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Edição Especial - Ecotoxicologia de Bacillus thuringiensis, organizada e coordenada pela Dra. Lídia
Mariana Fiuza, Professora Titular e Coordenadora Executiva do Programa de Pós-Graduação em
Biologia: Diversidade e Manejo de Vida Silvestre da Universidade do Vale do Rio dos Sinos; Bolsista de
Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
Consultora Técnica do Instituto Rio Grandense do Arroz.
fiuza@unisinos.br lmfiuza@pesquisador.cnpq.br
PESQUISA
ARTRÓPODES E BACTÉRIAS ENTOMOPATOGÊNICOS 04
ECOLOGIA DE BACILLUS ENTOMOPATOGÊNICOS 14
TOXINAS DE BACILLUS THURINGIENSIS 24
MECANISMO DE AÇÃO DE BACILLUS THURINGIENSIS 32
TOXICOLOGIA DE BACILLUS THURINGIENSIS ÀS PRAGAS AGRÍCOLAS 36
TOXICOLOGIA DE BACILLUS THURINGIENSIS AOS INSETOS SOCIAIS 40
TOXICOLOGIA DE BACILLUS THURINGIENSIS ÀS PRAGAS URBANAS E VETORES 44
INTERAÇÕES DE BACILLUS THURINGIENSIS E O CONTROLE DE FITOPATÓGENOS 48
TOXICIDADE DE BACILLUS THURINGIENSIS EM ORGANISMOS NÃO-ALVO 54
PRODUTOS DE BACILLUS THURINGIENSIS: REGISTRO E COMERCIALIZAÇÃO 58
PLANTAS TRANSGÊNICAS QUE SINTETIZAM TOXINAS DE BACILLUS THURINGIENSIS E OUTRAS 62
EVOLUÇÃO E MANEJO DA RESISTÊNCIA DE INSETOS 68
Emerson Luís Nunes Costa Andresa Patrícia Regert Lucho Leila Lucia Fritz Lidia Mariana Fiuza
Engenheiro Agrônomo (UFRGS) e Engenheira Agrônoma (UFRGS) e Bióloga (UNISINOS) e Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em
Mestre e Doutor em Fitotecnia – Mestre em Biologia: Diversidade e Mestranda em Biologia: Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS),
Fitossanidade (UFRGS) Manejo de Vida Silvestre Diversidade e Manejo de Doutora em Ciências Agronômicas
(UNISINOS). Vida Silvestre (UNISINOS). (ENSAM-Montpellier) e Pós-Doutora em
biotecnologia Vegetal (CIRAD-
Montpellier).
ntre os artrópodes, os insetos são a maio- quitos, percevejos e outros insetos transmissores espécies predadoras ocorrem em 22 ordens, en-
ria das espécies animais e têm importância de agentes patogênicos), na veterinária (insetos quanto cinco ordens têm representantes parasí-
nas mais diversas áreas. Na agricultura, transmissores de moléstias em animais) e na agri- ticos (Berti Filho & Ciociola, 2002).
podem ser úteis ou nocivos, atuando na cultura. Os predadores, durante seu ciclo evolutivo,
manutenção do equilíbrio das populações podem consumir diversas presas. Normalmente
como inimigos naturais, na polinização, na 1.2 Importância dos são mais generalistas, pois atacam diferentes es-
decomposição da matéria orgânica do solo e como insetos na agricultura pécies, que podem pertencer a diferentes famíli-
pragas das culturas. Nesse trabalho são apresen- as ou ordens, incluindo insetos-praga ou não.
tadas algumas informações sobre a classe Insec- Na agricultura, a ocorrência de insetos tam- Na Tabela 2 são apresentados alguns insetos pre-
ta, destacando-se os insetos de importância agrí- bém tem seus aspectos positivos e negativos. dadores e suas presas.
cola, com a caracterização de ordens e subordens Sob o aspecto negativo estão os insetos que Os parasitóides são em geral mais específi-
e exemplos de famílias e espécies de insetos-pra- se alimentam de plantas e causam danos econô- cos, ou seja, especializados a determinados hos-
ga, vetores de fitopatógenos, predadores e para- micos a diversas culturas agrícolas. Os insetos- pedeiros. Assim, normalmente são mais restritos
sitóides. Também constam dados sobre as bacté- praga, pelo hábito de alimentarem-se de vege- à espécie, família ou ordem. Tais inimigos natu-
rias que atuam como agentes microbianos aplica- tais, são chamados de fitófagos. Dependendo da rais dependem de apenas um hospedeiro para
dos no controle biológico de insetos. estrutura vegetal da qual se alimentam, também completar seu ciclo de desenvolvimento, e dife-
recebem denominações específicas. Assim, os que renciam-se dos parasitas porque causam a mor-
1.1 A Classe Insecta se alimentam de frutos são os carpófagos; de ra- te do hospedeiro e os adultos têm vida livre.
ízes, rizófagos; de folhas, filófagos; de madeira, Atacam em geral as formas jovens dos insetos-
A classe Insecta, com 29 ordens, pertence à xilófagos; sugadores de seiva são fitossucsívoros. praga, inclusive ovos. Quando ocorrem em pos-
superclasse Hexapoda e ao filo Arthropoda. En- Além dos danos causados de forma direta, turas, controlam a praga antes dessa causar da-
tre os aspectos que caracterizam a maioria dos pela alimentação, alguns insetos causam danos nos às culturas. Na Tabela 3 são apresentados
representantes da classe Insecta estão: corpo di- indiretos às culturas, atuando como vetores de alguns insetos parasitóides e seus hospedeiros.
vidido em três porções (cabeça, tórax e abdome), fitopatógenos (Tabela 1). Também há insetos que De acordo com Berti Filho & Ciociola (2002),
cabeça com um par de antenas, olhos compos- estão associados à ocorrência de moléstias, devi- o impacto de predadores é mais difícil de avaliar
tos, peças bucais expostas (ectognatos), tórax com do a injúrias que causam nos tecidos vegetais pelos do que o de parasitóides, pois estes podem ser
três segmentos, três pares de pernas, nenhum, hábitos alimentares ou de postura, favorecendo a observados em seus hospedeiros, enquanto os
um ou dois pares de asas, e abdome com 6 a 11 penetração de patógenos. Como exemplos po- predadores dificilmente deixam sinais de ataque,
segmentos. dem ser citados o minador-dos-citros (Phylloc- principalmente quando consomem toda a pre-
Durante o desenvolvimento, os insetos so- nistis citrela), que favorece a ocorrência do can- sa. Ao contrário dos predadores, os parasitóides
frem metamorfose, por meio de muda do tegu- cro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas têm alta capacidade de encontrar seus hospe-
mento (ecdise). Insetos hemimetábolos são aque- axonopodis pv. citri, o tripes Thrips tabaci asso- deiros, inclusive quando a densidade populaci-
les que sofrem metamorfose chamada incomple- ciado à ocorrência do fungo Alternaria porri, cau- onal de fitófagos é baixa (Shepard et al., 1987 e
ta, passando pelas fases de ovo, ninfa e adulto. sador da mancha púrpura em alho e cebola, e as 1995).
Nesse caso os indivíduos jovens são muito seme- moscas-das-frutas, cujos hábitos de postura, ali-
lhantes aos adultos, mas apresentam o sistema mentação e desenvolvimento facilitam a ocorrên- 1.3 Ordens, subordens e famílias
reprodutivo imaturo e, no caso de insetos alados, cia de patógenos causadores de podridões em de insetos de importância agrícola
nota-se o desenvolvimento das asas, observando- frutos, como o fungo Monilinia fructicola, causa-
se a presença de tecas alares. Insetos holometá- dor da podridão parda em frutos de pêssego. In- Dentre as 29 ordens da classe Insecta, nove
bolos têm metamorfose completa, passando pe- setos sugadores que excretam substâncias açuca- destacam-se pela importância agrícola de seus
las fases de ovo, larva, pupa e adulto. Nesse caso, radas estão associados à ocorrência de fumagina, representantes: Coleoptera, Diptera, Hemiptera,
os indivíduos jovens são bem diferentes dos adul- caracterizada pelas estruturas fuliginosas do fun- Hymenoptera, Isoptera, Lepidoptera, Neuropte-
tos, como ocorre com as borboletas e moscas, go Capnodium sp. ra, Orthoptera e Thysanoptera. O Quadro 1 apre-
onde inclusive há mudança no aparelho bucal. Sob o aspecto positivo estão os insetos poli- senta informações sobre características gerais,
Os besouros também têm metamorfose comple- nizadores, muitos deles essenciais para a forma- famílias e espécies das principais ordens e su-
ta, com larvas morfologicamente diferentes dos ção de frutos e conseqüentemente de sementes; bordens de insetos de importância agrícola.
