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Orientador:
Belo Horizonte
outubro / 2010
2
DEDICATÓRIA
1
Anexo B do ³Relatório da investigação do acidente ocorrido com o VLS-1 V03, em 22 de agosto de 2003, em
Alcântara, Maranhão´ publicado pelo Ministério da Defesa e disponível no endereço
http://www.defesanet.com.br/docs/VLS-1_V03_RelatorioFinal.pdf.
3
RESUMO
O estudo de caso foi realizado junto às instituições que planejam, coordenam e executam o
Programa Espacial Brasileiro (AEB, DCTA e INPE) e teve como objetivo principal verificar
o que tais instituições aprenderam, em termos de melhorias no gerenciamento de seus
projetos, depois da explosão do foguete VLS-1 V03, em 22 de agosto de 2003, ocorrida na
Base de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, e que culminou com a morte de 21
pesquisadores e técnicos do DCTA, ligado ao Comando da Aeronáutica.
Teve como base o Relatório de Investigação do Acidente, elaborado por cerca de 40 pessoas,
entre brasileiros e russos, em 172 dias de exaustivo trabalho de pesquisa. Deste Relatório
foram destacados pontos fortes e mazelas do Programa, especialmente ligados à área de
gerenciamento de projetos e Sistemas de Gestão da Qualidade, contribuintes diretos ou
indiretos para a ocorrência do acidente.
Estes pontos foram aferidos frente às práticas gerenciais atuais das instituições que compõem
o Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais ± SINDAE, o que permitiu
constatar o processo evolutivo de tais práticas, o que ainda falta ser feito e/ou que está em fase
de implementação e os dilemas que emperram o Programa Espacial Brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE
The case study was accomplished the institutions that drift close to, they coordinate and they
execute the Brazilian Space Program (AEB, DCTA and INPE) and had as main objective to
verify what such institutions learned, in terms of improvements in the administration of their
projects, after the explosion of the rocket VLS-1 V03, on August 22, 2003, happened in the
Base of Release of Alcântara, in Maranhão, and that it culminated with the 21 researchers'
death and technicians of DCTA, linked to the Command of the Aeronautics.
This study had as base the Report of Investigation of the Accident, elaborated for about 40
people, among Brazilians and Russian, in 172 days of exhausting research work. Of this
Report they were outstanding strong points and sore spots of the Program, especially linked to
the area of administration of projects and Systems of Administration of the Quality, taxpayers
direct or indirect for the occurrence of the accident.
These points were checked front to the current managerial practices of the institutions that
compose the National System of Development of the Space Activities - SINDAE, the one that
allowed verify the evolutionary process of such practices, what still lacks to be done and that
is in implementation phase and the dilemmas that jam the Brazilian Space Program.
KEYWORDS
A todos que contribuíram para a realização deste trabalho, pelo entendimento de seu
propósito, pelas dicas preciosas ao meu aprendizado, com paciência com minha ignorância
algumas vezes, me ensinando o caminho das pedras e pela confiança em minha capacidade de
realização, agradeço e cito em ordem alfabética para evitar o risco de cometer injustiças:
1. Introdução 11
1.1.O Tema e o problema 15
1.2.Objetivos Gerais 15
1.3.Objetivos Específicos 16
1.4.Relevância do Estudo 16
1.5.Método de Trabalho 16
2. Referencial Teórico 17
3. A Política Espacial Brasileira 25
4. Sobre o Relatório do Acidente com o VLS-1 V03 40
5. Estrutura atual do SINDAE 48
5.1. Estrutura e atuação do DCTA 48
5.1.1. Divisão de Ciências Atmosféricas (ACA) 49
5.1.2. Divisão de Eletrônica (AEL) 49
5.1.3. Divisão de Integração e ensaios (AIE) 49
5.1.4. Divisão de Mecânica (AME) 49
5.1.5. Divisão de Propulsão Espacial (APE) 50
5.1.6. Divisão de Química (AQI) 50
5.1.7. Divisão de Sistemas Espaciais (ASE) 50
5.1.8. Coordenadoria da Qualidade e Confiabilidade (AVE-Q) 50
5.1.9. Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) 51
5.1.10. Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) 51
5.1.11. Implantação do Sistema da Qualidade no IAE 52
5.1.12. Sistema de Gerenciamento de Projetos no IAE 60
5.2. Estrutura e atuação do INPE 64
5.2.1. Ciências Espaciais e Atmosféricas (CEA) 65
5.2.2. Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPETEC) 66
5.2.3. Coordenação de Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE) 67
5.2.4. Centro de Rastreio e Controle de Satélites (CRC) 68
5.2.5. Laboratório de Integração e Testes (LIT) 68
5.2.6. Coordenadoria de Laboratórios Associados (CLA) 69
5.2.7. Implantação do Sistema da Qualidade no INPE 70
12
ë
Às vezes, a falta de conhecimento sobre determinado assunto pode levar algumas pessoas a se
interrogarem do porque alguém iria discuti-lo, especialmente quando o objetivo não parece
ser tão palpável, como é o caso da área espacial, algo nem sempre acessível à maioria das
pessoas. Alguns vão ao limite de dizer que é ³O O ´ ou algo pior, mesmo porque,
um curso de especialização no Brasil, para alguns, é apenas mais uma oportunidade de se dar
um ³
´ na remuneração.
2
Pergunta feita à AEB e que ficou sem resposta: no Anexo III do PNAE 2005-2014, em conceituações, fala-se
sobre ³Pragmatismo em concepção de novos sistemas espaciais´, colocando como pressupostos a atratividade da
relação custo-benefício e a potencialidade da exploração comercial rentável. Embora conhecendo apenas
superficialmente a problemática que envolve um Programa Espacial vejo como razoável que esta atividade
demande um esforço muito grande de pesquisa e aprendizado contínuo e cumulativo. Como então poderia definir
este pragmatismo? Ainda sobre este assunto é relevante verificar o objetivo nº 9 do Decreto nº 1.332 que
aprovou a atualização da Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE), de 8 de
dezembro de 1994, assinado pelo então Presidente da República Itamar Franco: ³
O
O O O O
O O O
OO O !O O
"
! O OO# O O $O
%
O O ! O O
% O O&´. Este e outros itens previstos no referido Decreto denotam os cuidados extremos
em se lidar com o assunto, como se as atividades espaciais brasileiras fossem algo de se envergonhar ou que
consumissem recursos desmedidos e que a sociedade precisaria dar aprovação para tal.
12
O Brasil queira ou não, faz parte de um seleto grupo de países ± sete no total, que possuem
um programa espacial completo, ou seja, o Brasil possui duas bases de lançamentos, fabrica
seus foguetes ou veículos de lançamento de cargas úteis e domina quase totalmente a
tecnologia da produção de satélites, coisa que se espera para muito breve, em face de grande
competência do pessoal técnico que trabalha no desenvolvimento das diversas fases do
Programa Espacial Brasileiro e, especialmente, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), responsável pela fabricação, rastreamento, recepção e tratamento de imagens.
Foi observado também que existe um fosso enorme entre a realidade dos laboratórios de
pesquisa e desenvolvimento espaciais do País e o que a população conhece do assunto. Só
como exemplo, milhões se admirariam em saber que o Brasil, através do Instituto de Estudos
Avançados (IEAv), Divisão do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA)
ligado ao Comando da Aeronáutica, está próximo em dominar a tecnologia da propulsão
hipersônica, com o desenvolvimento e lançamento de um veículo espacial (14-X)3, não
tripulado, que, em sua versão final, poderá vir a acelerar a uma velocidade de 6 a 10 vezes a
velocidade do som4 e colocar o País na vanguarda do acesso ao espaço, não ficando tão
distante, neste campo, dos americanos e à NASA.
Outro projeto em gestação no Instituto de Estudos Avançados (IEAv), desta vez em conjunto
com o Laboratório da Força Aérea dos Estados Unidos, ³ O
'( afirma a Jornalista Silvia Pacheco5. Segundo a matéria, a nova
tecnologia em desenvolvimento, utiliza o raio laser para a propulsão das naves espaciais e
3
A sigla 14-X é uma homenagem ao 14 bis.
4
A velocidade do Concorde era de duas vezes a velocidade do som.
5
Fonte: Jornal Estado de Minas, p. 24, publicado em 18/10/2009.
13
poderá tornar o lançamento de satélites até 100 vezes mais barato do que utilizando o sistema
tradicional e muito mais seguro, por não utilizar quase nenhum combustível.
Aliás, as áreas de aeronáutica e espaço sempre andaram de braços dados no DCTA, pois foi
de lá que saiu o protótipo do avião Bandeirantes, o primeiro a ser construído pela Embraer,
que se tornou uma das maiores fabricantes mundiais de aviões.
Ainda dos laboratórios do DCTA e/ou em parceria com empresas nacionais, foram
desenvolvidos produtos de altíssima tecnologia, os quais vieram substituir importações
brasileiras, como é o caso do aço de ultra alta resistência 300 M, ligas de titânio, materiais
cerâmicos, painéis solares para os satélites e muito mais.
Outras tecnologias, de aplicação mais amigável, poderiam ser destacadas para ilustrar o
alcance das pesquisas espaciais brasileiras, face à demanda da sociedade: o desenvolvimento
do motor a álcool, que equipa boa parte da frota automotiva brasileira foi fruto do trabalho de
pesquisadores do DCTA.
O Jornalista, Jurista e Professor José Monserrat Filho7, no artigo ³Brasil no Espaço: mais
futuro que passado´, que fez parte da publicação ³Cronologia do Desenvolvimento Científico,
Tecnológico e Industrial Brasileiro ± 1938-2003´, lançada pelo Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em homenagem aos 65 anos da
Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirma:
Começamos nossas atividades espaciais no início dos anos 60. A índia, também.
Hoje, ela está bem mais adiantada do que nós, tanto em satélites quanto em
foguetes, e investe no setor mais de US$ 400 milhões anuais. Nós não aplicamos
10% disso. E o dinheiro, mesmo pouco, sai, em geral, com atraso e dificulda de.
Em + divulgado pelo site Jus Brasil Notícias, de 22 de março de 2010, intitulado
³Relator aponta problemas que impedem ampliação de programa espacial´, o Relator do
Conselho de Altos Estudos para o Programa Espacial Brasileiro, deputado Rodrigo
Rollemberg tem assim citada a sua avaliação:
6
O Major Brigadeiro do Ar reformado Hugo de Oliveira Piva foi um dos dois melhores alunos do ITA de todos
os tempos, tendo obtido média 9,5 nos cinco anos do curso de Engenharia. Recebeu o título de PhD em
Aeronáutica e matemática Aplicada pelo Califórnia Institute of Technology de Pasadena (USA) em 1968.
Chegou a ser classificado como ³perigoso´ pela CIA em função da ajuda tecnológica no desenvolvimento de
mísseis balísticos para o regime de Saddam Hussein, durante suas passagens pelo Iraque nos anos 70 e 80. Nos
anos 80 o Dr. Hugo Piva chegou a liderar um grupo de 24 cientistas brasileiros que ajudavam Bagdá a construir
um sistema de mísseis.
7
O Profº José Monserrat Filho, também 2º Vice-Presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e
Espacial, entidade criada em 1950 sob os auspícios do Ministério da Aeronáutica, atualmente é Chefe da
Assessoria Internacional do Ministério da Ciência e Tecnologia.
15
A pesquisa espacial no Brasil está esvaziada de sua alma, relegada a uma política
de segunda grandeza, feita nos gabinetes burocráticos e com base em ritos e normas
limitantes. Rollemberg disse que há problemas de coordenação política, que é
pulverizada; no planejamento e gestão dos projetos, que não recebem recursos nem
os instrumentos necessários à sua execução; na gestão de pessoas, que não são
valorizadas à altura de seu conhecimento; no modelo organizacional, que é um
tanto esquizofrênico.
Ver tudo isto sob a ótica do Gerenciamento de Projetos foi altamente gratificante e contribuiu
sobremaneira para um melhor entendimento prático de tudo que foi possível apreender dos
longos meses de estudo acadêmico.
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Demonstrar que o Brasil, através das instituições ligadas ao Programa Espacial Brasileiro
(Agência Espacial Brasileira ± AEB, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ± INPE e o
Instituto de Aeronáutica e Espaço - IAE), evoluiu nas diversas áreas do conhecimento em
gerenciamento de projetos, para a execução do Programa Nacional de Atividades Espaciais.
16
A importância deste trabalho se dá na medida em que será possível conhecer o atual estágio
em que se encontram as instituições estatais ligadas ao Programa Nacional de Atividades
Espaciais, em termos de desenvolvimento e aplicação de sistemas de gerenciamento de
projetos e o que será preciso fazer para colocar o Brasil em patamar similar às mais
importantes agências espaciais internacionais.
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(
Para que fosse possível o atendimento dos objetivos deste trabalho, em primeiro lugar foi
feito um estudo de normas e procedimentos de gerenciamento aplicados na Agência Espacial
Européia (ESA) e, com base em pesquisa dos sítios do INPE e do CTA, das normas de
qualidade ali adotadas, com a aquisição das mesmas junto à ABNT. Outro documento
utilizado nesta fase preparatória foi o ³Programa Nacional de Atividades Espaciais ± PNAE
2005-2014´, publicado pela Agência Espacial Brasileira em 2005.
O segundo passo foi a elaboração de questionários dirigidos a cada instituição envolvida nos
trabalhos de pesquisa e desenvolvimento e as visitas, para entrevista acadêmica, ao INPE (três
vezes), DCTA / IAE (uma vez) e AEB (1 vez). Estas visitas foram fundamentais para se
conhecer melhor a estrutura destas instituições e o atual estágio de desenvolvimento das
pesquisas espaciais e do fomento à implementação e melhoria de seus sistemas de
gerenciamento de projeto e da qualidade.
