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TRATADO DE DIREITO PRIVADO

PARTE ESPECIAL

TOMO XLVII

Direito das Obrigações: Contrato de locação de serviços. Contrato de trabalho.

TÍTULO LIV

CONTRATO DE LOCAÇÃO DE SERVIÇOS

CAPÍTULO 1

CONCEITO E NATUREZA DO CONTRATO DE LOCAÇÃO DE SERVIÇOS

§ 5.038.Conceito de locação de serviços. 1. Precisões. 2. Serviços e contrato para os prestar. 3. Profissões livres e
empregados dependentes. 4. Dados históricos. 5. Locação de serviços e locação de obra (empreitada). 6. Contrato
de locação de serviços e contrato de fornecimento de serviço. 7. Contrato de locação de serviços e contrato de
trabalho. 8. Contrato de serviço do Estado
§ 5.089.Natureza do contrato de locação de serviços. 1. Contrato bilateral. 2. Contraprestação e locação de
serviços. 3. Inconstringibilidade cautelar e executiva. 4. Responsabilidade do locatário de serviços pelos danos
sofridos pelo locador.

CAPÍTULO II

PRESSUPOSTOS DO CONTRATO DE LOCAÇÃO DE SERVIÇOS

§ 5.040.Figurantes do contrato de locação de serviços. 1. Locador de serviços e locatário de serviços. 2.


Referências constitucionais
§ 5.041.Manifestações de vontade. 1. Vontade e serviços. 2. Liberdade e serviços. 3. Prazo do contrato
§ 5.042.Prestação de serviços. 1. Serviço que tem de ser prestado.2.Horário e duração do serviço
§ 5.043. Contra prestação a quem presta serviços. 1. Conceito. 2. Convenção e lei. 3. Preço do serviço (Código
Civil, art. 1218).
§ 5.044.Forma do contrato de locação‟ de serviços. 1. Forma e prova. 2.Plano ou programa e conclusão do
contrato de locação de serviços

CAPÍTULO III

VALIDADE E INVALIDADE DO CONTRATO DE LOCAÇÃO DE SERVIÇOS

TÁBUA SISTEMÁTICA DAS MATÉRIAS

§ 5.046.Proibições que não contaminam o contrato. 1. Regras jurídicas constitucionais. 2. Duração do serviço e
repouso. ..
CAPITULO IV

§ 5.054. Conceito de contrato do trabalho. 1. Precisões. 2. Contrato de trabalho e autodefesa

CAPITULO II

EMPREGADO E EMPREGADOR NO DIREITO DO TRABALHO EFICÁCIA DA LOCAÇÃO DE


SERVIÇOS

§ 5.047.Deveres e direitos do locador de serviços. 1. Precisões. 2. Dever de prestar o serviço. 3. Emprêgo e


serviço. 4. Modo de cumprir o dever de serviço. 5. Elementos subjetivos. 6. Pretensão à remuneração. 7. Quando
há de ser paga a retribuição. 8. Inconstringibilidade específica e prestação em pessoa
§ 5.Deveres e direitos do locatário de serviços. 1. A quem se presta o serviço. 2. Culpa do portador de serviços. 3.
Faltas do prestador de serviços. 4. Dedução no tempo do contrato. 5. Proibição de juros. 6. Mora do credor de
serviços
§ 5.055.Conceito de empregador e conceito de empregado. 1. Precisões. 2. Empregador. 3. Empregado
87§ 5.056.Principio de isonomia e trabalhadores. 1. Igualdade perante a lei. 2. Trabalho intelectual, trabalho
técnico e trabalho manual ou pedal. 3. Lugar em que se exerce o trabalho. 4. Regras jurídicas e espécies de
trabalho
§ 5.057.Exigências habilitativas e registáveis para o trabalho. 1. Habilitações. 2. Identificação. 3. Carteira
profissional, exigência
§ 5.058.identificação, registo e anotações. 1. Precisões. 2. Carteira profissional. 3. Falta de carteira profissional e
admissão. 4. Carteira de trabalho do menor. 5. Registo do trabalhador. 6.Anotações. 7. Penalidades

CAPITULO V

CAPITULO III

EXTINÇÃO DO CONTRATO DE LOCAÇÃO DE SERVIÇOS LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO E


ENTIDADES SINDICAIS

§ 5.049.Causas de extinção. 1. Expiração temporal do contrato. 2. Morte do promitente dos serviços. 3. Retirada
da base do negócio jurídico. 4. Denunciabilidade do contrato sem prazo determinado. 5. Denúncia cheia, violação
e resilição pelo prestador de serviços . 6. Resolução ou resilição alegada pelo outorgado
dos serviços
§ 5.050. Conseqüências da extinção. 1. Extinção sem culpa de qual quer figurante. 2. Culpa na extinção

TITULO LV

CONTRATO DE TRABALHO

PARTE 1

Conceito de Direito do Trabalho, natureza e


regras jurídicas básicas

CAPITULO 1
§ 5.059.Conceito de entidade sindical. 1. “Status” profissional, enquadramento e irradiação de direitos e de
deveres. 2. Sindicalização no Brasil. 3. Sindicatos nos estados totalitários.4.Constituição de 1946, art. 159, in une
§ 5.060. Técnica legislativa protectiva. 1. Uniformidade de ordenamento. 2. Categorias profissionais. 3.
Profissão e liberdade sindical
§ 5.061. Princípio de liberdade de constituição sindical. 1. Conceito.2.Constituição de 1946, art. 159. 3.
Presentação e representação unitária. 4. Pressupostos
§ 5.062.Princípio de liberdade de entrar e de permanecer ou não, ,s.os sindicatos. 1. Conceito. 2. Funcionários
públicos e empregados do Estado e das autarquias
§ 5.063.Princípio de organização interna do sindicato. 1. Conceito.
2.Delegação de podêres pelo Estado. 3. Presentação e representação dos sindicatos. 4. Extensão dos podêres dos
órgãos e dos representantes. 5. Sindicatos irregulares
§ 5.064.Registo da entidade sindical. 1. Registo e eficácia do registo.2.Pressupostos para o registo e registo da
entidade sindical
§ 5.065.Relação jurídica sindical. 1. Conceito. 2. Eficácia da relação jurídica sindical. 3. Deveres dos sindicatos.
4. Perda da qualidade para admissão de associado e outras causas de retirada

CONCEITO E NATUREZA DO DIREITO DO TRABALHO

CAPÍTULO IV

§ 5.051.Conceito de Direito de Trabalho. 1. Especialidade do ramo de direito. 2. Dependência ( subordinação) do


trabalhador.3. Direito do Trabalho
§ 5.052.Interpretação do Direito do Trabalho. 1. Preliminares 2. Textos legais sôbre Direito do trabalho
§ 5.053.Conceito de dever de trabalho e de direito ao trabalho 1. Conceito de trabalho. 2. Direito ao trabalho. 3.
Dever de trabalho. 4. Seguros sociais

PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL E LEGAL

§ 5.066.Direito ao repouso. 1. Técnica protectiva. 2. Repouso semanal. 3. Dias feriados. 4. Férias anuais
remuneradas. 5. Duração do trabalho diário. 6. Duas classes de regras jurídicas. 7.Distribuição objetiva e
distribuição subjetiva. 8. Repouso do trabalhador e direito a êle. 9. Remuneração do repouso semanal. 10.
Trabalho em dias feriados
§ 5.067.Salário mínimo. 1. Constituição de 1946, art. 157, 1. 2. Salários e princípio de isonomia. 3. Legislação do
trabalho e salário mínimo
4 5.068.Higiene, segurança do trabalho e idade. 1. Higiene e segurança do trabalho. 2. Menores de quatorze anos
e trabalho. 3.Indústrias insalubres. 4. Conceito de insalubridade da indústria. 5. Inteligência da Constituição de
1946, art. 157, IX, 1.a e 2a partes
§ 5.069.Outros direitos constitucionais dos trabalhadores. 1. Assistência sanitária. 2. Percentagem de
empregados brasileiros nos serviços públicos e ao público. 3. Estabilidade dos empregados. 4. Contrato coletivo
de trabalho. 5. Contribuição anormal. 6. O art. 157, XV, da Constituição de 1946, é regra jurídica programática. 7.
Maternidade, velhice, doença, invalidez, morte. 8. Seguros contra acidentes. 9. Princípio de isonomia e art. 157,
parágrafo único. 10. Trabalho à noite.
§ 5.070.Participação do empregado nos lucros da empresa 1. Problemas concernentes à participação nos lucros.
2. Limites conceptuais. 3. Aspecto ético-político. 4. “Ratio legis” do art. 157, IV, da Constituição de 1946. 5.
Natureza da regra jurídica constitucional. 6. Conceito de participação “obrigatória” nos lucros. 7. Conceito de
participação “direta” nos lucros. 8. Combinações da participação nos lucros com outros institutos.
9.Solução da dívida de participação. 10. Participação nos lucros e princípio de isonomia. 11. Requisites para
legislação acertada. 12. Lucros de que se deduz o quanto participável. 13. Aplicação dos lucros e concorrência de
leis e de interesses. 14.Qual é a inteligência que se há de dar aos arts. 157, IV, e 145, 148 e 151, parágrafo único,
da Constituição de 1946. 15.Empresas concessionárias de serviços ao público (Constitítuição de 1946, art. 151 e
parágrafo único). 16. Participação nos lucros e Constituição de 1946, art. 151, parágrafo único, 1~a parte. 17.
Fundo de reserva com finalidade de inversão. 18.Fatos pré-excludentes da participação. 19. Determinação do
quanto participável e quota de participação. 20. Quem é brigado à participação nos lucros <legitimação passiva).
21. Conteúdo do art. 157, IV, da Constituição de 1946. 22. Limites de direito e limites de exercício. 23. O
problema “de iure condendo”194
§ 5.071.Princípio de igualdade relativa. 1. Precisões. 2. Ônus da alegação e da prova. 3. Remuneração e seus
elementos
§ 5.072.Direito de greve. 1. Textos constitucionais. 2. Permissibilidade constitucional da greve. 3. Exercício do
direito de greve. 4.Exercício irregular do direito de greve. 5. Greve e participação nos lucros. 6. Militares e
funcionários públicos civis. 7.Lei n. 4.330, de 1.0 de julho de 1964. 8. Espécies de greve e exercício do direito de
greve. 9. Funcionários públicos e servidores públicos. 10. Deliberação de greve. 11. Atividades básicas e
atividades comuns. 12. Dever de pré-aviso. 13. Tentativa de conciliação. 14. Limitações à conduta de greve. 15.
Inicio da greve e atos negativos e positivos permitidos. 16. Resultado e extinção da greve. 17. Greves ilegais. 18.
Cessação da greve. 19. Penalidades
§ 5.073.Locaute (“Lock-ont”). 1. Conceito. 2. Direito de coalizão e liberdade de locaute

PARTE II

Generalidades sôbre o Contrato de Trabalho

CAPITULO 1

CONTRATO DE TRABALHO E IRRADIAÇÃO DE EFICÁCIA


§ 5.074.Mundo fáctico, mundo jurídico e contrato de trabalho. 1. Mundo fáctico. 2. Mundo jurídico e contrato. 3.
Contrato de trabalho e outros contratos
§ 5.075.Relação jurídica de trabalho. 1. Conceito. 2. Direito privado regras de direito público. 3. Limitações
subjetivas e legislação do trabalho
5.076.Transferência da titularidade de direito sôbre a empresa e mudança na estrutura jurídica ou em
organização da empresa 1.Transferência da titularidade de direito sôbre a empresa. 2.Mudança na estrutura
jurídica da empresa. 3. Afastamento da invocabilidade do princípio de continuidade. 4. Sucessão na dívida. 5.
Liberação do nôvo titular
§ 5.077.Justiça do Trabalho. 1. Competência, natureza e dados históricos. 2. Organização do trabalho e Direito
Penal

CAPÍTULO II

CONTRATOS NORMATIVOS DE TRABALHO

5.078.Conceito e natureza dos contratos normativos. 1. Organização industrial e comercial. 2. Conceito de


contrato normativo.3.Normatividade e regramento jurídico. 4. Função do contrato normativo. 5. Natureza do
contrato normativo. 6. Contrato normativo e usos locais. 7. Cláusulas do contrato normativo de trabalho
§ 5.079.Espécies de contratos normativos. 1. Bilateralidade e unilateralidade, contrato uninteressivo e
binteressivo ou pluriinteressivo. 2. Uninteressividade e binteressividade. 3. Classificação. 4. Espécies de
contratos normativos quanto ao conteúdo
§ 5.080.Eficácia e validade do contrato normativo. 1. Precisões. 2. Eficácia subjetivamente considerada. 3.
Conseqüências da infração do contrato normativo. 4. Constituição de 1946, art. 157, XIII. 5. Sanções
estabelecidas pelo contrato normativo. 6. Homologação e aprovação. 7. Extensão subjetiva, pela lei ou pela
autoridade executora. 8. Eficácia no tempo. 9. Adesões. 10. Salário mínimo e outras regras jurídicas de
tratamento.
§ 5.081.Eficácia do contrato normativo de linhas justas. 1. Precisões.2.Natureza das linhas justas
§ 5.082.Extinção do contrato normativo. 1. Causas de extinção. 2.Conseqüências da extinção

CAPÍTULO III

CONTRATO DE TRABALHO A CONTENTO OU A PROVA


§ 5.083. Conceito e natureza do contrato de trabalho a contento da prova. 1. Conceito. 2. Contrato de trabalho a
contento ou a prova e período de prova. 3. Natureza do contrato de trabalho a contento ou a prova. 4. Razões de
contento
§ 5.084.Pressupostos e validade do contrato de trabalho a contento ou a prova. 1. Figurantes. 2. Forma e prova
do contrato de trabalho a contento ou a prova. 3. Objeto do contrato. 4. Prazo.5.Se é permitida a gratuidade. 6.
Validade
§ 5.085. Eficácia do contrato de trabalho a contento ou a prova. 1. Deveres e obrigações dos figurantes. 2. Mau
êxito da prova.3.Bom êxito. 4. Resilição
§ 5.086.Extinção do contrato de trabalho a contento ou aprova. 1. Morte ou incapacidade do trabalhador. 2.
Extinção da empresa 3.Inadimplemento e adimplemento ruim. 4. Resilição por advento de têrmo final ou de
condição resilitiva

CAPÍTULO Iv

CONTRATO DE APRENDIZAGEM

§ 5.087. Conceito e natureza do contrato de aprendizagem. 1. Conceito.2.Contrato de aprendizagem e outros


contratos. 3. Natureza do contrato de aprendizagem
§ 5.088.Pressupostos e validade do contrato de aprendizagem. 1.Figurantes e capacidade. 2. Prestação e
contraprestação. 3.Prazo do contrato. 4. Exame de habilitação. 5. Validade.
§ 5.089.Eficácia do contrato de aprendizagem. 1. Contrato de aprendizagem, contrato de trabalho. 2. Deveres
especiais
§ 5.090.Extinção do contrato de aprendizagem. 1. Causas comuns aos contratos de trabalho. 2. Atestado de
aprendizagem. ..

PARTE III
Contrato individual de trabalho

CAPITULO 1

CONCEITO E NATUREZA DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO

§ 5.091.Conceito de contrato individual de trabalho. 1. Pressupostos conceptuais. 2. Prestação de trabalho. 3.


Origens
§ 5.092. Natureza do contrato individual de trabalho. 1. Bilateralidade.2.Espécies

CAPITULO II

PRESSUPOSTOS DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO

§ 5.093.Precisões. 1. Textos legais. 2. Espécies de trabalho. 3. Categorias e graus. 4. Trabalho e permanência. 5.


Vínculos contratuais do trabalho
§ 5.094.Figurantes. 1. Trabalhador e prestação de trabalho. 2. Menores e adultos curatelados. 3. Nacionalidade. 4.
Trabalhadores de subempreiteiro. 5. Habilitação. 6. Recebedor do trabalho
§ 5.095.Tempo do contrato individual do trabalho. 1. Tempo determinado e tempo indeterminado. 2. Prazo do
contrato individual de trabalho. 3. Prorrogação do prazo do contrato individual de trabalho. 4. Cláusula de
duração mínima
§ 5.096.Remuneração. 1. Conceito de salário. 2. Fixação do preço de salário. 3. Regras jurídicas sôbre fixação. 4.
Gorjeta.
§ 5.097.Forma e prova do contrato individual de trabalho. 1. Forma. 2. Prova do contrato individual de trabalho.
3. Falta de prova de cláusula essencial
§ 5.098.Conteúdo do contrato individual de trabalho. 1. Cláusulas contratuais. 2. Prazo do contrato. 8. Quando e
onde se há de pagar a remuneração. 4. Salário derrisório. 5. Objeto do pagamento. 6. Pagamento em ouro ou em
determinada espécie de moeda. 7. Invenções do empregado

CAPITULO III

EFICÁCIA DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO

§ 5.099.Deveres do empregado. 1. Deveres em geral. 2. Dever de prestar o trabalho


§ 5.100.Pagamento da remuneração. 1. Precisões. 2. Resistibilidade da eficácia. 3. Descontos e integridade da
remuneração. 4. Pagamento, recibo e prova. 5. Parte controvertida e parte incontrovertída da remuneração. 6.
Remuneração e direito ao repouso
§ 5.101.Dever de proteção que tem o empregador. 1. Legislação protectiva do trabalhador e dever de proteção. 2.
Incrustação e dever de proteção. 3. Dever de incrustação e de dar ensejo ao trabalho. 4. Dever de lealdade do
empregador. 5. Dever de reembôlso de gastos. 6. Concurso de credores e contrato individual de trabalho
§ 5.102.Estabilidade e outros efeitos. 1. Função protectiva das regras jurídicas sôbre estabilidade. 2. Tempo de
serviço. 3. Comissão e substituição interína
§ 5.103.Prescrição. 1. Precisões. 2. Prazo prescripcional. 3. Impedimento, suspensão e interrupção

CAPITULO IV

INVALIDADE E EXTINÇÃO DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO

§ 5.104.Causas de invalido.de. 1. Precisões. 2. Infração de regra jurídica cogente. 3. Ilicitude e impossibilidade.


4. Fraude à lei
§ 5.105.Conseqüências da invalidade. 1. Irrestituibilidade da prestação de trabalho. 2. Direitos que derivam do
contrato. ..
§ 5.106.Problema da extinção. 1. Preliminares. 2. Terminologia.
§ 5.107.Causas de extinção. 1. Advento do têrmo ou implemento de condição. 2. Distrato. 3. Denúncia vazia. 4.
Denúncia cheia.5.Inadimplemento do contrato por tempo determinado e ato de despedida. 6. Morte do
empregado. 7. Morte do empregador. 8. Interrupção e suspensão do trabalho

CONCEITO E NATUREZA DO CONTRATO DE LOCAÇÃO DE SERVIÇOS

§ 5.038. Conceito de locação de serviços

1.PRECISÕES. Servitium era o estado de escravo; servus era o escravo; servire era ser escravo, O sentido de
trabalhar é posterior e, no século Xx, inverteu-se a posição quanto à extensão: serviço, senso largo, qualquer
prestação de fazer, ou, menos largamente, de atividade (não de resultado, que seria locação de obra, empreitada)
; trabalho, atividade dos que as leis especiais tratam como profissionais da prestação de servíço a empresas de
finalidade econômica.
Trabalho vem do latim popular tripalium, que no ano 578 tinha o sentido de “instrumento de tortura”. TripaUum
veio de tri, três, e palus, pé. Está em Leges a Consuedudines (86.3A-1124) : “Qui miserit litem aut trabalio inter
nos...”; (505A-1198) : “Et qui fecerit trabalium suis uicinis... “ ;cf. .tnquiritiones 40.

2.SERvIÇOs E CONTRATO PARA OS PRESTAR. Lê-se no Código Civil, art. 1.216: “Tôda a espécie de
serviço ou trabalho licito, material ou imaterial, pode ser contratada me-diante retribuIção”. Servir é prestar
atividade a outrem. Em. sentido larguíssimo, serve quem promete e presta atos a outrem,. ou quem promete e
presta resultado. Ai, o empreiteiro serve. Em sentido largo, servir é prestar qualquer atividade que se Possa
considerar locação de serviços, locatio conductio operarum. Tentou-se distinguir do serviço do empregado o do
não empregado; depois, do serviço de quem quer que sirva a entrem,
como empregado, ou não, o serviço de quem trabalha para empresa de atividade econômica. As confusões de
sentido refletem bem as confusões da mentalidade contemporânea, com os seus problemas de estruturação
econômica e política.
A 1egis1ação do trabalho não substituiu à expressão “contrato de locação de trabalho” a outra, “contrato de
trabalho”, de modo que se possa entender sem razão de ser o emprêgo daquela. A substituição foi só em parte.
Ficou fora da legislação do trabalho todo contrato de serviço de que não resulta emprêgo, no sentido do art. 32 do
Decreto-lei n. 5.452 (Consolidação das Leis do Trabalho).
No art. 79, a) e b), do Decreto-lei n. 5.452 pré-excluem-se do campo de incidência da Consolidação das Leis do
Trabalho, salvo referência expressa, os empregados domésticos e os trabalhadores rurais. Donde os dois
problemas de classificação:
a) Há de ser considerado contrato de trabalho, ou contrato de Iocação , o contrato de serviço doméstico? b) ~Há de
ser considerado contrato de trabalho, ou contrato de locação de serviços o de trabalhadores rurais? Se se
interpreta o art. 7O no sentido de só haver contrato de trabalho se é aplicável a Consolidação das Leis do
Trabalho, a incidência de tal Decreto-lei n. 5.452 é que daria o conteúdo conceptual de contrato de trabalho, mas
verdade é que o contrato de trabalho foi definido separadamente, sem essa ligação necessária (art. 442).
Na legislação anterior ao Código Civil não havia escrita a regra jurídica do art. 1.216. No Código Comercial, ad.
226, misturam-se os dois contratos, pois fala-se de Iocação “de coisa” e “de trabalho”. Na 23 alínea, diz-se: “O
que dá coisa ou presta serviço chama-se locador, e o que a toma ou aceita serviço locatário”. No § 611 do Código
Civil aIemão , explicita-se que, pelo contrato de serviço (Dienstvertrag), quem promete serviço fica vinculado à
prestação do serviço prometido, e o outro eontraente (Teu) a assegurar a retribuição acordada (der andere Teu zur
Gewahrung der vereínbarten Vergútung verpfllchtet).
Trata-se de divida de fazer, que o locador assume. O serviço é a sua prestação.

3.PIWrrnsóEs LIVRES E EMPREGADOS DEPENDENTES. Profissionais livres são os que,


independentemente, prestam
determinados serviços. À profissionalidade junta-se o elemento de independência, em vez de se a ela se juntar o
de dependência, que retira autonomia.
Trabalhadores dependentes são os trabalhadores a que se refere a legislação do trabalho, e a respeito dêles o art.
32 do Decreto-lei n. 5.452, de 12 de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho), não alude à
profissionalidade: “Considera-se empregado tôda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a
empregador, sob a dependência dêste e mediante salário”. Em princípio, não é necessário que seja profissional o
empregado (cp. LORENZO MOSSA, II Diritto dei Lavoro, 4 s.; FRANCESGO SANTORO-PASSARELI~at,
Nozioni di Dirttto dei Lavoro, 12~a cd., n. 46). No direito brasileiro, frisou-se que escapa à definição o que presta
serviço eventualmente, porém não se pode deixar de atender a que há atingimento de pessoas que só
eventualmente prestam serviços a que se refere o art. 39, como, por exemplo, no tocante aos contratos coletivos.
Ainda assim, não se justifica dizer-se que êsse fato é que torna não-necessária a profissionalidade, como faz
LUISA RIVA-SANSEVERINO (Diritto dei Lavoro, SY ed., 235 sj. A eventualidade refere-se ao trabalho, ao
serviço; a profissionalidade, ao empregado. A qualidade subjetiva não é pré-excluida pela qualidade objetiva,
nem essa supõe a não-existência daquela. O empregado pode não ser profissional e ter-se inserto no operariado
da empresa, como pode prestar serviço eventual. A circunstância de alguém se empregar inicia prestação de
serviço continuativa, a favor da empresa, e pode determinar a profissionalidade. Tudo isso mostra que as alusões
à profissionalidade são arriscadas. Por outro lado, pode dar-se que se empregue por algumas horas, com contrato
de trabalho dependente, quem exerce profissão livre, e que passe a ter profissão livre, a latere, quem é, noutras
horas, ou noutros dias, empregado, em virtude de contrato de trabalho dependente. Mais ainda: pode haver dois
ou mais empregos, com dependência, do mesmo trabalhador, desde que haja diferença de tempo.

4. DADOS HISTÓRICOS. O locador de serviços não loca a sua pessoa, nem, sequer, o seu poder de serviço;
apenas promete prestar serviços. O conceito de locatio conductio operarum, que é romano, hoje somente pode ser
alusivo à semelhança entre a locação de coisas e a de serviços.
Na antiguidade, não podia haver o interesse no contrato de serviço que hoje há. O escravo prestava os serviços
sem apresentação . O dono alimentava-o, alojava-o e vestia-o, sem estar a isso vinculado contratualmente. A
locação de escravos pelo dono a alguém, que dêles precisava, era locatio rei, e não operaram.
Na Grécia, os homens livres e os metecas, que precisavam ganhar os meios dc existência, mediante paga,
contratavam os serviços, o que de modo nenhum ocorria com os escravos (cf. PLAT4O, Cintas, 871;
DEMÓSTENES, C. Timoth., § 52). Ás vêzes, o serviço era prestado, em horas vagas, ou dias vagos, inclusive por
soldados (XENOFONTE, Hellen., II, 1, 1; 1V, 2, 37). Qualquer serviço podia ser contratado, como limpeza e
plantio dos campos, colheitas, serviço de mesa (TEOFRASTO, Citar., 22), transportes (POLLIJX, VII, 130;
DEMÓs„PENES, C. Timúth., § 52). As taxas de retribuição eram baixas (cf. 13. BÚCHSENSCHÚTZ, Der Besitz
wnd Erwerb lia griohi-sefleu Aliedume, 347: A. BÓCKII, me Staatshaushaltunq der At1,~per, 1, 148).
Nenhuma diferença havia, em direito ático, entre o contrato de serviços de profissões liberais, como os de
professor, os de médico ou os de advogado, e os de profissões não liberais. A remuneração dos professôres eram,
às vêzes, altas, e exigíveis pela ação, como as outras. Protógoras demandou contra um dos seus discípulos.
Também Górgias e Zenão,; mais tarde, um século depois, Isócrates. Usava-se o contrato escrito. Alcibíades quis
que o pintor decorasse, imediatamente, a sua casa, e o pintor Agatarco alegou que tinha muitos contratos de datas
anteriores (ANDOCIDES, O. 41db., § 17). No caso de Agatarco, as pessoas que tinham contratos com o pintor
exerciam direito contra Alcibíades, por inadimplemento por parte do pintor, uma vez que Alcibíades durante
meses seqUestrara o pintor para que cumprisse o que prometera (cf. E. CAILLEMER, Le Contrat de louage à
Athênes, 34).
~interessante observar-se que o contrato de serviços imorais ou contra os bons costumes valia e vinculava; apenas
não gerava ação. Nos discursos dos oradores gregos há referências a contratos escritos em que se falava de
serviços vergonhosos, com pormenores (LYSIAS, Adv. Simon., §§ 22 e 26; ESQUINES, C. Timarch., § 160),
mas o que nos parece, no meio das discordâncias quanto à acionabilidade (cp. ESQUINES, C. Tirnarch., ~ 158),
pôsto que, algumas vêzes, a criminalidade se haja de considerar causa de nulidade. Nem tudo que hoje temos por
imoral o era na Grécia. Por outro lado, alguns contratos eram policiados, inclusive quanto às explorações do
trabalhador pelo patrão.
O contrato podia ser a curto ou a longo prazo. O serviço a salário, podia ser por tôda a vida (cf. PLATÃO,
Entgphr., 4; ISÔCRATES, Platale., § 48; XENOPONTE, Memor., II, 8, 2-3).
A expressão “locatio”, empregada quanto a serviço, contém reminiscência da locatio de escravos, em que locador
era o dono. A L. 25, D., de operis jibertorum, 38, 1, mostra-nos que a locação dos serviços do liberto foi passo
além que se deu quanto à locação do escravo: em vez do bem, loca-se o serviço. Os médicos, que tinham escravos
da mesma profissão, sejam fazê-los libertos, para terem retribuição dos serviços que os libertos prestassem a
outrem (L. 25, § 2). E o mesmo ocorria tom as pessoas que tinham a mesma arte. Se alguém (§ 3) podia utilizar os
serviços do liberto, em vez de obter preço por serviços dêsse (locando pretium earum consequl mallet), era de
entender-se que recebia retribuição pelos trabalhos do liberto <is existimandus est mercedem ex operis liberti sui
capere).
Artes liberais, profissões liberais, estudos liberais disseram-se as artes, profissões e estudos dignos do homem. A
expressão de hoje é de gritante reminiscência. Nas Epistolae ad Ludilum (88>, SÊNECA assim os definiu: .... .
liberalia studia dicta sint, quia homine libero digna sunt”. Mas quais os que eram dignos do homem? Ao tempo de
QUINTILIANO (Institutiones oratorjue, 12, 7, proem.) já não eram só os que, ao tempo de SoNECA, se
apontavam. Em vez de somente a filosofia, consideravam-se dignas do homem livre a retórica e a gramática.
CÍCERO (De 01 fiejis, 150) enumerou artes liberales e artes minimae, sordidue ou iltiberales, entre as quais
estavam as dos mercadores, os que cortavam cabelos, os criadores em viveiros,os tecedores, os pescadores, os que
preparavam perfumes, os dançarmos, as lavadeiras.
Para os Romanos, quem trabalhava por salário assimilava-se aos escravos, servorum loco. Com a mudança das
circunstâncias econômicas, principalmente devido às guerras, os que trabalhavam passaram à frente ou ao nível
dos que antes viviam do trabalho dos outros.
A vinculação da atividade intelectual de um cidadão a outro cidadão foi tida como honor. Donde os honorários,
remuneração de tais laboradores. A princípio, só havia a dádiva, o dom, o presente, o honorarium, por ser gratuita
a promessa, ou a dação de serviço. Ainda ULPIANO (L. 1, § 5, 19., de varjis et extraordinariis cognitionibus et si
iudex litem suam fecisse dicetur, 50, 13) negava que se julgassem os serviços dos professôres de direito civil:
eram da classe das artes liberales, “res sanctissima”, “sapientia ... quae pretiro nunnnario nou sit aestimanda nec
dehonestanda”.
Odonum, o munus, o honor remunerandi gratia, a remuneratia não podia ser objeto de pedido em processo.
Depois, veio a extraordinaria cognitio.
Não se pretenda que o conceito de arte liberal era só objetivo. O elemento subjetivo persistia, O serviço do
escravo filósofo, ou médico, era tido como trabalho físico. O serviço intelectual do liberto para outrem que o dono
era serviço intelectual; para o dono, serviço físico (cf. L. MI‟rTEís, Operae officiales und operae fabriles,
Zeitschrif 1 der Savigny-Stiftung, 18, 158).
Os especialistas, na época de ULPIANO, não eram considerados médicos (cf. GERHARD BESELER, Beitrage
zur Kritilc der ràmischen (Quellen, II, 1‟70 s.). Fragmento das XII Tábuas (9) refere-se à arte do dentista, e
incrustação de ouro era considerada atividade médica. Há dúvidas quanto, ao tempo de se dar aos médicos a
extraordinarla cognitio, ser tida como ars liberalis a atividade médica, por haver artes ifliberales que dela
dispunham (e. g., L. 1, §§ 2, 7 e 8, 19., de varjis eI extraordinariis eognitionibus et si index til em suam fecisse
dice tur, 50, 13). Cf. J. MARQUARDT (Das Privatleben der Rómer, 2.~ ed., 778).
Ainda ao tempo de Constantino e ao tempo de Justiniano, os médicos e os arquitetos ainda não eram tidos como
de atividade liberal; eram artifices (L. 1, O., de excusationibus artificum, 10, 66).

5.LOCAÇÃO DE SERVIÇOS E LOCAÇÃO DE OBRA (EMPREITAPA). Já falamos do contrato de


empreitada (Tomo XLIV, §§ 4.844-4.851), frisando o pressuposto conceptual do resultado (§§ 4.844, 2, e 4.845,
4>. Aqui apenas temos de ferir alguns pontos que a doutrina discute. Há elemento de álea, na locatio conductio
operis, que não aparece na locatio conductio operarum.
O contrato de serviços e o contrato de trabalho, estrito senso, são, no Código Civil e na legislação do trabalho,
contrato de direito privado. A semipublicidade não os deslocou para o direito público, a despeito de estar cercado
e por vêzes invadido por algumas regras jurídicas publicísticas. O conteúdo do contrato é a atividade como tal,
dirigida a determinado resultado. Daí distinguir-se da empreitada, em que o prestador da atividade se vincula a
prestar determinado resultado. Mesmo se o locador de serviços ou o trabalhador, que tem a incumbência de
determinada obra, não loca o resultado, a obra; loca a atividade, que se destina ao resultado, à obra.
A maneira pela qual se computa a remuneração de jeito nenhum atinge a natureza do contrato de serviços. A
atividade médica pode ser remunerada por visitas, ou por mês, ou ano. O advogado pode exigir, no contrato,
percentagem, ou mensalidade ou outra contraprestação periódica (advogado de partido). Sem razão, G.
RÍiMELIN (Dienstvertrag und Werkvertrag, 59) e PHILIPP LOTMAR (Arbeitsvertrag, II, 422 e 862). Também
o trabalho, em si, não distingue o contrato de serviços e o de empreitada. A qualquer atividade se pode exigir que
só se considere adimplida a dívida se se obteve o resultado, e então há locatio conductio operis; como qualquer
pessoa, a quem importe o resultado, pode preferir a remuneração dos serviços, a locatio conduetio operarunt.
Seria errôneo considerar-se independente a atividade de quem se vincula a obra, ao resultado, e dependente a
atividade de quem presta serviços. Os serviços são, quase sempre, porém não sempre, dependentes; a obra, quase
sempre, porém não sempre, independente.
Se o serviço é prestado a terceiro, como é o caso do barbeiro, ou do cabeleireiro, ou do alfaiate, que é empregado
da empresa, quem exerce a atividade presta ao cliente obra e à empresa, serviço. A relação jurídica entre o
empregado e o empregador é inconfundível com a relação jurídica entre o cliente e a empresa, e não há relação
jurídica entre o empregado e o cliente. Salvo se a empresa explícita que apenas dá aos que trabalham o lugar e as
instalações, mediante aluguer ou quota nos lucros. A relação entre os que trabalham e a empresa pode, até, ser de
sociedade, ou de parceria, ou de locação de sala, a cada um dos que trabalham ou em comum. Não há conceito a
priori.
O que promete obra deve o resultado, O que promete serviço, ou trabalho, deve a atividade mesma. Nunca se há
de confundir a locatio conductio operaram, locação de serviços, com a locatio conduetio operis, locação de obra
ou empreitada. Quem contrata levar à estação os caixões e as malas, deve o resultado. Quem trabalha para quem
contratou isso, ou para quem quer o transporte, prometeu a atividade, e não o resultado. Quem promete a
atividade que dê o resultado que se colima não prometeu atingi-lo. Se A contratou com B e C levar o automóvel,
que não anda, até o pOsto onde há serviço de consertos, é contraente de loca tio conductio operis; se, em vez
disso, oferece x a E e C, por hora, para que o empurrem, deve x se no fim de uma hora não se alcançou o pôsto,
porque B e C prometeram atividade, e não resultado. E e C não prometeram se no fim de uma hora não se
alcançou o pOsto, porque E e O não acreditassem. O contraente A suportou o risco, ao passo que, na locatio
cunductio operis, quem corre o risco é o empreiteiro. A distinção foi e continua de grande importância, razão por
que não se pode deixar de atender ao conteúdo mesmo dos dois conceitos.
No contrato de locação de serviço, inclusive no contrato de trabalho, o tempo é elemento de tOda a relevância,
não o re.sultado da atividade. Pode dar-se que se meça o tempo pelo que se há de fazer, mas, ainda aí, o tempo não
se elimina diante da obra (e. g., a empresa permitiu que o trabalhador desenhasse em casa o projeto, calculado em
dois dias o trabalho), tanto assim que, se não se conclui, como se esperava, o tempo passa a ser único elemento.
Quem se vincula a regar o jardim de outrem, ou a fazer a poda das árvores, presta obra, e não serviço. Não se torna
contrato de serviço se se calculou o tempo em que se faria a rega ou o podamento, tanto mais quanto não pode
desvincular-se antes de terminar o que prometeu.
As cooperações e ajudas são contratos de serviço, salvo se ficou explícita a exigência do resultado, como se ao
cooperador ou ajudante se atribuiu acabar o palito , ou o tampo de mármore.
O trabalho sob instruções pode dar ensejo a contrato de obra e também há contrato de locação de serviços ou
contrato de trabalho sem qualquer instrução.
O serviço do médico é contrato de locação de serviços, e não da obra. O médico não promete o resultado, que se
deseja, mas sim a sua atividade técnica. Para que se tratasse de contrato „de obra, seria preciso que se prometesse
a cura, e só se percebesse pela cura. Há operadores que excepcionalmente concebem como tal o contrato.
O professor que prepara. o aluno para os exames, ou para o concurso, presta serviços, e não obra.
O contrato de locação de serviços, incluido o contrato de trabalho, que se diferenciou, é bilateral. A relação
jurídica é duradoura, porque dura o próprio trabalho de minutos, O elemento do tempo é essencial. O dono da
fazenda que pede ao trabalhador, que passa, armado de espingarda, que mate o morcêgo que está na árvore, quer
resultado, mediante determinada quantia; se, em vez disso, apenas acorda em que o transeunte fique uma hora, ou
mais, a tantos cruzeiros por hora, para evitar que algum animal bravio ataque os carneiros, faz-se figurante de
contrato de locação de serviços.
Quem se vincula a prestar serviços vincula-se a prestá-los pessoalmente. Na dúvida, a prestação de serviços
sOmente há de ser prestada pela pessoa que a prometeu. Poder-se-ia discutir se a regra jurídica, não escrita, que se
extrai das que o Código Civil dedica à locação de serviços, especialmente das regras jurídicas dos arts. 1.226 e
1.227, é dispositiva, ou se é interpretativa. De iure condendo, a primeira solução teria o inconveniente de deixar
de atender a usos do lugar e aos próprios usos do tomador de serviços.

6.CONTRATO DE LOCAÇÃO DE SERVIÇOS E CONTRATO DE FORNECIMENTO DE SERVIÇO. O


contrato de serviços é inconfundível com o contrato de dação de serviço de outrem, contrato pelo qual o
vinculado apenas prometeu serviço de alguém, como ocorre com a empresa que transporta, com o contrato misto
(de locação de coisa, e. g., Ônibus , por um mês, com a prestação de serviços pelo motorista, empregado da
empresa). No contrato de dação de serviço de outrem, contrato de fornecimento de serviço
(Dienstverschaffungsvertrag), o outorgante adimple com o ato de pôr à disposição do outorgado o serviço de
terceiro, pelo tempo convencionado. Responde por culpa in etigendo, sem que se possa pensar em ser o terceiro
auxiliar do adímplemento, Einfiiilungsgehitfe (ARTHUR NIKISCH, Arbeitsrecht, f, 2a ed., 240).

7.CONTRATO DE LOCAÇÃO DE SERVIÇOS E CONTRATO DE TRABALHO. (a) Nos sistemas jurídicos,


dentre os contratos em que alguém promete atividade em serviço e em interesse de outrem (locação de serviços,
locação de obra, ou, simplesmente, contrato de obra, mandato, contrato de corretagem, contrato de depósito), na
primeira plana está a locação de serviços, contrato que manteve a sua natureza e a sua estrutura, enquanto se
distinguiu e evolveu o contrato de trabalho. Em sentido geral, o contrato de locação de serviços é aquêle em que
se prometem prestações de serviços, mediante contraprestação de remuneração. Em sentido mais estreito, é o
contrato de locação de serviços temporários, com a permanência do princípio de auto-regramento da vontade
(princípio da autonomia da vontade). Tal princípio sofre profundas alterações no contrato de trabalho.
Quando se está diante de contrato em que se promete atividade, o primeiro passo de quem o tem de examinar há
de ser o de determinar a figura jurídica de que se trata, principalmente quando o contrato pode ser de loca çâo de
serviços, tal como se regula na legislação civil e na comercial, ou contrato de obra, ou contrato de trabalho.
Na locação de serviços, a atividade pode ser de ordem corporal ou de ordem intelectual, com ou sem exigências
de conhecimentos especiais, ou de prática apoiada em qualidades individuais. Não importa se os serviços se
prestam com independência, ou em posição de dependência, isto é, subordinado o locador de serviços à vontade e
às indicações do dono do serviço, ou de outrem, que ao dono do serviço se ligue. A atividade dependente nem
sempre se torna engastada na organização industrial, ou comercial, ou profissional, de jeito a ser sempre objeto de
contrato de trabalho. A dependência não basta para que se tenha de cogitar de contrato de trabalho, razão por que
a dependência, nesse, pode ser mínima e há contratos de serviços que não são contratos de trabalho

(W.KASKEL-H. DaRSdn, Arbeitsrecht, 4~a ed., 140). No direito brasileiro, para que haja o contrato de trabalho,
de modo que incida a legislação especial, é preciso que o contrato se inclua no conceito do ad. 3? do Decreto-lei n.
5.452, de 1? de maio de 1942 (Consolidação das Leis do Trabalho), sendo empregador pessoa física ou jurídica
que caiba no ad. 2.0 do Decreto-lei n. 5.452.
(b)O contrato de locação de serviços, quando é locatário empregador de que fala o ad. 2.0 do Decreto-lei n. 5.452,
é todo contrato a que falta um dos elementos a que o art. 32 se refere. No art. 1.220 do Código Civil diz-se: “A
locação de serviços não se poderá convencionar por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o
pagamento de dívida do locador, ou se destine à execução de certa e determinada obra. Neste caso, decorridos
quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não concluída a obra (ad. 1.225) “. No Decreto-lei n. 5.452,
art. 445, diz-se o mesmo: “O prazo de vigência de contrato de trabalho, quando estipulado ou se dependente da
execução de determinado trabalho ou realização de certo acontecimento, não poderá ser superior a quatro anos”.
Ali e aqui, a cláusula de duração, no que exceda dos quatro anos, é nula. Em conseqUência disso, não há, a partir
do dia imediato aos quatro anos, qualquer relação jurídica de trabalho, baseada no contrato.
Não se podem considerar ab-rogados os arts. 1.216-1.236 do Código Civil (e. g., sem razão, CESARINO
JÚNIOR, Consolidação das Leis do Trabalho, 1, 378 s., que disse “revogada a Seção II”). O que ocorreu é que
alguns contratos de serviços passaram a ser chamados contratos de trabalho e regido~ por iex specialis.

8.CONTRATO DE SERVIÇO DO ESTADO. O contrato de serviços do Estado, ou se publiciza, e dá ensejo à


incidência de regras jurídicas de direito público, constitucional ou não, de modo que se afasta a invocabilidade
normal do Código Civil e do Código Comercial, ou é privatístico, não sendo atingido por aquelas regras jurídicas
que sómente concernem aos funcionários públicos e aos outros servidores do Estado. Quanto aos funcionários
públicos, atende-se a que se integrem no pessoal do Estado, com alguma dose de autoridade pública.
(a)Na organização dos serviços públicos, o Estado põe-se em relações de direito público raramente, em relações
de direito privado com pessoas que se vinculam permanentemente, ou não, às prestações de serviços. Além das
diferenças de duração da relação jurídica, há diferenças resultantes de ser função pública, ou não no ser, o que se
exerce, e diferenças que a experiência administrativa foi sugerindo e acentuando, através dos tempos. Sómente
nos nossos dias a terminologia se escoimou de impropriedades e de expressões ambíguas e equivocas.
O Estado vincula-se a prestações em dinheiro, ou em „valôres pecuniários, que se regem pelo direito público,
salvo se, excepcionalmente, se fêz figurante de negócio jurídico de direito privado.
Se se circunscreve o exame da matéria à relação jurídica de serviços entre o funcionário público, ou, mais
amplamente, o servidor público e o Estado, o que mais importa sã.o os conceitos de remuneração, salário,
vencimento, ordenado, só filo, custas, emolumento, retribuicão, abono, vantagens pecuniárias e proventos,
participação em multa e participação a arrecadacão de tributos.
(b)No Estatuto dos Funcionários Públicos (Lei n. 1.711, de 28 de outubro de 1952), art. 135, parágrafo único, há
referência à diária, para se frisar que se não dá a) durante o período do trânsito, ou b) quando o deslocamento
constitui exigência permanente do cargo ou da função. O arbitramento
atende à natureza, ao local e a outros fatores do serviço (ditas “condições de serviço”). O Decreto n. 18.517, de 80
de abril de 1945, art. 1.0, a) e b), com a redação que lhe deu o Decreto n. 40.299, de 6 de novembro de 1956,
estabeleceu mínimo e máximo (tecto) às diárias.
No ad. 127, ~ 1.0, o Estatuto trata da destinação da ajuda de custo, o que a define: “. . . destina-se à compensação
das despesas de viagem e da nova instalação”.
No ad. 144, cogita o Estatuto do pagamento das despesas de tratamento, em caso de acidente sofrido em serviço,
pelo funcionário público.
No art. 137, o Estatuto alude ao auxilio para cobrir diferenças de caixa (cf. Decreto n. 34.406, de 29 de outubro
de 1953, arts. 19 e §§ 1.0 e 2.0, 2, 3 e 4).
No art. 134, o Estatuto trata da despesa de transporte do funcionário público, de sua família e de um serviçal, quer
quanto às pessoas, quer quanto às bagagens.
O art. 148 do Estatuto, refere-se ao auxílio-doença; os arts. 138-148, ao salário-família.
Nos arts. 145-150, o Estatuto dá regras jurídicas sôbre gratificações, nenhuma das quais de modo algum é
atingida pelo art. 8.0 da Lei n. 4.069, de 11 de junho de 1962, e pelo art. 49 da Lei Complementar, como se o
trabalho acarreta risco de vida ou da saúde (Estatuto, art. 145, VI).
O art. 152 do Estatuto refere as quotas-partes em multas e as percentagens em multas.
Pôsto que a Lei n. 4.069, de 11 de junho de 1962, art. 8.~, tenha considerado o problema do tecto com relação aos
trabalhadores em geral, para que não haja grande desigualdade entre os funcionários públicos e os trabalhadores,
e a Lei Complementar, art. 49, haja circunscrito o propósito de menor desigualdade aos que percebem
vencimentos oriundos do Tesouro Nacional e aos que, em vez disso, ou além disso, têm direitos a custas ou
emolumentos, ou custas e emolumentos, a ratio legis é a mesma: diminuir a desigualdade. Porém, nesse propósito
de diminuição da desigualdade, não houve desatendimento ao que provém do fato, que o interesse do Estado pelo
homem tem de considerar (doença, salário família, transporte, risco de saúde pela profundidade do lugar ou pela
altura do lugar em que se presta o serviço), o valor do ato, que a experiência apontou como digno de incentivo.
O ato de multar os poderosos e os grupos é arriscado. Daí ter o Estado concebido as participações nas multas
impostas. Com isso, o servidor mune-se contra o violador das leis, especialmente das leis fiscais, e pode mesmo
manter meios eficientes (automóvel, auxiliares registadores, gravadores) para os corpos de delito. A participação
do servidor público na multa tem papel de estímulo e, ao mesmo tempo, de possíveis despesas que êle faça sem
poder haver do Estado o reembôlso.
As considerações que acima foram feitas têm por fito mostrar a diferenciação entre serviço público e serviço
privado e ao mesmo tempo frisar o que há de comum. Nos nossos dias, tem-se observado quanto a organização e
a técnica da organização têm concorrido para que os empregadores e os empregados privados aproveitem
conceitos e soluções de direito público dos serviços e o Estado e as autarquias se munam de conceitos e resultados
obtidos pelas empresas privadas.

§ 5.039. Natureza do contrato de locação de serviços

1.CONTRATO BILATERAL. O contrato de serviços locação de serviços ou contrato de trabalho é bilateral. Se


o serviço é prestado gratuitamente, ou cabe em objeto de mandato, ou em promessa de doação, ou em doação. Se
a prestação de serviço só se há de considerar prometida mediante remuneração, tem-se de ter como tàcitamente
convencionada, segundo os usos do tráfico, o tempo do serviço e a sua qualidade. São elementos relevantes a
posição pessoal, o nível do promitente e as relações existentes entre os figurantes. Não se pode deixar de levar em
consideração os preços que o prestador dos serviços costuma exigir, nem os que acaso o promissário costumava
pagar.
Pode acontecer que o contrato tenha sido oneroso, mas haja o prestador dos serviços recusado o pagamento, em
dádiva ao cliente. “Não; desta vez não quero nada”. O contrato estava feito, O que ocorre é doação do preço.
No direito brasileiro, nenhuma distinção se permite entre serviços que são objeto de contrato de locação de
serviços e contrato de mandato, como acontecia no direito comum. A concepção romana e a do direito comum
estão superadas. O advogado, o médico, o regedor de orquestra e o músico são presta-dores de serviços, como
qualquer trabalhador. O advogado precisa da outorga de podêres para poder representar o cliente, mas isso de
modo nenhum afasta que a relação jurídica entre êle e o cliente, quanto à atividade, seja, precisamente, de
prestação de serviço.
Em sentido amplo e próprio, a locação de serviço abrange tôdas as locações de atividade. Uma vez que se
prometem atos, e não resultados, o contrato é de locação de serviços. Assim, há locação de serviços se quem
presta os serviços é empregado urbano ou rural, se trabalha à mão ou à máquina, ou com animais, ou botes, ou
canoas, ou outros veículos a vela, ou com motor, ou se tem a profissão que corresponde ao serviço ou se não a
tem, como o professor e o médico, o arneiro, o coveiro, o garção, o preparador de bebidas, o motorista de
automóvel, a cozinheira e a copeira.
O serviço pode consistir em serviço de ordem corporal, eu em serviço de ordem intelectual, ou mista. Àquele,
como a êsses, pode ser, ou não, pressuposto necessário terem-se práticas ou conhecimentos especiais. A locação
de serviços, para empregarmos a expressão que o Código Civil conservou, abstrai da inserção e da não-inserção
do prestador de serviços na estrutura interna da empresa, a ponto de torná-lo dependente. Ao elemento de
dependência dedicaremos considerações minudentes quando tratarmos do contrato de trabalho, tal como se lhe
precisou o conceito. Isso não quer dizer que não haja regras jurídicas do Código Civil e das leis comerciais que
não sejam invocáveis no tocante ao contrato de trabalho, nem regras jurídicas da legislação do trabalho que não
repercutam no direito sôbre prestação de serviços.
O elemento “emprêgo”, que é comum aos contratos de trabalho, regidos pela legislação especial, ora aparece ora
não aparece no contrato de locação de serviços. Tal observação nos permite perceber que ainda não houve
evolução suficiente que estendesse a todos os que se empregam a mesma proteção e a todos que empregam os
mesmos deveres.
2.CONTRAPRESTAÇÃO E LOCAÇÃO DE SERVIÇOS. Nunca a prestação de serviços se presume gratuita.
Se não houve convenção explícita, quem afirma a gratuidade tem o ônus de alegar e provar. A prova pode ser
fundada no nível da pessoa que prestou o serviço, ou no nível e nas circunstâncias em que o teve. Por exemplo: o
dono do automóvel, pessoa que não se suporia que conduzisse alguém por dinheiro, atendeu ao sinal de quem
pensa tratar-se de táxi e levou o transeunte até o lugar de que deu o enderêço, sem qualquer manifestação de não
se tratar de cortesia. Aliás, o que mais importa é a situação objetiva, e não a opinião dos interessados. Se quem
presta o serviço é parente do que dêle precisa, somente, na dúvida, é que se não há de considerar gratuita a
prestação de serviços.
O que se dá, por ocasião de Natal, ou de Ano Nôvo, não é pagamento, nem, se houve convite para passeio em
carro, ou em trem, se pode considerar prestação onerosa de serviços.
Se quem presta serviços pagos deixa o serviço antes do dia em que começa a féria para o Natal, o Ano Nôvo, não
pode exigir gratificação usual ou conforme convenção explícita (PAUL OERTMANN, Die
Gratifikationsanspríiche der Bankbeamten, Bank-Archiv, 12, 22, e 13, 167).
A gorjeta, em senso próprio e estrito, é dação de livre vontade do cliente. O recebedor da gorjeta tem direito a ela;
não tem pretensão, nem ação. O uso que estabelece percentualidade, ou aproximado percentual, não é quanto à
pretensão e à ação:
é uso que entrou no mundo jurídico, mas só se refere a direito à gorjeta, que existe, sem ser exigível nem
acionável. Pode acontecer, porém, que o cliente peça algum serviço por exemplo, ao empregado do hotel e nasça
pretensão a receber „gorjeta”, palavra, aí, posta em sentido extrapolado (e. g., empacotamento de livros, fora do
que seria normal exigir-se de camareiro ou de empregado da portaria; limpeza do automóvel ou do bote;
passagem a ferro de roupas, fora dos serviços da hospedaria). A classificação da gorjeta, senso próprio e estrito,
como direito sem pretensão e ação foi obra de RImOLF V. JUERINO (Das Trinkgeld, 11 s.). À gorjeta,
contraprestação a serviços prestados, tem direito quem os prestou, sem que haja pretensão ou ação. À gorjeta,
doação remuneratória, não tem direito quem prestou os serviços; quem os recebeu, ou dêles se aproveitou, doa, se
quer, pôsto que remunere. Assim, há figuras diferentes sob o nome de gorjeta:
a contraprestação a que o prestador dos serviços tem direito, mas não pode exigir, extrajudicial ou judicialmente;
a prestação donatória, em remuneração; a contraprestação a que lei, regulamento ou uso atribuiu pretensão e ação,
pelo fato da inserção (ou da inseribilidade) na conta da empresa, em que o titular do direito à gorjeta presta os
serviços. Ésse fato da inserção ou da inseribilidade precisa ser examinado atentamente, para que se não diga,
simples e superficialmente, que a lei, o regulamento ou o uso fêz exigível e acionável o direito à gorjeta.
Se a gorjeta foi inserta no preço da prestação da empresa, transferiu-se à relação jurídica entre a empresa e o
cliente o que estava na relação jurídica entre o cliente e o servidor. Nessa, haveria o direito, sem pretensão e sem
ação. O direito contra o cliente desaparece com a transferência à relação jurídica entre a empresa e o cliente, de
modo que ao direito da empresa se somou o direito do servidor, que assim não mais o tem contra o cliente.
Tem-no, sim, contra a empresa, conforme os princípios que regeram a inserção da gorjeta no preco da prestação
da empresa.
Alguns estabelecimentos de restaurantes e bares impõem que as gorjetas recebidas pelos empregados sejam
postas em conta à parte, para que com elas se cubra a percentagem que o empregador prometeu aos empregados.
Se a percentagem figura na conta, e não é entregue ao empregado, compreende-se que tal expediente é contra a
moral (ilícito), pois o empregador receberia a percentagem mais o que foi dado ao empregado. Se a percentagem
não foi incluída na conta, o inconveniente de tal entrega é a ofensa à diversidade de valor dos serviços, pois as
gorjetas supõem maior ou menor satisfação pelos serviços prestados.
3.INCONSTRINGIBILIDADE CAUTELAR E EXECUTIVA. Não podem ser penhoradas, absolutamente, as
contraprestações por serviços (salários e soldadas em geral), como também os vencimentos dos magistrados,
professôres e funcionários públicos e o sôldo e fardamento dos militares (Código de Processo Civil, art. 942, VII,
1~a parte), salvo para pagamento de alimentos à mulher, ou aos filhos, quando o executado houver sido condenado
a essa prestação (art. 942, VII, 2a parte). Também não podem ser penhorados: as pensões, tenças e montepios
percebidos dos cofres públicos, de estabelecimento de previdência, ou provenientes de liberalidade de terceiro, e
destinados ao sustento do executado ou da família (art. 942, VIII) ; os livros, máquinas, utensílios e instrumentos
necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão (art. 942, IX).
Os bens que não podem ser penhorados também não podem ser constritos cautelarmente (cf. Código de Processo
Civil, arts. 675-688).
A propósito da impenhorabilidade e, pois, da inconstrangibilidade cautelar, já estatuia o Reg. n. 737, de 25 de
novembro de 1850, art. 529, §~ 2.049 e 6.0, e art. 530. Antes:
Alvará de 17 de julho de 1771, § 12; Alvará de 16 de março de 1775; Avisos de 27 de abril de 1780 e 24 de julho
de 1800; Ordenações Filipinas, Livro 1, Título 1, § 40; Leis de 17 de janeiro de 1766 e 10 de março de 1778;
Resolução de 3 de abril de 1828; Lei de 21 de setembro de 1763, § 13; Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 55;
Alvará de 22 de dezembro de 1623 e Lei de 24 de julho de 1773.
tar empresas de enormes rendas; o da indenização em caso de risco profissional. Ao lado de tudo isso, as
companhias de seguros não podiam fazer preços que correspondessem às possibilidades dos assalariados e
temiam os riscos prol isszoiuus.
Na técnica legislativa, o elemento da culpa para se verificar como pressuposto da responsabilidade civil tinha de
ser pôsto de parte, pelo menos diante de determinadas circunstâncias.
Teremos ensejo de expor o que se edictou, após legislação consolidada, no Decreto-lei n. 7.036, de 10 de
novembro de 1944.
4. RESPONSABILIDADE DO LOCATÁRIO DE SERVIÇOS PELOS DANOS SOFRIDOS PELO
LOCADOR. O Código Civil, a despeito das, insinuações que foram feitas, não regulou a indenização pelos danos
resultantes da atividade do locador, ou ocorridos durante ela. Em 1904, MEDEIROS E ALBUQUERQUE
apresentou à Câmara dos Deputados projeto de lei sôbre acidentes ocorridos a operários no exercício da profissão.
A matéria dos acidentes do trabalho e da responsabilidade pelos danos que êles causam, pôsto que suponham a
relação de trabalho, entra na parte do Direito das Obrigações que se refere à indenização dos danos por fatos
extracontratuais.
No século XIX, com a elevação do nível industrial, as maquinarias e as organizações econômicas que permitiram
as grandes empresas, o homem trabalhador, o empregado, passou a ser exposto a grandes riscos em
estabelecimentos para os quais os meios de indenizar seriam fáceis.

PRESSUPOSTOS DO CONTRATO DE

LOCAÇÃO DE SERVIÇOS

§ 5.040. Figurantes do contrato de locação de serviços

1.LOCADOR DE SERVIÇOS E LOCATÁRIO DE SERVIÇOS. Se atendemos a que nem sempre o recebedor


do trabalho é empresa industrial ou comercial, que estabeleça dependência (ri subordinação) do prestador de
serviços, a expressão “locação de serviços” é a que mais traduz a situação contratual do prestador de serviços que
não se “emprega”, nem se faz “empregado” no sentido da legislação do trabalho. Todavia, para não fugirmos às
leis (Código Civil, arts. 1.216-1.236; Código Comercial, arts. 7486; Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943,
especialmente arta. 1.o~12, 57-223, 442-625), chamamos
4
‟locação de serviços”, senso estrito, e não estritíssimo, os contratos de serviços que não são contratos de
trabalho.
Os figurantes do contrato de locação de serviços são os que prestam o serviço e os que os recebem. Temos, ai, o
prestador de serviços (locador de serviços) e o recebedor (locatário de serviços).

2.REFERENCIAS CONSTITUCIONAIS. (a) A Constituição de 1946 refere-se à legislação do trabalho sem


qualquer distinção entre o trabalho intelectual, técnico e manual ou entre o trabalho agrícola e os demais ramos de
atividade. Prevaleceu a símetrização que seria de mister, afastada a exceção do art. 121, § 4~O, da Constituição de
1934, que zurzimos com tôda energia. Exprobrando-a, escrevíamos (Comentários, II, 333) e convém que o
lembremos: “Para o efeito do art. 121 não há.distinção entre o trabalhador manual e o trabalhador intelectual ou
técnico, nem, objetivamente, entre o trabalho manual e o trabalho intelectual ou técnico (§ 2.0) mas o trabalho
agrícola ficou à regulamentação especial e a Constituição anuiu na grave injustiça de não prever qualquer
principio certo a respeito do trabalho agrícola. Diz apenas o § 4.0: “Regulamentação especial, em que se atenderá,
quanto possível, ao disposto neste artigo”. Sente-se o texto elaborado por proprietários rurais e a inexistência de
organização suficiente do trabalhador agrícola para exigir o respeito dos seus direitos. ~, Existe, portanto, grande
população rural, semifaminta e quase nua, quanto à qual pede ser que a lei não proiba a diferença de salário, por
alguns dos motivos da letra a) do § 1.0, nem para a qual se fixe salário mínimo, cujo trabalho possa ser excedente
de oito horas, ou para a qual os menores de 14 anos trabalhem ao sol e à chuva, ou durante a noite e nas zonas das
apavorantes endemias. . .2 Brasileiros natos, tôda essa gente pode ser Presidente da República (ad. 52, § 5.0), mas
não tem direitos, salvo quanto possível”. O “quanto possível” do art. 121, § 49, não afasta o judicial control,
nem a intervenção eventual do Senado Federal. A lei pode de tal maneira discrepar dos princípios da justiça e das
necessidades da vida nacional, a que se refere o art. 115, que prive os indivíduos da possibilidade de existência
digna. É, então, inconstitucional. A diferença entre regras cogentes e regras programáticas, entre regras
self-executing e regras que precisam de regulamentação, não significa que as regras programáticas e as regras
dependentes de regulamentação dêem arbítrio ao legislador para disporem como entendem. Absolutamente não:
quanto àquelas, porque, por definição, contêm um programa; quanto a essas, porque a lei as regulamenta, lhes dá
o corpo de princípios e todos ésses princípios não podem afastar-se do que contém, em suspensão, o estrito texto
constitucional. Ora, o art. 121, § 49, é programático. O “quanto possível” há de ser levado em conta, para que o
legislador, de regra, se atenha ao art. 121, § 19, e, somente quando não fôr possível adstringir-se a êle, poderá dêle
afastar-se. O papel da jurisprudência é, então, o mesmo que a respeito de quaisquer leis ordinárias.”.
Tôda crítica às leis, que se baseia em dados verdadeiros, concorre para o aperfeiçoamento do sistema jurídico.
A missão do intérprete das leis deve ir até à crítica de lege ferenda, pôsto que com o só intuito de contribuição
àtécnica legislativa e à posição científica dos problemas de edicção de normas jurídicas. Hoje, mais do que no
passado, há tempo para que se retome a tarefa legislativa e se atenda às sugestões de eliminação, ou de inserção,
ou de corrigenda do direito vigente. A nossa crítica ao texto de 1934 serviu para que, no art. 137 da Constituição
de 1937, já se levasse em conta o que expuséramos nos comentários ao texto de 1934, como aconteceu a respeito
de outras regras jurídicas que argúlramos de defeituosas ou de inconvenientes. A Constituição de 1946
conservou, acertadamente, a atitude de 1937.
(b)Com o trabalho, gastam-se energias humanas, ou humana.s e não-humanas, para se produzirem outras
energias, ou os resultados de energias. Consumir é adquirir energias, ou resultados de energias; usar é
empregá-las, quando já se tratam como objetos. O mínimo de trabalho é aquêle indispensávei à conservação da
vida (comer, beber e exercer outras atividades necessárias ao organismo), O animal trabalha para consumir ou
usar. A evolução social (animal e humana) já introduz a troca, que faz menos imediata ou mediata aquela relação.
Trabalhar tem por étimo tripalium, nome que, no latim popular, se fêz com o adjetivo tripalem, primitivamente
instrumento de tortura com três estacas, depois a tripeça em que se punham os bois para os marcar, ou ferrar,
donde o sentido de constranger, amoldar (cp. trabalhar o metal; trabalha-me o cérebro preocupa-me). É fantasia
derivá-lo de trabs, ou de tribulu, ou de trans-vigília, ou do címbrico trafod, ou do gaélico treab, ou do latim
popular trabare. Em Leges et Cansuetudines, 363 A. 1124 e 505 A. 1198, aparece trabalio e trabaliunt e é de todo
verossímil que haja existido, como supôe A. A. CORTESÃO (Subsídios, 1, 141), a forma intermédia “li-apaliu”,
de que sairam trabalho, trabajo, trava glio e travail.
O trabalho não é simples mercadoria, ou artigo de comércio. Daí não se tirem audazes, que publicizem a relação
jurídica entre o empregador e o empregado. Tanto mais quanto ficaria de fora o trabalho-obra, que escapa àquela
relação jurídica; o “le travail ne doit pas être considéré simplement comme une marchandise ou un article de
commerce”, que aparece no art. 427 do Tratado de Versalhes, de modo nenhum justifica que se faça de direito
público o contrato de trabalho, sem profunda recomposição da estrutura política do Estado. O trabalho não é
simples mercadoria, porque está próximo à personalidade e é elemento necessário a certos direitos (direito à
existência, direito ao mínimo vital, direito do repouso, direito ao salário mínimo), ou objeto de direitos
publicizados, alguns constitucionais (direito ao trabalho, direito à proteção do trabalho). Não é simples
mercadoria qualquer trabalho; não só determinado trabalho. Nem se há de excluir do conceito de trabalho o que
trabalho é, e. g., pesquisar, investigar, funções com que se multiplica a produtividade humana, como o dirigir e o
planejar.
Trabalha-se com a fôrça física, com a inteligência e com a vontade. Os três elementos juntam-se sempre, porém
pode haver preponderância de um, a tal ponto que o trabalho seja manual ou pedal, ou seja intelectual (direção,
organização, invenção, calculação , planejamento). O maior elemento intelectual que entra no trabalho corporal
ou físico distingue do trabalho corporal ou físico simples o trabalho qualificado. É ineliminável, no próprio
trabalho corporal ou físico simples, o elemento intelectual. Em todo esfôrço do homem para a produção há o
elemento corporal (e. g., o ato de escrever ou de desenhar), o elemento intelectual e o elemento volitivo, ainda
quando a vontade seja mais de outrem do que daquele que se põe a trabalhar, ou o mesmo se dê quanto ao
elemento intelectual. Levantar pêso de um quilo a um metro de altura é a unidade (quilogrâmetro) para se medir o
trabalho corporal, abstratamente tido como puro. Com isso não se mede o trabalho intelectual, nem sequer
serviria para o medir o número de palavras, de linhas, ou de páginas manuscritas ou dactilografadas, que
procedesse do escritor, do jornalista, ou do diretor de serviço.
Quando se consideram a natureza e o produto do trabalho como, temporalmente, à parte do consumo e do uso,
para produzir, ou em situação para produzir ou ser combinado com outro trabalho, capitaliza-se.
(c) Nenhuma diferença se pode fazer quanto a direito e deveres entre empregados manuais e intelectuais, ou entre
empregados de fábricas, de escritórios e agrícolas, salvo para se atender a alguma agravarão da responsabilidade
do empregador em virtude da natureza do serviço. O art. 157, parágrafo único, da ConstituIção de 1946, foi bem
o fruto das nossas críticas, desde 1934, aos que menosprezam o valor do trabalhador agrícola, trabalhador que
sustenta o luxo das capitais, ou dos lugares de deleite, esporte e descanso, pejados de gente que “depende” sem
“produzir”.
Ao trabalhador rural não fôra assegurado, pela Constituição de 1934, salário mínimo, nem o limite de oito horas
diárias, repouso hebdomadário, férias remuneradas, indenização por despedida e assistência médica e sanitária.
Prometeu-se regulamentação especial, tão-só. Na Constituição de 1937, não houve menção do trabalhador
agrícola; mas verdade é que a interpretação poderia concluir pela asseguração. Na Constituição de 1946, o art.
157, XII, assegura estabilidade e indenização por dispensa. Tem-se interpretado a regra jurídica do art. 157, XII,
como regra jurídica não bastante em si (não self-ezecuting), razão por que não se têm estendido aos empregados
rurais as regras da legislação ordinária vigente à promulgação da Constituição de 1946. Mas a regra jurídica é
bastante em si; e poderia qualquer interessado invocar a legislação sôbre os outros trabalhadores, porque o art.
7.~, b), da Consolidação das Leis do Trabalho passou a ser contrário à Constituição de 1946, se já não no era à
Constituição de 1937.
A expressão “exploração rural” abrange tôda exploração rural, e não só a agrícola. Desde que haja empregadores
e empregados, o art. 157, XII, incide. O adjetivo “rural” independe, aí, de espacialidade; trata-se de exploração
rural, em zona urbana, ou em zona rural.
A legislação do trabalho compete ao Congresso Nacional. Está explícito no art. 52, XV, a). Aliás, em se tratando
de seguros, é dupla a base constitucional da devolução da competência legislativa (art. 5~0, XV, b).

§ 5.041. Manifestações de vontade

1. VONTADE E SERVIÇOS. As manifestações de vontade com que se há de concluir o contrato de locação de


serviços não precisam ser expressas. Podem ser tácitas. Bastam, portanto, atos. Uma vez que pela conduta o
locador de serviços se manifestou e pela conduta se manifestou o locatário, concluído está o contrato. Os serviços
não se supõem prestáveis ou prestados gratuitamente, de jeito que, se houve a manifestação de vontade (“presto
os serviços”, “quero os serviços”), mesmo se nada se determinou quanto ao preço (a remuneração), tem-se como
querido o preço que a regra jurídica aponta (Código Civil, art. 1.218; Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de
1943, art. 460 e 461 e ~§ 1.0, 2.0 e 3.0).
Teremos ensejo de falar de normas que se originam de contratos, de usos e costumes, com que se enche o que está
aberto à autonomia da vontade ou estaria aberto. Nenhum dessas normas e nenhum dêsses usos e costumes se
co?~fundem com as regras jurídicas. A propósito, o problema mais sutil é o do art. 159, in fine, da Constituição
de 1946, a que dedicaremos aprofundada exposição.

2. LIBERDADE E SERVIÇOS. A propósito da locação de serviços, e não só por ocasião de se precisarem a


espécie e o conceito de contrato de trabalho, puseram-se frente a frente a liberdade de vontade em negócios
jurídicos, o auto-regramento da vontade (dito principio da autonomia da vontade), e a defesa dos interesses do
trabalhador por cima dêsse princípio. A necessidade dos meios de existência e a liberdade dos toma-dores de
serviços criaram óbices a que o auto-regramento da vontade bastasse à solução dos problemas da vida humana,
física e psíquica. Uma das soluções foi a aparição do contrato coletivo, em que são iniciadores grupos, em vez de
individuos. Outra, o exsurgimento das tarifas e, pois, do contrato tarifário, que por vêzes, porém não
necessáriamente, se imbute no contrato coletivo, até que tarifas voluntárias se transformaram em tarifas
cogentes, impostas pelo Estado. O contrato de trabalho, senso estrito, foi ramo do contrato de serviços, que se
diferenciou e tomou tal altitude e largueza que estabeleceu ramo específico do direito.
3. PRAZO DO CONTRATO. Lê-se no Código Civil, artigo 1.220: “A locação de serviços não se poderá
convencionar por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de dívida do locador, ou
se destine à execução de certa e determinada obra. Neste caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por findo o
contrato, ainda que não concluída a obra (ad. 1.225)”. Ao contrário de muitos Códigos Civis, e. g., o francês, art.
1.780, o espanhol, ad. 1.583, e o português, ad. 1.371, o Código Civil brasileiro limita a quatro anos o prazo dos
contratos de serviços. No Código Civil alemão, o § 624 permite-os por mais de cinco anos, porém estabelece a
denunciabilidade (denúncia vazia), após o decurso de cinco anos, se o prazo excede de cinco anos. No Código
suíço das Obrigações, art. 351, segue-se a mesma solução técnica, com a denunciabilidade após dez anos se o
prazo é superior a dez anos. O prazo para o efeito da denúncia é de seis meses, tanto no Código Civil alemão
como no suíço.
A ratio legis para as limitações dos prazos dos contratos de serviços é o ser contra a liberdade individual a
restrição excessiva. Enquanto o Código Civil alemão e o suíço apenas estabelecem a denunciabilidade vazia, o
Código Civil brasileiro tem como sanção contra o prazo excedente a nulidade parcial:
o contrato não tem duração de mais de quatro anos, se o prazo convencionado foi maior.
Surge o problema de se saber se a regra jurídica do ad. 1.220 do Código Civil incide a) somente contra o locador,
ou 1>) contra o locador e o locatário. No Código Civil alemão, § 624, há explicitude: o locador é que pode
denunciar, livremente, se o prazo é maior do que cinco anos. Idem, o art. 351 do Código Civil suíço. A solução a)
foi a que deu CLÓVIS BEVILÁQUA (Código Civil comentado, IV, 406). No mesmo sentido, a 2a Câmara Civil
do Tribunal de Apelação de São Paulo, a 18 de fevereiro de 1941 (E. dos fl, 132, 216). Não nos parece que tal
interpretaçao seja acertada: a ratio legis está na proteção do promitente dos serviços, e não na proteção da pessoa
que se vincula à contraprestação. A interpretação do art. 1.220 do Código Civil brasileiro, devido ao próprio
sistema lurídico (e. g., art. 145, V), tinha de ser como de regra jurídica de que resulta sanção de nulidade. Para que
tal invalidade somente pudesse ser alegada pelo locador de serviços seria preciso que houvesse regra jurídica
escrita, ou derivasse de algum principio especial.
O art. 1.220 do Código Civil, como o § 624 do Código Civil alemão e o art. 351 do Código suíço das Obrigações,
é jus cogens. A renovação é permitida; e há a prorrogabilidade, por tempo indeterminado, se a prestação de
serviço continua por livre manifestação de vontade, embora tácita, do prestador de serviço e do recebedor.
Se o prazo era de mais de quatro anos, o que recebe os serviços pode recusá-los quando já excessiva a duração
estipulada. Para o prestador dos serviços há prorrogação; para o outro figurante, o limite existe e êle está
vinculado enquanto não se esgota. Se o promitente do serviço atende à regra jurídica do art. 1.220 do Código
Civil, liberado fica o outro figurante. Assim, se o prazo, contra êsse, expira, a prorrogação somente pode ocorrer
com a manifestação de vontade dos dois figurantes.
O ad. 1.220 do Código Civil não é invocável em se tratando de contrato de dação de serviço de outrem, ainda que
o figurante também preste serviço. O assunto foi discutido nos tribunais, mas faltou a caracterização do contrato.
Assim, a 4,~ Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 1.0 de junho de 1950 (R. dos T., 188, 141),
aludiu a julgado anterior (2.a Câmara Civil, 19 de novembro de 1946, R. dos T., 165, 752), em que se negou
incidência do ad. 1.220 quando não se trata de “prestação de serviços exclusivamente pessoais”. O acórdão, a que
se referiu, fala de “execução de outras avenças em que a autonomia das partes é assegurada em razão mesmo da
natureza do negócio”, o que peca por obscuridade. Na decisão da 5a Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São
Paulo, a 23 de maio de 1947 (R. dos T., 169, 250), o contrato era de empreitada, e foi impertinente julgar-se que o
ad. 1.220 regia a espécie.
Para que o art. 1.220 do Código Civil não seja invocável não basta que o serviço tenha de ter ajuda ou colaboração
de outrem, é preciso que não se trate, in casu, de contrato de locação de serviços.

§ 5042. Prestação de serviços

1.SERVIÇO QUE TEM DE SER PRESTADO. O serviço ou é inerente à finalidade do contrato, ou está
mencionado no contrato, ou ficou sem precisa determinação. Lê-se no Código Civil, art. 1.224: “Não sendo o
locador contratado para certo e determinado trabalho, entender-se-á que se obrigou a todo e qualquer serviço
compatível com as suas fôrças e condições”. A lei apenas supõe que o serviço seja “certo e determinado” (e. g.,
lições de latim, ou de matemática, ou de álgebra, ou de aritmética; dactilografia; passagem a ferro; cozinha;
arrumação da casa; limpeza dos vidros e mobiliário), ou não no seja (doméstica para todo serviço, caseiro). Se no
que se mencionou como serviço cabe algum que não se previu, o art. 1.224 do Código Civil incide. Assim, mesmo
quando se disse qual o serviço, pode acontecer que algum serviço se haja de incluir. A regra jurídica também está
no Código Civil português, ad. 1.375: “Não sendo o serviçal ajustado para certo e determinado serviço,
entender-se-á que é obrigado a todo e qualquer serviço compatível com as suas fôrças e condição”. Cf. Código
Civil mexicano, ad. 2.240. Já nas Ordenações Filipinas, Livro IV, Titulo 31, § 12, se dizia que “o escudeiro,
pajem ou outro criado deve servir a seu amo em todo o ministério, que lhe mandar”, razão por que, se alguma vez
serviu em função mais alta, não podia pedir salário maior.

2.HORÁRIO DO SERVIÇO. Há limitações às horas de serviço e há horários, O assunto exige diferentes


exposições que merecem concentração na parte mais própria à explanação, que é pouco antes daquela que cogita
do contrato de trabalho.

§ 5.043. Contraprestação a quem presta serviços

1. CONCEITO. Diante da diversidade de expressões que aparecem a propósito daquilo que recebe ou há de
receber quem presta serviços, é da maior relevância precisarem-se os conceitos.
a) Remunerar é prestar o igual, o símil, o equivalente (simillimo munere). Emprega-se a expressão em senso
largo, que não é somente o de dar a contraprestação de serviços. Ora aparece como coextensivo a vencimentos,
ora a ordenados, ou a outras contraprestações conceptualmente menos amplas. Quando as leis estão a referir-se a
contraprestações precisas, mas a que se juntam outras, a expressão “remuneração” serve para também se referir a
essas. Porém, mesmo em tais espécies, para que não se compreendam tôdas as que podem ocorrer, é de usual
técnica legislativa acrescentar-se adjetivo ou proposição que restrinja, satisfatôriamente, o conceito. E. g.:
remunerações ordinárias, remunerações extraordinárias, remunerações de festas, remunerações mensais,
remunerações anuais.
(Remunerar é palavra que entrou em algumas línguas neolatinas entre o século XIV e o século XV. Vem de
reinunere, latino, que supõe algo que se há de dar, jurídica ou moralmente, como contraprestação, ou sem
qualquer dever. Mun?Ls era encargo, pôsto político. Pense-se em communis, que alude à reciprocidade; em
immunis, que frisa a ausência de vínculo, a inatingibilidade; e em municipium.)
1-lá remunerações que não se relacionam com o contrato de trabalho. Há remunerações extranegociais. Há
remunerações, que, mesmo no contrato de trabalho, não são devidas.
No contrato de trabalho, remuneração devida é a de que se fala no art. 457 e §§ 1.0 e 22 do Decreto-lei n. 5.452.
Temos, portanto:
a)Remuneração, devida, do trabalho = salário A- elementos integratívos do salário (comissões devidas,
percentagens devidas, diárias devidas, abonos devidos).
b)Salário prende-se, etimolôgicamente, a saiem, a sal, como salada, saliva, salmoura. Paga-se com sal. Supóe-se
que baste para o sustento. Daí a política do salário mínimo, para que, segundo o que o legislador apreciou nos
preços e nas necessidades, o salário não seja inferior ao que o prestador de serviços tem de despender para viver
sem fome e com alojamento e vestes. A observação de que não seria suficiente para a família sugeriu o
.salário-familia.
Para que a comissão, a percentagem, as gratificações, as diárias para viagens e os abonos pagos pelo empregador
integrem o salário, é preciso que sejam cumprimento de dever. Dever jurídica, e não sómente moral.
Têcnicamente, são salário as comissões, as percentagens, as gratificações, as diárias para viagens e os abonos
pagos pelo empregador se houve vinculação dêsse, quer unilateral, quer bilateral. A manifestação de vontade
pode ter sido expressa ou tácita. Se as circunstàncias não permitem que se tenha por vinculado, para o futuro, o
empregador, como se, por ocasião do acontecimento que lhe causou júbilo, êle distribui percentual, ou outra
quantia, não há pensar-se em integração de tal prêmio no salário. O que o empregador entregou, na ocasião de
grande lucro e esfôrço emergencial dos empregados, é prestação a que o empregador não estava vinculado, nem
com ela se vincula. Fora dai, só há a espécie da fixacão por sentença, se assim o permite a lei. Sem o dever, por
parte do empregador, não há prestação, feita pelo empregador, que se integre no salário. Não basta que seja
habitual, ou repetida.
Quando o empregador, no fim do ano, dá o que quer dar, não assume dever. Há doação, contrato real. O que se
deu está dado. Não se prometeu, no futuro, repetir o ato de dar. Se se houvesse prometido, ter-se-ia considerado
devido o que se iria prestar.
A política jurídica da integração, no salário, de recebimento pelo empregado suscitou certa discrepância entre o
sentido de algumas palavras, antes da integração, e o sentido posterior, quando a prestação do empregado já se
integrou no salário. A palavra “gratificação” dá exemplo disso. Quem gratifica presta espontâneamente, sem ter
dever de prestar. No entanto, no art. 457, § 1.0, da Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-lei n. 5.452, de
1.0 de maio de 1943), as gratificações ajustadas são salário, prestação devida ao empregado.
c)Vencimento é o que a pessoa, que presta serviço, vencecom o seu trabalho. Supõe duração, e não o ato
punctual; porém não só abrange o ordenado, o sôldo.
A percentagem nas multas, os prêmios por maior resultado, as ajudas de custo, o que se percebe por ato praticado,
não são vencimento. O vencimento fecha período, ou prazo determinado, alude a têrmo, razão por que se fala de
vencimento do servidor e de vencimento da dívida. Os vencimentos ou são semanais, ou mensais, ou trimestrais,
ou de outra porção de tempo.

d) Ordenado é o que o servidor vence em ordem, com tempo determinado e preciso. Nêle não entram as ajudas de
custo, as antigas “ordinárias” (que eram as pensões ou mantimentos periódicos, cf. Alvarás de 20 de outubro de
1605, de 28 de março e de 13 de agôsto de 1615> e os emolumentos (lucros que se tiram do cargo, inconfundíveis
com os ordenados e as rendas fixas, cf. Ordenações Filipinas, Livro V, Titulo 72).
O vencimento, o ordenado, ou o sôldo, é o equivalente em dinheiro, do serviço que, por dever, o funcionário
público tem de prestar. O dever de servir, o dever da prestação, nasce com a nomeação e a entrada em exercício;
o dever de pagar o vencimento, o ordenado, ou o sôldo, deriva de ter sido investido no cargo o funcionário público
e é correspondente ao tempo que dure o dever do funcionário público, dentro de períodos prefixados (semana,
mês, ano; ordinàriamente, mês). Pôsto que a relação jurídica seja de direito público, o que a distingue das relações
jurídicas dos contratos de locação de serviços e de contratos de trabalho, não se há de ir ao extremo de assimila à
indenização que o Estado paga pela desapropriação (sem razão, N. T. voN GÓNNnt, Der Staatsdienst aus dem
Gesichtspunlcts des Rectas ii. der Nationat.Oeconomie 1*-trachtet, 104). Nem, tão-pouco, reduzi-la a renda
alimentícia, como pensavam PAUL LABAND (Das Staatsrecht, 1, 478), R. VON JHERING (Der Zweck im
Recta, 11, 201) e PH. ZÚRN (Das Staatsrecht, 2a ed., 318). É de observar-se, diante da Lei n. 4.069, de 11 de
junho de 1962, art. 8.0, que mais se veio, no sistema jurídico brasileiro, acentuar o que há de locação de serviços,
de contrato de trabalho, no contrato entre o Estado e o funcionário público.
e)Sóldo é a paga do soldado, em moeda, dita nos documentos anteriores à monarquia portuguêsa “solidus”. No
sentido de contraprestação ao militar só se empregou tal expressão posteriormente.
f)Custas são as despesas feitas em processo. Devem-se por ato do que funciona no procedimento. São os
emolumentos dos que praticam atos que a abertura e a incoação processual exigem. Quando se fala de
vencimentos, não se alude às custa& Pode existir direito às custas, ao lado do direito aos vencimentos, aos
ordenados; como pode ser a remuneração única. Se alguma regra jurídica tem de abranger vencimentos e custas,
é preciso que haja explicitude.
g) Emolumento é o que se percebe de lucro correspondente a ato. O étimo está em mola, pedra de moer; de molete,
moer, veio o latim emotument um, que já se empregava em sentido mais vasto do que o de paga pelo ato do
moleiro. Na língua portuguêsa, manteve-se a ligação ao ato, em vez de ao tempo de serviço, ou a qualquer
periodicidade. De regra, os emolumentos eram fixados por ato, em taxas. No emolumento há elemento de
casualidade, que não se encontra no vencimento ou no ordenado.
h)Abono, como abonar, abonação, abonamento, abonador, supõe fazer bem, melhorar, assegurar. Na linguagem
jurídica, “fazei boas” as contas, ou as assinaturas, ou “fazer bons‟> os negócios, é confirmar o que se manifestou.
É possível que o “abona?‟, o “abonamento”, a “abonação”, que aparecem na língua portuguêsa, nada tenham com
o francês “abonner” (1306), ou o “abonnement”; e o “desabonner” francês não se poderia traduzir por
“desabonar”. O étimo de “abonner” é bodue, bosne, borne, talvez do gálico botina.
Abonar é dar como bom. Abonar é, portanto, assegurar a autenticidade da firma, ou o adimplemento pelo devedor
(ou fiador, Código Civil, art. 1.482). Abonar também é adiantar, porque quem abona confia, em vez de assegurar,
mas atende ao importe do que o empregado tem a receber.
i) Vantagens pecuniárias são todos os lucros que alguém recebe em pecúnia, isto é, em moeda corrente ou valor
que corresponda à moeda corrente. Podem ser fixas ou fiáveis , conforme são prestações determinadas ou
determináveis. Se se fala de vantagens pecuniárias fixas, pré-excluem-se as que não . são fixadas, mesmo que
sejam fixáveis. A quota percentual ou não em multa que alguém aplicou, ou a que deu ensejo a que se aplicasse
a outrem, não é vantagem pecuniária fixa.
Está em MANUEL ÁLVARES PÊCAS (Resolutiones Forenses, IV, 86 e 110) : “Accedit quod cum tunc inter
Actores et Reuni vergeret amicitia, et haec asIlaria reputentur pana, praesumitur donatio Se só prestou por
amizade, não se deve o. salário, porque o que se prestou foi em doação. Se quem receIlou tinha prestado serviços,
que se haviam de ter como graciosos, o que se deu foi com ânimo de gratificar: ..... negotia gratiose f acta
praesumuntur, hoc est, gratificandi animo, cum etiam ex antidorali obligatione remuneratio nascetur”.
j) Proventos são lucros que de algum fato provêm, para alguém. A despeito do que se lê em dicionários, nada,
etimolôgicamente, tem “proventos” com “proveitos”. Proveito, francês profit, italiano profitto, espanhol
provecho, prende-se a »rojicere (profectus) ; em documento de 1285 ainda se diz “profeito”. Provento, de
provenire (proventus). O sentido usual é largo, razão por que se costuma adjetivar o provento: e. g., proventos em
bonificações de ações; proventos em safra maior do que se esperava quando se compraram os frutos; proventos
pagos diàriamente, proventos pagos mensalmente.
k) Participação em multa é o que do importe da multa se atribui, percentualmente ou não, ao servidor público.
1)Participação na arrecadação de tributos é o que se atribui ao servidor público, percentualmente ou não, pela
sua atividade normal na arrecadação. As leis dizem qual a arrecadação de que se trata, e. g., pela incidência de
determinado impôsto ou de determinados impostos, ou pela incidência de determinada taxa, ou de determinadas
taxas, ou pela incidência de determinada contribuição, ou pela incidência de determinadas contribuições.
m)Jornal é a remuneração por dia. Diária diz o mesmo.

2.CONvENÇÃO E LEI. A remuneração pode ser convencionada, não só em dinheiro como em dinheiro e outra
qualquer contraprestação, ou em qualquer outra prestação sem haver parte em dinheiro. Há remuneração limitada
em lei.
Se nada se convencionou, expressamente, sôbre a contraprestação, ônus de alegar e provar que incumbe a quem
se vinculou a servir, tem-se de entender que se convencionou a contraprestação usual no lugar em que se prestou,
ou se presta ou se há de prestar o serviço; salvo se existe taxa fixada (ts taxa forçosa), ou taxa dis positiva, que ai
são objeto de ius dispositivum, ou taxa interpretativa, que é a taxa que se reputa convencionada em caso de
dúvida.
O quanto da contraprestação pode também ser determinado por alguma cláusula de contrato normativo, espécie a
que dedicaremos capítulo especial ao falarmos do contrato de trabalho~ ou resultar de aplicação de algum critério
que normativamente se haja estabelecido.
Se não há taxação, nem uso local, nem se pode tirar de algum fato ou de alguns fatos o que se convencionou, nem
os interessados acordaram, após o contrato, quanto à remuneração, tem-se de fixar por arbitramento (Código
Civil, art. 1.218).
Nada obsta a que se determine por percentagem sôbre o lucro, ou o preço de alguma obra, o que se há de
contraprestar a quem presta os serviços.
De ordinário, fala-se de contrato de locação de serviços ou somente contrato de serviços como contrato de serviço
retribuido; mas, aí, evidentemente, se põem de parte os contratos de serviços que não são de locação e os
contratos de trabalho, que se diferenciaram. Quanto à última espécie, precisamos separar a opinião de inre
condito e a opinião de iure condendo. Pensamos que se marcha para regime unitário do contrato de trabalho e que
se faz mister legislação que abranja todos os contratos de locação de serviços (contratos de serviços, com
emprêgo e contratos sem emprêgo, e todos os contratos a que hoje se refere a legislação do trabalho, onde aliás se
reflete a mutação evolutiva). O que verdadeiramente se passa é que, diante do princípio de isonomia, já se há de
considerar obsoleto o trato desigual, quanto aos que prestam serviço remunerado como serviço, e não como obra,
principalmente no campo do direito público.
Há remunerações que não se relacionam com o contrato de trabalho. Há remunerações extranegociais. Há
remunerações, que, mesmo no contrato de trabalho, não são devidas.
A retribuição pelo trabalho pode constar de cláusula contratual, o que é o mais freqúente, seja individual ou
coletivo o contrato, ou de contrato normativo, ou de lei. A prática das fixações de salários mínimos em decretos é
sobrevivência dos dos govêrnos ditatoriais de 1980-1984 e 1937-1946, e atravessou os anos posteriores a 1946, a
despeito da Constituição de 1946, e não é de surpreender que se permaneça na infração da Constituição de 1946,
de 1964 em diante.
Pôsto que, para se referirem ao contrato coletivo de trabalho, alguns sistemas jurídicos aludam ao pressuposto de
se tratar de negócio jurídico de entidade sindical ou outra (ou recebedor individual de trabalho), e outros
acentuem o tabelamento, a tábua, a tarifa, temos de precisar o conceito para que não se leve o sistema jurídico a
graves confusões.
Primeiramente, frisemos que o contrato normativo, em sentido exato, é pré-contrato ou fórmula para contratos
individuais, que se há de observar nos contratos em que, a propósito de determinadas prestações, determinadas
pessoas tenham de concluir. NAo se tire de tal afinidade entre o contrato coletivo e o contrato normativo que
sejam o mesmo contrato (e. g., RENAm BALZARINI, Problematica deI Contratto collettivo dei lavoro, Studi di
Diritto dei lavoro, 148 s.) - O contrato coletivo supõe dependência do figurante à empresa, grupo ou grupos
organizados, e a pluriatividade subjetiva coberta por unitariedade.
A propósito do contrato normativo, faz-se, adiante, exposição minuciosa, pôsto que breve, em capítulo especial.
O que importa é que já se encontre, ao concluir-se contrato de trabalho, regra de origem negocial que se haja de
observar. De certo modo já se manifestou vontade, que entrou no mundo jurídico e criou vínculo jurídico à
observância. Não há, aí, normatividade legal, como há na regra jurídica oriunda de lei, nem a normatividade
regulamentar, que provém de decretos e regulamentos, nem regimental.

3.PREÇO DO SERVIÇO (Código CIVIL, ART. 1.2118). Lê-se no art. 1.21B do Código Civil: “Não se tendo
estipulado, nem chegado a acôrdo as partes, fixar-se-á por arbitramento a retribuição, segundo o costume do
lugar, o tempo de serviço e a sua quantidade”. O arbitramento judicial ou extrajudicial só é exigido se o locador de
serviços não aceita o que o locatário de serviços quer prestar de conformidade com o costume do lugar, o tempo
de serviço e a sua qualidade. Se o locador recebe e não se satisfaz com o que recebeu, por ser contra o costume do
lugar, o tempo de serviço e a qualidade dêsse, cabe-lhe suscitar, judicial ou extrajudicialmente, o arbitramento.
O art. 1.218 do Código Civil atende a que, por vêzes, quem precisa servir para ganhar o necessário à subsistência,
deixa de exigir que se diga qual o salário. Já as Ordenações Filipinas, Livro IV, Titulo 29, pr., cogitavam de
domésticOs, homens ou mulheres, que serviam sem avença de certo preço, ou quantidade, ou outra coisa, que
haja de haver por seu serviço”, casos em que o locatário (“o amo e senhor”) era obrigado a pagar ao que serve “o
serviço que fêz, havendo respeito ao tempo, que serviu, e à qualidade do criado e do serviço”. No § 1, estendia-se
a regra jurídica ao “serviço, que comumente se costuma fazer por soldada, ou jornal; porque poderá o amo ser
demandado em juízo para pagar o serviço, como sempre se costumou pagar semelhante serviço nessa Comarca”.
A fonte está nas Ordenações Afonsinas, Livro IV, Titulo 28, onde se fala de alguém estar a servir “sem fazendo
avença algua por certo preço, ou quantidade, ou alguã outra cousa, que aja d‟aver pelo serviço que assy fizer‟,
mas a solução era a de se contentar com o que lhe desse o amo ou senhor, “ca pois elle quis seer contente daqueilo,
que lhe seu amo, ou senhor dar quizesse polo serviço, que lhe ouver feito, e em seu poderio foi partir-se deile
quando lhe aprouvesse, se o nom contentava razoadamente do serviço, que lhe assy fazia”. Quanto ao § 1, a regra
jurídica já era a mesma, “cabem parece justa razom, que tal serviço se pague, assy como geralmente se costumar
em essa Comarca de pagar similhante”. Afonso V alude ao que o pai costumava julgar. Nas Ordenações
Manuelinas, Livro 11V, Título 19, mantinha-se a solução das Ordenações Afonsinas, de modo que a inovação é
das Ordenações Filipinas.
O Código Civil alude ao arbitra , no qual o arbitrador ou os arbitradores hão de atender ao costume do lugar, ao
tempo e à qualidade do serviço. Se há salário minino , evidentemente tem de respeitar a regra jurídica de limite.
Se há tarifa, o que se há de entender é que por ela se guiaram os contraentes.
Não se precisa recorrer à figura da ficção para se interpretar o art. 1.218 do Código Civil, ou o § 612 do Código
Civil alemão (cp. JoSEl~‟ ESsER, Wert nnd Red,euntuflq der Rechtsfiktionen, 52 s., e Lehrbuth des Sehiddrechts,
287). O legislador redigiu a regra jurídica porque seria extraordinário que alguém prestasse ou prometesse prestar
serviços gratuitamente. Se a pessoa a quem se prestam serviços ou se promete a prestação de serviços
expressamente ou tácitamente se manifesta contra qualquer retribuição, não há pensar-se em contrato de serviço,
como seria absurdo que exigisse retribuição quem manifestou, expressamente ou tâcitamente, que queria
prestá-los gratuitamente.
O que mais importa é que se parta do principio de que se presume retribuído o serviço, qualquer que seja. O
próprio filho que trabalha para o pai depois de chegar à idade em que pode trabalhar para alguém tem direito à
remuneração, mesmo se decorreram anos de serviços e se advém a morte do pai. Foi assim que se julgou, no Juízo
de Reguengo da Carvoeira (Portugal>, a 8 de setembro de 166$, e Senado da Suplicação confirmou.
ou taxação coerciva, ou tarifa obrigatória, tem incidência como preço único, ou como preço máximo. Todavia,
há a) tabelamentos dispositivOS, taxações ou tarifas dispositiVas, que apenas têm de ser respeitados se não houve
convenção dos interessados que afastem a observância, há b) os tabelamentos subsidiários, ou taxações ou tarifas
subsidiárias que apenas são atendidos se nada se convencionou e não se chega a solução que os interessados
admitirem, e há e) os tabelamentos Cogentes , ou as taxações ou tarifas cogentes, que pré-eliminam qualquer
acordo em contrário.
Os usos do lugar são os usos do lugar em que se prestam os serviços, não o do domicílio do locador de serviços ou
de quem os recebe. Em todo caso, pode haver elemento pessoal que afaste o nível do uso do lugar, como se o
serviço é por parte de especialista notável, como o grande médico que está de passagem, ou o professor que
postuma cobrar preço elevado.
Pode ser de uso no local, ou ser convencionado, que se pague com alguma quota no lucro, bruto ou liquido, com
que se introduz o elemento parciário no contrato de serviços.
“A retribuição”, diz o Código Civil, art. 1.219, “pagar-Se-á depois de prestado o serviço, se, por convenção, ou
costume, não houver de ser adiantada OU paga em prestação”. Se há período, óbvio é que se pague ao terminar
cada período. Trata-se de ius dispositivutfl (para L. ENNECCERUS-H. LEHMANN, LehrbuOh, II, 480, a regra
jurídica é interpretativa). Pode a convenção ser tácita (OPTO WARNEYER, Kommeittar, 1, 1.013; P1{XLIPP
LOTMAR, Der Arbeitsvertfl‟,g, 1, 387).

O art. 1.219, como o § 614 do Código Civil alemão, incide em caso de contraprestação não pecunaria (preço em
bens), caso em que é difícil se estipular a antecipaçãO (l1‟AIJL OERTMANN, Das Recht der Schu1dverUIltn~,
679).
Ao locador de serviçoS, que tem de prestar primeiro, não cabe exceção nou adimpieti contflictus, mas pode dar-se
que tenha a exceção de seguridade (Tomo XXVI, §§ 8.129-3.131), ou o direito de retençãO (HORST RRAIME
Geqenseitige Vertriige, 89; sem razão, II. DERNBURO, Das siirgeriiche Redil, li, 2, 481, nota 12).
Quanto à quantia ou outro valor que se há de pagar, o contrato tarifário não suscita questão: há a tarifa, que tem
de ser atendida. Tarifa é a regulação estatal da retribuição (por lei, ou por autoridades a que a lei dê tal atribuIção
determinadora de quanto).
Se há tarifa ou taxa, que seja de direito cogente , não há invocabilidade do art. 1.213 do Código Civil, porque, por
fôrça do próprio conceito de tarifa co gente ou taxa cogente, falta o pressuposto de não se ter determinado o
preço. Se o quanto legal ou regulamentar enche o suporte fáctico, não há vazio, a que se tenha de buscar
enchimento. Se a tarifa ou taxa éprivada, na dúvida entende-se ter sido admitida pelos interessados (WALTHER
SIGEL,
Se quem prestou ou tem de prestar os serviços alega existir taxa ou tarifa, ou que ela, na espécie, não foi
observa-se por ter havido outra determinação permitida de preço, tem o ônus da prova (A. STÓLZEL, SchuUtflg
filr die civiitStiSO)~ praxi,s, 1, 55).
Se há regra jurídica que determine a taxa, ou pela qual se haja de determinar a taxa, não há ônus da prova para os
interessados, porque o juiz tem de conhecer a lei. Jura novit ruma.

~5.044. Forma do contrato de locação de serviçOS

1.FORMA . Os contratos de locação de serviços podem ser concluídos por escrito, ou oralmente. Não há
exigência de forma especial, salvo se alguma lei o exige para determinado serviço.
O art. 1.217 do Código Civil estatui: “No contrato de locação de serviços, quando qualquer das partes não souber
ler, nem escrever, o instrumento poderá ser escrito e assinado a rôgo, subscrevendo-o, neste caso, quatro
testemunhas”. Nio havia no direito anterior tal permissão explícita, pôsto que, em alguns Estados-membros, se
usasse o contrato firmado a rôgo, ou com assinatura de cruz..

O art. 1.217 não há de ser interpretado como se vedasse a conclusão oral do contrato de locação de serviços. O
contrato de locação de serviços quase sempre se conclui por manífestações orais ou mesmo tácitas de vontade. A
respeito dos recibos de salários, a consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de
1948, art. 463) estabeleceu: “A prestação em espécie do salário será paga em moeda corrente do país”. No
parágrafo único: “O pagamento do salário, realizado com inobservância dêste artigo, considera-se como não
feito”. No art. 614, diz-se que “o pagamento do salário deverá ser efetuado contra recibo, assinado pelo
empregado: em se tratando de analfabeto, mediante sua impressão digital, ou, não sendo esta possível, a seu
rôgo”. Não se fala de quatro testemunhas, o que foi excesso do legislador de 1916. No caso excepcional de não se
poder receber com a escrita, ou com a impressão digital, basta que alguém assine a rôgo.
A afirmação de que relação de trabaLho possa surgir sem contrato de trabalho, porque há relações sociais que
não resultam de contrato de sociedade, tem de ser repelida; porque a relações que dai resultam são relações
derivadas de atos que atingem a terceiros, e não só interessam às pessoas em contacto. Falar-se de relação jurídica
de trabalho sem que se suponha existir contrato de trabalho de que se irradie é revelador de grave ignorância do
direito. somente pode ser com o consentimento do autor do projeto ou do plano.
Se a elaboração foi feita pelo oferente do serviço e pelo futuro empregador, ou alguém por êle, é quixestio facti a
de se saber se há direito autoral do oferente do serviço.
2. PLANO ou PRoGRAMA E CONCLUSÃO DO CONTRATO De LoCAÇÃO DE SERVIÇOS. Se, antes do
contrato de locação de serviços, quem os haveria de prestar elabora projeto ou plano e o contrato não se conclui,
o aproveitamento pelo empregador

§ 5.046. Proibições que não contaminam o contrato

1.REGRAS JURíDICAS CONSTITUCIONAIS. A proibição de diferença de salário por um mesmo trabalho, ou


por motivo de idade, sexo, ou nacionalidade, ou estado civil (Constituição de 1946, art. 157, II), não é causadora
de nulidades do contrato de locação de serviços ou de trabalho. Apenas nasce a pretensão de quem foi prejudicado
à cobrança da diferença e à equiparação .
Outra regra jurídica de que não advém invalidade do contrato de locação de serviços, ou de trabalho, é a do art.
157, III, da Constituição de 1946, onde se estabelece que o “salário do trabalho noturno” há de ser “superior ao do
diurno”. A lei ordinária há de prever a proporção. Se o não previu, cabe ao juiz competente julgar, após
arbitramento, qual a diferença devida e a ser devida.

2. DURAÇÃO no serviço. A duração do serviço não pode ser superior a oito horas, salvo nos cases que a lei
prevê (Constituição de 1946, art. 157, V).
Tem o locador de serviços, que os presta por semana; ou mais, direito ao repouso semanal <Constituição de 1946,
art. 157, v~, lA parte). Outrossim, às férias anuais remuneradas (art. 157, VII) e à assistência sanitária, inclusive
hospitalar e médica preventiva (ad. XIV, lA parte).
CAPÍTULO IV

EFICÁCIA DA LOCAÇÃO DE SERVIÇOS

§ 5.047. Deveres e direitos do locador de serviços

1. PREcIsÕEs. O conteúdo, tempo e modo de prestar os serviços regulam-se, principalmente, pelo contrato, com
as suas cláusulas expressas ou tácitas, sendo de relêvo as cláusulas tácitas. Por isso é de suma importância
conhecer-se o ambiente em que se presta o serviço, para que se atenda aos usos do tráfico, às circunstâncias e aos
gostos individuais do recebedor de serviços. O mesmo serviço pode ter de ser feito diferentemente para duas ou
mais pessoas. Em certos serviços, a intervenção de quem os quer não pode ocorrer, como é o caso de serviços
técnicos especializados. Noutros, o prestador de serviços atende ao que lhe diz o interessado, às vêzes sem
conhecer, sequer, a finalidade.
Em alguns contratos de locação de serviços, a liberdade do prestador de serviços é mais larga, como acontece com
o médico e o advogado, que, em caso de prejuízo ou dano, não pode atribuir ao cliente ter dado instruções erradas.
No contrato de locação de serviços dependentes (e. g., nos contratos de trabalho senso estrito), o prestador tem de
observar ordens e regras internas. Por vêzes, há o dever de segredo , o dever de revenir os danos prováveis, o
dever de cautela.

2.DEVER DE PRESTAR O SERvIÇO. Se há cláusula de serem ou poderem ser prestados os serviços com o
auxílio de outros, fica afastado o principio da pessoalidade da prestação de serviço (zz de só se tratar de serviço
prestado pela própria pessoa que se vinculou); salvo se há prestação do serviço de outrem, o que desfiguraria o
contrato de serviços.

O outorgante tem o dever de serviço, dever de prestar o serviço, dever que ARTHUR NIKISOH (Arbeitsrecht,,
2Y ed., 239 s.) tentou distinguir do dever de trabalho. Para êle, da relação jurídica de trabalho irradiam-se o dever
de serviço (Dienstpflicht), que consiste em ter o empregado de entrar no serviço do empregador, e o dever de
trabalho, que é o de, estando em serviço, trabalhar, portanto de executar o que lhe incumbe, durante o tempo da
relação de trabalho. Seria atinente àquele o caráter pessoal da vinculação (prestação em pessoa), ao passo que, no
tocante ao dever de trabalho, o que um dos empregados pode fazer o outro também pode, se não há especialidade.
A diferença existe: a pontualidade da entrada do empregado não se confunde com a sua eficiência, nem com a sua
atenção ou atividade no trabalho. Mas o interesse jurídico é mínimo e só excepcionalmente se pode ter de
discriminar o que é atinente ao dever de serviço e o que é dever de trabalho. A precisão dos dois conceitos
apareceu em escrito de ARTHUR NIKISCH (Der Anstellungsvertrag, Jherings Jahrbiicher, 88, 99 s.) e seguiu-o
WILHELM MAUS (Das Deutsche Arbeits- und Sozialrecht, 1, 198 s.). Por outro lado, entrar no serviço e não
trabalhar é infração do dever unitário (de serviço e de trabalho), de modo que a comparência sem execução seria
adimplemento ruim. A diferença existe, mas é sem razão de ser chegar-se à dualidade conceptual de dever: se A
não compareceu ao serviço, que se havia de iniciar a 1.0 de março, ou se compareceu e, em vez de trabalhar com
a máquina, perdia tempo por estar bêbedo, ou ir à cantina repetidas vêzes, o dever que êle infringiu foi o mesmo,
a despeito dos momentos em que ocorreu a infringência.
Quem se vinculou a prestar serviços tem de oferecer a prestação, salvo se foi condicionado o contrato quanto ao
tempo (e. g., a limpeza da casa no sábado próximo, ou no outro sábado), ou dependente de aviso, casos em que o
prestador dos servícos há de estar disposto a prestá-los.

3.EMPRÊGO E SERVIÇO. O “emprêgo” é elemento a mais, porque muitos prestam serviços sem serem
empregados, sem a incrustação na empresa ou na própria residência de quem concluiu o contrato. Emprêgo supõe
permanência, ou, pelo menos, propósito bilateral de permanência. Por isso, o emprego continua, a despeito da
transformação ou da mudança de dirigentes ou titulares de ações ou quotas na empresa e a despeito da morte do
chefe de família, se há continuidade de interesse nos serviços.

4.MODO DE CUMPRIR O DEVER DE SERVIÇO. O vinculado à prestação de serviços há de cumprir o que


prometeu. O cumprimento de tal dever é conforme os usos do tráfico, ou o que se assentou no contrato, mesmo se
conforme os programas e projetos da empresa que o promitente do serviço conhecia ou tinha de conhecer.
A diligência há de ser a da profissão, ou a que se há de exigir ao serviço que o promitente presta sem ser essa a sua
profissão habitual. Não são a mesma a diligência usual do mestre de obras e a dos pedreiros e marceneiros. O
médico, o professor, o advogado, o gerente, o contabilista têm de observar a diligência usual de cada profissão ou
mister. Uma vez que haja inadimplemento culposo, ou adimplemento ruim, responde, segundo os princípios,
quem se vinculou ao serviço. A lei prevê casos em que pode ocorrer resolução ou resilição do contrato
(respectivamente: tinha de iniciar o serviço no comêço do mês e, sem fôrça maior ou caso fortuito, deixou de
apresentar-se; disse ser marceneiro, e verifica-se que não no é, ou o seu trabalho é defeituoso. Não há
responsabilidade objetiva, no contrato de serviço. Isso não significa que, fora do contrato, o empregado não possa
ser responsabilizado por algum fato não culposo.
O exercício de atividade econômica pode ser profissional nu não-profissional. Se o serviço é prestado sem ser
como ato da profissão de que o presta, falta o requisito da profissionalidade. Se faz parte de finalidade da sua vida
ativa, com certa continuidade (= “habitualidade”, cf. Código Comercial, ad. 4~O), o serviço é considerado em sua
ligação ao provimento às exigências materiais da existência, como status pessoal (cf. MARrO CASANOVA,
Studi sul Diritto dei lavoro, 10). Se o serviço não é prestado como serviço de profissional, nem por isso se há de
deixar de invocar o que regula o Código Civil, sob o nome de locação de serviços. Para a incidência da legislação
do trabalho, é preciso que se satisfaçam os pressupostos dos arts. 2.0 e Si‟ do Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio
de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho).

5. ELEMENTOS SUBJETIVOS. O empregado está vinculado a prestar conforme as suas faculdades e as


informações sôbre elas, dadas ao empregador. Bem assim, qualquer pessoa que presta serviço. Ao prestador de
serviço a pessoa a quem se presta o serviço suporta o risco do que resulte do serviço, isto é, quanto ao que se refira
a ser apto o resultado ao que êle esperava (LUDwIG SOUNORR VON CAROLSFELD, Arbeitsrecht, 2~a ed.,
306). Se o prestador de serviços sabia ou tinha de saber que lhe faltava alguma qualidade ou aptidão para adimplir
o que prometera, responde por essa culpa. Quanto aos que trabalham independentemente (trabalhador
independente), é de supor-se que oferece os seus serviços ou invita a oferecer, com a responsabilidade pelo nível
de conhecimentos e de técnica, necessária à atividade especial. Tal o que se passa no tocante a médicos,
professôres, advogados, arquitetos e construtores de estradas e de túneis.
No contrato de locação de serviços e no próprio contrato de trabalho, há o elemento pessoal: B conta com o
serviço de A, e não com o serviço de O, D ou E, ainda que possa ser o mesmo ou melhor; A presta-o a B e não a
qualquer pessoa, mesmo se o serviço que outra pessoa obtém de B é o que A prometeu a E, para F, O ou H. Daí,
dever de proteção, que tem B, e dever de lealdade, que tem A. Observe-se, porém, que aquêle dever supôe ter
havido a colocação (Einstellung), sem que isso permita confundir-se com a eficácia a existência do contrato.

6.PRETENSÃO À REMUNERAÇÃO. A remuneração pode ser por hora, ou por outro período, maior ou menor.
Também pode ser pelo tempo que se considere necessário à prestação do serviço (visita médica, tratamento de
dente, consêrto de aparelho, desde que se pague pelo serviço e não pela obra).
Há de haver relação entre a remuneração e o serviço. As leis de proteção aos que trabalham cogitam de
minimidade da remuneração, para que se atenda à necessidade de alimentos, vestes e alojamento.

7.QUANDO HÁ DE SER PAGA A RETRIBUIÇÃO. Diz o Código Civil, art. 1.219: “A retribuição pagar-se-á
depois de prestado o serviço, se por convenção, ou costume, não houver de ser adiantada, ou paga em prestações”.
A fonte está, em parte, no Código Civil alemão, cujo § 614 estatui que a remuneração (Vergiitung) há de ser feita
após a prestação do serviço. O texto brasileiro atende a que pode ser estabelecido, pelo contrato, ou pacto adjecto,
outro critério, sôbre adiantamento, ou sôbre prestações periódicas ou em momentos determinados por algum fato.
O art. 1.219 é jus dispositivum. A convenção, a que êle alude, pode ser por manifestações tácitas de vontade. A
regra jurídica do art. 1.219 apanha as remunerações pecuniárias e as remunerações naturais (PníLu‟P
LOTMAR, Der Arbeitsvertrag, 1, 723).
Se o promitente dos serviços tem de prestar primeiro, evidentemente não tem a exceção de inadimplemento
contra o recebedor (exceção no-n adimpleti contractus). Cabe-lhe, todavia, a exceção de seguridade (Código
Civil, art. 1.092, 2.~ alínea; Tomo XXVI, §§ 3.129-3.131).

8.INCONSTRINGIBILIDADE ESPECÍFICA E PRESTAÇÃO EM PESSOA. O promitente do serviço pode ser


condenado a prestá-lo. Pode sofrer execução nos bens para indenização. Não há a execução forcada especifica.
Diz o Código Civil, art. 1.282:
“Nem o locatário, ainda que outra coisa tenha contratado, poderá transferir a outrem o direito aos serviços
ajustados, nem o locador, sem aprazimento do locatário, dar substituto, que os preste”. Quem deve o serviço, ou
os serviços, e incorre em mora, pode ser condenado à prestação, e qualquer indenização pode ser objeto de
execução forçada nos seus bens. Não há a constringibilidade especifica à prestação. flexercível a pretensão ao
preceito cominatório.
A prestação de serviço tem de ser feita pelo outorgante, que a isso se vincula. Por outro lado, quem tem o direito
aos serviços não pode transferi-lo, salvo se do contrato ou da espécie do contrato resulta a herdabilidade, ou a
continuação da relação jurídica por outrem.
Se o portador de serviços presta-os a quem exerce, com isso, profissão, ou parte da profissão, não existe contrato
entre êle e o terceiro: entre o terceiro e o outorgado dos serviços, o contrato é de dação de serviço de outrem.

§ 5.048. Deveres e direitos do locatário de serviços

1.A QUEM SE PRESTA O SERVIÇO. E ao figurante que, em princípio, tem de ser prestado o serviço. Se há
dúvida, éisso o que se há de entender. O crédito à prestação de serviços, de regra, não é cedivel; portanto, em caso
de dúvida, não é suscetível de constrição executiva nem cautelar.

2.CULPA DO PRESTADOR DE SERVIÇOS. O prestador de serviços responde por tôda culpa, inclusive se se
incumbir de serviços para que não está apto, ou não tem habilitação.
No caso de execução forçada contra o prestador de serviços, a constrição é conforme os arts. 998-1.005 do
Código de Processo Civil.

3.FALTAS DO PRESTADOR DE SERVIÇOS. Se o prestador de serviços está impedido, momentâneamente (=


por tempo relativamente breve), a prestá-los, sem culpa sua, e o contrato é por período em que caiba o lapso
(portanto, sem excessividade relativa ao período), o outorgado aos serviços tem de pagar o total da remuneração.
A lei brasileira não tem regra jurídica escrita, de modo que se há de apreciar a relatividade do hino ou
revogabilidade de máximo conforme os usos. Tem-se também de verificar se há estabilidade que justifique não
se computar a falta corno suspensiva do período (e. g., o serviço é por mês, mas, com êsse critério, apenas se quis
pagar o serviço de trinta dias, ou de seis lições em cada mês).
Por ocasião de se prestar a remuneração, têm de ser satisfeitos os seguintes pressupostos: a) o impedimento há de
ser na. pessoa do prestador de serviços, ou de fôrça maior ou caso fortuito (e. g., houve desastre de trem e a
cozinheira não pôde transportar-se para a casa do empregador) ; b) o tempo há de ser ente breve, em relação ao
período dos pagamentos; e) não ter havido culpa do prestador de serviços, sem que se exija que a culpa consista
em infração do contrato (sem ra~ao, LUDwIG SCHNORR VON CAROLSFELD, Arbeitsrecht, 2~a ed., 210). O
clube de futebol não tem de pagar os dias em que teria de jogar o acidentado por esporte de corrida de cavalo ou
de corrida de automóvel: criou risco próprio, que não pode aumentar o risco do clube.
Tudo que acima dissemos é me dispositivum. Não se pode argumentar com o que se expôs se há contrato de tarifa,
que o pré-exclua, ou contrato de serviço, em que se dê outra solução. São usuais a cláusula de pagamento total ou
por dia ou hora, a cláusula de serviço restado e a cláusula não permitidas “x” faltas. (No direito alemão, houve
discordâncias quanto àdispositividade do § 616 do Código Civil alemão. A favor, CARL CROME, System, II,
655, nota 27; BONN, Die Falte der Anrechnung im Dienstvertrag 27; WILHELM VON BLUME, liMe
voriibergehende Verhinderung des zu Dienstleistungen Verpflichteten [616 BOB], Das Recht, VI, 7; RUDOLF
STAMMLER, Die Lehre vou dem richtigen Reehte, 361; contra, HUGO SINZHEIMER, Lohn und Aufreehnung,
29; F. NELREN, Der Lohnanspruch des gewerblichen Arbeitera bei Dienstverhinderung infolge unverschuldeten
Unglúcks, Deutsche Juristen-Zeitung, VIII, 211 s., cf. Die deutschen Handwerker- und Arbeiterschultzgesetze,
667 e 775; PHILIPP LOTMAR, Der Arbeitsvertrag, 1, 220, e II, 227.)
Uma vez que não houve pré-exclusão de se tolerar falta de comparência, ou de serviço, sem culpa do prestador de
serviços, a vontade de um dos figurantes, sem a concordância do outro, é irrelevante. ~ objetivamente que se há
de considerar a relação entre o tempo do serviço que seria completo e o tempo em que se deixou de prestar.

4.DEDuçÃO NO TEMPO DO CONTRATO. Em principio, o tempo dos contratos corre independentemente do


que se deixe de encher quanto à prestação prometida. No Código Civil, diz o art. 1.223: “Não se conta no prazo do
contrato o tempo em que o locador, por culpa sua, deixou de servir”. A regra jurídica é nova, concebeu-a
FELÍCIO DOS SANTOS, no seu Projeto, artigo 2.125: “Não se conta no prazo do contrato o tempo, em que,. por
sua falta, o locador deixa de prestar serviços”. Justificou-o, dizendo que, “assim como a lei vem em auxilio do
locador não permitindo que se engaje por mais de quatro anos~ também deve atender aos interesses do locatário”;
portanto, “se o locador abandona o serviço sem justa causa durante um ano, deverá servir mais um ano além dos
quatro do contrato”. O recebedor dos serviços pode denunciar o contrato, por ter havido vício ou mau
procedimento do prestador de serviços ou inobservância do contrato (Código Civil, ad. 1.229, IV e V), ou preferir
a solução do ad. 1.223.

5. PROjeÇÃO DE JUROS. A propósito, estabelece o Código Civil, ad. 1.234: “Embora outra coisa haja
estipulado. não poderá o locatário cobrar ao locador juros sôbre as soldadas, que lhe adiantar, nem, pelo tempo do
contrato, sôbre dívida alguma, que o locador esteja pagando com serviços”. As regras jurídicas aí contidas. são
ius cogens. Resultaram do Projeto de FELÍCIO DOS SANTOS, ad. 2.139. A ratio legis não se insere na ratio
legis da chamada proibição de usura. Evita-se, com uma das duas regras jurídicas, que se dissimule o salário, ou
outra retribuição abaixo do que seria o salário mínimo ou qualquer remuneração insuficiente. Não há, todavia,
qualquer atenuação quantitativa à vedação: os juros, por mínimos que sejam, e as remunerações, por mais altas e
generosas que sejam, não permitem que o promissário dos serviços perceba interesses.
Surgem alguns problemas. Se a empresa tem casas para serem alienadas a empregados, os juros moratérios das
prestações não podem recair sôbre a remuneração: seria ilegal abatê-los do que se há de pagar pelo serviço.
Quanto a serem debitadas aos que prestaram serviços as prestações de casas ou outros bens, a lei não o proibe.
Mas os juros, em caso de mora, de modo nenhum seriam debitáveis, salvo se as prestações são para pagamento a
outra empresa, que foi a construtora, e nada tem com ela a empresa empregadora. O que pode ocorrer é que a
empresa construtora seja testa-de-ferro e então se caracteriza a trans legis.

6.MORA DO CREDOR DE SERVIÇOS. Já cogitamos, incidentemente, da mora creditoris ou mora accipiendi,


mas o assunto exige precisões de que se sente a falta nas exposições doutrinárias. No Código Civil, art. 955, 2Y
parte, há apenas regra jurídica geral sôbre mora do credor, para se dizer quando ela ocorre. Nos arts. 1.228 e 1.229
cogita-se da conseqUência da despedição sem justa causa e das justas causas admitidas pela lei. A expressão
“despedida” pode dar ensejo a que se pense em explicitude da recusa por parte do credor de serviços, porém tal
interpretação tem de ser repelida. Pode ocorrer que o credor dos serviços tenha atitude que importe despedida,
sem que haja dito, de qualquer modo, que despedia. Há despedidas tácitas.
Tem-se, por exemplo, como despedida: a) negar o credor de serviços a existência ou a permanência da relação
jurídica contratual, de modo a não aceitar a prestação de serviços; b) não admitir o credor de serviços a prestação
em determinado momento, por entender, sem razão, que fôra para outro; e) não aceitar o credor os serviços, que
se quer prestar, por afirmar que outros foram os contratados.
A constituição em mora nem sempre é despedida.

CAPÍTULO V

EXTINÇÃO DO CONTRATO DE LOCAÇÃO DE SERVIÇOS

§ 5.049. Causas de extinção

1.EXPIRAÇÃO TEMPORAL DO CONTRATO. A causa principal, se há tempo determinado para o serviço, é o


advento do têrmo. Também pode dar-se que o contrato seja sob condição resolutiva ou resilitiva, como se a
limpeza do automóvel é enquanto o prestador de serviço não é chamado a outro emprêgo, ou enquanto o
possuidor do automóvel não viaja.

2.MORTE DO PROMITENTE DOS SERVIÇOS. Diz o Código Civil, art. 1.233: “O contrato de locação de
serviços acaba com a morte do locador”. A morte de quem há de prestar os serviços extingue o contrato. Não se
trata de jus dispositivum (sem razão, OTTO WARNEYER, Kommentar, 1, 1024; cf. ALFRED HUECK e HANS
CARL NIPPERDEY, Lehrbuch des Árbeiterechts, 1, 299)). Se herdeiros ou outras pessoas continuam na relação
jurídica, sêmente pode ter resultado de terem sido figurantes do contrato, ou de se haverem inserido
posterior-mente. Pode ser posta a cláusula de vinculação do recebedor dos serviços se herdeiro do locador, ou
outra pessoa indicada no contrato, ou, posteriormente, pelo prestador dos serviços para continuar.
A morte do recebedor do serviço é sem repercussão no contrato, salvo se o serviço só pessoalmente podia ser
prestado, ou se resulta da natureza do contrato que se tem de extinguir com a morte de quem recebia os serviços.
O contrato com os domésticos e secretários cujo serviço haja de continuar passa aos herdeiros. Cf. WALTER
KASKFÃL-HERMANN DEESCE (Arbeitsrecht, 43 ed., 219 s.) e LUDWIO SCHNORR VON CAROLSFELD
(Arbeitsrecht, 23 ed., 344).

3.RETIRADA DA BASE DO NEGóCIO JURÍDICO. Se algum fato retira a base do negócio juridico, há
extinção não-satisfativa da dívida (Tomo XXV, ~§ 3.054, 2; 3.059-3.074). Por exemplo: morre o aluno;
extingue-se a plantação, por inundação, incêndio, ou outra calamidade; houve proibição do serviço de direito
privado por alguma regra jurídica constitucional, ou legal, se essa, na espécie, pode atingir direitos. No Direito do
Trabalho, surge problema delicado de que oportunamente trataremos: se, momentâneamente, em conseqUência
de destruição ou perturbação técnica, de falta de energia, ou de greve parcial, há suspensão do trabalho, ~ pode o
trabalhador exigir a retribuição pelo tempo ou jornada em que o trabalho foi suspenso?

4.DENUNCIABILIDABE DO CONTRATO SEM PRAZO DETERMINADO. Se o contrato foi concebido sem


prazo determinado, há a denúncia vazia. Qualquer dos figurantes pode denunciar livremente o contrato. O Código
Civil, ad. 1.221, a despeito de se haver inspirado no projeto de Código Civil alemão, § 620, 2~a alffiea, empregou
expressão errada: “pode rescindir”. O caso não é, evidentemente, de rescisão; mas sim de denuncia.
Lê-se no Código Civil, art. 1.221: “Não havendo prazo estipulado, nem se podendo inferir da natureza do
contrato, ou do costume do lugar, qualquer das partes, a seu arbítrio, mediante prévio aviso, pode rescindir o
contrato”. Acrescenta o parágrafo único: “Dar-se-á o aviso: 1. Com antecedência de oito dias, se o salário se
houver fixado por tempo de um mês, ou mais. II. Com antecipação de quatro dias, se o salário se tiver ajustado por
semana, ou quinzena. III. De véspera, quando se tenha contratado por menos de sete dias”. Para que se possa
invocar o art. 1.221 é preciso que não haja prazo, explícita, implícita, ou tàcitamente convencionado, ou
resultante de costume do lugar. O tempo para se computar a remuneração não é prazo. Pagar, por mês não é
contratar por mês: o contrato pode ser por um, dois, três ou quatro anos, e o pagamento, por mês, como pode ser
com pagamento trimestral e sem prazo. Se o contrato foi “para ajuda” (e. g., para a correção das provas do livro,
ou para auxílio do agrimensor na demarcação), é contrato com prazo (PHILIPP LOTMAR, Der Arbeitsvertrag, 1,
593; WALTHER SIGEL, Der gewerbliche Arbeitsvertrag, 151; sem razão, E. NELKEN, Die deutschen
Handwerker- und Arbeiterschutzgesetze, 749; J. 13. PRENNER, Der gewerbliche Arbeitsvertrag, 67). O
contrato “para expeneneia”, ou contrato a prova, é com o prazo para a experiência ou a prova, mas tem a
particularidade da denunciabilidade pelo que recebe o serviço se, durante o serviço, verifica que não pode
satisfazer (PAUL OERTMANN, Das Recht der Schuldverhiiltnisse, 697).
Os prazos de aviso de que cogita o art. 1.221, parágrafo único, do Código Civil podem ser alterados no contrato,
inclusive tácitamente, como é o caso do uso local. Permite-se que o prazo para um figurante seja diferente do
prazo para o outro.
O aviso tem de ser claro, com precisão no tocante ao momento em que há de terminar o contrato.

5.DENÚNCIA CHEIA, VIOLAÇÃO E RESILIÇÃO PELO PRESTA-DOR DE SERVIÇOS. O prestador de


serviços promete-os sem prazo determinado, ou com prazo determinado. Tem de cumprir aquilo a que se
vinculou, como aconteceria a qualquer outro contraente. A técnica legislativa atende, com regras jurídicas
especiais, a interesses do promitente dos serviços e a interesses do promitente da retribuição. Talvez por isso, por
êsse trato particular, não pareceu ao legislador ser redundante frisar a vinculação por tempo certo. Mesmo se a
determinação do prazo depende de terminação de obra, pôsto que se haja prometido serviço, e não resultado
(obra), o que deformaria o contrato (o faria empreitada, e não contrato de locação de serviços), a lei estabelece
que se há de adimplir a divida de serviços, respeitado o prazo, salvo no que êsse excede de quatro anos, ou se a
obra não acaba dentro dos quatro anos. A locação de serviço, frisa o art. 1.220, 13 parte, do Código Civil, não se
pode convencionar por mais de quatro anos.
Lê-se no Código Civil, ad. 1.226: “São justas causas para dar o locador por findo o contrato: 1. Ter de exercer
funções públicas ou desempenhar obrigações legais, incompatíveis estas ou aquelas com a continuação do
serviço. II. Achar-se inabilitado, por fôrça maior, para cumprir o contrato. III. Exigir dêle o locatário serviços
superiores às suas fôrças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato.
IV.Tratá-lo o locatário com rigor excessivo, ou não lhe dar a alimentação conveniente. V. Correr perigo
manifesto de dano ou mal considerável. VI. Não cumprir o locatário as obrigações do contrato. VII. Ofendê-lo o
locatário, ou tentar ofendê-lo na honra de pessoa de sua família. VIII. Morrer o locatário
Diz o Código Civil, art. 1.225: “O locador contratado por tempo certo, ou por obra determinada, não se pode
ausentar, ou despedir, sem justa causa, antes de preenchido o tempo, ou concluída a obra (art. 1.220) “.
Acrescenta o parágrafo único: “Se se despedir sem justa causa, terá direito à retribuição vencida, mas responderá
por perdas e danos”. A alusão à obra nada tem com a locação de obra; apenas é fato, a que se liga o têrmo final
incertus quando.
No art. 1.225 do Código Civil alude-se à justa causa, para se ressalvar a invocabilidade do art. 1.226, que contém
casos de resitição e casos de denúncia cheia.
São casos de denúncia cheia: a) ter o portador de serviços de exercer funções públicas, ou desempenhar funções
legais isto é, função que a lei lhe impõe, ou do exercício delas faz dependente algum elemento de proveito,
inclusive moral, para o prestador de serviços, incompatíveis essas ou aquelas com a continuação do serviço (art.
1.226, 1); b) correr o prestador de serviços “perigo manifesto” de dano ou mal considerável (art. 1.226, V) ; c)
morrer o recebedor dos serviços (art. 1.226, VIII), fato que a lei considerou causa de denunciabilidade, e não de
resilíção automática, se do contrato ou da natureza dêsse não se tira que herdeiro ou outra pessoa não ficou com o
direito aos serviços, ou se não ocorre extinção necessária, como acontece com o contrato entre a enfermeira e o
doente.
O caso do art. 1.226, ii, é de resilição, se já se iniciou a eficácia do contrato pelo adimplemento, ou de resolução
, se ainda não se iniciou. Assim, são casos de resilibilidade, raramente de resolubilidade (e. g., art. 1.226, VII, que
se refere a ofensa que pode ser anterior ao comêço do adimplemento) : a) achar-
-se inabilitado (art. 1.226, II), por fôrça maior ou caso fortuito, para principiar ou continuar a cumprir o contrato
(resilição ou resolução, conforme a espécie) ; b) exigir o recebedor dos serviços que o prestador dêles os preste
superiores às suas fôrças, ou defesos por lei, ou contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato (art. 1.226,
III) ; c) tratar o outorgado dos serviços ao prestador com rigor excessivo, ou não lhe dar a alimentação
conveniente (art. 1.226, IV); d) inadimplemento do contrato pelo outorgado dos serviços (art. 1.226, VI); e) o
outorgado dos serviços ofender ou tentar ofender o outorgante na honra de pessoa da sua família (art. 1.226, VII).
A fonte do art. 1.226 do Código Civil foi, até certo ponto,o § 859 do Preussisches Alígemeines Landrecht. No
Código Comercial, estatui o art. 82, a respeito dos feitores, guarda-
-livros e caixeiros: “Havendo um têrmo estipulado, nenhuma das partes poderá desligar-se da convenção
arbitrâriamente; pena de ser obrigada a indenizar a outra dos prejuízos que por êste fato lhe resultarem, a juízo de
arbitradores”. E o art. 83:
“Julgar-se-á arbitrária a inobservância da convenção por parte dos prepostos, sempre que se não fundar em injúria
feita pelo preponente à seguridade, honra ou interesses seus ou de sua família”.
Estabelece o Código Civil, art. 1.227: “O locador poderá dar por findo o contrato em qualquer dos casos do artigo
ante-cedente, embora o contrário tenha convencionado”. Acrescenta o § 1.0: “Despedindo-se por qualquer dos
motivos especificados no artigo antecedente, ns. 1, II, V e VIII, terá direito o locador à remuneração vencida, sem
responsabilidade alguma para com o locatário”. E o § 2.0: “Despedindo-se por algum dos motivos designados
nesse artigo, ns. III, IV, VI e VII, ou por falta do locatário no caso do n. V, assistir-lhe-á direito à retribuição
vencida e ao mais do artigo subseqúente”. O art. 1.227 faz ias cogens as regras jurídicas do art. 1.226, que se
referiu à denunciabilidade, à resilibilidade com justa causa ou à resolubilidade com justa causa, ou à resolução ou
resilição. No § l.~, pré-exclui qualquer pretensão do outorgado dos serviços à indenização dos danos que acaso
sofra pelo exercício da denúncia cheia (art. 1.226, 1, V e VIII), ou pela resolução ou resilição fundada no art.
1.226, II. Em qualquer das espécies tem o prestador dos serviços direito, pretensão e ação para haver a
remuneração vencida. A propósito das outras espécies, que são de resolução ou de resilição, o § 2.0 prevê direito
a mais, que é o de receber o outorgante o que lhe tocaria ao têrmo legal do contrato (arts. 1.227, § 2.0, e 1.228). A
espécie do art. 1.226, V, é de denúncia cheia, mas o legislador prevê que o outorgado dos serviços seja o culpado
do que ocorreu ou ocorre.
Cumpre advertir-se que o art. 1.227 só se refere a responsabilidade contratual. Mantém-se no plano do contrato.
Se há qualquer dano ao prestador de serviços, ou a alguém que a êle se ligue, pode haver responsabilidade
extracontratual (Código Civil, arts. 150 e 1.548).
Diante dos arts. 1.226, VIII, e 1.232, 13 parte, do Código Civil, tem-se de considerar regra jurídica, para
explicitude, o ad. 1.236: “A alienação do prédio agrícola onde a locação dos serviços se opera, não importa a
rescisão do contrato, salvo ao locador opção entre continuá-lo com o adquirente da propriedade, ou com o
locatário anterior”, O art. 1.236 teve por fito estabelecer a pretensão à resolução ou à resilição do contrato, por
parte do prestador de serviços, se há sucessão entre vivos.
O ad. 1.226, VIII, já cogitara da possível sucessão a causa morte. Isso não significa que não existam contratos
concluídos com direito a favor de terceiro, ou que, por sua natureza, não sejam a favor de empresa, ou de outra
comunidade, como a família.

