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SETEMBRO — 1965 is ASPECTOS DA REFORMA JUDICIARIA Victor Naw bed Miniecne dus Sapte sis Tertooan! 1) SUPREMO TRIBUNAL: A QUESTAO DO NGMERO OE JUIZES | = Colocagae do problema. Il — Relagéo entre o nime- ro de juizes e « natureza da fungio. 0 S.T.F. como ins- tania especial. Solugdes alternativas para o aumento dos juizes. Ill — Criagdo da Terceira Turma. Congestio- namento do Tribunal Pleno. Inconvenientes das Turmas. Questées legais e constitucionais. Nenhuma razdo para mais cinco ou seis juizes. IV — Aumento do némero para mudar 0 orientacao do Tribunal? Exemplos de frustra- G0, Agravo independéncia do Judiciério, V — Cola- boragio dos advogados. 2) 0 REQUISTTO DA RELEVANCIA PARA REDUCAO DOS ENCARGOS DO SUPREMO TRIBUNAL 1 — Redugéio da competéncia. Supresséo da letra a Uso prévio de acdo rescisria. Separagdo entre_maté- ria legal e constitucional. Il — Criagéo de outra Turma. Ill — Vantagens de um critério flexivel. Redugdo parcial da competéncia. Requisito da rel . Nogdo da relevancio. 0 falso problema do subjetivismo. A técnica do contrapéso. 0 método da “Sumula”. IV — Confianga na Justica. 16 REVISTA DE INFORMAGAO LEGISLATIVA 1) SUPREMO TRIBUNAL: A QUESTAO DO NOMERO DE JUIZES I — COLOCACAO DO PROBLEMA Das propostas apresentadas ao exame do Govémo ara a reforma judiciéria h4 um ponto sObre o qual tem vido alguma insisténcia e muita incompreensio: 0 aumento do mimero de Ministros do Supremo Tribunal Federal. A idéia {4 foi combatida no anteprojeto do proprio Tribunal (1), que tive a honra de subscrever com meus eminentes colegas, mas 0 assunto comporta andlise mais pormenorizada, O tema é da maior importdncia, porque as sugestdes trazidas ao conhecimento piblico tém sido para a no- meagio de mais cinco ou seis juizes. O propésito seria criar'se uma Terceira Turma, para melhor desembarago de seus encargos, mas, de outro lado, um acréseimo téo numeroso, num Tribunal de onze, também poderia resultar na mudanga de sua orientagao, nas questes em que haja divergéncia de votos na composigéo atual. Falando em tese, portanto, a medida poderia visar a aqalquer désses dois abjetivos, o que impoe a andlise do problema sob os dois aspectos: 0 da maior eficiéncia do ‘Tribunal e 0 da possfvel modificagio de sua juris- prudéncia. Il — RELAGAO ENTRE O NUMERO DE JUIZES E A NATUREZA DA FUNGAO Para justificar © aumento do nimero de juizes, tem-se angumentado com 0 crescimento progressivo do nimero de processos levados ao exame do Supremo Tribunal. Nesse raciocinio est4 expresso ou implicito que existe relagio diretamente proporcional entre as duas quantidades: se hé mais volumes a movimentar no cais, € preciso contratar mais estivadores. O argumento jé serfa defeituoso quanto a0 proprio trabalho bragal, porque nio estaria considerande, como seria necessario, as condigdes materiais do servigo. & ainda mais erréneo no plano intelectual, onde o quadro do pessoal, para ser mais produtivo, ha de estar proporcionado a natureza do trabalho especifico. Se éste elemento nao for levado na devida conta, os resultados poderao ser contraproducentes, como aconteceré no caso do Supremo Tribunal. Ninguém tentaria, por exemplo, criar duas Presidéncias da Republica, por serem deia- 2) ST, Reforma Judtotarta, p. 11 (1968). SETEMBRO — 1965 7 sindos os seus afazeres, nem instituir, pelo mesmo motivo, dois Senados e duas Cdmaras de Deputados, ou dobrar ‘© nimero dos congressistas. A) O S.T.F. como instincia especial © Supremo Tribunal difere muito, pela natureza de suas fungées, dos demais tribunais do Pais. Estes outros (afora as peculiaridades do Tribunal Superior do Tra- balho e do Tribunal Superior Eleitoral) sao tribunais que julgam do fato e do direito, mas o Supremo Tribunal nao é uma terceira instaneia que devesse julgar de névo as mesmas questées decididas pelos outros. Em casos raros, do mesmo modo que os demais, funciona como primeira instineia. Em outros — nos crimes politicos — funciona come segunda instincia, Mas, justamente por nao serem éstes tltimos apropriados as suas atribuigdes especificas, o Supremo ‘Tebunal sugeriu, em sou projeto, que 0 julgamento dos crimes politicos seja passado ao Tribunal Federal de Recursos @). A razio de ser da sua jurisdigao nao é ser apenas um tribunal superior, mas uma instancia especial, para fixar e uniformizar a interpretagio do direito federal, notadamente, da Constituigao. Com estas caracteristicas, éle é 0 arbitro dos Podéres do Estado, na delimitagio das respectivas competéncias, como € 0 rbitro das competéncias da Uniiio, dos Estados e dos Municipios. £ também o fiel das limitagdes impostas pela Constituigao a todos os Podéres, qualificado per esta prerrogativa como o mais alto guardiao das liberdades € direitos individuais. Realmente, para o exercicio de tais fungées, teria de haver um Tribunal sé, cujas decisées fossem conclusivas, e haveria de ser colocado, como foi, no Apice da escala judiciatia. Por isso mesmo Ihe foi atribuido o encargo de ser também 0 intérprete iltimo das leis federais, para que nio sejam aplicadas diferentemente pelos outros tribunais, 0 que sacrificaria o principio basica da unidade do direito da Uniao. So, portanto, fungdes especialissimas as do Supremo. Tribunal, que nio podem ser divididas com outros tribunais, A partir da natureza dessas fungoes & que se ha de apurar qual deva ser o niimero adequado de seus jnizes. Nao é, pois, 0 volume de processos a julgat que 4 de determinar ésse némero; mas, ao contrario, 0 niimero adequado de jutzes, em razio da natureza de sua tarefa, & que deve regular 0 volume dos processos que possam chegar a0 Supremo Tribunal, e também a (2) Ob, elt, pI REVISTA DE INFORMACAO LEGISLATIVA maneira pela qual ésses processos devam ser por éle apreciados. Tendo em vista estas razdes, observon o Supremo, Tribunal em seu estudo: “A existéncia de Tribunais estaduais numerosos também nao prova em contrario, porque a natureza de suas fungGes nao os identifica com o Supremo Tribunal. Enquanto lhes cabe apreciar a prova ¢, portanto, examinar cada caso em particular, ao upremo Tribunal compete, quase tnicamente, definir o direito, Désse modo, o julgamento de uma causa significa, muitas vézes, 0 prejulgamento de dezenas e centenas de outras, pela identidade do problema juridico, sem reexame da prova que as diferenciaria umas das outras. Esta é uma das ra- z&es por que a Cérte Suprema dos Estados Unidos, pais mais populoso que o nosso ¢ de maior movimen- to forense, pode funcionar satisfatériamente com apenas nove juizes.” (*) Frankfurter pés em relévo a diferenga de natureza entre ésses tribunais, 20 comentar 0 famoso livro que Benjamin Cardozo escreveu sébre A Natureza do Processo Judicial. Esse livro, lido e mais de uma vez relido por éle, io The tinha sido de grande utilidade na decisao dos dificeis casos apresentados & Corte Suprema. E a razii iio era a qualidade da obra, que se tornou classica, mas a circunstincia de ter sido escrita quando Cardozo ainda cra Juiz do Tribunal de Apelagio do Estado de Nova Torque, antes, portanto, de sua experiencia na Cérte Suprema. Escreve Frankfurter: “No ano em que éle deixou Albany por Washington, em 1932, smente duas, entre cem decisées do repertério do Tribunal de Nova Torque, trataram da espécie de quesides que constituem a maxima preocupacio da Cérte Suprema, E dos 149 votos que éle veio a redigir nesta tltima, falando pela maioria ou como dissidente, sémente dez cuidavam de matérias comparaveis aquelas com que se defrontava no Tribunal de Apelagao de Nova lorque.” (*) B) Solugées alternativas para o aumento dos juizes © exemplo da Cérte Suprema dos Estados Unidos é hem ilustrativo, porque desde 1869 permanece inalteravel fimero de seus juizes. Nem as raves politicas, com que periddicamente se tem procurado modificar sua composi- @) Ob at, p. 2. (4) Some Observations on the Nature of the Judictal Process of Supreme Court Litigation, p. 2-3 \1964)- SETEMBRO — 1965 _ 0 a0, lograram, dai por diante, como j& acontecera ne passado, suplantar a opiniao publica e convencer a maioria do Congresso. Igualmente nao tiveram éxito, para 0 mesmo fim, as justificativas baseadas na conveniéncia do servigo. Em 1922, por exemplo, bastou a impugnagio de Taft, Presidente da Cérte, para que malograsse um projeto da poderosa American Bar Association, Em 1937, a ropost de Roosevelt, que também alegava actimulo de trabalho, foi derrotada principalmente pela oposigao enérgica do Chief Justice Hughes, Foram sempre medidas de outra natureza as adotadas para aliviar o trabalho da Cérte Suprema, prevalecendo o conselho e as adverténcias de seus juizes, pois ninguém conheceria melhor do que éles as suas proprias dificuldades ¢ os meios idéneos para remové-las. A experiéncia dos advogados é da maior valia, mas éles tendem a encarar 0 problema apenas pelo angulo de quem pleiteia perante o Tribunal. Os juizes, quase todos antigos militantes da advocacia, mesmo os que provieram da judicatura, conhecem a questo pelos dois lados. Pelo tirocinio passado e presente, éles se sentam, ao mesmo tempo, em frente e por detras da tribuna dos debates. Em 1891, a solugio nos Estados Unidos foi a criagao dos Tribunais Federais de Circuito, que retirou da Cérte Suprema a fungdo de tribunal de segunda instancia. Entre nés, essa reforma ji foi feita pela Constituigéo de 1946, que criou o Tribunal Federal de Recursos, instalado em 1947. Em 1925, outra importante