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Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 1

Colaboraram nesta edição:

Aline Oliboni de Azambuja


Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Biologia: Diversidade e
Manejo de Vida Silvestre (UNISINOS).
Andresa Patrícia Regert Lucho
Engenheira Agrônoma (UFRGS) e Mestre em Biologia:
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre (UNISINOS).
Diouneia Lisiane Berlitz
Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Biologia: Diversidade e
Manejo de Vida Silvestre (UNISINOS).
Emerson Luís Nunes Costa
BIOTECNOLOGIA Engenheiro Agrônomo (UFRGS) e Mestre e Doutor em
Ciência & Desenvolvimento Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS)
KL3 Publicações Gabriela Cristina Alles
Bióloga (UNISINOS) e Mestre e Doutoranda em Biologia:
Fundador Diversidade e Manejo de Vida Silvestre (UNISINOS).
Henrique da Silva Castro Jaime Vargas de Oliveira
Engenheiro Agrônomo (UFSM), Mestre em Fitotecnia –
Direção Geral e Edição Fitossanidade/Entomologia (UFPEL),
Ana Lúcia de Almeida Laura Massochin Nunes Pinto
Bióloga (PUCRS) e Mestre e Doutoranda em Biologia:
Diretor de Arte Diversidade e Manejo de Vida Silvestre (UNISINOS).
Henrique Castro Fº Leila Lucia Fritz
Bióloga (UNISINOS) e Mestranda em Biologia: Diversidade e
Projeto Gráfico
Manejo de Vida Silvestre (UNISINOS).
Agência de Comunicação IRIS Lidia Mariana Fiúza
E-mail Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em Fitotecnia –
biotecnologia@biotecnologia.com.br Fitossanidade (UFRGS), Doutora em Ciências Agronômicas
(ENSAM-Montpellier) e Pós-Doutora em biotecnologia Vegetal
Portal (CIRAD-Montpellier).
www.biotecnologia.com.br Marcus Hübner
Biólogo (FURG) e Mestre em Biologia: Diversidade e Manejo
Departamento Comercial, de Vida Silvestre (UNISINOS).
Maria Helena Ribeiro Reche
Redação e Edição:
Bióloga (UPF) e Mestre e Doutoranda em Biologia:
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre (UNISINOS).
Neiva Knaak
Bióloga (UNISINOS) e Mestre e Doutoranda em Biologia:
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre (UNISINOS).
SHIN CA 01 - Lote A - Bloco A - Sala 223 Raquel Castilhos-Fortes
Shopping Deck Norte Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Microbiologia Agrícola e do
Lago Norte Ambiente (UFRGS)
Brasília - DF
Rogério Schünemann
CEP: 71503-502
Biólogo (UNISINOS) e Mestre em Biologia: Diversidade e
Manejo de Vida Silvestre (UNISINOS).
Vilmar Machado
Biólogo (UNISINOS) e Mestre e Doutor em Genética e
Biologia Molecular (UFRGS)
Os artigos assinados são de
inteira responsabilidade
de seus autores.
Nota: A Revista Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento, é
ISSN 1414-6347 indexada na AGROBASE ( base de dados da Agricultura Brasileira)
BINAGRI- Biblioteca Nacional de Agricultura- MAPA- Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. no Agris ( International
Information System for the Agricultural Sciences and Technology)
da FAO e atende a obrigatoriedade do Depósito Legal na Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro - Fundação Biblioteca Nacional.

2 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


Conselho Científico Carta ao Leitor
EDIÇÃO 38 - 2009/2010
Dr. Aluízio Borém - Genética e Melhoramento Vegetal
Dr. Ivan Rud de Moraes - Saúde - Toxicologia; bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) tem o ca-
Dr. João de Deus Medeiros - Embriologia Vegetal;
risma mundial dos microbiologistas e entomo-
Dra. Lidia Mariana Fiuza - Microbiologia e Entomologia Agrícola;
Dr. Maçao Tadano - Agricultura; logistas. Esse entomopatógeno ubíquo é ím-
Dr. Naftale Katz - Saúde; par no potencial biotecnológico aplicado no
Dr. Pedro Jurberg - Ciências; controle biológico nas áreas agrícolas, florestais, de
Dr. Sérgio Costa Oliveira - Imunologia e Vacinas; saúde animal e humana. Nessas áreas, o microrganis-
Dr. Vasco Ariston de Carvalho Azevedo - Genética de Microorganismos; mo pode ser utilizado como biopesticida formulado,
Dr. William Gerson Matias - Toxicologia Ambiental. registrado e comercializado ou seus genes podem ser
adaptados e incorporados no genoma das plantas por
Conselho Brasileiro de Fitossanidade - Cobrafi
meio da engenharia genética, atualmente denomina-
Dr. Luís Carlos Bhering Nasser - Fitopatologia
das plantas-Bt. Nos estudos dessa bactéria há coope-
Fundação Dalmo Catauli Giacometti rações multidisciplinares que permitem as análises da
Dr. Eugen Silvano Gander - Engenharia Genética; biologia, toxicologia e ecologia microbiana, as quais
Dr. José Manuel Cabral de Sousa Dias - Controle Biológico; são tratadas nessa edição. O objetivo dessa publica-
Dra. Marisa de Goes - Recursos Genéticos ção é apresentar o estado da arte sobre o entomopa-
tógeno B. thuringiensis, com dados bibliográficos e
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN resultados de pesquisa obtidos pelo grupo de pesqui-
Dr. José Roberto Rogero
sa CNPq/UNISINOS: Manejo e Toxicologia em Agroe-
Sociedade Brasileira de Biotecnologia - SBBiotec cossistemas, onde atuam estudantes de Graduação e
Dr. Luiz Antonio Barreto de Castro - EMBRAPA Pós-Graduação da Biologia da UNISINOS, além de pro-
Dr. Diógenes Santiago Santos - UFRGS fessores e pesquisadores colaboradores do IRGA, UFR-
Dr. José Luiz Lima Filho - UFPE GS, UFPEL, UFSM, UCS, FIOCRUZ, EMBRAPA, CIRAD-
Dra. Elba P. S. Bon - UFRJ Montpellier, Universidade de Otawa e Universidade
de Nebraska.
Dra. Lidia Mariana Fiuza

Edição Especial - Ecotoxicologia de Bacillus thuringiensis, organizada e coordenada pela Dra. Lídia
Mariana Fiuza, Professora Titular e Coordenadora Executiva do Programa de Pós-Graduação em
Biologia: Diversidade e Manejo de Vida Silvestre da Universidade do Vale do Rio dos Sinos; Bolsista de
Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
Consultora Técnica do Instituto Rio Grandense do Arroz.
fiuza@unisinos.br lmfiuza@pesquisador.cnpq.br

PESQUISA
ARTRÓPODES E BACTÉRIAS ENTOMOPATOGÊNICOS 04
ECOLOGIA DE BACILLUS ENTOMOPATOGÊNICOS 14
TOXINAS DE BACILLUS THURINGIENSIS 24
MECANISMO DE AÇÃO DE BACILLUS THURINGIENSIS 32
TOXICOLOGIA DE BACILLUS THURINGIENSIS ÀS PRAGAS AGRÍCOLAS 36
TOXICOLOGIA DE BACILLUS THURINGIENSIS AOS INSETOS SOCIAIS 40
TOXICOLOGIA DE BACILLUS THURINGIENSIS ÀS PRAGAS URBANAS E VETORES 44
INTERAÇÕES DE BACILLUS THURINGIENSIS E O CONTROLE DE FITOPATÓGENOS 48
TOXICIDADE DE BACILLUS THURINGIENSIS EM ORGANISMOS NÃO-ALVO 54
PRODUTOS DE BACILLUS THURINGIENSIS: REGISTRO E COMERCIALIZAÇÃO 58
PLANTAS TRANSGÊNICAS QUE SINTETIZAM TOXINAS DE BACILLUS THURINGIENSIS E OUTRAS 62
EVOLUÇÃO E MANEJO DA RESISTÊNCIA DE INSETOS 68

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 3


ARTRÓPODES E BACTÉRIAS
Pesquisa ENTOMOPATOGÊNICOS
Pesquisa

Emerson Luís Nunes Costa Andresa Patrícia Regert Lucho Leila Lucia Fritz Lidia Mariana Fiuza
Engenheiro Agrônomo (UFRGS) e Engenheira Agrônoma (UFRGS) e Bióloga (UNISINOS) e Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em
Mestre e Doutor em Fitotecnia – Mestre em Biologia: Diversidade e Mestranda em Biologia: Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS),
Fitossanidade (UFRGS) Manejo de Vida Silvestre Diversidade e Manejo de Doutora em Ciências Agronômicas
(UNISINOS). Vida Silvestre (UNISINOS). (ENSAM-Montpellier) e Pós-Doutora em
biotecnologia Vegetal (CIRAD-
Montpellier).

ntre os artrópodes, os insetos são a maio- quitos, percevejos e outros insetos transmissores espécies predadoras ocorrem em 22 ordens, en-
ria das espécies animais e têm importância de agentes patogênicos), na veterinária (insetos quanto cinco ordens têm representantes parasí-
nas mais diversas áreas. Na agricultura, transmissores de moléstias em animais) e na agri- ticos (Berti Filho & Ciociola, 2002).
podem ser úteis ou nocivos, atuando na cultura. Os predadores, durante seu ciclo evolutivo,
manutenção do equilíbrio das populações podem consumir diversas presas. Normalmente
como inimigos naturais, na polinização, na 1.2 Importância dos são mais generalistas, pois atacam diferentes es-
decomposição da matéria orgânica do solo e como insetos na agricultura pécies, que podem pertencer a diferentes famíli-
pragas das culturas. Nesse trabalho são apresen- as ou ordens, incluindo insetos-praga ou não.
tadas algumas informações sobre a classe Insec- Na agricultura, a ocorrência de insetos tam- Na Tabela 2 são apresentados alguns insetos pre-
ta, destacando-se os insetos de importância agrí- bém tem seus aspectos positivos e negativos. dadores e suas presas.
cola, com a caracterização de ordens e subordens Sob o aspecto negativo estão os insetos que Os parasitóides são em geral mais específi-
e exemplos de famílias e espécies de insetos-pra- se alimentam de plantas e causam danos econô- cos, ou seja, especializados a determinados hos-
ga, vetores de fitopatógenos, predadores e para- micos a diversas culturas agrícolas. Os insetos- pedeiros. Assim, normalmente são mais restritos
sitóides. Também constam dados sobre as bacté- praga, pelo hábito de alimentarem-se de vege- à espécie, família ou ordem. Tais inimigos natu-
rias que atuam como agentes microbianos aplica- tais, são chamados de fitófagos. Dependendo da rais dependem de apenas um hospedeiro para
dos no controle biológico de insetos. estrutura vegetal da qual se alimentam, também completar seu ciclo de desenvolvimento, e dife-
recebem denominações específicas. Assim, os que renciam-se dos parasitas porque causam a mor-
1.1 A Classe Insecta se alimentam de frutos são os carpófagos; de ra- te do hospedeiro e os adultos têm vida livre.
ízes, rizófagos; de folhas, filófagos; de madeira, Atacam em geral as formas jovens dos insetos-
A classe Insecta, com 29 ordens, pertence à xilófagos; sugadores de seiva são fitossucsívoros. praga, inclusive ovos. Quando ocorrem em pos-
superclasse Hexapoda e ao filo Arthropoda. En- Além dos danos causados de forma direta, turas, controlam a praga antes dessa causar da-
tre os aspectos que caracterizam a maioria dos pela alimentação, alguns insetos causam danos nos às culturas. Na Tabela 3 são apresentados
representantes da classe Insecta estão: corpo di- indiretos às culturas, atuando como vetores de alguns insetos parasitóides e seus hospedeiros.
vidido em três porções (cabeça, tórax e abdome), fitopatógenos (Tabela 1). Também há insetos que De acordo com Berti Filho & Ciociola (2002),
cabeça com um par de antenas, olhos compos- estão associados à ocorrência de moléstias, devi- o impacto de predadores é mais difícil de avaliar
tos, peças bucais expostas (ectognatos), tórax com do a injúrias que causam nos tecidos vegetais pelos do que o de parasitóides, pois estes podem ser
três segmentos, três pares de pernas, nenhum, hábitos alimentares ou de postura, favorecendo a observados em seus hospedeiros, enquanto os
um ou dois pares de asas, e abdome com 6 a 11 penetração de patógenos. Como exemplos po- predadores dificilmente deixam sinais de ataque,
segmentos. dem ser citados o minador-dos-citros (Phylloc- principalmente quando consomem toda a pre-
Durante o desenvolvimento, os insetos so- nistis citrela), que favorece a ocorrência do can- sa. Ao contrário dos predadores, os parasitóides
frem metamorfose, por meio de muda do tegu- cro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas têm alta capacidade de encontrar seus hospe-
mento (ecdise). Insetos hemimetábolos são aque- axonopodis pv. citri, o tripes Thrips tabaci asso- deiros, inclusive quando a densidade populaci-
les que sofrem metamorfose chamada incomple- ciado à ocorrência do fungo Alternaria porri, cau- onal de fitófagos é baixa (Shepard et al., 1987 e
ta, passando pelas fases de ovo, ninfa e adulto. sador da mancha púrpura em alho e cebola, e as 1995).
Nesse caso os indivíduos jovens são muito seme- moscas-das-frutas, cujos hábitos de postura, ali-
lhantes aos adultos, mas apresentam o sistema mentação e desenvolvimento facilitam a ocorrên- 1.3 Ordens, subordens e famílias
reprodutivo imaturo e, no caso de insetos alados, cia de patógenos causadores de podridões em de insetos de importância agrícola
nota-se o desenvolvimento das asas, observando- frutos, como o fungo Monilinia fructicola, causa-
se a presença de tecas alares. Insetos holometá- dor da podridão parda em frutos de pêssego. In- Dentre as 29 ordens da classe Insecta, nove
bolos têm metamorfose completa, passando pe- setos sugadores que excretam substâncias açuca- destacam-se pela importância agrícola de seus
las fases de ovo, larva, pupa e adulto. Nesse caso, radas estão associados à ocorrência de fumagina, representantes: Coleoptera, Diptera, Hemiptera,
os indivíduos jovens são bem diferentes dos adul- caracterizada pelas estruturas fuliginosas do fun- Hymenoptera, Isoptera, Lepidoptera, Neuropte-
tos, como ocorre com as borboletas e moscas, go Capnodium sp. ra, Orthoptera e Thysanoptera. O Quadro 1 apre-
onde inclusive há mudança no aparelho bucal. Sob o aspecto positivo estão os insetos poli- senta informações sobre características gerais,
Os besouros também têm metamorfose comple- nizadores, muitos deles essenciais para a forma- famílias e espécies das principais ordens e su-
ta, com larvas morfologicamente diferentes dos ção de frutos e conseqüentemente de sementes; bordens de insetos de importância agrícola.
adultos, mas normalmente o tipo de aparelho os insetos subterrâneos que atuam na decompo- Nesse contexto, as plantas de arroz (Orysa
bucal se mantém. sição da matéria orgânica e em outras caracterís- sativa L.) são hospedeiros para um grande nú-
A classe Insecta representa 70% das espécies ticas desejáveis nos solos destinados à produção mero de insetos-praga e a ação desses artrópo-
animais, e encontra-se distribuída nos mais dife- agrícola e, ainda, os inimigos naturais, que se ali- des é um dos principais fatores que afetam a
rentes ambientes, onde os insetos, com aspectos mentam de outros insetos, muitas vezes manten- orizicultura, pois as perdas variam entre 10 e
positivos ou negativos, destacam-se como orga- do as populações de pragas em níveis que não 35% da produção. No entanto, são poucos os
nismos de importância, como na indústria têxtil causam dano econômico e sem necessidade de insetos que podem ser considerados pragas, pois
(o bicho da seda), na alimentação (o mel produ- adoção de outros métodos de controle. muitos deles são inimigos naturais que estão
zido pela abelha), na saúde humana (moscas, mos- Entre os inimigos naturais, na classe Insecta, associados ao controle biológico dos insetos-pra-

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ga. Fritz et al. (2008) analisaram a abundância de in-
setos-praga e inimigos naturais presentes em áreas
de arroz irrigado em Cachoeirinha (RS). Foram quan-
tificados 1015 indivíduos subdivididos em 10 ordens
de insetos e 2 ordens de aracnídeos (Figura 1). Os
dípteros apresentaram maior abundância dentre os
insetos (51,92%), seguido de Hemiptera (14%), Hy-
menoptera (8,87%), Collembola (8,18%), Coleoptera
(3,05%), Orthoptera (2,56%), Odonata (1,28%), Pso-
coptera (0,98%), Lepidoptera (0,69%) e Dermaptera
(0,1%). Acredita-se que as larvas de mosquitos vêm
desenvolvendo resistência aos inseticidas que são uti-
lizados frequentemente em lavouras orizícolas, tor-
nando-se conseqüentemente abundantes nesses agro-
ecossistemas (Victor & Reuben, 2000).
Entre os insetos, Coleoptera é a ordem dos be-
souros ou cascudos. Há inúmeras espécies de cole-
ópteros fitófagos, sendo que em muitos casos, tanto Figura 1. Abundância de insetos e inimigos naturais em lavouras de arroz
as larvas quanto os adultos alimentam-se de plantas.
Nessa ordem, há insetos-praga de diferentes hábitos: irrigado, RS
filófagos, rizófagos, xilófagos, carpófagos, entre ou- pófagos, rizófagos, minadores de folhas, espécies
tros. Há também várias espécies que atacam produ- que atacam produtos armazenados, entre outras. da potencialmente aplicadas no controle de inse-
tos armazenados. Entre as famílias, destaca-se Curcu- No entanto, os danos dos lepidópteros às cultu- tos-praga das plantas cultivadas e vetores de do-
lionidae, dos gorgulhos ou bicudos, que é a maior ras são causados quase que exclusivamente pelas enças animais e humanas foram casualmente des-
família do mundo, com cerca de 50.000 espécies des- formas jovens, conhecidas como lagartas. cobertas no final do século XIX, através das inves-
critas, sendo a maioria das espécies fitófagas, e as Entre as famílias de Lepidoptera destaca-se tigações das doenças que ocorriam nas criações
larvas geralmente desenvolvem-se no interior de par- Noctuidae, que inclui diversas espécies que cau- de abelhas melíferas (Apis mellifera) e do bicho-
tes vegetais, como brocas. sam danos a culturas de grande importância eco- da-seda (Bombyx mori).
Na ordem Coleoptera também há insetos que são nômica. Em Noctuidae estão a lagarta-da-soja (An- A documentação da taxonomia geral bacteri-
inimigos naturais, pois atuam no controle biológico ticarsia gemmatalis) e Spodoptera frugiperda, uma ana efetuada por Breed et al. (1957) e o levanta-
como predadores de outros insetos. Nesse caso des- praga polífaga conhecida como lagarta-militar, la- mento de espécies de bactérias relacionadas com
tacam-se as famílias Carabidae e Coccinellidae (joani- garta-do-cartucho-do-milho ou lagarta-da-folha- insetos hospedeiros descrito por Steinhaus (1947),
nhas), onde a maioria das espécies, tanto na fase de do-arroz. podem ser considerados trabalhos pioneiros e fun-
larva como de adulto, são predadoras de insetos-pra- A ordem Neuroptera é composta por insetos damentais à taxonomia de bactérias que causam
ga. predadores, com destaque para a família Chryso- doenças em insetos. A taxonomia bacteriana mo-
Em Diptera, a ordem das moscas e mosquitos, pidae, cujas larvas são conhecidas como bicho- derna baseia-se em critérios morfológicos, fisioló-
também há insetos-praga e inimigos naturais. Entre lixeiro, pois carregam os restos mortais das pre- gicos, sorológicos e genéticos.
os insetos fitófagos destaca-se a família Tephritidae, sas aderidos ao corpo. Atualmente são conhecidas inúmeras espéci-
das moscas-das-frutas. Entre os inimigos naturais des- Em Orthoptera, ordem dos gafanhotos, gri- es de bactérias associadas a insetos, porém pou-
tacam-se as famílias Syrphidae, com espécies cujas los, esperanças e grilotalpas, as espécies de inse- cas apresentam as características desejáveis à apli-
larvas são predadoras, e Tachinidae, com espécies tos-praga são normalmente polífagas, com desta- cação no controle biológico de pragas, sendo na
que desenvolvem-se como parasitóides. que para as famílias Acrididae, do gafanhoto-cri- classificação das bactérias entomopatogênicas, os
A ordem Hemiptera é composta por insetos de oulo e Gryllotalpidae, dos grilotalpas ou cachor- critérios de Falcon (1971) os mais viáveis por agru-
hábito sugador. Anteriormente, Hemiptera era a or- rinhos-da-terra. parem as bactérias em apenas duas categorias: es-
dem apenas dos percevejos. Atualmente, inclui tam- Na ordem Thysanoptera estão os insetos co- porulantes e não-esporulantes. Entre essas cate-
bém cigarras, cigarrinhas, pulgões, cochonilhas, psilí- nhecidos como tripes ou trips, sendo a maioria gorias destacam-se com maior importância à pa-
deos e moscas-brancas, que pertenciam à ordem Ho- das espécies fitófagas e algumas associadas à trans- tologia de insetos as espécies das famílias Bacilla-
moptera, atualmente não mais considerada como or- missão de viroses de plantas. ceae e Enterobacteriaceae.
dem em Insecta. A ordem Araneae conta com mais de 38.834 es- As bactérias esporulantes apresentam uma ca-
Além dos danos diretos causados pelos insetos pécies, incluídas em 3.694 gêneros e 109 famílias racterística de persistência, as quais podem se man-
fitófagos da ordem Hemiptera, que sugam líquidos no mundo (Platnick, 2008). Elas estão distribuí- ter em condições ambientais adversas através de
de diferentes partes vegetais, também há os danos das em agroecossistemas terrestres e são conside- estruturas de resistência denominadas endóspo-
indiretos, principalmente relacionados à transmissão radas um dos mais abundantes grupos de inver- ros. Esta característica dessa categoria de bactérias
de fitopatógenos. tebrados predadores, além de possuírem a vanta- vem sendo considerada um pré-requisito à pro-
Em Hemiptera, inimigos naturais ocorrem ape- gem de não danificar as plantas e controlarem dução de agentes microbianos em escala comer-
nas na subordem dos percevejos (Heteroptera), onde eventuais explosões populacionais de insetos, li- cial.
em algumas famílias há espécies predadoras de inse- mitando o canibalismo e territoriedade. No en- Como característica de bactérias entomopato-
tos (sugam hemolinfa). No entanto, tais famílias não tanto, os pesticidas não seletivos têm sido consi- gênicas potencialmente aplicadas no controle mi-
são exclusivas de espécies entomófagas. Em Reduvii- derados um risco para as espécies de aranhas crobiano de insetos, destacam-se as espécies que
dae há também espécies hematófagas (os barbeiros) benéficas. Fritz et al. (2008) analisaram as popula- apresentam alta virulência, elevada capacidade in-
e em outras, como Pentatomidae, há um grande nú- ções de aranhas em lavouras orízicolas orgânicas vasora e produção de toxinas, causando toxemias
mero de espécies fitófagas. Em Hymenoptera estão e convencionais (com aplicação de inseticida), nos insetos alvo. Com essas características, na ca-
as abelhas, vespas, vespinhas e formigas. Nessa or- coletadas de 3 regiões produtoras de arroz irriga- tegoria de bactérias esporulantes destacam-se como
dem há diversas espécies que atuam como poliniza- do do RS. Nesses agroecossistemas foram coleta- gêneros de maior importância: Bacillus e Clostri-
dores. Entre os fitófagos destaca-se a família Formici- das 1148 aranhas, entre jovens e adultos, haven- dium.
dae, que inclui as formigas-cortadeiras. Mas é no con- do maior abundância em lavouras orgânicas (765)
trole biológico que a ordem Hymenoptera destaca- que diferiram significativamente das lavouras com 1.4.1. Gênero Bacillus
se, pela grande quantidade de famílias e espécies de aplicações de inseticidas (383). Das 12 famílias
parasitóides. Entre os predadores, destaca-se a famí- registradas predominaram Araneidae e Tetragna- Bacillus spp., em geral aeróbicas ou facultati-
lia Vespidae. thidae que foram fortemente afetadas pelos inse- vamente anaeróbicas, encontram-se em substra-
Na ordem Isoptera estão os cupins, com espécies ticidas, reduzindo em até 80% da população (Fi- tos variáveis devido ao complexo enzimático pro-
consideradas pragas de diversas culturas, como pas- gura 2). duzido pelas células em forma de bastonetes, po-
tagens, cana-de-açúcar e florestais. dendo essas se apresentarem individuais ou em
Em Lepidoptera, a ordem das mariposas e bor- 1.4 Bactérias Entomopatogênicas cadeias. Esse gênero apresenta uma grande varia-
boletas, estão espécies de insetos-praga com diferen- ção entre as espécies, porém as características en-
tes hábitos alimentares, como filófagos, xilófagos, car- As toxinas bacterianas com atividade insetici- tomopatogênicas associadas à formação de endós-

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 5


poros e a produção de toxinas e enzimas deter-
minam as seguintes espécies como promissoras
ao controle de insetos prejudiciais:

A. Bacillus thuringiensis
Este microrganismo foi descoberto em 1902
por Ishiwata no Japão, através da criação massal
de Bombix mori. Em 1911, B. thuringiensis foi
novamente isolado por Berliner a partir de larvas
de Ephestia kuehniella, na cidade de Thüringe,
na Alemanha, de onde é originário seu atual
nome. Os primeiros ensaios utilizando B. thurin-
giensis foram realizados na Europa entre os anos
de 1920 e 1930, no controle de Ostrinia nubila-
lis, lepidóptero da família Pyralidae. Nos Estados
Unidos e na Europa, entre os anos de 1930 e
1940, numerosos testes foram realizados contra
outras espécies de lepidópteros. Atualmente, no
caso do controle biológico, B. thuringiensis é o
microrganismo mais utilizado em nível mundial .
Para os microbiologistas, B. thuringiensis (Fi-
gura 3) é uma bactéria gram-positiva, esporulan-
te, aeróbica ou facultativamente anaeróbica, na- Figura 2. Araneofauna em sistema de cultivo orgânico e convencional de
turalmente encontrado no solo. As espécies thu- arroz irrigado, RS
ringiensis, cereus e anthracis do gênero Bacillus
apresentam um grau de parentesco tão elevado,
que muitas vezes dificulta, se não impossibilita, Essa bactéria apresenta esporos centrais ou como particularidade inclusões paraesporais crista-
diferenciá-las através de provas bioquímicas e bac- terminais que variam de elípticos a cilíndricos num linas. Existem mais de 300 cepas de B. sphaericus
teriológicas mais simples. Durante muito tempo, esporângio distinto, sem corpo de inclusão para- catalogadas pelo Instituto Pasteur (Paris, França),
as duas primeiras espécies foram consideradas esporal (cristal). Quando os esporos de B. larvae sendo 50% dessas tóxicas às larvas de dípteros.
como sendo uma única. O principal critério utili- são ingeridos pelas larvas e pupas das abelhas,
zado para a distinção entre essas bactérias é a causam a doença americana das abelhas ou pú- 1.4.2 Gênero Clostridium
produção de corpos de inclusões paraesporais trida dos berçários.
durante o processo de esporulação do B. thurin- O gênero Clostridium compreende cerca de 100
giensis. D. Bacillus alvei espécies distribuídas em 19 grupos de acordo com
No controle microbiano dos insetos, o ento- Essa espécie caracteriza-se por apresentar es- a homologia de ARN16s. As células são em forma
mopatógeno Bacillus thuringiensis (Bt) oferece poros centrais ou sub-terminais que variam de de bastonetes, geralmente Gram-positivas, com en-
as melhores alternativas como bioinseticida, mos- elípticos a cilíndricos. Essa espécie causa doença dósporos ovais ou esféricos que as deformam. As
trando-se também um bom candidato à obten- européia das crias das abelhas. espécies desse gênero são estritamente anaeróbias,
ção de formulações comerciais, bem como à en- havendo algumas que toleram a presença de oxi-
genharia genética de plantas. E. Bacillus popilliae e Bacillus lentimorbus gênio livre, porém não formam esporos. Essas bac-
Essas espécies são patógenos obrigatórios, térias são encontradas naturalmente no solo, sedi-
B. Bacillus cereus crescem pouco em meio de cultura, e têm como mentos marinhos, restos animais e vegetais, assim
B. cereus pode ser considerado como pató- características esporos elípticos a cilíndricos, em como na flora intestinal de vertebrados e inverte-
geno facultativo, devido ao seu hábito saprofíti- esporângio nítido num bastonete. B. popilliae cau- brados, como os insetos.
co e à adaptação à vida parasítica das linhagens sa a doença leitosa do tipo A e B. lentimorbus Os efeitos entomopatogênicos de C. brevifas-
entomopatogênicas, sendo atualmente ainda uti- causa a doença leitosa tipo B, ambas em larvas ciens e C. malacosomae foram observados em lar-
lizado como opcional no controle de alguns le- de escarabeídeos. As características de resistência vas de Malacosoma pluviale, havendo a germina-
pidópteros, coleópteros e himenópteros quando dos esporos ao calor, à dessecação e à radiação, ção dos esporos na luz intestinal e o rápido cresci-
o B. thuringiensis mostra-se ineficaz. além da sua longevidade em larvas mortas e par- mento vegetativo, o qual causa a morte em poucos
O ingrediente ativo responsável pela viru- tículas de solo, tornam essas bactérias agentes dias, sem haver invasão na cavidade do corpo do
lência dessa bactéria corresponde a ação enzi- promissores no controle de larvas de Popillia ja- inseto. Alguns autores citam que C. bifermentans
mática da lecitinase, descrita por Heimpel (1954, ponica e Amphimallon mojalis (na Europa e Aus- malaysia sintetiza uma proteína tóxica às larvas de
1955). Em 1989, Rahmet-Alla & Rowley descre- trália), além de Eutheola humilis, Stenocrates spp. Aedes aegypti, Culex pipiens e Anopheles stephensi,
veram que a fosfolipase C de B. cereus estaria e Migdolus morretesi (no Brasil). a qual apresenta elevada similaridade as delta-en-
relacionada a sua atividade entomopatogênica. O mecanismo de ação é semelhante em am- dotoxinas sintetizadas pelo entomopatógeno B. thu-
Essa bactéria caracteriza-se por apresentar célu- bas às espécies, cujas bactérias atuam por inges- ringiensis.
las em forma de bastonetes com esporos cen- tão, passando do trato digestivo à hemolinfa, mul-
trais, não-cristalíferas e ausência de esporângio tiplicando-se, esporulando, causando a septice-
estendido. Alguns autores mencionam que além mia e morte dos insetos.
da lecitinase que levou certas linhagens a vida
parasítica, o endósporo dessa bactéria contém F. Bacillus sphaericus
proteína tóxica de baixa atividade específica, es- Trata-se de uma espécie que apresenta espo-
truturalmente semelhante ao cristal de B. thurin- ros esféricos em posição terminal num esporân-
giensis. gio distendido. Certas cepas dessa espécie pro-
Diversos estudos do modo de ação B. cereus duzem inclusões cristalinas (ou cristais), compos-
mencionam que essa espécie não tolera meio al- tas por dois peptídeos de 42 e 51 kDa que repre-
calino e a enzima para ser ativa exige um pH sentam a toxina binária, com ação inseticida. Há
entre 6,6 e 7,4, tornando essa bactéria específica cepas que sintetizam proteínas inseticidas de
a insetos cujo conteúdo intestinal encontra-se na 100kDa.
faixa neutra, quando então são provocadas alte- Essa bactéria é cosmopolita, tendo sido iso-
rações no epitélio do intestino médio das larvas lada de solo, água e do seu hospedeiro natural
sensíveis, sendo os sintomas patológicos variá- (pernilongos mortos). As cepas foram classifica-
veis em função do modo de infecção por esse das por sorotipos conforme o antígeno flagelar, Figura 3. Bacillus thuringiensis
patógeno. totalizando atualmente cerca de 50 sorotipos, en-
tre os quais 7 contêm cepas ativas contra larvas em microscopia eletrônica de
C. Bacillus larvae de dípteros e as cepas mais tóxicas apresentam transmissão

6 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


Quadro 1. Caracterização das principais ordens e subordens de insetos de importância agrícola, com
exemplos de famílias e espécies

ORDEM COLEOPTERA – besouros


Características gerais
• Asas anteriores do tipo élitros (consistência coriácea ou córnea) e posteriores membranosas;
• Aparelho bucal mastigador;
• Metamorfose completa : Holometábolos (ovo, larva, pupa, adulto);
• Mais de 300.000 espécies descritas.

Subordem Adephaga
Características gerais
• Porção ventral do segmento abdominal (urosternito) basal divido pelas cavidades coxais do terceiro par de
pernas;
• Em geral, predadores.
Principal família de importância agrícola
• Carabidae: adultos e larvas predadores (Ver Tabela 2)

Subordem Polyphaga
Características gerais
• Porção ventral do segmento abdominal (urosternito) basal não divido pelas cavidades coxais do terceiro
par de pernas;
• Maioria das famílias de Coleoptera.
Principais famílias de importância agrícola
• Anobiidae: Lasioderma serricorne – besouro-do-fumo
• Bostrichidae: Rhyzopertha dominica - besourinho-do-trigo
• Buprestidae: Colobogaster cyanitarsis – broca-da-figueira
• Bruchidae: Acanthoscelides obtectus – caruncho-do-feijão
• Cerambycidae: Oncideres impluviata - serrador-da-acácia-negra
• Chrysomelidae: Diabrotica speciosa – vaquinha ou brasileirinho
• Coccinellidae: joaninhas – larvas e adultos predadores (Ver Tabela 2)
Epilachna cacica – joaninha-das-cucurbitáceas (fitófaga)
• Curculionidae: Anthonomus grandis – bicudo-do-algodoeiro
Oryzophagus oryzae – gorgulho-aquático (adulto), bicheira-da-raiz-do-arroz (larva)
Sitophilus zeamais – gorgulho-do-milho
• Elateridae: Conoderus scalaris - larva-arame
• Meloidae: Epicauta atomaria – burrinho
• Scarabaeidae: Euetheola humilis – cascudo-preto-do-arroz
• Scolytidae: Hypothenemus hampei – broca-do-café
• Tenebrionidae: Tribolium castaneum - besouro-do-milho

Observação: As outras duas subordens (Archostemata e Myxophaga) têm pouco mais de 50 espécies descritas.

ORDEM DIPTERA – moscas e mosquitos


Características gerais
• Asas anteriores membranosas;
• Asas posteriores modificadas em halteres ou balancins;
• Aparelho bucal sugador labial;
• Metamorfose completa: Holometábolos (ovo, larva, pupa, adulto).

