia, isso pode ser feito por permitem qu�- ele' se desd obre, seja gradualmente , . seja de man eira sl1bita; �"um
.. . . . . .. .
-- .
meio de urna transformação de Fourier, uma das fórmulas mat emáticas para a repêiit1nf''âbri; ãée�s?',-i�l!;::::
convolução e a desconvolução de certos tipos de hologràmas. Desse modo, �r_;
cebido o (felt) implícito, na qualidade da maneira pela qual o organismo sent e Com um grande alívio físico e uma repentina sensaçã"o de revelação, o indi­
de
h9listi��enÚ p.adi-ões r
relações, é análogo maiieiiã-peia- qu"al uma transf�r­ víduo subitamente passa a saber. Ele pode sentar-se lá, acenando para si mesmo, pen­
mação de Fourier_ codifica freqüências espaciais num -· hologram.a. ExpÜcar o -{m. sando somente em palavras tais como "sim, eu consegui", sem no entanto encontrar

plícito é um p.rocésso semelhante a uma-· refransformáça-o que reconduz a trans-


conceitos que descrevam para si próprio o que foi que ele "conseguiu" ... Ocorre
uma grande redução de tensão, que é experimentada fisicamente, quando o referente,
;_ formaça:o de volta a uma forma reconhecível, tomando nítida a imagem impre­ sentido de modo direto, "desdobra-se" dessa maneira (Gendlin, 1964, pg. 118).
, cisa. O primeiro passo para a explicaça:o, a referên cia direta, faz emergir da man­
cha um padrã'o nít ido.
1

O próprio des dobramento esclare ce e muda padrões estanques, asso ciações \


As palavras que usamos entã'o para descrever aquilo que _ emerge na:o sa:o escondidas e significados (padrões de interferência) que foram dobrados no im- \
"instantâneos" ou reproduções literais da mancha, assim como a imagem tridi­ plf· c ito, e que exerciam um efeito compulsório sobre o comportamento.
mensional projetada de uma maça: na:o se assemelha ao registro holográfico da � interessant e ob servar que essa maneira de prest ar at�nç�c:,_n_oj_mP.lícito e
maçã, armazenado numa chapa fotográfica sob a forma de um complexo padra:o
de ondulações. Nossas descrições da experiência na:o fazem a "leitura", no sen­
deixá-lo desdobrar-se sem impor à' de formas
preconcebidas, o que é ta:o eficaz
êm-·terãpía, é prec isâm�nte o � esmo· i>iocéssó-qü e soiim (1913) recomenda a�s
tido informático, do que está lá, mas, em vez disso, sa:o transformações ulteriores físicos que procuram des cobrir um_a nova ordem em meio" ao 'presente caos de
dela: "O delineament o de situações envolve a simplificaça:o e a posterior organi­ .
dados que impera nesse campo:_
zação do que já se acha padronizado de maneira bast ante complexa." (Gendlin,
l 973a, pg. 293). Qual será então o novo tipo de descrição apropriada ao presente contexto?. : .
q_endlin (1964) descreveu essas transformações da explicaça:o como um. tal pergunta nã:o pode ser respondida de imediato em termos de prescrições defi­
proc_esso de "focalização" que torna o implícito_ acessível, que o esclarece e o nidas quanto ao que fazer. Em vez disso, tem-se de observar a nova situaçlfo de ma­
''tr_ansporta adiante"' produzindo as�im diferenças concretas na m�neir.a c��o neira provisória e bastante ampla e "sentir" quais poderiam ser as novas caracterfs­
vi�e�_os.:. Qs dois primeiros passos na fo calização de sentimentos indistint os (b[�°iryj ticas relevantes [referência direta]. A partir disso, acabará surgindo um discerni­
mento da nova ordem, que se articulará e desdobrard de uma maneira natural (e
sãõ"ã referêncÚ1. direta e o desdobramento_, Este último pÜde 'ocorrér quando to- não como um resultado de esforços para fazê-la adaptar-se a noções bem-defini-
. ri-iâmos de qualquer coisa 'que tenha emergido da referência direta e reportamo-la . das e preconcebidas, referentes ao que essa ordem seria capaz de realizar) (pg. 146,
de volta ao felt implícito. Se você recebesse um sentimento "pesado" vindo da o itálico é meu).
referência direta, poderia se perguntar: "O que é es_te peso? O que é tã'o pesado?",
e de ixar que o s eu sentido corporal, como um todo, responda. Você pode ass im Bo hm faz aqui a mesma distinça:o pre c isa que é tã'o essencial em psicote­
obter uma cadeia de imagens ou de sentenças, que, por sua vez, poderia ser pro­ rapia para distinguir entre o criativo "trabalho de aprofundament o" e a mera "in·
longada e explicada ainda mais. Se vo c ê levasse esse processo ta:o longe quanto telectualizaça:o" ou o andar em c írculos.
- possível, provavelmente poderia escrever t odo um romance a respeito de seu re­ Uma vez que o implícito se esclarec eu - seja em terapia ou no desenvol­
lacionamento com seu pai.· Cont inuando a explicar seu felt sense implí cito, cada viment o de urna nova teoria da ·física - jamais será o mesmo novamente. Urna
nova explicaç[o servirá como foco para permitir que novos aspect os emerjam vez que você desdobrou o problema em seu relacionamento com seu pai, esse
do todo implícito e indistinto. Todo o seu romance (com todas as suas 500 páginas!)
127
126
O Inconsciente como Ordem Implicada
j relacionamento (e sua vida) não será mais o mesmo. O ziguezague dialético entre
, a explicação transformativa (que nlfo precisa ser verbal) e o felt meaning muda ou
"leva adiante". a experiência, o que resulta não apenas em progresso terapêutico ou Desse modo, estamos continuamente processando muitos tipos de intera­
alteração da personalidade, mas também em descobertas criativas de todos os tipos. ções ou padrões de interferência, e só conseguimos prestar atençlfo a um número
A partir desta discussão, toma-se claro que a intuiç:ro é parte integral da muito pequeno deles. O processamento organísmico, ao qual na:o prestamos aten­
experiência diária, em vez de um. p�_culiar "estado alterado de consciéncia" (cf. ção, torna-se parte de um "borrão" holográfico, situado no plano de fundo, incons­
(
Weil, 1972). Vamos definir(a intuiçãoJ:omo um acesso direto ao implícito, \l!le ciente. Esse "borrão" de fundo, dotado de uma estrutura implíci ta, é certamente
ç,pera fazendo a varredura cié·""ümaºmancha do tip.Ó "iio!Õgráfica por meio de �m-a aquilo a que a concepção de· inconsciente se refere. No entanto, no modelo tradi­
.
atenção
º
difui11. qi:i°� na:oº impõe sobre ela noções pr�coi1ceoiâás '=-·o�·;-segundô. .;ional de inconsciente em psicologia profunda ele se apresenta como se possuísse
BohÍn, "observar a nóvà situaçã"o d�- man�ira provisória e bastan.te ampla e sen­ cima estrutura explícita, como se os impulsos, desejos, repressões ou arquétipos
i/;! ti-la". Intuições específicas chegam habitualmente até nós como totalidades cli­ existissem em forma explícita, como se o inconsciente fosse uma espécie de alter
·:
ego autônomo. Discuti essa questão em outro lugar (Welwood, 1974, 1977). Aqui,
.j!
fusas, para as quais, de início, podemos ter dificuldades em achar explicações

1
sugiro apenas que aquilo que é inconsciente é a ordem impl\c_a�a da experiência, J.
ou fornecer ·razões. Simplesmente, "sabemos" alguma coisa por meio do con­
tacto que fazemos com o nosso difuso felt sense da situação. Grande parte dos em vez de um conjun�o �e ,\c0nteú4os''. áütõ��mo� ,_ou ê,l<,plícit9�. qu'e é
. o 'ín-.:
1 argumentos e dos raciocínios científicos e filosóficos s:ro, com freqüência, um êônscfonte · são padronizações holísticas Jlll.e.-podem.�r�.e).(plic.ad. as de muitas ma-
.
trabalho que procede de forma regressiva, a partir de uma conclusão a que se chega neiras _ct.ü'erçritif�_ e 'êm. rriúlios . dif���:�·te�. i_i_í��i_s__ �Jj�����-l��.i�;;;;�tÕorgãn
. ·--� ...
is'.
mo/meio ambiente.
111
--.j_ntuitivamente, e ã qual se acrescenta depois os passos lógicos ou comprovatórios.

J
Nosso aprofundamento da sintonização de ordens implicadas parece abran­
1
ger um continuum que vai da intuição experimentada no dia-a-dia aos profundos
Conclusões
insights místicos. Parece que a experiêIJCia mística é uma forma n:iais total dessa
visão holística, que, através da sitÜaçlfo particular de um indivíduo, vê a tgtali:
O paradigma holográfico possui muitas características que podem torná-lo
dade do processo da vida, a ordem implicada po próprio universo. Para algumas
um novo modelo científico, aceitável e instigante, ou uma metáfora para psicó­
pessoas, .o trabalho com o felt implícito numa via terapêutica é um primeiro
logos humanistas, fenomenologistas ou transpessoais. Como assinalou Prlbram
passo para re_�el�r seu mais profundo estado de conexão com a totalidade da vi�a.
(1977), os conceitos fundamentados numa base experimental e clínica são, com
\ · · · · É possível que a intuição presente momento-a-momento, que faz a varres
freqüência,
' dura global da ordem implicada subjacente ao pensamento e ao sentimento, passe
despercebida com tanta freqüéncia justamente porque não se focaliza sobre for­
mas explicadas que podem ser retidas ou fixadas na memória. William James (1890) contaminados por considerável falta de precisão, o que faz surgir insolúveis con­
. deu a esses momentos aparentemente "vazios" no fluxo da consci!!ncia o nome flitos de opiniões. A nitidez que ocorre quando dados provenientes de ou_tras dis­
ciplinas tornam-se disponíveis para apoiar e esclarecer uma distinção é, portanto,
de "lapsos de transiç�9". Eles surgem como pausas ou momentos transitórios uma condição preliminar necessária, se quisermos que as concepções tornem-se
que dur-arri""üina fração de segundo, tempo durante o qual é feita a varredura de. mais amplamente úteis nas explanações científicas (pg.226).
todo um complexo de [(!lt meaning (veja Welwood, 1976). De que outro modo
sempre sabemos o que clizer de momento para momento, a n:ro ser graças a essas
O paradigma holográfico pode ser capaz de oferecer uma linguagem de
. referências de fração de segundo ao "borrão" indistinto da ordem implicada?
disciplinas cruzadas para discutir sobre domínios da experiência humana que
Uma das grandes contribuições de James foi a de assinalar o papel essencial e
têm sido tradicionalmente ignorados pelos psicólogos "sisudos". Além disso, se
predominante dos momentos transitórios no fluxo da consciéncia:
o universo funciona com base em tipos holográficos de princípios, onde o todo
está contido em cada parte, faz sentido que diferentes conjuntos de dados ve­
O restabelecimento do vago, do impreciso, no lugar adequado que lhe cabe
em nossa vida mental é, em resumo, aquilo sobre o qual estou tifo ansioso para con­ nham a revelar tipos similares de padrões, e que tanto a ffsica quanto a neurofi­
vocar a atenção... O que se deve admitir é que as imagens definidas da psicologia siologia modernas tenham uma familiar qualidade déjà vu', que faz eco à antiga
tradicional [isto é, as formas explícitas] constituem apenas a menor parte da vida sabedoria das tradições místicas e às modernas descobertas da fenomenologia.
real de nossas mentes (pgs. 254-55). No entanto, em nosso entusiasmo face ao vigor desse novo modelo cientí- ,'
fico, não devemos perder de vista o fato de que ele ainda é apenas um modelo,,
Bohm (1973) faz eco a essas palavras ao falar da física moderna: uma forma conceituai, que, obviamente, jamais poderá substituir o conhecimen- i

Estamos propondo que, na formulação das leis da física, deve ser dada relevãn­
i to direto e a realização vivencial, descobertos graças à intuiç[o e, em sua mais
plena forma, graças ao despertar radical e à iluminação. Seria um equívoco acre­
cia prioritária à ordem implicada, ao passo que à ordem explicada caberá importância ditar que qualquer novo paradigma científico pudesse servir como um equivalente
secundária (pg. 148).

J
129
:!! 128
ocidental da sabedoria espiritual, como se o método intelectual da ciência pudesse da fotografia, a reprodução dessa realidade é plenamente reconhecível. Não ve­
oferecer uma via moderna de iluminaç[o. O paradigma holográfico pode asseme­ mos somente as formas, mas também suas cores. Em conseqüência, a fotografia
lhar-se a certas idéias esotéricas· orientais, como por exemplo os ensinamentos armazena informações a respeito da nossa realidade numa forma conveniente,
sobre a totalidade, a desobstrução e interpenetraça:o mútua apresentadas no Sutra cômoda, reconhecível. Há uma correspondência biunívoca entre os objetos que
Avatamsaka bu_ dista. No entanto, não devemos presumir que uma semelhança no vemos e os objetos representados na fotografia.
conteúdo conceituai ·subentenda que elas tenham uma significaça:o equivalente, uma Em holografia tudo isso muda. Não há correspondência biunívoca entre
vez que seus contextos sa:o inteiramente diferentes. A diferença estâ entre as "idéias a imagem holográfica e a realidade, da maneira como os olhos a percebem. O
que nos ajudam a descobrir a verdade por nós mesmos em contraposiça:o aos con­ holograma de uma flor, não importa qua:o bela seja, aparecerá como um ema­
ceitos que organizam o que já foi descoberto por nós mes�os ou por outros." ranhado de frentes de onda interferentes, p·ois a realidade nos é apresentada nu­
(Needleman, 1975, pg. 112), Jacob Needleman argumenta que um dos perigos ma ordem diferente.
representados pelos intrigantes "conceitos estranhos". e pelos · "novos paradigmas" O que acontece entre a retina do olho e o córtex visual do cérebro asse­
da ciência é que eles são capazes de manter e intensificar nossa fascinaçao pelos melha-se a esse processo. O olho atua como uma câmara, e a imagem que aparece
"conteúdos da mente" - nossos próprios padrões de pensamento - em vez d� sobre a retina tem uma correspondência biunívoca com o objeto que vemos. No
motivar-nos a ver, através do conjunto de nossos padrões ·mentais, a realidade entanto, a imagem é processada de forma tal que pontos vizinhos sobre a retina
desconhecida, que está além deles. De modo muito convincente,' ele assinala como o levam a lugares inteiramente diferentes quando alcançam o córtex visual. Desse
homem moderno apóia idéias.associadas com as disciplinas da ·via espiritual modo, temos um padrão de pontos mais ou menos "aleatório" sobre esse córtex.
O trabalho de Pribram mostra que esses "pontos" isolados ou neurônios
sem que ele próprio siga essas disciplinas, convertendo assim a força das grandes idéias.
que provoca o despertar, em combust(vel para os motores do egofsmo. .. Percebe­
do córtex emitem '.'ondas", que interferem ou interagem umas com as outras,
mos, todavia, que tememos não confiar e m nossos pensamentos.·E assim, imperceptí­ formando assim um holograma de informações. Em outras palavras, a ordem ou
vel e rapidamente, as explicações vão-se resumindo e preenchendo o vazio criado pela realidade do olho é diferente da ordem ou realidade do córtex.
recepção de uma grande idéia.' Então, celebra-se. aquilo a que se dá o nome de "novo Para generalizar isso, podemos dizer que temos dois tipos de ordem oti'
paradigma" 01.1 "avanço· revolucionário". Mas isso pode ser apenas um novo giro da realidades: a imagem biunívoca, que é evidente aos sentidos, e a ordem holo­
roda que mantém a servidão do homem ao intelecto isolado (pg. 92, o itálico é nieu).
gráfica. Parece que a ordem da imagem biunívoca baseia-se na ordem holográfica
. .
ou deriva dessa ordem, que é mais fundamental. A realidade holográfica é ba­
Além disso, nenhum paradigma conceituai jamais poderá legitimar o conhe­
seada na relação, ou interação, dinâmica de frentes de onda, que causa uma di­
cimento experimental direto da realidade, embora possa parecer que· o paradigma
fusa:o de informações através de toda uma estrutura, mas, ao mesmo tempo, cada
"responda" por esse conhecimento. A intuiçao direta, o límpido insight, é autole­
elemento da superfície, ou do volume, dessa estrutura contém todas as infor­
gitimante,. embora, com freqüência, confiemos em esquemas conceituais a fim de
mações englobadas na estrutura toda. Um exemplo disso é nosso próprio corpo,
tentarmos comunicá-lo ou persuadir outros sobre sua validade. Um importante pa­
onde cada célula contém as informações a respeito de todo o corpo.
pel que o paradigma holográfico p.ode ter é ·o de sugerir, àqueles que confiam apenas
Pribram fala a respeito de ondas de reações eletroquímicas nos neurônios
no conhecimento conceituai, que é possível conhecer as coisas de uma maneira dife­
do cérebro. Mas de que sfo feitos os neurônios? Sa:o feitos de átomos, e átomos
rente. Mas ele não pode nem proporcionar nem validar esse. caminho diferente.
são compostos de unidades subatômicas, que podem ser vistas como partículas
O que nos impele, finalmente, a aceitar um novo paradigma? Dados expe­
ou como ondas. Quando vistas como ondas, o átomo pode ser descrito como
rimentais nunca poderão, por si mesmos, estabelecer plenamente a verdade de
uma estrutura dependente da interação de seus componentes, isto é, da intera­
um paradigma, porque o próprio paradigma ordena os dados e lhes dá sentido.
ção de ondas eletromagnéticas.
Acaso não nos inclinamos a aceitar um paradigma quando ele, de alguma forma,
Bohm descreve duas realidades, a "dobrada" e a "desdobrada". A reali­
está em ressonância com a riqueza do que já sabíamos implicitamente? Nesse
dade ou ordem "dobrada" é a realidade holográfica, que Bohm considera mais
sentido, na:o seria talvez nosso sentido intuitivo da ordem implicada das coisas
básica que a realidade biunívoca manifestada aos sentidos.
o que efetivamente legitima um novo paradigma e _nos encoraja a adotá-lo?
Pribram postula um holograma neural, construído pela interaça:o de ondas
no córtex, que, por sua vez, baseia-se num holograma de comprimentos de on­
das muito mais curtos, formado pelas interações de ondas ao nível subatômico.
Comentários sobre a
Desse modo, temos um holograma dentro de um holograma, e o estado de inter-re­
Visão Holográfica da Realidade
lação dos dois produz,. de certa forma, as imagens sensoriais.
· Itzhak Bentov
Não seria pois infundado presumir que há uma realidade subjacente a esses\
dois, que seria uma realidade ainda mais básica e que Bohm descreve como sen-f
. Na vida diária nossos sentidos descrevem para nós a nossa realidade. Quan­
do reduzimos a realidade tridimensional visível para duas dimensões por meio do "um fluxo invisível que n[o é composto de partes. É uma interconexidade
separável".
inJ
130
131
1'li
/�! Desse modo, temos agora uma hierarquia de realidades, que vão desde as
unidades individuais separadas até a "interconexidade inseparável". Para ver co­
Henderson. Urna vez que essa visa:o da relaç[o entre a unidade e a multiplicidade é,
em al guns aspectos, um desenvolvimento das teorias da unificação apreensiva do
I:1
mo ela nos afeta, sugiro que as usemos como uma analogia para a nossa condi­ espaço na filosofia do organismo desenvolvida por Alfred North Whitehead, penso
ção humana. Podemos considerar a realidade "inseparável" como sendo o estado que é importante levar .em consideração · essa idéia com um entusiasmo equili­
transcendente, absoluto, a unidade-de-tudo-que-existe, a que se referem os con­ brado. Espero que o público não faça com a metáfora do holograma o que fez
ceitos orientais de realidade, que é o estado da interconexidade infinita. Pode­ com o modelo da lateralização do cérebro. As idéias de Omstein foram excessi­
mos acrescentar que dentro dessa Fonte todos os seres individuais esta:o conti- vamente generalizadas, ad nauseum. E isso encorajou urna grande quantidade de
dos em forma potencial. ·
"concretitude mal colocada", na qual estados psíquicos e psicológicos altamente
No nível de realidade logo abaixo do da unidade, predomina a interconexi­ complexos eram simplesmente localizados em processos fisiológicos. Pribrarn e

rr
dade, mas já se evidenciam núcleos de indivíduos (veja o diagrama). Bohm esta:o fazendo um bom trabalho, mas espero que daremos ·a eles o espaço
necessário para realizá-lo e n[o se envolverem numa campanha publicitária su­
Estado de Unidade pergeneralizada.
i:
!!.,
O ABSOLUTO

A Nova Ciência e a Holonomia


Potencial para individuação A base para o campo Willis Harman.

1
Começa a individuação imagem difusa Na rn·atemática da teoria holográfica, que envolve transformações de Fourier,

um pulso de energia que, no domínio físico, parece ocorrer num determinado ins­
tante no tempo, no domínio das freqüências é "intemporal", "eterno". Esse do­

íVV\
Indivíduos cientes de mínio está "além do tempo e do espaço". Por isso, as teorias holográficas pare­
si próprios e também de cem tornar mais plausíveis os fenômenos psíquicos e místicos, que transcendem
sua interconexidade foco indistinto
as relações usuais do espaço-tempo. Mas essas teorias devem ainda interpretar o

_JLJLJL__
dado primário, a consciência, em termos de algo mais que, em última instância,
Indivíduos não conscientes de é quantificável. Haverá, algum dia, urna nova ciência, complementar àquela que
sua interconexidade pontiagudo temos, na qual totalidades sera:o vistas como totalidades, e a consciência estará
mais perto de ser causa que efeito. Essas teorias holográficas ainda nlfo perten­
No nível seguinte, os indivíduos têm consciência de si próprios, mas tam­ cem a essa nova ciência, mas à antiga, na qual são feitas tentativas para explicar
bém estão bastante cientes de sua interconexidade. No nível mais baixo, a cons­ a consciência em vez de tentar entendê-la.
ciência da interconexidade está perdida. Os indivíduos consideram-se totalmen­
te separados. Essa é a realidade que nos é dada por nossos sentidos normais. É
o nível da relação biunívoca. Uma Visão Multidimensional
Está na hora da ciência, que nos últimos tempos tem-se dirigido a desco­ William A. Ti/ler
brir cada vez mais coisas a respeito de cada vez menos, perdendo o sentido da
interconexidade das coisas, dar meia-volta e fazer algumas perguntas a respeito Dentre os muitos indivíduos que incluem uma representaçlfo holográfica
de como funciona todo o sistema. É jtistarnente isso o que Pribrarn e Bohm es­ do universo em sua "Imagem do Mundo", Pribram 1 trabalhou bem e durante
tão fazendo. muito tempo, para esclarecer as questões centrais envolvidas, e concentrou sua
atençlfo, em graride parte, sobre a apreensão ·sensorial dessa representação no ní­
vel físico da consciência. O presente autor, que tenta desenvolver um modelo de
Precauções realidade capaz de sintetizar tanto a atual cornpreenslfo física do universo quan­
William Irwin Thompson to o entendimento que advém de experimentos psicoenergéticos rias ,áreas da
parapsicologia, da religia:o, da saúde, etc., optou por uma representação multi­
A colaboração entre o físico DaVÍd Bohrn e o neurologista Karl Pribrarn é dimensional da consciência e por estruturas do universo onde sua manifestação
instigante. Considerando-se que David Bohrn também trabalha com o filósofo é possível. Sem tal extensão, para além do arcabouço puramente físico da per­
indiano Krishnaniurti, é ainda maior o interesse em ver que direç[o isso tomará. cepção, o âmbito de qualquer ;'novo paradigma" será rigorosamente limitado.
O conceito de holograma e de ordem dobrada é urna metáfora instigante, que Para ilustrar o que isso significa, considere a entrada em cena das idéias
parece cruzar vários campos diferentes, da física de Bohrn à economia de Hazel de Einstein sobre a relatividade no domínio da física clássica. O trabalho teórico

132 133
de Einstein mostrou que o tempo e as três dimensões do espaço esta:o intima­ Há, desse modo, uma conexidade e uma integraçã'o de padrões entre esses três
mente conectados, de modo a constituírem uma superfície de espaço-tempo em níveis. Além disso, essas infonnações têm um padrão espacial direto e um pa­
nosso sistema de referência experimental. Ele mostrou que, em certos domí­ drão espacial inverso, ou de freqüências, sendo que o domínio da mente é o do-
nios de nossas variáveis experimentais, comei, por exemplo, o das velocidades mínio de freqüências primárias.3
muito elevadas, e o das densidades muito altas de energia, e de massa, o com­ Para ilustrar as características holográficas desse modelo, imagine um feixe
portamento observável da natureza afasta-se de maneira significativa das expecta­ de energia coerente emanado do nível divino do Self. Ele incide sobre bs padrões
tivas baseadas numa extrapolaça:o linear da nossa experiência comum; isto é, re­ de freqüências da substância, que foram construídos no nível da Mente do uni­
lógios retardam. sua marcha, réguas encurtam, todas as coisas ficam mais pesa­ verso·, e os projeta numa tela, ou melhor, em duas telas, uma das quais fonnada
das, etc. Experimentos realizados nas duas últimas décadas confirmaram que pelos nodos do arcabouço do espaço-tempo negativo e a outra pelos nodos do
esses fenômenos não-lineares e totalmente inesperados podem, de fato, ocorrer. espaço-tempo positivo. ·Desse modo, as infonnaçOe_s sobre o que estamos fazen­
Vários investigadores estão estudando hoje as conseqüências de se traba­
do coletivamente n:o ·universo ·ao nível da Mente ficam armazenadas nessas duas
lhar com arcabouços perceptivos dos tipos espaço, tempo, X; espaço, tempo, X,Y
grades sob a forma de hologramas. A substâJ:!_Cia interage com esses pontos nodais
e espaço, tempo, X, Y, Z, onde as variáveis X, Y e Z sa:o outras qualidades signi­
·por meio de um agente acoplador especial 3 •4 ; isto é, a substância física interage
ficativas do mecanismo da percepça:o humana, consideradas numa base para­
com a grade do espaço-tempo positivo, conformando-se aos potenciais nela re­
lela com o espaço e o tempo. Postula-se que, em conseqüência de auto-integra­
gistrados, enquanto que a substância etérica interage com a grade do espaço-tem­
ções de vários tipos, os indivíduos podem manifestar e manipular a qualidade X
po negativo e se conforma com os potenciais inscritos aí. Esse modelo propõe
a tal ponto que o arcabouço quadridimensional do espaço-tempo é acoplado a
que quando executamos uma ação no nível físico, procedemos assim porque
uma superfície de cinco dimensões do tipo espaço, tempo, X - de modo que
nossa substância está tentando amoldar-se ao padra:o variável armazenado nas
se manifestem efeitos essencialmente não-lineares com relaça-o às expectativas
grades do espaço-tempo positivo e negativo.
espaço-temporais. Pode parecer que nossas leis científicas sa:o infringidas por
Uma vez que as coisas acontecem muito mais depressa no arcabouço do
muitos dos fenômenos psicoenergéticos; todavia, não é o que acontece. Em vez
espaço,tempo �egativo, ajustamo-nos a esse nível (o nível etérico da substância)
disso, esses fenômenos teriam suas origens num arcabouço perceptivo dimen­
antes de nos· ajustarmos ao nível físico. O físico é semelhante a urna sombra, e
sionalmente mais alto, na-o estando assim totalmente confinados a uma descri­
semelhante a marionetes que dançam acionadas por meio de cordéis. Geralmen­
ção espaço-temporal quadridimensional. Podemos, se assim o quisermos, substi­
te, só usamos nossa visão física para observar este milieu físico. No entanto, pa­
tuir X por "coerência de intenção".
Podemos agora perguntar com mais propriedade como poderia o universo rece que alguns indivíduos desenvolveram a capacidade de perceber coisas do
ser estruturado de modo .a permitir que a coerência de intenção de um indivíduo nível etérico da substância ou de perceber padrões que vêm diretamente das grades.
fosse capaz de afetar o mundo de sua percepça:o física. De acordo com o mo­ Quanto mais evoluídos esses indivíduos se tornem, mais desenvolvido será esse
delo do autor2 • 3 sa:o introduzidos os seguintes postulados: tipo de percepção do terceiro olho, levando àquilo que foi chamado de consciên­
cia precognitiva. --
(1) O espaço está alojado no domínio do Espírito. Para verificar corno a coerência da intenção de um indivíduo afeta o uni­
(2) Este é um espaço euclidiano de seis dimensões em vez do espaço euclidiano verso por meio desse modelo, considere, em primeiro lugar, como um indivíduo
tridimensional, que se percebe no nível de consciência puramente físico. responde aos eventos que entram diariamente na sua consciência. Essa resposta
(3) O espaço é um reticulado hexagonal, estreitamente compactado, de pontos vem na forma de pensamentos, atitudes e ações. Os pensamentos e as atitudes
nodais ativos, em vez de um continuum.
(4) O reticulado consiste em três sub-reticulados, sendo cada um deles um reticulado
são ondas que entram no sub-reticulado da mente e se superpõem aos padrões
recíproco em relação a qualquer dos outros. O sub-reticulado mente é o mais sutil qtie já se encontram aí. Se a intensidade e a coerência do indivíduo são altas, o
dos três (largura da grade - 10-25 cm). A seguir, vem o sub-reticulado espa­ grau será alto. Essa mudança no nível da mente é, desse modo, instantaneamente
ço-tempo nefativo (largura da grade -10-·15 cm) e o sub-reticulado espaço-tem­
4
transferida aos pontos das grades do espaço-tempo positivo e negativo, que pro­
po positivo, que é o mais grosseiro dos três (largura da grade - 10-s cm). duzem eventuais mudanças no nível da substância. Essas mudanças subseqüen­
(5) Toda substância surge dos pontos nodais sob a forma de ondas que percorrem
essa rede.
tes preparam uni novo conjunto de eventos que se amoldam de maneira mais
estreita às atitudes e pensamentos que serviram como. gerador inicial. Mais uma
vez, é dada resposta aos novos eventos por intennédio de pensamentos, �titu­
Eis uma das conclusões que resultam de tal modelo: uma vez que esses re­ des e ações, e desse modo o ciclo é repetido. Por essa via criamos noss·o próprio
ticulados sao mutuamente recíprocos, quando as ondas que viajam pelo sub-reti­ futuro e vivenciamos ·essa criação, estejamos ou não conscientes de fazê-lo. De
culado mente são difratadas nesse nível, as ondulações que geram interferência maneira completamente semelhante, se possuímos uma alta coerência de inten­
construtiva passam através dos pontos nodais dos sub-reticulados espaço-tempo ção, a densidade de energia de nossas visualizações mentais cria uma perturbação
negativo e espaço-tempo positivo, gerando padrões correlativos nesses níveis. tal no sub-reticulado da mente que grandes mudanças de potencial ocorrem nas
grades de espaço-tempo positi_v a e negativa, e ocorrem também rápidas mudanças 'ii,f'
134
_t,i
135
:ri:
1rn1
,,: no nível da substância de nossa percepção, de acordo com nossa visualizaça:o. pio, Pribram (1975) propôs a hipótese de que o córtex temporal inferior produz a
Infelizmente, a maioria das pessoas não é coerente o bastante para fazer isso mui­ visão programando as funções do sistema primário de projeção visual. Isso lhe per­
l

to bem no atual estágio de evolução. É assim que as mudanças sa:o produzidas
em nosso "Mundo de Formas e de Aparências".
mite explicar os dados mostrando que lesões do córtex temporal inferior enfraque­
cera-o consicleravelmente a capacidade de fazer discriminações visuais. De maneira
Esse modelo2 • 3•4 tem muitas conseqüências interessantes, as quais, devido semelhante, tal modelo poderia explicar a percepção motivada, como no caso em
âs limitações de espaço, n[o podem ser tratadas aqui. E ' le permite que se racio­ que um hematologista que está explorando a medula de um osso à procura de célu­
nalize virtualmente todos os fenômenos da PES, isto é, a precogniç:ro, a visão las cancerosas "vê" somente as células cancerosas. Alternativamente, Pribram argu: ·
sem suporte físico, a materialização/desmaterializaç[o, etc. Permite compreen­ menta que o cérebro é holográfico pelo fato de que os dados são processados como
der como existências múltiplas e simultâneas podem ser possíveis. Permite com­ um todo em conseqüência de interações que ocorrem nas fissuras sinápticas e entre
·•; preender uma escala de .consciência qu·e se estende das rochas e minerais às bacté­ elas. Isso lhe permite explicar a natureza da percepção, semelhante ao processo da
rias, plantas, animais e seres humanos. A partir dele, pode-se começar a compreen­ formação de imagens, e a habilidade para manter as capacidades sensoriais a despei­
der o que se quis dizer com a afirmação, feita há muito tempo, segundo a qual to de pesadas injúrias ao sistema sensorial. Desse modo, foi o uso que fez tanto do
"o cérebro está na mente mas nem tudo que está na mente está no cérebro". O modelo holográfico quanto do analítico que permitiu a Pribram desenvolver uma ·
presente modelo propõe que a mente não está espacialmente limitada porque teoria mais integrante e mais abrangente do cérebro do que o conseguiram aque­
as informações são representadas no domínio das freqüências de uma célula da les teóricos que lançaram mão exclusivamente de um modelo analítico.
grade (- 10-75 cc) e a periodicidade as reproduz por toda a parte. Por outro lado, Entretanto, se os modelos analítico e holográfico são mais complementares
o cérebro, no nível físico, é algo individualizado e espacialmente localizado que que competitivos, isso faz supor que talvez haja uma estrutura teórica mais abran­
'1j se sobrepõe somente a alguns pontos nodais do sub-reticulado da mente. gente capaz de integrar ambos os modelos. Minha tentativa para descobrir essa
1
estrutura levou-me a examinar os pressupostos básicos que fundamentam os mode­
Modelo Holográfico, los analítico e holográfico. Esse exame revelou que tanto um quanto o outro ba­

r
Paradigma Holístico, seiam-se num conjunto de suposições holísticas e levaram-me a concluir que a teoria
Teoria da Infonnação e Consciência da informaçã'o é uma estrutura teórica capaz de integrar ambos os modelos.
John R. Battista, M.D. Todos os modelos e teorias baseiam-se em suposições. Uso o termo para­
digma para me referir ao conjunto dessas suposições subjacentes e, com freqüén­
Estamos vivendo a experiência de um reconhecimento crescente das limi­ cia, irreconhecíveis. Paradigmas podem ser diferenciados pe1a maneira como res­
1
tações do modelo analítico baseado no computador digital. A física quântica pondem a três questões básicas da filosofia da ciência.
nos levou a reconhecer a interconexidade de todos os eventos, e a psicologia tor­
nou-se cada vez mais ciente da incapacidade do modelo analítico para responder · 1) O que é, ou qual é, a natureza da realidade?
pelas dimensões intuitivas e transpessoais da consciência. 2) Como sabemos o que é, ou o que constitui, o conhecimento?
Os trabalhos de Karl Pribram (1971, 1975, 1976) e de David Bohm (1971,
3) O que é responsável pela mudança ou pela estabilidade daquilo que é?
1973) geraram um interesse, em rápido crescimento, pela aplicação dos conceitos
A resposta à primeira questã'o constitui a ontologia do paradigma; a res­
holográficos à nossa compreensão da consciência e do universo. Desse modo,
está sendo desenvolvido um novo modelo holográfico, que enfatiza o processa­ posta à segunda, sua epistemologia; e à terceira sua dinâmica ou os meios de ex­
mento interdependente, paralelo e simultâneo de eventos. plicação. A Tabela 1 fornece uma comparação dos três principais paradigmas do
Nã'o podemos cometer, com relação ao modelo holográfico, o mesmo en­ pensamento ocidental como eu os vejo: vitalista, mecanicista e holístico. Nossa
discussão será limitada a uma consideração do paradigma hoJístico, mas 'o leitor
gano que cometemos com relação ao modelo analítico - ou seja, tentar expli­
interessado poderá recorrer a um artigo prévio (Battista, 1977) para urrta dis­
car tudo por meio dele. Esse tipo de abordagem faria pouco sentido porque mui­
cussão mais ampla dos paradigmas mecanicista e vitalista.
tos fenômenos (como por exemplo a comunicação t_elefõnica) parecem mais bem
conceitualizados analiticamente, enquanto outros (como os estados transpessoais
Tabela 1
de consciência) são, ao que parece, melhor entendidos holograficamente. Paradigmas Vitalista, Mecanicista e Holístico
Pribram (1975) usa os modelos holográfico e analítico nesse sentido comple­
mentar. Basicamente, ele acredita que o cérebro funciona tanto como um computa­ Parâmetros Vitalismo Mecanicismo Holismo
dor. analítico (digital) quanto como um computador holográfico (analógico). Ele Ontologia Dualista Dualista Monista
Objetiva Interativa
aceita que o cérebro deve funcionar analiticamente no sentido de que os dados são
Epistemologia Subjetiva
Metodologia Fenomenológica Empírica Analógica
processados seqüencialmente, de acordo com um conjunto de programas específicos, Causalidade Teleológica Determinista Probabilista
e que sua saída é realimentada sobre a entrada para fms de comparação. Por exem- Análise Metafísica Reducionista Estrutural
Dinâmica Nulentrópica Entrópica Negentrópica
136
137
!!

-:!"""

n
De acordo com o paradigma holfs tico, todo o universo se acha_ interconecta­ . L PR lgPR
do e hierarquicam ente organizado. Matéria e energia, seres vivos e não vivos, men­ R=l
te, corpo e espírito r eferem-se, todos eles, a diferentes níve is do mesmo sistema
unificado. Conhe cemos a respeito desse sis te ma universal devido à nossa intera­ (Khinchin, 1957). Neste caso, há duas alte rnativas possíveis (do is valo res dePR) -
ção com ele. A incerteza é um aspe cto· inerente de no ssa relaça:o com o sistema casada ou solteira, e a probabilidade de o homem acreditar que a mulher é ca­
porque e ste é um processo e so mos parte do processo que estamos tentando co­ sada determinará a quantidade de informaça:o transpo rtada pela sua percepção
nhecer. Até o ponto em que podemos reduzir essa incerteza, geramos informa­ do anel. De ss e modo, es sa p ercepção transp o rtará mais informaç[o se o home m
ções ·a respeito do p ro cesso do mundo. Desse modo, o conhe cimento es tá mais pensar que a probabilidade de que a ·mulher é casada é de 50% do que se ele já
prese nte na relação do que no mundo "objetivo" ou na experiência "subje tiva". estivesse 90% certo de que ela é casada. No primeiro caso, ele es tá bastante in­
O mundo n"a-o se acha classicamente determ inado, à maneira do comportamen­ certo quanto ao status matrimonial da mulher, e assim a percepção do anel re­
to simples e linear de· uma bola de bilhar; em vez disso, cada nível do sis te ma duziu grandemente sua incerteza - é po r isso que "informação" e "r eduçao de
universal opera so bre todos os outros níveis. Os e ventos são assim parcialmente incerteza" são sinônimos. No segundo caso, ele não se acha num estado de mui­
determinados a partir de cima (níveis mais complexos e abrangentes) e a partir ta "incerteza", razão pela qual o anel transportou até ele uma quantidade mu ito
de baixo (níve is menos complexos e abrangente s) be m como a partir do mesmo menor de informação .
nível de complexidade. Dessa forma, jamais podere mos sabe r qual a causa abso­ O que es se conceito de informação tem a ver com os modelos analítico
luta de qualque r coisa, ou se um evento é totalmente de terminado, e holográfico? O ponto essencial é que ambo s o s modelos referem-se a pro cessos
De um modo ge ral, essas suposições receberam uma ampla aceitaça:o. De para gerar informação - e a própria informaçao é um conceito hol(stico, como
fato, parece bem claro que estamos ago ra no proces so de uma mudança de para­ explique i antes . No mode lo analítico, a informação re.sulta da seleça:o de um re­
digma no qual to dos os .campos estão passando por uma revisão à luz dessas su­ sultado particular em meio a um conju nto de possibilidades. No modelo ho lo­
posiçõe s (Bateso n, 1972; Harman, 1974; Lifton, 1975). gráfico, a informaça:o res ulta de um mecanismo analógico que permite a dois
Entre tanto , pode não ficar tão claro porque acredito que ambos os mo­ es tados interagirem mutuamente. Desse modo, embora os mo de los analítico e
del os , holográfico e analítico , são holísticos. Imagino que algumas pessoas pos ­ holográfico refiram-se a meios dis tintos de gerar info rmação, ambos dependem
sam p ensar que o modelo holográfico e o paradigma holístico são sinônimos, e de pres supostos holísticos e po dem se r considerados modelos holísticos com­
que o modelo analítico· é, na ver dade , um exemplo do atualmente obsoleto pa- . ple mentares. Além disso , como os mo delos analítico e holográfico re ferem-se
radigma mecanicista de que precisamos nos Íivrar. ambos à geraçã o de informações, a teoria da informaç[o re vela-se uma es tru­
Parece-me que· a chave para apreender a nature za holís tica e compleme·n­ tura subjacente que pode integrar os dois modelos. Com relação a isso, é inte ­
tar dos modelos holográfico e analítico reside numa compree nsão do concei­ ress ante observar que Gabar, o inventor do holograma, foi também um dos três
to de informação. Embo ra a informaça:o seja comumente concebida como uma pesquisadores que, inde pendente mente , introduziram o conceito de informa­
entidade ou coisa transp or tada po r um sinal ou input, essa inte rpretação me­
ção (MacKay, 1972).
canicista é re almente falsa. Na teoria da informaça:o, a "informaça:o " é de fini­ Esta conclusão a resp eito da re laçao entre a teo ria da informação e os mo­
da em termos de uma relação entre uma entrada (input) e um dispositivo de
delos holográfico e analítico é importante porque se aceitamos a concepção de
rece pção. A partir des ta perspe ctiva, é impossível falar sobre informaçao inde ­
Pribram de que o cérebro funciona tanto holográfica co mo analiticamente , re­
pendentemente de algum receptor. Um livro não contém informação para al­
sulta disso que uma te oria ge ral da consciência precis a se basear em premissas
guém que não saiba ler. t esse asp ecto r elacional da informação que faz dela
holísticas, e utilizar a teo ria da informaçã"o. Tentei desenvolver tal teo ria (Battista,
um co nceito mais holístico que mecanicis ta. Diz-se que uma e ntrada tran�por­
1978) usando trê s co nceitos básicos:
tou uma certa quantidade de informação quando reduziu a incerte za associa­
da com o dis positivo de recepção ou de mediç[o . o valor seletivo da. entrada
· refere-se ao significado da informaça:o, ao passo que a quantidade de info rma- 1) Consciência é informação.
hierárqui­
ção é uma medida do grau de redução da incerteza que resulta da própria en- 2) As diferentes formas de consciência referem-se a diferentes níveis
trada (MacKay, 1972). · cos de informação.
função da quantidade
3) A intensidade· da consciência em qualquer nível é uma
Exemplificand o , se um homem es tá conversando com uma mulher e de­ de informação nesse nível.
seja s aber se · ela é casada, obse rva um anel de diamante no quarto dedo de· sua
mão esque rda e conclui que ela é casada, se�do que o significado do anel - se u
Essa teoria é importante porque esclarece a relaça:o entre consc1e ncia e es­
"valor seletivo" - para o homem é o fato de que ela é casada. A quantidade de
informaç[o transportada po r essa percepção de pende do grau d e incerte za que tados do cérebro, explica as co ndições so b as quais o corre a consciência e faz
o hom em inicialmente tinha a re speito de a mulher ser ou na-o casada. A incer­ pre visões a respeito da c'onscit'.!ncia em se res não -humano s e no unive rso como
um to do. O único ponto que quero enfatizar aqui é qu e es sa teo ria da informaç[o

J
teza de um co njunto finito (H) é representada matematicamente pela somatória:
138 139
da consciência pode integrar os modelos holográfico e analítico de form as espe­ tal modelo poderia explicar a expenench, de conhecer tudo ao mesmo tempo,
cíficas de experiência consciente numa teoria geral da consciência fornecendo, pres ente nesses estados unitivos.
para isso, uma estrutura lúerárquica que pode relacionar entre si as diferentes O valor de uma abordagem pela teoria da informaçlro está no fato de que
formas de consciência. essa abordagem é capaz de integrar cada um desses modelos específicos de cons­
Graças â obra pioneira de Tart (1972), aprendemos que o problema da ciência numa teoria geral e integrada da consciência. Isso é possível porque os
'
�'i' consciência não é um problema unitário, mas deve abranger cada estado es pe­ mecanismos holográfico e analítico podem ser concebidos corno dispositivos
cífico de consciência. Embora nã'o haja uma nomenclatura-padrão para os es­ para gerar informações, e os diferentes estados de experiência consciente po­
i( tados de consciência, qualquer teoria completa a esse respeito deve recorrer a
wna ampla variedade de estados de consciência, que incluem sensaçlro, percepçlro,
dem ser relacionados uns aos outros em termos de níveis lúerárquicos de infor­
maç[o. A Tabela 2 oferece um esboço da relaça-o entre estados específicos de
i
1

emoçlro, cognição, intuição,· autoconsciênc_ia e experiência da unidade (unition) consci ência e níveis de informação. Essa relaçlío é mais amplamente discutida
(consciência transpessoal). . num artigo anterior (Battista, 1978).
Tenho poucas dúvidas de que tanto o modelo holográfico como o analí­
tico nos sera:o úteis para compreender esses estados. Por exemplo, o sistema sen­ Tabela 2
sorial tem, ao que parece, caráter analítico pelo fato de que cada neurônio senso­ Informação e Consciência
rial responde a um determ inado padrão de freqüências no meio ambiente e traduz
Estado de Nível de Informaç!"o
esse padrão numa taxa seqüencial de descargas neuronais. Por outro lado, a per­ Consciência
cepção, como mencionamos anteriormente, pode· envolver tanto process os holo­
gráficos como analíticos. A situaçlro com as emoções permanece obscura, mas Sensação Informação 1.
o trabalho bem conhecido de Schacter e Singer (1962), mostrando que um es ­
tado particular de estimulação é compatível com várias diferentes emoções, de­ Percepção Informação 2, isto é, informação a respeito da informação 1 (o
significado da sensação).
pendendo das circunstâncias ambi entais sob as quais ocorrem, sugere que algum
mecanismo analítico se acha envolvido. O trabalho sobre a cognição e a intuição Emoção Informação 3, isto é, informação a respeito da informação 2 (o
é comumente conceitualizado em termos de duas diferentes estruturas de proces­ significado da percepção).
samento de informações, sendo que uma delas se encontra predominantemente
no hemisfério dominante, e a outra no hemis fério nlío-dominante. A estruturá Consciência
a) Cognição Informação 4a, informação a respeito dos níveis de informação
do hemisfério dominante process a informações de uma maneira analítica (linear, 2, 3, 5, 6, 7 (conhecimento reflexivo das outras formas de cons­
seqüencial) e, ao que se pensa, envolve a cogniçlro. O hemi sfério não-dominante ciência).
pode processar info rmações de uma maneira holográfica (holística, transforma­
cional) e supõe-se que envolva os processos da intuição e do sonhar. b) Intuição Informação 4b, informação a respeito dos níveis de informação
2, 3, 5, 6 (conhecimento não-reflexivo das outras formas de cons­
Anderson (1977) e Bentov (1977) fizeram excelentes conjecturas sobre ciência).
o papel de um mecanismo holográfico nos estados transpessoais. Basicamente,
argumentam que todas as informações potenciais a respeito do universo acham-s e Autoconsciência Informação 5, informação a respeito das informações 4 e 6 (conhe­
holograficamente codificadas no espectro de padrões de freqüências que, inces­ cimento da natureza da consciência própria).
santemente, nos bombardeia. Por mei o da meditação tranqüiliza-se o cérebro
Experiência da Unidade Informação 6, informação a respeito das informações 5 e 7 (expe­
de modo que ele poss a tornar-se harmoniosamente afinado com (arrebatado por) riência do processo da própria consciência).
esse padrão universal de freqüências. Quando isso ocorre, as informações codi­
(Unition)

ficadas a respeito do. universo tornam-se holograficamente decodificadas, e o Absoluto Informação 7, uma consciência integrada de todos os níveis de
i ndivíduo experimenta um estado de consciência unitiva com todo o universo. consciência (consciência pura).
Considero ess e modelo atraente por três razões. Em primeiro lugar, a experiên­
NOTA: A palavra "consciência" que aparece nos níveis 4, 5, 6 e 7 não está traduzindo
cia comum de indivíduos que .medita�, atingindo um nível mais profundo de consciousness, mas sim awareness, estado em que o indivfduo se encontra atento e vigilante,
meditação num grupo de pessoas experiente s, é compatível com esse modelo e também ciente e informado (N. do T.).
porque esse grupo poderia estabelecer um campo localizado mais poderoso com
o qual eles se tornariam afinados. Em segundo lugar, as descobertas realizadas
graças ao EEG (eletroencefalograma), feitas por vários· investigadores (Banquet, :É agora possível rever os pontos essenciais deste artigo a partir de uma
1973; Gellhom & Kiely, 1972; Dorriash, 1976) mostrando a ocorrência de sin­ perspectiva um pouco diferente. Foi, � � --t e feita uma distinçlro entre mo­
}; ��� ��� é uma analogia que tenta !X·
cronização em todo o córtex cerebral durante esses estados, trazem apoio â idéia delos, paradigmas e teorias científicas.�
. c .
de um mecanismo holográfico envolvendo todo .o cérebro. Em terceiro lugar, p��� ª -�� _ � � - ��-� . -��-. º�_ {� ori��) _§��: e�� ��:-��j�-���- de
-�'.:11 i s e t s tra te
·�---·'
140 141
·-,
construções abstratas que são usadas para rep resentar _e �-J<.p��a_!"_!.�n_ômenos por de ouvintes ávidos e receptivos. Escutei, também, a cit'!ncia - da qual só pude
-
mei o d o desenvolvimento de um _c9_ajúito-��e hipóteses v.e,rificáveis a:-respêTfo acompanhar parte do que disse - e ela também fluiu atr avés de mim como mo­
deles: 1os 1;aiticiígmàs\referein-se ao conjunto de. .supo. sições vimento e energia. C omo um artista, ele estava em ressonância com o auditório.
. •'" ..�ásiç�fe· impl1citas--
:-:.
- .. ·-·--.ró À medida ..que· falava, escutei suas palavras, senti sua presença enquanto
robré -�s quais-se �pç,f� 'às . �9delos _ou teôri_as.
. ele desenhav� imagens ao meu redor. Eu podia reagir a elas, não respondend o
. - Tem ·ha�i;ro uma insatisfação crescente, no decorrer do século XX, com o
conjunto de pressupostos mecanicistas que formam a base de nossas teo rias cien­ num. diálogo , mas pondo em movimento minhas própria s visões, que eu conse- ·
tíficas tradicionais, como por exemplo a física newtoniana. O primeir o modelo guia esculpir em múltiplas dimensões. Em certos aspectos, isso nada tinha de
h olístico que foi desenvolvid o (o modelo analítico) base ou-se no computador novo, pois muitas experiências e idéias me conduziram por caminhos semelhan­
digital e enfatizou o processamento seqüencial, independente e linear de infor­ tes. Em outr os aspectos, era um modelo de ensino e de aprendizagem.
mações. Parece que esse modelo surgiu, antes de mais nada, porque mantém al­ Minha preocupação fundamental é com a mudança, tanto nos indivíduos
guma semelhança com os velhos modelos mecanicistas movidos-a -energia utili­ quanto na sociedade. Tenho muitas vezes atacado esse problema simples que
za dos na física tradicional. No entanto, esse modelo é realmente holístico pelo indaga p or que a realidade, o mapa do mundo e os conceitos orga nizad ores s:ro,
fat o de utilizar mais os conceitos de informação, incerteza, organizaça:o , proba­ na aparência, tão imutáveis, e por que as únicas mudanças possíveis só ocorrem
bilidade _e entropi a que os de energia, impuls o, força, mass a e determin açã o . À dentro dos limites de estritas regras que aceitamos. Será que os outros vêem co­
medida que esse modelo analítico passou a ser aplicado em escala cada vez m aior, mo eu vejo? Os pedaços estavam lá e, no e·ntanto, pareciam cair juntos forman­
as limitações dessa aplicabilidade ficaram cada vez mais evidentes. Para c ompreen­ do figuras muito diferentes. Po uco a po uco, ficou claro que a o proporcionar a
der os fenômenos que não são bem explicados pelo modelo analítico, como por si mesmo espaço para poder enxergar de maneira diferente, o que era fixo, imu­
exempl o a interconexidade quântica do universo , a natureza panorâmic a da per­ tável e determinado começava a se desagregar e novos p adrões emergiam. Havia
cepçlío, a existência de estados transpessoals de consciência, ilrn novo m odelo uma nova realidade: um processo criativo:1
holístico está emergindo. Esse novo modelo, o holográfic o, enfatiza o proces­ As perguntas, então, passaram a se r estas: mudar. realidades ou seguir Pri­
samento interdependente, paralelo e simultâneo de informações. bram; e como programar em si mesmo a tarefa de puxar uma extensa:o ·até. rea­
. A confusa-o que se estabeleceu veio do fato de não ter ficado claro que tanto o lidades que já existem; e que nos· abririam. as portas a um caminho de mediaç:ro
modelo analítico corno o hol ográfico sã o h olísticos. Vem daí a tendência para enca ­ com a realidade aceita, um caminho que, dessa forma, nos mudaria. As pess oas,
rar os m odel os h olográfico e analítico como competitivos em vez de complementares. freqüentemente, s[o programad as por meio de crises externas ou internas, por­
T odavi a, tanto o m odelo analítico como o holográfico s:ro parte do desen­ que sem elas raramente desistimos dos confortos do conhecido. O começo da
volvim.ento em;;gente de u�a teoria geral holística baseada na te oria da infói'- reaprendizagem é uma crise do que é percebido.
. mação. No entanto, o valor global do modelo holográfico reside na sua capaci­ Se reprogramar não é inventar uma ·nova realidade mas l_evar-nos a ver rea­
dade . para complementar o modelo analítico e revelar -nos uma nova maneira de lidades que, embora existindo, são invisíveis, o problema está no processo da
gerar inform ações. Esse modelo terá grande aplicabilidade e, certamente, grande automudança; não está na cura externa; nem está em maneiras alte'rnativas de
impor tância para nos ajudar a explicar o universo com o um todo, a percepção, proceder; nem no comando c ompetente e isolado; mas talvez esteja no comando
a intuição, a memóri a , a experiência da unidade, etc. Entretanto ;· a limitaç:ro do competente de um process o de ap rendizagem baseado no desenv olvimento, e
model o h olográfico reside no fato de que é um modelo e n:ro uma te oria. A teoria que nos ensine como perceber de novo.· A muàançl!- to rna-se assim recriaç:r o2 , e
dos holo gramas baseia-se na teori a da informaça:o e a teoria da informação é ne­ recriaçiío é o p rocesso por meio do qual aprendemos a ver realidades alternativas.
cessária para explicar e predizer o que está ocorrendo, assim como os modelos Por um lado , sou um terapeuta ; p or outro um planejador social. Antes de
h olográfico e analítico são necessários para explic ar como algo. está ocorrendo. mais nada, p or ém, sinto que sou um profess or e um guia que ajuda na t arefa da
As teorias h olísticas fo rmais precisam ser elaboradas usand o conceit os de sinceridade, que oferece imagens alternativas, e que por vias autorizadas afirma
informação e sistema. À medida que isso ocorre, p ode-se ter confiança no fato que elas p oderiam existir. Há process os disponíveis para chegar lá, mas ninguém
de que os model os holográfico e analítico se rão integrados numa compreens:ro oferece as soluções ou as. curas para quem quer que seja ou para qualquer situação.
mais rica e mais abrangente que a compreensão que se poderia obter a partir do A resposta, enta:o, é ajudar alguém a se "lembrar", a procurar dentro de si, bem
uso de qualquer um deles sozinho. c om o ajudar outros a fazerem o mesmo, ou permitir que o façam.
Onde senti obstácuio foi na compreensão de que mudanças desse tipo sa:o
muitas vezes um luxo, p ois no âmbito das realidades correntes, as necessidades
Vivenciando a Holografia básicas têm, via de regra, de ser satisfeitas em primeiro lugar. A seguir, a mudança
Leonard J. Duhl a que se aspira é a reàlização daquele "estar ligado à terra" (nutrição de todos
os tip os e crescimento) que no s dá suficiente sens o de auto-estima para conti­
Escutei Karl Pribrain de vanas maneiras. Eu o vi
dançar corno um duende nuar, e para confiar num process o de mudança de re alidade. Certamente, isso
brincando com idéias, conceit os e pensamentos ao aprese
ntar suas imagens diante nem sempre é verdade, pois é possível dar saltos n o crescimento, os quais recriam
142 /
143
j
realidades alternativas; no entanto, para a maioria das pessoas os caminhos há
muito tempo aceitos sa:o ainda os seguidos.
Pribram nos oferece uma maneira de conhecer. Ah! podemos dizer. Quan­
do afirmo: "O imperador está nu", estou certo, como o.está alguém que diz: "As
,., roupas são novas e bonitas.'' O conceito de certo/errado pode desaparecer. Ele
se torna certo para que finalidade? Em qual holograma há entlío respostas "cer­
tas" para todos nós e, na verdade, respostas que podem nos conectar a um grupo NOTAS E REFERÊNCIAS

