Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Resistir é preciso.
1
O pequeno Grupo de Educação Popular era constituído pela professora Silvia Manfredi, Leila Blass,
Benedito José de Carvalho Filho, Sônia Barros, Hamilton Farias, Silvio Caccia Bava.
Havia uma certa visão mágica dele, como se o conhecer
permitisse automaticamente resolver os problemas colocados pela prática
educativa. O que o senhor acha disso?”
PAULO FREIRE
“Esta pergunta que tu me fazes como a primeira de nossa
conversa me parece, indiscutivelmente, uma pergunta interessante. Ontem
à tarde, por coincidência, eu revia uma ficha de anotações escritas em
Santiago do Chile, quando estava ainda no exílio, em 1966, por aí. Eram
fichas das anotações, de considerações em torno de um seminário
realizado na época da capacitação de quadros em torno do chamado
“método Paulo Freire”. O interessante é que eu fiz na tal ficha umas
observações, tentando classificar ou enquadrar pelo menos três tipos de
atitudes diferentes que vinham ao seminário. É uma das atitudes era
exatamente essa que tu colocas! Quer dizer: pessoas com a melhor das
intenções, evidentemente, vinham – e continuam vindo – a seminários de
formação (não importa que sejam em torno desse chamado “método Paulo
Freire” o que importa é aquela atitude), com uma atitude de quem vem
receber no chamada “método” um instrumento mágico, uma espécie de
“varinha de condão”. Você faz a seu pedido, toca na varinha num
carneirinho e ele vira uma princesa encantada. Quer dizer, vem-se procurar
o método pela necessidade de ter instrumento mágico com a qual se
resolva um problema qualquer. É como se o método fosse a medicina para
a pessoa. Pensa-se que, com o método, com a aplicação disso que se
chamada método, portanto, um conjunto de técnicas, de caminhos, disso
e daquilo, e que a gente, com isso, vai acabar com os problemas sociais.”
Pergunta: Isso não seria reflexo de ausência de um esforço das
pessoas que estão inseridas numa prática social concreta de entender o
contexto em que se acham inseridas, e que ficam pensando que uma coisa
externa – no caso, o método – irá trazer a solução?
PAULO FREIRE
“Exato, exato! Não importa a razão, da atitude mágica. Ela é, em
si, mágica. Pensar, atribuir ao que não é sequer um instrumento, esse
poder transformador do real, é uma atitude profundamente ingênua. E isso
e tão poderoso nessa visão mágica que não precisamos sequer conhecer
o real, basta aplicar o método – vamos dizer assim – na realidade para que
a realidade se transforme. Em outras palavras: basta alfabetizar para que a
consciência se modifique.”