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Direito Constitucional – LFG – Intensivo II

Prof.: Pedro Taques e Marcelo Novelino


(www.editorametodo.com.br/marcelonovelino)

ÍNDICE

MINISTÉRIO PÚBLICO:.......................................................................................................................................4
Posição e Importância do MP como poder:.........................................................................................................4
Organização do MP brasileiro:............................................................................................................................4
MPU:...............................................................................................................................................................4
MPE:................................................................................................................................................................5
MP junto ao Tribunal de Contas:........................................................................................................................5
Princípios Institucionais do MP:.........................................................................................................................5
Princípio da Unidade:......................................................................................................................................6
Princípio da Indivisibilidade:..........................................................................................................................6
Princípio da Independência:............................................................................................................................6
Princípio do Promotor Natural:.......................................................................................................................6
Princípio da Federalização:.............................................................................................................................6
Princípio da Delegação:...................................................................................................................................6
PEC para extinção ou reposicionamento do MP:................................................................................................6
Atribuições do MP:.............................................................................................................................................6
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES:.....................................................................................................................10
Conceito de Poder:............................................................................................................................................10
O Poder e o Estado:...........................................................................................................................................10
Funções típicas e atípicas dos órgãos do Estado:..............................................................................................10
Legislativo:....................................................................................................................................................10
Executivo:......................................................................................................................................................11
Judiciário:......................................................................................................................................................11
Poder Legislativo:..................................................................................................................................................12
Disposições gerais sobre o Poder Legislativo da União:..................................................................................12
Formas de Manifestação do Legislativo da União:...........................................................................................13
Legislatura e Sessão Legislativa:......................................................................................................................13
Teoria das Maiorias:..........................................................................................................................................13
Mesas:................................................................................................................................................................14
Deputados Federais:..........................................................................................................................................15
Senadores:.........................................................................................................................................................15
Atribuições do Legislativo da União:................................................................................................................15
Espécies de Fiscalização:..............................................................................................................................15
a) Fiscalização econômico-financeira:..........................................................................................................15
b) Fiscalização político-administrativa.........................................................................................................16
Comissões:.........................................................................................................................................................16
1) Comissão temática ou material:................................................................................................................16
2) Comissão representativa ou de representação:..........................................................................................16
3) Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI:...............................................................................................17
Introdução – Evolução histórica das atribuições do Legislativo:..................................................................17
Características Principais da CPI:.................................................................................................................17
Requisitos para a criação de CPI:..................................................................................................................19
Término dos trabalhos da CPI:......................................................................................................................20
Conclusões da CPI:.......................................................................................................................................20
Observações finais:........................................................................................................................................20
Poder Executivo:...................................................................................................................................................21
Função Executiva:.............................................................................................................................................21
Sistema ou regime de Governo:........................................................................................................................21
Requisitos para ser Presidente da República:....................................................................................................21
Eleição para Presidente e Vice-Presidente da República:.................................................................................22
Linha sucessória do Presidente da República:..................................................................................................23
Atribuições do Vice-Presidente da República:..................................................................................................23
1
Mandato do Presidente e do Vice:.....................................................................................................................23
Responsabilidade política e criminal do chefe do Executivo............................................................................24
Crime de Responsabilidade praticado pelo PR:............................................................................................24
Crime de responsabilidade praticado pelo Governador:...............................................................................25
Crime de responsabilidade praticado pelo Prefeito:......................................................................................25
Crime comum praticado pelo Presidente da República:................................................................................26
Crime comum praticado por Governador:.....................................................................................................27
Crime comum praticado por Prefeito:...........................................................................................................27
Poder Judiciário:....................................................................................................................................................28
Função Jurisdicional:.........................................................................................................................................28
Organização do Poder Judiciário:......................................................................................................................28
Supremo Tribunal Federal:................................................................................................................................29
Superior Tribunal de Justiça:.............................................................................................................................29
Justiça Comum Federal:....................................................................................................................................30
Justiça Comum Estadual:..................................................................................................................................30
Justiça Especializada Eleitoral:.........................................................................................................................30
Justiça Especializada Militar da União:............................................................................................................31
Justiça Especializada Militar dos Estados:........................................................................................................31
Justiça Especializada do Trabalho:....................................................................................................................32
Garantias do Poder Judiciário:..........................................................................................................................32
Órgão Especial:.................................................................................................................................................33
CNJ:...................................................................................................................................................................33
COMPETÊNCIA CRIMINAL NA CONSTITUIÇÃO:.......................................................................................34
Introdução:.........................................................................................................................................................34
1ª Fase – Competência Internacional:...............................................................................................................34
2ª Fase – Competência originária dos Tribunais - Foro Por Prerrogativa de Função:......................................34
Peculiaridades:...............................................................................................................................................34
Lei 8038/90:..................................................................................................................................................35
Autoridades julgadas originariamente pelo STF:..........................................................................................35
Autoridades julgadas originariamente pelo STJ:...........................................................................................35
Autoridades julgadas originariamente pelo TRF:.........................................................................................35
Autoridades julgadas originariamente pelo TJ:.............................................................................................35
3ª Fase – Competência das Justiças Especiais ou Especializadas:....................................................................36
Justiça do trabalho:........................................................................................................................................36
Justiça eleitoral:.............................................................................................................................................36
Justiça militar:...............................................................................................................................................36
4ª Fase – Competência Criminal da Justiça Federal:.........................................................................................36
Crimes praticados por servidor público ou contra servidor público federal:................................................37
Competência Criminal Específica, Especial ou Casuística Constitucional:......................................................38
Incidente de Deslocamento de Competência:....................................................................................................40
GARANTIAS DO PODER LEGISLATIVO:.......................................................................................................41
Introdução:.........................................................................................................................................................41
Imunidade Material:..........................................................................................................................................41
Imunidade Formal:............................................................................................................................................41
Prerrogativa de Foro:.........................................................................................................................................43
Garantias do Poder Legislativo Estadual e Distrital:.........................................................................................43
Garantias do Poder Legislativo Municipal:.......................................................................................................44
PROCESSO LEGISLATIVO:..............................................................................................................................45
Objeto:...............................................................................................................................................................45
Principais regras referentes ao processo legislativo:.........................................................................................45
Espécies de processo legislativo:......................................................................................................................45
Processo Legislativo Ordinário:........................................................................................................................46
MEDIDA PROVISÓRIA:.....................................................................................................................................51
Origem:..............................................................................................................................................................51
Efeitos imediatos da MP:..................................................................................................................................51
Prazo para conversão em lei:.............................................................................................................................51
2
Regramento atual:..............................................................................................................................................51
Regime de urgência:..........................................................................................................................................51
Trâmite da MP:..................................................................................................................................................51
Revogação da MP:.............................................................................................................................................52
Controle de Constitucionalidade:......................................................................................................................52
Limites Materiais:..............................................................................................................................................52
MP nos Estados e Municípios:..........................................................................................................................53
SÚMULA VINCULANTE:..................................................................................................................................53
Conceito e Regulamentação:.............................................................................................................................53
Natureza:...........................................................................................................................................................53
Requisitos:.........................................................................................................................................................53
Efeitos:...............................................................................................................................................................53
RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL:..............................................................................................................54
Origem e Natureza:...........................................................................................................................................54
Objeto e Legitimação:.......................................................................................................................................54
RECURSO EXTRAORDINÁRIO:.......................................................................................................................54
Efeito:................................................................................................................................................................54
Aspectos específicos:........................................................................................................................................54
Análise do art. 102, III, CR:..............................................................................................................................54
Repercussão geral:.............................................................................................................................................55
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS:................................................................................................55
Introdução:.........................................................................................................................................................55
Características:..................................................................................................................................................55
PRECATÓRIOS (EC 62/09):................................................................................................................................56
Observações importantes:..................................................................................................................................56

3
(06/08/09) – prof. Pedro Taques O prof. Hugo Nigro Mazzili entende que ao dizer que o MP é
uma das funções essenciais à justiça a Constituição disse menos do que
deveria. Para ele o MP é uma função essencial ao próprio Estado, à
própria existência do Estado Democrático de Direito.
MINISTÉRIO PÚBLICO: Em razão disso, o art. 127, CR/88 diz que o MP é uma
instituição permanente. Não é possível que esta instituição tenha fim,
justamente porque se trata de uma função essencial ao Estado
Democrático de Direito.
Hoje o MP é tratado como uma instituição extra-poder. Isso
Posição e Importância do MP como poder: significa que sem ser Poder (porque formalmente temos apenas 3 órgãos
que exercem Poder), o MP possui atribuições e garantias de poder: ele
Qual é a posição constitucional do MP? Hoje, pela CR/88, o exerce atribuições de poder e seus membros possuem garantias de
MP faz parte do Poder Legislativo, do Executivo ou do Judiciário? poder.
É importante hoje o MP ser um poder? Pergunta: o MP seria um 4º Poder?
A Constituição trata do MP no título IV, Capítulo IV. Isso Não! O MP não é um 4º poder. Formalmente, temos 3 órgãos
significa que o MP está topologicamente dentro do título Da Organização que exercem poder: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder
dos Poderes. Judiciário.
☺art. 127, CR. Mas é importante o MP ser poder? De forma alguma. O
importante não é ser poder, mas sim exercer atribuições e ter garantias
→ Evolução Histórica do MP ao longo das Constituições: de poder. Assim, objetivamente o MP não é o 4º poder, é uma instituição
extra-poder, mas que tem atribuições e garantias de poder.
A Constituição Imperial de 1824 não fez qualquer referência ao Em 1748 Montesquieu escreveu o livro “O Espírito das Leis”.
MP como instituição. Nessa ocasião ele levou em conta a realidade daquele momento na
Em 1832 veio ao mundo jurídico o Código de processo criminal França, onde desde 1301 já existiam os procuradores do rei, que é um
do Império, que faz referência ao Promotor de Acusação. antecedente remoto do MP (criação de Felipe, o Belo). Mas o certo é que
Na nossa 1ª Constituição Republicana, de 1891, o MP estava Montesquieu fez referencia, àquela época, apenas aos poderes
posicionado dentro do Poder Judiciário. Ela dizia que o Procurador Geral executivo, legislativo e judiciário.
da República será escolhido dentre um dos ministros do STF. Em sendo Ocorre que não é possível aplicar nos dias de hoje uma teoria
assim, em 1891 o MP estava contido no Poder Judiciário. de 1748. Hoje devemos fazer uma interpretação constitucionalmente
Um pouco antes, em 1889, houve a proclamação da República. adequada da divisão orgânica dos poderes de Montesquieu.
Em 1890 havia sido editado um decreto que institucionalizou o MP. O nosso MP de hoje é um MP singular, diverso dos demais dos
Quem fez esse decreto foi o Min. da Justiça Campos Sales. outros países do mundo e das dos outros tempos. Ele tem características
Em 1934 inaugura-se um novo constitucionalismo no Brasil, um próprias de nossa realidade.
constitucionalismo além de jurídico-político, também econômico-social. A Atenção: o prof. JAS não concorda com essa tese. Para ele o
CR/34 teve como origem ou fonte inspiradora a Constituição Alemã de MP está contido dentro do Poder Executivo. Segundo ele, o Legislativo
1919. Esta nova Constituição inaugurou, pois, um Estado Social no pratica atos legislativos; o Executivo fala através de atos administrativos;
Brasil. e o Judiciário pratica atos de natureza jurisdicionais. Se analisarmos as
Nesta CR/34 o MP se colocava num capítulo denominado formas de manifestação do MP, veremos que os seus membros não
atividades de cooperação governamental. Essas atividades eram praticam atos legislativos e nem jurisdicionais. Então sobram para ele os
instituições que auxiliavam o Poder Executivo. Portanto, há quem afirme atos administrativos, o que dá a ele a natureza jurídica administrativa.
que nessa época o MP estava contido dentro do Poder Executivo. Tendo em conta a natureza jurídica do ato por ele praticado, o MP estaria
Em 1937 inaugura-se um hiato autoritário que cria um Estado então posicionado dentro do Poder Executivo. É uma posição respeitável,
Novo. Este hiato autoritário vai de 1937 a 1945. A CR/37 foi uma mas apenas do prof. JAS.
constituição autoritária e outorgada por Getúlio Vargas (conhecida como
“Constituição Polaca”). Esta constituição não fez qualquer referência ao
MP como instituição. Organização do MP brasileiro:
Podemos afirmar que nos períodos autoritários o MP é fraco. E
nos momentos de democracia o MP é forte. Não é possível separar o MP Esta expressão “MP brasileiro” não está na Constituição. É
da democracia. Isso significa dizer que existe uma relação quase uma construção doutrinária.
umbilical entre o MP e a democracia. O MP é essencial para o Estado Mas a organização do MP brasileiro se encontra sim na
Democrático de Direito. Constituição, em seu art. 128, e ela compreende o MPU e o MPE.
A CR/1946 inaugura um novo período histórico no Brasil, no Vejamos:
qual o MP é uma instituição independente, não fazendo parte nem do
Poder Judiciário, nem do Poder Executivo e nem do Poder Legislativo. Art. 128. O Ministério Público abrange:
No dia 31/03/64 inaugura-se um novo estado autoritário no I - o Ministério Público da União, que compreende:
Brasil. Foi quando ocorreu o golpe militar. Esse segundo hiato autoritário a) o Ministério Público Federal;
vai até 1985. Nesse período tivemos duas constituições: a constituição b) o Ministério Público do Trabalho;
de 67 e a de 69. c) o Ministério Público Militar;
A CR/67 tratou do MP dentro do Poder Judiciário, e a CR/69 o d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
colocou dentro do Poder Executivo. II - os Ministérios Públicos dos Estados.
Feita esta introdução histórica, é o momento de se entender Por que nós temos 2 MPs: o MPU e o MPE? Qual a razão
qual é a posição constitucional do MP na Constituição de 1988. disso? A resposta nós encontramos na nossa forma de Estado, que é
Afirmou-se, inicialmente, que o MP está no Título IV, Capítulo Federação ou Federalista. Em assim sendo, cada pessoa jurídica com
IV – Funções essenciais à Justiça. capacidade política possui as suas autoridades próprias. Há um poder de
Por que a CR/88 denomina o MP como uma das funções auto-organização próprio.
essenciais à justiça? ☺art. 25, CR: este art. se refere ao poder de auto-organização
Para se responder a essa indagação, é preciso recordar quais dos Estados, e desse poser resulta a existência de autoridades próprias.
são as principais características da prestação jurisdicional:
- definitividade; Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis
- substitutividade; que adotarem, observados os princípios desta Constituição.
- inércia: o juiz precisa ser provocado para agir. § 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam
Em razão do Devido Processo Legal, nós todos temos o direito vedadas por esta Constituição.
fundamental constitucional a um juiz imparcial. O juiz não pode
comprometer a sua capacidade subjetiva, não pode se envolver Por que os municípios não são dotados de MP? Os municípios
subjetivamente com a causa. Para que o processo seja justo, o juiz deve não têm Poder Judiciário próprio e nem MP próprio, apesar de ser uma
ser imparcial. E, portanto, ele não pode dar início à ação penal ou à ação pessoa jurídica com capacidade política. Foi uma opção política da
civil. Constituição.
Se o juiz é inerte, nós precisamos de instituições que
provoquem processualmente o juiz. Por isso a Constituição faz referência
às funções essenciais à justiça: MP (art. 127 e ss) e advogados (art. 133
e ss). No caso dos advogados, esses se subdividem em advocacia MPU:
privada, advocacia pública e defensoria pública.

4
Como visto acima, no art. 128, CR, o MPU se divide em 4
ramos ou categorias: Como é a carreira do MP estadual?
- MPF, A carreira abrange o promotor de justiça, que oficia, em regra,
- MPT, perante os juízes de direito. Depois de um certo tempo ele é promovido a
- MPM, e procurador de justiça, que oficia, em regra, perante o TJ.
- MPDFT. Quem pode ser PGJ? Depende da CE. Algumas CE permitem
que o procurador geral de justiça possa ser promotor de justiça.
Por que o MP do DFT faz parte do MPU? Porque o DF não é
um Estado membro, ele possui capacidade política híbrida. Ele possui → Diferenças entre o PGR e o PGJ:
competência material dos estados membros e dos municípios. Na sua
singularidade, ele é diferente. Ele legisla sobre matéria de competência PGR PGJ
estadual e municipal. Apesar dessa importância que ele tem, é preciso - É escolhido pelo Presidente da - É escolhido pelo Governador;
ressaltar que ele possui menos autonomia, e maiores limites do que os República; - É escolhido dentre os 3 nomes
estados membros, e um exemplo disso é justamente o fato de seu MP - A escolha é livre, não existe mais votados (então existe lista);
fazer parte do MPU. lista; - Não precisa ter o seu nome
O chefe administrativo do MPU é o PGR – Procurador Geral da - Deve ter o seu nome aprovado aprovado pela AL (e a CE que
República. Ele é escolhido pelo PR, dentre os integrantes da carreira pelo Senado Federal; determinar isso será
com mais de 35 anos. O seu nome é indicado ao Senado, que deve - Pode ser reconduzido quantas inconstitucional);
aprová-lo por maioria absoluta de votos. Ele exerce um mandato de 2 vezes o Presidente da República - Só pode ser reconduzido uma
anos, permitindo-se reconduções (quantas o PR desejar). desejar. única vez.
Até 1988 a escolha pelo PR do PGR era livre. A partir da
CR/88 exige-se que ele seja escolhido dentre um dos integrantes da
carreira. Mas de qual carreira? Há duas posições quanto a isso:
1ª) só pode ser PGR membro integrante do MPF – esta é a → Arquivamento: ☺ art. 28, CPP.
tese majoritária, e inclusive a PEC 358/05, que já foi aprovada no SF e se
encontra atualmente na CD, vai deixar expresso na CR esta Se o PGJ requer o arquivamento dos autos ao TJ, o TJ não
determinação. Justifica-se tal exigência porque os membros do MPF está obrigado a arquivar. Em sede estadual, a Lei 8.625/93, em seu art.
tratam de matéria genérica, e não específica com as tratadas pelo MPM 12, XI, traz o caminho, afirmando que haverá a remessa ao Colégio de
e MPT. Procuradores de Justiça, que pode rever o ato do PGR.
2ª) a Constituição não diz que o PGR deve ser membro do Já no caso do PGR não, pois isso não existe no MPF. Caso ele
MPF, e se ela não diz isso expressamente, não se poderia fazer esta requeira o arquivamento de determinado procedimento, o STF estará
interpretação restritiva. Mas esta é uma tese minoritária. obrigado a arquivar.

O MPU é regulado pela LC 75/93.


Cada ramo do MPU possui o seu Procurador Geral próprio,
MP junto ao Tribunal de Contas:
menos o MPF. Não existe um procurador geral do MPF – ele é o próprio
PGR –, apenas dos demais MPs (MPM, MPT, MPDFT). Este é mais um
argumento que justifica a tese de que para ser PGR é preciso ser O MP junto ao Tribunal de contas faz parte do MPU ou MPE?
membro do MPF. O art. 130, CR/88 se refere a um Ministério Público especial,
Pergunta: Como são escolhidos os procuradores gerais desses independente do MPU ou MPE. Ou seja, trata-se de um MP especial,
3 ramos do MPU (MPT, MPM e MPDFT)? junto ao TC, que não faz parte do MPU e nem do MEP.
- A escolha do Procurador Geral do Trabalho é feita pelo PGR, A lei n° 8.443/92 é a lei que regulamenta o art. 130, CR. Ela
de uma lista com 3 nomes fornecida pela Instituição. O Procurador-Geral criou o Ministério Público especial junto ao TCU.
do MPT exerce mandato de 2 anos, permitindo-se uma única O PGR ajuizou uma ADI para discutir a constitucionalidade
recondução. dessa lei, afirmando que o art. 130 não criou um MP especial. No
- No MPM, o PGJM (procurador geral da Justiça Militar) é entanto, o STF entendeu que sim, que o art. 130 faz referência sim a um
escolhido pelo PGR, de uma lista com 3 nomes, fornecida pela MP especial, que se encontra na economia doméstica do TC.
Instituição. O mandato é de 2 anos, permitindo-se uma única
recondução. Cargos do MP especial junto ao TCU:
- No MPDFT, por sua vez, o procedimento é diverso: quem - 1 procurador geral do MP Especial junto ao TCU;
escolhe o Procurador-Geral aqui não é o PGR, mas sim o Presidente da - 3 subprocuradores gerais do MP Especial junto ao TCU;
República, de uma lista com 3 nomes, fornecida pelos membros do - 4 procuradores do MP Especial junto ao TCU.
MPDFT. O mandato é de 2 anos, permitindo-se também uma única
recondução. Quem nomeia estes procuradores do MP Especial, depois do
concurso público (que é próprio) é o Presidente da República.
Obs.: até a CR/88 o PGR poderia ser demitido ad nutum, a E junto aos TC dos Estados, qual MP oficia?
qualquer momento, pelo PR. A partir da CR/88 isso não é mais possível. Com relação ao Tribunal de Contas dos Estados, em regra é o
Ele só pode ser afastado por decisão da maioria absoluta do Senado MPE que deve oficiar. Na maioria dos Estados, ainda são os
Federal. O PR pode representar ao SF para que ele se manifeste a representantes do MPE que oficiam. No entanto, em alguns Estados já
respeito. foram realizados concursos para o cargo de Ministério Público de Contas
ou MP Especial junto ao TC. Tudo a depender da Constituição Estadual.
O Procurador da república oficia em regra perante o Juiz Atenção: Não existe MP Eleitoral! A CR/88 não faz referencia à
federal. Depois de um certo tempo há uma promoção a Procurador existência de um MP Eleitoral. O que existem são atribuições eleitorais
Regional da República, que oficia perante um dos TRF. Depois de um (MP com atribuições eleitorais). O promotor eleitoral oficia perante o juiz
certo tempo haverá uma promoção a Sub-Procurador-Geral da eleitoral. Ele é um promotor de justiça que tem atribuições eleitorais, em
República. Dentre os sub-procuradores o Presidente escolhe o PGR, que razão do Principio da delegação.
oficiará perante o STF. Junto ao TRE oficia o Procurador Regional Eleitoral. Ele é um
membro do MPF com atribuições eleitorais.
No TSE oficia o Procurador Geral Eleitoral. É uma função
exercida pelo PGR. Pode haver a delegação ao vice-procurador geral
MPE:
eleitoral, que será um dos subprocuradores gerais da República.
Atenção: quem faz as funções do art. 28 na Justiça Eleitoral é
O MPE é regulado pela Lei 8.625/93. Cada Estado possui a o procurador regional eleitoral.
sua LC própria.
O chefe do MPE é o Procurador Geral de Justiça. Ele é
Princípios Institucionais do MP:
escolhido pelo governador dentre os três nomes mais votados pela
categoria. O governador só pode escolher dentre estes 3 nomes.
O PGJ exercerá mandato de 2 anos, permitida uma única A CR/88, no art. 127, §1º, faz referência expressamente a 3
recondução. princípios institucionais:
Algumas constituições estaduais afirmam o seguinte: o
governador escolhe o nome da lista e este nome deve ser aprovado pela - Princípio da unidade;
Assembléia Legislativa do Estado. Mas o STF já disse que essas - Princípio da indivisibilidade;
constituições estaduais são inconstitucionais se exigir que o nome do - Princípio da independência funcional.
PGJ seja aprovado pela AL. É o governador que deve escolher dentro
dos 3 mais votados e não se faz necessária a aprovação pela AL.
5
Além desses 3 princípios, a doutrina faz referência a um histórico e do inconsciente. E o limite dessas pré-compreensões é a
princípio institucional que decorre do sistema institucional: o Princípio do própria Constituição.
Promotor Natural.
Trata-se de um princípio implícito.
Princípio do Promotor Natural:
Por fim, além desses, encontramos outros 2 princípios na LC
75:
Decorrente do sistema constitucional, o principio do promotor
- Princípio da Federalização; e natural significa que o cidadão tem o direito fundamental de ser acusado
- Princípio da Delegação. por um membro do MP previamente estabelecido. Ou seja, por um
membro do MP que tenha sido designado através de critérios objetivos.
Esse membro do MP não pode ser designado pós-fato, sob pena de se
Vamos a análise de cada um deles: configurar uma designação arbitrária, por encomenda, o que seria
inconstitucional.
Trata-se de uma proteção individual que garante que o
indivíduo não será perseguido.
Princípio da Unidade: Este princípio não se encontra expresso na CR/88. Mas na
verdade, qual é o seu fundamento? Na doutrina encontramos vários
Só existe um MP dentro de cada ramo do MP, e cada um deles pontos de vista, inclusive quem defenda que esse princípio não existe.
está sob o comando de um chefe administrativo. Esse princípio tem fundamento no devido processo legal (art.
A unidade pode ser entendida também levando-se em conta 5º, LIV, CR), que é um conjunto de regras que garantem a existência de
que o membro do MP, no exercício de suas atribuições constitucionais, um processo justo. Para que esse processo seja justo, o promotor deve
fala em nome da instituição. Ou seja, quando um Promotor assina uma ser pré-estabelecido através de regras constitucionais.
peça, quem está se manifestando é a própria instituição, o próprio MP. O outro fundamento para esse princípio encontra-se no art. 5°,
Assim sendo, tecnicamente não é correto afirmar que o MPF LIII, CR/88: ninguém será processado ou sentenciado, senão pela
está representado pelo seu Procurador da República. Quem fala pela autoridade competente.
instituição é o seu chefe, mas quem assina a peça não diz “o PGR, A garantia da inamovibilidade e da independência funcional
representando por...”, mas sim “presentado por”. O Promotor ou também fundamentam esse princípio.
Procurador presenta a instituição. Ele é a instituição (já a representação Esse principio evita designações de encomenda.
exige representante e representado, o que não é o caso). Atenção: durante a investigação não há que se falar em
princípio do promotor natural. Ele só existe no momento do ajuizamento
da ação. Assim, o PGJ pode designar grupos especiais para a
Princípio da Indivisibilidade: investigação.

É uma conseqüência da Unidade. Decorre da Unidade. E se é


assim, só existe indivisibilidade dentro de cada ramo, de cada categoria Princípio da Federalização:
do MP.
A indivisibilidade é a possibilidade de substituição de uns pelos A atribuição eleitoral é do MPF, já que a justiça eleitoral é
outros dentro da mesma relação processual. federal e especializada.
Ex.: um MP oferta a denúncia e sai de férias, outro faz as Se ela é federal, especializada, quem possui atribuição na
alegações e morre, outro recorre. Não existe a necessidade de outorgar justiça eleitoral é o MPF. Ocorre que não existe o número de membros
procuração para este último. Não existe a necessidade de outorga de que podem exercer a função e este tem sido um problema.
poderes. Todos fazem parte da mesma unidade.

Princípio da Delegação:
Princípio da Independência:
Quem oficia perante a zona eleitoral é o promotor eleitoral, pelo
☺art. 127, §1º, CR: Princípio da delegação. Ocorre, pois, uma delegação do MPF para o
MPE.
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais PEC para extinção ou reposicionamento do MP:
indisponíveis.
§ 1º - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a
indivisibilidade e a independência funcional. Seria Constitucional uma PEC que extinguisse o MP? Ou
ainda, seria constitucional uma PEC que posicionasse o MP dentro de
A independência funcional é do membro, do presentante, no um dos poderes da República (executivo, legislativo ou judiciário)?
exercício de suas atribuições constitucionais. Isso significa que no MP Segundo Alexandre de Morais, o MP é marcado pela
não existe subordinação hierárquica no exercício de suas atribuições permanência, é uma instituição perene. Assim, uma PEC em qualquer
constitucionais. desses sentidos seria inconstitucional.
O MP é imprescindível para a defesa dos direitos
☺art. 127, §2º, CR: fundamentais. Assim, sua extinção diminuiria a defesa desses direitos. E
é imprescindível também para a existência do próprio Estado
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e Democrático de Direito.
administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Se a independência do MP for retirada pela sua inclusão em
Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços um dos três poderes acima, estaria havendo uma hipertrofia de um
auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e daqueles poderes, ou seja, o seu fortalecimento, em detrimento dos
títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá outros dois. E isso viola a independência e a harmonia entre os poderes
sobre sua organização e funcionamento. (que é cláusula pétrea). Portanto, não é possível PEC que extinga ou que
posicione o MP dentro de um dos outros poderes.
A autonomia funcional é da instituição frente o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário.
Assim, a independência funcional se refere ao membro, como Atribuições do MP:
presentante do MP, já a autonomia se refere à instituição frente ao PL,
PE e PJ. Para que o MP não se subordine aos demais poderes, a CR/88 As atribuições do MP estão genericamente descritas no caput
faz referência a uma autonomia funcional. do art. 127, CR. Além disso, elas estão também minudenciadas,
A independência funcional também pode ser entendida a partir esclarecidas, especificadas a partir do art. 129, CR.
da seguinte máxima: o membro do MP em razão de sua independência É preciso, pois fazer uma ligação entre os arts. 127 e 129, CR,
funcional, só deve obediência à Constituição. Por isso se diz que o MP é que tratam, respectivamente, das atribuições genéricas e específicas do
o fiscal da Constituição. MP.
Pré-compreensões: no instante em que o sujeito analisa um Vejamos:
objeto, ele possui pré-compreensões. Ele não é neutro. Ninguém é
neutro. Estas pré-compreensões decorrem de 2 fatores: do determinismo

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Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais (12/08/09)
indisponíveis.
§ 1º - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a
indivisibilidade e a independência funcional. O MP é uma instituição permanente, não sendo possível a sua
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e extinção justamente porque o MP é essencial à prestação jurisdicional.
administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Esta é a sua atribuição genérica.
Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços ☺art. 127, CR – Princípio da essencialidade e Princípio da
auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e Permanência.
títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá
sobre sua organização e funcionamento. Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à
§ 3º - O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
§ 4º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva proposta indisponíveis.
orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes
orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação Passemos, ora, à análise ampla desse artigo.
da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei
orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na Ordem jurídica significa o conjunto de normas que organiza a
forma do § 3º. sociedade através do direito.
§ 5º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for encaminhada No Neoconstitucionalismo ou no Neopositivismo as normas
em desacordo com os limites estipulados na forma do § 3º, o Poder jurídicas se repartem em normas regras e em normas princípios.
Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação O ordenamento jurídico é o conjunto de regras de um Estado
da proposta orçamentária anual. em um determinado momento histórico.
§ 6º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a O MP, conforme a previsão do art. 127, CR, faz a defesa deste
realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os ordenamento jurídico. É o fiscal da lei, entendendo-se lei como
limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se ordenamento jurídico.
previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares O MP atua, dessa forma, na defesa do ordenamento jurídico,
ou especiais. de duas formas:
- MP como órgão agente; e
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: - MP como órgão interveniente.
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; O MP como órgão agente demanda junto ao Estado, ajuíza
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de ações penais e ações civis. É uma parte instrumental.
relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, Além de órgão agente, o MP oficia também como órgão
promovendo as medidas necessárias a sua garantia; interveniente e, como órgão interveniente o MP não é parte, mas possui
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do os poderes das partes, também na defesa do ordenamento jurídico. Ex.:
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses ação penal de iniciativa privada: o MP não é parte instrumental, mas
difusos e coletivos; funciona como fiscal da lei, fiscal da indivisibilidade da ação penal, é,
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins pois, órgão interveniente. Outro ex. (agora no processo civil): na ação
de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta popular o MP obrigatoriamente deve se manifestar como órgão
Constituição; interveniente.
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações O CPC que é mais recente do que o CPP, já elenca de forma
indígenas; expressa, nos arts. 81 e 82, as formas de atuação do MP como órgão
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua interveniente.
competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na A defesa do ordenamento jurídico por parte do MP só existe
forma da lei complementar respectiva; em uma relação jurídica processual? Não. O MP também defende o
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei ordenamento jurídico em atividades extraprocessuais, como ocorre, por
complementar mencionada no artigo anterior; ex., nas recomendações e nos termos de ajustamento de condutas.
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito
policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações Ademais, o art. 127 diz ainda que ao MP incumbe a defesa do
processuais; regime democrático.
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que Em uma primeira leitura deste dispositivo, com olhos
compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação desarmados, poderíamos imaginar que essa defesa do regime
judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. democrático só significa a participação do MP no processo eleitoral. Mas
§ 1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas não é só isso. Regime democrático significa muito mais do que a
neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo atribuição do MP no processo eleitoral.
o disposto nesta Constituição e na lei. Regime democrático não quer dizer só o direito de votar e ser
§ 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por votado. Democracia é também o direito de votar e ser votado, mas não
integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da respectiva só isso. Quando se fala em regime democrático, nesse art. 127, devemos
lotação, salvo autorização do chefe da instituição. entender que a atuação do MP deve ser pautada na defesa da liberdade,
§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante da igualdade e da dignidade da pessoa humana.
concurso público de provas e títulos, assegurada a participação da Esta liberdade tem um sentido genérico. Liberdade aqui tem o
Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do sentido de auto-determinação, escolha de seu destino. O MP, na defesa
bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e do regime democrático, defende a liberdade, mas não só a liberdade de
observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação. locomoção, e sim a liberdade no seu sentido mais genérico. Se o MP
§ 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93. defende o direito constitucional de reunião, de associação, de culto, de
§ 5º A distribuição de processos no Ministério Público será imediata. religião etc., ele está fazendo a defesa dessas liberdades.
Igualdade aqui, por sua vez, não significa o tratamento
Atenção: esse rol trazido é meramente exemplificativo. Não igualitário de todos. Não significa que tenhamos que tratar todos da
temos um rol taxativo de atribuições para o MP. É, pois, possível que mesma forma. Igualdade é o tratamento desigual dos desiguais, na
outras atribuições lhe possam ser definidas. Prova disso é o disposto no medida em que se desigualam. A igualdade aqui é a igualdade de
inciso IX do art. 129, CR: “cabe ao MP exercer outras funções que lhe condições e igualdade de oportunidades.
forem conferidas...”. No instante em que o MP ajuíza uma ação civil buscando
Quais requisitos devem estar presentes para que outras reservar um nº de vagas para as minorias nas universidades, ele está em
atribuições sejam ofertadas? busca da igualdade, não só de condições, mas também de oportunidades
Temos requisitos de 3 ordens: formal, material e, ainda, o (lembrar das ações afirmativas ou discriminações afirmativas).
requisito negativo ou obstativo. O MP, na defesa do regime democrático defende o direito
- O requisito formal determina que só a lei pode conferir outras fundamental à diferença, o direito fundamental a ser diferente. Esse
funções ao MP. Pode ser lei federal ou estadual, nunca lei municipal. direito decorre do pluralismo político.
- O requisito material determina que as atribuições devem ser Por fim, o MP defende ainda dignidade da pessoa humana. A
compatíveis com sua finalidade constitucional/institucional. dignidade da pessoa humana não é um direito, e sim um valor. É um
- O requisito negativo significa que é vedada a representação valor que, inclusive, está acima da Constituição (é um valor
judicial ou consultoria. O MP não pode fazer representação ou supraconstitucional). Aliás, a dignidade é pré-constitucional, é pré-
consultoria de entidades. Isso é vedado pela própria CR.

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Estatal. Ela existe antes mesmo da existência do próprio Estado e da III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do
própria Constituição. E ela existe independentemente da Constituição. patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
A dignidade da pessoa humana, como conseqüência do regime difusos e coletivos;
democrático, pode ser considerada sob dois aspectos: dignidade em
sentido moral e dignidade em sentido material. Patrimônio público, aqui, significa não só os bens materiais,
A Constituição exige que nós tenhamos uma existência digna, mas todos os bens de uma sociedade, não necessariamente materiais,
nos dois sentidos. corpóreos. Bens patrimoniais, portanto, significa bens de todos. Podem
A existência digna em sentido moral é o direito de ter direitos ser bens imateriais culturais, pode ser o meio ambiente.
(de não ser desrespeitado). Ao lado dessa dignidade está a dignidade em Hoje se fala, inclusive, que ao MP incumbe a defesa também
sentido material, e, para que se tenha dignidade em sentido material o do patrimônio ético e moral da comunidade, que é a moralidade, a
Estado deve fornecer um piso mínimo de dignidade, que significa o probidade, a honestidade cívica.
mínimo existencial (☺art. 6º, CR): educação, saúde, moradia, lazer,
trabalho. Não há que se falar em regime democrático sem esse mínimo IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins
existencial. de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta
A atuação do MP na defesa dessa dignidade se dá, por ex., Constituição;
quando o promotor ajuíza uma ação para que um município seja
condenado à obrigação de fazer para garantir a todas as crianças desse MP como fiscal da federação: o PGR pode ajuizar a ADI
município uma escola pública. Interventiva, que está prevista no art. 35, CR, em busca da defesa dos
O que nos diferencia das coisas é a dignidade. O indivíduo é princípios constitucionais sensíveis (☺art. 34, VII, CR) – o MP estará
um fim em si mesmo, e por isso ele tem dignidade. A coisa é um meio assim fazendo a defesa do pacto federativo.
para atingimento de um fim, e não um fim em si mesmo. Por isso a coisa A ação de inconstitucionalidade de que trata o inciso IV é o
tem preço e não dignidade. gênero do qual temos as 5 espécies de ações que o MP é titular: ADPF,
Se um promotor de justiça está em uma comarca em que ADC, ação declaratória por omissão, ADI comum, ADI interventiva.
cabem 50 presos e lá existem 500 presos, ali se está transformando o
indivíduo em coisa, e, assim, desrespeitando o regime democrático. V - defender judicialmente os direitos e interesses das
populações indígenas;
Interesses, no art. 127, está como sinônimo de direitos. Quer
dizer posição jurídica necessária à satisfação de uma necessidade. Todos os ramos do MP brasileiro têm por atribuição a defesa
O MP deve defender o interesse, ou seja, deve defender da população indígena. Mas os direitos indígenas devem ser discutidos
posições jurídicas necessárias à satisfação de necessidades. na justiça federal (☺art. 109, XI, CR). Assim, em regra, é o MPF que
A Constituição fala em dois tipos de interesses: os interesses possui atribuição para a defesa dos direitos indígenas.
sociais e os interesses individuais indisponíveis. Pergunta: Só o MP defende os direitos e os interesses das
Os interesses sociais são os interesses de toda a sociedade. populações indígenas? Trata-se de legitimidade exclusiva do MP? Não.
Aqui o MP atua como advogado da sociedade. Interesse social aqui O art. 232, CR nos dá a resposta quanto a isso quando fala em
significa, portanto, bem comum, ou seja, os interesses dos membros da legitimidade concorrente do MP com outros legitimados, vejamos:
sociedade. Como ex. desse interesse temos: a moralidade, o meio
ambiente, a legalidade etc. São todos eles posições jurídicas necessárias Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes
à satisfação de necessidades da sociedade. legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e
Ao lado desses interesses sociais temos também os interesses interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.
individuais indisponíveis, que são indisponíveis porque em relação a eles
não existe a disponibilidade por parte do titular, eles são imprescindíveis São, pois, 4 os legitimados. E se o MP não for o órgão agente
para a própria existência dos seus titulares. (que ajuizou a ação), ele obrigatoriamente deve ser órgão interveniente,
Eles são indisponíveis levando-se em conta duas realidades, deve falar na ação.
dois fatores: são indisponíveis em razão da qualidade do sujeito (ex.: Quando a Constituição faz referencia a organizações (em seu
processos de menores, de índios, de incapazes) ou em razão da art. 232), pode-se falar em organizações governamentais (ex.: FUNAI) ou
natureza da relação processual (ex.: questões de família, nacionalidade, em organizações não governamentais (ONGs). Ambas podem fazer a
questão de Estado). defesa das populações indígenas.
Em todos esses exemplos acima citados, o MP deverá se
manifestar. Voltemos ao art. 129, CR:

Vimos, até aqui, portanto, todas as atribuições genéricas do VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua
MP (art. 127, CR). competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na
As atribuições específicas, por sua vez, estão dispostas no art. forma da lei complementar respectiva;
129, CR. Aqui trataremos dos principais aspectos sobre o tema.
Primeiramente, é preciso recordar que o art. 129, CR decorre Existe uma Resolução do Conselho Nacional do MP
do art. 127, CR. Ademais, este artigo traz um rol meramente (Resolução nº 13) que regra estas requisições.
exemplificativo. Ou seja, outras atribuições podem ser ofertadas ao MP. Esta requisição de informações e documentos é um pedido,
Vamos, pois, a análise do art. 129, CR e dos principais uma ordem ou uma determinação? Qual a sua natureza jurídica? E se
aspectos de cada um de seus incisos: ela for desatendida, qual a conseqüência? Esta requisição não é pedido,
não é solicitação. É determinação. Mas não é uma ordem, para a ordem
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: necessário se faz que exista subordinação hierárquica. Esta requisição é
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da denominada de poder-dever de requisição. O MP tem este poder-dever e
lei; se esta requisição for desatendida, haverá uma conseqüência jurídica
para tanto: a Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) estabelece um tipo
O MP é o titular constitucional da ação penal. Em regra a ação penal, em seu art. 10, para este desatendimento – trata-se de crime
penal é pública. punido com pena de reclusão de 1 a 3 anos o retardamento ou a omissão
O art. 129, I, nos informa que no Brasil nós adotamos o de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação, quando
Sistema Penal Acusatório, que possui várias características, dentre as requisitados pelo MP.
quais uma delas é a separação total entre quem acusa e quem julga.
Uma outra conseqüência desse sistema penal acusatório é a VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei
necessidade do MP provar a existência dos fatos por ele alegados (quem complementar mencionada no artigo anterior;
alega tem que provar).
Existe uma Resolução do Conselho Nacional do MP
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de (Resolução nº 20) que regra esse controle externo da atividade policial.
relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, O que é controle externo da atividade policial? É o controle da
promovendo as medidas necessárias a sua garantia; atividade fim, da atividade típica da polícia, abrangendo todas as
modalidades de polícia elencadas no art. 144, CR.
Isso significa que o MP defende o efetivo respeito dos poderes A atividade típica de polícia é voltada para a segurança pública,
ao fiscalizar se os princípios da AP (art. 37, CR) estão ou não sendo para coibir ilícitos penais. Atenção: só podemos falar em controle externo
obedecidos. Para tanto ele faz uso das ações civis públicas ou ações de da atividade policial em se tratando de atividade finalística, atividade
improbidade administrativa (Lei 8.429/92). típica da polícia.
A saúde é exemplo de serviço de relevância pública, que deve Exs.: o MP deve visitar as delegacias, deve fiscalizar se os
ser defendido pelo MP. inquéritos policiais estão sendo instaurados no prazo correto, se os
prazos processuais estão sendo cumpridos pela autoridade policial, se foi

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cumprido um determinado alvará de soltura, se foi cumprido um mandado ☺art. 5º, II, CPP – requisição para instauração de IP.
de prisão etc. O MP deve fundamentar a sua requisição. Se esta não for
Se um delegado de polícia usa um carro da superintendência fundamentada não precisará ser atendida.
da polícia federal para uso pessoal, ou se ele chega atrasado ao serviço, Esta requisição do MP marca a autoridade coatora em MS e
tudo isso não é objeto de controle externo pelo MP. São ilícitos HC. Se o MP requisita a instauração de IP, e o delegado o instaura, o
administrativos que serão analisados com fundamento no inciso II do art. membro do MP é que será a autoridade coatora, e um eventual HC
129, CR. deverá ser ajuizado perante o TJ ou TRF (dependendo se o MP é federal
ou estadual).
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito
policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que
processuais; compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação
judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
A requisição que o MP faz ao delegado para instaurar inquérito
policial obriga o delegado a dar início à investigação? Sim, em regra a Como vimos, o rol desse art. 129 não é taxativo, mas
requisição deve ser atendida. Mas é preciso lembrar que requisição não meramente exemplificativo.
é ordem (não existe subordinação hierárquica entro o MP e o delegado).

