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ALBERTO TAKAOKA ESPECIAL/INTOXICAÇÃO

ESPECIAL/INTOXICAÇÃO POR
POR FUMAÇA
FUMAÇA

20 Emergência
20 Emergência MARÇO / 2017
PERIGO
IMINENTE
Especialistas alertam de oxigênio abaixo dos limites seguros. Apesar
de possuir defesas naturais, o grau de tolerân-
sobre os danos causados cia do ser humano para a falta de oxigênio é li-
pela fumaça, ressaltando mitado. Conforme o manual “Fundamentos da
o uso correto e manutenção luta contra o fogo”, da IFSTA (International Fire
dos equipamentos de Service Training Association), os efeitos fisiológi-
cos da redução do oxigênio produzem sinais e
proteção sintomas que vão desde aumento do ritmo res-
piratório, falta de coordenação, dor de cabeça,
fadiga, enjoo, inconsciência e até a morte em
Além das chamas, um dos grandes perigos poucos minutos por falha respiratória e insu-
e desafios dos profissionais do fogo diante de ficiência cardíaca.
uma ocorrência é a fumaça. Segundo especia- Cada fonte de fumaça gera um tipo de mistu-
listas, uma das principais causas de mortes em ra com concentrações diferentes, podendo ge-
incêndios, a fumaça é uma mistura de gases, va- rar gases tóxicos com alto risco de morte por
pores e partículas sólidas finamente divididas e inalação aguda. Dentre eles, podemos citar:
transportadas pelo ar e por gases desprendidos Cl2 (Gás Cloro), CO (Monóxido de Carbono),
dos materiais que estão em combustão. A pre- CO2 (Dióxido de Carbono), HCN (Cianeto de
sença de fumaça, associada ao aumento de pres- Hidrogênio), NH3 (Amônia), SO2 (Dióxido de
são gerada pela emissão e liberação de gases, Enxofre), entre outros.
além de deixar o ambiente com risco iminente
de asfixia bioquímica, pode reduzir o percentual Reportagem de Luana Cunha

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ESPECIAL/INTOXICAÇÃO POR FUMAÇA
nas células vivas do corpo”, alerta Ro-
JAMES TAVARES/SECOM