6.RESOLUÇÃO OU RESILIÇÃO ALEGADA PELO OUTORGADO DOS SERVIÇOS . O outorgado dos


serviços conta com êsses. Se algum fato ocorre que torne imprestáveis os serviços, ou de adimplemento ruim, tem
êle direito, pretensão e ação para a resolução ou a resilição. Assim como tivemos de considerar de resolução ou
de resilição a espécie do ad. 1.226, VII, do Código Civil, cumpre que consideremos de resolução ou de resilição a
espécie do ad. 1.229, II.
Lê-se no Código Civil, art. 1.229: “São justas causas para dar o locatário por findo o contrato: 1. Fôrça maior que
o impossibilite de cumprir suas obrigações. II. Ofendê-lo o locador na honra de pessoa de sua família. III.
Enfermidade ou qualquer outra causa que torne o locador incapaz dos serviços contratados. IV. Vícios ou mau
procedimento do locador. V. Falta do locador à observância do contrato. VI. Imperícia do locador no serviço
contratado”. A enumeração apanha espécies que são comuns a todos os contratos e de certo modo podiam não ser
referidos, para que não se pudesse considerar executiva a lista que apresenta. Somente no ad. 1.229, II, haveria
lugar para se considerar discutível tratar-se de adimplemento ruim; mas, ainda aí, a natureza dos contratos de
serviços, pelo elemento pessoal, põe ao vivo o dever de respeito.
As regras jurídicas que se contêm no ad. 1.229 são ias cogens e é isso o que se acentua no ad. 1.231: “O locatário
poderá despedir o locador por qualquer das causas especificadas no ad. 1.229, ainda que o contrário tenha
convencionado”. Acrescenta o § 1.0: “Se o locador fôr despedido por alguma das causas ali particularizadas sob
os ns. 1, III e
terá direito à retribuição vencida, sem responsabilidade alguma para com o locatário”. E o § 22: “Se fôr despedido
por algum dos fundamentos ali admitidos sob os ns. II, IV e VI, terá direito à retribuição vencida, respondendo,
porém, por perdas e danos”. A fonte está no Projeto de FELÍCIO DOS SANTOS, arts. 2.134 e 2.135. O que
choca, a respeito do art. 1.281 do Código Civil como a respeito do art. 1.227, é que se ativeram aos princípios, ao
passo que o art. 1.228 não tratou igualmente quem presta serviços, rompendo com a tradição de séculos.
No Código Civil alemão, § 615, diz-se que, se o outorgado dos serviços o legitimado a recebê-los incorre em
mora acoipiendi, pode o outorgante dos serviços exigir a remuneração combinada, sem ficar vinculado a
prestação posterior de serviços. Todavia, tem de ser-lhe imputado o valor do que poupa em conseqUência de não
ter prestado o serviço, ou do que, pela aplicação ulterior dos seus serviços, adquire, ou de má fé (bõswillig) deixa
de adquirir. A regra jurídica do § 615 não é jus cogens. O que se estatui é conseqUência da mora de quem quis os
serviços e não os paga: seria desacertado que o prestador dos serviços tivesse de continuar a prestá-los, a despeito
da mora de quem os quis e acordou na remuneração. A mora accipiendi teria sua conseqUência, ou
conseqUências parecidas, mesmo se não existisse o § 615. Assim no direito alemão como no direito brasileiro.
No direito brasileiro, a mora do credor está prevista no art. 955, 23 parte, do Código Civil (cf. ad. 1.058; Tomo
XXIII, §§ 2.810-2.816). Se bem que não haja o dever de receber, o contrato de serviços, como o contrato de
empreitada (Código Civil, art. 1.247), tinha de ser tratado como regras jurídicas especiais. Daí dizer o Código
Civil, art. 1.228: “O locatário que, sem justa causa, despedir o locador, será obrigado a pagar-lhe por inteiro a
retribuIção vencida, e por metade a que lhe tocaria de então ao têrmo legal do contrato”. A solução é mais precisa
do que a que preferiu o Código Civil alemão, § 615. Um tanto salomônica. Em vez de se seguir a solução do
direito luso-brasileiro, ou a do direito alemão hodierno, ficou-se no meio da estrada. Surpreende que o mesmo se
haja estabelecido na Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943), art. 479
(cf. Lei n. 62, de 5 de junho de 1935, art. 7.0), A demagogia trabalhista brasileira recuou, como o Código Civil, a
século anterior ao do descobrimento do Brasil.
No direito luso-brasileiro, diziam as Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 34: “O homem, que deitar fora de
casa o mancebo, que tomou por soldada, antes de acabar o tempo, per que o tomou, pagar-lhe-á tôda a soldada,
pois o deitou fora, e não quer que o sirva. E se o que está por soldada, deixar o senhor, antes que acabe o tempo,
sem culpa do senhor, deve-lhe tornar a soldada, se já a tiver recebida, e mais servir de graça todo o tempo, que lhe
faltava por servir; e se lhe ainda não tinha paga a soldada, não lhe será obrigado a lha pagar, e será constrangido
pelas Justiças, onde quer que estiver, que venha acabar de servir”. Nas Ordenações Afonsinas, Livro IV, Titulo
32, pr. e § 1, de onde proveio o texto filipino, revelou-se que fôra encontrado em lei constante do livro da
chancelaria, e acrescentou-se: “Se alguem lançar mancebo, ou manceba fora, que colheo por soldada, de sua casa,
ante que o prazo chegue, dar-lhe-ha toda a soldada, pois que o lançou fora de sua casa sem culpa sua, dizendo que
nom quer que o sirva; e se o mancebo, ou manceba leixar seu Senhor, ante que acabe o tempo da soldada, sem
culpa do Senhor, deve-lhe tornar a soldada, que já delle recebeo, dobrada, e servir todo o tempo da soldada: ergo
se for a prazimento do amo, e do mancebo”. As Ordenações Manuelinas, Livro IV, Título 21, reproduzir com o
mais que passou às Ordenações Filipinas.
O que nos interessa é frisarmos que mais atento ao prestador dos serviços foi o direito português, que regeu a
espécie até o fim de 1916, do que o Código Civil e a legislação trabalhista ditatorial.
O prestador dos serviços fica liberado, mas continua, indelével, a sua pretensão. Em vez de ser pelo total do que
lhe teria de pagar quem quis o serviço, é pela metade, o que mostra quanto a legislação trabalhista de hoje se
distancia do texto anterior às Ordenações .Afonsinas.
~ Quid juris, se a prestação do que teria de servir foi impossibilitada pelo que teria direito aos serviços? Não
houve culpa do devedor, de jeito que há resolução ou resilição, conforme o art. 879, 1a parte, do Código Civil;
mas o credor dos serviços, com a impossibilitação que êle criou, deu por findo o contrato, sem justa causa, e a
espécie rege-se pelo art. 1.228 do Código Civil. A mora do credor pode equivaler à impossibilitação e, pois, a
ter-se o credor dos serviços incurso no art. 1.228, se os serviços tinham de ser prestados em determinado
momento, como, e. g., se o serviço era no dia do Natal, ou no aniversário do credor, e êsse se ausentou da casa.
Exigir-se do devedor dos serviços que os prestasse depois seria preencher-se o tempo que êle destinou ou poderia
ter destinado a outro serviço, mesmo se à mesma pessoa, O tempo é elemento de primeira plana nos contratos de
serviços, porque o trabalho é correspectivo às despesas da subsistência.

§ 5.050. Conseqüências da extinção

1.EXTINÇÃO SEM CULPA DE QUALQUER FIGURANTE. Extinto, sem culpa de qualquer dos figurantes, o
contrato de locação de serviços, nenhuma conseqUência indenizatória exsurge. O promitente da prestação de
serviços se libera inteiramente; e o titular do direito ao serviço não mais tem a dívida de remuneração, salvo se
estava em mora, ou se recebeu serviços ainda não pagos. Se a extinção foi por impossibilidade absoluta, a
liberação é sem restrições no tocante ao futuro. Se a impossibilidade é parcial, tem-se de proceder à redução
proporcional da remuneração. Se a impossibilidade é por pouco tempo (o que se há de apurar com o exame das
circunstâncias do caso, especialmente do fim do negócio, cf. WALTHER SIGEL,Das gewerbliche
Arbeitsvertrag nach riem BGB., 60 s.; WILHELM voN ELUME, fie Vortibergehende Verhinderung dez zu
Dienstleistungen Verpflichteten, Das Recht, VI, 8), tem o vinculado a serviços direito a remuneração. Aliter, se
trabalha por hora, ou se recebe se vai trabalhar. No caso de seguro de acidente ou doença, o que o prestador de
serviços recebe é imputável no que se teria de pagar, ou se pagou.
O locatário de serviços pode, em caso de culpa do prestador de serviços, exigir indenização, ou recusar-se a
remunerar. Se a culpa foi de quem tem direito aos serviços, o locador de serviços pode deixar de prestá-los e
exigir a remuneração.
Quanto à mora accipiendi, regem os princípios gerais.
Sempre que há causa justa, ou fundamento relevante, pode haver denúncia do contrato, mas o Código Civil
enumerou as causas. Em todo o caso, temos de distinguir resilição e denúncia, denúncia cheia e denúncia vazia.

2.CULPA NA EXTINÇÃO. Se a extinção foi por culpa do figurante, responde êle pelo inadimplemento ou pelo
adimplemento ruim. ~ o caso, por exemplo, da impossibilidade imputável ao prestador de serviços, ou a quem os
recebe.

Título LV

CONTRATO DE TRABALHO

Parte 1. Conceito de Direito do Trabalho, natureza e regras jurídicas básicas

CAPÍTULO 1

CONCEITO E NATUREZA DO DIREITO DO TRABALHO


§ 5.051. Conceito de Direito do Trabalho

1.ESPECIALIDADE DO RAMO DE DIREITO. (a) Em todos os tempos, houve direitos especiais (~ ramos
especiais do sistema jurídico). A alguns, já especializados, a especialidade intensifica-se, aprofunda-se, e é o que
acontece, nos nossos dias, ao Direito do Trabalho. A alguns decresce, como ao direito da nobreza, da fidalguia,
que ainda persiste em alguns Estados, e o direito comercial, que foi perdendo o caráter de direito de privilégios e
integrando-se no direito privado. As divergências quanto a definições do Direito do Trabalho em grande parte
procedem de momentos da evolução dêsse direito, ou de elementos que preponderaram na técnica legislativa.
Onde o Direito do Trabalho exsurgiu como um dos setores em que a política igualitária tomou a frente,
compreende-se que se tenha o Direito do Trabalho como um dos ramos do Direito Social, isto é, de direito
especial, mais amplo, em que os legisladores avançam na dimensão da igualdade. Jurista da social-democrada
alemã não poderia ver no Direito do Trabalho o que, depois, viu o nacional-socialismo, ou, antes e depois, o
fascismo, nem, tão-pouco, o que pode ver a democracia britânica ou a dos Estados Unidos da América. No Brasil
mesmo, nem sempre se pode ler a própria Consolidação das Leis do Trabalho, sob a Constituição de 1946, com a
interpretação que lhe daríamos sob a Constituição de 1937.
Na definição de empregado já se abre o caminho para a caracterização do Direito do Trabalho.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho), art. 89:
“Considera-se empregado tôda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a
dependência dêste e mediante salário”.
O Direito do Trabalho, como direito especial, somente concerne ao empregado dependente (subordinado) e
permanente, que receba salário, O Direito do Trabalho é direito especial, que atende a política jurídica protectiva,
razão por que, se a sua finalidade é a de evitar maior desigualdade, começa por cuidar, em separado, dos que
trabalham permanente e dependentemente. Daí, na classificação científica, considerar-se especial (Sonderrecht).
(b) O que verdadeiramente ressalta na relação jurídica de trabalho, no sentido de legislação social, é que, até certo
ponto, o empregado se faz membro dentro da empresa (WoLFCANG SIEBERT, Das ArbeÃtsverhàltnis iv. der
Ordnung der nationaien Arbeit, 1 s.), há relação de membro (Gliedschaftsverh&ltnis), que supóe certa integração
da pessoa física no estabelecimento empregador.
Tem-se de distinguir do empregado, no sentido da Legislação do trabalho, o empregado, no sentido lato, que é o
de locador de serviços permanentes. Daí a relevância, não só jurídica como também no sentido social, do art. 3O
do Decreto-lei n. 5.452. Nos comentários que surgiram há certa imprecisão dos conceitos de empregador e de
empregado, razão por que houve indecisões na doutrina. O art. 39 teve de definir o empregado a que beneficia o
direito especial do trabalho, a Consolidação das Leis do Trabalho, com a sua incessante adaptaçM a problemas
novos e soluções que se impuserem.
(c) O conceito de empregado, no direito especial do trabalhe, contém implícito pressuposto da não-eventualidade
do serviço. Outro pressuposto é o da dependência. Ainda outro o de se prestar salário, retribuição, e não
honorários, corais-são, ou preço. Mais: o da finalidade lucrativa da empresa..
O biscateiro, o changador, o técnico que é chamado para expor, ensinar, fazer conferências, pesquisar, mostrar
como se há de trabalhar, iniciar serviço, ou prestá-lo por algum tempo,não está subordinado, nem pode
beneficiar-se com o direito do trabalho.
A eventualidade caracteriza-se se houve calamidade (e. g., incêndio, enchente, epidemia), ou se a natureza da
indústria exploradora exige que, por algum tempo, se obtenha a atividade de técnicos ou de oficiais que sejam os
introdutores ou melhoradores do trabalho especializado. Só os fatos, as circunstâncias, pedem mostrar onde
começa o trabalho permanente, repelindo-se que se trate de trabalho eventual.
Por outro lado, a prorrogação, a renovação do contrato de serviços, ou a própria duração da relação jurídica
oriunda do contrato de serviços a tempo determinado não afasta a eventualidade do ocorrido, a fortuidade ou
mesmo a ocasionalidade da duração.

2.DEPENDÊNCIA (t= SUBORDINAÇÃO) 1>0 TRABALHADOR. tôdas as empresas têm a sua organização
normal, com postos e lugares que se provêem permanentemente, ou por trato de tempo. A permanência supõe que
só a morte, a resilição, a denúncia e as mais causas de extinção da relação jurídica possam vir ~ tona. Desde que
há prazo ou condição, findo aquêle ou implida essa, cessa a relação jurídica; e de permanência não se pode falar,
salvo se ex lege ou negocialmente se estatuiu que haveria prorrogação, ou que o tempo de serviço se contaria para
algum efeito jurídico.
A dependência é resultante da inserção na empresa. Essa inserção determina a permanência e a subordinação do
empregado, a necessidade do empregado, ligando a empresa aos empregados; e a cooperação com outros
empregados e dos outros empregados. Mais: a posição de todos nos postos e lugares adequados, fato que HEINz
POTTHOEP (Ist das Arbeitsverhàltnis em Schuldverhãltnis?, Arbeitsreckt, 1922, 275 e.; Arbeitsrecht, das
Ringen um werdendes Tiecht, 24 e.; 39 e. e 47 e.) considerava o elemento essencial. ERICB MOLITOR
(Arbeitnehmer und Betrieb, 6 s.) viu nessa ordenação unitária a causa da dependência dos empregados.
O trabalhador subordinado, ou dependente, é aquêle que fica sob as ordens e a disciplina do empregador. Não se
pode reduzir tal subordinação ou dependência à subordinação ou dependência econômica, porque os
trabalhadores independentes,ditos autônomos, são econômicamente dependentes. Também não se pode dizer que
a dependência seja só jurídica: o advogado ou médico da empresa, em que é empregado, juridicamente não
depende, como também juridicamente não dependeria o que não fôsse empregado; a dependência resulta do
enquadramento e da disciplina organizatória. Se dependência jurídica existe, tal dependência jurídica resulta da
vinculação a prestar serviços, e não é a essa que se alude quando se distingue do trabalhador dependente o
trabalhador independente. A dependência, de que se trata, é elemento do suporte fáctico do contrato de trabalho, e
de modo nenhum tem razão de ser a discussão entre se tratar de dependência técnica (o empregador pode nada
saber daquilo que os empregados sabem para poderem trabalhar), ou econômica, ou jurídica.
Tentou-se o conceito de dependência social, o que revela o artifício do propósito, porque não se trata do elemento
geral de sociedade, no sentido sociológico; a fortiori, no sentido apenas jurídico.

3. DIREITO DO TRABALHO. Na ordem internacional, a Rerum. Novarum (1891) foi de grande repercussão.
Leão XIII aconselhou a união dos trabalhadores, porque a experiência de ter pouca fôrça leva o homem a juntar a
sua fôrça às alheias.
Os trabalhadores cristãos, em 1919, no Congresso Sindical, reUnido em Paris, quiseram a criação de Instituto
Internacional do Trabalho.
Após a guerra, tendo diante de si o exemplo da Rússia, os governos viram a gravidade do problema. Na França, já
a Confederação Geral do Trabalho havia lançado o “programa mínimo”. A Conferência Sindical de 1919 de certo
modo introduziu no direito das gentes a classe operária (cf. ALEXANDRE BERENSTEIN, Les Organisations
ouvriêres, 27). O Tratado de Versalhes (Parte XIII) criou a Organização Internacional do Trabalho, para
assegurar “o bem-estar, físico, moral e intelectual dos trabalhadores salariados”. Três órgãos: a Conferência
Internacional do Trabalho, o Conselho de Administração e o “Bureau” Internacional do Trabalho. A delegação de
cada Estado compõe-se de dois representantes do Govêrno, um delegado patronal e um dos trabalhadores.
Na Inglaterra, a liberdade sindical foi proclamada em 1824, mas a politicização das Trade Unions é para reformas
dentro da lei. Nas eleições de 1906, 29 operários foram eleitos.
OLabor Party, fundado em 1898, de certo modo deu a solução:
seria, com a reorganização de 1906, o partido em que operariam trabalhadores e socialistas. Já se lhe devia, em
1905, o Trade Disputes Ad, consolidação das leis do trabalho. Em 1915, teve-se a participação do Labor Partp no
govêrno, durante a guerra. Em 1924 foi ao poder.
O movimento de sindicalização politicizada começou com a repercussão do manifesto de KARL MARX, em
1848, onde estavam as palavras finais: “Proletários de todos os países, uni-vos”. Em 1869 reconheceu-se, na
Alemanha, a liberdade de coalizâo (Koalitionsfreiheit). Depois, cresceu a exigência de se reconhecer o contrato
coletivo de trabalho. O primeiro data de 1873.
Mas já em 1800 existiam quatorze associações operárias cm Paris e no próprio século XVIII, clandestinamente ou
toleradas, quarenta e cinco em tôda a França.
O próprio govêrno, na França, em 1848, sugeria a organização dos trabalhadores, para bem dêles.
A Lei Waldeck-Rousseau de 1884, art. 2.0, precisou que os sindicatos profissionais haveriam de ter por objeto,
exciusivamente, o estudo e a defesa dos interesses econômicos, industriais, comerciais e agrícolas. Criaram-se
Bôlsas do Trabalho. Houve o elemento político, ao contrário do que se esperava, e dêle resultou a criação da
Confederação Geral do Trabalho. WALDECK-ROUsSEAU queria e contava com a associação sindical na
dimensão só econômica; e fracassou tal esperança.
Em 1791, a Lei Le Chapelier proibiu, na França, as associações operárias. O fito era assegurar a liberdade do
trabalho.
D individualismo não permitiu ver-se o outro lado do problema: a necessidade de ser livre o trabalho e de serem
livres o ato de constituir associação, o de entrar em associação e o de sair de associação.
No século XIX, com a revolução industrial, que as descobertas suscitou, e com o aumento da produção e dos
mercados, acentuou-se a luta de interesses. A busca de menor custo cortava despesas com os operários. O
trabalhador independente tinha de procurar as empresas, a dependência. As concentrações, devido a essa fuga aos
meios em que nasceram os trabalhadores, traduziam novas formas sociais.
Em 1936, na França, os trabalhadores ocuparam as minas. Propriedades agrícolas foram também ocupadas. Por
trás estava a Confederação Geral do Trabalho. Na Carta de Amiens, o que se tem por fito é a desaparição do
salariado e do patronato (cf. LÉON JOUHAUX, Le Sundicalisme, 16 e 19). Era a marcha na dimensão política,
com a pressão sôbre governantes e deputados: o govêrno legal e o govêrno das massas (JOsEPH WILBoís, La
Nouvelie Organisation da Travail, 121).
As Trade Unions da Inglaterra foram órgãos econômicos, e o Nôvo-unionismo, que as criticara por isso, não
chegou a ser de socialismo extremo.
Após a primeira Guerra Mundial, caracterizou-se a luta, com tentativas de solução pacífica e de inteligência, e
com explosões de extrema esquerda (e. g., Rússia) e de extrema direita (e. g., fascismo italiano e
nacional-socialismo alemão).
Em 1918, na Alemanha, o direito de coalizão estabeleceu-se sem limitações. A Lei alemã de 23 de dezembro de
1918 tornou “fonte do nôvo direito” as convenções coletivas de trabalho. Em 1920 há dez milhões de
trabalhadores sindicalizados, O sindicato sobe ao poder.

§ 5.052. Interpretação do Direito do Trabalho

1. PRELIMINARES. Na aplicação das regras jurídicas de trabalho, o intérprete ou o juiz tem de indagar qual a
regra jurídica ou quais as regras jurídicas que incidiram; isto é, quais as regras jurídicas que cobrem o suporte
fáctico em exame, extrajudicial ou judicial.
As regras jurídicas não são somente as regras jurídicas constitucionais e as legais. A decisão por analogia ou por
eqUidade são interiores à Constituição ou à lei, e sua admissibilidade depende da própria Constituição ou da
própria lei que está em causa.
Após a lei, em sentido estrito, está o costume (regra jurídica), que de modo nenhum se há de confundir com o
costume repetição de manifestações de vontade, uso e costumes de que
falam, por exemplo, os arts. 259-262 do Código de Processo Civil. Direito costumeiro é fonte de direito.

2.TEXTOS LEGAIS SÔBRE DIREITO DO TRABALHO. Embora não se afaste dos princípios gerais sôbre
funções e interpretação das leis, entendeu-se que seria útil estabelecer-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 8.0: “As
autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão,
conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqUidade e outros princípios e normas gerais do direito,
principalmente do direito de trabalho, e, ainda, de acôrdo com os usos e costumes, o direito comparado, mas
sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sôbre o interesse público”.
Os usos e costumes, a que se refere o art. 8.0, não são somente o direito consuetudinário, não são somente as
regras de direito costumeiro. São também o que se costuma ou se usa fazer. Os velhos processualistas cometiam
êsse êrro de confundir o costume norma jurídica e o costume ato ou série de atos, em todo caso mera
habitualidade de ato. A mesma confusão observava-se entre interpretação das normas jurídicas e interpretação
dos negócios jurídicos. Os usos civis e comerciais não são regras jurídicas; são, simplesmente, usos. Há usos dos
carpinteiros, usos dos ferreiros, usos dos banqueiros, usos dos comerciantes, ou dos corretores (cp. Código
Comercial, arts. 154, 169, 176, 186, 201 e 291). O próprio Código Civil, no art. 1.210, mandou que, não havendo
estipulação em contrário, se regule o tempo da locação de prédio urbano pelos usos locais. E o art. 1.218, a
propósito de locação de serviços, remeteu a fixação da retribuição ao costume local. Nem por isso o direito civil
adotou tais costumes como Jantes de regra jurídica. São usos negociais, quer se trate de usos dos negócios
convencionais, quer das declarações unilaterais de vontade, como os usos dos emissores de títulos ao portador, os
usos dos concursos, os usos das loterias. Parte dêles são os usos comerciais. Meras práticas gerais, limitadas a
certos lugares, ou a certas profissões, como os usos dos sindicatos. Com êles, faz-se a parte tácita dos negócios
jurídicos, enchendo-se com os usos e costumes, em vez de atos explícitos, o espaço deixado à auto
nomia da vontade. Às vêzes são subentendidos; outras vêzes, referidos. Sôbre o assunto, Tomo XXXVIII, §
4.202, 4.
No art. 82 do Decreto-lei n. 5.452 é flagrante a ambigilidade da expressão “usos e costumes”. Não se pode dizer
que só se refere ao direito costumeiro, ou que só se refere aos usos e costumes no sentido de simples repetição de
manifestações de vontade.
Sôbre usos e costumes no sentido do direito costumeiro, Tornos 1, §§ 18, 4, e 86, 10; III, §§ 256, 4, 345, 3, 346, 3,
348, 1; XXXVIII, §§ 4.202, 4, e 4.207. No sentido de prática negocial, não se trata de fonte de direito.
A referência a “direito comparado” foi infeliz. Direito comparado não é fonte de direito. Do direito comparado o
que se pode tirar é sugestão, fora o que constitui contribuição de ciência, quer para a técnica legislativa, quer para
a técnica de aplicação das leis, principalmente no tocante à precisão de conceitos. Se o direito comparado auxilia
a descobrir-se ou a precisar-se a origem da regra jurídica, trata-se de elemento para a interpretação, mas tal
elemento não é, de modo nenhum, fonte de direito, nem uso.

§ 5.053. Conceito de dever de trabalho e de direito ao trabalho

1. CONCEITO DE TRABALHO. Já vimos como se limitou, para o conceito de Direito de Trabalho, o conceito
de trabalho. Em conseqUência, tornou-se de emprêgo estritíssimo a expressão “trabalhador”.
Em sentido amplo, trabalho é qualquer espécie de atividade humana, que tenha finalidade produtiva. Quem
apanha as frutas do jardim, ou do quintal, ou do sítio, ou da fazenda, trabalha. Não importa para quem sejam as
frutas. Quem escreve romance, conto, poesia, ou faz cálculos matemáticos ou lógicos, por deleite, ou para
publicar, trabalha. Quem arruma os livros da biblioteca, ou as garrafas da adega, ou passa a ferro a própria roupa,
trabalha. Uma vez que há melhora ou intenção de melhora material ou espiritual, a atividade é de trabalho. Tal
acepção geral, extensa e abarcante de tantos intuitos do homem, ainda é ultrapassada pela acepção que mais
atende à vida do que ao homem: há o trabalho animal não-humano e o trabalho animal humano. Ainda assim, não
se chegou ao extremo: a cada momento fala-se de “trabalho das máquinas”, de “não estar trabalhando o motor”.
Finda essa ascensão, temos de considerar acepções mais limitadas, menos extensas.
Se exigimos ao conceito o elemento fáctico do interesse de outrem, já a alienidade do proveito, ou do que se
espera seja proveito, põe fora do campo conceptual o que A faz para si mesmo, ou para o grupo social a que
pertence, como se fizesse para si mesmo (e. g., o chefe de família ou o simples membro da família que conserta a
janela da casa, a mulher que passa a ferro a roupa do marido). Já não se chama trabalho a qualquer atividade
produtiva.
Descendo-se a acepções de menor extensão, têm-se, apos, as de trabalho remunerado e de trabalho gratuito. O
conceito de serviço remunerado deixa de lado o que alguém faz para outrem, gratuitamente. Quando o Estado se
deu conta da questão social, resultante da inferioridade econômica dos trabalhadores, teve de preocupar-se com o
que êsses queriam como soluções e o que a política legislativa considerava mais urgente e necessário. Superou-se,
assim, a era do não-intervencionismo econômico pelo Estado. Infelizmente, houve dois fatos que até hoje têm
agravado, em vez de melhorar a situação: o exibicionismo individual dos fazedores de leis e a demagogia dos
políticos, que desejam os resultados eleitorais, periódicos, dos seus discursos e promessas, em vez de soluções de
ordem econômica e educacional, que minorem ou concorram para minorar a desigualdade humana.

2.DIREITO AO TRABALHO. O direito ao trabalho é direito correlato ao direito de liberdade e ao direito de


igualdade. Muito precárias são a liberdade e a igualdade se não se tem trabalho. Depois de dizer, no art. 145, que
“a ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios de justiça social, conciliando a liberdade de
iniciativa com a valorização do trabalho humano”, a Constituição de 1946 acrescenta, no parágrafo único: “A
todos é assegurado trabalho que possibilite existência digna. O trabalho é obrigação social”. Com isso, pôs em
relêvo o direito ao trabalho e o dever de trabalho. Não se falou de como se asseguraria o direito ao trabalho. Não
se estatuiu sôbre a pretensão ao trabalho. No Brasil, como alhures, não se criou a pretensão.
Em 1932 lançamos Os Novos Direitos do Homem, que sustentamos serem cinco: o direito ao trabalho, o direito à
subsistência , o direito à educação, o direito à assistência e o direito à participação no confôrto material e
espiritual (direito ao ideal).
Uma das conseqüências do art. 145, parágrafo único, da Constituição de 1946, é a de ter o legislador de assegurar
a quem trabalha a conservação do contrato, se não há justa causa para a resilição ou a denúncia.
No art. 157 da Constituição de 1946 já o trabalho está em acepção de serviço, de atividade, utilizável por outrem,
com relação de dependência diante de quem recebe o serviço. Foi o que se passou noutros sistemas jurídicos,
antes e depois da Constituição de 1946 (e. g., para a Itália, cf. LUISA UIVA
-SANSEVERINO, Diritto dei Lavoro, g~a ed., 32 s.>. O relêvo jurídico da relação de trabalho, diante das outras
relações econômicas, resulta do elemento social, eruptivo, que se revela na relação jurídica de trabalho não por
que falte a igualdade, pois ela seria injusta, porque nem todos são iguais na produção e nos coeficientes de
adaptação social mas porque há injustiças, mesmo se se cotejam os valôres. Certamente, há no trabalho elemento
que corresponde à personalidade humana e há mínimo comum entre os homens que precisa ser atendido. ~ão é a
remuneração mínima, o chamado salário mínimo (a expressão “salário” já mostra a reminiscência da
desigualdade, típica na porção de “sal”), que pode assegurar êsse mínimo necessário. Primeiro, porque não é só o
que individualmente se recebe que importa a cada homem: tem êle necessidade de escolas públicas, medicina,
diversões, centros e meios de cultura. Segundo, a remuneração mínima somente é justa se a moeda não se
desvaloriza. A remuneração justa, por sua privatividade, mesmo se é em contrato coletivo, não basta,
socialmente; e pode tornar-se injusta pela inflação, pela perturbação da ordem e por outros fatos sociais.

3.DEVER DE TRABALHO. Enquanto se tem precisado o conceito de direito ao trabalho e se tem cogitado de
assegurá-lo, também se tem cuidado de disciplinar a atividade humana no sentido do dever de trabalho. As
Constituições não tem redigido qualquer regra jurídica suficiente sôbre o dever de trabalho. Problema de direito
público, dêle temos de abster-nos, pela falta de qualquer influência no direito privado. No art. 145, parágrafo
único, 23 parte, da Constituição de 1946 diz-se que “o trabalho é obrigação social”. Não há, porém, legislação
ordinária que satisfatôriamente discipline a constrição penal ao trabalho; e de modo nenhum se cogitou da
pretensão do Estado a que todos trabalhem.

4. SEGUROS SOCIAIS. Poderiam ser tratados no Decreto-lei n. 5.452 os seguros sociais. Ficaram de fora, com
simples alusões a êles. Daí ter-se no Decreto-lei n. 5 .452, art. 12:
“Os preceitos concernentes ao regime de seguro social são objeto de lei especial”. Na expressão “direito social”
estariam incluídos o direito do trabalho, o direito sindical e o direito assistencial. Mas a expressão revela que o
individualismo do século XIX tão pouco se preocupava com a proteção dos que trabalhavam e dos que
necessitavam de alimentos, vestes e medicina, que restringiu a êsses ramos o adjetivo “social”, que é
irrestringível. Social é o que concerne ao sócio ou à sociedade. Para que mais estreito seja o sentido de “social”, é
preciso que em sentido mais estreito se empreguem as expressões “sócio” e “sociedade”.
Devido à atitude do legislador, à Justiça do Trabalho não se atribuiram a cognição e o julgamento das questões
relativas à previdência social.
De inre condeudo, os seguros de acidentes do trabalho e outros não são, precisamente, matéria do Direito do
Trabalho. esse apenas regula deveres e direitos dos figurantes do contrato de trabalho. As empresas de seguros
são empresas especializadas, porém que podem fazer seguros de diferentes infortúnios ou ocorrências, ou mesmo
quaisquer seguros. A relação jurídica de seguro, ainda quando se trate de seguro de acidente no trabalho, é relação
jurídica à parte das relações jurídicas que se irradiam do contrato de trabalho. Começou-se com a Lei alemã de 15
de junho de 1883 (Lei Bismarck), contra o risco de moléstias dos trabalhadores em indústria. Depois, estendeu-se
o seguro dos trabalhadores, de jeito que se operou o regramento das instituições com diferenças notáveis em
relação aos outros seguros; mas é êrro dizer-se que se tornaram, sempre, publicísticos. Institutos de seguros
surgiram, dentro do direito público e nêle se mantiveram; porém de jeito nenhum isso aconteceu com todos. O
fato de se criar dever de segurar não basta para se publicizar o seguro do trabalhador. 1-Já seguros privados em
que os beneficiários são empregados que se acham em relação de direito público e a entidade pública é que faz,
por dever, o seguro.

§ 5.054. Conceito de contrato do trabalho

1. PRECISÕES. O contrato de serviços, qualquer que seja, pela natureza da prestação (serviço, trabalho) e a
importância, para a sociedade e para quem a faz, do trabalho humano (em sentido lato), é o que mais de perto toca
a personalidade de quem se vincula. Para bem se atender a isso, a essa diferença fundamental, basta que se
compare a prestação do trabalhador (senso lato) e a prestação de quem vende ou de quem loca o prédio ou o bem
móvel. Presta-se bem que (ainda) não é coisa, res. Todavia, é ineliminável o que há de comum aos negócios
jurídicos de locação de serviços ou da prestação de trabalho e os negócios jurídicos de compra-e-venda, de
locação de bens e os demais: são negócios jurídicos bilaterais, com as conseqúências dos inadimplementos e dos
adimplementos ruins.
Mas a vida mostrou e as conveniências humanas tiveram de atentar em que o recebedor dos serviços tratava o
trabalho humano como se fôsse coisa, abstraindo da estrita ligação da prestação com as necessidades vitais do
trabalhador. Teve-se de cogitar de legislação protectiva, que vai ao próprio seguro obrigatório. Por outro lado, os
trabalhadores tiveram de organizar a própria reação, a ajuda própria (Selbsthilfe), uma vez que não têm a justiça
de mão própria e que a proteção há de ser anterior ao exercício de qualquer pretensão à tutela jurídica. Noutros
têrmos: não basta a Justiça; a justiça de mão própria é afastada e as “correções” são aos próprios negócios
jurídicos já concluídos.
2.CONTRATO DE TRABALHO E AUTODEFESA. O direito contemporâneo não pode negar o direito de
coalizão a liberdade de associação sindical, para os que trabalham e para os que recebem o trabalho.
O direito de greve, o loclc-out (locaute, locautagem) e boycott (boicote, boicotagem) foram objeto de leis. As
coalizões levaram aos contratos coletivos de trabalho. Com a coletividade do negócio jurídico evita-se que os
empregadores façam boicote ou locaute e de certo modo que se façam sem justificativa as greves.
Aqui, convém que frisemos que o contrato pode ser coletive sem ser normativo. A normatividade supõe edicção
de regras (jurídicas ou negociais) a que os contratos tenham de observar. Ora, o contrato coletivo de trabalho
somente para os signatários não edicta regras, nem a abertura a outros signatários ou adesistas torna normativo o
contrato. O contrato normativo estabelece normas, que hão de ser atendidas quando se concluam contratos entre
associações ou sindicatos, ou entre pessoas que estejam sujeitas à normatividade. Não são contratos de trabalho,
não vinculam a prestar, nem a contraprestar. O fim do contrato normativo é a uniformidade de frituras cláusulas
contratuais: as suas normas, como as das leis, podem ser co gentes, dis positivas ou interpretativas. Trata-se
apenas de negócio jurídico bilateral regulador, de convenção normativa (E. JACOBI, Grundlehren des
Arbeitsrechts, 247 e 263), de contrato normativo (ALPXED HUECK, Nonnenvertrãge, Jherings Jahrbiicher,
„73, 33 s.). As normas regras negociais podem constar mesmo de manifestação unilateral de vontade.
Teremos ensejo de mostrar que essas normas não são regras jurídicas, não são fonte de direito. O que pode
acontecer é que se tornem direito costumeiro, ou que a lei as ponha em seu conteúdo. Mas, mesmo aí, fonte de
direito é o direito costumeiro, ou a lei, e não a norma negocial.
Assim, temos de estar atentos, para evitarmos confusão entre norma jurídica (regra jurídica) e norma negocia!. Há
normatividade nas leis, nos regulamentos, nos regimentos, nas instruções e nos avisos; e há normatividade nos
contratos normativos e nos negócios jurídidicos unilaterais normativos.

Porém de modo nenhum tal normatividande se identifica ou se equipara à normatividade da lei, ou de outras
fontes de direito.
Frise-se que a pluralidade de figurante, de um lado, não é essencial ao contrato normativo; nem todos os contratos
coletivos são normativos. Há normatividade sem coletividade, como há coletividade sem normatividade.
Os contratos coletivos resultaram de discussões, de ordem econômica, entre trabalhadores e empregadores, sem
que se negue interferência, direta ou indireta, dos consumidores. Com as diferenças entre ofertas e procuras, os
problemas agravaram-se e a solução teve de ser coletiva, e não individual. Buscam-se linhas que dêem equilíbrio
e afastem, por algum tempo, as lutas e as incompreensões.
O contrato coletivo de trabalho ou é contrato de trabalho, desde logo, com a só abertura para a inclusão dos
sujeitos, ou é apenas contrato coletivo normativo de trabalho.
Tem-se, na espécie, ou in caso, de verificar se houve contrato coletivo de trabalho, ou contrato coletivo normativo
de trabalho.
A despeito de alguns elementos comuns à regra jurídica e à norma contratual, como imperatividade (ou
dispositividade. ou mesmo interpretatoriedade), abstração e generalidade, a normatividade legal é acima da
normatividade contratual, que supôe lei que dê existência, validade e eficácia às normas contratuais. Não se trata
de lei. O art. 1.872, 1a parte, do Código Civil italiano (“Ii contratto ha forza di legge tra de parti”) é de
imperdoável obsolência.
De regra, os contratos coletivos de trabalho têm como figurantes as associações profissionais de sindicatos. Isso
não significa que não se possa concluir contrato coletivo de trabalho entre associação ou sindicato de
trabalhadores e empregador, ou empregadores, individualmente. A coletividade bilateral é a que mais acontece;
porém não é a única espécie possível.
Se houve contrato coletivo, a associação profissional ou sindicato obrou como órgão ou como representante. A
outorga de podêres há de constar dos estatutos. Ou de lei.
Os trabalhadores vinculados, em virtude da vinculação coletiva, enquadram-se conforme as suas categorias.
Pode dar-se que o empregador exerça determinada ativi(lade, que não fôra prevista, mas aí o conteúdo do contrato
coletivo há de ser respeitado, se tal atividade implica prestação do trabalhador que seja assimilável à do seu
trabalho normal, ou se há substituição da prestação de trabalho.
O contrato de trabalho pode ser individual ou coletiva. O contrato coletivo de trabalho pode ser contrato coletivo
normativo de trabalho, ou contrato coletivo de trabalho (dito simples) ou contrato coletivo e normativo (dito
contrato duplo).

1
CAPITULO II
EMPREGADO E EMPREGADOR NO DIREITO DO TRABALHO

§ 5.055. Conceito de empregador e conceito de empregado

1.PRECISÕES. De início, advirtamos que nem todos os que prestam serviço, trabalho, são empregados. O
consertador de aquecedores ou de aparelhos de ar condicionado que vem servir por hora, ou que vai cobrar o
serviço conforme o tempo que gaste, não é empregado: loca serviço sem se empregar. Quem emprega põe em si,
em sua esfera jurídica, algo de outrem. É o trabalho em domicilio.
O Direito do Trabalho, tal como hoje existe, resultou da industrialização. A referência pejorativa a
“trabalhadores” acabou. Mas, rigorosamente, ainda restam reminiscências do passado, apesar da demagogia
política. Precisa-se frisar que não há missão especial dos empregadores; nem dos empregados. Apenas, aquéies e
êsses exercem posição determinada, dentro da mesma missão (EDOAR TATARIN-TARNHEIDEN. Die
Rerufssttinde, 30 e 70; ERwIN JACOBI, Grundlehren des Arbeitsreehts, 41). Urge que se apague o teor de direito
de classe de que ainda se ressente o Direito do Trabalho, que se despregue do conceito de direito à parte, de direito
de grupo social (sem razão, HANS KRELLER, Zum Entwurf eines Augemeinen Arbeitsvertragsgesetzes, Arohiv
fúr die oivilistische Praxis, 122, 3 s., e MELSBACT{, Deutsches Arbeitsrecht, 18).
No Direito do Trabalho, empregador é empresa que tem atividade de fins econômicos: emprega (= admite que
entre, que se “pregue”), dirige a prestação de serviço e remunera. O empregador faz seu o serviço do empregado,
usa-o, loca-o.
Não importa se se trata de pessoa física ou jurídica. Pode mesmo acontecer que se trate de alguma entidade que
ainda não foi personificada.
O contrato de trabalho é que faz empregado quem promete o trabalho e empregador quem o quer, O emprêgo não
é causa, o emprêgo é efeito do contrato de trabalho. Quem trabalha, como quem se põe entre três estacas,
“prega-se”, porque houve o acôrdo de vontades. A relação jurídica que do contrato de trabalho se irradia é entre o
empregado e o empregador; mas o figurante que promete o trabalho e o figurante que o quer só se fazem
empregado e empregador porque concluíram o negócio jurídico bilateral.
O Direito do Trabalho poderia ter sido concebido como o regramento de todos os contratos entre empregados e
empregadores. Até aí não chegou, de modo que há contratos entre empregados e empregadores que não forgm
postos no Direito do Trabalho. De iure condendo, houve deficiência de técnica legislativa e restos do passado, por
só se ter atendido à periculosidade da agregação de empregados das indústrias. Só se deu proteção relevante
àqueles que se temiam.

2.EMPREGADOR Diz o Decreto-lei n. 5.452, de 12 de maio de 1943, art. 2.0: “Considera-se empregador a
empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a
prestação pessoa] de serviços”. Acrescenta o § 1.0: “Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da
relação de emprêgo, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras
instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados”.
Oart. 22, § 1.0, do Decreto-lei n. 5.452 atende a que nem todos os empregadores são empresas de fins lucrativos e
que os. há sem corresponderem prôpriamente a empresas, como acontece aos que têm profissão liberal, ou são
instituições de beneficência ou recreativas. Aliás, a expressão “fins lucrativos” está em sentido estrito, porque não
se lucra somente quando se vende ou se mutua.
Teve-se de repelir as decisões que pretendiam não haver empregador síndico de edifício de apartamentos, ou
outras comunhões. Empregadores são, aí, os comuneiros, a que o síndico
representa. Pode ocorrer que haja empregados que servem ou trabalham para os comuneiros, representados pelo
síndico, conforme os podêres conferidos, e empregados de que o síndico precisou para as suas funções. Aquêles
são empregados dos comuneiros, da comunhão, ditos empregados do edifício ( empregados dos proprietários do
edifício), êsses, empregados do síndico. Posteriormente, a Lei n. 2.757, de 23 de abril de 1956, arts. 1.0, 2.0 e 32,
teve de regular o assunto, com tôda a explicitude e precisão.
O Decreto-lei n. 5.452, art. 2.0, § 2.0, merece exposição à parte. Temos aqui de reproduzi-lo e fazer algumas
considerações. Lá se estatui: “Sempre que uma ou mais empresas, tendo embora, cada uma delas, personalidade
jurídica própria, estiverem sob a direção, contrôle ou administração de outra, constituindo grupo industrial,
comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprêgo, solidàriamente
responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas”.
Preliminarmente, observemos que o Decreto-lei n. 5.452, art. 2.0, § 2.0, foi explícito em afastar que a regra
jurídica que aí se formula possa ser interpretada como reconhecedora de quaisquer entidades diretoras,
controlantes ou administradons. Só se redigiu regra jurídica “para os efeitos da relação de emprêgo”. Se são
permitidas, ou quais as suas situações, depende de outras leis.
O conceito de empregado dirigido ou dependente não é conceito unitário, mesmo porque o órgão das pessoas
jurídicas não é empregado, não é, sequer, representante, e há direção do trabalho que em verdade é exercida por
empregados. Nas sociedades de responsabilidade limitada, o órgão é inconfundível com quem tem podêres de
representação (ERIcH MoLITOR, Die Bestellung zum Vorstandsmitglied einer Aktiengesellschaft, Festsehrift
der Leipziger Jnristenfakultdt flir VICTOR EHRENBERG, 45 s.) : o órgão presenta, não representa; é a
sociedade que pratica os atos positivos ou negativos; ela é que exerce a atividade, através dêle; ela é que, em
sentido geral, trabalha.
Tem-se de distinguir do trabalhador o empregado. Têm-se de distinguir de quem presta serviços o trabalhador e
o empregado. Não se chegou a sentido preciso. O mais acertado seria, nas leis, chamar-se trabalho a qualquer
serviço, abstraindo-se do sentido estrito com que só se pensou na legislação especial do trabalho. Aliás,
empregados também há a que não se liga a legislação especial do trabalho, o que de si só justificaria que se
precisassem os conceitos e não se usassem ambiguamente (às vêzes até equivocamente) os nomes. A
preocupação de proteger o empregado de empresas industriais e comerciais pôs em relêvo a função do empregado
em indústria ou em comércio. Mas deixou de fora o empregado agrícola, como se, para êle, o século XIX e
mesmo o século XVIII não houvessem passado.

3.EMPREGADO. Empregado é quem prometeu o trabalho e foi aceito, desde que se satisfizeram os
pressupostos necessários. Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 3.0: “Considera-se empregado tôda pessoa física que
prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência dêste e mediante salário”. Acrescenta
o parágrafo único: “Não haverá distinções relativas à espécie de emprêgo e à condição de trabalhador, nem entre
o trabalho intelectual, técnico e manual”. No direito brasileiro, o conceito de “empregado~~ vai além do conceito
de figurante do contrato de trabalho, que se vincula à prestação. Há o empregado dependente e o empregado
independente, e o art. 32 do Decreto-lei n. 5.452 só se refere a quem presta serviços de natureza não eventual a
empregador, sob a dependência dêsse. Há, portanto, além disso, empregado que só eventualmente presta o
serviço, ou os serviços, e empregado que o presta ou os presta permanente-mente. Há mais: há o empregado
gratuito e o empregado remunerado. Por onde se vê que o Direito do Trabalho, no sentido estrito, que se firmou,
não diz respeito a todos os contratos entre empregados e empregadores. A propósito do empregador, acentuou-se
que se há de tratar de empresa, individual ou coletiva, que tenha finalidade e pois os riscos da atividade
econômica, com a explicitação do art. 2.0, § 1.0, do Decreto-lei n. 5.452. Quanto ao empregado, puseram-se em
relêvo os pressupostos essenciais: permanência da prestação do trabalho, dependência da prestação do trabalho e
remuneração. Foi, de certo modo, a surprêsa da evolução técnica e da expansão das indústrias que fêz os
legisladores se preocuparem com o campo, de algum modo fechado, do trabalho dependente prestado a empresa
com finalidade econômica. Não basta que se trate de quem presta mão de obra (cf. FERRUCCIO PERGOLESI, Ii
Contralto d‟impiego privato, 12 s.; DOMENICO PELuxrrí GRIVA, II Rapporto d‟impiego privato, 121).
Todavia, o § 12 do art. 2.0 atenua o art. 22 do Decreto-lei n. 5.452 e o art. 39 não é óbice a que se tenha de
interpretar a sua regra jurídica sem a absolutidade que fôra de esperar-se (cf., no direito italiano, PAOLO
FALLETTI, Ii Contratto d‟impiego privato, 14 s.). Há operários que não são empregados, mas há empregados de
tal independência que se diminui, de muito, o pressuposto da subordinação. Por outro lado, há pessoas que
prestam, dependentemente, serviços, sem que se possam considerar empregados. Mais: a confiança, o elemento
fiduciário, quando cresce, como que descobre a subordinação.
A permanência, a continuidade normal, essa, dificilmente pode ser abstraída, de jeito que funciona como
pressuposto conceptual. Aliás, é preciso advertir-se em que a permanência équanto à inserção na empresa, e não
quanto à prestação fáctica de trabalho. O médico que foi contratado para substituir outro, que viajou para o
estrangeiro, não se insinuou na empresa. O veterinário que se vincula a tratar o gado que foi vitima de
contaminação não é empregado que satisfaça as exigências do art. 3O do Decreto-lei n. 5.452. O pintor, que foi
pintai a casa de alguém e teve quarto para dormir e mesmo comida, não é empregado no sentido do art. 39, ainda
que o dono ou possuidor da casa seja empresa. O professor de alguma língua, ou ciência, que foi contratado para
atender a turma suplementar, oriunda do fechamento de algum colégio, não é empregado com os requisitos da
legislação do trabalho.
Tem-se dito que a colaboração empregatícia deveria ser tida como o elemento mais relevante para a
individualização do empregado (cf. MAZzJNI ALATI, La Coilaborazione impegatizia dei personai teenica dei
i‟industria, 1 s.) ; mas isso seria transformar-se em elemento distintivo geral o que é elemento distintivo interno.
A empresa organiza-se e distribui colaborações , que se entrosam, porém mais seria descrever-se do que
caracterizar-se.

§ 5.056. Princípio de isonomia e trabalhadores

1.IGUALDADE PERANTE A LEI. Em interpretação rigorosa, aprofundada, do art. 141, § 1.0, da ConstituIção
de 1946, onde se diz que todos são iguais perante a lei, caberia qualquer regra jurídica concernente à igualdade
entre os trabalhadores. Onde há sêres humanos e o seu trabalho não é igual ao de outro, não há pensar-se em
igualização. Onde o é, a isonomia impõe-se. A função do salário mínimo, por exemplo, consiste em atender a que,
no tocante à comida, às vestes e à casa, há necessidade igual. Mas os salários não poderiam ser iguais, porque o
trabalho produz e seria injusto que se considerassem iguais os que desigualmente concorrem para a produção e os
seus níveis.

2. TRABALHO INTELECTUAL, TRABALHO TÉCNICO E TRABALHO MANUAL OU PEDAL. Os


trabalhadores subordinados ou são intelectuais, que são os que mais trabalham com esfôrço mental do que com
esfôrço manual ou pedal, ou são manuais ou pedais, isto é, os que mais trabalham com esfôrço manual ou pedal.
Costuma-se dizer que os trabalhadores intelectuais são os que trabalham com o intelecto, como se o trabalhador
manual ou o pedal não usasse a inteligência. Devemos corrigir tão forçada discriminação. A linha rígida revela a
separação antiga, quando o trabalhador manual era escravo, pôsto que tivesse havido escravização de intelectuais.
A valorização cristã do trabalho manual e pedal apagou o pretendido abismo, porém não o apagou de todo (cf.
LonovíCo BARASSI, Ii Contratto di lavoro, 1, 40 s.). O art. 39, parágrafo único, do Decreto-lei n. 5.473 não quer
distinções contratuais no tocante ao trabalho intelectual, o técnico e o manual (ou pedal). Já a Constituição de
1934, art. 121, § 2.0, dizia: “Para o efeito dêste artigo” o art. 121 cogitava dos princípios básicos para a legislação
do trabalho “não há distinção entre o trabalho manual e o trabalho intelectual ou técnico, nem entre os
profissionais respectivos”. A Constituição de 1946, art. 157, parágrafo único, repetiu-o: “Não se admitirá
distinção entre o trabalho manual ou técnico e o trabalho intelectual, nem entre os profissionais respectivos, no
que concerne a direitos, garantias e benefícios~~.
3
Nas leis sôbre trabalho tem-se de evitar qualquer tratamento diferente ao trabalhador intelectual e ao trabalhador
manual ou pedal, no que concerne a direitos, garantidos e benefícios. Se há diferença, que não se liga à
manualidade, à pedalidade ou à intelectualidade do trabalho, mas a outro elemento distintivo, como se o trabalho
exige determinada altura, ou qualidades óticas, ou de degustação, não há ofensa à regra de igual tratamento. Se há
razão de saúde, tanto cabe a regra jurídica protectiva como a que permita seleção.

3.LUGAR EM QUE SE EXERCE O TRABALHO. Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 6.0: “Não se distingue
entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador e o execatado no domicilio do empregado, desde
que esteja caracterizada a relação de emprêgo”. Com a regra jurídica do art. 6.0, uma vez que há a relação jurídica
de emprêgo, sendo o mesmo o empregador, não importa se o trabalho é no estabelecimento, ou se é no domicilio
do empregado, ou em casa do cliente, desde que seja a mesma a função. O elemento de subordinação é comum às
três espécies, como o é o de permanência e como o é da remuneração. Cumpre ainda observar-se que o conceito
de estabelecimento está, aí, assaz dilatado, porque o empregado viajante, ou vendedor, ou distribuidor, que nunca
pára nos edificios em que funciona a empresa, satisfaz o requisito do “trabalho realizado no estabelecimento do
empregador”. O trabalho pode ser noutra localidade onde ao empregado incumba, por exemplo, fiscalizar a
transferência das cargas de um trem para outro, ou para o mar ou para a aeronave, ou do mar para o trem, ou para
a aeronave, ou de um navio para outro, O empregado pode ter apenas função de relações públicas noutra cidade,
ou perante algumas empresas.
Temos de considerar três conceitos: a) o de empregado doméstico; b) o de empregado que trabalha no seu
domicilio (ou residência) ; c) o do empregado que não é empregado doméstico, nem trabalha no seu domicilio,
mas sim nas residências (dito, em sentido geral e trivial, domicílio) dos clientes ou fregueses.
O trabalho em domicílio ou é contrato de obra ou contrato de trabalho. Quem trabalha em domicílio quase sempre
(não sempre) presta ao cliente o trabalho, sem que seja o figurante do contrato: figura no contrato a pequena ou
grande empresa , de que o prestador de trabalho é empregado. Se o trabalho é prestado pelo próprio figurante, há
contrato de serviços sem subordinação do trabalhador ao recebedor do trabalho. Se não no é, quem faz o trabalho
só o faz porque é subordinado ao figurante do contrato de serviço. Trabalha por conta de terceiro. A retribuição,
que o trabalhador em domicilio recebe, não é o que o cliente paga; mas sim o que lhe há de contraprestar o
empregador. Quanto à subordinação, não se pode dizer que o trabalhador em domicilio não seja subordinado. o é;
apenas não é tão acentuada a sua subordinação ao empregador. O Decreto-lei n. 5.452, art. 83, define o trabalho a
domicílio “como o executado na habitação do empregado ou em oficina de família, por conta do empregador que
o remunere”. O trabalho a domicílio pode ser o manual, o pedal ou o intelectual, ou o misto. O elemento distintivo
está no fato de ser prestado em lugar cuja posse imediata é do trabalhador, e não do empregador. Se o empregador
locou e comodou ao empregado a casa de residência, ou algum terreno, ou choupana, ou barracão, não tem a
posse imediata, e o trabalho é a domicílio (senso lato). Se do lugar em que trabalha o empregado não tem posse o
trabalhador, nem o empregador, e apenas alguém deve a tença ao empregado ou êsse a tomou, o trabalho é a
domicílio. No Código Civil italiano, art. 2.128, a definição é exata. A Lei italiana n. 264, de 13 de março de 1958,
art. 1, foi infeliz o legislador: “Non sono considerati lavoratori a domicilio le persone di ambo 1 sessi de
eseguono... lavori in locali di pertinenza dell‟imprenditore stesso, anche se per l‟uso di tali locali o dei mezzi di
lavoro in essi esistenti, corrispondono all‟imprenditore un compenso”. A organização da empresa pode ser de tal
maneira que se tenha como trabalho prestado no estabelecimento o que se presta onde habita o empregado; mas
isso é difícil de concretizar-se, mesmo porque há o principio da inviolabilidade do domicílio de que se teria de
evitar qualquer ofensa. Em princípio, se há residências para os empregados, que pagam aluguer, ou não pagam, o
trabalho dentro da casa é trabalho a domicilio.
O trabalho a domicilio pode ser em aparelhos da empresa, ou próprios, e isso só é relevante se outros elementos
concorrem para se considerar artesão, e não empregado, o trabalhador. A subordinação é que importa.
Pôsto que escape o trabalhador a domicílio a alguns deveres disciplinares e, de regra, a horários de trabalho, as
regras jurídicas sôbre retribuição, denúncia, ou resilição, e as demais, inclusive previdência social, são
invocáveis.
O contrato de trabalho a domicilio pode ser individual ou coletivo, ou normativo.
Há deveres de diligência, de segrêdo, de abster-se de ajuda à concorrência contra a empresa e de produção que
corresponda aos planos e à confiança dispersada do trabalhador.
É preciso que se não confunda com trabalho a domicilio, que é feito na casa do empregado, com o trabalho
doméstico, que é trabalho que se presta na casa do empregador, a que se refere o art. 7~0, a), do Decreto-lei n.
5.452, para de iure condendo, erradamento ser pré-excluido da incidência geral das regras jurídicas do
Decreto-lei n. 5.452. Aliás, o trabalho objetivamente doméstico pode ser trabalho a domicílio (e. g., na casa do
empregado, como se aí é que êle, empregado, prepara as refeições dos empregados da empresa), como pode ser
no estabelecimento. Se o empregado de serviço doméstico reside no estabelecimento e aí o executa, então se
juntam os elementos de domesticidade, de domiciliaridade e de produção no estabelecimento. For outro lado, o
empregado doméstico pode ser quem serve em casa que não é a do empregador, como se o empregador é B e o
empregado A é o cozinheiro ou o enfermeiro da mãe de B, que reside noutro lugar, talvez mesmo noutra cidade.
O trabalhador a domicílio não se confunde com o empreiteiro, ou artesão, mesmo se as peças hão de ser entregues
prontas, periodicamente , e se se considera a ultimação como prova do tempo de trabalho. Se falta a permanência,
de modo nenhum se há de invocar o art. 6.0.
O trabalho a domicilio era o mais desprotegido pelo principio de igualdade. A situação é dolorosa, porque não há,
sequer, para êsses trabalhadores, a mudança de ambiente, nem sempre a responsabilidade dos empregadores pelas
reparações de máquinas e aparelhos. O transporte do produto do trabalho por vêzes é feito pelo trabalhador, ou à
custa dêle.

O trabalhador em domicílio, diante da diferença de tratamento, invoca os arts. 5.~ e 6? do Decreto-lei n. 5.452, e
pode exigir que se lhe dêem os aUmentos que se prestam aos que, de igual categoria e de igual função, trabalham
no estabelecimento. Ocorre o mesmo quanto a férias, devendo-se computar como falta ao serviço o tempo a que
deveria corresponder entrega de trabalho e tal entrega não se deu. As férias são as de vinte dias, cada ano, O art.
134, o), do Decreto-lei n. 5.452 rege a permanência fora do estabelecimento.
Não há contrato de trabalho a domicílio se o trabalho individual ou coletivo é prestado por exigência ocasional da
empresa. Nem se pode pensar em contrato de trabalho se o trabalhador é que vende o produto, retirando parte do
lucro para a pessoa que o encarregou da produção.
O trabalho que se presta em casa de outrem, para outrem, que é o cliente, não é trabalho a domicílio, O trabalho é
considerado trabalho na empresa, isto é, no estabelecimento do empregador, quer seja nas oficinas, ou no balcão,
ou nas ruas ou nas estradas, ou na casa do cliente. É o trabalha em domicilio.
Trabalho doméstico é outra espécie. Supôe que o empregado trabalhe em casa ou lugar em que viva, mesmo que
o seja por parte do dia, o empregador, e não tenha êsse o fim de lucro. O cozinheiro de A é trabalhador doméstico.
Não o é o cozinheiro do restaurante. Ésse é empregado de empresa. Para a domesticidade do emprêgo, o que mais
importa é o âmbito residencial, porém, se o dono do restaurante reside em quarto do prédio do restaurante e come
o que o cozinheiro faz para os freguêses, não se torna êsse simples empregado doméstico. Se o dono do hotel
mora no hotel, a arrumadeira não é sua doméstica; é empregada do hotel. Se, em vez disso, o diretor da empresa
hoteleira não tem direito à comida, ou ao alojamento, e habita em parte do edifício, onde o cozinheiro lhe vai fazer
a comida, ou a arrumadeira lhe limpa o quarto e lhe faz a cama, mediante remuneração à parte, que êle presta, há,
para êsse diretor da empresa, trabalho doméstico, inconfundível com o outro trabalho.
Trabalho doméstico é o trabalho dos empregados que servem em casa dos empregadores, sem que haja o
preponderante interesse de lucro dos empregadores. Estatui o Decreto-lei n. 3.078, de 27 de fevereiro de 1941,
art. 1.0: “São considerados empregados domésticos todos aquêles que, de qualquer profissão ou mister, mediante
remuneração, prestem serviço, em residências particulares ou a benefício destas”.
Acrescenta o Decreto-lei n. 3.078, art, 2.0: “É obrigatório> em todo o País, o uso de carteira profissional para o
empregado em serviço doméstico”. Acrescenta o § 1.0: “São requisitos para a expedição da carteira: a) prova de
identidade; b) atestado de boa conduta, passado por autoridade policial; e) atestado de vacina e de saúde,
fornecidos por autoridades sanitárias federais, estaduais ou municipais e, onde não as houver, por qualquer
médico, cuja firma deverá ser reconhecida”. E o ~ 2.0: “Nas localidades onde o número de empregados
domésticos fôr avultado, poderão as inspeções de saúde ser confiadas, sem ônus para os cofres públicos, a
instituições médicas particulares idôneas, mediante autorização especial e sob a fiscalização de competente
autoridade policial”. E o § 3.0:
„Os atestados a que se referem as alíneas b) e o) do ~ 1? serão renovados de dois em dois anos, sob pena de
caducidade da respectiva cadeira”. E o § 4?: “A exigência da renovação a que se refere o parágrafo anterior
desaparecerá, se o empregado continuar com o mesmo empregador”.
Ainda o Decreto-lei n. 3.078, art. 4?: “O empregador é obrigado a anotar na carteira do empregado o dia do início
do serviço, a natureza dêste e o salário ajustado, seguindo-se a data e as assinaturas das partes contratantes”.
Acrescenta o parágrafo único: “Terminado o contrato, o empregador fará a respectiva anotação na carteira”. E o
ad. 5.0: “Quando o interessado fôr analfabeto, os atos de escrita que lhe competirem serão praticados por terceiros
a seu rogo”.
Sôbre os deveres, estabelece o Decreto-lei n. 3.078, art. 6.0:
“Constituem deveres do empregador: a) tratar com urbanidade o empregado, respeitando-lhe a honra e a
integridade física; b) pagar pontualmente os salários convencionados; e) assegurar ao empregado as condições
higiênicas de alimentação e habitação quando tais utilidades lhe sejam devidas.”

4. REGRAS JURÍDICAS E ESPÉCIES DE TRABALHO. Alguns empregados foram pré-excluidos da


incidência geral de regras jurídicas contidas no Decreto-lei n. 5.452. Diz o art. 72; “Os preceitos constantes da
presente Consolidação, salvo quando fôr, em cada caso, expressamente determinado em contrário, não se
aplicam: a) aos empregados domésticos, assim considerados, de um modo geral, os que prestam serviços de
natureza não econômica à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas; b) aos trabalhadores rurais, assim
considerados aquêles que, exercendo funções diretamente ligadas à agricultura e à pecuária, não sejam
empregados em atividades que, pelos métodos de execução dos respectivos trabalhos, ou pela finalidade de suas
operações, se classifiquem como industriais ou comerciais; e) aos funcionários públicos da União, dos Estados e
dos Municípios, e aos respectivos extranumerários em serviço nas próprias repartições; d) aos servidores de
autarquias paraestatais, desde que sujeitos a regime próprio de proteção ao trabalho que lhes assegure situação
análoga à dos funcionários públicos”. Acrescenta o parágrafo único: “O direito comum será fonte subsidiária do
direito do trabalho, naquilo em que não fôr incompatível com os princípios fundamentais dêste”.
A Lei n. 2.757, de 23 de abril de 1956, art. 1.~, estatui:
“São excluidos das disposições da letra a) do art. 7O do Decrete-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943, e do art.
1.0 do Decreto-lei n. 3.078, de 27 de fevereiro de 1941, os empregados porteiros, zeladores, faxineiros e serventes
de prédios de apartamentos residenciais, desde que a serviço da administração do edifício e não de cada
condômino em particular”. O art. 2.0 acrescenta: “São considerados representantes dos empregadores nas
reclamações ou dissídios movimentados na Justiça do Trabalho os síndicos eleitos entre os condôminos”. E o §
3.0: “Os condôminos responderão, proporcionalmente, pelas obrigações previstas nas leis trabalhistas, inclusive
as judiciais e extrajudiciais”.
Sôbre o trabalhador doméstico já expusemos o que se estatui e quanto ao trabalho rural, uma vez que se trate de
emprêgo em empresa agrícola, ou industrial, ou comercial, a estabilidade é assegurada pela Constituição de 1946,
art. 157, XII, de modo que temos de considerar extensivo aos trabalhadores rurais o que se estatui em proteção ao
trabalhador nas
empresas não rurais. A recusa de tal interpretação fere o princípio constitucional. Tem-se de atender, mesmo no
terreno da doutrina sôbre o direito do trabalho, que a estabilidade éo que mais importa (cf. Gume BORToLOTTO,
II Diritto dei Lavoro, 30), pôsto que se haja de evitar a falta de informes. recíprocos sóbre o empregado e o
empregador, por meio da re~, jurídicas como a do art. 47~, * 12, do Decreto-lei n. 5.452.
A exclusão do trabalhador rural, na legislação trabalhista da ditadura, evidencia a hipocrisia do intuito de proteger
os trabalhadores. Não se atendem a que já. havia legislação especial desde o Imperio.
Se o vendedor, o agente ou o representante comercial é empregado, no sentido da legislação do trabalho (cf.
Decreto-lei n. 5.452, artj 651, § 1.0), é questão de fato. Devido à ambigúidnde das expressões, tem-se como
empregado, no sentido da legislação do trabalho, quem satisfaz os pressupostos legais (Decreto-lei n. 5.452, art.
3~O) É absurda a jurisprudência que exige, para a suposta afirmativa, o requerimento da exclusividade, a
assinatura do livro de ponto e outras formalidades. Se as despesas e os riscos são a cargo do‟ agente, ou
representante, ou vendedor, se êle paga os impostos e taxas ou se não tem retribuição mínima, empregado não é.

§ 5.057. Exigências habilitativas e registárias para o trabalho

1. HABILITAÇÕES. A admissão ao trabalho pode ser subordinada a habilitação científica, técnica, literária ou
de prática. Na Constituição de 1946, o art. 141, § 14, é explícito no que se refere à liberdade de profissão, apenas
com a permissão de lei que regule pressupostos de capacidade (requisitos de aptidão educacional).
De regra, para ser figurante do contrato de trabalho dependente é preciso que o prestador do trabalho apresente
determinado titulo de estudo, ou documento de aprendizagem.

2. IDENTIFICAÇÃO. A exigência da identificação atende a interesses públicos e a interesses do empregador,


como, também, do próprio empregado. A regra jurídica básica é de direito público, pois que se insere na
legislação de pressupostos e títulos identificativos. A carteira profissional, seja do trabalhador manual, técnico ou
intelectual em geral, seja do advogado, ou do médico, como o passaporte diplomático, tem a mesma significação
identificativa, na origem e na eficácia, publicística e, na eficácia, privatística.

3.CARTEIRA PROFíSSIONAL, EXIGÊNCIA . Criou-se, no Brasil, a carteira profissional obrigatória


(Decreto-lei n. 5.452, arts. 13 e 415), mas a desordem do Ministério do Trabalho, criado para a política e quase
absorvido por isso, como foi típico o período ditatorial e ditatorialiforme de 1930-1964, nunca levou a sério a
função jurídica da legislação do trabalho. Em 1957, a Lei n. 3.359, de 22 de dezembro, eliminou a
obrigatoriedade, o que mostrou a inaptidão organizatória do Ministério do Trabalho.
No intervalo surgiram dúvidas, que somente têm, hoje, valor histérico. Por exemplo: a) ~ Podia alguém trabalhar
e exigir a remuneração sem ter carteira profissional? b) ~.Podia o empregado sem carteira de identidade exercer
pretensão à tutela jurídica perante a Justiça do Trabalho? Quanto a a), as opiniões divergiram, sem
fundamentação suficiente de um lado e doutro; porém tinha de prevalecer, como prevaleceu, a corrente que,
diante da morosidade das repartições e da deficiência de ajudas, como que riscou, na prática, a obrigatoriedade. A
carteira profissional era apenas uma das provas da qualidade de empregado. Aliás, as sanções de inexistência, ou
de validade do contrato de trabalho, que alguns intérpretes defenderam, seriam injustas e desumanas. A respeito
foi certo
A.B. NETO (Contrato e Relação de emprégo, 210 s.). Quanto a b), prevaleceu a interpretação de ser competente
a Justiça do Trabalho (ARNALDO SUSSEKIND, Manual da Justiça do Trabalho, 2.~ ed., 1884.
Dizia o Decreto-lei n. 5.452, art. 13: “É adotada no território nacional a carteira profissional para as pessoas
maiores de 18 anos, sem distinção de sexo, e que será obrigatória para o exercício de qualquer emprêgo ou
prestação de serviços remunerado?‟. Acrescentava o parágrafo único: “Excetuam-se da obrigatoriedade as
profissões cujos regulamentos cogitem da expedição de carteira especial própria”.
§ 5.058. Identificação, registo e anotações

1.PREcIsÕEs. A identificação é necessária a todo ser humano. A economia exige a identificação de animais e,
por vêzes, dos objetos sem vida. Quanto ao ser humano, há o título identificativo (carteira, passaporte), comum a
todos, e os títulos identificativos profissionais, como se passa com os advogados, médicos, engenheiros e demais
trabalhadores.

2.CARTEIRA PROFISSIONAL. Carteira profissional é o titulo identificativo que corresponde a quem exerce
profissão, ou que presta trabalho, ou que presta trabalho a que se venha atribuir profissionalidade.
Lê-se, hoje, na Lei n. 3.359, de 22 de dezembro de 1957, art. 1.0: “Todo Brasileiro pode ser admitido a exercer
emprêgo ou atividade remunerada quando não possua carteira profissional, mediante apresentação ao
empregador de qualquer doe seguintes documentos de identidade: carteira de identidade, expedida por autoridade
policial, certidão de reservista, título de eleitor ou certidão de idade”. Somente se alude ao Brasileiro, nato ou
naturalizado. Depois de se estabelecer a facultatividade fáctica da carteira profissional, o que a doutrina e a
jurisprudência já haviam assentado, a Lei n. 3.359, art. 1.0, falou da apresentabilidade da carteira de identidade,
expedida por autoridade policial, certidão de reservista das Fôrças Armadas, título de eleitor e certidão de idade.
Ainda assim, temos de admitir o principio da supribilidade da prova. Primeiro, porque, no momento, pode
ocorrer que o trabalhador haja perdido os documentos ou o documento que possuía. Segundo, em caso de
calamidade, não se pode pensar em que todos os que trabalham tenham em mão os documentos. Terceiro, pode
estar pendente o deferimento ou a assinatura, sem que se possa imputar culpa ao trabalhador.
Ocaso dos estrangeiros foi assunto de regra jurídica àparte, que está na Lei n. 3.359, art. 2.0: “O estrangeiro,
residente em caráter permanente no território nacional, titular de passaporte do qual conste carimbo e assinatura
de autoridade imigratória, que prove a sua entrada regular no país, pode ser admitido ao trabalho com a
apresentação dêsse documento ao empregador, enquanto não obtiver a carteira pro

fissional de trabalho”. Sômente ao estrangeiro “residente em caráter permanente”, expressão com que se
explícita o art. 141 da Constituição de 1946, onde se fala de “estrangeiros residentes no País”, com implícita
referência à permanência. A ratio tegis é a de pré-excluir os que habitam, por momentos, ou dias, ou pouco
tempo, no território nacional, os transeuntes e os passageiros. O estrangeiro, com permissão de autoridade
competente, ou por necessidade de Brasileiro, ou estrangeiro residente, no sentido do art. 141 da Constituição de
1946 (como o cirurgião que, ao cair a aeronave, na falta de cirurgião do Brasil, opera a vítima da queda, ou
mesmo o atropelado por automóvel), excepcionalmente pode ser admitido ao trabalho.
A êsse trabalho do estrangeiro, que presta o serviço, aplica-se o direito brasileiro, sem que se possa pensar em
contrato de trabalho, regido pela Direito do Trabalho, porque, mesmo em se tratando de consêrto de máquina, ou
outra qualquer atividade que, de uso, seja por empregados, há o elemento negativo da eventualidade.
Diz a Lei n. 3.359, art. 3.0: “O Brasileiro ou estrangeiro empregado que não possua carteira profissional deve
obtê-la da repartição competente, no prazo improrrogável de noventa dias, a contar da data de sua admissão ao
serviço”. Acrescenta o parágrafo único: “A concessão da carteira profissional, estabelecida na Consolidação das
Leis do Trabalho, não dependerá da prova da prestação de serviço militar”. A despeito de se não haver estatuído
ser obrigatória a carteira profissional, o art. 30 dá prazo para a obtenção, a contar-se do dia em que foi admitido
ao serviço o Brasileiro ou o estrangeiro. Se, durante os noventa dias, deixou o emprêgo o trabalhador,
interrompe-se o prazo, e somente da. nova admissão é que começa de correr, mesmo que a admissão seja na
mesma empresa.
Oart. 3o da Lei n. 3.359 fala de dever o empregado obter a carteira profissional. Se êle a requerer dentro do prazo,
a repartição competente tem de dá-la dentro dêle. Não se trata de prazo que dispense necessária diligência da
autoridade pública. O que é preciso que não seja nos últimos momentos do último dia útil a apresentação do
requerimento, com os pressupostos exigidos por lei.
Estatui o Decreto-lei n. 5.452, art. 14: “A carteira profissional será processada nos têrmos fixados no presente
capítulo e emitida, no Distrito Federal, pelo Departamento Nacional do Trabalho e nos Estados e no Território do
Acre, pelas Delegacias Regionais do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, ou pelas repartições estaduais
autorizadas em virtude de lei”. Acrescenta o parágrafo único: “Ao Departamento Nacional do Trabalho, em
coordenação com a Divisão do Material do Departamento de Administração, incumbe a expedição e contrôle de
todo o material necessário ao preparo e emissão das carteiras profissionais”. Trata-se de regras jurídicas de
distribuição de competência; portanto, de direito administrativo. Aqui, citá-las é apenas informar sôbre como se
há de proceder. Acrescenta o Decreto-lei n. 5 .452, art. 15:
“A emissão das carteiras far-se-á a pedido dos interessados, dirigido ao Departamento Nacional do Trabalho, no
Distrito Federal, e aos delegados regionais do Trabalho, ou repartições autorizadas em virtude de lei, nos Estados
e Território do Acre, perante os quais comparecerão pessoalmente, para prestar as declarações necessárias”. Em
lugar de Território do Acre, leia-se “Territórios”.
Os pressupostos e o procedimento são administrativos. Assim, estabelece o Decreto-lei n. 5 .452, art. 16: “A
carteira profissional, além do número, série e data de emissão, conterá mais, a respeito do portador: 1. Fotografia
com menção da data em que houver sido tirada. 2. Característicos físicos e impressões digitais. 3. Nome, filiação,
data e lugar de nascimento, estado civil, profissão, residência, grau de instrução e assinatura. 4. Nome, atividade
e localização dos estabelecimentos e empresas em que exercer a profissão ou a função, ou a houver
sucessivamente exercido, com a indicação da natureza dos serviços, salário, data da admissão e da saída. 5. Data
da chegada ao Brasil e data do decreto de naturalização para os que por êste modo obtiveram a cidadania. 6.
Nome, idade e estado civil das pessoas que dependam econômicamente do portador da carteira. 7. Nome do
sindicato a que esteja associado. 8. Situação do portador da carteira em face do serviço militar. 9. Discriminação
dos documentos apresentados”. Acrescenta o parágrafo único: “Para os estrangeiros, as carteiras, além das
informações acima indicadas, conterão;
1. Data da chegada ao Brasil. 2. Número, série e local de emissão da carteira de estrangeiro. 3. Nome da espôsa, e,
sendo esta brasileira, data e lugar do nascimento. 4. Nome, data e lugar do nascimento dos filhos brasileiros
Ainda o Decreto-lei n. 5.452, art. 17: “As declarações do interessado ou, no caso de menores, que não estejam
obrigados à carteira própria, dos seus pais ou tutôres, deverão ser apoiadas em documentos idôneos ou
confirmados por duas testemunhas já portadoras de carteiras profissionais, que assinarão com o declarante,
mencionando o número e a série das respectivas carteiras”. Acrescenta o § l/‟: “As declarações a que se referem
os artigos anteriores serão escrituradas em duas vias ou fichas, a primeira das quais será destacada e enviada ao
Departamento Nacional do Trabalho, quando não forem feitas perante o mesmo Departamento”. E o § 2.~: “Se o
interessado não souber ou não puder assinar as suas declarações, será exigida a presença de três testemunhas, uma
das quais assinará por êle, a rôgo, devendo o funcionário ler as declarações feitas em voz alta, atestando, afinal,
que delas ficou ciente o interessado”.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 18: “A prova da profissão será feita por meio de diploma da escola profissional
oficial ou fiscalizada, por atestados passados pelos empregadores, pelos sindicatos reconhecidos, ou por duas
pessoas portadoras de carteira profissional, que exerçam a profissão declarada”. Acrescenta o § 1.0: “Em se
tratando de profissão oficialmente regulamentada, será necessária a prova de habilitação profissional do
declarante”. E o § 2.0: “A carteira profissional dos oficiais-barbeiros e cabeleireiros será emitida mediante
exibição do certificado de habilitação profissional passado pelas escolas mantidas pelo respectivo sindicato”. E o
art. 19: “As fotografias que devem figurar nas cadeiras reproduzirão o rosto do requerente tomado de frente, sem
retoques, com as dimensões aproximadas de três centímetros por quatro, tendo, num dos ângulos, em algarismos
bem visíveis, a data em que tiverem sido reveladas, não se admitindo fotografias tiradas um ano antes da sua
apresentação”.
Quanto à legitimação processual ativa, estabelece o Decreto-lei n. 5.452, art. 23: “Além do interessado, ou
procurador devidamente habilitado, os empregadores ou os sindicatos reconhecidos poderão promover o
andamento do pedido de carteiras profissionais, ficando proibida a intervenção de pessoas estranhas”.
Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 25: “As carteiras profissionais serão entregues aos interessados pessoalmente,
mediante recibo”. Acrescenta o art. 26: “Os sindicatos oficialmente reconhecidos poderão, se o solicitarem por
escrito às respectivas Diretorias, tomar a incumbência da entrega das carteiras profissionais pedidas por seus
associados e pelos demais profissionais da mesma classe”. Acrescenta o parágrafo único: “Não poderão os
sindicatos, sob pena de se tornarem passíveis das sanções previstas nesta lei, cobrar remuneração alguma pela
entrega das carteiras profissionais, cujo serviço nas respectivas sedes será fiscalizado pelos funcionários do
Departamento Nacional do Trabalho, ou Delegacias Regionais, e das repartições autorizadas por lei”. Ainda
o art. 27: “Se o candidato à carteira não a houver recebido, dentro de 30 dias após o em que prestou as suas
declarações, poderá reclamar ao Departamento Nacional do Trabalho no Distrito Federal e às Delegacias
Regionais ou repartições autorizadas em virtude de lei, sendo a reclamação tomada por têrmo pelo funcionário
encarregado dêsse mister, que entregará recibo da reclamação ao interessado”. E o art. 28:
“Serão arquivadas as carteiras profissionais que não forem reclamadas pelos interessados dentro do prazo de 60
dias, contados da respectiva emissão”.
Os arts. 20, 21 e 22 do Decreto-lei n. 5.452 dizem respeito a taxas e a emolumentos. Bem assim, o art. 28,
parágrafo único.

3.FALTA DE CARTEIRA PROFISSIONAL E ADMISSÀO. Diz a Lei n. 3.359, art. 4.0: “Ao ser admitido ao
trabalho, o Brasileiro ou o estrangeiro que não possua carteira profissional receberá do empregador no ato de sua
admissão um documento por êle assinado, no qual figure, pelo menos, a natureza do emprêgo e salário
respectivos”. Acrescenta o § 1.0: “Uma segunda via do documento fornecida ao empregado, nas condições acima,
será, pelo patrão, remetida à Delegacia Regional do Trabalho da Região onde ocorrer o ato, a fim de acautelar os
interesses das partes”. E o § 2.0: “A comprovação, por parte da autoridade, da admissão ao emprêgo, sem o
fornecimento, pelo empregador ao empregado, do documento comprovador do ato, e, também, da sua não
remessa à Delegacia do Trabalho da Região onde se efetiva o contrato de trabalho, origina as mesmas e iguais
penas, em que incidem os empregadores que admitem ao seu serviço pessoa que não seja portadora de carteira
profissional”. O documento a que se refere a Lei n. 3 .359 tem duas eficácias: uma, privatística, que é a de
documentar e provar o emprêgo e a remuneração; outra, publicística, que é a de documentar e provar a relação
jurídica de emprêgo, para finalidades de direito constitucional e administrativo. Se a autoridade pública tem
conhecimento, qualquer que seja a fonte, e obtém prova da admissão sem a remessa do documento a que alude o
art. 4~O, § 1.0, da Lei n. 3.359, há penalidades.

4.CARTEIRA DE TRABALHO DO MENOR. Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 415: “Haverá a carteira de
trabalho do menor para todos os menores de 18 anos sem distinção de sexo, empregados em empresas, ou
estabelecimentos de fins econômicos e daqueles que lhes forem equiparados”. Acrescenta o parágrafo único: “A
carteira obedecerá ao modêlo que o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio adotar e será emitida, no
Distrito Federal, pelo Departamento Nacional do Trabalho, e, nos Estados, pelas Delegacias Regionais do
referido Ministério”. Tem-se de responder se os arts. 415 e 416 do Decreto-lei n. 5.452 foram atingidos pelos arts.
1.0 e 2.0 da Lei n. 3.359. A resposta é afirmativa, porque a Lei n. 3.369 explicitamente, no art. 50, revogou tôdas
as regras jurídicas em contrário, aludindo ao Decreto-lei n. 5.452. Dizia o Decreto-lei n. 5.452, art. 416: “Os
menores de 18 anos só poderão ser admitidos, como empregados, nas empresas ou estabelecimentos de fins
econômicos e naqueles que lhes forem equiparados, quando possuidores da carteira a que se refere o artigo
anterior, salvo a hipótese do art. 422”. Hoje, tem-se de entender que os arts. 1.0 e 2.0 da Lei n. 5.452 hão do ser
atendidos.
Os arts. 415 e 416 falam de “menores de dezoito anos”. Tem-se de observar que a referência somente pode ser aos
maiores de quatorze anos e menores de dezoito anos, uma vez que a Constituição de 1946, art. 157, IX, lA parte,
proibe o trabalho a menores de quatorze anos.
Estabelece o Decreto-lei n. 5 .452, art. 417: “A emissão da carteira será feita a pedido do menor mediante a
exibição dos seguintes documentos: a) certidão de idade, ou documento legal que a substitua; b) autorização do
pai, mãe ou responsável legal; e) autorização do juiz de menores, nos casos dos arts, 405, § 2.0, e 406; d> atestado
médico de capacidade física e mental; e) atestado de vacinação; f) prova de saber ler, escrever e contar; g)
declaração do empregador, da qual conste a função que irá exercer o menor na empresa; h) duas fotografias de
frente, com as dimensões de 0,04 x 0,03 m”. Acrescenta o § 1.0: “Os documentos exigidos por êste artigo serão
isentos de sêlo e os indicados nas alíneas a e g, passados gratuitamente”. E o § 2.0: “Salvo a hipótese do art. 422,
serão todos arquivados na repartição emissora da carteira e constituirão o prontuário do menor”. Êsse art. 417 está
em vigor.
Acrescenta o Decreto-lei n. 5.452, art. 418: “Os atestados de capacidade física e mental e de vacinação, referidos
no artigo anterior, serão passados pelas autoridades federais, estaduais ou municipais competentes e, na falta
destas, por médico designado pela autoridade fiscal do trabalho”. Acrescenta o parágrafo único: “O atestado de
capacidade física e mental deverá ser revalidado bienalmente”. Regras jurídicas de direito administrativo, cuja
„natio legis é protectiva.
Ainda o Decreto-lei n. 5.452, art. 419: “A prova de saber ler, escrever e contar, a que se refere a alínea 1) do art.
417, será feita mediante certificado de conclusão de curso primário. Na falta dêste, a autoridade incumbida de
verificar a validade dos documentos submeterá o menor ou mandará submetê-lo, por pessoa idônea, a exame
elementar, que constará de leitura de 15 linhas, com explicação do sentido, de ditado, nunca excedente de 10
linhas, de cálculo sôbre as quatro operações fundamentais de aritmética. Verificada a alfabetização do menor,
será emitida a carteira”. Acrescenta o § 1.0: “Se o menor fôr analfabeto ou não estiver devidamente alfabetizado,a
carteira só será emitida pelo prazo de um ano, mediante a apresentação de um certificado ou atestado de matrícula
e freqúência em escola primária”. E o ~ 2.0: “A autoridade fiscalizadora, na hipótese do parágrafo anterior,
poderá renovar o prazo nêle fixado, cabendo-lhe, em caso de não renovar tal prazo, cassar a carteira expedida”. E
o § 3.0: “Dispensar-se-á a prova de saber ler, escrever e contar, se não houver escola primária dentro do raio de
dois quilômetros da sede do estabelecimento em que trabalhe o menor e não ocorrer a hipótese prevista no
parágrafo único do art. 427. Instalada que seja a escola, proceder-se-á como nos parágrafos anteriores”.
Quanto à guarda da carteira de trabalho do menor, acertadamente estatui o Decreto-lei n. 5.452, art. 420: “A
carteira permanecerá em poder do empregador, enquanto o menor estiver a seu serviço, e deverá ser exibida à
autoridade fiscalizadora, quando esta exigir”. O art. 421 apenas se refere a pagamento de taxas.
Tinha-se de prever a possível falta de serviço administrativo local, que pudesse atender aos pedidos de carteira.
Daí o Decreto-lei n. 5.452, art. 422: “Nas localidades em que não houver serviço de emissão de carteiras, poderão
os empregadores admitir menores como empregados, independentemente de apresentação de carteiras, desde que
exibam os documentos referidos nas alíneas a), d) e/) do art. 417. Ésses documentos ficarão em poder do
empregador e, instalado o serviço de emissão de carteiras, serão entregues à repartição emissora, para os efeitos
do § 2.0 do referido artigo”.
Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 423: “O empregador não poderá fazer outras anotações na carteira de trabalho do
menor além das referentes ao salário, data da admissão, férias e saída”.

5.TRABALHADOR. Pode a lei exigir que o trabalhador se inscreva em repartição pública, ou se matricule.
Também é de técnica legislativa a exigência de livro em que o empregador registe os nomes dos empregados,
com todos os informes necessários.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 24: “Haverá no Serviço de Identificação Profissional do Departamento
Nacional do Trabalho o cadastro profissional dos trabalhadores, organizado segundo a classificação das
atividades e profissões estatuída no Título V com as especificações adotadas pela Comissão do Enquadramento
Sindical”. Trata-se, aí, de registo em repartição pública.
Adiante, diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 41: “Em tôdas as atividades será obrigatório ao empregador o registo dos
respectivos empregados, feito em livro próprio ou em fichas, na conformidade do modêlo aprovado pelo Ministro
do Trabalho, Indústria e Comércio”. Acrescenta o parágrafo único: “Nesse livro ou nas fichas, além da
qualificação civil ou profissional de cada empregado, serão anotados todos os dados relativos à sua admissáo no
emprêgo, duração e efetividade do trabalho, férias, casos de acidentes e tôdas as circunstâncias que interessem à
proteção do trabalhador”. Aí, o registo é pelo empregador, por dever estabelecido por lei. Acrescenta o art. 42:
“Os livros de registo de empregados serão rubricados e legalizados pelo Departamento Nacional do Trabalho no
Distrito Federal e pelas Delegacias Regionais ou repartições autorizadas em virtude de lei, nos Estados e
Território do Acre”.
Entenda-se: Estados-membros e Territórios, O art. 43 cogita da taxa que se há de pagar.
Também se estatui no Decreto-lei n. 5.452, art. 44: “As Delegacias Regionais do Ministério do Trabalho,
Indústria e Comércio, nos Estados, e as repartições estaduais autorizadas em virtude de lei, remeterão
mensalmente, ao Departamento Nacional do Trabalho, para os efeitos de contrôle estatístico, uma relação
pormenorizada dos registos realizados durante o mês anterior”. E o art. 45: “No registo dos livros e fichas de que
tratam os artigos anteriores, as estampilhas deverão ser apostas no fecho do registo, sendo inutilizadas, conforme
a lei, pelo funcionário que o houver lavrado, o qual fará constar do processo a declaração de que os emolumentos
foram pagos de acôrdo com as disposições legais”. E o art. 46: “A renda proveniente das taxas e emolumentos
mencionados nos artigos anteriores deverá ser escriturada especificadamente em livro próprio, pelo
Departamento Nacional do Trabalho”.
Há multa por falta do livro de registo ou do registo (Decreto-lei n. 5.452, arte. 47 e 48).

6.ANOTAÇÕES. A propósito das anotações, diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 29: “Apresentada ao empregador a
carteira profissional pelo empregado admitido, terá aquêle o prazo de 48 horas para anotar na mesma,
especificadamente, a data de admissão, a natureza dos serviços, o número do registo legal dos empregados e a
remuneração, sob as penas cominadas nesta lei”. Acrescenta o § 1.0: “As anotações acima referidas serão feitas
pelo próprio empregador ou por preposto devidamente autorizado e não poderão ser negadas”. E o § 2.0: “As
anotações concernentes à remuneração devem especificar a determinação do salário, qualquer que seja sua forma
de pagamento, seja êle em dinheiro ou em utilidades, bem como a indicação da estimativa da gorjeta”. Trata-se de
prazo legal, improrrogável. No art. 29, § 1.0, explicita-se que as anotações não podem “ser negadas”. Com isso,
pôs-se claro que não pode o empregador admitir que anotou, mas não corresponde à verdade. O que êle pode é
dizê-las falsas ou falsificadas, ou terem sido feitas por pessoa que não tinha podêres para as lançar. Resta saber-se
se é possível alegar-se êrro ou equívoco. A jurisprudência acolhe tal solução afirmativa.
Ainda estabelece o Decreto-lei n. 5 . 452, art. 30: “Os acidentes do trabalho serão obrigatóriamente anotados, pelo
juízo competente, na carteira profissional do acidentado”. A carteira profissional é elemento probatório, de
grande relevância, na Justiça do Trabalho. As anotações sôbre acidentes do trabalho são feita.s pela própria
Justiça.
Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 31: “Aos portadores de carteiras profissionais fica assegurado o direito de as
apresentar, no Distrito Federal, ao Departamento Nacional do Trabalho, e, nos Estados e no Território do Acre,
aos delegados regionais e encarregados do serviço de carteiras, nos distritos em que residirem, para o fim de ser
anotado o que sôbre êles constar, não podendo nenhum daqueles funcionários recusar-se à solicitação feita nem
cobrar emolumentos que não estejam previstos”. Entenda-se: nos Estados-membros e nos Territórios.
Adianta o Decreto-lei n. 5.452, art. 82: “As notas relativas a alterações no estado civil dos possuidores de carteiras
profissionais serão feitas mediante prova documental e as declarações referentes aos seus beneficiários, ou
pessoas cuja subsistência esteja a seu cargo ou quaisquer outras, deverão ser feitas nas fichas respectivas, pelo
funcionário encarregado da identificação profissional, a pedido do próprio declarante que as assinará”.
Acrescenta o § 1.0: “Os portadores de carteiras profissionais devem comunicar ao Departamento Nacional do
Trabalho, no Distrito Federal, às Delegacias Regionais e às repartições autorizadas por leis, nos Estados, tôdas as
anotações que lhes sejam feitas, na forma da lei, utilizando-se para isso dos impressos apensos às mesmas”. E o §
2.0: “As anotações nas fichas de qualificação e nas carteiras profissionais serão feitas, seguidamente, sem
abreviaturas, ressalvando-se, no fim de cada assentamento, emendas, entrelinhas, e quaisquer circunstâncias que
possam ocasionar dúvidas”. E o § 3.0: “A averbação de notas que desabonem a conduta do possuidor de carteira
será feita somente na ficha respectiva, por funcionário do Departamento Nacional do Trabalho, das Delegacias
Regionais do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, ou das repartições estaduais a isso autorizadas por
convênio, e mediante sentença transitada em julgado, condenatória do empregado pela Justiça do Trabalho, pela
Justiça Comum ou pelo Tribunal de Segurança Nacional, devendo ser enviada a cópia da averbação ao
Departamento Nacional do Trabalho”.
Quanto as notas desabonadoras ou notas sôbre má conduta do trabalhador sómente se lançam na ficha da
repartição pública, que seja competente, se transitou em julgado, a respeito, alguma decisão judicial; nunca na
carteira profissional. A sentença pode ser da Justiça do Trabalho ou da Justiça comum. O que pusemos em letra
grifa está obsoleto e apenas recorda o período ditatorial.
Está no Decreto-lei n. 5 .452, art. 34: “Tratando-se de serviço de profissionais de qualquer atividade, exercido por
empreitada individual ou coletiva, com ou sem fiscalização da outra parte contratante, a carteira será anotada pelo
respectivo sindicato profissional ou pelo representante legal de sua cooperativa”. Tal espécie já fôra prevista
pelas Instruções do Ministério do Trabalho, a 8 de julho de 1935, art. 13, § 2.0. Cumpre analisar a regra jurídica:
a) supõe-se, em primeiro lugar, que tenha havido empreitada, em vez de contrato de trabalho, e o
empreitante não queira ou não possa fazer a anotação, a que não está obrigado porque não é empregador, e então
o trabalhador (não empregado do empreitante) tem de pedir ao seu sindicato, ou a sua cooperativa, que faça a
anotação; b) se àempreitada. se vincularam dois ou mais trabalhadores, dá-se o mesmo. O valor probante da
anotação é o mesmo que teria a anotação pelo empregador. Só se atende, na espécie, a que não há emprêgo, e sim
tocatio operis. Resta saber-se, se, em a) e em b), os litígios entre o empreitante e o empreiteiro são da competência
da Justiça do Trabalho. Seria sem razão de‟ ser a inserção do art. 34 no Decreto-lei n. 5.452 se não se lhe
atribuísse a finalidade de proteger quem trabalha, a despeito de não ser contrato de trabalho aquêle em que é
figurante, ou em que são figurantes os trabalhadores com a apresentação da cadeira profissional.
A propósito dos que trabalham em teatros, circos e outras empresas de diversões, estabelece o Decreto-lei n.
5.452, art. 35:
“Os bailarinos, músicos e artistas de teatros, circos e variedades têm direito à carteira profissional, cujas
anotações serão feitas pelos estabelecimentos, empresas ou instituição onde prestam seus serviços, quando
diretamente contratados por algumas dessas entidades, desde que se estipule em mais de sete dias o prazo de
contrato, o qual deverá constar da carteira”. A carteira é anotada pelo empregador, que é, de regra, o empresário.
Se no contrato são figurantes a empresa do teatro, ou do circo ou de outro lugar de diversões, e o empresário,
talvez sociedade de músicos ou outros artistas, não houve contrato entre cada músico ou outro artista e a empresa
de teatro circo ou outra diversão. Todavia, a anotação somente pode deixar de ser feita pela empresa ande se
prestam os serviços, se há vinculo contratual de trabalho entre o músico ou artista e o diretor, empresário ou
sociedade personificada.
Quanto à recusa do empregador, lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 36: “Recusando-se o empregador ou empresa
a fazer as devidas anotações a que se refere o art. 29 ou a devolver a carteira recebida, deverá o empregado, dentro
de dez dias, comparecer pessoalmente, ou por intermédio do sindicato respectivo, perante o Departamento
Nacional do Trabalho, no Distrito Federal, ou Delegacias Regionais e repartições esta-
duais em virtude de lei, nos Estados e no Território do Acre, para apresentar reclamação”. O prazo de dez dias é
prazo preclusivo, que somente começa de correr quando o empregado deixa de trabalhar para o empregador. Êsse
não fêz as anotações, que teria de fazer, ou não restituiu a carteira. Não se trata de prazo prescripcional, a despeito
de repetidas alusões a prescrição que aparecem nos comentadores e na jurisprudência. Se o empregado apresenta
ao empregador a carteira profissional e êsse não faz, dentro de quarenta e oito horas, a anotação que lhe incumbe
fazer, incorre na penalidade do art. 53 do Decreto-lei n. 5.452, que é explícito. A jurisprudência que afirma
extinguir-se o prazo preclusivo decendial para a reclamação não atende a que seria de demasiado rigor tal
preclusão se o empregado pode, até, não saber, enquanto está no emprêgo, se a anotação foi feita ou não. O prazo
preclusivo de dez dias só diz respeito à reclamação perante a autoridade administrativa: não extingue a pretensão
às anotações perante a Justiça do Trabalho, nem começa de correr antes de se desligar do contrato o empregado. O
art. 39 não deve ser interpretado como o caso único, excepcional, em que o empregado pode exercer a ação
perante a Justiça do Trabalho: se não foi feita, nos dez dias, a reclamação, pode ser diretamente mente feita à
Justiça do Trabalho, que, entre outros podêres, tem o de apreciar a impraticabilidade, e. g., por fôrça maior ou
caso fortuito, da reclamação.
Se, feita a reclamação, o empregador alega que não existe contrato de trabalho, sem o qual não há dever de anotar
e a autoridade administrativa não tem prova de tal contrato, o caminho é o da remessa da reclamação à Justiça do
Trabalho. Se o empregado não tem prova do contrato de trabalho,
nem a tem a autoridade administrativa, e, antes da reclamação, e empregador nega ao empregado a existência do
contrato, pode êsse ir diretamente à Justiça do Trabalho. Seria perda de tempo, contra, portanto, o princípio de
economia processual, que se exigisse o exercício de inútil pretensão à reclamação perante a autoridade
administrativa.
Se o empregador, no prazo do art. 29 (prazo de quarenta e oito horas), não faz as anotações que êle deveria fazer,
fica sujeito à penalidade do anis. 53, ou à do ad. 54 (eventualmente, do parágrafo único). Se o empregado não fêz
a reclamação, a despeito da falta do empregador, compreende-se que aguarde a saída do emprêgo para exigir as
anotações e a restituição da carteira profissional. Então, começa de correr o prazo preclusivo de dez dias. Assim,
a reclamação pode ser durante a eficácia do contrato de trabalho, ou extinto êsse. Diz o art. 37: “Lavrado o têrmo
da reclamação, o funcionário encarregado notificará, por telegrama ou carta registada, aquêle ou aquêles sôbre
que pesar a acusação do empregado reclamante, para que, em dia e hora prêviamente designados, venham prestar
esclarecimentos e efetuar a legalização da carteira ou sua entrega”. Acrescenta o parágrafo único: “Não
comparecendo o empregador acusado, lavrar-se-á têrmo de ausência, sendo considerado revel e confesso sôbre os
têrmos da reclamação feita, devendo as anotações ser efetuadas por despacho da autoridade perante a qual foi
apresentada a reclamação”. A reclamação é feita oralmente, para que se lavre o têrmo de reclamação. Pode ser
por escrito, se o trabalhador não pode falar. Tem êle de assinar o têrmo de reclamação, ou observar o que se exige
no art. 17, § 2.~, se não pode ou não sabe assinar. A atitude do empregador pode ser: a) a de comparecer e fazer a
anotação ou as anotações pedidas; b> a de comparecer e recusar-se a fazer a anotação ou as anotações, conforme
a expressa informação do reclamante (= conforme o têrmo de reclamação) ; c) a de comparecer e só em parte
concordar com o que se exige e então pode anotar, se a anotação ou as anotações não se chocam com o conteúdo
da reclamação; d) a de comparecer e recusar-se a fazer qualquer anotação ou só admitir anotação ou anotações
que se choquem com o conteúdo da reclamação; e) a de não comparecer. Nas espécies o) e d), lavrado o térmo de
comparecimento, tem o empregador o prazo improrrogável de quarenta e oito horas para apresentar a defesa, indo
o processo ao julgamento.
Cogita-se da prova, que pode fazer a carteira profissional, no Decreto-lei n. 5.452, art. 40: “As carteiras
profissionais regularmente emitidas e anotadas servirão de prova nos atos em que não sejam exigidas carteiras de
identidade, e, especialmente: a) nos casos de dissídio na Justiça do Trabalho, entre o empregador e o empregado
por motivos de salários, férias ou tempo de serviço; b) para todos os efeitos legais, em falta de outras declarações
nas instituições de previdência social, com relação aos beneficiários declarados; c) para os efeitos de
indenizações por acidentes do trabalho e moléstias profissionais, que não poderão ter por base remuneração
inferior à mencionada na carteira, salvo as limitações legais quanto ao máximo de remuneração para efeito das
indenizações”.
Lê-se no Decreto-lei n. 5 .452, art. 38: “Comparecendo o empregador e recusando-se a fazer as anotações
reclamadas, será lavrado um têrmo de comparecimento, que deverá conter, entre outras indicações, o lugar, o dia
e hora de sua lavratura, o nome e a residência do empregador, assegurando-se-lhe o prazo de 48 horas, a contar do
têrmo, para apresentar defesa”. Acrescenta o parágrafo único: “Findo o prazo para a defesa, subirá o processo à
autoridade administrativa de primeira instância, para se ordenarem diligências, que completem a inscrição do
feito, ou para julgamento, se o caso estiver suficientemente esclarecido”.
As anotações contêm comunicações de fato, são comunicações de conhecimento. O julgamento pela autoridade
administrativa, se dêle não cabe recurso, ou não mais o cabe, faz coisa julgada administrativa. Isso não impede
que o empregador ou o empregado exerça pretensão à tutela jurídica perante a Justiça do Trabalho, ou, se os
pressupostos se satisfazem, perante a Justiça comum.
Estabelece o Decreto-lei n. 5 .452, art. 39: “Verificando que as alegações feitas pelo reclamante versam sôbre a
não existência da condição de empregado ou sendo impossível verificar essa condição pelos meios
administrativos, será encaminhado o processo à Justiça do Trabalho”. O parágrafo único do art. 38 e êsse anis. 39
contêm algo de obsoleto. A Justiça do Trabalho é que tem de julgar qualquer dissídio individual ou coletivo de
trabalho e quaisquer controvérsias oriundas de relações do trabalho, regidas pela legislação especial
(Constituição de 1946, anis. 128).

7. PENALIDADES. As penalidades, um tanto obsoletas constam dos arts. 49-56 do Decreto-lei n. 5.452.
Seria acertado, em legislação administrativa, ou em lei especial do trabalho, fixarem-se prazos para as
autoridades administrativas e judiciárias resolverem as questões entre empregados e empregadores e praticarem
os atos que as leis prevêem como necessários, inclusive à organização das associações sindicais e profissionais,
sob pena de perda de vencimentos em caso de retardamento ou omissão.

CAPÍTULO 111

LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO E ENTIDADES SINDICAIS

§ 5.059. Conceito de entidade sindical

1.“STATUS” PROFISSIONAL, ENQUADRAMENTO E IRRADIAÇÃo DE DIREITOS E DE DEVERES.


Com o exercício de determinada profissão, os que trabalham, dependente ou independentemente, adquirem
posição fáctica, a que as leis, inclusive a Constituição, atribuem certos efeitos jurídicos. Quando se fala de
liberdade profissional e de liberdade sindical, já se alude a efeito individual e a efeito coletivo da profissão. No
plano do trabalho, já se não pode deixar de considerar o homem em sua incrustação profissional. Uma das
primeiras consequências é a de se ter de considerar a liberdade de cada um diante das entidades sindicais
organizadas e a liberdade da entidade sindical diante de cada um dos membros e das outras entidades.

O sindicato resulta de contrato de sociedade. A coletividade de pessoas faz-se em virtude de negócio jurídico
plurilateral. O órgão-cerne é a assembléia geral. Supõem-se profissional e o interesse coletivo.

2.Sindicalização NO BRASIL. No Brasil, o processo de sindicalizacão foi assaz diferente dos processos de
sindicalização que se observaram na Europa, no século Xli e no meado do SéCulo XX. Primeiramente, é de
observar-se que os sindicatos brasileiros, em Estado que assegurara, em geral, a liberdade de a&,‟octaçao (já a
Constituição de 1891, art. 72, § 8.0), se constituam sem finalidade de luta, o que resultava do trabalho agrícola ou
da procedência agrária dos trabalhadores nas índústrias . O trabalho agrícola dava para o alimento, as vestes e a
instalação. Dêle podia subir a outros degraus o trabalhador. Grandes empresas industriais e comerciais de hoje
foram fundadas por salariados dos campos e dos portos. As indústrias tinham de pagar remunerações
relativamente altas para obterem empregados. A imigração resultava dêsse nível de vida, acima dos níveis
europeus, e algumas figuras, que adquiriram títulos de nobreza na Europa, lavaram pratos no Brasil. A fácil
penetrabilidade das classes superiores pelos que trabalhavam não justificava a luta de classes. Quem quer subir
escada, se lhe deixaram a porta aberta, não precisa brigar.
Para o Decreto-lei n. 5.452, art. 516, o sindicato tem poder de apresentação ou de representação, que lhe advenha
da sua institucionalidade para funções de direito público, o que perdeu muito de relevância com a Constituição de
1946, e da sua controlabilidade pelo Estado ou incrustação no Estado. A Constituição de 1946 não cogitou,
sequer, de contactos dos sindicatos com o Poder Executivo, a despeito do elemento histérico português, com as
Casas dos Vinte e Quatro ou ofícios bandeirados, que haviam de estar nas Câmaras para serem ouvidos sôbre o
que concernisse aos seus interesses. A Casa dos Vinte
e Quatro fôra criação de Dom J0ã0 1. Nela não se podia entrar antes dos quarenta anos (Alvará de 27 de setembro
de 1647), com elevações reguladas pelo Alvará de 7 de outubro de 1664. A Carta Régia de 26 de outubro de 1661
extinguiu a Casa dos Vinte e Quatro da Cidade do Pôrto por estar envolvida no motim que houve naquela cidade.
A Constituição de 1891, art. 72, § 8.0, assegurou a liberdade de associação. A Lei n. 976, de 6 de janeiro de 1903,
cogitou dos sindicatos de profissionais da agricultura e indústrias rurais para defesa dos seus interêses. A Lei n.
1.637, de 5 de janeiro de 1907, cogitou da sindicalização dos profissionais da criação de gado e facultou aos de
profissões similares ou conexas inclusive as liberais a formação de sindicatos para o estudo, a defesa e o
desenvolvimento dos interesses gerais da profissão e dos interesses profissionais dos seus membros. Os estatutos
eram registados e os sindicatos adquiriam a personalidade jurídica. Convém que se recorde o art. 8.0 da Lei n.
1.637: “Os sindicatos que se constituírem com o espirito de harmonia entre patrões e operários, como sejam os
ligados por conselhos permanentes de conciliação e arbitragem, destinadas a dirimir as divergências e
contestações entre o capital e o trabalho, poderão ser consultados em todos os assuntos da profissão”.
De grande relevância para os sindicatos é o que se estatui no Decreto-lei n. 5.472, arts. 546 e 547. Diz o art. 546:
“Às empresas sindicalizadas é assegurada preferência em igualdade para exploração de serviços públicos, bem
como nas concorrêncías para fornecimento às repartições federais, estaduais e municipais e às entidades
paraestatais”. E o art. 547: “É exigida a qualidade de sindicalizado para o exercício de qualquer função
representativa de categoria econômica ou profissional, em órgão oficial de deliberação coletiva, bem como para o
gôzo de favores ou isenções tributarias, salvo em se tratando de atividades não-econômicas”. Acrescenta o art.
544: “Fica assegurada aos empregados sindicalizados preferência, em igualdade de condições, para a admissão
nos trabalhos de empresas que explorem serviços públicos ou mantenham contratos com os podêres públicos”.
Em 1903, a Lei n. 979, de 6 de janeiro, cogitou da formação dos sindicatos profissionais. Depois, a Lei n. 1.637,
de 5 de janeiro de 1907. Aliás, já se revelava, antes, com intuitos e resultados práticos, o interesse dos
trabalhadores. Sirva de exemplo o Decreto n. 1.318, de 17 de janeiro de 1891.
Júlio Prestes, candidato à Presidência da República, prometia o Código do Trabalho. A revolução de 1930
regulou pelo Decreto n. 19.770, de 19 de março de 1931, a organização dos sindicatos profissionais, com
propósitos de unidade sindical, mas proibida a internacionalização (art. 12). Para o reconhecimento do sindicato
era preciso que se estabelecesse a “abstenção, no seio das organizações sindicais, de tôda e qualquer propaganda
de ideologias sectárias, de caráter social, político nu religioso” (art. 1.~, f). A despeito disso, elementos da
revolução de 1930 intrometiam-se nos sindicatos, ora com tendências fascistas, ora comunistas. Aliás, o art. 15 do
Decreto n. 19.770 incumbia o então Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio de manter “junto aos
sindicatos, às federações e confederações, delegados com a faculdade de assistirem às
assembléias gerais e a obrigação de, trimestralmente, examinarem a situação financeira dessas organizações,
comunicando ao Ministério, para os devidos fins, quaisquer irregularidades ou infrações do decreto”. Havia (art.
16) a pena de destituição da Diretoria, com a nomeação de delegado do Ministério, até que se normalizasse a
situação, a de suspensão, com fechamento do sindicato, da federação ou da confederação, até seis meses, e a de
dissolução. Quaisquer alterações introduzidas não eram incidíveis (“não vigorarão”) enquanto não houvesse
aprovação. Percebe-se logo a influência da Lei italiana, fascista, de 1926. Alguém que estivera na Itália e lá se
pusera em contactos com líderes fascistas e depois com agentes americanos fascistizantes da América latina,
exerceu papel decisivo na revolução de 1930, primeira mancha ditatorial do Brasil.
Nas vésperas da Constituição de 1934, os governantes procuraram evitar que o Congresso Nacional fizesse as leis
ordinárias, atendendo à mudança dos princípios em muitas matérias; daí, os decretos ditos de última hora, mas,
em verdade, quase todos antedatados. E. g., o Decreto n. 24.694, de 12 de julho de 1934, que, no art. 120,
parágrafo único, dizia assegurar a autonomia sindical, mas no art. 23 mantinha o contrôle administrativo,
hierárquico. A fraude ao art. 120, parágrafo único, da Constituição de 1934 era evidente, mas as autoridades
procuravam dar interpretação deformante, fascistiforme. O que 1930 e 1937 queriam era o corporativismo de
Estado, e para isso contribuíam o ad. 23 e os §§ 3~0 e 9O que estabeleciam a representação profissional. Era a
convicção política que ressaltava nos Decretos n. 22.653, de 20 de abril de 1932, e 22.696, de 11 de maio de 1933.
Nos Comentários à Constituição de 1934 (1, 470), escrevemos: “Os §§ 3O e 9~0 cogitam da representação
profissional, na Câmara dos Deputados. Ao examinarmos, em 1932, a concepção de poder estatal que a
Assembléia Constituinte do Brasil ia criar, mostramos a singularidade de um poder que vem do povo e das
organizações de trabalho e do capital (“profissionais”), misto de democracia e de fascismo no mesmo corpo
político. A Constituição manteve a nota origina! da dualidade da fonte dos Deputados de uma só Câmara. A
heterogeneidade discutindo e deliberando em conjunto, com votos iguais. A representação de empregados e de
empregador é do mesmo número”.
O Brasil teve momento crucial em 1932 quando o govêrno ditatorial teve de reconhecer que a
constitucionalização do país era urgente. O que êle queria e grupos italianos e americanos (contra o que entendia
o Presidente Franklin D. Roosevelt) queriam era Constituição fascista, razão por que tivemos nós de defender a
socialização dentro da democracia. O golpe fascista fracassou, mas textos e propósitos ficaram. Era o que
desejávamos.
O movimento subversivo de 1935 não partiu das classes operárias, e sim de elementos políticos, alguns dos quais
apenas o provocaram para que se pudesse dar o golpe de Estado que somente pôde ocorrer, planejadamente, em
1937. A Constituição de 1937, art. 140, foi confissão escrita, parcial, de concepção fascista, e o art. 138 assaz
significativo para se classificar o regime: “Somente, porém, o sindicato regularmente reconhecido pelo Estado
tem o direito de representação legal dos que participarem da categoria de produção para que foi constituído, e de
defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras associações profissionais, estipular contratos coletivos de
trabalho, obrigatório para tôdas os associados, impor-lhes contribuições e exercer em relação a êles funções
delegadas do poder público”. Não havia, sequer, liberdade de empregar-se o nome “sindicato” (Decreto n.
24.694, de 12 de julho de 1934, art. 36, parágrafo único; Decreto-lei n. 1.402, de 5 de julho de 1939, art. 5.0).
A situação criada de 1930 a 1946, com intervalo de esperança entre 1934-1937, foi nociva à boa formação de
síndicatos. O confôrto nos campos diminuiu; a miséria cresceu nas cidades e fora das cidades. Em 1931, 32
sindicatos de operários; em 1938, 955; em 1939, 1.039. Relator do Projeto de Lei Sindical confessava, alto e bom
som, que as associações profissionais “no Ministério nascerão; com êle, crescerão; ao lado dêle se desenvolverão;
nêle se extinguirão”. O Decreto-lei n. 1.402, de 5 de julho de 1939, que daí resultou, estatuiu, no art. 6.0: “Não
será reconhecido mais de um sindicato para cada profissão”; no art. 48: “Somente depois do registo ... as
associações desta natureza adquirirão personalidade juridica”; no § 49 do art. 48: “Nenhum ato de defesa
profissional será permitido a associação não registada na forma dêste artigo, não podendo ser conhecido qualquer
pedido seu, ou representação”; no art. 45: “A pena de cassação da carta de reconhecimento será imposta à
associação sindical: e) que não obedecer às normas emanadas das autoridades corporativas competentes, ou às
diretrizes da política econômica ditadas pelo Presidente da República, ou criar obstáculos à sua execução ”.
Tudo isso não se compreende sob a Constituição de 1946, vítima de eleições que mantém, pela continuidade dos
governantes, o pensamento mal disfarçado das ditaduras de 1930, de 1937 e de 1964, que são a mesma.
Dissemos que a Assembléia Constituinte de 1933 foi hostil à totalitarização, a despeito de os Decretos n. 22.653,
de 20 de abril de 1933, n. 22.696, de 11 de maio de 1933 e n. 22.940, de 14 de julho de 1933, terem atribuído aos
sindicatos lugares na Assembléia Constituinte, a chamada “representação classista”. Daí na Constituição de 1934
não se ter admitido a unidade sindical.

3.SINDICATOS NOS ESTADOS TOTALITÁRIOS. Nos Estados totalitários, os sindicatos deixam de ser as
associações que a liberdade sindical criou. O poder dos governos vai até dentro dêles e, se, às vézes, os torna
peças do Estado, em verdade, sempre, lhes retira a auto-organização, como, lá fora, retirara aos trabalhadores a
liberdade sindical, no tocante a poderem criar as associações, nelas entrarem e delas saírem. Com um telegrama,
Hitler, em maio de 1933, extinguiu todos os sindicatos alemães.
Nos Estados liberais-democráticos, a intervenção da Justiça do Trabalho, para solução de questões sôbre as quais
não se chegou a convenção, não tem caráter de limitação à liberdade sindical, mas de enchimento de solução onde
os interessados falharam.
O fascismo submeteu o reconhecimento das associações profissionais a rigorosos pressupostos, qualitativos e
quantitativos, fixados em lei. Entre os pressupostos qualitativos estava o de ser oportuno “do ponto de vista
politico”. Cf. WmAR CESARINI SFORZA (Corso dei Diritto corporativo, 113 sj. Dirigiam a associação o
presidente, oriundo da associação patronal, e o secretário, oriundo da associação operária, com a aprovação
(constitutiva!) do govêrno, aprovação revogável. Meros funcionários do Estado (ROLAND PRE, Le Bilan du
Corporatisme, 134), preparados em escolas oficiais (PIERRE LA-ROQUE, Les Rapports entre Patrons et
Ouvriers, 194).

4.CoNSTITUIÇÂO DE 1946, ART. 159, “IN FINE”. No ad. 159, in fine, da Constituição de 1946, fala-se de
funções delegadas pelo poder público às associações sindicais. Tais atribuições não publicizam a entidade
sindical. Com elas, não se supera a estrutura privatística. O que se passa é que se faz de exercício privado a função
de interesse público (Guino ZANOBINI, Esercizio privato deile funzioni e dei servizi pubblici, Primo Trattato di
Diritto Amministrativo, II, 3). No Brasil, por excepcional regra jurídica contida no art. 159, in fine, da
Constituição de 1946, se faz transpassável ao sindicato função pública, sem que isso permita ao Estado, em
contrapartida, intervenção estatal no sindicato (LUISA RIvA-SANSEvERINO, Deila Impresa, Comnventario dcl
Codice Civile a cura di ANTONIO SCIALOJA e GIUSEPPE BRANCA, ga ed., 29), fora dos casos permitidos,
sem se ferir a Constituição.
As “convenções internacionais” e as “recomendações” da Conferência Internacional do Trabalho suscitaram
alguns problemas de classificação. Recomendações, sabia-se e sabe-se o que são. Às convenções internacionais
oriundas da Conferência Internacional do Trabalho chamam-se “projetos de convenção”, o que de certo modo as
poria abaixo das recomendações. Quem recomenda já deliberou, embora sem a imperatividade da regra jurídica
legal. Quem projeta propõe:
se houve deliberação, só se referiu à submissão de algo ao exame de quem pode deliberar. As convenções
internacionais são atos que contêm regras jurídicas, pôsto que se deixe dependente da observância pelos membros
signatários a aplicação de cada uma das regras jurídicas. Daí haver a informação m~tufl, a reclamação e a queixa.
Sôbre a reclamação por parte das organizações profissionais, patronais ou operárias, JEAN ZARRAS (Le
Contróle de 1‟Application des Conventions internationales du Travail, 222 e 261).

1.UNIFORMIDADE DE ORDENAMENTO. Desde que à categoria profissional se faz corresponder


uniformidade de ordenamento, algo se preestabelece como conteúdo das manifestações de vontade de cada
trabalhador e de cada emprésa que quer o trabalho. Se, de um lado, se considera a categoria profissional como
titular de interesses próprios e indivisíveis, diante dos que nela entram, como individuos singulares,
constringentemente (e. g., ANTONIO NAVA?RRA, Ii Rapporto coilettivo, 27 s.; GIULIANO MAZzONI,
Manuale di Diritto dei Lavoro, 60 s.), temos, do outro lado, de frisar que assim se confunde a classe, a categoria,
que é revelação dc elementos comuns (portanto, só objetiva), com a titularidade, que corresponde à legitimação
subjetiva. Pode dar-se que o grupo ou alguns grupos que cabem na categoria tenham titularidade, mas isso já
supõe a personificação jurídica da associação.
A técnica legislativa, na apreciação dos fatos da vida econômica (produção, transporte e consumo), tem de
considerar os problemas do contrato do trabalho como problemas do contraente mais fraco.
Tem ela de estabelecer uniformidade do ordenamento das relações jurídicas de trabalho, um de cujos fatôres
não o único fator é o contrato coletivo de trabalho. Essa uniformidade há de ser sôbre a base da satisfação dos a
favor do trabalhador, que é o contracute mais fraco.
Diante do problema técnico da uniformização, há o da diversidade mesma entre as categorias profissionais ou
sub-classes de trabalhadores. Mesmo dentro da classe dos trabalhadores, não há a igualdade absoluta. Há maior
produtividade de uns do que de outros, maior relevância do que uns prestam de serviços do que outros prestam ou
podem prestar. Por outro lado, os que recebem o trabalho não são iguais entre si, nem em capital, nem em
produtividade. Além disse, há interferências, que põem fora do contrato de trabalho o trabalhador, como acontece
nas sociedades cooperativas e nas próprias parcerias.

2.CATEGORIAS PROFISSIONAiS. As categorias profissionais são somente de trabalhadores. Há as das


empresas que recebem o trabalho. Demais, quando se chega a cogitar dos que são outorgados de serviços, há os
que não se enquadram na legislação típica e a êles servem os que não se consideram trabalhadores senso estrito, e
os que se enquadram.
Mais ainda. Cada dia que passa, nos sistemas econômicos em evolução, a especialização multiplica as categorias
profissionais ou econômicos dos que prestam serviços e dos que os recebem. A estandardização não consegue
eliminar essa plurificação. (Acima falamos de categorias profissionais, o que corresponde a critério subjetivo de
classificação, e a categorias econômicas, o que resulta de classificação com critério objetivo. Cf. GuIno
ZANOBINI, Corso di Diritto corporativo, 5o ed., 87 s.; NICOLA JAEGER, Principi di Diátto corporativo, 37 5.;
RENZO RAVÁ, Introduzio‟ne ai Diritto de Lavara, 24 s. As subcategorias exsurgem, aqui e ali, o que torna a
economia cada vez mais complexa, e tal complexidade se reflete nas manifestações de vontade e na legislação.)
Quanto às remunerações mínimas, a prática dos decretos presidenciais e outros atos de ainda menor expressão
jurídica normativa, concorrem elas para a partidarização dos atos, para a demagogia e as tentativas de
concentração mais ou menos ditatorial dc poder. A melhor solução é a da lei. Quando muito, a lei que assegure
mínimo de tratamento econômico dos que trabalham. As delegações de poder, que a Constituição de 1946, art. 36,
§ 2.0, proibe, desvirtuariam a divisão de podêres, principalmente no regime presidencialista. A delegação por
algum tempo é menos grave, mas a sua gravidade não se pode obscurecer.
~ inegável, em todos os sistemas jurídicos, democrático-liberais, a dificuldade que a política legislativa encontra
no que concerne ao registo dos sindicatos e ao exercício do direito de greve. O propósito de subordinar os
contratos coletivos à observância estrita e rigorosa e à necessidade de registo de sindicatos criam problemas.
Tem-se sempre frisado a importância político-social do contrato de trabalho. Em verdade, como que se grifou o
contrato de serviços, porém menos a favor dos que prestam serviços do que para efeitos demagógicos de ditaduras
e de falsos democratas. O que mais se quer é a corporatividade, com que se possa tecer laço íntimo entre govêrno
e sindicatos.

3. PROFISSÃO E LIBERDADE SINDICAL. O status profissional resulta do exercício da atividade a que êle se
refere, ou, nos casos de pré-habilitação, da inserção na empresa, seguida do exercício.
Profissão é a atividade que se caracteriza pela unicidade ou prevalência na vida econômica do trabalhador ou da
empresa. O comerciante exerce a profissão do comércio e os seus empregados enquadrados são profissionais. O
dono ou a dona da casa pode não ser profissional: o cozinheiro, ou a cozinheira, ou a lavadeira, e o jardineiro são,
de regra, profissionais. Supõe-se continuatividade da atividade e o fim típico de lucro.
Pôsto que, ao tratar do empregador e do empregado, a Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-lei n. 5.452,
de 1.0 de maio de 1943), arts. 1.o~6.o, nenhuma referência faça à profissionalidade do empregador e do
empregado, êsse status é pressuposto. Daí os arts. 18-56 serem dedicados a regras jurídicas atinentes à carteira
profissional. A profissionalídade ou é da empresa ou é dos trabalhadores, dependentes ou não, inclusive os que
exercem as chamadas profissões liberais. Mas a legislação especial do trabalho somente cogitou da “pessoa física
que presta serviço de natureza não eventual a empregador, sob a dependência dêste e mediante salário” (art. 8.0).
De modo que, se queremos aludir a profissão, temos de considerar apenas algumas profissões de trabalhadores,
pôsto que o conceito de status profissional abranja outras espécies. Donde o direito ao trabalho e o dever de
trabalho serem conceitos que ultrapassam o de contrato de trabalho regido pela Consolidação das Leis do
Trabalho (sêbre o conceito de status profissional, cf. AMLETO DI MARCANTONIO, Appunti di Diritto dei
Lavoro, 859 5.; CARLO LEGA, II Potere disciplinare dei datore di lavoro, 89).
Há deveres que emanam do status profissional, como há direitos que dêle se irradiam. Quanto aos direitos, um
dêles se liga aos tratamentos minimos. Mas dêsses também resultani deveres. Há o direito a ser admitido em
associação profissional e o de ser-lhe destinado, na empresa, o trabalho correspondente à sua aptidão.
O enquadramento deriva da classificação econômica da atividade, com repercussões sociais e jurídicas. A política
legislativa tinha de considerar os trabalhadores em massa, e não cada um, e não cogitar de regras jurídicas que
atendessem a pormenores individualísticos. Não se pode dizer que sempre as relações jurídicas coletivas
absorvem as relações jurídicas individuais. O que prevalece, em princípio, é o regramento coletivo, não a relação
juridica coletiva. Daí ter-se de verificar, liminarmente: a) qual a limitação ao auto-regramento da vontade
individual (autonomia da vontade individual) que foi estabelecida pelas leis protectivas; b) qual a limitação que a
favor de entidade sindical foi feita cm virtude de lei cogente ou dispositiva ou interpretativa (a incrustação na
entidade sindical pode ser por fôrça de lei; ou por falta de manifestação de vontade do trabalhador ou da empresa,
ou por expressão de manifestação de vontade; ou em caso de haver dúvida).
Cumpre, antes de maior explanação, que se afastem quaisquer confusões entre a) a liberdade de constituição
sindical (pode-se constituir, ou não, sindicato que apanhe a profissão dos futuros membros), b) a liberdade de
entrar ou não no sindicato organizado e e) a liberdade de organização o interna do sindicato. Compreende-se
que, a respeito daquela, nos Estados totalitários, se chegue à publicização dos sindicatos (cf. para a Itália fascista,
SANTI ROMANO, Corso di lijiritto costituzionale, 5.~ ed., 148 s.) e que se mantenha concepção privatística nos
outros Estados ou a ela se volva (Constituição Italiana, arts. 18 e 89; cf. GIORGIo ARDAIJ, Corso di Diritto deI
Lavoro, 147 s.).
No plano internacional, eis o que se há de entender por liberdade sindical: a) a de constituir entidade profissional,
ou outra entidade profissional, b) a de entrar ou não em entidade profissional, c) a de a entidade profissional
organizar-se internamente, e d) a de praticar os atos que considere do interesse dos membros ou da categoria
profissional.
Se há liberdade sindical, o sindicato está diante do Estado, com o respeito dos princípios constitucionais, como o
próprio Estado e os indivíduos.

§ 5.061. Princípio de liberdade de constituição sindical

1. CONCEITO. - O princípio de liberdade sindical estabelece, como o primeiro princípio de liberdade sindical,
que quaisquer trabalhadores ou quaisquer outorgados de trabalho podem constituir entidade profissional, como
podem, conforme os estatutos, desconstitui-la. A liberdade começa antes do ato de constituIção, ou de
desconstituição: anúncios de propaganda, entrevistas em jornais, procura de adesões, reUniões dos interessados,
discussão de planos e de projetos de estatutos, contribuições, até que se lavre o ato constitutivo. Entra no princípio
de liberdade de constituição sindical o principio de apartidarísmo sindical, tanto mais quanto, se não há
abstenção dos políticos no tocante à partidarização dos sindicatos (o que époliticização específica) ou a tentativas
de partidarizar, a retirada de tal princípio seria de graves conseqUências. Diz-se que a intervenção,
constitucionalmente permitida, do Estado, na economia e na proteção do trabalho, leva a essa ação política dentro
dos sindicatos (COSTANTINO MORTATI, L‟Organizzazione profissionale, Atti deila XXIV settimana sociale
dei cattolici italiani, 218 s.). Mas uma coisa é permitir-se, expressa ou tàcitamente, que os sindicatos discutam,
internamente, os problemas políticos ligados à sua proteção pelas leis e à execução da ConstituIção e das leis, e
outra, a permissão explícita ou implicita de partidarização dos sindicatos (a retirada do principio da liberdade de
pluralidade sindical torna-a, por certo, de fácil insinuação).

