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Iniciaremos, assim, pelo estudo do exame de corpo de delito e das perícias em geral,
prova tratada nos artigos 158 a 184 do Código de Processo Penal.
2. Conceitos.
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Confiram-se, ainda, as seguintes e oportunas lições:
“Há infrações que deixam vestígios – delicta facti permanentis – e outras que não
os deixam – delicta facti transeuntis. Assim, por exemplo, um crime de lesão corporal
deixa vestígios. Homicídio, lesão corporal etc. entram no rol dos delicta facti
permanentis. Outras, como a injúria, calunia, difamação, cometidas verbalmente, não
deixam vestígios: são os delicta facti transeuntis. Quando a infração deixa vestígios, é
necessário o exame de corpo de delito, isto é, a comprovação dos vestígios materiais por
ela deixados torna-se indispensável. O ‘exame de corpo de delito’, a que alude o CPP no
art. 158, é, assim, a comprovação pericial dos elementos objetivos do tipo, no que diz
respeito, principalmente, ao evento produzido pela conduta delituosa.” (TOURINHO
FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p.
528).
2.2. Perícia.
Como o Juiz de Direito não é obrigado a conhecer de todas as ciências, a não ser a
jurídica, deverá se valer dos conhecimentos de quem possua toda vez que, para julgar
determinada causa, for necessário obter informações relacionadas com outras áreas do
conhecimento.
Assim, p.ex., quando o juiz for julgar uma acusação de erro médico, poderá
requisitar um parecer médico para saber se o réu (=médico, enfermeiro, ou outro
profissional da área médica) agiu com imprudência, negligência ou imperícia, modalidades
da culpa sentido estrito.
Daí sua importância cada vez maior, pois os inegáveis progressos da ciência, da
técnica e das artes muito podem contribuir para o esclarecimento mais preciso das
questões de fato discutidas no processo.” (GOMES FILHO, Antonio Magalhães. Provas.
In: MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis. As reformas no processo penal. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2008. p. 274).
Por outras palavras, perícia ou exame pericial é o gênero, sendo espécies o exame
de corpo de delito e outras periciais.
b) perícias que não tem como objeto o corpo de delito (citadas pela lei como
perícias em geral)
Observações:
O Código de Processo Penal dispõe no artigo 6º, inciso I que a autoridade policial,
logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, deve “dirigir-se ao local,
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providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a
chegada dos peritos criminais”.
Reitere-se que não se deve confundir corpo de delito com exame de corpo de delito.
A propósito:
3. Espécies de perícias.
3.1. Perícia percipiendi: simples constatação dos fatos, sem análise valorativa.
3.4. Perícia extrínseca: análise dos elementos externos à prática da infração. Ex.
instrumentos e objetos relacionados com a prática do homicídio.
3.5. Perícia vinculatória: seria aquela que vincula o magistrado. Não vigora em
nosso sistema legal.
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3.6. Perícia liberatória: não vincula o juiz. Pelo nosso sistema, o juiz não fica
vinculado às perícias (art. 182), mas é certo que deverá apontar as razões pela quais não
acolheu a conclusão pericial.1
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“Os laudos juntados ao processo não servem para atestar a saúde mental do acusado, pois foram produzidos em exames de
insanidade mental instaurados em outros processos criminais onde este figurou como réu, e juntados ao presente feito sem que
haja notícias de manifestação do Ministério Público acerca dos documentos.
Os exames psicológicos realizados no momento dos outros fatos delituosos praticados pelo paciente apresentaram conclusões
conflitantes, dando azo ao requerimento de novo incidente, o qual não foi pleiteado pelas partes, mas pelo Tribunal a quo.
O Magistrado singular, o qual manteve contato pessoal com o acusado, não determinou a realização de incidente de insanidade
mental, tendo em vista as circunstâncias dos autos não terem gerado dúvidas acerca de sua higidez mental.
Evidenciado que o exame de insanidade mental do réu não dirimiu as dúvidas da Corte Estadual acerca de sua saúde
psicológica, em virtude de ter sido juntado aos autos cópia literal de laudo já constante do feito, produzido quando da
instauração de incidente de insanidade do mesmo paciente em processo diverso, foram realizadas duas novas perícias.
