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C A P Í T U LO 4 2

978-85-7241-625-2

Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa


Miofascial
Maciel Murari Fernandes ◆ Cláudio Dias Patricio

Introdução A cinesioterapia estimula o sistema sensório-motor


para que os pacientes identifiquem os padrões habituais
de tensão e, por meio desse reconhecimento no próprio
A cinesioterapia é essencial no sucesso terapêutico da síndrome corpo, consigam resgatar o sinergismo muscular, per-
dolorosa miofascial (SDM). Consiste na aplicação de pro- mitindo realizar gestos do cotidiano com eficiência, eco-
cedimentos que visam a melhorar o desempenho muscu- nomia, fluência e menor risco de lesão10.
lar e o potencial de força e resistência à fadiga; auxiliar os
pacientes a identificar e corrigir as posturas antálgicas e
compensatórias; permitir ao corpo realizar suas tarefas co-
tidianas no ambiente doméstico, de trabalho e na prática
Conceitos Básicos
desportiva de maneira adequada e com menor risco de
sobrecarga ou lesão ao sistema músculo-esquelético.
de Cinesioterapia
A prescrição da cinesioterapia é tão importante quanto
a prescrição de medicamentos, pois quando esta é exe- Diversos autores e estudiosos do assunto propuseram
cutada adequadamente, torna-se um agente terapêutico métodos que estimulavam esse sistema neuropsicomotor,
muito eficaz na reabilitação dos pacientes com dor músculo- com os seguintes conceitos básicos:
esquelética. Os critérios, as adaptações e as adequações
constituem os requisitos básicos para iniciar um pro- • Kabat 14 baseou-se nos trabalhos de Sherrington e
grama de cinesioterapia e são determinados a partir de desenvolveu a facilitação neuromuscular proprioceptiva
uma avaliação personalizada e modulada em função das (FNP). Aplicou as leis da inervação recíproca e su-
atividades próprias de cada paciente. Por exemplo, o cessivas induções de técnicas de exercícios terapêuticos.
funcionamento dos membros superiores de um pedrei- Iniciava a contração de agonistas com relaxamento –
ro é distinto de um violinista: a força, a leveza e a des- inibição de antagonistas. Sugeriu que o movimento
treza são distintas, pois preenchem funções diferentes8; voluntário do músculo podia ser facilitado pela ação
isso ocorre com a região lombar: no pedreiro, é mais de outros e assim obtinha a melhora da coordenação,
dinâmica, no violinista, mais estática. Em cada caso há facilitava a estabilização proximal e o ganho funcio-
necessidade de se adotar critérios específicos de avalia- nal progressivo.
ção e conduta, mesmo que a sintomatologia seja simi- • Moshe Feldenkrais10 fundamentou seu trabalho na
lar. Portanto, a cinesioterapia não pode ser comum a sensibilidade cinestésica, explorando o potencial de
todos os pacientes, pois as causas são peculiares. movimento para que uma nova configuração senso-
Avaliar o corpo como um todo, com a observação analítica rial e uma nova organização neuromotora pudessem
do indivíduo e integrando as características segmentares ser aprendidas. Assim, alterava os padrões de movi-
ao conjunto das funções corporais, durante a avaliação mentos defeituosos aumentando a percepção deles.
estática e a dinâmica, permitirá realizar o diagnóstico fi- Acreditava que padrão motor e sentimento formavam
sioterápico e a partir deste estabelecer os objetivos do uma só função, e que a atitude motora que acompa-
tratamento e os recursos a serem empregados. Na reali- nha cada sentimento é muito específica e diferente
zação de gestos cotidianos, como vestir-se, pentear-se, da outra.
mudar de decúbito e de posturas, atividades domésticas • Brunkow7 recomendava automatização dos movimentos
e profissionais, o paciente deve ser avaliado quanto às normais e co-contrações dos músculos dos membros
habilidades em preparar e realizar as tarefas, se as reali- para facilitar a estabilização dos músculos do tronco,
za com uma boa integração e coordenação dos diversos às vezes com estimulação de mecanorreceptores
segmentos do corpo, dentro de um período de tempo ade- cutâneos. A instrução era de distal para proximal, o
quado e consumo energético razoável16. Além disso, é que ativava cadeias musculares inteiras.
preciso identificar as estruturas que estão comprometi- • Janda7 afirmava que a atividade reduzida e a fraque-
das, estabelecendo a relação entre as queixas dolorosas, za resultante de alguns músculos podiam decorrer de
os mecanismos causais e/ou perpetuantes e os achados padrões de movimento alterados, regulação motora e
do exame físico. desempenho motor alterados. Considerava a progra-
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Ofuscamento
Ofuscamento direto
por reflexo

A B C

Figura 42.1 – (A – C) Exemplos de situações em que os reflexos ofuscam a visão.

mação nervosa motora central comprometida como • Susanne Klein-Vogelbach7 desenvolveu o conceito de
uma das pré-condições mais importantes para o desen- “cinética funcional” baseando-se na observação, análise
volvimento de síndromes de dor crônica. Salientava, e ensino do movimento humano; integrou o uso da
também, a importância da restauração da propriocepção, bola, utilizando padrões complexos de movimentos,
pois informações alteradas da periferia resultam em estimulando receptores articulares, musculares e
informações alteradas provenientes do sistema ner- tendíneos.
voso central (SNC). • Godelieve Denys-Struyf17 desenvolveu um método de
• Marie Madelene Béziers4 aperfeiçoou o conceito de leitura da postura, dos gestos e formas do corpo se-
coordenação motora segundo um princípio de orga- gundo uma visão psicocomportamental, por meio da
nização fundamental do movimento e da forma do análise da forma humana na posição ereta, na sua pulsão
organismo vivo da espécie humana. Descreveu o “per- global, evidenciando as diversas maneiras que cada
curso do movimento”, desde a sua previsão genética indivíduo encontra para lidar com as imposições da
até a sua efetivação na relação com o objeto, o espaço gravidade, em diferentes arranjos e deslocamentos das

