Sie sind auf Seite 1von 12

Eurocentrismo: um olhar voltado à construção da modernidade

Aluno: Elias Jorge de Moura Filho


Trabalho Final de História Moderna – 2º Semestre
Professor Dr. Geraldo Witeze Junior
Resumo:
O artigo que segue faz uma crítica ao senso comum em relação a modernidade
eurocêntrica e reitera a ideia de que os europeus são os melhores do mundo, os mais
desenvolvidos, os que possuem melhor cultura e conhecimento superior, critica a visão de
“periferias” da Europa que os outros países levam por causa do discurso eurocêntrico. Com
um olhar voltado à construção da modernidade, aborda eventos como as novas
individualidades do Renascimento, a composição do mundo colonial, as reformas religiosas, o
iluminismo, as revoluções da burguesia, que foram acontecimentos importantes e marcaram
presença nesse processo, mostra o lugar e a participação dos explorados, as relações de
superioridade e inferioridade a qual ainda hoje temos de lidar.

Palavras-chave: eurocentrismo, modernidade, construção, Europa.

Resumen:
El siguiente artículo es una crítica del sentido común en relación con la modernidad
eurocéntrica y reitera la idea de que los europeos son mejores, más desarrollado del mundo,
los de mejor cultura y el conocimiento superior, critica la visión de "periferias" de Europa
otros países conducen a causa del discurso eurocéntrico. Con la vista puesta en la
construcción de la modernidad, que se ocupa de eventos como nuevas figuras del
Renacimient, la composición del mundo colonial, las reformas religiosas, la Ilustración, las
revoluciones de la burguesía, que eran eventos importantes y estaban presentes en el proceso,
indique el lugar y la participación de los explotados, superioridad e inferioridad relaciones
que todavía tienen que tratar.

Palabras clave: eurocentrismo, moderno, construcción, Europa.

Introdução

O europeu, virando séculos à procura por respostas, encontra um novo mundo


paradisíaco e faz dele campo de massacres, insanidades, loucuras e explorações. Estabelece
novas rotas marítimas, comercia riquezas naturais e pessoas. Altera todo o cenário do globo
terrestre e faz dele um ser interligado, passível das mais diversas conexões e comunicações.
Busca desenvolver as capacidades do ser humano através de conhecimentos concretos do
homem e da natureza. Cria e dissemina padrões de perfeição, distribui a cultura “certa” e
inventa a modernidade para legitimar os conhecimentos e propagar o pensamento por todo o
sistema mundo.
Todas essas façanhas resultam em um novo homem, o homem da modernidade. Traz
ao mundo a globalização e faz dele palco de grandes acontecimentos e “histórias modernas”,
histórias que tornam a Europa o centro do mundo, o centro de difusão da modernidade. O
maior contribuinte para a sociedade “perfeita”.

Mas será que realmente se devem creditar todas as “conquistas” aos europeus? Qual o
lugar dos países explorados nesse processo? Qual a verdade por trás do senso comum que se
instalou no imaginário social? Por que temos essa visão de que eles são os melhores do
mundo? Quais acontecimentos marcaram essa dominação?

São inúmeras questões que rondam a legitimidade desse ordenamento mundial. E


veremos como se deu a globalização eurocentrada, entender o etnocentrismo, o colonialismo
“moderno”, perceber as contribuições de acontecimentos marcantes como o “descobrimento”
da América, o Renascimento, o Iluminismo, a Reforma Protestante, a Revolução Francesa,
percebê-los como cenários importantes para a construção da modernidade tal qual como ela é,
eurocêntrica e dominante.

Será possível ainda, analisar alguns dos reflexos que a modernidade eurocêntrica traz
ao Brasil. Com ares de periferia da Europa, é controlado por uma elite minoritária e tem sua
grande massa explorada para sustentar esse sistema moderno de dominação. A abordagem
possibilita enxergar e compreender como chegamos até aqui, como se formaram as forças de
legitimação e como se construiu a relação de inferioridade dos países subdesenvolvidos.

1 - A construção da modernidade: diversas contribuições

A modernidade é construída como uma forma de pensamento, produto e experiência


europeus. Inúmeras histórias, revoluções, conquistas, são contadas por eles, que se colocam
como únicos necessários para estabelecer e difundir o conhecimento pelo mundo.