Em virtude de os dois novos exames terem concluído pela imputabilidade do acusado à época do fato, o Tribunal manteve a
condenação do réu e recomendou a instauração de inquérito policial para a apuração de suposto crime de falsa perícia contra os
profissionais que assinaram os laudos tidos por imprestáveis.
O art. 182 do Código de Processo Penal, de acordo com o Princípio do Livre Convencimento, dispõe que o juiz não ficará
adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. Precedente. O habeas corpus é meio impróprio para a
análise de questões que dependam do reexame do conjunto fático probatório, como a constatação da ineficácia dos derradeiros
laudos produzidos. IX. Ordem denegada.” (STJ – 5ª T – HC 48.428/SP – rel. Min. Gilson Dipp – j. 20.03.2006).
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Observações:
1a. Jurisprudência.
2a. Exame pericial direto: Elaborado pelos peritos a partir da análise direta dos vestígios;
os peritos têm contato direto, físico, visual com os vestígios para a elaboração do laudo.
Neste segundo caso, na realidade, não há “exame” pericial indireto, o qual é suprido
pela prova testemunhal. Na realidade, o que existe é a prova indireta da materialidade. Por
isso, entendemos adequada a primeira explicação.
É dizer, o art. 167 prevê a prova indireta da materialidade (ou prova testemunhal
da materialidade).
Confira-se:
Para Vicente Greco Filho a perícia indispensável e cuja falta acarreta nulidade
processual é o exame de corpo de delito, isto é, “a constatação pericial dos vestígios
resultantes da conduta núcleo do tipo penal”.
Assim, as outras perícias, ainda que importantes ao deslinde da causa, não seriam
indispensáveis e a falta não ensejaria nulidade. Ex. No homicídio, o exame necroscópico é
fundamental e indispensável, por constituir a prova da morte e de sua causa; por outras
palavras, é a prova da materialidade. Já o exame de balística não seria indispensável e
sua falta não gera nulidade.
4.2. Exceções:
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Neste caso, fica a critério do Delegado de Polícia na fase policial e do Juiz de
Direito na judicial, determinar, de ofício ou mediante provocação da parte interessada, a
realização de exames periciais.
Ex. perícia para determinar a conduta médica indicada para diagnóstico e tratamento
de determinadas doenças.
A regra de que somente os crimes materiais exigem perícia não é absoluta, pois em
determinados casos a perícia é necessária para comprovar circunstância em torno de
elementar do fato típico.
Anote-se, a propósito:
“O tipo previsto no inciso IX, do art. 7º, da Lei 8.137/90 (‘Art. 7º Constitui crime
contra as relações de consumo:... IX – vender, ter em depósito para vender ou expor à
venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria em condições
impróprias ao consumo;’) pressupõe a demonstração inequívoca da impropriedade do
produto par ao uso. Com base nesse entendimento, a Turma deferiu habeas corpus para
absolver os pacientes da condenação por crime contra as relações de consumo (Lei
8.137/90, art. 7º, IX), decorrente da fabricação de produtos para consumo em
desconformidade com normas regulamentares e sem registro no Ministério da Saúde.
Considerou-se que, no caso, embora se tratasse de crime formal, o elemento do tipo não
fora comprovado no processo ante a inexistência de perícia que atentasse a
imprestabilidade das mercadorias ao consumo. Ademais, ressaltou-se que a tipificação
desse crime estaria vinculada ao art. 18, § 6º, do Código de Defesa do Consumidor, o
qual estabelece os produtos impróprios ao consumo (‘§ 6º São impróprios ao uso e
consumo: I – os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II – os produtos
deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados,
nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III – os produtos que, por
qualquer motivo, se revelam inadequados ao fim a que se destinam.’).” (STF – HC
90.779/PR – 1ª T – rel. Min. Carlos Britto – j. em 17.6.2008 – Informativo 511 do STF).