11 universal, uma vez que num dos níveis desse holograma está o todo da existência?
A ciência agora oferece à mente ocidental a "prova" de que outras realidades
existem, e que a ponte entre todas essas realidades está dentro de nós. Entlío,
haverá respeito pelo que é diferente e pelo que é único ("Deixe que mil flores
floresçam" pode ser uma política social), ambos mantidos coesos por um tecido 1
sócio-espiritual. Holonomia e Bootstrap
Nos passos de minha dança própria voltei-me, num giro, para a mudança 1. O termo "holonômico" foi introduzido por George Leonard para se referir a entidades
social, onde a verdadeira sabedoria nlro é legislaç:ro, programas, dinheiro ou de­ com "a· natureza de um holograma"; veja G. Leonard, The Silent Pulse, Dutton, Nova
talhes de política administrativa, pelos quais somos tantas vezes capturados. Há, York, 1978.
2. Para uma discussão detalhada sobre o Bootstrap, que inclui referências aos artigos ori­
em vez disso, uma aprendizagem societária 3 por meio da qual cada um de nós
ginais de Chew, veja F. Capra. The Tao of Physics, Shambala, Berkeley, 1975, capítulo 18
(individualmente, e, o que é mais importante, coletivamente) pode conhecer no­ (em português, O Tao da Ffsica, Editora Cultrix, São Paulo, 1986).
vas percepções, que nlío têm de ser criadas, mas expandidas graças a diferentes 3. Para uma revisão detalhada do assunto, veja F. Capra, "Quark Physics Without Quarks: A
tipos de processos políticos, governamentais e de planejamento. Review of Recent Developments in S-matrix Theory", relatório do Lawrence Berkeley
Toda a natureza da mudança social fica transformada. As imagens, percepções Laboratory, código LBL-7596, maio de 1978; apresentado ao Ainerican Journal of Physics.
e realidades (imagens) alternativas que podemos aprender a "ver", nos reprogra­
mam. Através de uma· forma de processo de planejamento de "baixo para cima", Fatores do Princípio da Incerteza nos Modelos Holográficos da Neurofisiologia
mudamos as instituições, as estruturas e as leis. A-liderança4 que nos guia para
as mudanças torna-se uma tarefa sagrada, uma tarefa de cura e de aprendizagem, Bohr, N. Atomjc Physics and Human Knowledge. Nova York: John Wiley and Sons, 1958.
individual e social, com as dimensões da comunidade, porque é nela que está a Capra, F. The Tao ofPhysics. Berkeley, Califórnia: Shambhala, 1975.
Eccles, J .C. Facing Rea/ity. Nova York: Springer Verlag, 1970.
responsabilidade de despertar novamente em nós todo o supremo potencial das Eddington, A.S. New Pathways in Science. Cambridge, Inglaterra: Cambridge University Press,
sementes que somos. � uma tarefa sagrada porque é um processo de mediaça:o 1935.
entre todas as partes do ho�ograma, e porque muitas coisas, a despeito de nossos Heisenberg. W.Physic& and Beyond. Nova York: Harper & Row, 1971.
novos insights, continuam desconhecidas. Só podemos percebê-las graças a um Pelletier, K.R. Mind as Healer, Mind as Slayer: A Holistic Approach to Preventing Stress Disor­
primitivo sentimento estarrecedor, parecido com a sensaç.ão de pavor que as crian­ ders. Nova York: Delacorte and Delta, 1977.
Pelletier, K.R. Toward a Science of Consciousness. Nova York: Delta, 1978.
ças experimentam, vindo de uma sabedoria desconhecida. Young, A.M. The Reflexive Universe. Nova York: Delacorte, 1976.
Simbolicamente, escalamos a montanha mágica para oferecer à semente
o alimento de uma nova luz. Em vez de se tornar uma indesejável erva daninha,
transforma-se numa bela flor. O Paradigma Holográfico e a Estrntura da Experiência
Muito obrigado, Karl Pribram.
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Khinchin, A. Mathematical Foundations of Jnformation Theory. Nova York: Dever, 1957. quiatria da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, São Francisco, e Diretor da
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146
147
(
BOB SAMPLES é autor de The Metaphoric Mind.
JOHN SHIMOTSU estd na décima série.
WILLIAM IRWIN THOMPSON i o fundador e diretor de Lindisfarne, uma comunidade edu­
cacional. E historiador cultural e autor de At the Edge of History. Passages About Earth, Evil
and World Order e de Darkness and Scattered Light.
WILLIAM TILLER leciona no Department of Materiais Science da Universidade de Stanford
e é um explorador da ffsica da consciência.
Trans·
JOHN WELWOOD, PH.D., é editor associado de ReVision e editor do Toe Journal of 7
per sona! Psychology.
FÍSICA, MISTICISMO
E O NOVO PARADIGMA HOLOGRÁFICO
Uma Avaliação Crítica

por Ken Wilber

Estamos atualmente passando por uma mudança de paradigma na ciéncia -


talvez a maior mudança desse tipo até hoje. Pela primeira vez, deparamo-nos com
um modelo a,brangente para experiéncia.s mfsticas, que tem a vantagem adicional
de derivar da vanguarda da ffsica con_remporânea.
- Lawrence Beynam (1978)

Para compreender como o novo paradigma científico se encaixa no esquema


global das coisas, é necessário, antes de mais nada, possuir um esquema global
das coisas. A filosofia perene sempre ofereceu esse esquema, e, por questa:o de
conveniência, o usarei aqui.
No que se segue, farei um resumo da phi/osophia perennis :.... deixando pelo
caminho, entretanto, detalhes suficientes com os quais trabalhar - e, a seguir,
aplicarei essa filosofia com vistas a uma elucidaça:o e a uma crítica tanto do "pa­
radigma holográfico" como da "nova física", abordando brevemente cada um
dos pontos-chave envolvidos.
A mais notável característica da filosofia/psicologia perene é o fato de ela
apresentar o ser e a consciência como uma hierarquia de níveis dimensionais,
movendo-se a partir dos domínios mais baixos, mais densos e mais fragmentá­
rios até os mais altos, mais sutis e mais unitários. No hinduísmo, por exemplo,
o nível mais baixo é chamado annamayakosa, que significa o nível feito de ali­
mento - isto é, o corpo físico e o cosmos material. O nível seguinte é chamado
pranamayakosa - o envoltório constituído pelas funções biológicas, pelo alento
vital, pelas emoções, pela bioenergia e assim por diante. O budismo Mahayana
refere-se a esses dois níveis chaman.do-os de os cinco vi/nanas - o domínio dos
cinco sentidos e de seus objetos físicos.
O nível seguinte, de acordo com o hinduísmo, é o manomayakosa, '·'o en­
voltório feito de mente". No budismo, ele é denominado manovijnana - a mente
que permanece (miopemente) próxima dos cinco sentidos. Esse é" aproximada­
mente o nível que nós, no Ocidente, chamaríamos de intelecto, mente, ego men­
t.!Í, processo secundário, pensamento operacional, etc.
i Mais além da mente, de acordo com o hinduísmo, está o vijnanamayakosa
(que os budistas chamam de manas). É uma forma muito elevada de mente, ta:o
alta, na verdade, que é melhor nos referirmos a ela usando outro nome - sendo

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l
Esse caminho de sabedoria envolve a transcendência de toda a dualidade SUJet­
1
o mais comum deles "domínio sutil". Diz-se que o sutil inclui processos arque­
j_:
típicos, insights de ordem elevada e visões, intuiç[o extática, uma extraordiná­ to/objeto em consciência sem forma. O nível 6, o supremo, aguarda por alguém
ria clareza de percepção ciente e alerta, uma consciéncia panorâmica e penetran­ que abra caminho através das barreiras finais dos níveis 4 e 5, !iespertando a si
te, que alcança muito além d_os limites ordinários do ego, da mente e do corpo. 1
mesmo como consciência suprema.

1
Mais além do sutil fica o domínio causal (que o hinduísmo chama de ananda­
mayakosa, e o budismo de alayavijnana). :É um domínio de transcendência per­ Tabela 1
1
feita, ta:o perfeita que, segundo se afirma, vai além da concepçao, da experiên­
1. Ffsico - matéria/energia nã:o-viva
cia e da imaginação de qualquer indivíduo comum. :É um domínio de Radiância 2. Biológico - matéria/ energia viva, prânica, sensitiva
sem forma, de insight radical da totalidade da manifestaçao, de liberaçao beatí­ 3. Mental - ego, lógica, pensamento
fica no infinito, de ruptura de todas as fronteiras, superiores ou inferiores, e de 4. Sutil - o arquetípico, transindividual, intuitivo
sabedoria e percepção absolutamente panorâmicas ou dotadas da natureza de es­ 5. Causal - radiância sem forma, transcendência perfeita
pelhos perfeitos. 6. Supremo - consciência enquanto tal, a fonte e a natureza de todos os outros
níveis
Atravessando o domínio causal, a consciência desperta mais uma vez, agora
em sua morada absoluta. Essa é a Consciência enquanto Tal; ela não é apenas o
limite infinito do espectro do ser, mas é também a natureza, a fonte e a ipseidade Observe que essas diferentes disciplinas, à semelhança dos níveis aos quais
de cada nível do espectro. Ela permeia radicalmente tudo, e na-o existe outra além elas se referem, s[o hierárquicas. Isto é, assim como cada nível do espectro trans­
dela. A essa altura - mas na:o antes - todos os níveis são experimentados como cende mas inclui o nível que o precede, assim cada estudo mais elevado envolve
manifestações perfeitas e equivalentes desse Mistério Supremo. Aí n:ro há níveis suas disciplinas inferiores - mas o contrário na:o acontece. Assim, por exemplo,
nem dimensões, não há mais alto nem mais baixo, na:o há sagrado nem profano; o estudo da biologia utiliza-se da física, mas o estudo da física n:ro usa a biologia.
aí o real é tão ostensivo que o zen o descreve assim: E outra maneira de dizer que os níveis mais baixos n:ro abrangem nem po­
dem abranger os níveis mais elevados. A máxima fundamental da filosofia pe­
Enquanto o vento embala os salgueiros rene afirma que o mais elevado não pode ser explicado pelo mais baixo, nem
Gotas de veludo movem-se no ar pode derivar dele. (De fato, como veremos, o mais baixo é criado com base no
Enquanto a chuva cai sobre os flores da pereira mais alto, um processo chamado "involuça:o".)
Borboletas brancas saltitam no céu. Embora os vários níveis dimensionais sejam hierárquicos, isso n[o significa
que sejam radicalmente· separados, discretos e isolados uns dos outros. São, na
O resumo acima nos daria aproximadamente seis níveis principais - físico, realidade, níveis diferentes, mas níveis diferentes de Consciência. No entanto,
biológico, mental, sutil, causal e supremo (listados mais adiante, na Tabela 1). afirma-se que os vários níveis se interpenetram mutuamente. Aqui está uma ex­
Ora, muitas . tradições subdividem e ampliam extensamente ·esse modelo (afir­ celente descriçao:
ma-se, por exemplo, que o sutil consiste em sete níveis). Mas, à parte isso, é im­
portante compreender que todas as principais tradições perennis concord_am com Esses "mundos" [ ou n(veis dimensionais] não s[o regiões separadas, divididas
essa hierarquia geral, e que a maioria_ delas concorda até mesmo com os detalhes. espacialmente, de modo que seria necessário mover-se no espaço para passar de uma
Além disso, essa hierarquia na:o é um conjunto minucioso de sutis e acessórias para outra. Os mundos mais altos interpenetram completamente os mundos infe­
riores, que são moldados e sustentados por suas atividades.
questões filosóficas; para essas tradições, ela é o núcleo fundamental da sabe­ O que os divide é o fato de que cada mundo tem um nível de consciência
doria perene tal como pode ser formulada em palavras. Pode-se, assim, dizer com mais limitado e controlado que o mundo acima dele. A consciência de nível mais
propriedade que qualquer consideração sobre a "visão de mur:ido" dos místicos baixo é incapaz de experimentar a vida dos mundos mais altos e não está nem mes­
que omita esse tipo de hierarquia é seriamente inadequada. mo ciente de sua existência, embora seja interpenetrada por eles.
De acordo com as tradições perenes, cada um desses vários níveis tem um Mas se os seres de um mundo inferior podem elevar sua consciência até um
nível mais alto, então esse mundo mais elevado torna-se manifesto para eles, e po­
campo apropriado de estudo. O estudo do nível é, basicamente, o da física e da de-se dizer que passaram para um mundo m"ais alto, embora não se tenham movido
química, o estudo das coisas Mo-vivas. O nível 2 é o domínio da biologia, o es­ no espaço (Shepherd, 1977).
tudo dos processos da vida. O nível 3 é o nível tanto da psicologia(quando a cons­
ciência está "voltada para dentro") quanto da filosofia (quando está "voltada Os v.ários ntve1s, ent[o, interpenetram-se e interconectam-se mutuamente.
para fora"). O nível 4, o sutil, é o domínio da sagrada religia:o; isto é, da re!igi[o Porém, não de uma maneira equivalente. O mais alto transcende o mais baixo
que almeja o insight visionário, halos de luz e bem-aventurança, intuiç:ro angé­ mas o inclui - não vice-versa. Isto é, tudo o que é do inferior está "dentro" do
lica ou arquetípica e assim por diante. O nível 5, o causal, é o domínio da sa­ superior, mas nem tudo do superior está no inferior. Como um exemplo simples,
bedoria religiosa, que tem por objetivo n:ro simplesmente experiências de ordem há um sentido segundo o qual tudo o que é do réptil está no homem, mas nem
mais elevada mas, principalmente, a dissoluça:o e a transcendência de quem as faz. tudo do homem está no réptil; tudo o que é do mundo mineral está na planta,
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mas não o contrário, e assim por diante. "O mais altamente evoluído", explica e da mortalidade foi apenas o jogo do Divino, um esporte cósmico, um gesto de
Wachsmuth, "sempre contém em si os atributos do anterior, embora .sempre se Auto-esquecimento de modo que o choque de Auto-realizaça:o fosse o mais apra­
desenvolva como uma nova entidade, uma atividade que se distingue claramente zível. A ondulaç[o procedeu ao esquecimento do Se![, com certeza - mas foi
da do outro" (1977). uma onci.ulaç[o do Se![, e permaneceu assim durante todo o jogo.
Desse modo, quando o sábio místico fala desse tipo de mútua interpene­ Dessa forma, esse movimento do mais alto para o mais baixo - que é a
tração, refere-se a uma interpenetração multidimensional com não-equivalência. involuça-o . - é, de imediato, um ato de pura criaça:o e uma fulgurante radiância
A explicação, oferecida pelos sábios místicos, dessa interpenetraça:o mul­ (por parte do Atman), e uma trágica narrativa de sofrimento e de infelicidade
tidimensional constitui parte da mais bela e profunda literatura do mundo.* A épica (por parte da auto-ondulação (self-ripple) tentando realizar o projeto
essência dessa literatura, embora pareça quase uma blasfêmia tentar reduzi-la a Atman). O propósito supremo da evoluç[o - o movimento do mais baixo para
uns poucos parágrafos, é que "no Princípio" há somente a Consciência enquanto o mais alto - é o despertar como Atman, e desse modo reter a glória da criaça:o
Tal, sem tempo, .sem espaço, infinita e eterna. Por nenhuma raza:o que se possa sem ser forçado a atuar no drama do auto-sofrimento.
estabelecer em palavras, uma sutil ondulação é gerada nesse oceano infinito. Essa Durante o curso da história de nosso universo (e a ciência nos ajuda nesse
ondulaça:o não poderia, por si mesma, subtrair nada do infinito, pois o infrnito ponto), evoluímos do nível l (que começou aproximadamente há 15 bilhões
pode conter toda e qualquer entidade. Mas essa ondulação sutil, despertando de anos com o Big Bang) para o nível 2 (que ocorreu vários bilhões de anos mais
para si própria, esquece o mar infinito do qual é apenas um gesto. Sente-se, por­ tarde, quando a matéria despertou em alguma realizaçlio de vida) e daí para o
tanto, posta de lado face ao infinito, isolada, separada. nível 3 (que até agora só foi plenamente alcançado pelos seres humanos). A evo­
Essa ondulação, muito rarefeita, é a região causal (nível 5), o verdadeiro lução se acha, por assim dizer, semicompleta. "A humanidade", disse Plotino,
começo, embora extremamente débil, da onda de autoconsciência (sel[hood). "está suspensa a meio caminho entre os deuses e as feras."
Nesse ponto, no entanto, ela é ainda muito sutil, muito "próxima" do infrnito, Mas no decurso passado da história da humanidade, alguns homens e mu­
da bem-aventurança. lheres, graças à disciplina evolucionária da alta religia:o, foram bem-sucedidos
Mas, de certa forma, na:o se acha plenamente satisfeita, na:o está profun­ em empurrar seu próprio desenvolvimento e evoluça-o para o nível 4: o nível do
damente em paz. Porque, para encontrar essa paz total, a ondulação deveria re­ sagrado, da religião e a primeira intuição de uma rea.lidade transcendental, una
tornar ao oceano, dissolver-se novamente em infinidade radiante, esquecer de si em essência, permanecendo acima e além da mente, do sei/, do corpo e do mun­
mesma e lembrar do absoluto. No entanto, para isso ela teria de morrer - pre­ do ordinários. Esse "além" foi poeticamente chamado de Paraíso; essa unicidade
cisaria aceitar a morte de seu sentido de self separado. Mas isso a deixa aterrorizada. foi chamada de Deus uno. Essa intÚição não ocorre� plenamente até por volta
Uma vez que tudo o que ela deseja é o infinito, mas fie.a aterrorizada em do ano 3000 a.C., com o surgimento das primeiras grandes religiões monoteístas.
aceitar a morte necessária, ela continua procurando o infinito por meios que o (Antes dessa época, havia somente realizações politeístas - um deus do f ogo, um
evitem. Como a ondulação. quer se libertar e ao mesmo tempo tem medo disso, deus da água, etc. Trata-se, na verdade, de magia xamânica, oriunda de uma simples
ela arranja um compromisso e um substituto. Em vez de encontrar o Deus real, manipulação do nível 2, ritos e energias emocionais e sexuais.) Por volta de 500
simula que ela própria é deus, cosmocêntrica, heróica, toda-suficiente, "imortal. a.C., no entanto, certas almas voltadas para a evoluça-o deram, em seu desenvolvi­
Isto não é apenas o início do narcisismo e da batalha da vida contra a morte, ·mento, um impulso para o causal - Cristo, Buda, Krishna, os grandes sábios de
é uma versão reduzida ou restrita da consciência, pois a ondulação na:o mais é importância axial. Seus insights foram expressos e ampliados de modo a produzir
una com o oceano, ela própria tenta ser o oceano. aquilo que os tibetanos chamaram de via svabhavikakaya- a via do nível 6, ou a
Movida por esse projeto Atman - a tentativa de obter o infinito por meios Verdade já realizada, a via do zen, de Vajrayana, do Vedanta. O que permanece é,
que o evitem e de forçar gratificações substitutivas - a ondulaça:o cria modos para o mundo, um exemplo a ser seguido, por meio de um processo evolucionário
de consciência sempre mais cerrados e mais restritos. Presumindo que o causal de meditação, para os domínios mais elevados, culminando no infinito.
é menos que perfeito, ela reduz a consciência para criar o sutil (nível 4). Even­ De acordo com a filosofia perene, todo esse processo de involuça:o e evo­
tualmente, achando que o sutil é menos que ideal, ela reduz a consciência uma lução não apenas é posto em movimento através dos séculos, mas também se
vez mais para criar o mental (3). Fracassando nisso, ela a reduz a.o plano prânico, repete de momento a momento, incessante e instantaneamente. Neste momen­
e a seguir ao material, onde, finalmente, exaurindo. sua tentativa de ser deus, cai to, e também no seguinte e no que lhe segue, um indivíduo parte para o infrnito.
num torpor inanimado. Mas neste momento, e no seguinte e no que lhe segue o indivíduo se contrai,
No entanto, por trás desse projeto Atman, que é o drama da ignorância afastando-se do infinito e termina reduzido ao nível da sua presente adaptaça-o.
do self separado, aí, não obstante, reside Atman. Tudo no trágico drama do desejo Ele involui até o mais alto ponto a que já chegou a evoluir - e todos os domí­
nios superiores s[o simplesmente esquecidos, reprimidos, tomados inconscientes.
* O que se segue é, aproximadamente, uma combinação do sutra Lankavatara, do Livro
:É por isso que_ toda meditação é chamada recordaça:o ou reminiscência (smriti,
Tibetano dos Mortos e do existencialismo ocidental. Para uma abordagem mais detalhada, em sânscrito, sati, em páli, como em satipatthana, anamnesis para Plata:o, zikr para
veja The Atman Project (Wheaton: Quest, 1980). o sufi - todos sa:o precisamente traduzidos como "memória" ou "recordação").

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J
Toda essa panóplia de níveis mais elevados, que, momento a momento, FÍSICA E MISTICISMO
geram o inferior, e da fascinante interpenetração de cada nível com os outros,
bem como da extraordinária dinâmica eritre os níveis, tudo ocorrendo num cam­ Uma das doutrinas do misticismo com freqüência mencionadas é a da "in­
po de radiância fulgurante - é tudo isso o que o sábio místico quer dizer quan­ terpenetração mútua", tal como é apresentada, por exemplo, na escola de budis­
do fala de interpenetração multidimensional com não-equivalência. mo Kegon, nos Discou�es de Meher Baba, nos Cinco Graus da Escola Soto do zen,
O fato de o sábio místico falar com tanta freqüência sobre a diferença en­ etc. Por "mútua interpenetração" o místico entende ambas as formas de inter­
tre níveis, e enfatizar essas diferenças, não significa que ele negligencia as rela­ penetração discutidas acima: unidimensional e multidimensional, holoárquÍca e
ções entre os elementos num determinado nível. De fato, o místico é preciso hierárquica, horizontal e vertical.
em sua compreensão da comunidade dos elementos que constituem cada nível. Imagine os seis níveis de consciência como um edifício de seis andares:
Desde que tudo nesses elementos é "feito" da mesma densidade de consciência - o místico entende que todos os elementos em cada andar interagem harmonio­
uma vez que todos eles pertencem ao mesmo nível - são todos perfeitamente samente, e, o que é mais importante, cada um dos andares interage com todos
interpenetrantes e mutuamente independentes, de uma maneira equivalente. Isto é, os outros. Quanto a essa interação em muitos níveis, o místico entende que os
nenhum elemento de qualquer dado nível é mais elevado, ou mais real, ou mais elementos físicos interagem com os elementos biológicos, que interagem com os
fundamental que os outros, simplesmente porque todos eles são feitos da "mesma mentais, que por sua vez interagem com os sutis, que interagem com os causais,
matéria-prima" (o que significa, da mesma densidade de consciência). que passam para o infinito, cada nível substituindo seu predecessor mas em mú­
Para ser mais preciso, há certas hierarquias dentro de cada nível; não são, tua interpenetração com ele. E assim, falando de todos esses níveis, o ·místico
porém, hierarquias de status, tais como a de tamanho. Por exemplo, um plane­ diz, usando as palavras de Meher Baba, que "todos eles se interpenetram e exis­
ta é maior que uma rocha, um sistema solar é maior que um planeta, uma galá­ tem juntos".
xia é maior que um sistema solar. Essa é uma hierarquia de tamanho, e não de Agora, acontece que o físico moderno, trabalhando com o domínio mais
status ontológico, pois todas pertencem igualmente ao plano material. Neste exa­ baixo - o nível dos processos materiais ou não-sensitivos e não-vivos - desco­
to sentido, todas as hierarquias dentro de cada dimensão constituem-se de ele­ briu a interpenetração unidimensional no plano material: descobriu que todos
mentos equivalentes. os hadríons, léptons, etc. são mutuamente interpenetrantes e interdependentes.
Desse modo, no plano físico, nenhuma partícula elementar é "mais fun­ Segundo a explicação de Capra:
damental" que qualquer outra (todas elas parecem estar sujeitas ao bootstrap. *
No plano de nutrição, nenhuma vitamina é, em última instância, mais essencial
que qualquer outra (suprima qualquer uma delas e você morrerá). Na esfera mo­ A teoria quântica nos força a perceber o universo não como uma coleção
de 9bjetos físicos, mas sim como uma complicada teia de relações entre as várias
ral, nenhuma virtude é superior a outra - todas parecem envolver-se mutuamen­
partes de um todo unificado ... Todas as partículas [físicas] são dinamicamente
te (como Sócrates sabia e como Maslow descobriu para os valores B). No plano compostas umas das outras de uma maneira autoconsistente, e, nesse sentido, po­
sutil, t9dos os arquétipos são reflexos equivalentes de Deus, assim como todos de-se dizer que "contêm" umas às outras. (Nessa teoria), a ênfase está na interação,
os Sambhogakayas são aspectos equivalentes do Dharmakaya. ou "interpenetração", de todas as partículas ( 1977).
A questão é que todos os elementos de um dado nível são aproximada­
mente equivalentes em status e mutuamente interpenetrantes de fato. Todos Em resumo, falando dessas partículas subatõmicas, e das ondas e dos cam­
em um e um em todos - holograficamente, por assim dizer. Mas, em virtude da pos, o físico diz que "todos eles se interpenetram e existem juntos". Agora, uma
hierarquia, qualquer elemento de um nível superior é mais alto em status onto­
pessoa menos cautelosa, constatando que o místico e o físico usaram precisa­
lógico que qualquer elemento de uma dimensão inferior (por exemplo, a virtude
mente as mesmas palavras para falar a respeito de suas realidades, .concluiria desse
da compaixão· não é equivalente à vitamina Bl 2). Essa interconexidade mútua
modo que as realidades também devem ser as mesmas. Mas não são.
dos elementos de qualquer nível isolado é a interpenetraçtro unidimensional com
O físico, com sua interpenetração unidimensional, nos diz que todos os
equivalência. � um tipo de holoarquia existente dentro de cada nível de hierar­
tipos de eventos atômicos estão entrelaçados uns com os outros - o que é, em
quia. Dessa forma, a maneira mais simples de resumir a visão de mundo do
si mesmo, uma descoberta significativa. Mas ele não nos diz, e não pode nos dizer,
místico seria:
absolutamente nada a respeito da interação da matéria inanimada com o nível
1) Holoarquia dentro de cada nível
biológico, e da interação desse nível com o campo mental - que relação teria o
2) Hierarquia entre níveis plasma iônico a ver com, digamos, metas e impulsos do ego? Além disso, o que di­
zer da interação do campo mental com o sutil, e do sutil com o causal, e da inte­
Com essa informação de fundo, chegamos ao novo paradigma. ração e interpenetração inversas, ao longo de todo o caminho de volta pelos ní­
veis inferiores? Que pode a nova física nos dizer a respeito disso?
• Veja o artigo de F. Capra, neste livro (N. do T.). Sugiro que a nova física simplesmente de'scobriu a interpenetração unidi­
mensional em seu próprio nível (massa/energia na:o..sensitiva). Se bem que esta
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seja uma descoberta importante, n[o pode ser comparada com os extraordinários os quanta são inconseqüentes". Desde há muito isso é claramente reconhecido pelos
fenômenos de interpenetração multidimensional descritos pelos místicos. Vimos físicos. O nível quântico é a tal ponto submicroscópico que suas interações podem,
que o hinduísmo, para só citar um exemplo, possui uma teoria incrivelmente para todos os fins práticos, ser ignoradas no mundo macro. As intensas interações

,)11
complexa e profunda a respeito de como o domínio supremo gera o causal, que entre os mésons subatómicos, que soam tã"o místicas, não sa-o, em absoluto, obser­

if:
por sua vez gera o sutil, que cria a mente, da qual provém o mundo carnal e, bem vadas entre os objetos macroscópicos,· entre rochas e pessoas e árvores. Como Capra
no fundo, o plano físico. A física nos contou todo tipo de coisas significativas cuidadosamente explica, "a unicidade básica do universo ... toma-se evidente no nf­
a respeito desse último nível. Quanto aos seus predecessores, nada pode dizer vel atómico e se manifesta cada vez mais à medida que se penetra mais fundo. ..no
ci: (sem se voltar para a biologia, a psicologia ou a religião). Para falar de maneira domínio das partfcu/as subatómicas" [ o itálico é meu] (1977).
crua, o estudo da física está no primeiro andar, descrevendo as interações de seus Mas é precisamente no domínio comum das rochas e das árvores que o
elementos; os místicos estão no sexto andar, descrevendo as interações de todos místico vê sua mútua interpenetração de toda a matéria. Sua unicidade básica
os seis andares. do universo não "começa no nível atômico". Quando o místico olha um pássaro
Desse modo, como conclusão geral, embora aproximativa, a afirmaç!o de voando sobre um córrego que se precipita em cascata e diz: "Eles sao uma per­
que "as visões de mundo da física e do misticismo s[o similares" é uma genera­ feita unidade", ele não quer dizer com isso que se pegássemos um supermicros­
1
!,
!
lização excessiva e imoderada e baseia-se, como um físico recentemente se ex­ cópio e examinássemos a situação veríamos o pássaro e o córrego permutando
pressou, "no uso de similaridades acidentais de linguagem como se estas fos­ mésons de uma maneira unitária. Sua visão unitária é um impacto imediato ex­
1 sem, de certa forma, uma evidência de conexões profundamente arraigadas" pressando sua compreensão pessoal de que "todo este mundo na verdade é Brama".
(Bernstein, 1978). Isto é, até mesmo a concordância entre o místico e o físico no nível 1 deve
Além disso, a física e o misticismo n!o são duas abordagens diferentes da ser considerada como algo tênue ou como uma feliz coincidência. Pergunte a
mesma realidade. S!o abordagens diferentes de dois níveis de realidade bastante qualquer físico se as conexões entre, digamos, uma árvore· e um rio macroscó­
-diferentes, dos quais o último transcende mas inclui o primeiro. Isto é, a física picos são tão intensas e unitárias como as que ocorrem entre partículas subatô­
e o misticismo nã"o seguem o princípio da complementaridade de Bohr. Em ge­ micas, e,quase certamente ele dirá que não.O místico dirá que sim.
ral, não se compreende que a complementaridade, como é usada na física, signi­ Esta é uma questã"o fundamental e mostra, realmente, que o físico e o mís­
fica dois aspectos mutuamente exclusivos, ou duas abordagens mutuamente ex­ tico na'.o estão nem mesmo falando sobre o mesmo mundo. O físico diz: "O mun­
clusivas, de uma interação. A física e o misticismo n[o s[o complementares por­ do newtoniano ordinário é, para todas as finalidades práticas, separado e discreto,
que um indivíduo pode ser, ao mesmo tempo e no mesmo ato, um físico·e um mas o mundo subatôrnico é um padrão unificado." O místico diz: "O mundo
místico. Como dissemos, este último transcende mas inclui o primeiro; ele não newtoniano ordinário é, conforme o percebo diretamente, um todo indivisível;
o exclui. A física e o misticismo na-o são duas abordagens mais mutuamente ex­ quanto ao domínio subatômico,jamais o vi."
clusivas de uma realidade do que,digamos,a botânica e a matemática. Aqui, é a questão crucial, pois, corno explica Jeremy Bernstein, professor de
Toda essa noção da complementaridade da física e do misticismo vem do física do Stevens Institute (1978), "se eu fosse um místico oriental, a última coisa
fato de se ignorar os níveis de 2 a 5. Desse modo, parece que a física (nível 1) no mundo que eu desejaria seria uma reconciliação com a ciéncia moderna". De
e o misticismo (nível 6) são as duas únicas abordagens importantes da realidade. acordo com seu ponto de vista, é a própria natureza das descobertas científicas que
Dessa truncada visão da reàlidade advém a suposta "complementaridade" da fí­ os cientistas incessantemente mudam .e alteram,que a prova científica da última dé­
sica e do misticismo. Essa reivindicaç[o não é feita para a sociologia e o misti­ cada é a falácia dessa década, e que nenhum dos principais fatos científicos pode
cismo, a nutrição e o misticismo, ou a botânica e o misticismo; também não de­ deixar de ser profundamente alterado pelo tempo e por experimentos ulteriores.E
veria sê-lo para a física e o misticismo. se nós disséssemos que a iluminação de Buda acaba de receber corroboraça:o da físi­
O que é novo a respeito da nova física. nao é que ela tenha algo a ver com ca? O que acontecerá ent[o quando, daqui a uma década, novos fatos científicos
os níveis mais elevados da realidade. Com poucas exceções de menor importân­ substituírem. os fatos correntes (como deverá ocorrer)? Buda· perderá sua ilumina­
cia (que logo discutiremos) ela nem mesmo tenta explicar ou responder pelo ní­ ção? Não podemos ter as duas coisas. Se casamos hoje o misticismo com a física,
vel 2 (e muito menos pelos níveis de 3 a 6). Mais propriamente, ao se esfender n!o deveríamos também salvaguardá-lo? O que significa confundir fatos científi­
até os extremos das dimensões materiais, ela aparentemente descobriu a holoarquia cos temporais com domínios contemplativos intemporais? ."Casar uma filosofia
básica do nível 1, e isso, de fato, é algo novo. Nesse ponto, pelo menos, a física religiosa [transpessoal) com uma ciência contemporânea", diz o dr. Bernstein, "é
e o misticismo estão de acordo. uma r_ota certa para sua_ obsolescência."
No entanto, mesmo aqui precisamos ser cuidadosos. Na pressa de fazer o
casamento da física com o misticismo, sob a mira da espingarda da generalizaçao, A ORDEM IMPLICADA
tendemos a esquecer que a realidade quântica nã'o tem absolutamente nenhum
apoio no mundo real dos processos macroscópicos. O físico Walker expressa esse Os mesmos tipos de dificuldades cercam o uso popular do conceito, intro­
fato dizendo que, no mundo ordinário dos '.'automóveis e das bolas de basquetebol, duzido por David Bohm, de uma "ordem implicada" da matéria. O público em

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1

geral, e muitos psicólogos em particular, consideram o domínio implicado como formalismo da MQ, nem está tentando por essa via "provar" estados mais altos
se ele transcendesse as partículas físicas e, de algum modo, alcançasse um estado do ser com equações que não descrevem claramente nem mesmo a vida animal
mais elevado de unidade e totalidade. Na verdade, o domínio implicado não trans­ (nível 2) mas apenas processos nlfo-sensitivos. Pois certamente é verdadeiro que,
cende a matéria - ele a subcende [subscends] e expressa uma coerência, uma se o domínio implicado baseia-se numa interpretaçâ'o elegante dos fatos gerados
unidade e uma totalidade de todo o plano físico, ou nível 1. Realmente, ele vai pela MQ; enuro é igualmente certo que ela não possui nenhuma identidade fun­
além da matéria explicada, mas de uma maneira subjacente ou subcendente, e damental com nenhum dos níveis de 2 a 6. Em resumo, a ordem implicada, de
na:o de uma maneira transcendente. De fato, o conceito exclui explicitamente maneira como eu a enunciaria, é a estrutura unitária profunda (a holoarquia)
quaisquer domínios mais elevados, tais como a mente e a consciência. do nível 1, que é subjacente, ou que subcende, as estruturas superficiais expli­
Isso foi bem esclarecido pelo próprio Bohm. Antes de mais nada, Bohm cadas das partículas elementares e das ondas.·
se opõe claramente a tentar introduzir a m�nte ou a consciéncia no formalismo Ao mesmo tempo, o próprio Bohm está perfeitamente cônscio de que
da mecânica quântica (MQ), como alguns físicos gostariam de fazer. Como ele a noção de urna ordem implicada nao-local da physis ainda está longe de ser a
e Hiley colocaram a questão num artigo recente: "Mostramos que a introdução úrúca interpretação possível da MQ e, de qualquer maneira, longe de ser um
da mente consciente na física... é motivada por certas considerações bastante caso absoluto: "Atualmente", diz ele, "é necessário resistir à tentação de
gerais que têm pouco a ver com a própria mecânica quântica. Essa abordagem concluir que tudo [no domírúo físico] se acha conectado com tudo o mais,
contrasta com nossas próprias investigações usando o potencial quântico... Nosso independentemente das separações de espaço e de tempo. Até hoje, as evidên­
objetivo é, de fato, ·descrever essa ordem sem introduzir o observador em qual­ cias indicam que os efeitos na-o-locais [aquilo que o público veio geralmente
quer papel fundamentar' [o itálico é meu] (1975). A concluslfo do trabalho de a chamar de eventos holográficos ou eventos da ordem implicada] surgem sob
Bohm é a de que parece haver certos fenômenos quânticos que "nos apresen­ condições muito especiais, e quaisquer correlações que se tenha estabelecido
tam uma nova ordem, ou um novo processo estrutural, que nlfo se encaixa no tendem a ser rapidamente quebradas, de modo que nossa abordagem tradicio­
esquema newtoniano" (1975). nal, que analisa sistemas em subsistemas autônomos, é, em geral, perfeitamen­
Essa nova ordem, em termos gerais, é o domínio implicado (ou domínio te válida" (1975).
holográfico ou do holomovirnento). Mas Bohrn se esforça enfatizando que n:ro Aqui o ponto importante é que o insight dos místicos na:o reside no que
há nada de místico ou de transcendental com relação à ordem implicada. De acor­ esses físicos, conclusivamente, decidem.*
do com sua teoria, que é muito elegante, a ordem explicada repousa sobre um
mar de energia física implicada de magnitude e potencial extraordinários, e que
as equações da mecânica quântica "descrevem essa [ ordem implicada]" (1978).
Assim, num certo sentido., o domínio implicado vai além da matéria explicada:
"A matéria é como uma pequena ondulação nesse tremendo oceano de energia... A ORDEM IMPLICADA E A PSICOLOGIA
Essa 6rdern implicada subentende uma realidade que se prolonga imensame.nte
além daquilo que chamamos matéria. A própria matéria é apenas urna ondula­ O fato d.e a ordem implicada valer apenas para o nível da physis não
ça:o nesse pano de fundo" (1978). significa, simplesmente, que ela não pode ser aplicada, como metáfora (e
Mas em análise final, esse mar implicado, embora "mais sutil" que a ma­ não corno modelo), em níveis mais altos - ela pode (e o próprio Bohm es­
téria explicac:la, pertence ainda .ao domínio da physis ou da massa/energia não-viva pecula cada vez mais nessa direção). Mas certas precauções deveriam ser to­
em geral. Isso é óbvio, pois 1) Bohrn já excluiu os domínios mais altos, tais co­ madas.
mo a consciência mental, da mecânica quântica, e 2) as equações de rnecârúca Em primeiro lugar, a metáfora implicada/explicada, pelo fato de fornecer
quântica, diz-se, "descrevem a ordem implicada". O desdobramento a partir do apenas duas dimensões principais (três, no máximo, ao se lançar num domínio
domínio implicado é, diz ele, "uma idéia direta com relaça:o ao que se entende
pela matemática da (mecânica quântica). O que é chamado de transformação uni­
tária ou · de descrição matemática básica do rnovi.rnento em mecânica quântica
é exatamente aquilo de que estamos falando" (1978). Ora, as equações da me­ * Estou, neste artigo, omitindo a diferença mais radical e conhecida entre misticismo
e qualquer tipo de paradigma físico ou holográfico, porque é também a mais óbvia. A saber:
cânica quântica não definem a vida biológica, ou o nível 2; elas na:o descrevem
1) A compreensão dos princípios holográficos é um ato da mente, ao passo que a compreen­
a vida mental, ou o nível 3; tampouco descrevem os domínios sutil, causal ou sa:o da verdade mística é um ato de contemplação transmental, e 2) se as teorias hblográficas
absoluto. Descrevem algo que se processa no domínio da physis e em nenhum se destinam, como efetivamente se afirma, a descrever verdades transcendentes, ou a sugerir
outro lugar. Além disso, Bohrn estabelece claramente que "a ordem implicada algo assim como uma transcendência efetiva, o que ocorre é uma violenta ilusão conhecida
é ainda matéria". como erro de·categoria [sobre isso, consulte Wilber (1979)]. Alguns chegaram até mesmo a
� um crédito para Bolun que, em seus escritos teóricos, ele torna bastante sugerir que uma simples aprendizagem do paradigma holográfico seria o mesmo que uma
transcendência real, e nesse caso essas teorias hipotéticas não apenas estão erradas, como
claro o fato de ·que não está tentando introduzir a consciência ou a mente no também são prejudiciais.

158
159


"além de ambas"), só oferece a mais vaga representaçifo da Grande Cadeia do A questA'o é a seguinte: a menos que seja efetuado com extrema cautela e
Ser, a qual, como Huston Smith demonstrou, deve possuir no mfni.Q1o. quatro precisão (e isso pode ser feito lançando-se mA'o desta metáfora),* o uso da metá­
e · de preferência cinco níveis se pretende chegar à algo· semelhante à comple­ fora da ordem implicada tende a acabar gerando uma descrição da involuç:ro,
tude Gá resumimos a vers[o hindu/budista, de seis níveis, dessa Grande Cadeia). que é um movimento regressivo. A metáfora implicada resultante é um "mo­
Num sentido amplo, é aceitável falar de "gradações do domínio implicado", delo de fusão": o absoluto, em vez de transcender perfeitamente as distinções
de modo a estender a metáfora até abranger a Cadeia; porém, a menos que pos­ e as incluir numa ordem, meramente as oblitera e as dispersa. Mas a graça, co­
samos especificar a natureza precisa dessas "gradações", nada ganhamos com mo sabia São Tomás, aperfeiçoa a natureza; ela n[o a obscurece.
1i isso. E, naturalmente, não podemos imaginar que temos a autoridade da física
· para fazê-lo.
l
i1
,, Por outro lado, se deixamos que a Grande Cadeia do Ser colapse a fim de
MENTE E MECÂNICA QUÂ}:ITICA

i
'I encaixá-la na metáfora implicada/explicada, perdemos essa grande precisa-o e
abrangência da hierarquia tradicional da consciência. John Welwood, por exem­
plo, apresentou uma bela vers[o da Cadeia do Ser consistindo em níveis tais co­ Diferindo de David Bohm e da grande maioria dos físicos, há um punha­
mo a mente pensante, a região (ground) situacional do corpo (nível 2), a região do de físicos de vanguarda que não apenas desejam injetar a "mente" nas equa­
pessoal da mente (nível 3), a região transpessoal (níveis 4 e S), e a região aber­ ções da MQ, como também insistem nisso. Wigner, Walker, Muses e Sarfatti est[o
ta (nível 6) .. No entanto, para correlacioná-Ia de qualquer modo com a metáfora produzindo elaboradas explicações matemáticas que insistem em mostrar o papel
implicada/explicada, ele teve de colapsar seu modelo em apenas três níveis com crucial da consciência nas formulações da MQ. Siro esses tipos de formulações
1l uma conseqüente perda substancial de precis3:o, e nenhum ganho discernível em que, antes de mais nada, impeliram o físico a vaguear pelos quintais do místico -
1 clareza: Repetindo, isso é perfeitamente aceitável e útil até certo ponto. (No pre­ ou, pelo menos, do parapsicólogo.
O ímpeto para essas formulações reside naquilo que é chamado "proble­
sente caso, Welwood estava escrevendo num estilo introdutório simples, e foi
ma da medição", e este é taquigrafia para algumas equações matemáticas mui­
bem-sucedido nesse sentido [1979]. Mas se estendemos a metáfora para além
to sofisticadas e elaboradas e para certos paradoxos que elas geram.
das generalizações aproximadas e da hipérbole introdutória, nada lucramos; pe·
O próprio problema diz respeito ao seguinte tipo de dilema: a matemática
lo contrário, resultarifo daí certos erros especificáveis.
da MQ pode determinar, com grande precisA'o, a probabilidade de que um certo
Em segundo lugar, alguns escritores usam a ordem implicada como uma
metáfora não para a subcendência mas para a transcendência. Isto é, usa-se o
· _domínio implicado como uma metáfora de uma totalidade ou de uma unidade • Tentei, no meu livro Atman Project (Wilber, 1980), fazer isso ao longo das seguin·
tes linhas: A questão, freqüentemente negligenciada é que, se há gradações da ordem impli·
de ordem mais elevada, para se referir, presumivelmente, a níveis tais como o cada, também deve haver gradações da ordem explicada e, de fato, as duas seguem parale·
sutil ou o causal. Essa também é uma generalizaçifo ·útil - mas até certo ponto. lamente ao longo da evolução. À palavra "implicada", quando usada como metáfora, é quase
A dificuldade é que, como foi originalmente esclarecido por Bohm para o do­ sempre dada uma conotação de ser mais real, mais fundamental e mais básica que o mundo
mínio da physis, as ·"entidades" explicada e implicada s[o mutuamente exclu­ explicado das entidades manifestas. No entanto, elas na verdade se alternam. O que é impli·
sivas. A partícula "gotícula de tinta" está desdobrada e manifesta (explicada) cado em um nível de consciência torna-se explicado no nível seguinte. Isto é, cada nível é
implicado com relação ao seu predecessor mas êxplicado com relação ao seu sucessor. Prana,
ou dobrada e não-manifesta (implicada). N[o pode estar em ambas as situações por exemplo, é implicado com relação à matéria e explicado com relação à mente, assim como
ao mesmo tempo (de qualquer forma, n[o o pode sem com isso arruinar a de­ a mente é implicada face ao prana e explicada face ao sutil. A evoluça:o é uma série de etapas
monstração original). que consistem em tornar explicado aquilo que antes se achava implicado. À medida que cada
Tudo isso está muito bem para a dimensifo da physis. Mas os níveis real­ estrutura mais alta se desdobra, ou fica explicada, ela passa a incluir, ou implicar, a mais baixa.
Todo esse processo é cuidadosamente descrito em Atman Project. No entanto, quando os
mente mais elevados não são mutuamente exclusivos com os mais baixos - o termos "implicado/explicado" sã:o usados dessa maneira, não há precisamente nada de novo
mais alto, como dissemos, transcende mas inclui o mais baixo. Eis um simples com relação a eles; esse é o verdadeiro núcleo da philosophia perennis, de Hegel a Aurobindo.
exemplo: quando o nível 2 (biavida) surgiu pela primeira vez e transcendeu a Entretanto, essa não é a maneira como esses termos são atualmente usados. Por isso, no que
matéria, ele não dispersou a ordem explicada da matéria - nem a aniquilou ou se refere aos termos "implicado" e "explicado", geralmente tento evitar o seu uso, ao .des­
a dispersou para dentro da potencialidade dobrada. Ele a transcendeu mas tam­ crever esse processo global e seu contexto hierárquico de muitas dimensões, porque a filo­
sofia perene vai muito além do que quer que esteja contido no uso atual:c!�.ss_as:,no.ções de. im­
bém a incluiu, de uma maneira perfeitamente explicada, como um aspecto ou plicado/explicado. E quando essas noções sa-o alinhadas com a philosophia p�rennis, como
parte de si mesmo. Isso é evolução, ou envolvimento explicado; não é involu­ no resumo acima, elas acabam por revelar apenas um mínimo de semelhança com o significado
ção, ou dispers[o implicada. Uma das mais belas ilustrações dessa evoluç[o é o originalmente dado a elas pelos físicos.
cérebro humano: o cérebro reptiliano é envolvido pelo cérebro límbico que, por Fin�ente, há uma enorme diferença entre subcendência e transcendência, e quando
sua vez, é envolvido pelo neocórtex, todos eles perfeitamente explicados, mas a "ordem implicada" é usada em ambos os sentidos, resultam, desse uso, certos erros evidentes.
A maneira mais fácil de se evitar isso é usar a noção de "ordem implicada" precisamente da
incluindo-se, e representando e retendo a evoluça-o ou o desdobramento do réptil mesma maneira como foi proposta: uma unidade subcendente· do plano da physis, o nível 1.
até o mamífero e até o ser humano.
161
160
evento quântico venha a ocorrer num determinad o ambie nte (num certo lugar antes da mediç:ro? Se dizemos que ela existe (o que parece senso comum), co­
ou num certo tempo), mas jamais poderá predizer o preciso ambiente em que mo p�demos sa ber com certeza que ela existia, desde que niio há maneira algu­
ocorrerá. Pode dizer, por exemplo, que a probabilidade de encontrar uma par­ ma de afirmar isso, uma vez que nossas equações matemáticas, que descrevem
tícula quântica na área A é de 50%, na área B, de 30%, e na área C, de 20%. Mas perfeitamente esse domínio, nos dizem somente 50/30/20? Se negamos as equa­
ela não pode, sob quaisquer circ unstâncias, dizer que um determinado evento ções, como podemos negar o fato de que, por outro lado, elas funcionam tão bem?
ocorrerá na área A (dada essa distri buição de probabilidade). Desse modo, o even­ Além de um grande número de filósofos que sustentam (na-o sem certas
to em particular não é considerado como uma simples entid ade ou ocorréncia justificativas) que aquilo que colapsa o pacote de ondas não é a mente nem a
isolad a, mas, antes, como uma "tendência para existir", que neste exemplo se­ ma téria mas a má metafísica, há várias diferentes escolas do pensamento sobre
ria definida por uma equação (ou amplitude de pro babilidade) que expressa, com esse "problema de medição", oferecidas pelos próprios físicos:
efeito, à distribuição: 50% A/30% B/20% C. 1. A interpretação de Copenhagen - A maioria dos físicos segue essa es­
Agora, o fato singular é que o evento, quando ocorre, ocorre de fato ape­ cola, a qual sustenta que o colapso do pacote de ondas é, na realidade, puramen­
nas em uma área. � quase (não totalmente) como se um estatístico estivesse ten­ te aleatório. Não há nec essidade de uma explicação. Desde que na-o há maneira
tando predizer por qual das três portas é provável que você passe,' e, por várias de ficar atrás da porta, não há o atrás da porta.• A MQ oferece uma explicação
razões, ele termina defrontando-se com os resultados: 50% de chance para a porta completa da maneira como está, e não há necessid ade nem possibilidade de "olhar
A, 30% para a porta B e 20% para a porta C..Ele não pode predizer exatamente atrás das cenas" e tentar imaginar se o evento está lá ou nã'o, antes de uma me­
qual porta será, mas apenas as porcentagens. Mas quando vocé finalmente atra­ dição. Com toda a justiça, deveria ser dito que há muito boas razõ e s, se não abso-
vessar a porta, você o fará somente através de uma delas - não são 50% de você . lutas, para adotar esse ponto de vista. Também se deveria dizer, como freqüen­
que atravessarão a porta A, 30% que atravessarão a B e 20% que atravessarão a C. temente se assinala, que ·o próprio Einstein rejeitou violentamente esse ponto
Para além disso, a analogia falha. O estatístico tinha razões para acreditar de vista (com a exclamação "Deus não joga dados com o universo!"), mesmo
que você existia antes de atravessar qualquer uma das portas - ele pode penna­ que todas as objeções que ele desfechasse contra essa interpretaç:ro fossem bri­
necer olhando para você, pois você é um só. Mas o físico não tem esse tipo de lhantemente aparadas por Bohr e por outros, usand o as próprias teorias de Einstein.
certeza a respeito d e suas p artíc ula s quântic as, pois não há maneira alguma pela Ao mesmo tempo, repito que esta explicaça:o (e as seguintes) sa:o tipos de expli­
qual ele possa seguir olhando para uma partícula (para nossos propósitos menos cações extremamente popularizad as. Mas em meio a essa contestação, a Inter­
que precisos, digamos apenas que ela é pequena demais ·para que se possa vê-la pretaçã'o de Copenhague diz que a probabilidade 50/30/20 é tudo o que pode­
perfeitamente). A única maneira de ele poder olhar para a partícula é fazendo mos saber e tudo o que há para saber; qual das portas a partícula atravessará é
uso de certos instrumentos - isto é, medindo-a de ·alguma forma. Mas para me­ algo puramente alea tório.
di-la. ele precisa, por assim dizer, fazê-la atravessar as portas de seus instrumen­ 2. As Teorias das Variáveis Ocultas - Essas teorias sustentam que há, na
tos. Eis aí o problema: para descobrir o que está atrás da porta, o físico tem de realidade, fatores especificáveis que se acham nos "bastidores" do colapso do
usar uma porta. Em todos os casos, seus fenômenos só podem ser detectados pacote de ond as. Esses processos subquânticos são descritos por variáveis atual­
à medi d a que caminham atravessand o várias portas, e as equações que descre­ mente ocultas, mas é possível que, eventualmente, elas se tornem acessíveis tecni­
vem essas "caminhadas" são puramente probabilísticas: digamos, 50/30/20. camente. Expressa em termos bastante crus, essa teoria afirma que os eventos
Portanto, o físico defronta-se com um problema conceitual: antes da me­ quânticos nã'o são puramente aleatórios, e que a partícula atravessa uma dete r­
diçã'o, tudo o que ele pode dizer sobre um evento quântico é que ele é (e na-o minada porta devido a uma razão "oculta", uma razão que a partícula "conhe­
que el e tem) uma certa tendência para existir (por exemplo, 50/30/20). O even­ ce" e que deveríamos ser capazes de desc obrir. Bohm e seus colegas, trabalhan­
to em si, se for deixado como está (sem ser medido) se "propagará através do do c om o potencial quântico (e com a ordem implicada), pertencem a essa es­
espaço-tempo" de acordo com a funç:ro de onda de Schroedinger, que, ele vada cola, como, presumivelmente, Einstein também pertenceu. O teorema de Bell,
ao quadrado, d á a probabilidade de encontrar o evento num certo meio (50/30/20). que recebeu muita atenção popular, é freqü entemente usado pelos defensores
Mas antes da medição efetiva, não há meios, sejam quais forem, de sabe r preci­ dessa escola para evidenciar a aparente "transferência" não-local (na-o confinada
samente em que região a partícula ocorrerá. To davia, quando ela é finalmente a uma região local, onde vale a causalidade no espaço) de informaçõe s entre re­
detectada, sua ocorrência terá lugar somente em uma região (digamos, a regia-o B)
giões do esp aço separadas por grandes distâncias. O teorema de Bell é geralmen­
e na-o se espalhará através das três portas. Isso é c hamado de colapso do vetor te interpretado no sentido de que, se a MQ é, de outro modo, correta, e se existe
de estado ou do pacote de ondas, pois quando a medição determina que a par­ algu ma espécie de variável oculta, então essa variável é não-local - representan­
tícula está em B, a probabilid ade de ela estar em A ou em C colapsa, isto é, cai do um tipo de causalid ad e "instantânea" não separada pelo tempo ou pelo es­
para zero. O colapso do vetor de estado significa que o evento saltou de uma paço. Bohm e se us colegas consideram isso um exemplo de ordem implicada ;
"tendência p ara existir" (50A/30B/20C) para uma "ocorrência real" (B).
É daí que surgem os pro blemas. Seria a própria med ição que teria "cau­
sa do" o colapso do pacote de on das? Será que a partícula real de fato existia • Esta é uma afirmação um tanto grosseira, mas também constitui a base para os ata­ 1
1
ques da má metafísica.

