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Informativo 614-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO
Limitação do pagamento de diárias a juiz federal.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDÃO ADMINISTRATIVA
Compartilhamento de infraestrutura por concessionárias de serviços públicos.
DIREITO CIVIL
RESPONSABILIDADE CIVIL
A Súmula 403 do STJ não se aplica para divulgação de imagem vinculada a fato histórico de repercussão social.
DPVAT
Não se aplica o CDC para as discussões envolvendo o DPVAT.
CONTRATO DE SEGURO
Se houve reconhecimento da culpa do segurado e pagamento de parte da indenização pela seguradora ao terceiro,
não se aplica a Súmula 529 do STJ.
ALIMENTOS
Súmula 594-STJ.
Súmula 596-STJ.
PARTILHA DE BENS
Dever de prestar contas do cônjuge que ficou na administração dos bens em mancomunhão.
DIREITO DO CONSUMIDOR
DPVAT
Não se aplica o CDC para as discussões envolvendo o DPVAT.
VÍCIO DO PRODUTO
A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC pode ser feita documentalmente ou
verbalmente.
PLANO DE SAÚDE
Súmula 597-STJ.
IMPENHORABILIDADE
Recursos do FIES transferidos para as instituições de ensino são impenhoráveis.
Não se pode penhorar FGTS para pagamento de honorários sucumbenciais.
DIREITO PENAL
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Súmula 593-STJ.
DIREITO TRIBUTÁRIO
IMPOSTO DE RENDA
Súmula 598-STJ.
CIDE-Remessas
A Lei 11.452/2007 foi isentiva, e não meramente interpretativa.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
AUXÍLIO-RECLUSÃO
Concessão do auxílio-reclusão e prisão domiciliar.
DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO
Limitação do pagamento de diárias a juiz federal
É ilegal a limitação de duas diárias e meia semanais, à luz do art. 5º da Resolução CJF nº
51/2009, quando o deslocamento de juiz federal convocado para substituição em tribunais
regionais for superior a esse lapso.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.536.434-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 17/10/2017 (Info 614).
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDÃO ADMINISTRATIVA
Compartilhamento de infraestrutura por concessionárias de serviços públicos
exercido sobre bem de propriedade alheia, para fins de utilidade pública, instituído com base
em lei específica.
Ex: João possui um terreno na beira da estrada. Ele celebrou contrato de locação com a Embratel
permitindo que a empresa instalasse, em seu imóvel, uma torre e uma antena de
telecomunicações. Alguns meses depois, a Embratel permitiu que a TIM compartilhasse de sua
infraestrutura. João ajuizou ação de indenização alegando que o contrato de locação proíbe que
a locatária faça a sublocação do imóvel para outra empresa. Ele não terá direito à indenização.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.309.158-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/09/2017 (Info 614).
O principal ponto para resolver a questão está no art. 73 da Lei nº 9.472/97 (Lei Geral das
Telecomunicações), que prevê o seguinte:
Art. 73. As prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse coletivo terão direito à
utilização de postes, dutos, condutos e servidões pertencentes ou controlados por prestadora de
serviços de telecomunicações ou de outros serviços de interesse público, de forma não
discriminatória e a preços e condições justos e razoáveis.
Parágrafo único. Caberá ao órgão regulador do cessionário dos meios a serem utilizados definir as
condições para adequado atendimento do disposto no caput.
Dessa forma, analisando essas previsões normativas, chega-se à conclusão de que o compartilhamento de
infraestrutura é compulsório, não se podendo atribuir a ele natureza jurídica de sublocação.
Logo, o direito de uso previsto no art. 73 da Lei nº 9.472/97 constitui-se como servidão administrativa
instituída pela lei em benefício das prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse coletivo,
constituindo-se direito real, de natureza pública, a ser exercido sobre bem de propriedade alheia, para
fins de utilidade pública, instituído com base em lei específica.
Logo, não houve ilícito contratual na conduta da empresa que fez o compartilhamento de sua
infraestrutura para outra prestadora de serviços de telecomunicações.
Em suma:
O compartilhamento de infraestrutura de estação rádio base de telefonia celular por prestadoras de
serviços de telecomunicações de interesse coletivo caracteriza servidão administrativa, não ensejando
direito à indenização ao locador da área utilizada para instalação dos equipamentos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.309.158-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/09/2017 (Info 614).
DIREITO CIVIL
RESPONSABILIDADE CIVIL
A Súmula 403 do STJ não se aplica para divulgação de
imagem vinculada a fato histórico de repercussão social
Importante!!!
A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato
histórico de repercussão social.
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não
autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Caso concreto: a TV Record exibiu reportagem sobre o assassinato da atriz Daniela Perez,
tendo realizado, inclusive, uma entrevista com Guilherme de Pádua, condenado pelo
homicídio. Foram exibidas, sem prévia autorização da família, fotos da vítima Daniela. O STJ
entendeu que, como havia relevância nacional na reportagem, não se aplica a Súmula 403 do
STJ, não havendo direito à indenização.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 24/10/2017 (Info 614).
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da
imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
A presente situação enquadra-se na hipótese da Súmula 403 do STJ, gerando direito à indenização? A
veiculação não autorizada da imagem da filha da autora em programa televisivo configura dano moral
indenizável, além de ensejar a reparação por danos materiais, haja vista o caráter comercial da
reportagem?
NÃO.
A Súmula 403/STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato histórico de
repercussão social.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 24/10/2017 (Info 614).
DPVAT
Não se aplica o CDC para as discussões envolvendo o DPVAT
Quem são os beneficiários do seguro DPVAT? Quem tem direito de receber a indenização?
• no caso de morte: metade será paga ao cônjuge do falecido, desde que eles não fossem separados
judicialmente, e o restante aos herdeiros da vítima, obedecida a ordem da vocação hereditária. Não
havendo cônjuge nem herdeiros, serão beneficiários os que provarem que a morte da vítima os privou dos
meios necessários à subsistência.
