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Midia, Tecnologias e Aprendizagem Resumo, Neste artigo, serao discutidos aspectos so- ciol6gicos da midia e as implicacdes psicolé- gicas do processo de recep¢ao dos seus con- tetidos. A midia utiliza, predominantemente, a imagem como recurso para a construczo de seus discursos, assim, aqui serao apresen- tadas algumas questdes acerca da imagem e da aprendizagem no contexto midiatico. No campo da educacao, uma das abordagens educacionais para esse fendmeno social & a conhecida como midia-educacdo. Serao abordados também, aspectos sobre as instan- cias do processo de comunicacao, da forma de interacao do sistema midia com 0 sujeito receptor de seu contetido. Além disso, carac- teristicas das principais midias utilizadas na educagao, procurando ressaltar as possibil dades para 0 uso educacional. Palavras-chave: midia-educacao, imagem ¢ educagao, sistema mididtico, sociologia da comunicacao, niveis de leitura da imagem, audiovisual e aprendizagem, virtualidade. e vida humana Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condigoes modemas de pro- dugio se anuncia como uma imensa acumulacao de espetéculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fuma- ‘cada representacao (DEBORD, 1994). trecho citado € parte da obra de Guy Debord, socidlogo e filésofo francés. Escri- ta no auge dos movimentos contraculturais do final dos anos 60 do século XX, talvez seja uma das obras mais criticas 4 nossa so- ciedade. Fla apresenta uma andlise do de- senvolvimento da sociedade, denunciando Lato Sensu a espetacularizagao, entendida como estrutu- rante das relagGes sociais, que passou a defi- nir e organizar a sociedade contempordnea. Nesse universo, a midia, enquanto instituicao promotora das relagGes espetaculares, colo- ca-se no centro de nossa discussao. Sem pretender demonizar a midia ou a tecnologia que a suporta, pretende-se trazer alguns elementos para pensar os usos ¢ as im- plicagdes do ponto de vista social e psiquico da relagao da midia com a educacao, em par- ticular com a aprendizagem. Quando pensamos sobre a relacao da mi- dia em nossa vida, tenemos a sublinhar seus valores culturais e dar menos atengao a seus valores sociolégicos e psicolégicos. Talvez a palavra certa nao seja nem valores, e sim im- plicagdes, intervencdes na natureza humana a partir do aparato tecnol6gico, ou, como tam- bém é denominado, Sistema Social da ia. Em meio as questdes discutidas em torno da midia, a psicandlise oferece alguns ele- mentos para reflexdo. Os psicanalistas afir- mam que o mal do século é a ansiedade & a depressao: ambos os distirbios psiquicos tem 0 tédio como um de seus componentes, uma vez que ele se instaura como uma das manifestacdes subjetivas de um espirito coa~ gido, afastado de sua verdadeira existéncia, ou seja, como uma manifestagao das conse- quéncias do ponto de vista psiquico que esta sociedade midiatizada vem produzindo nas pessoas (ADORNO, 1995). Esse processo traz como uma das prin- cipais consequéncias a detragao da fantasia — como utopia — e seu atrofiamento, pois 0 sujeito volta sua fantasia para o contetido que as midias lhes oferecem e se identifica num processo psiquico de regressao do tipo narci- sico, de fantasia iluséria. A perda dessa dimensio na subjetividade humana cria as condigées para que, mesmo ek Novas Tecnologias tendo tempo livre para desfruté-lo & sua ma- neira, as pessoas nao conseguem fazer deste um tempo efetivamente livre. Elas acabam por buscar uma nova oferta do mercado da diversao para consumi-la nesse tempo, satis- fazendo em alguma medida sua necessidade psiquuica de desligamento (ainda que por pou- cas horas) do real: um filme no cinema, algu- mas horas na intemet, outras tantas presas na frente da televisao. ‘As midias, nesse sentido, atuam como elemento de coesao entre o tempo do traba- Iho € do nao-trabalho, mantendo 0 sujeito numa dindmica de continuidade na sua vida estandardizada, relacionando-se a partir de uma dinamica da espetacularizagao. Com isso, 0 tédio da vida cotidiana é ilusoriamen- te rompido pelo glamour proporcionado pelo contetido das midias, pela vida do gala, pela ida aos cinemas, pelos encontros furtivos nas. salas de bate-papo virtual Porém, além dessas dimensdes de cardter psicossocial, alguns autores ainda apontam ou- tros elementos que atuam diretamente sobre 05 individuos. Uma dessas é a relaco dos sujeitos com 0 tempo. Segundo Uhlmann (2002, p. 6), “A realidade fragmentada, retratada por imagens sem tempo, levam as pessoas a reagées inade- quadas tais como a regressdo a tempos passa- dos ou digresses em mundos de fantasias, en- fim a viverem em um mundo sem o agora, sem © real, somente o virtual e imagético” ‘A distincao entre espaco ¢ tempo fica des- focada. Essas questées explicam em alguma medida certos comportamentos de pessoas que vivem, no sentido lato do termo, a vida de personagens da midia. Os personagens sao criagdes, nao existem e, portanto, nao po- dem ser analisados e sequer tomados dentro do mesmo quadro de referéncia e de valores com 05 quais lidamos no nosso convivio. No entanto, a narrativa da midia e a narrativa da vida cotidiana aparecem para parte da popu- lagao, sem qualquer distingao. Esse cfeito certamente é devastador, pois mostra em que medida esses sujeitos estio suscetiveis ao discurso mididtico, sem ou pouca capacidade de discernimento. Com isso, temos que concordar com Uhlmann (2002, p. 3) de que Sénia Cristina Vermetho © convivio social no mundo ociden- tal passa a ser, de maneira crescente, até mesmo exponencial com o adven- to das novas tecnologias geradoras de Imagens, govemado por imagens, de aparéncias, do politico, do diretor, do homem e da mulher. Imagens que se sobrepde a pessoa, Nesse sentido, a discussao sobre as ima- gens coloca-se no niicleo deste artigo, pois independente da tecnologia utilizada, as rela- {Bes sociais na atualidade sao mediadas pelas imagens. Segundo Costa (2005), as imagens, além de despertar um movimento intrapsiqui- Co profundo, tem grande importancia na cul- tura humana. Para 0 autor [..] as imagens mentais que obtemos de nossa relacao com o mundo podem ser armazenadas, constituindo. nossa meméria, podem ser analisadas pela nossa reflexao e podem se transformar numa hagagem de conhecimento, ex- periéncia e afetividade (2005, p. 27) Varias téenicas foram desenvolvidas ao longo da histéria humana, permitindo que os individuos expressem sua subjetividade, utilizando-se de desenhos, pinturas escul- turas. Por meio disso, compartilham com os outros suas emocées e sentimentos, desperta- dos pela relagao de si proprio com 0 mundo © com 08 outros. Com © desenvolvimento tecnoldgico, 0 processo de produgao de imagens foi se am- pliando e diversificando. Costa (2005) orga- niza as imagens em duas categorias distintas imagens tradicionais, que sio as “imagens produzidas a partir do uso de técnicas ma- nuais ou gestuais € instrumentos que apenas facilitam ou potencializam a expresso do autor” (p. 28); ¢ as imagens técnicas, que sio realizadas com 0 “uso de equipamentos que interferem de forma significativa no seu pro- cesso de produgao” (p. 29). Segundo a autora, ao falarmos em ima- gens, devemos identificar, ainda, 0 processo Ou © estagio do processo cognitivo ao qual nos referimos, ou seja, podemos tratar de uma imagem advinda de uma percepgao sensorial da realidade (imagem/visio), de imagens internas elaboradas do mundo (ima- gem/pensamento) ou de expresses de nossa sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem subjetividade (imagem/texto), Nessa ultima festao as imagens produzidas por linguagens tradicionais e as imagens técnicas. No campo da educagao, a tradiga0 que submeteu os conhecimentos ao registro escri- to obriga quem deseja ter acesso a ele utilizar a leitura, pratica esta que levou a associagao centre conhecimento e alfabetizacao. JA a lin- guagem visual, por ser considerada pouco precisa, ambigua ou excessivamente particu- lar, parecendo pouco ligada a racionalidade, fez com que a escola nao utilizasse como base para a aprendizagem as imagens e sua leitura em atividades pedagogicas. Na sociedade atual, as imagens nos cer- cam a todo 0 momento, seja a nossa propria imagem refletida no espelho, sejam as ima- gens que aparecem no cinema, na televisio ‘ou nas telas do computador. Essas imagens, mesmo que involuntariamente, despertam a emocio, gerando diferentes reacdes. Diante dessa realidade, a retomada da leitura das imagens na escola toma-se urgente e, para Costa (2005, p. 35), a opcao por uma educacéo que valo- fiza a educagao pela e para a imagem nao se faz em nome de uma acao pe- ddagégica menos disciplinada ou mais espontaneista, mas em busca de um eltendimento ais afetvo do nando € de uma comunicacao mais abran- gente e inclusiva Porém, nao podemos deixar de enfatizar que a utilizacao da linguagem visual na edu- cagao exige planejamento e aprendizado e, principalmente, uma leitura critica das mes- mas justamente pelo caréter emotivo, ambi- guo e afetivo, Retomando as categorias comentadas an- teriormente (imagem/visio, imagem/pensa- mento, imagenw/exto), Costa (2005) sugere aos educadores alguns trabalhos pedagégicos ‘a partir das capacidades que ajudam a desen- volver. A primeira categoria, imagem/visdo, relaciona-se ao uso do olhar e ao desenvolvi- mento da competéncia do ver coma pritica da observagao. Segundo a autora (2005, p. 38): el 0 olhar nao depende apenas da habilidade dos érgaos da percepcao, Sénia Cristina Vermetho mas também dos processos mentais, € que ambos necessitam ajustes,trei- amento ¢ experimentagao para seu desenvolvimento. As atividades peda- gogicas voltadas para essa finalidade dizem respeito 8 conscientizagéo do aio de ver, de sua complexidade e par- Gialidade. Dizem respeito também a0 aprendizado de uma meiodologia de aprimoramento da observacio, A segunda categoria, imagem/pensamen- to, refere-se aos estimulos visuais que sao or ganizados para que 0 observador identifique ou