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RESUMO
O artigo visa a uma caracterização geral do campo de investigações da Semântica
Cognitiva em seus aspectos teóricos e epistemo-metodológicos, tais como os conceitos de Modelos
Cognitivos e Modelos Culturais, experiencialismo cognitivo, estruturas gestálticas. Essa breve
incursão apresenta os elementos fundacionais da pesquisa Modelos Culturais II e sinaliza para
diferentes projetos de pesquisa que podem ser desenvolvidos através do Projeto-Tronco que,
atualmente, investiga as categorias conceituais RELIGIÃO, TRABALHO, FAMÍLIA e
PROPRIEDADE.
PALAVRAS-CHAVE: Semântica Cognitiva. Modelos Cognitivos. Modelos Culturais.
ABSTRACT
This paper provides a general characterization of the field of investigation Cognitive
Semantics, focusing on its theoretical and epistemic-methodological aspects, such as the concepts
of Cognitive Models and Cultural Models, cognitive experientialism, and gestaltic structures. This
brief incursion presents the foundational elements of the research Cultural Models II, pointing
towards other different research projects, which can be developed from the main project that is now
investigating the conceptual categories RELIGION, WORK, FAMILY, and PROPERTY.
KEY WORDS: Cognitive Semantics. Cognitive Models. Cultural Models .
INTRODUÇÃO
1
Doutora em Lingüística e Letras pela PUC/RS- Área de Concentração: Lingüística Aplicada. Docente do
Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Letras e Cultura Regional da Universidade de
Caxias do Sul. E-mail: helocogn@terra.com.br Web site: www.heloisapmfeltes.com.br/forum/
2
(b) objetiva relacionar seus achados com as estruturas cognitivas de que se ocupa a
abordagem psicológica, a qual inclui a análise da memória semântica, a
associatividade de conceitos, a estrutura de categorias, a geração de inferências
e o conhecimento contextual.
Segundo esse autor, e cremos que Lakoff concordaria com essa afirmação, a soma
dos MCI “constitui a superestrutura do nosso conhecimento do mundo”. (p. 293).
Entretanto, uma das características desses modelos é sua relatividade como parte do
equipamento cognitivo, ou seja, “elementos estáveis de nosso sistema de categorias”.
(BARCELONA, [2000], 2003, p. 6).
Modelos Cognitivos devem, de acordo com nosso ponto de vista, ser entendidos,
sob certas características estruturais e funcionais, como Modelos Culturais, à medida que
o sistema conceptual humano e as categorias por ele geradas são, ao mesmo tempo,
cognitivas e culturais. A cognição humana está inextricavelmente ligada à experiência
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humana corpórea, social, cultural e histórica. Por outro lado, Modelos Cognitivos devem,
de acordo com nosso ponto de vista, ser entendidos, em alguns contextos, como Modelos
Culturais, à medida que o sistema conceptual humano e várias categorias por ele geradas
são, ao mesmo tempo, cognitivas e culturais. Observe-se, entretanto, que sob certos
aspectos, nem todos os Modelos Cognitivos podem ser entendidos como Modelos
Culturais, já que há discussões em torno da tese de que alguns modelos cognitivos
possuem caráter universal.
Em outras palavras, o que se chama modelos culturais não são estruturas
meramente “internas”, devendo, antes, ser tomados no sentido estrito de ‘modelos’,
esquematizações coletivas, intersubjetivas, como propriedades de grupos, não de
indivíduos, à medida que são conhecimentos compartilhados. Além disso, cada indivíduo
pertence, simultaneamente, a diferentes grupos, em diferentes níveis simultâneos de
“localidade” (mais alta ou mais baixa numa hierarquia; mais imediatos ou menos
imediatos). Ao mesmo tempo não existe um repositório separado de conhecimento
lingüístico ou cultural fora de qualquer comunidade cultural e lingüística. Entretanto, os
esquemas individuais, ao serem construídos, agregam detalhes individuais relativamente ao
que é percebido como normas ou formas culturais relevantes, principalmente porque o
indivíduo é, em certo nível, consciente ou “conscientizável” de seus próprios desejos,
percepções e sentimentos, existindo à parte de e em contradistinção a essas comunidades
que imputam as normas e formas de linguagem e cultura.
Dessa maneira, não se diz que MC são “internalizados” de forma determinística,
mas construídos e reconstruídos de acordo com diferentes propósitos. Assim, os modelos
culturais podem ser acessados, pelo analista, apenas por inferência, nunca diretamente, sem
a mediação de um processo interpretativo. Para tanto, observam-se os comportamentos
verbais e não-verbais dos membros de um determinado grupo e a lógica do sistema que
esses elementos implicam e, então, constroem-se as representações chamadas Modelos
Culturais. Tanto os indivíduos de uma coletividade quanto os analistas da cultura precisam
abstrair tais modelos. Enquanto modelos, portanto, não contêm informação completa, não
são acurados, são supersimplificados contendo apenas a informação que é relevante ou
significativa para algum propósito, a que é recorrente e, também, a que é logicamente
acarretada. Ou seja, é uma construção governada por propósitos de uma situação concreta.
