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Doutorando do Programa de Pós Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais/UFRGS. Pesquisador
Associado ao Instituto Sul Americano de Política e Estratégia (ISAPE) e co-coordenador da Oficina de China e
Leste Asiático (OfiChiLA). E-mail: joaochiarelli@yahoo.com.br
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Mestrando PPGEEI UFRGS. Especialista em Estratégia e Relações Internacionais Contemporâneas PPGEEI
UFRGS. Pesquisador NEBRICS UFRGS. Pesquisador Associado ao Instituto Sul Americano de Política e
Estratégia (ISAPE). E-mail: viniciuslerina@gmail.com
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Pós-graduando do curso de Especialização em Estratégia e Relações Internacionais Contemporâneas pela
UFRGS, Bacharel em Relações Internacionais pela ESPM-Sul e graduando em História pela UFRGS. E-mail:
renato.ungaretti94@gmail.com
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Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFRGS E-mail: alexandrediasr@gmail.com
Identifica-se que há em curso uma ordem paralela a partir da economia chinesa estabelecendo
novas dinâmicas de integração política e econômica na esfera regional, proporcionando uma
mudança na estrutura de poder e riqueza internacional e estimulando a emergência de um
novo centro no sistema internacional. Com isso, iremos apresentar a perspectiva teórica do
Sistema Mundo de Arrighi sobre o Modelo de Integração Chinês do Século XXI em curso, e
analisar a perspectiva teórica a partir da obra Poder e Dinheiro: uma economia política da
globalização, de Fiori. Com isso, aponta-se para um novo Modelo de Integração Política e
Econômica liderado pela China que está em curso no Século XXI alicerçado em IDE em
infraestrutura ampliando assim sua esfera de influência no cenário regional e global.
Palavras-chave: Sistema Mundo; Integração Político Econômica; China
1. INTRODUÇÃO
O Modelo de Integração Chinês do Século XXI busca reorientar as relações dos
estados regionais que possuem suas economias direcionadas a atender aos mercados centrais
e, através de pesados investimentos diretos externos (IDE), fomentados pela política Going
Global de Hu Jintao, pretende criar uma malha de infraestrutura para reorientar estas
economias para atrelarem-se à semiperiferia e periferia regional (no caso, à China). Diante
disso, o artigo está estruturado a fim de apresentar as discussões em torno do modelo de
Integração Regional chinês do século XXI, especialmente por meio das contribuições de
Arrighi e Fiori.
Na primeira seção, são levantados apontamentos acerca da ascensão chinesa e de sua
política Going Global, tendo como base conceitos centrais nas obras dos autores supracitados.
Já na segunda seção, realiza-se uma discussão em torno dos processos de internacionalização
econômica e monetária liderados pela China, tendo em vista os apontamentos anteriores
acerca da política Going Global e as posteriores discussões em torno do modelo de integração
regional chinês do século XXI. A esse respeito, apresenta-se, na terceira seção, aspectos
relacionados a esse modelo de integração e as questões envolvendo os meios de pagamento,
dado o entendimento de que os processos de integração são liderados e coordenados pelos
atores que possuem a capacidade de mobilizar e alocar recursos voltados para este fim.
5
Para Arrighi e Silver (2001, p.9), os períodos de expansão material são marcados por mudanças contínuas,
durante as quais a economia capitalista mundial cresce por uma única via de desenvolvimento. Nas fases de
expansão financeira, ocorrem mudanças descontínuas, durante as quais o crescimento já atingiu ou está atingindo
seus limites e a economia capitalista mundial se “desloca”, através de reestruturações e reorganizações radicais,
para outra via
prossegue na atual fase de expansão financeira (ARRIGHI e SILVER, 2001, p.6). Isto porque
o milagre econômico regional, no Leste Asiático, iniciou somente após a crise inicial do
regime norte-americano de acumualação (ARRIGHI, 1997). Nesse sentido, a ascensão do
Leste Asiático à condição de centro dinâmico dos processos de acumulação de capital em
escala mundial é um fenômeno das décadas de 1970 e 1980, tendo como elementos
fundamentais a equiparação japonesa através da formação do sistema de subcontratação
japonês6 (ARRIGHI, 1997; NYE, 2009).