reconhega aquilo que vé, ou seja, as ima- gens sao organizadas ¢ processadas. Nessa categoria também entram as emogoes, a me- méria e 0s juizos de valor, que darao origem a visao de mundo. A terceira categoria, imagem/texto, diz respeito as imagens processadas em nossa mente, que representam os elementos mais importantes que possuimos em nossa relagao com os outros e com o mundo a nossa volta Para que essa relacao se efetive, foram criadas as linguagens que colocam os individuos em comunicagao, permitindo que estes expres- sem a sua visao de mundo. De acordo com Costa (2005), € possivel identificar dois sub- grupos pertencentes ao grupo imagenvitexto’ textos em linguagens visuais ¢ textos em lin- guagens nao-visuais, O primeiro diz respeito “4s imagens que resultam do uso predominante das lin- guagens que se destinam a percepgao vi- sual do observador” (COSTA, 2005, p. 46) € que podem ser divididas em imagens de linguagens tradicionais (pintura, desenho, gravura, escultura) ou imagens técnicas (fotografia, cinema, video, computadores); © segundo se constitui “em obras que se destina 4 percep¢io coletiva pela sensibi- lizagao de outros érgaos dos sentidos que nao a visao, como audi¢ao, olfato ou tato” (COSTA, 2005, p. 46). Também podem ser divididas em lingua gens tradicionais (musica, por meio de instru- mentos musicais) e técnicas (miisica, com 0 uso de tecnologias avangadas de produgao reproducao de sons). Sinteticamente, essa categorizacao estd na tabela a seguir: sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem Tabela 1 Categorizagao das imagens Eee Cognitive Producao reconhecimento Tecnologia nenhuma Imagem/visio | Imagem/pensamento | Imagens intemas ela Expresses de nossa subjetividade boradas do mundo: (meee Fstimulos visuais para Processadas em nossa mente com técnica ane Uso de técnicas ma- uals ou gestuais Uso de equipamentos, Linguagem Pintura, desenho, Fotografia, cinema, visual sgravura, escultura video, computadores Linguagem Misica, por meio de Miisica com 0 uso de ndo-visual instrumentos musicais_tecnologias avanca- das de produgao e reproducéo de sons Nesse ponto, voltamos a olhar para as ins- tancias de formagao do sujeito. O que esta acontecendo com nossa sociedade? Sem entrar em uma situacdo de plena nostalgia, mas, em décadas anteriores, a sociedade nha confianga em algumas instituigbes so- Ciais, essa crenga permitia certa estabilidade emocional. A crenga na escola garantia que ao final dos estudos basicos 0 sujeito teria um emprego, que o sistema financeiro iria manter sob guarda os bens ¢ oferecer bons servicos, etc. Porém, depois da segunda me- tade do século XX, essas instituiges sociais entraram num processo de descrédito perante a sociedade e, como consequéncia, é percep- tivel o aumento da instabilidade social, tanto individual quanto coletiva de boa parcela da sociedade. Do ponto de vista da midia, a forma como esta vern lidando com as questoes de interes- se piblico tem gerado uma série de pesquisas e corresultados, levando a criticas e a elo- gios, situando-a em alguns momentos como responsdvel e em outros como instigadora da crise social. Conforme Fischer (2005, p. 46), atualmen- te, 0 contetido da midia tem causado certo descaso com as questées piiblicas e isso La] diminui significativamente 0 atrati- Yo por temas que sejam de interesse co- imum; parece que reduzimos em nés a Sénia Cristina Vermetho ccapacidade © a propria vontade de ta- 22e 0s sofrimentos privados para 0 lugar da discussao de questoes piiblicas: va- ‘mos internalizando um modo peculiar de olhare tratar “a dor dos outros” |. Esses aspectos sio centrais para pensar mos a questéo da midia em termos de sua influéncia na formagao das novas geracdes ¢ do papel que ela ocupa diante das outras ins- tituigGes formadoras: a familia e a escola, Nessa discussao, é importante focar na te- levisio, nao por uma razao espectfica, mas, fundamentalmente, porque ela esta presente na maioria dos lares brasileiros — segundo IBGE (2009), em mais de 90% — e é uma das midias que professores € alunos tém acesso dentro ¢ fora da escola. A forma e 0 contetido do que é veiculado pela televisao encontram-se intimamente liga- dos, 0 seu grande poder est na forma de re- cepgao que, segundo Adorno (1971), impede © controle sobre 0 eu consciente. Em funco dessa caracteristica, é dificil dimensionar as implicagGes sobre a formacio do sujeito, uma vez que, mesmo isolando esses fatores, sabe-se que ele s6 adquire forca na totalidade do siste~ ma, ou seja, ainda que os meios de comunica- io tenham formas diversas de atuarem sobre 0 individuo, 0 seu poder se amplia em fungao do clima que acabam por criar no seu con- junto: a televisdo, em parceria com as revis- tas, com o rédio, com 0 cinema etc., cria um sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem “clima” em torno de um dado contetido. Em termos comunicacionais, é a conhecida teoria agenda setting ou agendamento tematico. A televisao nao é a Gnica instancia forma- dora, mas reforca ainda mais o que os indi duos jé so efetivamente e amplia as estruturas. comunicacionais do sistema social ¢ econd- mico. Com isso, como coloca Adorno (1971), a economia psiquica individual tornou-se so- Gializada, ao criar um mundo de aparéncia e, dessa forma, atuar muito mais nos mecanismos psicolégicos, contribuindo para que se veja 0 mundo como ideologia. O autor levanta dois aspectos caracteristicos da televisa * ofato de levar os produtos para dentro das casas; * aminiaturizagao das imagens, que de- veria implicar uma percepcao estética © nao natural. Em particular, 0 segundo aspecto de- monstra como nossa percep¢ao foi condicio- nada pelas midias. Tomar aquelas imagens miniaturizadas como reais é racionalmente impossivel, pois nao seria razodvel a identifi- cago com os herdis, uma vez que se mostra claramente como algo nao-real. No entanto, a degeneragao de nossa percepcao estética permite que esses objetos miniaturizados se- jam apreendidos como brinquedos, os quais podem ser tomados para si, como proprieda- de, dando a sensaco ao telespectador dle su- perioridade perante esses objetos. Segundo Adorno (1995), isso pode levar a uma duplicidade do mundo criado pela te- levisao. Esse aspecto toma relevancia porque uma parcela consideravel de iniormagées sobre nossa sociedade advém dessa midia Muitos de nés convivemos num espago social bastante reduzido: espaco do trabalho, do lar, em geral da cidade onde residimos, porém, sabemos de situagdes que ocorrem nos qua- tro cantos do mundo. © espaco é, assim, comprimido (HARVEY, 1994) cada vez mais, em fungao do uso cres- cente dos meios de comunicagao que nos levam em espectro até os lugares mais indspi- tos. Assim como a fotografia, a imagem proje- tada na tela de uma televisao esconde muitas outras imagens, é um recorte, um fragmento do mundo trazido até nds, Sénia Cristina Vermetho A relagao entre publico e privado coloca- se hoje no centro de muitas discuss6es sobre a televisio, Em muitos aspectos, o privado tem sido utilizado como elemento nuclear na estruturagao de programas para a televisao, como os reality shows, 0s quais, muito mais do que trazer para dentro dos lares 0 que = acontece no espaco publico, fazem fantasia e espetaculo do que € privado do outro. Num interessante estudo realizado entre 1997 a 2000 sobre o contetido dos progra-° mm mas de televisio, Fischer (2001), tentando caractetizar o que denominou de dispositive pedagégico da midia, descreveu as variadas técnicas de exposicao dos individuos. Os modos de transformar a vida em espe- | S téculo possibiliaram a autora identiiar que SES a partir dos recursos do zoom, do enquadra-, mento, etc., a televisio captura aquilo que & Ss umana a mais intimo do sujeito e expde ao pablico, como se pudesse e devesse penetrar na inti- midade daqueles que traz 4 cena, ¢ também, por conseguinte, na intimidade de quem ob- serva: um exercicio de voyerismo, um espe- tho de nat A autora acrescenta ainda que [..1 éna exposicao dos sujeitos, basica- mente na exposicao de todos os medos € insegurancas, de todas as diividas, pecados e transgressGes que, 20 serem publicizados, so tratados no sentido de uma normalizagao |. (FISCHER, 2001, p. 104) Ou seja, ao agir publicizanda o que é privado, expondo a intimidade das pessoas, a televisao busca uma conformacao do com- portamento, uma adaptacao & realidade. Outro elemento para reflexdes seria anali- sar essa questo do ponto de vista da relacdo entre individuo e coletividade. No texto “Psi- cologia das massas e anélise do ego”, Freud (1976) explica que © processo de identifica- 40 que ocorre numa coletividade possui tra- os que indicam uma regressio do eu, pois, em um grupo, existe uma forte tendéncia da personalidade individual consciente desapa- recer, dando lugar a uma orientagao de pen- samentos e sentimentos ditados pela coleti- vidade, bem como uma preponderancia da afetividade e da vida psiquica inconsciente. Midia, Tecnologias fie e Aprendizagem Os individuos, num coletivo, tendem a executar irrefletidamente acdes que surgem no grupo, ele renuncia ao seu ideal de ego tro- cando-o pelo do grupo, isto porque, segundo Freud (1976), 0 individuo sente necessidade de estar em harmonia com os demais membros do grupo ligando-se a eles por lagos libidinais. Mais recentemente, numa analise da so- ciedade da segunda metade do século XX, Marcuse (1998) defende que a repressio exercida pela autoridade, como a existen- te nos grupos sociais como a familia, igreja, etc., vem sendo afrouxada exatamente pela perda da funcao paterna, Para cle, vivemos numa sociedade sem pai, na qual a atrofia do ego observada por Freud na anélise das massas pode ser amplamente encontrada nos dominios da sociedade atual, € nao somente na relagao do individuo com o grupo social ‘As midias vém cumprindo essa funcao identi- ficada por Freud. Como dizia Marcuse Lal a atrofia do ego, sua resistencia reduzida aos outros se manifestam na maneira_ com que permanentemente fica disponivel para solucoes