Modelos culturais alternam-se de acordo com as situações, e tendo origem social, estão
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ligados a padrões de interação e comunicação. Por isso, com freqüência, estão codificados
lingüisticamente (KRONENFELD, 2000), o que faz do material lingüístico, a partir de
pesquisa etnográfica ou histórica, uma fonte de pesquisa inesgotável, seja em pesquisa
quantitativa como em qualitativa.
Sabe-se, também, que, para essa teoria, existem níveis privilegiados de percepção,
constituindo-se esta por propriedades gestálticas (como é o caso dos conceitos de nível
básico): conhece-se a realidade construindo totalidades estruturadas, sendo esse todo
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psicologicamente mais simples que suas partes. O nível da estruturação dessas totalidades
corresponderá a níveis de conhecimento a que se chega da realidade, propósitos, sistemas
de valores; em suma, do modo de interação com a realidade. Nesse sentido, Lakoff afirma
que os MCIs têm uma estrutura gestáltica, como já apresentado em seção anterior. Lakoff
(1987) afirma que: “Os MCIs permitem a distinção entre o que é backgrounded e o que é
foregrounded – o que os psicólogos da Gestalt chamam de distinção figura-fundo”. (p.
133).
Lakoff (1987) dá-nos uma idéia de como o termo gestalt é utilizado em seus
estudos. Segundo afirma, o termo, tal como é por ele empregado, tem alguma relação com
o conceito de mesmo nome empregado pelos psicólogos da Gestalt, mas há algumas
diferenças. Embora não pretenda formular uma nova definição de gestalt, Lakoff levanta
quinze características que podem dar uma idéia da extensão do conceito para o autor. São
elas:
(1) As gestalts são holísticas e analisáveis: são todos não redutíveis à soma de suas
partes. Há “propriedades adicionais em virtude de serem todos, e as partes podem
tomar significância adicional em virtude de estarem dentro desses todos”. (p. 246).
(2) As gestalts podem ser corretamente analisadas em partes de maneiras diferentes, a
partir de diferentes pontos de vista.
(3) As gestalts apresentam relações internas entre as partes que podem ser agrupadas
por tipos. As gestalts podem ter diferentes propriedades e relações internas a partir de
diferentes pontos de vista.
(4) As gestalts relacionam-se com outras gestalts: podem ser vistas como instâncias
de outras gestalts ou mapeadas (de modo inferencial ou por associações arbitrárias,
simbólicas ou culturais) para outras gestalts.
(5) As relações externas que as gestalts mantêm com outras gestalts são propriedades
das gestalts como um todo.
(6) Os mapeamentos de uma gestalt para outra gestalt podem ser parciais.
(7) As gestalts podem ser encaixadas dentro de outras gestalts, tomando, assim, novas
propriedades.
(8) Uma propriedade de uma gestalt pode ser sua oposição a uma outra gestalt.
(9) Certas propriedades das gestalts podem ser destacadas como propriedades de
background. Os opostos compartilham essas mesmas propriedades.
(10) As gestalts são estruturas usadas no processamento da linguagem, no
processamento do pensamento, no processamento perceptual, na atividade motora,
etc.
(11) Os próprios processos podem ser vistos como gestalts.
(12) Uma análise gestáltica pode variar, na medida em que é fruto do pensamento
humano, guiada pelos recursos do organismo, pelos seus propósitos e pontos de vista.
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Não se faz necessária, pois, uma análise atomística. Em semântica, por exemplo, não
é necessária uma análise em predicados atômicos.
(13) As gestalts podem interseccionar-se entre si.
(14) As gestalts devem distinguir propriedades prototípicas de propriedades não
prototípicas.
(15) As propriedades das gestalts podem ser de vários tipos. No caso das gestalts
lingüísticas, elas podem ser gramaticais, pragmáticas, semânticas, fonológicas e
funcionais.
O modo de Lakoff caracterizar as gestalts é fundamental para a compreensão dos
Modelos Cognitivos Idealizados, pois, conforme o autor: “Cada MCI é um todo
estruturado complexo, uma gestalt.” (p. 68).2
Com relação ao experiencialismo, Lakoff defende as seguintes teses:
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Salienta-se que, porque os símbolos que constituem cada MCI têm natureza gestáltica, essa semântica não
trata as estruturas diretamente significativas como primitivos semânticos. Como se verá mais adiante, essas
gestalts diretamente significativas têm uma estrutura interna que pode ser analisada de diferentes modos, de
acordo com os propósitos analíticos. De acordo com Lakoff, o sistema conceitual tem princípios,
fundamentos, mas não primitivos. Afirma que, para que um conceito seja considerado um primitivo, ele não
pode ter uma estrutura interna. Esse não é o caso dos conceitos em questão. Os conceitos de imagens
cinestésicas são apenas mais pobres que os conceitos de nível básico, já que, conforme Lakoff, “dão apenas
os contornos mais grosseiros da estrutura”. (p. 270). Lakoff, entretanto, não descarta a
descomposicionalidade em análise semântica, descarta apenas a idéia de “primitivos conceituais”. (p. 280).