Mitigando o rigor da regra contida no artigo 158, o artigo 167 assim preceitua:
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“A Turma deferiu habeas corpus para absolver os pacientes da condenação pelos
crimes de exercício ilegal da arte farmacêutica e de curandeirismo (CP, artigos 282 e
284, respectivamente). No caso, foram encontrados em poder dos pacientes substâncias
que eles supostamente teriam manipulado com o objetivo de produzir compostos de
natureza medicamentosa. Em tal ocasião, fora realizado Laudo de Exame de Local e
apreendidos os produtos. Inicialmente, assentou-se a contradição lógico-jurídica
intrínseca às condenações impostas aos pacientes, porquanto os delitos imputados
excluem-se mutuamente, já que, no crime previsto no art. 282 do CP, exige-se que o
agente apresente aptidões ou conhecimentos médicos, ainda que sem a devida
autorização legal para exercer o respectivo ofício, enquanto, para se configurar o do art.
284, é necessário que o sujeito ativo seja pessoa inculta ou ignorante. Considerando não
se tratar de ato cometido por pessoas rudes, desprovidas de recursos técnicos, mas, sim,
por agentes que, mediante diagnóstico e manipulação de substâncias prescreviam
‘supostos medicamentos’ que eles mesmo produziam e comercializavam, e da informação
constante da sentença de que as vítimas ‘tiveram um tratamento típico daqueles que se faz
com um médico’, reputou-se errônea a qualificação da conduta no tipo penal de
curandeirismo.
Vicente Greco Filho expõe que a exceção só pode ser admitida quando o
desaparecimento dos vestígios não for ocasionado pela inércia das autoridades incumbidas
da persecução criminal.
5. Momento e iniciativa.
5.1. Momento.
Os exames periciais podem ser realizados na fase policial ou judicial, sendo que os
realizados naquela geralmente são definitivos e aproveitados na fase judicial.
Contudo, nada impede que, sendo possível, determine o Juiz a realização de nova
perícia na fase processual (art. 181), como corolário dos princípios do contraditório e da
ampla defesa.
Por outro lado, as perícias podem ser realizadas em qualquer dia e hora (art. 161),
bem como em qualquer local, respeitadas as garantias constitucionais, tal como a
inviolabilidade do domicílio (art. 5, XI, da CF).
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5.2. Iniciativa.
Confira-se:
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Observações:
De acordo com a lei, não poderá ser indeferido pedido para realização do exame de
corpo de delito, diligência, repita-se, obrigatória. É o que se extrai da leitura dos artigos
158 e 184, ambos do CPP.
Poderá a autoridade policial ou judiciária indeferir outro tipo de exame pericial (que
não o exame de corpo de delito) requerido pela parte legitimada quando reputar
desnecessária a prova ao esclarecimento da verdade (art. 1842), não havendo previsão legal
de recurso específico contra tal decisão.
6. Dos peritos.
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“Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes,
quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.”
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“Art. 183. Nos crimes que não couber ação pública, observar-se-á o disposto no art. 19.”
“Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde
aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante
traslado.”
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“Perito é a pessoa que, por sua especial aptidão, realiza a perícia, acerca de
pessoas, fatos e coisas” (TOURINHO).
“O perito é a pessoa que possui uma formação cultural especializada e que traz os
seus conhecimentos ao processo, auxiliando o juiz e as partes na descoberta ou na
valoração de elementos de prova. Daí enquadrar-se o perito entre os órgãos ou sujeitos
de prova, ou seja, alguém que traz ao processo elementos de prova que servirão à
verificação dos fatos afirmados pelas partes.” (GOMES FILHO, Antonio Magalhães.
Provas. In: MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis. As reformas no processo penal. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 275).
“A disciplina referente aos peritos está prevista nos artigos 275 a 281 do Código de
Processo Penal. O perito, segundo a sistemática do nosso código, é um auxiliar da justiça
e, ainda quando não oficial, está sujeito à disciplina judiciária, consoante o disposto no
art. 275.” (DEZEM, Guilherme Madeira. Da Prova Penal. Campinas (SP): Millenium,
2008. p. 165).
No CPP, relevante faz-se a leitura do art. 159, alterado pela Lei 11.690/2008, com a
seguinte redação:
“Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizadas por perito
oficial, portador de diploma de curso superior.