Dussel propõe duas visões de “Modernidade”. A modernidade eurocêntrica e a


modernidade a partir do descobrimento da América. A primeira é constituída com um
pensamento pautado na razão, que proporcionou à humanidade um novo modelo de
desenvolvimento do ser humano, a busca pelo conhecimento justificado, promovendo uma
ruptura com as idéias abstratas e mitológicas, onde acontecimentos históricos que são
contados por eles, são essenciais para difundir a Europa como dona interina da modernidade.
Constrói a visão eurocêntrica, onde a Itália, Alemanha, Inglaterra e França, foram os pontos
de partida da “Modernidade” e a Europa a única necessária para explicar todo esse processo.
(DUSSEL, 2005).

A segunda, a qual defende, é constituída em um sentido mundial, onde a partir da


localização, (no século XV) da América no globo terrestre, pode se falar em globalização, em
história mundial. O homem ainda não havia experimentado empiricamente a certeza de uma
totalidade; e com o descobrimento, os acontecimentos se tornam uma história só, única e
mundial. Esse fato foi determinante para o mercantilismo mundial e posteriormente, em uma
visão centralizada do mundo a partir da Europa, para a constituição de todas as outras culturas
como suas periferias. A Europa faz da América Latina sua colônia e explora suas riquezas
naturais e sua força de trabalho (escravo). “Esta Europa Moderna, desde 1492, “centro” da
História Mundial, constitui, pela primeira vez na história, a todas as outras culturas como sua
periferia”. (DUSSEL, 2005. p.29).

Faz-se necessário então, considerar as duas visões da constituição da modernidade e


perceber que ela não se ergueu isoladamente na Europa, é preciso defender a presença da
América enquanto colônia, enquanto explorada. A colonialidade surge no mesmo momento
em que se promove a modernidade. É preciso deixar de enxergar as outras partes do mundo
como uma simples consequência do desenvolvimento europeu. Perceber toda a manipulação
conceitual usada para que possam se manter como “centro do mundo” e continuar a legitimar
a sua suposta superioridade perante o resto do globo. Superioridade esta, que gera racismo,
xenofobia, constante degradação do meio ambiente e tantas outras desigualdades sociais.
(DUSSEL, 2005; GONÇALVES, 2006).

O imaginário social que se relaciona com a América tem muito da “contribuição” das
navegações de Américo Vespúcio. Mundus Novus (seu folhetim de sucesso) foi amplamente
difundido na época de sua tradução, trouxe uma visão grotesca da América, visões exageradas
dos povos, dos costumes, pela falta de religião era cogitado do índio não possuir alma,
possível argumento para explorar as terras e escravizar seu povo. Na África, em relação ao
tráfico de escravos, argumento semelhante era disseminado, “eles acreditavam que o tráfico
abria aos negros o caminho para salvação: não sendo cristãos, os negros haveriam de ser
condenados por toda eternidade se eles ficassem em seus países” (MALOWIST, 2010 p. 8).
(VESPUCCI, 2003; MALOWIST, 2010).

Se Cristóvão Colombo tivesse seguido sua rota corretamente e desembarcado na Índia


como de fato eram seus objetivos, os índios talvez não se chamassem índios. Impossível
prever ou trocar de futuro, não existem formas reais ou científicas de aplicar a palavra se na
história, mas o passado aconteceu, é certeza de não sofrer alterações. Somos o resultado dos
acontecimentos, dos atos e construções, e não se pode negar que o folhetim de Vespúcio foi
um marco da Idade Moderna. Diante advento da imprensa foi o discurso fundador da
globalização, da abertura do mundo; marcando desde já sua importante participação na
modernidade. Não existe a modernidade como conhecemos sem a presença da América.
(VESPUCCI, 2003; IGLESIAS,1992).