Subordem Nematocera – mosquitos, pernilongos e borrachudos


Característica geral
• Antenas mais longas que o tórax.
Principal família de importância agrícola
• Cecidomyiidae: Jatrophobia brasiliensis – mosca-das-galhas-da-folha-da-mandioca
Stenodiplosis sorghicola – mosca-do-sorgo

Subordem Brachycera – moscas


Característica geral
• Antenas curtas, com arista ou estilo no último segmento.
Principais famílias de importância agrícola
• Agromyzidae: Liriomyza trifolii - mosca-minadora
• Syrphidae: larvas predadoras (Ver Tabela 2)

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 7


• Tachinidae: parasitóides (Ver Tabela 3)
• Tephritidae: moscas-das-frutas - Ceratitis capitata – mosca-do-mediterrâneo
Anastrepha fraterculus – mosca-sul-americana
Anastrepha grandis - mosca-das-cucurbitáceas

ORDEM HEMIPTERA - percevejos, cigarras, cigarrinhas, pulgões, cochonilhas, psilídeos e moscas-brancas


Características gerais
• aparelho bucal sugador labial (rostro);
• ápteros ou com dois pares de asas, membranosas ou com o anterior total ou parcialmente mais resistente que
o posterior;
• metamorfose incompleta: Hemimetábolos (ovo, ninfa, adulto ou ovo, ninfa, “pupário”, adulto)

Subordem Sternorrhyncha - cochonilhas, pulgões, moscas brancas e psilídeos


Características gerais
• rostro emergindo entre as pernas anteriores;
• antenas longas ou curtas;
• ápteros ou alados (membranosas ou anteriores tégminas);
• ninfas e/ou adultos podem viver aderidos às plantas.
Principais famílias de importância agrícola
• Aleyrodidae: moscas-brancas - Aleurothrixus floccosus
Bemisia tabaci
• Aphididae: Aphis gossypii – pulgão-do-algodoeiro
Myzus persicae - pulgão-verde
Toxoptera citricida - pulgão-preto-dos-citros
• Phylloxeridae: Daktulosphaira vitifoliae - filoxera-da-videira
• Psyllidae: Diaphorina citri - psilídeo-dos-citros
• Coccidae: Coccus viridis - cochonilha-verde
Saissetia coffeae - cochonilha-parda
• Diaspididae: Chrysomphalus ficus – cabeça-de-prego
Lepidosaphis beckii - escama-vírgula
Pinnaspis aspidistrae - escama-farinha
• Margarodidae: Eurhizococcus brasiliensis – pérola-da-terra
Icerya purchasi – cochonilha-australiana
• Pseudococcidae: Planococcus citri – cochonilha-branca
Pseudococcus maritimus - cochonilha-branca

Subordem Auchenorrhyncha – cigarras e cigarrinhas


Características gerais
• rostro emergindo da parte inferior da cabeça;
• antenas setáceas curtas;
• asas membranosas ou anteriores tégminas;
• ninfas e adultos de vida livre.
Principais famílias de importância agrícola
• Cicadidae: Quesada gigas – cigarra-do-cafeeiro
• Cercopidae: Deois flavopicta - cigarrinha-das-pastagens
Mahanarva fimbriolata – cigarrinha-da-raiz-da-cana-de-açúcar
Mahanarva posticata – cigarrinha-da-folha-da-cana-de-açúcar
Notozulia entreriana - cigarrinha-das-pastagens
• Cicadellidae: Dalbulus maidis – cigarrinha-do-milho
Empoasca kraemeri - cigarrinha-verde-do-feijoeiro

Subordem Heteroptera – percevejos


Características gerais
• rostro articulado;
• asas anteriores do tipo hemiélitro.
Principais famílias de importância agrícola
• Cydnidae: Scaptocoris castanea - percevejo-castanho
• Coreidae: Diactor bilineatus - percevejo-do-maracujá
Phthia picta – percevejo-do-tomate
• Pentatomidae: Nezara viridula – percevejo-verde-da-soja
Oebalus poecilus - percevejo-do-grão-do-arroz
Tibraca limbativentris – percevejo-do-colmo-do-arroz
• Reduviidae : predadores (Ver Tabela 2)

8 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


ORDEM HYMENOPTERA – abelhas, formigas, vespas, vespinhas
Características gerais
• Asas membranosas;
• Metamorfose completa: Holometábolos (ovo, larva, pupa, adulto)

Subordem Apocrita – abelhas, formigas, marimbondos, vespinhas


Característica geral
• Abdome livre ou pedunculado
Principais famílias de importância agrícola
• Apidae: abelhas - Trigona spinipes - abelha-irapuá (fitófaga)
• Formicidae: Atta spp. - saúvas
Acromyrmex spp. - quenquéns
• Vespidae: predadores (ver Tabela 2)
Observação: Famílias de hymenópteros parasitóides (ver Tabela 3)

Subordem Symphita Característica geral


• Abdome séssil
Família de importância agrícola
• Siricidae: Sirex noctilio - vespa-da-madeira

ORDEM ISOPTERA – cupins


Características gerais
• Aparelho bucal mastigador;
• Antenas moniliformes;
• Asas presentes nas formas reprodutivas, membranosas, ambos os pares iguais;
• Asas com sutura basal, que se rompe após a revoada, destacando as asas do corpo;
• Metamorfose completa: holometábolos (ovo, larva, pupa, adulto);
• Espécies sociais, formando castas: sexuados alados (formam novos cupinzeiros), sexuados ápteros (rei e
rainha) e estéreis (operários e soldados);
• Fontanela: onde localiza-se glândula com função de defesa dos cupins superiores.
Principal família de importância agrícola
• Termitidae: Cornitermes cumulans
Nasutitermes globiceps

ORDEM LEPIDOPTERA – borboletas e mariposas


Características gerais
• Asas membranosas cobertas por escamas
• Aparelho bucal sugador maxilar (espiritromba ou probóscida)
• Metamorfose completa: Holometábolos (ovo, larva (=lagarta), pupa (=crisálida), adulto)

Subordem Glossata
Característica geral
• Espiritromba formada pelas gáleas maxilares
Principais famílias de importância agrícola
• Crambidae: Azochis gripusalis – broca-da-figueira
Diatraea saccharalis - broca-da-cana-de-açúcar
• Gelechiidae: Phthorimaea operculella – traça-da-batata
Sitotroga cerealella - traça-dos-cereais
• Noctuidae: Agrotis ipsilon – lagarta-rosca
Alabama argillacea - curuquerê-do-algodoeiro
Anticarsia gemmatalis – lagarta-da-soja
Helicoverpa zea - lagarta-da-espiga-do-milho
Mocis latipes – lagarta-dos-capinzais
Spodoptera frugiperda – lagarta-do-cartucho-do-milho, lagarta-da-folha-do-arroz
Pseudaletia sequax – lagarta-do-trigo
• Pieridae: Ascia monuste orseis - curuquerê-da-couve
• Pyralidae: Elasmopalpus lignosellus – lagarta-elasmo
Plodia interpunctella – traça-indiana
• Sphingidae: Erinnyis ello – mandarová-da-mandioca
Manduca sexta - mandarová-do-fumo
• Tortricidae: Cydia pomonella – traça-da-maçã
Grapholita molesta – mariposa-oriental
Observação: Cada uma das outras três subordens (Aglossata, Heterobathmiina e Zeugloptera) tem apenas uma
família. Como característica geral dessas subordens, as gáleas maxilares não formam espiritromba (probóscida).

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 9


ORDEM NEUROPTERA
Características gerais
• Asas membranosas com sistema variado de nervuras ;
• Metamorfose completa: Holometábolos (ovo, larva, pupa, adulto);
• Larvas predadoras.
Principal família de importância agrícola
• Chrysopidae – predadores (ver Tabela 2)

ORDEM ORTHOPTERA – gafanhotos, grilos, esperanças e grilotalpas


Características gerais
• Terceiro par de pernas saltatorial;
• Antenas filiformes ou setáceas;
• Aparelho bucal mastigador;
• Asas com par anterior do tipo tégmina e posterior membranosa;
• Metamorfose incompleta: Hemimetábolos (ovo, ninfa, adulto).

Subordem Caelifera - gafanhotos


Características gerais
• Antenas curtas;
• Tímpanos, quando presentes, localizados no primeiro segmento do abdome.
Principal família de importância agrícola
• Acrididae: Rhammatocerus schistocercoides – gafanhoto-crioulo

Subordem Ensifera - esperanças, grilos e grilotalpas


Características gerais
• Antenas longas;
• Tímpanos, quando presentes, localizados nas tíbias anteriores.
Principal família de importância agrícola
• Gryllotalpidae – Neocurtilla hexadactyla – grilotalpa ou cachorrinho-da-terra

ORDEM THYSANOPTERA - tripes ou trips


Características gerais
• Aparelho bucal sugador labial triqueta (raspador-sugador);
• Antenas filiformes ou moniliformes;
• Asas franjadas;
• Metamorfose incompleta: Hemimetábolos (ovo-ninfa-ninfa imóvel-adulto).

Subordem Tubulifera Característica geral


• Último segmento abdominal em forma de tubo.

Subordem Terebrantia Característica geral


• Último segmento abdominal arredondado ou cônico.
Principal família de importância agrícola
• Thripidae: Frankliniella schultzei
Thrips palmi
Thrips tabaci

Croft, 1990; Heinrichs, 1994; Gallo et al., 2002; Heinrichs & Barrion, 2004; Lucho, 2004.

10 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


Tabela 1: Alguns insetos vetores de fitopatógenos
INSETOS VETORES PATÓGENOS DOENÇAS CULTURAS

Acrogonia citrina (Hem.: Bactéria - Xylella fastidiosa Clorose variegada dos citros (CVC) Citros
Cicadellidae)
Aphis gossypii (Hem.: Cucumber mosaic virus (CMV) Mosaico da bananeira Bananeira
Aphididae) Papaya ringspot virus – type P (PRSV-P) Mosaico do mamoeiro Mamoeiro
Passion fruit woodiness virus (PWV) Endurecimento dos frutos Maracujazeiro

Bemisia tabaci (Hem.: Bean golden mosaic virus (BGMV) Mosaico dourado do feijoeiro Feijoeiro
Aleyrodidae)
Cerotoma arcuata(Col.: Bean rugose mosaic virus (BRMV) Mosaico rugoso da soja Feijoeiro e soja
Chrysomelidae)
Dalbulus maidis(Hem.: Fitoplasma Enfezamento vermelho do milho Milho
Cicadellidae) Maize rayado fino virus (MRFV) Risca do milho Milho
Spiroplasma kunkelii Enfezamento pálido Milho
Diabrotica speciosa (Col.: Bean rugose mosaic virus (BRMV) Mosaico rugoso da soja Feijoeiro e soja
Chrysomelidae)
Diaphorina citri (Hem.: Bactéria - Candidatus liberibacter spp. Greening ou Huanglongbing (HLB) Citros
Psyllidae)
Dilobopterus costalimai(Hem.: Bactéria - Xylella fastidiosa Clorose variegada dos citros (CVC) Citros
Cicadellidae)
Frankliniella Tospovírus Vira-cabeça Fumo, tomate e outras solanáceas
occidentalis(Thy.: Thripidae)
Frankliniella schultzei(Thy.: Tospovírus Vira-cabeça Fumo, tomate e outras solanáceas
Thripidae)
Hypocryphalus mangiferae Fungo: Ceratocystis fimbriata Seca da mangueira Mangueira
(Col.: Scolytidae)
Myzus persicae (Hem.: Papaya ringspot virus – type P (PRSV-P) Mosaico do mamoeiro Mamoeiro
Aphididae) Passion fruit woodiness virus (PWV) Endurecimento dos frutos Maracujazeiro
Potato leafroll virus (PLRV) Enrolamento da folha da batateira Batata
Potato virus Y (PVY) Mosaico do pimentão Solanáceas
Soybean mosaic virus (SMV) Mosaico comum da soja Soja
Myndus crudus(Hem.: Phytoplasma palmae Amarelecimento letal Coqueiro
Cixiidae)
Oncometopia facialis (Hem.: Bactéria - Xylella fastidiosa Clorose variegada dos citros (CVC) Citros
Cicadellidae)
Planococcus ficus (Hem.: Grapevine leafroll-associated virus Enrolamento da folha Videira
Pseudococcidae) (GLRaV)
Pseudococcus Grapevine leafroll-associated virus Enrolamento da folha Videira
longispinus(Hem.: (GLRaV)
Pseudococcidae)
Rhopalosiphum maidis(Hem.: Soybean mosaic virus (SMV) Mosaico comum da soja Soja
Aphididae) Sugarcane mosaic virus (SCMV) Mosaico comum Milho, sorgo, cana-de-açúcar

Thrips palmi(Thy.: Thripidae) Tospovírus Vira-cabeça Fumo, tomate e outras solanáceas


Toxoptera citricidus(Hem.: Citrus tristeza virus (CTV) Tristeza dos citros Citros
Aphididae) Papaya ringspot virus – type P (PRSV-P) Mosaico do mamoeiro Mamoeiro
Passion fruit woodiness virus (PWV) Endurecimento dos frutos Maracujazeiro
Kimati et al., 1997; Gallo et al., 2002; Oliveira et al., 2003.
Tabela 2: Alguns insetos predadores e suas presas
ORDENS E FAMÍLIAS PREDADORES PRESAS
Coleoptera
Carabidae Callida scutellaris lagartas
Calosoma granulatum lagartas
Lebia concina lagartas
Coccinellidae (joaninhas) Azya luteipes cochonilhas
Eriopis connexa pulgões
Cycloneda sanguinea pulgões
Pentilia egena cochonilhas
Rodolia cardinalis cochonilhas
Dermaptera
Forficulidae (tesourinhas) Doru luteipes lagartas e ovos
Diptera
Syrphidae Pseudodoros clavatus pulgões
Salpingogaster nigra ninfas de cigarrinhas
Hemiptera
Anthocoridae Orius insidiosus lagartas, ovos, tripes, pulgões
Lygaeidae Geocoris sp. lagartas e ovos
Nabidae Nabis sp. lagartas e ovos
Pentatomidae Podisus nigrispinus lagartas e ovos
Reduviidae Zelus sp. lagartas, coleópteros
Hymenoptera
Vespidae Polistes sp. lagartas
Polybia sp. lagartas
Neuroptera
Chrysopidae Chrysopa sp. pulgões, cochonilhas, moscas-brancas
Chrysoperla sp. pulgões, cochonilhas, moscas-brancas
Gallo et al., 2002; Silva et al., 2002; De Bortoli et al., 2008.
Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 11
Tabela 3: Alguns insetos parasitóides e seus respectivos hospedeiros
ORDENS E FAMÍLIAS PARASITÓIDES HOSPEDEIROS CULTURAS

Hymenoptera
Aphelinidae Aphelinus mali Pulgão-lanígero Eriosoma Macieira e outras rosáceas
lanigerum(Hem.: Aphididae)
Encarsia (Prospaltella) berlesei Cochonilha-branca Pseudaulacaspis Pessegueiro, amoreira e outras
pentagona (Hem.: Diaspididae) frutíferas
Bethylidae Vespa-de-uganda Prorops nasuta Broca-do-café Hypothenemus hampei Cafeeiro
(Col.: Scolytidae)
Braconidae Apanteles sp. Mandarová-do-fumo Manduca sexta Fumo
(Lep.: Sphingidae)
Aphidius sp. Pulgão-verdeMyzus persicae (Hem.: Diversas culturas, como as
Aphididae) solanáceas
Pulgão-do-algodoeiroAphis gossypii(Hem.: Diversas culturas, como algodão,
Aphididae) solanáceas e cucurbitáceas
Pulgão-da-espigaSitobion avenae(Hem.: Diversas culturas, como trigo,
Aphididae) aveia, cevada
Apanteles subandinus Traça-da-batataPhthorimaea Batata
operculella(Lep.: Gelechiidae)
Chelonus insularis Lagarta-do-cartucho-do-milho Spodoptera Diversas culturas, como milho,
frugiperda(Lep.: Noctuidae) arroz, algodoeiro
Colastes letifer Bicho-mineiro Leucoptera coffeella(Lep.: Cafeeiro
Lyonetiidae)
Cotesia flavipes Broca-da-cana Diatraea saccharalis(Lep.: Cana-de-açúcar, milho e outras
Crambidae) Poaceae (gramíneas)
Diachasmimorpha longicaudata Mosca-do-mediterrâneo Ceratitis capitata Frutíferas diversas
(Dip.: Tephritidae)
Hypomicrogaster hypsipylae Broca-do-cedroHypsipyla grandella(Lep.: Cedro, mogno e outras espécies
Pyralidae) florestais
Chalcididae Brachymeria pseudoovata Traça-dos-cachos Cryptoblabes Videira
gnidiella(Lep.: Pyralidae)
Encyrtidae Ageniaspis citricola Minador-dos-citros Phyllocnistis Citros
citrella(Lep.: Gracillariidae)
Eulophidae Proacrias coffeae Bicho-mineiro Leucoptera coffeella(Lep.: Cafeeiro
Lyonetiidae)
Tetrastichus giffardianus Mosca-do-mediterrâneo Ceratitis Frutíferas diversas
capitata(Dip.: Tephritidae)
Ibaliidae Ibalia leucospoides Vespa-da-madeira Sirex noctilio(Hym.: Pinus
Siricidae)
Ichneumonidae Campoletis flavicincta Lagarta-do-cartucho-do-milho Spodoptera Diversas culturas, como milho,
frugiperda(Lep.: Noctuidae) arroz, algodoeiro
Coccygomimus tomyris Lagarta-cachorrinho Eupseudosoma Eucalipto
aberrans (Lep.: Arctiidae)
Lagarta-mede-palmo Sabulodes caberata Eucalipto
caberata (Lep.: Geometridae)
Microcharops bimaculata Lagarta-da-soja Anticarsia Soja e outras Fabaceae
gemmatalis(Lep.: Noctuidae) (leguminosas)
Scelionidae Telenomus podisi Percevejo-marrom Euschistus heros(Hem.: Soja
Pentatomidae)
Percevejo-do-colmoTibraca Arroz
limbativentris(Hem.: Pentatomidae)
Trissolcus basalis Percevejo-verde-da-soja Nezara viridula Diversas culturas, como soja e
(Hem.: Pentatomidae) mamoeiro
Trissolcus urichi Percevejo-do-colmoTibraca Arroz
limbativentris(Hem.: Pentatomidae)
Trichogrammatidae Trichogramma galloi Broca-da-cana Diatraea saccharalis(Lep.: Cana-de-açúcar, milho e outras
Crambidae) Poaceae (gramíneas)
Trichogramma pretiosum Broca-pequena-do-fruto Neoleucinodes Tomateiro e outras solanáceas
elegantalis(Lep.: Crambidae)
Lagarta-da-espiga-do-milho Helicoverpa Milho, sorgo e outras Poaceae
zea(Lep.: Noctuidae) (gramíneas)
Diptera
Tachinidae Archytas incertus Lagarta-do-cartucho-do-milho Spodoptera Diversas culturas, como milho,
frugiperda(Lep.: Noctuidae) arroz, algodoeiro
Archytas lopesi Lagarta-das-folhas Rolepa unimoda(Lep.: Ipê
Lymantriidae)
Archytas pseudodaemon Lagarta-cachorrinho Eupseudosoma Eucalipto
aberrans (Lep.: Arctiidae
Mariposa-violácea Sarsina violascens(Lep.: Eucalipto
Lymantriidae)
Hemisturmia sp. Lagarta urticante Lonomia Cafeeiro
circumstans(Lep.: Saturniidae)
Lespesia affinis Lagarta-cachorrinho Eupseudosoma Eucalipto
aberrans (Lep.: Arctiidae)
Trichopoda nitens Percevejo-verde-da-soja Nezara viridula Diversas culturas, como soja e
(Hem.: Pentatomidae) mamoeiro
Xanthozona melanopyga Lagarta-das-palmeiras Brassolis Coqueiro, dendezeiro e outras
sophorae(Lep.: Nymphalidae) palmeiras
Sampaio et al., 2001; Gallo et al., 2002; Rodrigues et al., 2004; Pratissoli et al., 2005; Carvalho, 2005; Maciel et al., 2007.

12 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


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Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 13


ECOLOGIA DE BACILLUS
Pesquisa ENTOMOPATOGÊNICOS
Pesquisa

1.1 Biologia e ecologia


de Bacillus spp.

Atualmente são conhecidas inúmeras espécies de bactérias associadas a


insetos. Porém poucas apresentam as características desejáveis à aplicação do
controle biológico de insetos-praga das plantas cultivadas (Fiuza, 2001). No
entanto, o crescente interesse pela utilização de
bioinseticidas para o controle de populações de in-
studos ecológicos visando à conservação de Bacillus spp. setos prejudiciais, levou o homem a pesquisar mais
em ecossistemas aquáticos e terrestres justificam-se pela profundamente as bactérias (Habib & Andrade,
aplicação de algumas espécies no controle biológico de 1998). Entre as bactérias entomopatogênicas, o gê-
insetos. Apesar desses microrganismos apresentarem nero Bacillus apresenta especial importância no
semelhanças quanto à biologia e modo de ação, eles
controle biológico de pragas, destacando-se o Ba-
diferem entre si por características particulares de cada espécie.
cillus sphaericus e o Bacillus thuringiensis (Priest,
Os aspectos relacionados à distribuição geográfica, habitat
preferencial, interações com a microbiota local, fatores que
1992, 2000; Rabinovitch, 2000; Brighenti et al., 2005;
afetam crescimento, esporulação e atividade inseticida dos Capalbo et al., 2005; Crickmore et al., 2008; De Melo,
entomopatógenos servem como parâmetros às análises de 2008).
impacto ambiental, especialmente em agroecossistemas Embora seja reconhecido que B. thuringiensis é
orizícolas. Esse conjunto de elementos fornece subsídios que um patógeno de insetos, a ecologia dessa bactéria
auxiliam na seleção de isolados com potencial inseticida e ainda é pouco conhecida (Jensen et al., 2003). Ele
ampliam a escassa literatura sobre o papel ecológico desses é um microrganismo ubíquo do solo, mas é tam-
microrganismos no ambiente. bém encontrado nos demais ambientes terrestres,
aquáticos e também em insetos mortos, produtos
armazenados, plantas e detritos (Meadows et al.,
Aline Oliboni de Azambuja
1992; Meadows, 1993; Bernhard et al., 1997, Hossain et al., 1997; Forsyth &
Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Biologia:
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre Logan, 2000; Hongyu et al., 2000; Maeda et al., 2000; Sneath, 2001; Martinez &
(UNISINOS). Caballero, 2002; Silva et al., 2002; Uribe et al., 2003; Wang et al., 2003). De
toda forma, ele habita mais comumente o solo e a superfície das folhas (For-
Gabriela Cristina Alles
Bióloga (UNISINOS) e Mestre e Doutoranda syth & Logan, 2000). No solo, o número de células varia de 102 a 104 Unida-
em Biologia: Diversidade e Manejo de Vida des Formadoras de Colônias (UFC) por grama de solo, enquanto em plantas,
Silvestre (UNISINOS). esse número varia de 0 a 100 UFC cm-2 (Damgaard, 2000).
Leila Lucia Fritz
De acordo com Meadows (1993) existem quatro possíveis explicações para
Bióloga (UNISINOS) e Mestranda em Biologia: a presença de B. thuringiensis no solo: a primeira considera que B. thuringi-
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre ensis raramente desenvolve-se no solo, mas é depositado nesse substrato por
(UNISINOS). folhas, insetos, entre outros. A segunda hipótese assume que esse microrga-
Maria Helena Ribeiro Reche nismo pode ser patógeno de insetos do solo que apresentem reduzida impor-
Bióloga (UPF) e Mestre e Doutoranda em tância econômica, com os quais poucos estudos foram realizados. A terceira
Biologia: Diversidade e Manejo de Vida hipótese pressupõe que B. thuringiensis pode desenvolver-se no solo quando
Silvestre (UNISINOS).
existem nutrientes suficientes, obtidos de resíduos orgânicos em decomposi-
Lidia Mariana Fiuza ção. Enquanto a última teoria afirma a existência de afinidade de B. thuringi-
Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em ensis e Bacillus cereus, com o qual B. thuringiensis pode trocar material gené-
Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS), Doutora tico, possibilitando sua permanência no ambiente.
em Ciências Agronômicas (ENSAM-
Montpellier) e Pós-Doutora em biotecnologia Além de B. thuringiensis e B. cereus, existem as espécies: B. mycoides, B.
Vegetal (CIRAD-Montpellier). pseudomycoides, B. anthracis e B. weihenstephanensis (Hansen, et al., 2003;

14 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


feros, causando intoxicações alimen- tepe, regiões temperadas e tropicais,
tares seguidas de vômitos e diarréias, savanas e desertos quentes. Sua abran-
dificultando o seu emprego no con- gência foi relatada em áreas da Es-
trole de insetos-praga (Hansen & Hen- candinávia a Nova Zelândia e da Is-
driksen, 2001). lândia a Cadeias Montanhosas. No en-
As informações sobre o destino tanto, ele é raramente encontrado em
das toxinas de B. thuringiensis no solo areias de praias e camadas de solo
são limitadas, embora alguns traba- abaixo de 10 cm de profundidade
lhos mostrem que elas unem-se a áci- (Landén et al., 1994; Chilcott & Ellar,
dos húmicos e suplementos orgâni- 1998).
cos ou partículas do solo, que as pro- B. thuringiensis tem sido freqüen-
tegem da degradação sem perder sua temente isolado de florestas, áreas ur-
atividade inseticida (Polanczyk & Al- banas, campos e principalmente de
ves, 2003). De modo geral, as bacté- lavouras agrícolas (Martin, 1994; Fiu-
rias entomopatogênicas permanecem za, 2001).
no solo por meses ou anos após a Em um levantamento do Banco de
sua liberação. B. thuringiensis é ca- Bactérias Entomopotagonênicas da
Figura 1. Bactérias esporulantes paz de permanecer viável por mais Microbiologia da UNISINOS (BBE-
provenientes de amostras de solo de três anos após liberado (Fuxa, MU), foram analisadas 278 amostras
em regiões produtoras de arroz 1992). A sensibilidade dos esporos de solo, oriundas de 29 municípios,
irrigado do RS desse entomopatógeno à radiação de cinco regiões produtoras de arroz
solar e à dessecação está associada irrigado do RS. Foram isoladas 674
com os plasmídeos, ocorrendo trocas amostras de bactérias esporulantes, a
na composição química da cobertura maioria pertencente ao Litoral Norte
Hu et al., 2004). As espécies, B. ce- dos esporos, reduzindo sua tolerân- (41%), seguido do Litoral Sul (21%),
reus e B. thuringiensis são fenotipi- cia aos fatores físicos do ambiente. da Campanha (14,4%), da Depressão
camente e geneticamente muito simi- Nas folhas, a limitação dos esporos Central (14%) e da Fronteira Oeste
lares entre si, havendo dificuldade na pode ocorrer pelo tipo de folha e seus (10%) (Figura 1).
distinção entre as duas espécies (Le- exudados, os quais contém inibido- Dessas, 31,1% correspondem a B.
cadet et al., 1999; Shisa et al., 2002). res da germinação de esporos (Yá- thuringiensis; 6% a B. cereus; 4% a B.
No entanto, B. cereus é considerado nez & Cabriales, 2000). sphaericus e 58,9% equivalem a ou-
patógeno facultativo devido ao seu Considerando a hipótese de que tras espécies de Bacillus (Fritz et al.,
hábito saprofítico no solo e parasita os esporos do B. thuringiensis encon- 2007). Outras pesquisas em solos de
de linhagens de insetos, possuindo tram-se no ambiente como resultado áreas de arroz irrigado revelam a
uma proteína tóxica de baixa ativida- da morte do inseto alvo, espera-se que ampla ocorrência de Bacillus no RS.
de específica (Habib & Andrade, a distribuição dessa bactéria ocorra Em 2006, Azambuja estudou a fre-
1998). Esta espécie não produz inclu- aleatoriamente, e que os isolados de qüência de isolados de Bacillus spp.
sões paraesporais inseticidas atuando um mesmo lugar sejam similares (Fiu- durante o período que compreende
através de ação enzimática (Guttmann za, 2001). No entanto, os isolados de o ciclo do cultivo do arroz irrigado
& Ellar, 2000; Shisa et al., 2002). Mui- B. thuringiensis têm sido encontrados no sistema convencional e obteve 245
tas cepas de B. cereus são considera- em todos os tipos de solos e regiões colônias de bactérias esporulantes,
das patógenas oportunistas de mamí- do mundo, incluindo tundra ártica, es- onde 143 pertenciam ao gênero Ba-

Figura 2. Freqüência de Bacillus spp. nos diferentes sistemas de cultivo e fases da cultura do arroz irrigado no RS; (C)
pousio, (SCC) sistema de cultivo convencional, (SCG) sistema de cultivo pré-germinado, (SCD) sistema de cultivo direto

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 15


Figura 3. Abundância de Bacillus thuringiensis em relação aos distintos tratamentos fitossanitários e período de irriga-
ção do arroz no RS; (C) área controle, (H) área somente com herbicidas, (H+I) área com herbicidas e inseticida, (H+F)
área com herbicidas e fungicida

cillus, entre as quais foram identifica- a compreensão dessas bactérias no uso de maquinários interferem na
das 26,6% como B. thuringiensis; 4,2% ambiente, suas relações patógeno/ microbiota terrestre, afetando a qua-
como B. sphaericus e 69,2% foram hospedeiro e a estrutura de popula- lidade do solo, modificando as pro-
agrupadas como outras espécies de ções, permitindo conhecer o compor- priedades físicas, químicas e biológi-
Bacillus. tamento de microrganismos naturais cas (Valarini et al., 2002; Andréa &
Silva et al. (2002) reforçam a pre- e novos isolados, sejam eles modifi- Hollweg, 2004). Dessa forma, ocor-
dominância de B. thuringiensis (9,1%) cados geneticamente ou introduzidos rem variações no número de indiví-
em solos de todas as regiões brasilei- através de programa de controle mi- duos ou na dinâmica bioquímica na-
ras se comparado a B. sphaericus crobiano (Sosa-Gómez et al., 1998). tural da comunidade de microrganis-
(5,1%), com exceção da região Sul do Ainda assim, as bactérias entomopa- mos. Porém, pouco é conhecido so-
país que B. sphaericus (10,1%) foi togênicas do gênero Bacillus são bre a distribuição desses microrganis-
mais freqüente que B. thuringiensis matéria-prima à industrialização de mos terrestres e a maneira com que
(4,6%). No entanto, em solos agríco- inseticidas bacterianos. Seus efeitos eles respondem as mudanças de ma-
las de diferentes áreas da Argentina a sobre as larvas são tão pronunciados nejo na terra (Buckley & Schmidt,
freqüência de B. sphaericus foi maior que as indústrias de inseticidas con- 2003).
(2,1%) em relação à de B. thuringi- vencionais buscam ampliar suas utili- Diversas populações de bactérias
ensis (1,6%) conforme os dados de zações com o objetivo de controlar formadoras de endósporos ocorrem
Dias et al. (1999). as pragas da agricultura e vetores de em áreas agrícolas e podem contri-
Como foi verificada nas diversas agentes etiológicos de doenças huma- buir diretamente ou indiretamente na
pesquisas, a freqüência de B. thurin- nas e vegetais. produtividade das culturas (Gardener,
giensis em vários locais e as diferen- 2004). As bactérias gram-positivas for-
ças encontradas podem ser atribuídas 1.2 Bacillus spp. em amostras mam uma parte importante da micro-
a inúmeros fatores, incluindo varia- de solos de agroecossistemas biota de solo, o qual constitui o prin-
ções geográficas, climáticas, ativida- cipal ambiente natural que abriga
de agrícola, tipo de solo e método de O crescente aumento de áreas agrí- bactérias do gênero Bacillus (Ibarra
isolamento. Contudo, Martin (1984) colas vem causando diversos efeitos et al., 2003; Mohamed et al., 2007).
discute que B. thuringiensis não pos- ambientais, como a mudança micro- Muitas espécies desse gênero são con-
sui um habitat natural bem definido, biana do solo que é mediada por di- sideradas de importância prática (Cac-
pois esse entomopatógeno é caracte- versos processos e funções (Motavalli camo et al., 2001), já que espécies de
rizado como um microrganismo sa- et al., 2004). Em agroecossistemas, as Bacillus são utilizadas para a síntese
profítico, sem exigências nutricionais mudanças significativas e perceptíveis de uma grande variedade de produ-
restritas, podendo adaptar-se a dife- na comunidade microbiana do solo tos médicos, agrícolas, farmacêuticos
rentes condições ambientais. estão relacionadas com as condições entre outros (Mohamed et al., 2007).
Diante disso, ainda que os ento- ambientais, sendo conseqüência prin- No entanto, as transformações mi-
mopatógenos apresentados possuam cipalmente do uso das práticas de crobianas ocorrem devido às diferen-
semelhanças quanto à biologia e manejo desse ambiente (Atlas et al., tes populações que habitam o solo, e
modo de ação, eles diferem entre si 1991). Práticas agrícolas, tais como as suas distintas reações químicas po-
por características particulares de cada tipo de manejo do solo, rotação de dem ser alteradas sempre que o ecos-
espécie. Estudos ecológicos facilitam culturas, aplicação de agrotóxicos e sistema sofrer algum tipo de interfe-

16 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


camadas (Kennedy, 1999).
Pfüller et al. (2000) analisaram a
freqüência de microrganismos utili-
zando diferentes sistemas de plan-
tio, e em seus estudos a população
microbiana não diferiu significativa-
mente, embora tenha ocorrido uma
maior variação no SCC. No entanto,
Garbeva et al. (2003) compararam a
diversidade de Bacillus em solos
agrícolas, e observaram maior nú-
mero de esporos em solos que apre-
sentavam cultivos, em tempo redu-
zido em comparação aos cultivados
em longo prazo.
Figura 4. Freqüencia de Bacillus spp. em amostras de água do Canal de De acordo com Buckley & Tho-
Irrigação das 5 regiões produtoras de arroz do RS: Litoral Norte-LN, Campa- mas (2003), uma possível explica-
nha-CA, Fronteira Oeste-FO, Depressão Central- DC e Litoral Sul- LS ção para que as comunidades mi-
crobianas em campos abandonados
de cultivo continuem a apresentar
freqüências semelhantes com cam-
pos atualmente cultivados, se deve
rência. Assim, na aplicação de diver- como B. sphaericus e 38,10% como ao fato de que as comunidades mi-
sos tipos de manejo, podem existir Bacillus sp. Todavia, não houve di- crobianas do solo respondem às ca-
diferentes disponibilidades de subs- ferença significativa na freqüência racterísticas do ambiente, que reque-
tratos que determinarão o favoreci- de Bacillus spp. entre os sistemas rem longos períodos de tempo para
mento ou a inibição do estabeleci- de plantio (p>0,05), embora as fa- recuperação dos efeitos antrópicos.
mento dos diferentes grupos micro- ses da cultura tenham influencia- Em geral, os microrganismos res-
bianos (Castro & Prado, 1993). do a abundância das espécies pondem de diversas formas à apli-
Fritz (2007) analisou a abundân- (P<0,01). A irrigação revelou-se cação de pesticidas em seu hábitat,
cia de bactérias entomopatogênicas capaz de favorecer a variação na podendo ocorrer principalmente se-
pertencentes ao gênero Bacillus ob- abundância de Bacillus spp., prin- leção de populações resistentes. Essa
tidas de 36 amostras de solo coleta- cipalmente no caso de B. sphaeri- seleção pode ser em função de suas
das de diferentes sistemas de cultivo cus, uma vez que representou características fisiológicas e morfo-
de arroz irrigado: sistema de cultivo 71,4% do total de isolados encon- lógicas. Com o passar do tempo, a
convencional (SCC), sistema de culti- trados durante a referida etapa da diversidade microbiana entra em
vo pré-germinado (SCG) e sistema de cultura (Figura 2). equilíbrio, porém passa a ser com-
cultivo direto (SCD) e de uma área O fato dos solos agrícolas so- posta por um menor número de es-
de pousio (sem cultivo) por aproxi- frerem mudanças nas suas propri- pécies, mantendo-se por meses ou
madamente 12 anos (C). Foram sele- edades físicas e químicas pela in- anos, atingindo o clímax a semelhan-
cionadas 336 colônias pertencentes ao trodução da cultura contribui para ça da fase original (Borges et al.,
gênero Bacillus spp., onde foram a diversidade de bactérias em fun- 2004). Por outro lado, alguns auto-
identificadas, 35,42% como B. thurin- ção da aeração, profundidade e res relatam que a diminuição das
giensis, 16,96% como B. cereus, 9,52% melhor distribuição ao longo das bactérias pode estar relacionada com
a sensibilidade aos herbicidas, re-
sultando na eliminação de algumas
espécies. (Wardle & Parkinson,
1990).
Nesse sentido, Azambuja (2006)
avaliou a influencia do cultivo con-
vencional de arroz irrigado sobre a
abundância de bacilos entomopato-
gênicos, em quatro áreas tratadas
com distintos produtos fitossanitári-
os e a fase de irrigação da cultura,
concluindo que não houve diferen-
ça significativa entre os parâmetros
avaliados separadamente sobre a
Figura 5. Freqüencia de Bacillus spp. Isolados em amostras de água das abundância de B. thuringiensis e B.
Parcelas de cultivo de arroz, das 5 regiões produtora do RS: Litoral Norte-LN, sphaericus. No entanto, a interação
Campanha-CA, Fronteira Oeste-FO, Depressão Central- DC e Litoral Sul- LS entre os fatores apresentou signifi-