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Em 1748, Montesquieu escreveu o famoso “O Espírito das
leis”. Segundo ele tudo estaria perdido se um mesmo homem ou grupo
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES: de homens fossem os detentores de todas as atribuições. Para ele,
aquelas atribuições já identificadas por Aristóteles e John Loke, deveriam
ser desempenhadas por um órgãos independentes, a fim de se evitar o
Absolutismo. Esta é a maior importância da sua tese.
O avanço de Montesquieu em relação aos 2 outros pensadores
Conceito de Poder: foi justamente pelo fato de que ele fez esta divisão orgânica de poder.

Poder, num sentido mais simples, significa a capacidade, a Todas as nossas Constituições, com exceção da de 1824 (que
possibilidade de impor vontades sobre vontades de terceiros. adotou a Teoria do Poder moderador ou quarto poder – de Benjamim
Alguns filósofos e historiadores afirmam que os Constant), adotaram a divisão orgânica de Montesquieu (atenção: fala-se
acontecimentos mais importantes da humanidade aconteceram em razão que todas adotaram a divisão orgânica e não a divisão tripartite!).
da luta por 3 coisas: pela fé, pelo amor e pelo poder. Pergunta: O art. 2º, CR/88 adota a divisão tripartite de
Aqui falaremos sobre o exercício do poder. Montesquieu?
A CR dá a este termo “Poder” vários sentidos e significados. Não. Isso está tecnicamente errado, porque o poder é uno, é
Vejamos: indivisível. O que nós temos são órgãos que exercem parcelas de poder.
a) P.U. do art. 1º, CR: “Todo poder emana do povo” – poder Ou seja, não é tecnicamente correto fazer referencia à divisão tripartite
aqui significa soberania popular, democracia – ela é una, é indivisível; de Montesquieu, mas sim à divisão orgânica de Montesquieu.
b) art. 2º, CR: “São Poderes da União” – poder aqui quer Pergunta: A divisão orgânica de Montesquieu é científica?
significar órgãos (Poder com letra maiúscula) – Poder legislativo, Poder Ela é histórica, é importante para evitar o arbítrio o
executivo, Poder judiciário; absolutismo, mas ela não é científica. Temos que dar uma compreensão
c) arts. 44, 76 e 92, CR: poder nesses dispositivos significa constitucionalmente adequada à essa divisão orgânica de Montesquieu.
função. Essa compreensão constitucionalmente adequada significa que
A soberania popular é titularizada pelo povo. Ela se manifesta devemos entendê-la de acordo com a realidade de 1988 (e com a
através de órgãos independentes e esses órgãos exercem funções. realidade atual, já que a nossa Constituição não é um retrato, ela não é
estática).
PAREI AQUI 22-07-10 Montesquieu dizia que o juiz é um ser inanimado, é uma boca,
que só pode falar o que está escrito na lei. Hoje nós sabemos que o juiz
não é um ser neutro, ele é imparcial, impessoal, mas não neutro,
O Poder e o Estado: inanimado. Como diz Nelson Hungria, o juiz é um homem do seu tempo.
Quando o juiz fala, quem está falando é o Estado. Quando o
O poder é um dos elementos constitutivos ou estruturais de legislador cria uma lei, é o Estado que está falando. Quando o chefe do
uma realidade política chamada Estado. executivo fala, é o Estado que está falando por meio dele. Podemos
Quais são os elementos constitutivos ou estruturais do Estado? então dizer que o Estado fala através de seus órgãos – Poder Legislativo,
1) Poder (Soberania ou Organização); Poder Executivo e Poder Judiciário.
2) Território; Quais são, pois, as atribuições dos órgãos que exercem
3) Povo; parcela da soberania do Estado?
4) Objetivos. Como vimos, hoje falamos não em divisão tripartite, mas sim
em funções ou atribuições precípuas de cada órgão. E cada um deles
Qual é a natureza desse poder exercido pelo Estado? possui uma ou mais atribuições precípuas. Vejamos a seguir quais são
Por ser uma sociedade política, o Estado exerce poder político. elas.
Poder político nada mais significa do que a possibilidade de
utilização da violência legítima (Max Weber). A coercibilidade,
obrigatoriedade é o fundamento da violência legítima. Funções típicas e atípicas dos órgãos do Estado:
1789 – Revolução Francesa: nesse período cada um de nós
abriu mão de parcela de seu poder e o colocou sob a responsabilidade
de uma entidade abstrata chamada Estado. ☺art. 2º, CR.
Mas, quando enfim surgiu esta realidade chamada Estado?
A realidade política denominada Estado é relativamente “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
recente na história universal. Ela surge por volta de 1513. Neste ano Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
Maquiavel escreveu o livro “O Príncipe” afirmando que os Estados ou são
principados ou são repúblicas. A partir daí, pois, surgem os denominados Os órgãos do Estado são os poderes referidos neste art. 2º,
Estados Modernos. CR/88: Legislativo, Executivo, e Judiciário.
Antes de 1513 (Maquiavel), é óbvio, o exercício do poder já Pergunta: Por que cada um desses órgãos exercem funções
possuía uma organização. Tínhamos a organização do exercício do típicas e atípicas?
poder de outra forma, e a atuação dos detentores de poder tinha suas Para garantia da independência.
próprias regras. Esta divisão orgânica é um núcleo intangível da nossa
É preciso saber que Montesquieu não foi o primeiro a falar das Constituição. É um núcleo eterno da nossa Constituição, é uma cláusula
3 atribuições que são desempenhadas pelo Estado: criação da lei, pétrea, em razão do disposto no art. 60, §4º, CR. Quanto a isso a
aplicação da lei e resolução dos conflitos que surgem da aplicação da lei. Constituição é super rígida.
Quem primeiro tratou desse tema foi Aristóteles, ainda em 340 Este arranjo do art. 2º, CR, que traz esta divisão, não pode
a.C., em seu livro “Política”. Ele dizia que o Estado, ou melhor, aquele deixar de ser conciliada com a harmonia também prevista neste
que exerce poder dentro de uma determinada comunidade, se manifesta dispositivo.
de 3 maneiras: ele cria a norma geral, a regra de conduta que deve ser A harmonia, em um primeiro momento, significa respeito no
seguida por todos; ele aplica esta regra geral aos casos concretos; e, se trato entre as autoridades. As autoridades que exercem poder ou parcela
surgirem conflitos, ele resolve os conflitos de acordo com essa norma de poder devem se respeitar reciprocamente. Mas, além disso, há a
geral. Ou seja, aquele que exerce poder dentro de uma determinada necessidade de freios e contrapesos entre eles (“Check and balances”),
sociedade, desempenha basicamente 3 atribuições: ou seja, deve haver mecanismos de controles recíprocos entre eles.
- cria a norma geral; Ex.: quem indica os ministros do STF é o PR, mas os nomes
- aplica a norma geral ao caso concreto, e devem passar pela aprovação pelo SF com maioria absoluta (é o
- resolve os conflitos de interesse porventura surgidos. legislativo controlando o judiciário); quem julga o PR pela prática de
Por volta de 1690, John Loke, doutrinador inglês, escreveu um crime de responsabilidade é o SF (legislativo julgando o executivo);
livro “O segundo tratado do governo civil”, no qual também afirmou que o ☺art. 52, X.
ser que exerce poder dentro de uma determinada sociedade exerce
basicamente as seguintes funções: cria normas (regras de conduta), Vejamos, pois, as funções típicas e atípicas exercidas por cada
aplica normas e resolve os conflitos surgidos a partir da aplicação dessas um desses órgãos do Estado:
regras.
Montesquieu, que era um desembargador de um tribunal de
apelação, avançou em relação a esses dois outros doutrinadores ao dizer Legislativo:
que cada uma dessas atribuições deveria ser desempenhadas por um
órgão independente. A primeira atribuição típica, precípua do Legislativo é a
fiscalização.
10
Até a Revolução Francesa os parlamentos europeus só tinham O Executivo, em sua função típica, aplica a lei ao caso
esta atribuição (por isso ela é conhecida como a atribuição histórica concreto, administrando a coisa pública. Está é sua função precípua,
desse órgão). Eles, naquela época, não inovavam na ordem jurídica, por básica.
meio da edição de leis.
São espécies de fiscalização promovida pelo Legislativo: Além dessa função, o Executivo exerce outras duas atribuições
a) fiscalização político-administrativa: é desempenhada em secundárias, atípicas:
regra pela Comissões. - ele julga (ex.: processo administrativo disciplinar, processo
☺art. 58, CR: licitatório, recursos em concursos públicos, processo administrativo
tributário, etc.). Diferentemente do julgamento pelo Judiciário, estes
Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões julgamentos não são definitivos, não fazem coisa julgada;
permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições - ele “legisla” (ex.: Medida provisória).
previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. Obs.: qual é a diferença entre MP e lei delegada?
A MP é o exercício de função atípica por parte do Executivo,
b) fiscalização econômico-financeira: é desempenhada pelo enquanto a lei delegada ostenta uma outra natureza, ela é uma exceção
PL, auxiliado pelo Tribunal de Contas. ao princípio da indelegabilidade (as suas diferenças decorrem desta
☺arts. 70 a 75, CR: diferença de naturezas jurídicas).

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e


patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, Judiciário:
quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das
subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso
Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno A função típica, básica, precípua do Judiciário é aplicar a lei ao
de cada Poder. caso concreto, substituindo a vontade das partes, resolvendo o conflito
de interesse, com a força definitiva.
Foi só a partir de 1789 que os Parlamentos europeus Mas, além dessa atribuição, o Judiciário possui outras funções
passaram a inovar a ordem jurídica, criando aquilo que conhecemos também típicas:
como lei, nesse sentido que temos hoje. - ele defende a força normativa da Constituição por meio do
Assim, hoje podemos afirmar que o Legislativo tem uma outra controle de constitucionalidade;
atribuição típica, básica, precípua, que é a de inovar a ordem jurídica, - ele defende o exercício de direitos fundamentais e busca a
criando aquilo que conhecemos genericamente como lei. sua concretização;
☺art. 59, CR – devido processo legislativo constitucional: - ele resolve os conflitos entre os dois outros órgãos (poderes).
Obs.: existem, ainda, outras atribuições especiais do Poder
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: Judiciário. Vejamos:
I - emendas à Constituição; O PJ exerce a chamada “Legislação judicial”, nome dado pelo
II - leis complementares; Min. Gilmar Ferreira Mendes em seu livro para a atuação do PJ através
III - leis ordinárias; dos seguintes institutos: súmula vinculante, interpretação conforme a
IV - leis delegadas; Constituição, sentença aditiva, mandado de injunção. É, pois, a
V - medidas provisórias; criatividade dos juízes e tribunais sobretudo no exercício da jurisdição
VI - decretos legislativos; constitucional.
VII - resoluções. A crítica a esta legislação judicial recebe o nome de “Ativismo
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, judicial”: o PJ estaria se assenhoreando de determinadas atribuições que
alteração e consolidação das leis. são do Legislativo.
Hoje, portanto, alguns doutrinadores já afirmam que o PJ está
Essas duas são atribuições primárias, típicas, precípuas do se avolumando para cima do Poder Legislativo, ou seja, está exercendo
Legislativo da União. atribuições que não seriam suas. Ex.: súmula das algemas, súmula
Ao lado dessas duas atribuições típicas, o Legislativo contra o nepotismo, pesquisas de célula-tronco, questão do feto
desempenha outras duas de forma atípica, não precípua, secundária: anencefálico, efeito do MI (☺MI 712 – que manda aplicar a legislação
- o Legislativo administra os seus assuntos internos: ☺art. 51 e dos particulares à greve dos servidores públicos) etc.
52, CR (competências privativas da CD e do SF); Zilmar Fachin e LFG já escreveram sobre as atribuições
- o Legislativo também julga, atipicamente: ex.: art. 52, P.U, CR especiais do Poder Judiciário. Recomenda-se a leitura para maior
– julgamento do PR pela prática de crime de responsabilidade pelo aprofundamento do tema.
Senado Federal.
As funções atípicas do PJ, por sua vez, são:
- o Judiciário administra: auto-governo dos tribunais – os
tribunais elegem seus órgãos diretivos próprios, regulamentam os seus
Executivo: serviços internos;
- o Judiciário “legisla”: elabora o regimento interno dos seus
tribunais, os juízes baixam portarias.

11
PODER LEGISLATIVO:

Disposições gerais sobre o Poder Legislativo da União:

☺art. 44, CR.

Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Quem exerce o Poder Legislativo Federal no Brasil é o Congresso Nacional, que é formado por duas Casas legislativas: Senado Federal e
Câmara dos Deputados.
A Câmara dos Deputados é a Casa de representação do povo; já no Senado Federal é representada a vontade dos estados membros e do
DF.
Assim, no Brasil, na Câmara dos Deputados estão os representantes do povo e no Senado Federal estão os representantes dos estados-
membros.

CN

SF CD

Estados/DF Povo

→ Diferenças Principais:

CD SF
- Idade Mínima: 21 anos 35 anos
- Regra p/ o nº de membros: mín. 8; máx. 70 3 por estado
- Nº atual: 513 81
- Mandato: 4 anos 8 anos
- Renovação: a cada 4 anos 1/3 e 2/3
- Sistema de eleição: proporcional majoritário
- Territórios: nº fixo = 4 não terá
senadores

A função legislativa da União, portanto, é exercida pelo § 1º - O número total de Deputados, bem como a representação por
Congresso Nacional. Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar,
Diz-se que o Legislativo da União é bicameral, pois ele é proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários,
composto pela Câmara dos Deputados e Senado Federal. no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da
Federação tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados.
Obs.: Enquanto o legislativo da União é bicameral, o legislativo § 2º - Cada Território elegerá quatro Deputados.
dos estados-membros e dos municípios é unicameral, pois composto de
uma única casa (☺arts. 27, 29, 32 e 33, §3º, última parte, CR). O Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e
legislativo estadual é composto pela Assembléia Legislativa, composta do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.
pelos Deputados Estaduais, também representantes do povo do Estado. § 1º - Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três
O legislativo municipal, por sua vez, é composto pela Câmara Municipal Senadores, com mandato de oito anos.
(Câmara de Vereadores), composta pelos Vereadores, representantes do § 2º - A representação de cada Estado e do Distrito Federal será
povo do Município. Por fim, o legislativo distrital é exercido pela Câmara renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois
Legislativa, composta pelos Deputados Distritais, que representam o terços.
povo do DF. § 3º - Cada Senador será eleito com dois suplentes.

O legislativo da União é bicameral do tipo federativo, em razão Pergunta: Qual é a razão que o arquiteto de Brasília desenhou
da forma do Estado – Federação. Este modelo se contrapõe ao modelo a Câmara dos Deputados de cabeça para cima e o Senado Federal de
bicameral do tipo aristocrático (ex: Inglaterra). cabeça para baixo?
Uma das características da federação é a participação dos Porque, em tese, a Câmara dos Deputados é mais liberal
estados-membros na criação das leis. (idade mínima: 21 anos) e o Senado Federal é mais conservador (35
anos).
☺arts. 45 e 46, CR: Além de ser bicameralismo do tipo federativo, o bicameralismo
é de equilíbrio ou de equivalência. O que significa isso? No
Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do bicameralismo do tipo aristocrático, temos uma casa alta e uma casa
povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada baixa. Já no Brasil nós temos as duas casas no mesmo nível. A Câmara
Território e no Distrito Federal. dos Deputados não é mais importante do que o Senado Federal e nem o
Senado Federal é mais importante do que a Câmara dos Deputados.

12
Temos, pois, no Brasil, um bicameralismo de equilíbrio ou O Congresso se reunirá do dia 02 de fevereiro até 17 de julho.
equivalência, ou seja, mesmo tendo atribuições diversas, uma Casa não Posteriormente, recomeçará seus trabalhos no dia 01 de agosto indo até
é mais importante do que a outra. Já na Inglaterra, há um bicameralismo o dia 22 de dezembro.
do tipo assimétrico, aristocrático, com uma Câmara Baixa e uma Câmara Existe uma sessão legislativa por ano.
Alta. Uma sessão legislativa se divide, portanto, em 2 períodos
legislativos.
1. de 02/02 a 17/07 = 1º período
Formas de Manifestação do Legislativo da União:
2. de 01/08 a 22/12 = 2º período
Se analisarmos a Constituição da República, verificaremos que Nesse período, chamado de sessão legislativa, os
ela traz várias formas de manifestação do legislativo da União. Por ora parlamentares se reúnem ordinariamente. Fora desse período, ou seja,
analisaremos as seguintes: de 18 a 31 de julho e de 23 de dezembro a 1º de fevereiro, temos o
recesso parlamentar, e, havendo necessidade, os parlamentares serão
1. Manifestação só a Câmara dos Deputados – art. 51, caput, CR: convocados extraordinariamente. As hipóteses de convocação
“Compete privativamente à Câmara dos Deputados” (ninguém mais extraordinária estão previstas no art. 57, §6º, CR:
participa, nem o SF e nem o PR) – a CD o faz através de uma
Resolução. § 6º A convocação extraordinária do Congresso Nacional far-
se-á:
I - pelo Presidente do Senado Federal, em caso de decretação de estado
2. Manifestação só o Senado Federal – ☺art. 52, caput, CR: de defesa ou de intervenção federal, de pedido de autorização para a
“Compete privativamente ao SF” (ninguém mais participa) – e o SF o faz decretação de estado de sítio e para o compromisso e a posse do
através, também, de uma Resolução. Presidente e do Vice-Presidente- Presidente da República;
Obs.: não é por meio de lei, nem de medida provisória, nem de II - pelo Presidente da República, pelos Presidentes da Câmara dos
emenda constitucional. Mas sim por meio de resoluções. Tanto a Câmara Deputados e do Senado Federal ou a requerimento da maioria dos
dos Deputados quanto o Senado Federal se manifestam através de membros de ambas as Casas, em caso de urgência ou interesse público
resolução. relevante, em todas as hipóteses deste inciso com a aprovação da
maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso Nacional.
3. Manifestação do Congresso Nacional – ☺art. 49, CR: “É da
competência exclusiva do CN” (através de decreto-legislativo). Como veremos mais adiante, durante o recesso parlamentar
haverá uma Comissão representativa do CN, com atribuições definidas
Obs.: nessas 3 formas acima vistas não existe sanção e nem no Regimento Comum.
existe veto do PR. Ou seja, o Presidente não participa quando a matéria
é privativa da CD, privativa do SF ou exclusiva do CN. ☺art. 58, §4º, CR:
Obs.: este “exclusivo” do art. 49 tem o mesmo sentido do termo
“privativo” dos arts. 51 e 52. Aqui não há diferença (mas atenção: nos § 4º - Durante o recesso, haverá uma Comissão representativa do
arts. 22 e 23 tem diferença!). Congresso Nacional, eleita por suas Casas na última sessão ordinária do
período legislativo, com atribuições definidas no regimento comum, cuja
composição reproduzirá, quanto possível, a proporcionalidade da
4. Manifestação da Câmara dos Deputados, depois Senado representação partidária.
Federal ou do Senado Federal, depois da Câmara dos Deputados –
☺art. 48, CR (através de lei ordinária ou lei complementar – aqui Foi a EC 50/06 que reduziu o prazo do recesso parlamentar, de
existe a participação do Presidente, sancionando ou vetando). 90 para 55 dias, visando atender melhor aos anseios e insatisfações da
sociedade.
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da Note-se que a sessão legislativa não será interrompida sem a
República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias (art. 57, §2º, CR).
dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente
sobre: Obs.: é possível prorrogar o prazo da CPI? É, mas desde que
dentro da mesma legislatura.
5. Legislativo da União investido do Poder Constituinte Derivado
Reformador – ☺art. 60, CR (através de uma emenda à CR – aqui, o
Legislativo está investido de outro poder – as Constituições devem ser
eternas, mas não podem ser imodificáveis). (31/08/09)

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Teoria das Maiorias:
Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
Esta é uma expressão do prof. Michel Temer (atual Presidente
III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da
da CD).
Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de
Esta teoria significa que na democracia os colegiados decidem
seus membros.
por maioria de votos. A maioria sempre vence, mas sem esmagar as
minorias. Ou seja, na democracia a maioria sempre vence, mas
Atenção: PR não sanciona, não veta emenda. Não há que se
respeitando os direitos das minorias parlamentares. Não há que se falar
falar em veto de emenda à CR.
em democracia sem respeito aos direitos das minorias.
Para o estudo deste tema é importante recordar que temos 513
Deputados Federais e 81 Senadores.
Legislatura e Sessão Legislativa:
A nossa Constituição faz referência a várias espécies de
É o prazo de 4 anos, correspondente ao mandato do deputado maioria, vejamos:
federal.
☺ art. 44, P.U., CR.: a) Maioria absoluta de votos: tecnicamente não é correto
falar que a maioria absoluta é a metade + 1 dos votos; é, na verdade, o
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos. 1º número inteiro acima da metade dos membros da casa legislativa. A
maioria absoluta é sempre fixa, determinada, não se altera.
Esse artigo traz a definição de legislatura. Cada legislatura se Obs.: a maioria absoluta é o nº mínimo para que haja
divide em 4 sessões legislativas. manifestação daquela Casa legislativa, ou seja, não existe manifestação
☺art. 57, CR: legislativa, deliberação da Casa, sem que ao menos a maioria absoluta
esteja presente. Numa Casa hipotética, com 100 membros, a maioria
Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital absoluta será constituída por 51 membros.
Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de
dezembro. b) Maioria simples: é qualquer maioria, desde que se faça
presente ao menos a maioria absoluta. A maioria simples é a regra
constitucional, ou seja, em regra as deliberações serão tomadas por
maioria simples.
13
☺art. 47, CR: A maioria qualificada em regra é superior à maioria absoluta de
votos.
“Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada
Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos,
presente a maioria absoluta de seus membros”. Mesas:
Se o constituinte não qualificou a maioria nesse dispositivo,
entende-se, então, que a ele se aplica a regra geral, e, portanto, diz-se Mesa é o órgão de direção de um colegiado. A mesa é
que o art. se refere à maioria simples. encarregada da organização e condução dos trabalhos legislativos e
A maioria simples é variável, indeterminada, pois muda tendo administrativos da Casa.
em vista o número de presentes naquela sessão legislativa. É preciso As mesas diretoras de cada Casa exercem, pois, as funções
lembrar: não existe quorum para deliberação, e por isso também não administrativas (de polícia, execução e administração), devendo, no
existe manifestação, sem que ao menos a maioria absoluta se faça tocante à sua constituição, ser assegurada, tanto quanto possível, a
presente. Na Casa hipotética de 100 membros, presentes 51 membros representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares
(maioria absoluta), a maioria simples será constituída de 26 membros. que particiapm da respectiva Casa.
Atenção: ☺art. 53, §2º, CR: Assim, nas Mesas, assim como nas Comissões como veremos
adiante, os partidos políticos devem estar, tanto quanto possível,
“Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional representados proporcionalmente.
não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse ☺art. 58, §1º, CR:
caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva § 1º - Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é assegurada,
sobre a prisão”. tanto quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou dos
blocos parlamentares que participam da respectiva Casa.
Em relação a esse dispositivo o STF já entendeu que se trata
de maioria absoluta, ainda que o legislador constituinte não tenha Todo colegiado possui a sua mesa.
qualificado a maioria. Ex: STF possui a sua mesa de direção, composta pelo
Presidente e pelo Vice-presidente.
c) Maioria qualificada: é uma maioria especial; é uma Outro ex.: Tribunal de Justiça de São Paulo – possui 360
exceção. Geralmente é representada por frações. desembargadores. Imagine esses 360 membros discutindo tudo ao
Ex.: 2/3 para condenar o PR pela prática de crime de mesmo tempo. Isso não seria possível. Por isso é necessária a mesa.
responsabilidade (art. 52); 3/5 para aprovar uma proposta de EC (art. 60),
etc. No Legislativo da União, nós temos 3 mesas, a saber:

1. Mesa da Câmara dos Deputados Ocorre que Michel Temer já foi reeleito como Presidente da
2. Mesa do Senado Federal CD, exercendo o mandato de 4 anos seguidos. Ele foi reeleito em uma
3. Mesa do Congresso Nacional legislatura diversa, e alega isso como justificativa para a sua reeleição.
Ocorre que o dispositivo legal não faz essa ressalva (quanto a
A CR não diz quais são os cargos que compõem cada um das possibilidade de reeleição, desde que para legislaturas diversas) e nem
mesas. Esses cargos estão no Regimento Interno de cada casa mesmo o próprio Michel Temer explica esta possibilidade de reeleição no
legislativa. seu manual de Direito Constitucional.
Os cargos são os seguintes:
- Presidente, Essa norma da Constituição que veda a reeleição (art. 57, §4º,
- 1º Vice-Presidente e CR) não é obrigatória nas constituições estaduais, nem nas leis
- 2º Vice-Presidente. orgânicas dos municípios. Não se trata de norma de reprodução
Além disso, nós temos o 1º, 2º, 3º e 4º Secretários. obrigatória.
Isso ocorre em qualquer das mesas citadas acima.
O Presidente da CD atualmente é o Michel Temer. E o
Aqueles que exercem cargos nas mesas, exercem mandato de Presidente do SF é hoje José Sarney.
2 anos, vedada a reeleição para o mesmo cargo. Na Mesa da Câmara dos Deputados só tem deputados
Ex: o Presidente da Câmara dos Deputados não pode federais. No Senado Federal só senadores compõem a Mesa. Já a Mesa
concorrer para o cargo de Presidente da Câmara dos Deputados do Congresso Nacional é composta por senadores e deputados federais.
novamente, na eleição imediatamente subseqüente. Mas poderá O Presidente do Senado Federal automaticamente será o
concorrer para o cargo de vice-presidente. Presidente do Congresso Nacional. Os demais cargos da mesa do
☺art. 57, §4, CR: Congresso Nacional serão exercidos de forma alternada por Deputados
Federais e por Senadores.
§ 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir
de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus ☺art. 57, §5º, CR:
membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois)
anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição § 5º - A Mesa do Congresso Nacional será presidida pelo Presidente do
imediatamente subseqüente. Senado Federal, e os demais cargos serão exercidos, alternadamente,
pelos ocupantes de cargos equivalentes na Câmara dos Deputados e no
Senado Federal.

☺Gráfico da composição da Mesa do CN:

CN
P
P SF 1º VP CD
P
1º VP 2º VP 1º VP
2º VP 1º Sec. 2º VP
1º Sec. (…) 1º Sec.

Atenção: o Presidente da CD não ocupa cargo na Mesa do CN Qual é a importância das Mesas?
(ele não é nem suplente)! Assim, se o PSF deixar de ser PSF, o VPSF A CR/88 valorizou as Mesas, dando a elas importantes
não será o novo PCN, quem ocupará esse cargo será o 1º VPCN (que é atribuições, dentre as quais podemos citar:
o1º VPCN). - as Mesas da CD e do SF promulgam as EC;

14
- as Mesas da CD e do SF são dotadas de legitimidade para 13 37 y = (x-12) +
ajuizar ADI (art. 103, CR); 36 ou y = x
- o Presidente da CD e o Presidente do SF estão na linha + 24
sucessória do Presidente da República (art. 80, CR). 14 38 y = (x-12) +
36 ou y = x
+ 24
Deputados Federais: (...)
68 92 y = (x-12) +
☺art. 45, CR: 36 ou y = x
+ 24
Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do 69 93 y = (x-12) +
povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada 36 ou y = x
Território e no Distrito Federal. + 24
§ 1º - O número total de Deputados, bem como a representação por 70 94 y = (x-12) +
Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar, 36 ou y = x
proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários, + 24
no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da
Federação tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados.
§ 2º - Cada Território elegerá quatro Deputados. Os deputados federais exercem mandato de 4 anos. Eles são
eleitos pelo sistema eleitoral proporcional.
Os deputados federais são representantes do povo.
O número de deputados federais por estado-membro leva em
conta a população de cada estado. População é um conceito jurídico? Senadores:
Não. É um conceito demográfico, geográfico, matemático. Dentro da
população estão os brasileiros natos, naturalizados, estrangeiros e ☺art. 46, CR:
apátridas.
Assim, os estados menos populosos possuem menos Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e
deputados federais. do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.
Nenhum estado poderá ter menos de 8 deputados federais e § 1º - Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com
nem mais de 70 deputados federais. Os estados menos populosos têm 8 mandato de oito anos.
deputados federais, e os estados mais populosos têm um nº maior de § 2º - A representação de cada Estado e do Distrito Federal será
deputados federais, até atingir-se o nº máximo de 70 deputados federais, renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois
que é o nº de deputados federais do estado de SP (estado mais populoso terços.
do Brasil). § 3º - Cada Senador será eleito com dois suplentes.
Digamos que todos os habitantes mudem para o estado do
Acre. O Acre passará a ter 70 deputados federais e São Paulo passará a Os senadores não são representantes do povo, são
ter 8 deputados federais. Só o estado de São Paulo que tem 70 representantes dos estados-membros e do DF.
deputados. Os territórios não terão senadores. A CR não inclui os
No Brasil não temos territórios, mas eles podem ser criados e, territórios no art. 46, CR.
se o forem, terão natureza jurídica de uma descentralização Cada estado-membro e o DF terão 3 senadores.
administrativa da União. A natureza jurídica do território é autárquica. Os Nós temos 81 senadores: 27 (26 estados + DF) x 3.
territórios terão 4 deputados federais (e esse nº é fixo). Temos 3 senadores em cada estado porque somos uma
Federação, ou seja, esse número fixo se dá em razão do pacto
Hoje, nós temos 513 deputados federais no Brasil. E temos 200 federativo. Isso porque não há diferença entre os estados-membros. Os
milhões de habitantes no país. Nos EUA há 300 milhões de habitantes e estados-membros possuem a mesma importância, independentemente
415 deputados federais. do seu poder econômico, de sua extensão territorial, de sua população,
Existe a Lei Complementar n. 78/1993 que define o número de etc. Eles possuem, pois, a mesma representação no SF.
deputados federais por estado da federação. Os senadores são eleitos pelo sistema eleitoral majoritário. Não
O número de deputados federais repercute no número de é pelo sistema proporcional.
deputados estaduais. O mandato do senador é de 8 anos. O Senado Federal é
☺art. 27, CR: renovado de forma alternada. Isso significa que em uma eleição 1/3 do
Senado Federal é renovado, e em outra, 2/3.
Art. 27. O número de Deputados à Assembléia Legislativa corresponderá Na eleição de 2006, cada estado elegeu um senador, tivemos,
ao triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, pois, 27 novos senadores. Nas eleições de 2010, cada estado elegerá 2
atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos senadores. Haverá a renovação de 2/3 do Senado Federal. Teremos,
forem os Deputados Federais acima de doze. então, 54 novos senadores.
Exemplos:
- Um estado menos populoso, com apenas 8 deputados
federais: terá 24 deputados estaduais (8 x 3); Atribuições do Legislativo da União:
- Um estado (X), com 10 deputados federais: terá 30 deputados
estaduais; No Brasil, o Poder Legislativo, como vimos, desempenha duas
- Um estado (Y), com 12 deputados federais: terá 36 deputados precípuas atribuições:
estaduais;
- Um estado (Z), com 70 deputados federais: aqui não se 1) Fiscalização e
multiplica 70 x 3 (ou seja, o estado não terá 210 deputados estaduais).
Deve-se multiplicar o nº de deputados federais por 3 até chegar a 36. 2) Inovação da ordem jurídica (art. 59, CR).
Após isso, acrescentam-se tantos quantos forem os deputados federais
acima de 12. Temos então: 36 + (70 – 12) = 36 + 58 = 94. Veremos esta segunda atribuição mais adiante, com o prof.
Ou seja, este estado terá 94 deputados estaduais. É o caso do Marcelo Novelino.
estado de SP. Por ora estudaremos a primeira atribuição do Legislativo da
União: a fiscalização.
Assim:

Nº de Nº de Espécies de Fiscalização:
Deputados Deputados
Fórmula
Federais Estaduais
(x) (y)
8 24 O triplo a) Fiscalização econômico-financeira:
9 27 O triplo
10 30 O triplo O Legislativo desenvolve esta atribuição auxiliado pelo Tribunal
11 33 O triplo de Contas.
12 36 O triplo ☺arts. 70 a 75, CR:

15
Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e se de validade jurídica, da aprovação da maioria absoluta dos membros
patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, que compõem o órgão de investigação legislativa (Lei n. 4.595/64, art. 38,
quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das § 4º)." (MS 23.669-MC, decisão monocrática, Rel. Min. Celso de Mello,
subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso julgamento em 12-4-00, DJ de 17-4-00). No mesmo sentido: MS 24.817-
Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno MC, decisão monocrática, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 6-4-
de cada Poder. 04, DJ de14-4-04.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre
dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou Vamos agora ao estudo de cada uma dessas Comissões:
que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será
exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: 1) Comissão temática ou material:
(...)
Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros,
tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em Não é a CR que elenca a rol das comissões temáticas, isso
todo o território nacional, exercendo, no que couber, as atribuições vem descrito nos Regimentos Internos de cada Casa legislativa.
previstas no art. 96.(...) Obs.: Como regra, para cada Ministério do Executivo, existirá
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de uma comissão temática dentro das Casas Legislativas. Ex.: Ministério da
forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de (...) Saúde – Comissão de Saúde; Ministério da Agricultura – Comissão de
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que Agricultura. Esta não é uma regra constitucional, mas é uma
couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de característica que nos ajuda a recordar quais são as comissões
Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e temáticas.
Conselhos de Contas dos Municípios. A comissão temática ou material mais importante é a CCJ –
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais Comissão de Constituição e Justiça.
de Contas respectivos, que serão integrados por sete Conselheiros. Existe uma CCJ na CD e uma CCJ no SF. A CCJ é tão
importante porque faz o controle preventivo de constitucionalidade. Todo
projeto de lei inicialmente deverá passar pela CCJ, para que ela possa
analisar a compatibilidade do projeto com a Constituição.
b) Fiscalização político-administrativa. O projeto passa primeiro pela CCJ e depois vai para a
comissão respectiva da sua área de abrangência (ex.: comissão de
O Legislativo desempenha esta atribuição através das saúde, se se referir a este tema). Assim, o projeto de lei sempre passará
Comissões. por no mínimo 2 comissões.
☺art. 58, CR: A comissão temática ou material no Brasil é dotada da
delegação interna ou delegação imprópria. O Min. Gilmar Mendes
Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões denomina esta delegação interna ou imprópria de “Processo legislativo
permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições abreviado”.
previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. A delegação interna ou imprópria ou processo legislativo
abreviado é o poder ofertado pela Constituição à comissão temática para
votar projeto de lei, independentemente da manifestação do Plenário da
Comissões: Casa Legislativa. No Brasil a comissão temática ou material é dotada
dessa delegação, ou seja, ela pode aprovar projeto de lei sem que haja o
debate sobre ele em Plenário.
Comissões são organismos parlamentares com número restrito
☺art. 58, §2º, I, CR:
de membros encarregado de apresentar, debater, votar proposições
legislativas e fiscalizar.
§ 2º - às comissões, em razão da matéria de sua competência,
cabe:
Temos, no art. 58, CR, 3 espécies de comissões. São elas:
I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a
competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos
1) Comissão temática ou material:
membros da Casa;
2) Comissão representativa ou de representação:
3) Comissão parlamentar de inquérito:
Além disso, a comissão temática ou material realiza audiências
públicas, com o objetivo de aprimorar os projetos de lei. Para essas
audiências são convidados especialistas, estudiosos, professores
→ Princípios que regem as comissões:
universitários etc., para debater os projetos de lei.
A própria comissão, ou os seus membros, podem apresentar
- Princípio da representação proporcional ou partidária: este
projetos de lei.
princípio se aplica às Comissões e às Mesas.
☺art. 61, CR:
☺art. 58, §1º, CR:
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer
§ 1º - Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é assegurada,
membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou
tanto quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou dos
do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo
blocos parlamentares que participam da respectiva Casa.
Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da
República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta
Os partidos políticos devem ser representados
Constituição.
proporcionalmente nas comissões e nas Mesas. Ou seja,
obrigatoriamente as Mesas e as Comissões devem ter membros de todos
os blocos partidários, distribuídos proporcionalmente.
2) Comissão representativa ou de representação:
- Princípio da colegialidade: quem decide é a Comissão, o
Colegiado (e não o seu presidente ou relator). É aquela que representa, que faz as vezes do Congresso nos
períodos de recesso parlamentar.
Princípio da colegialidade No recesso parlamentar o CN não pode fechar suas portas em
"O princípio da colegialidade traduz diretriz de fundamental importância respeito ao Princípio da Continuidade do serviço público. Durante esse
na regência das deliberações tomadas por qualquer comissão recesso, pois, funcionará uma comissão representativa ou de
parlamentar de inquérito, notadamente quando esta, no desempenho de representação.
sua competência investigatória, ordena a adoção de medidas restritivas Como já visto, no art. 57, CR temos a chamada Sessão
de direitos, como aquela que importa na revelação das operações Legislativa, que se inicia no dia 02/02 e vai até 17/07, quando então
financeiras ativas e passivas de qualquer pessoa. O necessário respeito haverá um recesso parlamentar. Depois, os trabalhos se reiniciam em
ao postulado da colegialidade qualifica-se como pressuposto de validade 01/08 e vão até 22/12, quando então haverá um novo recesso
e de legitimidade das deliberações parlamentares, especialmente quando parlamentar. É durante esses recessos que funcionarão tais comissões.
estas – adotadas no âmbito de comissão parlamentar de inquérito – ☺art. 58, §4º, CR:
implicam ruptura, sempre excepcional, da esfera de intimidade das
pessoas. A quebra do sigilo bancário, que compreende a ruptura da § 4º - Durante o recesso, haverá uma Comissão representativa do
esfera de intimidade financeira da pessoa, quando determinada por ato Congresso Nacional, eleita por suas Casas na última sessão ordinária do
de qualquer comissão parlamentar de inquérito, depende, para revestir- período legislativo, com atribuições definidas no regimento comum, cuja

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composição reproduzirá, quanto possível, a proporcionalidade da
representação partidária. “Se à CPI são atribuídos os poderes investigatórios da autoridade
judiciária, é certo que a comissão parlamentar também se encontra
Já que temos dois períodos de recesso, temos, portanto, duas sujeita a determinados limites constitucionais e legais, dentre os quais a
comissões representativas ou de representação. observância do foro por prerrogativa de função que assiste aos
Estas comissões são mistas ou conjuntas, porque delas magistrados, segundo a base dada pelo art. 96, III, da Constituição
participam deputados federais e senadores. Federal (...). Assim, ainda que constatada pela CPI a possível prática de
ilícito penal por parte de magistrado, poderá aquela, tão-somente,
encaminhar os respectivos autos ao Tribunal a que vinculado o
3) Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI: magistrado, sendo-lhe vedado o ato formal de indiciamento, o qual é
privativo do órgão competente para o julgamento. Embora tratando da
matéria sob o enfoque da prerrogativa de foro dos parlamentares (...). A
Esta é, sem dúvidas, a comissão mais importante. jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consolidou-se no sentido de
☺ no site do STF: publicações → publicações temáticas → que a atividade tipicamente jurisdicional do magistrado é absolutamente
CPI. imune à investigação realizada pelas comissões parlamentares de
inquérito.