• no caso de invalidez permanente: a própria vítima.
• no caso de despesas de assistência médica e suplementares: a própria vítima.
Caso a pessoa beneficiária do DPVAT não receba a indenização ou não concorde com o valor pago pela
seguradora, ela poderá buscar auxílio do Poder Judiciário?
Sim. A pessoa poderá ajuizar uma ação de cobrança contra a seguradora objetivando a indenização
decorrente de DPVAT.
O seguro DPVAT não é baseado em uma relação jurídica contratual. Trata-se de um seguro obrigatório por
força de lei, que tem por objetivo mitigar os danos advindos da circulação de veículos automotores.
Em se tratando de obrigação imposta por lei, não há, por conseguinte, qualquer acordo de vontade e,
principalmente, voluntariedade entre o proprietário do veículo e as seguradoras componentes do
consórcio do seguro DPVAT, o que, por si, evidencia que não se trata de contrato.
A estipulação da indenização securitária em favor da vítima do acidente, assim como as específicas
hipóteses de cabimento (morte, invalidez permanente, total e parcial, e por despesas de assistência
médica e suplementares) decorrem exclusivamente de imposição legal, e, como tal, não comportam
qualquer temperamento das partes envolvidas.
Nesse contexto, não há, por parte das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT,
responsáveis por realizarem o pagamento, qualquer ingerência nas regras relativas à indenização
securitária.
Ao contrário do que ocorre no caso de seguro facultativo (esta, sim, sujeita ao CDC), a atuação das
seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT não é concorrencial nem se destina à obtenção
de lucro, na medida em que a respectiva arrecadação possui destinação legal específica.
Tampouco seria possível falar em vulnerabilidade, na acepção técnico-jurídica, das vítimas de acidente de
trânsito - e muito menos do proprietário do veículo a quem é imposto o pagamento do "prêmio" do seguro
DPVAT - perante as seguradoras, as quais não possuem qualquer margem discricionária para efetivação
do pagamento da indenização securitária, sempre que presentes os requisitos estabelecidos na lei.
CONTRATO DE SEGURO
Se houve reconhecimento da culpa do segurado e pagamento de parte da indenização
pela seguradora ao terceiro, não se aplica a Súmula 529 do STJ
REGRA GERAL: IMPOSSIBILIDADE DE A AÇÃO SER AJUIZADA PELA VÍTIMA APENAS CONTRA A SEGURADORA
Imagine a seguinte situação hipotética:
Ricardo estava dirigindo seu veículo, quando foi abalroado por trás pelo carro de Vitor.
Aparentemente, a culpa pelo acidente foi de Vitor (ele foi o causador do dano).
Felizmente, Vitor possui contrato de seguro de veículos com a “Seguradora X”.
Ricardo (terceiro prejudicado), sabendo que Vitor tem contrato de seguro, pode deixar de lado o
causador do dano e ajuizar ação de indenização apenas contra a “Seguradora X” cobrando seu prejuízo?
NÃO. Segundo entendimento pacífico do STJ, o terceiro prejudicado não pode ajuizar, direta e
exclusivamente, ação judicial em face da seguradora do causador do dano. Existe, inclusive, uma súmula
afirmando isso:
Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo
terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.
Obs.: a súmula fala em “seguro de responsabilidade civil facultativo” para deixar claro que está tratando
daquele seguro que os proprietários de carro fazem espontaneamente com a seguradora. O objetivo foi
deixar claro que a súmula não está tratando sobre o seguro DPVAT, que é um seguro obrigatório de danos
pessoais causados por veículos automotores de via terrestre.
Vejamos os principais argumentos utilizados pelo STJ para chegar à conclusão exposta na súmula:
• A obrigação da seguradora de ressarcir os danos sofridos por terceiros pressupõe a responsabilidade
civil do segurado. Em outras palavras, a seguradora só paga o terceiro prejudicado se o segurado teve
“culpa” pelo acidente. Como regra, não se pode reconhecer a responsabilidade civil do segurado em um
processo judicial sem que ele tenha participado, sob pena de ofensa ao devido processo legal e à ampla
defesa.
• A obrigação da seguradora está sujeita a condição suspensiva, que não se implementa pelo simples fato
da ocorrência do sinistro, mas somente pela verificação da eventual obrigação civil do segurado.
• O seguro de responsabilidade civil facultativo não é espécie de estipulação a favor de terceiro alheio ao
negócio. O indivíduo que faz o seguro de veículos não contrata a seguradora para pagar uma indenização
em favor de terceiros. O segurado contrata a seguradora para que esta cubra os prejuízos que ele,
segurado, for obrigado a pagar. Assim, diz-se que quem sofre o prejuízo é o causador do dano e este
prejuízo é “garantido” (pago) pela seguradora.
• O ajuizamento direto e exclusivamente contra a seguradora ofende os princípios do contraditório e da
ampla defesa, pois a ré (seguradora) não teria como defender-se dos fatos expostos na inicial,
especialmente no que tange à descrição e aos detalhes do sinistro (acidente).
• O ajuizamento direto e exclusivamente contra a seguradora inviabiliza, também, que a seguradora possa
discutir no processo eventuais fatos extintivos da cobertura securitária, pois, a depender das
circunstâncias em que o segurado se envolveu no sinistro, poderia a seguradora eximir-se da obrigação
contratualmente assumida. É o caso, por exemplo, do contrato de seguro que estipula que, se o segurado
estava embriagado, a seguradora se isenta da obrigação contratual. Se o segurado não está na lide, tais
discussões não poderão ser suscitadas pela seguradora.
pudesse contrapor os fatos alegados pela parte autora, sob pena de afronta aos princípios do contraditório
e da ampla defesa.
Assim, a seguradora alegou que a ação proposta unicamente contra ela violava o entendimento do STJ
contido na Súmula 529, que vimos acima.
A tese da seguradora foi aceita pelo STJ? A ação proposta por João viola a Súmula 529 do STJ?