162 l:
163
r
11

11:
n:1
Sarfatti toma-o como um exemplo de "comunjcaçlfo" mais rápida que a luz; ou­ biológica" que se acha imediatamente acima da matéria. Von Weizsacker já fez
tros (tais como Einstein) consideram-no um disparate. isso, explicitamente (usando a palavra "prana"), como vários outros também
'íl' 3. A Hipótese dos Muitos Mundos - Foi proposta por -Everett, Wheeler e o fizeram. Isso na:o seria um problema para esses físicos, pois as características
Graham (EWG). De acordo com a Interpretação de Copenhague (teoria #1), quan­ que eles já atribuem à "mente" como sendo necessárias para o colapso do pa­
do a partícula 50A/30B/20C é medida e sua ocorrência é constatada na regia:o B, cote de ondas são, de fato, características do prana. Isto é, esses físicos, usual­
enta:o as duas outras possibilidades (A e C) colapsam - elas simplesmente nlfo mente, não dizem que são "conceitos", "idéias" ou a "lógica" que colapsam O
ocorrem (assim como, por exemplo, se você atira uma moeda para o alto e ela vetor de estado. Em vez disso, usam termos tais corno "sistemas biológicos"
cai como cara, a possibilidade de dar coroa colapsa para zero). Agora, de acordo (Sarfatti), "ser sensível" (Walker), "sensaça-o" (Wigner), e estas slfo caracterís­
•'.i com a hipótese EWG, todas as possibilidades mutuamente exclusivas contidas ticas distantes da mente mas próximas do prana (ou de qualqueºr sistema vivo).
f
na função de onda efetivamente ocorrem,.mas em diferentes ramificações do uni­ A mente também poderia colapsar o vetor, mas via prana. Isso também se ajus­
verso. No momento em _que a partícula atinge B neste universo, dois outros taria às sugestões· de Sarfatti, pois todos os sistemas biológicos contribuiriam
universos se ramificam, um dos quais contém a partícula que atinge A, e o outro para o movimento browniano aleatório quântico, porém urna mente discipli­

lt
a partícula que atinge C. Em outras palavras, tão logo eu obtenho "cara" neste nada (não presente nos animais) poderia controlá-lo."'
universo, também obtenho "coroa", mas num universo inteiramente diferente. Tudo isso soa corno se essa versão da MQ estivesse diretamente de acor­

I!
J Nenhum dos "eus" conhece os outros. Essa hipótese foi desenvolvida num estilo do com a visão mística, pelo menos no que se refere aos níveis 1 e 2 (isto é, o
matemático muito sofisticado. nível 2 cria o nível 1). No entanto, mais uma vez devemos ser muito precisos
É fácil, ao tomar conhecimento desse tipo de teoria, simpatizar com François aqui, pois é muito fácil delinear conclusões prematuras.


Mauriac: "O que este professor diz é muito mais inacreditável do que aquilo em
que nós, pobres cristãos, acreditamos." Mas a v.erdadeira questlfo é que já se tor­
i Antes de mais nada, quando o místico afirma que a matériaié criada pe­
lo prana, ele não quer dizer que o próprio prana deva estar presente de uma
nou óbvio que a chamada "nova física" está longe de representar um consenso 1
maneira manifesta (e, a partir deste ponto, para facilidade de reconhecimento,
quanto à natureza da realidade subatômica, fato que eventualmente nos levará usarei a palavra "mente" em vez de "prana", lembrando as importantes quali­

1
a certas conclusões sugestivas. Enquanto· isso, passemos à quarta das principais 1
ficações dadas acima). Isto é, a mente m!o cria a matéria percebendo-a, sentin­
teorias geradas pelo "problema da medição". !
do-a ou "medindo-a" - o que constitui, como vimos, a forma da teoria susten­
4. A Conexão Matéria/Mente - Essa teoria se apresenta sob muitas for­ tada pelos físicos em questão. Em vez disso, a matéria simplesmente se forma
mas diferentes, mas, de acordo com nossa exposição popularizada, podemos afir. como precipitado fora da mente, quer ela esteja ou não prêstanc!o atençlfo a
mar que a teoria, de urna maneira geral, sugere o seguinte. Se a própria rnediça:o isso. De fato, durante a involução, a mente gera a matéria e depois "desapare­
colapsa o pacote de ondas, nlfo seria a medição, num certo sentido, essencial à ce" completamente da cena. Não fica por perto para observar a matéria e, gra­
manifestaça:o desse evento material? E quem está efetuando .a medição? Obvia­ ças a isso, gerá-la.

l
1
mente, é um ser sensível. Na:o seria a mente, enta:o, uma influência sobre a ma­ Dessa maneira, a filosofia tradicional evita completamente o dilema que

1
téria - ou até mesmo urna criadora da matéria? de outro modo seria ridículo: se a mente cria à matéria pela percepça-o ou por
Essa visão geral, de uma forma ou de outra, é sustentada por Wigner, Sar­ contacto real (como participante-observador), então o que ocorreu, digamos, há
fatti, Walker e Muses. "Na minha opinião", diz Sarfatti, "o princípio quântico dez bilhões de anos, quando somente havia matéria e não mentes? A ciéncia tem
envolve a mente de urna maneira essencial... a mente cria a matéria" (1974). certeza de. que a vida biológica só apareceu bilhões de anos depois dá matéria.
Wal.ker iguala as variáveis ocultas, presumindo que elas se acham aí, com a cons­ Antes disso, nlfo havia vida, nem mente. Se a mente tem de medir ou observar
ciência; Muses liga a tomada da consciência no potencial quântico no vácuo. Mas a matéria a fim de· que esta exista (ou que seu pacote de ondas colapse), chega­
Beynam resume tudo isso da seguinte maneira: "É a própria consciência que co­ mos ao absurdo. Não estamos nem mesmo .trabalhando com um fantasma na
lapsa o vetor de estado." É essa teoria que queremos examinar agora, porque máquina, mas com uma sombra inexistente de um fantasma inexistente numa
se afirma que ela é a conexão entre física e parapsicologia/misticismo. máquina inquestionavelmente real.
Em primeiro lugar, existe alguma coisa na filosofia perene que estaria de Essa concepção - de que a mente gera a matéria por efeito do "partici­
acordo com a afirmação geral: "A mente cria a matéria"? A resposta, em primeira pante-observador" - é o mesmo que dizer que a galinha (a mente) vê o ovo (a
aproximação, é definitivamente afirmativa. A matéria é considerada, por todas
as filosofias tradicionais, um precipitado no campo mental. Mas elas expressam
isso com maior precisão. Não é a mente (nível 3) que, de maneira direta, cria .• Deveria ser dito que, embora eu acabe discordando dessa escola da MQ quanto à
a matéria (nível 1). É o prana (nível 2) que faz isso.A mente cria o prana; o prana natureza da geração da matéria a partir da mente, nã:o excluo o fato de que eles podem ter al­
gumas coisas importantes e brilhantes a dizer a respeito da influincia da mente· sobre a ma­
cria a matéria. téria, após a ocorrêncill da geração da matéria a partir da mente. :f. uma concordância bas­
Dessa forma, os físjcos seriam mais precisos, de acordo com a tradição, se tante branda mas, não obstante, é uma concordância, e certas áreas muito especiais da _pa·
dissessem que não é a "mente" mas o "prana", a "bioenergia" ou a "sensibilidade rapsicologia (não do misticismo em seu todo) deveriam encontrar ressonância com essas teorias.
!\ 165
li' 164
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matéria) e, desse modo, o cria. Se na:o há galinha para ver o ovo, na:o há ovo. A con­
·1 transpessoal/misticismo no consenso da nova física quântica, pois na:o há ne­
cepção tradicional diz que a galinha (a mente) pele ou dá nascimento ao ovo (a ma­ nhum consenso. Às conexões que se delinearam entre a física e o misticismo fo­
téria) e, por conseguinte, o cria; o que a galinha faz depois disso é problema dela - ram escolhidas a dedo. Os detalhes efetivos das várias interpretações na MQ s:ro,
o ovo continua a existir, seja ele percebido ou na:o. De fato, durante a involuça:o, o como vimos, mutuamente exclusivos. Pegar simplesmente um detalhe de uma
frango está profundamente enterrado. O que ele deixa para trás é uma versa:o redu­ interpretação, depois uin detalhe de outra, um pouco de bootstrap aqui, um pouco
zida do estado-de-ser-frango [chicken-ness), uma versão reduzida da mente, chama­ de ordem implicada lá, é, nas palavras do físico Bernstein, "um travestismo e
da matéria (o ovo). Mas o ovo-matéria dobrou dentro de si o potencial para produ­ um mau serviço" para as teorias envolvidas.
zir ("chocar") um novo frango, ou a própria mente, e isso é exatamente o que acon­ 2. Mesmo se pudéssemos traçar várias paralelas compactamente juntas,
tece na evolução. No entanto, em caso algum o frango cria o ovo observ.ando-o. enganchar a psicologia transpessoal na física é ainda "o caminho mais certo para
:É por razões semelhantes que a maioria dos próprios físicos rejeita essa o esquecimento". Parafraseando Eckhart, se o seu deus é o deus da física de hoje,
versão da interpretação da MQ. Como o próprio David Bohm explica: "A intro­ então quando essa física se for (amanha:), esse deus irá com ela.
dução, por Wigner, da mente consciente na física é motivada por certas consi­ 3. O ponto mais importante é que, independentemente de qual versa-o da
derações bastante gerais, que têm pouco a ver com a própria mecânica quânti­ teoria da MQ seja finalmente aceita, isso n:ro afetará profundamente a visa-o de
ca." E falando dessa tendência que leva a concluir de maneira apressada que a mundo do místico. Antes de mais nada, em nenhum caso ela poderia invalidar
observaça:o pela mente é necessária para produzir matéria (medição), Bohm res­ a visa:o de mundo mística. Quando ·a "fraturada visão de mundo" de Newton
ponde sucintamente: "Na verdade, isso é, com freqüência, levado a tal extremo era a "verdade", isso não invalidava a visão mística. Se a lnterpretaç:ro de Co­
que parece que nada jamais aconteceria sem o observador. No entanto, conhe­ penhague é a "verdade", isso nã"é> invalidará a visa-o mística. Se qualquer das in­
cemos muitos processos físicos, mesmo ao nível dos fenômenos quânticos, que terpretações da MQ for a verdadeira, isso na-o invalidará a visão mística. E, por·
ocorrem sem a intervenção direta do observador. Conside°re, por exemplo, os tanto, como qualquer epistetnologista nos dirá, em nenhum caso uma interpre­
processos que têm lugar numa estrela distante. Esses processos parecem seguir tação poderia validar a vis[o mística do mundo. Se n:ro há nenhum teste físico
as conhecidas leis da física, e ocorrem, e também ocorreram, sem qualquer in­ concebível capaz de contestar a vis[o mística, e de fato n:ro há, ent:ro também
tervença:o significativa de nossa parte" (1975). não há nenhum teste concebível que possa corroborar essa visão.
Em resumo, a filosofia perene concordaria com o fato de que a matéria é 4. Afirma-se às vezes que a nova física pelo menos co.ncorda c�m a visa-o
criada a partir da mente (prana), mas por intermédio de um ato de precipitaça:o de mundo mística. Penso que podemos facilmente concordar com o fato de que
e de cristalização, e não de percepção e de mediça:o. Mas a MQ pode responder, certos aspectos de algumas interpretações dos formalismos matemáticos da teoria
se o puder, somente por essa última teoria, e portanto a concordância da MQ quântica, quando expressos em português cotidiano, soam similares a certos as­
com o misticismó quanto a esse ponto é pura coincidência.* Portanto, se essa pectos da visão do místico, não de sua visão do mundo (níveis de 1 a 6), mas
interpretação particular da MQ se revelasse incorreta (e eu concordo com Bohm de sua visa:o do nível 1. O insight do místico, no entanto, não encontra sua vali­
e outros físicos que isso possa acontecer), esse fato na:o afetaria de uma maneira dação nem sua explicação nesse possível acordo. Mas se esse acordo ajuda a "le­
ou de outra a visão de mundo do sábio místico. gitimar" o misticismo aos olhos do público; se, pelo menos, não faz com que
Mas o meu objetivo · não é saber se qualquer uma dessas quatro interpre­ seus proponentes neguem radicalmente .os estados místicos relegando-os a esta­
tações da MQ está certa ou errada. E ainda há outras que deixamos de discutir � dos alucinatórios; se ele abre caminho para uma aceitaç:ro mais plena da expe­
conexões superluminosas, interpretações estatísticas simples, interpretações da riência mística - ent[o, de acordo com a opinião geral, teremos realmente de
lógica quântica. Essas questões são extremamente complexas e difíceis, e décadas agradecer a nova física.
de trabalho ·sera-o necessárias para elaborar suas implicações. Entretanto, o que Além desse ponto, no entanto, leve consigo a advertência de Bernstein:
podemos fazer agora é chegar a certas conclusões imediatas. agradeça a nova física por concordar com você, mas resista à tentação de cons­
1. A "nova física" está longe de um grande consenso até mesmo quanto truir seus modelos transpessoais sobre as. areias movediças das mutáveis teorias
à natureza da própria realidade subatõmica. N:ro é possível encaixar a psicologia do nível 1.

* Quando o bispo Berkeley (muito embora não fosse ele um purista vis-à-vis à filo­
sofia perene) disse que ser era ser percebido, ele queria dizer, no final das contas, ser percebido
por Deus, ou pela Consciência absoluta. Mas, como ele sabia, ser e percepção são um na Cons­ O CÉREBRO HOLOGRÁFICO
ciência absoluta, isto é, as entidades existem não porque são percebidas pela consciência, mas
pelo fato de que sua existência t! consciência. Elas não são criadas por serem vistas por Deus,
elas simplesmente são Deus no coração. Em outras palavras, Berkeley não dizia que o ser Enquanto as teorias . holográficas/bnplicadas da física lidam inequivoca­
deveria ser entendido através da percepçlo (ou consciência), mas sim que· o ser t! consciência. mente com· o nível 1, as teorias sobre processos holográficos no cérebro lidam,
A consciência não cria uma coisa olhando para ela; ela simplesmente t! aquela.coisa, e quais­ aparentemente, com o nível 3, ou com a mente e a memória. Em tandem, essas
quer "percepções" especmcas são irrelevantes. teorias abrangeriam, portanto, mais ou menos os níveis de 1 a 3.
166
167
!•·
Mas, além disso, algumas pessoas sugerem que se a mente fosse holográtH;il, ..,__ l:. um irrefletido salto teórico o movimento que leva da afirmaça-o "a memória
tã"o ela também poderia responder por experiências de nível mais elevado, transpes­ pessoal é holograficamente armazenada" para a afirmaça:o "portanto, todas as
soais, por meio da mente que se funde na mancha (blur) holográfica, ou borrifo ho­ mentes sã"o parte de um holograma transpessoal".
lográfico, que está além das distinções explícitas. Essa mancha holográfica é chama­ Penso, em vez disso, que estamos permitindo a certas similaridades super­
da de "domínio de freqüências" onde, supostamente, "na-o existem" os objetos do ficiais da linguagem governarem o dia da raza:o. O exemplo acima é, talvez, su­
espaço e do tempo. A mancha holográfica ou domínio de freqüências é descrita da ficiente, mas além dele há toda essa noção de um "domínio transcendente de
seguinte maneira: ''Nã"o há espaço, não há tempo - só há eventos (ou freqüências)." freqüências além do espaço e do tempo" - que, segundo se afirma, é a mancha
Passemos pela dificuldade de ter eventos existindo sem qualquer tipo de es­ holográfica implicada. Essa noção, parece-me, ganha crédito apenas com base
paço ou de tempo; ignoremos também o fato de que, antes de mais nada, os objetos nas singularidades da matemática envolvida, que traduzem "coisas" em "freqüên­

;r
físicos (as coisas do espaço-tempo) são necessários para produzir hologramas. Afora cias" e, dessa forma, permitem que um deslize de linguagem seja tomado por
isso, como poderia essa mente-holográfica ajustar-se à filosofia perene? verdades transcendentes. Presume-se que as transformações do "domínio de fre­
., Para começar, diz-se que é, fundamentalmente, o armazenamento de infor­ qüências" referem-se a realidades vivenciais de uma maneira que na:o é apenas
i mações de memória o que ocorre nos princípios da holografia óptica. Os mecanis· inacreditável, mas francamente autocontraditória.
mos da holografia são explicados por transformações matemáticas, dotadas de pro­ A transformação de "coisas" em "freqüências" na:o é uma transformaça-o de
priedades intrigantes, uma das quais sendo o fato de que - em termos matemá­ espaço/tempo em "na:o-espaço, não-tempo", mas uma transformação de objetos do
ticos, de qualquer maneira - o espaço e o tempo, ao que parece, s[o omitidos num espaço-tempo em freqüências do espaço/tempo. Freqüência n:ro significa "não-espa­
certo estágio, e os resultados temporais desejados são recuperados através de uma ço, não-tempo"; significa ciclos por segundo ou espaço por tempo. Colher de outro
função de leitura (no sentido informático) de informações de freqüências. Isso le­ modo os frutos da matemática é dar mais que um salto quântico;é dar um salto de fé.
vou à noção de um domínio de freqüências - a noça:o de que os objetos do es­ Essa "teoria tem ganho um apoio crescente e não tem sofrido desafios sérios.
paço-tempo sã"o provenientes de "freqüências não-espaciais e não-temporais". Um impressionante corpo de pesquisas realizadas em muitos laboratórios demons­
Não tenho dúvida de que isso é basicamente verdadeiro - que a memória é trou que estruturas do cérebro vêem,· ouvem, sentem o gosto, cheiram e tateiam
holograficamente armazenada, como se costuma dizer. Penso também que as pes­ .por meio de sofisticadas análises matemáticas de freqüências temporais e/ou es­
quisas que demonstram esse fato são brilhantes. Mas, fora isso, a maneira como paciais [de onde a primazia do domínio de freqüencias]" (ReVision, 1978). N�o
tal fato se relaciona com estados transcendentais está longe de ser clara. Para dizer desafio a teoria; repito, e quero deixar claro, que estou francamente impressio­
a verdade, há semelhanças de linguagem - a mancha holográfica ("não há espaço, nado. No entanto, na:o estou impressionado por especulações que da:o às "freqüên­
· não há tempo") soa como um estado místico. Soa também como desfalecimento, cias temporais e/ou espaciais" o nome de "não-espaço, nlio-tempo". E é justa­
inconsciência. Há um mundo de diferenças entre a consciência pré-temporal, onde mente nesse deslize semântico que essa teoria soa transcendentalmente viva.
na:o há espaço nem tempo, e a consciência transtemporal, que se move além do É desnecessário dizer que esse truque de prestidigitador semântico, que
espaço e do tempo embora ainda os envolva. "A eternidade", apesar de tudo, substitui a mancha holográfica pessoal pela unidade transpessoal, nllo ajuda nem
"está apaixonada pelas produções do tempo". Isso na-o prova, de maneira alguma, o brilhante trabalho desses pesquisadores do cérebro - Pribram, por exemplo -
que a mancha holográfica na:o é um estado transcendental; demonstra que nã"o nem a difícil tarefa dos psicólogos transpessoais para explicar a transcendência.
se pode julgar assim com base nas correlações da linguagem. Ao lado das considerações acima, temos ainda outra linha de argumentos
Na:o obstante, afirma-se que uma mudança capaz de levar a uma "percepça-o que foram propostos. Seguindo essa linha; permita-nos presumir de qualquer
da mancha holográfica" produziria estados transcendentais. Uma vez .que é a me­ modo que a mente, em geral, é holográfica em suas operações. Será que isso se
mória que é holograficamente armazenada,• o que significaria, na verdade, uma encaixaria na filosofia perene e, além disso, será que responderia pelos níveis de
mudança capaz de levar a uma percepção _do compartimento onde é armazenada consciência mais altos? ·
a memória pessoal? Seria isso o nirvana, uma consciência direta que transcende Receio que, mesmo oferecendo esse generoso lead, na-o seremos mais bem-su­
mas também inclui toda a manifestação? cedidos. Antes de mais nada, o fato de a estrutura profunda do campo mental ser
De acordo com a própria teoria, na-o percebo como isso deveria ou pode· holográfica na-o responderia, por si mesmo, pelos níveis iranspessoais, ou níveis de
ria resultar em outra coisa a não ser uma experiência do compartimento onde 4 a 6. As razões para isso, de acordo com as tradições perenes, sa-o que 1) todo nível
é armazenada uma memória pessoal, adequadamente manchado e sem o bene é uma holoarquia, e na:o apenas a mente, e 2) a eX:periencia da holoarquia de qual­
fício da leitura linear, no sentido informático. Como alguém poderia saltar dt quer nível não leva uma pessoa para além desse nível, mas apenas torna acessíveis
uma mancha da sua própria memória para uma consciência cristalina que trans insights mais profundos dentro desse nível. Assim como a holoarquia do nível 1 não
cende a mente, o corpo, o self e o mundo é algo que, em absoluto, na:o está claro implica nem requer os níveis 2, 3, 4, 5 ou 6, também a holoarquia do nível 3 na:o
responde automaticamente por qualquer dos níveis acima dele (níveis 4, 5 ou 6).
* A "percepção" do domínio de freqüências físicas será discutida mais adiante, jun­ Do mesmo modo, a efetiva experiência da holoarquia do nível 3 não envol­
tamente com a crítica que William Tiller dedica ao paradigma holográfico. veria necessariamente - nem mesmo provavelmente - os níveis 4, 5 ou 6. A mente
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superficial ordinária (nível 3) vivencia a si mesma como separada e, às vezes, iso­ CONCLUSÕES E AVALIAÇÕES
lada de outras mentes. Vivenciar a holoarquia do nível 3 seria, no máximo, vi­
venciar uma forte ressonância com outras mentes, e até mesmo uma sobreposi­ i Há vanas repercussões benéficas vindas da "nova física" e do "novo pa­
radigma", mesmo se concluirmos, como penso que devemos fazê-lo,, que este
ção a elas. Isso produziria uma experiência direta de efetiva empatia interpessoal. 1
Mas empatia interpessoal não é identidade transpessoal. Em estados de último não constitui nada que se aproxime de um paradigma abrangente ou mes­
1.
consciência (awareness) transpessoal (além de certas práticas introdutórias), mo adequado. Mas entre esses benefícios esta:o:
quer a mente se ache presente ou não, explícita ou implícita, saliente ou indis­ ! 1. O interesse de físicos influentes pela metafísica. Esse interesse tornou
tinta no borrão holográfico - tudo isso é irrelevante. Os domínios superiores duas formas diferentes. Primeiro, a disposição para postular ordens da physis
transcendem mas podem, sem dificuldade, incluir a mente, e se a própria men­ imensuráveis e indetectáveis, situadas atrás da energia/massa explicada, ou subcen­
te se manifesta ou não, isso não importa. A existência de estados mais altos não dendo-a. Essa é a ordem implicada/potencial quântica de Bohm. Segundo, a dis­
pode ser explicada em termos de algo que possa ou não ocorre� com um esta­ posição dos físicos para reconhecer a necessidade de incluir, no final das con­
do mais baixo, esteja este desdobrado e projetado ou dobrado e indistinto. Você tas, referências a níveis mais altos que a physis, em suas considerações sobre a
poderia dizer igualmente que pode explicar o nível 2 manchando holografica­ physis. Da maneira como Wheeler colocou a questão, "nenhuma teoria da fí­
mente, e de maneira suficiente, o nível 1. Esse reducionismo disfarçado levou sica que lida apenas com a física jamais explicará a física" ( citado em Sarfattí,
Willis Harman a comentar: "Essas teorias holográficas ainda são levadas a inter­ 1974). E Sarfatti: "Portanto, afirmações meta-físicas são absolutamente vitais
pretar o dado primário, a consciência, em termos de algo mais, algo que, no fi­ para a evolução da física" (1974). Com base nisso, Sarfatti introduz a noção de
nal das contas, seria quantificável (isto é, em termos de. medições feitas no ní­ "mente criando matéria". Porém, mesmo que isso fosse verdadeiro, da maneira
vel mais baixo, o nível físico]. Essas teorias ainda não pertencem à nova ciência, corno Sarfatti o propõe, a filosofia perene o lembraria de acrescentar: "E então
mas à velha, na qual se tenta explicar satisfatoriamente a consciência em vez de você precisará do rnetamental para explicar a mente, o que o levará até o sutil;
tentar entendê-la." e então você precisará do rnetassutil para explicar o sutil, e assim por diante, até
Finalmente, poderíamos prestar atenção às sugestões de William Tiller: que, assim corno urna curva assintótica que se aproxima de um eixo mas nunca
"A [teoria] holográfica (da percepção pelo cérebro] focalizou, em grande par­ o alcança, até o infinito, você chegue à Consciéncia enquanto Tal."
te, a apreensão sensorial dessa representação no nível físico da consciência (ní­ 2. O vendaval reducionista da ciência mecanicista parece estar, finalmente,
vel l ]. [Poderíamos fazer melhor] optando por uma representação multidimen­ transformando-se numa brisa, e a física está se abrindo - e com o impacto da auto­
sional [hierárquica] da consciência e por possíveis estruturas do universo para sua ridade, muitos outros campos também o estão - aos sistemas abertos, de incessante
manifestação. Sem tal extensão para além do arcabouço da percepção puramen­ novidade e criatividade. Isso é evidente, de modo especial, no trabalho de I. Prigo­
te física, o alcance de qualquer 'novo paradigma' será severamente limitado." gine, cuja teoria das· estruturas dissipativas é tã"o bela quanto profunda. Estruturas
Tiller sugere dois pontos. Em primeiro lugar, o "domínio de freqüências", dissipativas são simplesmente um meio matemático de levar em conta a evoluç:ro de
considerado tão transcendente, é na verdade "precendente" [prescendent]: é estados superiores, mais organizados, a partir de estruturas menos complexas.
apenas o caótico e "exuberante rumor" das freqüências do nível 1, o nível físico, Estruturas dissipativas não sâ"o, na realidade, explicações da vida ou da mente, corno
antes que o cérebro possa classificá-las numa organização de ordem mais eleva­ às vezes se diz, mas descrições do que precisa acontecer com a matéria a fim de que
da. Uma experiência efetiva dessa "realidade primária" seria, de fato, pura re­ domínios mais altos se desdobrem. Identificar efetivamente a essência de um nível
gressão, e não transcendência. Em segundo lugar, a hofoarquia não pode respon­ mais alto como sendo simplesmente urna estrutura dissipativa é o mesmo que dizer
der pela hierarquia, e, desse modo, toda a teoria, enquanto paradigma, falha com­ que a Mona Lisa n:ro ·passa de urna concentração de tinta. A importância da ma­
pletamente na área mais importante de explicação.* temática dissipativa é que ela apresenta claramente e leva plenamente em conside­
ração padrões de emergência de ordem mais alta.
• Não estou questionando o fato de que a percepção e a memória ocorrem da maneira 3. Todo o movimento da nova física e do novo paradigma pelo menos de­
como essa hipótese sugere. Não estou, em absoluto, desafiando a hipótese nesse terreno. Estou monstram que há um interesse profundo, sério e em rápido crescimento por as­
questioMndo se, além disso, essa hipótese poderia ter algo a ver com realidades transcendentes.
Minha conclusão pessoal, provisória, é que ela apenas parece ter algo a ver com a transcendên­
sun.tos que envolvem a filosofia perene e por realidades transcendentes, mesmo
cia real devido às singularidades da matemática envolvida ll devido a uma manipulação imprecisa entre especialistas e entre campos que uma década atrás teriam se ·preocupado
da linguagem. Particularmente questionável é o salto da afirmação "cada memória pessoal é menos com isso. Não importa quê alguma coisa do que foi dito seja prematuro,
igualmente distribuída em cada célula do cérebro individual" para essa outra: "Portanto, cada pois aquilo que foi dito é extraordinário.
mente individual é parte de um holograma transpessoal." O paradigma holográfico é descrito 4. Livros tais como Tao o[ Physics e The Dancing Wu-Li Masters e publi­
como "um em todos e todos em um" - onde "um" significa "memória/célula individual" e
"todos" signfica "todas as células individuais do cérebro". A partir dessa afirmação precisa cações tais como o Brain/Mind Bulletin de Marilyn Ferguson estão introduzindo
faz-se uma rápida substituição: "um" passa a significar "um indivíduo" ou "uma pessoa" e grande número de pessoas não somente nos assuntos intrigantes da ciéncia e da
"todos" vem a significar não todas as outras células cerebrais de uma pessoa, mas todas as física do Ocidente mas também em certos aspectos da sabedoria e do pensamen­

j
ou Iras pessoas, e ponto final. to do Oriente, e por vias que, simplesmente, não teriam sido possíveis antes.
170
171
ir' Meu objetivo, portanto, ao criticar certos aspectos do novo paradigma ·ntlo ---"A Conversation with David Bohm -The Enfolding-Unfolding Universe."

.,
1
� 1, é, em definitivo, evitar o interesse por tentativas posteriores. ..I!, em vez disso, Conduzida por Renée Weber. Em Re Vision, 1, 3/4, 1978.
' um convite invocando precisão e clareza na apresentação de questões que sa:o, Capra, F. The Tao of Physics. Boulder: Shambhala, 1975 (traduça:o em português,
no final das contas, extraordinariamente complexas e que resistem a uma rápida O Tao da Ffsica, Editora Cu!trix, S:ro Paulo, 1986).
generalização. E digo isso com um certo sentido de urgência, pois em nosso com­ Gardner, M., "Quantum Theory and Quark Theory". Em New York Review of
preensível zelo em promulgar um novo paradigma, que, de certa forma, toca com Books, 1 7 de maio de 1979.
ReVision, 1, 3/4, 1978. "A New Perspective on Reality." Reimpressão do Brain/
I J
suas raízes a física, numa das extremidades, e o misticismo, na outra, estamos
Mind Bulletin.
111 sujeitos a alienar ambos os partidos - e todos os que estão entre eles.
Sarfatti, J., "Implications of Meta-physics for Psychoenergetic Systerns". Psy­
:1)i'j
Numa das extremidades do espectro: certos pesquisadores, mística ou trans­
pessoalmente orientados - Tiller, Harman, W. 1. Thompson, Eisenbud -, já ex­ choenergetic Systems, 1, 1974.
pressaram desapontamento ou total rejeição face ao novo paradigma. Shepherd, A. P., A Scientist of the Invisible. Citado em White, J. e Krippner, S.,
Na outra extremidade: muitos físicos já estão furiosos com o uso "mís­ Future Science. Nova York: Anchor, 1977.
1
tico" a que a física das partículas está sendo submetida. O físico especializado Wachsmuth, G., "The Etheric Formative Forces". Em White, J. e Krippner; S.
em partículas Jeremy Bernstein desfechou recentemente um ataque violento Future Science. Nova York: Anchor, 1977.
contra tais tentativas, chamando-as de "superficiais e profundamente · desenca­ Welwood, J ., "Self-knowledge as the Basis for an Integrative Psychology". Jouma/
minhadoras" (1978). E uma autoridade do porte de John Wheeler ""': cujo nome of Transpersonal Psychology, 11, l, 1979.
é sempre mencionado no "novo paradigma", e de uma maneira que o deixa fu. Wilber, K., "Eye to Eye",ReVision, 2, l, 1979.
rioso - publicou recentemente duas cartas de crítica severa onde, entre várias ___ The Atman Project. Wheaton: Quest, 1980.
outras coisas, estigmatiza as tentativas de aliança física/misticismo como "fan.
'1 tasias lunáticas", "ciência patológica" e "charlatanismo". "Além disso", afirma,
"na teoria quântica da observação, meu próprio campo atual de pesquisa, encon­
tro o trabalho honesto quase completamente inundado pelo murmúrio de idéias
absolutamente loucas propostas com o objetivo de estab.elecer um vínculo en­
tre a mecânica quântica e a parapsicologia" (1979) - e a psicologia transpessoal,
no que diz respeito a ela. Wheeler solicitou, e o Almirante Hyman G. Rickover
uniu-se a ele, que todas as sanções da Associação Norte-americana para o Avanço
da Ciência fossem removidas de qualquer empreendimento de tendência trans­
pessoal, sanções que Margaret Mead, há dez anos, lutou tanto para obter.
O trabalho desses cientistas - Bohm, Pribram, Wheeler e outros - é im·
portante demais para se curvar sob o peso de especulações extravagantes so­
bre misticismo. E· o próprio misticismo é profundo demais para se deixar amar·
rar a fases de teorização científica. Que lhes seja permitido apreciar-se recipro­
camente, e que seus diálogos e suas mútuas trocas de idéias nunca terminem.
Porém, casamentos prematuros e injustificados habitualmente terminam em
divórcio, e, com muita freqüência, num divórcio que lesa terrivelmente am­
bas as partes.

REFERÊNCIAS

Beynam, L., "Toe Emergente Paradigm in Science". Em ReVision, 1, 2, 1978.

1n
Bernstein, J., "A Cosmic Flow". American Scholar, Inverno-Primavera, 1979.
Bohm, D. e Hiley, B. J.,"Some remarks on Sarfatti's proposed connection between
quantum phenomena and the volitional activity of the observer-participator".
.i

1 Pré-impressão, Departamento de Física, Birbeck College, Universidade de


Londres, 1975.

( 172 173

1
BOHM: Talvez. No entanto, a totalidade pode, por um lado, ser descrita
como sendo ambas, isto é, como sendo tanto imanência como transcendência,
e por outro, como não sendo nenhuma, nem imanência nem transcendência, u·m a·
8 vez que ela se acha além da possibilidade de descriç:ro. As palavras sa:o, no final
das contas, limitadas; são apenas um sinal que aponta para uma realidade que
O FÍSICO E O MÍSTICO: não pode ser completamente simbolizada por tais meios.
É POSSÍVEL UM DIÁLOGO ENTRE ELES?
WEBER: Wilber alega que a nova física apenas descobriu a unidade da parte
Um diálogo com David Bohm _com a parte, e não da parte com o todo. Nesse sentido, pode-se dizer que a ciên­
Conduzido por Renée Weber. Organizado por Emily Sellon cia confirma o misticismo?

\\lEBER: Poderíamos começar esclarecendo a diferença entre o holomo­ BOHM: É um assunto muito complexo, e a maioria dos cientistas modernos
vimento, a holografia e a ordem implicada? não se dedica a tais questões. Portanto, nem concordariam nem discordariam.
Eu .disse que, a meu ver, o significado positivo do misticismo poderia ser que a
BOHM: Holomovimento é a combinação de uma palavra grega com uma base da nossa ·existência é um mistério - uma afirmaç:ro que o próprio Einstein
palavra latina, e uma palavra semelhante seria holocinese ou, melhor ainda, holo­ aceitava. Foi ele quem disse que o mais belo é o misterioso. Em minha opiiüa:o,
fluxo, porque "movimento" implica deslocamento de lugar para lugar, ao passo a palavra místico deveria ser aplicada a uma pessoa que realmente teve alguma
que "fluxo" não. Desse modo, o holofluxo inclui a natureza basicamente fluente experiência direta do mistério que transcende a possibilidade de descriça:o. O
do que é, e também daquilo que é formado dessa maneira. A holografia, por outro problema para o restante de nós é saber o que isso pode significar.
lado, é apenas uma técnica de registro estático do movimento, como uma foto­ Na medida em que o místico decide falar a respeito de sua experiência,
grafia: uma abstração do holomovimento. Portanto, n:ro podemos considerar a holo­ ele ·deixa o domínio do misterioso e entra no mundo da experiência comum.
grafia como uma coisa muito básica, uma vez que é apenas uma maneira de exibir o Se ele tenta fazer contacto com os outros, isso é valioso, mas nesse caso ele tem
holomovimento, que é o fundamento de todas as coisas, de tudo o que existe. de seguir as regras que governam o domínio das coisas comuns, isto é, tem de
A ordem implicada é aquela na qual tem lugar o holomovimento, uma or­ ser razoável, lógico e claro. Se fracassa em agir dessa m�eira, o que ele diz na:o
dem que tanto dobra como desdobra. As coisas se acham dobradas na .ordem terá conexão alguma com nossa experiência ordinária e, portanto, terá muito
implicada, e essa ordem não pode ser inteiramente expressa de uma maneira ex­ pouco significado para nós - a menos. que ele .. possa, de algum modo, transmi­
plicada. Portanto, nessa abordagem, na:o podemos ir além do holomovimento ou tir aos outros a essência de sua experiência, o que é muito difícil de levar a cabo.
do holofluxo (a palavra grega seria holorhesis, suponho) embora isso não signi­ Na:. medida em que se contenta em · fazer menos que isso, ele deve respeitar as
fique que é esse o fim da matéria. regras da comunicação ordinária. Pode ter a esperança de dizer algo que seja ca­
Em qualquer discussão desse tipo, as pessoas são freqüentemente levadas paz de iluminar a experiência ordinária, ou até mesmo de melhorá-la. Se for esse
a falar em totalidade, numa totalidade que é tanto imanente como transcendente o caso, poderia advir a possibilidade de_ um diálogo entre a pessoa que é comu­
e que, num contexto religioso, recebe sempre o nome de Deus. A 1II1anência signi­ mente chamada de místico (embora a palavra tenha um significado pobre) e a
fica que a totalidade do que existe é imanente à matéria; a transcendência significa pessoa que está principalmente interessada no comportamento da matéria, nas
que essa totalidade está além da matéria. relações humanas habituais e nos níveis ordinários de consciência, tais como o
pensamento e· o sentimento.
WEBER: Numa edição anterior de ReVision {Volume 2, n? 2, 1979) [Veja O problema em estabelecer tal diálogo é que, antes de mais nada, o mís­

I i
o Capítulo i], Ken Wilber diz que a filosofia perene admitiu univer;almente que tico tem dificuldade em falar com o homem comum porque é forçado a usar
o mundo se acha hierarquicamente estruturado, cada nível superior contendo uma linguagem inadequada para sua tarefa. A linguagem mecanicista comumen­
o inferior, mas não o contrário. Com base nisso, ele rejeita a teoria do holograma, te usada, por exemplo, na descrição da matéria, acha-se engrenada naquilo que,
segundo a qual a parte contém o todo. para ele, é um baixo nível de experiência. Portanto, a primeira questa:o está no
fato de que precisamos de uma linguag�m que estenda urna ponte entre esses
1
BOHM: Antes de mais nada, a posiç.to hierárquica parece rejeitai a noça:o distintos nívéis dé experiência. Em• segundo lugar, a comunicaç:ro será difícil;
da imanência do todo. A meu ver, a tradição antiga inclui tanto a imanência como ·e mesmo impossível, se o místico insiste em permanecer em seu nível elevado e
· a transcendência. Certamente, Buda e muitos outros mestres da filosofia e da olhar por cima o outro indivíduo, como se este na:o tivesse essencialmente nada

1
religião teriam concordado com isso. para dizer - sendo o seu· papel apenas o de ouvir e aprender. Essa combinação
dificilmente resultaria num diálogo, e duvido .que ·qualquer urna das partes se
WEBER: Spinoza somente enfatizou a imanência. beneficiaria com ela.

J
174 175
11: Entretanto, na: o penso que todos os místicos agmam dessa forma. Po r BOHM: A relatividade e, o que é ainda mais importante, a mecânica quân­

'
exemplo, o Lama Govinda tem pro curad o p or' um verdadeiro diálogo entre tica sugeriram com bastante vigor ·(emb ora não o tenham pr ovado) que · o mun­
a ciência e o misticism o, e deixado claro que diferentes místicos possuem do não pode ser -analisad o em partes que existam -�parada _e independentemen­
mei os muito diferentes de olhar para as coisas. Pir Vilayat Khan, que repre­ te. Além disso, cada parte, de certa forma, envolve todas as· outras, contendo-as
senta a tradição mística sufi, também afirm ou que nem tod os os místic os são ou d obrand o -as dentro de si. Neste sentid o, p ode-se dizer que uma linguagem
unãnimes em sua percepção. Disse que quando alguém se eleva ao nível da comum foi estabelecida, bem como um c onjunto comum de conceitos básicos,
transcendência - à totalidade - e depois retorna, a vida ordinária é vista de po rque este é um p onto sobre o qual to d os os místicos concordam. Este .fato
,, uma maneira diferente. Mas disse também que nas tradições do Oriente Médio, sugere que à esfera ordinária da vida material e a esfera da experit'!ncia mística
isto é, no judaísmo, no cristianismo e no islamismo, o que acontece no �ível partilham de uma certa ordem e que isso permitirá um relacionamento provei­
ordinário tem uma importância real - os evento s históricos afetam realmen­ toso entre eles.
te o eterno, ao passo que a importância da história humana tende a ser nega­
da na tradição hindu. Por essa razão, não se deveria atribuir unanimidade abso­ WEBER: Qual é sua resposta ao comentário de que a ciência moderna tra­
luta àquilo que é conhecido como tradição mística ou filosofia perene. Há ta apenas da noçã'o de unidade dentro de um dado nível hierárquico - isto é,
muitas diferenças individuais, e os místicos, como os cientistas, esta:o incli­ do nível explorado pela física das partículas, que, por assim dizer, fica abaixo

t nados a desc obrir coisas novas, d que leva a uma conseqüente dificuldade· de
comunicação.
do solo, no nível mais baixo da hierarquia - mas que isso não implica uma_ uni­
dade entre matéria e consciência?

li
11
WEBER: Um ponto para o qual essa questão parece se voltar é a crítica BOHM: A física, por si mesma, não implica nem nega qualquer coisa a res­
de Bernstein, a saber, se o misticismo tenta provar sua experiência através da peito da consciência. O que ela faz é _nos encorajar a ver a evidência de novas
física, está querendo agarrar o vento, p ois a física se acha relacionada com o tem­ maneiras. Essas novas maneitas na:o provêm necessariamente da posiç!o profis­
po e o·misticismo não. Você discorda dessa afirmação? sional de uma pessoa, exigindÕ, isto sim, que eu deva examinar uma questa'o ape_­
nas como físico.
BOHM: Eu diria que o misticismo, assim como a física, não está nem no WEBER: No entanto , no seu própri o caso, suas teorias sa'o de particular
·tempo nem fora dele; está em ambos. Não há nada que esteja totalmente li­ interesse precisamente porque você é um físico e, portanto, tem um discernis
gado ao temp o ou totalmente livre dele. A física está se transformando mui­ mento melhor do mundo dinâmico e interdependente cuja cosmologia está sen­
to rapidamente, e penso que o misticismo também pode estar. No entant o,· do desenvolvida.
·para:responder à sua pergunta de maneira mais direta, penso que seria tão to­

1
lo para os místicos tentar provar sua experiência a partir da física como seria BOHM: Talvez, mas isso na:o me impede de co nsiderar outras implicações:
tolo para os físicos provar a sua com base no misticismo. Nenhuma delas po­ F·aço justamente isso no último capítulo de meu último livro, Wholeness and
de ser pro vada. A física não pode ser pr ovada em . qualquer sentido abs oluto the lmplicate Order (Routledge and Kegan Paul, 1980); na'o apenas para a vi­
porque se baseia em tod o tipo de supo sições, muitas das quais ainda sa:o des­ da mas também para a consciência, num esforço que tenta mostrar que uma lin­
co nhecidas. Só o teorema de Gõdel poderia sugerir que, para cada suposição guagem c<;>mum deveria prevalecer em todos esses dom_ínios. Nã'o tento dedu­
da qual estam os ·conscientes, deve haver um número incontável de outras sup o­ zir da física a vida e a consciência; o que tento é ver a matéria como parte de
sições que nos sl!o desconhecidas. Algumas dessas podem ser falsas, o utras ver­ uma subtotalidade relativamente independente que inclui a vida. Omitindo a
dadeiras. Desse m odo, uma vez que na:o há maneira alguma de provar a física, vida, obtemos a matéria inanimada; omitindo a c onsciência, obtemos a vida; omi­
e, certamente, nenhuma maneira de provar o misticismo, penso que é um erro tinpo algo n[o especificado que está além, obtemos a consciência ordinária, e
tentar provar alguma coisa com absoluta certeza. Na: o obstante, penso que alg o assim por diante. Não chamo isso de hierarquia, mas, preferivelmente, de uma
valioso p oderia surgir de um diálogo entre ambos, no sentido de que cada um série de níveis de abstrações, o que é um tanto diferente, urna vez que se você
pode aprender com o outro. E, ao mesmo tempo, cada um poderá descobrir abstrai alguma coisa não pode chamar a isso de mais baixo ou mais alto (como
que algumas de suas próprias pressupo sições sã o insensatas e devem ser aban­ nlll!1 sistema hierárquico), mas apenas de diferente.
donapas, e isso lhes permitirá prosseguir no rumo de alguma coisa nova, que não
1
as separará irrev.ogav-elmente. 1 WEBER: Mas como. você interpreta a afirmação segundo a qual à medida
_ que subimos através dos níveis de organização vamos attngindo· graus maiores
WEBER: A nova física encoi:aja a suposiçã o de que deve haver. uma afini­ 1 de inclusividade, ao passo que o jnverso na: o é verdadeiro? Por- exempl o , um ani­
1
dade natural entre os dois conjunto s de conceitos a respeito- qo mundo sustenta­ mal p ossüi vida e sensibilidade, como também uma organizaçã o material; mas
dos pela física e pelo misticismo? uma pedra, .que tem materialidade, carece 'das outras características.
1

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·
·1
BOHM: Mas nós na:o conhecemos a pedra, conhecemos? Se fôssemos fa. exemplo, numa semente germinando, quase toda a sua matéria e energia provêm
lar sobre uma célula ou uma partícula virótica, isso seria equivalente a falar so­ do meio ambiente. De acordo com a ordem implicada, a semente está continua­
bre uma pedra com relação a todo o universo material. Se contemplamos a na­ mente fornecendo à matéria inanimada do meio ambiente novas informações
tureza como um todo - imensas montanhas, mares, campos e florestas em cres­ que a levam a produzir a planta ou o animal vivos. Quem pode dizer, enta:o, que
cimento - podemos ter uma experiência do todo que as pessoas chamam de mis­ a vida não estava imanente, mesmo antes de a semente ser plantada? Da mesma
ticismo. De algum modo, nos é revelado algo que na:o percebemos olhando ape­ maneira, afirma-se que quanto mais complexo é um animal, maior é a manifes­
nas um ser vivo isolado. Apreendemos a imanência da totalidade bem como sua tação de sua inteligência, mas esta deve também se achar imanente na matéria
transcendência. Poder-se-ia dizer que a transcendência é "mais alta" que a ima­ que constitui o animal. Se a imanência for procurada cada vez mais fundo na
nência, mas ambas têm de estar. presentes. O_que é importante, a meu ver, é, em matéria, creio que eventualmente podemos atingir o fluxo que também experi­
primeiro lugar, a relação entre a imanência e a transcendência e, em segundo lu­ mentamos como mente, e portanto mente· e matéria se fundem. Chamamos de
gar, entre ambas e a vida comum. Cada urna dessas noções, de uma totalidade transcendência as supremas alturas da mente; encontramos nas profundezas da ma­
imanente ou de urna totalidade transcendente, é uma abstraça:o; omite a vida téria a imanência do todo daquilo que é. Ambas são necessárias, e, a meu ver,
comum. A noção de vida comum é, igualmente, urna abstraça:o que exclui as ou­ o misticismo que desvaloriza a consciência cósmica e fica apenas com a expe­
tras duas. Uma das nossas dificuldades é que todas essas idéias slío abstrações, riência transcendente é absurdo.
as quais produzem uma subtota!idade relativamente independente que, até certo Na verdade, muitas pessoas vivenciam essa vasta totalidade na natureza,
ponto, pode ser discutida por si mesma. sem mesmo pensar nela como misticismo. Algo dessa totalidade nos é revelado
quando percebemos a matéria, em sua vastida:o e profundidade, tal corno se ma­
WEBER: Mas nenhuma delas pode ser divorciada da realidade, do todo, nifesta na terra, no céu e no próprio universo - matéria na qual a vida e a inte­
pode? .É possível que a questão gire em torno do seguinte: o todo pode estar em ligência sa:o imanentes e estão implícitas.
cada parte, mas diferentes partes podem na:o estar necessariamente em cada uma
das outras partes. WEBER: Quando você fala de matéria dessa maneira, está falando corno
físico ou corno filósofo - ou essa é a pergunta errada?
BOHM: O todo está presente em cada parte, em cada nível de existência.
A realidade viva, que é total, inteira (unbroken) e indivisa, está em todas as coisas. BOHM: Penso que é a pergunta errada. Um físico tem um certo tipo de
contacto com a matéria; um filósofo pensa sobre a matéria de uma maneira mais
WEBER: Mas está igualmente em tudo? Esta é a pergunta crucial. geral. Mas se você simplesmente olha para a natureza, está entrando em contacto
com um aspecto da matéria que não é abstrato, e que, de certa forma, expressa
BOHM: Talvez não igualmente. Mas se a realidade se apresenta sob dife­ o todo. Quase todas as pessoas que contemplam montanhas e o mar ou o céu
rentes modos ou graus, isso na:o significa que podemos categorizar tal desigual­ à noite têm esse sentimento. .É um meio tão legítimo de aprender a respeito da
dade corno escalonada de urna única maneira num "mais alto" ou "mais baixo". realidade como qualquer outro.
C. S. Lewis tinha urna bela maneira de expressar isso, que eu gostaria de adaptar
para uso neste contexto. A. "higherarchy" [maisaltarquia], que está em cima, e a WEBER: Você certamente ampliou e redefiniu o conceito de matéria para
"lowerarchy" (rnaisbaixarquia], que está embaixo. A questa:o é que, ao consi­ além do seu uso convencional.
derar a matéria inanimada, dizer que está morta, que na:o tem .inteligência, é ape­
nas uma abstração. A matéria é implicitamente o todo, é aquilo que se desdobra, BOHM: Bem, se por um lado dizemos que a mente se acha bem acima da
em qualquer que seja o meio. Considero o processo da evoluça:o como o desdo­ matéria, mas por outro dizemos que não temos conhecimento de mente alguma
bramento do potencial da matéria, que, no fundo, toma-se indistinguível do po­ sem a matéria, enta:o se pode argumentar que a mente é imanente à matéria e, nesse
tencial da mente. sentido, que a matéria é mais abrangente. Por essa razão, suponho a "/owerarchy"
Isso na:o significa que igualo a mente e a matéria, ou que reduzo uma à embaixo e a "higherarchy" em cima; precisamos de ambas para revelar mais com­
outra. São, antes, duas correntes de desenvolvimento paralelas, que surgem de pletamente o todo.
um terreno comum que está além de ambas, e na:o pode ser descrito neste estágio.
Talvez esse "além" esteja onde o místico vivencia a transcendência e a imanên­ WEBER: Isso ligaria organismos mais elevados, auto-reflexivos, tais como
cia juntas, corno um todo. nós mesmos com coisas tais como uma folha, uma rocha, urna árvore?
A matéria está relacionada com aquilo que captamos com nossos se'ntidos
e percebemos corno sendo relativamente estável e recorrente, bem como sujeito BOHM: Sim, com todo o universo material. De acordo com meu modo
a certos tipos de.leis. A mente é mais sutil, mas na:o temos nenhum conhecimen­ de pensar, essa visão produziria uma civilizaçã'o muito melhor do que aquela que
to da mente sem a matéria, ôu de matéria desassociada da mente o.u da vida. Por enfatiza uma hierarquia escalonada de vida consciente, na qual aquilo que está
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"'
em "cima" possui um grau maior de realidade. Se dizemos que toda matéria é, quais a propriedade de vida é, de alguma forma, infundida quando a semente
de certa fonna, sagrada, enta:o nos livramos da· sacralidade especial que atribuímos é plantada, então sua vida (aliveness) óeixa de ser tal mistério.
a certas coisas, tais como o templo ou a igreja.
WEBER: A vida é enta:o um continuum; todas as coisas sa:o vivas?
WEBER: Eliminamos a linha entre o profano e o sagrado. Foi Spinoza que
disse que a matéria é Deus enquanto extensão. Você concorda? BOHM: Tudo é vivo. O que chamamos de coisa morta é uma abstraç:ro.
BOHM: Sim, ele apresenta um ponto de vista diferente mas complementar.. WEBER: Isso traz à tona outra questão. Você na:o sugeriu em seus escritos
Uma das fraquezas de algumas religiões é que elas exaltaram a espiritualidade e que devemos deixar a consciência fora de nossas descrições na física?
desvalorizaram a matéria. No entanto, a religião zuni afirma que todos os indi­
víduos slio inna:os porque a Terra é sua ma:e e o Sol é seu pai. Essa ligaça:o à terra BOHM: Isso não é algo muito preciso. Em princípio, na:o sou contra a ten­
perdeu-se no cristianismo, que faz a fraternidade do homem depender inteiramen­ tativa de reunir a consciência e a física, mas até agora as evidências sobre as quais
te de sua descendência de Deus Pai. Mas a fraternidade do homem pode ser vista se baseia a maioria das tentativas não são muito boas. A consciêrtcia foi, no con­
concretamente, no sentido de que todos nascem da mesma terra, dependem dela junto, introduzida de uma maneira arbitrária, na:o conectada com a física.
para sua vida e a ela retornam ao morrerem. A fraternidade existe na:o apenas Por exemplo, Descartes disse que temos a substância extensa, que é a ma­
em espírito mas também em matéria, .confirmando a antiga concepça:o hermética: téria; isso seria a ordem explicada. Ele deixou claro que a substância pensante
"O que está em cima é como o que está embaixo." Uma das primeiras formas na:o é ·da mesma ordem, uma vez que temos pensamentos claros e distintos que
do misticismo teria afirmado: "O que está no espírito é como o que está na ma­ não se espalham no espaço. Ele estava assim sugerindo uma espécie de ordem
téria", posição que também pode ser desenvolvida a partir da física moderna. implicada. Na:o podia perceber como duas categorias tão diferentes podiam ser
relacionadas, e assim postulou que Deus no final se encontrava atrás da relação.
WEBER: De que maneira? Descartes assinalou desse modo um sério problema: duas coisas de ordem ta:o
diferente são muito difíceis de serem relacionadas. ê arbitrário e inconsistente
BOHM: Na velha física, a matéria (que era a única realidade) era comple­ dizer que a mente, que está na ordem implicada, afeta a física, que está na or­
tamente mecânica, não deixando espaço para a mente. Mas se, de acordo com dem explicada. Na:o se pode, repentinamente, injetar na física variáveis· da cons­
a nova física, tudo se acha dobrado dentro de tudo, enta:o não há uma verdadei­ ciência. Uma abordagem mais consistente seria dizer que tanto a mente como
ra separação de domínios. A mente surge da matéria. E a matéria contém a es­ a matéria participam da ordem implicada, e nisso reside a base de uma relaça:o.
sência da mente. As duas são, realmente, abstrações do todo: subtotalidades rela­ Sugeri que o desdobramento do pensamento, do implícito para o explícito, é
tivamente invariantes criadas pelo nosso pensamento. Portanto, se sondannos similar ao desdobramento da matéria. Também sugeri que experimentamos a
a matéria até uma profundidade suficiente, encontraremos um reflexo das mes­ ordem implicada mais diretamente do que o fazemos com a ordem explicada,
mas qualidades que são reveladas quando a mente é sondada de maneira semelhante. tanto interiormente, em nossa percepção, como exteriormente, em nosso mo­
vimento perceptivo.
WEBER: Isso levanta a questa:o de saber se o físico contribui com alguma Grande parte de nossa dificuldade resulta do fato de que aceitamos a idéia
coisa para o problema· de como a mente e a, matéria interagem e sa:o unificadas. de que não apenas a matéria, mas também toda a nossa experiência, está na or­
dem explicada, e então, de repente, queremos ligar isso com a consciência, que
BOHM: Para discutir a interação entre mente e matéria, devemos, em pri­ é de uma ordem totalmente diferente. Em vez de nos preocuparmos com a expe­
meiro lugar, discutir o que é matéria, e o que é mente. Na medida em que o fí­ riência paranormal ou mística, deveríamos considerar a natureza da experiência
sico oferece uma teoria da matéria, ele contribui pelo menos para um lado da · ordinária, do dia-a-dia. Digo que ela é totalmente mal compreendida, e que faz,
discussa:o. Se disséssemos que o físico em nada pode contribuir, isso implicaria efetivamente, parte da ordem implicada. Portanto, a diferença entre a experiên­
que o místico pode nos dizer tudo a respeito da matéria, o que, obviamente, na:o cia ordinária e a experiência mística não é fundamental, mas apenas de grau.
é o caso, mesmo que ele possa ter alguma experiência mística sobre isso. Desse Se existe o paranormal, só pode ser entendido por referência à ordem im­
modo, se o místico quer discutir como a mente e a matéria são relacionadas, ele plicada, uma vez que nessa ordem todas as coisas se acham em contacto com
finalmente virá a usar a linguagem do físico. De outro modo, terá de recair no tipo todas as coisas e, desse modo, n[o há raza:o intrínseca pela qual o paranonnal
de imagens poéticas que constituem uma linguagem inadequada para um diálogo. deva ser impossível. O importante é estabelecer isso de maneira confiável. Além
O que estou sugerindo é que no mundo macroscópico, uma coisa tal co­ disso, a experiência mística penetra ainda mais profundamente na ordem impli­
mo uma árvore é construída a· partir da ordem implicada - na verdade, é a or­ cada, na totalidade da humanidade, tanto imanente como transcendente. Por­
dem implicada, que toma possíveis suas qualidades vivas. Se percebemos a ár­ tanto, se as pessoas pudessem entender melhor a natureza da experiência ordi­
vore dessa maneira, e não como um punhado de partículas mortas dentro das nária, reconheceriam que a experiência mística é, na verdade, uma elevaç!o, e

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uma intensificaça:o, um aprofundamento de algo de que participam. De fato,
1 embora, naturalmente, o padr[o seja diferente. Na:o obstante, essa exibiça:o in­
muitos místicos disseram que um dos efeitos de sua experiência é o fato de ve­ dica à energia vital o que tem de ser feito, como o faz a exibiça:o produzida pela
rem o mundo da experiência ordinária _de maneira completamente diferente. A experiência sensorial.
ordem implicada fornece uma comunalidade imperando nas profundezas da ma­
téria, da energia, da vida, da consciência. A ordem explicada do chamado mun­ WEBER: Suponho que a energia vital inteligente de que você está falando
do comum da experiência desdobra-se e exibe a ordem implicada. é algo bem distinto da energia vital biologicamente organizada a que Descartes
e outros se referem, a qual pode ser construída mecanicamente.
WEBER: Nã"o está claro o que você entende pelo termo "exibe".
BOHM: A energia vital é mais do que apenas uma organizaça:o biológica;
BOHM: Bem, a ordem explicada pode ser chamada de aquilo que exibe. ela alcança a inteligência. Guiada por uma exibiça:o, ela pode fazer quase tudo,
Isso n[o significa desvalorizá-la, uma vez que ela é absolutamente necessária tan­ mas sem uma exibição ela nada tem a fazer. Na vida cotidiana, operamos em ter­
to para a vida como para a sanidade, mas sim descobrir seu relacionamento ade­ mos do mundo das imagens que nos sa:o exibidas. Por exemplo, se você fecha
quado coin o todo. O· implicado n[o poderia funcionar sem o explicado. Supo­ os olhos, pode exibir este quarto para você mesma, se o tiver observado cuida­
nha que você possui um computador cujas operações muito complexas efetua­ dosamente. Há exibições similares de relações e de características das coisas, tais
das dentro dos microchips sa:o exibidas numa tela sob a forma de um diagrama como sua solidez. De fato, tudo em nossa consciência é urna exibiça:o de infor­
perceptível ou de um conjunto de palavras. Essa exibiça:o comunica instantanea­ mações passadas que se misturam com dados sensoriais do presente. Essa exi­
mente a você o que foi computado, e você age de acordo com essa informaça:o. bição é o mundo desdobrado - tudo o que sabemos sobre a ordem explicada.
Penso que o cérebro atua de maneira semelhante através da imaginaça:o. A com­
plexa cadeia do raciocínio lógico e suas conclusões sa:o exibidas numa imagem WEBER: Entretanto, você está dizendo que isso na:o é tudo o que sabe­
que é ·um guia imediato para a atividade. Essa imagem é uma exibiça:o exterior. mos, porque também sabemos algo da ordem implicada. Estamos em contacto
Se perguntarmos: "O que é guiado por essa exibiça:o?", digo que na:o pode ser com ela.
outra coisa exceto o implicado.
Nossa experiência mais imediata da ordem implicada é o próprio movimen­ BOHM: Sim, alcançamos o estágio no qual a ordem implicada também
to. N[o sabemos realmente como conseguimos nos mover. Temos o desejo de está sendo' exibida, ou pelo menos o está urna certa sirnbolizaça:o dela. Dessa
ir a algum lugar, e a imaginação exibe a atividade que queremos executar, mas forma, a ordem implicada está procurando se conhecer melhor; está alcançan­
na:o nos diz como conseguir isso; é algo que permanece misterioso para nós. À do outro nível de consciência, o que corresponde a dizer: outro momento da
luz dessa exibiç[o, conseguimos nos mover, mas não podemos realmente descre­ evolução da consciência. À medida que a consciência passa a conhecer a si pró­
ver como o fizemos� Há evidências de que há urna energia vital (life-energy) in­ pria cada vez mais profundamente, mais ela conhece a respeito do que está fa.
terna e inteligente que pode executar uma ação uma vez que algo lhe é exibido. zendo. Atualmente, tal conhecimento se acha, em sua maior parte, confinado
Há um exemplo em que um fino fio metálico foi ligado a um nervo da ma:o de ao domínio exterior, porque é nele que, de modo preponderante, se mostra vi­
uma pessoa; a seguir, foi conectado a um alto-falante, que exibia a funçã"o no sível a exibiça:o.
nervo por meio de um clique. Uma vez que esse indivíduo teve assim à sua élis­
posiç[o esse dispositivo de exibiç[o, podia produzir o clique à vontade, embora WEBER: Suponho que um místico está mais sintonizado com a exibiça:o
não soubesse dizer como, e eventualmente aprendeu até mesmo a tocar uma me­ interna da consciência, mais profundamente imerso na ordem implicada.
lodia com ele. O fato é que quando a atividade é exibida, podemos introduzi�
nela alguma ordem, mas sem a exibiç[o nada podemos fazer. BOHM: Certo, muito mais profundamente. Na:o obstante, isso na:o é total­
mente diverso do que acontece na experiência ordinária. :É um continuum.
WEBER: Exibido significa tomado manifesto. Também significa realimentado.
WEBER: Você pensa que a mecânica quântica confirma isso?
BOHM: A palavra "exibir" significa literalmente "desdobrar". A palavra
play tem a mesma raiz que plicare, e "exibir" (display) significa desfazer ou in­ BOHM: Sim, na medida em que ela afirma que há uma ordem implicada
verter a dobra. Desse modo, a imagem de televisão exibe o conteúdo da infor­ ,! que há um infinito oceano de energia, e que isso se desdobra para .formar o
mação, o sinal, de lima maneira que os sentidos possam captar imediatamente. espaço, o tempo e a matéria.
De modo semelhante, numa série de palavras que est[o conectadas logicamente,
o significado é instantaneamente exibido numa imagem mental, e a aça:o se segue WEBER: Desse modo, com base no que você está dizendo, há na física
a isso, assim como ela segue informações vindas dos sentidos. O pensamento pode uma coer1!ncia com o chamado ponto de vista místico, na:o apenas na forma mas
exibir um padra:o, um conteúdo, similar ao que os sentidos poderiam produzir, também no conteúdo.
182 183
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1,,,.
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BOHM: Isso não foi demonstrado, mas podemos dizer que esse é um ca­
minho plausível ou razoável para se explorar. ·como eu disse, a física e o misti­
ficado disso é que o único valor admitido é a verdade científica. Os cientistas esco­
lheram essa verdade como o valor supremo, mas está certamente aberto à discussiro
cismo podiam empenhar-se na procura de uma linguagem comum e verificar se
'"'' têm realmente alguns pontos em comum. Uma das questões que poderiam ser
se a verdade científica é adequada para tal papel. Outra pessoa poderia perguntar:
"Por que não fazer do pragmatismo o valor supremo?" Penso que se você omitir a
exploradas é a da conexa:o entre a experiência mística e a experiência ordinária, noça:o do Bem, descobrirá que é difícil justificar seu esforço para chegar à verdade.
e a possibilidade de que esta última tenha características às quais habitualmente A idéia do Bem está implícita na noç.ro de verdade científica: essa verdade é_ boa em
if nlfo se presta atenção. si mesma ou boa para aquilo que ela pode fazer - ou boa em ambos os sentidos.
''1•;
WEBER: Você está realmente dizendo que a "experiência ordinária" n[o WEBER: Portanto, os cientistas na:o querem ser apenas pragmatistas; que­
existe, e que somente a designamos como tal face à nossa cegueira e ignorância? rem descobrir a verdade na natureza.