17
)*+,-*
Em destaque neste campo, a ECSS é uma organização responsável, desde 1993 (conforme
informa seu sitio), através de esforço cooperativo com a indústria espacial européia,
representada pela Eurospace, e por Institutos de Pesquisa da Alemanha, Países Baixos e
França e por Agências Espaciais, como a Agência Espacial Européia (ESA), e agências
espaciais da Alemanha, Itália, Noruega e Canadá pelo desenvolvimento de Padrões Espaciais9
e outros documentos associados (Manuais e Memorandos Técnicos), sendo parte disponível
para qualquer pessoa e parte apenas para uso exclusivo de agências espaciais.
Durante as pesquisas de campo, foi constatado que as instituições INPE e DCTA utilizam,
além de outras normas de gestão, a documentação original da ECSS para apoiar o
planejamento e o gerenciamento das atividades desenvolvidas face ao Programa Nacional de
Atividades Espaciais, sem que qualquer destas instituições tenha desenvolvido, com base nas
normas da ECSS ou de outra fonte, um metodologia própria de gerenciamento de projetos.
8
European Cooperation for Space Standardization (ECSS)
9
Segundo definição da ECSS ³um padrão é um documento para aplicação direta em contratos, e então só
material pertinente à relação de cliente-provedor é incluído. A experiência, diretrizes, material de suporte e
coleção de dados estão cobertas em manuais, e assuntos ainda não maduros estão cobertos em memorandos
técnicos. É a política de ECSS para fazer publicidade de padrões disponíveis. Porém, manuais e memorandos
técnicos não são (em princípio) publicações distribuídas, e eles só estão disponíveis em casos específicos.
10
Os Padrões da área de Gerenciamento de Projetos estão alinhados com o PMBOK, já na sua 4ª edição, com
edições atualizadas em 2009.
18
A estrutura destes padrões é também bastante didática, com orientação suficiente para
aplicação imediata em projetos espaciais, incluindo muitos (modelos de
formulários) e fluxogramas de processos. No grupo dos padrões de gerenciamento de
projetos, a ECSS tem publicado um total de 11 (onze) padrões, sendo:
A documentação da agência espacial dos Estados Unidos, a " O O
" (NASA)11 é muito detalhada, sendo, na maioria, procedimentos curtos e
escritos em atendimento à Norma SAE AS 9100 12, pela qual a Agência é Certificada. Estão
disponíveis para consulta pública documentos relativos a todas as áreas de conhecimento
preconizadas no PMBOK, além de padrões de segurança e de aplicação técnica.
11
A NASA, em 2009, durante a realização de sua conferência anual, a Global Congress-North America,
realizada entre os dias 10 a 13 de outubro de 2009, em Orlando (Flórida) foi reconhecida pelo PMI pela
excelência em gerenciamento de projetos. Recebendo o prêmio em nome da Agência, o engenheiro-chefe da
NASA Mike Ryschkewitsch, disse: ³Como as nossas missões tornaram-se cada vez mais internacionais e
colaborativas, estamos gratos ao PMI por seus incansáveis esforços na defesa das competências de gestão de
projetos e normas que refletem a natureza global dos projetos complexos de hoje´.
Este reconhecimento não foi por acaso. Segundo notícia postada no site oficial do PMI, a esta instituição trabalha
junto com a NASA na busca pela excelência na gerência de projetos, sendo a NASA representada pela Academy
of Program/Project and Engineering Leadership da NASA (Academia de Liderança em Gerenciamento de
Programas, Projetos e Engenharia), ou APPEL11, nos esforços em pesquisa e educação, incluindo a certificação
de gerenciamento de projetos. Ainda segundo o informe do PMI, ³a NASA também tem participado como
membro do PMI Global Corporate Council, um grupo de projeto baseado em organizações comprometidas com
a melhoria do desempenho em projetos complexos´.
12
A Norma AS 9100 tem por base a Norma ISO 9001, com complementos para satisfazer a indústria
aeroespacial, ao governo e a requisitos legais, com destaque para a identificação e gerenciamento de
características chaves de produtos (Gerenciamento da Configuração), confidencialidade sobre características de
produtos e componentes complexos fabricados e o gerenciamento de subcontratados.
19
Também foram estudadas, para a elaboração deste trabalho, normas da ABNT, relativas à área
espacial, importantes instrumentos para o gerenciamento de projetos, com a grande maioria
tendo sido editadas e/ou utilizadas depois da ocorrência do acidente com o VLS-1, como é o
caso da norma NBR 14959 ± Sistemas Espaciais ± Gerenciamento de Riscos, baseada na
Norma ISO 17666:2003, cuja aplicação foi posterior, observando-se que a validade da
referida norma data de 30 de julho de 2003.
Dentro do Programa de Normalização Setorial (PNS), normas espaciais são editadas pelo
Subcomitê Espacial (SC 08:001), que tem participação de técnicos e especialistas do
DCTA/IAE, INPE e de empresas ligadas ao setor espacial, com recursos provenientes da
Agência Espacial Brasileira (AEB), segundo informação do Superintendente do Comitê
Espacial (ABNT/CB 08) ± Aeronáutica e Espaço, Luiz Antônio Chiste Brandão14.
A Norma mais difundida na área espacial brasileira é a Norma ABNT NBR 15100:2004 ±
Sistema da Qualidade ± Aeroespacial ± Modelo para garantia da qualidade em projeto,
desenvolvimento, produção, instalação e serviços associados, equivalente à Norma AS
9100B:2004 e que inclui os requisitos da Norma ABNT NBR ISO 9001, com estabelecimento
de requisitos adicionais destinados especificamente à indústria aeroespacial. Ela está sendo
13
Esta afirmação esta contida no artigo ³Gerenciamento de Risco em Projetos do Setor Espacial´, publicado na
Revista Qualidade nº 02, editada pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e publica da em 2009.
14
Luiz Antônio Chiste Brandão é Pesquisador do Instituto de Fomento à Indústria (IFI), instituição subordinada
ao Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeronáutica (DCTA), sediada em São José dos Campos, e
responsável pelo processo de auditoria e certificação de Sistema de Gestão com base na Norma ABNT NBR
15100.
20
Na área espacial, embora não se possa generalizar, pois depende muito do nível de maturidade
da agência espacial relatada, em termos de gerenciamento de projetos, poder-se-ia apontar
como áreas de conhecimento mais privilegiadas as de risco, escopo, custo, qualidade,
aquisições, pessoas e integração, sendo as demais: tempo e comunicação, as que menos têm
influência no dia a dia da organização, mesmo sendo de relevância inquestionável.
Os Projetos Espaciais têm sempre ciclos de vida muito longos, devido ao fato de, quase
sempre, ser um projeto incremental, ou seja, vai-se trabalhando no desenvolvimento de um
projeto por etapas e por versões, partindo-se, algumas vezes, no caso de projetos mais
complexos, de versões em escala reduzida, indo para protótipos em escala natural, uma
infinidade de testes de desempenho e de segurança de itens críticos e de conjuntos, separados
ou integrados, até que o artefato (seja satélite, foguete, etc.) esteja apto a ser lançado ao
espaço. Assim, o gerenciamento do tempo é algo quase que irrelevante dentro do projeto.
Já os custos envolvidos em um projeto espacial são, quase sempre, muito elevados, pelo
altíssimo nível da tecnologia envolvida, da robustez necessária a todos os componentes e pela
escassez de fornecedores e, no caso brasileiro e de outros países emergentes, do embargo
pelas grandes potências, conforme afirmação contida no trabalho ³O Veículo Lançador de
Satélites´15, o que obriga estes Países a terem de investir muito no desenvolvimento de seus
próprios componentes e/ou de comprá-los em mercados não tradicionais:
15
O Trabalho ³Veículos Lançadores de Satélites´ foi apresentado no Seminário ³Parcerias Estratégicas´, em
junho de 2005, como preparativo para a 3ª conferência Nacional de ciência, tecnologia e inovação. Os autores do
Trabalho são: Adriano Gonçalves (Coordenador Técnico do Projeto VLS-1), Mauro Melo Dolinsky (Vice
Diretor de Espaço do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e Silvio Fazolli (Chefe da Coordenadoria da
Qualidade e Confiabilidade do IAE).
21
Embora o volume de itens que compõem um artefato espacial seja muito grande, as
quantidades unitárias são muito pequenas o que, muitas vezes, inviabiliza a fabricação externa
ou a fabricação de dispositivos e ferramentas para sua produção. Neste caso, o orçamento do
projeto deve prever até a compra de grandes equipamentos para instalação na planta do
fornecedor, como foi o caso, no Brasil, da compra de um Forno de Tratamento Térmico.
O Brigadeiro Hugo Piva16, comentando sobre os problemas que deram origem ao desastre
com o VLS-1 V03, afirmou ao veículo de comunicação Inovação, da UNICAMP17:
O problema é que o orçamento para o VLS sempre foi baixo e oscilante, o que
dificultou a inserção do setor produtivo. Isso porque, para uma empresa iniciar o
desenvolvimento e produção de algo específico para o setor espacial, precisará de
financiamento ou subsídio. Quando não é seu setor de atuação, a empresa acaba não
investindo, pois geralmente os projetos para atender os programas espaciais são caros,
já que envolvem tecnologia de ponta.
16
Major Brigadeiro do Ar Hugo de Oliveira Piva, que trabalhou no projeto do VLS de 1968 a 1984, foi Diretor
do CTA no período de 1984 a 1987.
17
O Brigadeiro Hugo Piva trabalhou no projeto VLS de 1968 a 1989 e falou ao veículo Inovação em 2003.
22
O Gerenciamento da Qualidade é destaque num projeto espacial e não poderia ser diferente, já
que o ambiente espacial, pela severidade de suas condições, requer que os artefatos espaciais
sejam construídos com materiais e tecnologias de apurada qualidade técnica, para suportar os
rigores do ambiente, pelo tempo de vida útil projetado.
No caso do INPE, seus laboratórios têm dezenas de ensaios acreditados pelo INMETRO e,
como fazem parte da Rede Brasileira de Calibração (RBC) fornecem serviços à indústria, de
diferentes ramos de atividades (automobilística, telecomunicações, elétrica, etc.), chegando a
trabalhar em três turnos ininterruptos em quase todas as unidades de calibração e ensaios. Já o
DCTA/IAE, desde 1990, tem 3 ensaios acreditados pelo INMETRO.
No caso desta norma, de caráter gerencial, esta vem sendo trabalhada no DCTA/IAE desde
2005, ano em que foi declarada a Política da Qualidade e elaborado o cronograma de
implantação nas divisões do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). Em 2010 foi
programada Auditoria de Certificação para as Divisões do DCTA/IAE segundo a norma
ABNT NBR 15100.
O Gerenciamento de Riscos é uma das áreas de conhecimento de maior relevância, face aos
riscos intrínsecos a um programa espacial, onde há enorme complexidade nos projetos e estão
envolvidos investimentos financeiros altos, pessoas e patrimônio.
23
Visando ³ O
O
&
) O ´18 a Agência
Espacial Brasileira (AEB) publicou uma série de sete regulamentos técnicos, nos quais
procurou dar resposta a todos os questionamentos de riscos que envolve um programa
espacial, desde a concepção de projeto até o lançamento e vôo.
No Regulamento Técnico da Segurança para Veículo Lançador (Parte 6), por exemplo, são
definidas as regras para o gerenciamento de riscos desde a fase do estudo de viabilidade,
obrigando a que se deva ³começar a análise preliminar dos riscos ligados ao projeto e à
operação do projeto, identificando os riscos no nível de sistema e as circunstâncias e os
acontecimentos potencialmente de risco, para deduzir as conseqüências´.
Um documento também importante visto neste estudo de caso e que ilustra muito bem sobre
as técnicas, ferramentas e os princípios que devem ser observados para se ter um efetivo
gerenciamento de riscos foi o ³OO O,- .
´, publicado
pelo O.
/ (PMI), em 2009 e alinhado com o PMBOK 4ª Edição.
18
Esta afirmativa é parte da introdução da série de regulamentos técnicos lançada pela AEB estabelecendo regras
gerais e requisitos para todas as fases de uma missão espacial, seja em relação a segurança ambiental lançamento
e vôo, carga útil, complexo de lançamento, veículo lançador e intersítios, num total de 7 regulamentos técnicos.
24
Para esta área, a Norma ABNT NBR 15100 recomenda no item 6.2.2:
A organização deve:
Isto não é tarefa fácil para o que se tem de considerar como centros de pesquisa espacial. Nem
sempre depende apenas do indicativo normativo; é preciso se submeter a normas estatais e a
verbas orçamentárias apertadas, além do que, estamos falando da formação, em grande parte,
de mestres, doutores e pós-doutores, em um País que não aprendeu a privilegiar seus cérebros
e a recompensá-los devidamente. Mas este é um assunto a ser discutido mais à frente.
+,.*+/+*+,0+/,+
O Profº Aldo Weber Vieira da Rosa20, em entrevista concedida ao Sindicato dos Servidores
Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Vale do Paraíba (SindCT) e publicada
em 16/07/2007, no sítio desta organização lembra os primórdios das atividades espaciais no
Brasil, da qual foi personagem chave:
É possível constatar nos termos do Decreto nº 51.133 (03/08/1961), assinado pelo Presidente
Jânio Quadros, que a Sociedade Interplanetária Brasileira (SIB)21 foi agraciada com uma vaga
no Conselho do Grupo de Organização da Comissão Nacional de Estudos Espaciais
19
Dossiê 2004, publicado pelo MCT em fevereiro de 2005.
20
O Profº Aldo Weber Vieira da Rosa é um ilustre, mas infelizmente, no Brasil é quase um desconhecido
pesquisador. Foi um pioneiro na pesquisa ionosférica, em Stanford University (USA), onde tirou o título de PhD
e onde atua, desde 1966, como pesquisador nas áreas de processos ionosféricos e de energias alternativas.
