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AULA 3

Valdei Araujo – História da Historiografia como analítica da historicidade

 A partir das considerações que temos feito sobre a ideia de historicidade em Heidegger, a
pergunta que precisamos fazer é: quais os seus possíveis desdobramentos em relação à
pesquisa história-historiográfica?

 É a partir desta questão que vamos interpretar o texto do professor Valdei.

 A proposta deste artigo é justificar teoricamente a HH como subdisciplina autônoma a partir


da demarcação do conjunto de fenômenos que lhe seria próprio.

 Uma dimensão importante do artigo é o chamado ético que o autor faz para que a
perspectiva de autonomização da HH possa se cumprir. Ressalta a importância de se
configurar uma comunidade de intelectuais necessária para sustentar esse projeto disciplinar.

o Este não será, no entanto, objeto de discussão hoje.

 “Afinal, de quais fenômenos ou conjunto de fenômenos estamos falando quando


pesquisamos e escrevemos sobre a historiografia?” (p.38).

 A resposta a essa questão passa, segundo o autor, pela ideia de historicidade, cujo sentido é
extraído a partir de Ser e Tempo

 Como vimos, a historicidade em Ser e Tempo indica a estrutura existencial do acontecer do


Dasein.

o Vimos que esse “acontecer” significa a concreção da temporalidade da cura, isto é, a


dinâmica entre extensão, movimentação e permanência do Dasein em seu próprio
exercício de existir.

o Mais à frente, Heidegger dirá que o “acontecer próprio” da presença se realiza como
decisão antecipadora – isto é, a resolução do Dasein de, em antecedendo a si
mesmo, sair de seu estado cotidiano e impessoal para assumir o seu estar-lançado
próprio e finito, e então projetar-se para as suas próprias possibilidades de ser.

o Esse movimento é chamado por Heidegger de retomada (ou repetição). É essa noção
de retomada que fundamenta, segundo Heidegger, uma compreensão da
historicidade em sentido próprio.
o Na retomada, o Dasein transmite-se a si mesmo para reassumir o legado de sua
própria história (não apenas a nível individual, mas também coletivo, já que Dasein é
sempre ser-com). Voltaremos a este ponto mais a frente.

 Mas antes de falar da historicidade própria, vamos falar um pouco sobre a historicidade
“imprópria”.

 Heidegger se pergunta por quê, ao falarmos da história, tendemos a reduzi-la ao passado.

 Segundo o filósofo, essa concepção parte da ideia de que o homem é um ente simplesmente
dado “no tempo”, este entendido como se fosse um plano espacial externo e homogêneo,
algo distinto dele mesmo.

 Essa concepção ainda comete o equívoco de se confundir a “realidade” com o ser-no-


presente, como se o presente fosse o único ponto fixo e real do tempo, tornando obscuro a
questão da permanência no tempo, isto é, da “identidade” do si mesmo.

 De acordo com Heidegger, essas concepções sobre a historicidade são derivações impróprias
da historicidade em sentido próprio.

 Em sentido próprio, a historicidade não comporta a primazia do passado, mas sobretudo do


porvir. É no antecipar a si mesmo que se abre ao Dasein a possibilidade de uma retomada
do seu estar-lançado, enquanto vigor de ter sido presença.

 A historicidade própria é interpretada à luz da arquitetura existencial da temporalidade – isto


é, o instante ekstático entre o porvir, ter sido e atualidade.

 “No acontecer histórico, o primado do passado é uma espécie de ilusão derivada da


concentração metafísica no presente, pois todo acontecer como propriamente humano é
sempre uma temporalização, ou seja, “o vigor de ter sido enquanto algo atualizante e por
vir” (HEIDEGGER 1996, p. 186)” (p.39).

 Por isso, a historicidade própria e imprópria implicam (e são suportadas) por duas
concepções distintas do tempo

o A historicidade imprópria imagina o homem “no tempo” e dá primazia ao passado.

o A historicidade própria é um existencial do Dasein, derivada do sentido temporal da


cura, e que portanto enfatiza a “natureza modalizante (enlaçamento de
passado/futuro na abertura do agora) do seu acontecer” (p.39).

 Mas como temos vimos, “existência” não se confunde com “indivíduo”. Em Ser e Tempo, a
historicidade própria revela-se como destino (ou seja, a transmissão das possibilidades
legadas pela própria existência).
 No entanto, o verdadeiro poder da historicidade própria da presença revela-se como destino
ou envio comum, isto é, o acontecer de sua comunidade, de sua geração.