Em semântica, todavia, a decomposicionalidade tem tido seu fundamento na idéia de primitivos semânticos
ou conceituais.
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4 TEORIA PROTOTÍPICA
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Até 1972, Eleanor Rosch publicou seus artigos como Eleanor Rosch Heider.
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Geeraerts tenta mostrar que esse conjunto de propriedades dos protótipos não
constitui um conjunto de condições necessárias e suficientes para que um dado elemento
ou subcategoria seja considerado protótipo de uma categoria; isto é, a prototipicidade não
“necessariamente acarreta a presença conjunta de todas as quatro [características]” (p.
595). Após uma apresentação ilustrada de argumentos, o autor conclui afirmando:
(1) não há um conjunto de atributos comuns aos conceitos prototípicos; há um traço apenas
que é compartilhado: os graus de representatividade, mas esse traço não é exclusivo de
categorias prototípicas, pois é compatível com a concepção clássica da categorização;
(2) a noção de protótipo é extremamente flexível, pois usa-se o item lexical 'prototípico'
para caracterizar: (a) traços estruturais de conceitos, (b) os conceitos que exibem esses
traços, (c) ou mesmo instâncias particulares da categoria em questão;
(3) o contexto pode reforçar um traço da organização prototípica em detrimento de outro,
já que os propósitos de uma investigação podem salientar apenas um aspecto do cacho
prototípico, dependendo de que se trate, por exemplo, de um estudo em aquisição da
linguagem ou lexicografia.
Lakoff (1987) constrói uma semântica de base prototípica, pois, para ele, os
fenômenos prototípicos
são usados [...] no pensamento – para fazer-se inferências, cálculos,
aproximações, julgamentos – assim como para definir categorias,
entendê-las e caracterizar relações entre subcategorias. Os protótipos
fazem uma grande porção do trabalho efetivo da mente e têm um amplo
uso em processos racionais. (p. 145).
ir além. É preciso, argumenta o autor, que se trate das estruturas conceituais com maior
profundidade, procurando verificar quais as fontes dos efeitos prototípicos.
Os fenômenos prototípicos são fenômenos superficiais, cujas fontes seriam os MCI,
produtos da cognição humana. Os efeitos prototípicos nada mais seriam do que
subprodutos dessas estruturas cognitivas complexas, conseqüências do modo como nosso
conhecimento e experiências se encontram organizadas na mente. O objetivo básico das
TMCI é, justamente, descrever e explicar as variadas fontes de efeitos prototípicos.
A TMCI é, sem dúvida, o núcleo teórico da Semântica Cognitiva, experiencialista,
proposta por Lakoff. Através de Lakoff (1987), Women, fire and dangerous things
(WF&DT) e Lakoff e Johnson (1980), apresenta-se a TMCI de modo mais simplificado,
depreendendo sua estrutura conceitual básica.
A TMCI, como já afirmado, sustenta uma semântica conceitual que, por sua vez, se
fundamenta na capacidade de conceitualização humana. A proposta ancora-se na idéia de
que a categorização só é possível via MCI. Ou seja, as categorias são o resultados da
relação que se estabelece entre modelos cognitivos, experienciais, e o mundo. Conforme
Lakoff, a capacidade de conceitualização é “a capacidade geral para formar MCI”. (p.
281).
Lakoff (1987) afirma que cada “modelo cognitivo (ou MCI) é uma estrutura
complexa constituída de símbolos” (p. 284) estruturados em termos gestálticos, e que cada
“MCI, como utilizado, estrutura um espaço mental. Os MCI, de acordo com o autor,
utilizam quatro tipos de princípios estruturadores:
a. as estruturas de imagem-esquemática,
b. as estruturas proposicionais,
c. os mapeamentos metonímicos e
d. os mapeamentos metafóricos.
De acordo com Lakoff, esses princípios dão origem a cinco tipos báicos de modelos
cognitivos: (i) de esquema de imagens, (ii) proposicionais, (iii) metonímicos, (iv)
metafóricos e (v) simbólicos.
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Conceito: FAMÍLIA
Exemplos de ocorrências do conceito:
Estou satisfeito por entrares em nossa família.
É uma família fechada – não são sociáveis.
Era uma boa nora. Que lástima ter saído da família.
Isso deve ser mantido nos limites desta família.
Fica evidente, pelas expressões destacadas, que o conceito é estruturado pelo
esquema CONTAINER, na medida em que os verbos, adjetivos e substantivos utilizados em
sua gramaticalização remetem à idéia de uma estrutura com um INTERIOR, uma
FRONTEIRA e um EXTERIOR.
CONFIGURAÇÃO. A lógica básica desse esquema é bem mais complexa. Em primeiro lugar,
o esquema é assimétrico:
Conceito: SOCIEDADE
Ocorrências do conceito:
Não há como atingirmos todos os segmentos da sociedade.
Cada setor da sociedade deve fazer a sua parte.
A sociedade como um todo é responsável.
Conceitos: CASAMENTO-DIVÓRCIO
Ocorrências dos conceitos:
Eles não estão mais juntos, separaram-se.