cha. Nesta reportagem, Emergência


apresenta dois casos reais dos efeitos
tóxicos da fumaça em bombeiros (ver
boxes “Foi instinto” e “Superação”).
É importante destacar que o termo
fumaça não relaciona unicamente às
fases gasosas oriundas de um proces-
so de combustão. “Em situações de
emergência, podemos encontrar fases
gasosas tóxicas por meio da presença
de gases, vapores, poeiras e névoas, o
que também pode causar intoxicação”,
acrescenta Rubens Cesar Perez, Enge-
nheiro Químico, especialista em Incên-
dios Industriais.
Conforme Edson Haddad, especialis-
ta em Emergências Químicas, em caso
de intoxicação, a vítima deve ser retira-
A composição química da fumaça é muito complexa e da imediatamente da cena e levada para
variável uma vez que é influenciada por diversos fatores um ambiente isento de contaminação
e, se for o caso, receber oxigênio para
Segundo o médico toxicologista e Cloro e a Amônia. recuperar a respiração. “Mesmo que a
pneumologista, Eduardo Mello de Ca- De acordo com Marco Aurélio Ro- vítima não perca a consciência ou a re-
pitani, professor e pesquisador da Fa- cha, especialista em Higiene e Segu- cupere em pouco tempo, é importante
culdade de Ciências Médicas da Uni- rança, em Gestão de Emergências e contatar um centro de intoxicações e
camp e vice-coordenador do Centro de Desastres e em Toxicologia Geral, a informar o ocorrido, a natureza quími-
Controle de Intoxicações da instituição, composição química da fumaça é mui- ca do contaminante e seguir a orienta-
as lesões pulmonares dependerão do ti- to complexa e variável uma vez que é ção de um médico especialista”, afirma.
po de material inalado, da intensidade e influenciada por diversos fatores, den-
do tempo de exposição (agudo, prolon- tre eles a composição química do(s) DIFICULDADES
gado e intermitente). “Pessoas vítimas material(ais) em combustão, a oxige- Os cenários de emergência envol-
de incêndio, poderão apresentar des- nação e o nível de energia (calor) no vendo combate a incêndio são os mais
de irritação das vias aéreas superiores, processo. “Podemos dizer que a toxi- variáveis possíveis, o que traz gran-
apresentando-se com broncoespasmo cidade da fumaça depende das substân- des desafios e complexidade operacio-
(sintomas do tipo asmático), falta de ar, cias que a compõe, sendo que a mais nal para os profissionais combatentes.
dificuldade respiratória, e edema pul- comum é o CO, encontrado em todos Conforme especialistas, incêndios es-
monar, que nestes casos chamamos de os incêndios, resultado da combustão truturais, por exemplo, geram enorme
“dano alveolar difuso”, no qual os al- incompleta dos materiais combustíveis quantidade de fumaça que se propaga
véolos dos pulmões, responsáveis por à base de carbono como madeira, teci- de forma diferente em cada tipo de
receber o ar que respiramos e trocar o dos, plásticos, líquidos inflamáveis, ga- edificação. Segundo o major Henguel
oxigênio dele pelo CO2 por nós produ- ses combustíveis, etc. O efeito tóxico Ricardo Pereira do CBPMESP (Corpo
zido, vão se encontrar cheios de líqui- deste contaminante é a asfixia bioquí- de Bombeiros da Polícia Militar do Es-
do e inflamação como reação aos gases mica, pois ele substitui o oxigênio no tado de SP), “há, cada vez mais, mate-
inalados, produzindo insuficiência res- processo de oxigenação efetuado pela riais sintéticos nos incêndios, fazendo
piratória que pode ser bastante grave e hemoglobina”. com a que propagação ocorra de ma-
até levar à morte. O broncoespasmo e Outro agente que representa risco neira muita mais rápida. Este fato faz
o edema são situações mais agudas re- significativo nos incêndios é o gás cia- com que os bombeiros estejam mais ex-
lacionadas às altas concentrações das nídrico (cianeto ou cianureto de hidro- postos a fumaças extremamente tóxicas
substâncias em pouco tempo de ex- gênio), produzido na presença de ma- e temperaturas que podem passar dos
posição”. Conforme Capitani, outras teriais que contenham nitrogênio em 1.000°C, em alguns locais”. O entendi-
afecções mais raras podem ocorrer se- sua estrutura molecular e que sofrem mento do comportamento da fumaça
cundariamente a uma exposição agu- decomposição pelo calor como seda, é essencial para um combate efetivo,
da muito intensa, como a formação de náilon, poliuretano, acrilonitrila, buta- por isto a informação do material que
cicatrizes fibróticas nos pulmões por dieno e estireno. “Este agente, bem co- está em combustão é de extrema im-
conta de pneumonias adquiridas du- mo outros compostos cianógenos, têm portância. “Fumaças provenientes de
rante a recuperação da vítima, que são a capacidade de bloquear a atividade de produtos químicos trazem complexida-
alargamentos anormais dos brônquios todas as formas de seres vivos, exercen- de adicional, pois antes de tomarmos
por ação de agentes irritantes como o do uma ação inibidora de oxigenação qualquer ação, é necessário que saiba-
