Sie sind auf Seite 1von 163

GERALDO PIRES DE SOUZA, CSSR .

./

ELAS NA BIBLIA
ESPÔSAS E MÃES NO ANTIGO TESTAMENTO

EDIÇõES PAULINAS

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Imprimi potest: São Paulo, H de maio de 1967 Pe. José Ribollo CSSR. Superior Provincial

Nibil obstot: São Paulo, 10-4-1968 - Soe. João Rootto, SSP.

Imprimolur: São Paulo, 12-4-1968 t ]. Lafoyelle, Visário seral

© 1968 BY EDIÇÕES PAULINAS SÃO PAULG

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A graça é falaz e um sôpro a formosura; a mulher que
teme a Deus, essa há de ser louvada.
PROVÉRBIOS 30,31
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
EIS A BÍBLIA

A LEITORA LEIA COM ATENÇÃO AS LINHAS QUE VAO MOSTRAR


O CENÁRIO ONDE APARECEM, MOVEM-SE, TUMULTUAM.
RESPLANDECEM "ELAS". RESUMO OS DADOS DE L. - CL. FILLION
PROFESSOR DA SAGRADA ESCRITURA NO INSTITUTO CATOLICO DE
PARIS. É ATUALISSJMA TAL VISÃO DE CONJUNTO.

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
B
JBLIA significa "o Livro" por excelência, o livro dos
livros. Nome bem merecido por causa do cetro que leva
entre os produtos literários do mundo inteir� Consta
ao todo de 73 livros, repartidos pelo Antigo e Nôvo Testamento.
A palavra "testamento" denota o "testemunho de Deus, a carta
da sua aliança com os homens" Ambos compõem-se dos mes­
mos elementos : história, que conta o passado; profecia, que
antecipa o futuro; teologia, que une o passado e o futuro no
seio da Verdade eterna. ( Fillion) - Hoje diríamos Kerigma.
Diz o Vaticano li: "Deus, pois, inspirador e autor dos
livros de ambos os Testamentos, de tal modo dispôs sàbiamen­
te que o Nôvo estivesse latente ao Antigo e o Antigo no Nôvo
se aclarasse" Antigo e Nôvo formam uma montanha encimada
por uma Luz que é Cristo. São duas vertentes dessa montanha.
Uma anuncia a vinda do Redentor. A outra adora o Verbo
Encarnado, o Homem-Deus, que "levantou sua tenda entre
nós". A Bíblia abrange um espaço de 1.300 anos, na sua língua
hebraica, isto é antes de Cristo.
Consta de Livros históricos (21), Livros poéticos ( 7),
Livros proféticos ( 18 ). Tudo no Antigo Testamento. No Nôvo
Testamento enumera Livros históricos ( 5), Livros didáticos
(21) que são cartas dos Apóstolos, Livro profético ( 1), Apo­
calipse.
Os nomes da Bíblia variam. Ora é chamada de Lei. Ora
Livro santo, santas Letras. Cristo Senhor usava o têrmo "Es­
critura".

A Bíblia é um livro divino e humano. Leva por isso


grandes privilégios sôbre os outros produtos da literatura.
De todos os livros é o mais belo, mais rico, mais perfeito e
útil. Por entre suas linhas e palavras há presenças que falam,
comovem, ensinam.

13
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Deus é o autor dos livros, fala o Vaticano li, confirman­
do antiga doutrina da Igreja: "Ele utilizou-se dos homens
escolhidos, sem tirar-lhes o uso das próprias capacidades. E
isso a fim de que agindo êle próprio nêles e por êles, consig­
nassem por escrito como verdadeiros autores tudo e só aquilo
que êle próprio quisesse". O Concílio vê nisso uma condes­
cendência da eterna S abedo ria . Pois as palavras de Deus, ex­
pressas por línguas humanas, se fizeram semelhantes à lingua­
gem humana. Tal como outrora o Verbo do Pai Eterno, haven­
do assumido a carne da fraqueza humana, se fêz seme lhan te
aos homens.
A par com tal grandeza caminha o lado humano. Vive­
ram com diferenças de tempo e espaço seus escritores, assis­
tidos por Deus. Escreveram sem errar, poré m , guardando os
matizes individuais de caráter, de estilo, de cultura, de região
e de época. Daí a encantadora variedade da Bíblia na sua uni­
dade, na sua inerrância.

Sob a vigilância e estima da Igreja

Inspirada por Deus, escrita ao longo dos séculos por


homens como amanuenses de Deus, a Bíblia foi entregue, é
t ransmitida , confiada, explicada pela Igreja. Com isso ela exer­
ce o "mandato e ministério divino de guardar e interpretar a
palavra de Deus" (Vat. li). A Igreja se esforça, instruída pelo
Espírito Santo, para conseguir, cada dia, compreensão mais
p rof unda, a fim de incessantemente nutrir seus filhos com os
ensinamentos divinos (ibidem ) .

14
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A es tima da Igreja é estimulante. Sem receio afirma no
Vaticano li que sempre venerou as divinas Escrituras, como
ao próprio corpo do Senhor. Sob retudo, na Sagrada Liturgia,
toma sem cessar da mesa da palavra de Deus e do Corpo de
Cristo o pão da vida e o serve aos filhos. Nos Livros Santos,
com efeito, o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao
encontro de seus filhos e com êles conversa.
Em tempos antigos o mesmo sacrário guardava o pão
eucarístico e os livros santos. Hoje ainda a Igreja fala da dupla
mesa "com a qual os fiéis se nutrem do Verbo de Deus com
a Sagrada Escritura e com a Eucaristia", como vimos acima.
A história eclesiástica está provando a afirmação. Os que difi­
cu1tavam a recepção da comunhão, dificultavam também a
leitura da Bíblia. O rigorf usado para com a recepção da pri­
meira vigorava também contra a segunda. Hoje a Igreja acen­
tua o princípio, a afirmação antiga: "Ignorar as Escrituras é
ignorar a Cristo".

As três presenças na Bíblia

É afirmação católica que são três essas presenças : a


do pecado, a da graça, a de Cristo. Nossa leitora irá encontrá­
-las, bem reais, gritantes, inegàvelmente eloqüentes.
Há paisagens "de carvão e de sangue, figuras de barro
e de ouro" Crimes humanos, arrependimentos, perdões divi­
nos após mensagens de graças vão-se revezando. Por ser histó­
ria da humanidade vão-se encontrando, nesse livro que reflete

15
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
a vida, homens autênticos. Previno já para a leitora não se
desorientar com tais encontros.
Mas a presença central é a de Cristo Redentor. E a do
Messias prometido, esperado, convidado de geração em gera­
ção. Diz Charlier: "Nos dois planos, horizontal e vertical, lógi­
co ou histórico, estável ou evolutivo, todos os temas dou­
trinais da Bíblia se orientam para um só ponto: Cristo. Êle
é o centro da Bíblia no plano da encarnação da Palavra. Para
o homem chegar a Deus precisa juntar-se a Cristo. A Bíblia
é a Palavra de Deus que se faz audível. Cristo é a Palavra de
Deus que se faz visível. Deus só tem palavra. Pronuncia-a
sàmente para dá-la. Só a pré-encarna na Bíb lia, para encar­
ná-la no seio da Virgem"
Santo Agostinho usa uma comparação que agradará à
leitora que já foi mãe ou está "esperando" Diz êle que "a Lei
é grávida de Cristo" O filho esperado já é uma presença para
a mãe. Entre êle e ela pode até haver um diálogo, fantasiado
pelo encantamento e preocupação da espera. E o qLtC acon­
tece na Bíblia que espera e acolhe a C risto. Falando do Antigo
Testamento nosso mesmo doutor compara-o a uma lira. Sono­
ras por natureza são sàmente as suas cordas. Entretanto a
caixa que as sustentam dá-lhes ressonância. O Antigo Testa­
mento dá sonoridade ao nome e ao reino de Cristo.

Seu clima moral

Outros tempos, outros costumes. Você, leitora, precisa


contar com certo relativismo moral. Explico� e e explico os
têrmos. Isso é preciso para julgar o comportamento moral
de homens e mulheres, que viveram em outros tempos e

16
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
lugares. As normas absolutas e universais de moralidade são
certamente as mesmas, para todos os homens. Tais como o
são as normas da verdade. Todavia só lentamente se vão elas
impondo. E sempre parcialmente, graças aos esforços con­
tínuos do cristianismo.
A moral semítica traz o colorido do deserto, onde a
vida individual não é possível senão integrada num corpo co­
munitário, firme. Os atos dos indivíduos são julgados confor­
me a repercussão sôbre a vida do clã. Aprova-se o que lhe
ajuda o desenvolvimento. Assim a destruição dos inimigos
da nacionalidade, a duplicidade para com êles, as leis sexuais
com vistas a evitar a extinção da família, etc. Nesta perspec­
tiva comunitária os direitos dos indivíduos passam para se­
gundo plano. Dêles abdicar em favor do grupo, parece normal.
Mesmo em circunstâncias que nos parecem heróicas, ou tal­
vez repreensíveis.
De Abraão a Cristo podemos distinguir uma lenta e
ampla evolução moral, nem sempre retilínea, sofrendo recuos,
retrocessos temporários. Para nós é bom seguir-lhes a rota
na Bíblia. Apreciaremos melhor o tranqüilo pôrto da moral
cristã para a qual ela nos encaminhou. É bom a gente sentir
a servidão do jugo do pecado. A Bíblia acalca-o sôbre nossos
ombros. Então será mais compreendida a libertação que Cris­
to nos adquiriu.
E. a vez dêste livro, em suas mãos, leitora. A vez, agora
que é extenso e intenso o interêsse pela Bíblia.· Vivo e atuali­
zado pelo Concílio Vaticano /I, com a Liturgia da Palavra,
nas Missas .
Quero, com êle, a liturgia de sua vida sacramental de
casada, na Palavra. Por isso desfilam espôsas, mães e donas
de casa da Bíblia, aos olhos de suas companheiras de hoje.
Elas foram de ontem, mas humanas com nomes, qualidades

17
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
e defeitos. Tumultuam na Bíblia com nossas aspirações, nos­
sas fraquezas·, nossa vocação. E até com as baixezas de nossas
quedas, como alguém observou muito bem.
Língua, bôca, coração de Deus é nome dado por Santos
Padres à Bíblia. Logo as mulheres, boas e más nas suas voca­
çõesi são contadas por Deus às suas irmãs de hoje. Pensadas
como modêlo e reprovação, como exemplares ou escândalos.
Mas sempre para instrução de boas vontades atentas.
Por isso o livro tem sua vez na atual época, no atual
interêsse com suas atuais leitoras.

O Autor
São Paulo, 20 de fevereiro de 1 968

18
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
EVA
A MAE DOS VIVENTES

DO LIVRO DO GÊNESIS 2,18.22-24.

DEPOIS DISSE O SENHOR DEUS: NÃO É BOM QUE O HOMEM ESTEJA SÓ;
FAR-LHE-EI UM AUXILIAR IGUAL A ÊLE". DEPOIS DA COSTELA DO
HOMEM, O SENHOR DEUS FORMOU UMA MULHER E APRESENTOU-A
AO HOMEM E O HOMEM DISSE: DESTA VEZ É A CARNE DE MINHA
CARNE E O OSSO DE MEUS OSSOS; ELA CHAMAR-SE-Á MULHER POROUE
FOI TIRADA DO HOMEM". POR ISSO, O HOMEM DEIXA O PAI E A MÃE E
SE UNE A SUA MULHER E FORMAM UMA SÓ CARNE

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
is aí o primeiro casamento no mundo. Mas que noiva

E e que padrinho ! Noiva sem par na história milenária


do mundo pela sua fascinante beleza, meiguice e ter-
nura. Revestida de luz e inocência, entre o florido cenário
do Paraíso. Nunca noivo algum super0u a Adão no seu des­
lumbramento à vista de tal noiva. Deslumbramento e com­
preensão do programa divino, como suas palavras exprimem.
E continuam os homens deixando pai e mãe, indo a0 encon­
tro da eleita de seus corações, noivas e espôsas . Continuam
formando uma só carne na mútua e total entrega de si mes­
mos .
O que importa à leitora é o pr0grama d e Deus e de
Adão. Você foi imaginada, criada e apresentada para auxiliar
seu marido. Ideada como companheira insepar�vel, como pre­
sença amorosa na vida dêle. Como pessoa humana seu mari­
do tem corpo e alma, tem destino terrestre e celeste, neste
e no outr0 mundo. Ora corpo, alma, destino devem sentir
sua presença, leitora. Coração, sensibilidade física, anseios da
alma, dias e noites, horas alegres e sombrias na vida dêle
hão de ter alguém como auxiliar. f:.sse alguém há de ser você.
Cristo aperfeiç0ou esta união, tornando-a um sacra­
mento santificador, permanente, rico de graças. Mas 'sem lhe
mudar o programa e com a riqueza de uma graça de estado.
Você, irmã e leitora, vive agora num estado sacramental. Pois
o sacramento perdura enquanto vivem 0s cônjuges.
O afamado Concílio Vaticano II deitou suas luzes sô­
bre o estado matrimonial. Percorreu todos os seus domínios,
humanos e divinos. Fal0u do amor, divino e humano. Deu-lhe
dimensões que viviam apagadas. Viu as grandezas e apuros
nos dias de hoje, com os perigos para a alma e o corpo.
Em dois lugares há menção particular da vida matrimo­
nial. Menção particular quando fa)a do "Povo de Deus e d0s

21
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
leigos" . Em ambos os capítulos torna-se evidente o caráter
especial de " sinal" que cabe a êss<: estado, que é válido para
todos os fiéis. Em ver�ade do sacramento os cônjuges pos­
suem, primeiramente um para o outro, uma função especial
de sinal e de atuação para o matrimônio, na verdade sempre
de Deus para criatura ( relativamente ) como Cristo para Igre­
ja. E isso numa doação mútua e recíproca, dentro do matri­
mônio : um pelo outro e um para o outro.
Em segundo lugar, a tarefa característica no matrimô­
nio - como sinal e atuação - recai sôbre os filhos, consi­
derando-se os laços da família que constituem a "ecclesia do­
mest4;a". Neste, têm os pais o encargo especial de anunciar
o Reino de Deus, pelo exemplo e pela palàvra.
No matrimônio, como tal, a mútua reciprocidade é de
"um para o outro num duplo sentido : o de doar ( repre­
sentando Cristo, a cabeça ) e o outro de r:eceber (represen­
tando a Igreja ) . De fato, ambos juntamente no mesmo ato :
cada um é todo o amor ( gra-ça ) para o outro, enquanto ao
mesmo tempo recebe do outro todo amor ( e graça ) " ( Schulte,
no Vaticano 11 ) .
Em resumo, ajudam-se os cônjuges a santificar um ao
outro, de um duplo modo : na vida conjugal e na aceitação
e educação dos filhos. Por isso, no seu estado e função, têm
um dom especial dentro do Povo de Deus.
Falo linguagem do Vaticano 11, que abriu largos e lu­
minosos horizontes . Não podem os casados de hoje viver
mirando os pequenos horizontes de suas casas. Quer o refe­
rido Concílio que os pais sejam para os filhos, pela palavra
e pelo exemplo, os primeiros mestres da fé. Como vê a leitora,
trata-se da "presença da Igreja no mundo" por meio da vida
conjugal, da família na sociedade.
- Meu Deus, meu marido, meus filhos ! - a contínua

22
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
presença do plano de Deus, falado no paraíso e continuado,
atualizado hoje, pelos fulgores do Vaticano 11. Falharia a
espôsa solícita pelas roupas, pelas d0enças e preferências do
marido, como única tarefa. Sem dúvida sobejam maridos
bem trajados, bem alimentados, bem saciados e acalmados
nos seus sentidos . Mas suas almas ? a vida divina nêles ? Não
compensa andar êle correto apenas na vida pr0fissional, so­
---
cial, mas ser um omisso na vida religiosa.
Sempre valerá a afirmação que reclama sejam marido
e mulher duas mãos postas, louvando a Deus. Pois haverá,
caso de um desinterêsse pelas almas, dois punhos acorren­
tados na desgraça. Log0 a leitora será companheira e auxiliar
de seu marido, para êste mundo e para o outro . Nunca a
queixa de Adão se deve repetir :
" Senhor, a mulher que tu me deste, deu-me do fruto
proibido e eu comi"

24
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SARAI E AGAR
RELí\ÇÕES PATROA- EMPREGADA

DO LIVRO DO GÊNESIS 16,1-2

ERA SARAI ESPOSA DE ABRÃO. NÃO LHE DAVA NENHUM FILHO.


TINHA PORÉM ELA UMA ESCRAVA EGÍPCIA CHAMADA AGAR, E DISSE
SARAI A ABRÃO: "EIS QUE O SENHOR ME FEZ ESTÉRIL,UNE-TE, TE PEÇO, À
MINHA ESCRAVA, TALVEZ EU POSSA TER FILHOS DELA."

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
arai era espôsa dedicada, muito bonita e fiel compa­

S nheira nas c0ntínuas andanças e mudanças do marido .


:E:ste vivia estendendo e enrolando sua tenda, nômada-
mente. Seguia a ordem do Senhor. De Ur da Caldéia foi para
Haran, de lá para Siquém, rumando depois para o sul da
Palestina até ao Egito. Era rico em bois e ovelhas . Eleito
por Deus possuía quatr0 promessas divinas . Ei-las : promes­
sa de uma descendência inulif'erável como as estrêlas do céu;
promessa de .favores insignes , espirituais e temporais; pro­
messa de uma grande glória e a de ser êle uma fonte de
bênçãos.
Já era velha Sarai e queria ver o comêço dos filhos
sem conta de Abrã0 . Seu nome significava "minha princesa"
Mas onde estavam os filhos, os príncipes ? Foi então que
recorreu ao expediente supramencionado . Era tolerada tal
substituição. A escrava podia ocupar o lugar de espôsa secun­
dária. E seu filho pertencia então à ama. Quem era d0na da
árvore, era também dona do fruto.
Os Santos Padres louvam-lhe a prudência oferecendo
ao marido uma mulher de casa. conhecida. Louvam-lhe a fé,
porque esquecida de sua digi:üdade, quer que se realize a
promessa divina sôbre a estrelada descendência de Abrão . Têm
louvores para sua humildade que cedeu seu lugar a uma es­
crava. Sarai foi recomnensada mais tarde. Mudou-lhe Deus
o nome e pôs um berço em sua tenda, dando-lhe um filho .
Agar engravidou e vend0-se abençoada, mais do que
a patroa, começ0u a desprezar a estéril e velha. Nessa altura
Sarai já não era a mesma. Começou a recriminar o marido
porque a tratava "de modo injusto" Abrão respondeu-lhe
enfim : "Tua escrava está em teu poder; faze dela o que
quiseres" Sarai maltratou Agar de tal forma que teve de
fugir.

27
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Por que riu Sara, dizendo: "Possível
que eu dê à luz, agora que estou ve­
lha?" Há, porventura, algo difícil pa­
ra Deus? Voltarei a ti no momento
vital, e Sara terá um filho
(Gên 18,13-14)

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
No deserto o anjo do Senhor encontrou a perseguida,
junto a uma fonte. Aconselhou-a que voltasse para junto da
sua senhora. Indicou o nome a ser dado ao filho que espe­
rava: Ismael. Descreveu o gênio de Ismael e a enorme des­
cendência dêle. O menino seria como um jumento bravo.
Sua mão se levantaria contra todos e a mão de todos con­
tra êle .
Sarai, portanto, j ogou ·nos braços do marido outra
mulher. Já viu a leitora . quais 0s motivos que teve para usar
dessa tolerância. Hoj e são condenáveis as espôsas que ati­
ram outras mulheres nos braços de seus maridos . São as
difíceis, as saudosas, as ausentes, as ultra-sociais esvaziando
o lar. São as desleixadas nos seus arranj os e vestidos. Lá
fora o marido encontra garridas e perfumadas primaveras.
Trazem o coração nos lábios e as promessas nos olhos. Por
instinto descobrem os maridos "viúvos", que têm espôsas vi­
vas. Elas hoje são tantas e tais, como dizia nosso padre
Vieira!
Querem os Provérbios· "que os encantos da espôsa se­
j am o recreio do marido, em todo o temp0 e no seu amor
busque êle as delícias" ( 5,9 ) .
Sarai é interessante sob mais um aspeto. Era de rara
formosura. Por duas vêzes foi tirada de Abrão e dada a sobe­
ranos de duas terras . Dava-se como irmã de Abrão, a C0n­
selho dêle. De fato o pai era comum, dela e dêle. Não, porém,
a mãe. Não ponha reparo nisso, leitora. Tudo tolerância do
Senhor, num povo de moral incipiente. Mas nada aconteceu
a Sarai. Os senhores que a tomaram foram avisados por Deus
e respeitaram-na. Abrão usou dêsse expediente para não ser
maltratado ou liquidado, se dissesse que era marido. O último
rqpt0r de Sarai deu-lhe um conselho : que tomasse cuidado
com sua beleza, para não ser "apanhada mais uma vez"

30
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Se você foi prendada com beleza, leitora, lembre-se da
função vocacional desta prenda. Destina-se ao marido, aos
filhos, aos planos de Deus. Não pode servir para exibição,
provocação e rivalidades . Nesse caso os Provérbios usam de
um têrmo para classificá-la. Por favor, leia no capítulo 1 1 o
verso 22!
Ouça a exclamação de Sto. Agostinho: "Deus, em quem
e de quem e por quem, é belo e é bom tudo que é belo e bom!"
Está aí a origem da beleza feminina.

.31
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SARA E AGAR
DESAVENÇAS ENTRE DUAS MÃES

DO LIVRO DO GÊNESIS 21,9-10

SARA VIU O FILHO DE AGAR, A EGÍPCIA, AQUELE QUE ELA HAVIA


DADO À LUZ A ABRAÃO, FAZER GRACEJOS DE SEU FILHO ISAAC,
E DISSE A ABRAÃO: "EXPULSA ESSA ESCRAVA E SEU FILHO,
POIS O FILHO DESSA ESCRAVA NAO SERÁ HERDEIRO COM MEU
FILHO ISAAC."
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
N
0sso patriarca sabia das promessas de Deus. Viviá à
espera do filho herdeiro. Já antes do nascimento de
Ismael, sentado à porta de sua tenda, sob o céu estre­
lado do deserto, queixara-se ao Senhor : "Senhor Javé, que
me dareis vós ? Eu irei sem filhos e o herdeiro de minha casa
será Eliezer de Damasco. Vós nã0 me destes posteridade, e
é um escravo nascido na minha casa que será o meu herdeiro"
( Gên 1 5 ,2-3 ) . A promessa firme, renovada por Deus, sossegou
o queixoso.
Depois do nascimento de Ismael, que não seria her­
deiro, o Senh0r mudou os nomes do casal de velhos.
Mudar o nome é de importância considerável , sobre­
tudo no Oriente, diz Daniel - Rops . O nome não designa, não
exprime apenas . O nome cria, suscita. Em vez de Abrão,
usará o nome de Abraão, que significa "pai de uma multidão"
E para bem marcar que Sarai não desceu do conceito, que
continua ass0ciada ao destino do marido, recebe o nome de
Sara, o qual exprime uma idéia de preeminência a alguma
coisa, como "vossa Alteza" (O povo bíblico p . 26 )
Sara escutou um ·dia essa promessa, riu-se por ser ve­
lha unida a alguém mais velho ainda. Mas veio Isaac, quando
o pai tinha cem anos e a mãe seus 96 . Disse ela: 11Deus deu-me
algo de rir e todos aquêles que o souberem se rirão comigo" .
E ajuntou : "Quem teria previsto aue Sara amamentaria fi­
lhos a Abraã0 ? Pois eu lhe dei um filho em sua velhice" ( Gên
2 1 ,6 ) . Você, leitora. pode rir também. Está convidada.
A frase do cabeçalho foi dita por Sara na festa, quando
desmamaram Isaac, aos três anos conforme costume do Orien­
te. Abraão sentiu "essa fala" porque amava Ismael. Acal­
mado p0r Deus, levantou-se de manhã. tomou pão e um odre
com água que pôs nas costas de Agar. Entregou-lhe o menino
e despediu-a. Ela saiu pelo deserto, com água nas costas, o

35
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
menino pela mão e mágoa no coração. Acabada a água veio
a ameaça da morte pela sêde. A mãe deixa o menino sob um
arbusto e senta-se, pouco distante, em frente, porque não
queria ver o menino morrer. Chora e chama por Deus. E Deus
acudiu-a, garantiu-lhe a vida e o futuro do filho. Mais ainda.
Abriu-lhe os olhos e ela viu um poço, onde foi encher o odre
e deu de beber ao menino ( Gên 2 1 , 1 4ss ) .
Nesta história tem a leitora cenas domésticas desagra­
dáveis. Crianças criando problemas para os pais. Mãe atribu­
lada, com a morte diante· dos olhos. Mas aparece o dedo de
Deus mostrando um "poço de água", quando a desesperada
julga que ela e o filho morrerão de sêde. Sempre foi assim.­
Deus tem ouvido muito fino para a prece aflita das mães, em
desertos ou fora dêles, antigamente e ainda hoje também.
Sara desagrada a leitora com sua ordem de expulsão.
Mas era ótima espôsa de um marido nômade, percorrendo
de ponta a ponta uma terra, conforme ordem de Deus ( Gên
1 7 ) . Sara não discutia itinerários nem perguntava por êles .
Hoje com maridos "turistas" é apreciada a espôsa que faz
o mesmo, não estraga a viagem com mau humor. Sara esfu­
ma-se na sombra de seu marido . Mas ela foi grande quando,
velha e estéril, fêz seu papel no primeiro
' "triângulo" humano
que a história aponta.
Aqui tem a leitora uma das lutas entre patroa e escrava.
Hoje chamam-se donas de casa e domésticas com seus pro­
blemas. Hoj e temos mentalidades mudadas e leis respectivas.
Leis que obrigam de lado a lado. Temos a tal justiça salarial
imperativa e temos, com sérias exigências, a lei da caridade.
Esta impõe trato digno da pessoa humana, preocupação com
a -vida cristã das domésticas. A doméstica não pode ser tra­
tada como um móvel, uma mobília. Seu quarto exige ar e

36
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
luz. O horário . de seu trabalho há de ser legal e humano, res­
peitando seus deveres religiosos.
Os filhos da família hão de respeitá-la e jamais dela
abusar quando suas formas são bem desenhadas . Ainda vol­
taremos ao assunto. Gostaria que alguém se lembrasse de
lhes preparar uma sede social, com reuniões sadias e alegres,
com assistências indicadas.
Nota interessante de um filósofo e economista cristão
diz: "Convém lembrar que não é só pelas desregras do sexo
que uma família se torna má; é também, e sobretudo, pelas
práticas da injustiça entre as quais devemos destacar o mo­
do como se tratam as empregadas domésticas e o critério
com que se arranjam empregos para os filhos" (Claro e es­
curo p. 147).

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
REBECA
A MÃE PARCIAL

DO LIVRO DO GÊNESIS 27,8-10

REBECA DISSE A SEU FILHO JACO: "AGORA PORTANTO. OBEDECE-ME E


FAZE O QUE TE ORDENO. VAI AO REBANHO E TRAZE-ME DOIS BONS
CABRITINHOS. PARA EU FAZER DELES. PARA TEU PAI. UNS PETISCOS A
SEU GOSTO, E TU LHOS LEVARÁS PARA QUE COMA DELES, E TE
ABENÇOE ANTES DE MORRER."