reforma foi realizada na repiblica norte-americana, pela qual ficou a Cérte Suprema, praticamente em todos os casos, com a prerro- galiva de s6 julgar, dentre os processos a ela submetidos, aquéles que sejam realmente relevantes do ponto de vista do interésse publico. Essa reforma foi realizada igualmente por sugestio dos seus juizes, e é também, com as adaptagdes necessdrias, a solugio basica que hoje propée o Supremo Tribunal Federal, em seu estudo. (°) Frankfurter, saudoso Juiz da Corte Suprema, assim se referin as propostas de se aumentar 0 némero de seus juizes, para fazé-la funcionar em duas divisdes, que aqui chamariamos Turmas: “A experiéncia mostra decisiva- mente que seria _contraproducente (self-defeating) aumentar o tamanho da Corte Suprema. (...) A Inglaterra ea Franga foram citadas como exemplos de tais sistemas (5) Ob. cit, p, 19-14, Nao me estenderel s6bre éste problema, que PNowjeto “de outra palestea, a ser proferids em Sio Paulo: © Requisite da “ietevaneia” “para Redurdo dos Encargos do Supreme Tribunal. REVISTA DE INFORMACAO LEGISLATIVA de organizagio judicidria, e sua experiéncia tem sido aproveitada por alguns dos Estados norte-americanos. Mas qualquer dessas medidas seria fatal para as fungdes especiais da Cérte Suprema.” (*) Vé-se, nesta passage, que é de fundamental impor- tancia considerar a natureza especial das fungdes do Tribunal, para se decidir sdbre o niimero de seus juizes. Nos tribunais de segunda instancia, como sio os Tribunais de Justica dos Estados, existe mais direta relagio entre o niimero de processos ¢ 0 niimero de juizes, porque eles julgam a prova, em cada caso, Assim também procediam o Supremo Tribunal, nos recursos de interésse da Unido, antes de 1947, e a Cérte Suprema, antes de 1891, Nao teria, hoje, portanto, o menor propésito lembrar que o Supremo Tribunal tinha quinze ministros no regime da Constituigao de 1891, porque Aquela época éle funcionava também como tribunal de segunda instincia da Unido. Mas essa jurisdicéo mista, de’ juiz da prova e do direito, éle a perdeu, como convinha, exceto em casos raros, que nao contribuem para sua sobrecarga atual. Sua posigo hoje é, portanto, muito mais assemelhada & da Cérte Suprema do que no regime de 91, justificando plenamente o paralelo que vimos fazendo, Para as fungées préprias do nosso Supremo Tribunal, como da Cérte Suprema norte-americana, que exigem mais funda reflexio e maior grau de responsabilidade individual nas decisdes, por suas conseqiiéncias de ordem publica, uma composi¢io numerosa seria perturbadora e mesmo destrutiva, além dos inconvenientes praticos que adiante serio analisados. Se a Cérte Suprema pode funcionar adequadamente com nove juizes, nao se pode ter como insuficiente 0 mimero de onze, que vem sendo mantido, no Brasil, desde 1931. Com a mesma justificagao com que passariamos para quinze ou dezesseis, a Cérte Suprema dos Estados Unidos deveria transformar-se numa pequena assembléia, Entretanto, a solugio contréria é que estd sendo aconselhada pela experiéncia do numeroso Tribunal Federal Constitucional alemio. A éle se refere, nestes térmos, a ilustre Comissio do Instituto dos Advogados Brasileiros, em seu trabalho recentissimo, citando as observagdes dos Professdres Edward MeWhinney ¢ Orlando Bitar: “a ultima tendéncia é reduzir ali o nimero (6) “Supreme Court, United States”, na Encyclopaedia of the Sociat Setences, 14/478, 479. SETEMBRO — 1965 21 de juizes ¢ acabar com as duas Cimaras, substituindo-as por um Tribunal uno. que passaria a ter apenas oito ou dez juizes, abolidos os doze de cada Camara.” (*) HI — CRIACAO DA TERCEIRA TURMA Até aqui, analisamos a inconveniéneia do aumento do ntimero de juizes do Supremo Tribunal em razao da natureza de suas fungdes, isto é, no pressuposto do seu funcionamento em reunides plendrias, Vejamos agora a alegada vantagem cle se ria mais uma Turma, com os novos iministros, bem como os reflexes dessa medida em relagio ao Tribunal Pleno, ‘A) Congestionamento do Tribunal Pleno © fundamento implicito dessa proposta é que sio as mas que estio congestionadas, nao o Tribunal Pleno. Daf a necessidade de se criar mais uma, pelo excessive trabalho que apenas dnas mio conscguiriam realizar A expcri¢neia do Tribunal, entretanto, comprova 0 contrario. & no Tribunal Pleno que tem havido maior actimulo de processes, especialmente com a sobrecarga dos mandados de seguranga e dos habeas corpus. Eis 0 motive por que o Supremo ‘Tribal tem realizado, normalmente, por semana, tres _sessdes plendrias, e uma sé de cada Turma. Em 1964, 0 Pleno teve 108 sessdes, ¢ as duas Turmas, em conjunto, apenas 82, No mesmo periodo, 0 miinero de processos julgados no Pleno foi de 4.170, ¢ nas duas Turmas foram julgados apenas 3.79, A conclusio a tirar-se désses dados é que uma solugéo que aumentasse o rendimento das Turmnas, sem reduzir o$ encargos do Tribunal Pleno, nao teria qualquer significagio quanto & produtividade do ‘Tribunal como um todo, A medida seria antes contraproducente, Em 1964, dos 3.779 feitos julgados nas Turmas, cérca de 1.330 foram Jevados ao Pleno pelas partes inconformadas, representando mais ou menos 35% do movimento das Turmas. Criada que soja mais uma Torma, uma petegntagem aproxinada dos seus processos também sera jovada a0 Plendrio, cuja carga, portanto. seri aumentada. Alids, se 0 aumento das Turmas pudesse operar 0 milagre, bastaria que elas realizassem duas sessoes por Seinana, em ver de_wina s6, reduzindo-se de trés para duas as sessies do Pleno. para qne o problema ficasse (1) LAR. A Reforma do Poder Judiclirio da Unido -— Parecer dx Siiokinde Expect: “aro Texel Valitho, Otto de Andade Gite Celestino de Sa eretre Basiiio (1965) REVISTA DE INFORMAGAO LEGISLATIVA solucionado, Mas © que teve de fazer o Tribunal, por forga da necessidade, foi justamente o inverso: aumentar © mimero de sessées do Pleno, com diminuiggo das sessées das Turmas. E 0 nosso Regimento permite, atualmente, que 0s processos mais relevantes sejam julgados diretamente no Pleno, e nio nas Turmas, para eliminar 0 segundo julgamento, nos embargos, que seriam inevitdveis, Realmente, algum alivio do Plenario pode ser obtido com a transferéncia de certos processos para as Turmas. Mas essa providénca, que vem sendo estudada pelos ministros do Supremo Tribunal em seus diversos aspectos, nao comporta qualquer solugao mecanica. $40 duas as férmulas mais vidveis, defendidas por varios Ministros: uma seria a transferéncia para as Turmas dos habeas corpus e mandados de seguranga que versassem questées de direito 4 compendiadas na Simula da Jurisprudéncia Predominante do Supremo Tribunal; outra seria o uso mais generalizado, pelo relator, da faculdade regimental de jindeferir in’ fimine os ‘pedidos manifestamente inadmissiveis. Entretanto, para solugdes dessa matureza, nfo é preciso aumento do mtimero dos Ministros, nem reforma constitucional: bastam emendas regimentais, que o Tribunal, por prudéncia, s6 tem adotado apés meticulosa rellexao ‘de todos. 0s, seus juizes, Seria, sem duvida, facilitada a nossa tarefa, se a mesma liberdade de procedimento, que a lei nos confere em relagio a0 recurso extraordindrio (*), fésse estendida a todos os demais processos que chegam ao Tribunal. B) Inconvenientes das Turmas A criagdo da Terceira Turma poderia, tedricamente, ser uma solugao, se fOsse possivel impedir que os pro- cessos decididos pelas Turmas chegassem ao Plendrio. Para isso, seria necessdrio adotar uma de duas medidas: ou definir a competéncia de cada uma ratione materiae, para reduzir ao minimo a divergéncia dos julgados; ou tomar irecorriveis para o Plenario as decisées das Turmas. A primeira solugao ofereceria dificuldades intrans- poniveis, por ser impossivel a repartigio eqiitativa da carga do servigo. Imaginemos, por exemplo, a discrimi- nagao entre processos civeis e criminais. Veremos, entito, que em 1964 as duas Turmas julgaram apenas 164 feitos criminais, em confronto com 3,525 processos civeis. Su- (8) L, 9.396, do 2-6-98, art. 7. pondo-se, para argumentar, que os L043 processos cri minais do Tribunal Pleno pu dlessem_passar’ para as Tur. mas, terfamos, ainda assim, 1.207 feitos criminais contra 3.525 civeis. Como, pois, fazer a divisio sob ésse critério, mesmo que houvesse trés Turmas? Se uma ficasse com a ma- téria criminal, e entre as outras duas se repartisse a matéria civel, j4 néo teriamos competéncias separadas, teriamos competéncia conjunta, pelo menos de duas Tur- mas, com a mesma percentagem de dissidio jurispraden- cial que existe atualmente. Para fugir 4 desigualdade na distribuigio dos en- cargos entre as Turmas, terfamos de optar pela alterna- tiva ha pouco mencionada, isto é, tornar irrecorriveis as decisies das Turmas, que teriam competéncia conjunta para quaisquer processos. Mas isto nao seria uma solu- giv: seria a destruigéo do Supremo Tribunal como ins- trumento de uniformizagio do direito federal. Como observamos anteriormente, 0 pressuposto da necessdria unidade na aplicagio do direito federal é que a tltima palavra na sua interpretaggo caiba a um s6 Tribunal. Se as Turmas pudessem decidir sem recurso, mesmo em caso de divergéncia, nao terfamos um Supremo Tribunal, mas dois ou trés, que seriam as suas Turmas. Cada uma delas teria eventualmente sta prépria jurisprudéncia, ¢ ficaria frustrada uma das principais razdes de ser do Su premo Tribunal Federal. Este é 0 motivo por que a existéncia das duas Tur- mas atuais do Supremo Tribunal — criadas em 1931 — tem sido inseparével da admissdo de embargos das suias decisdes para o Tribunal Pleno, variando apenas os pressupostos désse recurso. (°) Até hoje, nos Estados Unidos, nao vingou qualquer tentativa de dividir em turmas a Gérte Suprema, que s6 julga em plenario, com © quorum minimo de seis juizes, Quando o Presidente Franklin Roosevelt féz idéntica roposta em 1937, o Chief Justice Hughes, embora fa- lando em seu nome, porque néo chegou a consultar to- dos os colegas, sustentou a inconstitucionalidade da cria- (ao das turmas (divisions). (2°) Entre nés, 0 Supremo Tribunal, durante téda a Pri- meira Repiblica, s6 funcionava em’ sessdes plendrias. A criagio das Turmas por ato do govemno discriciondrio (9) Velam-se: D. 19.656, de 32-31: D. 20.108, de 13-6-31: DL. de Tél-sT: Reg. STF. art. 194, Li L. 625, ‘de 19-2-40; recured ds revisia no Projeto Malton Campos. ‘art. 11 1Senado. 