Dessa forma, o sistema de subcontratação proporcionou os milagres econômicos do
Grupo dos Quatro, uma vez que estes passaram a desenvolver as indústrias da fase japonesa
anterior e, mais importante, passaram, assim como o Japão, a realizar “avanços importantes
nas hierarquias de valor agregado e financeiras da economia capitalista mundial” (ARRIGHI,
1997, p.100). Os Tigres de segunda geração (VISENTINI, 2012) passaram, então, a exercer a
função de fornecedores de insumos e matérias-primas que era outrora atribuída aos tigres de
primeira geração7, estabelecendo, dessa forma, uma nova Divisão de Trabalho na Ásia
Oriental (VISENTINI, 2012).
No geral, o que se pretende demonstrar é que, sob a perspectiva de Arrighi, o período
de reestruturação e reorganização do ciclo de acumulação norte-americano, evidenciado na
transição para um regime de acumulação flexível (HARVEY, 2005), resultou em mudanças
na configuração espacial dos processos de acumulação do capital, sobretudo o aumento da
mobilidade geográfica do capital (ARRIGHI, 1997). Esse processo de reconfiguração, além
de representar a transição da fase de expansão material para a fase de expansão financeira do
ciclo norte-americano, privilegiou a região da Ásia Oriental e contribuiu para que, sob a
liderança japonesa nas das décadas de 1970 e 1980, ocorresse o mais relevante processo de
todo o século XX: o renascimento econômico da Ásia Oriental (ARRIGHI, 2008). Nas
palavras de Arrighi (2008), isto ocorreu
6
Esse regime de subcontratação teve origem no Japão e se “expandiu prodigiosamente, desde o final da década
de 1970, até abranger um número e variedade crescentes de localidades do Sul e sudeste da Ásia” (ARRIGHI,
1997, p.66). Ou seja, a equiparação japonesa ao núcleo orgânico precedeu e liderou o salto regional, à medida
em que a recuperação econômica do país promoveu uma adequação do mesmo às novas dinâmicas da economia
mundial das décadas de 1970 e 1980, promovendo o sistema de subcontratação e reestruturando as relações
econômicas regionais. Assim, o sistema de subcontratação japonês se manifestou na expansão do investimento
externo direto direcionado ao Grupo dos Quatro entre 1951 e 1974, especialmente nos setores têxteis e de
maquinário elétrico (ARRIGHI, 1997).
7
A primeira Geração aqui está se referindo ao Grupo dos Quatro originais: Taiwan, Cingapura, Coréia do Sul e
Hong Kong
(...) em um processo de bola de neve, com “milagres” econômicos, numa sucessão de
Estados da Ásia Oriental, a começar pelo Japão nas décadas de 1950 e 1960, passando
por Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Singapura, Malásia e Tailândia nas décadas
de 1970 e 1980, e culminando, nos anos 1990 e início dos anos 2000, com o
surgimento da China como centro de expansão econômica e comercial mais dinâmico
do mundo (ARRIGHI, 2008, p.18)
Quando se olha para o sistema mundial, neste início do século XXI, como parte de um
“universo” que se expande de forma contínua, a partir do longo século XIII”, pode-se
identificar quatro “momentos” em que ocorreu uma espécie de “explosão expansiva”
dentro do próprio sistema. Nesse “momentos históricos”, houve primeiro um aumento
da “pressão competitiva” dentro do “universo”, e depois uma grande “explosão” ou
alargamento de suas fronteiras internas e externas. O aumento da pressão competitiva
foi provocado - quase sempre - pelo expansionismo de uma ou várias “potências”
líderes, e envolveu também um aumento do número e da intensidade dos conflitos,
entre as outras unidades políticas e econômicas do sistema. E a “explosão expansiva”
que se seguiu projetou o poder destas unidades ou “potências” mais competitivas para
fora de si mesmas, ampliando as fronteiras do próprio “universo” (FIORI, 2008,
p.22).