A história por vezes se torna tendenciosa, na medida em que beneficia a imagem de


quem está a cargo da narrativa. “Para dizer a verdade, os descobrimentos europeus só tem
sentido para os europeus, e as terras e povos que os europeus passam a conhecer jamais
brotam do nada”. (GRUZINSKI, 1999, P. 13). Subentende-se que os portugueses fizeram um
enorme favor ao restante do mundo ao descobrirem a América e derramarem sobre todos, os
seus modernos modos de vida, levou – sem cobrar nada por isso - a sua cultura superior e
impôs a sua religião, catequisando e salvando milhares de almas. É o que da pra imaginar
quando se fala em descobrimento. Trata-se de uma palavra equivocada, só se descobre uma
terra que não possuem habitantes, se ela já é habitada, já existe, e, portanto, não é descoberta.
(IGLESIAS, 1992; GRUZINSKI, 1999).

Através da loucura que girava em torno da passagem de um século a outro, todo esse
paraíso é enfraquecido com uma série de desgraças que dizimam os indígenas; um verdadeiro
inferno que joga no nada, civilizações e gerações de indígenas. Seria ideal trocar o título para:
A ocupação da América, diante todo o saqueio “realizado”. Foram tantos metais preciosos que
houve até uma inflação incontrolável na Europa. Os índios não entendiam nada disso,
pensavam que eles comiam ouro e que tinham uma doença grave no coração que seria curada
com ouro. Não se deve pensar apenas em riquezas naturais, tendo em vista que houve
processo de europeização da cultura, das crenças, desagregação intelectual, perda de milhões
de pessoas com mortes por arma de fogo, doenças trazidas pelos invasores, trabalho escravo,
maus tratos, e também a descaracterização das personalidades, que ao inserir a catequese
desestrutura todo o ordenamento de um povo. “O conquistador não vinha para catequizar,
converter ao cristianismo, mas para obter riquezas” (IGLESIAS, 1992, p. 28).
A Europa usa a conquista da América, suas riquezas, como fonte de estabelecer seu
poder dominante e cultuar a sua superioridade para as outras nacionalidades. Introduz a
aceitação de seu poder econômico, cultural e social de forma coercitiva, qualquer leigo no
assunto não percebe o teor da influência que sofre e a maneira como reproduz esses conceitos
pejorativamente. Aceita a sua condição e não questiona o motivo que coloca em posição
inferior a maior parte da população mundial, fortalecendo ainda mais a superioridade
européia.

A destruição das relações naturais entre o indivíduo e a comunidade faz surgir um


novo conceito de homem, a individualidade das pessoas e das sociedades, que eles agora
criam, é característica marcante no renascimento. Marca um processo social total,
“renascendo” todos os aspectos da vida, as relações se tornam fluídas, existe possibilidade de
oposição de ideias, desejos subjetivos e pensamentos críticos. As linhas do tempo se tornam
criações sociais e a complexificação desse processo transforma em realidade as novas ideias,
alterando as práticas culturais, comerciais, as formas do pensar, a consciência religiosa,
artística, científica e traz mudanças nas relações de poder. “O renascimento foi a aurora do
capitalismo” (HELLER, 1982, p.11), que de certa forma contribuiu também para a construção
do pensamento acerca de uma modernidade eurocêntrica. Eles são os únicos atuantes do
renascimento cultural e todos nós somos resultados de seu desenvolvimento burguês e
dominante. (HELLER, 1982).

A Reforma Protestante foi a modernização da igreja. As raízes da Reforma se deram


por muitos erros do papado renascentista, a igreja era uma extensão do império e dogmática
por natureza. Estava comumente atrelada as decisões que impactavam, saqueavam e privavam
o povo da liberdade. “O conceito que mais caracteriza a Modernidade é liberdade”
(DREHER, 1996, p.16). Ela deve ser vista, em amplo sentido, como o processo de transição
entre a Idade Média e a Idade Moderna.

As visões de liberdade chamavam a igreja para uma mudança na sua forma de


conduzir a liberdade do cristão, foi necessária assim uma abdicação do controle do saber e
uma nova forma de se pensar a religião, assumindo um caráter laico. Elimina o papel de
intérprete da igreja, a palavra é clara e o individuo tem a capacidade de interpretar a escrita,
estando assim, em um contato direto com Deus. (DREHER, 1996)

Surge, no entanto, várias formas de se interpretar as escrituras sagradas. Se pensarmos


a hermenêutica protestante do século XIX, esse viés de intrepretações literais que se ressentia
o protestantismo, as várias “leituras” de vertentes diferentes - católica, protestante ou
ortodóxa - deixa a impressão de que a escritura deixou de ser sagrada. Não pela escrita, mas
pelo espírito, o sentimento sagrado foi trasnformado pelas formas de interpretar e a
fragmentação da palavra é uma realidade. (DOMINGUES, 2004)