NÃO. O caso de João é distinto da hipótese tratada pela Súmula 529 do STJ, considerando que a
responsabilidade civil do segurado já foi reconhecida na esfera administrativa, tanto que a seguradora já
pagou a ele, extrajudicialmente, parte de suas despesas oriundas dos prejuízos ocorridos em sua moto.
Neste caso, houve a apuração administrativa do sinistro e restou comprovada a obrigação do segurado de
indenizar a vítima.
Dessa forma, nesta situação, mesmo não havendo relação contratual entre a seguradora e o terceiro
prejudicado, a sucessão dos fatos (apuração administrativa e pagamento de parte da indenização) faz com
que surja uma relação jurídica de direito material envolvendo a vítima e a seguradora.
Logo, a ação proposta pela vítima pedindo para que a seguradora complemente o valor da indenização
securitária pode ser ajuizada direta e exclusivamente contra a seguradora, pois, com o pagamento tido
como parcial na esfera administrativa, originou-se uma nova relação jurídica substancial entre as partes.
Não há violação à ampla defesa ou contraditório considerando que a discussão dos autos ficará restrita ao
valor da indenização, e não envolverá mais a culpa, que já é fato incontroverso.
O próprio segurado reconheceu sua culpa no sinistro, ou seja, sua obrigação de indenizar, perante a seguradora
(esfera administrativa), tanto que acionou o seguro para ressarcir os prejuízos que causou à vítima.
Resumindo:
A vítima de acidente de trânsito pode ajuizar demanda direta e exclusivamente contra a seguradora do
causador do dano quando reconhecida, na esfera administrativa, a responsabilidade deste pela
ocorrência do sinistro e quando parte da indenização securitária já tiver sido paga.
Não se aplica, neste caso, a Súmula 529 do STJ.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.970-MT, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 24/10/2017 (Info 614).
ALIMENTOS
Súmula 594-STJ
Súmula 594-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos
em proveito de criança ou adolescente independentemente do exercício do poder familiar dos
pais, ou do fato de o menor se encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto
da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou
eficiência da Defensoria Pública na comarca.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 25/10/2017, DJe 06/11/2017.
Quais são os fundamentos para que se reconheça a legitimidade ativa do MP na ação de alimentos em
favor das crianças e adolescentes?
Fundamentos constitucionais
O direito das crianças e adolescentes aos alimentos pode ser classificado como sendo um interesse
individual indisponível, o que se insere nas atribuições do MP, conforme previsto no art. 127 da CF/88.
É dever não apenas da família, como também da sociedade e do Estado, assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, entre outros (art. 227).
Fundamento legal
Compete ao Ministério Público promover e acompanhar as ações de alimentos em favor de crianças
e adolescentes (art. 201, III, do ECA).
O Ministério Público pode ajuizar ação de alimentos em favor de criança ou adolescente mesmo que na
localidade exista Defensoria Pública instalada e funcionando?
SIM. O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou
adolescente independentemente de existir ou não Defensoria Pública no local. Isso porque as atuações
dos órgãos não se confundem, não sendo idênticas.
Existia uma posição sustentando que o MP somente poderia ajuizar ação de alimentos se a mãe da
criança ou do adolescente não estivesse exercendo o poder familiar, uma vez que, em caso contrário,
ela deveria tomar essa providência. Essa posição prevaleceu?
NÃO. O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança
ou adolescente, independentemente do exercício do poder familiar dos pais. Em suma, a mãe e o pai
podem estar no pleno exercício do poder familiar e mesmo assim a ação ser proposta pelo Parquet.
Existia uma posição sustentando que o MP somente poderia ajuizar ação de alimentos se ficasse
caracterizado que a criança ou o adolescente estivesse em situação de risco (art. 98 do ECA). Essa posição
prevaleceu?
NÃO. O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança
ou adolescente mesmo que a criança ou adolescente não se encontre nas situações de risco descritas no
art. 98 do ECA.
Vigora em nosso ordenamento a doutrina da proteção integral da criança e do adolescente. Como
decorrência lógica dessa doutrina, o ECA adota, em seu art. 100, parágrafo único, VI, o princípio da
intervenção precoce, segundo o qual a atuação do Estado na proteção do infante deve ocorrer antes que
o infante caia no que o antigo Código de Menores chamava de situação irregular, como nas hipóteses de
maus-tratos, violação extrema de direitos por parte dos pais e demais familiares.
ALIMENTOS
Súmula 596-STJ
Súmula 596-STJ: A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária,
somente se configurando no caso de impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento
pelos pais.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 08/10/2017.
No caso concreto, o pai já era falecido, mas o autor (Bernardo) teria que demonstrar que a sua mãe
também não tinha condições de sustentar o filho. Isso porque a obrigação alimentar avoenga (entre avós
e netos) tem natureza complementar e subsidiária. Confira:
(...) A obrigação alimentar dos avós apresenta natureza complementar e subsidiária, somente se
configurando quando pai e mãe não dispuserem de meios para promover as necessidades básicas dos filhos.
2. Necessidade de demonstração da impossibilidade de os dois genitores proverem os alimentos de seus filhos.
3. Caso dos autos em que não restou demonstrada a incapacidade de a genitora arcar com a subsistência
dos filhos.
4. Inteligência do art. 1.696 do Código Civil. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1.415.753/MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/11/2015.
PARTILHA DE BENS
Dever de prestar contas do cônjuge que ficou na administração dos bens em mancomunhão
Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a administração do bem de família
compete a ambos os cônjuges, resolvendo o juiz em caso de divergência.
Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao filho mais
velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor.
A partir da separação de fato ou de corpos (marco final do regime de bens), os bens e direitos dos ex-
consortes ficam em estado de mancomunhão.
O que é a mancomunhão?
“É a expressão que define o estado dos bens conjugais antes de sua efetiva partilha. Difere do estado
condominial, em que o casal detém o bem ou coisa simultaneamente, com direito a uma fração ideal,
podendo alienar ou gravar seus direitos, observando a preferência do outro.