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e com os outros seres. massas corporais. A partir de um comportamento pre-
• Lily Ehrenfried9 realizou um trabalho de conscienti- ferencial e repetitivo, ou melhor, com a repetição da
zação corporal por meio do movimento, fazendo agir mesma atitude neuromuscular, o corpo, com o tempo,
simultaneamente a respiração, o equilíbrio e a tonicidade torna-se portador de certas marcas que, se forem exces-
para melhorar as funções do indivíduo em seu todo sivas e fixadas, provocarão distúrbios funcionais, de-
psicossomático. Empreendeu uma reeducação inte- sencadeando o quadro álgico. Conceituou seis cadeias
gral do comportamento físico conhecida como ginástica de tensão miofasciais correspondentes a linhas de tensão
holística, tornando perceptível à sensação o que há ao longo do corpo, definidas pelo termo Cadeias Mús-
de defeituoso nos movimentos e nas atitudes. culo-aponevróticas.

A B C

Figura 42.2 – (A – D) Situações em que o material


D consultado está fora do alcance adequado.
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• Václav Vojta19 adotou uma linha terapêutica de dife-


renciação da função muscular nos dois padrões de
locomoção reflexa (o rastejar reflexo e o rolar refle-
xo) que corresponde à diferenciação da função mus-
cular da ontogênese motora humana ideal. Procurou
70 a 80cm
estimular aferentes sensitivos e motores para obter
uma adequada resposta eferente durante a locomo-
ção reflexa e automática.

Todos esses métodos proporcionam impulsos para o


sistema nervoso central (SNC) e estimulam neurônios
espinhais e do SNC quiescentes ou pouco usados. Os
neurônios motores e os neurônios sensoriais vizinhos
são sensíveis a impulsos provenientes da periferia e podem Figura 42.3 – Alcance ideal representado pelo tracejado de
se adaptar durante o treinamento, contribuindo para a raio menor, medido a partir do cotovelo à mão. Alcance
recuperação da função espontânea das síndromes dolo- máximo representado pelo tracejado de raio maior, medido
do ombro à mão.
rosas músculo-esqueléticas7.
Os gestos cotidianos apresentam, muitas vezes, padrões
de movimentos prejudiciais ao corpo e por isso tornam-se das em estações de trabalho apresentam uma freqüên-
os grandes responsáveis pelo desencadeamento e perpe- cia de cervicalgia e de dor nos ombros 13 vezes supe-
tuação do quadro doloroso. Realizar torções com o tron- rior às dos outros trabalhadores sentados. Isso decorre
co dissociado da pelve durante o movimento de pegar do fato de que, na informática, essas pessoas ficam muito
objetos de um lado do corpo e passar para o outro lado; concentradas nas tarefas, permanecendo em posturas às
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flexionar o tronco sem fletir os joelhos e o quadril; le- vezes inadequadas e prolongadas18.
vantar da cadeira sem um bom apoio dos pés são alguns A coluna cervical encontra-se em posição ideal quando
exemplos de movimentos inadequados adotados pelos suas curvaturas originais são preservadas. Em posição
indivíduos nas atividades diárias no lar e no trabalho. sentada, a cabeça tende a se posicionar de acordo com
A conquista de um gesto adequado, seja no cotidia- o local em que se encontra o objeto que estiver sendo
no ou na prática desportiva, depende de um trabalho de olhado, pois os olhos se fixam sempre onde ocorre a
cinesioterapia que vise criar referências sobre a locali- ação, qualquer que seja a atividade, e muitas vezes as
zação de estruturas corporais, tocando-se e percebendo curvaturas da coluna espinhal não são respeitadas. Além
a forma da região do corpo a ser movimentada, desco- disso, freqüentemente as pessoas que trabalham na frente
brir como os segmentos se movem, quais músculos en- do computador têm que forçar a vista ou deslocar o corpo
volvidos e segundo quais padrões de movimentação. É para evitar reflexos (Fig. 42.1) ou iluminação excessiva
necessário reunir os fundamentos de base para o exer- e essas ações levam a um esforço maior da musculatura
cício, da mesma forma que antes é preciso se posicionar ocular e cervical, causando dores de cabeça (cefaléia
corretamente no interior de um veículo para depois acioná-
lo2. Deve-se preparar o corpo antes de usá-lo3. Sherrington
60 a 70cm
(1907), nos seus trabalhos de neurofisiologia, concluiu
que todo corpo humano se prepara antes de executar
cada movimento e que os movimentos servem para in-
tegrar os diferentes elementos do corpo5.
As pessoas fazem os mesmos gestos, mas cada um
os faz à sua maneira, como escrever, segurar o garfo,
andar e subir uma escada, e correspondem às caracte-
rísticas pessoais4. Dessa maneira, formam-se hábitos e
o corpo tende a assumir as posições e posturas, como
também a se acomodar às atividades que desempenha. A
A eficiência de um gesto pode ser medida por três crité-
rios básicos: se ele alcança sua finalidade, o gasto ener- B
gético e sua organização interna11.
De acordo com os critérios de investigação é que se
determina o tratamento cinesioterapêutico e, por essa
razão, os temas a seguir – cervicobraquialgia e lombal-
gia – são exemplos selecionados, com enfoque na fun-
ção, para se discutir esses critérios neste capítulo.