8
Para Fiori (2009), a “pressão competitiva” do poder é sempre uma pressão sistêmica, à medida em que os
“poderes soberanos” - ou Estados - precisam se expandir e se defender, mesmo que seja simplesmente para
conservar o poder que já possuem. Nesse ponto, há a busca pela superação das explicações de Braudel (“jogo das
trocas” e “teoria dos grandes lucros”), de modo a enfatizar que a “força expansiva” do sistema mundial decorreu
“do mundo e do poder e da conquista”, que se manifesta nas “pressões competitivas” que proporcionam as
“expansões explosivas” desse mesmo sistema mundial.
pretende-se mostrar o crescimento expressivo do poder e da riqueza da China, que por sua vez
decorre tanto das transformações estruturais irradiadas a partir da década de 1970 enquanto da
adoção, por parte do Partido Comunista Chinês, de uma estratégia de expansão do
Estado-economia nacional no século XXI, conhecida como Going Global. O entendimento de
Fiori (2009) acerca do do conceito de Estados-economias nacionais pode ser ilustrado da
seguinte maneira:
O que existe são sempre economias e moedas nacionais, que lutam entre si para
aumentar a riqueza nacional, por meio da conquista de territórios econômicos
supranacionais cada vez mais extensos, nos quais se imponha a moeda do vencedor e
seus capitais possam ocupar posições monopólicas e obter “lucros extraordinários”.
Depois do século XVI, foram sempre os “Estados-economias nacionais” que
lideraram a expansão capitalista e os Estados expansivos ganhadores que realizaram o
mesmo com a acumulação de capital, em escala mundial. E a “moeda internacional”
sempre foi a moeda do “Estado-economia nacional” mais poderoso, em determinada
região e durante determinado tempo (FIORI, 2009, p.142).
Diante disso, entende-se que a política Going Global, que teve sua origem no XVI
Congresso do Partido Comunista Chinês, representa uma forma do Estado-economia nacional
da China se expandir e acumular poder e riqueza, já que incrementa a projeção econômica do
país, eleva a sua influência regional e global e permite a obtenção de lucros extraordinários
(BRAUDEL, 2005) por meio do estabelecimento de posições monopolísticas na economia
mundial.
No geral, o programa governamental estabelecido pelo Partido Comunista delineava
quatro grandes objetivos: 1) incrementar o investimento direto chinês no exterior por meio da
descentralização e relaxamento das autorizações para saída das corporações; 2) elevar o nível
e a qualidade dos projetos; 3) reduzir os controles de capital e criar novos canais de
financiamento; 4) integrar a política de internacionalização das empresas chinesas com outras
estratégias voltadas ao setor externo, buscando promover o reconhecimento das marcas dessas
empresas (CINTRA; PINTO, 2017). Dessa forma, percebe-se, a partir do início do século
XXI, uma elevação significativa dos investimentos externos chineses (Gráfico 1).
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Há, ainda, outros autores que sublinham que a China financia e subsidia a internacionalização de suas
empresas com a finalidade destas operarem internacionalmente de forma competitiva, especialmente em setores
considerados estratégicos, como o energético (RODRIGUES; HENDLER, 2018; CUNHA, 2011; NOGUEIRA;
HAFFNER, 2016; BECARD, 2014). Por essa razão, interpreta-se que a internacionalização do capital chinês,
intensificada após a crise de 2008, reflete uma tendência de “aliança” entre capital e Estado que não constitui
uma novidade na evolução do sistema mundial e da “expansão” de seu “universo” a partir do “longo século XIII”
(FIORI, 2008), mas sim uma estratégia voltada à acumulação de poder e riqueza em um contexto de exacerbação
das “pressões competitivas” no sistema interestatal capitalista.
(CINTRA; PINTO, 2017). Essa transição interna, combinada a necessidade de reposicionar a
China no plano internacional em um contexto de transição externa (CINTRA; PINTO, 2017),
culminou na redefinição das estratégias de desenvolvimento do país, que passaram a ser
marcadas por uma intensificação da exportação de investimentos, especialmente na Eurásia e
sob o guarda-chuva da Iniciativa Cinturão e Rota.
