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WBA0517_V1.

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Termodinâmica
Termodinâmica
Autoria: Maikon Bressani
Como citar este documento: BRESSANI, M. Termodinâmica. Valinhos: 2017.

Sumário
Apresentação da Disciplina 04
Unidade 1: Conceitos básicos e propriedades fundamentais 06
Assista a suas aulas 31
Unidade 2: Primeira lei da termodinâmica 38
Assista a suas aulas 63
Unidade 3: Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica 71
Assista a suas aulas 86
Unidade 4: Ciclos termodinâmicos 93
Assista a suas aulas 111

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Termodinâmica
Autoria: Maikon Bressani
Como citar este documento: BRESSANI, M. Termodinâmica. Valinhos: 2017.

Sumário
Unidade 5: Análise exergética 119
Assista a suas aulas 131
Unidade 6: Relações termodinâmicas 138
Assista a suas aulas 152
Unidade 7: Termodinâmica dos seres vivos 160
Assista a suas aulas 180
Unidade 8: Termoeconomia 187
Assista a suas aulas 203

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Apresentação da Disciplina

Diversos conteúdos abordados na Termod- Em nossos estudos, apresentaremos as


inâmica foram estudados há séculos. En- principais leis, variáveis, propriedades ter-
tretanto, a consolidação de seus aspectos mofísicas e termodinâmicas, assim como
só aconteceu no século XIX, com os cientis- relações matemáticas que nos auxiliarão na
tas Carnot e Joule, a partir da primeira lei da compreensão de fenômenos e equipamen-
termodinâmica, em que foi observada a ca- tos mecânicos e térmicos. Lembre-se de que
pacidade de corpos quentes “produzirem” os assuntos aqui abordados podem e de-
trabalho. Atualmente, a Termodinâmica vem ser aprofundados, tendo em vista que
nos fornece conceitos fundamentais para assumiremos os casos genéricos, e as suas
o estudo da área térmica, entre eles Fon- especificidades precisam ser analisadas in-
tes Alternativas de energia, Transferência dividualmente, dependendo da aplicação
de calor, Mecânica dos fluidos e suposições que se deseja, afinal, como bem nos lembra
aplicadas aos buracos negros. o físico Arnold Johannes Wilhelm Sommer-
Frequentemente, em cursos de engenharia, feld1: “A termodinâmica é um assunto en-
ela é tratada em uma disciplina denomi- graçado. Na primeira vez que você a estuda,
nada Balanço de Energia, tendo em vista o você não compreende nada. Na segunda vez,
fato de a raiz “térmica” identificar aspectos 1 NTC. Núcleo de Termodinâmica Computacional para a Met-
de calor. alurgia. Disponível em: <http://www.ct.ufrgs.br/ntcm/>.
Acesso em: 14 set. 2017.
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você pensa que compreende... à exceção de
um ou dois pequenos pontos. Na terceira
vez, você sabe que não a compreende, mas,
à essa altura, isto não incomoda mais”.

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Unidade 1
Conceitos básicos e propriedades fundamentais

Objetivos

1. Apresentar conceitos básicos da ter-


modinâmica;
2. Introduzir as diferentes formas de ar-
mazenar e transferir energia;
3. Fornecer um arcabouço teórico ne-
cessário para o correto entendimento
de processos.

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Introdução

Antes de iniciar o estudo de aplicações da A palavra termodinâmica tem origem gre-


termodinâmica no nosso cotidiano, para, ga e é oriunda da composição das palavras
por exemplo, melhoria de processos indus- therme: calor e dynamis: força, represen-
triais, necessidades energéticas, entre ou- tando os esforços em converter calor em
tros, faz-se necessário o aprendizado de movimento. Pode ser definida então, como
certas terminologias, que constituem um a ciência que estuda a energia, ou melhor:
vocabulário próprio da disciplina, em torno Termodinâmica é o ramo da física que tem
do qual conceitos mais elaborados são de- como foco o estudo das relações entre calor,
senvolvidos. trabalho e outras formas de energia, as pro-
No final deste módulo, o leitor terá o conhe- priedades termofísicas e termodinâmicas
cimento necessário dos termos mais utiliza- das substâncias que interagem nessas re-
dos na termodinâmica, tais como: sistema, lações e a maneira com que a energia pode
estado, equilíbrio e processo termodinâmi- ser transformada de uma forma em outra.
co. Além disso, serão apresentadas as for- Nesse contexto, o princípio da conservação
mas de armazenamento e transferência de da energia, nos diz que ela pode mudar de
energia, cujo conhecimento é fundamental uma forma para outra. Porém, a quantida-
para o estudo das leis da termodinâmica de total sempre permanecerá constante, ou
que serão estudadas nos próximos temas. seja, é possível converter energia na forma
7/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
térmica (calor) para a forma mecânica (movi- biológicos, é necessário especificar o foco,
mento), mas jamais criar ou destruir energia. portanto, especificar nosso objetivo. A par-
A Primeira Lei da Termodinâmica descreve tir dessa avaliação, podemos identificar os
esse princípio de conservação da energia, ao seguintes conceitos:
passo que a Segunda Lei da Termodinâmica,
• Sistema termodinâmico: representa
denota a qualidade dessa energia.
uma quantidade de matéria ou uma
Podemos visualizar uma série de conceitos região no espaço delimitada para o
a serem compreendidos ou recordados, en- estudo em questão.
tão iniciaremos nossos estudos com essa
• Vizinhança do sistema: é a porção de
intenção.
matéria que se encontra externamen-
te ao sistema.
1. Conceitos básicos da termodi-
nâmica • Fronteira do sistema: superfície ima-
ginária ou real que separa o sistema
1.1 Definições de um sistema da vizinhança. Pode ser tanto uma su-
perfície fixa quanto móvel.
Para realizarmos determinado estudo en-
• Sistema fechado: tipo de sistema em
volvendo processos químicos, físicos ou
que não há entrada ou saída de mas-
8/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
sa. Permite, porém, a transferência de A Figura 1 apresenta um esboço simplifica-
energia na forma de calor ou trabalho. do dos conceitos supracitados.
Esse tipo de sistema pode ter frontei- Figura 1 Identificação esquemática de um sis-
tema, vizinhança e fronteira
ras fixas ou móveis, ou seja, seu volu-
me pode variar, somente a massa den-
tro dele que não.
• Sistema aberto: também conhecido
como volume de controle, representa
uma região delimitada no espaço, que
se deseja analisar. Normalmente uti-
lizado para o estudo de equipamen-
tos que tenham fluxo de massa como
válvulas, compressores, trocadores Fonte: elaborada pelo autor.

de calor, turbinas etc. A principal di- Propriedades são características de um sis-


ferença entre volumes de controle e tema para as quais é possível atribuir valores
sistemas fechados se dá porque, nos numéricos em dado tempo ou espaço, sem a
volumes de controle, há tanto fluxo de necessidade de conhecer detalhes dos pro-
calor como fluxo de massa.
9/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
cessos que levaram o sistema a tal situação. imaginária, como mostra a Figura 2. As pro-
As propriedades são classificadas em: priedades que tiverem metade de seu valor
em cada parte do sistema são as extensivas,
• Propriedades extensivas: dependem
já as propriedades que mantiverem seu va-
da massa do sistema e, como conse-
lor original, são as intensivas. No exemplo
quência, são somáveis. Como exemplo,
mencionado, nota-se que, ao dividir o sis-
podemos citar a massa e o volume.
tema ao meio, a massa e o volume totais
• Propriedades intensivas: indepen- se dividem igualmente entre cada uma das
dem da massa do sistema e não são partes, podendo ser somados. Já a tempe-
somáveis, como a temperatura e a ratura, a pressão e a massa específica man-
pressão. É importante mencionar que têm seus valores originais após a divisão, e
o quociente entre duas grandezas ex- a soma dos valores de cada lado não repre-
tensivas recai numa intensiva, como é senta a quantidade total da propriedade.
o caso de massa específica (unidade
de massa por volume).
Para facilitar a diferenciação entre proprie-
dades intensivas e extensivas, imagine um
sistema e divida-o ao meio com uma linha

10/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais


Figura 2 Representação de propriedades intensivas e extensivas

Fonte: Adaptada de Çengel (2007, p. 23).

O estado termodinâmico pode ser descrito como um retrato do sistema, ou seja, um determi-
nado momento do tempo em que todas as suas propriedades tenham valores fixos e que não
estejam passando por mudanças. Se o valor de apenas uma das propriedades se alterar, teremos
um novo estado. Por exemplo, imagine um recipiente que contenha, inicialmente, água à pressão
de 1 atm e 20°C. Podemos dizer que o sistema, nessas condições, está no Estado 1. A água é, en-
tão, aquecida isobaricamente até que sua temperatura atinja 60°C. Como uma das propriedades
mudou, o estado termodinâmico do sistema também muda, e pode ser definido como Estado 2.
Portanto, observamos que, para definir um estado termodinâmico, não é necessário conhecer o
valor de todas as suas propriedades. Para um sistema compressível simples (em que há ausência
11/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
de efeitos magnéticos, elétricos, gravitacio- à pressão, e o sistema estará em equilíbrio
nais, de movimento e de tensão superficial), mecânico quando não houver variação de
o número de propriedades necessárias para pressão em nenhum ponto do sistema com
definir um sistema termodinâmico é dado o tempo. Há ainda o equilíbrio de fases (não
pelo conhecimento de que: O estado de um há variação de potencial químico) e o equi-
sistema compressível simples é completa- líbrio químico (não há reações químicas).
mente especificado por duas propriedades Para o sistema estar em equilíbrio termodi-
intensivas independentes. Essa definição é nâmico, todos esses critérios precisam ser
denominada regra das fases de Gibbs e é satisfeitos.
expressa matematicamente por:
F= C + 2 - F Link
onde: C é o número de componentes; F é o A definição de Potencial químico e sua aplicação
número de fases. em processos em equilíbrio pode ser verificada
no link indicado: <https://www.youtube.com/
Existem diversos tipos de equilíbrio, por
watch?v=evIhYrF-6bc>. Acesso em: 9 set. 2017.
exemplo, equilíbrio térmico é atingido quan-
do a temperatura for igual em todo o siste- Com base nessas definições, dizemos que
ma. Equilíbrio mecânico está relacionado um sistema percorre um ciclo quando, após
12/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
passar por determinado número de estados 1.2 Definições de processos
termodinâmicos, retorna ao estado inicial.
Ou seja, as propriedades do estado final O processo termodinâmico é definido como
coincidem com as propriedades do estado o caminho percorrido por um sistema que
inicial, conforme mostra a Figura 3. passa de um estado termodinâmico de
Figura 3 Representação de um ciclo termodinâmico com 2 estados equilíbrio para outro. Um processo termo-
dinâmico é completamente descrito espe-
cificando-se seus estados inicial e final e o
percurso que ele segue. Em um diagrama
cartesiano bidimensional, cujos eixos repre-
sentam propriedades termodinâmicas, os
estados termodinâmicos são representados
por pontos, ao passo que um processo é a
linha que une dois pontos distintos.
Os processos quase estáticos ou de quase
Fonte: elaborada pelo autor.
equilíbrio são descritos como um processo
suficientemente lento, que permite ao sis-
tema se ajustar internamente, de modo que
13/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
as propriedades de uma parte dele não mo- Nesse caso, se medirmos a temperatura em
dificam mais rápido que as outras partes. qualquer instante de tempo, tanto a porção
Imagine uma panela de água sendo aqueci- de água do fundo quanto a da superfície ex-
da. A porção do líquido que está em contato terna terão os mesmos valores. É importan-
com o fundo da panela tende a se aquecer te frisar que a maioria dos processos termo-
mais rapidamente que a porção próxima da dinâmicos reais relevantes na indústria não
superfície externa. Ou seja, ao medir a tem- são processos de quase equilíbrio, porém,
peratura da água em ambas as regiões, no em muitos casos, se aproximam bastante e
mesmo instante de tempo, obteremos tem- podem ser modelados como tais, com erros
peraturas diferentes. Se há temperaturas desprezíveis.
diferentes, o sistema não está em equilíbrio.
Um processo quase estático é quando, de 1.3 Temperatura
acordo com o exemplo anterior, o aqueci-
mento procede de forma extremamente O termo temperatura normalmente é as-
lenta, de modo que a cada avanço infinitesi- sociado à sensação de “frio” ou “calor”. E
mal de tempo, haja tempo suficiente para as isso pode levar a erros conceituais, como
moléculas se reorganizarem no sistema, e a a interpretação de que calor e temperatu-
distribuição de temperaturas se uniformize. ra são sinônimos de uma única grandeza. A

14/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais


temperatura está ligada ao nível de ener- Se dois corpos, com temperaturas distintas
gia de um sistema, enquanto o calor se re- entre si, são colocados próximos um ao ou-
fere à transferência de energia térmica de tro, haverá uma transferência de calor entre
um sistema para outro. O termo calor será eles. Essa transferência de calor ocorre, na-
abordado com mais detalhes na sequência, turalmente, do corpo com maior tempera-
agora, nos concentraremos na definição de tura para o corpo com menor, até que am-
temperatura. bos tenham a mesma temperatura, ou seja,
estejam em equilíbrio térmico. Essa simples
Para saber mais conclusão recebe o nome de Lei Zero da Ter-
modinâmica.
Entender a diferença entre temperatura e calor é
fundamental para o correto aprendizado da ter- A Lei Zero da Termodinâmica, formulada e
modinâmica. A temperatura de um copo de água batizada por R. H. Fowler, em 1931, declara
pode ser idêntica à temperatura de um grande que, se dois corpos estão em equilíbrio tér-
balde de água, porém, o balde tem mais calor, mico com um terceiro corpo, eles também
porque tem mais água e, portanto, mais energia estão em equilíbrio térmico entre si. Por
térmica total. Temperatura não é energia, mas meio dessa simples lei, podemos afirmar
uma medida dela. Calor é energia. que dois corpos estarão em equilíbrio tér-
mico se ambos tiverem a mesma leitura de
15/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
temperatura, medida por um termômetro, cuja correspondência com a escala Celsius
mesmo que eles não estejam em contato. é 273 K para o ponto de fusão e 373 K para
Há diferentes escalas de medida para a o de ebulição, sendo a menor temperatura
temperatura e todas elas se baseiam em na escala Kelvin o zero absoluto, ou 0 Kelvin.
estados facilmente reprodutíveis, como os
pontos de congelamento e de ebulição da Link
água. No sistema SI, é utilizada a escala Cel- A temperatura e suas escalas. Disponível em:
sius, em que foram atribuídos os calores de <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/
0°C ao ponto de gelo da água e de 100 °C ao fisica/a-temperatura-suas-escalas.htm>.
ponto de ebulição. Já na escala Fahrenheit, Acesso em: 21 set. 2017.
utilizada principalmente nos EUA, aos pon-
tos citados, foram estabelecidos os valores 2. Formas de energia e transfe-
de 32°F e 212°F, respectivamente. rência de energia
Em muitos problemas da termodinâmica,
é desejável utilizar uma propriedade que Neste tópico, serão abordadas as diferen-
não dependa das propriedades de uma de- tes formas de energia: potencial, cinética e
terminada substância. No SI, essa escala é energia interna; bem como as duas formas
chamada Kelvin e designada pela letra K, de transferência de energia: o calor e o tra-
16/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
balho. A correta compreensão desses ter- um sistema, para determinado ponto de re-
mos é essencial para o posterior estudo da ferência, pois a variação dessa energia não
Primeira Lei da Termodinâmica. depende do ponto escolhido.
Um sistema pode ter energia associada ao
2.1 Formas de energia seu movimento relativo a um referencial.
Para essa forma de energia, dá-se o nome
A energia pode ser encontrada em diferen-
energia cinética (EC), e ela é expressa pela
tes formas, como: energia cinética, poten-
equação:
cial, térmica, elétrica, magnética, química,
entre outras. A soma de todas as formas
de energia dentro de um sistema represen-
ta a sua energia total. É importante ressal-
tar que, na termodinâmica, nada é afirma- Onde m representa a massa, em kg, e V, a ve-
do a respeito do valor absoluto da energia locidade em m/s. Mantidas essas unidades, a
total, apenas da variação da energia total unidade da energia cinética será Joule (J).
no sistema, o que realmente interessa nos A energia cinética por unidade de massa,
problemas de engenharia. Dessa forma, po- também denominada energia cinética es-
de-se atribuir o valor zero à energia total de pecífica (ec), é dada por:

17/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais


Link
e sua unidade, no sistema internacional, é O centro de gravidade para corpos de diferentes
dada em J/kg. geometrias pode ser identificado no site sugerido.
Disponível em: <https://www.youtube.com/
A forma de energia de um sistema que está watch?v=TxsIYihHxjk>. Acesso em: 9 set. 2017.
relacionada com sua altura, em um campo
gravitacional, é denominada energia po- Para efeito de simplificação do estudo da
tencial (Ep) e expressa por: termodinâmica e de seus cálculos, outras
formas de energia, como a energia térmica,
as energias química e nuclear, são repre-
ou por unidade de massa: sentadas por uma única entidade, denomi-
nada energia interna (U). Ressalta-se que a
energia térmica está associada à tempera-
onde g é a aceleração gravitacional e z, a tura do sistema ou à mudança de fase que
medida da altura do centro de gravidade ocorre durante um processo.
do sistema com relação a um nível referen-
cial escolhido.

18/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais


Para saber mais
A energia interna representa a soma de todas as ou por unidade de massa (e):
energias que um sistema possui em seu interior
no nível molecular. Algumas dessas energias são
a energia cinética de rotação das partículas, a
energia potencial de ligação entre as partículas
e a energia cinética de translação das partículas. 2.2 Transferência de energia
Para um gás ideal, ou seja, gases submetidos a por meio de calor
baixas pressões e altas temperaturas, a energia
interna depende somente de sua temperatura e Calor é definido com a “forma de energia
do número de mols. transferida entre dois sistemas, ou entre um
sistema e suas vizinhanças, devido à diferen-
O cálculo da energia total de um sistema (E) ça de temperaturas” (ÇENGEL, 2007, p.48).
é definido como a soma das energias po- Assim, para que ocorra a transferência de
tencial, cinética e interna, e expresso por: energia na forma de calor, necessariamen-
te deve haver uma diferença de temperatu-
ra. Após estabelecido o equilíbrio térmico,
19/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
a transferência de energia por calor cessa.
Por essa definição, dizemos que um siste- Para saber mais
ma não contém calor, o calor é a energia Calor pode ser classificado em calor sensível e
em trânsito que flui através das fronteiras calor latente. Calor sensível é aquele ligado ao
de um sistema. Um processo em que não aumento de temperatura da substância. Já o ca-
ocorre transferência de calor é denomina- lor latente não altera a temperatura da substân-
do “processo adiabático”, termo extrema- cia pura, porém, provoca a mudança de fase (por
mente importante em diversos processos exemplo, água passando do estado líquido para o
industriais. estado gasoso).
A unidade do calor no SI é o joule (J), além de
ser comumente identificado pela letra “Q”. Existem três meios de transferência de ca-
Quando calculado por unidade de massa, lor: condução, convecção e radiação. Para
passa a ser representado por “q”, e sua uni- o correto entendimento desses processos,
dade é J/kg. A taxa de transferência de calor aconselha-se um estudo mais aprofundado
por unidade de tempo é representada por de transferência de calor, aqui é dada so-
“Q”, cuja unidade é o J/s, ou watt (W). mente uma breve explanação de cada um
deles.

