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O parto consiste em uma série de contrações uterinas rítmicas, progressivas e involuntárias que causam
apagamento (afinamento e encurtamento) e dilatação do colo uterino. Não se sabe o que causa o
estímulo para o trabalho de parto, mas a manipulação digital ou o alargamento manual do colo durante o
exame acentuam a contratilidade uterina, muito provavelmente pela estimulação da liberação de
ocitocina pela glândula hipófise posterior.
O trabalho de parto normal em geral começa dentro de 2 semanas (antes ou depois) da data prevista
para o parto. Na primeira gestação, o trabalho de parto leva em média 12 a 18 h; partos subsequentes
são geralmente mais breves, em média de 6 a 8 h.
O tratamento das complicações durante o trabalho parto requerem medidas adicionais (p. ex., indução do
parto, fórceps ou extrator a vácuo, cesariana.
(Ver também Anormalidades e complicações do trabalho de parto e do parto.)
Opções de nascimento
A maioria das mulheres prefere o parto hospitalar e a maioria dos médicos o recomenda em razão das
complicações maternas ou fetais inesperadas que podem ocorrer durante o parto ou no pós-parto,
mesmo em mulheres sem fatores de risco. Cerca de 30% dos partos hospitalares envolvem complicações
obstétricas (p. ex., lacerações, hemorragia pós-parto). Outras complicações incluem descolamento de
placenta anormal (separação prematura), padrão cardíaco fetal não tranquilizador, distocias de ombro,
necessidade de cesariana de emergência, anormalidades e depressão neonatais.
Todavia, muitas mulheres desejam um ambiente mais caseiro para o parto; em resposta, muitos hospitais
fornecem instalações para um parto com poucas formalidades e regulamentações rígidas, mas com
equipamentos de emergência e equipe habilitada. As maternidades podem ser independentes ou
localizadas nos hospitais; os cuidados em ambos os locais são semelhantes ou idênticos. Alguns hospitais
certificam parteiras para o cuidado de gestantes de baixo risco. As parteiras trabalham com o médico, que
está continuamente disponível para consultas e partos operatórios (p. ex., por fórceps, extração a vácuo
ou cesariana). Todas as opções de nascimento devem ser discutidas.
Para muitas mulheres, a presença do parceiro ou outros acompanhantes durante o trabalho de parto é
útil e deve ser incentivada. Apoio moral, incentivos e expressões de afeto diminuem a ansiedade e fazem
o processo do trabalho de parto menos assustador e desagradável. Cursos sobre o nascimento e o parto
podem preparar a família para enfrentar um trabalho de parto e parto normal ou complicado. Partilhar o
estresse do parto, sons e sinais de seus próprios filhos tende a criar fortes laços entre a família e entre a
família e o bebê. A família deve estar bem informada sobre quaisquer complicações.
Admissão
Tipicamente, as gestantes são aconselhadas a ir para o hospital se acharem que suas membranas se
romperam ou estiverem sentindo contrações com duração de, pelo menos, 30 s e que ocorram de modo
regular com intervalos de 6 min ou menos. Na primeira hora após a chegada ao hospital, se uma mulher
está em trabalho de parto geralmente pode ser determinada com base nos seguintes:
Ocorrência de contrações uterinas dolorosas regulares e sustentadas
Ruptura da membrana
Se esses critérios não forem encontrados, o falso trabalho de parto pode ser temporariamente
diagnosticado e a gestante deve ser observada por algum tempo e, se o trabalho de parto não se iniciar
em poucas horas, é enviada de volta para casa.
Quando a gestante é admitida, anotam-se sua pressão arterial,Cookies
frequências cardíaca e respiratória,
temperatura e peso, e observa-se a presença ou ausência de edemas. A urina é coletada para pesquisa de
proteínas e glicose e se obtém sangue para hemograma e tipagem sanguínea. Realiza-se o exame físico.
Durante o exame do abdome, o médico estima o tamanho, a posição e a apresentação do feto, utilizando
as manobras de Leopold ( Manobra de Leopold.). Observam-se a presença e a frequência dos batimentos
cardíacos fetais. Estimativas preliminares de intensidade, frequência e duração das contrações também
são obtidas.
Um dispositivo mnemônico útil para avaliação é o 3 Ps:
Poderes (força, frequência e duração das contrações)
Manobra de Leopold.
(A) O fundo uterino é palpado para determinar que é ocupado pela parte fetal. (B) Cada lado do
abdome materno é palpado para determinar que lado corresponde à coluna fetal e quais as
extremidades. (C) A área acima da sínfise púbica é palpada para localizar a parte em apresentação e
assim determinar quanto o feto desceu e se está encaixado. (D) Uma mão aplica pressão sobre o
fundo, enquanto o dedo indicador e o polegar da outra mão palpam a parte em apresentação para
confirmar a apresentação e o encaixe.