Moram juntos, mas nada mais há que os una.
Estão unidos pelos sagrados laços do matrimônio.
(i) Indo da origem ao destino, por um determinado percurso, deve-se passar por
pontos intermédios.
(ii) Avançando ao longo do caminho, mais longe se fica do início.
(a) têm uma aparência objetivista, porque “eles contêm entidades com suas
propriedades e relações que se estabelecem entre elas” (p. 285), mas essas entidades
são do tipo mental, dependentes da experiência humana;
(b) não usam mecanismos imaginativos, como metáfora, metonímia ou imagens
mentais;
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(c) têm uma ontologia, que é “o conjunto de elementos usados no MCI”, os quais
podem ser “ou conceitos de nível básico – entidades, ações, estados, propriedades,
etc. – ou podem ser conceitos caracterizados por modelos cognitivos de outros
tipos”. (p. 285).
(d) têm uma estrutura, que “consiste das propriedades dos elementos e das relações
obtidas entre eles” (p. 285), definidas em termos de esquema de imagens.
(i) sua ontologia consiste de “um estado inicial, uma seqüência de eventos e um
estado final”. (p. 285);
(ii) faz uso do esquema de imagens ORIGEM-PERCURSO-META, num domínio
temporal; e do esquema PARTE-TODO, em que cada momento do cenário é uma de
suas partes;
(iii) o esquema LIGAÇÃO estabelece as relações entre pessoas, coisas, propriedades,
relações e proposições que podem constituir um cenário.
Lakoff afirma que ir a algum lugar em um veículo envolve um cenário estruturado,
como segue:
116). Afirma, ainda, que outras noções utilizadas para dar um “formato ao conhecimento humano,
representado em modelos computacionais da mente” (p. 116), como a de frames de Minsky (cf. “A
Framework for Representing Knowledge”, 1975), e a de scripts de Schank e Abelson (cf. “Scripts, Plans,
Goals, and Understanding”, 1977) são semelhantes a de frame de Fillmore (1982a, 1982b), na medida em
que consistem em modelos proposicionais, ou seja, são tentativas de estabelecer “estruturas proposicionais
em termos das quais as situações podem ser entendidas”. ( LAKOFF, 1987, p. 116). Lakoff apenas compara as
noções em termos de sua operacionalidade teórica, pois, com base na epistemologia experiencialista, o autor
não concorda com muitos aspectos da aplicação desses modelos teóricos em Psicologia Cognitiva.
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processo não precise ser recapitulado, permanecendo na memória de longo prazo. O script
tem também uma grande força preditiva e permite reconhecer falhas em sua estrutura.
Na verdade, o reconhecimento de falhas em um script, dizem Schank e Kass, não
tem tanto a ver com a informação codificada no script quanto com a forma como esse se
organiza. Essa organização, por sua vez, pode ser dinamicamente modificada.
Concebidos inicialmente, nas primeiras versões da teoria, como uma estrutura que
representava seqüências temporais separadas, em que um script não se relacionaria com
outros scripts, com o desenvolvimento do modelo, os autores passam a ver os scripts de
uma forma mais modular, a partir da qual a interconectividade dos scripts passam ser
examinada.
Dentro dessa nova concepção, é desenvolvido o modelo chamado Memory
Organization Packets (MOPs), literalmente traduzido aqui como “Pacotes de Organização
da Memória”. Os MOPs, segundo Schank e Kass, tinham a função de partir o script em
pequenas unidades chamadas cenas. Explicando: a mesma cena seria compartilhada por
muitos MOPs, pois (a) não faria sentido que a mesma informação fosse representada em
diferentes “lugares”; e (b) isso facilitaria muito a aprendizagem. O exemplo oferecido
pelos autores pode ser esquematizado da seguinte forma:
O CASAMENTO de Maria foi fabuloso. O NOIVO estava de fraque, os PADRINHOS, elegantes, o PADRE
aguardou com paciência a chegada da NOIVA, as FLORES eram brancas e estavam distribuídas ao longo de
todos os bancos da IGREJA e do ALTAR; em frente ao altar o CAIXÃO estava aberto.
O frame ativado para a compreensão do fragmento é o de CASAMENTO
(CATÓLICO). Nessa moldura encontram-se vários elementos típicos de um casamento e
outros que podem ser inferidos:
Entretanto, o leitor, ao ter ativada essa moldura, que guiará toda a sua compreensão
em termos de expectativas, depara-se com ‘caixão’. CAIXÃO não pertence a essa moldura
e daí a possível surpresa do leitor atento com seu aparecimento na seqüência. O fato de
CASAMENTO ter uma estrutura sob a forma de frame, não significa que não possa ter uma
estrutura de script, que consistiria na seqüência de ações que são pertinentes em um
casamento. Tanto os frames quanto os scripts devem situar-se em termos de esquemas
sociais e culturais, discriminando-se o que é esperado, por exemplo, em um casamento
católico, budista, judeu, para citar alguns.
sua proposta. Um traço, explica, é um símbolo que representa uma propriedade, e um feixe
de traços “é um conjunto não estruturado de tais traços, que representam um conjunto de
propriedades”. (p. 115). Aos feixes de traços, acrescenta, são atribuídos pesos que indicam
sua importância desses traços. Um feixe de traços com atribuição de pesos é utilizado para
dar conta de efeitos prototípicos quando é tomado “como uma representação do membro
da categoria prototípica”. (p. 115). Lakoff afirma que “aproximações ao protótipo são
definidas em termos de traços compartilhados. Desvios do protótipo com pesos altamente
atribuídos coloca um membro muito distante do protótipo do que os desvios em um traço
menos altamente atribuído”. (p. 115).