21
Segundo o artigo ³Partirão de Carapicuíba os Projeteis para a Lua´, publicado pelo Jornal Folha da Noite, de
27 de abril de 1953, p oi fundada em meados de fevereiro do corrente ano em São Paulo, a Sociedade
Interplanetaria Brasileira, associação que tem por finalidade reunir homens de ciência, escritores e pessoas direta
ou indiretamente interessadas nas futuras viagens para outros planetas, com o objetivo de manter o mais a par de
todo aquilo que seja feito, no mundo, no tocante às possibilidades de excursões pelo espaço sideral.
A sede da entidade fica na Avenida Ipiranga 1.248, conjunto 1.602. E há, também, uma sede de campo em
Carapicuiba, com telescópio e tudo, onde os fundadores da novel associação se reúnem periodicamente, para
debates de assuntos referentes ao futuro turismo inter-astros.
A Sociedade Interplanetária Brasileira já está entrosada com entidades congêneres de todo o mundo sendo, pois,
no Brasil, a pioneira do "interplanetarismo". Seus fundadores acreditam que, se as viagens para a Lua, para
Marte ou Saturno, vierem a concretizar-se, nosso país também estará na vanguarda do movimento, ocasião em
que também aqui poderemos vir a ter uma "agencia de passagens para os astros".
E, desde que a bucólica Carapicuiba foi escolhida para sede de campo da Sociedade Interplanetária Brasileira,
nada mais licito que supor-se que de lá sairão, de futuro, os transportes brasileiros para a lua. Endereço:
http://almanaque.folha.uol.com.br/ciencia_27abr1953.htm, acesso em 24/03/2010.
26
(GOCNAE). Isto se deveu a sua antiga militância na área (fundada em 1953) e pela iniciativa
de alertar o Presidente que o Brasil não poderia ser omisso na questão da política espacial.
Assim, o GOCNAE seria constituído por dois civis e dois militares, presidido pelo Coronel
Aviador Aldo Vieira e subordinado ao Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). Tinha a
finalidade de elaborar, em 45 dias: o plano de criação da Comissão Nacional de Atividades
Espaciais, Política Espacial Brasileira e legislação pertinente, projetos de pesquisa espacial,
apoiar os trabalhos relacionados com as atividades espaciais e desenvolver intercâmbio e
cooperação internacionais para capacitação técnica de especialistas brasileiros, além de
coordenar as atividades espaciais com a indústria brasileira.
22
Consta ainda nos primórdios do Programa Espacial Brasileiro que no rastro da empolgação pelo lançamento
do Sputinik, em 1968, teve lugar na Argentina, em 1960, a 1ª Reunião Interamericana de Pesquisas Espaciais,
com a participação do Presidente da SIB Luiz Gonzaga Bevilacqua e que, entre as metas traçadas neste encontro
ficou estabelecido que devesse haver um trabalho local para incentivar a formação de comissões nacionais para
uma maior atividade em pesquisa espacial (Citado no cap. 1 do Relatório de Investigação do Acidente com o
VLS)
23
Advogado de formação, com mestrado na Universidade McGill, Canadá, Paulo Tolle escreveu o primeiro
texto legal para a fundação do CTA e do ITA, como assessor do então Coronel Casimiro Montenegro Filho. Foi
o autor do texto que permitiu a contratação de professores estrangeiros com remuneração em US dólares, como o
professor do MIT Richard Harbert Smith, o primeiro reitor e autor do Relatório que inspirou a criação do ITA.
Todo o arcabouço legal do Plano Smith é de sua autoria. Foi assessor jurídico do Cel. Montenegro e foi do corpo
docente do ITA, chefe do Departamento de Humanidades em Direito para Engenheiros e Direito Aeronáutico e
foi chefe da Divisão de Alunos e da Divisão de Administração de Registros. Presidiu a Congregação do ITA.
Atuou na Comissão Aeronáutica Brasileira entre 1946 e 1948, quando tomou conhecimento do projeto do CTA-
27
Decorrido o prazo de 45 dias, o GOCNAE tinha finalizado o trabalho e criado as bases para a
oficialização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (CNAE). Entretanto, o Brasil
passava por uma fase de turbulência, com a renúncia, em 25 de agosto de 1961, do Presidente
Jânio Quadros e a não aceitação, por parte dos Ministros Militares, da posse do Vice-
Presidente João Goulart. O problema só seria resolvido com a instituição do Parlamentarismo
no Brasil, tendo sido empossado João Goulart como Presidente e Tancredo Neves como
Primeiro Ministro. Enquanto isto, a proposta de criação do CNAE ficava à espera de
oportunidade de aprovação pelo novo Governo, o que veio a acontecer somente em 1963.
A CNAE, subordinada ao CNPq, passava a atuar nas instalações do CTA, em São José dos
Campos, cuja origem data de 1946, quando foi instituída a Comissão de Organização do
Centro Técnico de Aeronáutica (COCTA).
ITA. Foi um emérito educador e conciliador, viabilizador de sonhos impossíveis em cada época. Hoje é
nonagenário, está retirado da vida pública e é uma memória viva sobre o Instituto Tecnológico de Aeronáutica -
ITA. (Fonte: http://www.aeitaonline.com.br/wiki/index.php?title=Paulo_Ernesto_Tolle).
28
Espaciais (IAE), que viria absorver as atividades do Grupo, quando, em 20 de agosto de 1971,
uma reforma administrativa (Portaria 286) promoveu a extinção do GETEPE.
Contou o Dr. Aldo Vieira, na entrevista concedida ao SindCT e, anteriormente citada, que a
criação do CTA adveio não de uma lei especifica, mas de uma brecha em lei orçamentária que
destinava verba para cobrir despesas com a operação do Centro Técnico de Aeronáutica.
É mais fácil convencer o Congresso Brasileiro a aprovar uma verba para uma
organização não existente, do que obter a aprovação de uma lei criando uma
organização nova (a qual, inevitavelmente, nasceria emperrada por regulamentos
pormenorizados que nossos legisladores gostam de impor). Não houve uma lei que
especificamente criasse o CTA. Ele nasceu simplesmente porque uma verba ---
³1.6.19.5 ± Despesas de qualquer natureza com a operação do Centro Técnico de
Aeronáutica´ --- foi aprovada. Uma lei orçamentária não deixa de ser lei, e isso
sancionou a criação do Centro. A flexibilidade dessa alínea orçamentária,
absolutamente excepcional no nosso país, foi essencial para dar partida a uma
organização destinada a romper com a tradição reinante. A incrível habilidade do
Casimiro Montenegro para contornar as complicações de uma burocracia
entrincheirada, foi uma das causas do sucesso do CTA. Tática semelhante ele usou
para criar o ITA que, dentro da rotina normal, teria que ficar sob égide do Ministério
da Educação, o que seria um golpe de morte para as idéias de criar uma escola
moderna no Brasil. Quando o Ministro da Educação fez uma extensa viagem pela
Europa, Montenegro aproveitou a oportunidade para obter a aprovação de um ITA
dentro do muito mais arejado Ministério da Aeronáutica.
órgão. Este, contudo, só foi aprovado em 14/11/1975, através do Decreto nº 76.596, pelo
Presidente da República Ernesto Geisel.
o INPE, com a criação da COBAE ± presidida por representante do Estado Maior das Forças
Armadas, não teria as mesmas atribuições do CNAE e perdia autonomia para realizar
cooperação com outros países.
É bom esclarecer que foi o GETEPE o responsável por especificar e projetar o foguete Sonda
I, destinando à indústria nacional, neste caso a AVIBRÁS, a sua fabricação e dando à
indústria toda a assessoria técnica necessária. Fato também relevante foi que equipes de
técnicos do Ministério da Aeronáutica receberam treinamento no exterior e ganharam
experiência durante a montagem e lançamento de foguetes americanos e canadenses no CLBI
e em campos de lançamento americanos.
Ainda em seu artigo, o Engº Dolinsky relata que, já em 1967 fora iniciado no CTA o
desenvolvimento do foguete Sonda II e a montagem de instalações para produção interna de
protótipos de foguetes de sondagem. Nesta nova versão, o foguete Sonda teve seu primeiro
31
vôo com êxito, em 1970 e o primeiro vôo com carga útil instrumentada e recuperada
posteriormente no mar, em 1974. Este foguete continua operacional, mas somente é lançado
quando o CTA quer testar um novo material, como propelente ou equipamento para aplicação
em outro tipo de foguete ou para alguma outra aplicação de interesse do CLBI.
O Sonda III, cujo projeto marca o fim dessa fase pioneira, apresenta um diferencial
que marcou fortemente o desenvolvimento de veículos espaciais no Brasil: o retorno
ao País do Engenheiro Jayme Boscov que, praticamente desde a sua formatura no
ITA, vinha trabalhando em empresas francesas voltadas para a área espacial. A
presença do Engenheiro Boscov no programa espacial brasileiro, com a sua
experiência e competência, supriu, em grande parte, a falta de documentação técnica,
que era uma das características da época, introduziu técnicas de gestão de projetos
espaciais utilizadas na França e abriu portas para a especialização de pessoal
brasileiro, viabilizando cursos e estágios na Europa, e trazendo profissionais franceses
para ministrar cursos no Brasil.
O foguete Sonda III foi lançado pela primeira vez em 1976 e, até 2002, foram lançados 31
destes foguetes, sendo que, entre 1974 e 1979, os pesquisadores brasileiros conseguiram o
desenvolvimento, de acordo com o artigo referido acima de ³um sistema de controle de
atitude26 para cargas úteis capaz de mantê-las apontadas para o Sol, após sua separação do
veículo´. Daí, o Brasil passaria a atuar como fornecedores de foguetes de sondagem para
experimentos estrangeiros.
Entretanto, a partir desta versão do foguete Sonda, o CTA chegou à conclusão de que não
deveria expandir seu parque fabril, mas sim contratar da indústria nacional o desenvolvimento
26
Controle de Atitude de um foguete é, de forma simplificada, um sistema passivo ou ativo para proporcionar ao
foguete um vôo estável e preciso de tal forma que o mesmo atinja seu objetivo de lançamento.
32
Em 1978, a COBAE deu início a estudos para elaboração da proposta da Missão Espacial
Completa Brasileira (MECB), com o objetivo de expandir as atividades espaciais brasileiras,
por meio de uma maior capacitação do pessoal envolvido e a conseqüente geração de novas
tecnologias para aplicação espacial.
Em artigo escrito pela Dra. Walkiria Shulz (INPE), ela diz que:
27
O Doutor em Política Científica e Tecnológica Guilherme Reis Pereira, Professor Adjunto da Escola de
Ciências e Tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Pesquisador do Grupo de
Pesquisa em Gestão de C,T&I para o Desenvolvimento Sustentável, em brilhante artigo intitulado ³Política e
Desenvolvimento Tecnológico no Setor Espacial´, disponível no endereço: http://www.necso.ufrj.br/esocite2008
/trabalhos/36259.doc, faz um relato minucioso da política espacial brasileira. Neste trabalho ele aborda as
discussões que levaram à formulação e aprovação do MECB com recursos 100% nacionais, informando que, a
decisão era entre o Brasil agir desta forma ou fazer um Acordo com a França para desenvolver o Programa
Espacial Brasileiro a partir de desenvolvimento do foguete B-2 francês, que utilizava combustível líquido. O
Brasil que já decidira utilizar propelente sólido não tinha por parte dos militares o apoio para usar o combustível
líquido, já que a tecnologia do propelente sólido era importante para aplicação em mísseis. A França teria
aceitado que o lançador a ser desenvolvido em conjunto viesse a ter apenas um dos três estágios com
combustível líquido, mas não foi o suficiente para convencer a comunidade envolvida neste projeto e o motivo
seriam os altos custos do empreendimento, já que à França interessa vender equipamentos para assegurar verba à
manutenção do seu próprio Programa Espacial. Mas, além disso, havia a questão de que a maioria do
desenvolvimento seria feito por indústrias francesas. Assim, foi aprovado o MECB se m a participação francesa e
o Brasil se viu pressionado pelos Países que eram signatários do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis
(MTCR) e foi boicotado por estes Países em relação a venda de componentes para o Lançador. Com isto, uma
proposta que era alicerçada em menores custos, se viu atropelada pelo enorme custo de desenvolvimento de
tecnologia.
33
e Sistema de Plataformas de Coleta de Dados, sendo que os dois primeiros ficariam sob a
responsabilidade do Instituto de Atividades Espaciais (IAE) do Centro Técnico Aeroespacial
(CTA) e os últimos a cargo do Instituto Nacional de Atividades Espaciais (INPE).
Em e-book publicado pelo INPE com o título ³Esboço Histórico da Pesquisa Espacial no
Brasil´ (2003), o Pesquisador Adalton Gouveia afirma sobe a MECB:
Personagem que não poderia deixar de ser citado nesta fase é a do Major Brigadeiro do Ar
Hugo de Oliveira Piva, que trabalhou no projeto do VLS, de 1968 a 1984, foi Diretor do CTA
no período de 1984 a 1987 e responsável por relevantes contribuições ao desenvolvimento dos
foguetes de sondagem, sendo considerado ³o pai do programa espacial brasileiro´ e o ³Von
Braün brasileiro´, como muitos o intitulavam.
O foguete Sonda IV teve apenas quatro lançamentos, sendo o primeiro em 1984 e o último em
1989, tendo sido descontinuado este projeto. Entretanto, serviu como uma plataforma de
demonstração de tecnologias espaciais, que viriam a ser utilizadas no projeto do Veículo
Lançador de Satélites (VLS), que foi a técnica de tubeira móvel no segundo estágio.
O Engenheiro Jayme Boscov 28, que foi gerente do Projeto VLS no período de 1980 a 1992 e
aposentado em 1995, em entrevista concedida ao Jornal do Engenheiro, edição on line nº 219,
de 16 a 30 de setembro de 2003 e divulgado pelo Sindicato dos Engenheiros do Estado de São
Paulo, perguntado sobre o que houve com o programa espacial brasileiro, respondeu:
28
O Engº Mauro Dolinsky (CTA/IAE), no artigo ³O Desenvolvimento de Foguetes de sondagem no Brasil´,
publicado na Revista comemorativa aos 40 anos do CLBI (2005) afirmou: o retorno ao País do Engº Jayme
Boscov que, praticamente desde a sua formatura no ITA, vinha trabalhando em empresas francesas voltadas para
a área espacial. A presença do Engenheiro Jayme Boscov no Programa Espacial Brasileiro, com a sua
experiência e competência, supriu, em grande parte, a falta de documentação técnica, que era uma das
características da época, introduziu técnicas de gestão de projetos espaciais utilizadas na França e abriu portas
para especialização de pessoal brasileiro, viabilizando cursos e estágios na Europa e trazendo profissionais
franceses para ministrar cursos no Brasil´.