20/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais


2.2.1 Condução onde k é uma propriedade intrínseca dos
materiais denominada condutibilidade tér-
Trata-se da energia transferida entre as mica, A é a área transversal à propagação
moléculas por meio de interações (colisões) de calor e dT/dx, a taxa de variação da tem-
ou intercâmbio de moléculas mais energé- peratura com a direção de propagação do
ticas (maiores temperaturas) para molécu- calor, no caso, “x”, também conhecido como
las menos energéticas (menores tempera- gradiente de temperatura em x.
turas). Um exemplo de condução é visto ao
se aquecer a extremidade de uma barra me- 2.2.2 Convecção
tálica em uma chama. Em poucos instantes,
percebe-se que a outra extremidade, mes- Transferência de calor entre uma superfí-
mo não estando em contato com a chama, cie sólida e um fluido em movimento. Nela,
também esquenta. A transferência de calor parte do calor é transferido por meio da
por condução, em uma dimensão “x”, é ex- condução e parte, por meio do movimento
pressa pela Lei de Fourier da Condução: ordenado das partículas. Um exemplo de
transferência de calor por convecção é vis-
to nos radiadores de automóveis, em que a
água escoa pelas tubulações, trocando ca-

21/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais


lor com as vizinhanças, refrigerando-as. A convecção natural é o movimento das mo-
expressão matemática da convecção é a lei léculas de água, quando aquecida em uma
do Resfriamento de Newton, dada por: panela, ou o próprio ar que nos circula. Já a
convecção forçada é aquela no qual o movi-
mento do fluido é gerado por uma fonte ex-
terna. Como exemplo, podemos citar o mo-
Onde h é o coeficiente de transferência de
vimento do ar causado por um ventilador.
calor por convecção (função das proprieda-
des físicas do fluido que escoa, do próprio
2.2.3 Radiação
escoamento e da geometria), e Tw - T∞ é a di-
ferença entra a temperatura do meio esta- Está relacionada com a emissão de ondas
cionário para o meio fluido. eletromagnéticas. Sua principal caracterís-
Existem dois tipos de convecção, a natural tica é o fato de não necessitar de um meio
e a forçada. Na convecção natural, o movi- material para que ocorra a transferência
mento do fluido não é gerado por uma fon- energética. Sabe-se que todos os corpos
te externa, mas somente por diferenças de emitem radiações térmicas proporcionais a
densidade no fluido, ocorrendo devido a sua temperatura. Um exemplo de radiação
gradientes de temperatura. Um exemplo de térmica é o que acontece com a Terra, que,
mesmo distante do Sol, é aquecida por ele.
22/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
ca; TW é a temperatura da superfície em Kel-
Link vin, e Tviz, a temperatura do fluido afastado
da superfície, em Kelvin.
Principais conceitos envolvidos na transferência
de calor por radiação. Disponível em: <https://
2.3 Transferência de energia
www.youtube.com/watch?v=_eg09hso-
por meio de trabalho
-ww>. Acesso em: 09 set. 2017.
Como foi comentado anteriormente, as
A taxa de transferência de calor líquida por
duas formas de transferência de energia
radiação térmica entre duas superfícies
que serão estudadas são o calor e o traba-
com temperaturas distintas é calculada por:
lho. Percebeu-se que o calor é facilmente
identificado, pois está ligado a uma dife-
rença de temperatura entre o sistema e sua
Onde é uma propriedade de superfície da vizinhança. Assim, pode-se definir como
massa que recebe o fluxo líquido de calor, trabalho toda forma de transferência de
denominada emissividade; é a constan- energia que não seja causada por uma di-
te de Stefan-Boltzmann, cujo valor é 5,67 x ferença de temperatura. Então, trabalho é a
10–8 W/m2K4; A é a área da superfície de tro- “transferência de energia associada a uma

23/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais


força que age ao longo de uma distância” lho elétrico por unidade de tempo pode ser
(ÇENGEL, 2007, p.50). calculado pela expressão:
O trabalho é representado pela letra “W”
(work) e sua unidade de medida também é
o Joule (J). O trabalho realizado por unidade onde V é o valor da tensão, em volts; I é a
de tempo é chamado potência e represen- corrente, em amperes; e R, a resistência, em
tado por W, cuja unidade é o watt (W). ohms.
A transferência de energia por trabalho
pode se apresentar de diferentes formas, 2.3.2 Trabalho mecânico
que serão detalhadas nos itens que se se-
Está relacionado a uma força agindo ao lon-
guem.
go de uma distância. O trabalho realizado é
proporcional à força aplicada e à distância
2.3.1 Trabalho elétrico
percorrida, e é calculado por:
É provocado pelo fluxo de elétrons que cruza
a fronteira de um sistema e pode ser exem-
plificado pelo aquecimento de um forno por
meio de uma resistência elétrica. O traba-
24/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
Caso a força que provoca o trabalho seja de equipamentos. A potência transmitida
constante em relação ao deslocamento, a por esse tipo de trabalho é proporcional ao
equação recai em: torque aplicado e ao número de rotações do
eixo, e pode ser calculada por:
W= Fs
Onde F é a força aplicada e s, a distância de
deslocamento.
Onde T é o torque aplicado, calculado pelo
Analisando as equações, verificamos que, produto T = Fr, ṅ é o número de revoluções
para existir trabalho mecânico, é necessá- por unidade de tempo e r é o raio do eixo.
rio que haja deslocamento. Ou seja, se não
houver movimento, nenhum trabalho será 2.3.4 Trabalho de tração
realizado.
O trabalho de tração sobre uma mola é pro-
2.3.3 Trabalho de eixo vocado pelo estiramento da mola, pela apli-
cação de uma força. A relação entre a for-
Corresponde à energia transmitida por meio ça aplicada e a deformação da mola é dada
da rotação de um eixo. É muito comum na pelo produto da constante da mola pela de-
indústria e está presente em diversos tipos formação e o trabalho total empreendido é
expresso por:
25/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais
Na próxima unidade deste curso, ao es-
tudarmos a Primeira Lei da Termodinâmi-
ca, serão apresentadas mais duas formas
Onde k é a constante da mola e x2 e x1, as de trabalho, que são o trabalho de fronteira
posições final e inicial da mola, respectiva- móvel (para sistemas fechados) e o trabalho
mente. de fluxo (para volumes de controle).

2.3.5 Trabalho sobre um peso

Trata-se do trabalho desprendido para mo-


vimentar um peso verticalmente e pode ser
calculado por:

Onde y2 e y1 são as distâncias verticais final


e inicial do peso.

26/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais


Glossário
Torque: momento de alavanca definido a partir da componente perpendicular ao eixo de rotação
da força aplicada sobre um objeto que é efetivamente usada para girá-lo em torno de um ponto
central.
Constante da mola: traduz a rigidez da mola, ou seja, é uma medida de sua dureza.
Tração: força aplicada sobre um corpo, em uma direção perpendicular à sua superfície de corte e
em um sentido tal que provoque a ruptura.

27/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais


?
Questão
para
reflexão

Imagine uma sala completamente isolada, de modo que


não haja nenhum tipo de transferência de energia por
entre suas paredes. Dentro dessa sala, há somente um
refrigerador e uma tomada. Ao deixarmos esse refri-
gerador ligado e com sua porta aberta, notamos que a
temperatura da sala aumenta com o tempo. Como isto
seria possível? Quais são as hipóteses e especificações
adotadas para chegarmos a essa conclusão?

28/210
Considerações Finais
• A termodinâmica possui uma linguagem própria que deve ser considerada
em estudos envolvendo energia. Termos como sistema, fronteira, vizinhan-
ça, estado, equilíbrio, processo e ciclo devem ser compreendidos.
• A Lei Zero da Termodinâmica nos diz que, se dois corpos, A e B, estão se-
paradamente em equilíbrio térmico com um terceiro corpo C, então A e B
estão em equilíbrio térmico entre si.
• Existem três diferentes formas de energia: energia cinética, energia poten-
cial e energia interna.
• Calor e trabalho são duas formas de se transferir energia entre um sistema
e outro, ou entre um sistema e uma vizinhança.

29/210
Referências
ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 5. ed. São Paulo: Bookman, 2007.
KROOS, K. A.; POTTER, M. C. Termodinâmica para engenheiros. 1. ed. São Paulo: Cengage Lear-
ning, 2015.
MORAN, M. J.; SHAPIRO, H. N; BOETTNER, D. D.; BAILEY, M. B. Princípios de termodinâmica para
engenharia. 7. ed. São Paulo: LTC, 2013.

30/210 Unidade 1 • Conceitos básicos e propriedades fundamentais


Assista a suas aulas

Aula 1 - Tema: Conceitos Básicos da Termodi- Aula 1 - Tema: Conceitos Básicos da Termodi-
nâmica. Bloco I nâmica. Bloco II
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c0fdd8954f5b89275569c2d2e5baaf68>. b850f964a9f18e4fce7630822f203c85>.

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Questão 1
1. Assinale a alternativa que apresenta no que se baseia a medida de uma
propriedade termodinâmica conhecida como temperatura.

a) Conceito de calor .
b) Lei zero da termodinâmica.
c) Conceito de trabalho.
d) Primeira lei da termodinâmica.
e) Conceito de propriedades intensivas.

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Questão 2
2. Assinale a alternativa que identifica a energia cinética total de uma bola
de futebol que pesa 5 kg e se move a uma velocidade constante de 3,6 m/s.

a) 64,8 J.
b) 9 J.
c) 6,48 J.
d) 3,42 J.
e) 32,4 J.

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Questão 3
3. Assinale a alternativa que corresponde à energia potencial necessária
para elevar um objeto de massa igual a 50 kg a uma altura de 35 m.

a) 17.167,5 J.
b) 490,5 J.
c) 1.716,7 J.
d) 343, 35 J.
e) 1.750 J.

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Questão 4
4. Assinale a alternativa correta. Uma substância, ao ser aquecida, ganha
1,2 kJ de energia a cada °C que aumenta de temperatura. Qual a quanti-
dade de calor ganha ao aumentar a temperatura da substância em 30 K?

a) 3,6 kJ.
b) 64,8 kJ.
c) 36 kJ.
d) 1,2 kJ.
e) 0 kJ.

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Questão 5
5. Durante o resfriamento de um objeto, a sua temperatura reduziu de 250
°C para 30 °C. Assinale a alternativa que apresenta a temperatura inicial e
final do objeto, respectivamente.

a) 250 °F e 30 K.
b) 523,15 K e 86 °F.
c) 273,15 K e 32 °F.
d) 450 °F e 303,15 K.
e) 523,15 K e 30 °F.

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Gabarito
1. Resposta: B. 4. Resposta: C.
A lei zero da termodinâmica nos diz que dois Tanto a escala Celsius quanto a escala Kel-
corpos estarão em equilíbrio térmico se am- vin são divididas em 100 partes, portanto
bos tiverem a mesma leitura de temperatu- uma certa variação de temperatura na es-
ra, medida por um termômetro, mesmo que cala Celsius será igual à variação na escala
os corpos não estejam em contato. Kelvin.

2. Resposta: E. 5. Resposta: B.
Utiliza-se a equação para calcular Para converter Celsius para Kelvin, soma-se
a energia cinética. 273,15 ao valor em °C. Para converter Cel-
sius para Fahrenheit, utiliza-se a relação:
3. Resposta: A. T(°F) = T(°C) . 9/5 + 32.
Utiliza-se a equação para calcu-
lar a energia potencial.

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Unidade 2
Primeira lei da termodinâmica

Objetivos

1. Introduzir o conceito de trabalho de


fronteira móvel.
2. Apresentar o balanço de energia para
sistemas fechados.
3. Apresentar o balanço de energia para
sistemas abertos (volumes de con-
trole).

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Introdução

No tema 1, foram expostos alguns dos prin- mes de controle. Será apresentado também
cipais conceitos básicos da termodinâmica, o conceito de entalpia, propriedade funda-
os diferentes tipos de energia, bem como as mental no estudo da termodinâmica.
formas de transferência de energia por calor
e por trabalho. Vimos também que existem 1. Trabalho de fronteira móvel
diferentes tipos de trabalho: trabalho me-
cânico, trabalho elétrico, trabalho de eixo e Trata-se de um tipo de trabalho mecânico
trabalho de tração sobre uma mola. que está associado à expansão ou com-
pressão de gases em arranjos pistão-ci-
Neste tema, trabalharemos com a “Primeira
lindro. Esse tipo de trabalho é comumente
Lei da Termodinâmica”, que trata da conser-
encontrado em compressores e motores
vação da energia para sistemas fechados e
veiculares, em que o gás se expande ao
abertos, também denominados volumes de
entrar em combustão, fazendo o pistão se
controle. Iniciaremos observando que exis-
movimentar.
te um tipo de trabalho chamado trabalho de
fronteira móvel, muito comum em proces-
sos que envolvem pistão-cilindro. Após isso,
aplicaremos o conceito da conservação da
energia para sistemas fechados e para volu-
39/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica
Para um processo de quase equilíbrio, a Figura 1 – A área abaixo da curva do diagrama P-V re-
presenta o trabalho de fronteira móvel do sistema
equação do trabalho de fronteira móvel é:

Onde P é a pressão absoluta do gás e dV é a


diferencial do volume do sistema.
Pela equação apresentada, vemos que a
pressão P pode ser uma função do volume
V. Se essa função, P = P(V), for conhecida, o
trabalho de compressão ou expansão pode
ser interpretado como a área sob a curva
em um diagrama pressão-volume, confor-
me ilustra a Figura 1.
Fonte: Çengel (2015, p.165).

40/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica


velocidades), são necessárias medições ex-
Para saber mais perimentais para a obtenção correta do tra-
balho associado.
Existem diversas correlações para a estimativa do
comportamento PVT (pressão-volume-tempera-
tura) de substâncias puras e misturas. Obviamen- Para saber mais
te, dependendo das interações inter e intramole- Um processo politrópico é aquele em que a pres-
cular, uma expressão pode ser adequada a deter- são e o volume de um gás são relacionados por
minado sistema e a outro, não. uma expressão da forma pV n = constante, que
ocorre sem troca de energia na forma de calor e
Como foi discutido no Tema 01 desta dis- reversivelmente.
ciplina, os processos quase estáticos não
correspondem aos processos reais. Saben-
do que a equação para o cálculo do trabalho
2. Balanço de energia em siste-
de fronteira móvel é deduzida para proces- mas fechados
sos quase estáticos, podemos esperar que
Segundo Çengel (2007, p.58), o princípio da
erros estejam associados a esse cálculo. Em
conservação de energia nos diz que: “a va-
processos nos quais a variação do volume
riação líquida (aumento ou diminuição) da
ocorre em curtos espaços de tempo (altas
energia total do sistema durante um pro-
41/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica
cesso é igual à diferença entre a energia total que entra e a energia total que sai do sistema du-
rante este processo”. Em síntese, podemos dizer que:

Ou, na forma matemática:

Considerando as formas de energia (cinética, potencial e interna) e de transferência de energia


(calor e trabalho) vistas no Tema 01, podemos escrever a equação mostrada como:

42/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica


Onde:

Conhecendo-se os estados final (sub índice 2) e inicial (sub índice 1), é possível encontrar os va-
lores de u2 e u1 por meio de tabelas termodinâmicas ou equações de estado.

Para saber mais


As tabelas termodinâmicas são extremamente úteis nos cálculos de balanço de energia. Tendo obtido o
valor de pelo menos uma das propriedades termodinâmicas intensivas, com o uso das tabelas, é possível
encontrar diversas outras. Essas tabelas podem ser encontradas em apêndices de livros de termodinâmica.

Para que o sistema tenha variação de energia cinética, é necessário que seja um sistema não esta-
cionário e que sua velocidade final seja diferente de sua velocidade inicial. Da mesma forma, para
que tenha variação de energia potencial, é necessário ser um sistema móvel e ter uma variação
43/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica
na altura do seu estado final para seu esta-
do inicial. Caso o sistema seja estacionário,
as variações de energia cinética e potencial
serão iguais a zero, portanto O segundo tipo é definido como a taxa de
variação da entalpia específica com relação
2.1 Calores específicos à temperatura, em um processo a pressão
constante.
O calor específico é definido como a ener-
gia necessária para elevar em um grau a
temperatura de uma massa de 1 kg de uma
substância. Comumente, definimos, pela
A unidade do calor específico no sistema in-
termodinâmica, dois tipos de calor especí-
ternacional é kJ/kg⋅K.
fico: calor específico a volume constante e
calor especifico a pressão constante. Para sólidos e líquidos (substâncias consi-
deradas incompressíveis), os calores espe-
O primeiro tipo é definido como a taxa de
cíficos a pressão constante e a volume cons-
variação da energia interna específica com
tante são muito parecidos, de forma que:
relação à temperatura, em um processo a
volume constante.
44/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica
Se o processo envolvendo substâncias só- temperatura, os calores específicos podem
lidas ou líquidas não ocorrer em um inter- ser considerados constantes:
valo muito grande de temperatura ou com
temperaturas muito baixas, as variações da
energia interna e da entalpia podem ser de-
terminadas por:
Onde cvo e cpo são os calores específicos a vo-
lume constante e a pressão constante.
Caso o processo envolva mudança de fase
(sólido-líquido ou líquido-sólido), deve-se
2.2 Entalpia
acrescentar o termo calor latente de fusão
Propriedade termodinâmica resultante da
ou calor latente de solidificação à variação
combinação de outras propriedades: ener-
da entalpia.
gia interna, pressão e volume. Na verdade,
Para gases ideais, a energia interna é fun- ela advém de uma transformada de Legen-
ção apenas da temperatura. Assim, para os dre. A combinação dessas três propriedades
gases monoatômicos, em qualquer faixa de é frequentemente encontrada na análise de
temperatura, e para os gases diatômicos ou processos termodinâmicos, como nas gera-
poliatômicos, em determinadas faixas de ções de potência e refrigeração. O termo en-
45/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica
talpia, designado pela letra H, surgiu como
uma forma de simplificação dos cálculos. Link
Sua unidade no SI é o joule (J) e é calculada a A transformação de Legendre 1D é essencial para
partir da equação: definir as principais energias da termodinâmica,
como: entalpia, energia de Gibbs e energia de Hel-
mholtz. Acesse o site para verificar como essa fer-
ou por unidade de matéria (h), tal como ramenta matemática é utilizada. Disponível em:
massa e mols: <http://professor.ufabc.edu.br/~german.lu-
gones/site/BC1330_Principios_de_Termo-
dinamica_files/Capitulo05.pdf>. Acesso em: 7
Na análise de processos termodinâmicos, set. 2017.
o mais importante não é conhecer o valor
absoluto da entalpia de determinada subs- 3. Balanço de energia em volu-
tância, mas sim a variação da entalpia en- mes de controle
tre dois estados termodinâmicos distintos.
Para processos realizados a pressão cons- Na seção anterior, vimos o balanço de ener-
tante, a variação da entalpia corresponde gia para sistemas fechados e a definição
ao calor absorvido pelo sistema. de entalpia. Agora, trabalharemos com a