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
m cenário idílico : um campo, uns camelos deitados ,

U um poço com água, horas d a tarde, um hom�m sen­


tado sôbre uma pedra. Um grupo de mulheres apro­
xima-se trazendo cântaros . Uma jovem, "extrem�mente bela
e virgem" desce ao poço, colhe sua água e já vai de volta.
- Jovem, queres dar-me um pouco da água de teu
cântaro ? - fala o desconhecido.
- Bebe, meu senhor - respondeu ela inclinando o
cântaro ao sedento. - Vou buscar água também para os
teus camelos .
Eliezer, o enviado d e Abraão em busca de uma noiva
para Isaac, estremece de alegria. Acabara de ouvir a senha
apalavrada com Deus para lhe mostrar a noiva desejada. Se­
gue-se um diálogo que' esclarece tudo . Tratava-se de Rebeca,
sobrinha de Abraão. E ela garantiu que em casa havia pouso
para Eliezer. e muita palha e forragem para os camelos, que
eram dez. Tudo ficou acertado e abençoado pelos pais que
a cederam como noiva procurada.
Rebeca, além de prestimosa, era filha e irmã querida
em casa. Não quis consentir no adiamento por dez dias, co­
mo lhe propuseram para a partida. Saiu abençoada com os
votos para que "se tornasse mãe de milhares e milhares e a
sua posteridade possuísse a porta dos seus inimigos" ( Gên
24 .60 ) . Como espôsa encheu de claridade e calor a solidão
de Isaac, que a desposou e ela tornou-se sua mulher muito
amada, na tenda de Sara já falecida. Dêsse momento em
diante Isaac consolou-se da morte de sua mãe.
Rebeca agora vai ser mãe. Eram gêmeos que lutavam
no seu ventre. A mãe queixa-se, perguntando por que lhe
acontece isso . Deus responde-lhe, consultado. "Tens duas na­
ções no teu ventre. Dois povos se dividirão ao sair de tuas
entranhas . Um povo vencerá o outro e o mais velho servirá

41
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ao mais nôvo" Nasceram as cnanças, Esaú primeiro e de­
pois Jacó.
Diferenciaram-se os irmãos, sendo Esaú hábil caçador
e homem do campo, preferido pelo pai . Jacó era homem pa­
cífico, de pele lisa e preferido pela mãe. Essa preferência
levou Rebeca a industriar o filho para iludir o pai com os
cabritos e com as roupas de Esaú, que tinham "fragância de
campo em flor" A bênção de um patriarca valia por uma
fortuna. Hábil dona de casa, Rebeca tinha tudo bem guar­
dado e conservado como mostram as linhas do capítulo vin­
te e sete do livro sagrado.
Preparou o ardil para iludir o velho quase cego qu�
era o pai, Isaac. E ainda mais. Afirmou que tomaria sôbre
si a maldição dêle, caso descobrisse a fraude de Jacó e o
amaldiçoasse. Com isso encorajou o tímido. Tudo por cau­
sa da predileção pelo filho que era meigo, caseiro e não era
cabeludo e ruivo como o irmão. E assim conseguiu roubar
a bênção da primogenitura em favor do filho preferido .
"Nessa altura j á havia desaparecido o amor sentido
pelo velho espôso . Sua única paixão é seu filho favorito. Es­
tá disposta a fazer tudo por êle. Na vida astuta dêsse filho
parece-nos ver uma prolongação das qualidades menos valio­
sas de sua mãe" ( Morton ) .
Logo apareceu o resultado . Esaú, à vista do lôgro, quis
matar o irmão. Soube-o Rebeca e avisa seu queridinho, man­
da-o fugir para junto de seu irmão Labão, em Haran . Me­
rece louvores seu cuidado em impedir que o filho despose
algumas das môças de Het . Afirma que nesse caso prefere
morrer. Já estava vendo o acontecido com Esaú, casado com
uma hitita.
Môça prestimosa oferece-se a matar a- sêde de dez
camelos . Só vend0 quanto bebem, é que se pode avaliar a

42
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
cortesia de Rebeca. Espôsa dedicada alegra o marido . Doria
de casa habilidosa sabe guardar roupas, preparar ràpidamen­
te pratos a gôsto do marido, já de paladar envelhecido. Mas
falhou como mãe na preferência dada a Jacó.
Bem caro foi o preço que a vida cobrou do tal prefe­
rido. f:le mesmo declarou a Labão, seu sogro : "Eis já vinte
anos que estou em tua casa; servi-te catorze anos por tuas
duas filhas, seis anos pelos teus rebanhos e dez vêzes modi­
ficaste lJ meu salário" ( Gên 3 1 ,4 1 ). Mas o pior e mais dolo­
roso foi o lôgro que lhe pregaram os filhos numa crueldade
inaudita. Mataram um cabrito e com seu sangue embeberam
a túnica de José, o filho predileto de Jacó, depois de o ven­
derem aos ismaelitas. Queriam que o pai a visse e depois a
reconhecesse c0mo a de José, devorado por uma fera. Con­
seguiram seu intento ( Gên 37,33 ) . Por favor, leitora, não
imite o êrro de Rebeca, aliás desculpada por alguns intér­
pretes da Bíblia. Ela estaria ciente da venda da primogeni­
-tura ao filho mais môço e dos desígnios de Deus, preferin­
do-o como herdeir'J da promessa e da bênção. Favoreceu-o
por isso até com certos subterfúgios que nos parecem pouco
honestos . Mas em sua consciência pareciam legitimados por
aquela profecia durante seu parto ( Gên 35,2 1 ss ).
Mulheres da Bíblia levam muitas vêzes em seus nomes
o lema brevíssimo de sua vida. Rebeca quer dizer "arma­
dilha", numa tradução ou interpretação, como observa Fau­
lhaber. Em nosso caso serviu como tal. Caçou a bênção .do
velho Isaac para o filho preferid0.
Contudo Rebeca continua sendo proposta às espôsas
cristãs como modêlo de prudência, conforme lemos na bên­
ção nupcial : " Evidentemente trata-se dessa prudência sobre­
natural que consiste n'J profundo sentido do valor de tôdas
as coisas e gestões na perspectiva do plano de Deus" ( J . Le­
cuyer ) .

43
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Bebe, meu senhor, e apressou-se em descer o
cântaro em sua mão e deu-lhe de beber
(Gên 24,18)
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Vê a leitora o exemplo de uma parcialidade materna .
Tudo em favor do filho que vivia agarrado à saia materna,
como dizemos nas famílias . Pagou por êsses def�itos . Pois
sua vida termin0u na obscuridade, como se fôra estéril, diz
J. Weisheu. Não teve o consôlo da presença de seus filhos .
Leitora e irmã, não lhe imite o êrro, que teve preç0 para ela
e para o filho. Preferências espalham rivalidades, enchem o
"paiol dos ressentimentos " Imperdoável seria imitar aquela
mãe parcialista, que justificava sua preferência por certo fi­
lho. Mas, como ? Pois o filho lhe herdara os traços . a
voz . . os gestos . . . , os cacoetes . e os defeitos.

46
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
LIA E RAQUEL
IRMÃS E M CONFLITO

DO LIVRO DO GÊNESIS 30,1; 35,18

ORA, VENDO RAQUEL QUE NÃO DAVA FILHOS A JACÓ, TEVE INVEJA DE
SUA IRMÃ E DISSE A JACÓ; "DA-ME FILHOS, SENÃO, MORREREI"...
PARTIRAM, DEPOIS, DE BETEL E QUANDO FALTAVA AINDA UM BOM
PEDAÇO DE CHÃO PARA CHEGAR A ÉFRATA, RAQUEL DEU À LUZ, MAS
TEVE UM PARTO DIFÍCIL. AO EXALAR A ALMA, POIS MORREU, PÔS-LHE
O NOME DE BEN-ONI

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ntes de falecer, o patriarca Isaac mandara seu filho

A Jacó não desposar filha de Canaã, mas procurar uma


espôsa na casa de Labão, irmão de Rebeca ( Gên 28,1 ) .
Lá se toca então Jacó para Padan-Aram à procura do tio e das
primas . Junto ao poço conversa com os pastôres. Nisso che­
ga Raquel, com o rebanho de seu pai, porque era pastôra.
Vê-la e por ela se apaixonar foi uma só coisa. R0mântico,
trazia gravados na alma os traços encantadores de sua mãe
e agora via-os naquela môça, que era "bela de talhe e de
rosto" ( Gên 29, 1 7 ) No rosto lhe brilhavam dois olhos ne­
.

gros, viv0s como os de uma gazela. Até ho.ie os árabes do


deserto os apreciam.
Foi um rebuliço a chegada do primo, que encontrou
Labão e suas duas filhas : Lia e Raquel. Lia, a mais velha,
tinha os olhos defeituosos, era mais calada. Já apaixonado,
Jacó ajustou sete anos de trabalho nas pastagens do tio, em
troca da mão de Raquel. Findo o prazo, foi logrado, rece­
bendo Lia como espôsa, porque o tio lhe dissera " que aqui
não é costume casar a .mais nova antes da mais velha"
Jacó, um d0s tipos mais contraditórios do Antigo Tes­
tamento, já começa a pagar a exploração que fizera da fome
do irmão, comprando-lhe a primogenitura por um prato de
lentilhas . Começa a ter o trôco do ardil com que roubou a
bênção de seu velho pai. Mas seu tenaz amor por Raquel
aceitou mais sete anos de serviço para lhe ser espôso. Desta
vez foi mais fácil o salário. Labão lhe entregara Raquel, sete
dias depois do casamento com Lia. No primeiro contrato os
sete anos lhe pareciam dias por causa do muito amor a
Raquel.
Nesta altura devo a você, irmã leitora, uma explicação
para impedir seu escândalo. Casamento com duas irmãs ?
Sim. E ainda por cima cada uma levou consigo uma escrava.
E as duas escravas funcionaram mais vêzes como espôsas

49
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
secundárias. Naquele tempo não eram proibidos tais casa­
mentos. Só depois ( Lev 18,18) Deus o s proibiu. Do con­
trário a Bíblia não contaria o fato, caso fôsse chocante e
escandaloso.
Logo surgiram as rivalidades entre as irmãs. Lia, em­
bora menos amada, foi contemplada por Deus com quatro
filhos. Seus nomes nasciam de circunstâncias eventuais ou
dos sentimentos da mãe. Naquele tempo as mães referiam
tudo ao Senhor, a esterilidade como a fecundidade, seio aben­
çoado com o seio fechado. Entretanto Raquel, a predileta,
continuava estéril, roendo-se de ciúmes e inveja da irmã. En­
tra em cena sua exclamação que encabeça estas linhas. Zan­
ga-se Jacó porque não é "Deus para recusar ou dar fecun­
didade" (Gên 30,2). Agora é a vez da escrava, Bala, en­
tregue por Raquel como espôsa secundária. Por ela a estéril
seria fecunda. Veio um filho, mas vei"J outro para Lia, de­
pois que sua escrava Zelfa já lhe dera dois filhos.
Raquel estava perdendo a aposta da fecundidade. Mos­
trou-se supersticiosa com as suas mandrágoras. A irmã j á
contava com seis filhos, entre os seus e os da escrava. Mas
Deus lembrou-se de Raquel e tornou-a fecunda. Nasceu então
José que seria grande figura no Egito. Grata pelo filho disse
ela: "Deus tirou o meu opróbrio; dê-me o Senhor ainda
outro filho".
Raquel tinha acentuados defeitos. Há quem só lhe
reconheça apenas a beleza e muitas outras más qualidades.
O caso não é raro. Mostra sua inveja, seus ciúmes. Sabe dis­
cutir, é petulante. "Como legítima filha de seu pai - observa
Faulhaber - é bastante sem caráter para se despedir dêle
entre enganos e mentiras. Sem o pai e o marido saberem,
havia empacotado sorrateiramente as imagens dos ídolos -
os terafim -, na supersticiosa intenção de tê-los consigo, co­
mo amuletos para a viagem e como patronos do lar em sua

51
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
nova pátria ( 3 1 , 1 9 ) . Quando o pai se tocou atrás da cara­
vana, em busca também de seus ídolos, e entrou na tenda
da filha, foi por ela logrado ( 3 1 ,35 ) . Na nova pátria, porém,
pouco a pouco, foram-se esclarecendo as idéias religiosas de
Raquel. Como prova de tal esclareciment0, e divórcio dos
deuses estranhos, concordou com seu marido em sepultar os
ídolos, sobra do paganismo, em sua tenda, sob um terebinto,
perto de Siquém" ( 35,2-4 ) .
Os filhos de Lia e de suas escravas deixaram seus n'J­
mes designando as tribos de Israel. Só o último filho de Ra­
quel e mais dois netos fizeram o mesmo : Benjamim, Efraim
e Manassés. Ela não figura na genealogia de Cristo. Essa
honra coube a Judá, primogênito de Lia.
Raquel foi grande, morrendo mártir de sua vocação
materna. Nasceu-lhe "o filho da dor", como pronunciaram
seus lábios de moribunda : Benjamim ( Benoni ) . Já cumprira
sua missão. Seu marido levantou ali - na estrada, ao norte
de Belém - sôbre seu túmulo, um monumento que domi­
nava como um sinal, até longe, aquela região. Diz Faulhaber
que até nossos dias continua apontado pelos peregrinos. úl­
tima homenagem de Jacó à sua idolatrada espôsa. Velho e
alquebrado, contava êle a0s filhos : "Porque ao vir eu da
Mesopotâmia, morreu Raquel na terra de Canaã, ali no cami­
nho. Era tempo de primavera e eu ia entrar em Éfrata e por
isso a sepultei perto do caminho que tem o nome de Bethlehem
ou Belém".
Pendem hoje bandeiras e estandartes ornando o tú­
mulo da mãe-mártir. Cristãos, h ebreus e maometanos visi­
tam-no com freqüência. Muitas vêzes passou ao lado de sua
sepultura um forte, esbelto e jovem herói : Davi . O profeta
Jeremias, ao ver o povo de Israel caminhar para o exílio, pare­
ce ·ouvir um chôro saindo do túmulo da mãe Raquel : "La­
mentações, amargo pranto ouve-se lá das alturas de Belém.

52
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Raquel chora seus filhos e não se deixa consolar porque não
mais exis tem" ( Je r 31,15 ) . Séculos e séculos depois há uma
luminosa noite por ali naqueles campos, quando anjos anun­
ciam a chegada do Messias . Hoje a Liturgia da festa dos
santos Inocentes recorda o pranto de Raquel, misturado às
lágrimas das mães chorando o m0rticínio de seus filhinhos,
vítimas de Herodes .
Formosamente diz Faulhaber : "Mais tarde, o Emanuel,
no caminho de Belém a Jerusalém, passou pela sua sepultura
e a sombra dêle caiu sôbre o seu túmulo. Então foi como se
os ossos de Raquel jubilassem no fundo da cova, como João
no seio de sua mãe, e saudassem a "esperança das colinas
eternas" Doutro lado, também a sombra do Emanuel sau­
dou a falecida e lhe terá dito o que disse a um contempo­
râneo : "Também tu não estás longe do Reino de Deus" ( Me
12,24 ) .
Raquel foi mãe heróica. Teve, tem e terá suas imi­
tadoras nas maternidades cristãs . São tantas as mães que
ainda hoje enfrentam o dilema da vida ou da morte, acabando
por escolher a vida para os seus filhos e a morte para si mes­
mas . Deixam assim o heroísmo como herança de sangue e
de lágrimas . Leitora e irmã, ao chegar a " sua hora", tenha
você a "misericórdia de Deus como parteira" , na bela expres­
são da bênção antes do parto. Portanto, procure tal bênção
com confiança inabalável . Mas não vacile n0 dilema. Lem­
bre-se que a vida não tem bens suficientes para nos indenizar
do esquecimento, da covardia perante um dever.
Um dia o nome de Raquel foi invocado como bênção
no casamento de Booz com Rute ( Rt 4,1 1 ) E quando você
.

recebeu a bênção nupcial, manifestou a Igreja um desej o e


uma prece : "S"e amaveI como R aque1" .
'

53
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TAMAR
ASTÚCIA DE MULHER

DO LIVRO DO GÊNESIS 38,24-25

CERCA DE TRÊS MESES DEPOIS, FOI DITO A JUDÁ: "TAMAR, TUA NORA,
PROSTITUIU-SE, E INCLUSIVE CONCEBEU DA SUA PROSTITUIÇÃO". JUDÁ
ORDENOU: "TRAZEI-A PARA FORA PARA SER QUEIMADA”. MAS
QUANDO ERA LEVADA PARA FORA, ELA MANDOU DIZER A SEU SOGRO:
"DO VARÃO A QUEM PERTENCEM ESTES OBJETOS EU CONCEBI". E
ACRESCENTOU: “EXAMINA BEM DE QUEM SÃO ESTE SELO, O CORDÃO E
O CAJADO”
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
amar, ficara viúva de Her, primeiro filho de Judá.

T A lei do levirato, ainda não escrita, prescrevia que o


irmão do falecido desposasse a viúva, dando-lhe um
filho. E êsse era contado como filho do falecido. Onan to­
mou Tamar por mulher, mas não queria que fôsse um filho
seu reputado como de Her, seu irmão . Nessa má intenção
frustrou o ato conjugal, praticando o crime que lhe traz o
nome. É o pai do onanismo, infelizmente tão conhecido de
muitos casais, hoj e em dia.
Agora era a vez de Sela, o terceiro irmão. Mas por ser
ainda nôvo, achou seu pai que Tamar deveria esperar por
mais algum tempo. Continuaria viúva-noiva. Havia também
por parte de Judá outro receio, à vista da morte dos outros
dois filhos. Her e Onan eram homens maus aos olhos de
Deus, que os feriu de morte. "Não é bom - pensava Judá
- que Sela morra como seus irmãos" ( Gên 38,11 ) .

Tempos depois morria a mulher de Judá. Passado o


luto, lá se toca Judá para a festa de uma tosquia de ovelhas
em Tamna. Informaram Tamar dessa vinda do sogro. Ela,
já desconfiada pela demora do seu casamento com Sela, ago­
ra homem feito, recorreu a um ardil, desesperada por causa
de um filho . Queria que um dos seus descendentes alcan­
çasse os dias do Messias prometido. Queria entrar na famí­
lia que guardava as promessas do Senhor.
Tamar depôs os seus vestidos de viúva, cobriu-se com
um véu e, assim disfarçada, assentou-se à entrada de Enaim
por onde deveria passar o sogro tão deslembrado do que
prometera. De fato, Judá parecia não ver o tamanho de Sela
"que já havia crescido" Viu-a Judá, não a reconhecendo. To­
mou-a até por uma hieródula, mulher consagrada, entre os
pagãos, ao culto da deusa da impureza.
C0mprou-lhe então o corpo e o prazer por um cabrito,
animal relacionado no caso. Mas Tamar, femininamente as-

57
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Do varão a quem pertencem.
êstes objetos eu concebi. Exa­
mina bem de quem são êste
sêlo, o cordão e o cajado
(Gên 38,25)
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
tuta, aceitando o cabrito a lhe ser mandado, exigiu a entrega
imediata de um penhor. f:sse penhor consistia no anel, no
cordão e no bastão que estavam com Judá. Indicavam êles
a importância de seu dono e o bastão era encimado por uma
flor ou um fruto ou um passarinho. Assim era fácil reco­
nhecer a quem êle pertenceria.
Com Tamar ficaram êsses objetos e um filho conce­
bido. Judá mandou por um amigo o cabrito, para retirar o
penhor das mãos "daquela" mulher. Era uma posse incomo­
dativa, mais do que objetos e perfumes que maridos infiéis
trazem em seus carros, hoje em dia. Tamar não foi encon­
trada e os interrogados negaram morasse entre êles uma hie­
ródula.
Noticiada a Judá a infidelidade da noiva-viúva, as
coisas precipitaram-se. Noiva e espôsa estavam sujeitas ao
mesmo castigo quando infiéis : fogueira. O sogro decidiria,
como o fêz Judá. Mas no caminho para o suplício, Tamar ex­
clamou, mostrando o tal "penhor" que recebera : "Do varão
a quem pertencem êstes objetos eu concebi; . . examina bem
de quem são êste anel, o cordão e o cajado" Judá, reconheceu­
-os e disse : "Ela tem mais razão do que eu, porque eu não a
dei a Sela, meu filho" ( Gên 38,25-26 ).

Foi reprovável o procedimento de Tamar ( a palmeira ) ,


diminuído em parte pela vergonha da esterilidade e pela con­
duta de Judá em lhe recusar o noivo prometido. Antigamente,
em eras primitivas, havia leis que obrigavam o sogro a ca­
sar-se com a nora que ficasse sem filho, com a morte do
marido e na falta de outros cunhados. No caso Judá nem
deu pelo disfarce da nora à beira da estrada. Não deixa de
ser culpado, mas pagou peJo êrro, depois de o reconhecer.
Coisa interessante, leitora e irmã. Tamar aparece no
Evangelho, na lista genealógica de Cristo, por meio de seu
filho Farés. Sempre a lição do Senhor : quem viera para sal-

60
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
var os pecadores, admite pecadores e pecadoras na sua ge­
nealogia, como os admitirá na hora da morte na cruz. Hoje
admite-os na arrependida confissão.
O cardeal Faulhaber chama Tamar, do ponto de vista
da moral, "uma figura tenebrosa da era dos patriarcas" E
isto não obstante seu belo nome de " Palmeira" Casada repe­
tidas vêzes com homens moralmente degradados, perdeu ela
mesma sua firmeza moral. Uma comovedora tragédia j az
oculta sob o nome de Tamar, o primeiro nome de mulher do
Evangelho. ( Nota - Primeiro evangelho é o de S. Mateus ) .
Na árvore da genealogia de Cristo esta pecadora oca­
sional é uma fôlha atrás da qual se esconde um segrêdo. Que
segrêdo ? Deus não pensa como nós, ao escolher os antepas­
sados para seu Filho, nascido de uma Virgem Santíssima. �
isto que motiva as obras de apostolado em favor das decaí­
das. Santos e santas de Deus interessaram-se por elas ao
longo da história. Oltimamente Pio XII e Paulo VI encora­
j aram a campanha para reeducá-las, reclassificá-las.
Queira você, leitora, sintonizar suas idéias e seu cora­
ção com estas ondas. Partem do coração de Deus .

61
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ESPOSA DE PUTIFAR
SEDUTORA RE PELIDA

DO LIVRO DO GÊNESIS 39,13-14ss

VENDO-O FUGIR E ABANDONAR-LHE O MANTO NA MÃO, ELA


CHAMOU OS DOMÉSTICOS E LHES DISSE: "VÊDE, TROUXERAM-NOS
EM CASA UM HEBREU PARA BURLAR DE NÓS! VEIO A MIM,
PRETENDENDO DORMIR COMIGO, E UNIR-SE A MIM; MAS EU GRITEI
EM ALTA VOZ; E ÊLE, OUVINDO-ME LEVANTAR A VOZ E GRITAR,
DEIXOU O SEU MANTO EM MINHAS MÃOS E, FUGINDO, SAIU PARA
FORA.”
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
J
osé, vendido por seus irmãos, fôt comprado por ismae­
litas e outra vez vendido no Egito, indo parar na casa
de um dos altos funcionários da casa real. Putifar, era
seu nome, agradou-se do jovem e correto hebreu e em suas
mãos entregou tudo, porque tudo corria bem ordenado por
José. Eis nosso herói feito mordomo. Seu chefe apenas sa­
bia do pão que comia.
Surge agora uma mulher sensual e pecadora. Apaixo­
na-se pelo jovem "que era belo de corpo e de rosto" Dirige­
-lhe convites indecentes, querendo com êle repartir seu leito
conjugal. Nosso môço é firme na recusa e franco na moti-
vação.
"Vê, meu senhor nem sequer sabe, como sei eu, quanto
existe nesta casa, e tudo o que lhe pertence o confiou a mim.
Ninguém há mais importante do que eu nesta casa, e êle
não reservou nada para si, exceto tu, porque és sua espôsa.
Como posso, pois, fazer tão grande mal e pecar contra Deus ?"
Mas a infame criatura continuava com seus convites.
Irritava-se com a constante recusa em resposta a seus reite­
rados convites . Lançou seus olhos e seu coração sôbre José
a quem agarrou certo dia, quando ninguém estava em casa.
Tôda ardendo em sexualidade, repete-lhe o convite de adúl­
tera. José deixa-lhe nas mãos o manto e foge. Então essa
espôsa pode ter sido a primeira mas não a última, a mostrar
o clássico rancor de mulher humilhada. Grita, alarma a cria­
dagem, calunia José - êsse hebreu -, mostra o manto como
prova do crime. Ao chegar o marido, repete a mesma acusa­
ção, cheia de vingança e cheia de culpa. "O servo hebreu que
nos trouxeste em casa, veio ter comigo para zombar de mim.
Mas apenas eu levantei a voz e gritei, êle deixou comigo a
veste e fugiu para fora" Mostra o corpo de delito que guar­
dara como prova. E José foi parar no cárcere, sem mais

65
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Mas êle deixou-lhe o manto na mão e, fugindo, saiu
para fora
(Gên 40,12)
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
indagações por parte de Putifar, que " só sabia de seus ban­
quetes" .
Minha leitQra detesta certamente tôda infidelidade por
parte do marido. Sei que é imenso o número de espôsas
traídas, humilhadas, publicamente não raras vêzes. Contudo
eu lamentaria se você andasse justificando seus passos erra­
dos com os crimes do marido, reais ou supostos. Nã0 acuse
a Igreja de ser tolerante com os homens e implacável com
as mulheres . A moral é uma para homem e mulher. Já dizia
são Jerônimo : " Entre cristãos o que está proibido à mulher
continua proibido ao homem".
Na Lei antiga havia o test "das águas da amargura"
( Núm 5 , 1 8 ) . Eram águas da maldição, obedeciam a certo
rito e deviam ser bebidas pela mulher de cuja fidelidade ti­
nha o marido ciúmes, desconfiança. Mal algum sofria a acu­
sada, bebendo a água amaldiç0ada na sua inocência. Não
estava devendo culpa alguma. Mas a maldição era instantâ­
nea, quando acusação e culpa coincidiam no caso. Eis a
maldição divina no rito dessas águas : "O ventre da mulher
inchará, seus flancos emagrecerão e ela será uma maldição
no meio de seu povo" ( Núm 5 ,27 ) . Ao contrário, sendo ino­
cente, nada lhe acontecia, e era recompensada com filhos .
É impressionante para uma cristã saber que, como in­
fiel ao marido, será uma maldição no meio de sua família,
de seu povo. Já nã0 existem as águas da amargura, mas a
maldição do pecado continua em pé. Portanto, leitora irmã,
é seu marido um infiel ? Lastime seu crime como cristã, acon­
selhe-se como espôsa, mas jamais se converta em outra mal­
dição na casa, imitando-lhe o êrro numa criminosa desforra.
Está aí o heróico exemplo da patrícia romana, Isabel Mora,
suportanto e rezando por um marido viciado e infiel. Con­
verteu-o.