que lhe sio impostas de fora. A antena em cada casa, 0 rédio em cada praia, a vitrola tem cada bar e restaurante sio todos gritos de desespero para nao ficarmos s6s, separados dos grandes, condena- dos 20 vazio, a0 édio ou aos sonhos do préprio eu (1998, p. 97) ‘A formacao do eu mediado por relacoes fragilizadas, carentes de situacBes de enfren- tamento para a formacao de um ego bem es- truturado, acaba por colocar as pessoas, © as criancas em particular, diante de um processo de identificagao com 0 coletivo no qual se sentem ainda mais favordveis a uma adesdo apressada aos ideais do grupo, sem parime- tro valorativo para avaliar suas agGes. Numa sociedade como essa, liberada dos Vinculos sentimentais com a autoridade pater- na como simbolo da consciéncia moral, a ten- déncia é a liberaco de uma enorme carga de energia destrutiva. A propagacio da agressivi- dade tomaria dimensbes gigantescas, podendo levar ao colapso do grupo (MARCUSE, 1998). Essas previsdes parecem estar, em grande me- dida, se confirmando, nao sé pela realidade Sénia Cristina Vermetho das grandes cidades, como também pelos contetidos dos programas de TV, dos filmes do cinema, e dos contetidos usos da inter- net (CARLSSON; FEILITZEN, 1999; FISCHER, 2001; ERAUSQUIM, 1983). Com mais de 50 anos de existéncia, a te- levisdo encontra-se no centro de muitos gru- pos de pesquisadores em todo 0 mundo. Esse fendmeno de ampliacao e massificacao, do ponto de vista comunicacional, s6 pode ser comparado com a internet que, em menos de 20 anos, avancou para todos os cantos do planeta alterando profundamente praticas e habitos relacionais. A nova geragao vive sob a égide de uma nova ecologia comunicacional, sob novos formatos de aprendizagem. Isso porque, dife- rentemente das geragdes anteriores, 0 acesso 3 informacio ¢ ilimitado e, portanto, pode e cabe a cada um estabelecer sua estratégia didética, respeitando e potencializando suas habilidades cognitivas. No entanto, pelo seu curto tempo de vida, ainda carecemos de um volume de pesquisas que nos permitam estabelecer um quadro ex- plicativo para 0 fenémeno da comunicagao por meio da rede digital. Com a televisio € possivel estabelecer esse quadro. A seguir, um mapeamento das pesquisas realizadas com a televisao, em que procurou-se identificd-las a partir das impli- cagées do uso e do consumo da TV. Segundo Rivoltela (2002) podemos classi- ficar esses estudos em dois grandes grupos: * Pesquisas sociolégicas ~ efeitos de curto prazo e efeitos de longo prazo; * Pesquisas psicolégicas — efeitos psico- cognitivos € efeitos comportamentais. Essa classificagao indica que os estudos levaram a resultados distintos. O consumo de televisdo em curto prazo pode trazer os seguintes efeitos do ponto de vista psiq © cognitivo: * Acionar os mecanismos projetivos — algumas pesquisas indicaram que o sujeito que consome a midia pode se projetar neste ou naquele personagem de uma novela, filme etc. Ainda que seja um mecanismo natural do sujei- to, pode se complicar se a projecao sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem acontecer de forma intensa em perso- nagens virtuais. * Acionar os mecanismos de identifi- cacao — a identificagao € conhecida como 0 ato através do qual 0 sujeito tende a identificarse com algo que Ihe € extemo, sejam pessoas ou coisas Nessa situacao, a televisao, ao oferecer modelos de facil identificagio - em virtucle de seus personagens serem, na maioria, estereotipados - amplifica a agio do mecanismo de identificacao. Isso pode ocorrer com o herd, mas também com o vildo, pois nao ha ga- rantia que uma crianga v4 se identificar com 0 personagem que tem uma atitur- de correta. Rivoltela (2002, p. 4) ainda acrescenta que, Estes modelos, todavia, comportam uma légica simplista, frequentemente nao traduzem valores. positivos, in- fluenciando negativamente 0 modo pelo qual a crianca se comportaee valo- ra obem eo mal, Outras vezes apenas se tornam 0 motivo para frustracdes, fem razao das diferencas entre 0 que acontece de excepcional nas aventu- ras dos herdis na TV e a normalidade dda experiéncia cotidiana das criancas. Existem efeitos de curto prazo, mas que trazem consequéncias do ponto de vista comportamental. As pesquisas identificaram um comportamento de “imitagao” em rela- ao a personagens da midia, segundo Rivol- tela (2002, p. 5) “Entre as razGes que levam a imitagao est a natureza da imagem tele- visiva, realidade e fantasia a um s6 tempo, a verossimilhanga que pode sugerir ser possivel © que ¢ irrealizavel”. Esse comportamento tem sido reforgado com © fenémeno mais atual de integragao das midias. Um exemplo bem caracteristico 6 0 da revista Capricho, voltada para o pt- blico adolescente feminino, que possui além do meio impresso todo um suporte na inter- net. As capas sempre so estampadas com 0 rostos mais cobigados ou admirados do mundo juvenil, seja porque € 0 astro/estrela da novela, um nome do mundo da moda, da miisica ou do cinema. Entre as reportagens, Sénia Cristina Vermetho algumas muito instrutivas € realmente edu- cativas, mas a maioria traz sempre as dicas de como parecer-se com 0 personagem em destaque na capa, reforgando um comporta- mento de imitagao, como se, usando a roupa ou a maquiagem, fosse possivel adquirir parte dos atributos daquele personagem. ‘Apés o lancamento nas bancas, a revis- ta disponibiliza no seu site outras matérias, videos € fotos, além dos links para os blogs, twitter ou orkut das pessoas citadas na revista Isso permite que, além daquele contetido do filme ou daTV, 0 contato com os personagens seu universo glamoroso possa ser acessado € compartilhado de forma mais dinamica e intensa. Sobre os efeitos de longo prazo decorren- tes do consumo da midia, Rivoltela (2002) diz que, um deles, € a inibi¢So da criatividade e morte da imaginagao. Segundo o autor, al- guns pesquisadores chegaram a conclusio de que uma exposicao habitual e prolongada & televisao produziria uma reducao da capaci- dade lidica das criangas, podendo ser des- de uma tendéncia a repetir alguns esquemas estereotipados nos jogos e nas brincadeiras com seus colegas, até mesmo 0 efeito mais extremo que seria a perda da vontade e capa- cidade de brincar. Conforme uma das explicagdes dadas pelos pesquisadores, a imagem televisiva, a0 utilizar 05 primeiros planos ~ trazendo um de- talhamento maior — causaria uma saturacao de informagées, inibindo a acao criativa de complementar aquilo que é vislumbrado na tela. Essa falta de necessidade de imaginar 0 que estaria se pasando, como ocorte com a leitura de um livro que exige a imaginagao para criar as imagens da est6ria, seria o prin- cipal agente inibidor. Em varias pesquisas, os resultados indica- ram que a reincidéncia do consumo da televi- sio pode causar alteragdes cerebrais, pois no momento da assisténcia 0 cérebro se encontra ‘em uma “fase alfa”, caracterizada pela passi- vidade e pelo bloqueio da atividade ocular. Esse processo ainda produz uma atrofia da atividade do hemisiério esquerdo do cérebro em relacao ao direito. Ao estimular o lado di- reito do cérebro, sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem [..1 inibiria a conceituacaoem privilégio daassociacao analdgica, permitindo en- contrar uma possivel causa nao somente para aquela crise da imaginacao de que se falava anteriormente, mas também justificando as observagées de muitos professores quando responsabilizam a ‘exposicao das criancas 3 televisao pelos sinfomas que manifestam seus alunos: verhalizagao esparsa, incapacidade de concentracao e falta de motivagao para 05 estudos (RIVOLTELA, 2002, p. 10) Segundo a conclusdo de um outro grupo de pesquisas, 0 consumo continuado da tele- visdo pode atuar na formagao criando identi- dades frégeis ¢, por corolério, fazendo desa- parecer a infancia. © fato de imitar, de se identificar ou se projetar em personagens virtuais, poderia cau- sar na crianga a formagao de uma identidade fragilizada, pelo fato deste processo ter sido apoiado em situacdes nao reais. Com relagao. a infancia, € certamente uma das hipéteses mais difundidas entre os pesquisadores, pois “(| @ infaincia como realidade sociocultural, © universo infantil, seus tragos psicolégicos e comportamentais caracteristicos, tendem a transformar-se a tal a ponto que correm 0 risco de desaparecer” (RIVOLTELA, 2002, p. 12). Uma das questdes levantadas pelos autores esobre a qual é bastante interessante pensar, diz respeito aos espagos de circulagao das criangas na familia. Segundo Rivoltela (2002, p. 14), As transformagoes no modelo nuclear de familia, a crise de identidade dos papéis dos pais, sobretudo dos ho- mens [...] concorrem para transformar a infancia. A crianca é cada vez menos © objeto de atencao educativa e est4 cada vez mais submetida as confusas expectativas e projecdes compensats- ia das desejos toe pals) € cata ver menos 0 sujeito de um dialogismo comunicativo entre geracées, e cada oidnGe werk nai emis suas necessidades imediatas e das suas cexigéncias materias. Os efeitos de longo prazo sao aqueles ad- quiridos por um consumo prolongado da tele- Visao e que figuram no plano comportamen- tal. Um deles diz respeito 4s mudangas nas relacdes sociais, pois a televisio, como um componente de consumo pelos integrantes do Sénia Cristina Vermetho nticleo familiar, exige uma nova maneira de negociar 0 seu uso. Nesses casos os resultados tém mostra- do que esse objeto tanto pode favorecer um proceso de negociagao amigavel ou nao, ou. seja, tanto pode reforcar como enfraquecer a coesao interna do grupo familiar. ‘Além dessa questo, surge também a pro- blematica envolvendo o conjunto de valores ea capacidade da televisao interferir na defi- niggo desse quadro pelo poder de fascinacao dda imagem. Se as pesquisas trazem resultados significativos, ha que se considerar que nesse aspecto, a cultura local, nacional traz conse- quéncias sobre os resultados. Pode-se, assim, considerar esse aspecto relativizando seus resultados, pois serve como alerta aos pais, professores e