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mos exatamente quais materiais estão
causando esta fumaça tóxica, para que
possamos aplicar os agentes extintores
adequados. Por exemplo, não podemos
utilizar água em determinados produ-
tos químicos, pois uma reação em ca-
deia pode ocorrer, aumentando ainda
mais a complexidade da ocorrência”,
alerta Henguel.
Identificar e reconhecer elementos
tóxicos presentes no incêndio é uma
das principais dificuldades relatadas
pelos especialistas. “Um dos sinais
mais básicos é a simples análise visual
da coloração da fumaça, o que chama-
mos de leitura da fumaça. Durante o
processo de treinamento e capacitação
das equipes, informações como estas
devem ser detalhadamente tratadas e
compartilhadas com os profissionais,
objetivando potencializar o diagnóstico
o mais breve possível. Existem colora-
ções que podem sugerir a presença de
certos elementos nocivos, tais como o
monóxido de carbono, gases nitrosos,
entre outros”, ressalta Perez. Porém,
Haddad alerta que, em algumas situ-
ações, pode ocorrer de a fumaça não
ter cor e, portanto, não ser percebida
pelas equipes, aumentando as chances
de intoxicação.
Outra dificuldade observada é em
relação aos equipamentos de proteção
respiratória (máscaras autônomas), uma
vez que o controle da ocorrência exige
tempo superior à autonomia do equipa-
mento, necessitando a troca do cilindro.
“Sabemos que, em algumas localidades
há poucos equipamentos reservas e al-
guns não contam nem com compres-
sores para realizar a recarga, tendo que
ser enviados a outras localidades, preju-
dicando, desta forma, a adequada res-
posta”, afirma Rocha.
Para prestar um atendimento imediato
a bombeiros que sofram intoxicação por
fumaça durante uma ocorrência, o CBP-
MESP atua em conjunto com equipes
médicas do GRAU (Grupo de Resgate
e Atendimento a Urgências). Segundo o
major Henguel, esta atuação é essencial
para evitar consequências graves. Como
visto anteriormente, a intoxicação por
fumaça pode gerar danos (doenças) a
curto e longo prazo, trazendo grandes
consequências às vítimas. Em alguns
casos, os sintomas podem aparecer dias
após o combate, sendo necessário o mo-
nitoramento dos profissionais.
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Proteção individual
 Tipos de equipamentos e os cuidados
na utilização e manutenção dos EPIs e EPRs
Para atender ocorrências em locais biente (incêndio urbano e em espaços
nos quais podem existir a deficiência confinados), arranjo físico, dificuldade
de oxigênio e/ou presença de substân- de locomoção e mobilidade e tempo
cias tóxicas, presença de gases, mate- de trabalho”.
riais particulados em suspensão no ar A capitão Fernanda Rafaela, do CBP-
ou mesmo a variação da concentração MESP (Corpo de Bombeiros da Polícia
de oxigênio, os profissionais de emer- Militar do Estado de SP), salienta que,
gência devem, obrigatoriamente, fazer quando se pensa em intoxicação por
uso de equipamentos de proteção, tais fumaça, normalmente há uma tendên-
como EPI (Equipamento de Proteção cia de lembrar somente dos incêndios
Individual) e EPR (Equipamento de nos quais há grande concentração de
Proteção Respiratória). “EPIs e EPRs monóxido de carbono (CO), devido
são essenciais para o desenvolvimento à queima de derivados dos hidrocar-
das ações de combate a incêndios ou bonetos (gás natural; petróleo e seus
fumaças tóxicas. Estes equipamentos derivados). “No entanto, não se pode
são, de fato, os únicos obstáculos en- deixar de considerar as fumaças tóxi-
tre o agente tóxico e o corpo do pro- cas provenientes de vazamentos e da
fissional. Não utilizar estes recursos é queima de produtos químicos, uma
o caminho certo para a intoxicação e vez que o tipo de proteção requerida
lesões a curto ou longo prazo”, afirma nestes casos, pode ser diferente. Estes
o especialista em Emergências Quími- equipamentos são importantíssimos e
cas, Edson Haddad. indispensáveis, seja durante o combate
De acordo com Marco Aurélio Ro- ao incêndio, seja durante a atividade de
cha, especialista em Higiene e Seguran- rescaldo”, ressalta.
ça, em Gestão de Emergências e Desas- A preocupação com os diversos ti-
tres e em Toxicologia Geral, a escolha pos de gases resultantes de materiais
do equipamento deve ser adequada ao em combustão e a preparação e prote-
risco que será enfrentado. “Devem ser ção das equipes de emergência diante
observados aspectos para a correta in- das ocorrências, evoluiu com o passar
dicação, tais como presença e percentu- dos anos. Conforme Rubens Cesar Pe-
al de oxigênio no ambiente, existência rez, Engenheiro Químico, especialis-
de contaminantes, classe toxicológica ta em Incêndios Industriais, durante
e, se possível, verificar sua concentra- muito tempo, os corpos de bombeiros
ção, questões de confinamento de am- se preocupavam com as fases gasosas
ARQUIVO SCOTT