46/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica


equação da conservação da massa para vo-
lumes de controle, ou seja, sistemas em que Link
há fluxo de entrada e/ou saída de massa em A velocidade média pode ser calculada com base
determinada região. Portanto, antes de par- ∫ VdA
tirmos para a equação da conservação, va- na definição: Vel= A , em que V representa o
A
mos entender melhor o significado de fluxo
de massa. perfil de velocidades, o qual pode ser parabólico,
se o escoamento interno for de fluido newtoniano
A “vazão mássica”, ou taxa mássica, é a
em regime laminar, ou pode ser representado pela
quantidade total de massa que escoa atra-
expressão de Herschel-Bulkley, caso seja não
vés de uma área por unidade de tempo. Nas
newtoniano e aplicada a lei de potência, se o es-
equações, é representada por ṁ, e o ponto
coamento for interno e estiver em regime turbu-
sobre a letra indica que há variação da pro-
lento. Para maiores detalhes sobre o cálculo da
priedade com o tempo. Uma expressão para
a vazão mássica pode ser escrita em função velocidade média do escoamento, visite: <http://
da massa específica do fluido (ρ), da área www.ufrgs.br/medterm/areas/area-ii/va-
transversal ao escoamento (A) e da veloci- zao_mt.pdf>. Acesso em: 24 set. 2017.
dade média do escoamento (Vel):
A equação apresentada é extremamente
útil no estudo de processos termodinâmicos
47/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica
em volumes de controle. As unidades mais utilizadas da vazão mássica são o kg/s ou kg/h. Ima-
ginando um volume de controle que corresponda a uma tubulação que escoa água, por exemplo,
a expressão descreve quantos kg de água passam por ela a cada segundo.
Caso estejamos interessados no cálculo do volume de fluido (ao invés da massa) que atravessa
dada área transversal ao escoamento, por unidade de tempo, utilizamos a equação da “vazão
volumétrica” :

A lei da conservação da massa para volumes de controle estabelece que:

48/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica


Essa lei pode ser expressa como: po, ou seja, equivale ao acúmulo mássico. O
símbolo do somatório é utilizado, pois pode
haver múltiplas entradas e saídas de massa
do volume de controle.
Onde:
Caso a soma de todas as vazões mássicas
Ʃṁe é o somatório instantâneo das taxas que ingressam no volume de controle seja
de massa de ingresso no volume de contro- igual à soma das vazões mássicas que saem
le. dele, não haverá variações na quantidade
de massa no seu interior ao longo do tempo.
Ʃṁs é o somatório instantâneo das taxas
de massa de saída do volume de controle. Para essa situação, dizemos que o sistema
dmvc se encontra em regime permanente de es-
é a taxa de variação instantânea da coamento, e a equação se resume a:
dt
massa no interior do volume de controle.
Podemos dizer, então, que a equação su-
pracitada estabelece que a diferença entre De acordo com a Primeira Lei da Termodinâ-
a quantidade de massa que entra e que sai mica, a taxa de variação da energia que um
do volume de controle é igual à variação da sistema possui com o tempo é igual à dife-
massa no seu interior, por unidade de tem- rença entre os fluxos de energia que entram
49/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica
e saem do sistema na forma de calor ou tra- fluido que já saiu e que está imediatamente
balho. Porém, quando esse sistema for um a sua frente.
volume de controle, haverá o acréscimo de Os fluxos de energia associados aos fluxos
dois termos adicionais associados à energia mássicos que entram ou saem do volume de
que entra e à que sai junto da massa no vo- controle podem ser expressos por:
lume de controle. Esses termos são chama-
dos trabalho de fluxo ou trabalho de escoa-
mento.
Quando o fluido ingressa em um volume de Na equação anterior, os termos entre pa-
controle, encontra uma resistência ofere- rênteses correspondem a energia cinética,
cida pelo fluido que já ingressou e que está potencial, interna e ao trabalho de fluxo,
a sua frente. Para vencer essa resistência, é respectivamente. Com base na definição de
necessário que uma força de magnitude ao entalpia, os dois últimos termos podem ser
menos igual à da resistência seja aplicada. reunidos:
O trabalho efetuado por essa força é cha-
mado trabalho de fluxo. Da mesma forma,
ao sair de um volume de controle, o fluido
deve vencer a resistência provocada pelo
50/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica
Considerando todos os termos da Primeira Lei para sistemas fechados, mais o termo do fluxo de
energia que entra ou sai com a massa, chegamos na equação da conservação da energia para
volumes de controle, que pode ser escrita como:

4. Dispositivos de engenharia com escoamento em regime permanete

A equação da Primeira Lei da Termodinâmica é utilizada na análise do escoamento em diversos


equipamentos de engenharia, tais como bocais, compressores, turbinas, caldeiras, entre outros.
Na operação desses equipamentos, existem dois diferentes períodos de tempo: o regime transien-
te e o regime permanente. O primeiro, tipicamente, compreende o período de entrada em funcio-
namento e de parada dos equipamentos, em que o tempo representa um papel importante. Já o
regime permanente é o processo no qual as propriedades do fluido podem sofrer mudança de um
ponto para outro dentro do volume de controle, mas, em um ponto fixo, não variam com o tempo.

51/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica


Muitos equipamentos de engenharia ope- Figura 2 – Bocal (Nozzle) e Difusor (Diffuser)

ram essencialmente em regime perma-


nente, pois o período de transição entre
as condições do regime transiente para o
permanente é praticamente insignificante.
Portanto, analisaremos agora como aplicar
a Primeira Lei da Termodinâmica para vo-
lumes de controle em alguns dos principais
equipamentos de engenharia operando em
regime permanente.

4.1 Bocais e difusores

Os bocais são dispositivos utilizados para


aumentar a velocidade de um escoamento
e causar uma queda de pressão. Já os difu- Fonte: Çengel (2015, p.229).

sores produzem efeito contrário, diminuin- Em bocais e difusores, a taxa de transferên-


do a velocidade e aumentando a pressão do cia de calor entre o fluido que escoa e sua
escoamento (Figura 2). vizinhança é geralmente muito pequena,
52/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica
devido às altas velocidades do fluido e ao 4.2 Trocadores de calor
pouco tempo de permanência dentro do
dispositivo. Além disso, esses dispositivos Equipamentos amplamente utilizados nas
normalmente não envolvem trabalho de indústrias (alimentícia e química, por exem-
eixo/elétrico, e a variação na energia po- plo), cuja função é promover a transferência
tencial, caso haja, é quase sempre despre- de calor entre dois fluidos em escoamento,
zível diante dos demais termos. Portanto, a sem a necessidade de misturar os fluxos.
equação da Primeira Lei da Termodinâmica Existem diversos tipos de trocadores de ca-
para bocais e difusores se resume a: lor, sendo o tipo mais simples o trocador
de calor de duplo tubo (ou carcaça e tubo),
mostrado na Figura 3.

53/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica


Figura 3 – Trocador de calor duplo tubo. zíveis. A troca de calor entre os fluidos que
escoam dentro do trocador e a vizinhança
também é desprezível, portanto, ao consi-
derar um volume de controle que envolva
ambos os fluidos, a equação da Primeira Lei
da Termodinâmica resulta em:

Caso o volume de controle selecionado en-


volva apenas um dos fluidos dentro do tro-
cador, então o calor atravessará a fronteira
ao se transferir de um fluido para outro, e o
termo Q não será nulo. Assim, a equação fica:
Fonte: Çengel (2015, p. 238).

Normalmente, nos trocadores de calor, não


há interações de trabalho, e as variações das A equação anterior é usualmente utilizada
energias potencial e cinética são despre- na análise de trocadores de calor do tipo
54/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica
caldeiras, condensadores e evaporadores. A 4.3 Turbinas
caldeira tem a finalidade de aquecer água,
produzindo vapor. Um condensador é um Dispositivos mecânicos utilizados para
trocador de calor em que um dos fluidos acionar geradores elétricos nas usinas a va-
cede calor de forma que sofre condensação. por, a gás e hidrelétricas. Conforme o flui-
Já o evaporador é um trocador de calor no do escoa através das turbinas, provoca a
qual um dos fluidos recebe calor em condi- rotação de seu eixo e, assim, a produção de
ções tais que sofre evaporação. trabalho. Em geral, a transferência de calor
em uma turbina é desprezível devido ao seu
bom isolamento. A diferença de energia po-
Link tencial também pode ser geralmente des-
Para mais informações a respeito de trocadores prezada. Porém, como as velocidades dos
de calor, visite: <http://www.ufjf.br/washing- escoamentos são muito altas nas turbinas,
ton_irrazabal/files/2014/05/Aula-23_Troca- costuma haver variação na energia cinética,
dores-de-Calor.pdf>. Acesso em: 4 set. 2017. mas, geralmente, esse termo é pequeno se
comparado à variação da entalpia entre a
entrada e a saída da turbina, portanto tam-
bém pode ser desprezado. Assim, a equação

55/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica


da Primeira Lei da Termodinâmica para uma transferência de calor usualmente é man-
turbina é expressa por: tido, pois tanto bombas quanto compres-
sores, além de provocarem o aumento da
pressão do fluido, causam um aumento em
sua temperatura. Assim, se não forem bem
isolados, haverá troca de calor com o am-
4.4 Compressores e bombas
biente. Sabendo que, usualmente, bombas
Os compressores são dispositivos utiliza- e compressores apresentam somente uma
dos para aumentar a pressão de um fluido. entrada e uma saída, a equação da Primei-
Ao contrário da turbina, que é usada para ra Lei da Termodinâmica pode ser escrita
produzir trabalho, o compressor consome como:
trabalho de uma fonte externa. As bombas
funcionam de forma similar, a diferença é
que os compressores trabalham na com-
pressão de gases, ao passo que as bombas 4.5 Válvulas de expansão
lidam com líquidos. Para ambos os disposi-
Também conhecidas como válvulas de es-
tivos, é usual desconsiderar a variação das
trangulamento, são dispositivos muito uti-
energias cinética e potencial. Já o termo de
56/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica
lizados, em ciclos de refrigeração, para di-
minuir a pressão do fluido refrigerante e
consequentemente sua temperatura. Usu-
almente esses dispositivos são constituídos
de tubos muito finos e extensos, provocan-
do uma grande fricção entre o fluido e as
paredes do tubo, fazendo com que a pressão
diminua. Como normalmente são dispositi-
vos muito pequenos, não há área nem tem-
po suficiente para haver uma troca de calor
considerável, por isso esse termo é despre-
zado. Da mesma forma, não há trabalho en-
volvido e a variação das energias cinética e
potencial é considerada desprezível. Assim,
a equação da conservação da energia para
as válvulas de expansão se resume a:

57/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica


Glossário
Gases monoatômicos: aqueles que apresentam somente um átomo. Ex.: hélio (He).
Gases diatômicos: aqueles que apresentam dois átomos. Ex.: oxigênio (O2).
Gases poliatômicos: aqueles que apresentam mais de dois átomos.

58/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica


?
Questão
para
reflexão
A Primeira Lei da Termodinâmica pode ser utilizada tanto para a
análise de equipamentos industriais mais complexos quanto para
situações cotidianas, como o aquecimento de água em uma cha-
leira. Com base na equação da Primeira Lei da Termodinâmica para
sistemas fechados (Q - W = ΔEc + ΔEp + ΔU), faça uma análise termo
a termo das situações descritas a seguir e verifique qual(is) pode(m)
ser desprezado(s).
a) Água sendo aquecida em uma chaleira (o sistema é a chaleira
mais a água, e a massa da água evaporada é desprezível).
b) Água sendo agitada por pás rotativas no interior de um recipien-
te termicamente isolado (sistema: recipiente mais água).
59/210
?
Questão
para
reflexão

c) Levantamento de um peso (sistema: peso).


d) Chute em uma bola de futebol (sistema: bola).
e) Uma pessoa subindo uma escada (sistema: pessoa).

60/210
Considerações Finais

• Apresentamos uma nova forma de trabalho mecânico, denominada traba-


lho de fluxo.
• Uma breve explicação sobre vazão mássica foi dada, propriedade extrema-
mente importante no estudo da termodinâmica.
• Foi introduzida a Primeira Lei da Termodinâmica para sistemas fechados.
• Foi introduzida a Primeira Lei da Termodinâmica para volumes de controle.
• Foi realizada uma análise termodinâmica em alguns dos principais equipa-
mentos de fluxo para a engenharia.

61/210
Referências

ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 5. ed. São Paulo: Bookman, 2007.


ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Thermodynamics: an Engineering approach. 7. ed. New York: Mc-
Graw-Hill, 2015.
KROOS, K. A.; POTTER, M. C. Termodinâmica para engenheiros. 1. ed. São Paulo: Cengage Learn-
ing, 2015.
MORAN, M. J.; SHAPIRO, H. N; BOETTNER, D. D.; BAILEY, M. B. Princípios de termodinâmica para
engenharia. 7. ed. São Paulo: LTC, 2013.

62/210 Unidade 2 • Primeira lei da termodinâmica


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7f9ccab86e0ad9e2a7fbb0aba2031d05>. 1f3930d24e659ebd9ecfb3a366e9a98a>.

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Questão 1
1. Assinale a alternativa correta. A energia interna de um gás ideal depende de:

a) temperatura, pressão e calores específicos.


b) temperatura, entalpia e calores específicos.
c) temperatura, entropia e calores específicos.
d) apenas da temperatura.
e) apenas da entalpia.

64/210
Questão 2
2. Assinale a alternativa que indica quando um escoamento em regime per-
manente ocorre.

a) As propriedades termodinâmicas não se alteram com o tempo em nenhum ponto do esco-


amento.
b) As propriedades termodinâmicas são as mesmas em qualquer ponto do escoamento e em
qualquer instante de tempo.
c) As propriedades termodinâmicas se alteram constantemente com o tempo.
d) Somente as propriedades intensivas se alteram com o tempo.
e) Somente as propriedades extensivas se alteram com o tempo.

65/210
Questão 3
3. Assinale a alternativa correta a respeito da Primeira Lei da Termodinâmica
para escoamento permanente.

a) Representa toda a energia que entra e sai de um volume de controle.


b) É um balanço energético para determinada massa de fluido.
c) É uma expressão da conservação do momento linear.
d) Trata principalmente da transferência de calor.
e) É restrita em sua aplicação a gases ideais.

66/210
Questão 4
4. Assinale a alternativa correta. Quando o gás é aquecido a uma pressão cons-
tante, o calor fornecido:

a) Aumenta a energia interna do gás.


b) Aumenta a temperatura do gás.
c) Faz algum trabalho externo durante a expansão.
d) Aumenta tanto a energia interna do gás quanto a sua temperatura.
e) Aumenta o volume e não a temperatura.

67/210
Questão 5
5. Vapor d’água saturado a 150 °C, contido em um recipiente rígido de 50
litros, recebe calor até que sua pressão atinja 600 kPa. Assinale a alternativa
que indica o calor recebido pelo vapor.

a) 40,35 kJ.
b) 3,47 kJ.
c) 20,28 kJ.
d) 17,45 kJ.
e) 28,28 kJ.

68/210
Gabarito
1. Resposta: D. entram e que saem do sistema na forma de
calor ou trabalho.
Considerando um gás ideal, a variação da
energia interna depende somente da tem- 4. Resposta: D.
peratura.
Em um processo isobárico (pressão cons-
2. Resposta: A. tante), a transferência de calor para um gás
causará o aumento da sua energia interna e
Em regime permanente, poderá haver va- também elevará sua temperatura.
riação das propriedades termodinâmicas de
um ponto a outro, porém, num mesmo pon- 5. Resposta: C.
to, não se alterará com o tempo.
É necessário utilizar a equação da Primei-
3. Resposta: A. ra Lei para sistemas fechados. Despre-
za-se os termos de energia cinética, po-
A definição da Primeira Lei da Termodinâ- tencial e trabalho e encontra-se o calor
mica diz que a taxa de variação da energia pela equação Os dados de
que um sistema possui com o tempo é igual e são
à diferença entre os fluxos de energia que obtidos a partir das tabelas termodinâmicas
69/210
Gabarito
presentes no Apêndice 1 de Çengel (2015,
p. 909), assim como a massa específica de
vapor saturado a 150 °C, que corresponde a
0,39278 m³/kg. Como se tem 50 L e o siste-
ma é fechado, a massa do sistema é 0,1273
kg. Assim, a transferência de calor pode ser
determinada por: Q = 0,1273 . (2718,42 -
2559,1), que resulta em 20,28 kg.

70/210
Unidade 3
Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica

Objetivos

1. Apresentar a importância da segunda lei


da termodinâmica para os processos.
2. Discutir brevemente que apenas a primei-
ra lei da termodinâmica não é suficiente
para orientar os fenômenos naturais.
3. Apresentar os principais conceitos e tipos
de máquinas térmicas.
4. Diferenciar processos reversíveis e irre-
versíveis, bem como o equacionamento e
a definição de entropia, que é aplicada à
terceira lei da termodinâmica.
71/210
Introdução

Até esse momento, fomos capazes de ana- ca, a qual nos prova que a energia sempre se
lisar termodinamicamente processos em conserva, assim, justifica-se economizá-la?
sistemas abertos ou fechados utilizando os Esses e outros questionamentos nos moti-
princípios da conservação de massa e ener- varão ao estudo da segunda e terceira leis
gia. Entretanto, somente esses fundamen- da termodinâmica.
tos não são suficientes; tomemos um sim-
ples exemplo em que dispomos de dois cor- 1. Segunda lei da termodinâmi-
pos com temperaturas distintas, um quente ca
e um frio. Naturalmente, caso esses corpos
sejam colocados em contato, haverá uma Geralmente essa lei é enunciada por: a en-
troca térmica até que o equilíbrio térmico tropia de um sistema isolado aumenta em
seja alcançado. Mas, em que direção haverá qualquer processo espontâneo, ou seja, a
o fluxo de calor? Seria possível ocorrer uma entropia do universo aumenta constante-
inversão desse fenômeno? Ademais, apesar mente em um processo sem intervenção
de sermos lembrados a todo instante para externa, sendo possível que a entropia de
economizar energia nas nossas atividades um sistema diminua desde que a entropia
cotidianas, esse fato não é embasado de da vizinhança aumente. Assim, devemos
acordo com a primeira lei da termodinâmi- analisar dois conceitos importantes: entro-

72/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica


pia e espontaneidade; para isso, precisamos a transferência de energia sob a forma de
compreender alguns enunciados. calor de um corpo mais frio para um corpo
mais quente” (CLAUSIUS, 1855 apud MO-
Para saber mais RAN et al., 2013, p. 186). Esse enunciado
informa que não é impossível a troca de ca-
A segunda lei da termodinâmica corresponde a lor de um corpo frio para um quente, afinal
uma das construções intelectuais mais instigan- essa é a ideia dos refrigeradores, que se uti-
tes. Desde as suas primeiras especulações, da- lizam do trabalho de motores elétricos para
tadas no século XIX, tem sido alvo de discussões esses sistemas funcionarem.
entre cientistas dos mais variados ramos; mesmo
tendo foco em sistemas macroscópicos, é tam- 1.2 Enunciado de Kelvin-Planck
bém utilizada em fenômenos sociais, economia e
filosofia. “É impossível para qualquer sistema ope-
rar em um ciclo termodinâmico e fornecer
1.1 Enunciado de Clausius da uma quantidade líquida de trabalho para
Segunda Lei a sua vizinhança enquanto recebe energia
por transferência de calor de um único re-
“É impossível para qualquer sistema operar servatório térmico” (MORAN et al., 2013, p.
de tal maneira que o único resultado seja
73/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica
186). Note que esse enunciado nos sugere Figura 1 – Sistema em um ciclo de potência

que é possível desenvolver uma quantidade


de trabalho a partir da energia na forma de
calor.
Assim, observamos uma correspondência
entre os dois enunciados citados, de tal sor-
te que o descumprimento de um resulta na
violação do outro. Fonte: adaptado de Çengel (2007, p.184).

