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CULTURAL BRASILEIRO
INTRODUÇÃO
Este trabalho estuda alguns aspectos do folclore paraense, visto que o Estado é rico no
que tange a cultura, desde a culinária, danças, artesanato, religiosidade até a música, sendo
estes “produtos típicos” a expressão dessa cultura diferenciada que tipifica nossa identidade.
Destacaremos para este trabalho as particularidades de um ritmo e dança originalmente
paraense, o carimbó, sendo este o foco de análise aprofundado.
O Folclore tem como objetivo estudar manifestações materiais e espirituais de uma
determinada comunidade sejam elas, orais ou escritas, objetivas ou subjetivas que seja fruto
de experiências cotidianas e que possuam características de ter-se propagado ao passar do
tempo e espaço, ou seja, é a sabedoria do povo (MARTINS, 1999). O folclore paraense
originou-se na miscigenação das raças formadoras (negros, índios e portugueses), foi criado
pelo Cabloco a partir de seu contato com a natureza e o espaço onde vivenciava suas
experiências mais profundas que moldariam o que hoje temos como uma das referências
máximas na cultura paraense: O Carimbó.
No decorrer do trabalho será feito uma abordagem do carimbó como patrimônio
cultural do Pará, fazendo um levantamento de dados históricos desde sua fase em que não era
aceito chegando a ser proibido, fazendo uma conceituação de seus elementos constituintes e
essenciais e finalmente chegar-se-á na luta pela patrimonização e reconhecimento do carimbó
como Patrimônio Cultural Brasileiro.
O CARIMBÓ
O Carimbó é uma das manifestações culturais do Estado do Pará que mais representa
simbolicamente a dança do Estado, transformando-se em um verdadeiro patrimônio cultural
paraense. A dança é executada em grupos composto por homens e mulheres, que dançam,
tocam e cantam o ritmo.
A palavra curimbó (carimbó) origina-se da junção de duas palavras: curi (madeira) e
imbó (oca) formando a expressão “pau oco que produz som”. Segundo Cascudo (2002), O
Carimbó é uma dança de roda, típica dos folgueados caboclos com acompanhamento de
percussão, o autor também o tipifica como instrumento o definindo como: “Atabaque, tambor
de origem africana, feito de tronco escavado. Sobre uma das aberturas se aplica um couro bem
esticado (...)”, levando-nos a conclusão que a palavra carimbó pode caracterizar não apenas a
dança em si, mas também os tambores que são os instrumentos principais que dão o ritmo
mais forte a dança. Portanto a palavra nos remete a compreensão dessa manifestação como
um todo.
Para Piai (2004), o Carimbó tem sua origem negra, surgindo durante as festas em que
os negros cultuavam seu santo padroeiro: São Benedito, com o tempo perdeu a sua essência
divina e tornou-se popular. Porém Martins (1999) diz que o carimbó é fruto da criatividade
dos índios tupinambás, mas não causava entusiasmo por ser um ritmo lastimoso e com
chegada dos africanos a dança passou a ter características diferentes ganhando ritmos
agitados, de andamentos rápidos e movimentados empolgando quem assistia.
Percebe-se que o Carimbó surgiu da necessidade que os negros sentiam de se divertir
para aliviarem e provavelmente, esquecerem dos maus tratos sofridos pela sua condição de
escravos.
O município de Marapanim, no nordeste paraense, defende a idéia de ser o criador e
guarda a fama de ser o principal divulgador desse ritmo empolgante. Esse município tem sua
economia baseada na pesca, sendo, portanto os pescadores responsáveis por grande parte do
acervo artístico de carimbó. Porém o ritmo está presente em outras regiões do Estado que
possuem tradição na divulgação e desenvolvimento do ritmo como é o caso da região do
Marajó (cidade de Soure) que apresenta o carimbó denominado pastoril, Santarém com seu
Carimbó Rural e a Zona do Salgado com o carimbó praiano (MARTINS, 1999).
Para que atualmente o carimbó fosse reconhecido e reproduzido em diversas regiões
do estado, ele passou por um processo histórico de marginalização, chegando a ser proibido,
exatamente por conter na sua essência elementos fortes da cultura negra confundindo-se com
outras expressões dessa cultura e por ser apreciado pela classe mais popular da sociedade.
O carimbó foi reprimido oficialmente por muito tempo, chegando à forma jurídica em
meados do final do século XIX através do “Código de Posturas de Belém”, quando dançar
carimbó se tornou proibido pela polícia, por ser considerada uma dança de negros, de
desocupados e dança de escravos, portanto dançar carimbó poderia gerar um problema sério,
pois a sociedade não aceitava essa manifestação de origem negra (AMAZON VIEW, ANO 4;
GABBAY, 2010).
O carimbó passou a ser dançado, então, nos terreiros da capital, causando uma
exclusão do ritmo da cidade grande e fazendo-o migrar para cidades pequenas ou áreas rurais.