Equipamentos de proteção são importantíssimos


e indispensáveis, seja durante o combate ao
incêndio, seja durante a atividade de rescaldo

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ESPECIAL/INTOXICAÇÃO POR FUMAÇA
ordinárias do processo de combustão significativa mudança na composição
do dióxido de carbono e o monóxido química dos produtos da combustão FOI INSTINTO
de carbono. “Com a proliferação cada de um incêndio estrutural, por exem-

ARQUIVO PESSOAL
vez maior na utilização de materiais de plo, reflete a importância dos profissio-
acabamento e itens produzidos a partir nais selecionarem e utilizarem de forma
de elementos sintéticos, as fases gaso- adequada os equipamentos de proteção
sas oriundas dos incêndios começaram respiratória”, fala.
a representar um risco significativo pe- Para garantir a utilização e manu-
la presença de produtos tóxicos. Esta tenção correta dos equipamentos de
proteção respiratória, a Fundacentro
(Fundação Jorge Duprat Figueiredo de
SUPERAÇÃO Segurança e Medicina do Trabalho), li-
“Por volta das 15h do dia 29 de novembro gada ao Ministério do Trabalho, criou
de 2013, fomos acionados para combater um o PPR (Programa de Proteção Respira-
princípio de incêndio no Memorial da Améri- tória), um conjunto de recomendações
ca Latina. Chegando no local, nos deparamos e requisitos mínimos para a seleção
com uma pequena fumaça. O fogo estava num e utilização correta dos respiradores. “Eu estava na base de Guaramirim/SC, quan-
compartimento, um sobreteto do teatro, onde “Uma das principais ações que devem do a corporação de São Francisco do Sul acio-
eram guardados materiais de limpeza e não ser realizadas por um usuário de más- nou o PAM (Plano de Auxílio Mútuo) devido a
conseguíamos visualizar. Nós tentamos acessar um incêndio num galpão de armazenagem de
cara autônoma é a garantia que a peça
este compartimento de diversas maneiras, só fertilizantes. A primeira informação foi de que
que o caminho era estreito, e não conseguía-
facial inteira (cobertura das vias respi-
o material que estava em combustão era nitra-
mos passar com o equipamento de respiração. ratórias) esteja vedando bem na face. to de potássio (uréia). Porém, quando já está-
Além disto, o tempo de subida era maior que o Para que esta vedação correta seja al- vamos combatendo no local percebemos um
tempo de oxigênio que a gente tinha. Então re- cançada, todo usuário deverá ser sub- cheiro muito forte. Era nitrato de amônio, um
solvemos voltar até embaixo e fazer uma troca metido ao ensaio de vedação, conforme produto tóxico, e não estávamos devidamente
de cilindro. Neste momento, uma fumaça negra descrito no Programa da Fundacentro”, equipados. Logo após a descoberta, uma par-
tomou conta do ambiente e não se enxergava afirma Antônio Vladimir Vieira, chefe te do teto da edificação caiu e um colega ficou
mais nada. Eu e mais um colega ficamos pre- do Serviço de Equipamentos de Segu- preso no local e eu entrei para resgatá-lo. Foi
sos, o resto conseguiu sair. Como os nossos rança da instituição. Segundo ele, o ob- algo automático. Encontrei-o e conseguimos
cilindros já estavam pela metade, o ar acabou. jetivo principal do ensaio é a definição nos arrastar até a área amarela e então eu caí.
A última coisa que eu lembro foi de ter batido Fui carregado pelos colegas para a área verde
do tamanho correto do equipamento.
com meu machado no vidro para que o pesso- e aí começou a minha dificuldade para respi-
al pudesse nos achar. Acordei três dias depois
“Cada indivíduo possui seu perfil an-
rar até que eu apaguei. Fiquei 15 dias interna-
no Hospital das Clínicas, onde fiquei internado tropométrico da face. Neste caso, uma do em coma induzido, num total de 42 dias no
por duas semanas. O gás tóxico que eu respirei peça facial inteira de tamanho médio hospital e 70 dias em casa em recuperação. Tive
foi o cianeto. Me aplicaram o antídoto no local poderá estar vedando bem para um in- uma intoxicação química, comprometendo, na
mesmo, e no hospital lavaram meus pulmões divíduo e para outro, esta peça poderá ocasião, 76% dos pulmões e hoje, três anos e
quatro vezes. Graças a Deus eu não fiquei com ser de tamanho pequeno ou grande”, três meses depois, ainda tenho 8% de residual
nenhuma sequela. O primeiro combate que acrescenta. nos pulmões e algumas sequelas como tosse
eu fiz depois deste episódio eu fiquei com um Além disto, Perez enfatiza que muitas e falta de ar. Não me arrependo de ter voltado
pouco de receio de entrar na edificação, mas substâncias tóxicas em fase gasosa têm para ajudar meu colega. Não foi um ato de he-
quando eu vi, já estava dentro junto com meus como rota de ingresso (principal ou se- roísmo, foi instinto de sobrevivência e eu faria
colegas, combatendo as chamas novamente”. de novo se fosse preciso”.
cundária) no organismo a absorção por
Cabo Eduardo Roberto de Lima, Bombeiro da Reserva do
meio da pele, e este aspecto deve ser
Davi Marcellino, Bombeiro Voluntário de Santa Catarina,
CBPMESP, vítima de intoxicação por fumaça no Memorial considerado no momento de selecionar vítima de intoxicação por fumaça no galpão de armaze-
da América Latina, em 2013, na cidade de São Paulo/SP. e estabelecer os equipamentos de pro- nagem de fertilizantes, em 2013, no Porto de São Fran-
cisco do Sul/SC.
teção para uma emergência, incluindo
ARQUIVO PESSOAL