Portanto, a internacionalização do capital chinês, cada vez mais centrada em
megaprojetos de infraestrutura na Ásia, vem ampliando a integração regional no continente e
criando um emaranhado de interesses que crescentemente depende do dinamismo econômico
chinês e do estabelecimento de novas instituições multilaterais de crédito (CINTRA; PINTO,
2017), dando razão à ideia de renascimento da Ásia Oriental (ARRIGHI, 2008) e da possível
recriação de um sistema sinocêntrico (PAUTASSO; UNGARETTI, 2017) através da
execução de um projeto chinês de Integração Política e Econômica em âmbito regional.
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Termo utilizado pelo autor Oliver Stuenkel (2018) no livro O Mundo Pós-Ocidental: potências emergentes e a
nova ordem global.
11
Termo utilizado pelo autor italiano no livro Adam Smith em Pequim, de 2008.
12
Termo utilizado pelo autor Charles Kindleberger (1973) no livro The World in Depression: 1929-1939.
econômicas, políticas e de segurança e defesa (ARRIGHI, 2008). Complementando a essa
perspectiva do autor italiano, a projeção chinesa tem como base os seus investimentos diretos
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externos na região asiática dentro de um sistema internacional multipolar . Assim, em
contraponto a Arrighi, Fiori, ao acrescentar em sua análise de Economia Política Internacional
o poder monetário, identifica que a China estaria se inserindo no SI de forma a complementar,
e inclusive, fortalecendo o poderio norte-americano, baseado desde 1970 pela política do
Dólar-flexível (FIORI, 2004; 2007; 2008).
Por outro lado, para Arrighi (2008) o cenário do SI estaria seguindo as características
do nível sistêmico cíclico, com o qual os Estados Unidos estariam em um momento de
inflexão de sua expansão financeira e da crise de superprodução. Conforme o Gráfico 2, a
atual conjuntura internacional seria esta:
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Termo utilizado pelo Diplomata e autor brasileiro Samuel Pinheiro Guimarães Neto (2006) no livro Desafios
Brasileiros na Era de Gigantes.
capital via investimentos em infraestrutura, culminando com a Belt and Road Initiative e
respaldada por novas instituições (ARRIGHI, 2008; VADELL, 2018; STUENKEL, 2018;
PAUTASSO, 2011, 2017). Em divergência a esta visão, segundo Fiori, assim como para a
Maria da Conceição Tavares, a mola propulsora das relações internacionais está justamente no
poder do Estado. Ou seja, o SI tem nas potências do Centro a manivela para gerar guerra e
paz, ordem e desordem, fortalecendo cada vez mais a manutenção do seu poderio, tendo como
reflexo disso novos pólos de poder (FIORI, 2007; 2008; TAVARES, 1985; 2009).
Colaborando para a compreensão do expansionismo do capital financeiro e monetário
chinês, o autor David Harvey identifica a China não como uma oposição ao sistema global
vigente, mas sim como um Estado da semiperiferia que estaria retroalimentando o sistema
mundo capitalista. De fato, Pequim seria reflexo do que fizeram as potências como França,
Inglaterra e Estados Unidos, se baseado fortemente na expansão de seus capitais ociosos a
partir da infraestrutura, com alta demanda em cimento, aço, gás e petróleo, proporcionando a
manutenção de seu crescimento e desenvolvimento econômico (HARVEY, 2018).
Enquanto isso, Oliver Stuenkel trabalha com uma perspectiva mais voltada para as
novas instituições não Ocidentais chinesas, nas quais estariam angariadas em novas estruturas.
Ou seja, para este autor, o mundo estaria passando por uma transição baseada em instituições
do Centro para instituições periféricas do globo, caracterizando, assim, o Mundo
Pós-Ocidental (STUENKEL, 2018).