§ 1º. Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas
idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica,
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.
§ 4º. O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a
conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes
intimadas desta decisão.
§ 6º. Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à
perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua
guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for
impossível a sua conservação.
Perito não oficial (ou louvado, ou leigo) é a pessoa idônea nomeada pela
autoridade para realização da perícia, ante a falta de perito oficial para o caso.
Exige a lei que o perito seja portador “de diploma de curso superior” e que, de
preferência, tenha “habilitação técnica relacionada à natureza do exame” (CPP, art. 159,
§ 1º). Confiram-se a lição e o julgado a seguir:
“Na ausência de perito oficial, a autoridade pode valer-se dos peritos não-oficiais
ou juramentados, é dizer, pessoas idôneas, portadoras de curso superior, leia-se, terceiro
grau completo e preferencialmente na área específica, com habilitação técnica
relacionada à natureza do exame, que serão, no caso concreto, nomeadas e
compromissadas a bem e fielmente desempenharem o seu encargo. A ausência da colheita
do compromisso é mera irregularidade, não tendo o condão de macular o laudo. Na
atuação dos peritos leigos, o escrivão lavrará o laudo respectivo, que serão assinado
pelos peritos e, se presente ao exame, também a autoridade. Estes continuam sendo em
número de dois.” (TÁVORA, Nestor; ANTONNI, Rosmar. Curso de Direito Processual
Penal. 2. ed. Salvador (BA): Juspodivm, 2009. p. 323).
“Reza o § 1º do art. 159 do CPP que, ‘não havendo peritos oficiais, o exame será
feito por duas pessoas idôneas, escolhidas de preferência as que tiverem habilitação
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técnica’. A nomeação de peritos não oficiais deve atender, portanto, a dois requisitos
obrigatórios e a um requisito de prioridade. O número de peritos – a perícia não oficial
deve ser realizada obrigatoriamente por dois peritos – e a idoneidade moral das pessoas
nomeadas são duas condições de cogente aplicação. A perícia não oficial ainda vinculada
a uma condição de prioridade: as duas pessoas idôneas devem ser escolhidas de
preferência entre as que tiverem habilitação técnica. E de preferência significa
‘especialmente, sobretudo’ (Antonio de Mirais Silva, Grande dicionário da língua
portuguesa, vol. 8, p. 625). É obvio, assim, que o legislador processual não erigiu em
exigência legal, para a realização da perícia não oficial, a escolha de pessoas que
possuam necessariamente habilitação profissional, posto que, na maior parte do país, tal
regra, se existente, seria de conteúdo vazio, inaplicável. Fixou apenas uma ordem de
preferência: ao leigo, deve antepor-se aquele que apresenta habilitação técnica. E
habilitação técnica não quer dizer habilitação profissional, segundo a lei que
regulamenta a respectiva profissão. Possui habilitação técnica que reúne um conjunto de
conhecimentos que o torna capaz de verificar, analisar e, sobretudo, formular um juízo
sobre um determinado assunto.” (JUTACRIM 74/101).
A Lei 11.690/2008 alterou a redação do art. 159, sendo que agora se exige que a
perícia seja realizada por um perito oficial, e, somente no caso do juízo valer-se de peritos
não-oficiais, necessária será a atuação de dois profissionais (art. 159, caput, e § 1º).
“Pela antiga redação do art. 159 do CPP, a perícia deveria ser feita por dois
peritos oficiais ou, à falta deles, por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de
curso superior e com habilitação técnica relaciona à natureza do exame. Porém, a Lei
11.690, de 9 de junho de 2008, dando nova redação ao caput do art. 159, passou a exigir
apenas um perito, portador de diploma superior, como ocorre na Lei de Drogas, quanto
ao laudo de constatação (art. 50, § 1º, da Lei 11.343/2006). A inovação é louvável, na
medida em que sintonizada à realidade de nosso país e a precariedade, muitas vezes vista,
no serviço público de perícias, com dificuldade de contar com um perito, que dizer com
dois, como reclamava o revogado dispositivo. De resto, na prática, o que se via era
mesmo um perito que, efetivamente, elaborava o exame e outro que apenas o assinava,
aderindo às suas conclusões.” (GOMES, Luiz Flávio; CUNHA, Rogério Sanches;
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PINTO, Ronaldo Batista. Comentários às reformas do Código de Processo Penal e da Lei
de Trânsito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 288-289).