34
O início, nos anos 70, foi muito favorável. Na primeira fase, desenvolveram-se os
foguetes Sonda I, II e III. Na segunda, a proposta era fazer um foguete com sistema
de controle que pudesse ser automaticamente pilotado, o Sonda IV. Procurou-se
desenvolver todas as tecnologias básicas necessárias ao desenvolvimento do lançador
de satélites. Começamos também um grande relacionamento internacional,
especialmente com a Alemanha, o que nos permitiu construir um laboratório de
propulsão. Em 1984, voou o primeiro Sonda IV. A partir daí, deveríamos ter um
crescimento, mas ocorreu o contrário e até hoje vivemos essa trajetória descendente.
O ano de 1991 aparece na cronologia do Programa Espacial Brasileiro como o ano da criação
do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), ligado ao CTA, que tinha como missão realizar
pesquisa e desenvolvimento no campo espacial. Na prática foi a fusão do Instituto de Pesquisa
de Desenvolvimento (IPD), criado no âmbito do CTA em 1º de janeiro de 1954 e o Instituto
de Atividades Espaciais, idealizado em 1967 e criado oficialmente em 20 de agosto de 1971,
constituído com o pessoal e instalações do GETEPE, então extinto.
Como um dos atores chaves do MECB, o INPE trabalhou forte na estruturação de suas
instalações laboratoriais de Integração e Testes (LIT) e no desenvolvimento de pessoal
técnico, para culminar com o projeto e desenvolvimento do primeiro satélite brasileiro de
coleta de dados, o SCD-129, de 115 kg, que foi lançado com sucesso pela NASA, em 07 de
fevereiro de 1993, por um foguete Pégasus, a partir de um avião B-52.
Neste mesmo ano, em 02 de abril, foi realizado o primeiro vôo do foguete de sondagem VS-
40, numa operação batizada de Santa Maria. Na oportunidade foi qualificado o quarto estágio
do VLS-1, em ambiente de vácuo, em um tempo de microgravidade de 760 segundos e com
uma carga útil de 500 kg.
Em 10 de fevereiro de 1994, através da Lei nº 8.854, foi criada a Agência Espacial Brasileira
(AEB), com natureza civil que, segundo a referida Lei seria uma ³autarquia federal vinculada
à Presidência da República, com a finalidade de promover o desenvolvimento das atividades
espaciais de interesse nacional´.
29
Apesar de ter sido previsto para o SCD-1 29 uma vida útil de 1 ano, ele completou em 7 de fevereiro de 2010 a
marca de 17 anos de operação.
35
A COBAE seria extinta em 21 de outubro de 1994, através do Decreto 1.292 que, pelo seu
Artigo 3º determinava:
Pelo referido Decreto, a AEB foi alçada ao posto de órgão central do SINDAE e, como órgãos
setoriais, o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Aeronáutica
(DEPED)30 e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), que veio substituir à Missão Espacial
Completa Brasileira (MECB), de 1979, foi aprovado pela Agência Espacial Brasileira em
agosto de 1996, para vigorar até 200531.
Como parte dos esforços brasileiros de ser autônomo em lançamento de satélites, o CTA vem
trabalhando no projeto e desenvolvimento do VLS desde 1985. O Programa Veículos
Lançadores de Satélites foi concebido, segundo o PNAE 1998-2007, para ser executado de
forma autônoma, ou em parcerias internacionais com os seguintes objetivos:
30
O DEPED é o órgão responsável pela coordenação das atividades de pesquisa e desenvolvimento do setor
aeroespacial, desde março de 1969, quando foi criado. Inicialmente o órgão tinha sede no Campo de Marte, em
São Paulo. Depois foi transferido para Brasília e depois, em janeiro de 2006 se fundiu ao CTA, com seu efetivo
transferido de Brasília para São José dos Campos. Desta forma o CTA ganhou status de Comando Militar
passando a ser dirigido por um General.
31
A AEB promoveu a revisão do PNAE em 1997, para vigorar de 1998 a 2007 e a sua segunda revisão em
setembro de 2005, com previsão de vigorar de 2005-2014. Agora em 2010 entrará em vigor o PNAE 2010-2020,
em sua terceira revisão.
37
O PNAE 1998-2007 trazia a previsão de que o Programa VLS teria três estágios: os foguetes
de sondagem, com o aperfeiçoamento do VS-40 e o estudo de viabilidade para a construção
do VS-43, Lançadores para micro e pequenos satélites, denominados VLS-1 e os Veículos
Lançadores de satélites de médio porte (VLS-2).
Dentro de seu escopo de trabalho previsto no PNAE, o INPE, através do Programa Satélite
Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres e para atendimento ao Sistema Brasileiro de Coleta de
Dados Ambientais, construiu através de um Acordo de Cooperação com a China o Satélite
CBERS-1. Este satélite foi lançado, junto com o Satélite SACI-1 (Satélite Científico
construído pelo INPE) no dia 14 de outubro de 1999, utilizando-se um foguete chinês Longa
Marcha 4B.
O Satélite CBERS-1, com uma vida útil prevista de um ano, operou até agosto de 2003.
Entretanto, o Satélite SACI-1, apesar de lançado na órbita prevista, não conseguiu
comunicação com as estações de rastreio e foi dado como perdido.
Outro marco da pesquisa espacial brasileira foi a Operação São Marcos, realizada no Centro
de Lançamento de Alcântara (CLA), em 15 de março de 1999, quando foi lançada pelo CTA a
versão 4 do foguete de sondagem VS-30, constituindo no centésimo lançamento, pelo IAE, de
um foguete de sondagem desta base da Aeronáutica.
O foguete transportou uma carga útil com experimentos de universidades brasileiras (USP,
UVP e FEI), experimentos do CTA e com destaque, experimentos do Instituto de Pesquisa
Alemão DLR que, com o sucesso da missão, comunicou ao CTA que o foguete estaria
qualificado para operações do Instituto, em Kiruna, norte da Suécia, onde a Agência Espacial
Européia (ESA) tem uma Base de Lançamentos.
Em 21 de agosto de 2000 foi lançado, com sucesso o foguete VS-30 / Orion XV01, do Centro
de Lançamentos de Alcântara, na chamada Operação Baronesa I. O lançamento havia sido
suspenso por duas vezes, por problemas detectados no sistema de telemetria32. Este foguete
tinha dois estágios: o VS-30 fabricado pelo IAE e o Orion fabricado pelo DLR.
No ano de 2002 o IAE voltaria a realizar mais duas operações importantes para a área de
foguetes de sondagem33: a Pirapema e a Cumã, com o lançamento respectivo de um foguete
VS-30 e um foguete VS-30 / Orion, ambos com absoluto sucesso. Na primeira, em 23 de
novembro de 2002, foi lançado o foguete de sondagem VS-30 / Orion ± XV02 e na segunda,
em 1º de dezembro de 2002, foi lançado o foguete VS-30 ± V06. Definitivamente, o Brasil se
afirmava na área de foguetes de sondagem.
Mas a operação mais esperada estava por vir: o lançamento da versão 3 do VLS-1, na
denominada Operação São Luiz, iniciada em 1º de julho de 2003, com duração prevista de 60
dias e envolvendo mais de 150 pessoas. O VLS-1 V03 iria ao ar levando uma carga útil
constituída do Satélite Tecnológico SATEC-1, do INPE, e o (nano) Satélite Universitário
Brasileiro batizado de UNOSAT-1 (Undergraduate Orbital Student Satellite), um satélite
32
Fonte: http://md-m09.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/md-m09%4080/2007/09.17.19.14/doc/clipping1.html
33
A área de foguetes de sondagem é bastante promissora para a área de pesquisa de baixa gravidade e o Instituto
de Aeronáutica e Espaço (IAE) investe neste campo com o desenvolvimento de uma cápsula espacial projetada
para operar em órbita baixa a 300 km de altitude, por um período de até 10 dias, chamada de SARA ± Satélite de
reentrada Atmosférica. Segundo o Gerente do Projeto Luiz Loures, do IAE, o SARA surge como uma alternativa
barata e eficiente em relação aos meios já disponíveis, como as torres de queda livre, vôo parabólico, foguete de
sondagem, ônibus espacial e estações espaciais como a ISS. Fonte: Valor Econômico, p. B3, 05/01/2010.
39
Porém, às 13h30 do dia 22 de agosto de 2003, uma enorme ³explosão´ poria fim a este sonho,
tendo sido destruído o foguete VLS-1 V03 34, em sua plataforma de lançamento, matando 21
técnicos civis que trabalhavam nos preparativos finais para o lançamento.
O Programa Espacial Brasileiro seria violentamente afetado por este acidente, especialmente
o moral de centenas de competentes cientistas e técnicos que lutam há décadas para
desenvolver as tecnologias que permitam o Brasil ter a sua soberania no setor espacial. As
investigações empreendidas por brasileiros e russos concluíram que a explosão, que consumiu
cerca de 40 toneladas de combustível do foguete, teve como causa a ignição prematura de um
dos motores do foguete.
Mas a causa do problema é muito mais complexa do que este mero indicativo de falha e
extrapola os limites dos laboratórios de Pesquisa. E é sobre esta faceta do Programa Espacial
Brasileiro que este trabalho pretende abordar com maior profundidade, na medida em que
objetiva verificar o quanto ± em síntese, o Brasil tirou de aprendizado e no que aplicou, de
fato, para construir um cenário mais seguro e profissional no gerenciamento dos projetos que
compõem o Programa Nacional de Atividades Espaciais.
34
O CTA está em fase de revisão de todo o projeto do VLS-1 e desenvolvimento de sua versão 4 do VLS-1, que
deverá ser lançado em 2011, depois de dois lançamentos preliminares com partes do foguete, para testes de
desempenho e segurança.
40
/0,+-+**&1,/2ë13
Não é objeto desse trabalho a discussão técnica do acidente ocorrido com o Veículo Lançador
de Satélites, em 22 de agosto de 2003, mesmo porque, como bem disse John Von Neumann35
³ 0& % O* & ´. A simples
leitura do Relatório da Investigação do Acidente ocorrido com o VLS-1, em 22 de agosto de
2004, em Alcântara, Maranhão, de fevereiro de 2004, nos remete a uma enorme complexidade
técnica, além dos cuidados extremos dos membros da Comissão Técnica de Investigação, de
quase 40 pessoas, entre brasileiros e russos, em apontar a (s) causa (s) do acidente, depois de
172 dias de exaustiva investigação.
Com relação a estes aspectos técnicos36, portanto, o Relatório é de caráter definitivo, não
cabendo aqui qualquer outra análise. Reafirmam-se, entretanto, o zelo e a competência das
análises realizadas e das conclusões apresentadas, além da sinceridade na exposição de alguns
pontos fortes e, também, muitas das mazelas do Programa Espacial Brasileiro. Aliás, é de se
acreditar, que isto ocorreu em respeito ao direito do Cidadão pela transparência das ações
públicas, mas que, de qualquer forma, constitui grande mérito da Comissão de Investigação.
35
John von Neumann, nascido Margittai Neumann János Lajos (Budapeste, 28 de dezembro de 1903 ²
Washington, D.C., 8 de fevereiro de 1957) foi um matemático húngaro de etnia judaica, naturalizado
estadunidense. Contribuiu na teoria dos conjuntos, análise funcional, teoria ergódica, mecânica quântica, ciência
da computação, economia, teoria dos jogos, análise numérica, hidrodinâmica das explosões, estatística e muitas
outras as áreas da Matemática. De fato é considerado um dos mais importantes matemáticos do século XX. Foi
professor na Universidade de Princeton e um dos construtores do ENIAC. Entre os anos de 1946 e 1953, von
Neumann integrou o grupo reunido sob o nome de Macy Conferences, contribuindo para a consolidação da
teoria cibernética junto com outros cientistas renomados: Gregory Bateson, Heinz von Foerster, Kurt Lewin,
Margaret Mead, Norbert Wiener, Paul Lazarsfeld, William Ross Ashby, Claude Shannon, Erik Erikson e Max
Delbrück, entre outros. Von Neumann faleceu pouco depois, aos 53 anos, vítima de um tumor cerebral. (Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/John_von_Neumann).
36
A Aeronáutica divulgou, em nota oficial, a composição da equipe. Responsável pela área de cooperação e
pelos contatos com a AEB ± Agência Espacial Brasileira, Viacheslav Lisitsin, de 56 anos, será o chefe dos
técnicos russos. Os outros integrantes, todos doutores em Ciências, são: Dmitry Bor isov, de 42 anos, do Instituto
de Pesquisa Keldysh, é especialista em motores à base de combustível sólido, bem como no processo de
combustão e área de envelhecimento desse combustível; Vladimir Morozov, de 60 anos, do Centro de Pesquisa
Pilyuguin, especialista em sistemas de controle de foguetes e satélites; Victor Poliakov, de 60 anos, do Instituto
Central de Pesquisas Científicas Mashinostroenia, é especialista em pesquisa científica na área de acidentes e
participou de pelo menos 200 comissões de investigação de acidentes envolvendo foguetes; Georcy Sytyi, que
atua na análise de projetos e investigação de acidentes espaciais, e é do Centro de Projetos Makeyev, instituição
especializada na área de combustível sólido; e Vladimir Breyman, do Instituto Teplotécnica, especialista na área
de química de combustível sólido (Fonte: http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2003/09/04/11968-
russos-que-ajudarao-a-investigar-o-acidente-com-o-vls-1-chegam-na-sexta.html).
