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Muito tem sido falado, nos últimos anos, sobre a democracia como
construtora de uma sociedade mais igualitária e justa, já que a ampla participação
política, teoricamente, facilitaria o alcance do bem comum. No Brasil, essa ideia
ganhou força, sobretudo, a partir da derrubada do regime militar e a maior abertura
das estruturas estatais, bem como com o direito ao voto em eleições diretas.
Não obstante, constatou-se que mesmo com o fim da ditadura, muitos dos
problemas cruciais de nossa sociedade, a exemplo da violência urbana, do
analfabetismo e do desemprego, não foram sanados, ao contrário das expectativas
levantadas. Ficou claro que inexiste relação estreita e direta da abertura ao voto
popular com a instituição de um governo hábil para atender as necessidades básicas
do povo.
Mesmo que a participação no sufrágio fosse bastante liberal para a época (em
1872, votavam cerca de 13% da população adulta masculina), o exercício do voto,
na prática, não representava a garantia de um direito do cidadão, mas a manutenção
do domínio político local. As eleições eram fraudulentas, violentas, fruto de um
controle quase coercitivo dos políticos sobre seus eleitores.
Foi motivada, por essa razão, a mudança de 1881, na qual foram proibidos de
votar os analfabetos, restringindo os aptos a esse exercício conforme a condição
econômica (200 mil-réis anuais como renda mínima) e tornava o voto facultativo.
Dessa forma, era mantida a segurança para a perpetuação das elites no poder, sem
a necessidade de utilizar os meios dispendiosos de controle do eleitorado de
outrora.
No âmbito dos direitos civis, uma grande barreira foi a escravidão. Dentre os
países ocidentais de tradição cristã, o Brasil foi o último a declarar a abolição. A
prática escravista era tão difundida que mesmo os libertos chegaram a adquirir os
próprios escravos. Os reflexos dessa cultura se manifestam até hoje, sobretudo na
falta de assistência aos libertos após a promulgação da Lei áurea.
Embora de forma indireta, foi eleito um presidente civil, Tancredo Neves (do
MDB), o primeiro desde 1960. Com sua morte antes da posse assumiu José Sarney,
fundador do Partido da Frente Liberal (PFL), ex-aliado dos militares. A ditadura
chegava ao fim, enquanto começava um tempo de imensos desafios para a
evolução da cidadania no Brasil.
CONCLUSÃO
É lento, embora nítido, o progresso da cidadania brasileira e há muito o que
percorrer nessa jornada. Vemos o desespero dos pobres, dos desempregados, dos
analfabetos e semianalfabetos eclodir em problemas sociais graves, a exemplo da
violência urbana e a dependência química.