Na mancomunhão, o bem não pode ser alienado nem gravado por apenas um dos ex-cônjuges,
permanecendo indivisível até a partilha. Enquanto não for feita a partilha dos bens comuns, eles
pertencem a ambos os cônjuges em estado de mancomunhão.” (PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário
de direito de família e sucessões. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 447)
“Depois da separação de fato, da separação jurídica ou do divórcio, sem a realização de partilha, os bens
permanecem em estado de mancomunhão, expressão corrente na doutrina, que, no entanto, não dispõe
de previsão legal. De qualquer sorte, quer dizer que os bens pertencem a ambos os cônjuges ou
companheiros em ‘mão comum’.” (DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. São Paulo: RT,
2009, p. 299-301).
conhecimento da forma como são conduzidos, não se revelando necessária a demonstração de qualquer
irregularidade, prejuízo ou crédito em detrimento do gestor.
Nesse sentido:
(...) 4. O transcurso de longo lapso temporal entre a separação de fato e a formalização da partilha
obriga o gestor dos bens comuns à prestação de contas ao outro consorte, que desconhece o
estado dos bens administrados e pode deparar-se com prejuízos irreparáveis.
5. Na vigência da comunhão de bens, os cônjuges entre si não se acham jungidos ao dever de
prestação de contas. A comunhão de bens é a mais ampla possível e não permite a separação de
cotas, nem mesmo ideal entre os consortes. Não há, pois, como cogitar-se de prestação de contas
de um cônjuge ao outro. Uma vez dissolvida a sociedade conjugal, desaparece a comunhão
universal e os bens comuns devem ser partilhados como em qualquer comunhão que se extingue.
Havendo, porém, um interregno entre a dissolução da sociedade conjugal e a partilha, aquele que
conservar a posse dos bens do casal estará sujeito a prestação de contas como qualquer consorte
de comunhão ordinária.
(...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1300250/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/03/2012.
DIREITO DO CONSUMIDOR
DPVAT
Não se aplica o CDC para as discussões envolvendo o DPVAT
VÍCIO DO PRODUTO
A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC,
pode ser feita documentalmente ou verbalmente
Qual é o prazo que o consumidor dispõe para reclamar de vícios do produto ou do serviço?
Tais prazos estão previstos no art. 26 do CDC:
• Se o serviço ou produto for considerado “NÃO DURÁVEL”: 30 dias;
• Se o serviço ou produto for considerado “DURÁVEL”: 90 dias.
De que forma tem que ocorrer essa “reclamação”? Pode ser verbal ou tem que ser escrita?
A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC, pode ser feita
documentalmente ou verbalmente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.597-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/10/2017 (Info 614).
A lei não estabelece uma forma pré-definida para a realização da reclamação, exigindo apenas
comprovação de que o fornecedor tomou ciência inequívoca quanto ao propósito do consumidor de
reclamar pelos vícios do produto ou serviço.
Atualmente, várias empresas colocam à disposição do cliente os Serviços de Atendimento ao Consumidor,
conhecidos como SACs, exatamente para receber, via telefone, as reclamações relativas a vícios dos
produtos e dos serviços. Não é razoável imaginar que o consumidor, em vez de utilizar-se desse serviço
oferecido, irá burocratizar a relação, elaborando documento escrito e remetendo-o ao cartório, por
exemplo.
Responsabilidade objetiva
Como a relação é consumerista, a instituição possui responsabilidade civil objetiva pelos danos causados,
nos termos do art. 14 do CDC:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
“(...) não há como negar o sentimento de frustração e engodo daquele que, após anos de dedicação,
entremeado de muito estudo, privações, despesas etc., descobre que não poderá aspirar a emprego na
profissão para a qual se preparou, tampouco realizar cursos de especialização, pós-graduação, mestrado
ou doutorado, nem prestar concursos públicos; tudo porque o curso oferecido pela universidade não foi
chancelado pelo MEC.
Some-se a isso a sensação de incerteza e temor quanto ao futuro, fruto da possibilidade de jamais ter seu
diploma validado, bem como o ambiente de desconforto e desconfiança gerados no seio social: pais,
parentes, amigos, conhecidos, enfim, todos aqueles que convivem com o aluno e têm como certa a
diplomação.” (Min. Nancy Andrighi)
Assim, “a instituição de ensino superior responde objetivamente pelos danos causados ao aluno em
decorrência da falta de reconhecimento do curso pelo MEC, quando violado o dever de informação ao
consumidor.” (STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 651.099/PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 26/05/2015).
E se os alunos tivessem sido previamente informados, no momento da matrícula, que o curso ainda não
havia sido reconhecido pelo MEC e que as providências ainda seriam tomadas?
Se a falta de reconhecimento do curso pelo MEC tivesse sido previamente informada aos alunos, de maneira
clara e objetiva, a responsabilidade civil da Instituição poderia ser afastada, conforme já decidiu o STJ:
(...) 2. Essa Corte reconhece a responsabilidade objetiva da instituição de ensino e o direito à compensação
por danos morais a aluno de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação quando violado o dever
de informação ao consumidor.
3. Na hipótese, a situação do curso era conhecida pelos alunos e as providências quanto ao seu
reconhecimento oficial, após a conclusão da primeira turma, foram tomadas pela instituição.
4. A demora no reconhecimento do curso pelo MEC, não impediu que a recorrente fosse contratada por
duas empresas do ramo farmacêutico, ou seja, não impediu que ela exercesse sua atividade profissional.
5. Como já eram previsíveis os aborrecimentos e dissabores por quais passou até o reconhecimento oficial
do curso pelo MEC porque a recorrente foi informada da situação pela instituição de ensino, não ficou
demonstrada a ocorrência do dano moral passível de compensação. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1230135/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/12/2012.