Utilizando-se do enunciado de Kelvin-Plan-


1.3 Segunda Lei: ciclos de po-
ck e pelo balanço de energia, podemos de-
tência
finir a eficiência do ciclo de potência (η)
Consideraremos um sistema que executa seguindo a ideia: o que se deseja ao cus-
um ciclo enquanto se comunica termica- to de, ou seja, desejamos realizar trabalho
mente com dois reservatórios térmicos, um mecânico ao custo da energia na forma de
quente e um frio, e realiza trabalho, confor- calor do reservatório quente. Além disso,
me ilustra a Figura 1. de acordo com a primeira lei da termodinâ-
mica, a energia deve se conservar e a taxa

74/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica


de calor da fonte quente (QH) deve ser igual • Ciclos de potência reversíveis operan-
ao trabalho (W) mais a taxa de transferên- do entre os mesmos dois reservató-
cia de calor do sistema para a fonte fria (QC). rios térmicos têm a mesma eficiência
Então, a equação de eficiência térmica é ex- térmica.
pressa por:
Para saber mais
Processos irreversíveis são assim denominados
caso o sistema e as partes que compõem sua
Nesse sentido, observamos três pontos im- vizinhança não puderem restabelecer precisa-
portantes: mente os estados iniciais após algum processo;
do contrário, temos os processos reversíveis. A
• A eficiência de um ciclo de potência é
segunda lei da termodinâmica é a responsável
sempre inferior a 100%.
pela definição de reversibilidade ou não. Mas, já
• A eficiência de um ciclo de potência podemos ficar atentos para a presença de atri-
irreversível é sempre inferior à de um to, resistência elétrica, histerese e deformação
reversível. inelástica, que caracterizam uma irreversibilida-
de, e assim podemos afirmar que todos os pro-
cessos reais são irreversíveis.

75/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica


1.4 Segunda Lei: ciclos de refri-
geração e bomba de calor

Caso seja necessário armazenar alimentos a Com relação à bomba de calor, o sentido
baixas temperaturas para evitar a prolifera- das energias é exatamente igual ao dos re-
ção de bactérias, ou manter a temperatura frigeradores, a diferença está no objetivo de
de equipamentos eletrônicos, utilizaremos cada sistema. Logo, a bomba de calor é pro-
sistemas de refrigeração. Assim, temos uma jetada para manter um espaço aquecido a
máquina térmica que permuta calor do sis- uma temperatura alta por meio da remoção
tema mais frio para o mais quente a partir de calor de uma fonte a baixa temperatura.
de um processo não espontâneo, ou seja, do Assim, o desempenho (γ) é dado por:
fornecimento externo de energia, promovi-
do pelo compressor, por exemplo. Dessa for-
ma, temos como variável desejada a trans-
ferência de calor do corpo frio ao custo de
trabalho. Definindo, portanto, o coeficiente
de desempenho (β) para esse sistema con-
forme mostra a equação que se segue.

76/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica


modinâmica de temperatura (T), sendo a
Link escala absoluta Kelvin a mais simples, defi-
nida, para um processo reversível, por:
Uma ilustração referente ao ciclo de refrigera-
ção por compressão pode ser vista no link indi-
cado. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=GOcYBE09BVE>. Acesso em:
Observe que, a partir da definição da escala
20 set. 2017.
absoluta de temperatura em Kelvin, a equa-
ção para determinação de eficiência térmi-
1.5 Escala de temperatura ca de um ciclo de potência reversível (logo,
a máxima eficiência) pode ser expressa por:
A partir dos ciclos vistos, verificou-se que,
Nos livros de termodinâmica,
caso estejam operando entre os mesmos
essa eficiência é denominada “eficiência de
dois reservatórios, estes têm igual eficiên-
Carnot”. Analogamente, os ciclos de refrige-
cia. Então, a diferença de temperatura entre
ração e bomba de calor terão os coeficien-
os reservatórios é a responsável pela trans-
tes de desempenho expressos, respectiva-
ferência de calor e realização ou demanda
mente, por:
de trabalho. Essa observação é o alicerce
para o esclarecimento de uma escala ter-
77/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica
para um ciclo reversível, temos: QH – QC > 0 e
Link QH/TH – QC/TC = 0, então

O ciclo de Carnot exemplifica ciclos termodinâ- Quando estamos diante de um ciclo irre-
micos reversíveis operando entre dois reserva- versível com TH, TC e QH constantes, temos
tórios térmicos. Nesse ciclo de potência, temos que WIRREV < WREV, então QH – QC,IRREV < QH
as seguintes etapas: compressão adiabática, – QC,REV, finalmente, QC,IRREV > QC,REV, então
expansão isotérmica, expansão adiabática e
compressão isotérmica. Confira o vídeo que ex- É possível provar que é constante e
plana melhor sobre o assunto. Disponível em: independe do caminho percorrido pelo flui-
<https://www.youtube.com/watch?v=X- do num processo para todos os caminhos
pEUEs2wRIQ>. Acesso em: 15 set. 2017. reversíveis entre dois estados. Assim, por
ser uma propriedade de estado, definiu-se a
1.6 Desigualdade de Clausius e entropia (S) como:
entropia

A desigualdade de Clausius pode ser aplica-


da em qualquer ciclo que recebe ou rejeita
energia na forma de calor. De tal forma que,
78/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica
Estamos diante de uma função de estado
que relaciona a distribuição de energia, na Link
forma de calor, de um sistema. A segunda lei da termodinâmica e seus adendos
Conforme discutimos no tema 01, dada relacionados à irreversibilidade são explicados, em
quantidade pode ser denominada proprie- detalhes, em: <https://www.youtube.com/wa-
dade caso sua variação entre dois estados tch?v=5FiDZoJoxN0>. Acesso em: 25 set. 2017.
independa do processo ou caminho per-
corrido. Assim, devemos analisar o balanço 1.7 Terceira Lei da Termodinâ-
de entropia de tal modo que a variação da mica
quantidade de entropia contida no sistema
durante certo intervalo de tempo resulte da Em processos com temperatura e pressão
quantidade líquida de entropia transferida constantes, em que ocorre uma transfe-
para dentro através da fronteira do sistema rência de calor entre o sistema e a sua vi-
no referido intervalo de tempo, mais o efei- zinhança, podemos expressar a variação da
to da produção de entropia no interior do entropia do meio externo (ME) por:
sistema, caso existam condições não ideais,
ditas irreversibilidades, como o atrito.

79/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica


A partir dessa expressão, é possível definir a segunda lei da termodinâmica como:

Por definição, em processos isotérmicos, temos que: −∆GSIS = T∆SSIS − ∆HSIS , então T∆SUNIV = −∆GSIS
. Essa relação é extremamente importante, uma vez que identifica variações no universo em fun-
ção de uma propriedade (G, energia de Gibbs) do sistema, que define a espontaneidade dos pro-
cessos segundo determinada temperatura e pressão, onde:
• Processo reversível (equilíbrio): ∆GT,P = 0 .
• Processo irreversível (natural ou espontâneo): ∆GT,P < 0 .
• Processo antinatural: ∆GT,P > 0 .
Observamos que existe uma tendência em diminuir a energia do sistema e aumentar sua desor-
dem.
Com isso, temos a terceira lei da termodinâmica, enunciada por Nernst apud Allen (2015, p. 230)
como “A entropia de uma substância pura e perfeitamente cristalina é zero no zero absoluto
de temperatura, na qual observa-se que a entropia varia dramaticamente em uma mudança de
fase”, ocorre então um aumento de entropia quando se aquece uma substância a partir do zero

80/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica


absoluto. Grandes avanços tecnológicos
na área da física foram obtidos a partir das
conclusões de Nernst, por exemplo a ob-
tenção de temperaturas próximas ao zero,
que corresponde aos princípios que regem Para saber mais
os supercondutores, ou seja, dispositivos O estudo de supercondutores baseia-se nos con-
que tendem a conduzir corrente elétrica a ceitos de condutividade e resistividade, sendo que
baixíssimas temperaturas e, com isso, não a primeira reflete a propriedade que certos mate-
apresentam resistência ao fluxo elétrico e riais têm de realizar o transporte de cargas elétri-
às perdas energéticas. cas ao longo de sua rede de átomos. Já a resisti-
vidade é a oposição desse movimento. Conhecer
detalhes acerca dessas características é essencial
para estabelecer o funcionamento e aplicação
dos supercondutores.

81/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica


Glossário
Reservatório térmico: sistema fechado que permanece com a temperatura constante mesmo
que energia seja adicionada ou removida. Podemos citar como exemplos de reservatórios térmi-
cos a atmosfera terrestre e o oceano.
Espontaneidade: uma reação é espontânea quando prossegue por si mesma, tem um sentido
definido para acontecer e a transformação inversa necessita de energia útil das vizinhanças do
sistema.
Escala absoluta de temperatura: no zero absoluto, não há agitação molecular, portanto é o
limite inferior de temperatura correspondente a zero Kelvin. Mas a física moderna não aceita
momentos da estrutura com movimento nulo das moléculas.

82/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica


?
Questão
para
reflexão

De acordo com o conteúdo abordado referente aos ci-


clos reversíveis e ao rendimento das máquinas térmi-
cas, reflita: qual a maior contribuição dada por Carnot
para a termodinâmica?

83/210
Considerações Finais

• A primeira lei nos diz que a energia do universo é constante, e a segunda lei
nos mostra que a entropia do universo aumenta constantemente.
• É possível que a entropia de um sistema diminua, desde que a entropia da
vizinhança aumente.
• A variação de entropia de um sistema isolado é positiva se percorre um pro-
cesso espontâneo.
• Apresentamos as expressões que quantificam a eficiência de máquinas tér-
micas, bem como o coeficiente de desempenho de bombas de calor e refri-
geradores.

84/210
Referências

ALLEN, L. V. Introdução à farmácia de Remington. 1. ed. São Paulo: Artmed, 2015.


ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 5. ed. São Paulo: Bookman, 2007.
KROOS, K. A.; POTTER, M. C. Termodinâmica para engenheiros. 1. ed. São Paulo: Cengage Learn-
ing, 2015.
MORAN, M. J.; SHAPIRO, H. N; BOETTNER, D. D.; BAILEY, M. B. Princípios de termodinâmica para
engenharia. 7. ed. São Paulo: LTC, 2013.

85/210 Unidade 3 • Segunda e Terceira Leis da Termodinâmica


Assista a suas aulas

Aula 3 - Tema: Segunda Lei da Termodinâmica. Aula 3 - Tema: Segunda Lei da Termodinâmica.
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86/210
Questão 1
1. Assinale a alternativa correta. A variação da entropia para um processo ir-
reversível será sempre:

a) zero.
b) positiva.
c) negativa.
d) tanto positiva quanto negativa.
e) infinita.

87/210
Questão 2
2. Assinale a alternativa que identifica os processos de um ciclo de Carnot.

a) Dois processos isobáricos e dois processos isotérmicos.


b) Dois processos adiabáticos e dois processos isocóricos.
c) Dois processos adiabáticos e dois processos isotérmicos.
d) Um processo adiabático, um processo isobárico e dois processos isentrópicos.
e) Dois processos isotérmicos e dois processos isocóricos.

88/210
Questão 3
3. Quais propriedades influenciam na máxima eficiência de uma máquina de
Carnot?

a) Apenas o atrito.
b) Tanto a temperatura da fonte quanto a do sumidouro.
c) Apenas o valor da temperatura do sumidouro.
d) Apenas o valor da temperatura da fonte.
e) A vazão utilizada e o fluido de trabalho.

89/210
Questão 4
4. Uma máquina térmica opera num ciclo de Carnot trocando calor com
dois reservatórios térmicos, um está a 610 °C e outro a 20 °C. Se a taxa de
transferência de calor entre os reservatórios for de 150 kW, a potência líqui-
da que pode ser obtida por ela será de aproximadamente:

a) 120 kW.
b) 100 kW.
c) 115 kW.
d) 85 kW.
e) 150 kW.

90/210
Questão 5
5. Uma máquina térmica troca calor entre dois reservatórios a 300 °C e 15
°C. A taxa de transferência de calor do reservatório quente para o frio é de
100 kW. Se a potência produzida for de 60 kW, determine a eficiência real
dessa máquina e se ela é reversível, irreversível ou impossível.

Eficiência de Carnot = 50%


Eficiência real = 60%
a) 50%, reversível.
b) 60%, irreversível.
c) 50%, irreversível.
d) 60%, impossível.
e) 60%, reversível.

91/210
Gabarito
1. Resposta: B. 4. Resposta: B.

Em um processo irreversível, a variação da Calcula-se inicialmente o COP da máquina


entropia será sempre positiva. térmica. Depois, divide-se a taxa de calor
fornecida pelo COP calculado.
2. Resposta: C.
5. Resposta: D.
O ciclo de Carnot é composto por quatro
A eficiência real da máquina nunca será
processos reversíveis, dois isotérmicos e
maior que a eficiência do ciclo de Carnot
dois adiabáticos.
(eficiência máxima). No caso do exercício,
a eficiência máxima é de aproximadamente
3. Resposta: B.
50%, e a eficiência real calculada é de 60%.
A eficiência de uma máquina de Carnot é Portanto, essa máquina térmica é impossí-
calculada por: 1 – TC/TH. Onde TC é a tem- vel de existir.
peratura da fonte fria (sumidouro) e TH é a
temperatura da fonte quente (fonte).

92/210
Unidade 4
Ciclos termodinâmicos

Objetivos

1. Apresentar os principais aspectos en-


volvidos nos ciclos termodinâmicos:
de potência e refrigeração.
2. Discorrer sobre ciclos a gás e a vapor.

93/210
Introdução
Os diversos dispositivos mecânicos e térmi- 1. Ciclo rankine
cos, como bombas, compressores, turbinas,
evaporadores e condensadores, são empre- As usinas nucleares, geotérmicas, de carvão
gados em um conjunto cíclico para atender ou queima de lixo empregam o ciclo Ranki-
a diversas necessidades do nosso cotidiano, ne, que utiliza equipamentos para a gera-
seja para o nosso conforto térmico, promo- ção de energia, conforme mostra a Figura 1.
vido pelo ar-condicionado, ou para o deslo- Figura 1 – Representação esquemática do ciclo de Rankine
camento em veículos motorizados.
É claro que, a depender da finalidade e dis-
ponibilidade, é preciso adaptar as condições
operacionais para o adequado funciona-
mento dos equipamentos. Por exemplo, as
plantas de energias renováveis, sendo estas
geotérmica, nuclear, hidráulica, biomassa,
entre outras, requerem o conhecimento de
propriedades e equações termodinâmicas
dos fluidos em questão. Neste tema, apre-
Fonte: elaborada pelo autor.
sentaremos os principais sistemas de po-
tência com as devidas particularidades.
94/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos
A bomba é responsável pela compressão seja, nenhuma perda na turbina, na bomba
da água líquida saturada a alta pressão. A e nos tubos de conexão.
caldeira adiciona energia na forma de ca- Figura 2 – Diagrama T-S de um ciclo de Rankine ideal

lor à água de alta pressão para gerar vapor


superaquecido, que, por sua vez, escoa por
uma turbina para a geração de energia. O
vapor que sai da turbina é condensado no
condensador, transformando-se em água
líquida saturada, que alimenta novamente a
bomba e assim o ciclo se repete. Dessa for-
ma, a eficiência do ciclo (ɳ) é definida por:

A Figura 2 apresenta um diagrama tem- Fonte: elaborada pelo autor.

peratura versus entropia (T-S) para o ciclo Podemos aumentar a eficiência de uma usi-
de Rankine simples ideal, em que todos os na operando com o ciclo de Rankine de três
componentes funcionam sem perdas, ou maneiras:

95/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos


• Efetuando a elevação da temperatura • Aumentando a pressão pela bomba.
do vapor que sai pelo gerador de va- Comumente, observa-se pressões
por. Esse procedimento acarreta um maiores que 22 MPa.
aumento do trabalho da turbina e au-
menta também o calor requerido pela
cadeira. Para isso, devemos observar
Link
O ciclo de Rankine pode ser modificado utilizando
as propriedades dos metais usados na
o ciclo da planta convencional, mas observando
construção das pás das turbinas.
que o vapor extraído à montante do superaque-
cedor é removido, e ocorre expansão parcial do
Para saber mais vapor na turbina. Mais detalhes podem ser vistos
Os metais existentes suportam temperaturas até em: <https://www.youtube.com/watch?v=-
620 °C. Alternativamente, podemos utilizar ma- ZRLdP_4e5cE>. Acesso em: 10 set. 2017.
teriais cerâmicos para a construção das pás das
turbinas ou pás com sistema de resfriamento. 2. Ciclo de refrigeração
• Impondo uma diminuição da pressão Podemos desejar temperaturas baixas para
de operação do condensador. o condicionamento de ar, refrigeração e
aquecimento. Para isso, utilizamos os prin-
96/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos
cípios envolvidos no ciclo de refrigeração, condensador promove a condensação do
que está ilustrado na Figura 3. refrigerante superaquecido a líquido satu-
Figura 3 – Ciclo de refrigeração rado, quando, a partir de um dispositivo de
expansão, ocorre a redução significativa da
pressão e temperatura do fluido. No eva-
porador, há o recebimento do calor do am-
biente para a formação de vapor saturado e
o ciclo se repete. O desempenho do ciclo é
dado pelo COP, expresso por:

Fonte: elaborada pelo autor.

No ciclo de refrigeração, um compressor


fornece energia necessária para a conver-
são do fluido, denominado refrigerante,
do estado de vapor saturado para supera-
quecido. Nessa etapa, geralmente se igno-
ra a transferência de calor. Em seguida, um
97/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos
3. Ciclo brayton
Link Foi o primeiro motor de pistão, patenteado
O ciclo de refrigeração por absorção tem seu fun- por George Brayton em 1872. Entretanto,
cionamento a partir do calor gerado na fonte tér- os baixos valores de eficiência dos com-
mica, que é fornecido ao gerador, onde o par refri- pressores e turbinas não atraíram atenção
gerante-absorvente se localiza. Ao atingir a tem- comercial sobre o ciclo Brayton. Atualmen-
peratura de desprendimento, uma quantidade do te, com o desenvolvimento da tecnologia,
refrigerante se separa do absorvente na forma de esses motores, agora denominados turbina
vapor e se encaminha para o condensador, dispo- a gás, foram aprimorados e são utilizados
sitivo de expansão e, por fim, para o evaporador, em aeronaves comerciais, caminhões e usi-
onde o refrigerante é absorvido pela solução que nas. Mas ainda apresentam desvantagens
se encontra no absorvedor e procede-se o bom- quando comparados aos motores de pistão,
beamento para o gerador. Assista ao vídeo sobre tais como alto custo, ineficiência quando
a realização do ciclo de refrigeração por absor- operados em baixas velocidades, lentidão
ção em: <https://www.youtube.com/watch?- no arranque e na resposta à mudança de
v=udeSVyx6_9A>. Acesso em: 20 set. 2017. velocidade.

98/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos


Em termos de operação, a Figura 4 identifi- compressor (etapa 1-2), adição de calor a
ca esquematicamente o que ocorre no ciclo pressão constante (etapa 2-3), expansão
de Brayton com um fluxo constante de ar no isentrópica em uma turbina (etapa 3-4) e
motor e de produtos de combustão do mo- rejeição de calor isobárica (etapa 4-1). O
tor. diagrama pressão versus volume é mostra-
Figura 4 – Representação esquemática do ciclo Brayton do na Figura 5.
Figura 5 – Diagrama P-V do ciclo Brayton ideal

Fonte: elaborada pelo autor.

O ciclo Brayton é constituído por quatro


processos internamente reversíveis, des-
Fonte: elaborada pelo autor.
critos por: compressão isentrópica em um

99/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos


A eficiência do ciclo Brayton (ɳ) é dada pela equação a seguir, cujos subíndices referem-se aos
números das correntes nos equipamentos térmicos (trocadores de calor) e mecânicos (compres-
sor e turbina).