comunidades. O fato € que essas pesquisas demonstram © potencial educacional da estrutura midié- tica atual e, nesse sentido, é importante que 08 agentes de socializagao privilegiados (fa- miia e escola) repensem sua acdo, levando em consideragao a aco dos meios de comu- nicacao no proceso formativo das novas ge- rages. Eniretanto, vivemos um dilema real, pois os pais © professores ensinam valores que contribuem para uma formacao que pri- vilegia uma convivéncia pacifica e coletiva, enquanto a midia estimula comportamentos contrarios a esses valores. Para atuar nesse contexto, é importante sublinhar as cluestdes inerentes a interface da escola com a midia, duas instituigGes sociais que atuam fortemente na formagao das no- vas geragées. £ fundamental que tomemos a midia como espaco de saber e, uma vez que as relagGes na sociedade atual estao baseadas nas relacOes imagéticas, é fundamental enten- dermos e nos apropriarmos da comunica¢io ‘como uma pritica social emancipadora. Sendo assim, podemos afirmar categori- camente que viver em sociedade 6, antes de tudo, estabelecer algum tipo de vinculagao com os outros. A psicologia ¢ a sociologia bus- cam, dentro de quadros explicativos distintos, alcangar uma maior compreensao dos fend- menos individuais e coletivos na dinamica es- pago-temporal do proceso de comunicagao, mas certamente nao tem sido uma tarefa facil. sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem A complexidade do vinculo inerente a0 processo comunicativo deve-se, entre outras coisas, & multiplicidade quanto aos tipos, meios, lugares etc. Como descreve Baitello Jr (1999, p. 83), LJ a distribuicdo de simbolos ¢ ima- ens, seja ela feita pelos cédigos da vi- Sualdade, ou por outos egos, a grandes complexos de vinculos comu- nicativos ~ grupos, tribos, seitas, cren- «2s, sociedad, culturas~e, com isso, ria realidades que nao apenas podem interferir na vida das pessoas, como de fato determinam seus destinos, mol- dam sua percepcao, impdem-thes res- trigGes, definem recortes e anelas para seu mundo, O que se tem atualmente é uma hibrida- Gio discursiva, técnica e mididtica, grande- mente facilitada pela convergéncia em tomo da tecnologia digital, um exemplo é o da revis- ta Capricho, citado anteriormente. Ou seja, € possfvel vislumbrarmos na atualiacle uma pro- dugao de contetidas em que todos os recursos dos diversos meios esto sendo trabalhados de forma muito criativa, dindmica ¢ ilimitada. desenvolvimento dos meios em base digital extrapola, rompe com as barreiras em torno da divisdo dos produtos em seus supor- tes classicos: midia impressa, midia visual, midia audiovisual etc.,. as quais, por sua vez, estabelecem uma relacao uni, bi ou multidire- ional. Assim sendo, nos vemos atravessadlos por uma rede, enlagados numa teia, mergu- Ihados num espaco comunicativo espesso & complexo em que o real se constitui quase na sua totalidade em um espago comunicativo. No entanto, ainda que nos comunique- mos todo © tempo de nossa vida (salvo em situagdes extremamente particulares de im- pedimentos bioldgicos), quando tentamos: analisar esse fendmeno dito comunicagao é como se ele nos “escapasse por entre os de- dos”. A facilidade para colocar em acao a comunicagao est diretamente oposta a de compreendé-la. Essas questdes, por conseguinte, envolvem © campo da ret6rica, das praticas de linguagem em tomo dos discursos que circulam social- mente, bem como da hermenéutica, ou seja, da interpretac3o, da explicagao dos sentidos dos Sénia Cristina Vermetho discursos. Se a retérica antiga era a técnica politica por exceléncia de linguagem na polis grega, temos hoje a midiatizacao enquanto pritica tecnolégica do discurso, sob a égide cdo mercado (SODRE, 2007). 2 Midia e tecnologia Lal j& no somos homens de pensa- ‘mento, homens cuja vida interior se al- !menta nos textos. Os choques sensoriais cconduzem-nos e dominam-nos; a vida modema assalta.nos pelos_sentides, pelos olhos, pelos ouvids. O automo: bilista vai demasiado depressa para ler 6s pains, ¢ apenas obedece as sinais yermelhos e verdes. [..] © ocioso que, sentado num cadeirao, julga repousar roda 0 botio e fara explodir no silen- Cio de sua casa a veeméncia sanara do ridio ou, na penumbra, os trepidantes fantasmas da televisio, a menos que te- tnha ido procurar numa sala obscura os espasmos visuais e sonoros do cinema [HUYGHE, 1986, p. 9-10). ‘A questio colocada por Huyghe nos re~ mete a todo o sistema midia. Porém, 0 que conhecemos hoje é resultado do desenvol- vimento de um sistema de linguagem, desde 0 tempos mais remotos da vida humana. Na histéria da humanizacio, existiu um esforgo em conquistar a natureza, dominar 0 desco- nhecido. Essa busca fez com que se desenvol- vesse um sistema de comunicacio, de troca, de contato entre os sujeitos e, posteriormente, serviu para o proprio registro das descobertas, das ideias, das informagées. Diversas formas foram criadas pelas co- munidades ao longo da pré-hist6ria e da anti- guidade, essa variedade de sinais (de diversas naturezas) e c6digos que chamamos de lin- guagem. A linguagem é tao importante para as sociedades humanas, que é considerada o di- ferenciaclor entre 0 homem e outros animais. ‘A primeira forma de linguagem, a oral, permitiu, em primeiro lugar, que os sujeltos se diferenciassem da natureza e apreendessem o mundo como algo exterior a eles. Permitiu, ainda, criar todos os outros meios de comuni- cago e formas de linguagem. Foi assim que sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem 05 sujeitos comecaram a se diferenciar dos. animais e, séculos depois, a compreender-se enquanto individuos. Além da oralidade, a arqueologia ajudou enormemente a desvendar os segredos dos tempos mais remotos da civilizagao. Na base do processo civilizat6rio esté a criagao de for- mas de comunicagao nao-orais, sendo que as mais antigas formas conhecidas sao as inscri- Ges rupestres, que s3o desenhos talhados nas pedras. Essas_ imagens foram utilizadas como formas de expresso e de comunicacao, tanto que alguns cédigos lingufsticos até hoje pos- suem em sua esirutura a imagem, tal como os hierdglifos, outros cédigos, como © nos- so, utilizam como complemento os simbolos, icones e signos. Para que a comunicagao se efetive é ne- cessério, portanto, que existam dois sujeitos: um que elabora, que cria a mensagem (polo emissor) € 0 outro que a decodifica, que a in- terpreta (polo receptor). Para tanto, é necess4- rio que ambos os lados do processo comuni- cativo ~ emissor e receptor ~ tenham dominio do cédigo linguistico utilizado. Quando essa comunicacao acontece diretamente entre dois sujeitos, dizemos que a comunicacao é direta, quando existe algum tipo de suporte material em que a mensagem € gravada, dize- mos que a comunicagao é mediada Inerente a comunicacao mediada tem- se, de um lado, o polo receptor e de outro, 0 polo emissor. Num sistema de comunicagao direta, emissores e receptores encontram-se juntos no momento da comunicagio, como numa conversa pessoal, Numa comunicagao mediada, existe entre o emissor € 0 receptor algum meio (r4dio, TY, jornal, web, etc.), as- sim, a emissao e a recepgao da mensagem acontecem em tempos ¢ lugares distintos. A. comunicagao mediada é 0 modelo de comu- nicagdo que impera nos tempos atuais, com © crescente avanco tecnolégico que coloca & disposigao do sujeito uma infinidade de op- ées, ampliando consideravelmente o poten- cial comunicativo. No caso das inscrigdes rupestres, a comuni- cago ainda ¢ possivel pela nossa capacidade Sénia Cristina Vermetho somos “bombardeados” por uma enorme quantidade de informa- g6es escritas, sonoras e visuai. de interpretar imagens, mas nao conseguimos dimensionar o real significado delas, pois 0 contexto atual é muito diferente daquele vivi- do pelos homens das cavernas. Diariamente, somos “bombardeados” por uma enorme quantidade de informacées escri- tas, sonoras e visuais. Em fungao dessa diver- sidade, existe um esforgo enorme para com- preender as implicagGes dos varios modelos, formas e tipos de midia, sobre nossa _percepgao do mundo e sobre 0 que aprendemos com elas. Esse esforgo fez com que a midia e seus con- tetidos fossem classificados. Entre as tantas classificagdes, optamos por algumas concei- tuagdes, buscando em particular aquelas que colocam em relevo o aspecto interacional. No aspecto da estrutura tecnolégica en- contramos em Harry Pross (apud BAITELLO JUNIOR, 2000) os conceitos de midias prima- rias, secundarias e tercidrias. Midia priméria € 0 proprio corpo, engloba todos os recursos que dispomos para produzir mensagens, para estabelecermos uma relac3o com 0 outro. Como diz Baitello Jr. (2000), sd0 todos os sons, movimentos € odores que criam cédi- gos € regras, que possuem significados. Na midia priméria, 0 emissor deve dominar a gestualidade e a mimica, enquanto o mensa- geiro (transmissor) deve saber correr, cavalgar e dirigir, para garantir a transmissao da men- sagem. Nesse campo de estudos, a teoria das midias incorpora as contribuigdes dos estu- dos dos cédigos hipolinguais (bioldgicos), linguais (sociais) e hiperlinguais (universo dos simbolos). Nessa dimensao, 0s aspectos cul- turais sao os elementos centrais no processo. comunicativo, pois o que esté em relevo sao 5 habitos culturais. Na midia priméria, 0 cor- po € visto também como possuidor de uma meméria cultural (MENEZES, 2008). Com 0 aparecimento da escrita e com a revolugao cultural, social e cognitiva, surgiu ‘© que Pross (apud BAITELLO JR, 2000) deno- minou de midia secundaria. A grande dife- renca das midias priméria e secundaria é que esta necesita de um suporte externo ao sujei- to para transportar e manter a mensagem. O papel, por exemplo, possibilita que a imagem sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem e/ou 0 texto permanega registrado e possa ser acessado em qualquer tempo e em qualquer lugar. Na midia secundaria, é necessério um suporte extracorpéreo somente para produ- zir a mensagem, mas nao para recebé-la, ou seja, a producao e a