Em caso de informação prévia, não se pode dizer que os alunos foram surpreendidos com a situação,
tendo sido enganados pela instituição ao longo dos anos de curso. Não houve engodo ou violação do dever
de informação. A situação do curso era conhecida por todos e as providências cabíveis foram tomadas
pela Instituição, razão pela qual não há direito à indenização.
PLANO DE SAÚDE
Súmula 597-STJ
Súmula 597-STJ: A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para utilização
dos serviços de assistência médica nas situações de emergência ou de urgência é considerada
abusiva se ultrapassado o prazo máximo de 24 horas contado da data da contratação.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 08/10/2017.
Os contratos de seguro e assistência à saúde são pactos de cooperação e solidariedade, cativos e de longa
duração, informados pelos princípios consumeristas da boa-fé objetiva e função social, tendo o objetivo
precípuo de assegurar ao consumidor, no que tange aos riscos inerentes à saúde, tratamento e segurança
para amparo necessário de seu parceiro contratual.
Os arts. 18, § 6º, III, e 20, § 2º, do CDC, preveem a necessidade da adequação dos produtos e serviços à
legítima expectativa do consumidor de, em caso de pactuação de contrato oneroso de seguro de
assistência à saúde, não ficar desamparado no que tange a procedimento médico premente e essencial à
preservação de sua vida.
Como se trata de situação limite, em que há nítida possibilidade de violação de direito fundamental à vida,
não é possível à seguradora invocar prazo de carência contratual para restringir o custeio dos
procedimentos de emergência ou de urgência.
O STJ sumulou agora o tema.
EXECUÇÃO
Atraso na entrega da coisa e conversão do procedimento para execução por quantia certa
É possível a conversão do procedimento de execução para entrega de coisa incerta para execução por
quantia certa na hipótese em que o produto perseguido for entregue com atraso, gerando danos ao
credor da obrigação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.507.339-MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/10/2017 (Info 614).
O art. 809 do CPC/2015 (art. 627 do CPC/1973) autoriza a referida conversão para as hipóteses de
frustração do meio executório, ou seja, nas situações específicas em que:
a) não for encontrada a coisa perseguida;
b) não for entregue;
c) estiver deteriorada a coisa; e
d) não for reclamada de terceiro adquirente.
Art. 809. O exequente tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa, quando
essa se deteriorar, não lhe for entregue, não for encontrada ou não for reclamada do poder de
terceiro adquirente.
Segundo o art. 807 do CPC/2015 (art. 624 do CPC/1973), mesmo satisfeita a obrigação de entregar a coisa,
se “prosseguirá a execução” para o pagamento de frutos e/ou ressarcimento de prejuízos.
Art. 807. Se o executado entregar a coisa, será lavrado o termo respectivo e considerada satisfeita
a obrigação, prosseguindo-se a execução para o pagamento de frutos ou o ressarcimento de
prejuízos, se houver.
Dessa forma, embora não contido no título, decorre da lei a certeza do direito perseguido, sem a
necessidade de um novo processo cognitivo para se declarar a obrigação que o ordenamento jurídico já
estabeleceu.
Ressalta-se, por fim, que o citado ressarcimento dos prejuízos depende de liquidação incidental no próprio
feito executivo convertido, sendo a prévia apuração do quantum realizada por estimativa do credor ou
por arbitramento.
IMPENHORABILIDADE
Recursos do FIES transferidos para as instituições de ensino são impenhoráveis
O art. 833, IX, do CPC/2015 (art. 649, IX, do CPC/1973) prevê o seguinte:
Art. 833. São impenhoráveis:
(...)
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em
educação, saúde ou assistência social;
IMPENHORABILIDADE
Não se pode penhorar FGTS para pagamento de honorários sucumbenciais
Importante!!!
Não é possível a penhora do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS para o
pagamento de honorários de sucumbência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.619.868-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 24/10/2017 (Info 614).
O exequente refutou o argumento afirmando que a verba executada (honorários advocatícios) possui
natureza alimentar e, portanto, enquadra-se na exceção prevista no art. 833, § 2º do CPC. Em outras
palavras, em regra, o FGTS é impenhorável, salvo quando se está executando verbas alimentares. Veja o
dispositivo do CPC:
Art. 833 (...)
§ 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento
de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias
excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto
no art. 528, § 8º, e no art. 529, § 3º.
Afinal de contas, é possível a penhora de saldo de FGTS para pagamento de honorários sucumbenciais?
NÃO.
Não é possível a penhora do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS para o pagamento
de honorários de sucumbência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.619.868-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 24/10/2017 (Info 614).
O STJ tem dado interpretação extensiva à expressão “prestação alimentícia” constante do § 2º do art. 833
do CPC, para englobar não somente as “prestações alimentícias” stricto senso (pensão alimentícia), como
também os honorários advocatícios.
Ocorre que, no caso dos autos, a hipótese não é propriamente de penhora de salários e vencimentos, mas
sim de saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS, que tem regramento próprio.
De acordo com o art. 7º, III, da Constituição Federal, o FGTS é um direito de natureza trabalhista e social.
Trata-se de uma poupança forçada do trabalhador, que tem suas hipóteses de levantamento elencadas
na Lei nº 8.036/90. O rol não é taxativo, tendo sido contemplados casos diretamente relacionados com a
melhora da condição social do trabalhador e de seus dependentes, mais especificamente em casos de
comprometimento de direito fundamental do titular do fundo.
Nessa linha de entendimento, tem-se admitido a penhora de saldo do FGTS para pagamento de prestação
alimentícia stricto senso, considerando que a dignidade do trabalhador está em risco, diante da
possibilidade de sua prisão, assim como de seus dependentes.
Destaca-se, porém, que a penhora de verbas do FGTS é medida extrema, que só se justifica para evitar a
prisão do devedor de alimentos e atender as necessidades imediatas de sua prole.
Dessa forma, não se justifica a liberação de valores do fundo de garantia fora das hipóteses legais para o
pagamento de dívidas do trabalhador, ainda que tenham natureza alimentar em sentido amplo, como as
decorrentes de honorários sucumbenciais e quaisquer outros honorários devidos a profissionais liberais.