Se o trabalho de parto estiver ativo e a gestação estiver a termo, uma enfermeira obstetriz ou um médico
realiza toque vaginal com os 2 dedos da mão (usando luva) para avaliar a progressão do trabalho de
parto. Se houver sangramento (em particular, se intenso), adia-se o exame até que a localização da
placenta se confirme por ultrassonografia. Se o sangramento resultar de placenta prévia, o exame vaginal
pode desencadear hemorragia grave.
Se o trabalho de parto não estiver ativo, mas as membranas estiverem
Cookies rotas, procede-se a um exame
especular inicialmente para documentar a dilatação e o apagamento cervical e estimar a posição (local da
parte apresentada); entretanto, adia-se o exame digital até que ocorra a fase ativa do trabalho de parto
ou problemas (p. ex., queda da frequência cardíaca fetal). Se as membranas estiverem rotas, deve-se
observar a presença de mecônio fetal (o qual produz uma coloração marrom-esverdeada), pois pode ser
um sinal de estresse fetal. Se o trabalho de parto for pré-termo (< 37 semanas) ou não tiver se iniciado,
deve-se realizar apenas um exame especular estéril e obter uma cultura para gonococos, clamídia e
estreptococos do grupo B.
Obtém-se dilatação cervical em centímetros, como o diâmetro de um círculo; com 10 cm é considerada
completa.
O apagamento é estimado em porcentagens, de zero a 100%. O encurtamento do colo pode ser obtido
em centímetros usando-se como guia a média normal e não apagada do comprimento cervical de 3,5 a
4,0 cm.
O plano de descida é expresso em centímetros acima ou abaixo das espinhas isquiáticas. O nível da
espinha isquiática corresponde ao plano 0; os níveis acima (+) e os abaixo (−) da espinha isquiática são
medidos em centímetros. A situação fetal, a posição e a apresentação são anotadas.
Posição descreve a relação do eixo axial do feto com aquele da mãe (longitudinal, oblíquo,
transverso).
Posição descreve a relação da parte fetal apresentada com a pelve materna (p. ex., OEA — para
cefálico, SDP — para pélvico).
Apresentação descreve a parte do feto na abertura cervical (p. ex., pelve, vértice, ombros).
Analgesia
Os analgésicos podem ser utilizados durante o trabalho de parto, mas deve-se administrar somente a
menor quantidade requerida para o conforto materno, porque os analgésicos atravessam a placenta,
podendo causar depressão respiratória neonatal. Pode ocorrer toxicidade neonatal, pois, antes da secção
do cordão umbilical, o neonato, cujos processos de metabolização e excreção são imaturos, livra-se do
fármaco recebido de maneira lenta, por meio de metabolização hepática ou excreção urinária. As
orientações sobre o nascimento e o parto reduzem a ansiedade.
Os médicos oferecem cada vez mais a injeção epidural (provendo a anestesia local) como primeira escolha
para a analgesia do parto. Tipicamente, o anestésico local (p. ex., ropivacaína a 0,2%, bupivacaína a
0,125%) é continuamente infundido, com frequência com um opioide (p. ex., fentanila, sufentanila) no
espaço epidural lombar. Inicialmente, dá-se a anestesia com cautela para evitar a diminuição da
consciência da pressão que ajuda a estimular o empurrão e também para evitar o bloqueio motor. Deve-
se tranquilizar as mulheres de que a analgesia epidural não aumenta o risco de cesariana (2).
Se a injeção epidural for contraindicada ou for preferível a administração IV, é comum usar fentanil (100
Mg) ou sulfato de morfina (até 10 mg) IV a cada 60 a 90 min. Ambos os opioides promovem boa analgesia
com baixas doses. Se houver toxicidade, pode-se administrar naloxona, 0,01 mg/kg, IM, IV, SC ou
endotraqueal ao neonato como um antagonista específico. A naloxona pode ser repetida dentro de 1 a
2 min com base na resposta do neonato. Os médicos devem checar o neonato 1 a 2 h após a dose inicial
de naloxona, pois os efeitos da dose inicial se atenuam. Cookies
Se fentanil ou morfina fornecem analgesia insuficiente, deve-se usar uma dose adicional de opioide ou
outro método analgésico em vez dos chamados fármacos sinérgicos (p. ex., prometazina), que não têm
nenhum antídoto. (Esses fármacos, na realidade, são aditivas e não sinérgicas.) Os fármacos sinérgicos
ainda são algumas vezes utilizadas, pois diminuem as náuseas causadas pelos opioides; devem-se
administrar doses pequenas.
Referência geral
1. Zhang J, Landy HJ, Branch DW, et al: Contemporary patterns of spontaneous labor with normal neonatal
outcomes. Obstet Gynecol 116 (6): 1281–1287, 2010. doi: 10.1097/AOG.0b013e3181fdef6e.
2. Practice Guidelines for Obstetric Anesthesia: An Updated Report by the American Society of
Anesthesiologists Task Force on Obstetric Anesthesia and the Society for Obstetric Anesthesia and
Perinatology*. Anesthesiology 124:270–300, 2016. doi: 10.1097/ALN.0000000000000935.