Cervicobraquialgia
A vida moderna estimula e impõe que as pessoas pas- C D
sem grande parte do dia sentadas e se isso não for feito
adequadamente é possível haver graves conseqüências Figura 42.4 – (A e B) A distância mínima do monitor é me-
à saúde e à qualidade de vida. Segundo Grandjean13, as dida com o membro superior estendido. (C e D) A altura do
pessoas que executam funções com computador senta- monitor deve ter como referência o nível dos olhos.
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A B C

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Figura 42.5 – (A – C) As duas situações representadas provocam desvios no alinhamento da coluna cervical.

Outra medida profilática importante é a utilização ade-


quada do travesseiro ao dormir, pois a altura e o tipo de
material deste influenciam diretamente a coluna cervical.
Considerando o decúbito lateral, travesseiro alto ou baixo
provoca inclinação da cabeça (Fig. 42.5) desalinhando
e sobrecarregando as estruturas periarticulares da coluna
cervical, distendendo músculos e seus anexos de um lado,
comprimindo outros do lado contralateral. Nesse caso,
a altura do travesseiro deve ocupar o espaço entre a cabeça
e a cama de maneira que a coluna cervical fique em po-
sição neutra, ou seja, alinhada com a coluna dorsal, evitando
a inclinação (Fig. 42.6). Considerando o decúbito dorsal,
ainda que esta posição não seja a mais indicada para
Figura 42.6 – Situação em que a altura do travesseiro ocupa dormir, o travesseiro alto favorece a retificação ou até
todo o espaço entre a cabeça e a cama sem que altere o ali- mesmo inversão da lordose cervical fisiológica (Fig. 42.7);
nhamento da coluna. o travesseiro baixo acentua a lordose. Nesse caso, o tra-
vesseiro deve preencher o espaço entre a nuca e a cama,
respeitando a curvatura fisiológica da cervical, obser-
vando-se a região supra e infra-hióidea e a posição da
cervicogênica) ou outros sintomas, podendo tornar o mandíbula em relação ao tórax (Fig. 42.8). Quanto ao
trabalho mais lento e comprometer a precisão e a qua- material do travesseiro, recomenda-se que ele tenha uma
lidade. A área de alcance dos objetos a serem consulta- resistência ao peso da cabeça de maneira a não exercer
dos no ambiente de trabalho e/ou de estudo (Figs. 42.2 muita pressão sobre ela, mas que seja suficiente para
e 42.3), uso do telefone, distância e altura do monitor não ceder demais ao peso.
(Fig. 42.4) são de fundamental importância para evitar O tratamento cinesioterápico das cervicobraquialgias
posturas e gestos lesivos ao corpo. Sendo assim, é im- deve visar a restauração de uma boa função ombro/pes-
portante orientar o paciente quanto aos aspectos ergo- coço. Mas para que isso ocorra é fundamental a restau-
nômicos, como local do objeto de leitura, iluminação e ração de uma boa postura, pois um tronco alinhado e
presença de reflexos. Esclarecer e estimular o paciente estável serve como base sólida para a cintura escapular
para que não fique muito tempo em uma só posição são e o pescoço. A cintura escapular requer essa base sólida
medidas profiláticas relevantes, pois trabalhadores que para evitar a criação de qualquer sobrecarga, desequi-
adotam posturas inadequadas e contração estática po- líbrio e padrões de movimentos alterados nos músculos
dem apresentar dor e fadiga crônica dos músculos da ao redor do ombro7. White e Sahrman20 observaram que
cintura escapular e dos antigravitários. alinhamento incorreto e/ou transmissão de força defei-

Figura 42.7 – (A – B) Situação


em que o travesseiro está muito
alto.
A B
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Figura 42.8 – (A – B) Posição


ideal do travesseiro em decú-
bito dorsal.
A B

tuosa no sistema músculo-esquelético acarretam má adap-


tação dos componentes do sistema. Essa má adaptação,
muitas vezes, é a grande responsável pela instalação de
pontos dolorosos miofasciais.

Lombalgia
Desequilíbrio da ação muscular na pelve, como nos atos
de sentar e levantar da cadeira, caminhar, subir e descer
escadas, e na manutenção da postura em pé e sentada é, Figura 42.10 – Posição inadequada dos membros inferiores
muitas vezes, a principal causa de lombalgia. Nesses em decúbito lateral.
casos, é preciso dar ênfase à reeducação muscular, em
busca de equilíbrio e harmonia dos movimentos. Para
isso, deve-se intervir nas articulações vizinhas à pelve, resultará em forças torsionais na pelve, assim como
pois possuem papel importante na manutenção da dinâ- ao se deitar em decúbito lateral com um quadril fletido
mica músculo-esquelética12. e outro estendido (Fig. 42.9), ou com joelhos desali-
As disfunções sacroilíacas podem gerar dor referi- nhados (Fig. 42.10). Sentar cruzando as pernas, sem
da na região lombar e podem ocorrer em resposta a um bom apoio da pelve (Fig. 42.11), também provoca
sobrecargas repetitivas ocasionadas pela postura incorreta. torções na pelve. Essas forças de torção, quando cons-
Ficar em pé com apoio unilateral, por muito tempo, tantes, podem provocar disfunções sacroilíacas com
conseqüente quadro de mialgia tensional e formação
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de pontos-gatilho (PG) miofasciais. Portanto, orientar


e principalmente criar condições para que o corpo do
paciente adote as posturas corretas, torna-se parte in-
tegrante no programa de cinesioterapia. Por exemplo,
sentando sobre os ísquios e verticalizando o ilíaco (Fig.
42.12), apoiando os pés (Fig. 42.13), utilizando tra-
vesseiros adequadamente, entre os joelhos e tornoze-
los, à frente do tórax abraçando-os com os membros
Figura 42.9 – Posição inadequada dos membros inferiores superiores (Fig. 42.14) e evitando o uso de colchão “duro”
em decúbito lateral. demais ou “macio” demais.