Para saber mais


Podemos utilizar os gases de exaustão da turbina para o preaquecimento do ar antes de entrar no com-
bustor por meio de um regenerador. Assim, caso os gases que saem da turbina tenham temperatura
superior ao ar na saída do compressor, tem-se um aumento significativo da eficiência térmica do ciclo.
Dessa forma, teríamos um ciclo Brayton com aquecimento regenerativo. Poderíamos melhorá-lo ainda
mais se utilizássemos um inter-resfriador e um reaquecedor.

4. Sistemas de bomba de calor

Um sistema de refrigeração em que o condensador está localizado dentro do espaço que será
aquecido e o evaporador, fora desse espaço é denominado bomba de calor, no qual o calor rejeita-

100/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos


do pelo condensador é destinado ao aqueci- 5. Sistemas de potência a gás
mento do referido espaço. Podemos encon-
trar esses dispositivos em diversos hotéis de Os motores dos sistemas de potência a gás
regiões com clima temperado, onde o quar- utilizam, como fluido de trabalho, o ar, cujas
to é resfriado quando está quente ou aque- condições operacionais geralmente empre-
cido caso esteja frio. Para isso, utilizam-se gadas fazem com que tenha comportamen-
válvulas que promovem a inversão do fluxo to de um gás ideal.
de fluido refrigerante. Comumente, adotamos terminologias para
O coeficiente de performance da bomba de facilitar o entendimento dos motores de
calor (COPBC) é expresso pela equação a se- combustão interna, entre elas, destacamos:
guir, que também é relacionada com o ren-
• Ponto morto superior (PMS): posição
dimento de um processo de refrigeração
do pistão no cilindro que fornece o vo-
(COPR).
lume mínimo.
• Ponto morto inferior (PMI): posição
extrema do pistão na parte inferior do
cilindro, fornecendo assim o volume
máximo.

101/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos


• Curso: distância de deslocamento do de finalização do ciclo.
pistão de PMI a PMS.
• Taxa de compressão: relação volumé- 5.1 Ciclo de ar padrão Otto
trica no cilindro antes e após a com-
Em 1876, esse ciclo foi o responsável pelo
pressão.
projeto do motor a quatro tempos, que, de
• Volume morto: volume entre a cabeça fato, trouxe para a época uma inovação, pois
do cilindro e a parte superior do pistão tinham eficiência relevante e eram mais si-
quando este está em PMS. lenciosos que os demais modelos ativos.
• Válvula de escape: permite a saída dos Primeiramente, os motores existentes eram
produtos de combustão do cilindro. movidos a gás e, com o aperfeiçoamento,
foram desenvolvidos protótipos de gasolina
Analisaremos, então, dois ciclos que apre-
com admissão de ar. A Figura 6 apresenta
sentam as hipóteses: processo de compres-
o diagrama pressão versus volume do ciclo
são e expansão adiabático e reversível, re-
Otto teórico.
jeição de calor no exaustor é realizada pela
transferência de calor para a vizinhança
com um processo que devolve o ar no esta-
do inicial enquanto não se realiza trabalho
102/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos
Figura 6 – Diagrama P-V do ciclo Otto teórico Resumidamente, dentro do cilindro, há uma
mistura de ar combustível que diminuirá
de volume pelo processo de compressão,
ocasionando um aumento de pressão no
interior do cilindro. No momento em que a
mistura alcançar o volume V1, pelo aciona-
mento de uma faísca elétrica, procede-se a
ignição, gerando energia térmica, aumen-
tando a pressão e a temperatura do sis-
Fonte: elaborada pelo autor.
tema, porém mantendo-se o volume fixo.
A figura mostra as quatro etapas do ciclo Com isso, haverá o deslocamento do pistão
Otto teórico: para a geração de trabalho útil. Ao atingir
o ponto D, a válvula de escape se abre e os
• AB: Compressão adiabática.
gases da combustão são direcionados para
• BC: aquecimento isocórico de calor. fora do cilindro, definindo então a etapa de
exaustão, dando lugar a uma nova mistura
• CD: expansão adiabática.
de ar combustível e um novo ciclo se inicia.
• DA: rejeição isocórica de calor. A eficiência de um motor ciclo Otto pode
ser determinada por:
103/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos
em que AB, BC, CD, DEF, FB, BA representam
os processos, respectivamente: admissão,
compressão, explosão, expansão, descarga
onde é o coeficiente adiabático. e exaustão.
Figura 7 – Representação do ciclo Otto real

Para saber mais


O coeficiente adiabático identifica a relação en-
tre a capacidade calorífica a pressão constante e
a capacidade calorífica a volume constante. Para
gases monoatômicos, como o hélio e o argônio,
tem-se o valor de 1,67; para gases diatômicos,
como o oxigênio e o nitrogênio, o coeficiente
adiabático resulta em 1,4; o dióxido de carbono, Fonte: elaborada pelo autor.

o propano e a água apresentam os valores 1,31,


1,13 e 1,33, respectivamente. 5.2 Ciclo de ar padrão Diesel

O ciclo Otto real também é composto por Em 1900, Rudolf Diesel patenteou um mo-
quatro tempos, conforme mostra a Figura 7, tor movido a óleo de amendoim e denomi-
104/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos
nou-o como ciclo Diesel. Em síntese, o ar é Figura 8- Representação de um ciclo a Diesel

admitido pela câmara e é submetido a um


processo de compressão pelo pistão. Após
essa redução de volume, o combustível é in-
jetado, sob pressão, no interior da câmara.
Em razão da alta temperatura e da pressão
no sistema, a mistura sofre uma explosão
cujo gás originário se expande e, finalmen-
te, libera o gás de resíduos da combustão Fonte: elaborada pelo autor.

pelas válvulas. Observe que, na maioria dos


motores a diesel, não há um dispositivo fais-
cador (vela). A Figura 8 ilustra essas etapas
segundo um ciclo termodinâmico.

105/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos


Link
Cada vez mais tem-se sugerido o uso de fontes al-
ternativas de energia e reutilização de materiais.
Esse é o caso dos estudos de reaproveitamento
do óleo de cozinha como óleo combustível para
motores movidos a diesel, pois, segundo estudos,
esses insumos auxiliam a diminuir a emissão de
poluentes e melhoram o desempenho dos lubri-
ficantes internos do motor. Sobre essa temática,
confira o artigo de Caio Figueiredo de Freitas, Ra-
fael Augusto da Rocha Barata e Lauro de Souza
Moreira Neto, Utilização do óleo de cozinha usado
como fonte alternativa na produção de energia re-
novável, buscando reduzir os impactos ambientais.
Disponível em: <http://www.resol.com.br/tex-
tos/enegep2010_tn_stp_123_796_16087.
pdf>. Acesso em: 25 set. 017.

106/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos


Glossário
COP: coeficiente de desempenho. Utilizado nos sistemas de refrigeração, apresenta valores sem-
pre superiores à unidade.
Eficiência: razão entre a saída de energia e a entrada de energia em um ciclo. Assim, o máximo
de eficiência corresponde a 100%.
Diagrama P-V: corresponde ao esboço gráfico de um processo em termos de pressão e volume,
visto que essas duas propriedades são extremamente importantes para uma análise termodinâ-
mica.

107/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos


?
Questão
para
reflexão

No nosso cotidiano, costumamos presenciar oscilações


nos preços de gasolina e etanol. Assim, o consumidor pode
optar por um dos combustíveis caso tenha um veículo flex.
Reflita sobre qual seria a explicação termodinâmica para
optar por um combustível ou outro. Relembre-se da re-
comendação: caso o quociente entre o preço do álcool e
o da gasolina for superior a 0,7, o consumidor deve optar
por gasolina, caso contrário, escolhe-se o álcool.

108/210
Considerações Finais
• Apresentamos resumidamente os principais ciclos termodinâmicos, dando
ao leitor um subsídio teórico para se aprofundar em cada um dos assuntos.
• Foi apresentado o ciclo de Rankine, principal ciclo de potência a vapor.
• Foi discutido brevemente o ciclo de refrigeração, muito utilizado nos siste-
mas de condicionamento de ar.
• Por fim, foram apresentados alguns dos principais ciclos de potência a gás
(Brayton, Otto, Diesel).

109/210
Referências

ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 5. ed. São Paulo: Bookman, 2007.


KROOS, K. A.; POTTER, M. C. Termodinâmica para engenheiros. 1. ed. São Paulo: Cengage Lear-
ning, 2015.
MORAN, M. J.; SHAPIRO, H. N; BOETTNER, D. D.; BAILEY, M. B. Princípios de termodinâmica para
engenharia. 7. ed. São Paulo: LTC, 2013.

110/210 Unidade 4 • Ciclos termodinâmicos


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111/210
Questão 1
1. Em um ciclo de refrigeração, o equipamento cuja função é retirar calor do
ambiente, a fim de provocar uma redução em sua temperatura é:

a) Evaporador.
b) Compressor.
c) Turbina.
d) Bomba.
e) Condensador.

112/210
Questão 2
2. Sabe-se que, em dias de muito frios, a eficiência do motor à combus-
tão de um automóvel tende a aumentar. Uma redução de 10 °C a 15 °C na
temperatura externa pode provocar um aumento de potência de até 5 cv.
Com base nos estudos referentes à Segunda Lei da Termodinâmica e aos
ciclos motores de combustão interna, esse aumento de eficiência devido
à redução da temperatura ambiente pode ser explicado por:

a) Aumento da massa específica do ar.


b) Redução do atrito interno do motor.
c) Aumento da aderência dos pneus.
d) Redução do arrasto aerodinâmico.
e) Redução da temperatura do combustível.

113/210
Questão 3
3. Com base no diagrama temperatura x entalpia de um ciclo de Rankine
simples, um aumento da entropia durante o processo de compressão e
descompressão do fluido significa:

a) Redução da irreversibilidade do clico e consequente aumento da eficiência.


b) Menor consumo de energia no compressor.
c) Aumento da irreversibilidade do ciclo e consequente redução da eficiência.
d) Aumento do trabalho gerado na descompressão.
e) Redução do trabalho necessário à compressão.

114/210
Questão 4
4. Qual é a eficiência térmica de uma usina de potência a vapor, operando
segundo o ciclo de Rankine simples ideal, em que o vapor entra na turbina
a 5 MPa e 400 °C e é resfriado no condensador a uma pressão de 20 kPa?

a) 55%.
b) 34%.
c) 54%.
d) 30%.
e) 46%.

115/210
Questão 5
5. Um sistema de refrigeração operando em um ciclo real por compres-
são de vapor utiliza amônia como fruído refrigerante. A pressão e a tem-
peratura na saída do condensador são de 1,7 MPa e 30 °C. Na entrada do
evaporador, a pressão é de 0,26 MPa. Calor é removido no evaporador e
entra no compressor na pressão de 0,25 Mpa e temperatura de –7 °C. O
compressor eleva a pressão do fluido para 2,0 MPa e temperatura de 80
°C. Considerando que esse sistema trabalha com um fluxo mássico de 0,2
kg/s, qual é o coeficiente de performance do refrigerador?

a) 7,55.
b) 8,39.
c) 8,59.
d) 4,35.
e) 3,59.

116/210
Gabarito
1. Resposta: A. deve ser mantida, a entrada de maior quan-
tidade de ar significa também a necessida-
O evaporador é um trocador de calor que de de um consumo maior de combustível.
recebe o fluido refrigerante a baixa pressão
e temperatura, muito menor que a do meio 3. Resposta: C.
a ser refrigerado. Devido a essa grande di-
ferença de temperatura, o fluido, ao passar A entropia é a propriedade termodinâmi-
pelo evaporador, absorve calor do meio, re- ca que descreve o quanto um processo é
frigerando-o. irreversível. Assim, quanto maior seu valor,
maior será sua irreversibilidade.
2. Resposta: A.
4. Resposta: B.
A redução da temperatura do ar provoca um
aumento de sua massa específica. Com isso, A eficiência do ciclo de Rankine é calculada
uma maior quantidade de massa de ar esta- pela equação . Sendo qe a quan-
rá entrando na câmera de combustão, o que tidade de calor por unidade de massa que
provocará um aumento na potência gerada entra no sistema e qs a quantidade de calor
pelo motor. Como a relação ar/combustível por unidade de massa que sai do sistema.

117/210
Gabarito
5. Resposta: C.
O coeficiente de performance é obtido pela
divisão do valor da taxa de calor removida
do espaço refrigerado pela potência consu-
mida no compressor. Para tal, é necessário o
cálculo das entalpias do ciclo.

118/210
Unidade 5
Análise exergética

Objetivos

1. Definir os principais aspectos que en-


volvem a explanação de exergia e ob-
servar que essa propriedade se refere
ao máximo de trabalho útil que pode
ser obtido de um sistema em determi-
nado estado.
2. Desenvolver a equação do balanço de
exergia.

119/210
Introdução

A análise exergética baseia-se nos princí- 1. Exergia


pios da conservação da massa e energia e
também leva em consideração a segunda Propriedade que determina quantitativa-
lei da termodinâmica, a fim de realizar o mente o potencial de uso para ou de um sis-
projeto e otimização de sistemas térmicos. tema e, ao contrário da massa e da energia,
Afinal, o uso eficiente de recursos não reno- é destruída em razão das irreversibilidades
váveis (petróleo, carvão, gás natural, entre em certo processo. Assim, estamos diante
outros) é necessário por diversos motivos de uma perda, caso a transferência de exer-
ambientais, econômicos e sociais, então gia de um sistema para a sua respectiva vi-
precisamos identificar e quantificar as per- zinhança não seja utilizada. Nesse sentido,
das de um processo. Para isso, apresentare- devemos atuar e compreender os meca-
mos os principais conceitos envolvidos na nismos para um uso adequado dos recur-
análise de exergia para que possamos avali- sos energéticos e garantir a redução desse
á-la em um estado a partir de propriedades “desperdício”.
já conhecidas e aplicá-la a sistemas fecha-
dos e abertos.

120/210 Unidade 5 • Análise exergética


Moran et al. (2013, p. 283), a exergia pode
Link ser conceituada como “o máximo trabalho
teórico possível de ser obtido a partir de um
Os estudos envolvendo exergia podem ter um sistema global, composto por um sistema e
viés relacionado ao desenvolvimento sustentá- o ambiente, conforme este entra em equilí-
vel, conforme ilustra o artigo de Ilê Maria Krahl brio com o ambiente (atinge o estado mor-
e Marco Aurélio Cabral Pinto, intitulado Indica- to)”. Dessa definição, previamente enun-
dores de sustentabilidade baseados em exergia e ciada por J. Willard Gibbs, observamos que a
sua relação com gestão ambiental. Disponível em: exergia depende do sistema e do ambiente
<http://www.inovarse.org/sites/default/files/ que o cerca.
T10_0247_1435.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017.

1.1 Definição Para saber mais


Um sistema encontra-se no estado morto quan-
A palavra exergia deriva do grego a partir do está em repouso e sua temperatura e pressão
da combinação: ex (externo) + ergon (força equivalem às da atmosfera envolvida, que, por
ou trabalho), então pode ser compreendida sua vez, é um sistema compressível grande em
como uma força que pode ser extraída, ou extensão e com condições térmicas e mecânicas
seja, um potencial de trabalho útil. Segundo uniformes no espaço.

121/210 Unidade 5 • Análise exergética


Um possível questionamento que nos po-
deria vir está relacionado com a necessi- Link
dade de se fazer a análise exergética se já O estudo da exergia aplicada aos processos in-
sabemos realizar a análise energética de dustriais vem sendo desenvolvido por diversos
um sistema. A análise energética utiliza-se pesquisadores. Recomenda-se realizar uma pes-
apenas da primeira lei da termodinâmica, quisa em um navegador de busca para verifi-
que definimos como a lei de conservação de car os artigos e trabalhos acadêmicos na área,
energia. Em contrapartida, a análise exer- por exemplo: Análise exergética, termoeconômica
gética é fundamentada pela primeira e pela e ambiental de um sistema de geração de energia.
segunda leis da termodinâmica, que con- Estudo de caso: usina termoelétrica UTE – Rio Ma-
sidera a geração da entropia, que, por sua deira. Dissertação de mestrado de Sílvia Palmas Ro-
vez, implica a destruição de exergia. jas. Disponível em: <http://repositorio.unb.br/
bitstream/10482/2826/1/2007_SilviaIlena-
PRojas.pdf>. Acesso em: 8 set. 2017.

122/210 Unidade 5 • Análise exergética


1.2 Determinação da exergia Verifica-se que a equação de exergia pos-
sui a mesma unidade de uma energia, por
A expressão que fornece a exergia de um exemplo, no sistema internacional, é dada
sistema, em um estado especificado, é: em Joule (J). Podemos escrevê-la em termos
específicos, cuja especificidade é a massa, e
chegamos a:
Onde: E = exergia; U = energia interna; V =
volume; S = entropia; p = pressão; T = tem-
peratura; EC = energia cinética; EP = energia O mínimo valor que a exergia pode assumir
potencial; e essas propriedades com índice é zero. Caso um sistema esteja em um esta-
“0” indicam seus respectivos valores quan- do diferente do estado morto, este mudará
do o sistema se encontra em estado morto. sua condição na direção do estado morto.
Pondera-se que adotaremos a nomencla- Ademais, a exergia não é conservada e as
tura de variação das energias cinética e po- irreversibilidades podem destruí-la, como é
tencial do sistema com relação ao ambiente o caso dos chuveiros elétricos.
como exergia mecânica.

123/210 Unidade 5 • Análise exergética


Para saber mais
Quando apresentamos a exergia, mencionamos sobre o distanciamento do estado do sistema em relação
ao ambiente, em termos de parâmetros da vizinhança, como a temperatura e a pressão. Para a exergia
química, além dessas duas, necessita-se avaliar o efeito de composição. Segundo Moran et al. (2013, p.
650), a exergia química é definida como o “máximo trabalho que poderia ser obtido idealmente através
da reação de uma substância com oxigênio, em condições ambientes, para gerar os componentes dióxido
de carbono e água, também nas condições ambientes”.

1.2.1 Balanço de exergia em sistemas fechados

Podemos quantificar a exergia transferida através da fronteira de um sistema fechado levan-


do-se em consideração a transferência de exergia líquida e as irreversibilidades. Os balanços
de exergia nada mais são que as expressões da segunda lei da termodinâmica, como mostra a
equação a seguir:

124/210 Unidade 5 • Análise exergética


Onde: Tb é a temperatura nas fronteiras do 1.2.2 Balanço de exergia em sis-
sistema em que se processa a transferência temas abertos
de calor. E, assim, temos que a variação de
exergia é dada pela transferência de exergia Para sistemas abertos, o balanço de exergia
associada ao calor, ao trabalho e à destrui- é similar ao apresentado no item anterior,
ção de exergia em consequência das não re- adicionando-se apenas os efeitos de exer-
versibilidades no interior do sistema. gia de fluxo.

Para saber mais


Para a compreensão da exergia, é fundamental a
distinção dos conceitos: vizinhança, vizinhança Em que ee e es são as exergias por unidade
imediata e ambiente. O primeiro se refere a tudo de massa que atravessam uma fronteira
que está fora das fronteiras do sistema; o segundo na entrada e saída, respectivamente, e são
é parte da vizinhança que é afetada pelo proces- compostas pelos termos:
so; o último representa a região além da vizinhan-
ça imediata cujas propriedades não são afetadas
pelo processo.

125/210 Unidade 5 • Análise exergética


Link
Uma aplicação do balanço de exergia em siste-
mas abertos pode ser vista no vídeo do prof. Paulo
Seleghim, Tutorial: balanço de exergia em uma tur-
bina de dois estágios. Veja que os cálculos são rela-
tivamente simples, mas extensos. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=nx-
mOfeuykiU&feature=youtu.be>. Acesso em:
10 set. 2017.