adultos, mas normalmente o tipo de aparelho os insetos subterrâneos que atuam na decompo- Nesse contexto, as plantas de arroz (Orysa
bucal se mantém. sição da matéria orgânica e em outras caracterís- sativa L.) são hospedeiros para um grande nú-
A classe Insecta representa 70% das espécies ticas desejáveis nos solos destinados à produção mero de insetos-praga e a ação desses artrópo-
animais, e encontra-se distribuída nos mais dife- agrícola e, ainda, os inimigos naturais, que se ali- des é um dos principais fatores que afetam a
rentes ambientes, onde os insetos, com aspectos mentam de outros insetos, muitas vezes manten- orizicultura, pois as perdas variam entre 10 e
positivos ou negativos, destacam-se como orga- do as populações de pragas em níveis que não 35% da produção. No entanto, são poucos os
nismos de importância, como na indústria têxtil causam dano econômico e sem necessidade de insetos que podem ser considerados pragas, pois
(o bicho da seda), na alimentação (o mel produ- adoção de outros métodos de controle. muitos deles são inimigos naturais que estão
zido pela abelha), na saúde humana (moscas, mos- Entre os inimigos naturais, na classe Insecta, associados ao controle biológico dos insetos-pra-
A. Bacillus thuringiensis
Este microrganismo foi descoberto em 1902
por Ishiwata no Japão, através da criação massal
de Bombix mori. Em 1911, B. thuringiensis foi
novamente isolado por Berliner a partir de larvas
de Ephestia kuehniella, na cidade de Thüringe,
na Alemanha, de onde é originário seu atual
nome. Os primeiros ensaios utilizando B. thurin-
giensis foram realizados na Europa entre os anos
de 1920 e 1930, no controle de Ostrinia nubila-
lis, lepidóptero da família Pyralidae. Nos Estados
Unidos e na Europa, entre os anos de 1930 e
1940, numerosos testes foram realizados contra
outras espécies de lepidópteros. Atualmente, no
caso do controle biológico, B. thuringiensis é o
microrganismo mais utilizado em nível mundial .
Para os microbiologistas, B. thuringiensis (Fi-
gura 3) é uma bactéria gram-positiva, esporulan-
te, aeróbica ou facultativamente anaeróbica, na- Figura 2. Araneofauna em sistema de cultivo orgânico e convencional de
turalmente encontrado no solo. As espécies thu- arroz irrigado, RS
ringiensis, cereus e anthracis do gênero Bacillus
apresentam um grau de parentesco tão elevado,
que muitas vezes dificulta, se não impossibilita, Essa bactéria apresenta esporos centrais ou como particularidade inclusões paraesporais crista-
diferenciá-las através de provas bioquímicas e bac- terminais que variam de elípticos a cilíndricos num linas. Existem mais de 300 cepas de B. sphaericus
teriológicas mais simples. Durante muito tempo, esporângio distinto, sem corpo de inclusão para- catalogadas pelo Instituto Pasteur (Paris, França),
as duas primeiras espécies foram consideradas esporal (cristal). Quando os esporos de B. larvae sendo 50% dessas tóxicas às larvas de dípteros.
como sendo uma única. O principal critério utili- são ingeridos pelas larvas e pupas das abelhas,
zado para a distinção entre essas bactérias é a causam a doença americana das abelhas ou pú- 1.4.2 Gênero Clostridium
produção de corpos de inclusões paraesporais trida dos berçários.
durante o processo de esporulação do B. thurin- O gênero Clostridium compreende cerca de 100
giensis. D. Bacillus alvei espécies distribuídas em 19 grupos de acordo com
No controle microbiano dos insetos, o ento- Essa espécie caracteriza-se por apresentar es- a homologia de ARN16s. As células são em forma
mopatógeno Bacillus thuringiensis (Bt) oferece poros centrais ou sub-terminais que variam de de bastonetes, geralmente Gram-positivas, com en-
as melhores alternativas como bioinseticida, mos- elípticos a cilíndricos. Essa espécie causa doença dósporos ovais ou esféricos que as deformam. As
trando-se também um bom candidato à obten- européia das crias das abelhas. espécies desse gênero são estritamente anaeróbias,
ção de formulações comerciais, bem como à en- havendo algumas que toleram a presença de oxi-
genharia genética de plantas. E. Bacillus popilliae e Bacillus lentimorbus gênio livre, porém não formam esporos. Essas bac-
Essas espécies são patógenos obrigatórios, térias são encontradas naturalmente no solo, sedi-
B. Bacillus cereus crescem pouco em meio de cultura, e têm como mentos marinhos, restos animais e vegetais, assim
B. cereus pode ser considerado como pató- características esporos elípticos a cilíndricos, em como na flora intestinal de vertebrados e inverte-
geno facultativo, devido ao seu hábito saprofíti- esporângio nítido num bastonete. B. popilliae cau- brados, como os insetos.
co e à adaptação à vida parasítica das linhagens sa a doença leitosa do tipo A e B. lentimorbus Os efeitos entomopatogênicos de C. brevifas-
entomopatogênicas, sendo atualmente ainda uti- causa a doença leitosa tipo B, ambas em larvas ciens e C. malacosomae foram observados em lar-
lizado como opcional no controle de alguns le- de escarabeídeos. As características de resistência vas de Malacosoma pluviale, havendo a germina-
pidópteros, coleópteros e himenópteros quando dos esporos ao calor, à dessecação e à radiação, ção dos esporos na luz intestinal e o rápido cresci-
o B. thuringiensis mostra-se ineficaz. além da sua longevidade em larvas mortas e par- mento vegetativo, o qual causa a morte em poucos
O ingrediente ativo responsável pela viru- tículas de solo, tornam essas bactérias agentes dias, sem haver invasão na cavidade do corpo do
lência dessa bactéria corresponde a ação enzi- promissores no controle de larvas de Popillia ja- inseto. Alguns autores citam que C. bifermentans
mática da lecitinase, descrita por Heimpel (1954, ponica e Amphimallon mojalis (na Europa e Aus- malaysia sintetiza uma proteína tóxica às larvas de
1955). Em 1989, Rahmet-Alla & Rowley descre- trália), além de Eutheola humilis, Stenocrates spp. Aedes aegypti, Culex pipiens e Anopheles stephensi,
veram que a fosfolipase C de B. cereus estaria e Migdolus morretesi (no Brasil). a qual apresenta elevada similaridade as delta-en-
relacionada a sua atividade entomopatogênica. O mecanismo de ação é semelhante em am- dotoxinas sintetizadas pelo entomopatógeno B. thu-
Essa bactéria caracteriza-se por apresentar célu- bas às espécies, cujas bactérias atuam por inges- ringiensis.
las em forma de bastonetes com esporos cen- tão, passando do trato digestivo à hemolinfa, mul-
trais, não-cristalíferas e ausência de esporângio tiplicando-se, esporulando, causando a septice-
estendido. Alguns autores mencionam que além mia e morte dos insetos.
da lecitinase que levou certas linhagens a vida
parasítica, o endósporo dessa bactéria contém F. Bacillus sphaericus
proteína tóxica de baixa atividade específica, es- Trata-se de uma espécie que apresenta espo-
truturalmente semelhante ao cristal de B. thurin- ros esféricos em posição terminal num esporân-
giensis. gio distendido. Certas cepas dessa espécie pro-
Diversos estudos do modo de ação B. cereus duzem inclusões cristalinas (ou cristais), compos-
mencionam que essa espécie não tolera meio al- tas por dois peptídeos de 42 e 51 kDa que repre-
calino e a enzima para ser ativa exige um pH sentam a toxina binária, com ação inseticida. Há
entre 6,6 e 7,4, tornando essa bactéria específica cepas que sintetizam proteínas inseticidas de
a insetos cujo conteúdo intestinal encontra-se na 100kDa.
faixa neutra, quando então são provocadas alte- Essa bactéria é cosmopolita, tendo sido iso-
rações no epitélio do intestino médio das larvas lada de solo, água e do seu hospedeiro natural
sensíveis, sendo os sintomas patológicos variá- (pernilongos mortos). As cepas foram classifica-
veis em função do modo de infecção por esse das por sorotipos conforme o antígeno flagelar, Figura 3. Bacillus thuringiensis
patógeno. totalizando atualmente cerca de 50 sorotipos, en-
tre os quais 7 contêm cepas ativas contra larvas em microscopia eletrônica de
C. Bacillus larvae de dípteros e as cepas mais tóxicas apresentam transmissão
Subordem Adephaga
Características gerais
• Porção ventral do segmento abdominal (urosternito) basal divido pelas cavidades coxais do terceiro par de
pernas;
• Em geral, predadores.
Principal família de importância agrícola
• Carabidae: adultos e larvas predadores (Ver Tabela 2)
Subordem Polyphaga
Características gerais
• Porção ventral do segmento abdominal (urosternito) basal não divido pelas cavidades coxais do terceiro
par de pernas;
• Maioria das famílias de Coleoptera.
Principais famílias de importância agrícola
• Anobiidae: Lasioderma serricorne – besouro-do-fumo
• Bostrichidae: Rhyzopertha dominica - besourinho-do-trigo
• Buprestidae: Colobogaster cyanitarsis – broca-da-figueira
• Bruchidae: Acanthoscelides obtectus – caruncho-do-feijão
• Cerambycidae: Oncideres impluviata - serrador-da-acácia-negra
• Chrysomelidae: Diabrotica speciosa – vaquinha ou brasileirinho
• Coccinellidae: joaninhas – larvas e adultos predadores (Ver Tabela 2)
Epilachna cacica – joaninha-das-cucurbitáceas (fitófaga)
• Curculionidae: Anthonomus grandis – bicudo-do-algodoeiro
Oryzophagus oryzae – gorgulho-aquático (adulto), bicheira-da-raiz-do-arroz (larva)
Sitophilus zeamais – gorgulho-do-milho
• Elateridae: Conoderus scalaris - larva-arame
• Meloidae: Epicauta atomaria – burrinho
• Scarabaeidae: Euetheola humilis – cascudo-preto-do-arroz
• Scolytidae: Hypothenemus hampei – broca-do-café
• Tenebrionidae: Tribolium castaneum - besouro-do-milho
Observação: As outras duas subordens (Archostemata e Myxophaga) têm pouco mais de 50 espécies descritas.