Figura 42.11 – (A – B) Situa-


ções inadequadas na posição
sentada.
A B
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Figura 42.14 – Posição ideal em decúbito lateral.


A B
Ísquios Ísquio
vivenciar situações em seu corpo, para que perceba suas
Figura 42.12 – (A – B) Posição adequada da pelve ao sentar, dificuldades e, a partir desse reconhecimento, trabalhar
deixando o osso ilíaco na vertical. com exercícios que o auxiliem a estar em uma posição
correta com mais conforto. É possível caminhar para
uma mudança de comportamento gestual se houver uma
O músculo transverso do abdome é um estabilizador reestruturação da biomecânica da qual esses doentes fazem
da coluna vertebral, sua ação está ligada à função do uso (Fig. 42.19).
diafragma, dos músculos do assoalho pélvico e à fáscia A diferença de comprimento nos membros inferio-
toracolombar1. Esse músculo forma um “espartilho in- res pode levar a uma assimetria rebaixando a pelve de
terno” juntamente com a ação do músculo multífido do um lado e elevando-a de outro. Por exemplo, se um paciente
lombo. Esse padrão de controle motor está comprome- tem o membro inferior direito curto, a pelve cairá para
tido em pacientes com lombalgia. O resgate desse con- a direita e, como o indivíduo procura adequação óptica,
trole depende da relação sinérgica entre os músculos pode ocorrer uma curva compensatória da coluna lom-
abdominais e os do assoalho pélvico. bar à esquerda. Essa posição assimétrica conduz a for-
Freqüentemente, nos pacientes com lombalgia, os ças não fisiológicas através de coluna e pelve, aumentando,
músculos quadrado do lombo, iliopsoas, glúteos mínimo no lado côncavo, o suporte de peso nas facetas articu-
e médio, adutores do quadril e piriforme apresentam-se lares, estreitando o forâmen intervertebral e colocando
em estado de tensão excessiva, encurtados, retraídos e sob risco o disco intervertebral no lado convexo. Além
com comprometimento na sua função. Restabelecer o disso, os músculos do lado convexo tendem a se alon-
comprimento de repouso desses músculos por meio do gar e enfraquecer, ao passo que os músculos do lado
alongamento e restaurar força e trofismo muscular pelo côncavo tendem a se encurtar12.
fortalecimento são as condutas comumente realizadas A estrutura femoral pode influenciar a mecânica pélvica.
nesses pacientes. Mas é necessário verificar se após essa Se o paciente tem coxa vara, a pelve tende a ser trazida
intervenção houve melhora da função, pois esses mús-
culos encontram-se nesse estado por serem hipersolicitados,
hiperprogramados e reativos. Se esses músculos, após
o restabelecimento do comprimento, da força e do trofismo,
continuarem a ser solicitados de forma inadequada, o
quadro doloroso permanecerá.
Nos casos em que o doente permanece sentado vá-
rias horas por dia e de maneira incorreta, realiza ativi-
dade física como carregar peso usando alavancas indevidas
(Figs. 42.15 e 42.16), faz atividades domésticas sem
orientação (Fig. 42.17) e possui maus hábitos (Fig. 42.18),
não é suficiente dizer ou mostrar a ele como deve pro-
ceder nas atividades de vida diária, mas, sim, levá-lo a A
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Figura 42.13 – Apoio adequa-


do para os pés na posição
sentada. B
Figura 42.15 – (A) Posição incorreta e (B) posição correta para
elevar objetos do chão.
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A B

B
C D Figura 42.18 – (A – B) Maus hábitos posturais.

Figura 42.16 – (A – D) Ao segurar objetos, deve-se procurar


para uma posição de retroversão, o que levaria a uma
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mantê-los próximos ao corpo.


perda da lordose lombar. O oposto é verdadeiro na coxa
valga, na qual a pelve tende a uma anteversão com um
aumento da lordose lombar. O flexum ou recurvatum
dos joelhos também influenciarão na retroversão ou
anteversão da pelve. A biomecânica alterada produz tensão
e tração em desequilíbrio e forma de utilização inade-
quada da cintura pélvica18.
Quando há um desequilíbrio da função muscular, no
exemplo da pelve em anteversão, o sistema músculo-
esquelético pode desenvolver compensações. Os mús-
culos flexores da articulação coxofemoral são colocados
em posição de menor tensão e pode ocorrer o encurta-
mento dos extensores do lombo. Reciprocamente, os mús-
culos glúteos e abdominais estão em posição de estiramento,