BOHM: É isso mesmo. E se essa concepçifo fosse aceita, o místico pode­ BOHM: Eles querem fazer o que é o bem - ou o que eles consideram co­
ria comunicar-se mais facilmente, uma vez que sua experiência nã'o seria total­ mo o bem, pois é possível .que tenham uma visão diferente do que é o bem; isso
mente estranha à experiência ordinária. é sempre discutível. O místico diz que o bem pode ser vivenciado: que ele é tota­
lidade, harmonia. O problema é que essa unidade na:o se comunica com a expe­
WEBER: Desse modo, se a noçifo de uma ordem implicada como matriz riência ordinária, e é por isso que é ta:o importante entender o que a experiência
para a experiência ordinária fosse mais amplamente compreendida, isso forne­ ordinária tem em comum com essa experiência mística da totalidade.
ceria uma direção.
WEBER: A propósito da verdade científica, você mencionou anteriormente
BOHM: Penso que seria muito valioso pelo fato de que pessoas em todas que n[o há maneira de provar a física - que até mesmo nossas provas operam
as situações poderiam participar, e isso realmente seria capaz de começar a mu­ com base em certas suposições que na:o podem ser provadas.
dar suas vidas.·
BOHM: Sempre existem provas relativas, mas na:o provas absolutas. Em ou­
WEBER: Em outras palavras, a ordem implicada poderia fornecer o terre­ tras palavras, não podemos estar absolutamente certos de que o universo existe
no unificador para o místico e para o físico. Há uma identidade convergente dos sempre e em toda parte da maneira como o imaginamos.
domínios que cada um deles descreve.
WEBER: No entanto, você também disse que a mecânica quântica é muito
BOHM: Pode-se pelo menos dizer que é consistente supor a existência de precisa. Na:o fica um tanto confuso dizer também que a ciência nlfo pode pro­
tal identidade, mesmo que ela na:o possa ser provada. A matéria, a energia e a var coisa alguma?
consciência certamente possuem uma base comum que é desconhecida.
BOHM: Como indiquei antes, a ciência na:o pode provar que ela é absolu­
WEBER: Diferentemente do físico, o místico atribui o que se poderia cha­ tamente verdadeira. A ciência toma a forma do universal, que seria aquilo que
mar de propriedades espirituais ou morais à unidade que vivencia, chamandc;>-a é sempre verdadeiro; todavia, ela é realmente limitada, e ao longo do tempo des­
de significativa, rica em ordem, boa. cobriremos esses limites. Por exemplo, Newton afirmava que as leis que gover­
nam o movimento da matéria sa:o universais, que a matéria se movimenta sem­
BOHM: O físico pelo menos concordaria que ela é rica em ordem. pre do mesmo modo, mas a relatividade e a mecânica quântica chegaram e pro­
varam que as coisas sa:o diferentes. Na verdade, a ciência sempre afirmou que as
WEBER: Mas o místico faz um apelo mais forte: ele diz que tudo em sua leis por ela descobertas s[o universais somente para descobrir, mais tarde, que
experiência se acha carregado de uma significaçã'o interior que impede todas as apesar de tudo elas sa:o limitadas e particulares. Desse modo·, a lei é considerada
dúvidas. Simplesmente é, e ser o que é, é suficiente. satisfatoriamente geral, mas n[o universal.

BOHM: Bem, o cientista também poderia dizer que a natureza é o que é, WEBER: Mas há uma diferença entre dizer que algo n:ro pode, em abso­
e que isso basta. Alguns físicos, como Einstein e Newton, sentiram de fato essa luto, ser provado, seja quando for, e dizer (e é o que você parece sugerir) que nada
unidade e esse significado subjacentes, e portanto nã'o é. impossível a um físico pode ser provado?
experimentá-la. Se ela nlfo é mais habitual nos dias de hoje, isso se deve possivel­
mente ao fato de que a ciência foi afetada por um ponto de vista que tenta ser BOHM: Bem, a palavra "prova", da maneira como é usada neste contexto,
livre de valores. Isso é, naturalmente, mero preconceito, pois é óbvio que o signi- significa usualmente a demonstração lógica ou factual de algo que está além de

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qualquer dúvida, isto é, de modo absoluto. Uma prova que é relativa (e, portan­ WEBER: Gostaria de saber se as restrições sobre as quais você falou, rela­
to, dependente de algo mais, que na:o foi provado) na:o constitui, no fundo, prova tivas à ciência, sa:o menos inibidoras em outras modalidades, tais como a expe­
alguma, em absoluto. Portanto, digo que podemos confirmar as leis científicas, riência direta, o misticismo, a meditação, e assim por diante.
mas na:o podemos prová-las. Confirmamos uma lei ao mostrar que descobrimos
uma grande área em cujo âmbito ela funciona, mas posteriormente poderemos BOHM: No momento em que você transforma qualquer expenencia em
descobrir algumas áreas onde ela na:o funciona, em absoluto. palavras e memória, isso tem de ser considerado uma proposiça:o ou proposta se
quisermos que ela tenha uma importância maior. Se uma pessoa fala a respeito
WEBER: Você diz que essa característica aplica-se a toda ciência? da experiência mística, está presumivelmente referindo-se na:o apenas a esse mo­
mento em particular, mas também a uma coisa que pode ser relevante em outras
BOHM: E a todo pensamento racional, seja ele qual for. épocas e lugares. E isso; a meu ver, é sempre uma proposiça:o ou proposta.

WEBER: Isso leva à minha próxima pergunta, pois nisso você se parece com WEBER: Enta:o, isso entra no domínio da lógica e da linguagem. Talvez seja
Hume, o arquicético. Se é verdade que nada é absoluto, podemos saber alguma coisa? por isso que, ao longo da história, a linguagem do misticismo tenha sido o silêncio.

BOHM: Na:o com uma certeza absoluta. Temos de ser cuidadosos. A meu BOHM: Penso que os místicos na:o descobriram um meio de desenvolver
ver, o conhecimento é sempre urna proposta. Eu diferiria de Hume quando ele uma linguagem consistente para sua experiência, e por isso ela deixou de ser co­
diz que o conhecimento nada mais é que o resumo de experiências passadas, dis­ municada em qualquer escala mais ampla.
postas numa ordem lógica. Nosso conhecimento vai além de nossa experiência
passada, mas apenas enquanto proposiça:o ou proposta que precisa ser testada WEBER: Você pensa que tal linguagem pode ser encontrada?
em todas as ocasiões em que é usada. Falando de maneira geral, nosso conheci­
mento vai além da experiência passada, porém não possui um caráter absoluto. BOHM: Minha proposta é a de que talvez possa. Se o conhecimento é uma
Ele é sempre, e em cada estágio, uma proposta. proposta, enta:o o que estou propondo é outro conhecimento.

WEBER: Tudo bem, tratando-o como uma proposta podemos enta:o sa­ WEBER: Isso indicaria que o misticismo pode ser dinâmico e até mesmo
ber alguma coisa? mundo-histórico (world-historical) - sujeito ao tempo e à mudança. Mas Lao Tsé
disse: "Aquele que sabe não fala; aquele .que fala na:o sabe." Para ele, na:o havia
BOHM: Podemos saber que certas proposições têm chance de ser confir­ uma terceira possibilidade.
madas numa área razoavelmente ampla, que se estende além daquela de que es­
tamos falando. Se dizemos que a proposiça:o que a lei de Newton sustenta será BOHM: Bem, essa foi a proposta de Lao Tsé; até onde ele desejava levá-la
confirmada numa certa área, isso na:o exclui a possibilidade de que ela pode na:o eu não poderia dizer. Mas quero propor alguma coisa a mais; a necessidade de
se confirmar em alguma outra área. No entanto, temos confiança nela, com re­ uma nova modalidade, que possa abranger a totalidade, o na:o-limitado. Aquilo
laça:o a uma certa área que nos é familiar. que chamamos de metafísica confronta-se com uma dificuldade inerente na ten­
tativa de pensar sobre a totalidade, porque o todo na:o pode, de uma maneira.
WEBER: Dessa forma, até um certo ponto, podemos conhecer? consistente, ser afirmado nem negado. Dizemos, freqüentemente, que o pensa­
mento tanto é limitado como ilimitado, porque, num certo sentido, ele não tem
BOHM: Diz-se· que o conhecimento é uma proposiça:o que, falando de uma fronteiras e pode prosseguir indefinidamente, ao passo que, em outro sentido,
maneira geral, será um guia correto para a aça:o. Isto é, ele ·é confirmado graças ele estabelece uma limitação. Mas dizer que ele é tanto limitado como ilimitado
ao seu funcionamento correto, por ser testado repetidas vezes face à realidade, serve apenas para identificar os opostos. Portanto, o que estou dizendo é que
em muitos níveis diferentes e em muitas situações diferentes. ele não é limitado nem ilimitado. Em outras palavras, temos observado o pen­
samento de uma maneira errada. O pensamento na:o reflete simplesmente as coisas;
WEBER: Também podemos saber que sabemos? ele é algo em si mesmo e de si mesmo. i; um fator real no mundo.

BOHM: Sim, mas novamente no sentido de que essa é uma proposiça:o que WEBER: E o que se segue disso?
está sendo continuamente testada. Com certeza na:o está claro quão bem nós sa­
bemos que sabemos. Muitas pessoas se iludem ao pensar que sabem que elas sa­ BOHM: Ordinariamente, o pensamento reflete uma realidade distinta de
bem - que sa:o plenamente autoconscientes - enquanto que na verdade esta:o, sua própria realidade, mas estamos nos aproximando rapidamente de um estado
com freqüência, num estado de semi-entorpecimento. onde o pensamento reflete uma realidade que é a sua própria realidade. Isso requer
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uma nova abordagem. De certo modo, o pensamento tornou-se semelhante a uma maneira semelhante, para B. F. Skinner ti;do é apenas o resultado do movimen­
obra de arte: pode ser uma mensagem a respeito de alguma coisa mais, mas além to mecânico da matéria cega e inerte.
disso é uma realidade que exibe a si mesma, ou seja, é uma exibiçl!'o de alguma
idéia, intençl!'o ou percepção interiores. E o pensamento da totalidade se exibe. BOHM: A física mostrou que a ordem mecanicista nl!'o se ajusta à expe­
riência, e se lhe coubesse funcionar seja onde for, deveria ser na física. Ela fun­
WEBER: Pode dar um exemplo? A idéia de que o pensamento da totali­ ciona menos ainda no campo da mente. Na verdade, neste campo ela funciona
dade se exibe não é inteiramente clara para mim. principalmente em certas áreas um tanto limitadas, tais como aquela onde se
ensina pombos a dar bicadas seguindo uma certa seqüência.
BOHM: Todo pensamento forma uma exibição na qual evoco o mundo
das imagens (imagina! world]. em termos do sentimento, da imagem, da idéia, WEBER: Você caracterizou um certo tipo de ordem como sendo inteligência.
do estímulo, da tensão muscular, que estão associados ao pensamento. Por exem­
plo, posso pensar numa cadeira. Se eu fechar os olhos, exibo a cadeira à imagi­ BOHM: Nl!'o há prova disso, corno você sabe. Podemos dizer apenas que
nação. Essa exibição é um reflexo de uma cadeira real, mas posso também in­ essa afirmação nos oferece urna ordem melhor para ser explorada que o limita­
ventar algo como um unicórnio, que não tem correspondência com a realidade, do tipo de ordem que Skinner ou Monod propõem. t melhor na:o apenas por­
embora tal coisa possa existir ou ter existido. Então, podemos ir mais longe e que pode explicar mais claramente as coisas, mas porque levará a resultados mais
descobrir exibições que são, inteiramente, produtos do pensamento, e nl!'o re­ harmoniosos.
fletem outra coisa a não ser elas próprias. O pensamento da totalidade é uma
exibição desse tipo. WEBER: Você não quer se estender um pouco mais sobre isso? Podemos,
por exemplo, ter uma experiência direta dessa ordem inteligente?
WEBER: O que me intriga é que toda a sua cosmologia é caracterizada por
idéias do todo e de totalidade (wholeness). Como isso difere da idéia de totali­ BOHM: Eu disse que quando o conteúdo do pensamento é a totalidade,
dade [totality ]? ele está executando uma dança, fazendo uma exibiçl!'o que é, fundamentalmen­
te, sua própria natureza interior profunda, o todo de si próprio. Nesse processo,
BOHM: N[o apreendemos a totalidade [wholeness) quando pensamos nela, ele se torna totalmente envolvido, e por isso se converte, de certa forma, numa
mas o que eu entendo por essa palavra é movimento fluente indiviso, inquebrável, obra de arte que exibe seu princípio interior em vez de qualquer' coisa superfi­
totalmente abrangente. A palavra "totalidade" (totality) parece envolver uma cial. Mas agindo dessa maneira ele se torna típico. Se houvesse urna tal coisa -
certa finalidade - uma completude que é, inerentemente, estática, enquanto urna totalidade verdadeira -, tudo o que ela poderia exibir seria ela mesma. Assim,
que wholeness é dinâmica e abre espaço para o fluxo, sendo, por isso, inerente­ de certo modo, o pensamento toma-se um símbolo ou urna metáfora - uma ati­
mente incompleta. vidade que é um exemplo vivo do que o infinito significa, pois quando uma coisa
exibe real.mente sua natureza própria interior, é um microcosmo de infinidade.
WEBER: É incompleta porque nã'o garante indefinidamente o futuro - o E não é isso o que é uma boa obra de arte? Portanto, num certo sentido poético,
"ainda na:o". ele se torna relevante para a arte. Desse modo, você pode atingir.a experiência
da totalidade· por meio da experiência da natureza, bem como da arte, e talvez
BOHM: Está certo, Tudo o.que exibimos é incompleto, e iss'o deixa espaço também por outros meios. Certamente, creio que o próprio pensamento· pode
para o movimento. Assim, dizemos que a totalidade é o fluxo indiviso do movi­ levá-la a essa experiência da totalidade na medida em que ele é capaz, consisten­
mento que é exibido nisto ou naquilo - em outras palavras, em cada aspecto fi. temente, de deixar de refletir qualquer coisa que nã'o seja ele próprio. Nesse mo­
nito que é abstraído dele. mento, há urna decretação de totalidade.

WEBER: No entanto, sob esse movimento, sob esse fluxo, há caracterís­ WEBER: Quando isso acontece, você diz que o pensamento é criativo. t
ticas de ordem e clareza. também revelador do recesso íntimo da ordem implicada?

BOHM: Eu diria que ordem é urna proposta que pode responder por nossa BOHM: Sim, é urna decretaçã'o viva de totalidade.
experiência, ao passo que a desordem não pode; portanto, ninguém poderia pos­
sivelmente fazer outra coisa. a não' ser aceita tacitamente a proposta de ordem. WEBER: Nas tradições orientais, esse pensamento ou mente possui dois
tipos de funções: urna que é associativa, reativa, lógica ou analítica; e a ou­
WEBER: Há, no entanto, muitas outras pessoas na corn1.1nidade científica, tra, que é sintética, intuitiva, perceptiva de totalidades. Você concorda com
tais corno Jacques Monod, que falam a respeito de "acaso e necessidade". De essa idéia?

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BOHM: No âmbito do domínio no qual o pensamento reflete alguma coisa BOHM: De outra forma ele nos pegará. A primeira coisa a fazer é compreen­
mais, a mente pode ser analítica, ou pode perceber totalidades. Mas estou ten­ dê-lo, trabalhar junto com ele. Não adianta dizer para. essa tremenda energia; que
tando ir além dessas duas abordagens, em direção ao pensamento que na:o está ultrapassa qualquer limite que ela estabeleça: "Afaste-se da questão da totalidade,
tentando refletir algo que não seja ele próprio. ignore-a, finja que ela não está aí!" O pensamento humano é um tremendo ins­
trumento, que não foi usado adequadamente, e por isso seus efeitos destrutivos
WEBER: Quando o tipo de pensamento que penetrou no trabalho de Einstein predominaram. Ele tem potencial para efeitos construtivos, mas penso que é ex­
foi articulado, também não decretou e refletiu algo da ordem do universo? tremamente perigoso fingir saber aquilo que não sabemos.

BOHM: Sim, mas Einstein considerava apenas que era ele próprio que es­ WEBER: Você disse que aquilo que interessa especialmente a você é o fluxo
tava pensando a respeito do universo. Ele não pensava que o seu pensamento entre o implicado e o explicado - entre a matéria e o espiritual - que cria equi­
estava se decretando, decretando a si mesmo. hbrio e sanidade. Pode estend_ er-se um pouco mais nessa questao?

WEBER: Qual é a diferença? BOHM: Mais uma vez, isso é uma proposta, embora me pareça uma proposta
razoável. Tentei indicar que os opostos, tais como o limitado e o ilimitado, ou
BOHM: Não há uma maneira perfeitamente consistente de tornar o uni­ o absoluto e o relativo, s[o na verdade categorias de pensamento. Elas não se
verso o conteúdo do pensamento metafísico, porque este já questionou o que sustentam no final. Portanto, esses opostos são exibições que têm utilidade limi­
se acha além. O pensamento metafísico tem em si mesmo um impulso inerente tada. O mesmo acontece com o espírito e a matéria; são opostos produzidos pelo
para prosseguir, até o ponto de ficar sem um conteúdo externo. próprio pensamento com base em diferenças percebidas, que também nlro se sus­
tentam. São úteis, talvez necessários, mas a tentativa de considerá-los fixos e de­
WEBER: Você quer dizer que devíamos prestar atenção à fenomenologia finitivos é artificial.
do pensamento - como opera, o que é em si mesmo, em vez de apenas indagar­
mos: "É um pensamento a respeito do quê?" WEBER: Você está propondo que a vida humana gira basicamente em torno
do movimento entre esse mundo invisível e o mundo tangível, empírico, e que
BOHM: Sim, está certo. A mente abrange pensamento, sentimento, desejo, quando a vida se acha ancorada em ambos há sanidade e equilíbrio.
vontade, atenção - tudo isso e ainda mais. Por um lado, o pensamento enfatiza
a percepção de categorias, tais como o universal e o particular, mas, por outro BOHM: Gostaria de dizer como penso que esses opostos est[o relacionados.
lado, cada fase do pensamento também é naturalmente expressa por meio do Quando você rastreia uma determinada noçlro absoluta até chegar àquilo que
sentimento. Todos esses aspectos fluem em cada um dos outros; todos eles im­ parece ser sua conclusa:o lógica, você descobre que ela é idêntica ao seu oposto,
plicam cada um dos outros. E estou dizendo que quando atingimos o pensamen­ e portanto o dualismo todo colapsa, como descobriu Hegel. A raza:o, em primei­
to da totalidade, ele também flui para o sentimento da totalidade. Qualquer pes­ ro lugar, mostra-lhe que os opostos convertem-se uns nos outros; em seguida, você
soa que tente pensar seriamente a respeito do todo tem uma experiência de vas­ descobre que um oposto reflete outro, e finalmente chega à conclusa:o que eles
tidão bem como uma intensidade de sentimento. são idênticos - que não sa:o, em absoluto, diferentes. Os dois opostos podem
ser, de início, tratados como independentes, mas você descobrirá que cada um
WEBER: E isso, de acordo com o que você está dizendo, é perigoso? deles é o princípio de movimento do outro.
Gostaria de olhar dessa maneira o espírito e a matéria. Se nos voltamos
BOHM: É perigoso mas necessário, porque não pode ser evitado. E um pe­ para a matéria, ela parece inerte porque, embora esteja se movendo, esse movi­
rigo que devemos encarar se quisermos que o sistema - isto é, todo o mundo do mento é mecânico. Então, de repente, algo criativo se apresenta, e atribuímos
conhecimento, o pensamento de cada pessoa - tenha acesso a qualquer ordem real. isso ao espírito. Chamo a isso uma matéria de forma em pensamento: uma forma
que o pensamento elabora toda vez que vê algo que na:o consegue explicar. Em
WEBER: Está certo, é perigoso. Mas por que é necessário? conseqüência disso, o espírito torna-se um princípio de movimento da matéria
(e vice-versa, uma vez que a condição da matéria é o princípio por meio do qual
BOI-IM: Você não pode impedir o pensamento de se mover para além dos o espírito pode agir). Desse modo, podemos reconhecer o movimento da maté­
. limites. O pensamento já se acha implicitamente além de qualquer limite que ria como sendo ocasionado pelo espírito. Portanto, se você olhasse para o mo­
ele estabeleça; é dessa maneira que ele. é construído. Em vista disso, que pode­ vimento total, poderia dizer que matéria e espírito são idênticos.
mos fazer para implantar ordem?
WEBER: A matéria está saturada de espírito,. e este se encaixa no interior
WEBER: Em outras palavras, nós temos de dominar a ele, e não o contrário. da matéria. Na realidade, os dois não são separados.
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'I BOHM: Sâ'o completamente interpenetrantes.
'1 BOHM: Sim. Temos pelo menos o potencial para ·participar. Entretanto,
com relação ao tempo e à eternidade, eu diria ainda mais, que cada um é o prin-
WEBER: Pelo que entendi, você disse que quando levamos a matéria até cípio motor do outro.
seu grau extremo, quando realmente a entendemos em profundidade, ent[o atin-
!,�!i". gimos a consciência cósmica, a mente cósmica. É isso? WEBER: Essa proposta desafia a imagem que os existencialistas e os posi­
,.''1 tivistas fizeram do homem e confere a ele grande dignidade, uma vez que sua
BOHM: Algum tipo de ordem cósmica que, eventualmente, será reconhe­ vida transforma todo o processo ou partes dele.
cida como consciência implicada.
BOHM: Sim, podemos participar no todo e, dessa forma, contribuir para
WEBER: Matéria e espírito são na realidade a mesma coisa, mas também dar significado a ele. Esta posição é mais preferida no Ocidente que no Oriente,
representam duas linguagens diferentes. O místico trabalha com base na premissa que tende a fazer do ser humano uma coisa um tanto pequena no cosmos. Na-o
de que a consciência é una; o físico, na de que a matéria é una. O que você está obstante, somos urria característica intrínseca do universo, que, num certo sen­
dizendo é que a novidade, neste ·momento crítico de nossa história, reside no fato tido fundamental, seria incompleto sem nós.
de que o físico está agora disposto e apto a ver essa totalidade, e que esse desen­
volvimento pode ajudar a dar início a um diálogo. WEBER: Nossa finitude é, de algum modo, indispensável ao infinito?
1/ BOHM: A mecânica quântica e a relatividade mostraram o malogro da or­ BOHM: Mais uma vez, o importante é o fluxo entre esses dois opostos,
j!
dem mecanicista e a necessidade de uma outra ordem, que eu chamo de impli­ o infinito e o finito. Hegel disse que o infinito contém o finito, o que, num cer­
cada. Esta é uma ordem paralela àquela que observamos na mente e, portanto, to sentido, é verdadeiro. Mas eu diria que tanto o infinito como o finito têm um
torna-se possível uma relação entre esses dois domínios. O místico pode viven­ papel a desempenhar. Você poderia dizer que há um infinito que contém todo
ciar a imanência ou a transcendência da totalidade, como mencionamos antes, o finito, mas também que o infinito tem de ser reconhecido em todos esses mo­
mas acha muito difícil falar a respeito tanto de uma como da outra, exceto em dos finitos. Assim, eu concebo o pensamento.metafísico como uma série de movi­
tennos poéticos ou simbólicos. Uma das maneiras de ele abordar sua experiên­ mentos numa dança - movimentos que executamos e nos quais somos capazes
cia é não dizer nada sobre ela, mas isso ajuda muito pouco a satisfazer a neces­ de reconhecer nossos erros e, desse -modo, seguir em frente. Ao executar essa
sidade que a humanidade tem de uma nova percepça-o. Assim, se conseguísse­ dança, introduzimos ordem em tocio o universo, e não apenas em nós mesmos.
mos encontrar uma linguagem graças à qual se pudesse ver que a mente e a ma­ É por intennédio dos erros que cometemos que somos capazes de aprender, de
téria pertencem à mesma ordem, então seria possível discutir inteligentemente mudar a nós mesmos e de mudar todas as coisas·.
essa experiência.
Na verdade, alguns místicos chegaram a indicar que a ordem implicada WEBER: Isso lembra sua objeçâ'o anterior. A respeito da introdução da
é, de fato, relevante para suas experiências e insights. Dentre eles, o que mais consciência na mecânica quântica, você disse que sua objeção fundamentava-se
se aproxima de uma sugestão precisa a respeito de tal ordem é Nicolau de Cusa, no fato de ela· ser inconsistente. Mas sé alguém concebeu que ambos, a mecâ­
com seu uso dos termos implicatio, explicatio e complicatio, e mais ainda com nica quântica e o pensamento, estão na ordem implicada, então haveria um lu­
sua afirmação: "A Eternidade dobra e desdobra a sucessâ'o." Com uma veia si­ gar natural para sua interconexâ'o.
milar, Krishnamurti disse (embora ele não goste de ser chamado de místico) que
um ser humano precisa desabrochar por meio da bondade, e isso significa, na­ BOHM: Que pode agora ser explorado.
turalmente, desdobrar. De maneira mais geral, palavras que sugerem desdo­
bramento a partir da base misteriosa de tudo o que é um dobramento de vol­ WEBER: Você também disse que quando se entende a matéria de maneira
ta à base na-o sâ'o, em absoluto, incomuns na linguagem usada por aqueles que suficientemente profunda, pode-se vir a constatar que as experiências do nonnal,
(quer chamem a si mesmos de místicos ou não) sentem estar em contacto di­ do paranormal e do místico têm, todas elas, uma única raiz na ordem implicada.
reto com essa base. O que faz com que você sinta isso como uma possibilidade?

WEBER: Tudo isso sugere não apenas que nos transformamos à medida BOHM: Eu disse que na música, em experiências visuais e em outras expe­
que a eternidade se desdobra em nós, mas também que a eternidade pode se trans­ 1
riências s"nsórias, a ordem implicada é primária pelo fato de que o sentido de

'1
formar à medida que retoma a si mesma de uma maneira mais rica; através de movimento fluente é vivenciado antes de nós o analisarmos nos elementos que
nossa participação. Isso muda num sentido fundamental a pergunta impossível expressam esse movimento ou que o exibem. Você pode ouvir música e depois
relativa ao "porquê" da criação e da longa história da humanidade, e nos mos­ fragmentá-la em notas, que poderá exibir na imaginação ou sobre um pedaço
tra que é parte da aventura toda. 1 de papel. Finalmente, a mesma coisa é verdadeira para a visa-o, mas nos tomamos

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ta:o acostumados a fixar nossa atenç[o sobre os objetos que na:o percebemos isso. BOHM: Em seu todo, a função da ordem explicada con.siste em exibir as
Tendemos a ver cada objeto como fixo e separado, porque voltamos ao mesmo coisas como separadas. Na verdade, essa exibição toma-se .um guia para ativida­
objeto (esta árvore, esta rocha) repetidas vezes. Portanto, o movimento fluente des ulteriores. A atividade é sempre una, mas a exibição pode ser enganadora.
regenera a mesma coisa várias vezes, fazendo-nos perder de vista o próprio mo­ Por exemplo, um par de opostos consiste em algo e em algo mais; como disse
vimento, exceto, talvez, nos raros casos em que olhamos para um rio ou para Platao: "De um e do outto, tudo foi feito." Quando dizemos que há um, nós
o céu, nos quais nã"o há _objetos fixos que possam ser focalizados. No entanto, o imaginamos completo, total, e quando dizemos que há o outro, também este
toda a nossa experiência, inclusive o pensamento, começa na consciência ime­ é "um", e também é completo, total. Mas depois descobrimos· que essa separa­
diata desse movimento fluente. Quando levamos o pensamento metafísico até tividade não é final, pois no momento em que você pensa no outro, o pensamen­
o ponto em que ele reflete· apenas a si próprio, ele também se converte num mo­ to do outro é você.
vimento fluente entre opostos, tais como finito e infinito. E se vivenciarmos o
pensamento e o sentimento, em vez de nomeá-los _e de fixá-los, os sentimentos WEBER: Em outras palavras, esse pensamento é parte de sua realidade nesse
fluira:o nos pensamentos, e estes nos sentimentos. momento.

WEBER: Como você relaciona isso com a idéia do normal, do paranormal BOHM: É um guia ta:o poderoso para sua energia como. o é um pensamento
e do místico? a respeito de si mesmo. Portanto, dizemos que o outro torna-se o princípio mo­
tor daquilo que chamamos de você, assim como você é o princípio motor daquilo
BOHM: Digo que tudo isso é experiência normal, que é mal compreendida que chamamos de outro.
porque enfatizamos a descrição de objetos, pensamentos e sentimentos, em vez
do movimento fluente entre eles. Levando isso mais longe, poderíamos dizer WEBER: Esse racioc1mo é análogo àquele que nos leva a dizer que o nor­
que na relação entre duas pessoas, cada uma delas é o princípio motor da outra. mal, o paranormal, e o místico sa:o radicalmente um só?
Ordinariamente, não vivenciamos essa relaça:o motora, e assim vemos cada uma
delas como um ser separado e independente, e isso de fato n[o é verdadeiro. BOHM: Exato. A questa:o é esta: O que queremos dizer com a palavra "ou­
tro"? A matéria pode ·ser o outro para nós; nós a movemos e ela nos move. Assim,
WEBER: Eles não são, na realidade, seres separados. não seria possível que houvesse na matéria urna espécie de inteligência que é ima­
nente, que torna possível à matéria responder? Somos o outro para a matéria;
BOHM: Na:o. Digamos que uma pessoa está pensando ou sentindo algo. Se e, portanto, quando confrontada por nós ela fará alguma coisa diferente. Sabe­
estivesse sozinha, ela se moveria de urna certa maneira. Junto com outra pes­ mos que isso acontece por meio do contacto físico, mas também pode aconte­
soa, ela pas.sa a se mover de maneira diferente, em resposta à outra. cer mentalmente.
WEBER: Algumas pessoas interpretam isso de outra maneira, dizendo que WEBER: Você faz parecer como se a matéria fosse viva!
ainda sou um glóbulo separado, mesmo que suas respostas me forcem a modi­
ficar a minha. BOHM: É isso o que proponho: a matéria inanimada é uma abstraça:o que
introduzimos quando omitimos o potencial da vida. Mas é possível que haja mais
BOHM: Mas corno elas a forçam? Se você observar, perceberá que não há que um potencial: pode haver urna espécie de energia viva em toda á matéria, que
escolha, que não há coação; simplesmente acontece, e depois você justifica o fato. se manifesta em nós de certas maneiras, que na:o são as mesmas que ocorrem na
rocha. Se fosse este o caso, se urna espécie de inteligência estivesse distribuída
WEBER: Você. quer dizer, então, que estamos ligados a alguém no domí­ de maneira generalizada através de toda a natureza, então a proposta especula­
nio implicado, e é a isso que respondemos? tiva segundo a qual. a matéria inanimada poderia responder ao nosso pensamento
não seria tão ilógica. Seria es.te o domínio do paranormal. Quando atingimos a
BOHM: Correto. A humanidade é um domínio implicado, tanto física co­ chamada experiência mística, podemos mais urna vez dizer que essa unicidade
mo mentalmente, que distorcemos dizendo que é somente "a multidão". A pro­ é levada até o enésimo grau.
posta de que a humanidade é "a multidão" vale só até um certo ponto; além desse
ponto ela falha. WEBER: Em outras palavras, você quer dizer que somos ignorantes não
apenas a respeito de nós mesmos como também a respeito da matéria.
_ WEBER: S,eria justo dizer que no domínio implicado a humanidade é una,
mas em sua expressão explicada cada um de nós parece um pequeno ponto de BOHM: Sim, somos fundamentalmente ignorantes a respeito da matéria.
entrada.
E, no final das contas, somos matéria.
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WEBER: E a diferença entre, digamos, a rocha e nós mesmos seria que ela
sabe menos a nosso respeito do que nós sabemos a respeito dela, mas é possível mente pode ver possibilidades que ainda na:o existem, e realizá-las por meio de
sua exibição.
que ela "saiba" um outro tanto de coisas a respeito da dimensa:o cósmica, mas
a sua própria maneira.
WEBER: Enti!o a possibilidade é uma realidade viva para o homem, mas
não para a rocha?
BOHM: É possível. E se a experiência paranormal é real ( disso na:o posso
ter certeza), entll'o talvez aqueles .que a possuem sejam capazes de fazer com que BOHM: Sim, é genuína possibilidade.
a rocha saiba a respeito ·de nós, e é por isso que ela se moveria se lhe pedissem.
Essa é minha proposta.
WEBER: Voltando ao místico e ao físico, seria razoável dizer que o místico
pode vivenciar a natureza como um todo em seu "estado de ser o que é" (suchness),
WEBER: Na medicina holística, descobriu-se que o simples fato de pen­
sem conhecer nada dos detalhes e sutilezas de sua organizaça:o? Talvez seja apenas o
sar que se está fisicamente bem afeta profundamente o sistema nervoso. Ouvi
cientista que pode falar do plano da natureza em toda a sua complexidade.
pessoas que trabalham em terapia do câncer (isto é, Simonton, Achterberg, Lawlis)
f alarem a respeito do fato de que o sistema nervoso na:o consegue distinguir entre BOHM: Não apenas os detalhes, mas também os princ1p1os universais. O
uma resposta visualizada e uma resposta real. cientista também tenta encontrar proposições para as leis universais. Por isso,
ele· vê a natureza globalmente bem como em detalhes; nisso reside sua criativi­
BOHM: Essa é a questa:o que eu estou desenvolvendo: a exibiça:o na cons­ dade ...,. sua decretação de totalidade. O místico possui um domínio diferente:
ciência é o guia para a resposta global do corpo e da mente, para o bem ou para
1
é em si próprio que ele decreta a imanência e a transcendência de todo o uni­
o mal. Se a exibição é confusa, os resultados seri!o maus; se a exibiça:o é orde­ verso. O artista e o músico decretam o todo que eles vêem criativamente, e o
nada, funcionará harmoniosamente.
j
místico não é muito diferente deles, pelo fato de ele também ser, à sua própria
maneira, um artista criativo.
WEBER: Desse modo, o poder do pensamento pode ser tifo grande que uma
pessoa é capaz de elaborar mentalmente a imagem de si mesmo doente ou saudável. 1
WEBER: Um artista expressando o que - a totalidade?
Especificamente falando, como a doença e a saúde encaixam-se na ordem implicada?
1
BOHM: A totalidade dentro de sua própria expenencia, em seu próprio
BOHM: Essa é uma questão sobre a harmonia do organismo. Uma pessoa ser. A mesma coisa vale para o pensamento metafísico.
não encontra perfeita ordem ou harmonia, pois tudo o que existe é compelido 1

a mudar ou morrer. Gostaria de propor, com relaçlib à evolução, que a seleçlio WEBER: Enta:o, como a expressão do místico difere da expressa:o desse
natural não é a história toda; em vez disso, a evoluça:o seria um sinal da inteli­ 1
pensamento?
gência criativa da matéria explorando diferentes estruturas que vlio muito além
do que é necessário para a sobrevivência. Embora a sobrevivência no meio am­ 1
BOHM: Pode na:o diferir. Hegel afirmava que sua lógica era outra expres­
biente determine quais delas vingarão e quais desaparecera:o, ela n:ro pode ser o úni­ sa:o de seu misticismo.
co fator na evolução. Na:o haveria, por assim dizer, razlio para o desenvolvimento de 1
seres humanos com um cérebro tão complexo. Na verdade, os ratos sa:o muito
superiores em termos de sobrevivência do que jamais poderíamos esperar sê-lo. :e, 1
WEBER: Você quer dizer que os . trabalhos do místico, do cientista, do
artista e do filósofo são, todos eles, expressões da mesma realidade?
pois, difícil considerar a sobrevivência como a explicaça:o completa. Dir-se-ia, em
vez disso, que a evolução resulta do movimento criativo da matéria, que é intro­ 1 BOHM: Sim. E juntos eles podem fazer algo que nunca conseguiriam obter
duzido com a inteligência. Nenhum desses desenvolvimentos é perfeito, e, portanto, separadamente. Se eles pudessem empenhar-se num diálogo, poderiam· realmente
há um certo grau de desarranjo, de saúde precária, na natureza. Mas quando o 1
produzir algo que se poderia chamar de pensamento "superior".
homem entra em cena, a mente começa a desempenhar um papel na percepça:o e no
agravamento dessa doença - mas também em descobrir suas curas. 1
WEBER: Porque abrangeria todas essas modalidades.

WEBER: Suponho que a rocha não possa fazer mau uso de sua capacidade 1 BOHM: E alguma coisa nova situada alérp. de qualquer uma delas ou de
da mesma maneira que o homem pode fazer mau uso de sua mente. todas elas.
1.
BOHM: Bem, a rocha está se tornando ela mesma, uma rocha. Mas graças WEBER: De algum modo, essa evocação da vastidi!o me lembra a imen­
ao tipo de pensamento que apreende o universal, e não apenas o particular,. a 1
sidão do espaço que a ciência está expl-orando hoje, e que tem um certo para-

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leio com a vastidão do espaço que se experimenta na meditação. Podemos dis­ trará um espaço no qual não é criada nenhuma forma. Penso que isso corresponde
cutir a meditaçâ"o? a diferentes estágios de consciência.

BOHM: Há um certo paralelismo no sentido de que tanto o pensamento WEBER: Se alguém tivesse uma experiência da infinitude ilimitada do es­
como a matéria estã:o na ordem implicada. Vamos do explicado ao implicado, paço, poderia experimentar urna infinitude de consciência?
e a seguir até um nível multidimensional mais profundo, e daí para algum vasto 1
oceano fora do espaço como ordinariamente· o experimentamos. Talvez a me­ BOHM: Seria urna consciência infinita não em termos de extensa-o, mas
ditação possa nos levar até as profundezas desse oceano de energia física e mental, em seu caráter autodeterminado. Há um tipo de analogia que podemos encon­
que é universal. trar no âmbito do sistema de números reais, onde é demonstrado que um infi­
nito pode mapear-se sobre si mesmo. Nesse sentido, você poderia dizer que o
WEBER: Por mental você se refere ao pensamento? infinito do ser pode ser mapeado no do conhecer e, desse modo, o conhecer e
o ser são idênticos no infinito - nesse infinito que não é extensivo mas intensivo.
BOHM: Não, me refiro ao que está além do pensamento, embora isso não No entanto, a observação que quero fazer é que a exibição daquilo que
exclua o pensamento._ esse tipo de ser é requer um espaço inteiramente diverso daquele no qual exibi­
mos objetos mecânicos. Portanto, diríamos que a consciência tem de se tornar
WEBER: Você poderia se estender sobre esse ponto? É uma das idéias cen­ comensurável com esse espaço diferente a fun de se descobrir. A consciência pre­
trais do Lama Govinda. cisa, de fato, mudar seu próprio estado.
BOHM: É difícil se estender sobre isso. O espaço é urna certa ordem, cuja
forma mais simples são as três dimensões ou três coordenadas de Descartes. Mas
se você seguir essa idéia até a mecânica quântica, encontrará uma ordem multi­
dimensional muito mais sutil, que eventualmente dissolve-se num vasto oceano
de energia. A ordem do espaço é portanto a base sobre a qual todas as coisas po­
dem existir ou ter lugar no mundo material, e é também ·a base sobre a qual uma
coisa qualquer pode ser experimentada ou conhecida na mente.

WEBER: Mas o espaço na mecânica quântica não pode ser vivenciado, en­
quanto que o espaço na meditação o pode.

BOHM: Não obstante, a base em ambos os casos é a mesma. Na:o experi­


mentamos diretamente o espaço ao qual se refere a mecânica quântica, mas po­
demos experimentar algo que lhe é paralelo, e esse paralelismo pode ter uma ori­
gem na base mais profunda comum a ambos.

WEBER: Govinda diz, em seu livro Foundations of Tibetan Mysticism,* que


a maneira pela qual experimentamos o espaço é um indicador do estado de nossa
consc;éncia, e que nosso conceito de espaço muda conforme nossa consciência
também mude. Você tem alguma idéia sobre isso?

BOHM: Se você está, de início, focalizada na ordem explicada, seu sentido


de espaço estará confinado aos espaços entre vários objetos separados. À medida
que você se aprofunda na ordem explicada, passa a perceber que esses obje­
tos contêm uns aos outros e penetram uns nos outros. Eventualmente, você os
verá _como formas dentro de um espaço muito mais vasto, e, finalmente, encon-

* Em português, Fundamentos do Misticismo Tibetano, Editora Pensamento, São


Paulo, 1983.

198
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balho valesse a pena ou nco se sentiram com a disposieao para se aprofundar nele
e explor£-lo realmente. Para min tamb6m representou uma grande decisao, pois
tive de abrir mfro de meu tempo dedicado a fisica e aplic4~lo integralmente e com
enertla nessa tare fa.

WEBER: Voce pensa, Fritjof, que alguns desses frsicos temeram que sua
reputagao plofissional ficasse pre].udjcada?
9

CAPRA: Isso, muito provavelmente foi parte da questao e de /4lfo prejudicou


o r4o D4 FjsrcA REvlslTADo mj.##a reputagao, embora eu nao fosse conhecido o bastante para comegar a ter uma.

Uma conversa com Fritjof Capra


WEBER: Voce era muito jovem quando escreveu esse rivro.
conduzida por Ren6e Weber
CAPRA: Eu era jovem e nfro era ben conhecido, mas isso me afetou muito
WEBER: VocG escreveu rfee r¢o a/Pkysz.cs,* que foi publicado ha cinco
profissionalmente pois tive de abandonar a ffsica praticamente durante cerca
anos, e eu soube que hf cerca de urn quarto de milhao de c6pias impressas. Por-
de tres anos.
tanto, muitas pessoas foram influenciadas pelo livro. Como voce se sente agora
com rela9ao as id6ias propostas no livl.o e a algumas reacoes que ele gerou?
WEBER: Para escrever o livro.

CAPRA: 0 livro foi publicado ha cin'co anos, mas, naturalmente, comecei essa CAPRA: Sin. Fazemos pesquisas em fi'sica escrevendo artigos e depois obten-
exploragao muito antes, e penso que foi hf quase cerca de uma d6cada que descobri do subvengdes. Mas o tipo de pesquisa que eu estava fazendo sobre o budismo e o
essesparalelismosentreaffsicamodemaeomisticismooriental.Masdevoacrescentar, taoi'smo nao me proporcionavam quaisquer subveng6es em frsica. Embora eu me
de imediato, que nao fui o tinico que descobriu esses paralelismos. Outras pessoas fi-
mantivesse todo aquele tempo junto a fisica, nao estava ativo. em pesquisa. Assim,
zeram sugestoes com relac5o a eles, mas fui o bnico fi'sico que os explorou em deta- nao tive nenhum apoio fmanceiro ate que, eventualmente, descobri urn editor. Nes-
mes.Comeceiosprimeirospassosdessaexploragaoem1970;termineiolivroem1974. se i'nterim, doze editores rejeitaram publicd-lo. Finalmente, a Wfldwood House, na
Intlaterra, aceitou o livro e me concedeu urn adiantamento. Aqui nos Estados Uni.
WEBER: in outros livros que tomam a mesma posigao, e que a seu ver dos, a editora Shambhala o publicou. Eles foram meu segundo editor.
reforean o ponto de vista que voc6 adotou em a r4!o d4 Frsi.c4?
WEBER: AI6m de sacrificar o tempo para reanzar suas pesquisas, voce pensa
CAPRA: Sin, refoream. in urn livro publicado aproxinadamente ao mesmo
que a proposta apresentada no pr6prio livro p6s, de certo modo, em perigo sua
tempo que o meu, escrito por Lawrence Leshan, denominado 77!e Medr.win, ffte
reputag5o em meio a (ou dentro da) comunidade dos ffsicos?
Afysfz.c ¢#d ffee Pkys!.c!.sr. Na Intlaterra tamb6m surSrarn livros sobre o assunto, in-
clusive urn recentemente pubficado, rfoe D4#c!.ng Ww fz. M¢sfers, de autoria de Gary CAPRA: Definitivamente, penso que sin. Entretanto, quando o livro foi
Zukav. Todos esses livros refoream o ponto de vista em questso no sentido de que tor-
publicado e os ffsicos o leram, aqueles que o fizeram reconheceram de imediato
nam os paralelismos conhecidos de urn pdblico mais amplo, e estimulam discussoe§.
que eu sabia a respeito do que estava falando quando abordava a fi'sica. Ao que
Na verdade, o livro de Zukav, que 6 muito frequentemente mencionado em conexao eu saiba, nao h5 erros no livro, e o que 6 melhor, os fi'sicos reconheceran que eu
com o meu,' nada acrescenta ao debate. Zukav reitera a ideia que expressei varios
fiz .urn trabalho muito born ao apresentar aqueles conceitos complexos para urn
anos antes, e que, naturalmente, ele conhecia muito ben porque tinha lido meu li-
pdblico leigo. A maioria dos fi'sicos leciona para estudantes universit4rios e alunos
vro. Mas ajuda porque quanto mais esses paralelismos sso discutidos pelo ptibhico, e
que nao sao estudantes de ffsica, e eles sabem que isso 6 muito difi'cil. Por isso,
tanb6m por varios grupos de profissionais, mais interessantes se tornam, creio eu. fiquei contente ao vcr que sua virtude como obra de divulgacao foi reconhecida
inediatamente. Metade do livro foi levada a serio. 0 mesmo li\ao ac6rit6ceu com
WEBER: Voce mencionou o fato de que 6 o tinico fi'sico em atividade que
a outra metade, mas aos poucos eles foram se aproximando, e penso que ha hcje
levou avante essa tare fa de fazer a conexao.
uma ben definida mudanga de opiniao mos ci'rculos de fi'sica com relagao ao livro.
Sei disso. Conheeo varios fi'sicos que, de infcio, puseram-se vigorosanente con-
CAPRA: Veja, conheeo varios fi'sicos que pensaram a respeito desses para-
tra a conex5o com o misticismo, mas que estao agora comprando a r¢o d4 F/-
lelismos com o misticismo, mas que, de certa forma, nao sentiram que esse tra-
s!.co para seus amigos e recomendando-o. Portanto, estou muito contente com o
desenvolvimento que coorre na comunidade da ffsica.
* Em po[tugues, a r4o da Frsl.ca, Editora Cultrix, S5o Paulo,1986.
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WEBER: Voce sabia que eu fiz, em Princeton, uma curta entrevista com misticismo - de repente surSu oferecendo uma cosmolotia que nao apenas es-
Eugene Wigner 'em seu escrit6rio? tava sendo levada a s6rio mas que de fato parecia, pelo menos.superficialmente,
fazer paralelo a sua pr6pria cosmologia. Agora, como voce responderia a crftica
CAPRA: E mesmo? para a qual o que pode pareccr semelhangas superficiais e semelhaneas ha lingua-
gem nao reflete, necessarianiente, semelhan9as profundas? Penso que virios crf-
WEBER: Sin. E n6s conversanos urn pouco a respeito de uma possfvel ticos fizeram esse julgamento.
conexao entre o misticismo oriental e a frsica. Trazia, ha minha bolsa, urn exem-
plar de a r¢o d¢ Frs!.co, mas decidi nao lhe mostrar o hivro ate que chegasse o CAPRA: Antes de mais nada, temos de esclarecer essa concepgao do misticis-
momento oportuno. Nun deteminado instante, senti que essa ocasiao adequada mo como sendo algo vago e nebuloso. E uma opinifo err6nea. As pessoas que real-
tinha chegado, e estava prestes a the dizer que esse livro poderia interessa-lo quan- mente estudam o misticismo, que o experimentan, que o praticam e tamb6m que
do, de urn salto, ele se dirigiu ate uma escrivaninha que estava apinhada de artigos escrevem a respeito dele sabem muito ben que a experiencia mfstica nada ten
e de livros, retirou dentre eles a r¢o da Frsl.ca, trouxe-o para min e me disse: a vcr com pensamento nebuloso e obscuro. Acienti'fico, sin. E uma abordagem
"Penso que isto interessara a voc6."
muito diferente .

CAPRA: Voce sabe que muitos fi'sicos ficaram muito intimidados pelo livro. WEBER : Nao-cienti'fica, podemos dizer?

