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2.
“Tu amasme?”
A BELEZA DA RELAÇÃO COM
JESUS CRISTO
A relação fundamental que nos liga a Jesus enquanto pessoa é o amor. A pergunta acerca da
divindade de Cristo é: «Tu crês?»; a pergunta que nos devemos pôr acerca da pessoa de Cristo, é: «Tu
amas‐me?» Existe um exame de cristologia em que todos os crentes, não só os teólogos, devem passar,
e este exame comporta duas perguntas obrigatórias para todos. O examinador aqui é o próprio Cristo.
Do resultado deste exame depende o acesso à vida eterna. E essas duas perguntas são: «Tu crês?» e
«Tu amas‐me?»: Tu crês na divindade de Cristo? Tu amas a pessoa de Cristo?
S. Paulo pronunciou estas terríveis palavras: «Se alguém não ama o Senhor, seja anátema!»
(1Cor 16,22), e o Senhor de quem se fala aqui é o Senhor Jesus Cristo. No curso dos séculos foram
pronunciados a propósito de Cristo muitos anátemas: contra quem negava a Sua humanidade, contra
quem negava a Sua divindade, contra quem dividia as Suas duas naturezas, contra quem as
confundia..., mas talvez nunca se deu bastante importância ao facto de que o primeiro anátema da
cristologia, pronunciado por um Apóstolo em pessoa, é contra aqueles que não amam Jesus Cristo.
1. PORQUÊ AMAR JESUS CRISTO?
O primeiro motivo para amar Jesus Cristo, e o mais simples, é que Ele mesmo no‐lo pede
para ser discípulo. Na última aparição de Jesus ressuscitado recordada no Evangelho de João, a um
certo momento, Jesus dirige‐Se a Simão Pedro e pergunta‐lhe três vezes seguidas: «Simão, filho de
João, tu amas‐Me?» (Jo 21,16). A pergunta é feita três vezes precisamente para indicar que se trata de
uma questão fundamental. «No fim da vida seremos interrogados sobre o amor» (S. João da Cruz) e
vemos que o mesmo sucede com os Apóstolos: no fim da sua vida com Jesus, no fim do Evangelho,
foram interrogados sobre o amor. Não sobre outra coisa. Esta pergunta coloca‐nos de repente numa
posição especial, isola‐nos de todos, individualiza‐nos, faz de nós pessoas. A pergunta «tu amas‐Me?»
não se pode responder por interposta pessoa ou interposta instituição. Pedro não respondeu pelos
outros, mas em seu nome pessoal. Vê‐se que Pedro é constrangido, pelo aperto das três perguntas, a
reflectir, passando das primeiras duas respostas, imediatas mas superficiais, à última, na qual se vê
assomar nele o conhecimento do seu passado e também uma grande humildade: «Senhor, Tu conheces
tudo; Tu sabes que eu Te amo» (Jo 21,17). Deve‐se portanto amar Jesus porque Ele mesmo no‐lo pede.
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DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo
Outro motivo para amar Jesus é porque Ele nos amou em primeiro lugar. Era isso que
inflamava o Apóstolo Paulo: «Ele amou‐me e entregou‐Se a Si mesmo por mim!» (Gl 2,20). «O amor de
Cristo leva‐nos a pensar que um morreu por todos» (2Cor 5,14). O facto de Jesus nos ter amado em
primeiro lugar e até ao ponto de dar a Sua vida por nós «constrange‐nos», ou, como se pode dizer
também, «força‐nos de todos os lados», e «urge em nós interiormente». «Como não corresponder com
amor a quem tanto nos amou?», canta um hino da Igreja. O amor só com amor se paga. Nenhum outro
preço é adequado.
Deve‐se, pois, amar Jesus sobretudo porque Ele é digno de amor e é amável em Si mesmo.
Ele reúne em Si toda a beleza, toda a perfeição e santidade.
Além disso, deve‐se amar Jesus, porque somente O conhece quem O ama: «Manifestar‐Me‐ei
a quem Me ama» (cf. Jo 14,21). Se é verdade que «não se pode amar aquilo que não se conhece», é do
mesmo modo verdadeiro, também o seu contrário, isto é: não se conhece senão aquilo que se ama.
S. Agostinho exprimiu este conceito dizendo que, «não se entra na verdade a não ser através da
caridade». Sem um verdadeiro amor, inspirado pelo Espírito Santo, o Jesus que se vem a conhecer
através das mais brilhantes e refinadas análises cristológicas, não é o verdadeiro Jesus. Não são «a
carne e o sangue», ou seja, não é a inteligência e a pesquisa humana que revelam Jesus; quem O revela
é o «Pai que está nos céus» (cfr. Mt 16,17) e o Pai não O revela aos curiosos, mas aos que amam; não O
revela aos sábios e aos inteligentes, mas aos mais pequenos (cfr. Mt 25,11).