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 17


das concentrações inibe os três pro-
cessos (Sikdar et al., 1991; Içgen et
al., 2002; Polanczyk, 2004). Por
outro lado, há divergências quanto
à presença de magnésio, sendo im-
portante na biossíntese do cristal
protéico ou limitante do crescimen-
to (Içgen et al., 2002; Polanczyk
2004) . Também há relatos na lite-
ratura de que a adição de fosfato
orgânico (3 a 100 mM) não influ-
encia na biossíntese do cristal, ape-
Figura 6. Ocorrência de espécies de Bacillus isoladas de amostras de água sar de reduzir o crescimento de
durante o ciclo da cultura 2001/02 de arroz irrigado do Rio Grande do Sul células e esporos (Içgen et al.,
2002), porém Azambuja (2006) ob-
servou que B. thuringiensis foi fa-
vorecido pelas quantidades de po-
tássio no solo.
cativa diferença para B. thuringien- o
C, contudo, essas diferenças não fo- Em relação ao pH, alguns auto-
sis. Antes da irrigação, o microrganis- ram submetidas à análise estatística. res mencionam que a acidez do solo
mo foi mais freqüente na área tratada Todavia, a temperatura é um impor- favorece a adsorção da toxina de
somente com os herbicidas, contudo tante fator de influência alterando a B. thuringiensis pela fração argilo-
quando o arroz foi inundado a abun- eficiência de bioinseticidas a base de sa do mesmo protegendo da bio-
dância foi mais pronunciada nesse Bacillus entomopatogênicos. Baixas degradação por microrganismos
período de irrigação e no tratamento e altas temperaturas reduzem a ativi- competidores que têm sua ativida-
com herbicidas/fungicida (Figura 3). dade larvicida, indicando a necessi- de inibida nessa condição. Os va-
Os solos de arroz irrigado são pre- dade de estudos potenciais devido ao lores acima de 5,2 favorecem o cres-
dominantemente ácidos, quando grande número de insetos vetores em cimento da bactéria, mas quando o
ocorre à inundação, o pH é elevado climas tropicais (Consoli et al., 1995). pH não é controlado próximo à
naturalmente, próximo à neutralida- Em agroecossistemas, a variação da neutralidade ocorre à baixa produ-
de pelo processo de redução. Em fun- diversidade microbiana ao longo das ção da toxina (West et al., 1985; Si-
ção dessa nova condição, a disponi- estações do ano ainda não é bem kdar et al., 1991; Tapp & Stotzky,
bilidade de nutrientes atinge níveis compreendida, já que em cada esta- 1998). Sabe-se que a disponibilida-
estáveis durante um período de 4 a 6 ção parece ocorrer uma comunidade de de nutrientes minerais, pH neu-
semanas após a inundação (IRGA, microbiana dominante acompanhada tro e umidade dos solos favorecem
2005). de outras pouco abundantes. Essas va- a germinação de B. thuringiensis
As mudanças climáticas interferem riações estão diretamente ligadas ao representando importantes fatores
de diferentes formas numa série de regime hídrico, ao clima da região, a nos níveis de crescimento do mi-
organismos, que conseqüentemente, estrutura e manejo do solo e ao teor crorganismo (West et al., 1985).
afetam outros e o conjunto destas mu- e a qualidade dos resíduos vegetais Contudo, os níveis ótimos de me-
danças pode prejudicar o meio ambi- aportados (Torsvisk & Ovreas, 2002). tais para o crescimento de B. thu-
ente físico. Sendo assim, os micror- Os solos representam um ecossis- ringiensis e produção da delta-en-
ganismos estão entre os seres mais tema complexo e as variações nos ní- dotoxina são variáveis e ainda não
sensíveis as variações ambientais, pois veis de pH, compostos inorgânicos e foram claramente demonstrados,
formam grandes populações, possu- matéria orgânica podem representar conforme discutem alguns autores
em crescimento rápido, facilidade de um fator limitante na colonização, es- (Sikdar et al., 1991; Içgen et al.,
dispersão e reduzido tempo de gera- tabelecimento e esporulação de mi- 2002).
ções, constituindo-se em potenciais crorganismos residentes (Melo & Aze- B. sphaericus, tem ação mosqui-
indicadores biológicos para o estudo vedo, 1998). Diante desse fato, mui- tocida, especialmente para larvas de
de impactos das mudanças climáticas tas pesquisas procuram elucidar quais Culex pipiens, sendo potencializa-
globais (Ghini, 2008). os componentes minerais são mais fa- da após crescimento em meio de
A influência de fatores climáticos voráveis ou limitantes do crescimen- cultura com os elementos minerais
na ocorrência de B. thuringiensis e to microbiano no solo. Além disso, KH2PO4, MgSO4, MnSO4, Fe2(SO4)3,
B. sphaericus, em solos de orizicultu- determinadas concentrações de um ZnSO4, CaCl2 e pH 7,2 conforme
ra irrigada, foi avaliada por Azambu- dado elemento podem apresentar estudos realizados por Kaflon et al.,
ja (2006) e a autora sugere que a pre- efeitos adversos para um mesmo mi- (1983). Nos estudos de Azambuja
dominância dos entomopatógenos foi crorganismo. Alguns autores descre- (2006), o índice de B. sphaericus
mais acentuada no período de verão vem que a presença de cálcio favore- não foi afetado pelas propriedades
com valores médios de temperatura ce o crescimento, esporulação e a físico-químicas dos solos avaliados
do ar de 26 oC, umidade relativa de produção da delta-endotoxina de B. de arroz irrigado. Os resultados
66 % e temperatura do solo de 24,7 thuringiensis no solo, mas em eleva- anteriores dos referidos autores

18 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


podem possivelmente ser explica- solo, da água e do sedimento, e a ram realizadas durante o ciclo da
das por Silva et al. (1999) e Alles degradação microbiana. Os resulta- cultura do arroz, 2001/02, em 5 re-
(2008) que relacionam às diferen- dos apontaram espécies do gênero giões produtoras de arroz do RS: De-
tes origens do entomopatógeno, Bacillus entre os grupos Gram-po- pressão Central- DC, Fronteira Oes-
como solos e águas, a utilização de sitivos dos consórcios de bactérias, te- FO, Campanha- CA, Litoral Nor-
algumas cepas em estudos ecológi- com maior capacidade metabólica te- LN e Litoral Sul- LS (Figuras 4 e
cos pela resistência a diferentes con- em degradar o carbosulfano. 5).
dições de estresse. Relacionando diferentes ambien- Os resultados apresentados nas
Na tentativa de caracterizar ce- tes aquáticos, com a viabilidade dos Figuras 4 e 5, referem-se à abun-
pas com atividade inseticida e veri- esporos de B. sphaericus, Yousten dância de Bacillus spp. nas regiões
ficar a influência do cultivo conven- et al. (1995) destacam que na água orizícolas estudadas e nos dois tra-
cional sobre os Bacillus entomopa- doce a fração de esporos viáveis é tamentos, Canal de Irrigação e Par-
togênicos, Azambuja (2006) obteve maior do que no mar. Pouco se sabe celas de cultivo de Arroz. Caracte-
a distribuição de isolados de B. thu- sobre quais fatores ambientais são rísticas adaptativas a vários ambien-
ringiensis com genes cry4, (ativida- mais importantes para a perda de tes e sob condições adversas de tem-
de inseticida a dípteros) em cepas viabilidade dos esporos dessa bac- peratura, pH e salinidade, lhes são
provenientes de solos de todos os téria. Fatores como a temperatura conferidas por sua capacidade de
tratamentos fitossanitários, exceto de crescimento, pH, aeração, pre- permanecer em latência devido a
da área tratada com herbicidas/in- sença de minerais e certos compos- formação de esporos. As variações
seticida, sendo igualmente distribu- tos carbonados e nitrogenados afe- de temperatura entre as regiões e a
ídas entre os períodos de irrigação. tam a formação dos endósporos disponibilidade de recursos, podem
Como justificativa deste dado pode- (Sneath, 2001). Nesse sentido, Alles influenciar as diferenças de abun-
se ressaltar que as áreas inundadas (2008) avaliou o crescimento de dância na distribuição das espécies
de cultivo de arroz são habitats fa- cepas de B. sphaericus, frente a pes- (Ricackanov, 2003).
voráveis à criação de mosquitos, de- ticidas químicos, compostos orgâ- As parcelas de cultivo apresen-
vido à presença de elevada matéria nicos e metais pesados, obtendo taram maior abundância de colôni-
orgânica e resíduos poluentes pro- uma expressiva heterogeneidade as bacterianas (Figura 5) quando
venientes das fontes utilizadas (Ba- entre as estirpes e uma resistência comparadas com as águas de irri-
tista-Filho et al., 1998). ao metal Cádmio, considerando tais gação da lavoura (Figura 4). Águas
características fenotípicas importan- de lavoura de arroz recebem trata-
1.3 Bacillus spp. em tes para o controle e manejo bioló- mentos fitossanitários e Bacillus
ecossistemas aquáticos gico, dependendo do local onde o parecem ter afinidade com ambien-
agente de biocontrole será aplica- tes que receberam agroquímicos,
Entre as bactérias melhor adap- do. transformando-os em fontes de car-
tadas à vida no solo e na água, es- Contudo, sabe-se que as formu- bono para a sua produção de ener-
tão àquelas pertencentes ao gênero lações comerciais de B. sphaericus gia. Além disso, o ambiente de la-
Bacillus. O gênero Bacillus é feno- são mais resistentes a habitats po- voura alterna inundação e drena-
tipicamente heterogêneo, com luídos e a sua reciclagem é favore- gem, o que favorece o desenvolvi-
membros exibindo um amplo con- cida em certas condições, mas com mento de bactérias esporulantes (Li-
junto de requerimentos nutricionais, estreito número de hospedeiros em esack, 2001).
condições de crescimento, diversi- relação à B. thuringiensis israelen- Os resultados de pesquisa quan-
dade metabólica e na composição sis (Singh e Gill, 1988; Thanabalu et to aos isolados de Bacillus em águas
base do DNA. O conhecimento da al., 1991 e 1993; Nielsen-Leroux e de lavouras orizícolas durante o ci-
ecologia de espécies de Bacillus no Charles, 1992; Nicolas et al., 1993; clo da cultura, expressaram a pre-
solo e na água ainda não é comple- Consoli et al, 1995; Charles et al., sença de B. thuringiensis em 39,7%
to (Vilain et al., 2006). 1996; Silva-Filho e Regis, 2003; das amostras de água analisadas. Em
Espécies de Bacillus foram refe- Schwartz et al., 2001; Silva-Filho e segundo lugar, Bacillus sp., 35,8%,
ridas por sua capacidade metabóli- Peixoto, 1997). seguidos de B. cereus, 14,6% e B.
ca distinta (Fernandes et al., 2007; Em estudos de diversidade bac- sphaericus, 9,9% (Figura 6).
Fu et al., 2007; Fisher & Hollibaugh, teriana em orizicultura no RS, Re- B. thuringiensis foi encontrado
2008), no Mono Lake, um lago hi- che & Fiuza (2005) e Fritz et al. em maior freqüência nas águas de
persalino, alcalino do leste da Cali- (2007) isolaram e identificaram es- cultivo de arroz (Figura 6). A pre-
fórnia, onde existem processos de pécies de Bacillus em águas de irri- sença de Bacillus sp. é mencionada
oxidação e redução de selênio e ar- gação e em amostras de águas de por Martiny et al. (2005), como um
sênio em presença de fontes de car- áreas orizícolas do RS. Nessas pes- dos grupo bacterianos mais comuns
bono dissolvido. Em lavouras de ar- quisas, B. thuringiensis, B. sphaeri- em sistemas de distribuição de água
roz no Rio Grande do Sul, (RS), cus, B. cereus e Bacillus sp. foram potável. Em estudos após desinfec-
Mattos et al. (2007), avaliaram o im- identificados em amostras de água ção com cloro, em sistemas de água
pacto do uso do inseticida carbo- coletadas nos Canais de Irrigação e potável, Szabo et al. (2007), encon-
sulfano sobre os microrganismos do nos Canais de Drenagem das lavou- traram esporos de bactérias do gê-
solo, o risco de contaminação do ras orizícolas do RS. As coletas fo- nero Bacillus, aderidos nas depres-

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 19


sões da tubulação de ferro corroído. Andréa, M.M.; Hollweg, M.J. 2004. restriction analysis of their ampli-
Os autores concluíram que esses es- Comparação de métodos para de- fied 16S rDNA. Journal Applied
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Esses autores também levantaram a Azambuja, A. O. 2006. Ecologia de Ba- mos do solo em diferentes siste-
hipótese dessa bactéria ter algum tipo cillus spp. em solos orizícolas e mas de manejo de soja. Ciência
de relação simbiótica com plantas, o o impacto dos tratamentos fitos- agrícola, 2: 12-219.
que explicaria a produção de toxinas sanitários. Dissertação (Mestra- Charles, J.F.; Nielsen-Lerous, C.; De-
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pode ocorrer na rizosfera das plantas 1997. Natural, isolates of Bacillus mounier, M.A.; Alves, R.S.A.; Sil-
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Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 23


TOXINAS DE BACILLUS
Pesquisa THURINGIENSIS
Pesquisa

toxicidade de B. thuringi- sas-García et al., 2008).


ensis está relacionada à sín- A busca por novos genes cry, que sin-
tese das proteínas Cry que tetizem novas proteínas Cry, com diferen-
atuam especificamente no tes efeitos inseticidas tem sido uma das
intestino médio dos insetos, grandes metas na pesquisa com B. thurin-
as quais são codificadas por giensis, desde os primeiros trabalhos pu-
genes cry. Essas proteínas têm atividade blicados sobre a manipulação genética de
inseticida a diferentes ordens de insetos- B. thuringiensis (Schnepf & Whiteley, 1981).
praga, de acordo com a presença dos ge- As toxinas Cry têm sido classificadas de
nes cry, nas cepas bacterianas. Além des- acordo com sua homologia na seqüência
sas proteínas, o entomopatógeno produz de aminoácidos (Figura 1), na qual a de-
outros tipos de toxinas, como exotoxinas, nominação “Cry” apresenta quatro ranques
proteínas Vip, endotoxinas, entre outras. hierárquicos de números e letras (maiús-
Sendo assim, esse artigo apresenta a atual culas e minúsculas), como por exemplo,
classificação dos genes cry, as ordens de Cry3Aa2. As proteínas Cry (Tabela 1) com
insetos-alvo das proteínas Cry e outros fa- cerca de 45% de homologia em sua seqüên-
tores de toxicidade da bactéria. cia são colocadas no primeiro ranque e
quando apresentam 78 e 95% de identida-
1.1 Proteínas Cry de, constituem o segundo e terceiro ran-
que, respectivamente.
Juntamente com a esporulação, B. thu- Cinco blocos de seqüências são comuns
ringiensis libera inclusões cristalinas para- a maioria das proteínas Cry. Quando se
esporais que podem conter uma ou mais analisa o tamanho destas proteínas também
proteínas inseticidas, denominadas Cry, as fica evidente sua diversidade entre as dife-
quais são codificadas por genes também rentes protoxinas. A extensão C-terminal,
denominados cry. Estas proteínas apresen- encontrada nas proteínas mais longas, não
tam peso molecular entre 40 e 140kDa e faz parte da toxina ativa, pois é digerida
tornam-se tóxicas a insetos, após sua in- pelas proteases no intestino dos insetos,
gestão e solubilização, no intestino médio mas pode ter ação na formação do cristal
das larvas (Bravo, 1997). (Schnepf et al., 1998).
Estudos sobre a seleção de B. thurin- A estrutura tridimensional das formas
Laura Massochin Nunes Pinto
giensis têm identificado diferentes cepas ativas das toxinas Cry1 (Grochulski et al.,
Bióloga (PUCRS) e Mestre e Doutoranda desta bactéria, as quais mostram ação so- 1995), Cry2 e Cry3 (Li et al.,1991), quando
em Biologia: Diversidade e Manejo de Vida bre diversas ordens de insetos, como Lepi- analisadas em cristalografia de raio X, mos-
Silvestre (UNISINOS). doptera, Coleoptera, Diptera, Hymenopte- traram-se muito similares, cada uma apre-
ra, Homoptera, Hemiptera, Isoptera, Or- sentando três domínios. As inclusões cris-
Diouneia Lisiane Berlitz thoptera, Siphonaptera, Thisanoptera e talíferas ingeridas por larvas susceptíveis
Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Biologia: Mallophaga (Feitelson et al., 1992; Maagd dissolvem-se no intestino dos insetos e as
et al., 2001; Cavados et al., 2001; Castilhos- protoxinas inativas são solubilizadas e cli-
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre
Fortes et al., 2002; Pinto et al., 2003; Ma- vadas na longa região C-terminal, por pro-
(UNISINOS). agd et al., 2003), além de nematóides (Mar- teases intestinais, originando fragmentos re-
roquim et al., 2000). sistentes a proteases com cerca de 60 kDa
Raquel Castilhos-Fortes Assim, sabe-se que diversos grupos de (Maagd et al., 2003).
Bióloga (UNISINOS) e Mestre em insetos são suscetíveis aos cristais tóxicos O domínio I, N-terminal, consiste em sete
Microbiologia Agrícola e do Ambiente de B. thuringiensis e que uma espécie de alfa-hélices e participa na inserção da mem-
(UFRGS) inseto pode ser afetada por mais de uma brana intestinal e formação do poro. O do-
cepa da bactéria, pois estas freqüentemen- mínio II, ou beta-prisma, apresenta três
Lidia Mariana Fiuza te produzem diferentes proteínas insetici- folhas dobradas simétricas, formando as
Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em
das. Isso significa que um cristal protéico beta-folha. O domínio III C-terminal con-
pode ser tóxico a uma grande variedade siste em duas beta-folha antiparalelas. Es-
Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS), de insetos, principalmente lepidópteros. tes dois domínios estão envolvidos no re-
Doutora em Ciências Agronômicas Além disso, as proteínas Cry de B. thurin- conhecimento dos receptores e ligação,
(ENSAM-Montpellier) e Pós-Doutora em giensis podem ter seu efeito alterado de além do domínio III também ter sido asso-
biotecnologia Vegetal (CIRAD-Montpellier). acordo com a radiação solar, temperatura ciado à formação de poros (Maagd et al.,
e pH (Nishiitsutsuji-Uwo et al., 1977; Ro- 2001).

24 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


Figura 1. Dendograma de proteínas Cry
de Bacillus thuringiensis (Fonte http://
www.lifesci.susx.ac.uk/home/
Neil_Crickmore/Bt. Acesso em 19/11/
2008).

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 25


Tabela 1. Classificação e caracterização das proteínas Cry de Bacillus thuringiensis.

26 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


L- Lepidoptera; C- Coleoptera; D- Diptera; H- Hymenoptera; N- Nematoda; Le- leucócitos cancerosos humanos.
Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 27
o segundo domínio mostra-se entre 45 e 75%
similares e o terceiro domínio a partir de 75%
de similaridade, quando se trata da seqüência
de aminoácidos.
Carlson et al. (1994) relatam que B. thu-
ringiensis apresenta em seu genoma de 2,4 a
5,7 milhões de pares de bases, e a maioria dos
isolados apresentam elementos extra cromos-
sômicos lineares ou circulares. Os genes cry
estão localizados em plasmídios e muitos iso-
lados de B. thuringiensis possuem diversos ge-
nes cry responsáveis pela síntese de diferen-
tes proteínas inseticidas (Lereclus et al., 1993).
Durante seu desenvolvimento, B. thuringien-
sis passa por duas fases, a fase vegetativa e a
estacionária, semelhantes ao desenvolvimento
de Bacillus subtilis.
A primeira fase caracteriza-se pelo cresci-
mento exponencial das células de B. thuringi-
ensis, momento em que há grande disponibili-
dade de nutrientes no meio. A fase estacioná-
ria ocorre quando o meio se torna hostil e a
bactéria adapta-se à diminuição de nutrientes
através de mecanismos genéticos. A expres-
são dos genes cry de B. thuringiensis geral-
mente ocorre na fase estacionária da célula,
acumulando seu produto na célula mãe, na
forma de uma inclusão cristalífera, a qual é
liberada no meio ao final da esporulação (Le-
reclus et al., 2000). Esta inclusão pode repre-
sentar cerca de 25% do peso seco de células já
esporuladas (Agaisse & Lereclus, 1995). Esses
autores relatam que apesar da expressão dos
genes cry estarem estreitamente relacionada
ao evento da esporulação, existem genes cry
que são expressos independentemente da es-
porulação.
A quantidade de proteína produzida por
uma célula de B. thuringiensis não está direta-
mente relacionada com o número de cópias
de genes cry, pois a capacidade de produção
de proteína pela célula, mesmo com apenas
uma cópia de um determinado gene cry, pode
ser elevada. Por exemplo, a cepa B. thuringi-
ensis kurstaki HD73, possui apenas uma cópia
de gene cry1, mas sintetiza cristais bipirami-
dais em quantidades semelhantes àquelas pro-
duzidas por cepas que apresentam três ou qua-
Figura 2. Dendograma das proteínas Vip sintetizadas por Bacillus thuringiensis tro diferentes genes cry1. Desta forma, a sínte-
(Fonte: http://www.lifesci.susx.ac.uk/home/Neil_Crickmore/Bt) se protéica atinge um limite máximo, com cer-
to número de cópias de genes cry na célula e
acima deste não há acréscimo na produção de
Atualmente, existem 428 proteínas Cry pectro inseticida aos lepidópteros. toxinas (Agaisse & Lereclus, 1995).
descritas, que estão classificadas em 55 clas- Dentre estes grupos, os genes cry1 são As toxinas Cry são as mais proeminentes
ses Cry (Tabela 1). O autor Crickmore man- os mais freqüentes na natureza, represen- de uma série de fatores que permitem o desen-
tém um site na internet, o qual reúne as tando mais de 43% dos genes cry caracteri- volvimento de sua virulência à morte ou enfra-
informações sobre todas as toxinas Cry já zados e freqüentemente as bactérias que quecimento dos insetos. Esses dados sugerem
publicadas, além de permitir o acesso às possuem genes deste grupo codificam pro- que muitas estirpes de B. thuringiensis podem
características moleculares de cada uma. toxinas entre 130 e 140kDa, que são arma- ser consideradas como patógenos oportunistas
Estes dados são atualizados periodicamen- zenados em cristais bipiramidais (Hofte & de insetos. Seria de grande importância uma
te e podem ser acessados no endereço: Whiteley, 1989; Rosas-García et al., 2008; compreensão mais profunda das verdadeiras
http://www.lifesci.susx.ac.uk/home/ Thammasittirong & Tipvadee, 2008). funções ecológicas de B. thuringiensis, tanto
Neil_Crickmore/Bt. O dendograma da Figura 1 mostra os para melhorar a confiabilidade da avaliação dos
Este número tem crescido regularmen- grupos de proteínas Cry, que são classifi- riscos e para o desenvolvimento de métodos
te, pois a descoberta de novos genes im- cados de acordo com a similaridade entre eficientes de isolamento de estirpes de B. thu-
plica na obtenção de novas toxinas que a seqüência de genes que codificam as re- ringiensis, contendo genes cry ativos.
possam ter maior especificidade ou toxici- feridas toxinas bacterianas.
dade. Dentre os grupos de genes cry mais De acordo com Crickmore et al. (1998), 1.2 Proteínas Vip
estudados, destacam-se cry1, cry2, e cry9, o primeiro domínio apresenta em torno de
os quais já foram descritos com amplo es- 45% de similaridade entre si, ao passo que As proteínas VIP foram descritas por Estru-

28 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


Tabela 2. Proteínas Vip com efeito tóxico a diferentes insetos Estruch (1996) e 23% das cepas avaliadas
por Rice (1999). As subfamílias Vip1 e Vip2
(Tabela 2) são componentes de uma pro-
teína binária com atividade inseticida con-
tra Diabrotica virgifera e D. longicornis
(Han et al., 1999; Warren, 1997). As prote-
ínas Vip 3 são ativas contra lepidópteros
(Tabela 2), como Spodoptera frugiperda e
Helicoverpa zea. Seu modo de ação está
relacionado à formação de poros na mem-
brana do epitélio do intestino médio (Yu
et al., 1997; Loguercio et al., 2002; Lee et
al., 2003). Ao mesmo tempo que a Vip 3
apresentou toxicidade sobre lepidópteros
e não mostrou efeitos sobre insetos não-
alvo (Whitehouse, 2007).
Devido a sua atividade inseticida rela-
cionada a Heliothis zea, as proteínas Vip
3A estão sendo expressas em plantas de
algodão, conferindo resistência ao inseto.
Nesse sentido, Bommireddy et al. (2007),
avaliaram plantas de algodão modificadas
somente com a proteína Vip 3A, ou com a
combinação de Vip 3A e Cry 1Ab (Vip Cot)
nos lepidópteros H. zea e H. virescens. Con-
siderando o comportamento das lagartas,
os resultados desses autores mostram que
houve maior índice de infestação em plan-
tas não modificadas em relação às demais
(Vip 3A e Vip Cot).
O conjunto desses dados demonstra
que às proteínas Vip são promissoras no
controle de insetos-praga, uma vez que pos-
suem diferenças estruturais em relação às
demais proteínas de B. thuringiensis, o que
pode retardar o processo de resistência nas
populações de insetos.

1.3 Demais fatores de virulência


de B. thuringiensis

Além das proteínas Cry e Vip, os isola-


ch et al. (1996) e recebem essa denomina- subdivididos em cinco grupos menores, de dos de B. thuringiensis podem sintetizar
ção por serem produzidas na fase vegetati- acordo com essa seqüência genética. Per- proteínas denominadas Cyt, que possuem
va de crescimento de B. thuringiensis. Sua cebe-se, claramente que esses cinco gru- atividade citolítica in vitro e especificidade
concentração também permanece alta an- pos similares são formados por proteínas in vivo aos dípteros (Höfte & Whitheley,
tes e depois da fase de esporulação. da mesma classe, ou seja, Vip1, Vip2 e Vip 1989; De Maagd et al., 2003). De acordo
Vários estudos foram realizados após 3. A diferença entre a seqüência de genes com esses autores fazem parte desse gru-
sua descoberta visando a caracterização, que codificam essas proteínas é que define po as proteínas Cyt1Ca e Cyt2Aa e seu
identificação de novos tipos, ação insetici- sua classificação, como Vip1Aa, Vip1Ab, en- modo de ação também pode estar relacio-
da e também produção de plantas com ca- tre outras. nado a um sinergismo com outras toxinas
pacidade de expressá-las. Estes estudos, po- De acordo com Rang et al. (2005), as produzidas pelos isolados.
rém, são incipientes quando comparados proteínas Vip2 exibem entre 21 e 22% de O entomopatógeno também produz
com as endotoxinas. similaridade com a proteína Vip3Ba1, en- outros fatores de virulência, como as β-
A localização dos genes responsáveis quanto as proteínas da classe Vip1 são en- exotoxinas, α-exotoxinas, hemolisinas, en-
por sua produção ainda não foi determina- tre 8 e 22% similares à Vip3Ba1. terotoxinas, quitinases e fosfolipases (Höf-
da, embora existam vários conjuntos de Segundo Fang (2007) estas proteínas te & Whiteley, 1989; De Maagd et al., 2001).
primers que podem ser utilizados para iden- representam uma das maiores descobertas Esses autores declaram desconhecida a
tificá-las como vip1 e vip2 (Rice, 1999; Fang de toxinas com capacidade inseticida, sen- exata contribuição de cada fator na viru-
et al., 2007; Selvapandiyan et al., 2001 ) do extremamente relevante a ausência de lência da bactéria, sendo uma dificuldade
vip3A (Rice, 1999), vip3Aa (Seifinejad et al., similaridade nas seqüências de aminoáci- determinar o espectro tóxico de um isola-
2008), vip5 e vip6 (Loguercio et al., 2002). dos destas proteínas com as seqüências de do que sintetiza mais de uma proteína. Isso
A Figura 2 apresenta um dendograma aminoácidos das endotoxinas, especialmen- porque, quando os fragmentos tóxicos vão
com as proteínas Vip, já identificadas e ca- te, em termos de manejo e evolução da se ligar aos receptores da membrana do
talogadas, no site: http:// resistência. intestino médio do inseto, ocorre uma com-
www.lifesci.susx.ac.uk/home/ De acordo com o dendograma da Fi- petição pelos sítios de ligação, que pode
Neil_Crickmore/Bt. Esse dendograma mos- gura 2, estas proteínas são classificadas em interferir na toxicidade do isolado.
tra primeiramente dois grandes agrupamen- três subfamílias diferentes (Crickmore et al., Guttmann & Ellar (2000) identificaram
tos de proteínas onde são encontradas se- 2005), sendo que ocorrem em torno de 15% isolados de B. thuringiensis com a presen-
qüências genéticas semelhantes entre si, das cepas de B. thuringiensis avaliadas por ça de hemolisinas, quitinases e lecitinases,

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 29


de Barreto et al. (1999) utilizando S. frugiper-
Tabela 3. Subespécies de Bacillus thuringiensis produtores da β-exotoxina da em seus ensaios de toxicidade. Porém, de-
vido as suas propriedades não específicas aos
insetos, ou seja, pode também afetar organis-
mos não-alvo, os isolados bacterianos que são
produtores dessa toxina não podem ser co-
mercializados para serem utilizados na agri-
cultura visando o controle de insetos-praga.

1.1 Referências

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na. No mesmo sentido, Rivera et al. (2000) tram que, de 740 isolados de B. thuringi- Crickmore, N.; Zeigler, D.R.; Feitelson, J.; Schnepf,
avaliaram 74 isolados do entomopatógeno, ensis avaliados quanto a presença da β-exo- E.; Van Rie, J.; Lerecus, D.; Baum, J.; Dean,
em relação a presença dos genes bce, hbl e toxina, 28 produziram essa toxina. Além D.H. 1998. Revision of the nomenclature for
nhe para a enterotoxina. Os seus resulta- desses, dois isolados da espécie B. subtilis, the Bacillus thuringiensis pesticidal crystal pro-
dos mostram que o gene nhe foi o mais um isolado de B. natto e dois isolados da tein. Microbiology and Molecular Biology Re-
freqüente, seguido de hbl e bce mostrando espécie B. megaterium também foram pro- views 62(3): 807-813.
assim, uma pequena diferença na distribui- dutores da thuringiensina. De Maagd, R.A. DE; Bravo, A.; Berry, C.; Crickmo-
ção desses genes entre B. thuringiensis e Nesse sentido, Hernandéz et al. (2003) re, N. & Schnepf, E. 2003. Structure, diversity
B .cereus. revelam que 79% dos isolados de B. thu- and evolution of protein toxins from spore-
Outros dados de pesquisa sobre ente- ringiensis thuringiensis são produtores des- forming entomopathogenic bacteria. Annual
rotoxina (Ngamwongsatit et al., 2008), re- sa toxina, seguidos de 20% para B. thurin- Review of Genetics, 37: 409 - 433.
velaram a presença dos genes hbl, nhe, cytK giensis kenyae, 13% para B. thuringiensis De Maagd, R. A. DE; Bravo, A. & Crickmore, N.
e entFM em 205 isolados de B. thuringien- kurstaki, contrastando com 0% de produ- 2001. How Bacillus thuringiensis has evol-
sis e 411 isolados de B. cereus. Os dados ção para B. thuringiensis aizawai. ved specific toxins to colonize the insect
desses autores mostram que, em 149 isola- Na Tabela 3 constam dados sobre a pro- world. Trends in Genetics, 17: 193-199.
dos de B. thuringiensis todos os genes ocor- dução da β-exotoxina pelas diferentes su- Doss, V.A., Kumar, K.A., Jayakumar, R., Sekar, V.,
reram simultaneamente, sendo os genes nhe bespécies de B. thuringiensis. 2002. Cloning and expression of the vege-
e entFM aqueles de menor freqüência. Es- A thuringiensina também apresenta ati- tative insecticidal protein (vip3V) gene of
ses autores relatam a importância desse vidade inseticida a diferentes espécies de Bacillus thuringiensis in E. coli. Protein
conhecimento uma vez que a enterotoxina insetos-praga, como demonstra o trabalho Expr. Purif. 26, 82–88.

30 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


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Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 31


MECANISMO DE AÇÃO
Pesquisa DE BACILLUS THURINGIENSIS
Pesquisa

Lidia Mariana Fiuza


Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS),
Doutora em Ciências Agronômicas (ENSAM-Montpellier) e Pós-Doutora em
biotecnologia Vegetal (CIRAD-Montpellier).

estudo do modo de ação das (i) Inicia pela solubilização dos cris-
proteínas Cry de B. thuringi- tais em pH alcalino no intestino
ensis será abordado revelan- médio dos insetos, liberando as
do a especificidade dessas to- protoxinas de 130-140 kDa para
xinas através da detecção de receptores Cry1 e 70 kDa para Cry2. Essa
presentes no sistema digestivo dos in- etapa é determinante à especifi-
setos-alvo. O tema trata do modo de cidade do isolado de B. thurin-
ação completo de B. thuringiensis, des- giensis à espécie alvo, tanto pela
de a ingestão do entomopatógeno até a alcalinidade do sistema digesti-
morte do inseto. O processo de análise vo quanto pela composição dos
de receptores nos tecidos dos insetos é cristais de B. thuringiensis.
descrito detalhadamente, envolvendo (ii) Protoxinas são ativadas pelas
diferentes abordagens metodológicas de enzimas digestivas, formando
detecção de sítios de ligação das prote- fragmentos tóxicos de 60-65 kDa.
ínas inseticidas e uma discussão com Nessa etapa tanto a composição
dados de diversos autores que desen- proteolítica quanto a estrutura
volvem pesquisas nessa área. protéica do cristal são importan-
tes.
1.1 Modo de ação das proteínas (iii) Toxinas reconhecem receptores
Cry de B. thuringiensis específicos às microvilosidades
das células epiteliais do intesti-
As análises do modo de ação das no médio das larvas suscetíveis
proteínas Cry de B. thuringiensis visam às quais elas se ligam. Os estu-
esclarecer os mecanismos pelos quais dos realizados com BBMV (Brush
estas proteínas exercem seu efeito en- Border Membrane Vesicles) iso-
tomopatogênico e elucidar a especifici- ladas de larvas de lepidópteros
dade das diferentes toxinas (Endo e mostram que a ligação de forte
Nishiitsutsuji-Uwo, 1980; Höfte e Whi- afinidade entre a toxina e o re-
teley, 1989; Gill et at., 1992; Schnepf et ceptor é reconhecido como um
al., 1998; Fiuza, 2004). Considerando o fator importante na determinação
conjunto de informações atualmente dis- do espectro inseticida das prote-
poníveis sobre as fases entre a ingestão ínas Cry (Fiuza et al., 1996). Da-
dos cristais e a morte das larvas dos in- dos de pesquisa mostram que há
setos suscetíveis às proteínas Cry de B. uma correlação positiva entre a
thuringiensis, descreve-se como fases do ligação, in vitro, da toxina no
mecanismo de ação: receptor intestinal e a toxicida-
de, in vivo. Por outro lado, ou-
tros estudos descrevem que o
reconhecimento do receptor é
necessário, mas não é suficiente
para provocar a toxicidade, su-
gerindo a existência de outros
fatores relacionados ao modo de
ação das proteínas Cry. Em 1994,
Knight et al., isolaram de BBMV
de larvas de Manduca sexta

32 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


(Lep., Sphingidae) uma amino-
peptidase N implicada na inte-
ração da toxina Cry1Ac. Os mo-
delos de receptores atualmen-
te descritos mostram que um
inseto pode apresentar, em
quantidade variável, diversas
classes de receptores que po-
dem ser reconhecidos por di-
ferentes toxinas. Dados de pes-
quisa revelam que estes mode-
los podem explicar a especifi-
cidade das toxinas de B. thu-
ringiensis.
(iv) Após o reconhecimento do re-
ceptor, a toxina induz a forma-
ção de poros na membrana ce-
lular do epitélio intestinal. A
formação dos poros na mem-
brana celular provoca o dese-
Figura 1. Receptores de proteínas Cry biotiniladas, revelados nos tecidos de
quilíbrio iônico entre o cito-
larvas de lepidópteros, com fosfatase alcalina e peroxidase (Fiuza, 1995)
plasma e a o meio externo à
célula. As análises histopatoló-
gicas realizadas após a intoxi-
cação dos insetos mostram a banhos mistos (etanol/tolueno/pa- pode ser determinada pelo método Bra-
destruição das microvilosida- raplasto) e incluídos em paraplasto dford (1976), usando a bovine serum al-
des, hipertrofia das células epi- 100% a 58oC. Os cortes longitudi- bumin (BSA) como proteína padrão.
teliais, vacuolização do cito- nais ou transversais, de 7 a 10 µm
plasma e lyse celular, levando de espessura, preparados com mi- 1.2.3 Proteínas biotiniladas
o inseto a paralisia e morte. crótomo LKB, são montados em lâ- As proteínas Cry podem ser biotini-
Na seleção das proteínas insetici- minas de vidro, tanadas com poly- ladas, conforme o método descrito por
das, sintetizadas por essa bactéria, as l-lysina a 10%, e conservadas a 4oC Bayer & Wilcheck (1990), onde a incor-
análises in vitro dos receptores mem- para posterior análise de recepto- poração da biotina na parte N-terminal
branares podem viabilizar uma rápida res em cortes histológicos. da proteína é feita usando o BNHS (bi-
determinação do espectro de ação das otinyl-N-hydroxysuccinimide) em tam-
proteínas Cry contra as espécies alvo, 1.2.2 Proteínas Cry pão de bicarbonato de sódio, pH 9. O
sendo em seguida efetuada a avalia- As cepas de B. thuringiensis po- produto da reação deve ser purificado
ção da toxicidade in vivo, apenas para dem ser cultivadas em meio usual em sephadex G-25 (Sigma) e as frações
os isolados pré-selecionados como ati- glicosado por aproximadamente 5 biotiniladas identificadas por dot-blot,
vos in vitro. Sendo assim, o presente dias, conforme o método de Mahi- onde se utiliza membrana de nitrocelu-
trabalho trata de diferentes métodos llon & Delcour (1984). Após a lise lose, o conjugado de estreptavidina-fos-
de análise de receptores de proteínas bacteriana devem ser centrifugadas fatase-alcalina diluída no tampão TST
de B. thuringiensis em formas imatu- e lavadas com tampão fosfato, pH (Tris-Saline-Triton, pH 7;6) e o substra-
ras de lepidópteros. 6. Os cristais são separados dos es- to de revelação (BCIP e NBT em tam-
poros e das células bacterianas em pão Tris; pH 9,5). A concentração das
1.2 Análise de receptores em gradiente de renografina ou saca- proteínas Cry biotiniladas pode ser de-
cortes histológicos de insetos rose por ultra centrifugação, con- terminada pelo método Bradford (1976),
forme metodologia descrita por usando a BSA como proteína padrão. A
1.2.1 Tecidos dos insetos Sharpe et al. (1975). As bandas, con- pureza e a integridade das proteínas
As larvas de insetos podem ser tendo os cristais puros, são lavadas marcadas pode ser avaliada em western-
obtidas de coletas a campo, as quais e diluídas em água milli-Q esterili- blot, usando membrana de nitrocelulo-
devem passar por um período de qua- zada, contendo phenylmethylsul- se (Sigma) e o tampão Towbin, pH 8,3
renta em condições controladas, ou fonyl (PMSF). com 10% etanol. As membranas podem
oriundas de criação massal de insetos As proteínas Cry são solubiliza- ser reveladas usando a mesma técnica
mantida em laboratório, em condições das em tampão fosfato, pH 10. Esse descrita no dot-blot.
controladas de temperatura, umidade pH deve ser ajustado a 8,6 por diá-
relativa e fotofase, as quais podem lise contra o tampão 20 mM Tris e 1.2.4 Anticorpos
variar de acordo com a espécie do in- as proteínas Cry são ativadas por As proteínas Cry são preparadas,
seto. Os tubos digestivos dos insetos bovine pancreatic trypsin (Type I), conforme descrito anteriormente na
são dissecados e fixados 24 h, em Bou- sendo a reação inativada com tryp- purificação, e depois são utilizadas na
in Hollande Sublimé a 10%, lavados sin inhibitor (Type II). A pureza e obtenção de anticorpos em pequenos
por 12 h em água destilada e desidra- a integridade das proteínas pode ser animais como: coelhos, ratos e camun-
tados em séries crescentes de etanol, avaliada por eletroforese em gel de dongos, entre outros. O soro coletado
70 a 100% (Brandtzaeg, 1982). Em se- poliacrilamida a 10%, SDS-PAGE dos animais é utilizado na obtenção das
guida os tecidos são impregnados em (Laemmli, 1970). A concentração imunoglobulinas (IgGs), as quais podem