“Na sua redação original, o art. 159, caput, do CPP falava em peritos, o que
levara à interpretação de que deveriam ser, pelo menos, dois, chegando o STF a editar a
Súmula 361, no sentido da nulidade no exame pericial realizado por um só perito. Depois,
a Lei 8.862/1994 consagrou esse entendimento, dando nova redação ao dispositivo para
estabelecer textualmente a exigência de dois peritos.
A regra era salutar, pois, diante das naturais deficiências do conhecimento humano
é, sempre mais seguro confiar em duas opiniões convergentes. Mas, na prática, nem
sempre se verificava uma efetiva participação do segundo perito na elaboração do laudo.
Talvez por isso, na nova redação dada ao dispositivo legal, o legislador tenha
optado por consagrar a exigência de um só perito oficial, até porque, com a inovadora
previsão da figura do assistente técnico, a possibilidade de discussão a respeito das
conclusões periciais será facilitada. Ademais, na dúvida sobre as questões técnico-
científicas, sempre restará ao juiz a faculdade de nomear um segundo ou até mesmo
terceiro perito para o completo esclarecimento dos fatos.” (GOMES FILHO, Antonio
Magalhães. Provas. In: MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis. As reformas no processo
penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 276).
Havendo peritos oficiais, a perícia deve ser requisitada ao órgão competente (art.
178). Não é demais recordar que apenas um perito oficial elaborará a perícia, salvo se o
caso for complexo.
6.3.2. Como acima consignado, não havendo peritos oficiais, caberá a autoridade
que requisitar a perícia nomear os peritos particulares (art. 159, §1), pelo menos dois.
Segundo disposto no artigo 159, §1, as pessoas nomeadas para o encargo de perito
devem ser “idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área
específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do
exame”.
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O perito nomeado deve tomar “compromisso de bem e fielmente desempenhar o
encargo” (art. 159, §2), lavrando-se, para tanto, o respectivo termo (art. 179 caput). Daí a
expressão “perito juramentado”.
“O laudo pericial é tido como inexistente quando seus subscritores não firmam o
devido compromisso, ato que os obrigaria formalmente ao desempenho correto, imparcial
e fiel, garantindo o substrato da verdade real, objetivo primordial da espécie probatória.
Sem o cumprimento dos preceitos dos arts. 159 e seu § 2º, e 170, ambos do CPP, o laudo
pericial não passa de mero parecer, sem validade alguma.” (RJD 12/114).
“A falta de compromisso legal por parte dos peritos não oficiais constitui vício
meramente relativo, sanável por falta de argüição em tempo oportuno.” (JUTACRIM
39/205).
Observações:
1a. Não havia no processo penal a figura do perito assistente ou assistente técnico,
expressamente tratado no Código de Processo Civil. Todavia, como será melhor verificado
no próximo tópico, a Lei 11.690/2008 alterou o CPP, introduzindo expressamente no
Processo Penal a figura do assistente técnico.
2a. Se a perícia for deprecada, a nomeação do perito far-se-á no juízo deprecado (art. 177).
3a. Aos peritos se aplicam as hipóteses de impedimento e suspeição dos juízes (CPP, art.
280).
“Ao contrário da testemunha, que informa sobre fatos cujo conhecimento obteve de
forma acidental, o perito o faz em virtude de um encargo judicial. Por isso, é tratado pela
lei processual como uma auxiliar do juízo, estando sujeito à disciplina judiciária (art. 275
do CPP), bem como a impedimentos (art. 279 do CPP) e aos mesmos casos de suspeição
previstos para os juízes (art. 280 do CPP).4” (GOMES FILHO, Antonio Magalhães.