Introdução – Evolução histórica das atribuições do Legislativo:


Assim, juiz não investiga, como regra, mas possui, sim,
poderes instrutórios. A CPI possui, portanto, esses poderes instrutórios
Como já visto anteriormente, até 1789 os parlamentos do juiz.
europeus não inovavam a ordem jurídica. Eles tinham apenas a
atribuição de fiscalizar aquele que exercia o poder. A Constituição trata de CPI no art. 58, §3º, que é
Com a Revolução Francesa surge o chamado Estado Liberal, regulamentado por duas leis:
ou Estado Social. Esse Estado Liberal dá nascimento à Constituição - Lei 1.579/52 e
Política-Jurídica. - Lei 10.001/00.
O Estado Liberal é um estado garantidor. E esta garantia é Além dessas duas leis, aplicam-se ao tema, subsidiariamente,
fundamentada na lei. Existe, nessa época, portanto, uma maior força do o CPC e o CPP.
Poder Legislativo.
Estávamos, então, no Séc. XIX, que é o século do Poder Com fundamento nos poderes instrutórios, vejamos o que a
Legislativo. CPI pode e o que não pode fazer:
No Séc. XX surge o Estado Social. Nesse Estado Social, além
da Constituição Político-Jurídica, temos também uma Constituição A CPI pode, independentemente A CPI não pode, porque não é
Econômica-Social. de autorização judicial, porque dotada de autoridade própria (e
Temos, nesse Séc. XX, um Estado prestador (além de dotada de autoridade própria: então, precisa de autorização
garantidor), e quem presta essas atribuições é o Poder Executivo. Por judicial para):
isso esse é o século importante para o Poder Executivo. É nesse período
que surgem os Decretos-Lei e as MP. O Legislativo vai perdendo espaço
- Notificar testemunhas; - Expedir mandado de prisão –
para o Executivo durante o Séc. XX. É em razão disso que o Legislativo
- Determinar a condução coercitiva CPI não pode prender preventiva
começa a fiscalizar o Executivo. Surgem, então, as CPIs, como um dos
de testemunhas; ou temporariamente;
instrumentos de fiscalização.
- Prender em flagrante (assim como - Expedir mandado de
No Séc. XXI temos o chamado Estado Constitucional Social
qualquer do povo pode); interceptação das comunicações
Democrático de Direito. Nesse Séc., o Estado, além de garantidor e
- Determinar a realização de telefônicas (só o juiz pode – art.
prestador, é também transformador. Esta transformação fortalece o
perícias ou vistorias; 5º, XII, CR);
Poder Judiciário.
- Afastar o sigilo bancário e fiscal. - Expedir mandado de busca e
apreensão;
Obs.: Todas as decisões da CPI - Proibir que o cidadão deixe o
Características Principais da CPI: devem ser fundamentadas, sob território nacional;
pena de ser desafiada por HC ou - Fazer a apreensão de
☺art. 58, §3º, CR: MS. passaporte;
- Determinar constrições judiciais
§ 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de (medidas assecuratórias – art.
investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos 120 e ss, CPP).
nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração Obs. sobre o quadro acima:
de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o
caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a - Segundo a Lei 1.579/52, a pessoa comparece perante a CPI
responsabilidade civil ou criminal dos infratores. ostentando uma de 3 condições: ou é testemunha, ou é indiciado (ou
investigado), ou, por fim, é convidado.
Pergunta: as autoridades judiciais possuem poder de Pergunta: CPI pode determinar a condução coercitiva de índio?
investigação? Juiz, no Brasil, investiga? Não pode, porque a condução coercitiva de índio significa a remoção do
Se a CPI tem poderes próprios das autoridades judiciais, elas índio de sua comunidade, o que é proibido pelo art. 231, CR.
só podem ter os poderes que os juízes têm. Daí a importância de se
saber, por ora, se os juízes têm ou não poder de investigação. Intimação para depor – Índio:
Como regra, o juiz não investiga. O ato de investigar não se “Comissão Parlamentar de Inquérito: intimação de indígena para prestar
encontra dentre as atribuições do magistrado, em razão da existência do depoimento na condição de testemunha, fora do seu habitat: violação às
Sistema Processual Penal Acusatório (art. 129, I, CR). Esse sistema normas constitucionais que conferem proteção específica aos povos
possui várias características, dentre as quais a que mais nos interessa é indígenas (CF, arts. 215, 216 e 231). A convocação de um índio para
a de que existe separação de funções entre quem julga e quem acusa. prestar depoimento em local diverso de suas terras constrange a sua
☺Lei 9.034/95, que trata das Organizações Criminosas. Esta liberdade de locomoção, na medida em que é vedada pela Constituição
lei, em um dos seus dispositivos permitia que o juiz investigasse da República a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo
diretamente. O STF reconheceu que este dispositivo era inconstitucional, exceções nela previstas (CF/88, artigo 231, § 5º). A tutela constitucional
em razão do Sistema processual penal acusatório. do grupo indígena, que visa a proteger, além da posse e do usufruto das
Por isso, podemos afirmar que juiz no Brasil tecnicamente não terras originariamente dos índios, a respectiva identidade cultural,
investiga. estende-se ao indivíduo que o compõe, quanto à remoção de suas terras,
Mas existe uma exceção a esta regra: a LOMAN (LC 35/79) que é sempre ato de opção, de vontade própria, não podendo se
permite que um juiz investigue outro juiz, em caso de cometimento de apresentar como imposição, salvo hipóteses excepcionais. Ademais, o
crime. depoimento do índio, que não incorporou ou compreende as práticas e
Existe, ainda, uma segunda exceção: os inquéritos judiciais – modos de existência comuns ao ‘homem branco’ pode ocasionar o
as autoridades dotadas de foro por prerrogativa de função não cometimento pelo silvícola de ato ilícito, passível de comprometimento do
respondem a inquérito policial, mas sim inquérito judicial. Ex.: inquérito seu status libertatis. Donde a necessidade de adoção de cautelas
do Mensalão, presidido pelo Min. Joaquim Barbosa. Esse tema sobre os tendentes a assegurar que não haja agressão aos seus usos, costumes e
inquéritos judiciais será visto de forma mais aprofundada mais a frente. tradições.”

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O sigilo bancário e fiscal dos indivíduos está num círculo
Pergunta: Membros do MP e magistrados podem ser obrigados imaginário restrito, pois se tratam de dados sensíveis da personalidade
a comparecer à CPI? Eles podem comparecer, mas não podem ser de cada um. Aliás, por meio desses dados é possível saber muita coisa a
obrigados a se manifestar sobre fatos que constem em suas decisões ou respeito da pessoa, inclusive coisas que ela deseja que fique em sua
pareceres. Existem vários HCs que magistrados impetram no STF intimidade (compras, hábitos etc.). Esses dados são, portanto, protegidos
dizendo que podem comparecer à CPI, mas não podem ser obrigados a constitucionalmente, pelo art. 5º, X, CR.
explicar a CPI as motivações de suas decisões, pois isso afetaria a sua Assim, tais dados só serão revelados se o indivíduo assim o
independência funcional. quiser, ou por determinação judicial, ou por meio de CPI. Um dos motivos
para que a CPI municipal não possa afastar o sigilo bancário e fiscal é
exatamente o fato de que existe um nº muito grande de municípios no
"Ao contrário do que sucede com as convocações emanadas de
Brasil, e se cada município pudesse autorizar, por meio de CPI municipal,
Comissões Parlamentares de Inquérito, em que as pessoas – além de
a violação a esses sigilos, esta situação poderia sair fora do controle,
intimadas a comparecer, sob pena de condução coercitiva – estão
acarretando uma violação absurda desses dados, e, portanto, do próprio
obrigadas a depor, quando arroladas como testemunhas (ressalvado,
direito constitucional que se pretende proteger.
sempre, em seu benefício, o exercício do privilégio constitucional contra a
Ademais, não existe no Brasil um poder judiciário municipal,
auto-incriminação), cumpre observar que tais conseqüências não se
por opção política. Se não existe juiz municipal, então a CPI municipal
registram, no plano jurídico, se se tratar, como na espécie, de mero
também não tem poderes de juízes municipais, ou seja, não possui poder
convite formulado por Comissão Permanente do Senado Federal, que
para a quebra desse sigilo.
não dispõe dos poderes de coerção atribuídos a uma CPI."
"A quebra do sigilo inerente aos registros bancários, fiscais e telefônicos,
- O juiz tem poder de polícia na audiência, assim, o presidente por traduzir medida de caráter excepcional, revela-se incompatível com o
da CPI também terá poder de polícia naquela sessão. ordenamento constitucional, quando fundada em deliberações emanadas
- CPI pode prender em flagrante, desde que seja caso de de CPI cujo suporte decisório apóia-se em formulações genéricas,
flagrante. destituídas da necessária e específica indicação de causa provável, que
Juiz não pode prender o réu por falso testemunho, pois o réu se qualifica como pressuposto legitimador da ruptura, por parte do
não é testemunha e tem o direito constitucional ao silêncio. Assim, o Estado, da esfera de intimidade a todos garantida pela Constituição da
investigado, na CPI, também não pode ser preso por falso testemunho. República. O controle jurisdicional de abusos praticados por comissão
Aliás, o STF já decidiu que mesmo a testemunha tem o direito parlamentar de inquérito não ofende o princípio da separação de
constitucional ao silêncio, pois tem o direito de não se auto-incriminar (ela poderes. O Supremo Tribunal Federal, quando intervém para assegurar
não é, pois, obrigada a revelar fato que lhe seja prejudicial). as franquias constitucionais e para garantir a integridade e a supremacia
da Constituição, neutralizando, desse modo, abusos cometidos por
Direito ao silêncio: Comissão Parlamentar de Inquérito, desempenha, de maneira
“O entendimento pacificado nesta Corte está alinhado no sentido de que plenamente legítima, as atribuições que lhe conferiu a própria Carta da
‘as Comissões Parlamentares de Inquérito detêm poder instrutório das República. O regular exercício da função jurisdicional, nesse contexto,
autoridades judiciais – e não mais que o destas. Logo, às Comissões porque vocacionado a fazer prevalecer a autoridade da Constituição, não
Parlamentares de Inquérito poder-se-ão opor os mesmos limites formais transgride o princípio da separação de poderes. Doutrina. Precedentes."
e substanciais oponíveis aos juízes, entre os quais os derivados da “É preciso advertir que a quebra de sigilo não se pode converter em
garantia constitucional da não-auto-incriminação, que tem sua instrumento de devassa indiscriminada dos dados – bancários, fiscais
manifestação eloqüente no direito ao silencio dos acusados’. O privilégio e/ou telefônicos – postos sob a esfera de proteção da cláusula
constitucional da não auto-incriminação alcança tanto o investigado constitucional que resguarda a intimidade, inclusive aquela de caráter
quanto a testemunha”. financeiro, que se mostra inerente às pessoas em geral. Não se pode
“Assiste, a qualquer pessoa, regularmente convocada para depor perante desconsiderar, no exame dessa questão, que a cláusula de sigilo que
Comissão Parlamentar de Inquérito, o direito de se manter em silêncio, protege os registros bancários, fiscais e telefônicos reflete uma
sem se expor - em virtude do exercício legítimo dessa faculdade - a expressiva projeção da garantia fundamental da intimidade – da
qualquer restrição em sua esfera jurídica, desde que as suas respostas, intimidade financeira das pessoas, em particular –, que não deve ser
às indagações que lhe venham a ser feitas, possam acarretar-lhe grave exposta, enquanto valor constitucional que é, a intervenções estatais ou a
dano (Nemo tenetur se detegere)”. intrusões do Poder Público, quando desvestidas de causa provável ou
"O direito ao silêncio, que assegura a não-produção de prova contra si destituídas de base jurídica idônea.”
mesmo, constitui pedra angular do sistema de proteção dos direitos "Comissão parlamentar de inquérito. Garantia constitucional da
individuais e materializa uma das expressões do princípio da dignidade intimidade. Sigilo bancário. Possibilidade de sua quebra. (...) O direito à
da pessoa humana. Como se sabe, na sua acepção originária, este intimidade – que representa importante manifestação dos direitos da
princípio proíbe a utilização ou transformação do homem em objeto dos personalidade – qualifica-se como expressiva prerrogativa de ordem
processos e ações estatais. O Estado está vinculado ao dever de jurídica que consiste em reconhecer, em favor da pessoa, a existência de
respeito e proteção do indivíduo contra exposição a ofensas ou um espaço indevassável destinado a protegê-la contra indevidas
humilhações”. interferências de terceiros na esfera de sua vida privada. A transposição
"O privilégio contra a auto-incriminação – que é plenamente invocável arbitrária, para o domínio público, de questões meramente pessoais, sem
perante as comissões parlamentares de inquérito – traduz direito público qualquer reflexo no plano dos interesses sociais, tem o significado de
subjetivo assegurado a qualquer pessoa, que, na condição de grave transgressão ao postulado constitucional que protege o direito à
testemunha, de indiciado ou de réu, deva prestar depoimento perante intimidade, pois este, na abrangência de seu alcance, representa o
órgãos do Poder Legislativo, do Poder Executivo ou do Poder Judiciário. ‘direito de excluir, do conhecimento de terceiros, aquilo que diz respeito
O exercício do direito de permanecer em silêncio não autoriza os órgãos ao modo de ser da vida privada’ (Hanna Arendt). O direito ao sigilo
estatais a dispensarem qualquer tratamento que implique restrição à bancário – que também não tem caráter absoluto – constitui expressão
esfera jurídica daquele que regularmente invocou essa prerrogativa da garantia da intimidade. O sigilo bancário reflete expressiva projeção
fundamental. Precedentes. O direito ao silêncio – enquanto poder jurídico da garantia fundamental da intimidade das pessoas, não se expondo, em
reconhecido a qualquer pessoa relativamente a perguntas cujas conseqüência, enquanto valor constitucional que é, a intervenções de
respostas possam incriminá-la (nemo tenetur se detegere) – impede, terceiros ou a intrusões do Poder Público desvestidas de causa provável
quando concretamente exercido, que aquele que o invocou venha, por tal ou destituídas de base jurídica idônea. O sigilo bancário não tem caráter
específica razão, a ser preso, ou ameaçado de prisão, pelos agentes ou absoluto, deixando de prevalecer, por isso mesmo, em casos
pelas autoridades do Estado. Ninguém pode ser tratado como culpado, excepcionais, diante da exigência imposta pelo interesse público."
qualquer que seja a natureza do ilícito penal cuja prática lhe tenha sido
atribuída, sem que exista, a esse respeito, decisão judicial condenatória
- Atenção: CPI não pode gravar a comunicação em tempo real,
transitada em julgado. O princípio constitucional da não-culpabilidade, em
mas pode oficiar a companhia telefônica requisitando os dados, os
nosso sistema jurídico, consagra uma regra de tratamento que impede o
extratos daquele terminal telefônico.
Poder Público de agir e de se comportar, em relação ao suspeito, ao
O art. 5º, XI, CR:
indiciado, ao denunciado ou ao réu, como se estes já houvessem sido
condenados definitivamente por sentença do Poder Judiciário."
“A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
- Quanto ao afastamento do sigilo bancário e fiscal: é possível desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
CPI do Legislativo da União, CPI do Legislativo do Estado e CPI do judicial”.
Legislativo do município. A CPI do Legislativo da União pode afastar o
sigilo bancário e fiscal; a CPI do Legislativo do Estado também pode, a O art. 150, §4º, CP, fala que existe casa ou domicílio por
partir de 2005; mas a CPI do Legislativo municipal não pode afastar o extensão.
sigilo bancário e fiscal, diretamente.

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- A essas 3 diligências: expedir mandado de prisão, mandado juiz exclusivo, e da qual, por isso – desde que respeitado o limite máximo
de interceptação telefônica e mandado de busca e apreensão, o STF fixado em lei, o fim da legislatura em curso –, não decorrem direitos para
denomina de Reserva Constitucional de Jurisdição. terceiros, nem a legitimação para questionar em juízo sobre a
Existe então ai um monopólio restrito de jurisdição, o que interpretação que lhe dê a Casa do Congresso Nacional."
significa que o juiz tem a primeira, única e última palavra sobre o tema. "Prazo certo: o Supremo Tribunal Federal, julgando o HC 71.193-SP,
As 3 proibições seguintes (proibir que o cidadão deixe o decidiu que a locução ‘prazo certo’, inscrita no § 3º do artigo 58 da
território nacional; fazer a apreensão de passaporte e determinar Constituição, não impede prorrogações sucessivas dentro da legislatura,
constrições judiciais) também só são possíveis de serem realizadas pelo nos termos da Lei 1.579/52."
juiz. Elas não receberam o nome de reserva de jurisdição, mas em
verdade também o são.
Esses são os únicos requisitos para a criação de uma CPI.
Pergunta: A Constituição Estadual pode trazer outros
"Entendimento do STF segundo o qual as CPI'S não podem decretar
requisitos? Ela pode dificultar a criação de uma CPI trazendo outros
bloqueios de bens, prisões preventivas e buscas e apreensões de
requisitos além desses? Não. Não é possível a inovação desse particular,
documentos de pessoas físicas ou jurídicas, sem ordem judicial.
porque a CPI é um instrumento das minorias parlamentares, é um direito
Precedentes. Mandado de segurança deferido, de acordo com a
das minorias. Portanto, qualquer dificuldade trazida pelas constituições
jurisprudência do STF, para anular o ato da CPI, que decretou a
estaduais será inconstitucional.
indisponibilidade dos bens do impetrante, explicitando-se, porém, que os
Presentes esses 3 requisitos, a CPI poderá ser criada, ainda
bens do requerente continuarão sujeitos à indisponibilidade antes
que seja a vontade apenas da minoria parlamentar (ex.: 1/3 dos
decretada pelo Juiz Federal da 12ª Vara da Seção Judiciária de São
parlamentares da Casa querem a CPI, mas 2/3 dos membros não
Paulo, em ação civil pública, sobre a matéria."
querem).

CPI – Direito das Minorias:


Requisitos para a criação de CPI: “O requisito constitucional de 1/3, no mínimo, para a criação de
determinada CPI diz respeito à subscrição do requerimento de
instauração da investigação parlamentar, exigência que deve ser
São requisitos necessários para a criação de uma CPI: examinada no momento do protocolo do pedido perante a Mesa da Casa
legislativa e que não necessita de posterior ratificação.”
1º) 1/3, no mínimo, dos deputados federais e/ou senadores: “Nem se diga, consideradas as razões que venho de expor, que a
No Legislativo da União existem 3 espécies de CPI: rejeição do ato de criação da CPI, em sede recursal, pelo Plenário da
- CPI só da CD – CPI simples → exige no mínimo 171 Câmara dos Deputados, por expressiva maioria, teria o condão de
deputados; justificar a frustração do direito de investigar que a própria Constituição
- CPI só do SF – CPI simples → exige nó mínimo 27 da República reconhece às minorias parlamentares. É que, como se
senadores; sabe, deliberações parlamentares majoritárias (ou, até mesmo,
- CPI Mista ou Conjunta – CPMI → é formada por no mínimo unânimes) não se qualificam como fatores de legitimação de atos
1/3 dos deputados federais + 1/3 dos senadores. eventualmente inconstitucionais que delas resultem, eis que nada pode
justificar, considerado o próprio significado do regime democrático, a
2º) Fato determinado: é necessário que o fato seja específico, perversão das Instituições, notadamente quando os atos do Parlamento
objetivo. Deve se circunscrever ao que será investigado. A CPI deve transgridem direitos, prerrogativas e garantias assegurados pela
especificar o objeto da investigação. Constituição da República. Em uma palavra: deliberações parlamentares,
CPI do Judiciário; dos Correios, dos Bingos, da Petrobrás: ainda que resultantes de votações unânimes ou majoritárias, não se
esses nomes são nomes de fantasia de algumas das CPIs já realizadas. revestem de autoridade suficiente para convalidar os vícios gravíssimos
São nomes dados pela imprensa para facilitar o entendimento pelo povo da inconstitucionalidade, pois, se tal fosse possível, a vontade de um dos
sobre o tema que envolveu cada uma dessas CPIs. Se esses fossem Poderes constituído culminaria por subverter a supremacia da
mesmo os nomes reais das CPIs, não se estaria nelas investigando fato Constituição, vulnerando, de modo inaceitável, o próprio significado do
determinado, porque Judiciário, Correios, Bingos etc. não são fatos regime democrático. Cumpre registrar, finalmente, em face das
determinados. No requerimento de constituição de cada uma dessas gravíssimas conseqüências que vêm afetando a regularidade do sistema
CPIs constava os fatos determinados que deram ensejo a elas. de tráfego aéreo neste País, com especial atenção para o trágico
Ademais, exige-se fato que tenha repercussão pública: os fatos acidente ocorrido em 29-9-2006, que o inquérito parlamentar pretendido
determinados de interesse particular não são investigados em CPI. O pelas minorias legislativas que atuam na Câmara dos Deputados, mais
fato, para ser objeto de CPI, deve repercutir no espaço público. do que representar prerrogativa desses grupos minoritários, constitui
Por fim, o fato determinado deve estar dentre as atribuições direito insuprimível dos cidadãos da República, de quem não pode ser
daquela Casa Legislativa. Ex.: seria possível uma CPMI para investigar subtraído o conhecimento da verdade e o pleno esclarecimento dos fatos
um desvio de IPTU no município de Codó no Maranhão? Não, porque o que tanto prejudicam os superiores interesses da coletividade. É
CN não possui esta atribuição. Caberia à CPI municipal investigar tal importante reconhecer, por isso mesmo, que, no regime democrático, o
fato. cidadão tem direito à informação, pois, consoante adverte Norberto
Bobbio, em lição magistral (O Futuro da Democracia, 1986, Paz e Terra),
"A comissão parlamentar de inquérito deve apurar fato determinado. CF, não há, nos modelos políticos que consagram a democracia, espaço
art. 58, § 3º. Todavia, não está impedida de investigar fatos que se ligam, possível reservado ao mistério (...)”.
intimamente, com o fato principal." “A instauração do inquérito parlamentar, para viabilizar-se no âmbito das
Casas legislativas, está vinculada, unicamente, à satisfação de três (03)
3º) Prazo certo: exigências definidas, de modo taxativo, no texto da Carta Política: (...).
Não existe CPI permanente. Toda CPI deve ser criada, Atendidas tais exigências (CF, art. 58, § 3º), cumpre, ao Presidente da
desenvolver seus trabalhos e ser encerrada. A CR não diz qual é o prazo Casa legislativa, adotar os procedimentos subseqüentes e necessários à
da CPI. O prazo fica a cargo dos Regimentos Internos das Casas efetiva instalação da CPI, não lhe cabendo qualquer apreciação de mérito
Legislativas, e pode variar de 120 a 180 dias. sobre o objeto da investigação parlamentar, que se revela possível, dado
Esse prazo pode ser prorrogado, desde que dentro da mesma o seu caráter autônomo (RTJ 177/229 – RTJ 180/191-193), ainda que já
legislatura. instaurados, em torno dos mesmos fatos, inquéritos policiais ou
O fundamento para a não existência de uma CPI permanente é processos judiciais. O estatuto constitucional das minorias parlamentares:
o Princípio da segurança jurídica (art. 5º, caput, CR). O que se busca é a a participação ativa, no Congresso Nacional, dos grupos minoritários, a
estabilidade das relações jurídicas (daí a trilogia da irretroatividade do art. quem assiste o direito de fiscalizar o exercício do poder. A prerrogativa
5º, XXXVI, CR: direito adquirido, coisa julgada e ato jurídico perfeito). institucional de investigar, deferida ao Parlamento (especialmente aos
grupos minoritários que atuam no âmbito dos corpos legislativos), não
"A duração do inquérito parlamentar – com o poder coercitivo sobre pode ser comprometida pelo bloco majoritário existente no Congresso
particulares, inerente à sua atividade instrutória e a exposição da honra e Nacional e que, por efeito de sua intencional recusa em indicar membros
da imagem das pessoas a desconfianças e conjecturas injuriosas – é um para determinada comissão de inquérito parlamentar (ainda que fundada
dos pontos de tensão dialética entre a CPI e os direitos individuais, cuja em razões de estrita conveniência político-partidária), culmine por frustrar
solução, pela limitação temporal do funcionamento do órgão, antes se e nulificar, de modo inaceitável e arbitrário, o exercício, pelo Legislativo (e
deve entender matéria apropriada à lei do que aos regimentos: donde a pelas minorias que o integram), do poder constitucional de fiscalização e
recepção do art. 5º, § 2º, da Lei 1.579/52, que situa, no termo final de de investigação do comportamento dos órgãos, agentes e instituições do
legislatura em que constituída, o limite intransponível de duração, ao Estado, notadamente daqueles que se estruturam na esferaorgânica do
qual, com ou sem prorrogação do prazo inicialmente fixado, se há de Poder Executivo. “(...) Legitimidade passiva ad causam do Presidente do
restringir a atividade de qualquer comissão parlamentar de inquérito. A Senado Federal – autoridade dotada de poderes para viabilizar a
disciplina da mesma matéria pelo regimento interno diz apenas com as composição das comissões parlamentares de inquérito.”
conveniências de administração parlamentar, das quais cada câmara é o
19
ampla defesa (fls. 15), não parece relevante, por ora, a indicação de ter
Alguns senadores impetraram MS no STF e o STF já decidiu sido negada qualquer possibilidade de defesa à impetrante em
que se esses requisitos estão presentes, os parlamentares têm direito contraposição ao acolhimento de declarações de ‘pessoa de credibilidade
líquido e certo à criação da CPI, ainda que o partido não seja favorável a duvidosa’. Também considero que esse fundamento não basta para a
ela. concessão da liminar. É que a própria natureza do inquérito parlamentar,
Certo é que a maioria dos membros da Casa pode até semelhante ao inquérito policial, afasta o contraditório como requisito de
inviabilizar alguns requerimentos dentro da CPI, mas não a própria validade do procedimento.
criação da CPI.

Observações finais:
Término dos trabalhos da CPI:
Outras questões importantes trazidas pelo material sobre CPI
Ao término de seus trabalhos, a CPI elabora um relatório que constante do site do STF:
será votado pelo Colegiado da CPI (e não só pelo seu presidente ou
relator). Esse relatório pode ser enviado ao MP, dependendo da Limitação do número de CPIs:
oportunidade e conveniência política da CPI (ela não está obrigada a "Mandado de segurança. Criação de Comissão Parlamentar de Inquérito
fazê-lo) – a remessa ou não do relatório ao MP é um ato discricionário da destinada a apurar a regularidade de contrato firmado entre a
CPI. Se a CPI não enviar o relatório ao MP, este poderá requisitar o Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a empresa multinacional
relatório. Mas este relatório também não vinculará o membro do MP, que Nike, firmado em 1986. Pedido negado pela Mesa da Câmara dos
possui independência funcional. Deputados em razão do art. 35, § 4º, do Regimento Interno da Câmara
Enquanto a CPI estiver investigando, paralelamente o MP dos Deputados que impede a criação de novas Comissões
poderá também investigar. Uma via não atrapalha a outra. Parlamentares de Inquérito enquanto outras cinco estiverem funcionando.
Se a CPI enviar o relatório ao MP ou se o MP requisitar esse Ato da Presidência da Câmara dos Deputados, posterior à impetração do
relatório, de porte dele o MP poderá promover as ações penais e ações mandado de segurança, que cria a referida Comissão Parlamentar de
civis cabíveis (em regra, as ações civis são as relativas à Lei 8.429/92 – Inquérito. Prejuízo do Mandado de Segurança". (MS 23.418, Rel. p/ o ac.
improbidade administrativa). Min. Nelson Jobim, julgamento em 19-10-00, DJ de 09-11-07)
O MP tem prazo para promover essas ações a partir do "A restrição estabelecida no § 4º do artigo 35 do Regimento Interno da
relatório da CPI - ☺Lei 10.001/00, que estabelece que o MP deve Câmara dos Deputados, que limita em cinco o número de CPIs em
priorizar as conclusões das CPIs. funcionamento simultâneo, está em consonância com os incisos III e IV
do artigo 51 da Constituição Federal, que conferem a essa Casa
"A Constituição Federal, no § 3º do seu artigo 58, dispõe que as Legislativa a prerrogativa de elaborar o seu regimento interno e dispor
conclusões da CPI, ‘se for o caso’, serão encaminhadas ao Ministério sobre sua organização. Tais competências são um poder-dever que
Público para que promova a responsabilidade civil e criminal dos permite regular o exercício de suas atividades constitucionais." (ADI
infratores. Ora, somente a comissão poderá decidir se se verifica, ou não, 1.635, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 19-10-00, DJ de 5-3-04)
a hipótese do referido encaminhamento das conclusões, o que não "Por uma necessidade funcional, a comissão parlamentar de inquérito
implica, necessariamente, que sejam elas acompanhadas dos não tem poderes universais, mas limitados a fatos determinados, o que
documentos sigilosos." não quer dizer não possa haver tantas comissões quantas as
“A comissão parlamentar de inquérito se destina a apurar fatos necessárias para realizar as investigações recomendáveis, e que outros
relacionados com a administração (...). Não se destina a apurar crimes fatos, inicialmente imprevistos, não possam ser aditados aos objetivos da
nem a puni-los, da competência dos Poderes Executivo e Judiciário; comissão de inquérito, já em ação." (HC 71.039, Rel. Min. Paulo
entretanto, se, no curso de uma investigação, vem a deparar fato Brossard, julgamento em 7-4-94, DJ de 6/12/96
criminoso, dele dará ciência ao Ministério Público, para os fins de direito,
como qualquer autoridade, e mesmo como qualquer do povo.” (...) Em Unilateralidade da investigação parlamentar:
caso de desacato, à entidade ofendida cabe tomar as providências “Não se questiona a asserção de que a investigação parlamentar reveste-
devidas ato contínuo, sem prejuízo do oportuno envio das peças se de caráter unilateral, à semelhança do que ocorre no âmbito da
respectivas ou do auto correspondente ao Ministério Público para a investigação penal realizada pela Polícia Judiciária. Cabe advertir, no
instauração do processo criminal.” entanto, como já proclamou a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, sob a égide da vigente Constituição, a propósito do inquérito
policial (que também é conduzido de maneira unilateral, tal como ocorre
com a investigação parlamentar), que a unilateralidade desse
Conclusões da CPI:
procedimento investigatório não confere ao Estado o poder de agir
arbitrariamente em relação ao indiciado e às testemunhas, negando-lhes,
A CPI poderá promover a responsabilidade política dos abusivamente, determinados direitos e certas garantias – como a
envolvidos (representar os parlamentares por ofensa ao decoro prerrogativa contra a auto-incriminação – que derivam do texto
parlamentar). constitucional ou de preceitos inscritos em diplomas legais: ‘Inquérito
A CPI também poderá fazer recomendações. policial – unilateralidade – a situação jurídica do indiciado. O inquérito
A CPI poderá, por fim, apresentar projeto de lei (☺art. 61, CR – policial, que constitui instrumento de investigação penal, qualifica-se
qualquer comissão ou membro de comissão pode). como procedimento administrativo destinado a subsidiar a atuação
Pergunta: CPI pode convocar membros do MP para persecutória do Ministério Público, que é – enquanto dominus litis – o
acompanhar os trabalhos? Não. Ela pode solicitar ao Procurador-Geral verdadeiro destinatário das diligências executadas pela Polícia Judiciária.
que, se entender devido, nomeará membros do MP para acompanhar os A unilateralidade das investigações preparatórias da ação penal não
trabalhos da CPI. autoriza a Polícia Judiciária a desrespeitar as garantias jurídicas que
assistem ao indiciado, que não mais pode ser considerado mero objeto
Pergunta: Qual é o papel do advogado na CPI? Ele é de investigações. O indiciado é sujeito de direitos e dispõe de garantias,
imprescindível; ele tem o direito de acompanhar aquele que será ouvido legais e constitucionais, cuja inobservância, pelos agentes do Estado,
na CPI. Mas não existe contraditório e nem ampla defesa em CPI. O além de eventualmente induzir-lhes a responsabilidade penal por abuso
advogado não poderá, pois, fazer perguntas. Ele só está ali para de poder, pode gerar a absoluta desvalia das provas ilicitamente obtidas
resguardar os direitos dos seus clientes. no curso da investigação policial.’ (RTJ 168/896, Rel. Min. Celso de
Mello) Torna-se evidente, portanto, que a unilateralidade da investigação
Exercício da Advocacia: parlamentar – à semelhança do que ocorre com o próprio inquérito
"A Comissão Parlamentar de Inquérito, como qualquer outro órgão do policial – não tem o condão de abolir os direitos, de derrogar as
Estado, não pode, sob pena de grave transgressão à Constituição e às garantias, de suprimir as liberdades ou de conferir, à autoridade pública,
leis da República, impedir, dificultar ou frustrar o exercício, pelo poderes absolutos na produção da prova e na pesquisa dos fatos.” (MS
advogado, das prerrogativas de ordem profissional que lhe foram 25.617-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento
outorgadas pela Lei n. 8.906/94. O desrespeito às prerrogativas – que em 24-10-05, DJ de 3-11-05).
asseguram, ao advogado, o exercício livre e independente de sua
atividade profissional – constitui inaceitável ofensa ao estatuto jurídico da
advocacia, pois representa, na perspectiva de nosso sistema normativo,
um ato de inadmissível afronta ao próprio texto constitucional e ao regime
das liberdades públicas nele consagrado. Medida liminar deferida."

Contraditório e ampla defesa:


"No que concerne à alegada violação da garantia de contraditório e
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2) No Presidencialismo o Executivo é independente do
(16/09/09) Legislativo, diversamente do que ocorre no Parlamentarismo, no qual o
Executivo depende do Legislativo.
No Parlamentarismo, o mandato daquele que exerce função
PODER EXECUTIVO: executiva recebe influencia, ingerência do Parlamento (se o Primeiro
Ministro edita um Decreto Lege – Medida Provisória – que não é
aprovado pelo Parlamento, este cai e ocorrerá novas eleições).
Obs.: MP é um instrumento do Estado Parlamentarista. Ela
existe no Brasil, apesar de nosso Estado ser Presidencialista. No Brasil,
Função Executiva: entretanto, como há independência entre o Executivo e o Legislativo, isso
não ocorre.

O órgão executivo, por sua vez, aplica a lei ao caso concreto, 3) No Presidencialismo, o mandato do Presidente é cumprido
administrando a coisa pública. Esta é a atribuição do executivo na sem qualquer ingerência do Legislativo (há independência política do PR
República Federativa do Brasil. em relação ao CN).
O órgão executivo só pode administrar a coisa pública em No Presidencialismo, o presidente não pode diminuir o
obediência ao princípio da legalidade. mandato daquele que exerce a função executiva, diferentemente do que
No Brasil, temos o Executivo Monocrático: apenas uma única ocorre no Parlamentarismo (onde o Parlamento pode convocar eleições
autoridade exerce a função executiva – isso ocorre em razão do antecipadas, diminuindo o mandato daquele que exerce a função
Presidencialismo. executiva).
Se estivéssemos num Estado Parlamentarista, teríamos um
Executivo Dual. Essas são as diferenças entre o Presidencialismo e o
Parlamentarismo.

Observações:
Sistema ou regime de Governo: A nossa Constituinte de 1988 se iniciou no dia 01/02/87. Os
trabalhos da Constituinte até julho de 87 caminhavam para um Estado
Falar sobre sistema ou regime de governo é falar sobre a Parlamentarista. Por isso temos uma Constituição com muitos
seguinte questão: de que maneira se relacionam o Executivo e o instrumentos parlamentaristas, como é o caso da Medida Provisória.
Legislativo? O Executivo depende do Legislativo? O Brasil já foi Parlamentarista – de setembro de 1961 até
Para respondermos a essas questões é preciso analisar as fevereiro de 1963. O Primeiro Ministro nesse momento era Tancredo
seguintes premissas: Neves, e o Presidente da República era João Goulart.
Tivemos também um momento histórico, no 2º Reinado, em
Existem dois sistemas ou regimes de Governo: que tivemos o chamado “Parlamentarismo à Brasileira”, em que tínhamos
- Presidencialismo: sistema ou regime de Governo em que o Imperador, que era chefe de Estado, e tínhamos um Gabinete de
apenas uma autoridade exerce a função executiva – Executivo Ministros, onde estava o Chefe do Conselho de Estado, que era o 1º
Monocrático: aquele em que uma única autoridade (Presidente da Ministro.
República) desempenha as funções de Chefe de Estado e Chefe de
Governo. Importante:
- Parlamentarismo – Executivo Dual: sistema de Governo em O regime ou sistema de Governo não é uma cláusula pétrea. O
que duas ou mais autoridades exercem a função executiva. nosso Estado pode se tornar um Estado Parlamentarista. Já houve uma
consulta popular sobre o regime ou sistema de Governo. É possível uma
☺art. 76, CR: O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da nova EC para que tenhamos uma outra consulta sobre a modificação de
República, de forma unipessoal – por isso adotamos o sistema ou regime nosso sistema. Isso inclusive está sendo discutido no CN: existe uma
de Governo Presidencialista. proposta de EC tramitando no Senado, de autoria do Senador Fernando
Collor de Melo, neste sentido.
→ Quais as diferenças entre esses dois regimes de Governo:

1) a primeira é que no Presidencialismo temos apenas uma


autoridade exercendo a função executiva; esta única autoridade Requisitos para ser Presidente da República:
desempenha as funções de chefe de Estado e chefe de Governo.
No exercício da função de chefe de Estado o Presidente
defende a unidade nacional. Ele fala em nome do nosso Estado, e o Obs.: tudo o que se fala para o PR se aplica também ao VPR.
nosso Estado recebe o nome de República Federativa do Brasil. Ele vela O presidente e o Vice-Presidente devem preencher as mesmas
pelo Pacto Federativo. condições para o exercício do cargo.
Na função de chefe de Governo, o PR exerce a chefia superior
da Administração Pública. 1) Ser brasileiro nato: só brasileiro nato pode ser PR. ☺art. 12,
Essas duas atribuições são desempenhadas pela mesma §3º, CR. Este dispositivo elenca algumas autoridades que devem ser
autoridade. brasileiros natos. Isso ocorre em razão da segurança nacional.

