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(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 31.643/2017........................................)
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empresa pagaria; que arriou a prancha e mesmo assim a prancha bateu no carro, na
lateral. Após a colisão, a balsa recuou e abaixou ainda mais a prancha e, pela segunda
vez, a prancha bateu no veículo, desta feita, no pneu; que o acidente foi causado por
influência das correntes de vento; que a correnteza estava fraca e o vento estava forte;
que considerando as dimensões e o calado da embarcação, o espaço era limitado para a
manobra; que não houve imperícia do Condutor no desempenho de suas funções a bordo;
que há placa nas proximidades do local do acidente indicando que ali não era permitido
permanecer estacionado, mas as placas não estão exatamente no local do acidente; que
havia um monte de barro dificultando a passagem de veículos; que o proprietário do
veículo poderia ter retirado o carro de onde estava.
Abel Sá de Sousa, Marinheiro Fluvial Auxiliar de Convés, em seu
depoimento declarou, em resumo, que o vento jogou a balsa para cima do carro. Que o
Isaudy alertou umas 3 ou 4 vezes ao proprietário do carro para tirar o veículo e evitar o
acidente; que o proprietário do carro não o tirou do local.; que o motorista do veículo
revidou: “se bater, paga!”; que o acidente foi causado devido a corrente do vento, que
empurrou a balsa; que considerando as dimensões e o calado da embarcação, o espaço era
muito restrito para a manobra; que não houve falhas na máquina do leme ou no aparelho
de fundeio, que tudo estava operando normalmente; que considera o vento responsável
pelo acidente; que o veículo estava em local não autorizado e há placas de advertência,
nas proximidades do local do acidente, indicando que ali não era permitido permanecer
estacionado, mas essas placas são afastadas do local exato do acidente; que para evitar o
acidente o proprietário do veículo poderia ter retirado o carro rapidamente, após ter sido
alertado por um tripulante da balsa.
Laudo de Exame Pericial, ilustrado com fotos, concluiu que a causa
determinante do fato da navegação foi a falha na avaliação da influência do vento na
manobra de desatracação com segurança.
Que no local do acidente a corrente do rio era moderada, o tempo era bom e
ventava forte. Que a rampa onde se encontrava o automóvel era uma rampa desativada.
No relatório o Encarregado do Inquérito após resumir o depoimento de 4
testemunhas e analisar os dados do Laudo Pericial em conjunto com os depoimentos,
concluiu que o fator operacional contribuiu para o acidente da navegação uma vez que o
condutor não considerou o vento por ocasião da travessia, contribuindo, assim, para o
acidente.
Apontou como possível responsável direto pelo acidente o condutor
Iraquistam Barros de Sousa, por não ter interpretado de forma correta a influência do
vento na embarcação, por ocasião da desatracação da mesma; e
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Foi apurada a seguinte infração à Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário, O
Condutor Iraquistam Barros de Sousa, condutor do empurrador PIPES 126, deixou de
observar o art. 8°, inciso II, da Lei n° 9.537, de 11 de dezembro de 1997 (LESTA), por
não cumprir e fazer cumprir a bordo da embarcação os procedimentos de segurança da
navegação e da própria embarcação.
Notificação formalizada. Defesa prévia não foi juntada.
A D. Procuradoria ofereceu representação contra Eletrobrás Iraquistam
Barros de Sousa, na qualidade de Condutor do Comboio, com fulcro no art. 14, alínea a
da Lei nº 2.180/54, sustentando, em resumo, que foi imprudente ao não avaliar as
condições climáticas antes de desatracar o comboio e, assim, contribuir para a
consumação do acidente.
Recebida a representação e citado, o representado Iraquistam Barros de
Sousa, que não possui antecedentes no Tribunal Marítimo, foi regularmente defendido.