emissao necessitam de suporte. Nessa classificagao estao os meios impressos (jornais, revistas, cartazes, etc.) € 08 auditivos (radios, aparelhos de som, etc.) Na midia tercidria, os dois lados do pro- cesso comunicativo necessitam de um apa- rato técnico codificador e decodificador da mensagem. Ou seja, “[... nela todos os cor- pos envolvidos no proceso comunicativo precisam de ferramentas” (MENEZES, 2008) Para acessar a mensagem é necessario equi- pamento especifico ¢ isso sé foi possivel com © dominio da eletricidade, da transmiss40 de mensagens por meio de ondas, em que o contetido pode ser codificado para ser trans- mitido e/ou gravado e decodificado para ser recebido. Atualmente, contamos com uma infinidade de midias tercidrias em nosso co- tidiano, as quais alteraram significativamente nossa relagdo com 0 espaco e com o tempo. A consequéncia mais imediata com 0 surgi- mento da midia terciéria — a aceleracao do tempo e das sincronizagdes sociais (BAI- TELLO JR., 2000) ~ € 0 surgimento de uma cultura de massa com todos os seus aspectos positivos e negativos. Realizanclo uma analise da midia tercidria em termos relacionais, ou seja, uma anélise sobre os contetidos e 0 impacto destes sobre © receptor, é possivel obter, pelo menos, qua- tro categorias de contetido e da problematica em tomo dele: da dimensio mercadoria, da dimensao sociabilidade, da dimensao comu- nicacao e da dimensao cultura. Na dimensao mercadoria, 0 que se analisa 60 que é consumido pelo sujeito (radio, progra- mas de TY, tipos de filme etc.). Cada conteddo. carrega um conjunto de elementos qualifica- dores: popular, clissico, modemo, informativo, entretenimento. O sistema midiatico “vende” seus produtos e nds “compramos” alguns e re- jeitamos outros. Na dimensio da sociabilidade, 0 local e a forma de consumo do contetido es- tio colocados (como, onde e com quem), pois estes interferem no processo de soc Sénia Cristina Vermetho das pessoas, agrupando-as, distanciando-as © © mam que é requerido das habilidades sensoriais oe sujeito (audigao, visioctc.) eo queeleprecisa criando formas distintas de socializacao. A dimensio da comunicago analisa 0 dominar em termos de cédigos para interpre- tar suas mensagens. Finalmente, na dimensao cultura, é analisado © potencial mobili de aspectos de nossa cultura, aos valores cul- turais privilegiados, comportamentos etc. Porém, para que seja possivel compreen- der melhor essas questbes e, até mesmo, di- mensionar as pos cacionais, é importante saber que a apreensao @ dos contetidos da midia se da de forma gra- duada, ou seja, © levam a um aprofuncamento cada vez maior do contetido. Alguns contetidos sao mais pro- picios a essa leitura aprofundada, outros nem tanto. Por exemplo, € mais facil, do ponto de vista operacional, “ler” uma fotografia com mais profundidade do que um filme, em fun- 30 da fotografia ser uma imagem estética € o filme nao. No caso das imagens, para que a leitura seja feita, passa-se por trés niveis de atencao: instintivo, descritivo e simbélico. No nivel ins- tintivo, a leitura se da de imediato, pois os ele- mentos que intervém neste nivel sao aquelesli- gados a0 mecanismo da percepcao, elementos emotivos tais como as cores (quentes ¢ frias), as formas (altitude, latitude, altivez etc.), as ex- presses € as evocacées imediatas. Os olhos correm pela imagem e se prendem aos pontos focais, percebendo os mais expressivos. O nivel descritivo, que acontece num mo- mento posterior & leitura descritiva, € aquele em que nosso olhar comega a se prender nos elementos que compdem a imagem. Nesse nivel, comeca-se a observar as linhas que dao anogao de perspectiva, os planos que surgem (geral, médio, close) pelos campos, pelo volu- me dos objetos, luzes e sombras que compoe © todo. No nivel descritivo, nosso cérebro re- cebe um conjunto maior de informages: a descrigio dos objetos, do ambiente e a iden- tificagao do “sujeito” da imagem. No nivel simbélico, nossa percepgao so- bre a imagem assume uma dimensio simbéli- a, ou seja, nesta fase a leitura se pauta pelos sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem < dor vo _ vo idades em termos edu. fem niveis de leitura que \ st conhecimentos que temos sobre 0 assunto, sobre os objetos, o ambiente etc. Nessa fase, trabalha-se com os aspectos polissémicos das. imagens. Sua interpretacao e leitura depende- ro do arsenal de conhecimentos e da sensi- bilidade do observador. Essas caracteristicas assumidas pela ima- gem © 0 modo de apreender © contetido, permitiram 0 entendimento de que lidamos sempre com dois niveis fundamentais em tor- no do contetido de uma imagem/mensagem: a denotacao e a conotacao. O nivel denota- 0 refere-se & enumeracio e descrigao dos objetos num determinado contexto ¢ espaco. O nivel conotativo refere-se a andlise das mensagens ocultas numa imagem e na forma como a informagao aparece escondida ou re- forcada, Para Umberto Eco (1993), a conota- G90 & a soma de todas as unidades culturais que © significante pode evocar institucional- mente na mente do destinatério. Nessa dis- cussio € necessario compreender 0 conceito de signo. Lal signo € a relacao entre 0 concei- to (que denominaremos, mais adiante, significado) e a imagem actstica (signi- ficante). Em outros termos, quando uti- lizamos a palavra mesa, estamos com- binando um conceito de mesa com os fonemas me-sa (ECO, 1993, p. 58). Assim, é possivel entender 0 aspecto lin- guistico que organiza nossa capacidade de comunicacao ¢ da comunicacao por meio de conceitos. Toda lingua, como um siste- ma organizado de conceitos e de signos, tem um aspecto que € 0 significante — 0 objeto e sua forma — e um som associado a ele. Por exemplo, enquanto conceito, 0 objeto casa possui caracteristicas que nos permitem visualizar sua imagem ao lermos ou escutarmos 0 nome casa. No entanto, asso- ciada a essa imagem criada em nossa men- te, também evocamos o que ela representa significa para nés culturalmente. Com isso, a expresso: casa (significante = objeto) + casa (significado = cultura) = casa (significagao = lugar de abrigo). A partir dessa definigao, 0 termo deno- tago é compreendido como 0 sinal, como Sénia Cristina Vermetho a midia tem o potencial de (re) significar os objetos a indicagao objetiva. Ja a conotagao é com- preendida como sendo o sentido translato, subjetivo, propriedade que tem um termo de designar um ou mais seres. No exemplo an- terior, casa pode ser entendida no seu sentido denotativo como local de abrigo, e no sentido conotativo como aconchego, seguranga. Isso nos leva a uma questao fundamental na discussao em torno da midia e seu poten- Gial educativo. Os signos foram construidos socialmente € os significados sao criados na relacdo que o sujeito estabelece com o objeto. O sentido conotativo de casa, por exemplo, fol construido a partir da rela¢ao do sujeito com © objeto. Nos tempos atuais, em que 0 ia atua no processo de socializa- do €, portanto, de formagao e de aprendiza- gem, a (re) significagao dos objetos igualmen- te passa a sofrer interferéncias do meio. Ou seja, a midia também tem 0 potencial de (re) significar 0s objetos, de construir ou descons- truir 0s seus significados Todo contetido de midia possui um con- junto de elementos que 0 constitui: um texto, uma imagem, um som etc., 0s quais sio pro- duzidos com técnica num suporte tecnolégi- co. E importante analisar esses contetidos © proceso subjetivo em tomo da aprendiza- gem possivel. No caso da imagem, em particular a fo- togréfica, 0 ato de produzir e/ou apreciar uma fotografia é um processo que envolve 0 observar, 0 selecionar, o escolher uma visio € um ponto de vista. Do ponto de vista da psicologia, a fotografia tem sido associada 40s processos que Ocorrem no nosso apare~ tho psiquico. Dubois (1993) encontra na fo- tografia, apoiado em Freud, elementos para relacionar processos psi- quicos aos processos de produgao da fotografia Parte da nocao de aura para defender que no ato de tomada de um instante do real (tirar a foto), ocorre uma cisdo daquela imagem do seu mundo, como diz Dubois, procede-se um corte definitive do cordao umbilical que vinculava aquela imagem ao mundo. O tem- po de espera entre a abertura do diafragma e a visualizacao da imagem ~ seu consumo ~ situa-se entre um real que ja nao existe mais, sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem levado pelo tempo, e uma imagem concre- tizada no suporte, imagem latente, que nos proporciona a revelacao de um tempo e lu- gar longinquos, “por mais préximos que es- tejam” (DUBOIS, 1993). A fotografia 6 a meméria que se concret zanum suporte material. Essa relagao indefi- nivel, entre essas temporalidades ~ 0 presen- te € 0 passado ~ nas imagens registradas no passado que sio trazidas ao presente, ilustra de maneira complementar o funcionamento do aparelho psfquico (DUBOIS, 1993). Se- gundo ele, ‘Ostracos mnésicos escondidosemnos- 0 inconsciente estio ao mesmo tem- po sempre todos ali, e sempre inteiros, $6 sua ascensio a supericie € seletva Todas as virtualidades sao registradas, mas as atualizacdes na consciéncia, as reyelacdes sao feitas pontualmente, de acordo com mil procedimentos, que ‘sio como tantos filtros [...] (DUBOIS, 1993, p. 321), Segundo 0 autor, uma fotografia sempre es- conde mil imagens atts dela, sob ela ou a sua volta, E um recorte idealizado e realizado pelo enquadramento dado, que imprime e esconde imagens do real. Noentanto, arelacao amorosa que temos com a fotografia emerge em grande medida desde sua origem, devido a vontade, a0 desejo humano de conservar tragos de uma presenga que ira desaparecer com o tempo, 6 0 “L..1 trabalho sobre a temporalidadle € 0 jogo complexo entre a duracao € o instante, a pre- senga marcada, numa das vers6es, do autorre- trato, com suas impossibilidades e seus parado- xos enunciativos [...1” (DUBOIS, 1993, p. 139), que vai estar presente no ato de olhar para uma foto e que marca profundamente nossa relagao com a imagem fotografica. Roland Barthes, ao analisar a fotografia, afirma