2.CONSTITUIÇÃO DE 1946, AIa. 159. Lê-se no art. 159 da Constituição de 1946: “É livre a associação
profissional ou sindical, sendo reguladas por lei a forma de sua constituição, a sua representação legal nas
convenções coletivas de trabalho e o exercício de funções delegadas pelo poder público”.
A Constituição Política do Império do Brasil, art. 25, sob o influxo da atitude radical da Revolução francesa,
aboliu as “corporações de ofício”. Mas a Constituícão de 1891 foi omissa.
A Constituição de 1934, art. 120, disse serem “reconhecidos de conformidade com a lei” os “sindicatos e as
associações profissionais”. Havia representação política (arts. 28 ).
A Constituição de 1937, art. 138, estatuía: “A associação profissional ou sindical é livre. Somente, porém, o
sindicato regularmente reconhecido pelo Estado tem o direito de representação legal dos que participarem da
categoria de produção para que foi constituído, e de defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras
associações profissionais, estipular contratos coletivos de trabalho, obrigatórios para todos os seus associados,
impor-lhes contribuições e exercer em relação a êles funções delegadas de poder público”.
Não se pode negar aos que trabalham, na mesma profissão, o poder associar-se para exame e estudo dos
problemas que lhes interessam e defesa dos seus direitos, inclusive perante os podêres públicos. Ocorre o mesmo
com os empregadores. Onde não permitiram as associações, apareceram as coligações e as coalizões.
A ConstituIção de 1946 adota o principio da liberdade da associação profissional. Nos Comentários à
Constituição de 1934 (II, 824), escrevemos: “Durante o período ditatorial de 1930-1984, sob o influxo de
tentativas francamente fascistas, foi esboçada a política do sindicato único, absorvido, ou em fusão com o Estado,
segundo o tipo italiano. A composição pluripartidária da massa resistia, a despeito da exigência, algo
contraditória para a atitude dos legisladores ditatoriais, de não terem caráter político os sindicatos e associações
profissionais. Não se atendeu, então, a que a unidade sindical só é fácil lá onde seja unipartidário o Estado. Só a
Rússia, a Itália e a Alemanha de hoje podem consegui-la. No Brasil, a unicidade sindical desde logo se fêz
precária (se é que se fêz), devido a duas linhas que cortavam, de alto a baixo, os sindicatos e os profissionais:
grupos políticos ligados ao govêrno e grupos políticos, ou apolíticos, separados do govêrno; grupos de esquerda
religiosa (protestantes, espíritas, etc.) e de esquerda arreligiosa; grupos católicos, bem como grupos
religiosamente incaracterísticos, a serviço de mandões reacionários. Nas proximidades das eleições para a
Constituinte, a pluridalidade sindical estava nos fatos, bem que a lei vigente se inspirasse na unidade. O
Anteprojeto refletia a orientação governamental”. O autor da emenda que instituiu a pluralidade sindical
justificou-a do seguinte modo: “Essa unidade sindical, que se pretendeu estabelecer no art. 11 das disposições
Transitórias, nada mais é que o sindicato único, ensaiadu pelo Govêrno provisório através do Decreto n. 19.770,
e que tão vivos protestos tem provocado em todo o país, por parte de inúmeras e prestigiosas associações... Na
verdade, o espinto associativo, que temos necessidade de estimular, é precisamente amortecido e quase anulado
pela falta de emulação decorrente do privilégio que se pretende dar, em cada localidade, a uma só associação.
Aliás, êsse fenômeno se verifica na própria Itália, que modelou o sindicato único. Dizem as estatísticas que, nesse
país, a sindicalização diminui dia a dia pela falta de interésse que provoca a intervenção direta e draconiana do
Estado na sua existência. Por efeito do sindicato único na Itália, as associações profissionais tornaram-se, ali,
instrumentos da política ditatorial do Duce”. Assim falou o autor da emenda. O decreto referido foi o Decreto n.
19.770, de 19 de março de 1981.
A Assembléia Constituinte de 1934 tomou, nesse ponto, atitude antifascista; e a Constituição de 1984 assentou
que a lei asseguraria a pluralidade sindical. Qualquer texto que excluisse essa pluralidade seria inconstitucional.
Porém os mesmos elementos fascistas, e já então nazistas, de 1980-1984 volveram a influir na Constituição de
1987. Essa não mais continha a garantia da pluralidade. A 2a parte do art. 188, em que se deixava à lei decidir
sôbre os pressupostos do reconhecimento e sôbre o exercício de certos direitos, ou sôbre o gôzo de certos direitos,
lhe permitia a política da unidade e a da pluralidade sindical, em tôdas as suas gradações. “Aliás”, escrevíamos no
IV volume dos Comentei-nos, cuja publicação foi proibida, “é condizente isso com a possibilidade de se fazer
unipartidario ou pluripartidário o Estado que se estruturou, nas linhas gerais, a 10 de novembro de 1937, e pode
persistir apartidário, como se tem revelado até essa data”. Se o sindicato único não leva ao Estado integral, tipo
soviético, ou tipo fascista, é, pelo menos, um dos elementos favoráveis à sua instalação. Certo, é possível o
fascismo sem o sindicato intimamente ligado ao Estado; mas é difícil conceber-se democracia em que a unidade
sindical seja regra constitucional, por se chocarem duas estruturas, a do pluripartidarismo democrático, que
supõe a indiferença aos
homens, profissionalmente, e a congregacão partidária, de modo que grupo partidário e grupo sindical não
coincidem, e a da unidade sindical de cujas soluções discordariam os sindicatos partidânios, ou a cujas soluções
se teriam de submeter os sindicatos membros dos partidos. A contradição é evidente”.
A Constituição de 1946, em vez de assegurar a pluralidade sindical, o que foi a antítese à tese fascista da unici~
dade, que é também a soviética, porque unipartidaniedade e unicidade de sindicato hão de estar juntas, empregou
expressão que revela estar no caminho mesmo da evolução política, sem se preocupar cem a direita e a esquerda,
com as suas teses, e a antítese dos Estados democráticos, pluripartidários em crise de elaboração constitucional. O
art. 159 é regra jurídica em que se viu o problema na dimensão da liberdade (o que é fundo), e não na dimensão da
estruturação dos sindicatos (o que é forma).
(1) A atitude do Estado, ante as organizações profissionais, ou é (a) a de proibição, ou (b) a de tolerância, ou (c)
a de reconhecimento ou (d) a de criação compulsória, sem liberdade de associação ou sindicalização, por haver
uni-idade ou número fixo ou distribuição, espacial ou por outro critério, de associações ou sindicatos, ou (e) a de
criação compulsária com liberdade de associação ou de sindicalização, a) com sindicato único ou b) sem
sindicato único.
A liberdade de associação Ou sindicalização é statns negativus: nem se pode impor que o trabalhador se associe
ou sindicalize; nem que não se associe ou sindicalize; nem se pode estabelecer que somente os associados ou
sindicalizados exerçam determinada profissão, ou prestem determinado serviço, ou que os associados ou
sindicalizados tenham a preferência em matéria de trabalho.
A Constituição de 1946 não vedou, explicitamente, à legislatura ordinária adotar a pluralidade associativa ou
sindical ou a unicidade associativa ou sindical; porém manteve a liberdade de associação ou sindicalização: entra
para a associação ou sindicato quem quer, satisfeitos os pressupostos para a entrada; quem não quer entrar não
entra, nem, pode ser obrigado a isso (cf. ALFRED HIJF.CKHÀNS CARL NIPPERDEY, Lehrbuch das
Arbeitsreclitg J~, 5.~ ed., 161 s.). Mas vedar pluralidade é proibir.

É essencial à liberdade de associação ou de sindicalizaçãO que o profissional ou trabalhador entre de sua livre
vontade na associação, ou sindicato, como associado, ou sindicalizado. Rege o principio da livre vontade. Se tal
princípio existe, ou não, no sistema jurídico, depende da lei, ou, se a constituição tratou do assunto, da solução
constitucional que se deu. Se a Constituição o proclama, a lei nada pode dizer em contrário (ELINST RUDOLF
IIUBER, ~ II, 373).
Se há pluralidade de sindicatos, ou se não bá, é ofensivo à liberdade de associação ou sindicalizaçãO determinar
a lei, ou, a fortiori, ato estatal administrativo ou judiciário, que o profissional ou trabalhador entre em qualquer
dos sindicatos existentes, ou só entre num dêles, bem como, se foi adotada a unicidade sindical, que entre no
sindicato único.
Se o Estado exige que determinada profissão somente seja exercida, ou determinado serviço somente seja
prestado por pessoas que façam parte de determinada associação ou sindicato, ou de uma dentre as existentes, ou
de qualquer uma (excluindo-Sei então, as pessoas não associadas ou não sindicalizada&>, fere ao mesmo tempo
o princípio de liberdade de associação ou de sindicalização (ConstituiçãO de 1946, ad. 159>, ou o de liberdade de
profissão (art. 141, § 14), e o de isonomia ou igualdade perante a lei (art. 141, § 1.0).
Na vigência da Constituição de 1946, são exigíveis pressupostos de, competência profissional para que se possa
exercer determinada profissão (art. 141, § 14: “É livre o exercício de qualquer profissão, observadas as condições
de capacidade que a lei estabelecer”). Não se pode exigir que a pessoa faça parte de algum grêmio, sociedade,
associaçãO, ou sindicato. Permitiu-Se ã legislação dizer quais os requisitos para que alguém se repute idôneo,
preparado, apto ao exercício de determinada profissão, porém o fazer parte de algum grêmio, sociedade,
associação, ou sindicato, não diz respeito à idoneidade, preparo ou aptidão profissional~ ainda quando a entrada
na entidade coletiva seja subordinada à exibição de títulos ou outras provas. Satisfaz requisitos de idoneidade,
preparo ou aptidão quem presta exames, ou tira cartas de habilitação, ou de doutoramento; não quem é eleito para
alguma instituição, ou nela foi aceito, ou foi admitido, ou incluído, ou inscrito em sociedade, associação 011
sindicato.
Infringe o princípio de liberdade sindical, que foi inserto na Constituição de 1946, art. 159, o ato estatal
(executivo, legislativo ou judiciário) que: a) obriga a entrar em sindicato; b) faz dependente da entrada em
sindicato o exercício de qualquer profissão; c) atribui a sindicato a exclusividade ou preferência no provimento de
empregos ou cargos.

3. PRESENTAÇÃO E REPRESENTAÇÃO UNITÁRIA. A liberdade sindical, a rigor, exige que não se atribua
a uma ao das entidades sindicais dar normas para a conclusão ou concluir contratos coletivos de trabalho. A
melhor solução, se há pluralidade de entidades sindicais, é a de se atender a participação eleitoral, proporcional ao
número dos membros de cada uma. Tem-se, então, ou a) a presentação unitária (se se criou árgão), ou b) a
representação unitária (se apenas se disciplina a maneira de se escolherem as normas ou as cláusulas) -Ali,
supõe-se entidade por sôbre as outras, com personalidade jurídica. Aqui, apenas se regula a elaboração da oferta
ou da aceitação, por parte de todas as entidades.
No art. 157, XIII, da Constituição de 1946, não se precisou como se há de resolver o problema em caso de
pluralidade de entidades sindicais. No ad. 159, deixa-se a lei regular a matéria. Com isso, tem a legislação
ordinária maior âmbito, no direito brasileiro, do que noutros sistemas jurídicos (cp., por exemplo, o sistema
jurídico italiano, mesmo a despeito de divergências de doutrina, IJEALDO PROSPERETTI, 1 Contratt~
collettivi di lavoro, Alti dei Convegno di studí sul progetto dí legge per ia disciplina giuridica dez rapporti di
lavoro, 182 s.; FRANCESCO SANTORO~PASSAREtLí, Nozioni di Dirilto dei Lavoro, 12a ed., n. 16; contra,
RENATO BALZARXNI, Problematica dei Contratto collettivo di lavoro, Stvdi cli Dinho dei Lavoro, 208). Não é
fácil, todavia, atender-se a êsses pressupostos, e não só no tocante ao número de inscritos, que se tem querido
deixar a declarações das entidades sindicais, ou através de eleições de representantes (cf. GIORGIO BRANCA,
L‟Assúciazwne sindicale, 124 s.).
A Constituição de 1946 não pré-estabeleceu a conclusão de contratos coletivos de trabalho: reconheceu a
legitimação das entidades a concluí-los. Supõe-se a existência da entidade profissional de trabalhadores. O
contrato coletivo de trabalho tem de ser no campo de atividade dos que fazem parte da entidade sindical. Em todo
o caso, a entidade complexa pode apanhar os membros da entidade unitária, ou menos complexa; nao, vice-versa.
O objeto do contrato coletivo de trabalho tem de ser relação de trabalho dependente, dentro de categoria
profissional (cf. UBALDO PROSPERETII, La Posizione professionale dei lavoratore sabordinato, 145 a.).
~A Constituição de 1946, art. 159, permitiu que a lei ordinária adote o principio da unidade sindical ou o
princípio da potencialização sindical ? Mesmo se se afirma a permissão constitucional, isso de modo nenhum
limita aos sindicatos a faculdade de concluir contratos coletivos de trabalho. A respeito dêsses, o ad. 157, XIII, da
Constituição de 1946 empregou a expressão “reconhecimento”. Associações não sindicalizadas podem fazer
contratos coletivos de trabalho.
Se a lei estabelecer a unidade sindical, o que, de iure condendo, é reprovável, isso não quer dizer que impôs a
unidade de associação profissional. Ainda assim, devemos dar ao art. 159 da Constituicão de 1946 interpretação
que hão admita restabelecer-se a unidade sindical. Temos, pois, de refugar o que vem de reminiscência ditatorial.

4. PRESSUPOSTOS. Há os pressupostos para a constituição das entidades sindicais, como a homogeneidade


profissional (espécies de trabalhadores dependentes ou independentes; espécies de outorgados de trabalho). Não
se pré-excluem, a priori, as entidades sindicais de caráter misto (cf. ANTONIO AMORTH, La Costituzione
italiana, 78), porém tais entidades sindicais seriam mais contratuais do que deliberativas.
Quando o art. 159 admitiu a lei ordinária sôbre constituiçúo e presentacão ou representação legal não deu ao
legislador a permissão de impor o sindicato único, ou a associacão única.
A unicidade sindical, dita também exclusividade sindical ou monopólio sindical, é sustentada por alguns porque,
dizem, com ela se evita a pluralidade de representantes. Sim, mas cerceia-se a liberdade de associação, e se
forçam os trabalhadores e os empregadores a não terem outra saída, diante de sindicato mal dirigido e talvez
mesmo politicizado: ou nêle entrar, ou não ter associação. Outros dizem que só nos Estados liberais se pode
admitir pluralidade sindical. ~ Que Estado seria, então, o Brasil, entre 1946 e 1964? Razão tinham TRISTÃO DE
AmíDE e REGO MONTEIRO.

§ 5.062. Princípio de liberdade de entrar e de permanecer, ou não, nos sindicatos

1. CONCEITO. Segundo o princípio de liberdade de entrar, permanecer, ou não, nos sindicatos, cada um pode
entrar no sindicato que lhe apraz, desde que a êle corresponda a sua profissão, como pode não entrar ou sair. Se,
em virtude de alguma lei, se consideram extensivas a não-membros cláusulas do contrato de trabalho, tal aparente
coletividade não resulta de enquadramento na entidade sindical, e sim de regra jurídica cogente, dispositiva, ou
interpretativa, que coincide ter tornado a atividade sindical como elemento de tarifa ou de outra cláusula
contratual.
Uma vez que a legislação ordinária haja de permitir a pluralidade de sindicatos da mesma categoria, temos de
considerar os problemas constitucionais diante das duas possibilidades: a de ser edictada regra jurídica, legal, de
pluralidade permitida; a de ser mantido o rígido princípio de unicidade de sindicato.
Não é limitacão à liberdade de entrar ou de não entrar em entidade sindical o não se poder fazer parte de dois
sindicatos da mesma categoria e no mesmo território (= mesma zona. laborativa). Nem é incompatível com ela a
entrada contemporânea em dois ou mais sindicatos de diferentes profissões e no mesmo território, pois a pessoa
pode ter duas ou mais atividades profissionais.
Em todo o caso, as leis ou as manifestações de vontade podem prever, no que se refere à mesma profissão, a
diversidade de fins das entidades sindicais (cf. PIETRO GASPARRI, L‟Assicurazione contro la disoccupazione
involontaria, Trattato di Diritto dei lav oro direto da U. Bonsi e F. PERGOLESI, 22 s.), o que deixa margem a que
a mesma pessoa faça parte de duas ou mais entidades profissionais.

Surge o problema de se saber se é permitida pela Constituição e pelas leis a constituição e a entrada de quem
trabalha para o Estado (União, Estados-membros e Municípios), ou para autarquias, o que só se pode resolver
diante dos textos. Não há solução a priori. Ora, a função principal das entidades sindicais é, ao lado da luta por
medidas que lhe sejam necessárias, a de concorrer para os contratos coletivos. De inre condendo, isso não afasta
que a lei admita as entidades sindicais para atividade de projetos e pareceres. Tais funções propulsivas e
consultivas não colidem com o interesse do Estado em ter todo o auto-regramento por via legal na disciplina das
relações jurídicas de trabalho entre funcionários públicos do Estado e das autarquias. É difícil conceberem-se
sindicatos de magistrados, membros das fôrças armadas, ou membros das polícias.
O interesse no sindicato quer se trate de sindicato de trabalhadores, quer de sindicato de pessoas outorgadas de
trabalho é concernente a direitos e deveres. O sindicato pode estabelecer pressupostos para a admissão, a
permanência e a saída; mas êsses pressupostos não ficam a inteira discricionariedade. Têm de obedecer aos
princípios constitucionais, a começar-se pelos de ordem geral (e. g., preconceitos de raça, de religião, de sexo, de
convicções políticas). Exigir-se que tenha determinada opinião em assunto político é politicizar-se o sindicato.
A inclusão na entidade sindical (associação profissional> cria relações jurídicas entre o membro e o sindicato,
inclusive relações interiores à entidade, e relações jurídicas com terceiros. Tem o membro do sindicato de
observar as regras estatutárias, ou insertas nos regulamentos e instruções emanadas do sindicato (e. g., pagamento
de contribuições, respeito às normas disciplinares).
j Existem o direito a entrar no sindicato e a pretensão à entrada no sindicato? O problema, que tem sido
levantado e discutido, há de ser resolvido de iure condito. O Decreto n. 24.694, de 12 de julho de 1934, art. 19,
disse que “todo profissional, desde que satisfaça as condições dos estatutos e as exigências dêste decreto, tem
direito a ser admitido no sindicato da respectiva profissão, salvo no caso de falta de
idoneidade, devidamente comprovada”. Também no Decreto-lei n. 5.452, o art. 540 estabelece: “A tôda empresa
e indivíduo que exerçam, respectivamente, atividade ou profissão, desde que satisfaçam as exigências desta lei,
assiste o direito de ser admitido no sindicato da respectiva categoria, salvo o caso de falta de idoneidade,
devidamente comprovada, com recurso para
o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio”. ~,Qual a natureza dêsse direito à entrada no sindicato? zDecorre
a) do exercício da atividade ou da profissão, ou b) se subentende incluída nos estatutos a atribuição, pelo
sindicato, do direito à entrada, da pretensão a ela e da ação para que se reconheça o direito e se insira no sindicato
o empregador ou empregado? Uma vez que existe a regra jurídica do art. 540 do Decreto-lei n. 5.452, há ius
cogens, que os estatutos do sindicato têm de considerar uma das suas cláusulas, não suscetível de disposição
contrária. O direito, êsse, é direito formativo gerador.
A lei alude aos pressupostos. Todavia, no tocante à categoria, atividade ou profissão, teve-se de abrandar o rigor
da exigência. Use no art. 541 do Decreto-lei n. 5.452: “Os que exercerem determinada atividade ou profissão
onde não haja sindicato da respectiva categoria, ou de atividade ou profissão similar ou conexa, poderão filiar-se
a sindicato de profissão idêntica, similar ou conexa, existente na localidade mais pró.xima”. O art. 541 não
somente torna explícita a liberdade de entrada no sindicato como atribui aos que estão na situação descrita o
direito, a pretensão e a ação que se irradia da incidência do ad. 540.
O direito à entrada, a pretensão e ação extingue-se se o trabalhador ou o empregador deixa de exercer a atividade
ou profissão (art. 540, § 1.0). Todavia, “os associados de sindicatos de empregados, de agentes ou trabalhadores
autônomos e de profissões liberais que forem aposentados, estiverem em desemprêgo ou falta de trabalho ou
tiverem sido convocados para prestação de serviço militar, não perderão os respectivos direitos sindicais e ficarão
isentos de qualquer contribuição, não podendo, entretanto, exercer cargo de administração sindical ou de
representação econômica ou profissional”.
O que se estatui no art. 541 do Decreto-lei n. 5.452 também concerne aos sindicatos em relação às respectivas
federações, na conformidade do quadro de atividades e profissões a que se refere o art. 577.
fl nula, por ofensa ao art. 141, § 12, e 159 da Constituição de 1946, a cláusula de não se sindicalizar, dita cláusula
anti-sindical, o “yellow dog contract”. A recusa de admitir empregado sindicalizado é ilegal.
2.FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS E EMPREGADOS DO ESTADO E DAS AUTARQUIAS. Na Lei n. 1.134, de
14 de junho de 1950, cogita-se dos podêres de presentação e representação coletiva ou individual dos associados,
funcionários públicos e dos empregados, perante as autoridades administrativas e a justiça ordinária. Lê-se no
art. 1.0: “As associações de classe existentes na data da publicação desta lei, sem nenhum caráter político,
fundadas nos têrmos do Código Civil e enquadradas nos dispositivos constitucionais, que congreguem
funcionários ou empregados das empresas industriais da União, adnúnistradas ou não por ela, dos Estados, dos
Municípios e de entidades autárquicas, de modo geral, é facultada a representação coletiva ou individual de seus
associados, perante as autoridades administrativas e a justiça ordinária”. No art. 2.0 acrescenta-se: “A essas
associações que passam a ter as prerrogativas de órgãos de colaboração com o Estado, no estudo e na solução dos
problemas que se relacionam com a classe que representam, é permitido, mediante consignação em folha de
pagamento de seus associados, o desconto de mensalidades sociais”. Da simples leitura do art. 1.0 tira-se que tais
associações, tais entidades sindicais, já existiam.
Fala-se de podêres de representação; mas entenda-se: podêres de presentação, ou de representação; em princípio,
podêres de presentação.
A referência a associações que já existiam de modo nenhum se pode interpretar como limitativa da permissão:
não só se permitiu as que existiam como as que se constituam.

§ &068. Princípio de organização interna do sindicato

1. CONCEITO. - O principio de organização interna do sindicato é o princípio segundo o qual qualquer


sindicato tem autonomia para determinar a própria organização e a atividade. Com isso é incompatível o
ordenamento corporativo, que impõe a organização interna.
À lei sob a Constituição de 1946 é dado regular a forma da constituição dos sindicatos. Considera-se forma: a
representação por unidades intra-urbanas, intramunicipais, municipais, intra-estaduais, estaduais, intra-regionais,
intraprofissionais, ou intragrupais, ou por grupos de unidades interurbanas, intermunicipais, interestaduais,
inter-regionais, interprofissionais, etc., com maior ou menor dose de federatividade: o número de membros dos
corpos executivos e norinativos, ou de conselhos, desde a unidade (Presidência) até .a pluralidade (Junta,
Assembléia normativa e executiva); a matéria eleitoral dos sindicatos (Juízo da 1a Vara da Fazenda Pública do
Distrito Federal, 19 de fevereiro de 1948, D. da J. de 20 de fevereiro de 1948, sentença do juiz ALCINO
FALCÀO: “O comentário de PONTES DE MIRANDA esclarece que por tal artigo o legislador apenas pode
deliberar sôbre matéria formal, mas essa compreende a matéria eleitoral”) ; a matéria judiciária interna dos
sindicatos; a capacidade eleitoral ativa e passiva; os direitos e deveres, as responsabilidades de administração e a
deliberação. As regras jurídicas sôbre forma da constituição e sôbre eficácia são de ius cogens, de lus
dispositivum e de iu.s interpretativum, porém não podem eliminar o auto-regramento da vontade.
A forma, que o legislador pode regular, é a forma. que deixe incólume o fundo, que é dado pelos conceitos de
“assonação profissional ou sindical” e “liberdade de associação profissional ou sindical”. De maneira nenhuma, é
permitido ao legislador ordinário de jeito tal regular a forma de constituíção e presentação ou representação das
associações profissionaís e dos sindicatos que elimine ou cerceie a liberdade de associação profissional e sindical.
A Constituição de 1946 reconhece as convenções coletivas de trabalho, e não podem elas ser excluídas pelo
legislador, ainda veladamente. A lei que o fizesse seria inconstitucional. No art. 159, dá-se ao legislador ordinário
apenas competência para regular a presentação ou representação (capacidade negocial) dos sindicatos nessas
convenções coletivas (deliberação pelo Presidente, ou Junta, ou Assembléia, ou votação direta).

Dissemos acima que a Constituição de 1946, em vez de adotar a tese da pluralidade sindical, ou a antítese da
unicidade, se colocou na dimensão da liberdade (que é fundo), e não na dimensão da estruturação sindical (que é
forma). Os sindicatos por si, através de dilatações (federações, confederações, etc.), negociais, podem chegar à
unicidade, ou tomar o caminho da pluralidade; mas é preciso que, para isso, não tenha havido o elemento
aglutinante da regra jurídica co gente, porque essa cercearia a liberdade de associação profissional, ou sindical, e
seria, por isso mesmo, contrária ao art. 159. A lei não pode dizer “unifique-se”, “una-se”, “entre para o sindicato”,
“federalizem-se os sindicatos a, b e c”, ou “federalizem-se os sindicatos”, ou “confederalizem-se os sindicatos a,
b e e”, ou “confederalizem-se os sindicatos”. Tôda unificação compulsória ou unicidade compulsória é contra a
liberdade de associação profissional, ou sindical, e, pois, inconstitucional. Nem a lei ordinária pode dizer
“sindicalize-se”, “considera-se sindicalizado A, ou a”, “tem tantos meses para se sindicalizar, sob pena de... “,
“ficam sindicalizados os operários a, ou a e
ou “ficam sindicalizados os tecelões”. Tal lei feriria, de frente, o ad. 159. Tem-se de legislar sôbre forma de
constituíção sem se eliminar ou cercear a liberdade de associação profissional ou de associação sindical.

2.DELEGAÇÃO DE PODÊRES PELO ESTADO. Sempre que o poder público federal, estadual, territorial,
distrital ou municipal delega funções aos sindicatos, isto é, sempre que lhes confia funções que pertencem ao
poder público, à legislação compete dizer corno se há de exercer a delegação. Exclui-se o ato só de elaboração do
Poder Executivo, ou a regra só de elaboração judiciária (art. 128, § 2.0). Isso não quer dizer que não possa a lei
prever espécies em que o Poder Executivo, ou o Poder Judiciário, delegue podêres, inclusive de polícia interna e
de certos julgamentos, uma vez que regule o exercício de tais delegações de funções públicas; o ad. 159, in fine,
contém exceção ao art. 36, § 2.0. A nenhum poder é dado delegar tais funções, se não há lei que haja,
prêviamente, regulado o exercício da delegação ou das delegações.
Um dos pontos principais da liberdade sindical é a deter minação da própria atividade futura, no tocante à
categoria
profissional e ao território. Tem de haver o acôrdo, com os pressupostos de fundo e de forma, para que se precise
a estrutura organizativa quanto aos atos e quanto ao espaço.
No espaço, pode haver continuidade e pode não haver, como se a empresa ou as empresas têm estabelecimentos
em diferentes lugares e há unitariedade associativa (= o mesmo sindicato para as diferentes localidades). O
âmbito é quase sempre estadual ou municipal.
No que se refere aos atos, os estatutos sindicais é que têm de dizer quais aquêles que o sindicato pode praticar,
notadamente quais as deliberações que pode tomar.
Acima das entidades sindicais compostas por indivíduos, podem surgir as federações e as confederações, mas as
estruturações internacionais são estranhas ao direito brasileiro. De iure condendo, a facilitação das entidades
sindicais unitárias, em relação às entidades complexas, e das entidades unitárias e das complexas, em relação às
federações e confederações, evita o exsurgimento dos movimentos federativos e confederativos, tanto nacionais
como internacionais.

8.PRESENTAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DOS SINDICATOS. A propósito dos sindicatos são invocáveis os


arts. 17 e 19, II, do Código Civil. No art. 17, diz-se que as pessoas jurídicas são “representadas” (aliás,
presentadas), ativa e passivamente, nos atos judiciais e extrajudiciais, por quem os respectivos estatutos
designaram, ou, não o designando, pelos seus diretores. No art. 19, II, estabelece-se como um dos requisitos para
o registo das pessoas jurídicas a declaração sôbre o modo por que se administra e presenta, ativa e passivamente,
judicial e extrajudicialmente, a pessoa jurídica.
No art. 86 do Código de Processo Civil lê-se que as pessoas jurídicas são presentadas ou representadas (lá apenas
se diz “representadas”) por seus administradores ou por aquêles a quem os estatutos confiram podêres (cf. Tomos
1, *§ 75, 3, 86, 5, 91, 94-98; III, §§ 308, 1, e 823; IV, §§ 441, 446, 3, 450, 5, e 451; Comentários ao Código de
Processo Civil,, II, 2a ed., 83-85). No fundo, o art. 86 apenas enuncia, tautolôgicamente, que a pessoa jurídica
atua, por seu órgão; ou se representa, processualmente, como a sua lei manda que se represente. Porque, se a sua
lei lhe fixa órgão, com função processual, sem que os seus estatutos lhe possam alterar essa designação, não cabe
a disjuntiva do art. 86: “por seus administradores ou por aquêles a quem os estatutos conferirem podêres de
representação”.
Se algum membro da sociedade, que não é órgão, pratica atos jurídicos em nome dela, isto é, como se órgão fôra,
obriga-se pessoalmente, ainda se o terceiro conhecia ou devia Conhecer o fato de não-personificação. Se dois ou
mais membros atuam em nome da entidade, a responsabilidade é solidária.

4.EXTENSÃO DOS PODÊRES DOS ÓRGÁOS E DOS REPRESENTANTES. Os podêres do órgão e os


podêres de representação não têm, todos, a mesma extensão. A lei que rege a pessoa jurídica portanto, o direito
material é que diz até que ponto vão êsses podêres, ou até que ponto os estatutos podem estendê-los, ou
limitá-los, submetê-los a formalidades suplementares, conforme a matéria, ou conforme o valor, ou conforme a
propria categoria jurídica de que se trata, inclusive a atuação do órgão em juízo ou a representação judicial.
O Decreto-lei n. 5.199, de 16 de janeiro de 1943, criou a Comissão Técnica de Orientação Sindical, subordinada
ao Ministério do Trabalho. Disfarçadamente o que se colimou foi abrir portas oficiais à politicização dos
sindicatos. Regulou tal instituição o Decreto n. 40.401, de 21 de novembro de 1958, com evidente usurpação de
podêres legislativos.
5.SINDICATOS IRREGULARES. Questão interessante, a que o Código de Processo Civil poderia ter aludido, e
não no fêz, é a da atuação em juízo e da representação processual das sociedades irregulares. A posteriori, tem-se
de recorrer ao direito material em cujo âmbito se formou a sociedade irregular, ainda que a determinado ramo do
direito interno brasileiro, como o civil e o comercial. Nem o Código de Processo Civil poderia estabelecer regra
geral, salvo se pretendesse derrogar a tôdas as outras leis sôbre sociedades, expondo-se, por sua vez, a que outras,
posteriores, o derrogassem. A priúri, a sociedade irregular existe sem que os laços associativos se perfizessem, tal
como a lei o exige. Em vista disso, é possível que acione ou seja acionada desde que, para a entrega da prestação
jurisdicional pelo juiz, o contrato social ou a vali-
14a
dade dêsse contrato não esteja em causa. Tais sociedades têm capacidade de ser parte; são capazes
processualmente, de modo que elas o são e as sociedades regulares, não-personificadas, ativamente, não (R.
POLLAK, System, 132).

§ 5.064. Registo da entidade sindical

1.REGISTO E EFICÁCIA DO REGISTO. O assunto da organização das associações sindicais é estranho ao


contrato de trabalho, mas êsse supõe a existência do sindicato se houve contrato normativo, a que o contrato
individual haja de obedecer, ou o contrato coletivo de trabalho.
Em tôdas as civilizações surgem as associações profissionais, com elementos característicos de ordem estrutural e
de ordem funcional, que de certo modo correspondem à economia, à política e a outros processos de adaptação
social que mais ascendem no meio em que elas se compõem (China, Egito, índia, Roma, Bizâncio, Germânia,
Idade Média, Inglaterra, França). Cf. ALB. HEEM. PosT (Grunrlriss der ethnologisehen Jurisprudenz, 1, 444). A
reação “política”, um tanto confusa, da Revolução Francesa proibiu as associações profissionais, o que, sem
pensamento e sem técnica legislativa, muitos Estados imitaram.
A finalidade precípua dos que se associam profissional-mente é a resistência ao arbítrio dos profissionais
figurantes opostos dos contratos (empregadores), ou à arbitrária reação dos fracos em associação (empregados).
Na resistência dos empregados, bá exame das necessidades e sentimentos; na resistência dos empregadores,
considera-se mais a possibilidade de diminuição do lucro e há mais cálculo dos interesses. A Revolução Francesa,
com a Lei Le Chapelier (1791), temeu os sindicatos e os sindicos: “Les citoyens de même état ou profession, les
ouvriers et compagnons d‟une art quelconque ne pourront, lorsqu‟ils se trouvent ensembie, se nommer de pré
sident ou secrétaire ou syndic, tenir des registres, prendre des arretés, former des rêglements sur leurs prétendus
intérêts communs”.
A palavra “sindicato” só entrou tarde na língua portuguêsa, vinda do francês “syndicat”.

Quando se tem de saber qual o poder do Estado diante das associações profissionais, o primeiro passo é
verificar-se qual a atitude da Constituição diante do problema da liberdade de associação profissional, ou sindical,
e o que é que se permite como regramento do funcionamento jurídico das associações profissionais ou sindicais.
Na ConstituIção de 1946, o art. 159 fala de ser “livre” a associação profissional ou sindical e permite que sejam
“reguIadas” por “lei”, “a forma de sua constituição”, “a sua representação legal nas convenções coletivas de
trabalho” e “o exercício de funções delegadas pelo poder público”.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 511: “É licita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus
interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou
trabalhadores autônomos ou profissionais liberais, exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou
atividades ou profissões similares ou conexas”. Acrescenta o § 1.0: “A solidariedade de interesses econômicos
dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas constitui o vinculo social básico que se denomina
“categoria econômica”. E o § 2.0: “A similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em
comum, em situação de emprêgo na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou
conexas, compõe a expressão social elementar compreendida como “categoria profissional”. E o § 3.0:
“Categoria profissional diferenciada” é a que se forma dos empregados que exerçam profissões ou funções
diferenciadas por fôrça de estatuto profissional especial ou em conseqüência de condições de vida singulares”. E
o § 4.0: “Os limites de identidade, similaridade ou conexidade fixam as dimensões dentro das quais a categoria
econômica ou profissional é homogênea e a associação é natural”.
O fato de ter a Constituição de 1946 a liberdade de associação profissional, ou sindical, como princípio
constitucional, por assegurada assim a empregados como a empregadores, mostra que o poder legislativo do
Estado não pode ir, a propósito da associação de empregados, além do que poderia no tocante a associação de
empregadores. A iniciativa daqueles não é menos digna de respeito do que a dêsses. Não basta empregarem-se.
para dizê-lo, proposições imprecisas como a de MANLIO iVIAZZIOTTI (II Diritto dei lavo ro, 287) “a cui
azione é limitata, ma non diretta, dall‟autorità pubblica”, porque os limites mesmos têm de ser conforme os
princípios constitucionais.
Na composição das associações profissionais ou sindicais, pode a lei classificar as categorias profissionais,
conforme os elementos econômicos-profissionais, mas a própria discriminação é suscetível de contrôle judicial,
se a lei de qualquer modo fere a Constituição de 1946.
A liberdade de associação profissional ou sindical estende-se às associações entre associações, de modo que
possam surgir as uniões e as federações e, respeitadas as regras jurídicas sôbre categorias similares, as
confederações e as confederações gerais. O crescimento, de ordem democrática, dá maior raio de ação e maior
intensidade às ações grupais.
A categoria profissional é revelável, não é criável pelo Estado. Há categorias, supracategorias, infracategorias e
categorias similares. Não se pode dizer que o legislador não tenha certa facilidade de escolha quanto, por
exemplo, aos elementos que similarizam (Ba + Bc ~ Be, ou Ba + Bb + Bc); o que se lhe não permite é partir a
categoria ou criar intracategorias que não existem.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 512: “Sómente as associações profissionais constituídas para os fins e na forma
do artigo anterior, e registadas de acôrdo com o art. 558, poderão ser reconhecidas como sindicatos e investidas
nas prerrogativas definidas nesta lei”. O art. 512, que recende ao regime
-totalitário de 1937-1946, tem de ser interpretado de acôrdo com os princípios constitucionais de 1946. Não mais
caberia o “poderão ser reconhecidos” do art. 541: têm de ser reconhecidos. Por ocasião do registo é que se verifica
se foram observados os princípios constitucionais e legais, sem qualquer margem para o arbítrio administrativo. O
regime fascista, na Itália, intrometeu-se e controlou os sindicatos, no que foi imitado pela ditadura brasileira. Lá,
os trabalhadores tiveram de associar-se clandestinamente, em reação antifascista (L. VÃLIANI,
Dell‟Antifa.s‟cismo alta Resistenza, 39). No Brasil, devido a terem persistido, ao volver a democracia, os mesmos
elementos governantes ditatoriais, os detentores do poder prosseguiram no contrôle de fato dos sindicatos, pelo
menos até 1964. Juridicamente, não se fêz o que era preciso fazer-se: o desbastamento, pela legislação provisória,
conforme se fêz na Europa (cf. VINCENZO CARULLO, Diritto sindicale transitorio, 2 s.), ou por obra sincera
dos intérpretes, após a Constituição de 1946. Se as autoridades públicas obstam ao registo ou à atividade das
associações profissionais ou sindicais, há as ações adequadas, inclusive as ações mandamentais do habeas-corpus
e do mandado de segurança.
O art. 159 da Constituição de 1946 afasta qualquer tentativa de aparelho corporativo do Estado, ou de ingerência
do Estado nas discussões e deliberações das associações profissionais e dos sindicatos.
Não se falou em ato de registo ou de reconhecimento (ato declarativo). Aludiu-se à forma de constituição.
“Forma” está, aí, por estrutura. O Estado, diante da liberdade de associação sindical ou profissional, tem de
limitar-se a regras jurídicas essenciais ao exercício de tal liberdade no campo das relações com as pessoas e com
as outras associações. Não há o dever de associação ou de sindicalização, que já suporia regime de estatização, ou
de paternalismo político obsoleto, ou de totalitarismo confessado.
As limitações jurídicas à liberdade de associação profissional ou sindical não podem ir além do que se permite
nos textos constitucionais. Por outro lado, o Estado é vinculado a assegurar essa liberdade e a das associações
profissionais ou sindicais, inclusive diante das autoridades públicas.
O art. 159 da Constituição de 1946 de modo nenhum permite a exigência de “autorização” ou outro ato
constitutivo estatal para que se possa concluir o contrato de associação.
Oregisto das entidades sindicais é pressuposto para a aquisição da personalidade jurídica como sindicato. Não,
para a existência negocial. Onus, portanto; e não dever (sem razão, (hoaGío BALLADORE PALLIERI, Diritto
costituzionale, 53 ed., 3585.; LODO VICO BARASSI, Ii Diritio dei Lavoro, ~, 23 ed., 47 s.). Se o sindicato não
se registou, existe, sem se haver personificado. Pode dar-se que se tenha personificado como associação
profissional não sindicalizada, caso em que a entidade não tem a legitimação ativa nem os direitos que somente
derivariam da sindicalização.
No ato de registo há elementos constitutivo, no tocante a efeitos, e declarativo, mediato, porque dêle se parte para
se registar. O contrôle administrativo, que pudesse deixar ao arbítrio da administração pública registar-se, ou não,
a entidade sindical (= registar-se o contrato de associação sindical), ofenderia o art. 159 da Constituição de 1946,
que sómente permitiu à lei regular a constituicão da associação profissional ou sindical (lã se diz, mas em sentido
amplo e impróprio, “a forma de sua constituição”), a “representação legal nas convenções coletivas de trabalho”
e o “exercício de funções. delegadas pelo poder público”.

2. PRESsuposTos PARA O REGISTO E REGISTO DA ENTmADE SINDICAL. A entidade sindical, para


adquirir personalidade jurídica, tem de requerer o registo, e salvo se advém regra jurídica especial tudo se passa
como a respeito das outras associações e sociedades que requerem registo. Os princípios são comuns às entidades
sindicais de outorgantes de trabalho e às entidades sindicais de outorgados de trabalho.
Aqui, há um ponto que tem de ser frisado. Tal como resultou da democratização de 1946 e dos princípios
constitucionais, o sindicato não é automàticamente personificado, nem depende de permissão das autoridades
públicas. Contudo, permaneceu a distinção entre associação profissional não sindicalizada e associação
profissional sindicalizada. Como a associação profissional se pode personificar sem se sindicalizar, é possível
que, ao ser requerido o enquadramento sindical, já esteja personificada a associação profissional, ou que não o
esteja. Se ainda não se personificou, o registo (dito reconhecimento) tem eficácia personificante. Se a associação
profissional já era pessoa jurídica, seria absurdo dizer-se que há segunda personificação. O enquadramento
sindical já se opera com entidade personificada.
O requerimento de registo é ato jurídico de direito privado, e não de direito público, muito embora se dirija a
autoridade pública e pôsto que o registo consista em ato de direito público. A autoridade não tem nem pode ter
qualquer arbítrio: se os pressupostos foram satisfeitos e o ato constitutivo foi lavrado, tem a autoridade pública de
fazer o registo ou mandar a outra autoridade pública que o faça.
Diante da Constituição de 1946, os estatutos da entidade sindical têm de ser respeitadores dos princípios de
igualdade, de liberdade e de democracia. Bem assim, portanto, do principio de eletividade dos cargos, exigida,
ou não, a maioria absoluta. A maioria é exigida, salvo em ulteriores convocações, se os estatutos permitem que
baste a maioria dos presentes. Não se pode estabelecer desigualdade no tocante à legitimação ativa ou passiva
para votar.
O voto secreto pode ser estabelecido explicitamente. Entende-se que o voto há de ser secreto sempre que a lei não
permita o voto a descoberto, ou, se o permite, não o exigiram ou a Lei não se referiram os estatutos.
Nos sindicatos de outorgados de trabalho não infringe o principio de igualdade atribuir-se às empresas número de
votos proporcional ao número de trabalhadores que delas dependem.
Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 515: “As associações profissionais deverão satisfazer os seguintes requisitos para
serem reconhecjdas como sindicatos: a) reUnião de uru têrço, no mínimo, de empresas legalmente constituídas,
sob a forma individual ou de sociedade, se se tratar de associação de empregadores; ou de um têrço dos que
integrem a mesma categoria ou exerçam a mesma profissão liberal, se se tratar de associação de empregados ou
de trabalhadores ou agentes autônomos ou de profissão liberal; b) duração não excedente de dois anos para o
mandato da diretoria; e) exercício do cargo de presidente por Brasileiro nato, e dos demais cargos de
administração e representação por Brasileiros”. Acrescenta o parágrafo único: “O Ministro do Trabalho, Indústria
e Comércio poderá, excepcionalmente, reconhecer como sindicato a associação cujo número de associados seja
inferior ao têrço a que se refere a alínea a)”.
Analisando-se o art. 515 do Decreto-lei n. 5.452, ressalta:
a)que se estabeleceu critério concreto para se obedecer ao então vigente princípio da unicidade sindical (ou do
sindicato unico) ; b) que se reputou de interesse social e, em conseqUência, assunto para regra jurídica cogente, o
tempo máximo para que se elege diretoria, o que não afasta a reelegibilidade; e) que o lagar de presidente da
associação sún~ente pode ser preenchido e exercido por Brasileiro nato, com o afastamento, então, de qualquer
substituição por pessoa que não seja Brasileiro nato, e que os outros cargos de diretoria. podem ser preenchidos e
exercidos por pessoas que não sejam Brasileiros natos, desde que sejam Brasileiros.
É de notar-se que, no inicio do art. 615, o Decreto-lei n. 5.452 distingue o sindicato e a associação prol issionul,
por ser aquêle espécie dessa. O registo faz entrar a associação profissional no rol dos sindicatos, o que, diante do
princípio da unicidade sindical e de certas regras jurídicas em que se prevê a função social dos sindicatos, tem
função de enquadramento jurídico. Se há duas ou mais associações profissionais que desejam ser consideradas
sindicatos, não se pode estender a competência da autoridade pública até à livre escolha. Os arts. 515—520 do
Decreto-lei n. 5.452 têm de ser interpretados diante da Constituição de 1946, e não como se poderiam interpretar
ao tempo da Constituição ditatorial de 1937.
As associações que pedem o registo tem de apresentar aquilo que o Decreto-lei n. 5.452 reputa necessário ao
chamado “pedido de reconhecimento” (art. 518).
Quando as associações profissionais se constituem com plena observância da lei e duas ou mais querem a
sindicalizaçao ( enquadramento no rol dos sindicatos), os problemas que surgiriam seriam quase todos oriundos
de se ter adotado o princípio da unicidade sindical.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, ad. 515: “Não será reconhecido mais de um sindicato representativo da mesma
cate-~ goria econômica ou profissional, ou profissão liberal, em uma dada base territorial”. Está obsoleto o ad.
515.
O enquadramento sindical tem por finalidade poder a associação sindical, com êle, invocar regras jurídicas
especiais aos sindicatos. A associação profissional, essa, é livre, e o direito que a rege é o direito civil, e não a
legislação especial do trabalho. É permitida a associação profissional plúrima; o que não se permitia, de iure
condito, era a pluralidade de sindicatos. (la mesma categoria e no mesmo lugar. Deve-se acentuar que
o Estado não tem podêres para determinar categorias econômicas sem atender aos fatos, aos dados de atividade
laborativa e a outras razões de discriminação. Cf. GIULIANO MAZZONI (ii Contratto di Utvoro nei sistema dei
diritto italiano deI lavoro, 42). Isso não quer dizer que a categoria profissional goze de direitos, ou, a fortiori, que
seja personalidade jurídica ou se possa personificar. Permanece no mundo fáctico (unidade plúrima, com a sua
fluidade e o seu grau de especificidade, cf. AMLETO DL MARCANTONIO, Appunti di Dirilto dei Lavoro, 205
s.). Ao poder público fica, por vêzes, margem para escolha de caracteres da categoria profissional, mas os
caracteres, dentre os quais pode escolher, têm de ser verdadeiros, isto é, precisam existir e ser reveláveis a todos.
Tal dever de adstrição à verdade não só existe para o Poder Executivo:
os próprios legisladores têm de ater-se ao que a vida econômica lhes apresenta, com a mesma margem para a
escolha que teria o Poder Executivo, se a lei lha deixasse.
Os sindicatos têm de ser e de funcionar dentro de determinado espaço. À lei fica o regramento espacial e a
previsão de uniões e federações ou confederações. Assim, lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 517: “Os sindicatos
poderão ser distritais, municipais, intermunicipais, estaduais e interestaduais. Excepcionalmente, e atendendo às
peculiaridades de determinadas categorias ou profissões, o Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio poderá
autorizar o reconhecimento de sindicatos nacionais”. Acrescenta o § 1.0: “O Ministro do Trabalho, Indústria e
Comércio outorgará e delimitará a base territorial do sindicato”. E o § 2.0: “Dentro da base territorial que lhe fôr
determinada, é facultado ao sindicato instituir delegacias ou seções para melhor proteção dos associados e da
categoria econômica ou profissional ou profissão liberal representada”.
O primeiro problema que surge é o da validade, perante a Constituição de 1946, de regra legal que deixe à
autoridade pública permitir ou não sindicatos nacionais, O que a lei pode fazer é estabelecer os pressupostos para
que o sindicato seja municipal, intermunicipal, estadual ou interestadual, ou nacional, sem que fique ao Poder
Executivo o arbítrio na determinação. O art. 517, § 1.0, do Decreto-lei n. 5.452 só seria compatível com a
Constituição de 1946 se o lêssemos como se lá estivesse escrito: “O Ministro do Trabalho, no ato de
reconhecimento (mero ato de registo!), diante dos dados constantes dos documentos e da satisfação dos
pressupostos para a sindicalização da associação profissional, tem de declarar qual a base territorial do sindicato”.
Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 518: “O pedido de reconhecimento será dirigido ao Ministro do Trabalho,
Indústria e Comércio, instruido com exemplar ou cópia autenticada dos estatutos da associação”. Acrescenta o §
1.0: “Os estatutos deverão conter: a) a denominação e a sede da associação; li‟) a categoria econômica ou
profissional ou a profissão liberal cuja representação é requerida; c) a afirmação de que a associação agirá como
órgão de colaboração com os podêres públicos e as demais associações no sentido da solidariedade social e da
subordinação dos interesses econômicos ou profissionais ao interesse nacional; d) as atribuições, o processo
eleitoral e das votações, os casos de perda de mandato e de substituição dos administradores; e) o modo de
constituição e administração do patrimônio social e o destino que lhe será dado no caso de dissolução; f) as
condições em que se dissolverá a associação”. E o § 2.0: “O processo de reconhecimento será regulado em
instruções baixadas pelo Ministro do TraI)alho, Indústria e Comércio”.
A expressão “reconhecimento” somente pode, hoje, estar no sentido de ato declaratório. O elemento de
declaratividade que há nas funções registarias é que pode encher, hoje, o ato ministerial. A autoridade pública
examina se foram satisfeitos todos os pressupostos constitucionais e legais para o registo e, em conseqUência, o
enquadramento sindical.
O assunto dos selos, taxas e outros tributos escapa ao direito privado (cf. Decreto-lei n. 5.452, arts. 569, 568 e
569, parágrafo único).
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, ad. 519: “A investidura sindical será conferida sempre à associação profissional
mais representativa, a juízo do Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, constituindo elementos para essa
apreciação, entre outros: a) o número de associados; b) os serviços sociais fundados e mantidos; e) o valor do
patrimônio”. No próprio Decreto-lei n. 5.452, o art. 519 fala de “entre outros” elementos, que não estão aludidos
nem constam do ad. 515, 516 e 517,e não são apenas apreciáveis pela autoridade administrativa No caso de
injustiça, há a apreciação judicial. O art. 519. supõe o principio da unicidade de sindicato, que devemos
considerar ofensivo ao princípio da liberdade de associação e de criação de sindicato.
A função‟ da autoridade administrativa é declaratória, com eficácia imediata constitutiva. Diz o Decreto-lei n.
5.452, art. 520: “Reconhecida como sindicato a associação profissional, ser-lhe-á expedida carta de
reconhecimento, assinada pelo Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, na qual será especificada a
representação econômica ou profissional conferida e mencionada a base territorial outorgada”. Acrescenta o
parágrafo único: “O reconhecimento investe a associação nas prerrogativas do art. 513 e a obriga aos deveres do
art. 514, cujo inadimplemento a sujeitará às sanções desta lei”. A chamada carta de reconhecimento é certidão de
registo.
Estatui o Decreto-lei n. 5.452, art. 570: “Os sindicatos constituir-se-ão, normalmente, por categorias econômicas
ou profissionais, específicas, na conformidade da discriminação do quadro das atividades e profissões a que se
refere o art. 577, ou segundo as subdivisões que, sob proposta da Comissão do Enquadramento Sindical, de que
trata o art. 576, forem criadas pelo Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio”. Acrescenta o parágrafo único:
“Quando os excedentes de quaisquer atividades, ou profissões se constituírem, seja pelo número reduzido, seja
pela natureza mesma dessas atividades ou profissões, seja pelas afinidades existentes entre elas, em condições tais
que não se possam sindicalizar eficientemente pelo critério de especificidade de categoria, é-lhes permitido
sindicalizar-se pelo critério de categorias similares ou conexas, entendendo-se como tais as que se acham
compreendidas nos limites de cada grupo constante do quadro de atividades e profissões”. Cp. art. 541, antes
citado.
No art. 577 do Decreto-lei n. 5.452 diz-se que o quadro de atividades e profissões fixa o plano básico do
enquadramento sindical. No art. 570 referem-se as categorias económicas e profissionais, especificas. Nêle e no
parágrafo único, há regras jurídicas de competência, como nos arts. 571, 574-576, porém não se tire de tais regras
jurídicas que haja arbítrio
das autoridades públicas e que se pré-afaste a verificação de legalidade dos atos dessas autoridades. Na
jurisprudência, há decisões que negam tal competência à Justiça do Trabalho. Tal negação de modo nenhum
significa que fique fora de apreciação pela Justiça o enquadramento. Pode haver mesmo ação de mandado de
segurança e nenhuma interpretação da legislação especial pode ferir o art. 141, § 49, da Constituição de 1946, ou
mesmo o art. 141, § 2.0.
O que, no Decreto-lei n. 5.452, se chama categoria econômica ca é a categoria dos empregadores, e categoria
profissional diz-se a dos empregados. (De passagem, advirtamos que os empregadores também exercem
profissão, e os empregados têm atividade econômica.) A fixação de categorias é indispensável a qualquer
sindicalização, porque a sindicalização supõe a identidade (ou semelhança) de profissão ou de atividade
permanente. Para se reputar categoria especifica qualquer categoria, supõe-se que se partiu (aliás, que se desceu)
de categoria geral, em que os elementos comuns são em menor número.
As categorias especificas podem ser divisíveis em subcategorias (específicas), ou indivisíveis. Por outro lado, as
categorias podem ser agrupadas, ou agruparem-se, dando ensejo a uniões, federações e confederações.
Se ocorre que, na base territorial, não há número suficiente de empregados (cf. art. 570), permite-se a
sindicalizacão com inclusão de categorias similares ou conexas, caso em que se exige a denominação abrangente
(art. 572). Em tais hipóteses, fica livre cada categoria componente de desligar-se do sindicato complexo para
constituir sindicato menos complexo ou rigorosamente especifico. O art. 571 aponta ce pressupostos para a
desmembração (Decreto-lei n. 5.452, art. 571: “Qualquer das atividades ou profissões, concentradas na forma do
parágrafo único do artigo anterior, poderá dissociar-se do sindicato principal, formando um sindicato específico,
desde que o nôvo sindicato, a juízo da Comissão do Enquadramento Sindical, ofereça possibilidade de vida
associativa regular e de ação sindical eficiente”).
“A juízo da Comissão do Enquadramento Sindical”, mas sem arbítrio puro, razão por que é inegável poder caber
a apreciação judicial.

Acrescenta o Decreto-lei n. 5.452, art. 572: “Os sindicatos que se constituírem, por categorias similares ou
conexas, nos têrmos do parágrafo único do art. 570, adotarão denominação em que fiquem, tanto como possível,
explicitamente mencionadas as atividades ou profissões concentradas, de conformidade com o quadro das
atividades e profissões, ou, se se tratar de subdivisões, de acôrdo com o que determinar a Comissão do
Enquadramento Sindical”. Ainda o parágrafo único:
“Ocorrendo a hipótese do artigo anterior, o sindicato principal terá a denominação alterada, eliminando-se-lhe a
designação relativa à atividade ou profissão dissociada”. A mudança de denominação acompanha a mudança de
elementos componentes: trata-se de nome que se tem de dar ao ser sindical. Em conseqúência, tem de mudar o
nome do sindicato de que a categoria se afasta.
A respeito das federações e das confederações estabelece o Decreto-lei n. 5.452, art. 573: “O agrupamento dos
sindicatos em federações obedecerá às mesmas regras que as estabelecidas neste capítulo para o agrupamento das
atividades e profissões em sindicatos”. Acrescenta o § 1.0: “As federações de sindicatos de profissões liberais
poderão ser organizadas independentemente do grupo básico da confederação, sempre que as respectivas
profissões se acharem submetidas, por disposição de lei, a um único regulamento”. E o § 2.0: ~ presidente da
República, quando o julgar conveniente aos interesses da organização corporativa, poderá autorizar o
reconhecimento de federações compostas de sindicatos pertencentes a vários grupos, desde que a federação por
êles formada represente, pelo menos, dois terços dos sindicatos oficialmente reconhecidos há mais de dois anos
num mesmo Estado, e sejam tais sindicatos atinentes a uma mesma seção da Economia Nacional (art. 57,
parágrafo único, alíneas a, c, d e e, da Constituição) “.
As federações organizam-se como os sindicatos. O § 2.0 do art. 573 é ofensivo à Constituição de 1946.
No Decreto-lei n. 5.452, art. 565, estatui-se (redação dada pela Lei n. 2.802, de 18 de junho de 1956) : “As
entidades sindicais reconhecidas nos têrmos desta lei não poderão fi
linz-se a organizações internacionais, sem prévia licença concedida por decreto do Presidente da República”.
Há regras jurídicas relevantes no Decreto-lei n. 5.452, art. 574: “Dentro da mesma base territorial, as empresas
industriais do tipo artesanal poderão constituir entidades sindicais, de primeiro e segundo graus, distintas das
associações sindicais das empresas congêneres, de tipo diferente”. Acrescenta o parágrafo único: “Compete à
Comissão do Enquadramento Sindical definir, de modo genérico, com a aprovação do Ministro do Trabalho,
Indústria e Comércio, a dimensão e os demais característicos das empresas industriais de tipo artesanal”. fl de
tôda a conveniência que a lei seja mais exigente para o Poder Executivo e não lhe dê a amplitude de podêres a que
o art. 574 se refere. Ainda assim, o ato do Poder Executivo não fica incólume à apreciação judicial.
O art. 575 e os seus §§ 1.~ e 2.0 e o art. 576 cogitam da revisão do quadro de atividades e pra fissões.
Finalmente, o Decreto-lei n. 5.452, art. 577: “O quadro de atividades e profissões em vigor fixará o plano básico
do enquadramento sindical”.

§ &065. Relação jurídica sindical

1. CONCEITO. A relação jurídica sindical, relação juridica entre empregador ou empregado sindicalizado e o
sindicato, é apenas a relação jurídica entre o associado e a associação (antes da sindicalização) com os efeitos a
mais que resultem na inserção no quadro sindical. Alguns efeitos, mesmo sob o regime democrático-liberal, são
de direito público, porém de modo nenhum de incrustação no Estado.
Algumas prerrogativas não mais se podem considerar estritamente. O contrato coletivo de trabalho pode ser entre
associações não sindicalizadas, porque isso resulta do art. 157, XIII, da Constituição de 1946. No art. 159 apenas
se permitiu que a lei regule a “forma de constituição” das associações profissionais ou sindicais e da sua
presentação ou representação nas convenções coletivas de trabalho. “Sua”, isto é, das associações profissionais
ou dos sindicatos.
Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 513: “São prerrogativas dos sindicatos: a) representar, perante as autoridades
administrativas e judiciárias, os interesses gerais da respectiva categoria ou profissão liberal ou os interesses
individuais dos assodados relativos à atividade ou profissão exercida; b) celebrar contratos coletivos de trabalho;
o) eleger ou designar os representantes da respectiva categoria ou profissão liberal; d) colaborar com o Estado,
como órgãos técnicos e consultivos, no estudo e solução dos problemas que se relacionam com a respectiva
categoria ou profissão liberal; e) impor contribuições a todos aquêles que participam das categorias econômicas
ou profissionais ou das profissões liberais representadas”. Acrescenta o parágrafo único: “Os sindicatos de
empregados terão, outrossim, a prerrogativa de fundar e manter agências de colocação”.
No art. 513, a), do Decreto-lei n. 5.452, “representação” está em vez de “presentação” ou “representação”. A
conclusão de contratos coletivos de trabalho pode ser por associações profissionais não sindicalizadas. As
eleições são de acôrdo com a. lei e os estatutos. A colaboração com o Estado não pede ser a do tempo ditatorial,
em que, na verdade, o sindicato rúaús se subordina do que colabora, e foi essa reminiscência lamentável que fêz a
política de politicização dos sindicatos que contaminou os anos de 1946-1964. O art. 159, in fine, da
Constitui<~âo de 1946 permite funções delegadas do poder público, mas tais. delegações dependem de lei e têm
os limites constitucionais. As contribuições hão de atender à lei e aos estatutos.
O art. 513, a), é de grande relevância, no tocante à competência da Justiça do Trabalho, em se tratando de
dissídios coletivos (Constituição de 1946, art. 123).
2.EFICÁCIA DA RELAÇÃO JURÍDICA SINDICAL. Da inserçâo dos trabalhadores, para a outorga de
trabalho, na entidade sindical resultam direitos e deveres. No tocante a terceiros, há vinculação dos membros aos
contratos coletivos que a entidade sindical conclua e ao exercício do direito de greve. A entidade sindical tem
interesse em observar e manifestar.se sôbre a atitude de cada membro durante a greve. Internamente, o membro
do sindicato exerce atividade concernente àestrutura e às funções da entidade sindical, como a de tomar parte nas
eleições, nas discussões e nas deliberações. Têm de ser respeitadas a liberdade de pensamento a igualdade perante
a lei e os estatutos e a assistência ao membro do sindicato no que diga respeito ao seu status profissional.

3.DEVERES DOS SINDICATOS. As associações profissionais sindicalizadas assumem deveres perante o


Estado e perante os sindicados.
Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 514: “São deveres dos sindicatos: a) colaborar com os podêres públicos no
desenvolvimento da solidariedade social; 5) manter serviços de assistência judiciária para os associados; o)
promover a conciliação nos dissídios de trabalho”. Acrescenta o parágrafo único: “Os sindicatos de empregados
terão, outrossim, o dever de: a) promover a fundação de cooperativas de consumo e crédito; b) fundar e manter
escolas de alfabetização e pré-vocacionais”.
Há deveres dos sindicatos concernentes às suas atividades e funcionamento. O Decreto-lei n. 5.452, em má
terminologia, fala de “condições para o funcionamento”. Lê-se no Decreto--lei n. 5.452, art. 521: “São condições
para o funcionamento do sindicato: a) proibição de qualquer propaganda de doutrinas incompativeis com as
instituições e os interesses da Nação, bem como de candidaturas a cargos eletivos estranhos ao sindicato; 5)
proibição de exercício de cargo eletivo cumulativamente com o de emprêgo remunerado pelo sindicato ou por
entidade sindical de grau superior; c) gratuidade do exercicio dos cargos eletivos; cl) proibição de quaisquer
atividades não compreendidas nas finalidades mencionadas no art. 511 inclusive as de caráter
político-partidárias; e) proibição de cessão gratuita ou remunerada da respectiva sede a entidade de índole
político-partidária”. Acrescenta o parágrafo único:
“Quando, para o exercício de mandato, tiver o associado de sindicato de empregados, de trabalhadores
autônomos ou de profissionais liberais, de se afastar do seu trabalho, poderá ser-lhe arbitrada pela
assembléia-geral uma gratificação, nunca excedente da importância de sua remuneração na profissão respectiva”.
Os assuntos pertenciam e ainda pertencem à lei ordinaria.

4.PERDA DA QUALIDADE PARA ADMISSÃO DE ASSOCIADO E OUTRAS CAUSAS DE RETIRADA.


Se desaparece pressuposto para a admissão, perde o membro do sindicato a qualidade que adquirira (perda da
qualidade para inserção). Também ocorre perda se se compõe algum dos requisites para a expulsão, para a
exclusão do quadro de membros, por ato, positivo ou negativo, que lhe seja imputado. Para isso, é preciso que tal
ato possa ser tido como pressuposto suficiente, como se consiste em quebra da disciplina. Finalmente, há a
retirada voluntária, que constitui um dos modos de se exercer a liberdade de associação em sindicato (liberdade
sindical). Não infringem o art. 159 da Constituição de 1946 regras estatutárias que estabeleçam limite temporal
para se manifestar a vontade de salda e para a eficácia da manifestação de vontade.

CAPITULO IV

PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL E LEGAL


§ 5.066. Direito ao repouso

1. TECNICA PROTECTIVA. As leis sôbre o trabalho, a começar pela Constituição, protegem os trabalhadores
quanto ao número de horas de cada dia, quanto ao repouso semanal e quanto aos dias feriados. Assim, tutela-se a
pessoa, no que se refere ao físico e à psique. O limite máximo de duração do trabalho e a fixação do período
laborativo, com as necessárias interrupções dominicais, são os dois pontos básicos da proteção dos empregados,
no que diz respeito ao tempo do serviço.
O direito ao repouso consulta o bem-estar físico e a própria conservação da capacidade de trabalho da pessoa. As
investigações contemporâneas sôbre a fadiga mostraram que há máximo e há mínimo, dentro de cujos limites está
o que melhor atende aos interesses do trabalhador e aos próprios interesses daqueles mesmos que exploram
trabalho alheio.
Se as excitações, necessárias ao trabalho, ou tidas como tais, se repetem durante tempo mais ou menos longo, o
órgáo ou os órgãos reagem decrescentemente e, após algum tempo, não mais reagem. ~ a fadiga. O excesso de
excitação opera como paralisador. Cessando a excitação, o organismo retoma a reatividade normal: ao repouso
suficiente para isso chama-se descanso. O cansaço, com o repouso, se desfaz. A civilização, com as invenções e
os meios técnicos, permitiu maiores e mais apropriados descansos. Produziu, também, a falta de trabalho; mas,
eliminados aquêles meios técnicos e aquelas invenções, a população da terra não se alimentaria, nem, sequer, se
desse-
dentaria: recair-se-ia nos tempos pré-históricos. Daí o interesse de não se deixar que os trabalhadores se cansem,
e não repousem, e que haja homens que não trabalham. A regra jurídica que diz “todos devem repousar” seria
programática. Em vez disso, tomam-se tempo de trabalho diário e certo número de dias como suporte fáctico de
regra jurídica sôbre o máximo de trabalho diário e sôbre o máximo de dias sem repouso periódico. Evolução de
técnica jurídica subjetivou o direito decorrente do fato jurídico do preenchimento daquelas horas ou daqueles
dias: donde o direito ao repouso, que aparece, no ad. 157, V, VI e VII, como direito público (constitucional)
subjetivo. Ao empregador corresponde, tanto a propósito do art. 157, V, quanto a propósito do art. 157, VI e VIL
dever de dar repouso. Já isso mostra a que ponto se chegou na evolução da técnica jurídica, por se terem
manifestado deficientes as técnicas morais e religiosas. Não se confunde com a prestação negativa do repouso a
prestação positiva dos divertimentos (jardins, clubes recreativos, teatros, campos para jogos, bibliotecas, grêmios
rurais).
O repouso de cada dia, êsse, por sua essencialidade, acompanha o homem, como aos outros animais, através de
tôda a história da vida. O repouso dominical impôs-se, com variantes nas civilizações, tendo para assegurá-lo a
carga estabilizante da religião.
Domingo é o dia do Senhor. Noutras religiões é o dia do Sol. Os Israelitas fazem dia santo o sábado. Os Cristãos
atenderam a que foi no domingo que se deu a ressurreição. Dai a transferência. Ao tempo de Cristo, acreditava o
povo em que a alma continuava três dias no corpo do morto e só depois, distanciandose ela, começava a corrução
do corpo (cf. W. BOtTSSET, fie Religiou des Judenturns im spãtthelleniscjzen Zeitalter, 341; Kyrios Christos,
30; J. WEISS, Das TJrchristentum, 70). Por isso, é possível que se haja fixado a ressurreição no domingo, que já
era o dia do Senhor, porque não poderia Cristo ficar enterrado: a ressurreição é que tinha de ser nesse dia (A.
Lorsy, Les Évangiles synuptiques, 1, 177; cf. FR.-K. FEICEL, Der Einfluss der Weissagungsbeweises und
anderer Motive auf die Leidensgesehichte, 61). Osíris ressuscitara no terceiro dia após a morte.

A regra jurídica do repouso semanal no domingo é ius dispositivum. Se se juntam os pressupostos para a
permissão do trabalho no domingo, mantém-se o direito ao repouso, mas desloca-se, no tempo, o dia.
Uma das conseqúências da vedação dispositiva do trabalho nos domingos é o fechamento das casas comerciais e
das empresas industriais aos domingos. Outra, a de proibição do tráfico ambulante. Nos hotéis, nos restaurantes,
nos lugares de esportes e diversões, há o trabalho aos domingos, desde que se assegure aos empregados o
descanso semanal. Se o trabalho é em dia feriado, há retribuição como a trabalho extraordinário, sem que se haja
de deslocar, no tempo, o dia que seria dia livre.

2. REPOUSO SEMANAL. O repouso dominical é ligado a tradição religiosa, sabido, como é, que nos textos
religiosos aparecem, a cada momento, soluções de ordem higiênica, em que se cristalizaram experiências
seculares, ou milenares. Fora daí, a significação dos sete dias é nenhuma. Poderia ser de quatro em quatro, ou de
cinco em cinco, ou de seis em seis dias, ou de pouco mais de sete em sete dias, o repouso. Em todo o caso, andou
bem o texto constitucional em adotar solução que atende a costumes nacionais e a critério tradicional, aceitável,
de fixação do repouso: o do repouso semanal.
Sempre que a espécie de trabalho exige permanência aos domingos, é obrigada a empresa a designar qual o dia da
semana imediata, anterior ou posterior, em que há de repousar o trabalhador. Em vez da fixação pelo dia da
semana, a alusão ao domingo tem a significação de regra jurídica para descanso necessário de sete em sete dias.
Qual a melhor espécie de repouso e a sua duração é problema de ciência. A adoção do domingo pela Constituição,
sem qualquer alusão a trabalhos que exigem descanso maior, não implica direito dos empregadores contra a
legislação ordinária que estabeleça outra espécie de repouso, ao lado do repouso dominical. O domingo, como dia
livre, é direito do empregado, representativo de mínimo constitucionalmente assegurado. Do empregado, sim:
poderia reclamar contra a legislação que, exigindo lhe trabalho aos domingos, não lhe assegurasse outro dia,
completo, de repouso, dentro de cada sete dias.
Questão digna de exame é a de se saber se, havendo conveniência no trabalho seguido de mais de sete dias,
poderia
a legislatura ordinária permitir que fôsse compensado o repouso semanal, de modo, por exemplo, que dois dias
tivesse o empregado, de quatorze em quatorze dias. Em situações excepcionais, não teríamos dúvida em admitir
que isso se desse; mas o texto constitucional evidentemente não no permite. Em todo o caso, as leis não são feitas
para os casos de fôrça maior (não se confunda fôrça maior com exigências permanentes do serviço, ou
simplesmente ocasionais, sem caráter de fôrça maior, ainda que resultantes da especial natureza do trabalho). Se
fôrça maior ocorreu e teve o operário ou qualquer outro trabalhador de permanecer no serviço, como se faltaram
na agência telegráfica, ou no serviço de eletricidade, aquêles que o haviam de substituir, é dever, de interesse
público, que o trabalhador não deixe o seu pôsto sem ser substituido, dada a natureza do trabalho; mas o seu
repouso há de ser o mais prôximamente possível, e a culpa, que acaso tenha tido, na ocorrência, o empregador,
será a de eliminação do repouso dominical, que a Constituição assegura. Quem perdeu dois domingos, tem direito
a dois dias de descanso, juntos ou separados, quanto às semanas passadas.

3. DIAS FERIADOS. Após tratar do repouso semanal aos domingos, a Constituição de 1946 diz que, nos limites
das exigências técnicas da empresa, tem o operário direito aos feriados civis e religiosos, de acôrdo com a
tradição local. Regra jurídica ôca. A legislação ordinária é que dará conteúdo a ela. O que se deveria ter dito é bem
diferente: o operário tem direito aos feriados civis, salvo nos casos de turmas necessárias à continuidade de
serviço de interesse geral, ou, com compensação, se de interesse individual a permanência ou a continuidade; e
quanto aos feriados religiosos, de acôrdo com a lei que deve atender, quanto possível, à sugestão da tradição local.
Subordinar os feriados civis a tradições locais seria ignorar que o interesse nacional, fixador dos feriados civis,
passa à frente dos interesses estaduais, municipais e, a fortiori, particulares, e que o interesse estadual passa à
frente do municipal e do particular, bem como o municipal à frente dêsse. Tradição local não pode derrogar lei, e
feriado civil lei é.

Só a lei fixa feriados. ,Como admitir-se que usos e costumes possam constituir exceção a regra jurídica
legislativa? Have-moa de entender, portanto, que a referência a “de acôrdo com a tradição local” só se liga a
feriados religiosos. Urge a lei. federal que fixe os feriados civis, e, atendendo à tradição os feriados religiosos,
alguns dos quais, aliás, são gerais feriados (e. g., Natal).
Demais, a expressão “exigências técnicas da empresa” nada diz. Exigências da qualidade do serviço,
compreender--se-ia. A empresa que fornece energia elétrica para uma cidade, ou para indústrias, que não possam
parar, ou legalmente estejam obrigadas a isso, precisa de operários durante os feriados, como durante os
domingos. Mas, se a empresa é que tem interesse em corresponder a grande pedido de fabricação de pano, ou de
produção de farinha, não deixaria de ser exigência técnica o trabalho durante o feriado; e seria absurdo que se
lêsse o texto constitucional como permissivo de tal exclusão, por vontade individual, do princípio constitucional.
Como está redigido, o ad. 157, VI, é um tanto ilusorio. Quando se diz que alguém tem direito a repouso e a
feriados, o que se há de entender é que o salário há de ser mensal, ou, pelo menos, semanal, compreendendo o
domingo, ou o feriado, que na semana ocorreu, ou no mês. Não é assim que se tem entendido; de modo que, em
vez de direito a repouso, o que se vê é o direito a não ir trabalhar e a não ganhar no domingo e no feriado, o que
importaria transformar o repouso em dano ou castigo. O legislador constitucional devera ter dito que o salário do
operário, ou de qualquer outro trabalhador, havia de ser, pelo menos, semanal, correndo por conta do empregador
o domingo e o feriado que acaso coubesse na. semana. Fora dai pouco adianta falar-se em direito a repouso~ e em
direito a feriado civil ou religioso, como se fôsse garantia suficiente ao trabalhador. A legislação ordinária deve,
por-~ tanto, encontrar a solução técnica que faltou à mentalidade do legislador constituinte. Sempre, porém, que
há fôlhas de pagamento semanais, ou mais que semanais, para inclusão do domingo, ou dêle e do feriado, que
ocorreu, com o recebi-. mento da diária, ou das diárias, não é preciso invocar-se legis-. lação ordinária, uma vez
que resulta do direito ao repouso,ainda nos têrmos vagos em que o concebeu a Constituição. A remuneração dos
dias de repouso é parte do salário e, firmando-se no trecho acima, o Conselho Superior de Previdência Social, a 13
de novembro de 1950 (D. da J. de 23 de julho de 1951>, frisou que seria esdrúxulo considerá-la pagamento
autônomo, ou gratificação. Salário não é só a diária; é a diária, ou o cômputo semanal, ou mensal, ou de outro
período, mais as vantagens que, pelo trabalho, obtenha ou possa obter o trabalhador.
(De lege ferenda, a ConstituIção devia ter evitado a alusão a feriados “religiosos”. O Brasil é hoje o “país dos
feriados”. j,Não pensaram os legisladores constituintes no que custam à produção nacional os feriados públicos e
os religiosos, em horas de trabalho, que se omitem em todo o Brasil? O próprio legislador ordinário deve reduzir
a três ou quatro os feriados nacionais e desaprovar feriados ilegais oriundos de atos do Poder Executivo,
perturbadores da vida producional, administrativa e comercial do país. Chegamos ao absurdo dos feriados pelo
meio, os Bancos não pagam mas recebem, a fábrica não fecha mas o operário pode faltar, etc. Quanto aos
feriados religiosos, urge a lei federal que os regule, dividindo-os em feriados de todo o país, Natal, quinta e
sexta-feira da semana santa, feriados do Estado-membro, Distrito Federal ou Território, e feriados municipais,
porém de modo que todos os feriados, públicos e religiosos, não excedam de dez em todo o território e em
qualquer parte dêle. Algumas crises econômicas da Idade Média foram atribuidas ao excesso em dias
santificados: trinta e seis dias santificados representam menos dez por cento de produção anual sem qualquer
diminuição nos gastos e no consumo. Mal acabávamos de rever estas páginas, chegou-nos à mão notícia que não
nos surpreende, mas há de entristecer a todos os Brasileiros: fomos em 1959 o país de maior núMero de feriados,
no mundo, e perdemos, assim, 14 por cento dás horas anuais de trabalho; portanto, aproximadamente, 14% da
produção nacional.)

4.FÉRIAS ANUAIS REMUNERADAS. A Constituição de 1934 falava em “férias anuais remuneradas” (art.
121, § 19,f); a de 1937 disse “licença anual remunerada” (art. 137, e) a de 1946 seguiu a de 1934. Quais são as
“férias” e qual seria a “licença”, disse-o a lei ordinária entre 1937 e 1946, e disse-o antes de 10 de novembro de
1937, e di-lo agora. Ficou, pois, à lei a regulamentação. Em todo caso, se lei ordinária não há, o intérprete tem de
recorrer à legislação existente para os funcionários públicos, ou, preferentemente, a que rege as relações jurídicas
entre a União e os seus trabalhadores. Se nenhuma existe, o que é difícil ocorrer, o juiz determinará o que fôr
razoável. Por falta de legislação ordinária não se pretere o ad. 157, VII.
A Constituição de 1946 fala de “férias anuais remuneradas”. Não fala de “licença”. A terminologia de 1937 era,
evidentemente, imprópria. Férias são repousos remunerados, além dos domingos e feriados gerais. Há férias
gerais e há férias individuais. Licenças ou são licenças para interesse do indivíduo, de regra não remuneradas, ou
licenças para tratamento de saúde, o que se costuma dar, satisfeitos certos pressupostos, com diminuição de
vencimentos ou salários, e licenças-prémios, que se dão quando, passado certo tempo de serviço, se concedem
com remuneração. Semelhante à licença-prêmio é a licença à gestante.
~De que férias se trata? Se a Constituição houvesse falado em “licença” e “férias”, teríamos a possibilidade de
conceber férias como direito o licença como concessão dependente da satisfação de determinados pressupostos.
Não falou em licença. O que temos de saber é se cabe à lei fixar o tempo das férias, ou se lhe cabe fixar tal tempo
e quaisquer outros pressupostos para a concessão, inclusive o de precisar delas o empregado. Certo, não valeria a
lei que só conferisse as férias por um dia, dois, ou três dias. Seria iludir o texto constitucional. O tempo há de ser
tempo razoável.
Quanto aos outros pressupostos, a lei pode prever, por exemplo, uma semana, ou mais, para as férias com caráter
compulsório, sem quaisquer outras exigências, e a licença até um mês, para tratamento de saúde, O que não lhe é
dado é transformar as férias remuneradas em concessão voluntária do empregador, ou de tal modo dificultá-las,
que o princípio da Constituição se esvazie do seu próprio conteúdo. Tôda licença para tratamento de saúde é, por
sua natureza, satisfeitos os pressupostos, prorrogável. Ai, os problemas técnicos da legislação ordinária surgem.

5.DURAÇÃO DO TRABALHO DIÁRIO. O dia de trabalho é de oito horas. Pode ser reduzido. Lê-ge que é
suscetível de aumento nos casos e circunstâncias previstos em lei, O legislador constituinte deu, e logo depois
tomou. Fixou em oito horas o dia de trabalho. Permitiu a redução. Em seguida, permitiu o aumento. Não fixou
iiada. Reduz-se ao seguinte o que está escrito no ad. 157, V: O legislador ordinário pode fixar o dia de trabalho em
mais do que oito horas, pode também. fixá-lo em menos. Se não fixou, o dia de trabalho é de oito horas. Em boa
técnica legislativa, ou o legislador constituinte diria que o dia de trabalho é de oito horas, podendo ser reduzido de
acôrdo com a natureza do trabalho e aumentado em circunstâncias excepcionais, em casos. precisos, previstos em
lei; ou limitar-se-ia a dizer que à legislatura ordinária cabe legislar sôbre o tempo de trabalho. Aconselhável seria
também que, no caso de aumente, em circunstâncias excepcionais, se acrescentasse o dar-se compensação
compulsoria. Por outro lado, a lei ordinária (e melhor teria sido que o houvesse dito a Constituição) há de atender
a salário suplementar, nos casos em que se dê permissão de dia maior de oito horas para o trabalho. Mas havemos
de entender em todo trabalho que exceda as oito horas é noturno, se as oito horas são de dia, ou que são trabalhos
noturnos os que se prestam à noite, entrando-se no dia.
O direito oriundo da incidência do art. 157, V, é direito público (constitucional) subjetivo. Implica direito ao
repouso diário, uma das três espécies de direito ao repouso, de que mais largamente se fala à nota 9). O direito
negocial das gentes (direito emanado dos tratados) interestatalizou o direito ao repouso diário, em via de
supra-estatalização isto é, de se tornar efeito do fato jurídico do trabalho diário, em virtude de regra jurídica
supraestatal (= de direito das gentes).
No direito pré-imperial e do Império do Brasil, nenhuma regra jurídica limitava a jornada de trabalho. A primeira
lei, relativa ao trabalho das crianças, foi, já na República, o Decreto ri. 1.813, de 17 de janeiro de 1891, arts. 2.0,
4~O, 10 e 11, que edíctou regras sôbre o trabalho de menores de doze anos,
§ 5.066. DIREITO AO REPOUSO167

exceto, quanto a fábricas de tecidos, como aprendizes, após oito anos. Os maiores de doze e menores de quinze
anos, do sexo feminino, somente poderiam trabalhar sete horas por dia, não consecutivas, de modo que nunca
excedesse de quatro horas o trabalho contínuo; e bem assim os do sexo masculino, de doze a quatorze anos (os de
quatorze a quinze, nove horas, com as mesmas exigências). O aprendizado somente poderia ocupar três horas,
para os de oito a dez anos; e quatro, para os de dez aos doze anos, com interrupção, respectivamente, de meia e de
uma hora. Aos menores, quaisquer, não poderia ser cometida qualquer operação que os expusesse a risco de vida
(limpeza e direção de máquinas em movimento, trabalho ao lado de volantes, rodas, engrenagens, correjas em
ação, ou outro, que exigisse esfôrço excessivo). Outrossim, não poderiam ser empregados em depósito de carvão
vegetal ou animais, manipulações diretas sôbre fumo, petróleo, benzina, ácidos corrosivos, preparados de
chumbo, sulfureto de carbono, fósforos, nitro-glicerina, algodão, pólvora, fulminantes e “outros misteres
prejudiciais”.

6.DUAS CLASSES DE REGRAS JURÍDICAS. Na legislação sôbre horas de atividade industrial, hiclusive
agrícola e comercial, ou qualquer outra, que tenha de exigir esfôrço humano remunerado, ou contacto com o
público, há duas classes de regras jurídicas: a) a classe das regras jurídicas que têm por fito proteger o trabalhador,
regras jurídicas que são regras, as vêzes, constitucionais (e. g., Constituição de 1946, art. 157, V e VI), e se
dirigem a entidades públicas e particulares, para que se não exija tempo de trabalho além daquele que se permite
(distribuição subjetiva) ; b) a classe das regras jurídicas que distribuem, objetivamente, a atividade das cidades,
vilas e povoados e a dos campos e matas.
Na distribuição subjetiva, o legislador tem de considerar o trabalhador, mas atendendo a que há necessidade de
permanência de serviços. Então, cabe-lhe examinar as espécies principais em que se revela precisar da atividade
permanente de trabalhadores a natureza do serviço ao público. A solução técnica é a do revezamento ou turnos de
trabalhadores, com o que se concilia a necessidade da distribuição subjetiva com a necessidade de permanência
do serviço público. Na enumeração de tais atividades, em tabelas ou relações, a legislação Ou a regra jurídica
oriunda de autoridade administrativa não pode ser taxativa, O ser ou não de necessidade que certo ramo de
indústria ou comércio se exerça nos domingos e feriados, ou nas horas que se seguem ao fechamento normal do
comércio é quaestio facti. De modo que as listas das atividades permanentes apenas revelam, sem exaustividade,
atividades permanentes. Assim seria contrária à Constituição de 1946 a lei, mesmo federal, que não permitisse
operações, ou medicações urgentes, ainda em consultórios, antes ou depois de certas horas.
As regras jurídicas concernentes à distribuição objetiva impõem dever de fechamento, e podem impô-lo, porque
se parte da premissa de serem desnecessárias as atividades permanentes. A lei municipal que estabeleça o
horário para os armazéns de secos e molhados, ou para as lojas de moda entre a hora 1 e a hora 8, ou outra após,
isto é, o tempo que corresponde àquele que se pode exigir do trabalhador, ou mais que isso, é compativel com a
ConstituIção de 1946. Se o tempo excede o que se pode exigir aos trabalhadores da indústria ou comércio de que
se trata, intervém a legislação do trabalho, para a distribuIção subjetiva do tempo. Se a lei municipal não admite
que se recolham a hospitais ou casas de saúde, depois de certa hora, pessoas que tenham de ser tratadas, tal lei fere
a ConstituIção de 1946, porque, sendo a necessidade de permanência do serviço ao público dependente da sua
natureza, tal necessidade pode ser revelada pela lei federal, pela lei estadual, ou pela lei municipal, porém não
negada se ela existe pela lei federal, ou pela lei estadual, ou pela lei municipal. Se a lei federal considera de
necessidade permanente determinada atividade, somente ofende a Constituição de 1946, se, na espécie, pode ser
invocado, como regra jurídica constitucional ofendida, algum artigo seu, como o art. 141, ~ 1.0 Se, em vez disso,
a lei federal não considerou de necessidade permanente determinada atividade, qne em verdade o é, a regra
jurídica, que formulou, ofende, pelo menos, os arts. 145 e 147, 1a parte, da Constituição de 1946, verbis
“princípios de justiça social” e “bem-estar social”.
Desde que a lei federal considerou de permanência necessária algum serviço, cumpre indagar-se porque o fêz
(ratio legis), para se saber qual a regra jurídica de distribuição das competências em que se fundou para se atribuir
tal função legislativa. Tratando-se de serviço de abastecimento de gasolina a automóveis, a necessidade nada tem
com a saúde pública. Não assim, se se trata, por exemplo, de varejo de produtos farmacêuticos, pois o assunto
interessa imediatamente ao direito sanitário. A regra jurídica federal, ou a regra jurídica estadual (Constituição de
1946, arts. 59, XV, b), verbis “defesa e proteção da saúde”, e 69), que diz ser de interesse público a permanência
de alguma atividade industrial ou comercial, estabelece direito dos industriais ou comerciantes de tais produtos à
permanência. Qualquer lei municipal que crie escala de plantões ou rodízio somente pode ser para estabelecer
dever de permanência, sem limitar o direito (federal) de permanência. Uma vez que a lei federal permitiu a
permanencia, por tê-la reputado necessária, sem cogitar do dever de permanência, a legislação estadual ou
municipal pode criá-lo, porque lhe cabe, no território do Estado-membro, ou no território do Município,
determinar deveres de servir ao público.

7.DISTRIBUIÇÃO OBJETIVA E DISTRIBUIÇÃO SUBJETIVA. No legislar sôbre distribuição objetiva do


serviço ao público, ou das atividades invitacionais ou de oferta ao público, o Estado-membro ou o Município não
pode alterar a distribuição subjetiva feita pela lei federal, razão por que, quando alguma lei estadual diz que ao
Município cabe fixar os horários do funcionamento de estabelecimentos industriais, comerciais e similares,
“respeitada a legislação do trabalho” (e. g., Lei estadual de São Paulo n. 1, de 18 de setembro de 1947, art. 16,
XV), apenas “explicita”. Não há, aí, senão reconhecimento da competência federal.
A pretensão à permanência das farmácias, hospitais e assistência médica é pretensão inclusa no direito à vida, no
direito à integridade física e no direito à integridade psíquica (sôbre o assunto, veja Tomo VII, §§ 729, 732-734),
por parte de todo ser humano. Está no rol daqueles direitos de que cogita o art. 144 da Constituição de 1946: “A
especificação dos direitos e garantias expressas nesta Constituição não exclui outros direitos e garantias
decorrentes do regime e dos princípios que ela adota”. Não seria suscetível de satisfação tal pretensão se não
existisse o direito à permanência, por parte de quem há de prestar o produto ou o serviço.
Titulares de tal direito são os sêres humanos, quaisquer, mas também as empresas que se destinam a assegurar a
prestação de produtos ou serviços de que a qualquer hora se possa precisar. Quando o Estado, pelo Poder
Legislativo, diz que alguma atividade industrial é de permanência necessária, apetias reconhece fato da vida de
relação, sem que seja o seu ato legislativo mais do que explicitação. Se o fêz o Poder Legislativo federal, somente
se pode afastar a incidência do texto legal, obtendo-se a decretação de inconstitucionalidade, com observância do
art. 200 da Constituição de 1946. Se algum texto estadual ou municipal discrepa da regra jurídica que o Poder
Legislativo federal edictou, tem-se por ilegal, ou, se envolve limitação à liberdade de fazer ou de não fazer, ou a
outro- direito constitucional, por inconstitucional.
Admitido que é necessária à vida humana, à integridade física ou psíquica, a permanência, aos domingos, nos dias
feriados, ou durante a noite, de alguma atividade, como a de varejo de produtos farmacêuticos, está reconhecido,
por lei, o direito a que estejam abertas as farmácias, fora dos dias e horários normais, considerados normais os
horários que se fixaram às atividades de possível interrupção (náo-permanentes), e o direito dos farmacêuticos a
abrir as farmácias a qualquer hora, satisfeitas as exigências tributárias e de capacidade profissional (ConstituIção
de 1946, art. 141, § 14).
A legislação municipal pode dar regulação ao cumprimento do dever de abertura ou permanência, se foi
estabelecido, não ao exercício do direito de permanência, que se irradiou da incidência da lei federal. A escala de
plantões ou rodizio só-mente se pode entender como regulação do cumprimento do dever de abertura ou
permanência, por existirem dois ou mais deveres de permanência; nunca, porém, como regulação do exercido do
direito. Quem não quer abrir a empresa todos os dias, ou dia e noite, pode invocar a regra jurídica municipal de
regulação; não pode ser constrangido a fechar quem quer exercer, integralmente, ou mais do que na regra jurídica
de escala de plantões ou rodizios, o direito de permanência.
Qualquer entidade estatal (federal, estadual, ou municipal) pode considerar de necessidade a permanência de
atividade industrial ou comercial, mas a lei nada mais faz, aí, do que revelar regra jurídica, devido à natureza da
atividade de -que se trata. Se a lei federal de trabalho, ao falar de atividades que precisam ser permanentes, as
enumerou, tal enumeração exemplificativa (xv não-exaustiva) impõe-se em todo território nacional, salvo se,
alegando-se e provando-se que o legislador federal cerceou indevidamente a atividade humana, fôr decretada a
sua desconstituição por atentado à Constituição de 1946.
A legislação do trabalho pode determinar a distribuição subjetiva de tempo; e, incidentemente, declarar a natureza
permanente, por necessidade, das atividades das empresas, sem que seja isso regra jurídica de legislação do
trabalho:
-entram as regras jurídicas sôbre permanência na classe das regras jurídicas de saúde pública, que hão de ser feitas
pela União e só supletiva ou complementarmente pelos Estados-
--membros, ou, de acôrdo com as Constituições estaduais, pelos Municípios (Constituição de 1946, arta. 5O,
XV, b), 2a parte, 50 e 18).
Se lei federal disse permanente a atividade ( ser de interesse público a permanência), tem de respeitá-la o
Estado--membro ou o Município, porque há direito dos particulares a que se conservem abertas ou se abram,
excepcionalmente, as -empresas, e direitos dessas empresas a conservarem-se abertas, ou a se abrirem, no
interesse do público a que servem.
As leis municipais que impedem a abertura ou a conservação da abertura das farmácias, a pretexto d~
1 regulação de cumprimento de dever de permanência, são ilegais, porque em verdade regulam
7 exercício de direito de permanência. As escala de plantões ou rodízios somente se admitem como
4 regulação do dever de permanência, para que não falte ao público o produto ou o serviço.
Se a lei municipal impõe o plantão ou rodízio como regulação do direito de permanência, em verdade limitou a
concorrência. O fito foi vedar que as farmácias concorram, no que melhor serviriam ao público.
Não há nenhum interesse municipal em que tôdas as farmacias, ou quase tôdas, ou muitas não abram ou não
continuem abertas, para que - no lugar não falte a atividade que a lei federal, atendendo ao interesse publico,
considerou de permanência necessária.
A lei municipal nada tem com a concorrência entre farmácias, ou outras atividades permanentes; as leis de
intervenção na economia (e a lei de escala de plantões ou rodízio, se não se limita a apenas regular o
cumprimento do dever de funcionar, é uma delas) são da competência federal (Constituição de 1946, arts.
145-147 e 141, § 20).

8.REPOUSO no TRABALHADOR E DIREITO A ÊLE. Lê-se no art. 68 do Decreto Lei n. 5.452: “O trabalho
em domingo, seja total ou parcial, na forma do art. 67, será sempre subordinado à permissão prévia da autoridade
competente em materia de trabalho”. Acrescenta o parágrafo único: “A permissão será concedida a título
permanente nas atividades que, por sua natureza ou pela conveniência pública, devem ser exercidas aos
domingos, cabendo ao Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio expedir instruções em que sejam
especificadas tais atividades. Nos demais casos, ela será dada sob forma transitória, coro discriminaçã0 do período
autorizado, o qual, de cada vez, não excederá de sessenta dias”, O domingo é o dia de re~ pouso. A periodicidade
facilita a planificação, assim dos serviços como do descanso. Para que se possa permitir o trabalho no domingo é
preciso que haja manifestação estatal de vontade, após exame dos dados objetivos e subjetivos, O- repouso nos
domingos é o normal. A mudança temporal é que depende de permissão. Daí o art. 1.0 da Lei n. 605, de 5 de
janeiro de 1949 empregar o advérbio “preferentemente” Há de ser de vinte e quatro horas o repouso semanal:
“nos domingos e, nos limites das exigências técnicas das empresas, nos feriados civis e religiosos de acôrdo com
a tradição ]ocal” (cf. Decreto n. 27.048, de 12 de agôsto de 1949, art. 1.0). Estão incluídos os trabalhadores rurais
(art. 2.0) e quaisquer outros não pré-excluidos pela lei, “salvo os que operam em qualquer regime -de parceria,
meação, ou forma resultante de participação na.produção”, cf. Decreto n. 27.048, de 12 de agôsto de 1949, art.
2.0, a).
No art. 11 da Lei n. 605 fêz-se referência aos dias feriados: “São feriados os declarados em lei federal. São
feriados religiosos os dias de guarda declarados em lei municipal, de acordo com a tradição local e em número
não superior a sete”.
O repouso semanal remunerado é de vinte e quatro horas consecutivas (Decreto n. 27.048, de 12 de agôsto de
1949, art. 40)
A lei federal é que determina quais os dias feriados em todo o território nacional (cf. Decreto n. 27.048, art. 5.0).
A lei estadual pode fazer dias feriados, para os seus servidores, mas apenas até sete por ano. A remuneração é
devida,atendidos pela empresa; não são obrigatórios para os particulares.
No caso de lei municipal estabelecer dias feriados, até o máximo de sete, também há de ser remunerado o
trabalho. A propósito dos dias feriados municipais, cumpre dizer-se que, se a empresa os atende, são devidas as
remunerações, porém, até sete por ano, são obrigatórios se satisfazem os pressupostos do art. 157, IV, da
Constituição de 1946.~da competência indelegável do Poder Legislativo a decretação de feriados.
Só a lei pode decretar feriados.
Lei que deixasse ao Poder Executivo marcá-los, como a Lei n. 604, de 3 de julho de 1851, art. 1.~, § 1.0, seria
inconstitucional. Muitas vêzes sob tal nome, o que se decreta é moratória; mas, ainda que de moratória não se
trate, a competência é do Poder Legislativo. Ou o feriado tem efeitos de direito material e ao Poder Legislativo é
que compete adotá-lo (legislação sôbre direito civil ou comercial), ou só de direito administrativo ou processual;
sempre é competente o Poder Legislativo. As férias forenses são só processuais. Os domingos são de direito
material. São os feriados causa de grandes perturbações e prejuízos na vida do país, na vida econômica e na vida
escolar, principalmente. Quem os multiplica não leva em conta que o povo vive da produção, e quatro feriados a
mais diminuem de cêrca de um por cento essa produção. Os que dêles se beneficiam e os que com êles se
prejudicam consomem aquêle

um por cento que se deixou de produzir. O melhor modo de se festejar algum fato nacional não é com distúrbios
na vida econômica e escolar. Em alguns países da idade média e depois, tantos foram os dias santificados que
tremendas crises sobre-vieram. E revoluções. Só o Congresso Nacional pode feriai.
Se ha assunto em que se impõe a boa vontade e eficiência lo Congresso Nacional é êsse dos feriados. urge lei que
os fixe cerceie a desenvoltura com que o Poder Executivo, sob presão populista, religiosa ou de simples fuga ao
trabalho, está a acrificar a produção nacional e o serviço público.
A propósito dos feriados municipais, há o art. 11 da Lei i. 605 e o art. 5.~, parágrafo único, do Decreto n. 27.048.
..Tesse, acrescentase: ..... cabendo à autoridade regional competente em matéria de trabalho expedir os atos
necessários observância do repouso remunerado nesses dias”.
Não se trata de delegação do Poder Legislativo federal o Poder Legislativo municipal, pois está previsto na
Constituição de 1946, art. 157, VI. São pressupostos para a validade a lei município não serem mais de sete os
feriados em cada no (portanto, a decretação de dia feriado municipal que seria oitavo não é válida) ; corresponder
a alguma data de significação para o Município, ou para a religião.
(a)As regras jurídicas sôbre repouso tinham de observar o princípio de isonomia. Daí as explicitudes que se
de-vem Lei n. 605:
a)O regime da Lei n. 605 é extensivo àqueles que, sob uma autônoma, trabalham agrupados por intermédio de
Sincato, Caixa Portuária, ou entidade congênere. A remunera o do repouso obrigatório, nesse caso, consiste no
acréscimo de ri sexto, calculado sôbre os salários efetivamente percebidos lo trabalhador e paga justamente com
os salários (Lei n. 605, t. 3/‟; Decreto n. 27.048, ad. 2. 1i9).
b)O repouso semanal é devido aos trabalhadores das autarquias e de empresas industriais administradas pela dão,
pelos Estados-membros ou pelos Municípios ou incorporadas aos seus patrimônios salvo se tais trabalhadores ao
subordinação ao regime do funcionalismo público (Lei 605, art. - 4.0; cf. Decreto n. 27.048, art. 29 e).
(b)A Lei n. 605 não incide no tocante a:
a)Empregados domésticos, assim considerados, de modo geral, os que prestam serviço de natureza não
econômica à pessoa ou à família, no âmbito residencial daquela ou dessa (Lei n. 605, art. 50, a) ; Decreto n.
27.048, art. 3~0, a).
b)Funcionários públicos da União, dos Estados-membros e dos Municípios, e respectivos extranumerários em
serviço nas próprias repartições (Lei n. 605, art. 52, b) ; Decreto n. 27.048, ad. 3~0, 6).
c)Servidores de autarquias federais, estaduais e municipais, se há lei especial que lhes assegura situação
semelhante à dos funcionários públicos e os faça sujeito a regime próprio de proteção ao trabalho (Lei n. 605, art.
5.~, c).
(c)Para que a Lei n. 605 possa estar em causa, é preciso que, pela atividftde da empresa, ou em razão de interesse
público, seja indispensável a continuidade do serviço (Lei n. 605, art. 59, parágrafo único). Se não há a
continuidade do serviço, não há a permanência do empregado. Continuidade do serviço, na espécie, é a
continuidade que resulta da atividade da empresa (e. g., empresa de construções, empresa de ônibus, empresa de
fabricação de tecidos), ou do interesse público (e. g., empresa que contratou a abertura do túnel, ou a construção
do cais do pôrto). Se, por exemplo, os trabalhadores foram contratados somente para que retirassem do rio, ou da
estrada, o ônibus, ou o trem que descarrilhou, não há a continuidade do serviço oriunda da atividade da empresa,
ou de razão de interesse público, pôsto que seja de interesse público a retirada.
(d)Para que haja o direito ao repouso semanal remunerado, faz-se mister que o empregado tenha trabalhado
durante tôda a semana a que êle corresponde, respeitados o horário e a duração do serviço, salvo se ocorreu justa
causa para a falta, ou diminuição do tempo. Ç isso o que se há de entender quanto ao art. 6.0 da Lei n. 605, que
estatui: “Não será devida a remuneração quando, sem motivo justificado, o empregado não tiver trabalhado
durante tôda a semana anterior, cumprindo integralmente o seu horário de trabalho”.
A Lei n. 605, no art. 6.0, § 1.0, enumera, exaustivamente, as justas causas para se quebrar a duração do serviço,
quanto aos dias ou dentro dos dias: “São motivos justificados: a) os previstos no art. 473 e seu parágrafo único da
Consolidação das Leis do Trabalho; a ausência do empregado, devidamente justificada, a critério da
administração do estabelecimento; e) a paralisação do serviço nos dias em que, por conveniência do empregador,
não tenha havido trabalho; d) a ausência do empregado, até três dias consecutivos, em virtude de seu casamento;
e) a falta ao serviço com fundamento na lei sôbre acidente do trabalho; f) a doença do empregado, devidamente
comprovada” (cf. Decreto n. 27.048, art. 12).
a)O empregado pode deixar de comparecer ao serviço, sem prejuízo do salário e por tempo não excedente de dois
dias, em caso de falecimento do cônjuge, ou de falecimento de ascendente, descendente, irmão, ou pessoa que,
conforme a sua carteira profissional, viva sob sua dependência econômica (Decreto-lei n. 5.452, art. 473). No
caso de nascimento de filho, o empregado pode faltar um dia de trabalho e, no correr da semana, ou na que
suceder (no Decreto-lei n. 5.452, art. 473, parágrafo único, diz-se “no correr da primeira semana”, o que é
obscuro), para fazer o registo civil, sem prejuízo do salário (Decreto-lei n. 5.452, art. 473, parágrafo único).
Cônjuge está, no art. 473 do Decreto-lei n. 5.452, em vez de cônjuge ou companheira ou companheiro, desde que
se trate de convivência marital.
b)Se há justa causa para a ausência do empregado quanto ao dia, ou parte do dia e êle faz prova disso, a
administração do estabelecimento tem de dispensar a falta. A expressão “a critério da administração” não se pode
interpretar no sentido de “a arbítrio da administração”. Se a administração da empresa foi, no que estabeleceu,
injusta, a espécie pode ser objeto de exame judicial.
A comprovação é com atestado médico da instituição de previdência social, a que se é filiado o empregado e, na
falta dêsse, do médico do Serviço Social de Comércio e Indústria, ou de médico da empresa ou por ela designado,
ou de médico a serviço de representação federal, estadual ou municipal, incumbido de assuntos de higiene ou de
saúde pública, ou de médico da sua escolha, que clinique na localidade do trabalho, sucessivamente (Lei n. 605,
art. 6.0, § 2.0; Lei n. 2.761, de
26 de abril de 1955, art. 1.0). Cp. Decreto n. 27.048, art. 12, §§ 1.0 e 2.0

Nas empresas em que vigorar regime de trabalho reduzido, a freqúência exigida corresponde ao número de dias
em que o empregado tenha de trabalhar (Lei n. 605, art. 6.0, § 3~0).
“As entradas no serviço verificadas com atraso, em decorrência de acidentes de transportes, quando devidamente
comprovados mediante atestado da empresa concessionária”, diz o art. 12, § 32, do Decreto n. 27.048, “não
acarretarão, para o trabalhador, a aplicação do disposto no art. 11”.
-O art. 11 é o que cogita da pré-exclusão da remuneração se não houve motivo justificado.
Nem sempre a empresa concessionária atende aos pedidos de atestado, por serem com culpa os acidentes, ou ser
aquêle prova da sua responsabilidade. O caminho é o atestado pela polícia, ou a apresentação das notícias dos
jornais. A notoriedade dispensa provas escritas.

9.REMUNERAÇÃO flO REPOUSO SEMANAL. A remunera~ão do repouso semanal corresponde: a) para os


que trabalham por dia, semana, quinzena, ou mês, à de um dia de serviço, não computadas as horas
suplementares; b) para os que trabalham por hora, à de sua jornada normal de trabalho, excluídas as horas
complementares; c) para os que trabalham por tarefa ou peça, ao equivalente ao salário correspondente às tarefas
ou peças feitas durante a semana, no horário normal „de trabalho, dividido pelos dias de serviço efetivamente
prestados ao empregador; d) para o empregado em domicílio, ao equivalente ao quociente da divisão por seis da
importância total da sua produção na semana (Lei n. 605, art. 72).
Os empregados cujos salários não sofram descontos por motivo de feriados civis ou religiosos são considerados já
remunerados nesses mesmos dias de repouso, uma vez que os dias de domingo sejam remunerados (Lei n. 605,
art. 72, § 1.0). Assim, consideram-se já remunerados os dias de repouso semanal do empregado mensalista, ou
quinzenalista, cujo cálculo
-de salário mensal, ou quinzenal, ou cujos descontos por falta sejam efetuados na base do mínimo de dias do mês
ou de trinta ou quinze diárias, respectivamnente (Lei n. 605, art. 7O, § 2.0).
10.TRABALHO EM DIAs FERIADOS. “Excetuados os casos em que a execução do serviço fôr imposta por
exigências técnicas das empresas”, diz o art. 8.0 da Lei n. 605, “é vedado o trabalho em dias feriados, civis e
religiosos, garantida, entretanto, aos empregados a remuneração respectiva, observado-5 os dispositivos dos arts.
6.0 e 72 desta lei”.
“Nas atividades em que não fôr possível, em virtude das exigências técnicas das empresas, a suspensão do
trabalho, nos dias feriados civis e religiosos, a remuneração será paga em dôbro, salvo se o empregador
determinar outro dia de folga” (Lei n. 605, art. 92; Decreto n. 27.048, ad. 6.0). Acrescenta o ad. 10: “Na
verificação das exigências técnicas a que se referem os artigos anteriores, ter-se-ão em vista as de ordem
econômica, permanentes ou ocasionais, bem como as peculiaridades locais”. E o parágrafo único: “O Poder
Executivo, em decreto especial ou no regulamento que expedir para fiel execução desta lei, definirá as mesmas
exigências e especificará, tanto quanto possível, as empresas a elas sujeitas, ficando desde -já incluída~ entre elas
as de serviços públicos e de transportes”.
Os arts. 12-14 da Lei n. 605 cogitam das multas e da fiscalização.
§ 5.067. Salário mínimo

1. CONSTITUIÇÃO DE 1946, ART. 157, 1. A Constituição de 1946, ad. 157, 1, estabelece, como um dos
princípios a que há de obedecer a legislação do trabalho, o do salário mínimo, capaz de satisfazer, conforme as
condições de cada região, as necessidades normais do trabalhador e de sua família”. Diante do art. 163, que diz
ser a família “constituída pelo casamento indissolúvel”, procurou-se insinuar que “família”, no art. 157, 1, e 50 a
que se constituiu pelo casamento. De modo nenhum. Família é o grupo em que vínculo sexual e de sangue, ou
afim. O enteado é membro da família, mesmo que tenha morrido o pai ou a mãe. O padrasto enfêrmo, a madrasta
enfêrma, que vive na casa, é membro da família.
O trabalho tem de ser remunerado, porém com atenção as necessidades maiores do trabalhador. Os fundamentos
religiosos e os argumentos contra ser tratado como mercadoria apenas revelam que a sociedade ainda não chegou
ao grau de evolução em que, embora se reconheça que os homens não são
iguais, há necessidades que os igualizam, negativamente: se nem todos precisam de livros e de diversões
especiais, todos comem, vestem e moram. A busca de critério para a fixação do salário mínimo somente pede
consistir em verificação do que é preciso para que todos os que trabalham vivam, no ambiente econômico que o
estado social determina. A minimidade atende a isso e pede elevar a prestação, para que se melhore a situação dos
que trabalham.
O salário mínimo tem de ser suficiente, no lugar em que se contrapresta e vive o trabalhador, às necessidades
normais dêle e da família. O salário-família ou salário-familiar está previsto na Constituição de 1946, art. 157,
O salário mínimo, que se fixa conforme lei, há de corresponder à aquisitividade que êle tinha ao ser fixado. O
poder aquisitivo foi pressuposto de inre condendo. Depois da lei, se o custo da vida cresce, surge o problema da
alteração, ao que hão de estar atentas as associações e sindicatos de trabalhadores. O ad. 766 do Decreto-lei n.
5.452 é de pouco relevância, porque a Constituição de 1946, art. 157, 1, foi clara. Há, porém, relevância se não se
trata de salário mínimo, e sim de salário justo, acima do mínimo. Lê-se no ad. 766 do Decreto-
-lei ii. 5.452: “Nos dissídios sôbre estipulação de salário, serão estabelecidas condições que, assegurando justo
salário aos trabalhadores, permitem justa retribuição às interessadas”.
O salário pode ser fixado em virtude de cláusula de valor-mercadoria, ou de preço da vida, ou de casa, comida e
vestes (soma dos preços do mês, trimestre ou semestre). Os juristas franceses chamam a isso salário móvel, ou
salário escala movel. A escalator clause, clause d‟échelle -mobile, foi minuciosamente examinada no Tomo
XXVI, ~§ 3.172-3.175.
Antes dos- chamados princípios sociais da América (1935), a Constituição brasileira de 1934, art. 121, ~ 1.0,
falou do “salário mínimo, capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, as necessidades normais do
trabalhador”. A Constituição de 1937, art. 137, /i), insistiu. A Constituição de 1946, art. 157, 1, acrescentou:
“salário mínimo, capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, as necessidades normais do
trabalhador e de sua família”. No ad. 157, II, diz-se ser princípio a observar-se na legislação ordinária o da
“proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado
civil”.
A lei do salário mínimo deve cogitar apenas de fixar o que é estritamente indispensável às necessidades normais
do trabalhador e de sua família. Quanto às necessidades da família, ai‟ se calcula, para a família mudia, quota que
se adita ao salário mínimo, ou se calcula por pessoa econômicamente dependente, ou se calcula em quota de
cônjuge ou companheira e quota de outros dependentes Outro ponto, que se há de considerar, é o da distinção
entre salário mínimo do trabalhador que tem família e salário mínimo do que não a tem, porque a lei pode
entender ser melhor tratar a todos como tendo família, para simplificação de atribuição (e. g., com o corretivo do
impôsto sôtre os sem-família).
Na legislação ordinária, a que se refere o art. 157, 1, da Constituição ~ de 1946, há a oportunidade de se atender às
necessidades da família do trabalhador, quando se fixa o salário mínimo. A lei que ampara as famílias de prole
numerosa obedece a outros princípios que aquêles que regulam as relações entre o trabalhador e a empresa ou
empregador, o art. 164 da Constituição de 1946 é regra jurídica programática dirigida ao Estado. Não há, na
Constituição de 1946, outra regra jurídica em que se possa apoiar a legislatura ordinária para exigir do
empregador de salário, a pretexto de família, que o art. 157, 1. De modo que o primeiro problema, que se tem de
enfrentar, é o de se saber qual a regra jurídica da Constituição de 1946 que poderia invocar, hoje, o legislador
ordinário para edictar lei como o Decreto n. 12.299, de 22 de abril de 1943 (Decreto
-lei n. 3.200, de 19 de abril de 1941, art. 29). A resposta éóbvia: o art. 164.
A quota de família pode ser única, ou constante, dita, por alguns, absoluta, ou variável, isto é, conforme o número
de dependentes A quota única, constante ou absoluta, pode ser abstrata, ou concreta, segundo se é devido por
haver, ou ainda se nao ha família. Se a quota de família é absoluta e abstrata, recebe-a qualquer trabalhador, ainda
que não prove ter família. Para se obviar aos inconvenientes de alguém receber s + ~f, sem ter de despender 1. há
expedientes corretivos como o de ter de pagar impôsto de educação devido pelos que não têm dependentes a
serem educados, ou o de ter de recolher o injustamente recebido.
A quota relativa de família é sempre in concreto, ou quasi iii concreto, porque se estabelece que só tem direito à
quota o trabalhador que tem dependentes, e se faz variável a quota conforme o número de dependentes ou
espécies dêles, ou até certo número de dependentes, companheiro do trabalhador solteiro, desquitado ou viúvo e
aos filhos legítimos ou ilegítimos”.
Na técnica do direito à subsistência e da própria Constituição de 1946, art. 157, 1 e II, combinados, não há
distinções quanto ao estado civil: o companheiro inválido, ou a companheira inválida, ou que só tem ocupações
domésticas, é dependente, como o cônjuge; nem importa que haja impedimento matrimonial entre eles . Ao rés da
vida, quando o que importa, são os alimentos, as vestes e o mais que o viver exige, todo pensamento do legislador
se deve colocar em plano humano, de realidades nítidas, porque merece tanto ao trabalhador ou à trabalhadora
quem com êle vive e lhe deu, talvez, descendentes quanto quem fôsse o seu cônjuge. O plano da subsistência sua
e de outrem é mais profundo que o das formas disciplinadoras. O dependente pode não ser nada do trabalhador. A
dependência é de ordem econômica, fundada em respeito a dever moral, e não em respeito a dever jurídico, com
mais forte razão sem qualquer limitação a laços matrimoniais. O princípio de dependência e o conceito de família,
no art. 157, 1, da Constituição de 1946 podem ser expressos em têrmos de pressupostos suficientes e necessários:
basta existir o dever jurídico; mas também basta o dever moral. Tal como se passa a propósito de irrepetibilidade
em caso de prestação por dever moral e de irrevogabilidade da doação que se fêz em adimplemento do dever
moral. Na dimensão jurídica, leva-se em conta, nessas três espécies, como em outras, o que se passou ou se passa
na. dimensão ética. É verdade que, no art. 163, se diz que a família é constituída pelo casamento indissolúvel, mas
a respeito escrevemos o que fôra de mister.
Por isso mesmo que a Constituição de 1946, art. 157, II (“proibição de diferença de salário para um mesmo
trabalho por motivos de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil”), afastou qualquer regra jurídica que, em
assunto de legislação do trabalho e de previdência social, distinga casados, solteiros, desquitados e divorciados
(estado civil), fere a Constituição de 1946 tôda regra jurídica que diga, por exemplo, “filhos e cônjuges
inválidos”, ou que “equipare à mulher casada a companheira do trabalhador solteiro”, como se fôsse preciso
qualquer equiparação. Equipara-se onde alguém ou alguma classe é beneficiada ou prejudicada e se passa a tratar
da mesma maneira outrem ou outra classe. É contrária à Constituição de 1946, ad. 157, II, qualquer distinção:
cônjuge e companheiro, ou companheira, são conceitos que, empregados para distinguir, o art. 157, II, repele. A
dependência familiar é a dependência econômica, fundada um dever ético, o que só se verifica no plano da
consciência individual. Pode não haver laço matrimonial, como pode não haver descendência, ou parentesco. É
nas dimensões econômica e ética que se determina a dependência, naquela, para a verificação objetiva, nessa,
para a verificação subjetiva. Também feriria a Constituição de 1946 a regra jurídica que permitisse pré-excluir-se
do cômputo de dependentes a companheira que não poderia se casar, ou a companheira do trabalhador que não se
poderia casar, ou os filhos ilegítimos e os enteados.
No ad. 157, 1, deixou-se margem à adoção da quota constante ou à adoção da quota variável (ou s + 1 para todos;
ou s + f, s + f‟, s + 1”, conforme a família, 1, 1‟ ou 1”). Quanto á consistência com a Constituição de 1946, ambos
os critérios são admissíveis; se bem que, de iure coMendo, se pudesse argumentar, contra a quota constante, que
ela igualiza o desigual (o que tem um torna-se igual ao que tem x dependentes, quiçã nenhum) e, contra a quota
variável, que ao empregador se carrega a despesa das famílias numerosas, sem que seja diferente a produtividade
dêle. O trabalhador, com dez dependentes, perceberia como dois trabalhadores, a despeito de ser a mesma a sua
produção, tivesse ou não dependentes. Aqui, surge o problema da prestação, excessiva, que é o mesmo para os
tributos, ônus, encargos, contribuições e mais exigências econômicas (não se pode tributar em mais do que
produz em valor o objeto do produto). A resposta também é no sentido de não poder ir até êsse ponto a função
interventiva do Estado.

A distinção, quanto ao salário mínimo para o campo e para a cidade, é em função das “condições de cada região”,
e não in abstracto, por se tratar de campo e de cidade, mesmo porque “cidade” seria têrmo empregado em sentido
estrito, ou no sentido de povoado, ou no sentido de “urbano”, em contraposição a “rural”. A Constituição de 1946
exige que se respeite o princípio de isonomia (art. 141, § 1.0). Não se podem estabelecer princípios diferentes
para a fixação do salário minimo do campo e da cidade. As diferenças hão de resultar das variáveis, a que o ad.
157, 1, chama “condições de cada região”; e não de se tratar de campo ou cidade; solteiras, ou viúvas, desquitadas
ou divorciadas. O par andrógino é considerado sem qualquer referência a laços matrimoniais, com vínculo
indissolúvel ou não, civis ou religiosos. Dependentes são os que econômicamente dependem, bastando dever
ético do que presta os alimentos e mais meios de subsistência.
Nenhuma distinção se admite, topolôgicamente, além das oriundas de “condições de cada região”. Ao legislador,
discriminar as regiões à técnica, apreciar as variáveis (= condições, em terminologia vulgar). Campo e cidade
não são regiões. Cada cidade pode ser uma região. Pode, até, ter duas ou mais. O campo pode conter duas ou mais
regiões. Os campos do extenso território brasileiro contêm, necessàriamente, muitas regiões, milhares delas.
Seria contrário à Constituição de 1946 que se atribuísse ao empregador pagar a contribuição de previdência social
do empregado: paga a sua, por fôrça do art. 157, XVI. O quanto que seja necessário aos momentos de doença e
outras dificuldados do trabalhador deve entrar no cômputo do que é “subsistência” e “subsistência da família”,
porém não pode entrar como verba especifica.

2.SALÁRIOS E PRINCIPIO DE ISONOMIA. A aplicação do princípio de igualdade perante a lei (Constituição


de 1946, ad. 141, § 1.~), ou de isonomia, em matéria de salários, salvo capacidade individual, foi explícita,
quanto à idade, sexo, nacionalidade e estado civil, no art. 157, II, tal qual se formulara na Constituição de 1984,
art. 121, § 1/‟, a). A Constituição de 1937 omitira-o.

A igualdade formal (Constituição de 1946, art. 141, § í~> é assegurada; a igualdade material, não; nem seria justa
em tôda a extensão.
Devemos entender que é violação da regra constitucional estabelecer o industrial, ou o agricultor, ou quem quer
que entre no conceito de empregador, diferenças nos preços da mão-de- algum dêsses critérios, ou determinando,
ou procedendo, de tal maneira, na diferenciação dos salários que numa das classes ou em algumas classes só
existam ou quase só existam pessoas de uma idade, ou do mesmo sexo, ou da mesma nacionalidade, ou do mesmo
estado civil. Também viola o art. 157, II, o exigir-se a pessoas de certa idade, sexo, nacionalidade, ou estado civil,
maior número de horas de serviço, a fim de se compensar a igualdade do salário.
O art. 157, II, da Constituição de 1946, é bastante cri si. Se alguma lei anterior houvesse permitido a diferença de
salário, e. g., entre adultos e menores, sendo o mesmo o trabalho, pôsto que diferente o resultado, passaria, com a
Constituição de 1946, a ser inconstitucional É fraude ao princípio constitucional de isonomia a respeito do
trabalho estipular..se diferença de pagamento pelos resultados, se com isso se quer distinguir o trabalho do adulto
em relação ao do menor, o dos jovens em relação ao dos velhos, o do varão em relação ao da mulher, o do
estrangeiro em relação ao nacional, o dos casados em relação ao dos solteiros, ou vice-versa. Para que a
estipulação valha, é preciso que se tenha estabelecido, de acôrdo com a lei, o que pode, sem dano próprio, ser
produzido pelo menor e o que pode, sem dano próprio, ser produzido pelo adulto, etc. O preço da produção
normal de um e de outro tem de ser igual.
O pagamento por produção não infringe a regra de igualdade, mas tem de atender ao art. 157, 1. O que é preciso
é que a razão de distinguir não seja, aparente, sincera, ou veladamente, idade, sexo, nacionalidade, ou estado civil.

3.LEGISLAÇÃO DO TRABALHO E SALÁRIO MÍNIMO. O artigo 157, 1, da Constituição de 1946 atribuiu à


legislação. do trabalho a fixação do salário mínima, que satisfaça “as necessidades normais do trabalho e de sua
família” atendidas as situações de cada região. Não se deu poder de delegar função legislativa: a fixação arbitrária
de salário mínimo a líbito do Poder Executivo é abertamente contrária ao art. 36, § 2.0, da Constituição de 1946.
O hábito dos decretos de fixação dos salários mínimos, a arbítrio do Poder Executivo, provém do ambiente
fascistico de 1930-1934 e 1937-1946.
Se a lei estabelece os elementos, que se hão de computar, conforme os valôres do momento, para se fixarem os
salários mínimos, não há delegação de podêres; mas delegação de poder legislativo existe se se deixou ao Poder
Executivo fixar os salários, mesmo se se alude a serem conforme “as necessidades normais do trabalhador e da
família”.
No art. 159, in flue, da Constituição de 1946 permitiu-se a delegação de podêres, inclusive legislativo, aos
sindicatos, não a delegação de poder legislativo ao Poder Executivo. No art. 157, XIII, reconheceram-se as
convenções coletivas de trabalho e delas há de constar o preço do trabalho, o que não se confunde com a fixação
de salário mínimo, que seria em regra legal a que o contrato coletivo tem de obedecer.

§ 5.068. Higiene, segurança do trabalho e idade

1.HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO. A lei tem de providenciar sôbre o mínimo que há de ser exigido
às empresas e aos empregadores em geral como requisitos de higiene e de segurança do trabalho. Sempre que
consta de lei êsse mínimo, além das sanções apontadas por ela, responde por perdas e danos o empregador, desde
que se prove a causação entre os insuficientes pressupostos de higiene ou de segurança e o dano ou perda que daí
resultou.
A lei ordinária, que tratar da higiene e segurança do trabalho, precisa ser concebida de acôrdo com os resultados
últimos da ciência. Se o operário, individualmente, ou através do seu sindicato, reputa que a empresa discrepa da
lei, no tocante à higiene ou à segurança do trabalho, tem ação para que se respeite a lei.
Se, em vez disso, é a lei mesma que não provê como devera, a questão é de inconstitucionalidade da lei, pois a
Constituição de 1946, art. 157, VIII, exige à legislação do trabalho curar das medidas que sejam necessárias à
higiene e à segurança do trabalho.

No tocante à segurança, as medidas que a lei estabeleça não dispensam às empresas o seguro, pelo empregador,
contra os acidentes do trabalho (art. 157, XVIII>.

2.MENORES DE QUATORZE ANOS E TRABALHO. O trabalho é vedado, clara, insofismável,


peremptôriamente a menores de quatorze anos; se em indústrias insalubres, a menores de dezoito e a mulheres.
Não há excecões legais. Só as há quanto ao trabalho noturno. A legislação ordinária é impotente; o principio
constitucional, self-executing, exaustivo, cogente. No entanto, campeiam pelo Brasil inteiro as violacões
impunes. A respeito, lembremos o que escrevêramos em tôrno do art. 121, § 19, d), da Constituição de 1934: “A
letra á) dispensa-nos de comentário. Precisa, sim, de execução. A despeito dos seus têrmos claríssimos, todos
sabem e podemos atestar que, por todo o território nacional, a situação continua, como se a letra á) do § 1.0 não
existisse. Aliás, conforme várias vêzes dissemos, ainda paira a grande dúvida sôbre se foi feita para executar-se,
ou não, a ConstituIção de 1934. Proibe-se o trabalho a menores de quatorze anos, trabalho noturno a menores de
dezesseis (hoje dezoito), e, em indústrias insalubres, a menores de dezoito anos e a mulheres. Seria impossível
prever-se, na Constituição, o que é indústria insalubre. A lei, destinada a menor duração, pode fazê-lo, mas existe
um dado real, suscetível de experimentação que é a insalubridade, e o legislador ordinário tem de atender à
existência dêle nas suas enumerações”.
A regulamentação da aprendizagem entre quatorze e dezoito anos, é um dos problemas mais urgentes do país. O
Estado somente pode vedar, ou, com dificultações, quase proibir, o trabalho do aprendiz, quando o Estado está em
situação de suprir o fato social, espontâneo, da aprendizagem, com liceus de artes e of icios, ou escolas
profissionais, para tôda a população. Quando êle dificulta ou impede a aprendizagem, sem se substituir ao mestre
de ofício, procede como quem corta árvores sem plantar. Foi a legislação errada do Ministério do Trabalho que
estancou as fontes dos ofícios; e o Brasil todo se está ressentindo das graves consequências do Estado socialista
negativo: veda, sem chamar a si o encargo. Os dirigentes ainda não compreenderam que é valorizando o homem
do Brasil que se valoriza o Brasil.

3.INDÚSTRIAS INSALUBRES. Indústrias insalubres são todas as que podem causar, por si, doenças, ou
depauperações, ou deformações, ou quaisquer diminuições do valor humano, ou profissional. Dois são os
problemas que elas suscitam, no plano da técnica constitucional: o de preverem as leis compensações para
aquêles que se empregam em tais indústrias, o que só indiretamente e em geral foi matéria para a Constituição de
1946, como, por exemplo, nos incisos XVI e XVII do artigo 157; e o de regulamentação, ou proibição, no tocante
a menores e mulheres. A situação da mulher adulta e a da mulher menor não é a mesma; porém a Constituição de
1946 preferiu vedar, sem distinções, o trabalho das mulheres de qualquer idade nas indústrias insalubres.

4.CoNCEITO DE INSALUBRIDADE DA INDÚSTRIA. A definição de indústrias insalubres depende do


conhecimento dos efeitos delas. Efeitos considerados em absoluto, ou relativamente à receptividade dos
indivíduos. De qualquer modo, o conceito é científico; e a solução, deixada ã enumeração técnica, de acôrdo com
a ciência do dia.
Por vêzes, temos observado que um dos maiores males, no presente, é o descaso por termos claros, insofismáveis,
de regras cogentes, ainda insertas em Constituição. Pululam por aí fábricas, construções, cultivos, em que
menores de quatorze anos trabalham. Sociolôgicamente, o Estado fica sem autoridade moral quando se lhe
responde, à primeira objeção a tal trabalho ilegal, que melhor é para tais crianças o trabalho, com alguma coisa
para comer, do que a fome e o respeito da letra da Constituição. Some-se a isso a vagabundagem, onde não há
escolas suficientes, ou, o que não raro acontece, nenhuma escola. O Estado tem o dever de enfrentar os dois
problemas, que vêm, fora de qualquer discussão, em primeira plana, mas, sobretudo, como condições mesmas da
nossa civilização o do nosse futuro. Vedar o trabalho do aprendiz, e não criar ensino profissional gratuito,
obrigatório, é errar por dois lados. Intervir, sem assumir responsabilidade, é grande êrro.
5.INTELIGÉNCIA DA CONSTITUiÇÃO DE 1946, ART. 157, IX,1a E 35 PARTES. O Ponto-e-vírgula que
separa as duas partes do texto mostra que a limitação “respeitadas, em qualquer caso, as condições estabelecidas
em lei e as exceções admitidas pelo juiz competente” só se refere ao trabalho noturno dos menores de dezoito
anos, quer dizer dos menores entre quatorze anos feitos e dezoito. A lei há de prever as condições para que possa
haver a permissã0 excepcional e, iii casu, só o juiz competente (note-se: o juiz) pode, aplicando a lei, julgar que
ela cabe.
A insalubridade pode ter sido descoberta depois de feita a lei. Nesse caso, qualquer que tenha sido o conceito
anterior, aos podêres públicos é dado notificar o empregador sôbre a conclusão científica a que se chegou;
porque, embora à lei caiba enumerar as indústrias insalubres, tôda enumeração, que fizer, é exemplificativa O art.
157, IX, da Constituição de 1946, é bastante em si, self-execzctíng Por isso mesmo, se o empregado objeta, tem de
ser levada por êle, ou pelo Estado, a juízo a espécie, a fim de que se assente que a indústria, a que se refere, é
insalubre. Uma vez que o conceito é constitucional, se a lei concebeu como taxativa a enumeração que fêz, ou se
a justiça assim o entendeu, é de levantar-se a questão de contrariar a Constituição.

§ 5.069. Outros direitos constitucionaís dos trabalhadores

1.ASSISTÊNCIA SANITÁRIA A assistência sanitária (médica e higiênica) ao trabalhador é assegurada pela


Constituição de 1946, ad. 157, XIV, o que atende às necessidades anormais dos trabalhadores (compare-se art.
157, 1, verbis as necessidades normais do trabalhador e de sua família”). Não se falou somente de assistência
médica, mas de assistência sanitária, conceito mais largo. A regra jurídica dirige-se aos empregador~5 e aos
legisladore5 ordinário5, que não podem revogar quaisquer leis a respeito, sem que a. lei revogante contenha
assistência sanitária aos trabalhadores como segurança COnStitucional
Quanto à gestante, o legislador constituinte fêz mal em não fixar o tempo mínimo para as gestantes a começar
antes e acabar depois do parto. Falou em período de descanso, mas deixou ao legislador ordinário a fixação do
tempo. Qualquer que seja tal fixação, é dado à gestante fazer prova de lhe ter sido necessário tempo maior. Tal
inteligência é indispensável, uma vez que êle depende de circunstâncias involuntárias e só apreciáveis
cientificamente. Aliás, a legislação ordinária deve cogitar do tempo mínimo e não do máximo, ou, quanto a êsse,
adotar período em que nenhuma prova é exigida e período em que a prova de ter sido necessário maior repouso é
de exigir-se.
A gestante, durante o período legal, ou aquêle que provadamente foi necessário, nenhum prejuízo pode sofrer no
seu salário, que é integral, O principio dirige-se assim aos empregadores, que não podem convencionar
diversamente, como aos legisladores ordinários, que nenhum poder têm para permitir diminuições, ou deduções
para fundos de previdência, ou outras
quaisquer alterações no salário que teria de receber, se trabalhando estivesse, a gestante.

2.PERCENTAGEM DE EMPREGADOS BRASILEIROS NOS SERVIÇOS PÚBLICOS E AO PÚBLICO. - A


Constituição de 1891 não cogitou. A de 1934 estatuiu, no art. 136: “As empresas concessionárias ou os
contratantes, sob qualquer título, de ser-viços públicos federais, estaduais ou municipais, deverão: a) constituir as
suas administrações com maioria de diretores brasileiros, residentes no Brasil, ou delegar podêres de gerência
exclusivamente a Brasileiros; b) conferir, quando estrangeiras, podêres de representação a Brasileiros em
maioria, com faculdade de subestabelecimento exclusivamente a nacionais”. A de 1937, art. 146, disse: “As
empresas concessionárias de serviços públicos federais, estaduais ou municipais deverão constituir com maioria
de Brasileiros a sua administração ou delegar a Brasileiros todos os podêres de gerência”. Na Constituição de
1946 também não se distingue se a empresa é brasileira ou estrangeira.
A legislação ordinária que fixa a percentagem continua em vigor, até que seja alterada, não podendo, porém, a lei
nova deixar de prever o quanto de empregados brasileiros.

3.ESTABILIDADE DOS EMPREGADOS. A Constituição de 1946 deixou à lei as regras jurídicas sôbre
estabilidade dos trabalhadores, bem como sôbre a indenização ao trabalhador despedido. A legislação ordinária
continuou em vigor, até que outra a revogasse, ou derrogasse regulação a estabilidade. Não há distinção entre
trabalhador intelectual ou não, trabalhador em indústria e trabalhador rural.

4.CONTRA COLETIVO DE TRABALHO O contrato coletivo de trabalho penetrou, expressamente no direito


brasileiro, desde a Constituição de 1934. Exigiu ela que a legislação do trabalho reconhecesse as convenções
Coletivas de trabalho. Não traçou a estrutura e extensão do instituto deixando..o à legislatura ordinária Contudo,
não podia essa afastar~e por tal modo do direito contemporâneo a ponto de constituir disfarçada vedação do que a
Constituição de 1946, como a de 1934, estatuíra que se reconhecesse.
A Ordenança alemã dos Comissário5 do Povo de 23 de dezembro de 1918, a Lei francesa de 25 de março de 1919
e outros textos europeus (e. g., Código Federal Suíço das Obrigações, arts. 322 e 323) contêm concepção da
figura jurídica do contrato coletivo de trabalho o negócio jurídico coletivo, melhor diríamos, pois que há casos
não-contratuais. ao passo que os Estados Unidos da América o obtiveram sem partir de construção lógica e o
formaram aos pedaços, realisticamente em tôrno de dado ético: acôrdo entre gentlemen para usar de expressão de
JOHN 11. COMMONS e E. R. Aliás, no direito brasileiro, a Constituição de 1946 deixa margem à mesma
construtividade
(a)A Constituição brasileira de 1934 preeliminara as dificuldades que poderiam resultar de atitudes de resistência
por parte da então Côrte Suprema e dos outros tribunais: o art. 121, 1.0, i9, não só reconheceu estatuiu que a
legislação do trabalho reconhecesse as convenções coletivas do trabalho, o que valeu por adotar o conceito, tal
como se extrai das relações entre empregados e empregados bem como entre aquêles e entre êsses, nos povos do
nosso clima cultural, dentro do círculo do Ocidente. Não se tratava, pois, de nenhuma regra jurídica de garantia de
status quo, isto é, de garantia de estrutura ou do conceito que era o de 16 de julho de 1934, mas de garantia ~
institucionalidade
(b) A Constituição de 1937 não falou de reconhecimento das convenções coletivas de trabalho, mas, desde logo,
formulou duas regras: uma, sôbre a extensão subjetiva, a da letra a) ; outra, sôbre a extensão objetiva necessária
(verbo “deverão”). Em vez de aludir a convenções, aludiu a contratos, o que deixou ao intérprete dois caminhos,
quando se lhe apresentassem figuras menos propícias à figura dos contratos de trabalho: procurar a noção, sempre
deformadora e taxinômicamente insuficiente, de contrato sui generis, ou entender que a alusão a contrato é no
sentido de “negócio jurídico” (declarações unilateral de vontade, contrato).
(c)A Constituição de 1946 manteve referência ao reconhecimento, deixando, portanto, tôda a demais matéria à
legislação ordinária. Também ela se refere a convenções coletivas de trabalho, evitando o que criticáramos à
Constituição de 1937.

5.CoNTRIBUiÇÃO ANORMAL. A assistência sanitária, inclusive hospitalar e médica, preventiva, ao


trabalhador e à gestante funciona como contribuição anormal dos empregadores, a par da contribuição normal
dos incisos 1 e X. Por isso mesmo são inconfundiveis; e. g., tendo a gestante pedido o descanso do inciso X, não
fica privada de reclamar o hospital em que tenha de se tratar das conseqUências do parto, ou de prevenir-se contra
o que o médico preve.