Subordem Glossata
Característica geral
• Espiritromba formada pelas gáleas maxilares
Principais famílias de importância agrícola
• Crambidae: Azochis gripusalis – broca-da-figueira
Diatraea saccharalis - broca-da-cana-de-açúcar
• Gelechiidae: Phthorimaea operculella – traça-da-batata
Sitotroga cerealella - traça-dos-cereais
• Noctuidae: Agrotis ipsilon – lagarta-rosca
Alabama argillacea - curuquerê-do-algodoeiro
Anticarsia gemmatalis – lagarta-da-soja
Helicoverpa zea - lagarta-da-espiga-do-milho
Mocis latipes – lagarta-dos-capinzais
Spodoptera frugiperda – lagarta-do-cartucho-do-milho, lagarta-da-folha-do-arroz
Pseudaletia sequax – lagarta-do-trigo
• Pieridae: Ascia monuste orseis - curuquerê-da-couve
• Pyralidae: Elasmopalpus lignosellus – lagarta-elasmo
Plodia interpunctella – traça-indiana
• Sphingidae: Erinnyis ello – mandarová-da-mandioca
Manduca sexta - mandarová-do-fumo
• Tortricidae: Cydia pomonella – traça-da-maçã
Grapholita molesta – mariposa-oriental
Observação: Cada uma das outras três subordens (Aglossata, Heterobathmiina e Zeugloptera) tem apenas uma
família. Como característica geral dessas subordens, as gáleas maxilares não formam espiritromba (probóscida).
Croft, 1990; Heinrichs, 1994; Gallo et al., 2002; Heinrichs & Barrion, 2004; Lucho, 2004.
Acrogonia citrina (Hem.: Bactéria - Xylella fastidiosa Clorose variegada dos citros (CVC) Citros
Cicadellidae)
Aphis gossypii (Hem.: Cucumber mosaic virus (CMV) Mosaico da bananeira Bananeira
Aphididae) Papaya ringspot virus – type P (PRSV-P) Mosaico do mamoeiro Mamoeiro
Passion fruit woodiness virus (PWV) Endurecimento dos frutos Maracujazeiro
Bemisia tabaci (Hem.: Bean golden mosaic virus (BGMV) Mosaico dourado do feijoeiro Feijoeiro
Aleyrodidae)
Cerotoma arcuata(Col.: Bean rugose mosaic virus (BRMV) Mosaico rugoso da soja Feijoeiro e soja
Chrysomelidae)
Dalbulus maidis(Hem.: Fitoplasma Enfezamento vermelho do milho Milho
Cicadellidae) Maize rayado fino virus (MRFV) Risca do milho Milho
Spiroplasma kunkelii Enfezamento pálido Milho
Diabrotica speciosa (Col.: Bean rugose mosaic virus (BRMV) Mosaico rugoso da soja Feijoeiro e soja
Chrysomelidae)
Diaphorina citri (Hem.: Bactéria - Candidatus liberibacter spp. Greening ou Huanglongbing (HLB) Citros
Psyllidae)
Dilobopterus costalimai(Hem.: Bactéria - Xylella fastidiosa Clorose variegada dos citros (CVC) Citros
Cicadellidae)
Frankliniella Tospovírus Vira-cabeça Fumo, tomate e outras solanáceas
occidentalis(Thy.: Thripidae)
Frankliniella schultzei(Thy.: Tospovírus Vira-cabeça Fumo, tomate e outras solanáceas
Thripidae)
Hypocryphalus mangiferae Fungo: Ceratocystis fimbriata Seca da mangueira Mangueira
(Col.: Scolytidae)
Myzus persicae (Hem.: Papaya ringspot virus – type P (PRSV-P) Mosaico do mamoeiro Mamoeiro
Aphididae) Passion fruit woodiness virus (PWV) Endurecimento dos frutos Maracujazeiro
Potato leafroll virus (PLRV) Enrolamento da folha da batateira Batata
Potato virus Y (PVY) Mosaico do pimentão Solanáceas
Soybean mosaic virus (SMV) Mosaico comum da soja Soja
Myndus crudus(Hem.: Phytoplasma palmae Amarelecimento letal Coqueiro
Cixiidae)
Oncometopia facialis (Hem.: Bactéria - Xylella fastidiosa Clorose variegada dos citros (CVC) Citros
Cicadellidae)
Planococcus ficus (Hem.: Grapevine leafroll-associated virus Enrolamento da folha Videira
Pseudococcidae) (GLRaV)
Pseudococcus Grapevine leafroll-associated virus Enrolamento da folha Videira
longispinus(Hem.: (GLRaV)
Pseudococcidae)
Rhopalosiphum maidis(Hem.: Soybean mosaic virus (SMV) Mosaico comum da soja Soja
Aphididae) Sugarcane mosaic virus (SCMV) Mosaico comum Milho, sorgo, cana-de-açúcar
Hymenoptera
Aphelinidae Aphelinus mali Pulgão-lanígero Eriosoma Macieira e outras rosáceas
lanigerum(Hem.: Aphididae)
Encarsia (Prospaltella) berlesei Cochonilha-branca Pseudaulacaspis Pessegueiro, amoreira e outras
pentagona (Hem.: Diaspididae) frutíferas
Bethylidae Vespa-de-uganda Prorops nasuta Broca-do-café Hypothenemus hampei Cafeeiro
(Col.: Scolytidae)
Braconidae Apanteles sp. Mandarová-do-fumo Manduca sexta Fumo
(Lep.: Sphingidae)
Aphidius sp. Pulgão-verdeMyzus persicae (Hem.: Diversas culturas, como as
Aphididae) solanáceas
Pulgão-do-algodoeiroAphis gossypii(Hem.: Diversas culturas, como algodão,
Aphididae) solanáceas e cucurbitáceas
Pulgão-da-espigaSitobion avenae(Hem.: Diversas culturas, como trigo,
Aphididae) aveia, cevada
Apanteles subandinus Traça-da-batataPhthorimaea Batata
operculella(Lep.: Gelechiidae)
Chelonus insularis Lagarta-do-cartucho-do-milho Spodoptera Diversas culturas, como milho,
frugiperda(Lep.: Noctuidae) arroz, algodoeiro
Colastes letifer Bicho-mineiro Leucoptera coffeella(Lep.: Cafeeiro
Lyonetiidae)
Cotesia flavipes Broca-da-cana Diatraea saccharalis(Lep.: Cana-de-açúcar, milho e outras
Crambidae) Poaceae (gramíneas)
Diachasmimorpha longicaudata Mosca-do-mediterrâneo Ceratitis capitata Frutíferas diversas
(Dip.: Tephritidae)
Hypomicrogaster hypsipylae Broca-do-cedroHypsipyla grandella(Lep.: Cedro, mogno e outras espécies
Pyralidae) florestais
Chalcididae Brachymeria pseudoovata Traça-dos-cachos Cryptoblabes Videira
gnidiella(Lep.: Pyralidae)
Encyrtidae Ageniaspis citricola Minador-dos-citros Phyllocnistis Citros
citrella(Lep.: Gracillariidae)
Eulophidae Proacrias coffeae Bicho-mineiro Leucoptera coffeella(Lep.: Cafeeiro
Lyonetiidae)
Tetrastichus giffardianus Mosca-do-mediterrâneo Ceratitis Frutíferas diversas
capitata(Dip.: Tephritidae)
Ibaliidae Ibalia leucospoides Vespa-da-madeira Sirex noctilio(Hym.: Pinus
Siricidae)
Ichneumonidae Campoletis flavicincta Lagarta-do-cartucho-do-milho Spodoptera Diversas culturas, como milho,
frugiperda(Lep.: Noctuidae) arroz, algodoeiro
Coccygomimus tomyris Lagarta-cachorrinho Eupseudosoma Eucalipto
aberrans (Lep.: Arctiidae)
Lagarta-mede-palmo Sabulodes caberata Eucalipto
caberata (Lep.: Geometridae)
Microcharops bimaculata Lagarta-da-soja Anticarsia Soja e outras Fabaceae
gemmatalis(Lep.: Noctuidae) (leguminosas)
Scelionidae Telenomus podisi Percevejo-marrom Euschistus heros(Hem.: Soja
Pentatomidae)
Percevejo-do-colmoTibraca Arroz
limbativentris(Hem.: Pentatomidae)
Trissolcus basalis Percevejo-verde-da-soja Nezara viridula Diversas culturas, como soja e
(Hem.: Pentatomidae) mamoeiro
Trissolcus urichi Percevejo-do-colmoTibraca Arroz
limbativentris(Hem.: Pentatomidae)
Trichogrammatidae Trichogramma galloi Broca-da-cana Diatraea saccharalis(Lep.: Cana-de-açúcar, milho e outras
Crambidae) Poaceae (gramíneas)
Trichogramma pretiosum Broca-pequena-do-fruto Neoleucinodes Tomateiro e outras solanáceas
elegantalis(Lep.: Crambidae)
Lagarta-da-espiga-do-milho Helicoverpa Milho, sorgo e outras Poaceae
zea(Lep.: Noctuidae) (gramíneas)
Diptera
Tachinidae Archytas incertus Lagarta-do-cartucho-do-milho Spodoptera Diversas culturas, como milho,
frugiperda(Lep.: Noctuidae) arroz, algodoeiro
Archytas lopesi Lagarta-das-folhas Rolepa unimoda(Lep.: Ipê
Lymantriidae)
Archytas pseudodaemon Lagarta-cachorrinho Eupseudosoma Eucalipto
aberrans (Lep.: Arctiidae
Mariposa-violácea Sarsina violascens(Lep.: Eucalipto
Lymantriidae)
Hemisturmia sp. Lagarta urticante Lonomia Cafeeiro
circumstans(Lep.: Saturniidae)
Lespesia affinis Lagarta-cachorrinho Eupseudosoma Eucalipto
aberrans (Lep.: Arctiidae)
Trichopoda nitens Percevejo-verde-da-soja Nezara viridula Diversas culturas, como soja e
(Hem.: Pentatomidae) mamoeiro
Xanthozona melanopyga Lagarta-das-palmeiras Brassolis Coqueiro, dendezeiro e outras
sophorae(Lep.: Nymphalidae) palmeiras
Sampaio et al., 2001; Gallo et al., 2002; Rodrigues et al., 2004; Pratissoli et al., 2005; Carvalho, 2005; Maciel et al., 2007.