126/210 Unidade 5 • Análise exergética


Glossário
Otimização: é a busca da excelência, ou seja, estudo de métodos para utilizar um sistema com o
máximo rendimento possível.
Sistemas térmicos: sistemas que envolvem o armazenamento e o fluxo de calor.
Destruição exergética: uma destruição exergética pode ocorrer durante a condução de calor,
cuja transferência irreversível envolve uma diferença finita de temperatura.

127/210 Unidade 5 • Análise exergética


?
Questão
para
reflexão

Muitos dos conceitos que foram apresentados até agora, relativos


à primeira e à segunda lei da termodinâmica e exergia, podem ser
explicados metaforicamente por eventos cotidianos enfrentados
por qualquer pessoa. Por exemplo, a quantidade de horas tra-
balhadas por um indivíduo pode ser associada à primeira lei, ao
passo que a qualidade de trabalho realizado pode ser associada à
segunda lei. Com base nisso, elabore um texto com exemplos de
atividades cotidianas e associe-os aos conceitos da primeira e da
segunda lei da termodinâmica e também ao conceito de exergia.

128/210
Considerações Finais

• A análise exergética é uma importante ferramenta que nos possibilita ava-


liar o desempenho dos dispositivos de engenharia diante da Segunda Lei da
Termodinâmica.
• Os conceitos de trabalho reversível e irreversível são fundamentais para
compreendermos que não é possível projetar uma máquina térmica que
seja 100% eficiente, sempre haverá irreversibilidades no sistema.
• Balanços exergéticos podem ser realizados em sistemas abertos e fechados.
Por meio desses balanços, é possível entender se há formas de aumentar
sua eficiência ou se o sistema já está próximo de seu limite teórico.

129/210
Referências

CAVALCANTI, E. J. C. Análise exergoeconômica e exergoambiental. 1. ed. São Paulo: Blucher,


2016.
ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 5. ed. São Paulo: Bookman, 2007.
KROOS, K. A.; POTTER, M. C. Termodinâmica para engenheiros. 1. ed. São Paulo: Cengage Lear-
ning, 2015.
MORAN, M. J.; SHAPIRO, H. N; BOETTNER, D. D.; BAILEY, M. B. Princípios de termodinâmica para
engenharia. 7. ed. São Paulo: LTC, 2013.

130/210 Unidade 5 • Análise exergética


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131/210
Questão 1
1. A razão entre a eficiência térmica real e a mais alta eficiência térmica pos-
sível é denominada:

a) Eficiência de primeira lei.


b) Eficiência irreversível.
c) Eficiência de segunda lei.
d) Eficiência exergética.
e) Eficiência reversível.

132/210
Questão 2
2. Com relação às definições de energia, considere as seguintes afirma-
ções:

I – Exergia representa a quantidade de trabalho real que um sistema produz.


II – Exergia representa a quantidade máxima de trabalho possível de ser produzida.
III – Os termos exergia e disponibilidade são sinônimos.
IV – Um sistema no estado morto é incapaz de produzir trabalho.
Dos itens apresentados, estão corretos:
a) Apenas I e II.
b) Apenas I, III e IV.
c) Apenas II, III e IV.
d) Apenas III e IV.
e) Apenas IV.

133/210
Questão 3
3. Com relação às condições adequadas para a perda de energia e geração
de entropia, qual representa o processo termodinâmico mais eficiente:

a) Perda máxima de exergia com taxa máxima de geração de entropia.


b) Perda mínima de exergia com taxa máxima de geração de entropia.
c) Perda zero de exergia e taxa máxima de geração de entropia.
d) Perda mínima de exergia com taxa mínima de geração de entropia.
e) Perda máxima de exergia e taxa mínima de geração de entropia.

134/210
Questão 4
4. A exergia de um sistema, que se encontra em estado morto, é conside-
rada:

a) Zero.
b) Menor que zero.
c) Maior que zero.
d) Zero ou menor que zero.
e) Zero ou maior que zero.

135/210
Questão 5
5. Um forno industrial transfere calor a uma temperatura de 480 °C. Consi-
derando que a temperatura ambiente é de 25 °C e que a máxima potência
produzida pelo forno é de 1,2 MW, qual deverá ser a taxa de transferência
de calor?

a) 2,5 MW.
b) 3,5 MW.
c) 1,3 MW.
d) 4 MW.
e) 2 MW.

136/210
Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: A.

Define-se como eficiência de segunda lei, a O estado morto ocorre quando um sistema
razão entre a eficiência térmica real e a mais está em equilíbrio termodinâmico com a sua
alta eficiência térmica possível. vizinhança, sem variação de energia poten-
cial e cinética e quimicamente inerte. Um
2. Resposta: C. sistema no estado morto apresenta exergia
igual a zero.
O item I está incorreto, pois exergia não pre-
senta a quantidade real de trabalho que um 5. Resposta: E.
sistema pode produzir, e sim a máxima.
A taxa de transferência de calor é calcula-
3. Resposta: D. da pela equação O valor da
máxima potência produzida é fornecido no
Tanto a perda de exergia como a geração de enunciado, então é necessário somente en-
entropia representam perdas para o pro- contrar a eficiência máxima.
cesso. De modo que um processo ideal de-
verá ter a menor perda possível de exergia e
a menor geração possível de entropia.
137/210
Unidade 6
Relações termodinâmicas

Objetivos

1. Apresentar relações entre as diversas


propriedades termodinâmicas, visan-
do expressar as que não são facilmen-
te mensuráveis com as que podem ser
medidas diretamente.
2. Apresentar as principais equações de
estado.
3. Definir algumas das principais rela-
ções matemáticas utilizadas nas rela-
ções termodinâmicas.

138/210
Introdução

Apresentamos, nos temas anteriores, a apli- 1. Equações de estado


cação das leis da termodinâmica aos diver-
sos processos industriais. Observamos que Trata-se de expressões algébricas que
esses sistemas de engenharia envolvem o apresentam a relação pVT de uma substân-
conhecimento de propriedades termodi- cia. Independentemente de nossa área de
nâmicas, como entalpia, energia interna, formação, todos já vimos a equação de gás
entropia, energia de Gibss, entre outras, as ideal, que descreve bem o comportamento
quais não são obtidas experimentalmen- de substâncias gasosas a baixas pressões e
te, portanto precisamos relacioná-las com altas temperaturas, pois, nessas condições,
grandezas mensuráveis, como o volume, a interação entre as moléculas é relativa-
a temperatura, a pressão e a capacidade mente baixa. Mas, para situações diferentes
calorífica a pressão ou volume constan- dessas, começamos a cometer erros graves
te. Assim, o presente tema tem o propósi- na predição de propriedades. Assim, outras
to de especificar algumas generalizações propostas foram elaboradas para superar
e artifícios matemáticos para determinar esse impasse, como veremos a seguir.
relações termodinâmicas para quaisquer
substâncias.

139/210 Unidade 6 • Relações termodinâmicas


1.1 Equação de van der Waals temperatura absoluta; p = pressão; v = vo-
lume molar.
Van der Waals, em 1873, aprimorou a equa-
Os parâmetros “a” e “b” da equação de van
ção de gás ideal no sentido de corrigir o efei-
der Waals são dados por:
to de que as moléculas de gás ocupam mais
do que um volume desprezível (observe o
que acontece com o volume na equação de
gás ideal quando a pressão se aproxima ou
tende ao infinito) e que essas moléculas se Onde: Tc = temperatura crítica da substân-
atraem de alguma maneira. Assim, propôs a cia; pc = pressão crítica da substância em
equação: questão.

Onde: b = covolume, ou seja, volume finito


ocupado pelas moléculas; a = parâmetro
que expressa a força de atração intermole-
cular; R = constante universal dos gases; T =

140/210 Unidade 6 • Relações termodinâmicas


als no sentido de que, entre outros aspec-
Para saber mais tos, a força de interação molecular, expressa
pelo parâmetro “a”, não considera o efeito
As expressões dos parâmetros “a” e “b” são obti-
da temperatura, o que não faz sentido al-
das a partir do conhecimento matemático dos
gum. Assim, propuseram a equação cúbica
pontos crítico e de inflexão. Então, sobre a isoter-
no volume, apresentada a seguir, de nature-
ma crítica, necessitamos determinar ∂p =0 za essencialmente empírica, que resulta em
∂v T
e ∂p
2
= 0. Para a equação de van der Waals, melhores predições que a de van der Waals
∂v2 T
em condições de elevadas pressões.
podemos calcular essas derivadas de modo a ob-
∂2p
ter: = 2RTc/(vc-b)8 - 6a/v4=0 e
∂v
2
T
∂p
= -RTc/(vc-b)2 + 2a/v3=0.
∂v T Com:

1.2 Equação de Redlich-Kwong

Os pesquisadores Redlich e Kwong, em


1949, criticaram a equação de van der Wa-

141/210 Unidade 6 • Relações termodinâmicas


2. Relações matemáticas
Link
Existem diversas equações de estado, pois há Podemos definir o estado de um sistema de
propriedades que são melhores estimadas por composição e massa especificada a partir
uma equação em relação a outra. Há também de de duas propriedades intensivas, por exem-
se considerar o estado físico da substância. En- plo, podemos obter o valor da energia inter-
tão, no momento da predição, convém fazer um na específica se conhecermos a temperatu-
estudo das relações pvT existentes e utilizar a que ra e o volume específico, ou seja, u = u(T,v).
for recomendada para evitar erros na estimação. Desse modo, podemos generalizar, a partir
Na dissertação de Mariana Ricken Barbosa, De- da forma z = z(x,y), e utilizar as relações ma-
terminação de parâmetros de equações de estado temáticas que se seguem.
para líquidos iônicos a partir de dados de velocida-
de do som, disponível em: <http://repositorio.
unicamp.br/bitstream/REPOSIP/266750/1/
Barbosa_MarianaRicken_M.pdf>, acesso em:
10 set. 2017, e no livro Termodinâmica química
aplicada, de Luiz Roberto Terron, são apresenta-
das situações em que se recomenda o uso de uma
dada correlação pvT.

142/210 Unidade 6 • Relações termodinâmicas


A diferencial exata de z, em função das variáveis x e y, é dada por:

Caso os coeficientes M e N tenham derivadas parciais de primeira ordem contínuas, podemos


derivar novamente de tal sorte que:

A derivada de duas funções pode ser estendida, e a denominação é a regra do produto triplo,
identificada por:

2.1 Aplicação sobre as propriedades termodinâmicas

A partir de relações fundamentais, podemos definir a variação de uma propriedade em função


de outra em termos de variáveis mensuráveis. As relações fundamentais são: energia interna (u),
143/210 Unidade 6 • Relações termodinâmicas
entalpia (h), energia de Gibbs (g), energia de A partir da derivada parcial de segunda or-
Helmholtz (ψ); e são descritas por: dem cruzada, verifica-se:

Observe que a diferencial da função u =


u(s,v) é dada por: A equação obtida é uma das relações de
Maxwell.

A partir da equação da primeira lei da ter-


Link
São quatro as relações de Maxwell, que facilitam
modinâmica, temos que:
a determinação de variação de uma propriedade
termodinâmica que não é obtida experimental-
mente, mas pode ser escrita em função de ou-
Como há duas diferenciais em relação à
tras grandezas mensuráveis. Assista ao vídeo que
energia interna específica, podemos con-
apresenta todas elas: <https://www.youtube.
cluir que:
com/watch?v=htFPv3IeqTw>. Acesso em: 10
set. 2017.

144/210 Unidade 6 • Relações termodinâmicas


2.2 Outras relações importantes
Para saber mais
De acordo com a regra de Gibbs-Duhem,
Os materiais reagem de modo diferente a uma
em sistemas monofásicos e monocompo-
variação de temperatura. As substâncias em fase
nentes, a pressão e a temperatura são inde-
líquida são ditas incompressíveis e apresentam
pendentes. Assim, podemos escrever uma
somente o volume definido, já que adquirem a
relação do volume específico (v) em função
forma do recipiente que as contém. Portanto, os
dessas duas propriedades, cujo resultado é:
estudos da dilatação térmica em líquidos são re-
alizados sobre a dilatação volumétrica, por isso é
fundamental o conhecimento do coeficiente de
expansão térmica.
Convenientemente, nomeia-se essas deri-
A compressibilidade isentrópica pode ser
vadas como expansividade volumétrica (β)
determinada como a variação do volume
e compressibilidade isotérmica (к), identifi-
em função da pressão quando a entropia
cadas por:
permanece constante. Já discutimos sobre
um processo politrópico, ou seja, adiabático
e reversível, assim, deduz-se facilmente que

145/210 Unidade 6 • Relações termodinâmicas


o coeficiente de um processo politrópico é a definida em temas anteriores por outra ex-
relação entre a compressibilidade isotérmi- pressão.
ca e a compressibilidade isotérmica.
O coeficiente de Joule-Thomson (μp) re-
laciona a variação da temperatura com a
pressão num processo de estrangulamento
a regime permanente, adiabático e reversí-
vel, ou seja:
Link
A discussão completa do experimento para a de-
terminação do coeficiente de Joule-Thomson é
apresentada no vídeo indicado: <https://www.
youtube.com/watch?v=W-H88qWZZmk>.
Esse coeficiente pode ser determinado ex- Acesso em: 10 set. 2017.
perimentalmente e utilizado para definir
outras propriedades termodinâmicas, como Em um processo a entalpia constante, caso
a capacidade calorífica a pressão constan- o coeficiente de Joule-Thomson seja positi-
te (cp), que é um parâmetro extremamente vo, isso caracterizará um resfriamento.
importante nos balanços energéticos e já

146/210 Unidade 6 • Relações termodinâmicas


Para saber mais
Foram indicadas algumas expressões pvT para
analisar o comportamento de uma substância
pura. Podemos realizar adaptações, de modo a
obter equações de estado para misturas, como a
regra de Kay e as regras de pressão aditiva e volu-
me aditivo.

147/210 Unidade 6 • Relações termodinâmicas


Glossário
Covolume: volume mínimo ocupado pelas moléculas de um gás quando a pressão tende ao
infinito.
Temperatura crítica: corresponde à temperatura mais elevada em que o líquido e o vapor po-
dem coexistir, em que cada substância apresenta um determinado valor, e é estudada pela física
estatística.
Energia de Helmholtz: assim como a entalpia, ela advém de uma transformada de Legendre.
Basicamente, identifica a energia total necessária para criar o sistema, menos o calor que pode
ser extraído do ambiente à temperatura T.

148/210 Unidade 6 • Relações termodinâmicas


?
Questão
para
reflexão

Neste tema, vimos algumas equações de estado para


substâncias puras e indicamos que existem regras para
determinar o comportamento pvT de misturas. Quais as
possíveis propriedades e especificidades que você espe-
ra que interfiram nos parâmetros de força de interação
e covolume de uma mistura composta por três substân-
cias?

149/210
Considerações Finais

• Apresentamos algumas das principais relações termodinâmicas, funda-


mentais para o cálculo de diversas propriedades termodinâmicas.
• Foram apresentadas duas das principais equações de estado: Equação de
van der Waals e Equação de Redlich-Kwong.
• Discutimos brevemente as relações de Maxwell, que formam a base para
muitas outras relações termodinâmicas. Por isso, a importância do seu co-
nhecimento.

150/210
Referências
ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 5. ed. São Paulo: Bookman, 2007.
KROOS, K. A.; POTTER, M. C. Termodinâmica para engenheiros. 1. ed. São Paulo: Cengage Lear-
ning, 2015.
MORAN, M. J.; SHAPIRO, H. N; BOETTNER, D. D.; BAILEY, M. B. Princípios de termodinâmica para
engenharia. 7. ed. São Paulo: LTC, 2013.

151/210 Unidade 6 • Relações termodinâmicas


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Questão 1
1. Assinale a alternativa cuja propriedade apresentada se relaciona correta-
mente com ∂h ∂s
p

a) T.
b) v.
c) u.
d) –T.
e) 1/v.

153/210
Questão 2
2. Assinale a alternativa cuja propriedade apresentada se relaciona corre-
tamente com ∂g ∂p
T

a) T.
b) v.
c) –s.
d) –T.
e) 1/u.

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Questão 3
∂u
3. Assinale a alternativa que identifica o valor de ∂v quando se emprega
T
a equação de van der Waals.

a) a/v².
b) 1/(v-b).
c) R/(v-b).
d) a/T.
e) b/a.

155/210
Questão 4
4. Assinale a alternativa que indica o resultado da variação da energia in-
terna em função da pressão em um processo isotérmico.

a) –v.
b) 1/s.
c) v/T.
d) 0.
e) R (constante universal dos gases).

156/210
Questão 5
5. Assinale a alternativa que indica a expressão correta para a capacidade
calorífica a pressão constante.

a) .

b) .

c) .

d) .

e) .

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Gabarito
1. Resposta: A.  ∂g   ∂g 
de g em p=
e T: dg   dp +   dT , en-
 ∂p T  ∂T p
Com base na correlação du = Tds-pdv e na
tão é equivalente a v.
derivada de entalpia: dh = du + vdp + pv,
temos: dh = Tds - pvv + vdp + pdv, ou seja,
dh = Tds + vdp. Se a derivada total de h 3. Resposta: A.
for escrita em função de s e p, obtém-se:
A partir da equação du = Tds - pdv, pode-
 ∂h   ∂h 
=dh   ds +   dp , então é mos dividi-la por dv, mantendo T fixa, de
 ∂s p  ∂p s
equivalente a T.  ∂u   ∂s 
tal sorte que: =
 ∂v  T   − p . Uma das
 T  ∂v T
2. Resposta: B.  ∂s   ∂p 
quatro relações de Maxwell é   =   .
 ∂v T  ∂T  v
Com a equação fundamental da energia de  ∂u   ∂p 
Então, =
 ∂v  T  − p . Com base na
Gibbs, calculamos a derivada: dg = dh - Tds  T  ∂T v
- sdT; substituindo a derivada da entalpia: equação de van der Waals: ,
dh = TDS + vdp, temos: dg = Tds + vdp - Tds -
sdT ou dg = vdp - sdT. Com a derivada total

158/210
Gabarito
 ∂p  R 5. Resposta: A.
obtemos que  ∂T  = , então:
 v v −b
 ∂u  R RT a a A partir da relação de capacidade calorífica
 ∂v = T − +=
 T
 v − b v − b v² v² . a pressão constante: , da deri-
vada total de entropia em função da tem-
4. Resposta: D. peratura e pressão, da derivada total da
entalpia em função da temperatura e pres-
As propriedades dos gases ideais depen- são e da equação fundamental de entalpia:
dem exclusivamente da temperatura, assim, dh= Tds + vdp com a aplicação de derivada
diante de um processo isotérmico, temos parcial, temos que a capacidade calorífica a
que a variação da energia interna em fun- pressão constante é .
ção da pressão é nula. Para todos os efeitos,
constatamos isso a partir das relações fun-
damentais de energia interna em conjunto
com a equação de gás ideal.

159/210
Unidade 7
Termodinâmica dos seres vivos

Objetivos

1. Contextualizar como as leis da termo-


dinâmica podem ser utilizadas para
organismos vivos.
2. Apresentar, de forma resumida, como
são compostos os organismos vivos.
3. Entender como se dá a transformação
de energia aplicada a seres vivos.