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 33


ternada dos diferentes componentes da
reação, pode-se observar a ausência de
coloração nas microvilosidades das cé-
lulas do epitélio intestinal dos insetos
em estudo.
As imunodetecções e as detecções
de proteínas Cry biotiniladas foram uti-
lizadas por diversos autores, para reve-
lação de receptores membranares intes-
tinais, em larvas de diferentes espécies
de lepidópteros (Bravo et al., 1992a;
Denolf et al., 1993a; Estada e Ferre, 1994;
Fiuza, 1995), de dípteros (Ravoahangi-
malala et al., 1993) e de coleópteros
(Bravo et al. 1992b; Denolf et al., 1993b;
Boets et al., 1994). Esses autores com-
provaram que as ligações das proteínas
Cry nas microvilosidades do intestino
médio das larvas de insetos correspon-
dem à existência de um receptor espe-
cífico à referida proteína no inseto-alvo.
Considerando, os estudos dos recep-
Figura 2. Receptores de proteínas Cry biotiniladas, detectados nos tores in vitro e as análises da toxicidade
tecidos de larvas de lepidópteros com fluoresceína e observados em in vivo, pode-se inferir que os métodos
microscopia de varredura laser (Fiúza, 1995) de detecção de receptores membrana-
res podem ser aplicados na seleção das
ser separadas em colunas de sepharose na e lamínula de vidro. proteínas ativas contra insetos, haven-
protein-A e as frações purificadas por Nas revelações com fluorocromos, do uma correlação positiva entre as aná-
afinidade incubando os IgGs e as mem- com a fluoresceína (Figura 2), os cortes lises in vitro e in vivo. Porém, para de-
branas de nitrocelulose, contendo os histológicos são montados com Mowiol terminar a Concentração Letal Média
antígenos previamente transferidos por e conservados a 4°C para análise em (CL50) de uma proteína Cry faz-se ne-
western-blot conforme descrito por microscopia óptica - MO ou microsco- cessário o bioensaio uma vez que as li-
Burke et al. (1982). A especificidade e pia de varredura Laser – MVL. gações das proteínas aos receptores
sensibilidade dos anticorpos policlonais Nas análises imunohistoquímicas, podem variar em concentração e afini-
é determinada pelo método de dot-blot com proteínas não marcadas (proteínas dade, como já descrito por diversos au-
e ELISA - Enzyme-linked immunosor- nativas), os receptores são revelados tores, para diferentes espécies de inse-
bent assay. com o complexo anticorpo primário tos (Denolf et al., 1993a; Van Rie et al.,
(AC , específico contra a proteína Cry) 1990; Fiuza et al., 1996; Lee et al., 1996;
1
1.2.5 Detecção in vitro de recepto- e anticorpo secundário (AC , dirigido Hua et al., 2001). Também há estudos
2
res contra o AC ) conjugado a uma enzima demonstrando que as proteínas Cry tó-
1
As análises in vitro dos receptores ou fluorocromo, os quais são revelados xicas aos insetos correspondem àque-
de proteínas Cry de B. thuringiensis são e montados de acordo com o método las que se ligam de forma irreversível
realizada com cortes histológicos do sis- descrito anteriormente. As testemunhas aos receptores das células epiteliais dos
tema digestivo das larvas dos insetos em são preparadas pela omissão alternada insetos alvo (Liang et al., 1995).
estudo. A detecção propriamente dita de cada etapa da reação, a fim de elimi- No controle biológico de insetos, a
corresponde a incubação dos tecidos nar a hipótese de reações falso-positi- espécie Bacillus thuringiensis oferece
com as proteínas, previamente despa- vas. As amostras reveladas com enzimas, as melhores alternativas à produção de
rafinados e reidratados. tipo peroxidase e fosfatase alcalina, biopesticidas e à engenharia genética de
Nas análises com proteínas Cry bio- podem ser avaliadas em microscopia plantas. Sendo assim, é fundamental
tiniladas, os cortes histológicos são in- óptica. Para as análises onde são utili- avaliar o espectro de ação e a especifi-
cubados à temperatura ambiente, duran- zados os fluorocromos pode ser utiliza- cidade das proteínas potencialmente
te 1h, com as proteínas biotiniladas. As da a microscopia de fluorescência con- inseticidas e, nesse contexto, Fiuza
proteínas não ligadas aos sítios recep- vencional ou de varredura laser. (2004) menciona que a análise in vitro
tores são removidas com TST, pH 7,6. dos receptores membranas pode ser
Na etapa posterior, os tecidos são 1.3 Considerações considerada uma ferramenta indispen-
tratados com estreptavidina conjugada sável face ao grande número de isola-
a uma enzima (peroxidase ou fosfatase As marcagens detectadas na região dos, cepas e proteínas de B. thuringi-
alcalina) ou fluorocromo (fluoresceína das microvilosidades das células do epi- ensis já identificados, que representam
ou ficoeritrina), diluídos em tampão TST. télio intestinal revelam a presença de um potencial no manejo de insetos-pra-
O complexo da reação “proteína-recep- receptores membranares às proteínas ga.
tor”, usando o conjugado com enzimas Cry, nas microvilosidades das células
pode ser revelado com substrato DAB epiteliais do intestino médio das larvas 1.4 Referências
para peroxidase e BCIP/NBT para fos- dos insetos (Figuras 1 e 2).
fatase alcalina (Figura 1), sendo as sec- No caso dos tecidos tratados como Bayer, E.; Wilcheck, M. 1990. Protein
ções montadas com Pertex, entre lâmi- controle, representantes da omissão al- biotinylation. Methods in Enzymo-

34 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


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Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 35


TOXICOLOGIA DE BACILLUS THURINGIENSIS
Pesquisa ÀS PRAGAS AGRÍCOLAS
Pesquisa

Diouneia Lisiane Berlitz


Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Biologia:
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre
(UNISINOS).

Aline Oliboni de Azambuja


Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Biologia:
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre
(UNISINOS).

Andresa Patrícia Regert Lucho controle microbiano de inse- ca e causa danos a várias culturas de
Engenheira Agrônoma (UFRGS) e Mestre em tos tem sido considerado um importância econômica, como: sorgo,
Biologia: Diversidade e Manejo de Vida método de controle seguro milho, arroz, alfafa, cana-de-açúcar e al-
Silvestre (UNISINOS). aos humanos e ao meio am- godoeiro (Cruz et al., 1999; Gallo et al.,
biente, sendo assim nesse tra- 2002), ao passo que, a lagarta da soja A.
Neiva Knaak balho são apresentados dados de toxi- gemmatalis é praga-chave para essa cul-
Bióloga (UNISINOS) e Mestre e Doutoranda cidade de B. thuringiensis a insetos- tura e também tem importância para
em Biologia: Diversidade e Manejo de Vida praga, especialmente aos lepidópteros culturas como amendoim, feijão e alfa-
Silvestre (UNISINOS).
e coleópteros pragas de importância fa (Gallo et al., 2002). Já o gorgulho aqu-
agrícola. Os trabalhos de pesquisa en- ático, O. oryzae, cujas larvas são conhe-
Rogério Schünemann
Biólogo (UNISINOS) e Mestre em Biologia: fatizam os métodos de ensaios toxico- cidas como bicheira-da-raiz-do-arroz, é
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre lógicos em laboratório e campo, utili- o principal inseto-praga da cultura do
(UNISINOS). zando o entomopatógeno B. thuringi- arroz irrigado no sul do Brasil (Martins
ensis e as formas imaturas das espéci- et al., 2004) e, por isso, é também um
Jaime Vargas de Oliveira es-alvo. dos mais estudados pelas instituições de
Engenheiro Agrônomo (UFSM), Mestre em pesquisa dessa região (Costa, 2003).
Fitotecnia – Fitossanidade/Entomologia 1.1 Os insetos-praga As lagartas de S. frugiperda e A. gem-
(UFPEL), matalis podem ser criadas em laborató-
Entre os insetos-praga para os quais rio, desde que respeitados determina-
Lidia Mariana Fiuza têm sido desenvolvidos estudos e apli- dos padrões de temperatura, umidade
Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em
cações de controle com B. thuringien- relativa e fotoperíodo (28ºC, 70%U.R.,
Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS), Doutora
sis estão os lepidópteros, Spodoptera 12h de fotoperíodo). O ciclo evolutivo
em Ciências Agronômicas (ENSAM-
Montpellier) e Pós-Doutora em biotecnologia frugiperda e Anticarsia gemmatalis, e desses insetos, em laboratório, ocorre
Vegetal (CIRAD-Montpellier). o coleóptero Oryzophagus oryzae, os em torno de 30 dias, desde a fase de
quais serão apresentados como mode- ovo até a emergência do adulto. Os adul-
lo de estudos de toxicidade com B. thu- tos são mantidos em gaiolas de acrílico
ringiensis. com alimentação a base de glicose aquo-
A lagarta militar, S. frugiperda, ata- sa (10%), onde acasalam e realizam a
postura. Os ovos são retirados diaria-
mente e acondicionados junto à dieta
artificial, sendo dieta de Poitout para S.
frugiperda e dieta de Greene para A.
gemmatalis. As lagartas desenvolvem-
se nessa dieta até a formação da pupa,
que então são separadas em macho ou
fêmea até emergir o adulto, finalizando
o ciclo.
No caso de O. oryzae, por se tratar
de uma larva aquática, que se alimenta
das raízes das plantas de arroz, não é
descrito nenhum método de criação efi-
ciente desse inseto, em laboratório. Por-
tanto, quando realizados os bioensaios,
esses insetos são coletados diretamente
de áreas de plantio de arroz infestadas,
trazidos ao laboratório para então se-

36 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


Figura 1. Bioensaios com lagartas de Spodoptera frugiperda (A) ou Anticarsia gemmatalis e larvas de
Oryzophagus oryzae (B)

rem utilizados nos ensaios biológicos. do coleóptero O. oryzae, os testes podem com apenas cinco isolados, sendo que a
ser realizados em tubos de ensaio con- cepa com maior potencial inseticida foi
1.2 Bioensaios tendo uma planta de arroz, água e a sus- analisada quanto ao perfil protéico con-
de B. thuringiensis pensão bacteriana, com 5 larvas do inse- firmando a presença de proteínas ativas
com os insetos-praga to por tubo (Figura 1B). Todos os bioen- contra lepidópteros. As reduzidas taxas de
saios utilizam placas ou tubos controle, mortalidade podem estar relacionadas a
Para determinar a atividade insetici- contendo os insetos e sem adição dos tra- diferentes fatores, como por exemplo, o
da de isolados bacterianos, os bioensai- tamentos. Os ensaios são acondicionados modo de ação das proteínas bacterianas
os podem ser classificados como preli- em câmaras climatizadas nas mesmas con- no intestino do inseto, ou modificações
minares ou seletivos. A utilização de dições de criação ou manutenção dos in- no sítio de ligação dessas toxinas na mem-
suspensão de células e esporos bacteri- setos em laboratório, descritas anterior- brana intestinal. Além disso, cada isolado
anos é uma forma de identificar isola- mente. Os experimentos são avaliados até tem uma característica genética particu-
dos ativos cujas propriedades mostram o 7º dia após a aplicação dos tratamentos lar, ou seja, essas toxinas são codificadas
eficiência no controle de insetos-praga. e os dados são utilizados para o cálculo por genes e esses têm uma determinada
Bioensaios também são utilizados da mortalidade corrigida pela fórmula de especificidade.
para determinar a Concentração Letal Abbott (1970). Em outro trabalho, Berlitz & Fiuza
Média (CL50), ou seja, a quantidade de (2004) testaram B. thuringiensis aizawai
entomopatógeno que deve ser utilizada 1.3 Controle de S. frugiperda proveniente do produto formulado Xen-
para controlar a metade da população com B. thuringiensis tari® mostrando que a suspensão celular
do inseto. Para esses, são usados os iso- apresentou CL50 de 1,9x108 UFC/mL (Uni-
lados que causaram um eficiente índice Apesar de inúmeras pesquisas envol- dade Formadora de Colônia/mL) reduzin-
de mortalidade nos testes preliminares. vendo esse lepidóptero e seu controle, há do em 56,7% o consumo alimentar das
Nesta análise são utilizadas suspensões dificuldade em encontrar um isolado bac- lagartas. Isso indica que a bactéria inibe a
contendo células e esporos ou a prote- teriano patogênico a essa espécie. Essa alimentação do inseto-praga, o que tam-
ína purificada, dosados em diferentes afirmação é comprovada no trabalho de bém está relacionado com a mortalidade
concentrações. Os ensaios de toxicida- Polanczyky et al. (2003) que, utilizando das lagartas.
de são importantes também, pois reve- 58 subespécies de B. thuringiensis em S. Entretanto o fato de um isolado cau-
lam injurias e detrimento morfológico, frugiperda demonstraram que apenas B. sar mortalidade às lagartas não implica
além de determinar em quanto tempo thuringiensis morrisoni apresentou 80% que, quando purificadas as proteínas tó-
ocorre a morte do inseto, Tempo Letal de mortalidade das lagartas. Também Sil- xicas, essas serão ativas ao inseto. É o que
Médio (TL50). Esses dados são então ana- va et al. (2004), testaram 77 isolados sen- ocorreu na pesquisa de Berlitz (2006), que,
lisados para que, quando aplicado em do que somente 4 foram ativos a espécie- quando utilizada a suspensão de células
lavouras, o bioinseticida seja eficiente alvo. e esporos bacterianos obtiveram 100% de
no controle dos insetos-alvo. Recentemente, Berlitz & Fiúza (dados mortalidade, entretanto quando purifica-
Os ensaios utilizando as lagartas de não publicados) testaram 132 isolados das as proteínas do isolado, essas causa-
S. frugiperda e A. gemmatalis podem onde apenas um apresentou alta toxici- ram baixa mortalidade às lagartas apre-
ser realizados em mini-placas de acríli- dade ao inseto, com 100% de mortalida- sentando CL10 de 268µg/mL. Esse fato pode
co, contendo dieta artificial, onde é apli- de, quando utilizada a suspensão de cé- estar relacionado ao conjunto de fatores
cada a quantidade de inóculo pré-de- lulas e esporos bacterianos. Em outro tra- de virulência presentes na bactéria, ou
terminada para uma lagarta por placa balho, Berlitz et al. (2003) testaram 24 iso- então a presença de outras toxinas como,
(Figura 1A). A quantidade de insetos lados de B. thuringiensis provenientes de por exemplo, proteína Vip, exotoxinas, he-
pode variar entre 20 e 50 e o número de diversas regiões orizícolas do RS e obteve molisinas, quitinases, entre outras, que
repetições entre três e cinco. No caso as maiores mortalidades entre 31,6 e 100% estão presentes na suspensão bacteriana.

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 37


A CL50 de proteínas Cry de B. thu- frugiperda. Já nos estudos com proteí- da mesma espécie.
ringiensis aizawai para lagartas de 3º nas Cry, Aranda et al. (1996) determina-
ínstar de S. frugiperda foi determina- ram que a CL50 para S. frugiperda das 1.5 Controle de O. oryzae
da por Lucho (2004). As proteínas Cry proteínas Cry1Ab e Cry1Ac foram supe- com B. thuringiensis
foram obtidas a partir de bioinsetici- riores a 2 µg/cm2.
da comercial (Xentari®), purificadas Para O. oryzae são relacionados pou-
em gradiente de sacarose, solubiliza- 1.4 Controle de A. gemmatalis cos dados na literatura a respeito da ação
das em tampão fosfato (pH 10) e ava- com B. thuringiensis de proteínas de B. thuringiensis. Por se
liadas em SDS-PAGE. Nos bioensaios tratar de uma larva que se alimenta das
foram avaliadas seis concentrações de As análises de mortalidade de isola- raízes da planta de arroz, portanto fica
proteínas Cry (0,27 a 8,80 µg/mL) e dos de B. thuringiensis às lagartas de A. submersa, é difícil o acesso de bioinseti-
testemunha (água destilada e esterili- gemmatalis, realizados por Schünemann cidas ao local. Os atuais métodos de con-
zada), sendo aplicados 10 µL sobre a (2006), mostraram que entre os 158 iso- trole dessa praga restringem-se aos inseti-
superfície de folhas de milho acondi- lados testados, 138 foram ativos e 20 cidas químicos que são utilizados basica-
cionadas em mini-placas de acrílico, inativos. Entre os isolados patogênicos, mente no tratamento de semente ou dis-
contendo um inseto. Cada tratamen- 39 deles causaram até 29% de mortali- tribuídos em cobertura na água de irriga-
to foi constituído de 30 lagartas e 3 dade, 93 entre 30 e 69% e 6 entre 70 e ção.
repetições, totalizando 630 insetos. 100%. Análises similares foram encon- Na busca de métodos alternativos de
Os resultados obtidos por Lucho trados por Bobrowski et al. (2001) com controle desse inseto, o entomopatógeno
(2004) apontaram CL50 de 2,22; 0,41 e o mesmo banco de bactérias. B. thuringiensis mostra-se promissor na
0,18 µg/mL para 2, 3 e 4 dias após a Azambuja & Fiuza (2003) obtiveram obtenção de plantas transgênicas resisten-
aplicação dos tratamentos, respecti- 37 e 50% de mortalidade corrigida con- tes à praga-alvo. Nesse sentido, Pinto et
vamente, e revelaram que as proteí- tra a lagarta-da-soja utilizando dois iso- al. (2003), selecionaram 6 isolados de B.
nas Cry1Aa, Cry1Ab, Cry1C e Cry1D lados naturais de B. thuringiensis pro- thuringiensis com a presença de genes
sintetizadas por B. thuringiensis ai- venientes de regiões orizícolas do RS. da classe cry 3 ou cry 7, que sintetizam as
zawai são altamente tóxicas à S. fru- Nas avaliações de patogenicidade reali- proteínas inseticidas à ordem dos coleóp-
giperda. zados com isolados primitivos, Souza et teros, e avaliaram sua atividade inseticida
Para a mesma espécie, S. frugi- al. (1999) e Silva et al. (2004), revelam à O. oryzae. Dentre os isolados testados
perda, os dados de Knaak et al. (2006) grandes índices de isolados patogêni- pelos autores, dois causaram mortalidade
mostram que a toxicidade das prote- cos a mesma ordem de inseto. Por ou- corrigida de 100%, três entre 59 e 67% e
ínas Cry1Ab e Cry1Ac, sintetizadas por tro lado, a ocorrência de isolados inati- um em torno de 50%.
B.thuringiensis thuringiensis 407 (pH vos a lepidópteros é bastante freqüen- Esses dados foram utilizados por Ber-
408) e B.thuringiensis kurstaki HD- te. As variações entre as concentrações litz (2006) que selecionou um isolado com
73, respectivamente, revelaram uma de proteínas inseticidas presentes em a presença do gene cry3 que causou 53%
CL50 de 9,29 e 1,79 µg/cm2 às lagartas cada suspensão bacteriana pode ser a de mortalidade com a suspensão de célu-
de 1º instar. causa dessas diferenças entre a ativida- las e esporos bacterianos, onde as prote-
Nesse sentido, os dados de Lam- de inseticida dos isolados. ínas inseticidas foram purificadas, dosa-
bert et al. (1996) revelam que a pro- A ausência de patogenicidade de iso- das e aplicadas nos bioensaios com os
teína Cry1Ac é muito tóxica para He- lados de B. thuringiensis pode estar re- insetos (Figura 1B). Os resultados dessa
liothis virescens, mas não mostra ne- lacionada à classe de proteínas sinteti- pesquisa podem ser aplicados na utiliza-
nhuma atividade contra Helicoverpa zadas pelo mesmo, a qual não apresen- ção de genes cry, uma vez que causou a
armigera. Os mesmos autores rela- ta especificidade ao inseto praga-alvo. mortalidade das larvas do coleóptero,
tam que Cry1Ca exibe uma atividade Porém, Fiuza (2003) e Praça et al. (2004) quando utilizadas às proteínas purificadas,
forte contra S. exigua e S. littoralis, destacam que o mesmo isolado bacteri- obtendo uma CL50 de 5,4µg/mL. Em estu-
mas não contra S. frugiperda. Peyron- ano pode ter atividade inseticida sobre dos preliminares com essa espécie-alvo,
net et al. (1997) utilizaram Cry1Aa em espécies da mesma ordem, ou até mes- Steffens et al. (2000) obtiveram 53,41% de
Lymantria dispar causando uma des- mo a outras ordens de insetos. mortalidade às larvas do gorgulho aquáti-
polarização rápida e irreversível da Em muitos casos a diferença de to- co com um isolado de B. thuringiensis
membrana intestinal, mas Cry1Ab e xicidade das cepas de B. thuringiensis contendo genes cry 3, específicos a cole-
Cry1Ac eram inativas. Estes resulta- pode estar relaciona ao próprio inseto, ópteros. Considerando os dados mencio-
dos estão de acordo com Van Franke- onde, por exemplo, a extensão da vari- nados, os resultados obtidos pelos dife-
nhyzen et al. (1991) que demonstra- ação genética de A. gemmatalis pode rentes autores confirmaram a predição da
ram um nível alto de toxicidade para estar relacionada a transferência de ge- atividade inseticida de B. thuringiensis
Cry1Aa, mas nenhuma atividade às nes entre populações geográficas e o possivelmente devido à presença dos ge-
outras duas toxinas, confirmando as- tempo em que essas populações encon- nes cry3 e cry7, os quais codificam toxi-
sim a especificidade das proteínas Cry tram-se separadas, onde o mecanismo nas específicas a coleópteros (Ben-Dov et
de B. thuringiensis aos lepidópteros. de isolamento reprodutivo se torna uma al., 1997).
Considerando os isolados brasi- barreira efetiva (Sosa-Gómez, 2004).
leiros, Praça et al. (2004) selecionan- Sendo assim, os dados da suscetibilida- 1.6 Referências
do cepas de B. thuringiensis efetivas de de A. gemmatalis aos diferentes iso-
contra lagartas de 2º ínstar de S. fru- lados de B. thuringiensis são importan- Abbott, W. S., 1925, A method of compu-
giperda, compararam novas cepas ao tes para um manejo local ou regional ting the effectiveness of insecticide.
B. thuringiensis kurstaki HD-1 (CL50 desse inseto-praga, pois em m trabalhos J. Econ. Ent. v.18, p.265-67.
de 0,285 µg/cm2), obtendo CL50 de envolvendo cepas de B. thuringiensis Aranda E.; Sanchez, J.; Peferon, M.; Gue-
0,09 e 0,52 µg /cm2, para S234 e S997, kurstaki, por exemplo, Mascarenhas et reca, L.; Bravo, A. 1996. Interactions
respectivamente, que revelou a nova al. (1998) e Dias et al. (1999) encontra- of Bacillus thuringiensis Crystal Pro-
cepa S234 como a mais tóxica à S. ram diferentes índices de mortalidade teins with the Midgut Epithelial Cells

38 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


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Dissertação (Mestrado – Fitossanida- Soybean Loopers (Lepidoptera: Noc- M. N.; Oliveira, J . V.; Menezes, V.
de) – Programa de Pós Graduação em tuidae) collected from soybean and G.; Fiuza, L. M. Patogenicidade de
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Universidade Federal do Rio Grande mic Entomology. 91: 1044-1050. Oryzophagus oryzae (Coleoptera,
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on and pathogenic evaluation of Ba- cidade de isolados de Bacillus thu- from Bacillus thuringiensis subsp.
cillus thuringiensis and Bacillus ringiensis pré-selecionados por PCR, kurstaki HD-1 for defoliating forest
sphaericus isolates from Argentine- contra Oryzophagus oryzae (Coleop- Lepidoptera. Applied Environmen-
an soils. Biological Control. 44 (1): tera, Curculionidae). In: III Congres- tal Microbiology 57:1650–1655.

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 39


TOXICOLOGIA DE BACILLUS THURINGIENSIS
Pesquisa AOS INSETOS SOCIAIS
Pesquisa

as interações com as plan- insetos sociais do mundo.


tas, as formigas e os cupins As formigas estão entre os orga-
podem se tornar pragas e nismos mais abundantes do planeta,
nesse caso faz-se necessário somando, em conjunto, mais de 10%
o controle, onde os entomo- da massa de todos os organismos ter-
patógenos assumem um pa- restres, incluindo mamíferos de gran-
pel importante no controle biológico. de porte (Hölldobler e Wilson, 1990).
Nesse contexto, alguns dados de pes- De acordo com estes autores, em um
quisa sobre os ensaios de toxicidade hectare da Floresta Amazônica vivem
de B. thuringiensis às formigas corta- mais de oito milhões de formigas.
deiras e aos cupins de montículo são As formigas cortadeiras são os
apresentados nesse artigo. principais herbívoros dos Neotrópi-
cos. Abundantes nas suas numero-
1.1 Os insetos sociais sas colônias desfolham a vegetação,
sendo consideradas importantes pra-
Nas sociedades de insetos, o siste- gas agrícolas no Brasil, com prejuí-
ma de castas possibilita uma divisão zos estimados em milhões de reais.
do trabalho, permitindo a execução de O gênero Acromyrmex representa
múltiplas tarefas, nas quais indivíduos uma ameaça às plantas cultivadas.
estéreis são responsáveis pela manu- Esses insetos também se destacam
tenção da colônia (obtenção de alimen- por atacarem uma ampla variedade
to, defesa e cuidados com a prole), e de vegetais, incluindo plantas orna-
os reprodutores limitam-se a reprodu- mentais, reflorestamento e pastagens.
ção. O Brasil está entre os países que As diferentes espécies deste gênero
contemplam a maior diversidade de apresentam ampla distribuição geo-

Raquel de Castilhos-Fortes
Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Microbiologia
Agrícola e do Ambiente (UFRGS)

Aline Oliboni de Azambuja


Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Biologia:
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre
(UNISINOS).

Laura Massochin Nunes Pinto


Bióloga (PUCRS) e Mestre e Doutoranda em
Biologia: Diversidade e Manejo de Vida Silvestre
(UNISINOS).

Lidia Mariana Fiuza


Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em
Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS), Doutora em
Ciências Agronômicas (ENSAM-Montpellier) e
Pós-Doutora em biotecnologia Vegetal (CIRAD- Figura 1. Bioensaios com cepas de Bacillus thuringiensis e Nasutitermes
Montpellier). ehrhardti, em laboratório

40 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


a partir de 80 indivíduos de Acromyr-
mex sp., 35 isolados do gênero Baci-
llus, entre os quais 14 foram identifica-
dos como B. thuringiesis. Através des-
te estudo pode-se constatar a elevada
ocorrência de B. thuringiensis associa-
do a formigas cortadeiras.
Para tanto, os insetos devem ser co-
letados com pinça e acondicionados em
frascos esterilizados a -18ºC até o mo-
Figura 2. Representação esquemática dos bioensaios com Acromyrmex mento de sua utilização. O isolamento
lundi e Bacillus thuringiensis é realizado através da maceração de
10 insetos em solução salina, sendo que
1mL desta suspensão é submetida a
pasteurização, em seguida a inocula-
gráfica no Rio Grande do Sul, eviden- do realizado basicamente com a apli- ção em Ágar Nutriente e incubação
ciando hábitos de forrageamento bas- cação de inseticidas químicos, sendo durante 24h a 30°C.
tante diversos (Gusmão e Loeck, 1999). um método alternativo as bactérias en- As colônias obtidas devem ser en-
Os cupins estão presentes pratica- tomopatogênicas que podem ser iso- tão inoculadas em meio seletivo (Peni-
mente em todos os ambientes terres- ladas naturalmente do corpo desses cilina G) e mantidas a 30°C e 180rpm
tres ou que sofreram alguma pertur- insetos, representando mais uma fer- durante 24 horas. As amostras positi-
bação antrópica, alimentando-se basi- ramenta de combate ao inseto-praga, vas devem ser avaliadas em microsco-
camente de celulose, obtida através sem prejudicar o meio ambiente. pia de contraste de fase para identifi-
desta capacidade de ajustar-se a di- cação das inclusões paraesporais, ca-
versos ecossistemas. Muitas espécies 1.2 B. thuringiensis racterísticas de B. thuringiensis.
desempenham um papel ecológico isolados de insetos-sociais Os isolados de B. thuringiensis,
significativo, reciclando nutrientes oriundos de A. lundi, que causaram
minerais no solo e participando na re- Na análise da patogenicidade de mortalidade ao referido inseto foram
generação de ambientes devastados. B. thuringiensis sobre um determina- avaliados por PCR quanto a sua consti-
Porém, várias outras espécies se des- do inseto, o primeiro passo a ser ado- tuição de genes cry conforme descrito
tacam como os organismos mais da- tado é a correlação da atividade das por Pinto et al. (2003). Os autores iden-
ninhos à cultura agrícola e florestal proteínas Cry no inseto-alvo já descri- tificaram que sete dos nove isolados
(Berti-Filho, 1993). No Brasil, além de ta. Caso este efeito ainda não tenha que apresentaram toxicidade a A. lun-
dificultarem seriamente os tratos cul- sido avaliado, uma das alternativas di amplificaram fragmentos de DNA
turais, os cupins de montículo são con- poderá ser por meio do isolamento do correspondentes a pelo menos uma das
siderados importantes pragas de pas- microrganismo de indivíduos da es- classes de genes cry avaliadas, sendo
tagens e culturas de arroz, milho, cana- pécie de inseto-alvo. Diversos traba- elas cry1 e/ou cry9. Os genes cry2,
de-açúcar, amendoim e eucalipto. As lhos são publicados anualmente des- cry3, cry7 e cry8, os quais também
principais espécies responsáveis por crevendo o isolamento de novas ce- foram avaliados na pesquisa, não fo-
estes danos pertencem aos gêneros pas de B. thuringiensis de diferentes ram detectados nas amostras testadas.
Cornitermes, Syntermes, Heterotermes, substratos, inclusive dos próprios in- Além disso, 22% dos isolados obtidos
Nasutitermes, entre outros. setos (Borm et al., 2002). Nesse senti- de A. lundi não amplificaram com ne-
O controle desses insetos vem sen- do, Azambuja et al. (2001) obtiveram, nhum dos primers avaliados, podendo

Figura 3. Patogenicidade de Bacillus thuringiensis à Nasutitermes ehrhardti, em ensaios de laboratório; B. thuringiensis


sooncheos (Bts); B.thuringiensis roskildiensis (Btr); B. thuringiensis yunnanensis (Bty); B. thuringiensis huazhongensis (Bth);
B. thuringiensis braliliensis (Btb); B. thuringiensis colmeri (Btc) e B. thuringiensis kurstaki (Btk)

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 41


Figura 4. Isolados de Bacillus thuringiensis a partir da maceração de Nasutitermes ehrhardti infectados;
A- Bacillus thuringiensis soocheon; B- Bacillus thuringiensis roskildiensis

representar novos genes cry. ído de uma dieta líquida composta de roskildiensis (Btr) com uma mortalidade
peptona bacteriológica, glicose e extra- de 100%; seguidos dos isolados B. thu-
1.3 Bioensaios de B. thuringiensis to de levedura, com substituição perió- ringiensis yunnanensis (Bty) com 71,4%;
com insetos-sociais dica de 48 horas, previamente acondici- B. thuringiensis huazhongensis (Bth)
onada em pequenos frascos de polipro- com 57,1%; B. thuringiensis brasiliensis
Cupins e formigas sofrem ação de di- pileno, acrescida de cinco indivíduos de (Btb) com 52,3%; B. thuringiensis col-
versos tipos de patógenos como: vírus, Acromyrmex lundi (Figura 2). meri (Btc) com 42,85% e B. thuringien-
bactérias, fungos e nematóides, sendo a Utilizando o referido método de bi- sis kurstaki (Btk) com 28,57% de morta-
defesa contra os mesmos pouco conheci- oensaio de B. thuringiensis com lidade ao 7o dia após a aplicação dos tra-
da. A complexidade do comportamento e Acromyrmex lundi, pode-se obter 100% tamentos, conforme resultados apresen-
a biologia dificultam o controle destes in- de sobrevivência das formigas por 180 tados na Figura 3.
setos (Leonardo, 1989; Diehl-Fleig, 1993). horas (7,5 dias), tempo suficiente para a Para a determinação da CL50 de B.
Portanto, técnicas de bioensaios eviden- avaliação dos bioensaios com o ento- thuringiensis os referidos autores utili-
ciando o efeito desses entomopatóge- mopatógeno. zaram os isolados B. thuringiensis soon-
nos sobre os insetos sociais, considera- cheon e B. thuringiensis roskildiensis os
dos pragas, são escassos. Nessa linha de 1.4 Toxicidade de B. thuringiensis quais causaram 100% de mortalidade nos
pesquisa, Castilhos-Fortes et al. (2002) aos cupins e formigas cortadeiras ensaios pré-seletivos. As CL50 de B. thu-
avaliaram a patogenicidade de diferen- ringiensis sooncheon observadas foram
tes cepas de B. thuringiensis, sobre Na- As referências de B. thuringiensis 46,98x108, 66,19x106 e 5,14x105 esporos/
sutitermes ehrhardti, onde foram utili- contra isópteros são restritas, havendo ml, aos três, cinco e sete dias após os
zadas suspensões contendo uma mistura poucos dados disponíveis, como os de tratamentos, respectivamente. Para B.
de células vegetativas, esporos e cristais. Cowie et al. (1989), que citam algumas thuringiensis r oskildiensis foram
Porções de celulose (1cm2), utilizadas cepas de B. thuringiensis tóxicas a vári- 30,78x105, 48,40x106 e 16,80x104 espo-
como substrato alimentar, foram mergu- as espécies de térmitas em condições ros/ml aos três, cinco e sete dias, res-
lhadas nas suspensões de B. thuringien- laboratoriais. Khan et al. (1985), também pectivamente.
sis, as quais foram colocadas em placas ressaltam a carência de trabalhos desen- A toxicidade de B. thuringiensis para
de acrílico com seis compartimentos de volvidos visando testar B. thuringiensis N. ehrhardti foi confirmada pelos auto-
5,5 cm de diâmetro. Em cada comparti- em térmitas, embora tenham citado os res através de observações microscópi-
mento, contendo 1cm2 de celulose trata- trabalhos de Smythe & Coppel (1965), cas de cupins macerados aos três, cinco
da, foram colocados dez insetos (Figura os quais constataram que a solução com e sete dias após a aplicação dos trata-
1). B. thuringiensis mostrou-se tóxica a três mentos. As estruturas de B. thuringien-
O acondicionamento dos ensaios foi espécies de Reticulitermes, bem como a sis formadas por células em forma de
feito em estufa incubadora tipo B.O.D., a Zootermopsis angusticollis. Khan et al. bastonete, cadeias, esporos e inclusões
28O C, 70% de umidade relativa, no escu- (1977) isolaram B. thuringiensis a partir paraesporais podem ser observadas na
ro. A mortalidade dos insetos foi avaliada de ninfas do isoptero Bifiditermes bee- Figura 4A para B. thuringiensis soon-
diariamente até o 7° dia após a instalação soni infectadas, encontradas em campo. cheon e na Figura 4B para B. thuringi-
dos bioensaios, observando-se os cupins Nos testes de toxicidade contra Micro- ensis roskildiensis.
mortos com sintomas característicos de cerotermes champion, a suspensão de A patogenicidade e o desenvolvimen-
intoxicação por B. thuringiensis. bactérias testada causou alta mortalida- to de B. thuringiensis foram estudados
Em 2003, Pinto et al. testaram o efei- de em condições laboratoriais. por Khan et al. (1985) nos isópteros Mi-
to de B. thuringiensis em formigas cor- Considerando a patogenicidade de crotermes championi e Bifiditermes be-
tadeiras, cujo método de bioensaio foi B. thuringiensis para N. ehrhardti, Cas- esoni, que se mostraram suscetíveis à
desenvolvido objetivando a sobrevivên- tilhos-Fortes el al. (2002) testaram 57 infecção causada pela bactéria após a
cia dos indivíduos por no mínimo sete cepas desta bactéria, sendo que sete aplicação do formulado Thuricide-HP.
dias, tempo suficiente para a avaliação mostraram-se mais efetivas: B. thuringi- De acordo com a análise histopatológi-
de bioensaios. Esse método foi constitu- ensis sooncheon (Bts) e B. thuringiensis ca, foi constatado que a ação de B. thu-