A falha dessa abordagem é exemplificada por Lakoff a partir dos estudos de
Coleman-Kay (1981) para a análise de lie (‘mentira’). Para Coleman-Kay, os pesos para lie
seriam: (i) ausência de crença; (ii) tentativa de enganar; e (iii) ser falsa. A questão seria a
seguinte: um bom exemplo de lie seria ter as propriedades (i) e (ii); já (ii) e (iii) não seriam
bons exemplos de lie. Lakoff, então, menciona a argumentação de Sweetser (1981) de que
feixes de traços com atribuições de pesos não são suficientes para dar conta de todos os
casos de lie, “enquanto uma teoria baseada em modelos cognitivos de conhecimento e
comunicação independentemente necessários poderiam fazer o trabalho”. (p. 115). Em
suma, a abordagem por traços não pode dar conta da maioria dos efeitos prototípicos
porque não diferenciam background de foreground. Além disso, não podem dar conta de
efeitos de modelos metafóricos e metonímicos. Devido a disso, não podem dar conta de
estruturas radiais por várias razões. Em outras palavras, feixe de traços (i) não podem dar
conta de descrições de tipos de conexão, tais como metáfora, metonímia e imagens
esquemáticas; (ii) não podem descrever extensões convencionais motivadas que são
aprendidas uma por uma “mas motivadas por princípios de conexões gerais. Ou seja,
Lakoff deixa claro que essa abordagem não se habilita a dar conta de uma série de efeitos
prototípicos.
Essa mesma restrição ocorre com relação às propostas citadas por Lakoff como as
de Minsky-Putnam, que utilizam frames, scripts e stereotypes. Os pontos problemáticos
são: (i) elas têm apenas modelos proposicionais, não incluindo qualquer modelo
imaginativo (modelos metonímicos, metafóricos e esquemas de imagens); (ii) têm apenas
uma única representação para cada categoria, o que inviabiliza categorias de estruturas
radiais (como as do Dyirbal, que se verá mais adiante). Mas, ao contrário da abordagem
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por traços, a proposta absorveu a idéia de que efeitos prototípicos superficiais deveriam ser
abordados em termos de desvios a partir de modelos cognitivos idealizados.
(d) Taxonomia
(i) são “uma estrutura hierárquica de categorias clássicas” (p. 287), sendo cada
uma delas (das estruturas taxonômicas) impostas pelos nossos propósitos;
(ii) têm sua ontologia constituída por categorias;
(iii) são estruturados em termos de esquemas de imagens do tipo CONTAINER ao
nível das categorias;
(iv) no nível da hierarquia, são estruturados em termos dos esquemas PARTE-TODO
e PARA CIMA-PARA BAIXO, sendo que os níveis mais altos são todos os que têm
como suas partes os níveis mais baixos, sem sobreposições.
Podem-se citar como exemplos de modelos cognitivos taxonômicos os sistemas de
classificação da zoologia, da botânica e outras áreas que operam com catalogação. Como
modelos cognitivos, essas estruturas taxonômicas não referem diretamente um estado de
coisas no mundo, um sistema ou uma hierarquia que precisa apenas ser capturada da
realidade pelo aparato cognitivo. Cada hierarquia é o resultado de uma operação cognitiva
determinada experiencialmente. Culturas diferentes têm sistemas classificatórios diferentes
e, portanto, modelos taxonômicos diferenciados, determinados (ou motivados) por suas
necessidades e seus propósitos.
Esse é o caso, por exemplo, dos peixes que são colocados na classe I e, assim, todos
os instrumentos de pesca são classificados em I. Num outro exemplo, as árvores são
classificadas de duas maneiras básicas: as árvores frutíferas pertencem à classe III, e as que
não são frutíferas pertencem à classe IV. Se se faz referência à madeira de uma árvore
frutífera, no sentido de que se deseja fazer fogo com ela ou fabricar algum instrumento,
então ela não é mais classificada em III, mas em IV.
Outro princípio é o chamado Princípio do Mito-e-Crença:
Esses princípios não são aplicados a todas as categorias. Conforme Lakoff, não se
sabe, por exemplo, “por que cachorro, rato gigante, ornitorrinco e eqüidna estão na classe
II, ao invés de estarem na classe I”. (p. 95).