Em um contexto revolucionário, durante a Revolução Francesa, ocorre declínio da


Aristocracia, promovendo ascensão da burguesia, com predominância do liberalismo, do
direito individual, propagação da igualdade de direito, emergem classes populares que nunca
poderiam se converter a aspirações políticas. Eles conseguem representação política no
terceiro estado, acarretando a culminação da burguesia no poder e ascensão do proletariado na
conquista de representação. Se organizava nesse momento os reais preceitos de democracia,
com classes populares sendo representadas na política. Cabe ressaltar que esses mesmos
moldes de democracia nunca foram vistos no Brasil e será discutido mais adiante.
(GRESPAN,2008; TAVARES,2000).

Surgem novas reflexões nesse contexto de mudança. O iluminismo cultua a crítica,


mas não é um dogma, critica também a razão, a própria razão é uma criação da vida. As ideias
centrais do iluminismo são de ruptura, de que tudo pode ser criticado, pode ser mudado, a
ideia de indivíduo único, de que o homem faz a sua própria história. “O resultado de tudo isso
foi o desenvolvimento de uma instituição fundamental da modernidade, a opinião pública,
cuja importância crescente revelou-se decisiva para determinar uma nova revolução política e
social”. (GRESPAN, 2008, p. 47).

Quando a Europa se coloca como única responsável pela modernidade, percebe-se


várias contradições. Konder esclarece que elas vão além do sentido conhecido da contradição
lógica, como sendo a manifestação de um defeito no raciocínio, ele salienta que existe
também as dimensões da realidade humana. Aspectos dessa realidade não são passíveis de
serem compreendidas isoladamente. Para identificar as contradições é necessário então, partir
de uma totalidade para perceber a realidade. Em suas palavas “as conexões íntimas que
existem entre realidades diferentes criam unidades contraditórias. Em tais unidades a
contradição é essencial: não é um mero defeito de raciocínio”. (KONDER, L. 2004, p.49).

É preciso se atentar a esse processo de ruptura. Perceber a continuidade e a


interligação dos fatos ocorridos. O que se apresenta até aqui são acontecimentos que
contribuíram, para de alguma forma, colocar a Europa no centro do mundo e disseminar a sua
cultura. Estabelece a sua superioridade de raça, mantem a ordem de dominação, aliena os
dominados e os colocam à reproduzir os discursos que são amplamente difundidos.

É importante compreender e olhar atentamente para esse despertar da modernidade.


Enxergar essa revolução filosófica com universalidade, onde todos participam do processo de
modernização. Perceber a importância dos excluídos e dominados nesse processo de
construção da modernidade eurocêntrica e dominante. Se faz necessário partir do concreto
para buscar as mediações que precisamos para entender a realidade em sua totalidade. É
importante observar as várias contradições que permeiam a historiagrafia. (KONDER, L.
2004).

2 - Será a Europa responsável pela modernidade?

A ideia que surge ao se pensar a modernidade é que ela seja de mérito ou realização
dos europeus. Trata-se de uma visão errônea dos fatos por não levar em consideração a
participação de vários países e de eventos que foram essenciais para que ela surgisse e se
disseminasse pelo mundo. A globalização, esta que se iniciou com a constituição do
capitalismo colonial, “moderno” e eurocêntrico, explorando a América se estabelece. Pela
primeira vez havia contato com todas as partes do mundo. Nesse momento ainda estava muito
longe de constituir uma economia mundial e o pensar da globalização como ela é conhecida
hoje. O que marca o início da globalização nesse momento é essa conexão com todas as partes
do mundo. Quando os portugueses e os espanhóis “descobrem” o Brasil, projetam a Europa
para outra realidade continental e altera completamente a visão que eles tinham do mundo, os
conhecimentos que os europeus pensavam ter sobre o mundo já não eram mais corretos;
quando, pela primeira vez foi desenhado o Cruzeiro do Sul corretamente. (GRUZINSKI,
1999).