41
No capítulo primeiro do referido Relatório, página 16, onde a Comissão de Investigação traça
um panorama do Programa Espacial Brasileiro, foi citado:
Todavia, foi sob o ponto de vista gerencial que o SONDA III mais se distinguiu em
relação ao SONDA II. Nesse particular, vale ressaltar que, por seu caráter pioneiro, o
SONDA II foi gerenciado, por assim dizer, de forma pessoal e pouco estruturada. Foi
também um projeto pouco documentado, sem especificações técnicas dos materiais
constituintes do sistema, até porque sua configuração de referência foi baseada no
foguete canadense BLACK BRANT III.
Isto assim, de forma isolada, parece nada representar, mas é preciso construir um quadro mais
amplo da situação e esta passagem é parte de um todo, que surgirá mais adiante.
Assim, como parte da estratégia que visava lançar satélites nacionais por meio de
veículo lançador nacional, a partir de um centro de lançamento brasileiro; e ainda
motivado pelo sucesso do SONDA III, o CTA/IAE iniciou, no segundo semestre de
1976, os estudos de viabilidade e de especificações técnicas do que viria a ser o
SONDA IV: um veículo intermediário, cujo desenvolvimento conduzisse ao domínio
de tecnologias críticas, sem as quais não seria possível avançar, de forma consistente,
em um programa espacial autóctone.
Para levar adiante uma empreitada desse porte, foi adotada, pela primeira vez, uma
³metodologia de gerenciamento de um grande projeto espacial, portanto, projeto
multidisciplinar, de tempo longo para a execução, de alto custo, e de riscos
tecnológicos na fase final de desenvolvimento´. Tecnicamente, o projeto estava sob a
responsabilidade da Divisão de Projetos (CTA/IAE/ETP), cujo chefe, Eng. Jayme
Boscov 37 era também o gerente do projeto, mas utilizava os serviços das demais
37
Teor de mensagem recebida do Dr. Jayme Boscov, em 06/04/2010: ³Atendendo à sua solicitação, envio-lhe
uma síntese da minha chegada ao CTA em 28 de Julho de 1969, com minha experiência de 9 anos adquirida nos
programas de desenvolvimento dos mísseis balísticos S.S.B.S (Solo-Solo Balístico Estratégico) e M.S.B.S (Mar -
Solo Balístico Estratégico), assim como no desen volvimento do avião supersônico CONCORDE.
A primeira grande contribuição para o nascente Programa Espacial Brasileiro foi a introdução do diagrama
PERT implantado para a realização dos Estudos Preliminares do Projeto do foguete de sondagem Sonda III.
42
divisões do Instituto, definindo uma sistemática matricial que viria a ser adotada, com
poucas variações, no desenvolvimento posterior do VLS-1.
Dessa forma, diversas inovações tecnológicas tornaram-se possíveis, entre elas as que
propiciaram o desenvolvimento do propulsor S40, do primeiro estágio do foguete.
Estes estudos foram realizados por mim e dois engenheiros franceses, um especialista em Sistemas Espaciais, o
outro em Eletrônica e eu em Estruturas durante o mês de Agosto de 1969 no CTA-IAE.
Para o Programa Espacial Brasileiro, que estava dando os primeiros passos objetivando o futuro VLS, esta
contribuição foi fundamental para o estabelecimento de uma metodologia rigorosa para o tratamento sistêmico
de um Grande Projeto Espacial.
O que mais pesou na minha formação profissional na França, foi o rigor científico de como são tratados os
desenvolvimentos de componentes e sistemas aeroespaciais. Não há lugar para ´achismos e jeitinhos´, típicos da
nossa cultura. A mudança exigida foi inicialmente árdua.
Dado a boa receptividade dos 25 jovens pesquisadores que constituam o núcleo do IAE foi introduzida a
metodologia de gerenciamento do Programa de Desenvolvimento do Lançador ARIANE, com uma contribuição
sólida do CNES (Centre National des Etudes Spaciales da França)´.
43
(...) Embora se tenha observado um bom nível geral de elaboração nos trabalhos de
projeto, fabricação, integração e testes, sobretudo quando se considera o efetivo
reduzido, a complexidade do VLS-1 V03 e o número elevado de itens e sistemas
existentes, constatou-se também a necessidade de uma maior atenção aos aspectos de
gestão da qualidade.
Como exemplo, pode ser citada a substituição dos fios blindados na parte interna da
³linha de fogo´ dos propulsores do primeiro estágio. O primeiro protótipo do Veículo
conservou a especificação original de projeto, com as ³linhas de fogo´ internas
construídas com fios torcidos e blindados. Todavia, desde a construção do VLS-
1V02, têm sido utilizados fios sem blindagem. A decisão por utilizar fio trançado sem
blindagem resultou da existência de um memorando técnico que autorizava o uso de
fios torcidos não blindados nas linhas dos detonadores de destruição e também nas
linhas do sistema de ignição dos propulsores (³linha de fogo´). (...)
Quando se analisa essa decisão sob o ângulo da gestão da qualidade, constata-se que a
alteração foi feita sobre a especificação original de um sistema que havia operado
corretamente no primeiro protótipo, tendo por base apenas um memorando técnico e
conduzida no setor encarregado da confecção do sistema, sem que tivesse sido
formalizada, comunicada ou consultada a gerência do projeto.
Todavia, foi observado que, na prática, ocorre certa informalidade, com decisões
sobre alterações tomadas em reuniões.
Deverá ser adotada uma norma que discipline as atividades de projeto e manutenção
da infra-estrutura do campo de lançamentos. Para tanto, deverá ser estudada a
conveniência da adoção certificada da norma ABNT NBR 14881 (Sistemas espaciais
± Equipamentos de apoio no solo para uso em lançamento, aterrissagem ou locais de
resgate ± Requisitos gerais), ou de outra equivalente.
Deverá ser adotada uma norma que discipline os procedimentos de segurança para as
operações de superfície e vôo do VLS-1. Para tanto, deverá ser estudada a
conveniência da adoção certificada da norma ABNT NBR 14882 (Sistemas Espaciais
± Operações de centro de lançamento ± Requisitos de segurança) ou de outra
equivalente. (...)
2 " "# # ##"6 89" 6#$
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6
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89
No capítulo dedicado à análise do Fator Humano, a Comissão fez uma profunda avaliação do
quadro de pessoal e dos motivadores existentes internamente ao IAE, que fossem
colaboradores para um ambiente propício ao acidente e a desmotivação funcional.
Como este trabalho não se propõe a discutir a questão do aprendizado técnico, o que vai ser
apresentado à frente são eventuais formas de atender às demandas listadas, não só do
DCTA/IAE, mas também das demais instituições que compõem o SINDE: AEB e INPE.
48
% /+++,/+
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*+
Além destes, o IAE possui nas demais Vice-Diretorias, mais 5 laboratórios de ensaios na
Divisão de Materiais, 3 Laboratórios na Divisão de Aerodinâmica, 7 laboratórios na Divisão
de Defesa, 3 laboratórios na Divisão de Sistemas Aeronáuticos e 1 laboratório de Metrologia
na Coordenadoria de Qualidade e Confiabilidade Espacial.
49
As Divisões que compõem a Vice-Diretoria de Espaço são as citadas a seguir, com suas
respectivas competências e responsabilidades:
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*<*+/+&/)=*+/>+*+?
Compete à Divisão de Ciências Atmosféricas (ACA) a realização de pesquisas,
desenvolvimento e inovação no campo da meteorologia aeroespacial e a realização de estudos
meteorológicos necessários ao lançamento de foguetes. A ACA é também responsável por
investigações científicas de fenômenos meteorológicos que ocorrem nas regiões onde estão
localizados os Centros de Lançamento e na região de São José dos Campos (SP).
% ë 1/
,@*+>+,?
A Divisão de Eletrônica é responsável por desenvolver pesquisas e desenvolvimento,
integração e testes de equipamentos e sistemas eletro-eletrônicos embarcados em veículos
aeroespaciais, além de dar apoio durante as operações de lançamento de veículos espaciais e
em demandas de serviços tecnológicos, no âmbito do IAE.
% ë 1/
+
/+/>+?
A Divisão de Integração e Ensaios é responsável por coordenar, técnica e
administrativamente, os ensaios e demais atividades necessárias à integração e testes na área
aeroespacial e de defesa que estejam sendo desenvolvidos no IAE. Além disso, a AIE faz o
registro de imagens em vôo e no serviço de rastreio de veículos lançados pelo IAE.
%ë 1/
&*A*+>+&?
A Divisão de Mecânica é responsável por desenvolver pesquisas relativas à fabricação,
tratamento térmico e superficial de materiais e peças, processos de soldagem, manutenção
mecânica e a fabricação de componentes e sistemas aeroespaciais.
50
% ë % 1/
,/
/+*+,>+?
Compete à Divisão de Propulsão Espacial (APE) a realização de pesquisa, projeto,
desenvolvimento e testes de motores foguetes e de seus componentes, seja com utilização de
propelente sólido ou líquido, sistemas hidráulicos e pneumáticos para controle de atitude,
sistemas pirotécnicos dos foguetes, sistemas de separação de estágios e terminação de vôo.
% ë B 1/
C.&*+>+C?
A Divisão de Química possui laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de produtos e
processos ligados à área de propelentes e proteções térmicas, sendo responsável também pela
fabricação de propelentes na Usina Coronel Abner, em Jacareí (SP) sendo responsável pelas
operações envolvendo o carregamento de motores utilizados para propulsão de foguetes.
% ë D 1/
//&+//+*+/>+/?
A Divisão de Sistemas Espaciais (ASE) é responsável por realizar pesquisa aplicada,
capacitação tecnológica, projetos, especificação de sistemas, acompanhamento e análise de
ensaios e realiza ainda estudos referentes à aerodinâmica, aeroacústica, análise térmica e
aerotermodinâmica de veículos espaciais.
% ë E *+++C+,+*)+0,+>+12C?
38
Delma Felício é Engenheira Química, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Taubaté (SP) e Coordenadora da Qualidade e Confiabilidade do DCTA.
51
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Deste modo, o CLBI atua no rastreio dos lançamentos do foguete francês Ariane e já foi palco
de centenas de lançamentos de foguetes de sondagem nacionais e de outras agências
internacionais (Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos) e de veículos teleguiados para teste de
desempenho de mísseis antiaéreos, e ³chegou a ser O
´, segundo Edmilson Costa Filho em sua obra Política
Espacial Brasileira.
Segundo o autor:
O Programa de processava de maneira que o GETEPE, órgão do governo responsável
pelo desenvolvimento das atividades espaciais na década de 60, especificava e
projetava o foguete dentro do próprio órgão (que funcionava no próprio CTA) e
destinava a produção à indústria privada nacional, fornecendo também toda a
assessoria técnica necessária.
% ë ë3 *,+ +&+,*A++>*,+?
39
O nome tão singular da praia escolhida deve-se à existência de uma falésia de barro acentuadamente vermelho
que brilha, qual fogo, ao nascer do Sol. Os pescadores em suas jangadas, de longe, ao verem o brilho
avermelhado criaram o nome, associado a um suposto naufrágio de pescadores junto à praia que passou a se
chamar ³Barreira do Inferno´. Fonte: Publicação INPE-10467-RPQ/248 ³Esboço Histórico da Pesquisa Espacial
no Brasil´, do Dr. Adauto Gouveia Motta.
40
Segundo consta do Relatório de Gestão Individual, exercício 2009, da Diretoria de Planejamento, Orçamento e
Administração da Agência Espacial Brasileira (AEB), uma das ações previstas para o Programa Espacial
Brasileiro é ³Implantar um Centro Espacial, $
"89 , que possa explorar os serviços de
lançamento em bases comerciais e possibilite uma convivência integrada das atividades do Centro com as das
comunidades locais, evitando-se a necessidade de deslocamentos de novos contingentes de famílias residentes na
região´.
52
Além das instalações brasileiras, o CLA está recebendo investimentos da Empresa Binacional
Alcântara Cyclone Space (ACS), fruto de Tratado de Cooperação entre Brasil e Ucrânia, pelo
qual a ACS irá lançar satélites a partir do Veículo de Lançamento Cyclone-4.
Sobre o CLA, afirma o Dr. Roberto Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia e atual
Diretor Geral pelo Brasil da Empresa Binacional Alcântara Cyclone Space (ACS)41, em artigo
intitulado ³A crise dos projetos estratégicos brasileiros: o caso do Programa Espacial´:
% ë ëë +&,++
//&++C+,++
Desde 1997, a Divisão de Química (AQI) do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) adota
um Sistema de Gestão da Qualidade para seus Laboratórios, neste caso, com a adoção do
ABNT ISO/IEC Guia 25:1993, hoje denominada de ABNT ISO/IEC 17025.42 Ao todo, a
41
O Sítio de lançamento da ACS, inicialmente era previsto para ser construído em área externa contígua ao do
CLA, mas, devido a problemas fundiários e à decisão do INCRA a privilegiar os quilombolas, em detrimento
deste projeto espacial, a localização do Sítio da ACS teve que ser transferida para a área interna do CLA. E,
devido à decisão do INCRA que, em 04/11/2008, publicou o relatório Técnico de Identificação e Delimitação de
Território da Comunidade Remanescente de Quilombo de Alcântara, o CLA ficou encravado entre o mar e a
comunidade quilombola, sem opção de poder ser ampliado, levando à necessidade de a futura construção de um
novo Centro de lançamento, o que já se encontra em prospecção.