que as imagens possuem estatuto prd- prio na agao sobre nosso imaginério. Barthes justifica que a imagem fotogratica nao pode ser aprofundada “[...] por causa de sua fora de evidéncia”. Isso em funcao de que [uJ na imagem, o objeto se entrega em loco e a vista esté certa disso ~ a0 contrario do texto ou de outras per- epgoes que me dao o objeto de uma maneira vaga, discutivel, e assim me Sénia Cristina Vermetho incitam a desconfiar do que julgo ver (BARTHES, 1984, p. 157) Com isso, podemos pensar que a ima- gem nos apresenta como uma totalidade em si. Ela nao abarca a totalidade do real, mas no processo de sua leitura a apreende- ‘mos na sua totalidade, ao contrério da men- sagem escrita que difere da fotografia pela sequencialidade com que apreendemos seu conteddo. Sendo assim, a fotografia age uni- vocamente, invocando-nos a patticipar da mensagem-imagem com apelos que trans- cendem 0 consciente lido € racionalizado, pois traz 8 tona elementos registrados no nosso inconsciente que emergem como frag- mentos, como ruinas de um tempo perdido. Ela superdimensiona a dimensao conotativa do objeto, de sua representagao no contexto cultural e afetivo do sujeito. Esse aspecto é interessante se analisarmos no interior da propria histéria da fotografia Segundo Dubois (1993), 0 primeiro estagio do discurso fotografico esteve ligado a ideia da mimese, a imagem fotogréfica como mi- mese do real, fortemente atribuica em fungao da semelhanga existente entre a foto e 0 seu referente. Recoberta pelas nocdes de similaridade € realidade, a fotografia ligava-se & verda- de, documento que garantia autenticidade a0 objeto. Concebida como espelho do mundo, a imagem construfda por meio de processos mecanicos e fisico-quimicos ga- nhava estatuto da imitagao mais perfeita da realidade. Ainda hoje, a agio de uma imagem fotogritica sobre a subjetividade humana permanece carregada do indicio de veracidade, pois, como coloca Dubois (1993, p. 26), a0 nos depararmos com uma foto, subsiste, apesar de tudo, “[...] um sentimento de realidade incontornével do qual nao conseguimos nos livrar apesar da consciéncia de todos os cddigos que estao em jogo nela ¢ que se combinaram para a sua elaboragdo”. Ou, como dizia Barthes (1984, p. 132), “L...] na fotografia, de um ponto de vista fenomenolégico, o poder de autenticagao sobrepde-se ao poder de re- presentacao”. sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem Por conta dessas caracteristicas, uma fo- tografia assume funcoes distintas, alcancan- do, atualmente, uma categorizacao que tem como base a intengao com que foi produzida, e também, a partir de quais elementos. Uma foto pode assumir ou ser feita com uma fungao histérica ou documental. Por exemplo, as fotos antigas de cidades, casas € pessoas, atualmente podem ser utilizadas para analisar 0 contexto arquiteténico ce um determinado periodo e regiao. Muitas pes- quisas antropolégicas utilizam-se de imagens para discutir determinadas tematicas. Conforme nos coloca Alegre (1998, p. 76), [..] © estudo da imagem 6 fundamen: tal para o entendimento dos miitiplos ppontos de vista que os homens cons troem a respeito de si mesmos dos outros, de seus comportamentos, seus pensamentos, seus sentimentos € suas emogdes em diferentes experiéncias de tempo e espaco. Entretanto, a autora adverte que a ima- gem, pelo seu cardter polissémico, exige uma anilise nao s6 na sua dimensio historica e so- ciol6gica, mas também semiol6gica, ou seja, na dimensao cognitiva da imagem. Uma foto também pode assumir uma fungao de registro do cotidiano ~ aquelas produzidas sobre fatos sociais, ambientais =, para servir como suporte as matérias jor- nalisticas. Essas imagens sao chamadas de fotojornalisticas ¢, normalmente, sao pro- duzidas por fotdgrafos especializadas, que adquirem um olhar sobre a realidade que Ihes permite registrar os fatos no instante em que ocorrem. Sao pessoas que trabalham para os jormais, revistas € que sao contra~ tados para fazerem coberturas fotograticas dos fatos e eventos sociais, politicos, artisti- Cos e esportivos. Depois, as fotos fardo parte das matérias publicadas por esses vefculos de comunicagio. As fotografias podem ser também do tipo artisticas, cuja fungao 6 a de apreciacao artis- tica. A fotografia artistica se consolidou, atu- almente, como um ramo da fotografia, com alguns fotégrafos que sao artistas da imagem. Uma foto-arte possui © mesmo status que uma pintura ou escultura, existem exposigdes Sénia Cristina Vermetho de fotografias em galerias de arte produzidas por fotégrafos que se especializaram nessa modalidade. Um exemplo de fotégrafo que possui sua obra divulgada em varios paises é Sebastiao Salgado. Seu estilo fotogréfico & reconhe- cidamente forte, em fungao do apelo emo: cional e critico que possuem suas imagens Gd - sio fortes, Outro tipo € a foto cuja fungio a publi- cidade, aquela produzida em estiidios foto- US oO iagonal gréficos, ou mesmo externamente, mas com (9 todo cuidado técnico para dar publicidade a © = algum produto. As fotos de moda também se encontram nessa categoria. Independente da funcao e do tipo da foto- gratia, existem cuidados para que se obtenha uma boa foto. A técnica para produgo de uma imagem prende-se, basicamente, em trés itens: enquadramento, plano e angulo. Claro que ou- {ros elementos também sao considerados, por exemplo, uma imagem com a fusdo de fundo 6 desagradavel e pode roubar a atengao do cen- tro de interesse, Fuses de fundo sao objetos ou linhas que esto excessivamente juntas a0 assunto principal. O ideal é simplificar as fotos € reforcar 0 centro de interesse selecionando funds simples, evitando assuntos ndo-relacio- nados com o assunto principal. Toda fotografia é um recorte da realidade definido pelo enquadramento, que é o recor te que sera dado ao real, uma escolha entre (© que ficaré dentro do quadro da imagem e 0 que ficara fora. Um exemplo de falta de en- quadramento é quando tiramos uma foto em que a cabeca ou os pés sao cortados. E impor tante analisar os abjetos que serio fotografa- dos pelo visor ou lente da maquina para que se consiga um bom enquadramento. ‘Além do enquadramento, a composicio também define 0 recorte a ser dado. Nos exemplos a seguir, é possivel analisar melhor. 2.1 Composi¢ao diagonal Na composigao diagonal, propositalmen- te cria-se no leitor uma sensagao de desequi- Iibrio, pois a impressdo é de que o objeto vai air. Esse tipo de enquadramento deve ser Midia, Tecnologias foie e Aprendizagem Compos bem dosado, para nao dar a impressao de que a foto foi mal tirada. ‘Acervo da autora. 2.2 Composicao central Na composi¢0 central, 0 objeto ocupa todo © centro da foto. Nessa foto, pode-se ver que 0 objeto ocupa toda a imagem, portanto o enqua- dramento centralizado é 0 mais indicado. ~ ‘Acervo da autora 2.3 Composicao horizontal Nessa foto, todos os objetos possuem uma direco mais horizontalizada: as pedras, o bar- co € a propria linha do horizonte que € mar- cada na imagem. Portanto, para essa imagem, a composicio mais indicada & a horizontal, com a maquina deitada nessa posigio. 2.4 Composicao vertical Um exemplo de composicao vertical é 0 de fotos de pessoas. O sentido de um corpo humano € vertical, ao tirar uma foto no sentido horizontal, a pessoa fica “achatada” e aparen- ta ser mais baixa do que realmente é. Por isso 0 segredo é¢ tirar a foto no sentido vertical. Na foto a seguir, 0 objeto possui linhas que “puxam” a imagem para cima, fazendo com que predomine uma imagem mais verti- calizada. Nesse caso, a tinica possibilidade é enquadrar, para que a foto fique numa posi cao vertical, Acervo da autora. O plano também compe a técnica foto- grafica. O plano € definido como a distancia entre 0 observador e 0 objeto fotografado, Po- de-se utilizar 0 plano de duas formas: a) apro- ximando-se ou distanciando-se_fisicamente do objeto para o registro ou b) utilizando os recursos de zoom da maquina, que permite que 0s objetos sejam fotografados com pla- nos distintos, Plano aproximado Acervo da autora, sc cee Miia, Tecnologias e Aprendizagem Plano médio Acervo da autora. © plano de conjunto, plano geral ou pa- nordmica permite registrar 0 maximo de es- paco possivel que 0 equipamento ou que a posicao do fotégrafo permite. Na fotografia a seguir, foi possivel mostrar desde objetos bem proximos ao observador, até os que estio bem distantes Acervo da autora. Porém, para que uma imagem possua um forte apelo emotivo e visual, é importante res- peitar a “tegra dos tercos”. Essa regra diz que quando se quer dar relevancia a certos ob- jetos numa imagem, deve-se colocé-lo ocu- pando a regio compreendida entre os dois tercos inferiores direito ou esquerdo da gem, nunca na parte superior e menos ainda na parte central. Assim, a leitura respeitard as Zonas de atencao que ficam entre os dois ter- 0s abaixo e & direita da imagem. ima- Acervo da autora, Acervo da autora. A imagem fixa é uma das formas de pro- dugao de contetido utilizadas por algumas midias. O audiovisual, que surgiu com o cinema no século XIX, foi resultado de uma série de pequenos avangos técnicos. Pri- meiramente surgiu a fotografia, depois com fotos numa sequéncia mostrada em uma su- cessao répida produziu a sensacao de movi- mento. Historicamente, essa atividade jA era realizada desde a antiguidade. Os chineses desenvolveram a arte das sombras chinesas, projetando a silhueta de pequenas figuras de madeira ou couro e representando pequenas ist6rias. No século XVII foram desenvolvi- dos os primeitos projetores dotados de lentes, Imagens eram pintadas sobre vidro e projetadas em paredes ou em tecidos. Esses sistemas foram os precursores dos atuais projetores de slides. as lanternas magica sc cee Miia, Tecnologias e Aprendizagem O invento dos irmaos Auguste e Louis Lu- miére, 0 “cinematégrafo’, foi o que impul- sionou o cinema. Ele logo se desenvolveu € se popularizou, tornando-se dliversao e sendo utilizado para muitos fins: documentarios, es- tudos cientificos etc. O produto do cinema, 0 filme, tem