Essa comunicação traz um novo padrão de poder mundial. A conquista, a colonização


e a ocidentalização do mundo, se tornam formas de explorar os outros continentes e firmar a
hegemonia européia. A Europa se torna um centro de disseminação mundial de cultura,
costumes, conhecimentos, estilos de vida, formas de se relacionar, padrões normativos e
tantos outros conceitos que subjugam todos esses aspectos de outras etnias. No que segue,
serão abordados acontecimentos e aspectos relevantes sobre o eurocentrismo e sua
disseminação, que dá a Europa, o status de elemento fundamental da sociedade moderna.
(QUIJANO, 2000).
Uma das principais formas de legitimar as relações de dominação impostas foi criar o
conceito de raça. A Europa depois da conquista da América abarca uma expansão colonial
sobre o resto do mundo. Essa ideia de dominação por superioridade foi central na
formalização do conceito de raça e na elaboração da perspectiva eurocêntrica, naturalizando
as relações entre dominados e dominantes, superiores e inferiores. “A constituição do conceito
de raça na sua acepção moderna é algo que foi surgindo lentamente através do século XIX,
acompanhando o desenvolvimento do projeto colonialista europeu”. (CABRAL, 1998, p. 2).

A partir do capitalismo mundial as novas identidades que se deram pela conceituação


de raça foram naturalizadas e passam a fazer parte de uma sistemática divisão social do
trabalho. Desde a chegada na América, os europeus fizeram essa associação do trabalho não
assalariado com as raças dominadas por que as consideravam inferiores e essa divisão se
manteve em longo prazo. (QUIJANO, 2000).

Em conceitos podemos perceber uma forma severa de etnocentrismo por parte da


Europa. A visão de que sua raça e sua nacionalidade são melhores que todas as outras, sua
cultura e conhecimento são superiores, socialmente é mais importante e contribuiu mais que
as outras na “evolução” do ser humano. Buscar a hegemonia assume o estereótipo de
superioridade, subjuga as outras raças, só reconhece o outro como outro se for com
características iguais as suas. Em termos atuais e modernos pode-se falar em racismo cultural.
“Esse olhar “local” costuma ter o defeito de ignorar a história dos países vizinhos ou, na
melhor das hipóteses, de minimizar sua importância”, (GRUZINSKI, 1999, p. 96).

Diante todas as construções do eurocentrismo e do capitalismo, na atualidade somos


levados a ser o que não tínhamos sido destinados a ser. Inconscientes ou não de nossas ações
sociais e individuais, reproduzimos discursos e alimentamos a desigualdade sem perceber as
influências, as induções, a “chuva” de informações a qual estamos expostos, aspectos que
compactuam com a forma construída de dominação e exploração. O Brasil, por exemplo,
como um país periférico da Europa, aceita e convive com uma pequena elite que é dotada de
vários privilégios.Tem a sua sociedade explorada e saqueada pelas grandes economias
mundiais. Fernandes diz que essa exploração se da “em detrimento da grande maioria e para
privilegiar ainda mais uma pequena minoria na qual se incluem os parceiros dos centros
imperiais”. (FERNANDES, 1978, p.148).

Como fonte de dominação contemporânea cabe aos países controlarem as inovações,


sejam tecnológicas, culturais ou financeiras pelo registro de patentes. Processo que marca a
acumulação de capital em seu maior nível e gera a dependência econômica dos países
subdesenvolvidos pelos países de primeiro mundo. Como abordado anteriormente, no Brasil,
não houve a democracia com os mesmos preceitos da Revolução Francesa. Fernandes se
refere à sociedade brasileira como uma “sociedade de classes do capitalismo periférico,
dependente e subdesenvolvido” (FERNANDES, 1980, p.16).

O que se percebe é um pacto de dominação presente desde a abolição da escravatura,


por pressões econômicas para gerar consumidores. Perpassa a ditadura militar de 1964 até
chegar aos dias atuais, onde um congresso se forma sem representação política das minorias e
estabelece total controle com políticas “legais” de impedimento da luta de classes. São ações
claramente organizadas pela elite nacional como método de nunca abrir mão dos privilégios
que esse sistema de dominação lhes permite gozar. “A miséria de grande parte da população
não encontra outra explicação que a resistência das classes dominantes a toda mudança capaz
de por em risco seus privilégios” (FURTADO, 1979, p.1).