também vestimentas, luvas e calçados.


do seu equipamento de proteção indivi-
CUIDADOS dual, verificando danos físicos (rasgos,
De acordo com os especialistas, o desgastes, costuras, estados das fibras
cuidado e conservação dos EPRs e e isolamentos). Também deve realizar
EPIs também devem ser sempre ob- a limpeza e retirada de elementos con-
servados, principalmente após a fina- taminantes, durante qualquer tipo de
lização das ocorrências. Este cuidado atendimento de ocorrência. A falta de
evita que os bombeiros sejam conta- uma lavagem, ainda que mecânica, con-
minados com produtos tóxicos que tribui para a permanência de elemen-
podem estar impregnados nos mate- tos nos equipamentos de proteção in-
riais utilizados durante a emergência. dividual, incluindo-se luvas, capacetes
“O usuário deve fazer a vistoria visual e balaclava”, explica Rafaela. No caso
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de equipamentos de proteção respira-

ARQUIVO SCOTT
tória, além da inspeção regular realizada
pelo usuário, todo o equipamento deve
ser descontaminado após qualquer tipo
de ocorrência, não somente as másca-
ras como também arreios, mangueiras,
cilindros e válvulas.
Atualmente, os EPRs são divididos
em duas partes: Equipamentos Filtran-
tes e Equipamentos Autônomos. Os
equipamentos autônomos ainda po-
dem ser divididos em dois tipos: Cir-
cuito aberto e Circuito fechado. E os
equipamentos filtrantes podem ser en-
contrados nas seguintes configurações:
máscaras semifaciais; máscaras faciais;
Em caso de dúvidas ou desconhecimento
e máscaras de fuga. De acordo com o do grau de exposição e contaminação,
PPR da Fundacentro, todas as máscaras indica-se a proteção máxima
autônomas devem possuir um dispositi-
vo de alarme (sonoro e/ou vibratório) do-se cilindros e compressores”. estar devidamente equipadas e prepara-
que informe o usuário que o ar que está A avaliação e seleção dos materiais de das para que seus profissionais não so-
no cilindro está terminando, permitindo proteção corretos para cada usuário e fram nenhum tipo de dano. “Podemos
assim que ele saia da área contamina- tipo de ocorrência é fator determinan- dizer que há uma diversidade e variabi-
da, para substituir ou carregar o oxigê- te na solução das emergências, no sal- lidade muito grande de preparação dos
nio. Vale ressaltar que a autonomia do vamento de vítimas e, obviamente, na corpos de bombeiros, variando de esta-
sistema varia de acordo com o volume segurança adequada dos bombeiros. do para estado e até de município para
do cilindro, pressão de recarga, nível de Por isto, é de extrema importância um município. Mas a maioria dos corpos de
treinamento e condições físicas do res- programa minucioso de seleção, con- bombeiros (militares e/ou voluntários)
pondedor, além do nível de esforço fí- servação, inspeção, higienização e ma- que conheço dispõe de recursos ade-
sico desenvolvido pelo combatente em nutenção destes equipamentos. Espe- quados para a proteção de suas equipes,
relação à carga de trabalho executada. cialistas ainda lembram que, em caso de sendo fornecido capacitação periódi-
Segundo o tenente-coronel Moisés Fon- dúvidas ou desconhecimento do grau ca”, afirma Rocha. Entretanto, o espe-
tes Barbosa da Silva, do CBPMESP, “há de exposição e/ou contaminação, deve cialista também salienta que, por ou-
muitos padrões de máscaras e válvulas sempre ser indicada a proteção máxima. tro lado, ainda existem localidades que
de demandas diferentes e a consequen- carecem de equipamentos de proteção
te dificuldade de peças de reposição. PREPARAÇÃO respiratória suficientes. “Isto é preocu-
Numa operação que necessite o uso de Incêndios em edificações ocorrem pante, uma vez que a proteção respira-
EPR, este material deve estar presente todos os dias no país. Por isto, as equi- tória é de fundamental importância nas
de forma abundante, suficiente, incluin- pes dos Corpos de Bombeiros devem atividades operacionais dos bombeiros,