6.O ART. 157, XV, DA CONSTITUIÇÃO DE 1946, É REGRA JURIDICA PROGRAMÂTICA. A assistência
aos desempregados aí está como tema pro gramático, sendo dever dos legisladores assegurá-la em lei. Uma das
conseqUências do art. 157, XV, está em que, assegurada alguma assistência, o legislador não a pode suprimir,
sem a substituir. De regra, há como garantia de status qua em tôda regra legal que se edictou para cumprir
programa constitucional.

7.MATERNIDADE, vELHICE, DOENÇA, INvALInEZ, MORTE. A previdência em favor da maternidade, da


velhice ou em conseqUência da doença, da invalidez ou da morte, tem de ser pela contribuição tripartita (União,
empregador, empregados). Tal previdência, por ser mediante contribuição, não depende de simples decreto. Mão
de preceder cálculos para a realizabilidade das promessas. Compreende-se, portanto, que a Constituição de 1946,
ao referir-se à legislação do trabalho, apenas ordenasse que entre as suas regras estivessem aquelas que fôssem
necessárias à instituição de tais seguros. Não se entrou na adoção de qualquer critério. Satisfez-se o legislador
constituinte com a indicação do objeto dêles.
Na Câmara dos Deputados, o relator do Projeto n. 894, de 1947, o deputado EDGARD ARRUDA, frisou: “...o
projeto, em seu art. 2.0, torna simplesmente facultativas as contribuições para o Instituto a que se refere, quando,
pelo dispositivo transcrito da nossa Constituição, são elas obrigatórias. E obrigatórias não só para o empregado
como também para o empregador e para a União. Comentando êsse preceito constitucional, diz PONTES DE
MIRANDA: “A previdência em favor da maternidade da velhice, ou em conseqúêncía da doença, da invalidez, ou
de morte, tem de ser pela contribuição tripartita (União, empregador, empregados) “.
A regra jurídica só se dirige aos legisladores e não aos legisladores e aos empregadores porém êsses são obrigados
àinstituição da previdência dentro das regras legais que forem edictadas. Assim, a legislação do trabalho pode
impor a formação de instituições de seguros, apontando o papel e a contribuição que nelas devem ter os
empregadores, ou determinar, para as empresas de muitos empregados, a criação de caixas especiais, mistas ou
não; ou, ainda, exigir que todos os empregados sejam segurados em institutos de direito público, ou de direito
privado, pelos empregadores, com ou sem contribuição dos empregados. Nenhuma dessas regras jurídicas atenta
contra a Constituição, pois que é a Constituição mesma que implicitamente o sugere.
Uma das conseqUências da regra jurídica do art. 157, XVI, e a de não poder ser extinta a instituição de seguros de
invalidez, de vida, de velhice, ou de acidentes do trabalho, por fôrça de lei.

8. SEGURos CONTRA ACIDENTES O seguro contra acidentes do trabalho incumbe ao empregador, não entra
no conceito de previdência de contribuição tripartita, de que trata o inciso XVI. O empregador tem o dever
constitucional de segurar contra acidentes do trabalho os seus empregados. Se não o faz, responde conforme a lei
sôbre acidentes do trabalho.

9.PRINCIPIO DE ISONOMIA E ART. 157, PARAGRAFO ÚNIcO.


O art. 157, XII, atende à nossa crítica ao texto de 1934 (Comentários, II, 333), que deixara fora da regra de
isonomia, que se contém no art. 157, parágrafo único, de hoje, o trabalhador agrícola. A regra jurídica é cogente e
bastante em si. Qualquer infração dêle pela lei fá-la inconstitucionalidade.
Todos os direitos que tiverem os trabalhadores manuais tê-los-ão os trabalhadores intelectuais, ou viceversa.
Dentre os trabalhadores manuais, a regra de isonomia também prevalece. Todavia não a infringe a vedação do
trabalho continuo aos que, por exemplo, gravam miniaturas e cansam os olhos fàcilmente, nem, dentre os
trabalhadores intelectuais, aos que têm de produzir criação intelectual, O que dizemos sôbre trabalhadores
manuais estende-se aos trabalhadores pedais.

10.TRABALHO Á NOITE. Quanto ao trabalho à noite, ou de obedece a turnos, ou é suplementar, e nesse caso
quer a Constituição que seja retribuído com remuneração superior à do diurno. Já aqui se provê de algum modo à
espécie do art. 157, V (trabalho de mais de oito horas), pois que trabalho noturno se há de definir todo trabalho
depois das dezoito horas. O que fica sem provimento constitucional, considerando-se normal o comêço do
trabalho às seis horas da manhã, ou depois, éo trabalho posterior às oito horas posteriores, não-contadas as
destinadas às refeições e a descanso.
No caso de turnos, ou turmas, o trabalho à noite não é suplementar, apenas substitui o trabalho diurno. A
remuneração, é igual. Se o serviço não é feito por turnos, exige a Constituição que a remuneração seja superior.
Nem os atos jurídicos, nem as leis, podem, aí, mudar o que quer que seja na regra constitucional. Surge, porém,
questão importante: ~,pode ser igual à remuneração do trabalho diurno a remuneração do trabalho noturno
quando a turma da noite só é da noite e a turma do dia só é do dia? Se interpretássemos nesse sentido a
Constituição, teríamos desigualdade de salários, contra o princípio “a trabalho igual, salário igual”. O trabalho
noturno é,. por definição, mais pesado; pode ser remunerado acima do trabalho diurno. Aliter, se menos tempo
dura o trabalho noturno, compensadoramente A Justiça pode examinar os casos.

§ 5.070. Participação do empregado nos lucros da empresa

1.PROBLEMAS CONCERNENTES Á PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS. A participação nos lucros da


emprésa, por parte do trabalhador, obrigatória e direta, foi o ponto mais nôvo da Constituição de 1946, no tocante
à parte econômica. Apenas, em vez de conceber o principio como bastante em si, o legislador constituinte
deixou-o com o caráter de princípio dependente de lei: “nos têrmos e pela forma que a lei determinar”.
Naturalmente essa participação tem de obedecer: a) à exigência de ser obrigatória, e nao facultativa (a líbito do
trabalhador ou do empregador); b) à exigência de ser direta; c) ao princípio de igualdade perante a lei ou de
isonomia (art. 141, § 1.0), inclusive na sua aplicação especial do art. 157, II; ti) ao princípio da substantividade da
Participação isto é, não ser dependente de votos dos empregadores ou acionistas. A participação pode ser
proporcional ao salário, ou conforme a produção do trabalhador, ou conforme anos de serviço, ou variável
conforme a frequência do trabalhador.
Temos de enfrentar, primeiro, o problema no plano econômico A razão é de método. A Constituição de 1946 não
define a participação nos lucros. No Congresso Internacional de Participação nos Lucros, reUnido em Paris, em
1889, tentou-se definir: convenção, livremente feita, pela qual os empregados recebem parte, pré-fixada, dos
lucros (“agreement freely entered into, by which the employees receive a share, fixed in advance, of the profits”).
O Congresso Internacional já concebia o direito e o dever, a pretensão e a obrigação, resultantes do acôrdo; porém
não excluia o acôrdo no plano somente moral. Dai a sua política de juridicizar êss~ acôrdos até então fora do
mundo jurídico.
A Comissão do Senado dos Estados Unidos da América pi ocurou ver mais de perto os fatos da vida industrial, a
que se chamou participação nos lucros, e definiu profit sharing (1989) como “todos os planos de benefício ao
empregado pan o qual o empregador contribui com alguma soma ou devido ao qual o empregador acarreta com
alguma despesa”. Se, por um
lado, essa definição apanha fatos que a definição do Congresso Internacional não atingia, por outro lado, abrange
outros, que não cabem no conceito de participação nos lucros (e. g., as verbas distribuídas discricionàriamente
pelos diretores e gerentes,. sem fixação prévia de quota para os beneficiados).
A Council of Profit Sharing Industries apontou dez planos básicos de participação nos lucros: 1) os planos de
percentagem em dinheiro sôbre os lucros, adicionada aos salários e distribuída periôdicamente; 2) os planos de
percentagem para aposentadoria, acumulada em fundo fiduciário; 3) os dividendos-salários (wage dividends),
nos quais a percentagem da participação nos lucros é determinada pelo dividendo pago aos acionistas; 4) as
participações em ações, nas quais o empregado se faz acionista (stockownership) ; 5) os planos de. bonificações,
periódicas distribuições de lucros, conforme vários critérios; 6) os planos contributórios para pensões, de
ordinário mediante contribuições de empregadores e de empregados; 7) os planos não-contributórios, a que só o
empregador provê;
8) o plano de salário anual, em que aos empregados se assegura certa renda anual; 9) os planos de participação na
produção, em que os empregados recebem parte de quanto determinado por percentagem sôbre a produção como
todo; 10) planos múltiplos de gerência, em que o desenvolvimento pessoal dos indivíduos e sua potencial
participação na gestão são reconhecidos em processo democrático de júnior, sênior, maquinaria, executores e
outras seções, até a dos diretores.
Ressalta o intuito classificatório.
A enumeração pouco se presta à conceituação e, pois, àtipificação da participação nos lucros segundo o direito
constitucional brasileiro. Aliás, nem sempre os bonus plans (planos de bonificação) entram no conceito de
participação nos lucros,. os planos contributórios de pensão foram previstos à parte,. pelo art. 157, XVI, da
Constituição de 1946, e nem sempre os; planos de pensões não-contributórios são planos de participação nos
lucros. Outrossim, os planos de salários anuais e os planos de participação na produção. A minúcia do Council of
Profit Sharing Industries sacrificou o interesse científico da classificação, e preciso considerar-se o principio da
participação nos lucros mais o princípio ou modo de solução da dívida de participação ou de conversão.

2.LIMITES CONCEPTUAIS. A extensão do conceito de participacão nos lucros a qualquer contraprestação


acima do salário, sem se atender à aplicação dela, seria errônea. Nem se haveria de confundir a participação nos
lucros com incentivos por maior produção, ou percentagens de família, de tempo de serviço, ou de freqUência.
A técnica da participação nos lucros nasceu para elevar os empregados ao plano dos que participam nos lucros.
Sejam quais forem as variantes da sua inspiração, de que teremos ensejo de falar, a sua finalidade é de atenuar, em
física social, as diferenças econômicas entre a classe dos empregadores e a dos empregados, de modo que êsses
entrem ou possam entrar na classe dos participantes nos lucros em que aquêles se acham, incentivar, no plano
psíquico-econômico, a produtividade individual <impulso-lucro), evitando, por exemplo, as greves, amenizar, no
plano de psicologia social, as desconfianças, hostilidades e suspeitas dos empregados, e facilitar, no plano
político, o levantamento do grau cultural e biológico dos empregados, permitindo melhor funcionamento das
democracias.
É bem de ver-se que a técnica da participação nos lucros não pode surgir, nem vingar, onde quase não há lucros a
serem distribuídos, ou onde não os há; de modo que vemos aparecer e desaparecer no mesmo país,
respectivamente, nos momentos de depressão.
A participação nos lucros pode originar-se de iniciativa técnica das empresas, de per si, ou em virtude de
convicções reformadoras dos empregadores, ou de reforma social estatal. A sua finalidade pode ser afetiva,
política e econômica, e. g., respectivamente, se os empregadores têm por fito a continuação, após a sua morte, das
empresas, ou a facilitação da sua retirada, ou se combatem o desinteresse dos empregados na sorte da empresa,
levados pelo propósito único, absorvente, do aumento de salários, ou se só esperam a elevação da produtividade
individual.
Nas vésperas e após as revoluções, pensa-se, de ordinário, em participação nos lucros. 1820 e 1842, em França,
são expressivos, aquêle por ser posterior, e êsse, anterior à revolução. Os nomes de três industriais franceses
(EDMÉ LECIAntE, 1842; JEÃN GODIN, adepto de FRANÇOIS 1W. C. FOTJRRIn; e
CIIARLES 1LoBEItT, em 1878) foram de pioneiros, em tôno da revolução de 1848. O último preparou o
movimento a favor doe planos de participação nos lucros (CHARLES ROBERT, Le Partage des frulis da travail,
Paris, 1878), mas, se é certo que em 1889 havia cento e vinte planos na França, nenhum aumento se deu após: em
1924, só havia setenta e cinco. Na Alemanha,
V.E. BÓHMEItT (Die Gewinnbeteiligung, Leipzig, 1878, 1-11) via na participação nos lucros a simetrização do
empregado com o empregador. Mas foi o plano da ótica Zeiss, de que era dono ERNST ABBE, que representou
algo de realmente notável em política do trabalho. O movimento francês refletiu-se na Grã-Bretanha (JoIIN
STUART MIUL, JOIIN BRIGHT e os socialistas cristãos). Tentava-se combinar com a participação nos lucros o
cooperativismo; cria-se em que aquela seria preventivo contra as greves, sem que a experiência o comprovasse.
Por outro lado, aliava-se a técnica da participação nos lucros à de acesso à propriedade das ações, pôsto que
alguns entendessem que o acesso à direção, e não à propriedade das ações, é que poderia estabelecer o interesse
comum entre empregados e empregadores. Em 1894, apareceu o primeiro plano de participação nos lucros com
pagamento metade em dinheiro e metade em ações (concebido em 1889): o da South Metropolitan Gas Company.
Em 1926, os empregados possuíam meio milhão de libras em ações. Em 1932, havia na Grã-Bretanha 469 planos
de diferentes tipos. Mais de 350 haviam sido abandonados. Em 1923 e em 1925, o British Trade Unions Congress
condenava a inversão e a conversão em ações como “destinada a desencaminhar trabalhadores e evitar a
solidariedade dos sindicatos” (designed to mislead workers and prevent trade union solidarity).
O movimento de igualização econômica no mundo, posterior e em continuação aos movimentos de igualdade
perante a lei e aos de liberdade em contradição com a concepção materialística de desigualdade crescente
determinou as reclamações de maior salário, a criação de intensas e enérgicas organizações do trabalho e a
conseqUente intervenção do Estado na política do trabalho. Ao mesmo tempo, essas medidas, legislativas,
judiciárias ou de execução, através de comissões, conselhos e decisões ministeriais, atuaram na mentalidade dos
empregados, causando a dizimação de produtividade individual . O Estado pôs-se, então, em situação incômoda:
de um lado, o seu papel, e não só o seu interesse, em obra de paz e de coordenação, que os fatos lhe impunham,
para que a produção, o bem-estai- geral e o Estado próprio não fôssem sacrificados; do outro lado, o fato
psicológico-econômico do decréscimo de produção por indivíduo. As medidas sugeridas, para se atenuar, se não
corrigir, essa suspensão do impulso a subir, entre os empregados, às camadas dirigentes das indústrias, que o
liberalismo econômico desenvolvia, foram muitas; e uma delas, iniciada por alguns reformistas e industriais do
coméço do século XIX e retomada por alguns industriais de decênios passados, que previam ou viam o estímulo
do lucro nos empregados, foi a da participação dos empregados nos lucros. Tôda experiência, que se tem a
respeito, provém, portanto, de século de puro liberalismo econômico, sem que se possa generalizar qualquer
ensinamento: a adoção fôra esporádica, transitória; e quase sempre dependeu da indústria, do bom êxito dos
primeiros passos e de critérios de participação, que longe estavam de qualquer coeficiente percentual igual para
todos os empregados, ou, sequer, para todos os que pertenciam à mesma categoria. A escolha dos futuros
“interessados”, segundo a tradição venerável do comércio português da Europa e de além-mar, era feita pelos
donos da casa de comércio ou de indústria, pelas qualidades de caráter, espírito de continuidade e de
produtividade individual. Os seus resultados foram memoráveis. Porém o que se poderia colhêr, de informes, para
a elaboração de regras jurídicas de participação nos lucros, seria quase nada. Não fora mais do que a técnica de
seleção de empregados, vigente sob o liberalismo econômico, transplantada à seleção de continuadores das
firmas comerciais e industriais. O crescimento das empresas. com milhares de empregados, em vez de alguns
poucos, diluída, portanto, a oportunidade de ascensão de empregados a empregadores, excitara a ânsia de
aumento sur place de salários, isto é, sem ascensão dos empregados; portanto, a eliminação de tôda a conduta
para proveito futuro e por deslocamento para cima, substituida pela política do aumento constante de salário. Já
havia desaparecido a produtividade por orgulho de mão-de-obra; já se fôra a produti
vidade pelo receio de perda de emprêgo, ou, pelo menos, de demora em reemprêgo (as garantias da legislação
trabalhista foram o maior fator eliminativo dessa produtividade pelo temor de despedida). Era natural que se
voltasse a peúsar, ou, pelo menos o Estado voltasse a pensar em regras jurídicas que fizessem aumentar a
produtividade, com o esperado aguilhao da participação nos lucros. Dai as tentativas, inclusive a regra jurídica
constitucional do art. 157, IV.
A política da participação nos lucros, junta à das garantias aos empregados, apresenta aos legisladores problemas
por bem dizer desesperantes. As garantias determinaram a diminuição da produtividade individual. A
participação nos lucros, sem critério seletivo, apenas funcionaria como aumento de salário, sem ter havido
reclamação por parte das organizações de trabalho. Por outro lado, a participação, com o livre pedido de aumento
de salários, opera como absorvente do lucro, que poderia ficar reduzido a menos da taxa de empréstimos. Vale
dizer: a tal dividendo, ou lucro, que os capitais fugiriam das empresas; e os elementos operários aptos à escalada
das direções teriam de satisfazer-se com a percentagem igualitária.
A participação nos lucros, quando levada a cabo pelos dirigentes das indústrias, atende, como antes atendera, a
múltiplas sugestões peculiares a cada indústria, a circunstâncias e vicissitudes de cada uma delas. A participação
nos lucros, realizada pelo Estado, por mais minudentes que fôssem o estudo e a técnica legislativa e mais
especializadas as regras jurídicas adotadas, teria, necessàriamente, de sacrificar à generalização o que, para os
dirigentes industriais, teria sido mais significativo e mais relevante.
Em tôda empresa, como em todo bem da vida, contra-põem-se interesse individual e interesse geral. Dá-se isso,
também, no tocante à remuneração dos administradores e empregados. Naturalmente, a remuneração há de ser
conveniente a quem remunera e a quem é remunerado. A taxa das remunerações não pode ser a priori: depende de
múltiplas circunstâncias, a maior parte delas independente da vontade do empregador e da vontade do empregado
e dos empregados (abundância e escassez de empregados. fôrça econômica da empresa, inflação e deflação, valor
de produção dos empregados, etc.), O modo de retribuiçáo também varia, às vêzes de empresa a empresa
(remuneração diária, por tarefa, por peça), auxiliado por prêmios, participação nos lucros, menções de honra, e
outros expedientes que estimulem produtividade ou a melhora da qualidade produzida. Fixado o salário mínimo,
ou organizado o adiantamento sôbre o lucro a ser distribuído, noder-se-ia conceber a participação nos lucros
como modo principal de retribuição; porém é apenas, na economia dos nossos séculos, modo acessório, que se
combina com o modo principal (diária, tarefa, peça) para variante dêsse. Dai a necessidade de se afastar qualquer
influência do conceito e dos princípios que regem o salário mínimo e a remuneração ordinária.
A participação nos lucros pelos empregados somente pode atingir, plenamente, as suas finalidades, se o
empregado concorre, visivelmente para os lucros. Em grandes indústrias, o coeficiente individual quase
desaparece; só a ação de alguns chefes, ainda em subseções, aparece às estatísticas e aos inquentos. Ainda assim,
depois de bem constituídas e convenientemente dirigidas, os chefes de subseções contam pouco; cai-se numa
espécie de fácil fungibilidade de chefes, à medida que a empresa se fortalece, se consolida e funciona com tôda a
sua eficiência. Isso no exclui certo efeito psicológico nêles e nos demais empregados, a despeito da
imperceptibilidade das suas qualidades e dos seus esforços.
FREDERIC WINSLOW TAYLOR, em carta publicada após a sua morte, apontou causas do fracasso da
participação dos empregados nos lucros: a) os maus trabalhadores que sabotam o trabalho e, não obstante,
participam dos lucros, acabam por contaminar os bons; b) a recompensa do esfôrço vem depois de muito tempo
(de ordinário, fim do ano) ; c) é muito difícil repartir equitativamento o quanto participável; d) os trabalhadores
estão prontos a partilhar nos lucros, não nas perdas, e nem têm com que as partilhem. A crítica do criador do
taylorismo somente alcança a participação pura nos lucros; não atende às possíveis combinações. Por outro lado,
postula que todos sejam legitimados a participar. FREDERIC WINSI.ow TÃyysoa somente acreditava na
remuneração imediata, inclusive adicional. “o único meio de aumentar o bem-estar material do mundo é o
crescimento das riquezas, ou seja a Soma
das coisas materiais úteis ao homem. Não olvidemos que dezenove vigésimas partes da riqueza produzida no
mundo pertencem aos pobres, e não aos que chamamos ricos. Assim, todo aumento no rendimento de cada
indivíduo acrescenta proporcionalmente a riqueza do mundo e a quase totalidade dêsse acréscimo volve
diretamente aos pobres”. Visão unilateral, que contém verdades tautológicas (é preciso produzir para se elevar o
nível de todos, tôda medida que diminui, artificialmente, a produção, é errada, se essa produção era necessária),
porém teria de ser corrigida por depoimento mais concreto, como o da Ford Motor Co., sôbre o seu plano de
participação nos lucros iniciado em 1914, com cêrca de 15% a 20% de aumento voluntário da produção e a
conseqUência de fazer o empregado querer ser proprietário do seu lar.

8.ASPECTO ÉTICO-POLÍTICO. A participação nos lucros apresenta-se aos empregadores de boa formação
moral e aos reformadores sociais como um dos mais sedutores ideais de auto-organização humana. A priori, por
ela seria possível mais do que conciliar capital e trabalho: ao longo do tempo, apagar-lhes os limites, fundi-los. A
participação nos lucros pelo empregado atuaria para o acesso ao capital, ou aos seus proveitos, como a escola para
o acesso às camadas técnicas e às profissões liberais. Ésse pensamento está à base da política e da técnica da
participação nos lucros.
Não há dúvida que êsse pensamento, que está à base da política e da técnica de participação nos lucros, é digno de
tôda a atenção. Com ela, busca-se reinteressar o empregado na produtividade; inseri-lo na empresa industrial,
para que o lucre, que conduz aos dirigentes e aos que invertem capitais, também os conduza. Em verdade, porém,
não se trata de recuperar êsse impulso; trata-se de criá-lo. Em vez do impulso-orgulho, ou do impulso-temor de
perder o emprêgo, o impulso-lucro, na ordem capitalística e à semelhança dos capitalistas.
Todavia, cumpre advertir-se em que a participação nos lucros pode não ser participação futura no capital. Então,
se o propósito político foi apagar as linhas discriminativas das classes, conciliar, ou, ao longo do tempo, fundir
capital e trabalho, o piano de participação nos lucros falha. Os empregados. continuam só empregados, talvez
mais hostis ao sistema da empresa privada (cf. U. 5. House of Representatives, Document N. 495, Washington,
1901, VII, 644 s.) ; e organizam-se à parte, sem a reaparição da colaboração, que se fundara, em séculos
passados, no impulso-orgulho, e, nos decênios de abundância da mão-de-obra, no impulso-temor.
A participação nos lucros não é impraticável; nem seria saída para os legisladores ordinários, uma vez que a
Constituíção a pôs por princípio, a alegação da sua impraticabilidade. Verdade é, porém, que, ainda em países que
dispõem de dados estatisticos, experimentações e informes extremamente aperfeiçoados, se confessa que o
problema da participação nos lucros tem de enfrentar tremendos obstáculos ao ter-se de resolver (e. g., ROBERT
L. ROWE, Profit-Sharing in Industry, Harvard Businesa Review, setembro de 1949, 559 s.). HEmu FAYOL, no
seu livro clássico sôbre administração industrial e geral, fala de se haver tropeçado, até hoje, com dificuldades de
aplicação invencíveis.

4. “RATIo LEGIS” DO ART. 157, IV, DA CONSTITUIÇÃO DE 1946. Inserta na Constituição de 1946, a
participação de lucros tem de ser lei; o que importa é que a lei não arruine as indústrias e, pois, não repercuta
contra os empregados, seja concebida em têrmos que satisfaçam ou possam satisfazer as finalidades que a
Constituição implicitamente lhe atribui e não viole outras regras jurídicas da Constituição.
Certamente, na grande empresa, o que se tira para a participação nos lucros é muito para a empresa e, distribuído
por milhares de empregados, pouco. Pouco, principalmente se atendermos a que, em todo o mundo, o “aumento”
dos salários, nos últimos trinta anos, é soma superior, de muito, à soma dos dividendos distribuídos aos acionistas.
Para os que reputam sem solução a luta de classes, a argumentação contra a participação nos lucros é fortificada
pelo interesse maior do empregado no salário e nos seus aumentos; porém, desde que se admita solução, não há
como considerar-se fora de cogitações, por impraticável, ou difícil, ou ilusória, a participação dos empregados
nos lucros. Atitude de proscrevê-la é, técnica e politicamente, evidentemente grave.
Partiu da França, em 1820, o primeiro plano de distribuIção de parte dos lucros; mas havia o princípio de seleção.
Seguiu-o a inversão de lucros distribuídos em fundo de pensão. Outros planos surgiram na Grã-Bretanha, onde
um dos primeiros (1860) durou dez anos, terminando por uma greve. Nos Estados Unidos da América, no fim do
século passado, o número dêles ascendeu a oito dezenas, e baixou, em 1896, a 4oze. Em 1899, França (822),
Grã-Bretanha (94), Alemanha (47) e Suíça (14) foram os países mais afeiçoados, seguidos dos Estados Unidos da
América (28>.
A reação psicológica dos empregados não foi a que se esperara. Os trabalhadores organizados e os seus líderes
viam na técnica da participação nos lucros expediente político para evitar a solidarização dos empregados em
suas uniões e sindicatos, disfarce para manter os salários baixos e propósitos de igualização dos empregados para
atenuar as diferenças entre êles, no tocante a qualidades pessoais. Observou-se mesmo, em algumas empresas,
que a participação nos lucros, em vez de aproximar os empregados e de apagar suspeitas de classe a classe, os
afastou e tornou mais desconfiados.
Grande número de economistas tem a participação nos lucros como expediente politicamente errado ou ilusório;
quer dizer: ainda que se distribuam lucros a empregados, o resultado psicológico e econômico, que se espera,
nunca é atingido; o empregado recebe a sua quota como parte (em separado) dos seus salários; a relação
empregador-empregado é irredutível; a empresa não é pessoa coletiva de empregadores e empregados, e nunca o
será; a labour-copartn,ership, ou participação nos lucros, Gewinnbetciliqung, apenas seria esperança, augúrio de
empregadores (e. g., FRANZ OPPENHEIMER, Theorie der reincn und politischcn Oekonomie, 43 ed., 160 s.).
Os argumentos mais cerrados partem do materialismo histórico e dos capitalistas sedentários. Nos Estados
Unidos da América, por exemplo, o movimento em prol dos planos de profit sharinq vem sempre dos
acionistas-gerentes, isto é, não-sedentários.

5.NATUREZA DA REGRA JURÍDICA CONSTITUCIONAL. A Constituição de 1946, art. 157, IV, obriga a
fazer-se lei sôbre participação nos lucros. Não é simples regra programática, pois que, no art. 157, se diz que a
legislação do trabalho e a

de previdência social hão de obedecer a alguns princípios, define os quais está o da participação nos lucros.
Apenas, não é regra auto-executável, ou, melhor, bastante em si, precisa de lei ordinária. Qualquer dos podêres
pode reclamar a feitura de tal lei.
Antes de quaisquer considerações sôbre a participação dos empregados nos lucros, deve-se advertir em que: a)
em tôdas as épocas da história do trabalho livre houve participação dos empregados e aprendizes nos lucros,
embora às vêzes somente no plano moral, ou por ato de manifestação unilateral de vontade, revogável; 14 era
participação nos lucros o que o empregado recebia (e ainda hoje se usa), tirado de verba que o empregador, pessoa
física ou pessoa jurídica, destinava a ser repartido por êle mesmo, ou por alguma comissão, ou por seus gerentes,
ou chefes de serviços, aos empregados, ou a alguns dêles, discricionàriamente, ou segundo regras de seleção.
Todavia, êsses métodos se foram diferenciando; e participação nos lucros, „participation azia, bénéfices,
Gewinnbeteiligung, pra fit sharíng, já se contém em conceito preciso, limitado pela função político-social, ou
político-econômoco-social, que se lhe atribuiu, desde o comêço do século XIX, nos próprios planos da
participação nos lucros.
As diferenças entre os graus de evolução econômica refletiram-se na espécie e maneira de participação nos lucros
pelos que trabalham. A participação nos tempos primitivos, quando ainda não se apresentava diferença entre
detentores de capital e trabalhadores, não era participação, mas comunhão. Com os grupos sociais, em que havia
simetria de centro ou de planos, as formas matriarcais e patríarcais haviam de surgir. Já se podia falar de
participar, em vez de partir o comum. Quando se parte, cada um recebe a parte, que é sua; quem participa é apto,
está em posição de tomar (capere) a parte que lhe toca. A parte do comuneiro, na comunhão pra indivisa e na
comunhão pra divisa, é sua, não precisa de estar apto a tomá-la o que tem z~ ou z; já a tem. Participar, não; é estar
a tomá-la: participare tem o mesmo étimo que aceitar, capturar, capaz, ocupar.
Advirta-se, outrossim, em que a participação nos lucros não tem sido, até aqui, objeto de convenções coletivas de
traballa, nem de obras de doutrina que estudassem a fundo a intervenção do Estado nas indústrias, para assegurar
essa participação, e lhe precisassem o conteúdo. Não foi sem causar perplexidade a muitos que se inseriu o art.
157, IV, da Constituição de 1946 (art. 157: “A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão aos
seguintes preceitos, além de outros que visem à melhoria da condição dos trabalhadores:
IV participação obrigatória e direta dos trabalhadores nos lucros da empresa, nos têrmos e pela forma que a lei
determinar”). O legislador constitucional teve o pensamento de atenuar a luta de classes, admitindo, com alguns
reformadores sociais, que se pode interessar o empregado na sorte da empresa e na sua escala de lucros. Êsse
pensamento vem sendo divulgado, propagado, experimentado, milhares de vêzes, nos povos ocidentais, e
conforme veremos não merece a censura de certos economistas, nem a repulsa dos trabalhadores. Apenas, o
problema, que êle envolve, é extremamente complexo, quer no plano econômico, quer no plano político, quer no
plano jurídico, quer no plano psíquico.
Durante a guerra, o govêrno federal dos Estados Unidos da América interessou-se pelos pressupostos com os
quais poderiam funcionar os planos de participação nos lucros. A estabilização dos salários sugeriu aos próprios
empregadores aumentar, pela participação dos empregados nos lucros, a contraprestação. A despeito da
industrialização intensa daquele país, não se cogitou de fazer obrigatória a participação nos lucros, menos ainda
de se prever e se impor a medida em texto constitucional.
Quem quer que admita harmonização dos interesses do capital e do trabalho, ou não queira apenas o lucro
presente, abstraindo de qualquer preocupação com o futuro, tem de procurar fórmula que abra caminho. Se o
trabalhador, que tem o seu salário, concorre para aumento da produção, é justo que se lhe compense êsse pina
(economia de tempo, maior atenção) ou com salários adicionais individuais ou coletivos (há plus que não
depende só de um individuo, mas da seção ou subseção>; ou pela participação nos lucros, individual ou
coletivamente.
A participação dos lucros distingue-se dos sistemas de distribuíção, pelas empresas, de Unus ou de ações, em que
esses planos, usados nos Estados Unidos da América, não são relacionados, necessâriamente, com o lucro; e, a
fortiori, da quota dos diretores e gerentes nos lucros da empresa, a que falta a extensão ao pessoal, ou parte dêle,
que caracteriza a participação nos lucros (LYLE W. COOPER, Profit Sharing, Encyclopaedía of Social Solenizes,
XII, 491). Se a participação nos lucros se combina com a inversão em ações, debêntures, ou outros títulos de
sócios, ou de comunhão pro diviso ou pro rndiviso, não deixa de ser participação nos lucros; apenas se junta a
outro princípio, como modo de solução da divida de quota nos lucros, ou como conversão necessária, por efeito
negocial ou puramente legal.

6.CONCEITO DE PARTICIPAÇÃO “OBRIGATÓRIA” NOS LUCROS.


A participação nos lucros pode ser a) a líbito dos empregadores (é usual fixar-se, ou pré-fixar-se o que se
distribuirá de bonificação de fim de ano, nas indústrias), b) por dever ou por ato unilateral, ou convenção (o que
é raro), isto é, em virtude de negócio jurídico, ou d) como eficácia de fato jurídico, em virtude de incidência de
regra jurídica sôbre suporte fáctico (Tatbestand) em que há os elementos “empresa”, “êmpregadores”,
“empregados”, “lucros”. A eficácia de tal fato jurídico compõe-se de direito de participar, dever de dar
participação , pretensão a participar, e obrigação de prestar o quanto da participação ao empregado. Diz-se no art.
157, IV, participação obrigatória a participação que não entra ou não entra somente nas espécies a), ou 14, ou e).
É o com pulsory profii sharing.
A participação em virtude de negócio jurídico gera direito e dever, pretensão e obrigação de prestar. A
participação em virtude de lei cria direito e dever, pretensão e obrigação, independente de qualquer convencão ou
ato unilateral.
Assim, se a legislatura ordinária dissesse: “Quando as empresas incluírem nos seus estatutos, ou deliberarem
conceder participação, obedecerão às seguintes regras”, teria deixado de respeitar o art. 157, IV, verbis
“participação obrigatória”, porque a teria concebido como facultativa, conteúdo de autonomia da vontade,
quando a Constituição de 1946 a previu “obrigatória”, vale dizer de direito cogente. Há de haver em qualquer
empresa, que apure lucros. participação nos lucros.
Os reformistas do século XIX pensaram em tornar obrigatória (compulsória, cogente) a participação nos lucros.
A tendência acentuou-se de 1919 a 1924, na França, na Tchecoslováquia, na Itália, na Noruega, em Portugal e
noutros países. Culminou no art. 157, IV, da Constituição de 1946.
Para que possa surgir o conceito de participação nos lucros, é preciso que haja quem tenha todo o capital, ou parte
dêle (propriedade única, comunhão, sociedade, usufruto, etc.), e quem, embora não seja dono, nem sócio,
participe. Os lucros da empresa são dela, à medida que se produzem, como frutos; o direito à participação nos
lucros é direito a parte dos frutos, não é direito, como o do proprietário, ou o do usufrutuário, ou outro titular de
direito de que provenham frutos. Há aquisição originária da quota de participação, não como frutos, e sim como
eficácia do fato jurídico de ter o empregado satisfeito os pressupostos para participar dos lucros. Não há direito
real, como o do dono dos lucros; há direito pessoal contra a empresa. A técnica jurídica é que pode cercar de
segurança e garantias êsse direito pessoal. Pode mesmo concebê-lo como direito real, mas, para isso, teria de
proceder a alterações profundas no direito civil e no comercial. Seria, em boa técnica jurídica legislativa,
contra-indicado, sôbre ser econômica e socialmente pernicioso. Algumas vêzes haveria direito real a favor de
participantes, e não de sócios. A solução, de iure condendo, é a do privilégio creditório. Isso não quer dizer que
não se tenha direito real dos participantes desde o momento em que, se a lei estatui, tenha a empresa de depositar
as quotas devidas.
O ter de ser obrigatória, pela Constituição de 1946, art. 157, IV, a participação dos empregados nos lucros não
significa que todas as regras, contidas na lei que o inciso IV previu, tenham de ser cogentes. A Constituição de
1946 satisfaz-se com ser cogente, pelo menos, uma das regras jurídicas. “~ obrigatória nas empresas de fins
lucrativos a participação direta dos empregados nos lucros”. Em verdade, há, aí, várias regras jurídicas. “Há a
participação dos empregados nos lucros”, “Não fica a líbito das empresas admiti-la ou não”, “A participação dos
empregados nos lucros há de ser direta”. Tudo mais pode ser em regras jurídicas dispositivas ou interpretativas,
ficando à autonomia das empresas ou das empresas e dos empregados edificar o seu plano. Se essa autonomia
deve ser menor, a lei ordinária, por influência das correntes políticas (dos partidos), é que resolve. A Constituição
de 1946 entregou-o à legislatura ordinária.

7.CONCEITO DE PARTICIPAÇÃO “DIRETA” NOS LUCROS. A Constituição de 1946, art. 157, IV, falou de
participação “obrigatória” e “direta”. Já vimos o que é participação obrigatória; vejamos o que se há de entender
por participação direta. Direta é a participação nos lucros que vai da empresa ao empregado, ainda que a quota
seja inalienável, temporàriamente ou vitaliciamente, ou invertida em algum bem (ações, debêntures, prestações
de terreno, casa, apartamento, etc.), ou nêle convertida. Para que a participação nos lucros não opere como
simples elevação legal dos salários, seria preciso que os lucros distribuídos se invertessem ou convertessem em
ações da empresa, ou se invertessem ou convertessem em alguma obra ou serviço. A inversão ou conversão pode
ser eliminadora ou não-eliminadora da participação direta: eliminadora, se o beneficiado não percebe e não
conserva a sua retribuIção em lucros, ou o que a ela corresponda; não-eliminadora, se a percebe e conserva, ou
recebe e conserva o que a ela corresponda. A, percepção em ações (inversão), ou em quota que se destine a ações,
por aquisição na bôlsa, ou em subscrição automática em aumento de capital (conversão), é participação direta. A
percepção em ações ou quota que se destine à criação de hospital para os empregados e seus filhos e herdeiros não
faz, só por si, indireta a participação nos lucros.
Sugeriu-se a criação de organismo sindical ou assistencial, a que fôssem os quantos dedúzidos, para ser
distribuído o total pelos empregados das empresas, dentro de critérios de área e de produção. Essa solução, sôbre
ser contrária às finalidades da participação nos lucros e ensejo para mais um Instituto, com tôdas as suas
conseqúências desmoralizadoras do poder público perante empregados e empregadores, atentaria, abertamente,
contra o art. 157, IV, da ConstituIção de 1946, que foi clarissimo no exigir a participação direta nos, lucros.
um dos pontos principais de tôda a exposição do direito constitucional brasileiro sôbre a participação dos
empregados nos lucros: o da exigência constitucional de ser direta a participação. O texto da Constituição de
1946, art. 157, IV, é claro; e o seu conceito faz parte da garantia institucional que no art. 157, IV, se contém. Com
ela, como com todas as demais garantias institucionais, o fito legal é a proteção de certa instituição, que a regra
jurídica, que a estabelece, delineia. O que se assegura não é alguma coisa, que preexiste ao Estado, mas alguma
coisa como o Estado mesmo a concebe. O haver regra jurídica que a faça obrigatória (compulsória) é essencial;
bem assim o ser direta.

8.COMBINAÇÕES DA PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS COM OUTROS INSTITUTOS. ,~, Quais as


combinações da participação nos lucros com algum modo de solução, ou de conversão, que não leve a tornar-se
indireta a participação? A combinação da participação nos lucros com algum modo de solução, ou de conversão,
pode levar a ser indireta a participação nos lucros, o que, no direito constitucional brasileiro, é extremamente
delicado, porque, tendo a Constituição de 1946, art. 157, IV. impôsto à legislação do trabalho “a participação
obrigatória e direta dos trabalhadores nos lucros da empresa”, a regra legal, que estabeleça a participação indireta,
tem de se considerar contrária à Constituição e, pois, decretável a sua inconstitucionalidade, no que torne indireta
a participação. A participação em si mesma pode ser indireta, e então é ela e não o modo de solução ou de
conversão que atenta contra a Constituição; e. g., a legislação do trabalho estabelece que o sindicato (união) de
empregados perceberá x% dos lucros da empresa, ou que v% dos lucros da empresa será destinado a obras de
previdência social. A participação nos lucros é indireta, devido ao modo de solução, se frustraria a proibição da
participação indireta nos lucros, em si mesma. Diga-se o mesmo quanto à conversão. Por onde se vê que o modo
de solução diferente do pagamento em dinheiro e a conversão nem sempre importam tornar-se indireta a
participação nos lucros.
Na França, onde a participação nos lucros mais cedo se desenvolveu no século XIX, de ordinário se combinou
com a aquisição de patrimônio, ou com o fundo de pensões. Quanto à primeira combinação, de modo nenhum se
choca com a Constituição brasileira de 1946, art. 157, IV. Quanto à segunda, seria bis in idem em relação à
técnica da previdência social,mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da
maternidade e contra as conseqUências da doença, da velhice, da invalidez e da morte”, de que fala o inciso XVI
do art. 157, e à técnica do seguro pelo empregador contra os acidentes do trabalho (art. 157, XVII). Essas técnicas
são mais recomendáveis, porque não deixam depender doa lucros essas medidas que são essenciais à subsistência,
à produtividade, à saúde e à prole. Daí a preferência por elas, no tocante a quaisquer pensões, máxime se a
legislação do trabalho já tomou êsse caminho.

9.SOLUÇÃO DA DIVIDA DE PARTICIPAÇÃO. A solução da dívida de participação nos lucros pode ser: a)
em dinheiro, tal como ocorre com os portadores de ações, ou sócios, ou dono da empresa; b> em ações ou quotas
na empresa, desde que a lei ou os estatutos prevejam a automaticidade; o) em dinheiro a ser convertido em ações
ou quotas, quando se aumente o capital, ou se possam adquirir; d) em dinheiro que fique, durante certo tempo, a
juros na empresa; e) em ações ou em dinheiro a ser convertido em empresas que sejam completamentares da que
distribui lucros (e. g., a empresa gráfica para servir à fábrica que depende z por ano em trabalhos gráficos). Bem
que o ser direta ou indireta a participação dos lucros, na espécie e), dependa de circunstâncias, só verificáveis in
concreto, êsse e outros modos de solução não implicam que se torne, com a combinação, indireta a participação
nos lucros.
Além dos tipos a) a e) de participação nos lucros, há o tipo de lucros depositados em fundo especial, de ordinário
fiduciário irrevogável (e. g., fundação>, para distribuição sob certos requisitos. o “defered-distribution or trusteed
type”, onde se acham quase tôdas as espécies de participação indireta.

10.PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E PRINCIPIO DE ISONOMIA.


No art. 141, § l.¶ a Constituição de 1946 insere o princípio de isonomia ou de igualdade formal: “Todos são
iguais perante a lei”. Tal princípio exige que as leis tratem igualmente as pessoas a que beneficia. Não impõe,
todavia, igualdade material. No art. 157, IV, é à lei, nos seus têrmos e pela forma que ela determinar, que se
atribui estabelecer a participação obrigatória e direta do trabalhador nos lucros. Trata-se, portanto,
J
de garantia constitucional dentro da lei, garantia a que a lei há de dizer os pressupostos objetivos e subjetivos.
Funciona como promessa da Constituição e exigência à legislação do trabalho, sem que se hajam preestabelecido
normas gerais, menos ainda quais os princípios que hão de ser combinados com o principio da participação nos
lucros. Êsse princípio não se formou, através do século XIX e da metade do século XX, como princípio
necessàriamente sujeito ao de igualdade perante a lei; a fortiori, como princípio igualitário. Em vez de funcionar
como igualizador dos beneficiários (e aí estaria a obedecer ao princípio de igualdade perante a lei), funciona
como igualizante entre beneficiados e beneficiadores, entre empregados e empregadores. Mesmo porque, ainda
quando alcance a todos os empregados, o princípio da participação nos lucros pode (e essa é a forma mais
freqUente) funcionar como agravador da desigualdade entre ê]es, como se é percentual a base do salário anual, ou
tempo de serviço, ou segundo quotas de produtividade, ou segundo graus no quadro do pessoal. Seja como fôr,
em si e em sua função, o principio da participação nos lucros nunca foi, nem é, igualitário, nem tem de obedecer
ao princípio de igualdade material, nem teve de obedecer ao princípio de igualdade formal.
Quanto aos beneficiados e à sua legitimação à participação nos lucros, a Constituição de 1946, art. 157, IV,
deixou a lei dizer quais os legitimados à seleção, quais os critérios de seleção, ou preferir juntar ao princípio da
participação nos lucros o princípio de igualdade formal, ou, até, material. A escolha, de iure condendo, é matéria
de discussão e atitude dos partidos políticos e de discussão e votação no Congresso Nacional. Se a medida viola
algum outro princípio constitucional, é outra questão.
Aliás, a experiência ainda não se fixou. Ora os planos te participação nos lucros rumam para a legitimação total,
percentual a quota, ou desigualmente percentual, ora preestabelecem os graus ou camadas de empregados
legitimados e participantes, ora os graus ou camadas de empregados legitimados dentre os quais, por seleção,
estão os participantes. Ao legislador ordinário é que cabe edictar as regras jurídicas sôbre quais são os
legitimados-participantes, ou separar os pressupostos subjetivos e objetivos de legitimação e de participação. A
Constituição de 1946, art. 157, IV, não revelou qualquer preferência, ainda programática: estatuti que a legislação
do trabalho obedecerá a alguns princípios, dentre os quais o de participação obrigatória e direta do trabalhador.
Alguns dêsses princípios são conceptualmente beneficiantes de todos (e. g., salário mínimo, com as variações a
que o próprio art. 157, 1, alude; duração diária do trabalho, art. 157, V, cujas exceções a lei há de prever) ; outros,
simples enunciados particulares de princípio de igualdade material (art. 157, II:
“proibição de diferença de salário para um mesmo trabalhador por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado
civil”). O princípio de participação nos lucros precisa existir na legislação do trabalho: o Presidente da República
pode vetar, por ser contrária à Constituição de 1946, art. 157, IV, tôda a legislação de trabalho que não no
contenha (art. 70, § 1.0). Não há, porém, inconstitucionalidade do projeto de lei que não faça coincidentes a
legitimação à participação nos lucros e a participação: legitimados podem Ser todos, ou os que hajam preenchido
certos requisitos (e. g., dois anos de serviço; frequência de pelo menos x dias, no ano; não ter sido suspenso do
serviço por ato culposo ou omissão culposa; os que tenham os x primeiros lugares em produtividade individual>,
ou os que pertençam ao quadro de empregados escolhidos por seus pares como legitimados. Já ai, em algumas
espécies, aparece o principio de seleção; e, haja-o ou não, o legislador pode satisfazer-se com a
legitimação-participação, ou separá-las. Se as separa, o princípio de seleção intervém ou reintervém para
determinar quem há de participar.
O texto da Constituição de 1946, art. 157, IV, não postulou a participação de todos, nem, sequer, a legitimação de
todos. Certamente, a lei que excluisse alguns trabalhadores, por motivo de idade, sexo, nacionalidade, estado
civil, seria contrária à Constituição de 1946, art. 141, § 1.0. Outrossim, a que 80 permitisse a legitimação dos
empregados da seção A, ou da categoria 13. A expressão “participação obrigatória” não deve ser entendida como
“participação de todos”, e sim como “existência obrigatória de plano de participação nos lucros”. Obrigatória é a
participação: não, a generalidade dela. O problema constitucional é menos simples a respeito da legitimação a ser
participante, se a lei separou legitimação e participação.

11.REQUISITOS PARA LEGISLAÇÃO ACERTADA. São requisitos para boa lei de participação nos lucros: a)
que não se‟ afaste dos princípios constitucionais, principalmente dos arti gos 145, 141, § 16, e 157; b) que os
empregados compreendam como se forma o lucro dedutível, como se forma e se deduz o quanto participável,
como se determina a quota de participação e se procede à distribuição; c) que sirva, ou, pelo menos, possa servir
ãs finalidades com que a Constituição concebeu a participação nos lucros; d> que a participação nos lucros seja
suportâvel, objetivamente, pela empresa, e objetiva e subjetivamente, pelos acionistas (não é preciso somente que
seja objetivamente razoável o dividendo, é preciso que os acionistas não temam as eras más e não prefiram vender
a paises estrangeiros ou a outras unidades do país a maquinaria); e> a produtividade individual é que deve ser o
critério para as quotas de participação, mais do que o tempo de serviço (ROBERT L. ROWE, Profit-Sharing
Plans ín Jndustry, Harvard Business Revieiv, setembro de 1949, 583: “The increase in individual productivity and
a realization that ultimately compensation must be based on the individual employee‟s contribution rather than
more time on the job”).
A França (1919), a Tcheco-Eslováquia (1920), a Itália (1921), a Noruega (1922), Portugal (1923), a Colômbia
(1923) e a Nova Zelândia (1924> pensaram em participação. obrigatória nos lucros. Também a Bélgica, a
Inglaterra e outros. países. Alguns chegaram a legislar. A Rússia afasta-a, como essencialmente capitalistica. O
Brasil pó-la em regra jurídica. constitucional. Diz-se que ela é impraticável; alude-se ao abandono dela, a cada
momento, em todos os países. Maior responsabilidade do que considerá-la necessária é estabelecê-la em. têrmos
que levem à demonstração do seu fracasso. Têm razão os que o atribuem a não se ter planejado com os princípios.
certos (“correct principies”), inclusive o não se ter resguardado o lucro do que “arriscou” o capital e o não se
atender a. que a participação dos empregados nos lucros não importa participação déles nas perdas, e é preciso
assegurar-se a cobertura.dessas perdas eventuais, antes dos dividendos e antes das quotas de participação.
Os impostos e taxas são deduzidos dos lucros para se achar o lucro dedutível. Nem se compreenderia que se
tomasse por base lucro que ainda vai ser desfalcado. Aliás, já o substitutivo da Comissão de Legislação Social
(art. 4.0) fôra explícito a dase respeito e quanto à percentagem mínima de remuneração ao capital:
“Consideram-se lucros, para os efeitos desta lei, os que sejam tributáveis pela Divisão do Impôsto de Renda,
dedúzido~ do seu montante, além da importância do impôsto, 8% do capital da empresa para remuneração desta”.
Todavia, projeto e substitutivo revelaram pouca ciência da materia.
A lei precisa ater-se à natureza e à estrutura normal da participação nos lucros. Os participantes não são em
relação jurídica recíproca. São em relação jurídica com a empresa. Ai é que as diversas relações jurídicas, em
feixe, se tocam, mas sem se estabelecer relação jurídica a múltiplos sujeitos. Tal relação jurídica somente poderia
surgir se a) a convenção a criasse, multilateralmente, em participação negocial nos lucros; ou se b) o entendesse
fazer a lei, o que não é de esperar-se. Se não há b), nem a), cada relação jurídica é só entre o participante e a
empresa. Por isso mesmo, não há pensar-se, de modo nenhum, em personalidade jurídica dos participantes.
A participação nos lucros não se vai desenvolvendo à medida que idealmente se vão formando os ganhos e as
perdas; nem se pode dizer que o empregado é participante nos lucros e perdas. Tanto que, se se retira no comêço
do período, ou morre, ou cai em incapacidade, ou inaptidão ao trabalho, o empregado, não recebe o que, ao tempo
da desligação, era lucro líquido; tem de receber o que corresponde ao tempo em que serviu, sôbre os lucros
dedutíveis; portanto sôbre o quanto participável, pra rata.
A participação nos lucros segundo o art. 167, IV, é direito criado por lei, direito acessório do contrato de trabalho,
como a participação nos lucros, na chamada associação em participação, o é, pósto que fundada em negócio
jurídico.
Porque a soma dos participantes, na participação nos lucros, não é pessoa jurídica, não tem nome, nem domicílio;
nem representação processual ou . extraprocessual. Qualquer ação dos participantes, ou contra êles, é ação de ou
contra cada um dêles; pôsto que, no tocante às questões relativas à formação do lucro dedutível, ou do quanto
participável, haja litisconsórcio necessário. Não no há se a questão e sobre a quota de participação de algum
dêles. (A lei pode criar comunhão de interesses entre empregados legitimados. à participação nos lucros, à
semelhança, por exemplo, da que existe entre portadores de debêntures, conforme o Decreto-lei n. 781, de 12 de
outubro de 1938.)
Entre os empregados participantes não há, de ordinário, relação jurídica. Se um recebeu mais do que devera
(pagamento indevido), e outro ou outros, menos, acionada é sempre a empresa. Não há razão para se invocarem,
por analogia, regras jurídicas concernentes à comunhão ou à sociedade. As relações jurídicas entre êles ou
provêm de regras jurídicas especiais, ou de regras insertas negocialmente no plano de participação nos lucros; ou,
em caso de concorrência de pretensões ou ações, com insuficiência do patrimônio da empresa, das regras
jurídicas que concernem à situação concursal de créditos.
Se a empresa tem apuração separada de lucros, por ser grupo de empresas (empresas reúnidas), com sócios ou
acionistas diferentes, pôsto que haja certo regime estatutário de ajuda ou de contribuição percentual para os
dividendos de todas, a participação nos lucros refere-se a cada espécie de lucros ou dividendos, tais como vão aos
sócios ou acionistas.
Em caso de perdas posteriores ao balanço, nenhuma obrigação de restituir têm os empregados. Se a lei ou o
negócio jurídico prevê adiantamento, não há restituição do que foi recebido em boa fé.
Além de se ter de conformar com a natureza e a estrutura da participação nos lucros, a lei precisa ser concebida de
modo que atinja os fins que a Constituição de 1946 espera se possam obter.
A lei de participação nos lucros tem de ser concebida de modo que crie ou possa criar mentalidade de time entre
gerentes e empregados, abstraindo-se do portador de ações, que pode estar completamente ausente, e incentive o
interesse no êxito e progresso da empresa. Seria simples expediente para aumentar, anualmente, ou em menor
tempo, os salários, se não servisse ou não tendesse a servir ao encurtamento de tempo na produção, à poupança de
mão-de-obra e de material, ao desenvolvimento da eficiência e da produtividade do empregado.
Há um ponto que é digno de tôda a atenção: assim como a empresa precisa de fundo de reserva, também dêle
precisa o empregado participante para atendê-lo nos períodos de escassez de lucros. Para isso, ou se organiza
seguro, ou se inverte parte das quotas em bens não suscetíveis de destruição ou consumo (e. .q., casa para o
trabalhador).
A participação dos empregados nos lucros, sem seleção e sem encorajamento do aperfeiçoamento técnico dos
empregados, é expediente de bis in idem dos salários, sem qualquer significação econômica, social, psicológica,
política ou técnica e de prováveis conseqUências prejudiciais.
A técnica da participação nos lucros tenta aproximar, efetiva, econômica e politicamente, empregados e
empregadores; a técnica da cooperativa de produção, subordinar o capital ao trabalho. A técnica ordinária é o do
salário contraprestação correspondente ao trabalho, “juros” (interesse) correspondentes ao capital, e excedente,
que se atribui ao que é empresário ou êle distribui a si mesmo e aos capitalistas. Donde terem de ser tirados aos
lucros a remuneração do capital como tal, e as comissões dos que são empresários <ditos, nas sociedades,
diretores, administradores, gerentes), se não foram computadas nas despesas; o que se entrega aos acionistas,
acima do interesse do capital, é pela iniciativa e risco das indústrias e do comércio. A rigor, o salário está pago, e
nenhum direito tem o empregado sôbre o resto: a sua atitude, nas uniões e sindicatos, em prol da elevação dos
salários e contra a participação, mostra que é êsse o seu modo de ver; reputa injusto ou justo o salário, e não
indevida ou devida a participação. Não deixa de haver, nessa atitude, resquício da economia paternal, em que a
participação era presente de Natal, ou de Ano-Bom, e do liberalismo econômico do século XIX, com as suas
nítidas distinções políticas entre empregadores e empregados, onde insuficiente a igualdade perante a lei. É
preciso, portanto, para que a participação nos lucros surta bons efeitos, que se combata, nos trabalhadores, êsse
resto de mentalidades superadas, que se acentue a política, a que ela visa, de oferta
de iguais oportunidades a todos e se lhes mostre como pode crescer a porção de lucro participável e qual o papel
de cada um para o atingir e lograr, em conseqUência, o aumento do que percebe ou pode perceber como
participante.

12.LUCROS DE QUE SE DEDUZ O QUANTO PARTICIPÁVEL. Lucros dedutiveis são os lucros de que se vai
deduzir o quanto participável, isto é, de que se subtrai o quanto destinado a solver, segundo terceiro critério de
determinação, a quota de participação de cada empregado legitimado.
a)O problema da determinação do quanto participável <portion to be shared) tem de vir após a determinação do
que são lucros dedutiveis, como o da determinação da quota de participação há de vir após a solução daquele. A
ordem é, portanto, a seguinte: determinação do lucro dedutível; determinação do quanto participável;
determinação de quem participa; determinação da quota de participação.
b)A determinação do lucro dedutível pode ser: a> antes do pagamento dos tributos; b) antes do pagamento dos
tributos e de certa percentagem, mínima, aos que têm ações; e) antes do pagamento dos tributos, da percentagem
mínima dos acionistas e das verbas de previdência social não~contributórias (isto é, só do empregador) ou das
verbas de beneficência; d) antes do pagamento dos tributos, da percentagem minima dos acionistas, das verbas de
previdência social náo-contributórias, ou das verbas de beneficência e da discriminação dos dividendos
destinados a fins de economia individual ou permanentemente a fins de assistência social e valorização do próprio
trabalho; e) depois do pagamento dos tributos e de certa percentagem mínima aos acionistas; 1) depois dos
pagamentos; e) e das verbas de previdência social não-contribuição (isto é, sé do empregador) ou das verbas de
beneficência; a) depois dos pagamentos; .1) e do pagamento dos dividendos destinados a fins permanentes de
assistência social e valorização do próprio trabalho.
O inconveniente de ser determinado o lucro dedutível, antes de se pagarem os tributos, é não se poder saber a
quanto monta o lucro liquido, de modo que os problemas relativos a ferir-se, ou não, a Constituição passam a ser
questões de fato. A dedução do que é percentagem mínima dos acionistas como

emprêgo de capital é aconselhável, para que não se diminuição lucro, a ponto de emigrar das indústrias para
outros ramos improdutivos o capital empregado, ou de afastar das indústrias a iniciativa privada. Não se inverte,
sem esperança de maior lucro do que o juro dos depósitos bancários, o capital disponível. Mas êsse inconveniente
não é só de ordem econômica; é também de ordem jurídica: a redução do lucro apto ao pagamento dos dividendos
pode ser tal que importe desapropriação sem indenização (Constituição de 1946, art. 141, § 16). Quanto às verbas
de previdência social não-contributórias (isto é, fora do art. 157, XVI, e dos negócios jurídicos coletivos
sinalagmáticos), às verbas de beneficência e aos dividendos destinados a fins de assistência social e valorização
do trabalho, o problema é jurídico.

18. APLICAÇÃO DOS LUCROS E CONCORRÊNCIA DE LEIS E DE INTERESSES. Assunto nôvo, a


participação dos empregados nos lucros dá ensejo a problemas de direito que têm de ser estudados com tôda
prudência e rigor de princípios, para que não se perturbe a aplicação dos planos com as questões constitucionais
que podem surgir. Algumas delas pertencem ao capítulo da concorrência de leis (Gesetzeskonkurrenz), outras, ao
capitulo da concorrência de direitos, pretensões e ações, outras, ainda, somente às cohsões de interésses
protegidos.
a) A concorrência de leis pode dar-se quando alguma lei retira dos lucros porção para determinado serviço, ou
obra, e aos mesmos lucros se há de subtrair o quanto participáveL Solução: atende-se, primeiro, à lei de interesse
geral ou público. O interesse do empregado a respeito da sua quota de participação, bem como a respeito do
quanto participável, é interesse individual. Consequência: o cálculo do quanto participável só se faz após se
satisfazer a lei do interesse público ou geral.
A concorrência de leis pode não ser entre lei reguladora de interesses gerais ou públicos e lei reguladora de
interesses individuais (F. LENT, Die Gesetzeskonkurrenz, 1, 8 s.>. Então, ou se dá a limitação recíproca
cumulativa, ou a alternativa, ou a consumptiva; e. g.: a empresa tem convenção coletiva de trabalho sôbre
participação de lucros, ou ela é à parte da que a lei faz obrigatória (questão de interpretação daquela), ou aquela,
não sendo cumulativa, pode satisfazer às exigências da lei, e então cabe aos empregados escolher, ou aquela já se
faz para cumprir o déver e satisfazer o direito ao estabelecimento da participação dos empregados nos lucros da
empresa.
b.) A concorrência pode ser de direitos, pretensões e ações dirigidos contra a empresa. No direito comercial
brasileiro, há a figura do preposto interessado, ou do caixeiro interessado, que participa dos lucros sem ser sócio
(participação negocial, frequentemente por declaração unilateral de vontade, negócio jurídico unilateral, às vêzes
contratual, sucedânea da participação patriarcal e preforma da participação obrigatória do art. 157, IV, da
Constituição de 1946). Não é sócio, participa (Superior Tribunal do Rio Grande do Sul, 2 de setembro de 1898 e
28 de junho de 1901, D., 1901, 285; 2.~ Câmara Cível de Apelação do Distrito Federal, 8 de junho de 1910, 1?. de
D., 17, 178). Se existe algum direito, pretensão ou ação do empregado a essa participação, a concorrência já não
se dá entre Leis, mas entre direitos, pretensões ou ações. O bis in idem pode ressaltar: o preposto, ou caixeiro, que
tem salário mais “interesse” (participação), tendo participação segundo a lei, teria duas participações. Se a da lei
é superior, pode escolhê-la:
ambas são do seu interesse individual. Se escolhe a outra, que é maior ou certa, tal escolha atua, necessàriamente,
na determinação do quanto participável, porque se tem de deduzir, antes, dos lucros dedutíveis.
c)A concorrência de direitos ou a colisão pode ser externa, pela repercussão de alguma lei, ou de algum negócio
jurídico, em que não foram figurantes o empregado e a empresa, mas relativo a lucros. São exemplos: a lei que
determinasse a conversão em ações de quaisquer quotas de participação acima de ~ a cláusula estatutária que
destine x dos lucros a manutenção de hospital, escola profissional ou técnica, em benefício dos empregados e seus
filhos e agregados, ou dos empregados do bairro, vila ou cidade; a fundação, cujos meios econômicos só
provenha de dividendos, sendo a fundação de fins de interesse público, ou geral, se a lei não previu êsses casos de
destinação, por meio de negócio jurídico inter vivos, unilateral ou não, ou mortis causa, na determinação dos
lucros dedutíveis.

Tem-se de pesar os interesses. Aparecem no direito situações de tal gravidade, e ou existe hierarquia ou
graduação entre os direitos, ou se recorre a alguma solução que não cancele os direitos; se não bá, dá-se, então, a
colisão de direitos (CURT WITTKOWSKY, Die Kollisicn der Rechte, 9 s.), como problema técnico da solução
(se duas pessoas ocuparem a terra ao mesmo tempo, sem se poder saber quem a ocupou primeiro, ou até onde,
resolve-se pela comunhão pro indiviso; se houve registo simultâneo de duas escrituras de propriedade, como se
constam da partilha duas adjudicações do mesmo terreno com nomes diferentes, estabelece-se comunhão pro
indiviso).
Por mais respeitáveis que sejam os interesses dos empregados, no participarem dos lucros, são êles apenas
interesses individuais. A lei falharia aos seus fins se não atendesse a situações em que o interesse é acima do
interesse dos individuos e da soma dêles. Se os estatutos destinam x% dos lucros a mantença de hospital, ou de
escola, ou de seguros educacionais dos filhos dos empregados, essa verba é deduzida antes de o ser a verba de
participação nos lucros. Se alguma doação, ou disposição causa mortis, levou a serem integralmente invertidos
em beneficência os dividendos de certas ações, esses dividendos devem ser calculados sem a dedução da
participação nos lucros, sem que êsse cômputo fira o principio de igualdade dos dividendos das sociedades por
ações. Assim se há de entender, se a lei é omissa; porém tudo aconselha a explicitude da lei: dirá, por exemplo,
que “sempre se deduzirá primeiro o que por lei, ou negócio jurídico, inclusive relativo a quotas de sócios nos
lucros ou a ações, se destinar, permanentemente, a obra de beneficência, de que participem os empregados”.
Assim, se os dividendos não vão às pessoas físicas, mas às fundações, ou instituições de beneficência, que sirvam
aos empregados da empresa (interesse geral) ou aos empregados da empresa e outros (interesse ainda mais geral),
êsses dividendos devem ser descontados antes de serem computados os lucros dedutíveis. Dá-se, aí, prevenção, a
favor do interesse geral ou público. Salvo, está claro, se, estabelecida posterior-mente à lei de participação
compulsoria nos lucros, a doação de lucros futuros, a fundação, ou a subvenção foi, verificadamente, in fraudem
legis.
Os acionistas A, B e C criam hospital para os empregados da empresa, ou habitantes do bairro, vila ou cidade, que
há de ser mantido com os dividendos. esses dividendos estão destinados a fim acima dos fins individuais e
passam à frente da participação nos lucros. Igual tratamento hão de ter as fundações, criadas em negócio jurídico
causa mortis. Nem se .eompreenderia que, atendendo-se, antes, à participação nos
lucros, se absorva o que deveria ir àquelas instituições. Assim, antes de se calcular o quanto participável,
deduzem-se dos lucros dedutíveis as verbas, inclusive dividendos, que se destinam a interesses mais altos, ou, o
que também é acorde com os princípios, todos êsses são como dividendos isentos, considerando-se lucros
dedutíveis os outros dividendos. Também lei, que estabelecesse percentagem tal à participação nos lucros que
absorvesse os dividendos, poria em colisâo o interesse protegido pelo art. 141, § 16, e o interesse que se prometeu
proteger no art. 157, IV; tal lei seria, em certos casos, desapropriação disfarçada, sem indenização, e portanto
contrária à Constituição. A melhor solução é sempre a que evita incertezas sôbre a constitucionalidade da
determinação.
O problema está simplificado pelo que se disse em (12, b):
têm-se de pesar os interesses, e o interesse nos melhoramentos e na expansão dos serviços é público; de modo que
só existe problemática no que se refere a outro interesse público. A interpretação das leis em causa pode concorrer
para resolver as dúvidas que exsurjam, sem que o intérprete possa deixar de atender a que o interesse público, a
que se refere o art. 151, parágrafo único, 1~a parte, está apontado na Constituição, o que, se não basta para
subordinar, a priori, os demais interesses públicos a êsse, de que cogita o art. 151, parágrafo único, 13 parte, certo
é que lhe dá posição eminente. Nas hipóteses de igual plano do interesse público, ter-se-á de lançar mão da
redução proporcional, se as leis mesmas não criarem algum outro critério de solução.
Os problemas acima versados não se confundem com o da dedução do necessário a melhoramentos e expansão da
empresa.

No Regulamento do Impôsto de Renda, é também computado como lucro o que se leva a lucros e perdas quando
se emprega em aquisição de bens, ainda que para melhoramentos e expansão dos serviços. A lei de participação
nos lucros não poderia, sem a nódoa de inconstitucionalidade, deixar de excluir dos lucros essa inversão para
serviços necessários, se não há, com ela, incremento de interesse futuro. No entanto, se algum projeto de lei sôbre
o assunto lograsse transformar-se em lei, com a sua remissão à legislação sôbre o impôsto de renda, a aplicação da
lei levaria a não se distinguir da necessidade de melhoramentos e expansão da empresa e da necessidade de
melhoramentos e expansão dos serviços concedidos. Ter-se-ia de levantar a questão da inconstitucionalidade, em
face do art. 151, parágrafo único, 13 parte, da Constituição de 1946, e dependeria da solução judicial
desconstituir-se, pela decretação da inconstitucionalidade, a regra legal. Tudo aconselha, portanto, a que a
legislatura ordinária ponha clara, desde logo, sem ferimento do texto constitucional, a repercussão da regra
jurídica constitucional do art. 151, parágrafo único, 1a parte, da Constituição de 1946, na legislação ordinária
sôbre participação nos lucros. Estamos diante de texto constitucional bastante em si, que é o do art. 151, parágrafo
único, 13 parte, e de regra que apenas adota quatro conceitos (dois substantivos, o de “participação nos lucros” e
o de “trabalhador”, e dois, adjetivos, “obrigatória” e “direto”), deixando à legislação ordinária as regras sôbre
limites objetivos e subjetivos, quer do direito, da pretensão e das ações, quer do exercício dêles.
Posta de lado, por ser estranha matéria do assunto, a crítica à remissão da lei sôbre participação nos lucros à
legislação sôbre impôsto de renda (critério fiscal que se adota em lei de interesse privado), ressalta que o
deduzir-se da soma “justa remuneração do capital + necessário a melhoramentos e expansão dos serviços” o
quanto participável teria como conseqüências :
A) Deixar de ser justa a remuneração do capital, porque, se A é justo, A 10%, ou 20%, ou 30%, seria injusto.
E)Tornar insuficiente a verba para melhoramentos e expansão dos serviras, porque, se E é necessário, E 10%, ou
20%, ou 30%, seria insuficiente.
§ 5.070. PARTICIPAÇÃO DOS EMPREGADOS NOS LUCROS 223

A lei sôbre participação nos lucros não pode ser concebida e formulada em têrmos que se choquem com os
conceitos e as regras jurídicas contidas no art. 157, IV, da Constituição de 1946 e nos demais textos
constitucionais. Porém não só. Se os lucros têm de ser invertidos, ex hgpothesi, em melhoramentos e expansão de
serviços que não trazem incremento ao lucro futuro, êsses lucros invertidos teriam de ser excluídos como lucros,
pois de modo nenhum seriam renda”: se o fisco comete de lege ferenda certa “injustiça” (r= desacêrto), no
computar como lucro tais inversões necessárias porém não incrementadoras de lucros futuros, a dedução do
quanto participável de lucros em que se computassem êsses “lucros que se desnaturam, por fôrça de lei”,
importaria expropriação, se E cresceu muito e A se reduziu, sendo C (quanto participável) tal, que A se aproxime
de zero. Não só é êrro conceber-se o lucro dedutível para a participação nos lucros com o mesmo critério com que
se concebe o lucro dedutível para o impôsto de renda, como deixar-se de atender à possibilidade de ser a aplicação
de certas verbas de melhoramentos e expansão dos serviços sem qualquer incremento de lucro futuro.
Aliás, ainda a respeito de verbas necessárias aos melhoramentos e expansão da emprésa, pode dar-se que a
empresa as tenha julgado necessárias à sua conservação e à sua sobrevivência, sem provável incremento de lucro.
Também aqui deduzir-se dessa parte de lucros, que deixam de ser “percebidos” e não incrementam lucros futuros,
o que se há de distribuir como participação nos lucros seria desacertado e “injusto”, no sentido em que a
Constituição de 1946 fala de “justa remuneração do capital”.
Tôda lei sôbre participação nos lucros há de evitar a repercussão econômica, desfavorável, na produção,
principalmente no que, fazendo baixa a taxa dos dividendos industriais, afaste os capitais, nacionais ou
estrangeiros, ou provoque a evasão dos capitais, nacionais ou estrangeiros. Mais ainda: determine o afastamento
da iniciativa ou a sua evasão. O problema técnico da determinação do lucro dedutivel é um dos mais graves que o
legislador pode enfrentar. Tem de partir, na feitura da lei sôbre participação nos lucros, dos principios de
economia, que a Constituição de 1946 supôe em algumas das suas regras juridicas, principalmente dos conceitos
de lucro, de iniciativa (há empresas em que o lucro, quase todo, depende do empreendedor, e. g., empresas de
corretagem, de publicidade), de incrementação do lucro; e dos princípios juridicos, que a ConstituIção explícita
ou impilcitamente insere no seu sistema lógico. Há de ver, também, a realidade das empresas, em suas profundas
diferenças: empresas de muitos empregados que receberiam pouquíssimo, recebendo todos, mas para se pagar
êsse pouquíssimo se deduziria muitíssimo dos lucros, com sacrifício do capital e da iniciativa; empresas de
poucos empregados que perceberiam, individualmente, aproximadamente o mesmo ou mais do que os que
inverteram nelas os seus capitais.
Mas no tocante ao art. 151, parágrafo único, 1a parte, da Constituição de 1946 a legislatura constituinte foi
precisa em prever que o tabelamento para os serviços públicos se fizesse atendendo-se à “justa remuneração do
capital” e ao necessário aos melhoramentos e à expansão dêsses serviços. A lei sôbre participação nos lucros não
pode iludir ou elidir a regra juridica constitucional do art. 151, parágrafo único, 13 parte. Não é escusado
insistir-se na consideração de que, enquanto o art. 151, parágrafo único, 13 parte, toma como limites a justa
remuneração do capital e a ressalva do necessário aos melhoramentos e à expansão do capital, o art. 157, IV,
deixou à legislatura ordinária edictar as regras sôbre participação obrigatória e direta dos trabalhadores nos
lucros. Constitucionalizaram apenas êsses quatro conceitos. Não seria de admitir-se que não se visse, no
legislar-se sôbre participação dos trabalhadores nos lucros, o que, a respeito das empresas concessionárias de
serviços públicos, se estatuiu, na Constituição de 1946, art. 151, parágrafo único, 13 parte, cogentemente. Nem se
poderia fazer tábua rasa do que a economia distingue quanto a) às inversões objetivamente necessárias a
melhoramentos e expansão dos serviços públicos, com ou sem probabilidade de incremento de lucros futuros, b)
às inversões objetivamente necessárias para melhoramentos e expansão da empresa, sem probabilidade de lucro
futuro, e c) às inversões subjetivamente necessárias para melhoramentos e expansão das empresas. Onde não há
incremento de lucro futuro não há inversão que se deva tratar come lucro invertido, aumentativo do capital ou do
valor da empresa. Os lucros podem, por destinação, deixar de ser lucros. Á destinação a melhoramentos e
expansão dos serviços que não incrementou lucro futuro é exemplo disso.
Por outro lado, é preciso atender-se a que a redução dos lucros a ponto de se excluir, no todo ou em parte, a justa
remuneração do capital é desapropriação total ou parcial, sem indenização. O princípio é êsse, pôsto que a
inconstitucionalidade tenha, aí, de ser verificada a posteriori. i~ o caso dos impostos “confiscatórios”. Essa
necessidade de exame a posteriori não torna, ainda assim, quaestio facti a quaestio inris da alegação de
inconstitucionalidade.
Nesse plano puramente jurídico, de lege ferenda e de lege lata, pósto que a matéria jurídica suponha, aqui, a cada
momento, o conhecimento do econômico e do político, em conceitos, princípios e conclusões da ciência, não
cabem considerações de economia concreta. Mas, a titulo apenas de mostrar a delicadeza do problema da
legislação sôbre participação dos trabalhadores nos lucros e a necessidade, nela, de se atender à premência de
aumento de produção e de se evitar, a todo o custo, o afastamento do capital e da iniciativa, a. fortiori a evasão de
um e de outro, notemos o seguinte, pôsto que estranho à matéria jurídica e só atinente ao ano de 1950, quando
meditávamos o assunto. Naquele momento, os mercados internos do país dispunham, aproximadamente, de
sessenta e cinco bilhões de cruzeiros, sendo cêrca de trinta e dois bilhões em papel moeda. As Fazendas Públicas,
federal, estaduais e municipais, captavam cérca de quarenta e cinco bilhões de cruzeiros. Se não houvesse major
produção e distribuição, não poderia haver maior velocidade no giro dos sessenta e cinco bilhões de cruzeiros.
Tôda imprudência, tôda falta de técnica jurídica, política e econômica seria perturbadora, tendo de diminuir a
velocidade do giro daqueles sessenta e cinco bilhões, de aumentar o custo de vida e, ao mesmo tempo, por seus
fatôres normais de aumento e por êsses, novos, de impedimento das inversões e da iniciativa e de alteamento dos
preços, a elevação dos preços das compras das unidades políticas (União, Estados-membros e Municípios) e
noyas exigências dos funcionários públicos, civis e militares.

A lei de participação nos lucros tem de ser feita no sentido de aumentar, e não de diminuir a velocidade daquele
giro. Isso só se consegue aumentando-se a produção. Mas o pensamento constitucional do art. 157, IV, da
Constituição de 1946 foi justamente êsse: interessar os trabalhadores nos lucros das empresas, de modo que se
incremente a produção.
Na interpretação de qualquer Constituição, hão de ser fixados os fins políticos das suas regras. Ésses fins políticos
têm de inspirar os legisladores ordinários, em vez de apenas lhes traçar limites de competência. No tocante à
participação dos trabalhadores nos lucros, não se poderia atribuir ao texto constitucional o propósito de bis in
idem, em matéria de salário: seria de mau gôsto dedicar-se regra jurídica constitucional, em sistema que adota o
negócio jurídico coletivo de trabalho e certas medidas protectivas em assunto de salário, à compulsoriedade de
salário adicional. O que o art. 157, IV, da Constituição de 1946 estatuiu foi a participação dos trabalhadores nos
lucros como incentivo da produção, aliado à repercussão psicológica, que dela se espera, concernente à maior
solidariedade e confiança entre os empregadores e empregados. Essa repercussão não deve ser difusa, ou
indireta: dai, a psicologia individualista, em que se baseou o legislador constituinte, tê-la sugerido “direta”; há de
ser repercussão em cada trabalhador, no que se promete, e nos participantes, no que participam e mostram, como
exemplo, aos outros.
O que acima se disse exclui, fundamentalmente, que soja adequado ao sistema jurídico brasileiro, qual se edifica
a partir, lôgicamente, da Constituição de 1946, a lei de participação dos trabalhadores nos lucros, que, em vez de
servir de incentivo, não tenha efeitos nos empregados, pela distribuição por todos êles, sem seleção e sem valor
sugestivo por parte do pouco que cada um receba, e tenha a eficácia negativa de diminuir a atração dos capitais ou
de lhes determinar a evasão.
Não é possível ao legislador ordinário abster-se do exame do econômico e do político, para edificar o jurídico.
Penetrando no que é economia, a Constituição de 1946 fêz-se atenta à vida social e à produção. Não é mais
Constituição de Estado abstinente, que se haja satisfeito com as regras jurídicas sôbre democracia e liberdade:
contém essas e contém outras, coro
que se entra na dimensão econômica, ou se dá acesso aos legisladores ordinários para essa dimensão. Mas aquela
entrada. é conforme linhas precisas que a própria Constituição traçou; e êsse acesso conforme outras tantas linhas
e mais as que resultam dos fins políticos da Constituição.
Por isso mesmo, se, ao tabelar serviços, o legislador ordinario vai a ponto de cortar no que é justa remuneração do
capital, ofende, por exemplo, o art. 141, § 16; e não se compreenderia, tão-pouco, que, elaborando a lei sôbre
participação nos lucros, a ferisse: nenhuma regra jurídica da Constituição, que não se reporte à mesma matéria de
outra regra jurídica da ConstituIção, se pode interpretar como cortante dessoutra; somente no que tratar da mesma
matéria é que duas ou mais regras jurídicas da Constituição se hão de entender como adicionante uma da outra, ou
das outras, ou como delimitante uma da outra, ou de outras, ou das outras, etc.
No caso do art. 151, parágrafo único, 13 parte, tem-se de interpretar o art. 157, IV, de modo que, na feitura da lei
sôbre participação nos lucros, não se possa deduzir do que é justa remuneração do capital e do que é necessário a
melhoramentos e expansão somente dos serviços. A Constituição de 1946 teve o propósito de os ressalvar;
ressalvou-os. Não seria de bom método de interpretação que se lêsse o art. 157, IV, como se ali se permitisse aos
legisladores ordinários infringirem e que se estatui, ininfringivelmente, no art. 151, parágrafo único, 13 parte (o
necessário aos melhoramentos e expansão dos serviços e a justa remuneração do capital).
Na técnica do direito, há de ser observado o que aconselha a ciência jurídica. Grande fator da desordem social dos
nossos dias é a má preparação político-jurídica dos legisladores em quase todo o mundo; e, da parte dos juristas,
certa impermeabilidade de muitos deles, que os impede de captarem o que a economia dos nossos dias apresenta
aos seus olhos, ainda fitos em problemas de economia anterior. Por essa razão, todo cuidado há de ter o legislador
em intervir. Há quarenta e dois. anos, dizíamos, no livro jubilar do professor ERNsT ZITELMANN: “O valor da
tradição é duplamente respeitado pela ciência (do direito) : quando induz, em vez de impor princípios a priori;
quando se abstém de intervir, se e enquanto não possui dados positivos, que lhe sugeriram a crítica e a convicção
de ser mais acertado extirpar o escalracho rotineiro e perigoso” (nosso Rechtsgejilhl uná Begriff des Rechts, 28
s.). Só se solta o passado quando se sabe qual o caminho a tomar-se, ou se escolhe entre caminhos iniciados.

14. ~ QUAL É A INTELIGÊNCIA QUE SE HÁ DE DAR AOS ARTIGOS 157, IV, E 145, 148 E 151,
PARAGRAFO ÚNICO, DA CONSTITUIÇÃO DE 1946? (Principalmente, quanto à necessidade de
melhoramentos e expansão dos serviços das empresas, art. 151, parágrafo único.)
A ConstituIção de 1946 alude, por vêzes, à justa remuneração do capital (arts. 145, 148 e 151, parágrafo único).
Outrossim, à necessidade de melhoramentos e expansão dos serviços das empresas, inclusive as de serviços ao
público (art. 151, parágrafo único). Êsse fundo há de ser subtraído aos lucros, quando se tenha, afinal, de
determinar o que e lucro dedutível.
Começa-se por inquirir como se há de redigir a lei de participação nos lucros, atendendo-se a que ela insira nos
seus conceitos fundamentais o que respeita à justa remuneração do capital. O problema cinde-se: primeiro,
havemos de saber quais as regras jurídicas, explícita ou implicitamente contidas. na Constituição de 1946, a que
contrariariam proposições da lei sôbre participação nos lucros, porque, nessa hipótese de contrariedade à
Constituição, a regra jurídica legal seria inconstitucional (rz contrária à Constituição> depois, temos de indagar
quais os expedientes de técnica legislativa, com que, no branco deixado à elaboração política ordinária, poderia o
legislador edictar regras jurídicas, sem ofender à Constituição de 1946~ A primeira questão não é só de iure
condendo, é de iure condito, no plano constitucional. Responder-se-ia a ela, dentro do princípio de
não-contradição do sistema jurídico, dizendo-se se tal regra jurídica ordinária é acorde com a Constituição de
1946, ou contrária a ela, e, pois, inconstitucional. A segunda questão é só de iure condendo: cientificamente, no
plano da técnica puramente jurídica, seria a resposta simples exposição do que se pode fazer, no tocante à
conciliação de interesses do capital e do trabalho; politicamente, apreciação da melhor e mais oportuna solução.
Quanto à primeira questão , pois que se circunscreve ao direito constitucional vigente, não há margem para as
variações na programação dos partidos políticos: quo estio juris, que se há de versar dentro do direito
constitucional de 18 de setembro de 1946 em diante, que só seria transpíantável para o terreno político (e então
deixaria de ser quaestio juris, para ser politica quaesíio> em programa relativo à mudança de textos
constitucionais (Constituição de 1946, art. 217). A segunda questão é, por sua natureza política, como tôda
pergunta dentro de espaço que ainda nenhuma regra jurídica preencheu. Aqui, há larga margem para as
divergências entre os programas dos partidos.
Precisados, assim, os termos do problema, podemos versá-lo, sem que a matéria da segunda questão perturbe a
apresentação, discussão e solução da primeira. Ao passo que a segunda supôe que se haja respondido à primeira:
somente depois de se saber o que é ou seria inconstitucional fazer-se, é que se podem dar a programação
partidária, a discussão interpartidária, a anteprojetação, a projetação, discussão e votação do projetQ que se faça
lei. É o ciclo do político para o jurídico, que, para a primeira pergunta, por isso mesmo que se trata de direito
constitucional, já está encerrado, salvo se o concebemos no plano da possível emenda constitucional.
Preliminarmente observemos que os conceitos de “princípios da justiça social”, “liberdade de iniciativa”,
“valorização do trabalho humano”, “trabalho que possibilite existência digna”, “trabalho obrigação social”
(Constituição de 1946, art. 145 e parágrafo único), “intervenção no domínio econômico”, “monopólio de
indústria ou atividade determinada”, “interesse público”, “direitos fundamentais” como limites ao poder
interventivo (art. 146), “uso da propriedade condicionado ao bem-estar social”, “justa distribuição da
propriedade”, “igual oportunidade para todos” (art. 147), “abuso do poder econômico”, “domínio dos mercados
nacionais‟, “eliminação da concorrência”, e “aumento arbitrário dos lucros” (art. 148) são conceitos de conteúdo
das regras jurídicas, em vez de conceitos para a simples determinação da competência do Poder Legislativo, ou
dos podêres estatais, em frente dos indivíduos. insertos em Constituição, que recebeu, na esteira de 1891, a
técnica dos Estados Unidos da América quanto à apreciação da constitucionalidade das leis, êsses conceitos
passam a ter enorme importância: com referência a êles, ou a algum dêles, pode ser decretada a
inconstitucionalidade da lei no que lhes ou lhe é ofensiva. A êsse ponto levaram a dimensão democrática, a de
liberdade e a de técnica constitucional que se perfizeram no ambiente dos Estados Unidos da América, um tanto
indiferente, como impunha o liberalismo econômico do século XIX, ao conteúdo das regras jurídicas ordinárias, e
a dimensão, mais tipicamente européia, da formação de conceitos oe direito material a ser feito (doutrina católica,
doutrinas socialistas e trabalhistas). Nas Constituições “transacionais”, corno a alemã de Vaimar, a austríaca após
a primeira grande guerra, as brasileiras de 1934 e de 1946, houve certa confissão (1) da insuficiência da técnica de
forma (democracia) e da técnica da liberdade e (2) da necessidade de se imprimir rumo socIal à legilatura
ordinária.
A introdução de conceitos como os que apontamos, tirados dos sós arts. 145-148 da
Constituição de 1946, produz as alegações e decretações de inconstitucionalidade de leis em muitos casos em que
não a haveria noutros sistemas jurídicos, como, por exemplo, o dos Estados Unidos da América. Daí também o
êrro, em sistemas como o. brasileiro, de alguns juristas e Juizes nao perceberem que há muito maior probabilidade
de violações das Constituições nesses sistemas do que nos sistemas, em matéria econômica e social, considerados
abstinentes (sistemas só democrático-liberais, em vez de sócio-demo-liberais, como àqueles chamamos em 1932,
em Os Fundamentos Atuais do Direito Constitucional, 294).
Aos conceitos acima deve-se juntar, por sua relevância, o de “justa remuneração do capital”, que está explícito no
ad. 151, parágrafo único, porém que é implícito, nos conceitos de “princípios da justiça social”, “liberdade de
iniciativa”, “direitos fundamentais” como limite ao poder interventivo, e em outros Sao conceitos constitucionais.
O ad. 145 é ~ mas alude a princípios que podem ter intensidade maior, ser cortante5 de regras jurídicas contrárias.
O art. 146 não é programático “limita” poder de intervenção econômico, não só porque exige a lei especial, como
porque exclui a intervenção que não tenha por base o interesse público: “O legislador muito pode” (já dissemos
desde a 1.a ed. dos Comentários à Constituição de 1946, IV, 20) “quanto à intervenção econômica, sob a
Constituição de 1946, mas exciusivamente “em lei especial”, lei durante cuja feitura êle examinou (ou é de
esperar-se que tenha examinado) os dados de fato, estatistícos, ou não, para a formulação de regras, na qual
aponte pressupostos para a incidência, de modo que se saiba onde, quando (desde quando e até quando) e corno
incide e há de ser aplicada a regra”. O art. 148 tem por objeto o que se passa entre as empresas industriais e
comerciais. Não se refere a relações do Estado, como Estado, com as empresas. Mas, é evidente, por a fortioti,
que, se à Constituição repugna que se abuse do poder econômico, dominando-se os mercados nacionais e
eliminando-se a concorrência, também o veda ao Estado: o Estado pode monopolizar, porém não favorecer
monopólios; pode restringir e limitar o uso (exercício> do direito de propriedade, não pode desapropriar para
outro, ou desapropriar para si, sem indenizar; pode valorizar o trabalho, porém não desvalorizar, a ponto de
excluir, no todo ou em parte, o capital.
Nos princípios de justiça social, como nos de justa distribuição da propriedade, está implícito o de justa
remuneração do capital, que aparece, explícito, no art. 151, parágrafo único,parte. É verdade que o art. 151,
parágrafo único, 1a parte, só se refere, literalmente, à fiscalização e à revisão das tarifas dos serviços explorados
por meio de concessão, “a fim de que os lucros dos concessionários, não excedendo a justa remunera$o do
capital, lhes permitam atender a necessidades de melhoramentos e expansão dêsses serviços”. Existe, pois, em
ciência do direito, conceito de “justa remuneração do capital”, a que alude a Constituição de 1946, e ela recebeu
êsse conceito. Além da importância que têm o art. 151 e seu parágrafo, para
oEstado, as empresas concessionárias e o público, há a sua importância no sistema constitucional brasileiro. O
legislador constituinte, com o meio lastro de doutrina social católica, admite que se possa conhecer o quanto
(percentual ou por outro meio de determinação>, que é a “justa remuneração do capital”. esse conceito
necessâriamente se insere no rol de conceitos

político-jurídicos com que se formulam os “princípios da justiça social” (art. 145).


Na Constituição de 1946, atende-se a que os fatôres da produção são igualmente dignos de tutela jurídica (o
trabalho, o capital e a iniciativa). O salário, o repouso obrigatório, as medidas mencionadas no art. 157, inclusive
a do inciso IV (participação obrigatória e direta nos lucros), concernem ao trabalho. A justa remuneração, ao
capital; e a êle também a inexpropriabilidade direta ou indireta, salvo com observância do art. 141, § 16. A
referência do art. 145 à liberdade de iniciativa e a vedação da intervenção do Estado (art. 146), no que se refere às
indústrias e às atividades econômicas em geral, sem ser por lei (forma), com base no interesse público e respeito
dos direitos fundamentais (fundo), concernem à iniciativa. Mas, ai, “iniciativa” é conceito que se há de conhecer
e precisar.
A iniciativa é o aparelhamento imaterial, que não se pode reduzir a trabalho, no sentido estrito e inserto no art.
157, nem ao capital, É a soma de conhecimentos necessários e de atos de reunião ou captação de capitais, às vêzes
de capitais e trabalho, que serve ao lançamento, ao melhoramento e à expansão das empresas. Ainda se encontram
mesclados na mesma pessoa os três elementos, ou só dois, e nas civilizações primitivas sempre apareciam
indiscerníveis. Mas, na economia contemporânea, que a Constituição de 1946 supõe, sempre que se acham
separados, separadamente se hão de tratar. Uma das exigências do tratamento em separado é a separação das
retribuições. A remuneração do trabalho, especifica, suscetível de estudo econômico, político e jurídico à parte,
devido à sua especificidade, é o salário, ainda quando se lhe chame vencimento, honorário, proventos, etc.,
expressões que traduzem distinções sociais já desaparecidas ou ainda existentes. A remuneração do capital é o
interesse, que é o “preço” pela transferência do poder de empregar efetivamente ou de conservar o capital. Se é
transferência em criação de relação jurídica pessoal (e. g., mútuo), ou se substitui à relação jurídica real da
propriedade (do dinheiro, ou de bens avaliados) relação jurídica real de outra natureza, há sempre o fator comum
da transferência do poder de consumir ou de empregar capital.

O juro, a renda dos bens imóveis, ou móveis (fora o dinheiro e os bens fungíveis), e o dividendo são interesses,
remunerações do capital. A remuneração da iniciativa, quando separada do trabalho e do capital, é a comissão, o
prêmio, o ordenado dos diretores técnicos. Tudo isso é custo da produção. O trabalho de direção e de
fornecimento de planos e conhecimentos, ainda nas relações interindividuais, pertence, por definição, à iniciativa.
A determinação da justa remuneração do trabalho é tentada, incessantemente, por empregados, por empregadores
e pela intervenção do Estado. A determinação da justa retribuição da iniciativa ou é prevista em lei para os
empregadores, ou tentada pelos donos das empresas e pelos que têm a iniciativa. A determinação da justa
remuneração do capital ou se faz partindo-se do lucro próximo da taxa de juros, que é aquêle que permite
continuar-se nas operações da empresa, ou de lucro que justifique a inversão na indústria ou no comércio, em vez
do empréstimo a juros, ou de outros meios de inversão.
A justa remuneração do capital nada tem, por exemplo, com a justa remuneração da iniciativa (e. g., da direção,
que é o “preço” do esfôrço dos dirigentes da empresa ou serviço, ainda que percebam outros proventos como
trabalhadores ou como capitalistas), com o que se paga em matéria-prima e com os salários. A baixa da
remuneração do capital aquém da taxa que se obteria por empréstimo é injusta: o capital evade-se de onde não lhe
pagam aquilo que os próprios mutuários pagariam.
O problema da justa remuneração do capital apresenta-se ao legislador ordinário sôbre participação nos lucros,
não Somente como problema de técnica legislativa, para se evitar a selva de inconstitucionalidade das regras
jurídicas, como também para a. observância de boa política jurídica, no momento em que êle tem de fixar o lucro
de que se há de deduzir o quanto participável. É sabido que há três momentos principais na técnica da participação
nos lucros: a) o da. formação do lucro dedutível (= lucro de que se deduz o quanto participável) ; b) o da formação
do quanto participável, e. g., percentagem x sôbre a) c) o da formação das quotas de participação. Há despesas e
fundos que hão de ser atendidos antes de se determinar o quanto participável, ou, se o quanto participável é
percentual, do que resta, tirado êle.
Se a justa remuneração do capital não fôsse atendida antes da formação do quanto participável, ou compreendida
no que resta do lucro dedutível, deduzido o quanto participável, a lei não seria, no sentido dos arts. 146, 141, § 16,
147 e 151, parágrafo único, 1a parte, “justa”. Assim, pois, para formação do quanto participável, (A) há de ter-se
atendido, ao se formar o lucro dedutível, o que se reputa “justa remuneração do capital”, (B) ou se atende
simultâneamente a essa. Ou se tira j (justa remuneração do capital) de 1 (lucros) para se achar li (lucro dedutível)
e então sôbre 14 se conta q (quanto participável), ou se deduzem de ld, j e q.
A justa remuneração do capital há de funcionar como percentagem sôbre o capital, de modo que mais acertado do
que (E) é (A) : os salários, preço do trabalho, já foram pagos; o “preço” do capital, ainda não: a Constituição
entende que há de ser justo. Tem êle de ser atendido no mesmo plano dos salários. Ainda não são lucros, no
sentido estrito, de que se deva deduzir o quanto para a participação nos lucros. O que deve ser tratado em pé de
igualdade com o quanto participável é o dividendo, acima do que se entende justa remuneração do capital, ou
todo êle, se foi excluída, na sua concepção, aquela justa remuneração .
A justa remuneração do capital é, de regra, ainda para a Constituição de 1946, a taxa que atraía, no lugar de
origem, capitais; na atração, leva-se em conta o futuro, e pois o que, de ordinário, é necessário a melhoramentos e
expansão da empresa. No art. 151, parágrafo único, 1a parte, o conceito é o mesmo; porquanto só por exigência
técnica se falou em necessário a melhoramento e expansão dos serviços públicos, objetivamente. Quem inverte
capitais em empresas recebe remuneração do capital que já leva em conta o que será necessário para que êle
continue a tê-la. Outra coisa é a necessidade, objetiva, de melhoramento e expansão de serviços públicos, o que
opera independentemente daquela necessidade de continuar a dar lucro que permita a justa remuneração. Por
vêzes, a satisfação da necessidade objetiva de melhoramento
e de expansão não coincide com a necessidade subjetiva de melhoramento e de expansão da empresa.
Há problema político-econômico de tratamento do necessário a melhoramento e expansão da emprésa, inclusive
fundo de defesa na concorrência comercial, e êsse problema se resolve ou a) pela formação de fundo de
melhoramento e expansão , que opera com dedução compulsória sôbre os lucros que teriam de ser distribuídos
aos acionistas e, assim, são dêles, insertos no valor do capital, ou b) pela entrega dos dividendos, incluído o que
iria a êsse fundo, de modo que a empresa fica exposta a não inverterem os acionistas, depois, o necessário a êsses
melhoramentos e à expansão, ou c) se prevê o que vai sendo necessário ao melhoramento e à expansão e pede-se
aumento do capital. A exigência constitucional da participa-cão dos trabalhadores nos lucros altera, de muito,
essa simplicidade de alternações. O fundo de melhoramento e de expansão, incluído o de defesa, pode sair 1)
antes da participação nos lucros e dos dividendos, ou 2) depois da participação nos lucros e antes dos dividendos,
ou 3) ser somente deduzido dos dividendos. A solução 3), que seria acertada e “justa”, se o sistema jurídico não
contivesse a participação dos trabalhadores nos lucros, seria desacertada e “injusta” em sistema jurídico em que
haja a participação nos lucros. A solução 2), que só-mente pode existir em sistema em que haja participação nos
lucros, abstrai do interesse futuro dos trabalhadores no melhoramento e na expansão da empresa, o que a aponta
como a. priari desacertada, ainda quando, pela quantidade que se deduz para a formação do quanto participável,
não seja “injusta” (a posteviori). A solução acertada e justa é a solução 1), se o sistema jurídico possui a
participação dos trabalhadores nos lucros.

15.EMPRÉSAS CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS AO PÚBLICO (CONSTITUIÇÃO DE 1946, ART. 151


E PARÁGRAFO ÚNICO). Diz a Constituição de 1946, art. 151: “A lei disporá sôbre o regime das empresas
concessionárias de serviços públicos federais, estaduais e municipais”. E o parágrafo único: “Será determinada, a
fiscalização e a revisão das tarifas dos serviços explorados por concessão, a fim de que os lucros dos
concessionários, não excedendo a justa remuneração do capital, lhes permitam atender a necessidades de
melhoramentos e expansão dêsses serviços. Aplicar-se-á a lei às concessões feitas no regime anterior, de tarifas
estipuladas, para todo o tempo de duração do contrato”.
A primeira questão, que surge, a respeito do art. 151, parágrafo único, 1a parte, é a do conceito mesmo de “justa
remuneração do capital”, do qual hão de estar separados dois outros o de necessário à melhora dos serviços e o
de expansão desses serviços. Justa remuneração do capital, para o legislador constituinte, no art. 151, parágrafo
único, lA parte‟ é o que corresponde ao interesse do capital empregado, interesse determinado, no seu quanto,
pela atração que exerce no mercado de capitais, tendo-se assegurado, pelo tabelamento, ou outro meio, o fundo
necessário a melhoramentos e à expansão dos serviços. Temos, assim, de prestar tôda a atenção aos conceitos
constitucionais.
(a) Uma coisa é o fundo de melhoramentos e expansão da empresa, em e com que se atende a interesse privado,
e outra, o fundo de melhoramentos e expansão dos serviços ao público, em e com que se atende a interesse
público. O interesse público, e não o privado (lucro), é que determina o que é preciso para se melhorarem e
expandirem os serviços. O interesse privado é que determina o que é preciso para se melhorarem e expandirem as
empresas como produtoras de lucros, algumas das quais não no comportam, porque, pela exigúidade dos lucros,
não se prestam a melhoramento (Isto é, à continuação além da utilizabilidade do seu aparelhamento) e, a fortiori,
à expansão. As empresas concessionárias de serviços públicos estão constritas à continuação, à melhora e à
expansão dos serviços. ~ êrro, portanto, raciocinar-se com a necessidade de melhoramentos e expansão dos
serviços ao público como se raciocina com a necessidade de melhoramentos e expansão das empresas. O que é
necessário aos melhoramentos dessas e à sua expansão pode não coincidir com o que é necessário à melhora e
expansão daqueles; ou vice-versa. Essa diferença exige que se trate a necessidade de melhoramento e expansão
dos serviços, na lei de participação nos lucros, com outros princípios que aquêles com que se trata a necessidade
de melhoramento e expansão das empresas. No que; é somente para necessidade de melhoramento e expansão
dos serviços ao público sem ser fonte de lucro, o “fundo” não contém o que entraria no conceito de fundo de
melhoramento e expansão da empresa . No que é somente para necessidade de melhoramento e expansão dos
serviços ao público, o “fundo” não contém o que entraria no conceito de fundo de melhoramento e expansão dos
serviços.
Na técnica de atendimento aos arts. 157, IV, e 151, parágrafo único, 1Y parte, ou a) se retira, antes de se deduzir
o quanto participável, o que é necessário aos melhoramentos e expansão dos serviços ao público, ou b) se
deduzem, em percentagens ou porções complementares, o que é necessário aos melhoramentos e à expansão dos
serviços ao público, o quanto participável e a justa remuneração do capital. A solução técnica b), se sacrifica o
que foi orçado como necessário aos melhoramentos e expansão dos serviços ao público, é contrária à
ConstituIção, de modo que, verdadeiramente, só há a solução técnica a).
Além da subtração do necessário a melhoramentos e à expansão antes da formação do lucro dedutível, ou depois
disso, mas no mesmo pé de igualdade da pretensão à participação nos lucros, há terceira solução que pode ser
admitida para as empresas em geral, cogententente, porém não para as empresas concessionárias de serviços ao
público, a respeito das quais se teriam de formular regras dispositivas, ou interpretativas, ou de alternatividade,
conforme veremos, sempre que se tratasse de necessidade de melhoramentos e expansão dos serviços ao público.

Na feitura da lei de participação nos lucros, a. legislatura ordinária tem de respeitar as diferentes regras jurídicas
da Constituição de 1946, que limitam o poder interventivo do Estado, inclusive ao art. 151, parágrafo único, 1a
parte, que se refere ao tabelamento dos serviços das empresas concessionárias de serviços ao público. Se, a outros
respeitos, êsses limites são os dos arts. 141, § 16, e 148, no tocante às. empresas concessionárias de serviços ao
público a regra jurídica quanto à justa remuneração do capital é expressa, ordenando-se ressalvar o fundo ou
quanto necessário nos melhoramentos e à expansão dos serviços.

O sistema da Constituição de 1946, para as empresas concessionárias de serviços ao público, é o de se fixarem a


justa remuneração do capital e as necessidades de melhoramento e expansão dos serviços, a que o tabelamento há
de prover. Não se pode impor às empresas concessionárias que considerem inversão êsses melhoramentos e essas
medidas para expansão dos serviços, se não contém em si eficácia marginal do capital. O que se pode fazer é, na
lei, deixar-se às empresas, quando a necessidade de melhoramentos e expansão da empresa coincida com a
necessidade de melhoramentos e expansão dos serviços, a escolha entre: 1) o cômputo do que é necessário aos
melhoramentos e à expansão dos serviços e da justa remuneração do capital, 2) o cômputo da justa remuneração
do capital e do que é sem lucro provável a mais, nos melhoramentos e expansão dos serviços, ficando, portanto, à
conversão ou ao pagamento em ações do quanto participável, ou de parte dêle, o prover àquela necessidade de
melhoramento e de expansão dos serviços que também o seja da empresa (rir lucrativos), ou .3) a justa
remuneração, após se deduzir dos lucros o que é necessário aos melhoramentos e expansão da empresa e dos
serviços, com a conversão em ações aos acionistas e aos participantes segundo o art. 157, IV, do que, por
“coincidir”, se pode considerar aumento de capital.
Para atender à necessidade de expansão e às necessidades imprevistas aquela, de regra, previsível e objeto de
previsão e de estudo a técnica da participação nos lucros precisa, segundo frisamos alhures, de distinguir o que se
planeja e o qne se tem de executar a súbitas, sem planejamento. (A) Quanto as necessidades de expansão, que são,
de regra, previsíveis, ou a) se admite, na lei, que se deduza dos lucros fundo suficiente para isso, de acôrdo com
cálculos e verificações a posteriori, ou b) se deduz do próprio quanto participável, como forma parcial ou total de
pagamento. (B) Quanto às necessidades imprevistas, ou elas ocorrem antes do encerramento do ano comercial e,
pois, antes do balanço, devendo ter-se corno despesas e perdas, ou como inversões de capital com os próprios
lucros. Levadas à conta de capital, o problema passa a ser o mesmo das inversões para expansão prevista.: ou se
admite na lei que se deduzam dos lucros, ou se deduzem. do
próprio fundo participável, como forma parcial ou total de pagamento. Se as necessidades imprevistas ocorrem
depois do ano comercial, têm-se, então, de deixar incólumes os dividendos, os honorários de iniciativa e as quotas
de participação, porque todos já sã.o devidos. Há, assim, traços comuns. e traços diferenciais das duas espécies de
inversões. O problema torna-Se preciso e técnico.
(b) Para as inversões planejadas, a melhor solução é a da forma de pagamento em ações. Se a inversão é demorada
e não se processa periôdica.mente e a prestações prefixadas, a formação de fundo de conversão é a solução mais
adequada e, unia vez mantida a discriminação das quotas de participação, perfeitamente consentânea com a
Constituição de 1946.
Para as despesas imprevistas que importem inversão aumentativa do capital, ou A) a lei deixa às empresas a
escolha entre 1) tomar em empréstimo o que fôr necessário, e 2) converter ou 3) pagar em ações; ou H) qualquer
ato dos. empregadores depende do consentimento dos empregados.
De inre condendo, a lei sôbre participação nos lucros deve dizer: “Dos lucros subtrai-se até x para melhoramento
e expansão dos negócios”; ou “Do quanto participável, é destinado a ser pago em ações <ou a ser convertido em
ações, quando se der aumento do capital)”; ou “das quotas de participação pagar-se-á em ações (ou se converterá,
oportunamente, em ações) “. Melhor é que apenas se permitam tais deliberações das assembléias gerais. O
interesse público passa à frente, tanto assim que o tabelamento tem de atender a essas necessidades, por fôrça da
Constituição. Se há lei que o preveja, é lei sábia.
(c)Passemos a tratar da justa remuneração. Não há inversão nas indústrias sem o incentivo para inverter. A taxa
que se espera. obter é que incentiva; não é o resultado histérico da inversão, que pode ter sido além dela ou
decepcionante para os que inverteram, O aumento da inversão é menos provável à medida que baixa a eficácia
marginal do capital (JOHN MAYNARD REYNES, General Theorie of Emplo‟yment, lnterest, and. Money, 137;
“utilidade marginal” de ALflED MARSHALL, PrincipIes, 6a ed., 519 s.; “proporção do rendimento a respeito
do custo”, cf. IRvING FISCRER, Theorq,‟ of Iii-tereM, 155, 159 e 168) ; mais provável, à medida que ela sobe. A
função da justa remuneração do capital, na formação do lucro dedutível, portanto antes dêsse, é assegurar o
incentivo para inverter. O dividendo a ser distribuído contém essa justa remuneração mais o que possa e deva, a
juízo das assembléias gerais, ser deduzido do lucro dedutível, após a satisfação do quanto participável. Nos
sistemas jurídicos que têm a participação nos lucros, o dividendo é, portanto, compósito, pôsto que, ao ser fixado,
não no pareça; só o é na sua origem.
Surge questão a respeito da posição da justa remuneração e do fundo de melhoramentos e expansão dos serviços,
se êsses melhoramentos e expansão são “necessários”. Aqui, a expressão “necessário” se esvazia de tôda
subjetividade, para se caracterizar como o que é objetivamente indispensável: ou pela exigência dos fatos da vida
social, permanentes, ainda novos, ou por exigência legal ou negocial, a que esteja obrigada a empresa. Se há de
ser deduzido antes da justa remuneração do capital o que é destinado a melhoramentos e expansão dos serviços,
ou depois, depende de se tratar de necessidade objetiva, ou não. Se há necessidade objetiva, a dedução é antes da
dedução da justa remuneração do capital, pelo princípio de que o interesse público passa à frente (art. 145); a
fortiori, antes da dedução da participação nos lucros e da dedução dos dividendos. Se não há necessidade
subjetiva, trata-se somente de melhoramentos e expansão da emprésa, o que se rege por princípios próprios.

16.PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E CONSTITUIÇÃO DE 1946, ART. 151, PARÁGRAFO ÚNICO, 1a
PARTE. A participação dos trabalhadores nos lucros, tratando-se de empresas concessionárias de serviços ao
público, não pode ser calculada e deduzida antes de ser assegurada a “justa remuneração do capital”, mais o que
lhes permita atender a necessidade de melhoramentos e a expansão dêsses serviços. No que os melhoramentos e a
expansão dos serviços importam melhoramentos e expansão da empresa, incrementam o lucro e, pois, a produção
de interesse a ser distribuído; é possível, juridicamente, tratarem-se tais verbas como fundo de melhoramento e
expansão da. emprésa; não assim o que só se destina à satisfação de necessidade objetiva de melhoramentos e de
expansão. Seja como fôr, a lei sôbre participação dos trabalhadores nos lucros será inconstitucional se atingir o
que é necessário aos melhoramentos e expansão dos serviços, salvo se, coincidindo com o necessário
subjetivamente aos melhoramentos e expansão da empresa e produtivo de lucros a mais, puder ser atribuído a
açôes a serem distribuídas aos participantes, como pagamento total ou parcial das suas quotas de participação, ou
a anteriores acionistas.
Para ser acorde com a ConstituIção de 1946 e evitar questões de inconstitucionalidade, a lei sôbre participação
nos lucros deve conter, mais ou menos, o seguinte: “O que fôr necessário a melhoramentos e expansão dos
serviços públicos (Constituição de 1946, art. 151, parágrafo único, 1a parte), sem produzir lucro a mais, será
deduzido dos lucros antes de se deduzirem o quanto participável e o dividendo acima da justa remuneração”.
Seria conveniente que se permitisse às empresas, ao terem de aumentar o capital, a adoção do pagamento total ou
parcial das quotas de participação em ações, inalienáveis por x anos. Sempre que os melhoramentos e expansões
dos serviços contivessem melhoramentos e expansão da empresa (incremento de lucro), poder-se-ia lançar mão
dessa forma de pagamento ou da constituição de fundo para ser convertido em ações. Essa prática é a que melhor
corresponde à política jurídica da Constituição de 1946.
O necessário aos melhoramentos e à expansão dos serviços não entra somente em relação com a justa
remuneração do capital, a que êle prefere, pôsto que essa prefira ao quanto de participação nos lucros. Primeiro,
quanto aos tributos, que vêm antes dêle. Segundo, quanto às verbas de previdência não-contributórias (isto é, fora
do art. 157, XVI, da Constituição de 1946, e dos negócios jurídicos sinalagmáticos), às verbas de beneficência e
aos dividendos, exclusivamente destinados a fins de beneficência ou assistência social e “valorização do
trabalho” (conceito que se acha no art. 145), o problema é juridico.

17. FUNDO DE RESERVA COM FINALIDADE DE INVERSÃO.


O fundo de reserva para novas inversões necessárias há de escapar ao cômputo. Cobrar sôbre êle o quanto
participável seria dificultar o desenvolvimento da indústria e, mesmo havendo participação nos lucros, sacrificar
os empregados futuros aos de hoje. A única solução que atenderia aos argumentos contra e a favor da contagem
sôbre os lucros não levados a dividendos (um dêles o argumento da fraude à lei, pela aguagem posterior do
capital) seria a do pagamento em ações.
O empregado, que as recebesse, participaria dos resultados futuros do fundo de reserva. Mais uma razão para se
pender, em técnica legislativa, para a fórmula preferida pela Grã-
-Bretanha, que é a da participação nos lucros ligada somente por êsse caminho se evita que o empregado gaste a
quota de participação; e se obtém algum interesse dêle pela empresa. Em país que precisa de capitais e de levar às
indústrias o capital empregado em bens não criadores de outros bens, a inversão ou a conversão das quotas de
participação em novos empreendimentos da mesma empresa é que pode obviar aos inconvenientes do
salário-adicional, em que, afinal de contas, resulta a participação dos empregados nos lucros.
Os fatôres da produção não são apenas o capital e o trabalho, no sentido estrito; a iniciativa é que os junta e é
trabalho, em senso lato; depende de conhecimentos, habilidade e esforços. A iniciativa é constitutiva, se antecede
a funcionamento da empresa, ou funcional, se já se refere à atividade da empresa. Os vencimentos e comissões
dos diretores e gerentes escapa ao conceito de salário e ao conceito de dividendo. Têm, portanto, de ser excluídos
dos lucros dedutíveis. É preciso que haja dividendos a serem distribuídos, para que haja participação dos
empregados nos lucros. Se não se exige isso, o empregado terá o salário e a quota de participação e o acionista
nada terá. Tal situação afugentaria das indústrias os capitais; em verdade, em vez de se fazer capitalista ou
tendente ao capitalismo o empregado, se criaria a contradição mortal do capitalismo sem capitalistas e do
interesse em lucro que tende a desaparecer. Nos meios industriais dos Estados Unidos da América, onde a
participação nos lucros não é obrigatória ( cogente, imposta por lei), escreve-se que a fórmula da participação nos
lucros deve ser tal que represente divisão equitativa dos lucros da companhia entre acionistas e empregados; no
Brasil, essa distribuição é constitucional, porque reguIta do art. 145 da Constituição de 1946. Nos tempos de
prosperidade, os planos de participação significam muito: há o que distribuir; nos tempos maus, diminui, e quase
se esvai, a sua importância como benefício e como incentivo: distribui-se pouco de muito pouco.

18. FATOS PRE-ExCLUDENTES DA PARTICIPAÇÃO. Há fatos que, ocorridos, impedem a participação do


empregado nos lucros: a) a ação penal ou a de atos ilícitos (Código Civil, art. 159) contra o empregado, por ato ou
omissão lesiva do patrimônio ou dos lucros, ou por ato ou omissão sabotadora, ou de outra finalidade lesiva; b) a
não-satisfação de algum requisito que a lei exija.
Na prática da participação dos lucros, tem-se entendido que há fatos pré-excludentes do direito, pretensão e ação
de participação nos lucros, tais como a falta de freqüência mínima, ou a de “lealdade” à empresa, de que é
exemplo a recusa a aderir ao sindicato de empregados. Defeituosa técnica jurídica deixa dúvidas, às vêzes, quanto
à função dêsses fatos:
se pré-excludentes, isto é, devido a êles, o direito, a pretensão e a ação não nascem; ou se exceções de dolo. Em
boa técnica dos negócios jurídicos e em recomendável técnica legislativa, tais fatos devem ser tratados como
pré-excludentes. Nem se justificaria que tivesse direito a parte nos lucros quem, por exemplo, em vez de
concorrer para êles, os cerceou, inclusive pelas faltas ao serviço, à tarefa ou à execução de peças, ou quem, por
sua negligência, ou dolo, concorreu para os diminuir.

19. DETERMINAÇÃO DO QUANTO PARTICIPÁVEL E QUOTA DE PARTICIPAÇÃO. A ConstituIção de


1946, art. 157, V, não disse quanto se deduziria dos lucros, naturalmente lucros líquidos; nem, tão-pouco, qual a
quota de participação de cada um dos legitimados. São duas questões diferentes, ambas delicadas, que ficaram à
legislação ordinária. Quanto à primeira, há de ser resolvida dentro dos outros princípios constitucionais, inclusive
da realizabilidade da participação nos lucros sem confisco, ou da desapropriação com indenização (art. 141, §
16).
a> Determinado o lucro dedutível, ou se calcula a percentagem sôbre êle, ou se somam as percentagens das quotas
de participação, quando se partiu dessas, eliminadas as dos não -participantes, para se determinar o quanto
participável. Os critérios para a determinação do quanto participável são muitos; e não se deve reduzir demasiado
o resto que se vai distribuir em dividendos. A regra é a determinação percentual.
Em técnica jurídica legislativa, a fixação da mesma percentagem para tôdas as indústrias e comércio parece, à
primeira vista, aconselhável; mas essa unitariedade de tratamento é de admitir-se apenas como provisória, como
experiência social, que fazem os legisladores ordinários, em sua primeira obra de enchimento, digamos assim, do
art. 157, IV. Talvez melhor fôsse, por isso mesmo que se trata de experiência, que se desse à percentagem o
caráter de mínimo, permitindo-se às empresas fixarem acima, no ano anterior. Ao mesmo tempo, êsse método
misto, legal-negocial, poderia atender à diversidade das indústrias e dos muitos gêneros de comércio.
b) Quota de participação é o que cada participante percebe do quanto participável. Enquanto, relativamente a
êsse, os problemas de técnica legislativa mais têm de atender a fôrça de lucros, isto é, a sua aptidão a sofrer
dedução do quanto participável, mais se prendem a dados de ordem subjetiva, no tocante à quota. O quanto tem de
ser determinado segundo informes objetivos da indústria, sem se levar em conta o empregado; a quota é, por sua
natureza, dependente do valor que se atribui ao indivíduo, valor igualitário (quota igual para todos os
participantes do mesmo grau), valor proporcional a alguma qualidade variável (cooperação, responsabilidade), ou
alguma quantidade ligada à atividade do empregado (e. g., produtividade individual, tempo de serviço,
freqúência).
c) É de grande importância saber-se que a Constituição de 1946, art. 157, IV, não adotou qualquer modo de
determinação da quota de participação. A priori, nenhum dêles ofende o art. 157, IV, ou o ad. 141, § 19 (principio
de igualdade perante a lei>. Isso não exclui que se possa, na lei ordinária, compor modo de determinação da quota
de participação, que seja, a posteriori, contrário a algum principio da Constituição (e. g., com discriminação por
idade, sexo, nacionalidade, ou estado civil, arg. ao ad. 157, II; não se considerando freqúência o tempo de
descanso da gestante, art. 157, X; violando-se o principio do direito de greve, art. 158, ou a liberdade de
negociação profissional ou sindical, art. 159, ou mesmo o princípio de conciliação da liberdade de iniciativas com
a valorização do trabalho humano, art. 145).
d)É imensa a variedade de métodos para se determinar a quota de participação dos empregados no quanto
participável, que se separou do lucro dedutível, desde o critério afetivo ou discricionário, em que o empregador, a
comissão ou o agente dêle, distribui o quanto participável, até o da verificação da parcela com que o empregado,
por sua eficiência e produtividade, concorreu para o lucro. É escusado dizer-se que o critério da determinação a
líbito ou discricionária, ainda que não tenha sido discricionária a determinação dos participantes, seria contraria
aos princípios constitucionais. A Constituição de 1946, ad. 157, IV, ao cogitar de participação nos lucros,
concebeu-a como uma das peças do seu plano, apenas esboçado, de reforma social; e o seu princípio fundamental
está no art. 145:
“A ordem econômica deve ser organizada conforme os principios da justiça social, conciliando a liberdade de
iniciativa com a valorização do trabalho humano”. A discricionariedade reduziria a menos do que a Constituição
impõe aos legisladores a participação nos lucros: tratar-se-ia de algo de “festas de Natal” que se houvesse
constitucionalizado.
A participação igualitária, de baixo acima, no quadro do pessoal, não seria contrária a princípios constitucionais.;
porém seria, de inre condendo, fraccionadora, desincentivante, falhando às finalidades mesmas da participação
nos lucro& A participação igualitária gradual seria menos comprometedora, mas, dentro de cada grau, teria, de
iure condendo, os-mesmos inconvenientes. A participação proporcional a alguma qualidade variável, ou a
alguma quantidade ligada à atividade do empregado, seria a mais conforme aos princípios de justiça social.
Porém, só aí, há extrema variedade de métodos, suscetíveis, ainda, de combinações: a) tempo de serviço; b)
freqUência anual; e) economias realizadas pelo empregado (finalidade acessória de desenvolver a poupança e a
previdência individual) ; <1) número de horas de trabalho durante o ano; e) qualidade da obra (alcance de maior
preço, tratando-se de pequena indústria) ; 1) ausência e escala ascendente de penas; g) midor produtividade.
As combinações fazem-se, às vêzes, com um dos métodos para a base, e outro, ou outros, para adicionais à quota
básica. A discussão entre os que preferem um dos métodos e os que preferem outros, ou combinações, é
reveladora de que há de ser adaptada a cada classe de indústrias a solução. Não há, a priori, método melhor se
nêles se faz seleção.
Há uma parte do salário que tem de ser igualitária e a ela refere-se o salário mínimo. O salário mínimo não é mais
do que a quantia certa que se tem de reputar indispensável àcomida, casa, vestir e mais necessidades do homem.
As outras partes ideais são concernentes ao valor do trabalho, segundo regras de economia a que os empregadores
têm de atender se a sua indústria há de perdurar e desenvolver-se. A participação no lucro duplica a função do
empregado, que passa a ser tratado como o capitalista, e a tomar parte na sorte dos lucros da empresa. Não, na
sorte da empresa.
A participação nos lucros pode ser igualitária (participação nos lucros + princípio da igualdade material), pode ser
proporcional (participação nos lucros + princípio da igualdade formal + princípio da proporção ao salário), pode
ser seletiva proporcional à produtividade individual (participação nos lucros, igualdade formal e proporção à
eficiência e produtividade> ou seletiva por competição (participação nos lucros, igualdade formal, processo de
prêmios).
As quotas de participação ou são individuais ou coletivas. No primeiro caso, supóe-se que a produção maior, a
maior eficiência, dependeu somente do empregado; no segundo, a eficiência e a produtividade dependem do
grupo, do time. Daí a necessidade de se admitir, sendo aconselhável, a quota coletiva de participação, igualmente
repartida.

20.QUEM É OBRIGADO À PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS (LEGITIMAÇÃO PASSIvA). Depois de se


saber quem é empresa sujeita à participação nos lucros e quais os lucros dedutíveis é que se pode perguntar qual o
empregado que tem legitimação à participação nos lucros. Todavia, mais adequado a boa exposição é partir-se do
texto constitucional, saber-se o que é que êle deixou à legislação ordinária (e foi quase tudo) e chegar-se,
depois, a determinação da empresa subordinada à participação dos empregados nos lucros. Primeiro, porque
algumas são excluidas, exatamente por lhes faltarem lucros dedutíveis; segundo, porque o princípio geral é o da
legitimação de quaisquer empresas.
As empresas que não têm lucros não estão sujeitas à participação . E o que acontece aos serviços estatais
(federais, estaduais, municipais), às instituições de beneficência, recreativas, científicas, culturais e outras sem
fim lucrativo. Tão-pouco, as empresas ou escritórios de profissões liberais, embora tenham fim lucrativo; porque
os empregadores são, aí, trabalhadores intelectuais, artísticos, ou científicos.
As empresas de propriedade da União, dos Estados-membros, dos Territórios, do Distrito Federal e dos
Municípios somente estão sujeitas à participação nos lucros se o estavam antes e passaram, transitóriamente, à
unidade política, ou se já se organizaram para serem desligadas, oportunamente, dela.
O Projeto da Comissão de Legislação Social exprimiu esse pensamento, dizendo (art. 3.~, parágrafo único) :
“Não se incluem nos benefícios desta lei: f> os empregados das empresas de propriedade da União, dos Estados e
dos Municípios, salvo em se tratando daquelas cuja propriedade ou administração resultem de circunstâncias
transitórias”.
As autarquias e as entidades paraestatais estão fora da legitimação passiva, se não exercem atividade com fim de
lucro não destinado a seguros, pensões, fundos de assistência social, etc. Há exclusão dos empregados nos lucros,
pelo principio de preponderância do interesse público ou geral.
Por fôrça das circunstâncias, excluem-se da legitimação passiva as empresas deficitárias e aquelas cujos lucros
não correspondam à remuneração mínima (legalmente fixada) do capital mais o quanto mais alto pago ao
proprietário ativo da empresa, ou aos socios ativos. A lei que o infrinja é contrária à Constituição de 1946 (arts.
141, § 16, e 145). Se a lei não fixou a remuneração mínima de capital, é a da taxa dos juros legais. Essa taxa pode
ser deduzida dos lucros, para se determinarem os lucros dedutíveis, ainda que a lei seja omissa quanto à dedução;
após decretação da inconstitucionalidade da lei, se essa estatuiu, explicitamente, que se não deduzisse.
O problema técnico das filiais, sucursais e agências resolve-se fàcilmente pela discriminação compulsória ou
voluntária para o impôsto de renda. Desde que a empresa ligada faz a sua declaração à parte e, segundo a
legislação fiscal, pode fazê-lo, está habilitada e deve estabelecer a participação dos empregados nos lucros, ad
instar da sua autonomia para o fisco.

21.CONTEÚDO DO ART. 157, IV, DA CONSTITUIÇÃO DE 1946.


A participação dos empregados nos lucros, segundo a Constituição de 1946, art. 157, IV, é (a) técnica de
conciliação do capital, do trabalho, sensu stricto, e da iniciativa (fundação da empresa, direção, etc.), e não
instrumento para o sacrifício da produção, ou estabelecimento, a priori, de direitos, pretensões e ações, sem
consideração de outros interesses, acima dêsses interesses, embora, em grande número, individuais; tem de
atender a (b) principias de justiça social, a (c) política de conciliação da liberdade de iniciativa e da valorização
do trabalho humano (art. 145), tendo (d) por base o interesse público qualquer intervenção na dimensão
econômica, que para isso se faça (art. 146, 23 parte), sem que se possa tirar ao capital (e) a sua justa
remunerabilidade (arg. a fortixn-i ao art. 151, parágrafo único).
Qualquer violação dêsses princípios dá ensejo à postulação da inconstitucionalidade da lei ou decreto
regulamentador, com a conseqúente decretação de inconstitucionalidade (ação constitutiva negativa ou
mandamental, ou em recurso extraordinário, ou incidenter, como questão prévia).
A participação dos empregados nos lucros é “obrigatória”, diz o art. 157, IV: compulsória, cogente. A
constitucionalização da participação dos empregados nos lucros é o último grau a que atingiu o fato social da
participação dos empregados nos lucros, desde que se manifestou, saindo-se do coamnismo primitivo dos clãs e
das fratrias e tribos, o individualismo econômico, com a participação matriarcal, patriarcal, negocial (negócios
jurídicos unilaterais, bilaterais ou plurilaterais), e legal ordinária. Cumpre, porém, observar-se que essa
constitucionalização é apenas do conceito, da atribuição ao Poder Legislativo e dos caracteres de
compulsoriedade (= obrigatoriedade) e de percepção direta. Trata-se de garantia instituewnai criativa: a
Constituição não admite legislação do trabalho sem essa instituição, nova para o sistema jurídico brasileiro, que é
a participação dos empregados nos lucros, compulsória, pois só tínhamos restos da participação patriarcal e a
negocial unilateral (por promessa unilateral do empregador) ou bilateral (convencional entre empregador e
empregado) e plurilaterai (convencional entre empregador e empregados, inclusive coletiva).
A participação dos empregados nos lucros tem de ser, pela Constituição de 1946, “direta”. A técnica francesa e a
dos Estados Unidos da América adotam, às vêzes, o depósito em fundo, de ordinário irrevogàvelmente, para
ulterior distribuição sob condições especificadas. Não se pode dizer, de antemão e a priori, que êsse método de
solução da dívida seja elemento que faça indireta a participação. O fundo pode ser para execução de obra pra
indiviso e então de modo nenhum atinge a participação no ser direta ou indireta. A interposição de alguma
instituição, que distribui as quotas, isso, sim, é absolutamente contra a Constituição de 1946. O fundo, para que se
comprem, com o dinheiro, casa, ações, terreno, etc., é apenas fundo de conversão , desde que não se estabeleça
restrição à propriedade do dinheiro, ou não se intrometa expediente de chicana, como lista organizada pelo fundo,
arbitràriamente, para a aplicação. Com o adjetivo “direta”, a Constituição de 1946 exclui percepção por
instituições, para reemprêgo do percebido; não exclui a função de conversão.
Os tributos, o fundo de reserva necessário aos melhoramentos e expansão dos serviços (conceito que é de direito
constitucional, cp. art. 151, parágrafo único), e as verbas retiráveis dos lucros por lei ou por negócio jurídico, se o
interesse é público ou geral, têm de ser pagos antes de se deduzir o quanto participável; bem assim o que,
destinado aos próprios empregados, ou a círculo de pessoas acima dêles (êles + os outros empregados do mesmo
bairro; êles ± os, outros empregados da mesma vila), possa ser desfalcado pela dedução, incluída tal verba, ainda
que se trate de fundação por ato entre vivos ou a causa de morte, mantida com dividendos.
Dentre os critérios de participação (eficiência e produtividade individual, ou coletiva, se a medição só se pode
fazer coletivamente; tempo de serviço; freqúência; encargos de família), o que mais atende à finalidade da
instituição da participação dos empregados nos lucros é a eficiência ou a produtividade; depois, a freqúência. O
critério do salário é bis in idem, que mais perturba do que auxilia à prática da participação nos lucros, tendendo a
transformá-la em salário adicional, sem oferecer as conveniências dêsse (e. g., só é paga no fim do ano, ou, pelo
menos, periodicamente). A relação do salário é com o montante dos negócios, não com o lucro; por isso, a
empresa, pagando grandes quantias a dezenas, centenas, ou milhares de empregados, pode perder, isto é, não ter
lucros e ter de lançar mão de capital, de fundo de reserva ou de empréstimos. A relação da participação dos
empregados nos lucros é com os lucros dedutíveis: só existe se há lucro. Não se deve de modo nenhum confundir
salário com participação nos lucros. Salários, todos os empregados têm de ter. Participação nos lucros, se todos os
empregados a têm, é instituição frustrada. O que se despende em salários é aproximadamente seis vêzes mais do
que se tem de lucros; de modo que, se se distribuem lucros, em participação, a todos os empregados, é tão pouco
o que vai a cada um, que se frustraria tôda finalidade da instituição da participação nos lucros e se daria azo aos
seus adversários a que digam: “. . . l‟attente que la participation aux bénéfices impose aux ouvriers pour obtenir
un complément de salaire les incite à un désintéressement ou‟accroit la modicité de ce complément. La
participation aux bénéfices est un effet plus qu‟une leurre, c‟est une duperie” (EUGÊNE SCHUELER, Vers une
Économie proportionnelle, 76). Esperar meses, ou um ano, ou mais, por tão pouco, nenhum efeito psicológico,
econômico, ou político, pode ter. Salário é salário; participação nos lucros é participação nos lucros. A
Constituição de 1946 distinguiu-os nitidamente, expressamente: salário mínimo (art. 157, 1); salário (ad. 157, II,
III) participação nos lucros (art. 157, IV).
A Constituição de 1946 não impôs a participação dos lucros a favor de todos os empregados. É matéria de
discussão e programa de partidos políticos. Os de extrema esquerda ou a repelem, ou a querem única, igualitária e
total, ou proporcional ao salário, para que funcione como salário adicional,
ínfimo; os de extrema direita hão de querê-la mínima na percentagem formadora do quanto participável e
limitada ao saltos postos. O critério científico é o de legitimação de todos à competição e de percepção pelos mais
eficientes e produtivos,ou que apresentem outras qualidades para seleção. O tempo de serviço, critério básico
para aposentadoria e paga de retirada, não no é para a participação nos lucros: todos começam a trabalhar mais ou
menos à mesma idade, as mudanças de empregador das “Grandes empresas não significam muito (ou re-velam
volubilidade, ou exatamente o contrário: seleção pelos novos empregadores). Não se podem mudar os fatos do
mundo:se se distribuem 20% ou 30% dos lucros a todos os empregados, o sacrifício é grande para os que
percebem dividendo e pouquíssimo significa para os empregados; vão receber alguns dias de salários. Não é êsse,
em interpretação jurídica da Constituição de 1946, o pensamento que se pode extrair dos arts. 157, IV, e 145. A
Constituição de 1946 não impôs técnicainútil, tôla, sem qualquer conseqúência proveitosa e perturbante da vida
econômica; a Constituição de 1946 teve por fito entregar aos legisladores ordinários técnica que alguns crêem
criadora de melhores relações entre os empregadores e empregados, máxime nos últimos decênios de
intranqüilidade social. Tem por si palavras do National Industrial ConferenceBoard (Profit Sharing for Workers,
26-27) : “There has beenai least a 10% general increase in efficiency”, “Efficiency isof the highest because each
employee has a direct interest inprofit of the company”. A inversão ou conversão em bens, inclusive
propriedade sem comum pro diviso, é sempre admissível, se não quebra a exigência de ser direta a participação
nos lucros. Um dos mais aconselháveis métodos é o de paga em ações, ou em terrenos,ou casas, mediante prévia
aprovação do plano. A participação nos lucros é individual, quando é em quota a cada participante, e coletiva,
quando todo o quanto participâvel é entregue a empregados de seção ou subseção da emprêsa, ou tôda, ou parte
(só essa, então, é coletiva), a instituição, de modo que os empregados delas recebem, sem ser em quotas, ou em
quotas iguais, ou por seleção posterior, 05 benefícios. Diz-se imediata, quando os empregados a percebem da
empresa, e mediata ou diferida, se só após alguma ope
ração é que êles a percebem. A participação nos lucros pode ser direta individual (cada participante percebe da
empresa, de per si), seja imediata (recebimento em caixa, ou em outro bem, título para que escolha a casa), ou
mediata (crédito de x para compra de casa). Dá-se o mesmo com a participação direta coletiva. Desde que o
dinheiro haja de ser movimentado por terceiro, com risco, sem ser na construção e nas aquisições, a participação
deixa de ser direta.
Se todo o quanto participável é empregado em escolas, ginásio, hospital, ou outro estabelecimento, por ações, ou
quotas, que sejam adquiridos com as quotas de participação, de uma só vez ou em entradas anuais, ou por periodo
menor, se o hospital não fica propriedade da empresa, ainda é direta a participação. A Lei devia dar margem aos
empregados e às empresas , ou a essas, para resolverem sôbre a inversão au a conversão, de acórdo com as suas
necessidades e conveniências , desde que se não infrinja o art. 157, IV. Um dos inconvenientes dos projetos
surgidos no Congresso Nacional é o de somente serem concebidos em regras jurídicas co gentes (lus cogens).
Tinham de as conter, em reduzido número; ao lado delas, estariam regras jurídicas dispositivas (ius dispositivum)
e regras jurídicas interpretativas (ius interpretativum). Ésse trabalho de técnica jurídica legislativa se impõe,
principalmente diante do art. 157, IV, se queremos pôr em prática o art. 157, IV, e não cometer o grave êrro de,
por imperícia de técnica jurídica legislativa, concorrermos para mais um argumento experimental contra a
participação dos empregados nos lucros.
Diluído o quanto participável entre todos os empregados de empresa de milhares dêles, mais ou menos
igualitariamente, seleção perceptivel, estaria sacrificado o plano de participação dos empregados nos lucros, em
sua finalidade psicológica, econômica e política.
Lei que a tal ecletismo chegasse nos critérios ou métodos de participação (salário, antiguidade, encargos de
família, assiduidade, eficiência), fracassaria: ainda como experiência , a participação nos lucros, que se
planejasse, nenhum valor teria. Experiência, que prova bem, é experiência que serve à política
de se conservar a lei; experiência, que prova mal, e que serve à política de correção da lei. A experiência,
nos ficaria de plano que fôsse científico, não provaria, a f avor, nem contra qualquer dos métodos de participação;
mas o fracasso ficaria patente aos olhos dos empregadores, que nao colheriam qualquer vantagem, do Estado, que
assistiria à inútil perturbação na vida econômica, e dos empregados, que pouco teriam recebido e seriam as
melhores testemunhas do seu próprio desinteresse pela dedução do quanto participável e seu complicadíssimo
sistema de participação.
Ora, há, no art. 157, IV, revelação de convicção do legislador constituinte, convicção que está à base de tôda
garantia institucionaL. Ai, é a convicção de que se pode obter, com a técnica da participação dos empregados nos
lucros, no plano psicológico e econômico, o seu interésse pela maior, mais barata, melhor e mais lucrativa
produção, como causa de aumento dos lucros e, pois, das quotas de participação; e, no plano social e político, se
não a fusão, a colaboração leal do capital e do trabalho. O método para o alcançar é matéria para programas de
partidos, cada um com o seu critério, ou combinação dêles, a fim de se apurarem os resultados e se porem à
mostra os seus erros e acertos, ou para a experiência pelas empresas e empregados, dentro da autonomia da
vontade que se lhes deixa em regras jurídicas dispositivas e inter pretatinas. Nenhum mal maior do que
encambulharem-se todos os métodos, e não se permitir qualquer julgamento dêles; só restariam a confirmação
dos fracassos e a condenação, por perturbadora e inútil, da participação nos lucros. De certo modo, traição ao
texto constitucional.
O lucro, em si, não é elemento absoluto da contabilidade, provém de cômputo e avaliações; de modo que é de
tôda importância que se faça, claramente, a demonstração. Donde o dilema: ou a) se permite aos empregados
impugnar o balanço, a determinação do quanto participável e a determinação das quotas de participação, ou b) só
se permite em algumas espécies. Se a), a investigação pode descer a pormenores, o que seria difícil, se não
impossível, admitir-se. Se b), o problema de técnica jurídica é de extrema delicadeza. Se se recusa qualquer
impugnabilidade, então a participação nos lucros, em vez de contribuir para maior confiança entre empregados e
empregadores, vai ser fonte constante de desconfianças. (O Projeto de lei n. 1.039, de 1948, art. 25, não precisava
os casos e abria portas ao tratamento das divergências como dissídios apreciados e julgados pela Justiça do
Trabalho, o que levaria, em vez de à conciliação, ao acirramento da luta e das desconfianças e das hostilidades e
das incompreensões irremediáveis entre os empregados e os empregadores.>
Temos de pensar e resolver os problemas, no plano da técnica jurídica legislativa. O art. 157, IV, deslocou do
plano negocial para o da lei (verbis “nos têrmos e pela forma que a lei determinar”) o direito de participação dos
empregados nos lucros. Isso não quer dizer que a lei tenha de prover a tudo, nos pormenores; as regras jurídicas
dispositivas e as interpretativas também são lei; lei é o que delimita o campo (Ias regras jurídicas e a autonomia da
vontade.
a)No primeiro estado ou fase da legislação de que cogita o art. 157, IV, ainda não há experiência. Essas
experiências já existem, noutros países, que se acham em graus diferentes de industrialização, porque se praticou,
com resultados dispares, a participação dos empregados nos lucros, ligada a diferentes métodos de determinação
das quotas e de solução da dívida de participação. A atitude do legislador brasileiro teria de ser a de dar larga
autonomia da vontade, na concepção dos planos, dentro dos conceitos constitucionais (“participação nos
lucros~~, “obrigatória”, “direta”) e de certas regras juridicar tidas, desde jd, como essenciais e, pois, cogentes.
Para se evitarem dúvidas, seria conveniente inserirem-se algumas regras jurídicas interpretativas.
b)Amadurecida a experimentação, os partidos políticos separar-se-iam, naturalmente, na sustentação dos seus
princípios; e as diferentes teses, sôbre o que se deixara à autonomia da vontade, se inseririam nos seus programas.
Bem assim, as diretrizes de reforma da lei.
Tal o caminho de tôda evolução jurídica, dentro da reflexão e dos bons propósitos.