De acordo com o relatório da Distribuição Pessoal de Renda e da Riqueza da


População Brasileira, disponibilizado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da
Fazenda, os números de 2014, declarados pelos contribuintes à Receita Federal do Brasil em
2015, mostram que o 0,1% mais rico da população brasileira afirmaram possuir R$ 44,4
bilhões em rendimento bruto tributável e R$ 159,7 bilhões em rendimento total bruto, (desse
valor, R$ 115,30 bilhões não são tributados, demonstrando o evidente privilégio na tributação
da elite nacional). No Brasil, a parcela do 1% mais rica da população possui 48,5% da renda
dos 5% mais ricos e esse nível é comparável ao da Alemanha (49,4%) e dos Estados Unidos
(51,5%), que são os países desenvolvidos que estão no topo quando é medida a desigualdade
dessa forma. Esses dados permitem perceber como funciona a hegemonia da minoria elitista
em nosso pais e como esse modelo se compara aos países de primeiro mundo, da mesma
forma que evidencia o pacto de dominação já mencionado.

Uma hegemonia se consolida tanto pelo “poder das armas” como pela força da moeda.
A integração global aos padrões de monetarização permite - conforme regras - o aumento e
acúmulo de capital financeiro, ampliação de seu espaço, promove o encaixe em outro grupo
econômico. A máxima do subdesenvolvimento que é acreditar que somos países com forças e
chances de desenvolvimento não passa de uma “maquiagem” dominante do sistema
capitalista. Se desconstrói por que eles só existem explorando os nossos recursos, consumindo
o triplo de um país periférico. Não há recursos naturais que dêem conta do consumo no
padrão europeu em escala mundial. Portanto não é um país em desenvolvimento, ele está
fadado a sempre ser inferior, não-desenvolvido. (TAVARES, 2000; BASTOS, 2012).

Atualmente, na mesma linha eurocêntrica, a esquerda do mapa mundi, que aliás,


também coloca a Europa como o centro do mundo, se reconhece a hegemonia norte-
americana, que com a “diplomacia do dólar forte” e a “diplomacia das armas” domina o
sistema capitalista com desregulação sistemática do mercado de câmbio. Serve como forma
de manter a hegemonia e nos permite refletir sobre a realidade dos impactos nas economias
periféricas, os interesses por trás desse “subdesenvolvimento”, que afunda a América Latina
em crises econômicas e a mantém periferia de acordo com o “sistema diplomático” do dólar.
(TAVARES, 2000).

Cabe então reconhecer, que a Europa muito contribuiu para os rumos da sociedade
moderna, mas é importante tomar conhecimento de que não foi a única responsável (ou
irresponsável) por isso. Seria impossível haver modernidade sem a exploração da América,
sem o tráfico de escravos, sem a infame relação entre os dominadores e os dominados.
Relações estas que ocorreram em várias partes do globo, que fizeram construir uma
modernidade à custa de muito sangue, saques gigantescos de riquezas naturais e devastação
de culturas. As “periferias” da Europa seguem portanto, o fluxo do capital, permanecem
dominadas com economias inferiores e denominações fajutas como o subdesenvolvimento.

Conclusão

O europeu, virando séculos à procura por respostas, encontrou um novo mundo que era
a última peça, a chave da globalização e da modernidade. Fez dele um mundo colonial, tomou
para sí riquezas, histórias e fizeram delas uma forma de difundir sua hegemonia eurocêntrica.
Dissemina sua cultura, seus padrões, sua superioridade, inventa e insere no mundo sua
modernidade e como reflexo surge o capitalismo que é a maior forma na atualidade de manter
esse sistema de dominação funcionando.

No artigo o eurocentrismo cai por terra, desvela em seu decorrer, diversas


contribuições que marcaram o processo de modernização. Engloba vários cenários
importantes para entender como se deu essa construção. Vimos que não existiria
modernidade como ela é hoje sem presença e participação da América.

Foi abordado eventos que mudaram a forma de pensamento do homem. Vimos surgir
as individualidades do Renascimento, a Reforma Religiosa e sua consequente
desfragmentação, passamos também pela Revolução Francesa, onde percebe-se outra vertente
de democracia que jamais se avistou em terras brasileiras. Vimos o poder das ideias no
iluminismo. A força do homem em criar e fazer a sua própria história.