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ESPECIAL/INTOXICAÇÃO POR FUMAÇA

Novas tecnologias
seja na extinção de incêndios, produtos
perigosos ou outras emergências com
risco de intoxicação e/ou deficiência de
oxigênio. Na maioria das ocorrências o
bombeiro vai se deparar com um am-  Profissionais falam sobre as novas tendências
biente com grande acúmulo de gases em equipamentos de proteção individual e coletiva
tóxicos, fumaça e baixa concentração
de oxigênio”, complementa. Visando oferecer maior conforto ao de forma contínua, com sistemas de led
No CBPMESP é realizada uma gestão profissional, sem deixar a proteção de la- e/ou leitores no interior das peças faciais
financeira para que o serviço operacional do, os EPIs (Equipamentos de Proteção (máscaras). Outra importante tecnologia
disponha dos materiais de proteção ade- Individual) e EPRs (Equipamentos de embarcada em algumas marcas é a da te-
quados, não somente contra intoxicação, Proteção Respiratória) estão se tornan- lemetria, que possibilita o gerenciamento
mas também contra outros riscos ine- do cada vez mais leves, mais resistentes de vários profissionais utilizando equipa-
rentes à profissão. “Além disto, há anos, e modernos. Conforme Luciano Corso, mentos autônomos de forma simultâ-
tem-se investido no estudo do compor- representante da Scott Safety Brasil, com nea. As planilhas telemétricas permitem
tamento do fogo e da fumaça, por meio base no estudo de milhares de ocorrên- controlar vários parâmetros, bem como
de simuladores de incêndio de última cias em todo mundo, a NFPA 1981 (nor- o controle do consumo de cada profis-
geração, instalados na Escola Superior ma internacional mais exigente para certi- sional, uma variável importantíssima no
de Bombeiros, em Franco da Rocha/SP. ficação de EPRs) avançou muito nos últi- gerenciamento de operações de emergên-
Os avanços têm sido primordiais para o mos anos, trazendo um grau de proteção cias”, acrescenta.
aprimoramento de técnicas de combate, ainda maior para os bombeiros. “Desde De acordo com os profissionais, re-
assim como para a proteção mais efetiva 2007, a NFPA exige que os EPRs tenham centemente destacou-se a necessidade
dos bombeiros”, ressalta Fontes. proteção contra intoxicação por agentes de buscar EPRs que suportem testes
Em alguns estados brasileiros, os Cor- DQBRN (Defesa Química, Biológica, mais rigorosos, contemplados na NF-
pos de Bombeiros Voluntários estão pre- Radiológica e Nuclear) de Guerra, como PA 1981, edição de 2013, tais como: pa-
sentes no atendimento a ocorrências. Anthrax e Gás Mostarda, trazendo prote- ra obter a norma NFPA o equipamento
Em 2013, as corporações voluntárias de ção total do profissional contra qualquer necessita de aprovação referente a testes
Santa Catarina se depararam com um in- fumaça tóxica presente em incêndios e sob a norma NIOSH CBRN (proteção
cêndio de grande porte, em um galpão emergências químicas. Após o 11 de Se- química, biológica, radiológica e nucle-
de armazenagem de fertilizantes, na ci- tembro, os EPRs certificados pela NFPA, ar); para os testes dos EPRs são estabe-
dade de São Francisco do Sul, confor- também passaram a contar com diversos lecidos 29 itens a serem observados na
me citado no Box Ocorrências recentes sistemas eletrônicos, como comunicação, NFPA 1981; itens como válvula carona,
envolvendo fumaça tóxica no Brasil. Na visão térmica, sensor de movimento e te- vibração de máscara (que é um backup do
ocasião, os profissionais não estavam lemetria. Estes recursos vêm auxiliando sistema sonoro de alarme), resistência à
devidamente equipados, pois a primei- e protegendo os bombeiros em diversos chama pelo tecido, resistência à radiação
ra informação era de que o material em tipos de operações, agregando maior se- e ao calor no tecido, resistência ao calor
combustão não era tóxico, quando, na gurança e flexibilidade”, explica. nos fios, corrosão acelerada, display de lu-
verdade, era Nitrato de Amônio. Con- O Engenheiro Químico, especialista zes (HUD), recarga de emergência (RIC/
forme o comandante do Corpo de Bom- em Incêndios Industriais, Rubens Ce- UAC) e resistência ao calor e imersão são
beiros Voluntários de São Francisco do sar Perez, concorda que a incorporação itens contemplados pela norma; o teste
Sul, João dos Santos Júnior, o inciden- eletrônica nos equipamentos autôno- de engolfamento em chamas que é um
te serviu para mudar diversos aspectos mos tem revolucionado e trazido ótimos teste que simula o fenômeno de flashover
nas corporações do estado em relação à recursos para o combate a incêndios. também é requerido; e exige-se a vazão de
preparação dos profissionais para este ti- “Equipamentos modernos permitem o 103 litros por minuto, ou seja, observan-
po de ocorrência. “A mudança ocorreu, monitoramento de pressão e consumo do a média de consumo de um bombeiro
principalmente, na aquisição de novas submetido a um grande esforço
ARQUIVO CRISTANINI DO BRASIL