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“No sistema acusatório anglo-americano – ao contrário do que sucede nos ordenamentos ainda impregnados pela tradição
inquisitória, nos quais o perito é visto como um auxiliar do juiz –, o perito é trazido ao processo como uma testemunha da parte
(expert witness) e presta um depoimento oral, sujeito às mesmas rules of evidence pertinentes à prova testemunhal comum.
Assim, com a inquirição direta e cruzada das partes, as informações técnicas ou científicas são introduzidas no processo por
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Provas. In: MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis. As reformas no processo penal. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 275).
4º. O Código Penal, em seu art. 342, criminaliza a conduta do perito que em processo
judicial ou mesmo no curso do inquérito faz, no gozo de suas atribuições, afirmação falsa
ou mesmo omite-se em ponto relevante (calando a verdade).
“Art. 275. O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à disciplina judiciária.
Art. 276. As partes não intervirão na nomeação do perito.
Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena
de multa de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.
Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada
imediatamente:
a) deixar de acudir à intimação ou ao chamamento da autoridade;
b) não comparecer no dia e local designados par ao exame;
c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos
estabelecidos.
Art. 278. No caso de não-comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade
poderá determinar a sua condução.
Art. 279. Não poderão ser peritos:
I – os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos ns. I a IV do art. 69
do Código Penal [referência à Parte Geral original do Código Penal, a qual foi alterada
em 1984 pela Lei 7.209. Atualmente, corresponde ao art, 47 do CP – interdição
temporária de direitos];
II – os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o
abjeto da perícia;
III – os analfabetos e os menores de 21 (vinte e um) anos [o CC/2002 diminui a
menoridade civil para 18 anos, entendendo-se ser esta a idade mínima exigida aqui].
Art. 280. É extensivo aos peritos, no que lhe for aplicável, o disposto sobre suspeição dos
juízes.
Art. 281. Os intérpretes são, para todos os efeitos, equiparados aos peritos.”
meio de uma discussão contraditória.” (GOMES FILHO, Antonio Magalhães. Provas. In: MOURA, Maria Thereza Rocha de
Assis. As reformas no processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 275-276).
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parte, trata-se de uma figura de sua confiança, para ajudá-la no compreender da perícia
oficial e dos fatos.
“A figura do assistente técnico, que até então não era disciplinada no âmbito
criminal, ganhou regramento próprio, facultando-se ao MP, querelante, assistente de
acusação, ofendido e ao acusado a sua indicação. O assistente técnico é o perito de
confiança das partes, que irá atuar com o fito de ratificar ou infirmar o laudo oficial.
Como perito, deve ter nível superior, sendo que não se exige do mesmo imparcialidade, já
que o vínculo com a parte é da essência de sua atuação, de sorte que não há de se falar
em exceção de suspeição ou impedimento do assistente. Nada impede que as Defensorias
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“O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso. Os
assistentes técnicos são de confiança da parte, não sujeitos a impedimento ou suspeição.”
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Públicas e o MP celebrem convênios com Universidades e centros de pesquisa para
facilitar o acesso e franca utilização dos assistentes.
Pelo que extraí dos dispositivos legais (art. 159 e §§), o assistente técnico será
indicado pela parte legitima, e, sendo admitido pelo juízo da causa, poderá elaborar e
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apresentar seu laudo após o perito ter apresentado suas conclusões, sendo as partes
intimadas para tanto. O prazo será fixado pelo juiz, sendo que os assistentes técnicos
podem ainda ser chamados para prestar esclarecimentos quando da audiência de instrução.
No caso de ser necessário aos assistentes o acesso ao material a ser examinado para
a elaboração do laudo, as partes devem apresentar requerimento ao juiz, o qual autorizará
o acesso, sendo que o órgão oficial deverá manter sob sua guarda amostras do material
sobre o qual recairá a perícia, sempre acompanhados pelo perito oficial, que deverá zelar
pela integridade do material. Somente se dispensa a obrigação da guarda do material em
torno do qual se deu a perícia se esta providência mostrar-se impossível, ante sua própria
natureza (art. 159, §6º).