uma hist6ria curta, mas recheada de contetido que permite uma classificacao, chamada de género. O género nada mais € do que um conjunto de elementos que per- mite a identificagao de um filme logo nas primeiras cenas: 0 cenétio, os personagens, a iluminagao, tudo isso ja vai dizendo qual © género do filme. Alguns tipos mais conhe- cidos sao: documentario, ficgi0, comédia, western, terror, policial, entre tantos outros tipos que vem se consolidando no mercado, cinematografico, Do ponto de vista social e econdmico, 0 mercado cinematografico representa um setor industrial e econdmico importante ~ de gran- de faturamento — em alguns paises gerado- res de emprego. Mas 0 que possibilitou esse desenvolvimento econdmico foi um sistema criado nos EUA conhecido como star system. Esse sistema surgiu com a criagao dos gran- des esttidios e consistia em fabricar esirelas para encantar as plateias. O star system é 0 responsavel pela producao das grandes estre~ las de cinema, Atrizes famosas como Sophia Loren, Elizabeth Taylor, Gary Cooper, James Dean e mais recentemente; Roger Moore, Leo- nardo Di Caprio, Julia Roberts etc., 40 alguns que a indiistria cinematografica colocou no mercado para serem consumidos. ‘Além dessa estratégia mercadolégica, a inddstria cinematografica ocidental produz filmes que se encaixam literalmente em uma férmula de sucesso, chamada de “cinema classico narrative”. A maioria absoluta dos fil- mes hollywoodianos sao clissicos narrativos = que é a forma de estrutura narrativa que o pliblico de cinema, em geral, esté acostuma- do a ver. O piblico foi educado, nos tiltimos 100 anos da histéria do cinema, a assimilar facilmente esse tipo de filme. © espectador médio possui total compreensio desses fil- mes estruturados sob a narrativa classica por- que seu cérebro esta programado para assistir acles Sénia Cristina Vermetho Existem regras e férmulas para se fazer um. filme classico narrativo e o que acontece & que, em geral, se essas regras e férmulas sao obedecidas, 0 filme & um sucesso. O piiblico geralmente rejeita os filmes que fogem a esse tipo de estruturacao narrativa, porque filmes nao-classicos narrativos nao se encaixam no padrao ao qual os nossos cérebros esto acos- tumados. Essas regras so, basicamente: * absolutamente necessdrio que o fil- me tenha inicio, meio e fim bem de- finidos; * todo filme classico narrativo parte da premissa de uma situacao estavel sendo abalada por um acontecimento chave (que desestabiliza o normal) € a posterior busca pela volta a estabi- lidade; * © espectador deve, obrigatoriamen- te, se identificar com os personagens, que devem ser escritos e interpretacios a fim de causar essa. identificagao. Além disso, 0 espectador busca no filme uma espécie de catarse para os seus préprios problemas e sentimen- tos, portanto, o final feliz é quase uma obrigacao; * todo filme classico narrative possui pelo menos dois plot points muito bem definidos: 0 primeiro é 0 aconte- cimento chave que desestabiliza a si- tuac3o normal ¢ 0 segundo é um outro acontecimento chave que é 0 climax do filme — e que aponta para o final dele. Quanto aos elementos técnicos do au- diovisual, além dos. fotogréficos, ainda podem ser utilizados os recursos de ilumi- nagao, os cenérios e a trilha sonora. Esses recursos sao espectficos e ajudam a compor uma verdadeira gramatica para a linguagem audiovisual No entanto, socialmente falando, as trés midias que possuem atualmente maior im- pacto e penetragao na sociedade sao 0 ré- dio, a televisao (pelo ntimero de aparelhos presentes nos espacos brasileiros) e a midia digital, particularmente a internet, pela sua densidade e flexibilidade. sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem No Brasil, a figura de maior destaque no desenvolvimento da tecnologia do radio é 0 padre-cientista Landell de Moura, que obteve do Governo brasileiro, em 1900, a carta patente sobre seu invento. No Brasil, a primeira transmissdo oficial foi no dia 7 de setembro de 1922, em comemoragao a0 centenario da independéncia do Brasil, com © discurso do entao presidente da Repiblica Epiticio Pessoa. O radio comercial, nas primeiras décadas do século XX, foi resultante do crescente pro- cesso de consumo dessa midia, em particular apés a aprovacao do Decreto n. 21.111 de 01/03/1932, que autorizou que 10% da pro- gramagao de uma emissora pudesse ser com- posta por comerciais pagos. Nessa mesma. época, comegou a contratacao de artistas € de produtores para manter um padio de qua- lidade na programagao veiculada. Nos anos 40 do século XX, época de ouro do radio, a programagao tornou-se ainda mais popular aumentou significativamente os indices de audiéncia. Em 1942, foi transmitida a primei- ra radionovela (Em busca da felicidade). Co- megaram também os programas de esporte, 0 radiojornalismo e os noticiarios, em particular 0 famoso programa O reporter Esso, que pos- teriormente foi levado para a televisao. A vinculacao do radio com a politica veio nessa época. Esse processo esteve ligado di: relamente ao contexto anterior @ Segunda Guerra Mundial € se intensificou durante o conflito. Segundo Chaia (2001, p. 210), embora existssem algumas especula ‘bes em tomo das potencialidades do melo, os nazistas foram os primeiros a perceber e posteriormente a desenvol- Ver 0 uso do rio como meio de pro- paganda nacional e internacional. No Brasil, 0 ridio também foi utilizado com propésitos politicos, com mais inten- sidade durante © governo de Getilio Vargas (1930-45 e 1950-54) que, consciente de seu potencial comunicacional, utilizou essa midia para promover a integragao nacional em tor- no do seu projeto politico, Getilio foi quem criou, em 1935, 0 programa Hora do Brasil “L..] que tinha como objetivo promover a in- Sénia Cristina Vermetho tegragao nacional, criar uma identidade poli- tica e divulgar suas ideias politicas” (CHAIA, 2001, p. 218). Posteriormente, Eurico Gaspar Dutra alterou o nome do programa para Voz do Brasil, o qual permanece até os dias atuais. O rédio € uma midia que sempre esteve muito atrelada as questées politicas (CHAIA, 2001) Outro ponto interessante do radio é a sua forma de consumo. Como diz Chaia, uma das J caracteristicas que diferencia o ré- dio dos outros meios de comunicagio 60 aspecto de que as mensagens 530 transmitidas apenas oralmente, através do som, e 0 receptor pode executar ‘outras atividades, concomitantemente 2 sua escuta. © rédio pode, portanto, star presente em muitos lugares, pos- sibilitando varias ages simultaneas & Cconquistando espacos que a televisao 0 jomal impresso nio podem preen- cher (2001, p. 202) Essa caracteristica inaugurou, certamen- te, um fenémeno social em que um contet- do poderia ser consumido em praticamente qualquer lugar, por qualquer pessoa, pois 0 radio nao requer que para seu consumo se- jam adquiridas habilidades especificas, além da capacidade de ouvir. Outro aspecto que também tornou o radio uma midia atrativa, do ponto de vista do produtor, 6 a sua estrutura tecnolégica e o processo de produgao. O seu dinamismo e flexibilidade permitem que os contetidos possam ser alterados, atualizacos € produzidos com grande facilidade ¢ com baixo custo, em comparacio, por exemplo, com os custos de producao para a televisao, cinema ou jornal. © custo de transmissao da voz é bem menor do que 0 custo de transmis- sao da imagem. Muitos acreditavam que, com o surgimen- to da televisio, o ridio iria desaparecer. Po- 6m, 0 efeito foi contrério. O rédio encontrou sua propria linguagem e conquistou seu pic blico, funcionando em complementaridade em relagao as demais midias. Devido as suas caracteristicas, 0 radio ex- plora certos potenciais humanos (a voz e a audigao), se caracterizando como a midia da oralidade. Como tal, um texto narrado deve ser interpretado como um texto de teatro. A mensagem deve ser elaborada e interpretada sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem segundo padroes técnicos, mas também esté- ticos, Essa questao torna-se um fator central nas produces para o rédio, pois na oralidade lidamos com a problemstica da interpretagao dda mensagem. No caso da televisio, dentro da progra- magao da TV brasileira, a telenovela desponta como fenémeno nacional. Esse género cres- ceu a passos largos e rapidamente ganhou 0 coragao do grande pablico. Detentor de altos indices de audiéncia, 0 género tornou-se alvo de intmeras pesquisas tanto no Brasil como na América Latina. Segundo Elias (1998, p. 38), © sucesso da telenovela, tal qual a conhecemos hoje, pode ser atribuido a0 fato de ela possibilitar a0 telespec tador uma identificacao com o seu co- tidiano, funciona como um espelho da realidade. A telenovela parece colocar tum pouco de fantasia na vida real um pouco de realidad na fantasia, Aqquestao envolvendo 0 avango dasmidias de massa hé muito vem revestida de posicdes, indicando, segundo Umberto Eco (1993), a classificacao das pessoas entre os apocalipti- os € 0s integrados. Os apocalipticos seriam aquelas pessoas que veriam no fenémeno do crescimento dos meios de comunicagao de massa, ou das mfdias de massa, como a te- levisio, 0 rédio, 0 cinema, uma ameaga de crise para a cultura e para a democracia. Os ntegrados sao aqueles que se rejubilam com a democratizacao do acesso de milhdes de pessoas a essa cultura do lazer. No entanto, como adverte Umberto Eco (1993), as atitudes extremistas acabam levan- do a resultados semelhantes. A atitude mais adequada € ter uma posicdo critica, © equi- brio entre 0 otimismo ingénuo e o catastro- fismo estéril, um equilibrio que assume a am- bivaléncia do meio, as suas possibilidades € limitagGes, as suas contradigdes internas. No Brasil, & possivel afirmar que € forte a penetracao da televisio nos espacos urba- nos, confirmando que se trata de uma prética relacionada ao universo cultural da moderni- dade. Entre as classes sociais ~ sabendo que a pirimide socioeconmica brasileira € bas- tante distorcida, com concentragao de renda Sénia Cristina Vermetho numa parcela pequena da