viaturas, equipamentos de proteção res- físico, há algo mais próximo da


piratória e treinamentos específicos para realidade.
este tipo de ocorrência”, afirma. Conforme a assessoria de co-
Em relação à preparação dos bombei- municação da Resgatécnica do
ros do Brasil, especialistas apontam uma Brasil, representante da Scott
evolução, porém acreditam que muito Safety no Brasil, “é importante
ainda deve ser feito para o país atingir lembrar que os EPRs, devem ser
um grau de excelência neste aspecto, questionados e bem avaliados na
principalmente quando comparado a hora de uma compra. A Scott
evolução tecnológica dos equipamentos Safety vem inovando, apresen-
de proteção ao longo dos últimos anos Tecnologia da Cristanini permite tando equipamentos que prio-
segurança dos bombeiros em ocorrências
e aqueles que estão em uso na maioria de incêndios em ambientes fechados rizam o socorrista para que no
das corporações do país. momento do resgate estejam de
28 Emergência MARÇO / 2017
‘mão livres’, para a realização das opera- se desloca, portanto, a saída

ARQUIVO SCOTT
ções com mais segurança e agilidade. Ne- da fumaça deve ser na dire-
les se acoplam sistemas de comunicação, ção em que a propagação do
câmeras térmicas e ainda o medidor de fogo será menos danosa”.
pressão enviada para o sistema”. Pensando na segurança
dos bombeiros em ocor-
PROTEÇÃO COLETIVA rências de incêndios em
Além dos equipamentos de proteção ambientes fechados, a Cris-
individual, existem conceitos de proteção tanini do Brasil apresenta o
coletiva, muito utilizada em incêndios que WJFE 350 Walter Modular.
geram fumaça tóxica. Segundo Perez, as “O equipamento permite
ações coletivas geram melhores resulta- a abertura de um furo em
dos do que aquelas executadas de forma uma parede de qualquer ma- Scott Safety apresenta equipamentos
individual, porém nem sempre elas são terial, por meio de uma lan- que priorizam o socorrista
possíveis. “As técnicas de ventilação for- ça especial com um jato de
çada ou natural, utilizadas em incêndios água de alta pressão e abrasivo”, explica maça (posicionado no topo da edifica-
estruturais, têm como principal objetivo Antonello Confente, gerente comercial ção), garantem o gradiente que favorece
o controle e combate dos incêndios. Em do setor civil e industrial da empresa. Se- a ascensão da fumaça. Ou seja, a fumaça
função do tipo da ocorrência, outras téc- gundo ele, a água lançada pelo furo per- fica localizada nas partes altas da edifica-
nicas podem ser utilizadas para o controle mite o resfriamento do ambiente, assim ção, resultando em um ambiente respirá-
de fases gasosas com características tóxi- como a extinção do fogo, permitindo a vel e de baixa agressão, permitindo que
cas. Em vazamentos de gases e/ou vapo- entrada ou saída do local. as pessoas que se encontram no interior
res podem ser utilizadas cortinas de água se desloquem pela parte baixa, onde não
ou mesmo jatos em forma de neblina CONTROLE DE FUMAÇA há fumaça. “O gradiente gerado, garan-
para solubilização ou redirecionamento Ainda em relação à proteção coletiva, te também que a temperatura esperada
destas fases gasosas. Entretanto, consi- existem ferramentas utilizadas nas edifi- no entorno do foco do incêndio seja di-
derações quanto à solubilidade em água cações como, por exemplo, sistemas de minuída, o que facilita a identificação e
e aspectos de incompatibilidades devem exaustão de fumaça ou controle de fuma- aproximação das equipes de emergência,
ser levados em conta na hora do plane- ça, como também é chamado, muito utili- além de resultar em menor propagação