39/960) (20) Os trechos principals da carta que entéo dirigiu ao Presidente da Comissao Judieisria do Senado forum transerttos por Dexter Perkine, Charles Evans Hughes and American Democratic Sta- Termanaiip (1996). 0. intelro teor fo! reprodusido, do. Con Qressional Record, om Mathews © Berdahl, Documents and Readings 08 American Government. (19471 REVISTA DE INFORMAGAO LEGISLATIVA da Revolugio (D. 19.656, de 1931) exclufa qualquer de- bate sébre a sua constitucionalidade ou conveniéncia. Repita-se ainda, a ésse respeito, que até 1947 0 Supremo Tribunal acumulava as fungses de Tribunal de segunda instncia da Unido, o que poderia justificar, em parte, a sua divisio em Turmas. Mas entre seus juizes sempre houve grande reserva quanto a essa bifurcagio do ‘Tri- bunal, que vem sendo tolerada como mal por enquanto necessario, De qualquer modo, a existéncia dos embargos ¢ 0 mais vivo testemunho de que s6 as decisées do Pleno exprimem realmente a opinigo do Tribunal, e sio elas qq pesam na opinido piblicn © no eonsenso dos advo- gados ¢ juizes. O que ao Pais interessa conhecer, sobre qualquer questo juridica de relévo, é 0 entendimento da maioria do Tribunal, como um todo, e nio apenas de trés, quatro ou mesmo’ cinco juizes, que seriam sempre a voz da minoria. C) Questées legais e constitucionais Pretendeu-se, ultimamente, contornar essas dificul- dades, transferindo-se os recursos extraordindrios sébre matéria de lei ordindria para um névo Tribunal, a ser criado (on para os Tribunais Federais em que se desdo- brasse o atual Tribunal Federal de Recursos), ficando com o Supremo Tribunal apenas os recursos sdbre ma- téria constitucional, Essa idéia j4 foi combatida no es tudo do Supremo Tribunal ("") e no do Instituto dos Advogados Brasileiros, 0 que dispensa, por ora, maior atengio ao problema. Mas consta, sem confirmagio oficial, que a mesma idéia estaria sendo aproveitada sob outro aspecto, a sa- ber: as Turmas do Supremo Tribunal, que seriam trés, ficariam com os recursos sdbre matéria de lei ordindria, e 0 Tribunal Pleno com os que envolvessem matéria constitucional. Fundamentalmente, n3o haveria novi- dade nessa sugestao, porque assim jé dispunha o art. 2.° do D. 19.656, de 1931: “Os feitos de competéncia do Supremo Tribunal Federal, que nao envolvam questo constitucional, serao, até a organizagao definitiva do mesmo Tribunal, decididos, em primeiro julgamento, por Turmas de cinco juizes...” © primeiro ¢ mais sério inconveniente de tal pro- posta é a impossibilidade, em muitos casos, de separar as duas matérias, como ponderou o Instituto dos Advoga- dos, com estas palavras: “.., Constituigao e leis federais an) Ov. ait, po, SETEMBRO — 1965 _ 25 sio espécies de um género, o direito federal, cuja defesa em uma Federagio ha de caber a um s6 ¢ maximo brgao judicidrio federal.” Portanto, ao Tribunal Pleno, em ulti- ma anélise, é que caberia resolver as dividas. A parte vencida nao se conformaria com uma decisio final da Turma, cujo carater de definitividade se baseasse apenas na distingao entre matéria legal e constitucional, linha diviséria que em muitos casos seria imprecisa, Em con- seqiiéncia, o Tribunal Pleno nao seria desafogado como se pretende. Restaria ainda a hipdtese das divergéncias entre as ‘Turmas, mesmo em matéria legal. Bsses casos também teriam de ser levados ao Tribunal Pleno, para evitar, como j4 fot observado, que houvesse trés Supremos Tri- bunais, em vez de um sé, como impée a natureza espe- cial da sua fungdo unificadora do direito federal apli- cado, Como poderia o Tribunal desempenhar esta sua tarefa especifica em relagio aos outros tribunais, se nao pudesse Jearmonizar jurisprudéncia de suas préprias ‘Furmas? Vejamos também os casos de divergéncia de um outro Tribunal com decisdes do Suprema Tribunal. Pelo menos quando a divergéncia fésse com o Tribunal Pleno, haveria novas possibilidades de ir o processo ao Plenario, ‘A solugio ideal seria, portanto, ndo a multiplicagio das Turmas, porém a sua abolicao, para evitar os nume- rosos casos em que hé dois julgamentos do mesmo pro- cesso no Supremo Tribunal, em vez de um 6. A con- digdo Unica para se chegar a esta situagao desejavel é encontrar um meio eficaz de aliviar suficientemente o Plenario, de modo a permitir que dé conta de todo o servico do Tribunal. Suponho que algum dia se chegaré a ésse resultado, para o qual ja tende o Tribunal Cons- titucional alemao (#2). As medidas de racionalizagéo do seu trabalho, que vém sendo adotadas pelo Supremo Tribunal, muito contribuirao para isso, embora com. passo mais lento. Entretanto, a solugao definitiva e de efeito imediato seria a adogao do requisito da relevancia, para admissio de recursos pelo Supremo Tribunal, como consta do anteprojeto por éle oferecido ao Govérno (*), As consideragées precedentes esto a mostrar que 0 aumento do mimero de Ministros, Bara criagdo de uma nova Turma, nao poe fim ao acimulo de servigo do Su- premo Tribunal, porque deixa no mesmo pé o problema do seu bom funcionamento nas sessées plendrias. FE. nes- tas sessdes 0 resultado pritico da medida seria contra- (32) Ver trecno a que se refere a note 7 419) Ver nota 6. _REVISTA DE INFORMACAO LEGISLATIVA producente, pois maior mimero de juizes a votar signi- fica prolongar a duragdo média de cada julgamento. A dsse respeito, disse 0 Supremo Tribunal, em seu estudo, “agravar-se-ia ... 0 mal que se quer remediar”. Como notou, com propriedade, a Comissio do Ins- tituto dos Advogados Brasileiros, 0 “aumento explosive de pleitos” & unr fendmeno universal, e “se hi de resol- ver, primacialmente, por um processo de racionalizagio dos trabathos dos Tribunais, nio pela solugio simplista de redugio de competéncia ¢ criagdo de novos juizes, novas Cimaras, novos Tribunais, com multiplicagéo de instancias e remédiox a complicar e dificultar a burocra- cia judiciéria, com novas divergéncias, novos recursos, €, pois, novas delongas D) Nenhuma razio para mais cinco ou seis juizes Ainda que fésse conveniente criar uma nova Turma {o que se admite para argumentar), éste assunto deveria ficar ao ponderage critério do Tribunal. Ele mesmo poderia fazer a experiéncia, por emenda regimental, sem aumento do mimero de Ministros, criando Turmas de trés juizes. Foi esta, aliés, a solugdo que propés ha al- guns anos o Senador Milton Campos ('4), com a desvan- tagem de pretender fazé-lo através de lei, quando a ma- téria deveria ficar para o Regimento do Tribunal, para melhor correspondéncia com as necessidades do seu ser- vigo. O Regimento disporia também sobre a maneira de: suprir as faltas eventuais dos Ministros, para que as Turmas por tal motivo nao deixassem de se reunir. Na hipétese menos favorivel, com o aumento de mais dois Ministros apenas, teriamos trés Turmas de 4 juizes, Votariam apenas trés em cada proceso, para evitar os empates e simplificar o problema das faltas ou impedimentos eventuais. O aumento de onze para treze, de qualquer modo, acarretaria maior demora nos julgamentos do Plendrio, mas ésse inconveniente seria them menor do que resultaria de passar de onze para dezesseis on dezessete juizes. Em conclusao, ainda que fosse defensivel a cria- gao de nova Turma, de modo nenhum se justificaria a criagao de mais cinco ou seis Ministros, a pretexto de maior produtividade do Tribunal, (14) Proj. de Lel do Senado wu 39/1960, art, 3.9: “Cada Turma, ‘dade trés Munistros, funcionaré “zo direggo do Vice-Presidente, que a intesraré, ‘votando no caso de tmpedi- mento ou falta de um de sous membros. Patagrafo. unico, Subs titulea, eventualmente, 0 Vice-Presidenie o Ministro. mals a tigo dn Turma, sem prejutzo das suas Tungbes [udleantes. __SETEMBRO — 1965 7 IV — AUMENTO DO NUMERO PARA MUDAR A ORIENTACAO DO TRIBUNAL? Sendo, como é, injustificavel o aumento do ntimero de Ministros por conveniéncia da Justiga, restaria a ou- tra hipétese figurada no inicio desta palestra: acres- centar cinco ou seis votos mum Tribunal de onze poderia mudar sua orientagéo nos casos em que houvesse votos divergentes em sua composigao atual. Nao creio, porém, que seja éste o propésito do Govérno, que tem dado expressivas demonstracies de aprégo ao Judiciério, nem tampouco da maioria do Congresso, que nunca tocou no Supreme Tribunal sem prévia consulta formal ow informal aos seus juizes Devo, porém, analisar o problema, em alguns de seus aspectos, porque vozes menos autorizadas tém la- mentado 0 que consideram divergéncias politicas entre © Tribunal e o Govérno, quando na verdade se referem a fatos que traduzem apenas 0 exercicio das atribuigdes