42 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


ringiensis é mais rápida em M. champio- linhagens ou espécies de patógenos deve- Fernandes, P. M. Controle biológico de cu-
ni quando comparado a B. beesoni, sen- riam ser testadas contra os térmitas subter- pins em pastagens. Brasília, 20 jul. 1994.
do o intestino médio do inseto invadido râneos, mas os testes de campo devem ser Palestra proferida no II Curso de Con-
pela bactéria seis horas após a ingestão, precedidos de estudos de laboratório para trole Microbiano de Insetos.
a qual penetra a cavidade corporal, o te- determinação da patogenicidade dos dife- Gusmão, L.G.; Loeck, A.E. 1999. Distribui-
cido adiposo e células hipodérmicas 20 a rentes patógenos e linhagens. Isto pode aju- ção geográfica de formigas cortadeiras
24 horas após a infecção. Em B. beesoni, dar a avaliar o potencial do agente patogê- do gênero acr omyr mex
a bactéria instalou-se próximo à membra- nico e fornecer a base para estimar as con- (hymenoptera:formicidae) na zona sul
na peritrófica depois de 24 horas, atacou centrações requeridas em campo. do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
o epitélio e células regenerativas após 48 Fernandes (1994) relatou que os princi- Revista Brasileira de Agrociência, 5(1):
horas e alcançou a membrana basal do pais problemas enfrentados na pesquisa 64-67.
intestino médio 72 horas após a infec- sobre controle biológico de cupins são a Hänel, H. 1981. A biossay for mesuring the
ção. carência de conhecimentos biológicos, o virulence of the insect pathogenic fungi
Nos estudos do efeito patogênico de pequeno número de taxonomistas que tra- Metarhizium anisopliae against the ter-
B. thuringiensis contra A. lundi foram balha com isópteros e a falta de outros gru- mite Nasutitermes exitiosus (Hill). Zeits-
identificados isolados ativos contra esta pos trabalhando em conjunto neste assun- chrift fuer Angewandte Entomologie, 94:
formiga cortadeira, sendo que o isolado to. 237 – 245.
Bt HA48 atingiu 100% de mortalidade (Pin- Contudo, bactérias entomopatogênicas Hänel, H. 1982. Selection of a fungus speci-
to et al., 2003). podem ser consideradas agentes de contro- es, suitable for the biological control of
le biológico com potencial de patogenici- the termite Nasutitermes exitiosus. Zeits-
1.5 Perspectivas dade e surgem como uma alternativa efici- chrift fuer Angewandte Entomologie, 92:.
ente, ecológica e econômica para a solução 9-18.
Em insetos sociais, aspectos como dos danos causados por cupins e formigas. Khan, K.; Jafri, R. H.; Ahmad, M. 1985. The
hábitos comportamentais devem ser con- pathogenicity and development of Ba-
siderados, uma vez que a eliminação de 1.6 Referências cillus thuringiensis in termites. Pakistan
uma porção da colônia não é suficiente Journal of Zoology, 17(3): 201-209.
para a extinção. Os fragmentos restantes Azambuja, A.O. De; Pinto, L.M.N. & Fiu- Khan, K.; Qaisra, F.; Jafri, R. H. 1977. Patho-
têm capacidade de recuperação e nova za, L.M. 2001. Bacillus thuringiensis genecity of locally discovered Bacillus
infestação, portanto há necessidade de obtido de insetos sociais (Acromyr- thuringiensis strain to the termites Hete-
eliminação da rainha das colônias (Mar- mex sp.) coletados em áreas orizíco- rotermes indicola (Wasmann) and Mi-
tins, 1998). las. In: VII Simpósio de Controle crocerotermes championi (Snyder).
O uso de organoclorados é o método Biológico. Junho, Poços de Caldas, Pakistan Journal of Scientific Research,
mais utilizado para controlar populações MG. 2001. 29: 12-13.
de cupins e formigas e embora, com Bao, L.L.; Yendol, W. G. 1971. Infection Kramm, K. R.; West, D.F. 1981. Termite pa-
menos freqüência, outros métodos podem of the eastern subterranean termite, thogens effects of ingested Metarhizium,
ser citados como o controle cultural, ação Reticulitermes flavipes (Kollar) with Beauveria and Glioocadium conidia on
de predadores e aplicação de extratos the fungus Beauveria bassiana workers termites (Reticulitermes sp.).
vegetais (Wilcken e Raetano, 1995). (Bals.) Vuill. Entomophaga, 16(3): Journal of Invertebrate Pathology, 40:
O controle biológico é uma alternati- 342-352. 1-6.
va ao controle químico e vem ganhando Berti Filho, E. Cupins ou térmitas. Manu- Leonardo, A. M. C. 1989. A guerra química
destaque em pesquisas de manejo de al de pragas em florestas. Piracicaba: dos cupins. Ciência Hoje, 10(56): 26-34.
populações de pragas. Os principais or- IPEF/SIF, 1993. 56p. Loureiro, E.S.; Monteiro, A.C. 2005. Patoge-
ganismos utilizados para o controle de Borm, S.V.; Billen, J.; Boomsma, J.J. nicidade de isolados de três fungos en-
formigas e cupins são microrganismos 2002.The diversity of microorganis- tomopatogênicos a soldados de Atta se-
patogênicos, em especial fungos e nema- ms associated with Acromyrmex lea- xdens sexdens (Linnaeus, 1758) (Hyme-
tóides, e até o momento poucas pesqui- fcutter ants. BMC Evolutionary Bio- noptera: Formicidae). Árvore, 29(4): 553-
sas foram realizadas em laboratório com logy. 2:9. 561.
B. thuringiensis. Castilhos-Fortes, R.; Matsumura A. T. S., Martins, C. 1998. Perspectivas do controle bi-
As pesquisas têm publicado resulta- Diehl E. Fiúza LM. 2002. Suscptibility ológico de cupins (Insecta, Isoptera). Re-
dos satisfatórios no controle de formigas of Nasutitermes ehrhardti (Isoptera: vista Brasileira de Entomologia, 41(2-4):
utilizando os fungos Beauveria bassiana, Termitidae ) to Bacillus thuringiensis 179-194.
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além do microsporídeo Thelohania sole- Cowie, R. H.; Logan, J. W. M.; Wood, T. thuringiensis isolates from two species
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mesmo ocorre com cupins avaliados fren- and control in tropical forestry witer cidae). Brazilian Journal of Biology.
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Diferentes estudos visam determinar 1993. Eficiency of Beauveria bassia- Immunology 93:15-22.
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gos ou nematóides, que poderiam ser utili- menoptera: Formicidae). Anais da de cupins em florestas. In.: Alguns as-
zados contra os térmitas. Os resultados, Sociedade Entomológica do Brasil, pectos atuais da biologia e controle de
geralmente, têm sido discrepantes. Outras 22(2): 281-285. cupins. FEALQ: Piracicaba, São Paulo.

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 43


TOXICOLOGIA DE BACILLUS THURINGIENSIS
Pesquisa ÀS PRAGAS URBANAS E VETORES
Pesquisa

Gabriela Cristina Alles Marcus Hübner Lidia Mariana Fiuza


Bióloga (UNISINOS) e Mestre e Biólogo (FURG) e Mestre em Biologia: Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em Fitotecnia – Fitossanidade
Doutoranda em Biologia: Diversidade e Diversidade e Manejo de Vida Silvestre (UFRGS), Doutora em Ciências Agronômicas (ENSAM-Montpellier) e
Manejo de Vida Silvestre (UNISINOS). (UNISINOS). Pós-Doutora em biotecnologia Vegetal (CIRAD-Montpellier).

utilização de bactérias en- países da Ásia, África e Américas. O Culex res devido ao seu potencial para o contro-
tomopatogênicas do gêne- quinquefasciatus é responsável pela trans- le de pragas (Priest, 2000; Fiuza, 2001). Entre
ro Bacillus, como agente de missão da Wuchereria bancrofti, agente eti- estes patógenos destacam-se as bactérias
controle populacional de ológico da filariose bancroftiana no Brasil, do gênero Bacillus, com potencial biopes-
pragas urbanas e vetores de além de ser um potencial vetor para o Ví- ticida que representam cerca de 90% do
agentes patogênicos, tem rus do Oeste do Nilo (VNO), originado na mercado mundial (Schnepf et al., 1998), sen-
relevância nas pesquisas nacionais e inter- África, onde as aves são os hospedeiros e do amplamente utilizados como uma alter-
nacionais. Sendo assim, esse trabalho trata reservatórios naturais, podendo acometer nativa aos inseticidas químicos em termos
do controle desses insetos, utilizando as es- o homem, cavalos e outras espécies, cau- de segurança a organismos não-alvo e
pécies B. thuringiensis e B. sphaericus, sando desde febre, dor de cabeça e mialgi- quando ocorre o desenvolvimento de re-
onde se destacam as características das es- as até encefalite severa e meningite. Desde sistência a inseticidas químicos (Rodrigo-
pécies do grupo Bacillus, sua ocorrência e 1999 ocorrem epidemias da doença nos Simón et al., 2006).
alguns dados de autores que realizaram pes- EUA e, até o momento, já foram registra- Duas espécies de bactérias entomopa-
quisas na área da saúde pública. dos mais de 19 mil casos de infectados com togênicas se destacam no controle biológi-
mais de 750 óbitos (Centers for Disease co dos insetos vetores: B. sphaericus e B.
1.1 Bacillus spp. no controle de Control and Prevention, 2006). Recente- thuringiensis israelensis. Estes microrganis-
vetores de doenças mente, o vírus passou a circular no Caribe mos estão sendo comercializados há mais
e já foi isolado na Colômbia e em cavalos de uma década, pois produzem proteínas
1.1.1 Insetos vetores de doenças mortos na Argentina (Berrocal, 2006; Mo- inseticidas que, ao serem ingeridas, são le-
Algumas espécies dos gêneros Anophe- rales, 2006). O Brasil tem um plano de vi- tais para as larvas dos mosquitos devido a
les, Aedes, Culex e Mansonia podem ser gilância para detectar a introdução do VNO sua ação no trato digestivo. O Bti tem ativi-
importantes vetores de patógenos huma- no país, visto que o Cx. quinquefasciatus, dade decrescente para os gêneros Aedes,
nos responsáveis por enfermidades como potencial vetor, é abundante, além de um Simulium, Culex e Mansonia, já o B. spha-
malária, febre amarela, encefalite, dengue contingente considerável de aves migrató- ericus é particularmente eficiente para o
e filariose. Estas doenças atingem um nú- rias que ocorre no país por ser originário controle de larvas de Cx. quinquefasciatus
mero significativo de pessoas em diversos de rotas das Américas e de países vizinhos, e produtos comerciais à base desta bacté-
onde ocorre a circulação do vírus (Luna et ria estão disponíveis no Brasil.
al., 2003). O principal fator tóxico do B. sphaeri-
É importante ressaltar que há uma gran- cus para larvas de Cx. quinquefasciatus é a
de dificuldade do controle populacional toxina binária (Bin) contida em um cristal
destes mosquitos devido a suas caracterís- protéico produzido durante a fase de es-
ticas biológicas como curto ciclo de vida, porulação da bactéria. Após a ingestão deste
alta capacidade reprodutiva e de adapta- cristal pelas larvas, ocorre a sua solubiliza-
ção ao ambiente. O controle, através do ção em pH intestinal alcalino e a protoxina
uso de inseticidas químicos tem apresenta- liberada no lúmen é clivada por serinopro-
do problemas devido ao seu modo de ação teases para atingir a forma de toxina ativa.
não específico, além da possibilidade de A toxina Bin ativa interage com receptores
rápida seleção de resistência de insetos a específicos presentes na membrana apical
estes compostos. Por estas razões, a pro- das células do epitélio intestinal das larvas,
cura por agentes mais seletivos aumentou principalmente nas regiões do ceco gástri-
e, com isso, a adoção de métodos de con- co e intestino posterior.
trole biológico cresceu (Centers for Disea- O B. sphaericus apresenta uma grande
se Control and Prevention, 2006). vantagem em relação ao Bti: a ótima per-
sistência em criadouros ricos em matéria
1.1.2 Bactérias entomopatogênicas orgânica, típicos de larvas de Culex, além
A microflora bacteriana dos insetos, de seus esporos sofrerem reciclagem nos
confinada no intestino, é rica, diversa e cadáveres das larvas, o que pode ampliar
compreende bactérias Gram-positivas e seu período de persistência nos criadouros
negativas. Entre as bactérias Gram-positi- (Nicolas et al., 1987; Skovmand & Baudu-
vas, algumas auxiliam na digestão dos ali- in, 1997).
mentos, porém outras são patogênicas e Populações de larvas de Culex podem
recebem grande atenção dos pesquisado- apresentar resistência ao B. sphaericus após

44 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


Tabela 1. Mortalidade corrigida de Blatella germanica e de B. sphaericus antes e durante o trata-
Periplaneta americana, submetidas aos tratamentos com mento, alternando o uso de B. sphaericus
sorovares de Bacillus thuringiensis com Bt israelensis. Zahiri et al. (2004) de-
monstraram que utilizando suspensões de
Mortalidade Corrigida (%) misturas contendo formulações comerciais
de Bt israelensis e B. sphaericus, não resul-
Tratamentos B. germanica P. americana tou em resistência em colônias de Cx. quin-
quefasciatus, enquanto que somente sus-
pensões de B. sphaericus gerou resistên-
B.t. sorovar colmeri 6,65 0,0
cia.
B.t. sorovar yunnanensis 14,85 0,0
1.2 B. thuringiensis
B.t. sorovar huazhangiensis 15,00 0,0 no controle de baratas
B.t. sorovar roskildiensis 16,65 0,0
B.t. sorovar sooncheon 30,00 0,0 Segundo Wilson (1972), estudos com-
parativos realizados entre famílias primiti-
vas de térmitas e baratas revelaram a exis-
tência de múltiplas características em co-
mum que, segundo o autor, poderiam con-
siderar os térmitas como baratas sociais,
serem submetidas à forte pressão de sele- de englobar todas as causas do problema. cujos diagramas de filogenia, não só refor-
ção, sob condições de laboratório (Amo- No âmbito do controle de mosquitos, estas çam este parentesco, como também, rela-
rim, 2007; Georghiou, 1992; Pei, 2002; Rod- ações podem incluir a melhoria da rede de cionam a evolução da flora microbiana in-
charoen & Mulla, 1994) ou de campo esgoto e distribuição de água, eliminação testinal entre as ordens Isoptera e Blatto-
(Mulla, 2003). Estes resultados apontam física de criadouros, uso de barreiras físi- dea.
para a necessidade de racionalizar o uso cas nas habitações, medidas de proteção Nesse contexto, a partir do trabalho de
do B. sphaericus, a fim de evitar a seleção individual, uso de larvicidas específicos em Castilhos-Fortes et al. (2002), Hübner (2004)
de populações resistentes. criadouros que não podem ser eliminados, testou cinco isolados de B. thuringiensis
A primeira população resistente obtida além da conscientização e participação da em Blatella germanica e Periplaneta ame-
sob condições de laboratório, foi submeti- comunidade. Dentre estas ações, o uso de ricana: B. thuringiensis yunnanensis, B.
da à forte pressão de seleção e atingiu um biolarvicidas apresenta vantagens, como a thuringiensis colmeri, B. thuringiensis hua-
nível de resistência da ordem de 100.000 especificidade para o inseto alvo e segu- zhangiensis, B. thuringiensis sooncheon e
vezes, em relação à colônia susceptível rança para o meio ambiente (Georghiou et B. thuringiensis roskildiensis, oriundos do
(Georghiou, 1992). Em outro estudo reali- al., 1992). Instituto Pasteur, Paris.
zado em laboratório, foram selecionadas O principal objetivo de estratégias de Para o estudo, adultos e ootecas de B.
duas colônias de Cx. quinquefasciatus, no controle integrado de vetores é reduzir a germanica e P. americana foram coleta-
Brasil e na China, que atingiram um alto densidade populacional de mosquitos para dos em estabelecimentos comerciais e re-
nível de resistência (>100.000) (Pei, 2002). níveis em que a atividade é minimizada ou sidenciais, no município de Gramado, Rio
Também foi demonstrado que é possível a transmissão de doenças reduzidas ou in- Grande do Sul. Ambas as espécies perma-
selecionar a resistência ao B. sphaericus terrompida com o mínimo de efeitos ambi- neceram em caixas de plástico (564 x 385
cepa IAB59, sob condições de laboratório, entais. x 371 mm e 400 x 270 x 362 mm), com as
embora, esta seleção tenha ocorrido de Idealmente, programas de controle in- bordas superiores preenchidas com uma
forma mais lenta em relação ao B. sphaeri- tegrado devem incluir intervenções mais mistura de água e talco neutro, para evitar
cus 2362. O nível de resistência chegou a eficazes e ambientalmente compatíveis. a fuga dos insetos. A umidade foi mantida
mais de 40.000 vezes (Amorim, 2007). Em Devido à sua eficácia e aparente especifi- através de algodão umedecido, trocado a
campo, já foram detectadas populações com cidade, tanto Bt israelensis quanto B. spha- cada 48 horas. Substratos de papelão cor-
níveis de resistência variáveis na França ericus podem ser ideais para o programa rugado foram utilizados para mimetizar seu
(Chevillon, 2001), Índia (Rao, 1995), China integrado de controle de pragas. (Lacey & hábitat natural. Na alimentação foi utiliza-
(Yuan, 2000), Tunísia (Nielsen-Leroux, Orr, 1994). A combinação de Bt israelensis da 0,5 g de ração animal moída Whiskas,
2002) e na Tailândia (Mulla, 2003). O pro- com outros agentes de controle biológico sendo os insetos mantidos em condições
cesso de seleção da resistência em popula- resultou em um excelente controle e, em controladas (30ºC, 70% de U.R., 12h foto-
ções de campo é modulado por diversos alguns casos, a supressão prolongada de fase).
fatores que incluem o background genéti- larvas de mosquitos. Nos bioensaios, baratas adultas de am-
co da população, bem como fatores ecoló- Mulligan & Schaefer (1982) relataram bas as espécies foram agrupadas em caixas
gicos e ambientais. um controle inicial de larvas de Cx. tarsa- plásticas (262 x 177 x 85 mm), contendo
lis em uma das zonas úmidas em que o placas de Petri com algodão umedecido em
1.1.3 Controle integrado de vetores tratamento com Bt israelensis foi seguido água destilada e outra contendo 0,5g de
O conceito do Manejo Integrado de por abatimento em longo prazo com lar- ração animal moída e 1000µL das suspen-
Vetores (MIV) surgiu como resultado de vas de insetos predadores. Do mesmo sões bacterianas a 1.1010 células/mL. Nas
uma mudança de paradigma após o uso modo, Mulla et al. (1993) observaram que testemunhas, os isolados foram substituí-
intensivo de inseticidas químicos nas dé- as populações de Cx. quinquefasciatus, Cx. dos por água destilada esterilizada. Para
cadas de 1940-60. Em outras palavras, o stigmatosoma e Cx. tarsalis não se recupe- cada isolado bacteriano e cada espécie fo-
MIV é definido como uma combinação ra- raram após o tratamento com Bt israelensis ram utilizados 30 insetos. A mortalidade foi
cional de diversos métodos de controle devido a subsequentes predações de lar- analisada durante 7 dias após a aplicação
disponíveis, objetivando manter a popula- vas por macroinvertebrados aquáticos e dos tratamentos e corrigida pela fórmula
ção de vetores em níveis aceitáveis e da uma redução na oviposição atrativa da pe- de Abbott (Alves, 1998).
maneira mais efetiva, econômica e segura, cuária local. Os dados de patogenicidade, utilizan-
incluindo componentes biológicos, quími- Regis & Nielsen-Leroux (2000) revisan- do os cinco isolados de Bacillus thuringi-
cos, físicos e ambientais, visando interferir do estratégias de manejo de resistência B. ensis, demonstraram uma baixa ação tóxi-
o mínimo possível no ecossistema. No MIV, sphaericus recomendaram o acompanha- ca sobre B. germanica (6,65% a 30% de
várias ações são empregadas na tentativa mento da susceptibilidade das espécies-alvo mortalidade), e uma inatividade (0% de

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 45


mortalidade) à P. americana, levando-se em dae): interaction between recessive mu- Bacillus sphaericus binary toxin in Cu-
consideração que os índices de mortalidade tants and evolution in southern France. lex pipiens (Diptera: Culicidae): the
corrigida apresentados na Tabela 1. J.Med. Entomol, 38: 657-664. complex situation of west-Mediterra-
Apesar de Wilson (1972) ter descrito um Fiuza, L. M. 2001. Bacillus thuringiensis: ca- nean countries. J. Med. Entomol, 39:
parentesco evolutivo entre as famílias primiti- racterísticas e o potencial no manejo de 729-735.
vas de térmitas e baratas, inclusive quanto a insetos. Acta Biol. Leopoldensia 23 (2): Pei, G. F. 2002. A strain of Bacillus sphaeri-
sua flora bacteriana, o presente estudo de- 141-156. cus causes a slower development of
monstra que não há uma correlação da ação Georghiou, G. P. 1992. Characterisation of resistance in Culex quinquefasciatus.
de B. thuringiensis sobre B. germanica e P. resistance of Culex quinquefasciatus to Appl. Environ. Microbiol, 68(6):3003-
americana, pertencentes às famílias mais evo- the insecticidal toxins of Bacillus spha- 3009.
luídas. ericus (strain 2362). In: Mosquito Con- Priest, F. G. 2000. Biodiversity o the ento-
Cavados (2003) cita que o controle bioló- trol Research. Annals. Berkeley: Univer- mopatogenic, endospore- forming bac-
gico com bactérias entomopatogênicas tem sity of California. p. 34-35. teria. In: Charles, J. F.; Delécluse, A.;
como principal vantagem a especificidade. Hofte, H. & Whiteley, H.R. 1989. Insecticidal Nielsen-Le-Roux, C. (Ed) Entomopato-
Dependendo da composição de proteínas Cry crystal proteins of Bacillus thuringien- genic Bacteria: from laboratory to field
no cristal bacteriano, os isolados podem apre- sis. Microbiol Rev 53: 242-255. application. Netherlands: Kluwer Aca-
sentar um espectro de ação limitado às or- Hübner, M., Fiuza, M. F. 2004. Efeito de Ba- demic Publishers. P. 1-22
dens de insetos (Fiuza, 2001). Assim, os da- cillus thuringiensis sobre adultos de Rao, D. R. 1995. Development of a high le-
dos obtidos sugerem que as delta-endotoxi- Blatella germanica (L.) (Dictyoptera, vel of resistance to Bacillus sphaericus
nas produzidas pelos cinco isolados de B. thu- Blattellidae) In: XX Congresso Brasilei- in a field population of Culex quinque-
ringiensis testados não apresentam proteínas ro de Entomologia. Setembro, Grama- fasciatus from Kochi, India. J. Am.
Cry com ação tóxica para a ordem Blattodea, do, RS. 2004. Mosq. Control Assoc, 11:1-5.
uma vez que causaram uma menor ação so- Hübner, M. 2004. Bioatividade de extratos Regis, L.; Nielsen-LeRoux, C. 2000. Manage-
bre os insetos-alvo do trabalho de Hübner vegetais e isolados de Bacillus thuringi- ment of resistance to bacterial vector
(2004). ensis nos insetos urbanos Blatella ger- control. In: Charles J-F, Dele´cluse A,
Lambiase et al. (1996) mencionam uma manica (L.) e Periplaneta americana (L.) Nielsen-LeRoux C, eds. Entomopatho-
diferenciação na localização dos sítios bacte- (Blattodea, Blattellidae). Dissertação de genic Bacteria: from laboratory to field
rianos em B. germanica e P. americana, o Mestrado, PPG em Biologia, Unisinos, application. Dordrecht, The Netherlan-
que poderia justificar o fato de ter-se obtido São Leopoldo, RS, 72 p. ds: Kluwer Academic Publishers. p 419–
uma ação inseticida para a primeira espécie e Lacey, L.A.; Orr, B.K. 1994. The role of biolo- 438.
uma ausência de efeito para a segunda. gical control of mosquitoes in integra- Rodcharoen, J. & Mulla, M. S. 1994. Resis-
Também forma realizados ensaios de to- ted vector control. Am. J. Trop. Med, tance development in Culex quinque-
xicidade in vivo para verificar a ação de B. 50:97–115. fasciatus (Diptera: Culicidae) to the mi-
thuringiensis oswaldocruzi (H-38) e B. thu- Lambiase, S.; Grigolo, A.; Laudani, U.; Sac- crobial agent Bacillus sphaericus. J.
ringiensis brasiliensis (H-39) contra Peripla- chi, L.; Baccetti, B. 1996. Pattern of bac- Econ. Entomol, 87: 1133-1140.
neta americana e Blatella germanica. Porém, teriocyte formation in Periplaneta Ame- Rodrigo-Simón, A.; De Maagd, R.A.; Avilla,
nesses ensaios não houve ação patogênica das ricana (L.) (Blattaria: Blattidae). Int. J. C.; Bakker, P.L.; Molthoff, J.; González-
cepas avaliadas às duas espécies de baratas Insect Morphol. & Embryol, 26: 9-19. Zamora, J.E.; Ferré, J. 2006. Lack of de-
utilizadas nos bioensaios (Hübner, 2004). Luna, E. J. A.; Pereira, L. E.; Souza, R. P. trimental effects of Bacillus thuringien-
2003.Encefalite do Nilo Ocidental: nos- sis Cry toxins on the insect predator
1.3 Referências sa próxima epidemia? Epidemiol. Serv. Chrysoperla carnea: a toxicological, his-
Saúde,12, 7-19. topathological, and biochemical analy-
Amorim, L. B. 2007. Development of Culex Morales, M. A. 2006. West Nile virus isolation sis. Appl Environ Microbiol 72: 1595-
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46 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


INTERAÇÕES DE BACILLUS THURINGIENSIS
Pesquisa E O CONTROLE DE FITOPATÓGENOS

Neiva Knaak
Bióloga (UNISINOS) e Mestre e Doutoranda em
Biologia: Diversidade e Manejo de Vida Silvestre
(UNISINOS).

Aline Oliboni de Azambuja


s tratamentos fitossanitários 1.1 Interações de métodos
Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Biologia:
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre
constituem uma rotina nos de controle de insetos
(UNISINOS). cultivos agrícolas, os quais
visam o controle de plantas O interesse por obter produtos agríco-
Andresa Patrícia Regert Lucho daninhas, insetos e fitopató- las em sistemas sustentáveis estimula o es-
Engenheira Agrônoma (UFRGS) e Mestre em genos. Como agentes do ma- tudo e o uso de estratégias do Manejo In-
Biologia: Diversidade e Manejo de Vida Silvestre nejo integrado das culturas, os pesquisa- tegrado de Pragas (MIP) e do Manejo Eco-
(UNISINOS). dores têm priorizado a aplicação de inimi- lógico de Pragas (MEP). Sendo assim, ex-
gos naturais (parasitóides e predadores), tratos vegetais apropriadamente seleciona-
Diouneia Lisiane Berlitz extratos vegetais e microrganismos. Nesse dos e em concentrações adequadas podem
Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Biologia: contexto, dados referentes às interações ser usados em associação com entomopa-
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre desses agentes de controle são apresenta- tógenos obtendo-se efeitos aditivos ou si-
(UNISINOS). dos, com ênfase nas bactérias entomopa- nergéticos no controle (Saito & Luchini,
togênicas da espécie B. thuringiensis. Con- 1998).
Lidia Mariana Fiuza siderando o controle biológico de fitopa- Segundo os autores, o efeito estressor
Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em tógenos, a doença não é só a interação entre desses extratos sobre a praga pode deter-
Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS), Doutora em patógeno e hospedeiro, mas o resultado minar uma ação mais rápida do entomopa-
Ciências Agronômicas (ENSAM-Montpellier) e da interação entre patógeno, hospedeiro e tógeno e/ou um maior índice de mortali-
Pós-Doutora em biotecnologia Vegetal (CIRAD-
uma série de microrganismos não patogê- dade. Assim essa associação pode ser posi-
Montpellier).
nicos que também repousam no sítio de tiva ou benéfica quando o inseto-alvo tem
infecção. Esses agentes não patogênicos po- mecanismos comportamentais de defesa
dem limitar ou aumentar a atividade do pa- contra entomopatógenos, quando as con-
dições ambientais não são favoráveis ou as
quantidades de inóculo necessárias são ele-
vadas.
Nesse sentido, Lucho (2004) estudou a
interação entre B. thuringiensis aizawai e
extrato de folhas de Melia azedarach (ci-
namomo) para o controle de lagartas de
Spodoptera frugiperda, em laboratório. Na
pesquisa foram avaliados quatro tratamen-
tos: extrato de folhas de M. azedarach; B.
thuringiensis aizawai; mistura de B. thu-
ringiensis aizawai e extrato de M. azeda-
rach; controle (água destilada) sendo a
mortalidade das lagartas observada diaria-
mente, até o sétimo dia após aplicação dos
tratamentos (DAT). O uso de B. thuringi-
ensis, isoladamente ou em associação com
o extrato de M. azedarach mostrou-se letal
no 1º DAT. Nas lagartas submetidas somente
ao extrato, a mortalidade iniciou aos 2 DAT
e ao final do bioensaio, a mortalidade acu-
tógeno, ou a resistência do hospedeiro. O mulada foi maior na associação do biopes-
sucesso do biocontrole depende das pro- ticida e do inseticida botânico. Os percen-
priedades antagonistas e dos mecanismos tuais de mortalidade de S. frugiperda ob-
de ação do hiperparasita. Desse modo, servados aos 7 DAT foram de 55, 70 e 90%
nesse trabalho são apresentadas várias pes- para os tratamentos com extrato, B. thu-
quisas que relatam o efeito antagônico de ringiensis aizawai e a associação de B. thu-
B. thuringiensis aos fungos fitopatogênicos. ringiensis aizawai com extrato de M. aze-

48 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


Tabela 1. Aplicações simultâneas de entomopatógenos e extratos vegetias no controle de pragas de grãos
armazenados (adaptada de Sabbour, 2003)
Redução da CL50 (%)

Plantas Insetos B. thuringiensis B. bassiana


Folhas de T. distichum Plodia interpeculata 71 45
Ephesia cautella 63 35
Ephesia küehniella 69 20
Óleo volátil de T. distichum Plodia interpeculata 67 43
Ephesia cautella 63 43
Ephesia küehniella 74 34
Óleo volátil de B. carterri Plodia interpeculata 67 30
Ephesia cautella 72 46
Ephesia küehniella 79 38

darach, respectivamente. Assim, foi obser- ram B. thuringiensis japonensis e nematói- B. thuringiensis e controle mecânico de es-
vado um efeito sinérgico dos ingredientes des em larvas de Cyclocephala hirta e C. pécies de Simulium, revelando 88,83% de ín-
ativos de B. thuringiensis aizawai e extra- pasadenae (Coleoptera: Scarabaeidae) mos- dice reducional médio de larvas dos mos-
to de M. azedarach contra S. frugiperda, trando que essa interação apresentou mai- quitos. Já Andrade & Modolo (1991) testa-
pois o resultado da associação foi superior or mortalidade que os tratamentos indivi- ram B. thuringiensis israelensis em mistura
ao uso dos bioinseticidas isoladamente. duais, viabiliando assim o uso integrado com o pesticida temephos contra A. aegypti
Apesar disso, a interação de métodos desses organismos. causando 91 e 98% de mortalidade corrigida,
de controle nem sempre apresenta o efeito B. thuringiensis também pode ser utili- diminuindo o tempo letal médio. O modo
desejado sobre o inseto. Isso foi demons- zado em combinação com outros micror- de ação das proteínas de B. thuringiensis is-
trado por Berlitz (2006) que utilizou B. thu- ganismos para o controle de insetos-praga. raelensis foi avaliada por Gómez et al. (2007)
ringiensis simultaneamente com o cinamo- Nesse sentido, Broderick et al. (2000), iden- demonstrando que a presença da proteína
mo, M. azedarach. As concentrações utili- tificaram um aumento de 35% da mortali- Cyt1Aa aumenta a capacidade de ligação, na
zadas nesse trabalho não demonstraram dade do lepidóptero Lymantria dispar (L.) membrana intestinal do inseto, da proteína
eficiência, pois a mortalidade do lepidóp- quando usado B. thuringiensis e zitermici- Cry11A. Isso porque a proteína Cyt depois
tero S. frugiperda foi de, apenas 6% e para na A de B. cereus, sendo que a zitermicina de solubilizada expõe regiões específicas na
larvas do coleóptero Oryzophagus oryzae é responsável pelo efeito sinergético dos membrana, promovendo a ligação da prote-
foi de 11%. Esse fato pode estar associado microrganismos. Primeiramente porque ína Cry e aumentando assim, sua atividade
a um possível efeito inibitório da bactéria essa substância acumula-se em grandes inseticida.
sobre o extrato vegetal ou vice-versa. quantidades nas culturas de B. cereus, se- Essas informações indicam que se torna
Em relação ao uso simultâneo de bio- gundo porque quando utilizada individu- cada vez mais importante as pesquisas nessa
inseticidas, Sabbour (2003) realizou ensai- almente não causa efeito sobre o inseto, área, uma vez que a aplicação de inseticidas
os com extrato das folhas e óleo volátil de somente em combinação com B. thuringi- químicos resulta em grandes impactos nos
Taxodium distichum (L. Rich) e Boswella ensis, aumentando a mortalidade de L. dis- agroecossistemas, pois atingem não somente
carterri, em combinação com a bactéria B. par. os inimigos naturais dos insetos, mas tam-
thuringiensis e o fungo Beauveria bassia- Os resultados de Wraight & Ramos bém contaminam o solo e os lençóis de água
na (Vuillemin, 1912), em pragas de produ- (2005) também demonstram sinergismo de subterrâneos.
tos armazenados. Em seus resultados a com- 35,2; 33,8; e 21,1% quando utilizado simul-
binação dos entomopatógenos com as plan- taneamente um produto comercial a base 1.2 Interações tri-tróficas
tas, reduziu significativamente o valor da de B. thuringiensis e do fungo B. bassiana
Concentração Letal Média (CL50), conforme em Leptinotarsa decemlineata. Esses auto- Para um melhor entendimento dos agro-
mostra a Tabela 1. res revelam que a interação pode ter sido ecossistemas, é importante estudar as rela-
De acordo com Novan, (1992) a utili- ocasionada pela intoxicação causada pelo ções existentes entre as espécies e suas teias
zação de extratos vegetais reduz a alimen- entomopatógeno, inibindo a alimentação alimentares, que constituem um complexo de
tação do inseto através de seus aleloquími- do inseto, ocasionando uma situação de interações tróficas onde há interesse em in-
cos, o que otimiza a atividade inseticida do estresse, e efeitos fisiológicos, o que facili- terações tri-tróficas visando a utilização de
microrganismo, resultando em um maior tou a penetração do fungo no inseto. Efei- patógenos, parasitóides e predadores, junta-
índice de mortalidade. tos semelhantes também foram observados mente com a planta hospedeira/inseticida.
Já os autores Zhang et al. (2000) utili- por Ma et al. (2008), quando utilizada a Essas relações podem ser devidamente utili-
zaram B. thuringiensis kurstaki em diferen- proteína Cry 1Ac de B. thuringiensis com zadas nas práticas de manejo de insetos-pra-
tes concentrações e suplementado com trip- B. bassiana. Esses autores observaram efei- ga, uma vez que se torna importante a pre-
sina de soja mostrando uma inibição no tos deletérios na mortalidade das larvas de servação de inimigos naturais dos insetos, que
crescimento larval de H. armigera (P<0,05). Ostrinia furnacalis (Lepidoptera: Crambi- são também os controladores das populações
Em ensaios in vitro e in vivo, os autores dae), além de diminuição na formação de da praga.
comentam que a degradação das toxinas pupas e na emergência dos insetos adul- As interações tri-tróficas podem ser re-
de B. thuringiensis pode ser inibida pela tos. sultantes de dois efeitos: efeito direto da plan-
tripsina da soja. Os dados sugerem que o Os autores Brousseau et al., (1998) tam- ta sobre a biologia e o comportamento do
tempo de retenção das toxinas no intesti- bém encontraram efeitos sinergéticos quan- inimigo natural, devido às substâncias quí-
no médio das larvas foi estendido, ocor- do avaliada a combinação de B. thuringi- micas ou caracteres morfológicos da planta;
rendo também um sinergismo entre os cris- ensis kurstaki com destruxinas do fungo M. ou efeito da planta sobre a praga alterando
tais inseticidas da bactéria e os inibidores anisopliae para combater larvas de Choris- seu comportamento, desenvolvimento, tama-
de tripsina da soja. toneura fumiferana (Clemens, 1865) (Le- nho, o que afeta também seu inimigo natu-
No caso do uso interativo de B. thu- pidoptera: Tortricidae). ral. Essas interações são mais complexas
ringiensis com nematóides entomopatogê- Outra forma de controle integrado foi quando há mais de uma espécie de inimigo
nicos, Koppenhöfer e Kaya (1997) utiliza- avaliada por Petry et al. (2004) utilizando natural envolvida. Nesse tipo de interação,