68
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Nunca será demais afirmar que valores diferem de
valores, conforme o ângulo que se toma. Uma cristã leviana,
mundanizada, não sente o pêso de um pecado de infideli­
dade. Não tem instinto de sacramentada para aperceber-se
dos perigos e das ocasiões que a isso levam. Pior ainda. Bem
pode ser o marido o primeiro a expô-la ao êrro e depois fazer
dêle um drama ou uma tragédia.
Por isso a lei tora há de ser, com a graça de Deus, a
primeira protetora de si mesma, da sua fidelidade, venham
de onde vierem os perigos.

69
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ASENET
A ESPÔSA VENCIDA

DO LIVRO DO GÊNESIS 41,44-45

DISSE O FARAÓ A JOSÉ: "EU SOU O FARAÓ; MAS SEM TI NINGUÉM


LEVANTARÁ A MÃO OU O PÉ EM TODO O EGITO”. E IMPÔS-LHE O
NOME DE SAFNAT-PAANEH, E DEU-LHE POR ESPÔSA ASENET, FILHA
DE PUTIFAR SACERDOTE DE ON. E JOSE PERCORREU TODO O EGITO.

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
P
ermita-me a leitora deixar o chão firme da história,
para pisar terra iluminada pela luz de um luar de lenda.
Não está na Bíblia o que vou relatar. Mas vem lem-
brado por escritores apócrifos e é do conhecimento de São
Jerônimo. Nada de confundir êste Putifar com o marido da
mulher infieL Diz a lenda que Asenet era formosíssima jovem,
muito briosa e presunçosa. Sabia-se uma formosura. Era
de costumes muito puros.
A isso unia profundo desprêzo a todos os homens e
só tolerava ter por espôso o filho do próprio Faraó. Na casa
paterna havia uma tôrre muito alta que terminava num apar­
tamento de dez aposentos. Eram todos enfeitados com luxo
e gôsto. Lá vivia nossa Asenet no meio de ídolos, de estátuas
e de riquezas . Sete môças, lindas como estrêlas, serviam-na.
E tôdas da mesma idade, nascidas numa mesma noite.
Ao ouvir que seu pai pretendia desposá-la com José,
como corria de bôca em bôca, indignou-se. Casar com um
arrivista, um estrangeiro, um heb reu ? Nunca! Dar sua linda
mão a um antigo escravo, entregar-se a um homem que tentara
seduzir a espôsa de seu amo? Jamais! Não era êsse herói um
evadido de uma prisão? Onde se viu ser ela o prêmio para um
adivinhador de sonhos, coisa que qualquer mulher velha podia
fazer ? Ela, Asenet, de modo algum diria um sim à descabida
proposta.
Mas um dia anunciaram-lhe que, pela manhã, chegaria
José. Depressa Asenet sobe à ponta da tôrre, para evadir-se
ao necessário encontro. Levada pela curiosidade, espreita o
visitante que repudiava. Mal o viu ficou cativa da beleza
irradiante de sua pessoa. Trazida à sua presença, sentiu frou­
xos seus j oelhos e exclar.nou : " Pobre de mim! Sou uma 'insen­
sata por ter desprezado êste homem, dono de beleza sem par.
Sim, que o pai a êle me entregue, como escrava e não como

73
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Nasceram a José dois filhos, que
lhe deu Asenet, filha de Putifar,
sacàdote de On
(Gên 41,50)
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
espôsa. Servi-lo-ei por tôda minha vida" E a José : "Salve o
senhor que é um abençoado de Deus".
- Salve, - retrucou José. - O Deus de Jacó lhe dará
também a bênção.
E quando a convite do pai quis dar a José o beijo da
paz, êste deteve-a c0m as palavras : "O homem cuj a bôca
abençoa a Deus vivo, não saberá retribuir o beijo da paz à
mulher estrangeira, cuj0s lábios bendizem os ídolos,. inanima­
dos e surdos" Diante de tão severo acolhimento, Asenet rom­
peu em lágrimas . Compadecido disse-lhe José, abençoando-a :
- Deus de Israel, Deus de meus pais, vós que fazeis
nascer a luz das trevas, a verdade do êrro, a vida das sombras
da morte, abençoai esta j0vem e purificai seu coração, dignan­
do-vos contá-la um dia no número do p0vo eleito. Purifi­
cai seu coração para isso !
Voltando a seus aposentos, Asenet jog0u pela j anela
seus ídolos. Cobriu-se de luto e chorou durante uma semana
inteira. No fim dêsses dias, um anjo do Senhor trouxe-lhe a
garantia de Deus lhe haver perdoado os pecad0s e que casaria
com José. O Faraó em pessoa quis presidir as núpcias . Du­
rante uma semana foi feriado nlJ Egito.
Passado êsse tempo, José cuidou de seu cargo, amea­
lhando fartura para os dias de penúria. Sua carruagem era
luxuosíssima, puxada por quatro cavalos brancos como a neve.
f:le, vice-rei, traj ava vestes r�ais, pondo em alegre alvorôço
os lugares onde passava. E então as môças, largando suas
ocupações, iludindo as vigilâncias, "correndo pelos muros"
queriam ver êsse homem de fortuna e de beleza deslumbrante.
Diz a Bíblia que Asenet deu dois filhos a José : Manas sés
e Efraim . Seus nomes eram descritivos dos favores outorga­
dos·por Deus. O velho Jacó, já doente no EgitlJ, disse : "Manas­
sés e Efraim são meus filhos como Rubem e Simeão" Pediu

76
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
que dêle se aproximassem e tomando-os nos braços beijou-os.
Depois deu sua bênção de patriarca aos dois meninos. Propo­
sitalmente trocou as mãos, colocando a direita sôbre a cabeça
do mais nôvo, Efraim. Reparando o engano, quis José corrigi-lo,
avisando que Manassés era o mais velho . Mas o patriarca
recusou a troca, profetizando que o mais nôvo cresceria mais
do que o outro e " sua posteridade tornar-se-ia uma multidão
de nações" ( Gên 48,5 .i 7 ss )
.

Ambos oficialmente ficaram pertencendo ao povo eleito.


Jacó ajuntou que os abençoados seriam lembrados pela fórmu­
la das bênçãos : "Deus te torne semelhante a Efraim e Manas­
sés" ( Gên 48,20).

77
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
RAAB
A HOS PITALEIRA DE MÁ FAMA

DO LIVRO DE JOSUÉ 2,12ss

RAAB DISSE AOS EXPLORADORES: "AGORA, POIS, JURAI-ME POR DEUS,


QUE, COMO EU USEI DE MISERICÓRDIA CONVOSCO, TAMBÉM VÓS
USAREIS DE MISERICÓRDIA PARA COM MINHA PARENTELA; E DAI-ME
UM SINAL SEGURO DE QUE DEIXAREIS VIVOS MEU PAI, MINHA MÃE,
OS MEUS IRMÃOS E MINHAS IRMÃS, E TODOS OS QUE LHES
PERTENCEM, POUPANDO-NOS DA MORTE”
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
hegam a Jericó uns espiões enviados por Josué, coman­

C dante das tropas que devem conquistar Canaã. Já os


precedera a fama dos prodígios que "o Senhor fizera
na passagem do mar Vermelho, nas vitórias sôbre os inimigos"
Foram bater à casa de Raab, hospedeira que repartia cama e
mesa com os hóspedes. Era uma prostituta. Pensavam poder
com essa ambigüidade escapar à vigilância dos inimigos. Mas
se enganaram. Logo depois de hospedados foram procurá-los
uns enviados do rei .
Mas Raab fizera-os subir ao terraço da casa, ocultando­
-os sob palha de linho. Ainda por cima deu outro rumo aos
seus perseguidores : "Persegui-os depressa e os alcançareis;
partiram pela tarde quando se fechavam as portas da cidade"
( Jos 2,4 ).
Em seguida foi ter com os espiões e lhes confessou
sua fé no Deus "nas alturas do céu e aqui na terra" Falou-lhes
que o coração do povo estava desfalecido perante os prodígios
do Senhor em favor dêles. Ninguém tinha coragem de ofere­
cer-lhes resistência. Declarou que iria favorecê-los, em troca
da proteção que dariam a ela e à família inteira, " quando o
Senhor lhes entregar a terra"
Os espiões juraram por sua vez, sob a condição de um
sinal que marcasse sua casa. Finalmente, j á à noite, ela os des­
ceu por uma janela, servindo-se .de uma corda. Estando sua
casa encostada na muralha, alcançaram os espiões o campo
aberto.
Ide para o monte, ajuntou Raab, e ocultai-vos ali
durante três dias, para que não vos encontrem os vossos
perseguidores; depois retornareis o vosso caminho . - De
regresso, relatadas a Josué a exploração e a combinação, rece­
beram ordem de poupar a casa de Raab , quando da conquista
da cidade, "cujos habitantes já tremiam de mêdo diante dêles"

81
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Josué conquistou a cidade, acentuando a ordem aos
dois espiões para que retirassem da cidade Raab e sua família.
Foi fácil dar com a casa de cuja janela pendia a corda escar­
late. Assim foi salva aquela pecadora. Foi uma declaração de
fé que a salvou, acentua São Paulo ( Hebr 1 1 ,3 1 ) E suas obras
.

a justificaram na sentença de São Tiago, que lhe dá o nome ·


de meretriz ( Tg 2,25 ) .
Raab e os seus converteram-se, uniram-se ao povo de
Deus . Casou-se depois com Salmon e foi mãe de Booz, avoen­
go de Davi, de quem Cristo é chamado filho. Assim Raab, a
prostituta, entrou na genealogia do Salvador. Apesar da triste
profissão exercida, soube ela guardar nobreza na alma, pedin­
do a salvação para todos os seus . Hoje suas infelizes imita­
doras não são umas deserdadas de tôda nobreza. �rro tre­
mendo é desprezá-las . A caridade cristã manda que, ao lado
da compaixão para com elas, haja um interêsse apostólico
pela classe.
Pio XII animou uma instituição que vive trabalhando
pela recuperação dessas decaídas . Preveniu-a para que contas­
-se com a oposição dos maus e "incompreensão" dos bons.
Ultimamente Paulo VI assim falou à Federação Internacional
Abolicionista da escravatura branca ( que explora a prostitui­
ção; procura, transporta, vende as infelizes ) :
"Trata-se com efeito de uma das taras mais desoladoras
de nossa sociedade moderna. Poder-se-ia crer que a consciên­
cia acrescida pelos direitos da pessoa humana, que é a honra,
e a nobreza dos homens de nosso tempo, teria começado a
desaparecer progressivamente. Realmente os resultados obti­
dos em várias nações - graças, em grande parte, a movimen­
tos como o vosso - parecem à primeira vista entusiasmantes.
·
Porém mais do que qualquer um outro, vós sabeis quanto é

82
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
difícil extirpar êste mal, quanto é hábil o renascimento sob
formas mais ou menos clandestinas, desprezand0 as institui­
ções legais mais preciosas , que infelizmente com muita fre­
qüência permanecem ainda "letra morta, por uma culpável
inação dos podêres públicos.
A luta na qual vós estais engaj ados não apenas não
deve diminuir o seu esfôrço, mas pel0 contrário deve-se in­
tensificar de tôdas as maneiras . Esfôrç0 de informação e
educação, para que cada um compreenda a parte de sua
responsabilidade nesta dolorosa situaçã0 e as conseqüências
decorrentes do cumprimento de seus deveres de cidadão livre
e responsável. Além disto êstes esforços encontram uma pro­
funda ressonância, com tôda naturalidade, em nossos contem­
p0râneos porque se incluem na linha das conquistas que nossa
época - dizíamos há pouco - exige com justa nobreza. Em
que tempo fomos mais sensíveis do que hoj e aos direitos e
à dignidade da pessoa humana ? Quanto temos mais protes­
tado contra a 0pressão, tomado a defesa dos fracos, reinvi­
dicado a autonomia da pessoa humana "à exploração do homem
pelo homem" ? Porém em que domínio esta exploração é mais
evidente e mais revoltante a não ser neste indign0 comércio,
que podemos com razão chamar como a forma mais degra­
dante e desprezível da escravidão moderna, vergonha da so­
ciedade ?"
E Paulo VI passa a falar da obra de reeducação, do
problema da reclassificação, d0 inserimento na vida normal
das vítimas, j á levantadas e desejosas de um lugar honrado
na sociedade. Fala da sua alegria em ver aumentados os cen­
tros de reeducação e assistência onde se preparam espôsas e
mães dignas dêste nome ( 1 3 de maio de 1966 ) .

Nossa leitora e irmã está vendo, portanto, que indi­


ferença, desprêzo não são cabíveis, sobretudo hoje, na era

84
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
do apostolado leigo. Em nossa terra o Exército da Salvação,
( irmãos separados) dá uma lição a nós católicos, no que faz
pelas decaídas.
Por isso, reforme você suas idéias, suas expressões e
atenda ao apêlo dos papas. Ajude a levantar as d ecaídas, a
inseri-las num lugar honrado na sociedade. Dê seu apoio a
centros onde as infelizes são preparadas para serem "espô­
sas e mães dignas dês te nome" Assim você será cristã .
atualizada.

85
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
RUTE
A N OR A AFE IÇ OADA

DO LIVRO DE RUTE 1,16-17

NÃO ME INSTES A TE ABANDONAR, AFASTANDO-ME DE JUNTO DE TI;


PORQUE PARA ONDE, FÔRES IREI TAMBÉM, E ONDE TE ESTABELECERES,
ESTABELECER-ME-EI; TEU POVO É O MEU POVO, E TEU DEUS, O MEU
TAMBÉM. ONDE MORRERE, AÍ QUERO MORRER E SER SEPULTADA O
SENHOR ME FAÇA ISTO E AINDA ME ACRESCENTE AQUILO, SE OUTRA
CAUSA, A NÃO SER A MORTE, ME SEPARAR DE TI.

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
N
o tempo da fome um homem partiu de Belém com sua
mulher e seus dois filhos . Foi morar nos campos de
Moab . Mortos o marido e os dois filhos, já então casa­
dos, Noemi, a viúva, resolveu regressar para sua terra. Orfa
e Rute acompanharam a sogra desolada. Mas a certa altura ela
aconselhou-as que voltassem para suas terras, e chamou sôbre
elas muitas bênçãos. Falou da sua dor por ter perdido marido
e filhos . Choraram as noras, mas Orfa beij ou-a e voltou.
Nossa Rute respondeu-lhe como acima leu a leitora.
Nova insistência de Rute mencionou o Deus de Noemi,
em resposta aos deuses mencionados pela sogra. O primeiro
era o verdadeiro e os outros eram falsos deuses pagãos . Não
estranhe a leitora essa menção. Como israelita, Noemi conhe­
cia o verdadeiro Deus . Todo o mundo antigo admitia que QS
deuses estrangeiros recebiam um culto legítimo em seus terri­
tórios respectivos. A mudança de região acarretava troca de
religião . Daí o conselho dado a Rute para que voltasse para
os deuses de sua terra ( Louis Pirot, La Sainte Bible ) .
Também não adiantou Noemi dizer-lhe que nã0 podia
arranj ar-lhe marido e com êle um filho também. Bela união
de duas criaturas, que até hoje são sinônimos de briga e rixas.
O idílio continua cada vez mais humano e encantador. Chega­
das a Belém, as mulheres da cidade foram saudar Noemi
( a amável ) , bela e querida, que agora trocava seu nome pel0
de Mara, a amargurada.
Rute, com a permissão da sogra, foi então respigar no
campo de quem a acolhesse. :E:sse campo foi o de Booz, o
filho de Raab . Homem b0m, e já de mais idade, interessou-se
êle pela "jovem moabita" , falou-lhe com brandura, querendo
bebesse ela água da mesma bilha das servas . À hora do almôço
fêz questão da presença de Rute ao seu lado com os ceifado­
res . Deixou ordem aos mesm0s : "Não a molesteis e deixai

89
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
cair, como por descuido, algumas espigas ( de trigo) para
que ela as apanhe; sobretudo não a censureis de forma algu­
ma" ( Rt 2 , 1 5 ).
Nossa bela ceifadora voltou bem carregada para casa
e relatou a boa acolhida recebida. Noemi informou-a sôbre
o parentesco de Booz, sôbre seu direito de "resgate" sôbre
ela e a nora. Abria com isso um futuro risonho para a nora,
que podia ser de.sposada por B00z. �ste nosso fazendeiro
foi mais longe, aconselhando Rute a respigar cevada e trigo
nos seus campos até o fim da colheita, sem procurar outros
lugares. Pois já tinha ouvido falar da sua bondade para com
a cunhada, Noemi.
O desfecho é rápido . A conselho de Noemi, Rute vai
deitar-se, à noite, aos pés de Booz. Nem faltou a cautela nos
pormenores. Deveria lavar-se, ungir-se, pôr suas melhores
vestes e apresentar-se sem se deixar reconhecer por êle, a não
ser depois de deitado. E entrando deveria levantar a cober­
tura dos pés do adormecido . E depois esperar o que o acor­
dado lhe diria.
Foi seguido o roteiro traçado pela sogra casamenteira.
"Booz comeu e bebeu e o seu coração ficou alegre; depois
disso deitou-se junto de um monte de feixes . Rute aproxi­
mou-se de mansinho, afastou a cobertura de seus pés e deitou
ali. Pela meia-noite o homem despertou espavorido; . voltou-se
e viu uma mulher, deitada a seus pés.
- Que és tu ? - disse-lhe.
- Eu sou Rute, tua serva, - respondeu ela. - Esten-
de o teu manto sôbre tua serva, porque tens o direito de
resgate.
- Deus te abençoe, minha filha, - disse êle. - Esta
tua última bondade vale mais que a primeira, porque não
escolheste jovens, pobres ou ricos. Agora, minha filha, não

90
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
temas; tudo o que disseres eu te farei. Pois todo mundo sabe
que és uma mulher virtuosa ( Rt 3,7ss).
A conselho de Bo0z, Rute ali dormiu até pela manhã
e levantou-se antes que os companheiros seus pudessem conhe­
cer uns aos outros. Era medida de prudência exigida pela
sua honra e a de Booz . :f:ste, sempre correto e respeitador,
foi primeiro acertar com outro homem, que tinha o direito
de resgate, o sim ou não no caso . Tudo feito com publicidade,
à porta da cidade, lugar usado para conhecimento do povo.
:f'.ste cidadão desistiu de seu direito. E Booz "resgatou"' �
j ovem moabita, casando-se com ela, para lhe dar filhos como
a lei mandava.
Os passos dados, a conselho de Noemi, poderão colocar
Rute em luz menos bela, aos olhos da leitora. Mas se trata
de uma jovem virtuosa e de um homem temente a Deus.
Era o uso que justificava tal atitude. Do contrário Noemi
não teria dado os conselhos .
Rute foi mãe de Obed, avô de Davi de quem Cristo é
chamado filho. Entrou na genealogia do Messias esperado.
Dois pormenores interessantes trazem convergências de
luz sôbre o sucedido. As bênçãos que o povo chamou sôbre
Booz ao escolher Rute por espôsa e as exclamações das mu­
lheres quando nasceu um filho para o casal. Diziam elas a
Noemi : "Nasceu um menino de tua nora, de tua nora que
te ama e é para ti mais preciosa do que sete filhos" ( Rt 4 , 1 5 )
.

Seria o caso de perguntar à leitora, se é nora : É você


mais preciosa para sua sogra, do que sete filhos que ela tives­
se ? Paz, harmonia, compreensão e tolerância, amor e caridade
vivem no programa de tôda cristã. A mesma pessoa que a
nora põe em quarentena é amor e sonho para seus filhos que
adoram a vovozinha, com suas histórias e seus doces. Sem
dúvida o ângulo mais saudável é neste caso o dos netinhos.

92
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Quantas vêzes êles arranjam um salvo-conduto dela, quando
o retôrno à casa paterna é arriscado !
É neste livro que aparecem as sandálias entregues como
garantia de uma palavra empenhada ou negócio realizado. No
quadro bizantin0 de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro elas
estão caindo dos pezinhos do Menino Deus. Simbolizam entre­
ga dos frutos da redenção por meio de Nossa Senhora.

93
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEILAM
A MATERNIDADE FRACASSADA

DO LIVRO DOS JUÍZES 11, 30-31

JEFTÉ FÊZ UM VOTO AO SENHOR. DIZENDO: "SE ENTREGARES OS


AMONITAS EM MEU PODER, AQUÊLE QUE SAIR DA PORTA DE
MINHA CASA PARA VIR AO MEU ENCONTRO, QUANDO EU VOLTAR
INCÓLUME DOS AMONITAS, PERTENCERÁ AO SENHOR E O
OFERECEREI EM HOLOCAUSTO". JEFTÉ MARCHOU CONTRA OS
AMONITAS PARA DAR-LHES BATALHA. E O SENHOR OS ENTREGOU
EM SEU PODER.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O
que passo a contar não se refere à mulher como espôsa
ou mãe. Refere-se antes a uma fracassada como espôsa
e mãe. Por isso nos interessa, leitora. Certamente
realizada no papel de ambas, seria uma grande figura. Eis
a história, comovente e humana, da Bíblia.
Jefté, homem valente e guerreiro destemido, era filho
de Galaad. Um dia seus irmãos disseram-lhe que não her­
daria nada em casa, pois não era filho da mesma mulher
como êles. Era filho de uma prostituta, portanto bastardo.
Injuriado, Jefté afastou-se de seus irmãos e foi caudilhar um
bando de bandoleiros.
Vieram dias maus para Israel e então foi lembrado
o nome de Jefté para comandar as tropas de sua terra. O
convidado relembrou-lhes a expulsão sofrida e condicionou
sua volta para comandar os conterrâneos . Comandaria, mas
se vencedor, queria ser o chefe do país. À frente da tropa êsse
homem rude fêz o voto acima citado. Os amonitas foram
vencidos e o caudilho retorna vitorioso e é recebido como tal.
Coros de mulheres e môças, diz Faulhaber, costumavam
ir receber, entre danças e cânticos triunfais, os guerreiros
que voltavam aos lares. Seilam, ( nome que a tradição judaica
lhe dá, mais tarde ) , a filha do vencedor, naturalmente resol­
veu ser a primeira a abraçar e beijar o pai e chefe. Tôda
enfeitada, com o mais lindo vestido atira-se, porta afora, aos
braços do pai . Mas êste ficou desolado. Como aceitar os
parabéns e as festas da filha, que ignorava o voto temerário ?
- "Ai! minha filha, que mal fizeste a mim e a ti, pois
abri a bôca ante o Senhor e agora não posso agir de modo
diverso".
Silenciaram os tamborins e cânticos, cessaram as acla­
mações, acabou-se a alegria no rosto dos presentes . A marcha
triunfal ia mudar-se num cortejo fúnebre. Golpe tremendo
para a jovem Seilam! Como filha única do herói nacional,

97
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
certamente sonhava com as mais íntimas ânsias femininas :
um marido, um lar e muitos filhos e descendentes que fica­
riam à espera do Messias prometido. Seria disputada sua
mão pelos mais nobres jovens do país . E agora aquela pro­
messsa paterna de imolar a filha, em holocausto, atirava tudo
por terra !
Mas Seilam foi valente. Depressa recompôs-se e imor­
talizou-se com heróica resolução : "Meu pai, já que deste tua
palavra ao Senhor, cumpre em mim o que prometeste, dep0is
que o Senhor, de sua parte, te deu a vitória sôbre teus inimi­
gos" ( 1 1 ,36 ) . Seilam sabia ser sua vida o preço pela vida
dos outros, pela honra das mulheres. Rezava então o lema
do inimigo pagão, depois da vitória : "As mulheres a vergonha;
aos homen.s, a morte". Daria sua vida como condição da
vitória.
Seilam viu que não seria espôsa nem mãe. Não teria
filhos e descendentes à espera do Salvador. Pediu por isso
ao pai um prazo "para chorar a minha virgindade com as
minhas amigas" Recebeu a licença e durante dois meses
Seilam saiu pelas colinas com suas companheiras, chorando
a sua virgindade. "Passado o prazo, voltou para seu pai, e
êle cumpriu o voto que tinha feito. Ela não tinha conhecido
varão. Daqui veio êste costume que todos os anos as donzelas
israelitas reúnem-se para chorar quatro dias a filha de Jefté,
o galaadita" ( 1 1 ,37-38) .
Sem dúvida, tudo nos oarece bárbaro no voto de Jefté.
Mas o pobre pai era filho grosseiro de uma época também
grosseira. Voto era voto, palavra dada era sagrada,. ainda
mais quando se "abria a bôca ante o Senhor" Sempre na
boa fé foi, contudo, "insensato ao oferecê-lo, indiscreto e desu­
mano no seu cumprimento", como observa Santo Tomás . Tudo
isto não impede a admiração por Seilam que foi morta, em
holocausto ao Senhor. Ofereceu sua vida, com todos os belos

98
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
sonhos da mocidade, em agradecimento pela vitória paterna.
Sacrificou-se pelo seu povo, pela vida dos homens e pela honra
das mulheres.
Foi lograda na vida, mas foi grande na morte. :E: uma
heroína bíblica. Não se sabe a quem mais admirar, se o pai
vencedor de valoroso inimigo ou se a filha vencedora na
morte, comentou alguém. Não . Muito maior do que o pai
foi a filha, chorand0 sôbre as colinas e deixando a tradição
dêsse pranto para as môças de sua terra. E isto por muitos
e muitos anos .
Faulhaber 0bserva que criações artísticas, como de
Haendel em seu Oratório e Balde em seu drama, levantaram
monumentos destacados à heróica virgem, a Ifigênia bíblica.
Está certa, leitora, a sentença afirmando ter a mulher,
em reserva, tôdas as qualidades do homem para a salvação
da sociedade. Importa ir formando nos filhos a coragem
perante o dever, pequeno ou grande, diário ou imprevisto.

1 00
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A MÃE DE SANSÃO
ES PÔ S A· SINGU LAR E FRANC A

DO LIVROS DOS JUÍZES 13,3ss

O ANJO DO SENHOR APARECEU À MULHER E LHE DISSE: "EIS QUE ÉS


ESTÉRIL E NUNCA DESTE À LUZ, MAS CONCEBERÁS E DARÁS Á LUZ UM
FILHO. VÉ POIS, ABSTÉM-TE DE TOMAR VINHO OU QUALQUER OUTRA
BEBIDA INEBRIANTE, NEM COMAS NADA DE IMPURO, POIS
CONCEBERÁS E DARÁS À LUZ UM FILHO, SOBRE CUJA CABEÇA JAMAIS
PASSARÁS A NAVALHA, PORQUE O MENINO SERÁ CONSAGRADO AO
SENHOR DESDE O SEIO MATERNO, E ELE COMEÇARA A LIBERTAR ISRAEL
DO PODER DOS FILISTEUS."
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A
Bíblia é um livro sempre atual, interessante, porque
sabe descrever sentimentos humanos, cenas singelas e
verdadeiras da vida que se repete. É o que vemos no
caso da mãe de Sansão, na sua simplicidade e lealdade na
convivência com o marido. Era o marido um danita e respon­
dia pelo nome de Manoé. Sua espôsa sofria de esterilidade,
tida nacional e religiosamente como uma afronta, uma vergo­
nha. Ter um filho, era o desejo mais vivo de tôda mulher.
Lá está a pobrezinha no campo quando lhe aparece
"um homem de Deus e anuncia-lhe um filho, que livrará Israel
da mão dos filisteus" Portanto um herói nacional. Mas
ajunta condições . Ela abster-se-á doravante de vinho, licor e
coisas contra-indicadas pela lei. Quer que tome muito cuidado
na observância destas normas. Por sua vez cumprirá ordens
quanto ao filho : "a navalha não lhe tocará a cabeça, porque
o menino será nazireu de Deus desde o seio de sua mãe"
( Jz 1 3,5 ) .
Recebeu a mensagem e j á foi ter com o marido contan­
do-lha num tocante alvorôço. Disse assim : "Apresentou-se
a mim um homem de Deus que tinha o aspecto de um anj o
de Deus, em extremo terrível . Não lhe perguntei de onde era,
nem êle me deu seu nome" ( ih . 13,6 ) Contra o que dizem,
.

das mulheres, não era curiosa. Nada perguntou à aparição.