22. LIMITEs DE DIREITO E LIMITES DE EXERCÍCIO. A Constituição de 1946, art. 157, IV, deixou à lei
determinar os limites da participação obrigatória e direta, limites do direito e limites do exercício. Isso, se, por um
lado, permite ao legislador ordinário pôr em têrmos de puro direito de crédito de direito comum, sem quaisquer
seguranças que as do direito comum, civil e penal, o direito de participação nos lucros, por outro lado entrega a
líbito da legislatura ordinária avançar com êsses limites e criar seguranças ao direito. A matéria das seguranças,
inclusive das medidas preventivas, é da competência do mesmo legislador (ConstituIção de 1946, art. 5.~, XV, a),
o que facilita a edicção de regras jurídicas por parte dêle. O segrêdo dos negócios e da escrita não é assunto de
direito constitucional, por ser fora do âmbito da regra jurídica constitucional sôbre segrêdo de correspondência
(liberdade de não divulgar o pensamento, de não o emitir para todos). ~ Que pode fazer o legislador ordinário?
Desde logo, o problema ganha em claridade: o legislador poderia permitir exames de escrita e verificações de
contas, se entendesse que isso fôsse necessário à participação efetiva nos lucros (tese) ; pode vedá-los (antítese) ;
pode dizer quais as espécies em que êsses exames e essas verificações de contas seriam permitidas e quais os
pressupostos para a propositura da ações (síntese).
Maior claridade ainda se faz se distinguimos as medidas de segurança, prévias, preparatórias ou incidentes, e os
atos de ingerência na administração. Naquelas, há enunciados de fato (comunicações de conhecimento>, de que
se faz prova, ou são objeto da prova que se pede. Nesses, não; se enunciados de fato há, o seu papel é secundário:
há premissas no indicativo e premissa no imperativo, para que possa ser no imperativo a conclusão (faça-se, ou
não se faça; inverta-se, ou não se inverta). Não há elemento de ato na res in indicium dedueta, tratando-se de ação
preventiva ou cautelar: o ato, que se pede, é prestação do juiz. Nos atos de ingerência, não: o que pedisse estaria a
querer que a sua vontade prevalecesse. Todo ato de ingerência é deliberação ou elemento para a formação de
deliberação. O poder legislativo dos arts. 5.o, XV, a), e 157, IV, não vai até aí: o legislador ordinário não pode
invadir a esfera jurídica das empresas sujeitas ao art. 157, IV, a ponto de compulsôriamente estabelecer a
ingerência dos empregados nas deliberações da administração. Seria transformar o instituto jurídico da
participação nos lucros em participação na administração , conceito que não aparece na Constituição de 1946 e
estaria em contradição com os arts. 141, § 16, 156 e outros da Constituição de 1946.
Nos livros de política do trabalho encontram-se planos teóricos e tentativas de organização da administração das
empresas com a participação dos empregados na. administração, mas essa figura nada tem com a participação
nos lucros. Histórica e sistemàticamente, os seus fundamentos, os seus meios, os seus fins e a sua técnica são
diferentes.
a> A Constituição de 1946 deu à legislação do trabalho grande papel político, não anuiu em se instituir,
computa?» riamente, a participação dos empregados no. administração das emprésas. Tal participação pode ser
regulada, para o caso de negocialmente a estabelecerem as empresas; não lhes pode ser imposta. O legislador
ordinário pode desapropriar, estatalizar; não pode submeter os donos de estabelecimentos industriais ou
comerciais à co-decisão com os empregados. Essa co-decisão somente se poderia fundar em cooptação pelos que
são donos da empresa ou pelos que foram escolhidos para a direção, segundo os estatutos; portanto, só
negocialmente. Na realidade, essa colaboração é suscitada a cada passo, espontàneamente, ou como rotina de
serviço, automàticamente, com o caráter de consulta; porém consulta e deliberação são inconfundíveis:
quem é consultado dá o seu parecer, sem co-decidir; quem co-decide pode não ter sido, sequer, consultado. De
regra, as deliberações em comum são combinações de consulta, discussão e decisão; pode ser, porém, que, nas
diretorias, cada um, ou algum ou alguns se restrinjam a votar.
b) Quanto à veracidade dos negócios e das contas, muda de figura o problema. Os empregados, aqui, não
pretendem ingerir-se, não pretendem co-decidir. Há apresentação ou publicação dos balanços, da formação do
lucro dedutível, do quanto participável e das quotas de participação. Pode ter havido infração de leis, erros de
cálculo, fraude à lei e crime.
O Estado pode, dentro da lei, argúi-lo e dar prova da sua argUição, se há interesse seu, como acontece com o
impôsto de renda. Todavia, a técnica do direito público, atendendo aos princípios do direito comercial,
fortalecidos pelo liberalismo econômico do século XIX, sôbre segrêdo da escrita e dos livros comerciais, fêz
dependente de existir interesse público
a exceção, e. g., exame parcial e total para fins de prova de infração das leis fiscais, dos erros, da fraude à lei e dos
crimes. No que concerne ao impôsto de renda, as “declarações” dos contribuintes são comunicações de
conhecimento, enunciados de fato, e não declarações de vontade. A presunção é a de serem verdadeiras. Para as
elidir, tem a Fazenda Pública de argui-las de falsas, ou por fraude, ou por êrro material ou não, ou de suspeitas: no
primeiro caso, a Fazenda Pública emite comunicação de conhecimento, contrária a tôda a comunicação que o
contribuinte fêz, ou a parte dela. No segundo, a sua dúvida suscita o pedido de esclarecimento, de acôrdo com os
prazos legais. A revisão, para se apurar a verdade (pois que se trata como revisível a comunicação de
conhecimento feita pelo contribuinte), só se admite se a Fazenda Pública pode emitir comunicação de
conhecimento contrária àdo contribuinte, ou se lhe falta elemento de comunicação de conhecimento, por parte do
contribuinte, em que se baseie. t de tôda a importância saber-se que as “declarações” dos contribuintes são
comunicações de conhecimento. Os enunciados de fato, dirigidos a alguém e recebidos, estabelecem situação
jurídica, que é a de postulação, com o ônus de provar, ou a de afirmação dotada de presunção de verdade. No
direito fiscal do impôsto de renda, o contribuinte tem o ônus de afirmar, e não o de provar, pôsto que a autoridade
lançadora possa suscitar a produção de prova por parte do contribuinte e, em caso de dúvida, pedir-lhe
esclarecimentos. A lei permite que a repartição arrecadadora exija os comprovantes necessários. Se o contribuinte
não atende, dá-se o lançamento de oficio. O lançamento, portanto, é feito: ou a> com base na comunicação de
conhecimento emitida e entregue pelo contribuinte, seguido de notificação, porque todos êsses atos são
receptícios; ou b) de ofício, em três casos, que são o de não ter o contribuinte feito a comunicação de
conhecimento inicial, o de ter ocorrido preclusão para prestar esclarecimentos, ou de não ter sido satisfatório o
esclarecimento prestado, e o de inexatidão da comunicação inicial ou provocada. A inexatidão compreende a
omissão em sentido estrito, a dedução de despesas que não foram feitas e os abatimentos indevidos. A autoridade
lançadora profere decisão administrativa, porque está apreciando

comunicações de conhecimento. A sua função é a de cognição administrativa da dívida (au e quantum debeatur).
A lei mesma estatui que os esclarecimentos prestados só são impugnados pelos lançadores com base em
elementos seguros de prova ou em indício veemente de falsidade ou de inexatidão.
S a essa coisa julgada administrativa que se referia o Projeto de lei n. 1.039, de 1948, atribuindo-lhe a eficácia
anexa de alterar o quanto do lucro dedutível e o quanto participável (art. 26: “No caso de revisão da declaração de
renda pela repartição competente.., a empresa pagará de uma só vez as diferenças que daí resultarem em favor do
empregado, respeitada a atribuição anterior”). No art. 21, o Projeto de lei n. 1.089, de 1948, estabelecia: “Dentro
de 90 dias da data do balanço, a empresa afixará a cópia do mesmo em local apropriado, juntamente com a
demonstração da conta de lucros e perdas e um resumo dos cálculos efetuados para os fins desta lei”. Aí estão o
balanço, o cálculo do lucro dedutível, o quanto participável e as quotas de participação. Balanço, cálculo de lucro
dedutível, quanto participável e quota de participação são comunicações de conhecimento. Podem ser exatas ou
inexatas. São inexatas quando omissas em deve ou em haver, ou deducentes de despesas que se não fizeram, ou se
houve abatimentos indevidos.
Se a lei viesse equiparar o empregado ao Estado, poderia êle não só propor ação contra a empresa para a
verificação da sua arguição, como impugnar as contas, exigindo esclarecimentos e provas. Não é a mesma coisa
conferir o direito de impugnação e a ação de verificação principaliter.
Além disso, ter a ação de verificação de contas, por argúição de inexatidão delas, ou, a fortiori, em casos
especiais, não é ter a ação preparatória ou a de exibição preventiva de livros. Pode ter aquela sem ter essa.
Não se equiparando o empregado ao Estado, a analogia que pode ocorrer é com o empregado interessado
(negocialmente, e não por lei). No século passado, a questão foi assaz discutida no direito comercial brasileiro: à
tese do‟ não-direito à exibição integral dos livros (Relação do Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1SS3, O D., 33,
460) sucedeu a antítese do direito à exibição, com o fundamento da comunhão de interêsses (Tribunal de Justiça
de São Paulo, 27 de setembro de 1895, II. de J., 1, 493 s.; 13 de abril de 1898, VIII, 417; 4 de abril de 1904, São
Paulo J., IV, 410: “. . .o empregado que, além do ordenado, tem interesse nos lucros líquidos da casa, comercial,
tem o direito de pedir o exame total da escrituração para a verificação dos lucros correspondentes à sua
percentagem”; 19 de agôsto de 1909, 20, 451 5.: .... .o caixeiro interessado tem comunhão de interésses que só
podem ser verificados e garantidos pelo exame de livros”; 2,a Câmara Cível da‟ Cârte de Apelação do Distrito
Federal, 16 de outubro de 1906, o .0., 101, 442 5.: “o caixeiro interessado tem posição igual à do capitalista”).
Seja como fôr, tal como o Projeto de lei estava redigido, deixaria campo aberto a essa analogia, que tem a seu
favor serem os interessados „~participantes nos lucros”, ali, negociais <donde ter dito o acórdão do Tribunal de
Justiça de São Paulo, de 19 de agôsto de 1909, que há “comunhão de interesses”, e o da 2~a Câmara Cível da
Côrte de Apelação do Distrito Federal, de 16 de outubro de 1906, que “o patrão se sujeitou implicitamente à
exibição”), e aqui, legais, e contra si a inexistência de atribuícão do interesse pela empresa, que pode estar
obrigada, assim, a exibir livros a pessoa em que não confia: o argumento da “sujeição implícita” falha.
23. O PROBLEMA “DE IURE CONDENDO”. (1) De ordinário, os institutos jurídicos nascem do direito
consuetudinário, ou em camadas legislativas e jurisprudenciais, que lhes traçam a linha de evolução, e alguns
logram entrar no direito constitucional. Quando, em vez disso, é no direito constitucional que nasce o instituto, ou
se assenta que há de nascer, os problemas mais graves são os de elaboração do instituto, dentro do conceito que a
Constituição adotou. Problemas, portanto, de lege‟ ferendo e extremamente sutis.
(a) Certamente, são requisitos para boa lei de‟ participação nos lucros o não se afastar dos princípios
constítucionais e poderem os empregados compreender como a) se forma o lucro dedutível, como b) se forma e se
deduz o quanto participável ( a. ser distribuído pelos legitimados-participantes>,, como e) se determina a quota de
participação e como d) se procede à distribuição. Mas, ao lado dêsses interesses, dignos
de respeito pela lei, está o de se não devassar a vida interna das empresas, algumas das quais podem ser detentoras
de segredos de Estado. Preliminarmente, afaste-se a concepção de direito real dos participantes antes da
participação, pelo menos da declaração de estar à disposição do participante a quota.
Os lucros da empresa, à medida que se produzem, sao dela. Esses feitos , às vêzes separados, outras não,
pertencem a ela, até que se lhes dê destino, segundo as leis e os estatutos, ou deliberações de acôrdo com aquelas
e êsses. O direito, a pretensão e a ação de participação nos lucros, conforme o conceito do art. 157, IV, da
Constituição de 1946, não foram construídos por essa; não disse ela de que espécie de direito ou pretensão se
trata, nem, sequer, apresentou algum pressuposto além dos que derivam das expressões empregadas
(“participação obrigatória e direta nos lucros”, pelo “trabalhador”>. Há, porém, momento em que o direito à
participação é só pessoal. Nem se poderia entender diferentemente, pela inconfundibilidade entre partilhar e
participar. Não se partem, pelos acionistas, pelos trabalhadores e outros que recebem percentagem dos lucros, os
lucros. Os trabalhadores participam dêles; não são co-titulares dos lucros, antes de serem atribuidas a êles as
quotas e passarem ao seu patrimônio. Não há, antes disso, direito real, como o do dono dos frutos, na espécie a
empresa; o direito é pessoal, contra essa. À técnica jurídica, consoante alhures já dissemos, pode cercar de
segurança e garantias êsse direito. Pode mesmo concebê-lo após a distribuição , embora antes da posse imediata
como direito real; para isso, teria de proceder a alterações profundas no direito civil e no comercial. Em boa
técnica, seria contra-indicado, econômica e socialmente pernicioso, sôbre só se poder atender após o momento de
pura personalidade que antecede, necessàriamente, à distribuição. Forçaria a natureza das coisas. A solução, de
inre condendo, é a do privilégio creditório. A Constituição de 1946 deixou à legislatura ordinária traçar as raias
do direito, da pretensão e da ação de participação nos lucros. Por outro lado, absteve-se de outras caracterizações
que as derivadas dos quatro conceitos: trabalhador, participação nos lucros, obrigatória, direta. Obrigatória é a
participação direta nos lucros; não a generalidade dela, não o terem de participar
todos os trabalhadores. É possível que haja seleção e seja gradual para se formar o corpo de legitimados a
participar. Veremos que êsse ponto é capital para a solução do problema:
quem não é legitimado a participar não tem interésse a que possa corresponder ação de exibição ou de verificação
de contas.
(b) Quanto à legitimação ativa para a ação de exibição e a de verificação de contas, decorre dos princípios que só
os legitimados a participar (ou, melhor, os participantes) dos lucros podem tê-la: não se concebem essas ações
sem se saber a que direito ou pretensão servem. Mais aconselhável é que tais exibições e verificações só se
permitam pedidas coletiva-mente, por maioria absoluta, ou por dois terços dos empregados, e quando haja
comêço de prova das acusações feitas e, incidentes, nas ações contra as diretorias ou assembléias fraudadoras, e
não preparatôriamente. A ação preparatória seria, não se propondo ou não se prosseguindo na ação a que
antecede, de consequências morais e materiais lamentáveis, inutilmente.
É, portanto, problema de técnica legislativa determinar quais os legitimados à ação de exibição e à de verificação
de contas. De lege constituenda, atendidas as contra-indicações de legitimação de qualquer trabalhador da
empresa e, até, de qualquer dos legitimados a participar, se as circunstâncias mostram que, in concreto, não vai
participar, a solução melhor é a de só se admitir a titularidade do corpo de legitimados a participar, exigido
quórum ou número mínimo (maioria absoluta, dois terços, três quartos).
Os participantes não são em relação jurídica recíproca; são em relação jurídica com a empresa. Aí é que as
diversas relações jurídicas, em feixe, se tocam, mas sem se estabelecer relação jurídica a múltiplos sujeitos. Tudo
isso é certo; portanto, no tocante à quota de participação, cada trabalhador legitimado a participar (e. g., se propõe
ação de nulidade ou de anulação do processo de seleção ou de distribuição) age por si; bem assim, cada
participante. Todavia, no tocante à formação do lucro dedutível e à dedução do quanto participável (aliter, quanto
à determinação da quota de participação), há comunidade de interesse, ou há afinidade de questões, que
justificaria, de lege lata, o litisconsórcio segundo o art. 88 do Código de Processo Civil e, de lege ferenda, a
legitimação ativa coletiva, com ou sem exclusão da legitimação ativa individual. Há, porém, tõda a conveniência
em que se exclua a essa.
O fato de não ter a soma dos legitimados à participação nos lucros, nome, nem domicílio, nem personalidade
jurídica, nem representação processual, ou extraprocessual, não exclui que a lei conceba as ações de verificação
de contas e de exibição como dependentes de litisconsórcio necessário inicial.
(c)O problema técnico da legitimação ativa à ação de exibição e à de verificação de contas é assaz relevante;
porém não é o único, de inre condendo. Tem-se de saber quais as espécies de acusações e qual a prova inicial
exigida para que haja a pretensão à exibição e a pretensão à verificação das contas. Tudo sugere que as espécies
sejam precisadas na lei especial, correspondendo a figuras penais, e o processo atenda à necessidade da prévia
cognitio non plena, à vista de comêço de prova, com recurso da decisão de cognição incompleta, e da cognitio
plena, posterior. Excluída, porém, a exibição prepara-teria, e só admitida incidenter. Assim, o juiz examinaria se
há prova que baste ao adiantamento de cognição, a respeito da figura que se aponta, dentre as que a lei reputa
pressuposto suficiente; a exibição e a verificação seriam decretáveis, como incidente da ação penal e comum (de
trabalho).
(d)Além do problema da legitimação, para a ação de exibição e para a de verificação de contas, e do problema da
enumeração das espécies de acusações (pressupostos objetivos), há o problema da legitimação passiva: ~ contra
quem vão essas ações? Ou se conceberiam como ações contra os diretores e assim é que se entenderia a ação
penal, ou contra a empresa. A primeira solução evita a disparidade de legitimação passiva, se a pretensão penal e
a civil (de trabalho) são exercidas cumulativamente. A cumulação e a não-cumulação são outro problema de
técnica legislativa que então se apresenta. (As ações cíveis contra os diretores são contra êles e contra as
empresas, uma vez que são órgãos para a vida exterior delas.)
Está em causa a distinção entre matéria constitucional e matéria de legislação ordinária: tudo que pertença à
legislação ordinária, isto é, tudo sObre que a Constituição não entendeu edictar regras jurídicas cogentes, é espaço
deixado à programação dos partidos políticos, à discussão entre êles, à projetação , à projetação, à redação
definitiva e à edicção das regras jurídicas, que traduzam a opinião vencedora. Quanto às regras jurídicas
constitucionais programáticas, como éa do ad. 157, IV, da Constituição de 1946, algo se faz matéria
constituciOnal como programa constitucional e algo se deixa à legislatura ordinária.
É missão do intérprete e dos aplicadores da Constituição, inclusive quando exercem a função legislativa
ordinária, discriminar o que a Constituição mesma adiantou como programa e, pois, por sua origem, como
matéria acima de discussão (salvo para emenda à Constituição), e o que deixou aos legisladores ordinários. Ora, o
deixar-se na Constituição aos legisladores ordinários, nas democracias, que são formas de govêrno em que se
trava a discussão para se chegar à co-decisão, é abster-se a Constituição de dar solução, atribuindo-o a
assembléia, é permitir, portanto, a ingerência deliberativa dos partidos políticos.
O art. 157, IV, da Constituição de 1946 é o que primeiro nos interessa na delimitação do que é matéria
constitucional e do que não é matéria constitucional (matéria de legislação ordinária, ou matéria política, stricto
sensu). Porém não é essa regra jurídica constitucional a única que atua na delimitação. A Constituição tem de ser
interpretada no seu todo e em cada uma das suas regras, que possam contactar-se com a matéria da participação
nos lucros. Os arts. 141, § 16, 146-148 da Constituição de 1946 são, por exemplo, dessas regras jurídicas que
levam a rigidez constitucional até tocar a matéria da participação nos lucros. Os partidos políticos podem inserir
nos seus programas o que quiserem, dentro do espaço de que se absteve a Constituição, com o programa de
feitura, corrigenda ou revogação de leis ordinárias, e, como programa de emenda constitucional, o que fôr
concernente aos pontos tidos pela Constituição como fixados por ela. Assim, o que está na Constituição e o que
nela não está e se deixa à legislatura ordinária é, sempre, matéria eventual de programas de partidos políticos,
salvo se há texto da Constituição que veda a emenda em algum ponto (cerne inalterável).
O ad. 217 não cogitou da matéria econômica como cerne inalterável: o art. 217, § 6.0, somente exclui da
emendabilidade o que concerne à existência da federação e da república. Em conseqúência, a regra jurídica
constitucional sôbre participação nos lucros pode ser eliminada, alterada para menos (e. g., para não se exigir a
compulsoriedade, ou o ser direta), ou para mais (e. g., para se considerar matéria constitucional o modo de
pagamento em ações, ou a conversão). Ai ficam os problemas que se chamam problemas de política
constitucional.

No que o regramento constitucional não abrangeu, a legislatura ordinária pode exercer-se livremente: a
Constituição de 1946 somente “constitucionalizou” quatro conceitos que enchem a regra do art. 157, IV:
“participação nos lucros” pelo “trabalhador”, “obrigatória” e “direta”; e onde a legislação ordinária não fere
outras regras jurídicas constitucionais, tudo fica ao ciclo “do político ao jurídico” (programação dos partidos
políticos, discussão entre êles, anteprojetação, projetação, discussão, votação, promulgação, publicação).
A feitura de leis que a Constituição prevê, ou como conteúdo variável de regras gerais da Constituição, ou como
conteúdo variável de regras programáticas da Constituição, é sempre matéria eventual de programas dos partidos
políticos, porque há branca a ser preenchido livremente e quando queira pela legislatura ordinária.
Não há matéria de legislação ordinária que não seja matéria eventual de programa dos partidos políticos. Tem-se
pensado e dito, ainda dentro do Congresso Nacional, que há classe intermédia de regras jurídicas entre as regras
jurídicas constitucionais e as regras jurídicas ordinárias, e seria ela a das leis regulamentares da Constituição.
Não há no direito constitucional brasileiro essa terceira classe, que medearia entre as duas outras; há tal classe de
leis em regimes de Constituições não-rígidas, ou em regimes totalitários ou espúrios. O dilema do direito
constitucional brasileiro é o seguinte: ou a legislatura constituinte regrou a matéria, não permitindo, portanto, no
que regrou, interferência da legislação ordinária, que teria, na espécie, função de bis in ident, ou de simples
interpretação, estranha à sua missão de edicção de leis; ou a legislatura constituinte não regrou a matéria (= não
constitucional) e, pois, deixou ao Congresso Nacional, ou a outro corpo legislativo (estadual ou municipal), o
poder de legislar, respeitados os princípios constitucionais.
Com o nome de leis complementares da Constituição encambulham-se a) leis que a Constituição prometeu, b)
leis a que a Constituição aludiu ao estatuir sôbre competência legislativa ordinária e e) “leis” com que o
Congresso Nacional ou outro corpo legislativo pretende, sem competência para isso, interpretar, ou esclarecer.
Congresso Nacional, ou, em geral, Poder Legislativo não regulamenta, no sentido próprio: legisla.
“Regulamenta” o Poder Executivo (art. 87, 1), porque tem de executar, e porque não legisla.
(2) Fora dos conceitos de “participação nos lucros”, “trabalhador”, “obrigatória” e “direta”, e das outras regras
jurídicas que se contactam com a matéria da participação nos lucros, tôda liberdade tem o legislador ordinário:
portanto, está à mercê dos partidos políticos a solução que vença e se faça lei.
(a) Os partidos políticos podem e devem inserir nos seus programas o que desejam conste da primeira lei de
participação nos lucros e o que, feita essa, desejam que se lhe corrija.
O ambiente de livre discussão, de lealdade com as idéias e de responsabilidade por elas, próprio das democracias
pluripartidárias, e sem o qual as indústrias e o comércio ficariam expostos a projetos demagógicos, muitas vêzes
nocivos aos próprios empregados e à economia nacional, estadual, territorrial e municipal.
(b) A Constituição de 1946, a respeito de participação nos lucros, somente trouxe em si três convicções, que a
legislatura ordinária não pode modificar: a) a de que deve existir a participação nos lucros pelos trabalhadores, e
daí tê-la prometido no art. 157, IV; b) a de que deve ser compulsória, portanto não-facultativa; e) a de que deve ser
direta, excluída, por conseguinte, a interposição de corpo que apague a discriminação das quotas de participação.
Se, por exemplo, o pagamento há de ser a) em dinheiro, ou lO em ações, ou e) em dinheiro para ser convertido em
ações, ou d) em debêntures, ou e) por outro modo, a legislatura ordinária é que resolve. Portanto, o partido
político A pode preferir a), o partido político B preferir b) e assim por diante. Pode bem ser que algum partido
político ponha o problema fora e acima do plano de técnica legislativa e sustente e) a necessidade de se eliminar
o ad. 157, IV, em emenda constitucional (art. 217), e outro deseje f) que uma das soluções a), b), c), ou d) passe a
ser, por emenda constitucional, matéria constitucional, isto é, deseje que se retire à legislatura ordinária e, pois,
aos programas políticos “ordinários” a discussão e alteração do modo de pagamento.
Não é êsse, está claro, o único ponto em que pode haver a discordância entre os partidos políticos. Tanto mais
discrepem êles e discutam, maiores argumentos surgirão, e precisarão os seus adeptos de recorrer a ciência
econômica, à experiência e à estatística dos povos que praticaram a participação nos lucros. Tanto mais e melhor
se pesem êsses argumentos, mais a par da realidade e do que se sabe a respeito estarão empregadores e
empregados. Tanto mais intervenham a discussão e a reflexão, que é discussão interiorizada, mais se imporão as
lições de técnica legislativa, e menos arriscados, os passos que se derem na feitura e aplicação da lei que a
Constituição de 1946, art. 157, IV, prometeu.
(c) Há interesse dos legitimados à participação e, a fortiori, dos participantes em que balanços e contas sejam a
expressão da verdade. Tal interesse é respeitável. Há, porém, o interesse em que não sejam devassados a escrita, a
documentação e os arquivos técnicos e comerciais da empresa. O Estado mesmo, em caso de tributação, de que é
exemplo, revelador de propósitos políticos de conciliação de interesses, o do impôsto de renda, evita e limita o
exame de livros, cercando de exigências compreensíveis a revisão. Seria de todo imprudente que a qualquer dos
empregados com expectativa de participação, ou participante, se desse a legitimação à devassa, máxime perante a
Justiça do Trabalho, que tem a tendência a sobrepor às questões de direito, quaestiones inris, as quaestiones facti.
O exame somente seria de admitir-se incidenter, no correr do processo, dependente de decisão do juiz perante os
fatos (cognição incompleta), após ter-se adotado para a ação de verificação legitimação ativa estreita (e. g., o
sindicato, a maioria do sindicato, dois terços, a maioria ou dois terços dos empregados do quadro). A exceção de
segrêdo de Estado teria de ser admitida, dentro dos princípios próprios (e. g., art. 141, § 36, IV).

§ 5.071. Princípio de igualdade relativa

1.PRECISÕES . Preliminarmente, repitamos que o principio do tratamento igual do trabalho de igual valor, ou
qualquer dos princípios acima mencionados, não se prende à democracia. ~ lamentável como alguns juristas não
percebem as diferenças entre democracia, liberdade e igualdade. O que está em causa é a igualdade; de certo
modo, a liberdade de contratar. Não, a democracia. O princípio do art. 5.o do Decreto-lei n. 5.452 pode existir em
regime democrático, ou autocrático, ou aristocrático, ou plutocrático, como pode existir em regime totalitário,
quer de esquerda, quer de direita.
Há de ser idêntica a função, há de o valor ser igual, o trabalho há de ser prestado à mesma empresa e na mesma
localidade e não haver diferença de tempo de serviço superiora dois anos. Sem algum dêsses pressupostos, os
arts. 59 e 461 não incidem.
A ratia legis, no que se refere aos pressupostos, é de fácil caracterização: se o serviço é diferente, êsse elemento
objetivo já tem de pesar para que não haja a relação de necessária igualdade; o empregado há de ter a mesma
eficiência, de que resulte a mesma produção, e o mesmo grau; a empresa há de ser a mesma, porque urna pode ter
meios, inclusive clientela, que a outra, ou as outras não têm, ou vice-versa; se há diferença de local, o custo da
produção ou o custo da mãode-obra, e pelo preço de vida, podem ser diferentes, ou um dêles o ser; a diferença de
tempo de serviço, além de
-dois anos, já distingue o empregado, pêsto que a determinação quantitativa pudesse ser diferente, e o legislador
apenas teve de escolher a medida temporal.
O princípio não torna igualável à remuneração que se pagava a empregado que faleceu, ou saiu da efetividade, ou
que se desligou da empresa. Exige-se a contemporaneidade.
Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 5.0: “A todo trabalho de igual valor, corresponderá salário igual, sem distinção de
sexo”.
Atendeu-se ao trabalho de igual valor. O trabalho igual, quantitativa e qualitativamente, é de igual valor; porém
seria injusto que se remunerassem, cogentemente, com a mesma quantia, quem é o maior cortador de roupas e
quem não é exímio no corte, quem bate mal à máquina de escrever e quem é excelente dactilógrafo. No art. 461 do
Decreto-lei n. 5.452 (Lei n. 1.723, de 8 de novembro de 1952, art. 1.0), repete-se, com breve acréscimo: “Sendo
idêntica a função, a todo trabalho de igual valor presta(lo ao mesmo empregador, na mesma localidade,
correspenderá igual salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade”. Acrescenta o § 1.~: “Trabalho de
igual valor, para os fins dêste capítulo, será o que fôr feito com igual produtividade e com a mesma perfeição
técnica, entre pessoas cuja diferença de tempo de serviço não fôr superior a dois anos”. E o § 2.0: “Os dispositivos
dêste artigo não prevalecerão quando o empregador tiver pessoal organizado em quadro 4e carreira, hipótese em
que as promoções deverão obedecer aos critérios de antigúidade e merecimento”. E o § 3.~: “No caso do
parágrafo anterior, as promoções deverão ser feitas alternadamente por merecimento e por antiguidade, dentro de
cada categoria profissional”.

2. ÔNUS DA ALEGAÇÃO E DA PROVA. Quanto ao ônus de alegar e provar, incumbe ao empregado. Não há
presunção legal de que desempenha trabalho igual quem foi admitido em determinada categoria, de modo que ao
empregador incumbe o ônus de alegar e provar (pela presunção legal, com MARIO DE LA CUEX‟A, Derecho
Mexicano del Trabajo, 1, 549 s., ORLANDO GeMES, O Salário, 97 s.; contra, de modo que o ônus de alegar e
provar cabe ao empregado, MOZART VICTOR Russo-MANO, Comentários à Consolidacão das Leis do
Trabalho, II, 646 s.). A presunção é facti. A fàvor do empregado, pois que a inclusão foi feita pelo empregador,
tem-se de supor que o valor é igual. ~ verdade que, no Decreto-lei n. 5.452, art. 818, se diz incumbir a prova das
alegações à parte que as faz; mas lá está a categoria, a que corresponde, ex hypothesi, remuneração de igual valor,
contra o que somente colide a cláusula escrita, ou tácita, de mesma remuneração do alegante. Compreende-se que
o empregador haja de alegar e provar que, a despeito da categoria, o trabalho do interessado não vale o mesmo.
Êle é que pode ter os dados, alguns estatísticos, para se assentar que a diferença existe. Com isso não colide a
jurisprudência que firme terem-se de considerar a qualidade e a quantidade do trabalho dos empregados, embora
a categoria seja a mesma. A categoria pode ser uma e as funções diferentes, de jeito que varia a remuneração;
porém, mesmo aí, o empregador tem de opor que as funções são diferentes e de diferentes valôres.
Não importa, para a invocação do art. 50 do Decreto-lei n. 5.452, se o contrato é por tempo determinado, ou se o
não é.
Se existe igualdade de funções efetivas e o empregado foi pôsto, ou está em categoria que não corresponde à
função efetiva, há de ser atendido o art. 50 do Decreto-lei n. 5.452, com o ônus da alegação e da prova para o
empregado, porque não tem êle, na espécie, a presunção facti, que decorreria de achar-se êle na mesma categoria.
O ônus de alegar e provar a improdutividade, ou a insuficiente produtividade incumbe ao empregador, e não ao
empregado, se êsse está em igual categoria, e o mesmo ocorre se, a despeito de ser a mesma a categoria, objeta o
empregador que as funções são diferentes.
A pretensão a haver as diferenças de remuneração prescreve, para cada uma, expirados os dois anos (Decreto-lei
n. 5.452, art. 11).
Não há ofensa ao princípio de igualdade se a função é de confiança, como se, embora da mesma categoria (ou
cate-gol-ia e função regular), alguém exerce função de guarda ou de vigilância (e. g., incumbe ao empregado, a
mais, abrir e fechar a casa, ou pôr em custódia os aparelhos ou instrumentos). Tem-se de raciocinar do mesmo
modo em caso de direção, ou chefia de seção.

3.REMUNERAÇÃO E SEUS ELEMENTOS. A remuneração só se compõe de dinheiro. Pode abranger outros


bens, de que é exemplo freqúente a que consiste em dinheiro, casa e comida (Decreto-lei n. 5.452, art. 458: “Além
do pagamento em dinheiro, compreendem-se no salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação,
vestuário ou outras prestações in natura, que o empregador, por fôrça do contrato ou do costume, fornecer
habitualmente ao empregado”. Acrescenta o parágrafo único: “Não serão considerados como salário, para os
efeitos previstos neste artigo, os vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos ao empregado e
utilizados no local de trabalho para a prestação dos respectivos serviços”).
a) O dinheiro é elemento essencial, salvo se de finalidade para a venda o que se presta em natura, como a
remuneração em frações de colheita diária, ou semanal, ou mensal.
b) Alimentação é a parte da contraprestação que se faz em víveres, ou comida já preparada, com ou sem os pratos
e os talheres (mas, quase sempre, com o uso de tais peças e outras mais, além do serviço).
c) Habitação, ou “casa”, é o uso do lugar em que se possa viver, sem que se trate de locação de coisa ou de
hospedagem. É um ponto, êsse, que merece tôda a atenção. O empregador não loca, nem hospeda. Daí surge o
problema da posse imediata. Enquanto o empregado tem direito à contraprestação, tem-no ao alojamento. O ato
do empregador que despede o empregado, sem justa causa, é como o ato do hoteleiro que recebeu o preço do hotel
e pôs na rua o hóspede. A indenização que aquêle há de prestar abrange a dos danos a que a turbação ou o esbulho
da posse deu ensejo.
d) Vestuário está, aí, em sentido de bem qualitativa ou quantitativamente variável. Pode ser só a veste & serviço,
como pode consistir em duas ou mais vestes de serviço (a roupa do garção, para o serviço de dia, a roupa do
garção, para o serviço de noite, talvez a roupa para os dias de cerimônia ou de festas). Podem ser as roupas de uso
na empresa e fora da empresa, o que exige a periodicidade.
Se o que o empregador dá em vestes é somente o que o empregado há de usar no local do trabalho, para prestar o
serviço, não se tem como elemento da remuneração. Todavia, se alguns empregados o recebem e outros não, de
modo que êsses tenham de adquiri-lo, a remuneração dêsses há de ser maior, porque, se o não é, se infringe o
principio de igual valor do trabalho igual.
e) Prestações em natura são as prestações não pecuniarias. É possível que se entregue ao empregado o dinheiro
nçcessário para a aquisição, o que faz nascer o dever de adquirir, e não só o ônus de adquirir. As prestações em
espécie produzida são, também, encontradiças: um décimo das frutas colhidas em bom estado; um centésimo do
vinho produzido.
Se não se precisou o que, além do dinheiro, ou em vez de dinheiro, se havia de contraprestar, atende-se ao
costume, que é costume ato jurídico, e não lei. Costume ou uso do empregador, que, por sua vez, pode ser uso do
lugar.
A respeito dos elementos de. trabalho, frisemos que os vestuários, os equipamentos e outros bens que o
empregador fornece ao empregado, para que os utilize no serviço, não se incluem na remuneração. Isso não
significa que não possa o empregador, se atende aos princípios de salário mínimo e aos outros princípios,
estabelecer diferença de remuneração diferença que há de ser justa para os que trazem aquilo que têm de usar e
os que não o trazem e o recebem do empregador.
Se houve contrato de trabalho, houve estipulação da remuneração, quer expressa, quer tácita, quer explícita, quer
implícita. Pode faltar a prova. Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 460: “Na falta de estipulação do salário ou não
havendo prova sôbre a importância ajustada, o empregado terá direito a perceber salário igual ao daquele que, na
mesma empresa, fizer serviço equivalente, ou do que fôr habitualmente pago para serviço semelhante”. Os que
afirmam poder existir contrato de trabalho sem assunção do dever de contraprestar, conceptualmente, admitem
gratuidade. De regra, ocorre a falta de manifestação expressa de vontade. Dispositivamente, entende-se que foi
ajustado o que o empregador sói pagar por serviço equivalente, ou o que habitualmente se presta por serviço
semelhante. Mesmo se não existisse a regra jurídica do art. 460, que é ius dispositivum, seria o que se havia de
julgar, pois o empregado aceitou o que tàcitamente se lhe ofereceu. Só se considera assente o que outrem
remunera por serviço “semelhante” se o empregador não remunera serviço “equivalente”. Ali, o legislador
referiuse ao igual, na mesma empresa; aqui, ao que, embora alhures, vale o mesmo. Tais soluções, de inre
condendo, são preferíveis à de arbitramento.
No Decreto-lei n. 5.452, estatui o art. 457: “Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os
efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador como contraprestação do serviço, as
gorjetas que receber”. Acrescenta o § 19: “Integram o salário, não só a importância fixa estipulada, como
também as comissões, percentagens, gratificações ajustada, diárias para viagem e abones pago& pelo
empregador”. E o ~ 2.0: “Não se incluem nos salários as ajudas de custo, assim como as diárias para viagem que
não excedam de 50% do salário percebido pelo empregado”.
A primeira referência é ao salário, expressão de que ai se usa em sentido estrito, que é o de direta (= feita,
pessoalmente, pelo empregador). A segunda é a gorjeta. Depois, vêm as alusões a comiSsõeS, percentagens,
gratificações ajustadas, diárias para viagent, abonos pagos pelo empregador e ajudas de custo.
Temos, pois, que se chama “salário” o que se prometeu como remuneração ao empregado, ria qual se têm por
incluídas as percentagens e as gratificações oriundas de acôrdo, as gorjetas, se assim se estipulou, ou se resulta de
uso, ou, na falta de cláusula ou pacto em contrário, as diárias para viagem acima de cinqúenta por cento do salário.
As ajudas de custo ficam fora do salário. Diante da complexidade do assunto o que importa é expor-se a
interpretação da lei para cada espécie de prestação do empregador, ou de terceiro.

§ £072. Direito de greve

1.TEXTOS CONSTITUCIONAIS. A Constituição Política do Império do Brasil, a Constituição de 1891 e a


Constituição de 1934 nada disseram. A Constituição de 1937, ad. 139, 2a alínea, de inspiração fascista e nazista,
estatuiu: “A greve e o íoek-out são declarados recursos anti-sociais, nocivos ao trabalho e ao capital e
incompatíveis com os superiores interesses da produção nacional”. A Constituição de 1946, art. 158, teve de
repelir tal atitude: “É reconhecido o direito de greve, cujo exercício a lei regulara
No discurso que proferimos, a 11 de novembro de 1932, na sessão de instalação da Comissão encarregada de
elaborar o Anteprojeto de Constituição (D. O. de 12 de novembro), dissemos: “Quase todos os direitos
constitucionais dependem dos tempos. São fatos profundamente relativos, como relativas as próprias relações a
que se aplicam. Todos nós conhecemos alguns que surgiram com o liberalismo; dentre êles, uns já desaparecem à
plena luz, e outros, já próximos do fim, devem permanecer enquanto servem ao bem de todos e, principalmen
te, dos fracos. Por isso, é sempre preciso, quando se faz, hoje, uma Constituição, conhecer-lhe, desde logo, o
tempo, o módulo geral, a altura em que respira, para se saberem quais os direitos antigos que se devem consignar,
quais os direitos que se asfixiaram e quais os novos direitos que urge sejam revelados. Temos, pois, sempre, de
fixar o Estado que se quer erguer, para que se escolha o material, a mão-de-obra e até os decoradores que o
possam realizar. Encontra-se exemplo relevante no direito de greve. ~,Deve estar na Constituição? , pelo
contrário, se devem vedar as greves? Erraria quem opinasse, gera conhecer o estilo social da Constituição. Se o
Estado, que ela edifica, assegura o trabalho, a subsistência, a. educação e a assistência, a greve não se justifica.
Mas, enquanto isso não acontece, enquanto se caminha pelos andares do liberalismo ou do meio-liberalismo, não
é possível deixar-se de inserir a flor mais humana da escola liberal a única, talvez, acorde com o realismo político
que é a liberdade de coalizão e de greve. Como o direito de greve, muitos outros. Antes de se conhecer o plano,
não é possível intervir a atividade do técnico. Havemos, primeiro, de levantar as vigas de cimento, para depois se
buscarem os tijolos das paredes, os ladrilhos, os esmeros adequados e a própria repartição interior. Tôda
Constituição que pretende ser coerente, homogênea, sinceramente inspirada, há de começar por dizer a sua idade
e vestir-se como lhe ordena a sua condição. A Constituição de 1891, com três ou quatro artigos socialistas, um
pouco de sindicalismo bolchevista (que alguns pretendem), seria um monstro. Por outro lado, Constituição
socialista moderada, que calce a circunstância brasileira, como uma luva, romper-se-á nos dedos, se lhe metermos
demasiado formalismo jurídico, e será contraproducente onde, não havendo adotado a técnica socialista, soltar o
que os. desfavorecidos obtiveram do próprio Estado demoliberal. Citei o exemplo da greve e convém insistir. Só
se pode abrir mão do dreito de greve onde se assegura, de direito e de fato, a todos, o confôrto espiritual e
material. É sempre de bom alvitre, antes de se escrever uma Constituição, perguntar que Constituição se quer.
Não se começa a construir sem se estar a par do que se deseja e se pode construir. Para a choupana, bastara uma
pouca de tijolos, de barro, de telhas ou de palha. Para o prédio moderno, de dezenas de andares, tudo muda. Se
estamos aqui para consagrar a Constituição de 1891, não precisamos de nada: basta que se discurse ao Brasil,
jogando-se textos americanos já fracassados e liberalismos reluzentes aos seus mílhôes de famintos, de homens,
mulheres e crianças que não têm kito, de doentes e de pestosos, bem assim de milhões de cérebros sem instrução
e sem destino. Mas estou certo de que estamos aqui para outra coisa: para preparar os caminhos que levem o
Brasil à solução dos seus problemas econômicoS, politicos e culturais. Se disso não estivesse persuadido, ou
esperançado, eu aqui não estaria. A nossa era pôe o direito ao trabalho e o direito à subsistência, o direito à
assisténcia. e o direito à educação gratuita, a igualdade juridica, politica e económica dos sexos, como vindo
antes do Estado. Tal passagem à categoria de alicerce, em vez de coluna erguida sôbre o corpo mesmo do Estado,
provoca a recornposição atual dos fins explícitos do Estado. Por outro lado, procedeu-se, na critica científica, à
clara distinção entre direitos fundamentais e garantias, que andavam, nos livros e nos julgados de todo o mundo,
inextricàvelmente confundidos. A técnica de nova Declaração de Direitos não pode, de modo nenhum, deixar de
assentar na distinção hodierna, tornada, pela nova teoria geral do Estado, essencial a tôda construção de
responsabilidade científica e de sinceridade política”.

2.PERMISSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DA GREVE. Du rante muito tempo não se poderia falar de


direito de greve. As decisões judiciárias e a mais avançada doutrina jurídica negavam e condenavam, em
princípio, a greve. Se havia greve, havia violação do contrato de trabalho; portanto, ameaças, desordens, danos,
todos ilegais ilícitos, no plano do direito contratual e, por vêzes, no plano do direito penal. Só se lhe discercia a
insurreição social, com a infração do dever ex contractu, pela cessaçâo do trabalho convencionado. Vinha-se de
periodo em que se proibia a coalizão, que é um dos elementos do conceito de greve (nem toda coalizão é para a
greve, ou leva à greve; mas em tôda greve há coalizão). A constitucionalização do direito de greve, apés a
afirmativa da existência dêsse direito, em leis ordinárias ou pela jurisprudência, é outra coisa que a
constitucionalização do direito de reUnião (Constituição de
1946, art. 141, § 11), ou do direito de associação (art. 141, § 12), ou do direito sindical (art. 159). Antes, a greve
podia ser escusável; podia, in cash, ser escusada: em princípio, era proibida. Hoje, a greve, em si, ou em seu
exercício, pode ser , inescusável; in casu, ser condenada; mas, em princípio, é permitida. Não há mais, na
consciência juridica dos povos, em que se edictaram regras jurídicas como a do art. 158 da Constituíção de 1946,
para o que lutamos desde 1932, as dificuldades de se admitir, ao lado do princípio do respeito aos contratos,
escritos ou iúo-escritos, o principio da permissibilidade das greves. Os contratos. de trabalho são, como todos os
negócios jurídicos, juridicizações de convenções, isto é, de manifestações de vontade, dentro do que as leis
deixam à livre formulação do querer (auto-regulação ou autonomia da vontade), O direito de greve é efeito da
incidência de principio que está à base do art. 158: “Permite-se a greve”; portanto, “é reconhecido o direito de
greve”; como tal direito é suscetíve1 de exercício irregular (abuso do direito), prefere-se à delimitação
doutrinária, teórica, do exercício, a delimitação legal (art. 158, verbis “cujo exercício a lei regulará)”.
A diferença entre a coalizão e a associação sói estar, porém não precipuamente, na duração. Os que se coligam,
ainda que dure tempo apreciável a coalizão, não no fazem, de regra, com intuito de permanência e estabilidade.
As pessoas associam-se para fundar clube, ou partido político; coligam-se para vaiar, ou aplaudir; ou os partidos
políticos coligam-se. O principal elemento diferenciador é a assunção de deveres e direitos de associados, que se
irradiam da associação, cujo fim é permanente, e não transitório, sem se excluir a associação de curta duração e de
fim ràpidamente adimplível. A coalizâo é menos vinculativa, porém isso impede que se conclua contrato de que
irradiem direitos e deveres, ou os que se podem coligar se encontrem prêviamente sujeitos a certos. efeitos da
coalizão, previstos em estatutos ou auto-regulamentos. Tanto no suporte fáctico da greve quanto no do Iock-out
(digamos mesmo “locaute”), há o elemento da coalizão; sem que essa baste à composição de qualquer daqueles
suportes fácticos.
Alguns juristas, pouco atentos ao conteúdo dos princípios de liberdade, entendiam que do principio de liberdade
de associação se podia deduzir o de coalizão e, até, o de permissibilidade das greves. Tal êrro levou a afirmações
absurdas, pela gritante falsidade da premissa.
As greves são legítimas, quando cabem no conceito do art. 158 da Constituição de 1946, princípio que sugerimos
em 1932; ilegítimas, se estão fora dêle. As que são legítimas podem ser , ou não, conforme infringem, ou não, as
regras jurídicas contidas na lei que regulou o exercício do direito de greve. Se apanha todos os empregados de
certa indústria, ou grupo de indústrias, ou certa região, diz-se geral. Se não abrange, diz-se parcial. Se outro
grupo de empregados se junta aos grevistas, para fortalecer a greve, a greve dêsses solidarizantes é chamada grere
indireta ou de greve de solidariedade. O fim ilícito torna ilícita a greve; mas aí ainda não se trata de exercício do
direito de greve. À lei cabe dizer quando o exercício do direito é irregular (~ ilícito).
Se o serviço é ao público, ou serviço público, nem por isso estão privados de exercer o direito de greve os que
nêles se empregam; nem do direito, nem do exercício do direito de greve, os pode privar a lei de que se cogita no
art. 158. A Constituição de 1946 permite ao legislador ordinário regular o exercício do direito de greve, não
exclui-lo; a fortiori, limitar ou excluir o direito. Para que o Estado possa impedir as greves dos que trabalham em
empresas de serviços públicos, ou ao público, é preciso que insira nos seus quadros de funcionários públicos,
civis ou militares, os que trabalham em tais serviços. Então, não limita nem exclui o direito de greve, nem exclui
o seu exercício, desloca dos arts. 157 e 158 da Constituição de 1946 para os arts. 176-183 e 184-194 os
“empregados”. Os deveres da entidade política encampante e publicizante (não basta a encampação) são os que
teria o empregador que fechasse a empresa, razão por que o art. 157, XII, XIII, XVI & XVII, tem de ser
observado, pelo menos, até a nova estruturação. para os que optarem pela classificação como funcionário público,
e segundo os princípios de direito do trabalho, para os que não optarem pela nova investidura.
A Constituição de 1946 não anuiu em que a lei pudesse proibir greves em certas indústrias, ou em certos dias, ou
circunstâncias. Por isso mesmo, não colhe a leitura de leis e doutrinas estrangeiras, ou a consulta de decretos-leis
e escritoa brasileiros de 1937-1946.
Quando, na sessão primeira, e única , da Comissão que havia de elaborar a Constituição, em 1932, estranháramos
que se cogitasse de estruturação, sem se saber, prêviamente, o que se pretendia fazer, como o construtor de
edifício, que pusessem mãos à obra sem saber o que havia de construir, tomamos como exemplo o problema da
greve e perguntamos se os inspiradores da nova Constituição queriam proibir ou permitir a greve. Os comentários
denunciaram, depois, que não se compreendeu bem o alcance da nossa pergunta. Ainda mais do que hoje, a
ignorância dos problemas de técnica constitucional levava a tão manifesta impermeabilidade aos princípios
inspiradores de uma boa Constituição. Daí a mistura que se observa desde que as tendências do Brasil se
despregaram do tipo democrático-liberal de 1891. Os que se insurgiram contra a nossa advertência fizeram-se.
depois, para fins de prestigio político, campeões do trabalhismo.
Na Assembléia Constituinte, de que saiu o texto de 1934, o problema veio à balha, mas as soluções propostas,
abertamente ou em conciliábulos, tinham por fito evitar solução. Foi surprêsa, a 10 de novembro de 1937, a alínea
2a do art. 139, que ousava adotar uma das alternativas mais características. De qualquer modo, a pergunta que
fizéramos em 1933 teve resposta contrária ao direito de greve dentro de poucos anos. Resposta que era a que
estava na mente de alguns. homens de 1930 (leia-se a imprensa daquele momento).
A inclusão da greve e do locaute, em 1937, entre os. meios tidos por vedados (na terminologia do legislador
constituinte de 1937, “anti-sociais, nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com os superiores interesses
da produção nacional”) mostrou que o legislador constituinte tomara o caminho dos Estados totalitários, em vez
de seguir aquêle que lhe era apontado pelo passado e pelas democracias liberais. Em sociologia política, o
unipartidarismo anda sempre acompanhado da proibição da greve e da proibição do locaute.
Na Constituição de 1937, a atitude, que se coadunava cem a dos períodos pré-constitucionais, isto é, aquêle em
que o governo é mais próximo das estruturas fascistas de que das estruturas democráticas, teria de chocar-se, de
certo modo, com a liberdade de opinião e os movimentos democráticos, que o esboçado pluripartidarismo
suscitasse. Mas verdade é que prevíramos a que estruturação levaria a Constituição de 1987, cem as suas doses
díspares de pluripartidarismo, de uni-partidarismo fascista e de poder pessoal tipo latino-americano. Greve e
locaute são movimentos de fato, contra os quais as medidas policiais têm sempre falhado. A vedação dêles exige,
portanto, técnica adequada, que lhes combata ao mesmo tempo as causas e os efeitos. A simples proibição não
bastaria. Seja como fôr, o legislador constituinte de 1937 tivera, aí, a coragem de tomar atitude, o que foi bem raro
nos princípios que formulou. Confessou o fascismo que o capitalismo internacional quis e quer implantar no
Brasil, desde 1930, com a afoiteza de romper a Constituição de 1934 e cortar a de 1946.
O art. 158 da Constituição de 1946 foi, nesse ponto, resultado da vitória dos povos aliados. Sem ela, prevaleceria
o pensamento que tivemos a coragem de denunciar em 1982: o da proibição da greve, que estava à base dos
movimentos “libertadores” de 1930 em diante, por suas ligações com o fascismo italiano e, depois, alemão, com
provadas sugestões norte-americanas, ao mesmo tempo que cheios de laivos soviéticos em certos líderes.

1930 foi um tumor de ideologias mal aprendidas.


3.EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE. Na regulamentação do exercício do direito subjetivo de greve, pede
o legislador: vedar o porte de armas, punir os responsáveis por ordens coletivas de depredação, punir o
aliciamento para desacatos pessoais, exigir que os grevistas não ataquem os que se dispõem a substitui-los, sejam
ou não empregados da empresa, punir a coação física dos sindicatos ou as ameaças de perseguição (aliter, quanto
à pena de expulsão do sindicato).
O direito de greve existe na Constituição; não o podem limitar os legisladores, nem os outros podêres públicos. O
que a lei pode fazer é regular-lhe o exercício. ~ Como separarmos o direito e o exercício do direito de greve?
Aplicando, a lei penal comum. Ou a lei sôbre delitos de exercício irregular do direito de greve. Quem é titular de
direito, e pode exercê-lo, exerce-o; se o exerce irregularmente, pratica ato ilícito.
Tratemos, primeiro, do direito de greve e do seu exercício. Depois, cogitemos da lei ordinária, que regulou o
exercício do direito de greve.
4.EXERCÍCIO IRREGULAR DO DIREITO DE GREVE. Para se saber, precisamente, o que é exercício
irregular do direito de greve, tem-se de partir do conceito de greve, para se chegar, no plano jurídico, ao de direito
de greve, que se possa exercer regular ou irregularmente.
A greve é, por definição, omissiva. O direito de greve é direito a omissão de atos de trabalho: omite-se trabalho.
Mas omite-se coletivamente. Alguns ou todos os empregados, de comum acôrdo, omitem. Não omitem
definitivamente: seria retirada do‟ emprêgo, denúncia vazia (= sem fundamentação), ou cheia (com
fundamentação legal ou negocial), do contrato de trabalho. A omissão é temporária. Não só omissão coletiva e
temporária do trabalho: é-lhe essencial, também, o fim. Temos ai, excepcionalmente em direito, a relevância e
essencialidade do fim. Há de haver o propósito de encontrar solução à discordância ou controvérsia existente
sôbre os termos do contrato de trabalho. Se êsses pressupostos se juntam, mas o iniciador ou os iniciadores foram
os empregadores, há o locaute. Se falta qualquer dêsses pressupostos, não há greve, nem locaute. A “greve”, sem
propósito de solução de discordância ou controvérsia entre empregados e empregadores, não é greve, no sentido
do art. 158 da Constituição de 1946. Por exemplo: a “greve”, em homenagem a empregado que foi punido pela
justiça, ou simplesmente de intuito político, como a que os trabalhadores fazem por ter sido apresentado à
senatoria o presidente da empresa, não é greve, no sentido do art; 158. A não-omissão de, pelo menos, minutos
apreciáveis de trabalho, como se os trabalhadores se restringem a ir vestidos de prêto, é manifestação de opinião,
não é greve. Nem é greve a inutilização (combinada) de tempo, peça ou serviço; pode dar-se que se componha a
figura penal da sabotagem, ou a figura de algum outro crime.
A greve supõe que o empregado continue na empresa, pôsto que suspenda o trabalho. A suspensão do trabalho, a
omissão temporária, é usada como arma, pela ameaça de diminuição de lucros e outras causas de prejuízo (e. g..
não entrega, a tempo, ou não-entrega irremediável de prestações em mercadorias). É fruto do capitalismo
industrial moderno, ali por volta de 1878 na Itália, mas logo típica e às centenas, anualmente, nos Estados Unidos
da América. As greves por solidariedade (sympathetic strikes) foram, de 1916 a 1932, somente dois por cento das
disputas entre empregadores e empregados, nos Estados Unidos da América. A greve por solidariedade a outros
trabalhadores em greve para questões swzs é a greve por solidariedade ou simpatética. Perguntando-se se entra no
conceito de greve segundo o art. 158, tem-se de responder negativamente, apesar da generalidade do têrmo
empregado no art. 158. O trabalhador só tem direito de greve, quer o fim seja de seu interésse imediato, quer seja
de seu interésse de categoria. Tal doutrina foi a que a Constituição de 1946 adotou, o que lhes dá o direito de se
porem em greve, por simples solidariedade com outros grupos de trabalhadores. A greve só por solidariedade ou
simpatia, se falta aos que a fazem o mesmo fim para êles, não é exercício de direito de greve. O fim era dos
outros, a que se demonstra a solidariedade ou simpatia, e não fim próprio. O fim, que os outros têm e os novos
grevistas não podem ter, seria motivo, e não fim:
o fim foi a simpatia, a solidariedade, e não o da reclamação. A finalidade política da omissão tira ao movimento
coletivo o papel de greve, no sentido do art. 158. Finalidade política é a finalidade de prestígio ou desprestígio de
um partido político, como a de manifestação contra algum candidato a eleição. Não é finalidade política a dos
trabalhadores que entram em greve porque se pretende diminuir-lhes o salário mínimo, ou abrir-se exceção ao
dever dos empregadores quanto aos seguros contra acidentes do trabalho, ou porque se pretende alterar o horário
dos trabalhos.
Também não entra no conceito de greve a stoppage, eu parada, que é a suspensão espontânea, sem aviso. O
exercício do direito de greve supóe a omissão, comunicada. É receptício o ato. Não há greve alites de saber a
empresa qual o seu fim, o que é que ela tem por fito. Começa o movimento omissivo a ser greve, no sentido do art.
158 da Constituição de 1946, desde o momento e somente desde o momento em que os empregadores podem
“aceitar” ou “recusar” a oferta. De solução. Antes, é movimento omissivo fora de toda proteção constitucional. O
ato de greve supõe a comunicação; mas a comunicação não precisa ser em forma cominatória, nem, sequer, em
manifestação hostil. Há de haver, antes, nutnif estação de fato futuro. Essa manifestação precisa ser explícita. Se
há dissídio e já houve, antes, a comunicação do ato alternativo, e é de prever-se que a falta de solução leve à
greve, a superveniência dela não é stoppage: há, em verdade, greve‟. Se o empregador ou os empregadores sabem
qual o motivo da suspensão do trabalho, ou se devem saber, é preciso, hoje, que se comunique por que é que se
faz greve. Disso é exemplo a omissão, que se desencadeia imediatamente após ter a empresa resolvido fechar (ou
ter fechado) o serviço médico, ou ter resolvido restringir (ou ter restringido) o número de crianças, filhos de
operários, que freqúentavam a escola da fábrica. A lei ordinária cabe regular o exercício do direito de greve, quer
no que concerne à deliberação, quer no que só diz respeito à comunicação e a prazos, quer quanto a outras
formalidades.
A violência é pré-excluída como método de greve. A lei, que regule o exercício do direito de greve, pode dizê-lo;
entende-se o mesmo, se não o diz. Tôda depredação, dificultação de serviço futuro, todo ataque pessoal é
proibido; é fora do exercício do direito de greve. Mais, portanto, do que simples irregularidade.
5.GREVE E PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS. Pergunta-se: as greves e os movimentos de indisciplina e
interrupção do trabalho podem influir na pretensão à participação nos lucros? Os conceitos contidos na pergunta
são: a) o de direito de greve, que se há de entender aquêle que aparece no art. 158 da Constituição de 1946; b) o de
direito, pretensão e ação de participacão nos lucros, de que fala o art. 157, IV; c) o de exercício do direito de
greve, que consiste em omissão dos atos de trabalho; d) os de movimentos de indisciplina e de movimentos de
interrupção do trabalho, inconfundíveis com o de atos de exercício do direito de greve. Os conceitos a) e lO são
conceitos jurídicos constitucionais, cujo conteúdo a Constituição deixou, quanto ao primeiro, à ciência e ao
sistema da própria Constituição e, quanto ao segundo, em parte à lei ordinária.

§ 5.072. DIREITO DE GREVE


Os conceitos e) e d) dependem do conceito a) : o primeiro, porque se refere ao exercício do direito conceituado
em a) ; o segundo, porque é o conjunto complementar de a) e de e), uma vez que o ato que altere, para a
anormalidade, a vida da empresa, e não caiba em a> nem em b), pertence à classe d). Oproblema, que a pergunta
envolve, é problema relativo:
(A)a limites do direito de greve e do direito à participação nos lucros; (B) a objeções e exceções oponíveis pela
empresa (a) ao que entrou em greve, ou (6) tomou parte em movimentos de indisciplina e de interrupção do
trabalho não-inseríveis no conceito de direito de greve e de exercício dêsse, e (C) de limitações ao exercício do
direito de greve. Por método, é de conveniência separarem-se (E) (a) e (B) (6). Assim, a pergunta cinde-se: (1) ~É
possível admitir-se que aquêles mesmos que tomem parte em greve possam participar nos lucros, segundo o art.
157, IV, da Constituição de 1946, contra cujo importe atuaram? (2) ~É possível admitir-se que aquêles mesmos
que tomaram parte em movimentos de indisciplina e interrupção de trabalho possam participar nos lucros,
segundo o art. 157, IV, da Constituição de 1946, contra os quais atuaram? Os problemas envolvem questões de
iure condito (constitucional) e de iure conden do. Os conceitos de direito de greve e de participação nos lucros
foram, até certo tempo, de lei ordinária, escrita ou não~escrita. Depois, pôde aquêle ser revelado como direito
constitucional, a despeito da ausência de texto. Finalmente, Constituições escritas os inseriram em seus direitos
“declarados”. Com isso, não só se repeliu a atitude totalitária de esquerda e a atitude totalitária de direita, ambas
hostis àgreve e proibitivas de tais movimentos omissivos, como se chegou à fase da explicitude do direito de
greve. Quanto ao direito à participação nos lucros, ou não o criaram os sistemas jurídicos, ou o criaram somente
no plano da legislação ordinária, ou o criaram, como sucede no Brasil, per salt um, repentinamente, no plano do
direito constitucional.
No Brasil, fomos nós que o exigimos na Constituição de 1984, sem êxito, porque ao direito de greve se opunham,
tenaz e ameaçadoramente, os que depois se fizeram líderes políticos dos trabalhadores.

-O direito de greve tem por conteúdo omissão; a participação nos lucros é direito- que nasce do ato positivo de
trabalhar. A solução do dissídio (discordância, controvérsia), que se tem por fito com a greve, contra os
empregadores, não pode prejudicar os empregados, em direito comum, senão no que os grevistas saíram da
regularidade do exercício, segundo o art. 160, 1, 23- parte, do Código Civil, ou segundo a lei especial. A fortio<ri,
no que foi ato ilícito fora do exercício (e. g., crimes comuns). Quer dizer: a greve que foi exercida regularmente e
resolvida a favor dos empregados diminui os lucros, contra os empregados e os empregadores. (A greve exercida
regularmente e resolvida a favor dos empregadores, uma vez que diminuiu os lucros, deve ser tratada como
reducente do quanto participável, a que se refere o art. 157, IV, da Constituição de 1946, se todos os empregados
da empresa nela tomaram parte, ou da quota de participação dos que tomaram parte, segundo taxa de proporção
ou segundo o que a respeito de danos causados se apurou judicialmente a respeito de cada empregado. Se só se
apurou a respeito de um, ou de alguns, a. taxa de proporção é aplicável aos demais empregados.
Mesmo porque, há tôda uma gama de soluções, dentre as quais, de tege ferenda, há de escolher
o legislador ordinário.)
A) Os dois direitos, o de greve e o de participação nos lucros, estão, pois, explícitos na Constituição de 1946. Diz
o art. 158: “É reconhecido o direito de greve, cujo exercício a lei regulará”. Tratando de “exercício”, já dizíamos
na 13- ed. dos Comentários (IV, 64) : “Na regulamentação do exercício do direito subjetivo de greve pode o
legislador: vedar o porte de armas, punir os responsáveis por ordens coletivas de depredações, punir o aliciamento
para desacatos pessoais, exigir que os grevistas não ataquem os- que se dispõem a substitui-los, sejam ou não
empregados da empresa, punir a coação física dos - sindicatos ou as ameaças de perseguição (alíter, quanto à
pena de expulsão do sindicato). O direito de greve existe na Constituição, não o podem restringir os legisladores,
nem os~ outros podêres públicos. O que a lei pode fazer é regular-lhe o. exercício. ~ Como separar-se do direito o
exercício do direito de greve? Aplicando a lei penal comum”. O art. 160, 1, 2)‟ parte, do Código Civil, dá, a
contrario sensu, a regra de que

284TRATADO DE DIREITO PRIVADO

é ilícito o exercício irregular do direito, e pode ser invocada


a respeito de direito de greve irregularmente exercido. À lei
cabe definir irregularidade do exercício do direito de greve;
se não no faz, ou se não no faz exaustivamente, rege o art. 160,
~, 23- parte, que possui o conceito de “exercício regular>‟ e
pois, a contrario sensn, o de “exercício irregular‟.
A Constituição de 1946 não anuiu em limitações ao direito de greve, nem em restrições (negociais) ao seu
conteúdo; só se permitiu a regulação do seu exercício. De ordinário, os limites do direito são também os do seu
exercício; mas, por vêzes, nos sistemas jurídicos, aparecem limitações a êsses sem atingirem aquêle. A
Constituição de 1946 permite que isso ocorra, por lei, separando direito e exercício do direito de greve. Os limites
daquele são os que resultam do seu conceito; os dêsse são os do direito comum, ou os da lei especial.
A solução da Constituição de 1946 é a que mais se coaduna com a evolução social, no sentido da nossa
civilização. Maxíme se atendemos a que as greves continuaram onde foram declaradas “ilegais” ou submetidas a
arbitragem conipu2-sória (cf. JOHN A. FITCH, Strikes and Lockouts, Eneveloot
aedza - Social Sciences, XIV, 424). Porém onde, a pretexto
de greve, que é movimento omissivo, se depreda, se violenta, se coage, se ferem direitos fundamentais, não é de
direito de a
.,reve, nem de exercício de direito de greve que se trata.
B) No art. 157, diz-se: “A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão aos seguintes preceitos,
além de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores:
IV Participação obrigatória e direta do trabalhador nos lucros da empresa, nos têrmos e pela forma que a lei
determinar”. A Constituição de 1946 não nos deu mais do que o conceito de participação nos lucros, bebido na
ciência, e os de compulsoriedade e ligação direta aos participantes, que já antes estudamos devidamente. É digno
de nota que se deixou àlegislação ordinária a determinação do conteúdo (art. 157, IV, verbis “nos têrmos e pela
forma que a lei determinar”).
Os atos que têm a aparência de atos de greve podem corresponder ou não corresponder ao que se conceitua come
greve, ou como exercício do direito de greve. ~ de tôda importância, portanto, distinguiremse a) o exercício
regular do di-
1-gito de greve, tendo a greve solução que justificou o movimento omissivo dos empregados; ¼ o exercício
regular do direito de greve, tendo a greve solução que não justificou o movimento 0~issivo dos empregados; c> o
exercício irregular; d> os atos positivos ou negativos (omissivos) que não caibam em qualquer conceito, a), b), ou
e), de exercício do direito de greve. A caracterização dos atos c) como atos ilícitos é conseqúência de concepção
moderna, livre do absolutismo romanístico, de modo que, repelido o tQui iure suo utitur nerninem laedit, já se
tem como contrário a direito o ato positivo ou negativo, que lesa, exercendo-se, embora, direito. Há exercício,
por-
-tanto o ato não é fora do exercício; mas há ilicitude (Código Civil, art. 160, 1, 23- parte), porque,
ex hypothesi, irregularmente se exerceu o direito.
A pergunta (1) somente concerne a a), b) e c), isto é, no exercício regular com decisão favorável, ainda em parte,
aos empregados, ao exercício regular com decisão desfavorável aos empregados e ao exercício irregular.
a)O exercício regular do direito de greve, com solução favorável aos empregados, não pode ter a eficácia de
excluir
-ou de diminuir a quota de participação; porque se exerceu direito de greve como se exerceria justiça de mão
própria, nos casos em que a lei permite. Não importa se a decisão f avorável só o foi em parte, porque o direito de
greve, quanto à técnica do exercício, é indivisível, salvo se os participantes espontâneamente o “dividiram”; e. g.,
se suspenderam o trabalho da seção A para o fim A e o trabalho da seção B para o fim B.
b)O exercício regular do direito de greve, com solução desfavorável aos empregados, pode ter a eficácia de
responsabilização dos empregados pela exclusão ou diminuição nos lucros, se lex specialis o prevê. A lei, de que
fala o art. 158 da Constituição de 1946, há de inserir regra jurídica a êsse propósito. Pode também dar ensejo, não
a direito da empresa à reparação (direito, pretensão e ação; ou só direito, sem pretensão e sem ação; ou só direito
e pretensão, sem ação), e sim a simples exceptio doU, ou a eficácia anexa no direito à Participação nos lucros
segundo regra que teria de estar na

286
TRATADO DE DIREITO PRIVADO

lei de participação nos lucros (Constituição de 1946, art. 157, IV, verbis “nos têrmos e pela forma que a lei
determinar”).
Em todo o caso, há dois pontos em que a legislação sôbre o efeito da greve na pretensão à participação nos lucros
precisa fazer independente da solução favorável ou desfavorável, a negativa ou a afirmativa daquele efeito: se a
solução foi dada em justiça, com exame do direito de greve e do seu exercício, é óbvio que se há de atender ao fato
de ter sido favorável, ou não, a solução; se a solução foi negocial, não: pode bem ser que a favorabilidade aos
empregados tenha advindo de circunstâncias que levaram os empregadores a capitularem,. ou que a
desfavorabilidade haja resultado da impossibilidade, só então revelada pelos empregadores, de satisfazerem as
exigências que a greve fazia.
c)Em caso de exercício irregular de direito de greve, êsse exercício há de atuar como pré-excludente, no todo ou
em parte, do direito à participação nos lucros. Os suportes tácticos das duas regras jurídicas (arts. 158 e 157, IV)
são diferentes; mas ou êles são incompatíveis (incompatibilidade de conteúdo), ou há de ter o devedor de um
dêles a exceptio doU, ou há de a lei conceber o exercício de um como limitacão ao exercício do outro. Assim, de
iure coMendo, ou a) o que tomou parte na greve e concorreu para diminuição dos lucros (não exclusão) está
privado do direito de participar dêles no todo (penalidade), o que, no direito constitucional brasileiro, só se
admitiria e se explicaria se a lei tem a greve, de que se trata, como injusta, ou em parte, isto é, no que corresponde
ao tempo da greve e suas conseqfiências; ou ~0 se dá à empresa a exceptio doU, por terem sido lesados os
acionistas e, talvez, o próprio lucro excluído, por lei, da dedução e participação; ou c) a lei permite que a exclusão
ou redução se faça de ofício, o que as torna limitações ao exercício do direito de participar. A técnica legislativa
tem diante de si problemas de extrema relevância teórica e prática.
À diferença do que se passa com o exercício regular do direito, com decisão desfavorável aos empregados, que
sômeute acarretaria dever e obrigação de indenizar, ou simples exceptio doU, ou eficácia anexa no direito de
participação nos lucros, se ler speciahs o prevê, o exercício irregular de qual-
287
§ 5.072. DIREITO DE GREVE

quer direito já é ato ilicito, segundo o argumento a contrario


sensU do art. 160, ~, 2a parte, do Código Civil.
Em boa técnica jurídica, o direito de greve e o de participação nos lucros não concorrem: colidem, se o exercício
daquele exclui ou diminui os lucros. Dir-se-á que, no excluir ou diminuir os lucros, a greve já se puniu a si
mesma, O argumento cai por terra, se advertimos que os lucros não são somente excluídos ou diminuídos para os
empregados, são-no também para os empregadores. Há, portanto, problema técnico da maior relevância, que é o
de se determinar como se fará recair nos empregados a diminuição de que foram causadores, para que
não se tratem igualmente os causadores dos danos e das diminuições de lucros e os não-causadores. Se
o exercício do direito de greve foi irregular, segundo a conceituação do art. 160, 1, 23- parte, do
Código Civil (a contrario sensn), ou injusto, segundo a lei especial, o sistema
jurídico seria contraditório se deixasse de levar em conta o ilícito absoluto (art. 160, ~, 23- parte), ou o dolo, ao
ter-se de determinar ou de distribuir o quanto participável. De lege ferenda, ou a) se escolhe a técnica da limitação
do direito àparticipação, que, segundo o art. 157, IV, é “nos têrmos e pela forma que a lei determinar”, ou b) a
técnica da exceptio doU, com a qual a redução da quota de participação fica dependente do exercício da exceptio
por parte da empresa, ou c) a técnica da limitação do exercício, o que exige regras jurídicas bem pensadas e bem
redigidas.
A solução a) trata a colisão como entre dois direitos, o que dificilmente se ajustaria aos arts. 158 e 157, IV, da
Constítuição de 1946, que faz pedra angular da organização econômica-social o princípio da justa retribuição do
trabalho e do capital. Rígorosamente, há colisão entre o exercício do direito de greve e a pretensão à participação
nos lucros. Note-se bem: entre exercicio de direito de greve e pretensão à participação nos lucros.
A limitação pode dar-se quanto ao art. 157, IV, da Cons~tituição de 1946, porque se trata de direito, “dentro da
lei”,
à participação nos lucros. A Constituição mesma assim o estabeleceu: “participação obrigatória e direta do
trabalhador nos lucros da empresa, nos têrmos e pela forma que a lei de-

terminar”. A Constituição deu o conceito; a lài dá os limites. Quanto ao art. 158, não : o texto dá o conceito de
“greve”, que é o da ciência social, tal como a recebe a Constituição; porém, à diferença do que acontece com o art.
157, IV, não deixa à lei traçar os limites do direito: permite-lhe apenas regular o exercício dêle (verbis “cujo
exercício a lei regulará”). Somente do lado do direito à participação nos lucros éque se podem, em leis ordinárias,
adotar linhas envolventes do direito mesmo. Quanto ao direito de greve, não: o seu próprio conceito traz-lhe
conteúdo e limites; à lei ordinária só se permite regular-lhe o exercício. Nessa regulação, o legislador tem a
liberdade de: caracterizar qualitatívamente, ou quantitativamente, o exercício regular; apontar pressupostos da
regularidade do exercício, necessários à não-configuração do exercício irregular, o que o direito privado, aí
comum, subentende (Código Civil, art. 160, ~, 23- parte) ; determinar limitações do exercício; conceber exceções
dou, oponíveis, então, pela empresa.
Assim, a solução a) não é impossível, pôsto que apresente certas dificuldades que a técnica legislativa, sem sair
dos princípios formativos do direito comum, pode vencer.
A espécie mais adequada de solução b) é a que deriva da L. 8, pr., li, de doU -maU et metas exceptione, 44, 4
(Dolo facit, qui petit quod redditurus est). A segunda é a que resulta da proibição de ventre contra factum.
proprium: a ninguém élícito exercer direito em contradição com o seu ato anterior, ou os seus ates anteriores,
positivos ou negativos, pois não se justificaria, por exemplo, que o exercício do direito de greve, irregular,
atingisse igualmente empregados e empregadores. De ordinário, os prejuízos e o não-lucro causados pela greve
diminuem a situação da empresa no mercado interno ou externo, põem-na em menos favorável posição para a
concorrência interna e internacional. Ainda que a isso não se chegue, ou quando não seja o caso de compensar-se
o dano aos acionistas (o que é possível prever-se em regras jurídicas para casos especiais), é de certo modo
reparar o deixar ao fundo de reserva ou de conservação da empresa o que deixar de ser pago, em virtude de
exceptio doU, aos empregados culpados.
Do art. 160, ~, 23- parte, do Código Civil, a que acima nos referimos como direito comum, não se tira, por
argumento a contrario sen.su, que haja exceção de irregularidade do exercício. Tira-se, apenas, que o ato em
exercício irregular do direito é ato ilícito e dêle resulta, para o lesado, o direito àreparação, com a pretensão e a
ação de abuso do direito. Trata-se como exceção, se se invoca a propósito da mesma res a L. 8, D., de doU mali
et metus exceptione, 44, 4 (PAULO)
“Dolo facit, qui petit quod redditurus est. Sic, si heres damnatus sit non petere a debitore, potest uti exceptione
dcli mali debitor et agere ex testamento”. Em vernáculo: “Obra com dolo o que pede o que há de devolver. Assim,
se o herdeiro foi condenado a não pedir ao devedor, pode o devedor usar da exceção de dolo mau e exercer a ação
do testamento”. A exceção supóe, certo, que haja direito de crédito e obrigação de restituir o
que teria de receber, ou que apenas haja exceção à pretensão do credor. Nega-se tal
coincidência na compensação (que, hoje, não é exceção) e seria de excluir-se, ainda em direito romano, porque a
compensação é com-pesar, contrabalançar, sem que haja com a temporaneidade ligação íntima. Não assim, em se
tratando de direito de retenção (OTTo WARNEYER, Kommentar zum Biirgerlichen Gesetzbuch, 1, 459). Quanto
ao dolo dos empregados em greve, a técnica jurídica pode tratá-lo como causa de exceptio doli, invocando-se o
princípio Dolo facit, qui pet,it quod redditurus eM: sempre que haja, da parte da empresa, o que alegar,
fundadamente, quante a danos causados pelos empregados (Código Civil, arts. 159 e 160, 1, 23- parte), tem a
exceção para excluir ou diminuir a quota de participação, ou, se causados por todos, o fundo de que se
participaria. Não se daria a compensação: faltariam, para essa, alguns pressupostos, ou, pelo menos, um, o de não
ser mencionada pela lei essa dívida à empresa, talvez dívida incobrável (pretensões desmunidas de ação, klaglose
Anspriicite, unklagbare Anspriiche). Há danos causados por empregados que podem ser cobrados pela ação do
art. 159 do Código Civil (ação de indenização pelo ato ilícito, inclusive exercício irrégular do direito) e pela ação
do contrato de trabalho; e danos de que derivam direitos e exceções, mas a que falta a ação: a diminuIção do lucro,
se não perfaz a figura precisa

do art. 159 do Código Civil, mas existe a relação de causa e efeito, tendo sido solvido o dissídio a favor da
empresa, com fôrça material de coisa julgada, gera a exceção da L. 8, D., de dou mali et metus exceptione, 44, 4.
A exceção cabe sempre que se caracterizou a culpa, em greve, do que exerce a pretensão à participação nos
lucros. A compensação não é exceçao; e rege-se por outros princípios. Seria preciso que existisse iex speciaUs
para que contra o crédito de participação nos lucros não se pudesse compensar.
A exceção é direito negativo, mas, no negar, não nega a existência, nem a validade, nem desfaz, nem co-elimina
atos de realização da pretensão (compensação), só encobre a dicácia do direito, pretensão, ação ou exceção que se
exerceu contra o excipiente. Bem fraco negar, ainda quando se trate de exceções peremptórias. Dependente de ser
exercida, a exceção distingue.se dos fatos pré-excludentes, modificativos e extintivos. O exercício da exceção e a
prova dos fatos pré
-excludentes, modificativos e extintivos são inconfundíveis por isso, basta, para êsses, que o juiz os encontre
provados nos autos, ainda que o réu não os tenha articulado. Nao assim quanto à exceção: em vez de fato, o que o
juiz tem de encontrar e o exercício do direito do réu, o exercício do jus exceptionis. Nenhuma contestação do
direito, da pretensão, da acao, ou da exceção do autor, há no exercício da exceçM; o fato, quer pré-exclua, quer
modifique, quer extinga, é, em si mesmo, contrariedade. Por mais cumprida e completamente provada que esteja,
nos autos, a exceção, se não foi oposta (alegada como exercício comunicação de conhecimento + comunicação
de vontade), nada pode o juiz no sentido de atender a ela. O caso típico é o da exceção de prescrição. São
conceitos que devem ser retidos.
A exceção de direito material depende de o demandado, ou devedor, exercê-la. A vontade do titular do direito de
exceção é que pode cobrir a eficácia. do direito, da pretensão, da ação ou da exceção de quem vai contra êle. De
um lado. há direito, pretensão, ação, ou exceção que existe e tem coberta (ou exposta a ser coberta) a sua eficácia;
do outro, a exceção que existe e não tem a eficácia de cobrir a outra eficácia, enquanto não se exerce.
Naturalmente, êsses de‟ní
1
291

veis entre existir e ser eficaz, máxime se atendermos a que a exceção, depois de exercida, cobre, desde que ela
existe, a eficácia do direito, da pretensão, da ação, ou da exceção, a que se opõe, intrigaram profundamente os
juristas. A alguns parecia estranho (e suspeito de insuficiente estudo) que se pudesse recusar a prestar, sem se
cortar a pretensão, a ação, ou a exceção, pelo menos em algo dela: nota-se logo o subs~an cialismo a que se
subordinava a filosofia jurídica dêles. Pode-se mesmo dizer que o conceito de exceptio nasceu com o processo
formular romano, mas transformou-se até se caracterizar exatamente como o fato que não impede o nascimento,
nem a continuação de existência dos direitos, pretensões, ações e exceçoes, nem atinge a sua validade, ao
nascerem, ou continuarem. O depender da vontade do excipiente é-lhe essencial; e aparente anomalia da exceção
de coisa julgada explica-se por ser a sentença prestação jurisdicional do Estado, através do juiz, prestação na
relação jurídica processual, que se fornou com o exercício da pretensão à tutela jurídica e, pois, pertence ao
Estado como às partes, que obtiveram a prestação. A ciência revelou a indispensabilidade do conceito, para se
entender, descrever a incidência e se aplicarem certas regras jurídicas. A exceção é, pois, categoria jurídica que
não se poderia eliminar, sem se alterar, profundamente, o sistema logico do direito, pois o ato jurídico anulável
também pode tornar-se válido, fazendo-se imune, com a prescrição, à ação de anulacão e o crédito compensável
não ficar sujeite à compensação se não foi alegada em devido, tempo. Nas três espécies, a eficácia fica exposta,
exposta à anulação, que vai até a. existência (existência e eficácia expostas), expostas à com-pensação, que atinge
a realização de pretensão, e exposta à. exceção, que só se dá no plano da eficácia, cobrindo-a.
Em rigorosa técnica legislativa, os sistemas jurídicos:
ainda apresentam falhas graves, em parte devidas a causas~ históricas. Algumas circunstâncias, que deveriam ser
tidas~ como fatos pré-excludentes, modificativos ou extintívos. ainda~ aparecem, nêles, como se fôssem
exceções; e a letra da leU mpôe o tratamento dêles como exceções, se a interpretação~ não consegue mostrar o
êrro de nome. Outras circunstâncias~ que deveriam ser tidas como exceções, aparecem, néjes, como.

r
292TRATADO DE DIREITO PRIVADO 5.672. DIREITO DE GREVE293

fatos pré-excludentes, modificativos, ou extintivos; é de lamentar-se que nem sempre a letra da lei permita
fazer-se depender da vontade do que deve, ou é obrigado, ou acionado, ou mesmo excepcionado, a eficácia do
fato. Se, por exemplo, quem se imuniza ou se pode liberar com o fato estaria em sacrifício moral ou material
alegando-o, é de tôda conveniência que seja tratado como fato pré-excludente, modificativo ou extintivo, e não
como exceção (R. LEoNHAEfl, Der Irrtunt ais Ursacite nichtiger V‟ertrdge, 2Y ed., 1, 311). O legislador tem de
examinar uma por uma das “exceções” e um por um dos “fatos pré-excludentes”, “modificativos” e “extintivos”,
para saber se estão na classe adequada.
No tocante à greve como circunstância que atue na participação nos lucros, é preciso tOda finura do legislador em
distinguir o que há de ser tratado como exceção e o que há de ser tratado como fato pré-excludente, modificativo
ou extintivo. A Constituição de 1946 propôs-se, não a elidir, mas a atenuar a luta de classes; e fatos há que,
funcionando como dependentes da alegação pelos empregadores, os poriam naquela situação vexatória a que se
referiu R. LEONHARD, para todo sistema jurídico. Melhor é que se tratem como fatos pré-excludentes,
modificativos ou extintivos, apreciáveis, de ofício, pelo juiz. Um dêles é o da eficácia da coisa julgada quanto &
greve sôbre a participação nos lucros. Certo, os princípios da coisa julgada não se alteram, são os- mesmos. Mas,
para que haja atuação na participação nos lucros (outra res), fora da atuação própria da res in judicium deducta, é
preciso regra jurídica da lei sôbre participação nos lucros.
Depois da obra de E. RIEZLER (Venire contra factum proprium, Leipzig, 1912), fêz-se clara a linha histórica do
princípio, viu-se a razão da sua importância no direito romano, no direito inglês, no direito americano, no direito
alemão e no direito francês, e percebeu-se a sua finalidade em política jurídica. O princípio presidiu à formação
de muitas regras jurídicas, desde o mais remoto direito romano até hoje. O causador da anulabilidade não pode ir
contra o ato jurídico (Código Civil, art. 152, 2.0), nem é ouvido quanto à ratificação (ad. 148). O vendedor não
pode propor ação por evicção nem argúir vícios redibitórios. As irrevogabilidades quase sempre
se baseiam na proibição de venzre contra factum proprium. igualmente, certas aplicações do princípio Protest
alio nau valeI contra actum, que se insere no princípio mais geral Venire contra factum jroprivm nuili conceditur.
Das cinco situações típicas que E. RIEZUER pesquisou (131 s.), tôdas se verificam no direito brasileiro: 1) o
negócio jurídico ineficaz (não nulo!), mas executado, impede que o adimplente venha contra o seu próprio fato;
2) as escolhas em que vige o princípio Electa una via nou datur recursus ad altera se fundam na proibição de vir
contra o fato próprio; 3) o ato de alguém como se tivesse certa qualidade não pode ser invocado para que o fato
jurídico se tenha como inexistente, inválido ou ineficaz; 4) a culpa in faciendo exclui voltar-se atrás; 5)
Turpitudinem suam alie gans non and itur (e. g., se a condição não se realizou por culpa do devedor tem-se por
acontecida; In pari causa turpitudinis cessal repetitio; o sócio que dá causa à dissolução não pode pedi-la), mas a
regra Turpitudinem suam... depende de lei que a formule, em se tratando de direito privado.
No direito do trabalho, a cada passo se invoca o principio e 5. RUNDSTEIN (Der Widerspruch mit dem eigenen
Verhalten in der Theorie des franzôsischen Privatrechts, Archiv fiir Elirgerliches Redil, 43, 375) frisou a
importância do seu papel, exatamente de lege constituenda. RENÉ DEMOGUE (Les Notions fondamentales da
Droil privé, 583) escreveu:
.... . si l‟ouvrier aide le patron à violer le contrat et s‟il est en faute, cela le rend bien responsable envers les
ouvriers ou te syndicat signataire du contrat collectif, mais de plus cela lui rend impossible d‟agir
contre le patroil en nullité de la convention: nemo auditur propriam turpitudinem alegans”. Também C. DE
VIS5GHER (Le Contrai coilectil de travail, 299 s.) : “Ayant coopéré à la violation du contrat collectif, ii lui est
interdit d‟en réclamer plus tard le bénéfice”. Para o direito holandês, MEIJERS (Hei Arbeideco‟ntract, 69 s.).
Ocontrato de trabalho, os negócios jurídicos unilaterais e os fatos jurídicos não-negociais ligados ao trabalho
passam-se rente à vida e têm de obedecer aos princípios de lealdade e de confiança, de boa fé, de cooperação leal.
Dai a relevância do principio Turpitudinem suam aliegans nou auditur e do

outro, mais geral, abrangente dêsse, Venire contra factum proprium mdli conceditur, na sistemática do direito
constitucional e ordinário do trabalho. A propósito da violação da fixação legal de salários, V. CLAES (Le
Contraí collectif de Ira-vali, sri vie juridique en Áliemagne, 292 sj, acentuou: “. . . il y a dans cette maniêre d‟agir
une déloyauté qui répugne au sentiment naturel de justice et d‟équité”. 5. HuGo SINZHEIMn (Der korporaíive
Arbeitsnormenverírag II, „70) fundamentara que a exceptio dou cabia.
A eficácia do exercício do direito de greve, ou de algum ato ou alguns atos que suspendam o trabalho, ou
danifiquem a empresa, não é eficácia própria, conceito, hoje, em ciência, satisfatôríamente preciso; ou é eficácia
anexa, ou é eficácia reflexa. Diz-se eficácia anexa a eficácia do fato jurídico quando está fora da sua irradiação
adequada de efeitos. A hipótese judiciária do art. 284 do Código de Processo Civil é efeito anexo da sentença de
condenação. Tais efeitos não são minu.s, nem pars: são aliud (R. POLLAK, System des õsterreichischen
Zivilprozessrechts 2a ed., 548). Uma vez que os efeitos anexos não pertencem à coisa julgada material, não pode
o juiz considerá-los de ofício, nem, a respeito dêles, cabe exceção de coisa julgada; salvo se há lei que mande o
juiz apreciar a quesido, na sua irradiação eventual, mas, aí, a eficácia deixaria de ser anexa, para ser eficácia
própria. Os legisladores brasileiros, de que cogita o ad. 157, IV, da Constituição de 1946, têm de escolher entre
terem a repercussão da greve na participação nos lucros como eficácia anexa (e. g., exceção) e terem-na como
eficácia própria da sentença que aprecie a greve, ou resolva sôbre ela. Cumpre, ainda, advertir em que a hgaçao
pode ser a qualquer ato do juiz, e não só a sentença. Inclusive, se a lei o estatul, explícita ou implicitamente, a
qualquer ato de “decisão”, em juízo arbitral, ou em negócio jurídico entre empregados e empregadores
A coisa julgada material, tendo como fundamento o Ne bis in idem (não como consequência) impõe o julgado. A
eficacia reflexa não é eficácia da coisa julgada material; é eficácia da sentença como fato jurídico, sem lhe ter a lei
anexado o efeito impróprio Não é eficácia anexa, nem própria. O problema da eficácia reflexa do julgado sôbre a
greve depende
de circunstâncias de difícil previsão, tais como as da greve que foi julgada sem razão de ser e diminui os lucros
dos que nela tomaram parte.
As limitações ao exercício podem ser ao exercício do direito de greve (aliter, as limitações ao direito) e ao
exercício do direito à participação nos lucros. A ConstituIção de 1946 não estabeleceu, a respeito, qualquer
distinção, pois o ad. 158 fala, explicitamente, de “exercício” do direito de greve, que a lei há de regular, e o art.
157, IV, concebendo o próprio direito à participação nos lucros “dentro da lei” (ordinária), a fortiori admitiu que
a lei lhe limitasse o exercicio. É o mesmo princípio geral, o da com-sorte do direito e do seu exercício, princípio
só exceptuável entenda-se pela lex specialis.
É mais consentâneo com os nossos dias ter-se a conseqúência do princípio Dolo facit, qui petil quod redditurus
est e da proibição de venire contra factum prop num, como limitação do exercício, especialmente extinção da
pretensão (e. g., extinção da pretensão à participação nos lucros), em vez de exceptio, que apenas “encobriria” a
eficácia do direito, da pretensão, ou da ação. Por onde se vê que o legislador ordinário tem de jogar com a técnica
mais apurada da teoria geral do direito, a fim de prover à solução das questões que podem surgir, com invocação
dos arts. 158 e 157, IV, da Constituição de 1946, entre empregadores e empregados, suscitada por aquêles, ou por
êsses.
C)É de tôda a conveniência que a lei a que se refere o art. 157, IV, preveja, ou as duas leis, aquela a que se refere
o ad. 157, IV, e aquela a que se refere o art. 158, prevejam:
a)A atuacão excepcional do exercício da direito de greve co-mo fato pré-excludente, modificativo ou extintivo do
direito de participa edo nos lucros, O ad. 1.57, IV, não se opõe a isso; o sistema constitucional brasileiro indica-o,
através dos seus princípios fundamentais; o art. 158 apenas vedaria que, com isso, se excluisse o
direito de greve, pois a Constituição de Th46 somente anuiu em que se lhe regule, por lei, o
exercido. Teremos, assim, regras jurídicas de limitacão do direito a. participar nos lucros que têm por suporte
fáctico (Tatbestand) o exercício irregular (no sentido do art. 160, T 2,a parte, do

Código Civil, a contrario sensu, ou da lex specialis), ou a prática de atos que não sejam exercício do direito de
greve. ainda quando se apresentem como tais.
b)A invocabilidade do princípio “Venire contra factu‟ín. proprium nuili conceditur”, pri‟ncipatmente no que
concerne ao „p‟rincí pio “Turpitudinem snam alie gans non auditur”. Prâticamente, ou se anui na solução a), ou
na solução c), ou se concebe exceção de dolo, solução b), contra o que foi causador de diminuição dos lucros, em
greve que foi resolvida com verificação da sua improcedência, ou das circunstâncias irreguiares que a cercaram.
Aqui, é de tôda importância observar-se que a greve é na Constituição de 1946, art. 157, IV,
como os outros atos desvestidos de contrariedade a direito (justiça de mão própria, quando a lei a permite,
legitima defesa, ato praticado em estado de necessidade), no plano da Ácao direta”: há rs deduota, que é o
dissídio, e a decisão favorável pode assumir todo o seu papel declarativo da jusliça do movimento, e a decisão
desfavorável, todo o seu papel declarativo da injustiça dêle. Noutros têrmos, foi praticada série de atos com que
de modo nenhum se exercia direito de greve, porque temerâriamente se omitiu trabalho, ou foi exercido
irregularmente. O ponto mais delicado, para o legislador ordinário, é o da greve que não foi temerária, pôsto que
desfavorável a solução; e. g., se os empregados ignoravam as circunstâncias que excluiam a possibilidade de se
solucionar favoràvelmente o problema.
c)As limitações ao exercício do direito de participação nos lucros em fznzção das limita çôes ao exercício do
direito de greve. Sempre que o ordenamento jurídico cria direito, a) impilcitamente ou expilcitamente diz que o
interesse que êle protege há de ficar à frente de outros interesses; porém b) não que seja à frente dos outros
interesses que o direito também protege. Foi por ver a a), e não ver a lO, que se concebeu o aforismo romano *Qui
iure suo utitur neminem laedit. O direito brasileiro exige que haja regularidade no exercício, sob pena de ser ato
ilícito (Código Civil, arts. 160, 1, 2.~ parte, e 159). O fato contrário à proibição do exercício irregular é ato
contrário a direito e, pois, ilícito, absoluto (art. 160, 1, 2~a parte), ou relativo. A ciência tem assentado que a regra
)
t
jurídica do art. 160, 1, 2? parte, se refere a quaisquer direitos, inclusive os que provêm da incidência de regras
jurídicas que não são as do Código Civil (L. ENNECCERUS, tehrbuch da‟ Biirgerhchefl Rechis, ~ç~a~34~a ed.,
1, 616). Assim, as leis, a que se referem os arts. 158 e 157, 11V, da Constituição de 1946, têm de cogitar das
limitações ao exercício do dírato de greve e das limitações ao direito de participação nos lucros e ao exercício do
direito de participação nos lucros. A concepção das exceções é para que o direito, a pretensão e a ação dos
participantes possam ser, fora (está visto) das limitações, encobertos em sua eficácia.
~Será possível admitir-se que aquêles mesmos empregados que venham a participar, ou insuflar movimentos de
indisciplina e de interrupção do trabalho, possam, ainda, legitimamente, participar dos lucros contra cuja
existência atuaram? Ai, não mais se trata de exercício ainda irregular do direito de greve. Quando se fala de
exercício irregular do direito de greve, supõem-se êsse direito e o seu exercido, pêsto que, ex hvpothesi, irregular.
Se algum movimento ativo ou omissivo se junta ao movimento emissivo da greve, sem caber no conceito
constitucional de greve, têm-se de distinguir o que é a greve e o que não é a greve. Mais característico ainda é o
movimento dissimulado em greve, porque então não há greve, de modo nenhum e, pois, não se há de pensar em
direito de greve. A Constituição de 1946, no art. 158, assegurou o direito de greve, não o direito a movimentos
omissivos (a fortiori, ativos ou agressivos) que não caibam no conceito de greve, segundo o art. 158. Tais
movimentos são contrários a direito, se causam dano, qualquer que seja, ainda diminuição dos lucros, e entram
na classe dos atos ilícitos do art. 159 do Código Civil, ou dos atos ilícitos relativos (responsabilidade contratual).
Algumas vêzes compõem figuras jurídicas penais.

6.MILITARES E FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS cIvIs. Não há direito de greve para fôrças armadas, ou para
funcionários públicos. A relação jurídica entre o funcionário público, civil ou militar, é totalmente de fonte legal.
Em têrmos mais técnicos, os atos de autonomia da vontade ou auto-regulação são, quase todos, preliminares (e.
g., inscrição em concurso,

298
TRATADO DE DIREITO PRIVADO
pedido de transferência, nomeação, promoção) a lei é que modela a relação jurídica; de modo que não se deixa
margem para o princípio da permissibUidade da greve, que é salvaguarda da autonomia da vontade ou
auto-regulação. O princípio, a respeito de fôrças armadas e de funcionários públicos, é o da inadmissibilidade da
greve.
Na sessão de 22 de setembro de 1948, o Supremo Tribunal Federal (Habeas-corpus n. 80.498) teve ensejo de
discutir o exercício do direito de greve antes da lei que o regulasse. Alguns ministros frisaram que, antes da lei, já
o exercício não podia ser irrestrito; outros entendiam que a lei anterior subsistia (art. 201 do Código Penal:
“Participar de suspensão ou abandono coletivo do trabalho, provocando a interrupção de obra pública ou serviço
de interesse coletivo”), mas, em verdade, a regra jurídica do art. 201 do Código Penal somente poderia ser
invocada, sob a Constituição de 1946, se a obra pública ou o serviço coletivo fôsse interrompido por pessoa
estranha, ou essa pessoa estranha houvesse provocado a interrupção. Tal pessoa não teria o direito de greve.
Outrossim, se não pudesse ser titular de tal direito (= fôsse funcionário público). Invocar o art.
201 contra pessoas, não funcionários públicos, que estivessem a trabalhar para o Estado, ou em
serviço de interesse coletivo, seria limitar, não o exercício, mas o conteúdo mesmo do
direito de greve. Nisso, de maneira nenhuma anuiu a Constituição de 1946. Se a pessoa que
trabalha na obra, ou no serviço de interesse coletivo, é funcionário público, o art. 201 do
Código Penal pode ser invocado, porque tal pessoa não tem o direito de greve, O art. 226, VII,
do Decreto-lei n. 1.718, de 28 de outubro de 1989, êsse, sim, formulou, em plano de lei
ordinária, o princípio de direito constitucional, implícito, que é o de não-titularidade do
direito de greve por parte do funcionário público, como tal (“Incitar greves ou a elas aderir,
ou praticar atos de sabotagem contra o regime ou o serviço público”). O art. 289 do mesmo
Decreto-lei n. 1.718, que é o Estatuto dos Funcionários Públicos, deu a pena de demissão a
bem do serviço público, em processo administrativo (ad. 246, parágrafo único). Dir-se-á o
mesmo quanto ao Decreto-lei n. 481, de 18 de maio de 1989, ad. 30, inciso 28. São
funcionários públicos todos os que exerçam cargo
1>
1.
§ 5.072. DIREITO DE GREVE
299
público ou emprêgo público, ainda transitôriamente, ou sem remuneração, quer o
serviço público seja centralizado, autárquico, ou paraestatal (Código Penal, ad. 327).
Inclusive, pois, os extranumerários, que podem ser dispensados sem o processo
administrativo; não, porém, punidos. A respeito, é preciso não se invocar, sem discrime, o art. 1.0
do Decreto n. 5.175, de 7 de janeiro de 1943. Não há punição sem observância do art.
141, §§ 25 e 27, da Constituição de 1946. Cumpre, ainda, advertir-se que o conceito de
funcionários públicos, mesmo abrangendo os extranumerários, não apanha os operários e
mais trabalhadores que tratam com o Estado como pessoa jurídica qualquer, nem, a
fo‟rtiori, os que trabalham para empregadores, que contrataram com o Estado. Para que o
trabalhador passe a não ter direito de greve, é preciso que comece de ser funcionário público; passando a ser
funcionário público, nascem-lhe direitos e deveres de funcionário público e cessam-lhe direitos e deveres que só
resultariam da incidência dos artigos
157-159.Essa é a tradição brasileira, que dispensa incursões em doutrinas e legislações estrangeiras, tanto mais
quanto alguns Estados só têm o direito de greve dentro dos limites da jei (e. g., Constituição francesa de 27 de
outubro de 1946, preâmbulo: “Le droit de grêve s‟exerce dans le cadre des bis que le reglementent”; Constituição
italiana de 22 de dezembro de 1947, art. 40: “11 diritto di sciopero si esercita nell‟ambito delle leggi che lo
regolano”, interpretado a seu modo por alguns juristas) ; outros redigiram leis que tentam conservar hábitos
adquiridos durante o tempo de guerra, quando qualquer serviço ao Estado, ou à agência do Estado, é pelas
circunstanciL4A, serviço de guerra e, por conseguinte, publicizado (e. g., a Lei TafL-H[artlev dos Estados Unidos
da América, de 1947).
7.LEr N. 4.380, DE 1.0 DE JULHO DE 1964. Temos agora de falar da lei ordinária que regulou o direito de
greve. A Lei n. 4.830, de 1.0 de julho de 1964, exsurgiu pela urgente necessidade de se regular o exercício do
direito de greve, diante dos fatos, que há algum tempo se sucediam, de omissões ao trabalho, com o nome de
exercício do direito de greve, suscitadas por agentes políticos e até do govêrno, fruto tudo isso
do nenhum interesse pelo direito de greve e do interésse

§ 5.072. DIREITO DE GREVE

demagógico das movimentações sociais. Quem dá ensejo a greves ilegais é o maior inimigo do direito de greve.
Se, em vez disso, a greve é justa e o direito de greve foi regularmente exercido, caminhou-se para a maior justiça
entre os homens e para maior igualdade.
Lê-se na Lei n. 4.330, de 1.~ de junho de 1964, art. 1.0:
“O direito de greve, reconhecido pelo art. 158 da Constituição Federal, será exercido nos térmos da presente lei”.
Mera referência, supérflua, ao texto constitucional. Apenas se parte do princípio de que só se legisla sôbre o
exercício de greve, e não sôbre o direito de greve. Onde a lei, no tocante ao conceito do direito de greve, o
diminua, ofende a Constituição de 1946, em que se atendeu ao que, em 1982, reclamáramos.
São pressupostos subjetivos para o exercício do direito de greve: a) serem pessoas físicas os que invoquem o
direito de greve; b) prestarem os que fazem a greve serviço de natureza não eventual a empregador, sob a
dependência dêsse e mediante salário; e) não se tratar de funcionário público ou servidor da União, dos
Estados-membros, Territórios, Municípios ou autarquias, salvo se o serviço é industrial, o pessoal não recebe
remuneração fixada por lei, ou está amparado pela legislação do trabalho.
Os pressupostos objetivos para o exercício do direito de greve são os seguintes: a) o consistir em suspensão
coletiva da prestação de trabalho; b) a temporariedade; e) o ter havido deliberação da assembléia geral da
categoria profissional interessada; d) o tratar-se de pretensão à melhoria ou manutenção de cláusulas do contrato
de trabalho ou do estabelecimento; ou mudança de circunstâncias vigentes na empresa ou nas empresas
correspondentes à categoria, total ou parcialmente; e) o ter havido indicação, prévia e por escrito, das reclamações
formuladas pelos empregados, na forma e de acta-do com o que a lei preve.
Daí dizer a Lei n. 4.330, art. 2.0: “Considerar-se-á exercício legitimo da greve a suspensão coletiva e temporária
da prestação de serviços a empregador, por deliberação de assembléia geral de entidade sindical representativa da
categoria profissional interessada na melhoria ou manutenção das condições de trabalho vigentes na empresa ou
empresas corres-
pondentes à categoria, total ou parcialmente, com a indicação prévia e por escrito das reivindicações formuladas
pelos empregados, na forma e de acôrdo com as disposições previstas nesta lei”. E o art. 3?: “Sé poderão
participar da greve as pessoas físicas que prestem serviços de natureza não eventual a empregador, sob a
dependência dêste e mediante salário”.

8.ESPÉCIES DE GREVE E EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE.


o exercicio do direito de greve é no interesse profissional coletivo, e não com a finalidade de desconstituição do
contrato de trabalho. Quer-se a suspensão do adimplemento da prestação, porém de maneira não incompatível
com a continuação da relação jurídica do emprêgo. Se não existisse o direito de greve, a atitude omissiva ou seria
denúncia, vazia ou cheia, mas quase sempre cheia pela comunicação do fim, ou seria causa de resilição do
contrato, por inadimplemento pelo trabalhador. Daí, em comparação com os outros contratos, ser o contrato de
trabalho sujeito à suspensibilidade do dever de prestar. A existência do direito de greve cria situação
característica, que resulta de não ser ofensa à vinculação suspender-se o trabalho. Algo se passa como a respeito
da omissão involuntária por moléstia, serviço militar, maternidade e interrupção do tráfego.
Há certa diferença, que resulta da voluntáriedade da suspensão pela greve: a retribuição do trabalho não seria
devida, pôsto que o tivesse de ser, com fundamento assistencial, em casos de doença, contra o empregador ou o
instituto de previdência. Se a greve é injusta e dura através de feriados, não há retribuIção. Nem se atende ao
tempo de greve injusta para o cômputo da antiguidade de serviço, ou para qualquer contra-prestação que se baseie
na antiguidade. A voluntariedade da greve faz depender da apreciação do seu fim a pretensão do trabalhador a
retribuições e vantagens.
A greve é o meio para que se dê solução a luta entre empregadores e empregados. Dá-se o mesmo com o locaute
(admitamos o anglicismo “locaute”, Aussperung). Outro meio tem-se no bo‟ykott (boicote, boicotagem), mas,
hoje, é rara a aparição dêle sem estar mesclado a uma das duas outras espécies (ARTHUR NíKíscH, Arbeitsrecht,
~, 2.~ ed., 80). Quanto à finalidade da greve, dita “motivo da greve”, supóe-se que todos os que se põem em greve
tenham o mesmo, de jeito que a

r
802TRATADO DE DIREITO PRIVADO§ 5,072. DIREITO DE GREVE808

omissão de trabalho é coletiva. Por isso mesmo não se pode aumentar o que se exige, o que se quer. Também é
elemento essencial não se romper o laço contratual, por abstenção definitiva. Greve não pode ser sem finalidade
(ALFRED HUECE, Grenzer~ des rechtmãssigen Streiks, F‟estschrift fu WILHELM HERSCI-JEL, 30) ; aliás, é
difícil imaginar-se greve sem propésito, mesmo que seja ilegal. Quando se define “direito de greve”,
necessàriamente se alude à finalidade e à legalidade dessa. A greve tem de acabar se a finalidade é conseguida, ou
se não mais se justifica. Trata-se apenas de meio para fina.
Quanto à greve de demonstração (Demonstrationsstreik). ainda não é greve: é apenas comunicação do
pensamento, que mostra algum fato que os empregadores não esperam possa acontecer, como a deliberação do
sindicato, ou alguma cláusula da exigência. Se a greve é apenas para exprimir a repulsa a algum ato,
trata-se de greve de protesto (Proteststreik). Cf. RICHARD O5SWALD (Der Strcik und die ihm durck
das Strafrecht gezogenen Grenzen, 16), FRITZ SIEERECHT (Das flecht im Arbeitskarnpf, 16) ;
antes, ALFRED HUECI< (Die politischen Streikaktionen, 6, 88). Nem a greve de demonstração, nem a greve de
protesto escapam à apreciação judicial da sua permissibilidade. Embora ainda não seja exercício do direito de
greve, a sua finalidade tem de ser examinada como se já se tratasse de exercício do direito de greve e os seus ates
como se já fôssem em tal exercício. A demonstração de finalidade política e o protesto político são motivos
vedados, assim às greves verdadeiras ou em sentido próprio como às greves de demonstração ou de protesto.
A propósito de cláusula de contrato coletivo, normativo eu não (a normatividade, aí, seria da cláusula), que se
referisse à greve ou ao seu exercício, de modo nenhum se pode restringir o direito de greve ou a sua
exercitabilidade. Para o direito alemão, WALTER KASKEL (Arbeitsreeht, 3,a ed., 370 s4, KASKEL-DERSCH
(Arbeitsrecht, 4,a ed., 421) e ERNST Ru~eiF HUBER (Wirtsekaftsverwaltungsrecht, ~J, 2Y ed., 390).
No Decreto-lei n. 9.070, de 15 de março de 1946, art. 2.0, só se permitia a cessação coletiva do trabalho, por parte
dos empregados, se observada a lei. No § 1.0, definia-se a greve:
“Cessação coletiva do trabalho é a deliberada pela totalidadc
ou pela maioria dos trabalhadores de uma ou de várias empresas, acarretando a paralisação de tôdas ou de
algumas. das respectivas atividades”. No § 2.~, acrescentava-se: “As manifestações ou atos de solidariedade ou
protesto, que importem em cessação coletiva de trabalho ou diminuição sensível e injustificada de seu ritmo,
ficam sujeitos ao disposto nesta lei”.
A Lei n. 4.330, art. 17, somente aludiu à abstenção completa, a que corresponde omissão do trabalho em todo o
horário normal. Mas há a greve branca, que é a de não trabalhar apesar do comparecimento na empresa, a greve
meia ou greve a solução, que apenas suspende de algum tempo, cada dia, eu com salto de dia ou de dias, a
prestação de trabalho, a greve com alteração, em que os trabalhadores apenas diminuem as turmas ou grupos.
A greve pode ser greve inteira, dita, também, greve completa, quando todo o horário fica sem trabalho dos que
entraram em greve (greve temporalmente integral), e pode ser greve incompleta, se apenas durante alguma
fração‟ do horário se suspende o trabalho.
Se a greve é de todos os empregados, diz-se greve total. Se de quase todos, greve quase-total.
Se a omissão é só pelo retardamento ou deficiência do resultado, trata-se de resistência passiva. Há quem nela
veja espécie disfarçada de greve (e. g., PAUL OERTMANN, Dentsches Arbeitsvertragsrccht, 285; HANS CARL
NIPPERDEY, Lehrbneh des Arbeitsrccht, II, 610) ; mas não se trata, o que aqui mais nos interessa, de exercício
de direito de greve.
Greve sindical (gewerkschaftliche Streik) é a greve que foi deliberada pelo sindicato e por deliberação dêle há de
cessar. A lei prevê a falta de sindicato que corresponda à categoria profissional e dá a solução para que ela seja
sindicaliforme. O elemento comum é a assembléia geral. A greve que não ésindical, nem sindicaliforme (zzzzz
greve que se não faz de acôrdo com os arts. 5070 ou com o art. 9,0 da Lei n. 4.380) chama-se greve desordenada,
ou selvagem (wilder Streik). A greve sindical e a greve sindicaliforme dizem-se greves organizadas (FRITZ
SIEBRECIIT, Das Redil itn Arbeitslcampf, 2,a ed., 14; RICHARD O5SWALD, Der Streik und die ihm dnrch das
Strafredil gezoqenen Grenzen, 15), mas a greve desordenada pode

ter organização interna e a greve desordenada pode exsurgir de sindicato (e. g., não houve a assembléia geral ou
não se respeitou a lei), ou de assembléia geral extra-sindical.
Quanto à finalidade, a greve tem de ser contra determinado empregador ou determinados empregadores. A
repercussão pode ser contra terceiro e ocasionar a greve de simpatia ou greve de solidariedade, que se não há de
confundir com a greve por extensão, em que há a mesma finalidade, no interesse dos empregados da greve
subseqúente, além do elemento de simpatia ou solidariedade. Há conveniência em se precisar a terminologia. Se a
greve de simpatia ou de solidareidade não satisfaz os pressupostos do direito de greve e do seu exercício, é
ilegítima, foge aos ditames legais. Em princípio, cada greve há de ser separadamente apreciada e julgada, pôsto
que, se a identidade de fim se caracteriza, se possa decidir globalmente. O empregador ou os empregadores a que
se dirige a greve subsequente podem declarar que se submetem à decisão da primeira, ou submeter-se ao que se
julgou, por ato de generosidade, ou por ato de bondade (cf. HANS CARL NIPPERDEY,
Gutachten, 43).
Greve de advertência (Warnstreik) é a greve com que se avisa o empregador ou se avisam os empregadores
quanto àatitude que os empregados tomarão se alguma medida fôr iniciada, ou não fôr modificada, ou não fôr
retirada.
Pelo fato de se dirigir contra entidade estatal, ou paraestatal, ou sem órgão, ou autoridade pública, a greve, mesmo
a greve de simpatia, não se faz greve política. Se a finalidade é forçar o empregador ou os empregadores ou
associação dêles à tomada de determinada atitude política, ou modificá-la, ou deixá-la, a greve é política.
Outrossim, se a greve é contra membros de um partido, ou associação não sindical de empregadores (cf. JOSEF
H. KAISER, Der politische Streik, 14). Se a greve se faz com intuito de influir na elaboração de projeto de lei, ou
de decreto, ou outro ato do Poder Executivo ou do Poder Judiciário, é greve política. Não assim se há greve e os
grevistas enviam escrito ou telegrama ao poder público sem que isso seja ato de greve. Rigorosamente, se o
movimento de omissão não tem finalidade de decisão de controvérsia entre empregados e empregador ou
empregadores, não se deve falar
1
de greve. Por exemplo: suspendeu-se o trabalho, para que, faltando o gênero alimentício que os empregadores
produzem, isso cause desprestígio a autoridade pública, pela falta no mercado. A figura do adversário não
corresponde, aí, à do empregador ou dos empregadores.

9.FUNCIONÁRIOS PÚBlICOS E SERVIDORES PÚBLICOS. Lé-se na Lei n. 4.330, art. 4.0: “A greve não
pode ser exercida pelos funcionários e servidores da União, Estados, Territórios, Municípios e autarquias, salvo
se se tratar de serviço industrial e o pessoal não receber remuneração fixada por lei ou estiver amparado pela
legislação do trabalho”. Assim já entendíamos ser o direito brasileiro sôbre greve antes da Lei n. 4.330. A regra
jurídica do art. 42 põe claro que não se pode estar protegido pela legislação do trabalho e ter-se direito de greve.
Se por alguma circunstância, o funcionário público, ou o servidor de entidade estatal, ou de autarquia, presta
serviço que excepcionalmente está regido pela legislação especial do trabalho, há o direito de greve. Assim, se a
indústria ou o comércio é de entidade estatal, mas essa não fixou por Lei a retribuição, o empregado está sob a
proteção da legislação especial e tem o direito de greve. Também pode ocorrer que por lei tenham sido fixadas as
remunerações, mas se haja deixado sob a proteção da legislação do trabalho o empregado. Fora daí, não há
falar-se de direito de greve.
Muito tempo se levou, no Brasil e no estrangeiro, para que se pusesse em lei, expressamente, a pr6íbição de greve
aos funcionários públicos e servidores que se não podem incluir na classe dos que tem o direito de greve (cf., por
exemplo, na Alemanha, A. BRAND, Das Beamtenrecht, 8.~ ed., 543 s.; O. FISCHEACH.,
Rnndesbeamtengesetz, Kominent ar, 2a ed., 22). Sempre sustentamos que não era preciso proTbir-se
expressa-mente, porque é implícita a proibição. Posteriormente, no mesmo sentido, JosEr H. KAISER (Der
politieche Streilc, 24). Há, porém, conveniência em explicitar-se a regra jurídica, como fêz a Lei n. 4.880, ad.
4O
10.DELIBERAÇÁO DE GREVE. Estabelece a Lei n. 4.830, art. 5.0: ~ exercício do direito de greve deverá ser
autorizado por decisão da assembléia geral da entidade sindical que

806TRATADO DE DIREITO PRIVADO

representar a categoria profissional dos associados, por doii terços, em primeira convocação e, por um têrço, em
segunda convocação em escrutínio secreto e por maioria de votQs”. Acrescenta o § 12: “A Assembléia Geral
instalar-se-á e funcionará na sede do Sindicato ou no local designado pela Federação ou Confederação
interessada, podendo, entretanto, reUnir-se, simultâneamente, na sede das delegacias e seções dos Sindicatos
(Consolidação das Leis do Trabalho, art. 517, § 2.0), se sua sede territorial fôr intermunicipal, estatal ou
nacional”. E o § 2.0: “Entre a primeira e a segunda convocação deverá haver o interregno mínimo de dois dias”. E
o § 30~ “O quórum de votação será de uni oitavo dos assouados em segunda convocação, nas entidades sindicais
que representem mais de cinco mil profissionais da respectiva categoria”.
A despeito de, histôricamente, terem aparecido com diferentes pressupostos e finalidades, o sindicato, o contrato
coletivo e a greve, o art. 5.o (cf. art. 9.0) da lei ordinária exigiu a deliberação em assembléia geral do
sindicato. Se a categoria profissional ainda não tem sindicato, não dispensa a Assembléia Geral.
Assim, a Lei n. 4.330 abstraiu do passado e considerou a coalizão e a deliberação coletiva pressupostos comuns a
tôdas as espécies (cp. COSTANTINO MORTATI, Ii Lavaro neVa Cosi itnzione, 511). A lei brasileira afastou da
exercitabilidade a greve selvagem, a wilder Streik.
Qualquer infração do art. 5~0 da Lei n. 4.330 greve sem deliberação da assembléia geral da entidade sindical, ou
não promovida e ultimada conforme o art. 92 é exercício ilegal de direito de greve. Aliás, in casu, pode dar-se
que não exista o próprio direito. Se, na primeira reUnião, não houve os dois terços favoráveis ao exercício do
direito de greve, há ilegalidade: nula a deliberação, não podia ser declarada e produzir o efeito deflagrante. Se, na
segunda convocação, não houve maioria de votos, ou não foi secreta a votação, há ilegalidade. O interregno de
dois dias também é pressuposto necessário. Bem assim, o quórum a que se; refere o art. 5~0, § 39. Cumpre
advertir-se que os estatutos do sindicato podem estabelecer quórum maior para qualquer deliberação sôbre greve.
A greve supõe coletividade da atitude. Não basta, <orém. que todos os grevistas estejam com o mesmo fim. É
preciso que tenha havido deliberação pelo corpo a que a lei atribui tal função. A própria declaração de
solidariedade tem de ser deliberada. A omissão do trabalho também há de ser coletiva, porque é apenas meio para
se alcançar o fim coletivo.
O sindicato, nos seus estatutos ou em regulamento de greve, pode estabelecer normas (I{ERMANN GROTE, Der
Streik, Taktik und Strategie, 193 s.), desde que elas não firam a Constitutcao e as leis. Se há regra legal, ou de
decreto, de natureza dispositiva, ou interpretativa, a norma enche o branco que o me dispositiva m encheria, ou
dispersa, por sua explicitude, o me interpretahvvm. Um dos problemas que surgem é o de se saber se a greve, que
não obedeceu às normas do sindicato mas observou a lei, é ilegal.. Noutros têrmos: se a observância das normas é
pressuposto do exercício leítimo da greve. Temos de repelir a opinião afirmativa de WALTER LÂSKEL
(Arbeitsreeht, g~a cd., 377). A irfracãõ de tais normas. só tem relevância interna, no que tem tôda razão
RICHARD OSSWALD (Der Streik und die ihm durch das Strafrecht gezogenen Grenzeu, 37 e 46). Os
empregadores, que receberam a comunicação, têm de verificar se a lei foi obedecida. Podem ignorar o que os
estatutos do sindicato exigem a mais. Se os conhecem e o assunto lhes interessa, l)odem alegar a irregularidade;
não têm, todavia, o dever de alegação.
A lei tinha de cogitar da constituição e das funções da assembléia geral do sindicato. Daí dizer-se na Lei n. 4.330,
art. 6.0: “A Assembléia Geral será convocada pela Diretoria da entidade sindical interessada, com a publicação de
editais nos jornais do local da situação da empresa, com a antecedência mínima de dez dias”. Acrescenta o § 1.0:
“O edital de convocação conterá: a) indicação do local, dia e hora para a realização da Assembléia Geral; li)
designação da ordem (rO dia, que será exclusivamente destinada à discussão das reivíndicações e deliberação
sôbre o movimento grevista”. E o § 2.0:
“As decisões da Assembléia Geral serão adotada.s com a utilização das cédulas “sim” e “não” “. E o § 3<‟: “A
mesa apuradora será presidida por membro do Ministério Público do Trabalho ou por pessoa de notória
idoneidade, designada pelo

Procurador-Geral do Trabalho ou Procuradores Regionais


A antecedência é de dez dias, ou de mais de dez dias. Há violação da lei se a antecedência é de menos. Mesmo que
haja norma estatutária sôbre o lugar em que se há de reúnir a assembléia geral, é pressuposto formal necessário o
da indicação do local, dia e hora. Não se pode tratar, na reUnião, de qualquer outro assunto que o da deliberação
sôbre a greve, para a qual se hão de discutir as reclamações, ditas, em má terminologia, “reivindicações”, o estado
em que se acham os contactos com a empresa ou com as empresas, os planos da greve e, finalmente, a aprovação
ou desaprovação do movimento de suspensão do trabalho. As cédulas têm de ser com o “sim” ou com o “não”,
porém isso não obsta a que se discuta e se vote, por exemplo, a deliberação sôbre a greve com a finalidade a e o
tempo b, para que, se houve o “não”, se passe a deliberar sôbre a greve a‟ e o tempo 1V, e assim por diante, se
ocorre
outro “não”.
Omembro do Ministério Público do Trabalho preside, ou a pessoa designada conforme o art. 6.~, § 30, da Lei n.
4.330, preside a mesa apuradora, não a assembléia geral.
Acrescenta a Lei n. 4.330, ad. „72: “Apurada a votação e lavrada a ata, o Presidente da Assembléia
providenciará a remessa de cópia autenticada do que foi deliberado pela maioria ao Diretor do Departamento
Nacional do Trabalho ou Delegado Regional do Trabalho”. Quem presidiu a mesa apuradora tem de entregar ao
Presidente da Assembléia Geral o resultado. Nada. obsta a que faça parte da mesa apuradora êsse Presidente, e é
aconselhável que assim seja. Tem êle de enviar ao Diretor do Departamento Nacional do Trabalho ou ao
Delegado Regional do Trabalho a cópia da ata. A autenticação da ata é pelo Presidente da Assembléia Geral e tem
de assiná-la quem presidiu a mesa apuradora.
Lê-se na Lei n. 4.330, art. 82: “É vedada a pessoas físicas ou jurídicas, estranhas à entidade sindical, qualquer
interferência na Assembléia Geral, salvo os delegados do Ministério do Trabalho e Previdência Social,
especialmente designados pelo Ministro ou por quem o represente”. Ao ad. 3~O ou se dá interpretação no sentido
de ser permitida discussão das matérias aos delegados do Ministério do Trabalho e Previdên
da S~iaL, ou simples função consultiva e de observação sôbre a legalidade de atos da assembléia geral. A
primeira interpretação tem de ser repelida, enêrgicamente, porque seria permitir-se exceção à liberdade de
associação sindical e à própria liberdade de deliberação.
Se ocorre que não há, no local, sindicato em que se possà promover a assembléia geral, têm-se, de iure condendo,
algumas soluções práticas, porém a uma se ateve a Lei n. 4.330, art. 9.0: “Não existindo Sindicato que represente
a categoria profissional, a Assembléia Geral será promovida pela Federação a quem se vincularia a entidade
sindical ou, na hipótese de inexistência desta, pela correspondente Confederação”. Acrescenta o parágrafo único:
“Quando as reivindicações forem formuladas por empregados, ainda não representados por Sindicatos ou
entidade sindical de grau superior, a Assembléia Geral será promovida pelo Diretor do Departamento Nacional
do Trabalho, no Distrito Federal, e pelos Delegados Regionais do Trabalho, nos Estados, a requerimento dos
interessados”. Note-se bem: a) supôe-se que existisse sindicato, para se determinar a que Federação estaria
vinculado, ou a que Confederação o seria; b) a essa entidade existente compete promover a assembléia geral; e) se
também não há Federação ou Confederação a que, se constituído houvesse sido, estaria vinculado o sindicato dos
empregados reclamantes, o Diretor do Departamento Nacional do Trabalho, no. Distrito Federal, ou o Delegado
Regional do Trabalho, nas unidades estatais, é que teria de promover a assembléia geral; <1) há o requerimento
pelos interessados, sem que haja arbítrio dos que têm a competência de promoção quanto a promover ou deixar de
promover a assembléia geral.

11.ATIVIDADES BÁSICAS E ATIVIDADES COMUNS. Diz a Lei n. 4.330, art. 12: “Consideram-se
fundamentais as. atividades nos serviços de água, energia, luz, gás, esgotos, comunicações, transportes, carga ou
descarga, serviço funerário, hospitais, maternidades, venda de gêneros alimentícios de primeira necessidade,
farmácias e drogarias, hotéis e indústrias básicas ou essenciais à defesa nacional”. Acrescenta o parágrafo único:
“O Presidente &la República. ouvidos os órgãos competentes, baixará, dentro de trinta dias, decreto
especificando as indús

trias básicas ou essenciais à defesa nacional, cuja revisão será permitidA de dois em dois anos”. A terminologia
“atividades fundamentais” e “atividades acessórias” não é feliz. N~ se pode chamar acessória a atividade em
grande empresa de minérios, automóveis, tecidos e cimento. Vêm após aquelas que se apresentaram como
básicas, ditas “fundamentais”, ou de primeira necessidade, porém de modo nenhum se lhes pode achar
acessoriedade.