proprias de cada Poder do Estado, Podéres que siio har- médnicos mas independentes. A) Exemplos de frustragio © expediente de nomear tantos novos juizes de um tribunal quantos bastem para Ihe mudar a orientagao deve ser encarado por dois angulos: 0 da sua provivel frustragao ¢ 0 da sua possivel eficdein. Raro 6 6 governante que nao se decepcionou, ao escolher pessoas respeitéveis e honradas, com a expecta- tiva de serem seus porta-vozes nos tribunais. Sao _conhe- cidos os numerosos exemplos indicados por Charles Warren, o grande historiador da Cérte Suprema dos Es tados Unidos, a comegar por Jefferson, que viu as idéias centralistas de Marshall, que tanto detestava, contami- harem os juizes nomeados pelo proprio Jefferson. © Chief Justice Hughes transcreven essa pagina classica em seu precioso livso € acrescentou trés episd- dios muito expressives, envolvendo as figuras de Chase. Taft e Holmes (2°), Chase, quando Secretario do Tesouro. aprovou a lei do curso forgado da moeda. Mai tarde, Presidente da Cérte, votou por sua inconstitucionalida- de, explicando que no tunulto da guerra civil nao hav ambiente para mais profundas especulagdes sébre os Ji- mites constitucionais dos podéres. © caso de Taft refere-se a Myers, diretor de_pri- ineira classe dos Correios, demitido pelo Presidente Wil- (a5) Charles Byang Hughes, The Supreme Court of the United Stn- Tes ea de 1947, D. 48-49, _REVISTA DE INFORMAGAO LEGISLATIVA son, sem a exigéneia legal da prévia concordancia do Senado. A discussio désse ato envolvia uma importante prerrogativa do Presidente, como chefe da administra- 40 federal. Pois o ex-Presidente republicano Taft, como Chief Justice, aprovou a conduta do Presidente demo- crata Wilson, sendo voto vencedor, e dois jutzes nomea- dos por Wilson, um dos quais féra seu Procurador-Geral, votaram vencidos. Quanto a Holmes, fora éle nomeado pelo Presidente Theodore Roosevelt, pela convicgéo de que comparti- Thava de suas idéias sdbre o papel ative do govémo fe- deral no plano econémico, “Firme em sua politica, 0 Presidente estava vivamente interessado na dissolugdo da Northern Securities Company. Indo 0 caso a Cérte, Holmes votou de modo contrério, com vigorosa argu- mentagao. Frankfurter cita uma carta de Holmes a um amigo, onde o grande juiz assim se referia & sua nomeagio pelo Presidente Theodore Roosevelt: “Nao tenho diivida de que éle mais tarde se arrependeu profundamente (hear- tly) da escolha, quando nao fiz 0 que éle desejava no caso Northern Securities”. (9) Numerosos outros exemplos, no estrangeiro e em nosso Pais, poderiam ser arrolados no mesmo sentido. © cargo de Ministro do Supremo Tribunal tem tal magnitude, e envolve de tal modo a responsabilidade do seu ocupante perante a Nagio e a Histéria, que nenhum Presidente condiciona sua escolha a um prévio compro- misso, ainda que tacito, de que 0 nomeado decida de tal ou qual modo. E nenhum homem de bem, a altura do cargo, aceitaria essa condigio, Fazendo uma apreciagio geral sdbre episédios dessa natureza, Warren observon que “nada & ois admirdvel, na histéria da Cérte, do que a frustragio de quantos esperavam que um juiz haveria de seguir as opinides politicas do Presidente que o nomeara”, Hughes trans- creve estas palavras ¢ acrescenta: “Se homens escrupu- osos, capazes e independentes sio nomeados para os tribunais, nio se pode predizer sua conduta como jui- zes em fungio das suas motivagdes partidarias ou das suas lealdades politicas ou pessoais.” by" Na judicatura brasileira, também so numerosas as ilustragdes, mas prefiro nao apontar exemplos nesta oportunidade. Limitar-me-ei a recordar um fato, porque (16) Sketon of the Life of Oliver Wendell Holmes, p. 15 (separate do Dictionary of American Biography, ¥. 21) AT) Ob. ot. p. 49. SETEMBRO — 1965 29 a Ale jf me referi de publico nestes térmos: “quando, em 1898, se firma a doutrina, combatida pelo Executivo, de que a terminagio do estado de sitio faz cessar os seus efeitos, articiparn do julgamento sete dos nove juizes nomeados pelo. Presidente de entio, ‘Tres dales — Litcio de Mendonga, Manoel Murtinho ¢ Joao Bar- balho — formam na maioria que concede o habeas corpus. Os dois primeiros subscreveriam, depois, a mo- ¢40 de censura pela injusta critica do Presidente 4 deci- sao. E 0 terceiro, embora votando contra ela por en- tender que 0, Tribunal desceria de sua dignidade, rex provou com duras palavras a conduta presidencial”. ('*) B) Agravo A independéncia do Judiciario Examinemos, porém, a outra hipétese, muito mais rara, de juizes que nfo frustraram as expectativas de quem os nomeou. Quero referir-me a casos que pode- riamos considerar normais e que a honestidade do pro- pésito poderia justificar. Deixarei de lado casos tera- tolégicos como 0 do Juiz Jeffreys, o “juiz enforcador”, de que fala MacCaulay: cruel, despudorado, ambicioso, completamente destituido de escripulos, a servigo do rei, Segundo aquéle historiador, Jeffreys, “na idade em que um adyogado se considera feliz. pelo encargo de conduzir uma causa importante, foi feito Juiz-Presidente do Banco do Rei”, “o mais formidavel tribunal do reino”, e “se jactava de haver enforcado mais traidores do que todos os seus predecessores juntos, desde a época da Conquista”. (*) Mas essa carreira tétrica se desenrolou nos reinados de Carlos I ¢ Jaime I. Com o tempo, a indemissibili- dade dos juizes (during good behavior), que fora esta- belecida pelo Longo Parlamento, viria’a frutificar na sua completa independéncia, que é 0 titulo de maior orgulho da magistratura britdnica. E justamente o principio da independéncia do Po: der Judictirio que fica irremediavelmente comprometi- do, quando a nomeagao de juizes tem o sentido de um (18) “A Wistéria do Supreme Tribunal”, Didrio de Noticias, 8-8-65. (29) Ver Voioce i Court, antologia editada per William 1. Daven— port, p. 125, 127 (1998). Jeffreys e male quatro jutzes foram Incumbidos te Julgar cs Tebeldes da abortada insurrelcdo do Duaue de Monmouth (1685). Segundo o Prof Allen, da Uni- Yersidade de Chicago, @ nUmero de pessoas “efetivamiente exe cutedas'" nessa ‘ocasao “sao pode ser determinado com cer~ tera, MacCaulay meneiona 320; outece estmaum mals alto, entre 600'e 700. A Opinigo moderna tende a wins cifra bem menor. falvee entre 150 4 Bho" daultos dadueles condenados”eseaparasn E'pena de morte, ‘por terem sido transpertados em catlvelro pam es colonias. Aoutros se permitiu comprar 0. perdao. Fin Seren thedida, Jefiseys ke aproveitou pessoatinente descas.irat= ssagees”™ (Ene: Britdnice, 12/094) REVISTA DE INFORMACAO LEGISLATIVA_ comissionamento politico, por mais bem inspiradas que sejam as intengdes. Esse comprometimento seré muito mais grave quando a vomeagao de novos juizes {Or em tl nimero que pose mudar a orientagio de wn Th vunal. Quando a Constituigdo institui garantias excepcio- nais para os magistrados, nao o faz apenas para sua pro- tegio individual, mas principalmente para _preservar, através déles, a independéncia do Poder Judiciario. Quando se trata de juizes integrantes de um tribunal, é a independéncia désse tribunal que a Constituigio de- fende, a0 proteger individualmente os seus juizes. Mas essa garantia do tribunal estara fraudada, se ficar ao arbitrio dos outros dois Poderes ampliar 0 seu quadro de juizes de modo a neutralizar a opiniao dos que ali foram mantidos e, portant, resguardados na sua con- digdo pessoal, A criagio de novos juizes, formando maioria ou quase maioria num Tribunal, equipara-se, a bem dizer, 2 criagio de um tribunal post factum. A opiniio publi ‘a, nos paizes civilizados, vé com extremo desfavor ex- pedientes dessa natureza. Nos Estados Unidos, um co- nhecido episédio, em que a conduta do Presidente da Republica fora apenas suspeitada, acarretou grande des- crédito para a Carte Suprema. Com dois lugares vagos, a Corte julgara inconstitucional, por 4 @ 3, a lei do curso forgado do papel-moeda, No mesmo dit da leitura da decisio — 7-2-1870 —, 0 Presidente Grant submeteu ao Senado os nomes dos dais novos juizes. O Sectetério da Justiga pediu ¢ obteve névo julgamento da causa, ¢ 0 govérno sain vencedor, pela soma daqueles dois votos, hat segunda decisio, tormada ptiblica em 1-5-71, Obser- vow um historiador da Cérte que nenhuma decisio an- terior, desde o caso Dred Scott, trouxe para ela tio grande desaprego piblico, Sua imparcialidade ficara comprometida, por sua vulnerabilidade ao que se acre- ditava fosse manobra dos outros dois Podéres, quando cnxertaram na Cérte dois novos votos, que eram de an- temio conhecidos. (°") Nossa Constituigao, no art. 98, dispde que o atual niimero de onze juizes do Supremo Tribunal, “mediante proposta do préprio Tribunal, poderé ser elevado por lei”, O sentido profundo dessa disposiggo vai além do que diz a sua letra, porque estabelece, na realidade, uma nova garantia para a independéncia do Supremo Tribu- nal, Se éle mesmo prope o aumento do ntimero de seus (20) Ver Léda Boechat Rodrig Constitucional Norte-Amer SETEMBRO — 1965 31 juizes, ndio pode haver suspeita de que_os outros dois Po- déres pretendam inudar a orientagio dos seus julgamen- tos. Essa garantia é que dé ao Tribunal, como institui- gio e como poder, a sua verdadeira independéncia. A garantia individual dos seus juizes é fundamental, mas € ainda mais importante a garantia do Tribunal como érgio coletivo. Pedro Lessa viu bem a importancia de estar o nimero de Ministros fixado na propria Consti- tuicio, ao escrever estas palavras: “Ficil é imaginar o que fariam, sem essa limitagao, as ambigées, os interé: ses € as vinditas politicas, num pais em que sao fre qlentes os desvairamentos’ dos partidos, ou dos grupos politicos.” ') V — COLABORACGAO DOS ADVOGADOS Estou ocupande a tribuna de uma Faculdade de Di- reito de augusta tradigio, que tanto me sensibiliza com éste honroso convite. E vim falar especialmente para os estudantes que ja se iniciam nas responsabilidades da advocacia, através do sen benemérito Departamento de ‘Assisténcia Judiciaria. Falo, pois, a futuros advogados, que de certo modo jf © sao. Por isso, vos falo com fran- queza ¢ também com gravidade. Juizes ¢ advogados formamos todos nina grande familia, onde a troca de idéias nio comporta subterfiigios, e nosso interésse fun damental € 9 mesmo: a plena preservagio da ordem juridica, nao apenas na letra das leis e da Constituigio, mas também no seu espirito, na sua potencialidade, na projecio das suas palavras para o futuro nosso € do nosso Pais. Se vos venha falar em defesa do aperfeigoamento ¢ da integridade do Supremo Tribunal Federal, € porque entendo que também compartilhais désse nosso dever. De alguns anos a esta parte, esta tramitando nas assembléias estaduais norte-americanas uma estranha proposta de emenda constitucional a ser submetida ao Congresso: a eriagio de um Tribunal da Unido, com- posto dos cinqiienta presidentes das cOrtes locais, com a competéncia de rever as decisdes da Corte Suprema de que resultem restrigdes aos Podéres dos Estados. A vow mais alta que ali se levantou contra ésse plano foi a do Chief Justice Farl Warren. Do seu enérgico pronunciamento, evr que apela ara o sentiniento juridico dos advogados e juizes, em lefesa de sua Carte aineagada, extraio éstes trechos re- passados de vibragio: “Se nos primeiros dias da Repti- blica se tivessem feito proposigoes desta magnitude, as vozes des advogados daquele tempo ter-se-iam feito ou- (21) Do Poder Judictarie, p. 28 (1918) 32 REVISTA DE INFORMACAO LEGISLATIVA vir de um a outro extremo de nossa terra, tituigdo deve ser para nds tio valiosa, hoj naquela época. Se os advogados nao devem ser os guar- das da Constituigao, em quem haveremos de confiar? (...) Hé poucas disposigées da Constitu maior clasticidade e permanéncia a ésse grande do- cumento do que 0 processo de sua reforma estabelecido no art. V. (...) Se for usado com sabedoria, ésse artigo nos permite conservar indefinidamente a Constituigao como um organismo vivo. Se, ao contririo, f6r usado de modo irracional, por um piblico mal informado, po- deriam rapidamente ficar destruidas as bases sdbre que repousam tdédas as nossas instituigdes. Nenhuma outra disposigao constitucional coloca maior e mais direta res- ponsabilidade de lideranga sdbre a profissio jurfdica para preservacio da Republica, Se essa lideranga no for exercida, por timidez ou por inércia, estar-se-4 abdi- cando a um dever solene.” Um comentador destas palavras observou que, por coincidéncia, um dia antes daquele discurso de Warren, a Associagdo Americana de Advogados havia aprovado uma resolugio repudiando 0 mencionado projeto de emenda constitucional. (°°) Também vejo, com satisfagéo, que esté aumentando © interésse dos advogados e das Faculdades de Direito pela projetada reforma judicidria do nosso Pais © que o tradicional e prestigioso Instituto dos Advogados Brasi- leiros j& condenou 0 injutiicivel. aumenterdo adres de Ministros do Supremo Tribunal Federal. 2) O REQUISITO DA “RELEVANCIA” PARA REDUCAO DOS ENCARGOS DO SUPREMO TRIBUNAL I — REDUCAO DA COMPETENCIA Redugio da competéncia tem sido a solugio geral- mente preconizada para o problema da sobrecarga do Supremo Tribunal. “Chegou a tornar-se um verdadeiro mito, excluindo solugdes ‘alternativas, Mas aquela fér- ifica, ao pé da letra, impedit que determinadas causas chegnem até ao Tribunal. Em outras palavras, significa desatender & conveniéncia piblica do seu pro: nunciamento — que define, em dltima instincia, o di- reito federal — ¢ frustrar a expectativa dos interessados. Nessa linha, diversas propostas tém sido feitas, com a pretensio de serem objetivas, isto 6, delimitando a (22) Alberto Becerra Sierra, Boletin del Instituto de Derecho Com= parado det Mexico, 46/548-50. (1962) SETEMBRO — 1965 33 competéncia do Tribunal com pressupostos rigidamente estabelecides na Constituigao (8). Désse modo, preten- de-se que nao haveria incerteza, nem arbitrio, na sua jurisdigao. Mas essas propostas, ainda que bem inten- cionadas, conduzem a conseqiiéncias perniciosas do ponto de vista da boa distribuigio da Justica. Vejamos algumas delas. A) Limitagao da letra a do art. 101, I Uma das idéias antigas — parece que jé abandonada — a supressio dos recursos éxtraordinirios pela letra a do art, 101, II, da C. F., quando se tratar de violagao de lei federal’ ordinéria. Por ela, entretanto, questées da maior importincia, por suas implicagdes praticas © tedricas, ficariam subtraidas 20 conhecimento do Supre- mo Tribunal. Se, por exemplo, uma lei fdsse aplicada contra sua propria letra, por alguns tribunais, sem divergéncia entre éles, estaria _o Supremo. Tribunal impedido de intervir, Por outro lado, aguardar até que houvesse decisio divergente poderia retardar demasia- damente 0 pronunciamento do Supremo Tribunal, quando as necessidades do comércio juridico, em muitos casos, impdem que se tenha sua opiniio quanto antes Que dizer, entio, daqneles casos especialissimos, de grande urgéncia publica, em que a Corte Suprema dos Estados Unidos (*#) est& autorizada a avocar o julgamen- to de questées ainda pendentes nos tribunais federais de apelagio? B) Uso prévio de ago resciséria Ainda quanto aos recursos extraordindrios, pela letra a, subordind-los ao uso prévio de agao resciséria & solugio que apresenta, pelo menos, quatro inconve- niéncias de monta: I. Encarece 0 proceso, favorecendo as partes abastadas em prejuizo das mais modestas. Hf, Retarda o pronunciamento do Supremo ‘Tri- bunal, porque os outros tibunais, normalmente, sio iorosos no julgamento das ages rescisérias, que depen- dem de quorum numeroso. I. “Agrava o generalizado actimulo de servigo dos outros tribunais, pelo inevitdyel e yolumoso aumen- to das ages rescisérias, 122) Vesn-se: Ministerio da Justica, Reforma Constituctonal (1956). (24) Ver 22 USC. Sf 1254, 2101, © Dispbe o Regiment da Corte. Ba Rewea 2." 20: A wrie of certiorari fo reviels a case pending ina court of appeals, before judgement ts given in such court, uull be granted only upon a showing that the case is of suclt imperative public importance as to justify the deviation from normal appellate process and 10 Fequire immediate settlement In this court REVISTA DE INFORMACAO LEGISLATIVA IV. Deixa longo tempo as partes em suspenso, por ser de cinco anos a decadéncia do direito de propor agio resciséria C) Separagio entre matéria legal e constitucional Inovagao recentissima (*), sustentada como salva- dora, separa os recursos extraordindrios em duas cate- gorias: os que versem matéria de lei ordinaria e os que focalizem matéria constitucional. Os primeiros seriam julgados por outro ou outros tribunais federais. So- mente os segundos caberiam a0 Supremo Tribunal. Pelo menos cinco sérios inconvenientes resultariam se esquema: I, Submeteria os tribunais dos Estados a um ou mais tribunais federais colocados abaixo do Supremo Tribunal, 0 que diminuiria © seu status, como foi de- monstrado no estudo do Supremo Tribunal sdbre a reforma judiciaria (*). Il. Pela freqiiente divida sébre se uma de envolve apenas matéria de lei ou também materia constitucional, obrigaria muitas vézes 0 advogado a interpor dois recursos extraordinarios simultineos, no mesmo processo, para evitar o risco de perder a causa pelo mau enquadramento da questio. II. Pelo motivo exposto no inciso IL, provocaria duplicagio de jlgamentos da mesma causa (pelo St- premo Tribunal e pelo que devesse conhecer de recur- dé so extraordindrio sébre matéria de lei ordinaria), com- plicando desnecessariamente 0 proceso. Pela mesma razio, nio seriam aliviados, na medida desejada, os en- cargos do Supremo Tribunal, que teria de resolver essa preliminar da natureza legal on constitucional dos recursos. IV. O tribunal federal, que devesse julgar recur- sos extraordinarios sébre matéria de lei ordinaria, leva. ria muito tempo para ter sua prépria jurisprudéncia, ao paso que o Supremo Tribunal j& conta com uma tra- digio de 75 anos. V._ O Supremo Tribunal sofreria wn esvaziamen- to desnecessario © desastroso, no que respeita aos jul- gamentos de mérito das causas, pois as propostas aqu teferidas nao se basearam em levantamento estatistico, que seria impreseindivel. Elis retirariam do Supremo Tribunal cerca de 94% dos processos que julga presen: (25) José Afonso da Silva, Do Recurso Extraordindrio, p. 456, 438 1963); Frojeto ‘da Ordem dos Advoeados do. Brasil (1962): Jose Frederico Marques, artigo no Estado de Sto Paulo {1064}: Prom Jeto do Instituto de Direlto Publice da PGW. 11965), (26) STP, Reforma Judictaria. p. 9 (1965) SETEMBRO — 1965 _ 35 temente. Esta conseqiiénciadespertaria_ certamente speigio sdbre a proposta que o Govérno encaminhas- se ao Congresso. IL — CRIAGAO DE OUTRA TURMA © aumento do niimero das Turmas do Supremo Tribunal, também sugerido, daria resultados ilusérios. Se as Turmas viessem a ter competéncia separada e exclusiva, 0 Tribunal decidiria, quase sempze, por uma fragio dos sens juizes, e nao pela totalidade. Isto