Para Lakoff, o Princípio do Mito-e-Crença é, na verdade, um caso especial do
Princípio do Domínio da Experiência, já que para a cultura Dyirbal os domínios da
experiência do mito e da crença são domínios relevantes para a categorização, o mesmo
ocorrendo com o Princípio da Propriedade Importante, já que o domínio do perigo é,
também, importante para a categorização das coisas. Para Lakoff, o Princípio do Domínio
da Experiência é responsável pelo fato de o fogo pertencer à mesma categoria a que
mulheres pertencem:
As ligações são: mulheres (via mito) para o sol (via domínio
relevante da experiência) para fogo. Pelos mesmos meios, podemos
ligar perigo e água. Fogo é perigoso e, portanto, coisas perigosas
estão na mesma categoria que fogo. A água, que extingue o fogo,
está no mesmo domínio da experiência que fogo e,
conseqüentemente, na mesma categoria. (p. 100).
Lakoff alerta para o fato de que nada disso é afirmado pelos falantes de Dyirbal, os
quais, como falantes nativos, em geral, não são sempre “conscientes dos princípios que
estruturam sua língua” (p. 100). Para ele, saber se sua análise está correta é uma questão
empírica.
Lakoff destaca algumas características importantes dessas estruturas radiais, em
termos do que revelam sobre as propriedades da cognição humana:
(a) demonstram a existência de domínios básicos da experiência que podem ser
específicos-de-uma-cultura;
(b) há membros que são mais centrais numa categoria;
(c) são estruturadas por um encadeamento, onde cada membro está ligado a
outro na categoria, de modo que todos estão ligados entre si;
(d)as categorias que constituem um todo não precisam ser definidas por
propriedades comuns; e
(e) um conhecimento específico (como o mitológico) impõe-se sobre o
conhecimento geral.
O comportamento específico desses modelos cognitivos radiais levou Lakoff às
seguintes conclusões metodológicas:
(1) Não há uma representação única para as categorias estruturadas radialmente. Tanto
as subcategorias centrais como as não centrais devem ser representadas, já que não
há princípios gerais que prevejam os casos não centrais a partir dos centrais.
(2) Faz-se necessária uma teoria da motivação.
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(3) Faz-se necessária uma teoria dos tipos de ligação possíveis entre as subcategorias
centrais e não centrais.
(4) Faz-se necessária uma teoria experiencialista do pensamento significativo, da razão
e dos Modelos Cognitivos Idealizados que possa tratar adequadamente dessas
ligações.
Segundo Lakoff, as estruturas radiais justificam uma semântica cognitiva baseada
na Teoria dos Modelos Cognitivos Idealizados.
Os estereótipos sociais, segundo Lakoff, são casos em que “uma subcategoria tem
um status socialmente reconhecido em conseqüência do que permanece pela categoria
como um todo, normalmente para o propósito de fazer julgamentos rápidos sobre as
pessoas” (p. 79),6 ou para o que o autor chama “salto para conclusões” (jumping to
conclusions) ou para definir expectativas culturais, entre outras coisas.7
Para exemplificar o comportamento desse modelo metonímico, traz-se o conceito
MÃE. Para compreender como se estabelece o processo metonímico, é preciso, em primeiro
lugar, mostrar como o conceito está estruturado. Lakoff sustenta que MÃE é uma estrutura
cognitiva complexa – um cacho de modelos cognitivos, isto é: 'Mãe' é um conceito que se
baseia num modelo complexo em que modelos cognitivos individuais se combinam formando um
modelo em cachos. (p. 74).
Os modelos proposicionais que convergem para formar o cacho de modelos
experienciais são:
MODELO DO NASCIMENTO: A pessoa que dá à luz é a mãe.
MODELO GENÉTICO: A fêmea que contribui com o material genético é a mãe.
MODELO DE CRIAÇÃO: A fêmea adulta que nutre e educa a criança é a sua mãe.
MODELO MARITAL: A esposa do pai é a mãe.
MODELO GENEALÓGICO: O ancestral fêmea mais próximo é a mãe.
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Pelo que se pode constatar, os modelos cognitivos por estereótipos sociais, exemplos típicos, ideais,
submodelos e mesmo o de exemplos salientes atuam todos, de modo geral, como pontos de referência
cognitivos. Não parece, portanto, que isso seja privilégio dos submodelos.
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O autor cita alguns exemplos contemporâneos de estereótipos sociais: o político estereotípico é conivente,
egoísta e desonesto; o japonês estereotípico é trabalhador, polido e habilidoso; o solteiro estereotípico sai
com diferentes mulheres, gosta de conquistas sexuais, freqüenta bares.
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Segundo o autor, embora não haja no léxico um item singular que expresse a
categoria MÃE-DONA DE CASA, a categoria existe e, ainda, “define as expectativas culturais
sobre o que se supõe que uma mãe seja” (p. 79), tomando-a como o melhor exemplo de
mãe. Há, nesse caso, “um modelo metonímico em que uma subcategoria, a MÃE-DONA DE
CASA, permanece pela categoria toda ao definir as expectativas culturais sobre mãe”. (p.80)
Assim, o modelo metonímico do tipo estereótipo social atua sobre um dos modelos
cognitivos do cacho – o MODELO DE CRIAÇÃO. Em síntese, a melhor mãe, a mãe prototípica,
é a que fica em casa para criar seus filhos. Poder-se-ia comprovar isso através do que
Lakoff chama o “teste-do-mas”, em que a conjunção adversativa “é utilizada para marcar
uma situação que está em contraste com algum modelo que serve como norma”. (p. 81).