A B

C D
A B C
Figura 42.17 – (A e B) Ao varrer, manter o alinhamento da
coluna. (C e D) Nas atividades domésticas, observar a altura Figura 42.19 – (A – C) Representação de um gesto ideal ao
da mesa. pegar objetos no chão.
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situação não ótima de contração. Os músculos cronica- situação é a qualidade com que ele acontece perante as
mente encurtados podem perder flexibilidade passiva e funções a que esse corpo se submete diariamente.
ser ativamente levados a um estado mais alto de con- Ao se elaborar um programa de cinesioterapia fun-
tratilidade, tornando-se progressivamente tensos. De forma cional, é imprescindível que ele esteja ancorado em uma
similar, o alongamento crônico pode inibir neurologica- avaliação que investigue todas as funções que o paciente
mente os componentes ativos, tornado os músculos menos realiza em sua rotina, quais são as demandas dessas funções
efetivos na produção de tensão11. e se o paciente tem potencial biomecânico para realizá-
A mecânica corporal adequada pode influenciar nas las adequadamente. Com essas respostas, o tratamento
tarefas mais comuns do dia a dia. Quando um paciente tem objetivos claros e consistência nos resultados.
necessita se agachar e os músculos isquiotibiais encon- As propostas de intervenções discutidas neste capí-
tram-se encurtados, haverá dificuldade da pelve em manter- tulo mostram uma direção na avaliação e no tratamento
se em um alinhamento relativamente neutro em razão que busca resgatar a capacidade de adaptação do pa-
da tração desses em suas inserções nas tuberosidades ciente perante os estímulos com que se depara nos di-

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isquiáticas. Durante a flexão coxofemoral ocorrerá um ferentes ambientes e tarefas do seu cotidiano.
tracionamento nas tuberosidades isquiáticas, levando a
pelve a uma retroversão. Em outra situação, em que o
paciente for elevar o membro superior acima da cabeça
e o músculo grande dorsal estiver encurtado, a pelve Cinesioterapia Aplicada
terá que anteverter para facilitar o gesto11.
Com todos os dados da avaliação estática e acessando
a mecânica corporal do paciente, observando como ele Intervenção Inicial
entra ou sai do carro, como carrega os objetos pesados,
o modo de sentar, de agachar e sua posição no trabalho Massoterapia do tecido conjuntivo é uma das técnicas
pode-se iniciar uma intervenção mais precisa com re- utilizadas para disponibilizar o tecido miofascial. Al-
sultados satisfatórios na cinesioterapia. gumas manobras para cintura escapular e cintura pélvi-
O equilíbrio das tensões entre os músculos da cintu- ca são mostradas nas Figuras 42.20 a 42.24. Observar
ra pélvica é importante não apenas por razões posturais, o sentido das mãos do fisioterapeuta.
mas também pelo papel crucial na habilidade da pelve A escovação da pele com diferentes texturas é um recurso
de receber e transmitir apropriadamente as forças que utilizado para informar a direção da tensão que se espera
lhe são devidas. do músculo durante o movimento. Promove calor e me-
Embora a mecânica corporal seja dinâmica e a pos- lhora da percepção no local (Fig. 42.25). A escolha da
tura pareça estática, uma é verdadeiramente a extensão direção, da força e do grupo muscular trabalhado depen-
da outra. Quando o corpo se move através do espaço, derá da informação que o fisioterapeuta quer despertar
forças gravitacionais estão presentes, variando de dire- (Fig. 42.26).
ção e intensidade. O corpo adapta-se constantemente a Dessensibilização dos pontos-gatilho miofasciais por
essas forças, porém o indivíduo desinformado não é cons- meio de digitopressão sobre o PG até promover, para a
ciente das posturas potencialmente eficientes e seguras mesma pressão, diminuição da dor inicial. Concomitan-
que são adequadas para suportar forças externas. As- temente, associar a aproximação das inserções musculares
sim, é imperativo observar o paciente em movimentos (ir no sentido da tensão) (Figs. 42.27 a 42.36).
funcionais, averiguando a mecânica do movimento para As manobras de liberação miofascial são ferramentas
identificar manobras ineficientes e perigosas. do Rolfing e visam a manipulação do tecido conjunti-
Freqüentemente, a biomecânica é comprometida não vo (esqueleto fibroso), para com isso possibilitar a adequa-
apenas com a falta de compreensão de um desempenho ção das relações entre os diferentes segmentos corporais
funcional seguro, mas também por uma limitação física (Figs. 42.37 a 42.45).
que torna impossível uma performance apropriada. O
fisioterapeuta com um olhar mais crítico deve atentar
para tais compensações e procurar visar tanto as limi- Sugestão de Manobras Miofasciais
tações físicas quanto as funcionais.
para Cintura Escapular e Região
Tratamento Cervical
Para uma boa execução das manobras miofasciais é funda-
Os pacientes com diagnóstico de SDM apresentam mental que o terapeuta tenha domínio da técnica e sen-
músculos reativos e adquirem com a cronicidade aver- sibilidade suficiente para dosar a intensidade, que está
são e medo quanto ao movimento. Adotam padrão com- muitas vezes vinculada ao limiar da dor.
portamental de evitação à dor, formando, assim, um ciclo A princípio, o terapeuta conduz o segmento a um
vicioso: dor-inatividade física-dor. O corpo se submete tensionamento. É importante entender que a palavra tensão
a funções que exigem maior ou menor grau de comple- não quer dizer tração. O terapeuta alonga lenta, regular
xidade, força, resistência, flexibilidade, percepção cor- e progressivamente somente aquilo que a fáscia cede.
poral e propriocepção, sendo o movimento a expressão vai apenas ao limite da elasticidade fisiológica.
da relação entre corpo e função. Em seguida, é o momento de manutenção da tensão.
Na falta de adequação entre os diversos componen- Nessa fase o terapeuta retém a fáscia durante alguns se-
tes do sistema músculo-esquelético está primariamente gundos, o tempo de sentir sua mão sendo tracionada para
o movimento, que, quando executado, pode organizar o ponto inicial e deverá conservar essa sensação durante
ou desorganizar esse sistema. O que define uma ou outra toda a terceira parte de retorno com expirações relaxantes.
Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial 529


Figura 42.21 – Trapézio inferior/grande dorsal.

