Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
1
Artigo apresentado como pré-requisito para avaliação da Disciplina: A ÉTICA PROFISSIONAL, PRÁXIS E O
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL, ministrada pela Profa. Dra. Terezinha de Fátima Rodrigues
(Unifesp) no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social pela UNESP - Franca-SP no 2° Semestre de 2012.
2
Assistente Social. Mestranda em Serviço Social pela UNESP- Franca-SP. Membro do Grupo de Pesquisas sobre
Famílias (GEPEFA). Docente do Centro Universitário de Formiga - UNIFOR-MG. Analista do Seguro Social
com formação em Serviço Social do INSS, Agência de Formiga/MG, e-mail: danipiui@yahoo.com.br. End.: Rua
Luiz Ferreira Belo, 45, São Francisco, Piumhi/MG, CEP: 37925-000, Telefone: (37) 9962-2784.
2
INTRODUÇÃO
concepções pedagógica, ética e política do Serviço Social, pois possibilita, dentre outros
aspectos, a aplicação das resoluções e do projeto profissional com importância formativa,
construídos pela categoria profissional, para além de um olhar meramente operativo de
exigências curriculares, como a elaboração de alguns documentos: plano de estágio, diário
de campo, relatório, avaliação, controle de freqüência, dentre outros.
Ademais, as referências teóricas deste artigo se baseiam na hipótese que o Assistente
Social, possuindo todo um arcabouço teórico, prático e institucional, oriundos de profundas
pesquisas em diferentes realidades profissionais, é portador de um conhecimento
indispensável que visa a defesa intransigente de um projeto societário comprometido com
uma sociedade mais justa.
Desenvolvimento
Ao longo da trajetória do Serviço Social no Brasil, verifica-se que desde a criação das
primeiras Escolas de Serviço Social nas décadas de 30 e 40, o estágio é considerado parte
integrante da formação profissional. Em cada período histórico na trajetória do Serviço
Social, a categoria profissional, por meio da ABESS, trouxe/defendeu um determinado
projeto de formação em função de seu posiconamento político, ainda que perdurou por um
longo tempo, a perspectiva conservadora, sendo que os assistentes sociais se “adequavam”
ao atendimento das novas demandas sociais postas a profissão.
À procura da construção de uma identidade profissional construída coletivamente
pela categoria, velhos paradigmas são discutidos afim de peneirar o conservadorismo
historicamente localizado dentro da profissão, o que ao mesmo tempo representa uma
luxação devido aos atritos de novas perspectivas ascendentes em uma possível
modernização profissional.
Dá-se o marco histórico do movimento dentro do Serviço Social que se intitula
“reconceituação”. Torna-se necessário tal premissa devido às mudanças sociais decorrentes
no Brasil, sinalizadas posteriormente ao golpe de 1974, momento em que se ampliam as
matizes de trabalho profissional principalmente devido à atenção do Estado com a criação de
programas sociais. A relevância de tal movimento na derme profissional é justamente em
prol do profissionalismo ético, característica nulificada nos primórdios do Serviço Social
brasileiro que ainda ganha repercussões no que tange principalmente em razão da crônica
5
Aliada, aos conceitos de ética e moral, a liberdade, aparece com uma característica
própria do homem genérico e legal que o porta como dinamizador da realidade social,
fundamental no estabelecimento das relações sociais.
Infere-se que no campo das profissões a ética está intrinsecamente relacionada aos
projetos societários destas. Quanto ao Serviço Social em específico, cuja existência depende
dos conflitos existentes na sociedade capitalista, tem claramente um projeto societário com
dimensões políticas, ou seja, é uma profissão politizada inserida no mundo sócio-técnico do
trabalho comprometida atualmente com a defesa dos interesses da classe trabalhadora.
Entretanto, é necessário ressaltar que a dimensão política do trabalho profissional está
posta na medida que esta profissão assenta-se na mediação capital/trabalho e como a autora
Marilda Iamamoto afirma, pela mesma atividade, atende a interesses contraditórios, o que
convida a categoria fazer este debate a cerca da dimensão política da profissão.