Dentro deste debate sistêmico entre os Estados, as iniciativas chinesas, tanto o Going
Global quanto a Iniciativa Cinturão e Rota estariam angariadas na reinserção autônoma
chinesa no SI, tendo como foco os IDE como um dos pontos estratégicos de aproximação
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junto aos seus vizinhos, como no caso do China-Pakistan Economic Corridor , assinado em
2015 pelos presidentes Xi Jinping e Nawaz Sharif (DUNNING, 2003; PAUTASSO, 2017;
RAHUL, 2018). Assim, os investimentos em infraestrutura estariam angariados em um
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Compreende-se o termo Corredor Econômico como: O conceito de "Corredor Econômico" foi proposto pela
primeira vez pelo mecanismo de cooperação da Sub-região do Grande Mekong (GMS) na Oitava Reunião
Ministerial de Cooperação Econômica do GMS realizada em Manila em 1996. Este conceito refere-se a uma
instituição conectando produção, comércio e infraestrutura em uma região geológica especial, através da qual
ampliando os canais de transporte, melhoria nos ganhos econômicos e promoção da cooperação econômica e
de desenvolvimento das regiões e países vizinhos. Para construir um "corredor econômico transnacional", é
necessário que vários países, em áreas vizinhas e adjacentes, explorem suas próprias vantagens de recursos e
capacidades, se complementam e façam a construção de infraestrutura, comércio e investimento, cooperação
industrial, comércio turístico e tais tipos de cooperação (YIWEI, 2016, p.148, tradução nossa).
projeto político e econômico de longo prazo, interligando as cadeias produtivas entre o país
investidor e o país receptor (DUNNING, 2003).
Atrelado a isso, Santos e Milan baseiam-se na Teoria Eclética de Dunning, porém
apontam que a ‘falha’ dessa Teoria estaria em não considerar o viés geopolítico como forma
de espraiamento do poder dos Estados. Com isso, os IDE chineses estão intrinsecamente
vinculados a esta objeção de poder (SANTOS, MILAN, 2014). Em complementaridade a esta
análise, Benjamin Cohen identifica os novos arranjos institucionais propostos pela China
baseados nos IDE. Assim, o poder monetário, entre outros fatores, como instrumentos de sua
projeção política e econômica para a região do Leste Asiático, de fato, livre das ‘amarrações’
Ocidentais, estariam direcionando a um processo diferenciado de integração regional no SI
multipolar (COHEN, 2012; 2014).
Corroborando para a análise, Cohen (2012) aponta para os interesses geopolíticos da
China como definidores de suas escolhas econômicas, assim sugerindo que, conforme a
história, os investimentos precedem o papel da moeda como reserva (COHEN, 2012). Assim,
os IDE podem servir como um catalisador essencial para a dinâmica de uma determinada
região; neste caso, a China para o Leste Asiático. De acordo com essa análise, os IDE
incrementaram a eficiência econômica, estando associada a três pontos: o aumento da
especialização; a exploração das economias de escala; e maior concentração geográfica de
atividades econômicas individuais (DUNNING, 2003).
Dentro da perspectiva de um novo ambiente institucional que está sendo criado pela
China (STUENKEL, 2018), podemos identificar, sob o viés dos IDE de Dunning, como este
novo ambiente está sendo estruturado a partir da integração regional (DUNNING, 2003).
Desta forma,
Ou seja, sob os dois aspectos levantados pelo autor, a China teria vantagens, uma pela
mudança do ambiente regional a partir das novas instituições criadas, como no caso do AIIB e
do Novo Banco dos BRICS, por exemplo. Bem como a vantagem ligada à localização dos
países do Leste Asiático, que estão na sua zona de influência. Aqui estamos defendendo a
nova ordem do sistema internacional baseada em um mundo multipolar, do qual Pequim
estaria liderando o novo modelo chinês de integração regional do século XXI. De fato, para
que se possa compreender de forma mais completa e ampla o processo chinês de integração,
se faz necessário, mesmo que brevemente, adentrar nos aspectos vinculados às ações chinesas
para internacionalizar a sua moeda, sobretudo após a Crise de 2008.
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Para esta compreensão identifica-se que: Jiang compreende que os interesses comerciais do estado chinês
impedem a internacionalização do RMB, sendo esse autor mais cético quanto à projeção dessa moeda no SMI.