☺art. 84, CR: atribuições de chefe de Estado e chefe de 2) Idade mínima: de 35 anos. Aos 35 anos o cidadão adquire a
Governo. capacidade política absoluta. Isso significa que aos 35 anos o cidadão
Ex.: ☺inciso VII: “manter relações com Estados estrangeiros e poderá então exercer qualquer cargo na República (ex.: PGR, AGU,
acreditar seus representantes diplomáticos” – é função de chefe de Ministro do STF e dos Tribunais Superiores, Senador, PR e VPR). Esta
Estado. capacidade política se inicia aos 16 anos. Dos 16 aos 18 o cidadão vota,
Ex.: ☺inciso VIII: “celebrar tratados, convenções e atos mas não pode ser votado. Aos 18 anos ele já pode ser candidato ao
internacionais do CN” – é função de chefe de Estado. cargo de Vereador. Aos 21, pode ser Prefeito, Deputado Estadual ou
Ex.: ☺inciso II: “exercer, com o auxílio dos Ministros de Federal. Aos 30, pode ser Governador. Aos 35, pode concorrer a todos
Estado, a direção superior da administração federal” – é função de chefe os demais cargos eletivos. ☺art. 14, §3º, CR.
de Governo. Obs.: não existe idade máxima para o exercício de cargos
eletivos. Existe apenas idade mínima. A idade máxima existe para o
No Parlamentarismo, ou executivo dual, como vimos, duas ou exercício de cargos como o de membro no CNMP ou CNJ (que é 66 anos
mais autoridades exercem a função executiva. – ele só pode ser indicado até esta idade, porque terá mandato de 2
Existem várias espécies de Parlamentarismo. Aqui as anos, permitida uma única recondução por mais 2 anos, e, então, já terá
reduziremos em duas: completado 70 anos, e se aposentaria compulsoriamente).
a) Parlamentarismo Monárquico Constitucional: o rei exerce a
função de chefe de Estado, e o Primeiro Ministro exerce a função de 3) Filiação partidária: no Brasil nós não temos candidaturas
chefe de Governo. É o que ocorre na Espanha e na Inglaterra; avulsas (como ocorre nos EUA e em Portugal), a filiação partidária é uma
b) Parlamentarismo do tipo Republicano: o Presidente da condição de elegibilidade. ☺art. 14, §3º, CR:
República exerce a chefia do Estado e o Primeiro Ministro exerce a
chefia de Governo. É o que ocorre na Itália, na França, em Israel. § 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
21
V - a filiação partidária; sistema aplica-se às eleições para PR,
VI - a idade mínima de: Governadores e prefeitos de municípios
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e com mais de 200.000 eleitores. A razão
Senador; desse sistema é para garantir legitimidade
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do ao eleito, ou seja, para que o eleito tenha o
Distrito Federal; apoio de, no mínimo, a maioria absoluta
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou dos eleitores.
Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador. b) Majoritário do tipo simples: a Constituição
se contenta com qualquer maioria. Será
4) Plenitude do exercício dos direitos políticos: significa não os
eleito o candidato mais votado,
ter perdido ou suspenso, ou seja, não incorrer em nenhuma das causas
independentemente do percentual de
previstas no art. 15, CR (hipóteses de perda ou suspensão dos direitos
votos. Será eleito o candidato que alcançar
políticos).
qualquer maioria de votos, não
interessando a diferença entre os
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
candidatos. Aplica-se às eleições para
suspensão só se dará nos casos de:
Senador e para prefeitos de municípios
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
com menos de 200.000 eleitores.
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
Obs.: votos válidos são aqueles ofertados, subtraindo-se os
efeitos;
votos em branco e os nulos.
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação
☺art. 77, §2º, CR:
alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República
realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em
primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se
houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente.
Eleição para Presidente e Vice-Presidente da República: § 1º - A eleição do Presidente da República importará a do Vice-
Presidente com ele registrado.
No Brasil, o PR e o VPR são eleitos conjuntamente. A nossa § 2º - Será considerado eleito Presidente o candidato que,
Constituição diz que no instante em que votamos no candidato a PR, registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos,
automaticamente estamos votando no candidato a VPR que com ele foi não computados os em branco e os nulos.
registrado. § 3º - Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira
Esta é uma novidade da Constituição de 1988. votação, far-se-á nova eleição em até vinte dias após a proclamação do
Antes não era assim: nas constituições anteriores votávamos resultado, concorrendo os dois candidatos mais votados e considerando-
no PR e depois votávamos no VPR de forma separada. Pela Constituição se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.
de 1946 tínhamos o direito de votar separadamente. § 4º - Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência
Ex.: João Goulart foi vice duas vezes, porque foi eleito duas ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os
vezes para ser VPR. remanescentes, o de maior votação.
Antes, em 1946, o VPR presidia o Senado. Ele tinha direito a § 5º - Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer, em
voz, ma não tinha direito a voto. segundo lugar, mais de um candidato com a mesma votação, qualificar-
se-á o mais idoso.
Hoje isso não é mais possível, pois a eleição do PR importa na
eleição do VPR com ele registrado.
☺art. 106, Código Eleitoral: este art. diz que os votos em
A eleição para PR e VPR é realizada no primeiro domingo de branco entram na contagem dos votos válidos. Mas este art. não foi
outubro, em primeiro turno. O segundo turno será no último domingo de recepcionado pela CR/88. Trata-se de um art. incompatível com a
outubro. Constituição. Atenção para isso!

Eles são eleitos pelo Sistema Eleitoral Majoritário. Nesse Presidente e Vice tomam posse no dia 01/01 do ano seguinte
sistema valoriza-se o candidato registrado por partido político. O ao das eleições.
candidato que tiver o maior número de votos válidos será eleito. Existe uma proposta de EC para passar a posse para o dia
Em quais eleições adotamos o sistema eleitoral majoritário no 15/01.
Brasil?
- PR ☺ art. 78, CR:
- Governadores de Estado
- Prefeitos Art. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse
- Senadores em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter,
Nessas 4 eleições temos o sistema eleitoral majoritário no defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem
Brasil. geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a
independência do Brasil.
O Sistema Eleitoral Proporcional, por sua vez, é adotado para a Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o
eleição dos: Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver
- Deputados Estaduais assumido o cargo, este será declarado vago.
- Deputados Federais
- Vereadores. Eles tomam posse em sessão conjunta do Congresso
Aqui se valoriza o partido político, em detrimento do candidato. Nacional e nela se comprometem a obedecer fielmente a Constituição.
Dá-se importância à agremiação partidária. Aqui, nem sempre o Este não é um compromisso meramente formal, se ele for desrespeitado
candidato mais votado será eleito. existe uma conseqüência jurídica: crime de responsabilidade - ☺art. 85,
Aqui é possível o voto de legenda: é possível votar só no CR:
candidato (e ai, automaticamente está-se votando no Partido), ou
também é possível votar só no Partido Político (voto de legenda). Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da
República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente,
Existem duas espécies de sistema eleitoral majoritário: contra:
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do
a) Majoritário do tipo absoluto, ou com
Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da
segundo turno de votação: a Constituição Federação;
exige para que o candidato seja eleito que III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
ele atinja, no mínimo, a maioria absoluta IV - a segurança interna do País;
dos votos válidos. Se no primeiro turno V - a probidade na administração;
nenhum dos candidatos atingir esta VI - a lei orçamentária;
maioria, teremos necessariamente um VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
segundo turno de votação. Este tipo de

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Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que Não existe nenhuma decisão no STF sobre isso.
estabelecerá as normas de processo e julgamento. Há notícia de ter havido essa situação na substituição de um
Governador, e foi possível, mas foi por pouco tempo, pois o Governador
Qual é o prazo máximo para que o PR e o VPR tomem posse? havia apenas viajado.
Até 10 dias depois do dia 01/01, ou seja, até o dia 11/01. Até
esse dia um dos dois deve tomar posse. Se nenhum dos dois tomar
posse até o dia 11, os cargos serão declarados vagos. Atribuições do Vice-Presidente da República:
Quem declarará vagos os cargos nesse caso? Será o
Congresso Nacional. Com uma exceção: motivo de força maior, caso em
que os cargos não serão declarados vagos. ☺art. 79, CR:

Obs.: o PR ou o VPR podem tomar posse sozinhos. O que a Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-
Constituição exige é que um dos dois, salvo motivo de força maior, deve á, no de vaga, o Vice-Presidente.
tomar posse até o dia 11/01.
Ele substitui o PR nos casos de impedimento, e o sucede nos
Questão histórica interessante: em 1985, Sarney, que era o casos de vacância.
candidato a VPR eleito, assumiu a Presidência com a morte do Tancredo Suas atribuições devem estar elencadas numa Lei
Neves (antes desse ter tomado posse). Existe quem entende que a Complementar. Só LC pode trazer atribuições para o VPR. Esta LC, o
Constituição de 1969 não permitia a posse do Sarney, que, portanto, foi entanto, ainda não existe. Enquanto isso o VPR auxilia o PR em missões
inconstitucional. Quem deveria ter tomado posse era o Presidente da especiais. Ele desempenha missões especiais, a mando do PR.
Câmara, Ulisses Guimarães. Ele mora no Palácio do Jaburu, em Brasília, e tem muitos
assessores.
Pergunta: hoje ainda existe utilidade para o VPR? Existe
proposta para acabar com esse cargo.
Linha sucessória do Presidente da República: Pergunta: duas autoridades podem desempenhar atribuições
do mesmo cargo ao mesmo instante – ex.: o PR assinando Tratado
Sucessão é um gênero, que se divide em duas espécies: Internacional fora, e o VPR editando uma MP aqui no Brasil, agindo como
PR?
a) Sucessão em sentido restrito: ocorre nos casos de Em razão de tudo isso, existem muitas críticas ao VPR.
vacância. A vacância é definitiva. Ex.: morte,
renúncia, condenação pela prática de crime de
responsabilidade. Mandato do Presidente e do Vice:
b) Substituição: ocorre nos casos de impedimento.
Impedimento é temporário, não é definitivo. Ex.: O mandato é de 4 anos, com a possibilidade de reeleição.
férias, doença, licença para tratamento médico, Este mandato já foi de 6 e de 5 anos. Já se discute no CN a
viagens. impossibilidade de reeleição, com um mandato de 5 anos.
O mandato de 4 anos se divide em dois períodos de dois anos.
→ Na linha sucessória do Presidente estão as seguintes autoridades: - Se o PR e o VPR desaparecerem nos dois primeiros anos
(em sentido lato, genérico) (vacância dos dois cargos), os cargos serão declarados vagos,
assumindo o PCD (que, como vimos, não o sucede, mas só o substitui).
1) Vice-presidente Nessa hipótese, daí a 90 dias teremos eleições diretas para os cargos de
(VPR) PR e VPR.
2) Presidente da - Se estivermos nos dois últimos anos desse mandato de 4
Câmara (PCD) anos, o PCD assumirá o cargo e convocará eleições indiretas para daí a
3) Presidente do 30 dias. A Constituição exige uma lei que regre a eleição indireta, mas
Senado (PSF) esta lei ainda não existe.
4) Presidente do Atenção: este é o único caso de eleição indireta prevista no
STF (PSTF) Brasil, já que a Constituição estabelece como cláusula pétrea que as
eleições devem ser diretas.

Atenção: ☺art. 81, CR:


Só o Vice-Presidente assume o cargo de PR nos casos de
vacância (que é definitiva). Ou seja, só o Vice-Presidente sucede. Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da
Os demais só assumem o cargo nos casos de substituição República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
(impedimento). § 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período
Se o VPR sucede o PR, ele deixa de ser VPR e passa a ser presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois
PR. da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
Se o VPR, já enquanto PR, vem a falecer, ele não é sucedido § 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de
pelo PCD, mas sim substituído. seus antecessores.

Pergunta: Por que a Constituição coloca primeiro o PCD e Diferença entre eleição direta e indireta:
depois o PSF, se as duas Casas têm a mesma importância? O povo é o titular do poder. Se o povo escolhe diretamente
Porque na CD estão os representantes do povo, com maior aquele que vai exercer o poder, e esta escolha se dá sem intermediários,
representatividade, maior legitimidade. Já no SF temos os representantes o povo vota diretamente naquele que irá exercer o poder, a eleição é,
dos Estados, com menor representatividade. então, direta. É a regra no Brasil. ☺art. 60, §4º, CR:
☺art. 45, CR:
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do abolir:
povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada I - a forma federativa de Estado;
Território e no Distrito Federal. II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
Pergunta: Uma deputada federal com 24 anos, se for IV - os direitos e garantias individuais.
Presidente da CD, pode substituir o PR com essa idade?
Há duas posições discutindo isso: Já se o cidadão vota em grandes eleitores intermediários e
1ª) Não seria possível que ela assumisse o cardo de PR, estes votam no Presidente, a eleição é indireta, porque entre o cidadão e
porque a Constituição estabelece um princípio – só aos 35 anos tem-se a a eleição daquele que exercerá o poder existem intermediários. É o que
capacidade política absoluta (a Constituição valorizou esta idade, deu ocorre nos EUA (o povo escolhe no mês de novembro os grandes
relevo a isso, elevando esta idade à categoria de requisito imprescindível eleitores, e estes escolhem, no mês de janeiro seguinte, aquele que será
para ser PR); o Presidente).
2ª) Seria possível a substituição do PR, uma vez que
preencheu as condições de elegibilidade para ser candidata ao cargo de Como a eleição indireta se dá no Brasil? Precisamos de uma
Deputada Federal, podendo, pois, ter todos os ônus e bônus desse lei definindo como se dará esta eleição, quem poderá ser candidato, etc.
cargo, inclusive a presidência da CD e, assim, em substituição, também a Mas esta lei ainda não existe exigida pelo art. 81, §1º, CR.
presidência da República.

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Nos dois casos em que o PR e o VPR desaparecem, tanto nos ☺art. 52, P.U., CR:
primeiros dois anos, como nos dois últimos, os seus sucessores não
exercerão o mandato de 4 anos, exercerão apenas o mandato-tampão, Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como
ou seja, apenas terminarão o mandato daqueles que desapareceram, Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação,
apenas completarão o mandato daqueles que os antecederam. que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado
Eles não têm direito de exercer um mandato de 4 anos para Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o
que tenhamos sempre a coincidência entre as eleições do CN e do PR, o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais
que é politicamente aconselhável, já que é o CN que dará a base de cabíveis.
sustentação ao PR.
O Senado, quando julga o PR pela prática de crime de
responsabilidade, será presidido pelo Presidente do STF.
Responsabilidade política e criminal do chefe do Executivo O SF é Legislativo e o PSTF é o Judiciário: ou seja, é um
mecanismo de controle – dois poderes controlando um outro poder. É o
sistema de freios e contrapesos.
Ao se dissertar sobre esse assunto, é interessante iniciar o
tema falando um pouco sobre Forma de Governo. O processo de julgamento do PR pela prática de crime de
Falar em Forma de Governo é responder a uma pergunta: De responsabilidade é um processo bifásico: o SF não pode julgar o PR sem
que maneira o poder é exercido dentro de um território? que antes exista a autorização da CD.
Esta indagação Aristóteles a respondeu em 340 a.C, da Esta autorização da CD recebe a denominação de juízo de
seguinte forma: existem 3 formas de Governo: admissibilidade da acusação.
- Monarquia (governo de um só);
- Aristocracia (governo de mais de um, porém, poucos); e Atenção, pois, a essas regras:
- República (governo de muitos).
Aristóteles continuou a sua construção afirmando que essas 1) O SF não julga sem autorização da CD
formas de governo podem ser viciadas, corrompidas: 2) A CD não julga, ela faz o juízo de admissibilidade da
- Monarquia viciada: tirania; acusação.
- Aristocracia viciada: oligarquia; e
- República viciada: demagogia. Vamos dividir essas duas fases.
Em 1513, Maquiavel, em seu Livro “O Príncipe”, dizia que os
Estados ou são Principados, ou são Repúblicas. A partir de Maquiavel,
existem então duas formas de governo: Monarquia e República. → Procedimento na Câmara dos Deputados:
Voltemos então à pergunta inicial:
- De que maneira o poder é exercido na Monarquia? De Qualquer cidadão é parte legítima para denunciar o PR na CD
maneira hereditária, vitalícia e irresponsável. A nossa Constituição de pela prática de crime de responsabilidade.
1824 dizia que o rei não erra, ele era irresponsável. Existem duas espécies de cidadão:
- De que maneira o poder é exercido na República? De a) cidadão em sentido amplo, genérico: é todo indivíduo, toda
maneira eletiva, temporária e responsável. Portanto, na República, pessoa humana que pode exercer direitos e contrair obrigações. Direito
aquele que exerce parcela da soberania do Estado deve ser de ter direitos. Em razão da dignidade da pessoa humana, todo cidadão
responsabilizado por seus atos. Não existe irresponsabilidade. É uma tem esse direito.
característica da República a responsabilidade daqueles que exercem b) cidadão em sentido restrito: é o nacional que exerce direitos
cargos públicos. políticos - ☺art. 12 c/c art. 14, CR.
O PR exerce parcela da soberania do Estado. Um funcionário Só o cidadão em sentido restrito tem legitimidade para
público qualquer também exerce. Mas como o PR exerce uma parcela de denunciar o PR na CD pela prática de crime de responsabilidade.
soberania maior, a sua responsabilidade também será maior. Quem
exerce a maior parcela da soberania do Estado tem maior Pergunta: quais as condutas que em sendo praticadas pelo PR,
responsabilidade. importam em crime de responsabilidade?
A responsabilidade, portanto, é na medida da parcela da ☺art. 85, CR:
soberania do Estado desempenhada, exercida.
Um dado interessante: constantemente se afirma que a Polícia Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da
Federal é uma polícia Republicana. Temos instituições republicanas. República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente,
Republicanismo: esta expressão hoje quer significar contra:
honestidade cívica, dever fundamental de ser honesto. Todos aqueles I - a existência da União;
que ocupam cargos públicos têm o dever fundamental de ser honesto, e II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do
esse dever decorre do republicanismo. Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da
Ademais, pelo republicanismo, não existe na República feudos, Federação;
senhores e vassalos, todos são iguais, têm os mesmos direitos e III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
deveres. Portanto, a afirmação do Presidente Lula de que o Sarney não é IV - a segurança interna do País;
um homem qualquer e merece tratamento especial, não procede. V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
Se o PR erra, ele deve ser responsabilizado. A VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
responsabilidade é uma característica da forma de governo denominada Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que
República. estabelecerá as normas de processo e julgamento.
Feita esta premissa, podemos seguir adiante
O PR pode ser responsabilizado através de duas ordens de Esse rol é meramente exemplificativo. Além dessas condutas,
responsabilidade: existem outras que, em sendo praticadas pelo PR, também podem
- pode ser responsabilizado pela prática de crime de importar em crime de responsabilidade e, assim, no impedimento ou
responsabilidade, e impeachment do PR.
- pode ser responsabilizado pela prática de crime comum. O P.U., do art. 85, nos informa onde podem ser encontradas
essas outras condutas: em lei especial.
Crime de responsabilidade é uma infração de natureza jurídica Esta lei especial já existe. É a Lei 1.079/50, que define os
político-administrativa. crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo de
Crime comum, por sua vez, é uma infração de natureza jurídica julgamento.
penal. O STF já disse que esta lei, apesar de ser de 1950, foi
Se crime de responsabilidade é uma infração de natureza recepcionada pela CR/88.
jurídica político-administrativa, aplicam-se a ele as regras do direito
administrativo (e não os princípios do direito penal). Já quando se fala de Pergunta: a natureza jurídica do crime de responsabilidade é
crime comum, em razão da sua natureza jurídica, aplicam-se a ele os penal?
princípios do direito penal. Não, é político-administrativa. Assim, não se exige a tipicidade
penal, a adequação perfeita, correspondência exata, entre a conduta e o
preceito primário, exigida no direito penal. Aqui fazemos referência a
Crime de Responsabilidade praticado pelo PR: tipos abertos e não a tipos penais.

Pela prática de crime de responsabilidade o PR é julgado pelo Como vimos, qualquer cidadão é parte legítima para denunciar
Senado Federal. o PR na CD por uma dessas condutas.

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Mas qual é o procedimento dessa denúncia na CD? No caso do Presidente Collor, no dia 28/12/92, ele renunciou
Forma-se uma comissão especial de deputados que vai ao cargo de PR. O PSTF, no entanto, entendeu que era caso de
viabilizar essa denúncia. Essa comissão oferta um parecer que será prosseguimento do julgamento, porque o fato do PR ter renunciado ao
votado por todos os deputados federais (será votado pelo Plenário). cargo não impede a aplicação da segunda pena (inabilitação para o
Ainda aqui na CD, o PR tem direito ao contraditório e a ampla exercício de função pública por 8 anos). O SF então continuou o
defesa. Ele pode arrolar testemunhas, juntar documentos, pedir a julgamento e recebeu a segunda pena.
realização de perícia. Até 28/12/2000, portanto, ele ficou inabilitado para o exercício
de função pública.
Em 1992, dois cidadãos denunciaram Collor pela prática de Isso porque entre essas duas penas não existe relação de
crime de responsabilidade: o Presidente da OAB e o Presidente da acessório e principal. A segunda pena não é acessória da perda do
Associação Brasileira de imprensa. Eles entenderam que o Collor teria cargo, ambas possuem a mesma importância, o mesmo valor.
cometido uma das condutas elencadas no art. 85, CR. Assim, o STF não concedeu a segurança no MS manejado por
☺art. 85, V, CR: improbidade administrativa. Collor, e manteve a decisão do SF.
Collor foi processado na CD. Ele contratou um advogado e os Assim, se o PR renuncia, o processo deve continuar, para que
dois cidadãos também contrataram um advogado. a segunda pena seja aplicada.
O advogado de Collor requereu ao PCD o exercício do
contraditório na CD. Isso lhe foi negado. Collor impetrou MS no STF e o Pergunta: a decisão do SF que condena ou absolve o PR pela
PSTF deferiu esse seu pedido. Foi então exercido contraditório e a ampla prática de crime de responsabilidade, pode ser modificada pelo Poder
defesa. Judiciário?
Não. Não cabe ao Poder Judiciário modificar essa decisão, que
A CD faz o juízo de admissibilidade da acusação. Esse juízo é é definitiva.
um juízo político. De oportunidade e conveniência política, interesse Mas atenção: o PJ não pode se imiscuir no mérito da decisão,
público daquela acusação. Não é um juízo jurídica. Ela não julga. mas ele pode anulá-la em caso de violação de princípios constitucionais.
Tanto é um juízo político, que é possível que os fatos estejam
provados e a CD não autorize o julgamento pelo SF. Pergunta: No período de 8 anos em que o PR está inabilitado
Este juízo de admissibilidade pode trilhar um de dois caminhos para o exercício de função pública, o ex-PR pode votar, pode ajuizar
possíveis: ACP?
1º) Juízo de admissibilidade negativo: a CD não autoriza o O PR vota e pode ser votado.
julgamento no SF. Nas eleições de 2000, Collor foi candidato a prefeito de SP. O
2º) Juízo de admissibilidade positivo: a CD autoriza o TRE/SP indeferiu o registro de sua candidatura. Ele recorreu e o TSE
julgamento no SF. A CD entende que o interesse público determina que o deferiu o seu pedido.
PR deva ser julgado no SF. O quorum para esse juízo de admissibilidade Ou seja, inabilitação para o exercício de função pública não
positivo é de 2/3 dos votos. A votação é aberta. Temos 513 de deputados quer dizer suspensão ou perda de direitos políticos.
federais – então, 2/3 = 1/3 + 1/3 = 171 + 171. Collor foi então votado, e ficou em 5º lugar na eleição para
prefeito de SP.
A autorização para julgamento no SF se materializa em uma Mas, e se ele tivesse sido vitorioso nessa eleição, em 2000?
Resolução da CD. A Cd, por 2/3 dos votos, vota esta resolução. A posse seria em 01/01/2001, ou seja, 3 dias depois do dia
Aqui termina a 1ª fase. 28/12/00. Por isso ele poderia sim assumir, porque não estaria mais no
lapso temporal de 8 anos.
→ Procedimento no Senado Federal:

Se a CD autoriza o julgamento no SF, o SF está obrigado a dar Crime de responsabilidade praticado pelo Governador:
início ao julgamento?
Sim. Se a CD autorizou, o SF está obrigado, está vinculado a
dar início ao julgamento. Ele não está obrigado a condenar, mas está O Governador, pela prática de crime de responsabilidade, será
obrigado a dar início ao julgamento. julgado por um tribunal misto, que será composto por deputados
estaduais e desembargadores do TJ.
Conseqüências do início do julgamento no SF: Quem presidirá esse tribunal misto será o Presidente do
- a partir do início do julgamento, o SF será presidido pelo tribunal misto.
PSTF; Na CE de SP, são 7 desembargadores + 7 deputados
- o PR será cientificado do início do julgamento; estaduais.
- o PR deverá se afastar do cargo por até 180 dias (atenção: é O STF disse que isso é inconstitucional. Ele entende que são 5
caso de impedimento, portanto, não haverá sucessão, mas sim deputados estaduais + 5 desembargadores, presidido pelo Presidente do
substituição). O VPR assumirá a presidência. TJ.
O STF entende que não cabe ao estado-membro legislar sobre
Pergunta: por que razão o PR deve se afastar da presidência crime de responsabilidade. Portanto, as constituições estaduais não
por até 180 dias? podem estabelecer regras sobre crimes de responsabilidade. Isso é
A razão é bem simples: para que ele possa preparar a sua competência privativa da União.
defesa, se dedicar a ela. E, ademais, para que ele não possa influenciar ☺Súm. 722, STF:
com o seu poder, o voto dos senadores.
São da competência legislativa da União a definição dos crimes de
No SF o PR tem direito constitucional ao contraditório e a responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de
ampla defesa, novamente. Ele pode novamente arrolar testemunhas, processo e julgamento.
juntar documentos, pedir a realização de perícias.
Ao final do exercício do contraditório e da ampla defesa, o PR ☺Lei 1.079/50 – lei federal que estabelece que são 5
será julgado pelo SF. deputados estaduais + 5 desembargadores, presididos pelo PTJ.
No SF, em um juízo político (oportunidade e conveniência),
para condenar o PR, 2/3 dos seus membros (54 senadores) deverão Pena do governador:
votar pela condenação. A votação é aberta. Se o governador for condenado pela prática de crime de
responsabilidade, ele receberá duas penas:
Penas que o PR receberá, em sendo condenado por crime de - perda do cargo, e
responsabilidade: - inabilitação para o exercício de função pública por 5 anos
- Perda do cargo e (atenção: não são 8 anos, como ocorre com o PR).
- Inabilitação para o exercício de função pública por 8 anos.
Se o governador ou o PR não estiverem mais no cargo (porque
☺art. 52, P.U., CR: o mandato acabou), a denúncia não poderá mais ser aceita. Não há que
se falar mais em crime de responsabilidade.
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como
Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação,
que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Crime de responsabilidade praticado pelo Prefeito:
Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o
exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais Prefeito também comete crime de responsabilidade.
cabíveis.

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O DL 201/67 e também o art. 29-A, CR estabelecem condutas mesmo por crimes inafiançáveis. Também não pode ser preso preventiva
dos prefeitos que, em sendo perpetradas, importam em crime de ou temporariamente. A única forma pela qual ele pode ser preso é em
responsabilidade. razão de sentença penal condenatória, com transito em julgado (☺art.
Pela prática de crime de responsabilidade, o prefeito será 86, §3º, CR);
julgado pela Câmara de Vereadores. Não existe Poder Judiciário 2) O PR, durante o mandato, não pode ser processado, não
municipal. pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício da função.
Atenção: o DL 201/67 estabelece duas espécies de crime de Durante o mandato, o PR só poderá ser processado pela prática de crime
responsabilidade: ex officio – crime praticado em razão da profissão (☺art. 86, §4º, CR).
- crime de responsabilidade próprio: infração de natureza
jurídica penal → o prefeito será julgado pelo Poder Judiciário. Suspensão do prazo prescricional:
- crime de responsabilidade impróprio: infração de natureza - Segundo LFG, o prazo prescricional não se suspende, correrá
jurídica político-administrativa → o prefeito será julgado pela Câmara normalmente.
Municipal. -☺HC 83154: nesse HC o STF faz referência à suspensão do
☺art. 1º, DL 201/67 – crime de responsabilidade próprio, traz prazo prescricional. O prazo prescricional é, pois, paralisado.
uma infração de natureza jurídica penal.
☺art. 4º, DL 201/67 – crime de responsabilidade impróprio, traz Exemplos:
uma infração de natureza político-administrativa (e não penal). 1) Candidato a PR que, enquanto candidato praticou um crime.
Ele é eleito, diplomado e toma posse como PR. Nesse caso, ele poderá
ser julgado pela prática de um crime que tenha praticado enquanto antes
Crime comum praticado pelo Presidente da República: da posse? Não! Não poderá ser julgado pela prática de crimes ocorridos
antes da posse, pois esse crime não terá sido em razão da função (é um
crime estranho ao exercício da função, ele nem estava no exercício da
Pela prática de crime comum, o PR será julgado pelo STF. função ainda).
☺art. 102, I, “b”, CR: 2) se o sujeito matou por amor enquanto Presidente: não será
julgado porque o crime é estranho ao exercício das funções.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a 3) PR que comete crime em razão do exercício da função:
guarda da Constituição, cabendo-lhe: poderá ser processado durante o mandato. Exs.: crimes contra a AP
I - processar e julgar, originariamente: praticados pelo PR.
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros Pergunta: como se processa o PR pela prática de crime
e o Procurador-Geral da República; comum?
A competência nós já sabemos: é do STF.
☺art. 86, CR: O PR não responde a inquérito policial. Delegado de polícia
não investiga PR. O Inquérito será Judicial. Quem vai presidir e
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois coordenar ou supervisionar esta investigação é um dos ministros do STF.
terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento O Min. relator, delega esta função, através de uma carta de
perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou ordem, a uma autoridade policial (ex.: Polícia Federal).
perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade. Pergunta: o delegado de polícia pode indiciar autoridade
§ 1º - O Presidente ficará suspenso de suas funções: dotada de foro, sem autorização do Min. relator? Não. Delegado de
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime polícia não pode indiciar o PR sem que haja autorização do Min. Relator.
pelo Supremo Tribunal Federal; ☺Caso Aluísio Mercadante: um delegado de polícia indiciou um senador
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo e o STF determinou que esse indiciamento sem a autorização do Min.
Senado Federal. relator era nulo.
§ 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não
estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do Terminada a investigação, os autos irão ao PGR, porque ele é
regular prosseguimento do processo. o titular constitucional da ação no STF. Ele é o promotor natural para
§ 3º - Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações acusar o PR no STF.
comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão. O PGR pode entender que não existem indícios de autoria ou
§ 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode comprovação da materialidade e, portanto, pedir o arquivamento da
ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções. investigação.
Se o STF não concordar com o arquivamento caberá ao STF
Portanto, o PR é dotado de foro por prerrogativa de função no apenas homologar o arquivamento (não se aplica o art. 28, CPP, porque
STF. o PGR é o próprio 28!). Não existe mecanismo para que ele oferte a
denúncia nesse caso.
Pergunta: o que significa infração penal comum no art. 102, I,
“b”, CR? Se o PGR oferta a denúncia, pergunta-se: o STF pode receber
Infração penal comum aqui está utilizada em contraposição ao a denúncia?
crime de responsabilidade. O STF não pode receber a denúncia sem que antes exista a
Dentro desse gênero infração penal comum, estão contidas as autorização da Câmara dos Deputados.
seguintes práticas:
- crime comum em sentido restrito; Juízo de admissibilidade da denúncia:
- crime eleitoral; É um juízo político. Ou seja, a Câmara não fará um juízo
- crime militar; jurídico, mas sim um juízo político, de oportunidade e conveniência.
- crime doloso contra a vida; O quorum para o juízo positivo (autorização do julgamento no
- contravenção penal. STF) é de 2/3 dos votos, em votação aberta.
Assim, se o PR cometer qualquer uma dessas infrações, será Se não for alcançado esse quorum pela CD (juízo de
julgado originariamente pelo STF. admissibilidade negativo), suspende-se o prazo prescricional.
O STF é o seu Tribunal ou juízo natural. Quando a CD faz um juízo de admissibilidade positivo, autoriza
O PR é dotado de foro por prerrogativa de função junto ao STF. o STF a deliberar sobre o recebimento da denúncia (não o obriga a
receber a denúncia).
E, ainda assim, o STF não poderá ainda receber a denúncia.
(22/09/09) Antes de se manifestar a respeito do recebimento da denúncia,
a CD deverá oferecer ao PR a oportunidade de defesa, em conformidade
com a Lei 8.038/90.
Pergunta: como se dá o julgamento no STF? De que maneira o Depois da autorização da CD, e antes de se manifestar sobre o
PR será julgado pelo STF? recebimento da denúncia, a CD deve oportunizar ao PR a defesa
O PR é dotado de irresponsabilidade relativa. preliminar, da Lei 8.038/90. Ele terá até 15 dias para ofertar esta defesa,
Em 1824, tínhamos a irresponsabilidade absoluta. Aqui na solicitando ou requerendo o não recebimento da denúncia.
CR/88 temos a irresponsabilidade relativa, que é uma exceção Curiosamente, a lei prevê o julgamento antecipado da lide
constitucional. penal, ou seja, sem receber a denúncia já se poderia absolver o PR.
As conseqüências dessa irresponsabilidade relativa são duas: Princípio da colegialidade: quem recebe é o STF e não o
1) O PR não poderá ser preso, salvo em razão de uma relator.
sentença penal condenatória com transito em julgado. Diferentemente do
que ocorre com os deputados federais e senadores, o PR não pode ser
preso nem em flagrante pela prática de nenhum crime comum, nem
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Se a denúncia for recebida pelo STF, qual é a conseqüência do “A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro
recebimento da denúncia? por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela
O PR ficará afastado das suas funções por até 180 dias. Constituição estadual”.
O PR passa a ser réu, acusado, será processado pelo STF.
Assumirá o cargo o VPR, que, nesses 180 apenas substitui o PR (não é
caso de vacância, mas de impedimento). Crime comum praticado por Prefeito:
Digamos que em 100 dias o STF condene o PR pelo crime. Ai,
em razão da sentença penal condenatória (independentemente da pena),
o PR então terá os seus direitos políticos suspensos. Em regra, o Prefeito será julgado, pela prática de crime
☺art. 15, CR. comum, pelo TJ.
Ai então ele poderá ser preso. ☺art. 29, CR.
Nesse caso, o VPR que o estava substituindo-o, passa a
sucede-lo, a partir da condenação. Aqui será caso de vacância, que é O que se exige é que seja um órgão colegiado.
definitiva. Ele será, em regra, julgado pelo TJ se comete crime estadual.
Se comete crime federal, será julgado pelo TRF.
PR comete crime doloso contra a vida, em razão do exercício Se comete crime eleitoral, será julgado pelo TRE.
da função. ☺súm. 702, STF.
Não existe júri no STF. Prevalece o julgamento pelo Tribunal Esta súmula adota o Princípio da simetria.
(STF), em detrimento do julgamento pelo tribunal do Júri, porque o foro O critério da regionalidade afasta o critério do lugar da infração,
por prerrogativa de função está previsto na CR. Não existe tribunal do júri previsto no art. 69, I, CPP. O Prefeito do MS, se comete crime no RS,
para as autoridades dotadas de foro por prerrogativa de função previstas será julgado de acordo com o art. 69, I, pelo TJ do MS.
na Constituição. O juiz natural do tribunal do júri é afastado, em razão do Pergunta: Aquela autoridade que responde por crime de
foro por prerrogativa de função previsto na Constituição. responsabilidade também poderá ser responsabilizada por improbidade
administrativa?
☺art. 53, §2º. ☺art. 36, §4º, CR, que foi regulamentado pela Lei 8.429/92 –
☺art. 53, §3º: O STF pode receber a denúncia contra Lei contra improbidade administrativa.
deputados federais e senadores O STF entende que quem responde por responsabilidade não
O STF não pode receber a denúncia contra o PR sem que pode responder por improbidade. O crime político (infração político-
antes exista a autorização da CD (☺art. 86, caput). administrativa) impede a responsabilização pela improbidade
administrativa.
☺art. 52, P.U., CR: As 3 esferas não se confundem (sem
prejuízo das demais sanções cabíveis).
Crime comum praticado por Governador: As sanções que estão previstas na Lei de improbidade
administrativa são sanções muito severas, dentre elas a perda do cargo.
Pela prática de crime comum o Governador é julgado pelo STJ. Só que a improbidade administrativa é sanção cível. Então o
☺art. 105, I, “a”, CR. que justifica a decisão do STF são as sanções (entre elas a perda do
cargo) que são severas. Pergunta: será que o juiz teria direito de
Por crime comum aqui devemos entender: determinar a perda do cargo? O STF entendeu que não.
- crime comum em sentido estrito,
- crime eleitoral,
- crime militar,
- crime doloso contra vida e
- contravenção penal.

Pela prática dessas condutas o Governador é julgado


originalmente pelo STJ.
Atenção: o TSE não tem competência originária para julgar
crimes! Se o Governador cometer crime eleitoral, será julgado pelo STJ e
não pelo TSE.
O STJ só receberá a denúncia contra o Governador se existir
previamente a autorização da Assembléia Legislativa.

Pergunta: O art. 86, §§3º e 4º se aplica aos Governadores?


Governador pode ser preso? Pode ser processado durante o mandato
durante o exercício da função?
Governador não é dotado de irresponsabilidade relativa. A
irresponsabilidade relativa é exceção e, sendo assim, deve ser
interpretada restritivamente: só se aplica ao PR, não se aplica aos
Governadores.
Governador pode ser preso, diferentemente do que ocorre com
o PR.
Ademais, Governador pode ser processado durante o mandato
sim, desde que exista autorização da AL.

O art. 102, I, “b” diz que o PR e o VPR serão julgados


originariamente pelo STF. Já o art. 105, I, “a”, CR não faz referencia ao
Vice-Governador. Desta feita, VG não será julgado originariamente pelo
STJ.

Substituição não importa em modificação da competência.


Mesmo que o VG fique na governadoria por 30 dias ou mais, não haverá
modificação de competência.
Quem julgara o VG? Depende da Constituição Estadual.
A CE pode ofertar foro por prerrogativa de função para outras
autoridades, dentre elas o VG.
Se a CE diz que o VG será julgado originariamente pelo STJ,
ela será inconstitucional! Ela não pode ofertar competência para o STJ.
Ela só pode ofertar foro por prerrogativa para o seu tribunal (TJ), não
para o STJ.
E se o VG comete crime doloso contra a vida? Quem vai julgá-
lo? Ai, nesse caso, quem vai julgá-los era o tribunal do júri.