Iraquistam Barros de Sousa alegou em sua defesa, em resumo, que o
proprietário do veículo estava em área restrita de uso da Pipes Empreendimentos para
lavar o seu veículo; que para ter acesso ao local ultrapassou barreiras de contenção e
proibição em local de uso restrito; que os tripulantes ao pressentirem a influência do
vento pediram ao motorista do veículo que tirasse o carro daquele local e foi ignorado
pelo condutor que disse: “pode deixar bater, se bater paga”; que o condutor nada fez para
impedir a colisão; que o acidente ocorreu em razão da mudança climática imediata, com
ventanias muito forte empurrando ao comboio para a direção da rampa desativada que
estava sendo ocupada indevidamente pelo veículo; que o Representado tentou sem
sucesso segurar a balsa com o intuito de evitar ou minimizar os danos do sinistro, mas
que o proprietário do veículo, que teve tempo suficiente para tirar o seu carro do porto
que é de uso da Pipes.
Aberta a instrução, nenhuma prova foi produzida.
Em alegações finais, falaram as partes.
Decide-se.
De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que a natureza e
extensão do acidente da navegação sob análise, tipificado no art. 14, alínea a, da Lei nº
2.180/54, ficaram caracterizadas como colisão da prancha de proa da balsa com veículo
estacionado em rampa desativada provocando danos materiais na lataria e lanterna
traseira direita.
A causa determinante foi a incidência de rajadas de ventos no momento da
desatracação do comboio, força maior.
Analisando-se os autos, verifica-se que o comboio estava em manobra de
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desatracação com o intuito de realizar uma travessia no Rio Araguaia entre as cidades de
São Gonçalo do Araguaia, PA e Xambiotá, TO.
No conjunto probatório dos depoimentos colhidos, consta que as
embarcações foram empurradas por rajadas de vento jogando o conjunto na direção da
rampa desativada que fica ao lado da rampa em atividade na margem esquerda do rio.
Encontrava-se na rampa desativada um veículo estacionado com dois pneus traseiros
dentro d’água com o seu proprietário realizando lavagem da carroceria.
Instantes antes da colisão, os marinheiros da balsa acenaram e gritaram para
que o veículo fosse retirado do local uma vez que o acidente estava na iminência de
ocorrer, em face da aproximação do comboio. Segundo os depoimentos, havia tempo
suficiente para retirada do veículo, uma vez que as embarcações se deslocavam
lentamente no sentido da rampa desativada e o Condutor do comboio não estava
conseguindo conter o movimento naquela direção. Aos apelos dos marinheiros consta
que o proprietário do veículo teria respondido “se bater, paga!”.
De certo conclui-se que o local por ser de manobra restrita, onde se realizam
diversas movimentações de comboios, com pouco espaço para manobra, e muito próxima
da rampa desativada onde ficou estacionado o veículo para uma lavagem de sua
carroceria, o seu proprietário assumiu o risco de uma eventualidade de um acidente tal
qual ocorreu, em face da proximidade com a rampa ativada, uma vez que o vento que
soprou no momento da desatracação tornou inevitável o movimento lateral do comboio, e
por isso, uma força maior, afastando o nexo de causalidade entre a conduta do
Representado e o resultado produzido.
O CC/2002 em seu “Art. 393”. O devedor não responde pelos prejuízos
resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado.
A força maior é um acontecimento que foge da vontade do indivíduo, que
escapa de sua diligência, estranho a sua vontade, excluindo o nexo causal, por ser
manifestamente estranha a conduta do agente. A força maior é um evento inevitável,
ainda que seja previsível.
Assim, ficou caracterizada a ausência de nexo de causalidade entre a conduta
do Comandante do comboio e o dano experimentado pelo veículo estacionado em local
de risco, em face de manobra de comboios na rampa ativada muito próxima da rampa
desativada.
Pelo exposto, deve-se considerar improcedente a fundamentação da PEM,
exculpando-se o Representado Iraquistam Barros de Sousa.
Assim,
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ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente da navegação: colisão da prancha de proa da balsa com
veículo estacionado em rampa desativada provocando danos materiais na lataria e
lanterna traseira direita; b) quanto à causa determinante: incidência de rajadas de ventos
no momento da desatracação do comboio, força maior; c) decisão: julgar o acidente da
navegação previsto no art. 14, alínea a, da Lei nº 2.180/54, como decorrente de força
maior mandando arquivar os autos do Processo, exculpando o Representado Iraquistam
Barros de Sousa.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 20 de agosto de 2019.
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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF,
cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2019.11.17 16:31:39 -03'00'