Figura 2. Freqüência de Bacillus spp. nos diferentes sistemas de cultivo e fases da cultura do arroz irrigado no RS; (C)
pousio, (SCC) sistema de cultivo convencional, (SCG) sistema de cultivo pré-germinado, (SCD) sistema de cultivo direto
cillus, entre as quais foram identifica- a compreensão dessas bactérias no uso de maquinários interferem na
das 26,6% como B. thuringiensis; 4,2% ambiente, suas relações patógeno/ microbiota terrestre, afetando a qua-
como B. sphaericus e 69,2% foram hospedeiro e a estrutura de popula- lidade do solo, modificando as pro-
agrupadas como outras espécies de ções, permitindo conhecer o compor- priedades físicas, químicas e biológi-
Bacillus. tamento de microrganismos naturais cas (Valarini et al., 2002; Andréa &
Silva et al. (2002) reforçam a pre- e novos isolados, sejam eles modifi- Hollweg, 2004). Dessa forma, ocor-
dominância de B. thuringiensis (9,1%) cados geneticamente ou introduzidos rem variações no número de indiví-
em solos de todas as regiões brasilei- através de programa de controle mi- duos ou na dinâmica bioquímica na-
ras se comparado a B. sphaericus crobiano (Sosa-Gómez et al., 1998). tural da comunidade de microrganis-
(5,1%), com exceção da região Sul do Ainda assim, as bactérias entomopa- mos. Porém, pouco é conhecido so-
país que B. sphaericus (10,1%) foi togênicas do gênero Bacillus são bre a distribuição desses microrganis-
mais freqüente que B. thuringiensis matéria-prima à industrialização de mos terrestres e a maneira com que
(4,6%). No entanto, em solos agríco- inseticidas bacterianos. Seus efeitos eles respondem as mudanças de ma-
las de diferentes áreas da Argentina a sobre as larvas são tão pronunciados nejo na terra (Buckley & Schmidt,
freqüência de B. sphaericus foi maior que as indústrias de inseticidas con- 2003).
(2,1%) em relação à de B. thuringi- vencionais buscam ampliar suas utili- Diversas populações de bactérias
ensis (1,6%) conforme os dados de zações com o objetivo de controlar formadoras de endósporos ocorrem
Dias et al. (1999). as pragas da agricultura e vetores de em áreas agrícolas e podem contri-
Como foi verificada nas diversas agentes etiológicos de doenças huma- buir diretamente ou indiretamente na
pesquisas, a freqüência de B. thurin- nas e vegetais. produtividade das culturas (Gardener,
giensis em vários locais e as diferen- 2004). As bactérias gram-positivas for-
ças encontradas podem ser atribuídas 1.2 Bacillus spp. em amostras mam uma parte importante da micro-
a inúmeros fatores, incluindo varia- de solos de agroecossistemas biota de solo, o qual constitui o prin-
ções geográficas, climáticas, ativida- cipal ambiente natural que abriga
de agrícola, tipo de solo e método de O crescente aumento de áreas agrí- bactérias do gênero Bacillus (Ibarra
isolamento. Contudo, Martin (1984) colas vem causando diversos efeitos et al., 2003; Mohamed et al., 2007).
discute que B. thuringiensis não pos- ambientais, como a mudança micro- Muitas espécies desse gênero são con-
sui um habitat natural bem definido, biana do solo que é mediada por di- sideradas de importância prática (Cac-
pois esse entomopatógeno é caracte- versos processos e funções (Motavalli camo et al., 2001), já que espécies de
rizado como um microrganismo sa- et al., 2004). Em agroecossistemas, as Bacillus são utilizadas para a síntese
profítico, sem exigências nutricionais mudanças significativas e perceptíveis de uma grande variedade de produ-
restritas, podendo adaptar-se a dife- na comunidade microbiana do solo tos médicos, agrícolas, farmacêuticos
rentes condições ambientais. estão relacionadas com as condições entre outros (Mohamed et al., 2007).
Diante disso, ainda que os ento- ambientais, sendo conseqüência prin- No entanto, as transformações mi-
mopatógenos apresentados possuam cipalmente do uso das práticas de crobianas ocorrem devido às diferen-
semelhanças quanto à biologia e manejo desse ambiente (Atlas et al., tes populações que habitam o solo, e
modo de ação, eles diferem entre si 1991). Práticas agrícolas, tais como as suas distintas reações químicas po-
por características particulares de cada tipo de manejo do solo, rotação de dem ser alteradas sempre que o ecos-
espécie. Estudos ecológicos facilitam culturas, aplicação de agrotóxicos e sistema sofrer algum tipo de interfe-
1.1 Referências
estudo do modo de ação das (i) Inicia pela solubilização dos cris-
proteínas Cry de B. thuringi- tais em pH alcalino no intestino
ensis será abordado revelan- médio dos insetos, liberando as
do a especificidade dessas to- protoxinas de 130-140 kDa para
xinas através da detecção de receptores Cry1 e 70 kDa para Cry2. Essa
presentes no sistema digestivo dos in- etapa é determinante à especifi-
setos-alvo. O tema trata do modo de cidade do isolado de B. thurin-
ação completo de B. thuringiensis, des- giensis à espécie alvo, tanto pela
de a ingestão do entomopatógeno até a alcalinidade do sistema digesti-
morte do inseto. O processo de análise vo quanto pela composição dos
de receptores nos tecidos dos insetos é cristais de B. thuringiensis.
descrito detalhadamente, envolvendo (ii) Protoxinas são ativadas pelas
diferentes abordagens metodológicas de enzimas digestivas, formando
detecção de sítios de ligação das prote- fragmentos tóxicos de 60-65 kDa.
ínas inseticidas e uma discussão com Nessa etapa tanto a composição
dados de diversos autores que desen- proteolítica quanto a estrutura
volvem pesquisas nessa área. protéica do cristal são importan-
tes.
1.1 Modo de ação das proteínas (iii) Toxinas reconhecem receptores
Cry de B. thuringiensis específicos às microvilosidades
das células epiteliais do intesti-
As análises do modo de ação das no médio das larvas suscetíveis
proteínas Cry de B. thuringiensis visam às quais elas se ligam. Os estu-
esclarecer os mecanismos pelos quais dos realizados com BBMV (Brush
estas proteínas exercem seu efeito en- Border Membrane Vesicles) iso-
tomopatogênico e elucidar a especifici- ladas de larvas de lepidópteros
dade das diferentes toxinas (Endo e mostram que a ligação de forte
Nishiitsutsuji-Uwo, 1980; Höfte e Whi- afinidade entre a toxina e o re-
teley, 1989; Gill et at., 1992; Schnepf et ceptor é reconhecido como um
al., 1998; Fiuza, 2004). Considerando o fator importante na determinação
conjunto de informações atualmente dis- do espectro inseticida das prote-
poníveis sobre as fases entre a ingestão ínas Cry (Fiuza et al., 1996). Da-
dos cristais e a morte das larvas dos in- dos de pesquisa mostram que há
setos suscetíveis às proteínas Cry de B. uma correlação positiva entre a
thuringiensis, descreve-se como fases do ligação, in vitro, da toxina no
mecanismo de ação: receptor intestinal e a toxicida-
de, in vivo. Por outro lado, ou-
tros estudos descrevem que o
reconhecimento do receptor é
necessário, mas não é suficiente
para provocar a toxicidade, su-
gerindo a existência de outros
fatores relacionados ao modo de
ação das proteínas Cry. Em 1994,
Knight et al., isolaram de BBMV
de larvas de Manduca sexta
Andresa Patrícia Regert Lucho controle microbiano de inse- ca e causa danos a várias culturas de
Engenheira Agrônoma (UFRGS) e Mestre em tos tem sido considerado um importância econômica, como: sorgo,
Biologia: Diversidade e Manejo de Vida método de controle seguro milho, arroz, alfafa, cana-de-açúcar e al-
Silvestre (UNISINOS). aos humanos e ao meio am- godoeiro (Cruz et al., 1999; Gallo et al.,
biente, sendo assim nesse tra- 2002), ao passo que, a lagarta da soja A.