Mas repetiu a promessa e as ordens que ouvira.
Então Manoé, o mariào, pediu ao Senhor que voltasse
"o homem de Deus para ensinar o que deviam fazer, êle e a

mulher, a respeito uo menino a nascer. Deus ouviu o pedido.


Veio novamente o homem de Deus visitar a mulher quando
ela se achava no campo, sem a companhia do marido. E eis
a espôsa de Manoé correndo para chamá-lo, já que o esperado
aparecera de nôvo. Acorrendo ao local, vendo o emissário do.
Senhor, Manoé inteira-se de tudo . Era o mesmo enviado da

103
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
primeira vez, c0m as mesmas ordens pelas quais Manoé in­
dagou.
"Abstenha-se tua mulher de tudo o que eu lhe disse.
Não prove nada d0 que venha da videira; não beba nem vinho,
nem licor, nada coma que seja impuro e observe tudo o que
lhe prescrevi"
Grato pela notícia queria Manoé obsequiar o enviado,
mas ignorando que era o anj o do Senhor. Nada adiantou per­
guntar-lhe pelo nome "que era magnífico" Oferecido em holo­
causto um cabrit0, viu o casal o homem de Deus elevar-se
para o céu. Manoé e sua espôsa caíram com o rosto por
terra. Achou o marido que agora iriam morrer por terem
visto a Deus. Mais sensata, atalhou a espôsa : "Se o Senhor
n0s quisesse matar, não teria recebido de nossas mãos o holo­
causto e a oferta; não nos teria mostrado tudo o que vimos,
nem nos teria dito tudo o que hoje nos revelou" ( ib . 1 3 ,23 )
.

Para grande j úbilo do casal nasceu, tempos depois, o


menino e a mãe lhe pôs o nome de Sansão. Cresceu 0 menino
e o Senhor o abençoou.
Você, leitora, não precisa ver um anj o com ordens
a respeito de um filho. Quer a medicina que a mãe, à espera
de um bebê, viva sem emoções fortes , sem muitas fadigas.
Recomenda ao marido calma e pac iência para com você. Mas
estaria errado se nesse caso a leitora abrisse livre trânsito
para todos os repentes, caprichos e esquisitices. O homem
de Deus exigiu que a mãe do futuro nazireti se abstivesse
de certas coisas, nem se toleráveis . De lá de seu ninh0, abaixo
do coração materno, a criança vai reunindo heranças e ma­
nhas, bondade e maldade, renúncias e covardias, nobreza e
vileza. Até traços, belos ou deformes, ela poderá copiar e
com êles nascer. Logo, leit0ra, até seus olhos devem ser
"maternos", evitando o que impressiona mal.

1 04
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Sansão tinha uma missão especial, como o anjo anun­
ciou. Seria um nazireu, isto é, um consagrado ao Senhor,
à sua missão. Todo filho de uma cristã é um consagrado ao Se­
nhor, tem uma missão para com o povo de Deus . Nasce com pro­
grama para o reino de Deus. Hoj e o Concílio Vaticano 11 men­
ciona o feudo dos nazireus modernos : apostolado leigo, inva­
são de tôda a instituição da vida, para transformá-la dia a dia.
Sansão deu testemunha da fôrça do Senhor. Seus fi­
lhos, leitora e irmã, serão testemunhas da verdade e do amor
de Cristo. Ora, isso requer sacrifícios morais, como a gravidez
impõe sacrifícios físicos, corporais. Não se esqueça de pedir
a bênção ritual para antes e depois do parto. .

1 05
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DALILA
A MU LHER TRAIDORA

DO LIVRO DO JUÍZES 14,15

NO QUARTO DIA DISSERAM OS FILISTEUS À MULHER DE SANSÃO;


"LISONJEIA TEU MARIDO PARA QUE NOS EXPLIQUE O ENIGMA; DO
CONTRÁRIO ATEAREMOS FOGO A TI E À CASA DE TEU PAI.
CONVIDASTE-NOS AQUI PARA DESPOJAR-NOS DE NOSSA ROUPA?" A
MULHER DE SANSÃO COMEÇOU A CHORAR EM TÔRNO DÊLE E A DIZER-
LHE; “DEIXASTE DE ME AMAR E ME ABORRECES; PROPUSESTE UM
ENIGMA AOS MEUS COMPATRIOTAS E NÃO QUERES EXPLICÁ-LO A
MIM.”
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
destinado a livrar Israel era agora homem feito, res­

O peitado pela sua fôrça inaudita e conhecido pela sua


cabeleira de nazireno . Temiam todos o nome de San­
são. E lá um dia êle desce a Tamna onde viu uma mulher
das filhas dos filisteus. Muito franco diz aos pais o que vira
e roga-lhes que a peçam para êle, em casamento. Observaram
os pais não ter cabimento tal escolha. Sobej avam môças
"entre as filhas dos irmãos e do povo" Não era indicado pro­
curar-lhe uma mulher entre os filisteus, "êstes incircuncisos"
Sansão insistiu, mas seus pais não sabiam que isto
se dava por disposição do Senhor. O filho buscava uma oca­
sião contra os filisteus que, naquele tempo, dominavam sôbre
Israel. A mulher serviria de pretexto. Nosso apaixonado di­
rige-se a Tamna e no caminho despedaça um leão, que arre­
metera rugindo contra êle. E isto sem ter coisa alguma na mão .
Larga a fera, entregue ao calor do sol da Palestina. Entra
em Tamna e fala à mulher que lhe agradara. Dias depois
volta para desposá-la. Queria também ver o que sobrara do
leão. E eis que acha na goela do animal um enxame de
abelhas com um favo de mel . Toma o favo na mão e vai
comendo pelo caminho, dando-o também aos pais que o co­
meram.
Agora vamos ter uma festa com um banquete dado
pela família da mulher escolhida para espôsa. Trinta moços
faziam-lhe companhia, para vigiá-lo. Pois os filisteus j á anda­
vam desconfiados . Durava a festa sete dias. Logo no comêço
Sansão saiu com um enigma, numa aposta de trinta túnicas
e trinta vestes de festa, caso os companheiros acertassem a
solução. Ou pagariam a multa, se não o decifrassem. Eis a
charada : "Do que come saiu o que se come; e do forte saiu
a doçura" ( Jz 1 4, 1 4 ) .
Agora surge a mulher, para cujo aparecimento foi ne­
cessária a moldura apresentada. O prazo para a solução era o

1 09
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
da festa : sete dias . Nada puderam decifrar, nos três primei­
ros, os trinta rapazes. No sétimo dia saíram com a ameaça
que encabeça estas linhas. A pobre mulher corria perigo de
morrer numa fogueira, com todos os seus. Ei-la no seguinte
diálogo com o marido, tôda desfeita em lágrimas :
- Tu me aborreces . . Tu não me amas . . . Propuseste
um enigma aos filhos de meu povo e não mo explicaste.
- Nem sequer - retruca Sansão - aos meus pró­
prios pais eu o expliquei e haveria de explicá-l9 a ti ?
Mas ela chorava e repetia suas queixas durante dias .
Enfim importunado por sua. mulher, deu-lhe a chave do enig­
ma. Mais do que depressa a chorosa foi contar aos seus
compatriotas a solução . Os instruídos deram então a solu­
ção : Que coisa é mais doce do que o mel e que coisa é mais
forte que o leão ?
Naturalmente irritou-se Sansão e não duvidou da cul­
pada e indiscreta. Zombeteiramente respondeu aos decifra­
dores : "Se vós não tivésseis lavrado com minha novilha, não
teríeis descoberto o meu enigma" Retirou-se da festa zanga­
do. Pagou a multa, matando e espoliando as vítimas de seus
mantos e vestes bonitas .
A mulher de Sansão revive hoj e em muitas espôsas
que dependuram o amor do marido em ninharias . Não mor­
reram as chorosas que o atormentam, por muito mais tempo
do que sete dias .
Vivem tão sozinhas ! Tomam-se por viúvas com maridos
ainda vivos ! Você, leitora, ganharia muito com um vigilante
exame de suas queixas sôbre o tão chamado pouco amor do
marido. Quando verdadeiro, o amor mais dá do que recebe.
Em nossa história o desfecho foi mau para a espôsa
indiscreta e carpideira de sete dias . Seu pai, achando que ela
enojara a Sansão, deu-a em casamento a um dos convidados
para a festa. Quando Sansão a procurou, e soube do aconte-

111
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
cido, enfureceu-se e jurou vingança. Esta realizou-se no dia
em que, prendendo trezentas rapôsas, amarrando-as duas a
duas com uma tocha acesa entre as caudas, soltou-as nas
searas dos filisteus. Incendiou assim o trigo que estava enfei­
xado e o que estava de pé, queimando mesmo até as vinhas
e os olivais. Indagaram os filisteus pelo responsável. Soube­
ram o seu nome, Sansão.
Mas queriam saber a causa do enfurecimento dêsse
homem perigoso. Disseram-lhes que fôra o sogro, por ter
dado a mulher de Sansão a um de seus convidados . Então
os filisteus queimaram a mulher juntamente com o seu pai .
Uma mulher, reclamando amor, e acabando numa fogueira
de ódio!

1 12
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DÉBORA, JAEL E A MÃE
53³4)*45»3*"4%*'&3&/5&4

DO LIVRO DOS JUÍZES 4,4

NAQUELE TEMPO JULGAVA ISRAEL A PROFETISA DÉBORA, MULHER DE


LAPIDOT. ELA COSTUMAVA SENTAR-SE DEBAIXO DA PALMEIRA DE
DÉBORA, ENTRE RAMA E BETEL, NA MONTANHA DE EFRAIM, E OS
ISRAELITAS IAM TER COM ELA PARA OS JULGAMENTOS.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ntram agora em cena três mulheres, bem diferentes

E em seus papéis . Ninguém estranhe o nome "profetisa",


dado a Débora ( a abelha). O profeta é essencialmente
porta-voz da palavra do Senhor. E naquele tempo "era rara
essa palavra" Nos momentos críticos nunca ela faltou a
Israel, como o afirma Jeremias ( 7,25 ). Havia um carisma,
portanto, no caso de Débora que "era qual mãe em Israel"
( Jz 5 ,7).
Mandou ela chamar Barac, chefe guerreiro, transmi­
tiu-lhe uma ordem do Senhor, desej oso de livrar seu povo
do domínio de Jabin, cuj o general era Sisara. Barac devia
reunir dez mil homens no monte Tabor para enfrentar um
inimigo bem armado. Devia seguir o roteiro traçado pela
profetisa. Seria o roteiro da vitória. O Senhor garantira
entregar-lhe o inimigo.
A resposta foi : " Se vieres comigo, Débora, eu irei;
mas se não quiseres vir comigo, não irei" Era uma exigência
depondo sôbre o prestígio da mãe em Israel, respeitada, obe­
decida, seguida por todos. Além disso sua vinda arrastaria
os homens do sul, reforçando a tropa de Barac. A intimada
foi pronta na resposta :
- Eu irei contigo, sim; mas a glória da expedição não
será tua porque o Senhor entregará Sisara nas mãos de uma
mulher. - A profetisa cumpriu sua palavra e os homens de
várias tribos foram atrás dela, seguindo por atalhos . Lá estão
reunidos no monte Tabor e já investe contra êles Sisara,
cujos carros de combate eram afamados. Débora comanda :
"Levanta-te, Barac, porque êste é o dia em que o Senhor
te entregou Sisara. O Senhor mesmo marcha adiante de ti"
( Jz 4,14). - Trava-se a batalha na torrente de Cison. Sisara
é vencido e, sqltando de seu carro, fugiu.
Não precisa a leitora comandar exército, nem animar
generais . Mas muitas vêzes deverá animar, levantar o desfa-

1 15
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
lecimento de seu marido abatido com reveses. Disse-me certo
amigo : "Graças à coragem que me deu minha mulher, pri­
vando-se de muita coisa e trabalhando comigo, recuperei o
que tinha perdido. Depois de Deus, a ela devo a vitória"
Belo elogio ! E adiantará a leitora virar carpideira, recrimi­
nando o fracasso, culpado ou não, do marido ? Que adian­
ta estar-lhe recordando o " naufrágio" da fortuna. Compare a
linguagem de Débora : levanta-te, porque êste é o dia da
vitória!

Agora vai aparecer outra mulher, Jael. Sisara fugindo


a pé chegou à tenda de JaeZ, mulher de Heber, com quem o
rei Jabin vivia em paz. O fugitivo vacilou, não entrou logo .
Jael, saindo a seu encontro, disse-lhe : " Entra, senhor, em
minha casa e não temas". :f.le entrou e ela ocultou-o na
sua ( própria) tenda, lugar respeitadíssimo no Oriente. Sisara
tinha que julgar-se mais seguro assim. Jael atendeu ao pedi­
do de água mas, deu-lhe leite a beber, tirado de um odre e
recobriu-o com o manto. Mais um pedido ainda. Que ela
ficasse à porta e dissesse um não, a quem perguntasse se
havia alguém lá dentro . Sisara adormeceu profundamente.
"Então Jael, tomou uma estaca da tenda, juntamente
com um martelo e aproximando-se devagarinho, enterrou o
prego na fronte de Sisara, pregando-o assim por terra, en­
quanto dormia profundamente, por causa da fadiga" Ao che­
gar Barac perseguindo-o, ela convidou-o a entrar e ver o
homem que buscava. A visão foi macabra. Numa poça de
sangue, jazia morto Sisara, com o prego cravado na fronte
( Jz 4, 1 8 ) .
Ouçamos o cardeal Faulhaber : "Nossos conceitos mo­
rais consideram o modo de agir de Jael como desonroso e
traiçoeiro. Fingimento e traição, segundo os conceitos orien-

1 18
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
tais, eram crimes contra os direitos de hospedagem. Crimes
que bradavam aos céus. Mas abstenhamo-nos de julgar a
consciência moral dos séculos pré-cristãos pela lei m0ral do
Evangelho e medir tais acontecimentos daquela época pela
medida do sermão da montanha. Jael, a quenita, subjetiva­
mente, talvez agisse de boa fé, considerando sua ação como
legítimo ardil de guerra. Objetivamente, não deixa de ser
uma transgressora da ordem moral . Nos cântic0s de liber­
dade de seu povo ela é festej ada como heroína nacional.
Mas como heroísmo moral não se pode justificar sua ma­
neira de agir"
Por isso nã0 exijo que a leitora aperte a mão ensan­
güentada desta mulher e hospedeira da morte. Pode seguir
os conselhos da Bíblia que glorifica a hospedagem como orna­
mento da dona de casa. Não se paute apenas pelas normas
da sociedade. Impere uma visão cristã, pelas n0rmas da sã
prudência. Não converta sua casa num castelo, sempre de
pontes erguidas e inacessível. Nos horrores da guerra mun­
dial ( segunda) brilhou êsse espírito cristão em muitas famí­
lias, acolhendo refugiados expulsos de seus lares.

A mãe do malogrado Sisara aparece em cena. Barac


e Déb0ra entoam um hino descrevendo a luta, a derrota e
seus efeitos. Bendizem Jael com sua cilada assassina, classi­
ficam-na "bendita" em tôda a sua tenda, bendita entre as
mulheres. ( Já vimos que somente a patriota é cantada).
Agora se lembram da mãe de Sisara, num traço bem feminino .
Descrevem-na "olhando pela janela . queixando-se junto à ja­
nela por causa da demora em chegar o carro" É uma mãe
aflita, suspeitando desgraça porque os cavalos não correm com
o carro e o vencedor. Mas as princesas, e damas a seu lado, pro­
curam desanuviar seus pensamentos, seus pressentimentos :

1 19
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
"Talvez reparta ainda a prêsa e as mais belas mulhe­
res lhe caibam. Coloridos vestidos para Sisara e j óias sor­
tidas de adôrno" ( 9,30 ) . A n1 ãe conta as horas até a volta
do filho, as damas da côrte alegram-se com vestes coloridas
( Faulhaber ) . Pobre mãe! Numa poça de sangue, com o nome
desonrado por ter sido morto por uma mulher, jaz teu filho
na tenda de J ael.
Leitora, se você é mãe, conte com a providência de
Deus e peça sua intervenção em favor dos filhos ausentes,
empenhados em profissões arriscadas. A Bíblia mostra o Se­
nhor sempre pront0 em atender súplicas maternas . Oração
de mãe é poderosa porque interessa a Deus ajudá-las como
"representantes e encarnações" de sua Providência na terra.
Viva você à altura de tão honrosa delegação !

120
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ANA
MÃE PELA ORAÇÃO

DO PRIMEIRO LIVRO DE SAMUEL 1,10

ANA, COM A AMARGURA NO CORAÇAO. SUPLICAVA AO SENHOR E


CHORAVA, CHORAVA. FÊZ TAMBÉM UM VOTO, DIZENDO: "SENHOR
DOS EXÉRCITOS, SE VOS DIGNARDES OLHAR PARA A AFLIÇÃO DE
VOSSA SERVA E VOS LEMBRARDES DE MIM, E, NÃO OLVIDANDO A
VOSSA SERVA, LHE DERDES UM FILHO VARÃO, EU O OFERECEREI AO
SENHOR DURANTE TODOS OS DIAS DE SUA VIDA, E A NAVALHA NÃO
PASSARÁ NUNCA SÔBRE SUA CABEÇA"
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
emos aqui um dos mais amáveis e delicados perfis de

T mulher bíblica. Ana aparece como uma maravilhosa flor


no jardim de Deus , como mãe de um dos maiores entre
os nascidos de mulher, comenta Faulhaber. Morava em Ramá,
lugar numa altura. Tinha por marido Elcana que, seguindo o
mau c0stume da época, tinha uma espôsa secundária de nome
Fenena. Casamento em forma triangular. Fenena torn0u-se
a coveira da paz doméstica. Contemplada com filhos, atirava
motej os e ironias contra Ana, a estéril, preferida pelo marido.
Sua rival afligia-a duramente, provocando-a a murmurar con­
tra o Senh0r ( 1 ,6 ) .
Na romaria a Silo, à hora do banquete sacrificai, a
coisa agravava-se. Ana recebia só uma parte da carne sacri­
ficada, pois não tinha filhos. Fenena exibia suas vantagens
recebendo mais de acôrdo com o número de filhos . E vinha
o pranto aos olh0s de Ana. Pouco adiantava dizer-lhe o bom
marido : "Ana, por que choras ? Por que não comes ? Por que
estás triste ? Não valho eu para ti como dez filhos ?"
Além de paciente, era Ana piedosa e rezou como con­
tam as linhas da introdução . Fêz um voto . Sua oração foi
tal "no coração", que apenas se moviam 0s seus lábios. Heli ,
Sumo Sacerdote, tomou-a por uma embriagada, int�rpelou-a,
ouviu a resposta de uma aflita e rogou que o Deus de Israel
a ouvisse. Ana pediu um filho de presente e prometeu-o a0
Senhor. Seria um nazireu "por todos os dias de sua vida"
Logo um voto perpétuo. Três regras de abstinência governa­
vam a vida de um nazireu. Não podia tomar vinh0, não podia
tomar parte nas lamentações dos mortos, em enterros, não
podia cortar o cabelo. Era reconhecido nas ruas pelos lon­
gos cach0s ondulados.
Ana entregou o filho completamente a Deus, renun­
ciando até às lágrimas dêle sôbre seu túmulo. Foi ouvida
-por Deus . Nasceu-lhe o filho varão, o futuro levita. Eis agora

123
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Senhor dos exércitos, se vos dignardes
olhar para a aflição da vossa serva e vos
lembrardes de mim, e, não olvidando a
vossa serva, lhe derdes um filho varão, eu
o oferecerei ao Senhor durante todos os
dias de sua vida
( lSam 1 ,1 1 )
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
o cumprimento do voto. Samuel - "eu ó pedi ao Senhor"
- depois de desmamado foi conduzido pela mãe a Silo, ac
templo. Lá a mãe o deixou consagrado a Deus.
- Eis aqui o menino por quem orei a<J Senhor, disse
Ana ao apresentá-lo a Heli. O Senhor ouviu meu pedido.
Portanto, eu também o dou ao Senhor a quem será consa­
grado para todos 0s dias de sua vida ( 1 ,27 ) . Lá ficou o meni­
no "ainda muito criança" e crescia na companhia do Senhor,
diz a Bíblia.
Ana não se esquecia do filho dado a Deus . Fazia-lhe
cada ano uma pequena túnica que lhe levava quando ia com
o seu marido oferecer em Silo o sacrifício anual. Então Heli,
o sacerdote, abençoava novamente o casal, "para que Deus
concedesse filhos desta mulher, em recompensa do dom que
ela lhe fêz" ( 2,20 ) . Visitou o Senhor Ana e ela deu à luz
três filhos e duas filhas . Entusiasmada, a contemplada can­
t<Ju um hino de louvor ao Senhor que "dá a vida e a morte"
" Então Ana orou, dizendo : Exulta o meu coração no
Senhor, ergue-se a minha fronte ao meu Deus ; abre-se a mi­
nha bôca contra os meus adversários, porque me reg<Jzij o
com o vosso auxílio . Não há santo como o Senhor, nenhum
fora de vós ; não há rocha como o nosso Deus . Não faleis tão
altivamente, não saia insolência da vossa bôca, porque Deus ,
que tudo sabe, é o Senhor, um Deus que pesa as ações. O
arco dos valentes é quebrado, e os fracos são cingid<Js de
fôrça; os outrora saciados se empregam por um pedaço de
pão, e os famintos acabaram de viver na penúria; a estéril
deu à luz sete filhos, a que era fecunda de prole, perdeu o
vigor.. Deus dá a m<Jrte e a vida, leva ao túmulo e faz subir de
nôvo; Deus dá a pobreza e a riqueza, humilha, e também
exalta; soergue do lôdo o mísero e do estêrco levanta o men­
digo, para fazê-los sentar-se entre os nobres e dar-lhes um
trono de honra; p0rque do Senhor são os atribulados da terra,

126
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
e sôbre êles ap01a o orbe. f.le vela os passos dos seus devo­
tos, e os malvados desaparecerão no silêncio e nas trevas ; pois
o homem não vence com a fôrça, mas Deus aterra a quen1
com êle contende. O Altíssimo trovejará no céu, o Senhor
julgará todos os cantos da terra; dará fôrça ao seu rei, e
exaltará a coroa do seu Ungido"
Figura êste hino - um Magnificat antecipado - na
liturgia da Igrej a, no ofício da quarta-feira.
Samuel foi um grande vulto na Bíblia, nas mãos de
Deus. Você, leitora e irmã, pode e deve dar um filho a Deus
quando surge no menino, na menina uma vocação sacerdotal
ou religiosa. Podem ser grandes, predestinados para missões
especiais . Vocações são realidades e acarretam tremendas
responsabilidades para os pais. Sobretudo para a mãe que,
como mulher, é "sempre a vanguarda de Deus" no lar. Pio Xli
chamava isso a porção do Senhor. O mundo necessita de
bondade e devotamentos para com destinos eternos dos ho­
mens. Nossa terra é pobre no número de sacerdotes e reli­
giosos . Mas não é pobre em vocações .
Andam por aí as vocações, que devem ser preparadas,
descobertas, cultivadas e entregues à Igrej a, a encarregada
por Deus de salvar os homens. O Vaticano II insiste no
papel que cabe aos pais nas vocações dos filhos que são cha­
mados ou estão à disposição do reino de Deus . Você, leitora,
encontra filhos e filhas de outras irmãs de maternidade a
serviço de seus próprios filhos, a seu serviço também. Por
que sua família se omitirá no caso ?