Desta forma, cabe considerar que a profissão possui caráter eminentemente político
da prática ou do exercício profissional ao lidar de forma comprometida e organizada em luta
e defesa dos interesses da classe trabalhadora, a partir do momento que se posiciona na
realidade pela histórica inserção da profissão no contexto das relações entre o Estado, o
mercado e a sociedade civil, mediante o estabelecimento de uma realidade repleta de
desigualdades sociais.
Assim, o Serviço Social se norteia com base em um projeto ético político que utiliza
pressupostos historicamente construídos, uma vez que se insere na movimentação da
realidade social num contínuo processo de construção e se baseia em fatores consagrados e
considerados pela profissão como indispensáveis à vida, principalmente a liberdade.
Ainda, cabe destacar que não existe uma forma delimitada de cumprir à primeira
7
vista com as predisposições do Projeto Ético-Político do Serviço Social, visto que ele é uma
construção coletiva e depende da maturidade intelectual e política da categoria profissional;
assim como de sua legitimidade junto à mesma, que pode e deve ser vivenciada de forma
efetiva em seu exercício profissional, como também através do processo de estágio
supervisionado em Serviço Social.
Oliveira (2009) ressalta alguns elementos fundamentais para problematizar o estágio
supervisionado e suas contribuições na formação profissional do (a) assistente social com
bases em seu projeto ético-político, sendo eles: a legalidade, a legitimidade, os diferentes
sujeitos envolvidos neste processo e a construção de uma nova lógica curricular.
Assim, pode-se afirmar que o desafio presente nesta forma de conceber o estágio
supervisionado é romper com o paradigma de uma atividade direcionada
majoritariamente para a informação teórica e a prestação de serviços por meio do
exercício profissional. O estágio, além desta prerrogativa, deve centrar-se no estudo
dos elementos históricos e conceituais ministrados no curso de Serviço Social,
aproximando-se de situações reais e experiências cotidianas, na tentativa de
compreendê-las em suas múltiplas determinações e, dentro da realidade político-
institucional, apresentar criativamente propostas de enfrentamento das expressões
da questão social. (OLIVEIRA, 2009, p. 103-104).
Nos primórdios dos anos 70, o Serviço Social no Brasil, tem uma aproximação com a
corrente marxista, focado no desenvolvimento do processo de renovação do Serviço Social.
Tendo destaque o Método BH, que ocorreu por intermédio da Escola de Serviço Social da
8
Universidade Católica de MG. Esta Escola elaborou um currículo muito expressivo para a
época, que propunha alternativas para a formação profissional dotado de um referencial
teórico, tendo como conceito o ensino, a aprendizagem, a teoria e a prática.
Somente a partir de 1980, o estágio passou a ser considerado uma disciplina
vinculada à prática profissional. Com o Currículo Mínimo de 1982, houve alterações
significativas no âmbito da formação profissional e um desmonte das estruturas tradicionais
da divisão caso, grupo e comunidade, passando o estágio a ser pensado e visualizado numa
perspectiva de totalidade, envolvendo a reflexão sobre teoria e prática, e as relações da
sociedade em diferentes momentos históricos.
Segundo a ABESS,
Nos anos 90, mudanças ocorridas nos diversos campos da vida social, dentre os quais
a educação, exigiram alterações significativas no campo da formação profissional, o que
motivou o governo brasileiro, através do MEC (Ministério da Educação), rever a Política da
Educação. No decorrer desta análise este elaborou uma nova Lei de Diretrizes para a
Educação (LDB), no sentido de se adequar às novas exigências impostas ao país.