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 49


as plantas são importantes “meios de co- ringiensis aizawai. Em seus resultados o et al., 1974; Batista-Filho et al., 2001).
municação”, pois ao serem atacadas por um uso conjunto dos componentes biológicos Grande parte das reações dos pesticidas,
herbívoro, liberam substâncias voláteis pe- citados, aumentou a mortalidade do inse- atualmente utilizadas no controle de pragas,
las folhas, as quais orientam as fêmeas dos to-praga e diminuiu seu consumo de ali- é desconhecida devido à carência de infor-
parasitóides a encontrarem as lagartas e de- mento. mações a respeito da compatibilidade desses
positar seus ovos. Sendo assim, os odores Resultados semelhantes foram encon- produtos sobre entomopatógenos (Morris,
têm papel fundamental na organização dos trados por Moraes et al. (2004) que identi- 1977). Para B. thuringiensis, majoritariamen-
indivíduos nos agroecossistemas (Vendra- ficaram a influência de silício em plantas te os trabalhos realizados sobre interação são
min, 2002; Vilela &Palini, 2002). de trigo, no pulgão-verde (Schizaphis gra- proveniente da década de 70, como reflexo
As interações tri-tróficas podem ser minum) e seus inimigos naturais. Os da- da demasiada aplicação de inseticidas sintéti-
exemplificadas nas culturas da soja e do dos desses autores mostram que a aplica- cos orgânicos como hidrocarbonetos clorina-
milho. A cultura é atacada pela largarta-da- ção de silício na cultura aumentou a resis- dos, oganofosforados, metilcarbamatos e pi-
soja, A. gemmatalis que é combatida atra- tência das plantas de trigo diminuindo a retróides (Casida e Quistad, 1998). Para B.
vés da aplicação de vírus, o Baculovirus preferência alimentar do pulgão-verde, não sphaericus, quase a totalidade dos trabalhos
anticarsia, e predada por Geocoris sp. No afetando seus inimigos naturais. se referem à toxicidade às larvas de dípteros,
caso do milho, as lagartas de S. frugiperda Através desses trabalhos nota-se a im- ressaltando a importância de estudos que vi-
podem ser parasitadas por Trichogramma portância de novas pesquisas visando iden- sam à proteção desse inimigo natural, através
sp. e controladas através do entomopató- tificar relações tri-tróficas benéficas e efici- da compatibilidade com os pesticidas quími-
geno B. thuringiensis. entes que podem ser utilizadas junto às cos.
De acordo com Ferry et al. (2004), os práticas de Manejo Integrado de Pragas. Ainda na década de 70, Doughert et al.
insetos são causadores de perdas mundiais (1971) obtiveram respostas variadas na sensi-
entre 10 e 20% da produção agrícola. Com 1.3 Compatibilidade de bilidade de B. thuringiensis thuringiensis em
isso as pesquisas na área biotecnológica produtos fitossanitários com Bacillus função dos diversos solventes utilizados para
estudam diferentes formas de induzir a re- entomopatogênicos os mesmos pesticidas. A presença de emulsi-
sistência de uma planta a seu predador. ficantes e outros aditivos concentrados, utili-
Apesar disso as técnicas convencionais de O controle biológico ocorre natural- zados nas preparações, podem gerar proble-
controle químico ainda são largamente uti- mente no ambiente através da ação de ini- mas de compatibilidade com entomopatóge-
lizadas, sendo que o controle biológico en- migos naturais, mantendo em níveis relati- nos devendo ser considerado na elaboração
contra algumas resistências, principalmen- vamente baixos as populações de inúme- de novas formulações comerciais (Morris,
te devido aos elevados custos aos produ- ras pragas (Lacey et al. 2001). As bactérias 1977). O mesmo autor testou a compatibili-
tores agrícolas. Bacillus thuringiensis e B. sphaericus são dade de 27 pesticidas sobre a germinação e
Agrawal (2000) relata que as plantas entomopatógenos que desempenham o replicação de B. thuringiensis kurstaki, con-
podem ser atrativas ou benéficas a alguns papel de agentes de controle microbiano cluindo que o grupo dos carbamatos foram
inimigos naturais de herbívoros, mas tam- de pragas de importância agrícola e veto- os mais compatíveis, as piretrinas altamente
bém podem ser tóxicas ou prejudiciais a res de agentes etiológicos de doenças hu- bacteriostáticas e os produtos acefato, triclor-
esses. Assim, as interações tri-tróficas po- manas (De Maagd et al., 2003). Diante dis- fon, metomil, carbaril, mexacarbato e PH 60-
dem identificar esses mecanismos de modo so, a utilização e conservação desses mi- 40 (derivado da uréia) podem ser utilizados
a poder manipulá-los, o que irá ampliar o crorganismos, dentro de agroecossistemas, em conjunto com a bactéria.
controle e reduzir o uso de inseticidas. é uma das estratégias utilizadas no Manejo Os trabalhos mais atuais nessa linha de
Os autores Ferry et al. (2004) identifi- integrado de Pragas, já que são encontra- pesquisa avaliaram o efeito de diferentes con-
caram diferentes estratégias de defesa das das naturalmente nesses ambientes. Assim, centrações de defensivos agrícolas sobre mi-
plantas a seus predadores. Dentre essas, torna-se importante conhecer a ação dos crorganismos entomopatogênicos. Especial-
pode-se citar mecanismos de defesa endó- produtos fitossanitários, determinando a sua mente para B. thuringiensis, os dados mos-
genos e moleculares, sinalização das plan- seletividade e compatibilidade sobre os en- tram que tiametoxam, carbosulfan, diafentiu-
tas e a produção de substâncias voláteis. tomopatógenos, com o objetivo de mini- ron, imidacloprid, acefato, utilizados nas con-
Em resposta, os insetos também desenvol- mizar os impactos tanto no ambiente quanto centrações máximas, não apresentaram dife-
veram estratégias de defesa a esses com- na microbiota residente (Batista-Filho et al., rença significativa nas unidades formadoras
postos, principalmente através da produ- 2001). da colônia - UFC (Batista-Filho et al., 2001;
ção de proteinases e de mecanismos espe- A excessiva aplicação de defensivos Batista-Filho et al., 2003; Almeida et al., 2003).
ciais de desintoxicação utilizando, por agrícolas vem ocasionando uma série de Por outro lado, essas pesquisas revelam que
exemplo, citrocomo P450, monoxigenases desequilíbrios ambientais, especialmente endosulfan, monocrotofós, deltametrina e ci-
e glutatione S-transferases. nas populações de entomopatogênos, ve- proconazole + tiametoxam inibiram a forma-
Entretanto, a complexidade química das rificadas atráves da inibição do crescimen- ção das colônias. Já, na concentração míni-
plantas pode manipular seus fenótipos e, to, esporulação, mutações genéticas, redu- ma, o diafentiuron foi sinérgico e o tiameto-
conseqüentemente de seus inimigos natu- ção da toxicidade a determinada praga, xam e ciproconazole + tiametoxam não afe-
rais (Wittstock e Gerhenzon, 2002). Ven- influenciando diretamente no estabeleci- taram B. thuringiensis. Utilizando ambas as
zon et al. (2001) relatam que, quando inse- mento e sobrevivência (Alves et al., 1998). concentrações, o endosulfan, deltametrina e
rido uma quantidade de inimigos naturais No entanto, a ação dos agroquímicos so- profenofós + lufenuron inibiram as colônias
ou removendo-se determinadas espécies de bre os microrganismos pode variar em fun- da bactéria e tiametoxam + cipermetrina fo-
um agroecossistema, uma grande quanti- ção da espécie e linhagem do microrganis- ram compatíveis.
dade de interações indiretas pode ser es- mo, como também da formulação química Há poucas pesquisas que avaliam a com-
perada. Essas interações podem ser positi- e dosagens dos produtos (Batista-Filho et patibilidade de bactérias entomopatogênicas
vas ou negativas ao controle biológico, de- al., 2001). Contudo, alguns produtos apre- com os pesticidas mais utilizados em diver-
vendo-se dar importância aos níveis de in- sentam seletividade aos entomopatógenos, sas culturas, como por exemplo, o arroz irri-
terações entre as espécies. podendo potencializar o seu efeito e con- gado. No caso, Azambuja (2006) testou seis
As interações tri-tróficas também podem tribuir para o controle do inseto-alvo (Benz, produtos fitossanitários, comumente utiliza-
ser exemplificadas através do trabalho de 1971; Chen et al., 1974). Assim, a associa- dos na orizicultura irrigada, sobre as bactéri-
Dequech et al. (2005) que avaliaram lagar- ção de inseticidas químicos e biológicos as B. thuringiensis e B. sphaericus, em con-
tas de S. frugiperda parasitadas por Cam- contribuem para minimizar os efeitos ne- dições laboratoriais e observou que os herbi-
poletis flavicincta e infectadas por B. thu- gativos sobre os agroecossistemas (Chen cidas glifosato e propanil foram significativa-

50 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


mente antagônicos ao desenvolvimento de B. mopatogênicos e agroquímicos, em condi- sua disseminação (Esposito e Azevedo, 2004).
thuringiensis, e os mesmos produtos, inclu- ções de campo, é muito restrita e quase a
indo o fungicida azoxistrobina, reduziram o totalidade dos trabalhos realizados dessa 1.4.2 Efeitos de B. thuringiensis
crescimento de B. sphaericus, afetando esse natureza se referem aos fungos entomopa- em fitopatógenos:
microrganismo com mais intensidade. Entre- togênicos avaliados in vitro. A falta de pa- Alguns microrganismos, como bactérias,
tanto, relatou uma provável compatibilidade dronização na realização dos testes é um fungos e actinomicetos, produzem metabó-
dos herbicidas quincloraque e pirazosulfuron- dos problemas desse tipo de estudo que, litos capazes de inibir o crescimento de ou-
etil e o inseticida fipronil para ambos ento- em muitos casos, não permite uma compa- tros microrganismos. Estas substâncias são
mopatógenos naturais do solo, propondo a ração efetiva entre os produtos (Alves et diferentes na sua estrutura e distribuição, se
sua utilização em Programas de MIP. al., 1998). restringindo aos poucos compostos e estan-
Complementando os dados anteriores, Diante disso, os microrganismos ento- do presentes em apenas alguns microrganis-
Batista-Filho et al. (2001) verificaram que o mopatogênicos que habitam naturalmente mos (Kennedy, 1999). Os produtos do meta-
inseticida fipronil apresentou um efeito sinér- os agroecossistemas devem ser preserva- bolismo secundário microbiano são alvos de
gico aumentando a UFC de B. thuringiensis dos através de técnicas culturais e princi- pesquisas cada vez mais intensas na busca
(Dipel®) quando utilizado na concentração mí- palmente na utilização de pesticidas com- de substâncias bioativas, para atuação em di-
nima, mas não teve influência quando utili- patíveis não comprometendo o MIP (Almei- versas áreas como a agricultura, veterinária
zado na concentração máxima. Entretanto, da et al., 2003). e farmácia (Woodruff, 1980).
Rohr (2005) mostrou que azoxistrobina, quin- Grande parte dos microrganismos envol-
cloraque e fipronil não apresentaram intera- 1.4 Controle microbiano vidos no controle biológico atua através de
ções significativas sobre os bioinseticida de de Fitopatógenos antibiose, onde ocorre a interação entre or-
B. thuringiensis kurstaki (Dipel®) e B. thu- ganismos, um metabólito produzido por um
ringiensis aizawai (Xentari®). 1.4.1 Fungos Fitopatogênicos: deles tem um efeito prejudicial sobre o ou-
Os dados dos ensaios realizados in vitro Os fungos constituem um grupo de tro. A produção de metabólitos pode resul-
expõem ao máximo os microrganismos a ação organismos que se caracteriza por nunca tar na completa lise e dissolução da estrutu-
dos produtos fitossanitários, podendo diferir apresentarem tecido verdadeiro, por serem ra celular e independe do contato físico en-
das condições de campo, onde outros fato- eucarióticos e aclorofilados. A maioria das tre os microrganismos (Bettiol & Ghini, 1995),
res interferem, diminuindo a intensidade das espécies fúngicas é saprofítica, mas algu- dessa forma, a busca por microrganismos
reações. Nesse sentido, Alves et al. (1998) sa- mas desenvolveram a capacidade de para- antagônicos a fungos fitopatogênicos tem
lientam que a seletividade de um produto sitar plantas, causando a morte ou um re- aumentado (Benitez et al., 2004). Diversas
testado in vitro pode ser confirmado em cam- tardamento do desenvolvimento do hos- espécies de Bacillus são citadas como pro-
po, mas o antagonismo apresentado em la- pedeiro. Devido aos sistemas intensivos de dutoras de antibióticos, podendo secretar me-
boratório nem sempre pode ser verificado no produção agrícola, o índice e a prevalên- tabólitos comercialmente importantes, como
campo. cia de doenças têm aumentado significati- enzimas aminolíticas e enzimas proteolíticas
Os dados referentes às interações entre vamente, podendo, em alguns casos, cau- (Bettiol & Ghini, 1995).
entomopatógenos e pesticidas em condições sar perda total da produção. Esse aumento Bettiol (1988), em trabalho de seleção
de campo são ainda mais reduzidos (Alves et de doenças em áreas agrícolas se deve prin- de microrganismo antagônico a Pyricularia
al., 1998). Nesse enfoque, Azambuja (2006), cipalmente ao desequilíbrio entre as dife- oryzae, verificou que B. subtilis foi o mais
em laboratório, concluiu que os agroquími- rentes populações microbianas do solo, do eficiente em inibir o crescimento micelial do
cos: fipronil, azoxistrobina, quincloraque, gli- rizoplano, do fitoplano e endofíticas que patógeno, e constatando também que o an-
fosato, propanil e pirazosulfuron-etil não in- interagem com plantas, permitindo o esta- tagonista apresenta boas características para
terferiram na abundância de B. thuringiensis belecimento e o desenvolvimento dos fun- uso como agente de controle biológico, pois,
nem de B. sphaericus. Ressaltando esse pa- gos patogênicos (Esposito & Azevedo, além de rápido desenvolvimento, tanto em
drão, Batista-Filho et al. (2001) estudaram a 2004). meio de cultura como na natureza, produ-
compatibilidade do tiametoxam e B. thurin- Os autores relatam que para o fungo zem endósporo e antibióticos, crescem em
giensis (Dipel®), aplicados em lavouras de patogênico colonizar a planta hospedeira, larga faixa de temperatura e adaptam-se a
feijão, revelando que o inseticida não inter- inicialmente ele precisa quebrar o seu sis- várias condições ambientais.
feriu no potencial de inóculo do entomopa- tema de defesa. Para isso, produz enzimas O processo para que ocorra o antago-
tógeno, assim como in vitro, recomendando hidrolíticas (cutinases, celulases, ligninases nismo exige a degradação da parede celular
a utilização do produto em conjunto com a e outras) que quebram a cutícula e a pare- fúngica por hidrolases secretada por micror-
bactéria. Conforme foi verificado, no ambi- de da celular hospedeira; toxinas que re- ganismos. Como quitina e beta-1,3-glucana
ente natural, os diversos fatores bióticos e duzem ou inibem completamente a ativi- são os principais componentes estruturais da
abióticos atuam minimizando os possíveis dade das células da planta a ser parasitada parede celular fúngica, quitinases e glucana-
impactos sobre os Bacillus spp. da ação dire- e/ou produzem substâncias específicas de ses podem ser importantes no controle bio-
ta dos produtos fitossanitários (Alves et al., plantas (hormônios) que quebram o equi- lógico desses microrganismos (Kulminskaya
1998). líbrio fisiológico da célula vegetal, causan- et al., 2001). Knaak et al. (2007) testaram as
Em outro trabalho, Das et al. (2003) veri- do distúrbios no crescimento e na diferen- cepas e proteínas Cry1Ab e Cry1Ac sintetiza-
ficaram a influência de dois inseticidas em ciação das células da planta (Esposito e Aze- das por Bacillus thuringiensis thuringiensis
diversos microrganismos presentes nos solos vedo, 2004). 407 (pH 408) e B. thuringiensis kurstaki HD-
de cultivo de arroz. Esses autores mencio- Em geral, os fungos patogênicos apre- 73, respectivamente, sobre os fungos fitopa-
nam que forato e carborufam estimularam o sentam três estágios de colonização da plan- togênicos Pyricularia grisea, Rhizoctonia so-
crescimento das populações de bactérias e as ta hospedeira. Esses estágios são caracteri- lani, Fusarium oxysporum e F. solani. Veri-
proporções de Bacillus sp. No entanto, o efei- zados pela germinação do esporo na su- ficaram que as cepas B. thuringiensis, que
to sinérgico de carbofuram foi mais pronun- perfície dos tecidos da planta hospedeira, sintetizam as proteínas Cry1Ab e Cry1Ac, re-
ciado. Esse fato está relacionado à capacida- pelo reconhecimento da superfície, pela duziram o crescimento micelial dos fungos
de de alguns microrganismos desse gênero formação de apressório e pela penetração R. solani, P. grisea, F. oxysporum e F. solani
utilizarem o inseticida e degradarem seus pro- nos tecidos vegetais. Estando no interior durante o período avaliado, quando compa-
dutos para o seu próprio desenvolvimento da planta, o fungo pode colonizar os espa- rado aos controles. As duas cepas inibiram o
no solo. ços intercelulares e/ou intracelulares de crescimento dos fitopatógenos testados até
Como já mencionado, na literatura a res- forma parasítica e, posteriormente, produ- sete dias após a incubação, onde houve di-
peito de interações de microrganismos ento- zir estruturas reprodutivas que permitam a ferença significativa (P<0,05) entre os trata-

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 51


mentos bacterianos e os grupos controle. reprimir o crescimento de fungos fitopato- ringiensis. Applied Environmental
Na avaliação da ação das proteínas Cry1Ab gênicos e para produzir quitinases (Inbar e Microbiology, 69:1023-1029.
e Cry1Ac, sobre R. solani, P. grisea, F. oxys- Chet, 1991). Batista Junior, C.B.; Albino, U.B.; Martines,
porum e F. solani, não foi observada a for- Resmuska e Pria (2007) avaliaram o efei- A.M.; Saridakis, D.P.; Matsumoto, L.S.;
mação do halo de inibição de crescimento. to dos agentes antagonistas B. thuringien- Avanzi, M.A.; Andrade. G. 2002. Efei-
Nos resultados obtidos para germina- sis e Trichoderma sp. no crescimento mi- to fungistático de Bacillus thuringi-
ção dos conídios também não houve dife- celial, sobre os fungos fitopatogênicos: Scle- ensis e de outras bactérias sobre al-
rença significativa (P<0,05) entre o contro- rotium rolfsii, Diaporthe phaseolorum, guns fungos fitopatogênicos. Pesq.
le e os tratamentos com as proteínas Cry1Ab Pythium aphanidermatum., Monilinia Agropec. Bras., 37:1189-1194.
e Cry1Ac sobre os fungos citados anterior- fructicola, Sclerotinia sclerotiorum, Rhizoc- Benitez, T., Rincon, AM, Limon, MC, e có-
mente. Batista-Junior et al. (2002) testaram tonia solani. Verificaram que a bactéria B. don, AC 2004. Biocontrol mechanis-
duas cepas: B. thuringiensis kurstaki HD1, thuringiensis mostrou-se eficiente no con- ms of Trichoderma strains. Int. Mi-
produtor do cristal com atividade insetici- trole de M. fructicola, S. sclerotiorum, F. crobiologia 7:249-260.
da e B. thuringiensis 407, mutante não pro- solani. e S. rolfsii, impedindo que o fungo Bettiol, W. Seleção de microrganismos an-
dutor do cristal protéico, contra os fitopa- S. sclerotiorum formasse escleródios. O fun- tagônicos a P.oryzae para o controle
tógenos F. solani, F. oxysporum e Colleto- go Trichoderma sp., exerceu efeito no cres- da Brusone do arroz (Oryza sativa
trichum sp., concluindo que a ausência dos cimento micelial do fungo S. rolfsii. B. thu- L.). Piracicaba, 1988. 140 p. Tese
genes produtores do cristal protéico não ringiensis mostrou-se mais eficiente que (Doutorado em Fitopatologia) – Es-
interferiram no poder de degradação do Trichoderma sp. no controle biológico dos cola Superior de Agricultura Luiz de
micélio pelos isolados de B. thuringiensis fitopatógenos D. phaseolorum, P. aphani- Queiroz-Universidade de São Paulo.
estudados. dermatum, M. fructicola, S. sclerotiorum, Bettiol, W.; Ghini, R. Controle Biológico.
O efeito inibitório das cepas de B. thu- R. solani e F. solani. In: Bergamin, A. F.; Kimati, H.; Amo-
ringiensis nas estirpes dos fungos fitopato- rin, L. Manual de Fitopatologia. Prin-
gênicos pode estar relacionado com a pro- 1.5 Referências cípios e Conceitos. 3.ed. São Paulo:
dução de enzimas que podem ter ação con- Agronômica Ceres, 1995. p.717-728.
tra a parede celular fúngica, já que algu- Agrawal, A.A. 2000. Mecanisms, ecological Batista-Filho, A.; Almeida, J.E.M.; Lamas, C.
mas bactérias antagonistas de fungos fito- consequences and agricultural implica- 2001. Effect of thiamethoxam on ento-
patogênicos produzem quitinases (Asaka e tions os tri-trophic interactions. Current mopathogenic microorganisms. Neotro-
Shoda, 1996; Mavingui e Heulin, 1994). Opinion in Plant Biology 3: 329-335. pical Entomology, 30: 437-447.
Nesse contexto, Barboza-Corona et al. Almeida, J.E.M.; Batista-Filho, A.; Lamas, Batista-Filho, A.; Ramiro, Z.A.; Almeida,
(1999) selecionaram e caracterizaram enzi- C.; Leite, L.G.; Trama, M.; Sana, A.H. J.E.M; Leite, L.G.; Cintra, C.R.R.; Lamas,
mas (quitinases) de B. thuringiensis nati- 2003. Avaliação da compatibilidade de C. 2001. Manejo integrado de pragas
vos do México, concluindo que a ação si- defensivos agrícolas na conservação em soja: impactos de inseticidas sobre
nérgica entre quitinases e proteínas Cry de microrganismos entomopatogêni- inimigos naturais. Arquivos do Institu-
podem ser aplicadas no controle biológico cos no manejo de pragas do cafeeiro. to Biológico, 70: 61-67.
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Diferentes tipos de fungos e bactérias 84. nisms and chemical insecticides. In:
produzem uma grande variedade de enzi- Alves, S.B.; Moino, A.J.; Almeida, J.E.M. Burgess, H.D. and Hussey, N.W. (eds.),
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do assim, B. thuringiensis é uma bactéria mopatógenos. In: Alves, S.B. (ed.), Con- New York, Academic Press, p. 327-355.
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estudos sugerem que as quitinases de B. tibility of Aedes aegypti larvae to teme- Dissertação: Mestrado. Universidade do
thuringiensis possuem potencial biotecno- phos and Bacillus thuringiensis var is- Vale do Rio dos Sinos – São Leopoldo,
lógico contra fungos fitopatogênicos (Es- raelensis in integrated control. Revista RS. 83p.
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quitinase, purificada de B. thuringiensis to dos tratamentos fitossanitários. Dis- ensis subsp. kurstaki against gypsy
aizawai, a qual produz 66 kDa quitinase sertação: Mestrado. Universidade do moth (Lepidoptera: Lymantriidae). Bi-
extracelular, nos fungos Fusarium sp. e S. Vale do Rio dos Sinos - São Leopoldo, ological Control 29(1): 101-107.
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trando que os valores de inibição do cres- Rhizoctonia solani damping-off of and destruxins (Metarhizium anisopli-
cimento de S. rolfsii e Fusarium sp. foram tomato with Bacillus subtilis RB14. ae micotoxins) combinations on spru-
superiores e estatisticamente diferentes do Appl. Envir. Microbiol., 62:4081-4085. ce budworm (Lepidoptera: Tortricidae).
controle (11 e 24%, respectivamente). Os Barboza-Corona, J.E.; Contreras, J.C.; Ve- Journal of Invertebrate Pathology, 72:
mesmos autores não encontraram diferen- lásquez-Robledo, R.; Bautista-Justo, 262-268.
ças significativas no crescimento com a M.; Gómez-Ramírez, M.; Cruz-Cama- Casida, J.E.; Quistad, G.B. 1998. Golden age
enzima purificada, em comparação com o rillo, R.; Ibarra, J.E. 1999. Selection of insecticide research: past, present,
extrato bruto enzimático. Melent’ev et al. of chitinolytic strains of Bacillus thu- or future? Annual Review Entomology,
(2001) testaram o extrato bruto e purifica- ringiensis. Biotechnology Letters, 43: 1-16p.
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sativum. No entanto, há relatos de que al- e Ibarra, JE. 2003. Cloning, sequen- Journal of Economic Entomology, 67:
gumas cepas bacterianas apresentam uma cing, and expression of the chitina- 471-473.
relação direta entre as suas habilidades para se gene chiA74 from Bacillus thu- Das, A.C.; Chakravarty, A.; Sukul, P. and

52 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


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Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 53


TOXICIDADE DE BACILLUS THURINGIENSIS
Pesquisa EM ORGANISMOS NÃO-ALVO
Andresa Patrícia Regert Lucho Emerson Luiz Nunes Costa
Engenheira Agrônoma (UFRGS) e Mestre em Engenheiro Agrônomo (UFRGS) e Mestre e Doutor em
Biologia: Diversidade e Manejo de Vida Silvestre Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS)
(UNISINOS). nidae, Ichneumonidae e Tachinidae ocor-
Lidia Mariana Fiuza reu em lagartas recapturadas em plantas não
Diouneia Lisiane Berlitz Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em Fitotecnia –
tratadas, mantidas em condições de telado.
Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Biologia: Fitossanidade (UFRGS), Doutora em Ciências
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre Agronômicas (ENSAM-Montpellier) e Pós-Doutora em Das lagartas coletadas em áreas tratadas com
(UNISINOS). biotecnologia Vegetal (CIRAD-Montpellier). o bioinseticida, tanto em telado quanto a
campo, não foi observada emergência de
parasitóides.
Já Costa (2007), durante dois anos agrí-
colas, avaliou o efeito de inseticidas sobre
entomopatógeno B. thuringi- lógico. No caso do parasitóide, não foram os inimigos naturais de insetos-praga, por
ensis tem elevada especifici- verificadas alterações nas características bi- meio da quantificação de grupos taxonô-
dade, porém para uma utili- ológicas dos seus descendentes emergidos micos de inimigos naturais presentes antes
zação segura são necessários de lagartas infectadas com B. thuringiensis. e após a aplicação de produtos químicos e
ensaios toxicológicos com di- Segundo Stevenson & Walters (1983), biológicos em lavoura de arroz irrigado.
ferentes organismos não-alvo, embora a toxicidade de inseticidas possa Nesse estudo foram avaliados seis tratamen-
sendo nesse trabalho apresentados dados ser avaliada em condições de laboratório, tos (quatro inseticidas químicos sintéticos,
referentes à toxicidade aos inimigos natu- só é possível medir o efeito real do pestici- um inseticida à base de B. thuringiensis ai-
rais, especialmente aos parasitóides e pre- da em condições de campo, onde ocorrem zawai e testemunha sem inseticidas) e cin-
dadores de insetos, assim como às aves e as situações naturais de abrigo, proteção, co épocas de amostragem realizadas com
aos mamíferos. alternativas de escape, alimentação e sobre- rede de varredura do florescimento ao en-
vivência das espécies. Esses autores tam- chimento de grãos (prévia e aos 2, 7, 14 e
1.1 Efeitos de B. thuringiensis sobre bém destacam que as condições meteoro- 21 dias após a aplicação dos tratamentos -
predadores e parasitóides lógicas, o comportamento e o ciclo de vida DAT). Entre os inimigos naturais coletados
de cada espécie e a dose aplicada são fato- foram considerados oito subgrupos: ara-
Os inimigos naturais dos insetos são res que influenciam a toxicidade dos inse- nhas, micro-himenópteros, coleópteros,
de suma importância, pois, além de de- ticidas. odonatos, dermápteros, neurópteros, díp-
senvolverem seu papel ecológico de pre- Lucho (2004) avaliou a emergência de teros e hemípteros. No primeiro ano do
dação ou parasitismo, podem ser associa- parasitóides em lagartas de S. frugiperda estudo não foram observados efeitos signi-
dos aos métodos alternativos de controle recapturadas em arroz irrigado com e sem ficativos dos inseticidas sobre os inimigos
de pragas-alvo, através de criação massal tratamento de B. thuringiensis aizawai em naturais. No segundo ano, o inseticida lam-
em laboratórios (Gallo et al., 2002). O uso condições de telado e a campo. A emer- bdacialotrina reduziu o total de inimigos na-
de inseticidas pode causar danos diretos e gência de parasitóides das famílias Braco- turais coletados aos 2DAT. O número de
indiretos ao controle biológico natural, ao
causar a mortalidade de insetos benéficos
ou reduzir sua fonte alimentar pela morta-
lidade de insetos-praga (Shepard et al.,
1987; Wick & Freier, 2000; Berti Filho &
Ciociola, 2002). Por isso, o uso de bioinse-
ticidas que controlam as pragas com baixo
impacto sobre organismos benéficos deve
ser incentivado (Fragoso et al., 2001; De-
grande et al., 2002).
Nesse sentido, Dequech et al. (2005)
estudaram a interação entre o parasitóide
Campoletis flavicincta e B. thuringiensis
aizawai em lagartas de Spodoptera frugi-
perda em condições de laboratório. Os
autores avaliaram o consumo alimentar e
a mortalidade de lagartas parasitadas, in-
fectadas pela bactéria, e parasitadas e in-
fectadas, além da biologia dos parasitói-
des emergidos a partir de lagartas infecta-
das e não infectadas pela bactéria. O me-
nor consumo foliar e a maior taxa de mor-
talidade foram observados em lagartas afe-
tadas pelos dois agentes de controle bio-

54 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


rença na densidade de inimigos naturais
entre áreas com plantas-Bt e plantas não
transgênicas. Porém, nos 7 casos restantes
ocorreu um decréscimo nessa densidade.
No trabalho de Chen et al. (2008) fo-
ram avaliados os efeitos diretos e indire-
tos da proteína Cry1Ac de B. thuringiensis
que está presente em plantas transgênicas
de milho e algodão, sobre o parasitóide
da lagarta Plutella xilostella, Diadegma
insulare. Os autores utilizaram a planta
transgênica e a proteína proveniente de
uma formulação líquida comercial (MC),
em três tratamentos: a proteína purificada,
o produto comercial e a planta transgêni-
ca. Também avaliaram o efeito de insetici-
das a base de spinosad, indoxacarb, lamb-
da-cialotrina e cipermetrina. Em seus re-
sultados, observaram que, mais de 90% das
lagartas foram parasitadas após a ingestão
dos tratamentos, indicando que esses não
influenciam o parasitismo. Porém, o nú-
mero de D. insulare emergidos das lagar-
tas, diferiu entre o controle e o grupo tra-
tado com a formulação comercial, mas não
diferiu entre o controle e as lagartas trata-
das com a planta expressando a proteína
Figura 1. Mortalidade de camundongos CF1 submetidos aos tratamentos Cry 1Ac ou somente com a proteína puri-
intraperitoneais com Bacillus thuringiensis, ( Susp. = suspensão contendo células ficada.
e esporos; Sob. = sobrenadante da cultura; Prot. = proteína purificada; Test. = Os autores citados também demons-
testemunha tratada somente com água; Número total de indivíduos = 15 por traram que o parasitóide D. isulare foi al-
tratamento) tamente suscetível aos inseticidas comu-
mente utilizados para o controle das la-
gartas de P. xylostella, ocorrendo a morte
coleópteros predadores, representados em turais. dos mesmos após duas horas de contato.
sua maioria por Coccinellidade (“joani- Nesse contexto, Romeis et al. (2008) Sendo assim, os inseticidas usados afetam
nhas”), foi reduzido significativamente aos relatam que dados como a descrição da as populações do parasitóide e, conse-
2DAT por lambdacialotrina, carbaril, mala- cultivar, as características moleculares dos qüentemente aumentam as populações do
tiona e imidacloprido. Nos dois anos do elementos genéticos inseridos na planta, a inseto praga-alvo, no caso, P. xylostella.
estudo não foi observado efeito significati- natureza e a estabilidade da expressão pro- Estudo semelhante foi realizado por
vo de B. thuringiensis sobre o número de téica, o espectro de ação das proteínas, a Torres & Ruberson (2008) com a mesma
inimigos naturais coletados após a aplica- composição de macro e micronutrientes e proteína expressa em plantas de algodão.
ção do bioinseticida. as características morfológicas e agronômi- Os resultados desse estudo mostraram que
Em outra pesquisa, Nascimento et al. cas da planta, são exigidos pelas autorida- a proteína foi detectada em três níveis tró-
(1998) avaliaram o efeito de B. thuringien- des para a regulamentação dessas plantas. ficos avaliados, porém, os insetos preda-
sis kurstaki sobre o predador de lagartas de Os autores mostram que o milho modifica- dores e parasitas das lagartas de S. exigua
lepidópteros, Podisus nigrispinus, em labo- do com o gene expressando a proteína Cry não foram afetados quando as lagartas for-
ratório. Em seus resultados, não foi obser- 1Ab de B. thurigniensis, ativa a insetos da ma alimentadas com algodão transgênico.
vada a presença de esporos ou células ve- ordem Lepidoptera, não afeta insetos de Um caso bem polêmico entre a comu-
getativas do entomopatógeno na hemolin- outras ordens. Ou seja, as proteínas de B. nidade científica, foi o trabalho de Losley
fa do predador, apenas no intestino médio thuringiensis são altamente específicas, não et al. (1999) que mostrou que o milho ge-
e nas fezes. Os autores relatam que, em la- atingindo artrópodes não alvos. neticamente modificado com a proteína
boratório, são utilizadas altas dosagens de Na revisão de Fontes et al.(2002) são Cry1Ab de B. thuringiensis, afetou severa-
biopesticida e oferecido apenas uma alter- discutidos princípios e questões ecológicas, mente a população da borboleta monar-
nativa alimentar e que, em campo, o pre- impacto ambiental e efeitos de plantas ge- ca, Danaus plexippus. Em seu trabalho foi
dador tem alternativas de alimentação, não neticamente modificadas no ambiente. Em comparado a alimentação, o crescimento
dependendo somente de uma presa infec- relação aos inimigos naturais, os autores e a mortalidade de lagartas que se alimen-
tada. relatam a existência de fatores importantes tavam de plantas com pólen Bt, com pó-
Além dos produtos formulados a base em relação às plantas, como o ciclo de vida len de milho não modificado e plantas sem
de B. thuringiensis, atualmente as pesqui- (anual ou perene) que difere na composi- pólen. O resultado apresentou sobrevivên-
sas na área biotecnológica visam a transfor- ção das comunidades de artrópodes asso- cia de 56% com milho-Bt e 100% de so-
mação genética de plantas com os genes ciados a essas plantas. Dos 41 trabalhos ava- brevivência com pólen normal e sem pó-
cry de B. thuringiensis para conferir a re- liados pelos autores, 20 foram conduzidos len.
sistência dessas plantas aos insetos-praga. em laboratório e desses, 14 não mostraram Entretanto novas pesquisas foram rea-
Plantas de milho, algodão e batata transgê- efeito sobre inimigos naturais, quando uti- lizadas posteriormente como Stanley-Horn,
nicos têm sido comercializados (Shelton et lizadas plantas modificadas e não modifi- et al. (2001) que avaliou 6 híbridos de B.
al. 2002), porém, os dados de O’Callaghan cadas. No restante (6 trabalhos) não foram thuringiensis em quatro cidades diferen-
et al. (2005) revelam que não foram detec- observados efeitos em alguns inimigos na- tes (EUA) divididos em duas etapas (na
tados efeitos dessas plantas em insetos be- turais. E em 14 de 21 trabalhos avaliados borda e na parte interna das lavouras) fren-
néficos, como polinizadores e inimigos na- em campo, os autores não mostraram dife- te à D. plexippus. As conclusões dos auto-