1 27
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ABIGAIL
A ESPÔS A PRUDEN T E

DO PRIMEIRO LIVRO DE SAMUEL 25,1ss

HAVIA EM MAON, UM HOMEM QUE TINHA SUAS POSSESSÕES NO


CARMELO. ERA PESSOA MUITO ABASTADA E POSSUÍA TRÊS MIL
OVELHAS E MIL CABRAS; E ACHAVA-SE NO CARMELO ENTREGUE AO
TRABALHO DA TOSQUIA DE SEU REBANHO. CHAMAVA-SE NABAL, E
SUA ESPOSA ABIGAIL, MULHER DE BOM SENSO E FORMOSA, AO PASSO
QUE O MARIDO, UM CALEBITA, ERA HOMEM GROSSEIRO E DE MAUS
MODOS.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O
rnais notável das mulheres da Bíblia é que seus retra­
tos, tão completos, foram traçados com bem poucas
palavras . São como miniaturas pintadas do século
XVIII, cuj o detalhe e perfeita beleza só podemos apreciar
com a ajuda de uma lupa, anota Morton .
Uma j óia de miniatura é a história de Abigail. É mu­
lher prudente, boa, casada com um brutalhão, beberrão .
Os campos dêsse homem eram ótimos e bem povoados
por ovelhas e cabras. Eis onde viviam Nabal e sua bela
espôsa Abigail . No deserto ao redor andava Davi, foragido
com seus guerreiros, porque não queria lutar contra Saul,
o ungido do Senhor. Com sua tropa defendia rebanhos e
colheitas dos fazendeiros contra assaltantes beduínos. Os
servos de Nabal sabiam disso e informaram sôbre a verdade
a espôsa de Nabal. Não haviam recebido mal algum de Davi
e seus homens. Pelo contrário, haviam servido de defesa,
dia e noite enquanto "andávamos com êles apascentando os
rebanhos" ( 25, 1 4 ) .
Davi tinha direito de pedir uma recompensa e para
tanto enviou dez emissários a Nabal, por ocasião da tosquia
das ovelhas. Era uso dar então o fazendeiro uma festa, com
muita comida e bebida. Número de emissários e ocasião bem
explicavam o que Davi esperava do rico Nabal . "Rogo-te que
dês aos teus servos e ao teu filho Davi o que tiveres à mão"
- era a mensagem do futuro rei de Isra�l . Qual o resultado
de tão justo pedido ?
- Quem é êsse tal de Davi ? Quem é êsse filho de
Isaí ? Há hoj e muitos escravos que fogem da casa de seus
senhores ! Irei eu tomar meu pão, minha água e a carne que
preparei para meus tosquiadores, e dá-los a homens que vêm
não se sabe de onde ? ( 1 Sam 25,1 O ) . Eis a injuriosa, sórdida,
ingrata e avarenta resposta do beberrão. A saudação e o
pedido de um protetor recebiam uma ofensa. A cólera apo-

131
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
derou-se de Davi e ordenou tomassem seus homens lanças
e espadas, seguindo com êle quatrocentos homens para uma
vingança em regra, "para derramar sangue"
Mas aparece Abigail para salvar o louco marido que
tinha. Os criados informaram-na do ocorrido. Prudente e
sagaz, anteviu qual o resultado da ofensa feita. Sem dizer
nada ao marido agiu, como deve fazer a mulher de marido
beberrão . Tomou duzentos pães, dois odres de vinho, cinco
cordeiros preparados, cinco medidas de grão torrado, cem
tortas de uvas sêcas, duzentas de figos secos . Colocou tudo
sôbre jumentos, mandou os servos adiante e seguiu atrás dêles.
Quando descia por um caminho secreto, montada num
jumento, deu com Davi e os seus homens armados, com pro­
grama de sangue e morte. Ver o ofendido e irritado e descer
do jumento, prostrar-se com o rosto por terra diante dêle,
foi uma só c0isa para Abigail . À posição de respeito e súplica
ajuntou palavras de mulher prudente :
- Sôbre mim, meu senhor, caia a culpa! Deixa falar
a tua escrava e ouve suas palavras . Que meu senhor não
faça caso dêsse malvado Nabal . Pois êle é bem o que o seu
nome indica : Nabal, louco; e êle o é. Mas tua escrava, eu,
não vi os homens que o meu senhor mandou . Aceita, pois,
êste presente que tua escrava trouxe ao meu senhor e repar­
-te-o entre os homens que te seguem ( 25,23ss ) .
Abigail continuou com palavras que pediam' perdão,
reconheciam a eleição de Davi por Deus, desejavam fôsse
sua alma guardada "no escrínio dos vivos junto ao Senhor"
E a vida dos inimigos fôsse lançada pelo Senhor ao longe, co­
mo a pedra de uma funda. ( Alusão talvez à façanha de Davi
contra Golias ? ) .
- Bendito sej a o Senhor Deus de Israel que te man­
dou hoje, ao meu encontro, respondeu Davi já enternecido
pela fala humilde e seduzido pela beleza de Abigail. Bendita

132
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
seja a tua prudência ! E bendita sej as tu mesma, que me im­
pediste hoj e de derramar sangue e vingar-me pela minha
mão ! . Davi inteirou Abigail da mortandade que estava a
caminho para fazer. Aceitou seu presente e pediu-lhe que
voltasse em paz para sua casa.
Mais uma vez aparece a mulher prudente . De volta
à casa dá com o marido, metido num grande banquete, "um
festim de rei" Nabal tinha o coraçã0 alegre e estava comple­
tamente ébrio. Por isso nada lhe disse, nem pouco nem mui­
to, até o dia seguinte. É sempre assim. A vida da mulher
de marido beberrão anda sempre cheia de silêncios eloqüen­
tes, como anota Morton . De fato, que adiantaria dizer a0
bêbado que acaba de lhe salvar a vida e os bens ? Iria desabar
uma tempestade de palavrões e injúrias contra "a intrometida" .
No dia seguinte, tendo Nabal curtido o seu vinho, sua
mulher contou-lhe tudo. Apont0u-lhe a grosseira resposta,
o provocador insulto, a sórdida avareza contra um defensor
que tinha n0 deserto.
Descreveu as lanças e espadas nas mãos de quatro­
centos homens, guiados por um chefe revoltado . Pintou a mor­
tandade daí resultante . Tudo motivado pela desgraçada bebe­
deira de sempre! Contra ela já tantas vêzes havia protestado,
havia avisado, implorado ! Tudo em vão . Servisse agora de
lição o perig0 do qual escapara!
O coração de Nabal, ao ouvir tudo isso, gelou-se-lhe
no peito . Uma apoplexia - fruto também da intemperança !
- deixou-o duro como pedra. Dez dias depois, ferid0 pelo
Senhor, Nabal morria.
Teve Davi notícia dessa morte, dando graças a Deus
por ter impedido a morte violenta que procurara dar ao louco .
Tempos depois pediu a Abigail tornar-se sua espôsa. E ela
aceitou o pedido, seguindo imediatamente com os emissários

1 �4
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
para tornar-se mulher do "escravo, do foragido" , destinado
a ser rei de Israel.
Lamento profundamente a sorte de espôsas com imi­
tadores de Nabal . Mas nem tudo está perdido para uma
cristã forte na fé, teimosa na prudência, fervorosa no recurso
a Deus . Para medidas profundas talhando fundo na vida,
como, por exemplo, separação �por maus tratos e outras atitu­
des desumanas, revoltantes contra a dignidade da pessoa hu­
mana, aconselhe-se a leitora vítima. Mas com quem ? Com
pessoas indicadas religiosamente, socialmente de v1sao cris­
tã. Urge evitar que um êrro seja resolvido por outro êrro
ainda maior.

135
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
RESFA
A MA E D OS FILHOS ENF ORC AD OS

DO SEGUNDO LIVRO DE SAMUEL 21,10

RESFA. FILHA DE AIA, TOMOU ENTAO UM PANO DE SACO, ESTENDEU-


O FIXANDO-O À ROCHA, DESDE O INÍCIO DA CEIFA ATÉ QUE NÃO
CAIU ÁGUA DO CÉU SÔBRE OS CADAVERES, IMPEDINDO QUE AS AVES
DO CÉU SE APROXIMASSEM DE DIA, E AS FERAS DO CAMPO DE NOITE.

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O
rei Saul, na segunda metade de seu reinado, foi aban­
donado pelo bom espírito . Levado por mau espírito,
cometeu um morticínio para aniquilar os gabaonitas.
A casa de Saul devia expiar êste assassinato, após sua morte.
Sobreveio então a desgraça à família destronada. Dos oito
príncipes ainda vivos, foram entregues sete aos gabaonitas .
Eram d0is filhos da rainha Resfa ( espôsa secundária e agora
viúva ) e cinco netos seus. Condenados à morte, f•xam enfor­
cados sôbre um rochedo, logo junto da cidade. Assim orde­
nava o horroroso direito da vingança de sangue, observa 0
cardeal Faulhaber.
A vingança não se acalmou com a morte. Exigiu ficas­
sem os enforcados sem sepultura, entregues à voracidade dos
abutres e dos animais selvagens . De acôrdo com 0 conceito
do tempo, era isto considerado como a mais horrorosa afron­
ta que podia acontecer. A insepultura era mais horrível do
que a própria morte. Os pr0fetas anunciavam êste castigo
como o maior de todos .
Agora aparece-nos a heroína do amor materno, Resfa.
Quando soube da resolução dos gabaonitas que queriam 0s
mortos insepultos, lembrou-se da desonra em vista. A pobre
rainha já vira muita desgraça na vida quando lhe morreu
tràgicamente o marido, Sai.Il, na batalha do monte Gelboé.
Os d0is filhos - único amparo de sua viuvez - eram então
uns enforcados, uns insepultos . Diz Faulhaber que "ela ouvia
dia e noite o clamor dos mortos, lá no monte das fôrcas de
Gibeon : "mãe, vem, põe-nos no túmulo, assim como nos c0lo­
cavas no berço, quando crianças ! "
Então Resfa executou o que as linhas do texto acima
referem. Pode a leitora completar o rascunho do quadro do
amor materno, coraj oso até à morte. Resfa guarda sete cadá­
veres. Caminha entre as fôrcas com sete espadas na alma.

1 39
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Leitora, associe, você, uma outra mãe que mil anos depois
"estaria ao pé da cruz ! " Dou a palavra a Faulhaber : "Duran­
te o dia, com o caj ado e pedradas afugenta os corvos e abutres
que circulam famintos em volta das fôrcas para começar lá
em cima, nas cabeças, o seu banquete fúnebre. Durante a
noite com gritos e fogueiras espanta os chacais e outras feras
que ladram e grunhem embaixo, junto aos pés, querendo
iniciar o seu repasto. Assim mantém vigilância, dia por dia,
noite por noite, semana por semana, meses por meses ( de
abril a outubro ) ".
E o desfecho ? Soube Davi dessa guarda funerária.
Pasmou diante de semelhante amor materno. Mandou des­
cessem das fôrcas os corpos ressequidos e fôssem sepultados,
com honra, ao lado do pai e avô, Saul . Resfa conseguira o
que queria com essa honrosa sepultura dos sete príncipes .
Belíssima é a conclusão de Faulhaber :
"Muito antes que o clássico inglês formulasse a senten­
ça : "Fraqueza, teu nome é mulher", já o clássico bíblico,
nesta narrativa, gravara a palavra : "Fôrça da alma, forte
até à morte, teu nome é amor materno ! "
Deus poupe às minhas leitoras a dor de perder algum
filho pela morte. Mas se Deus o permitir, saiba ser cristã
forte e tornar-se outra vez mãe, preparando o nascimento
do filho "para a outra vida" Diz a Igrej a que a morte não
tira, mas troca uma vida por outra. A terrestre pela celeste.
Dê ao doente a assistência para o corpo e para a alma, como
soube fazê-lo a heróica e desolada mãe dos Macabeus. Certa
mãe teve sempre desgôsto com um filho, fracassado até na
vida conjugal. Mas soube dar-lhe assistência cristã e teve a
alegria de vê-lo "realizado" na morte.
Resfa significa "carvão ·ou brasa" Ela foi o que seu
nome descrevia. Mas esta brasa, êsse amor materno sobre­
naturalizado, você, leitora, há de tirar do "braseiro celeste"

1 40
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MICAL
ES PÔS A ZOMBE TE IR A

DO SEGUNDO LIVRO DE SAMUEL 6,20.23

ENTÃO DAVI VOLTOU PARA SAUDAR SUA FAMÍLIA, E MICAL, FILHA


DE SAUL, SAIU-LHE AO ENCONTRO E LHE DISSE: “QUE HONRA
ALCANÇOU HOJE O REI DE ISRAEL, DESPOJANDO-SE DE SUAS VESTES À
VISTA DAS ESCRAVAS DOS SEUS SERVOS, COMO SE DESPOJARIA UM
HOMEM QUALQUER!”

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
izem entendidos que é muito difícil, em assuntos de

D amor, dizer quem é o caçador e quem é a caça. Afirmam


ser qualidade feminina pretender fugir, quando na rea­
lidade está perseguindo. Não faltam escritores que, com ares
de dogma, sustentam que a mulher é sempre a caçadora
e o homem, a pobre caça. Cito livremente Morton.
Nossa Mical foi de fato a caçadora em nosso caso.
Lá estava o lendário Davi, jovem, valente e belo, tocando
sua harpa para espantar a tremenda melancolia do rei Saul.
Môça apaixonada, Mical afastava discretamente as púrpuras
das cortinas e, escondida, punha-se a encantar-se com o guer­
reiro. Por fim êste acabou amando-a e muito se alegrou
quando o rei lhe deu a filha em casamento.
Havia um cálculo político na atitude de Saul com
respeito ao seu "genro" Queria tê-lo perto de si na certeza
de que por meio da filha exerceria influência sôbre o genro,
já escolhido para lhe ser o sucessor no trono.
Mical deveras amava seu espôso. Deu provas bem cla­
ras quando a vida dêle corria perigo. Eis nosso harpista
procurado por enviados do rei, certa noite. Cercaram-lhe a
casa procurando matá-lo ou prendê-lo. Resoluta e de ação
rápida, Mical aconselhou a fuga para o marido . "Se esta noite
não desapareces, morrerás amanhã" Ao escurecer, desceu-o
por uma corda. O perseguido fugiu na escuridão .
Não foi só isso . Mical bem depressa tomou uma das
estátuas dos manes domésticos e deitou-a no leito de Davi.
Cobriu-a com mantas e por travesseiro deu-lhe uma almofada
de pêlo de cabra. Quando os esbirros do rei entraram no
quarto, ela mostrou-lhes "o marido " doente. Boa notícia para
êles, que assim tinham uma desculpa para apresentar a Saul.
Pois afinal de contas tinham Davi por um herói nacional,
invej ado e perseguido pelo rei.

143
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Mical, filha de Saul, assomou à janela, e
vendo o rei Davi que pulava e dançava dian­
te do Senhor, desprezou-o no seu íntimo
( 2Sam 6,16)
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Sem dúvida Davi ignorava a presença de tal estátua,
tipo mascote, do culto de sua espôsa. Com essa fuga, à noite,
começam os anos de vida do foragido herói. Mical, cuj o lôgro
foi descoberto pelo pai, não vacilou em recorrer a uma men­
tira. "Por que me enganaste - disse Saul - assim deixando
escapar o meu inimigo ? Mical respondeu : Porque êle me
disse : Deixa-me partir, senão te ma to" ( 1 9, 1 7 ) . Imitou a
Raquel, mentindo a Labão.
Os personagens da Bíblia não são perfeitos, pois sã0
humanos . Por isso mesmo nos fascinam com suas falhas.
São falhas e erros como os nossos, diz Morton. Provàvel­
mente Davi e Mical se esqueceram mutuamente no longo
período de separação. Esta foi entregue pelo pai a Palti, em
casamento. E aquêle desposou nossa conhecida Abigail.
Anos depois ei-los reunidos novamente. Foi então que
se deu a cena que a introdução menciona. Soube Davi que
o Senhor abençoara a casa de Obed-Edom por causa da pre­
sença da Arca. Trat0u antes de levá-la com grandes festas
para a cidade onde morava. Tirou as insígnias reais, tomou
sua harpa e dançava "com tôdas as suas fôrças diante do
Senhor" f:le ( o rei ) e todos os israelitas soltavam gritos de
alegria ao som das trombetas . .Mical aparece agora, olhando
pela janela, tomando a atitude que ...:s versos da introdução
descrevem. Pior ainda, recriminou 2.cremente o feito do ma­
rido, que sendo rei se portara diante de todo mundo como
"um qualquer"
Tal foi a recepção que deu à grande alegria religiosa
do marido, quando o recebeu em casa. E a resposta ? "Foi
diante do Senhor que dancei, replicou Davi; diante do Senhor
que me escolheu e me preferiu a teu pai e a tôda a tua famí­
lia, para fazer-me o chefe de seu p0vo de Israel. Foi diante
do Senhor que dancei. E me abaixarei ainda mais, e me

1 46
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
aviltarei aos teus olhos, mas serei honrado pelas escravas de
que falaste" ( 6 ,20ss ) .
Você, leitora e irmã, nota na recriminação e na respos­
ta, indignação, desprêzo, legítima ufania e revide à altura.
Mais do que mera discussão. Davi dizia claramente que os
seus valores não eram os mesmos da espôsa. Mical havia
herdado do pai uma religião fria e orgulhosa. O castigo
feriu-a no ponto mais sensível na época. Ficou estéril.
Nossas leitoras estão acostumadas a ver o contrário
do descrito, entre casais . Com freqüência é o marido irreli­
gioso, ou relaxado, de muita omissão na mentalidade e nas
práticas religiosas . Mas se dá também o caso de caber à
espôsa êsse triste papel. É ela a irreligiosa, ou a esquecida,
ou "em gôzo de férias " quanto aos deveres religiosos. Enfren­
ta e ataca a religiosidade do marido, usando de sarcasmos
caústicos, indiretas venenosas, zombarias humilhantes . Pode
isso levar um fraco a enrolar bandeiras, a relaxar suas práti­
cas, a calar-se quando o silêncio é contra-indicado. Então
poderá o infeliz exclamar : " Senhor, a mulher que tu me
deste . nada tem de companheira e auxiliar"
Mical achou indigno para um rei aquela demonstração
j ubilosa, sim, mas edificante para o povo . De rei reduziu-o
"a um qualquer" Terrível engano no caso. Pois o homem
é sempre grande quando se ajoelha diante do Senhor. Tem
você, leitora e irmã, traços semelhantes aos de Mical ? Traz
sua alma traços agressivos como os da filha de Saul, antiga
apaixonada por Davi ? Por favor, apague tudo isso e quanto
antes. Acompanhe o marido fiel a Deus. Siga êsse homem
que repete, como os antigos cavaleiros : "Meu Deus e minha
espôsa ! " Terá com isso mais garantias de tê-lo fiel a seu
amor, aos mútuos juramentos de fidelidade. Você e êle darão
então o mesmo valor às promessas diante do altar.

1 47
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
BETSABÉIA
ESPÔSA INFIEL E MÃE PENITENTE

DO SEGUNDO LIVRO DE SAMUEL11, 2-4

PASSEAVA DAVI PEI.O TERRAÇO DO PALÁCIO, QUANDO AVISTOU


UMA MULHER QUE SE BANHAVA, E ERA MULHER DE
EXTRAORDINÁRIA BELEZA. MANDOU PERGUNTAR POR ELA E FOI-
LHE INFORMADO: "TRATA-SE DE BETSABÉIA. FILHA DE ELIÃO,
ESPÔSA DE URIAS, O HETEU". ENTÃO DAVI MANDOU MENSAGEIROS
PARA QUE LHA TROUXESSEM. ELA VEIO A ÊLE, O QUAL DORMIU COM
ELA.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
is a história bem triste do adultério de um rei. Foi

E o comêço para um crime de morte. Betsabéia man­


dou depois mensagem ao rei, avisando que estava grá­
vida. Engravidara estando o marido em campanha há mais
de ano. Logo Davi entendeu o que iria acontecer à espôsa
seduzida : desonra, morte. Recorreu a expedientes salvadores
das aparências . Manda vir Urias, piedoso e nobre oficial de
seu exército. A visita d0 marido à espôsa encobriria o crime.
Mas Urias tinha uma alma bem nobre. Não quis procurar a
espôsa, nem mesmo depois de embebedado pelo rei. Não
desceu à sua casa e dormiu à porta do palácio. Não aceitou
a insistência do rei : "Não voltaste por ventura de uma via­
gem ? Por que não vais à tua casa ?"
Urias alegou a vida dura dos companheiros de armas .
Lembrou que a Arca estava sob uma tenda, em campanha.
Não lhe ficava bem ir procurar os braços de sua espôsa . "Pela
tua vida, ó rei , não farei isso ! " Estas palavras selaram sua
sorte. Regressou ao campo de batalha, levando inocentemen­
te uma carta real para Joab, 0 comandante . Nela o rei orde­
nava um ataque. Queria que se expusesse Urias à morte certa.
Foi obedecido e Urias tombou no combate.
Ao saber da morte de seu marido, a mulher chorou-o .
Passado o luto, foi rec0lhida por Davi que a tomou por
espôsa. A seu tempo nasceu o menino . A graça de Deus apa­
rece agora na censura do profeta Natan, ao enfrentar o rei
por ordem do Senhor. Falou-lhe de certo homem ric0 que
tomou "a ovelhinha do pobre" para prepará-1(:1. para o seu
hóspede rico. "O homem que fêz isto - respondeu o rei -
merece a morte" Natan disse-lhe : "Tu és êste homem" E
passou a descrever o adultério real. Davi reconheceu o êrro,
pediu perdão a Deus vazando seu arrependimento no famoso
salmo Miserére. f: um salmo penitenciai, recitado até hoje

151
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Por que desprezaste o Senhor, fazendo o
que lhe desagrada? Fizeste perecer à espa­
da Urias, o heteu, e tomaste por espôsa
sua mulher
(lSam 1 2,9 )
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
na Liturgia da Igreja. Betsabéia uniu-se à penitência do rei.
Mas o menin0 morreu, como castigo pelo pecado.
Não sei se nossa leitora tem de contar com longas e
repetidas. ausências do marido. Não deixam de ser indesej á­
veis e perigosas para ambos . Existe hoj e uma supervalori­
zação das atividades masculinas no trabalho de escritórios,
consultóri0s, repartições. Com isso vem a desvalorização da
vida doméstica, entregue aos cuidados da mulher. Se a leitora
figura na lista "das abandonadas ", não se abandone contudo
à correnteza do êrro. Redobre os cuidados, acentue o princí­
pio : no verdadeir<J amor mais se dá do que se recebe.

Betsabéia, a mãe

Vejamos a mãe que foi a arrependida e devotada Betsa­


béia. Sempre mui to honrada pelo real espôso e famoso filho
que era Salomão. Industriada por Natan, vai à presença de
Davi e advoga o trono para Salomão . Houve arte, retórica,
profun da psicologia na sua exposição . Conta que Adonias
( outro filh o do rei, com outra espôsa ) fizera-se proclamar
rei com o auxílio do ambicioso Joab , já conhecido do rei e
capaz de todos os crimes . Em seguida exalta .o poder do rei,
a quem compete decidir no caso. Recorda-lhe a religiosidade
que o levará a respeitar um juramento feito a ela, mãe :
Será teu filho, Salomão, que reinará depois de mim ( lRs
l , l Sss ) . E por fim toca-lhe o coração apontando para uma
tragédia. Caso Adonias subisse, ela e o filho seriam crimi­
nosos e . justiçados . Davi ouviu-a, informou-se com Natan
que entrara à hora certa. Chamada à presença do espôso,
Betsabéia ouve mais outro juramento : "O que te jurei pelo
Deus de I srael, dizend0 : Teu filho Salomão reinará depois

1 54
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
de mim e sentar-se-á no meu trono em meu lugar, isto cum­
prirei hoj e" ( 1 ,23ss ) .
Jubilosa por ter ouvido tais palavras, não quis Betsa­
béia ficasse Davi com a impressão de já se contar com a sua
morte. Exclamou com entusiasmo : "Viva o rei Davi, meu
senhor, viva . para sempre" É sempre assim. As mães pos­
suem uma r�tórica instintiva quando advogam a causa dos
filhos. E você, leitora, nunca a empregue a favor de causas
reprováveis . Não se deixe cegar pelo amor materno.
Mais uma vez surge Betsabéia como madrinha de al­
guém. Mas desta vez junto do filho e com menos sorte, para
não dizer desastradamente. Pois a intervenção acabou dando
a morte ao apadrinhado . Eis o caso. Adonias, nosso conhe­
cido pretendente ao trono, aparece para pedir a Betsabéia
"uma só coisa" ( 2 , 1 3 ) . Reconhece que o trono passara para
seu" irmão, Salomão . O Senhor lho dera. Agora pede ao rei
lhe dê por mulher Abisag, a formosa e jovem sunamita, que
aquecera as cinzas apagadas do envelhecido rei Davi. Conti­
nuava virgem. Betsabéia anuiu ao pedido, prometendo falar
com o rei a favor de Adonias.
O rei recebeu a mãe com muita reverência e mandou
colocar um trono para ela, à sua direita. "Pede, minha mãe,
porque nada te recusarei" A interrogada avisou que iria
pedir "apenas um favorzinho" ao poderoso filho . E êste seria
a entrega de Abisag, a sunamita, por mulher "a teu irmão
Adonias"
- Por que queres que Abisag, a sunamita, sej a dada
a Adonias ? respondeu Salomão . Pede também para êle o reino,
já que é meu irmão primogênito, assim como para o sacer­
dote Abiatar e para Joab, filh0 de Sarvia! - Jurou o rei que
Adonias pagaria com a vida "hoje mesmo" De fato, mandou
matá-lo naquele mesmo dia ( l Rs 2 , 1 3ss ) . Qual a razão da

1 55
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
fúria do rei, diante do "favorzinho" que a mãe lhe pedira ?
Veio da exploração maliciosa que Adonias fizera da ingênua
bondade da rainha, Betsabéia . Na sua candura ela não perce­
bera o tremendo enrê.do do pedido, que não passava de uma
renovada pretensão à coroa e comêço de uma segunda co;ns­
piraçã'J com J oab e Abiatar. Daí a severíssima e fulminante
sentença de morte.
Sendo mãe, nossa leitora respeite os limites de sua
intervenção perante o filho a favor de outros. Não tome tudo
como mero "favorzinho" Se até a bondade de Deus é explo­
rada, como admirar sejam também exploradas as bondades
humanas ? Em geral as mães têm seus horizontes dominados
pelo calor do afeto e do amor. Mas olhos políticos ou interes­
seiros enxergam de modo diferente. Não condene, você, a
recusa de um filho ao ser solicitado para um "favorzinho"
Pode ser que haj a um reino a ser defendido por êle.
Lembre-se que Deus conta com você como madrinha
de seus interêsses e de seu reino, nas almas dos filhos e
da família.

1 56
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MÃES INOMINADAS
L IÇÕ ES DAS INF EL IZ ES

DO PRIMEIRO LIVRO DOS REIS 3,25

CORTAI O MENINO VIVO EM DUAS PARTES E DAI UMA METADE A UMA


E A OUTRA METADE A OUTRA. MAS A MULHER A QUEM PERTENCIA O
FILHO VIVO, ENTERNECENDO-SE-LHE AS ENTRANHAS POR SEU FILHO,
DISSE AO REI: "NÃO, MEU SENHOR; DAI-LHE O MENINO VIVO; MATÁ-
LO, PORÉM, NÃO! NÃO O MATEIS."
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
emos duas mães sem nome. Mas eram chamadas por

T um nome popular e pejorativo . Ainda hoje suas irmãs


de profissão têm seus nomes na bôca de garotos mal­
criados da rua. Nas famílias não se admite pronunciá-los .
Mas a profissão delas interessa a moços de famílias e a mui­
tos maridos que as procuram. Eram prostitutas .
Foram perante Salomão expor uma questão . Uma delas
disse : "Ouve, meu senhor, esta mulher e eu habitamos na
mesma casa, e eu dei à luz junto dela no mesmo aposento.
Três dias depois deu também ela à luz. Ora, nós vivemos
juntas, e não havia nenhum . estrangeiro conosco, nessa casa,
pois sàmente nós duas estávamos ali. Durante a noite, mor­
reu o filho desta mulher, porque o abafou enquanto dormia.
Levantou-se então ela, no meio da noite, e enquanto tua serva
dormia, tomou o meu filho· que estava junto de mim e o
deitou em seu seio, deixando no meu o seu filho morto.
Quando me levantei pela manhã para amamentar o meu filho,
encontrei-o morto . Mas examinando-o atentamente à luz, veri­
fiquei que não era o meu filho" ( 3 , 1 7 ) .
Diz a Bíblia que a outra logo apelou para uma mentira,
afirmando o contrário : "Não é assim; o teu filho é o que
morreu; o que está vivo é o meu" E assim discutiam diante
do rei. Salomão constatou o diálogo, as afirmações acusa­
doras de uma contra a outra. Foi então que mandando vir
uma espada, proferiu sua famosa sentença. Calculou bem . A
verdadeira mãe preferiu perder, vivo, um filho a tê-lo morto
e dividido. Antes vivo nos braços de outra mulher, do que
retalhado em seu colo. Era a verdadeira mãe .
Embora infeliz prostituta, tinha sentimentos dignos,
melhores do que os de sua contestante. Gravíssimo êrro, por­
tanto, seria a leitora desprezar tais criaturas, como incapazes
de qualquer nobreza de sentimentos ou de atitudes. Mesmo

159
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
no meio do lôdo podem as flôres vicej ar. Já sabemos o que
Cristo Senhor pensa sôbre as decaídas . Poderão ocupar tronos
abandonados pelos eleitos .
Já em outra _página foi nossa leitora informada sôbre
a atitude que como cristã, "vaticanamente apóstolica", deve
ter a respeito das decaídas. Leu o apêlo de Paulo VI a favor
"da reeducação, da reclassificação, do inserimento" destas
infelizes . Ficou sabendo dos centros que Paulo VI lembra,
onde, recolhidas, reeducadas, reclassificadas, podem elas tor­
nar-se espôsas e mães, dignas dêste nome. Na França " Os
Ninhos" estão provando a possibilidade e a realidade dêstes
centros. São comoventes as cartas de muitas, que hoje têm
seus lares honrados e felizes .
Não faltam desculpas, parecendo justificar um desin­
têresse. Mas entre muitas que procedem, até certo ponto, há
outras derrotistas e comodistas . Os santos e as santas que
trabalharam neste setor não pensaram assim.