160/210
Introdução
Os organismos vivos são formados por mo- armazenamento pelo organismo vivo e sua
léculas que não apresentam vida, pois, se liberação durante a atividade metabólica.
isoladas, seu comportamento será análogo Uma das aplicações mais interessantes e
ao de uma matéria inanimada. Com base motivadoras da segunda lei da termodinâ-
nessa ideia, podemos afirmar que os seres mica é o entendimento de sistemas bioló-
vivos e não vivos são compostos da mes- gicos nos diversos níveis de organização, ou
ma essência, apesar de apresentarem níveis seja, células, tecidos e órgãos. Além de que
distintos de complexidade e organização, uma análise exergética pode ser realizada
cujas características permitem aos seres no ser humano, a fim de verificar a qualida-
vivos exercerem diversas funções, como de dos processos de conversão de energia
transformar a energia do meio ambiente, no corpo e o metabolismo, o qual se baseia
efetuar autorreplicação, sintetizar matéria em reações de oxidação de carboidratos, li-
orgânica, entre outras. pídeos e aminoácidos.
As aplicações da primeira lei da termodinâ- Sabemos, pela terceira lei da termodinâmi-
mica em sistemas biológicos são datadas ca, que no universo ou em qualquer siste-
da segunda metade do século XVIII. A par- ma isolado, o grau de desordem (entropia)
tir da termodinâmica, podemos quantifi- só pode crescer, como os edifícios que des-
car a energia dos alimentos, bem como seu mancham ao logo do tempo e a decompo-
161/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos
sição dos corpos. Parece que as células vão educação física, entre outras formações
contra essa lei, pois são altamente orga- acadêmicas para aplicações de análise exer-
nizadas, como é o caso da união dos ami- gética no corpo humano.
noácidos em sequências específicas para a
formação de proteína, mas, para isso, elas 1. Composição dos organismos
necessitam de energia exterior, cujo resul- vivos
tado é a formação de moléculas de dióxido
de carbono, a partir de uma reação de oxi- Basicamente, os organismos vivos são for-
dação, o que aumenta a entropia do exterior mados por componentes orgânicos ricos
da célula, e, assim, temos que os organismos em carbono, nitrogênio e oxigênio, gerando,
são “máquinas térmicas a combustão”. essencialmente, as biomoléculas. Estudos
envolvendo bioquímica e biofísica molecu-
Portanto, diante dessas breves explanações
lar indicam que essas estruturas químicas
e exemplificações, esse tema apresenta os
se baseiam em uma lógica simples de for-
principais tópicos relacionados a composi-
mação, como nos casos das proteínas, dos
ção e transformações energéticas dos se-
ácidos nucleicos, dos carboidratos e dos li-
res vivos, com o objetivo de motivá-los ao
pídios.
estudo de assuntos mais complexos, alian-
do fundamentos de medicina, engenharia,
162/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos
1.1 Carboidratos

Para saber mais A classe de macromoléculas dos carboidra-


A matéria orgânica presente nos seres vivos é va- tos é amplamente distribuída em animais e
riada e complexa, podemos vislumbrar isso citan- plantas e desempenha papéis tanto estru-
do o exemplo de organismos unicelulares, como turais quanto funcionais. São as biomolécu-
as bactérias, as quais apresentam aproximada- las mais abundantes na Terra.
mente 5 mil compostos químicos, o que corres- São compostos por, no mínimo, três carbo-
ponde a 5% do valor das proteínas existentes nos, e todos eles apresentam uma hidroxila,
em nós. Obrigatoriamente, os seres vivos têm as exceto um, que possui carbonila primária ou
seguintes características: alto grau de complexi- secundária. Os carboidratos, genericamen-
dade química e organização estrutural; sistemas te, têm a fórmula Cx(H2O)y e classificam-se
para extrair e converter energia do ambiente; ca- em monossacarídeos, oligossacarídeos e
pacidade de autorreplicação e automontagem; polissacarídeos, cujo critério de classifica-
mecanismos para perceber e responder altera- ção se baseia no número de átomos de car-
ções no ambiente; funções definidas para cada bono.
componente.
Os monossacarídeos são formados por 3 a
7 átomos de carbono, denominados trioses,
163/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos
tetroses, pentoses, hexoses e heptoses. Por componente da parede celular vegetal; a
apresentarem baixo peso molecular, não pectina; entre outros.
podem ser hidrolisados a estruturas me-
nores. Na natureza, é possível encontrar
glucose, galactose, xilose e frutose (açúcar
Link
das frutas). A análise química de carboidratos é importante
para determinarmos os nutrientes, as proprieda-
Dentre os oligossacarídeos, destacam-se os des reológicas, entre outras funções importantes
dissacarídeos, resultantes da ligação glico- para a indústria alimentícia. Existem diversas me-
sídica de monossacarídeos, por exemplo, a todologias para inferirmos quantitativamente os
sacarose (glicose + frutose), a maltose (açú- açúcares nos alimentos, tais como Munson-Wa-
car do malte, elemento básico do amido) e a lker, Lane-Eynon, Somogyi. Assista ao vídeo que
lactose (d-glucose + d-galactose). mostra a determinação dos açúcares presentes
Os polissacarídeos são macromoléculas de no mel: <https://www.youtube.com/watch?-
cadeia linear, ramificada ou cíclica, presen- v=arCAwOeInF0>. Acesso em: 29 set. 2017.
tes em quase todos os seres vivos, cita-se
o amido – fundamental para a nutrição de Devido a suas inúmeras funções, os carboi-
plantas superiores; a celulose – principal dratos são exaustivamente estudados. Esti-
ma-se que representam 80% do total caló-
164/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos
rico utilizado pela humanidade, fornecendo Tabela 1 – Lista dos 20 aminoácidos essen-
ciais que constituem as diferentes proteínas
energia ao corpo para ser transformada em
Aminoácidos essenciais
trabalho e também garantir a homeostase.
1. Glicina 11. Prolina
Além disso, esses glicídios são matéria-pri-
2. Alanina 12. Treonina
ma em processos fermentativos e utilizados
3. Valina 13. Cisteína
como adoçantes naturais. 4. Leucina 14. Asparaginina
5. Isoleucina 15. Glutamina
1.2 Proteínas 6. Metionina 16. Lisina
7. Fenilalanina 17. Histidina
São formadas a partir de um grupo de 20 8. Tirosina 18. Arginina
aminoácidos (Tabela 1), que se unem por 9. Triptofano 19. Aspartato
meio de ligações covalentes, em uma se- 10. Serina 20. Glutamato
quência linear e apresentam uma extensa Fonte: elaborada pelo autor.
diversidade estrutural e funcional. Como
Todos os aminoácidos têm um grupo carbo-
cada aminoácido tem uma característica
xílico e um grupo amino ligados ao mesmo
diferente, as propriedades de dada proteína
carbono (C-α). A diferença entre um amino-
dependem diretamente de quais aminoáci-
ácido e outro está na cadeia lateral, também
dos estão presentes na sua estrutura.

165/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos


chamada radical (R), o que confere as pro- peptídeo; acima de 50 aminoácidos, é con-
priedades de cada aminoácido (Figura 1). siderada proteína.
Figura 1 – Estrutura de um aminoácido
O estudo dos peptídeos é de grande impor-
tância, porque serve como um preparativo
para o estudo das proteínas; e também por-
que os peptídeos, por si só, constituem uma
classe de moléculas muito importante nos
organismos vivos. Grande parte dos hormô-
Fonte: elaborada pelo autor. nios são peptídeos. Entre os peptídeos com
Quando um aminoácido se junta a outro, relevante atividade biológica, podemos ci-
pela ligação entre o carboxi-terminal de tar a insulina, o glucagon, a angiotensina e
um e o amino-terminal de outro, esta nova a bradicinina.
molécula passa a se chamar peptídeo. A no- Como dito anteriormente, as proteínas são
menclatura do peptídeo se dá pela quanti- as macromoléculas de maior abundância
dade de aminoácidos que o compõe: dipep- nas células vivas, com grande diversidade
tídio, tripeptídio, e assim por diante. A união estrutural e funcional. Existe uma gama de
de até 50 aminoácidos é classificada como proteínas que diferem entre si tanto no as-

166/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos


pecto estrutural quanto no funcional. Várias As proteínas podem ser agrupadas e clas-
doenças são associadas a mutações em ge- sificadas de diferentes maneiras. Uma das
nes que acabam por produzir proteínas de- classificações mais simples as divide entre
feituosas. globulares e fibrosas. Proteínas globulares
normalmente são solúveis, têm forma glo-
bular e estão envolvidas em atividades fun-
Link cionais. Proteínas fibrosas, por sua vez, são
Existem diversas proteínas, visto a relevância normalmente insolúveis, têm forma alon-
quantitativa e funcional nos organismos vivos. gada e uma função estrutural.
Assim, devemos ampliar nosso conhecimento
em relação a sua estrutura e classificação. As-
sista à aula de introdução à bioquímica que cita
os principais aspectos dos peptídeos. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=-
moUtAiWY-Fk>. Acesso em: 29 set. 2017.

167/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos


1.3 Ácidos nucleicos

Para saber mais Manter informação biológica requer ener-


A maioria das enzimas são proteínas com ativida- gia, pois demanda alto grau de organização
de catalítica. Elas são fundamentais para a vida e molecular, como é o caso do genoma. Os
estão presentes em diversos eventos, tais como a ácidos nucleicos têm como função o arma-
digestão de alimentos e a síntese de macromolé- zenamento e a transmissão da informação
culas. A manutenção da homeostase requer uma genética. São eles:
atividade, em sintonia, de diversas partes do me- • DNA (ácido desoxirribonucleico): ar-
tabolismo, com participação de diferentes enzi- mazenador da informação genética
mas. Dessa forma, é compreensível que qualquer na maioria dos seres vivos.
alteração nas taxas de atividade enzimática, re-
• RNA (ácido ribonucleico): armazena-
fletida em alterações fisiológicas, possivelmente
dor da informação genética em alguns
leve a estados patológicos. Essas alterações po-
vírus; importante na transmissão da
dem ser induzidas por diversos fatores, como pH, informação.
temperatura, concentração de enzima, substra-
Sua constituição se dá pela combinação de
tos e inibidores.
uma base nitrogenada (adenina, guanina,
citosina, timina [DNA] ou uracila [RNA]), um
168/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos
grupo fosfato e uma pentose (desoxirribose 1.4 Lipídeos
e ribose).
As bases nitrogenadas são pouco solúveis Trata-se de biomoléculas compostas por car-
em água, com pH = 7,0. A estrutura tridi- bono, hidrogênio e oxigênio, popularmente
mensional dos ácidos nucleicos é estabili- chamadas gorduras, que resultam da asso-
zada pelas interações eletrônicas (forças de ciação entre ácidos graxos e álcool. Apresen-
van der Waals, dipolo-dipolo), que mantêm tam, como característica, baixa solubilidade
o empilhamento das bases, enquanto pon- em água e outros solventes polares e alta so-
tes de hidrogênio realizam o pareamento lubilidade em solventes apolares, como álco-
das bases na estrutura do DNA e entre ba- ol, benzina, éter, clorofórmio, acetona.
ses complementares.
Os lipídeos estão presentes nos tecidos, nas
membranas celulares e nas células de gor-
Link dura desempenhando funções energética,
Assista ao vídeo explicativo sobre o processo de vitamínica, hormonal, estrutural, de isolan-
síntese de proteínas a partir da transcrição e tra- te térmico e de proteção mecânica.
dução do DNA. Disponível em: <https://www. A classificação dos lipídeos decorre das natu-
youtube.com/watch?v=oxBPO_xTFD4>. rezas do ácido e do álcool que os constituem.
Acesso em: 29 set. 2017. Assim, são subdivididos em três grupos:
169/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos
– Lipídeos simples ou ternários: • dividem-se em:
• apresentam apenas átomos de C, H e A) fosfolipídeos.
O na sua constituição. B) glicolipídeos.
• são ésteres de ácidos graxos com al- – Lipídeos precursores ou derivados
gum tipo de álcool.
• Precursores: compostos produzidos
• dividem-se em: quando lipídeos simples e complexos
A) glicerídeos (ésteres de glicerol): sofrem hidrólise.
óleos e gorduras. • Derivados: resultantes da transforma-
B) cerídeos (ésteres de álcoois acícli- ção metabólica dos ácidos graxos.
cos superiores): ceras.
– Lipídeos complexos ou compostos
• além dos elementos C, H e O, apresen-
tam átomos de fósforo e nitrogênio
em sua constituição.

170/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos


o dióxido de carbono da atmosfera, são ab-
Para saber mais sorvidos pelas plantas, que produzem oxi-
gênio e açúcar, ou seja:
Toda a relevância do metabolismo lipídico advém
da característica hidrófoba das moléculas, que não
é uma desvantagem biológica (mesmo o corpo hu-
mano tendo cerca de 60% de água). Justamente A reação de fotossíntese processa-se por
por serem insolúveis, os lipídios são fundamentais duas etapas, conversão essa que requer a
para estabelecer uma interface entre os meios in- absorção de energia, ou seja, é um proces-
tracelular e extracelular, fracamente hidrófilos. so endotérmico, em que a energia, na forma
de fótons, converte-se em energia química.
2. Transformação de energia Na primeira etapa, uma reação dependen-
te da luz utiliza a energia do Sol para gerar
As algas e plantas realizam a conversão da moléculas de armazenamento de energia,
luz solar em energia utilizável pelo processo denominadas trifosfato de adenosina (ATP)
de fotossíntese, de acordo com o comporta- e fosfato de dinucleótido de nicotinamida e
mento de um volume de controle termodi- adenina (NADPH). Na segunda etapa, outra
nâmico. Resumidamente, a água fornecida reação dependente de luz usa as referidas
pelas raízes, assim como o vapor da planta e moléculas de armazenamento de energia a

171/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos


fim de capturar e reagir com o dióxido de carbono para a produção do carboidrato.
Acredita-se que os organismos que empregam o processo fotossintético surgiram há aproxima-
damente 3,5 bilhões de anos. Assim, conforme mencionam Kenneth A. Kroos e Merle C. Potter:

Antes de formas maiores de vida aparecerem, a atmosfera da Terra teve


altos níveis de dióxido de carbono. O hidrogênio foi utilizado em vez do
oxigênio para produzir elétrons no processo de fotossíntese. É possível que
bactérias que produzem oxigênio tenham surgido na Terra há aproxima-
damente 3 bilhões de anos e começaram a transformar a atmosfera em
um ambiente rico em oxigênio. Isso teria permitido o desenvolvimento de
organismos unicelulares mais avançados. À medida que o tempo passou,
as concentrações relativas de dióxido de carbono e oxigênio na atmosfera
se estabilizaram (KROOS; POTTER, 2015, p. 447).
Para a termodinâmica, é necessária a compreensão do processo pelo qual a luz do Sol rompe um
elétron no pigmento com clorofila. Essa luz tem características de partículas e ondas, os fótons
levam uma porção discreta de energia representada pela equação:

172/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos


movimentos celulares, segundo a reação
de hidrólise ATP, mediada por actomiosina,
Onde: h é definido pela constante de Planck,
sendo esse um processo cíclico de quatro
cujo módulo é 6,626 ⋅ 10–34 Js; f é frequência
etapas, como também é o ciclo de geração
de luz, em hertz, calculada pelo quociente
de energia por Rankine. As células vivas do
entre a velocidade da luz (300 ⋅106 m/s) e o
nosso organismo são distintas das máqui-
comprimento de onda da luz.
nas térmicas, pois são isotérmicas, afinal o
Para os animais, a manutenção da vida se homem mantém a temperatura corpórea
dá no sentido inverso da fotossíntese, isto é, entre 36,5 e 37 °C por mecanismos regu-
o oxigênio presente no ar é direcionado ao ladores.
sistema respiratório e absorvido no sistema
circulatório. O alimento ingerido é encami-
nhado para o sistema digestivo, que o pro-
cessa e o combina com o oxigênio, em uma
reação exotérmica. O resultado é a geração
de uma energia necessária para a manu-
tenção da temperatura corpórea e a reali-
zação de trabalho pelos músculos e outros

173/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos


Os princípios termodinâmicos, ou a bioe-
Para saber mais nergética, auxiliam na explicação das trans-
formações químicas que se processam nos
Cada órgão do corpo humano é um volume de
organismos vivos, denominadas metabolis-
controle responsável para a execução de uma ta-
mo, o qual identifica o anabolismo e cata-
refa, por exemplo o estômago, que é um receptá-
bolismo.
culo para armazenar o alimento pré-digerido, e o
intestino, que promove a ruptura do alimento em
nutrientes. Se quisermos saber quanto de energia
é oriundo de um alimento, utilizamos um calorí-
metro de bomba, composto por um sistema de
agitador, bateria, termômetro, bomba, oxigênio,
em banho-maria. Estima-se que o nosso corpo
aproveita 60% da exergia dos macronutrientes
ingeridos, na forma de ATP.

174/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos


Link
Para entender a fisiologia dos processos de me-
tabolismo, anabolismo e catabolismo, assista ao
vídeo indicado. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=Bz7A-584qHo>.
Acesso em: 29 set. 2017. Além disso, podemos
ver a aplicação da segunda lei da termodinâmica
e a análise exergética de um sistema respiratório,
quando em atividade física, na tese de Carlos Edu-
ardo Keutenedjian Mady, Desempenho termodinâ-
mico do corpo humano e seus subsistemas. Aplica-
ções à medicina, desempenho esportivo e conforto
térmico. Disponível em: <http://www.teses.usp.
br/teses/disponiveis/3/3150/tde-21102014-
110723/publico/Tese_CEKMady_Revisada.
pdf>. Acesso em: 28 set. 2017.

175/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos


Glossário
Clorofila: corresponde a um pigmento verde encontrado nos cloroplastos (organelas celulares
de plantas e algas). Localizam-se nas folhas e outras partes que ficam expostas ao sol, são res-
ponsáveis pela absorção da luz solar no processo da fotossíntese. Podemos encontrá-la em cia-
nobactérias e em organismos protistas autótrofos.
NADPH: NADPH oxidase é um complexo enzimático que pode ser encontrado em membranas
plasmáticas, assim como em fagossomas.
Isolante térmico: corresponde a um material ou estrutura que dificulta a dissipação de calor,
portanto é caracterizado por sua elevada resistência térmica. Estabelece uma barreira à passa-
gem do calor entre dois meios que naturalmente tenderiam rapidamente a igualarem suas tem-
peraturas.

176/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos


?
Questão
para
reflexão

Sabendo que o universo apresenta uma tendência à de-


sordem, o que explica o fato de essa mesma desordem
não ser vista nos seres vivos?

177/210
Considerações Finais

• Estudamos uma relação de como a termodinâmica é aplicada em organis-


mos vivos.
• Foi dado um breve resumo da composição dos organismos vivos.
• Foi apresentada uma introdução de como se dá a transferência de energia
entre os organismos vivos e meio.

178/210
Referências

KROOS, K. A.; POTTER, M. C. Termodinâmica para engenheiros. 1. ed. São Paulo: Cengage Learn-
ing, 2015.
MADY, C. E. K. Desempenho termodinâmico do corpo humano e seus subsistemas: aplicações
à medicina, desempenho esportivo e conforto térmico. 2013. 197 f. Tese (Doutorado) – Curso de
Engenharia Mecânica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www.
teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3150/tde-21102014-110723/pt-br.php>. Acesso em: 3 out. 2017.

MADY, C E. K. et al. Second law of thermodynamics and human body. Thermal Engineering. p.
88-95. jun. 2011.
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6.ed. São Paulo: Artmed,
2014.

179/210 Unidade 7 • Termodinâmica dos seres vivos


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Aula 7 - Tema: Termodinâmica dos Seres Vivos. Aula 7 - Tema: Termodinâmica dos Seres Vivos.
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1d/7e18c04dea34fecb16ed053e9bc41485>. 25f393aea3f4cf12a0d39909ec6f47f1>.

180/210
Questão 1
1. Assinale a alternativa correta. A energia necessária para desestabilizar as
ligações químicas existentes é chamada:

a) energia de desestabilização.
b) energia cinética.
c) energia de ativação.
d) energia livre.
e) energia interna.