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 55


res fornecem evidências de que a quanti- duas áreas, ocorrendo uma redução de 30% dos via oral com 109 esporos/dia, por 730
dade de pólen e a expressão de Cry1Ab no no tamanho desses na área tratada com a dias, também não apresentaram nenhuma
pólen predizem um impacto na alimenta- bactéria. Porém esses dados podem estar reação.
ção das lagartas da monarca, porém isso relacionado ao fato de que, com a morte Também em ensaios toxicológicos, Ber-
ocorre em lagartas do 1º instar, sendo que das lagartas devido à ingestão do patóge- litz et al. (2006) avaliaram o efeito da sus-
não ocorrem diferenças significativas da so- no, os pintos passaram a se alimentar prin- pensão de células e esporos de B. thuringi-
brevivência da monarca nas regiões com cipalmente de formigas e estas tem um bai- ensis aizawai proveniente do produto co-
milho-Bt e milho não transgênico. Além xo índice de proteínas em comparação com mercial Xentari e B. thuringiensis thuringi-
disso, os autores identificaram a mortalida- às lagartas. Isso pode ser determinante para ensis (H1), em ratos Wistar. Os autores ava-
de de lagartas poucas horas após a alimen- o decréscimo no tamanho dos pintos, uma liaram o conteúdo estomacal e as fezes em
tação em áreas com milho não transgênico vez que a dieta alimentar teve seu teor de SDS-PAGE, onde os resultados sugerem que
pulverizados com λ-cialotrina. A sobrevivên- proteínas também reduzido. as proteínas são degradadas no estômago
cia e o crescimento foram afetados também dos animais. Os estômagos foram avaliados
em áreas próximas ao local. Entretanto pes- 1.3 Efeitos de B. thuringiensis em estereomicroscópio (40x) não apresen-
quisas devem continuar sendo realizadas sobre mamíferos tando modificações superficiais, como pi-
para entender o impacto do milho não trans- pocas vermelhas ou raias hemorrágicas, em
gênico sendo que é relativamente de baixa Pequenos mamíferos, como ratos e ca- relação ao grupo controle. Os autores con-
toxicidade a borboletas monarca. mundongos, também estão associados às cluíram que as proteínas de B. thuringien-
Apesar desses dados o conhecimento a áreas agrícolas uma vez que esses animais sis não afetam os ratos quando administra-
respeito da influência de novas tecnologias podem se alimentar dos grãos das culturas. das oralmente.
seja para a produção de biopesticidas ou Então também existem pesquisas que ava- Em outra pesquisa, Berlitz (2006) ava-
para a transgenia, ainda são carentes de liam o possível efeito do entomopatógeno liou a suspensão e as proteínas purificadas
informação. Entretanto, os estudos realiza- nesses mamíferos, sendo que a bactéria tam- de dois novos isolados bacterianos, em ca-
dos até então indicam que efeitos nocivos bém pode produzir toxinas ativas a esses mundongos CF1, via oral e intraperitoneal,
em organismos não-alvo verificados em la- animais. divididos em grupos de 5 animais e três re-
boratório são raramente detectados no am- Na área da saúde, os trabalhos de Pra- petições. Os dados dos tratamentos, via oral,
biente, provavelmente porque a quantida- sad & Shethna (1975) sugerem que as pro- não causaram mortalidade dos camundon-
de de produto utilizada em laboratório é teínas de B. thuringiensis têm atividade gos, porém nas administrações intraperito-
superior àquela utilizada e recomendada em antitumoral em sarcoma Yoshida em ratos, neais os camundongos morreram a partir
campo. além de acentuarem a resposta imune de de 6horas após a aplicação dos tratamen-
ovelhas. Yamashita et al. (2000), também tos, quando aplicada a suspensão bacteria-
1.2 Efeitos de demonstram efeito citocida em células de na contendo células e esporos (Figura 1).
B. thuringiensis sobre aves leucemia, em ensaios in vitro. Apesar desses resultados, deve-se sali-
Em relação a humanos, a revisão de Si- entar que injeções intraperitoneais não são
Um grupo de predadores de lagartas, egel (2001) apresenta dados em que o pro- uma via de acesso natural do entomopató-
os pássaros, também deve ser avaliado em duto Thuricide (B. thuringiensis thuringi- geno nos mamíferos. Essa mortalidade tam-
relação ao uso de biopesticidas ou plantas ensis) foi ingerido (100mg) e inalado bém não deve estar associada à thuringien-
geneticamente modificadas. Porém existem (100mg) por 18 pessoas, durante 5 dias, e sina, uma proteína tóxica a vertebrados que
poucos dados na literatura a respeito desse esses não apresentaram nenhuma reação é produzida pelo entomopatógeno, pois
assunto. Os autores Sopuck et al. (2002) decorrente do microrganismo. Além dessa essa toxina está presente no sobrenadante
relatam a utilização do produto comercial reportagem, o trabalho apresenta alguns da cultura, e esse tratamento não causou a
Foray 48B a base de B. thuringiensis. kurs- dados sobre isolados de B. thuringiensis que mortalidade dos animais.
taki, para o controle de Lymantria dispar e foram re-isolados de queimaduras ou feri- O tratamento via oral, não causou rea-
avaliaram a resposta de pássaros associa- das de pessoas, entretanto foi averiguado ções nos camundongos. Nesse sentido, Betz
dos ao sul da Ilha de Vancouver, no Cana- que a água utilizada para a limpeza desses et al. (2000) revelam que as proteínas Cry1,
dá. Em seus resultados não observaram di- ferimentos estava contaminada. Além dis- Cry2 e Cry3 são degradadas em 30 segun-
ferença na abundância relativa de pássaros so, o autor relata que o isolado pode se dos após a ingestão, em ensaios in vitro,
nas áreas tratadas e não tratadas com o bi- desenvolver nesses locais feridos quando o resultando em proteínas de 2 kDa. Também,
opesticida, entre os anos de 1999 e 2000, sistema imune não está respondendo de os dados de Vasquez-Padrón et al. (2000) e
indicando que o tratamento não influencia forma adequada ao ferimento, mas não cau- Moreno-Fierros et al. (2000) revelaram que
na presença dos mesmos. sa nenhuma reação. camundongos Balb/c apresentaram eleva-
Já Norton et al. (2001) avaliaram o efei- Betz et al. (2000) relatam que B. thu- da produção de anticorpos IgA, seguidos
to secundário da mesma subespécie de B. ringiensis kurstaki foi administrado em hu- de IgG e IgM, após a administração oral,
thuringiensis citada acima porém proveni- manos voluntários durante 3 dias, na quan- retal e intraperitoneal da proteína Cry1Ac,
ente do produto Thuricide, em aves da es- tidade de 1000mg/pessoa ou 1x1010 espo- mostrando uma eficiente resposta imune
pécie Dendragapus canadensis. Os auto- ros/mL, e não apresentaram sintomas de desses animais.
res citam essa ave como um herbívoro pri- toxicidade, nem culturas de células bacteri- Como já comentado anteriormente, as
mário, porém os pintos, em suas primeiras anas nas amostras de sangue avaliadas. Os preocupações têm sido em torno dos efei-
duas semanas de vida, são essencialmente autores relatam a presença das proteínas Cry tos das plantas geneticamente modificadas
insetívoros. Lattner (1982) descreve a ali- 1Aa, Cry1Ab, Cry1Ac e Cry 2Aa no isolado com genes de B. thuringiensis em seus con-
mentação dessa ave como sendo cerca de testado. sumidores. Porém, Azevedo & Araújo (2003)
64% de lagartas, seguido de gafanhotos Diferentes autores relatam os resultados mostram a ausência de efeitos tóxicos, mu-
(10%), formigas (7%) e outras variedades de suas pesquisas com ratos tratados com tagênicos, teratogênicos ou clastogênicos
de invertebrados e partes de plantas. O tra- B. thuringiensis. No caso de Bishop et al. dessas plantas. Betz et al. (2000) também
balho de Norton et al. (2001) teve como (1999), a aplicação oral de 5.1010 esporos/ relatam que as proteínas Cry de B. thurin-
objetivo avaliar os itens da dieta e o cresci- dia de B. thuringiensis thuringiensis e B. giensis não são tóxicas em contato direto,
mento de D. canadensis em áreas tratadas thuringiensis israelensis, em ratos não mos- sendo que a exposição de animais não-alvo
e não tratadas com B. thuringiensis kurs- trou diferença significativa no peso corpo- é extremamente baixa e a presença dessas
taki. Os resultados indicam que o cresci- ral dos animais tratados e não tratados. Nos proteínas nos tecidos vegetais também ocor-
mento dos pintos foi afetado em relação às dados de Siegel (2001), ratos foram trata- re em baixas concentrações. Romeis et al.

56 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


(2008) também comentam que os testes la- Bento, J.M.S. Controle biológico no tance on nontarget organismos. Annual
boratoriais utilizando essas plantas, são con- Brasil: parasitóides e predadores. São Review of Entomology. 50: 271-292.
duzidos com elevadas concentrações da Paulo: Manole, 2002. Cap. 5, p.71-93. Prasad S S S V, Shethna Y I 1975. Enhance-
proteína purificada, muito acima daquelas Dequech, S.T.B.; Silva, R.F.P. da; Fiuza, L.M. ment of immune response by the pro-
concentrações encontradas nos tecidos das 2005.Interação entre Spodoptera frugi- teinaceous crystal of Bacillus thuringi-
plantas. perda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noc- ensis. Biochemistry Biophisic Research
Apesar desses dados, periodicamente tuidae), Campoletis flavicincta (Ashme- Comm 62:517-521.
estão sendo lançados produtos comerciais ad) (Hymenoptera: Ichneumonidae) e Romeis, J.; Bartsch, D.; Bigker, F.; Candolfi,
à base de B. thuringiensis e que, para che- Bacillus thuringiensis aizawai, em la- M.P.; Gielkens, M.M.C.; Hartley, S.E.;
garem ao mercado devem passar por dife- boratório. Neotropical Entomology. Hellmich, R.L.; Huesing, J.E.; Jepson,
rentes análises para confirmar a não toxici- 34(6): 937-944. P.C.; Layton, R.; Quemada, H.; Ray-
dade em organismos não-alvo. O mesmo Fontes, E.M.G., Pires, C.S.S., Sujii, E.R., Pa- bound, A.; Rose, R.I.; Schiemann,J.; Se-
ocorre com as plantas geneticamente mo- nizzi, A.R., 2002. The environmental ars, M.K.; Shelton, A.M.; Sweet, J.; Vai-
dificadas que são testadas em diferentes effects of genetically modified crops tuzis, z.; Wolf, J.D. 2008. Assessment of
organismos para garantir a sua segurança. resistant to insects. Neotropical Ento- risk of insect-resistant transgenic crops
Nesse sentido, a Lei de Biossegurança nº mology 31(4), 497-513. to nontarget arthropods. Nature Biotec-
11.105, estabelece as normas de segurança Fragoso, D.B.; Jusselino-Filho, P.; Guedes, nology 26(2): 203-208.
e os mecanismos de fiscalização de ativida- R.N.; Proque, R. 2001. Seletividade de Shepard, B.M.; Barrion, A.T.; Litsinger, J.A. Fri-
des que envolvam organismos geneticamen- inseticidas a vespas predadoras de Leu- ends of the rice farmer: helpful insects,
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Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 57


PRODUTOS DE BACILLUS THURINGIENSIS:
Pesquisa REGISTRO E COMERCIALIZAÇÃO

onsiderando os biopestici- gras dos químicos sintéticos, cujos


das, aqui serão apresenta- órgãos federais responsáveis pela ava-
dos aspectos básicos rela- liação e registro são Ministério da Agri-
cionados às avaliações to- cultura, Pecuária e Abastecimento
xicológicas dos produtos (MAPA), Agência Nacional de Vigilân-
formulados à base de B. thuringien- cia Sanitária (ANVISA) e Instituto Bra-
sis, assim como os procedimentos re- sileiro do Meio Ambiente e dos Re-
lacionados ao registro desses produ- cursos Naturais Renováveis (IBAMA),
tos comerciais, os quais seguem a lei os quais prometem no atual contexto
base dos agrotóxicos. priorizar os biopesticidas em relação
Atualmente aproximadamente 98% aos agrotóxicos convencionais, facili-
dos biopesticidas, utilizados na agri- tando assim o registro dos produtos
cultura e na saúde, correspondem às comprovadamente menos agressivos
formulações de B. thuringiensis (Sch- aos organismos não-alvo e ao ambi-
nepf et al., 1998; Polanczyk, 2003). ente.
No início desse milênio as vendas
desses produtos foram de aproxima- 1.1 Legislação e Registro
damente US$ 2 milhões. Em alguns de produtos
países, como no Brasil, o acesso a es-
ses produtos ainda é limitado, pois os A utilização de biopesticidas, as-
custos das formulações são elevados sim como dos demais agrotóxicos ba-
e as multinacionais que os comerci- seia-se na relação “riscos x benefíci-
alizam não mantém uma distribuição os” que requer ensaios, os quais reve-
regular nas diferentes regiões do país. lam a segurança ao homem e ao meio
Além desses problemas soma-se a ambiente. Sendo assim, a legislação
baixa persistência de alguns produ- deve assegurar a sociedade que o bi-
tos e a falta de informações dos pro- opesticida autorizado para comercia-
dutores sobre o potencial e as vanta- lização e aplicação no controle bioló-
gens dos biopesticidas. gico foi adequadamente avaliado
Lidia Mariana Fiúza No Brasil, a prospecção de ento- quanto aos parâmetros agronômicos,
Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre mopatógenos bacterianos é realizada saúde pública e meio ambiente (Mea-
em Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS),
Doutora em Ciências Agronômicas
em laboratórios de pesquisa ligados à dows, 1993; Alves, 1998; Gallo et al.,
(ENSAM-Montpellier) e Pós-Doutora em agricultura e saúde pública, como: 2002).
biotecnologia Vegetal (CIRAD- Embrapa, Fiocruz, Universidades Pú- O registro de produtos à base de
Montpellier). blicas e Privadas. Essas mesmas insti- B. thuringiensis segue a “Lei dos Agro-
tuições têm desenvolvido os produ- tóxicos”, cuja legislação básica é a Lei
Diounéia Liziane Berlitz tos ou efetuado convênio com Em- n. 7.802 de 11 de julho de 1989, onde
Bióloga (UNISINOS) e Mestre em
presas Particulares. Os registros dos os produtos são avaliados pelo Minis-
Biologia: Diversidade e Manejo de Vida
Silvestre (UNISINOS).
produtos à base de B. thuringiensis tério da Agricultura e Ministério da
seguem basicamente as mesmas re- Saúde quanto aos seguintes aspectos:

58 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


Tabela 1. Produtos comerciais de Bacillus thuringiensis para controle de pragas agrícolas

Produtos Empresas B. thuringiensis (Bt) Insetos-alvo


Dipel Abbott Bt kurstaki lepidópteros
Thuricide Sandoz Bt kurstaki lepidópteros
Agree Mitsui Bt aizawai lepidopteros
Bactur Milenia Agrociências Bt kurstaki lepidópteros
Ecotech Pro Bayer Bt kurstaki lepidópteros
Bactospeine Solvay Bt kurstaki lepidópteros
Javelin Sandoz Bt kurstaki lepidópteros
Foray Novo-Nordisk Bt kurstaki lepidópteros
Biobit Novo-Nodisk Bt kurstaki lepidópteros
Foil/Condor Ecogen Bt kurstaki lepidópteros
Delfin Sandoz Bt kurstaki lepidópteros
Cutlass Ecogen Bt kurstaki lepidópteros
Larvo Bt Fermone Bt kurstaki lepidópteros
Nubilacid Radonja Bt kurstaki lepidópteros
MVP Mycogen Bt kurstaki lepidópteros
Bac-control Agricontrol Bt kurstaki lepidópteros
XenTari Abbott Bt aizawai lepidópteros
M-One Mycogen Bt san diego Bt tenebrionis coleópteros
Di-Terra Abbott Bt san diego Bt tenebrionis coleópteros
Trident Sandoz Bt san diego Bt tenebrionis coleópteros
Novodor Novo Nordisk Bt san diego Bt tenebrionis coleópteros
M-One Plus Mycogen Bt san diego Bt tenebrionis (empacotadas) coleópteros
Foil Ecogen Bt (recombinante) coleópteros

pesquisas; experimentação; produção; 1999) e o seu complemento editado em colas. Junto ao MAPA são determina-
embalagem e rotulagem; transporte; ar- 2003. dos os “períodos de carência” dos pro-
mazenamento; comercialização; propa- O Ministério da Saúde baseia-se 26 dutos, que fazem referência ao interva-
ganda comercial; utilização; importação; ensaios de exposição aguda em animais lo de segurança.
exportação; destino final de resíduos e de laboratório, cujos dados são extra- O Ministério do Meio Ambiente re-
embalagens; registro; classificação; con- polados para o homem, estabelecendo quer 20 ensaios ecotoxicológicos, 36
trole; inspeção e fiscalização de produ- assim 4 Classes Toxicológicas aos agro- estudos de características físico-quími-
tos. tóxicos: cas, 4 testes de metabolismo e degra-
A “Lei dos Agrotóxicos” foi regula- dação. Em seguida o produto é classifi-
mentada pelos Decretos n. 98.816, de • Classe I - Extremamente tóxi- cado quanto ao seu potencial de peri-
11 de janeiro de 1990 e Dec. 4.074 de cos - rotulagem vermelha culosidade no meio ambiente:
04 de janeiro de 2002, sendo que atual- • Classe II – Altamente tóxico -
mente para registro de um biopesticida rotulagem amarela • Classe I – Produto altamente
no Brasil estão envolvidos os seguintes • Classe III – Moderadamente tó- perigoso
ministérios: xico – rotulagem azul - Bt • Classe II – Produto muito peri-
• Classe IV – Pouco tóxico – ro- goso
• MAPA: avaliação dos aspectos tulagem verde - Bt • Classe III – Produto perigoso -
agronômicos. Bt
• ANVISA: avaliação da toxicolo- No caso das formulações de B. thu- • Classe IV – Produto pouco pe-
gia ao homem, incluindo as aná- ringiensis, essas se encontram predo- rigoso - Bt
lises de resíduos em alimentos. minantemente distribuídas entre as clas-
• IBAMA: avaliação das interações ses III e IV, as quais se classificam como Como anteriormente, nesse caso os
dos agrotóxicos com o meio am- moderadamente ou pouco tóxicas. Es- produtos de B. thuringiensis se enqua-
biente e seus componentes bióti- sas classes toxicológicas referem-se sem- dram como perigosos ou pouco peri-
cos. pre a manipulação dos produtos pelos gosos ao meio ambiente. Os dados que
fabricantes, transportadores, aplicado- competem ao IBAMA envolvem os as-
Ao Ministério da Agricultura com- res e outros. pectos: físico-químicos que revelam a
petem basicamente as determinações Também compete a ANVISA o esta- identidade da molécula do biopestici-
sobre as pragas a serem controladas, belecimento de “tolerância” que se re- da; ecotoxicológicos que englobam es-
assim como as dosagens e o número fere aos limites máximos dos resíduos, tudos com organismos não alvos (abe-
de aplicações dos produtos, cujos da- os quais são avaliados em estudos de lhas, minhocas, microcrustáceos, peixes,
dos podem ser consultados no Compên- exposição subcrônica e crônica e da- aves, microrganismos do solo e outros);
dio de Defensivos Agrícolas (Andrei, dos desses resíduos nos produtos agrí- comportamento no meio ambiente que

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 59


avalia a lixiviação, mobilidade no ção em escala mundial contra dípteros, FEALQ, 1163 p.
solo e bioconcentração nas cadeias especialmente os vetores de doenças ARMSTRONG, J.L.; ROHRMANN, G.F.
tróficas, entre outros. humanas como Aedes aegypti, destacam- & BEAUDREAU, G.S. 1985. Del-
Nos estudos toxicológicos dos bi- se os seguintes produtos (Thomas e ta-endotoxinas of Bacillus thu-
opesticidas podem ser avaliados so- Ellar, 1983; Armstrong et al., 1985; Thi- ringiensis subspecies israelen-
mente o ingrediente ativo ou a for- ery et al., 1996; Andrade, 2008): sis. Journal Bacteriology 161:
mulação que se deseja registrar, po- 39-46.
dendo ambas as formas serem avali- • Vectobac, Skeetal, Bactimos ENTWISTLE P. F., CORY J.S., BAILEY
adas simultaneamente. Após as aná- (Abbot) M.J. & HIGGS S. 1993. Bacillus
lises requeridas pela ANVISA e IBA- • Teknar (Sandoz) thuringiensis, an environmental
MA, é o MAPA quem registra a for- • Aquabac (Becker Microbials) biopesticide : theory and practi-
mulação do produto, publicando a • LarvX SG (Meridian Precision ce. John Wiley & Sons, New
decisão no Diário Oficial da União, Realease Technologies) York, USA, 311p.
com validade nacional e tempo in- • Biotouch (Zohar Dalia) GALLO, D. (in memoriam); NAKA-
determinado (Gallo et al.,2002). • Culinex (Culinex Gmbh) NO, O.; NETO, S.S.; CARVALHO,
• Bacticide( Biotech International R.P.L.; BAPTISTA, G.C.; BERTI
1.2 Produtos comerciais Ltd) FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI,
à base de B. thuringiensis • Bactivec (Labiofam) R.A. ; ALVES, S.B.; VENDRAMIM,
• Bt Horus SC (Bthek) (http:// J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES,
Entre os biopesticidas, a base de www.bthek.com.br) J.R.S.; OMOTO, C. 2002. Entomo-
B. thuringiensis (Entwistle et al, 1993; logia Agrícola. Piracicaba, SP.
Schnepf et al., 1998), apresentados Os mesmos autores também menci- FEALQ, 920 p.
na Tabela 1, alguns se destacam no onam algumas formulações comerciais MEADOWS, M.P. 1993. Bacillus thu-
controle biológico de pragas agríco- de B. sphaericus para o controle de lar- ringiensis in the Environment:
las por serem utilizados há várias vas de Culex pipiens, como: Ecology and Risk Assessment. p.
décadas, levando atualmente esse 193-213. In.: ENTWISTLE P. (ed.).
entomopatógeno a quase totalidade • Spherimos e Vectolex (Abbot) Bacillus thuringiensis, An Envi-
do mercado dos pesticidas microbia- • Sphericide (Biotech Internatio- ronmental Biopesticide : Theory
nos. nal Ltda) and Practice. John Wiley & Sons,
B. thuringiensis é um importante • Spicbiomoss (Turicorin Alkali New York, USA.
agente de controle de insetos-praga, Chemicals and Fertilisers Ltda). POLANCZYK, R.A.; MARTINELLI, S.;
principalmente para lepidópteros e OMOTO, C.; ALVES, S.B. 2003.
coleópteros, porque seu ingrediente Apesar de haver um número signifi- Bacillus thuringiensis no manejo
ativo tóxico, representado por pro- cativo de produtos à base de B. thurin- integrado de pragas. Revista Bio-
teínas Cry, pode ser considerado ató- giensis, ainda há um longo percurso tecnologia Ciência e Desenvolvi-
xico aos vertebrados e aos insetos para que sejam atingidas a maioria das mento, 31: 18-27.
não-alvo (Siegel, 2001). Por outro ordens de insetos-praga de importân- SCHNEPF, E.; CRICKMORE, N.; VAN-
lado, as formulações comerciais de cia agrícola e vetores de doenças hu- RIE, J; LERECLUS, D.; BAUM, J.;
B. thuringiensis apresentam uma es- manas. Enquanto mais pesquisas vêm FEITELSON, J.; ZEIGLER, D.R. &
tabilidade limitada a campo, além de sendo desenvolvidas nessa área, devem DEAN, D.H. 1998. Bacillus thu-
apresentarem um período de aplica- ser priorizados os biopesticidas já re- ringiensis and its Pesticidal Crys-
ção crítico devido à redução da sus- gistrados e comercializados para o con- tal Proteins. Microbiol. Mol. Biol.
cetibilidade com o desenvolvimento trole de insetos a fim de reduzir a con- Rev., v. 62, p. 775-806.
larval dos insetos. taminação ambiental causada pelos in- SIEGEL, J. P. 2001. The mammalian
Para complementar e manter atu- seticidas químicos. safety of Bacillus thuringiensis
alizadas essas informações recomen- based insecticides. J. Invertebr.
da-se a revisão de alguns sites que 1.3 Referências Pathol. 77: 13-21.
indicados a seguir: THIERY, I., BACK, C.; BARBAZAN,
ANDRADE, C.F.S. 2008. Controle Bioló- Ph.; SINÈGRE, G. 1996. Applica-
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Nacional de Defesa) Produtos a Base de Bacillus thurin- de B. sphaericus dans la démous-
- www.epa.gov (EPA – Environ- giensis var. israelensis Artigos Téc- tication et la lutte contre les vec-
mental Protection Agency) nicos - Unicamp, Instituto de Biolo- teurs de maladies tropicales.In :
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- www.ibama.gov.br 2008. Site Ecologia Aplicada, 19p. Les bactéries pathogènes
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Quanto às formulações de B. thu- ALVES, S.B. 1998. Controle microbiano vitro and in vivo. Journal of Cell
ringiensis israelensis e comercializa- de insetos. 2 ª ed. Piracicaba, SP. Science 60:181-197.

60 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 61
PLANTAS TRANSGÊNICAS QUE SINTETIZAM
PLANTAS
Pesquisa
TOXINAS DE BACILLUS THURINGIENSIS E OUTRAS

Lidia Mariana Fiúza Laura Massochin Nunes Pinto


Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em Fitotecnia – Bióloga (PUCRS) e Mestre e Doutoranda em
Fitossanidade (UFRGS), Doutora em Ciências Agronômicas Biologia: Diversidade e Manejo de Vida Silvestre
(ENSAM-Montpellier) e Pós-Doutora em biotecnologia (UNISINOS).
Vegetal (CIRAD-Montpellier).

o contexto das aplicações vem sendo considerada uma alternativa re- to várias modificações têm sido testadas
biotecnológicas do ento- levante junto aos métodos de controle de para aumentar a eficiência de expressão
mopatógeno B. thuringi- insetos-praga das plantas de interesse eco- destes genes, como adaptar os códons pre-
ensis, aqui se encontram nômico, onde se destacam as plantas-Bt ferenciais de bactérias para códons prefe-
dados bibliográficos sobre resistentes a diversas ordens de insetos, renciais de plantas e/ou aumentar o con-
a transformação genética principalmente aos lepidópteros e coleóp- teúdo de G/C nas seqüências codificantes
de plantas, com genes de teros. (Perlak et al., 1991), retirada de sítios de
B. thuringiensis e outros, que conferem splicing, modificações dos sinais de poli-
resistência ou tolerância das plantas hos- 1.1 Genes de adenilação dentro da região codificante
pedeiras aos insetos-praga. As espécies ve- B. thuringiensis em plantas (Koziel et al., 1993), inserção de íntrons
getais apresentam naturalmente uma re- na região 5’ da seqüência não traduzida
sistência aos insetos fitófagos, diferenci- B. thuringiensis apresenta um geno- (Jouanin et al., 1998) bem como a inser-
ando assim os grupos de pragas em fun- ma de 2,4 a 5,7 milhões de pares de ba- ção de genes nativos em cloroplastos ini-
ção das plantas hospedeiras. A resistên- ses, com elementos extracromossômicos cialmente restrita a tabaco (McBride et al.,
cia vegetal está baseada em vários meca- lineares ou circulares (Carlson et al., 1994). 1995).
nismos de defesa, incluindo uma gama Os genes cry estão localizados em plas- Genes parcialmente ou totalmente sin-
de metabólitos secundários nocivos pro- mídios, sendo esses responsáveis pela sín- téticos têm sido construídos, nestes genes
duzidos pelas plantas. A biotecnologia ve- tese de diferentes proteínas inseticidas, a seqüência de nucleotídeo é modificada
getal, através do desenvolvimento de téc- cuja clonagem e caracterização desses sem a troca da seqüência de aminoácido,
nicas de biologia celular e molecular de genes em 1981 (Schnepf & Whiteley, 1981) a expressão destes genes em plantas au-
vegetais superiores oferece novas possi- revelou novas perspectivas de aplicação mentou significativamente (de menos de
bilidades ao melhoramento de plantas cul- do entomopatógeno. Entre essas se encon- 0,001% de proteína solúvel na folha para
tivadas, facilitando a obtenção de plantas tra a transgenia que permite introduzir os até 1%), sendo os genes totalmente sinté-
resistentes ao ataque dos insetos. A trans- genes de B. thuringiensis codificadores das ticos os mais eficientes em testes de cam-
formação genética e a regeneração in vi- toxinas nos genomas dos vegetais, permi- po (Jouanin et al., 1998).
tro de plantas, somadas à disponibiliza- tindo a expressão contínua das proteínas Os estudos iniciais se basearam em
ção de genes de interesse agronômico, em todos os tecidos da planta e atingin- plantas como tabaco e tomate (Barton et
destinados a introdução em plantas, têm do, assim, apenas os insetos-praga que se al., 1987; Fischhoff et al., 1987; Vaeck et
permitido a geração de plantas transgêni- alimentam dos tecidos (de Maagd et al., al., 1987) devido às facilidades de trans-
cas com características específicas, sem o 1999). A primeira geração de plantas trans- formação, cultivo em casa de vegetação e
rompimento de combinações genéticas já gênicas resistentes a insetos foi desenvol- crescimento rápido. Vários genes quimé-
selecionadas pelos programas convenci- vida com o uso de genes codificadores de ricos contendo um gene promotor de ori-
onais de melhoramento genético de plan- proteínas inseticidas de B. thuringiensis gem vegetal; a seqüência completa do gene
tas cultivadas. A transformação de plan- (Fischhoff, 1987; Vaeck et al., 1987). cry e uma região de poliadenilação foram
tas com genes de origem microbiana, ve- Os genes cry de B. thuringiensis são introduzidos em tabaco e tomate, porém
getal e animal, os quais codificam especi- talvez os exemplos mais conhecidos de nenhuma expressão foi detectada em ta-
ficamente toxinas com efeito inseticida, genes exógenos para os quais tem sido baco e níveis muito baixos foram obser-
difícil obter um nível satis- vados em tomate (Perlak et al., 2001).
fatório de expressão em A truncagem da seqüência codificadora
plantas transgênicas (Diehn do gene cry por eliminação da metade 3’
et al.,1996). A baixa expres- desta seqüência aumentou a expressão
são dos genes de B. thurin- para níveis detectáveis de proteína e mRNA
giensis em plantas tem sido (Estruch et al., 1997). Os primeiros testes
associada à instabilidade de campo com versões truncadas do gene
das moléculas de mRNA, cry foram eficientes no controle de Heli-
uma característica ampla- coverpa zea no caso do tomate (Perlak &
mente observada da expres- Fischhoff, 1993), porém não no controle
são destes genes em plan- de Heliothis virescens no caso do algodão
tas é o pouco ou nenhum (Jenkins et al., 1991). Os resultados mais
acúmulo de mRNA mesmo efetivos foram obtidos utilizando genes sin-
quando sob controle de téticos (Perlak et al., 1990; Perlak et al.,
promotores fortes. Para tan- 1991; Van der Salm et al., 1994).
62 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38
Tabela 1. Genes de B. thuringiensis utilizados na engenharia genética de plantas

Plantas Genes Insetos-Alvo Referências

Álamo cry1Aa Lymantria dispar (L.) McCown et al. (1991)


cry3Aa Chrysomela tremulae F. Cornu et al. (1996)
Alfafa cry1Ca Spodoptera litoralis (Boiusduval) Sthrizhov et al. (1996)
Algodão cry1Ab Heliothis virescens, Helicoverpa zea Perlak et al. (1990)
cry1Ac e cry2Ab Spodoptera exigua, Pseudoplusia includens (Walker) Adamczyk et al. (2001)
cry1F e cry1Ac Helicoverpa zea, Heliothis virescens, Pectinophora gossypiella, Estigmene EPA (2008)
acrea, Bucculatrix thurberiella, Pseudoplusia includens, Spodoptera
exigua, Spodoptera frugiperda, Spodoptera ornithogalli, Ostrinia
nubilalis
cry1Ab e Vip3Aa - EPA (2008)
cry1Ac lepidópteros USDA (2008)
Amendoim cry1Ac Elasmopalpus lignosellus Singsit et al. (1997)
Arroz cry1Aa Chilo suppressalis Breitler et al. (2004)
cry1Ab Cnaphalocrocis medinalis, Chilo suppressalis, Scirpophaga Shu et al. (2000), Ye et al. (2003), Wunn et al.
incertulas,Cnaphalocrocis medinalis, Herpitogramma licarisalis; (1996), Datta et al. (1998), Ghareyazie et al.
Sesamia inferens, Naranga anescens, Mycalesis gotama, Parnara (1997), Alam et al. (1998), Wu et al. (1997),
guttata. Husnain et al. (2002)
cry1Ac Chilo suppressalis, Nilaparrata lugens, Scirpophaga incertulas Loc et al. (2002), Khanna e Raina (2002),
Nayak et al. (1997), Han et al. (2007)
cry1Ab e cry1Ac Chilo suppressalis, Scirpophaga incertulas, Ostrinia nubilialis, Cheng et al. (1998), Ahmad et
Cnaphalocrocis medinalis al. (2002), Tu et al. (2000)
cry1B Chilo suppressalis Breitler et al. (2000 e 2001)
cry1C Scirpophaga incertulas, Cnaphalocrocis medinalis Tang et al. (2006)
cry2A Scirpophaga incertulas,Cnaphalocrocis medinalis Maqbool et al. (1998), Chen et al. (2005)
Batata cry1Ab Phthorimaea operculella (Zeller) Peferoen et al. (1992), Rico et al. (1998)
cry1Ab Heliothis armigera (Hübner) Chakrabarti et al. (2000)
cry3Aa Leptinotarsa decemlineata Adang et al. (1993), Perlak et al. (1993),
Coombs et al. (2002)
Berinjela cry1Ab Leucinodes orbonalis Guenée Kumar et al. (1998)
cry3A Leptinotarsa decemlineata (Say) Jelenkovic et al. (1998)
cry3B Leptinotarsa decemlineata Iannacone et al. (1997)
Brócolis cry1C Plutella xylostella (L.) Zhao et al. (2001)
Canola cry1Ac Thrichoplusia ni (Hübner), Spodoptera exigua (Hübner), Heliothis Stewart et al. (1996b)
virescens (Fabr.), Helicoverpa zea (Boddie)
cry1Ac Plutella xylostella Halfhill et al. (2001)
Fumo cry1Aa Manduca sexta (L.) Barton et al. (1987)
cry1Ab Manduca sexta Vaeck et al. (1987)
cry1Ab e cpTI Manduca sexta Perlak et al. (1991)
cry1Ab Manduca sexta Williams et al. (1993)
cry1Ac Heliothis virescens, Helicoverpa zea, Spodoptera littoralis McBride et al. (1995)
cry1C Spodoptera littoralis Strizhov et al. (1996)
cry2A Helicoverpa armigera, Heliothis virescens, Helicoverpa zea, Spodoptera Selvapandiyan et al. (1998);
exigua Kota et al. (1999)
Milho cry1Ab Ostrinia nubilalis (Hübner) Koziel et al. (1993)
cry9c Ostrinia nubilalis Jansem et al. (1997)
cry1F Diatraea grandilosella, Ostrinia nubilalis EPA (2008)
cry1Ac Ostrinia nubilalis EPA (2008)
cry3Bb1 Diabrotica virgifera, Diabrotica barberi EPA (2008)
cry34Ab1 e cry35Ab1 Diabrotica virgifera EPA (2008)
cry1Ab1 e cry3Bb1 Ostrinia nubilalis, Diatraea grandiosella, Diatraea crambidoides, EPA (2008)
Diatraea saccharalis, Helicoverpa zea, Spodoptera frugiperda,
Elasmopalpus lignosellus, Diabrotica virgifera, Diabrotica barberi
cry1F + cry34Ab1 e Ostrinia nubilalis, Agrotis ipsilon, Helicoverpa zea, Spodoptera EPA (2008)
cry35Ab1 frugiperda, Elasmopalpus lignosellus, Diabrotica virgifera, Diabrotica
barberi, Diatraea crambidoides, Diatraea grandiosella, Diatraea
saccharalis, Striacosta albicosta
cry3A e cry1Ab Diabrotica virgifera, Diabrotica barberi EPA (2008)
cry1A e cry2Ab2 - EPA (2008)
cry1A + cry2Ab2 e - EPA (2008)
cry3Bb1
cry1Ac Ostrinia nubilalis USDA (2008)
cry3A Diabrotica virgifera, Diabrotica barberi USDA (2008)
Repolho cry1Ab Plutella xylostella Bhattacharya et al. (2002)
Soja cry1Ac Heliothis virescens, Helicoverpa zea, Pseudoplusia includens Stewart et al. (1996a)
Tomate cry1Ab Heliothis virescens Fischolff et al. (1987)
cry1Ac Helicoverpa armigera Mandaokar et al. (2000)