DIREITO PENAL
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Súmula 593-STJ
A Lei nº 12.015/2009 acrescentou o art. 217-A ao Código Penal, criando um novo delito, chamado de
“estupro de vulnerável”:
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
Antes do art. 217-A, ou seja, antes da Lei nº 12.015/2009, as condutas de praticar conjunção carnal ou
ato libidinoso com menor de 14 anos já eram consideradas crimes?
SIM. Tais condutas poderiam se enquadrar nos crimes previstos no art. 213 c/c art. 224, “a” (estupro com
violência presumida por ser menor de 14 anos) ou art. 214 c/c art. 224, “a” (atentado violento ao pudor
com violência presumida por ser menor de 14 anos), todos do Código Penal, com redação anterior à Lei
n. 12.015/2009.
Desse modo, apesar dos arts. 213, 214 e 224 do CP terem sido revogados pela Lei nº 12.015/2009, não
houve abolitio criminis dessas condutas, ou seja, continua sendo crime praticar estupro ou ato libidinoso
com menor de 14 anos. No entanto, essas condutas, agora, são punidas pelo art. 217-A do CP. O que
houve, portanto, foi a continuidade normativa típica, que ocorre quando uma norma penal é revogada,
mas a mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua
tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário.
Antes da Lei nº 12.015/2009, se o agente praticasse atentado violento ao pudor (ex: coito anal) com um
adolescente de 13 anos, haveria crime mesmo que a vítima consentisse (concordasse) com o ato sexual?
Haveria crime mesmo que a vítima já tivesse tido outras relações sexuais com outros parceiros
anteriormente? Essa presunção de violência era absoluta?
SIM. A presunção de violência nos crimes contra os costumes cometidos contra menores de 14 anos, prevista
na antiga redação do art. 224, alínea “a”, do CP (antes da Lei nº 12.015/2009), possuía caráter absoluto, pois
constituía critério objetivo para se verificar a ausência de condições de anuir com o ato sexual.
Assim, essa presunção absoluta não podia ser afastada (relativizada) mesmo que a vítima tivesse dado seu
“consentimento” porque nesta idade este consentimento seria viciado (inválido). Logo, mesmo que a
vítima tivesse experiência sexual anterior, mesmo que fosse namorado do autor do fato, ainda assim
haveria o crime.
A presunção de violência era absoluta nos casos de estupro/atentado violento ao pudor contra menor de
14 anos. Nesse sentido: STJ. 3ª Seção. EREsp 1152864/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 26/02/2014.
A fim de que não houvesse mais dúvidas sobre o tema, o STJ pacificou a questão, fixando a seguinte tese
em recurso especial repetitivo:
Para a caracterização do crime de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A, caput, do CP, basta que o
agente tenha conjunção carnal ou pratique qualquer ato libidinoso com pessoa menor de 14 anos.
O consentimento da vítima, sua eventual experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento
amoroso entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do crime.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.480.881-PI, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/8/2015 (Info 568).
Além disso, agora foi editada a Súmula 593 do STJ com redação semelhante.
Em algumas localidades do país (ex: determinadas comunidades do interior), seria possível dizer que
não há crime, considerando que é costume a prática de atos sexuais com crianças? É possível excluir o
crime de estupro de vulnerável com base no princípio da adequação social?
NÃO. Segundo afirmou o Min. Rogério Schietti, a prática sexual envolvendo menores de 14 anos não pode
ser considerada como algo dentro da "normalidade social". Não é correto imaginar que o Direito Penal
deva se adaptar a todos os inúmeros costumes de cada uma das microrregiões do país, sob pena de se
criar um verdadeiro caos normativo, com reflexos danosos à ordem e à paz públicas.
Ademais, o afastamento do princípio da adequação social aos casos de estupro de vulnerável busca evitar a
carga de subjetivismo que acabaria marcando a atuação do julgador nesses casos, com danos relevantes ao
bem jurídico tutelado, que é o saudável crescimento físico, psíquico e emocional de crianças e adolescentes.
Esse bem jurídico goza de proteção constitucional e legal, não estando sujeito a relativizações.
Na sentença, durante a dosimetria, o juiz pode reduzir a pena-base do réu alegando que a vítima (menor
de 14 anos) já tinha experiência sexual anterior ou argumentando que a vítima era homossexual?
Claro que NÃO.
Em se tratando de crime sexual praticado contra menor de 14 anos, a experiência sexual anterior e a
eventual homossexualidade do ofendido não servem para justificar a diminuição da pena-base a título de
comportamento da vítima.
A experiência sexual anterior e a eventual homossexualidade do ofendido, assim como não desnaturam
(descaracterizam) o crime sexual praticado contra menor de 14 anos, não servem também para justificar
a diminuição da pena-base, a título de comportamento da vítima.
STJ. 6ª Turma. REsp 897.734-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 3/2/2015 (Info 555).
O que acontece se um garoto de 13 anos praticar sexo consensual com a sua namorada de 12 anos?
Haverá o que a doutrina denomina de estupro bilateral. Assim, ocorre o “estupro bilateral” quando dois
menores de 14 anos praticam conjunção carnal ou outro ato libidinoso entre si. Em outras palavras, tanto
o garoto como a garota, neste exemplo, serão autores e vítimas, ao mesmo tempo, de ato infracional
análogo ao crime de estupro de vulnerável.
DIREITO TRIBUTÁRIO
CIDE-Remessas
A Lei 11.452/2007 foi isentiva, e não meramente interpretativa
CIDE-Remessas
A Lei nº 10.168/2000 instituiu a contribuição de intervenção de domínio econômico destinada a financiar
o Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa para o Apoio à Inovação.