Monitoramento fetal
O bem-estar fetal deve ser monitorado durante o trabalho de parto. Os principais parâmetros basais são
FC fetal e sua variabilidade, em particular como eles mudam em resposta a contrações uterinas e
movimento fetal. Como a interpretação da FC fetal pode ser subjetiva, certos parâmetros foram definidos
( Definições de monitoramento fetal).
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Vários padrões são reconhecidos; eles são classificados em 3 camadas [(categorias 1)], que geralmente se
correlacionam com o estado ácido-base do feto:
Categoria I: normal
Um padrão normal prediz fortemente o estado fetal de ácido-base normal no período de observação.
Esse padrão tem todas as características a seguir:
FC 110 a 160 bpm na linha de base
Desacelerações precoces e acelerações apropriadas para a idade podem estar presentes ou ausentes em
um padrão normal.
Um padrão indeterminado é qualquer padrão não claramente classificado como normal ou anormal.
Muitos padrões são qualificados como indeterminados. Se o feto é acidótico não pode ser determinado a
partir do padrão. Padrões indeterminados exigem monitoramento fetal atento de tal modo que qualquer
deterioração possa ser reconhecida o mais rápido possível.
Um padrão anormal geralmente indica acidose metabólica fetal no momento da observação. Esse
padrão é caracterizado por um dos seguintes:
Variabilidade da FC basal ausente mais desacelerações tardias recorrentes
Variabilidade da FC basal ausente mais bradicardia (FC < 110 batimentos/min sem variabilidade ou
< 100 batimentos/min)
Padrões anormais exigem ações imediatas para corrigi-los (p. ex., oxigênio suplementar,
reposicionamento, tratamento de hipotensão arterial materna, interrupção da oxitocina) ou preparação
para um parto acelerado.
Padrões refletem o estado fetal em um determinado ponto no tempo; padrões podem e mudam.
O monitoramento pode ser manual e intermitente, usando-se um fetoscópio para auscultar a FC fetal.
Entretanto, nos EUA, o monitoramento eletrônico (externo ou interno) tem se tornado o padrão nos
cuidados a gestantes de alto risco e muitas clínicas o utilizam para todas as gestantes. O valor do uso
rotineiro do monitoramento eletrônico em partos de baixo risco é muitas vezes debatido. Mas foi
demonstrado que o monitoramento eletrônico fetal reduza a taxa de mortalidade geral em grandes
ensaios clínicos e mostrou aumentar as taxas de cesariana, provavelmente porque muitas anormalidades
aparentes são falso- positivas. A taxa de cesarianas é mais alta nas mulheres monitoradas
eletronicamente do que nas mulheres monitoradas por auscultação.
A oximetria do pulso fetal é estudada como uma forma de confirmar anormalidades ou resultados
equívocos do monitoramento eletrônico; o estado de oxigenação fetal pode ajudar a determinar se a
cesariana é necessária.
Análise do segmento ST e da onda T fetal no trabalho de parto (STAN) pode ser usada para verificar
no ECG fetal elevação ou depressãodo segmento ST; qualquer um dos resultado presumivelmente indica
hipoxemia fetal e tem alta sensibilidade e especificidade para acidose fetal. Para STAN, um eletrodo deve
ser anexado ao couro cabeludo fetal; então alterações na onda T e no segmento ST do ECG fetal são
automaticamente identificadas e analisadas.
Se a ausculta manual da FC for utilizada, deve ser efetuada durante todo o trabalho de parto, de acordo
com diretrizes específicas, sendo necessária uma enfermeira para cada paciente.
Para gestantes de baixo risco, em trabalho de parto normal, a FC fetal deve ser checada depois de
cada contração ou a cada 30 min durante a 1ª fase do parto e a cada 15 min durante a 2ª fase.
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Para gestantes de alto risco, deve-se checar a FC fetal a cada 15 min na 1ª fase e a cada 3 a 5 min na
2ª fase.
Recomenda-se ouvir por pelo menos 1 a 2 min, com início no pico da contração uterina a fim de checar
desacelarações tardias. A ausculta periódica tem taxas menores de falso-positivos para anormalidades e
incidência de intervenções que o monitoramento eletrônico contínuo e promove maior contato pessoal
com a mulher durante o trabalho de parto. Entretanto, seguir o padrão das diretrizes para ausculta é
geralmente difícil e pode não ser custo-efetivo. Além disso, a menos que efetuada cuidadosamente, a
ausculta pode não detectar anormalidades.
O monitoramento eletrônico da FC fetal pode ser
Externo: os dispositivos são colocados no abdome materno para registrar os sons dos batimentos
cardíacos fetais e as contrações uterinas.
Interno: as membranas amnióticas devem estar rompidas. Então, inserem-se sensores através da
cérvice; fixa-se um eletrodo no couro cabeludo para monitorar os batimentos cardíacos e coloca-se
um cateter na cavidade uterina para medir a pressão intrauterina.
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