42
O histórico da Norma ISO 17.025 remonta ao ano de 1978 quando a ISO (International Organization for
Standardization) publica a 1ª edição da ISO/IEC Guide 25 (General Requirements for the Competence of Testing
and Calibration Laboratories). Sua segunda edição viria em 1982 e a terceira, em 1990. Em dezembro de 1999, o
ISO Guide 25 foi substituído pela Norma ISO/IEC 17025. No Brasil, segundo histórico fornecido pela ABNT
(Mozart Silva Filho ± Gerência do Processo de Normalização), tudo teria começado com a adoção pela ABNT
do ISO Guide 25:1990 como ABNT ISO/IEC Guia 25:1993. Em 2001, este Guia foi cancelado e substituído pela
Norma ABNT NBR ISO 17025:2001 (Requisitos Gerais para Competência de Laboratórios de ensaios e
Calibração), deixando de ser um documento apenas orientativo. Em 2005, a edição de 2001 foi revisada, sendo
substituída pela Norma ABNT ISO 17025:2005. Esta Norma estabelece requisitos gerenciais e técnicos para a
implementação de sistema de gestão da qualidade em laboratórios de ensaios e calibração, não cobrindo
requisitos de segurança e regulamentos sobre a operação dos laboratórios. Esta norma incorporou todo o escopo
da Norma ISO 9001 e permite a Acreditação, pelo INMETRO, da competência laboratorial para realizar ensaios
e calibrações objeto do escopo de Acreditação.
53
Divisão de Química do IAE possui 10 laboratórios de ensaios, nos quais a Norma 17025 está
implantada e, dentre muitos, dois dos ensaios realizados são Acreditados pelo INMETRO
(Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial)43 desde 2001.
Além dos Laboratórios da divisão Química, outros laboratórios de ensaios (cerca de 18)
também implementaram a Norma 17025 e são auditados pelo IFI (Instituto de Fomento e
Coordenação Industrial) do DCTA, responsável também por fomentar a implementação da
referida norma da qualidade em indústrias aeroespaciais, já tendo certificado cerca de 50
destas empresas.
O Pesquisador Dr. Olympio Achilles de Faria Mello44, assinando a coluna Opinião da Revista
Qualidade nº 1, de 20072008, editada pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), afirma
que os princípios da Excelência e do Rigor Científico, já consagrados no ambiente
laboratorial do IAE, criaram uma cultura de respeito às normas, aos procedimentos e à
Rastreabilidade das medidas, especialmente por causa da Norma NBR ISO/IEC 17.025, ali
implantadas.
E conclui: ³8
O O O O
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43
Os ensaios ³Identificação de Borrachas por FT-IR´ e ³Determinação de Transição Vítrea por DSC´ estão
acreditados pelo INMETRO desde 2001.
44
Segundo seu currículo (endereço: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual /visualizacv.jsp?id=K4787746Z5) o
Dr. Olympio fez graduou-se em Engenharia Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (1983),
mestrado em Engenharia Aeroespacial - University of Maryland (1988) e doutorado em Engenharia Aeroespacial
- Georgia Institute of Technology (1994). Atualmente é pesquisador colaborador do Instituto de Aeronautica e
Espaço e Assessor em Projetos Especiais da Fundação Aplicações de Tecnologias Críticas - Atech. Tem
experiência na área de Engenharia Aeroespacial, com ênfase em Aerodinâmica, atuando principalmente nos
seguintes temas: aerodinâmica computacional, aeroelasticidade, aerodinâmica experimental, escoamento
transônico e túneis aerodinâmicos.
54
Embora a Norma NBR 1510045 (Sistema da Qualidade ± Aeroespacial ± Modelo para garantia
da qualidade em projeto, desenvolvimento, produção, instalação e serviços associados) tenha
tido sua primeira edição em 2002, somente depois de sua segunda edição (2004) é que foi
iniciada, de fato, sua implantação no Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e, precisamente,
em 2005 46, quando foi estabelecida a Política da Qualidade do IAE e feito um cronograma de
implantação para os anos de 2005 e 2006.
Estas ações vieram após recomendações feitas no Relatório Final do Acidente com o VLS-1
V03, quando foram verificadas falhas no sistema de gestão da qualidade, embora alguns
laboratórios já tivessem um sistema de gestão baseado na atual Norma NBR ISO/IEC 17.025,
mas também foi, segundo a Coordenadora da Qualidade e Confiabilidade Delma Felício,
quando ocorreu um aumento de efetivo, dando condições para o início efetivo do trabalho de
disseminação da referida norma da qualidade.
Como meta, foi definido que até novembro de 2006 deveria ser implantada a Norma NBR
15100 47 nas Divisões do IAE e que a Norma NBR ISO/IEC 17.025 deveria estar implantada
nos laboratórios de ensaios e testes do IAE até junho de 2006.
De acordo com Delma Felício48 ³A estrutura inicial de implantação era composta pelo chefe
da DQ (indicado como RD: Representante da Direção) e um servidor de cada uma das
Divisões, denominados Elos da Qualidade´.
45
Segundo o Prefácio Nacional da Norma ABNT NBR 15100:2004, que traça um histórico da norma no Brasil
³# 561 &OO 7 8" O/O
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A Norma NBR 15100 é tecnicamente equivalente à Norma AS 9100B (Quality
Mangement System Assessment) e está, em sua versão 2004, alinhada com a norma ISO 14001, embora não
contenha requisitos específicos para gestão ambiental, ou de outra área como segurança e saúde ocupacional,
gestão financeira ou gestão de risco, que tem normas dedicadas.
46
Há informação de que desde outubro de 2003 o IAE dera início aos primeiros movimentos no sentido de vir a
implantar um sistema de gestão, com base na Norma NBR 15100, com a indicação dos Elos da Qualidade, mas
somente em 08 de julho de 2005 foi lançado o Programa da Qualidade do IAE.
47
A primeira versão de uma norma de qualidade da área aeroespacial foi a norma SAE AS 9001, baseada na
norma ISO 9001 e editada, em meados dos anos 90, pelo Grupo Internacional de Qualidade Aeroespacial em
conjunto com o Comitê Técnico Aeroespacial da ISO.
48
Extraído de sua Dissertação de Mestrado ³Implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade: Estudo de
Caso em uma organização Pública de Pesquisa e Desenvolvimento´ disponível no endereço HTTP://
www.ppga.com.br/mestrado/2008/felicio-delma.pdf, acessado em 08/08/2010.
55
No trecho acima transcrito do artigo ³A NBR 15100 na ASE´ ficam evidentes algumas
contradições e problemas vividos pelo IAE na condução de suas atividades em face do
Programa Espacial Brasileiro, quais sejam: o clima de relativa dissintonia entre civis e
militares que comandam o IAE, assunto que será abordado mais a frente, o não entendimento,
pelo menos à época, do papel da equipe de pesquisadores em relação ao Sistema de Gestão da
Qualidade, como se isto fosse algo distante do seu dia-a-dia e que demandaria um especialista
para cuidar do assunto, ficando com os técnicos apenas as questões técnicas, não cabendo a
eles qualquer vínculo ou decisão com relação a questões gerenciais ou administrativas. Outro
problema apontado foi a percepção de Servidores do IAE de que não havia participação e
apoio dos Chefes de Divisão no processo de implantação da NBR 15100.
Diante de um quadro não conhecido, a primeira etapa para a implementação da Norma ABNT
NBR 15100, segundo a Coordenadora Delma Felício, foi a realização de uma pesquisa com o
56
Diante deste quadro, a Coordenadora Delma Felício afirma em sua Dissertação de Mestrado
que ³a implantação da ABNT NBR 15100 iniciou com resistência pela descrença de que algo
fosse mudado, uma vez que já haviam ocorrido, pelo menos, quatro tentativas sem sucesso de
implantar um sistema de qualidade´.
Esta percepção dos Servidores não estaria diferente ao final de 2005, quando com o apoio de
uma consultoria externa (a Empresa Key Consultoria), foi elaborado o planejamento para
2006 e feita auditoria interna em seis divisões do IAE.
O Dr. Cesar Aparecida de Araujo Querido Oliveira, já em 1998, em sua tese intitulada
³Proposta de Modelo Organizacional de gestão de tecnologia para o setor espacial brasileiro:
estudo do caso VLS´ defendida e aprovada junto ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA) já identificava problemas relativos ao comportamento do pessoal do IAE em face de
mudanças organizacionais. Afirma o Dr. Cesar Aparecida:
Na pesquisa, ficou evidenciado que no IAE existem resistências às mudanças que são
intencionais, porque as pessoas não querem ser realocadas, não querem mudar as suas
atividades e até mesmo se prendem a ligações informais para justificarem suas
posições, simplesmente, porque as pessoas não estão atualizadas com as mudanças
externas que terão impacto direto dobre o Instituto.
O que era percebido por todos está inserido na dissertação de mestrado de Delma Felício:
Salienta-se que a verificação inicial para a implementação da Norma foi feita no ano de 2004,
depois da ocorrência da explosão do VLS-1 V03, com a trágica morte de 21 técnicos do CTA
e que, segundo a Coordenadora imperava grande dificuldade em mobilizar a Alta Direção do
CTA que, segundo ela, estava envolvida e apoiando materialmente a implantação ³porém, não
apresentava o comprometimento adequado exigido pela norma, dificultado, principalmente
por desconhecimento desta: os conceitos e suas exigências´.
49
Vale ressaltar que a direção do DCTA é formada por oficiais de alta patente da Aeronáutica e que fica no
cargo em média por 2 anos, o que poderia estar comprometendo o envolvimento ideal com a Qualidade.
58
Dentre as sugestões para melhoria deste ambiente, foi aceito pelos servidores do CTA que
deveria haver a implantação de um Sistema de Gestão pela Qualidade, trabalhar para a
melhoria do relacionamento entre os setores e pela melhoria da qualidade dos gestores que,
segundo consta da referida Dissertação de Mestrado:
Os servidores acreditavam que a Organização não possuía uma boa gestão porque os
cargos de decisão eram preenchidos por técnicos da área de exatas. Dessa forma,
havia uma grande deficiência na forma de gerenciar: falta de planejamento, falha no
acompanhamento, na priorização das atividades, na organização dos registros. Por
vezes, na falta de recurso humano e, principalmente, por falta de qualificação, um
ótimo pesquisador era transformado em um péssimo administrador de pessoas.
que atuou diretamente nas Divisões, em reuniões para esclarecimentos de dúvidas, elaboração
de manuais e procedimentos, realização de palestras (...)´.
Outra área do DCTA, com Sistema de Gestão pela Qualidade implantado, é o Centro de
Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) e que recebeu em abril de 2010, a Certificação de
conformidade em atendimento aos requisitos da Norma ISO 9001:2008. A Qualidade do
CLBI foi atestada pela Divisão de Certificação de Sistemas de Gestão (CSG) do Instituto de
Fomento e Coordenação Industrial (IFI). Este processo de Certificação do DCTA pela ISO
9001 começou em agosto de 2006, face às recomendações do DCTA.
Não se pode falar em Qualidade no âmbito do DCTA sem dar destaque ao trabalho
empreendido pelo Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), criado pelo Decreto
60.521, de 31 de maio de 1967 e subordinado, à época, ao Comando Geral de Pesquisa e
Desenvolvimento, nascendo como um elo entre a produção (Indústria) e a academia (ITA) /
Pesquisa (IPD), com a previsão legal de cinco anos para estar efetivado.
50
A nova edição da NBR 15100:2010 é intitulada ³Sistemas de Gestão da Qualidade ± Requisitos para
organizações de aeronáutica, espaço e defesa´,
51
O IFI (Instituto de Fomento e Coordenação Industrial), braço certificador do DCTA, já certificou mais de 50
empresas ligadas à indústria aeroespacial e supervisiona o sistema de qualidade destas empresas.
60
% ë ë //&+*+&G/+
52
Fabíola de Oliveira formou-se em Jornalismo, em 78, na Universidade Federal Fluminense. Desde então atuou
na área de C&T, como jornalista militante escrevendo para periódicos e, também, exercendo a função de
assessora de imprensa no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). É doutora em Comunicação pela
USP. Hoje, é coordenadora do curso de Jornalismo na Universidade do Vale do Paraíba (Univap), em São José
dos Campos.
61
Foi nesta época que retorna ao Brasil o Dr. Jayme Boscov53, que de forma muito atenciosa,
deu o seguinte depoimento, via email, para este trabalho de pesquisa:
53
Jaime Boscov, Engenheiro Aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica em 1959 foi
agraciado com
³Ordem Nacional do Mérito CientíficoH em novembro de 1996, pelo então Presidente da
República, Fernando Henrique Cardoso. Em 28 de maio de 2010, o Engenheiro Jayme Boscov, reconhecido pelo
DCTA como o ³Pai do Programa VLS´ e Fomentador de Recursos Humanos para a Área Espacial, foi
homenageado pelo DCTA durante a inauguração da sua Galeria dos Pioneiros na Área de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial.
54
Segundo o Profº Darci Prado, na obra PERT/COM, publicado em 2004, pelo INDG Tecnologia e Serviços
Ltda, ³Foi no final da década de cinqüenta e início de sessenta que surgiram os diagramas tipo rede para gerência
de projetos. Todos eles se fundamentam na decomposição do projeto em atividades e na interligação das
atividades segundo a seqüência de execução, formando uma malha ou rede. Em 1957 surgiu o COM ± Critical
Path Method, criado e adaptado para computador na empresa norte-americana Du Pont de Nenours, com
assistência da empresa Remington Rand. O objetivo era desenvolver uma técnica para planejamento e controle
dos projetos de engenharia da empresa. Em 1958 surgiu o PERT ± Program Evaluation and Review Technique,
quando o governo norte-americano estava construindo a série de submarinos atômicos Polaris. O objetivo era
desenvolver uma técnica para planejar e controlar a execução do projeto de modo que o prazo e custos estimados
fossem obedecidos.
55
Reunião para entrevista para o presente TCC e realizada em março de 2010 e que contou com a participação
das seguintes pessoas do DCTA: Delma Felício (Coordenadora da Qualidade e Confiabilidade), Silvio Fazolli
62
pelo Gerente do Projeto VSB-30, Engenheiro Eduardo Dore Roda, o IAE adota os padrões do
European Cooperation for Space Standardization (ECSS) como referência para elaboração
dos planejamentos e acompanhamento de seus projetos.