Segundo o art. 2º da Lei nº 10.168/2000, o fato gerador da CIDE-Remessas é o pagamento a residente ou
domiciliado no exterior a fim de remunerar:
a) a detenção da licença de uso de conhecimentos tecnológicos;
b) a aquisição de conhecimentos tecnológicos;
c) a "transferência de tecnologia" que, para este exclusivo fim, compreende: a exploração de patentes; ou
o uso de marcas; ou o "fornecimento de tecnologia"; ou a prestação de assistência técnica;
d) a prestação, por residentes ou domiciliados no exterior, de serviços técnicos e de assistência
administrativa e semelhantes;
e) a remessa de royalties, a qualquer título, derivados das situações anteriores, onde a remuneração
corresponde à paga pela exploração de direitos autorais percebida por terceiro que não o autor ou criador
do bem ou obra.
A Lei nº 11.452/2007 acrescentou o § 1º-A ao art. 2º da Lei nº 10.168/2000 prevendo uma espécie de
isenção, nos seguintes termos:
Art. 2º (...)
§ 1º-A. A contribuição de que trata este artigo não incide sobre a remuneração pela licença de uso
ou de direitos de comercialização ou distribuição de programa de computador, salvo quando
envolverem a transferência da correspondente tecnologia.
Alguns contribuintes sustentaram a tese de que essa Lei nº 11.452/2007 seria meramente interpretativa,
de forma que ela teria sido editada apenas com o objetivo de deixar claro uma situação que já valia
mesmo antes de sua edição. Assim, essa isenção deveria produzir efeitos retroativos, devendo ser
reconhecido que nunca incidiu a CIDE nos contratos sem transferência de tecnologia. Essa tese foi
acolhida pelo STJ?
NÃO. O STJ considerou que a Lei nº 11.452/2007 é realmente isentiva (e não meramente interpretativa).
IMPOSTO DE RENDA
Súmula 598-STJ
Inconformado, João ingressou com ação judicial pedindo o reconhecimento de seu direito à isenção com
base nos inúmeros laudos médicos particulares que examinaram a sua situação e que atestaram a
existência da moléstia.
O juiz poderá acolher o pedido de João? O magistrado pode reconhecer o direito à isenção do Imposto
de Renda de que trata o art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88 apenas com base em documentos médicos
particulares (sem um laudo médico oficial)?
SIM. A comprovação da moléstia grave para fins de isenção de imposto de renda não precisa ser
comprovada mediante laudo médico OFICIAL podendo o magistrado valer-se de outras provas produzidas.
Esse entendimento reiterado do STJ deu origem à Súmula 598.
Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art. 371, indicando na
sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo,
levando em conta o método utilizado pelo perito.
Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 533.874/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado
em 16/05/2017.
Como explica Daniel Amorim Assumpção Neves:
“O sistema de valoração das provas, adotado pelo sistema processual brasileiro, é o da persuasão
racional, também chamado de livre convencimento motivado. Significa dizer que não existem cargas
de convencimento pré-estabelecidas dos meios de prova, sendo incorreto afirmar abstratamente
que determinado meio de prova é mais eficaz no convencimento do juiz do que outro. Com
inspiração nesse sistema de valoração das provas, o art. 479 do Novo CPC prevê que o juiz não está
adstrito ao laudo pericial, podendo se convencer com outros elementos ou fatos provados no
processo.” (Comentários ao Novo Código de Processo Civil. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 817).
Obs: alguns autores afirmam que, com o novo CPC, não seria mais correto falar em “livre” convencimento
motivado. É o caso, por exemplo, de Fredie Didier:
“Todas as referências ao ‘livre convencimento motivado’ foram extirpadas do texto do Código. O
silêncio é eloquente. O convencimento do julgador deve ser racionalmente motivado: isso é
quanto basta para a definição do sistema de valoração da prova pelo juiz adotado pelo CPC-2015.
Não é mais correta, então, a referência ao ‘livre convencimento motivado’ como princípio
fundamental do processo civil brasileiro; não é dogmaticamente aceitável, do mesmo modo, valer-
se desse jargão para fundamentar as decisões judiciais. (...)” (DIDIER, Fredie. Curso de Direito
Processual Civil. Vol. 2., Salvador: Juspodivm, 2015, p. 102-103).
Apesar dessa relevantíssima posição doutrinária acima, é importante registrar que, para a maioria da
doutrina e da jurisprudência, continua sendo possível falar em livre convencimento motivado. O próprio
STJ permanece utilizado essa nomenclatura:
(...) O art. 370 do Novo Código de Processo Civil (art. 130 do CPC/1973) consagra o princípio do livre
convencimento motivado, segundo o qual o magistrado fica habilitado a valorar, livremente, as provas
trazidas à demanda. (...)
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1169112/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/06/2017.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
AUXÍLIO-RECLUSÃO
Concessão do auxílio-reclusão e prisão domiciliar
Em que consiste:
- O auxílio-reclusão é um benefício previdenciário,
- pago aos dependentes do segurado que for preso,
- desde que ele (segurado) tenha baixa renda,
- não receba remuneração da empresa durante a prisão,
- nem esteja em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de permanência.
Atenção:
Se o segurado preso estiver recebendo auxílio-acidente, pensão por morte ou salário-maternidade, ainda
assim seus dependentes poderão ter direito ao auxílio-reclusão. Isso porque a lei, por uma falha, não
proibiu o pagamento nesses casos.
Beneficiários:
Chamo atenção novamente para o fato de que o auxílio-reclusão é um benefício pago aos dependentes do
segurado preso. Quem recebe o dinheiro são os dependentes (mulher, filhos menores etc.) e não o preso.
Não se confunda:
• Quem recebe o benefício: os dependentes do segurado.
• Quem precisa ter baixa renda para o benefício ser pago: o segurado preso.
(...) O auxílio-reclusão é um benefício devido aos dependentes de trabalhadores que contribuem para a
previdência social. Ele é pago enquanto o segurado estiver preso sob regime fechado ou semi-aberto e
não receba remuneração da empresa para a qual trabalha. É um benefício que encontra alicerce no
princípio da proteção à família. (...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1475363/SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 07/10/2014.
IV — gestante; IV — gestante.