Figura 42.22 – Levantador da escápula/trapézio superior/


suboccipitais.
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Figura 42.23 – Rombóides/trapézio médio.

Figura 42.20 – (A – C) Massoterapia do tecido conjuntivo. Figura 42.24 – Esternocleidomastóideo.


530 Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial

A B

C D

Figura 42.25 – Escovação com diferentes texturas. (A) Glúteo máximo. (B) Trato iliotibial. (C) Semitendíneo/semimembranáceo/
bíceps femoral. (D) Quadrado lombar/paravertebrais/aponeuroses.

A B

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C D

Figura 42.26 – (A – D) A direção e a força aplicadas a certo grupo muscular dependem do que a fisioterapeuta quer despertar.
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A B

Figura 42.27 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do rombóide maior. (B) Aproximação das inserções dos rombóides
(adução da escápula).

A B

Figura 42.28 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do levantador da escápula. (B) Aproximação das inserções do
levantador da escápula (elevação da escápula).

A B

Figura 42.29 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do redondo maior. (B) Aproximação das inserções do redondo
maior (extensão e condução da rotação interna da glenoumeral, lentamente).

A B

Figura 42.30 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do trapézio superior. (B) Aproximação das inserções do trapézio
superior (elevação da escápula).
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A B

Figura 42.31 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do esternocleidomastóideo. (B) Aproximação das inserções do
esternocleidomastóideo (inclinação e rotação da cabeça).

A B

Figura 42.32 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do quadrado lombar. (B) Aproximação das inserções do qua-
drado lombar (pelve na direção das últimas costelas).

Figura 42.33 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofas-


cial do glúteo máximo. (B) Aproximação das inserções do
glúteo máximo (abdução e rotação externa da coxofemoral).

B
Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial 533

Figura 42.34 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofas-


cial do glúteo médio. (B) Aproximação das inserções do
glúteo médio (abdução e rotação externa).

B
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A B

Figura 42.35 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do adutor longo. (B) Aproximação das inserções do adutor longo
(flexão e adução da coxofemoral).

A B

Figura 42.36 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do reto femoral. (B) Aproximação das inserções do reto femoral
(flexão coxofemoral).
534 Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial

Figura 42.41 – Forças: perpendicular na direção do trato


Figura 42.37 – Forças: perpendicular no trapézio superior e iliotibial (logo após sua passagem pelo trocanter maior) e
tangencial na direção da mesa. tangencial na direção do joelho.

Figura 42.38 – Forças: perpendicular na direção dos rom- Figura 42.42 – Forças: perpendicular na direção do glúteo
bóides e tangencial na direção da pelve. máximo (logo após sua passagem pelo trocanter maior) e
tangencial na direção do sacro.

Figura 42.39 – Forças: perpendicular na direção das inser- Figura 42.43 – Forças: perpendicular na direção dos adutores
ções do esternocleidomastóideo e tangencial na direção do e tangencial na direção de suas inserções.
esterno.
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Figura 42.40 – Forças: perpendicular na borda interna da


espinha da escápula (infra-espinal) e tangencial na direção Figura 42.44 – Forças: perpendicular na direção dos poste-
do ângulo inferior. riores da coxa e tangencial na direção do ísquio.
Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial 535

Figura 42.48 – Manobra miofascial para o levantador da es-


cápula. Uma das mãos do fisioterapeuta é colocada na espinha
da escápula e a outra, na base do occipital. O tensionamento
acontecerá com o afastamento das duas mãos.
Figura 42.45 – Forças: perpendicular na direção dos ante-
riores da coxa e tangencial na direção de suas inserções.

As Figuras 42.46 a 42.57 apresentam algumas manobras


miofasciais utilizadas conjuntamente com a dessensibi-
lização dos PG miofasciais, em uma intervenção inicial.
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Figura 42.49 – Manobra miofascial para os rombóides. Uma


das mãos é colocada no bordo medial da escápula e a outra
exerce uma pequena resistência no cotovelo. O tensionamento
acontecerá com a tração em abdução da escápula e contra-
resistência do cotovelo à mão do fisioterapeuta.

Figura 42.46 – Manobra miofascial para esternocleidomas-


tóideo (ECM). O terapeuta coloca uma das mãos na inserção
do ECM no osso esterno e a outra na inserção do mastóide.
O tensionamento ocorrerá por uma força da mão que está
sobre o esterno para baixo, que acompanha uma expiração
do paciente.

Figura 42.50 – Manobra miofascial para o redondo maior. O


terapeuta posiciona um dos membros do paciente em rota-
Figura 42.47 – Manobra miofascial para trapézio superior. ção externa e flexão, fazendo um ponto fixo com a outra mão
O terapeuta apóia uma das mãos no ombro e a outra na base no ângulo inferior da escápula e parte das costelas. A tensão
do crânio. A tensão é obtida pelo afastamento das mãos. se dará com o afastamento das duas mãos.
536 Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial

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Figura 42.51 – Manobra miofascial para glúteo máximo. Uma
das mãos do fisioterapeuta é colocada no ilíaco, mantendo-
o estável, e a outra conduz a coxofemoral em adução e leve
rotação interna.