E o foguete VSB-30 é um exemplo do que o IAE vem fazendo em termos de melhoria de seu
processo de Gerenciamento de Projetos. Em artigo intitulado ³Certificação do VSB-30´
publicado na Revista Espaço Brasileiro nº 2, 3º trimestre de 2009, da Agência Espacial
Brasileira, o Coronel Engº Carlos Antônio de Magalhães Kasemodel discorre sobre o
processo de Certificação do foguete de sondagem VSB-30:
Até 2003, ano da ocorrência do trágico acidente com o terceiro protótipo do VLS-1,
em Alcântara (MA), as atividades de certificação a cargo do IFI abrangiam
basicamente as áreas aeronáutica e bélica. No campo espacial, estava limitada a
poucos materiais de emprego militar como, por exemplo, componentes pirotécnicos.
Com base nas recomendações do Relatório de Investigação do citado acidente, a
Agência Espacial Brasileira (AEB) orientou que todos os projetos de veículos
espaciais desenvolvidos a partir de então, fossem certificados pelo IFI. (...) O foguete
suborbital VSB-30, cujo desenvolvimento foi iniciado em 2001 pelem função da não
existência de normas e procedimentos nacionais específicos para a certificação de
veículos espaciais, foram adaptados os métodos utilizados na área aeronáutica,
acrescidos da experiência internacional divulgadas sobre o assunto. O Instituto de
Aeronáutica e Espaço (IAE) em parceria com a Agência Espacial Alemã (DLR), foi o
primeiro projeto de veículo lançador a ser submetido a este tipo de procedimento. (...)
A Certificação teve por base Normas Técnicas e documentos de especificação técnica
do Sistema Veículo e seus subsistemas, excluindo-se o subsistema Propulsor S30 do
2º estágio e o Módulo Carga Útil. (...) O conjunto de informações apresentadas ao OC
[Órgão Certificados] também incluiu outros documentos, tais como o Plano de
Gerenciamento do Projeto, o Plano de Garantia do Produto, o Plano de Gestão da
Configuração, o Plano de Desenvolvimento e Testes e a Matriz de Verificação do
Produto. (...) A certificação realizada no VSB -30 revelou-se suficientemente adequada
para garantir o cumprimento dos requisitos previstos para o veículo. Sua aplicação em
outros projetos permitirá uma maior garantia da qualidade, bem como o
desenvolvimento e a melhoria dos processos da própria atividade de certificação.
Convém ressaltar que um importante benefício obtido ao se implantar o processo de
certificação no VSB-30 foi uma melhor estruturação da documentação de projeto,
seguindo normas internacionalmente aceitas.
(Coordenador da Qualidade e Confiabilidade em Ensaios Destrutivos), Eduardo Dore Roda (Gerente de Projetos
do Foguete de Sondagem VSB-30), Paulo Roberto Sakay (Responsável pela Coordenadoria da Qualidade e
Confiabilidade Espacial).
63
O DCTA, apesar de não exigir que seus Gerentes de Projetos busquem qualquer tipo de
certificação, todos têm especialização na área de Gerenciamento de Projetos, o mesmo
ocorrendo com a maioria dos Engenheiros que ali trabalham.
% /+++
O Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) foi criado em 1971, com a extinção da Comissão
Nacional de Atividades Espaciais (CNAE), mas já ensaiava os primeiros passos em 1961,
quando foi constituído o Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades
Espaciais (GOCNAE), que já em 1963 se transformaria em CNAE.
Em 1979, ano em que centenas de brasileiros exilados no exterior pela ditadura militar
começam o regresso ao país, beneficiados pela Lei de Anistia, um grupo de jovens
engenheiros do Brasil fazia o caminho inverso, distante dos olhos da imprensa e da
sociedade. Todos com excelente formação nas melhores escolas do país e alguns já
ostentando títulos de mestre e doutor de renomadas universidades estrangeiras, foram
à França com a missão de apreender uma tecnologia conhecida por apenas quatro
países na época ± o desenvolvimento de satélites artificiais.
Segundo ainda a Jornalista Fabíola, na prática, era com este esforço que surgia a missão
espacial brasileira, depois oficializada como Missão Espacial Completa Brasileira (MECB)
³quando os militares da Aeronáutica decidiram que não seria interessante para o Brasil a
continuidade do programa com a França´, conclui Fabíola.
Sua atual denominação Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) deriva de decisão
havida em 1990, tendo esta instituição recebido o encargo de desenvolver satélites e
tecnologias associadas, bem como, de se encarregar da pesquisa e desenvolvimento na área de
Ciências Espaciais, incluindo Aeronomia, Astrofísica, Geofísica Espacial e Aplicações Espaciais,
Sensoriamento Remoto, Oceanografia e Meteorologia.
56
Em Prefácio da obra ³Política Espacial Brasileira´ de autoria do DR Edmilson Costa Filho.
65
O INPE tem o papel estratégico de monitorar grandes áreas destinadas à produção agrícola e
florestas, a coleta de dados em locais de difícil acesso, como no interior da Amazônia e a
avaliação de eventos imprevisíveis, como ciclones e terremotos, com disponibilização de
dados aplicáveis na previsão de safras agrícolas, mapeamento, saúde pública, vigilância,
gestão de recursos hídricos e energéticos, navegação marítima e fluvial. O INPE também atua
em pesquisas avançadas como a de fusão nuclear, em estudos de previsão do tempo e
climáticos, dentre outras áreas de interesse.
Apesar da maioria de seu pessoal ficar na sede do INPE, em São José dos Campos, o CEA
possui laboratórios e equipamentos de pesquisa instalados em Cachoeira Paulista (SP), Natal
(RN), Euzébio e Itaitinga (CE), São Luiz (MA), Cuiabá (MT), Estação Antártica Comandante
66
Ferraz, São João do Cariri (PB), Campo Grande (MS), Ribeirão Preto (SP), Blumenau (SC),
Porto Alegre e Santa Maria (RS) La paz (Bolívia) e Punta Arenas (Chile), com pessoal
próprio, pessoal de outras unidades do INPE ou de Universidades.
% 1/
&//*,&I*/5**
57
Endereço: http://www.cptec.inpe.br/ocptec
58
A Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais (DSA) disponibiliza para todos os interessados dados e
produtos meteorológicos gerados a partir de imagens de satélites. Utilizando a tecnologia do Google Earth é
possivel combinar os dados meteorológicos, mapas, dados das estações meteorológicas, detecções de queimadas,
entre outros, com todas as demais camadas do próprio Google Earth em tempo real. As atualizações destes dados
são automáticas, em intervalos de tempo variados conforme cada nova passagem dos satélites, bastando para isto
67
que o usuário esteja conectado com a internet. A disponibilização dos dados segue a política adotada pelo INPE,
ou seja, não existem custos nenhum desde que os dados não sejam utilizados para fins comerciais.
59
Endereço: http://www.inpe.br/ete/divisoes/dss/dss.dhtml
60
A Divisão de Mecânica Espacial e Controle (DMC) também mantém atividade acadêmica compatível com os
propósitos do INPE, o que engloba a manutenção de um curso de Pós-graduação em Engenharia e Tecnologia
Espacial (Mestrado e Doutoramento), orientação de teses, contratação de bolsistas, incentivo à publicação dos
resultados de suas pesquisas e/ou trabalhos de engenharia, busca de recursos não institucionais para suplementar
atividades de ensino e pesquisa, e a participação e promoção de eventos técnicos e científicos da área.
68
O Centro de Rastreio e Controle de Satélites (CRC) do INPE está localizado em São José dos
Campos, mas conta com a Estação Terrena de Cuiabá (MT), com a Estação Terrena de
Alcântara (MA) e com uma rede de comunicação de dados e voz que conecta as três
instalações, que operam de forma ininterrupta todo o ano.
% % ,+0+-+
//>,?
Além de atender aos objetivos do Programa Espacial Brasileiro61, o LIT atua forte na
qualificação de produtos para a indústria brasileira, prestando serviços62 nas seguintes áreas:
61
Os serviços oferecidos pelo LIT são os seguintes: Gerenciamento de programas espaciais, Engenharia de
sistemas espaciais, Verificação de sistemas espaciais, Montagem, integração e testes de sistemas e subsistemas
espaciais, Ensaios de vibração e choque, Ensaios de separação, Montagem e testes de geradores solares, Ensaios
69
63
Para cumprir sua missão o Laboratório Associado de Combustão e Propulsão (LCP) dispõe de oficina para
fabricação mecânica e peças e estruturas, laboratórios de química, laboratórios de análise de propelente líquido e
bancos de ensaios de propulsores. Além disso, atua na formação de mestres, doutores e pós doutores, nas áreas
de sua atuação.
71
Os demais laboratórios, embora não acreditados pelo INMETRO, são altamente capacitados e
prestam relevantes serviços à indústria nacional, tanto de calibração quanto de qualificação de
componentes e equipamentos, de diferentes áreas, como automobilística, telecomunicações,
médica, etc.
64
Apenas duas áreas de interesse para esta pesquisa foram avaliadas: O Laboratório de Integração e Testes (LIT)
e a Coordenação de Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE).
72
O Programa Uniespaço, criado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) em 1997, objetiva
integrar o setor universitário ao Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE),
buscando ampliar a base de pesquisa e desenvolvimento do setor espacial.
O mais inusitado disso tudo é que o ex-militar Marcos Pontes vive em Houston e segundo
entrevista concedida à Revista Espaço Brasileiro número 9, de abril, maio e junho de 2010,
publicada pela AEB ³Hoje eu vivo entre Houston e o Brasil. Em Houston, permaneço à
disposição da AEB, como astronauta, aguardando escalação para outros vôos espaciais, e
como contato técnico, para possível coordenação com outras agências e instituições
internacionais´.
A Agência Espacial Brasileira (AEB) possui um quadro de pessoal com cerca de 150 pessoas,
sendo mais da metade de terceirizados (Vigilância, conservação e limpeza, copa, apoio
administrativo) ou requisitados de outros setores. Reconhece a diretoria da AEB, no Relatório
de Gestão de 2009 67, que o quadro de pessoal ideal seria de 285 pessoas.
65
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi fundada em 1916 e busca congregar
os mais eminentes cientistas nas áreas de Matemática, Física, Química, da Terra, Biologia, Biomedicina, Saúde,
Engenharia e Social, tendo com Membros Institucionais a Coppe/UFRJ, a Faperj, a Fapemig, o Inmetro, a
Petrobras e a Vale.
66
A Missão Centenário nasceu de um acordo entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Agência Espacial da
Federação Russa (Roscosmos) em 18 de outubro de 2005. O principal objetivo deste tratado seria enviar o
primeiro brasileiro ao espaço, o tenente coronel aviador Marcos Pontes.
67
Ver no endereço http://www.aeb.gov.br/download/PDF/RelatorioGestao_2009.pdf, acesso em 12/07/2010.
73
% ë *0
++0++//&++C+,+
Segundo o Engº Luiz Antônio Chiste Brandão68, Superintendente do Comitê CB-08 da ABNT
(Aeronáutica e Espaço), ³a AEB, através de um convênio com o CTA e o INPE tem
proporcionado recursos para o desenvolvimento da atividade [de normalização], cujo
resultado tem sido um incremento nas normas técnicas espaciais homologadas pela ABNT´.
68
O Engº Luiz Antônio Chiste Brandão atua no Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI/DCTA),
como chefe da Subdivisão de Normalização e prestou os esclarecimento acima através de mensagem eletrônica
postada em 19 de outubro de 2009, atendendo a solicitação de esclarecimento encaminhada à Gerência do
Processo de Normalização da ABNT, especialmente para este trabalho de pesquisa.
69
O Brasil, através da ABNT, mantém presença como Participante ou como Observador em 428 Comitês
Técnicos da ISO, dentre estes, vários comitês ligados à normalização aeroespacial (Fonte: http://www.iso.org/iso
/about/iso_members/iso_member_participation_tc.htm?member_id=1579).
74
B +&+,+-1/+
B ë *+&/*/
Antes da ocorrência do acidente com o VLS-1 V03, o Brasil já dispunha de uma norma para
gerenciamento de riscos em sistemas espaciais, a NBR 1495970, baseada na Norma ISO 17666
e que derivou do projeto 08:001.05-004:2002, coordenado pela Comissão de Estudos de
Gerenciamento de Programas Espaciais (CE-08:001.05) da ABNT, subordinado ao Comitê
Brasileiro de Aeronáutica e Espaço (ABNT/CB-08).
Embora o gerenciamento dos riscos seja um processo complexo, o IAE dispõe de poucas
pessoas designadas para tal, conforme informação do Pesquisador Dr. Silvio Fazzoli71.
70
A Norma NBR 14959:2003, conforme item 1 (Objetivos) ³define os princípios e requisitos para o
gerenciamento de risco integrado em um programa espacial e esclarece o que é necessário para implementar uma
política de gerenciamento de risco integrado a um programa, por qualquer participante do programa e em
qualquer nível.
71
Informação obtida durante reunião feita no IAE, em fev/2010.
75
B *+&+*)+
A Norma NBR 15100, em implantação nas Divisões do IAE, prevê em seu item 4.3 (Gestão
da Configuração) que ³a Organização deve estabelecer, documentar e manter um processo de
gestão da configuração apropriado ao produto´. Além disso, recomenda que se busque na
Norma ABNT NBR ISO 10007 72 as orientações sobre a gestão da configuração.
72
A referida norma, em sua edição de 2005 define assim a Gerência da Configuração: A gestão de configuração
é uma atividade gerencial que fornece orientações técnicas e administrativas para o ciclo de vida de um produto,
seus itens de configuração e informações de configuração de produto concernentes. A gestão de configuração
documenta a configuração do produto. Proporciona meios para a identificação e rastreabilidade, identificação da
situação de atendimento dos requisitos físicos e funcionais e o acesso à informação acurada em todas as fases do
ciclo de vida.
73
Grifo do autor.