populagao — existe um ntimero significativo de familias com bai- xo poder aquisitivo, mas que possui televisio de canal aberto, na sua grande maioria, e que tem, neste meio, uma das poucas formas de acesso aos produtos culturais: filmes, nove- las, shows, noticias, documentatios etc. Em termos numéricos, a televisao atinge mais de 90% dos lares brasileiros (PNAD/ IBGE, 2009). Com isso, do ponto de vista cul- tural, a populagao brasileira tem, hoje, um veiculo que atinge praticamente a totalidade da populacao, ou seja, o que esta em jogo éa estruturagao de nossa relagao com 0 mundo. As midias digitais representam um avan- 0, tornando-se uma ferramenta de demo- cratizacao do acesso & informacao. Mas sao interessantes algumas informagdes sobre a génese dessa tecnologia. A criac3o da internet coincide com as mudangas na economia e na politica no final dos anos 50 do século XX, em plena Guerra Fria, na disputa pela lide- ranga tecnoldgica. O EUA criou uma Agéncia de Desenvolvimento de Projetos Avancados, a Apa, subordinada ao Ministério de Defesa e, em 1962, com a jungao de outro invento da AT&T, 0 modem, se tornou vidvel a co- munieacao de dados entre dois computado- res com a transmissao de pacotes de dados. Essa tecnologia comecou a receber a atencao do governo americano porque apresentava a possibilidade de distribuir as informacdes es- tratégicas em varios pontos, impedindo que informagées valiosas fossem destruidas, em caso de ataque, fragilizando a defesa do pats, disso surgiu a Arpanet. Desse uso estratégico-militar, a rede de computadores sofreu um novo impulso quan- do, ainda nos anos 70 do século XX, 0s eco- nomistas estadunidenses pressentiram que para os préximos perfodos a informacio teria um peso significativo na economia. Em 1977, encomendaram um relatério pata avaliar esse aspecto e identificaram que, desde 1966, a informacao representava 47% da forca de trabalho e do produto interno bruto daquele pais. O desenvolvimento das tecnologias da inormagao e da comunicagao faz parte de uma estratégia dos pafses mais ricos para se manterem na lideranga econémica. sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem Esse fendmeno fez surgir uma questao so- cial: a alfabetizacao digital. Atualmente, do- minar os cédigos da rede eletranica é tao im- portante como tem sido até agora saber ler € escrever. A proliferagao das novas tecnologias ea enorme quantidade de informacées que a internet oferece as pessoas coloca em xeque a necessidade de repensar alguns papéis na educacao. Como diz 0 pedagogo Seymour Papert, do Massachutts Institute of Technology (MIT), “se a escola nao fizer uma revolugao, as criangas vao fazé-la” Essa midia trouxe, ainda, a incorporagao de uma infinidade de termos e conceito: cyberspace, web site, homepage, e-mail, link, hacker, browser, interface etc. No entanto, 0 conceito mais difundido e importante é 0 de hiper- texto, Lucia Ledo, no seu livro O labirinto da hiper- midia (1999), explica de maneira simples o que & um hipertexto: “um documento digital com- posto por diferentes blocos de informacies inierconectadas” (p. 15), através de vinculos eletrénicos ou links, que permitem ao usuario avancar na leitura na ordem desejada, Segundo Pierre Lévy, os chamados blocos de textos sao como nés ¢ 0s links s4o as cone- xGes. Para ele, o chamado hipertexto Ll €um conjunto de nds ligados por conexdes. Os nés podem ser palavias, paginas, imagens, gréficos ou partes de. graficos, sequéncias sonoras, do- Cumentos complexos que podem eles rmesmos ser hipertextos. Os itens de in- formagao nao sao ligados linearmente, como em uma corda com nés, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexdes em estrela, de modo re- ticular. Navegar em um hipertexto sig- nifica, portanto, desenhar um percurso tem uma rede que pode ser tao compli- cada quanto possivel (1993, p. 33), Essa capacidade aliada & de incorporar contetidos de varios formatos, de ser multimi- dia, torna a intemet a mais poderosa midia de comunicacao ja desenvolvida pela humani- dade. Multimidia é um termo que pode definir a conjugagao de textos, sons, imagens e mo- vimentos. E, mais recentemente, baseando-se Sénia Cristina Vermetho Atualmente, dominar os cédigos da rede eletranica é tao importante como tem sido até agora saber ler e escrever. nesses avangos, tem-se os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), considerada a tec- nologia mais avancada para a educacao. Alguns elementos em torno da problemé- tica sobre a penetracao da midia na socieda- dea tornam uma instancia formativa de gran- de importancia © relevancia educacional ‘Além disso, o sistema mfdia interfere também no processo social como um todo, pois atua intensamente nas relagSes sociais, ou seja, a construcdo da cidadania passa pelo inter- cambio com a midia, em geral. Os meios de comunicacao so espacos do saber e a popu- lacdo tem confianca nos seus relatos (contet- dos). Com isso, a sociedade ocidental moder- na acabou por construir um mundo com base nas relacdes imagéticas com a midia, ctiando uma realidade editada. Por isso, é fundamental entender a comunicagao como pritica social ¢, como tal, deve-se ter uma atuagao critica fren- te ao sistema midia, pensar criticamente seus contetidos, saber selecionar informacies. Segundo alguns pesquisadores do tema, © sistema midia estrutura os atos comunicati- vos, criando uma recle comunicativa espessa e ampla. Isso pode levar a uma hipotrofia dos nossos sentidos (sensorium humano), a uma hipertrofia dos sentidos de proximidade (tato, olfato, paladar) © a uma hipotrofia dos senti- dos de distancia (audigao e visio). Essas mu- dancas podem, ainda, contribuir para desen- volver algumas patologias da comunicagao, as quais sao geradoras da violéncia, que seria a perda da propriorecepgao (sentido do pré- prio corpo). © que esté em jogo nesse proceso € 0 grau de adesio que 0 sujeito estabelece com © discurso da midia, quanto mais aderente for 0 discurso em relacao as expectativas do sujeito, maior sera a interferéncia da mensa- gem na vida da pessoa. Com 0 crescimento € diversificacdo das midias na sociedade, esse processo tende a acirrar-se, levando a0 conceito de midiatizagao. Nesse conceito, a questo no esta no processo de veiculagao de acontecimentos por intermédlio dos meios, mas no “L..] funcionamento articulado das sec ee Miia, Tecnologias e Aprendizagem tradicionais instituigdes sociais com a midia", © que nos permite “|...] sustentar a hipétese de uma mutacio sociocultural centrada no funcionamento atual das tecnologias da co- municacao” (SODRE, 2007, p. 19). Com isso, temos que concordar com Bai- tello Jr Ll a distribuicdo de simbolos e ima- gens, seja ela felta pelos cédigos da vi- sualidade, ou por outros cédigos, cria grandes complexos de vinculos comu- nicativos ~ grupos, tribos, seitas, cren= «as, sociedades, culturas—e, com iss0, ria realidades que nao apenas podem interferir na vida das pessoas, como de fato determinam seus destinos, mol- dam sua percepcio, impdem-lhes res- trigGes, definem recortes e janelas para © seu mundo (1999, p. 82), Por isso, pensamos que o desafio é para a sociedade e para a educagao porque [..] comunicar 6 a acao de sempre, infinitamente, instaurar 0 comum da comunidade, no como um ente |..1, mas como uma vinculacio, portanto, ‘como um nada constitutivo, pois o vin- culo é sem substancia fsica ou insttu- ional, é pura abertura na linguagem (SODRE, 2007, p. 20) Temos que considerar que lidamos com linguagem, com a construgao do discurso que permite a formagao de sujeitos (subjetivi- dade) a producao do real (concreticidade). Portanto, a relacao da midia com a educacao vai muito além de um uso como recurso dida- tico, de apoio, mas estabelece contextos com- plexos para a relacao ensino-aprendizagem, pois o que acontece sao entrecruzamentos de discursos: professor(a) € midia, uma intertex- tualidade que inaugura um contexto comple- xo € preocupante. Para lidar com essas quest6es, ha algumas décadas surgiu a 4rea da midia-educacao, Cujo objetivo é lidar com a midia numa pers- pectiva social, entender o lugar que a midia ocupa na sociedade atual ¢ analisar o impac- to social historicamente, as implicagées para as relagoes sociais e para a organizagao da sociedade. Numa perspectiva educacional, © que a drea defende é que o profissional da educacao deve dominar as linguagens das Sénia Cristina Vermetho midias, pois isso significa dominar novos Cédigos dle acesso ao conhecimento, visando proporcionar uma formagao critica do aluno, em que ele aprenda a selecionar, criticar a fonte das informacées. Numa perspectiva in- dividual, a midia-educacao se propée a atuar na produgao de arte com a criagao/autoria, © que atua diretamente sobre a autoestima dos alunos, mas também cria um novo modo de percepgao estética do real. ‘Anogao de educagao para as midias abran- ge todas as maneiras de estudar, de aprender e de ensinar em todos os niveis [a] e em todas as circunstancias, a historia, a criacao, a utlizacao e a ava- liagao das midias enquanto artes plés- ticas e técnicas, bem como o lugar que elas ocupam na sociedade, seu impac- to social, suas implicacées da comu- nicagao mediatizada, a participacao € a modificagao do modo de percep- ‘20 que elas engendram, o papel do trabalho ctiador ¢ 0 acesso as midias (UNESCO, 1984) sso porque, numa andlise social, vive- ‘mos um processo de desordenamento cultural (MARTIN-BARBERO; REY, 2001), numa convi- vencia com uma opuléncia em termos comu- nicacionais, com uma debilidade de publico, com uma maior disponibilidade de informa- cao, com um empobrecimento/deterioracao da educagao formal, num contexto em que existe uma multiplicagao de signos, numa sociedade que padece dle maior deficit simbélico. © que se coloca nesse contexto que a midia-educagao ou educacao para as mi dias é condigao sine qua non para a edu- cagao e para a cidadania, portanto, para a construcao de uma sociedade democrat e humanista. 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