Finalmente, deve‐se amar Jesus, porque só assim é possível cumprir a Sua palavra e pôr em
prática os Seus mandamentos. «Se Me amais ‐ disse Ele mesmo» cumprireis os Meus mandamentos;
«Quem não Me ama, não guarda as Minhas palavras» (Jo 14,15.24). Isto quer dizer que não é possível
ser cristão a sério, isto é, seguir concretamente os ditames e as exigências radicais do evangelho, sem
um verdadeiro amor por Jesus Cristo. Se, por hipótese, alguém conseguisse faze‐lo, seria igualmente
inútil; sem o amor, de nada lhe serviria. Mesmo que alguém entregasse o corpo para ser queimado,
mas não tivesse caridade, de nada lhe serviria (cfr. 1 Cor 13,3). Sem o amor, falta a força para agir e
obedecer. Pelo contrário, a quem ama, nada lhe parece impossível ou muito difícil.
2. QUE SIGNIFICA AMAR JESUS CRISTO?
A pergunta «que significa amar Jesus Cristo?» pode ter um sentido muito prático, saber o
que implica amar Jesus Cristo. A resposta é muito simples e é‐nos dada pelo próprio Jesus no
Evangelho. Não consiste em dizer: «Senhor, Senhor!», mas em fazer a vontade do Pai e cumprir a Sua
palavra (cf. Mt 7,21). Quando se trata de uma pessoa ‐ o cônjuge, os filhos, os pais, o amigo ‐ «querer
bem» significa procurar o bem da pessoa amada, desejar e diligenciar para ela coisas boas... Mas que
«bem» podemos nós desejar a Jesus ressuscitado que Ele não possua já? Querer bem, no caso de Cristo,
significa algo de diferente. O «bem» de Jesus ‐ ou melhor, o Seu alimento ‐ é a vontade do Pai. Por isso,
amar ou querer bem a Jesus significa essencialmente fazer, com Ele, a vontade do Pai. Todas as
qualidades mais belas do amor por Ele estão resumidas naquele acto que é o de fazer a vontade do Pai.
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DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo
O amor por Jesus não consiste nas palavras ou em bons sentimentos, mas sim em actos;
fazer como Ele fez, que não nos amou somente com palavras, mas com actos. E com que actos!
Jesus Cristo não trouxe ao mundo somente um motivo mais para amar a Deus, ou somente
um exemplo a mais, o mais alto, deste amor. Trouxe uma novidade bem maior: revelou um rosto novo
de Deus e, portanto, uma maneira nova de O amar e uma nova «forma» de amor de Deus. Portanto,
não é possível deixar Cristo de lado para nos aproximarmos de Deus, pois somente podemos fazer essa
aproximação «por meio d'Ele» (cfr. Jo 14,6). Ele é o «caminho e a verdade», isto é, não é somente o
meio para se chegar, mas é também a própria meta.
3. COMO CULTIVAR O AMOR POR JESUS?
Mas é possível amar Jesus, agora que não se pode ver, apalpar e contemplar com os nossos
olhos de carne? S. Leão Magno dizia que «tudo aquilo que havia de visível em nosso Senhor Jesus
Cristo, depois da Sua ascensão, passou para os Sacramentos da Igreja». É através dos Sacramentos, por
isso, e através especialmente da Eucaristia, que se alimenta o amor a Cristo porque neles se realiza a
inefável união com Ele. É uma união mais forte do que a que existe entre os sarmentos e a videira,
entre os esposos e do que qualquer outro tipo de união. E possível «amar» Jesus Cristo porque Ele é
uma pessoa viva e «existente». Isto é, não se trata somente de uma personagem da história ou uma
noção de filosofia, mas um «tu», um «amigo», que se pode, por isso, amar com amor de amizade.
São inúmeros os meios para cultivar esta amizade com Jesus e cada um de nós tem a sua
maneira preferida, o seu dom, o seu caminho. Pode ser a Sua palavra, na qual cada um de nós O sente
vivo e em diálogo connosco, pode ser simplesmente a oração. Porém, é necessário, em todos os casos,
que haja a unção do Espírito, porque somente o Espírito Santo sabe quem é Jesus e sabe inspirar o
amor por Jesus.
Há um outro meio que sempre mereceu o carinho da Tradição, especialmente da tradição
da Igreja ortodoxa: a memória de Jesus. Foi Ele mesmo que se confiou à memória dos discípulos,
quando disse: «Fazei isto em memória de Mim» (Lc 22,19). A memória é a porta do coração.
Neste sentido, podemos dizer que para amar Jesus Cristo é necessário redescobrir e cultivar
um certo gosto pela interioridade e pela contemplação. É preciso fortalecer o homem interior, deixar‐
se guiar mais pelo Espírito.
Amar Jesus Cristo é de fazer d'Ele o grande ideal da vida, é colocar Jesus como um selo no
próprio coração. É Jesus que diz à Igreja e a cada um que acerdita nele: «Grava‐me como selo sobre o
teu coração, como um selo sobre o teu braço» (Ct 8,6). Não é para impedir que se amem outras pessoas
e outras coisas – a esposa, o marido, os filhos, os amigos, todas as coisas belas – mas para impedir que
se amem sem Ele, fora d'Ele, ou no lugar d'Ele.
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