☺Súm. 721, STF:

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PODER JUDICIÁRIO: - O PJ defende, garante direitos fundamentais. Hoje, não há,
pois, falar em atribuições do PJ sem citar sua interferência como
instrumento de defesa e implementação (concretização) dos direitos
fundamentais.
☺discurso do Min. Celso de Mello na posse do Min. Gilmar
Função Jurisdicional: Mendes como PSTF (proferido no dia 23/04/2008). O ministro falou do
Poder Judiciário como instrumento para a defesa dos direitos
fundamentais (☺material de apoio). O PJ não só trata da defesa dos
Atribuições do Órgão Jurisdicional: direitos fundamentais, mas também busca a concretização desses
direitos fundamentais.
O Poder Judiciário aplica a lei ao caso concreto, substitui a De que maneira o PJ concretiza os direitos fundamentais? Até
vontade das partes, resolve o conflito de interesses, com força definitiva. um determinado momento histórico, os administrativistas diziam que o PJ
Em 1748, quando Montesquieu criou a divisão orgânica, ele não podia adentrar no mérito do ato administrativo. Hoje, fala-se da
dizia que o juiz é a boca que fala, pronuncia o que está na lei; é um ser “judicialização de políticas públicas” (≠ de ativismo judicial - ☺no
inanimado que só fala o que está na lei. Nessa época os juízes eram material de apoio, texto do LFG). Esta é uma atribuição importantíssima.
ligados a uma determinada categoria social denominada Segundo Significa que o PJ pode decidir sobre políticas públicas.
Estado. Faziam parte da nobreza. Montesquieu queria evitar o
absolutismo, por isso afirmava isso. - O PJ faz controle de constitucionalidade. Trata-se de uma
Ocorre que esta definição não nos basta atualmente. O atribuição de grande importância. Falamos aqui na regra do controle
Judiciário precisa ser interpretado de acordo com uma compreensão concentrado, em que não existe partes. O Judiciário fiscaliza a
constitucionalmente adequada aos nossos tempos. O juiz é um ser supremacia da Constituição. Assim, ele mantém aquilo que o Konrad
inserido dentro da sociedade, que evolui. Hesse chama de Força Normativa da Constituição. A Constituição é uma
Assim, ainda que não desprezemos a atribuição acima citada norma, uma ordem jurídica, e não mero conselho. O que dá a ela esta
(aplicar a lei ao caso concreto, substituir a vontade das partes, resolver o característica é a superimperatividade (imperatividade reforçada).
conflito de interesses, com força definitiva), precisamos saber que
existem também outras atribuições do órgão jurisdicional. - O PJ resolve os conflitos entre os demais órgãos (Legislativo
e Executivo).
Dessa primeira atribuição podemos retirar algumas
características: - O PJ tem o Poder de Autogoverno. Este autogoverno recebe
o nome de garantias institucionais do PJ (autogoverno dos Tribunais).
a) Inércia: em regra, não existe jurisdição sem autor, São exemplos: ele elege seus órgãos diretivos próprios, sem a
não existe processo sem parte. A razão para isso está no art. 5º, LIV – o participação dos demais poderes; ele organiza seus assuntos internos;
devido processo legal. Este devido processo legal nada mais significa do ele se auto-regulamenta através dos regimentos internos de seus
que um conjunto de regras que garante um processo justo. Para que o tribunais.
processo seja justo, o juiz deve ser inerte, não podendo agir de ofício sob
pena de comprometer a sua capacidade subjetiva. Ele não pode estar - O PJ exerce a Legislação Judicial através dos seguintes
envolvido psicologicamente com a causa. Por isso existem os institutos institutos: súmula vinculante, interpretação conforme a Constituição,
dos impedimentos, da suspeição. Mas atenção: o juiz deve ser imparcial, sentença aditiva, mandado de injunção (☺MI 712 – em que o STF muda
e não neutro. Não existe juiz neutro, como ser hermético, fechado dentro de posição, passando a adotar a concretista).
de si mesmo, um “convidado de pedra”, como diz Magalhães Noronha. Assim, podemos dizer que a Legislação Judicial é o fruto da
Se o juiz é inerte, quem provoca processualmente o juiz para que ele criatividade dos juízes e dos tribunais, sobretudo dos tribunais
possa manifestar a sua atribuição são duas instituições que a constitucionais.
Constituição denomina como funções essenciais à Justiça: o Ministério E quanto ao ativismo judicial? Hoje alguns dizem que o PJ está
Público e os Advogados – que possuem capacidade postulatória. se avolumando para cima do Poder Legislativo, ou seja, está exercendo
b) Substitutividade: até um determinado momento atribuições que não seriam suas. Ex.: súmula das algemas, súmula
histórico a justiça era privada, o mais forte fisicamente ou contra o nepotismo, pesquisas de célula-tronco, questão do feto
economicamente resolvia o conflito de interesses. O Estado trouxe para anencefálico, efeito do MI (☺MI 712 – direito de greve), etc. A crítica a
si o monopólio da Jurisdição. A Justiça deixou de ser privada e passou a esta legislação judicial recebe o nome de ativismo judicial: o PJ estaria se
ser pública. ☺art. 5º, XXXV, CR – Princípio da Inafastabilidade assenhoreando de determinadas atribuições que são do Legislativo.
Jurisdicional: a lei não excluirá da apreciação do Judiciário lesão ou
ameaça a direito. É também conhecido como Princípio da
Indeclinabilidade, ou Direito constitucional de ação (conforme ensina Organização do Poder Judiciário:
Nelson Nery). A regra é que o Estado resolva o conflito de interesses,
com algumas exceções. Ex.: ☺art. 217, §1º, CR: exige o esgotamento da
instância desportiva, o PJ não pode de pronto discutir as questões ligas O Poder Judiciário dos EUA é composto pela Suprema Corte, e
ao esporte antes da Justiça Desportiva. Outro Ex.: o HD também exige o pelos Tribunais de Apelação Federais e juízes federais; pelos Tribunais
esgotamento da via administrativa, e o STF já disse que isso é de Apelação Estaduais e juízes estaduais, e, por fim, é composto ainda
constitucional. de uma Corte Marcial. Lá é seguida uma cultura jurídica anglo-saxônica.
c) Definitividade: o PJ traz a estabilidade das O Poder Judiciário do Brasil, por sua vez, tem uma estrutura
relações sociais. Ele traz a chamada coisa julgada, qualidade dos efeitos diversa.
da sentença. Ela é uma conseqüência de uma garantia fundamental, a A nossa estrutura de Poder Judiciário revela nossa cultura
segurança jurídica (☺caput do art. 5º). A segurança jurídica significa jurídica, que é romano-germânica. Nós procuramos justiça. Isso tem
estabilidade das relações. Da segurança jurídica decorre a chamada repercussão no nosso Poder Judiciário.
trilogia da irretroatividade (☺art. 5º, XXXVI): a lei não prejudicará o direito Nós estamos sempre procurando justiça e não só estabilidade
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. das relações, como ocorre na cultura jurídica anglo-saxônica – a ex. dos
EUA, em que se acredita que o ideal de justiça nunca será alcançado.
Outras atribuições do Poder Judiciário: Eles são bem mais pragmáticos do que nós (buscam apenas a resolução
dos conflitos). É por isso que lá o MP é denominado “juiz na porta dos
tribunais”, já que o MP resolve mais ou menos 95% dos casos através
das transações, barganhas (e o restante é resolvido pelos júris).

☺Quadro do PJ no Brasil:

28
STF

CNJ

STJ TSE STM TST

Justiça Comum

Federal Estadual

TRFs/Juízes federais TJs/Juízes de direito

Atenção: - ser brasileiro nato: porque o ministro do STF está na linha


☺art. 92, CR: sucessória (em sentido lato) do PR. ☺art. 101, c/c art. 12, §3º, CR.
- idade mínima: 35 anos – capacidade política absoluta.
Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: - idade máxima: 65 anos – ele precisa exercer suas atribuições
I - o Supremo Tribunal Federal; pelo menos por 5 anos para que se possa aposentar compulsoriamente
I-A o Conselho Nacional de Justiça; aos 70 anos, com os seus subsídios.
II - o Superior Tribunal de Justiça; - notável saber jurídico: é um conhecimento que dispensa
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; prova, não tem concurso para ministro do STF. Todos os têm como
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; grandes cultores da ciência jurídica. a Constituição não exige que seja
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; bacharel em direito, mas a doutrina quase que pacífica (mais do que
VI - os Tribunais e Juízes Militares; majoritária) exige. No início do Séc. XX houve um médico indicado para o
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. STF, mas atualmente isso não é mais possível.
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os - reputação idônea: ilibada; significa uma vida pretérita sem
Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. nódoas, manchas; a sociedade os têm em boa conta.
§ 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm
jurisdição em todo o território nacional. O PR escolhe brasileiros que tenham esses requisitos e os
indicam ao SF, que aprovará os 11 ministros por maioria absoluta de
O CNJ (criado pela EC 45/04) não exerce jurisdição - ☺art. 92, votos, através da chamada “sabatina”. Sabatina significa uma entrevista
§1º, CR. com o candidato, de modo a verificar o seu posicionamento.
Ele está abaixo do STF e acima dos Tribunais Superiores. No Brasil nunca se reprovou um nome indicado.
A Constituição fala em jurisdição no §2º do art. 92. A escolha é livre, de categorias. Não é necessário ser juiz para
Pergunta: O CNJ fiscaliza o STF? Os ministros do STF estão ser ministro do STF.
sujeitos ao CNJ? Não! As decisões administrativas do CNJ são
desafiadas por MS no STF. Está sendo discutida uma proposta de EC que, se for
Obs.: o Tribunal do Júri não está na organização do Poder aprovada, estabelecerá mandato para os cargos de ministros do STF. O
Judiciário. Ele está previsto no art. 5º, XXXVIII, CR e é uma garantia mandato seria de 11 anos, e não mais vitalício.
constitucional do cidadão.
Podemos, para fins didáticos, dividir a Justiça Comum do
Poder Judiciário Nacional em: Superior Tribunal de Justiça:

Justiça Comum Federal: Justiça Comum Estadual:


5 TRFs 27 TJ´s O STJ é um tribunal nacional.
Juízes Federais Juízes de Direito Foi criado em 1988. Foi criado com a função de uniformizar a
jurisprudência da justiça comum estadual e da justiça comum federal.
Em 1965, JAS já defendia a criação de um tribunal que já
E em:
tivesse essa atribuição.
O STJ é composto de 33 ministros, no mínimo. Isso significa
Justiça Especializada:
dizer que é possível constitucionalmente aumentar o número de
TSE STM TST ministros.
27 TRE´s Tribunais Militares (ainda não 24 TRT´s Obs.: a Constituição da República não fixa o número máximo
Juízes Eleitorais existem*) Juízes do de ministros para o STJ (no mínimo 33) e TST (no mínimo 07).
Juntas Eleitorais Auditorias Militares Trabalho
Obs.: Justiça Militar Estadual: Requisitos para ser ministro do STJ: (☺art. 104, CR)
TJ e Conselho de Justiça - ser brasileiro, nato ou naturalizado (obs.: o Min. Felix Fischer
Militar é naturalizado).
- idade mínima: 35 anos.
* apesar de estarem previstos na Constituição, ainda não foram - idade máxima: 65 anos.
criados. - notável conhecimento jurídico.
- reputação idônea, ilibada.

Eles são escolhidos pelo PR que indica um nome ao SF e este


Supremo Tribunal Federal:
aprova por maioria absoluta de votos.
A EC 45 modificou a maioria do SF (antes era simples, hoje é
O STF é formado por 11 juízes, que são denominados absoluta).
Ministros.
A escolha aqui não é livre de categorias. A escolha é vinculada
Requisitos para ser ministro do STF: a determinadas categorias:
- 1/3 entre juízes do TRF;
- 1/3 entre desembargadores do TJ;

29
- 1/3 entre membros do MP e da advocacia. A Justiça Estadual é dividida em comarcas, que são divisões
De que maneira o Presidente escolhe esses ministros? São, territoriais jurisdicionais. Atenção: a comarca não se confunde com o
como vimos, no mínimo, 33 ministros. Quando um dos ministros do STJ município, que é uma divisão geopolítica.
se aposenta e sobrevém uma vaga no STJ, se o ministro que aposentou Esta divisão em comarcas depende da Lei de Organização
era da categoria dos TRFs, o STJ enviará ofício para os 5 TRFs. Os Judiciária de cada Estado.
interessados se inscrevem. O STJ reduz a lista para os 3 mais votados e Alguns estados mantêm a divisão de comarca por entrância.
indicará ao presidente, que escolherá o ministro do STJ, após aprovação Em SP, não é mais assim.
do Senado Federal por maioria absoluta de votos. Se o ministro que
aposentou era da categoria dos TJ´s, o STJ enviará ofício para os 27 TJ
´s, prosseguindo depois da mesma forma dita acima. Justiça Especializada Eleitoral:
Como se dá a escolha de 1/3 entre Membros do Ministério
Público e da advocacia? Um terço de 33 é 11. Assim, 5 ministros são
oriundos da advocacia, e 5 são oriundos do Ministério Público. O 11º É necessário trazer algumas regras que se aplicam a toda
será alternado entre membro do MP e membro da advocacia. estrutura da justiça eleitoral. Vejamos:
A OAB faz um debate interno (eleição no Conselho Federal) e 1. É uma justiça federal especializada. O juiz de direito pode
indica 6 nomes para o STJ. Destes, o STJ irá escolher 3. O presidente exercer função federal. Isso repercute na competência. Quando o juiz de
nomeará aquele que será ministro do STJ. No Ministério Público, é a direito exerce uma função eleitoral por delegação, o dinheiro pago sai do
mesma coisa. O MP indica 6 nomes. O STJ reduz a lista para 3. O orçamento da União.
presidente escolhe um dos três que será aprovado por maioria absoluta 2. No Brasil, não existe um quadro próprio de magistrados
de votos. eleitorais. Ninguém faz concurso para juiz eleitoral. A justiça eleitoral
empresta juízes da justiça estadual e justiça federal.
3. Todos que exercem a judicatura eleitoral exercem
mandato de 2 anos, permitindo uma única recondução por mais 2 anos.
Justiça Comum Federal: Este prazo existe em razão da proximidade do juiz com as disputas
eleitorais. É importante essa alternância para que não se tenha o
A Constituição de 1988 criou 5 tribunais regionais federais. comprometimento de sua imparcialidade. E se a comarca só tiver um
Até 1988 tínhamos o TRF e os juízes federais. juiz? Terá de ser ele mesmo, em regra.
A Constituição de 88 dividiu o território nacional em 5 regiões Os juízes da justiça eleitoral percebem R$ 2.800,00 pela
federais, vejamos quais são elas: função. Isso além do subsídio de origem.

1. TRF 1ª região: esse tribunal fica em Brasília/DF e em mais (30/09/09)


14 estados da federação (todos do norte; todos do centro-
oeste, menos MS; Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Piauí).
2. TRF 2ª região: esse tribunal se localiza no RJ e abrange os
estados do RJ e do ES. • TSE:
3. TRF 3ª região: esse tribunal se localiza em SP e abrange
os estados de SP e MS. O TSE tem sede em Brasília/DF e jurisdição em todo o
4. TRF 4ª região: esse tribunal se localiza em RS e abrange território nacional.
os estados do RS, SC e PR. Ele se compõe de, no mínimo, 7 juízes, que recebem o nome
5. TRF 5ª região: esse tribunal se localiza em PE (Recife) e de ministros.
abrange os estados do nordeste, menos Bahia, Maranhão Dos 7 ministros do TSE:
e Piauí. 1. 03 são oriundos do STF. Os 11 ministros do STF
fazem uma eleição interna entre eles. Eles oficializarão em ambos os
tribunais.

- 4ª Região: PR, SC e RS; 2. 02 são oriundos do STJ (também escolhidos em


- 3ª Região: MS e SP; eleição interna do STJ). Eles oficializarão em ambos os tribunais.
- 2ª Região: RJ e ES; 3. 02 advogados escolhidos pelo Presidente da
- 5ª Região: SE, AL, PE, PB, RN, CE; República de uma lista fornecida pelo STF. Eles poderão continuar
- 1ª Região: é o restante (BA, MG, GO, DF, TO, PI, MA, PA, AP, AM, RO, advogando, menos em matéria eleitoral. Ficarão no TSE por 2 anos. Este
AC, RR, MT). mandato admite uma recondução por mais 2 anos.
Obs.: Só pode ser Presidente do TSE um dos três ministros
originários do STF. O outro será vice-presidente e o outro fica
Obs.: o concurso de juiz federal é um concurso regional, ou aguardando a sua vez. Ministro do STJ ou advogado não pode ser
seja, o concurso para juiz federal é feito por regiões, tendo o CNJ Presidente do TSE.
regulamentado um conteúdo mínimo. Já o concurso de procurador da Um dos dois ministros do STJ será o Corregedor-Geral
república é um concurso nacional. Eleitoral.
Advogado não pode ser presidente do TSE e nem corregedor-
A Lei 5.010/66 criou a justiça federal em 1º grau. geral eleitoral.
Não existe na Justiça Federal a divisão em comarcas. A Justiça
Federal é divida em seções judiciárias federais. Cada estado é uma
seção judiciária federal. São, pois, 27 seções judiciárias. • TRE:
A seção judiciária é dividida em sub-seção judiciária.
Existem, mais ou menos, 1.400 juízes federais no Brasil. Existe um por estado da Federação. São, pois, 27 TRE´s no
Hoje, há um processo de interiorização da Justiça Federal. Brasil.
O número mínimo de juízes no Tribunal Federal é 7. Ele é composto de 7 juízes. Destes 07:
A idade mínima para ser desembargador federal é 30 anos 1. 02 são desembargadores escolhidos pelo TJ;
2. 02 são juízes de direito da entrância mais elevada,
escolhidos pelo TJ;
Justiça Comum Estadual: 3. 02 são advogados escolhidos pelo Presidente da
República, através de uma lista fornecida pelo próprio TJ;
Cada Estado possui seu tribunal de justiça em virtude do poder 4. 01 é representante da justiça federal. Não é um juiz
de auto-organização dos Estados-membros. Assim, cada qual tem suas
federal! O representante da justiça federal pode ser juiz federal ou
autoridades próprias.
desembargador federal. Depende do estado-membro. Nos estados sede
Assim, existem 27 Tribunais de Justiça. Em cada um deles o
do TRF, o representante é um desembargador federal. Nos estados que
número mínimo de desembargadores é 7. O número máximo não é
não são sede do TRF, o representante é um juiz federal (ex.: Amapá).
fixado, depende da população e do número de processos.
Ex: SP tem 360 desembargadores; AC tem apenas 7
Obs.: Só pode ser Presidente do TRE um dos dois
desembargadores.
desembargadores do TJ.
A idade mínima para ser desembargador é 30 anos.
Em primeiro grau a justiça estadual é composta por juízes de
direito. Há, atualmente, mais ou menos 13.000 juízes de direito no Brasil. • Juízes eleitorais:

30
Juiz eleitoral é um juiz de direito exercendo judicatura eleitoral. Só o juiz de direito, de forma singular, de forma monocrática, e
É um servidor público estadual que, por delegação, exerce uma função também é possível o Conselho de Justiça Militar se manifestar de forma
federal. É em razão do Princípio da Delegação que o juiz de direito colegiada.
exerce a função eleitoral.
É servidor público estadual exercendo uma função eleitoral, em Regras:
homenagem ao princípio da delegação e, portanto, para esses fins será
considerado servidor público federal. Isso tem reflexos inclusive para fins 1) ☺Súm 53, STJ: a JME nunca julga civis, diferentemente do
penais, pelo que a competência para julgar crime contra ele cometido é que ocorre com a justiça militar da União.
da justiça federal. 2) a JME somente julga policiais militares e componentes do
Ou seja, durante o momento em que ele estiver exercendo a corpo de bombeiros
função federal, ele é um servidor público federal para fins penais. Ele 3) a JME não julga crime doloso contra a vida cometido por PM
recebe da União e exercerá a judicatura eleitoral por 2 anos. Quem o contra civil
escolhe é o TRE de uma lista indicada pelo TJ. 4) a JME nunca julga crime de tortura praticado por PM contra
civis
A justiça eleitoral em 1º grau de jurisdição recebe a 5) a JME não julga o crime de abuso de autoridade (Lei
denominação territorial de “zona eleitoral”. É a divisão territorial da justiça 4898/65) praticado por PM
eleitoral. 6) a JME, a partir da EC 45 passou a ter jurisdição cível,
A Constituição fala em “Junta Eleitoral”. Todavia, ela não diz julgando ações decorrentes de atos disciplinares militares (antes esta
qual é a composição da junta eleitoral. A sua composição fica a cargo do competência era da JM federal) – ex.: ação ordinária, MS
Código Eleitoral.
A junta eleitoral é composta pelo próprio juiz eleitoral e mais 2 Todos os crimes praticados por PMS cuja vítima seja civil,
ou 4 cidadãos. A junta eleitoral exerce atribuições administrativas, não quem vai julgar é o juiz de direito singularmente (monocraticamente).
jurisdicionais, que estão descritas no Código Eleitoral. Os crimes praticados por PM contra PM quem julgará é o
Conselho de Justiça Militar ou o Colegiado (para evitar corporativismo).
Obs.: se o crime for doloso contra a vida a competência será
Justiça Especializada Militar da União: da justiça comum.
A Justiça militar do Estado nunca julga crime.

• STM: A Justiça Militar julga militares e o corpo de bombeiros militar.


Tem corpo de bombeiros que é instituição civil, não é julgada pela JME.
A EC45 deu competência civil para a Justiça Militar Estadual.
Tem sede em Brasília, DF e jurisdição em todo território
Ela julga ações civis decorrentes de atos disciplinares militares. A Justiça
nacional.
Militar Estadual nunca julga crimes dolosos contra a vida praticados por
Ele é composto de 15 ministros, sendo, todos vitalícios:
militar contra civil. Este tipo de crime será julgado pela Justiça Comum
- 10 militares: oficiais generais, ou seja, do mais alto posto das
Estadual.
forças armadas; 3 da marinha, 4 do exército e 3 da aeronáutica. Esses
A EC 45 deu ao Conselho de Justiça Militar duas formas de
10 são restritos a brasileiros natos, já que os oficias das forças armadas
julgamento:
são brasileiros natos, nos termos do art. 12, §3º, CR;
1) só o juiz de direito que oficia no conselho;
- 5 civis: 3 são advogados, 1 juiz auditor militar e 1 membro do
2) colegiadamente: juiz de direito + oficiais militares.
MP militar.
O caso 1 se dá nos crimes praticados por militares contra civis
(exceto se for doloso contra a vida); o caso 2 se dá quando um policial
Os 15 ministros devem ser escolhidos pelo Presidente da
militar comete crime doloso contra a vida de outro militar.
República e aprovados pelo Senado por maioria absoluta de votos.
Nos Estados que não tem TSM o juiz que funciona no
Conselho é designado pelo Tribunal de Justiça.
É justiça militar da União. Não tem nada a ver com a polícia
Nos Estados que tem TJM (SP, MG, RS), há concurso
militar.
específico.
Regras:
Obs.:
1. A justiça militar da União só tem competência
- Crime de tortura praticado por militar é julgado pela Justiça
criminal – só julga crimes militares. Os crimes
Comum.
militares estão previstos no decreto-lei 1.001/69
- Os crimes de trânsito práticos por policiais militares e julgado
(Código Penal Militar). São crimes praticados, em
pela Justiça Comum.
regra, por membros da Forças Armadas – exército,
- ☺Lei 4.898/65: abuso de autoridade cometido por policial
marinha e aeronáutica.
militar será julgado pela Justiça Comum.
2. Civis podem ser julgados pela justiça militar da
União. Só o TJ pode apresentar na Assembléia proposta de lei para
criação da Justiça Militar. Apenas o TJ pode apresentar projeto de lei
para a criação da justiça militar estadual, não cabendo a deputado ou

• Auditoria Militar:
senador. A competência é reservada, privativa ou exclusiva do TJ.
☺art. 125, §3º, CR/88.

Cada auditoria militar pode ter mais de um juiz auditor. Temos § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de
12 auditorias militares no Brasil. Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos
A auditoria militar se manifesta (judica) de duas maneiras: juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo
- Conselho Especial próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados
- Conselho permanente em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes.
São colegiados. Neles temos juiz auditor e oficiais militares.
A diferença entre eles está na competência para julgamento: o
conselho especial julga oficiais das forças armadas e o conselho • Conselho de Justiça:
permanente julga praças das forças armadas.
Primeiro grau de jurisdição. O primeiro grau pode ser
desempenhado pelo juiz auditor militar, monocraticamente ou o conselho
Justiça Especializada Militar dos Estados: de justiça, de forma colegiada.
Na maioria dos estados-membros, o juiz militar é um juiz de
direito vinculado ao tribunal de justiça. No entanto, em SP, RS e MG
A EC 45 trouxe grandes modificações na JM dos Estados. existe um concurso próprio para juiz auditor militar.
A JME pode ser criada a partir de projetos de lei do TJ. Só o TJ Todos os crimes praticados por policiais militares em que a
pode apresentar projeto de lei para a criação da JME. É ex. de iniciativa vítima é civil são julgados pelo juiz auditor militar. Se o crime for praticado
privativa reservada ou exclusiva. por policial militar contra policial militar, ele será processado pelo
☺art. 125, §3º, CR. conselho de justiça militar, de modo a evitar o corporativismo. Destaque-
se que os crimes dolosos contra a vida praticados por militares não serão
A criação do TJM será possível se o efetivo da PM superar julgados pela justiça militar estadual.
20.000 componentes.
Hoje nós temos o TJM nos estados de SP, MG e RS.
• Tribunal de Justiça
1º Grau de Jurisdição da Justiça Militar Estadual:
31
O segundo grau de jurisdição, em regra, é desempenhado pelo A discussão do orçamento é feita por cada pessoa jurídica.
Tribunal de Justiça Estadual, salvo ser for criado o Tribunal de Justiça Hoje, coma criação do CNJ pela EC 45, existem regras para a discussão
Militar, nas hipóteses em que o efetivo da polícia militar superar 20.000 do orçamento do PJ, para que exista uma uniformização. Mas o
componentes. Existe em SP, RS e MG. Há discussão sobre a extinção importante é saber que há autonomia financeira e orçamentária.
da justiça militar estadual.
A justiça militar estadual não julga civil. O civil, não militar, não 2) Garantias funcionais: se referem ao juiz, membro do PJ.
será julgado pela justiça militar. A justiça militar da união julga civis. Mas, desde logo é preciso se atentar para o fato de que elas são
☺Súm. 53, STJ, que aplica-se à justiça militar Estadual: ofertadas ao juiz em homenagem à própria sociedade. Elas têm em conta
“Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de a importância da função que eles desenvolvem. Assim, não há que se
prática de crime contra instituições militares estaduais”. falar em privilégio, mas sim em prerrogativas da magistratura (porque
não se referem à pessoa do juiz, mas ao cargo que ocupa).
As garantias funcionais são repartidas em:
Justiça Especializada do Trabalho:
a) Garantias funcionais de independência: são também
Existiam juízes classistas até a EC 21. denominadas de “predicativos da magistratura”. Estão
Hoje, a Justiça do trabalho é formada apenas por juízes previstas no art. 95, CR. Elas se repartem em 3:
togados e vitalícios.
a.1) Vitaliciedade: ☺art. 95, I, CR. Em primeiro grau de
jurisdição é alcançada após 2 anos de efetivo exercício. É o chamado
• TST: estágio probatório de 2 anos. Fala-se em 1º grau de jurisdição porque
aqueles que adentram AP PJ pelo 5º Constitucional a adquirem a partir
O TST é composto de 27 ministros (☺art. 111-A, CR): 3 são da posse. A vitaliciedade garante ao magistrado a segurança do cargo.
advogados, 3 são membros do MPT e os 21 restantes são juízes de Em razão dela, o magistrado só poderá perder o cargo em virtude de
carreiras. sentença judicial transitada em julgado. Mas atenção: nos dois anos do
estágio probatório ele pode perder o cargo em razão de um processo
Art. 111. “São órgãos da Justiça do Trabalho: I - o Tribunal Superior do administrativo. Esta é uma garantia de todos nós, não só do magistrado,
Trabalho; II - os Tribunais Regionais do Trabalho;III - Juizes do já que é válida para garantir a sua independência, o que repercute em
Trabalho”. benefício da sociedade. Vitaliciedade não se confunde com estabilidade.
Podemos elencar 3 diferenças entre elas: I) a vitaliciedade em 1º grau é
Art. 111-A: “O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete alcançada após 2 anos de estágio probatório, enquanto que a
Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e estabilidade é atingida após 3 anos de estágio probatório; II) só são
menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da dotados de vitaliciedade os agentes políticos (magistrados, membros do
República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, MP, membros dos TC), enquanto que a estabilidade é atributo do
sendo: I) um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva servidor público em sentido restrito; III) a vitaliciedade garante ao
atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com magistrado que ele só perderá o cargo em razão de sentença judicial
mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; com trânsito em julgado, enquanto que o servidor público estável pode
II) os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, perder o cargo em razão de processo administrativo disciplinar.
oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal
Superior” Obs.:

Quando a Constituição fala em 5º Constitucional e o resultado Vitaliciedade Estabilidade


der uma dízima periódica, sobe-se até o próximo número inteiro. Por isso Apenas aplica-se a agentes Aplica-se a servidores públicos
é que arredonda-se 1/5 para 6 (3 membros do MP do trabalho e 3 políticos – magistrados, em sentido restrito.
advogados). Os demais 21 membros são juízes de carreira promovidos membros do MP e membros dos
dos TRTs. Tribunais de Contas.
Todos os ministros são escolhidos pelo Presidente e devem ter Ela é alcançada em primeiro Ela é alcançada após 3 anos de
seu nome aprovado pelo Senado Federal. grau de jurisdição após dois estágio probatório.
Os advogados e membros do MP devem ter 10 anos de anos de estagio probatório.
exercício. Nos Tribunais, a vitaliciedade é
alcançada a partir da posse.
• TRT:
O servidor só perde o cargo em
razão de sentença judicial
O servidor público estável perde
sua condição em razão de um
condenatória com trânsito em processo administrativo
São 24 TRT´s. Existe Estado que não possui TRT (Acre, julgado. disciplinar.
Roraima, Tocantins) – ex.: o TRT de Rondônia abarca o estado do
Amapá. Ademais, São Paulo tem 2 TRT´s.
Os TRT´s devem ter no mínimo 7 desembargadores. Também a.2) Inamovibilidade: ☺art. 95, II. O magistrado, diversamente
deve-se respeitar o 5º Constitucional. do servidor público em sentido restrito, não pode ser removido por
Assim, o TRT não pode ter menos de 7 juizes, sendo 5 de oportunidade e conveniência da AP (ainda que se trate de promoção – se
carreira e dois correspondentes ao quinto constitucional – 1 advogado e for este o caso, ele precisa aceitar, concordar com essa promoção). Essa
1 membro do MPT. inamovibilidade ocorre para se evitar perseguições ao magistrado, o que
ofenderia a sua independência (para que ele possa decidir sem receio de
estar descontentando alguém). Não é privilégio, mas prerrogativa do
Garantias do Poder Judiciário: cargo. Existe, porém, uma exceção: o magistrado pode ser removido por
motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII, CR (sempre por
maioria absoluta de votos).
Tem o objetivo de manutenção da independência prevista na
Constituição. Independência no sentido de ausência de ingerência dos a.3) Irredutibilidade de subsídios: “mexer na subsistência é
outros órgãos. A doutrina divide-as em duas espécies: mexer na consciência” – ou seja, o magistrado não pode ver reduzido
seus subsídios, sob pena de violar a sua independência. Esta
1) Garantias Institucionais: se referem ao PJ como um todo. irredutibilidade de subsídios é real ou jurídica? Ela é apenas jurídica, e
Têm por objetivo a manutenção da independência do poder judiciário não real. O subsídio não precisa ser indexado ao índice inflacionário do
frente aos demais poderes. Protegem o poder judiciário como instituição, período anterior. Apesar de a Constituição determinar que ele seja
isto é, protege a liberdade de atuação do poder judiciário como um todo. indexado, e apesar dos requerimentos das categorias, ele não é. A
Têm a finalidade de manter assegurar a independência do órgão judicial Constituição determina a majoração do subsídio por períodos, mas isso
frente ao Executivo e Legislativo. não vem sendo feito (na magistratura federal, por ex., isso não ocorre há
Delas decorrem a autonomia administrativa e a autonomia 4 anos).
financeira. Autonomia administrativa refere-se ao auto-governo dos
Tribunais. O PJ elege seus órgãos diretivos próprios. O próprio PJ
regulamenta sua organização interna através dos regimentos internos b) Garantias funcionais de imparcialidade: ☺art. 95, P.U,
dos seus Tribunais. Já a autonomia financeira significa que o PJ tem seu CR. São vedações trazidas pela Constituição.
orçamento próprio. Recebe orçamento por meio do denominado “Aos juízes é vedado: I - exercer, ainda que em disponibilidade,
duodécimo. outro cargo ou função, salvo uma de magistério; II - receber, a qualquer
título ou pretexto, custas ou participação em processo; III - dedicar-se à
atividade político-partidária. IV - receber, a qualquer título ou pretexto,
32
auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; V - exercer a
advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos
três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.”

Obs.: o inciso V traz a chamada “quarentena” ou “janela”, que serve para


assegurar a imparcialidade daqueles que permaneceram no PJ após a
aposentadoria do antigo colega. Ocorre que este dispositivo não impede
na prática que ex-magistrados possam ser beneficiados em suas ações.

Órgão Especial:

Vem previsto no art. 93, XI, CR.

“Nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores,


poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o
máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições
administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal
pleno, provendo-se metade das vagas por antigüidade e a outra metade
por eleição pelo tribunal pleno”.

Nos Tribunais com mais de 25 membros é possível a criação


deste órgão. Assim, só existe órgão especial nos tribunais com mais de
25 membros.
O órgão especial é formado de no mínimo 11 e no máximo 25
desembargadores.
No STJ existe órgão especial.
Qual é a composição do órgão especial: até a EC 45, o órgão
especial era composto dos 25 membros mais antigos daquele Tribunal. A
partir desta emenda houve uma modificação nessa composição. Existe
uma democratização do órgão especial: a primeira metade é composta
pelos mais antigos e a segunda metade é composta por meio de eleição
dentre todos os membros do Tribunal, a compondo os mais votados.
Atribuições do órgão especial: são as atribuições
administrativas e jurisdicionais delegadas do Tribunal Pleno.
☺ art. 97, CR: o órgão especial pode reconhecer a
inconstitucionalidade.

CNJ:

Foi criado pela EC 45.


É composto por 15 membros.
É órgão de controle externo ao Poder Judiciário? Não. Porque
a maioria dos seus membros são oriundos do próprio PJ.
Ele não possui jurisdição (não pode dizer o direito no caso
concreto com força definitiva, é um órgão administrativo. As suas
atribuições são, igualmente, administrativas (ele não adentra no mérito
das decisões judiciais – ele não reforma decisão judicial, apenas fiscaliza
administrativamente o PJ).
☺art. 92, §§1º e 2º.

33
COMPETÊNCIA CRIMINAL NA CONSTITUIÇÃO: 2ª Fase – Competência originária dos Tribunais - Foro Por
Prerrogativa de Função:

A CR entende que algumas autoridades, em razão da


Introdução: dignidade do cargo, devem ser julgadas originariamente pelos tribunais.
Obs.: A CR exige que o julgamento seja feito por um colegiado,
não necessariamente o tribunal, pode ser um órgão fracionário do
Essa competência é expressa na Constituição. tribunal, como turma, câmara ou seção.
Havendo conexão entre crime federal e estadual, aplica-se a Obs.: A tão só menção ao nome da autoridade dotada por foro
Súm. 122, STJ, prevalecendo a justiça federal: de prerrogativa de função não é suficiente para mudar a competência.
Ex. juiz de direito que está conduzindo uma interceptação telefônica, o
“Compete à Justiça Federal o poroc e julgamento unificado dos crimes deputado federal está envolvido. O fato de o deputado federal estar
conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do envolvido, isso não muda a competência, deve-se analisar o caso
art. 78, II, a, do CPP”. concreto.
No dia 04/12/09, o Min. Eros Grau determinou ao juiz da 6ª
Dentro disso, o que sobra é competência da estadual. vara do TJ/SP que remetesse os autos ao STF, por estar envolvido um
As contravenções são excluídas da Justiça Federal. senador no processo de investigação. Por conta desse entendimento,
Lembrar que o foro por prerrogativa prevalece. Então, se um pode mudar a regra anteriormente dita.
Deputado Federal comete contravenção, será julgado na Justiça Federal,
mas não por causa da contravenção e sim por causa da prerrogativa. Argumentos Favoráveis:

 Como os tribunais estão fisicamente longe das políticas


Não há como se falar em competência sem mencionar
locais, os seus julgamento seriam, portanto, imparciais.
jurisdição, nem em jurisdição sem analisar a sentença.
 Os membros dos tribunais, em razão das experiências
O Estado possui 4 elementos constitutivos ou estruturais:
acumuladas, as decisões seriam melhores qualificadas.
O Prof. Nucci não concorda com esses argumentos, porque
- Poder, soberania ou organização: capacidade ou
fere o princípio da igualdade, corolário da república.
possibilidade de impor vontade sob vontade de terceiro. Aquele que
Obs.: Em alguns países existe foro por prerrogativa de função
impõe sua vontade sobre a de terceiros está exercendo poder. O Estado
em relação a algumas autoridades que cometem crime em razão da
exerce o chamado poder político. O Estado pode impor sua vontade
função.
sobre terceiros. Somente o Estado pode impor a violência legítima que,
Para o prof. o foro por prerrogativa de função ofende também o
por sua vez, significa coercibilidade. Exemplo de violência legítima é a
princípio da razoabilidade, porque não é razoável que algumas
prisão, subtração da liberdade de locomoção. Outro exemplo é a
autoridades sejam julgadas por outro órgão judiciário. No Brasil, o foro
interceptação.
por prerrogativa de função é sinônimo de impunidade.
- Território: componente espacial do Estado. É a superfície da
terra sobre a qual o Estado exerce sua jurisdição. O Estado só pode
aplicar sua soberania, jurisdição a fatos ocorridos dentro de seu território,
Hoje há regras que são aplicáveis aqueles que são
de acordo com o princípio da territorialidade. Fatos ocorridos fora do
originariamente julgados por tribunal:
território nacional, em regra, não são tutelados pelo ordenamento
- Quem é julgado originariamente por tribunais não podem
nacional.
valer-se dos recursos comuns, mas apenas aqueles especiais ou
- Povo.
extraordinários. Há uma mitigação ao princípio do duplo grau de
- Objetivos.
jurisdição. Não se vale de apelação e RSE, por ex.
- A autoridade dotada por foro por prerrogativa de função não
Todos os juízes exercem jurisdição, na medida em que o
responde a inquérito policial, mas sim judicial, supervisionado por um
sujeito exerce parcela de poder do Estado, parcela da violência legítima
membro do tribunal. O Prof. LFG critica esse inquérito, porque ofende o
do Estado. Assim, tecnicamente é certo falar em Estado-juiz.
sistema processual acusatório, na medida em que ofende o princípio da
A despeito disso, a CR/88 limita a jurisdição. A competência é
imparcialidade, sobretudo, no caso do mensalão. O delegado não pode
medida de limite de jurisdição ofertada pela CR/88 ao magistrado.
indiciar sem autorização do ministro.
Portanto, há um sistema de competências, divido em fases:
Aplica-se a Lei 8.038 às autoridades dotadas de foro por
prerrogativa de função.
1ª Fase: competência internacional;
2ª Fase: competência originária dos Tribunais;
3ª Fase: competência das justiças especializadas;
4ª Fase: competência criminal da justiça federal. Peculiaridades:

Atenção: a competência criminal da justiça estadual é As autoridades dotadas por foro de prerrogativa de função não
remanescente. respondem a inquérito policial e sim judicial. Esse inquérito será presidido
por um dos ministros daquele tribunal encarregado de julgar aquela
autoridade.
1ª Fase – Competência Internacional: O STF diz que um dos ministros, daquele tribunal encarregado,
coordenará, fará a supervisão daquela investigação.
Obs.: LFG entende que essa supervisão por um dos ministros
Principio da Territorialidade – a jurisdição nacional só pode ser
do tribunal, ofende o sistema processual penal acusatório, que é uma
aplicada a fatos ocorridos dentro do território nacional, mas há exceções:
garantia fundamental do cidadão. Ofende também o pacto de são José
- Art. 7º, CP – aplicação da jurisdição penal a fatos ocorridos
da costa rica, por violar a separação de quem julga e quem investiga. Ex.
fora do território nacional – extraterritorialidade penal.
ação penal do mensalão (quem supervisionou foi o Min. Joaquim
- Lei de Tortura – Lei 9.455, no art. 2º, determina a aplicação
Barbosa que defendeu o recebimento da denúncia, violando a sua
da lei nacional a fatos ocorridos fora do território nacional.
imparcialidade.
- Lei de Lavagem de Dinheiro – Lei 9.613/98 – precisa de crime
A autoridade policial só poderá indiciar aquele dotado de foro
antecedente. A prática de crime antecedente é elementar do tipo. O
por prerrogativa de função com autorização do ministro relator. A
crime antecedente pode ter sido praticado fora do território nacional. Ex.
autoridade policial não está indiciar sem autorização da autoridade que
Caso do traficante abadia.
estava supervisionando (Exceções: Aloísio Mercadante e Magno Malta).
- Lei 8.617/93 define mar territorial – 12 milhas náuticas ou
A autoridade dotada de foro por prerrogativa de função tem
marítimas. Cada milha é 1.852m. 24 milhas – zona contígua, mar
abrandado, mitigado o princípio do duplo grau de jurisdição. Essas
territorial + 12 milhas. A partir das 12 milhas de mar territorial,
autoridades não podem se valer dos recursos ordinários, somente dos
consideradas 180 milhas, há a zona economicamente exclusiva.
recursos extraordinários (recurso extraordinário para o STF e especial
para o STJ).
Se o navio estiver de passagem inocente, mas no mar
Obs.: É foro por prerrogativa de função e não foro privilegiado,
territorial, mesmo assim não se aplica a jurisdição nacional.
por isso a autoridade dotada dessa prerrogativa não pode renunciá-la,
pois trata de prerrogativa e não privilégio.