12. DEVER DE PRÉ-AVISO. Nas legislações sôbre exercício do direito de greve firmou-se o princípio do dever
de pré-aviso. O empregador ou os empregadores têm direito a receber o aviso, com a antecedência que a lei fixe.
De inre condetido, há de haver tempo suficiente para o empregado examinar ou os empregadores examinarem a
finalidade da greve e a sua atendibilidade. Já houve contactos, talvez discussões de pormenores ou do todo da
reclamação. Todavia, é preciso que se dê outra oportunidade, com as formalidades que afastem qualquer ensejo
de surprêsa e de repentinidade. A def lagração da greve há de ser o último meio para se obter a solução, com a
possibilidade de deliberação do empregador, ou do grupo de empregadores, sindicalizado ou não. Na técnica
legislativa, a fixação do prazo mínimo para a data de início da omissão éum dos pontos mais sensíveis, como o é
a do prazo mínimo, anterior, para que dê resposta o empregador ou a dêem os empregadores. O Estado não
intervém, salvo com intuito conciliatório, nos momentos previstos em lei; o Estado assiste ao que se passa, dentro
das regras legais, e tem competência para suscitar, de ofício, o dissídio coletivo.
1k-se na Lei n. 4.330, art. 10: “Aprovadas as reivindicações profissionais e autorizada a greve, a Diretoria da
entidade sindical notificará o empregador, por escrito, assegurando-lhe o prazo de cinco dias para a solução
pleiteada pelos empregados, sob pena de abstenção pacífica e temporária do trabalho, a partir do mês, dia e hora
que nela mencionará, com o interregno mínimo de cinco dias, nas atividades acessórias e de dez dias nas
atividades fundamentais”. Acrescenta o § 12: “A Diretoria enviará cópias autenticadas da notificação às
autoridades mencionadas no art. 7O desta lei, a fim de que adotem providências para a manutenção da ordem, ga
rantindo os empregados no exercício legítimo da greve e resguardando a empresa de quaisquer danos”. E o § 22:
“Recebendo a comunicação prevista no parágrafo anterior, o Diretor do Departamento Nacional do Trabalho ou o
Delegado Regional do Trabalho a transmitirá ao Ministério Público do Trabalho, que poderá suscitar, de ofício,
dissídio coletivo para conhecimento das reivindicações formuladas pelos empregados, sem prejuízo da
paralisação do trabalho”.
O principio que se pôs no art. 10 é o de dever de pré-aviso. Cumpre, porém, advertir-se que há regra jurídica de
exceção ao princípio, se a greve é por falta de pagamento da retribuição, ou por não ter o empregador ou não
terem os empregadores cumprido decisão proferida em dissídio coletivo, trânsita em julgado (art. 16).
A Lei n. 4.330, arts. 10 e 16, estabeleceu o dever de pré-
-aviso, de modo que limitou o exercício do direito de greve. O aviso prévio ou prévia comunicação tornou-se,
portanto, elemento essencial.
1k-se na Lei n. 4.330, art. 16: “Será de setenta e duas horas o pré-aviso para a deflagração da greve, nas atividades
fundamentais e nas acessórias, quando motivada pela falta de pagamento de salário nos prazos previstos em lei ou
pelo não cumprimento de decisão, proferida em dissídio coletivo, que tenha transitado em julgado”.

13.TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO. Lei n. 4.330, art. 11:


~„O Diretor do Departamento Nacional do Trabalho ou o Delegado Regional do Trabalho adotará tôdas as
providências para efetivar a conciliação entre empregados e empregadores, com a assistência do Ministério
Público do Trabalho ou do Ministério Público local, onde não houver representante naquele, no prazo de cinco
dias, a partir da deliberação da Assembléia Geral, que tiver autorizado a greve”. Antes, sob o Decreto-lei n. 9.070,
de 15 de março de 1946, arta. 49, 5.0 e 6.0, já havia o dever de comunicação e a autoridade notificada tinha de
promover a conciliação, dentro de quarenta e oito horas. A conciliação tinha de ser submetida ao Tribunal do
Trabalho, para a homologação. Se, no prazo de dez dias, não se houvesse chegado à conciliação, o processo era
remetido ao Tribunal competente.

312
1
TRATADO DE DIREITO PRIVADO
Conforme o art. 11 da Lei n. 4.380, o Diretor do Departamento Nacional do Trabalho, ou o Delegado Regional do
Trabalho, tem o dever de promover a conciliação, dentro dos cinco dias a partir da deliberação da Assembléia
Geral, a tempo de ser dentro dêsse prazo a própria reUnião, ou contacto, O Ministério Público do Trabalho, ou, na
falta, o Ministério Público local, a que deve chegar comunicação do Diretor do Departamento Nacional do
Trabalho, ou do Delegado Regional do Trabalho, também tem o dever de assistir à tentativa de co‟ntitia çôiio. Se
da falta de adimplemento resulta algum dano aos empregados ou aos empregadores (e. g., o Diretor do
Departamento Nacional do Trabalho deixou de remeter, a tempo, a aceitação da oferta conciliatória), responde a
União (Constituição de 1946, art. 194 e parágrafo único).
No art. 11 da Lei n. 4.330 fala-se de “a partir da deliberação da Assembléia Geral”. Supõe-se que a Diretoria do
sindicato tenha enviado as cópias autenticadas (arts. „7~O e 10, § 1.0) ao Diretor do Departamento Nacional do
Trabalho ou ao Delegado Regional do Trabalho. Se o não fêz imediatamente, deixou menos tempo para que a
autoridade pública promovesse a conciliação.
Acrescenta a Lei n. 4.380, art. 28: “Caso não se efetive a conciliação prevista no art. 11. o Ministério Público do
Trabalho ou o representante local do Ministério Público comumcará a ocorrência ao Presidente do respectivo
Tribunal Regional do Trabalho, instaurandose. o dissídio coletivo, nos têrmos previstos na Consolidação das Leis
do Trabalho”.

14.LIMITAÇÕES Á CONDUTA DE GREVE. Há serviços básicos que não podem ser suspensos e
serviços que só em determinados momentos o podem ser. Lê-se na Lei n. 4.330, art. 13:
“Nos transportes (terrestre., marítimo, fluvial e aéreo) a paralisação do trabalho em veículos em
trânsito e dos respectivot~ serviços, só será permitida após a conclusão da viagem, nos pontos
terminais”. Aí, a lei apenas vedou que a greve começasse fora do momento próprio, que é o da
estação final, do termino da viagem. Seria absurdo permitir-se que os grevistas deixassem os trens
nas estações intercalares, isto é, antes de se chegar à última estação para a qual se traçou a viagem (e.
g., paralisassem o trem em estação sita entre a da cidade
r
§ &072. DIREITO DE GREVE
818
de São Paulo e a do Rio de Janeiro, se o trem foi para tal percurso), ou deixassem o ônibus onde não
é o lugar em que teria de recolher, ou aquêle em que terminaria o percurso, quer de ida, quer
de ida e volta. Se ônibus é para ida, com um motorista, e volta com outro, o motorista que o levou
somente pode retirar-se se o outro assumiu o trabalho. Se tal não ocorre, incumbe-lhe deixar o carro
onde se guarde, conforme as instruções normais.
Algumas atividades precisam não ser paralisadas, pela relevância do serviço; e. g., fornecimento
de luz, gás, géneros alimentícios. Ao Estado incumbe o dever de providenciar para que não
cause grandes danos a paralisação completa ou mesmo por pouco tempo. Daí dizer a Lei n. 4.330, art.
14: “Nas atividades fundamentais que não possam sofrer paralisação, as autoridades competentes
farão guarnecer e funcionar os respectivos serviços”. De modo nenhum se permite às autoridades a
constrição dos grevistas ao trabalho. Os que querem trabalhar tem toda a garantia. Nenhum
empregado que não o queira pode ser forçado a servir. Todavia, há pretensão do empregador ou dos
empregadores a que o Tribunal do Trabalho competente mande o sindicato ou os empregados (que tomaram parte
na assembléia geral) que escolham turmas de emergência, com o número de empregados estritamente necessário
à conservação das máquinas que exijam assistência permanente, O Estado tem a mesma pretensão, se de interesse
público, qualquer que seja a causa, o evitamento da paralisação (e. g., máquinas paradas podem determinar
inundações).
Lê-se na Lei n. 4.330, art. 15: “A requerimento do empregador e por determinação do Tribunal do Trabalho
competente, os grevistas organizarão turmas de emergência, com o pessoal estritamente necessário à conservação
das máquinas e de tudo que, na empresa, exija assistência permanente, de modo a assegurar o reinício dos
trabalhos logo após o término da greve”. Não se previu, aí, a permanência no trabalho produtivo. Só se cogitou da
conservação das máquinas e de tudo que exija assistência permanente. As verificações para se saber qual o
material que precisa de conservação ou de assistência são para respostas a quaestiones facti. Os enunciados de
fato, a respeito, têm de ser verdadeiros, e os interessados podeni

§ 5.072. DIREITO DE GREVE


314TRATADO DE DIREITO PRIVADO

recorrer, com alegação de falsidade ou de êrro dos que pro cederan ao exame e redigiram as conclusões.

15.INÍCIO DA GREVE E ATOS NEGATLVOS E POSITIVOS PERMITIDOS. O início da greve, para que essa
seja legítima, há de ser depois de observada a Lei n. 4.830, arts. 2-16. Começada a omissão do trabalho, os atos
positivos e negativos dos empregados têm de ser dentro do que se considera greve legítima. Os atos que aí não
cabem são atos ilícitos, absolutos ou relativos (infrações contratuais), e por vêzes crimes ou contravenções. A
primeira exigência quanto à entrada em greve e o seu decurso é a da pacificidade.
Diz a Lei n. 4.330, art. 17: “Decorridos os prazos previstos nesta lei, e sendo impossível a conciliação
preconizada no art. 11, os empregados poderão abandonar, pacificamente, o trabalho, desocupando o
estabelecimento da empresa”. Acrescenta o parágrafo único: “As autoridades garantirão livre
acesso ao local de trabalho aos que queiram prosseguir na prestação de serviço”. São atos contrários
ao pressuposto da pacificidade os barulhos, as gritarias, os insultos, os ditos ofensivos, as passeatas
em volta do edifício da empresa. Se o empregado mora no edifício da empresa, ou em construçao
que pertence à empresa, não tem de sair, porque o dever de desocupar o estabelecimento da empresa
só se entende no tocante à parte destinada ao trabalho ou a uso durante o horário do trabalho. Se o
lugar em que dorme o empregado tem de ser usado por outrem, durante a greve, o empregado que se
retira do trabalho tem de deixá-lo livre para que outrem se instale. Explicita a Lei n. 4.330, art.
18: “Os grevistas não poderão praticar quaisquer atos de violência contra pessoas e bens
(agressão, depredação, sabotagem, invasão do estabelecimento, insultos, afixação ou
ostentação de cartazes ofensivos às autoridades ou ao empregador ou outros de igual natureza), sob
pena de demissão, por falta grave, sem prejuízo da responsabilidade criminal, de acôrdo com a
legislação vigente”.
Acrescenta a Lei n. 4.330, art. 19: “São garantias dos grevistas: 1, aliciamento pacífico; II, a
coleta de donativos e
o uso de cartazes de propaganda, pelos grevistas, desde que não ofensivos e estranhos às
reivindicações da categoria pro.fissional; III, proibição, ao empregador, de admitir
emprega-
dos em substituição aos grevistas”. Acrescenta o parágrafo único: “Nos períodos de preparação,
declaração e no curso da greve, só empregados que dela participarem não poderão sofrer
~ongtraflgimentO ou coação”.
No art. 19, 1, da Lei n. 4.330 alude-se aos atos preparativos da greve, atos escritos, orais, em rádio
ou em jornais ou revistas. ~ pressuposto da licitude e do direito ao aliciamento serem
verdadeiras as comunicações de conhecimento, que faça

oempregado aliciante ou façam os empregados aliciantes.


A coleta de donativos não podia deixar de ser reconhecida (art. 19, II, 1.a parte), pôsto que não fique afastada a
criminalidade nos atos de informação sôbre o quanto ou sobre a destinação do que se receba. Mas isso é na
relação jurídica entre quem doa (ou contribui) e quem recebe.
Quanto aos cartazes de propaganda, ou de explicação da finalidade, têm de ser sôbre a ocorrência que determinou
a sugestão de greve e de não ofender ao empregador, ou aos empregadores, ou a algum ou alguns dêles, nem a
terceiros. Somente quem está na categoria profissional tem direito a fazer coleta, ou a outorgar podêres para ela, e
a fazer propaganda da futura greve, ou dar explicações sôbre a greve já iniciada.
Oart. 19, III, da Lei n. 4.330 contém proibição de empregados contratados pelo empregador, para substituição.
Não se admitem, portanto, os fura-greves, mesmo que sejam do mesmo lugar (cf. GINO GIUGNI, La Lotta
sindo,eale nei diritto penato, 78 s.; sómente quanto à retirada de Estado-membro a Estado-membro, O Byrnes Act
de 24 de junho de 1936, emendado em 1938). De regra, os deveres previdenciais continuam, estranhos à omissão
de trabalho (cf. VALENTI SIMI, Ii Dirittõ di saio poro, 223 s.).
As diretorias de sindicatos assumem grave responsabilidade, mesmo porque pode ocorrer que tenham votado
contra ela. Lê-se na Lei n. 4.330, art. 21: “Os membros da Diretoria da entidade sindical, representativa dos
grevistas, não poderão ser presos ou detidos, salvo em flagrante delito ou em obediência a mandado judicial”. A
regra jurídica afasta qualquer prisão pela polícia, ou qualquer outra autoridade pública, salvo em caso de flagrante
delito. Com isso, evita-se a pressão governamental, ou de grupos, que teriam portas abertas se permi

816
TRATADO DE DIREITO PRIVADO
tisse prisão sem ser em caso de flagrante delito, ou de mandado judicial.
Estabelece a Lei n. 4.330, art. 24: “Sempre que o atendimento das reivindicações dos assalariados importar em
revisões tarifárias e majorações de preços das utilidades, o Ministério Público do Trabalho promoverá a
realização de perícia contábil para verificação total dos aumentos obtidos nas majorações salariais e indicará ao
Poder Executivo a redução dos aumentos excessivos, segundo o apurado pela perícia”.
Acrescenta o parágrafo único: “Não devem ser considerados os aumentos deferidos aos
Diretores e auxiliares diretos da empresa. os créditos de companhias subsidiárias ou a conversão
da dívida em moeda estrangeira, com o propósito de reduzir os lucros e onerar a despesa”. O art. 24 cria dever do
Ministério Público do Trabalho, dever que há de ser cumprido após o atendimento das reclamações, quer pelos
empregadores, quer pela Justiça do Trabalho.

16.RESULTADO E ExTINCÃO DA GREVE. Diz a Lei n. 4.330, art. 20: “A greve lícita não rescinde o contrato
de trabalho, nem extingue os direitos e obrigações dêle resultantes”. Acrescenta o parágrafo único: “A greve
suspende o contrato de trabalho, assegurando aos grevistas o pagamento dos salários durante o período da sua
duração e o cômputo do tempo de paralisação, como de trabalho efetivo, se deferidas, pelo empregador ou pela
Justiça do Trabalho, as reivindicações formuladas pelos empregados, total ou parcialmente”.
Se a greve é legítima, dita lícita, isto é, se havia direito de greve e foi exercido conforme a lei, o contrato
permanece incólume, bem assim a sua eficácia.
A greve legítima, dita licita, não dá ensejo a denflucia do contrato de trabalho, nem a resiliçdo.
Na greve há risco dos grevistas, pois, se a greve não chega a alcançar o fim que tem, ou se é julgada ilegal, perde
o grevista a retribuição a que teria direito. Pode ocorrer a própria perda do emprêgo, se algum pressuposto para
isso se perfaz. Se houve ou se há cláusula de paz (Friedensklausel), ou contrato de paz, não há pretensão do
empregador à desconstituição do contrato. Se ocorreu denúncia cheia pelo empregador, durante a greve, tem-se
de aguardar o julgamento,
para se saber se teve, ou não, fundamento suficiente (cf. O. A. BULLA, Das zweiseitige kollektive Wesen des
Arbeitskampfes, Festschrift fúr HANS CARL NIPPERDEY, 175). Cumpre advertir-se que, se há causa de
desconstituição, não está inclusa no ato de greve, mas sim em ato ou série de atos fora do direito de greve e do seu
exercício. Por outro lado, se houve denúncia ou outra causa de desconstituição anterior à greve, não se r>ode
tratar como grevista quem entrou na greve (HANS CARL
NIPPERDEY, Lekrbuch. dos Arbeitsrechts, ~ 3Y-53 ei, 610). A greve legitima pode ter resultado favorável aos
empregados e pode não o ter. Se não há atendimento às reclanrncães dos grevistas, quer pelo empregador ou pelos
empregadores, quer pela Justiça do Trabalho, a greve legitima foi sem bom êxito, mas isso não a torna ilegítima.
Apenas os grevistas, por não terem obtido acolhimento, não têm direito aos pagamentos pendente a greve, ou têm
de restituir o que receberam, e perdem o tempo correspondente à omissão de trabalho, se alguma regra jurídica ou
cláusula contratual se refere a contagem de trabalho efetivo.

17. GREVES ILEGAIS. Uma das espécies de greves ilegais sao as greves de funcionários públicos e as dos
servidores de entidades estatais, a que se refere o art. 4O da Lei n. 4.330. A lei não foi ao ponto de considerar
ilegal a greve de empregados de empresa de economia mista, nem de empresas de serviços ao público. Se a
entidade estatal adquiriu empresa e não estendeu aos empregados as vantagens a que alude o art. 4O da Lei n.
4.330, pode ser contra ela a greve. O critério distintivo, que se tem no art. 4~O, afasta a discussão sôbre as
atividades privadas de extrema necessidade pública, ou de interesse geral (e. g., LUDWIG SORNORR VON
CARoLSFELD, Die Berechtigung gcwerkschaftlicher Demonstrationen. fiir die Mitbestimmung der
Arbeitnehmer in der Wirtschaft, 20), o que rara JOSEF H. KAIsER (Der politisefle Streilc, 20) a tornaria greve
política (sem razão, evidentemente), ou sôbre não deverem ser admitidas, porque a permissão de tais greves
tiraria a neutralidade do Estado (ERNST FORSTROFF, Die politischen Strcikaktionen dos Deutschen
Gcwerkschaftsbund es, 18), ou sôbre ser algo de niilismo do Estado permitirem-se tais greves

(GERHÂRD WACRE, Grundiageu „les õffentlichen Dienstrechts, 94 s.).


As espécies principais de greves ilegais são as greves sem haver direito de greve. Diz-se que se exerce direito de
greve e, ex hypotkesi, tal direito não existe.
A greve pode ser suporte láctico de ato ilícito absoluto, no sentido comum ao direito privado e ao público,
inclusive crime ou contravenção, como pode ser infração de lei proioitiva (lei que tem de respeitar o ad. 158 da
Constituição de 1946). A greve política é ilícita, mas o empregador ou os empregadores não têm, sôrnente por
isso, pretensão e ação de indenização pela sua ocorrência (HANs CARL NIPPERDEY, Gutachten, 27 s.;
WERNER NIESE, StreiIc ind Strafreeh 1, 52 a.), porque dano pode não ter ocorrido. À, frente passa a liberdade
Je pensamento. Se, nos atos negativos ou positivos, houve ofensa, sem ser a de simples omissão do trabalho não
danosa, não se pode pôr o interesse da empresa à frente do direito de liberdade de pensamento.
Se a greve se dirigiu contra a convicção política da empresa, o caso muda de figura: houve ilegalidade insita na
própria greve e ilicitude das suas conseqúências (cf. HANS CARL NWEERDEY, Grnndfragen der Retorta dos
Sehadensersatzreckts, 14, 44 s.; ALFRED HUECK, Grunzen des rechtsmâssigen Streil<s, Festschrift fui-
WILHELM IIERSCHEL, 37).
Greve sem finalidade é ilegal; e é preciso que a finalidade seja lícita. Por outro lado, a greve é omissão coletiva do
trabalho e supóe a deliberação de assembléia geral. Quem entra em greve não é o sindicato; êle apenas promove o
que é de mister ao exercício regular da greve.
Se algum ato de grevista ou de grevistas causou dano, responde quem o causou, e não o sindicato. Isso não afasta
a possível responsabilidade do sindicato se algum ato foi praticado por éle, ou a possível responsabilidade da
diretoria, se dela foi o ato.
A greve pode ser somente fóctica, pcrém, aí, não há falar-se de greve, nem de direito de greve. Houve a omissão
sem deliberação de caráter jurídico. Em sentido estrito, greve láctica, inclusive greve política, não é greve.
Todavia, o sentido,
se a lei fala de greve ilegal, considera greve qualquer omissão coletiva do trabalho.
Greve é meio de luta, dos empregados contra a empresa, como o locaute, meio de luta da empresa contra os
empregados. Se não se omite o trabalho, em movimento coletivo, de greve não se há de falar.
Cumpre advertir-se que a Lei n. 4.330 estabeleceu o monopólio sindical da greve (Streik-Monopol), contra o qual
se manifestam as doutrinas estrangeiras (cp. PH. HESSEL, Probleme des Streikrechts, Beiricôsberater, 1951,
86). Nenhuma associação não sindicalizada pode decretar greve ou locaute. A única exceção aos arts. 2.0, 5,0 e
6.0 está no art. 90, A finalidade da greve tem de ser relativa ao contrato de trabalho e ser deliberada a greve pela
categoria profissional a que inte
ressa, respeitadas as regras legais sôbre o exercício. A greveyge a1 só é legal se a reclamação interessa a todos os
que delatomam parte. A greve geral, com intuitos políticos, é mostra
de sistema cripto-sindicalístico (WTERNER WEBER, .Spannung und Krtif te iin westdeutschen
1/erfassungssijstem, 39 5.; ERNST FoRSTHOFF, Die politisofleu Streikaktionen, 26 s.).
Diz a Lei n. 4.330, art. 22: “A greve será reputada ilegal:
1.Se não atendidos os prazos e as condições estabelecidas nesta lei. II. Se tiver por objeto reivindicações julgadas
improcedentes pela Justiça do Trabalho, em decisão definitiva, há menos de um ano. III. Se deflagrada por
motivos políticos, partidários, religiosos, sociais, de apoio ou solidariedade, sem quaisquer reivindicações que
interessem, direta ou legitimamente, à categoria profissional. IV. Se tiver por fim alterar condição constante de
acôrdo sindical, convenção coletiva de trabalho ou decisão normativa da Justiça do Trabalho em vigor, salvo se
tiverem sido modificadas substancialmente os fundamentos em que se apoiam”.
A Lei n. 4.330, art. 22, 1, afastou discussôes em tôrno das infrações das suas regras jurídicas sôbre prazos e
pressupostos da deliberação da greve. Tôdas elas fazem ilegal a omissão de trabalho: o direito de greve foi
exercido sem observância da lei.
Se houve decisão da Justiça do Trabalho, trânsita em julgado há menos de um ano, sôbre a reclamação que se faz

§ 5.072. DIREITO DE GREVE


com a omissão do trabalho, a lei considera ilegal a greve. Todavia, pode ocorrer que a quae.stio juris que se
decidiu tenha sido alterada por lei subseqúente e então não há a correspondência entre o que se pleiteou perante a
Justiça do Trabalho e o que ora se pleiteia mediante greve. Também é de considerar-se o caso de serem duas ou
mais as reclamações e só sôbre uma se ter a coisa julgada. A reclamação não pode ser sôbre interpretação do
julgado da Justiça do Trabalho porque tal questão tinha de ser levada à própria Justiça do Trabalho.
No ad. 22, III, tem-se como greve ilegal a greve política, inclusive de fundo partidário, a greve de simpatia, a
greve de solidariedade, sem haver qualquer reclamação de interesse direto ou indireto da categoria profissional.
Quanto à pretensão do empregador ou dos empregadores à indenização, se a greve foi política, de regra as greves
políficas se dirigem contra órgãos do Estado, ou contra partidos, e não contra o empregador ou os empregadores.
Em regime democrático, a demonstração sindical que tem por fito influir nos atos positivos ou negativos dos
órgãos do Estado tem de ser permitida como um dos meios legais (ERNsT RUDOLF HUBER,
Wirtsekaftsverwaltungsrecht, ~ 2Y ed., 408; JOSEF H. KAISER, Der politische Streik, 25; IRICHÂRD
OSSWÂLD, Der Streilc und die ih,m durch das Strafrecht gezogenen. Grenzen, 20). A greve de pressão
(Druchstreik), atingindo a empresa, émanifestação que se voltou contra quem se devia voltar.
A greve política que se destina a evitar ou a impor lei é ilegal, mesmo se se trata de objeto de lei que possa ser
objeto de contrato normativo de trabalho. Não se pode distinguir o caso de poder ou não ser eficiente (sem razão,
RICI{ARD OsSWALD, Der Streilc und die ihm das Strafrecht gezogenen G-renzen, 18 s.>. A greve política não
se faz legal se a finalidade é fazer verificar-se se o assunto é para convenção normativa, ou se poderia ser
finalidade da greve. A ilegalidade está em que a greve é contra a empresa; sendo política, a manifestação, que
poderia ser em passeatas, comícios, cartazes, publicações ou outras demonstrações, foi em omissão do trabalho
(cf. HANS CARL NIPPERDEY, Lekrbuch des Arbeitsrechts, ~ 2Y ed., 643 s.; ERNST F‟ORSTHOFF, Die
politischen Streika.ktionen, 17 5.; ALFRED IIUECK, Grenzen der
821
rechtmãssigen Streiks, Festseh~rift flir WILHELM HEESCREL, 38; GERHARD MULLER, Grundfragen des
Streikrechts, Reckt der Arbeit, 1951, 249; HoasT SCHRÕDER, Streik und Strafrecht, Der Betriebs-Berater,
1953, 1015; sem razão, FitíTz BAuFÃi, Politischer Streik und Strafrecht, Juristenzeitung, 1953,
649 s.).
A greve com o fim de alterar o contrato coletivo de trabalho não é ilegal se houve mudança de circunstâncias que
justifiquem a alteração. Portanto, no direito brasileiro, nem tôda greve cujo fim é alterar o contrato coletivo de
trabalho é contrária a direito. O legislador brasileiro atendeu a que as circunstâncias, inclusive conjuntura
econômica, podem mudar.
Observe-se que no art. 22, IV, se fala de tentativas de infração pelo fim, mas essas infrações consistiriam: a) em
alterações de acôrdo sindical, salvo se sobreveio mudança de circunstâncias que justifiquem a reclamação ou as
reclamações; b) em alterações de convenção coletiva de trabalho, salvo se sobreveio mudança de circunstâncias
que justifiquem a reclamação ou as reclamações; e) em ofensa a decisão normativa da Justiça do Trabalho que
esteja em vigor, salvo se os fatos a que a decisão se refere mudaram e seja de atender-se a reclamação dos
empregados.
A greve por motivos políticos, partidários, religiosos, ao-dais, de apoio ou solidariedade (~ sem razão de
reclamação da categoria profissional para melhoria ou mantença da situação do trabalho) é ilegal. A reclamação
pode coincidir com a de luta política travada por outros, ou com a atitude de algum partido, ou de alguma religião,
ou programa social. A simples coincidência não importa. A greve só é ilegal, em tais espécies, se lhe falta
finalidade, se é sem reclamação que “interesse, direta ou legitimamente, à categoria profissional” (Lei
4.330, art. 22, III>.
No art. 22, IV, prevê-se o caso de greve que a lei reputa, ilegal com reclamação que altera cláusula do contrato ou
outro acôrdo sindical, convenção coletiva de trabalho ou decisaç. normativa da Justiça do Trabalho em vigor,
salvo se há repercussão de lei ou ato jurídico que altere a cláusula do contrato ou do acôrdo, a convenção coletiva
de trabalho ou a decis~o normativa da Justiça do Trabalho. No ad. 22, IV, não se

822TRATADO DE DIREITO PRIVADO

alude às decisões da Justiça do Trabalho que não sejam normativas, ou porque já foram referidas no art. 22, II, ou
porque as decisões que fizeram coisa julgada, sem caberem no inciso II ou no inciso IV, têm de ser respeitadas
como resulta da sua carga de eficácia.
A Lei n. 4.330, art. 22, deixou de referir ilegalidades de votos (proibições limitativas de greve). Uma delas. é a de
voto, na assembléia geral, de quem é sócio (não acionista!) da empresa. Se o sócio trabalha e recebe restituição de
empregado e toma parte nas deliberações da empresa, não pode votar. Seria contra princípios exigir e dar,
oferecer e aceitar, pôsto que exista, em direito, contrato consigo mesmo.
Outro caso é o do representante dos empregados em conselho de fiscalização da empresa. A favor da permissão
de poder tomar parte na assembléia geral está o argumento de ter êsse empregado, que representa, função de
apreciar e julgar, em conselho, faltas dos outros empregados. Contra, o de não se tratar do mesmo problema,
porque apreciar e julgar falta de outrem não é apreciar e julgar o ato em que tomou parte. Se é certo que, na
qualidade de membro do conselho tem o dever de cuidar dos interesses da empresa, não se pode
admitir que tome parte na assembléia geral deliberativa da greve (cf. ARTEUR NIXISCE, Arbeitsreúht, ~ 2.~ ed.,
146).
As reclamações contra os bons costumes fazem ilegal a greve. Podem dar ensejo a danos e, pois, a indenizações.
As reclamações têm de ficar no âmbito da vida de trabalho, inclusive quando se dirigem contra atos imorais que a
perturbem ou ofendam, como se há a repulsa dos empregados a utilização dos hotéis para lenocínio, ou dos barcos
ou outros meios de transporte para contrabando.
~, Pode o contrato normativo ou simplesmente coletivo de trabalho restringir o direito de greve? A resposta, no
direito brasileirO, não pode ser com fundamento em sistemas jurídicos que não têm o direito de greve como
direito constituciOflat sem que se acrescente, no enunciado, referência a limites legais (e. g., “na forma da lei”,
“dentro dos limites que a lei fixe”). O que se deixou à lei foi regular o exercício do direito de greve. Onde o ato
infringe lei penal é ilícito, e ilícito com ato de greve. Onde a finalidade da greve é ilícita, não há direito de
§ 5.072. DIREITO DE GREVE823

greve. Porém, onde a lei pode dizer o que é ilícito, di-lo para todos, e não só para os grevistas.
As normas que os sindicatos estabeleçam tem de ser observadas pelos empregados, como normas para o
exerc.íeio do direito de greve, não para limitar o direito de greve. O contrato~ coletivo normativo também não
pode restringir o direito de greve. Se na lei mesma não se ousou ir até ai, ~,por que se hL de permitir que o façam
empregadores e empregados?
A ação de indenização, essa, só se dirige contra os que deliberaram praticar o ato classificado como crime, não os
que entraram na greve.
18.CESSAÇÃO DA GREvE. Estatui a Lei n. 4.330, art. 25:
“A greve cessará: 1, por deliberação da maioria dos associados, em Assembléia Geral; II, por conciliação; III, por
decisão adotada pela Justiça do Trabalho”. Nenhuma competência têm as autoridades administrativas para fazer
cessar a greve. Incumbe-lhe promover a conciliação e comunicar-se com os sindicatos para lhes revelar o que
pensa sôbre a legalidade ou ilegalidade da greve. Se quer a cessação, só há um caminho:
suscitar o julgamento da Justiça do Trabalho.
A deliberação da maioria dos associados, diz o art. 25 da Lei n. 4.330, faz cessar a greve. ~ Que se há de entender
por “maioria dos associados”? Maioria dos associados soma a metade dos associados mais um, dita maioria
absoluta. Para a deliberação sôbre a suspensão dos trabalhos, a Lei n. 4.380, ad. 52, exige convocação da
Assembléia Geral, por dois terços, ou, em segunda convocação, por um têrço, mas sempre por maioria de votos
dos presentes. A maioria, a que se refere o art. 25, 1, é a maioria dos presentes, em Assembléia Geral. Não se
aludiu ao quórum, mas tem-se de interpretar o ad. 25,. 1, de conformidade com o ad. 52. A convocação da
Assembléia Geral é imprescindível. Se não comparecem dois terços. tem-se de fazer outra convocação, e a
decisão é sempre por maioria dos presentes. Se, à segunda convocação, não há qu&rum, a solução é a de
aguardar-se que mudem as circunstâncias; e fazer-se outra convocação, como primeira; portanto, com
o-pressuposto do quórum de dois terços.
A conciliação pode determinar a cessação imediata, ou ser a têrmo, ou sob condição a sua eficácia cessativa.

§ 5.072. DIREITO DE GREVE

Quanto à decisão da Justiça do Trabalho, houve apreciação da greve em si, ou houve apreciação do exercício do
direito de greve, ou das razões de greve e solução do dissídio. Em qualquer caso, qualquer que seja a eficácia
sentencial preponderante da decisão, há o elemento mandamental.
Estatui a Lei n. 4.330, art. 26: “Cessada a greve, nenhuma penalidade poderá ser imposta pelo empregador ao
empregado por motivo de participação pacifica na mesma”. Desde que foi pacífica a suspensão do trabalho,
embora não tivessem razão os grevistas, o empregador não pode impor pena disciplinar a êles. O art. 26 só se
refere aos atos negativos ou positivos, dos grevistas como atos de exercício; não aos atos estranhos à greve.

19.PENALIDADES. A greve em si não é ato de indisciplina, ou série de atos de indisciplina. O que não é
exercício regular do direito de greve pode ser licito ou ilícito. Estabelece a Lei n. 4.380, art. 27: “Pelos excessos
3 praticados e compreendidos no âmbito da disciplina do trabalho, os grevistas poderão ser punidos
~ com: a) advertência; 6) suspensão até trinta dias; c) rescisão do contrato de trabalho”. Acrescenta o
( parágrafo único: “Se imputada ao empregado, no decorrer da greve, a prática de ato de natureza
i penal, ao empregador serálícito suspendê-lo até decisão final da justiça criminal. Se o empregado fôr
absolvido, terá direito de optar pela volta ao emprêgo, com as vantagens devidas, ou pela percepção,
em dôbro. dos salários correspondentes ao tempo da suspensão, sem prejuízo da indenização legal”. O art. 27
supóe que o empregado haja praticado algum ato que não seria necessário ao exercício do direito de greve e
infrinja lei, regulamento ou norma de disciplina do trabalho. Se tal ocorreu, tem a empresade aplicar a pena que se
prevê, ou adotar uma das soluções a que se refere o art. 27, a>, 6) e e). Nenhuma penalidade aí prevista pode ser
mais grave do que a que poderia ser aplicada se greve não tivesse havido. A suspensão até trinta dias depende de
não ser menor a que seria a medida aplicável se greve não tivesse havido.
No art. 27, e), fala-se de “rescisão”, expressão imprópria.. A medida consiste em decretação de resilição do
contrato, ou em denúncia cheia.
No parágrafo único do art. 27, está dito: “Se imputada ao empregado, no decorrer da greve, a prática de ato de
natureza penal, ao empregador será lícito suspendê-lo até decisão final da justiça criminal. Se o empregado fôr
absolvido, terá direito de optar pela volta ao emprêgo, com as vantagens devidas, ou pela percepção, em dôbro,
dos salários correspondentes ao tempo da suspensão, sem prejuízo da indenização legal”.
A alegação de ter sido contra lei de direito público, ou de direito privado a greve, não basta para que ela seja
enchimento de denúncia do contrato, ou fundamento de resiliçdo.
Lê-se na Lei n. 4.330, art. 28: “As penas impostas aos grevistas, nos têrmos do art. 27, poderão ser examinadas e
julgadas pela Justiça do Trabalho”. O legislador podia ter estabelecido o recurso necessário (dito obrigatório ou
de ofício) para a Justiça do Trabalho. Podia submeter tal aplicação de pena a prévio exame pela Justiça do
Trabalho. Apenas explicita a existência de pretensão e ação constitutiva negativa contra o ato do empregador. A
pretensão e a ação tocam ao sindicato ou a qualquer dos empregados punidos.
No Código Penal, os arts. 197-207 cogitaram dos crimes contra a organização do trabalho. Diz a Lei n. 4.380, art.
29:
“Além dos previstos no Titulo IV da Parte Especial do Código Penal, constituem crimes contra a organização do
trabalho: 1, promover, participar ou insuflar greve ou loek-out com desrespeito a esta lei; II, incitar desrespeito à
sentença normativa da Justiça do Trabalho que puser têrmo à greve ou obstar a sua execução; III, deixar o
empregador, maliciosamente, de cumprir decisões normativas da Justiça do Trabalho, ou obstar a sua execução;
IV, iniciar a greve ou loclc-o‟ut, ou aliciar participante quando estranho à profissão ou atividades econômicas; V,
onerar a despesa com dívidas fictícias ou de qualquer modo alterar maliciosamente os lançamentos contúbeis para
obter majoração de tarifas ou preços; VI, adicionar aos lucros ou fazer investimentos com os rendimentos obtidos
com revisão tarifária ou aumento de preços especifica-mente destinados a aumentos salariais de empregados; VII,
praticar coação para impedir ou exercer a greve; Pena: Reclusão de seis meses a um ano e multa de cinco mil
cruzeiros a cem mil cruzeiros. Ao reincidente aplicar-se-á a penalidade

r
§ 5.073. LOCAUTE (“LOCK-OUT”>827
TRATADO DE DIREITO PRIVADO

em dôbro”. Acrescenta o parágrafo único: “Os estrangeiros que infringirem as prescrições desta lei serão
passíveis de expulsão do território nacional a juízo do Govêrno”.
O mais grave problema que exsurge da Lei n. 4.380 é o que provém de se aludir, no art. 29, ao “Titulo IV da Parte
Especial do Código Penal”, onde se acha o art. 201: “Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho,
provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo”. No Decreto-lei n. 9.070, de 15 de
março de 1946, ora ah-rogado, o ad. 14 dizia o mesmo, mas era decreto-lei, que se fêz e se publicou antes da
Constituição de 1946, sob govêrno que, embora aproveitador dos trabalhadores, sempre se opôs ao direito de
greve, pelo qual sempre nos batemos, improficuamente, até que adveio a Constituição de 1946, ad. 158.
Estatui a Lei n. 4.330, art. 31: “A autoridade que impedir ou tentar impedir o legítimo exercício da greve será
responsabilizada na forma da legislação em vigor”. O art. 31 apenas remete à legislação em vigor e de certo modo
reforça o princípio de ilicitude da vedação ou limitação do exercício do direito de greve.
§ 5.073. Locaute (“Lock-out”)

1.CONCEITO. Lock-out (Aussperrung, serrata, locaute) é a suspensão do trabalho, por parte da empresa ou das
empresas, para todos os empregados ou parte dêles, com a finalidade de forçar a mudança, retirada ou inserção de
cláusula contratual, ou renúncia total ou parcial de algum direito, pretensão, ação ou exceção que têm os
empregados ou parte dêles. É a greve em sentido contrário. É meio de luta, como a greve, para se atingir fim
contra os empregados. Supõe-se a coletividade da luta de trabalho, do lato dos atingidos, que são os empregados.
Não, porém, a coletividade, do lado da empresa. Pode ser uma só. O grupo de deflagradores pode ser organizado,
e pode não no ser. Atitude fáctica, não se supõe a denúncia dos contratos de trabalho. Se houve denúncia, podem
não ser devidas as retribuições.
Olocaute político (politische Aussperrung) é ilegal; e alguns juristas lhe tiram a própria natureza de locaute, no
sentido de direito de coalizão (cf. ERNST R.UIOLF HUBER, Wirtschaftsverwauflnflsreúht, II, 2.~ ed., 413).
Na própria Constituição de Vaimar, não se cogitou de direito de greve, que reputamos, em 1932, necessário em
texto constitucional nos regimes democrático-liberais.
Com o locaute, a empresa suspende, em parte ou totalmente, o trabalho, sem que se haja de exigir, no conceito,
alusão a fechamento da fábrica, da oficina, ou do armazém, ou do balcão, ou do escritório.

2.DIREITO DE COALIZÃO E LIBERDADE DE LOCAUTE.


Olocaute é o contrário da greve, no tocante à posição dos figurantes. Na Constituição de 1946, art. 158,
“reconheceu-se”, como principio constitucional, o direito de greve, tal como sugerimos em 1932; no art. 159,
inseriu-se o princípio de liberdade de associação profissional ou sindical. Nada se disse sôbre o direito de
locaute. Existe êle? Seria de desigual tratamento a regra jurídica que proibisse o locaute, como exercício da
liberdade de praticar atos que a lei não vede (Constituição de 1946, art. 141, § 2.0). Não há, porém, direito de
locaute, à diferença do que se passa com o direito de greve (ERNST RUDOLF HUBER,
Wirtscliaftsverwciltinigsrecht, ~ 2.~ ed., 414).
Lê-se na Lei n. 4.380, art. 30: “Aplicam-se, no que couber, as disposições desta lei, à paralisação da atividade da
empresa por iniciativa do empregador (lo clc-out) “. Daí não se tire que a lei supôs o direito de locaute, supôs
possível exercício da liberdade de locaute (Aussperrungsfreiheit), como elemento da liberdade de atos positivos
ou negativos, limitável por lei. (Alguns sistemas jurídicos chegam ao ponto de proibir o locaute, e. g., a
Constituição da Héssia, art. 29, alínea 5, que aliás infringe o art. 9, alínea 3, da Lei fundamental da Alemanha
Ocidental. Cf. SCI-IELP, Rechtsfragen der Aussperrung, Betriebs-Berater, 1951, 562.) No direito brasileiro,
também seria ofensa ao principio de igualdade perante a jei (Constituição de 1946, art. 141, § 1.0), em que se
contém o de igualdade na luta (Waffengleichkeit), não se permitir locaute. O legislador fêz bem, a despeito de não
haver direito (constitucional) de locaute, como há o direito (constitucional) de greve, em respeitar o princípio de
isonomia.

32STRATADO DE DIREITO PRIVADO

Na Constituição italiana, também nada se diz sôbre o locaute, o que tem suscitado delicados problemas em tôrno
de se tratar de direito constitucional, por interpretação da Constituição <PIETRO GÂSPÂRRI, Corso di Diritto
amministrativo, IV, 103), a despeito da omissão, tese que não se pode acolher, ou de ter o legislador ordinário
plena liberdade em vedar ou limitar o locaute (e. g., FERRUCCIO PERCOLESI, Dirilto sindacale, 298), o que
também não se pode seguir. A solução brasileira foi boa, pôsto que pudesse fazer maiores limitações (não vedar
de todo). As controvérsias entre empregados e empregadores, que revelam a imperfeição da ordem econômica,
podem partir dos empregados ou da empresa. Mudanças de circunstâncias podem justificar reclamações e não só
os empregados podem ter razões para elas e para fazê-las.

Parte II. Generalidades sôbre o contrato de trabalho


r

CAPITULO 1
CONTRATO DETRABALHO E IRRADIAÇÃO DE EFICÁCIA

§ 5.074. Mundo fáctico, mundo jurídico e contrato de trabalho

1.MUNDO FÁCTICO. A propósito do trabalho, é difícil ocorrer que alguém trabalhe para outrem sem que tenha
havido oferta e aceitação do trabalho. Já o ato de oferta se passa no mundo jurídico, porque a manifestação de
vontade do oferente já se introduz no mundo jurídico. O trabalho, que se presta, em socorro, ou para ajuda,
espontâneamente, entra no mundo jurídico, a despeito de não se ter pensado em negócio jurídico. A gestão de
negócios alheios entra no mundo jurídico, com as suas eficácias regidas pelas regras jurídicas insertas no Código
Civil.

2.MUNDO JURÍDICO E CONTRATO. O suporte fáctico do contrato de trabalho compõe-se com as


manifestações de vontade do empregado e do empregador, que tenham os requisitos que lhes exige a legislação
do trabalho. Relações jurídicas (contratuais) entre empregados e empregadores somente surgem depois que há o
contrato de trabalho.

3.CONTRATO DE TRABALHO E OUTROS CONTRATOS. Já


dissemos que o contrato de trabalho não se confunde com o contrato de obra (locatio operis) ou a empreitada,
como se passa, aliás, com tôdas as locações de serviços, lato senso.
Também não se confunde com o mandato o contrato de trabalho, porque o que se presta, no mandato, que supde,
mes
382
TRATADO DE DIREITO PRIVADO
mo quando há instruções rigorosas e precisas, independência de quem presta os atos, ainda se negativos, o que o
mandante quer que se preste. Alguns juristas vêem a diferença em haver representação no mandato e não na haver
no contrato de trabalho. Há mandato sem representação, como há contrato de trabalho em que o trabalhador
representa. No contrato de trabalho a retribuição leva em conta o tempo em que se presta a atividade prometida;
no mandato, quase só se atende à relevância da atividade prometida.
Não se confunde com o contrato de mediacão (Tomo XLIII, ~§4.714-4.721) o contrato de trabalho, porque,
nesse, quem presta a atividade prometeu prestá-la e o recebedor da prestação prometeu remunerar, ao passo que,
na mediação, a atividade apenas prepara a conclusão do contrato: a conclusão do contrato afirma que a mediação
se deu, com o êxito esperado.
Tão-pouco se pode reduzir a prestação de energia humana à prestação de bem corpóreo ou incorpóreo, que seja
objeto de contrato de compra-e-venda.
Já vimos que não há, no contrato de trabalho, o uni mus contrahendi societatis. Se êsse elemento se introduz e
supera os pressupostos prestacionais do contrato de trabalho, de contrato de trabalho não se pode cogitar.
A legislação brasileira permite a pluralidade de empregos (Decreto-lei n. 5.452, arts. 16, inciso 4, e 414), desde
que haja compatibilidade de horário e de espécies de trabalho.

§ 5.075. Relação jurídica de trabalho

1. CONCEITO. A relação jurídica que se irradia do contrato de trabalho há de ser chamada relação juridica de
trabalho (elipticamente, relação de trabalho), sem que se exija já se ter inserto na organização da empresa. Foi a
teoria do contrato (Vertragstheorie) que assentou tal afirmativa e ficou estabelecido na doutrina, contra o que
entendia a teoria da incrustacão ou da membração (Eingliederungstheoríe) Ora, a incrustação é efeito, resulta do
adimplemento do que se prometeu, e compreendese que se afastem da teoria da incrustação ou membração
(ARTI-TUR NIKISH, Arbeitsrecht, 1, 2.~ ed., 140 s.) juristas que a sustentaram. Cumpre, porém, advertir-se que,
no sentido estrito da legislação de trabalho, se supóe o
r
4‟
li-‟
§ 5.075. RELAÇÃO JURíDICA DE TRABALHO
833
emprêgo, sem que todos os contratos de serviços em que haja emprêgo se regulem por ela.

2.DIREITO PRIVADO E REGRAS DE DIREITO PÚBLICO. Tem-


-se de distinguir, no tocante às relações jurídicas entre os empregados e o empregador, o que resulta de lei e o que
resulta do contrato de trabalho, que é de direito privado, pôsto que suponha e haja de respeitar o que é de proteção
publicística do trabalhador e por vêzes do próprio empregador (HANNA KATz, Lúcken mi Arbeitsvertrage, 65
s.). Acontece algo semelhante com os contratos de locação de prédio.

3.LIMITAÇÕES SUBJETIVAS E LEGISLAÇÃO DO TRABALHO. Lê-se no art. „7~O do Decreto-lei n. 5.452,


de 1.0 de maio de 1943, que, “salvo quando fôr, em cada caso, expressamente determinado em contrário, não
incidem (lá se diz “não se aplicam”) as suas regras jurídicas, a) aos empregados domésticos, b) aos trabalhadores
rurais, e) aos funcionários públicos,
aos servidores das autarquias. Há, ainda, e) os trabalhadores penitenciários.
(a)Se o empregado doméstico presta o trabalho, de finalidade não-econômica, estrito senso, a alguém ou a
família, na casa ou local familiar do empregador, a espécie não é regida, em geral, pelo Decreto-lei n. 5.452.
Dissemos “finalidade nao-econômica estrito senso”, porque na dimensão econômica se põem os trabalhos para os
industriais e os comerciantes e para os que não têm fim de lucro e apenas dêles precisam para organização da vida
(cozinha, bar, aposentos, limpeza). Tanto é de natureza econômica o que a cozinheira prepara para a casa do
empregador, ou para êle e sua família, ou êie e, convidados, ou êle, família e convidados, como o que ela faz para
a hospedaria (hotel, albergue, estalagem, restaurante, bar), O Decreto-lei n. 5.452 empregou a expressão
“natureza economica” no sentido estrito de finalidade lucrativa. O motorista pode ser de serviço doméstico ou da
empresa. Depende de se verificar se o empregador é quem o usa (ou dá a outro o usQ), ou a empresa. Passa-se o
mesmo no tocante a jardineiros, arrumadeiras, garções, cozinheiros ou cozinheiras. O chofer do médico, ou do
engenheiro, ou do advogado, não e somente para o serviço profissional, de modo que se haja

334
TRATADO DE DIREITO PRIVADO
de invocar o art. 2.0, § 1.0, do Decreto-lei n. 5.452. Se o empregador contratou o motorista somente para o seu
serviço profissional, a relação jurídica de trabalho (senso estrito) estabelece-se. Outrossim, se há consultório ou
escritório, com duas ou mais pessoas, e o consultório ou escritório paga o motorista, mesmo se o serviço é
complexo (profissional e doméstico senso estrito).
No direito brasileiro, há a unidade do direito sôbre o serviço doméstico, à diferença do que se passa em outros
Estados. E. g., na Alemanha, onde aliás se fizeram gerais as regras jurídicas dos §§ 104-115, 131, 278, 617-619,
624, 831, 840, alínea 2, e 1.358 do Código Civil alemão, até que sobrevejo, não a unicidade legal, mas a
Proclamação (Aufruf) alemã de 12 de novembro de 1918.
O contrato de trabalho dos empregados domésticos é contrato de trabalho, a despeito do que se diz no art. 7O, a),
do Decreto-lei n. 5.452. O que se pré-excluiu foi a invocabilidade geral da lez specialis. Por outro lado, o
Decreto-lei n. 3.078, de 22 de fevereiro de 1941, não foi revogado. A competência da Justiça do Trabalho apanha
os dissídios entre empregados domésticos e empregadores (cf. Decreto-lei n. 5.452, art. 643). No Decreto-lei n.
3.078, ad. 13, hoje derrogado pelo Decreto-
-lei n. 5.452, dizia-se: “A fiscalização da execuçãn dêste Decreto-lei caberá às autoridades fiscais do Ministério
do Trabalho, Indústria e Comércio e, na sua falta, às autoridades policiais, as quais remeterão às Juntas de
Conciliação e .Julgamento os processos originados dos casos que não possam ser solucionados amigàvelmente ou
por via administrativa”. As autoridades policiais podem atuar no que cabe à sua competência, como se o
empregador ou o empregado comete algum críme ou contravenção penal.
Oempregado doméstico tem direito ao salário mínimo, de acôrdo com o art. 157, 1, da Constituição de 1946. O
que pode faltar é a fixação.
(b)A falta de extensão do Decreto-lei n. 5.452 é um dos pontos mais lamentáveis do sistema jurídico brasileiro.
Com isso, põe-se mais em perigo a propriedade rural do que se protege. Revela-se a mentalidade discricionária,
medieval, da agricultura do Brasil e, de certo modo, dos Estados latino~.
r
§ 5.075. RELAÇÃO JURÍDICA DE TRABALHO
885
-americanos. A economia agro-pecuária hostiliza as reformas, e as leis deixam como se fôsse classe improtegível
os que trabalham nas fazendas e nos campos.
Todavia, não é a localização que distingue dos outros trabalhadores o trabalhador rural. É a natureza da emrésa,
o que atenua o defeito do art. 7, b), do Decreto-lei n. 5.452. Uma vez que há indústria ou comércio, e não só
lavoura ou criação, caracteriza-se a espécie trabalho que a legislação trabalhista ampara.
Se essa legislação não é aplicável, geralmente, ainda assim podem ser invocadas regras jurídicas do Decreto-lei n.
5.452.
ODecreto n. 24.637, de 10 de julho de 1934, art. 3.~, jã incluía os trabalhadores agrícolas entre os protegidos pela
indenização por acidentes do trabalho, O Decreto-lei n. 7.036, de 10 de novembro de 1944, prosseguiu na mesma
linha de indistinção. A Lei n. 185, de 14 de janeiro de 1936, estendeu a êles o benefício do salário mínimo. Cf.
Decreto-lei n. 5.452, arte. 76-128, 129-147, 506; Lei n. 605, de 5 de janeiro de 1949, ad. 2.0, e Decreto n. 27.048,
de 12 de agôsto de 1949, ad. 2.0, a) ; Decreto-lei n. 7.038, de 10 de novembro de 1944; Decrete-lei n. 7.449, de 9
de abril de 1945; Decreto-lei n. 8.127, de 24 de outubro de 1945; Decreto-lei n. 6.969, de 19 de setembro de 1944,
e Decreto-lei n. 9.827, de 10 de setembro de 1946).
a)No art. 76 do Decreto-lei n. 5.452, explicitamente se diz que “salário mínimo é a contraprestação mínima
devida e paga diretamente pelo empregador a todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de
sexo, por dia normal de serviço e capaz de satisfazer, em determinada época e região do País, as suas necessidades
normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte”.
b)Tem o trabalhador rural o direito às férias anuais remuneradas (Decreto-lei n. 5.452, ad. 129, parágrafo único:
“As disposições dêste capítulo aplicam-se aos trabalhadores rurais”).
c)O art. 505 do Decreto-lei n. 5.452 estatui incidirem
a respeito dos trabalhadores rurais as regras jurídicas dos
arte. 442-456 (sôbre contrato indissolúvel de trabalho), 457-
-467(sôbre remuneração), 487-491 (sôbre aviso prévio).
1

à 1.
3
3 r
6 TRATADO DE DIREITO PRIVADO
§ 5.075. RELAÇÃO JURíDICA DE. TRABALHO
d)Tem o trabalhador rural o direito ao repouso sentanal remunerado e o direito â remunera çâo nos domingos e
dias feriados (Constituição de 1946, art. 157, VI, Lei n. 605, de 5 de janeiro de 1949, art. 1.0: “Todo empregado
tem direito ao repouso semanal remunerado, de vinte e quatro horas consecutivas, preferentemente aos domingos
e nos limites das exigências técnicas das empresas, nos feriados civis e religiosos, de acôrdo com a tradição
local”; art. 2.0: “Entre os empregados a que se refere esta lei incluem-se os trabalhadores rurais, salvo os que
operam em qualquer regime de parcela, meação ou forma semelhante de participação na produção”).
e)À Justiça do Trabalho cabe conhecer das questões relativas aos trabalhadores rurais desde que invoquem a
Constituição de 1946 ou a legislação trabalhista.
f) O direito à estabilidade resulta do ad. 157, XII, da Constituição de 1946, onde explicitamente se estabelece:
“estabilidade na empresa, ou na exploração rural, e indenizaçM ao trabalhador despedido, nos casos e nas
condições que a lei estatuir
g>O trabalhador rural tem o direito de greve (Constituição de 1946, art. 158).
h)Os trabalhadores rurais e os empregados rurais podem associar-se profissional ou sindicalmente (Constituição
de 1946, ad. 159), e fazer convenções coletivas de trabalho, bem como contratos normativos, e receber funções
delegadas pelo poder público.
(c)Aos funcionários públicos da União, dos Estados-
-membros e dos Municípios e aos extranumerários, federais, estaduais ou municipais, em serviços nas
repartições, não se estendem as regras jurídicas do Decreto-lei n. 5.452 e de outras leis do trabalho.
É êrro pensar-se que a relação jurídica entre o funcionário público e o Estado é sempre, na sua estrutura, a mesma.
Nem no é na sua fonte, nem no seu desenvolvimento. Na sua fonte, porque: ou se origina de concurso, ou de
qualquer outro ato de vontade unilateral do Estado, o que cria, antes da investidura, situação ou série de situações
jurídicas dignas de exame e suscetíveis de conseqUências no presente e no futuro; ou
>~
337
nasce de pré-contrato, ou ato preliminar, ou, até, contrato com o Estado, com a transformação dêle em situação
que não é mais contratual, no sentido do direito comum. O indivíduo que foi admitido como funcionário público,
em virtude de concurso, não pode dizer que a sua investidura resultou de contrato. De promessa ao público,
limitado pela lei, sim. Quando a lei diz que os contratados, segundo os princípios do direito comum, pelo Estado,
como seus empregados, passam, desde certa data, a ser funcionários públicos, não foi o contrato que os fêz
funcionários públicos, foi a lei, foi, ainda, ato de declaração unilateral de vontade do Estado, para o qual o
contrato existente não foi mais do que resultado. Todo o problema está, portanto, no instante da investidura, na
caracterização inicial da qualidade do funcionário público, e tal consideração do nascimento punctual da relação
jurídica entre o funcionário púNico e o Estado é que poderá dar-nos algum material de pesquisa para a
classificação de tal relação. Ora, pôsto que as empresas de grande porte, de ordinário, adotem uma como
organização pública, à semelhança da administração estatal, tais entrosamentos estatiformes não transformam as
relações jurídicas existentes entre os empregados de empresa particular e a empresa em relações jurídicas de
funcionário público. Não é, pois, na estrutura da relação que se há de buscar a sua caracterização. É na sua
natureza. Nunca é demais lembrar-se que já se está no domínio do direito público e que tôda a lembrança do
direito comum é perturbadora. ~Que é Estado? O Estado ésistema de instituições de direito público, subordinadas
a uma instituição, que é o próprio Estado como finalidade. No direito comum, a cada momento encontramos a
instituição (o que é de grande importância, por exemplo, em direito intertemporal) mas, exatamente no terreno
dos contratos, o elemento institucional escasseia, e a vontade das partes adquire facilidade de expansão que não
tem nos outros ramos do próprio direito privado, como ocorre no direito de família, no direito das coisas e, em
grande parte, no direito das sucessões. No direito público, em matéria puramente contratual (contratos de direito
administrativo), ainda se vê o papel eventual, enorme, da vontade dos figurantes. Quando passamos à análise da
relação jurídica entre o funcionário público e o Estado, a vontade dos figurantes

338
8 TRATADO DE DIREITO PRIVADO
4 como que desaparece: não só a vontade do funcionário público, ou do candidato à investidura, nos
0 cargos públicos, mas, também, a do próprio Estado, que, acêrca de funcionários públicos e de
provimento de cargos, não tem a mesma liberdade que possui quando faz contratos administrativos,
menos ainda quando faz contratos de direito privado. Por onde se vê que o elemento institucional é predominante,
quase exclusivo, na relação entre o funcionário público e o Estado, e êsse elemento institucional afasta, por
incompossibilidade de definição, qualquer assimilação de tal relação jurídica a quaisquer categorias de direito
privado, como o mandato, a locação de serviços, ou qualquer subsumpção no que se chama, síricto sensu,
contrato. Trata-se de relação jurídica portanto bilateral, mas in~stituc&md, e que repele a noção de pura
contratualidade. Uma das conseqUências é a de não se considerar funcionário público o empregado contratado,
bem que o seja o empregado que exerce, interinamente, ou em comissão, cargo da administração pública, desde
que êsse cargo pertença ao quadro dito dos funcionários públicos. Não há nada de institucional na relação jurídica
entre o empregado contratado e o Estado, de modo que possa criar a relação especifica, que é a existente entre o
funcionário público e o Estado. A despeito da temporariedade da comissão, ou da interinidade, o empregado, de
que acima falamos, é funcionário público, porquanto prevalece o elemento institucional na relação jurídica entre
êle e o Estado.
Cumpre observemos o que é essencial à doutrina baseada em ciência que a fonte da relação jurídica é que pode
ser unilateral, ou bilateral, ou plurilateral: a relação jurídica é sempre bilateral!, porque exige, pelo menos, dois
pélos. A relação jurídica resultante do promissário a que nasceu direito à recompensa é bilateral. Idem, a que
nasce ao vencedor do concurso. A fonte, ali e aqui, é promessa ao público, manifestação unilateral de vontade.
Excepcionalmente, e a despeito do contrato, é possível que a lei faça funcionário público o contratado; mas, aí, há
plus, que põe ao vivo não se tratar de simples relação jurídica contratual. O funcionário público contratado é mais
do que coutraente: é funcionário público.
~.O75. RELAÇÃO JURÍDICA DE TRABALHO339

A diferença entre funcionários públicos e empregados do Estado, que não são funcionários públicos, é de tôda a
relevância, porque a êsses é de aplicar-se o que concerne ao contrato de trabalho, especialmente os arts. 157 e
158. O funcionário público tem dever e obrigação de exercer função do Estado, o. que é diferente de só ser
funcionário público se exerce função do Estado; os empregados do Estado contratam com êsse, det modo que,
permitin.doo a Constituição, ainda que o serviço que prestam corresponda à função pública, a função é exercida
como serviço, e não como função pública.
(d) Quanto às autarquias, é preciso que só. se pense em descentralização de parte da entidade estatal. Há
estatalídade, pôsto que se haja permitido arquia, direção, à parte, O Decreto-lei n. 8.016, de 22 de novembro de
1948, art. 2.0, disse, com alguma exatidão: “Considera-se autarquia para efeito deste Decreto-lei, o serviço,
estatal descentralizado com personalidade de direito público, explícita ou implicitamente reconhecida por lei.
Também o Decreto-lei n. 7.659, de 21 de junho de 1945, art. 1.0, referiu-se às “autarquias constituídas
exclusivamente de patrimônio estatal descentralizado, com personalidade de direito público”. Aliás, não só se
descentraliza o patrimônio. A Constituição de 1946, art. 77, II, alude a “entidades autárquicas”. Na Lei n. 880, de
28 de setembro de 1949, art. 189, atendeu-se a que a descentralização pode ser superveniente ou originária. Daí
definir com referências às duas espécies, o que nas leis anteriores não se fêz: “Consideram-se entidades
autárquicas: a) o serviço estatal descentralizado, com personalidade jurídica, custeado mediante orçamento
próprio, independente do orçamento geral; Li) as demais pessoas jurídicas, especialmente instituidas por‟ lei, para
execução de serviço de interesse público ou social, custea do por tributos de qualquer natureza ou por outros
recursos, oriundos do Tesouro”.
Diz a Lei n. 1.890, de 18 de junho de 1958, art. 1.0: “Aos mensalistas e diarista5 da União, <los Estados, do
Distrito Fe-. deral, dos Territérios dos Municípios e das entidades autár-. quicas, que trabalharem nas suas
organizações econômicas co~. merciais ou industriais em forma de empresa e não forem funcionários públicos ou
não gozarem de garantias especiais,.

TRATADO DE DIREITO PRIVADO

aplicam-se, no que forem aplicáveis, as providências constantes dos arts. 370 a 878, 391 a 398, 400, 402 a 405,
letra a), e parágrafos, 407, 408, 411, 424, 427, 446 e parágrafo único, 450, 457 e §§ 1.0 e 2.0, 464, 472, 478, 477
a 482, 487, 492 a 495 e 497 da Consolidação das Leis do Trabalho”. Acrescenta o § 1.0: “A dispensa do
empregado com mais de 10 anos de serviço, prevista no art. 492 da Consolidação das Leis do Trabalho, só poderá
ser feita mediante inquérito administrativo, sem prejuízo da apreciação judicial da respectiva prova na ação
porventura proposta pelo dispensado, desde que a decisão lhe seja flagrantemente contrária”. E o § 2.~: “Entre os
atos de indisciplina ou insubordinação a que se refere o art. 482, alínea h), da Consolidação das Leis do Trabalho,
incluem-se, no tocante aos empregados declarados no presente artigo, incitar, promover, tomar parte ou fazer
propaganda de greve de qualquer natureza e finalidade, bem como pertencer a partido político, associação, clube
ou grupo, etc., proibido como nocivo à ordem social ou política”.
Diz a Lei n. 1.890, de 18 de junho de 1958, art. 2.0: “As ações dos empregados referidos no artigo anterior, contra
a entidade empregadora, correrão na justiça comum perante o juiz de direito do lugar ou da comarca do
estabelecimento”. Acrescenta o parágrafo único: “Onde houver mais de um juiz de direito, será competente o que
fôr para as reclamações da competência da Justiça do Trabalho, no caso do art. 122, § 3~O, da Constituição. Se
nenhum dêles estiver neste caso, a competência será do que a tiver para as causas de entidade pública ré”.
<e) A legislação especial do trabalho não cogitou do trabailto penitenciário, a que se refere o Código Penal, arts.
29, § 1.‟~, e 31, parágrafo único. Uma vez que se compõem os pressupostos para que o contrato de trabalho com
o Estado se considere contrato de trabalho, alguns princípios são invocáveis (e. g., Decreto-lei n. 5.452, arts.
872-878, 892-898, 402 e §§ 1.0, 2? e 3? 407, 408, 427, 457, 464, 478). A diferença apenas está em que o trabalho
do sentenciado, se é forcado, sem escolha da prestação, não resulta de contrato.
5.076. Transferência da titularidade de direita sôbre a empresa e mudança na estrutura jurídica ou na organização
da empresa

1.TRAnSFERÊNCIA DA TITULARIrADE DE DLREITO SOBRE A EMPRESA. Quem figura, defronte do


empregado, no contrato de trabalho e, pois, nas relações jurídicas de trabalho, é a pessoa, física ou jurídica, que é
o empregador. O contrato pode ser cem o dono da vniversitas ivrium, ou o enfiteuta, corno pode ser com o
usufrutuário, ou o usuário, ou o locatário. A alusão que se faz a “empresa” é elíptica, e não cabe aqui re
memorarmos as discussões travadas na Europa, em tôno a conceitos de empresa em sentido objetivo e conceito de
empresa em sentido subjetivo e tantas outras, porque já expusemos o que era de mister quanto a empresa e fundo
de empresa (Tomo XV, §§ 1.799, 1.802-1.812 e 1.822; XIX, §§ 2.808 e 2.304; XXXVIII, § 4.216, 5; XXXIX, §
4.346, 6).
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452 (Consolidação das Leis do Trabalho), art. 448: “A mudança na propriedade ou na
estirutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados”. Já no art. 10 foi
dito:
“Qualquer alteracão na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados”. Daí
não se tire que a vinculação é à empresa e que se despersonifica o empregador: o empregador tem de ser pessoa
física ou jurídica. Nem se pense em que há sucessão econômica, e não jurídica, o que foge, aí, a tôda exatidão
conceptual: exatamente o que se quer explicar é a transeficácia a despeito da sucessão, sem atenção aos princípios
que regem a cessão de direitos e a assunção de dívidas.
De inicio, observemos que a regra jurídica somente é de mister para os casos de sucessão subjetiva, isto é, de
sobrevir outro empregador. A 1~a parte do art. 448 do Decreto-lei n. 5.452 era necessária, em boa técnica
legislativa. A 2a parte, dispensável, porque, sem ela, a solução seria a mesma.
Pode dar-se que a personalidade física ou jurídica do empregador continue, mas haja mudado, completamente, a
espécie de indústria ou de negócio (= mudança da empresa sem mudança da titularidade). O empregado pode
afastar-se, como

se afastaria em casos semelhantes, com direito à indenização. Não há os pressupostos para incidir o ad. 448.
(De passagem frisemos que não se precisa, de modo nenhum, recorrer a conceitos de acessoriedade e de
pertinencialidade, para se justificar a ligação automática do contrato de trabalho a quem se p~e no lugar do
empregador. A transferência em título do fundo de empresa tinha de refletir-se no contrato de trabalho.)
Quando se fala de empresa, na legislação do trabalho, o que se há de entender é que se trata de organização do
trabalho alheio, ou alheio e próprio, para determinado fim. Fora do direito do trabalho, pode a empresa ser
organização do trabalho próprio. Aí, o titular dos direitos sôbre a empresa não tem empregados.
~ metonímico dizer-se que o figurante, defronte do empregado, é a empresa, salvo se se precisa a diferença entre
empresa e fundo de empresa e se considera aquela o sujeito de direito, pessoa jurídica ou pessoa física.
No que se refere ao contrato de trabalho, tem-se de evitar a invocação de regras jurídicas gerais sôbre
8 cessões de créditos e assuncões de dívidas, porque o contacto, de certo modo, no que diz respeito ao
4 empregador, se despersonaliza. Com isso, não se há de aventurar que é a empresa, e não o
4 proprietário, o usufrutuário, ou o locatário, que é o sujeito de direito, salvo se se chegou àquela
distinção a que acima aludimos, O que se passa é que o trabalho na empresa tem de ser considerado função,
incrustada no fundo de empresa, incólume a mudanças de titularidade do direito sôbre ela e de mudança de
estrutura e organização interna.
A observação do que se passa nas empresas tem de atrair a atenção dos juristas para o trato especial que se havia
de dar ao contrato de trabalho como ao valor da clientela, cuja externidade corresponde, de certo modo, à
internidade do trabalho. O trabalho produz; a clientela colhe, consome. Ambos têm valor. Ambos são elementos
essenciais.
O empregado é indiferente à mudança da. titularidade do direito sôbre a eniprêsa. O contrato ou as dividas
anteriores ou o contrato e as dívidas anteriores continuam. Não se trata
de assunção de dívida alheia. Há continuidade, e não assumibilidade. As relações jurídicas contratuais são as
mesmas.
É sem pertinência a discussão, assaz renhida na Itália, em tôrno dos conceitos de “empresa” (impresa) e
estabelecimento (azienda), que concerne, principalmente, ao art. 2.112 do Código Civil italiano (e. g., ALBERTO
ASQUINI, Suíle nuove posizioni dei diritto commerciale, Rivista dei Diritto eommerdate, 40, 1, 65 s.; F.
CARNELUTTI, 40, 1, 67, que via movimento, ato, em “azienda”, e quietitude, em “impresa”, o que é pura
fantasia; LORENZO MOSSA, 40, 1, 69; FRANCESCO SANTORO-PASSARELLI, L‟Impresa nel sistema del
diritto civile, 40, 1, 376; PAOLo GRECO, Profilo dell‟impresa economica nel nuovo Codice Civile, Attí deita
Reate Accademia deile .Scienze di 7‟o-Ruo, 77, 48 s.).
O que se teria de dizer, no art. 44g, l3~ parte, do Decreto-lei n. 5.452, é que a mudança de titularidade de direito
sôbre a empresa não atinge o contrato de trabalho. Primeiro, porque não só à mudança de titularidade do direito de
propriedade se há de aludir: há outras mudanças de titularidade de direitos, como em caso de usufruto, ou de
locação. Segundo, cumpre advertir-se que a referência à empresa é para se mostrar que a ineerção do nôvo
proprietário, usufrutuário, ou locatário, no contrato, com todos os efeitos jurídicos, independe das regras jurídicas
do Código Civil, arts. 1.065, 1.069 e 1.078. Se o caso é de usufruto constituído após o contrato de trabalho, ou de
extinção posterior de usufruto, não há “mudança de propriedade” (mudança de titularidade do direito de
propriedade) nem mudança na estrutura jurídica da empresa.
O empregado pode vir a saber, tarde, da mudança de titularidade do direito sôbre a empresa. É sem conseqúências
devido à automaticidade da inserção e porque não há pensar-se em ser intuitu personue, no tocante ao
empregador, o contrato de trabalho. Se o contrato de trabalho era coletivo, nenhuma diferença surge. Continua a
surtir efeitos, a despeito da mudança e até que se extinga.
Se o contrato de trabalho foi intnitn personae, como se, nos estatutos, se prevê que, enquanto viver o sócio A, tem
êsse direito, por ser paralítico, a que alguém lhe conduza o carro

r
TRATADO DE DIREITO PRIVADO
5.076. TRANSFERÊNCIA DA TITULARIDADE
e o empregado só se vinculou a êsse serviço, o art. 448 não é invocável.
O ad. 448, 1.a parte, do Decreto-lei n. 5.452 não pode dispensar interpretação extensiva, que inclua a constituição
ou a transferência de usufruto, anticrese, locação ou qualquer outro direito de uso e fruição. Outrossim, os casos
de requisição (Constitufção de 1946, art. 141, § 16, 2a parte>.
Se o Estado concedeu exploração de alguma empresa, com prazo determinado, ou foi com prazo indeterminado,
mas cessou a eficácia, pela cassação ou outra causa, e o Estado tem de dar concessão a outra pessoa, física ou
jurídica, tem-se de verificar se houve autorização para organização duradoura. ou se não houve, bem como, se
houve, qual o propósito do Es tado no tocante à nova concessão (se com o fundo de empresa, ou se sem éle). Não
há, pois, resposta a priori, e devemos afastar atitudes radicais, que Mc distinguem, como ocorre na doutrina
italiana (cf. LUIGI DE LITALA, II Contratto di Uvoro, 5a ed., 635 s.; PAGLO Gi~co, II Contratto di lavoro,
Trattato di F. VÂSSALLI, 487 s.).
Se houve empreitada, ou subempreitada, ou empreitada de parte de obra, não há mudança na titularidade do
direito sôbre a empresa. Nem outra mudança. O art. 448 do Decreto-
-lei n. 5.452 nAo é invocável.
Se a empresa entrega a outrem o uso e fruíçâo de parte do fundo de emprésa (e. g., o hotel loca o bar
3
a outra empresa, ou mesmo o ser-viço de restaurante, com o dever, para o locatário, de pagar as
4
despesas), há a continuTdade do contrato.
6
No caso de herança jacente, os bens nAo ficam vuoni dommli, mas vacui possessionis. Se herdeiros
não aparecem, ou aparecem e não aceitam a herança, recebe-a o Estado, O curador é apenas administrador.
Ocorre o mesmo em se tratando de patrimônio de concebido, de patrimônio em liquidação coativa e outros casos
semelhantes. Idem, em caso de penhora, enquanto não se dê a adjudicação ou a aquisiçflo em arremataçAo.
A propósito do usufruto, há o problema da extinçdo do usufruto e da situaçâo dos empregados, O domínio
integra-se, pela consolidação. &Ineide o art. 448, lA parte, do Decretolei n. 5.452? Não há resposta para Udas as
espécies. Se, ao se constituir o usufruto, já existiam os contratos de trabalho.
345
nenhum problema surge. Se os contrates foram feitos pelo usufrutuário, a transferência da emprésa criada por
êsse depende do que ocorra entre o proprietário e o usufrutuário (que, aí, não o era da empresa). Se o usufruto era
da empresa, os contratos, que já existiam, volvem a ter como titular o proprietário. Os contratos foram feitos pelo
usufrutuário, no ffiterêsse da empresa, há a incidência do art. 44g, 1a parte, do Decreto-lei n. 5.452. Pelo que
ficou a dever o usufrutuário, o proprietário não responde.
No caso de locaçâo locação da empresa (arrendamento), não de parte, como de máquinas, ou de salas a
universitas iuriuíni é gerida pelo locatário, que tem dever de crnúinuar a exploração. Ai, incide o ad. 448, 1a parte,
do Decreto-lei n. 5.452, porque não se locou o prédio, ou não se locarani o prédio e as peças, mas a emprésa. Ai,
é preciso que os contratos de trabalho tenham sido no interesse da emprésa, para continuar eficiente a
organização.
Na jurisprudência encontra-se decisão quanto a não ser de invocar-se o art. 448, 1Y parte, do Decreto-lei n. 5.452
se a aquisição da titularidade do direito sôbre a empresa foi em hasta pública (Tomo XXIX, § 3.423, 3>. A lei não
distinguiu, e não podia fazer tal distinção a Justiça do Trabalho. Se houve a liquidação falencial ou por outro
modo concursal e o que se adquire é o que restou, o líquido, então sim: não se adquiriu o direito sôbre a empresa,
mas parte do todo, de que já se excluira o passivo. Dar-se-ia o mesmo se só se houvesse alienado, sem ser em
concurso, parte não essencial.
Não é mudança de titularidade a instalação de filial, sucursal, ou agência de empresa estrangeira, que contrata
empregados de outra emprésa, nào extinta por isso, que era sua agente ou representante.
A instituição autárquica, que faz suas as atividades ante5 desempenhadas por empresa privada, com os mesmos
elementos materiais e profissionais, submete-se à regra jurídica do art. 443, 1Y parte, do Decreto-lei n. 5.452.
Disse bem WILSON BATALHA, relatQr do acórdão do Tribunal Regional do Traba]ho da 2.~ Região, a 13 de
fevereiro de 1948 (R. dos T. do T., 175) “Pouco importa que a sucessora se apresente como instituição autárquica.
Essa circunstância não poderia afastar

r
TRATADO DE DIREITO PRIVADO
5.076. TRANSFERÊNCIA DATITULARIDADE____347

a sucessão alegada, mesmo porque os empregados das instituições autárquicas, quando não beneficiados por
normas tutelares análogas às do funcionalismo público, são abrangidos pelas leis protetoras do trabalho (ad. „70,
d), da Consolidação das Leis do Trabalho, com a redação dada pelo Decreto-lei n. 8.079, de 11 de outubro de
1945, interpretado a contrario sensu) “.
Se quotas de sociedade por quotas de responsabilidade limitada são transferidas pelo quotista a outrem, há
continuidade, porque não se transferiu o direito sôbre tôda a empresa, só se transferiram os direitos sôbre quotas,
ou sôbre tôdas as quotas.
Foi dito, em acórdão, que a simples compra de navio não caracteriza sucessão. Tem-se de indagar se o empregado
continuou no navio, ou se foi aproveitado pelo vendedor noutro navio, ou em serviço do vendedor em que
pudesse ser aproveitado. No primeiro caso, houve sucessão. Se nenhum dos três casos ocorreu, houve despedida
pelo vendedor, que responde pela indenização, mesmo se falido, ou pelo comprador.
Na jurisprudência, encontra-se acórdão em que se diz que a empresa sucessora não é responsável por lucros
participados, depositados na empresa alienante, ou por multa contratual; mas sem razão: o art. 44g, 1Y parte, do
Decreto-lei n. 5.452 de modo nenhum faz tal distinção; tudo isso se origina do contrato de trabalho, mesmo se ex
lege.
Se há decretação de desconstituição do ato de transferência do direito sôbre a empresa, não há responsabilidade
do que teria sido adquirente, salvo quanto ao que ocorreu durante o tempo da exploração.
Tratando-se de divida do alienante, há solidariedade. A Justiça do Trabalho, devido a acórdão da 1a Turma do
Supremo Tribunal Federal (D. da J., de 19 de julho de 1952), que aludiu ao art. 896 do Código Civil, tem afastado
haver solidariedade entre o adquirente e o alienante; mas com isso deixaria de atender ao ad. 896, parágrafo
único, se a dívida já era do alienante: não poderia êle deixar de ser devedor sem que se respeitassem os princípios
sôbre a eficácia contra o credor da assunção de dívida alheia (cf. Tomo XXIII, §§ 2.852-2.866).
2. MUDANÇA NA ESTRUTURA JURÍDICA DA EMPRESA. A mudança pode ser na organização, e não se
precisa de invocar o art. 448 do Decreto-lei n. 5.452, porque o utente é o mesmo. ~ o caso da sociedade anônima
que aumenta o capital, ou que o reduz, ou da sociedade de que saiu ou em que entrou algum sócio.
Se a sociedade em nome coletivo passa a ser sociedade anônima, ou vice-versa, o contrato persiste, a despeito da
mudança de estrutura.
Mudança na estrutura da empresa ocorre, por exemplo, se a sociedade em nome coletivo se transforma em
sociedade de responsabilidade limitada, ou se a sociedade de economia mista passa a ser sociedade anônima sem
mistidade.
Em verdade, a alusão a empresa, no art. 448 do Decreto-
-lei n. 5.452, não é no sentido subjetivo. A empresa, objeto de direito, impõe que se dê relevância à sua função em
relação aos que têm função no fundo de empresa.
As mudanças de estrutura jurídica são mudanças de titularidade do direito sôbre a empresa sempre que o sujeito
do direito é outro. Então há transferência.
Se não há mudança de titularidade do direito sôbre a empresa, não se transfere a posição jurídica do empregador,
nem, sequer, cessão de crédito, ou assunção de dívida alheia. Seria absurda a invocação do art. 448 do Decreto-lei
n. 5.452.
As mudanças de estrutura jurídica da empresa, a que alude o art. 498 do Decreto-lei n. 5.452, são aquelas que não
importam mudança de personalidade e, pois, de titularidade do direito sôbre a empresa. Se houve mudança de
personalidade, mudança de titularidade houve: tipicamente, sucessão por extinção. O art. 448, 1Y parte, é que
incide. Em todo o caso, há transformações que são como mudanças dentro da personalidade, como se a sociedade
não se extingue, prôpriamente, mas apenas prefere outra forma. Não há, aí, continuação de A para B, mas sim
continuacão em A, que tomou outra feição, talvez outro nome.
Se a sociedade irregular se regulariza, não bá incidência do art. 44g, lA parte, mas do art. 448, 2a parte. Quer
dizer:
mesmo se não houvesse a regra jurídica do art. 44g, 2A parte, a solução seria a mesma.

345
__________1

TRATADO DE DIREITO PRIVADO


Se há fusão de sociedades, ou a) se fundem duas ou mais sociedades preexistentes, ou b) há a incorporação, numa
sociedade, de duas ou mais. O art. 448, ta parte, do Decretolei n. 5.452 rege a espécie a). Não a espécie b), porque
a sociedade incorporante sucede, a titulo universal, à sociedade ou às sociedades incorporadas. Não se precisa de
invocar o art. 448, La parte, porque regem os princípios gerais sôbre a sucessão universal. Nenhuma relevância
tem haver a sociedade incorporante conhecido, ou não, o que havia entre a sociedade incorporada e o empregado,
nem se constava, ou não, dos livros qualquer referência.
Ainda há o caso dos koldings, das concentrações. Ai, nenhuma sociedade se extingue, a despeito de se
concentrarem.. duas ou mais sociedades, sob o regime da fidúcia. Mas há o art. 2.0, § 2.0, do Decreto-lei n. 5.452,
onde se diz: “Sempre que uma ou mais empresas, tendo embora cada uma delas personalidade jurídica própria,
estiverem sob a direção, coptrôle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial, ou de
qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprêgo, solidàriamente responsáveis a
empresa principal e cada uma das subordinadas”. Aí, de modo nenhum se trata de sucessão, ou de continuidade,
011 de outra razão para se invocar o art. 448 do Decreto-lei n. 5.452; a regra jurídica é especial e constitui
novidade.
Pode dar-se que a empresa, que estava sob gestão estatal, passe a gestão privada, ou vice-versa. Para que a relação
jurídica de emprêgo escape à incidência do art. 448 do Decreto-lei .n. 5.452, é preciso a) que se haja feito vefrrão
de direito 2JúbhCO (= de funcionarismo público), mas há o passado, que o Estado, se fêz de funcionário público
a relação jurídica, tem de respeitar (e. g., antiguidade no serviço), ou b) que a empresa privada apenas privatize a
situação jurídica, para tôdas as conseqUências, se o Estado não se reservou disciplinar a situação jurídica. Aliter,
se se trata de simples concentração de empresas, ou se o serviço público foi dado em empreitada.

8.AFASTAMENTO DA INVOCAflILIDADE DO PRINCÍPIO DE CONTINUiDADE. O empregado e o


empregador podem manifestar vontade no sentido de não ser invocável o art. 448 do Decreto-lei n. 5.452. a) Se o
empregado e o empregador acor
r
4<
5.076. TRANSFERÊNCIA DA TITULARIDADE849

dam em que, no momento da transferência do direito sôbre a empresa, ou de qualquer acontecimento que possa
ser causa de incidência do art. 448 do Decreto-lei n. 5.452, mesmo em sua interpretação extensiva, não haja a
continuidade, está afastada a inserção do adquirente. b) Se o contrato de trabalho não é a prazo determinado,
qualquer contraente pode pré-eliminar a continuidade se observa as exigências que a lei faz. Na espécie a), tem-se
distrato. Na espécie b), há denúneia vazia, com os mesmos requisitos que a lei exige, observado, portanto, o
princípio da incoercibilidade (cf. LUISA lUvA-SANSEvERJNO, Diritto dei Lavoro, 99 e 215). Se, no momento
de poder ser invocado o art. 448 do Decreto-lei n. 5.452, o empregado está fora do trabalho por doença, acidente,
ou serviço militar, ou por outra causa pela qual não é responsável o empregado, a prestação que o empregador
devia é devida pela pessoa que se insere no contrato de trabalho como empregador.
Se não era devida, óbvio é que não a deve o que passa a ser empregador, mesmo se não se afasta a incidência do
ad. 448 (e. g., em caso de licença do empregado). Daí poder voltar ao serviço até que se extinga o contrato por
prazo determinado, ou por prazo indeterminado.
Antes de qualquer mudança, que daria ensejo a invocar-se o art. 448 do Decreto-lei n. 5.452, pode o empregador,
não havendo prazo determinado, denunciar o contrato, mediante o aviso prévio a que se refere o art. 487, como
pode denunciá-lo o empregado.
Com a inserção do nôvo empregador, o contrato continua, e o art. 448 não distingue empregador e empregado, O
empregado, salvo se intuitu personae a vinculação, está adstrito ao cumprimento (contra, de iure condendo,
DOMENICO PERETTI GRIVA, Ii Rapnorto di impiego privato, 411>. Temos de considerar intuitu personae o
contrato de trabalho jornalístico se a empresa é de determinada convicção política e há mudança radical, mas, aí,
a denúncia somente pode ser feita por parte do empregado.
Se o empregador quer despedir o empregado, antes de passar a outrem o uso e fruição da empresa, tem de
denunciar o contrato de trabalho, de acôrdo com os princípios e com as conseqUências relativas à espécie.

1
TRATADO DE DIREITO PRIVADO
350
O contrato de trabalho não tem, de ordinário, caráter pessoal. Se o tem, muda a solução do problema (ao que,
parece, FRANCESCO FERRARA .IUNIOR, La Teoria giuridica deiVAzienda, 368, não atendeu).

4. SUCESSÃO NA DÍVIDA. Pode ocorrer que, em vez de haver continuação do contrato, haja apenas
continuação na dívida ou nas dívidas ao empregado. A pessoa que sucede na titularidade do direito sôbre a
empresa passa a dever o que a outra devia, mesmo que se interrompa o‟ contrato, O contrato não continua com
uma, nem com a outra, pôsto que a divida persista para o alienante e continue contra o adquirente.
No tocante a quantias que, fora do estipulado inicialmente, presta o empregador, cumpre que se distinga do que
tem caráter retributivo o que apenas se há de considerar gratificação não inserível na retribuição.
Se o empregado poderia exigir a quantia e já havia permanecido o tempo suficiente para exigi-la, o sucessor na
titularidade do direito sôbre a empresa tem de pagá-la. Idan, se completou o tempo com o trabalho ao nôvo
empregador, Daí a pretensão à prestação do que é remunerativo, ou da diferença, se o sucessor prestaria menos,
conforme o seu contrato.
Tem-se de pôr em relêvo que o nôvo titular do direito sôbre a empresa é devedor do que o anterior devia por ter
despedido o empregado, O contrato não continua, mas continua a dívida, mesmo se o sucessor ignorava a saída do
empregado, uma vez que não devia ignorar (e. g., no escritório da empresa estava a carteira profissional, cf.
MARIO GHmON, L‟Ini prenditore, tini presa e t‟Azienda, 255). O ônus da prova do conhecimento ou da
r
presunção de conhecimento incumbe ao empregado (BRENO MAZZARELLI, 1 Rap~porti di lav
: oro nel tras ferimento dell‟azienda, 96>. A situação para o adquirente é assaz delicada, se os livros
3 da empresa desapareceram, porque é de presumir-se a fraude.
5 Se, com a mudança da titularidade, muda o lugar em que se presta o trabalho, isso há de ser
2 considerado para que não se dê diminuição na retribuição, como se os gastos <~c passagem são
maiores.
r
§ 5.077. JUSTIÇA DO TRABALHO
351
Os direitos que no futuro teria o empregado não podem ser pré-excluidos, se o antecessor do empregador não o
poderia fazer, inclusive se está em causa a idade.

5. LIBERAÇÃO DO NÔVO TITULAR. Libera-se o titular do direito sôbre a empresa se algum negócio jurídico
extintivo ocorre, como o de novação, o de renúncia, ou ato-fato jurídico, qual o pagamento. As quitações podem
encobrir doação ou serem concernentes a pagamento feito. Deve-se evitar a concepção de negócio jurídico
liberatório que se distinga dos outros (cf. DoMENIco NAPOLETANO, Le Quitanze liberatorie nel diritto dei tav
oro, 49). O direito à remuneração e outros direitos são irrenunciáveis. Pode o empregado renunciar à
continuidade, permanecendo devedor o alienante da empresa. A renúncia à continuidade ou é pelo empregado,
ou, em caso de contrato coletivo de trabalho, feito sindicalmente, pelo sindicato. Quanto a renúncias que atinjam
regras jurídicas cogentes, somente se há de admitir se só ao sindicato foi permitido isso, o que de certo modo faz
derrogável o que seria jus cogens (cf. GIORCIo DI SEMO, II Contratto coltettivo di lavoro, 139). Quanto à
derrogabilidade do que se pôs, sem ser cogente, no contrato coletivo de trabalho, é questão de interpretação dos
podêres do sindicato e dos próprios têrmos do contrato coletivo de trabalho.

§ 5.077. Justiça do Trabalho

1.COMPETÊNCIA, NATUREZA E DADOS HISTÓRICOS. Na esteira do anterior Decreto n. 21.761, de 23 de


agôsto de 1932, art. 13, diz o art. 625 do Decreto-lei n. 5.452: “As divergências e dissídios resultantes da
aplicação ou inobservância dos contratos coletivos não dirimidos pela Justiça do Trabalho”. Trata-se de princípio
constitucional (Constituição de 1946, ad. 123 e §§ l.~ e 2.0; antes, Constituição de 1934, art. 122, e Constituição
de 1937, art. 139).

2.ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E DIREITO PENAL. San


crimes contra a organização do trabalho: a) constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça a exercer ou
não exercer arte, oficio, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em
determinados dias

TRATADO DE DIREITO PRIVADO

(Código Penal, art. 197, 1), a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou
paralisação de atividade econômica (art. 97, II) ; b) constranger alguém, mediante violência, ou grave ameaça, a
celebrar contrato de trabalho; ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima, ou produto
industrial ou agrícola (art. 198) ; c) constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a participar ou
deixar de participar de determinado sindicato ou associação profissional (art. 199)
d) participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, praticando violência contra pessoa ou contra coisa
(art. 200)
e) invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de impedir ou embaraçar o
curso normal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nêle existentes ou delas
dispor (art. 202> f) frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho (ad.
203); g) frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal relativa à nacionalização do trabalho (art. 204) ;
Iii) exercer atividade de que está impedido por decisão administrativa (art. 205) ; li) aliciar trabalhadores para o
fim de emigração (ad. 206) ; i) aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do
território nacional (ad. 207).
No ad. 201, diz o Código Penal que é crime contra a organização do trabalho participar de suspensão, ou
abandono coletivo do trabalho, provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo. A
marca fascista e nacional-socialista ressalta, tal como a Exposição de Motivos quis ressaltar, feita pelo mesmo
autor do ad. 139, 2a alínea, da Constituição de 1937. Sobreveio a Constituição de 1946, art. 158.
CAPÍTULO II

CONTRATOS NORMATIVOS DE TRABALHO

§ 5.078. Conceito e natureza dos contratos normativos

1.ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL E COMERCIAL. Com o desenvolvimento contemporâneo das indústrias e a


intensificação interna, internacional e intercontinental do comércio, os que trabalham e os que têm empresas
industriais e comerciais organizam a produção e a atividade distributiva, para que os resultados correspondam aos
propósitos de ganho e aos planos de expansão. Os cartéis, os trustes, as convenções normativas, os sindicatos e os
contratos coletivos tinham de surgir e de adquirir importância econômica, jurídica e política.
Não seria bastante que os empregados e os empregadores se associassem, que as suas associações se pusessem em
contacto e dêsses contactos resultasem contrato entre os sindicatos, órgáos dos associados, com a característica
coletividade dos associados. Os contratos coletivos não bastariam, nem, por vêzes, seriam praticáveis.
Não se podem reduzir tôdas as convenções (ou acôrdos) de trabalho a contratos de trabalho (= contratos sôbre
prestação de trabalho e contraprestação), mesmo porque, entre as convenções que dêles se distinguem, estão as
próprias convenções normativas, a que hão de obedecer os contratos individuais ou coletivos de trabalho.
2.CONCEITO DE CONTRATO NORMATIVO. O contrato normativo disciplina, norma, traça. Antecipa o que
se há de tomar como cláusulas. O esquema deixa vazios, que só os contratos

previstos enchem. Em relação às regras jurídicas legais, o contrato normativo somente contém o que integra,
dispositiva ou interpretativamente, o que a lei deixou ao auto-regramento da vontade. O ins cogens há de ser
respeitado pelo contrato normativo como o seria, necessâriamente, pelos contratos previstos. Está sujeito a tôdas
as regras jurídicas sôbre invocabilidade.
Quando alguns juristas dizem que a função do contrato é sempre dispositiva, e não normativa, e com isso querem
condenar a expressão “contrato normativo”, diminuem a extensão da normatividade, de jeito a fazê-la somente
regramento jurídico, somente fonte de direito. Há equivocidade, mas sê-mente há equivocidade no emprêgo da
expressão “contrato normativo” se o sentido que se dá a norma é o de regra juridita. As normas de origem estatal
é que são regras jurídicas, ou, se se prefere, normas jurídicas. As normas que se inserem nos contratos não são
normas jurídicas. Regras jurídicas são regras legais ou regras assimiladas às leis. As normas que resultam da
conclusão de contrato normativo não no são. Pode ser que haja estatalização, mas êsse é outro problema: já sup5e
o plus da legalitariedade, a delegação, assunto que teremos de versar, no lugar próprio, a propósito do art. 159, in
une, da Constituição de 1946.
Embaraçou, por muito tempo, a conceituação exata do contrato normativo, terem juristas falado de
“convention-loi” (e. g., LÉON DUGUIT, Les Trans formations du Droit publie, 129), ou “contratto-legge”, ou
contrato-instituição. Uma vez que se parta da noção de normatividade, que de modo nenhum é peculiar à teoria
das fontes do direito, a expressão “norma” supóe a adjetivação: norma legal, norma decretal, norma judicial,
norma negocial.
De ordinário, o contrato normativo regula futuros contratos individuais ou coletivos. Pode dar-se, porém, que êle
atinja contratos já concluidos, ou contratos simultâneamente concluidos. Devemos evitar chamar a êsses
contratos regulados “contratos individuais”, porque essa expressão é mais própria para os contratos a que se
refere a distinção “contratos individuais” “contratos coletivos”.
No contrato normativo, pré-regula-se, não se pré-contrata. Disciplinam-se, contratualmente, futuros contratos.
Não se sai do campo das manifestações de vontade, de modo que se esteja no campo das fontes do direito. As
fontes do direito passam por cima, como as aeronaves, e carimbam, de cima, suportes fácticos, em que podem
estar manifestações de vontade, porém nem sempre estão manifestações de vontade (e. g., regras jurídicas sôbre
nascimento, ou morte, ou avulsão). Os contratos normativos, não. A despeito de traçarem estradas,
caminhos, marcarem pontos de parada e fecharem portões, são como veículos terrestres, que
pré-disciplinam, contratualmente, as manifestações de vontade negociais. É absurdo dizer-se,
como faz FRANdESCO MESSINEO (Contratto normativo e contratto-tipo, E‟ncíeiopedia dei
Diritto, 10, 118>, que o contrato normativo encontra o seu fundamento em delegação de poder
normativo. Fêz bem a Constituição de 1947, arts. 157, XIII, e 159, in fine, em distinguir o contrato
que o sindicato conclui ou que os sindicatos ou outras associações concluem e as “delegações pelo poder
público”.
O emprêgo da expressão “contrato normativo” vem, especialmente, de Huao SINZHEIwIER (Der korporative
Arbeitsvertrag, 1, 107>, inclusive em geral (fora do direito do trabaibo). Cf. ALFRED HUECK (Das Recht des
Tarifvertrages, 24 s.; Normenvertrãge, Jherings Jahrbiieher, 74, 36 s.). Se o contrato normativo é contrato
normativo de trabalho, o que se estabeleceu foi para ser seguido pelos futuros contratos individuais ou coletivos
de trabalho. Os contratos de tarifa são típicos, uma vez que por êles se predetermina o preço do trabalho e o que se
há de considerar trabalho remunerável. A expressão “Tarifvertrag”, no direito alemão, tem sentido a que devemos
referir-nos oportunamente. Não a ponhamos em uso sem conceito exato. No direito alemão, há o elemento da
normatividade, ao lado da coletividade no tocante aos trabalhadores. Há a opinião que faz de tal contrato fonte de
direito (WALTER KASKEL, Zur Lekre von Tarífbnwh, 3 5.; Huco SINZEEIMER, Grundziige des Arbeitsreckts,
2a ed., 257 8.; ALFRETJ HUECK, Tarifrecht, 15 5.; DECHANT, Der Kollektivvertrag naeh ôsterreiekisehem
und deutsohern Reckt, 22 8.;

HANS CARL NIPPERLEY, Lehrbuch, 1, 135 s.). Nem no direito brasileiro nem no direito alemão seria de
admitir-se.
Não há razão para repulsa à expressão “contrato normativo”, porque seda reveladora de conceito demasiado
restrito de “norma” e de mentalidade regressiva aos tempos em que não se distinguiam lei e negócio jurídico.
Quanto a “acôrdo normativo”, o argumento maioc a favor dessa expressão é o de haver acôrdos normativos que
não vinculam à observância das normas. Mas, em caso de se acolher tal argumento, o que seria de assentar-se
seria haver acôrdos normativos que são contratos e acôrdos normativos que não no sao. O conceito de contrato
normativo já exerce função intercaiar: é mais, em vinculação, do que o acôrdo normativo (senso estrito) e menos
do que o vulgar dos contratos.
Uma das conseqúências da terminologia, com a conceituação adequada, está em que os princípios gerais sôbre os
contratos também incidem no tocante aos contratos normativos. Idem, se normativos de trabalho.
O contrato normativo pode ser unilateral (por exemplo, o contrato de cartel), ou plurilateral, a partir do bilateral,
que é o mais freqúente.
No contrato normativo unilateral, um dos figurantes se vincula à normatividade preestabelecida, quando concluir
contratos com outro figurante, ou com outrem. No contrato normativo bilateral, vinculam-se à sua observância
ou às suas indicações os dois figurantes. No contrato normativo plurilateral, há três ou mais figurantes, que se
vinculam, quer interna quer externamente, isto é, quer entre êles, quer entre êles e outras pessoas. Em tôdas as
espécies aparece a função organizatória, mas ela assume muito maior relevância nos contratos normativos
plurilaterais.
(A contratualidade não é elemento essencial da norma negocial. Pode haver manifestação unilateral de vontade,
pela qual alguém se vincule a seguir determinadas normas em qualquer negócio em que haja de figurar. Aí, só
uma pessoa, física ou jurídica, se vincula e sem que outrem haja figurado no negócio jurídico.)

3. NORMATIVIDADE E REGRAMENTO JURÍDICO. O conceito de normatividade é mais vasto do que o de


regramento
si
jurídico. Há normas negociais e normas jurídicas. Essas éque são as regras jurídicas; e a normatividade jurídica só
tem de comum com a normatividade negocial a qualidade da regulaçâo. Quando alguns juristas ficam a querer
que as normas estabelecidas em negócios jurídicos se considerem regras jurídicas apagam a adjetivacão e criam
confusões. embaraçantes da tóda a ciência do direito. Quando se alude a norma jurídica negocial sé se pode
entender norma negocia] juridicizada; isto é, norma negocial que a lei fêz regra jurídica. Jurídica, porque entra no
sistema jurídico. Negocia], por sua origem primeira.
A assimilação da normatividade oriunda dos contratos ànormatividade legal chega ao auge naqueles juristas que
pensam em poder de qualquer núcleo social (instituição> a legislar para si mesma: lei não seria só a que o Estado
faz, lei que as pessoas privadas fazem ou que fazem pessoas públicas que não podem legislar (senso estrito) seria
lei originária, independente de função estatal. Nesse caminho, que faz tábua rasa da história e das distinções mais
comezinhas, está, por exemplo, SANrI ROMANO (L‟Ordinamento giuridico, 98; Frouinmenti di un Dizionaiio
giznidico, 15 s.). As normas que os figurantes do contrato normativo criam não são lei, não são estatais, nem se
pode pensar em delegação estatal se tal delegação não houve. São extraestatais. Supõem autonormatura e
“querem” nonnação de vontades (formatura., normatio, vêm de norma, esquadro, de yv6~*o~a, porque quem
norma mostra, faz conhecer). A lei, estatal, e as outras fontes do direito vêm de cima, são heteronormas, mesmo
quando são regras de jus dispositi,rum ou de lus interpretativum. A despeito da normatividade, e‟ contrato
normativo foi, é e continua negotium. A lei, mesmo se regimento interno, sobrepõe-se, porque as “vontades”
foram ao aparentes e tiveram o fito de acertar, de impor o que parece melhor: os votos dos deputados ou dos
membros de côrte de justiça, que redigem regimento interno, são mais como os votos de julgamentos do que
expressões de associação que concluem contratos normativos. Porém a legislatividade, em tais espécies, passa à
frente.
Nem o contrato coletivo nem o contrato normativo de trabalho entram no direito público. Trata-se de negócios
juri(11005 Drivatístícos (RoMAN Boos, Der GcsamtavbeíI8vertraq

nach. schzveizertsúIze,,~ Rceht, 214 s.; WALTER KASKEL, Das neue ArbuHsreúht, 16, nota 1; HANS CARL
NIPrEIinrY, Kontrahierungswang, 11), e não publicísticos (sem razão, H. TRIEPEL, Vdlkerrecht und
Landesreoht, 43; FRITZ FLEINER, liistitutionen des deutg‟§t,cn Verwaltungsrechts, 4a ed., 82; JULIUS
HATSCHEK, JnStl.tNtin?2tfl des deutschen und preussischen Ve tu‟cíltungsrecltts, 70).
A teoria privatística afasta que se considere negócio jurídico de direito público o contrato normativo de trabalho.
Isso não significa que não se possa admitir o contrato normativo de trabalho feito pelas entidades estatais, dentro
do direito público (e. g., ERwIN JAGOBI, &rundlekren des Arbeitsrechts, 272 s.>.
A teoria publiciistica tem-no caso de direito público.
Tal teoria é falsa (e. g., DECHANT, Der Kollektivvertrag nach. ôsterreickisckern und deutsohen .Recht, 34).
A teoria que dá o contrato normativo como continente de regras jurídicas, dita teoria legal ou teoria do contrato
nornuz.tivo lei (Gesetzestheorie>, tem de ser repelida.
A teoria do contrato normativo puro negócio jurídico bilateral ou plurilateral (teoria do contrato> somente
atribui ànorma algo que, no plano negocial, corresponde à regra jurídica, porém não é, de modo nenhum, regra
jurídica.
Sublinhemos que considerar-se regra jurídica a norma do contrato coletivo normativo (teoria legal ou teoria do
contrato normativo lei> e ao mesmo tempo colocá-lo no direito privado envolve contradição, que não evitaram
muitos juristas.
A teoria intercalar, que faz do contrato normativo de trabalho ato administrativo qualificado, também não pode
ser admitida e revela reminiscência dos sistemas totalitários <e. g., WALTER RASKEL-HERMANN DERSCH,
Arbeitsreckt, 4a ed., 120; 5a ed., 97; HERMANN DERSCH, Festsckrift flir HANS CARL NIPPERDEY, 223).
O contrato normativo exerce função capital, em se tratando de Direito do Trabalho, a propósito de contratos
coletivos de trabalho. Mas, nem todos os contratos coletivos de trabalho são normativos, nem há somente
contratos normativos em contratos coletivos, nem somente para observância em contratos coletivos.
Ocontrato normativo aparece como algo entre o contrato de serviços ou de trabalho, própriamente dito, e a lei.
Não deixou de ser contrato e, a despeito de tôdas as aparências, não se fêz lei.
O contrato coletivo não é só contrato coletivo de trabalho. Nem é só contrato normativo o contrato normativo de
trabalho. Esse é assaz importante, na ciência do direito; não éúnico. Há os contratos normativos de preços, em que
sao os produtores e vendedores, ou só os produtores ou só os vendedores, que concluem. Há os contratos
normativos entre Município, Estado-membro ou a União e companhias de serviços ao público.
Tôdas as empresas têm os seus planos de pessoal, com os esboços ou minutas de contratos, sem que mesmo
unilateral-mente se vinculem ao que inseriram. Não há negócio jurídico. Nem oferta ao público. O que pode
acontecer é que alguma pessoa se empregue (peça o emprêgo ou o aceite>, sem fazer contrato escrito, ou sem no
fazer com tôdas as cláusulas essenciais. Então, o esbôço ou minuta pode ter sido conhecida pelo figurante e se
haja de admitir que houve a respeito acôrdo de vontades. O assunto aqui não nos interessa. Não se pode pensar em
normatividade, mesmo unilateralmente criada.
Muito diferente é o que acontece quando a empresa publica módulos e declara que se vincula a observá-los,
porque então há norma oriunda de manifestação unilateral de vontade. Teremos ensejo de falar dos acórdos de
e-mprésa e das declaracões unilaterais de vontade das entrOsas.

4. FUNÇIO DO CONTRATO NORMATIVO. O contrato normativo não é fonte de regras jurídicas. Fonte êle é,
sempre, de normas interiores à vontade, pôsto que regrem exercício de manifestação de vontade. A sua função
disciplinar não élegal, nem semelhante ou idêntica à das regras jurídicas contidas em decretos, regulamentos
(estrito senso), regimentos internos e outras fontes do direito. O contrato normativo supõe, no momento da sua
conclusão, autonomia privada, auto
-regramento da vontade: êle a exerce, para discipliná-la e, sem sair do âmbito da atividade privada, restringi-la.
Os que entendem pôr os contratos no rol das fontes de direito, com propósitos de inovação, volvem aos tempos
em

7-
260TRATADO DE DIREITO PRIVADO

que se poderia dizer que os acôrdos têm “fôrça de lei” (e. p., Código Civil francês, art. 1.372), ou que os contratos
são “lei entre as partes”. Tem-se de repelir tal concepção regressiva. O contrato não é direito objetivo, não é fonte
de direito.

5.NATUREZA DO CONTRATO NORMATIVO. O contrato normativo estabelece as regras que têm de ser
seguidas (ou podem ser seguidas) pelos que conclueni os contratos por êle previstos (contratos vinculativos de
prestações e contraprestações, sejam individuais sejam coletivos). Os contratos prevwtos ou já se concluíram, ou
se vão concluir. Se os contratos previstos não se concluíram, nem v~m a ser concluídos, fica sem objeto o
contrato normativo (ALFEED HUECK, Normenvertrãge, .fherings Jahrbiicher, 74, 37). Tal o conceito preciso.
Cumpre que se não Confunda o contrato normativo com o pré-contrata (erradamente chamado “contrato
preliminar”). Mesmo quando êle é somente para contratos futuros, a preliminaridade láctica não o faz
pré-contrato. Quem conclui pré-contrato vincula-se a contratar, a concluir o contrato previsto ou os contratos
previstos. Não quem apenas conclui contrato normativo, O figurante ou o incluso no número dos que foram
presentados, por exemplo, pelo órgão sindical não tem dever de concluir contrato e pode dar-se, porque é o
normal, que apenas, se quer, conclua contrato com observância das normas.
As opiniões oye assimilam os pré-contratos, ditns, por muitos, contratos preliminares (~ às vêzes, não são
contratos!), a contratos normativos, são insustentáveis. No contrato normativo, nenhum dos figurantes se vincula
a contratar, Nele, há pactum de modo co‟ntrahendi (cf. DOMENICO BARBERO, Dei Contratto-tiPo nel diritto
italiano, 2; FRANCESCO 7ERRAXk, Teoria dei Contratti, 368), e não pactum de contrahendo.
Pode dar-se que o contrato normativo contenha cláusula de dever de contratar, mas, aí, inseriu-se
pré-co‟ntr<tt<n a normatividade passa a ser manifestação de vontade pré-vinculativa. Há pré-contrato com
estabelecimento de normas, que é o que mais ocorre nos contratos entre entidades estatais e empresas de serviços
ao público. A nonnatividade é apenas um dos expedientes do pré-contrato que se conclui. Ê grave êrro
confundir-se o contrato normativo com o pré-contrato.
.4
§§ 5.078-5.052. CONTRATOS NORMATIVOS DE TRABALHO 861

Por outro lado, o contrato normativo pode ser bilateral (prestacional e contraprestacional) ou unilateral
(prestacionaU. O contrato normativo que dá normas para os vendedores e compradores, para os locadores e os
locatários, para os transportadores e os transportados, para os empregados e os empregadores, é bilateral; o
contrato normativo somente para os mutuantes, não: é unilateral.
Em relação aos contratos previstos, o contrato normativo pode perder toda a sua relevância se os contratos
previstos já foram concluídos e observaram as normas.
O contrato normativo, em princípio, é contrato de execucão cturadoura. Atendem às suas cláusulas, às normas, os
sucessivos contratos que se concluírem, como os contratos simultâneos, ou mesmo os que tenham de ser
atingidos, a despeito de já estarem concluidos.
Se o figurante ou alguém que tenha pretensao ao respeito do contrato normativo não consegue que os outros
figurantes ou os figurantes se atenham às normas, podem ir contra os que se vincularam, pelo inadiniplemento ou
pelo adimplemento ruim. Claro que aqui supomos não se tratar apenas de linhas justas, nem de contrato
normativo de vinculasão imediata.
A vinculação é ao atendimento das normas, se contratar; não, a contratar. A obrigação consiste em obrigação de
fazer, e não em obrigação de contratar. O ad. 1.006 do Código de Processo Civil não tem cabimento.

6.CONTRATO NORMATIVO E USOS wcÃxs. É preciso que não se contundam com os usos locais os contratos
normativos (KoMPE, Zur Frage úber die Kodifikationefl der Piatz-IJsances, Zeitschrift fiir das gesamte
Handelsredit, VIII, 344; DOvE, Subjektive Elemento bei der Q6vgohnheitsbilduflg, Juristisebe Wochenschrift,
45, 344; SCHREIBER, Mandeis brduche, 1 s. e 69 s.). O contrato normativo é acôrdo, convenção, s&bre
cláusubis contratuais que hão de ser observadas na concepção dos contratos. Os usos comerciais são usos que se
colheram em cainaras comerciais ou por outro meio, o que os faz mais conhecidos e consultáveis. Pode ocorrer
que se insiram na lista, ou consolidação dos usos comerciais, normas que constaram de contratos normativos e se
tornaram “usuais”, como pode acon

r
862TRATADO DE DIREITO PRIVADO

tecer que em contratos normativos se incluam usos, o que, de ordinário, tem função explicitativL
O conteúdo do contrato normativo pode tornar-se uso do tráfico (uso do comércio, uso do lugar). Se tal acontece,
há dois esquemas iguais, ou semelhantes de manifestação de vontade. O contrato normativo pode supor alguns
usos, ou afastá-los, ou modificá-los in casu.
Também é possível que as normas do contrato normativo, ou de alguns contratos normativos, se tornem regras
juridicas de direito costumeiro, ou de direito escrito. Porém algo nôvo sobreveio que nada tem de contratual.

7.CLÁUSULAS DO CONTRATO NORMATIVO DE TRABALHO. Os figurantes do contrato normativo de


trabalho podem estabelecer que as normas que redigem sejam co gentes (imperativas, proibitivas), ou dis
positivas, ou interpretativa». É-lhes dado determinar a data do início e a da terminação da eficácia e os limites
pessoais e espaciais da eficácia.
A eficácia pessoal normativa do contrato coletivo pode ser circunscrita por alguma cláusula que pré-exclua algum
empregado ou alguns empregados, como se ficasse de fora os que apenas trabalham eventualmente chamados.
A cláusula pela qual os empregados prometem não constituir contratos individuais de trabalho com outras
empresas em caso de igualdade de vantagens ou de mesmas vantagens éobriqacional, e não nor‟nzativa.
§ 5.079. Espécies de contratos normativos
h
1. £ILATERAXÃDAUE E UNILATERALmADE, CONTRATO UNIINTERESSIVO E BUNTERESSIvO OU
PLURIINTERESSIVO. O contrato normativo de compra-e-venda é bilateral; o contrato normativo de vendedor
é unilateral. Aquêle, a despeito da bilateralidade, pode só ser feito pelos compradores, ou pelos vendedores. A
despeito das futuras prestações e contraprestações, o contrato normativo pode ser do interesse apenas dos que
prestam, ou apenas dos que contraprestam. (As palavras são para exprimirem as coisas, e não as coisas para serem
expressas por palavras. Daí têrmos de distinguir unilateral e bilateral, uniinteressivo e biinteressivO ou
pluriinteressivO.) O
4§ 5.078-5.082. CONTRATOS NORMATIVOS DE TRABALHO 363

contrato normativo uniinteressivo é como se fôsse negócio jurídico unilateral, a despeito de ser contrato.
O contrato normativo de trabalho pode ser feito por trabalhadores ou recebedores de trabalho, ou trabalhadores e
recebedores de trabalho. Ali, há a unlinteressividade; aqui, a biinteressividade. Qualquer dêles, porém, é por seu
objeto previsto, bilateral (cf. APREU HUECLC, ~ormenvertrãge, Jherings Jahrbiicher, 74, 40 s.). Não, em si.

2. UNLINTERESSIVIDÂDE E BIINTERESSIvIDADE. A pluriinteressividade é rara, mas é possível (contrato


normativo de assembléia geral que regula associativídades interiores). A uniinteressividade ocorre se, por
exemplo, os trabalhadores, por seu sindicato, ou por sua reUnião acidental ou convocada, estabelecem normas
para os seus futuros contratos. É um dos pontos mais altos da liberdade profissional ou da liberdade de reUnião.
Há o contrato normativo sindical e o contrato normativo simples (einfacher Normenvertrag) ou pessoal. A
biinterissividade atende a que as normas foram elaboradas pelos que prestam e pelos que contraprestam, sem ser
de afastar-se que se juntem no contrato os que dão em mútuo e os que tomam em mútuo. Os contratos normativos
de sindicatos de trabalhadores e de empregadores são, em princípio, contratos normativos biinteressivos.
A sindicalidade pode ser de um só lado, a despeito da biinteressividade (e. g., o sindicato dos trabalhadores põe-se
em contrato normativo com a empresa), como pode ser de ambos (e. g., o sindicato dos trabalhadores e o sindicato
dos empregadores).
Pode acontecer que, de um lado, ou de ambos (difícil de ocorrer), exista entidade estatal ou paraestatal, que
contrate ~5iO5 interessados (aqui, não nos cabe examinar os casos de presentação, ou de representação legal, ou
de limitação da capacidade, assunto de direito público).
A distinção entre contrato normativo simples e contrato normativo sindical assume grande importância quando
se trata de contrato normativo biinteressivo. Se untinteressivo o contrato normativo, de regra é menor a sua
função. Pode dar-se que a biinteressividade seja através de entidade esta-

tal, ou parestatal, ou de repartição ou conselho, com o reforçamento da eficacia.

3. CLASSIFICAÇÃO. O contrato normativo pode ser unhinteressivo ou biinteressivo. Pode ser sindicaL
(associacional) ou não-sindicaL (não-associacional). A sindicalidade pode ser de um só lado, ou de ambos.
Tem-se de evitar qualquer confusão entre figurantes do contrato normativo e figurantes dos contratos previstos.
Quem conclui o contrato normativo ou quem é membro da associação ou sindicato que o concluiu e tem de
receber-lhe a eficácia, são os intra-interessivos ou interessados interwres. Os que recebem ou podem receber a
eficácia, sem terem sido figurantes ou membros da associação ou sindicato que conclui o contrato normativo, são
os ezrtra-interessivos ou interessados exteriores (Aussenseiter).
A empresa pude estabelecer, individualmente, regramento normativo com os empregados ou com o sindicato de
empregados. Pode mesmo, em negócio jurídico unilateral, vincular-se a determinadas normas, que funcionam
como se fêssem regulação “constitucional” de empresa, ou cerne mesmo dos seus estatutos.
As normas de trabalho, se trabalhadores e empregadores não chegam a acôrdo no tocante às punctações do
contrato normativo, podem resultar de arbitragem. Então, a vinculação tcm tôda a eficácia, por se tratar de
deci.sâo, salvo, e. g., quanto ao tempo de trabalho, assunto que depende da lei.

4. ESPÉCIES DE CONTRATOS NORMATIVOS QUANTO AO CONTEUDO. Os contratos normativos ou são


a) contratos normativos de linhas justas (Richtlinienvertrãge), ou são b) contratos normativos criadores de laços
vinculantes (schuldrechtliche Normenvertrãge), ou e) contratos normativos de eficácia imediata
(rechtsverbindliche Normenvertrãge).
Nos contratos criadores de laços vinculantes, os figurantes não se restringiram à concepção de linhas justas, que
re possam seguir: estabelecem normas que devem ser seguidas; portanto, vinculam os que tiverem de contratar.
Podem sr unilaterais; ou plurilaterais <quase sempre bilaterais), ti ou sem caráter corporativo.
9
Nas espécies a> e b), os contraentes futuros ainda não se vincularam, pôsto que, em a), possam e, em b), devam
vincular-se. Nos contratos normativos de eficácia imediata, que compõem a espécie c), as normas já se
estabeleceram como conteúdo dos contratos; portanto, já se firmaram, indepen
 dentemente de qualquer vontade dos que venham a contratar. A respeito delas houve pré-conclus.do, o que as
distinguem das cláusulas que tenham de ser atendidas, que são as da espécie 6), como das cláusulas dos
pré-contratos, que apenas são cláusujas de promessa de conclusão.
A eficácia dos contratos normativos de eficácia imediata, que poderíamos chamar contratos normativos
pré-vinculantes, é autonuitice. Aqui, a inafastabilidade suscita problema delicado: j,podem os que figuram em
contrato normativo pré-vincolante “contratar” sem que respeitem a pré-vinculaçáo? A resposta é negativa, porém
não é aí que está a dificuldade de atitude de quem examina os casos em que algum figurante contratou sem
atender a que estava vinculado. Uma opinião vê na infração da norma o mesmo que ocorre com a infração de
regra jurídica: a nulidade (Código Civil, art. 145, V; Código Civil alemão, ~ 134). Aí, a expressão “nulidade”
estaria extrapolada, abrangendo infração de lei e infração de estatuto ou outro negócio jurídico. Se, por exemplo,
o órgão de sociedade pratica atos para os quais não tem podêres, o que se passa é que não >irescnt ou,
3 como o mandatário, que faz aquilo para o qual não se lhe outorgou poder, não representou. Se
6 alguma regra jurídica houvesse estabelecido a sanção de nuli(lado, entende-se que nula seja a
6 cláusula ou nulas sejam as cláusulas ofensivas do contrato normativo pré-vinculativo (cf. ALFRED
HUECK, Recht de» Tarifvertrages, 94 s.,~ HANNA KATZ, LiIúken int Arbeitsvertrage, 68). O que
se há de assentar, para a ordinariedade dos casos, é que o contrato que se concluiu após o contrato normativo
pré-vinculante contém o que êsse estabeleceu e qualquer cláusula contrária é ineficaz.
O contrato normativo pode ser apenas de linhas justas, esquema para futuros contratos, mais do que módulo ou
forvi viário e menos do que os outros contratos normativos.
Os contratos previstos podem ser entre os figurantes do contrato normativo, ou entre figurante e não-figurante
(Missenseiter), ou entre não-figurantes.

r
TRATADO DE DIREITO PRIVADO
§ 5.080. EFICÁCIA E VALIDADE DO CONTRATO NORMATIVO 367

Se o contrato normativo é unilateral, os figurantes que não se vincularam são tratados como os não-figurantes,
porque, se disséssemos, como ALFRED HUECK (Normenvertràge, Jherings Jahrbiicher, 73, 100), que não
poderia ser entre figurantes, faríamos unilateral o negócio jurídico normativo e não unilateral o contrato
normativo.
Para os que não são figurantes, o contrato de linhas justas tem grande interesse. Quase sempre se trata de contrato
com o público, ou, se os pressupostos se compõem, de negócio jurídico unilateral, o que retira a distinção entre
figurantes e não-figurantes.
Se o contrato normativo é vinculativo obrigacionalmente, ou se estabeleceu normas imediatamente eficazes,
quem ficou de fora não se pode considerar vinculado.
No caso de contratos normativos de linhas justas, há a suposição de que os estranhos, que conheciam o texto, o
admitiram, salvo ressalva no contrato que se conclui (Huco SINZUEIMER, Der korporative
Arbeitsnormenvertrag, II, 35 s.; HANNA RATZ, Lúcken im Árbeitsvertrage, 150).
,„,t contrato o acôrdo de linhas justas, ou acôrdo que não se pode assimilar aos contratos, porque nenhum vínculo
dêle resultou senão o vínculo de ter escolhido aquelas linhas consideradas justas? A resposta no segundo sentido,
que é radical, deixa a dúvida sôbre tratar-se ou não de negócio jurídico. Em verdade, porém, há vinculação: a
vinculação de não apresentar como justas outras linhas, enquanto não se revogar ou distratar o acôrdo. ~ Não seria
contrato o acôrdo de indicar como justas determinadas linhas? O desrespeito, consistente em nova indicação,
poderia causar danos. ~ Seria inadmissível a pretensão à indenização? Depende de interpretação do acôrdo.

§ 5.080. Eficácia e validade do contrato normativo

1. PRECISÕES. Não se pode falar da eficácia dos contratos normativos como se todos êles tivessem a mesma
eficácia. O conteúdo varia e a eficácia depende de cada espécie.
Quanto à validade, regem os princípios gerais e, no tocante aos contratos normativos de trabalho, o que o direito
do trabalho, como lex speeialis, estatui a respeito das causas de nulidade e de anulabilidade.
2. EFICÁCIA SUBJETIVAMENTE CONSIDERADA. O sistema jurídico pode considerar limitada aos
figurantes, ou aos presentados sindicalmente, o contrato coletivo, ou vinculante (obrigatório) para os que entram
na mesma classe dos figu-. rantes ou sindicalmente presentados. (De passagem, advirtamos que se está a supor,
nas duas espécies, que haja o dever de contratar de acôrdo com as normas preestabelecidas. Se são apenas
dispositivas ou interpretativas, também se pode limitar ou estender a incidência, pôsto que, de iure condendo, seja
mais acertado entender-se que tais normas só incidem se se tornaram uso local, ou se os figurantes as tiveram
como conteúdo das manifestações de vontade, ao se concluírem os contratos de trabalho.)
Se há o dever de observância das normas que se redigiram, o contrato de trabalho tem de ser ajustado a elas, como
regras cogentes, dispositivas ou interpretativas, conforme a espécie, e no contrato de trabalho têm os figurantes
(ou aquêles a que se estende a eficácia do contrato normativo) de abster-se de manifestações de vontade que
sejam contrárias às cláusulas do contrato normativo.
Se o contrato normativo apenas pôs diante dos interessados intra-interessados e extra-interessados cláusulas
normativas cuja incidência depende de referência expressa ou tácita, explícita ou implícita, nos contratos de
trabalho não se pode falar de regras cogentes, dispositivas ou interpretativas. O conteúdo do contrato de trabalho
é que envolve aquilo a que expressa ou tàcitamente, explícita ou implicitamente se aludiu. Em tais casos, são
existentes, válidos e eficazes os contratos de trabalho que se afastem ou que desconheçam o contrato normativo.
O que pode ocorrer é que algum interessado, ou órgão competente tenha pretensão e ação, fundadas no contrato
normativo, ou nêle e no contrato social (sindical), para que se cumpra o contrato normativo ou se preste a
indenização pelos danos. A pretensão e a ação podem ser contra os figurantes do contrato de trabalho, ou contra a
associação sindical.
Se, fora do contrato normativo, há alguma associação sindical interessada na conclusão do contrato normativo,
tem ela de ser considerada terceiro interessado, e não interessado (salvo se à associação figurante está sujeita ou
ligada). Está aí razão por que não devemos seguir a chamada teoria, da associação, nem tão-pouco a outra, a
teoria da presentação (ou da representação) que estende aos membros da outra associação o interesse próprio. A
teoria da associação terceiro interessado é a que se há de acolher.
A lei pode estender a quem não é intra-interessado no contrato normativo o que nesse se estabeleceu. Passa-se o
mesmo com o contrato coletivo não-normativo. Cumpre, porém, que a regra jurídica, que se edicta, atenda,
estritamente, tos princípios constitucionais.

a. CONSEQÜÊNCIAS DA INFRAÇÃO DO CONTRATO NORMATIvo. A sanção de nulidade e a de


anulabilidade são sanções tipicamente jurídicas. A religião não decreta nulidade; nem a moral. Os negócios
jurídicos podem ser desconstituídos por serem nulos ou anuláveis. Não podem inserir cláusulas que considerem
nulos ou anuláveis os atos de alguém. Os estatutos que dizem serem nulos ou anuláveis os atos de algum dos
órgáos da sociedade se lhe faltam determinados pressupostos empregam têrmos impróprios. Em verdade,
assentam que tais atos são sem poder de vinculacão, não têm eficácia, ou podem ser postos de parte como atos
irregulares.
Os vinculados pelo contrato normativo podem contratar ou não contratar. Não prometeram contratar. Prometeram
ter determinada atitude diante das normas; não, porém, contratar. Se contratam, sim; têm de observar o que se
previu no contrato normativo. Mesmo se a norma é a de vinculação imediata, a infração é infração contratual, mas
só se supôe existir se não é caso para se entender implicitamente contido no contrato o que se assentara. A
cogência das normas contratuais não determina a incidência contra a vontade dos que concluem contratos: é
preciso que tenha havido a observância expressa ou tácita para que se tenham de distinguir o que écogente, o que
é dispositivo e o que é interpretativo. A cogência, a dispositividade e a interpretatividade são as das normas, não
a de jus cogens, a do ive dispositivum ou a do ins interpretativum. Trata-se de norma, e não de regra jurídica. Os
contratos que se concluem, êsses, como todos os contratos, têm de observar as normas e a lei; portanto, o que é ius
cogens e se Irnpoe a êsses contratos como aos contratos normativos.

Quanto à eficácia, discute-se se o conteúdo do contrato normativo se tem de manter no terreno do Direito das
Obrigações. Há opiniões no sentido de se afastar qualquer eficácia real (e. g., LITIGI CARlOTA-FERRARA,
Riflessioni sul contratto normativo, Arehivio Giuridico, 1937, 17 s.). A normatividade vinculativa atinge os
contratos previstos, prôpriamente ditos, e os acôrdos de constituição e de transmissão de direitos reais. Há,
portanto, confusão na posição mesma do problema. O que se há de perguntar é se as normas também podem ser
sôbre os acôrdos de constituição e de transmissão; e a resposta é, riecessâriamente, afirmativa.
As regras da legislação protectiva dos trabalhadores são regras de direito público, sempre que a proteção é direta,
independente de manifestações de vontade dos trabalhadores e dos empregadores. A regra que fixa o salário
mínimo ou as horas de trabalho são regras jurídicas. Os contratos normativos, os contratos individuais de trabalho
e os contratos coletivos de trabalho têm de observá-las como leges. Não se podem publicizar os contratos
coletivos, salvo se as relações a que êles se referem são de direito público, como seria o contrato coletivo entre o
Estado-membro ou os Estados-membros e os seus funcionários públicos.

4. CONSTITUIÇÃO DE 1946, ART. 157, XIII. O contrato normativo é permitido pela Constituição de 1946, ad.
157, XIII, como espécie de convenção coletiva de trabalho. As convenções coletivas de trabalho podem ser
normativas, ou não, isto é, apenas de vinculação contratual a prestar trabalho e a retribuir. Pode dar-se que haja
delegação de poder prevista pelo ad. 159, in fine. (Dissemos que se permite o contrato normativo como espécie
do contrato coletivo; porém isso de modo nenhum afasta a possibilidade do contrato individual normativo, no
qual, aliás, se tem de verificar, principalmente em matéria de contrato normativo sôbre trabalho, se as cláusulas
não ferem princípios constitucionais e legais, como os de liberdade de pensamento, de reUnião e de associação.)
Se a lei atribui poder legislativo a alguma entidade, que não no tem, delega poder. Foi isso o que se previu no art.
159, in fine, da Constituição de 1946. Então, as normas, de origem negocial, são praeter legem. A despeito da
vedação constitucional de delegação de poder, o art. 159, in fine, permitiu a qualquer Poder a delegação de poder
a associação profissional ou sindical, desde que não se trate de poder exclusivo e haja justificação para que se dê
a atribuNção delegativa. Se tal delegação foi feita pelo Poder Legislativo à associação profissional ou sindical,
respeitados os princípios constitucionais, o que a associação ou o sindicato profissional fizer é fonte de direito,
com os requisitos da normatividade jurídica. Não é essa a oportunidade única. Se o Poder Executivo delegou à
associaçâo profissional ou sindical o poder de regulamentar lei, o regulamento, que em virtude de tal delegação se
elaborar, é Fonte de direito. Pode-se mesmo imaginar a delegação do Poder Judiciário a associação profissional
ou sindical para edictar regras jurídicas que teriam de ser feitas pelo Poder Judiciário e que, por serem só
pertinentes a relações de trabalho, possam ser redigidas pela associação profissional ou sindical. Além dessas
espécies, há o conferimento de legalitariedade a normas que a associação profissional ou sindical compós, em
contrato, com o simples propósito negocial. O que era rente ao mundo fáctico e precisava de incidência de lei para
se fazer negócio jurídico torna-se por sôbre a atividade e incide, conforme a lei, como fonte de direito. Mas, para
isso, é preciso que se faça a lei e essa lei tenha como seu conteúdo o que era conteúdo do contrato coletivo.
Simples remissão.
A liberdade de associação, especialmente a de associação sindical, é indispensável, nos países
democrático-liberais, àpropulsão normal das cláusulas dos negócios jurídicos de trabalho e da própria economia.
A associação profissional soma fôrcas e dá à pluralidade dos que dela fazem parte as vantagens da deliberação em
assembléia, que, segundo as nossas convicções filosófico-científicas, fêz o homem. As convenções entre cada
grupo ou grupos de trabalhadores não só somam as suas fôrças, como, de certo modo, as multiplica. As
convenções entre grupo ou grupos de recebedores de trabalho nao se os articulam, como permitem que êles
considerem as vantagens das modificacões nas cláusulas de trabalho, inclusive de remeneraça.o. As convenções
intersindicais (de trabalhadores e de empregadores) põem em reexame o que uns e outros disútilimm e decidiram.
Os movimentos sindicais foram movimentos contra o poderio., quase arbitrário, das empresas. O que primeiro se
quis foi fórmula, estalão, tarifa, o acôrdo prévio, com que os coa-tratos se conformassem.
Depois, houve a tendência corporativístíca, que as ditadumas aproveitavam e animavam. O preço do trabalho
passou, em alguns países, a ser fixado pelos governos, quase sempre com alegação (não com fundamentação) de
variações do preço da vida. Sempre foi um dos pontos mais propícios à demagogia e elemento para se retirar
prestigio e autoridade aos congressos e parlamentos.

5. SANÇÕES ESTABELECIDAS PELO CONTRATO NORMATIVO. O art. 157, XIII, da Constituição de


1946, conforme acima dissemos, abre as portas às convenções coletivas, inclusive normativas, de trabalho. Isso
não significa, pela alusão só às “convenções coletivas de trabalho”, que não se reconheçam as convenções
normativas individuais; nem que só haja convenções coletivas de trabalho.
A lei ordinária pode estabelecer que os contratos normativos de trabalho tenham de ser observados imediatamente
e com eficácia pré-constitutiva negativa para os contratos de trabalho que não obedeçam às normas. Por outro
lado, o principio do auto.-regramento. da vontade, dito princípio de autonomia da vontade, não vai até o ponto de
inserir nos contratos normativos regras de observância imediata com sanções de invalidade para os casos de
infração das normas assentadas.
Quanto às violações do contrato normativo, com as suas normas cogentes, dispositivas e interpretativas, para
sanção de nulidade, que as faça direito .supletório cogente (cf. ERNST ZITELMANN, Internationales
Privatrecht, II, 422), é preciso que a lei dite tal conseqUência: a nulidade (ou anulabilidade) r&sulta, aí, da lei, e
não do negócio jurídico normativo, embora a infração básica seja à norma convencionada. Só assim é que se pode
considerar fonte de direito a norma contida no contrato normativo. Se tal ocorre, há fonte-conteúdo ou conteúdo
da fonte, porque a norma entrou na regra jurídica oriunda de lei.

6.HOMOLOGAÇão E APROVAÇÃO. A técnica legislativa quanto à atitude do Estado diante dos contratos
normativos de trabalho: a) a da desnecessidade de qualquer ato do Estado, de modo que a existência, a validade e
a eficácia do contrato normativo apenas resultam da incidência dos princípios jurídicos respectivos (principio da
sorte prÓpria) b) a da exigência de aprovação pela autoridade estatal, ou por entidade ou autoridade que o Estado
aponte (princípio da aprovação necessária), o que faz do ato aprovativo pressuposto necessário para a existência
(raramente, para a validade) e) a da necessidade de homologação, que apenas submete a exame a existência e
não-nulidade do contrato normativo, o que supõe justificação jurídica da denegaçáo de homologar (principio da
homologação). Essa é, conforme veremos, a solução que adota o Decreto-lei n. 5.452, arte. 615 e 618; somente
referente, portanto, à eficácia. Sublinhemos que essa simples apreciação da existência e validade, seguida de dia
para se iniciar a aplicação, contado da data, éa mais concorde com o art. 157, XIII, da Constituição de 1947.
A entidade ou autoridade homologadora de modo nenhum pode pesar interesses. A sua missão é simplesmente a
de verificar se a Constituição de 1946 e as leis foram observadas (e. g., quanto ao quórum e à votação da
assembléia geral, quanto ao salário mínimo e aos seguros obrigatórios).