Figura 42.53 – Manobra miofascial para semitendíneo,


semimembranáceo e bíceps femoral. O fisioterapeuta irá
conduzir o membro inferior à flexão e solicitar ao paciente
que mantenha seu sacro apoiado no chão. O tensionamento
acontecerá com a tração da mão do fisioterapeuta contra a
manutenção da pelve no chão.

Figura 42.52 – Manobra miofascial para piriforme. O tera-


peuta apóia uma das mãos na face posterior do trocanter
maior e mantém esse apoio, enquanto a outra mão mantém
o joelho a 90°. A tensão será obtida pela rotação interna da
coxofemoral e manutenção do apoio no trocanter maior.

Figura 42.54 – Manobra miofascial para quadríceps e sóleo.


Uma das mãos se posiciona no terço distal do quadríceps e
a outra promove a flexão dorsal do tornozelo. O tensionamento
ocorrerá com a tração do tecido miofascial pela mão infe-
rior e a flexão dorsal com flexão do joelho pela mão superior.
Observar o alinhamento da pelve do paciente durante a ma-
nobra miofascial.
Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial 537

Exercícios de Alongamento para


Membros Superiores e Cintura
Escapular
Ver Figuras 42.62 a 42.67.

Figura 42.55 – Manobra miofascial para adutores da


coxofemoral. O terapeuta posiciona suas mãos nas espinhas
ilíacas ântero-superiores para fixar a pelve. A tensão ocorre-
rá com o afastamento das pernas pela força dos cotovelos.

Figura 42.58 – Para alongar e mobilizar os adutores da escá-


pula , é possível iniciar com o posicionamento da pelve contra
o chão dos membros inferiores contra a parede. O terapeuta
deve utilizar uma das mãos para proporcionar apoio às costelas
e a outra para auxiliar o paciente a conduzir sua escápula à
abdução. A bola pode ajudar na direção do membro superior.
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Figura 42.56 – Manobra miofascial para quadrado lombar. O


terapeuta apóia as suas mãos nas inserções do quadrado lom-
bar; a tensão será alcançada com o movimento em oposição.

Figura 42.59 – Para o alongamento do grande dorsal e re-


Figura 42.57 – Manobra miofascial para lombossacral. O dondo maior pode-se, a partir do bom posicionamento da
terapeuta posiciona uma das mãos na inserção superior do pelve e dos membros inferiores, dar um ponto fixo à escápula
quadrado lombar e a outra na inserção inferior de bíceps inferiormente e conduzir o membro superior à rotação ex-
femoral, semitendíneo e semimembranáceo. A tensão ocor- terna e à abdução. Cuidado com a inclinação lateral do tronco
rerá com o afastamento das mãos. e a projeção das costelas anteriormente.
538 Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial

Exercícios de Alongamento para


Cintura Pélvica e Membros
Inferiores
Ver Figuras 42.62 a 42.67.

Figura 42.60 – Para o alongamento do trapézio superior, so-


licita-se ao paciente que permaneça com a pelve contra o
solo, os membros inferiores contra a parede e com uma suave
pressão contra a bola, caso tenha tendências à abdução dos
membros. Deve-se pedir a inclinação lateral da cabeça e, em

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seguida, sustentá-la com uma das mãos, à medida que o om-
bro desce suavemente em direção à pelve. A inclinação lateral
da coluna lombar não pode ocorrer; observar os espaços entre
ilíacos e costelas flutuantes.

Figura 42.62 – Para o alongamento do quadrado lombar, os


ilíacos devem estar alinhados. Em seguida, deve-se dar um
ponto fixo aos ilíacos e conduzir a inclinação lateral do tronco.
Pode-se, nesse exercício, acrescentar o membro superior em
abdução e rotação externa e, com isso, trabalhar o grande
dorsal e o redondo maior.

Figura 42.61 – Para o alongamento do esternocleidomastói-


deo, solicitar ao paciente que permaneça com a pelve contra Figura 42.63 – Para o alongamento dos rotadores externos,
o solo, os membros inferiores contra a parede e com uma solicita-se ao paciente que regule a aproximação do tronco
suave pressão contra a bola, caso tenha tendências à abdu- à parede, pois quanto mais perto dela estiver, mais aumen-
ção. Deve-se pedir a rotação da cabeça e a descida do esterno tará o grau de dificuldade. Em seguida, observar se os ombros
nas expirações, contração dos abdominais para posicionar estão na direção da pelve, o alinhamento dos ilíacos e o po-
costelas, além do esterno. sicionamento de sacro e ísquios na direção do chão.
Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial 539

Figura 42.66 – Para o alongamento dos adutores, o paciente


deve manter o sacro contra o chão, a contração dos múscu-
los abdominais para estabilizar a coluna lombar e os joelhos
alinhados com os pés. Com os ajustes, é possível afastar os
membros inferiores para modular a intensidade.
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Figura 42.64 – Para o alongamento dos glúteos, deve-se ini-


ciar com o paciente próximo da parede, com sacro e ísquios
na direção do chão, ombros na direção da pelve, membro
de apoio na parede em semiflexão de joelho e dorsiflexão
do tornozelo. O terapeuta dará apoio e direção ao ilíaco, à
medida que aduz a coxofemoral.

Figura 42.67 – Para o alongamento do iliopsoas e adutores


da coxofemoral, posiciona-se o paciente com o joelho do
membro inferior que está à frente flexionado em 90° e faz-se
a rotação externa da coxofemoral do membro inferior que
está atrás. É necessário que o paciente mantenha os ombros
na direção da pelve e os ilíacos alinhados. A seta grossa in-
dica o alinhamento do tronco com a pelve.