seria um’ mal, que a nossa prépria experiencia comprova, como também a experiéncia oposta da Cérte Suprema dos Estados Unidos, que s6 funciona em tribunal pleno. Também dificilmente seria egiiitativa a divisio da car- ga de trabalho das Turmas, além de surgirem freqiien- tes conflitos de competéncia. Foi © que se verificou no Tribunal Federal Constitucional alemao, como se vé de um estudo do Prof. Edward McWhinney. Se, de ontro Indo, as Turmas tivessem competén- cia conjunta (como é a sitnagao atual do Supremo Tri. bunal), a existencia de mais ‘Turmas aumentaria a pos- sibilidade de divergéncia. Continuaria a ser necessario um névo recurso, como ha hoje (embargos ou revista), para o Tribunal Pleno, a fim de solucionar a divergen- cia. Teriamos, zssim, um auténtico circulo vieioso. Frankfurter, comentando uma proposta de aumento dos juizes da Corte Suprema para sua divisio em turmas. afirmon que isto seria fatal para a instituigde: either of these devices would be fatal for the special functions of the Supreme Court. ©) Ul — VANTAGENS DE UM SISTEMA FLEXIVEL Como se ve, qualquer critério rigide de redugao da competéncia do Supremo Tribunal, ou de di intern: da sua competéncia entre as Turmas, condoziria a resul- tados lamentiveis, ou frustratéries, ou contrapro- ducentes. Nos Estados Unidos, sempre malograram as tenta- tivas de dar remédio & sobrecarga da Corte Suprema por critérios. mecanicos. Relembro ainda o testermunho de Frankfurter: “nenhuma proposta para se restringir 0 poder da Cérte Suprema sdbre a legiskagio foi jamais adotada. O criterioso exercicio désse poder, por mais 420) Harvard Law Review, v. 15, p. 5 (1961) (28) Bneyetopacdia of the Social Setenese, v. 14, p. 479. SOvre 0 Esoubte, Live ocasiao de proferir outra palestra: Suprema. Pri= butal" "A Questze do Numero de Jutzes, __REVISTA DE INFORMAGAO LEGISLATIVA refinada que seja_a sua discriminagao, nio pode ser garantido por nenhutn expediente mecinico” (by any mechanical device). (24) O problema realmente nio é simples. Se o fésse, hi mais tempo teria sido solucionado, pois o Tribunal ¢ os nossos melhores juristas sébre éle tém meditado longa- mente, Além de medidas parciais, de alcance reduzido, sé iltimamente o préprio ‘Tribunal tomou providéncias mais arrojadas. Sirva de exemplo a Sémula de sua juris- prudéncia predominante, (**) de considerivel proveito, apesar da incompreensio de uns poucos juristas sdbre seu verdadeiro significado. Com a agravagio do aciimulo de servigo do Supre- mo Tribunal, que se acentuou nos ultimos anos, convir adotar um esquema diferente dos que tém sido sugeri- dos, isto 6, um eritério flexivel de redugio dos seus en- cargos, como se féz nos Estados Unidos. Essa flexibilidade deve ser entendida sob dois as- pectos distintos: de um lado, redugao parcial da compe- téncia propriamente dita; de outro, alivio dos encargos, mas sein mutilago da sua competénc A) Redugio parcial da competéncia Quanto ao primeiro aspecto, 0 estude oferecido av Sr, Ministro da Justiga pelo Supremo Tribunal propoe quatro medidas, cujas_desvantagens sao minimas, em comparagao com a utilidade da efetiva diminuigéo do trabalho do Tribunal. Foram estas as suas sugesties: I. _Limitar og recursos extraordindrios trabalhistas & materia constitucional, fieando com o Tribunal Supe- rier do Trabalho a_tarefa de unifermizar a jurisprudén- cia dos Tribunais Regionais quanto & interpretagao das leis, O desafdgo resultante seria substancial ¢ a inconve- nigneia da proposta ficaria restrita aos casos em que houvesse duivida sébre a natureza legal on constitucio- nal da questio. De qualquer modo, somente ao Supremo Tribunal, e nio a dois tribunais diferentes, caberia resol- TL. Reduzir a quase nada os recursos extraordind- rios nas causas de algada (julgadas cm definitive pelo juiz de primeira instdncia} e nas execugdes trabalhistas, Para isso, criar-se-ia um mecanismo satisfatério para as partes e que s6 permitiria subir ao Supremo Tribunal tum ou outro de tais recursos (art. 101, §-L°, do antepro- (29) Ov. cit. p. 480. (20) Pupliceda em margo de 1964, consoante emends regimental de SETEMBRO — 1965 7 jeto do S.T-F.). (") A pouca importancia da grande maio- ria dessas causas — em que se funda # eliminagao do re- curso ordinirio para o Tribunal proprio — justifica, por si mesma, essa quase completa supressio do recurso extraordinario. UL. Admitir recurso de mandado de seguranga para o Supremo Tribunal somente quando se discutisse (questoes de direito federal. Ficariam, désse modo, ex- chuidos 0s numerosos casos em que atualmente so se discute direito estadual e municipal, matéria que, em principio, no pertence ao Supremo Tribunal. IV. Retirar do Supremo Tribunal o julgamento, em segunda instincia, dos crimes politicos, pois, em principio, no She cabe apreciar a prova em gran de recurso. B) Requisito da relevincia © outro aspecto da flexibilidade da solugo sugerida pelo Supremo Tribunal consiste em deixar ao seu ponde- rado critério, mediante um requisito névo, a admissibi- lidade dos recursos extraordinirios (0s agravos estio na mesia chave) e dos recursos de mandado de seguranga. Essa medida pode significar a solugio definitiva do pro- blema, porque, dos 7.849 feitos julgados em 1964, cérca de 6.500 pertenciam ao conjunto daquelas trés classes Para aliviar o fardo correspondente a tais processos, pela verificagao previa da sua_relevincia, 0 Supremo ‘Tribunal nao sugerin uma solugio artificial, ou que éle préprio houvesse imaginado. Inspirou-se na experiencia Aa Corte Suprema dos Estados Unidos, consoante a re- forma ali realizada, em 1925, por sugestio dos préprios Ministros. Nas palavras de Stern_e Gressman, “qualguer tipo de questin que chegue 4 Cérte Suprema sofre unt pro- cesso preliminar de triagem e somente sobrevive maque- les casos ue a Cérte considera suficientemente importan- tes ou significativos (important or meritorious) para jus- tificar uma nova revisio”. (2) B, alias, 0 que preconiza © Prof. McWhinney, para 0 Tribunal alemao, no estudo citado anteriormente. Esta ¢, para nds, uma solugio realmente inovadora: cxigir que seja de alta relevancia a questo federal sus- citada, para se admitir recurso de mandado de seguranga ou recurso extraordinario (mantidos os demais requ s hoje existentes). Ainda que éstes outros estivessem recurso extraordinario contra deciséo definitiva de primeira ‘sera Admitida por um ogc fpetlor, sendo inrecorrivel a decisSo que Ihe negar seguimento.” ssa) Supreme Court Practice, 3." ed., p. 16 (1962) 38 REVISTA DE INFORMAGAO LEGISLATIVA presentes, 0 recurso nio seria admitido, quando a ques- tao de direito federal focalizada nao fésse de alta rele- vineia, Esta vilvula nio sdmente reduziria 0 servigo do Supremo Tribunal a proporgdes exegives, como daria melhor teor doutrindrio as suas decisées, em correspon- déncia com sua posiggo de Tribunal de cuipula. ©) Nogio da relevincia Fntretanto, o requisite suplementar da alta relevan- cia, para flexibilizar as atribuigdes do Tribunal, de uma parte, nao tem sido bem compreendido, e, de outra, tem sido considerado, por alguns, demasiadamente impreci- So e, portanto, subjetivo. Em que consiste a alta relevincia da questio de direito federal? Uma definigao rigorosa seria impossivel, mas alguns exemplos ajudario a compreender 0 pro- blema. Antes de tudo, a relevancia, para ésse efeito, sera apurada especialmente do ponto de vista do interésse publico. Em principio, qualquer problema de aplicagao da lei é de interésse publico, Mas, na pratica, muitas questées tém repercussao limitada as partes, ou a peque- no ntimero de casos, ¢ ha problemas legais cujas conse- qiiéncias s&o muito reduzidas, mesmo para as partes, servindo antes como Pyctexto para manobras protelatd- rias on que visam a subtrair 0 mérito do litigio ao direito aplicivel. Muitas controvérsias s6bre o direito processual estio compreendidas nesta ultima hipétese. Ja temos, portanto, um primeiro balizamento: 0 interésse pablico da _decisio a ser tomada, ou melhor, © seu reflexo além do exclusivo interésse das partes li- tigantes. Seria impraticdvel dizer a priori quais sejam esas questées, mas alguns novos esclarecimentos torna- rio a idéia mais acessivel As questées constitucionais, por exemplo, sio de alta relevancia, porque esta em discussic 0 direite fon- damental do Pais. Mas podem apresentar-se sem relévo, se a causa puder ser decidida por outras razies juridicas, sem qne seja necessario enfrentar 2 controvérsia consti- tucional. De outro lado, questées de natureza puramente legal, versando, por exemplo, sébre as atribuigdes de autoridades de nivel elevado, ou que lidam com interés ses de amplas coletividades, sao de alta relevancia, por- que delas resulta a regularidade dos autos que praticarem. Isso explica, em parte, por que, nos Estados Unidos, a SETEMBRO — 1965 39 percentagem de admissao dos recursos do Estado (pelo Solicitor General) tem sido bem maior que a dos re Cursos entre particulares. fsses recursos, além de inter- postes com mais cautela e propriedade, tém como pres- suposto problemas de ordem publica, (*) Vejamos outros exemplos. A definiggo de um insti- tuto tributério — que interesse a centenas ¢ milhares de pessoas — atende ao requisito da relevancia. ‘Tem o mesmo carater a interpretagao de uma lei que abranja extensa categoria de funciondrios pablicos. De igual modo, uma norma legal que, aplicada de uma forma ¢ nao de outra, possa afetar fundamente todo um