Assim, ele argumenta que o fornecimento de RMB através de acordos bilaterais de swaps cambiais demonstra o
caráter limitado e ainda engessado dos conservadores burocratas chineses, em contrapartida ao dos liberais. Ou
seja, a ênfase dada ao bilateralismo frente ao multilateralismo é motivada pelo fato que o primeiro não exige
reformas estruturais por parte do estado chinês, atendendo pragmaticamente a necessidades de curto prazo
(JIANG, 2014).
Sendo assim, com a Crise de 2008, Helleiner e Kirshner (2014) afirmam que “a crise
financeira global de 2008 revelou a exposição macroeconômica da China ao que é cada vez
mais percebido nos círculos oficiais chineses como políticas econômicas irresponsáveis dos
EUA” (HELLEINER; KIRSHNER, 2014, p. 20, tradução nossa). A opção pragmática fica
evidente quando, em dezembro de 2008, o governo chinês assinou os contratos de swap
cambial junto a vinte e três países, incluindo, entre eles, Japão, Coreia do Sul, Brasil, Turquia
e Austrália (CHIN, 2014). Foi criado, em 2009, o Programa-piloto de Liquidação do
Comércio Transfronteiriço em RMB, que “permite a liquidação de todo o comércio exterior
chinês em moeda nacional, [além da] integração parcial do mercado offshore de Hong Kong
com o sistema financeiro continental” (FILHO; POSE, 2017, p. 9). No período de 2010-2012,
o programa-piloto foi ampliado, passando a autorizar clientes corporativos e institucionais a
conduzir, em Hong Kong, transações em yuan no exterior (MARTINS, 2018).
Compreendendo, por fim, este novo ambiente econômico, político e monetário do
processo de integração regional baseado na China no século XXI, Pequim, após alguns anos
de certa ‘pressão’ ao Fundo Monetário Internacional (FMI), conseguiu, além da criação em
2015, do Sistema de Pagamento Internacional Chinês (SPIC), entrar na cesta dos Direitos
Especiais de Saque (DES). Assim, o FMI partiu da análise de que o país emissor já se
encontrava entre os maiores exportadores do mundo, sendo sua moeda amplamente utilizada
para realização de pagamentos via transações internacionais e amplamente negociada nos
principais mercados de câmbio (FMI, 2015). Entre 2016-2017 o Fundo concluiu os devidos
ajustes para a efetivação do yuan no banco de dados oficial de reservas cambiais (FMI, 2015;
2016).
16
Haviam outros Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (BMD) que cediam crédito para projetos chineses,
mas o principal, ainda era o ADB.
17
Concebida em 1995 o CICC tem como finalidade realizar transações financeiras e comerciais com a finalidade
de facilitar as transações e aquisições de parceiros econômicos na China ou de empresários chineses no exterior.
Unidos; (ii) Criar um fundo próprio cuja regulação estivesse sobre o interesse do Banco
Central chinês; (iii) Criar um fundo que desse aporte aos projetos da BRI e; (iv) Criar um
novo segmento de investimentos após a crise de 2008, visto que esse evento levou à
pulverização dos créditos de instituições internacionais (YUN, 2015).
Apesar dos protestos do governo japonês e do governo americano, sobre a necessidade
de se criar um novo fundo de investimento, o governo chinês percebeu que para levar adiante
seus projetos de integração regional seria necessário criar sua própria instituição. Em 2015
foram realizadas negociações de inclusão de países parceiros já nos projetos de infraestrutura
transnacional no entorno chinês e, em 2015, foi assinado o primeiro acordo com um membro
europeu, o Reino Unido, que levou a inundação de uma dúzia de investidores europeus. Que
levou a adesão de 57 países, levando o AIIB a rapidamente ultrapassar os capitais de
investimento do ADB e tornou-se rapidamente o maior investidor em projetos de
infraestrutura na Ásia.
De acordo com o Ano Fiscal de 2014, o AIIB possui o capital de investimento de U$
100 bilhões, sendo que o Banco Central da China o principal acionista, com 30% de capitais
investidos e com o sharehold de 26%. Assim como o Japão instrumentaliza as operações e
agendas de investimentos regionais do ADB18 , a China faz o mesmo com o AIIB, tendo sua
sede em Pequim e seu presidente, Jin Liqun, designado pelo gabinete do executivo da China.