D
uas outras mães inominadas, e inommaveis também,
aparecem agora, leitora. Ponha-se de prontidão para
enfrentar sua revolta e repugnância. Samaria estava
de nôvo cercada pelos sírios. "Um dia em que o rei passeava
pela muralha, uma mulher gritou-lhe : "Socorro, ó rei, meu
senhor! " O rei respondeu-lhe : "Se o Senhor não te salva,
com que te poderei eu socorrer ? Com o trigo da eira ou o
vinho do lagar ?" E ajuntou : "Que te aconteceu ?" Ela res­
pondeu : "Esta mulher que aqui vês, disse-me : "Dá-me o teu
filho para comermos hoj e; amanhã comeremos o meu. No
dia seguinte quando eu lhe disse : Dá-me o teu filho, para
que o comamos, ela o escondeu" ( 2Rs 6,26 ) .

1 60
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A fome na cidade sitiada era geral e duríssima. Duzen­
tas e cinqüenta gramas de estêrco de pombos custavam cinco
sidos de prata. Pouco importa se com a expressão se quer
designar uma planta ordinária, cuj o bolbo servia para alimen­
tar a pobreza, ou é mesmo referente às aves. O rei, Joram,
�ra casado com a criminosa Atália, filha de Jezabel, mãe mais
criminosa ainda ( 1 Rs 1 7,4 ) .
:É compreensível a atitude do rei . Rasgou seus vesti­
dos ao ouvir o que dizia a mulher. Então o povo viu que êle
trazia um cilício sôbre o corpo. l)e fato, sob o golpe da des­
graça tentava êle dobrar a justiça de Deus pela penitência.
Era uma religião bem superficial, .pois só pensa em acusar
o profeta Eliseu como responsável pela situação. Realmen­
te Eliseu insistiu na resistência prometendo um milagre, que
não tardou a realizar-se com a debandada dos sitiantes .
Joram ameaça mandar cortar a cabeça do profeta, por­
tador da graça divina pelos convites de abandonar o povo
às idolatrias e às injustiças.
Temos duas mães diferentes na cena . Uma entrega
o filho e a outra esconde-o . Quem pode demarcar limites
ao desespêro de uma criatura, dizendo até onde chegará ? Você,
leitora e irmã, mesmo sem desespêro de criatura sitiada, pode
sacrificar, não digo o corpo, mas a alma de um filho ou de
uma filha. Naturalmente guiada por indigno egoísmo. Pense
nas capitulações de silêncios diante de erros que lhes devo­
ram a alma! Pense nos casamentos que podem engrandecê-la,
mas com o sacrifício da vida da alma! E lembro a propósito
que "a química do egoísmo" sabe dar aparências de bom
senso, e até de virtudes, aos mais feios defeitos da alma.
Sua missão, paciente leitora, é aquela que a filha do
Faraó traçou para a "ama" do pequeno Moisés : "Toma o
menino e cria-o para mim" Ponha na bôca de Deus esta ordem

1 62
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
e cumpra-a integralmente, sem mutilação do corpo e da alma
dos filhos.
Na história destas mães inominadas aparece, inespe­
radamente, uma reserva moral a provar que nunca se deve
apagar a mecha que ainda fumega. Um êrro não é sinônimo
de obstinação . Só os condenados no julgamento de Deus são
obstinados, como o próprio demônio. Portanto, o desprêzo
é atitude condenável.

1 63
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
JEZABEL
ES PÔ S A E MAE CRIM IN OS A

DO PRIMEIRO LIVRO DOS REIS 21,15.23.

QUANDO JEZABEL SOUBE QUE NABOT TINHA SIDO APEDREJADO E


MORRERA, DISSE A ACAB: "VAI, TOMA POSSE DA VINHA QUE NABOT,
O JEZRAELITA, SE NEGOU A CEDER-TE POR DINHEIRO, POIS NABOT JÁ
NÃO VIVE, MAS ESTA MORTO". O SENHOR FALOU TAMBÉM CONTRA
JEZABEL, DIZENDO: — OS CÃES DEVORARAO JEZABEL NA
PROPRIEDADE DE JEZRAEL. QUEM DE ACAB MORRER NA CIDADE,
DEVORÁ-LO-ÃO OS CÃES, E QUEM MORRER NO CAMPO, COMÊ-LO-ÃO
AS AVES DO CÉU"
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
eixemos Morton descrever uma situação indispensável

D para bom entendimento de muitos fatos. "Quando os


filhos de Israel regressaram do deserto, eram uns nô­
mades com uma firme fé em Javé. Mas invadiram um país
agricultor e, estabelecendo-se sôbre a terra, começaram a
aprender as artes cananéias relacionadas com a vida seden­
tária e a agricultura. Os deuses dos cananeus eram deuses
da natureza. Todos os cumes dos montes tinham suas deida­
des . Faltava chuva, perdiam-se as colheitas ? E eis os iraelitas
murmurando que o deus "local", Baal, estava desgostoso ..
Ajuntavam que o Deus que os protegera no deserto, dêles se
esquecera, agora, nos campos. Vieram tempos quando, com
exceção de Jerusalém, nos altos dos montes se ofereciam
. freqüentemente sacrifícios horríveis de crianças ao odioso
Moloch. Durante vinte e sete anos lutou Jezabel para apagar
o culto ao Deus de Israel e estabelecer a religião natural da
Fenícia, seu país de nascimento"
Essa mulher excitou seu marido a proceder mal . Diz
a Bíblia : " Com efeito, não houve ninguém que praticasse tanto
o mal aos olhos do Senhor como Acab, excitado que era por
sua mulher Jezabel" ( 2 1 ,25 ) .
Dominado por ela, desterrou os profetas e autorizou
o livre culto a Baal . Não admira haj a Jezabel resolvido cruel­
mente o caso da vinha de Nabot. Queria o rei comprá-la por
justo preço ou trocá-la por outra melhor, porque estava j un­
to ao palácio. O dono recusou vendê-la por se tratar de
herança r�ebida dos pais. E eis o rei, aborrecidíssimo com
a recusa, estendido na cama e de rosto virado para a par�de.
Não queria comer. A espôsa foi solícita, procurando sab er
qual a causa de tal atitude. Soube-a e j á foi prometendo
que daria um j eito : "Vamos ! Come, não te incomodes . Eu
te darei a vinha de Nabot de Jezrael" ( 2 1 ,7 ) . Ordenou que

1 67
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Quando Jezabel soube que Nabot tinha siâo
apedrejado e morrera, disse a Acab: · "Vai,
toma posse da vinha de Nabot"
( 1Rs 21 , 1 5)
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
caluniosamente acusassem Nabot de blasfêmia, cujo castigo
era a morte por apedrej amento.
Está à vista o pecado e eis que a graça aparece falando
pelo profeta Elias. Anunciou ao rei e à rainha cães a lhes lam­
ber o sangue. Acab arrependeu-se, penitenciou-se de modo
bem patente e edificante ( 2 1 ,27 ) . E por isso o Senhor adiou a
punição até depois de sua morte. Mais tarde Acab morreu
numa batalha. "Quando lavaram o seu carro ( tinto de san­
gue ) na piscina de Samaria, os cães lamberam o sangue do
rei, e as prostitutas banhavam-se ali, conforme o oráculo do
Senhor" ( 22,38 ) .
E a perversa conselheira, a malvada instigadora dos
males ? Sua morte é uma das mais dramáticas da Bíblia. Jeú,
valente oficial e arroj ado guia de carro de combate, foi o
eleit0 para rei e vingador dos crimes da rainha. Eliseu,
profeta, mandara ungi-lo. Atira-se com sua tropa contra Jo­
ram, filho de A�ab e rei . À pergunta dêste, responde : "Como
poderá ir tudo bem, enquanto durar a prostituição e a magia
de Jezabel, tua mãe ?" A sorte de Joram foi morrer flechad0
e ter seu corpo atirado no campo de Nabot, onde "foi pago
com a mesma moeda, neste mesmo campo" ( 2Rs 9,26 ; . Jeza­
bel, ao saber da entrada de Jeú em Jezrael, pintou 0s olhos,
adornou a cabeça e pôs-se a olhar pela j anela. Ao vê-lo, diri­
ge-lhe uma pergunta ofensiva, chamando-o de assassino. A
cena foi rápida. Jeú mandou que a jogassem janela abaixo.
"Jogaram-na e seu sangue salpicou as muralhas e os cavalç:>s,
que a esmagaram s0b os pés . Jeú entrou. Depois de ter
comido e bebido, disse : Ide ver aquela mulher maldita, e
sepultai-a porque ela é de sangue real. Foram para sepultá-la,
mas só encontraram dela o crânio, os pés e as palmas das
mãos" ( 9,34 ) . Com esta informação reconheceram todos o

1 70
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
oráculo que o Senhor pronunciara contra ela pela bôca de
seu servo Elias.
Você, leitora e irmã, está horrorizada c0m tal descri­
ção . Mas o mais triste é o que nos descreve o padre Bellouard,
dominicano : "Esta mulher, devorada pelos cães, trazia uma
matilha de cães na alma durante sua vida. Mais eram os
que lhe devoravam a alma do que aquêles devoradores de
seu c0rpo. O que um dia aconteceu na rua com seu corpo
devorado, aconteceu durante anos na sua alma culpada de
muitos pecados . Ainda viva, devoravam-na vícios que eram
cães e paixões que eram cadelas. A Bíblia mostra a matilha.
Era egoísta, ambiciosa, ciumenta, avara, cruel, autoritária,
tirânica, hostil a Deus, adoradora dos ídolos . Era aferrada
a seus planos, não suportando oposições, destruidora de alta­
res, perseguidora dos profetas . Uma espécie de mulher-demô­
nio, mas na qual o demônio se chamaria legião . Quando
os cães começaram a arrancar suas carnes, os vícios e as pai­
xões - matilha selvagem - já haviam acabado com sua alma.
Chamava-se Jezabel; era rainha adulada em Israel" Pelo que
s0brou - pés e palmas das mãos - já não era reconhecível
aquela orgulhosa.
Jezabel legou à sua filha, Atália, a mesma crueldade san­
guinária. Diz a Bíblia : "Quando Atália, mãe de Ocozias, viu
morto seu filho, decidiu exterminar tôda a descendência real .
Josabá, porém, tomou Joás, filho de Ocozias, e fê-lo escapar
do massacre dos filhos d0 rei, escondendo-o com sua ama
de leite no quarto de dormir, de maneira que pôde escapar à
morte" ( 1 1 , 1 ss ) . Não fôra o gesto de sua tia, nosso J oás
estaria morto. Mas Deus não permitiu se interrompesse a li­
nha genealógica de Davi, de quem Cristo seria chamado filh0 .
Essa Atália foi morta quando proclamaram J oás como
rei . Retiraram-na do templo para seu sangue não o manchar.

171
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
"Ao chegarem ao palácio real pelo caminho da entrada dos
cavalos , mataram-na ali" Mãe devorada pelos cães e filha
morta no caminho dos cavalos ! Racine, famoso poeta francês,
escreveu a tragédia na sua "Athalie" São versos insuperáveis
até h0je.
Não comento, leitora, tão trágica pessoa e tão terrível
castigo . Apenas lhe peço que não tolere vícios e paixões na
sua vida, nem na vida dos filhos. " Vícios e paixões, diz Bel­
louard, devoram a vida intelectual, a vida afetiva, a vida
moral e a vida espiritual . Os cães , quando pequenin0s, diver­
tem, distraem, alegram. Quando crescidos, dilaceram e devo­
ram. É o que se dá também com as paixões e com os vícios"
Sem malícia, pergunto pelo tamanho que já alcança­
ram em sua alma êsses animais, cães de vícios e de paixões.
Um leal exame, uma franca recriminação do marido, repetidas
queixas dos filhos lhe dirã0 a verdade no caso. Sobretudo
lhe mereçam sobressaltos e cuidados as pequeninas paixões
na alma dos filhos. Não as desculpe com o chavão de .
"personalidade" Não diga que o filho, que a filha são "tem­
peramentais", reconhecidos e registrados e t0lerados como
tais . O que você condena nos filhos das amigas, não disfarce,
não canonize nos seus filhos .
Não é demais afirmar que Deus olha e sonda, os peque­
ninos e maiores, pelos 0lhos de uma mãe. Principalmente
quando ela segue as normas que o santo Concílio Vaticano II
lhe dá nos seus documentos pastorais.

1 72
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
VIÚVA DE SAREPTA
A HOSPEDAGEM ABENÇOADA

DO PRIMEIRO I.IVRO DOS REIS 17,8-12

ENTÃO A PALAVRA DO SENHOR FOI DIRIGIDA A ELIAS NESTES


TERMOS: "LEVANTA-TE, VAI PARA SAREPTA DOS SIDÔNIOS E HABITA
ALI. EIS QUE ORDENEI A UMA MULHER VIÚVA QUE TE
SUSTENTE" ...ELA RESPONDEU-LHE: "VIVA O SENHOR, TEU DEUS! NÃO
TENHO PÃO, MAS SOMENTE UM PUNHADO DE FARINHA NA VASILHA
E UM POUCO DE ÓLEO NA ÂNFORA. ESTOU APANHANDO UNS
GRAVETOS, A FIM DE IR COZÊ-LA PARA MIM E PARA MEU FILHO
PARA COMERMOS, E DEPOIS MORREREMOS."

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
E
stamos no tempo agitado do profeta Elias, que anun­
ciou ao rei Acab anos sem chuva e sem orvalho. Veio
a sêca anunciada e Elias teve de abandonar a sua torren­
te de Carit. Seguiu o rumo traçad0 pelo Senhor, como diz
o texto acima. Agora a leitora irá constatar como é paternal
o interêsse de Deus pelas viúvas .
Chegando a Sarepta, viu o profeta uma mulher que
ajuntava lenha. Pede-lhe água, mas logo ajunta outro pedido.
Queria que a viúva lhe trouxesse também um pedaç.o:.> de pão .
A resposta da pobre mulher é comovente, ao mencionar sua
pobreza em casa, seu último esfôrço para aquêle dia. Depois,
ela e filho, morrerão .
- Não temas, replicou Elias ; mas prepara-me antes
com isso um pãozinho, e traze-mo. Depois prepararás o resto
para ti e teu filho . Porque eis o que diz o Senhor, Deus de
Israel : a farinha que está na panela não se acabará e a ânfora
de azeite não se esvaziará, até o dia em que o Senhor fizer
chover sôbre a face da terra. A mulher foi e fêz o que disse
Elias . Durante muito tempo ela teve o que comer, e a sua
casa e Elias . A farinha não se acabou na panela, nem se esgo­
tou o óleo na ânfora, como o Senhor o tinha dito pela bôca
de Elias ( 1 7 , 1 3- 1 6 ) .
N�o é estranho Deus enviar um profeta para ser sus­
tentado por uma pobre viúva ? Uma mulher, com dois pauzi­
nhos de lenha e um res tinho de farinha e óleo, tornar-se
hospedeira de um profeta faminto ? Mas é assim mesmo,
leitora e irmã - quem sabe ? - dessa pobre viúva. A Provi­
dência de Deus anda pelas cozinhas, abre as panelas vazias
e acode ou com milagres ou corações que êle abre para gene­
rosidades. Em n.o:.>sso caso foi o milagre da farinha sem fim
e da ânfora, que suas mãos tornavam a encher quando vazias .
Se minha leitora é cristã vivente, com dimensões comunitá-

175
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Não tenho pão, mas somente um punhado
de farinha na vasilha e um pouco de óleo
na ânfora; Estou apanhando uns gravetos,
a fim de cozê-la para mim e para meu filho
para comermos, e depois morreremos
( Rs 17, 12)
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
rias, lembre-se das pobres vmvas. Em geral Deus comove
os corações e agita as consciências dos que podem ajudar
a tais necessitadas, sem recorrer aos milagres.
:É tremenda acusação c0ntra uma família, quando po­
bres mulheres remexem a lata do lixo, que está à porta de
sua casa. Ainda hoj e vejo aquela dúzia de pãezinhos bra�cos,
"enfeitando" uma lata de lixo de casa abastada! Esbanja­
mento em vez de compaixão.
Continua a história da viúva de Sarepta. Algum tempo
depois o filho desta dona de casa adoeceu e seu mal era tã0
grave que já não respirava. Lá foi a desolada mãe reclamar
com o profeta, num tom humilde de pecadora : "Que há entre
mim e ti, homem de Deus ? Vieste à minha casa para lem­
brar-me os meus pecados e matar o meu filho ?" Elias pede-lhe
a entrega do filh0 morto e, retirado ao seu quarto, entende-se
com Deus confiadamente. Sua oração toma forma de uma
reclamação : "Senhor, meu Deus, até a uma viúva que me
hospeda, quereis afligir, matando-lhe o filho ?" ( 1 7 ,20 ) . Assim
falou porque sabia que o Senhor reagiria contra semelhante
acusação, tã0 cruel para seu coração de pai. E aconteceu
o milagre, logo após três invocações que então dirigiu ao
Senhor : "Senhor. meu Deus, fazei '"�Ue a alma dêste menino
volte a êle" Reviveu o menino c Elias desceu do quarto
superior, entregando o redivivo �o alvorôço de sua mãe
reconhecida.
No Evangelho Cristo lembra aos seus ouvintes a fé
da viúva hospedeira do pr0feta. Fome espantada e filho retor­
nado à vida, tudo em favor de uma pobre viúva. Ao descrever
a perseverança na oração, menciona a insistência com que
uma viúva reclama seus direitos perante um juiz que não
temia nem a Deus nem aos homens. Por fim não vacila em
trazer outra vez à vida um môço, filh0 único de uma viúva.

1 78
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Tôdas essas situações estão confirmando o que a Bí­
blia afirma sôbre a proteção do Senhor às viúvas e aos órfãos .
Hoje, como outrora, não faltam injustiças e opressões que
arrancam lágrimas destas p0bres vítimas . Mas também os
ouvidos de Deus continuam os mesmos, atentos e prontos
aos clamores da classe. Se você é viúva, sofredora de injus­
tiças, levante sua voz e saiba insistir. Um juiz iníquo cedeu
à insistência e Deus de bondade não fará tudo melhor e mais
depressa ?

1 79
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A VIÚVA E O PROFETA
A CONFIANÇA RECOMPENSADA

DO SEGUNDO LIVRO DOS REIS 4,1ss

MEU MARIDO, TEU SERVO, MORREU: E TÚ SABES QUE TEU SERVO ERA
TEMENTE AO SENHOR. ORA. O CREDOR VEIO TOMAR OS MEUS DOIS
FILHOS PARA OS FAZER ESCRAVOS. ELISEU PERGUNTOU-LHE: QUE
PODEREI FAZER POR TI? DIZE-ME, QUE TENS EM TUA CASA?
RESPONDEU ELA: TUA SERVA NÃO TEM EM CASA OUTRA COISA SENÃO
UM VASO DE ÓLEO.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A
vida é assim : abundância revezando-se com escassez e
pobreza. Mulheres ricas de permeio com viúvas neces­
sitadas . No meio delas a amável providência de Deus,
agindo por mei0 de criaturas que a representam. Até hoje
é assim. Lá em Turim a Casa da Providência está provando,
diàriamente, que há um Pai no céu. Alimenta as aves, veste
as flôres, não deixa um vagabundo de pardal cair do telhado.
Nossa viúva está sofrendo muito. Enviuvara de um
profeta, temente a Deus . Vendo passar outro profeta, Eliseu,
clama p0r socorro, como você leu acima.
- Que posso eu fazer por ti ? Dize-me, que tens em
tua casa ? Esta a pergunta a que respondeu a miséria com
apenas uma garrafa com óleo . Mas o diálogo da pobreza
com a Providência terminou logo e vantajosamente.
- Vai, pede emprestadas às tuas vizinhas ânforas va­
zias em grande quantidade. Depois entra, fecha a p0rta atrás
de ti e de teus filhos, e enche com óleo essas ânforas, pondo­
-as de lado, à medida que estiverem cheias ! � Eis o recado
que saiu do coração de Deus para a bôca do profeta.
A mulher partiu e executou à risca tudo que lhe fôra
mandado. Os filhos passavam-lhe as ânf0ras,_ e ela enchia-as
sempre.
- Dá-me mais uma ânfora, filho .
- Não há mais, - respondeu o interpelado depois
de apresentar a "grande quantidade" de ânforas . E o óleo
cessou de correr.
Numa fidelidade de alma simples lá foi a mulher contar
" tudo" ao profeta. E 0 homem de Deus disse :
- Vai e vende êsse óleo para pagar a tua dívida.
Depois disso, tu e teus filhos vivereis do resto ( 4 ,3ss ) .
Que garrafa milagrosa, leitora! Do pouco que continha
encheu grande quantidade de ânforas .

183
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Muitas cristãs podem repetir o milagre, simplificando
0 toucador, o guarda-roupa, a coleção de bôlsas e de sapatos.
Estou vendo um marido pedir para a espôsa mostrar-me
seu guarda-roupa, igual a êste mencionado. Ela mostrou-mo.
E vi que aquêle afilhado de casamento bem poderia repetir
o milagre do profeta Eliseu.
Gostaria que minha irmã em Cristo desse uma visto­
ria no seu supérfluo, no seu luxo competidor e vaidoso. Aca­
baria sendo outra milagrosa, talvez outra Tabita ( Atos dos
Apóstolos, 9,36ss ) . Antecipo-lhe a história como mulher bíbli­
ca. Vivia em Jope, era rica e esmoleira. Faleceu. Vindo ver
a falecida, o apóstolo S. Pedro deu com viúvas que em pran­
tos o cercavam, mostrando-lhe as túnicas e os vestidos "que
Dorcas ( seu nome grego ) lhe fazia" E S. Pedro ressuscitou
a morta. Não duvido que meu livro cairá em mãos de leito­
ras que estão necessitando de uma ressurreição . de " suas
almas", embora andem os corpos rica e elegantemente vesti­
dos e perfumados . Comecem pelas esmolas e amparos às vm­
vas . Elas mostrarão, chorando e rezando, as esmolas que
uma feliz Tabita ( ou Dorcas ) lhes fêz .
É impressionante o número de viúvas ornadas de santi­
dade e colocadas nos altares pela Igreja. Prova de que Deus
é generoso com elas, conferindo-lhes tesouros também na
ordem sobrenatural. A mais conhecida é santa Rita de Cássia.
Roma venera a famosa santa Francisca Romana. Nosso povo
conhece de sobra santa Isabel . tanto a de Portugal como a
da Turíngia. Liga as rosas aos seus nomes.
A cada passo quem lê a Bíblia, sobretudo os profetas,
encontra afirmações sôbre a proteção que o Senhor dá às
viúvas. E isto, ora dizendo que êle defenderá os direitos
delas, ora exigindo que se evite tôda injustiça, tôda opressão
das desamparadas . Considera prova de verdadeira religião o
amparo que se lhes dá.

1 84
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Não admira, portanto, que até o Concílio Vaticano li
as recomenda ao apostolado e interêsse das famílias . Em
muitos países há associações católicas para defesa, ampar0
e assistência às viúvas . Há até revistas orientadoras para a
classe.
O próprio Cristo não poupou elogios à generosa esmola
da viúva no templo . Numa parábola deu como modêl'J a
insistência de outra, em reclamar seus direitos j unto a um
j uiz " iníquo" ( Lc 2 1 ,3 ; 1 8 ,5 ) Numa palavra, a Bíblia está
.

cheia de avisos e ameaças de Deus contra os descaridosos


exploradores, os injustos opressores de órfãos e viúvas . Provér­
bios ( 1 5 ,25 ) sustenta que o Senhor firma os limites da viúva.
Saiba, minha leitora, que é "zona minada" todo assunto
neste ponto. Portanto, nunca tente prejudicar, quando de
partilhas e heranças, a viúva que um irmão deixou. Diz um
ditado do povo, quand0 sopra determinado vento, que é pran­
to das almas injustas contra viúvas .

1 86
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A MULHER DE SUNAM
O PRÊMIO DA F É

DO SEGUNDO LIVRO DOS REIS 4,9-10

ESSA MULHER DISSE AO MARIDO: “OBSERVEI QUE ÊSTE HOMEM QUE


VEM SEMPRE À NOSSA CASA, É UM HOMEM DE DEUS, UM SANTO.
FAÇAMOS, POIS, UM QUARTINHO DE TIJOLOS NO TERRAÇO,
COLOQUEMOS NÊLE UM LEITO, UMA MESINHA, UMA CADEIRA E UM
CANDEEIRO, PARA QUE QUANDO ÊLE PASSAR POR AQUI LÁ SE POSSA
ACOMODAR."
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
liseu é outro profeta que Deus quer assistido por uma

E mulher de Sunam. Ao passar por êsse lugar, veio uma


mulher rica ao encontro d0 homem, " santo de Deus"
Com insistência convidou-o a comer em sua casa e a fazer
sempre assim. Por fim preparou-lhe um quarto construído
no terraço. Mobiliou-o com simplicidade prática.
O pr0feta aceitou a mesa e o quarto. Lá um dia manda
Giezi, seu fâmulo, perguntar à sua hospedeira qual o desej o
a respeito de algum favor.
- Pergunta-lhe, Giezi, o que posso por ela, em reco­
nhecimento do desvêlo com que nos tem tratado. Talvez ela
queira que eu fale ao rei ou a0 general do exército sôbre
algum negócio seu.
Veio a resposta afirmando que ela vivia em paz no
meio do povo . Logo não tocava demandas. Nessa altura
Giezi acertou, lembrando ao profeta que a h0spedeira não
tinha filho algum . Chamada à presença de Eliseu, ela apare­
ce à porta e ouviu a profecia : "por êsse tempo, daqui um ano,
acariciarás um filh0" A mulher sabia da idade do marido.
- Não, meu senhor, - respondeu ela, - não zombes
de tua escrava, ó homem de Deus ! - Mas a mulher concebeu
e no ano seguinte, à mesma época, como tinha predito Eliseu,
deu à luz um filho ( 4, 1 1 ) .
Com côres vivas descreve depois a Bíblia o crescimen­
to do menino, a insolação de que foi vítima quando no campo
com o pai e sua morte no colo materno . Continua com a
descrição dos preparativos da mãe aflita que, entre outras
atitudes , tomou o menino, subiu a0 quarto do profeta ausente
e "colocou o menino na cama do profeta" ( 4, 1 8ss ) . Há um
diálogo rápido com o marido :
- Por que vais ter com o profeta, hoje? Não é lua
nova, nem sábado. - Como se dissera, não ser data de festa
no monte Carmelo, onde então se achava Eliseu.