Prerrogativa Privilégio
Ofertada em razão do cargo. Ofertado em razão da pessoa.
34
O STJ foi criado em 1988 com a finalidade de uniformizar a
jurisprudência dos TRFs e TJs, sendo federal e julgando autoridades
federais e estaduais.
Lei 8038/90:
No art. 105, I, a, da CR utilizou o critério da origem das
A autoridade dotada de foro por prerrogativa de função tem autoridades.
direito a lei 8038/90 (julgamento nos tribunais). Há a defesa preliminar
antes do recebimento da denúncia, no prazo de 15 dias. As autoridades julgadas originariamente pelo STJ são:
A Lei 8038 prevê o julgamento antecipado da lide penal. Por - Magistrados dos TRFs, TRTs, TRE´s
ocasião do recebimento da denúncia, o tribunal faz um juízo de mérito da - Membros do MPU que oficiem perante tribunais. Membro do
acusação. MPDFT atua perante o TJDF e, portanto é julgado pelo STJ.
- Governador de Estado (e não o vice-governador, que é
julgado de acordo com a Constituição Estadual). Se o Vice estiver
substituindo o governador e comete o crime. Substituição não importada
Autoridades julgadas originariamente pelo STF:
em fixação ou modificação da competência. Já a sucessão importa em
modificação de competência.
☺art. 102, I, c, CR: - Desembargador do TJ
- Conselheiro do Tribunal de Contas
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a - Autoridade Municipal – membros de tribunais de contas dos
guarda da Constituição, cabendo-lhe: municípios (onde existir).
I - processar e julgar, originariamente:
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice- Obs.: Alguns manuais falam que o Governador será julgado
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros pelo TSE, nas infrações penais eleitorais. Está errado, porque o TSE não
e o Procurador-Geral da República; tem competência para julgar ação penal condenatória, apenas HC. Quem
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os julga o Governador pela prática de crime comum (incluindo crime
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da eleitoral) é o STJ.
Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de
missão diplomática de caráter permanente;
Autoridades julgadas originariamente pelo TRF:
Pergunta: o que é infração penal comum?
A expressão aqui indica o gênero. É o crime comum em Tanto nos TRF quanto nos TJ, o critério da regionalidade
sentido restrito, crime eleitoral, crime militar, crime doloso contra a vida, afasta o critério do lugar da infração. O CPP adotou o critério do lugar da
contravenção penal. infração, previsto no art. 69, I. Os crimes em relação ao resultado são
materiais, por isso, o CPP estabelece como critério o local da infração.
Critério utilizado: as autoridades do primeiro escalão do
Executivo, Legislativo e Judiciário serão julgadas pelo STF. Grupos de autoridades:
Vamos à análise dessas autoridades:
1º Grupo:
a) 1º escalão do Poder Legislativo da União: 1- Juízes federais;
2- Juízes do trabalho;
- Deputados Federais e Senadores: Os suplentes de deputados 3- Juízes auditores militares;
federais e senadores, como não estão no exercício de cargo parlamentar, 4- Membro do MPU que oficie em primeiro grau de jurisdição.
não podem ser julgados pelo STF (a não ser que deixem de ser Em todos os crimes e nas contravenções penais, menos nos
suplentes). A competência por prerrogativa de função inicia-se com a crimes eleitorais. Nesses crimes, as autoridades serão julgadas pelo TRE
diplomação, isto é, a ultima fase do processo eleitoral, antes da posse. (princípio da simetria).
STF entendeu ser passível de recebimento a denuncia OBS: A Justiça Federal não julga contravenções penais (art.
proposta uma dia antes da diplomação, como no caso do José Genuíno. 109, IV, da CR). Então porque essas autoridades são julgadas pelo TRF
- Ministros do TCU: o TCU é órgão que auxilia o legislativo da pela prática de infrações penais?
União, e, por isso, seus ministros também soa julgados pelo STF. Porque neste caso, está se tratando de foro de prerrogativa de
função, a competência é fixada em razão da pessoa, afastando a
b) 1ª escalão do Poder Executivo da União: competência material.
- O Promotor de Justiça do MPDFT é julgado por quem?
- Presidente e Vice da República; É julgado pelo TRF da 1ª região, porque ele é membro do MPU
- Ministro de Estado: segundo o STF, para fins penais só são e oficia em primeiro grau de jurisdição.
ministros de Estado as autoridades elencadas no art. 25 da Lei 10.688. A Obs.: No regimento interno do TJ/DFT está fixado que ele julga
previsão do art. 38 refere-se a ministros protocolares. Informativo 374. promotor de justiça. No entanto, essa previsão não é constitucional,
- Advogado Geral da União, Presidente do BACEN. porque o STJ já decidiu que é o TRF.
- Comandantes Militares: marinha, exercito e aeronáutica.
- Representante diplomático. 2º Grupo:
- Deputados estaduais e Prefeitos: pela prática de crimes
c) 1º escalão do Poder Judiciário da União: federais;
- E as autoridades estaduais, como secretários de estado que,
- Ministros do STF, de acordo com a CE, são julgadas originariamente pelo TJ?
- Ministros do STJ, TST, TSE e STM. Ex. O MPF/TO ajuizou uma busca e apreensão contra
- PGR: é o único membro do MP julgado originariamente pelo secretário do estado do MA, quem decidiu foi um juiz federal.
STF. O secretário de estado se defendeu falando que o julgamento
dele é pelo TJ e já que trata de crime federal, ele deveria ser julgado pelo
TRF.
No inquérito policial 2051-6/GO, o STF reconheceu que o
Autoridades julgadas originariamente pelo STJ:
secretário de estado guarda relação simétrica com o ministro de estado.
Sendo assim, o secretário de estado que pratica crime federal será
☺art. 105, I, a, CR: julgado pelo TRF.

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
Autoridades julgadas originariamente pelo TJ:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito
Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos 1º Grupo:
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais 1- Juiz de direito;
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os 2- Promotor de justiça.
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Pela prática de todos os crimes, menos crimes eleitorais. Por
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; estes, eles serão julgados pelo TRE.
Obs.: Juiz de direito que comete crime federal, segundo o STF,
ele será julgado sempre pelo TJ, salvo crime eleitoral que será pelo TRE.

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2º Grupo:
1- Prefeitos; 4ª Fase – Competência Criminal da Justiça Federal:
2- Deputado Estadual.
Pela prática de crimes estaduais.
Aqui, aplica-se a súmula 702 do STF: A competência do Obs.: O primeiro grau de jurisdição federal foi criado pela lei
Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos restringe-se aos crimes de 5010/66. Até 1966 só existia justiça federal em segundo grau de
competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a jurisdição que era o extinto TFR.
competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.. Obs.: Há discussão para criação de mais quatro TRF para que
haja a descentralização da justiça federal.
3º Grupo: De acordo com o art. 109, IV da CR, a justiça federal julga
1- Outras autoridades elencadas na CE. crimes praticados em detrimento de serviços, bens ou interesses da
O art. 125, § 1º, da CR permite que a CE oferte competência União e pessoas jurídicas ligadas a ela.
para o TJ. Ex. vice-governador, procurador geral do estado, secretário de
estado, procurador do estado. → Divisão doutrinária da competência da justiça federal em dois
Obs.: AS CE dos estados do PI e RJ afirmam que vereador é grupos:
julgado originariamente pelo TJ. E o STF disse que isso é constitucional.
Obs.: Na CE/GO, há procurador do estado e defensor público
com foro no TJ. E delegado de polícia. 1º GRUPO:
O STF na ADI 2857 entendeu que a CE/GO era
inconstitucional na parte em que ofertava competência do TJ para julgar - Competência criminal geral da justiça federal (art. 109, IV
delegado de polícia, porque esta autoridade não guarda simetria com as da CR):
anteriormente citadas.
☺Súm. 721 do STF: A competência constitucional do Tribunal 1.1) Crimes praticados em detrimento (prejuízo) econômico ou
do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido moral das seguintes pessoas jurídicas:
exclusivamente pela Constituição estadual.
Se a competência estiver somente na CE e o crime praticado a) União: pessoa jurídica de direito público interno, pessoa
for o doloso contra a vida, deve ser julgado pelo Tribunal do júri. O jurídica com capacidade política. Quando a CR fala em União, ela está se
tribunal do júri está previsto na CF, por isso, prevalece sobre a previsão referindo ao legislativo (CN), executivo (presidência da república e
da CE. ministérios) e judiciário da União.
Ex. uma arma do MPU é um bem da união.
b) Empresas públicas: está previsto no DL 267. Na lei criadora
da empresa pública, há a definição dos seus bens, serviços e interesses.
3ª Fase – Competência das Justiças Especiais ou Especializadas: Ex. CEF, CONAB, INFRAERO.
Obs.: Banco do Brasil e Petrobrás são sociedades de
economia mista e não empresas públicas.
Justiça do trabalho: c) Autarquias: os interesses da autarquia se encontram
relacionados na lei de regência. Na lei criadora da autarquia, há a
definição dos seus bens, serviços e interesses.
A Justiça do trabalho não possui competência criminal. No - Fundação públicas federais. Ex. FUNAI e fundações
entanto, a partir da EC 45/04, em razão da alteração do art. 114 da CR, mantenedoras das Universidades Federais.
alguns juízes do trabalho passaram a entender que a EC 45 havia lhes - Autarquia em sentido restrito. Ex. IBAMA, INCRA, INSS,
ofertado competência criminal. Ex. crimes contra a organização do Banco Central, CAD.
trabalho, trabalho escravo. - Autarquias especiais. Ex. Agências reguladoras.
O STF julgou uma ADI 3684, manejada pelo PGR. O STF deu - Conselhos profissionais. Ex. OAB (autarquia sui generis),
uma interpretação conforme a CR ao art. 114, IV, ao decidir que a justiça CRM.
do trabalho não possui competência criminal. Obs.: Para fins penais, esses conselhos profissionais são
O HC previsto no art. 114, IV da CR tem natureza de ação autarquias especiais.
penal de natureza constitucional de rito especial e sumaríssimo. Obs.: O STF já decidiu que os conselhos profissionais são
Conclusão: a justiça do trabalho julga ação penal (HC), mas autarquias para fins penais.
não ação penal condenatória, porque não tem competência criminal. O
HC pode ser declaratório ou constitutivo, mas não condenatório. Trilogia da competência criminal federal (art. 109, IV):
I) Bens: estão previstos no art. 20 da CR (rol exemplificativo)
II) Serviços: são as suas atribuições legislativas e
Justiça eleitoral: administrativas previstas no art. 21 e 22 da CR (decorrem da
competência material e legislativa).
A justiça eleitoral julga os crimes eleitorais previstos no código III) Interesses: decorrem da realização das suas atribuições. Os
eleitoral. Crimes eleitorais são os praticados durante o processo eleitoral. interesses não estão taxativamente em um artigo, decorre da
Praticado crime comum e eleitoral em conexão, ambos serão competência da União.
julgados pela justiça eleitoral, porque pelo CPP, prevalece a justiça
especial (foro atrativo). Salvo se o crime comum for doloso contra vida. 1.2) Crimes ambientais (lei 9605/98):
Neste caso, separam-se os julgamentos.
Obs.: Falsificação de título de eleitor não é crime eleitoral e sim O art. 4º da lei 9605 foi vetado pelo Presidente da República,
federal. porque falava que todos os crimes ambientais eram de competência da
TSE: não possui competência para julgar originariamente União.
nenhuma ação penal condenatória.
TRE: julga originariamente pela prática de crimes eleitorais, as a) Em detrimento da fauna:
autoridades que possuem foro por prerrogativa de função junto ao TJ ou
ao TRF. Ex. juiz federal que comete crime eleitoral será julgado pelo 1- Fauna silvestre nacional:
TER, mas se o crime for comum ele será julgado pelo TRF. É aquela em que a espécie animal tenha um instante da sua
vida natural livre no território nacional. Ex. Lobo guará, jacaré de papo
amarelo.
Obs.: Há um pelicano que é do Canadá e durante a sua rota
Justiça militar: migratória para a Patagônia, ele passa pelo pantanal mato-grossense,
por isso ele faz parte da fauna silvestre nacional.
A competência está prevista na lei 8457/92. E os crimes Regra: competência da justiça estadual (a súmula 91 do STJ
militares estão previstos no DL 1001/69 (CPM). foi cancelada). Motivo: o art. 23 da CR diz que compete aos estados
STM: julga oficiais e generais originariamente. membros a preservação do meio ambiente.
Obs.: Os comandantes das forças armadas são julgados Exceção: será federal se o animal da fauna silvestre for um
originariamente pelo STF. bem da União. E ocorrerá isso, quando se encontrar em unidade de
Auditoria militar: preservação federal. Ex. terras indígenas (o acessório, que é o animal
- Conselho permanente: julga não oficiais das forças armadas segue o principal que são as terras federais). Ex. parques nacionais
(praças, e civis). (bens da União).
- Conselho especial: julga oficiais das forças armadas. Obs.: Animais da fauna silvestre em extinção, os crime
praticado em detrimento deles é da competência da justiça federal, uma
36
vez que há interesse da União em preservá-los, de acordo com a lista Só será da competência da justiça federal, se o servidor
feita pelo IBAMA. praticou crime no exercício da função federal.
Obs.: A baleia (fauna epitológica) que se encontrar no mar A atribuição da polícia federal (art. 144, § 1º da CR) é mais
territorial federal será bem da União. abrangente que a competência da justiça federal.
Fauna espeológica: ex. morcego. O morcego vive em cavernas Ex. polícia federal investiga o tráfico internacional de drogas.
e estas são bens da União. Ex. quadrilha que rouba bancos em três Estados da federação,
Fauna icteológica: peixes. Em geral compet~encia da justiça a repressão a esse crime deve ser uniforme, o crime é estadual, mas
estadual, mas se estiver em rio federal ou no mar territorial brasileiro será quem investiga é a polícia federal.
competência da justiça federal. Ex. um juiz de direito expede mandado de prisão contra um
traficante. A competência é da justiça estadual, porque ele se encontrava
2- Animais exóticos: no exercício da função estadual.
São aqueles não pertencentes à fauna silvestre nacional. Ex. Obs.: Mesmo que o servidor seja federal, se ele não cometeu
zebra, elefante, urso polar. Eles são encontrados em circo ou zoológico, crime no exercício da função federal, ele será julgado pela justiça
mas não fazem parte da fauna silvestre nacional. estadual. Ex. servidor federal que matou uma pessoa no dia do natal, por
Regra: competência da justiça estadual. motivo fútil (competência da justiça estadual).
Exceção: será da justiça federal se forem bens da União. Se o servidor federal for vítima de crime praticado em razão do
exercício da função, competirá à justiça federal.
3- Animais domésticos:
Regra: competência da justiça estadual.
Exceção: será da justiça federal se forem bens da União.

b) Em detrimento da flora: Casos que demonstram o interesse da justiça federal:

Regra: a competência é da justiça estadual. - União tem interesse em uma testemunha e esta foi morta =
Exceção: se forem praticados em bens da União. Ex. unidades competência da justiça federal (crime praticado em detrimento de
de conservação federal (parques nacionais, reserva ecológica, reserva interesse da União).
biolótica, terras indígenas e etc. - Cidadãos que não são servidores públicos, mas
Art. 225, § 4º da CR: temporariamente exercem função federal. Ex. padre jesuíta espanhol que
1ª corrente: patrimônio nacional = bem da União = competência veio para o Brasil por interesse da FUNAI. Se esse padre for vítima de
para julgar crimes ambientais nesses biomas são da justiça federal homicídio, a competência será da justiça federal.
(posição minoritária). - Ex. cidadão quer matar um membro do MPF em razão do
2ª corrente: patrimônio nacional = proteção de todos, pois exercício de suas funções e ocorre aberratio ictus, ou seja, o agente
perpassam mais de uma unidade federada. O caput do art. 225 reforça acaba matando um terceiro, que não é servidor público federal. A
essa idéia, pois afirma que o meio ambiente é do bem de todos = competência neste caso é controvertida. Para Rogério Sanches, a
competência da justiça estadual (posição majoritária). competência será da justiça estadual e para Pedro Taques será da
Veja-se que dentro desses patrimônios nacionais podem haver justiça federal.
unidades de conservação, o que desloca a competência para justiça A empresa brasileira de correios e telégrafos é uma empresa
federal. pública federal. Os crimes praticados contra esta empresa será da
Obs.: Os lagos da hidrelétrica pertencem à União. Os crimes competência da justiça federal.
ambientais que acontecem em detrimento dos lagos da hidrelétrica, será - Crime praticado em prejuízo das agências franqueadas dos
de competência da justiça federal. correios a competência será de quem?
Se o impacto ambiental já existia antes da construção da usina Da justiça estadual, porque no contrato de franquia vem
hidrelétrica, a competência será da justiça estadual. estabelecido que quem arcará o prejuízo econômico será o franqueado.
Ex. um ladrão entra na empresa de correios e subtrai um
telefone celular que pertence a essa agência, a competência será da
2º GRUPO: justiça estadual, porque o bem será do franqueado. Agora se o que for
subtraído forem os selos postais, a competência será da justiça federal,
- Competência criminal específica, especial da justiça porque é um bem federal da empresa de correios e telégrafos.
federal ou casuística constitucional. Obs.: Se a correspondência da empresa dos correios for
subtraída, a competência será da justiça federal, porque trata de serviço
Matérias excluídas da Justiça Federal: federal.
Art. 273, § 1º do CP = pessoa que foi presa em flagrante
- Contravenção penal: entrando no Brasil com remédios e caixas de remédios falsificados que
Obs.: Há exceção não em razão de prerrogativa de função e iria transportar para o Paraguai. Pena: 10 anos de reclusão.
sim de privilégio, em razão da pessoa. Ex. juiz federal que comete Obs.: O aeroporto é território nacional, mas este cidadão não
contravenção penal será julgado pelo TRF. cometeu crime algum, porque esse cidadão não teve acesso à bagagem,
Obs.: Havendo conexão entre contravenção penal e crime e esta seria transportada para outro país e não tinha como destino o
comum, haverá a separação dos processos. Brasil.
- Atos infracionais: O fato de o crime ter sido praticado dentro de autarquia ou
Haverá separação de processos. Atos praticados por menores empresa pública federal, não é o bastante para fixação da competência
de 18 anos. da justiça federal.
- Crimes militares: Ex. um cidadão que é roubado dentro da caixa econômica
Há uma justiça própria para isso. federal, a competência é da justiça estadual, porque o crime não foi
- Crimes eleitorais: contra bem ou interesse da justiça federal e sim do cidadão. Mas, nada
Há uma justiça própria para isso. impede que o cidadão invoque a responsabilidade aquiliana da CEF.
Ex. SUS =AIH (autorização para internação hospitalar). O
médico recebe essa autorização. Se o médico receber essa AIH e ainda
(16/12/09) assim cobrar para atender pelo SUS, a competência será da justiça
estadual, porque não houve crime contra bem ou interesse da União.
Ex. Prefeito que comete crime será julgado pelo TJ (em regra).
Se o crime for federal será julgado pelo TRF (súmula 702 do STF).
Crimes praticados por servidor público ou contra servidor Ex. A União repassa para os Municípios recursos em razão de
público federal: convênio (contrato administrativo). Se o prefeito desvia esta verba
federal, o crime será federal ou estadual?
Depende. Há duas súmulas sobre o assunto:
Crimes praticados pro servidor público e contra servidor
público: Súm. 208 do STJ: compete à justiça federal processar e julgar
Funcionário público, segundo o art. 374 do CP, o funcionário prefeito por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão
não é um bem da União, mas desempenha um serviço da União e, federal.
portanto, a União tem interesse nesse servidor público. Se o prefeito tem que prestar contas para órgão federal daquela verba =
competência da justiça federal (crime federal: o interesse da União foi
Art. 109, IV, da CR: prejudicado).
Crime praticado por servidor público no exercício da
função: tem que se demonstrar o nexo entre o crime praticado e o
exercício da função.
37
Súm. 209 do STJ: compete a justiça estadual processar e Depois que o animal entrou no território, havendo crime contra
julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao a fauna exótica, a competência será da JE.
patrimônio do Município.
Existe uma decisão do STF do ano de 2009, que não aplica a
súmula 208. Para o STF mesmo que o prefeito deixe de prestar contas Competência Criminal Específica, Especial ou Casuística
ao órgão federal, a competência desse crime será da justiça estadual. Constitucional:
Não é o bastante para acarretar a competência da justiça federal.

→ Síntese das principais situações a serem lembradas: 1- Crimes políticos:


A justiça federal julga crimes políticos (art. 109, IV da CR).
1 - Padre espanhol vem ao Brasil auxiliar na demarcação de
uma reserva indígena. Em razão da qualidade do trabalho desse padre, a - O que são crimes políticos?
Funai o nomeou como membro do grupo de trabalho. A Funai é autarquia 1ª corrente (Vicente Greco Filho): não há no Brasil nenhum
federal, logo, há sobre o padre interesse federal. Se ele for vítima de tipo que se encaixe como crime político.
crime, o crime é federal, ainda que o padre não seja servidor público 2ª corrente (Pacelli, Nucci e Mirabete): crimes políticos são
federal. os tipos penais previstos na lei 7170/83 (lei de segurança nacional).
A atribuição da polícia federal é mais abrangente do que a 3ª corrente (STF): alguns dos dispositivos desta lei foram
competência criminal da JF. recepcionados pela CR/88. E estes seriam crime político.
A atribuição da PF se encontra no art. 144, §1o. Obs.: Antes da CR/88 o julgamento desses crimes era da
Tendo em conta esse fato, a PF, muitas vezes desempenha justiça penal militar. Após a CR/88 a competência passou a ser da justiça
suas funções voltadas para a Justiça Estadual. federal.
2 – Policial Federal que investiga tráfico de drogas, que, se for Obs.: Contra a decisão que condena por crime político, só cabe
nacional, será de competência da JE. recurso ordinário constitucional ao STF (art. 102, II, b, da CR), não cabe
3 - Crimes que mereçam uma investigação uniforme devem apelação.
ser investigados pela PF. Um roubo de banco, por exemplo, em 3 As ações do MST não são ações típicas, adequadas à lei 7170.
cidades diferentes, mas nas mesmas circunstâncias. A investigação deve Estas ações não são crimes políticos, tratam-se de movimentos sociais.
ser uniforme. Ainda que investigado pela PF, o inquérito deve ser Ex. pessoas que invadiram e depredaram a câmara dos
remetido para a Justiça Estadual. deputados. Membros do MPDFT denunciaram esses agentes com base
4 - Se um policial federal, no exercício da função, cometer ou na lei 7170. Conclusão: apesar de as ações do MST, não serem crimes
sofrer um crime, em regra, a competência é da JF. políticos, poderá configurá-los, dependendo do caso.
No entanto, se o policial cometer ou for vítima de um crime no Obs.: O art. 20 da lei 7170 prevê sobre atos de terrorismo.
exercício de função estadual, o a competência será da justiça estadual. Terrorismo: defesa, proselitismo de idéias políticas ou
5 - Policial federal caminhando em uma área pertencente à religiosas através da utilização da violência e da expansão do medo.
universidade federal. Esse policial é roubado. O objeto da subtração Duas espécies de terrorismo: religioso e político.
foram os bens do próprio policial, que não estava no exercício de função. Obs.: Alguns autores entendem que há o terrorismo social. Ex.
Assim, a competência será da Justiça Estadual. PCC.
Se a arma subtraída for pertencente à União, será crime A CR no art. 5º. XLIII tem um mandado expresso de
julgado pela JF. criminalização. A CR manda que haja um tipo penal chamado de
6 - Se um policial federal está sendo ameaçado em razão do terrorismo.
exercício de sua função. Um dos ameaçadores fica esperando o policial Capez: acha que o terrorismo está caracterizado no art. 20 da
sair da delegacia para matá-lo. O matador, querendo matar o PF, acerta lei 7170/83. Este artigo teria sido recepcionado pela CR.
em cidadão transitando pela porta da delegacia. STF: entende que não há tipo penal para terrorismo e que o
Trata-se de aberratio ictus. art. 20 da lei 7170 não foi recepcionado pela CR.
O prof. Renato Brasileiro entende que a competência será da
justiça estadual, pois critérios para determinação de competência não 2- Crimes previstos em tratado ou convenção internacional
podem levar em conta critérios subjetivos. (art. 109, V da CR):
O prof. Pedro Taques não concorda. Ele acha que a Há o chamado crimes à distância ou de espaço máximo. Para
competência é da JF, pois houve ofensa ao interesse federal. que exista este crime à distância deve haver dois requisitos:
O fato de um crime ter sido cometido dentro de um a) Crime esteja previsto em tratado ou convenção
estabelecimento da administração federal não é o bastante para levar a internacional.
competência para a JF. b) Comprovação da internacionalidade: existência de uma
7 - O MST ocupou a fazenda do FHC, quando ele era relação entre a conduta e o resultado em mais de um Estado. O próprio
presidente. O bem não era da União, não ofendeu interesse da União. inciso V do art. 109 faz menção a essa internacionalidade ao dizer
8 - A ECT é empresa pública federal. Os correios possuem “quando iniciada a execução no país, o resultado tenha ou devesse ter
várias agências franqueadas. A ECT faz um contrato de franquia com ocorrido no estrangeiro ou reciprocamente”.
essas empresas. Nesse contrato existem cláusulas que dizem que quem Ex. tráfico internacional ou transnacional de drogas. Ex. tráfico
sofre o prejuízo econômico é o franqueado, é ele quem arca. de pessoas (art. 231 do CP). Ex. pornografia infantil através da rede
Se um cidadão vai na agência e subtrai os bens ali existentes: mundial de computadores. Ex. subtração de carros submarinos. São
a competência será da justiça estadual se os bens pertencerem ao crimes de competência da justiça federal, porque fica caracterizada a
franqueado. internacionalidade.
Por sua vez, se pertencerem à União (ex: selos postais), a
competência será federal. Art. 109, VI da CR:
9 - O SUS é administrado pelos Estados e Municípios. Existe o a) Crimes contra a organização do trabalho: só será de
Fundo Nacional de Saúde que arrecada valores e repassa para os competência da justiça federal se os direitos dos trabalhadores for
Estados e Municípios. Os médicos que desempenham atribuições junto atingidos coletivamente. Se for de forma individual, será de competência
ao SUS, recebem através de Autorização de Internação Hospitalar (AIH). da justiça estadual (súmula 115 do antigo TFR).
Essa AIH segue uma tabela – cada procedimento corresponde Trabalho escravo não é crime contra a organização do
a um valor. Os médicos reclamam muito porque o valor da tabela é muito trabalho, mas é de competência da JF, pois, no mais das vezes, há
baixo. conexão entre trabalho escravo e crime contra a organização do trabalho
Alguns médicos, além de receber a AIH, cobram por fora do (frustração de direitos trabalhistas).
paciente. Essa cobrança por fora é de competência da JE, pois não b) Crimes contra o sistema financeiro: nem todo crime
ofende bens, serviços e interesses da União. contra o sistema financeiro, a competência será da justiça federal. Só
10 - Crimes praticados em detrimento de interesses, bens e será dessa justiça, se a lei estabelecer se o crime contra o sistema
financeiro será da justiça federal.
serviços de sociedade de economia mista é de competência da JE 
A CR fala do sistema financeiro a partir do art. 192 da CR. O
súmula 42 do STJ.
sistema financeiro é fiscalizado pelo BACEN.
Banco do Brasil é SEM.
A lei 7492/86, art. 26 diz expressamente que os crimes contra o
11 - Crimes financeiros são de competência da JF, mesmo que
sistema financeiro são de competência da justiça federal (a ação será
a instituição financeira seja uma sociedade de economia mista.
promovida pelo MPF).
12 - Animais exóticos: competência, em regra da JE.
Obs.: O Banco do Brasil é uma sociedade de economia mista
Importação de animais exóticos – necessita de autorização do
federal. Portanto, os crimes contra bens e interesses dele será de
Ibama, que é autarquia federal. Se o animal entra no território nacional
competência da justiça estadual.
sem essa autorização do Ibama, a competência é da JF, pois há
Obs.: Se o crime estiver previsto na lei 7492, não importa a
interesse federal.
natureza jurídica da instituição que o crime será de competência da
38
justiça federal, podendo ser mesmo contra o banco do Brasil. O que está a) Crimes de ingresso ou permanência irregular de
se considerando é a matéria e não a pessoa prejudicada. estrangeiro.
Essa Lei, em seu art. 26, diz que, nos crimes nela previstos, a
ação será promovida perante a JF. A Lei protege a segurança do Expulsão: só estrangeiro pode ser expulso, pois não há pena
sistema. O bem jurídico tutelado é a higidez do sistema financeiro. Este de banimento no Brasil. Estrangeiro adentra no território nacional e aqui,
sistema é composto de instituições financeiras. em regra, comete crime.
A Lei, em seu art. 1o, define o que é instituição financeira: Ele é preso, processado, condenado, em regra, termina de
cumprir a pena, e aí será expulso.
Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa Para ser expulso, tem que cometer crime.
jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade principal Uma vez expulso, não pode mais ingressar no território. Se o
ou acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou fizer, comete crime.
aplicação de recursos financeiros (Vetado) de terceiros, em moeda Pode ocorrer de a sua expulsão ser cancelada.
nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição,
negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários. Expulsão Deportação
Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira: O estrangeiro adentra no território O estrangeiro ingressa no
I - a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, nacional e comete um crime, ele será território nacional violando um
capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros; preso, processado, condenado e regra administrativa. Não
II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste depois, quando, em regra, termina de comete crime.
artigo, ainda que de forma eventual. cumprir a pena será expulso to O estrangeiro será notificado
território nacional. para deixar o território
Ex. gestão fraudulenta (art. 4º da lei 7492): gerir OBS: Só o estrangeiro pode ser nacional, e se não deixar
fraudulentamente instituição financeira. expulso, porque no Brasil não há pena voluntariamente será
O art. 1º da lei 7492 define o que seja instituição financeira. de exílio ou banimento. deportado.
Ex. gerente do banco do Brasil que faz um empréstimo para O estrangeiro expulso não pode mais OBS: A deportação não
uma pessoa, sabendo que ela não tem recursos para pagar, e faz em voltar ao território nacional, se ele impede a volta do cidadão. Se
razão de amizade. O gerente comete crime contra o sistema financeiro. reingressar no território nacional, ele ele voltar, não cometerá crime.
Pessoa jurídica de direito público ou privado: a instituição pode comete outro crime e este é de
ostentar várias naturezas jurídicas. É possível instituição financeira competência federal.
empresa pública, sociedade de economia mista, particular.
Assim, o que interessa não é a natureza jurídica da instituição. Deportação: estrangeiro entra no território nacional e comete
Ex: crime contra o BB é da competência da JF, em razão dele ilícito administrativo. Ex: trabalha com visto de turista.
ser uma instituição financeira, e não porque é uma SEM (já que JF não O deportado pode voltar ao território nacional, desde que
julga SEM). regularize sua situação.

O art. 1o da lei também define as atividades típicas de uma Extradição: em regra não comete crime algum no território
instituição financeiras. Essas atividades só podem ser desempenhadas nacional. Ele aqui adentra e existe um mandado de prisão expedido por
com autorização do Bacen. outro Estado contra ele.
Empresa de factoring não exerce atividade típica de instituição O estrangeiro é preso e será extraditado.
financeira, logo, dispensa essa autorização. Se a empresa começar a Quem decide sobre a extradição é o STF.
captar recursos de terceiros. Cidadão tem recurso de caixa 2, dá para a No caso Batisti, durante o curso do processo de extradição, ele
empresa de factoring que empresta esse dinheiro para um terceiro. requereu ao CONARE (Comitê Nacional de Refugiados) que lhe
Essa conduta é ilegal e tem previsão art. 16 da Lei 7492, logo, garantisse o status de refugiado.
será de competência da JF. O CONARE disse que ele não preenchia as condições para ter
Casa de câmbio precisa de autorização do Bacen. esse status.
Manter dinheiro fora do território nacional não é crime. O que é Batisti recorreu administrativamente para o Ministro da Justiça,
crime é não comunicar às repartições públicas competentes sobre essa que deu provimento ao seu recurso administrativo, ofertando-lhe a
realidade – art. 22: competência da JF. qualidade de refugiado.
Cidadão quer cultivar soja e vai ao Banco do Brasil pedir Pergunta: O status de refugiado impede a extradição?
empréstimo. O BB faz um financiamento para safra agrícola. ☺art. 5o, LII, da CR: não será concedida a extradição de
A pessoa compra um apartamento com esse dinheiro. Os estrangeiro por crime político ou de opinião.
fiscais do Banco descobrem que o cidadão não aplicou nenhum centavo
com o cultivo da soja – art. 20. Refúgio Asilo
Nesse caso, considerando-se que o bem jurídico de
Concedido tutelado
forma évinculada
o pelo CONARE. O requerente O ato de concessão é discricionário.
sistema financeiro, a competência para julgar é da JF. preencher os requisitos legais.
deve
Diferenças: Em regra é concedido para perseguições coletivas. Concedido em razão de perseguições pessoai
Possui finalidade política (proteção em razão d
Empréstimo Financiamento
Não tem finalidade própria. A Deve ter uma finalidade própria (ex.: cultivar O STF entendeu, por 5 votos a 4 que o italiano não ostentava
pessoa pode gastar o dinheiro soja). Se houver o desvirtuamento dessa qualidade para ser refugiado, portanto o processo de extradição
como ela quiser. finalidade comete-se o crime previsto no art. 20 continuou.
da lei 7492. O Supremo decretou a extradição, pois Batisti não preencheu
as condições para o refúgio.
Obs.: Empresa de factoring não pode emprestar dinheiro, sob Na discussão da matéria, o Supremo fez a seguinte indagação:
pena de cometer o crime do art. 16 da lei 7492. Motivo: não há se o STF determina a extradição, o PR está obrigado ou não a
autorização do BACEN. A empresa de factoring só pode comprar títulos extraditar? Por 5 votos a 4, o STF entendeu que a última palavra na
de crédito. extradição é do PR como chefe do Estado.
Ex. manter dinheiro fora do território nacional sem dar ciência Se o STF afirma que não é caso de extradição, o PR não pode
às autoridades brasileiras configura crime de evasão de divisas (art. 22 extraditar.
da lei 7492). Se o STF afirma que é caso de extradição, o PR pode decidir
se extradita ou não.
Art. 109, IX, da CR:
a) Crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves, Art. 109, XI da CR:
ressalvada a competência da Justiça Militar. a) Disputa sobre direitos indígenas:
Navio: espécie do gênero embarcação. Navio é uma O índio não é bem da União e sim sujeito de direitos.
embarcação de grande calado, que pode navegar maritimamente. O índio é tutelado pela FUNAI, através do estatuto do índio (lei
Aeronave: aparelho que possui instrumentos mecânicos ou de 6001/76).
outra ordem que sobrevoam. Aeronave deve ter navegabilidade própria. - Crimes praticados por índio e contra índio, de quem será
Mesmo se a aeronave estiver aterrissada, se o crime foi praticado em a competência?
seu interior, a competência é federal. Segundo o STF, em regra é da competência da justiça estadual
Obs.: Balão é aeronave para fins do art. 109, IX da CR. (Súm. 140, STJ). Só será de competência federal nos casos em que for
Portanto, crime no balão o crime é de competência federal. possível a ligação do art. 109, XI com o art. 231 da CR. Para ser da
Submarino: também é competência da JF. competência da justiça federal deve ter ligação com as suas crenças,
costumes e as terras que eles ocupam.
Art. 109, X da CR: Ou seja:

39
- Se a conduta não tiver uma conotação especial, se não Direitos humanos são posições jurídicas necessárias à
revelar o interesse de ofender a coletividade indígena, a competência é concretização da dignidade da pessoa humana.
da JE. A expressão “direitos humanos” devem ser utilizados na ordem
- Se o crime praticado por índio ou contra índio ofender um dos internacional.
interesses protegidos pelo art. 231, a competência será da JF. Os direitos humanos positivados em uma Constituição
Assim, deve-se entender o art. 109, XI em conjunto com o art. recebem o nome de “direitos fundamentais”.
231 da CR. Direitos fundamentais materialmente considerados –
Conceito Material: são aquelas posições jurídicas essenciais à
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, concretização da dignidade da pessoa humana.
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que Direitos fundamentais formalmente considerados –
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e Conceito Formal: são os direitos humanos positivados em uma
fazer respeitar todos os seus bens. Constituição.
§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles
habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades
produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais
necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e
cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a
sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas
do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
§ 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais
energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras
indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso
Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada
participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
§ 4º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e
os direitos sobre elas, imprescritíveis.
§ 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo,
"ad referendum" do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou
epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da
soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido,
em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.
§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que
tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se
refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios
e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da
União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a
nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União,
salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de
boa fé.
§ 7º - Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e §
4º.

Ex. crime contra índio em virtude de disputa de terras


indígenas = competência federal.
Obs.: O índio pode ser autor de crime. Mas, se um laudo
antropológico concluir que o laudo não tinha capacidade de entender a
ilicitude daquela conduta, ele será inimputável.
Obs.: O fato de a pessoa ter mestrado, doutorado, ele não
deixa de ser índio, desde que ele tenha ligações com as suas crenças,
culturas e terras. A pessoa não precisa estar vestida como índio para
caracterizar índio.
Obs.: Quem define a capacidade do índio não é o juiz e sim o
laudo antropológico.

Lavagem de dinheiro: lei 9613/98


Regra: é de competência da justiça estadual.
Exceção: Só será competência federal, se o crime
antecedente também for de competência da justiça federal.
Obs.: Se houver conexão entre um crime federal e um
estadual, prevalece a competência da justiça federal.
Súm. 122 do STF: compete a justiça federal o processo e
julgamento unificado os crimes conexos de competência federal e
estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, DO CPP.
Motivo: a competência da justiça federal é expressa na CR, e a estadual
é remanescente.

Incidente de Deslocamento de Competência:

☺art. 109, V-A: compete à Justiça Federal julgar as causas


relativas à direitos humanos a que se refere o §5o do art. 109.

Art. 109, § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o


Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de
direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal

O único legitimado para suscitá-lo é o PGR.


É julgado pelo STJ.

O que são direitos humanos que fundamentam o IDC?