jamento operacional”, exalta. zado em países de primeiro mundo. “Este do incêndio”, complementa.
Dentre os tipos de proteção coletiva sistema visa à redução de gases quentes e Segundo Rosaria Ono, arquiteta e urba-
existem os ventiladores de pressão po- fumaça entre a área incendiada e as áreas nista, co-fundadora e atual coordenadora
sitiva de alta potência, usados para em- adjacentes, baixando a temperatura inter- do GSI (Grupo de Fomento à Seguran-
purrar a fumaça, bem como ventiladores na do ambiente, limitando a propagação ça contra Incêndio), a implementação de
de pressão negativa para extrair a fuma- do incêndio e melhorando as condições sistemas de controle de fumaça no Brasil
ça, sendo eles à combustão, elétrico ou ambientais para o abandono, resgate e é ainda muito recente, pois as primeiras
hidráulico. Atualmente, o CBPMESP controle do incêndio”, explica Vinicius exigências surgiram nas regulamentações
possui os VPP (Ventiladores de Pressão da Rosa Pepe, Engenheiro Mecânico e do CBPMESP, em 2001. “Em 2004 a
Positiva) à combustão. “Além disto, está de Segurança do Trabalho. corporação realizou uma revisão da IT
em teste o ventilador robô de altíssima Denominado de Smoke Control Enginee- 15/2001 (Instrução Técnica), ampliando
potência, que é capaz de produzir ven- ring ou “Engenharia do Controle da Fu- as exigências. Desde então a IT aborda
tos de até 150 km/h. Cabe salientar que maça”, o sistema é uma solução utilizada diversos tipos de sistemas de controle de
para o uso dos ventiladores de pressão há mais de 90 anos nas edificações. “Por fumaça e suas combinações, para diferen-
positiva, é necessário treinamento e co- conta de seu rápido acionamento, con- tes tipos de situações”, ressalta.
nhecimento, afim de evitar a incidência trolado pelo sistema de detecção de in- A correta seleção, manutenção e utili-
de um possível fenômeno explosivo, ou cêndio que é sensibilizado nos primeiros zação dos EPIs e EPRs, bem como de
a aceleração instantânea da queima”, ex- instantes da ocorrência, é um dos meios outros equipamentos e sistemas de prote-
plica o tenente-coronel Moisés Fontes mais efetivos e eficazes para o controle ção, sejam eles individuais ou coletivos, é
Barbosa da Silva. do incêndio”, afirma o Engenheiro de de extrema importância para evitar riscos
Segundo Marco Aurélio Rocha, es- Segurança do Trabalho, Carlos Cotta Ro- iminentes da fumaça. Outro fato de ex-
pecialista em Higiene e Segurança, em drigues, coordenador da Divisão Técnica trema relevância diante de uma ocorrên-
Gestão de Emergências e Desastres e de Engenharia de Incêndio do Instituto cia deste tipo é saber identificar o tipo de
em Toxicologia Geral, estudos revelam de Engenharia. Conforme Cotta, quan- material que está em combustão, evitan-
que o uso de ventiladores é bastante útil do bem projetado, o acionamento dos do possíveis erros durante o combate e
e eficaz, mas requer atenção e cuidados elementos e dispositivos que permitem rescaldo. Vale ressaltar que a intoxicação
redobrados face aos diversos riscos ofe- a entrada de ar frio do exterior da edifi- por fumaça pode trazer sequelas a curto e
recidos pela falta de técnica, capacitação cação (posicionado nas partes baixas dos longo prazo, sendo necessário a consulta
e proficiência durante a sua utilização. “A pavimentos), bem com os elementos e a um especialista caso ocorra o incidente,
fumaça propaga o fogo pela rota em que dispositivos que permitem a saída da fu- mesmo que de forma leve.
MARÇO / 2017 Emergência 29

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