Além de criar uma reserva de investimentos que atendam aos seus interesses também
promovem a internacionalização do Renminbi (RMB) através do contrato de operações de
swamp cambiais, que elevou a reserva internacional da moeda chinesa nos bancos centrais de
outros países. Este processo elevou a disponibilidade da moeda no mercado internacional e,
pela oferta de papéis, possibilitou que o RMB fosse utilizado nas operações da China com
seus parceiros. Esta elevação da disponibilidade de RMB no mercado global fez com que o
Banco da China pudesse pressionar o Banco Mundial a incluir o RMB no seu cesto de moedas
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dentro do seu de Direitos Especiais de Saque (Special Drawing Rigths ). A crise econômica
de 2008 levou a uma desaceleração dos mercados centrais e permitiu o rápido avanço das
economias emergentes.
18
O ADB tem sua sede em Manila, contudo, desde sua criação, 1966, contou com seis presidentes, todos eles
japoneses e indicados pelo Banco Central do Japão.
19
São moedas que possuem transnacionalidade no mercado internacional, na forma de ativos, e que são moedas
utilizadas pelas transações do Fundo Monetário Internacional (FMI) como moeda suplementar. O valor do cesto
é baseado nas reservas internacionais, no ano fiscal de 2015, foi a primeira vez que se incluiu o Yuan, que
corresponde a 10% do fundo. As demais moedas são, o Dólar (41%), Euro (31%), o Iene (9%) e a Libra (8%).
20
Ao contrário de outros Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (BMD) , o AIIB é o
único que é exclusivo para investimentos em infraestrutura e em países em desenvolvimento.
Credita-se essa restrição pela ampla demanda de investimento em infraestrutura que a China
necessita para integrar a malha produtiva dos países em seu entorno. Esta questão é pertinente
pois, como atesta os economistas chineses, dentre eles o próprio presidente do banco, Jin
Liqun, os investimentos em infraestrutura realizado pelos demais BMD do sistema
internacional tendem a priorizar projetos que ampliam a integração dos principais mercados
globais entre si ou que integrem estes com as economias fornecedoras de matéria-prima
(KAWAI, 2015).
Jin Liqun, presidente atual do AIIB, aponta que o governo da China encontrava um
certo constrangimento quanto a busca de investimentos para integrar economias em
desenvolvimento e de integração de regiões menos dinâmicas. Os interesses chineses, nem do
governo e nem do empresariado, não eram consultados, os BMD realizavam ofertas de
investimentos que favoreciam o investidor. Estes entraves, observa o economista, foi um dos
principais fatores que levaram o governo chinês em criar sua própria agência de fomento
(KAWAI, 2015).
Desta forma, o AIIB tende a suprir esta falha. Por exemplo, Pequim teve dificuldades
perante o ADB ou o BIRD para adquirir subsídios para criar uma malha férrea e rodoviária
ligando o extremo oeste chinês, uma região que possui baixa intensidade comercial, com o
nordeste paquistanês, segundo o governo da China, o projeto só tornou-se viável pois o AIIB
permitiu a disponibilidade destes recursos.
Dessa forma, os quatro principais interesses dos dirigentes políticos chineses ao criar o
AIIB são: (i) Preencher uma demanda elevada para investimentos em infraestrutura em
regiões e segmentos específicos na Ásia e que não eram contempladas pelos BMD existentes;
(ii) Responder a insatisfação dos dirigentes e empresários chineses frente aos
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constrangimentos do setor financeiro existente ; (iii) A concepção de uma instituição que
atenda aos interesses do governo chinês e; (iv) Utilizar o sistema de crédito e fomento como
Alguns exemplos de Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (BMD) são o Banco Mundial (World Bank,
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WB), o Banco de Desenvolvimento Africano (African Development Bank, AfDB), O Banco Europeu de
Desenvolvimento e Reconstrução (European Bank for Reconstruction and Development, EBRD) e o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (Inter- American Development Bank, IDB), além do já citado anteriormente,
o Banco de Desenvolvimento Asiático (Asian Development Bank, ADB).