A propósito:
Criou-se, com isso, uma dupla obrigação para os órgãos oficiais: que conservem
sob sua guarda, e na presença de perito oficial esteja presente na realização de exames
pelos assistentes técnicos.” (GOMES FILHO, Antonio Magalhães. Provas. In: MOURA,
Maria Thereza Rocha de Assis. As reformas no processo penal. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 279)
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“Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos
formulados.
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 (dez) dias, podendo este prazo ser prorrogado, em
casos excepcionais, a requerimento dos peritos.”
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Adverte-se, contudo, que não deve o perito adentrar no mérito da causa, imputando
ao réu ou a qualquer pessoa a culpa criminal. Sua função é analisar os fatos à luz de seu
conhecimento científico, respondendo aos quesitos (perguntas) formulados.
8.2. Prazo.
8.3. Divergência.
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Habeas Corpus. Pedido indeferido.” (STF – HC 69349 – rel. Min. Ilmar Galvão – j.
23.06.1992).
Por fim, reafirme-se que segundo entendimento predominante, o indiciado não tem
direito à elaboração dos quesitos na fase policial, tendo em vista a natureza inquisitiva do
inquérito policial. Contudo, a possibilidade de formulação de quesitos, não só pelo
investigado como também pela vítima, pode ser amparada pelo disposto no art. 14, do
CPP. Reitero, no mais, o quanto exposto no item 5.2 do presente roteiro.
Neste caso, será obrigatória a realização do exame complementar, o qual deve ser
efetivado no 31º dia contado do dia da agressão. A falta, porém, poderá ser suprida pela
prova testemunhal (art. 168, §3)
O Juiz de Direito não fica vinculado à conclusão pericial (art. 182). Contudo, como
já exposto, sempre deverá fundamentar sua decisões, especialmente quando contrariar uma
prova técnica como a pericial.
Pelo sistema vinculatório, como seu próprio nome diz, o juiz está adstrito, está
vinculado ao laudo, não podendo rejeitar suas conclusões. Evidentemente, dado o
princípio do livre convencimento motivado, não é o sistema vigente no CPP.
Pelo sistema liberatório, o magistrado não está adstrito ao laudo pericial, podendo
rejeitá-lo, desde que o faça de maneira fundamentada. Além de decorrer do sistema do
livre convencimento motivado, tal se encontra expressamente previsto no artigo 182 do
CPP: O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo em no todo ou
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em parte.” (DEZEM, Guilherme Madeira. Da Prova Penal. Campinas (SP): Millenium,
2008. p. 179-180).
Deve ser realizado, pelo menos, 6 horas após do óbito, para afastar a possibilidade
de morte aparente, catalepsia etc.
Mas se a morte for evidente, não será preciso aguardar tal prazo. (art. 162).
b) exame interno:
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“Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia e hora previamente
marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.
Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência.
No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a
autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará do auto.
[...]
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Cumpre observar que a doutrina e a praxe forense denominam as perícias para cada
tipo de crime praticado. Ex. Perícia para averiguar estupro, atentado violento ao pudor etc.
Para aferir a existência de risco de vida (rectius: “risco de morte”), este deve ser
efetivamente diagnosticado, não bastando mero prognóstico.
Art. 166. ‘havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de
Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de
identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.
Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para a
identificação do cadáver.”
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se possa conduzir a perícia da melhor maneira possível e evitar desvirtuamentos em seu
resultado. Confira-se a lição de Guilherme Madeira Dezem, in Da Prova Penal, Campinas
(SP): Millenium, 2008. p. 182.
“Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração,
a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até
a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou
esquemas elucidativos.
Ler art. 170: Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente
para a eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados
com provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.
9.6. Avaliação.
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Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão à
avaliação por meio dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de
diligências.”
Importa recordar que o acusado não é obrigado a fornecer material para confronto e
realização da perícia, sob o fundamento de que ninguém é obrigado a fazer prova contra si
(Pacto de San José da Costa Rica - art. 8º, g) - Nemo tenetur se detegere. Garantia
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reconhecida internacionalmente, inclusive da 5ª Emenda, que compõe o Bill of Rights
Norte Americano (V. Alberto Silva Franco, pg. 75).
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