Assim, nos exemplos abaixo, pode-se constatar o modelo estereotípico, a partir de
uma construção lingüística utilizando a adversativa:
CASO NORMAL: Ela é mãe, mas não é uma dona-de-casa.
O caso normal define a expectativa cultural sobre MÃE: que seja dona de casa e,
conseqüentemente, que crie em tempo integral o filho. Estranho seria, portanto, dizer-se:
Ela é mãe, mas ela é uma dona de casa.
Lakoff afirma que os estereótipos sociais são, normalmente, conscientes, objeto de
discussões públicas, podendo sofrer modificações ao longo do tempo.
O estereótipo MÃE-DONA DE CASA é, ainda, utilizado para motivar radialmente a
subcategoria MÃE-TRABALHADORA que teria propriedades opostas. A partir do teste-do-
mas se teria:
NORMAL: Ela é mãe, mas tem um emprego.
ESTRANHO: Ela é mãe, mas não tem um emprego.
A partir dessas análises, é possível construir a radialidade do conceito MÃE.
Segundo Lakoff, há alguns tipos de MÃE que resultam de diferentes relações com os
modelos no cacho. Tem-se os seguintes casos:
(c) Ideais
O autor afirma que grande parte de nosso conhecimento cultural está estruturado
em termos de um outro tipo de modelo metonímico: o dos ideais abstratos. Os ideais “não
precisam ser nítidos nem estereotípicos”. (p. 87). Essa espécie de modelo, gerador de
efeitos de prototipicidade, é utilizado para fazer julgamentos de qualidade e planos para o
futuro. A relação entre os casos ideais e os não ideais é, tal como no caso dos exemplos
típicos, assimétrica: o caso ideal tem todas as boas qualidades que os casos não ideais têm,
mas não o contrário.
Lakoff apresenta um exemplo disso:
MARIDO IDEAL:é provedor, fiel, forte, respeitado e atraente.
MARIDO ESTEREOTÍPICO: é fastidioso, pançudo e presunçoso.
O autor, num outro exemplo, ilustra o fato de que há muitos tipos de modelo ideal
para CASAMENTO:
CASAMENTO BEM-SUCEDIDO: em que as metas dos esposos são cumpridas.
BOM CASAMENTO: em que os esposos acham o casamento benéfico.
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(d) Padrões
Os padrões são utilizados, segundo o autor, como modelos de conduta e
desempenho, a partir dos quais dirigimos nossas ações. Um exemplo desses modelos são
os paradigmas científicos, que são utilizados, entre outras coisas, para compreender e
aplicar determinados tipos de experimento, conduta metodológica, etc. Os paradigmas
mudam à medida que o conhecimento científico avança.
(e) Geradores
Este é o caso em que os membros de uma categoria são gerados pelos membros
centrais mais algumas regras gerais. Segundo Lakoff, o exemplo mais conhecido desse
modelo metonímico são os números naturais. Nesse caso, os números de um dígito, de 0 a
9, constituem os membros centrais da categoria NÚMEROS NATURAIS. Os demais membros
da categoria são gerados a partir desses membros centrais mais as regras de aritmética. Os
membros centrais mais as regras constituem um modelo metonímico: “a categoria como
um todo é compreendida em termos de uma pequena subcategoria”. (p. 88).
(f) Submodelos
(i) tal como no caso do modelo metonímico, estruturam-se em termos dos esquemas
CONTAINER e ORIGEM-PERCURSO-META;
(ii) trata-se de uma projeção de base experiencial, a partir de um MCI em um
domínio para um MCI em outro domínio, o que, processualmente, significa que:
• Há um domínio conceitual A bem-estruturado (diretamente
significativo) chamado domínio-fonte.
• Há um domínio conceitual B que carece de estruturação para efeitos de
sua compreensão: o domínio-alvo.
• Há um mapeamento que liga o domínio-fonte ao domínio-alvo:
projeção metafórica.
• A projeção metafórica de A para B é motivada naturalmente por
uma correlação estrutural regular que associa A a B.
• Os detalhes do mapeamento entre A e B são motivados pelos
detalhes da correlação estrutural, sendo a relação especificada de A
para B.
Viajantes amantes
Veículo relação amorosa
Destino o propósito do relacionamento
Distância coberta progresso alcançado no relacionamento
Obstáculos ao longo do caminho dificuldades encontradas no relacionamento
(8) Acarretamentos: Os domínios-fonte mapeiam idéias para o alvo para além das
correspondências básicas. Tais mapeamentos adicionais são chamados acarretamentos, ou
inferências. Exemplo: O AMOR É UMA JORNADA (ou VIAGEM):
Mapeamento Veículo relação amorosa
Se o veículo quebra: (i) tenta-se atingir o destino por outros meios [ deixa-se o
relacionamento]; (ii) tenta-se consertar o veículo [tenta-se melhorar o relacionamento
ou fazê-lo funcionar]; e (iii) fica-se no veículo e não se faz nada [ permanece-se no
relacionamento (com sofrimento)].