É possível a concessão de prisão domiciliar (da LEP) à pessoa que esteja cumprindo pena em regime
fechado ou semiaberto?
Pela literalidade da LEP, somente teria direito à prisão domiciliar a pessoa condenada ao regime aberto
que se enquadrasse em uma das hipóteses do art. 117 da LEP. No entanto, em hipóteses excepcionais, a
jurisprudência tem autorizado que condenados que estejam no regime fechado ou semiaberto possam
ter direito à prisão domiciliar. Nesse sentido:
(...) A melhor exegese, portanto, do art. 117 da Lei nº 7.210/1984, extraída dos recentes precedentes
da Suprema Corte, é na direção da possibilidade da prisão domiciliar em qualquer momento do
cumprimento da pena, ainda que em regime fechado, desde que a realidade concreta assim o imponha.
STJ. 6ª Turma. HC 366.517/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/10/2016.
É possível a concessão de auxílio-reclusão caso o segurado esteja cumprindo pena em regime fechado
ou semiaberto, mas a ele tenha sido concedida a prisão domiciliar?
SIM.
Os dependentes de segurado preso em regime fechado ou semiaberto fazem jus ao auxílio-reclusão
ainda que o condenado passe a cumprir a pena em prisão domiciliar.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.672.295-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 17/10/2017 (Info 614).
Vale ressaltar que a própria Instrução Normativa 77/PRES, do INSS, prevê a possibilidade de concessão do
auxílio-reclusão caso o apenado em regime fechado ou semiaberto esteja cumprindo prisão domiciliar. Confira:
Art. 382. Considera-se pena privativa de liberdade, para fins de reconhecimento do direito ao
benefício de auxílio-reclusão, aquela cumprida em regime fechado ou semi-aberto, sendo:
(...)
§ 4º O cumprimento de pena em prisão domiciliar não impede o recebimento do benefício de
auxílio-reclusão pelo(s) dependente (s), se o regime previsto for o fechado ou semiaberto.
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) O compartilhamento de infraestrutura de estação rádio base de telefonia celular por prestadoras de
serviços de telecomunicações de interesse coletivo caracteriza servidão administrativa, não ensejando
direito à indenização ao locador da área utilizada para instalação dos equipamentos. ( )
2) (Promotor MP/RR 2012 CESPE) Em caso de publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais, o dano moral decorrente deste fato dependerá de prova. ( )
3) A Súmula 403 do STJ é aplicável mesmo para hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato
histórico de repercussão social. ( )
4) As normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor aplicam-se ao seguro obrigatório (DPVAT). ( )
5) (Defensor DPE-MA 2015 FCC) Maurício sofreu danos em razão de acidente de trânsito provocado por
Leonardo, que mantém com “Total Safe Seguradora” seguro de responsabilidade civil facultativo. De
acordo com súmula do Superior Tribunal de Justiça e com o Código de Processo Civil, Maurício poderá
ajuizar ação direta e exclusivamente contra a Total Safe Seguradora, a qual é facultado chamar Leonardo
à lide. ( )
6) (Defensor DPE-MA 2015 FCC) Maurício sofreu danos em razão de acidente de trânsito provocado por
Leonardo, que mantém com “Total Safe Seguradora” seguro de responsabilidade civil facultativo. De
acordo com súmula do Superior Tribunal de Justiça e com o Código de Processo Civil, Maurício não
poderá ajuizar ação direta e exclusivamente contra a Total Safe Seguradora, devendo o juiz, em tal caso,
conhecer de ofício da ilegitimidade de parte, julgando extinto o processo sem resolução de mérito. ( )
Informativo 614-STJ (22/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 31
Informativo
comentado
7) Por força da Súmula 529 do STJ, a vítima de acidente de trânsito não pode ajuizar demanda direta e
exclusivamente contra a seguradora do causador do dano mesmo que reconhecida, na esfera
administrativa, a responsabilidade deste pela ocorrência do sinistro e mesmo que parte da indenização
securitária já tenha sido paga. ( )
8) O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou
adolescente independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se
encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de
quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca.
( )
9) A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no
caso de impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais. ( )
10) Após a separação de fato ou de corpos, o cônjuge que estiver na posse ou na administração do
patrimônio partilhável - seja na condição de administrador provisório, seja na de inventariante - terá o
dever de prestar contas ao ex-consorte. ( )
11) O CDC prevê que é causa obstativa da decadência a reclamação comprovadamente formulada pelo
consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que
deve ser transmitida de forma inequívoca. ( )
12) A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC não pode ser feita verbalmente.
( )
13) As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo
aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual
não lhe tenha sido dada prévia e adequada informação. ( )
14) A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para utilização dos serviços de assistência
médica nas situações de emergência ou de urgência é considerada abusiva se ultrapassado o prazo
máximo de 24 horas contado da data da contratação. ( )
15) Não é possível a conversão do procedimento de execução para entrega de coisa incerta para execução
por quantia certa na hipótese em que o produto perseguido for entregue com atraso, gerando danos ao
credor da obrigação. ( )
16) São absolutamente impenhoráveis os créditos vinculados ao programa Fundo de Financiamento
Estudantil - FIES constituídos em favor de instituição privada de ensino. ( )
17) É possível a penhora do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS para o pagamento de
honorários de sucumbência por se enquadrar como verba alimentar. ( )
18) O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com
menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente. ( )
19) É necessária a apresentação de laudo médico oficial para o reconhecimento judicial da isenção do
imposto de renda, não podendo ser dispensado pelo magistrado. ( )
20) Os dependentes de segurado preso em regime fechado ou semiaberto fazem jus ao auxílio-reclusão
ainda que o condenado passe a cumprir a pena em prisão domiciliar. ( )
Gabarito
1. C 2. E 3. E 4. E 5. E 6. C 7. E 8. C 9. C 10. C
11. C 12. E 13. C 14. C 15. E 16. C 17. E 18. C 19. E 20. C