Porém, mesmo nas cidades do interior o carimbó não era totalmente aceito pela sociedade de
algumas localidades, por exemplo, em algumas cidades do interior, segundo Costa (2008,
p.154) “as mulheres que dançavam o carimbó eram vistas e caracterizadas por parte da
população pela qualificação de “mulher solteira” ou, em outras palavras, prostituta”. Mesmo
no interior do Estado havia a privação por parte da polícia dessa manifestação.
Uma das primeiras notícias que se teve de apresentação mostrando o carimbó como
manifestação folclórica em momentos especiais foi em homenagem a uma autoridade no final
da década de 50, pois até então, o carimbó era apenas parte do folclore paraense e era
entendido por quem estudava as manifestações da cultura regional. Nos anos 60, a idéia de
criar eventos para apresentar o carimbó ao público não obteve muitos resultados, pois o
carimbó era estereotipado como “música de roça, de bêbado, do pessoal da cana, do pessoal
do barraco” como relatou Pinduca¹ à Costa (2008), após outras tentativas frustradas de
apresentar o carimbó ao público nos anos 60, o carimbó continuou sendo visto como música
marginal até a década de 70.
Segundo Gabbay (2010), a partir dos anos de 1970 e 1980 o gênero passou a ganhar
espaço e legitimidade nas rádios e mídias da capital do Pará, através de compositores como
Pinduca, Mestre Lucindo, e Mestre Verequete, dentre outros.
Para Costa (2008) no início da década de 70 o carimbó entrou na fase de aceitação no
meio urbano e em pouco tempo ganhou notoriedade não só em Belém como em outros
estados do Brasil se tornando um dos gêneros musicais mais populares do Pará, ganhando
reconhecimento em âmbito nacional e até internacional com o lançamento de LPs de artistas
do gênero. Nesse mesmo período surgiram em Belém diversos grupos de carimbó que
juntamente com grupos do interior, contribuindo para o surgimento dos festivais de carimbó
tanto na capital quanto no interior, e com a aceitação da dança do carimbó principalmente
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1
Artista de carimbó reconhecido no Pará. Será conhecido mais adiante nesse trabalho.
pelo público jovem. Porém a popularização do carimbó foi contraditória, pois era aceito e
tocado em vários ambientes da cidade e em outros lugares existia muita resistência,
principalmente em ambientes burgueses, de classe privilegiada, como festas de aniversários,
formaturas e casamentos, sendo mais aceito em eventos em clubes e casas de shows, na
maioria das vezes, na periferia.
Costa (2008), diz ainda que o público que mais apreciava o carimbó era o
universitário, que passou a estudar e debatê-lo, muitos criticavam a forma como o ele estava
sendo apresentado, principalmente por artistas como Pinduca, o qual segundo alguns debates
consideravam-no com “deturpador” do gênero por incorporar ao ritmo outros instrumentos
como guitarra e baixos, diferenciando-o do tocado originalmente no interior. Outros jovens
não se importavam com as questões estéticas, preferiam se divertir com o novo ritmo.
Em meados de 1973, começa-se a perceber a potencialidade comercial do carimbó,
pois mesmo ele não sendo aceito pela elite da cidade, já existiam vários espaços nos subúrbios
de Belém que realizavam eventos relacionados diretamente ao carimbó. Foi a partir desse
instante que o carimbó passa pela transição de manifestação folclórica para música popular,
pois a medida que ia se urbanizando ia se tornando música popular. Até então o carimbó não
havia sido assimilado como música popular, com o surgimento dos discos, dos shows, e a
divulgação na imprensa, ele começa a ser visto como música popular e elemento da
identidade do paraense. A partir desse contexto o carimbó passa a ser procurado inclusive por
artistas reconhecidos nacionalmente que passaram a gravá-lo, enquanto que no Pará surgem
manifestações folclóricas para a formação de grupos folclóricos e realização de diversos
eventos do gênero, incorporando movimentos de preservação do carimbó “raiz”. Por volta de
1976, o carimbó já era um ritmo conhecido em todo Brasil e era reconhecido como música do
Pará, enquanto que no Pará ele era amplamente aceito e tocado na periferia e em alguns
pontos da elite local (COSTA, 2008).
Nas últimas décadas, o carimbó ressurgiu como música regional e referência para
outros gêneros contemporâneos do Estado. O carimbó ganhou espaço e legitimidade a partir
da década de 70, através de compositores como; Mestre Lucindo, Mestre Verequete e
Pinduca, dentre outros, que foram os responsáveis pela divulgação do ritmo nas mídias do
Pará. Nos últimos anos, há uma discussão entre artistas, defensores e agentes culturais em
torno da apropriação do carimbó moderno (GABBAY, 2010).
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O carimbó é um bailado popular, não possui um enredo verbal, as cantorias, as letras
inicialmente eram inspiradas pelo trabalho do negro e pelos objetos que o cercavam,
atualmente no meio rural, onde se encontra o carimbó autentico, as cantorias enriquecem o
repertório musical, mudando apenas a realidade do sujeito e os objetos, sendo estes ainda
tema das canções3. As letras das canções refletem o cotidiano dos pescadores que dançam de
pés descalços na areia das praias. Em Martins (2010) há um reforço da idéia quando ele
afirma que “as letras das músicas exaltam os elementos da natureza, práticas diárias
específicas da região, de quem mora fora do centro urbano, além de exaltar a figura da
mulher”.