A LDB, Lei nº. 9.394, foi aprovada em dezembro de 1996. Também neste ano, a
ABEPSS identificou a necessidade de revisão do Currículo Mínimo para o curso de Serviço
Social, com vistas às mudanças capitalistas da sociedade, que também rebatem sobre o
Serviço Social e que motiva o repensar constante de seus rumos sociais. Para estar à frente
dessas mudanças e atuar resolutivamente nesta realidade social, o Serviço Social precisava
assumir um direcionamento ético-político, comprometido com a classe trabalhadora,
expresso na construção das Diretrizes Curriculares, que estão organizadas em,
[…] princípios eixos e núcleos que expressam uma nova relação com a realidade
social, ganhando destaque nesta proposta as atividades ligadas à extensão, à
pesquisa, ao estágio e aquelas que se materializam em novas práticas pedagógicas
componentes. (Revista UNIABEU, v. 3 nº. 5 set/dez. 2010, p. 184).
A Lei Federal de Estágio inova ao definir que o estágio deve fazer parte do projeto
pedagógico do curso, voltando-se para o aspecto formativo do aluno, devendo possibilitar o
aprendizado de competências próprias da atividade profissional, de acordo com a
contextualização curricular do curso.
Ressalta-se que o estágio poderá ser de caráter obrigatório ou não-obrigatório,
conforme determinação das diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e
do projeto pedagógico do curso. (Lei Federal do Estágio n.º 11.788/2008, art. 2°).
Destaca-se que a formalização do estágio faz-se através da documentação acordada
entre os sujeitos envolvidos no estágio supervisionado, como o termo de compromisso,
plano de estágio, seguro escolar e outros, sendo necessário que o estagiário esteja
devidamente matriculado em uma Instituição de Ensino Superior (IES).
Já o importante dispositivo supracitado que trata sobre a legalidade do estágio em
Serviço Social, a Resolução 533/2008, instituída pelo CFESS retoma este debate com a
regulamentação da supervisão direta de estágio em Serviço Social, normalizando a relação
direta, sistemática e contínua entre as IES (Instituições de Ensino Superior), os campos de
estágio e os CRESS’s (Conselhos Regionais de Serviço Social).
Esta Resolução considera que o estágio é parte constitutiva da formação e do
exercício profissional, definindo que a supervisão direta em Serviço Social constitui-se em
10
Traz como ressalva que o estagiário deve evitar desenvolver o estágio no mesmo lugar
em que trabalha, visando uma melhor qualificação profissional.
Outro ponto destacado se refere ao fato da necessidade de desenvolver ações
permanentes visando à capacitação de supervisores, seja pela realização de fóruns de
supervisores de estágio, seja estabelecendo o diálogo e troca de experiências entre os
mesmos; ações que permitirão avaliar constantemente o desenvolvimento do estágio,
buscando novas formas de ação; propõe ainda a realização de seminários interdisciplinares
com demais disciplinas e os diferentes campos de estágios; o fortalecimento dos vínculos do
curso com os CRESS’s, além da proposição de estratégias de ações voltadas para a realidade
social em que cada sujeito se insere.
Busca-se a contraposição ao contexto neoliberal que traz rebatimentos que
interferem diretamente na formação profissional, que por sua vez busca permanentemente
atender a uma “demanda” de mercado, descomprometido com uma formação qualificada e
competente. Em contrapartida, deve-se atentar para a importância do momento do estágio,
quando a identidade profissional do aluno está em momento ímpar de constituição e
formação.
Uma vez que o quadro da Questão Social é desenhado pela correlação de forças
sociais e suas expressões se materializam é no território, faz-se necessário, no cotidiano
profissional o deciframento das particularidades sócio-históricas que compõem o
denominado “miúdo” social, que como bem alcunhado pela autora Yazbeck, é no miúdo do
cotidiano em que se efetiva o trabalho profissional.
Diante disso, ao vislumbrar a prática profissional pela inserção em determinado
espaço sócio-institucional é que se entende a realidade da profissão, possibilitando a
maturidade enquanto profissionais, entretanto diante do atual cenário contemporâneo é
preciso estabelecer um contraponto pela busca da formação continuada e qualificada
enquanto profissionais do Serviço Social. (Oliveira, 2004), que melhor incida no
enfrentamento dos diferentes rebatimentos da Questão Social.