40
(14/10/09) – prof. Marcelo Novelino Segundo o STF, a natureza da inviolabilidade penal é de causa
excludente da tipicidade.
A imunidade vale também para palavras, votos e opiniões
GARANTIAS DO PODER LEGISLATIVO: proferidas fora do recinto legislativo (fora do Congresso Nacional). Não
vale apenas para dentro do recinto.
Mas se as palavras, votos ou opiniões tiverem sido proferidas
dentro do CN, não precisam ter qualquer conexão com a atividade
parlamentar. Qualquer palavra, voto ou opinião, se proferidos dentro do
Introdução: recinto legislativo, automaticamente estão encobertos pela imunidade.
Caso as palavras, votos ou opiniões sejam proferidos fora da
São garantias concedidas não ao indivíduo, à pessoa do Casa Legislativa, ai então para que sejam abrangidos pela imunidade,
parlamentar, mas ao órgão Legislativo, com a finalidade de preservar a eles terão que guardar uma conexão com a função legislativa.
sua liberdade, autonomia e independência.
Elas são irrenunciáveis. Os parlamentares não podem abrir Uma decisão importante do STF com relação à imunidade
mão, nem mesmo se desejarem, dessas garantias. material é no sentido de que ela se estenda a matérias publicadas pela
A partir de que momento essas garantias começam a ser imprensa. Assim, reportagens jornalísticas sobre questões acobertadas
válidas? pela imunidade também ficam imunes à responsabilização civil e penal.
Todas as garantias (imunidade formal, material e prerrogativa Outra jurisprudência importante sobre este tema é no sentido
de foro) que veremos aqui têm início no mesmo momento: o termo inicial de que se num bate-boca, a pessoa que responde imediatamente ao
das garantias ocorre com a diplomação (e não com a posse). A parlamentar também fica imune à responsabilização civil e penal. Mas o
diplomação é um momento anterior à posse do parlamentar. Se STF deixou claro que a resposta precisa ser imediata, no calor do
pudéssemos fazer um paralelo, seria como a nomeação do servidor debate. Ai tanto o parlamentar quanto a pessoa que respondeu de forma
público (que ocorre antes da sua posse). imediata à injúria, calúnia ou difamação ficam imunes.
O fim dessas garantias, por sua vez, ocorre com o término do
mandato, ou com uma eventual renúncia do parlamentar.
Pergunta: se o parlamentar se afasta da sua função para Imunidade Formal:
exercer outro cargo, ele mantém a sua imunidade?
☺Súm. 04, STF: É também conhecida pela expressão inglesa “freedom from
arrest”.
“Não perde a imunidade parlamentar o congressista nomeado Ministro Alguns autores a chamam de imunidade processual. O prof.
do estado”. diferencia a imunidade formal da imunidade processual. Segundo ele, a
imunidade formal tem dois aspectos: ela protege o parlamentar em
Esta súmula é bastante antiga e, após a CR/88, esse relação à prisão e em relação ao processo. Assim, a imunidade
entendimento foi alterado pelo STF. Portanto, a súmula encontra-se processual seria uma espécie do gênero imunidade formal.
cancelada, não se aplica mais. A imunidade formal tem uma diferença importante em relação à
Então hoje, se o parlamentar se afasta da sua função para imunidade material: aqui na imunidade formal o parlamentar está
exercer outro cargo, durante esse período ele fica sem sua imunidade protegido em relação à prisão e em relação ao processo, mas ele
formal e sem sua imunidade material. responde (na imunidade material ele não responde).
Pergunta: o parlamentar que se afasta do seu cargo para Atenção: a imunidade formal só se aplica a atos ocorridos após
exercer outra função continua com a sua prerrogativa de foro? Não. Ele a diplomação.
perde as imunidades, mas mantém a prerrogativa de foro, mesmo que O STF é que é competente para julgar o parlamentar, mesmo
esteja exercendo outro cargo. Assim, ele deve ser processado e julgado que o crime tenha sido praticado antes da diplomação. Ou seja, a
perante o STF, mesmo enquanto afastado do cargo. prerrogativa de foro vale para crimes anteriores ou posteriores à
Sabemos que os senadores são eleitos com dois suplentes. diplomação. A imunidade formal não. Ela só vale para os crimes
Esses suplentes também têm imunidade? Tem prerrogativa de foro? ocorridos após a diplomação.
Não. Eles não têm nem imunidade e nem prerrogativa de foro (a não ser Esta imunidade significa que após a diplomação o deputado ou
que estejam exercendo efetivamente a função). senador não poderá ser preso, salvo em caso de flagrante delito de crime
inafiançável. Essa impossibilidade de prisão penal é em relação à prisão
☺Súm. 245, STF: penal cautelar. Se o parlamentar for condenado definitivamente, por
sentença com trânsito em julgado, ai ele poderá ser preso.
“A imunidade parlamentar não se estende ao co-réu sem esta Além da prisão penal de natureza cautelar, a imunidade
prerrogativa”. abrange também a prisão civil, que não será admitida (ex.: por
inadimplemento de pensão alimentícia).
Esta súmula trata do co-réu. Segundo ela, a imunidade só vale ☺art. 53, §2º, CR:
para o parlamentar. Ela não se estende ao co-réu que não exerça
atividade parlamentar. § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional
Esta súmula se refere à imunidade parlamentar. No caso da não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse
prerrogativa de foro, porém, é diferente. Se há um crime praticado por um caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa
parlamentar e por outras autoridades, havendo conexão, o julgamento respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva
será de competência também do STF. sobre a prisão. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de
2001)
Feita esta introdução, passemos ao estudo de cada uma das
imunidades e da prerrogativa de foro. No caso da prisão cautelar, em 24 horas terá que haver a
comunicação à Casa respectiva, para que pelo voto da maioria dos seus
membros, esta decida sobre a prisão. Atenção: isso só vale para a prisão
Imunidade Material: cautelar; no caso de condenação definitiva o CN não decidirá a respeito
da prisão. Isso não faria o menor sentido.
É chamada pela Constituição de inviolabilidade. São
expressões sinônimas. No caso da imunidade processual, a CR foi alterada pela EC
Temos também a expressão inglesa “freedom of speech”, que 35/01. Esta emenda alterou o princípio aplicável anteriormente. Antes
se refere também a esta imunidade. vigia o Princípio da Improcessabilidade. Este Princípio foi substituído pelo
É a inviolabilidade por palavras, votos e opiniões. Princípio da Processabilidade.
☺art. 53, CR: Antes dessa EC, um deputado ou senador só poderia ser
processado se houvesse a autorização da respectiva Casa. Só ai o STF
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, poderia processar e julgar.
por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. (Redação dada pela Com a EC 35 passou a ser da seguinte forma: o STF recebe a
Emenda Constitucional nº 35, de 2001) denúncia (por crimes praticados após a diplomação) e, assim que ele
receber a denúncia, ele dará ciência a Casa do parlamentar (Câmara dos
Antes da EC 35/01 não havia previsão expressa da Deputados ou Senado Federal, dependendo do caso). A Casa
inviolabilidade civil. Ela só passou a ser expressamente contemplada por respectiva, se houver a iniciativa de um partido político que tenha
esta emenda. No entanto, antes dessa emenda a própria jurisprudência representação, ele poderá pedir a sustação daquele processo.
do STF já reconhecia esta inviolabilidade civil. A Casa, diante da iniciativa daquele partido político, poderá,
Com relação à inviolabilidade penal, qual é a sua natureza? por maioria absoluta (+ de 50% dos membros da Casa), sustar o

41
processo, por ex, se entender que se trata de perseguição política contra Resumo do Livro do Pedro Lenza:
o parlamentar.
Enquanto o processo estiver suspenso, a prescrição também é Imunidades parlamentares são prerrogativas inerentes à
suspensa. Se não houvesse essa suspensão da prescrição, isso poderia função parlamentar, garantidoras do exercício do mandato parlamentar,
gerar uma impunidade. com plena liberdade. Segundo Michel Temer, garante-se a atividade do
Terminado o mandato, termina a prerrogativa de foro, o parlamentar para garantir a instituição. Conferem-se a deputados e
processo vai para o juízo competente, e o processo volta a tramitar senadores prerrogativas com o objetivo de lhes permitir desempenho
normalmente. livre, de molde a assegurar a independência do Poder que integram.
☺art. 53, §3º, CR: Referidas prerrogativas dividem-se em dois tipos:
a) imunidade material, real ou substantiva (também
§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime denominada inviolabilidade), implicando a exclusão prática de crime, bem
ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à como a inviolabilidade civil, pelas opiniões, palavras e votos dos
Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado parlamentares (art. 53, caput); e
e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, b) imunidade processual, formal ou adjetiva, trazendo regras
sustar o andamento da ação. (Redação dada pela Emenda sobre prisão e processo criminal dos parlamentares (art. 53, §§1º ao 5º).
Constitucional nº 35, de 2001) Em sua essência, as aludidas prerrogativas atribuídas aos
parlamentares, em razão da função que exercem, reforçam a
A sustação só pode ocorrer antes que tenha havido a decisão democracia, na medida em que os parlamentares podem livremente
definitiva. expressar suas opiniões, palavras e votos, bem como estar garantidos
☺§§ 4º e 5º: contra prisões arbitrárias, ou mesmo rivalidades políticas.
- Imunidade material ou inviolabilidade parlamentar:
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo Está prevista, como vimos, no art. 53, caput, CR. Tal imunidade
improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa garante que os parlamentares federais são invioláveis, civil e penalmente,
Diretora. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos, desde que proferidas
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o em razão de suas funções parlamentares, no exercício e relacionadas ao
mandato. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) mandato, não se restringindo ao âmbito do CN.
Quanto à sua natureza jurídica, alguns afirmam que é causa
excludente de crime, outros que é causa que se opõe à formação do
crime, causa funcional de isenção de pena, causa pessoal e funcional de
isenção de pena, causa de irresponsabilidade ou causa de incapacidade
penal por razões políticas. (Como vimos, segundo o prof., é causa de
exclusão da tipicidade).
Não importa a denominação que se dê, o importante é saber
que a imunidade material impede que o parlamentar seja condenado, na
medida em que há ampla descaracterização do tipo penal,
irresponsabilizando-o penal, civil, política e administrativamente
(disciplinarmente). Trata-se de irresponsabilidade geral, desde que, é
claro, tenha ocorrido o fato em razão do exercício do mandato e da
função parlamentar.
A imunidade material é sinônimo de democracia,
representando a garantia de o parlamentar não ser perseguido ou

42
prejudicado em razão de sua atividade na tribuna, na medida em que
assegura a independência nas manifestações de pensamento e no voto.
A prerrogativa de foro significa, pois, que o STF será o órgão
- Imunidade formal ou processual:
competente para processar e julgar os deputados e senadores, desde a
Esta imunidade, antes da EC 35/01, vinha sendo desvirtuada,
diplomação até o término do mandato ou a renúncia.
aproximando-se mais da noção de impunidade do que de prerrogativa
Ela vale para crimes praticados antes ou depois da
parlamentar, o que motivou a sua alteração.
diplomação.
Ela está relacionada à prisão dos parlamentares, bom como ao
A prerrogativa de foro, segundo o STF, abrange também a
processo a ser instaurado contra eles. Os parlamentares passam a ter
tramitação do inquérito policial. Ele também tem que tramitar perante o
imunidade formal para a prisão a partir do momento em que são
STF, portanto.
diplomados pela Justiça Eleitoral, portanto, antes de tomarem posse (ato
Se o IP não tramitar perante o STF, qual o remédio cabível
público e oficial através do qual o senador ou deputado se investiria no
para restabelecer a autoridade do STF? O remédio cabível e a
mandato parlamentar). A diplomação nada mais é do que atestado
Reclamação.
garantindo a regular eleição do candidato. Ela ocorre antes da posse,
Pergunta: Após o término do mandado o STF continua sendo
configurando o termo inicial para a atribuição da imunidade formal para a
competente? Ocorre o fenômeno da perpetuatio jurisdictionis? Ou os
prisão.
autos voltam ao seu juízo de origem?
Segundo o art. 53, §2º, CR, desde a expedição do diploma, os
Os autos voltam ao seu juízo de origem.
membros do CN não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime
Até 25/08/99 prevalecia o entendimento exposto na Súm. 394,
inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de 24 hs à
STF, segundo o qual, mesmo que cessasse o mandato, a competência
Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros,
especial por prerrogativa de função permanecia com o STF. Através do
resolva sobre a prisão. A aprovação pela Casa é condição necessária
julgamento da questão de ordem no Inq.687-SP, o STF cancelou a Súm.
para a manutenção da prisão em flagrante delito de crime inafiançável. A
394, entendendo que a competência deixa de ser do STF, pois não existe
votação dos congressistas não será mais secreta, conforme regra
mais o exercício da função. A prerrogativa de foro não alcança aquelas
anterior à EC 35/01, mas através do voto aberto, implementando-se, por
pessoas que não mais exercem mandato ou cargo.
meio desta nova sistemática, a transparência que deve sempre imperar
Foi publicada a Lei 10.628/02, que, ao dar nova redação ao art.
nesse tipo de votação.
84, CPP, “ressuscitou” a já banida e execrada regra da perpetuatio
As regras sobre a imunidade formal para o processo criminal
jurisdictionis após o término do mandato das autoridades. Tratou-se de
dos parlamentares sofreram profundas alterações com a EC 35/01. Antes
regra retrógrada, ao manter o foro privilegiado para os crimes praticados
da aludida reforma, os parlamentares não podiam ser processados sem a
durante o mandato, e, também, flagrantemente inconstitucional, já que
prévia licença da Casa que, em muitos casos, não era deferida,
veiculada por LO e não por EC, ferindo, desta feita, o Princípio da
ocasionando situações de verdadeira impunidade. De acordo com a nova
separação dos poderes (apesar de que mesmo se tivesse sido
regra, então, oferecida a denúncia, o Ministro do STF poderá recebê-la
introduzida por meio de EC, esta regra seria inconstitucional por ferir o
sem a prévia licença da Casa parlamentar. Após o recebimento da
Princípio da isonomia, na medida em que trataria desigualmente pessoas
denúncia contra o senador ou deputado, por crime ocorrido após a
iguais, quais seja, ex-ocupantes de cargo ou função pública e cidadãos
diplomação, o STF dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de
comuns).
partido político nela representado e pelo voto da maioria absoluta de seus
Em razão da aludida lei, foram propostas as ADIs 2797 e 2860.
membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.
por maioria de votos (7x3), em 15/09/05, o Plenário do STF declarou a
O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no
inconstitucionalidade do foro especial para ex-ocupantes de cargos
prazo improrrogável de 45 dias do seu recebimento pela Mesa Diretora,
públicos e/ou mandatos eletivos (inf. 401/STF).
sendo que a sustação do processo suspende a prescrição, enquanto
Obs.: Os atos praticados pelo juiz de 1º grau, em caso de crime
durar o mandato.
praticado antes da diplomação, são válidos, não são nulos. Quando da
Pergunta: o pedido de sustação, então, poderá implementar-se
diplomação é que os autos vão para ao STF.
até a decisão final da ação penal movida contra o parlamentar (art. 53,
Terminado o mandado, portanto, voltam novamente os autos
§3º), ou no prazo improrrogável de 45 dias contados do seu recebimento
do processo para o juízo de origem. A prerrogativa de foro só vale até o
pela Mesa Diretora? As duas disposições devem ser harmonizadas, ou
término do mandato.
seja, a Casa respectiva tem até o final da ação penal para decidir, pelo
Atenção: mesmo que o réu já tenha sido um dia parlamentar,
quorum de maioria absoluta de seus membros, se suspende ou não a
não poderá alegar tal fato em caso de crime praticado após o
aludida ação penal. O pedido de sustação, pelo partido político, na
encerramento do mandato, não havendo, portanto, nesta situação,
respectiva Casa representado, poderá se implementar logo após a
competência por prerrogativa de função, conforme o disposto na Súm.
ciência dada pelo STF ou em período subseqüente, não havendo prazo
451, STF:
certo para tanto, já que a Casa terá até o trânsito em julgado da sentença
final proferida na ação penal par sustá-la. Apesar de não haver prazo
“A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao
certo, contudo, o período durante o qual a ação tramita (até o seu trânsito
crime cometido após a cessação definitiva do exercício funcional”.
em julgado), deverá ser respeitado. O único prazo fixado é o de 45 dias
contados do recebimento, pela Mesa Diretora, do pedido de sustação
efetuado pelo partido político. Esse prazo sim, de 45 dias, é
improrrogável. Garantias do Poder Legislativo Estadual e Distrital:
Atenção: na situação de ter havido sustação do processo em crime
praticado após a diplomação, em concurso de agentes por parlamentar e Que tipo de imunidade o deputado estadual possui?
outro indivíduo que não goze da aludida imunidade. Nesses casos, o STF ☺art. 27, §1º, CR:
decidiu pelo desmembramento do processo (art. 80, CPP), em razão da
diferença do regime de prescrição, visto estar suspenso somente o prazo § 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,
prescricional em relação ao parlamentar. aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral,
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença,
impedimentos e incorporação às Forças Armadas.

Inviolabilidade é sinônimo de imunidade material.


Prerrogativa de Foro: De acordo com esse dispositivo, aos deputados estaduais
serão aplicadas as mesmas regras previstas na CR quanto às
A prerrogativa de foro não se confunde com imunidade. Ambas imunidades. Ou seja, deputados estaduais e distritais possuem as
fazem parte do Estatuto dos Congressistas, mas não se confundem. mesmas imunidades dos deputados federais.
De acordo com o art. 53, §1º, CR, os deputados e senadores, Quando se fala em mesmas regras, deve-se observar a
desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o correspondência, ou seja, ao se falar em prisão, somente no caso de
STF, pela prática de qualquer tipo de crime, seja de natureza penal crime inafiançável, devendo os autos serem remetidos à Assembléia
comum stricto sensu, eleitorais, contravenções penais, etc. Legislativa dentro de 24 hs para que, pelo voto da maioria de seus
membros, resolva sobre a prisão. Da mesma forma, está plenamente
Atenção: assegurada a imunidade material dos deputados estaduais e distritais,
☺Súm. 721, STF: que são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões,
palavras e votos.
“A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro Dúvida: com a mudança trazida pela EC 35/01, se a
por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual ainda não se adaptou, o que vale?
Constituição Estadual”. O STF entende que o regime de imunidades previsto na CR/88
se aplica de forma integral e imediata aos deputados estaduais. Não há
Ou seja, no caso dos crimes dolosos contra a vida, a necessidade de esperar a Constituição Estadual se adaptar.
Constituição Estadual não poderá atribuir ao TJ a competência. Imediatamente com a alteração da CR, a sua regra já passa a valer para

43
os parlamentares estaduais. Vale a mesma regra, só que mudam as Vereador tem prerrogativa de foro? Na CR não há qualquer
autoridades competentes. Tudo o que está na CR simetricamente seria previsão para isso. Mas a jurisprudência do STF admite que a
aplicado aos deputados estaduais. Constituição Estadual também possa atribuir ao TJ a competência para
Pergunta: a Constituição Estadual poderia ampliar as julgar o vereador. Mas isso deve ser estar previsto expressamente na
imunidades ou a prerrogativa de foro, em relação ao que está previsto na Constituição Estadual (da mesma forma que ocorre com o deputado
CR? estadual).
Ex.: a Constituição Estadual pode prever que mesmo após o
término do mandato continua a prerrogativa de foro do deputado
estadual?
Segundo o STF, não. A Constituição Estadual não pode
ampliar essas garantias e privilégios. A Constituição Estadual tem que
manter integralmente o regime adotado pela CR.
Outro aspecto importante sobre este tema é o que se refere ao
âmbito dessa imunidade.
☺súm. 03, STF:

“A imunidade concedida a deputados estaduais é restrita à Justiça do


Estado”.

Esta súmula, assim como a súm. 04, é antiga e encontra-se


superada.
Àquela época quem concedia imunidade para os deputados
estaduais era apenas a Constituição Estadual. A CR não previa
imunidade para tais parlamentares.
Com a CR/88 houve uma mudança no regime. Hoje a própria
Constituição concede estas inviolabilidades e imunidades. Assim, a
imunidade vale em todo território nacional (não fica restrita ao Estado que
a prevê em sua constituição).

O art. 27, §1º, CR não faz qualquer referencia à prerrogativa de


foro. Se observarmos na parte do Poder Judiciário, veremos que também
não há nenhum tribunal competente para julgar os deputados estaduais.
O entendimento que prevalece então é o de que o deputado
poderá ter prerrogativa de foro no TJ, desde que haja previsão na
Constituição do respectivo Estado. O STF fala que isso decorre de um
poder implícito do Estado em estabelecer esta prerrogativa de foro
(implícita porque não há determinação nesse sentido na CR). Geralmente
as constituições estaduais trazem esta previsão.
Se um deputado estadual praticar crime contra bens,
patrimônios da União, empresa pública ou entidade autárquica, de quem
será a competência para julgamento? Vai depender da previsão da
prerrogativa de foro. Se a CE atribuir competência ao TJ para os crimes
comuns, a competência respectivamente será do TRF, que seria a justiça
correspondente para tais crimes. Se for crime eleitoral, vale a mesma
regra: se o deputado estadual tem prerrogativa de foro por crime comum
no TJ, a competência para crime comum será do TRE.

No caso do deputado distrital, a CR também faz uma remissão


as essas mesmas regras.
☺art. 32, §3º, CR:

§ 3º - Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-


se o disposto no art. 27.

Então, todas as mesmas regras vistas acima se aplicam


também a eles.

Garantias do Poder Legislativo Municipal:

No caso dos vereadores a regra é um pouco diferente.


Antes da CR/88 os vereadores não tinham qualquer tipo de
imunidade. A imunidade dos vereadores foi uma novidade da
Constituição de 1988.
Com a CR/88, os vereadores passaram a ter apenas uma
espécie de imunidade, que está prevista no art. 29, VIII, CR:

VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos


no exercício do mandato e na circunscrição do Município; (Renumerado
do inciso VI, pela Emenda Constitucional nº 1, de 1992)

Se é imunidade por opiniões, palavras e votos, fala-se apenas


imunidade material. Assim, vereador só tem imunidade material, não tem
imunidade formal.
O processo contra o vereador não pode ser suspenso pela
Câmara Municipal. Ou se ele for preso, esta Câmara não delibera sobre
a sua prisão.
A Constituição diz que a imunidade do vereador vale apenas
na circunscrição do município. O entendimento que prevalece aqui é o de
que circunscrição do município corresponde aos limites territoriais. O
mais correto seria que a imunidade se desse em razão dos interesses
municipais que o vereador estivesse representando. Mas não é o que
prevalece.

44
Se esse processo não for observado, o parlamentar pode valer-
se do MS. Mas a norma deve ser prevista na Constituição. Se for norma
PROCESSO LEGISLATIVO: de Regimento Interno, a questão é interna corporis, não cabendo o PJ
analisar, não cabendo, pois, o MS.

Espécies de processo legislativo:


Objeto:
O processo legislativo é dividido em 3 espécies:
O objeto do processo legislativo é definido no art. 59, CR, que
diz quais são os atos compreendidos dentro do processo legislativo. 1) processo legislativo ordinário: é o processo de
elaboração da Lei Ordinária (e é a base para a maioria dos atos
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: legislativos);
I - emendas à Constituição;
II - leis complementares; 2) processo legislativo sumário: a única distinção que ele
III - leis ordinárias; tem em relação ao ordinário é que aqui o Presidente da República pode
IV - leis delegadas; solicitar urgência na apreciação de um projeto (desde que seja um
V - medidas provisórias; projeto de sua iniciativa). Havendo esse pedido de urgência, a CD terá 45
VI - decretos legislativos; dias para apreciar (e o processo se iniciará sempre na CD, nesse caso);
VII - resoluções. o SF terá mais 45 dias para apreciar (sob pena de trancamento de
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, pauta), e, por fim, a CD terá mais 10 dias para apreciar eventual emenda
alteração e consolidação das leis. proposta pelo SF. Esse prazo não corre durante o período de recesso e
ele não vale para projetos de código.
Todos esses atos são atos normativos primários, que vão ☺art. 64, §1º e ss, CR:
retirar da Constituição o seu fundamento de validade.
§ 1º - O Presidente da República poderá solicitar urgência para
apreciação de projetos de sua iniciativa.
Principais regras referentes ao processo legislativo: § 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal
não se manifestarem sobre a proposição, cada qual sucessivamente, em
As regras que estão na Constituição são regras apenas do até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações
processo legislativo federal. A Constituição não fala nada sobre o legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo
processo legislativo estadual ou municipal. Mas todas essas regras são constitucional determinado, até que se ultime a votação.
normas de observância obrigatória pelos Estados, DF e Municípios. § 3º - A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos
Vale aqui o Princípio da Simetria. A Constituição Estadual deve Deputados far-se-á no prazo de dez dias, observado quanto ao mais o
ser simétrica à CR. E a Lei Orgânica do Município e do DF idem. disposto no parágrafo anterior.
Os parlamentares que participam desse processo legislativo § 4º - Os prazos do § 2º não correm nos períodos de recesso do
têm o direito público subjetivo à observância do processo legislativo Congresso Nacional, nem se aplicam aos projetos de código.
constitucional (mas isso só vale para o processo legislativo previsto na
CR). 3) processos legislativos especiais: são todos os outros que
fogem às regras dos outros dois.

45
Processo Legislativo Ordinário:

O processo legislativo ordinário tem 3 fases:

Geral

Concorrente

Privativa
Iniciativa
Popular

Conjunta

Art. 67

Parlamentar ou Extraparlamentar

Discussão
Fases Deliberação
Parlamentar Votação
Constitutiva
Sanção
Deliberação
Executiva Veto

Promulgação
Complementar
Publicação

46
1) Fase iniciativa ou introdutória: Assim, tratando-se, por ex., de projeto de lei de iniciativa privativa do
Chefe do Poder Executivo, não pode o Poder Legislativo assinar-lhe
prazo para o exercício dessa sua prerrogativa.
Diz respeito à iniciativa do projeto de lei.
Naturalmente, havendo prazo fixado na Constituição (ex.: art.
É a fase de iniciativa, deflagradora, iniciadora, instauradora de
35, §2º), ou em emenda (ex.: art. 5º, da EC 42/03), o legitimado exclusivo
um procedimento que deverá culminar, desde que preenchidos todos os
poderá ser compelido a encaminhar o projeto de lei.
requisitos e seguidos todos os trâmites, com a formação da espécie
Certamente também poderá ser reconhecida a
normativa.
inconstitucionalidade por omissão na hipótese de não regulamentação de
artigos da Constituição de eficácia limitada, desde que observado o
→ Regra geral para a iniciativa:
critério da razoabilidade.
De maneira ampla, a CR atribui competência às seguintes
pessoas, conforme estabelece o art. 61, caput, CR:
→ Art. 67, CR: iniciativa de projeto de lei proposta pela maioria
- Qualquer deputado federal ou senador;
absoluta dos membros de qualquer das Casas do CN:
- Comissão da CD, do SF ou do CN;
O art. 67, CR estabelece que a matéria constante de projeto de
- PR;
lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma
- STF;
sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros
- Tribunais Superiores;
de qualquer das Casas do CN. Deflagrado o processo legislativo, se na
- PGR
fase da discussão e votação o projeto de lei não for aprovado, como
- Cidadãos
regra geral, só poderá ser reapresentado na sessão legislativa seguinte.
No entanto, através da proposta da maioria absoluta dos membros de
A iniciativa pode ser:
qualquer das Casas do CN, o projeto de lei poderá ser reapresentado na
a) comum (também chamada de geral ou concorrente);
mesma sessão legislativa, surgindo, assim, uma nova hipótese de
b) exclusiva (também chamada de privativa ou reservada).
iniciativa para o processo legislativo.
Obs.: os termos usados como sinônimos não significam
Atenção: isso é diferente do que ocorre quando se trata de
literalmente a mesma coisa, mas são colocados, para este tema, como
PEC (projeto de EC)!
se assim o fosse.
A iniciativa comum ou concorrente é a regra geral. É a que é
→ Iniciativa parlamentar ou extraparlamentar:
atribuída a mais de uma pessoa. Na iniciativa concorrente, a CR atribuiu
Diz-se parlamentar a prerrogativa que a Constituição confere a
competência a mais de uma pessoa ou órgão para deflagrar o processo
todos os membros do CN de apresentação de projetos de lei. Diz-se, por
legislativo. Ex.: iniciativa para dar início às LO e LC, e o caso de EC.
outro lado, iniciativa extraparlamentar àquela conferida ao Chefe do
A iniciativa exclusiva é uma exceção à regra geral. Há um
Poder Executivo, aos Tribunais Superiores, ao MP e aos cidadãos
topos, um postulado que deve ser lembrado aqui: “normas excepcionais
(iniciativa popular de lei).
devem ser interpretadas restritivamente”.
Assim, não é possível estender esta espécie de iniciativa a
outros legitimados que não estejam expressamente previstos na CR.
2) Fase Constitutiva:
O rol de legitimados dessa iniciativa exclusiva é taxativo
(numerus clausus). Esta iniciativa não se presume. E deve ser
Nesta segunda fase do processo legislativo, teremos a
interpretada restritivamente. Ou seja, só é possível que o processo
conjugação de vontades, tanto do Legislativo (deliberação parlamentar –
legislativo seja deflagrado por determinadas pessoas, sob pena de se
discussão e votação), como do Executivo (deliberação executiva –
configurar um vício formal de iniciativa, caracterizador da
sanção ou veto).
inconstitucionalidade do referido ato normativo.

Atenção para algumas iniciativas que geram dúvidas:


Esta fase tem, pois, as seguintes etapas:
- Iniciativa em matéria tributária: é exclusiva do PR ou é
a) discussão;
comum?
b) votação; e
☺art. 61, §1º, II, ‘”b”, CR – como estas normas são de
c) aprovação.
observância obrigatória, nos estados e municípios, na medida do
possível, deve ser obedecido o Princípio da simetria.
→ Deliberação Parlamentar – discussão e votação:
A Constituição fala, na alínea “b”, em matéria tributária. Ocorre
que esta matéria não é privativa do PR. A iniciativa aqui é concorrente,
A DISCUSSÃO vai ocorrer em 3 lugares:
entre o PR e o CN. A matéria tributária que está ali no dispositivo
- na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que existe
constitucional é apenas a matéria tributária no âmbito dos territórios, nos
tanto na CD quanto no SF: aqui se analisa a constitucionalidade do
demais âmbitos ela não é de iniciativa exclusiva. Ou seja, no âmbito da
projeto de lei;
União, Estados, DF e Municípios, a iniciativa de leis sobre matéria
- nas Comissões Temáticas: são comissões especializadas em
tributária é concorrente entre os Chefes do Executivo e os membros do
determinados assuntos (geralmente correspondem aos Ministérios); elas
Legislativo, podendo-se, ainda, avançar e sustentar a iniciativa popular
são comissões permanentes;
sobre matéria tributária, desde que observadas as formalidades do at. 61,
- no Plenário, envolvendo os deputados e senadores.
§2º.
Após a etapa de discussão, vem a etapa de votação.
- Matéria orçamentária: é de iniciativa exclusiva do PR, apesar
de não constar do art. 61, CR. Esta determinação está no art. 165, I, II e
A VOTAÇÃO, em regra, irá ocorrer dentro do Plenário. No
III, CR, segundo o qual, leis de iniciativa do Poder Executivo
entanto, é possível que haja projeto de lei discutido e votado apenas
estabelecerão o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os
dentro de uma determinada comissão. Existe esta possibilidade de que
orçamentos anuais.
um projeto de lei seja votado não no Plenário, mas apenas na Comissão.
Isto está previsto no art. 58, §2º, I, CR:
Pergunta: Se uma determinada matéria é de iniciativa exclusiva
do PR e a matéria é trazida por um projeto de lei de iniciativa de um
§ 2º - às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:
deputado, por ex. A sanção do PR supre a falta de iniciativa do Poder
I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a
Executivo?
competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos
☺Súm. 05, STF:
membros da Casa;
“A sanção do projeto supre a falta de iniciativa do Poder Executivo”.
Obs.: só vale se houver autorização do Regimento Interno e se
for matéria de LO.
A súmula não foi revogada formalmente, mas este
Se uma Casa não quiser que o projeto de lei seja votado e
entendimento foi abandonado pelo STF. Hoje, o vício de iniciativa é um
aprovado apenas na Comissão, poderá interpor recurso por 1/10 dos
vício formal insanável, incurável. A sanção presidencial, portanto, não
seus membros, e então a matéria será encaminhada para votação em
convalida vício de iniciativa.
Plenário.
Pergunta: Qual é o quorum de votação de uma LO?
Pergunta: Pode o legitimado exclusivo ser compelido a
Esse quorum de votação será sempre o mesmo para todo
deflagrar o processo legislativo?
processo legislativo e para todas as deliberações do CN: é a maioria
De modo geral, o STF entendeu que não poderá o legitimado
absoluta (+ de 50% dos membros). Se não estiver presente na votação a
exclusivo ser forçado a deflagrar o processo legislativo, já que a fixação
maioria absoluta, não há votação, nem no Plenário e nem na Comissão.
da competência reservada traz, implicitamente, a discricionariedade para
decidir o momento adequado de encaminhamento do projeto de lei.

47
Esse número é sempre um número fixo: se são 513 deputados, b) ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias, desde que as
o quorum de votação na CD é sempre 257; se no SF são 81 senadores, emendas parlamentares que acarretem aumento sejam compatíveis com
o quorum de votação é sempre 41 senadores. o plano plurianual.
Ocorrida a votação, o projeto vai para a APROVAÇÃO Avançando, nos termos do art. 63, II, também cabem emendas
(deliberação executiva). parlamentares, desde que haja pertinência temática e não acarretem
O quorum de aprovação não se confunde com o quorum de aumento de despesas, aos projetos sobre organização dos serviços
votação. O quorum de aprovação para um projeto de LO é a maioria administrativos da CD, do SF, dos Tribunais Federais e do MP.
relativa (+ de 50% dos presentes).
A maioria aqui é relativa (e o número aqui não é fixo, mas sim - Será que o PR, como legitimado, pode propor um projeto de
variável), pois vai depender de uma condição, que é o número de lei na CD e depois ele mesmo propor uma emenda ao seu próprio projeto
presentes. de lei? O próprio legitimado (com exceção dos parlamentares) só pode
Apesar de estarmos tratando aqui do processo legislativo apresentar emendas aditivas, nunca supressivas. A partir do momento
ordinário, é importante fazermos um parênteses: é preciso lembrar que a que o projeto de lei foi apresentado ao Parlamento ele saiu do domínio
única diferença formal que temos entre a LO e a LC é o quorum de do legitimado e foi para o domínio do Poder Legislativo. O legitimado
aprovação: na LO é maioria relativa e no caso da LC é maioria absoluta. então não pode mais se arrepender e retirar esse projeto de lei do
E, se for EC, por sua vez, o quorum necessário para a aprovação será Legislativo e também não pode apresentar emenda supressiva. Só pode
3/5. apresentar emenda aditiva, pois esta é entendida como um novo projeto
Obs.: No caso da LO e da LC, a iniciativa é a mesma ou é de lei. Esse mesmo raciocínio vale para as EC e para as MP.
diferente?
☺art. 61, CR: a CR prevê que a iniciativa de LO e LC é - Imaginemos que o projeto de lei saia da Cd e vá para o SF, ali
idêntica. A iniciativa é a mesma. Não há diferença quanto a isso. A única sofrendo uma determinada emenda. Como o processo legislativo no
diferença formal entre uma LO e uma LC é o quorum de aprovação âmbito federal depende das duas casas, não é possível nenhum projeto
(cuidado para não confundir com o quorum de votação, que é o mesmo!). de lei que tenha sido apreciado por apenas uma das casas. Quando o SF
Além dessa única diferença forma, temos também uma diferença faz uma emenda o que volta para a CD é todo o projeto de lei ou apenas
material: no caso da LO, a matéria é residual, enquanto que no caso da a emenda? Apenas a emenda. Não volta todo o projeto, porque o
LC a matéria é reservada. restante do projeto, se não foi alterado, sobre ele já houve a
aquiescência da Cd e já pode ir direto para a aprovação.
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer
membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou - Pode a CD fazer uma emenda da emenda feita pelo SF? Não.
do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Se isso pudesse acontecer, a emenda teria que voltar para o SF, que
Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da poderia fazer outra emenda e assim subsidiariamente. Assim, não são
República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta admitidas sub-emendas. Ou a CD aprova a emenda, ou não aprova a
Constituição. emenda (rejeita a emenda) feita pelo SF.

☺art. 47, CR, que traz uma regra geral (e que deve ser - Imaginemos que no SF haja uma emenda supressiva, que
aplicada sempre que a Constituição não fizer nenhuma ressalva): retire, por ex., dois dispositivos do projeto de lei. O projeto precisa voltar
para a CD novamente? Aqui a questão é mais delicada: se o SF retirou
Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de parte do projeto de lei, isso significa que ele não concorda com aquela
cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, parte do projeto. Então não adiantaria de nada voltar para a CD, porque
presente a maioria absoluta de seus membros. se o SF não aprovou aquela parte, o projeto de lei não poderia ser
aprovado. Ocorre que é possível que o SD retire do projeto de lei uma
Questões relativas à iniciativa e à fase constitutiva: parte essencial para o restante dele. Nesse caso, há uma mudança
substancial em relação ao projeto. O correto, nesse caso, então, é que o
- Em regra, qual é a casa iniciadora do processo legislativo? projeto volte para a CD. Em regra, portanto, as emendas supressivas não
Em geral, é a CD. O projeto de lei só não terá início na CD se for de precisam retornar à casa de origem, salvo quando afetarem o restante
iniciativa de Senador ou de Comissão do Senado. (de forma substancial) do conteúdo do projeto.

- Durante o processo legislativo podem ser feitas emendas ao → Deliberação Executiva – sanção ou veto:
projeto de lei. Quando a iniciativa é exclusiva, pode haver emenda ao
projeto de lei? Admite-se emenda a projeto de lei de iniciativa exclusiva? Obs.: proposta de EC não tem sanção e nem veto. A sanção
Sim. Não há qualquer vedação em relação à emenda de projeto de ou veto só vale para projeto de lei.
iniciativa exclusiva, salvo em um único caso: aumento de despesa (se o A sanção do PR pode ser uma sanção expressa ou tácita.
projeto de lei for de iniciativa exclusiva do PR e esta emenda gerar Como a sanção é o oposto do veto, não existe veto tácito. O PR não
aumento de despesa). pode vetar tacitamente um projeto de lei. Se a aquiescência (a sanção) já
☺art. 63, I, CR: pode ser tácita, o veto só poderá ser expresso, porque o silêncio do PR
importará na sanção.
Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista: O prazo que o PR tem para vetar expressamente o projeto de
I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, lei ou para sancionar esse projeto é de 15 dias úteis.
ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º; Se dentro desses 15 dias úteis ele não se manifestar, isso
II - nos projetos sobre organização dos serviços administrativos da significará que houve aquiescência (sanção tácita).
Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Federais e do ☺art. 66, §3º, CR:
Ministério Público.
§ 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da
Assim, cabe emenda parlamentar nas hipóteses de lei de República importará sanção.
iniciativa exclusiva do PR desde que haja pertinência temática e, por
regra, não acarrete aumento de despesas. Pergunta: porque são 15 dias úteis, se o dispositivo fala
Atenção: para que haja alteração em um projeto de iniciativa apenas em 15 dias? Em razão do disposto no art. 66, §1º, CR (os dois
exclusiva, portanto, a emenda tem que guardar pertinência com o dispositivos devem ser interpretados conjuntamente):
conteúdo do projeto. Caso contrário estaríamos diante de “caudas da lei”
ou “contrabando legislativo” (nome dado por Michel Temer). § 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em
parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou
Obs.: excepcionalmente, contudo, nos projetos orçamentários parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
de iniciativa exclusiva do PR, admitem-se emendas parlamentares recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao
mesmo que impliquem aumento de despesas (art. 63, I, c/c art. 166, §§3º Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
e 4º, CR):
a) ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos que o A sanção e o veto pode ser total ou parcial. Se o PR sanciona
modifiquem e desde que sejam compatíveis com o plano plurianual e um projeto de lei parcialmente, isso significa que ele está vetando esse
com a LDO; desde que indiquem os recursos necessários, admitidos projeto parcialmente.
apenas os provenientes de anulação de despesa, excluídas as que Aqui temos uma regra muito importante: o veto parcial não
incidam sobre dotações para pessoal e seus encargos; serviço da dívida; pode incidir sobre uma palavra ou expressão isolada. Ele deve abranger
transferências tributárias constitucionais para Estados, Municípios e DF; texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea.
e por fim, desde que sejam relacionados com a correção de erros e ☺art. 66, §2º, CR:
omissões ou com os dispositivos do texto do projeto de lei;

48
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de obrigatória. Assim, não se pode falar em escrutínio aberto. Ele tem que
parágrafo, de inciso ou de alínea. ser secreto.
Pergunta: cabe retratação do veto ou da derrubada do veto?
É diferente do que ocorre com a declaração de Não se admite retratação do veto pelo PR e nem de sua derrubada por
inconstitucionalidade, que pode incidir sobre uma expressão ou sobre parte do CN.
uma palavra apenas. Se o PR se negar a promulgar o projeto de lei que ele vetou,
mas sobre o qual houve derrubada de veto, quem irá promulgá-lo? Isso
Temos dois tipos de veto (de acordo com o seu motivo): só pode acontecer quando houver sanção tácita ou quando houver o veto
a) veto jurídico: o PR veta por considerar o projeto de lei e o veto for derrubado. Nesses casos, em 48 hs esta atribuição passa
inconstitucional; para o Presidente do SF; e, se este não o fizer, a atribuição passa para o
b) veto político: o PR veta por considerar o projeto de lei Vice-presidente do SF. Obs.: mas nada impede, porém, que depois das
contrário ao interesse público. 48 hs o PR promulgue o projeto de lei. Apenas se ele não o fizer é que a
Obs.: vetando o projeto de lei, total ou parcialmente, o PR atribuição passará ao SF.
deverá comunicar ao Presidente do SF os motivos do veto, no prazo de ☺art. 66, §7º, CR:
48 hs. Se o PR simplesmente vetar, sem explicar os motivos do seu ato,
estaremos diante da inexistência do veto, portanto, veto sem motivação § 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo
expressa produzirá os mesmos efeitos da sanção tácita. Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do
Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao
Pergunta: o veto é absoluto ou é relativo? Vice-Presidente do Senado fazê-lo.
O veto é relativo. Ele pode ser derrubado pelo CN.
O CN tem 30 dias para derrubar o voto. O quorum exigido é a
maioria absoluta. O escrutínio é secreto e a sessão é conjunta. 3) Fase Complementar:
☺art. 66, §4º, CR:
A fase final ou complementar do processo legislativo pode ser
§ 4º - O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a bipartida na promulgação e na publicação da lei.
contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da O que se promulga e se publica já é a lei, e não o projeto de lei.
maioria absoluta dos Deputados e Senadores, em escrutínio secreto. Por isso, esta fase, a rigor não faz mais parte do processo legislativo,
pois a partir daqui o projeto de lei já se transforma em lei. O projeto de lei
O veto será apreciado em sessão conjunta da CD e do SF, vira lei com a sanção presidencial ou com a derrubada do veto pelo voto
dentro de 30 dias a contar do seu recebimento. Através do voto da da maioria absoluta dos deputados e senadores.
maioria absoluta dos deputados e senadores, em escrutínio secreto, o A promulgação é o ato que atesta a existência da lei,
veto poderá ser rejeitado (afastado), produzindo os mesmos efeitos que a conferindo-lhe executoriedade. Apesar de ainda não estar em vigor,
sanção. Sendo derrubado o veto, o projeto deverá ser enviado ao PR ainda não ser eficaz, através do ato da promulgação, certifica-se o
para promulgação. nascimento da lei.
A publicação, por sua vez, confere obrigatoriedade à lei. É o
Pergunta: Pode uma Constituição Estadual estabelecer que a ato através do qual se levará ao conhecimento de todos o conteúdo da
derrubada do veto do Governador se dê através de escrutínio em aberto inovação legislativa. Através da publicação, tem-se o estabelecimento do
pela Assembléia Legislativa? Não. Apesar de a CR falar apenas do momento em que o cumprimento da lei deverá ser exigido.
processo legislativo em âmbito federal, ela fala em escrutínio secreto, e Aqui o processo legislativo é finalizado.
os princípios básicos do processo legislativo são normas de observância

→ Fluxo simplificado do processo legislativo comum:

Obs.: Para a complementação do estudo,☺Caderno do Intensivo I.