OS MESTRES E AS PERSONALIDADES
3
frente de sua casa. Seu carimbó era o “pau-de-corda”, o carimbó de raiz, ele nunca quis
Idem
4
Há divergências
modernizar seunacarimbó,
literatura consultada a respeito defiel
preferia manter-se sua ao
cidade de origem.
ritmo autentico (COSTA, 2008).
O nome Verequete surgiu, quando ele foi ao batuque na companhia de uma namorada,
ficou impressionado com som do batuque e com um cântico que referenciava uma entidade
chamada Verequete, voltou para casa cantando a música, nascendo então, o nome Verequete
(MARTINS, 2010). Mestre Verequete morreu em novembro de 2009, após receber
homenagem do Presidente da República, convivendo diariamente com a pobreza, deixando
juntamente com sua obra, o que a imprensa5 descreveu como “a estranha sensação de que não
sabemos dar valor ao que nos é mais caro”.
Aurino Quirino Gonçalves, conhecido simplesmente como Pinduca, é outro ícone do
carimbó por ser um dos compositores de Carimbó mais populares no Estado, distingue-se de
outros artistas do gênero por ter introduzido o Carimbó eletrônico moderno, que possui
instrumentos eletrônicos, e mostra um ritmo mais acelerado. Outro diferencial é sua
vestimenta caracterizada pelo uso excessivo de adereços e colorido (MARTINS, 2010).
Pinduca nasceu no interior do Estado e começou a fazer sucesso na década de 70,
tocando em salões de festas da cidade e em clubes da periferia, inicialmente em bandas de
baile, e logo após ter seu primeiro contanto com o carimbó promoveu uma maior divulgação
desta manifestação, apesar da resistência encontrada nos lugares onde tocava; desde então
gravou seus LP‘s e depois CD‘s, passando a ser considerado assim como o “Rei do Carimbó”
(MARTINS, 2010; COSTA 2008).
Francisco Paulo Monteiro Braga é mais conhecido como Chico Braga, nascido no ano
de 1945, em Marapanim no Estado do Pará. É compositor e pescador, atualmente reside na
Ilha de Maiandeua, município de Maracanã, rodeado por gatos e cachorros, em suas
choupanas. Atualmente sua vida consiste em consumir álcool, e cantar carimbó. O próprio
compositor assume possuir mais de duzentas composições. Porém não há registro de suas
composições, segundo ele elas estão gravadas e guardadas em sua memória (BLANCO,
2004).
Lucindo Rebelo da Costa ou, como ficou marcado na história do carimbó, Mestre
Lucindo, pescador, caboclo nasceu no município de Marapanim em março de 1908. Ao
falecer em setembro de 1888 em decorrência de complicações pelo diabetes, deixou um vasto
acervo de composições ao carimbó, sempre retratando a realidade e o imaginário dos
pescadores, agricultores e outros cidadãos humildes. Mestre Lucindo se preocupava com a
preservação do carimbó mesmo não sendo reconhecido, em vida, pela sua obra. Atualmente,
_______________________________
5
Noticiado no jornal Diário
Mestre Lucindo, é ao do Paráde
lado emVerequete
04 de novembro de 2009, por
e Pinduca, umocasião de sua morte.
dos maiores ícones do carimbó no
Estado6. Mestre Lucindo ficou conhecido a partir dos anos 80 sendo considerado desde então
______________________________
5
Diário do Pará, nov. 2009.
6
O Liberal Digital, mar. 2003.
como um dos grandes compositores de carimbó de Marapanim, e conseqüentemente do Pará
(COSTA, 2008).
PATRIMÔNIO CULTURAL
6
Segundo artigo
carimbó mais escrito
atrativoporpara
Eduardo Rocha ao
as novas portal ORM,
gerações, O Liberal Digital,
aumentando em virtude
o cuidado com dosuaaniversário de
preservação e
mestre Lucindo, que estaria fazendo 100 anos se estivesse vivo.
chamando atenção para questões como sustentabilidade ambiental e inclusão social, bem
como modificando na sociedade o seu olhar sobre o carimbó, fazendo-a perceber suas
dimensões históricas (DANTAS, 2008).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
BLANCO, Sonia M.R. O carimbó em algodoal e seus aspectos sócio-gráficos. In: Anais do
V Congresso Latinoamericano da Associação Internacional para o Estudo da Música Popular
- IASPM-AL. Rio de Janeiro, 2004.
CASCUDO, Luís C. Dicionário do Folclore Brasileiro. 11ª ed. São Paulo: Global, 2002.
SITES CONSULTADOS
DIÁRIO DO PARÁ. Mestres do Carimbó: tradições mantidas com paixão. Disponível em:
<http://www.diariodopara.com.br>. Acesso em: out. 2010.