WEBER: Por que? CAPRA: Certo. Nao{ientffica 6 urn termo melhor. Mas nfro 5 obscura,
nebulosa e vaga. Pode ser muito clara, muito precisa e muito confi6vel. Agora,
CAPRA: Penso que 6 porque o misticismo 6 concebido pela comunidade quando voce fala a respeito dos paralelismos, a quest5o de serem eles superfi-
cientffica como algo muito vago, que descreve coisas indistintas, nebulosas e alta- ciais, apenas uma similaridade de palavras, sempre ocorrerf uma vez que temos
mente nao€ientfficas. Ora, ver que suas estinadas teorias estgo sendo compara- urn ninero limitado de palavras. Voce poderia encontrar paralelismos em to.
das com essa atividade altamente nao-cienti'fica 6 uma ameaga para os frsicos. dos os tipos de tradig6es fflos6ficas.
Ouvi isso de muitos deles. Por outro lado, sei tamb6m que alguns dos grandes
frsicos do nosso s6culo sentiran€e imen§amente enriquecidos ao reconhecerem WEBER: Alega-se que a linguagem 6 acidentalmente simflar mas ngo de
que os conceitos basicos de suas teorias eran sin flares aos das tradigoes mfsticas. uma maneira central. Portanto, isso nao garante a pretensso de que ha uma rea-
AIguns deles acharam diffcfl reconhecer isso no infcio. Mas finalmente pas§aram lidade similar envolvida em cada urn desses termos.
a considers-lo como urn grande enriquecinento intelectual e cultural para suas
vidas. 0 primeiro deles foi Heisenberg. Tive varias conversas com ele. Eu morava CAPRA: Ben, para dizer a verdade, eu mesmo pensei nisso. Foi assim
na lndaterra nessa 6poca, e o visitei varias vezes em Munique. Mostrei a ele todo
que comecei.
o manuserito, capftulo por capi`tulo. Ele era muito aberto e estava bastante in-
teressado. Disse-me algo que, segundo creio, nao era conhecido publicanente WEBER: Em outras palavras, voc6 mesmo era c6tico.
pois nunca o publicou. Disse que estava ben ciente desses paralelismos. Na 6poca
em que trabamava na teoria quintica, ele foi para a rndia dar conferenctas, e foi CAPRA.. SLm, fhi. Men prime3iro ardgo ch Main Charrents in Modern Thought,
h6spcde de Tagore. Conversou bastante com ele sobre a fnosofia indiana. Disse-me de 1972, come9a com esse argumento. E eu dizia que pode parecer que esses.
Heisent)erg que essas conversas ajudaram-no muito em sou trabalho na fi`sica,
paralelismos sejarn superficiais, e, ate onde eu me lembro, disse que se podia tragar
porque me mostraram que todas essas novas id6ias da teoria quantica nao eran paralelos com a fJosofia marxista ou com qualquer tipo de filosofia com base
na realidade totalmente loucas. Ele compreendeu que havia, de fato, toda uma numa similaridade de palavras. AIguns dos meus crfticos recentes tamb6m fize-
cultura que concordava com ideias muito parecidas. Heisenberg disse que repre- ram essa observac5o, e me diverte o fato de que eu comecei com o mesmo tipo
sentou uma grande ajuda para ele. Niels Bohr passou por uma experiencia some- de dtivida. 0 que me convenceu da substancia desses paralelismos foran dois
thante quando esteve na China. Varios outros ffsicos disseram-me ou escreve- desenvolvimentos. Primeiro, foi a consistencia crescente desses paralelismos. Quan-
ran-me que vian esses paralelismos coma urn grande beneffcio. Mas, hatural- to mais eu os estudava, mais areas eu explorava, e mais consistentemente os pa.
mente, e necess6ria uma certa. amplitude de mente e urn pouco de maturidade ralelismos surgiam. Deixe-me dar urn exemplo.
intelectual para reconhecer isso.
Na teoria da relatividade, urn dos desenvolvimentos mats importantes foi
a uhificagao do espapo e do tempo. Einstein reconheceu que o espago e o tempo
WEBER: Fritjof, quero agora lhe perguntar algo que me parece adequado nao estao separados, que eles sao conectados intiniamente e inseparavelmente
neste momento. Voce disse que alguns frsicos se sentiram ameagados pela no€ao
formando urn contfnuo quadridinensional: o espaeo/tempo. Uma conseqtien-
de que aquilo que sempre foi para eles urn sinonino de pensanento obscuro - o
cia direta desse reconhecinento 6 a equivalencia de massa e energia e a natureza
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intrinsecamente dininica de todos os fen6menos subatomicos. 0 fato de que CAPRA: Sin, pois sei mats a respeito delas do que posso dizer em palavras.
o espago e o tempo se acham tgo intinamente relacionados inplica que as par- Isso pode parecer urn argumento inusitado, vindo de urn cientista, mas nfro e.
tfculas subatomicas sao padroes dinamicos, e que s5o, antes de mais nada, even- Voce ve que em nossa cultura esses aspectos intuitivos da descoberta cientffica
tos em vez de objetos. Desse modo, o papel do espago e do tempo e a natureza ou de qualquer outro tipo de descoberta nao s8o enfatizados. Mas os ffsicos co-
dinamica do objeto estudado estto muito intimamente relacionados. nhecem muito ben esses aspectos. Por exemplo, Einstein vivenciou a teoria da
No budismo, voce descobre exatamente a mesma coisa. Na escola Mahayana, relatividade antes de formula-la. Bohr vivenciou a mecanica quantica antes de
eles possuem uma noefro de interpenetraeto do espapo e do tempo, e tambem formula-la. Feynman vivenciou a teoria quantica dos campos e Chew, a teoria
dizem que os objetos sao, na realidade, eventos. H4, no livro, uma citagto de da matriz S antes da fomulaeso dessas teorias.
D. T. Suzuki onde ele diz que o fato de os objetos serem eventos s6 pode ser Por exemplo, quando voce le o relato de Feynman sobre a teoria quantica dos
entendido quando se compreende que o espago e o tempo se interpenetram. Esse campos, em seu discurso ao receber o pr6mio Nobel, voce pode se#fi.r que a maneira
tipo de consistencia realmente me inpressiona. E ela se estende por todo o am- como ele fala sobre el6trons, ondas eletromagneticas e campos quanticos prov6m
bito da exploragao. Quanto mats vo.ce constata essa consistencia, mais voce com- realmente de uma profunda experiencta. Devido a isso, Feynman 6 urn professor
extremamente ben-dotado, percebe? Devido ao fato de ele ter a frsica no sangue.
preende que 'os paralelismos nao sao acidentais. Nco h4, naturalmente, uma tihica
prova, e no epflogo eu digo que janais se poder4 comprovar que essas similari-
dades s5o relevantes ou fundanentais. Mas voce as compreel}de cada vez melhor WEBER: Sua fala vein de dentro e ele a exprine em conceitos.
a medida que estuda o domfnio das sinflaridades.
Esse foi urn dos desenvolviment6s. 0 outro esta ligado ao fato de que nao CAPRA: Correto. Geoffrey Chew, o fi'sico com quem trabalhei em Ber-
se pode aprender misticismo lendo livros. Voce ten de pratica-lo, pelo menos keley, o criador da concepg5o de boof§frtzp e da teoria da matriz S, traz essa teoria
ate certo ponto, para ter uma id6ia do que os mfsticos estao falando. no sangue. Posso ve-lo a lutar procurando palavras, mas sei perfeitamente, obser-
vando-o, que ele r6almente conhece aquflo a que se refere, embora nao seja ca-
. WEBER: Voc§ quer dizer que 6 preciso vivencia-1o, submertir realmente paz de dize-lo em palavras. Eventualmente, 6 claro, ele encontra as palavras, a
dentro dele. matematica, e tudo o mats.
Com Bohr aconteceu a mesma coisa. Conversei com David Bohm a respeito
CAPRA: Voc6 ten de seguir uma certa disciplina ou algum tipo de medi- de Niels Bohr. Bohm o conhecia, e disse-me que ninguem realmente entendia
tacgo ou alguma maneira de atingir esses outros estad.os de consciencia de que Bohr. Fle nao' se expressava muito bern por meio de palavras e voce pode per-
os mfsticos falam. ceber isso quando o le. Nso sabia se expressar muito ben mas tinha urn incrf-
vel poder de persuas5o. E esse poder assememava-se ao poder de urn guru. E, a
WEBER: Voce diria que a meditaeso 6 analoga a verificaefro na ffsica? prop6sito, eis outro ponto interessante: quando voce escuta os ffsicos conver-
sarem sobre varias teorias e varias pessoas, Bohr talvez seja o unico frsico que
CAPRA: Sin, e e dessa maneira que eu estabelego as comparagoes no livro. e tratado coma urn guru. Isso 5 muito interessante. As pessoas nunca diriam:
Comparo o experinento cientffico com a 9bservagao meditativa, e as teorias cientf- "Einstein disse isso ou aquflo." Quem diria isso .seriam os nao-fi'sicos. Mas den-
ficas com as varias inag9ns, doutrinas e metaforas dos mfsticos. N5o fui muito lon- tro da ffsica nunca diri'amos "Einstein disse tal e tal coisa"; dirfamos "a relati-
ge na pratica de uma tradigao espiritual. Sou mais atrafdo pelo taofsmo, como voce vidade mostra" ou "a transfomapao de Lorenz mostra", porque conhecemos
pode concluir pelo tftulo do livro. Tenho urn professor chines; praticp a medita9ao a teoria e n6s mesmos podemos deduzi-la. Nao precisamos de Einstein hoje. Mas
taoi'sta, o Tai Chi, e assim por diante. Por interm6dio dessa pratica, comecei a en- quando chega a vez da teoria quantica e de sua interpretagao, as pessoas sem-
tender esses paralelismos nao apenas intelectualmente mas, de certo modo, com pre voltan a recorrer a Bohr.
todo o meu ser. .
WEBER: Voce esta dizendo que ele vivenciou seus conceitos, isto e, sutjme-
WEBER: Pode expucar isso? teu-os a experiencia, em muitos ni'veis de seu ser. N5o estavam apenas em sua
cabega, mas, de certa foma, ele os viyeu e os conheceu de uma maneira mais
CAPRA: Ben, 6 algo difi'cil de expucar. Mas posso afimar sinceramente
profunda. Mas agora eis urn problema que, a meu vcr, necessita de urn esclare.
que experimentei todas as semelhancas entre a fi'sica e o misticismo de que falei cilnento adicional. 0 que voce diria a respeito de dois fi'sicos que defendem teorias
no livro, nun nfvel que 6 muitQ mais profundo que o nfvel intelectual. E os dois
competitivas, teorias rivais, como a do boofsfrap e a dos quarks, e cada urn deles
desenvolvinentos - a consistencia dos paralelismos e a experiencia intuitiva -
nos da a impressgo de te-las vivido e conhecido a partir de dentro?
caminharam de maos dadas.

CAPRA: Ben, neste caso, eu diria que os aspectos das teorias que eles expe-
WEBER: Em sua opiniao, isso exclui que haja urn mapeamento superficial,
rimentam de maneira intuitiva s5o, provavelmente, os aspectos que sobreviverao.
inconstante ou acidental entre essas duas coisas.
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#di

Sso esses aspectos que voce chamaria de sabor da teoria, da realidade quintica para mim isso ocorreu muito cedo. Muito antes de eu comegar a escrever. De
ou da realidade relativfstica.
qualquer foma, tive uma audiencia com Krishnamurti, e fiz a ele minha per-
gunta urgente: "Como posso ser urn cientista e seguir seu 6onsetho - nfro pen-
. WEBER: Mas para eles 6 bastante claro que essas teorias sgo parte deles, sar, libertar-me do conhecido, viver no momento, e tudo isso?" Ele respon-
como voce esta dizendo. deu a pergunta em dois minutbs e resolveu todos os meus problemas, Ele disse:
Em primeilo lugar voce e urn ser humano; depois, voce 6 urn cientista. E disse
CAPRA: Sin. E a parte que e' contradit6ria ten a vcr com o arcaboueo ainda: nun nfvel existencial, mum ni'vel espiritual voce compreende o que vai
matematico. Devemos usar ondas ou matrizes? Devemos usaf quarks ou topo- al6m do pensamento e compreende a realidade maior. Ele nao usou ess6s ter-
logia? Essas questoes, eventualmente, sao resolvidas e o que e vflido nag dues mos; nao me lembro exatamente o que ele disse, mas foi algo semelhante.
teorias sobreviver4. Entto ele disse: voce podia se especializar e fazer toda a sua ciencia, e e rna-
ravilhoso fazer ciencia. Foi isso que ele disse e nunca mais me senti intimida-
WEBER: Des§e modo, o que voce esta comprovando 6 que, ao escrever do depois disso.
a r¢o d¢ Frs!.ca, embora de infcio fosse tao c6tico quanto os ffsicos em geral Depois, muito depois, encontrei uma beli'ssima ctta9ao de urn monge bu-
terian se mastrado, dois fatores o convenceram: a consistencia crescente a esse dista tibetano que disse mats ou menos isto: "Uma vez que voce compreende
fator extral6¢co, uma esp6cie de convic€go intuitiva vinda de sua pr6pria expo- a natureza aproximada de todos os conceitos, voc6 pode realmente am£-los, por-
riencia. Voce, na verdade, est6 dizendo que come9ou a levar a s6rio, I.untamente
que voc6 os ama sem apego."
com seu treinamento e seu conhecimento como fi'sico, outros modelos de abor-
dagem da experi6ncia. E os dois com6garam a se harmonizar e a se entrelagar. WEBER: Muito born.

CAPRA: E aprendi como usa-los, quando usar urn e quando usaf o outro. CAPRA: Ten sido esse realmente o meu /eI.twzofz.y em todo o meu tratia-
Desenvolvi uma t6cnica para usar anbos e nao permitir que urn deles interfira 1ho subseqtiente.
com o outro.
WEBER: Voce pensa que algumas das pessoas que ficaran irritadas a res-
WEBER: Voc6 n8o se preocupou indevidamente com o fato de que esses
peito dos paralelismos, em none do misticismo ou em none da ciencia, nao ti-
canilihos mais amplos para a pesquisa poderiam influenciar de algum modo sou
nham percebido tudo isso que voce esteve falando?
trabalho em fi'sica?
CAPRA: Ben, penso que talvez seja uma verdade para alguns deles.
CAPRA: Deixe-me pensar. Eu me predcupei, sin; nao estava preocupado
quanto ao meu trabalho em fi'sica no ni'vel mundano, se eu obteria ulna subven- WEBER: Voce deve ter recebido muitas cri'ticas ao longo destes anos.
gao ou nao, se seria ou n5o capaz de fazer pesquisas. Estava preocupado com
isso nun ni'vel intelectual tiastante profundo, e agora que voce fez mengao a isso,
CAPRA: Oh, sin. Nos ultinos cinco anos dei muitas confelencias para o
lembro-me de ter perguntado a Krishnamurti sobre esse problema. Encontrei
ptiblico em geral, mas tambem para ffsicos, psic6logos, medicos e muitos outros
Krishnamurti em 1968 ou 1969, na Universidade da California, em Santa Cruz.
Ele fez tres conferencias em tres dias consecutivos, e elas realmente me at)alaram.
grupos profissionais, que descobriram a r4Io dr F/s!.ca e me convidaram para dar
conferencias. Desse. modo, houve uma riqufssima troca de ideias, e nesse inter-
Foi uma das influencias mats fortes que senti naqueles vethos dias. Ele falou so-
cinbio tamb6m recebi algumas cri`ticas.
bre tit)ertar-nos do conhecido e sobre parar de pensar, e tudo isso, e eu senti o
poder de sua presenga e de suas palavras, e isso me preocupou. Ijembro-me de WEBER : Quais foram seu§ principals argumentos?
que a seguir eu e minda esposa fomos para casa, e nos sentamos junto a lareira
e conversamo§ a respeito disso, e que eu estava realmente preocupado.
CAPRA: Ben, gostaria. de mencionar tres artigos recentemente publicados,

WEBER: Porque ele estava recomendando justanente a coisa que como que expressam os principais argumentos que ouvi muitas vezes. Sao angumentos
Serios e refletidos. Os autores sao Jeremy Bemstein, Ravi Ravindra e Ken Wilber.
ffsico voce foi treinado para temer e para evitar.
Bernstein 6 ffsico e jornalista, e.Ravindra ocupa urn cargo duplo mos departamen-
tos de ffsica e relictao na Universidade Dalhousie, no Canada.
CAPRA: Sin. Ele estava recomendando o abandono daquilo que eu tinha
estudado, e no qual tinha empenhado grande parte de investimento emocional.
Eu me achava, efetivanente, na mesma situapso em que se encontra a maloria WEBER: Ken Wilber, naturalmente, 6 ben conhecido entre os leitores de
dos frsicos quando confrontados com as ideias das tradigcies mfsticas. S6 que Jzeyl.sJ.on, como seu editorchefe e como autor. Voce diz, entao, que essas tres
crfticas contem argumentos sin flares.
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CAPRA: Sin, mas g interessante comparar seus estilos. Enquanto que as o conhecimento nfo muda de uma maneira arbitl.aria. Nao e que hoje isto seja
crfticas de Wflber e Ravindra sao filos6ficas e urn tanto imparciais, a de Bemstein urn fato e que ananha passe a ser alguma coisa a mais.
opera nun ni'vel totalmente diferente. Quando voce le sua crftica, nota de imediato
que sua reagao ao meu livro e muito emocional, e partes dela sat> muito agressivas. WEBER: De acordo com Thomas Kuhn, quando uma teoria € realmente der-
Menciono isso porque diz respeito as coisas de que acabamos de falar, sobre rotada,vocetemumparadjgmatotainentenovo,eissoraramenteacontece,certo?
fi'sicos que se sentem aneapados. E urn exemplo ti'pico. Nao conheeo Bemstein
pessoalmente. Nunca o encontrei, mas o artigo esta cheio de falsas observagoes CAPRA: Certo. Mas ate mesmo quando isso acontece, a nova teoria ainda
e de comentarios urn tanto insultuosos. Nao posso deixar de pensar que Bernstein esta relacionada com a antiga de rna maneira bemrdefinida, embora numa revo-
est4 muito ameagado e se sente muito inseguro. lucao cientlfica voce s6 venha a saber disso majs tarde. E a nova teoria nao inva.
fida a antiga de modo absoluto. Simplesmente aperfeigoa a aproximaggo. A fi'-
WEBER: Podemos examinar alguns aspectos especfficos da sua crftica? sica newtonjana e. o exemplo-padrao. A teoria quantica nao mostra que a frsica
newtoniana e§tava errada, mas sin que ela era limitada. No domi'nio dos fena-
CAPRA: Eu diria que o argumento mais inportante, que ele partilha com menos fi'sicos macrosc6picos, em tudo o que se refere a maquinas e assim por
as duas outras crfticas e que 6 urn argumento que ouvi com frequencia, 6 que diante, a fi'sica newtoniana 6 inda o memor modelo. AInda 6 usada. Toda vez
os fatos cienti'ficos de hoje serfro invalidados pelas pesquisas de amanhz. Como, que voce constr6i urn carro, usa impficitamente a fi'sica newtoniana.
perguntam esses crfticos, 6 possi`vel dizer que algo tao transit6rio como urn mo-
delo ou teoria da ffsica moderna pode confirmar a experiencia mfstica, que se WEBER: Voce entao esta dizendo que a teoria quantica nao muda de |uga|
sup6e ser intemporal e eterna? Isso nao significaria que a verdade do misticismo nem substitui a fi'sica newtoniana, mas a suplementa.
permanecera ou caira junto com as teorias da fi'sica modema? Esse argumento
soa muito convincente, mas creio que se baseia numa visgo completanente equi- . CAPRA: Ela a suplementa e a desloca para urn domfnio diferente de fend-
vocada sobre a natureza da ciencia. Esta m4 compreensao da ciencia infelizmen- menos. Quando voc€ vai al6m do alcance da validade da teoria, entao ela e substi-
te est5 muito difundida e 6 algo sobre o qual falo em minhas experiencias. Nao tufda. Ora, quando voce ten uma nova teoria, voce nao sabe qual o alcance de
posso condenar Ken Wilber por esse equi'voco, pois ele nao 6 flsico, mas fico sua validade. Somente quando voce descobre coisas que nao funcionan 6 que
surpreso quanto a Bernstein e a Ravindra, que sao cientistas e realmente deviam co- voce chega as revolucoes cientfficas. E esse e urn processo muito difi'cil.
nhecer memor o assunto. Eles afirmani, corretanente, que nao ha nenhuma verdade
absoluta na ciencia. Mas deturpam totalmente a natureza cientffica da pesquisa. WEBER: E a ciencia e conservadora. Ela nao permite facilmente que toda
uma teolia seja derrutiada. E a tiltina coisa que ela quer que aconteca. Se pos-
WEBER: Como assin? sfvel, ela fara outro§ ajustes.

CAPRA: Ben, deixe-me 6itar Ravindra. Ele diz que "cada epoca sempre pen- CAPRA: 0 relato que Hejsenberg faz da decada de 20 e a descriap mais
sou que ten as respostas certas como pensarnos agora". Mas isso esta totalmente bulhante que eu conheco sobre a luta pe-la substituigao de uma teoria. Ora, e im-
errado quando se fala a respeito da ciencia moderna. Na ciencia moderna nao pen- portante notar que quando essa exte.nsao ocorre, nem todos os conceitos da teoria
sanos mais que temos as respostas certas. Chegamas a compreensao de que tudo o antiga sao modiflcados. Creio agora que s8o precisamente essas visoes e conceitos
que dissemos 6 uma aproxima€5o; 6 urn modelo limitado. que nfro se modificam nem s8o invalidados, mas permanecem, que mostran pa-
ralelismos com a tradi9ao mfstica. Ora, essa 6 uma questao diffcfl porque, obvia-
WEBER: i provis6rio. mente, voce perguntara que tipos de conceitos sao esses. Penso que e uma ques-
fa~o muito interessante e extremarnente difi'cil, que deveria ser explorada.
CAPRA: Ben, sera provis6rio no infdo. Mas ate mesmo as teorias com-
pletas, como a mecanica quantica, a relatividad? especial, a mecinica newtonia- WEBER: Podemos entrar em algum de seus aspectos?
na, a eletrodinamica de Maxweu, etc., que n8o sao mais provis6rias, s5o toda-
via aproximadas e lirnitadas. Elas nao me dizem a verdade. Dao apenas deseri- CAPRA: N8o posso lhe fomecer urn criterio geral, mas lhe darei urn exem-
e5es aproximadas da realidade, que sao memoradas pelos desenvolvimentos plo. Deixe-me falar novamente sobre a ffsica newtoniana. Uma das descobertas.
subsequentes, em passos sucessivos. ` E' assim que pesquisamos. Memoramos chave de Newton, talvez a de.scoberta-chave, e certamente uma das mais famosas,
nossas teorias em etapas sucessivas. Oia, penso que isso e muito ben conhe- foi a descoberta de que h6 uma ordem uhifome no universo. Como diz a lenda,
cido dentro da ciencia, mas nao tanto.fora dela. Os ffsicos ten, na nossa socie- Newton descobriu isso quando uma maps caiu de uma arvore, e ele compreendeu
dade, a reputag5o de conhecer a verdade. Ora, aqui a questao relevante e que, mum stibito #¢§ft de intuigao que a forga que puxa a mags da arvore 6 a mesma
quando as teorias sao aperfei€oadas, em sucessivas etapas, com novos modelos, for9a que puxa os planetas em direcgo ao Sol. Esse foi o ponto de partida da

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artigo nao se refere explicitamente ao meu trabalho nem ao meu livro. Esta afir-
teoria da gravitag5o de Newton, e esta levou a tudo o mais. Agora, a observa95o
magffo e outras fazem-me acreditar que ele nfro leu o livro, em absoluto, ou n5o
que quero fazel 6 que o !.„si.gfof de que hd uma ordem unifome no universo estf o leu cuidadosamente. Pois esse 6 urn ponto que eu critico vigorosamente repe-
inplfcito na frsica newtoniana, e ngo 6 in.validado pela mecanica quantica ou
tidas vezes no livro. Quase em todos os capftulos eu enfatizo a necessidade de
pela teoria da relatividade. Pelo contl6rio! E confirmado e intensificado por essas
reconhecer a natureza aproxinada da ciencia e o fato de que jamals alcangare-
teorias. Da mesma forma, creio que a unidade fundamental e a interconexidade
mos por seu interm6dio a verdade mfstica. Esse 6 urn quadro muito diferente.
do universo, e a natureza intrinsecamente dinamica de seus fenomenos - os dois
temas bdsi6os da ffsica modema - nao serao invalidados pela pesquisa futura.
WEBER: Voce sente que havera sempre uma lacuna porque os cientistas
sfro cart6grafos e a experi6ncia mfstica e parte do telrit6rio. Seria uma maneira
WEBER: Voce sente que eles n5o podergo ser invalidados.
justa de colocar a questgo?
CAPRA: Sinto isso de uma maneira muito forte. N5o 6 algo que eu possa
CAPRA: Sin, seria uma boa maneira, e voce diria que, ao pro.sseguir refi-
provai, mas sinto com muita forga que eles serao confimados ainda mais. Co-
nando seus mapas, eventualmente (talvez nao na pr4tica mas em princfpio) voce
mo estes tambem s5o os dois temas bdsicos das tradigoes mfsticas, a visso de mundo
acabarf chegando nun ponto onde tera que desistir de falar, de escrever ou de
da 6iencia se. aproxinara progressivamente mais das visoes dos mfsticos, a medida
que formos refmando nossas teorias. Desse modo, e' verdade que os conceitos pensar racionalmente se quiser seguir adiante. Esse 6 urn panto em que os mfs-
ticos sempre tocam. hao Ts6, por exemplo, diz no r¢o re C%!.#g: "Aqueles que
de hoje serao substitufdos pelos conceitos de amanha, mas serao substitufdos
de uma foma ordenada. E os temas basicos que eu uso em minha comparagao falam nfro sabem e aqueles que sabem ngo falam."
com as tradic6es mfsticas serao reforcados, creio eu, e nao invalidados.
WEBER: Os ffsicos defrontarami}e com esse dilema quando, pela primeira
WEBER: Isso 6 urn pressentimento ou e porque, no decorrer dos ultimos tres vez, tiveram de enfrentar plenamente fatos que nfro podiam simbolizar de rna-
neira adequada na mecanica quantica?
s6culos, voce reconhece que a ffsica vein se desenvolvendo ao longo de urn caninho
que, por extrapolapao, sentimos que nco sofrera uma caprichosa mudanga de rumo?
CAPRA: Bern, voce pode ver que para eles esse evento abalava a tal ponto
CAPRA: Voc6 esti falando sobre as noeees de intui9ao e de consistencia os alicerces que realmente nfro sabian o que estava acontecendo. Heisenberg dis-
se-me o que Bohr pensava sobre isso: que eles nffo seriam capazes de descrever
que mencionamos antes. Observei a consistencia dosses dois temas que emer-
racionalmente os fenetmenos at6micos.
gem tanto na fisica como nas tradi96es mi.sticas.

WEBER: Assim, com base nisso, voce esta dizendo que quaisquer mudangas WEBER: Num certo sentido, suponho que o denominador comum desse
estado de coisas 6 o fato de que a linguagem do senso comum, a linguagem or-
que surgirem - e serao muitas, pois 6 da natureza da ffsica mudar - ser8o no
sentido de urn aprinoramento ulterior desses dois temas. dinfria mos temos de Wittgenstein e dos fn6sofos, sinplesmente nao pode con-
ter nenhum desses '!.Hsz`gfets, nem os dos mfsticos nem os dos ffsicos, nao seria isso?
CAPRA: Talnb6m deveria dizer que nos ultimos cinco anos essa intuigao
esta sendo confirmada pela nova biologia e pela nova psicolo¢a, que estao agora CAPRA: Est5 certo, e essa foi a grande descoberta de Heisenberg. Ele mos-
emergindo. Portanto, sinto agora que me ap6io em solo muito mais firme. Nao trou precisamente que nossos conceitos comuns nao descrevem completamente
6 somente a ffsica, mas a ciencia como urn todo que vai nessa direeao. Creio que a realidade at6mica. E isso, naturalmente, 6 uma das pr6prias bases da minha
no atual nfvel da ciencia ja e evidente que o misticismo, ou a filosofia perene, comparagfro com o misticismo.

proporciona a base fflos6fica mais consistente para todas as teorias cientfficas.


E desafio quem quer que seja a me mostrar uma tradieao fflos6flca diferente e WEBER: Fritjof, uma das crfticas 6 que livros como o seu constituem urn
que seja mais consistente com a fi.sica, a biolocta e a psicoloSa modemas. prejurzo para a ffsica, e para a ciencia, ao liga-la a uma cosmoloSa apoiada pelo
misticismo. Qual e sua posi€ao quanto a isso?
WEBER: 0 que me vein a mente e uma crftica no sentido diametralmente
oposto, que Ravindra fez em seu artigo para a Reyz.s!.o#. Ele diz que a crenea CAPRA: Tenho sentimentos muito fortes a esse respeito; flco -Satisfeito
de que a ciencia esta alcangando a verdade mfstica baseia-se naquilo que chanou por voc6 trazer isso a baila. Penso que 6 urn assunto muito sgrio. Sabemos ho-
de suposigoes ingenuas e arrogantes. je em fi'sica, desde Heisenberg, que o ideal cldssico de objetividade cientffica
nao pode mais ser sustentado. A pesquisa cientffica envolve o observador como
CAPRA: Essa afimapfo baseia.se, mais uma vez, numa compreensao to- participante e isso envolve a consciencia do observador humano. Conseqtiente-
talmente equivocada da ciencia. Eu diria, com imparcialidade, que Ravindra nesse mente, nao hf propriedades objetivas da natureza independentes do observador

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hunano. Agora, esse j.#S{.gfer, que 6, a prop6sitp, urn dos principais paralelismos cienti'fico 6 desperdigado no uso de urn enbrme potencial de engenhosidade e
ao conhecimento mistico, implica que a cienci? nunca pode ser livre de valo- criatividade humanas para desenvolver meios ainda mats sofisticados de destruigao
res. A pesquisa detalhada, por exemplo o conhecinento da massa do proton ou total, nao 6 possfvel enfatizar em demasia a paradigma de Buda. Isso me parece
a interap8o entre particulas ou a estrutul.a do cristal, nao dependQra dos meus bastante crucial. Portanto, associar a ciencia com o misticismo nao tira nada de
valores, da minha crenga poli'tica e assin por diante. No entanto, essa pesqui- sua grandeza. Pelo contrfrio, enobrece a ciencia, e em nossa situa9fro atual, de-
sa se processa dentro do contexto de urn certo paradigma, de uma vis8o mais vido a ameaca nuclear, pode muito ben ser crucial.para a sobrevivencia da hu-
anpla da realidade, que envolve lrfo somente conceitos mas tambe`m valores. manidade. Por isso, levo esse argumento muito a s6rio, e luto por ele com todo
Portanto, a ciencia esta sempre concordando inpncitamente com urn conjun- o meu entusiasmo e com todo poder de persuasao que possuo.
to de valores, e os cientistas n5o sao apenas intelectualmente respons5veis por
suas pesquisas mas tambem moralmente responsaveis por elas. Nao ha como es- WEBER: Quando voce diz que a fi;sica pode mos levar a Buda ou a born-
capar dessa reaponsaoilidade. Desde Heisenberg, esse fato ten sido abundante- ba, surge a questao: Quad pr6xina esta a conexao?
mente esclarecido, ou deveria te-1o sido.
CAPRA: Ben, penso qbe a fi'sica pode ajudar rna emergencia de uma cons-
WEBER: Penso que voce e David Bohm concordam com isso. Ele dis§e ciencia ecol6ctca. Veja, de acordo com ininha concepcao, a atual versao .ociden-
a mesma coisa muitas vezes. Ten fortes sentimentos acerca disso. Bohm taint)6m tat da consciencia mfstica, nossa.versto do birdism.o bu dci taofsmo, sera a cons-
disse que quando a fisica pretende que ela 6 1ivre de valores face a si pr6pria e ciencia ecgl6ctca. .
a comunidade como urn todo, o ideal de ser livre. de valores 6, eJe prdpn.o, urn
valor. Portanto, ela nco 6 livre de valores. WEBER: Devido a essa interconexao do ser qefendida por todas elas?

CAPRA: Sim, a interconexidade fundamental, e interdepend6ncia, o pa-


CAPRA: Definitivanente nao o 6. A16m disso, voce pode dizer que o que
acontece 6 o seguinte: uma ci6ncia da qual se diz que 6 livre de valores na ver- pel da mente nos seres humanos, nas sociedades e nos ecossistemas, tudo isso
mostra de maneira .muito clara que dependemos de nosso meio ambiente natural,
dade apenas ap6ia os valores predominantes da sociedade. Isso 6 Inuito chro em
e s6 o destruimos, destruiremos a n6s mesmos. Assim, como cientista, penso
economia, por exemplo. Os economistas que folam incluenciados pela visao de
que trabalhar para fins militares, ou ate mesmo defender o uso da enerda.nu-
mundo cartesiana tentaran construir modelos matematicos que nao continham
clear, como muitos cientistas f?zen, 6 o auge da loucura.
valores. E, naturalmente, o que fizeran foi defender os valores do paradigma
cartesiano e de nossa sociedade .
WEBER: De certa forma, voce pensa que e uma contradigao.

WEBER: E voce sente que este 6 urn dentre muitos de tais valores. Eles CAPRA: E claro que e. 0 comportamento newtoniano de urn c.iehtista
poderiam ter defendido paradigmas alternativos. naornewtoniano. E isso que e tgo notfvel com relacao a ciencia. " muitos e mui-
tos ffsicos que trabalham nessas t]elas teorias. Talvez pouco se importem com
CAPRA: Naturalmente. No meu novo livro, r%e rtt7".ng Po!.nr,* mostro co- as implicagoes, mas trabalham em teorias dotadas de profundas inplicacbes ffios6-
mo os novos valores afetarao essas diversas ciencias,1evando-as a novos paradigmas. ficas, que vao alem de Descartes e de Newton. Entao, quando esses mesmos cientis-
ta§ voltam is suas casas, procedem de uma maneira perfeitamente newtoniana.
WEBER: A ffsica, que 6 chamada de a mais pura das ciencias, n8o pode
escapar a presenga de valores. WEBER: Voce diria que isso se deve ao fato de 81es nao term entendido
integralmente as implicae6es da teoria?
CAPRA: Exato. Agora, a partir desse ponto de vista, como ve, a conexao
CAPRA:Exato...Eopontocrucialdaquestao,poisamenteracionalpodesedes-
entre fi'sica e misticismo nao 6 somente muito interessante mac tart)6m extre-
tacardoserhumanoenao.sLentirascoisasintuitivamente.Ntoepofacaso,que.oscien-
mamente importante. Isso porque temos de aplica-1a na presente perspectiva cul-
tistas mats intultivos, os Einsteins, os Bohrs, os Bohms foram, todos elgs, ativc>s poli-
tural, na pelspectiva dos valores da cultu[a atual. Ora, quais sao os valores da nossa
tic?' ou socialmente, pois as sentiram na came, e sabem quads sao suas implicag6es.
cultura? Ben, veja o que os cientistas est8o fazendo. Metade dos nossos cientistas
e engetheiros trabalha hoje em projetos mflitares. Em minhas confer6ncias sem-
WEBER: Voce quer dizer que se os cientistas entendessem nao apenas inte-
pre digo que a f{sica moderna pode nos levar a Buda ou a t)omoa. Cabe a n6s es-
lectualmente mas tamb6m integralmente, em todos os nfveis de seu ser, o contetido
colher urn desses caminhos. E parece-me que numa 6poca em que tanto trat)alho
de suas pr6prias teorias, poderian reconhecer as in6vit4+eis inplica9oes sociais
*Emportugu6s,0Po„de„wf4fa-o,EditoraCultrix,S5oPaulo,1986. e as interpessoais?

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WEBER: Mas ele diria que, embora seu inodo de percep¢go nco seja o or-
CAPRA: E 6 nesse aspecto que livros como os meus podem ajudar. Falo a
linguagem deles e penso que posso abrir caninho para tal entendimento. dinario, o que eles percebem 6 o que chamarnos de mundo ordinirio, a irvore
ordinfria, a rocha e o rio.
WEBER: Uma das cri'ticas feitas ao seu livro e a toda essa maneira de en.
carar as coisas sustenta que voce esta confundindo dois domfnios e duas abor- CAPRA: Mas voce pode vcr, pelo que dissemos antes, que nao se pode se-
dagens, duas realidades e duas maneiras de entender. Foi dito que a questao fun- parar o modo de percep95o da coisa que 6 percebida. Elas formam uma unida-
dalnental 6 que os ffsicos e os mfstic6s nem mesmo est5o falando a respeito do de. Desse modo, se a percepggo ngo 6 ordin4ria, ent8o a realidade ngo e ordi-
mesmo mundo, e que voce est5 presumindo, invalidamente, que eles o estao. maria. Ngo hi meio de separar as duas.
Qual 6 sua resposta?
WEBER: E 6 exatamente disso que a nova ffsica estf tentando nos convencer.
CAPRA: Esse 6 urn argumento que emergiu wirias vezes no passado. Ha-
bitualmente, argumenta-se que os ffsicos falam sobre uma realidade quantica CAPRA: Isto tamb6m vale para os ffsicos. A ffsica quantica tambem 6 urn
que, no entanto, 6 quase totalmente irrelevante face aos fenomenos macros- modo de percepc5o nao®rdin5rio que se manifesta atrav6s de instrumentos mui.
c6picos ordinfrios, enquanto que os mfsticos lidan precisamente com esses to sofisticados. Assim, por urn lado, voct ten cientistas sondando o interior da
fenomenos e observam as coisas neste mundo ordinario, que quase nad.a ten mat6ria com o auxilio de instrumentos muito sofisticados, e, por outro lado,
a ver com o mundo quantico. Portanto, nao estariam falando a respeito de mfsticos sondando o interior da consciencia com t6cnicas de meditagao muito
dois mundos diferentes? Ora, antes de mats nada, penso que e importante com- sofisticadas. Ambos alcaneam nfveis de percep€ao nao-ordin4rios, e nesses nf-
preender que as realidades quinticas nao sfro irrelevantes para os fenomenos veis parece que os padr5es, e os princfpios de organizagao que eles observam,
macrosc6picos. Isso, em geral, n5o 6 percebido. For exemplo, a solidez da rna- sao muito semelhantes. Agora, os elementos que eles observam nao sao os mes-
t6ria, o fato de que voce nfro pode atravessar portas ou paredes, 6 uma conse- mos. Os mfsticos nao falam sobre partfculas subatomicas. Nao falam sobre fto-
quencia direta da realidade qufntica. E algo que surge de uma certa resisten- mos, mol6culas ou qualquer coisa parecida. Mas a maneira pela qual, para os ff-
cia dos atomos contra a compressao, o que nto pode ser explicado em temos sicos, os padroes subat6micos estao inter-relacionados reflete a maneira pela qual,
da ffsica classica. Nao pretendo entrar em detalhes, mac em a r4o cJ¢ Frsz.ca para os misticos, os objetos macro§c6picos est5o inter-relacionados.
explico como a ffsica qufntica esclarece,esse fen6meno. E urn dos mais impor-
tantes fenomenos ffsicos do mundo comum - o fato de a materia ser s6lida. WEBER: Voc6 entao estf afirmando que a sofisticada maquinaria que per-
E ha wirios outros fen6menos que ngo podem ser explicados em termos da ff- mite aos ffsicos qufnticos vcr o mundo a sua maneira 5 analoga a visao mfstica?
sica cldssica. Portanto, talvez devessemos refomular o argumento e dizer que Que os olhos do mfstico sao olhos unitarios, que unificam o mundo newtoniano`
os mfsticos ngo lidam explicitamente com a realidade quantica, ao passo que os ordinario por meios anflogos aos que se aplicam ao mundo subatomico?
ffsicos o fazem. Agora, ate onde isso diga respeito a id6ia de dois mundos di-
ferentes, creio que hf somente urn mundo, e Ken Wilber, que defende esse ar- CAPRA: Certo. Voce ve que o universo 6 urn todo interconexo, e esse to-
gumento de dois mundos, penso eu, concordara comigo. Nao creio que se mos do, esse processo, foma padroes. Discernimos esses padr5es e, na vida didria,
reunfssemos e conversfssemos sobre isso, ele continuaria discordando. Ha urn os separamos e os consideramos como objetos isolados; e entao dizemos que nao
mundo, este terrfvel e misterioso mundo, como Castafleda o charnou - urn hf conex5o entre esses objetos. Mas, ao faze-lo, estabelecemos uma aproxima-
termo que realmente me agrada. " uma realidade, mas essa realidade ten mtil- 9fo e omitimos a conex8o que inicialmente estava la. E ha muitas culturas tra-
tiplas dimens5es, mtiltiplos ni'veis e mtiltiplos aspectos. Os ffsicos e mfsticos li- dicionais nao-letradas que, como fato natural, considerariam as coisas como in-
dam com diferentes aspectos da realidade, e, naturalmente, enfatizo isso em a terconectadas, e nfo separariam os padr6es como n6s fazemos.
Tao da Fisica.
WEBER: Essas culturas nso foram condicionadas a isso? Nao lhes foi en-
WEBER: Eles lidam com diferentes ¢specfos de uma dnica realidade. Essa sinado a H¢o tJcr dessa maneira?
e a sua sugestao.
CAPRA: Suponho que sin.
CAPRA: Exatamente. Os ffsicos exploram os ni'veis da mat6ria; os mfsti-
cos exploram os ni'veis da mente. 0 que eles t6m em comum em suas explora- WEBER: Algivem poderia apresentar esta crftica: o que a ffsica faz em nf-
gdes e que esses ni'veis, em ambos os casos, situami;e alem da percepgao senso- vel subat6mico e os padr6es de interconexao que ela reconhece sao, de Certo
rial ordin4ria. Portanto, quando Wflber diz que os mfsticos veem a interconexi- modo, quantitativos e neutros. Eles nfro percebem essa interconexso Coma uma
dade .e a interpenetraggo no domrnio ordin4rio, isso nao 6 correto porque seu
qualidade espiritual que o misticismo sustente, por exemplo a de que tudo e amor, .
modo de percepgao nao 6 o ordinirio.
que tudo 8 paz.
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CAPRA: Certamente a ffsica e o misticismo nao representam, de foma e urn .diferente aspecto da mesma realidade. Como eu disse antes, os ffsicos pe.
alguma, a ]riesmo empenho. H4 muito mats coisas no misticismo do.que ape- netrain na mat6ria e os mfsticos penetran na consciencia. E a principal diferen.
nas uma certa visao do mundo material. I:14 tamb5m muitb mais coisas na ffsjca. 9a na dimensao.
IIf a matem4tica, os aspectos de engenharia, a tecnologia, a experimentagao e
assini por diante. Esses dois esfor€os de olhar para o mundo e tentar entende-lo WEBER: Gostaria de saber a que metaforas ou sistemas de sfmbo|os po.
sobrepoem-se, e 6 essa sobreposi€fro que estou estudando. Mas ha muito mais derfamos recorrer para esclarecer o que o mfstico faz, uma vez que, de certo mo.
em ambos os lados. do, este 6 o amago da controv6rsia.

WEBER: Afimou-se, como voce sabe, que o domfnio subatomico 6 urn CAPRA: 0 mrstico olha pala a realidade ordinfria, cotidiana, por meio de
domfnio que o mfstico nunca viu e que nffo afirma ter visto. urn modo de percep95o nao-ordinario. E, de urn certo modo, percebe essa lea-
lidade em sua pr6pria essencia ou de uma maneira mats fundamental, mais pro-
CAPRA: Ben, ningu6m viu o dominio subatomico. E urn domfnio dema- funda. Os padrdes e princfpios. de organizaeao que emergem dessa experiencia
siado pequeno para ser visto. sao muito semelhantes aos padroes e princfpios de organizagao que observamos
na ffsica quando penetramos em dimensoes muito pequenas. A percepgao mrs-
WEBER: Ate mesmo com aparemos? tica vai alem de disting6es intelectuais, e assim vai alem do espaco e do tempo,
al6m de sujeito e de objeto, de mundos interiores e exteriores. Transcende es-
CAPRA: E por isso que eu digo que a percepgao dos ffsicos 6 uma per- sas categorias.
cepgso nao-ordinaria, pois os aparelhos sao uma extensso dos sentidos. Faze-
mos experimentos de modo que urn el6tron seja causa de urn certd evento, que WEBER: 0 mfstico descreve urn mundo que tamb6m trauscende as estru-
turas hierfrquicas as quais recorre a fflosofia perene?
por sua vez causara outro evento, que causar4 outro evento, e assim por diante,
e esse processo eventualmente se encerrara com urn clique nun contador Geiger
ou com urn ponto escuro numa chapa fotogr4flca, ou com algo semelhante. Isso CAPRA: Ben, o conceito de hierarquia 6 a parte Central do argumento de
n6s podemos observar. Portanto, s6 observamos a extremidade de uma longa Ken Wilber, e para min 6 a parte mats interessante. De acordo com Wilber, a
cadeia de eventos. caracterfstica mats notavel da fflosofia perene 6 o fato de ela apresentar o ser e
a consciencia como uma hierarquia de nfveis, que vao do nfvel mais baixo, mais
WEBER: Nessa visgo mi'stica unitiva, o que a que o lnfstico ve? denso e mais fragmentario, ao mais alto, mais sutl e mats unit4rio. Wfltter diz
que na maioria dessas tradigdes ha seis nfveis principals: o ffsico, o biol6gico, o
CAPRA: E uma experiencia de realidade que vai al6m de nossas pr6prias mental, o sutfl, o causal e o supremo. E no seu artigo ele apresenta urn sum4-
experiencias sensoriais, que as inclui mas vai ale'm delas. rio muito bonito, assim como tamb6m o faz em seus livros, sobre esses nfveis
de consci6ncia ou nfveis do ser. Ele os chama de nfveis ontol6ctcos. E.diz que
WEBER: Mas e com relaeao ao objeto? Dissemos que o ffsico ve o resul.- qualquer cousiderac5o sobre a visao de mundo dos mfsticos que omita esse tipo
tado fmal de uma longa cadeia de eventos e experiencias, que a seguir ele coteja de hierarquia sera superficial. Penso agora que ha muitas coisas que posso dizer
inferencialmente por meio de suas pr6prias mfquinas. Voce po'deria detathar a esse respeito. A ffsica certamente nao contem a nogao desses ni'veis, mas a cien-
o processo anflogo para o mfstico? Quando ele olha para o mundo com visao cia sin. Ou melhor, outras cienctas, como a bioloBa, a psicoloBa e assim por
mi'stica, o que ele vG? diante. Mas antes de falar sobre isso, tenho de dizer algo sobre a terminoloSa,
sobre o termo hierarquia. N8o penso que hierarquia seja urn born temo para
CAPRA: Penso que voce teria de perguntar isso.a urn mfstico. Sou ffsico. ser aplicado a esses nfveis que observamos.
Sei o que fazemos, mac nao sei o que eles fazem.
WEBER: Por que ngo?
WEBER: 0 argumento todo Bra em tomo desse ponto; a saber, ha ou nao
ha analoctas, ha ou nao ha simflaridades entre a visao mfstica e a dos ffsicos mo- CAPRA: Ben, o que observanos na natureza 6 o que eu gostaria de cha-
demos? Compreendemos mais ou menos o que o fi'sico esta vendo, mas se o mfs- mar de ordem estratificada. Observamos nfveis de diversos graus de complexi-
tico nao esta olhando para esse domfnio muito profundo da estrutura interna dade, e que s8o altamente estaveis. Vou lhe dar urn exemplo. Vamos partir no-
da mat6ria, entao est4 olhando para algo ainda mais profundo que isso? vanente da ffsica newtoniana, como fizemos antes, e falar a respeito do mo-
vimento de dois corpos, como por exemplo o movimento planet4rio da Terra
CAPRA: Penso que o mfstico olha para algo mais profundo, nun.a dire- ao redor do Sol. Matematicamente, 6 bastante facfl lidar com esse problema,
em termos de ciencia newtoniana. Se v6ce ten tres corpos, essa tare fa toma-Se
cao diferente ou .numa dimens8o diferente. AIgo sememante a isso. Portanto,
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muito mais complicada. Se voct ten 100, 6 impossfvel, porque matematicamente por diante. Foi essa a hierarquia origival. E agora temos a hierarquia de virias
e complexo demals. organizag6es humanas; a hierarquia de uma universidade, por exemplo, com o
presidente, os reitores, etc. Sso estrutulas hierirquicas. 0 fato importante e que
WEBER: Voce ten urn ntimero de varidveis demasiadanente grande. nas hierarquias humanas os nfveis mais altos dominam os mais baixos. Sgo hierar-
quias de poder e de controle. Embora haja uma relativa autonomia e hiberdade
CAPRA: Sin, mas se voce tiver I.000.000 de corpos, o problema toma-se nos varios ni'veis, o poder emana do topo para o nfvel mats baixo. Ngo e isso o
novanente muito facil, pots entao voce faz estatfstica e, a seguir, vale-se da ter- que ocorre no caso desses nfveis naturais, onde todos eles estao inter-relaciona-
modinamica, de modo a alcangar urn nrvel de complexidade no qual pode usar dos, s5o interdependentes e se influenciam mutuanente. E por isso que prefiro
uma linguagem diferente, e o problema .se toma facfl. De maneira semelhante, usar o termo "ordem estratificada" em vez de "hierarquia".*
com alguns atomas, voc6 faz mecanica quintica. Com muitos atomos, ainda po-
de fazer isso, pois temos virias t6cnicas de aproximaeao que nos pemritem lidar WEBER: A afimaeao de Ken Wflber 6 que o mats alto influencia o mais
com muitos ftomos. Mas se o numero for demasiadamente grande, o problema baixo, mas os nfveis mais baixos nao incluem nem influenciam os mais altos.
toma-se complexo demals. No entanto, com uin numero extraordinariamente Voce esta dizendo que nto 6 bern assim?
maior de atomos torna-se facfl novanente. Entao, a que voce faz e qufmica. Per-
cebe? A seguir, voce deixa os 4tomos ou as moleculas tomarem-se maiores e in- CAPRA: Deixe-me primeiro falar a respeito do que observamos no nun-
teratlrem, e a quinica fica excessivamente complexa, ate que, nun certo nfvel, do natural, e depois voltaremos ao argumento dele. No organismo humano, por
voce compreende, oh Deus, que eles estao formando c6lulas. Entao voce pode exemplo, temos 6rgaos e os 6rgaos sao constitufdos de tecidos, e os tecidos de
fazer bjolotia celular. A seguir, as Oflulas tornami;e muito complexas, impos- celulas, mac cada urn desses nfveis interage diretamente ccm seu ambiente flo-
sfveis de serem manipuladas, ate que, de repente, voce compreende que 'se trata bal e influencia cada urn dos outros ni'veis. Em meu novo livro, escolhi o sfm-
de urn tecido. Entao os tecidos tornani5e complexos e voce compreende que se bolo da pirinjde, que e o sfmbolo clissico de uma hierarqui'a, e a transfomei
trata de urn 6rgao, e entao o 6rg5o toma-se muito complexo; digamos que voce numa arvore. Ora, a arvore cont6m exatamen{e as mesmas infomagoes acer-
estf lidando com o ctrebro, o mats complexo dos 6rgaos, e entao, subitamen- ca da relaeso entre os nfveis: ha urn tronco, virios ramos, muitos galhos e mui-
te, voce pode passar para urn nfvel totalmente diferente, e voce faz psicoloSa tfssimas folhas. Desse modo, voce tamb€m ten sistemas dentro de sistemas,
em vez de neurofisioloSa. Portanto, ha esses nfveis de complexidade que sgo mas a frvore, naturalmente, 6 urn sfmbolo ecol6ctco. Na arvore voce ve, com
surpreendentes ao extremo. muita clareza, que a nutrigso vein tanto das rafzes como das folhas. 0 Sol a]i-
menta as folhas e as rafzes tiram alimento da terra. Portanto, o alimento vein
WEBER: Apenas para esclarecer: quando voce diz que, a rna certa altura, do c6u e vein da terra, se voce quer ser poftica. Ambos sao necessdrios, e ne-
o t6pico em questgo toma-se excessivamente diffcfl de manipular, voce quer di- nhum deles e mais fundamental; todos os nfveis estao sempre interagivdo uns
zer que se algu6m tivesse de ficar com esse ponto de vista, o pr6prio sujeito exi. com os outros no meio ambiente. Assim, essa 6 uma imagem muito melhor pa-
aria urn novo /oco, e e isso que chamarnos, por assim dizer, de urn novo camp.o. ra a estrutura multinivelada que observamos na natureza. Ora, 6 tambem inte-
Quando voce vai da ffsica para a qufmica e desta para a biolocta, vooe. diz que ressante o fato de que, hist6rica e culturalmente, os sistemas hierdrquicos sfro
a complexjdade do pr6prio material exjge uma nova organizagao, ou uma nova caracteri'sticos das culturas patriarcais. Uma hierarquia e algo associado com a
maneira de omar para ela. consciencia masculina.

CAPRA: Sin. Ora, esses wirios' nfveis que observamos nao sao separados WEBER: Podemos nos aprofundar nisso?
mac estao todo8 mutuamente interconectados e s5o todos interdependentes. Em-
dora tenhamos sistemas dentro de sistemas, como dirfamos em linguagem mo-
CAPRA: Certamente! Veja as hierarquias origivals! Os papas sso homens,
derna, is§o nao 6 uma hierarquia. E freqtientemente chanado de hielarquia, mac
os bispos sao homens. Deus 6 homem, e assin por diante.
esse nao 6 realmente urn born temo para se u§ar, pois as hierarquias existem ape-
nag no domrnio social, por exemplo .as hierarquia§ da igreja; e realmente daf
WEBER: E.quarto a Maria?
que veio o temo.

WEBER: Poderia explicar a origem desse t6mo? * Na psicologia do desenvolvimento, hierarquia 6 urn termo t6cnico para indicar com-
plexidade, diferenciaefro e integrae8o crescentes, como 6 explicado, par exemplo, por Wemer:
"Onde quer que ocorra a desenvolvinento, ele procede de urn estado de relativa globalida-
CAPRA: Ben, a palavl.a grega significa "o governo sagrado". Foi oritinal-
mente o governo do Papa com relagso aos arcetiispos, bispos e padres e, supotho, de e falta de diferenciapfo para urn estado de diferenciagfro, articulaefo, e integracao hierdr-
foi provavelmente o govemo de Deus com relacgo aos alcanjos, anjos e assim quica crescentes..' Esse conceito especi'fico 6 central para ` as modernas escolas desenvolvi-
mentistas (N. do E.).

218
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rfu
CAPRA: Oh, isso 6 interessante. Maria vein da reliSao pr6-patriarcal. Ma. tes de dois nfveis de realidade totalmente diferentes." Ora, isso a verdade, mas,
ria t5 a antiga Deusa, pois Deus era mulher antes de se tomar homem. no fmal das contas, esses dois nfveis tambem sao os me.smos; sao diferentes
aspectos dos mesmos mundos terrfveis e misteriosos mos quais foma e vazio,
WEBER: Mesmo no Ocidente? e vazio 6 forma.

CAPRA: Sin, mesmo no Ocidente. Especialmente no Ocidente, na retiao WEBER: Nao obstante, voce nao negaria a uthidade de se fazer a distinggo?
a que se da o none de velha Europa, em tomo do Mediterraneo.
CAPRA: Oh, ngo, claro que nao. £ extremamente titil. 0 que estou dizendo
WEBER: Nfo sei se isso e muito conhecido. e o seguinte: a medida que, por assim dizer, subimos e descemos da arvore, nossa
ateng5o vai focalizando ni'veis onde reconhecemos padrdes est4veis. Mas esses
CAPRA: N8o 5 conhecido pol.que vivemos numa cultura patriarcal, onde nfveis sao tanto nfveis de nossa ateneso como urn nfvel da realidade 16 fora.
esse tipo de conhecinento nso encontra apoio, mas esta irrompendo agora. Ha
hoje varios livras sobre esse assunto. Trago isso a bafla porque quando Wilber diz WEBER: Penso tamb6m que uma das preocupap6es de Ken era a de que,
em ni'veis diferentes, o organismo 6 capaz de refletir a consciencia universal de
que todas as filosofias perenes enfatizam as hierarquias, essa nao e ben a verdade.
As hierarquias sao enfatizadas principalmente pelas tradigdes patriarcais. 0 taofs- maneira mais clara e mais abrangente, e urn organismo mais elevado pode fazer
mo, por exemplo, que, conforme creio, ten suas rafzes numa cultura matriarcal, isso de uma maneira muito mais rica do que, digamos, uma rocha seria capaz.
e que sempre enfatizou o elemento feminino, nao ten hierarquias. 0 hindufsmo Agora, voce concordaria com isso?
ten, o budismo ten, assin como o islamismo e o cristianismo. Mas h4 outras
CAPRA: Naturalmente. Diria que uma rocha, em absoluto, nao a reflete,
tradig5es que nao as possuem. Assim, penso que g inportante compreender que
no sentido de pensar a respeito dela, vivencia-la, ter consciencia do universo. Penso
as estruturas hierarquicas n5o s8o uma lei da natureza, mas construgoes humanas.
que a consciencia comega mos organismos vivos, mos organismos bioldgicos. Em
urn nfvel muito alto de complexidade, temos a autoconsciencia, temos a cons-
WEBER: Gostaria de voltar ao argumento de Wflber, segundo o qual o mais
ciencia, ficando os organismos conscientes de si mesmos como seres pensantes
alto incorpora, inclui, envolve, cont6m o mais baixo de tal forma que o mais baixo
e sensfveis.
nao pode conter o mais alto. E uma relagao nao-simetrica. 0 que voce diria a
respeito?
WEBER: E com respeito a essa no9ao de abrangencia dos n{veis?