Neiva Knaak balho são apresentados dados de toxi- gemmatalis é praga-chave para essa cul-
Bióloga (UNISINOS) e Mestre e Doutoranda cidade de B. thuringiensis a insetos- tura e também tem importância para
em Biologia: Diversidade e Manejo de Vida praga, especialmente aos lepidópteros culturas como amendoim, feijão e alfa-
Silvestre (UNISINOS).
e coleópteros pragas de importância fa (Gallo et al., 2002). Já o gorgulho aqu-
agrícola. Os trabalhos de pesquisa en- ático, O. oryzae, cujas larvas são conhe-
Rogério Schünemann
Biólogo (UNISINOS) e Mestre em Biologia: fatizam os métodos de ensaios toxico- cidas como bicheira-da-raiz-do-arroz, é
Diversidade e Manejo de Vida Silvestre lógicos em laboratório e campo, utili- o principal inseto-praga da cultura do
(UNISINOS). zando o entomopatógeno B. thuringi- arroz irrigado no sul do Brasil (Martins
ensis e as formas imaturas das espéci- et al., 2004) e, por isso, é também um
Jaime Vargas de Oliveira es-alvo. dos mais estudados pelas instituições de
Engenheiro Agrônomo (UFSM), Mestre em pesquisa dessa região (Costa, 2003).
Fitotecnia – Fitossanidade/Entomologia 1.1 Os insetos-praga As lagartas de S. frugiperda e A. gem-
(UFPEL), matalis podem ser criadas em laborató-
Entre os insetos-praga para os quais rio, desde que respeitados determina-
Lidia Mariana Fiuza têm sido desenvolvidos estudos e apli- dos padrões de temperatura, umidade
Engenheira Agrônoma (UPF), Mestre em
cações de controle com B. thuringien- relativa e fotoperíodo (28ºC, 70%U.R.,
Fitotecnia – Fitossanidade (UFRGS), Doutora
sis estão os lepidópteros, Spodoptera 12h de fotoperíodo). O ciclo evolutivo
em Ciências Agronômicas (ENSAM-
Montpellier) e Pós-Doutora em biotecnologia frugiperda e Anticarsia gemmatalis, e desses insetos, em laboratório, ocorre
Vegetal (CIRAD-Montpellier). o coleóptero Oryzophagus oryzae, os em torno de 30 dias, desde a fase de
quais serão apresentados como mode- ovo até a emergência do adulto. Os adul-
lo de estudos de toxicidade com B. thu- tos são mantidos em gaiolas de acrílico
ringiensis. com alimentação a base de glicose aquo-
A lagarta militar, S. frugiperda, ata- sa (10%), onde acasalam e realizam a
postura. Os ovos são retirados diaria-
mente e acondicionados junto à dieta
artificial, sendo dieta de Poitout para S.
frugiperda e dieta de Greene para A.
gemmatalis. As lagartas desenvolvem-
se nessa dieta até a formação da pupa,
que então são separadas em macho ou
fêmea até emergir o adulto, finalizando
o ciclo.
No caso de O. oryzae, por se tratar
de uma larva aquática, que se alimenta
das raízes das plantas de arroz, não é
descrito nenhum método de criação efi-
ciente desse inseto, em laboratório. Por-
tanto, quando realizados os bioensaios,
esses insetos são coletados diretamente
de áreas de plantio de arroz infestadas,
trazidos ao laboratório para então se-
rem utilizados nos ensaios biológicos. do coleóptero O. oryzae, os testes podem com apenas cinco isolados, sendo que a
ser realizados em tubos de ensaio con- cepa com maior potencial inseticida foi
1.2 Bioensaios tendo uma planta de arroz, água e a sus- analisada quanto ao perfil protéico con-
de B. thuringiensis pensão bacteriana, com 5 larvas do inse- firmando a presença de proteínas ativas
com os insetos-praga to por tubo (Figura 1B). Todos os bioen- contra lepidópteros. As reduzidas taxas de
saios utilizam placas ou tubos controle, mortalidade podem estar relacionadas a
Para determinar a atividade insetici- contendo os insetos e sem adição dos tra- diferentes fatores, como por exemplo, o
da de isolados bacterianos, os bioensai- tamentos. Os ensaios são acondicionados modo de ação das proteínas bacterianas
os podem ser classificados como preli- em câmaras climatizadas nas mesmas con- no intestino do inseto, ou modificações
minares ou seletivos. A utilização de dições de criação ou manutenção dos in- no sítio de ligação dessas toxinas na mem-
suspensão de células e esporos bacteri- setos em laboratório, descritas anterior- brana intestinal. Além disso, cada isolado
anos é uma forma de identificar isola- mente. Os experimentos são avaliados até tem uma característica genética particu-
dos ativos cujas propriedades mostram o 7º dia após a aplicação dos tratamentos lar, ou seja, essas toxinas são codificadas
eficiência no controle de insetos-praga. e os dados são utilizados para o cálculo por genes e esses têm uma determinada
Bioensaios também são utilizados da mortalidade corrigida pela fórmula de especificidade.
para determinar a Concentração Letal Abbott (1970). Em outro trabalho, Berlitz & Fiuza
Média (CL50), ou seja, a quantidade de (2004) testaram B. thuringiensis aizawai
entomopatógeno que deve ser utilizada 1.3 Controle de S. frugiperda proveniente do produto formulado Xen-
para controlar a metade da população com B. thuringiensis tari® mostrando que a suspensão celular
do inseto. Para esses, são usados os iso- apresentou CL50 de 1,9x108 UFC/mL (Uni-
lados que causaram um eficiente índice Apesar de inúmeras pesquisas envol- dade Formadora de Colônia/mL) reduzin-
de mortalidade nos testes preliminares. vendo esse lepidóptero e seu controle, há do em 56,7% o consumo alimentar das
Nesta análise são utilizadas suspensões dificuldade em encontrar um isolado bac- lagartas. Isso indica que a bactéria inibe a
contendo células e esporos ou a prote- teriano patogênico a essa espécie. Essa alimentação do inseto-praga, o que tam-
ína purificada, dosados em diferentes afirmação é comprovada no trabalho de bém está relacionado com a mortalidade
concentrações. Os ensaios de toxicida- Polanczyky et al. (2003) que, utilizando das lagartas.
de são importantes também, pois reve- 58 subespécies de B. thuringiensis em S. Entretanto o fato de um isolado cau-
lam injurias e detrimento morfológico, frugiperda demonstraram que apenas B. sar mortalidade às lagartas não implica
além de determinar em quanto tempo thuringiensis morrisoni apresentou 80% que, quando purificadas as proteínas tó-
ocorre a morte do inseto, Tempo Letal de mortalidade das lagartas. Também Sil- xicas, essas serão ativas ao inseto. É o que
Médio (TL50). Esses dados são então ana- va et al. (2004), testaram 77 isolados sen- ocorreu na pesquisa de Berlitz (2006), que,
lisados para que, quando aplicado em do que somente 4 foram ativos a espécie- quando utilizada a suspensão de células
lavouras, o bioinseticida seja eficiente alvo. e esporos bacterianos obtiveram 100% de
no controle dos insetos-alvo. Recentemente, Berlitz & Fiúza (dados mortalidade, entretanto quando purifica-
Os ensaios utilizando as lagartas de não publicados) testaram 132 isolados das as proteínas do isolado, essas causa-
S. frugiperda e A. gemmatalis podem onde apenas um apresentou alta toxici- ram baixa mortalidade às lagartas apre-
ser realizados em mini-placas de acríli- dade ao inseto, com 100% de mortalida- sentando CL10 de 268µg/mL. Esse fato pode
co, contendo dieta artificial, onde é apli- de, quando utilizada a suspensão de cé- estar relacionado ao conjunto de fatores
cada a quantidade de inóculo pré-de- lulas e esporos bacterianos. Em outro tra- de virulência presentes na bactéria, ou
terminada para uma lagarta por placa balho, Berlitz et al. (2003) testaram 24 iso- então a presença de outras toxinas como,
(Figura 1A). A quantidade de insetos lados de B. thuringiensis provenientes de por exemplo, proteína Vip, exotoxinas, he-
pode variar entre 20 e 50 e o número de diversas regiões orizícolas do RS e obteve molisinas, quitinases, entre outras, que
repetições entre três e cinco. No caso as maiores mortalidades entre 31,6 e 100% estão presentes na suspensão bacteriana.