7.EXTENSÂO SUBJETIVA, PELA LEI OU PELA AUTORIDADE EXECUTORA. Problema delicado é o de


se saber se a lei pode estender a pessoas que não são sindicalizadas e, pois, não foram presentadas, nem
representadas, pelas associações sindicais, a eficácia dos contratos coletivos normativos ou a eficada dos
contratos coletivos de trabalho (não-normativos).
Tem-se, primeiramente, de distinguir: (a) a extensão legal; e (b) a extensão por ato extralegal. A extensão
extra-legal pode ser: a) pelo Estado (estatal), ou b) por entidade paraestatal, ou c) não-estatal ou privada, o que
levanta três probkmas distintos. Temos de examinar cada uma das espécies.
(a) A extensão legal pode ser feita se o Poder Legislativo poderia fazer lei cujo conteúdo correspondesse ao da
ex-tensão. Por exemplo: quanto ao salário mínimo, pois, se o Congresso Nacional poderia fazer lei sôbre salário
mínimo para os intra-interessados e os extra-interessados, também pode estender aos extra-interessados o que o
contrato normativo estabeleceu para aquêles.
(b) A extensão extralegal sómente é permitida às entidades estatais, ou parnestatais, se com ela não se fere o art.
36, ~ 2.0, da ConstituIção de 1946. No tocante às extensões por parte de entidades extraestatais ou privadas,
dir-se-á que existe o art. 159, iii fine, da Constituição de 1946 (“o exercício de funçôes delegadas pelo poder
público”), mas êsse art. 159, ia ([ir, ao se refere a funções internas à associação profissional 2 sindical, e não a
poder de estender a não-associados a eticit.z1a das convenções normativas.
Temos, assim, o problema do art. 616 e 617 do Decreto-lei u. o.452, de 1.0 de maio de 1943.
De início, lembremos que a Constituição de 1937 (art. 137), sob a qual se edictou o Decreto-lei n. 5.452, estatuía:
“A legislação do trabalho observará, além de outros, os seguintes preceitos: a) os contratos coletivos de trabalho
concluídos pelas associações, legalmente reconhecidas, de empregadores, trabalhadores, artistas e especialistas
serão aplicados a todos os empregados, trabalhadores, artistas e especialistas que elas representam”.
Representam, dizia. Era o corporativismo, tipo fascista-nazista, de 1987. Na Constituição de 1937, a expressão
“representam” era empregada atêcnicamente; e diante do art. 138‟era fácil justificarem-se os arte. 616 e 617 do
Decreto-lei n. 5.452, pois não se vedavam as delegações legislativas.
Examinemos os textos perante o direito constitucional hoje vigente.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 616 (hoje ab-rogado, por ferir a Constituição de 1946) : “Depois de
homologado, e no prazo de sua vigência, poderá o Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio tornar o contrato
obrigatório a todos s membros das categorias profissionais e econômicas representadas pelos sindicatos
convenentes, dentro das respectivas bases territoriais, desde que tal medida seja aconselhada pelo interesse
público”. Era atribuir-se ao então Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio o poder de estender a eficácia, se
havia o pressuposto do interesse público. Por aquela época refletia-se na meia-ciência dos grupos dominantes,
totalitários, a concepção do contrato coletivo de trabalho como contrato de direito público, cuja normatividade se
tinha como fonte de direito (e. g., FRANCESCO CARNELUTTI, Teoria dei Regulamento coletiva dei rapporti
di lavoro, 103 s.), o que, caído o regime fascista na Itália, não se poderia sustentar, nem, tão-pouco, se poderia
pensar em extensão pelo Ministro: o âmbito de eficácia somente pode ser, hoje, entre os associados da entidade
figurante (com razão, a Côrte de Cassação a 16 de maio de 1949, e 5 de maio de 1951, e o Tribunal de Gênova, a
iS de dezembro de 1950, o que é solução assente, cf. VINCENZO CARULLo, Ii Contraito colieltivo di lavoro, 81
s.). Na Itália de hoje, como no Brasil desde a Constituição de 1946, somente se pode pensar em eficácia entre os
que se vincularam voluntàriamente, posta de lado a vinculação extensiva que resultava do Regulamento italiano
n. 1.130, de 19 de julho de 1926, art. 48, e do Código Civil italiano, art. 2.069 (cf. PAOLo GRECO, Ii Contratto
coltetUva di lavoro, 212 s.), do Decreto brasileiro n. 21.761, de 28 de agôsto de 1932, arts. 5.0, 79, § 19 e 11, e do
Decreto-lei n. 5.452, arts. 616 e 617.
Adiante, estatuiu o Decreto-lei n. 5.452, art. 617: “O contrato coletivo tornado obrigatório para as categorias
profissionais e econômicas vigorará pelo prazo que tiver sido estabelecido, ou por outro, nos têrmos do presente
título, quando expressamente o fixar o Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio no ato que o tornar extensivo”.
Esse art. 617 veio do Decreto n. 21.761, de 23 de agôsto de 1932, art. 79, § 1.~, e não pode, hoje, ser invocado, por
ser contrário à Constituição de 1946. E estranho que não o vejam os que cogitaram do contrato de trabalho, depois
de 18 de setembro de 1946.
Se algum trabalhador ou empregador, ou sindicato, adota o que consta de contrato normativo concluído por outro
sindicato, ou alguma pessoa, as normas a que se refere dão apenas conteúdo ao contrato coletivo ou individual
que êles fazem. Aliás, êsse conteúdo pode ser apenas de contrato de trabalho, como pode ser de normas para
contratos de trabalho.
Os intra-interessados, êsses, não precisam aludir ao contrato normativo. Se expressamente não o afastaram, o que
se há de entender é que o seguiram. Donde poder-se dizer que o pertencimento (há tal palavra em documento de
1308) à respectiva associação profissional ou sindical é pressuposto necessário e suficiente para a incidência do
contrato normativo (cp. BRUNO MAZZARELLI, La Norma colieltiva nelia teoria generale dei diritio, 63 s., em
parte sem razão). As normas são cláusulas contratuais. O desrespeito a elas é inadimplemento ou adimplemento
ruim do contrato normativo. Quem está de fora não está vinculado.

8. EFICÁCIA NO TEMPO. O vínculo contratual normativo tanto se refere aos futuros contratos como aos
contratos já concluídos, salvo cláusula em contrário. Contrato normativo não é lei, razão bastante para que não se
pretenda, a respeito dêle, invocar o ad. 141, § 39, da ConstituIção (principio da irretroatividade das leis). O
contrato normativo apanha, em princípio, os contratos em curso no momento em que começa a eficácia do
contrate normativo, ou a eficácia da adesão a tal contrato.

9. ADESôEs. Se algum sindicato de empregadores ou algum empregador adere ao contrato normativo (= faz
conteúdo do seu o conteúdo do contrato normativo alheio), tem-se de indagar se se vinculou perante os membros
da associação profissional ou sindical que foi figurante, ou perante quaisquer trabalhadores da mesma categoria
interessada. Não há solução a priori. Trata-se de questão de interpretação.
A adesão - o que nada tem com os chamados contratos de adesão pode resultar de manifestação de vontade de
outro sindicato, ou de pessoa individual, seja expressa, seja tâcitamente, seja explícita, seja implicitamente, desde
que seja a mesma a categoria dos interessados. A adesão pelo empregador pode ser a respeito de algum ou alguns
empregados. Pode haver oferta com alusão ao contrato normativo alheio e aceitação pelo trabalhador ou pelos
trabalhadores (cf. DOMENICO NAPOLETANO, Coliocaniento e Contratto di lavoro, 7). A adesão pode ser por
parte de associação profissional ou sindical ou por trabalhadores ou empregadores extralocais, pôsto que, em
Estado de diferentes níveis de vida e preços de gêneros alimentícios e de habitação, como o Brasil, seja difícil
disciplinar-se o contrato de trabalho em âmbito nacional ou mesmo estadual. Daí a necessidade de normas gerais
e de brancos normativos, que se

encham com as normas para cada região típica. São alguns dêsses os chamados contratos normativos a
integração local (cf. GIULIANO MAzzoNI, Teoria dei limiti di applicabilitâ dei contratti collettivi di lavoro, 2a
ed., 172 s.). Em tais casos, têm de advir os acórdos integrativos com que se enchem os brancos que o contrato
normativo deixou. Assim, depois de se satisfazerem exigências gerais, satisfazem-se exigências locais ou de
determinadas subespécies de empresas.
A propósito, observemos que contrato normativo não é lei, de modo que não se justifica aplicação analógica.

10. SALÁRIO MINIMO E OUTRAS REGRAS JURÍDICAS DE TRATAMENTO. Os contratos normativos,


como os contratos de trabalho, têm de obedecer às regras jurídicas que a Constituição de 1946 (e. g., art. 157,
I-XVIJ) e as leis ordinárias fizeram cogentes.
No direito italiano, por exemplo, a Lei italiana n. 741, de 14 de julho de 1959, edictou regras para assegurar
mínimos de tratamento econômico e normativo. A lei delegou podêres ao Poder Executivo. Isso não pode ocorrer
no Brasil, diante do art. 36, § 2.0, da Constituição de 1946, que veda delegações de poder.
A prática das fixações de salários mínimos por decretos e outros atos do Poder Executivo são, diante da
Constituição de 1946, continuação da mentalidade ditatorial de 1937-1946 e dos interesses demagógicos dos
políticos governantes. São contrárias à ConstituIção de 1946 as determinações de salários mínimos, como as
emissões de papel moeda, sem lei. Não podem ser, sequer, delegados os podêres. O que a lei pode fazer é dar
pressupostos suficientes para o cálculo, como pode autorizar emissões para determinada verba ou para cobertura
de despesas determinadas ou determináveis com os dados que a própria lei aponte.

§ 5.081. Eficácia do contrato normativo de linhas justas

1. PRECISÕES. O problema principal, a respeito dos contratos normativos, é o da sua eficácia. Tem-se de saber
se êles apenas contêm linhas justas (Richtlinien), pelas quais se hão de guiar os contratos, se o quiserem. Daí a
discussão sôbre se as linhas justas são de importância jurídica, ou somente fáctica. Uma vez que se há de presumir
que foram seguidas, pelo fato de não ter havido cláusula em contrário, é inegável a juridicidade dos efeitos.
Operam dispositivamente, ou interpretativamente, porém não como ius dispositivum, ou como tus
znter‟pretutivum. Em todo o caso, os usos do tráfico são atendíveis mesmo se os figurantes o ignoram
(ANDREAS voN TUHR, Der Aligemeine TeU, 1, 31; PAUL OERTMANN, Rechtsordnung und Verlcekrssitte,
386; Lunwío BENDIX, Verkehrssitte und Handelsgebrãuche, Juristische Wochenschrift, 50, 226 s.).

2. NATUREZA DAS LINHAS JUSTAS. As linhas justas não são regras jurídicas interpretativas, nem
dispositivas, nem, a fortiori, cogentes. O que foi estabelecido resulta de manifestações de vontade de pessoas de
direito privado.
Nem são usos do tráfico as normas do contrato de linhas justas (Richtlinienvertrag).
Por isso mesmo que as normas de linhas justas não são regras jurídicas, o contrato em que por êrro foram
atendidas é anulável por êrro, como o próprio contrato normativo de linhas justas seria anulável se houve êrro em
adotá-las, ou anulável em parte se a propósito de alguma norma ou de algumas normas houve êrro. Aliás, no
tocante ao contrato em que se haveria de observar a norma, ou se haveriam de observar as normas, ou em que
houve observância, também pode haver êrro. Mesmo se de caráter dispositivo, quando se tenha, por êrro, atendido
a ela.

§ 5.082. Extinção do contrato normativo

1. CAUSAS DE EXTINÇÃO. O contrato normativo, contrato de duração, só se extingue quando há causa


suficiente para isso. Contratos previstos podem sucessivamente ocorrer e haver o atendimento incessante das
normas. Tratando-se de contrato normativo de trabalho, que é o que aqui nos interessa, as causas são as mesmas
que determinam extinção dos contratos individuais ou coletivos de trabalho, inclusive as de resilição e de
denúncia cheia. A denúncia vazia pode ocorrer se, no que concerne a contrato individual ou coletivo de trabalho,
ela poderia ser exercida.

No contrato normativo podem ser previstas causas de denúncia cheia.


O art. 29, § 29, do Decreto-lei n. 5.452, de 19 de maio de 1943, é invocável.

2. CONSEQUÊNCIAS DA EXTINÇAO . Se, ao expirar o prazo do contrato normativo, ou ao extinguir-se êle


por outra causa, que não seja desconstitutiva ex tinto, já se havia concluído contrato com a observância das
normas, não há qualquer repercussão da extinção.

§ 5.083. Conceito e natureza do contrato de trabalho a contento ou a prova

1.CONCEITO. No contrato de trabalho a contento ou a prova, o que se contrata é o trabalho sem definitividade
de contrato: a título de prova, de experiência. Preliminarmente, acentuemos que se não poderia, em doutrina,
conceituar o contrato de trabalho a contento ou a prova como se se tivesse de definir o que deteria, ser o contrato
de trabalho a contento ou a prova. A conceituação há de ser referente ao que se usa, por mais abstrusa que seja a
figura, ou por mais complexa e variável. Daí a importância de se distinguirem, desde logo, do
contrato de trabalho a contento ou a prova, que poderia não existir mas existe, a cláusula a contento ou a prova
inserta em contrato de trabalho e a denunciabilidade vazia, durante algum tempo, que a lei brasileira estabelece
para o contrato de trabalho.
Ocontrato de trabalho a contento ou a prova tem sua razão de ser na incerteza quanto às qualidades profissionais
e pessoais dos figurantes, ou, às vêzes, só de um dêles. Desde que o contrato de trabalho é contrato intuitu
personne, compreende-se que o futuro empregador, que não conhece o futuro empregado, ou as suas qualidades
profissionais, ou que o futuro empregado, que não conhece o futuro empregador, ou as suas qualidades
profissionais, queira, antes, certificar-se, Ou que ambos o queiram.

O contrato de trabalho a contento ou a prova é contrate de trabalho em que o trabalhador somente se insere
definitivamente no quadro da empresa se de bom êxito a experimentação. O contrato de trabalho a contento ou a
prova pode ser sob condição suspensiva, ou sob condição resilitiva. Se há suspensividade, ou se há resilitividade,
depende de respostas a posteriori a duas questões: a) se a lei permite a suspensividade ou a resilitividade; b) se o
contrato se concluiu com a condição suspensiva, ou com a condição resilitiva. Se a resposta à primeira questão é
afirmativa da permissão, passa-se à segunda questão. Se a resposta é negativa, o contrato de trabalho a prova é
necessâriamente sob condição resilitiva. Não se trata, portanto, de problema relativo à natureza do cohtrato, mas
sim de problema de iure condito e de problema, diante de eventual atitude inerte da lei, de interpretação das
manifestações de vontade.
Cumpre observar-se que, devido a poder ficar suspensa a incrustação definitiva e poder ser afastado o
empregado> por vêzes se pensa em mistidade (suspensividade e resilitividade). A suspensividade sé se pode
referir a outro contrato ou a efeito ainda „não irradiado do mesmo contrato. A resilitividade pode referir-se a
outro contrato, ou ao próprio contrato. ou a efeito já irradiado do mesmo contrato.
Afaste-se, de antemão, radicalmente, que se trate de pré-contrato. Nem o empregado se vinculou a contratar, nem
se vincula a contratar o empregador.
Na doutrina, o maior esfôrço tem sido para se ver no contrato de trabalho a contento ou a prova urna só espécie, de
modo que se possa fixar conceito uno e rígido. Ora, as espécies são muitas, e o problema, que se enfrenta, é o de
se conceituar o que se “usa” ou o que está em lei. No Brasil, não há a lei escrita sôbre o contrato de trabalho a
contento ou a prova, razão por que o conceito há de ser suficientemente largo, sem que se caia em amplificação
perturbante.
O contrato de trabalho a contento ou a prova de modo nenhum se pode considerar pré-contrato. Nem o
trabalhador nem a empresa prometeram contratar, tanto mais quanto há a resilibilidade ~ verdade, porém, que há
dois contratos, ou duas fases, um ou uma, que é a contento ou a prova, e outro,ou outra, que corresponde ao
contrato que se vai estabelecer ou tornar definitivo. Mesmo se o trabalhador se enquadra desde logo, há o contrato
de trabalho e o contrato de trabalho a contento ou a prova, o que o diferencia da simples cláusula de experiência
ou prova, como a que respita do ius dispositivum do art. 478, ~ 1.~, do Decreto-lei n. 5.452. (Na doutrina
estrangeira, também se afasta ser considerável como pré-contrato o contrato de trabalho a contento ou a prova; e.
g., GIULIANO MAzZONI e ALDO GRECHI, Corso di Diritto dei Laooro, 217 5.; VINCENZO CAssi, 11 Rap
porto di lavoro in prova, 121.)
Tem-se procurado sustentar que se trata sempre de contrato unitário (zz contrato de trabalho com cláusula de
prova). A cláusula seria de têrmo final incerto, com duração máxima; porém, para que isso se dê, é preciso que
haja a incidência do art. 478, § 19, do Decreto-lei n. 5.452, ou que se haja inserto no contrato de trabalho
(definitivo) outra cláusula, que a lei permita. Ao contrato de trabalho a contento ou a prova não se pode deixar de
considerar contrato de trabalho, que está ao lado de outro, para o qual o mau êxito é resilitivo, ou que antecede a
outro, que depende do bom êxito do contrato de trabalho a contento ou a prova.
Com a afirmação da condição suspensiva, GIovANNI BRUNELLI (Ii Libra dei Lavoro, 79), LUISA
RIVA-SANSEvERINO (Diritto dei Lavoro, 123 s.) e muitos outros.
Para FERRUCIO PERGOLESI (Diritto dei Lav oro, 95), há suspensividade e resolutividade, porque há emprêgo
desde logo e possível emprêgo depois. Não disse, porém, com precisão, o que é que se suspende. O que se resolve
tem de ser o contrato que há, e assim mais seria caso de resilição do que de resolução.
Para PAOLO GRECO (II Contratto di lav oro, 142 s.), a relação de trabalho apenas colima determinado escopo
(experiência), para que eventualmente se absorva em relação jurídica definitiva a relação jurídica provisória, com
os fins de determinação da antiguidade e da retribuYção. Mas, com isso, não se definiu o contrato de trabalho a
contento ou a prova, nem ficam abrangidas Udas as espécies. Menos ainda bastaria di zer-se que se trata de
contrato especial, como fizeram CECILIA ASSANTI (II Contratto di lavoro a prova, 33 s.) e GIULIANO
MAZzoNI (Manuale di Diritto del lavoro, 422 s.) - A expressão “contrato especial”, que tantas vêzes temos
exprobrado, ner.huma claridade traria.
Pela condicão resilitiva, por exemplo, entre os juristas franceses, J. RIVERO e J. SAvALIER (Droit du Travail,
325) e, no Brasil, o Tribunal Superior do Trabalho (DÉLIO MARANHÃO, 1). da J. de 29 de maio de 1959). Na
Itália, Lonovico BAItASSI (II Diritto dei Lavoro, II, 233 a.).
Pela resolutividade e pela suspensívidade, porque o contrato sul generis seixtingue, seja favorável ou
desfavorável o êxito, e outro se pode seguir, ou não, GIOvANNI BALELLA (Lezioni de Legisiazione dei iav oro,
260 s.) e CECILIA ASSANTI (Ii Coutratto di lavoro a prova, 40).
A teoria do térmo final considera o último dia do período de contrato ou de prova como decisivo, de jeito que se
conclui ou não o contrato de trabalho, ou, se êsse se considerou feito, se tem como permanente. Mais ou menos
assim, FRANCEsCO SANTORO-PASSAREULI (Nozioni di Diritto dei Lavoro, n. 72). Em resposta a isso,
podemos dizer que o contrato de trabalho a contento ou a prova tem como um dos pressupostos o tempo
determinado necessário para a prova, e pode ter prazo determinado para o contrato, mas pode desconstituir-se
antes e aí éque está o cerne do problema.
Não há contrato típico de trabalho a contento ou a prova. Nem elementos essenciais existem que permitam, a
priori, afirmar-se se há condição resilitiva, ou suspensiva, ou as duas. Há muitas espécies, tôdas encontradiças, de
contrato de trabalho a contento ou a prova. Usa-se, por exemplo, contrato de trabalho por tempo determinado,
sem que apareça qualquer condição e sem que possa advir, por haver determinação de tempo, denúncia vazia, mas
com o intuito inexpresso de experiência, de contento, de prova. Tal contrato não é contrato de trabalho a contento
ou a prova, porque a referência a contente ou a prova ficou velada, como simples motivo.
Ocontrato de trabalho a contento ou a prova pode ser por tempo determinado, ou não, O contrato de trabalho
definitivo, êsse, pode ser contemporâneo, ou posterior (se a prova foi boa), e também êsse pode ser por tempo
determinado, ou iiac. Se houve unidade de contrato, o contrato de trabalho esta jeito à condição suspensiva. Não
se podem misturar tôdas as espécies possíveis.
Contra a teoria da condição resilitiva, alega-se que não há resilibilidade, mas sim apenas denunciabilidade
durante a prova e até que se ultime. Contra a teoria da condição suspensiva, argúi-se que há contrato de trabalho,
durante a prova, de modo que não se há de pensar em suspensão. Contra ambas, argumenta-se que nada se
suspende, nem se resile.
Primeiramente, observemos que, a respeito do contrato de trabalho a contento ou a prova, há a mesma confusão,
na doutrina italiana e na brasileira, que a propósito da compra--e-venda a contento (Tomo XXXIX, §§ 4.284 e
4.285). As condições não são, em todos os casos, suspensivas ou resilitivas do contrato; podem ser suspensivas
ou resilitivas, e quase sempre são suspensivas ou resilitivas de efeitos. Por outro lado, a resolução pode ser em
sentido largo, ou só em sentido estrito, de modo que a resolutividade opera ex tune e a resilitividade só ex nunc.
Dai, por exemplo, serem um tanto sem rigor conceptual e ternúnológico algumas considerações de VINCENZO
CASSI (Ii Rapporto di lavaro in prova, 128-133). Para que se pense em resolução sentido estrito tem-se de pensar
em outro contrato (o definitivo), ou no próprio contrato a contento ou a prova com restituição do que se
contraprestar ao trabalhador, o que seria ilícito. A experiência, a tentativa de contrato ou a prova pode ser gratuita;
a restituição, essa, seria contra direito.
Contra a teoria da condição suspensiva, o argumento, que até certo ponto se pode levar em consideração, é
referente a poder não se haver previsto imediata definitividade, como se os lugares são dez e têm de ser
preenchidos pelos que tiveram bom êxito no período de prova. Mas, aí, estaria demasiadamente dilatado o
conceito de contrato de trabalho a contento ou a prova: haveria ou concurso (negócio jurídico unilateral); ou
habilitacão (negócio jurídico unilateral), sem o elemento de concorrência, que caracteriza o concurso <Tomo
XXXI, §§ 8.600, 2, 3.629, 2, 8.567, 8.686-3.651). Quem tira qualquer título, sem competir, apenas se habilita. Faz
prova, porém não há mais do que perspectiva de ser aproveitado, quase sempre alhures. Falando-se de contrato de
trabalho a contento ou a
prova, necessâriamente se alude à bilateralidade do negócio jurídico, o que não ocorre nos concursos e nas
habilitações. Por onde se vê que a suspensividade existe, nos contratos de trabalho a contento ou a prova, porque
se promete o contrato de trabalho ou o contrato definitivo de trabalho se houver satisfatoriedade. Isso não quer
dizer que não se possa considerar já enquadrado o empregado e, junto à suspensividade (só relativa à
definitividade eficacial), esteja a resilitividade, concernente, então, à existência mesma de qualquer contrato de
trabalho.
No período de contento ou de prova há a expectativa dos dois contraentes, vinculados, um a contentar, a fazer a
prova, e outro a apreciá-la, porque aquêle tem interesse em fazê-la e êsse em tomar, desde logo definitivamente,
ou tomar, só depois, definitivamente, como empregado, o prestador do trabalho. Ali, há eventual resilitividade;
aqui, eventual suspensividade, sem que se negue que as relações jurídicas correspondentes ao período de contento
ou de prova se resilem, com a superveniência das relações jurídicas definitivas, ou com o advento do descontento.
Tudo isso mostra que, diante de contratos de trabalho a contento ou a prova, se tem de examinar cada um, pois
falta ocontrato típico, e o uso é que nos apresenta, para análise a posteriori, as espécies sugeridas pela vida
prática.
Temos de considerar o que se passa no sistema jurídico brasileiro, devido ao ad. 478, § 10, do Decreto-lei n.
5.452. Definições de contrato de trabalho a contento ou a prova, que aparecem na doutrina estrangeira, não levam
em consideração o que resulta do art. 478, § 1.0, pois só se preocuparam com o respectivo sistema jurídico (e. g.,
RAFAEL CALDERA, Derecho dei Trabajo, 274). Alguns juristas brasileiros põem o art. 478, § 1.0, como se
concernisse ao contrato de trabalho a contento ou a prova, o que cria grave confusão.
Conforme antes dissemos, no tocante às suas determinações mexas (condição, têrmo), não se pode definir o
contrato de trabalho a contento ou a prova sem se considerarem tôdas as suas espécies, ou, pelo menos, as suas
espécies principais. Daí devermos, em conclusão, sublinhadamente, assentar:
Há contrato de trabalho a contento ou a prova a) em que se prevê, no caso de bom êxito, que se conclua
(automàticamente ou em virtude de direito formativo ao contrato) contrato de trabalho, dito definitivo, ou b) em
que se alude a contrato de trabalho, dito definitivo, que está concluído mas subordinado para a sua eficácia ao
bom êxito da experiência ou prova e exposto a resolução (senso estrito) em caso de descontento. Ali, há
suspensividade; e há contrato de trabalho a contento ou a prova em que há têrmo resilitivo “incertus quando”.
Qualquer que seja o êxito, bom ou mau, êle se resile. A condicionalidade só se refere ao outro contrato de
trabalho, dito definitivo.

Temos, assim: No contrato de trabalho a contento ou a prova prevê-se a conclusão do contrato de trabalho dito
definitivo, de modo que êsse contrato dito definitivo resulta, ou resulta o direito formativo gerador a êle, do bom
êxito do contrato de trabalho a contento ou a prova, de modo que a conclusão é automática, ou em virtude do
exercício do direito formativo gerador.

Finalmente, temos:

A é o contrato de trabalho a contento ou a prova; e p o período da prova, que termina quando possa haver contento
ou descontento. é o contrato de trabalho dito definitivo cuja eficácia depende do bom êxito, e está sujeito a
resolução em caso de mau exito.
Há a condição suspensiva, cs, ou a resolutiva, cr.
Não pode haver dois contratos eficazes, um, de trabalho a contento ou a prova, e outro, contrato de trabalho
definitivo, porque haveria duas eficácias simultâneas (duas prestações contemporâneas de trabalho), o que só se
poderia imaginar se a prova é de poucos momentos sem prejuízo do trabalho do empregado já em atividade. Por
exemplo: o trabalho é durante cinco horas; há o trabalho para a prova, durante uma hora, e nesse há elemento a
mais que dá ensejo à experimentação.
Fora daí, só há um contrato, e não contrato de trabalho a contento ou a prova e contrato de trabalho dito definitivo.
Tal contrato seria contrato de trabalho com cláusula ex tege (por exemplo, na espécie do art. 478, § 1.0, do
Decretolei n. 5.452) ou volitiva (negocial) “a contento ou a prova”.

2.CONTRATO DE TRABALHO A CONTENTO OU A PROVA E PERÍODO DE PROVA. No sistema


jurídico brasileiro, devido ao Decreto-lei n. 5.452, de li‟ de março de 1943, no art. 478, § 12, o contrato de
trabalho é suscetível de denúncia vazia, sem qualquer indenização por isso, se a prazo indeterminado, até que se
completa um ano de emprêgo. Lê-se no art. 478, § 1.0: “O primeiro ano de duração do contrato por prazo
indeterminado é considerado como período de experiência e, antes que se complete, nenhuma indenização será
devida”. Temos de repelir as opiniões dos que aí vêem contrato de experiência tácita (= contrato de trabalho a
contento ou a prova tácitamente concluído), ou que acusam o legislador de ter querido referir-se ao contrato de
trabalho a contento ou a prova (cp. COTRJM NETO, Coúitrato e RelaQéto de emprêgo, 262; EvARísrro DE
MoRAIs FILHO, Tratado Elementar de Direito do Trabalho, 1, 438). Na Lei n. 62, de 5 de junho de 1935, o ad.
22 apenas falava de não ser exigível indenização “antes de completo o primeiro ano”; de modo que o
consolidador introduziu referência à ratio legis, que é, em verdade, a experiência com o empregado. Por isso
mesmo, tem-se de afastar qualquer alusão a cláusula tácita, ou a condição do contrato
de trabalho a prazo indeterminado. O art. 478, § 1.~, apenas regulou a situação no tocante à eficácia da denúncia
vazia; e tal denúncia vazia não dá ensejo a qualquer pretensão a indenização. O art. 478, § 1.0, nada tem com o
contrato de trabalho a contento ou a prova; o contrato. de trabalho de que no ad. 478, § 1.0, se cogita é qnttlquer
contrato de trabalho a prazo indeterminado, e apenas se estabelece a denunciabilidade vazia no primeiro ano,
respeitadas. as regras jurídicas sôbre aviso prévio (art. 487 e §§ 1.0, 2.0 e 3.0) Não há determinação mexa
negocial (têrmo ou condição) ; há têrmo legal para a denunciabilidade durante o decurso do prazo de experiência.
nao se deve exprobrar ao Decreto-lei n. 5.452, art. 478, § 1.0, ter pôsto a referência a experiência, para regular o
contrato de trabalho a contento ou a prova. O que aparece é apenas explicitação escusada, digamos, porém não
errônea da ratio legtç da denunciabilidade vazia. No art. 478, § 1.0, de modo nenhum se cogitou de contrato de
trabalho a contento ou a prova. O contrato de trabalho, por tempo indeterminado, com pessoa de notável saber
técnico, não escapa àregra jurídica do art. 478, § 1i~.
A propósito do período de prova ou período de experiência, convém advertir-se que há regras jurídicas
dispositivas no direito brasileiro e no direito italiano vigente, mas em sentido contrário. No direito brasileiro, é de
ins dispositivum que se tenha o primeiro ano como de experiência, de prova. No direito italiano, supóe-se
precisamente o contrário (Código Civil italiano, art. 2.096, 1a alínea: “Salvo diversa disposizione deile norme
corporative, l‟assunzione deI prestatore di lavoro per un periodo di prova deve risultare da atto scritto”). Assim,
no direito italiano vigente, é preciso que haja a cláusula ou pacto adjecto de contento ou de prova, ao passo que,
no direito brasileiro, o contento ou prova é elemento dispositivo do contrato de trabalho e não se alude a
e;periência se não para se fundamentar, supêrfluamente, a regra jurídica de ilenunciabilidade vazia. Pôs-se à vista
a ratio legis.
Se foi estabelecido que o prazo e menor, porque não se justificava tanto tempo para a experimentação, então pode
haver contrato de trabalho a contento ou a prova. O prazo maior de um ano seria contra a lei, porque a regra
jurídica dispositiva, no tocante ao máximo, é a favor dos empregados, e não poderiam fugir à lei os empregadores.
O período de prova, ou período de experiência, ou período de contento, nos casos do art. 478, § 1.0, do
Decreto-lei n. 5.452, é elemento dispositivo, dito por alguns elemento normal, por outros elemento natural do
contrato de trabalho, porém isso nada tem com o contrato de trabalho a contento ou a prova. Resulta de regra
jurídica dispositiva, como é a do art. 478, § 1.0, do Decreto-lei n. 5.452. Não erraram, a respeito, com aquelas
duas outras denominações (elemento normal, elemento natural), ODDONE FANTINI (Legislazione carporativa
dei lavoro, 62) e ORLANDO GOMES (Direito do Trabalho, 71 e 83 sj. O período chamado de prova é oriundo
de ins dia positivunt e nada tem com o contrato de trabalho a contento ou a prova, nem, sequer, com a possível
cláusula de condição suspensiva, ou resilitiva, inserta no contrato de trabalho. Se o contrato de trabalho foi
concluído, com a cláusula de comparência para prova, durante, por exemplo, uma semana, dando-se por
empregado o trabalhador sêmente se, finda a semana, os testes foram favoráveis, há cláusula de condição
suspensiva, pois que não houve pagamento dos serviços da semana. Se houve pagamento e os testes foram
favoráveis, também houve cláusula de condição suspensiva, quanto ao enquadramento, e de termo resilitivo ou
condição resilitiva, no tocante ao contrato de trabalho, pois que se acordou que findaria de qualquer maneira no
timo dia a situação jurídica correspondente ao período de prova, ou se, em vez disso, se fêz dependente da
comunicação dos testes favoráveis ou desfavoráveis a dispensa de comparecimento para ensaio.
A assunção em prova, de que resulta o período de prova, pode ser por parte de quem se enquadra definitivamente,
mesmo se não se trata da incidência da regra jurídica dispositiva do art. 478, § 12, do Decreto-lei n. 5.452. Quanto
a essa regra jurídica, podem os contraentes estabelecer que o período de de possível denúncia vazia seja inferior a
um ano, ou dizer em que é que há de consistir a prova, a experiência, ou estipular que a apreciação seja por
terceiro. O que não se pode convencionar é ser além de um ano o prazo de denunciabilidade vazia, ou alteração de
outro ponto que seja ofensiva à política legislativa protectiva dos trabalhadores.
Se há o contrato de trabalho a contento ou a prova e o‟ enquadramento já é definitivo, seja por tempo
indeterminado,. seja por tempo determinado o contrato de trabalho, o bom êxito afasta a resilibilidade. Aí, é
evidente que há condição resiliti-‟va, e não suspensiva. Trata-se de uma das espécies de contrato de trabalho a
contento ou a prova. Houve o enquadramento, (lesd(2 logo, com tôda a eficácia, a despeito de existir o período de
contento ou de prova. Somente não se trata do caso do ad. 478, § 1.0, do Decreto-lei n. 5.452 porque não se cogita
de denunciabilidade vazia, mas de resilibilidade, por efeito de determinação mexa.

3.NATUREZA DO CONTRATO DE TRABALHO A CONTENTO OU A PROVA. Diante do que acima


expusemos, pouco se há de dizer quanto à natureza do contrato de trabalho a contento ou a prova. É contrato como
os demais contratos de trabalho, e pode ser individual ou coletivo. Nada obsta a que o contrato normativo de
trabalho insira cláusulas sôbre o contrato de trabalho a contento ou a prova. O que o distingue é a falta de
definitividade, no tocante à permanência. De regra, se o caso não é de contrato de trabalho a contento, ou a prova,
há a denunciabilidade vazia; mas o contrato pode estabelecer enchimento (e. g., só se não considera incrustado na
empresa o empregado se a máquina, com que vai trabalhar, não produzir x por hora). É preciso que se não
confunda a denunciabilidade vazia com a resilibilidade. Os dois conceitos são resultantes de figuras
inconfundíveis: o contrato de trabalho a contento ou a prova e a espécie de contrato de trabalho a que se refere o
ad. 478, § 1.0, do Decreto-lei n. 5.452.
O contrato de trabalho a contento ou a prova supõe, de ordinário, que a definitividade eficacial só se dê se
favorável. a experiência (donde se falar em. condição suspensiva, mais exatamente si placuerit). Isso não quer
dizer que se não possa. convencionar a retirada da potestatividade, apresentando-se os dados que bastem para que
a resposta seja vinculante, ou mesmo deixando-se ao empregador o ônus de alegar e provar a insatisfacão dos
pressupostos (= o não-implemento da condição suspensiva).

4. RAZÕES DE CONTENTO. Durante o tempo em que se cogita do contento ou prova, apreciam-se qualidades
profissionais e qualidades pessoais. Pode acontecer que tenha sido o próprio trabalhador que haja sugerido ou
oferecido a assunção em prova, para examinar a situação e convencer-se quanto àprestarão ou quanto às
prestações que promete ou iria prometer. Nada obsta a que se conclua contrato de trabalho a contento ou a prova
em que prevalece o interésse do trabalhador, o que ilisere e sublinha o elemento de contento do empregado, ou
em que só interesse do empregado se leve em consideração.
Tem-se querido conceber o contrato de trabalho a contento ou a prova, sempre, como de puro arbítrio para o
empregador, que ficaria incólume a qualquer contrôle da sua atitude, e pois vedada a condição: no direito
brasileiro, a cmvii ção potesi ativa pura é inexistente (Código Civil, art. 115, 2.~ pafle; Tomos III, § 253, 5; V, §§
541, 8, 544, 3, 8, 10). Todavia, o contrato de trabalho a contento ou a prova tem de ser analógicamente construído
como o contrato de compra-e--venda a contento (Código Civil, arts. 1.144-1.146). O arbítrio pode ser restringido
(Tomo XXXIX, § 4.284, 11). O arbítrio, puro ou não, pode ficar ao empregador, ou ao candidato ao emprêgo, ou
a ambos.
O direito brasileiro não regulou o contrato de trabalho a contento ou a prova. Não seria exigido que o fizesse. As
regras jurídicas que se redigissem iriam de certo modo fixar algumas das espécies, ou alguma espécie, criando
limitações à autonomia da vontade.
Em comparação com o contrato de compra-e-venda a contento, há diferença que se tem de ressaltar: no contrato
de compra-e-venda a contento, mesmo se entregue o bem e resolutiva a condição, ainda não houve a prestação
irrestituível; rio contratQ de trabalho a contento ou a prova, o trabalhador presta o que não pode ser restituído, o
trabalho, pôsto que para prova. Daí surgir a possível duplicidade de contratos, o contrato de trabalho a contento
ou a prova e o contrato de trabalho prôpriamente dito. Tal separabilidade é usual e acentua a figura, conquanto
não baste para o conceito.
De regra, o contrato de trabalho a contento ou a prova é com o interesse dos dois figurantes, de modo que
qualquer dêles pode reputar não a contento o que se experimentou (PAUL DU~ANT-ANDRÉ VITU, Traité dc
Droit riu Travail, II, 285 s.). O contrato de trabalho a contento ou a prova pode prever a definitividade em
diferentes setores, conforme testes e acôrdo, durante a prova ou após ela, e pode estabelecer definitivação noutro
setor ou nível.

§ 5.084. Pressupostos e validade do contrato de trabalho a contento ou a prova

1. FIGURANTES. A propósito dos figurantes, nada se tem de dizer, em especial, sôbre o contrato de trabalho a
contento ou a prova. Quem pode concluir contrato de trabalho pode concluí-lo a contento ou a prova.

2. FORMA E PROVA DO CONTRATO DE TRABALHO A CONTENTO OU A PROVA. Se o contrato de


trabalho é a prazo indeterminado e não houve escrito, rege o art. 478, § l/”, do Decreto-lei n. 5.452. Para que se
faça alguma das permitidas restrições à incidência do art. 478, § 1.~, é preciso que haja forma escrita, por ser ins
dispositivum a regra jurídica. Pela mesma ou por mais forte razão, o contrato de trabalho a contento ou a prova
tem de ser por escrito, sem que isso afaste a prova por outros meios. Tal contrato de trabalho é regido por
princípios que não foram insertos na lei, O que se há de entender é que qualquer trabalhador admitido, sem
afastamento de regras jurídicas sôbre o contrato de trabalho por tempo indeterminado, é protegido pela lei, e
somente a forma escrita, onde é ius dispositivum a regra da legislação do trabalho, poderia pôr de lado a assunção
a título definitivo, embora com a denunciabilidade vazia que se prevê no art. 478, § 1Y, do Decreto-lei n. 5.452.
Todavia, o anúncio ou cartaz em que a empresa manifesta a vontade de que algum ou alguns trabalhadores
assumam em prova o trabalho, tem de ser considerado prova escrita, salvo se o enquadramento se operou fora de
tal publicidade. Não há inconveniente em que isso aconteça, porque, uma vez que por tempo indeterminado se
concluiu o contrato de trabalho, há o art. 478, § 1Y, do Decreto-lei n. 5.452.
Também pode ocorrer que haja normas de alguma empresa ou associação profissional ou sindical. Os contratos
coletivos normativos ou não podem prever assunções a contento ou a prova.
O contrato somente pode ser alterado por escrito.

3. OBJETO DO CONTRATO. O objeto do contrato de trabalho a contento ou a prova é o trabalho, mas o


trabalho a respeito do qual não tem o empregador juízo seguro, ou não no tem a propósito das circunstâncias
objetivas e subjetivas o empregado, ou não no têm os dois figurantes. Por isso, há de ser indicado o trabalho, com
as outras exigências do trabalho definitivo, mais a alusão às conseqUências que teria é~sse, salvo se necessárias,
como o cômputo do tempo para a antiguidade. Na falta de indicação do trabalho, rege o art. 4-44, parágrafo único,
do Decreto-lei n. 5.452 (Código Civil, artigo 1.224).
A qualificação profissional do trabalhador em que se há de basear a prova é assaz importante, porque será a do
contrato de trabalho que se fizer definitivo, ou que se concluir após o contento ou prova. Se alguma dúvida ocorre
e os figurantes não acordam em solução, há a controvérsia, que, levada a juízo em ação condenatória,
cominatéria, ou declarativa, tem exame e decisão declarativa.
A qualificação profissional da empresa, ou da filial, sucursal ou agência ou seção da empresa, onde se há de
prestar o trabalho, tem grande relevância, porque o contrato de trabalho definitivo a supóe. A qualificação
exterior também pode tê-la, como se à empresa se exige, constitucionalmente ou legalmente, determinado
número de Brasileiros, e o trabalhador é estrangeiro, ou se êsse não deseja servir a empresa que arenas tem
agentes no Brasil.
Nada obsta a que se diga, no contrato de trabalho a contento ou a prova, que a experiência se fará no lugar E (e. g.,
na filial) e o enquadramento no lugar A (e. g., na sede), ou vice-versa.
Em princípio, o contrato de trabalho a contento co a prova é para apreciação livre pelos figurantes. Para que a
apreciação seja exclusivamente de um dêles, é preciso que wso esteja explícito ou implícito no contrato, ou que
resulta manifestações tácitas de vontade. Para que a apreciação seja judicialmente controlável, é preciso que tal
restrição ao puro arbítrio, arbitrium merum, advenha de cláusula explícita ou implícita do contrato, inclusive se
por tácitas manifestações de vontade. Isso não afasta que a conduta do figurante seja tão injusta que acarrete
responsabilidade extracontratual.
As restrições podem consistir em ser a prova comparativa (em confronto com o trabalho de outros empregados da
empresa, ou de outra empresa), concursal (comparativa interna, por se ter de escolher dentre os que contrataram a
contento ou a prova, o que não se confunde com a apresentação a ccmcurso, em virtude de promessa unilateral),
ou verificativa, como se há de ser conforme dados provenientes de testes ou de obras.

4. PRAZO. O contrato de trabalho a contento ou a prova não é, no direito brasileiro, sujeito a prazo mínimo nem
a prazo máximo, salvo no tocante ao prazo de um ano, porque admiti-lo além dêsse prazo seria abrirem-se portas
à fraus tegis. À prova pode bastar semana, dia ou hora, como pode ser necessário mês, trimestre, semestre ou ano.
De passagem, advirtamos que os prazos para. a aprendizagem, de que cogitam algumas legislações estrangeiras,
nada têm com prazo para a prova. Algumas dessas dêle se ocuparam, explicitamente (e.g., Código Civil
holandês, art. 1.639, 1; Decreto belga de 20 de julho de 1955, art. 3.0).
No direito brasileiro, o prazo é prorrogável, se a soma do tratos de tempo não excede de um ano. Quanto à
renovação, seria preciso alegar-se e provar-se a trans leçjis ao art. 478, § 1.0, do Decretolei n. 5.452, para que se
reputasse nula. O art. 451 do Decreto-lei n. 5.452 não pode ser invocado a propósito de contrato de trabalho a
contento ou a prova. esse contrato é a prazo determinado, mas tem duração ligada à experiência, à prova.
O contrato de trabalho a contento ou a prova pode ser por tempo determinado. Idem, o tempo para a prova. Êsse
pode ser menor do que aquêle. Se é por tempo indeterminado, pode ser estabelecido prazo para a prova. Também
pode sex inserto prazo para indenunciabilidade, ou para denunciabilidade
Se nada se disse quanto à denúncia, entendem alguns que há denunciabilidade para qualquer dos contraentes; mas
não é o que se há de assentar: se nada se acordou, houve a ligação à prova (ARTHUR NIIUSCE, Arbeitsrecht, ~,
2.~ ed., 559).
Se houve determinação do tempo, a denúncia somente pode ser cheia. Tem de haver o pré-aviso.

5.SE É PERMITIDA A GRATUIDADE. j, Pode ser gratuito o contrato de trabalho a contento ou a prova? A
resposta éafirmativa, mas apenas se, in casu, não há ofensa às leis protectivas e se, com isso, não ocorre
enriquecimento injustificado do empregador. Se o trabalhador faz as provas em horário que não altera ou não
causa danos ao trabalho que então presta ao mesmo empregador, ou a outrem, nenhuma objeção se pode fazer à
gratuidade. Se a prova enche todo o dia, com produção aproveitável pelo recebedor da prestação, têm de ser
respeitadas as regras jurídicas sôbre remunera~ão, inclusive sôbre salário mínimo. O art. 460 do Decreto-lei n.
5.452 pode ser invocado, porque se podia prever a diferença entre o trabalho a contento ou a prova e o trabalho
definitivo e isso não foi previsto.

6. VALIDADE. Os princípios sôbre validade dos contratos de trabalho a contento ou a prova são os mesmos que
regem os contratos de trabalho em geral. No Decreto-lei n. 5.452, o art. 11 estatui: „Não havendo disposição
especial em contrário nesta Consolidação, prescreve em dois anos o direito de pleitear a reparação de qualquer ato
infringente de dispositivo nêle contido”. Ésse art. 11 de modo nenhum é invocável a respeito de inexistência e
nulidade, mesmo porque seria absurdo, por exemplo, que prescrevesse em dois anos o contrato de trabalho feito
por menor de doze anos, ou contra regra jurídica que exigisse nacionalidade brasileira, ou se o trabalho fôsse
imoral.

§ 5.085. Eficácia do contrato de trabalho a contento ou a prova

1.DEvERES E OBRIGAÇÕES DOS FIGURANTES. Durante o período de prova, o trabalhador tem de


comparecer para o trabalho e o recebedor do trabalho tem de. admiti-lo à prestação. Tem-se sustentado que, no
contrato de trabalho a contento ou a prova, não há dever e obrigação de prestar o trabalho (e. g., GIOVANNI
BRUNELLI, Ii Libro dei Lavara, 79), nem, para o empregador, o dever e a obrigação de permitir a prova e de
remunerar. Não está certo. Quanto à remuneração, há outra questão, porque pode o contrato não prever
contra-prestação em salário. Existem, de ordinário, aquêle dever e aquela obrigação, como existe êsse dever e
essa obrigação.
O empregado a contento ou a prova tem os direitos e deveres dos outros empregados, inclusive o de votar para
deliberações dos empregados e para eleições de membros de conselho da empresa (WILHELM ITEIMEJER, Das
Probearbeitsverhãltnis, Jietrieb, 1953, 846). Não há relação jurídica de trabalho se ficou acordado que o
trabalhador, por pouco tempo, não tem dever de prestar trabalho (HELMUT ENDEMANN, Das
Probearbeitsverhãltnis, Arbeitsrecht-Biattei, A .1 2).
A infração pode ensejar danos e haver a pretensão à indenizaçâo por inadimplemento ou por adimplemento ruim.
A empresa tem de respeitar as regras jurídicas protectivas dos trabalhadores e dar a oportunidade para que o
trabalhador mostre as suas qualidades profissionais e pessoais, O trabalhador, que trabalha a contento ou a prova,
tem os deveres dos outros trabalhadores, mais o de prestar o trabalho, tal como é necessário para que o
empregador o possa apreciar (cf. LUISA RrVA-SANSEVERINO, DeIla Impresa, Commentario dei Codice
Civile, de ANTONIO SCIALOJA E GIUSEPPE BRANCA, 196 sã. Isso não significa que se não possa
estabelecer, em vez de dever e obrigação, o ônus de prestar: se não prestou o serviço no tempo que se fixou para
êle, nada feito.

2. MAU ÉxíTo DA PROVA. Se a prova não satisfaz a empresa, pode essa se nada se preestabeleceu de ônus de
afirmar e provar dar como resilido o contrato de trabalho a contento ou a prova. O que é preciso é que a empresa
manif este o descontento. Com isso, põe fim ao contrato. No direito brasileiro, não há, ex lege, dever de pré-aviso,
porque a espécie não é regida pelo art. 478, § 1.% do Decreto-lei n. 5.452, mas o pré-aviso é necessário à
denúncia. Não há indenização ao trabalhador, salvo se houve cláusula a respeito.
(Não se deve, aí, falar de denúncia do contrato de trabalho a contento ou a prova, porque a condição,
determinação mexa, é que, em caso de implemento, dá ensejo à desconstituíção, ou à definitivação.)
O fato de ser de um ano o período (dispositivo) de prova, nos contratos de trabalho por tempo indeterminado,
suscita a questão de se saber se são permitidos quaisquer têrmos para o período de prova, independente da
natureza da atividade profissional. Os contratos normativos podem estabelecer prazo máximo e prazo mínimo;
bem assim os contratos coletivos não normativos, como os individuais. O que ofenderia a lei seria o prazo
superior a um ano. O prazo menor, favorável pcrtanto ao trabalhador, é permitido.
Quanto ao tempo para a prova, que nada tem com o penodo de prova do art. 478, § 1.0, do Decreto-lei n. 5.452,
ou foi determinado explicitamente, ou resulta da natureza do trabalho, ou de contrato normativo de trabalho. Nada
tem com ser por tempo determinado, ou por tempo indeterminado, a relação jurídica de trabalho (ARTHUR
NIKIsdH, Arbeitsrechts, 1, 2.~ ed., 558).
Há o principio da. inalterabilidade qualitativa do tia ba4ho e o principio da inalterabilidade quantitativa do
trabalho; mas isso não pré-exclui que se convencione seleção de trabalho conforme o êxito das provas. A respeito
observemos que a alusão a “atos unilaterais”, praticados na vigência do contrato de trabalho a contento ou a
prova, ou definitivo, tem levado alguns escritores a proposições absurdas, tais como “os atos unilaterais,
praticados na vigência do contrato, são consensuais, desde que não importem alteração de condições explícitas ou
implícitas da relação de emprêgo” (1?. do T., 1943, 719 s.). Nenhum ato unilateral é consensual, convencional,
bilateral. O cartaz, o quadro de horário, o folheto de disciplina e as tabelas sao comunicações de conhecimento
explicitantes da eficácia do contrato de trabalho. Só se afastam ou se apontam efeitos contratuais, ou relações
jurídicas, que se irradiaram ou se vão iradiar ou podem irradiar-se dos contratos. Ato unilateral (e. t‟., oferta) só se
bilateralíza se sobrevém outro ato (e. g., aceitação) ; mas, então, bilateral é o ato que com os dois se compõe.

3.BOM ÊXITO. Uma vez que houve decurso do tempo para o contento e nenhum dos figurantes se manifestou
contrâriamente à continuidade, ou não se manifestou o que se teria de manifestar, a condição tem-se por implida
e há a definitividade que se previra para o caso de bom êxito. Se foram considerados diferentes níveis,
dependentes da prova, a falta de manifestação por parte da empresa importa enquadramento temporário ou
enquadramento definitivo no mais alto nível de que se cogitou.
Otempo de trabalho a contento ou a prova entende-se somável ao que advier com o contrato de trabalho
definitivo, mesmo se não houve enquadramento. Supõe-se, evidentemente, que tenha havido o contento ou
satisfatoriedade da prova. Atiter, se houve admissão noutro setor que não fôra previsto para o caso de bom êxito
da prova.
Quanto ao problema de não prestar o empregado, ao trabalhar em caráter definitivo, como ou quanto, em
eficiência, trabalhara para a verificação probativa, não tem a importância jurídica que se lhe quis atribuir. O que a
prova demonstrou é base para se apreciar o adimplemento ruim.

4.RESILIÇÃO. Antes de se iniciar a prova, não pode o figurante afastar-se do contrato, porque houve prazo para
.a prova, e não há pensar-se em invocação do art. 478, § lA, do Decreto-lei n. 5.452. O inicio da prova já pode ser
suficiente para o descontente. Antes disso, tratar-se-ia de denúncia vazia, o que não caberia na espécie. Em todo o
caso, é preciso que tal início seja verdadeiro e suficiente para a apreciação. Se o não é, o que aos juizes cabe
apurar, pode haver dano e indenizabilidade. Aliás, existem causas de inevitável inadimplemento
(impossibilitacão) ou de adimplemento ruim, que se podem considerar, mesmo antes de se iniciar a prova (e. g., a
polícia comunicou que o trabalhador está enfêrmo da mente ou bebe demasiado e seria perigoso entregar-lhe
trabalho em máquinas de grande responsabilidade). NÊLIO REIS (Contrato de prova, 71) dá exemplo que
merece mencionar-se: a candidata a bailarina tem defeito estético revelado no ato de vestir os trajes de bailado.
Acrescentemos: notado pelo empregador ou por preposto ou pessoa de confiança ao lançar-se na piscina a
bailairina candidata. Se o trabalhador nega o defeito, o ônus da prova incumbe à empresa.
§ 5.086. Extinção do contrato de trabalho a contento ou a prova

1.MORTE OU INCAPACIDADE DO TRABALHADOR. O trabalho tem de ser prestado pelo trabalhador; a


fortiori, o trabalho a contento ou a prova. Se falece o trabalhador, ou se se torna incapaz, extingue-se o contrato.

2.ExTINÇÃo DA EMPRESA. A extinção da empresa importa a do contrato de trabalho a contento ou a prova


nos mesmos casos em que ocorreria a extinção do contrato de trabalho dito definitivo. Trata-se de causa
excepcional de extinção, porque, de regra, a extinção da empresa não acarreta extinção de contrato de trabalho.
contrato de trabalho a contento ou a prova porque existia têrmo incertus quando. Se o contrato de trabalho a
contento ou a prova alude a contrato de trabalho, dito definitivo, que já existe, ou se resilem os dois, ou só o
contrato de trabalho a contento ou a prova.
Se há resilição por descontento ou insatisfação da prova, precisa haver comunicação disso, porém não aviso
prévio. Se ofigurante, que se tem de contentar ou satisfazer com a prova, é culpado de não haver tido bom êxito a
prova, não pode alegar o descontento ou insatisfação.
8.INADIMPLEMENTO E AD! MPLEMENTO RUIM. A recusa do trabalhador a prestar o trabalho a contento
ou a prova ou da empresa a admitir o trabalho tem a consequência da resilibilidade por inadimplemento. Bem
assim, a prestação de trabalho ou o recebimento dela ou a contraprestação que destoe do que se exige no contrato
de trabalho a contento ou a prova (adimplemento ruim). A alegação de adimplemento ou de adimplemente ruim
pode ser para a resilição ou para a indenização, ou para ambas as conseqUências.
Se, para o trabalho a contento ou a prova, se deu tempo reputado indispensável e não houve razão para que atos
miciais ou intercalares determinassem denúncia cheia, tem de ser respeitado o período de prova tido como
necessário ou a parte do período de prova tida como necessária. Se houve mudança de circunstâncias, tal que o
tempo necessário haja diminuído, ou aumentado, com pleno conhecimento dos figurantes, tem de ser atendido
nôvo tempo. Se só um teve ciência do ocorrido, cabe-lhe comunicar ao outro, para que se considere ter sido
alterada a cláusula contratual, explicita ou implícita.
4. RESILIÇÃO POR ADVENTO DE TÊRMO FINAL OU DE OONDIÇÃo RESILITIVÁ. Se o contrato de
trabalho a contento ou a prova prevê contrato de trabalho dito definitivo, a dualidade de contratos pode advir, no
tempo.

CAPITULO IV

CONTRATO DE APRENDIZAGEM

~5.0S7. Conceito e natureza do contrato de aprendizagem

1.CONCEITO. Ao conceito de aprendizagem ligou-se o de aprender trabalhando, isto é, prestando serviço. Daí
ser ocontrato de aprendizagem contrato de trabalho, embora se introduza a prestação instrucional ou educacional
do empregador. Todavia, o assunto mais pertence ao problema da natureza do contrato de aprendizagem do que
ao de sua conceituaçao .
No passado, ser aprendiz era o único meio de se aprender, de se adestrar e de se tornar trabalhador. Não havia o
ensino profissional de hoje. Entào, a relação jurídica entre o aprendiz e o mestre supunha ser mais importante a
prestação do mestre do que a do aprendiz. A atividade dêsse era no seu interesse, e não no interesse do mestre.
Nao se caractenzava a relação jurídica de trabalho subordinado, pêsto que já ais-lissa O recebimento de algo mais
do que o ensino era raro.
OAviso de 23 de abril de 1777 estabeleceu a idade de treze anos para os aprendizes nos Ofícios da Côrte. No ano
II seguinte, o Aviso de 14 de junho estendeu-a aos dezoito, A concepção originária fundava-se flO interesse
direto, quase exclusivo, mesmo juridicamente, do aprendiz, que recebia o ensino, e de certo modo se abstraia do
trabalho que êle contraprestava. Compreende-se que, através dos tempos, se visse melhor a contraprestação do
aprendiz e se cuidasse de proteção tio empregado que aprende, tanto mais quanto, com o desenvolvimento
industrial e a maquinaria contemporanea, a aprendi zagem passou a ser mais fácil. O trabalho subordinado, com
ou sem aprendizagem, teve de ser considerado em seus problemas. Apenas, no tocante à retribuição, se teve de
atender a que, de regra, há menor produtividade dos aprendizes. Os elementos comuns ao contrato normal de
trabalho e ao contrato de aprendizagem mostraram que não se podia deixar fora dos contratos de trabalho o
contrato de aprendizagem. Os elementos diferenciais são, conforme as próprias legislações, a idade do aprendiz,
a menor remuneração dos aprendizes em comparação com a remuneração dos outros trabalhadores, o fato de ser
insuficiente a sua formação profissional e ser preciso completá-la, e o ter o empregado de prestar o ensino.
Compreende-se que tenha de haver maior benevoléncia e maior cuidado, por parte do empregador.
Na doutrina francesa, por influência de texto legal, tem-se o contrato de aprendizagem como puro contrato de
ensino, e pensa-se em locatio operis, ou, se o aprendiz percebe algo de retribuição, durante o contrato, em locatio
operarum.
Não se pode deixar de considerar que o aprendiz trabalha dependentemente e recebe retribuição inferior à normal,
pois que lhe falta maturidade profissional e a instrução técnica de certo modo a completa (ALFLIED
1-IUECK-HANS CARL NIPPERDEY, Lekrbuch des Arbeligrechis, 1, 64).
Na doutrina italiana, fala-se de contrato sul generis, o que diz pouco, como sempre; e procura-se distinguir o
período inicial, em que ao aprendiz ainda falta qualquer aptidão laborativa e trabalhador seria o mestre, e o
período em que, já sabendo trabalhar, embora incompletamente, recebe retribuição e passa a ser trabalhador
subordinado (cf. Lunovíco BÁlIASSI, Ii Diritto dei Lavoro, 1, 527 s.). Em verdade, não há dois períodos; há dois
contratos sucessivos, a despeito da continuidade dos figurantes.
Sôbre as discordâncias quanto a ser ou não contrato de trabalho o contrato de aprendizagem, ALFRED
HUECR-HANS CARL NIPPERDEY (Lehrbuch des Arbeitsrechts, 70), Huco SINZHEIMER (Grn»dziige des
Arbeitsrechts, 2~a ed., 41) e WILHELM MAUS (Handbueh des Arbeiterechis, 110). Desde que há prestação de
trabalho a que corresponda valor pecuniário, com que se paga o ensino, e algo mais, que se recebe em
remuneração, há contrato de trabalho. Se falta o valor pecunis~rio do trabalho, há ensino gratuito, e não o contrato
de aprendizagem . Se falta o mais, com que se contrapresta ao aprendiz o que excede o valor do ensino, há
contrato misto. Donde não se poder confundir o contrato de aprendizagem com o contrato de instrução ou de
educação (contrato de ensino) ; nem, tão-pouco, com o contrato de trabalho em que o trabalhador aproveita o
ensejo (fâcticamente) para aprender um poucô mais, ou, embora menos frequentemente, tudo. Se se estende o
contrato de aprendizagem até àquele em que o mestre só presta o ensino, tem-se de chamar contrato especial de
aprendizagem aquêle em que o mestre-empregador presta ensino e contrapresta dinheiro ou outra retribuição
permitida pela legislação do trabalho.
Diante do que acima dissemos, tem-se de repelir a opinião dos que fazem contrato de ensino o contrato de
aprendizagem (e. g., PAUL Píc, Traiu éiémentaire de Legislation industrielle, 867; 6a ed., 883; ARNALDO
SUSSRKIND, DORvAL LACERLA e SEGADÁS VL&NA, Direito brasileiro do Trabalho, II, 144; MÁRIO DE
LA CIJEVA, Derecho mexicano dei Trabajo, 1, 719 a.).
Pela mistidade, A. E. CESARINO Ja. (Direito Social Brasileiro, II, 126).
No Decreto-lei n. 5<452, art. 80, diz-se: “Tratando-se de menores aprendizes, poderão as Comissões fixar o seu
salário até em metade do salário minimo normal da região, zona ou subzona”. “Fixar” está, ai, em vez de
“reduzir”. O salário não pode ser de menos da metade.
Estatui o Decreto n. 31.546, de 6 de outubro de 1952, ari. 2?: “Entende,.se como sujeito ã formação profissional
metódica de ofício ou ocupação o trabalhador menor matriculado em curso do Senai ou Senac ou em curso por êle
reconhecido. nos têrmos da legislação que lhes fôr pertinente”. Acrescenta o § 1.0: “Entende-se, igualmente,
como sujeito àquela forma çao, o trabalhador menor, submetido, no próprio emprêgo, àaprendizagem metódica:
a) de ofício ou ocupação para as quais não existam cursos em funcionamento ao Senai ou Senac; 10 de ofício ou
ocupação para cujo preparo existam cursos do Senai ou Senac, quando não possam éstes aceitar a inscrição do
menor, por falta de vaga, ou não mantiverem cursos na respectiva localidade”. E o § 2.0: “Na hipótese de falta de
vaga, a que se refere a alínea b) do parágrafo anterior, será fornecido aus interessados, pelo Senai ou Senac,
documento comprobatório dessa circunstância”. E o § 3.0: “Considera-se, ainda, aprendiz, no concernente às
atividades do grupo de comércio, o trabalhador menor matriculado, por conta do empregador, em curso de
formação comercial a que se refere o Decreto-lei n. 6.141, de 28 de dezembro de 1943, desde que lhe seja
assegurada redução da jornada do trabalho, nos térmos do estabelecido nos arts. 1.0, § 2.0, e 6? do Decreto-lei n.
8.622, de 10 de janeiro de 1946, sem prejuízo do salário correspondente à duração normal do trabalho”.
Perante a Constituição de 1946, não podia o Poder Executivo pôr em derreto regras jurídicas sôbre a matéria de
que êle tratou no Decreto n. 31.546, de 6 de outubro de 1952. Em todo o caso, fê-lo com certa prudência. Partiu o
Presidente da República da consideração de poder o contrato de trabalho, na legislação em vigor, “assumir a
forma („1) de contrato de aprendizagem, desde que o empregado, menor de dezoito e maior de quatorze anos,
esteja sujeito à formação profissional metódica do ofício em que exerça o seu trabalho”. “Algumas obrigações”,
acrescenta-se no segundo considerando, “decorrentes do contrato de aprendizagem são diversas das que advêm
do contrato de trabalho comum, impondo-se, portanto, a conveniência de ser regulamentado o conceito de
empregado aprendiz”. O assunto era para lei.
Lê-se no Decreto n. 31.546, de 6 de outubro de 1952, art. 1.~: “Considera-se de aprendizagem o contrato
individual de trabalho realizado entre um empregador e um trabalhador maior de 14 e menor de 18 anos, pelo
qual, além das características mencionadas no art. 8? da Consolidação das Leis do Trabalho, aquêle se obriga a
submeter o empregado à formação profissional metódica do oficio ou ocupação para cujo exercício foi admitido e
o menor assume o compromisso de seguir o respectivo regime de aprendizagem”.
Já no art. 80 do Decreto-lei n. 5.452 se diz: “Tratando-se de menores aprendizes, poderão as Comissões fixar o
salário até em metade do salário mínimo normal da região, zona ou subzona”. E no parágrafo único:
“Considera-se aprendiz o trabalhador menor de 18 e maior de 14 anos, sujeito a formação profissional metódica
do ofício em que exerça o seu trabalho”.
A limitação de idade, no tocante ao contrato de aprendizagem, suscita o problema da sorte dos contratos de
trabalho que fazem, já fora da idade, os trabalhadores a que falta a completa formação profissional e que o
reconhecem ao serem empregadas. Ou se trata de contrato de trabalho a contento ou a prova, devido à explicitude
e o período para a prova, ou de contrato normal de trabalho, sem qualquer invocabilidade do que é peculiar ao
contrato de aprendizagem, salvo dever de diligência maior, por parte do empregador, se reconheceu a deficie~icia
do empregado e o expor-se êle a maior risco.
Acrescenta o Decreto n. 31.546, art. 3.0: “Cabe ao Senai e ao Senac, respectivamente, estabelecer os ofícios e
ocupações objetos de aprendizagem metódica nos seus cursos, bem como as condições de seu funcionamento e
duração, nos limites da legislação vigente”. Acrescenta o parágrafo único: “O Senai e o Senac encaminharão, no
prazo de 60 dias, contados da publicação dêste decreto, a relação completa de tais ofícios ou ocupação ao
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que, para os efeitos do presente decreto, a publicará no Diário
Oficial da União, assim se procedendo para qualquer alteração na relacão referida, a qual deverá ser enviada ao
mencionado Ministério dentro do prazo de 30 dias, a contar da data da modificação”.
Assaz relevante é o que, inserto no Decreto n. 31.546, se tem de considerar como regra jurídica pertinente ao
contrato de aprendizagem.
Estabelece o Decreto n. 31.546, ad. 4.0: “Dentro de 60 dias, a partir da publicação dêste decreto, o Ministro do
Trabalho, Indústria e Comércio aprovará, após pronunciamento do Senai e do Senac: a) os limites máximos de
tempo, necessários à aprendizagem metódica no próprio emprêgo, de que cogita o § 1.0 do art. 2.~ b) a relação
dos ofícios e ocupações para os quais não se torna necessária a aprendizagem metódica”. Acrescenta o § 1.0: “O
tempo máximo de aprendizagem a que alude a alínea a> dêste artigo não será, em caso algum, superior a três
anos”. E o § 2.0: ~O Senai e o Senac enviarão ao Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, até 30 de outubro
de cada ano, os estudos procedidos sôbre a matéria tratada neste artigo. As alterações decorrentes dêsses estudos,
aprovadas pela precitada autoridade, só vigorarão a partir de 1.0 de janeiro do ano subseqúente”. E o § 3.0: “t
facultado aos sindicatos de empregadores e aos de trabalhadores requerer ao Ministro do Trabalho, Indústria e
Comércio a alteração ou revisão dos limites e relações a que aludem as alíneas a) e b) dêsse artigo, sendo que a
decisão a respeito proferida, após audiência do Senai ou Senac, terá aplicação imediata”.
Na Alemanha, discutiu-se se é nula a conclusão do contrato de aprendizagem com infração de regras jurídicas
especiais ao contrato de aprendizagem. Houve quem sustentasse só se tratar de denunciabilidacie cheia, sem
pré-aviso, do contrato (ALFRED HUECK-HANS CARL NIPPERDEY, Lehrbuck des Arbeitsrechts, J, SY-5Y
ed., 899; II. TITzE, em V. EHRENEERG, Handbuck des gesarnten Handelsrechts, II, 876 5.;
EYERMANNFRORLER, Handwerlcordnung, § 17, nota II, 3). A solução tem de ser de acôrdo com o direito
civil e o comercial, tanto mais quanto há o art. 7,0, parágrafo único, do Decreto-lei n. 5.452, de 1? de maio de
1948: “O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não fôr incompatível com
os princípios fundamentais dêste” (cf. Lei n. 2.198, de 9 de março de 1954).
A despeito de se tratar de simples decreto, já estando em vigor a Constituição de 1946, estatui o Decreto n.
81.546, art. 5.0: “Nenhum contrato de aprendizagem terá validade se o tempo estabelecido para duração do
aprendizado ultrapassar o limite determinado na forma dos arts. 3,0 e 4O, bem como se tal condição não fôr
prêviamente anotada na carteira do menor”, Rigorosamente o assunto é para regra jurídica legal, e nao para regra
jurídica regulamentar. Todavia, o empregador tem de considerar a situação que lhe cria o ato estatal, a fim de
evitar choques entre o que êle quer e o que foi considerado conteúdo de regra jurídica, regulamentar, protectiva
dos aprendizes. A legislatura de certo modo foi omissa no regular a aprendizagem metódica no próprio emprêgo
e a relação dos ofícios e ocupações para os quais não é necessária a aprendizagem metódica. Quanto ao prazo de
três anos, tem Me importância de primeira plana, porque, se o aprendiz continuou
É, no serviço, o que ocorreu foi enquadramento entre os empregados normais. Ç nula a cláusula de tempo
determinado, no que excede de três anos.
Ainda se lê no Decreto n. 81.546, art. 7.0: “Mediante ajuste com as empresas que lhes estão vinculadas, o Senai e
o Senac poderão organizar cursos intensivos de aprendizagem, com duração diária correspondente à jornada
normal de trabalho, percebendo o menor aprendiz, independentemente de bôlsa de estudo que lhe tenha sido
concedida pelo órgáo mantenedor do respectivo curso, o salário a que tem direito, por conta do empregador”.
A aprendizagem compreende a preaprendizagem, com que se prepara o menor para que possa concluir e cumprir,
com eficiência, o contrato de aprendizagem, e a reaprendizagem, que supóe existir necessidade ou alguma
conveniência de reeducação profissional.

2.CONTRATO DE APRENDIZAGEM E OUTROS CONTRATOS.


Ocontrato de aprendizagem é inconfundível com o contrato de trabalho a contento ou a prova, porque, naquele, se
quer aprender e, nesse, se quer provar que se aprendeu. Também se há de distinguir do contrato de aprendizagem
o período de prova, que o Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943, art. 478, § 1.0, fêz comum a todos os
contratos de trabalho ditos definitivos. O contrato de aprendizagem pode ser prece-<lido de período de prova,
como pode ser seguido por êsse. se há o enquadramento normal na empresa. Nada obsta que se conclua, depois,
contrato de trabalho a contento ou a prova, ou que se conclua desde logo para que se respeite posteriori-nente ao
contrato de aprendizagem ou em momento em que lá se repute oportuno.
Operíodo de prova, inserto no contrato de aprendizagem, não supõe contrato de trabalho a contento ou a prova,
nem vincula a admissão no quadro dos empregados. Se a aprendizagem teve bom êxito, não tem os efeitos do
contrato de trabalho a contento ou a prova, nem o período de prova para o contrato de aprendizagem vincula ã
conclusão dêsse.
Não se há de pensar em contrato de aprendizagem se o aprendiz não presta trabalho no âmbito da empresa, ou não
há intenção de adquirir aptidão necessária para se considerar trabalhador qualificado. Se não há retribuição pela
empresa (e a lei brasileira dá-lhe limite mínimo), não há contrato de aprendizagem. Seria aUtuo, e não aprendiz:
pagaria com o trabalho, o que teria de ser examinado quanto à licitude. Idem, se paga o ensino, como ocorre em
caso de taxas de institutos profissionais ou escolas profissionais. Se o próprio instituto profissional ou a própria
escola profissional se aproveita, em medida considerável, do trabalho do aluno, pende-se para o contrato de
aprendizagem.
Também não é aprendiz quem oferece gratuitamente, ou aceita oferta para trabalhar gratuitamente, para conhecer
determinada atividade agrícola, industrial, comercial ou profissional, ou somente para ter prática. Ai, falta a
dependência, falta a prestação normal de trabalho, a continuidade vinculada.
Não é aprendiz o ajudante, o auxiliar, que não tem, àdiferença do aprendiz, a intenção preponderante de
aprender:coopera; é inferior, profissionalmente, à pessoa a que ajuda ou auxilia; não tem por fito adquirir
conhecimentos, pôsto que, com a prática, os possa adquirir.
O aprendiz não se confunde com o praticantc ou com o voluntário (Pratikant, Volontãr), porque êsses querem a
prática ou o aperfeiçoamento, sem exigir retribuição pelo trabalho, que acaso preste, e a empresa lhe pode exigir
que trabalhe, mesmo se o praticante ou o voluntário colheu proveito da presença na empresa. Não é empregado
normal, nem aprendiz. Não concluiu contrato de trabalho, nem contrato de aprendizagem <cf.
STRITZI{E, Der Volontar, Arbeitsreckt, 1931, 349; ERICE MO[ATOR, Der Volontar, Nene Zeitsckrift fiir
Arbeitsrecht, 1932, 289; EWALD KdsT, Die Rechtsstellung des Volontãrs, Der Betrieb, 1954, 418).
No emprêgo doméstico pode haver contrato de aprendizagem (cf. GIORGIO ARDA1J, Ii Contratto di tirocinio,
59), pêsto que sej a menos freqúente. A cozinheira que ainda não tem conhecimentos de boas comidas e aprende
com a outra cozinheira> ou com a patroa, ou o patrão, a fazer pratos melhores e de maior nível, aprende, porém
não é aprendiz. Dá-se o mesmo com as arrumadeiras e os próprios jardineiros, ou a lavadeira que não sabe usar a
máquina de lavar.
O fato de ter algum título de habilitação a pessoa que se emprega para aprender, ou precisando aprender, não
pré-exclui tratar-se de contrato de aprendizagem. Talvez lhe falte a prática, ou o método, ou a especialização. Nos
próprios empregos públicos pode haver aprendizagem.
Por outro lado, não há distinção entre trabalho manual ou pedal e trabalho intelectual. Nem entre trabalho urbano
e rural.

a.NATUREZA DO CONTRATO DE APRENDIZAGEM. Trata-se de contrato bilateral, consensual, concluído


no interesse dos dois figurantes.
A prestação do aprendiz é pessoal; a do empregador juridicamente o é, mas o ensino não é prestação
personalíssima.
O ensinamento nem sempre e, hoje, com as grandes indústrias, só raramente é prestado pelo próprio empregador,
Supóe-se que o ensinante, o mestre, o diretor do serviço ou da seção de serviço, tenha a aptidão para ensinar
(ARTIIUR NIKISCH, Arbeitsrecht, ~, 2Y ed., 710; GÕTZ HUECK, Die arbeitsrechtliche Bedeutung des
~undeshandwerkSordnung, Reeht der Arbeit, 1954, 17). Tal aptidão é de ordem física e psíquica, ou só psíquica.
Quem ministra o ensino pode ser empregado normal da empresa, ou não no ser.
A contraprestação em valor não é, a bem dizer-se, acessória da contraprestação de ensino. A contraprestação é
que é de duplo objeto (sem razão, LUISA RIVA-SANSEVERINO, DeIla Impresa, Commentario del Codice
Civile a cura di ANTONIO ScIALOJA e GIUSEPPE BRANCA, 8.~ ed., 421). Certamente, se o dever de retribuir
passasse à frente do dever de ensino, não haveria relação jurídica de aprendizagem, e a figura do aprendiz seria
substituida pela do simples ajudante; mas não há o dilema: ou prevalece a contraprestação do ensino, ou a da
remuneração. E a característica do contrato de aprendizagem, no contemporâneo direito do trabalho, está na
duplicidade da contraprestação, em partes heterogéneas. A parte em valor pode ser em pecúnia, ou em casa e
comida, ou em pecúnia e casa, ou em pecúnia e comida, salvo se de qualquer modo fere a regra jurídica de
mínimo de valor, que é o da metade da retribuição normal dos empregadores.

No Decreto-lei n. 5.452, diz o art. 424: “É dever dos responsáveis legais de menores, pais, mães ou tutores,
afastá-los de empregos que diminuam considerâvelmente o seu tempo de estudo, reduzam o tempo de repouso
necessário à sua saúde e constituição física ou prejudiquem a sua educação moral”. Tal regra jurídica sôbre
deveres dos pais, mães, tutôres e curadores, extensivo às próprias pessoas que tenham a guarda do menor, mais se
insere no Direito de Família do que no Direito do Trabalho. É, evidentemente, heterotópica. Constituição física
está em sentido amplo: física e psíquica.

§ 5.088. Pressupostos e validade do contrato de aprendizagem


1. FIGURANTES E CAPACIDADE. No contrato de aprendizagem, figurantes são a pessoa que trabalha para
aprender e o empregador, com quem aquêle aprende. Não há contrato de aprendizagem se a pessoa que quer
aprender é maior de dezoito (Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943, art. 80 e parágrafo único; Decreto n.
31.546, de 6 de outubro de 1952, art. 1.0). Não existe o contrato de aprendizagem com menor de quatorze anos.
Aos contratos coletivos, normativos ou não, não se permite alteração dos limites legais (cf. LUIGI DE Li-TALA,
Contrati speciaii di lavoro, 2a ed., 13), pôsto que possam conter cláusula de limite máximo para a duração dos
contratos de aprendizagem.
A pessoa que se emprega com intenção de aprender, mas é menor de quatorze anos ou maior de dezoito, não
conclui contrato de aprendizagem. No primeiro caso, só pode haver outro contrato, no qual titular do pátrio poder
ou tutor ou curador represente o menor, sem se afastar a possibilidade de que alguém se vincule a ensinar ao
menor de quatorze anos. No segundo caso, o contrato de aprendizagem também se chocana com a lei. Tem-se de
indagar se houve contrato de trabalho a contento ou a prova, ou contrato de trabalho dito definitivo, espécie em
que se há de atender ao art. 478, § 1.0, do Decreto-lei n. 5.452, ou contrato de ensino.
A aprendizagem, em virtude de contrato de aprendizagem, conforme a lei o concebe, não se pode iniciar sem que
se hajam respeitado as regras jurídicas sôbre registos e anotações. A ~assunção do aprendiz supõe exame de
saúde e de aptidão física e psíquica para o exercício da profissão .
Se, durante o contrato de aprendizagem, a empresa insere o prestadur de trabalho como empregado normal, passa
esse a ter direito à retribuição conforme os arts. 457-467 do Decreto-lei n. 5.452, e não mais à remuneração de
aprendiz. Dá-se o mesmo, temporâriamente, se a empresa o faz prestar trabalho em que não há o elemento de
aprendizagem.
Por ocasião de admitir aprendizes, a empresa não tem a autonomia de vontade que teria em caso de contrato
normal de trabalho, ou mesmo de contrato de trabalho de menores. Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 430: “Terão
preferência, em igualdade de condições, para admissão aos lugares de aprendizes de um estabelecimento
industrial, em primeiro lugar, os filhos, inclusive os órfáos, e, em segundo lugar, os irmãos dos seus empregados”.
Acrescenta o Decreto-lei n. 5.452, no art. 481: “Os candidatos à admissão como aprendizes, além de terem a
idade mínima de 14 anos, deverão satisfazer às seguintes condições:
a) ter concluído o curso primário ou possuir os conhecimentos mínimos essenciais à preparação profissional; b)
ter aptidão física e mental, verificada por processo de seleção profissional, para a atividade que pretende exercer;
e) não sofrer de moléstia contagiosa e ser vacinado contra a varíola”. Acrescenta o parágrafo único: “Aos
candidatos rejeitados pela seleção profissional deverá ser dada, tanto quanto possível, orientação profissional
para ingresso em atividade mais adequada às qualidades e aptidões que tiverem demonstrado”.
2, PRESTAÇÃO E CONTRAPRESTAÇÃO. O empregador recebe o trabalho do aprendiz e contrapresta ensino
e retribuição pecuniária, ou casa comida e dinheiro, respeitada, porém, a regra jurídica do art. 80 do Decreto-lei n.
5.452. Se o contrato individual, ou o contrato coletivo, normativo ou não, deixa de determinar o quanto da
retribuição, é invocável o art. 460 do Decreto-lei n. 5.452, para se saber qual a metade de retribuição considerada
mínimo para a contraprestação ao aprendiz. A opinião que afasta a invocabilidade do art. 460 do Decreto-lei n.
5.452 tem de ser repelida. O aprendiz é trabalhador, como os outros trabalhadores; e não simples escolar.

O interesse no contrato é de ambos os figurantes, e não s6 do aprendiz. Há correspectividade, e há dualidade de


contra-prestação pelo empregador (ensino e retribuição).
Não se leva em conta a fcvrnília do aprendiz, para que se lhe eleve a retribuição.
Se não houve determinação da retribuição, incumbe ao juiz determiná-la.
A duração da relação jurídica de aprendizagem há de ser regulada, para que se proteja o aprendiz contra longos
prazos e contra o tempo indeterminado. Daí a regra jurídica do art. 4Y, § 1.0, do Decreto n. 81.546, de 6 de
outubro de 1952, que fixa em três anos, no máximo, o tempo de aprendizagem. Os contratos coletivos,
normativos ou não, podem fixar em menor tempo o máximo; não, aumentar a duração. Findo o prazo, ou os três
anos, se não houve determinação do tempo, o empregador não pode continuar a tratar como aprendiz aquêle que
o foi. Se o trabalho continua, há, então, contrato de trabalho por tempo indeterminado, sem qualquer referência
àrelação de aprendizagem.
Os contratos coletivos, normativos ou não, podem estabelecer durações máximas diferentes, conforme a idade do
tra‟balhador-aprendiz (e. g., três anos, para os aprendizes de quatorze a dezesseis anos de idade; dois anos, para os
de mais de dezesseis).
Pergunta-se: se o aprendiz entrou no trabalho quando tinha, por exemplo, dezessete anos feitos e a duração
máxima de aprendizagem é de três anos, ~expira ao fazer dezoito anos o contrato de aprendizagem? A resposta é
negativa. O tempo de duração da aprendizagem nada tem com a idade em que se pode concluir contrato de
aprendizagem. Assim, quem bre.vemente terá dezoito anos pode entrar no serviço como aprendiz e esgotar o
tempo que a lei ou o contrato fixar para a aprendizagem. Quem iniciou aos quatorze anos a aprendizagem pode ir,
se o tempo de duração é de três anos, até os dezessete anos, ou, se não começara no dia do aniversário, até que se
completem os três anos. Quem entrou para a aprendizagem, contratualmente, um dia antes de completar dezoito
anos, pode ir até que termine o prazo de três anos, ou prazo menor que se estipulou.
O empregador não pode privar o aprendiz de freqUentar os cursos de formação profissional.
A favor dos aprendizes de estabelecimentos comerciais pode haver redução da jornada de trabalho, em caso de
haver curso de formação comercial (Decreto-lei n. 8.622, de 10 de janeiro de 1946, art. 6.0; Decreto n. 31.546, de
6 de outubro de 1952, art. 2.0, § 3.O)~
Não infringem a Constituição de 1946, art. 141, § 1.”, as regras legais que regularem as férias, diferentemente do
que se estabelece para as ordinárias, em proteção dos aprendizes.
A retribuição pode ser asc~dente, com o tempo de aprendizagem, desde que parta da metade ou de mais de
metade do que percebem os empregados normais. Se, o que é raro encontrar-se, se estabelecerem provas
periódicas, de que resulte aumentar-se, ou diminuir-se a retribuição, a diminuição não pode ser além da que
importaria chegar-se à metade das retribuições normais.
No resultado do trabalho de aprendizagem como trabalho, o que importa é a prestação do trabalho, não
qualitativamente, mas de acôrdo com o tempo de serviço. A meta consiste no acrescimento da produtividade.
Quanto ao horário, estabelece o Decreto-lei n. 8.622, de 10 de janeiro de 1946, ad. 6.0: “O horário de trabalho e o
dos cursos de aprendizagem e a forma de admissão dos praticantes nos estabelecimentos comerciais serão
determinados, para cada ramo de comércio, por acêrdo entre o Senac e os sindicatos patronais”.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 427: “O empregador, cuja empresa ou estabelecimento ocupar menores, será
obrigado a conceder-lhes o tempo que fôr necessário para a freqijéncia às aulas”. Acrescenta o parágrafo único:
“Os estabelecimentos situados em lugar onde a escola estiver a maior distância que dois quilômetros, e que
ocuparem, permanente-mente, mais de 80 menores analfabetos, de 14 a 18 anos, serão obrigados a manter local
apropriado em que lhes seja ministrada a instrução primária”.
A respeito da assunção em aprendizagem, compulsória para empregadores, estatui o Decreto-lei n. 8.622, de 10
de janeiro de 1946, ad. 1.0: “Os estabelecimentos comerciais de qualquer natureza, que possuirem mais de nove
empregados~ são obrigados a empregar e matricular nas escolas de aprendizagem do Senac um número de
trabalhadores menores como praticantes, que será determinado pelo seu Conselho Nacional, de acôrdo com as
práticas ou flrnções que demandem formação profissional, até o limite máximo de 10% do total de empregados de
tôdas as categorias em serviço no estabelecimento”. Acrescenta o § 2.~: “Ficam isentos das obrigações
estabelecidas neste artigo os estabelecimentos comerciais que, no mínimo, admitirem igual número de estudantes
menores de curso comercial de formação, para o exercício de prática ou função adequada, em horário igualmente
reduzido, de forma a possibilitar, pelo menos um intervalo de duas horas entre o término do serviço e o ínicio das
aulas, ou vice-versa”.

8. PRAZO 00 CONTRATO. O contrato de aprendizagem não é, necessâriainente com prazo determinado


explícito. Não se pode repetir o que se diz na doutrina italiana (e. g., GIORCio ARnÃu, II Contratto di tiro tinia,
98 s.). O que acontece é que, se não houve cláusula de prazo determinado, êle tem de extinguir-se~ ao expirar o
período de três anos, que se fixou como tempo máximo.
Se, antes de expirar o prazo determinado, constante de cláusula contratual, o empregador passa a considerar o
empregado como os demais (= se o tem como profissionalmente apto) e assim se exclui o ensinamento, há
distrato do contrato de aprendizagem com a sucessiva conclusão do contrato normal de trabalho.
O contrato de aprendizagem também se pode coucluir a têrmo incerto, se há cláusula expressa de ser pelo tempo
necessário e suficiente para o aprendiz se tornar apto â inc1ús~o no rol dos empregados normais. ~ de grande
conveniência que disso cogitem os contratos coletivos, normativos ou não, de trabalho. Tem-se, porém, de
observar a exigência do tempo máximo.
Não se há de considerar estabelecido o tempo pelo senãos, não só porque a lei nem cogitou disso como porque
não haver respeito, de que se tenha notícia.

4. EXAME DE HABILITAÇÃO. O menor, qualquer que seia o seu contrato de aprendizagem, tem pretensão de
habilitação. Quer perante o empregador, quer perante a autoridade pública. Diz, por isso, o Decreto n. 31.546, art.
6.0:lícito ao menor submetido à aprendizagem metódica no próprio emprêgo, nos têrmos do § 1.0 do art. 2.0,
requerer, em qualquer tempo, ao Ministério do Trabalho, Indústria e Con-iércio, por si ou seus responsáveis,
exame de habilitação para o respectivo ofício ou ocupação”. Acrescenta o § 1.0: “O requerimento será dirigido ao
diretor da Divisão de Fiscalizaçâo do Departamento Nacional do Trabalho, no Distrito Federal, e aos delegados
Regionais do trabalho, nos Estados, cabendo a essas autoridades encaminhar o menor à escola mais próxima do
Senai ou do Senac, onde será submetido ao correspondente exame”. E o § 2.~: “Se o menor fôr considerado
habilitado a exercer o respectivo ofício ou ocupação, ser-lhe-á fornecido, pelo Serviço a que foi encaminhado,
certificado ou carta de ofício, cessando imediatamente a aprendizagem a que estava êle submetido no próprio
emprêgo”.
Já estatuia o Decreto-lei n. 5.452, art. 429: “Os estabelecimentos industriais de qualquer natureza, inclusive de
transportes, comunicações e pesca, são obrigados a empregar, e matricular nos cursos inantidos pelo Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai): a) um número de aprendizes equivalente a 5% no mínimo dos
operários existentes em cada estabelecimento, e cujos ofícios demandem formação profissional; b) e ainda um
número de trabalhadores menores que será fixado pelo Conselho Nacional do Senai, e que não excederá a 8% do
total de empregados de tOdas as categorias em serviço em cada estabelecimento”. Acrescenta o parágrafo único:
“As frações de unidade no cálculo da percentagem, de que trata o primeiro item do presente artigo, darão lugar
àadndssâo de um aprendiz: a) um udmero de aprendizes equivalente a 5 % no mínimo dos operários existentes em
cada estabelecimento, e cujos oficios demandem formação profissional; 6) e ainda um ndmero de trabalhadores
menores que será fixado pelo Conselho Nacional do Senai, e que não excederá a 8% do total de empregados de
tôdas as categorias em servico em cada estabelecimento”. Acrescenta o parágrafo tlnwo: “As frações de unidade
no cálculo da percentagem, de que trata o primeiro item do presente artigo, darão lugar à adrniss~o de um
aprendiz”.

5.VALIDADE. Os princípios sôbre validade e javalidade do contrato de aprendizagem são os concernentes ao


contrato de trabalho em geral mais os que se referem à capacidade especial e à ilicitude. Não é permitida a
aprendizagem em indústrias insalubres, porque o não é aos menores de dezoito anos qualquer trabalho
(Constituição de 1946, art. 157, IX, 2a parte). Se noturna a aprendizagem, é preciso que, de acôrdo com a lei, o
permita o juiz competente (Constituição de 1946, art. 157, IX, 3a parte).

§ 5.089. Eficácia do contrato de aprendizagem

1.CONTRATO DE APRENDIZAGEM, CONTRATO DE TRABALHO.


O contrato de aprendizagem é contrato de trabalho e submete-se às regras jurídicas concernentes a êsse, salvo
onde a natureza do contrato ou a lei as afasta. O aprendiz tem de prestar o trabalho, dentro dos horários e sob a
direção da empresa. É empregado dependente e a subordinação cresce de ponto pela presença do elemento
educacional. O aprendiz tem os mesmos deveres de não lesar e de segrêdo que têm os outros empregados.
Exige-se-lhe a mesma diligência, no que lhe permite a sua incompleta educação. Se há curso complementar, tem
de freqúentá-lo.
Orecebedor do trabalho tem de dar ao aprendiz o ensino necessário ao trabalho e ao aperfeiçoamento do seu
trabalho, para que adquira a aptidão normal dos empregados da empresa. Cabe-lhe atender às regras jurídicas que
o direito público estabelece sôbre a aprendizagem, bem assim às cláusulas dos contratos normativos.
Oaprendiz tem direito às férias.
A retribu~ção tem de ser quantitativa, e não qualitativamente determinada. Não pode ser conforme a produção, ou
a qualidade da produção, salvo se se respeita o mínimo que a lei fixa.

„2. DEVERES ESPECIAIS. Além do dever de prestar o ensino, de concorrer para o adestramento profissional,
tem o empregador de informar, periôdicamente, à família do aprendiz, titular do pátrio poder, tutor ou curador, ou
quem tem a guarda do menor, 0uanto aos proveitos do ensino, falhas corrigíveis ou de difícil correção. A
finalidade da aprendizagem é a de pôr o aprendiz em situação educacional e profissional de poder ser trabalhador
enquadrado.
Oaprendiz tem direito a exigir do empregador a oportunidade e os meios para o trabalho, o que não ocorre com o
contrato de trabalho.
O trabalho tem de ser aquêle de que se cogitou, ao cozicluir-se o contrato, mas atendidas as qualidades físicas e
psíquicas do aprendiz.
Algumas regras jurídicas são comuns a todos os contratos de trabalho; outras, a todos os contratos de trabalho em
que o prestador do trabalho é menor; outras, só pertinentes ao contrato de aprendizagem.
Pode ocorrer que o trabalho, que presta o aprendiz, lhe seja nocivo prejudicial à sua saúde, ao seu
desenvolvimento físico ou à sua moralidade (Decreto-lei n. 5.452, art. 407). Daí estabelecer o ad. 426: “É dever
do empregador, na hipótese do art. 407, proporcionar ao menor tôdas as facilidadee para mudar de serviço”.
Uma vez que o empregador tem de ensinar, a sua cozitraprestação de ensino tem de ser tal que adapte o trabalho
aprendido à especialidade profissional do aprendiz.
O dever de diligência acentua-se, porque o aprendiz o tem como os outros trabalhadores, acrescido pela situação
de reconhecida insuficiência da formação profissional. Por outro lado, o empregador não pode satisfazer-se com
os meios de defesa do empregado, que sêmente correspondem ao trabalho do empregado normal.
Oempregador tem de permitir, de facilitar e de promover a aprendizagem em cursos oficiais de especialização, ou
em cursos complementares, mesmo não oficiais, que sejam necessários. Tem de exercer vigilância quanto à
freqUência; e as despesas, que acaso se tenham de fazer, são por sua conta, sem que as possa deduzir da
retribuição .
Estatul o Decreto-lei n. 5.452, art. 425: “Os empregadores de menores de 18 anos são obrigados a velar pela
observância, nos seus estabelecimentos ou empresas, dos bons costumes e da decência pública, bem como das
regras de higiene e segurança do trabalho”.
Acrescenta-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 432: “Os aprendizes são obrigados à freqUência do curso de
aprendizagem em que estejam matriculados”. Acrescenta o § 1.0: “O aprendiz que faltar aos trabalhos escolares
do curso de aprendizagem em que estiver matriculado sem justificação aceitável, perderá o salário dos dias em
que se der a falta”. E o § 2.0:
“A falta reiterada no cumprimento do dever, de que trata êste artigo, ou a falta de razoável aproveitamento, será
considerada justa causa para dispensa do aprendiz”. Trata-se de denúncia .
Para os empregadores, há dever de comunicação, quanto a quaisquer contratos de trabalho de menores. Diz o
Decreto--lei n. 5.452, art. 438: “Os empregadores serão obrigados:
a) a enviar anualmente às repartições competentes do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, de 1 de
novembro a 31 de dezembro. uma relação em duas vias, de todos os empregados menores, de acôrdo com o
modêlo que vier a ser expedido pelo mesmo Ministério; b) a afixar em lugar visível, e com caracteres fâcilmente
legíveis, o quadro do horário e as disposições dêste capitulo”. Acrescenta o parágrafo único:
“A relação a que se refere a alínea a) levará na lA via o sêlo federal de um cruzeiro
A respeito de seguro, diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 428:
“As instituições de previdência social, diretamente, ou com a colaboração dos empregadores, considerando
condições e recursos locais, promoverão a criação de colônias climáticas, situadas à beira-mar e na montanha,
financiando a permanência dos menores trabalhadores em grupos conforme a idade e condições individuais,
durante o período de férias ou quando se torne necessário, oferecendo tôdas as garantias para o aperfeiçoamento
de sua saúde. Da mesma forma será incentivada, nas horas de lazer, a frequência regular aos campos de recreio,
estabelecimentos congêneres e obras sociais idôneas, onde possa o menor desenvolver os hábitos de vida coletiva
em ambiente saudável, para o corpo e para o espírito”.
Quanto aos seguros, regem, em princípio, as regras jurídicas sôbre o seguro social, e só em caso de lez apecialis se
tratam diferentemente os trabalhadores aprendizes (cf. FRÃNCESGO CARNELUTTI, Infortuni sul lavara, 1, 91
s.; GIOvANNI BALELLA e GIUSEPPE NERVI, L‟Assicurazione contra gil iv] ar-(uni sul lavoro e li‟ malatie
professionati, 136 s.).

§ 5090. Extinção do contrato de aprendizagem

1.CAUSAS COMUNS AOS CONTRATOS DE TRABALHO.


O contrato de aprendizagem é a tempo determinado, ou extinguível ao ser atingido ou esgotado o último dia do
tempo de duração da aprendizagem. De certo modo, o têrmo de duração da aprendizagem funciona como
determinador do tempo dos contratos de aprendizagem que não tenham tempo determinado. Se, expirado o
tempo, o empregador mantém no serviço a pessoa que era aprendiz, enquadra-se ela como empregado normal.
O distrato, a denúncia cheia e a morte do aprendiz extinguem o contrato de aprendizagem. A morte do
empregador somente atinge o contrato de aprendizagem se extinguiria, in casu, o contrato se fôsse contrato
normal de trabalho, ou se há elemento personalíssimo para o ensino.

2.ATESTADO DE APRENDIZAGEM. Ao terminar o período de aprendizagem, se o aprendiz não pertence à


classe dos trabalhadores que precisam de aprendizagem oficial ou diploma profissional (prova de habilitação
profissional, Decreto-lei n. 5.452, art. 18, § 1.0), tem no atestado do estabelecimento o que é necessário à sua
carteira profissional. É o atestado de aprendizagem. De qualquer modo êsse atestado é útil e há de ser feita a
anotação na carteira profissional. Todavia, se, para a empresa, a presença de aprendizes é excepcional, a carteira
não precisa ter tal anotação.
Em princípio, expirado o prazo de aprendizagem, cessam as relações jurídicas entre aprendiz e empregador.
Havia o contrato de aprendizagem, e não o há mais. Não temos, 110 direito brasileiro, a regra jurídica segundo a
qual o aprendiv, se completou o tempo de aprendizagem e não houve denúncia cheia, ou aviso prévio sôbre a
cessação de qualquer eficácia posterior, tem de ser pôsto no quadro de empregados da empresa com a
qualificação a que correspondeu a aprendizagem. De iure condendo, é recomendável tal regra jurídica, e convém
que os contratos coletivos, normativos ou, não, dela cogitem. Os contratos individuais de aprendizagem e os
coletivos podem estabelecer: a) que o aprendiz ingresse, conforme a prova de idoneidade; b) que se tenha como
ingressado o aprendiz que, se não houve aviso prévio de não-enquadramento, quis continuar no serviço, com
caráter normal; c) que se tenha como enquadrado o aprendiz que declarou querer permanecer.
Se há permanência, o tempo de aprendizagem reputa-se inserível no tempo de antiguidade.
Nos contratos normativos, as normas têm eficácia para os filhos e outros dependentes dos empregados
sindicalizados, ou que tomaram parte no contrato, e para os terceiros, como normas de proteção geral, a que se
vinculam os empregadores perante o público, sempre que o conteúdo de tais normas éprotectivo dos menores de
dezoito anos e maiores de quatorze.

Parte III. Contrato individual de trabalho

CONCEITO E NATUREZA DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO

.5.091. Conceito de contrato individual de trabalho

1.PRESSUPOSTOS CONCEPTUAIS. Quando se fala de contrato individual de trabalho supóe-se que haja
contrato de trabalho, no sentido estrito da legislação do trabalho, e que o figurante trabalhador seja uma só pessoa.
Isso não obsta a que no mesmo instrumento se possam concluir dois ou mais contratos individuais de trabalho,
uma vez que não haja os requlsitos para se reputar coletivo o contrato de trabalho.
Contrato individual de trabalho é o negócio jurídico em que uma, duas ou mais pessoas físicas se vinculam,
mediante remuneração, a prestar serviço, não eventual, a pessoa física ou jurídica, empresa privada, ou pública,
dependentemente. A definição do contrato de trabalho, seja individual seja coletivo, tem de atender ao art. 89 do
Decreto-lei n. 5.452, de 19 de maio de 1948 (Consolidação das Leis do Trabalho), para que se faça a distinção
entre contrato de trabalho e contrato de locação de serviços senso estrito.

2.PRESTAÇÃO DE TRABALHO. O contrato de trabalho é de prestação facio ut des, para o trabalhador, e do ut


fadas> para o empregador. Não se há de considerar prestação de contrato de trabalho, no sentido da legislação
trabalhista, a prestação que resulta de dever legal de trabalhar, como se há trabalho forçado para presos, ou se o
prestador prometeu trabalhar para fim social. Absurdo seria considerar-se de natureza associativa o contrato de
trabalho: de regra, não depende do lucro a retribuição; mesmo se parte dela fôsse incerta e dependente, não se
afastaria a retribuição certa. Temos de afastar as opiniões, por exemplo, de PAUL PÍC (Traité 645-mentaire de
LégiÉlation industrielie, 601), E. CHATELAIN <De la Nature du Contrat entre ouvi-ler et entrepreneur, 1 s.) e
Huco SINZIIEIMER (Grundzúge des Arbeitsrechts, 207). Certos, e. g.: VINCENZO SINAGRA (Dirilto dei
Lavoro, 194); ANORFA TORRENTE (II Contraito di lavoro neila navigazione, 117); MANFREDI SÂvINo <11
Lavoro nei rapporti associativi, ti. BORSI e E. PERGOLESI, Trattato di Dirilto dei Lavoro, 1, 309). Mesmo se há
observância de lei ou de estatutos ou de contrato de participação nos lucros, o contrato de trabalho não se
desnatura, salvo se não há retribuição fora dos lucros, porque, se tal ocorresse, o contrato seria de sociedade (cf.
DAvíso, Corso di Diritto del Lavoro, 66; e DOMENICO NAPOLETANO, 11 Lavoro subordinato, 176 s.), ou
parceria, ou outra figura.
Ocontrato de trabalho supôe confiança, as cláusulas são intitu personae. Por isso mesmo, nenhuma pessoa
jurídica pode ser figurante, como trabalhador, de contrato de trabalho. Não se confunde com o contrato de obra
(tocatio operis) ou de empreitada; portanto, quer a obra seja individualmente prestada, quer o seja por empresa
que tenha os seus trabalhadores (cf. MÁRIO COMBÁ e RENÁTO CORRADO, Ii Rapporto di lavoro nel Diritto
privato e pubbllco, ~, 8Y ed., 92 s.).

3. ORIGENS. Sabe-se pouco sêbre os contratos de trabalho na antiguidade clássica, mas êsse pouco, que se sabe,
mostra que a estrutura cedo se caracterizou, pôsto que muito variassem, de povo a povo, as retribuições. Por outro
lado, havia o trabalho do escravo, o que fazia raro o contrato de trabalho. Na Idade Média, os regulamentos
estatutários apenas marcaram as circunstâncias histéricas, com as corporações e a própria união dos recebedores
de trabalho e dos trabalhadores contra o Estado e contra o consumidor. A Revolução Francesa mais se preocupou
com destruir e proibir as corporações, de que resultou a ascens& do princípio individualístico do auto-regramento
da vontade.
Depois da Primeira Guerra Mundial, o problema do trabalhador passou a ser preocupação insistente e profunda de
tratados interestatais e de Constituições.
Hoje, conforme já mostramos, há princípios constitucionais concernentes ao trabalho, inclusive no tocante às
convenções coletivas de trabalho (Constituição de 1946, arts. 157, XIII, e 159).
No Brasil, a despeito do colorido totalitário de 1980-1934 e 1937-1946, não se chegou ao corporativismo italiano.
Salvo adesão de não sindicados, o contrato coletivo, com ou sem acôrdo normativo, só apanha os membros do
sindicato figurante. Também assim, no direito italiano de hoje (cf. MARIANO PIERRO, Corso di Diritto dei
Lavoro, II, 173 5.; ANTONIO NAVARRA, Corso di Dirilto dei Lavoro, 160 ,s.).

§ 5.092. Natureza do contrato individual de trabalho

1.BILATERALIDADE. Como quaisquer contratos de trabalho, o contrato individual de trabalho é consensual,


bilateral, e um dos figurantes promete prestar o trabalho e o outro retribuir. No que pelo contrato individual de
trabalho os figurantes prometem, o contrato é de prestação duradoura, &entro de horários e períodos. No sentido
estrito em que aqui tem de ser considerado, o contrato individual de trabalho supõe dependénela do trabalhador,
pêsto que nem todo contrato de serviço dependente se possa incluir nos contratos individuais de trabalho, tais
como aqui têm de ser tratados.
Ocontrato de trabalho é comutativo.

2.ESPÉCIES. Se não nos atemos ao conceito de eongrato de trabalho que resulta dos arts. 39, 79, 442 e 611, do
Decreto-lei n. !452, de 1.0 de maio de 1948, o conceito de contrato de trabalho abrange os contratos de trabalho,
o contrato de trabalho doméstico e o dos trabalhadores rurais. Sôniente ficariam fora as relações jurídicas entre as
entidades estatais, as autarquias, ou as entidades paraestatais, e as pessoas que se hão de reputar funcionários
públicos, ou servidores extranuinerários, em serviço nas próprias repartições, e as pessoas que, nas autarquias e
entidades paraestatais, estão sujeitas a regime protectivo próprio, que lhes assegure situação análoga à dos
funcionários públicos.
Nesta Parte III, temos de tratar do contrato normal de trabalho, do contrato de trabalho a domicílio, dos contratos
de trabalho dos bancários, dos contratos de empregados de telefonia, telegrafia, radiotelegrafia e radiotelefonia,
músicos profissionais, ferroviários, embarcadiços, estivadores, empregados em frigoríficos, prestadores de
serviços de capatazias nos portos, jornalistas, professôres e químicos.
Tem-se de repelir a doutrina que exagera a extensão do regime publicístico do contrato de trabalho e tende a
considerar de direito público regras jurídicas que o Estado edicta em proteção do trabalhador ou no propósito de
evitar lutas de classe. A fortiori, as teorias que chegaram ao ponto de considerar as manifestações de vontade dos
figurantes como simples fatos de trabalho. Trata-se de contrato, por mais longe que tenha ido a política legislativa
interventiva. As relações jurídicas são contratuais, por menor que possa ser a margem de auto-regramento da
vontade. Não se pode dizer, sequer, que basta o ato (ou fato) de trabalhar, porque o ato (ou fato) supõe o acôrdo,
ainda se, da parte do empregador, houve ato de tolerância, porque quem tolera traz, leva, sustenta, e o que se
suportou apenas foi uma das causas do querer. As manifestações tácitas de vontade exercem grande papel nos
contratos de trabalho.
Por certo, na legislação do trabalho há muitas regras jurídicas cogentes e cresce, cada dia, o número delas. Porém
isso, mesmo se algumas ou muitas dessas regras são de direito público, não basta para publicizar o contrato de
trabalho. Não só o contrato de trabalho tem grande parte do seu conteúdo pré-determinada pelo direito cogente ou
dispositivo privado e pelo direito cogente ou dispositivo público. Apenas se limita a autonomia da vontade, em
proteção aos figurantes, principalmente ao trabalhador.

CAPITULO II
PRESSUPOSTOS DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO

§ 5.093. Precisões

1. TEXTOS LEGAIS. No ad. 442 do Decreto-lei n. 5.452 (Consolidação das Leis do Trabalho), diz-se que “o
contrato individual de trabalho é o acôrdo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprêgo”.
Primeiramente, frise-se que a relação de emprêgo é que resulta do contrato de trabalho, e não êsse daquela.
Relação jurídica é efeito, e não causa.
Insiste o ad. 443 do Decreto-lei n. 5.452: “O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou
expressa-mente, verbalmente ou por escrito e por prazo determinado ou indeterminado”. Acrescenta o parágrafo
único: “Considera-se como de prazo determinado o contrato de trabalho cuja vigência dependa de têrmo
prefixado ou ainda, da realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproximada”.

2. ESPÉCIES DE TRABALHO. O contrato de trabalho manual e o intelectual são as espécies normais do


contrato de trabalho. O trabalho pedal ou com os pés já é raro, mas ainda existe. Quase sempre há, no trabalho
manual ou pedal, o elemento de inteligência; apenas não supera o elemento físico. Pode ser mínimo se a
mecanicidade dos aparelhos não exige reflexão, nem mudança de atos conforme as circunstâncias. De qualquer
modo, o que distingue as espécies é a preponderância. O art. 157, parágrafo único, da Constituição de 1946, veda
o tratamento desigual; mas tal vedação não vai ao ponto de apagar as categorias de trabalhadores.

Os trabalhadores subordinados podem ser dirigentes administrativos, técnicos, empregados e operários. A


classificação pode resultar de dados preexistentes de aptidão profissional ou de convenção especial. Quem
contrata o trabalho do médico, para o serviço de socorro da empresa, também convencionou sébre a categoria,
mesmo porque poderia ter contratado pessoa, que sabe ser médico, somente para correção de provas, ou para
tipógrafo. Daí ser de afastar-se a distinção entre qualificação objetiva e qualificação convencional, que fazem
alguns juristas (e. g., Luíci DE LITALÁ, II Contratto di lavoro, 5a ed., 69). Desde que se deu a qualificação, não
pode ser mudada unilateralmente. Salvo se melhora a situação do trabalhador, tem de ser expressa a manifestação
de vontade do trabalhador.
A mudança é permitida se ocorrem três pressupostos:
a)se não importa desqualificação prejudicial ao trabalhador; se a retribuição é a mesma, ou maior; o) se há razão
para a empresa determinar a transferência. Passa-se o mesmo se a mudança é de lugar em que se havia de prestar
o trabalho.
Se a categoria é em grau de profissão e há, para quem suba de grau, melhora, ou em tempo para o trabalho, ou em
retribuição, ou em ambos, ou por ser superior o trabalho, há a promoção .
O rebaixarnento, em virtude de se haver manifestado, em sua atividade laborativa, o trabalhador, somente é
admissível ~e foi previsto, inclusive como pena disciplinar, ou se, a juízo da justiça, se pode considerar êrro
inculpável da empresa, 01.1 dolo do trabalhador.
Os contratos podem ser concluídos sob a condição de prova, ou com a indicação das qualificações, numa das
«iuns, após algum tempo, tem de ser pósto o trabalhador.

3.CATEGORIAS E GRAUS. Os dirigentes administrativos, diretores ou técnicos, compõem categoria à parte,


distinta da categoria dos empre gados em sentido estrito. Em sentido largo e próprio, também êles são
empregados. Não basta que o cru-pregado, senso largo, tenha atividade autônoma em relação ao empregador,
para que se considere dirigente administrativo eu técnico, nem que tenha consigo atividade que exige
competência técnica. É preciso que dirija, que outros empregados fiquem sob a sua direção ou vigilância. A sua
figura há de ser intercalar entre o empregador e os empregados senso estrito. A sua atuação faz as vêzes, mesmo
se só parcialmente, da atuação do empregador. Daí depender êle menos do que os outros empregados. O dirigente
administrativo coordena; dentro das instruções e diretrizes gerais, dá instruções e traça diretrizes; cabe-lhe poder
disciplinar e responsabilidade dos atos seus e dos outros. Pode ocorrer que o empregador dirija sozinho a
empresa, por ser pequena, ou pela especialidade de produção em que é perito. Então, só há o empregador e os
empregados senso estrito.
Empregado, como é, o dirigente administrativo, o técnico, conclui contrato de trabalho como os outros
empregados. Nâo há contrato especial para êle, pôsto que possam ser inseridas cláusulas diferentes, como a
respeito do horário e da duração do serviço.
O empregado, senso estrito, é aquêle que trabalha, subordinadamente, tendo, entre êle e o empregador, o dirigente
administrativo. O emprêgo da expressão, com essa restrição, sê-mente se justifica se há pessoa que, entre o
empregado e o empregador, dê instrucões e diretrizes.

4.TRABALHO E PERMANÊNCIA. O contrato de trabalho pode ser de prestação continuativa, ou não. Em tal
espécie, apesar da efetividade, o trabalhador não tem direito a exigir que seja mantido no serviço. Apenas, se há
denúncia vazia, ou resilição por inadimplemento por parte do empregador, cabe a indenização. Diferente é o que
se passa com os trabaibudores adventícios ou transitários, que são admitidos durante momentos de mais intensa
atividade da empresa, como ocorre com as safras nas empresas agrícolas. Tais trabalhadores se desligam com a
cessação da necessidade da empresa agrícola, ou industrial, ou mesmo comercial, e podem ser novamente
chamados ou aceitos quando volta a haver a maior exigência de pessoal. A adventiciedade não supõe, sempre, a
periodicidade do agravamento da procura de trabalhadores. Pode advir de saída de empregados efetivos, para
serviço militar, ou por doença, ou em férias. Apesar de serem transitários os trabalhadores adventícios, têm êles o
direito a tratamento igual.

A adventiciedade pode ser vinculativa, como se a empresa promete receber o trabalho no período seguinte, ou
quando as causas de admissão se repetirem. Se não há essa vinculação, diz-se trabalhador ocasional, uma vez
que é momentânea a exigência de trabalho.
Nem o trabalhador adventício nem o ocasional se confundem com o trabalhador jornaleiro, que somente trabalha
por dia e cada dia, sem que o empregador se vincule a receber trabalho continuativo.
O trabalhador estagiário é o que presta o trabalho durante determinado período, ou determinados períodos do
ano, a despeito da vinculação permanente do empregador. É livre, nos intervalos, mas tem direito a prestar o
trabalho nos momentos próprios e a receber remuneração.

5.VÍNCULOS CONTRATUAIS DE TRABALHO. [lá regras jurídicas que protegem o trabalho e, pois, podem
limitar o auto-regramento da vontade, vinculações oriundas de contratGs coletivos de trabalho e decisões de
autoridades, judiciárias ou não, que tenham de ser respeitadas quando se pensa em concluir contrato individual de
trabalho. Dai dizer o Decreto-lei n. 5.452 (Consolidação das Leis do Trabalho), art. 444: “As relações contratuais
de trabalho” entenda-se: as vinculações contratuais individuais de trabalho “podem ser objeto de livre
estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos
contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes”.
As empresas têm regularneul os, que os empregados devem observar. Para que isso se dê, é preciso que se possa
considerar conteúdo do contrato de trabalho o que foi dito no regulamento. De modo nenhum se pode pensar em
algo de semelhante à lei. O que a empresa estabelece, no tocante àorganização interna e à disciplina do trabalho,
é manifestação de vontade unilateral, uma vez que, ex hypothesi, não houve, antes, contrato normativo. Quando
se conclui o contrato de trabalho, ou houve aceitação explícita de tais cláusulas, ou se hão de considerar
impilcitamente aceitas, uma vez que teve o empregado conhecimento dos ditames regulamentares. Assim,
quando o empregador oferece ou aceita o contrato de trabalho.
5.094. FIGURANTES DO CONTRATO481

entende-se que na sua oferta houve a cláusula de respeito ao regulamento, ou aos regulamentos, ou que a
aceitação supôs que a oferta do trabalhador a contivesse, ou incluiu, como contra-oferta, a cláusula que faltava à
oferta do trabalhador.
Cumpre, porém, distinguir-se das regulações de ordem jurídica as de ordem técnica, que são mudáveis, pôsto que,
no redigi-las, possa o empregador afastar-se do que técnicamente se teria de assentar. Então, o trabalhador pode
alegar e provar que a imposição unilateral é descabida e não se mantém na dimensão da comunicação de
conhecimento e de sugestões técnicas. Com essa deturpação, pode o empregador ofender direitos do trabalhador,
a ponto de importar inadimplemento do contrato de trabalho ou adimplemento ruim.

§ 5.094. Figurantes
1
1.TRABALHADOR E PRESTAçÂO DE TRABALHO. A mesma pessoa, que trabalha, pode ser figurante do
contrato de trabalho, e prestar serviços sem dependência, ou com dependência, ou mesmo ter mais de um contrato
de trabalho com o mesmo recebedor de trabalho. O que importa é que o contrato de trabalho seja com os
pressupostos legais, inclusive que se respeitem as regras jurídicas ou negociais sôbre duração do serviço e
horários. Por aí se vê que os pressupostos necessários não são, em principio, incompatíveis com a pluralidade de
contratos. Todavia, há trabalhos incompatíveis, mesmo se não há cláusula explícita, como se o trabalho dá ao
trabalhador conhecimento de segredos técnicos e seria prejudicial trabalhar a pessoa em empresas concorrentes.
O figurante trabalhador promete o trabalho.
Se alguma cooperativa assume o dever de prestação de trabalho, nem por isso se faz prestador de trabalho. Ou há
locação de serviços de outrem, ou empreitada; não contrato de trabalho.
Nada obsta a que o promitente do trabalho se faça representar por alguém na conclusão do contrato‟ de trabalho.
Não há contrato válido de trabalho se o prestador é menor de quatorze anos.
O trabalhador é o prestador do trabalho. Porém não ésem inconveniente a expressão porque há trabalhadores sem
o contrato de trabalho, a que se refere a legislação especial. Aliás, propôs-se o emprêgo das expressões “devedor
de trabalho” e “credor de trabalho” (Lonovíco BARASSI, Ii Contratto di Uzvoro, 1, 17-19), mas, assim, se
nomeariam os figurantes, não como figurantes, e sim como vinculados. As expressões “prestador de trabalho” e
“dador de trabalho” foram preferidas por alguns juristas (e. g., VIESTI, Diritto dei Lavara, 1, 87) ; contudo, a
expressão “dador de trabalho” é equivoca. O empregador dá ocasião a que o trabalhador dê ou prometa dar o
trabalho, não dá trabalho. Na linguagem vulgar, diz-se que A dá trabalho a B, mas há elipse: o que A dá é o ensejo
para que E trabalhe. O empregador é tomador de trabalho, quase sempre quem o recebe; não é dador.
O empregado tem a sua categoria, com o seu trabalho adequado, ou, pelo menos, o trabalho que é predominante
dentre aquêles que, dentro da categoria, lhe podem ser exigidos. O trabalho que se considera mais relevante é o
que há de dar a categoria.
Em princípio, não pode haver pluralidade de contratos de trabalho entre o empregado e duas ou mais empresas.
Os juristas que não admitem exceção entendem que o contrato de trabalho esgota tôda a atividade profissional e
não se poderia admitir que A fôsse empregado de B e empregado de O (e. g., DOMENIGO R. PERETTI GlUvA,
Ii Rapporto d‟impiego privato, 129; Lmcí DE LITALA, Ii Contratio di lavoro, ga ed., 114 s., diferente na 5.~
ed., 110). Não há óbice absoluto a que o empregado o seja de duas ou mais empresas. O que é preciso, para que tal
se dê, é que sejam conciliáveis os horários, que o adimplemento de deveres com uma empresa possa permitir o
adimplemento de deveres com a outra, ou as outras, e que não haja inconveniência em que o empregado sirva a
duas ou mais empresas. Cf. PAoLO GREco (II Contratto di lavara, 116).
O empregado pode ter função de direção ou gerência, de procura, de representação, de agente-viajante, de
fiscaliza ~o.
Tem-se chamado “operário”, em sentido estrito, o trabalhador manual ou pedal. 1-lá o operário especializado e o
operário qualificada. Aquêle faz algo para que é preciso ter-se preparação técnica e aptidão para o cargo. Êsse é
o que, mesmo se não tem aquela preparação técnica, revelou experiência
específica suficiente. Algumas empresas criam a categoria dos empregados equiparados.
Levanta-se a questão de se saber se pode haver contrato de trabalho entre cônjuges, ou entre pessoas que vivam
more uxomo. Nenhuma objeção se há de fazer à constituição de contrato de trabalho entre parentes, mesmo entre
pai e mãe e filho ou filha, ou entre cônjuges. O que importa é que a prestação seja feita ou tenha de ser feita em
virtude de contrato em que uma pessoa preste o trabalho e a outra a retribuição, e não aflectionis vel benevolentiae
causa. Não se pode presumir, sequer, que entre pai ou mãe e filho a prestação de trabalho seja gratuita. Se quem
trabalha em tais situações alega que as despesas de casa e víveres são comuns, com isso apenas se alega a affectio
e se apontam indicios e circunstânvias que compõem ou podem compor provas. Não importa a idade do filho,
desde que possa trabalhar, isto é, seja maior de quatorze anos.
Oque os menores ganham não pode ser retirado pelos pais, tutôres ou curadores.
Se a mulher trabalha na empresa do marido, de que não é comuneira, nem sócia, tem direito a retribuição, porque,
salvo pacto em contrário, não se pode presumir a gratuidade da prestação de trabalho. Dá-se o mesmo quanto ao
marido que trabalha na empresa da mulher.
No tocante a trabalho prestado por alguém que vive, como se casado fôsse, com outrem, aquêles juristas que aí
admitem ou sustentam, rigorosamente, que não há o animus contrahendi, <iaem em contradição com a solução
dada ao trabalho entre casados. Não se pode tratar o concubinato como se o vínculo fôsse mais estreito e mais
profundo do que o do casamento. O problema é o mesmo; e a mesma há de ser a solução.

2.MENORES E ADULTOS CURATELAL?>OS. Lê-se no ad. 446 do Decretolei n. 5.452 (Consolidação das
Leis do Trabalho)
“Presume-se autorizado o trabalho da mulher casada e do menor de 21 anos e maior de 18. Em caso de oposição
conjugal ou paterna, poderá a mulher ou menor recorrer ao suprimento da autoridade judiciária competente”. O
art. 446 apenas estabelece presunção inris tantum. Se o titular do pátrio poder ou o tutor ou curador se opôs antes
da conclusão do contrato de trabalho a que o menor se vinculasse, o contrato é anulável, pois a presunção foi
pré-eliminada. Se, a despeito disso, o menor quer concluí-lo, tem de pedir suplemento de idade, ou suprimento de
assentimento do pai, tutor ou curador. Se não houve oposição prévia, como se o pai, tutor ou curador ignorava o
contrato do menor com a empresa, mas há inconveniência, conforme o art. 446, parágrafo único,
denunciabitidade e o pedido é pedido de desconstitwicâo “ex num?‟, e não de “rescisão”, confusão terminológica
lamentável. A retroeficâcia da denúncia não pode atingir o tempo em que os serviços foram prestados, de modo
que os efeitos sentenciais só seriam ex tune se ainda não se prestaram serviços.
Cumpre atender-se a que o art. 156 do Código Civil pode ser invocado.
No tocante à mulher casada, a autorizacão marital não mais é exigida para o exercício de profissão, porque foi
derrogado, nesse ponto, como em outros, o art. 242 do Código Civil. Em conseqúência, o art. 446, no que se
referia à mulher, não mais tem razão de ser: foi derrogado.
No Código Civil, art. 6.0, 1, são apontados como relativamente incapazes os menores de vinte anos e maiores de
dezesseis, se ainda não lhes foi suplementada a idade, ou se não se casaram. No art. 17 do Decreto-lei n. 5.452,
alude-se a menores que não tenham de ter carteira própria, e às declarações que hão de prestar os titulares do
pátrio poder ou os tutôres (ou curadores). Têm de ter carteira própria todos os menores de vinte e um anos e
maiores de dezoito. Os. menores de dezoito e maiores de quatorze também precisam de carteira, salvo se não
trabalhar para empregador que não é empresa de fim econômico ou que lhe fôr equiparada (ad. 415). Assim, é
exigida a carteira de trabalho do menor de dezoito anos sempre que êle vai trabalhar para qualquer empresa de
fins econômicos.
Oassentimento do pai, mãe, ou responsável legal é exigido se o prestador do trabalho é menor de dezoito anos
(Decreto-lei n. 5.452, art. 417, b). Se já tem dezoito anos ou mais, pode concluir o contrato de trabalho sem
assentimento do titular do pátrio poder, tutor ou curador (cf. art. 16).

Os menores de vinte e um anos e maiores de dezoito são capazes, quer no direito material quer no direito
processual do trabalho. Para isso, a lei o considerou adulto, e isso desde o Decreto n. 22.042, de 3 de novembro de
1932, art. 40 Passa-se o mesmo na legislação eleitoral (Constituição de 1946~. art. 131) e na legislação militar.
No ad. 446, parágrafo único,. do Decreto-lei n. 5.452, permite-se ao pai, mãe, tutor ou curador pleitear a
desconstituição do contrato de trabalho., “se há prejuízo de ordem física ou moral para o menor”. Se, antes do
contrato, o pai, mãe, tutor ou curador se manifesta contra a vinculação, pode o menor pedir o suplemento. Como
se vê, o Decreto-lei n. 5.452 baralhou conceitos e desatendeu ao art. 4? do Decreto n. 22.042.
O contrato de trabalho do menor de quatorze anos é nulo. O contrato de trabalho do maior de quatorze anos e
menor de dezoito não depende de assentimento do titular do pátrio poder, do tutor ou do curador. Não há sanção
de nulidade, nem de anukxbilidacle se faltou o assentimento ou o suprimento para o contrato de trabalho. <De
passagem frisemos que a parte final do art. 157, IX, da Constituição de 1946, verUs “respeitadas, em qualquer
caso, as condições estabelecidas em lei e as exceções admitidas pelo juiz competente”, só se refere ao “trabalho
noturno de menores de dezoito anos”. Há ponto-e-vírgula após a 1a parte e após a 2~a parte.) O Decreto-lei n.
5.452 permitiu a oposicão prévia, para fazer anulável a despeito da capacidade do menor o contrato de trabalho.
No art. 446, parágrafo único, do Decreto-lei n. 5.452, foi dito: “Ao marido ou pai é facultado pleitear a rescisão
(?) do contrato de trabalho quando a sua continuação fôr suscetível de acarretar ameaça aos vínculos da família,
perigo manifesto. às condições peculiares da mulher ou prejuízo de ordem física. ou moral para o menor”. O ad.
446, parágrafo único, só tem. interesse, hoje, no que concerne ao menor; mas limita a denuncíabilidade do
contrato de trabalho, em cuja conclusão, pai,. tutor ou curador não assentiu: a desconstituição só é decretável se,
além da falta do assentimento, o pai, tutor ou curador pode alegar e provar que do adimplemento do contrato pode
resultar “prejuízo de ordem física ou moral para o menor” ou curatelado.

O que acima dissemos sôbre menores também é invocável ~i respeito de adultos que estejam sob curatela.
Quanto aos menores de dezoito anos e maiores de quatorze, estabelece o Decreto-lei n. 5.452, art. 402: “O
trabalho do menor de 18 anos reger-se-á pelas disposições do presente capítulo, exceto no serviço em oficinas em
que trabalhem exclusivamente pessoas da família do menor e esteja êste sob a direção do pai, mãe ou tutor”.
Acrescenta o parágrafo único:
“Nas atividades rurais, as referidas disposições serão aplicadas naquilo em que couberem e de acôrdo com a
regulamentação especial que fôr expedida, com exceção das atividades que, pelo modo ou técnica de execução,
tenham caráter industrial ou comercial, às quais são aplicáveis desde logo”. O‟ menor pode trabalhar sem se ter de
observar a legislação especial se a empresa, em que trabalha, só tem como empregados pessoas da família do
menor e a direção é do pai, da mãe ou do tutor. Fora daí, há o contrato de trabalho disciplinado pelo Decreto-lei n.
5.452.
Na Consultoria Jurídica do Ministério do Trabalho foi dado parecer no sentido de continuar incapaz, ou sujeita às
limitações que a legislação do trabalho faz em razão de idade, a mulher, menor, porém de mais de dezesseis anos,
que se casa. Tal solução é absurda. Para que tal ocorresse seria preciso que o Código Civil não fôsse, como é, lêi
subsidiária, em caso de lacuna da legislação do trabalho, e se afastasse a cessação da incapacidade. Não há tal
regra jurídica e há a da subsidiariedade do Código Civil. O despacho do Ministro do Trabalho (1?. do T., janeiro
de 1943, 18 e 157) foi contra a lei. Com razão, MOzART VICTOR RUSSOMANO (Comentários à
Consolidação das Leis do Trabalho, 1, 521).
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 403: “Ao menor de 14 anos é proIbido o trabalho”. Acrescenta o parágrafo
único:
“Não se incluem nesta proIbição os alunos ou internados nas instituições que ministrem exclusivamente ensino
profissional e nas de caráter beneficente ou disciplinar submetidas à fiscalização oficial”. O parágrafo único foi
ab-rogado pela Constituição de 1946, art. 157, IX, lA parte, que nenhuma exceção fêz à regra jurídica de
proibição.
Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 404: “Ao menor de 18 anos é vedado o trabalho noturno, considerado êste o que
fôr executado no período compreendido entre as 22 e as 5 horas”. Na Constituição de 1946, o ari. 157, IX, 3a
parte, estabelece que é proIbido “o trabalho noturno a menores de dezoito anos, respeitadas, em qualquer caw, as
condições estabelecidas em lei e as exceções admitidas pelo juiz competente”.
Acrescenta o Decreto-lei n. 5.452, art. 405: “Ao menor de 18 anos não será permitido o trabalho: a) nos locais e
serviços perigosos ou insalubres, constantes de quadro para êste fim aprovado; b) em locais ou serviços
prejudiciais à sua moralidade”. Acrescenta o § 1.0: “Considerar-se-á prejudicial àmoralidade do menor o
trabalho: a) prestado, de qualquer modú, em teatros de revistas, cinemas, cassinos, cabarés, daneings,
cafés-concêrto e estabelecimentos análogos; b) em empresas circenses, em funções de acrobata, saltimbanco,
ginasta e outras semelhantes; o) de produção, composição, entrega ou venda de escritos, impressos, cartazes,
desenhos, gravuras, pinturas, emblemas, imagens e quaisquer outros objetos que possam, a juízo da autoridade
competente, ofender aos bons costumes ou à moralidade pública; d) relativo aos objetos referidos na alínea
anterior que possa ser considerado, pela sua natureza, prejudicial à moralidade do menor; e) consistente na venda,
a varejo, de bebidas alcoólicas”. E o § 2.0: “O trabalho exercido nas ruas, praças e outros logradouros dependerá
de prévia autorização do juiz de menores, ao qual cabe verificar se a ocupação do menor é indispensável à própria
subsistência ou à de seus pais, avós ou irmãos e se dessa ocupação não poderá advir prejuízo à moralidade do
menor”. E o § 3.0: “Nas localidades em que existirem, oficialmente reconhecidas, instituições destinadas ao
amparo dos menores jornaleiros, só aos menores que se encontrem sob o patrocínio dessas entidades será
outorgada a autorização de trabalho a que alude o parágrafo anterior”.
No Decreto-lei n. 5.452, art. 406, ainda se diz: “O juiz de menores poderá autorizar ao menor de 18 anos o
trabalho a que se referem as alíneas a) e b) do § 12 do artigo autenor: a) desde que a representação tenha fim
educativo ou a peça, ato ou cena, de que participe, não possa ofender o seu pudor ou a sua moralidade; b) desde
que se certifique ser a ocupação do menor indispensável à própria subsistência ou à de seus pais, avós ou irmãos
e não advir nenhum prejuízo ~ moralidade do menor
Estatui o Decreto-lei n. 5.452, art. 407: “Verificado pela autoridade competente que o trabalho executado pelo
menor é prejudicial à sua saúde, ao seu desenvolvimento físico ou à sua moralidade, poderá ela obrigá-lo a
abandonar o serviço, devendo o respectivo empregador, quando fôr o caso, proporcionar ao menor tôdas as
facilidades para mudar de funções”. A regra jurídica do art. 407 é sôbre competência. Nada se diz quanto à
legitimação processual ativa. Têm-na assim o Ministério Público da Justiça do Trabalho como o pai, mãe, tutor ou
curador, ou o órgão do Ministério Público estadual, territorial ou do Distrito Federal a que incumbiria a
competência para propor ação a favor do menor, por ter havido omissão dos representantes legais, ou dos
assistentes, ou por faltarem.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 408: “Aos pais, tutôres ou responsáveis, é facultado pleitear a extinção do
contrato de trabalho de menor de 21 anos, desde que o serviço possa acarretar, para os seus representados,
prejuízos de ordem física ou moral”. O pai ou a mãe, o tutor ou o curador pode pedir a decretação de
desconstituição do contrato, por haver nocividade física ou moral. Não há nulidade; nem resilibilidade. Não é a
falta de assentimento, que se alega; é o ser nocivo o trabalho. Por isso, a causa do perigo pode ser posterior
àconclusão do‟ contrato, o que não seria de admitir-se se de invalidade se tratasse. A figura é a da denúncia cheia.
A propósito do repouso no lugar do trabalho, estabelece o Decreto-lei n. 5.452, art. 409: “Para maior segurança do
trabalho e garantia da saúde dos menores, a autoridade fiscalizadora poderá proibir-lhes o gôzo dos períodos de
repouso nos locais de trabalho”. Não só a autoridade fiscalizadora. Os pais, mães, tutôres, curadores e órgãos do
Ministério Público podem suscitar a decisão da Justiça do Trabalho. Se o empregador ou alguma das pessoas a
que acima aludimos entende que a atitude da autoridade fiscalizadora é sem razão de ser, o caso pode ser levado à
Justiça do Trabalho.
Dizia o Decreto-lei n. 5.452, art. 410: “O Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio poderá derrogar qualquer
proibição decorrente do quadro a que se refere a alínea a) do art. 405 quando se verificar haver desaparecido,
parcial ou totalmente, o caráter perigoso ou insalubre, que determinol a proibição”. A aplicação do art. 410
ofenderia, hoje, a Constituição de 1946, art. 157, IX, 2.~ parte, porque não se admitiu exceção ao princípio.
Tratando-se de menor de dezoito anos e maior de quatorze, discute-se se a função do pai, mãe, tutor ou curador éa
de representação ou a de assistência. No sentido da representação, FRANCESCO SANTORO PASSARELLI
(Nozunti di Dirltto del Lavoro, 104) no sentido da assistência, PAOLO GRECO (Ii Contratto di lavoro, 179). No
direito brasileiro, a solução éa última, por ser preciso que o pai, a mãe ou o responsável legal assista (Decreto-lei
n. 5.452, art. 417, 6), que foi infeliz no emprêgo da expressão “autorização”). A propósito observemos que a
solução da representação com a necessária manifestação de vontade do menor, que defende LUIGI DE LI-TALA
(Ii Contratto di lavoro, 53 ed., 165), contém evidente contradição. Quem representa, manifesta a vontade do
representado. Quem manifesta vontade ao lado de quem manifesta vontade como figurante de contrato, não
representa: assiste. Acrescente-se que pai, mãe, tutor não pode desconstituir o contrato de trabalho contra a
vontade do menor, salvo se há causa de nulidade, ou de desconstituíbilidade ou resilibilidade ou
denunciabilidade, por prejuízo físico, psíquico ou moral para o menor.