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 63


Genes de B. thuringiensis codificado- 1.2 Outros genes em plantas do sistema.
res de proteínas Cry foram isolados e in- No controle de pragas de importância
troduzidos em plantas agronomicamente Considerando outros genes de interes- agrícola, observa-se que, a possibilidade
importantes utilizando diferentes métodos se à engenharia genética de plantas, os de obtenção de plantas que sintetizam to-
de transformação genética como aqueles inibidores de proteinases vegetais são po- xinas letais aos insetos através da trans-
que empregam Agrobacterium, transfor- lipeptídios ou proteínas que se encontram formação vegetal com genes oriundos de
mação direta de protoplastos e bombar- naturalmente nas plantas e fazem parte outras plantas, microrganismos e animais,
deamento de partículas ou biobalística. do sistema de defesa das mesmas contra abriu novas perspectivas ao Manejo Inte-
No início dos anos 80, o primeiro gene herbívoros. Nos insetos as proteinases são grado de Pragas. Outro aspecto importante
cry foi clonado e expresso em Escheri- classificadas em diferentes grupos, vari- são as novas alternativas de controle de
chia coli (Schnepf & Whitley, 1981), sen- ando conforme a ordem ou espécie, sen- insetos de difícil acesso através dos méto-
do no final dessa década produzida a pri- do estas responsáveis pela digestão dos dos convencionais, seja pelo modo de vida
meira planta de tomate com genes de B. alimentos de onde são assimilados nutri- subterrâneo ou endofítico da praga alvo.
thuringiensis (Fischhoff, 1987). O milho entes essenciais ao crescimento e ao de- A utilização de plantas transgênicas
Maximizer™ da Novartis, o algodão Boll- senvolvimento dos mesmos. resistentes permite o acúmulo do produ-
gard™ e a batata Newleaf™ da Monsanto Os inibidores de proteinases serínicas to (toxina) entomotóxico nos tecidos ve-
foram introduzidas no mercado norte- e cisteínicas vêm sendo mencionados getais, afetando diretamente a espécie alvo
americano em 1995, sendo genericamen- como inibidores do crescimento e do de- quando a mesma se alimenta do tecido
te conhecidas como plantas-Bt (Jouanin senvolvimento de alguns insetos das or- transgênico, sem causar danos às espéci-
et al.,1998). Atualmente, o milho-Bt é a dens lepidóptera e coleóptera, respecti- es não alvo, representando assim um mé-
planta transgênica mais cultivada no mun- vamente. A atividade antimetabólica dos todo alternativo para o controle de pra-
do, ocupando 15% da área global cultiva- inibidores não foi bem elucidada, poden- gas das plantas cultivadas associado à pre-
da com transgênicos em países como do estes: inibirem as enzimas digestivas servação do meio ambiente.
EUA, Canadá, Argentina, África do Sul, diretamente; provocarem a hipersecreção
Espanha e França. O algodão-Bt ocupa o de enzimas no intestino provocando o es- 1.3 Segurança das
segundo lugar em áreas plantadas, repre- gotamento dos aminoácidos essenciais; plantas transgênicas
sentando aproximadamente 7% da área afetarem o balanço hídrico, as trocas e a
cultivada com transgênicos (James, 2000). regulação enzimática dos insetos (Schu- A liberação comercial das plantas ge-
Além do milho, da batata, do tomate e do ler et al., 1998). neticamente modificadas com genes cry
algodão, outras plantas cultivadas expres- Inibidores de alfa-amilases podem ser de B. thuringiensis, relatada na publica-
sam uma ou várias proteínas Cry para o considerados um segundo inibidor de en- ção de Dunwell (1999), revela que os pro-
controle de lepidópteros e coleópteros zimas, também utilizados na transforma- dutores norte-americanos têm adotado as
(Tabela 1) e outras plantas-Bt de espéci- ção de plantas (Tabela 2). Ensaios reali- plantas transgênicas como um elemento
es cultivadas estão em fase de desenvol- zados com Callosobruchus sp. e Bruchus chave no aumento da produção vegetal.
vimento em laboratórios ou em testes de sp. mostram que esses inibidores, como Esse marco histórico só chegou ao Brasil
campo (Oecd, 2001). alfa-AI-Pv oriundo do feijão comum (Pha- em 2005, através da regulamentação e li-
Atualmente estão registradas mais de seolus vulgaris), são glicoproteínas termo- beração do cultivo e comercialização das
300 seqüências de genes cry, indicando estáveis que inibem alfa-amilases no in- plantas transgênicas. Para maior detalha-
que a próxima geração de plantas-Bt de- testino médio desses coleópteros pragas mento sobre esse assunto consultar os se-
verá apresentar múltiplos genes cry, ofe- de grãos armazenados, bloqueando assim guintes sites:
recendo aos produtores um maior espec- o seu desenvolvimento larval (Schuler et - www.ctnbio.gov.br (Comissão Técni-
tro de proteção contra diferentes insetos- al.,1998). ca Nacional de Biossegurança)
praga e reduzindo a probabilidade dos As lectinas são proteínas naturalmen- - www.anbio.org.br (Associação Naci-
mesmos desenvolverem resistência. te produzidas por plantas, principalmen- onal de Biossegurança)
As pesquisas também estão voltadas te pelas leguminosas, como Glycine max
para o incremento da expressão dos ge- e Canavalia ensiformes, respectivamen- Os dados de revisão de Fontes et al.
nes de B. thuringiensis em plantas, na te. O modo de ação destas proteínas ve- (2002) relatam a segurança, riscos ambi-
seleção de novas variantes de B. thurin- getais não foi bem elucidado, mas alguns entais e eficiência no controle de pragas
giensis mais ativas e/ou na modificação resultados de pesquisa sugerem que estas através do emprego das plantas-Bt. Tam-
das seqüências dos genes cry de maneira se ligam às células epiteliais do intestino bém os trabalhos de revisão de Bobro-
a aumentar a produção de toxinas no in- dos insetos (Carlini & Grossi-de-Sá, 2002). wski et al. (2003) e Polanczyk et al. (2003)
terior das plantas. Nesse sentido, Schuler Dados de pesquisa mostram que vári- citam alguns benefícios do uso dessa tec-
et al. (1998) relata que uma estratégia para as lectinas identificadas têm efeito inseti- nologia, como:
a maior efetividade tóxica das plantas-Bt cida contra diversas ordens de insetos,
contra insetos seria a introdução de ge- principalmente coleópteros, hemípteros e • Diminuição dos efeitos ambientais
nes nativos de B. thringiensis no genoma homópteros, porém algumas apresentam sobre as toxinas;
dos cloroplastos, o que resulta num ele- efeito tóxico para mamíferos, enfatizando • Segurança na utilização;
vado nível de expressão. A natureza pro- assim a necessidade de maiores investi- • Redução do uso de inseticidas quími-
cariótica dos plastídios vegetais permite gações nessa área (Carlini & Grossi-de- cos;
a transcrição dos genes de B. thringiensis Sá, 2002). • Eficiência no controle das pragas;
e a tradução e processamento dos mR- Alguns genes de quitinases, peroxida- • Proteção vegetal;
NAs de forma mais eficiente. Nesse caso, ses e triptofano-descarboxilases vêm sen- • Preservação dos inimigos naturais;
alguns autores mencionam que o entrave do introduzidos em plantas visando prin- • Redução de doenças fúngicas.
estaria associado à transformação de clo- cipalmente à resistência a insetos da or-
roplastos a qual se restringe apenas a al- dem Homoptera (Schuler et al., 1998). Por 1.4 Considerações e perspectivas
gumas plantas-modelo, como por exem- outro lado, os conhecimentos sobre os
plo tabaco e tomate (Jouanin et al., 1998; mecanismos de ação desses produtos são Os dados de pesquisa têm revelado
Kota et al., 1999). restritos devido à elevada complexidade que certas espécies de insetos, principal-

64 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


Tabela 2. Outros genes utilizados na obtenção de plantas transgênicas resistentes aos insetos (adaptado de Schuler et al., 1998)
GENES / PRODUTOS INSETOS-ALVO PLANTAS TRANSFORMADAS / PRODUTOS

CMe (cevada); CMTI (abóbora); MTI-2 (mostarda); Lepidoptera fumo, arabidopsis, batata, alfafa, beladona,
PI-IV (soja); KTi3 e SKTI (soja); inibidor de tomate
proteinase I e II (tomate); SI (animal);
α1AT(animal)
Pot PI-I e Pot PT-II (batata); BPTI (pâncreas Lepidoptera, Orthoptera petúnia, fumo, bétula, alface, arroz, batata,
bovino); trevo branco
C-II (soja); CpTI (cowpea) Coleoptera, Lepidoptera colza, álamo, batata, fumo, maçã, alface, arroz,
morango, girassol, batata-doce, tomate
OC-1 (arroz) Coleoptera, Homoptera colza, álamo, fumo
anti-quimiotripsina (Manduca sexta), anti-elastase Homoptera algodão, fumo, alfafa
(M. sexta), anti-tripsina (M. sexta)
Inibidores de alfa-amilase
WMAI-1 (cereais) Lepidoptera fumo
αAI-Pv (feijão) Coleoptera feijão, ervilha, fumo
Lectinas
GNA (anêmona), p-lec (ervilha) Lepidoptera, Homoptera uva, colza, batata, arroz, batata-doce, cana-
de-açúcar, girassol, fumo, tomate
WGA (trigo), lectina (arroz), jacalin Lepidoptera, Coleoptera milho
Outros
BCH – quitinase (feijão) Lepidoptera, Homoptera batata
Quitinase (Manduca sexta) Lepidoptera fumo
Quitinase(tomate), Peroxidase(fumo) Lepidoptera, Homoptera, Coleoptera colza, fumo, tomate
TDC (crisântemo) Homoptera fumo
14K-CL (bifuncional) * Lepidoptera, Coleoptera fumo

* bifuncional: inibidor de proteinases serínicas e de alfa-amilases


mente lepidópteros, têm adquirido resis- sion of Bacillus thuringiensis cryIIIA E GUIDERDONI, E. 2001. The “689/+197
tência às proteínas Cry de B. thuringien- gene in protoplants and potato plants. region of the maize protease inhibitor
sis, reforçando assim o compromisso das Plant Molecular Biology, 21:1131-1145. gene directs high level, wound induci-
futuras pesquisas na identificação de no- AHMAD, A.; MAQBOOL, S.B.; RIAZU- ble expression of the cry1B gene which
vas toxinas inseticidas. Também são con- DDIN, S. E STICKLEN, M.B. 2002. Ex- protects transgenic rice plants from stem-
siderados importantes os estudos sobre pression of synthetic CRY1AB and borer attack. Molecular Breeding: New
expressão gênica, espectro de ação e es- CRY1AC genes in Basmati rice (Oryza Strategies in Plant Improvement, 7:259-
pecificidade das proteínas inseticidas, per- sativa L.) variety 370 via Agrobacterium- 274.
mitindo a disponibilização freqüente de mediated transformation for the control BREITLER, J.C.; MARFA, V.; ROYER, M.;
novas versões gênicas mais eficazes, mais of the European corn borer (Ostrinia MEYNARD, D.; VASSAL, J.M.; VERCAM-
específicas e com vantagens ainda maio- nubilalis). In Vitro Cell. Dev. Biol. Plant, BRE, B.; FRUTOS R.; MESSEGUER, J.;
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da-se a adoção de técnicas de manejo ade- water indica rice plants expressing a syn- rer. Plant Cell Reports, 19:1195-1202.
quadas, sendo algumas já relatadas por thetic Bacillus thuringiensis cry1A(b) BREITLER, J.C.; VASSAL, J.N.; CATALA,
Peferoen (1997) há mais de uma década. gene with enhanced resistance to yellow M.D.M.; MEYNARD, D.; MARFA, V.;
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Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 65


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Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 67


EVOLUÇÃO E MANEJO
Pesquisa DA RESISTÊNCIA DE INSETOS

“O conhecimento nos permite contornar muitos problemas, mas muitas

vezes, apenas nos possibilita adiar o inevitável, transferindo para algum ponto futuro

os acontecimentos que buscamos com todo empenho evitar – Vilmar Machado”

ste artigo apresenta alguns aspec- ciam a evolução da diversidade bioló-


tos relacionados à evolução e ao gica possibilitando a adaptação aos di-
manejo da resistência do ponto ferentes ambientes e também respostas
de vista da biologia evolutiva. específicas a pressões seletivas mais di-
Aqui são abordados os mecanis- retas, como a predadores, parasitas ou
mos biológicos envolvidos no a agentes de controle desenvolvidos
processo de adaptação dos insetos-pra- pela espécie humana, como antibióti-
ga aos agentes de controle e, também, cos ou inseticidas químicos.
como o conhecimento destes se reflete Nossa relação com insetos-praga,
nas estratégias utilizadas para reduzir a bactérias e vírus, mesmo que pareça es-
velocidade de evolução da resistência tranha para alguns, pode ser analisada
às plantas transgênicas. como um processo de co-evolução.
Nossas respostas, nesse processo, são
1.1 Introdução frutos da aplicação do conhecimento ci-
entífico enquanto o que observamos,
A resistência aos inseticidas é um através da evolução da resistência, não
fenômeno mundial e as estimativas atu- é. Indiferentes aos nossos esforços, po-
ais indicam que mais de 500 espécies pulações de insetos se reproduzem pas-
de artrópodes desenvolveram resistên- sando de uma geração para outra as
cia a um ou mais pesticidas (Georghiou informações genéticas. Esse processo de
& Lagunes-Tejeda, 1991). A resistência reprodução não é aleatório: em cada
também foi observada para uma varie- geração alguns indivíduos deixarão mais
dade de produtos naturais e regulado- descendentes que outros; o sucesso na
res do crescimento de insetos. Dentre passagem dos genes para as próximas
o que aprendemos com a utilização de gerações está associado à presença de
inseticidas químicos foi que a capaci- características genéticas que contribu-
dade de resposta adaptativa dos inse- em para a reprodução e a sobrevivên-
tos é quase inevitável e ocorre relativa- cia às condições ambientais vigentes.
mente rápido. Para muitos esse fenô- A descrição acima pode ser simples,
meno parece ser surpreendente, mas mas nos possibilita ter uma idéia geral
não devemos esquecer que uma das ca- do processo de evolução da resistência
racterísticas mais relevantes dos orga- aos antibióticos e inseticidas químicos.
Vilmar Machado nismos vivos é sua capacidade de evo- Para uma compreensão mais apurada
Biólogo (UNISINOS) e Mestre e Doutor em luir continuamente. do processo podemos fazer, no míni-
Genética e Biologia Molecular (UFRGS)
O processo de evolução ocorre de mo, duas perguntas relevantes. Quais
Lidia Mariana Fiúza forma “automática” - sem a influência as características importantes do mate-
Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em de forças externas ou de um agente di- rial genético passado de uma geração
Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS), recionador para compreender como as para outra no processo de evolução?
Doutora em Ciências Agronômicas mudanças evolutivas acontecem, pre- Porque a sobrevivência e a reprodução
(ENSAM-Montpellier) e Pós-Doutora em cisamos analisar aspectos básicos da bi- não são aleatórias?
biotecnologia Vegetal (CIRAD-Montpellier). ologia dos seres vivos os quais influen- As respostas para estas perguntas

68 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


nos permitirão compreender, em linhas variantes resistentes aos agentes de con- existência de linhagens diferentes ao
gerais, a evolução da resistência aos in- trole nas espécies consideradas pragas longo da sua área de distribuição. Para
seticidas e antibióticos, e também ana- ou vetores de doenças (Ofuya & Cre- esse inseto estão sendo realizados es-
lisar as possibilidades de evolução da dland, 1995; Winder et al. 1997; Guirao tudos visando selecionar marcadores
resistência às plantas geneticamente mo- et al. 1997; Nicol et al. 1998; Szalanski moleculares específicos para identificar
dificadas com genes de B. thuringien- et al. 1999; 2000; Oliveira et al. 2001; as diferentes linhagens e, desta forma,
sis, denominadas plantas-Bt. Além dis- Birungi & Munstermann, 2002). A im- melhorar as condições de controle uti-
so, ajudarão a compreender os proce- portância e as implicações de existên- lizando agentes específicos para cada
dimentos utilizados nas estratégias de cia de variação genética nas populações uma (Aikhionbare & Mayo, 2000; Lo-
manejo da evolução da resistência. naturais de pragas e vetores foram sali- pes da Silva et al., 2004). Em Spodopte-
entadas por Diehl & Bush (1984) em ra frugiperda (Lepidoptera: Noctuide),
1.2 Diversidade genética nas seu trabalho sobre “biotypes”. Segun- uma praga de várias culturas importan-
populações e evolução da resistência do os autores, o não reconhecimento tes, lagartas coletadas em hospedeiros
desse fator pode frustrar ou dificultar diferentes apresentaram diferenças sig-
A evolução de respostas adaptati- programas de manejo e controle bioló- nificativas na susceptibilidade a deter-
vas ocorre pelo efeito de seleção natu- gico de pragas. Para Newman et al. minados inseticidas e a endotoxinas de
ral sobre a variação genética existente (1998), a diversidade genética nas po- B. thruringiensis (Adamczyk, et al.,
nas populações. A aplicação repetida pulações é um dos elementos que con- 1997).
de inseticidas do mesmo grupo quími- tribuem para reduzir a eficiência de pro- Exemplos mais interessantes da di-
co e modelo de ação favoreceram vari- gramas de controle químico e/ou bio- versidade genética em insetos-praga
antes genéticas específicas nas popula- lógico. Essa também é uma preocupa- ocorre em Bemisia tabaci, considerada
ções alvos levando à substituição dos ção considerada por programas envol- por muitos a principal praga agrícola
indivíduos susceptíveis pelos indivídu- vidos no desenvolvimento de varieda- do mundo, tendo sido registrada sua
os resistentes. O gene para resistência des de plantas resistentes a insetos-pra- ocorrência em mais de 600 espécies de
que aumenta em freqüência numa po- ga (Sardesai, 2000; Heinrichs, 2001). plantas e, até o momento, são conheci-
pulação pode se espalhar para outras A importância da variabilidade ge- dos mais de 20 biotipos (Oliveira et al.,
populações através do fluxo gênico. nética para programas de manejo e con- 2001; Omondi el al., 2005; Carabali et
As diferenças genéticas entre os in- trole de pragas tem sido discutida por al., 2005). No Brasil, esse inseto é co-
divíduos de uma população são consi- décadas, mas seu estudo tornou-se pos- nhecido como mosca-branca e os pre-
deradas a matéria prima da evolução, sível apenas com o desenvolvimento de juízos caudados decorrem da atividade
existindo uma relação entre valor adap- marcadores baseados na análise de de sucção de seiva, injeção de toxinas
tativo médio de uma população e os DNA. A aplicação desses marcadores e pela transmissão de vírus de plantas.
níveis de variabilidade que ela apresen- tornou-se uma ferramenta importante A variabilidade genética intra-específi-
ta. Segundo o teorema fundamental de para o estudo da dinâmica e dos fato- ca e a diversidade de hospedeiros es-
Fisher (1930), a taxa de mudança evo- res que influenciam populações natu- tão entre os grandes desafios para o
lutiva é proporcional à diversidade ge- rais (Edwards, 1993; Smith & Wayne, controle desse inseto (Perring, 2001).
nética existente nas populações. 1996; Schierwater & Desale, 1998). Es- Os parágrafos acima reforçam a idéia
A diversidade genética é a base para tudos detalhados sobre a importância de que é preciso levar em conta a di-
respostas às mudanças ambientais. A da variabilidade genética em insetos- versidade genética existentes nas po-
importância do estudo da variabilidade praga ou vetores são recentes e entre pulações dos insetos-alvo em progra-
pode ser compreendida pela quantida- eles destacam-se: Winder et al. (1997); mas de manejo e controle. Vários estu-
de de trabalhos sobre o tema, em espe- Guirao et al. (1997); Nicol et al. (1998); dos demonstram que essa variabilidade
cial procurando identificar os fatores Szalanski et al. (1999); Downie (2000); também está presente nos mecanismos
envolvidos na sua manutenção. Nos tra- Geurgas et al. (2000; 2002); Appleby & biológicos que possibilitam a ação das
balhos com populações naturais, a pre- Credland (2003). toxinas de B. thuringiensis.
ocupação com a existência da diversi- Estudos recentes têm registrado va- A resistência às toxinas de B. thu-
dade genética aparece de formas varia- riação intra-específica na susceptibilida- ringiensis pode envolver: a não ativa-
das. Para programas de conservação e de a agentes de controle químico e/ou ção da toxina, a imobilização da toxina
manejo da vida silvestre, um dos temas biológico em várias espécies, como por na membrana peritrófica, sua incapaci-
centrais é a manutenção da variabilida- exemplo, Microctonus aethiopoides, dade de ligar-se aos receptores da mem-
de genética em ambientes fragmenta- Schizaphis graminium e Spodoptera brana, sua incapacidade de criar poros
dos, pois é consenso que a persistência frugiperda. Em Microctonus aethiopoi- na membrana do epitélio e sua baixa
futura das populações pode depender des (Hymenoptera: Braconidae), um pa- eficiência pelo rápido reparo dos da-
da preservação de componentes espe- rasitóide utilizado em programas de nos causados por ela às células afeta-
cíficos da diversidade genética (Gilpin controle de biológico de pragas, foram das (Ferre & Van Rie, 2002; Griffitts &
& Sóule, 1986; Meffe & Carrol, 1997). identificadas linhagens (biotipos) adap- Aroian, 2005; Baxter et al. 2008).
Em programas de manejo e controle de tadas a hospedeiros diferentes, analisan- O mecanismo mais comum envol-
pragas e vetores, essa preocupação está do-se a variação intra-específica no gene vendo a resistência às toxinas de B. thu-
associada, por um lado, à busca por li- para Citocromo Oxidase I (Vink et al., ringiensis é a redução na capacidade
nhagens de agentes de controle que 2003). Uma das dificuldades no contro- de ligação aos receptores nas microvi-
sejam específicas a uma determinada le de Schizaphis graminium (Hemipte- losidades do intestino médio dos inse-
praga (Potting et al. 1997; Vink et al., ra: Aphididae), uma das mais importan- tos (Ferre et al., 1991; 2003; Pigott &
2003) e por outro, à identificação de tes pragas de cereais do mundo, é a Ellar, 2007; Wang et al., 2007; Rodrigo-

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 69


Simón et al., 2008). Modificações nos danças na freqüência de genes es- tes ou depois da dispersão dos insetos?
genes que codificam os receptores para pecíficos.
as proteínas Cry foram encontradas em A caracterização genética das es- 1.4 Efeito de seleção e
várias espécies. Mutações nos recepto- pécies alvo, ao longo de sua área de evolução da resistência
res para proteína Cry1A estão envolvi- distribuição, é um dos fatores que
das na resistência em Heliothis virescens podem contribuir para o sucesso de A seleção natural pode ser definida
(Gahan et al., 2001), Pectinophora gos- programas de controle biológico como diferenças na taxa de reprodu-
sypiella (Morin et al., 2003), Helicover- (Hoelmer & Kirk, 2005). O fluxo ção e/ou sobrevivência entre indivídu-
pa armigera (Xu et al., 2005; Luo et al, gênico é um componente importan- os com características distintas. De uma
2006) e P. xylostella (Ballester et al., te para as estratégias de manejo da maneira mais simples, os indivíduos
1999). Em C. elegans foram identifica- evolução da resistência e seus efei- com as melhores respostas aos proble-
dos quatro genes diferentes para resis- tos podem ter reflexos em pequena mas de sobrevivência e reprodução
tência à toxina (Griffitts et al., 2005). e grande escala. deixam mais genes para as próximas
Além disso, foram descritos mecanismos Em pequena escala (populações gerações. O efeito da seleção natural
de resistência a B. thuringiensis envol- locais) espera-se que ele contribua sobre as populações aumenta a freqüên-
vendo genes diferentes em H. virescens, para diluição da resistência levando cia dos alelos com resposta “positiva”,
P. xylostella (Jurat-Fuentes & Adang, ao cruzamento entre insetos resis- gerando uma mudança adaptativa. De
2006) e P. interpunctella (Herrero et al., tentes e não resistentes. Sua intensi- acordo com a hipótese da rainha ver-
2001). Em H. virescens em cada 1000 dade tem efeitos na taxa de aumen- melha (Van Valen, 1973) é preciso evo-
insetos 1,5 é portador do gene para re- to da freqüência dos genes para re- luir (adaptar-se) continuamente para
sistência a B. thuringiensis (Gould et sistência. A capacidade de dispersão não ser “superado” pelos seus compe-
al., 1995; 1997). de um inseto praga é relevante para tidores.
As informações acima demonstram definição do tamanho e distribuição A capacidade de evoluir é uma ca-
claramente a presença de genes para das áreas de refúgio, uma vez que racterística dos organismos vivos, mes-
resistência às toxinas de B. thuringien- estas são os locais para manutenção mo que no processo ocorram extinções
sis em populações de várias espécies de indivíduos susceptíveis possibili- de muitas linhagens, mas a “vida” no
mesmo que em baixa freqüência. É pre- tando o fluxo de genes não-resisten- planeta Terra tem mantido sua capaci-
ciso destacar que até o momento não tes para grupos de indivíduos resis- dade de encontrar novos caminhos,
foi registrada nenhuma população na- tentes nas áreas de plantas-Bt (Va- reinventando a si mesma de diferentes
tural resistente a essas toxinas. O que é cher et al., 2006). maneiras.
necessário para que estes genes aumen- Em grande escala, o fluxo gêni- Nossa relação com os insetos-praga
tem em freqüência nas populações na- co pode determinar a possibilidade é apenas parte do processo e, por mai-
turais? A resposta simples é: que as apli- dos genes para resistência se espa- or que seja nosso empenho, não con-
cações das toxinas B. thuringiensis tor- lharem ao longo da área de distri- seguimos superá-las; até hoje apenas
nem-se numa pressão de seleção cons- buição geográfica da espécie. Esse nos esforçamos para reduzir seu impac-
tante e intensa. fenômeno influencia a velocidade to sobre nossa existência. Essa relação
em que uma adaptação que surge iniciou quando inventamos a agricultu-
1.3 Fluxo gênico numa população local pode se es- ra e desde então estamos envolvidos
palhar. numa corrida ao armamento. Nossas
Estudos sobre a estrutura genética Os possíveis impactos do fluxo armas envolvem os diferentes métodos
de populações têm demonstrado, ao gênico na evolução da resistência de controle, com destaque para a apli-
longo do tempo, que as espécies rara- torna fundamental dispor de estudos cação em massa de produtos químicos
mente são constituídas por populações precisos sobre a estrutura genética sintéticos após a segunda guerra mun-
únicas e panmíticas; pelo contrário, di- das populações de insetos-praga vi- dial e, mais recentemente, o desenvol-
ferenças genéticas são encontradas en- sando estimar seu impacto em po- vimento das plantas-Bt.
tre as populações. Essas diferenças são pulações locais e também em lon- A crescente utilização de B. thurin-
componentes importantes da diversida- gas distâncias. Especialmente no giensis como biopesticidas e a amplia-
de genética da espécie. Em geral, a tro- caso de pragas com ampla área de ção das áreas de plantio com plantas-
ca de genes ocorre com maior probabi- distribuição que atacam culturas di- Bt certamente aumentam a pressão de
lidade entre populações próximas geo- ferentes. seleção desse agente sobre as popula-
graficamente do que entre populações Estudos de estrutura genética têm ções alvo.
mais distantes, sendo influenciada pela potencial para responder questões O primeiro formulado comercial de
estrutura geográfica e espacial das po- relevantes para o manejo destas es- B. thuringiensis surgiu na França, em
pulações. Portanto, o estudo da estru- pécies, como por exemplo: os inse- 1938 e sua introdução nos Estados Uni-
tura genética das populações é um com- tos que atacam plantas diferentes for- dos ocorreu em 1950. Desde então essa
ponente importante de programas de mam linhagens distintas? Qual o grau bactéria vem sendo utilizada amplamen-
manejo e controle de pragas, pois po- de diferenciação genética entre as te para controle de pragas (Sayyed e
dem fornecer informações sobre níveis linhagens? Quando as linhagens Wright, 2002). Em 1996, foram comer-
de variabilidade genética, graus de di- ocorrem na mesma área, os cruza- cializados e plantados algodão-Bt e
ferenciação entre as populações e pa- mentos são aleatórios ou não? Qual milho-Bt em milhares de hectares nos
drões de fluxo gênico. Além disso, pode a capacidade de dispersão a longas Estados Unidos (Gould, 1998). A partir
possibilitar o monitoramento das mu- distâncias? A reprodução ocorre an- de então, foram produzidas outras plan-

70 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38


tas com genes B. thuringiensis, e a área As premissas dessa estratégia são: 1994; Gould, 1998).
plantada foi ampliada, estendendo-se (i) o gene para resistência ocorre em Essa estratégia torna a resistên-
para outros continentes. Em 2002 fo- freqüência baixa nas populações; cia uma característica funcionalmen-
ram plantados, no mundo, 14 milhões (ii) as quantidades de toxinas de B. te recessiva, uma vez que apenas os
de hectares apenas de algodão-Bt e mi- thuringiensis produzidas pelas plantas portadores de duas cópias do gene
lho-Bt (James, 2002; Bourguet et al., são altas o suficiente para eliminação sobrevivem às doses de toxina pro-
2005). da população os insetos homozigotos duzida pelas plantas-Bt (Tabashnik
A expressão das toxinas de B. thu- não resistentes e os heterozigotos re- & Croft, 1982). Nas áreas com plan-
ringiensis nas plantas transgênicas é sistentes; tas-Bt sobreviverão apenas os raros
considerada um dos maiores avanços (iii) os indivíduos resistentes (homo- portadores de duas cópias do gene
no uso de biopesticidas. Segundo Ja- zigotos) que nascem nas áreas com para resistência, ou seja, os homo-
mes (2007), as lavouras de plantas-Bt plantas-Bt cruzam aleatoriamente com zigotos recessivos. Os cruzamentos
aumentaram anualmente, atingindo os indivíduos não resistentes que nas- aleatórios entre os raros indivíduos
114,3 milhões de hectares no mundo, cem nas áreas dos refúgios. resistentes nas áreas com plantas-
em 2007. No manejo da resistência, o refúgio Bt e os indivíduos não resistentes
As informações disponíveis indicam é a área na qual não são cultivadas plan- dos refúgios, produziria indivíduos
claramente que as condições para evo- tas-Bt e sua finalidade é manter na po- susceptíveis que seriam eliminados
lução da resistência contra as toxinas pulação indivíduos susceptíveis às to- quando se alimentassem de plantas-
de B. thuringiensis existem, ou seja, as xinas de B. thuringiensis, ou seja, aque- Bt (Gould, 1998; Vacher et al., 2006).
populações apresentam genes para re- les que não possuem genes para a re- Na teoria, a estratégia “altas do-
sistência (mesmo que em freqüência sistência. Sua contribuição é a produ- ses/refúgios estruturados” funciona
baixa) e a pressão de seleção aumenta ção de insetos adultos susceptíveis às muito bem, ou seja, dentro das pre-
anualmente. toxinas de B. thuringiensis para cruza- missas ela realmente reduz a veloci-
Cientes desta situação os profissio- rem com insetos homozigotos resisten- dade de aumento na freqüência do
nais da área de manejo e controle de tes, “diluindo”, dessa forma, a resistên- gene para a resistência nas popula-
pragas colocaram em prática o que cha- cia na população. A dispersão para fora ções aumentando, com isso, o tem-
mamos de manejo da resistência, isto das áreas dos refúgios é necessária para po de uso das plantas-Bt. O mundo
é, um conjunto de procedimentos que que os cruzamentos aconteçam. real, porém, tem diversas maneiras
tem por objetivo retardar ao máximo o As dimensões e a distribuição das de se desviar das aceitações do mo-
surgimento de populações resistentes áreas de refúgio são definidas com base delo.
em campo. em estudos teóricos e experimentos de Estudos sobre o padrão de he-
campo podendo variar de acordo com rança da resistência indicam que
1.5 Manejo da Evolução a cultura ou praga em questão. A área outros mecanismos genéticos podem
da Resistência dos refúgios para milho-Bt varia entre ocorrer, como por exemplo, domi-
20 e 50%; simulações de computador nância e herança poligênica (Heckel
Uma população se torna resistente indicam que áreas menores podem ace- et al., 2007). Além disso, os cruza-
quando a maioria dos insetos susceptí- lerar a evolução da resistência. Para al- mentos podem não ocorrer aleato-
veis ao método de controle utilizado foi godão-Bt, por outro lado, recomenda- riamente; para isso, basta que exis-
removida. A maior taxa de cruzamen- se que 5 a 20% da área de plantio seja tam diferenças na velocidade de de-
tos entre insetos portadores do gene destinada ao refúgio (Technology Use senvolvimento entre indivíduos re-
para resistência tornará o controle mais Guide, 2007-2008). sistentes e susceptíveis. A assincro-
difícil a cada geração. São fatores relevantes na definição nia no desenvolvimento pode de-
No intuito de eliminar ou retardar o da área de refúgio: a capacidade de dis- terminar uma freqüência maior de
aumento na freqüência dos genes para persão da praga, sua biologia reprodu- cruzamentos entre indivíduos resis-
resistência às toxinas de B. thuringien- tiva e seus hábitos alimentares. A distri- tentes, o que pode acelerar a evolu-
sis em populações de insetos-alvo, fo- buição dos refúgios também procura ção da resistência (LIU et al., 2000;
ram desenvolvidas várias estratégias de reduzir a possibilidade de cruzamentos Medvinsky et al., 2007).
manejo da evolução da resistência. A entre indivíduos homozigotos para o
finalidade destas estratégias é reduzir a gene da resistência (Peck et al., 1999; 1.6 Considerações
pressão de seleção, diminuindo a velo- Caprio, 2001; Ives & Andow, 2002; Va-
cidade de crescimento da população de cher et al., 2006; Tyutyunov et al., 2007; A espécie humana, não tem mui-
insetos resistentes. 2008; Hanur, 2008). tas respostas para explicar como a
A estratégia mais utilizada no ma- A expressão “doses altas” significa vida surgiu no planeta Terra, mas
nejo da resistência é denominada de que as plantas vão produzir quantida- ao longo do tempo fez muitas des-
altas doses/refúgio estruturado e fun- des das toxinas de B. thuringiensis su- cobertas sobre as forças envolvidas
damenta-se em modelos teóricos e tes- ficientes para eliminar da população os no processo de evolução da biodi-
tes experimentais realizados em peque- indivíduos que possuem uma única có- versidade e nas mudanças adaptati-
na escala (Georghiou & Taylor, 1977; pia do gene para resistência, ou seja, vas nas diferentes linhagens de or-
1999; Gould, 1998; Peck et al., 1999; os heterozigotos. Por definição, “dose ganismos.
Caprio, 2001, Onstad et al., 2002; Liu & alta”, é aquela suficiente para matar mais A evolução é um processo com-
Tabashnik, 1997; Shelton et al., 2000; do que 95% dos insetos heterozigotos plexo, influenciado pela mutação,
Wenes et al., 2006). (Georghious & Taylor, 1977; Roush, seleção natural, fluxo gênico, deri-

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 38 71


va genética e sistema de cruzamen- lutionary and applied perspec-
tos. As interações entre estes fatores Adamczyk, J.; Holloway, J.W.; Leonard, tive of insect biotypes. Ann.
são complexas e de difícil compre- B.R. & Graves, J.B. 1997. Suscepti- Rev. Entomol., 29: 471-504.
ensão. A construção de modelos para bility of fall armyworm collected Downie, D.A. 2000. Patterns of ge-
simular o efeito destes fatores permi- from different plant host to selec- netic variation in native grape
te analisar parcialmente estas intera- ted insecticides and transgenic Bt phylloxera on two sympatric
ções. Atualmente em muitos casos cotton. The Journal of Cotton Sci- host species. Molecular Ecolo-
temos respostas relativamente preci- ence, 1: 21-28. gy, 9: 505-514.
sas de como as coisas aconteceram, Aikhionbare, F.O. & Mayo, Z.B. 2000. Edwards, S. V. 1993. Mitocondrial
por exemplo, sobre a evolução da re- Mitochondrial DNA sequences of gene genealogy and gene flow
sistência aos inseticidas e/ou antibió- greenbug (Homoptera: Aphididae) among island and mainland
ticos. biotypes. Biomolecular Engenee- populationjs of a sedentary son-
Podemos fazer muitas previsões, ring, 16:199-205. gbird, the grey-crowned babbler
porém estas estão envolvidas num Appleby, J.H. And Credland, P.F. 2003 (Pomatodtomus temporalis).
mundo de incertezas, determinadas Variation in responses to suscepti- Evolution, 47:1118-1137.
pela presença do acaso ou das inte- ble and resistant cowpeas among Ferré, J., and J. Van Rie. 2002. Bio-
rações que nossos modelos não po- West African populations of Callo- chemistry and genetics of insect
dem estimar, pois são uma simplifi- sobruchus maculatus (Coleoptera: resistance to Bacillus thuringi-
cação do mundo real. Bruchidae). Journal of Economic ensis. Annual Review of Ento-
Muitos pesquisadores acreditam Entomology, 96: 489-502. mology, 47:501-533.
que o surgimento de linhagens resis- Ballester, V., F. Granero, B. E. Tabash- Ferre´, J., M. D. Real, J. Van Rie, S.
tentes a agentes de controle químico nik, T. Malvar, and J. Ferre. 1999. Jansens, and M. Peferoen. 1991.
e/ou biológico em populações natu- Integrative model for binding of Resistance to the Bacillus thu-
rais não é uma questão de “se” vai Bacillus thuringiensis toxins in sus- ringiensis bioinsecticide in a fi-
acontecer, mas sim, “quando” irá ceptible and resistant larvae of the eld population of Plutella xylos-
ocorrer. Estas preocupações são váli- diamondback moth (Plutella xylos- tella is due to a change in a mid-
das também para as plantas-Bt (Wri- tella). Applied Environmental Mi- gut membrane receptor. Proc.
ght et al., 1997; Gould, 1998; Tabash- crobiology, 65:1413-1419. Natl. Acad. Sci. USA, 88:5119–
nik & Carriére, 2004, Tabashnik et al., Baxter, S.W.; Zhao, J.Z.; Shelton, A.M.; 5123.
2004 e 2008; Bourguet et al., 2005). Vogel, H. & Heckel, D.G. 2008. Fisher, R.A. 1930. The Genetical The-
Quando analisamos um fenôme- Genetic mapping of Bt-toxin bin- ory of Natural Selection, Claren-
no biológico do ponto de vista da te- ding proteins in a Cry1A-toxin re- don Press, Oxford.
oria da evolução, as unidades de tem- sistant strain of diamondback moth Gahan, L. J., F. Gould, and D. G. He-
po devem ser pensadas em perspec- Plutella xylostella. Insect Bioche- ckel. 2001. Identification of a
tivas diferentes; estas envolvem ge- mistry and Molecular Biology, gene associated with bit resis-
rações que se sucedem ao longo do 38:125–135 tance in Heliothis virescens. Sci-
tempo. As unidades de tempo envol- Birungi, J. & Munstermann, L. E. 2002. ence 293:857-860.
vem períodos maiores do que aque- Genetic Structure of Aedes albopic- Georghiou, G.P., Lagunes-Tejeda, A.
les que usamos para datar a história tus (Diptera: Culicidae) Populations 1991. The occurrence of resis-
da civilização, ou seja, 50 ou mesmo Based on Mitochondrial ND5 Se- tance to pesticides in arthropo-
100 anos, podem ser pouco relevan- quences: Evidence for an Indepen- ds. FAO, Rome. 318 p.
tes. dent Invasion into Brazil and Uni- Georghiou, G.P., Taylor, C.E., 1977.
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do que uma toxina é um indicativo rié, S. 2005. Regulating insect re- mology, 70: 653–658.
de nossa consciência de que as plan- sistance management: the case of Geurgas, S. R.; Infant-Malachias, M.
tas-Bt cultivadas atualmente podem non-Bt corn refuges in the US. Jour- E. & Azeredo-Spin, A. M. L.
ser sucessos temporários. nal of Environmental Management, 2000. Extreme Mitochondrial
No momento, nossa melhor alter- 76(3):210-20. DNA Variability and Lack of
nativa é continuar aplicando as es- Caprio, M. A. 2001. Source-sink dyna- Genetic Structure in Populations
tratégias de manejo da evolução da mics between transgenic and non- of Dermatobia hominis (Dipte-
resistência e aprimorar as pesquisas transgenic habitats and their role ra: Cuterebridae) from Brazil.
por novos métodos para reduzir os in the evolution of resistance. Jour- Annals of the Entomological
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