Raquel de Castilhos-Fortes
Bióloga (UNISINOS) e Mestre em Microbiologia
Agrícola e do Ambiente (UFRGS)
representar novos genes cry. ído de uma dieta líquida composta de roskildiensis (Btr) com uma mortalidade
peptona bacteriológica, glicose e extra- de 100%; seguidos dos isolados B. thu-
1.3 Bioensaios de B. thuringiensis to de levedura, com substituição perió- ringiensis yunnanensis (Bty) com 71,4%;
com insetos-sociais dica de 48 horas, previamente acondici- B. thuringiensis huazhongensis (Bth)
onada em pequenos frascos de polipro- com 57,1%; B. thuringiensis brasiliensis
Cupins e formigas sofrem ação de di- pileno, acrescida de cinco indivíduos de (Btb) com 52,3%; B. thuringiensis col-
versos tipos de patógenos como: vírus, Acromyrmex lundi (Figura 2). meri (Btc) com 42,85% e B. thuringien-
bactérias, fungos e nematóides, sendo a Utilizando o referido método de bi- sis kurstaki (Btk) com 28,57% de morta-
defesa contra os mesmos pouco conheci- oensaio de B. thuringiensis com lidade ao 7o dia após a aplicação dos tra-
da. A complexidade do comportamento e Acromyrmex lundi, pode-se obter 100% tamentos, conforme resultados apresen-
a biologia dificultam o controle destes in- de sobrevivência das formigas por 180 tados na Figura 3.
setos (Leonardo, 1989; Diehl-Fleig, 1993). horas (7,5 dias), tempo suficiente para a Para a determinação da CL50 de B.
Portanto, técnicas de bioensaios eviden- avaliação dos bioensaios com o ento- thuringiensis os referidos autores utili-
ciando o efeito desses entomopatóge- mopatógeno. zaram os isolados B. thuringiensis soon-
nos sobre os insetos sociais, considera- cheon e B. thuringiensis roskildiensis os
dos pragas, são escassos. Nessa linha de 1.4 Toxicidade de B. thuringiensis quais causaram 100% de mortalidade nos
pesquisa, Castilhos-Fortes et al. (2002) aos cupins e formigas cortadeiras ensaios pré-seletivos. As CL50 de B. thu-
avaliaram a patogenicidade de diferen- ringiensis sooncheon observadas foram
tes cepas de B. thuringiensis, sobre Na- As referências de B. thuringiensis 46,98x108, 66,19x106 e 5,14x105 esporos/
sutitermes ehrhardti, onde foram utili- contra isópteros são restritas, havendo ml, aos três, cinco e sete dias após os
zadas suspensões contendo uma mistura poucos dados disponíveis, como os de tratamentos, respectivamente. Para B.
de células vegetativas, esporos e cristais. Cowie et al. (1989), que citam algumas thuringiensis r oskildiensis foram
Porções de celulose (1cm2), utilizadas cepas de B. thuringiensis tóxicas a vári- 30,78x105, 48,40x106 e 16,80x104 espo-
como substrato alimentar, foram mergu- as espécies de térmitas em condições ros/ml aos três, cinco e sete dias, res-
lhadas nas suspensões de B. thuringien- laboratoriais. Khan et al. (1985), também pectivamente.
sis, as quais foram colocadas em placas ressaltam a carência de trabalhos desen- A toxicidade de B. thuringiensis para
de acrílico com seis compartimentos de volvidos visando testar B. thuringiensis N. ehrhardti foi confirmada pelos auto-
5,5 cm de diâmetro. Em cada comparti- em térmitas, embora tenham citado os res através de observações microscópi-
mento, contendo 1cm2 de celulose trata- trabalhos de Smythe & Coppel (1965), cas de cupins macerados aos três, cinco
da, foram colocados dez insetos (Figura os quais constataram que a solução com e sete dias após a aplicação dos trata-
1). B. thuringiensis mostrou-se tóxica a três mentos. As estruturas de B. thuringien-
O acondicionamento dos ensaios foi espécies de Reticulitermes, bem como a sis formadas por células em forma de
feito em estufa incubadora tipo B.O.D., a Zootermopsis angusticollis. Khan et al. bastonete, cadeias, esporos e inclusões
28O C, 70% de umidade relativa, no escu- (1977) isolaram B. thuringiensis a partir paraesporais podem ser observadas na
ro. A mortalidade dos insetos foi avaliada de ninfas do isoptero Bifiditermes bee- Figura 4A para B. thuringiensis soon-
diariamente até o 7° dia após a instalação soni infectadas, encontradas em campo. cheon e na Figura 4B para B. thuringi-
dos bioensaios, observando-se os cupins Nos testes de toxicidade contra Micro- ensis roskildiensis.
mortos com sintomas característicos de cerotermes champion, a suspensão de A patogenicidade e o desenvolvimen-
intoxicação por B. thuringiensis. bactérias testada causou alta mortalida- to de B. thuringiensis foram estudados
Em 2003, Pinto et al. testaram o efei- de em condições laboratoriais. por Khan et al. (1985) nos isópteros Mi-
to de B. thuringiensis em formigas cor- Considerando a patogenicidade de crotermes championi e Bifiditermes be-
tadeiras, cujo método de bioensaio foi B. thuringiensis para N. ehrhardti, Cas- esoni, que se mostraram suscetíveis à
desenvolvido objetivando a sobrevivên- tilhos-Fortes el al. (2002) testaram 57 infecção causada pela bactéria após a
cia dos indivíduos por no mínimo sete cepas desta bactéria, sendo que sete aplicação do formulado Thuricide-HP.
dias, tempo suficiente para a avaliação mostraram-se mais efetivas: B. thuringi- De acordo com a análise histopatológi-
de bioensaios. Esse método foi constitu- ensis sooncheon (Bts) e B. thuringiensis ca, foi constatado que a ação de B. thu-
utilização de bactérias en- países da Ásia, África e Américas. O Culex res devido ao seu potencial para o contro-
tomopatogênicas do gêne- quinquefasciatus é responsável pela trans- le de pragas (Priest, 2000; Fiuza, 2001). Entre
ro Bacillus, como agente de missão da Wuchereria bancrofti, agente eti- estes patógenos destacam-se as bactérias
controle populacional de ológico da filariose bancroftiana no Brasil, do gênero Bacillus, com potencial biopes-
pragas urbanas e vetores de além de ser um potencial vetor para o Ví- ticida que representam cerca de 90% do
agentes patogênicos, tem rus do Oeste do Nilo (VNO), originado na mercado mundial (Schnepf et al., 1998), sen-
relevância nas pesquisas nacionais e inter- África, onde as aves são os hospedeiros e do amplamente utilizados como uma alter-
nacionais. Sendo assim, esse trabalho trata reservatórios naturais, podendo acometer nativa aos inseticidas químicos em termos
do controle desses insetos, utilizando as es- o homem, cavalos e outras espécies, cau- de segurança a organismos não-alvo e
pécies B. thuringiensis e B. sphaericus, sando desde febre, dor de cabeça e mialgi- quando ocorre o desenvolvimento de re-
onde se destacam as características das es- as até encefalite severa e meningite. Desde sistência a inseticidas químicos (Rodrigo-
pécies do grupo Bacillus, sua ocorrência e 1999 ocorrem epidemias da doença nos Simón et al., 2006).
alguns dados de autores que realizaram pes- EUA e, até o momento, já foram registra- Duas espécies de bactérias entomopa-
quisas na área da saúde pública. dos mais de 19 mil casos de infectados com togênicas se destacam no controle biológi-
mais de 750 óbitos (Centers for Disease co dos insetos vetores: B. sphaericus e B.
1.1 Bacillus spp. no controle de Control and Prevention, 2006). Recente- thuringiensis israelensis. Estes microrganis-
vetores de doenças mente, o vírus passou a circular no Caribe mos estão sendo comercializados há mais
e já foi isolado na Colômbia e em cavalos de uma década, pois produzem proteínas
1.1.1 Insetos vetores de doenças mortos na Argentina (Berrocal, 2006; Mo- inseticidas que, ao serem ingeridas, são le-
Algumas espécies dos gêneros Anophe- rales, 2006). O Brasil tem um plano de vi- tais para as larvas dos mosquitos devido a
les, Aedes, Culex e Mansonia podem ser gilância para detectar a introdução do VNO sua ação no trato digestivo. O Bti tem ativi-
importantes vetores de patógenos huma- no país, visto que o Cx. quinquefasciatus, dade decrescente para os gêneros Aedes,
nos responsáveis por enfermidades como potencial vetor, é abundante, além de um Simulium, Culex e Mansonia, já o B. spha-
malária, febre amarela, encefalite, dengue contingente considerável de aves migrató- ericus é particularmente eficiente para o
e filariose. Estas doenças atingem um nú- rias que ocorre no país por ser originário controle de larvas de Cx. quinquefasciatus
mero significativo de pessoas em diversos de rotas das Américas e de países vizinhos, e produtos comerciais à base desta bacté-
onde ocorre a circulação do vírus (Luna et ria estão disponíveis no Brasil.
al., 2003). O principal fator tóxico do B. sphaeri-
É importante ressaltar que há uma gran- cus para larvas de Cx. quinquefasciatus é a
de dificuldade do controle populacional toxina binária (Bin) contida em um cristal
destes mosquitos devido a suas caracterís- protéico produzido durante a fase de es-
ticas biológicas como curto ciclo de vida, porulação da bactéria. Após a ingestão deste
alta capacidade reprodutiva e de adapta- cristal pelas larvas, ocorre a sua solubiliza-
ção ao ambiente. O controle, através do ção em pH intestinal alcalino e a protoxina
uso de inseticidas químicos tem apresenta- liberada no lúmen é clivada por serinopro-
do problemas devido ao seu modo de ação teases para atingir a forma de toxina ativa.
não específico, além da possibilidade de A toxina Bin ativa interage com receptores
rápida seleção de resistência de insetos a específicos presentes na membrana apical
estes compostos. Por estas razões, a pro- das células do epitélio intestinal das larvas,
cura por agentes mais seletivos aumentou principalmente nas regiões do ceco gástri-
e, com isso, a adoção de métodos de con- co e intestino posterior.