CAPRA: Isso C correto, mas voce nao precisa chama-lo de mais alto e de
CAPRA: Falemos a respeito dos diferentes nfveis. Urn dos argumentos de
mais baixo. Pense novamente na arvore; apenas quero esclarecer a teminoloBa.
Wilber g que a napao de interpenetra€sO, por exemplo, e percebida pelos frsicos
no nfvel material. E o tinico nfvel com o qual os ffsicos lidam. Ele reconhece e
WEBER: Voce pensa que a terminoloSa engana porque enfatiza o prin-
aprecia o paralelismo em relacgo ao misticismo. Quando eu digo, em a rao cfo
cfpio que goveina mais do que voce sente que e justificavel?
J;y§z.ca, que a no€ao de interpenetraeso, que e caracterfstica do budismo mch4}Jam¢,
ten urn forte paralelismo com a teoria Z7oof§#ap da ffsica de partfculas, Wilber
CAPRA: Sin. 0 poder e a dominagao mais que a complexidade. Para min
concorda bastante com isso. Bemstein, a prop6sito, parece pensar que o boof§trzzp
sao ni'veis de complexidade. Agora, a estrutura desses nfveis depende, no final
e algo completamente ultrapassado, mas ele nao esta nada atualizado com o que
das contas, de como olhamos para eles. Novamente, como dissemos antes, pa-
ocorre na ffsica. Houve, nos tiltimos cinco anos, urn tremendo avaneo na fl'sica
droes de mat6ria refletem padroes de mente, e qualquer coisa que omemos de-
do Z7ootstrap, a tal ponto que n6s nao estamos mais falando sobre urn modelo
pende de nossos conceitos. Sinto que Ken Wilber leva esses nfveis demasiado
boof§frap mas sobre uma teoria boof§frtzp. Isso da uma medida do progresso
a serio. Quando ele diz que "ha seis nfveis principals", isso e verdade, mas os
ni'veis ontol6gicos, como todos os outros conceitos, sao, em dltina anflise, m4/a!. que fizemos.
De qualquer maneira, ao nfvel de interpenetraggo que os ffsicos e mfsti-
A maneira pela qual dividimos a realidade 5 flus6ria e relativa, e, como dirfamos
cos percettem Ken Wnber da o none de interpenetraeao unidimensional. Entao
na ciencia, aproxinada.
ele diz que, de acordo com os mfsticos, ha interpenetragao em muitas dimen-
s6es; os diferentes nfveis tamt>6m se interpenetram, e a frsica nada ten a dizer
WEBER: Uma hip6tese de trabalho. Nao uma estrutura rfSda e inaltera-
a respeito disso.
vel da natureza.

WEBER: Eles se intexpenetram verticalmente, e nao apenas horizontal-


CAPRA: Certo. Wilber diz, por exemplo: "A fi'sica e o misticismo nao
mente?
sfro duas abordagens diferentes da mesma realidade, sao abordagens diferen-
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CAPRA: Certo. Concordo que a fi'sica nada ten a dizer sobre isso, mac aplicados a todos esses nrveis. Desse modo, voce pode fazer, para uma c6lula,
a ciencia tern. Passei os tiltimos cinco anos estudando as relagoes entre a ffsica as mesmas afirmapces que voce pode fazer para urn famflia ou para urn sistema
e as outras ciencias, e descobri que ha uma extensfo natural dos conceitos da equivalente. Naturalmente, os elementos sao muito diferentes, mac os princfpios
ffsica modema para outros campos. A extens5o natural 6 o arcabougo da teoria de organizagao sgo sinrfuares.
dos sistemas. A abordagem sistemica lido muito com esses hfveis em bioloria,
psicolotia, no estudo dos sistemas sociais, e assim por diant.e, A explorag5o de WEBER: Como essa vis;o sistemica da vida poderia resolver a questao que
conceitos sistemicas nessas areas, e de suas implicagoes para nossa sociedade e estivemos explorando, a de decidir entre a hierarquia e a maneira estratificada
nossa cultura,' 6 o assunto do meu pr6xino livIo, a Po#fo de "wfap¢o. Desco- de acordo com a qual as coisas sao organizadas?
bri que essa abordagem sistemica confima 6§ paralelismos entre a frsica e o mis-
ticismo e acrescenta outras similaridades: o conceito de rivTe-arbftrio, o concei. CAPRA: Quando a ciencia e expressa na linguagem sistemica, ela pode li-
to de vida e morte, a natureza da mente, a natureza da consciencia, e assim por dar com esses wirios nfveis de complexidade de urn modo unificado. Vejo isso
diante. in uma profunda harmonia entre esses conceitos, como expressa a visao como o futuro da ciencia. Mas a vis5o sistemica, assim como a visao bootsrrap,
sistemica, e os conceitos que lhes correspondem nas tradieoes mfsticas. Nao posso e ainda uma vis5o nrfuoritaria. A maioria dos bi6logos, atualmente, nao seguiria
entrar em detalhes aqui, pois e urn assunto muito complexo, mas o discuto de a abordagem sistemica.
maneira bastante extonsa no meu novo livro.
WEBER: Eles estao voltados para as partes individuais.
. WEBER: Podia nos dar, mesmo que seja de maneira aproximada, uma
hip6tese de trabalho que ilustre o tipo de abordagem utilizado pela teoria dos CAPRA: Sin, eles se voltam para a gen6tica, para as partes individuais, e
sistemas? assin por diante.

CAPRA: aaro. Antes de mais nada, o termo 6 incorreto pois nao 6 uma WEBER: Eles ten a visao cartesiana, enquanto que, como voce estl di-
teoria, no sentjdo que o 6 a teoria da relatividade ou a teoria quanti6a. E mais zendo, a nova visao enfatiza a interdependencia, a interconexidade e a dina-
urn ponto de vista, urn arcabougo, uma linguagem. rnica do todo.

WEBER: Urn arcabougo conceitual para unit as coisas? CAPRA: Mas eu diria que tanto o reducionismo como o holismo sao ne-
cessarios.
CAPRA: Certo. E urn arcaboueo para estudar sistemas, que sao totalidades
integradas, as quais derivam suas propriedades essenciais de suas inter-relaeoes, WEBER: Compreendo. Voce ngo estf sugerindo que devemo§ abolir o ou-
em vez de partirem das propriedades de suas partes. Desse modo, a abordagem tro, mas, sin, afirma que deverfamos suplementar urn com o outro .
sistemica 6 complementar a abordagem reducionista. Ela se concentra nas in-
ter-relagcies, nas interconex5es e na interdependencia. E tamb6m uma aborda- CAPRA: Se voce quer apreender toda a hist6ria, entao necessita de am-
gem inteiran¥nte dip.amica. Estuda princfpios de organiza9ao, e considera os bas as vis6es. Isso porque cada uma delas me oferece apenas metade da hist6ria.
processos como sendo mais fundamentais que a estrutura. Voce jf pode perce. E assin que eu vejo o futuro da ciencia, e tanb6m penso que a ciencia do futuro
ber, com base nesses dois aspectos - a interdependencia e o estado. de inter-re- n5o mais distinguira entre disciplinas.
lacao, e a natureza dinamica, que eu considero como os dois temas basicos da
fi'sica modema -, que se trata de uma extensao natural da ffsica modema. WEBER: E uma vis5o muito radical.

WEBER: Penso que isso nos di uma ideia da es§encia da abordagem siste-mica.
CAPRA: Sin, e a prop6sito Heisenberg ja dizia isso anos atras. No `final
de urn dos seus livTos, 77ze Pzzrf ¢#d ffee Wfeo/a, ele apresenta sua visao da cien-
CAPRA: Deixe-me tambem the dar alguns exemplos de sistemas. Hf sis-
cia futura, e concordo plenamente com o que ele diz. Chego a crer que no fu-
temas vivos e nao-vivos. Estou particularmente interessado nos sistemas vivos,
turo aplicaremos uma rede de modelos, e usaremos diferentes linguagens para
os organismos vivos. Voce pode usar qualquer urn desses dois termos, pois sao
descrever diferentes fen6menos em nfveis diferentes. Nco mais mos preocupa-
intercambi4veis. Portanto, uma c61ula € urn sistema vivo, urn tecido C urn siste-
remos com o fato de estarmos fazendo bio|oSa, psicolotla, ffsica ou antropo-
ma vivo, e tambem urn 6rgao o a; todos os nfveis sobre os quais acabanos de
locta, ou o que quer que seja; n5o nos preocuparemos com essas classiflcag0es.
falar sao sistemas vivos. Uma pessoa, uma famflia, uma cultura sao sistemas so-
ciais. Os ecossistemas tambe'm sao sistemas vivos. Como ve, a visao sistemica 6
uma visao unificada, pois os varios crit€rios e regularidades que ela explora sao WEBER: 0 que voce estf sugerindo 6 revQlucionfrio. Mas o que voce di-
ria a respeito da seguinte objecfro: ao recomendar enfaticamente essa visao como
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desejavel, voce nco estaria fazendo urn retorno a antigos m6todos que dificul- de organizacao. Somente a integracao dessas duas visoes, o que ainda esta muito
taram o desenvolvimento da ciencia? Lembremo-nos de que antes da Renascen¢a, longe de ser feito, nos dal.a a hist6ria toda.
tudo era estudado como urn todo, e el.a precisamente por esse candnho que a
ciencia caninhava arrastando-se. Foi a especializa9ao que, fmalmente, deu a cien- WEBER: Voce quer dizer que os seres humanos nao sobreviverao se nao
cia sua forga. Ora, quando as pessoas escutam o que voce esti sugerindo, nao definirem a si mesmos de maneira a incluir os outros e os animals e todo o com-
poderiam, de imediato, ficar preocupadas com o fato de que perderemos os ga- plexo sistema eco]6Sco?
nhos obtidos gragas a especializagao, que vein ocorrendo desde o seculo XVII?
CAPRA: Exato. Agora, pela primeira vez, o que estd em jogo nfro 6 a so-
CAPRA: Nao, nao perderemos. E uma questao de equflfbrio. Naqueles brevivencia do indivfduo ou a sobrevivencia da especie, mas a sobrevivencia do
velhos tempos, eles Cram bastante holrsticos. Entao o movimento do pendulo
planeta, a sobrevivencia da vida no planeta. Desse modo, essa 6 realmente uma
mudou de sentido, e ficamos todos bastante I.educionistas. E agora ha urn Ion- nova dimensao, urn ponto de mutaeao.
go caminho de volta antes de comegarmos a mos preocupar com o que e bastante
holfstjco. WEBER: E voce esta higando isso diretamente a epistemoloSa: a maneira
como percebemos e definimos.
WEBER: Tenho argumentado comigo mesmo, portanto concordo plena-
mente. E voce poderia ate mesmo dizer que o que foi 4!iJa#f-grrde e vi§ionario CAPRA: Exato. Creio que a atual crise multifacetada 6, fundamentalmente,
naqueles dias 6 agora obsoleto e I.eacionario. Poderia parecer perfeitamente 16- uma crise de percepgao.
tico que com a crescente explosso de conhecinento, a sfntese 6 novanente a
moda ¢i;¢#f-gzzrdc, nao poderia? E uma esp€cie de dialetica. WEBER : Voce lembra Krishnamurti.

CAPRA: Certo. Tapt]6m do ponto de vista da evolugfro h4 urn aspecto CAPRA: Ben, entto estou em boa companhia.
interessante. Diz-se freqtientemente que o reducionismo, a mente analftica, e
assim por diante, era o caminho para os organismos sobreviverem, porque quan- WEBER: Tanto ele como David Bohm dfro enfase a isso. Em seu livTo sfro ela.
do voce retine o seu alimen.to 6 muito importante que seja capaz de distinguir borados argumentos especfficos que levariam o leitor a concordar com isso, certo?
entre as coisas. Ben, agora o que ocorre g exatamente a oposto. Com o holo-
causto nuclear nos ameagando, o que precisamos agora para a sobrevivencia 6 CAPRA: Sim. 0 que eu explorei foi a crise da percepgao. Estou afirman-
a sfntese, a perspectiva ecol6Sca, a visao holfstica. do que estamos em meio a uma mudanca de paradigma; o velho paradigma e a
visao de mundo cartesiana, newtoniana, a visao de mundo mecanicista. 0 novo
WEBER:. Desse modo, em diferentes 6pocas, diferentes enfases sao apro- paradigma 6 o holfstico,I a visao de mundo ecol6¢ca. Precisamos dessa mudanga
priadas. de percepgao. Nossa sociedade, nossas universidades, nossas coxporag0es, nossa
economia, nossa tecnologa, nossa polftica sao todas estruturadas de acordo com
CAPRA : Absolutamente. o velho paradigma cartesiano. Precisamos da mudanga.

WEBER: Entendo. Voce defende o equilforio, nao a exclusividade. WEBER: Juntemos todos esses pontos. Coma a visfro mfstica se encaixa
em tudo isso?
CAPRA: Exato. Precisamos ter vis6es integrativas mas nao precisanos jo-
gar fora o que ganhamos. Por exemplo, consideremos a teoria da evolugao. A CAPRA: 0 que temos entao no novo paradigm e uma ciencia que tida com
teoria darwiniana mos oferece apenas metade da hist6ria. A gen6tica, as muta- esses nfveis, uma abordagem multidisciplinar para a realidade multinivelada que
g6es, a selegao natural e a adaptagao constituem uma parte inportante, mas ja- observamos. E em todos esses nfveis os conceitos da ciencia revelam fortes simi-
mais serao capazes de explicar os fenomenos da evolbg8o. laridades com os conceitos do misticismo. Sinto-me nun solo muito mais firme
ao fazer essa afimag5o do que me sentia ha dez anos. Nao e apenas a ffsica que
WEBER: Entatt, o que voce pensa que est4 faltando? apresenta paralelismos com o misticismo, e tambem a t7iologia, a psicoloria e
varias outras ciencias. E € interessante que, ao mapear essa nova abordagem sis-
CAPRA: A visgo sistemica. Escrevi sobre tudo isso no novo livro. Desse temica, baseio grande part.e do que digo no trabalho de Ken Wilber. Ele defends
modo, aquflo de que necessitamos 6 a visao sistemica da evolueao, que contgm
a nog5o de autotranscendencia, de organismos vivos que avancam e penetram * Wfto/I.g#.a, derivado de w#oJe (todo, totalidade), equivale foneticamente a Ao/dsrl.c
criativamente em novos territ6rios para criar novas estruturas e novos modos (N. do T.).

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precisamente essa abordagem no canpo da psicolocta. AI6m disso, introduziu tamb6m importante notar que e a visao cartesiana que valoriza a competieao
esse conceito de psicologra de espectro, que pemite unificar as varias.escolas mais que a cooperaggo e, portanto, reconhece in natureza apenas a competigao e
de psicoloBa e de psicoterapia nun arcabougo coerente, que 6 exatamente a abor- nao a cooperae8o. E com isso ve mais a separagao, os objetos separados, que os
dagem bootsfrap que defendo. E, como disse antes, a fiilosofia das tradigdes mi's-
padroes interconectados.
ticas, a fflosofia perene, 6 o cenfrio fflos6fico mais consistente para a ciencia
moderna em todos esses nfveis. WEBER: Em sua epistemolotla, agarra-se a esse modo de percep¢go que
confirma suas inclinagoes, seus preconceitos e seus valores sociais.
WEBER: Voce est5 dizendo que o suporte para o que voce argumenta ten
de ser feito se devemos sobreviver. Isso tambem 6 coerente com a ciencia mo- CAPRA: Exatamente. Agora, hf uma outra quest8o associada as estruturas
dema. Agora, quero voltar ao que voce disse hf poucos minutos: voce diria que multiniveladas. Trata-se do argumento de que a frsica e o mistjcismo n5o sao
mos tiltimos cinco anos, desde que comeeou a pesquisar material para o sou novo complementares, pois nao s5o mutuamente exclusivos-. De acordo com Ken Wilber,
livro, voce tambem teve de sondar e adotar va/ores, e seguir assin urn caminho esse tiltimo transcende e inclui a primeira, nao' a exclui.
que o livro sobre ffsica n5o teve necessidade de trilhar?
WEBER: Voce nfro concorda com isso?
CAPRA: Sin, 6 claro. FSpecialmente ao lidar com economia. A economia
e a ciencia que se acha mais centralmente ocupada com valores porque 6 a cien- CAPRA: Nao concordo sinplesmente porque penso que ha uma confu-
cia que trata da produg5o, da distribuigao e do consumo de mercadorias. Ora, sso quanto a esse. ponto. in uma confusao entre os fenomenos que sao obser-
o tipo de mercadorias que voce compra e a maneira como gasta o seu dinheiro vados e os m6todos que sgo empregadas. As duas abordagens, creio eu, sao com-
depende muito do seu sistema de valores. Os economistas, pretendendo Ser obje-
plementares, devido a complementaridade basica das mentes racional e intuitiva,
tivos, abra9aram os valores do paradigma cartestano sem dizer isso explicitamente. ou d.os modos de consciencia racional e intuitivo. Penso que se trata de uma com-
plementaridade bastante fundamental na natureza humana. E, a propdsito, e
WEBER: Est5o eles conscientes disso? uma complementaridade que tambem se toma mats evidente a partir do ponto
de vista sistemico. Desse modo, as abordagens dos frsicos e dos mfsticos sao com-
CAPRA: Ben, muitos deles nao e§tao. Mostro isso muito detalhadamente
plementares. Mas as dreas de estudo nao sgo complementares. Nem sao mutua.
no meu livro. Tenho urn capi'tulo inteiro sobr6 a hist6ria da economia.
mente exclusivas nem uma inclui a outra, mas ambas se sobrepoem.

WEBER: Os valores modelam a maneira como percebemos, ou € a rna- WEBER: Fritjof, para juntar tudo isso de que estivemos falando, quero
neira como percebemos que modela nossos valores? Ou ambos ocorrem simul-
propor a considerae5o de urn. exemplo hipot6tico, que podemos chanar de ficgao
taneamente? cienti'fica ou de ficgao filos6fica. Postulemos que ha urn ffsico tao competente
em sou trabalho que seu calibre 6 o de urn Nobel; de fat6, e urn ffsico de partf-
CAPRA: Deixe-me`pensar sobre isso. A meu vcr, valores e modos de per- culas ganhador do premio Nobel, e que posteriomente em sua vida tamb6m pas-
cepgfro achamse t8o intimamente conectados que C diffcil, se nao inpossfvel,
sou a explorar a consciencia com tal profundidade que se tomou uma figura equi-
separi-los. Vou lhe dan urn exemplo. Falemos a respeito da anafise ye7:si¢s sin-
valente a Buda. No meu modo de pensar, essa pessoa ten de ser tanto urn ffsico
tese ou da auto-afimapao vem¢s integra9fro, e da competigso rersoJ cooperap5o.
de qualidade Nobel quarto uma pessoa espiritual de "qualidade Nobel". Ele e,
Estes s5o dois grupos de valores. Recentes pesquisas mostraram que uma das di-
absolutamente, urn adepto em ambas as atividades. 0 que pode ele mos dizer,
feren9as entre homens e mulheres e que estas, de urn modo geral, acharn mats
se 6 que pode, que urn ffsico comum, urn mfstico comum, nao poderia? Em par-
facfl perceber as coisas de uma maneira integrada .que de uma maneira analftica.
ticular, estou perguntando: Ele saberia mats? Sua vantagem seria apenas a de ele
Por exemplo, elas sao melhores para lidar com as pessoas, ao passo que os ho-
ter mais aptidao para relacionar urn paradigma com outro? Ou poderia ele, por
mens sao melhores para lidar com a percep€ao de objetos no espago, voce sabe,
exem'plo, em virtude de ser, igualmente, uma consciencia iluminada, mais per-
grar objetos mentalmente no espa€o e assim por diante. Naturalmente, ha ho- ceptiva, propor experimentos cruciais em fi'sica que estariam, de certa forma,
mens e mulheres que podem fazer qualquer uma dessas coisas, mac na media ha
relacionados com estados intemos de consciencia? Estou curiosa para Saber se
uma diferenea entre homens e mulheres a esse respeito. Isto se toma agora inti-
voce tern alguns pontos de vista sabre isso.
mamente entremesclado com valores, pois, uma vez que os homens dominam na
sociedade, eles diriam que o modo anali'tico 8 memor que o integrativo. Diriam,
CAPRA: Ben, naturalmente 6 muito difi.cfl inagnar tal pessoa devido a
conseqiientemente,I que a ciencia 6 mais valiosa que a filosofia ou a poesia. Desse
natureza complementar das duas abordagens. Voce teria muitas diflculdades para
mod®, 6 diffcfl saber o que surgiu primeiro, se foi o modo de percepgao ou o
valor. Sinto que os dois, na verdade, estao intimamente inter-relacionados. E
se tornar uma flgura como Buda ap6s ter sido urn ftsico de cahibre Nobel. Mas,
de qualquer forma, vamos falar sobre urn Einstein de primeira grandeza, ou sobre
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qualquer urn dos grandes fisicos. Ora, tal pessoa ja possui urn alto grau de intui. periencias. Nas boas instituieoes e centros de pesquisa em frsica, h4 sempre uma
9ao. E essa intuigao Sera agugada graeas ao treinamento mfstico. Entao, uma vez estreita colabora€ao e urn estreito contacto entre os te6ricos e os experimenta-
.que tenha passado por esse treinamento, tomando-se iluminado, deveria atingir dores. Mas nao penso que quaisquer I.#sz.gfefs mfsticos os ajudariam com esses
o sublime em sua intuigao; tamb6m deveria, por algum mflagre, nco ter esquecido detalhes.
sua matem4tica. Ele seria capaz de retroceder e retomar seu trabalho como ff-
sico a partir do ponto onde parou. WEBER: Mas voce sente que o componente fe6#.;o seria afetado.

WEBER: Teria ele uma vantagem sobre outros ffsicos ao fazer frsica pura? CAPRA: Sin, porque as teorias sao sempre baseadas numa certa filosofia,
ou numa certa predilegao.
CAPRA: Teria a vantagem de ser capaz de trabalhar muito melhor. Pois
algu6m que avanga muito na meditagao pode diriBr suas enertias de uma rna- WEBER: E numa intuig5o. Essa pessoa estaria mais profundamente em
neira muito melhor. Sei disso por experiencia pois conhe€o fi'sicos que estao en- contacto com modos altemativos de espago e de tempo, ben como de conscien-
volvidos em tradi?6es mi'sticas, que s5o zen-budistas ou vedantistas; eles fazem em cia e de interconexidade, nfro apenas intelectualmente mac hiteralmente. Ele te-
seis horas o mesmo trabalho que outros fariam em dez. Essa seria uma vantagem. ria vivido e experimentado esses modos.

WEBER: Minha pr6xina pergunta 6 esta: Poderia ele foljar uma ponte en- CAPRA: Sin, mas voce satle, como eu disse antes, que os frsicos tamb€m
tre as linguagens da ffsica e do misticismo, ou entre os seus modelos? Poderia poSsuem isso sem que sejam mi`Sticos.
interpretar melhor urn dos mundos para aqueles que est8o no outro?
WEBER: Mas nun grau ben menor, como voce disse. Agora, nosso ffsico
• CAPRA: Ben, poder-se.ia pensar assin, mas depende de que tipo de ff- seria uma versgo totalmente ampliada dis§o, nso seria?
sico estamos falando. Se falamos a respeito da figura de Niels Bohr, entao ele
teria dificuldade com a linguagem, como de fato Bohr tinha. Se falamos a res- CAPRA: Ben, nao sei se poderia ser mats totalmente ampliada do que Bohr
peito de urn Feynman, isso 6 quase uma contradigao, pois Feynman tambem o era. Realmente nao sei.
6 contra todo esse misticismo.
WEBER: Voce pensa que Bohr sentiaise indissoluvelm.ente uno com o
WEBER: Sei disso, mas lembre.se de que este 6 meu exemplo de flcgao uriverso?
cientffica, e temos a permissao de especular fantasticamente.
CAPRA : Definitivamente , sin.
CAPRA: OK, vamos fazer uma especie de engenharia gen6tica que com-
bine Feyrman e Buda numa unica pessoa. Desse modo, ele teria entao uma van- WEBER: Ha evidencias disso?
tagem, e seria capaz de intexpretar a experiencia mfstica em termos que fazem
contacto .com os termos cientfficos. Ate onde ele puder lan8ar mao de mode. CAPRA: Oh, sin, defmitivamente.
Ios matemfticos para conseguir isso, penso que ele o faria justamente pelo fato
de ser urn born ffsico. WEBER: Mas 6 a descri9go que voce atribuiu ao mfstico?

WEBER: Suponho que e uma interpretagao mais conservadora daquflo CAPRA: sin..
que tenho em mente. Refiro-me a algo muito mais fantastico. Poderia ele, como
cientista, formular experiencias que ningu6m ainda ten imagivagao para propor? WEBER: Entto voce esta dizendo que Bohr era urn mistico.

CAPRA: N5o, nao penso desse modo. CAPRA: Sin, oh, sim!

WEBER: Por gue nao? WEBER: Anteriormente, nesta conversa, vQce afirmou que ele era uma pessoa
altanente intuitiva, mas agora voce esti indo mais longe.
CAPRA: Porque isso requer urn arcabougo mental totalmente diferente.
Veja, nem mesmo os te6ricos costumam ser muito bons para propor experien- CAPRA: Ben, agora estou usando a palavra mfstico nun sentido mais am-
cias. Sao os ffsicos experimentais que s5o bons nisso, pois conhecem os apare- plo. Bohr nao teve nenhum treinamento mfstico, e nao penso que ele praticava
lhos. Ten esse contacto direto com os instrumentos, e sao bons para propor ex- meditagao em bases regulares. Mas seu trab`alho foi sua meditaeao.

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WEBER: Compreendo. Ele tinha uma convicggo pessoal da unidade das
coisas de uma maneira que nao envolvia necessariamente o estar sentado numa
sala com as pemas cruzadas.

CAPRA: Certo. A ciencia de Bohr era seu misticismo. E, como sabe, eu


quase suspeitaria que essa pessoa hipot6tica, se reainente quisesse fazer ffsica
e fosse urn mfstico, seria apenas fi'sico. Veja, nas tradi9des orientais, o mais ilu- 10
minado torna-se o mais comum. E assim esses grandes sfbios apenas andam por
1£ cortando lenha para o fogo e puxando 4gua. REFLEX6ES S0BRE 0 PARADIGMA DA NOVA ERA

WEBER: Depois que voce fica. fluminado, a montanha 6 novamente uma Uma conversa com Ken Wilber
montanha.

CAPRA: Sin, e o proton se tornaria urn proton, o eletron urn eletron, e RV: Dentre v4rias autoridades no canpo transpessoal, voce parece ser urn
nosso Buda seria apenas urn ffsico. dos rinicos que expre§saram fortes restrigdes a respeito das assim chanadas teo-
rias hologrfficas. Gostaria que voce nos dissesse por qut.
WEBER: Muito obrigada.
WILBER: Ben, 6 muito diffcil numa breve discussao explicar as virias fi-
nhas de crftica. 0 paradigma hologrifico e imensamente instigante a primeira
vista, penso eu, mas quanto mais voce se aprofunda nele, mais ele passa a per-
der seu encanto. Voce simplesmente ten de agarrar todos os tipos de fios da
meada -epistemol6rico, metodol6ctco, ontol6givo -e segui-los.

RV: Entao voce concorda com certos te6ricos, tais como Peter Swartz,
do Instituto de Pesquisas da Stan ford, para o qual a paradigma hofografico 6
uma bela metffora mas urn mau modelo da realidade.

WILBER: i urn mau modelo, mas nao estou certo nem mesmo de que ele
8 uma boa met4fora. 0 paradigma holografico 6 uma boa met4fora para a pan-
tei'smo (ou para o panentei'smo), mas nao para a realidade descrita pela fiiiloso-
fia perene.

RV: 0 que voc6 quer dizer com isso?

WILBER: Ben, a fflosofia perene (o temo §e tomou famoso gragas a Hux-


Icy, mas foi inventado por Leibnjz) - a essencia transcendental das gr.andes
reliBoes - ten como nticleo a no€fro de 4dv4!.r¢ ou ac7way¢ - "nso-dualidade".
Fisse termo indica que a realidade nfro 6 nem una nem mtiltipla, nem permanente
nem dininica, nem separada nem unificada, nem pluralista nem holfstica. Est6
inteira e radicalmente acima e antes de qw4/qwcr forma de elaboragso concei-
tual. E estritamente inqualificavel. Se, de qualquer modo, queremos discuti-1a,
entao, como Stace tao cuidadosanente assinalou, teremos de lan9ar mss de afir-
mag6es paradoxais. Desse modo, e verdade que a realidade 6 una, mas 6 igual-
mente verdade que ela e; mriltipla; 6 transcendente mas tamb6m imanente; 6 an-
terior' a este mundo mas nao e outra em relaeso a este mundo -e assim par diante.
Sri Ramana Maharshi tinha urn perfeito resumo `para o paradoxo do Supremo:
"0 mundo 5 ilus6rio; §6 Bralima 6 real; Brahma 'e o mundo."

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RV: Portanto, se voce omitir qualquer urn desses aspectos paradoxais, voce do, o mundo 6 radicalmente divino. Supoe-se que a Graga, como dizia Santo To-
acaba defendendo urn dos lados de urn duafismo sutil? mss, aperfeigoa a natureza, e nalo que a oblitere.

WILBER: Sin, os transcendentalistas, e tambem os monistas, concordam que RV: Voce disse que o holograna 6 uma boa metafora para o pantefsmo.
"o mundo 5 flus6rio e s6 Brahlna € real", mas eles omitem o fato igualmente
verdadeiro mas paradoxal de que "Brahma 6 o mundo". Por outro lado, o pan- WILBER: Sin, na minha opiniao, pois ele, basicamente, lida apenas com
tefsmo 6 o inverso, e talvez a pior visao -ele concorda que "Brahma 6 o mundo", a totalidade das partes, a mancha hologrgfica, e sua relagao com as partes indi.
ou a soma total do universo, mas omite o fato igualmente ilnportante de que viduais. No holograma, a soma total das partes esta contida em cada parte, e su-
Brahma e 'radicalmente anterior ao universo. p5e-se que essa soma-das-partes-que€sta€m{ada.parte reflete a unicidade trans-
cendental subjacente a multipla separatividade. Mas a tinica maneira pela qual
RV: Por que isso 6 "pior"? voce pode dizer que o holograma e uma met4fora de Brahma ou do Tao con-
siste em reduzir Brahma a essa soma das partes, que se ache entto presente em
WILBER: Porque o pantefsmo e uma maneira de se pensar a respeito da cada parte. Mas isso 6, por si mesmo, exatamente o pantefsmo.
"Divindade" sem ter de se transfomar efetivamente. Se Deus e apenas a soma
total do universo empi'rico, voce nao precisa se fluminar de maneira fundamental RV: Voce quer dizer que o todo nao e a mesma coisa que Brahma, ou o
absoluto?
para reconhecer esse deus, uma vez que essc deus ja se acha a sua volta, retinindo
no seu campo .visual. 0 pantefsmo 6 o deus favorito dos empiristas - os "mais
nadistas" [#offe].Hg man.§ts] , como diria Platao -, os que nao acreditam em "mais na- WILBER: Ngo, e' claro que nao. Brahma est£ #o mundo H¢ qzia/j.drde de
da" exceto no que pode ser agarrado com as maos. ser o mw#do rodo, 6 verdade, mas o mundo todo, em si mesmo e por si mesmo,
nao 6 exclusivamente. Brahma, pois voce poderia, teoricamente, destruir o nun-
do todo, mac isso nao destruiria Brahma ou a Natureza de Buda ou o Tao. Alem
RV: E a fflosofia perene sustenta que o absoluto e imanente ao mundo mas
disso, o pr6prio Brahma destr6i o mundo todo no final de cada ciclo de quatro
tamb6m 6 completamente transcendente com relaefro a ele?
ywgzzs, ou no fmal de cada faJpa. De qualquer maneira, o pantefsmo comete o
•WILBER: Sin. A cavema de Platao ainda e uma excelente analotia, con- erro de confundir o mundo todo com Brahma, e o holograma 6 uma boa met4-
fora da relaeao todo/parte.
tanto que tenhamos em mente sua natureza paradoxal. Ha, por urn lado, as som-
bras manifestas na cavema; h4, por outro, uma Luz absoluta da realidade al6m da
RV: E vbc6 nfro estf dizendo que isso 6 totalmente errado, mas apenas
cavema; e, finalmente, ambas s5o nao-duas. . .
que 6 parcial.
RV: As sombras e a Luz ....
WILBER: Sin, cobre os aspectos imanentes do absoluto, xpas nao os trans-
cendentes.
WILBER: Sin. Mas nenhuma dessas tres afirmag0es pode ser netligenciada,
como disse Ramana. Agora, o problema com o pantei'smo 6 que ele confunde a
RV: 0 que voce pensa da noggo de que o paradigma holografico postula que
totalidade do universo com o que 6 radicalmente anterior ao univelso, o que se acha
ha urn domfnio de frequencias, ou uma ordem implicada, sob a ordem explicada dos
radicalmente al6m dele. Isto 6, o pantefsmo confunde a soma total de todas as som-
eventos? Isso nfro seria anflogo ao nfro-manifesto, ou a Luz que esta al6m da cavema?
bras 72¢ caverna com a Luz al6m da cavema. E o perigo dessa filosofia e que, se
algu6m pensa que a Divindade 6 apenas a soma das coisas e dos eventos no universo,
WILBER: Ben, mais uma vez, penso que essa 6 a ideia 6t)via que, de inf-
a soma das sombras na caverna, entao ele desiste de tentar S¢z.r da caverna. Ele
cio, vein a mente, e grande ntimero de pessoas teve essa impressao. No entanto,
apenas contempla seu pr6prio nfvel de adaptacso, e tenta juntar as partes.
nao estou certo se isso se sustenta. Para comecar, a ordein implicada de Bohm
esta diretamente relacionada com algo semethante a urn vasto mar de enertla
RV: Que perigo aneaga a visao de mundo oposta, o transcendentalismo
extremo? potencial quintica, fora do qual cristalizami5e, por assim dizei, eventos mate-
rials concretos. Esses eventos nao estao relacionados por meio de campos de for-

WILDER: Uma aversso pelas sombras. Isso fica evidente no ascetismo vio- gas, einsteinianos ou newtonianos, mas pelo seu grau de implicacao, ou por quao
longe do mar de mat6ria{nercta eles emergivam.
lento, no antinaterialismo, e principalmente na 6tica anti-sexual e na repressao
da vida. A id6ia 6 que, de algum modo, o pr6prio mundo 6 mau, visto que tudo
RV: Esse mar implicado ten sido comparado por muitos ao nao-manifesto
aquilo que 5 mau e o mundo percebido separadamente de Deus, ou independen.
e a fonte infinita dos mfsticos.
mente de Deus. Quando se reconhece que Deus esta no mundo, que Ele 6 o mun-
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inteapreti-lo, o domfnio de freqtiencias ainda ten cJdrtm f7.po de esf7itft/r¢, seja
WILBER: Sin, eu sei, mas o problema e que o potencial quantico e ape-
nas tremendamente vasto no tamanho, ou nas dimensoes; nao e radicalmente esta indistinta, vibrat6ria, congelada ou seja como for. E nao se pode con fun-
isento de dimensdes, ou infinito no sentido metaffsico. E voce nao pode sim- dir estrutura com aquno que g radicalmente destitufdo de 6strutura, ou perfei-
tanente isento de dimensao, transcendente e infinito. Se voce confunde esse
plesmente igualar o que e imenso no tamanho, potencial ou manifesto, com o
que 6 isento de tamanho, ou anterior a quaisquer dimensdes, alto ou baixo, su- domfnio de freqcencias com algum tipo de solo eterno, em vez de reconhecer
til ou espesso, implicado ou explicado. que ele 6 simplesmente urn rufdo menos estruturado, entao, embora pareca que
voc6 estf lidando com algum tipo de teoria mfstica, na verdade vooe est4 1idando
RV: Entao o mar implicado, potencial ou manifesto. e de fato muito di- e com a simples mecanica da percep9ao sens6rio-motora.
ferente do solo infihito do misticismo?
RV: Mas essa teoria 6 freqtientemente acoplada com as ideias de Bohm.
WILBER: Na minha opihiao, isso esti exatamente correto. Eles apenas
parecem semelhantes se descritos em linguagem superficial, mas a diferenga real WILBER: Sin, essa 6 a id6ia 6bvia que de infcio mos vein a mente. Se voce
6 profunda. Mas, veja, David Bohm esta perfeitamente ciente disso. E por isso igualar o domfrio de freqtiencias a ordem implicada, e a seguir igualar as infor-
que ele diz que a "fonte" se acha alem de ambas as esferas, expficada e impli. map6es desdobradas ou lidas (no sentido inform4tico da palavra) a ordem in-
cada. For algum motivo, as pessoas parecem ignorar essa parte do que ele diz. plicada, pode parecer natural que aquflo que voce ten a frente e urn paradigma
que abrange .a emergencia do pensamento manifesto e coisas oriundas de urn solo
RV: OK, e quanto ao cerebro hologrifico de Pribram? nao-manifesto e intemporal.

WILBER: Se voce liga urn gravador de fita e grava vatos sons, a fita ar- RV: Mas, uma vez que tanto a ordem implicada como o domfnio de fre-
mazenara esses sons, ou os "memorizara". Os sistemas de armazenamento ba- qusncias possuem algum tipo de forma. . .
seados na holografia 6ptica fazem a mesma coisa. Os sons e nifdos entrain di-
namjcos e fluentes - ou temporais - mas ficam traduzidos na fita nun estado WILBER: Sin, nao g uma boa metafora para a flosofia perene. No me-
"congelado" ou "intemporal". No entanto, o fato de as infomagoes serem ar- thor dos casos, 6 uma metffora decente para o pantei'smo.
mazepadas de uma maneira "intemporal" nao significa que o gravador de fita
g urn estado transcendente ou eterno. 0 cerebro humano tambem armazena in- RV: Em sua cri'tica oriSnal das teorias holograficas, voce utflizou muitas
formagces, talvez holograficamente; no processo, ele as traduz naturalmente de vezes o conceito de hierarquia. Voce ainda o julga importante?
urn estado dinamico ou m6vel numa condieao "intemporal" ou armazenada,
e quando voce chama essas informagcies, voce faz sua leitura a partir desse es- WILBER: Sim, absolutamente. Se voltamos a analoaa de Platao, ha os
tado congelado. Porem, essa condigao "intemporal" ou congelada pouco. ten objetos na caverna, e hf a Luz al6m dela - mas o fato e que alguns objetos es-
a vcr com uma eternidade metafrsica ou mfstica. Isso por urn motivo: quebre tao mais pr6xinos do lugar onde a caverna se abre. Isto 6, ha uma gradaeao na
o gravador de fita -destnia-o -e la se vai a sua eternidade. Uma etemidade que. ontolotia - coma Huston Smith resumiu a essencia das grandes tradigoes mrs-
depende, para a sua existencia, de uma estrutura temporal, de uma fita ou de ticas do mundo: "A existencia e escalonada, e com ela, tamb6m a cogniefro."
urn c€rebro 6 uma estranha eternidade. Isto e, hi nfveis db ser e nfveis d.a conhecinento, que levam, por assim dizer,
do fundo da caverna para o alto, ate sua abertura, atravessando.a.
RV: E quanto ao domi'nio de frequencias?
`RV: E o absoluto C o ni'vel mais alto dessa gradac5o?

WILBER: Sin, diz-se que o c8rebro faz a leitura das inforfnapoes analisan-
do freqfiencias, ou ligando-se a urn domfnio onde "nao ha espapo nem tempo, WILBER: Nao exatamente, pois isso seria dualista. E, mais uma vez, algo
apenas eventos (ou freqtiencias)". Ora, nso estou questionando essa teoria; es-
paradoxal. 0 absoluto 6, conjuntamente, o mais alto nfvel da realidade e a con-
tou certo de que o cerebro analisa frequencias espaciais e/ou temporais. S6 nao digao ou a verdadeira natureza de cada urn dos nfveis da realidade. E o mais alto
percebo como isso pode ter algo a ver com urn domfnio transcendental, que e degrau da escada e 6 a madeira com a qual a escada foi feita. Os degraus dessa
etemo e infinito. Antes de mais nada, frequencia significa ciclos por segundo escada sao tanto as etapas da evolugfro em grande esca|a coma as etapas de cres-
ou espago por tempo. 0 mesmo vale para as "densidades de eventos". 0 fato cimento e do desenvolvimento humanos. Foi essa a mensagem de riegel e de Auro-
e que o assim chamado domfnio de freqtiencias 6 simplesmente urn domfnio com bindo e de Teilhard de Chardin; a evolueso se move ao longo dos elos da Gran-
estruturas de espa€o-tempo diferentes daquelas da mente linear e hist6rica, e a
de Cadeia do Ser - comegando pelo mais baixo, a materia, passando pelas es-
mente precisa impor suas estruturas sobre o domi'nio de frequencias, que 6 me-
truturas biol6givas, e a seguir pela mente, e encao pelos domfnios Sutil e causal,
nos estruturado. Mas em qualquer caso, ou de qualquer modo que voce queira
e chegando finalmente no domfnio da supermente ou ponto Omega. Nem por
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isso .o absoluto, ou a supemente, passou a existir ness6 riltino est4do - ele sem- em misticismo! [Rindo] Posso vcr as manchetes: "Cientistas do MIT anunciaram
pre esteve presente ao longo de toda a Cadeia, mas s6 pode ser comprec#di.do hoje que descobrirarn Deus. E isso mesmo, Deus! Ao ser indagado se Deus era
quando a pr6pria consci€ncia evoluiu ate seu nfvel mais elevado. Uma vez que compassivo, misericordioso, onipresente, radiante, todo-poderoso e divino, urn
conseguimos sair da caverna, reconhecemos que ha e que sempre houve some#fe pesquisador se^nior disse : `Jesus! Nfro estamos certos; pensamos que 6 urn foton.' "
luz. Antes de chegar nessa etapa final, a mats alta das etapas, parecia natt haver Veja, foram alguns dos proponentes das teorias hologr4ficas que afima-
nada mais que sombras, mas nco compreendfamos que e]as eran sombras, pois ram possu{rem urn paradigma que poderia explicar os fundamentos da religiao
n8o tfhhamos ponto de compara9ao. Assin, de qualquer maneira, o absoluto mfstica. Entao, vamos ate as autoridades em religi8o mfstica, ou em fuosofia pe-
tanto 6 o mats alto estagio ou objetivo da.evolueao quanto o sempre presente rene em geral, e escutemos o que eles dizem. De acordo com Huston Smith, por
solo onde ocorre a evolugfro; sua condigao real e atual, e seu potencial futuro, exempro, quatro ni'veis do ser s8o o mfhimo absoluto de que voce pode lan€ar
ou sua realizag5o futura. Qualquer coisa menos que esse paradoxo g dualista. mao para explicar as mais importantes reli$6es mfsticas do mundo. Esses nfveis
s8o o fisico{opo, o simb61ico-ment6, o sutfl-alma e o causal€spfrito. Nenhuma
RV: Onde a hierarquia se encaixa nesse esquema? reliSao inportante reconhece menos que isso. Muitas, no entanto, oferecem uma
cartografia mais detalhada, freqnentemente envolvendo sete nfveis - por exem-
WILBER: Ben, os nfveis€tapas da evolugao e da ontoloSa s4:a a hierar- plo, os sete cfa*rtzs da ioga A#t#d¢/I.#i., que 6 provavelmente o mais arquetfpico
quia. Mac a hierarquia s6 abrange metade do paradoxo - abrange o fato de que dos paradigmas da existencia j4 imagivados. Em geral, sfro estes os sete nfveis:
certos ni'veis estao mais perto da Luz do que outros. A .outra metade do para- 1) ffsico ou material; 2) emocionalisexual ®rana ou bioener5a); 3) mental; 4) men-
doxo e, naturalmente, o fato de que todas as coisas, no pr6prio estado em que tal superior ou psfquico; 5) sutil ou arquetfpico; 6) causal ou nao-manifesto; e
se encontram, sao plenamente Buda. Todas as coisas sgo o Uno, sempre foram 7) supremo ou ngo-qualificado.
o Uno, e todas as coisas estao tentando evoluir para o Uno, ou panto Oinega. Finalmente, voce pode, se for muito cuidadoso, agrupar esses ni'veis ein
tr€s categorias amplas. Isso, digamos, por conveniencia. Uma vez que a maior
RV: Eis For que todas as pessoas sao Buda, mas ainda assin ten de pra- parte das pessoas evoluiu ate o nrvel mental, ou os nfveis mentais, e titil refe-
ticar para atinct-lo. rir-se aos nfveis situados abaixo do mental - os domfnios material e biossenso-
rial, como pre-mentais ou submentais, e aqueles situados acina dele, a alma e
WILBER: Sim. Se Buda nco fosse onipresente, nao seria Buda, mas se tu- o espfrito, como transmentais. Isso nos di tres dominios gerais, altemativa.
do fosse apenas onipresente, voce seria fluninado agora mesmo. Dogen Zenji mente conhecidos como mat€ria, mente e espi'rito, ou subconsciente, autocons-
esclareceu muito ben tudo isso. Mas se voce^ omitir qualquer urn dos lados disso, ciente e superconsciente, ou instinto, razao e intuigao, e assin por diante. Esses
tera embaragos te6ricos. Parafraseando Orwell: "Todas as coisas sao Deus, mas tres domi'nios foram, por exemplo, explicitamente mencionados por Hegel, Ber-
algumas coisas sao mats Deus que outras." A prineira parte disso 6 a onipresenea diaev e Aurobindo.
de Deus; a segunda parte e a hierarquia de Deus. Os nfveis€tapas da' evolucso
apresentam organizag5o estrutural crescente, complexjdade e integra€ao e uni- RV: Todos os quais foram omitidos. . .
dade crescentes, consciencia e percepgfro atenta e esclarecida crescentes. H4 sen-
tido ate mesmo em dizer, como Smith, Schuon e os tradicionalistas o fazem, WILBER: Todos os quals foram omitidos. 0 problema com as populares
que cada ni'vel superior 6 mais real, ou possui mais realidade, porque se acha mais teorias hologrificas, ben como com todo esse material do tipo "nova fi'sica e
saturado com o Ser. Seja coma for, a evolu9ao e hier4rquica - as rochas estao misticismo oriental", a que eles colapsam a hierarquia. Fazem afimagdes que
numa das extremidades da escala, e Deus o Omega estf na outra, e as plantas, vgo de "todas as sombras sao, no final das contas, ilus6rias" a "todas as som-
r6pteis, manfferos, seres humanos e boczft!.s4!fryas, nesta ordem, preenchem com- bras sao igualmente ilus6rias". Isto 6, eles se trancam em frases como "todas as
coisas sao Urn" ou "entidades separadas nao existem" ou "coisas isoladas nao
pletamente o restante da escala, entre a rocha e Deus. 4/e'm d!.sso, Deus 6 a pr6-
pria materia-prima, a essencia real, de coda win e dc fodos os nfveis€tapas -Deus passarn de sombras" e ent8o omitem as distineoes entre as pr6prias sombras. Eles
nao e o nfvel mais elevado nem 6, Ele pr6prio, urn nfvel diferente, mas sin, 6 a colapsam as sombras; eles colapsam a hierarquia.
realidade de todos os nfveis.
RV: Agora voce disse teorias "populares". E quanto as versoes mais aca-
RV: Penso que voce ten raz8o em dizer que tudo isso, ou a maior parte demicas? Escapan desse problema?
de tudo isso, foi netligenciado |>elas teorias holograficas, mas sera que tudo isso
€ realmente necessario a urn paradigma basico? Voce nao estaria sendo provocador? WILBER: As teorias ngo, mas penso que muitos dos te6ricos sin. Em sua
maior parte, as pessoas que introduziram essa coisa de flsica/misticismo, ou pelo
WILBER: Percebo o que voce esta dizendo -Por que nao apanhar o para- menos que a usaram para provocar repercussao, ten, cada vez mais, refinado e
digma e seguir em frente? Nao estrague uma coisa boa; os fi'sicos estso falando sofisticado suas vis6es. David Bohm aproxinou-se mais claramente de uma visao

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mais articulada e hierarquica, mesmo que ele faea objeeao a palavra hierarquia. E mensionais, mac nao o contr4rio. E e esse "nao o contrfrio" que cria a hierarquia.
Fritjof Capra nunca disse que a ffsica e o misticismo fossem a mesma coisa, embora Plantas incluem minerais, mas nao o contrario; o neoc6rtex humano possui uma
tentasse delinear tantos paralelismos que o publico. pensou que o dissesse. De qual- base reptiliana, mas nao o contrario, e assim por diante. Cada etapa da evolu-
quer maneira, ele foi muito al6m de suas afima96es introdut6rias apresentadas em g5o transcende mas inclui sua predecessora - como disse Hegel, suplantar e ao
a r¢o cJa Frsi.ce. Temo que o ptiblico nao venha a saber disso. Ele se trancou na mesmo tempo negar e preservar.
equapgo: fi'sica igual a misticismo, com tal paix5o que as novas id6ias de Capra,
mats sofisticadas -e, necessariamente, mais complicadas -nunca mudarao o senti- RV: Mas isso nfo se apfica a divindade ou ao absoluto, ou se aplica?
do da mare. De qualquer maneira, nfro sfo ben esses estudiosos, ou aqueles como
Marilyn Ferguson ou Renee Weber, que estao tentando interpretar para n6s as suas WILBER: Aplica-se ao aspecto paradoxal de Deus, que 6 o mais elevado
descobertas, que eu tenho em mente quando critico o misticismo pop e a nova ffsi- de todos os ni'veis do ser. Deus cont€m todas as coisas, mas todas as coisas nao
ca, ou a loucura hologrffica. Mas, em definitivo, o paradigma hologrifico, em si contem exclusivamente Deus -isso seria pantefsmo.
mesmo e por si mesmo, cai no misticismo pop, e eu simplesmente ache que esse 6
realmente urn problema. RV: 0 outro lado do paradoxo 6 que cada pessoa ou coisa, seja ela jlumi-
nada ou n8o, 6 no entanto apenas Deus.
RV: Agora, esse colapso da hierarquia, que ocorre no paradigma hologrf-
fico, esta relacionado com o erro do pantefsmo, correto? WILBER: Sin. De qualquer maneira, cada etapa-nfvel da hierarquia 6, co-
mo assihalou H'uston Smith, uma totalidade mais-ou-menos unificada, que, por
WILBER: Sin. E quase identico. Ele confunde a soma das ilusoes com a reali- assim dizer, pode se sustentar em si pr6pria. Do mesmo modo, diz-se que todos
dado. Voce considera os fenomenos, as sombras, afirma que "todas sao uma" e en- os elementos de cada nfvel sao mutuamente interdependentes e inter.relacionados.
tao confunde a soma total das sombras com a Luz que se acha al6m. Atacando-o Cada nivel da hierarquia, em outras palavras, € urn tipo de holoarquia.
cqu palavras rudes, Schuon diz que o pantefsmo nega as distincdes justamente no
plano onde elas s5o reais. Ele confunde uma identidade essencial com uma identi- RV: Portanto, os elementos de win dado #/ve/ sfro mutuamente interagen-
dade substancial. E tamb6m exatamente isso o que o paradigma holografico faz. tes. Mac, e quanto aos elementos de cJzrcre#fes nfveis? Como eles interagem, se
6 que o fazem?
RV: Quais seriam as implicap6es desse colapso? Ou melhor, o que uma
teoria perde quando perde essas varias dinens6es? WILBER; Eles interagem, mas rz&~o de uma maneira mtitua oLl`absoluta-
mente equivalente, e isso pela simples raz8o que eles nao sfro equivalentes. Se
WILBER: Perde todas as diferengas nas metodoloBas, epistemologias e os nfveis superiores contem atributos que nco sfo encontrados nos nfveis infe-
virtudes cognitivas. Tudo isso desaba. riores, voce simplesmente nfro pode ter equivalencia bilateral entre eles. Meu cao
e eu podemos interagir no ni'vel da percepeao sens6rio-motora, mas nto no nfvel
RV : Voce poderia dar esclarecimentos que servissem de base a essas afirmaeoes? da mente simb6lica -quero dizer, nao discutinos Shakespeare.

WILBER: Em primeiro lugar, cada nfvel superior nao pode ser plenamen- RV: Mas as tradi96es orientais n8o dizem que rocJ¢s as coisas sfro perfeita
te explicado em temos de un nfvel inferior. Cada nfvel superior possui capa- e mutuamente interpenetrantes?
cidades e caracterfsticas que nco se encontram nos nfveis inferiores. Esse fato
aparece na evolugao' sob a forma dos fen6menos de emergencia criativa. Tan- WILBER: N5o, isso 6 puro misticismo pop. As tradigces efetivas sao mui-
b€m se acha por tras da sineraa. Mas a falha em reconhecer esse fato elemen- to mais sofisticadas que isso. Mas suponho que voce^ esta se referindo ao budis-
tar - que o superior ngo pode ser derivado do inferior - resulta na fal4cia do mo Hua Yen, ou Kegon -a escola associada ao sutra ,4y¢fzzms¢ke.
reducionismo. A bioloaa nao pode ser explicada em temos da frsica, a psico-
1ogia nao pode ser explicada apenas em temo§ da bioloSa, e assin por diante. RV: Parece que ele 6 o mats freqtientemente citado, ou usado como re-
Cada etapa senior inclui suas etapas juniores como componentes, mac tamb6m as ferGncia.
transcende , acrescentando-1hes seus pr6prios atributos de defmieao.
t
WILBER: De acordo com o Hua Yen, h4 quatro princfpios fundamentais
RV: Que geram a hierarquia. . . da exist6ncia, nenhum dos quais pode ser descartado. Urn deles 6 sfej.*, que Signi-
fica coisa ou evento separado. 0 segundo 6 chamado /j., que significa princfpio
WILBER: Sin. Tudo o que 6 do inferior estf no superior, mas nem tudo ou padrao transcendente. 0 t6rceiro 6 chamado de sfez.fe /i. w£/ 4iz., que significa
do superior est4 no inferior. Urn cubo tridimensional cont6m quadrados bidi- "entre princfpio e coisa ngo ha obstruggo", ou taivez "entre nineno e fenomeno

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nao ha fronteira". Finalmente, o quarto e chanado de §AI.fr sAi.fr M¢f 4!z., que signi- WILBER: Na minha opinigo, descobriu sinplesmente a holoarquia do nf-
fica .`entre fen6mepo e fen6meno nao ha obstrucso". Ora, o pessoal apoderou.se vel 1, ou o fato da inter-rela€ao da energia ffsica ou material. Os bi6logos des-
desse tiltimo item, que foi isolado de seu contexto, e tomado como a base da cobriram a holoarquia do seu ni`vel - o nfvel 2 -h4 cerca de trinta anos; e a cha-
filosofia holfstica pop. Isso e muito enganador. mada ecoloda. Cada coisa viva influencia, embora indiretamente, cada uma das
De qualquer maneira, a questao 6 que o mundo 6 realmente uma s6rie de outras coisas vivas. Os sociopsic6logos descobriram a holoarquia do nfvel men-
coisas-eventos inter-relacionadas e interpenetrantes, mac n3o no sentido mera- tal - o fato de que a mente e, na realidade, urn processo intersubjetivo de inter-
mente unidinensional do misticjsmo pop. Todas as coisas interagem por meio cambio de comunicapoes, e de que n8o existe uma mente separada ou radical-
de assceiap6es k4rmicas e de heranga kamica, mas aquelas dotadas de maior or- mente isolada. A ffsica modema - ben, ten quanto anos, quase urn seculo? -
ganizagso estrutural nco atuam, em absoluto, de maneira equivalente a de suas simplesmente descobriu a holoarquia analoga em seu pr6prio nfvel, o dos pro-
dimen.s6esjuniores, nem as dimensoes juniores podem abranger as seniores. cessos flsico€nerg6ticos. Nao ve].o qualquer outra maneira de fazer a leitura
dos dados rears.
RV: OK, mas agora chegamos a6 ponto crucial da questao. E quanto ao
at)soluto? Ele nao se encontra igualmente em todos os lugares? RV: OK, mas por que essa holoarquia flsica nao poderia ser, na verdade,
a mesm¢ unicidade subjacente aos nfveis biol6gico, psicol6gico e assim por diante?
WILBER: Como 6u disse, isso 6 paradoxal. Tudo o que e do absoluto esta Por que todas essas abordagens - ffsica, biologia, psicologia, etc. - ngo poderiam
igualmente em cada ponto, e alguns pontos estao mats pr6ximos do absoluto do que simplesmente ser enfoques da mesma realidade holi'stica subjacente, realizados
outros. A hierarquia lida com o universo manifesto, onde h4 nfveis de realidade a partir de diferentes angulos?
crescente (ou de ilusso decrescente) que levam ate o absolutamente real. E esses
ni'veis ngo interagem de maneila unidinensional e equivalente. Nao colihego uma 86 WILBER: Se voce comegar exphieando o que quer dizer por "diferentes
autoridade em filosofia perene - Smith, Schuon, Gu6non, Coomaraswamy, Pauis - §ngulos", descobrira que esta, necessariamente, reintroduzindo as pr6prias di.
ferengas que voce queria superar ao dizer "a mesma realidade". Isto e, voce ape-
que faria esse tipo de afimagso, ou que negaria a hierarquia relativa.
nas deslocou o problema urn passo para tras. Se ha essas abordagens fundanen-
RV: Mac a fi'sica nao poderia ter descoberto o outro lado do paradoxo - talmente diferentes da mesma realidade, entfro diga-me primeiro pow qz/e tais
a unicidade absoluta ou a totalidade infinita subjacente ao mundo manifesto? abordagens sa~o diferentes. Diga-me, por exemplo, por que o estudo da fi'sica 6
diferente do estudo da literatura. A medida due voce rastrear cuidadosanente
WILBER: Siga o meu raciocfnio. Ja vinos que aquflo que a fisica de§co- essa questao, descobrira que essas diferen9as nao sfro meramente arbitrfrias. Nao
Z7n." foi, na verdade, uma interagso unificada de sombras materials; descobriu correspondem simplesmente a abordagens intercambiaveis ou equivalentes, pois
tomam como objeto de estudo varias classes de eventos que s&o diferentes por-
que varios particulares frsicos sao processos inter-relacionados - mas sombras
inter-relacionadas nso sao a Ijuz. Coma no caso da ordem imphicada, a qual, se- que exibem diferentes dimensoes de organizacao estrutural, de progress8o evo-
luciondria e de 16Sca de desenvolvimento. A abordagem para estudar o hidro-
gundo vimos, 6 na verdade uma dimensso de inensa enerBa; nco 6 algo radical-
mente isento de dimensao, nem 6 metafisicamente infinito. E se voce pretende genio 6 fundamentalmente diferente da abordagem para estudar, digamos, o signi-
ficado de fJ¢mJef, pela simples razao de que uma 6 submental e a outra e mental.
que a frsica seja efetivamente ca|]az de apresentar evidencias, evidencias concre-
tas, pala o absoluto. . . Ben, o pr6prio absoluto, sendo onipresente, qudo pene- Ora, essas #4~o sfro duas abordagens diferentes da mesma realidade; elas envol-
trando e tudo abrangendo, nco poderia manifestar alteridade face a qualquer vem dois diferentes ni'veis de I.ealidade. Alem disso, essa realidade - o absoluto
fen6meno e, portanto, nao poderia ser detectado por qualquer tipo de instru. enquanto absoluto - 6 revelada em sua totalidade ou essencia apenas no mais
mento, ou exibido em qualquer tipo de equag8o. 0 que pode ser funcionalmen- elevado dos ni'veis de ser, ou nlvel supremo. E tambem apenas para a alma que
te dth numa equagso deve ser uma variavel dl./ere#fe de outras variaveis, mas o chegou a evoluir perfeitaniente ate esse estado.
absoluto nao e diferente, nem se pee de lado, de absolutamente nada.
RV: Entendo. As§im, s6 ha mais uma possibilidade - uma vez que todas
RV: Percebo; portanto, n5o ha meio pelo qual ele pudesse entrar numa as coisas sao, no final das contas, feitas de partfculas subat6micas, poder-se-ia
equap8o ou produzir qualquer diferenga em temos de infolmapao te6rica? dizer que a ffsica nos mosfrou uma unicidade rfultina?