ramno. da produgio ou do comércio. O mesmo se diré do dissi- dio jurisprudencial em témo de uma lei de aplicagio freqitente (como a de locagio), Deixara, porém, essa questio de ter relevo, se a interpretagao razoivel da lei for contrariada apenas por uma ou outra decisao isolada, que tio chegue 4 configurar uma gorrente_erispr ial. Nos precedentes que 0 Tribunal fésse formando, as paries encontrariam numerosos exemplos para bem dis- cernir 0 pressuposto da relevancia e, dentro de algum tempo, as incertezas estariam reduzidas ao minimo. O interésse piblico da controvérsia é, assim, o indi- ce mais seguro para se determinar a relevancia da ques- tao de dircito federal suscitada: “Sem diwvida, o concei- to de importincia esta relacionado com a importéncia das questées para 0 pablico, em contraste com a sua im- portincia para as partes interessadas”. (*) Se a questio, segundo tais critérios, nao for consi- derada relevante, nem por isso haverd denegugio de justiga, porque ja tert sido julgada por outro ‘Tribunal, prevalecendo sua decisio, sem comprometer a opiniio do Supreme Tribunal. Dai resulta, evidentemente, maior prestigio para os outros tribunais. D) Q falso problema do subjetivismo Dir-se-d, entretanto, que, multiplicando-se, embora, os casos ilustrativos, restariam sempre diretivas de algum modo vagas, ou de sentido variével, que podem recair no puro subjetivismo. Tal seria, por exemplo, a nogéo de interésse_pitblico. A objegio. em parte, procede, mas ela_signific apenas que nao ha sclugio étima para o problema das atribuigdes de um tribunal da natureza do Supremo Tri- (St) Stern © Gressmann, ob. elt. Pe 121 GAL Stern e Gressmann, ob. eit., p. 137. REVISTA DE INFORMAG. bunal ou da Cérte Suprema. Teremos de nos contentar com as solugdes mais razodveis, que tenham menos de- feitos, on defeitos menos danosos. Como quer que seja, a dose de subjetivismo, que a nogia de relevancia poria na jurisdigao do Supremo Tri bunal, seria infinitamente menor que 0 subjetivismo ine- rented competéncia dos podéres Executive e Legisla- tivo. Os juizes terao sempre de apreciar razdes juridicas. Por inais flexiveis que sejam, nunca dardo lugar & imen- sa discrigao dos outros podéres, que atuam, normalmen- te, por consideragées politicas, de oportunidade ou con- veniéncia. Afinal, o Judiciario também é¢ um poder do Estado. Se encararmos 0 problema sob outro angulo, ve mos que nao ha critério algum, por mais rigido e objeti- vo, que elimine totalmente o subjetivismo nas decisées judiciais, A ponderagdo é inerente A fungao de julgar, «ue consiste em pesar as razdes de um e de outro lado. Vejamos a situagao atual. A jurisdigdo do Supremo Tribunal é considerada rigida, isto é, objetiva. Entre- tanto, além de ja ter sido ampliada ou restringida por via de interpretagio, diversas diretivas foram por éle estabelecidas, e prestigiadas pela tradigao, as quais des- mentem essa presumida objetividade. Tome-se, por exemplo, o problema de saber se tal ou qual decisio de outro tribunal interpretou a lei, ou violou a lei, para nao admitir 0 recurso extraordindrio no primeiro caso e déle conhecer no segundo (regra hd muito adotada pelo Supremo Tribunal). Essa distingdo, em muitos casos, depende sdmente do critério, discer- nimento, prudéncia e tirocinio dos juizes, E estas condigdes hao de ser presumidas nas pessoas qne che- gn a ter assento no Supremo Tribunal, por se terem istinguido na prépria Justica ou em outras atividades puiblicas, Do mesmo modo, depende do critério do Tribunal © conceito de érro enorme, ou “érro conspicuo”, defen- dido com ardor pelo Ministro Orosimbo Nonato, em sua fulgurante judicature, para o fim de possibilitar © conhe- cimento do recurso extraordinario. & igualmente sutil em muitos casos a diferenciacio, para o mesmo efeito, entre exame de prova e qualificagao da prova. Observa Frangois Gorphe que a propria “demarcagio do fato do direito (...) continua na pratica indecisa ¢ flutuante sdbre muitos pontos, como se vé das hesitagdes ¢ varia- goes da jurisprudéncia”. ) 195) Les Déctsion de Justice, p. 82-83 (19521. SETEMBRO — 65, a Ser ou nao ser uma lei manifestamente inconstitu- cional também & questio de discernimento, que pode variar de um pars outro jurista, como de um poder para outro, Cabe igual reparo quanto 4 nogao de liquidez ¢ certeza do direito, que é pressuposto da admissibilida- de do mandado de seguranga, E até hoje nao foi definido de maneira inequivoca 0 cabimento de recurso extraor- dinario contra decisio que julga improcedente agio res ciséria fundada em violagao de lei. Quanta margem de incerteza subsiste na aplicagio, pelo Judiciario, do principio constitucional da igualdade de todos perante a lei! E a concepgao fundamental de direito adquirido, que os juristas ainda nfo conseguiram colocar em térmos indiscutiveis? © instituto, igualmente fondamental, da coisa julgada — sobretudo quando abrange a premissa necessiria da conchusio — nao é ainda uma fonte de perplexidade? E havera emaranhado maior que as regras de hermenéutica, onde, com certo exagéro, se pode dizer que 6 quase um proverbiario, on- de se encontra tudo? Outros exemplos numerosissimos, da experiéncia guotigiana do Supremo Tribunal, dos outros tribunais ¢ fos juizes de primeira instancia, j& se incorporaram de tal modo aos habitos judiciérios, que nem nos apercebe- mos de que poderiam dar higar A mesma censura de sttb- jetivismo. A verdade, porém, é que tal censura seria injusta. Esse subjetivismo € quase sempre um falso problema, pois o ato de julgar é por definigio, inseparivel da idéia de discernimento, critério, bom senso, que sempre contém larga margem de subjetivismo, Que dizer, entao, da concepedo do justo, de que nenhum bom julgador pode abrir mao? Como dizia Cardozo, “podemos tentar ver as coisas tao objetivamente quanto quisermos. Nac obstante, nunca as podemos ver sendo com os nossos proprios olhos”. (!°) Um arguto jurista, escrevendo em honra de Frangois Geny sdbre a natureza do julgamento judiciario, citow abservagies de outros autores ¢ afirmou: “E verdadeiro, rigorosamente verdadeiro, que o juiz emprega todos os esforgos para escolher as categorias ou coneeites em que poss enguadrar 0 caso em julgamento, a fim de produ- zir o que éle considera um resultado juste, ou antes (para prevenir qualquer confusio em matéria de moral), tun resultado apropriado”. (7) (36) Benjainin N. Cardozo, The Nature of the Judicial Process, p. 15 fed. Yale, 1560) (37) Joseph ©, Hutcheson Junior, “O Julgamento Tntuitivo", Revista Forense, 82/35, 59. a2 REVISTA DE INFORMACAO LEGISLATHV, A nogio da alta relevancia da questio de direito federal, para resolver o problema do acimulo de servigo do Supremo Tribunal, seria, pois, quanto 4 pecha de subjetivismo, apenas um outro aspecto de um problema inerente ao exercicio da judicatura. E veremos, adiante, que os receios a ésse respeita podem ser facilmente dissipados. F) A técnica do contrapéso Para atenuar o que alguns chamariam esas incon- veniéneias, que sio antes peculiaridades da fungao de julgar, o que se ha de buscar néo é um sistema autom4- Meo ow mecinio, que as impossiblite, porque isto sera ilusorio. O que se h4 de buscar sao os diversos tipos de contrapéso, que garantam a efetiva preponderdncia do interésse publico, pela mais exata aplicagio da lei ¢ dos seus principios aos casos submetidos a julgamento, Um désses contrapesos tem sido, tradicionalmente, 0 sistema de recurscs, No plano abstrato, a decisio infe- rior pode ser mais acertada que a superior, mas a legis: lagao de todos os paises presume que a superior seja mais acertada. Sem essa presungdo, cuja margem de ir- realidade tem de ser suportada, nio poderia existir 0 Poder Judiciario, como é organizado em téda parte, nem © sistema de recurso hierirquico na esfera adn trativa, is- E os recursos admissiveis hio de parar na autorida- de ou Tribunal mais elevado, por ser impossivel estahe- lecer uma escala infinita de revisdes. As necessidades do comet juridico exigem que, em certo momento, as demandas estejam julgadas em definitivo. Haver, entretanto, contrapéso na apreciagio da re- levancia para admissio de recursos pelo Supremo Tribu- nal, cujas decisées sto irrecorriveis? Se nio houvesse, teriamos de caminhar para 0 absurdo: ou o Tribunal, su- percongestionado, ficaria impossibilitado de funcionar adequadamente, ¢ institucionalizariamos a denegagao de justiga; ou teria de ser extinto, prevalecendo como defi: nitivas as decisdes dos outros tribunais, e para éles seria transferida a margem de subjetivismo que sémente ao Supremo Tribunal se negaria. Mas tais contrapesos realmente existem, e neste onto é ainda a experiéncia da Cérte Suprema dos Escados Unidos que mais nos socorre. Vejamos, por bre- vidade, apenas dois: a adequada apresentagio da questo federal relevante, e © ntimero de votos necessirios ao re- conhecimento dessa relevancia pelo Tribunal. SETEMBRO — 1965 43 Quanto ao primeiro, pode-se estabelecer, no Regi- mento do Tribunal, disciplina mais rigorosa para a for- mulagao dos recursos. Pode ser exigido, como na Cérte Suprema, que o advogado enuncie, stcintamente, a ques- tao. federal focalizada e justifique a sua relevincia, tam- bém de modo sucinto, sem repetigdo, deixando a argu- mentagio — com ampla liberdade individual — para outro capitulo do arrazoado. A parte contraria procuraré demonstrat que a questéo federal foi mal eqnacionada ou é destituida de relevincia. O Tribunal, portanto, j& nao