☺ Esquema sinóptico na pág. Seguinte.

49
Iniciativa

se sancionar Promulgação
Casa expressamente
Iniciadora se Casa se PRFB
aprovar Revisora aprovar

Se permanecer Publicação
em silêncio
se
se rejeitar se vetar
emendar
Sanção Tácita
se rejeitar (15 dias úteis)
Se não fizer em
Comunica ao 48h
Arquiva-se o Promulgação
projeto e PSF (48h)
(PRFB) Se não fizer
aplica-se o em 48h
princípio da Arquiva-se o CN aprecia Promulgação
irrepetibilidade projeto e veto (30 dias) (PSF)
aplica-se o
)
princípio da
irrepetibilidade Promulgação Se não fizer
(VICE -PSF) em 48h
se
superado o )
se mantido o
veto
veto

Arquiva-se o
projeto e aplica-
se o princípio da
irrepetibilidade
(04/12/09)

 MEDIDA PROVISÓRIA: Obs.: art. 60, § 5º: se uma proposta de EC for rejeitada, ela não
pode ser reapresentada na mesma sessão legislativa.
No caso do projeto de lei, a regra é diferente. Conforme o art.
67 da CR, o projeto de lei rejeitado pode ser reapresentado na mesma
sessão, mas desde que com o quórum da maioria absoluta, ou dos
Origem: membros da Câmara ou do Senado.
Durante o período de recesso do CN, o prazo da MP ficará suspenso,
A MP se originou a partir do decreto lei, inspirado na não será contado. Conta o que foi decorrido antes com o restante.
Constituição Italiana de 1947. Sessão legislativa: vai do dia 2 de fevereiro até 17 de julho, e
Apesar das diversas críticas feitas a MP, ela é um instrumento do dia 01 de agosto até 22 de dezembro.
de extrema importância, sobretudo hoje, quando passa por mudanças
constantes. - Uma MP editada em um ano pode ser reeditada no mesmo
ano em que foi rejeitada: isso porque a sessão legislativa não começa no
dia 1o de janeiro. É possível, por exemplo, que uma MP seja rejeitada no
Efeitos imediatos da MP: dia 15 de janeiro de 2009, e, ao começar uma nova sessão legislativa no
dia 2 de fevereiro de 2009, ela ser reeditada.
Apesar de ser no mesmo ano, são sessões legislativas
- Efeito de natureza normativa: a MP, a partir do momento que distintas.
é editada, inova no mundo jurídico, já que tem eficácia imediata, desde a A proposta de EC possui a mesma vedação da MP (art. 60, §
sua edição. 5o).
No caso do DL na Constituição de 67, o DL não tinha eficácia  Esse prazo de 60 dias não é contado durante o período de
desde a sua edição. Ele só produzia efeitos quando aprovado pelo CN. recesso do CN, ele fica suspenso.
A MP não pode ser aprovada por decurso de prazo, ela tem
que ser expressamente aprovada. O antigo DL não – era aprovado pelo
decurso do tempo;
Regime de urgência:
- Efeito de natureza ritual: esse efeito consiste na provocação
do CN para que promova o adequado procedimento de conversão em lei. O CN tem 45 dias para analisar a MP. Se nesse prazo não for
Esses efeitos são retirados de uma decisão do STF, em que o ministro analisada, a MP entra em regime de urgência.
Celso de Mello fala dessas questões. Isso significa que a MP tranca a pauta de votação da casa em
que estiver tramitando.
A MP só pode tratar de matéria residual (de LO). Essas
Prazo para conversão em lei: matérias, segundo Regimento Interno do CN, são realizadas em Sessões
Ordinárias, que ocorrem de terça a quinta feira.
Quando a MP tranca a pauta, ela só tranca a pauta nas sessões
A MP teve uma grande alteração com a EC 32/01. ordinárias (de terca a quinta). Nas sessões extraordinárias, o CN ficaria
Antes da referida EC, o prazo da MP era de 30 dias e, segunda livre para votar o que quiser.
a jurisprudência do STF, ela podia ser reeditada indefinidamente, desde Esse foi um artifício utilizado pelo Michel Temer para evitar que
que dentro do prazo de 30 dias. Não havia limites para a reedição. a MP tranque a pauta do CN, já que existe um quantidade absurda de
As MPs editadas antes da EC continuam nesse regime antigo. MPs, e acaba sendo a única deliberação legislativa do CN.
A Constituição, porém, diz que ficaram suspensas “todas as
☺Súm. 651: a MP não apreciada pelo CN podia, até a EC 32, demais deliberações legislativas”, assim, a MP deveria trancar todas as
ser reeditada dentro do seu prazo de eficácia de 30 dias, mantidos os deliberações.
efeitos de lei desde a sua edição. Alguns partidos políticos impetraram MS dizendo que esse
Esse prazo de 30 dias não era suspenso durante o recesso. posicionamento do Michel Temer não tem respaldo constitucional. Ainda
A EC 32 alterou o prazo. não houve julgamento do mérito, mas apenas o indeferimento de liminar.
O ministro relator entendeu que o procedimento de Michel
Atualmente, o prazo foi duplicado. A CR estabeleceu a Temes está correto, possibilitando que a casa exerça sua função típica,
diferença entre prorrogação e reedição. que é legislar.
MP = duração 60 dias. O prof. acha que esse entendimento deve prevalecer, para
Se a MP não for analisada dentro de 60 dias ela vai ser evitar o esvaziamento das funções legislativas. Ele ressalta que é
prorrogada. realmente um artifício, não é uma norma expressa na Constituição, mas
é necessária.

Regramento atual:
Trâmite da MP:
Prazo de 60 dias. Esse prazo é prorrogado automaticamente
se a MP não for aprovada dentro desse período. Editada pelo PR, a MP vai para comissão mista do CN, que
Isso não é reedição, é prorrogação, e é automática. O PR não emite parecer da MP.
precisa de prorrogar. Após a emissão do parecer, a medida vai para a Câmara dos
Existe limite para a reedição de MPs? Deputados.
Não existe na Constituição, qualquer limitação com relação ao Na Câmara, vai para a CCJ e depois é votada no Plenário.
número de reedições. Feita a análise pela Câmara, a MP segue para o Senado, onde
A reedição pode ocorrer indefinidas vezes. acontece a mesma coisa (CCJ e depois Plenário).
O que se veda é que a reedição ocorra dentro de uma mesma Depois de aprovada, há necessidade de o projeto de lei no
sessão legislativa. qual a MP foi convertida, ser sancionado?
Depende de saber se houve alteração ou não no conteúdo da
Reedição Prorrogação MP.
Não há restrição à reedição, 60 + 60. - Só será necessária a sanção se houver alteração.
salvo quanto à reedição na A prorrogação é automática não Não havendo alteração, o PR não precisa sancionar.
mesma sessão legislativa depende de provocação do Se a Câmara ou Senado fizer qualquer alteração da MP é
Presidente da República. Se não necessária a emissão de um Decreto Legislativo no prazo de 60 dias.
editada em 60 dias, Esse decreto regula como ficam as relações ocorridas durante
automaticamente prorroga. o período de vigência da MP.
 Não editado o DL até 60 dias após a rejeição ou perda de
☺art. 62, §10: hoje a MP pode ser rejeitada por decurso de eficácia da MP, as relações jurídicas ocorridas no período ‘ficam por ela
prazo, ao contrário do que ocorria com o DL. regulamentadas.

51
Revogação da MP: Limites Materiais:

A partir do momento que o PR edita uma MP, ela passa ao Obs.: Antes da EC 32, a CR não estabelecia limites materiais
poder do CN. Ela deixa de pertencer ao PR e passa a pertencer ao Poder para a MP.
Legislativo. Hoje, esses limites estão expressos no art. 62, §§ 1º e 2º da
O PR não pode arrepender da MP que editou. CR.
No entanto, o PR pode editar outra MP, já que não pode tirar a
primeira de apreciação do CN, revogando a primeira. MP não pode tratar de matéria de LC nem de matéria
Isso normalmente acontece quando a primeira MP tranca a reservada.
pauta e o PR tem outras questões mais urgentes para serem analisadas Qualquer matéria que seja reservada a alguma autoridade, ou
e por isso quer destrancar. a algum ato normativo, não pode ser tratada por MP.
- Nesse caso, o CN vai analisar primeiro a MP revogadora, a
segunda. O CN analisa e aprova ou rejeita. a) MP pode regulamentar direitos fundamentais?
Se aprovar, a anterior fica definitivamente revogada, pois ele Art. 62, § 1º, I, a: a CR não faz restrição a todos os direitos
está confirmando a 2a MP. fundamentais. Os direitos individuais e os sociais podem ser
Se rejeitar a 2a MP, a MP que havia sido revogada vai voltar a regulamentados pela MP.
produzir efeitos pelo tempo que restava. A restrição que a CR faz em relação à edição de direitos
No período em que a 2a está sendo decidida, o prazo de fundamentais pela MP é para os direitos de nacionalidades e políticos.
vigência da 1a fica suspenso. Estes não podem ser tratados por MP. Mas, não há restrição sobre
 MP revoga lei? direitos individuais e sociais.
MP não revoga lei, pois são atos emanados de autoridades
diferentes, possuem densidades normativas diferentes. b) Matéria penal pode ser tratada por MP?
Sendo incompatível com a lei, a MP irá suspender a eficácia da Obs.: Antes da EC 32 a restrição era para matérias penais
lei. incriminadoras.
Efeito prático: nesse caso, pode ocorrer efeito repristinatório Após a EC 32, a CR veda a edição de MP sobre qualquer tipo
tácito. Se a MP for rejeitada pelo CN, a lei volta a produzir efeitos de matéria penal. Não importa se é norma incriminadora ou não, não se
novamente. pode editar MP sobre matéria penal, não há distinção.

A partir do momento em que a MP é editada pelo Presidente da c) Matéria de lei complementar:


República, ela sai da esfera de competência deste e vai para o CN. Não pode ser tratada por MP.
Sendo assim, se o Presidente da República se arrepender do assunto MP não pode tratar de matéria reservada a qualquer assunto
tratado na MP ele não pode retirá-la da apreciação do CN, mas ele pode constitucional, não obstante a CR fazer referência só à lei complementar.
editar outra MP revogando a anterior. Ex. matéria reservada à proposta de emenda, MP não pode tratar (não
Ex. Presidente da República edita uma MP que tranca a pauta só lei complementar).
do CN, se o Presidente da República entender que há outra matéria mais Conclusão: MP só pode tratar de matéria residual (art. 62, III
importante a ser tratada ele edita outra MP revogando a anterior. da CR).
Obs.: O CN, neste caso, primeiro irá analisar a MP revogadora
(a posterior à já editada). Se o CN aprovar a revogadora, a anterior fica d) MP pode dispor sobre instituição ou majoração de
revogada. Se o CN rejeitar a MP revogadora, a anterior volta a vigorar impostos?
pelo prazo restante. E, dentro desse prazo, ela pode ser rejeitada ou Art. 62, § 2º da CR:
convertida em lei. - Impostos extrafiscais (II, IE, IPI, IOF e Impostos
extraordinários) = a MP pode aumentar a alíquota sem qualquer tipo de
restrição, e começa a ter eficácia imediata. A CR faz uma ressalva em
Controle de Constitucionalidade: relação a eles, já que eles não submetem ao princípio da anterioridade.
- Demais impostos = o que conta é a data em que a MP é
convertida em lei, e não a data da edição da MP (art. 62, § 2º da CR).
Esse controle pode analisar dois aspectos: formal ou material. Ex. Presidente da República editou uma MP, sobre a
Aspecto formal: são os dois requisitos exigidos pela majoração de um imposto, em 20/12/09 e esta só foi convertida em lei
Constituição: relevância e urgência. em 05/02/10. Para fins de cobrança do imposto, a anterioridade levará
Aspecto material: o conteúdo da MP tem que ser compatível em conta a data da conversão em lei. Por isso, o imposto só poderá ser
com a Constituição, a matéria tem que ser uma que possa ser tratada em cobrado a partir de 01/01/11.
MP. Conclusão: o que importa é a data da conversão em lei e não
É muito comum perguntarem se o Judiciário pode analisar a da edição da MP.
constitucionalidade da MP no tocante a relevância e urgência.
Essa análise é política ou constitucional? e) Outros Chefes do Executivo, que não o Presidente da
 STF entende que os requisitos constitucionais (relevância e República, podem editar MP?
urgência) devem ser analisados pelo legislativo e pelo executivo quando A CR só se refere ao Presidente da República em seu art. 62.
da edição da MP. A CR só trata do processo legislativo federal, não trata do
No entanto, quando a inconstitucionalidade for flagrante e estadual nem do municipal (é a parte chamada de Constituição Federal e
objetiva, o Poder Judiciário poderá declará-la. não da República, porque só se refere à União).
O Judiciário pode analisar as questões constitucionais, ainda O processo legislativo é norma de observância obrigatória aos
que em regra, não seja a função dele. Estados e Municípios pelo princípio da simetria. Com isto, não significa
Cespe adora essa questão. que uma CE tenha que prever, obrigatoriamente, a edição de MP pelo
O Judiciário pode também analisar a compatibilidade entre o Governador, mas se ela quiser prever esta atribuição, ela terá que
conteúdo da MP e o conteúdo da Constituição. observar as regras básicas no âmbito federal.
Deve ser observada também as limitações materiais impostas Obs.: Atualmente, só os estados do TO, AC e SC prevêem a
a MP, no art. 62, § § 1o e 2o possibilidade de edição de MP pelo Governador.
O STF entendeu que essa previsão nas CEs é constitucional,
 MP objeto de ação direta de inconstitucionalidade. Essa ADI com base no princípio da simetria. A Min. Ellen Gracie adicionou a esse
não vai ser julgada dentro de um prazo suficiente antes de a MP ser entendimento a regra prevista no art. 25, § 2º da CR, que trata do gás
convertida em lei. canalizado, justificando a possibilidade de MP no âmbito estadual.
Após ajuizada a ADI, a MP foi rejeitada no CN. Obs.: No caso do Prefeito, não há decisão do STF sobre o
A finalidade da ADI é assegurar a supremacia da Constituição. assunto. Mas, na doutrina, em razão do princípio da simetria, as leis
Se a MP foi retirada do mundo jurídico, ela não ameaça a supremacia. orgânicas municipais podem prever a possibilidade de edição de MP pelo
Assim, a ADI é extinta por perda do objeto. Prefeito.
Se a matéria da ADI for alterada, a Adi também perde o objeto. - Para que uma lei orgânica traga essa possibilidade a CE
- E se a MP foi convertida em lei. Essa conversão convalida os do respectivo Estado deve também trazer essa previsão?
vícios da MP? Há divergência sobre o assunto. Para Novelino, o
Se houver conversão em lei deve haver o aditamento da entendimento mais correto é aquele que defende a exigência de previsão
Petição Inicial. na CE para também haver previsão na lei orgânica (dupla simetria).
Conclusão: a lei orgânica deve ser simétrica à CR e também à
Constituição do respectivo Estado. É uma dupla simetria da lei orgânica
municipal.

52
MP nos Estados e Municípios: Os ministros que entenderam pela impossibilidade utilizaram o
seguinte argumento: a MP é exceção, devendo ser interpretada
A Constituição não diz que o “Chefe do Executivo” pode editar restritivamente.
MP, mas sim que o PR.
O STF fez uma análise do âmbito estadual: como a MP faz Município: da mesma forma que o princípio da simetria autoriza
parte do processo legislativo, e como o processo legislativo deve os Estados, para o professor, autoriza da mesma forma os municípios.
observar o princípio da simetria constitucional, o Supremo admitiu que as Seria o mesmo argumento.
Constituições Estaduais atribuíssem Medida Provisória para o Ocorre que, no caso dos municípios, a lei orgânica primeiro
governador, desde que haja previsão na Constituição Estadual. tem que observar a Constituição estadual e esta, por sua vez, tem que
A MP Estadual deve obedecer os mesmos requisitos e modelo observar a Constituição federal.
estabelecido pela Constituição Federal. Assim, para que o município possa editar MP, deve haver essa
A ministra Ellen Gracie utilizou outro argumento: mencionou o previsão na Constituição estadual.
art. 25, §2o também como fundamentação. Esse artigo fala do gás Outros defendem que essa previsão na Constituição estadual é
canalizado e diz que é vedada a edição de MP para essa desnecessária.
regulamentação. O professor ressalta que essa questão não é pacífica, mas não
Não faria sentido que o constituinte vedasse a MP para matéria há posicionamento do STF.
reservada aos Estados se eles simplesmente não pudessem nunca editar
MP, seria uma regra desnecessária.
Requisitos:

Iniciativa: todos os legitimados do art. 103 podem todas a


SÚMULA VINCULANTE: iniciativa de pedir ao STF que elabore enunciado de súmula vinculante.
Além desses, são também legitimados: Defensor Público Geral da União,
Tribunais e Municípios (apenas incidentalmente, no curso de processo
que seja parte).
 O art. 3o da lei 11417 traz legitimados não apenas para pedir
Conceito e Regulamentação:
a elaboração da súmula, quanto para pedir o seu cancelamento ou
revisão.
A súmula vinculante está prevista no art. 103-A da CF.  Súmula vinculante pode ser objeto de ADI?
É regulamentada pela Lei 11.417/06. Em princípio, não haveria nenhum impedimento, pois é ato
Essa súmula revela uma certa aproximação entre o sistema de normativo que deve respeito a Constituição.
controle da constitucionalidade com o instituto do stare decisis. No entanto, se os mesmo legitimados que podem propor a ADI
Existem dois sistemas de controle: concentrado e difuso. podem pedir ao STF que cancele ou modifique a Súmula, não faz sentido
No Brasil nos adotamos os dois sistemas, mas, no caso do que eles ajuízem ADI.
difuso, há um sério problema, pois não temos o stare decisis. Há,  A Súmula vicnulante também pode ser feita de ofício, desde
portanto, um controle feito pelo STF, mas essa decisão vale apenas para que observado o quorum de 2/3 dos membros do STF.
as partes envolvidas no processo, o que tem uma natureza diferente do A súmula só vale a partir da publicação.
sistema difuso americano, pois a decisão da Suprema Corte vincula a si ☺ art. 8o do ADCT.
mesma e os Tribunais Superiores.
A Súmula vinculante vem tentar diminuir esse distanciamento,
pois, feito o Enunciado da Súmula, o entendimento deixa de se restringir
as partes e passa a ser válido a todos. Efeitos:

Argumentos da Doutrina: Efeito Vinculante: vincula os mesmos órgãos que ficam


a) Contrários: vinculados na ADI, ADC e ADPF. Ou seja, esse efeito não atinge
- Os órgãos inferiores, por estarem mais próximos da diretamente particulares. Só atinge poderes públicos.
coletividade, têm maior aptidão para constatar suas necessidades e O que atinge os particulares é o efeito erga omnes.
solucionar os seus problemas. - O efeito vinculante só atinge os demais órgãos do Judiciário
- Os tribunais superiores possuem uma tendência maior de (o STF não fica vinculado, ele pode revisar ou cancelar).
acomodação perante as políticas do governo. - Administração Pública Direta e Indireta da esfera federal,
b) Favoráveis: estadual, municipal e distrital;
- Segurança jurídica e maior previsibilidade das decisões. - Quando se fala que o Poder Legislativo não fica vinculado, é
- Uniformização da interpretação (princípio da igualdade). no que se refere a sua função típica de legislar. O Poder Judiciário não
- Maior celeridade em razão da diminuição de recursos para pode impedir o legislador de vincular. Nas demais funções, o Legislativo
tribunais superiores. fica sim vinculado.
Ex: o Legislativo não pode manter parentes em seu âmbito,
mas nada impede que edite lei permitindo tal contratação e, caberá ao
Natureza: STF declarar a inconstitucionalidade da lei.
 O efeito vinculante, ao contrário do erga omnes, atinge além
do dispositivo da decisão, abrangendo também a ratio decidendi. É o
Não há consenso quanto a essa questão. efeito transcendente dos motivos determinantes.
1o entendimento: natureza legislativa (Lenio Streck), pois Parte da doutrina defende que também na súmula vinculante
através dela ocorre a produção de normas gerais e abstratas. se aplicaria o efeito transcendente dos motivos determinantes.
2o entendimento: natureza jurisdicional (Jorge Miranda), pois Os motivos que levaram o Tribunal a elaborar a súmula
necessita de provocação e do julgamento de diversos casos anteriores. também seria vinculantes.
3o entendimento: seria um tertium genus (terceiro gênero),
pois está interposta entre o abstrato dos atos legislativos e o concreto Efeito Temporal: é, em regra, ex nunc. A súmula começa a
dos atos jurisdicionais. valer imediatamente após a sua publicação.
STF: a súmula vinculante tem natureza constitucional É possível a modulação de efeitos, concedendo efeito ex tunc,
específica, são normas de decisão. pro futuro, tendo em vista razões de segurança jurídica e interesse
O enunciado de súmula comum nada mais é que a público, desde que com quorum de 2/3.
uniformização do entendimento do tribunal, já a súmula vinculante não.
Ela não é só isso, ela tem um poder normativo, cria norma geral e
abstrata.
O objetivo da súmula é estabelecer a validade, eficácia e a
interpretação de determinada norma, acerca das quais haja controvérsia
atual que acarrete grave relevância jurídica e multiplicação de processos.
O enunciado de súmula pode ser feito antes de haver uma
grande demanda, justamente para evitar que ocorra a multiplicação de
processos.
O objetivo é, portanto, trazer maior segurança jurídica,
celeridade, etc.

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 RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL: b) Produz coisa julgada.
A maioria entende que a reclamação é uma ação propriamente
dita e não sucedâneo recursal.

Origem e Natureza: Objeto e Legitimação:

Surgiu por criação jurisprudencial. Não surgiu com previsão na A reclamação tem uma dupla função político-jurídica:
lei nem na Constituição. a) Preservar a competência;
Essa criação foi feita com base na Teoria dos poderes b) Garantir autoridade das decisões: podem ser decisões
implícitos – significa que se a CR nos dá determinados poderes, fins, proferidas tanto no controle abstrato como no concreto. Pode ser decisão
presume-se que ela contemplou também os meios necessários para numa ADI, ADC e ADPF como num HC ou MS.
atingi-los. Obs.: Reclamação 4335/Defensoria do Acre: discutindo os
Com a CR/88 a reclamação passou a ter status constitucional. efeitos da decisão do STF sobre a inconstitucionalidade do regime
Hoje na Constituição de 1988, existe previsão de Reclamação integralmente fechado. A defensoria pública entende que os efeitos
tanto para o STF quanto para o STJ. dessa decisão só poderia ser inter partes e não erga omnes como
Natureza da Reclamação: entendeu o STF.
O entendimento que parece ser predominante é o de Pontes
de Miranda, que diz que a reclamação é uma ação propriamente dita, Legitimidade: Na reclamação, qualquer pessoa atingida pela
uma medida jurisdicional. decisão pode ajuizar a reclamação diretamente no STF. Não existe um
Fundamentos: rol de legitimados como na ADI, ADC e ADPF.
a) Tem poder de alterar decisões judiciais;

 RECURSO EXTRAORDINÁRIO: ☺Súm. 282 do STF: é inadmissivel o RE quando não ventilar


na decisão recorrida questão federal suscitada.
☺Súm. 256: o ponto omisso da decisão sob o qual não foram
opostos EDs não pode ser objeto de RE por faltar o requisito do pré-
quesitonamento.
Efeito:
 O STF diz que não cabe RE para reexame do conjunto
Regra: A CR diz que o RE será recebido no efeito devolutivo. fático-probatório.
Exceção: O STF entende que não é cabível RE quando for necessário o
O STF, excepcionalmente, admite efeito suspensivo: reexame de provas. O conjunto fático probatório tem que ter vindo “de
- Se houver risco de ineficácia da decisão. baixo”, não cabe ao STF examinar questão probatória, em sede de RE.
- Quando a questão de fundo estiver sendo discutida pelo
Plenário. - A violação tem que ser direta e não reflexa.
☺Súm. 636: não cabe RE por contrariedade ao princípio
constitucional da legalidade quando a sua verificação pressuponha rever
Aspectos específicos: a interpretação dada a normas infra-constitucionais.

- Não cabe RE no caso de não-recepcao (norma anterior a


A petição de recurso deve observar requisitos específicos. Constituição).
- Preliminar formal de repercussão geral (passou a ocorrer a - Julgar válida lei local em face de lei federal.
partir de 03/05/07): Há uma competência concorrente do tribunal de
origem (ou turma recursal se for Jesp) e do STF para analisar a
existência da preliminar formal de repercussão geral.
Obs.: A análise de repercussão geral é EXCLUSIVA do STF. Análise do art. 102, III, CR:
Ou seja, dizer se há ou não repercussão geral, a competência é do STF.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a
→ Quórum: a rejeição só pode ser feita por 2/3 dos ministros guarda da Constituição, cabendo-lhe:
do STF. III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em
Obs.: Hoje há o plenário virtual. Todos os ministros analisam única ou última instância, quando a decisão recorrida:
pelo seu computador se há ou não repercussão, não precisam se reunir a) contrariar dispositivo desta Constituição;
fisicamente. b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
- Indicação expressa do dispositivo autorizador da Constituição.
interposição: em qual dispositivo da CR está se baseando o recurso, em d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
qual alínea. § 1.º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente
desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na
- Preceito constitucional teoricamente violado pela decisão forma da lei.
recorrida: qual artigo da CR foi violado, objeto do recurso. § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações
- O art. 102, III da CR exige o esgotamento das vias declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e
recursais quando diz causas decididas em única ou última instância (se efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e
cabe recurso, não houve o esgotamento de instância). E exige o à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e
prequestionamento ao dizer quando a decisão recorrida. municipal.
☺Súm. 281 do STF: “É inadmissível o RE quando couber na § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a
justiça de origem recurso ordinário da decisão impugnada”. repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos
termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso,
Pergunta: Cabe RE de medida cautelar ou liminar? somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus
Não são decisões definitivas, logo a causa não será decidida membros.
em única ou última instância, por isso ao é cabível.
A decisão recorrida tem que, de alguma forma, tratar de algum a) Contrariar dispositivo da CR:
dos assuntos previstos no art. 102, II. Para cabimento do RE a violação tem que ser direta e não
reflexa. Se a ofensa for indireta não se admite o RE.
- Pré-questionamento: não é a alegação da parte, mas a Súmula 280 do STF: por ofensa a direito local não cabe RE.
demonstração de que os dispositivos constitucionais apontados como Súmula 636 do STF: não cabe RE por contrariedade ao
violados foram enfrentados no acórdão ou nos embargos de declaração princípio constitucional da legalidade, quando a sua verificação
(se o acórdão não tiver enfrentado a questão. São EDs para pré- pressuponha rever a interpretação da norma infraconstitucional.
questionamento).

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b) Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei Com isto, demonstra que o RE vem perdendo a sua feição
federal: subjetiva (interesse exclusivo das partes, subjetivos), parar assumir a
Obs.: Não cabe RE no caso de não recepção. Ou seja, se a função de defesa da ordem constitucional objetiva (defesa da supremacia
norma é anterior à CR ou ao parâmetro invocado não cabe RE, a da Constituição).
hipótese é de não recepção e não de inconstitucionalidade. A repercussão geral é um requisito prejudicial e antecedente de
c) Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em admissibilidade recursal. Ele atua como uma espécie de filtro recursal,
face da CR: para ver se o RE pode ou não ser admitido.
Obs.: Lei municipal pode ser objeto de ADPF. A Lei 11.446 só trouxe alterações no âmbito processual e não
Obs.: Quando a norma da CE for de observância obrigatória constitucional.
(ex. processo legislativo, TCU) for violada, o STF admite que a decisão
do TJ proferida em única instância, o cabimento do RE para o STF. Pergunta: Em matéria criminal é necessária repercussão geral?
Neste RE, o STF vai analisar a lei municipal em face da Constituição da De acordo com o STF, a lei também deve ser observada em
República e não do respectivo Estado. Motivo: o RE foi interposto de uma matéria criminal, não obstante ter alterado só em âmbito processual.
decisão proferida na ADI. Deve haver repercussão geral para qualquer RE, independente se a
Objeto de controle no âmbito estadual: matéria for civil ou penal.
TJ = lei ou ato normativo estadual ou municipal.
Parâmetro: - Finalidades da repercussão geral:
Âmbito estadual = CE a) Firmar o papel do STF como Corte constitucional:
A lei municipal pode ser objeto de controle abstrato A função do STF é exercer a jurisdição constitucional, atuar
concentrado pode ser objeto do RE no controle abstrato (ADI no TJ) ou como legislador negativo e não decidir toda e qualquer função.
no controle concreto que é o caso mais comum. b) Delimitar a competência (no RE) do STF às questões
d) Julgar válida lei local contestada em face de lei federal: relevantes do ponto de vista social, econômico, político e jurídico que
Obs.: Não há hierarquia entre lei federal e municipal. Ambas se transcendam os interesses subjetivos das partes:
encontram no mesmo nível. Esse é o binômio relevância-intranscendência.
Havendo conflito entre lei federal e municipal, deve-se recorrer Deve ser uma questão relevante e transcender os interesses
à Constituição. É o STF que tem que resolver esse conflito e não o STJ. só das partes, e sim abarcar o interesse de toda a coletividade.
Ex. Se a lei federal invadir a competência do município, a lei c) Uniformizar a interpretação constitucional, para evitar que o
federal será inconstitucional. STF decida várias vezes uma mesma questão:
Não tem motivo do STF decidir a mesma coisa várias vezes,
sob pena de prejudicar a segurança jurídica e gerar injustiças. Por isso, a
Repercussão geral: partir do momento em que o STF firmar um posicionamento, não deve se
discutir a mesma questão outra vez, sem que haja razões novas que
justifique a revisão daquela decisão (transcendência dos motivos ou
☺art. 102, § 3º da CR: a parte que deverá demonstrar a efeitos transcendente dos motivos determinantes).
exigência da repercussão. O STF tem que decidir em quais casos haverá aquele
julgamento, e em qual argumento foi baseada aquela decisão.

 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: - Historicidade: os direitos fundamentais não surgem em um


único momento histórico. Eles decorrem de uma evolução da
humanidade.
Eles são um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao
patrimônio da humanidade.
Introdução: Em 476 d.C acabou a Antiguidade Clássica. Nesta, não existia
a idéia de indivíduo, a idéia de autonomia individual.
Os Direitos e Garantias Fundamentais se repartem em 5 Para os antigos, liberdade tinha conotação essencialmente
capítulos: política.
Era livre aquele que participava da vida da polis.
- Direitos e Deveres Individuais e Coletivos; A liberdade para os modernos é auto-determinação. A
- Direitos Sociais; realização na existência individual e pessoal de cada um – Benjamim
- Nacionalidade; Constante.
- Direitos Políticos; Por volta de 476, surge a idéia de que o homem é feito à
- Partidos Políticos. imagem e semelhança de Deus. Com o fortalecimento do cristianismo,
surge a noção de indivíduo com algumas características de Deus.
Pergunta: Existe diferença entre direitos e garantias? De 476 até 1500, tivemos a Idade Média.
1a posição: não existe diferença. Todo direito é uma garantia e Com a queda do Império Romano, houve uma ruralização da
garantia só se reveste dessa qualidade por ser um direito. sociedade, em razão da invasão dos bárbaros.
2a posição: Rui Barbosa afirma que direitos são normas que Surgem vários centros de manifestação de poder: igrejas,
revelam a existência de um interesse. Portanto, direitos são normas príncipes, reis, corporações de ofícios, associações.
declaratórias. Por volta de 1500, os vários centros se unificaram em um só
Já as garantias são normas que asseguram o exercício de direitos. ser: rei, imperador, moeda única, tributos.
Surgiu o Estado-Nação na Europa.
Os direitos e garantias são imprescindíveis para a realização Em 1789 tem-se a Revolução Francesa, que foi uma luta
das pessoas. Sem eles o indivíduo não convive e muitas vezes nem contra o Absolutismo, contra o arbítrio.
sobrevive. De 476 até 1500, acreditava-se na existência de valores,
pretensões humanas legítimas que independiam do direito posto.
Pergunta: Por que o constituinte tratou dos direitos É o jusnaturalismo de origem divina. Acreditavam que esses
fundamentais no Título II, quanto nas Constituições anteriores eles só valores eram oriundos de Deus.
foram tratados depois do art. 100? De 1500 para frente, até por volta da Rev. Francesa, passaram
Isso ocorreu porque a Constituição 88 entende que o indivíduo a entender a existência desses valores, que eles decorriam da razão
é o fim. O indivíduo está na frente do Estado, que é o meio. humana – jusnaturalismo com origem no racionalismo.
Essa passagem marca a secularização do Estado – separação
Onde se encontram os deveres na Constituição? Uma do Estado da Igreja.
Constituição é instrumento para estabelecer deveres, ou deve Por volta de 1500 ocorreu a passagem do teocentrismo para o
estabelecer apenas direitos? antropocentrismo.
Uma Constituição deve estabelecer deveres fundamentais: O racionalismo + iluminismo = revoluções.
dever de respeitar direitos de terceiros, dever de ser honesto, de pagar Revolução Inglesa – 1688
tributo, de se alista para a defesa da pátria. Revolução Americana – 1776
Revolução Francesa – 1789.
Com a revolução Francesa surgem os direitos fundamentais de
Características: 1a geração.

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Hoje se fala em dimensões, pois geração traz a idéia de Art. 87 do ADCT: A prioridade será para
superação e dimensão traz idéia de acumulação, o que é mais - União = 60 SM. os titulares que tenham:
adequado. - Estados = 40 SM. - 60 anos ou mais:
- Municípios = 30 pagos em primeiro
- Universalidade: independente de qualquer qualidade, SM. lugar 3x P.V.
diferença, condição, todos são contemplados pelos direitos - Pessoas que sofram
fundamentais. de doenças graves.
Não é sinônimo de uniformidade. Se a pessoa tiver Poderá haver o
A universalidade precisa respeitar o multiculturalismo. crédito maior que fracionamento. A
esses valores, não se pessoa pode receber
- Limitabilidade: não existem direitos fundamentais absolutos. admite fracionamento, uma parte como
Por ostentarem natureza principiológica, os direitos fundamentais têm deve receber de uma prioridade e a outra
peso. O mais pesado deve ser aplicado. vez. como os outros
Norberto Bobbio diz que alguns direitos fundamentais são titulares.
absolutos: ex: direito de não ser torturado.
Não existe fundamento para o cidadão ser escravizado. Obs.: No caso de litisconsórcio ativo facultativo, segundo ao
STF, o valor é contado por titular do crédito e não o valor total.
- Não-taxatividade: os direitos fundamentais não se encontram A inscrição deve ocorrer até o dia primeiro de julho do ano
apenas no Título II da Constituição. Eles se encontram espalhados por seguinte. Se for inscrito até essa data, o pagamento poderá ser feito até
todo corpo constitucional. o dia 31/12 do exercício financeiro seguinte. Nesse caso haverá apenas
Ex: art. 5o, §2o → norma de reenvio, que promove um atualização monetária e não incidência de juros.
entrelaçamento simbólico entre os direitos fundamentais e os direitos Ex. precatório inscrito até o dia 01/07/09 deverá ser pago até o
humanos. dia 31/12/10.
Complementariedade entre os direitos humanos e direitos Se o pagamento não for efetuado até essa data. A partir de
fundamentais. É uma cláusula aberta de recepção de outros direitos. 01/01/11, o precatório estará sendo pago fora do prazo e nesse caso
haverá juros de mora.
- Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não se sujeitam Obs.: Com a EC 62, a CR passou a contemplar duas hipóteses
à prazos. de sequestro:

→ Preterimento do direito de precedência:

PRECATÓRIOS (EC 62/09): Deve ser um preterimento dentro da ordem daquele crédito. Ex.
dívida do INSS e do BACEN. Cada um tem a sua ordem própria, por isso
se um passar na frente do outro, não haverá sequestro porque são duas
listas distintas e pessoas jurídicas distintas.

Observações importantes: → Não alocação orçamentária do valor necessário à


satisfação do débito:
Os precatórios são adotados desde a CR de 34 para as Se o valor necessário à satisfação do débito não for previsto no
cobranças contra a Fazenda Pública. orçamento poderá haver o sequestro.

→ Crédito decorrente de obrigação alimentícia: Obs.: Intervenção federal:


Se não houver o cumprimento da ordem, caberia intervenção
Também se submete ao regime de precatório, só que terá uma federal no Estado ou no DF (art. 34, VI) ou no Município (art. 35, IV).
ordem especial. As únicas obrigações que não submetem ao precatório Segundo o STF a intervenção só poderia ser possível no caso
são as obrigações de pequeno valor, pagas através da RPV (requisição de descumprimento voluntário e intencional. O STF entende que a
de pequeno valor). simples demora do pagamento por falta do dinheiro não autoriza a
intervenção.
CRÉDITOS Obs.: Se for para pagamento de juros de mora haverá um
precatório complementar (é a única hipótese de precatório complementar
1- Pequeno valor: 2- Natureza alimentar: 3- Créditos
que permanece).
comuns:
RPV. Precatório: ordem Precatório: ordem
especial. geral.

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