(9) Blends: A junção de um domínio-fonte com um domínio-alvo pode resultar em mesclas
(blends), construtos conceptuais que são novos com respeito tanto à fonte quanto ao alvo.
Exemplo: Ele estava tão furioso que fumaça saía pelos seus ouvidos.
Pessoa com raiva: domínio-alvo
Fumaça (fluido quente) num container (ouvido): domínio-fonte
A pessoa com raiva (alvo) não tem fumaça saindo dela, pois a fonte (o container com
fluido quente) não tem ouvidos.
Integração conceptual: o container que tem ouvidos, de onde sai fumaça (mescla).
Essa nova proposição, pelo uso de mesclas é uma evolução da análise de RAIVA que
reproduzimos mais adiante, tal como se apresenta em Lakoff (1987).
(10) Realizações não-lingüísticas: Metáforas podem ser realizadas através de formas não-
lingüísticas,ou pensamentos. É o caso de práticas sócio-fisicas e realidade. Exemplo:
Metáfora conceptual: IMPORTANTE É CENTRAL
Realização não-lingüística: Num evento social, pessoas em alta posição social tendem a
ocupar lugares físicos mais centrais do que as menos importantes (a localização de uma
mesa ou a assento em uma mesa).
Lakoff (1985), a partir de LAKOFF e JOHNSON (1980) define três tipos de metáforas
conceituais:
Interferência na percepção: Eu estava tão furioso que nem podia ver direito.
As metáforas conceituais formam-se a partir da idéia de que a RAIVA É CALOR.
Quando aplicada a coisas fluidas, essa idéia mais geral passa a ser: RAIVA É O CALOR DE
UM FLUIDO NUM CONTAINER, motivada por CALOR, PRESSÃO INTERNA e AGITAÇÃO.
Quando aplicada a coisas sólidas, a metáfora passa a ser: RAIVA É FOGO, motivada por
CALOR E VERMELHIDÃO. Essas metáforas específicas seriam mais elaboradas,
principalmente porque se baseiam numa metáfora mais geral do sistema conceitual global:
O CORPO É UM CONTAINER PARA AS EMOÇÕES, expressa, por exemplo, em:
Segundo Lakoff, tomando por base a teoria popular sobre a RAIVA, há um limite
para além do qual os efeitos fisiológicos da raiva passam a prejudicar o ORGANISMO.
Nesse caso, se a raiva é intensa, ela pode levar à perda de controle, e a perda de controle é
perigosa. Aplicada à metáfora central, a perda de controle é entendida como perigo de
explosão.
Em sua análise, Lakoff divide as correspondências entre o domínio-fonte e o
domínio-alvo em dois tipos: as correspondências ontológicas, relativas à correspondência
de entidades num e noutro domínio, e as correspondências epistemológicas, relativas a
“correspondências entre os conhecimentos sobre o domínio-fonte e o conhecimento
correspondente sobre o domínio-alvo”. (p. 387). Assim, de um lado, teríamos as seguintes
correspondências ontológicas:
• O container é um corpo.
• O calor do fluido é a raiva.
• A escala do calor é a escala da raiva.
• O calor do container é o calor do corpo.
• A pressão do container é a pressão interna no corpo.
• A agitação do fluido e do container é a agitação física.
• A explosão é a perda de controle.
• A frialdade no fluido é a ausência de raiva.
Fonte: Uma explosão pode ser prevenida pela aplicação de força e energia suficientes para
manter o fluido dentro do container.
Alvo: Uma perda de controle pode ser prevenida pela aplicação de força e energia
suficientes para manter a raiva dentro do corpo.
Lakoff alerta:
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nossa metodologia não nos capacita a dizer muito sobre o exato status
psicológico do modelo que descobrimos. Quanto dele as pessoas utilizam
para compreender raiva? As pessoas baseiam suas ações nesse modelo?
As pessoas são conscientes do modelo? [...]. E mais intrigantemente, o
modelo tem algum efeito sobre o que as pessoas sentem? (p. 408).
De qualquer modo, mesmo em aberto tais questões, Lakoff afirma que a análise de
RAIVA é uma “confirmação da teoria prototípica no domínio da estrutura conceitual”. (p.
409).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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BARCELONA, Antonio (ed.). Metaphor and metonymy at the crossroads: a cognitive
perspective. New York: Mouton, [2000] 2003. p. 1-28.
GEERAERTS, Dirk. Introduction: prospects and problems of prototype theory. Linguistics, v. 27,
n. 4, p. 587-612, 1989.
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concepts: Amsterdam: Benjamins, 1986.
KÖVECSES, Zoltán. The language of love: the semantics of passion in conversational English.
Lewisburg, PA: Bucknell University Press, 1988.
KÖVECSES, Zóltan. Happiness: a definitional effort. Metaphor and Symbolic Activity, n. 6, p.
29-46, 1991.
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TALMY, Leonard. Toward a cognitive semantics. V. II: Tipology and process in concept
structuring. Cambridge, Mass.: MIT Press, 2000.