Construção do Movimento de
Extensão e Flexão da Coxofemoral
com Estabilidade do Tronco
Cada fase é executada com o propósito de auxiliar o
Figura 42.65 – Para o alongamento dos posteriores de bí- paciente a identificar como o seu corpo se estrutura
ceps femoral, semitendíneo e semimembranáceo, deve-se para o movimento. A partir desse reconhecimento, são
posicionar um dos membros inferiores apoiado na parede sugeridos caminhos alternativos para o melhor apro-
em 90° de flexão da coxofemoral. Solicitar ao paciente que veitamento de sua biomecânica. Esse gesto é freqüente-
mantenha o sacro contra o chão, o ísquio contra a parede, a mente solicitado durante as atividades de vida diária e
flexão dorsal do pé que está na parede e a contração dos profissional, sendo responsável, quando bem execu-
músculos abdominais para estabilizar a região lombar. Após tado, pela prevenção do sistema músculo-esquelético
todos os ajustes, iniciar a condução do calcanhar na direção dos membros inferiores, cintura pélvica e coluna lom-
do teto, sem perder os controles. bar (Figs. 42.68 a 42.77).
540 Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial

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Figura 42.68 – Solicitar ao paciente que alinhe os joelhos com
os pés, mantenha a cintura escapular na direção da pelve Figura 42.70 – Nesse momento, o paciente começa a aliviar
(por meio da ação do grande dorsal) e estabilize o tronco o peso da pelve sobre a bola com a ajuda do fisioterapeuta.
pela contração dos abdominais. O fisioterapeuta coloca suas Ficar nessa posição por alguns segundos e retornar à posi-
mãos na coxofemoral do paciente, induz a flexão com todos ção inicial.
os controles, pede ao paciente que faça força com os pés con-
tra o chão e que mantenha essa sensação por alguns segundos,
retornando à posição inicial.

Figura 42.71 – Nessa fase, os membros superiores não esta-


rão apoiados nos membros inferiores e a cintura escapular
Figura 42.69 – Mantendo todas as sensações anteriores, o deverá permanecer na direção da pelve (ação do grande
fisioterapeuta pode dar referências sobre o alinhamento das dorsal). Solicitar que o paciente alivie o peso da pelve na bola
costelas e solicitar a ação dos músculos responsáveis. e permaneça na posição por alguns segundos.
Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial 541

Figura 42.72 – Após ter vivenciado cada fase e obtido res- Figura 42.74 – Nesse exercício, o paciente se posiciona em
postas no aprendizado, o fisioterapeuta pode solicitar ao flexão e extensão da coxofemoral em isometria. O fisiotera-
paciente que faça o movimento de flexão e extensão da peuta inicia os ajustes no membro inferior em extensão,
coxofemoral com estabilidade do tronco de forma isotônica. solicitando ao paciente que pressione o pé contra o chão, e
Repetir algumas vezes, lentamente. observa como essa força é transmitida até a pelve, o tronco,
os membros superiores e a cabeça. A bola é um parâmetro
para paciente e fisioterapeuta sobre a intensidade da des-
carga de peso do tronco sobre os membros superiores. Quanto
mais pressão do tronco sobre a bola, menos força é exercida
pelos membros superiores.
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Figura 42.73 – As mãos do fisioterapeuta no sacro e na base


do occipital informam sobre o alinhamento da pelve, do Figura 42.75 – Nesse exercício houve um aumento da flexão
tronco e da cabeça durante o movimento de flexão e exten- e da extensão da coxofemoral. Com isso, o tronco tende a
são da coxofemoral. Pedir ao paciente que integre todas as uma queda anterior mais acentuada e requer mais controle.
sensações e informações vivenciadas na execução do movi- O fisioterapeuta ainda trabalha nas coxofemorais, observando
mento. a passagem de tensão.
542 Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial

Conclusão
Ao priorizar, no programa de reabilitação, movimentos
que respeitem a tipologia do doente e suas necessida-
des funcionais, aumentam as chances de modificar seu
padrão gestual, evitando as recidivas que esses doentes
possam apresentar. O paciente deverá ter condições de
desenvolver liberdade de movimento, sem tensão mus-
cular excessiva, e de forma eficiente durante as ativida-
des cotidianas; deverá acessar de forma adequada a
mecânica corporal, como ao entrar ou sair do carro, carregar
objetos, na maneira de sentar, em seu posto de trabalho,
nas atividades físicas diárias, esportivas e de lazer.
O sistema músculo-esquelético necessita de movimentos
e estímulos permanentes para sua boa manutenção. No
cotidiano, uma seqüência de situações é imposta e in-
duz a adaptações necessárias. Se a forma como o indi-
víduo consegue suas adaptações o conduz a gestos
coordenados, eficientes e funcionais, passa a dar manu-
tenção permanente ao sistema músculo-esquelético, pre-
servando e melhorando sua qualidade de vida. Portanto,
essa resultante deve ser a prioridade de um programa
de cinesioterapia.

Figura 42.76 – Nesse momento, o fisioterapeuta intervém no


tronco em relação à pelve, solicitando que o paciente man-
tenha todos os controles adquiridos anteriormente. Os ajustes Agradecimentos
sugeridos devem respeitar a capacidade de aprendizado e a
necessidade de cada corpo. Os autores gostariam de agradecer aos colegas Gutemberg
A. Gomes Jr., Patrícia S. Duro, Cláudia M. Zerillo e
Mário E. Gimenez pelos valiosos auxílios para a reali-
zação deste capítulo.

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Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial 543

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