trole biológico cresceu (Centers for Disea- O B. sphaericus apresenta uma grande
se Control and Prevention, 2006). vantagem em relação ao Bti: a ótima per-
sistência em criadouros ricos em matéria
1.1.2 Bactérias entomopatogênicas orgânica, típicos de larvas de Culex, além
A microflora bacteriana dos insetos, de seus esporos sofrerem reciclagem nos
confinada no intestino, é rica, diversa e cadáveres das larvas, o que pode ampliar
compreende bactérias Gram-positivas e seu período de persistência nos criadouros
negativas. Entre as bactérias Gram-positi- (Nicolas et al., 1987; Skovmand & Baudu-
vas, algumas auxiliam na digestão dos ali- in, 1997).
mentos, porém outras são patogênicas e Populações de larvas de Culex podem
recebem grande atenção dos pesquisado- apresentar resistência ao B. sphaericus após
Neiva Knaak
Bióloga (UNISINOS) e Mestre e Doutoranda em
Biologia: Diversidade e Manejo de Vida Silvestre
(UNISINOS).
darach, respectivamente. Assim, foi obser- ram B. thuringiensis japonensis e nematói- B. thuringiensis e controle mecânico de es-
vado um efeito sinérgico dos ingredientes des em larvas de Cyclocephala hirta e C. pécies de Simulium, revelando 88,83% de ín-
ativos de B. thuringiensis aizawai e extra- pasadenae (Coleoptera: Scarabaeidae) mos- dice reducional médio de larvas dos mos-
to de M. azedarach contra S. frugiperda, trando que essa interação apresentou mai- quitos. Já Andrade & Modolo (1991) testa-
pois o resultado da associação foi superior or mortalidade que os tratamentos indivi- ram B. thuringiensis israelensis em mistura
ao uso dos bioinseticidas isoladamente. duais, viabiliando assim o uso integrado com o pesticida temephos contra A. aegypti
Apesar disso, a interação de métodos desses organismos. causando 91 e 98% de mortalidade corrigida,
de controle nem sempre apresenta o efeito B. thuringiensis também pode ser utili- diminuindo o tempo letal médio. O modo
desejado sobre o inseto. Isso foi demons- zado em combinação com outros micror- de ação das proteínas de B. thuringiensis is-
trado por Berlitz (2006) que utilizou B. thu- ganismos para o controle de insetos-praga. raelensis foi avaliada por Gómez et al. (2007)
ringiensis simultaneamente com o cinamo- Nesse sentido, Broderick et al. (2000), iden- demonstrando que a presença da proteína
mo, M. azedarach. As concentrações utili- tificaram um aumento de 35% da mortali- Cyt1Aa aumenta a capacidade de ligação, na
zadas nesse trabalho não demonstraram dade do lepidóptero Lymantria dispar (L.) membrana intestinal do inseto, da proteína
eficiência, pois a mortalidade do lepidóp- quando usado B. thuringiensis e zitermici- Cry11A. Isso porque a proteína Cyt depois
tero S. frugiperda foi de, apenas 6% e para na A de B. cereus, sendo que a zitermicina de solubilizada expõe regiões específicas na
larvas do coleóptero Oryzophagus oryzae é responsável pelo efeito sinergético dos membrana, promovendo a ligação da prote-
foi de 11%. Esse fato pode estar associado microrganismos. Primeiramente porque ína Cry e aumentando assim, sua atividade
a um possível efeito inibitório da bactéria essa substância acumula-se em grandes inseticida.
sobre o extrato vegetal ou vice-versa. quantidades nas culturas de B. cereus, se- Essas informações indicam que se torna
Em relação ao uso simultâneo de bio- gundo porque quando utilizada individu- cada vez mais importante as pesquisas nessa
inseticidas, Sabbour (2003) realizou ensai- almente não causa efeito sobre o inseto, área, uma vez que a aplicação de inseticidas
os com extrato das folhas e óleo volátil de somente em combinação com B. thuringi- químicos resulta em grandes impactos nos
Taxodium distichum (L. Rich) e Boswella ensis, aumentando a mortalidade de L. dis- agroecossistemas, pois atingem não somente
carterri, em combinação com a bactéria B. par. os inimigos naturais dos insetos, mas tam-
thuringiensis e o fungo Beauveria bassia- Os resultados de Wraight & Ramos bém contaminam o solo e os lençóis de água
na (Vuillemin, 1912), em pragas de produ- (2005) também demonstram sinergismo de subterrâneos.
tos armazenados. Em seus resultados a com- 35,2; 33,8; e 21,1% quando utilizado simul-
binação dos entomopatógenos com as plan- taneamente um produto comercial a base 1.2 Interações tri-tróficas
tas, reduziu significativamente o valor da de B. thuringiensis e do fungo B. bassiana
Concentração Letal Média (CL50), conforme em Leptinotarsa decemlineata. Esses auto- Para um melhor entendimento dos agro-
mostra a Tabela 1. res revelam que a interação pode ter sido ecossistemas, é importante estudar as rela-
De acordo com Novan, (1992) a utili- ocasionada pela intoxicação causada pelo ções existentes entre as espécies e suas teias
zação de extratos vegetais reduz a alimen- entomopatógeno, inibindo a alimentação alimentares, que constituem um complexo de
tação do inseto através de seus aleloquími- do inseto, ocasionando uma situação de interações tróficas onde há interesse em in-
cos, o que otimiza a atividade inseticida do estresse, e efeitos fisiológicos, o que facili- terações tri-tróficas visando a utilização de
microrganismo, resultando em um maior tou a penetração do fungo no inseto. Efei- patógenos, parasitóides e predadores, junta-
índice de mortalidade. tos semelhantes também foram observados mente com a planta hospedeira/inseticida.
Já os autores Zhang et al. (2000) utili- por Ma et al. (2008), quando utilizada a Essas relações podem ser devidamente utili-
zaram B. thuringiensis kurstaki em diferen- proteína Cry 1Ac de B. thuringiensis com zadas nas práticas de manejo de insetos-pra-
tes concentrações e suplementado com trip- B. bassiana. Esses autores observaram efei- ga, uma vez que se torna importante a pre-
sina de soja mostrando uma inibição no tos deletérios na mortalidade das larvas de servação de inimigos naturais dos insetos, que
crescimento larval de H. armigera (P<0,05). Ostrinia furnacalis (Lepidoptera: Crambi- são também os controladores das populações
Em ensaios in vitro e in vivo, os autores dae), além de diminuição na formação de da praga.
comentam que a degradação das toxinas pupas e na emergência dos insetos adul- As interações tri-tróficas podem ser re-
de B. thuringiensis pode ser inibida pela tos. sultantes de dois efeitos: efeito direto da plan-
tripsina da soja. Os dados sugerem que o Os autores Brousseau et al., (1998) tam- ta sobre a biologia e o comportamento do
tempo de retenção das toxinas no intesti- bém encontraram efeitos sinergéticos quan- inimigo natural, devido às substâncias quí-
no médio das larvas foi estendido, ocor- do avaliada a combinação de B. thuringi- micas ou caracteres morfológicos da planta;
rendo também um sinergismo entre os cris- ensis kurstaki com destruxinas do fungo M. ou efeito da planta sobre a praga alterando
tais inseticidas da bactéria e os inibidores anisopliae para combater larvas de Choris- seu comportamento, desenvolvimento, tama-
de tripsina da soja. toneura fumiferana (Clemens, 1865) (Le- nho, o que afeta também seu inimigo natu-
No caso do uso interativo de B. thu- pidoptera: Tortricidae). ral. Essas interações são mais complexas
ringiensis com nematóides entomopatogê- Outra forma de controle integrado foi quando há mais de uma espécie de inimigo
nicos, Koppenhöfer e Kaya (1997) utiliza- avaliada por Petry et al. (2004) utilizando natural envolvida. Nesse tipo de interação,
pesquisas; experimentação; produção; 1999) e o seu complemento editado em colas. Junto ao MAPA são determina-
embalagem e rotulagem; transporte; ar- 2003. dos os “períodos de carência” dos pro-
mazenamento; comercialização; propa- O Ministério da Saúde baseia-se 26 dutos, que fazem referência ao interva-
ganda comercial; utilização; importação; ensaios de exposição aguda em animais lo de segurança.