21
Uma das principais críticas que os dirigentes e empresários chineses faziam perante as instituições
internacionais de investimento era a constante ingerência ou a existências de cláusulas de gestão financeiro,
monetária e governamental existentes, especialmente sobre as restrições impostas pelo FMI e do Banco Mundial.
instrumento de política externa, tal qual o Japão o faz na instrumentalização dos capitais
existentes no ADB.
Com isso posto, o que se observou que fatores de necessidade e constrangimento
locais, não atendiam e nem acomodavam mais a nova dinâmica econômica que a China vinha
esboçando na região, em especial após 2008. O AIIB é uma tentativa da China de criar
regulações que a contemplem, sem com isso romper com o sistema internacional. A análise
do processo de integração regional centrado no Leste Asiático, enquanto região emergente no
sistema internacional, parte da análise de Arrighi. Dentre os conceitos mais relevantes,
desenvolvidos por Arrighi, destaca-se o de “meios de pagamento” (ARRIGHI, 1996),
considerados estratégicos, na interpretação do autor, para consolidar a hegemonia, no sentido
de liderança (regional ou global) de um Estado.
A obra de Arrighi, mostra-se bastante pertinente, considerando sua análise sobre o
desenvolvimento japonês, conjugado ao dos países vizinhos, em um primeiro momento
produziu o que ficou conhecido como fenômeno dos chamados “Tigres Asiáticos” e em um
segundo período, incluindo os “Novos Tigres” do Sudeste Asiático e a China. Em todo este
processo, teria sido determinante, na interpretação do autor, o uso politicamente planejado dos
meios de pagamento. Em uma terceira fase deste processo, o centro de acumulação de capital
se deslocou do Japão para a China (ARRIGHI, 2005), que hoje seria o centro econômico e
geopolítico da região, exercendo forte efeito gravitacional sobre toda a economia regional e
mundial (PAUTASSO, 2011) como mecanismo de constituição do Modelo de Integração
Chinês do Século XXI.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os principal ponto deste artigo é de compreender o Modelo de Integração Chinês do
Século XXI através do debate de dois autores: Arrighi e Fiori. O que foi observado na teoria
de Arrighi foram os seguintes pontos: ciclo sistêmico: (i) renascimento do Leste Asiático; (ii)
expansão material e financeira; (iii) sistema de subcontratação; (iv) Reforma e Abertura da
China. Já em Fiori, o que observou-se foram os seguintes pontos: (i) universo em expansão;
(ii) Estados-economias nacionais.
Este modelo desenvolvido pelo governo foi amadurecido a partir de três
condicionantes: a entrada chinesa na OMC; a política de Going Global em 2001; e por fim a
resposta à crise de 2008. Dessa forma, a China procurou superar a retração econômica global
através de diversas iniciativas, criando um cenário de demandas de investimento com o
objetivo de reaquecer a produção nacional, como se o país buscasse emular um
keynesianismo de Estado para a região.
O que se observou ao longo do trabalho foram o papel dos Investimentos Diretos
Estrangeiros como precedente à capacidade monetária (COHEN, 2012; 2014) e como
propulsor para um ambiente propício à Integração Regional (DUNNING, 2003), analisando o
papel destes IDE chineses como um instrumento de poder monetário e geopolítico do país
(SANTOS; MILAN, 2014).
Por fim, o que se tratou de analisar foi a relação do poder da moeda chinesa - o RMB -
como moeda regional, na busca de Pequim em propor uma maior diversificação das moedas
globais do Sistema Internacional, via instituições de fomento e investimento, tais como o
AIIB, destacando o papel de dissuasão da moeda como ferramenta de política do país. O que
se observa é que a China busca não em se opor ao dólar americano, mas dirimir a
vulnerabilidade que o país possa ter perante esta moeda estrangeira, ao que tudo indica, o
Modelo de Integração Chinês para o Século XXI é projeto com a intenção de estabelecer um
sistema multilateral, que possa acomodar os interesses chineses sem que para isso necessite
fazer uma ação de oposição ao Sistema Internacional vigente e sua estrutura de poder.
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