181/210
Questão 2
2. Com relação à composição de um carboidrato, assinale a alternativa
que apresenta os elementos químicos fundamentais que o compõem.

a) Carbono, hidrogênio, hélio.


b) Carbono, hélio, oxigênio.
c) Cálcio, hidrogênio, oxigênio.
d) Carbono, hidrogênio, oxigênio.
e) Carbono, hidrogênio, nitrogênio.

182/210
Questão 3
3. Assinale a alternativa que identifica o nome das etapas iniciais na res-
piração celular.

a) Fixação de nitrogênio.
b) Catálise intramolecular.
c) Quimiosmose.
d) Glicólise.
e) Catálise intermolecular.

183/210
Questão 4
4. Assinale a alternativa que indica o nome dado para a soma de todas as
reações químicas que ocorrem dentro de uma célula viva.

a) Síntese de desidratação.
b) Catálise heterogênea.
c) Metabolismo.
d) Termodinâmica.
e) Hidrólise.

184/210
Questão 5
5. Com relação ao que foi explanado em termodinâmica dos seres vivos,
essencialmente sobre a composição, qual das afirmativas abaixo não está
correta?

a) Carboidratos são as moléculas mais abundantes na Terra.


b) Glicídios são matéria-prima em processos fermentativos e utilizados como adoçantes natu-
rais.
c) Grande parte dos hormônios são peptídeos.
d) Uma das classificações existentes divide as proteínas entre globulares e fibrosas.
e) As proteínas têm como função o armazenamento e a transmissão da informação genética.

185/210
Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: C.

A energia necessária para desestabilizar as A soma de todas as reações químicas que


ligações químicas existentes é a energia de ocorrem dentro de uma célula viva é o me-
ativação. tabolismo.

2. Resposta: D. 5. Resposta: E.

Os carboidratos, também denominados gli- Os ácidos nucleicos têm como função o ar-
cídios, são compostos pelos elementos: car- mazenamento e a transmissão da informa-
bono, oxigênio e hidrogênio. ção genética.

3. Resposta: D.

O termo glicólise significa quebra da gli-


cose, e é a primeira etapa no processo de
respiração celular.

186/210
Unidade 8
Termoeconomia

Objetivos

1. Conceituar análise termoeconômica.


2. Apresentar um estudo de caso que
alie a termodinâmica (exergia) com a
economia.
3. Identificar expressões para o rendi-
mento exergético, fundamentais para
a otimização de um processo.

187/210
Introdução

Segundo informações coletadas na literatu- micos, propiciando uma visão dinâmica con-
ra, tal como em Passolongo et al. (2010), o junta do comportamento termodinâmico e
consumo de energia elétrica no Brasil apre- econômico de um sistema de interesse a ser
senta índices de crescimento superiores se analisado” (KREITH, 2000, apud GRACIANO,
comparados ao Produto Interno Bruto. Por 2007, p. 32). Assim, iniciaremos nossos es-
isso, observa-se um incentivo governamen- tudos com conceitos fundamentais de uma
tal para o uso de outras fontes energéticas análise termoeconômica e, posteriormente,
e, em conjunto, estudos científicos para al- traremos sugestões de estudos de caso so-
cançar melhoria na eficiência de produção bre essa fundamentação.
energética, atentando-se para a sustenta-
bilidade, o custo e a inovação. 1. Análise termoeconômica
Nesse cenário, é importante conhecer os
De forma resumida, uma análise termoeco-
principais parâmetros e variáveis envolvidos
nômica alia os conceitos da termodinâmica
em processos térmicos e, para isso, citare-
e da economia, sendo fundamentada numa
mos alguns pontos abordados em trabalhos
análise de custos, em que, para obter o re-
envolvendo a termoeconomia, que pode ser
sultado desejado de um sistema (denomi-
definida como “o ramo da engenharia que
nado produto), seu custo precisa ser neces-
une análise exergética e princípios econô-
188/210 Unidade 8 • Termoeconomia
sariamente igual ao somatório dos custos dos “combustíveis” que o alimentam (ditos insumos)
com os custos de aquisição, operação e manutenção do sistema.

Link
O artigo de Luiz Felipe Pellegrini, Reinaldo Pacheco da Costa e Silvio de Oliveira Jr, A atribuição de custos
em sistemas energéticos: a termoeconomia como base de cálculo, exemplifica a aplicação das metodologias
envolvidas nos cálculos termoeconômicos. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/
ENEGEP2005_Enegep0302_0736.pdf>. Acesso em: 28 set. 2017.

A partir dessa explanação, Pellegrini define que a termoeconomia:

fornece ferramentas para a solução de problemas em sistemas energéticos


complexos, os quais, dificilmente, poderiam ser resolvidos usando uma
análise energética convencional, baseada na Primeira Lei da Termodinâ-
mica. Dentre estes problemas pode-se destacar, por exemplo, a atribuição
racional de custos aos produtos de uma planta energética ou a otimização
operacional de um sistema” (PELLEGRINI, 2009, p.41).
189/210 Unidade 8 • Termoeconomia
Os primeiros registros de análise exergética
com critério de custos foram realizados por
Joseph Keenan, em 1932. Então, o objetivo
da termoeconomia é determinar valores de Onde: ċs = fluxo de custo exergético na saí-
variáveis do sistema (pressão, temperatura, da do sistema, em R$/s; ċw = fluxo de custo
composição química, eficiência de disposi- exergético de fluxo de trabalho; ċq = fluxo de
tivos térmicos e mecânicos etc.) que mini- custo exergético de fluxo de calor; ċe = fluxo
mizam custos de instalação e são possíveis de custo exergético na entrada do sistema;
responsáveis pelas perdas termodinâmicas ż = fluxo de custo de operação, manutenção
do referido sistema. e aquisição.

Importante ressaltar que, para as corren-


tes de um processo, sejam elas mássicas
ou energéticas (tal como fluxo de calor ou
trabalho), associa-se um fluxo exergético e,
consequentemente, um custo exergético. A
partir disso, podemos obter a equação do
balanço de custos, conforme mencionam
Bejan, Tsatsaronis, Morin (1996).
190/210 Unidade 8 • Termoeconomia
moeconômica, Santos (2014, p. 85) apre-
Para saber mais senta uma equação para a determinação da
“exergia específica do bagaço de cana”, cal-
Graciano (2007) indica que a referida equação
culada a partir da exergia química e do PCI
pode demandar expressões auxiliares, de modo a
do combustível. A equação que segue rela-
ter um sistema definido, ou seja, em que o núme-
ciona essas variáveis.
ro de equações é exatamente o número de incóg-
nitas. Por isso, cada equipamento, por exemplo,
compressores, expansores e tanques de mistura,
tem uma equação de fluxo de custos exergéticos.
Onde: PCI = definido por 7.736 kJ/kg; hágua =
entalpia de vaporização da água; Zágua = fra-
ção, em massa, de água no bagaço úmido;
2. Caso de aplicação
exágua = exergia específica química da água
No capítulo em que tratamos de exergia, líquida; e β = um parâmetro em função das
foi indicada a leitura para a exergia quími- frações mássicas dos elementos químicos
ca, uma vez que esse assunto não é trivial que compõem o bagaço de cana, dado por:
e, portanto, requer um estudo aprofundado.
Apenas para exemplificar, visto que o cálcu-
lo da exergia é fundamental na análise ter-
191/210 Unidade 8 • Termoeconomia
Onde: ZC = fração, em massa, de carbono no bagaço, assim como a variável Z é definida para as
demais frações de nitrogênio, oxigênio e hidrogênio.

Para saber mais


Tsatsaronis, em 1985, propôs o conceito exergoeconomia para substituir termoeconomia, pois o referido
autor ponderou que a segunda terminologia é ambígua e se refere à combinação de análise energética e
econômica, e não exergia.

Pellegrini (2009) quantificou os custos de potência elétrica e calor a partir dos cálculos de exergia
do bagaço e da cana, calculada com base na contribuição da exergia da fibra e do caldo da cana.
Em seu trabalho, foi verificado que o máximo lucro de uma usina sucroalcooleira está intima-
mente relacionado com o melhor uso da exergia da cana.

192/210 Unidade 8 • Termoeconomia


3. Definições importantes
Link
Quando explicamos exergia, é possível notar
Existem diversos trabalhos de mestrado e douto-
que seu balanço permite realizar a avalia-
rado sobre o tema de análise termoeconômica e
ção e a identificação dos equipamentos ou
exergética, trazendo as terminologias, equações
e emprego nos mais variados setores produtivos.
processos ineficientes. Entretanto, existem
Entretanto, o foco deste tema é apresentar uma diversos tipos de sistemas, por isso preci-
visão geral e as principais definições em comum samos “padronizar” um método avaliativo,
nos estudos, mostrando que a termodinâmica é como utilizar um índice que estime qualita-
aplicada em qualquer ciência e, por isso, faz-se tivamente a operação real e ideal dos referi-
necessário um esforço para compreendê-la. Veri- dos sistemas.
fique, por exemplo, a dissertação de Samuel José Szargut, Morris e Steaward (1988) apresen-
Sarraf Borelli, Método para a análise da composição taram uma expressão para o rendimento
do custo da eletricidade gerada por usinas termelé-
exergético (η) relacionado com a conversão
tricas em ciclo combinado a gás natural. Disponível
de energia em processos químicos, confor-
em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponi-
me equação que se segue.
veis/86/86131/tde-15072005-144325/pt-br.
php>. Acesso em: 1 out. 2017.

193/210 Unidade 8 • Termoeconomia


Rivero (1993), Bejan, Tsatsaronis e Moran
(1996) definiram uma equação análoga,
mas para analisar processos térmicos, dada Link
por: Na dissertação de Sílvia Palma Rojas, Análise exer-
gética, termoeconômica e ambiental de um sistema
de geração de energia. Estudo de caso usina termo-
elétrica UTE – Rio Madeira, é apresentada uma ta-
Brodyansky, Sorin e Le Goff (1994) indica-
bela com as expressões para as eficiências exer-
ram uma expressão, apresentada a seguir,
géticas de componentes mecânicos (compres-
para avaliar processos em que ocorre, ex-
sor, turbina, misturador) e térmicos (câmara de
clusivamente, a destruição de exergia, tal
combustão, trocador de calor, caldeira). Dispo-
como se observa a diminuição da pressão
nível em: <http://repositorio.unb.br/bitstre-
em uma válvula e a liberação de calor em
am/10482/2826/1/2007_SilviaIlenaPRojas.
um condensador.
pdf>. Acesso em: 28 set. 2017.

194/210 Unidade 8 • Termoeconomia


O “Valor Técnico-Econômico”, VTE, foi pro-
posto por Oliveira (1991) e considera, na Para saber mais
análise econômica de um processo, o ren- Índices exergéticos podem também ser emprega-
dimento exergético, parâmetros de opera- dos na avaliação de impacto ambiental que um
ção de sistemas e custos; contando com a processo ou uma substância pode gerar no meio
existência de uma ponderação para cada ambiente, uma vez que a definição de exergia nos
um desses fatores, dada sua relevância ex- remete ao potencial de provocar uma mudança,
pressa por um expoente cujo somatório sendo influenciada por indicadores, como taxa de
corresponde à unidade. Esse autor analisou recursos, eficiência ambiental e taxa de poluição.
os cálculos de VTE para circuitos de refrige-
ração e bomba de calor. Moran et al. (2013, p. 312) destacam a im-
portância da exergia para “agregação de
custos aos produtos de um sistema térmi-
co”, ou seja, podemos especificar, para cada
produto, seu custo de produção. Esses mes-
mos autores exemplificam a análise de cus-
to exergético a partir de um sistema de co-
geração, identificado pela Figura 1.

195/210 Unidade 8 • Termoeconomia


Figura 1 – Fluxograma de um sistema de cogeração

Fonte: Moran et al. (2013, p. 312).

196/210 Unidade 8 • Termoeconomia


Efetuando-se o balanço das taxas de custos
para cada equipamento, no caso, caldeira e
turbina, estima-se o custo de cada produto
do sistema de cogeração, sendo cada uma Onde Zb considera a taxa de custo associada
das taxas de custo avaliada em termos de à aquisição e ao funcionamento da caldeira.
uma taxa de transferência de exergia e um Analogamente, para a turbina do sistema
custo unitário, conforme mostra a equação de cogeração apresentado, tem-se:
a seguir.

Onde c representa o custo por unidade de Onde Ɛ é a eficiência exergética da turbina.


exergia (R$ por kWh) e Ef, a taxa de transfe-
rência de exergia associada.
O custo unitário do vapor a alta pressão,
para esse sistema, pode ser obtido pela
contribuição dos custos do combustível e
de aquisição e do funcionamento da caldei-
ra, ou seja:
197/210 Unidade 8 • Termoeconomia
Glossário
PCI: abreviação para Poder Calorífico Inferior, corresponde ao poder calorífico quando ocorre a
queima isobárica do combustível, com toda água contida no combustível e formada durante o
processo de combustão no estado vapor.
Exergoeconomia: ferramenta utilizada na análise e otimização de sistemas térmicos presentes
na geração de energia elétrica ou em cogeração.
Sistema de cogeração: processo de produção e uso combinado de calor e eletricidade, capaz de
aproveitar mais de 70% da energia térmica dos combustíveis utilizados.

198/210 Unidade 8 • Termoeconomia


?
Questão
para
reflexão

Ao longo deste tema, verificamos como seria possível


minimizar as ineficiências termodinâmicas dentro de
um sistema com a otimização termoeconômica. Su-
ponha que você esteja engajado na implementação de
uma planta termoelétrica, quais seriam os parâmetros
relevantes a serem levantados numa análise termoeco-
nômica do projeto de investimentos, a fim de garantir
sustentabilidade técnico-econômica e de negócio?

199/210
Considerações Finais
• Apresentamos a relação entre a exergia de um processo químico com a eco-
nomia e definimos, assim, a termoeconomia.
• Citamos um caso de aplicação de análise termoeconômica em setor de
energias renováveis.
• Identificamos algumas equações que determinam o rendimento de conver-
são de energia em processos químicos, térmicos e dissipativos de exergia.

200/210
Referências

BEJAN, A.; TSATSARNIS, G.; MORAN, M. J. Thermal design and optimization. New York: John Wiley
& Sons, 1996.
BRODYANSKY, V. M.; SORIN, M. V.; LE GOFF, P. The efficiency of industrial processes: exergy
analysis and optimization. Amsterdã: Elsevier, 1994. 487 p.
GRACIANO, V. Análise e otimização termoeconômica aplicada a usina termelétrica de Figuei-
ra. 2007. 169 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Engenharia Mecânica, Universidade Federal
do Paraná, Curitiba, 2007.
MORAN, M. J.; SHAPIRO, H. N; BOETTNER, D. D.; BAILEY, M. B. Princípios de termodinâmica para
engenharia. 7. ed. São Paulo: LTC, 2013.
OLIVEIRA, S. Revalorisation des effluents thermiques industriels-analyse exergétique, entro-
pique et economique, 400 p. Tese (Doutorado) – Institut National Polytechnique de Lorraine,
Nancy, 1991.
PASSOLONGO, R. et al. Estudo termodinâmico, termoeconômico e econômico da gaseificação da
palha em uma usina de álcool e açúcar. In: BRAZILIAN CONFERENCE ON DYNAMICS, CONTROL
AND THEIR APPLICATIONS, 9., 2010, Serra Negra. Conference. Serra Negra. p. 790-796.

201/210 Unidade 8 • Termoeconomia


PELLEGRINI, L. F. Análise e otimização termo-econômica-ambiental aplicada à produção
combinada de açúcar, álcool e eletricidade. 2009. 349 f. Tese (Doutorado) – Curso de Engenha-
ria Mecânica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
RIVERO, R. L’analyse d’exergie: application à la distillation diabatique et aux Pompes à Chaleur à
Absorption. 680 p. Tese (Doutorado) – Institut National Polytechnique de Lorraine, Nancy, 1993.
SANTOS, R. D. D. dos. O uso da biomassa da cana-de-açúcar para cogeração e produção de
energia elétrica: análise termodinâmica, termoeconômica e econômica – estudo de caso. 2014.
166 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Bionergia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
Toledo, 2014.
SZARGUT, J.; MORRIS, D. R.; STEWARD F. R. Exergy analysis of termal, chemical and metallurgi-
cal processes. New York: Hemisphere Publishing Corporation, 1988. 332 p.

202/210 Unidade 8 • Termoeconomia


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Aula 8 - Tema: Termoeconomia. Bloco I Aula 8 - Tema: Termoeconomia. Bloco II


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203/210
Questão 1
1. Qual dos termos a seguir é o procedimento mais adequado quando se fala
em realizar uma análise termoeconômica?

a) Análise exergética.
b) Balanço da Primeira Lei.
c) Balanço da Segunda Lei.
d) Análise de eficiência.
e) Análise do coeficiente de performance.

204/210
Questão 2
2. Qual é o principal objetivo de se realizar uma análise termoeconômica?

a) Reduzir o consumo de energia.


b) Aumentar a eficiência do sistema.
c) Melhorar a performance do sistema.
d) Aumentar a produção.
e) Reduzir os custos de forma geral.

205/210
Questão 3
3. Para realizar uma análise termoeconômica, é necessário desmembrar
o termo de custo em duas variáveis distintas, uma que mede o custo por
unidade de exergia (c) e outra que mede a taxa de transferência de exer-
gia (Ef). Com base nessa informação, qual é, respectivamente, a unidade
dimensional das variáveis c e Ef?

a) R$ ou R$/kWh e W.
b) kW e kJ.
c) kW e R$.
d) R$/kWh e kJ.
e) m/s e kW.

206/210
Questão 4
4. Determinado sistema de aquecimento apresenta taxa de transferência de
exergia de Ef=5,3MW. Sabendo que o custo unitário dessa exergia é c = 0,75
R$/kWh, assinale a alternativa que indica o custo total, em kW/h, desse sis-
tema.

a) R$ 4.575,00.
b) R$ 2.759,00.
c) R$ 3.575,00.
d) R$ 3.975,00.
e) R$ 2.945,00.

207/210
Questão 5
5. Ao realizar uma análise termoeconômica completa, há diversas etapas
que se fazem necessárias. Analise os termos a seguir e depois selecione
quais devem fazer parte de uma análise termoeconômica completa.

I. Avaliação exergoeconômica de cada equipamento do sistema.


II. Análise exergética detalhada do sistema.
III. Custeio exergético.
IV. Análise econômica detalhada dos equipamentos.
Agora, assinale a alternativa que apresenta item(s) correto(s).
a) Apenas I.
b) Apenas I e III.
c) I, II, III e IV.
d) Apenas III e IV.
e) Apenas I, II e III.

208/210
Gabarito
1. Resposta: A. medida da taxa de transferência de exergia
é o W, ou seus múltiplos KW, MW, por exem-
A análise exergética é um passo extrema- plo.
mente importante para a posterior análise
econômica de todos os fluxos de exergia as- 4. Resposta: D.
sociados ao sistema.
O cálculo do custo total por unidade de
2. Resposta: E. energia é obtido pelo produto do custo uni-
tário da exergia pela taxa de transferência
O objetivo de uma análise termoeconômica de exergia necessária. Assim: ċ1=ċĖf.
é obter o conhecimento de todos os custos
associados ao sistema, de forma individua- 5. Resposta: C.
lizada, visando sempre a redução dos custos
de maneira geral. Todas as afirmativas estão corretas e fazem
parte da realização de uma análise termoe-
3. Resposta: A. conômica completa.

A unidade de medida do custo por unidade


de exergia é R$ ou R$/KWh e a unidade de
209/210

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