exportação; destino final de resíduos e de laboratório, cujos dados são extra- O Ministério do Meio Ambiente re-
embalagens; registro; classificação; con- polados para o homem, estabelecendo quer 20 ensaios ecotoxicológicos, 36
trole; inspeção e fiscalização de produ- assim 4 Classes Toxicológicas aos agro- estudos de características físico-quími-
tos. tóxicos: cas, 4 testes de metabolismo e degra-
A “Lei dos Agrotóxicos” foi regula- dação. Em seguida o produto é classifi-
mentada pelos Decretos n. 98.816, de • Classe I - Extremamente tóxi- cado quanto ao seu potencial de peri-
11 de janeiro de 1990 e Dec. 4.074 de cos - rotulagem vermelha culosidade no meio ambiente:
04 de janeiro de 2002, sendo que atual- • Classe II – Altamente tóxico -
mente para registro de um biopesticida rotulagem amarela • Classe I – Produto altamente
no Brasil estão envolvidos os seguintes • Classe III – Moderadamente tó- perigoso
ministérios: xico – rotulagem azul - Bt • Classe II – Produto muito peri-
• Classe IV – Pouco tóxico – ro- goso
• MAPA: avaliação dos aspectos tulagem verde - Bt • Classe III – Produto perigoso -
agronômicos. Bt
• ANVISA: avaliação da toxicolo- No caso das formulações de B. thu- • Classe IV – Produto pouco pe-
gia ao homem, incluindo as aná- ringiensis, essas se encontram predo- rigoso - Bt
lises de resíduos em alimentos. minantemente distribuídas entre as clas-
• IBAMA: avaliação das interações ses III e IV, as quais se classificam como Como anteriormente, nesse caso os
dos agrotóxicos com o meio am- moderadamente ou pouco tóxicas. Es- produtos de B. thuringiensis se enqua-
biente e seus componentes bióti- sas classes toxicológicas referem-se sem- dram como perigosos ou pouco peri-
cos. pre a manipulação dos produtos pelos gosos ao meio ambiente. Os dados que
fabricantes, transportadores, aplicado- competem ao IBAMA envolvem os as-
Ao Ministério da Agricultura com- res e outros. pectos: físico-químicos que revelam a
petem basicamente as determinações Também compete a ANVISA o esta- identidade da molécula do biopestici-
sobre as pragas a serem controladas, belecimento de “tolerância” que se re- da; ecotoxicológicos que englobam es-
assim como as dosagens e o número fere aos limites máximos dos resíduos, tudos com organismos não alvos (abe-
de aplicações dos produtos, cujos da- os quais são avaliados em estudos de lhas, minhocas, microcrustáceos, peixes,
dos podem ser consultados no Compên- exposição subcrônica e crônica e da- aves, microrganismos do solo e outros);
dio de Defensivos Agrícolas (Andrei, dos desses resíduos nos produtos agrí- comportamento no meio ambiente que
o contexto das aplicações vem sendo considerada uma alternativa re- to várias modificações têm sido testadas
biotecnológicas do ento- levante junto aos métodos de controle de para aumentar a eficiência de expressão
mopatógeno B. thuringi- insetos-praga das plantas de interesse eco- destes genes, como adaptar os códons pre-
ensis, aqui se encontram nômico, onde se destacam as plantas-Bt ferenciais de bactérias para códons prefe-
dados bibliográficos sobre resistentes a diversas ordens de insetos, renciais de plantas e/ou aumentar o con-
a transformação genética principalmente aos lepidópteros e coleóp- teúdo de G/C nas seqüências codificantes
de plantas, com genes de teros. (Perlak et al., 1991), retirada de sítios de
B. thuringiensis e outros, que conferem splicing, modificações dos sinais de poli-
resistência ou tolerância das plantas hos- 1.1 Genes de adenilação dentro da região codificante
pedeiras aos insetos-praga. As espécies ve- B. thuringiensis em plantas (Koziel et al., 1993), inserção de íntrons
getais apresentam naturalmente uma re- na região 5’ da seqüência não traduzida
sistência aos insetos fitófagos, diferenci- B. thuringiensis apresenta um geno- (Jouanin et al., 1998) bem como a inser-
ando assim os grupos de pragas em fun- ma de 2,4 a 5,7 milhões de pares de ba- ção de genes nativos em cloroplastos ini-
ção das plantas hospedeiras. A resistên- ses, com elementos extracromossômicos cialmente restrita a tabaco (McBride et al.,
cia vegetal está baseada em vários meca- lineares ou circulares (Carlson et al., 1994). 1995).
nismos de defesa, incluindo uma gama Os genes cry estão localizados em plas- Genes parcialmente ou totalmente sin-
de metabólitos secundários nocivos pro- mídios, sendo esses responsáveis pela sín- téticos têm sido construídos, nestes genes
duzidos pelas plantas. A biotecnologia ve- tese de diferentes proteínas inseticidas, a seqüência de nucleotídeo é modificada
getal, através do desenvolvimento de téc- cuja clonagem e caracterização desses sem a troca da seqüência de aminoácido,
nicas de biologia celular e molecular de genes em 1981 (Schnepf & Whiteley, 1981) a expressão destes genes em plantas au-
vegetais superiores oferece novas possi- revelou novas perspectivas de aplicação mentou significativamente (de menos de
bilidades ao melhoramento de plantas cul- do entomopatógeno. Entre essas se encon- 0,001% de proteína solúvel na folha para
tivadas, facilitando a obtenção de plantas tra a transgenia que permite introduzir os até 1%), sendo os genes totalmente sinté-
resistentes ao ataque dos insetos. A trans- genes de B. thuringiensis codificadores das ticos os mais eficientes em testes de cam-
formação genética e a regeneração in vi- toxinas nos genomas dos vegetais, permi- po (Jouanin et al., 1998).
tro de plantas, somadas à disponibiliza- tindo a expressão contínua das proteínas Os estudos iniciais se basearam em
ção de genes de interesse agronômico, em todos os tecidos da planta e atingin- plantas como tabaco e tomate (Barton et
destinados a introdução em plantas, têm do, assim, apenas os insetos-praga que se al., 1987; Fischhoff et al., 1987; Vaeck et
permitido a geração de plantas transgêni- alimentam dos tecidos (de Maagd et al., al., 1987) devido às facilidades de trans-
cas com características específicas, sem o 1999). A primeira geração de plantas trans- formação, cultivo em casa de vegetação e
rompimento de combinações genéticas já gênicas resistentes a insetos foi desenvol- crescimento rápido. Vários genes quimé-
selecionadas pelos programas convenci- vida com o uso de genes codificadores de ricos contendo um gene promotor de ori-
onais de melhoramento genético de plan- proteínas inseticidas de B. thuringiensis gem vegetal; a seqüência completa do gene
tas cultivadas. A transformação de plan- (Fischhoff, 1987; Vaeck et al., 1987). cry e uma região de poliadenilação foram
tas com genes de origem microbiana, ve- Os genes cry de B. thuringiensis são introduzidos em tabaco e tomate, porém
getal e animal, os quais codificam especi- talvez os exemplos mais conhecidos de nenhuma expressão foi detectada em ta-
ficamente toxinas com efeito inseticida, genes exógenos para os quais tem sido baco e níveis muito baixos foram obser-
difícil obter um nível satis- vados em tomate (Perlak et al., 2001).
fatório de expressão em A truncagem da seqüência codificadora
plantas transgênicas (Diehn do gene cry por eliminação da metade 3’
et al.,1996). A baixa expres- desta seqüência aumentou a expressão
são dos genes de B. thurin- para níveis detectáveis de proteína e mRNA
giensis em plantas tem sido (Estruch et al., 1997). Os primeiros testes
associada à instabilidade de campo com versões truncadas do gene
das moléculas de mRNA, cry foram eficientes no controle de Heli-
uma característica ampla- coverpa zea no caso do tomate (Perlak &
mente observada da expres- Fischhoff, 1993), porém não no controle
são destes genes em plan- de Heliothis virescens no caso do algodão
tas é o pouco ou nenhum (Jenkins et al., 1991). Os resultados mais
acúmulo de mRNA mesmo efetivos foram obtidos utilizando genes sin-
quando sob controle de téticos (Perlak et al., 1990; Perlak et al.,
promotores fortes. Para tan- 1991; Van der Salm et al., 1994).
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Tabela 1. Genes de B. thuringiensis utilizados na engenharia genética de plantas
CMe (cevada); CMTI (abóbora); MTI-2 (mostarda); Lepidoptera fumo, arabidopsis, batata, alfafa, beladona,
PI-IV (soja); KTi3 e SKTI (soja); inibidor de tomate
proteinase I e II (tomate); SI (animal);
α1AT(animal)
Pot PI-I e Pot PT-II (batata); BPTI (pâncreas Lepidoptera, Orthoptera petúnia, fumo, bétula, alface, arroz, batata,
bovino); trevo branco
C-II (soja); CpTI (cowpea) Coleoptera, Lepidoptera colza, álamo, batata, fumo, maçã, alface, arroz,
morango, girassol, batata-doce, tomate
OC-1 (arroz) Coleoptera, Homoptera colza, álamo, fumo
anti-quimiotripsina (Manduca sexta), anti-elastase Homoptera algodão, fumo, alfafa
(M. sexta), anti-tripsina (M. sexta)
Inibidores de alfa-amilase
WMAI-1 (cereais) Lepidoptera fumo
αAI-Pv (feijão) Coleoptera feijão, ervilha, fumo
Lectinas
GNA (anêmona), p-lec (ervilha) Lepidoptera, Homoptera uva, colza, batata, arroz, batata-doce, cana-
de-açúcar, girassol, fumo, tomate
WGA (trigo), lectina (arroz), jacalin Lepidoptera, Coleoptera milho
Outros
BCH – quitinase (feijão) Lepidoptera, Homoptera batata
Quitinase (Manduca sexta) Lepidoptera fumo
Quitinase(tomate), Peroxidase(fumo) Lepidoptera, Homoptera, Coleoptera colza, fumo, tomate
TDC (crisântemo) Homoptera fumo
14K-CL (bifuncional) * Lepidoptera, Coleoptera fumo
vezes, apenas nos possibilita adiar o inevitável, transferindo para algum ponto futuro