 A diferença entre historicidade própria e imprópria pode ser assim resumida:

o A primeira imagina o homem no tempo e direciona-se como esforço de


recontextualização (atualização do hoje), pois crê que parte de um presente em
direção ao passado (daí o rechaçamento de Heidegger à historiografia).

o Já a historicidade própria indica a possibilidade do homem ser para o seu tempo, e


por isso, é uma desatualização do hoje (ou seja, a saída de sua cotidianidade mediana
e impessoal).

 A partir da historicidade própria, surge a possibilidade de uma “abertura historiográfica da


história”, isto é, a apreensão e tematização explícita do ser-histórico.

 Como já ressaltamos, essa posição quer mostrar que é somente porque a existência é
histórica que ela pode se dar uma historiografia, que não necessariamente deve assumir a
forma científica-acadêmica.

o Isso significa, portanto, que as condições que permitem a escrita da história não são
apenas de ordem epistemológica, política ou social, mas também ontológico-
existencial.

 A determinação da historicidade como campo de fenômenos próprios da HH não apenas,


portanto, fundamenta teoricamente a disciplina, como traz ainda a ideia de uma maior
multiplicidade de objetos possíveis:

 “A analítica da historiografia teria como objeto próprio pensar as diferentes formas de


acesso ao passado e como a experiência histórica revelada nesses momentos pode ser
atingida por uma investigação das formas de continuidade e descontinuidade, isto é, de
transmissão. Portanto, a transformação do tempo em tempo histórico pode ser pensada como
o campo de fenômenos que poderia orientar a construção de agendas de investigação de
longo prazo para uma História da Historiografia com relativa autonomia. Voltada para esse
amplo campo de fenômenos, a História da Historiografia teria necessariamente de recorrer a
uma variedade de objetos de investigação, cada um deles somente operacional a partir de
suas teorias regionais” (p.41).

 A pluralização de objetos anda também a par da variedade de abordagens.

 Isso porque a historicidade própria não é um fenômeno restrito à cognição racional. A


abertura existencial do Dasein congrega não apenas a dimensão da compreensão (enquanto
“produção de sentidos”), mas também as disposições afetivas (enquanto “produção de
presença”). Daí a remissão feita pelo autor a Gumbrecht, bem como de sua crítica à ideia de
presente amplo.

 A partir da demarcação do campo de fenômenos que lhe é próprio (e que se dá a partir da


dimensão ontológico-existencial de historicidade), a HH pode se abrir a análise de novos
objetos do saber.

 “Como a historicidade própria não é um privilégio de uma ciência histórica, mas algo
inscrito no próprio ser do homem, uma história da historiografia como analítica da
historicidade não pode se limitar a uma história da ciência histórica. Uma analítica da
historicidade deverá investigar as condições, formas e funções das “aberturas
historiográficas da história”, e essas aberturas são sempre produzidas em uma tensão entre
suas condições estruturais e os eventos. Assim, tal analítica teria como uma de suas
principais funções desobstruir a historiografia de sua impropriedade, ou, dito de outra forma,
colaborar para recolocar o historiador frente ao fenômeno da história por meio da
desnaturalização das representações e objetos históricos que se acumulam como resultado da
própria ciência; lembrar, enfim, ao historiador que nossa relação com o passado, embora
necessariamente mediada por representações reificadas, tem outra fonte mais fundamental, a
própria experiência da história” (p.42).

 Nesse sentido, o objetivo da HH vai além de analisar o estudo da formação da historiografia


como ciência

 Mais profundamente, ela deve se dedicar ao “estudo do enraizamento dessas formas de


conhecimento do passado no próprio tempo histórico” (p.43).

 A partir da analítica da historicidade, a HH pode lançar-se a pensar objetos e apresentações


históricas que expressam as formas como nos relacionamos com o passado a partir de sua
fonte fundamental, isto é, a experiência da história em sua dimensão existencial própria.

 Ora, não seria então o caso de se tomar a memória – e as apresentações históricas guiadas
pela recordação-esquecimento – como um objeto privilegiado para a aplicação dessas
considerações teóricas?

o É esta pergunta que o restante da nossa disciplina procurará responder.

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