decidira no terreno do puro arbitrio, mas diante de razdes contrapostas, que Ihe permitem melhor apreciar © requisito da relevancia. ‘Quem examinar os memoriais apresentados & Corte Supreina, de acdrdo com o padrio regimental, vera que, na maioria dos casos, a importancia do recurso, para ser ou néo admitido, pode ser facilmente verificada. Esses briefs contém um pequeno capitulo, quase sempre de poucas finhas, em que o advogado tem de isolar, de modo preciso, articuladamente, as questdes de direito federal focalizadas no pedido, justificando, em outro capitulo, também breve, ou precedido de um resumo, a conveniéncia e propriedade do seu julgamento pela Corte. Quase sempre, bastard ler o enunciado das ques- tions presented para se aferir da sua_relevincia, pois elas tem de enquadrar 0 caso especifico submetido a julgamento. Entre nés, embora ainda no haja qualquer obriga- toriedade a esse respeito, os arrazoados dos bons advoga- dos j& permitiriam formar, de imediato, juizo seguro sobre essa relevancia, Exigir dos advogados que assim ndo procedem maior rigor na formulagio dos recursos sera, por outro lado, um meio indireto de selecionar os profissionais que pleiteiam perante o Supremo Tribunal, com inestimavel vantagem para a Justiga © para o adian- tamento da nossa cultura juridica, Outro contrapéso, ainda mais efetivo, existe na Cérte Suprema dos Estados Unidos: bastam quatro votos (excepcionalmente, trés) para que o recurso seja admitido a discussdo oral e julgamento. Esses quatro votos, que s0 minoria no total de nove, correspondem & maioria do quorum minimo, que é de seis juizes. A admissao do recurso é, portanto, um privilégio da minoria, como se le em Stern e Gressiman: “Em raras ocasiées — como quando sdmente seis on sete jnizes estio presentes ou sio desimpedidos —, a regra é abran- dada algumas vézes, mas nao invariavelmente, para permitir a concessio do certiorari pelo voto de apenas REVISTA DE INFORMAGAO LEGISLATIVA trés juizes, Também tem havido casos em que, susten- tada vigorosamente a concessiio do certiorari por dois ow trés juizes, os demais, em mimero suficiente, con- cordam com a concessio, a despeito de sua opinido em contrario.” (**) Entre nds, embora por outro caminho, j& € a minoria quem decide se 0 recurso extraordindrio deve ser apre- ciado pelo Supremo Tribunal. Basta que déle conhega a Turma, para que a parte vencida possa levar_o caso ao Tribunal Pleno, por meio de embargos. Como a Turma decide por maioria, se estiverem presentes seus cinco juizes, bastarao trés votos para que se admita e julgue 0 recurso na Turma e, depois, no Pleno. Quando 4 Turma, excepcionalmente, funcionar com trés juizes, dois votos serio suficientes. Portanto, a minoria de trés juizes (por vézes, dois) tem a prerrogativa de fazer apre- ciar a causa pelo Supremo Tribunal. Este sistema, que — repetimos ~ ¢ 0 vigente, poderia ser mantido na ‘verificagao do requisito da relevancia, quer 0 caso fésse apresentado A Turma, quer ao Ple- nario. Simples norma regimental poderia regular a ma- téria, disponde que tres votos seriam suficientes para ésse efeito, garantindo o julgamento do recurso sol demais aspectos preliminares ou de mérito. Admitindo-se, apenas para argumentar, 0 descritério da maioria do Tribunal, serie dificil imaginar que vem trés juizes, no total de onze, tivessem 0 critério necessério para fazer chegar ao Tribunal uma causa que fdsse real- mente relevante. Vé-se, pois, que o mecanismo proposto reduz a0 minimo o receado perigo do subjetivismo, que, de resto, repetimos, é um falso problema. F) O método da “Stimula” Finalmente, um dos meios mais seguros para reduzir a impreciso do requisito da relevancia poderia sero registro periddico das questdes juridicas que nio mais seriam relevantes no entendimento do Tribunal. Bste, afinal, jd € 0 método utilizado por éle com a Sémula de sua jurisprudéncia predominante, que sé seré alterada quando a parte trouxer novas razies realmente convin- centes, ‘A esse respeito, assim me manifestei em otttro tra- balho: “O que na verdade assoberba os tribunais, preju- jicando o acurado exame dos temas dificeis, so os casos (28) Ob. cit, p. 175, Os quatro votos tém sido suficientes, ho a6 os caads'de certtorert, como nos de appeal (ob. cit, p. 174), gue sto of dole canals da competéncia de recurso da Corte SETEMBRO — 1965, 45 que se multiplicam, seriadamente, como se houvesse uma {abrica montada para fazer dos juizes estivadores. (...) Roses casos, pela freqiiéneia com que se reproduzem, ficam despojados de importincia juridica, e nio justi- ficam perda de tempo (uma vez definida a orientagio do Tribunal). (..) Nao temos a prerrogativa de escolher os casos de relevancia juridica, mas poderfamos alcancar, indiretamente, resultados comparaveis. (...) Foi dessa maneira (...) que nasceu a Sémula da Jurisprudéncia Predominante do Supremo Tribunal.” (*) Observou, além disso, a Comissao do Instituto dos Advogados Brasileiros que a condigio de se tratar de matéria relevante ja era exigida, em lei anterior, para conhecimento de embargos pelo Supremo Tribunal. fato, o art. 9.9, § 1.°, do Decreto n.° 20.106, de 13-6-31, assim dispunha: “... os embargos ... serio admitidos somente gquando ... © Tribunal os considerar rele- vantes para tal efeito”. Esse mesmo decreto, no art. 11, § 3.°, também dispunha que o relator somente admitiria reiteragko de habeas corpus, “atendendo a relevancia da matéria ou a novos documentos ou alegagdes”. Eo art. 24 do nosso Regimento, consoante emenda de 28-8-63, permite & Turma, ou ao relator, submeter o recurso ex traordinario, on 0 agravo, diretamente ao julgamento do Plenario, quando se tratar de matéria constitucional, quando houver dissidio no Tribunal, ou “quando houver relevante questao de direito envolvida no proceso”. Vé-se, portanto, que, com ou sem reforma consti- tucional, providencias diretas ou indiretas foram sendo impostas pela forga natural da realidade. Permitam-me repetir a frase de Destouches, que jé se tornon prover bial: Chassez le naturel, il revient au galop. IV — CONFIANGA NA JUSTICA As observagies _precedentes evidenciam que, afas- tado por inconveniente ou desastroso qualquer sistema rigido de redugio dos encargos do Supremo Tribunal, pode ser adotado, com as melhores expectativas, 0 siste- ina flexivel sugerido pelo proprio Tribunal. Sob outra forma, cle j4 foi testado, com éxito, nos Estados Unidos. Os argumentos em contririo nao séo tao fortes que impegam 0 Goveérno € 0 Congresso de fazerem a expe- rigncia. Uma reforma judiciéria bem intencionada nao pode deixar de confiar nos juizes, especialmente quando integram o mais alto Tribunal do Pais. inguém, entre nds, criticou o Supremo Tribunal com mais energia do que Rui Barbosa, e ninguém o 1381 Atwalidede do Supremo Pribunal, palestr publicada em varins fevistas (KF, 208/18, R. h, 3497623. Justitia, 47/156, etc.) REVISTA DE INFORMACAO LEGISLATIVA exalgou com maior poder de convicgéo. “A censura dos individuos ~- dizia ~ ¢ o meu direito. A defesa da i tituigio, 0 meu dever,” E quase ao fim da vida lavrou & sua sentenga: “No Supremo Tribunal temos tido a mais bem sucedida instituigao déste regime, embora diste ainda muito do original norte-americano.” Estas palavras consagradoras foram recordadas, numa grande homenagem do Supremo Tribunal a Rui Barbosa, pelo eminente advogado Dario de Almeid: Magalhaes, que assim se dirigin aos seus juizes: “Arbi- tros entre os podéres, sob a Constituicdo, conti ser os arbitros da vossa competéncia; os guardas que ninguém guarda, senao a vossa prdpria consciéncia, os Ivogados, que vos devemos a colaboragio da critiea leal, e a opiniao publica, que, nos regimes livres, a todos vigia e a todos pede contas. Sem a investidura de um mandato popular direto, represeniais 0 érgio, por exce- léncia, de defesa da democracia, sobranceiro as corren- tes € as facgdes, para proteger os direitos da minoria, contra 0 arbiteio da maori () E sem divida nenhuma a idéia da limita podéres que justifica, politica e filoséficamente, wma instituigao como 0 Supremo Tribunal, para que se tor- nem efetivas as restrigdes estabelecidas pela Constitu a0, pois em nosso regime nem mesmo a maioria dispoe de autoridade absoluta. Enfrentando magnas controvérsias, de efeito pola- rizador, é impossivel evitar que periddicamente o Si premo Tribunal seja, éle préprio, objeto de controvérsia, Por idéntico motivo, nenhum outro tribunal, no curso de sua existéncia, tem sido mais combatido que a Cérte Suprema dos Estados Unidas. Aliviada a incampreensio, cla sobrevive as investidas ¢ nenhum outro tribunal no mundo desfruta de tao alto prestigio. Com tédas as deficiéncias que possa ter a institnigao, que também é humana, a ligto de sua experiencia é que se deve confiar nos juizes independentes, porque ainda nilo se descobrin meio mais eficaz de conciliar a busca de solugées para os problemas da coletividade com a preservagio das liberdades e direitos individuais. Nas palavras de um conceituado jurista-filésofo, que bem se aplicam a nés, “em um vasto pais, de populacdo hete- rogénea, com problemas regionais amplamente diversi- ficados, a organizagio da sociedude por tal modo é 0 fundamento mais seguro para as esperangas da demo- cracia”. () 140) Revista Forense, 128/25, 262 (19501 (AL) Eugene V. Rostow. The Sovereign Prerogative: the Supreme Court and’ the Quest jor Law. p. 156 ved. Wale, 1963)

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