Como argumento para não se pensar a Europa como a única importante no processo de
modernização, foram apontadas as concepções dialéticas de contradição, totalidade e
mediação, que explicaram como devem ser vistas as partes de uma universalidade. Coloca a
Modernidade como o todo e as partes (Europa, América, diversos países e acontecimentos)
como mediações para que isso se tornasse possível. A partir daí, pôde-se perceber que a
Europa não é a única responsável pela modernidade.

Acompanhamos as formas de legitimação como a naturalização do conceito de raça e


etnocentrismo. Foi exposta uma crítica a construção do pensamento moderno eurocentrado,
que leva o homem a ser algo que não era destinado a ser e a reproduzir discursos e ações que
compatuam e alimentam a exploração. Como artíficio tem se o capitalismo que impõe e
consolida o poder do dólar. O mesmo que afunda a América latina em crises econômicas e a
mantém periferia, explorada e dominada.

O que se percebe então, é que não mudou muita coisa de lá pra cá, mudaram as formas
de exploração mas a diferença social e a distinção de povo e etnia é a mesma. Continuam a
sucatear as “periferias” com as variações cambiais e faz deles dependentes de suas grandes
economias e propriedades intelectuais. Acordos econômicos são feitos para poder subexistir
no mundo periférico do subdesenvolvimento. O eurocentrismo é uma realidade velada que
dificilmente perderá sua superioridade dominante “conquistada”, construída às custas de
muita escravização, dizimação e ocupação de terras que permanecem dominadas.

REFERÊNCIAS

BASTOS, Pedro Paulo Zahluth. A economia política do novo-desenvolvimentismo e do social


desenvolvimentismo. In: Economia e Sociedade, Campinas, v.21, Número Especial, 2012. P.
779-810.
CABRAL, J. Racismo ou etnocentrismo? Universidade Atlântica, 1998, p. 19-26.
DREHER, M. N. A crise e renovação da Igreja no Período da Reforma. São Leopoldo, RS:
Editora Sinodal, 1996.
DUSSEL, H. Europa, modernidade e eurocentrismo. En: A coloniedade do saber:
eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Editora
Clacso, 2005.
FERNANDES, F. A condição de sociólogo. São Paulo: Hucitec, 1978.
FERNANDES, F. A natureza sociológica da sociologia. São Paulo: Ática, 1980
FURTADO, C. Brasil: da república oligárquica ao Estado militar. In Brasil: tempos
modernos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 1-23
GRESPAN, J. Revolução Francesa e Iluminismo: Repensando a História. São Paulo:
Contexto, 2015.
GRUZINSKI, S. A passagem do século: 1480-1520. As origens da globalização. Tradução de
Rosa Freire D’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
HELLER, A. O homem do Renascimento. Lisboa: Presença, 1982. Tradução Conceição
Jardim e Eduardo Nogueira.
IGLÉSIAS, F. Encontro de duas culturas: América e Europa. Estudos Avançados, abr. 1992.
V. 6, n. 14, p. 23-37.
KONDER, Leandro. O que é a dialética. São Paulo: Brasiliense, 2004.
MALOWIST, M. A luta pelo comércio internacional e suas implicações para a África.
História Geral da África: África do século XVI ao XVIII. Brasília: UNESCO, 2010.
QUIJANO, Anibal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. Centro de
Investigaciones sociales (CIES), Lima, 1992 p. 201 – 246
Secretaria de Política Econômica. Relatório da Distribuição Pessoal da Renda e da Riqueza
da População Brasileira. 2016. Disponível em:
http://www.spe.fazenda.gov.br/noticias/distribuicao-pessoal-da-renda-e-da-riqueza-da-
populacao-brasileira/relatorio-distribuicao-da-renda-2016-05-09.pdf
TAVARES, Maria da Conceição. Subdesenvolvimento, dominação e luta de classes. In: Celso
Furtado e o Brasil, v.21, Número Especial, 2012. P. 1011-1038.
VESPUCCI, A. Novo Mundo: as cartas que batizaram a América. São Paulo: Editora Planeta
do Brasil, 2003.

Das könnte Ihnen auch gefallen