Considerações finais
profissional; espaço propício para confrontar-se com as demandas nas quais irá atuar, com a
realidade social onde se dá a atuação dos (as) assistentes sociais, proporcionado o (a)
estagiário (a) defrontar-se com situações interventivas em que suscitam questionamentos,
discussões, esclarecimentos, aprendizados e desafios (im) postos cotidianamente nos
espaços sócio-ocupacionais.
Foi possível ainda entender que a profissão não é neutra, visto que os assistentes
sociais ao atuarem na realidade concreta, no “miúdo” social, trazem sua visão de homem e
de mundo, que remete à uma determinada direção social da profissão.
Entende-se que o estágio supervisionado é uma atividade que precisa ser
continuamente discutida para aprimorar o processo de formação ensino-aprendizagem,
como por exemplo, através de espaços coletivos como os Fóruns de Supervisores.
Espera-se que com as legislações vigentes (como a Resolução CFESS 533/2008 e a PNE
da ABEPSS de 2010), onde o estágio é referenciado na sua totalidade e obrigatoriedade, que
as IES possam atentar-se e dar materialidade de forma concreta ao estágio, pautando para
uma formação diferenciada frente às diversas demandas posta ao profissional do Serviço
Social. Ademais sabe-se dos desafios dos campos de estágio e das relações presentes nestes
espaços que dificultam as intencionalidades presentes no projeto de formação profissional
dos assistentes sociais.
Desta forma, sabe-se que a discussão sobre a formação profissional deve ser
permanente e que não se esgota somente com a criação de Leis, exigindo um contínuo
processo de debate, devendo ser repensadas, aperfeiçoadas, implementadas e praticadas no
cotidiano do agir profissional do assistente social. Destaque para o papel fundamental que a
ABEPSS e o CRESS vem protagonizando nesta direção, defendendo uma formação
profissional com qualidade e não precarizada, como bem encaminhada pela recente
campanha: Educação não é fast food.
Enfatiza-se que atualmente a discussão em torno do estágio e suas contribuições na
formação dos assistentes sociais, volta-se também para a construção de um novo perfil
profissional capaz de decifrar a realidade social, intervir nesta de forma crítica, propositiva,
investigativa e comprometido com os valores e princípios que norteiam o projeto ético-
político profissional, através de respostas profissionais mediante as novas demandas sociais
(profissionais, institucionais e dos usuários), buscando a superação do (neo)
conservadorismo profissional que ainda se apresenta nos ambientes acadêmico e de
15
REFERÊNCIAS
BARROCO, Maria Lúcia. As bases sócio-históricas de constituição da ética (pág. 19-30). In:
Ética: fundamentos sócio-históricos. (Biblioteca Básica de Serviço Social, v. 4). São Paulo:
Cortez, 2008.
BURIOLLA, Marta Alice Feiten. Supervisão em serviço social: o supervisor e seus papéis. 5
ed. São Paulo: Cortez, 2010.
LEWGOY, Alzira Maria Baptista. Supervisão de estágio em serviço social: desafios para a
formação e exercício profissional. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. 11. ed. São Paulo: Cortez,
2007. 165 p.
______. Estado, política e emancipação humana. In: Estado, política e emancipação humana
– lazer, educação, esporte e saúde como direitos sociais. GARCIA, C.C & HÚNGARO, E.M &
DAMASCENO, L. G. (Orgs). Santo André (SP), Alpharrabio, 2008:13-34.
_____. Estágio Supervisionado Curricular em Serviço Social: Elementos para reflexão. In:
Revista da ABEPSS nº17, Ano IX – Janeiro, 2009.
SIMÕES, Carlos. Curso de Direito do Serviço Social. 3. ed., São Paulo, Cortez, 2009.
VÁZQUEZ, Adolfo Sanches. Três posições fundamentais no problema da liberdade (pág. 97-
109). In: Ética. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1984.