WILBER: Nco, em absoluto, ou entao ele pr6prio seria apenas uma infor- WILBER: Todas as coisas nfro sso, no fmal das contas, feitas de partfculas
mag5o a mais, o que o tomaria algo perfeitamente relativo, ou n8o-absoluto. subat6micas; todas as coisas, inclusive as partfculas subatomicas, sfro, no fmal
das contas, feitas de Deus. Mas voce mencionou o ponto de vista mais popular,
RV: Entao o que 6 que a nova fi'sica descobn.w? Quero dizer, se nao 6 o que 6 na verdade uma foma extrema de reducionismo. E popular, suponho, pois
Tao, entac o que 6? responde ao colapso da hierarquia.

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RV: Reduzir todas as coisas a parti'culas materiais, a seguir descobrir que RV: Voce poderia dar alguns exemplos?
as partfculas sao holofrquicas, e entao afirmar que essa holoarquia 6 o Tao.
WILBER: Isso ngo e uma ideia nova; e algo extremamente ben desenvol-
WILBER: Sin, 5 isso mesmo. in urn estraliho atrativo na simplicidade do vido nas fflosofias tradicionais. Por exemplo, de acordo com o hindufsmo, a fe-
reducionismo. Parte do problema consiste, simplesmente, no fato de que os ff- licidade, ou o extase, absolutos de Brahma atravessam ulna s6rie de versoes es.
sicos estso a tal ponto acostumados a trabalhar com o mundo material que ten- calonadas e descendentes, ou dfluiedes, ate aparecer sob a forma da emapfro se-
den a chama-lo de "a mundo" ou "a universo", e por isso dizem coisas como xual do orgasmo. No misticismo cristao, voce encontra id6ias tais como a de
"a ffsica provou que todas as coisas sao uma", quando na verdade ela nao fez
que a lei natural 6, simplesmente, uma versfro parcial da racionalidade mental que,
tat coisa. Ela nao explicou a unidade bioecol6gica, nem mesmo tocou nesse pro. por sua vez, 6 apenas urn reflexo reduzido do I.ogos divino. A psicologia budista
blema, deixou de lado a comunidade sociopsicol6gica e assim por diante. A vz7.mmar sustenta que h4 quatro classes de consciencia, cada uma delas sendo
ff§ica lida com quatro `rorgas principals - as interapoes nucleares forte e fraca, uma versgo esealonada e descendente da Mente Universal. Isso estf correlacio-
e as forgas eletromagn6tica e gravitacional. Mas nada pode nos dizer a respeito nado com a id6ia dos quatro corpos de Buda, que 6 quase identica a napto ve-
da forea da emogao-sexualidade, que passa a existir no nfvel 2. Ela nao pode danta de quatro corpos e quatro principals estados de consei6ncia ¢w¢reness) -
nos dizer sobre o que constitui a boa literatura, ou como a economia funcio- espesso, sutfl, causal e supr?mo ou furtya. A quest8o, com referencia aos coxpos,
na, ou por que as crian9as ten complexos de Edipo, ou sabre o significado 6 que o corpo ou substancia de uma entidade ffsica, tat como uma simples rocha, 6
de urn sonho, ou por que as pessoas cometem suicfdio, e assin por diante. To- na verdade urn reflexo descendente da liberdade e da vitalidade do corpo sutil,
dos esses sso eventos simb6licos mentais que comegan no nfvel 3. A fl'sica nao associado com a mente, e o pr6prio corpo sutil 6 apenas uma lagrima do corpo
lida com o mundo, percebe? Como eu disse, a coisa toda ten se mostrado muito causal - e esfe nada mais e que uma contragfro facial no rosto da etemidade
enganadora. c,n} turiya .

RV: Mas hi paralelismos importantes, isso nfo e correto? RV: A idgia tambem existe no Ocidente?

WILBER: Voce quer dizer paralelismos entre os virios ni'veis, entre leis WILBER: Oh, sin; garanto-lhe que voce pode conseguir urn ndmero igual-
dos wirios ni'veis? mente grande de exemplos, dos mfsticos neoplatchicos aos vitorianos. E inte.
ressante o fato de que essa id6ia foma o ponto. crucial do pensanento daquele
RV: Sin. As leis da fi'sica nao podem nos dizer also, qualquer cofsa, sobre que talvez seja o mats influente dos fil6sofos modemos -Whitehead.
os nl'veis superiores?
RV: Ele foi influenciado pelos tradicionalistas?
WILBER: Sin, penso que podem, mas temos de sel muito cuidadosos. 0
inferior pode exibir prineiro sua versfro de uma lei anal6gica - o inferior emerge WILBER: Devia estar infomado sobre eles, mas penso que chegou a essa
primeiro em qualquer seqti6ncia de desenvolvinento, e 6 portanto extremamen- nogfro mats ou menos por conta pr6pria. Voce sabe, a verdade estf por toda a
te tentador dizer que o inferior esti numa relapffo causal com a lei anal6ctca su- parte. Gosto de pensar que o cariter 6bvio da verdade simplesmente nfro pode-
perior. E por isso que eu me esforcei tanto em Crp fom EdeH pal.a mostrar que ria escapar de algu6m como Whitehead. De qualquer manejra, ele compreendeu
o superior surge ¢trav6s do inferior, e entto pc»7"#ece com o inferior, mas nfro que a nogao de dimensdes juniores consistia em versoes essenctalmente reduzidas
proven do inferior. de dimens6es seulores, e procedeu a uma completa inversao da maneira tfpiea de.
se abordar a realidade. Disse que se voce quer conhecer os princfpios gerais da
RV: Ele prov6m de sua dimensfro senior, ou ganha sua realidade a partir existencia, voce deve come¢ar por cima, pelo topo, e usar as ocasioes* mais ele-
dela, e nfro de sua dimensso jtinior, correto? vadas para iluminar as mats baixas, e nao o contririo, abordagem que caracteriza,
naturalmente, o procedimento reducionista comum. Desse modo, ele aflmou
WILBER: Sin, por via do processo de involug5o.
que se pode aprender mats a respeito do mundo partindo da bioloBa do que Se
pode consegui-1o baseando-se na ffsica; foi assim que ele introduziu o ponto de
RV: Talvez possamos voltar a esse ponto. Por ora, o que 6 uma "lei ana- vista organi'smico, que revolucionou a fiilosofia. Disse tambem que se pode aprFn-
16tica„? der mais partindo da psicolocta social que da biolo¢a, e entao introduziu a no9ao
de coisas que sao uma sociedade de ocasioes, de modo que os indivfduos Sejam
WILBER: A id6ia e simplesmente a de que todo evento e princfpio nun nf-
vel inferior 6 apenas uma versgo reduzida, ou urn reflexo vindo de cima, ou urn
* Na fnosofia de Whitehead, a palavra "ocasigo" significa ``coincidencia dos objetos
grau menor daqueles eventos e princi'pios que se acham nos nfveis superiores. eternos que formam urn ponto-evento eapeefrico" (r*e R4Hdom ffowse DI.cfJ.o#ary) (N. do T.).

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sociedades de sociedades - a nog8o de individualidade composta. Naturalmente, hi uma profusao de ffsicos que sentem que o domlnio fi'sico €, na verdade, pu-
ele sustentou que o Spice de u.in padrao exemplar era Deus, e era em Deus, o ramente detelminista - Einstein era urn deles - e que as pesquisas futuras pode-
supremo composto individual ou a major sociedade de todas as sociedades, que rao revelar variaveis subat6micas que S¢~o puramente causais. Nao estou dizendo
voce deveria fundamentar quaisquer leis ou padroes que se acham refletidos em que isto ira ou nao acontecer mas, teoricamente, e se acon`tecer? 0 pobre Deus
versoes reduridas, nas dinensoes mais baixas da psicologia, a seguir da biolo- perdera entgo Seu poder criativo? No dia em que as vari4veis deterministas fo.
Sa e entao da ffsica. A ideia, brilhante em sua enunciagao, foi a de que, em pri. rein descobertas, a vontade humana evaporara? Percebe o problema?
meiro lugar, procura-se nos nfveis mais elevados os princfpios gerals da existen-
cia, e a seguir, pot "btrap4-a, ve-se ate que ponto, na escala descendente da hierar- RV: No entanto, muitos pensadores Hew age estao usando a fi'sica e a neu-
quia, eles se estendem. Voce nao comega no ponto mats baixo e tenta subir por rofisiologia para elaborar suas afimap6es sobre a transcendencia ou o misticis-
adigao das partes mais baixas, pois algumas das partes mais altas simplesmente mo ou apenas sobre o livre-arbi'trio humano.
nao se mostram com suficiente clareza, ou nao se mostram em absoluto, nos de-
graus inferiores. Talvez os seus exemplos favoritos fossem a criatividade e o amor - WILBER: Sin, e de uma maneira que ate mesmo os fil6sofos ortodoxos
Deus, para whitehead, era especialmente amor e criatividade. Nas dimensoes in- consideram horrorosamente reducionista. Deixe-me ler rna cita9ao feita por
feriores, por6m, a criatividade flea reduzida, aparecendo nos seres humanos como urn recente presidente da American Philosophical Association: "0 corpo pode
rna porg8o modesta de nvre-arbftrio, mas ficando quase inteiramente perdida ser livre, independentemente do que possa ser verdadeiro de acordo com a me-
no momento em que se chega as partfculas subatomicas. Talvez possamos dizer canica quantica; alem disso, ele nao poderia ser livre apenas em virtude desta
que o princfpio da incerteza de Heisenberg representa tudo o que restou da li. tiltima. Pois se a sua liberdade fosse apenas a dos el6trons, entao, confome foi
berdade radical de Deus no plano ffsico. Mas a questgo e que se voce tenta en- ben esclarecido, seria a liberdade dos eletrons mas nao a do corpo. Essa obje-
tender o cosmos no sentido contrfrio, dos 4tomos para cima, voce fica atolado gao a algumas recentes tentativas para tratar a ljberdade humana como algo sin-
tentando levar em consideragso o livre-arbi.trio, a criatividade, a escotha, e tudo plesmente derivado da mecanica quantica e da estrutura dos nervos 6, creio eb,
o que nco seja urn cosmos em grande parte deteminista. 0 fato e q.ue, mesmo bastante vflida." 0 argumento, naturalmente, aplica-se com malor razao ainda
com sua pequena migalha de indeterminapao heisenberguiana, o universo frsico ao Tao, e no entanto os #cw 4ger§, ao que parece, estao aphicando cada vez me-
6 muito mais determinista do que o a ate mesmo o nfvel 2, o dos seres biol6a- nos esse argumento.
cos. Qualquer born ffsico poder6 the dizer qual sera a posigao de Jupiter daqui
a uma d6cada, mas nenhuni bi6logo poder5 me dizer para onde urn cao se di'ri- RV: Penso que tudo isso est4 muito claro. Mas num` nfvei popular, nun
`5ra daqui a dois minutos. Desse modo, procurando fluminar o inferior pelo su- nfvel geral, ha algo de errado com livros tais como rfte D¢#cj.Hg Ww fz. „asfe#,
perior, e nao o contr5rio, Whitchead pode fazer da criatividade o princfpio ge- ou com qualquer urn dos outros livros da #ew age sobre o novo paradigma?
ral, e a seguir entender o determinismo como uma restrigao parcial, ou uma re-
dugao, da criatividade origival. Por outro lado, se voce comega a partir do mais WILBER: N8o, em absoluto, nao penso assim de maneira alguma. N5o e
baixo, tera de inaginar urn meio de extrair rivre-arbftrio .e criatividade das ro- realmente disso que eu estou falando. Estou apenas dizendo que voce tern de
chas, e isso nao vai funcionar. A coisa mais adequada que se pode dizer sobre ser muito cuidadoso com as afilmapdes que faz se quer estende-las da hiperbole
tais abordagens e que sao reducionistas. popular a urn paradigma verdadeiro e duradouro. Afirmagces como "o universo
e urn todo hamonfoso e inter-relacionado" ou "todas as coisas sao Uma" ou
"o universo a dinamico e padronizado, e nao estatico e fixo" constituem soberbo
RV: Isso e extraordinario, pois vi tantas tentativas feitas por pensadores
Hew age para derivar o fivre-arbftrio humano do indeterminismo dos el6trons, material introdut6rio; todos n6s usamos essas afirmapces para dar aos nossos
para dizer que a vontade humana € livre devi.do a natureza ondulat6ria indeter- argumentos, de uma maneira geral, urn tom convincente ou para, inpressionar.
minada de sous componentes subcelulares, ou coisa que o valha. Mas, fora isso, elas sao muito enganadoras.

WILBER: Sin, a coisa que deve ser feita acaba aparecendo. E uma coisa RV: Como, especificanente?
que se faz por reflexo - finainente, depois de dizer, durante decadas, que o uni-
verso ffsico e deteminista e que, portanto, a escolha humana 6 uma flusao, voce WILBER: Ben, se voce considerar duas colunas, e na ``Coluna Ai.e.screver
descobre urn pouquinho de indete[minagao no dominio.fi'sico e fica maluco. palavras como fixo, estdtico, isolado, multiplo [m¢#}t#es§], discreto ou descon-
Nada mais natural, entao, que voce tente explicar a liberdade humalla, e ate mes- tfnuo, e na coluna a escrever fluido, dinamico, padronizado, holfstico, unicida-
mo a liberdade de Deus, como uma ampliagao fotografica (b/ow wp) do nfvel de, entao posso adivinhar que, em sua grande maioria, os pensadores mew age
mais baixo. Voce flea tao excitado que se esquece de que apenas levou em frente imaginam que a visao mfstica estf na coluna a. Mag na verdade o misticismo estf
a facanha reducionista do s6culo: Deus 6 este grande eletron no c6u. As inten- interessado em transcender as drag, a coluna A e a coluna 8. A coluna 8 6 tao
gees sao muito boas, mas a filosofia e muito perniciosa. Agora, imagive o seguinte: dualista quanto a coluna A, e isso pela Simples razao de que as duas colunas sao

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opostas, ou imagen§ de espelho, e portanto anbas sao parciais. A realidade nGo qualquer uma delas, hem se acha de algum modo confinado a elas. E identico
com o mundo, mas nao e identico a ele.
6 holi'stica; ela nao € dininica, nao 6 inter-relacionnda, nao 6 urn e nao 6 uni.
ficada - fodos .estes sao meros conceitos so6re a realidade. Como disse Chuang
RV: E por isso que voc6 disse antes que o ab§oluto e anterior ao mundo
Tse em "Tres pela Manhg.', afimar que todas as coisas sao uma 6 algo tao dua.
mas nao 6 urn outro face ab mundo?
1ista quanto afimar que todas as coisas sao muitas. E pot isso que o zen diz que
a realidade 6 "Nao duas! Nao uma!" Isso nco 6 algum tipo de doutrina mfstica
WILBER: Sin. Esta 6 a doutrina do f¢f7!alzz, ou estado de algo ser tat como
multo sutil ou terrivelmente sofisticada. E a mais simples e a mats fundamental
6 [socfe#ess] - Eckhart dava-lhe o none de esf¢do do g ¢.s#ess) de cada coisa€ven-
de todas as doutrinas mfsticas. 0 classico de Murti, 77!e Ce#trtz/ j}rfel./osopky a/
to; os taofstas o chamavam de tow /.¢#, o estado de ser assin (so-#ess) de cada obje-
jBwddfe!.sin, tornou isso muito claro, pelo menos quanto ao budismo Mahayana,
como escritores que vso de Schuon a Gu6non e a Coomaraswamy tamb6m o fl- to; tamb€m esta muito pl6ximo do significado de dfea/7rza, no budismo, e de sch4/-,
zeraln com relagso a outras tradi€ces. E simples misticismo de base. no vedanta. De qualquer maneira, a doutrina sobre esse estado [s"chrzess], com-
binada com as doutrinas sobre a nfrordualjdade, ou ¢dr¢z.rzz, e sobre a nao-qualj-
RV: 0 absolute nao pode ser qualificado em nenhum sentido? ficabflidade, ou sfrprnj;¢f8, fomam o ponto de partida mais fundamental e mais
essencial de todas as tradi€6es mfsticas, embora a terminologa seja, naturalmen-
WILBER: Correto, e inclusive no sentido que voce acabou de lhe dar. 0 te, diversa.
absoluto - e aqui temos de falar urn tanto poeticamente - nao pode ser caracte-
rizado ou qualificado porque nao se pee de lado nem se mostra diferente de quad- RV: E sfro esses pontos b4sicos que parecem ter sido omitidos de tantas
apreciagdes »ewdge sobre ciencia e misticismo?
quer coisa, e portanto nao poderia ser descrito como uma coisa ou evento en-
tre outros. Ele e #i.rgwur, ou sem atributos, ou §riuH;;4, ou vazio de caracteriza-
WILBER: Sin, penso de§se modo. Aparentemente, o autor quer dizer que
ggo. Uma vez que nao h4 lugar fora do absoluto, nao h4 lugar onde voce possa
obter urn ponto de apoio que me pemita descreve-lo. .Se voce pudesse se co- a cichcia modema descobriu que certos objetos sao, efetivamente, processos e
1cear fora dele, ele deixaria de ser o absoluto. nfro coisas estdticas, ou tri8ngulos e nfro cfrculos, e assim o Tao 6 triangular, co-
mo afilma a boa ffsica deslumbrada. 0 Tao cont6m coisas e contem eventos,
RV: E portanto. . . mas nfro pode ser caracterizado por nenhum deles. Nao e diferente deles, mas
nfro e definido por eles.
WILBER: Ben, eis uma analotla aproximada. Digamos que todo o universo
consiste apenas em tres objetos i urn quadrado, urn circular e urn triangular. RV: E voce tamb6m poderia dizer que devido ao fato de o domfnio de
Deus nzo 6 a soma desses objetos, sejam eles considerados coisas ou eventos. . . frequencias ser, efetivamente, urn domfnio diferente do domfnio de leitura, no
sentido infomatico, dessas freqtiencias, ambos sgo apenas dol.s domfnios d!./crenfes,
RV: Como sustenta o pantei'smo. . . e portanto urn deles n8o poderia ser o mfstico estado-de.ser-o.quei5 do outro?

WILBER: Sin; Deus nao 6 a soma desses ot)jetos, pois voce poderia des- WILBER: Sin, este seria outro ponto importante. 0 d6mfnio de freqtien-
truf-log e Deus continuaria existindo. Portanto, voce tamb6m nao pode descre- cias 6 apenas urn domfnio entre outros, e nao urn domfnio que exclua a existen-
ver Deus como sendo qualquer das atributos de cada coisa - Deus nffo 6 urn trian- cia de outros. Nco tinha pensado dessa maneira a respeito dele, mas isso e verda-
gulo quadrado circular. E, o que 6 mais importante, Deus nao e outro objeto al6m de. Deixe-me dizer mats uma vez que; a meu ver, o domfnio de freqtiencias existe,
dos tres objetos. Deus nao 6 Uma Coisa que se acha ao lado da multidao das ou- mas, para ser honesto, penso que ele nffo ten nada a vcr com eventos mfsticos,
tras coisas. Deus nao 6 uma coisa dinamica, uma coisa holfstica ou uma coisa ou com uma base que seja, .de fato, transcendente.inanente, e voce simplesmen-
padronizada. te deu uma outra razao para isso, uma razao bastante fundamental.

RV: Continuando com sua analogia, voce poderia dizer algo sobre o.que RV: Gostaria de saber se podfamos agora abordar a nogao de epistemo-
seria Deus? logia, pois voce disse antes que a hierarquia evolucion4ria 6 tambem uma hierar-
quia de conhecimento., Voce poderia elaborar essa ideia?
WILBER: Contanto que voce tenha em mente que se trata de uma afima-
eao metaf6rica e nao descritiva. Deus nso e uma coisa entre muitas, ou a soma WILBER: Cada nfvel da Grande Cadeia C urn nfvel de apreensao, Como
de muitas coisas ou a interagao dinamica de muitas coisas - Deus 6 a condigso, diria Whitehead. Cada nfvel apreende, ou de algum modo toca ou reconhece,
a natureza, o estado de uma coisa ser da maneira como 6 [Swch#ess] ou a reali- seu ambiente. Coma dissemos antes, cada nfvel `6 uma versto escalonada e des-
dade de cada coisa ou evento ou processo. Nao se coloca de lado com re/¢fGo a cendente da consciencia absoluta. De qualquer maneira, se usamos nossa hierar-

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quia simples de tr6s nfveis, corpo, alma e espfrito, entso os tres correspondentes ~ eapfrito - paradoxal-mandilico/soteriol6gico
modos de conhecimento sao o sensorial, o simb6lico e o intuitivo. Os mi'sticos mente rnente - hermeneutico-fenomenol6gico/moral
cristgos referem€e a eles como o oho da came, o otho da razfro e o oho da con- `;.::.6.I-in--.;i.;-I-I-i'c-o:-a-n`a;f-t-i.c-;./.t-6.;Yn.iYc.;
templagao. Ate mesmo Arist6teles estava perfeitamente ciente desses domfnios -
ekes os chamava de tekn6, praxis (ou phronesis) e theoria . RV: 0 que 6 exatamente hemeneutica?

RV: E eles sfo hierirquicos? WILBER: 0 estudo da interpretac8o e do sjgnificado sinb6lico. Nas maos
de fn6sofos sofisticados como Gadamer ou Ricoeur, ela realmente passa a signi-
WILBER: Sin. Da mesma maneira que o otho da razfro transcende mas ficar mentalidade em geral, ou intencionalidade simb6lica e significado e valor.
inclui o oTho da came, o otho da contemplagao transcende mas inclui o oino Veja, a raz5o pela qual os estudos empfricoanalfticos sfro tao linitados - limi-
da razao. tados, de fato, ao domfnio sensorial - e que eles nao podem sequer exibir a na-
tureza ou o significado das produgdes mentais. Por exemplo, nao ha teste empf-
RV: A ciencia como n6s a conhecemos nco poderia ser estendida de rna- rico que possa revelar o significado de M¢cbeffi, ou o significado do valor, o signi-
neira a abranger todos esses tres domfnios? Nao poderfamos possuir uma ciencia ficado de sua vida, e assin por diante. 0 signifroado e uma produ9ao mental e
superior do ser? 0 novo paradigma parece dizer que sin. s6 pode ser deteminado por intexpretagso, ou por aquilo que Heidegger deno-
minava cfrculo hermeneutico.
WILBER: Isso, a meu vcr, depende do que voce entende por ciencia. 0lhe
desta maneira: possui'mos pelo menos estes tres modos de conhecimento - sen- RV: A maior parte das pessoas entende o que voce quer dizer pela expressao
sorial, simb6lico e contemplativo. Esses modos correspondem ao corpo ffsico, empfrico-analftico. Voce poderia falar sobre o terceiro subconjunto, o paradoxal?
a mente e ao espfrito. Isso 6 bastante simples, mas fica urn pouco mais compli-
cado quando voce compreende que a mente, por exemplo, pode olhar nao ape- WILBER: A id6ia e simplesmente a de que, quando a mente tenta racioci-
nar sobre o absoluto, ela, de maneira inevit4vel, gerara paradoxos, exatamente
nas para o seu pr6prio nfvel mas tambem para os outros dois, e em cada caso
voce obt6m urn tipo de conhecimento fundamentalmente diferente. Posso re- pelas razoes que ja estivemos discutindo. Quando a razgo opera neste modo, n6s
a chamamos de paradoxal. Tamb6m ja ouvi a palavra "razfro mandalica" ser usada,
presentar isso desta maneira :
e eu gosto dela. Ambas sfro boas.
1) espl'rito FIN
eapfrito
2) mente mente RV: Agora, voc€ esta dizendo que a raz5o paradoxal nao e contemplagao,
3) mat6ria matdria mac tern os seus usos, correto?

RV: Temos portanto tr6s modos b4sicos e tres domfnios de conheci- WILBER: Sin, exatamente. Ambos os pontos deyeriam ser enfatizados.
0 primeiro deles € que a raz5o paradoxal ou mandalica - que surge quando voce
mento: o flsico-sensorial, o mental e o espiritual. a3les sao numerados de
tenta pensar ou escrever sobre o Tao ou o ESpfrito ou a Natureza de Buda -nfro
I a 3.) E entao, no ambito do pr6prio modo mental temos o que? Tres sub-
e espi`rito, nem revela, por si mesma, o espfrito. Vamos voltar ao prineiro dia-
conjuntos?
grana e numerar todos os cinco modos:
WILBER: Subconjuntos esta 6timo. . . (Eles sao indicados pelas letras a, b e c.)

RV: Que indicarn quais dos tres domfnios o modo mental toma como objeto?

WILBER: Sin. Seguindo meu ffl6sofo ortodoxo favorito, Jtirgen Habermas,


podemos. caracterizar os tres subconjuntos mentais da seguinte maneira: quan-
0 ndmero 5 e simples percepeao sensorial-material. 0 numero 4 6 conhe-
do a mente se restringe ao conhecinento sensorial, o modo 6 denominado em-
cimento mental empi'rico-analftico, ou as id6ias da mente sobre o. mundo sen-
pfrico-analftico, e seu interesse 6 t6cnico; quando a mente trabalha com outras
sorial-material. 0 ntimero 3 6 conhecimento hemeneutico e introspectivo e fe-
mentes, o modo 6 hermeneutico, fenomenol6¢co, racional ou hist6rico, e seu
nomenol6dco, ou o conhecinento da mente a respeito da mente.. 0 ntlmero 2
interesse 6 pratico ou moral. Acrescentamos agora a visao mfstica, que Haber-
6 a razao paradoxa] ou in.andalica, ou a tentativa da mente para pensar sobre o
mas nao incluiu diretamente, e dizemos que quando a mente tenta reconhecer
espfrito. 0 ntimero I e o conhecimento direto do espfrito pelo espfrito, que 6
o domfnio espiritual, seu modo e paradoxal ou radicalmente dialetico, e seu in.
urn conhecimento nao-simb6lico e sem mediagao, intuitivo e contemplativo.
teresse 6 soteriolo¢co. Vou colocar isso nun diagrama:
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RV: E sua primeira observa9ao e que o ntimero 2 nao deveria ser con fun- certos budistas niilistas afirmavam que ele era a extingao, outros afimavan que
dido com o numero 1 . ele era urn modelo, urn ser padronizado, outros diziam que ele era monfstico
ou unit4rio, e assin por diante .
WILBER: Sin, e esse 6 urn ponto extremamente fundamental. Nao h4 ne-
nhuma maneira de compreender diretamente o esprrito exceto por meio de uma RV: Todos eles Cram parciais e dualistas?
transformapao espiritual radical, ou pela abertura direta do oho da contempla-
WILBER: Sin, e Nagaljuna demonstraria esse fato fazendo a 16ctca de seu
9so no seu pr6prio caso. Voce pode ler, pensar e escrever sobre o Tao o dia todo,
e nada disso 6 o Tao. Nenhuma teoria mental chega nem mesmo perto de Brahma. oponente voltar-se contra si mesma, quando entao ela passaria a se contradizer.
Veja, se voce tenta fazer uma afirmaggo sobre a realidade como urn todo, entao
RV: E uma vez que, ao raciocinar sobre o Tao, voc6 apenas gerara paradoxos, essa afirmagao e parte dessa realidade, e nesse caso eta se assemelha a moo que
nao h6 nenhuma maneira de destacar uma posiefro face a outra. Quero dizer, nao tenta agarrar a si mesma, ou a uma li'ngua que tenta Sentir o seu pr6prio gosto.
se pode afimar que o Tao 6 fluxo dinfmico, pois essa afimacao g metade de urn Voce acaba topando com uma regress5o infinita ou com uma estrondosa con-
dualismo no paradoxo. tradigao. Nagariuna usaria essa limitagfro inerente a razfro para esgotar suas ten-
tativas de apreender o espfrito, e a essa altura, se a coisa foi feita com cuidado,
WILBER: E verdade. Voce nao pode dizer isso sem se contradizer, como voce tomatse mats aberto ao efetivo I.usz.grfef contemplativo - a mente apenas se
Nagaljuna e Kant claranente assinalaram. cala, e na brecha entre esses pensamentos nasce pr¢/.#¢, ou pelo memos pode nas-
cer. Mas ate onde a realidade se estenda, ela n5o 6 ser nem ntorser, nem ambos
RV: Nao estou certo de que compreendi este ponto. nem nenhum dos dois - erarn estas as quatro categorias de Nagaijuna, e basea-
van-se nos "inexpressaveis" oriSnais de Buda. 0 que quer que seja a realidade,
WILBER: Ben, digamos que voce afime que o Tao est4 constantemente ela pode ser "vista" apenas, 4!pc/!¢s, sob s¢forz., ou por via de urn efetivo i.#Si.gfef
mudando, que nada 6 permanente, que tudo muda. Isso e uma autocontradie&o, contemplativo,
pois voce esta afimando.que tudo muda exceto, aparentemente, o fato de que
tudo muda, e. que deve portanto ser urn fato pe)?7'!a#e#fe. Contr.adigao. Nao vai RV: E se voce tentar exprinir o que 6 "visto", voce s6 ira gerar paradoxo. . .
funcionar. A mesma coisa acontece se voce afirmar que a realidade 6 relativa,
dininica, una, etc. WILBER: Sin, mac esses paradoxos, .usados com habilidade, como ztpa}/a,
constituem a raz5o mandflica -e e esse urn de seus usos.
RV: Portanto, o Tao e pemanente e impemanente?
RV: Estavamos falando sobre a ciencia, sobre uma ciencia superior.
WILBER: Ou nenhum dos dois, ou nem isso-nem aquilo, como diria Na-
garjuna. Mas veja que 6 esta a questao: a razao gera afimaeces paradoxais quan- WILBER: Ben, como eu dizia, depende do que voce entende por ciencia.
do tepta apreender o absoluto. Se para voce ciencia significa conhecimento prudente e meticuloso, entao focJos
o§ domi'nios podem ser cientfficos. Mas, na verdade, ciencia significa elabora.
RV: Mas sua segunda observaeao foi que esse tipo de razao ten certos usos? €5o de algum tipo de teoria e, a seguir, verificagao dessa teoria com base nas evi-
dencias, ou pelo .mends e com essa defini€go que n6s certamente a assoctamos.
WILBER: Definitivarnente, sin, contanto que nao se confunda razao man- Nfo penso que possanos, realmente, definir ciencia sem .isso.
dalica com a verdadeira intuieao€ontemplagfro. Urn de sous usos 6 para tentar
sugerir a outras mentes a respeito da aparencia que Deus teria, com o que se pa- RV: E uma teoria 6 uma produgao mental?
receria. Hegel usou com muito vigor essa razao dial6tica, embora sempre estivesse
a ponto de confundi-la com a intuigao espiritual. Outro prop6sito, que foi uti- WILBER: Sin. 0 modo sensorial - ntimero 5 -nao forma, por si mes-
lizado com extraordin4ria habilidade por Nagatiuna, foi o de empregar a dial6- mo, teorias pois e pre-simb6lico. E o modo espiritual -ntimero I -nao forma,
tica para demolir a pr6pria razao e, desse modo, abrir caminho para a contem-
por si mesmo, teorias pots 6 transimb6nco; sua opera95o efetiva 6 o I.n§z.gfef ime-
plagao efetiva , ou pro/.ro. diato e nao-conceitual.

RV: Como, exatamente? RV: Portanto, isso limita a atividade te6rica aos tres subconjuntos mentais.

WILBER: Nagaljuna teria se defrontado com urn oponente que desejava WILBER: A pr6pria atividade, sin. Sgo apehas os modos mentals. que for-
Caracterizar o absoluto - os brinanes afimavam que deus era o ser absoluto,
mam teorias, embora as pr6prias teorias possam tentar levar em considera€ao

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os outros dominios, os quais nao fomam diretamente teorias. E claro que a cien- RV: E quanto a teoria no modo ninero 5?
cia como a conhecemos e teoria diritida para o dominio fi'sico. Isto e, € teoria
empf.rico-analftica, ou modo ntimero 4, A mente cria uma teoria-mapa do nun- WILBER: E fllosofia fenomenol6ctca, psicolocta introspectiva, comuni-
do objetivo biomaterial, observa com muito cuidado esse mundo, usualmente cap fro intersubjetiva, inteapreta9ao, sistemas de valores e assim por diante. Esse
alterando-o de maneira controlada, e entao encaixa nele o mapa. Urn born rna- mc)do nao elabora teorias ou mapas sobre aquilo com que os mundos subjetivo
e intersubjetivo se parecem.
pa torna.se urn modelo, e urn modelo que nunca e refutado torna-se uma lei.

RV: A questao e saber se a ciencia pode subir ate o modo nbmero 3, ou RV: Mac essas teorias nao sao verificadas por meios empfrico-analfticos
ate mesmo ao ntimero 2. porque nao possuem referencias sensoriais?

WILBER: Sin. Portanto, comecemos com o ntimero 3, ou a psicoloSa WILBER: Correto; elas sao veriflcadas por meio de procedimentos heme-
fenomenol6Bca e a investigae5o hist6rico-hermeneutica. Eu assinalaria, de ime- neuticos, por interpretag8o, por comunidades de interpretes que pensam de rna-
diato, que se a ciencia - usando essa palavra, por urn momento, nun sentido neira parecida, por apreensso fenomenol6gica direta e assim por diante.
amplo - pode subir ate o modo ntimero 3, a metodoloBa empfrico-analftica
ro~o pode subir.ate esse ni'vel, e 6 esse o grande problema. Se n6s, corretamen- RV: Pode dar urn exemplo?
te, deixamos para tras o modo exclusivamente empfrico-analftico, entao a assim
chamada "nova ciencia" da esfera mental, ou modo ninero 3, esteve andando WILBER: Urn exemplo 6 o que voce e eu estamos fazendo agora. Estamos
trocando significados, significados simb6licos, e chegando a urn entendimento
pelo mundo durante urn tempo muito longo sob o none de fenomenolocta, e
interpretativo. "0 que voc6 cnfe#de por isso?" - significado, voce sabe. Isso
penso que h5 uma grande arrogfncia no fato de esses "novos e mais altos" cien-
tistas andarem apenas cambaleando nesse canpo e ainda assim alegarem que es- nao 6 urn evento empiricamente redutfvel, e nao pode ser explicado pela ffsica,
too esclarecendo o problema. Por outro lado, se eles levam consigo seus m6to- pela qui'mica. ou pela bioloBa. Jr¢mJef nao 6 feito de el€trons; e construfdo com
dos empi'rico-anali'ticos, ent5o nao passam de reducionistas disfangados. unidades simb6licas de significado, as quais, se reduzidas a folha de papel em
que foram escritas, seriam simplesmente destrui`das. Mas suponho que urn exem-
RV: Entao, em nenhum dos casos se trata de uma ci6ncia superior? plo cl4ssico 6 Freud. A despeito de suas desmedidas tentativas de reducionismo
sociobiol6dco - e nisso ele foi absolutamente desmedido - sua metodoloda
WILBER: Nao vejo como poderia se tratar, a nco ser que - e se voce es. era quase inteiramente hermeneutica e fenomenol6gica, razgo pela qual penso
ta perfeitamente livre para faze-lo - voce estenda terrivelmente a palavra. En- due ele ainda.ten muito a nos dizer, e pela qual tantos estruturalistas retornam
tao o que voce precisa e procurar meios de tornar sem valor a palavra "ciencia". a ele a procura de I."sz.gfef§. Diz-se que Lacan 6 hoje o principal pensador em psi-
Veja, se voce comegar a aplica-la a todos os domfnios - "Teremos uma ciencia da cologia da Europa, e Lecan e duas coisas: urn estruturalista na linha de Levi-Strauss
fenomenologia, uma ciencia da hemeneutica, uma ciencia empfrica e uma cien- e urn freudiano brilhante. De qualquer maneira, a metodolocta de Freud con-
cia da contempla9ao ou da reliBao" - ben, o termo perde todo o significado, sistia basicamente em observar a produgao de palavras e sfmbolos pelo paciente,
A palavra ciencia toina-se uma constante* e, desse modo, cai fora de todas as e a seguir tentar conceber o que esses si'mbolos poderiam realmente significar.
equapoes, e entao voltamos .ao ponto de partida, que 6 a tentativa de inaSnar Sua suposigao foi a de que urn sonho, por exemplo, deveria ocorrer em dois nf.
as v6rias epistemolotias. veis, pois na verdade e o paciente o autor do sonho - e o sonho dele - mas ele
confessa que nzo compreende o seu significado ou que suporta o sonho como
RV: Portanto, o modo numero 1 e o modo ndmero 5 nao sfro modos uma testemunha passiva. Em outras palavras, o sonho compoei}e de dois textos,
te6ricos. . .
urn texto manifesto e urn texto latente ou oculto. E 6 o texto oculto que esta
causando os problemas. Desse modo, parte do trabalho do analista consiste em
WILBER: Podem ser o assunto de modos te6ricos, mas eles mesmos nao descobrir esse texto oculto, decifra-1o e interpret£-lo para o paciente. E como
sao modos te6ricos. Urn deles 6 transmental e o outro submental. descobrir urn hier6difo egfpcio; nenhuma evidencia merarnente sensorial 6 ca-
paz de fomecer qualquer ajuda, pois aquflo com que voce esta lidando` 6 a ques-
RV: 0 modo ninero 4 6 definitivamente te6rico, ou pode se-lo, e e che- tao de como sucessoes de sfmbolos subjetivos deslizam umas sobre as outras para
criar urn mundo de significado, inteneao, valor, desejo, e assim por diante. E exa-
cado por meios empinco-analfticos. . .
tamente como urn borrao de Rorschach - o borrao empirico 6 fixado e ben co-
nhecido; compoe-se de uma determinada quantidade de tinta distribufda de uma
WILBER: Sin, e isso 6 ciencia ortodoxa.
tlnica maneira. Mac os significados simb6licos que podem vagar sobre esse borrffo
* No sentido de constante matemftica 0{. do T.). sao numerosos, e nao podem ser, em, absoluto, determinados por empirismo.

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Desse modo, a tecnica de Freud consistia em usar o dialogo lingtifstico para re- respeito dele, entao a nao-dualidade se apresenta como dois opostos contradi-
velar testes ocultos, e entao traduzir ou interpretar esses textos de modo a tor- t6rios, que se pode mostrar serem. igualmente plausfveis porque nenhum deles
mar o significado de sintomas ocultos mais transparentes para o paciente. Era 6 completo por si mesmo. Portanto, o melhor que voce pode fazer e afimar 4mbos
essa transpar6ncia, manifesta onde antes havia opacidade, que ajudava a efetuar os lados da dualidade, ou negar os dois. 0 prineiro .caso lhe da urn paradoxo;
a cura. Em outras palavras, a intexpretagao leva ao i.us!.grfef ou ao entendimento. o segundo, uma dupla nega95o. Eu uso a razao mandflica para abranger os dois,
Gragas a observagdes e interpretagdes rep`etidas, Freud foi capaz de criar varios embora ela se aplique melhor ao paradoxo. Mas o ponto que saliento e que ne-
mapas ou teorias da esfera psicol6Sca, teorias que nao podiam ser testadas em- nhum deles deveria ser confundido com o modo numero 1, a contemplaeao efetiva.
piricamente, como nero behaviorismo, mas que podl.4m ser testadas por aque-
les que desejavam dedicar-se a disciplina da interpretag5o introspectiva. E lamen- RV: Quero ter certeza de que compreendi isso direito. H4 cinco modos
t4vel que o reducionismo de Freud acabasse mutflando e debilitando muitos de de conhecimento. . .
seus mapas e teorias, mas isso nao 6 culpa de sua metodolocta. i urn puro caso
de GIGO, isto 6, resfduo que entra, resfduo que sai, como se diz em informatica.* WILBER: Pelo memos cinco; lembre-se de que voce esta trabalhando com
a hierarquia sinplificada de tres nfveis.
RV: Portanto, o modo ntimero 3 pode se[ te6rico ho sentido de que ele
. tambem elabora e usa mapas e modelos de seu pr6prio nfvel? RV: OK, pelo menos cinco. Desses cinco, somente ties - os tres subcon-
juntos mentais - estao envolvidos com o conhecimento te6rico.
WILBER: Sin, mas seu teste de verificagfro e hermeneutico, e nao empf-
rico. Ou entao 6 racional-fenornenol6gico, e nao sensorial. Ou 6 lingtifstico e nao WILBER: Sin.
ftsico. Chame a isso ciencia, se o desejar; eu apenas penso que aqueles que o fa-
zen sgo terrivelmente obscuros a respeito do que estao fazendo, e por que o fazem. RV: Desses tres, urn g empfrico, urn e fenomenol6¢co e urn 6 manddico.

RV: E o modo none.ro 2, isto 6, o paradoxal -pode ser te6rico? WILBER: Sin.

WILBER: Penso que sin, mas teoria nun sentido mais solto. Como eu disse, RV: E a ciencia, o m6todo cientffico, refere-se basicamente a teoria do
a razao paradoxal ten os seus usos, contanto que sejamos cuidadosos. A teoria modo empfrico-analftico.
neste sentido envolveria a criag5o de mapas ou cartograflas das esferas superio-
res e transcendentais, para o auxnio daqueles que ainda nfro as viram, e tamb6m WILBER: Na minha opiniao, sin. Voce pode expandir a ciencia, se o de-
para prop6sitos gerais de conhecimento. Mapas mandflicos, por assin dizer. sejar, mas apenas caira em outras disciplinas e procedimentos ja plenamente cons.
titufdos. As pessoas falan em expandir a fi'sica,, mas se o fizerem, tudo o que obte-
RV: Esses mapas poderiam ser checados? rao 6 a biologia, e, para al6m dela, a psicologia fenomenol6tica e a fflosofia con-
ceitual, e assim por diante. Mas ent8o nao sera mais fi'sica, sera? - exceto nun
WILBER: Sin, mas apenas por via de uma trausformagao efetiva que leve sentido vazio. Mac, na verdade, quero enfatizar que, honestamente, nan me preo-
ao domfnio espiritual, ou pelo despertar do modo ntimero 1. Voce nao poderia cupo com a maneira como voce usa a palavra "ciencia". Preocupo-me apenas com
verifica-los, em absoluto, usando procedimentos empfricos ou hermeneuticos. as estruturas reais do conhecimento, tais como a sens6rio-motora, a empfrico-ana-
lftica, a hermeneutico-hist6rica, a contemplativa, e assim por diante. Essas es-
RV: Mas esses mapas tamb6m serian paradoxais? truturas sao, em sua maioria, definitivamente diferentes; elas nao podem usur-
par os pap6is de outras - cada uma delas ten o seu pr6prio lugar e funggo. Onde
WILBER: Sin, definitivamente. As vezes isso nfo parece ser assim devido ao voce pendure, nessa lista, a palavra "ciencia", 6 algo que, em absoluto, nao mu-
fato de que cada sistema, apenas por consistencia, trabalha usualmente s6 com darf essa lista, e o que me interessa 6 a pr6pria lista. Minha tihica preocupagao
urn dos lados do. paradoxo. Assim, os budistas chanarao o ni'vel mais elevado ten sido a de que os defensores de uma ciencia "nova e mais alta" ten quase
de Vazio, os hindus o chamarao de Ser, os taofstas afirmarao que 6 a perpetua sempre em mente win desses modos, usualmente o empfrico, e querem expandir
mudanga, e os cristaos .dizem que 6 a eternidade. Todos estgo certos - ou erra- esse modo sobre todos os outros. Isso resulta em reducionismo, que leva ao Co.
dos; nao faz diferenga. E paradoxal. Veja, o paradoxo 6 simplesmente a maneira Iapso da hierarquia, que envolve a falfcia das sombras equivalentes, que Cat no
pela qual a ngo-dualidade otha par? o nfvel mental. 0 pr6prio espfrito nao 6 pa- pantefsmo. . . Portanto, use a ciencia da maneira como queira, mas, por favor,
radoxal; nao € caracteriz5vel, em absoluto. Mas quando a mente tenta pensar a
diga antes o que voce entende por essa palavra, de a sua metodoloda, distinga-a
de outros modos e disciplinas, e entao veremos o que voce consegue. Penso que
* GIGO aLhlevia. garbage in, garbage out (N. do I.).
Willis Harman oferece urn born exemplo do que fazer: toda vez que ele fala de

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uma ciencia superior, ele explica seus metodos e objetivos propostos, e assinala
inconsciente pessoal, era urn produto de forgas. Algo muito termodininico. Ora,
c|aramente que se trata, de qualquer maneira, apenas de fenomenoloda psico-
sem negar que a bioenergetica tamb¢m se acha envolvida, o novo entendimento
16¢ca basica.
simplesmente assinala que o ew 6 memos urn evento bjoffsico presente que uma
narrativa ou uma hist6ria. 0 ew, o ew mental de qualquer maneira, 6 uma estru-
RV: Quanto a nogao de aplicabflidade - ou inaplicabflidade - da ciencia
tura hinorfstica, uma cria€so de hist6ria e urn criador de hist6ria. Ele vive par
empfrica aos domfnios superiores, tais .como o mentalrsubjetivo ou a transcen-
meio da comunicagao ou do diflogo, 6 construfdo com unidades de significado,
dental{spiritual, as pesquisas em fisiologia do cerebro - que sao empfricas - ou sfmbolos, e sobrevive ao longo de urn percurso no tempo, ou de uma hist6ria. E
n5o poderiam mos dizer algo sobre a mente e suas operag0es?
uma narrativa; e urn }exfo. E a tinica maneira de voce compreender un texto 6 por
meio de uma boa interpreta€5o, assim como o tinico meio de voc6 compreender
WILBER: Sin, naturalmente. As pesquisas sobre o ctrebro sao extrema-
Gwerr¢ a Par, por exemplo, 6 gra9as a uma boa interpreta¢go. 0 que ele reainente
mente instigantes e importantes, mas penso que sao tambem extremamente Si.g7?zpca, percebe? 0 que minha vida significa? Para onde ela esta indo? Por que
limitadas.
estou fazendo isso? Que valor isso ten para min? E isso 6 hemeneutica.

RV: Em que sentido?


RV: E a patolo¢a?

WILBER: Ben, considere os pensamentos de Freud sobre o assunto. Em WILBER: A patolocta estd relacionada com a md intexpretapao, ou talvez
seu tiltino livro, ele estabeleceu com muita clareza que mesmo se pudessemos com a interpretagao erronea. E a sombra ndo 6 mats a sede de foreas inconscien-
conceber cada conexao entre o c6rebro e a consciencia, entao -e essas sao suas tes, 6 a sede da interpretagao erronea. Nun certo sentido, a sombra e urn texto
pr6prias palavras - "isso, na melhor das hip6teses, proporcionaria uma locali- oculto ou urn subtexto oculto, e desse modo produz scrz.pfs cujos §['g#!rzcados
zaefro exata dos processos de consciencia e nao mos ajudaria a compreende-los". o confundem. ou o desooncertam - rfu hemeneutica, ou hemeneutica pobre,
Como eu disse - e como quase todos descobriram recentemente - Freud estava como quando algu6m diz: "Nac sei bor que eu fz isso, o que sel.a que isso signi-
antes de mais nada interessado em hermeneutica - na interpreta€ao, no signi- flea?" A sombra 6 urn texto que voce escreve secretamente, urn texto cuja au.
ficado e no discurso simb6lico. toria voce se recusa a admitir.

RV: 0 primeiro de seus livros mais importantes foi A /J?fcxpre/tzf4lo dan RV: E entfro o que 6 a terapia?
Sonhos .
WILBER: E urn processo de assumir ou de reassumir a autoria ou a respon-
WILBER: Sin. Mesmo que pud6ssemos localizar o sonho - digamos, no sabilidade pelo texto de sua pr6pria vida, pelo seu pr6prio ew.
hemisferio direito - e mesmo que pud6ssemos descrever seus componentes quf-
micos, ainda nco saberfamos qual o seu si.g7z!yscacJo. Este s6 pode ser descoberto RV: E nada disso pode ser facflmente explicado em temos empfricos ou
no cfrculo hermeneutico, somente na hist6ria da minha vida e nas suas inteneoes. fisiol6gcos?

RV : No modo nbmero 3 e nfro no ntimero 4. WILBER: A hermeneutica? Nao. Mas eu gostaria de acrescentar que o sistema
com que estou trabalhando utiliza tanto a bioenerg6tica do prana corporal, ou as
WILBER: Sin. E esse entendimento intrc>spectivo esta hoje produzindo distribuig0es emocionais-sexuais, quanto as uridades mentals de significado, que
urn pleno renascimento da psicoloSa nao-empfrica, ngo-reducionista, nao-bio- transcendem mas incluem as sensacdes e sentimentos bioenerg6tico8 mais simples.
16Sca. Voce ten os te6ricos das relagoes interpessoais ou objetivas - Sullivan, Ambas sgo importantes, mac a hermeneutica o 6 ainda mats. No esquema de sete
Guntrip, Fairbairn, Jacobson, Erik Erikson. Voce ten os lingdistas e os estru- camadas de que falei antes, a dieta e o exercfcio lidam basicamente com o nfvel I ; a
turalistas - Ijican, Roy Schafer, RIcoeur. Os te6ricos da informagao - sendo bioenergetica e o procj3sso de valorizaefro emocional-sexual lidam com o nfvel 2; e a
B.ateson o mais-farnoso. Todos eles estao relacionados com a transferencia sim- hemeneutica e a interpretag8o simb6uca lidarn com o nfvel 3 e parte do 4. Nenhum
b6lica ou a hemeneutica, e isso esta revolucionando a psicoloda. destes pode ser descartado. 0 problema com a hermeneutica pura e. que ela tenta
dizer que o id e apenas linguagem, e isso 6 tolice. Urn coo ten impulsos §exuais e
RV: Voce pode dar urn ttreve exemplo, digamos, em temos de patologa? nfro tern linguagem. Os seres humanos possuem ambos. Tentar reduzir urn deles ao
outro simplesmente nao funciona. Ambos tern o seu lugar na hierarquia.
WILBER: Claro! Oritinalmente, os sintomas Cram concebidos em termos
energ6ticos ou bioffsicos.. 0 id impele para la. 0 ego repele de volta, o compro- RV: Entao a fisioloBa empfrica naQ possui nenhuma utflidade fundamen-
misso e uma gratificagao substitutiva na foma de urn sintoma. A sombra, ou tal para a compreens5o da hermeneutica mental?

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simplesmente pela fisiolocta cerebral. 0 borrao de Rorschach 6 ainda uma boa
WILBER: Ngo, nao, isso 6 reducionismo inverso; eu nao disse isso. A her-
analotia: ha urn tinico substrato ffsico, o borr8o real de tinta, mac ele compor-
meneu`tica transcende mas inclui os efeitos fisiol6gicos, como eu disse que ocorre
ta e veicula varias diferentes interpretac6es mentais, e voce nco pods dizer que
para cada nfvel da hierarquia. Desse modo, pode-se compreender melhor os efei- essas interpretapoes nao passam de tinta. Penso que o mesmo acontece com o
tos fisiol6¢cos em temos da teoria da degrada€go, creio eu.
c6rebro e a mente.

RV: 0 que 6 isso?