1 89
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
- Fica tranqüilo, marido. Foi a resposta. A infor­
tunada vai em busca do homem de Deus. A Giezi, vindo a
seu encontro, ela não contou a dor que a oprimia. Chegada
ao profeta, abraçou os seus pés .
- Deixa-a, - disse Eliseu a Giezi que queria retirá-la.
- Sua alma está cheia de am;:trgura e o Senhor mo ocultou.
Nada me revelou.
- Pedi, disse a sunamita, eu porventura um filho ao
meu senhor ? Não te disse que não zombasses de mim ?
Por ordem do profeta, Giezi parte levando o bastão
dêle com ordem de colocá-lo sôbre o menino morto. Por fim
parte Eliseu e em pessoa vai ao quarto indicado e ressuscita
o menino, entrega-o à mãe que mandara chamar ( 4,32ss ) .
Você, leitora, leu de modo resumido o que a Biblia
conta com alma e coração, bem ao vivo . Nossa sunamita
bem mereceu a ressurreição do filho.
A generosa hospedeira não ficou a trás da mãe dedi­
cada, provada e premiada. Ainda hoje mostram aos turistas
da Terra Santa o sítio, no qual as ruínas recordam a casa e o
acontecimento.
Foram-se os profetas com suas missões históricas e
mensageiros de graças divinas. Hoj e estão aí os sacerdotes
e o Concílio Vaticano II quer "que o povo de Deus sej a ensi­
nado que lhe toca obrigação de .cooperar para as vocações
de vários modos, pela oração perseverante e por outros meios
que lhe estejam ao alcance" E ist0 para que não faltem à
Igreja os sacerdotes necessários para cumprimento de sua
missão divina ( Decreto MS ) . Portanto, não esperem as famí­
lias por profetas, mas ajudem na Obra das Vocações, tanto
diocesanas como religiosas.
Sem dúvida, minha leitora já terá ouvido falar dêsse
dever. Já estará a par da cooperação que deve dar na desco­
berta e no amparo das vocações nos próprios filhos. E a

1 90
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
razão de tudo ? Diz o Concílio : " Pois há uma causa comum
entre o pilôto de um navio e o navio, os passageiros "
Hoj e não se entende um cristão sem essa dimensão
apostólica, sem amparo aos substitutos de profetas, aos por­
tadores da salvação ao povo de Deus .

191
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A MULHE DE JÓ
A E SP ÓSA QUE NÃO CO MPRE ENDE

DO LIVRO DE JÓ 2, 7-9

SATANÁS FERIU JÓ COM UMA ÚLCERA MALÍGNA, DESDE A PLANTA


DOS PÉS ATÉ O ALTO DA CABEÇA. E JÓ APANHOU UM CACO PARA
RASPAR-SE, ENQUANTO SE SENTAVA SÔBRE UM MONTE DE CINZA. SUA
MULHER LHE DIZIA: "AINDA PERSEVERAS NA TUA PROBIDADE.!
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
oi a mulher ideada, criada, apresentada como compa­

F nheira e auxiliar do homem, em tôdas as suas dimen­


sões de corpo e de alma. O Senhor não achou bom
ficar o homem sozinho com seus problemas . Mulher e homem
amando-se mutuamente, de mãos unidas na ventura e des­
ventura da vida. Inúmeras espôsas, pela história e pelo mun­
do afora, andam fiéis e operosas neste programa. São verda­
deiramente eficientes na sua missão. Motivaram e motivam,
ainda hoje, epitáfios eloqüentes nos seus sepulcros.
Mas infelizmente não faltam excessões lamentáveis,
trágicas, vergonhosas . Só Deus sabe a quanto sobe o núme­
ro dessas fracassadas . São as que justificam a frase deses­
perada de muitos maridos, quando chamam de desastre o
dia em que se casaram, de castigo a espôsa que esco­
lheram.

Era assim a mulher de Jó. A Bíblia não menciona seu


nome, mas lhe descreve a alma, como o dizem as linhas do
texto citado acima. Era Jó oatriarca, chefe de tribo, riquís­
simo e muito temente a Deus. Sobremodo caridoso e esmoler
"desde o ventre materno". Nada faltava à espôsa, sempre
trajada, exigida, invej ada, de alta prôa na sociedade. Tenda
luxuosa e comentada. Enfim . rnadame Jó, como diríamos
hoje. Seu nome andava em tôdas as bôcas . Suas modas
eram imitadas. Teria talvez a lista dos 2 1 artigos de moda,
enumerados pelo profeta Isaías ( 3 , 1 6-25 ) em amontoada iro­
nia, bem à vista no original hebraico . Eram "anéis dos pés,
amuletos e lúnulas, diademas, correntinhas e cintos de gala,
vidros de perfume e colares, anéis e pingentes de pedras
preciosas, vestidos de gala e os mantos, os véus, as bôlsas
de dinheiro, os espelhinhos e as saias de renda, os listões e
as roupas de verão" Era enfim mais uma rosa silvestre mos-

1 95
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
trando suas côres pela estrada, do que "parreira dadivosa
nas quatro paredes· da casa", como o Salmo a sonha para
o marido.
Mas veio a reviravolta com as notícias da perda dos
rebanhos, dos criados, dos filhos . Por fim a lepra deforma­
dora e repugnante. Da família só lhe resta a mulher e esta
mesma só para amargurá-lo ainda mais. É sempre assim : o
• fogo purifica o ouro, amolece a cêra e endurece a alma. Eis
madame Jó de mãos enterradas nos quadris, de cabeça ergui­
da, voz arrogante a intimar o marido . Que lhe adiantara ser
religios0, beatão, queimar incenso ao Senhor? Quanto ga­
nhara tornando-se pé para o coxo, luz para o cego ? Tudo
isso em troca da lepra ? Madame Jó tem tino "comercial"
Quer pagamento imediato por um ato de virtude, de religião.
Vai mais longe. Convida o marido a amaldiçoar a Deus ,
a morrer. Quer que o pobre desapareça, desça ao inferno,
depois de lançar uma maldição à face de Deus. "Uma legião
de demônios falava nesta mulher" ( Faulhaber ) .
A resposta de Jó foi clara e positiva, traduzindo sua
fé profunda. Foi recusa terminante. "Tu falas como uma
mulher desajuizada", isto é, na linguagem bíblica, c0mo uma
das mulheres ímpias e pagãs . Não recebemos o bem de Deus ?
Por que não devemos receber também a miséria ? ( 2, 1 0 ) .
De certo está a leitora horrorizada com êsse tipo de
espôsa. Mas quando o amor não passa de comédia humana,
as coisas c0rrem assim. Não estranhe o Eclesiástico achar
que "mulher maldosa é um escorpião em casa ( 26, 1 0 ) , que
é melhor viver com um leão e um dragão do que com ela"
( 25,23 ) . É no fogo do sofrimento que você, leitora, há de ·
viver seu sacramento, n0 programa do amor, do devotamento,
para que o marido não se sinta sozinho. Pois sua alma pode
estar mais atormentada com chagas do que o seu corpo.

1 96
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Semelhante atitude não pode ser improvisada. � pre­
parada pela "companheira de cada dia e cada noite, nas
pequenas contrariedades e cruzes da vida" A uniã0 com
Deus, na oração e nos sacramentos, na firmeza de princípios
confiantes na Providência - eis o que põe sua alma nos
trilhos, quando a vida muda as agulhas da felicidade. Fale
em você . uma legião de anj os.

1 98
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ANA E SARA
A INCONFORMADA E A CASTA

DO LIVRO DE TOBIAS 2,14; 3,8-9

REPLICOU-LHE, ENTÃO. ELA: "ONDE TERMINARAM AS TUAS ESMOLAS


E AS TUAS VIRTUDES? VÊ-SE MUITO BEM NESTE TEU ESTADO!" COM
ESTAS E OUTRAS PALAVRAS ELA CENSURAVA-O DURAMENTE.
TENDO SARA REPREENDIDO A JOVEM CRIADA POR ALGUMA FALTA,
ESTA LHE RESPONDEU; "TU SUFOCAS OS TEUS MARIDOS! EIS QUE JÁ
FÔSTE DADA POR ESPOSA A SETE MARIDOS E DE NENHUM
CONSERVASTE O NOME. POR QUE NOS BATES POR CAUSA DE TEUS
MARIDOS? POR QUE MORRERAM? VAI-TE COM ELES POIS E QUE NÃO
VEJAMOS JAMAIS FILHO OU FILHA TEUS!"

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
L
á vai caminhando por uma estrada da Assíria uma
desterrada, puxando um cabritinho . É Ana que volta
do trabalho de tecer, para com o lucro ajudar a pobreza
do velho marido, o santo velho Tobias. Ambos haviam perdi­
do seus haveres e a amizade do rei. Pois Tobias, além de
muito esmoler, costumava esconder em sua casa os patrícios
mortos , para à noite os sepultar. Era assim que deixava de
observar a lei real que mandava deixar insepultos os dester­
rados israelitas .
Naquele dia Ana, recordando tudo isso e a cegueira
do marido, mergulhado em trevas, estava nervosa. Era des­
graça muita, de uma só vez.
Em casa o marido ouve o cabrito balir e já adverte
a espôsa : "Vê que êle não tenha sido roubado, porque não
nos é permitido comer e nem mesmo tocar o que foi roubado"
( 2,2 1 ) . Falou assim por causa da consciência delicada de
homem justo e conhecedor dos "usos " daquela terra. Ana, ele­
vando a chave do tom da sua voz, desabafou suas mágoas,
mostrando o desacôrdo com as esmolas generosas do marido,
sempre confiante em Deus . Converteu-se em mais uma cruz
para o companheiro . Não soube ajudar-lhe a alma atribulada,
embora suas mãos calej adas de mulher trabalhadora andassem
provando sua dedicação no alívio da pobreza do lar. Bem
entendia que mãos de espôsa não se destinam sàmente para
carícias, mas também para calos. Hoje ainda estou vendo
aquêle marido e afilhado, servindo-me pela manhã o café
por êle preparado, lá na fazenda. Mas metido num pij ama
rasgado porque a bela espôsa, tôda metida em belo� vestidos e
maquilagens, não tinha tempo nem olhos para ver a situação.
Sem dúvida as palavras de Ana foram tão duras, que
arrancaram do velho uma prece : " que o Senhor recebesse sua
alma em paz. Pois achava melhor morrer do que viver" ( 3 ,6 ) .

201
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Contudo Ana era mãe amorosa, lamentando a ausência
do filho, "bordão da nossa velhice", maldizendo o dinheiro
para cuja cobrança tinha partido o filho. "O pouco que
temos nos bastava; a nossa riqueza era a vista do nosso filho"
( 5 ,23 ) . Bela comparação, com lastro de ouro até hoje! Nessa
altura encontrou a alma confiante do espôso . "Nã"J chores;
nosso filho chegará são e salvo. Tu o verás com os teus
olhos. ( Eu, ceguinho, não o verei ) . Estou certo que um bom
anjo de Deus o acompanhará e disporá solicitamente tudo
o que lhe diz respeito, de modo que êle tenha a alegria de
voltar para nós" ( 5 ,26 ) . Ana cessou de chorar.
Continuaram, contudo, as saudades como abelhas que
entram e saem de uma colmeia. Todos os dias eis nossa mãe
saudosa indo assentar-se perto do caminho, "no cimo de uma
colina", donde podia ver ao longe. E que vistas penetrantes
têm as saudades no coração de uma mãe ! Dali espreitava
a volta do filho. :E:ste, por sua vez, lá bem longe, torturava-se,
"sabendo que seu pai e sua mãe contavam os dias e se acha­
vam em grande tormento" :e. isso, leitora. o coração emite
ondas, não sei se curtas ou médias ou tropicais.
Mas um dia os olhos de Ana reconheceram o filho .
Ei-la correndo para o seu marido e alvoroçando-o com a notí­
cia da vinda do filho.

ARA. Na companhia do jovem Tobias veio uma môça,

S com êle desposada. Foi casamento preparado e acon­


selhado pelo arcanj o Rafael, gentil companheiro de
viagem. Guia e casamenteiro e médico, cuj a receita curou a
cegueira do velho Tobias . Sara vivia atribulada pela falta de
sorte. Todos os sete maridos amanheciam mortos, logo à
primeira noite de núpcias. Daí as acusações das empregadas .

202
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
I sso se dava porque, no dizer do arcanjo, êsses homens proce­
diam como animais na referida ocasião.
Entretanto Sara, na sua amargura, relembrava os mo­
tejos das criadas e a praga que haviam proferido contra ela :
"Não vej amos jamais filho nem filha nascidos de ti sôbre
a terra! " ( 2,9 ) . Para quem considerava a esterilidade uma
desgraça nacional e religiosa, era isso injúria insuportável.
Daí sua oração ao Senhor. Pedia-lhe a livrasse de tal opróbrio
ou lhe tirasse a vida. "Vós sabeis que eu nunca desejei homem
algum, e que guardei minha alma pura de todo o mau desej o.
Nunca freqüentei lugares de divertimentos nem tive comércio
com pessoas levianas . E se consenti em casar-me, foi por
vosso temor e não por paixão. Foi, sem dúvida, porque eu
não era digna dêles; ou talvez não eram dignos de mim; ou
então me destinastes a outro marido" ( 3 , 1 3-1 9 ) .
Tinha razão em assim rezar nossa provada Sara. Des­
posada com Tobias, todos na casa esperavam encontrar o
último sem vida, na manhã após a noite das núpcias . Tanto
assim que Raguel já havia providenciado a abertura da sepul­
tura para o oitavo marido. Pela manhã mandou ver o acon­
tecido, como singelamente nos conta a Bíblia ( 8 ,1 1 -1 5 ) . A
escrava foi ver e voltou contando que os dois dormiam como
duas crianças, vivinhos. É que Tobias seguira os conselhos
do arcanj o e combinara com Sara uma abstinência até a
terceira noite. E depois "consumaremos nossa união porque
somos filhos dos santos, e não nos devemos casar como os
pagãos que não conhecem a Deus" ( 8,4-5 ) . Tobias protestou
diante de Deus seu desej o de posteridade ao tomar sua prima
por espôsa. Essa posteridade deveria bendizer eternamente
o nome do Senhor. - Por isso ao cantar do galo, com a
sepultura já aberta, o casal era o mesmo na pureza de inten­
ção e na abstinência prometida.

203
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Leitora, o livro de Tobias é considerado como o livro
do casamento. Mostra seus bens , descreve suas exigências e
enumera suas bênçãos. Hoj e já não amanhecem mortos 0s
maridos que bem podem figurar entre os sete de Sara. Como
espôsa, você há de educar o homem que a procura "como
um pagão" Lembre-se que há direitos, mas ao lado dêles há
pudores de cristã para corpos destinados à ressurreição . O
amor físico só sacia corpo e alma quando dentro dessas
praias . Não pode ser onda a deixar salsugem, somente.

205
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
JUDITE
A HEROÍNA

DO LIVRO DE JUDITE 15,8-10

JOAQUIM, O SUMO SACERDOTE, E OS ANCIÃOS DO POVO DE ISRAEL


VIERAM DE JERUSALÉM PARA CONTEMPLAREM COM OS PRÓPRIOS
OLHOS O GRANDE BEM QUE O SENHOR FIZERA A ISRAEL E PARA VER E
HOMENAGEAR JUDITE. ENTRANDO EM SUA CASA, ELOGIARAM-NA
UNÂNIMEMENTE, DIZENDO: "TU ÉS O ORGULHO DE JERUSALÉM, A
GLÓRIA INSIGNE DE ISRAEL. A GRANDE UFANIA DE NOSSA NAÇÃO.
FIZESTE TUDO ISSO COM TUA MÃO. PRESTASTE UM GRANDE SERVIÇO
A ISRAEL. E O SENHOR SE COMPRAZEU NÊLE. SÊ ETERNAMENTE
BENDITA PELO SENHOR ONIPOTENTE". E TODO O POVO
ACRESCENTOU: "ASSIM SEJA!"

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
e dependesse de mim, seria Judite nomeada padroeira

S das nossas mulheres advogadas . Soube defender cau­


sas difíceis e venceu em tôda a linha. Primeiramente
advogou a causa de Deus perante Ozias e os anciãos , resolvi­
dos à entrega de Betúlia a Holofernes, que a sitiara. Nem
água corria para a cidade. Judite, credenciada por sua casta
viuvez e fama de virtuosa, censurou o prazo de cinco dias
que êsses chefes deram ao Senhor para os socorrer.
Lembrou todos os poderosos auxílios que o passado
acusava como recebidos de Deus, em tremendas situações .
Ergueu a confiança de quantos a escutavam, respeito�os de
seu renome de temente a Deus .
Em seguida advogou a causa do povo perante Deus,
em longa oração e jejum. Já convertido, aquêle povo mere­
cia a proteção divina. Já havia abandonado seus erros, suas
idolatrias, estava caminhando nas sendas da lei. Agora, cercado
e sitiado, merecia os auxílios prometidos pela palavra de Javé.
Depois advogou em defesa de seu plano, nascido em
longa oração e rigoroso jejum. Queria que Deus prendesse
Holofernes, o poderos<J general inimigo sitiante, às ciladas
de seus lábios . Que lhe cativasse os olhos perante sua beleza,
conhecida de todo mundo . Que lhe rendesse o coração para
prestar-§e aos planos portadores da vitória. Queria que a ela
fortalecesse o braço e a virtude a fim de liquidar com o inimi­
go, sem manchar-se com o pecado .
Soube expor sua causa e conseguiu a proteção do céu.
Bela, enfeitou-se dep<Jis de lavar-se e ungir-se com mirra pre­
ciosa. Em lugar das vestes de viúva e do cilício, vestiu-se
como para uma festa, arranjando o cabelo, sob um diadema,
calçando as sa,ndálias, pondo os anéis, os braceletes, o colar,
os brincos e t0dos os seus enfeites . Linda ficou, sem favor
algum. O Senhor aumentou-lhe a beleza porque tudo aquilo

209
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
procedia, não de uma má pa1xao, mas de sua virtude. Por
isso "o Senhor deu-lhe uma tal formosura que apareceu aos
olhos de todos como um encanto incomparável" ( 1 0,2ss ) .
Ei-la agora advogando em cilada de guerra a causa do
inimigo , a cuj o encontro caminhou deixando a cidade .sitiada.
Fugia porque estava sabendo que Holofernes a conquistaria.
Alv0roçou o acampamento com sua beleza. A soldadesca,
chefes e comandantes , comentavam seus encantos. Pagava a
pena combater os hebreus que tinham mulheres tão bonitas.
Mal ela havia entrado na tenda de Holofernes e o
general já fic0u cativo de seus olhos . E Judite, nesta altura,
aumentou seu embuste de guerra, elogiando o rei a quem
Holofernes obedecia, louvando seu poderio, dizendo-se por­
tadora de um recado do Senhor, que iria punir os sitiados
pel0s seus pecados. Saindo do acampamento para orar -
sempre com a permissão de Holofernes , viria dizer-lhe a hora
e o caminho da vitória. Vitorioso, Holofernes seria levado
por ela até ao coração de Jerusalém, sem que " sequer um
cão ladrasse contra êle" - Obteve a licença para sair de
n0ite, a fim de orar a seu Deus e observar as purificações de
sua religião, sempre na companhia da criada que consigo
trouxera. Holofernes achou bom o plano de Judite e ficou
rendido à sua beleza e sabedoria.
Nossa advogada ganhara maü. uma causa : a do inimi­
go . O desfecho é c0nhecido . No quarto dia Holofernes deu
um banquete e fêz um convite que não contava com a virtude
da bela judia. Judite comeu da provisão que trouxera. Con­
sentiu em ficar na tenda do general que esperava tê-la como
companheira de leito. Houve vinho a valer durante horas.
Vigilante, n0ss.a heroína rezava no seu coração, vendo que
ia chegar a hora de sua fortaleza, de virtude e coragem. A
sós com o general embriagado, tombado no seu leito, Judite

210
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
reza, pede fôrça para seu braço, levanta-se e, tomando a espa­
da dependurada numa coluna, invoca mais uma vez o forte
Deus de Israel . Ergue o braço, decepa a cabeça de H0lofer­
nes . Esconde-a depois no saco já nas mãos da criada e sai.
Ruma para sua cidade e alarma seus concidadãos, depois
alerta os soldados do general vencido.
A derrocada foi geral, à vista do comandante morto .
Os sitiados caíram em cima do inimigo vencido pelo pamco
e em fuga desabalada. Judite foi celebrada grandemente.
Mas aqui tem a leitora direito de fazer reparos ao
procedimento moral de Judite. Não mentiu ela aos guardas
do acampamento ( 1 0 , 1 2- 1 3 ) e não envolveu Holofernes numa
verdadeira rêde de mentiras ? ( 1 1 ,4- 1 5 ) Não expôs sua honra
feminina ao maior perigo ( 1 2, 1 3-1 5 ) e não matou traiçoei­
ramente a quem dormia ? Poderá uma tal prevaricadora con­
tra a lei moral ser coroada com a gloríola de uma santa
bíblica ? Eis perguntas feitas por Faulhaber e por êle res­
pondidas . A resposta desta pergunta já foi dada na aprecia­
ção de Jael. Judite, c0mo se depreende de sua oração antes
do fato ( c. 9 ) e de seu cântico depois do fato ( c. 1 6 ) , sen­
tia-se como uma guerreira do Altíssimo, encarregada duma
missão divina. Sua honra, ela sabia bem guardada, mesmo
no maior perigo, sob o escudo do Altíssimo ( 1 3 ,20 ) . Contra
o conquistador estrangeiro, que condenara todo o povo à

morte, parecia-lhe permitido qualquer ardil de guerra. A luta


pelos muros de Betúlia, era em última linha, uma guerra
religi0sa entre o paganismo e a revelação ( 6,2-4 ) . E valendo
Betúlia como chave militar de Jerusalém, tratava-se do ser
ou não-ser do Santuário de Sião.
Seria, porém, esfôrço inútil querer combinar, a todo
preço, a ação de Judite, em tôdas as suas minúcias, inclusive
suas mentiras, com os nossos conceitos morais. Pode-se ter

211
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Reunindo suas fôrças, assestou-lhe dois
golpes no pescoço, oortando-lhe a cabeça
( Jud 13,8)
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
uma missão divina; no modo, porém, de ct•mprir essa missão
vindicativa, pode a própria astúcia dar um passo errado.
Erros dos homens na escolha dos meios não lançam sombra
sôbre a honra da moral bíblica, nem sôbre o conceito bíblico
de Deus. Eis as palavras do cardeal Faulhaber. Santo Tomás
afirma que Judite é louvada pela sua fé e patriotismo, e não
por causa de suas mentiras .
Os santos padres não têm poupato encômios à pie­
dade, castidade, patriotismo, coragem e desprendimento de
Judite. A Igrej a contempla-a como tipo da Santíssima Vir­
gem vencedora do demôni o, .como ela de Holofernes . A Litur­
gia emprega textos dessa história nas festas de Nossa Senhora
das Dores, de santa Joana d'Arc e santa Clotilde. O livro de
Judite oferece leituras para o Breviário romano na quarta
semana de setembro.
De coração desej o sej a minha leitora forte de alma,
de vontade, de virtude, de amor a Deus e a seu povo. Quanto
à beleza, não falte à alma. Se Deus tiver dado a beleza da
face, que sirva para "ornamento e encanto do marido" Que
sej a como flor, guardada por espinhos de prudentes vigilâncias.
O patriotismo de Judite indica um dever urgente em
nossos dias, que concederam direito do voto à mulher brasi­
leira. Ser eleitora, bem formada e militante, é imposição de
consciência. Pio XII acentuou êsse imperativo em muitas
alocuções às senhoras católicas . Pode a católica pertencer
a partidos cuj os programas nada contenham contra a doutri­
na da Igrej a. Mas há de estar lembrada de que, acima de seu
partido político, está e estará sempre o partido de "seu 'batis­
mo" Em caso de conflito, prevalecerá sempre o último.
O Concílio Vaticano I I , destacando o apostolado leigo,
inculca o apostolado do voto. Voto, bem manejado, fere e
mata como outra espada de Judite.

214
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
VASTI
DIGNIDADE DE MULHER

DO LIVRO DE ESTER 1,10ss

NO SÉTIMO DIA, TENDO O REI O CORAÇÃO ALEGRE PELO VINHO,


ORDENOU A MEUMÃ, BIZETÁ, HARBONA, BIGTÁ, ABAGTÁ. ZETAR E E
CARCAS, OS SETE EUNUCOS QUE SERVIAM PESSOALMENTE AO REI
XERXES. QUE TROUXESSEM À SUA PRESENÇA, COROADA COM
DIADEMA RÉGIO, A RAINHA VASTI, PARA QUE O POVO E OS
PRÍNCIPES ADMIRASSEM A SUA BELEZA, POIS ERA DE UMA
FORMOSURA DESLUMBRANTE. MAS A RAINHA VASTI RECUSOU-SE A
COMPARECER CONFORME A ORDEM DO REI.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
as linhas seguintes pensará a leitora que tem diante

N de si uma história de mil e uma noites. Assuero, pode- ·


roso rei desde a índia até a Etiópia, com cento e sete
províncias sob suas ordens , ia dar uma grande festa a0 longo
de cento e oitenta dias, para mostrar o esplendor de seu
reino, sua grandeza e magnificência.
Como se isso não bastasse, reuniu a população de Susa,
onde estava seu palácio com o tr0no real, dando um banquete
durante sete dias. Reuniu seu povo, desde o maior ao menor,
no pátio do j ardim junto ao palácio. "Cortinas brancas, de
púrpura e azuis, pendentes de colunas de mármore, p0r cor­
dões brancos e de púrpura e anéis de prata; leitos de ouro
e prata sôbre um pavimento de pórfiro, de mármore branco,
de nácar e pedra preta : bebida servida em copos de ouro
de variadas formas . Vinh0 real em abundância oferecido pela
liberalidade do rei. Bebia-se sem constrangimento, segundo
uma ordem do rei, porque êle tinha recomendado a todos os
chefes de sua casa que deixassem cada um proceder como
lhe agradasse"
" Por sua parte. a rainha Vasti fêz o banquete das mu­
lheres no paláci0 do rei Assuero" ( 1 ,6ss ) .
Imagine-se a leitora como andariam bem avinhados
os convivas do rei que já tinha o coração alegre "pelo vinho" !
Nessa altura deu a ordem a funcionários graúdos, exigindo
a presença da rainha, para ser admirada por t0dos em sua
beleza, pelo povo e pelos grandes.
Foi então que Vasti recusou suj eitar-se a essa ordem.
Achou uma indignidade levar sôbre a cabeça um diadema e
exibir-se a pessoal embriagado, a cuj os olhares cobiçosos de­
via estatelar "tôda sua beleza" Não queria os aplaus0s . nem
as concupiscências daqueles espectadores com suas línguas
descontroladas e seus desejos açulados pelo vinho . Bem sabia
o que resultaria da sua recusa.