76
O fato do IAE não realizar esta atividade, da forma prevista nos documentos citados pelo
Pesquisador, parece ser algo comum também no INPE, pois mesmo que alguns considerem a
relevância do Gerenciamento da Configuração, este processo continua sendo praticado da
forma apontada no Relatório de Investigação, ou seja, não estruturado e até informal.
B *&//+ +
74
A área de Engenharia de Satélites do INPE utiliza os padrões do ECSS para planejamento e execução de seus
projetos e, pelo que foi visto, o planejamento é bastante completo e conforme a metodologia da ECSS.
75
Regulamentos Técnicos disponíveis no endereço: http://www.aeb.gov.br/indexx.php?secao=normas
_regulamentos _licencas.
77
O Regulamento Técnico da Segurança para Carga Útil define as principais regras a serem
aplicadas ao projeto e a operação de cargas úteis não tripuladas a serem lançadas em território
brasileiro, com o objetivo de serem atendidos os seguintes requisitos: princípios gerais de
segurança para carga útil, regras para projeto, regras operacionais e princípios de submissão
do projeto da carga útil ao Operador da Segurança.
76
A Política Nacional do Meio Ambiente foi estabelecida em 1.981 mediante a edição da Lei 6.938/81, criando
o SISAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente). Seu objetivo é o estabelecimento de padrões que tornem
possível o desenvolvimento sustentável, através de mecanismos e instrumentos capazes de conferir ao meio
ambiente uma maior proteção. As diretrizes desta política são elaboradas através de normas e planos destinados a
orientar os entes públicos da federação, em conformidade com os princípios elencados no Art. 2º da Lei
6.938/81. Já os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, distintos dos instrumentos materiais
noticiados pela Constituição, dos instrumentos processuais, legislativos e administrativos são apresentados pelo
Art. 9º da Lei 6.938/81. (Fonte: http://www.jurisambiente.com.br/ambiente/politicameioambiente.shtm).
78
Este Regulamento Técnico de Segurança é aplicável a todas as empresas que atuam nos
centros de lançamento brasileiros, definido os princípios e regras relativas ao plano de
segurança, da proteção e do meio ambiente.
Além dos regulamentos técnicos e de segurança acima, a AEB considera que o processo de
regulamentação deve incluir outros documentos, tais como: a Legislação Brasileira aplicável,
acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário, a política de segurança da AEB,
Normas técnicas aplicáveis, Manuais da Segurança, procedimentos, planos operacionais,
planos de prevenção, planos de emergência e instruções de trabalho.
B *//J&+/
Esta situação caótica é reconhecida pelas instituições que, infelizmente, não dispõem de
instrumento de pressão para forçar o Governo a liberar as contratações necessárias. No
Relatório de Gestão do INPE78, exercício de 2009, apresentado ao Ministério de Ciência e
Tecnologia em março de 2010, lê-se:
3)&+ N//0*//J&+/
Com isso novos desafios surgiram que exigiram um estudo que melhor identificasse as
atuais necessidades. O primeiro resultado desse estudo foi à necessidade de alocação
de novas vagas via RJU, num total de 396.
O INPE possui quadro de pessoal de excelente formação com cerca de 25% com
doutorado e outros 13,8 % com mestrado. Sua distribuição etária mostra entretanto
que 70 % dos seus recursos humanos possuem mais do que 46 anos e 23% mais do
que 55 anos. Da mesma forma, 70 % dos servidores possuem mais de 20 anos na
Instituição e somente 15,5 % menos de 10 anos de trabalho no INPE.
77
Divulgado no órgão de imprensa do SindCT ³Rapidinha nº 11´, de 13/08/2010.
78
Este Relatório de Gestão é feito em cumprimento ao Termo de Compromisso de Gestão celebrado entre o
INPE e o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) em 02 de maio de 2008, pelo qual o INPE se obrigou, em
troca de maior autonomia administrativa, dentre outros, a atingir metas e resultados pactuados, aprimorar os
métodos de gerenciamento e a qualidade e apresentar relatório de desempenho;
80
Considerando que o DCTA foi criado antes do INPE, há de se inferir que o problema com
pessoal é ainda maior, em termos de faixa etária e de aposentadorias. O grande problema
advindo disto é que o servidor altamente qualificado, ao deixar o serviço público para se
aposentar ou se transferir para a iniciativa privada leva consigo toda esta bagagem de
conhecimento que deveria estar a serviço do Programa Espacial Brasileiro.
Se o País quer mesmo ter um programa espacial, terá de investir. O ponto de partida
será, sem dúvida, a criação de um programa de formação e treinamento capaz de
suprir o elevado número de colaboradores qualificados que deixaram o sistema por
força dos baixos salários e da falta de perspectiva de realização profissional, assim
como dos que foram imolados no desastre de Alcântara.
O Programa Espacial brasileiro é fundamental para nosso desenvolvimento, para
nossa segurança, para a preservação de nossa soberania, para o futuro de nossas
comunicações, para nosso auto-conhecimento, para nossa produção agrícola, para o
combate ao desmatamento, para a vida, enfim. Perseverar nele, com seriedade, é dever
do Estado e da sociedade.
B % //&+//
+C+,+
O DCTA vem fazendo o seu dever de casa em termos de implantação de um sistema de gestão
com base em normas da qualidade. Nas Divisões do DCTA foi implantada a Norma ABNT
NBR 15100, que abarca todos os requisitos da Norma ABNT NBR ISO 9001, além da
inclusão de requisitos próprios do setor aeroespacial.
B B +/+ N/&++/
80
Material disponível no endereço http://www.defesanet.com.br/docs/fabvls.pdf, acesso em 04/04/2010.
82
D /+=++*+,)/+
Talvez o Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008 tenha sido o mais arrojado Decreto
assinado pelo Presidente da República do Brasil nos oito anos de mandato, pois, apesar de
pouco alardeado e ainda não regulamentado na íntegra, deverá ser base de uma reviravolta na
política de defesa do Brasil a partir de 2011, quando deverá assumir o novo Presidente 81. E a
importância deste Decreto no contexto deste trabalho se dá com a indicação do Setor Espacial
como um dos três setores apontados como estratégicos e decisivos para a defesa nacional,
sendo os demais o Setor Nuclear e o Setor Cibernético.
Isto foi reforçado pelas diretrizes da nova Política de Ciência, Tecnologia e Inovação, que
recebeu o seguinte comentário82 da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República, publicado em 05 de agosto de 2009:
O Decreto 6.703, tenta acabar de vez com a eterna discussão sobre se o Brasil deve ter um
Programa Espacial civil ou militar, ao afirmar que três diretrizes estratégicas nortearão a
evolução da Força Aérea, dando prioridade para o desenvolvimento de tecnologias em
campos onde o País ainda é deficitário, além de deixar claro que o desenvolvimento de um
veículo lançador servirá também para a produção de mísseis.
81
Se o Presidente eleito for do PT, acredita-se que se teria mais chance de serem implementadas as medidas do
referido Decreto, pois o seu adiamento está ligado ao momento político eleitoral.
82
Ver a íntegra no endereço http://www.sae.gov.br/site/?p=969
84
No mesmo Decreto, quando se fala de monitoramento e controle das forças armadas, lê-se:
Este Decreto deverá mudar radicalmente o atual status do SINDAE e, talvez, por isso, tenha
sido colocada em ³compasso de espera´ a revisão do Programa Nacional de Atividades
Espaciais (PNAE), que estava prevista para início de 2010 e da qual nada mais se ouve falar.
A mudança deverá ser, pela análise das circunstâncias, tão profunda que precisará contar com
o aval de um Presidente que esteja começando um novo mandato e eleito com grande respaldo
popular, para enfrentar, certamente, a oposição política interna e de países interessados em
não permitir ao Brasil o acesso a tecnologias de acesso ao espaço e de desenvolvimento de
mísseis de médio e longo alcance, como é o caso dos Estados Unidos.
83
Segundo o Profº Clério Campolina, Reitor da UFMG, em matéria publicada no caderno Pensar Brasil,
publicado pelo Jornal Estado de Minas no dia 10 de julho de 2010 e intitulada Absolutismo, não! µ" $O
O!
# O
O O
$O
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# #
O O0 O O O $ O !
$O ?
85
de governos que ora apóiam, ora recuam, deixando a comunidade científica em constante
incerteza sobre o futuro dos projetos, sem as verbas e sem os recursos humanos necessários.
86
E **,/
Como seria mais razoável, o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), principal afetado pelo
desastre, com certeza foi o que mais teve de aprendizado, colocando em prática as
recomendações do Relatório de Investigação, em especial, a implementação, em suas
Divisões e nos Centros de Lançamento, da Norma de Qualidade ABNT NBR 15100 e de
outras ferramentas de gestão de projetos, como, por exemplo, o Gerenciamento de Riscos, o
Gerenciamento da Configuração e a estruturação de um Escritório de Projetos, responsável
por coordenar um sistema de informação gerencial e de manter um banco de conhecimentos
gerados pela execução dos diversos projetos.
O IAE empreendeu, com apoio de consultoria externa russa, a revisão geral do projeto do
VLS-1, a exemplo da rede pirotécnica, modificada depois de reavaliação geral dos sistemas de
ignição dos propulsores principais e sistemas de corte de separação do 1º estágio e sistema de
destruição do veículo, modificações estas já testadas em bancada e aprovadas. Além disso, o
87
Já o Instituto Nacional de Atividades Espaciais (INPE) parece não ter aprendido devidamente
a lição, pelo menos no que diz respeito à recomendação de implantar normas de gestão da
qualidade, estando apenas o Laboratório de Integração e Testes (LIT) sob a égide da Norma
ABNT ISO/IEC 17025, o que já acontecia antes do acidente. A área de engenharia de satélites
deveria, a meu ver, buscar meios de desenvolver e implantar uma metodologia própria de
gerenciamento de projetos ou, pelo menos, implantar a Norma ABNT NBR 15100, que seria a
base para sistematizar o gerenciamento de seus projetos de satélites.
A Agência Espacial Brasileira (AEB) cumpriu a parte que lhe cabia pelas recomendações do
Relatório Final de Investigação do Acidente com o VLS-1 V03, ou seja, desenvolveu/revisou
e implantou os planos e procedimentos de segurança para as operações de superfície e de vôo
para o VLS-1. Fora isso, a AEB continua não mostrando para o que veio, não conseguiu se
estabelecer como verdadeira agência espacial, que deveria coordenar todos os esforços
brasileiros no desenvolvimento do Programa Nacional de Atividades Espaciais e sequer
conseguiu montar um quadro próprio de pessoal.
Falta, porém, sintonia efetiva entre as três instituições (AEB, DCTA e INPE), no que tange a
relacionamento e coordenação das atividades afins, estando a AEB isolada em Brasília,
perdida em meio a seus meandros burocráticos, na prática não coordenando como deveria e
lhe caberia por missão o Programa Espacial Brasileiro.
Com relação aos problemas diversos remanescentes, como recursos financeiros regulares e na
medida, pessoal qualificado e outros, há de acreditar que, se implementadas as ações previstas
no Decreto nº 6.703, que aprova a Estratégia Nacional de Defesa, o Brasil terá toda a
condição de superar, em médio prazo, o seu déficit tecnológico na área espacial e aglutinar os
esforços de pesquisa e desenvolvimento, sem as arestas hoje existentes. O próprio Decreto
Presidencial já se antecipa a isto ao afirmar ³ O *O #
O O (
88
E esta certeza se dá por um único motivo: a alocação de recursos financeiros terá de ser feita
em soma suficiente para contemplar todos os interesses e vertentes do Programa Espacial
Brasileiro, seja na área de satélites para uso civil e militar, de lançadores de satélites e de
bombas ou de centros de lançamento de foguetes e outros veículos. É isso; o Decreto 6.703 é
claro ao pontuar: ³v O
$O & O
O )
O
O O $(
Embora o caráter positivo visto neste Decreto Presidencial, sua completa regulamentação,
especialmente no que concerne ao setor espacial, certamente trará muita polêmica e debate
entre os públicos envolvidos e se espera, na sociedade como um todo, pelas inúmeras
mudanças que introduz no cenário político nacional, com fortes reflexos no campo
internacional, afetando especialmente os Países detentores de poderio bélico e que utilizam
este potencial como força imperialista, como é o caso dos Estados Unidos.
Esta, contudo, será a grande oportunidade de se deixar de lado o ilusório e, por vezes,
simplório pensamento de que o Programa Espacial Brasileiro é de caráter eminentemente
civil, quando no mesmo ambiente de desenvolvimento do Veículo Lançador de Satélites se
desenvolvem mísseis e com altíssima competência. Além disso, este viés civil do nosso
Programa Espacial nada rendeu ao Brasil em relação ao fim dos embargos de importação por
parte dos Estados Unidos, que continuaram a nos impedir o acesso a componentes e
equipamentos considerados sensíveis e de aplicação dual.
Embora seja apenas especulativa a conclusão de que o Programa Espacial Brasileiro assumirá
de vez seu caráter também militar, já que a revisão do PNAE continua distante dos olhar
público, já não era tempo do Brasil se despir da hipocrisia dos discursos políticos e dizer com
orgulho do papel de destaque dos militares no Programa Espacial Brasileiro e anunciar, em
alto e bom tom, a disposição em assumir seu verdadeiro papel de liderança no mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Política de Estado? Quem decide é você. Belo Horizonte (MG). 10/07/2010. 23 p.
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Configuration Management. Pennsylvania (USA), 2007.
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Management. Pennsylvania (USA), 2009.
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Tecnologia e Serviços Ltda, 2004. 174 p.: Il (Série Gerência de Projetos ± Volume 4).
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SÃO PAULO. SindCT - Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e
Tecnologia do Vale do Paraíba. Entrevista com o Prof. Aldo Weber Vieira da Rosa, fundador
do INPE. Endereço http://www.sindct.org.br/?q=node/29. 2007.
SILVEIRA, Virginia. Brasil finaliza projeto para pesquisa em baixa gravidade. Valor
Econômico. São Paulo. 05 jan 2010. Caderno Empresas: Tecnologia & Comunicações. P. B3.