3.NACIONALIDADE. A Constituição de 1946, no artigo 157, XI, atribuiu à legislação do trabalho a fixação da
percentagem de empregados brasileiros nos serviços públicos dados em concessão e nos estabelecimentos de
determinados ramos do comércio e da indústria. Com isso, permitido ficou afastar-se o principio de igual
tratamento. Assim, os arts. 352--371do Decreto-lei n. 5.452 permanecem com inteira validade.
ODecreto-lei n. 9.642, de 15 de julho de 1946, só admite, nos trabalhos de estiva e de docas, trabalhadores
brasileiros ou equiparados, salvo em casos excepcionais, com permissão do Ministério. Por sua vez, o Decretolei
n. 9.867, de 18 de setembro de 1946, deu ao art. 147 do Decreto-lei n. 483, de 8 de junho de 1938 (Código
Brasileiro do Ar), a seguinte redação: “Só poderão exercer, profissionaímente, função a bordo de aeronave
nacional, Brasileiros natos que estejam em dia com o serviço militar, ou naturalizados, desde que hajam prestado
serviço militar no Brasil”.
Todos os estrangeiros que querem concluir contrato de trabalho tem de ter a carteira profissional e a carteira
especial de estrangeiro com permanência (Decreto n. 3.oio, de 20 de agôsto de 1988).

4.TRABALHADORES DE SUBEMPREITEIIVJ A empreitada e a subempreitada não são, de modo nenhum,


contrato de trabalho. Pode ocorrer que o empreiteiro, empresa, tenha empregados, ou os tenha o subempreiteiro
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 455: “Nos contratos de subempreitada responderá o subempreiteiro pelas
obrigações derivadas do contrato de trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados o direito de
reclamação contra o empreiteiro principal pelo inadimplemen~0 daquelas obrigações por parte do primeiro”.
Acrescenta o parágrafo único: “Ao empreiteiro principal fica ressalvada, nos têrmos da lei civil, ação regressiva
contra o subempreiteiro e a retenção de importância a êstes devidas, para a garantia das obrigações previstas neste
artigo”. Já tratamos da empreitada e da subempreitada, no Tomo XLIV, §§ 4.844.4851 O empreiteiro vincula-se a
fazer a obra, com independência econômica, e não como simples trabalhador subordinado Ou a obtém somente
com o trabalho, ou com êle e os materiais (Código Civil, art. 1.237). Prometeu o resultado. Passa-se o mesmo
com o subempreiteiro Quase sempre êles é que têm trabalhadores Donde: empreiteiro subempreiteira operanos
ou trabalhadores
O Direito do Trabalho não tem de expor as regras jurídicas concernentes ao contrato de empreitada. Apenas,
parece aconselhável regular o que se passa entre empreiteiro, subempreiteí~0 e trabalhadores (se os há, na
espécie). É freqUente não ser o subempreiteiro mais do que interposta pessoa, alguém que se põe entre o
empreiteim e os trabalhadores. Entao, porem nem sempre, não trabalha: vinculase à obtenção da obra e para isso
contrata. trabalhadores; ganha a diferença entre o que lhe promete o empreiteiro e o que promete aos
trabalhadores o problema que surgiu foi o da falta de segurança para os trabalhadores, por serem poucos os
recursos do subempreiteiro. Cf. HmosÊ PIMPÃO (Das Relações de Emprêgo no Direito de Trabalho, 98 s.).
No art. 455 do Decreto-lei n. 5.452 alude-se à relação jurídica entre o subempreiteiro e os trabalhadores (relação
jurídica que pode não existir, por trabalhar só o subempreiteiro), e faz-se responsável, regressivamente, o
empreiteiro, por inadimplemento de qualquer dever por parte do subempreiteiro. De torna viagem, nôvo regresso:
a pretensão do empreiteiro contra o subempreiteiro, por ter adimplido o que ao subempreiteiro cumpria adimplir.
Atribuiu-se ao empreiteiro direito de retençdo das quantias que deva ao subempreiteiro.
De modo nenhum se pôs o contrato de empreitada como contrato de trabalho. Só se considerou a hipótese de ter o
subempreiteiro trabalhadores; portanto, de haver contrato de trabalho ou contratos de trabalho.

5.HABILITAÇÃO. . A habilitação pode resultar de prova, em virtude de contrato de trabalho a contento ou a


prova, ou da incidência do art. 478, § 1.0, do Decreto-lei n. 5.452, regra jurídica que de modo nenhum cogita do
contrato de trabalho a contento ou a prova, ou de exigência legal, por fôrça de alguma lei que caiba no art. 141, §
14, da Constituição de 1946.
Segundo a legislação de serviço militar, nenhum Brasileiro, entre dezessete e quarenta e cinco anos, pode obter
carteira profissional sem que faça prova de estar em dia com os deveres militares (cf. Decreto-lei n. 9.500, de 23
de julho de 1946, arts. 140, e) e 118). Sôbre o assunto, veja-se o Decreto n. 34.380, de 27 de outubro de 1953, art.
1.0.

6.RECEBEDOR DO TRABALHO. O recebedor do trabalho é o outro figurante, o que não afasta a prestação de
trabalho que chamaríamos em curva: o trabalho é prestado a C, porque A é empregado de B e B prometeu o
trabalho de A, ou de A‟ ou A”, a C, ou cliente ou freguês. A duração da eficácia contratual, em virtude da duração
mesma da prestação, e a dependência ou subordinação, dá ensejo a que A seja empregado de E, e não de C,
mesmo se a prestação do trabalho de Á foi prometida para a feitura do que C vai indicar e talvez haja de dar as
instruções mais importantes.

O empregador pode ser pessoa física ou pessoa jurídica, ao passo que o empregado é sempre pessoa física.
A situação que se estabelece quando o trabalhador tem de trabalhar em bem pertencente a terceiro, ou para
terceiro, de modo nenhum retira ao figurante empregador a qualidade de recebedor. Quase sempre, o que se passa
é recebimento do trabalho, fácticamente, pelo terceiro, como resultado e prestação do empregador ao cliente, e,
juridicamente, recebimento pelo empregador. Por isso, não há inconveniente em que se chame ao empregador
recebedor da prestação de trabalho, ou, simplesmente, recebedor do trabalho. A êle é que o trabalhador presta
trabalho, a despeito de se interpor entre êle e o empregador o cliente.
As regras jurídicas sôbre capacidade são as de direito comum. Podem ser empregadores pequenas empresas e
aquêles menores que exercem a atividade de empregador, com ou sem membros da família. A empresa ocasional
pode ser empregador.

§ 5.095. Tempo do contrato individual de trabalho

1.TEMPO DETERMINADO E TEMPO INDETERMINADO.


O contrato de trabalho pode ser com tempo determinado e sem tempo determinado. A técnica legislativa sôbre
contrato de trabalho é hostil à indeterminação do tempo do contrato de trabalho, razão por que, nos arts. 477 e 478
do Decreto-lei n. 5.452, se regulou a denúncia vazia, depois de expirado o primeiro ano de trabalho. Isso não
significa que os figurantes não possam estabelecer a indenizabilidade, mesmo se a denúncia vazia ocorre durante
o primeiro ano de trabalho.
raro ocorrer a denúncia vazia, por parte do empregado. Quase sempre provém do empregador. Os empregadores
têm no art. 478, § 1.0 do Decreto-lei n. 5.452, porta aberta que o hipócrito trabalhismo da ditadura lhes deixou, de
jeito que há tempo demasiado um ano para a chamada “experiência”. O tempo devia ser menor.
O contrato de trabalho é a tempo indeterminado se não resulta da especialidade do trabalho, ou de escrito, a
determinação do tempo. Há tempo determinado sempre que, para o trabalho, seja específico o tempo.
O atc escrito é o de qualquer escrito que provenha do empregador, desde que se possa entender que o trabalhador
manifestou, expressa ou tâcitamente, a vontade de prestar o trabalho. Isso de modo nenhum faz negócio jurídico
unilateral o negócio jurídico do trabalho. Apenas se permite, pela natureza do contrato, que a escrita provenha do
empregador. No art. 479 do Decreto-lei n. 5.452 fala-se de “têrmo estipulado”; bem assim, no art. 480. Não se
edictou regra jurídica especial sôbre prova.
Otêrmo final pode ser ad quem, ou certus au et certas quando, como pode ser certna au, sed incertus quando.
Nem sempre se pode preestabelecer, à conclusão do contrato, quando há de terminar. Então, o térmo depende da
a finalidade da atividade, ou da obtenção de determinado resultado. Por isso, se há temporariedade da atividade
profissional e a qualidade ou a finalidade do trabalho exige tempo mínimo, há tempo determinado.
Se a empresa tem duração limitada, ou foi organizada para tempo restrito, no contrato de trabalho reflete-se êsse
elemento temporal. Assim, se ocorre prorrogação, sem se ter previsto a continuidade do contrato de trabalho, não
há adstrição da empresa ao que concluíra na suposição de acabar a sua atividade.
O tempo determinado não pode ser superior a quatro anos (Decreto-lei n. 5.452, art. 445).
Se o emprêgo foi assumido interinamente, ou provisória-mente, é questão de interpretação a de saber-se se o
contrato foi a tempo indeterminado, ou se o não foi. A provisoriedade, tomo a interinidade, pode ser por tempo
indeterminado, de modo que a determinação depende de exame das circunstâncias ou de algum escrito. Desde
que não se podia prever, àconclusão do contrato, quanto duraria a atividade do interino, ou de quem foi admitido
provisôriamente, ou há têrmo certus ai, sul incertus quando, ou tempo indeterminado.

2.PRAZO DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO. No Decreto-lei n. 5.452 (Consolidação das Leis


do Trabalho), art. 445, diz-se: “O prazo de vigência do contrato de trabalho, quando estipulado ou se dependente
da execução de determinado trabalho ou realização de outro acontecimento, não poderá ser superior a quatro
anos”. Antes, o Código Civil, art. 1.220.

A ratio legis está em que se reputa perigosa para o trabalhador a vinculação por mais de quatro anos, se o contrato
écontrato de trabalho. Ao atingir o último momento do último dia do quarto ano, não há mais a vinculação
contratual a prazo. Pode dar-se que outra se estabeleça. A afirmativa de alguns intérpretes (e. g., CESARINO
JÚNIOR, Consolidação das Leis do Trabalho, 1, 377 s.) no sentido de somente findar o contrato para o
empregado, e não para o empregador, é de repelir-se.
O art. 1.220, 2.” parte, do Código Civil é elemento interpretativo do art. 445 do Decreto-lei n. 5.452: “Neste caso”
diz o art. 1.220, 2.” parte, do Código Civil, “decorridos quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não
coacluída a obra”. Alguns acórdãos dizem que, findo êsse prazo máximo, o contrato continua, a prazo
indeterminado. Tais afirmações são perigosas, porque generalizam sem caber generalização. O que se passa é que
tâcitamente ou talvez mesmo expressamente se concluiu outro contrato. Outro enunciado que aparece em
julgados é o de se transformar “em contrato a prazo indeterminado” o contrato que era a prazo determinado.
Emprêgo de têrmos atécnicos é sempre cheio de riscos: ou se pensa em prorrogação, ou em renovação, ou em
outro contrato, que não se confunde com prorrogação ou com renovaçao. Com transformação, de modo nenhum:
não há isso em ciência do direito.

3.PRORROGAÇÃO DO PRAZO DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO. Diz o Decreto-lei n.


5.452, art. 451: “O contrato de trabalho por prazo determinado, que, tácita ou expressamente, fôr prorrogado
mais. de uma vez, passará a vigorar sem determinação de prazo”. A prorrogação por uma vez éprorrogação por
outro prazo igual, pôsto que possa ser diferente, se tal foi convencionado Não há a regra jurídica cogente de só se
prorrogar pelo mesmo prazo. Se foI prorrogado pelo mesmo prazo, ou por outro, o contrato de trabalho a segunda
prorrogação é por prazo indeterminado A ratio te pia está em que não se permite que os figurantes excedam, de
muito, o máximo que se fixa no art. 444 do Decreto-lei n. 5.452 (cf. Código Civil, art. 1.220). Com o máximo de
prazo e o máximo de prorrogação, pode haver a vinculação de oito anos (quatro anos mais quatro anos). A
segunda prorrogação é por tempo indeterminado. Aliás, a primeira o poderia ter sido, se nisso houvessem
acordado os figurantes.
A prorrogação pode ser expressa ou tâcitamente estabelecida. A prorrogação expressa diz qual o tempo que há de
durar a vinculação, ou se é a prazo indeterminado. Resta saber-se se a prorrogação tácita é por tempo
determinado, ou se é com tempo indeterminado. Não há, a propósito da locação de serviços, nem do contrato de
trabalho, regra jurídica como a do art. 1.195 do Código Civil, peculiar à locação de coisas (prorrogação tácita sem
prazo determinado). No Código Civil alemão, § 625, há o princípio da prorrogação tácita por tempo
indeterminado. Daí afastou-se o Código Civil suíço, art. 346, que considera pelo mesmo tempo a prorrogação,
sem que possa exceder de um ano. No direito brasileiro, diante da omissão da lei, a prorrogação tácita é por igual
tempo.
O contrato de trabalho por prazo de quatro anos pode ser prorrogado por outros quatro anos.
Lê-se no Decreto-lei a. 5.452, art. 452: “Considera-se por prazo indeterminado todo contrato que suceder, dentro
de seis meses, a outro contrato por prazo determinado, salvo se a expiração dêste dependeu da execução de
serviços especializados ou da realização de certos acontecimentos”. Note-se, de inicio, que o art. 452 nada tem
com prorrogação. Alude-se, apenas, a nóvo contrato, que sobrevém a contrato a prazo determinado, ou
determinável pela obra que se tem em vista, ou pelo advento de condição. A redação é má. Tinha-se de considerar
a espécie diante das três possíveis expirações do contrato: a) prazo certo; b) prazo incerto quando; e) prazo incerto
se. Extinto o contrato, não tendo havido prorrogação, o nôvo contrato, antes que se esgotem seis meses, há de ser
por prazo indeterminado. Se houve prorrogação tácita, o prazo foi determinado. Se foi expressa, o nôvo contrato
teria de ser após a expiração do prazo pelo qual foi prorrogado o anterior.
A ratio legis do art. 452 do Decreto-lei n. 5.452 está em que, se se permitisse outro contrato por prazo
determinado, sem ser como prorrogação, se abririam portas à fraude à lei: contrato de quatro anos de prazo;
intervalo de menos de seis meses ou de seis meses; nóvo contrato com prazo de quatro anos. E assim por diante.
Ocontrato de trabalho a tempo determinado pode conter, ou não, a cláusula de prorrogação, ou a cláusula de
renovação (Tomos XVII, § 2.020; XX, 2.486, 5; XXV, 3.019, 5; XXXVI, § 4.063, 3; XLI, §§ 4.498-4.501). É
preciso que se não confundam as duas cláusulas, como fazem muitos juristas, nem que se confunda a prorrogação
com o contrato renovatório. Quase sempre a manifestação tácita de vontade é prorrogatória, e não renovatória. A
cláusula prorrogatória e a cláusula renovatória, se o contrato é a prazo determinado, opera com o mesmo prazo, se
diferentemente não se dispôs (cp., RAFPAELE CONSOLE, 11 Contratto d‟impiego a termine prestabilito, 59,
que não distingue prorrogação e renovação). O caso do art. 452 do Decreto-lei n. 5.452 é de renovação, e não de
prorrogação. No art. 451, há prorrogação~
4.CLÁUSULA DE DIJRAÇÁO MÍNIMA. No contrato de trabalho, pode-se estabelecer a cláusula de duração
mínima. há duas opiniões: a de se tratar de contrato de trabalho a tempo indeterminado a despeito da cláusula; a de
se tratar de contrato de trabalho a prazo determinado, razão para só se poder provar por escrito ou pelas
circunstâncias. A duração mínima apenas afasta a denúncia vazia. Não há, aí, contrato de tratalho a tempo
determinado nem dois contratos: um, a tempo determinado; outro, sucessivo, a tempo indeterminado.
A cláusula de duração mínima pode ser a favor sé do trabalhador, ou dêle e da empresa, ou de ambos.

§ 5.096. Remuneração
1.CoNCEITo DE SALÁRIO. Salário é palavra que já se havia de pôr de lado, porque ressaltam dois defeitos: o
do étimo e o de caracterização da diferenciação de classes, conforme a maneira de viver. Ao tempo em que tôdas
as remunerações eram salários, porque trabalhar para outrem era humilhante, e homens livres não se
empregavam, compreende-se que se tolerasse o nome da contraprestação. Não, depois, quando o trabalho honra,
não desonra. Salário vem de sal (salarium), do que não dispunham os que serviam, os que trabalhavam para
outrem.
§ 5.096. REMUNERAÇÃO

Ao serviço corresponde a remuneração. O que se chama salário é a retribuição, a remuneração, a contraprestaçiio


do empregador ao empregado.

2.FIxAÇÃO DO PREÇO DE SALARIO. Na economia completamente livre, sem qualquer intervenção do


Estado na fixação das remunerações, havia diferenças assaz graves na contraprestação pelos empregadores pelo
trabalho de igual valor. A um empregado pagava-se x; a outro, x ~ 1; a outro, x 1. Tudo isso atendia a necessidade
maior de meios de vida pelo que se oferecia a prestar serviços, ou aceitava a oferta do empregador. O princípio
vigente era o princípio da livre fixação do folha do trabalho.
Para se obviar aos inconvenientes dessa liberdade ilimitada, surgiram tentativas de limitações. ~ Como, porém, se
haveria de limitar a liberdade de determinação quantitativa da retribuição? A limitação que se baseasse na.
proibição de se remunerar diferentemente a mesma espécie de trabalho (princípio de valorizarão igual do
trabalho) teria o inconveniente de supor que o trabalho igual (= da mesma espécie) por duas ou mais pessoas é o
mesmo trabalho (xx é trabalho com o mesmo resultado). O principio da valorização igual do trabalhador em vez
de se ater a critério objetivo, penderia para critérIo subjetivo: por exemplo, o trabalhador com algum curso teria
maior possibilidade de ganho, a despeito de ter prestado o mesmo que outros prestaram.
Osalário é a contraprestação do empregador. Não de quem faz contrato de empreitada com alguém que trabalha,
ou quem chama empresa ou operário para que execute algum serviço. O que o pai ou a mãe contrapresta ao filho,
sem o ter empregado e sem o ter pôsto na mesma situação jurídica dos outros trabalhadores, não é salário.
Discutiu-se se pode existir relação jurídica de trabalho se não há salário. Afirmativamente, ARTHUR NIKISCH
(Arbeitsrecht, 1, 2.” ed., 279) ; contra, WILHELM MAUS (Das deutsche Arbeits- imã Sozíalreche, 1, 228). Se
alguma pessoa se empregou, com todos os pressupostos do contrato de trabalho, mas gratuitamente, as regras
jurídicas sôbre o contrato individual de trabalho incidem, exceto no que se referem à remuneração.

2.PAGAMENTO DO DIA DE DOMINGO E FERIADOS. O empregador tem de pagar o dia de domingo, como
se feriado não fósse. Dá-se o mesmo com os dias feriados. A princípio, não se prestava o que correspondesse ao
domingo. O Brasil teve o repouso hebdomadário, de preferência aos domingos, pôsto em texto constitucional em
1934 (Constituição de 1934, art. 121, ~ 1.0, e). A Constiuição de 1946, art. 157, VI, foi explícita ao falar de
“repouso semana] remunerado, preferentemente aos domingos e, no limite das exigências técnicas das empresas,
nos feriados civis e religiosos, de acôrdo com a tradição local”. O direito à remuneração dos dias de repouso,
pôsto em Constituição, foi de grande significação para o Brasil, em comparaçao com os outros povos. Não se trata
do direito constitucional ao repouso, mas sim do direito constitucional ao repouso remunerado. Não se trabalhou
e tem-se direito ao pagamento tia remuneração. Para que tal direito exista, é preciso, em primeiro lugar, que exista
contrato de trabalho.

3. REGRAS JURÍDICAs SÔBRE FIXAÇÃO. Durante as guerias, as calamidades ou crises sociais, as


circunstâncias desfavoráveis ou favoráveis à produção, à distribuição e ao consumo sugerem leis emergenciais,
que se concebem, de inicio, como transitórias, para tempo prefixado, ou fixável pela terminação das
circunstâncias que as sugeriram (e. g., quando a guerra ~tcabar, quando fôr suspenso o estado de sítio, quando
debela-tia a sêca). Por vêzes ocorre que os efeitos que se atribuem a essas calamidades são efeitos do estado de
coisas, que elas criaram, e pois suscetíveis de se produzirem depois de cessada a causa remota. Assim se explica,
na história da técnica legislativa, que algumas leis elaboradas para terem curta duração, sejam depois
“prorrogadas”. Tal o que aconteceu às leis de inquilinato e ao Decreto-lei n. 3.813, de 10 de novembro de 1941
(artigo único) : “Os aumentos de salário, que, no prazo de seis meses contados da publicação dêste Decreto-lei,
forem, por iniciativa própria, concedidos pelos empregadores aos seus empregados, serão considerados como
abonos, quer para os efeitos da Lei n. 62, de 5 de junho de 1935, e demais disposições referentes à estabilidade
econômica dos trabalhadores, quer para. os descontos previstos em leis de previdência social. não se incorporaíl i
aos salá,rios ou outras vantagens já percebidas”. O Decreto-lei n. 4.356, de 4 de junho de 1942, prorrogou a
vigência do Decreto-lei n. 8.818. Em boa técnica legislativa, nova lei, nas proximidades de expirar o prazo da
anterior (se antes ou depois era indiferente sob a Constituição de 1934), adotando o conteúdo dessa, começou de
incidir, sem haver interrupção.
Contra a vigência, hoje em dia, do Decreto-lei n. 3.818, conteúdo, desde 4 de junho de 1942, do Decreto-lei n.
4.356, argúi-se que: a) a Portaria n. 298 do então Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio determinou que se
haviam de computar os abonos para as contribuições, a partir de 1.~ de janeiro de 1948, mas a desenvoltura
desabusada da portaria não mereceu atenção do mundo jurídico, porque se erigia em decreto-lei, já na vigência da
Constituição de 1946; b) o Regulamento do IAPETO, aprovado pelo Decreto n. 22.867, de 27 de dezembro de
1946, estatuira a cobrança de contribuições sôbre qualquer remuneração (art. 76: .... . quaisquer quantias
recebidas pelos empregados sob qualquer titulo, inclusive gratificação ou extraordinário” regra jurídica
regulamentar, civada de ilegalidade, pois as leis não a permitiam e, ainda que valesse tal regra jurídica
regulamentar, haveria de ser estendida aos outros Institutos, o que seria de todo absurdo)
e) estar o Decreto-lei n. 4.856, de 4 de junho de 1942, que fizera conteúdo seu o Decreto-lei n. 8.813, prorrogando
o prazo, já revogado pelo Decreto-lei n. 5.452, art. 457 e seus §§ 1.0, 2.0 e 30
É de advertir-se que salário é remuneração, porém nem lodo salário é remuneração. O salário supõe o contrato de
trabalho, como contraprestação dos serviços, tal como consta do conteúdo. do contrato. Do conteúdo do contrato
podem constar, expressa, ou tàcitamente, a parte fixa, paga em utilidades ou em dinheiro (Consolidação das Leis
do Trabalho, art. 458) e a parte variável (comissões, percentagens, gratificações, diárias para viagem conforme o
art. 457, § SY).
Oart. 457 alude a gorjetas, para as dizer salário. Porém o art. 457 precisa ser interpretado em concordância com os
fatos da vida e sem se atribuir ao conceito de gorjeta conteúdo unitário, que permitisse ler-se o art. 457 como se
estabelecesse:“Tôdas as gorjetas são salários”.

A fixação legal dos salários, pelo menos de certos trabw lhadores, vem de séculos. O século XVI mostrou muitos
casos, e. g., na França (E. LEVASSEUR, Histoire des Classes ouvriêres eI de l‟Industrie eis France avant 1789,
~ 2Y ed., 13, 75 s., 381, 334 e 336), na Alemanha (R. BRODA, La Fixatian légale des salati-es, 7). Mas
precursora foi a Inglaterra, em 1351. Lei de 1563 tem feição parecida com a das leis de hoje e referia-se ao salário
mínimo.
No século XVIII surgiram leis protetoras dos empregadores, e não dos empregados, e por volta de 1750 cessaram
as legislações de salários.
Em Portugal, as Ordenações Filipinas, Livro IV, Titulo 31, fixaram taxas de soldadas, com minúcias (vedores,
camareiros, secretários, estribeiros e tesoureiros, escudeiros, capelães, amas, pajens, inôças que servem de fora,
menores do sexo masculino e do sexo feminino).
Otrabalho a domicílio, expressão que se generalizou pelas línguas latinas, distingue-se do trabalho em domicílio,
que éo trabalho que se presta na casa do cliente, e do trabalho doméstico, que é prestado onde há residência de
alguém e sem consistir em atividade de lucro. Os salários eram inferiores; o trabalho, sem lugar adequado para
êle.
As leis de fixação de salário cogitaram, no comêço do século XX, dos trabalhadores a domicílio.
A fixação dos salários sem ser por lei é contra a Constituição de 1946. O mais que o Congresso Nacional pode
fazer é dar o critério de fixação e atribuir a alguma repartição ou comissão a execuçã.o do que foi estabelecido em
lei, sem que se possa deixar fora do alcance do art. 141, § 3.~, da Constituição de 1946 o que tal repartição ou
comissão estabeleça. O critério tem de ser regra legal.

4.GORJETA. A gorjeta ou é doação remuneratória ou é contra prestação a serviços prestados ou a serem


prestados. prestação a que corresponde a prestação de serviços. O nome envolve figuras jurídicas diferentes (cf.
JOSEF, Trinkgeld, Schenkung und Vergdtung, Radisefle Fdechtspraxis, 16, 77). Se a gorjeta está compreendida
na conta, ou se o empregador encarrega o empregado de serviço estranho ao que lhe incumbe (e. g., ao motorista
consertar o telhado, ao garção guiar o automóvel em viagem), perde o caráter de gratuidade e nasce a êsse a
pretensão à solução da dívida: há causa solvendi, em vez de causa donandi.
As gorjetas, que por bem dizer se espalham, ao lado de contraprestações, ou fora delas, nas relações da vida
diária, ditas borjetas de complascéncia (Gefãlligkeitstrinkgeld), nunca poderiam ser incluídas em salários,
porque são doações livres, puras (cf. R. vON JHERIN43, Das Trinlcgeld, &a ed., 13 s.).
ODecreto-lei n. 5.452, art. 457, refere-se às gorjetas que se põem no lugar do salário fixo <casas de grande
freguesia, ao contratarem os empregados, estabelecem que tenham como salário o que recebem dos fregueses,
como gorjeta, ou percentagem sôbre a soma das que receberem todos os empregados), ou em parte dêle; e não as
gorjetas que, permitidas ou não, os empregados recebem, além do que é o salário dêles. Discute-se se, existindo o
salário mínimo, se pode admitir que todo o salário seja variável, como é o importe das gorjetas. Pretendeu-se tirar
do ad. 457 que se resolvesse a questão, considerando-se remuneração a gorjeta, porém não salário. Seria contra
isso o art. 76 que diz: “Salário mínimo é a contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo empregador a
todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de
satisfazer, em determinada época e região do pais, as suas necessidades normais de alimentação, habitação,
vestuário, higiene e transporte”. Existem o direito, a pretensão e a ação do empregado pelo salário mínimo
(Constituição de 1946, art. 157, 1; Decreto-lei n. 5.452, art. 76) ; mas a definição, que entendeu dar de salário a
Consolidação das Leis do Trabalho, no art. 76, de modo nenhum deforma o conceito de gorjeta, excluindo que a
gorjeta possa ser salário. Certo, a gorjeta existe independentemente de direito, da pretensão ou da ação para haver
o salário mínimo, mas isso não obsta a que, ressalvados êsse direito, essa pretensão e essa ação, possam es
contratos de trabalho estabelecer que o salário consista em gorjetas. E-lá na pretensão do empregado o conteúdo
x, ou, se x é menor do que sm (salário mínimo), sm, em prestação direta do empregador.
As gorjetas, a que alude o art. 457, são as gorjetas de fregueses, e não as de patrão. Essas seriam gratificações ou
gorjetas por outra causa que a do contrato de trabalho.

Seria êrro enunciar-se que sempre se inclui no salário a gorjeta que é contraprestação, ou que se exclui, dêle,
sempre, a que é doação remuneratória. Mais grave ainda seria considerar-se suscetível de ser base para
contribuição a institutos de previdência social tôda as gorjetas e gratificaqões que são contraprestações: basta
pensar-se em que um dos elementos para fazer onerosa a gorjeta, ou a gratificação, é determinante da
incolumidade à dedução para tais contribuições, o ser estranho ao conteúdo do contrato de trabalho o serviço, que
então se presta.
As gratificações podem ser e podem não ser parte do salário (PAUL OERTMANN, Das Recht der
Schuldverhtiltn,isse, 3,a~4a ed., 533; F. BoNm, em II. STAUB, Kommentar zum Handelsgesetzbuch, 1, 1, 343,
nota 34). As gratificações de Natal nem sempre são a titulo gratuito. Mas, para que o deixem de ser, é preciso que,
segundo as circunstâncias, possa contar com elas, como contraprestação de serviços, o empregado; isto é, quando
expresso ou tàcitamente se hajam convencionado. Por outro lado, não importa se a prestação é is natura, ou em
dinheiro: a causa independe disso; e o mesmo acontece com as gorjetas. No art. 457, ~ l/‟, diz-se que “integram o
salário, não só a importância fixa e estipulada como também as percentagens e gratificações pagas pelo
empregador”, mas logo o ~ 2.0 exclui dêle “as gratificações que não tenham sido ajustadas, as diárias para viagem
e as ajudas de ousto”, salvo as diárias a que se refere o art. 457, § 30
Quanto às diárias de viagem e às ajudas de custo, têm fim à parte do salário, supõem circunstâncias que não se
puderam levar em conta para a determinação do salário. Se foi possível levá-las em conta, ainda que inferiores a
50% o que supôs ter havido estipulação e alusão à duração das viagens incluem-se nos salários. Se excedem de
50% e foi excluído que se considerassem salários, porque o preço das diárias de viagem justifica tal importe, não
se incluem nos salários. O art. 457, § 30, ~ ins disnositivum. O critério quantitativo foi apenas para se obviar aos
inconvenientes da falta de estipulação.
Se a taxa não é distribuída, fora dos salários, aos empregados que estiveram em contacto, não se trata de gorjeta.
Trate-se de taxa de serviço.

É preciso que se não confundam a relação jurídica entre o cliente ou freguês e o empregado, a relação jurídica
entre o cliente ou freguês e o empregador (a empresa) e a relação jurídica entre o empregado e o empregador. A
gorjeta é o objeto da doação remuneratória que o cliente ou freguês faz ao empregado com que está ou estêve em
contacto, Nada tem csse negoc:o jurídico com o negócio jurídico entre o empregado e o empregador. Dessa
relação jurídica, o objeto, que o empregado recebeu, somente pode ser objeto se houve negócio juridico, sôbre
êle, entre o empregado e o empregador. Por exemplo: se o empregado admitiu que o recebido por êle fôsse pôsto
em caixa para divisão do total entre os empregados que recebem gorjetas. Aí, a figura do empregador é de quem
estipula a favor de terceiro e talvez se faça depositário. Se houve negócio jurídico entre empregado e empregador
para que as quantias provenientes de gorjetas passem a ser integrantes do que o empregador prometeu de
retribuição, com isso nada tem o cliente ou fregues.
Algumas questões surgem, que devem ser tratadas com tôda a precisão.
(a> ~Pode o empregador não prometer qualquer pagamento, e entender que as contraprestações aos empregados
<de restaurantes, bares, lugares de diversões) consistam nas “gorjetas”?
Preliminarmente, afaste-se que possa o empregador deixar de pagar o salário mínimo, ou o salário fixado ou
fixável conforme contrato coletivo, normativo ou não, de trabalho, se a gorjeta não atingiu a importância
estabelecida.
(b)~ Pode ser feito o preço da venda, ou da prestação. em alimento ou bebida, ou outra, que dê ensejo a gorjetas,
inchuindo-se percentagem para a gorjeta?
A imperatividade da gorjeta, que resulta da inserção na conta, não retira a danotoriedade, se se destina exclusiva
mente ao empregado, isto é, se não se inclui no salário. Se se considera parte do salário, gorjeta deixou de ser, e
apenas se discriminou o que se vai dar ao empregado. Se é a parte do salário, em verdade estabeleceu-se mínimo
para as gorjetas. Aí, o empregado recebe salário mais a gorjeta, ou a gorjeta como salário suplementável ao
salário núnimo, se ocorre que foi menor.
A gorjeta fixada para ser distribuída aos empregados ou resulta de acôrdo com os empregados (e. g., Alemanha),
ou de uso (Dinamarca, Noruega, Israel, India), ou de contrato coletivo de trabalho (Áustria, Finlândia, Israel,
Holanda, Portugai), ou de lei (Suíça, Espanha, Itália). A regra é a de distribuição pelos empregados. São exceção
a Dinamarca e a Noruega, que inclui no ativo da empresa (desnaturando a gorjeta), o Paquistão, que só deixa ao
empregado vinte por cento, e a Itália e a Inglaterra, que tem a alternativa (ser dos empregados ou da empresa. A
distribuição é pelo recebimento (Alemanha, Áustria, Holanda), ou por divisão do total entre os que receberam
(Suíça, Portugal, Israel), ou por todos os empregados (Espanha).
A gorjeta, prôpriamente dita, é proibida na Índia.
Algumas considerações: a) distribuição igualitária pelos que receberam as gorjetas faz a igualdade passar à frente
do mérito, se a gorjeta não é prefixada; b) a distribuição pelos empregados que as recebem, ou que as receberiam,
se prefixada, e pelos que não estão em contacto com o público é injusta, se não se inclui no salário; e) se a
distribuição é pelos que receberam, sem soma e divisão, é injusta, se incluída na retribuição pelo empregador, e
justa, se não se insere. Os adjetivos “justa”, “injusta”, não foram empregados aí no sentido de “legal”, “ilegal”;
mas apenas no de ser de acôrdo com o valor do trabalho, ou de não no ser.)
Tem-se pretendido que, havendo os empregados e os empregados acordado em que nas contas se incluam os
preços, isso não é vinculativo dos fregueses, porque êles é que podem dar ou não a gorjeta. O êrro é evidente. O
cliente ou freguês paga o preço que a empresa fixou e nêle está incluída a percentagem. Se o cliente ou freguês
quer, conclui-se o contrato entre êle e a empresa, sem que qualquer papel tenha, jur‟idicamente, na conclusão, o
empregado ou tenham os empregados. Se não quer, porque acha alto o preço, nada feito.
Não só. Se há dissídio, a respeito, entre empregadores e empregados, a Justiça do Trabalho é competente, e não se
pode dizer que o dissídio não é entre o empregador ou os empregadores e os empregados, e sim com os terceiros
(clientes ou fregueses) ; porque nada têm com isso os clientes ou os fregueses. Se querem a prestação pelo preço
compósito, concluem o contrato; se não a querem, não o concluem. Se ocorre que concluem o contrato, são livres
quanto a dar gorjetas acima da taxa inclusa, com cuja finalidade nada têm os clientes e fregueses. Os clientes e
fregueses não têm dever de dar gorjetas, porque, se tal dever existisse, não se trataria de doação remuneratória. Se
concluíram o contrato, têm de pagar o preço que, pela conta, lhes foi exigido.
A fixação percentual da gorjeta, incluída na conta, divisível por todos os que recebem, tem as seguintes
consequências:
a> deixar de haver a luta entre os empregados para apresentar melhor trabalho e atrair os melhores clientes ou
fregueses; b) todos os que trabalham em contacto com o público podem contar com a percentagem, acima do
salário; e) aumenta o trabalho em cooperação, pela igualdade do interesse. O meio para se atenuar a igualização é
a diferenciação por tempo de serviço, conhecimentos especiais e idade, mas é difícil que daí resultem harmonia e
aplauso à concepção.

§ 5.097. Forma e prova do contrato individual de trabalho

1.FORMA. O contrato individual de trabalho não ésubmetido a regra jurídica de forma especial (Decreto-lei n.
5.452, art. 456, de lA de maio de 1943).
Se há regra jurídica especial de prova, ~pode haver contrato de trabalho e, pois, relação jurídica de trabalho sem
se respeitar a regra jurídica sôbre forma? j,As manifestações de vontade dos que prestam serviço ou dos dois
interessados podem ser tácitas, isto é, pelo simples fato da colocação e do ingresso no trabalho? Três opiniões
surgiram: a) há o contrato de trabalho, porque não se lhe exige forma especial, e, há, portanto, a relação jurídica
de trabalho; b) há a relação fáctica de trabalho, sem que tivesse havido o contrato de trabalho, pois o empregador
se vincula pelo fato de lhe terem sido prestados os serviços, e não pela promessa do trabalho pelo empregado
(EItICH MOLITOR, Das Wesen des Arbeitsvertrages, 39; cp. ALFRED HUFCR, Kritische Vierteljahresschrift,
32, 56); A se há regra jurídica sôbre prova especial, a sanção, em caso

de infração, é a de nulidade, e, no direito do trabalho, à prestação feita tem de haver remuneração justa, porque se
trata de prestação irrestituível. A solução certa é a última. propósito da prova do contrato de trabalho, encontra-se
no Decreto-lei n. 5.452, art. 456: “A prova do contrato individual do trabalho será feita pelas anotações constantes
da carteira profissional ou por instrumento escrito, e suprida por todos os meios permitidos em direito”.
Acrescenta o parágrafo único: “À falta de prova ou inexistindo cláusula expressa a tal respeito, entender-se-á que
o empregado se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com a sua condição pessoal”.
Não se falou de ser essencial a forma escrita, O art. 456 só se refere à prova. A anotação na carteira profissional é
requisito ligado à identificação e à existência do contrato de trabalho. Mas a anotação não é pressuposto essencial
à existência do contrato de trabalho, nem, sequer, à sua eficácia. Há contratos de trabalho escritos e sem a
anotação na carteira profissional. Há contratos de trabalho orais e, até, concluídos tâcitamente.
Dir-se-á que o “supridas por todos os meios permitidos em direito”, que aparece no art. 456 do Decreto-lei n.
5.452, só se refere a rovas, de modo que não se permitiu o contrato individual de trabalho por manifestações orais
de vontade, ou por manifestações tácitus de vontade, tal como se há de interpretar o art. 135, parágrafo único, do
Código Civil. Mas a situação não é a mesma. Seria contra a segurança intrinseca que se não considerasse
vinculado o empregado, nem o empregador, pelo fato de não se ter feito a anotação na carteira profissional, ou
não se ter feito por escrito (ou ainda não se ter feito por escrito) o contrato individual de trabalho.
No que se refere ao art. 454, parágrafo único, nêle não só se supóe que falte a prova como que nenhuma. prova
persa existir, salvo a testemunhal ou a de indícios. Tanto assim que se põe o problema de não se ter expressado
qualquer dos figurantes sôbre o serviço que se há de prestar. No art, 460 cogita-se da própria falta de estipulação
do salário. Assim, há contrato individual de trabalho mesmo se não houve acôrdo, nem, sequer, manifestação de
vontade de qualquer dos contratantes do contrato, quanto à qualidade do serviço e quanto à quantia da
remuneração .
Para se invocar o art. 454, parágrafo único, do Decreto-lei n. 5.452, é preciso que se tenham juntado os seguintes
pressupostos: a) não ter havido escrito do contrato de trabalho, ou anotação na carteira profissional, com cláusula
sôbre a qualidade do serviço que o empregado prometeu prestar; b) não haver prova testemunhal, ou outra prova,
de se ter acordado quanto à qualidade do serviço; e) atribuir-se ao empregado promessa de serviço compatível
com a sua posição pessoal (serviço de carpintaria, ao carpinteiro; corte de cabelos, barbeação, lavagem de cabeça
e penteado, ao barbeiro; redação de cartas, dactilografia, trabalho de fichário e atendimento de telefones, ao
secretário). Trata-se, no art. 454, parágrafo único, de presunção juris tantum.

3.FALTA DE PROVA DE CLÁUSULA ESSENCIAL. Em má redacão, sob o ponto de vista de terminologia


jurídica, diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 447: “Na falta de acôrdo ou prova sôbre condição essencial ao contrato
verbal, esta se presume existente, como se a tivessem estatuído os interessados, na conformidade dos preceitos
jurídicos adequados à sua legitimidade”. Se alguma cláusula contratual é necessária e o contrato foi oral ou tácito,
tem-se como inserta no contrato conforme os usos e costumes, ou outro elemento que se haja de ter como querido.
A referência a “falta de acOrdo” é infeliz. AcOrdo houve, o que não há é prova escrita. Por outro lado, há regras
jurídicas cogentes e dispositivas que incidem e, cm conseqUência, dispensam, por sua natureza, qualquer prova
daquilo que não consta de escrita. Assim, se falta prova do trabalho de que o empregado se incumbiu, nem
posteriormente ficou assente entre os figurantes do contrato qual seria, tem-se por vinculado o empregado a
prestar qualquer trabalho compatível com a sua aptidão pessoal (Decreto-lei n. 5.452, art. 456, parágrafo único).
Se falta prova do salário, o empregado tem direito a salário igual ao daquele que, na mesma empresa, preste
“serviço equivalente”, ou ao salário “habitualmente” pago para serviço equivalente (art. 460). As regras jurídicas
dos arts. 456, parágrafo único, e 460 são ins dispositivun. Não só incidem se o contrato é oral, ou por
manifestações tácitas de vontade, como se escrito e falta elemento volitivo. O art. 447 teve por fito prover aos
casos de contratos não escritos, orais ou tácitamente concluídos.

~5.098. Conteúdo do contrato individual de trabalho

1.CLÁUSULAS CONTRATUAIS. As cláusulas contratuais podem referir-se à prestação do trabalho, tempo e


lugar, e àcontraprestação pelo empregador. Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, ad. 444: “As relações contratuais de
trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenham às
disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das
autoridades competentes”.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 469: “Ao empregador é vedado transferir o empregado, sem a sua anuência,
para localidade diversa da que resultar do contrato, não se considerando transferência a que não acarretar
necessáriamente a mudança do seu domicílio”. Acrescenta o ~ 1.0: “Não estão compreendidos na pro4biçáo dêste
artigo: os empregados que exercerem cargos de confiança e aquêles cujos contratos tenham como condição,
implícita ou explícita, a transferência”. E o § 2.0:
lícita a transferência quando ocorrer extinção do estabelecimento em que trabalhar o empregado”.
Ainda o Decreto-lei n. 5.452, art. 470: “Em caso de necessidade de serviço, o empregador poderá transferir o
empregado para localidade diversa da que resultar do contrato, não obstante as restrições do artigo anterior, mas,
nesse caso, ficará obrigado a um pagamento suplementar, nunca inferior a 25% dos salários que o empregado
percebia naquela localidade, enquanto durar essa situação”. Acrescenta o parágrafo unico: “As despesas
resultantes da transferência correrão por conta do empregador”.

2.PRAZO DO CONTRATO. No Decreto-lei n. 5.452, artigo 443, diz-se que o contrato individual de trabalho
pode ser “por prazo determinado ou indeterminado”; e no parágrafo único acrescenta-se: “Considera-se como de
prazo determinado o contrato de trabalho cuja vigência dependa de têrmo prefixado ou da execução de serviços
especificados ou ainda da realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproximada”. Ainda no art.
445 se limita qualquer dêsses prazos a quatro anos. A nulidade é parcial, no tocante à extensão da cláusula.
O contrato individual de trabalho pode ser por tempo determinado, de modo que a sua eficácia cessa
automáticamente. Pode êle ser sob condição resilitiva ou a têrmo. Se foi fixada a data em que há de acabar,
qualquer permanência da relação jurídica resulta ou de prorrogação, que foi antes acordada, ou de renovação de
contrato, o que supõe a discontinuídade, mesmo se o nôvo contrato tem eficácia no dia imediato.
Se o tempo se liga a finalidade do contrato e essa é alcançada, de regra há a automaticidade.

3.QUANDO E ONDE SE HÁ DE PAGAR A REMUNFRAÇÂO. Seria incômodo para o empregado ter de


esperar muito tempo para receber a remuneração. Mais ainda ter de voltar ao local do trabalho para que se lhe
preste o que lhe é devido, ou ir a outro lugar para recebê-la. Daí dizer o Decreto-lei n. 5.452, ad. 465: “O
pagamento de salários será efetuado em dia útil e no local do trabalho, dentro do horário do serviço ou
imediatamente após o encerramento dêste”. Com essa regra jurídica de duplo conteúdo (determinação espacial e
determinação temporal para a contraprestação pelo empregador), a lei protege o empregado. Onde se presta o
serviço aí se recebe a remuneração. Antes de terminar o serviço, ou imediatamente após, a remuneração é
exigível, e automàticamente incorre em mora o empregador se, com infração do art. 459, parágrafo único, não
adimple o seu dever e obrigação. Se alguma emergência força o empregador a não se adstringir ao que estatui o
ad. 465 do Decreto-lei n. 5.452, quaisquer despesas e prejuízos que sofra o empregado são por conta do
empregador. Uma das conseqilências do art. 465 é que ninguém pode ser pago aos domingos ou feriados, salvo se
houve trabalho no dia, conforme os pressupostos legais. Se a semana ou o mês terminara no dia anterior, o fato de
se ter de trabalhar no domingo ou no dia feriado de modo nenhum permite que nesse dia é que se faça a entrega da
remuneração semanal ou mensal acrescida do que se deve pelo trabalho no domingo ou no dia feriado. Atiter, se,
pela distribuição do serviço, a semana ou o mês abrange o domingo ou o dia feriado.

Há elementos da remuneração que só se fazem devidos, ou exigíveis, após algum fato, quase sempre liquidatário.
É da natureza dêles a poscipitação. Dai a regra jurídica exemplificativa do Decreto-lei n. 5.452, art. 466: “O
pagamento de comissões e percentagens só é exigível depois de ultimada a transação a que se referem”.
Acrescenta o ~ 1.0: “Nas transações realizadas por prestações sucessivas, é exigível o pagamento das
percentagens e comissões que lhes disserem respeito proporcionalmente à respectiva liquidação”. E o § 2.0: “A
cessação das relações de trabalho não prejudica a percepção das comissões e percentagens devidas na forma
estabelecida por êste artigo”. Não só negócios jurídicos, ditos, aí, atêcnicamente, “transações”, determinam a
dívida ou a exigibilidade. As percentagens, as comissões, as gratificações e outros elementos da remuneração
podem depender de fatos, atos-fatos jurídicos e atos jurídicos stricto sensu (por exemplo, do maior número de
nascimentos na manada, percepção de dívidas de difícil cobrança., prêmios, sorteios, interpelações).
Temos de frisar que, concluído o contrato, ou outrú ato jurídico, ou ato-fato jurídico (e. g., o empregado é
cobrador), a percentagem é devida. Se houve liquidação ou se no mesmo momento nascem o direito e a pretensão,
há a dívida e a obrigação do empregador. (O legislador só aludiu à exigibilidade
portanto, à existência da obrigação o que turva o assunto.)
No caso de sucessividade das prestações, de que se deduzem as percentagens ou comissões, ou outros proveitos,
tem de haver a correspectividade. Se diferentes quantitativamente as prestaçoes, impõe-se a proporcionalidade às
respectivas percepções pela empresa.
É óbvio que, se sobrevém desconstituição ou terminação normal do contrato de trabalho, o que já era devido tem
de ser prestado, mesmo se ainda não exigível, por faltar a liquidacão. O que importa é que, no momento de cessar
a relação jurídica contratual entre o empregado e o empregador, já existe a dívida.
Cumpre sublinhar-se que a insolvibilidade do terceiro, sem culpa do empregado no ato de confiança, é sem
conseqUências contra o empregado. Outrossim, se de nenhuma culpa dêsse resultar, a redibição ou a minoração
do preço estipulado no trato com terceiro, por vício redibitório, ou por inadimplemento ou adimplemento ruim
por parte do empregador. O momento decisivo é aquêle em que o empregador (ou por êle o empregado ou
outrem) faz a oferta irrevogável, ou não revogada, mesmo se posterior à cessação da relação jurídica de trabalho
a aceitação pelo terceiro, ou em que o empregador (ou por êle o empregado ou outrem) aceita a oferta que à
empresa fôra feita.
Se ao empregado, com a percentagem ou comissão recebida, ou com a sua inclusão no que recebe em pecúnia,
não se presta salário mínimo, deve o empregador o que falte. Só estaria exonerado de tal pagamento o empregador
se não se tratasse de empregado, mas de prestação de serviços, sem o elemento do emprêgo.
Se a percentagem, comissão ou gratificação é estranha à remuneração, ou se o não é. envolve questão de
interpretação do contrato de trabalho.
Apesar de se dizer, no art. 465 do Decreto-lei n. 5.452, que o pagamento se bá de fazer no horário do serviço ou
imediatamente após, a mora do empregador rege-se pelo art. 459, parágrafo único, se o período é de uma semana,
ou de uma quinzena, eu lo um mes.
A lei veda o salário por período superior a um mês, salvo no que é comissão, percentagem ou gratificação. Daí
dizer o Decreto-lei n. 5.452, art. 459: “O pagamento do salário, qualquer que seja a modalidade do trabalho, não
deve ser estipulado por período superior a um mês, salvo no que concerne a comissões, percentagens e
gratificações”. Acrescenta o parágrafo único: “Quando o pagamento houver sido estipulado por mês, deverá ser
efetuado, o mais tardar, até o décimo dia útil do ~“~s subsequente ao vencido. Quando houver sido estipulado
por quinzena ou semana, deve ser efetuado até o quinto dia útil”. A regra jurídica é de lus cogens.
Se não houvesse o art. 459 do Decreto-lei n. 5.452, o empregador poderia ficar, por longo tempo, com o que deve
ao empregado, O ins cogens, que está no art. 459, tem como radio legis a proteção do empregado. Por isso
mesmo, a vedação não colhe aquêles casos em que o empreiteiro estabelece o pagamento adiantado por trimestre,
ou mais longo tempo. Por outro lado, vale a cláusula da exigibilidade alternativa: por semana (ou por mês) ou
por trimestre (ou no fim de cada viagem). O que não se pode é tornar inexigível cada mês. É verdade que se tem
procurado ver no art. 459 também proteção do empregado contra a dilapidação de grandes quantias, pondo-se em
risco a sua situação econômica e da sua família. Porém isso seria tratar-se o trabalhador como se fôra criança.
Quem esbanjar o que recebeu cada dois meses esbanjará o que receber por semana, ou por mês. De mais, pode
haver interesse do empregado em período mais longo, e a preferência dêle pelo recebimento após mais de um
mês, podendo ter recebido antes (cláusula de cxi bilidade alternativa), mostra que êle não queria dissipar.

4.SALÁRIO DERRISORIO. Quando o empregador conclui contrato de trabalho em que alguma cláusula é de
salário derrisório, discute-se qual a regra jurídica que incide: se as regras jurídicas sôbre indenização por atos
ilícitos absolutos (Código Civil, arts. 159, 1.518, 1.520-1.526), ou apenas as regras jurídicas sôbre remuneração
(Decreto-lei n. 5.452, arts. 460-462). Na Alemanha, em tórno dos §§ 826 e 612 do Código Civil alemão,
respectivamente, 1-1. STAUE (Kornmentar zum Handelsgesetzbuch, g~a ed., nota 88 ao § 89), de um lado, e
ADOLE JACOB5ON (Die Anfechtung stillschweigender Willenserklãrung wegen Irrtums, Jkerings
.Jahrbiicher, 56, 885, do outro lado (também, de lege ferenda, HEINZ POTrHoEF, Programm eines
Reichsarbeitsgesetzes, Deutsche Juristen-Zeitung, 13, 1305). Não há dúvida quanto a poder ter havido ofensa aos
bons costumes, ilicitude (Código Civil, art. 145, ~ lY parte; Código Civil alemão, § ~ lY alínea), dolo,
exploração, ou usura (Código Civil, art. 92, e Decreto n. 22.626, de? de abril de 1933, arts. 1.0 e 8.0; cf. Código
Civil alemão, § 188, 23 alínea).
Dá-se o mesmo quanto às cláusulas de descarga de risco do negócio, por parte do empregador (ARTHUR
NUCISCE, Arbeitsreclit, ~, 23 ed., 161), e à cláusula de responsabilidade pelo fracasso ou défice (dita
Manlcohaftung).
Quanto a haver acôrdo ilícito, só pelo exame da espécie se pode julgar. A cláusula penal, essa, para ser nula, é
preciso que não seja para caso de ato ilícito ou dolo do empregado (cf. Decreto-lei n. 5.452, art. 462, parágrafo
único). O empregador pode estabelecer cláusula penal para casos de infração de regras concernentes à
concorrência (e. g., proibição de o empregado trabalhar para outra empresa do mesmo gênero), salvo se há
exorbitância do quanto fixado. A cláusula que restringe a liberdade de denúncia é permitida, se não é excessiva
(Artn¶UR NIKISCH, Arbeitsrecht, 1, 2.~ ed., 161).

5.OBJEm DO PAGAMENTO. A prestação ou a parte de prestação, que se há de fazer em pecúnia, há de ser em


moeda nacional (Código Civil, art. 947). Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 468: “A prestação em espécie do salário
será paga em moeda corrente do Pais”. Acrescenta o parágrafo único: “O pagamento do salário realizado com
inobservância dêste artigo considera-se como não feito”. Assim, se o pagamento foi em moeda estrangeira, ainda
é exigível em moeda nacional. Apenas tem o empregador a ação de enriquecimento injustificado para que, feita a
contraprestação como deveria ter sido feita, lhe restitua o que recebera o empregado em moeda estrangeira.
A solução do art. 463 do Decreto-lei n. 5.452 não se afasta do que rege a espécie, em todo o sistema jurídico.

6.PAGAMENTO EM OURO OU EM DETERMINADA ESPÉCIE DE MOEDA. O Decreto n. 23.501, de 27 de


novembro de 1988, art. 1.0, considerou nula “qualquer estipulação de pagamento em ouro, ou em determinada
espécie de moeda, ou por qualquer meio tendente a recusar ou restringir, nos seus efeitos, o curso forçado de mil
réis papel”. No art. 29, vedou-se, “sob pena de nulidade, nos contratos exeqtiíveis no Brasil, a estipulação de
pagamento em moeda que não seja a corrente, pelo seu valor legal”, O art. 1.0 apanha todos os negócios jurídicos
concluídos no Brasil, ou em que a oferta partiu do território do Brasil; o ad. 30 em vez de se restringir aos
negócios jurídicos regidos pela lei brasileira, proibia, com a sanção de invalidade, a estipulação de adimplemento
em moeda que não seja a moeda corrente do Brasil, se exeqúlveis no Brasil as dívidas, ainda que regidas por
direito estrangeiro. Rigorosamente, o têrmo seria “ineficácia”, e não “nulidade”: a cláusula não é nula, porque o
estatuto pode não no dizer; mas ser ineficaz no Brasil.
Os arts. 1.0 e 2.0 do Decreto n. 23.501, atingem: a) a cláusula-ouro (art. 1.0 verbis “estipulação de pagamento em
ouro”); b) a cláusula de pagamento em determinada espécie de moeda, “que não seja a corrente, pelo seu valor
legal” (art. 12); o> a cláusula de pagamento por “outro qualquer meio tendente a recusar ou restringir, nos seus
efeitos, o curso forçado do mil réis papel” (hoje, curso forçado do cruzeiro papel); cl) a prestação em “moeda que
não seja a corrente, pelo seu valor legal” (art. 2.0), portanto a moeda não corrente, nacional ou estrangeira, e a
moeda corrente nacional por valor diferente do legal (Decreto-lei n. 6.650, de 29 de junho de 1944, art. 1.0), salvo
se a dívida foi contraída no exterior (= regida por estatuto estrangeiro, por ter sido concluído no estrangeiro o
negócio jurídico), em moeda do respectivo país, embora exequível no Brasil.
Oad. 463 teve por fite, além de pré-excluir a contraprestação em moeda estrangeira, a de afastar a
contraprestaçAo em vales, notas promissórias, mercadorias, ou créditos abertos em armazéns ou outras empresas.
Se a contraprestação não seria em dinheiro, ou não no seria parte dela, tôda ela ou a parte pode ser feita naquilo
que se estipulou. Com o ad. 468 repele-se qualquer substituíção do que seria em dinheiro por prestação em bens
não-pecuniários. Isso não afasta a heterogeneidade possível da remuneração. Se dois terços da remuneração é em
dinheiro e um térço em gêneros alimentícios, não se pode pôr a cláusula de ser de tantos mil cruzeiros o têrço, mas
pagos em gêneros alimentícios. A cláusula somente é válida se foi estabelecido que dois terços seriam em
dinheiro e um têrço em tantos quilos disso, tantos quilos daquilo, tantos litros disso e tantos litros daquilo.
Qualquer que seja a variação dos preços, êsse têrço que, de ordinário, é a quantia com que, no momento da
conclusào do contrato de trabalho, se poderiam adquirir os géneros alimentícios mencionados é o que o
empregador deve, além dos dois terços em pecúrda. Nem pode adimplir em dinheiro a divida dessa têrça parte da
remuneração, nem alegar mudança de preços. Com isso, pôs-se fora da lei o truclc-system, que consistia em o
empregador pagar com vales ou bônus: ficava o empregado sujeito a ter de comprar no estabelecimento comercial
do próprio empregador, ou de testa-de-ferro, ou de protegido (cf. ARNALDO SOSSEKIND, DORVAL
LACEEnA e J. SEGADAS VIANÁ, Tratado de Direito Brasileiro do Trabalho, II, 214).
Cumpre que se não confunda com o preço em parte em generos ou produtos, que os arts. 457 e 466 do Decreto-lei
n. 5.452, em regras juridicas explícitas, permite, a conversibilidade ou a conversão do dinheiro em gêneros, o que
o art. 463 e o parágrafo único refusam, ftrndadamente.
Os pagamentos em vales aos empregados são ates-fatos que nâo entram no mundo jurídico. Daí, se só mais tarde
o empregado apresenta o vale e recebe a moeda, ou aquilo que pelo contrato de trabalho teria de receber, por
adimplemento sé se há de considerar o ato da entrega do dinheiro, ou do gênero, que então entra no mundo
jurídico como ato-fato jurídico. No intervalo, estêve em mora o empregador e fluiram os juros, com t&Ias as
consequências.
A propósito dos vales, expôs MOZAItT Vioma RussoMÂno (Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho,
II, 654 s.) taso assaz interessante, por sua ligação à vida no interior do Brasil: “A empresa explorava, no interior
do Município, indústria extrativa. Nas cercanias da vila existia, somente, um armazém colonial, nos quais os
operários se abasteciam, O dono do armazém pessea completamente desvinculada do empregador recusava
crédito mensal aos trabalhadores, com receio de que êles, após receberem a remuneração, deixassem de pagar as
suas contas. Os empregados pediram, então, que lhes fôssem, perjôdicamente, na medida de suas necessidades,
dados adiantamentos salariais. Isso não foi concedido, em vmtude dos escritórios da firma ficarem situados na
cidade e não ser possível a permanência de grandes quantias no local de serviço. Concluíram, em síntese, os
trabalhadores pedindo que a empresa lhes concedesse “vaies” solicitados, pouco a pouco,na caixa” da emprésa,
com circulação no armazém da vila.
A solicitação foi atendida e, depois, a empresa teve necessidade o pedido de patenteação pode ser feito pelo
empregador,.dade de usar de recursos extremos para repor a situação nosou pelo empregado, ou, o que simplifica,
pelos dois. É possi-.seus verdadeiros têrmos pois tudo indicava que estava. 111-vel que haja pluralidade de
empregados inventores. Se a es-.cluída no art. 468, parágrafo único, do qual não se foge, é a do art. 454, 2a parte,
o parágrafo único não tem mci--quando se age contra a lei a pedido da parte protegida peladência. A invenção é
da empresa.mesma lei”.

7.INVENÇÕES 110 EMPREGADO. Lê-se no art. 454: „Na vigência do contrato de trabalho, as invenções do
empregado, quando decorrentes de sua contribuição pessoal e da instalação ou equipamento fornecidos pelo
empregador, serão de propriedade comum, em partes iguais, salvo se o contrato de trabalho tiver por objeto,
implícita ou explicitamente, pesquisa científica”. Acrescenta o parágrafo único: “Ao empregador caberá a
exploração do invento, ficando obrigado a promovê-lo no prazo de um ano da data da concessão da patente, sob
pena de reverter em favor do empregado a plena propriedade dêsse invento”. Sôbre o assunto já se falou no Tomo
XVI, §§ 1.927, 1, 1.928, 1.929, 2, e 2.000. O art. 65 e o parágrafo único do Decreto-lei n. 7.903, de 27 de agôsto
de 1945, repetiu, com alterações de forma, o que dissera o Decreto-lei n. 5.452, no art. 454 e no parágrafo único,
O art. 454, 1Y parte, não éafastúvel por manifestação de vontade do empregado: protege-o, cogentemente.
Quanto à 2a parte, não. O que é essencial é distinguirem-se da invenção livre, ligada a atividade de empresa
(betriebsverwandte freje Erfindung) , a invenção livre que não tem tal ligação (betriebsfremde freje Erfindung).
A solução que se dá no art. 454, lY parte, é salomônica:
metade para o inventor; metade para o empregador No art. 454, 23 parte, o que se focaliza é o trabalho com a
fina.lidade de invenção, de pesquisa científica. Já se remunera para se ter a possibilidade de se obter o invento. O
assunto tinha de ser versado por ocasião de se cogitar da propriedade industrial e foi o que fizemos nos lugares
citados.
Na espécie do art. 454, parágrafo único, do Decreto-lei n. 5.452, o empregado tem o ônus de explorar, iniciando a
exploração dentro de um ano, a contar da data da concessão tia patente. Se o não faz, perde a propriedade que lhe
tocava.

CAPÍTULO III

EFICÁCIA DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO


§ 5.099. Deveres do empregado

1.DEVERES EM GERAL. Há deveres que se irradiam do contrato de trabalho e deveres que resultam da
incrustação do empregado na empresa, conforme a concepção hodierna de colaboração entre empregadores e
empregados. Alguns são deveres principais; outros, acessorios.

2.DEVER DE PRESTAR O TRABALHO. O dever principal é o de prestar o trabalho. Tem de ser no lugar e
tempo que se entendam próprios. Daí ser problema técnico o de se determinar, cogente, dispositiva ou
interpretativamente, onde se há de prestar e qual o horário e quais os dias.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 473: “O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do
salário e por tempo não excedente de dois dias, em caso de falecimento de cônjuge, ascendente, descendente,
irmão ou pessoa que, declarada em sua carteira profissional, Viva sob sua dependência econômica”. Acrescenta o
parágrafo único: “Em caso de nascimento de filho, o empregado poderá faltar um dia de trabalho e no correr da
primeira semana, para o fim de efetuar o registo civil, sem prejuízo de salário

§ 5.100. Pagamento da remuneração

1.PRECISÕES. Ao trabalho prestado correspondeu esfôrço humano e teve por fito a provisão de víveres do
trabalhador. A política legislativa da proteção ao trabalho tem, aí,missão especial, que atende à própria fonte
sociológica do direito do trabalho.
Se alguém trabalha e a outra pessoa não se opôs, preeliminando qualquer negócio jurídico, inclusive a gestão de
negócios alheios sem outorga de poder, o contrato de trabalho ficou concluído. Se nulo, ou anulável, e houve a
prestação, não se pode deixar de proteger quem trabalhou. Aí surgiu um dos mais delicados problemas
doutrinários, que deu ensejo a duas teorias: uma que supõe o contrato de trabalho, sem que se lhe negue eficácia
mesmo se nulo, outra, que tendeu para concepção negativa da negocialidade e se referiu ao que ela chamou
“relação fáctica de trabalho”.
Terceira teoria prescinde da validade do contrato de trabalho e da própria incrustação, de jeito que o ato de
trabalhar entraria no direito, de qualquer maneira, mesmo se nulo o contrato de trabalho e sem a incrustação. De
passagem afastamos o emprêgo da expressão “faktische Vertragsverhàltnisse” (relações contratuais fácticas),
com que GÚNTER 1-IAUPT (Uber faktische Vertragsverhâltnisse, Festsehrift der Leipziger Juristenfalcultãt, II,
1 s.), contraditôriamente, aludiu ao mundo fáctico e ao mundo jurídico simultâneamente.
Tem-se pretendido que a relação de trabalho é o suporte fáctico, em que incidem regras jurídicas e de que
resultam efeitos, em vez de ser o efeito do contrato de trabalho. Um dos pontos em que se insistiu, às vêzes com
intuito de mostrar novidade ou originalidade de opinião, é o fato de se ter de prestar a retribuição do trabalho
mesmo se nulo o contrato de trabalho e de se computar o tempo para as férias. Trata-se apenas de regra jurídica
protectiva, solução que atende a que não se pode restituir o trabalho recebido e a que, sem ela, ficaria
desprotegido e lesado o trabalhador. Na luta entre a teoria do contrato (Vertragstheorie) e a teoria da mernb
ridade ou da incrustação na indústria (Eingliederungstheorie), o que se nota é a preocupação, nessa, de se
“desnegocializar” a relação jurídica de trabalho.
A teoria da inembridade, dita, também, da incrustação ou da incorporação, foi sustentada por: ERIcH
MOLITOR (Arbeitneluner md Rúflieb, 17 e 28) ; WOLFCANG SIEBERT (Das Arbeitsverhãitn.is im der
Ordnung der nationaleu Arbeit, 1 s.;Arbeitsverhãltnis und Vertag, Zeitsckrift der Akajemie flir Deutsche Recht,
1936, 93 s.) ; ARTHULt NIICISCH (Arbeitsvertrag und Arbeitsverhã.ltnis, 57 s., 2 s.; ArbeitsverMltflis im
Betriebe, 12 s.; WILHELM MAUS, Das deutsche Arbeits- und Sodalrecht, 1, 16 e 128 5.); 1-IERMANN
DERECE, Das Beschãftigungsverhãltnis im Arbeitsrecht, Arbeitsreehtspraxis, 1930,
144>.
A teoria do contrato foi defendida por ALFRED HUECK (Deutsches Arbeitsrecht, 68 s.) e ALFRED
HUECK-HANS CARL NIPPERDEY (Lehrbueh des Arbeitsreehts, 1, 103 s., e III, 105 sã.
O argumento contra o dever de se pagar o trabalho se ocontrato de trabalho é nulo esboroa-se diante do art. 221 do
Código Civil brasileiro que protege, no caso de casamento nulo, ocônjuge de boa fé, e do art. 158, que, nos casos
em que a restituição não é possível, se estabelece a indenização.

2. RESISTIBILIDADE DA EFICÁCIA. Quando os sustenta-dores da teoria da incrustação falam de relação


fáctica de trabalho e dizem que é suficiente para o conceito de trabalhador, no tocante à proteção do trabalho, o
que em verdade pretendem é que haja ato-fato jurídico de trabalho. Faltou-lhes, porém, até agora, a precisão sôbre
o fato jurídico. Mas não há ato-fato jurídico de trabalho, mesmo quando quem trabalha é louco ou menor de
quatorze anos. O que há é contrato nulo de trabalho. Não se pode afirmar que o contrato de trabalho só é
necessário nos casos em que a lei evidentemente não se contenta com a relação fáctica de trabalho. Nem se há de
aventurar que basta e é necessária a incrustação, porque pode ter de ser retribuído o trabalho prestado, mesmo se
não houve a incrustação.
Por outro lado, supõe-se sempre, nos casos em que os sus-tentadores da teoria da incrustação vêem relação fáctica
de trabalho, a concordância de vontades. A alusão ao que se passa com a posse é impertinente (e. g., HERMANN
DERSCLI, Das fleschãftigungsverhâltnis im Arbeitsrecht, Arbeitsrechtspr«fl~5, 1930, 144; W.
KAsKEL-HERMANN DERSCH, Árbeitsrecht, 43 ed., § 6; cf. GUNTER HAUPT, tiber faktische
Vertragsverhãltnisse, Festschrift der Leipziger Juristenfakultàt fúr HEINRICE SIBER, II, 1 s.). Nem se
argumente com o que acontece a respeito do

seguro social (e. g., W. BocS, Gegenwartsfragen sozialer Versieherung, 35 s.), porque o problema é o mesmo.
A retribuição tem de ser paga se o contrato é nulo, não porque se haja de restituir o que foi enriquecimento
injustificado, mas sim porque o que foi prestado, em consequência do contrato nulo, não pode ser restituido na
espécie. Dá-se o mesmo em caso de anulação. A própria denúncia ou a resilição só tem efeito ex nuno. O
empregado, que prestou o trabalho, ou o trabalhador sem incrustação, que trabalhou, mesmo se nulo o contrato de
trabalho, tem direito ao pré-aviso e a outras proteções. Uma das conseqúências está em que o crédito pela
remuneração dos figurantes de contratos nulos é crédito privilegiado (Decreto-lei n. 5.452, art. 449 e §§ 1.0 e 2.0),
inclusive se relativa a férias (ad. 144).

8. DESCONTOS E INTEORmADE DA REMUNERAÇIO. O empregador deve a remuneração, e não pode ser


reduzida a líbito do empregador, nem por efeito de cláusula permíssíva. Em principio não se pode deduzir da
remuneração o que não resulte de lei ou contrato coletivo de trabalho. Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 462: “Ao
empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando êste resultar de
adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo”. Acrescenta o parágrafo único: “Em caso de dano
causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta possibilidade tenha sido acordada ou na
ocorrência de dolo do empregado”. Quando se desconta o que se adiantou não se reduz, O desconto supêe a
integridade da conta e a dedução do que nela não poderia ficar sem se fugir da verdade dos fatos. O art. 462 alude
à lei e ao contrato coletivo de trabalho, mas o contrato de trabalho pode prever descontos, tais como se foi inserta
a cláusula de dedução por faltas danosas (cf. art. 462, parágrafo único), cláusula essa que só não se atende onde
feriria a lei (e. g., o ad. 66).
A lei estabelece, por vêzes, a descontabilidade em 161/ia. Tem-se exemplo frisante na dedução do que se há de
recolher à instituição de previdência social, do impôsto sindical, das mensalidades sindicais, do que se há de
prestar por mútuos que os empregados concluíram com Institutos ou com outras empresas, a que a lei atribua a
exigência da prestação fixa e automática.
Se o empregador adiantou alguma parcela da remuneração, cabe-lhe deduzi-la: o desconto, aí, é para pagar-se; em
verdade, o empregador somente deve o que corresponde à remuneração menos o que adiantou, ou à remuneração
menos o que teria de ser pago, na ocasião, como parte vencida do adiantamento (e. g., adiantamento de x, mas a
mensalidades sucessivas).
Quanto às multas, há, no direito brasileiro, discordâncias. Admite a cláusula penal, dita cláusula de multa, nos
contrates individuais de trabalho, ORLANDO GOMES (O Salário, 112). Repele-a, radicalmente, MOZALiT
VÍCTOR RUSSOMANO (Comewtários à Consolidação das Leis do Trabalho, II, 651). Para êle, só não são
vedados descontos que resultem de leis ou de contratos coletivos de trabalho, ou por danos causados pelo próprio
empregado.
O problema tem de ser pôsto em têrmos de admissibilidade da cláusula penal e em têrmos de admissibilidade de
multas disciplinares.
Quanto às cláusulas penais, se elas tornam derrisório o salário, se o fazem salário de fome (I-Iungerlohn),
evidentemente é nula, porque ou quebraria o princípio do salário mínimo ou o da igualdade do salário em relação
aos salários da mesma espécie, ou porque consistiria em exploração da ingenuidade, inexperiência ou
necessidade premente de outrem (cf. PAUL OERTMANN, Hungerlóhne und Arbeitsvertrag, Deutsche
Juristen-Zeitung, 18, 254).
4.PAGAMENTO, RECIBO E PROVA. A experiência de séculos sugeriu que a prova do adimplemento pelo
empregador só se considere feita se pelo escrito. Não há, assim, outro meio de prova. Diz o Decreto-lei n. 5.452,
ad.. 464: “O pagamento do salário deverá ser efetuado contra recibo, assinado pelo empregador; em se tratando de
analfabeto, mediante sua impressão digital, ou, não sendo esta possível, a seu rôgo”. Com isso, pôs-se de lado o
art. 135, parágrafo único, do Código Civil, onde se estatui que “a prova do instrumento particular pode suprir-se
pelas outras de caráter legal”. Dir-se-á que admitir-se a insupribilidade é demasiado. Não assim, pois os negócios
jurídicos que só se provam por escritura pública são muitos, e a insupribilidade é indiscutível. Além disso, o prazo
de prescrição, em matéria de contrato de trabalho, é curto; e não édifícil para o empregador guardar os recibos
durante dois anos. Devido ã grande quantidade de analfabetos, permitiu-se o recibo com impressão digital. Se não
é possível, o recibo éfeito por outrem, ou só assinado por outrem, a rôgo do empregado. Ésse é que escolhe e
indica pessoa de sua confiança que o assine.
Se não houve a prova com a assinatura do empregado, ou a impressão digital, se não sabe assinar ou não pode, ou
se não houve a assinatura de outrem, a rôgo, por não saber ou não poder o empregado assinar, nem imprimir com
o dedo, pagamento não houve. Não se trata de ato-fato ineficaz, mas sim de ato-fato inexistente, pois que não
entrou no mundo jurídico. O art. 464 não empregou a expressão “prova”, e sim “ser efetuado”, contra recibo.
Para que seja pagamento o ato do empregado, se outrem assina a rôgo, é preciso que o empregado não saiba nem
possa assinar e não possa deixar sob o recibo a sua impressão digital. A última forma só é suficiente se as duas
outras são impraticáveis. As inaptidóes têm de exestir no momento em que se dá o recibo. Não se trata de
ineficácia, se o empregado podia assinar, e não assinou; ou se podia imprimir o dedo, e não o fêz. Nem de
invalidade. O que ocorre é inexistência do pagamento. A tradição das cédulas pode dar ensejo à ação de
enriquecimento injustificado; porque pagamento não houve.
Se a lei exige aos recibos aquêles pressupostos de existência, a fortiori para qualquer desconstituição voluntária
do contrato de trabalho, inclusive transação.
Na jurisprudência, encontra-se julgado em que se diz que o empregador pode preferir a impressão digital à
assinatura. De modo nenhum, O que êle pode obter é que o alfabetizado assine e deixe, acima ou embaixo da
assinatura, a impressão digital. Outro julgado, que se há de pôr de lado, é aquêle em que se disse: “O recibo deve
ser apresentado pelo empregador por ocasião da sua defesa em juízo, já que envolve matéria de defesa. Se só foi
apresentado em grau de execução de sentença, nao terá valia (?), porque a quitação que exime o executado „da
penhora e do pagamento é a quitação posterior à decisão exequenda” (O. de J. a 8 de abril de 1948 e 5 de agôsto
de 1949). Em vez de “valia”, como se disse, dever-se-ia dizer “existência”, ou “eficácia”.
~ certo que, se foi alegado o pagamento e o réu não logrou prová-lo, a sentença, com a coisa julgada, cobre todo o
tempo cujos fatos extintivos ou não ela apreciou. fiz executivis, a nova alegação é intempestiva e feriria a coisa
julgada. Se realmente houve a solução, paga de nôvo o executado, por si ou forçadamente. Se é inquinável de
injusta essa solução, nada se pode fazer, se, in casu, a causa da sucumbência do réu não foi tal que permita a
rescisão da sentença.
O problema muda de feição se a sentença não apreciou alegação de pagamento, ou, em geral, de qualquer modo
de extinção da divida. Por exemplo: se a filial da empresa devedora efetuou o pagamento e a matriz o ignora.
A alegação de pagamento é possível fazer-se a qualquer tempo. Não é verdade que as Ordenações Filipinas, Livro
II, Título 87, §§ 1.0 e 2.0, vedassem os embargos do executado por pagamento anterior à sentença. Apenas se
exigia que se af irmasse “que novamente vieram à sua notícia, depois que a sentença foi dada e passada pela
Chancelaria”, ou outra razão de ignorância. Assim, o julgado da 2Y Turma do Supremo Tribunal Federal, a 2 de
maio de 1950 (E. 9., 135, 128), foi contra direito, por pretender que tal alegação da pagamento seria de afastar-se,
a priori. O que é preciso é que não se tenha discutido a matéria, na ação em que se proferiu a sentença; porque, se
se discutiu, a objeção iria contra o julgado. Tanto mais quanto o direito reinícola frisava que, sendo revel o
demandado, poderia “alegar embargos, de qualquer qualidade que sejam”. O que não se pode opor é o que
importaria rescisão da sentença (verbis “que não ofendam nem desfaçam a sentença”) ; não, o que não foi es zn
zudicium deducta. Na dúvida, há-se de entender que não foi objeto de exame (MANUEL ÁLVARES PÉoxs,
Resotutiones Forenses, II, 798; MANUEL MENDES DE CAS , Practica Lusitana, 1, 50; MANUEL
GONÇALvES DA SILVA, Commentaria, III, 367: .... . quod etiam in dubio recipienda sunt”). O que é preciso
apurar-se é a coisa julgada, porque ela é que pode obstar nos embargos do executado. (Acertado
julgou, mais tarde, o Tribunal Superior do Trabalho, a 15 de maio de 1952, O. da J. de 12 de setembro de 1952,
4287.)
Segundo informes de diferentes regiões do Brasil, o recibo mais usado é o recibo em livro de remunerações, em
que se apóe em frente ao nome do empregado e à quantia a assinatura ou a impressão digital. Se está ausente, por
necessidade (doença ou viagem) o empregado, assina ou apóe a face do dedo o cônjuge, ou quem com o
empregado vive permanente-mente. Os pagamentos sem recibo, pela simples entrega da sobrecarta com o
dinheiro, ou do dinheiro, com o nome ou o número do empregado em pequeno pedaço de papel, são freqUentes.
O empregador assume o risco, mas dois dêles nos disseram que “a palavra do trabalhador rural é perante Deus”.

5.PARTE CONTROVERTIDA E PARTE INCONTROVERTIDA DA REMUNERAÇÃO. Em caso de


desconstituíção do contrato de trabalho, ou de terminação, quer a causa provenha do empiegador quer do
empregado, perante a Justiça do Trabalho o empregador tem de prestar a parte da remuneração ou das
remunerações sêbre que não haja controvérsia, O pagamento tem de ser à data do comparecimento na audiéncia.
Se o não faz, a decisão tem de condená-lo a pagar o dôbro do que era sem lide.
A revelia não afasta a sujeição do empregador a prestar o dobro.
Para que haja a condenação no dôbro da remuneração, não é preciso que o requeira o empregado, ou que o haja
pedido na ação. Trata-se de dever do juiz.
Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 467: “Em caso de rescisão do contrato de trabalho, motivada pelo empregador ou
pelo empregado, e havendo controvérsia sôbre parte da importância dos salários, o primeiro é obrigado a pagar a
êste, à data do seu comparecimento ao tribunal de trabalho, a parte incontroversa dos mesmos salários, sob pena
de ser, quanto a essa parte, condenado a pagá-la em dôbro”. A expressão “rescisão” em sentido atécnico, tem
suscitado dúvidas quanto à interpretação do art. 467. Daí têrmos de pensar em qualquer extinção do contrato. De
iure condito, o art. 467 permitiria pensar-se em que, se não foi desconstitu ido o contrato de trabalho, a discussão
em juízo não determinaria a dever, para o empregador,de pagar o que era e é fora de controvérsia. Todavia, à
Justiça do Trabalho e ao Supremo Tribunal Federal fica a solução de atender a que o Decreto-lei n. 5.452, um dos
atos legislativos ditatoriais de pior forma, de terminologia mais medíocre e errada, se referiu a “rescisão”, em vez
de aludir a desconstituição e cessação do contrato de trabalho. O ad. 8.0 do próprio Decreto-lei n. 5.452 a isso os
conduz.
Se o empregado se recusa a receber os salários tidos pelo empregador como incontroversos, tem o empregador de
requerer, na própria audiência, o depósito judicial.

6.REMUNERAÇÃO E DIREITO AO REPOUSO. No Decreto n. 27.048, que regulamentou a Lei n. 605, diz o
art. 6.~, § 1.~:“Constituem exigências técnicas, para os efeitos dêste regulamento, aquelas que, em razão do
interesse público, ou pelas condições peculiares às atividades da empresa ou ao local onde as mesmas se
exercitarem, tornem indispensável a continuidade dq trabalho, em todos ou alguns dos respectivos serviços”.
Acrescenta o § 2.0: “Nos serviços que exijam trabalho em domingo, com exceção dos elencos teatrais e
congêneres, será estabelecida escala de revezamento, prêviamente organizada e constante de quadro sujeito a
fiscalização”. E o § 8.0: “Nos serviços em que fôr permitido o trabalho nos feriados civis e religiosos, a
remuneração dos empregados que trabalharem nesses dias será paga em dôbro, salvo se a empresa determinar
outro dia de folga”.
Lê-se no Decreto n. 27.048, ad. 7,0: “É concedida, em caráter permanente e de acôrdo com o disposto no § 1.0 do
ad. 6.0, permissão para o trabalho nos dias de repouso a que se refere o art. 1.0, nas atividades constantes de
relação anexa ao presente regulamento”. Acrescenta o § 1.0: “Os pedidos de permissão para quaisquer outras
atividades, que se enquadrem no § 1/‟ do art. 6.0, serão apresentados às autoridades regionais referidas no art. 15,
que os encaminharão ao Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, devidamente informado?‟. E o § 2.~: “A
permissão dar-se-á por decreto do Poder Executivo”.
Ainda estabelece o Decreto n. 27.048, art. 8.0: “Fora dos casos previstos no artigo anterior, admitir-se-á,
excepcionalmente, o trabalho em dia de repouso: a) quando ocorrer motivo de fôrça maior, cumprindo à empresa
justificar a ocorrência perante a autoridade regional a que se refere o art. 15, no prazo de 10 dias; b) quando, para
atender à realização ou conclusão de serviços inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar prejuízo manifesto, a
empresa obtiver da autoridade regional referida no art. 15 autorização prévia, com discriminação do período
autorizado, o qual, de cada vez, não excederá de 60 dias, cabendo neste caso a remuneração em dôbro, na forma e
com a ressalva constante do art. 6.0, § 3O”
Lê-se no Decreto n. 27.048, art. 9.0: “Nos dias de repouso, em que fôr permitido o trabalho, é vedada às empresas
a execução de serviços que se não enquadrem nos motivos determinantes da permissão”.
Diz o Decreto n. 27.048, art. 10: “A remuneração dos dias de repouso obrigatório, tanto o do repouso semanal
como aquêles correspondentes aos feriados, integrará o salário para todos os efeitos legais e com êle deverá ser
paga”. Acrescenta o § IA:
“A remuneração do dia de repouso corresponderá, qualquer que seja a forma de pagamento do salário: a) para os
contratados por semana, dia ou hora, à de um dia normal de trabalho, não computadas as horas extraordinárias; lO
para os contratados por tarefa ou peça, ao equivalente ao salário correspondente às tarefas ou peças executadas
durante a semana no horário normal de trabalho, dividido pelos dias de serviço efetivamente prestados ao
empregador; o) para os trabalhadores rurais, que trabalham por tarefa prédeterminada, ao quociente da divisão do
salário convencionado pelo número de dias fixado para a respectiva execução”. E o § 2.0: “A remuneração
prevista na alínea a) será devida aos empregados contratados por mês ou quinzena, cujo cálculo de salário mensal
ou quinzenal ou cujos descontos por faltas ao serviço sejam efetuados em base inferior a 30 ou 15 dias,
respectivamente”.
Lê-se no Decreto n. 27.048, art. 11: “Perderá a remuneração do dia de repouso o trabalhador que, sem motivo
justificado ou em virtude de punição disciplinar, não tiver trabalhado durante tôda a semana, cumprindo
integralmente o seu horário de trabalho”. Acrescenta o § 1.0: “Nas empresas em que vigorar regime de trabalho,
reduzido, a frequência exigida corresponderá ao número de dias em que houver trabalho”. E o ~ 2.0: “Não
prejudicarão a freqúência exigida as decorrentes de férias”. E o § 3.0: “Não serão acumuladas a remuneração do
repouso semanal e a do feriado civil ou religioso, que recaírem no mesmo dia”. E o § 40: “Para os efeitos do
pagamento da remuneração, entende-se como semana o período de segunda-feira a domingo, anterior à semana
em nao recair o dia de repouso definido no art. 1.0”.
§ 5.101.

Dever de proteção que tem o empregador

1.LEGISLAÇÃO PROTECTIVA DO TRABALHADOR E DEVER DE PROTEÇÃO. O Decreto-lei n. 5.452,


arts. 154-228, dedica regras jurídicas especiais à proteção do trabalhador. Porém não só nesses artigos. A
legislação do trabalho tem por fito proteger, para diminuir a desigualdade entre os homens.
Há o dever de observância dos horários, o de dar férias, o de dar permissão para o exercício de deveres de direito
público que tem o trabalhador (votar nas eleições estatais, tomar parte em júri ou em tribunal de trabalho ou de
outros assuntos sociais). Todos são deveres que correspondem a direitos personalíssimos dos trabalhadores
(intransferível, inerdável, inconstringível).
O direito a férias é direito a férias com pagamento; hoje, direito unitário. Dêle cogitou o Decreto-lei n. 5.452, arts.
129-131 (Decreto-lei n. 9.852, de 12 de setembro de 1946). Na Constituição de 1946, art. 157, VII, fêz-se de
direito constitucional o direito a férias anuais remuneradas. Regulam as férias, além dos arts. 129-181 do
Decreto-lei n. 5.452, os arts. 132-158.

2.INCRUSTAÇAO E DEVER DE PROTEÇÃO. O contrato de trabalho dá ensejo à incrustação do trabalhador


na empresa. A incrustação não é pressuposto do contrato, é efeito dêle. Concluído o contrato de trabalho, ao
trabalhador nasce o direito ao emprêgo, a que corresponde pretensão, que exsurge desde logo, ou quanto advier o
têrmo ou se implir a condição. Dai ter-se de repelir a teojia da incrustação, ou da membridade
(Eingliederungstheorie), que tenta transformar em pressuposto o que é efeito; isto é, põe no suporte fáctico, como
se fôsse elemento essencial, o que é efeito do contrato.
Ocontrato individual de trabalho é bilateral. A prestação do trabalhador é a de trabalho dependente; a
contraprestação,pelo empregador, é de algo a que se atribuiu valor aquisitivo da prestação de trabalho. Isso não
afasta que alguém se submeta, gratuitamente, ao contrato de trabalho, e o empregador tenha todos os outros
deveres, inclusive o dever de previsão, que se insere no dever de proteção do trabalhador, que incumbe ao
empregador.
Se há regras jurídicas de direito privado a propósito de dever de proteção, essas regras jurídicas têm de ser
interpretadas no sentido de concernirem à pessoa do trabalhador e aos bens patrimoniais, e não só à pessoa, sem
se precisar de recorrer à figura do depósito ou qualquer outra <ALFRED HuECK, Die Pflicht des Unternehmers
zur Fúrsorge fOr den Gefolgsmann, Festschrift flir J. W. REDEMANN, 321). O dever de proteção não se
confunde com o dever de direito público, que tenha o empregador perante o Estado.
Os contratos de trabalho, individuais ou coletivos, podem ampliar o dever de proteção.
São deveres de previsão, inclusos no dever de proteção:
a) o de cuidar da construção, conservação e higiene do edifício, ou lugar em que se trabalhe; b) o de cuidar das
instalações, ferramentas e outros instrumentos de trabalho; e) o de explicar ao trabalhador o que, no tocante ao
contrato de trabalho, possa não ser entendido por êle; d) já ao tempo dos. contactos e punotações, o de esclarecer
todos os pontos que necessitam de pormenores ou maior precisão.
(A opinião que negava o direito e a pretensão ao cumprimento do dever de proteção foi afastada, radicalmente.
Cf.HERMANN DERsÇH, Festschrift flir WTLHELM }{ERSCHEL, 77;ARTEUR NIKISCH, Arbeitsrecht, ~, 2a
ed., 419.)
A indenização pode referir-se ao dano moral, porque no direito brasileiro não há distinção entre a indenização por
ato ilícito absoluto e a indenização por infração contratual, se o dano é moral.
Na legislação sôbre acidentes de trabalho (Decreto-lei n. 7.036, de 10 de novembro de 1944, arts. 17, §§ 2$ e 3.~,
18, §§ 1.0, 2.0 e 3?, 19-32), há limites à indenização, e discutiu-se se fica incluido o dano moral, e a opinião
assente é no sentido afirmativo (1<. BRACKMANN, Handbuch der Sozialversicheruna,fl, 5a ed., 612; E.
LAUTERBACE, Unfallversieherung 2Y ed., § 898, nota 7).
Quanto ao ônus da prova, o empregado tem apenas de alegar e provar o dano e a irregularidade do serviço ou da
instalação, que, segundo a experiência da vida, seja bastante para a conseqúência.
Se o empregador é pessoa jurídica, a ação penal é contra os diretores, ou de órgão que seja, conforme a
constituição da sociedade, ou instituto, o responsável.

3.DEVER DE INCRUSTAçÃ~ E DE DAR ENSEJO AO TRABALHO.


De comêço, discutiu-se se o empregador, conforme os princípios do direito comum, podia recusar-se a receber a
prestação de trabalho (= a dar ao trabalhador ensejo de trabalhar), uma vez que lhe pagam a contraprestação, ou se
tinha o dever de receber. Uma das soluções que se suscitaram foi a de se ter de verificar se, com isso, ficara
lesado, de algum modo, o trabalhador (e. g., se o trabalho era, psicolôgicamente, necessário ao trabalhador).
Alguns juristas sustentaram que tal dever do empregador se funda no dever de lealdade e no dever de proteção. O
trabalhador pode não se satisfazer com a simples remuneração, porque tem dever constitucional de trabalhar
(Constituição de 1946, art. 145, parágrafo único, 2.~ parte:
“O trabalho é obrigação social”) e pode sentir-se humilhado com o recebimento de remuneração que não
corresponde a prestação de trabalho, O que é possível é que circunstâncias impeçam a prestação, como se falta
material ou a empresa teve de suspender a produção com que contava, ou se algum fato pôs o empregado em
difícil situação para a concorrência com os outros empregados. Há, pois, o direito à ocupação (Recht auf
Beschãftigung), que supóe a incrustação ou o direito àincrustação (cf. BEwER, Das Recht auf Beschâftigung,
Neue Zeitsekrift flir Arbeitgrecfl~ 1921, 29 s.; WILLY FRANKE, Das Recht auf Arbeit und das Recht auf
Bescháftigung, 1924, 547 sj, independente de acôrdo sôbre êle (WALTER RASKEL, Arbeitsrecht, 116;
WAIJTER RASKEL-IIERMANN DERSCH, Arbeitsreekt, 4~a ed., 215; ALFRED HUECK, Lehrbneh des
Arbeitsreclds, 1, 365~ ed., 255). Pode ter havido cláusula de remuneração pelo trabalho prestado, com função de
explicitude (cp.MAx STREGKWALD, Der Akkordvertrag, 44; WERNER JAERISCH, Lohnanspruch bei
unvoilendeter Alckordarbeit, 24).
A violação do dever de ocupação dá ensejo à pretensão àocupação, à prestação do trabalho, ou à indenização dos
danos.
As regras jurídicas do Código Civil somente são invocáveis se não se chocam com as regras jurídicas da
legislação especial. O caráter jurídico que resulta da atividade humana e da relevância social do contrato de
trabalho dependente afasta que incida o Código Civil se fora ratio te giz da legislação do trabalho. Não se há de
partir da afirmação de se ter de presumir a não-incidência.
A propósito de se poder cogitar da incidência das regras jurídicas concernentes à impossibilidade da prestação,
discute-se na doutrina. Donde duas teorias: a) a teoria do risco, que, no caso de greve parcial, nega direito dos
trabalhadores que desejam trabalhar a terem remuneração, com o fundamento de ser unidade a empresa, de modo
que a conduta dos que entraram em greve exime do dever de funcionamento a empresa atingida; 14 a teoria das
esferas, segundo a qual, qualquer que seja a causa da interrupção do trabalho, se tem de indagar se na esfera do
empregador ou na esfera do empregado se originou o fato impeditivo, ou se em nenhuma ocrreu (contra, porque a
mora do credor é que mais importa, WÂLTER KASKEL-HERMANN DEnscn, Arbeitsrecht, 4a ed., § 26, 1, 8).
O trabalhador está vinculado a fazer o que prometeu; se o empregador não colabora, incorre em mora. Se a
interrupção é longa, ou permanente, então nasce a denunciabilidade do contrato por justa causa (denúncia cheia).
Assim, RARL LARENZ (Gesehdftsgrwndlage und Vertragserfiillung, 94 s., 121 s. e 132 s.) e ARTHUR
NIKISCH (Arbeitsrecht, 1, 2~ ed., 495). Pode haver, da parte dos trabalhadores, que dizem querer trabalhar,
simples propósito de exigir a remuneração (ARTHUR NIKísdn, Arbeitsrecht, 1, 2A ed., 498>.
4.DEVER DE LEALDADE 1>0 EMPREGADOR. A principio só se falava do dever de lealdade ou dever de
fidelidade do trabalhador. Depois, percebeu-se que se não frisava, ou mesmo não se cogitava do dever de lealdade
(Treuepflicht) por parte do empregador (HERMANN MEISSINGER, Treuepflicht im Arbeitsrecht,
Arbeitsrechtsblattei, 1; HANS KRELLER, Fiirsorgeund Treuepflicht im Arbeitsverhãltnis, Zeitsohrift der
Akademie flir Deutsches Recht, 1938, 302 sj. É inegável a correlação com o dever de previsão (ARTEUR
NIKISCH, Arbeitsrecht, ~, 2Y ed., 406), porém não se integra nêle. Qual o conteúdo do dever de fidelidade, não
tem sido fácil determinar-se. Tem-se de atender às circunstâncias de cada caso, inclusive em sua correlação com
outros deveres. O empregador que vem a saber que alguma atividade é nociva ao trabalhador, seja exercida na
empresa seja exercida fora, tem o dever de comunicar o que pode ocorrer, ou está ocorrendo, e não só o de tomar
providências protectivas.
As violações do dever de fidelidade fazem nascer pretensão ao adimplemento e, às vêzes, à indenização (dolo ou
culpa do empregador). Cumpre, porém, acentuar-se que a relação jurídica de trabalho tem trato específico, em
comparação com as outras relações jurídicas contratuais. O dever é positivo e negativo. Tanto é dever comunicar
o que precisa ser comunicado como, noutros casos, abster-se de mencionar ou de omitir algum ato (ALFRED
HUECK, Lehrbueh dez Arbeitsreohts, J, 3.~-5Y ed., 179), como o de excessivo carinho com empregadas ou
preferências chocantes. A ofensa ao dever de lealdade ou fidelidade pode consistir em mudança de trabalho, ou de
lugar ou de tempo; ou em cerceamento da liberdade de pensamento (li. v. MANOOLDT, Das Ronner
Grundgesetz, nota 3 ao art. 5). Éinfração do dever de lealdade a propaganda de partido político dentro da empresa
(cf. KARL Moirron, Betútigung flir ausserbetriebliche Vereinigung und Propaganda im Betrieb, Das
Re?rieb-Beratet; 1954, 184). O dever de discrição compreende-se no dever de lealdade, desde que não haja dever
de comunicar ou atestar. A revelação de assunto estranha ao trabalho é infração de tal dever (RoLF DIETZ,
Festschrift fiir JUSTUS WILHELM HEDEMANN, 330; GEORO SCHRÓDER, SehlegÉ!beiger
Handelsgesetzbuch, 1, 826 s.). Assim como o empregado não pode fazer negócios a baixo preço por amizade
(RIESE, Schmiergelder ira Arbeitsrecht, Der Betriebs-Beratcr, 1952, 774 s.), o empregador não pode dar ordem
para que injustamente o empregado exija preços altos a determinadas pessoas, pondo-o em situação delicada.

5.DEVER DE REEMBÕLSO DE GASTOS. - O empregador tem o dever de reembolsar dos gastos que fêz, para
a empresa, o empregado. Os que foram anteriores à entrada na empresa de regra não são reembolsáveis; salvo se
circunstâncias que os façam necessários à empresa, foram a risco do trabalhador.

6.CONCURSO DE CREDORES E CONTRATO INDIVIDUAL DE TRARALHO. Lê-se no Decreto-lei n.


5.452, art. 449: “Os direitos oriundos da existência do contrato de trabalho subsistirão em caso de falência,
concordata ou dissolução da empresa”. Acrescenta o § 1.0: “Na falência e na concordata, constituirão crédito
privilegiado a totalidade dos salários devidos ao empregado e um têrço das indenizações a que tiver direito, e
crédito quirografário os restantes dois terços”. E o § 2.0: “Havendo concordata na falência, será facultado aos
contratantes tornar sem efeito a rescisao do contrato de trabalho e conseqúente indenização, desde que o
empregador pague, no mínimo, a metade dos salários que seriam devidos ao empregado durante o interregno”.
Em primeiro lugar, observemos que o assunto já foi tratado, em parte, nos Temos XXVII, § 8.250; XXVIII, §§
3.251 e 3.290, 1; XXIX, §§ 3.893, 6, 8.415, 4,8.416,2, 8.423,3.
O falido ou qualquer outra pessoa que seja empregada e haja incorrido em inobservância, com necessária
decretação de concurso de credores, está vinculado ao contrato de trabalho. Não importa se há extinção da
empresa, ou não. Daí perceber-se o pagamento do que é devido, em salários ou em indenização, e a solução que o
§ 2.0 dá para o caso de concordata. Se foi resilido o contrato, em virtude do concurso de credores, e sobrevém a
concordata, os figurantes do contrato podem ir, ex time, contra a resilição, em manifestações de vontade a que a
lei mesma atribui retroeficácia. Os pressupostos são o pagamento da metade dos salários correspondentes ao
tempo em que se teve como resilido o contrato e o acôrdo de reinserção do empregado.

§ 5.102. Estabilidade e outros efeitos

1.FUNÇÃO PROTECTIVA DAS REGRAS JURÍDICAS SÕERE ESTABILIDADE. O que se tem por fito, nas
regras jurídicas sôbre estabilidade, é afastar-se a denáncia vazia, que poria o trabalhador à mercê do empregador.
Contudo, o que se retira é a denúncia vazia sem indenização, e não a denúncia vazia em si mesma.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 471: “Ao empregado afastado do emprêgo, são asseguradas, por ocasião de sua
volta, tôdas as vantagens que, em sua ausência, tenham sido atribuidas ã categoria a que pertencia na empresa~‟.
Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 472: “O afastamento do empregado em virtude das exigências do serviço militar
ou de outro encargo público, não constituirá motivo para a alteração ou rescisão do contrato de trabalho por parte
do empregador”. Acrescenta o § 1.0: “Para que o empregado tenha direito a voltar a exercer o cargo do qual se
afastou em virtude de exigências do serviço militar ou de encargo público, é indispensável que notifique o
empregador dessa intenção, por telegrama ou carta registrada, dentro do prazo máximo de 30 dias, contados da
data em que se verificar a respectiva baixa ou a terminação do encargo a que estava obrigado”. E o § 2.0: “Nos
contratos por prazo determinado, o tempo de afastamento, de assim acordarem as partes interessadas, não será
computado na contagem do prazo para a respectiva terminação”.

2.TEMPO DE SERVIÇO. Quanto ao tempo de serviço, lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 4.0: “Considera-se
como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou
executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada”. O empregado, desde o momento em
que põe à disposição do empregador, o seu trabalho, vinculado está, e tanto se lhe tira o tempo em que trabalha
como o tempo em que não poderia deixar de trabalhar, se exigido lhe fôsse. Não poderia ficar à vontade do.
empregador considerar incompatível o tempo em que privou o empregado da liberdade de trabalhar para outrem.
Ter à disposição já é privar de tempo. Mas estar à disposição, no art. 4~O do Decreto-lei n. 5.452, é estar
aguardando ordens, e não o dizer “se precisar, chame”, ou estar executando aquilo de que foi incumbido. Se o
empregado apenas responde ou comunica que está de licença, mas basta que o chame o empregador pelo telefone
e êle irá trabalhar, não está à disposição: está na situação de poder ser pôsto à disposição. Se, em vez disso, as
máquinas pararam e o empregado aguarda que voltem a funcionar mesmo se lhe foi permitido ir para a casa está
àdisposição.
Quanto ao cômputo do tempo de serviço, estabelece o Decreto-lei n. 5.452, art. 458: “No tempo de serviço do
empregado, quando readmitido, serão computados os períodos, ainda que não-contínuos, em que tiver trabalhado
anteriormente na empresa, salvo se houver sido despedido por falta grave ou tiver recebido indenização legal”. O
art. 458 deixa claro que, se o empregado trabalhou dois anos, ou mais, e da empresa saiu por vontade própria, ou
por acôrdo, ou por ter ocorrido dispensa, ou outra causa de cessação do serviço, e, depois, volta ao trabalho,
mesmo que sobrevenha outra interrupção, ou outras interrupções sobrevenham, somam-se os anos e dias a que
correspondem estar a serviço. É óbvio que não se poderia computar o tempo que correspondeu ao período em que
foi despedido por falta grave, ou se por êle recebeu indenização estabelecida em lei. Todavia, se houve tempo que
antecedeu àdespedida sem ser por falta grave ou com indenização e a êsse se seguiram dois outros, ou mais, um
dos quais ou alguns dos quais cabem na exceção, somam-se os anos e os dias que corresponderem aos outros
tempos de serviço.
Se houve prorrogação de algum contrato e a despedida ocorreu no período em que podia ocorrer, só se exclui por
falta grave o tempo da prorrogação, não o do contrato prorrogado. Dá-se o mesmo se houve duas prorrogações e
só na última sobreveio a falta grave.
Se foi o empregado que se despediu, à sua volta tem de ser contado o tempo em que antes servira. O art. 458 do
Decreto-lei n. 5.452 não permite interpretação extensiva, nem na l.~ nem na 2a parte. Não se pode distinguir dos
serviços a prazo determinado os serviços a prazo indeterminado. As exceções são apenas duas: a de ter havido
falta grave e a de ter o empregado recebido indenização ex lege.
Incide o art. 453 do Decreto-lei n. 5.452 se ocorre o que se prevê no art. 448, porém não se os serviços foram
prestados a diferentes empregadores entre os quais apenas existiu contrato de empreitada. Também incide o art.
458 se há a relação jurídica a que se refere o art. 2.0, § 2.0.
Tem-se dito, em doutrina, e tem sido julgado que o artigo 458 do Decreto-lei n. 5.452 não é invocável se, em vez
de ter sido despedido pelo empregador, foi o empregado que se despediu. Mas isso não está na lei: no art. 453, lY
parte, estabelece-se regra jurídica geral; na 23 parte, apenas se cogita de duas exceções. Demais, fala-se de
empregado “readmitido”; e tanto se admite o que foi despedido pelo empregador como o que de moto próprio se
despediu. Não é verdade que se suponha ter sido injusta a dispensa.
Ocômputo do tempo dd serviço é para a estabilidade como para a indenização.

8.COMISSÃO E SUBSTITUIÇÃO INTERINA. Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 450: “Ao empregado chamado a
ocupar, em comissão, interinamente ou em substituição, eventual ou temporária, cargo diverso do que exercer na
empresa, serão garantidas a contagem do tempo naquele serviço, bem como volta ao cargo anterior”.
O empregado, a que se refere o art. 450 do Decreto-lei n. 5.452, é o empregado da própria empresa que o chama a
exercer, interinamente, ou em comissão, eventual ou temporária, cargo diverso do que exercia, ou o empregado
que a empresa permite que vá ocupar, interinamente, ou em comissão, noutra empresa, algum cargo. É essa a
interpretação que, atendendo-se à ratio legis, se há de dar ao ad. 450 do Decreto-lei ri. 5.452. Não se cogita da
duração, quer da interinidade, quer da comissao .
A remuneração do cargo interino ou em comissão não pode ser menor. Se é maior, a volta ao cargo, que é o do
empregado, é com a remuneração que no momento corresponde ao cargo. Não se pode pôr interinamente ou em
comissão, por menos do que se tem no cargo que se exercia, nem por menos do (tue se vence no cargo que passa
a exercer. Se há aumento naquele, ou nesse, tem-se de atender a êsse ou àquele aumento.
Não há prescrição nem preclusão por tempo de afastamento ou interinidade, ou comissão; mas a pretensão a
receber o que teria de receber e não recebeu prescreve no prazo do art. 11 do Decreto-lei n. 5.452. Se teria de
receber x ~ 2 e so recebeu x, tem dois anos para exigir 2. Isso não afasta o exercício da pretensão a que se lhe
paguem 2, correspondentes ao período ainda não atingido pelo prazo prescripcional.
Quanto às pretensões à estabilidade no cargo efetivo, ao cômputo de tempo de serviço e à volta ao cargo efetivo,
são prescritíveis. Prescreve também a pretensão à promoção, ou a opção por algum cargo ou local.
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 476: “Em caso de seguro-doença ou auxílio-enfermidade, o empregado é
considerado em licença não-remunerada, durante o prazo dêsse benefício”.
Ainda no Decreto-lei n. 5.452, art. 475: “O empregado que Um aposentado por invalidez terá suspenso o seu
contrato de trabalho durante prazo fixado pelas leis de previdência social para a efetivação do benefício”.
Acrescenta o * 1»: “Recuperando o empregado a capacidade de trabalho e sendo a aposentadoria cancelada,
ser-lhe-á assegurado o direito à função que ocupava ao tempo da aposentadoria, facultado, porém, ao empregador
o direito de indenizá-lo por rescisão do contrato de trabalho, nos têrmos dos arts. 477 e 478”. E o § 2.0: “Se o
empregador houver admitido substituto para o aposentado, poderá rescindir, com êste, o respectivo contrato de
trabalho sem indenização, desde que tenha havido ciência inequívoca da interinidade ao ser celebrado o
contrato”.

§ 5.108. Prescrição

1.PRECISõES. Prescriçao, conforme temos dito, E. apenas encobrimento de eficácia. Não se trata de preclusão,
que seria corte, interrupção, nem de suspensão; e sim de cessar a exigibilidade, por se ter encoberto o efeito
jurídico, a que o prazo de prescrição se refere. Por isso mesmo, o não-exercicio da exceção permite que o efeito se
revele e atue. Sôbre conceito de prescrição, causas de suspensão e de interrupção, Tomo 1, § 12, 8; II, 220, 1~ IV,
§§ 383, 8, 423, 445; VI, *§ 662-715.
Com a prescrição, não se extingue o direito, íiem a pretensão, nem a ação .
Algumas pretensões e ações do trabalhador são irrenunciáveis, porém não imprescritíveis. Se o empregado faz
algo de que lhe resulte direito autoral de personalidade, há iniprescritibilidade, pôsto que, um tanto
surpreendentemente, o dirú tu brasileiro permita ceder-se o direito de ligar o nome a u‟
2.PRAZO PRESCRIPCIONAL. O prazo prescripcional éde dois anos. O Decreto-lei n. 5.452 não estabelece
outros prazos, razão por que não se há de atribuir remissão ao ad. 11:
“Não havendo disposição especial em contrário nesta Consolidação, prescreve em dois anos o direito de pleitear a
reparação de qualquer ato infringente de dispositivo nela contido”. Em nenhum lugar do Decreto-lei n. 5.452
aparece outro prazo prescripcional. Prazos que se podem apresentar não são prazos prescrípewnai.s, mas sim
prazos preclusivos (e. g., arts. 86 e 858).

8.IMPEDIMENTO, SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO. As regras jurídicas que disciplinam o impedimento, a


suspensão e a interrupção da prescrição apanham as pretensões e ações oriundas do contrato de trabalho. Todavia,
no art. 440 do Decrete-lei n. 5.452, estabelecido está que não corre a prescrição contra o menor de dezoito anos,
ao passo que, fora do Direito do Trabalho, corre tal prazo entre os dezesseis e os dezoito anos (cf. Código Civil,
art. 169, 1).
A citação pessoal feita ao demandado, no Direito do Trabalho, interrompe, não suspende a prescrição. O art. 172,
1, do Código Civil rege a espécie, uma vez que se haja observado o ad. 166, § 2.0, do Código de Processo Civil
(Decreto-lei n. 5.565, de ii de agósto de 1942; Decreto-lei n. 6.790, de 15 de agôsto de 1944, art. 1.~).
Na jurisprudência sôbre o contrato de trabalho há julgados que incorrem em graves erros de direito; e. g., quando
se diz: a) que o prazo de prescrição começa de correr quando há negativa formal (7) da empresa de atender o
pedido (D. da J. de 11 de maio de 1951), pois a pretensão pode ter nascido antes; b) que o prazo prescripcional se
inicia, contra o empregado, com o conhecimento da violação dos seus direitos e não da violação mesma.
O direito às férias remuneradas não se extingue pelo fato de não as ter gozado o empregado, salvo se o empregado
recebe a remuneração correspondente e presta o mesmo, ou outro trabalho, com outra contraprestação. Fora daí, o
que se há de entender é que foram adiadas, com o consentimento do empregado e do empregador, qualquer que
seja o oferente. As férias anuais remuneradas somente podem ser fixadas pelo
empregador no comêço do ano, exceto se posteriormente o em-A pregado admite deslocação, ou se o uso local é
diferente.

CAPÍTULO IV

INVALIDADE E EXTINÇÃO DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO

§ 5.104. Causas de invalidade

1.PRECISõES. A propósito de idade do empregado já se expôs o que faz especial o direito do trabalho, em
relação ao direito comum. A forma não é, de ordinário, especial, e dela já cogitamos.

2.INFRAÇÃO DE REGRA JURÍDICA COGENTE. Se foi infringida regra jurídica cogente, é contrato. Tem-se,
pois, de distinguir do que, na legislação do trabalho, inclusive nas regras jurídicas subsidiárias, é jus eoge‟ns o
que apenas se há de ter como ins dispositivum ou como ins interpreta.tivuni..
Se havia contrato normativo de trabalho, que proffiia ou restringia a conclusão de contratos individuais de
trabalho com determinado grupo de pessoas, a inobservância da cláusula não tem como conseqUência a nulidade.
Apenas dá ensejo a denúncia cheia sem pré-aviso. Aliás, é preciso que antes se verifique se a cláusula foi, em
verdade, normativa vinculativa, ou apenas como cláusula não-normativa inserta em contrato coletivo de
trabalho, de cuja infração resulte inadimplemento contratual(WALTER KASKEL-I-IERMÂNN DERSCH,
Arbeitsreoht, 4~a ed.,§ 14, IV, 3, b). Na falta de explicitação de não ser vinculativa a cláusula do contrato
normativo, entende-se que o é.

3.ILICITUDE E IMPOSSIBILIDADE. Se o trabalho é impossível juridicamente ou fácticamente, nulo é o


contrato de trabalho. Todavia, vale o contrato de trabalho se o empregado não se vincularia a trabalho impossível,
mas sim, apenas,a trabalho cujo resultado seria impossível, pôsto que o quisesse o empregador.
A ilicitude do trabalho somente faz nulo o contrato de trabalho‟ se é do trabalho; e não da contraprestação da
empresa. Não é nulo qualquer contrato de trabalho se feito a hospedaria, qualquer que seja, e ocorre que o
hospedeiro explora lenocínio ou contratando ou a prática (te outros crimes, sem que o trabalho consista em
atração da freguesia ou em ocuitação ou cumplicidade. Dá-se o mesmo a respeito de casas oe diversões.

4. FRAUDE A LEI. A fraus legis assume relevância especial em matéria de legislação do trabalho, como em
todos os ramos de direito protectivo. Sôbre a fraus legis, Tomos 1, ~ 17;IV, §§ 405, 4, 406, 2, 3, 469 e 473, 1, 486,
1; VI, § 708, 2.
Para que se tenham por nulos os atos jurídicos em trauce à lei, não é preciso que exista, no sistema jurídico, regra
jurídica a respeito de tal causa de invalidade. A despeito disse, algumas leis preferem a explicitude e incluem
regra jurídica sôbre os atos jurídicos iii fraudem legis e a consequência de ter havido tal violação indireta da lei.
Nesse caminho, estatui o Decreto-lei n. 5.4~2, art. 9.0: “Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o
objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação”. O art.
9.~ somente cogita de fraude à lei. Não se procure nêle regra jurídica sôbre nulidade que não tenha como causa a
faus legis.

§ 5.105. ConseqUências da invalidade

1.IRRESTITUBILITIDADE DA PEESTAÇÃO DE TRABALHO. Direito protectivo, o direito ao trabalho tinha


de atender à irrestituíbilidade tia prestação do trabalhador, uma de cujas conseqUências é ter o empregador os
deveres oriundos do contrato de trabalho, mesmo se há nulidade. Assim, se o menor de quatorze anos continuou
no serviço, ou voltou a êle, depois dc ter quatorze anos conta-se-lhe o tempo de serviço anterior aos quatorze
anos.
2.DIREITOS QUE DERIVAM DO CONTRATO. Se o contrato de trabalho alcançou momento em que não
mais há a causa de invalidade, nascem os direitos à prorrogação e à renovação.
§ 5.106. Problema da extinçâo

1.PRELIMINARES. O contrato individual de trabalho pode ser desconstituído (ser decretada a nulidade, a
anulação, a resolução ou resilição, ou rescisão, pois que pode ocorrer o vicio redibitório), ou perder a eficácia. A
morte desconstitui ex nuno. Idem, a resilição e a denúncia. O distrato pode ter eficácia ex nuno ou ex tinto. Ao
advento do térmo ou ao implemento da condição, acaba, automáticamente, o contrato individual de trabalho.
Salvo se há cláusula explícita ou implícita de aviso prévio.

2. TERMINOLOGIA. No Decreto-lei n. 5.452, a propósito de extinção do contrato de trabalho, é lamentável a


terminologia. Chama-se “rescisão”, a cada momento, ao que rescisão imo e. Não se podem chamar, a fortiori
tratar igualmente, os casos de desconstituíção e de cessação, como o de morte, o de distrato, o de nulidade ou
anulação, o de resolução, o de revogaeao, o de denúncia, o de resilição e o de rescisão, que éra ris simo.

§ 5.107. Causas de extincão

1.ADVENTO DO TÊRMO OU IMPLEMENTO DE CONDIÇÃO. Ao atingir-se o têrmo, ou a condição


resilitiva, se o contrato individual de trabalho foi por tempo determinado, extingue-se o contrato, ex mine. Salvo
cláusula de préaviso, há, em tal espécie, a automaticidade.
A sucessão de contratos de trabalho, com tempo determina(lo, de jeito que se afastem as conseqUências da
incrustação <lo trabalhador na emprésa, faz nula a cláusula contratual, por Maus legis. O contrato posterior passa
a ser tratado como a prazo indeterminado. Não é nula a cláusula do primeiro contrato se não seria razoável o
tempo determinado: o assunto éde autonomia da vontade.
A terminação automática dá-se se o contrato foi de trabalha até se ultimar obra, ou serviço ou quando há
finalidade que não permanece. O contrato de trabalho a contento ou a prova é exemplo.

2. DISTRATO. O distrato, que é o mútuo consenso desconstitutivo, pode ser concluído a qualquer momento.
Não se trata de denúncia, de modo que as regras jurídicas a respeito dessa não são invocáveis, O distrato pode ser
para eficácia imediata, ou a têrmo, ou dependente de se implir alguma condição.
A alterabilidade dos contratos individuais de trabalho somente existe se não é para empiorar a situação do
empregado. Em conseqdência dêsse princípio, que é o princípio do não-em-pioramento do contrato, o que se
afastam são as cláusulas que não beneficiem o empregado. No que a situação dêle fica prejudicada, é nula a
modificação do contrato individual de trabalho. O exame há de ser objetivo. Não importa a opinião do empregado
quanto a ser melhor ou pior a alteração.
Decreto-lei n. 5.452, art. 468: “Nos contratos indixziduaia de trabalho só é lícita a alteração das respectivas
condições por mútuo consentimento, e, ainda assim, desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao
empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia”. Acrescenta o parágrafo único: “Não se
considera alteração unilateral a determinação do empregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo
efetivo, anteriormente ocupado, deixando o exercício de função de confiança”.
Odistrato desconstitui, não altera. Para que haja o distrato o que é preciso é o consentimento do empregado e do
empregador. A propósito do dístrato, o art. 468 do Decreto-lei n. 5.452 não é invocável, pôsto que possa ser nulo
ou anulável conforme os princípios gerais, inclusive por dolo.

3. DENÚNCIA VAZIA. O contrato de trabalho pode ser desconstituído, ex nuno, por denúncia vazia, dita,
vulgarmente, despedida sem causa. Trata-se de manifestação unilateral de vontade, receptícia. Têm a
denunciabilidade vazia tanto o empregador como o empregado. Se o contrato é a prazo indeterminado, entende-se
que é regular a denúncia vazia. Se a prazo determinado, não: a denúncia vazia é irregular, e há a indenizabilidade
e a incidência de regras jurídicas protectivas.
*
A denúncia vazia não depende de aceitação, porque a manifestação de vontade apenas é unilateral receptícia.
Basta que o empregador ou o empregado, a quem se dirige, esteja em situação de conhecê-la (e. g., chegou a carta,
e êle não a abriu; foi enviado o telegrama, a repartição ou a companhia de telegramas transmitiu-o pelo telefone,
e a pessoa, que recebeu o telegrama ou atendeu ao telefone, não comunicou ao empregador, ou ao empregado). Se
a pessoa a quem se dirige a denúncia vazia obsta à recepção, tem-se como recebida.
A lei não estabelece fonna especial para a denúncia vazia, mas o contrato individual de trabalho ou o contrato
coletivo normativo pode prevê-la.
A denúncia vazia modificativa é aquela com que um dos contraentes apenas se quer desvincular de parte do
contrato de trabalho. É inoperante, porque um só dos contraentes não pode modificar o contrato. A denúncia
vazia precautória é a denúncia vazia condicional, para que aquêle a quem se dirige a denúncia possa evitar a
eficácia.
Há a possibilidade da denúncia vazia, quer haja quer não haja tempo determinado no contrato. O tratamento
desigual concerne às conseqúências.
O periodo de prova, a que se refere o art. 478, § 1?, do Decreto-lei n. 5.452, de modo nenhum se há de confundir
com o contrato de trabalho a contento ou a. prova. Trata-se de penodo mais a favor do empregador do que do
empregado, porque êsse provàvelmente já conhece a empresa, o horário, as remunerações e as exigências. No
direito brasileiro, não se precisa de pacto ou cláusula de período de prova. Há a regra jurídica do art. 478, § 1.0.
No contrato de trabalho a tempo
determinado pode ser inclusa a cláusula de período de prova, Estabelece o Decreto-lei n. 5.452, art. 478: “A
indenização devida pela rescisão (!) de contrato por prazo indetennnado será de um mês de remuneração por ano
de serviço efetivo, ou por ano e fração igual ou superior a seis meses”. Acrescenta o § 1.0: “O primeiro ano de
duração do contrato por prazo indeterminado é considerado como período de experiência, e, antes que se
complete, nenhuma indenização será devida”. E o § 2.0: “Se o salário fôr pago por dia, o cálculo da indenização
terá por base 25 dias”. E o § 3.0: “Se pago por hora, a indenização apurar-se-á na base de 200 horas por mês”. E o
§ 49: “Para os empregados que trabalhem à comissão ou que tenham direito a percentagens, a indenização será
calculada pela média das comissões ou percentagens percebidas nos últimos três anos de serviço”. E o § 5.0:
“Para os empregados que trabalhem por tarefa ou serviço feito, a indenização será calculada na base média do
tempo costumeiramente gasto pelo interessado para realização de seu serviço, calculando-se o valor do que seria
feito durante 30 dias”.
Diz o Decreto-lei ri. 5.452, art. 474: “A suspensão do empregado por mais de 30 dias consecutivos importa na
rescisao (9 injusta do contrato de trabalho”.

4.DENÚNCIA CHEIA. Para que haja denúncia cheia, épreciso que se alegue justa causa para a denúncia e tal
elemento fáctico exista ou tenha existido. Tanto cabe no contrato de trabalho por tempo determinado como no
contrato de trabalho por tempo indeterminado.
Se há justa causa, pode o figurante do contrato, a despeito de caber a denúncia cheia, fazê-la com prazo (ALFEED
HECK -HANS CARL NIPPERDEY, Lehrbuch dez Arbeitsrechts, ~, 6.~ cd., 326; ARTEUR NIRISCH,
Arbeitsreúht, ~, 2Y ed., 607).
Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 482: “Constituem justa causa para rescisão (1) do contrato de trabalho pelo
empregador: a) ato de improbidade; b) incontinência de conduta ou mau procedimento; c) negociação habitual
por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para
a qual trabalha o empregado, ou fôr prejudicial ao serviço; d) condenação criminal do empregado, passada em
julgado, caso não tenha havido suspensao da execução da pena; e) desídia no desempenho das respectivas
funções; 1) embriaguez habitual em serviço; g) viola-cão de segrêdo da empresa; h) ato de indisciplina ou de
insubordinação; i) abandono de emprêgo; 1) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra
qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legitima defesa, própria ou de
outrem; k) ato lesivo da honra e boa forma ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores
hierárquicos, salvo em caso de legitima defesa, propria ou de outrem; 1) prática constante de jogos de azar

Rigorosamente a espécie do art. 482, i), é de resilição do contrato. Outras espécies, como as do art. 482, a), b), e)
e g), são suscetíveis de entrar na figura da resilição ou na figura da denúncia cheia.
Oempregado pode, por justa causa, denunciar o contrato. Lê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 483: “O empregado
poderá considerar rescindido (1) o contrato e pleitear a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços
superiores às suas fôrças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) fôr tratado pelo
empregador ou por seus superiores hierarquícos com rigor excessivo; e) correr perigo manifesto de mal
considerável; d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato; e) praticar o empregador ou seus prepostos,
contra êle ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama; f) o empregador ou seus prepostos
ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; g) o empregador reduzir o seu
trabalho, sendo êste por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários”. Acrescenta o
§ 19: “O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir (1) o contrato, quanto tiver de
desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço”. E o § 29: “No caso de morte do
empregador constituído em empresa individual, é facultado ao empregado rescindir (!) o contrato de trabalho”.
Rigorosamente a espécie do art. 483, d), é de resolução ou de resílição do contrato por inadimplemento ou
adimplemento ruim, e não de denúncia cheia. Algumas outras espécies permitem pensar-se nas duas figuras
devido á intensidade dos deveres de lealdade e de fidelidade.
Na espécie do art. 483, § 1.~, há denúncia cheia somente suspensiva No § 2.0, denúncia cheia por parte do
empregado, mas pode ocorrer que as circunstâncias hajam tornado causa extintiva do contrato a morte do
empregador.
Tem-se discutido se os arts. 482 e 483 do Decreto-lei n. 5.452 são exaustivas Não haveria outras justas causas.
Mas a resposta afirmativa, como a resposta negativa, peca por falta de exame da espécie de desconstituíção Se os
arts. 482 e 483 contêm regras jurídicas que não admitem denúncia cheia por parte do empregador e por parte do
empregado, isso de modo nenhum afasta que haja causas de extinção do contrato por inadimplemento ou
adimplemento ruim de que resulte resolução ou resilição. Os arts. 482 e 483 apenas se referiram às custas causas
para a denúncia cheia, inclusive se a espécie apresenta alguma possível infração contratual no adimplir e no
adimplir ruimente. Por outro lado, a causa da denúncia cheia e a da resilição ou mesmo da resolução pode ser
apreciada qualitativa ou quantitativamente.
A falta, não habitual, a que sucedeu tempo suficiente para se ter como de gravidade, deixa de ser alegável. A lei
não estabeleceu prazo preclusivo.

5.INADIMPLEMENTO DO CONTRATO POR TEMPO DETERMINADO E ATO DE DESPEDIDA. Se há


despedida sem causa justa para a denúncia cheia, há infracão do contrato de trabalho. Diz o Decreto-lei ri. 5.452,
art. 479: “Nos contratos que tenham têrmo estipulado, o empregador que, sem justa causa, despedir o empregado,
será obrigado a pagar-lhe, a título de indenização, e por metade, a remuneração a que teria direito até o têrmo do
contrato”. Acrescenta-se no parágrafo único: “Para a execução do que dispõe o presente artigo, o cálculo da parte
variável ou incerta dos salários será feito de acôrdo com o prescrito para o cálculo da indenização referente à
rescisão (1) dos contratos por prazo indeterminado”. Não se trata de “rescisão”, mas de infração do contrato, que
dá ensejo à indenização. Em verdade, o empregador denunciou o contrato de trabalho, sem justa causa, sendo
irregular a denúncia vazia. Despediu sem razão. Apressou-se em desconstituir o contrato e responde pela
indenização.
Quanto ao empregado, diz o Decreto-lei n. 5.452, ar t.. 480:
“Havendo têrmo estipulado, o empregado não se poderá desligar do contrato sem justa causa, sob pena de ser
obrigado a indenizar o empregador dos prejuízos que dêsse fato lhe resultarem”. Acrescenta o § 1.0: “A
indenização, porém, não poderá exceder àquela a que teria direito o empregado em idênticas condições”. E o §
2.0: “Em se tratando de contrato de artistas de teatros e congêneres, o empregado que rescindi-lo ( 9 sem justa
causa não poderá trabalhar em outra empresa de teatro ou congênere, salvo quando receber atestado liberatório,
durante o prazo de um ano, sob pena de ficar o nôvo empresario obrigado a pagar ao anterior uma indenização
correspondente a dois anos do salário estipulado no contrato rescindido <!)“.
A despeito de ser por tempo determinado o contrato de trabalho, pode ocorrer que se haja inserto a cláusula de
denúncia vazia. Daí dizer o Decreto-lei n. 5.452, art. 481: “Aos contratos por prazo determinado, que contiverem
cláusula assecuratória do direito recíproco de rescisão (9 antes de expirado o têrmo ajustado, aplicam-se, caso
seja exercido tal direito por qualquer das partes, os princípios que regem a rescisão (!) dos contratos por prazo
indeterminado”. Observe-se que a cláusula pode ser de denúncia cheia, conforme o enchimento que se prevê, ou
de denúncia vazia para os dois contraentes ou somente para um dos contraentes. Ali, não há invocar-se o art. 481;
aqui, sim.
Prevê-se no Decreto-lei n. 5.452, art. 484 a falta de justa causa para ambos os contraentes: “Havendo culpa
recíproca no ato que determinou a rescisão (!) do contrato de trabalho, o tribunal de trabalho reduzirá a
indenização a que seria devida em caso de culpa exclusiva do empregador, por metade”.

6. MORTE Do EMPREGADO. A morte do empregado extiugue o contrato de trabalho.

7. MORTE DO EMPREGADOR. Nem sempre a morte do empregador extingue o contrato individual de


trabalho, porque há, de regra, a sucessão na empresa. De modo que somente se, com a morte, cessa a atividade da
empresa, definitivamente, é que se pode pensar em extinção do contrato de trabalho. Daí dizer o Decreto-lei n.
5.452, art. 485: “Quando cessar a atividade da empresa por morte do empregador, os empregados terão direito,
conforme o caso, à indenização a que se referem os arts. 477 e 497”.
8.INTERRUPÇÃO E SUSPENSÃO DO TRABALHO. A cessação do trabalho pode ser temporária ou
definitiva. Diz o Decreto-lei n. 5.452, art. 486: “No caso de paralisação temporária ou definitiva do trabalho,
motivada por ato de autoridade municipal, estadual ou federal, ou pela promulgação de lei ou resolução que
impossibilite a continuação da atividade, prevalecerá o pagamento da indenização, que ficará a cargo do govêrno
responsável”. Acrescenta o § 1.0: “Sempre que o empregador invocar em sua defesa o preceito do presente artigo,
o tribunal do trabalho competente notificará a pessoa de direito público apontada como responsável pela
paralisação do trabalho, para que, no prazo de 30 dias, alegue o que entender devido, passando a figurar no
processo como chamada à autoria”. E o § 2.0: “Sempre que a parte interessada, firmada em documento hábil,
invocar defesa baseada na disposição dêste artigo e indicar qual o juiz competente, será ouvida a parte contrária,
para, dentro de três dias, falar sôbre essa alegação”. E o § 3.0:
“Verificada qual a autoridade responsável, a Junta de Conciliação ou juiz dar-se-á por incompetente, remetendo
os autos ao juiz privativo da Fazenda, perante o qual correrá o feito nos têrmos previstos no processo comum”.
A interrupção do trabalho, que é a cessão definitiva, pode ser conseqüência de ato estatal ou de autarquia. Idem,
a suspensão. O art. 486 do Decreto-lei n. 5.452 atribui ao Estado ou à autarquia a responsabilidade pelos
pagamentos das indenizações aos operários, sem qualquer distinção, se a paralisação, temporária ou definitiva,
proveio de ato estatal ou da autarquia . Assim se exprimiu o Decreto-lei n. 6.110, de 16 de dezembro de 1943, que
redigiu os §§ 1.0 e 2.0 do art. 486. Supõe-se que não tenha sido causador da interrupção ou da suspensão o
empregador, mas sim a entidade estatal (União, Distrito Federal, Estado-membro ou Município) ou autárquica.
Pelo afastamento dos empregados não há de ser responsável o empregador ao tempo da Lei n. 62, de 5 de junho de
1935, art. 5?, § 2?, os empregados das estivas particulares teriam de propor ação contra os empregadores, a que
caberia a ação regressiva contra a entidade estatal ou autárquica. A solução dada pelo Decreto-lei n. 6.110 permite
que se proponha a ação contra o empregador, que chama à autoria a entidade estatal ou autárquica, de cujo ato
resultou a interrupção ou a suspensão, ou contra a entidade estatal ou autárquica. Se estadual, distrital ou
municipal, à Justiça do Trabalho toca o julgamento da causa, definitivamente. Se a União, pode, liminarmente,
dar-se por incompetente a Justiça do Trabalho, e rege o ad. 201 da Constituição de 1946. Os autos tem de ser
remetidos ao Juízo da Fazenda Nacional (art. 486, § 2.0).
A despeito da generalidade do art. 486, não se pode considerar responsável a entidade estatal ou autárquica, se o
ato dela resulta de incidência e aplicação de lei penal, inclusive de lei de contravenção penal, ou de ato de
desapropriação de prédio em que funciona a empresa, mesmo se provado que, devido à entrega da posse, a
empresa não pode prosseguir na sua atividade. Aí, a entidade desapropriante tem de indenizar o valor do prédio,
conforme a Constituição de 1946, art. 141, § 16, 1a parte, e o dano que o seu ato cause a quem, por perder a posse
imediata somente por ter havido a desapropriação, tem de ser indenizado. Nessa indenização incluem-se as
importâncias que o possuidor imediato tem de pagar aos empregados.
Se, por ato unilateral da entidade estatal ou autárquica, se desconstituiu alguma relação jurídica entre a entidade
estatal ou autárquica e o empregador (e. g., empresa concessionária ou empreiteira), a responsabilidade da
entidade estatal ou autárquica somente existe se o afastamento doe empregados resulta de só terem sido
incrustados por haver a relação jurídica determinado os contratos de trabalho, ciente a entidade estatal ou
autárquica.

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