217
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Não andou errada no seu cálculo. O rei irritou-se e
reuniu os sábios "versados na ciência dos tempos " . Seu furor
queria saber qual o castigo merecido por Vasti, a rainha
rebelde. E os sábios refletiram e deram sua sentença que
rezava : "O proceder da rainha será conhecido de tôdas as
mulheres e · as incitará a desprezar seus maridos . Daqui em
diante as senhoras da Pérsia e da Média, sabendo a conduta
da rainha, responderão do mesmo modo a todos os grandes
do rei e disso resultará, por tôda parte, desprêzo e irritação"
E terminaram aconselhando ao rei a publicação de um decre­
to real, "que ficará consignado nas ordenações da Pérsia e
da Média como irrevogável, em fôrça do qual Vasti não apa­
reça mais diante de Assuero e o rei confira a outra, que seja
mais digna, o título de rainha" ( 1 , 1 9 ) .
Por fim afirmaram que, conhecendo tal decreto, tôdas
as mulheres do reino iriam respeitar seus maridos, desde o
maior até o mais humilde. Assuero executou o conselho dos
sábios, o que não o impediu de ficar saudoso e penalizado do
que fizera à nobre Vasti, depois que voltou ao seu estado
normal . Aí a hi stória toma outro rumo, leitora.
A obediência ao marido é um dos deveres da espôsa,
tão importante que São Paulo a recomenda às cristãs . Pio
XII nas suas famosas alocuções aos casais destaca á forma
cristã dêsse dever. Não se trata aqui de ·superioridade de
uma pessoa sôbre outra. Como pessoa humana, tem a espôsa
os seus direitos e nunca uma ordem pode desprezar sua dign�·
dade. Tem sua consciência, seus deveres para com Deus .
Não podem ser violados por ordem humana de um marido.
Na rainha Vasti a leitora e irmã pode admirar a no­
breza de uma pagã. Bem podia servir de modêlo às nossas
misses que desfilam e se exibem nos concursos de beleza. E
mais ainda para acusar as senhoras e môças carnavalescas,

218
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
que exibem para gente de muitos vinhos suas linhas e suas
curvas em salões e bailes .
Os conselheiros do rei mostraram receio em ser imi­
tada por outras mulheres a desobediência da rainha. Temiam
se alastrasse pelo . reino o pouco caso das ordens que recebes­
sem. Você, leitora e irmã, j á sabe os limites da sua obediên­
cia que há de ser devotada e amorosa quando os direitos de
Deus não prevalecem . quando não são violadas as fronteiras
da dignidade da pessoa humana.
Vasti perdeu o trono mas não sacrificou sua dignida­
de. Mesmo sendo a mulher formosa ornamento do marido,
não pode contudo ser exibida como provocação. Nesse pon­
to iinpõe-se delicadeza de consCiência como a possuía uma
santa Ana Taigi, casada -com um urso domesticado de marido .
Pouco importa que outras triunfem no conceito de gente
desconhecedora dos verdadeiros valores. Na Bíblia o sábio
acentua seguidamente o efêmero da beleza e o cetro real
da virtude.
Seria apenas para ruína própria a exploração que uma
espôsa fizesse de sua beleza diante de um marido encantado
ou fraco. Pior ainda se a convertesse em surda ameaça para
os ciúmes e mêdos dêle.
Assuero, passado o desnorteamento do vinho, caiu em
si, roendo-se de saudades . Ta:nto o encantavam os belos tra­
ços de formosura física e moral da espôsa repudiada. Nunca
é demais repetir que a vitória da dignidade moral é inegável
embora sem hora marcada para seus arcos de triunfo.
Lembro ainda que é calúnia afirmar que a religião é
inimiga do corpo e da sua beleza exibida. A Igrej a respeita
o corpo humano, proíbe mutilá-lo sem causa grave. Seus
restos mortais requerem sepultura adequada e respeitada.

219
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
E até tornam-se relíquias veneradas, quando pertenceram a
um santo . Mas quer o corpo e sua beleza na moldura do
recato e do pudor. O próprio Deus, como a leitora já tem
lido, tem em vários casos aumentado o encanto dessa beleza.
Um belo vestido, enfeitando-a ainda mais e dentro das leis
da modéstia, só merece aplausos pelo bom gôsto. Se Deus
põe tantas côres bonitas nas flôres, porque não aplaudír o
mesmo nas flôres humanas ?

220
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ESTER E ZARES
A BO A E A MÁ

DO LIVRO DE ESTER 2,17; 5,2

O REI AMOU ESTER MAIS DO QUE QUALQUER OUTRA MULHER,


TENDO ELA CONQUISTADO A SUA BENEVOLÊNCIA E O SEU FAVOR
MAIS DO QUE QUALQUER VIRGEM, DE MODO QUE O REI LHE PÔS NA
CABEÇA O DIADEMA RÉGIO E A CONSTITUIU RAINHA EM LUGAR DE
VASTI. QUANDO O REI VIU A RAINHA ESTER NA CÔRTE, SENTIU-SE
TOCADO DE SIMPATIA POR ELA E ESTENDEU-LHE O CETRO QUE
SEGURAVA NA MÃO, E ESTER APROXIMOU-SE E TOCOU A PONTA DO
CETRO.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ôdas as mulheres que temos descrito à leitora, tinham

T uma coisa em comum : viveram na Palestina. Agora


Ester translada-nos para uma terra muito distante, para
o exílio e cativeiro na Pérsia. Lá vivia como judia foqnosa,
tutelada por seu tio Mardoqueu, na cidade de Susa, capital
do reino.
A leitora já travou conhecimento com Vasti, rainha
destronada, e com a saudade do rei . Os costumes admitiam
o harém e um edito determinou se apresentassem na capital
as môças mais formosas e virgens do país. Industriada pelo
tio, Ester apareceu para o concurso de agrado. O funcioná­
rio encarregado das môças. agradou-se de Ester, formosa sem
favor algum. Proporcionou-lhe ungüentos e perfumes para
seu toucador e adôrno . Deu-lhe sete companheiras escolhidas
na casa do rei. Ester, por conselho do tio, não havia revelado
sua raça nem sua família.
Anota a Bíblia que Ester ganhava as boas graças de
quantos a viam. Não admira portanto houvesse agradado o
rei, no dia em que lhe foi apresentada. Agrado, com amor
real e diadema de rainha em lugar de Vasti. Houve faustoso
banquete em sua honra. T0do mundo no reino gozou de um
belo feriado, com larguezas verdadeiramente reais concedidas
por Assuero, já nosso conhecido.
Mas houve um certo Aman, primeiro ministro do rei,
que o alarmou contra os j udeus, então cativos e desterrados .
Eram uns fanáticos agarrados às suas leis e cerimônias des­
conhecidas . Eram uns rebeldes às ordens do soberano. Gente
inconveniente para o reino . Nada melhor do que o rei orde­
nar que fôssem liquidados, tod0s, homens e mulheres, moços
e velhos . Tais eram as informações e propostas que Aman
apresentou ao rei, obtendo dêle a desejada sentença de morte.

223
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Perguntará a leitora qual o motivo de tão cruel animo­
sidade dêsse primeiro ministro. Ora Aman, elevado em dig­
nidade, estava acostumado a ver os servos do rei dobrando
seus joelhos e inclinando-se à sua passagem. Entretanto Mar­
doqueu, tio e protetor de Ester, não queria prestar tais home­
nagens ao vaidoso ministro. Aman viu as cóleras converten­
do-se em furiosas labaredas dentro de sua alma. O resultado
de tanta fúria foi então a proposta da mortandade.
O massacre, em tôdas as províncias já avisadas, devia
ter lugar no fim de fevereiro, num só dia. Seriam mortos
homens e mulheres, crianças de qualquer idade. Imagine a
leitora a consternação que invadiu todos os lares dos pobres
desterrados !
Mas Deus não queria abandonar o seu povo e serviu-se
de Ester para conj urar a desgraça. Mardoqueu entendeu-se
com sua sobrinha, intimando-a a conseguir a revogação do
cruel decreto. Lembrou a Ester que sua posição providencial
na côrte era justamente para aquelas circunstâncias. Acentuou :
"Não imagines que serás a única entre todos os judeus a
escapar, por estares no palácio. Se te calares agora, o socorro
e a libertação virão aos judeus de outra parte. Mas tu e a
casa de teu pai perecereis" ( 4,12 ) .
Ester mandou responder ao tio que reunisse todos os
judeus de Susa em orações e jejuns, com os quais ela se
reuniria, fazendo a mesma penitência no palácio. E que de­
pois disso - três dias - iria ter com o rei, apesar da lei
proibitiva de uma presença nã0 pedida pelo monarca. Proi­
bição sob pena de morte . Ester terminava sua resposta com
um retrato de seu amor ao povo eleito : "Se hei de morrer,
morrerei ! "
Decorridos três dias vai Ester, no esplendor de sua
beleza e de seus enfeites, expor sua vida. Nã0 fôra chamada

224
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
à presença do rei e êste podia não lhe abaixar o cetro e assim
afirmar que a queria morta, por ter violado a lei . Mas Deus
tocou o cor�ção do monarca como c0ntam as linhas da intro­
dução. Além da benevolência, o carinho das perguntas : "Qual
é o teu pedido ? Ser-te-á concedido. Que desejas ? Mesmo
que fôsse a metade de seu reino, a receberias" Que rei
r0mântico, leitora!
Ester, numa inegável astúcia feminina, não o apresenta
logo . Pede ao rei, que acompanhado por Aman, venha a um
banquete que lhe iria oferecer. Foi atendida. Pelo fim do
banquete convidou os dois para o outro banquete n0 dia
seguinte. Compareceram ambos . Foi então que, em vez da
metade do reino oferecido, pediu ao rei a vida de seu povo,
condenad0 a um massacre. À pergunta admirada do sobe­
rano pelo responsável de tal ordem, apontou "Aman, o opres­
sor, o inimigo, o infame"
Enfurecido por tanto atrevimento, manda o rei que
enforquem Aman na mesma fôrca que destinara a Mardoqueu.
Nela foram dependurados os dez filhos e a espôsa do infeliz.

Z
ARÉS . . eis o nome dela, conhecida pelo mau conse­
lho que deu ao marido. Voltava êste enfurecido por
causa do judeu que não lhe prestava as homenagens
de estilo. Apesar de tôdas as riquezas, honras, preferências
da rainha que o convidara para um banquete, tinha tudo por
nada diante do desacato. Zarés, sua mulher, e todos os ami­
gos lhe disseram : "Não há mais do que preparar uma fôrca
de vinte cinco metros de altura e pedir ao rei que nela seja
suspenso Mardoqueu, amanhã. Depois irás satisfeito ao ban­
quete" ( 5 , 1 4 ) .
A altura descomunal da fôrca parece ac0mpanhar o
tamanho da maldade. Em vez de acalmar o marido en:fú.re-

225
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Ester, no auge de sua beleza, tinha o rosto
róseo, transfigurado e afável; mas sentia o
coração angustiado pelo mêdo
( Est 4,5 )
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
cido por uma vaidade tôla, Zarés mostra-se má companheira
e auxiliar. Seu mau conselho foi sentença de morte para o
espôso, para ela e para os dez filhos. Foram todos depen­
durados na enorme fôrca.
Nem tôda espôsa manda o marido levantar fôrcas para
desafetos . Mas assim mesmo sobram as más conselheiras
em horas de arestas na vida. Não posso mencionar a lista
dos maus conselhos. Grandes e pequenos, freqüentes ou ra­
ros, abertos ou subtis, ocultos. Deixo-a ao encargo de um
sério exame de consciência. Contudo, minha leitora e irmã,
lembre-se que há de ser sua palavra mansa, suave para apagar
a ira de um enfurecido . O mau conselho pode aparecer na
solução errada de uma grave dúvida de consciência, perante
deveres inegáveis.

Ester e Mardoqueu mostram seus defeitos. Do con­


trário seriam personagens irreais . Favoreceram o massacre
dos inimigos. A mentalidade da época e do meio faz desapa­
recer muita causa de nossa revolta e espanto diante de tanto
sangue. Podemos admitir boa fé, que unia a impulsividade
natural contra o inimigo ao devotamento a uma causa sagra­
da. Ester e Mardoqueu sabiam da eleição de seu povo por
parte de Deus. Com isso perde o livro de Ester ares de duro
e cruel. Assim comentam os autores da Bíblia francesa.
Ester é uma figuração de Maria, pela sua graça e bele­
za, sua dignidade de rainha e eficaz intervenção . De fato, o
rei mandou revogar o edito contra os judeus, assinando-o,
depois de convidar a rainha a escrever essa revogação. A
lei que vigorava para todo mundo, ameaçando com a morte
um comparecimento sem chamada do soberano "não foi feita
para Ester" Tais foram as palavras do rei. Na festa de
Nossa Senhora de Lourdes a Igreja aplica o texto à festejada.

228
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Zarés não soube reerguer o ânimo do marido alque­
brado pelo triunfo do seu desafeto, cujo programa êle mesmo
traçara num terrível equívoco ( 5 ,6-1 3 ) . Eu gostaria que a
leitora tivesse contínua visão dessa fôrca, sempre como salu­
tar aviso contra os maus conselhos ao marido. Mas em tôdas
as horas e cantos da vida conjugal, cristã, profissional, social
e religiosa.
A história de Ester era lida publicamente na festa de
Purim, instituída para celebrá-la. "Seu nome e o de Mardo­
queu eram acompanhados com aclamações e bênçãos. O nome
de Aman, com altas maldições. No correr do tempo esta
festa religiosa dos judeus mundanizou-se sempre mais, com
loucas e licenciosas manifestações. Um grosseiro dito da rua
proclamava que, na festa de Purim, se devia beber até não
se poder mais distinguir entre Mardoqueu e Aman. Eis a
última observação de Faulhaber.

229
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SUSANA
A V ITÓRIA DA IN OCÊNC IA

DO LIVRO DE DANIEL 13,19ss

TENDO AS DONZELAS PARTIDO, OS DOIS VELHOS SAÍRAM DO


ESCONDERIJO E PRECIPITARAM-SE PARA ELA, DIZENDO-LHE: "AS
PORTAS DO JARDIM ESTÃO FECHADAS, NINGUÉM NOS VÊ, E NÓS
ESTAMOS APAIXONADOS DE TI; CONSENTE, POIS, E ENTREGA-TE A
NÓS; DO CONTRÁRIO, TESTEMUNHAREMOS CONTRA TI, QUE
ESTAVA CONTIGO UM RAPAZ E POR ISSO AFASTASTE DE TI AS
DONZELAS”. SUSANA GEMEU E DISSE: "DE TODAS AS PARTES ME VEJO
EM ANGÚSTIAS PORQUE, SE FIZER ISSO, AGUARDA-ME A MORTE; SE
NÃO O FIZER, NÃO ESCAPAREI DE VOSSAS MÃOS. PREFERÍVEL É
PARA MIM CAIR EM VOSSAS MÃOS, SEM TER FEITO ISSO, DO QUE
PECAR NA PRESENÇA DE DEUS"
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

conhecida e mesmo proverbial a história da casta

E Susana. Era formosíssima e desposada, sendo seu mari­


do homem muito respeitado. Por isso sua casa, com
grande e belo jardim e pomar, era muito visitada pelos patrí­
cios, judeus exilados. Entre os visitantes figuravam dois ve­
lhos, que eram juízes . A profissão era muito respeitada e
suas sentenças de muito valor.
Susana, ao lado da beleza, crescera sempre temente
a Deus . E a razão ? Seus pais eram justos e haviam instruído
sua filha conforme a lei de Moisés. É sempre assim, leitora.
Quando alguém se levanta como uma estátua moral, nela tra­
balharam mãos paternas e maternas .
Ora, acontecia que naquele jardim havia uma piscina
na qual Susana se banhava, de portas trancadas . Não reina­
vam os costumes de hoj e, com piscinas abertas e resumidos
maiôs ou coisa pior. Assim mesmo os dois juízes entrega­
ram-se aos desejos de suas carnes . No comêço ocultando
um ao outro o crime.
Depois os vemos reunidos, confessos do crime plane­
jado, e sóci0s no mesmo adultério. Eram homens envelhe­
cidos no mal, levando as filhas de Israel a consentimentos
ilícitos. Desta vez, porém, davam com uma filha de Judá e
esta lhes resistiu. Assim falará no julgamento o homem de
Deu·s, Daniel .
A resposta de Susana mostra sua �randeza moral. Ti­
nha duas m0rtes pela sua frente. Morrer para Deus pelo
pecado. Ou, então, morrer condenada pelo povo, perante a
acusação respeitada dos juízes . Soube escolher e deixar um
exemplo para espôsas tentadas . Escolheu morrer como acusa­
da, mas inocente aos olh0s de Deus em quem confiava. Entre­
gava às mãos de Deus o prêmio pela fidelidade à Lei e ao
marido.

233
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
De tôdas as partes me vejo em angústias,
porque, se fizer isso, aguarda-me a morte,·
se não o fizer, não escaparei das vossas
mãos. Preferível é para mim cair nas vos­
sas mãos sem ter feito isso, do que pecar
na presença de Deus
(Dan 13,22 )
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Foi rápida na escolha, apressada no alarme. Deu um
grande grito e o mesmo fizeram os dois velhos contra ela.
Precipitaram-se os acontecimentos . Perante o povo os acusa­
dores mencionaram um môço que estaria praticando adulté­
rio com Susana. Esta declarou-se inocente. Prevaleceu a acusa­
ção dos culpados e houve lágrimas de parentes e conhecidos .
Pois nunca haviam ouvido falar tais coisas da criatura
virtuosa. Pai e mãe choravam . O julgamento público conde­
nou-a. E Susana "tinha no seu coração firme confiança no
Senhor" Quando a assembléia deu crédito aos juízes que a
condenaram, rezou ao Senhor lembrando-lhe sua inocência.
Pediu-lhe proteção urgente.
Esta veio com a intervenção do profeta Daniel. Pediu
revisão do julgamento. Deu os nomes merecidos àqueles
velhos perversos . Arrancou dêles uma contradição sôbre certa
circunstância do crime.
Perguntados separadamente, à sombra de que árvore
haviam dado com a infidelidade da acusada, um mencionou
a aroeira e outro, a azinheira. Susana foi salva e êles conde­
nados à morte , sob os aplausos do povo .
A fidelidade de Susana tem imitadoras, não quanto
ao dilema e à publicidade. mas quanto a outras circunstâncias .
A lei respeitada por nossa heroína continua a mesma até
hoje. Se ontem era crime. crime continua hoje também. Não
valem as desculpas alegadas. Desmandos, despudores de ou­
tros não mudam a côr do delito. É verdade , leitora, as avalia­
ções dos homens podem mudar. Mas quando foram as
balanças humanas imutáveis ? Quando imitaram com fideli­
dade as balanças do santuário ? É velha recriminação da
Bíblia à falsidade de balanças.
Infelizmente as audácias não faltam hoj e, de lado a
lado, acrescidas por mentalidades descristianizadas ou por

236
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
uma vida religiosamente congelada. Portanto, não pode lei­
tora alguma apontar para atenuantes. Aperte a couraça de
sua alma e saiba fugir dos perigos que o marido não enxerga,
ou até imprudentemente provocados . Nã0 lhe faltará a assis­
tência de Deus, quando chamar por ela e com ela cooperar.
Leitora, você não pode nem deve perder o tamanho
de sua fidelidade. É dote, é capital que você tem obrigação
de legar a0s filhos e filhas.

237
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A MÃE DOS MACABEUS
O TESTE MUNHO DA FÉ

DO SEGUNDO LIVRO DOS MACABEUS 7,20-21

MAS SOBREMANEIRA ADMIRÁVEL E DIGNA DE ETERNA MEMÓRIA É A


MÃE QUE, AMPARADA PELA ESPERANÇA NO SENHOR, SOUBE
PORTAR-SE CORAJOSAMENTE DIANTE DOS SETE FILHOS MORTOS
NUM SÓ DIA, CHEIA DE NOBRES SENTIMENTOS ANIMANDO A
TERNURA MATERNA COM UMA CORAGEM VIRIL, EXORTAVA-OS UMA
UM.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
om esta admirável mulher termina o desfile das figu­

C ras femininas do Antigo Testamento. Trata-se da mãe


de sete filhos martirizados por serem fiéis à lei de
Deus. O colorido e a dureza realista com que a 'Bíblia des­
creve os tormentos, presenciados pela mãe dol�Jrosa do Antigo
Testamento, causarão arrepios em você, leitora. Dou a pala­
vra ao cardeal Faulhaber, mestre nos assuntos bíblicos .
"Em mais de uma forma a mãe participa dêste drama
heróico . Primeiro, como educadora dêstes heróis. Podemos
ouvir nas últimas palavras dos rapazes o eco daqueles prin­
cípios que a mãe, desde a meninice, lhes escrevera no coração
com férreo estilete. Ela rezara os salmos com os meninos
e lhes ensinara, nesta escola superi�Jr de vital sabedoria reli­
giosa, que o homem fiel à Lei é igual à árvore plantada junto
às torrentes ( SI 1 ,3 ) . Que perante os reis devemos falar
.

livremente sôbre os mandamentos de Deus ( 1 1 8,46 ) . Que os


pecadores se derretem como cêra junto do fogo ( 67,3 ) . Que
iJ nosso amparo é o nome do Senhor ( 1 23,8 ) . Que o Senhor
não deixa os seus santos conhecer a podridão, mas os guia
pelos caminhos da vida ( 1 5 , 1 0-1 1 ) . Na escola dos salmos, a
mãe educara seus filhos para heróis que não trepidaram ante
a prova de fogo pela fé.
Em seguida, dos sagrados r�Jlos da História Sagrada,
a mãe lhes falara dos homens e jovens que preferiram morrer
a viver na impiedade. Ardiam os corações dos meninos, quan­
do a mãe lhes abria a Sagrada Escritura e fazia passar ante
seus olhos aquela nuvem de heróis da fé que, mais tarde,
São Paulo enumera no capítulo 1 1 da Epístola aos Hebreus .
Assim, 0s filhos que pelo nascimento eram sangue de seu
sangue, pela educação tornaram-se espírito de seu espírito,
medula de sua medula, e seu comportamento na morte repre­
senta um triunfo da pedagogia materna.

24 1
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Esta mãe levara sua vida preparando os filhos para
esta hora. Chegada a hora, ei-la como testemunha ocular do
drama cruento, pondo a coroa no seu trabalho : "A cada um
dêles ela exortava cheia de sabedoria, unindo um ânimo varo­
nil à ternura feminina" A presença materna, com o brilho
de seus olhos e as palavras de sua bôca terão preservado a
mais de um da apostasia.
Esta mulher admirável torna-se por fim a própria sa­
crificante. Chegada a vez do menor, Antíoco tentou seduzi-lo
com douradas promessas , caso renegasse a seu Deus . Desa­
tendido pelo pequeno herói, mandou que a mãe o exortasse
com seus conselhos à aceitação das promessas reais. Insistiu
por muito tempo. Então ela inclinando-se sôbre o pequeno
e zombando do tirano disse na língua materna ao pequeno
mártir :
- Meu filho, compadece-te de tua mãe, que te trouxe
nove meses no seio, que te amamentei durante três anos, que
te nutri e te conduzi e eduquei até esta idade. Eu te suplico,
meu filho, contempla o céu e a terra; reflete bem que tudo
o que vês, Deus criou do nada, assim como todos os homens .
Não temas pois êste algoz, mas s ê digno d e teus irmãos e
aceita a morte, para que no dia da misericórdia eu te encontre
no meio dêles ( 7,24-29 ) .
Estas palavras incendiaram a alma do último filho
que fêz esplêndida profissão de fé e ainda rezou pelo seu
algoz. A fúria do rei maltratou a êste com maior crueldade.
Restava apenas a mãe, a educadora. a ofertante de seus filhos .
"Seguindo as pegadas de todos os filhos, a mãe pereceu por
último" ( 7,41 ) A brevidade com que a Bíblia relata a morte
.

da mãe, depois de descrever com minúcias os tormentos de


cada filho, parece dizer que ela já morrera sete vêzes . E
agora por si mesma sai correndo atrás dos filhos "

24 3
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
As aspas fecham as próprias palavras do cardeal. Mas
seus pensamentos continuaram expostos em linguagem livre,
de permeio com a Bíblia. Lembro à leitora o triunfo final
desta mãe quando no dia da Ascensã0 de Cristo formou com
seus sete filhos na inumerável multidão dos santos .
A Igreja não s e esqueceu desta mulher. Elevou mãe e
filhos aos altares e menciona-lhes a morte sob o dia 19 de
agôsto, no livro de seus heróis, que chamamos Martirológi0.
No Breviário vem contada, cada ano, a história desta mulher
admirável, em tôda sua grandeza moral. Está dizendo que
não é de hoje esta grandeza feminina.
Você, leitora e irmã, certamente sentir-se-á pequena
perante esta figura de gigante. Mas, melhor do que tal senti­
mento, será o estímul0 que sentir para ser mãe, educadora
e ofertante de seus filhos, a exemplo desta santa que admi­
ramos. Desconfio que os valores dela não serão os seus. Nem
os horizontes sobrenaturais serão os mesm0s. Tudo, porém,
com prejuízo para você e seus filhos. Sobretudo a visão "da
vida do século vindouro" Para nossa "mulher admirável"
os clarões da outra vida eram mais rubros e reais do que as
fogueiras que lhe devoravam os filhos. Para você não pode
ser de outra forma esta realidade. Pois está escrito que a
figura dêste mundo passa com tudo que contém. O Concílio
Vatiqmo II acentua muito o caráter de "peregrino" do povo
de Deus, da própria Igreja da qual você e os seus fazem parte.
Lembro-lhe uma frase de Santo Agostinho : "Neste
mundo tu és um hóspede; olha e passa" Você e os seus não
devem faltar no desfile dos santos, na chegada do� "pere­
grinos " à pátria das luzes, à casa do Pai.

244
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

INDICE

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

19 EVA : a mãe dos viventes


25 SARAI E AGAR : relaçbes patroa-empregada
33 SARA E AGAR : desavenças entre duas mães
39 REBECA : a mãe parcial
47 LIA E RAQUEL : irmãs em conflito
55 TAMAR : astúcias de mulher
63 ESPOSA DE PUTIFAR : a sedutora repelida
71 ASENET : a espôsa vencida
79 RAAB : a hospitaleira de má fama
87 RUTE : a nora afeiçoada
95 SEILAM : a maternidade fracassada
101 A MÃE DE SANSÃO : espôsa singular e franca
1 07 DALILA : a mulher traidora
1 13 DE.BORA, JAEL. E A MÃE : três histórias diferentes
1 21 ANA : mãe pela on,lção
1 29 ABIGAIL : a espôsa prudente
1 37 RESFA : a mãe dos filhos enforcados
141 MICAL : a espôsa zombeteira
1 49 BETSABÉIA : espôsa infiel e mãe penitente
1 57 MÃES INONIMADAS : lições d;ts infelizes
1 65 JEZABEL : a espôsa e mãe criminosa
173 A VIúVA DE SAREPTA : a hospedagem abençoada
1 81 A VIúVA E O PROFETA : a confiança recompensada
187 A MULHER DE SUNAM : o prêmio da fé
1 93 A MULHER DE Jú : a espôsa que não compreende
1 99 ANA E SARA : a inconformada e a casta
207 JUDITE : a heroína
21 5 VASTI : dignidade de mulher
221 ESTER E ZARES : a boa e a má
23 1 SUSANA : a vitória da inocência
239 A MÃE DOS MACABEUS : o testemunho da fé

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
COMPOSTO E IMPRESSO NAS OFI­
CINAS GRAFICAS DAS EDIÇOES
PAULINAS VIA RAPOSO TAVARES,
KM 18,555 ESCRITóRIO CENTRAL
PRAÇA DA S�. 180 CAIXA POSTAL
8107 SÃO PAULO A. D. 1968

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

Das könnte Ihnen auch gefallen