RV: 0 c6rebro 6 degradado com relagao a mente?
WILBER: Se voc6 considerar cada estatlo da evolueao, voce descobre que -
WILBER: Sin. Isso significaria que as mudan9as na fisioloSa do c6rebro
assinala-se com frequsncia esse fato - cada est5edo superior 6 sinerSco relativa-
nao seriam, correspondentemente, tao signiflcativas quanto as mudangas nos
mente aos seus componentes juriores; ele os inclui mas 6 algo mais do que eles.
valores mentais. Por exemplo, minhas ondas cerebrais podem estar no estado beta, e
eu posso ter dois pensamentos sucessivos cujos valores verdadeiros (f7t/!ft-v4/we)
RV: Isto 6, "transcende mac inclui.".
sejam fantasticamente diferentes, digamos, "2 +. 2 = 4" e "2 + 2 = 5". A diferenga
no BEG (eletroencefalograma) entre esses dois pensamentos a extremanente
WILBER: Sin, e a mesma id6ia; a sineraa e a mesma ideia. Conjunte rna-
teria ngo-viva segundo.certos procedimentos complexos e voce ira gerar alguma pequena, mas a diferenga entre seus valores verdadeiros 6 tremenda. Portanto,
e#!.sfem correlatos fisiol6gcos, mas eles s8o degradados com relaeao a mente.
coisa que e algo mais que a soma de suas partes. Voce gerara vida ou prana. A
As diferengas fisiol6ticas nao se evidenciam tao significativas quanto as diferen-
vida e sinergica com rela85o a materia e nao pode ser reduzida a materia, nem
Gas nos valores verdadeiros das proposi¢oes. A prop6sito, repare que voce nco
plenamente explicada em temos dela. De maneira Semelhante, faga a conjun-
pode estabelecer a verdade ou a falsidade das proposig0es com base em qualquer
ego de prana par via de certos procedimentos complexos, e comegarao a emer.
Sr sfmbolos.' Mas os sfmbolos i ou a psicologia - nao podem ser explicados quantidade de estudos fisiol6ticos. Voce ten de sair do ambito da fisiologa ce-
rebral, e penetrar no cfrculo intersubjetivo da 16Sca e da comunicapao, para ve-
pela vida - ou bioloda - assin como a biolo¢a ngo pode ser exphicada pelas
rochas. Cada uma delas e sin6rctca com relagao as suas predecessoras. Ora, o opos-
rificar as verdades mentais, porque, como dissemos, a mente transcende mas inclui
to da sinerSa 6 a degrada95o. Se A e degradado para 8, entao dois ou mais esta- a fisiologia, e as verdades da primeira nco podem estar inteiramente contidas nas
dos de 8 podem ser veiculados por urn tinico estado de A. Por exemplo, se voce verdades da-tiltima. Nenhuma quantidade de soflsticagso no EEC pode, por exem-
faz uma chamada telefonica, entto uma certa quantidade de ener5a el6trica passa plo, ajuda-1o a comprovar ou a refutar a teoria de Keynes sobre a macroeconomia.
ao longo das linhas. Mas tamb6m passa informaggo ao longo das linhas, e voce
nao pode dizer quanta informap5o, que tipo de informa9so ou qual a qualidade RV: Mas isso ainda daria a fisiologa do c6rebro urn importante papel no
da informapao que esta sendo trausmitida com base apenas na quantidade de sou efeito §obre a mente, embora ngo seja urn efeito causal, correto?
energia que a veicula. Por exemplo, com a mesma quantidade d6 enerSa - di-
WILBER: Sin. Essa teoria ainda nos oferece uma conexao e uma intera-
gamos,loo..quflowatts -voc6 poderia dizer "AIO, como vai voce?" ou "zizzy
lollop thud". A primeira mensagem tl.ansporta infomaeao; a segunda, nero rufdo. g5o ben-defmidas entre o ctrebro e a mente, pordm nfro postula urn barbaro
Varios diferentes estados de transferencia de informagao podem ser veiculados dualismo, por urn lado, ou urn simriles monismo ou identidade, por outro lado.
Alem disso, sugere que o c6rebro 6 assim tiro complexo porque nada menos com-
pelo mesmo estado de transferencia de enercta. Neste caso, a enerda 6 degradada
com relagao a informapao. plicado que ele poderia servir de substrato bioffsico para os processos 16givos
e simb6licos, mas evita o reducionismo de dizer, por exemplo, que a literatura
RV: E isso ocorre em todos os estdBos da evoluca~o? 6 fantasia de eletrons.

WILBER: Sin, em cada nrvel da hierarquia. Na verdade, essa e uma nogao RV: Portanto, teoricamente, se compreendessemo§ em profundidade a
simples; 6 justamente o oposto da sinertia. flsiolotia do c6rebro, poderi'amos produzir estados e disposi¢Oes gerais, e aper-
feigoar o substrato, como a capacidade de mem6ria e assim por diante, mas nco
RV: E voce reconhece a presenga dessa relagao no c6rebro e na mente? poderfamos produzir na mente id6ias ou pensamentos especfficos.

WILBER: Penso que 6, com certeza, uma explicagso possfvel: 0 c6rebro WILBER: Sin. Mudar estados fisiol6gicos seria como mudar bo.rfces de
e, basicamente, o substrato bioflsico para os processos mentais. Poderfamos tan- Rorschach. Voce obteria toda uma nova serie de disposi€oes e respostas, mas
b6m esperar que os processos espirituais deixassem suas pegadas no substrato nao poderia controlar todas as interpretagees mentais espeo.fficas ou todos bs
bioffsico, seja por via direta, seja por via da mente. Mas em nenhum caso a mente contetidos efetivos da mente. Portanto, o c6re,bro ainda teria urn efeito .signi-
ou o espfrito poderiam ser reduzidos ao c8rebro ou explicado§ intejramente ou flcativo sobre a mente, mas esse efeito nao seria determinante nem causal. Penso

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due isso tambem se ajusta muito ben com as concep€Oes de.pesquisadores co- WILBER: Na micha opiniao, nao oferece, porque concordo nteralmente
mo Elmer e Alyce Green, os quais sustentam que "tudo o que 6 do cerebro esta com Marilyn Ferguson ao afirmar que o trabalbo de Prigogine - You ler o que
na mente, mas nem tudo o que 6 da mente esta no cerebro". . ela diz - "estende uma ponte por sobre a lacuna crftica que `separa os sistemas
vivos do universd aparentemente nao-vivo no qual irrompem".
RV: Isso 6 hierarquia e degradapao.
RV: Em- outras palavras, isso se apljca basjcamente a lacuna que separa
WILBER: Com certeza. Mas isso ainda mos. deixa com as importantes ta- o nl'vel I do nl'vel 2, na hierarquia de sete nfveis?
refas de mapear as relag6es degradadas entre mente e cerebro, e tamb6m entre
espi'rito e cerebro. Por exemplo, as correla90es entre as ondas cerebrais e a ati- WILBER: Penso que sin. As pesquisas de Prigodne descrevem as comple-
vidade onfrica. xidades das perturbag6es materials que permitem a vida ou ao prana emerstr atra-
v6s da mat6ria - mas nao a partir dela. Sao equacoes realmente instigantes, po;
RV: E, devido a degrada?5o, voce pode afimar, com base nas mudangas r6m nao cotirem faci]mente, ou claramente, os nrveis de 3 a 7.
fisiol6ticas, awe uma pessoa esta sonhando mas nfro exatamente a g!fe ela est4
sonhando? RV: Por que nao? .Certamente teriam alguma aplicabilidade geral, nao teriam?

WILBER: Sin. Isso 6 exatamente degradagao. WILBER: Ben, e urn fato definitivamente verdadeiro que ha leis anal6gicas
em todos o.s nfveis da hierarquia, como dissemos antes. A questao nao e saber se a
RV: 0 que eu You dizer cai urn pouco fora do assunto, mas o que defer- transformapao ocorre em todos os m`veis, pois ocorre; a questao e: "Que nfvel de
mJ.ron.4! o contetido do sonho? organizagao estrutural essas equa9des efetivamente descrevem?" Penso que as pes-
soas estao plenamente de acordo com o fato de que essas equagoes lidam basica-
WILBER: Ben, uma pronta resposta seria a de que a hist6ria passada do mente com enerctas termodinamicas e entropia, e nao com infomagoes simb6licas
texto€w est4 agora oferecendo uma leitura, especialmente de seus subtextos ocul- ou com introspecgoes transfrsicas e transmentais. As estruturas temodininicas dis-
tos. A sombra estf no palco. E os contetidos da sombra nao sao determinados sipativas parecem representar melhor as transfomapaes biomateriais, ou os nfveis I
e 2. Sgo, portanto, exemp/as de transfomagoes gerais, mas nao sao transfomag0es
pela fisiolotia presente tanto quanto o sao pela hist6ria passada, os efetivos even.
tos passados que .constituem a narragso e a hist6ria que essa pessoa ieconhece paradigmaticas. Constituem urn subconjunto de transformagoes evolutivas, e nao o
como urn ew. i por isso que Habermas df a esse modo o nome de hermeneuti- tipo exclusivo ou exemplar. Como dissemos antes, elas sao reflexos descendentes,
co-fe!.sfc}".co. E, finalmente, € por isso que Freud foi levado a ideia de te`ntar ras- ou versoes reduzidas, de transformapoes que ocorrem mos nfveis superiores, e por
tl.ear a genese Az.sf6n.ccz dos sintomas. Ele queria usar urn m6todo de reconstru- isso apresentam, naturalmente, certas semelhangas, assin como o el6tron e a vonta-
de humana sao "indeteminantes". Mas o que .queremos tentar evitar e procurar usar
gao hist6rica para ajudar a pessoa a descobrir quando comegava a escrever textos
e narragoes ocultos, secretos ou culpaveis, e como recalcava a sombra criando a manifestagao em ni'vel inferior do princi'pio geral para explicar o prot6tipo, que 6
urn autor secreto. 0 autor secreto se mostra em sonhos e sintomas, e a tare fa de nfvel superior, desse mesrio princfpio. Penso, portanto, que o trabalho de Prigo-
do. terapeuta 6 ajudar a pessoa a z.#fe)pref¢r o significado dos sintomas - voce ctne € muito importante, nao porque eu posso entao dizer que ele demonstrou as
sabe, "a ansiedade que voce sente 6, na verdade, raiva escondida ou mascarada" - leis da transformag5o psicol6giva ou espiritual, mas sin porque ele demonstrou que
ate que a pessoa possa repossuf-1os, reautoriz4-los, reescreve-los. Desse modo, o pr6prio processo de transformagao estende-se inteiramente por todo o espectro da
mesmo se a fisiologia nco pode nos contar a que a sombra diz ou quer dizer, ela hierarquia, descendo ate os nfveis mais baixos. Ele mostra isso sob uma forma
extremamente reduzida, como poderiamos esperar, mas pelo menos o mostra.
pode nos contar quando a sombra esta no palco - e isso e algo tremendanente
inportante. Penso que se poderia confirrnar a mesma coisa para quaisquer cor-
relatos psicoespirituais que possarnos descobrir no substrato biofi'sico. Portan- RV: Portanto, as estruturas termodinamicas dissi|]ativas seriam degrada-
das com relagg,o as transformag5es superiores?
to, essas correlag0es, embora sejam degradad?s, sso muito importantes.

RV: E essa teoria mos permite procurar correlacoes do que e superior no WILBER: Sim. Com relagfro a interface c6rebro-mente, '8e as estnituras
dissipativas aplicami5e aos nl'veis 1 e 2, segue-s8 que elas seriam aplicaveis ao c6-
que 6 inferior sem ter de reduzir o superior ao inferior?
rebro ou substrato bioffsico da mente, e desse 'modo poderiam assumir a impor.
WILBER: Sin, essa e a minha opiniao. taricia,1imitada mac bemrdefinida, que discutimos antes.

RV: Numa veia semelhante, o que vo9e pensa do trabalho de Prigotlne? RV: Mas existem meios de explorar e de verificar qualquer urn dos modos
Ele n5o oferece uma base empfrica para transformaeoes superiores? superiores, uma vez que eles ngo s5o ci`enti'ficos, e nem ao menos empi'ricos?

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WILBER: Sin, naturalmente. in investigagao fenomenol6ctca e .ha sua RV: Sin, percebo. Desse modo, deverfamos dar uma enfase igual ou maior
a fenomenolotla racional e a hemeneutica e assim por diante?
verificag5o numa comunidade de interpretadores a.#fexprefor§) intersubjetivos -
as§im como voce e eu estamos fazendo agora. in pr4tica contemplativa e hi sua
verificapao por uma comunidade de meditadores transubjetivos - como aeon- WILBER: Sin, certanente, mas a hermeneutica sozinha nco e.a tiltima
tece, digamos, entre o mestre zen e seu disci'pulo. palavTa. Veja, assim como o empirismo quer reduzir o sfmbolo a sensagao, a her-
meneutica quer reduzir o espi'rito ao sfmbolo. Quer alegar que Deus 6 uma mera
RV: Mac, ao usar a fenomenoloSa e a hermeneutica como exemplo, a mera id6ia, ou apenas uma ideia, na comunidade dos interpretadores intersubjetivos.
interpretag5o nao transformaria a verdade numa questao fantasticanente subjetiva? Recusa incluir na sua metodoloda a pratica da contemplagao - o modo ntimero
i - e desse modo n5o consegue entender que Deus pode ser verificado como
WILBER: Depen,de do calibre da comunidade de interpretadores. Veja, a realidade transcendental por uma comunidade de meditadores transubjetivos.
ciencia empfrica ap6ia-se numa comunidade de fatos - se voc6 dispuser de maus
fatos, farf m4 ciencia, ou polo menos ciencia parcial. Da mesma maneira, a finosofia, RV: Mesmo assim, no plano mental, vfrias comuhidades de meditadores
a psicolotia e a fenomenolo¢a verdadeiras - nao o behaviorismo e nem o positivis- interpretarao o espfrito de maneiras' diferentes.
mo, que sao atividades empfricas e nao racionais - dependem, em grande medida,
da qualidade da comunidade dos interpretadores. Bons interpretadores, bons pensa. WILBER: Exatamente. Quando a mente fala do espfrito, ela gera parado-
dores, boa base fenomenol6Sca. Eles descobrem verdades que aplicam ao domthio xos ou interpretag6es contradit6rias. E assim que deve ser. Mas aquflo que se ve-
subjetivo, e neste sentido as verdades sao verdades subjetivas. Mas isso nao significa rifica na pr6pria meditagfro nco 6 uma interpretag5o particular do espfrito, mas
nero capricho individual. Antes de mais nada, uma m4 interpretaeao nco se ajustara uma identidade direta e imediata com o espfrito enquanto espfrito, e essa oca-
ao consenso subjetivo geral. Ela e rejeitada por uma realidade que 6 subjetiva, siao nao se acha sujeita a intelpretagao pois nao 5 urn evento simb6lico ou me-
por6m muito real e muito legftima, assim como urn mau fato cientffico 6 rejeitado diado. No .nfvel mental, entretanto, ha some#fe interpretagoes do evento, a maio-
por outros fatos. Em segundo lugar, uma verdade fenomenol6giva, para ser reco-
ria delas paradoxal, e nco se pode escapar disso. "Eles 0 chamam de muitos, mac
nhecida como verdade, deve ser resftzcfo numa comunidade de interpretadores que Ele 6 realmente urn."
pensam de maneira semelhante, assin como urn fato cientfflco, para se-lo, deve ser
testado face a comunidade dos outros fatos. Ngo 6 urn mero pensamento desejoso RV: N5o ha urn grande rfumero de paradoxos na fi'sica modema - que
nem uma licenga subjetiva. 0 teste hermeneutico a tgo rigoroso e exigente como o foram .denominados ¢o¢#s quanticos -e isso nffo poderia sugerir que a frsica
te§te empi'rico, mas, naturalmente, este ultimo 6 mais facil pois 6 realizado por urn esta, de algum modo, envolvida' com a realidade fundamental, com a 16edca
sujeito sobre urn objeto, ao passo que a fenomenologia € realizada por urn sujeito mandalica?
sobre (ou com) outros §ujeitos, o que 6 muito mais difrcil.
WILBER: Sin, essa quest8o ten sido bastante levantada. Em primeiro lu-
RV: Nao foi isso o que ajudou tanto o reducionismo? Todos querendo gal, s6 porque o absoluto sempre gera paradoxo isso nao significa que o para-
a elegancia metodol6Bca da ffsica? doxo sempre indica o absoluto, OK? Mas, al6m disso, eu pessoalmente. acho que
h4 muito poucos paradoxos genufnos em qualquer ramo da ciencia. Lembre-se
WILBER: Penso que sin. Somos seduzidos pelo pensamento de que a ff- de que urn verdadeiro paradoxo significa o fato de se saber que duas ocasioes
sica possui o metodo, em vez de reconhecer que a fi'sica trabalha com o mats mutuanente contradit6rias ocorrem sinultanea e igualmente. Por exemplo, se
simples dos nfveis de organizag5o estrutural e desse modo produz verdades re- rieste exato momento est4 chovendo e nao esta chovendo sobre a nrinha casa,
lativamente simples e facflmente reproduzfveis. isso seria urn verdadeiro paradoxo.

RV: Mas voce mesmo n5o estaria langando mho de urn tipo de reducionismo RV: E o que dizer das wav!.cJes* - partfculas que atuam como ondas nu-
inverso? Pois, na verdade, quando examinamos minuciosamente o mundo subato- rna situaeao e como parti'culas em outra?
mico vemos que cada pedacinho 6 tgo complexo como o mundo biol6givo ou
o mundo simb6lico dos seres humanos. WILBER: Ben, essa € a questao; ela 6 uma onda numa situa€ao e uma par-
tfcula em outra. Em qualquer dado experimento, ela nunca atua igual e absolu-
WILBER: Ben, ele 6 complexo, por6m nat) tgo complexo como os nfveis tamente como uma perfeita onda e uma perfeita partfcula simultaneamente. Ela
superiores, pela simples razao de que urn ser humano, diganos, contem eletrons oscila, ou alterna, suas verdades mutuamente exclusivas, e isso e uma comple-
mas os el5trons ngo contem seres humanos. Assin, todas as complexidades do mentaridade, e nao urn verdadeiro paradoxo.
eletron est5o contidas nos seres humanos, mas estes tamb6m cont€m outras com-
plexidades que s6 se encontram neles -culpa, ansiedade, desespero, desejo. * Palavra composta de w4vc (onda) e prrf[.a/e (parti'cula) (N. do T.).

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RV: N8o ha paradoxos genuinos na ciencia ou na filosofia? se ela 6 verdadeira ou falsa e la se vai o paradoxo. Veja, a teoria dos tipos 16Scos
e na verdade apenas uma maneira de agrupar classes e conjuntos numa hierarquia
WILBER: Eu nao diria isso de maneira tso categ6rica, mas penso ser pru- de abrangencia crescente. Por exemplo, cada nrvel da Grande Cadeia 6 de un
dente dizer que os paradoxos mais evidentes convertem-se em contradig0es or- tipo 16Sco mais elevado, embora nem tudo mos pr6prios nfveis seja realmente
dinarias, o que significa apenas que, em algum lugar, voce se confundiu ao dar feito de 16tica. E nesse sentido mais amplo, a teoria dos tipos 16dcos - que pede
algum passo. Na pesquisa empi'rica, as contradie6es usualmente indicam que uma para que nao se confunda os tipos -diz "nao colapse a hielarquia".
serie de experinentos foi reahizada incorretamente. Em geral, as coisas se escla-
recem por meio de pesquisas mais refinadas. Na investiga9ao racional-concei- RV: A teoria dos tipos tamb6m nao leva a teoria do laco-duplo, ou du-
tual, o que parece urn paradoxo usualmente decorre, como Russeu e whitehead plo-vi'nculo , da esquizofrenia?
demonstraram em f}+.#cl.pz.a M¢£Jle#!¢rz.ce, de uma violaeao da teoria dos tipos
16dcos. Embora Spencer Brown tenha sugerido meios para reformular a teoria WILBER: Esse era realmente o amago da maior parte do trabalho de Ba.
dos tipos, ela ainda 6 extremamente btfl. Bateson quase 'fez toda uma carreira teson. 0 que acontece na esquizofrenia, de acordo com Bateson, 6 que duas men.
a partir dela. sagens de tipos 16givos diferentes se contradizem, e a pessoa, que considera an-
bas igualmente verdadeiras, oscila entre elas, ate que, por assim' dizer, as sacudi-
RV: Para falar a verdade, o que e ela? das a peem em pedacos. Como ele nao consegue diferenciar facilmente tipos
16gicos, ele experimenta anbas as mensagens, que sao apenas contradit6rias, co-
WILBER: Ela simplesmente afirma que uma classe nco pode ser membro mo sendo igualmente verdadeiras ou paradoxais. Desse modo, ele nao 6 capaz
de si mesma. Surgiv quando se tentou definir ntimero como a classe de todas de chegar a urn compromisso com elas. e nem descartar uma delas, pois agora
as classes semelhantes a uma dada classe. Mas a ideia 6 muito simples: a classe elas sao iguais mas opostas.
de todas as cadeiras n5o 6 uma cadeira, a classe de todas as maeas nao 6 uma mae8,
o alfabeto nao e uma letra, e assim por diante. De qualquer maneira, se voce viola RV: Ele esta preso num lagorduplo.
a tipificaggo 16Bca de seus sfmbolos, voce gera urn pseudoparadoxo. Nao se trata
de urn verdadeiro paradoxo porque se baseia apenas em m4 semantica. Por exem- WILBER: Esta preso mum lago-duplo. Ele violou a tipificagao 16dca, e isso

plo, se voce considera uma palavra-sfmbolo, digamos "cadeira", e da a ela dais gerou urn pseudoparadoxo que o sacode e o poe em pedagos. Isso ocorre em qual-
signiflcados, cada urn deles de urn tipo 16gico diferente, e a seguir cria uma sen- quer tipo de sistema de realinenta9ao de informagoes. Se voce tern urn aparemo
tenga usando essa palavra, voce pode gerar urn pseudoparadoxo. Voce poderia que "liga" a si mesmo nun dado limite inferior e se "desliga" nun dado limite
dizer: "Esta cadeira nco 6 uma cadeira." E uma cadeira em particular mas nao superior, e comeea a mover esses limites, aproxinando-os urn do outro, o apa.
6 uma cadeira universal, nao 6 a classe de todas as cadeiras. Quando os seman- relho desligara e ligara em intervalos cada vez mais curtos. Entao, se voce colapsar
ticos afirmam - 6 a faniosa expressao de Korzybski "Tudo o que voce diga a diferenga entre os limites, o aparelho dira a si mesmo para desligar ao mesmo
tempo em que ele dir5 a si mesmo para ngar. Ele e apanhado nun "paradoxo"
que urn.a coisa 6, ela n8o 6!" - ngo se trata de urn verdadeiro paradoxo. 0 que
eles querem dizer com isso 5 que "tudo o que voce diga que uma coisa 6" - ou e af, ben na frente dos seus omos, ele sacudira furiosanente ate entrar em pane.
seja, o none que vocS lhe da, o sfmtiol.o que voce usa para descreve-la -nco dove De qualquer maneira, estou dizendo que assim como ocorre no pensamento es.
ser confundido com a pr6plia coisa em particular. 0 prineiro e a classe; a segun- quizofronico, e a menos que voce esteja usarido explicitamente a razao manda-
da 6 a membro, e a classe nao 6 urn membro de si mesma - esta 6 uma aplicagao lica, o paradoxo geralmente indica que ha, na verdade, apenas uma contradigto
direta da tipificapao 16Sca, e esta por trds de grande parte da semantica modema em algum lugar - indica urn pensamento descuidado e confuso, e nao uma ra-
e das teorias soore mapa/territ6rio. E diz que onde quer que voce gere o que pa- z5o transcendental. Na teoria e na pesquisa empfrico-analfticas, ben como na
rece urn paradoxo, voce confundiu seus tipos 16Scos. teoria e na pesquisa fenomenol6givo-racionais, o que. parece urn paradoxo e, usual-
mente, uma indicagao de patolotla em seu sistema - alguma coisa anda errada
RV: Agora eu me lembro dessa teoria. Nao foi dessa maneira que Russeu em algum lugar. Em vez de dizer que estou trabalhando com o Tao, eu volto para
solucionou o famoso paradoxo sobre o cretense que dizia: "Tudo o que urn cre- tras e refago meu caminho.
tense diz 6 mentira"? Como foi urn cretense quem disse isso, estava dizendo
a verdade ou mentindo? RV: Antes voce mencionou Whitehead e como, na sua opiniao, ele nao
concordava exatamente com as teorias holograficas. Penso que aquno que voce
WILBER: Sin, a id6ia era a de que o cretense estava enunciando uma pro- disse era entao suficientemente claro, mas quanto mais eu penso sobre isso
mais confuso fica.
posigao sotire proposigdes, e que tat propg§igao 6 de urn tipo 16givo difelente
das proposig6es em geral, e portanto ele nao estava se contradizendo. Voce julga
a proposigao e a metaproposi€ao em seus pl6prios termos, decide em cada caso WILBER: Como assim?

264 265
RV: Em geral, pensa-se que a fflosofia de Whitehead ajusta-se as teorias WILBER: Essa 6 a vis5o de Whitehead, sin.
holograficas pelo memos em dois sentidos. Primeiro, ele disse que tudo no cos-
mos interage com tudo o mais. E segundo, sua fnosofia nao se ajusta a noe8o, RV: E voce concorda com ela?
tomada famosa gragas ao princi'pio da. incerteza de Heisenberg, segundo a qual
o sujeito afeta o objeto quando o percebe? Ou voce discorda de whitehead nes- WILBER: Sin.
ses dois pontos?
RV: Mas, e quanto a precogni€ao? Nao 6 urn exemplo de uma ocasiao pre-
WILBER: Bern, n8o, eu geralmente concordo com Whitehead, mas White- sente apreendendo uma ocasiao futura, ou urn descendente?
head discordava dessas duas id€ias.
WILBER: Olhe, se a precogniggo 6 absolutamente real e absolutamente
RV: Whitehead nio dizia que tudo apreende tudo o mais no cosmos? possfvel, entao todos os eventos jf se acham absolutamente deteminados para
todos os tempos. Entao, nao existe o livre-arbftrio, nao existe a verdadeira cria-
WILBER: 0 que ele dizia 6 que uma.coisa apreende tudo no sou universo tividade nem o verdadeiro livre desenvolvimento. Nco exjste nem mesmo o prin-
a!r"aJ, e seu universo atual consiste abenas em seus antepassados, e nao em seus cfpio da incerteza de Heisenberg. 0 universo 5, no desenrolar de todos os tempos
contemporaneos nem em seus descendentes. e em todos os ni'veis, uma maquina absolutamente determinista. Eu nao compra-
ria esse uhiverso.
RV: Nao compreendo.
RV: OK, e quanto ao segundo ponto, a ideia de que a ffsica supostamente
WILBER: Whitehead sustentava que o universo consiste numa §6rie de oca- demonstrou que o sujeito, em muitos aspectos, cria seu objeto?
sicies que passam a existir durante mais ou menos alguns segundos, e que a se-
guir desaparecem gradualmente, por assim dizer, na mem6ria c6smica - also WILBER: Voce estf perguntando se eu concordo ou se Whitehead concorda?
muito parecido com a noefo do budismo Hinayana de eventosdrfe¢m4 transi-
t6rios. De qualquer maneira, cada entidade ou ocasigo, confome passa a exis- RV: Comece com Whitehead.
tir, 6 considerada urn sujeito, e esse sujeito apreende seus predecessores imedia-
tos ou as ocasioes que ajudaran a form£-lo, ou pelo menos esta, de certo modo, WILBER: Ele discorda absolutamente. E lembre-se de que Whitehead estava
c@nscio desses predecessores ou dessas ocasides. Portanto, esses predecessores, perfeitamente a par da moderna mecinica quantica.
ou antepassados, sao objetos para o evento presente, o sujeito. Quando esse su-
jeito passa, ele se .torna objeto para seus descendentes, e assim por diante. Por. RV: Ele rejeitava a mecinica quantica?
tanto, cada sujeito apreende tudo de seus antepassados, ate urn certo grau, por
mi'nimo que seja - mas observe que nenhum evento pode apreender seus des- WILBER: Ngo, ele rejeitava, ou pelo menos recusava-se a aceitar, algumas
cendentes, e nenhum evento pode apreender sous contemporineos. das interpretac6es fiilos6ficas da MQ tel.rivelmente destitufdas de sofis.ticagso,
tais como a de que o objeto 6 criado ou mesmo alterado quando apreendido
RV: Por que nao? por urn sujeito.

WILBER: Porque os eventos que apenas comegaram a existir nfro t6m tem- RV: Qual era a id6ia dele?
po, por assin dizer, para chegar a conhecer uns aos outros. Dois eventos real-
mente simultineos nao exercem influencia mtitua no instante preciso de sui si- WILBER: A medida que cada ocasiao passa a existir, a medida que ela se
multaneidade. Nao tiveram a chance de entrar na corrente kamica ou causal. tornasujeito, ela apreende seus antepassados ou seus ob].etos causais e e desse
A influ6ncia que exercerao ;starf presente na ocasiao imediatamente seguinte - modo mudada pelos objetos ou formada por seu passado imediato. Mas o obje-
essa influencia 6 a causahidade no sistema de Whitehead. Se dois sujeitos estfro to nao e mudado, e na verdade nao poderia ser mudado, por seu sujeito ou polo
na mesma vizinhanca, sao altas as probabflidades de que ambos venham a se tor- ato de ser apreendido, pois o objeto existe agora apenas no passado, ou como
nar objeto para o mesmo sujeito eventual. Caso contrario, nao ha interaeao. E passado, e voce nso pode alterar o passado simplesmente pensando sobre ele ou
uma entidade. nao pode apreender seus descendentes mais do que Crist6vto Co- apreendendo-o. Mais uma vez, isto se parece com a afirmacao segundo a qual o
lombo poderia estar ciente de voc6 ou de mim.
que Colombo fez poderia afetar voce, mas o que voce faz agora nao afeta Co-
lombo. A posigao de Whitehead era esta: uma vez que todos os eventos passam
RV: Portanto, uma entidade apreende todos os seus antepassados, mas nao a existir e deixam de existir numa corrente de `fluxo, de mudanga ou .de tempo,
seus contempor8neos nem seus descendentes?
entao essencialmente a mesma coisa se aplica durante os mflissegundos envolvidos.

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RV : Voce concorda? RV: Entao, onde a hip6tese de Whorf-Sapir e coITeta?

WILBER: Sin, em definitivo. Isso e apenas outro modo de dizer que o WILBER: Sfmbolos nao criam as esferas material ou biol6¢ca - os nfveis
sujeito contch o objeto rna; o objeto nao cont€m o sujeito, e I.sfo e simplesmen- 1 e 2 - mas eles criam, literalmente falando, as esferas mentais - o nfvel 3 e par-
tes do 4. Mas n5o se trata apenas do fato de existirem esses nfveis mentals supe-
te outra maneira de dizer que hf de fato rela¢Oes ngo-mtituas e nao-equivalen-
riores, e de que os sinbolos os rerietem. Os ni`veis mentais.superiores sGo sfm-
tes. A hierarquia e, naturalmente, a vigorosa versgo desse fato.
bolos. Sao /e!.ros de sfmbolos da mesma maneira que uma arvore 6 feita de rna-
deira. Portanto, observe que temos esses dois domi'nios gerais sob discus§ao -
RV: Portanto, voce n8o concorda com as teorias Hew ¢gg que afirmam que
o mental e o submental - e que os si'mbolos desempenham urn diferente papel
o c6rebro humano como sujeito cria o mundo objetivo que ele percebe?
com relaeao a cada urn deles. Basicanente, eles reflefem o mundo submental,
mas ajudaln a c7ri¢r o mundo mental. ,No primeiro caso, basicamente represe#-
WILBER: Ele poderia realmente criar ordem em seu mundo de percepgao,
ftzm; no segundo, tambem apr€senfam. Por exemplo, o sfmbolo "rocha" repre-
ou no mundo material dos rui'dos, mac ele mesmo nao cria esse mundo.
senta uma rocha com existencia independente. Descarte o si'mbolo, e a rocha,
ou o que quer que seja, ainda estara 15. A linguagem nso cri.a este mundo. Mas
RV: Se o flzesse haveria uma regress5o infinita?
entidades tais como a cobiea, o orgulho, a poesia, a justi;a, a compaixao, os obje-
tivos, os valores, as virtudes exjstem somente numa corrente de si'mbolos, e sob
WILBER: Sin. Mas a questso pode ser estabelecida mais facilmente -o c6re-
a forma de uma corrente de si'mbolos. Descarte os sfmbolos e essas entidades
bro humano n5o evoluiu ate 6 mThoes de anos atras, mas o cosmos ten 13 bimoes
desaparecerao. Altere os sfmbolos, e voce altera o sentido dessas entidades. Di-
de anos. Havia multid6es de coisas por toda a parte antes de existirem cerebros. Quan-
ferentes linguagens fazem exatamente isso, e e af que os conceitos whorfianos
to ao assim chamado participante-observador na fi'sica, ou quanto a necessidade de
encontram alguma aplicabilidade.
o objeto ser percebido pela mente para colapsar o vetor de estado, a vasta maioria
dos ffsicas -inclusive o artigo classico de David Bohm publicado em 1975, que re-
RV: Agora, a diferenga entre os sfmbolos que represenfam os domi'nios
talhou totalmente as extravagantes afimap5es de Jack Sarfatti sobre o assunto -
submentais e os sfmbolos que c7fam os domfnios mentais nao seria a mesma di-
acha que a id5ia 6 desnecessaria ou francamente ridfcula. Por6m, muitos te6ricos
ferenca entre os modos elnpfrico-anali.ticos e os modos hermeneutico-hist6ricos?
Hew 4!ge pensam que devem crer na id6ia porque confundem os eventos que ocorrem
no ni'vel meramente ffsico com a totalidade do Tao; eles pensam que devido ao fato
WILBER: Definitivamente - e a mesma coisa. E e por isso que as meto-
de a Natureza de Buda ou Deus ser uno com todas as coisas no ato de percebe-1as-
•cri4-1as, a pr6pria mente humana deve tentar fazer a mesma coisa com os el6trons. doloSas, os interesses, as estruturas e os processos de verificaggo revelam-se
tao diferentes nos dois modos. Veja, se voce estf trabalhando com o modo
empfrico-analftico, entso voce esta ' basicanente trabalhando com o modelo
RV: E quarto a temas relacionados, tais como a hip6tese de Whorf-Sapir, a
do `.espelho", o modelo "especular" da verdade - que os pQsitivistas, tais como
id6ia de que a linguagem, ou a mente, cria o mundo, e que diferentes linguagens de
Wittgenstein em sua primeira obra, tomaram famoso. As proposigoes sao verda-
fato criam diferentes mundos? Parece haver uma boa dose de apoio para essa noeao.
deiras se elas refletem corretamente os fatos - esse tipo de coisa. Uma propo-
sig8o empi'rica 6 verdadeira se, com maior ou menor precisao, ela espelhar, ou
WILBER: Ha nela uma verdade parcial, mas 6 algo muito confuso pois,
figurar ou representar o mundo sensorial. Assim esta tudo certo! Esse modelo
mais uma vez, nao somos capazes de dizer o que entendemos pela expressao "o
a perfeitamente correto para a verdade empfrica. Mas quando ele atinge o nun-
mundo". Queremos nos referir ao mundo fisico, ao mundo biol6Sco, ao mun.do
do puramente mental ou fenomenol6rico, o modelo apenas reflexivo, ou mo-
sociol6Bco, ao que? Pois, como ve, creio que a hip6tese de Whorf-Sapir esta to-
delo do espelho simples, nco mais funciona. Nun certo sentido, voce ainda esta
talmente errada com rela€so as esferas fi'sica, biol6gica e submental em geral. Nao
realizando uma atividade reflexiva - voce conhece, voce ainda propoe mapas
acredito que a mente lingti{stica cria rochas e arvores, embora obviamente crie
e modelos te6ricos, como discutimos antes; mas voce nao est4 mais usando si'm.
as palavras com as quais representamos essas entidades. Urn diamante cortarS urn
bolos para representar ocasioes nao-simb6licas. Voce esta usando sfmbolos para
pedaeo de vidro, quaisquer que sejam as palavras que usemos para representar olhar para outros sfmbolos, urn processo que crz.a novos mundos com novas pos-
"diapante", "corte" e "vidro".
sibflidades e novas verdades, e essas verdades nao sao empi'ricas ou meramente
sensoriais, e portanto urn simples modelo de espelho nao mais funciona. Ou po-
RV: Portanto, se nco houvesse mentes humanas, ainda assim haveria en-
der{amos expressar a analoSa nestes termos: com proposieoes empfricas voce
tidades ffsicas e biol6ctcas existentes.
esta tentando .espelhar em sinbolos os domfnios inferiores a fin de compreen-.
de-los melhor. Mas no mundo mental, onde sfmbolos oman para si'mbolos,
WILBER: Sin. Mais uma vez eu lembro a voc6 o fato 6bvio de que esses
a como se usassemos urn espemo para refletir outro espelho, que reflete o reflexo,
nfveis precederan em bilhdes de anos a ctrebro ou a mente humanos.
269
268
RV: Parece-me que sua maior preocupagao quanto ao paradigma hologra-
e assim por diante, nhm cfrculo de significados que voce e eu co-criamos toda
fico ou aos paradigmas da new a!ge em geral refere-se ao fato de que, em sua maio-
vez que conversamos. Este e o ci'rculo hermeneutico. 0 eu estf ciente de si mes-
ria, as questoes relatives a metodoloSa e a epistemoloda s5o ne?igenciadas ou
mo somente ao assumir o papel do outro - mac a mesma coisa vale igualmente
ignoradas. A hierarquia, como voce diz, colapsa.
para o outro. Portanto, aqui estamos, dois espelhos em discurio co-criando urn
ao outro em intercambio comunicativo. E a maneira pela qual voce acha seu ca-
WILBER: 0 que acontece 6 que quando a hierarquia colapsa voce perde
minho aqui e ali nesse mundo, nesse cfrculo hemeneutico, e radicalmente dife-
todas essas distingdes relativas. As diferentes metodoloBas - sensorial, empf-
rente do ato de soltar pedras e constatar que elas caem com a mesma velocidade
rico-analftica, mental, e assim pot diante - colapsam. E os verdadeiros interes-
no vfcuo, n5o 6? No empirismo, os sfmbolos que voce usa para representar o nun-
ses dos pesquisadores - tecnol6gicos, morais, emancipat6rios, soteriol6dcos -
do simplesmente representam o mundo, com maior ou menor precisao. Porem no
todos eles colapsam. E outros problemas, de todos os tipos, ten infcio. Foi esse
mundo mental e lingtifstico, os sfmbolos que voce usa para representar esse mundo
o problema que ocorreu com o paradigma hologrffico oritinal. Uma vez que ele
tamb6m estao envolvidos na criagao desse mundo, e af esta a grande diferenga.
possui apenas dois nfveis, ent5o o dominio de freqtiencias ten de ser a mesma
RV: 0 que acontece se voce ignora essa diferenga? coisa que o dominio implicado, e as infomag6es de leitura* ten de ser o do-
minio explicado. E as estruturas dissipativas tern de ser a ligacao entre a domf-
nio de frequsncias e as in.formag6es desdobradas - e assim por diante. Mas en-
WILBER: Os fenomenoloctstas tentam converter todas as verdades empfricas
em meras co-criae6es subjetivas. Voce sabe, a mente humana ajuda a co-criar os
tao Bohm declarou que o nfvel inplicado nao era o tiltimo; havia urn domfnio
"al6m de ambos". Isso nos d4 tres domfnios. Recentemente, ele falou de v4rios
exageros, etc. Algo semelhante a versao superampliada da hip6tese de Whorf-Sapir.
Os empiristas, por outro lado, tentam reduzir o cfrculo hermeneutico a meras nfveis do domfnio implicado. Isso mos di, talvez, seis nfveis ao todo. Ora, isso
transag6es sensoriais. No entanto, uma vez que ngo conseguem descobrir quais- esti muito mais proximo da ffli osofia perene. Minha pr6pria impressso 6 a de

quer referentes sensoriais, proclamam que a mente 6 uma caixa preta. Recusan que tao logo ele comece a descrever esses domfnios com urn pouco mais de deta-
a tentativa de mapear o cfrculo hermeneutico, e em vez disso contentam-se com 1hes, acabarf descrevendo a Grande Cadeia tradicional. Ele ja fala de "subtota-
monitorar contragees musculares, como disse Tolman. A fflosofia degenera-se lidades relativarnente independentes" - quase a mesma definigfro de Huston Smith
apenas em positivismo, e a psicoloda degenera-se apenas em behaviorismo. de domfnio ou ni`vel para a fflosofia perene.

RV: Portanto, urn paradigrna total. . . RV: Na ultina entrevista que fez para RevI.sz.o#, ele tendeu a incluir ma-
t6ria e pensamento nun tinico dominio.
WILBER: Urn paradigma total, na minha opinigo, teria de incluir tudo dos
modos de conhecimento que discutimos, e todas as metodolorias correlativas. WILBER: Ben, pen.so que 6 parte do problema que ele teria herdado de
Incluiria investigag6es sensoriais e hip6teses e testes empfrico-analfticos. Incluiria Krishnamurti. Krishnamurti esta tao interessado na Luz que ele quase se recusa
investigagdes e interpretae6es hermeneutico-hist6rica§, anflises e si'nteses con- ate mesmo a discutir as sombras. Por isso, ele tende a cometer o colapso da hierar-
ceituais. Incluiria cartografias mandalicas dos domfnios superiores, embora pa- quia e a amontoar nun mesmo saco a mat6ria e o sfmbolo.
radoxais em certos aspectos, em certos pontos, e incluiria uma efetiva convoca-
c5o para a pratica contemplativa. AI6m disso, o paradigma total, sua simples exis-
RV: Como todas as sombras, s5o, no final das contas, fius6rias, ele pensa
tencia, exidria uma postura social evolucion4ria, uma polftica Social articulada que elas sao igualmente ilus6ria§.
de modo a auxiliar os seres humanos a evolufrem atrav6s dos nfveisi3stagio§ da
existencia. Isso envolveria tentativas para a].udar na transformagao vertical rumo WILDER: Sin, isto 6 colapso da hierarquia. Penso que Bohm entrou nessa
aos nfveis superiores e tamb6m tentativas para desfazer as distorg0es e opressoes filosofia urn tanto vaga, e assim pretende incluir mat8ria, prana e mente como par-
que ocorreram horizontalmente, nos nfveis ji existentes. A vertical estf ligada tes mais ou menos equivalentes da esfera explicada. Ele entao teve de considerar a
com interesses soteriol6Scos, a horizontal com interesses normativos ou eman- esfera implicada como algo que .existia estendendo-se mais ou menos igualmente ao
cipat6rios, no sentido em que Habermas usa o termo. longo das coisas materials e dos pensamentos mentais, ou sob essas coisas e pensa-
mentos. Desse modo, ele se desviou da visao tradicional; o que se acha implicado na
RV: Isso nco poderia levar a uma engenharia social do tipo "sabemos-o- materia, diria a vis8o tradicional, 6 simplesmerite Clan vital, prana, a forea vital.
-que€-memor-papa-voce"?
RV: Portanto, prana 6 a ordem implicada na qual a materia esta encaixada?
WILBER: Nao, pois nesse paradigma a transcendencia nao pode ser impos.
ta. EL somente parfl.c!.pan!es na emancipaeao. S6 a escravidto pode ser imposta; * jtcad-our, isto 6, leitura no sentido inform6ti`co, "captada" nun terminal de sai'da
n5o se pode fongar uma pessoa a ser livre. (N. do T.).

270 271

Ll`
WILBER: Penso que isso estaria correto, tradicionalmente. Mas isso nao o nero aprendizado de outro paradigma mental - tudo isso esteve sendo omi-
impede a possibilidade de que a mat6ria sulja a partir de urn mar de energia ffsica. tido. Voce sabe, passamos por tudo isso com Alan Watts. Deus satte que ningutm
Parece-me ser esse o significado origival do estado de implicagao [!'mpJi.c4re#ess] fez mais pelos estudos mfsticos, especialmente pelo zen, que Alan, e eu nao co-
ffsica de Bohm, ou, pelo memos, do potencial quintico. Meu ponto de vista e que nheeo uma s6 pessoa da minha geracgo que estivesse interessada em transcen-
tanto a materia como o mar de eneraa .ffsica cristalizam-se a partir do prana. dencia e que nao fosse profundamente tocada por esse homem. Ninguem con-
Neste sentido, o prana 6 inplicado com relagfro a mat6ria. seguia escrever como Watts, njngu€m. Mas era apenas isso - palavras. Foi ape-
nas no final de sua vida que ele, urn pouco sub-repticiamente, comegou a admi-
RV : E o que e prana? Ou melhor, como a mente esta relacionada com o prana? tir que o amago do zen 6, na verdade, zazen. Mas, enquanto isso, a maioria das
pessoas que comegaraln com Alan estavam agora Com Suzuki Roshi ou com Sa-
WILBER: 0 prana 6 implicado com relapao a materia mas explicado com re- zaki, com Soen, com Katigari ou com Baker - isto 6, eles estavam realmente
1affro a mente; a mente 6 impncada com relagao ao prana mas expticada com rela- praticando, realmente trabalhando na transformagao espiritual. Isso nao e zen
"quadrado", como Alan acabou admitindo. Assim, a tinica boa fungao de urn
cao a alma; a alma 6 inplicada com relagfro a mente mas expricada com relagffo ao
fivro sobre zen seria a de persuadir o leitor a se empenhar no zazen e a encorajar
espfrito; e o espi'rito e a fonte e o estadorde-ser-o-que€ [§wcflHe§s] de toda a se-
aqueles .que ja o estao praticando para que continuem e aprofundem seus esforgos.
qtlencia. (Aqui voce ten de ser muito cuidadoso com a terminologa - voce po-
Da mesma maneira, o tinico objetivo importante de urn livro sobre misticismo
de quase inverter a seqtiencia da iedapao, dependendo da maneira como define
"implicado". Se por implicado voce entende "dobrado", como na palavra "en- seria o de persuadir o leitor a empenhar-se na pratica mfstica. E exatamente co-
mo urn livro sobre culinaria. Voce oferece receitas e convida o leitor a seguir em
volvido", entao prana envolve ou implica a mat6ria, .ou a contem. Isso pode pa-
frente e p6-las em pratica, e ele realmente faz isso e entao saboreia os resultados.
recer trivial, mas tenho visto muitos escritores usarem o conceito de Bohm em
Nao se supoe que voce apenas aprenda as receitas, memorize-as e que isso basta
sentidos que, na verdade, s5o diametralmente opostos. Estou usando imphicado
pal.a tom£-1o urn cozinheiro. Mas e exatamente isso o que muitos - nao todos -
para me referir ao fundamento malor do qual emerge o expticado.) Pe qualquer
maneira, na minha opiniao, devido ao fato de Bohm nao ter.origivalmente dis- proponentes do novo paradigma tern em mente. Como diria o pr6prio Watts,
seria como comer o m€nw em vez da refeigao. 0 novo paradigrna 6 apenas urn
tinguido de modo sistem4tico mat6ria, prana e mente, ele passou a procurar ho.
novo me#w, mas ningu6m mais fala sobre a refeigao, e isso me aborrece.
rizontalmente dimensoes ocultas do estado de inplicapao, deixando de ver que
esses tres domfnios sao jf dimensoes verticais do estado de implicagao relativa-
RV: Voce disse "nso todos".
mente uns aos outros. Mas eu penso que ale esta considerando cuidadosanente
esse esquema; temos de esperar para vcr.
WILBER: I]a muitos pensadores Hew 4ge perfeitamente conscios do que
estou falando. Marilyn Ferguson sempre enfatiza .a neces§idade de urn efetivo
RV: Uma tltima pergunta. Todos os que o conhecem sabem que voce^ se
desenvolvinento da atengao com vistas a transformacao. David Bohm 6 fana-
dedica muito mais a trabalhar sobre os seus pr6prios escritos que a criticar os
tico quanto a necessidade da transformagao radical, ou mutagao, da conscien-
trabalhos dos outros. Alem dos livros que voce publicou, tais como rHe .4fro#
cia, assim como Ren6e Weber e Bill Harman e Fritjof Capra e muitos outros tam-
f}o/.ecf e CJp /Tom Eden, voce esta quase terminando dois outros livros que des-
b6m o sao. Eu s6 quis juntar minha voz as deles. porque as vezes eases temas sim-
tacam ainda mais o paradigma abrangente que voce discutiu brevemente conosco
nesta entrevista. 0 que fez com que voce se desviasse do seu pr6prio trabalho? |]lesmente nco sao enfatizados o suficiente, tao ansiosos estamos para foljar uma
nova imagem mental daquilo que, .na verdade, 6 transmental. E a dnica maneira
de voce reainente colihecer o transmental € se transformar, de maneira efetiva.
WILBER: Ben, estava se expandindo rapidamente a nocto de que tudo o
Voce cozirina a refeig5o e a come, voce nso grava a me7!w com letras em relevo.
que voce ten a fazer para se tomar urn mfstico e aprender uma nova visao de E isso o que estarnos tentando dizer.
mundo mental. Se voce realmente pensa que pode incluir o Tao absoluto nun
novo paradigma - e nao obter outra coisa que 'um amontoado de contradigoes
e paradoxos - entso voce alimenta a id6ia de que basta aprender o novo para-
digma, seja ele qual for, para efetivamente transcender - realmente transcen-
der. Eu de fato ja ouvi fazerem essa afirmacao. I§so 6 urn desastre. Dessa ma-
neira, voce 6 naturalmente levado a vender o seu peixe e se calar, que 6 o que
espero fazer depois desta entrevista. Mas o fato de que a transformagao espiri-
tual exige anos de pratica meditativa ou contemplativa, que ela exige purifica.
gao moral e ffsica, que ela exige contacto direto com urn adepto vivo e experiente
na realizae8o divina, ou e pelo menos ajudada por esse contacto direto, que ela
exige uma abertura direta do olho da contemplagao, e nao ten nada a ver com
273
272
COLABORADORES rNDlcE REMlsslvo

Nota : Refer6ncias bibliogrdficas adicionais seguem-se i maioria dos capftulos


DAVID BOHM e professor de ffsica te6rica no Birkbeck College, Universidade de
I,ondres. E Ph.D. em ffsica I)ela Universidade de Berkeley, onde lecionou, e tan-
b6m ocupou cadeiras em Princeton, na Universidade de Sao Paulo e em Haifa. E ADN,15, 29 Canpo
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Amor-pr6prio, 114-116 6tica de, 4044
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FRITJOF CAPRA doutorou-se pela Universidade de Viena e lecionou na Universi- Aquarian Conspiracy, The, 9 238, 273
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na meditapfo, 198-199 Hermeneutica, 249-250, 252, 256, 257, 263, constlug5o de, 34, 36-37 e verificac5o em ffsica, 204
3/3n-dinensional, 99,100 270-271 Implicada, Ordem, 38-39, 124, 157-160, Pro/.4 ramb¢m Contemplativa, Pritica e Za-
Espaco/tempo, 73, 90-91,133-136,168-169, e patologia, 256-258 181§s.,192ss.. 233, 235 Zen
203 e psicologia, 256 corno inconsciente,128-129 Medium. The Mystic and the Physicist. The,
Espfrito,10, 65-67, 254, 263 e psicoterapia, 257 como ponte,103.104 200
e mat6ria,191-192 Hierarquia,149-155,174,177-178, 217-221, e psicoterapia,124-129 Mem6ria, 14, 21, 23-24, 34, 35-36, 68-69,
expresso em dados,15, 30 235-241, 247, 257-259, 271-272 Incelteza (de Heisenberg), Plincfpio da, 168-169
Espirituais, Disciplinas, 29,130 como ordem estratiricada, 217-219 116-118 Mente, 33, 36, 37,134-136, 248, 251, 268
Estadorde-sel-oque-6 (§wch#e§§), Doutrina do, e consciencia masculina, 219 Informapao, Teoria da, 46,136-142 e mat6ria,164-168,178:182, 249
247 Hindufsmo,149-150,156, 243 e conseiencia,139-142 a mecin!ca quantica,161-168
Evolu95o, 153, 178, 196-197, 224, 236,Holfstica, Medicina,196 Insight,66J59,16-]8,2SI Ve|a tamb6m ConseL€nciv
258-259 Veja tamb6m Satde como fma, 68 Metffo[a. 15
da consciencia, 28 Holografia,12, 22,122,131 Interpenetragfo mdtua,152,154-156 Mfstica, Experiencia,1498s.,181
Explicada, olden, 38-39,195 Hologrffico, C6rebro,167-171, 234 Invisible Landscape. The,18 e experiencin ordinalia comum,182,183
como exibiefro,182-183 e universo, 28,118 Isomolfismo,15, 25 ' ye/a /amb€m Transcendental, Experiencia

276 277
Misticismo, 203, 273 Pensamento, 3941, 66,187,189-191
Rumi (in/stico sufi), 28 Up frc)in Eden, 242,, 212,
crist5o, 243, 248 como consciencia fossflizada, 38
Samedhi, 43
e ffsica, 149ss., 164, 174ss., 200s§., como obra de arte,188
Samples, Bob,118-121
236-238 e autofraude, 39
Satide,16,196
Pre/a /¢mb€m Ciencia e misticismo Percepc5o.13, 31-35, 86, 214-217
Shinotsu, John,122-123
Modelo,137,141 crise da, 225-226
Sinplicidade, 5 9 Valores, 212-213, 226-227
analftico/hologrffico,136-142 do borrfo hologrfflco,133-136,168
Sincronicidade,15, 27,121 e pel.cep9ao, 226
cartesiano, 48-51, 212 e a natureza do universo, 37 Sistemas, Teoria dos,ilo, 222-223 Vazio, 96-98
da ordem impncada, 4748 est6reo (projecfro), efeito,14, 29
Smith, Huston,160, 235, 236 come pleno, 97
M6nadas (de Leibniz),14, 91 e valores, 226 Special Theory of Relativity, The, 31 Vedanta, 243, 247
Morte, 39 Perene, Filosofia, A,149,150,153, 231-232,
Structure of Scientific Resolutions. The, 22 Verdade, 64
e o ego, 39 237, 240, 271
PES,115,121-122
Pineal, Grandula,14, 28
Pbns and the Structure of Behavior, 21
Tao, 233, 242, 245, 247, 250 Watson, Lyall, 22
Nagaduna, 250-251 Plat5o, Caverna de, 38-39, 86, 232-233,
N§ordualidade, 87, 231, 247, 254
Too da F{Sica. 0, 9 , 200-230 Watts, Alan, 9,121, 273
235-236
Nao-manifesto/manifesto, Teoria (de Bohm), Tempo, 51, 62, 89, 90,lil,193 Weber, Ren6e, 9, 3844ss., 174ss., 238, 273
Porltcl de Mutac@o, a , 212 , 222 "Terceiro Omo",14
56-57, 62ss., 72ss., 235 Welwood, John,123-130,160-161
Priblam, Karl,11,13-16S§..119-123,142-143
Needleman, Jacob, 130 Thompson, William lrwin, 132 Wheeler, John,172
e Alan Watts,121
Tiller, William,13 3-136 , 170-171 Whitehead, Alfred North, 28, 243-244, 247,
Neurofisiologia,116-118 . Prigogine,I.,171, 260-261
Newton, Isaac, 50 Totalidade,188-190 265, 266
Princfpios do domrnio de freqti6nch, 37
e ordem implicada,177,189-192 WhorfLsapir, Hip6tese de, 268-269, 270
Psicocinese, 27,121-122
Transcendental, Experi6ncia,15.16, 20,.26,Wilber, Ken,149ss.,174, 207, 208, 214, 217,
Psicologia, 25 6
29 220-222, 225, 231.273
budista, 243
Occam, Navalha de, 58-60 yc/a fambcm Mfstica, Experiencia
e mecanica qu§ntica, 40
0ndas ceret}rais, Ritmo das, 14, 15, 23, 35, e retigiao,16
116-118,131 Psicoterapia,127-129, 257
0rdem, 64, 70-71 coma holograma,16,17 row 4"d your Br4i.n, 11
cartesiana, 48-51, 212 Unidade-na-djversidade, 8,131
Psfquicos (paranormais), Fenomenos, 27, 29,
dobrada/desdobrada (de Bohm), 12, 25, Universo,11, 26
136,181,193-196
47ss.,131 coma holograma, 8, 25-26,108-112
hologrffica, 37 como m4quina, 60-62 Zazen, 273
inplicada/explicada (de Bohm), 8-9, 25, natu[eza do, e percep9ao, 22ss., 37
Quantica, Mecanica, 53-54, 56-57, 60, 61,
36-37,. 47-52, 55ss., 71,181s8., 235 177,185
ye/4 J¢mb4m lmplicada, Ordem a Expli- e a mente,161-168,193
cada, Ordem e fenomenos psfquicos,18
e mecahica clfssica,loo
e m6todo -estatfstico, 60
"Quantica, Revolu95o", 8
Pantefsmo, 231-233, 238
Paradigma,10,130,142, 212, 236, 245, 270,
272 Ravindra, Ravi, 207, 208, 210
Buda como, 212 Realidade, 25, 26, 54-56, 58, 87-88, 101,
cartesiano, 212, 225, 226 130-133,143-144, 241, 246
mudan¢a de, 22, 28.30, 118, 119, 138, atomi'stica, 71-72
149, 225 e clareza, 61
ye/4 fomb4m Hologrffico, Paradigma (mo- mutfvel (de Pribram), 20-30,121-123 ,.
delo) novas perspectivas sabre a, 11-19, 55,
Paradoxo, 29, 41, 236, 249, 250, 254, 263-266 130-133
de Prit)ram,14-16
Relatividade, Teoria da, 203
de Zenao, 89 ReligiFo,16, 98,150,153, 231, 237
do cretense, 264-265
e ci€ncia, 7-10
Parapsicologja, 12-13,18, 164
e ffsica, 40
P_art and the Whole, The, 223
zuni,180
Pelletiel, Kenneth R.,116-118
ye/.a fambcm Misticismo

278

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