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Abstract
The purpose of this work is to make a comparison between Bruno Latour’s Actor-Net
Theory and the Radical Empirism of William James, trying to highlight strategic
similarities in the fight against dualism. Although they have different opponents, both
create a very similar ontology, very close to what Gilles Deleuze and Félix Guattari called
Pluralistic Monism or rizomatic thought. This ontology serves as a weapon to fight the
cognitive dualism, refusing the idea of knowledge as a jump from the representations of the
subject to the known thing, as for these two authors knowledge is gathered by the middle,
by the intermediaries, where the subject and the object are simple products of this process.
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Another dualism refused is the one operated between truth and belief, although they have
different strategies: Latour refuses the concept of belief and James associates this to the
concept of truth. Last but not least, it is discussed how these two strategies lead to an
extended pragmatism.
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uma concepção de universo fechado no qual todas as partes confluiriam para uma unidade
global sem qualquer dispersão: "O monismo pensa que a forma todo ou unidade todo é a
única forma que é racional” (James, 1909-b: 45). Latour, por sua vez, se posicionará contra
a tradição moderna e pós-moderna de separação do real em dois domínios distintos: um
domínio de entes humanos em que estes são representados pelos parlamentos e outro de
seres naturais que se fazem representar nos laboratórios (Latour, 1994: 35). Pluralidades de
culturas de um lado, unidade da natureza de outro; “de um lado a força social, o poder; do
outro, a força natural, o mecanismo”(op. cit.: 35); regras de um lado, leis de outro; questões
de valor de um lado, questões de fato de outro: na fronteira insuperável entre um domínio
subjetivo e de outro objetivo, os modernos (e pós-modernos) esquadrinham e dividem o
real entre duas ordens puras, superando e se pondo à distância da confusão dos pré-
modernos. De modo mais recente, Latour (2003) elegerá o crítica moderna, ou o
construtivismo crítico como adversário a ser batido.
Contra o monismo, James nos oferece o pluriverso de um empirismo radical onde
de uma massa de experiência pura e amorfa emergem todos os seres distintos e dotados de
racionalidade, tal como destacados pelos monismos. Contra o dualismo moderno (e pós-
moderno), Latour busca uma ontologia a-moderna em que os entes puros humanos e
naturais não são os seres primeiros, mas o produto de um longo processo de purificação em
rede que se inicia nos híbridos. O que haveria em comum entre os adversários de Latour e
James e nas alternativas que estes autores oferecem?
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onde todas as partes estão necessariamente conectadas de forma estática e solidária a um
todo. Esta concepção é claramente distinta do monismo rizomático proposto por Deleuze &
Guattari: “Contra os sistemas centrados... de comunicação hierárquica e ligações
preestabelecidas, o rizoma é um sistema a-centrado não hierárquico e não significante, sem
General, sem memória organizadora ou autômato central, unicamente definido por uma
circulação de estados” (1995: 33) . Algo em perfeita sintonia com James (1909-b: 46): “as
coisas são umas como as outras de várias maneiras, mas nada inclui tudo, ou domina sobre
tudo. A palavra ‘e’ arrasta-se atrás de cada sentença... O mundo pluralista compara-se
assim mais a uma república federativa do que a um império ou um reino”. Neste caso,
pode-se distingüir um monismo absolutista (combatido por James) de um monismo
pluralista defendido por Deleuze & Guattari. Contudo, pode se perguntar se James no seu
Empirismo Radical, ao afirmar a primazia de uma experiência pura, nem objetiva nem
subjetiva não recairia de uma maneira mais clara neste monismo pluralista, alternativa de
resto apontada por David Lapoujade (2000)ii. É esta a possibilidade que gostaria de
explorar, comparando a ontologia dos dois autores.
Como poderíamos caracterizar o Empirismo Radical de James? Passemos a palavra
a James, 1909-a: 118:
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encontrável nos textos do próprio James, onde esta radicalidade se deveria ao esforço de
diferenciação entre o seu empirismo e o clássico. Neste aspecto o empirismo jamesiano
seria radical ao considerar como inerente à experiência tanto as relações disjuntivas como
as conjuntivas, estas ignoradas por Hume (James, 1905:135,138); ao recusar a idéia de
impressões imutáveis e idênticas a si no fluxo da consciência (“uma entidade tão mitológica
quanto o Valete de Espadas”- James, 1890: 57); e ao aventar a possibilidade de uma
filosofia religiosa empirista (James, 1907-a, p.7, 13). Uma outra suposição quanto à
radicalidade do empirismo de James pude destacar em minha dissertação (Ferreira, 1992:
Capítulo IV, ítem 3), refere-se ao acirramento e radicalização no combate ao racionalismo
no que tange à definição da verdade. Se numa estratégia inicial, definida por James como
humanista (1904-c), a verdade é vista como uma operação sobre-empírica dos conceitos
sobre a experiência, incluindo os próprios conceitos mais caros ao racionalismo (como de
absoluto), na estratégia empirista radical, a verdade, ou verificação passa a ser vista como
um processo intra-empírico. James assim se manifesta sobre esta transição radical (1909-a:
114): “Ao explicar por que não acredito no absoluto, mesmo achando ser verdadeiro que
ele pode oferecer “feriados morais” àqueles que precisam... eu ofereci a formulação acima
aos meus inimigos como um ramo de oliveira conciliatório. Mas eles, como é comum com
tais oferendas, a pisaram e voltaram-se para atacar o doador”.
Contudo, Lapoujade (2000: 167) reconhece a radicalidade do empirismo radical na
suposição primeira de uma experiência pura, nem objetiva nem subjetiva e anterior à
distinção entre conhecedor e conhecido. Ela não seria pura nem no sentido de uma tábula
rasa empirista, nem de um eu penso cartesiano, escoimado de todo conteúdo empírico. Sua
pureza não se encontraria em um dos polos do dualismo que marcam a filosofia da
antigüidade até os dias de hoje: matéria e forma (op. cit.: 269-270). Sua pureza está na
partida de “um campo ilimitado em que as distinções dualistas – mundo físico e mundo
psíquico, mundo do pensamento e da matéria, sujeito e objeto – ainda não estão feitas ou
não podem ser feitas sem que a experiência deixe de ser pura, sem que a imanência seja
perdida”. O empirismo radical não opera pois no seio dos dualismos: a experiência pura
não seria a matéria livre da forma, mas o material , uma “realidade intermediária, nem
matéria nem forma, que se desdobra por si mesma e da qual são feitas tanto as realidades
físicas quanto as psíquicas” (op. cit.: 270). Se é possível um dualismo no empirismo
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radical, este jamais será o da relação entre matéria e forma, mas talvez o existente entre o
material (da experiência pura) e as funções operadas por esta experiência em sua
deambulação (op. cit.: 273). Tentemos especificar esta experiência pura.
De início cabe diferenciá-la da consciência. Conforme Dewey (1940: 344),
considerando a obra de James em seu conjunto, o que se nota na passagem da fase
psicológica (1880/1890) para a filosófica (1900/1910) é a substituição da corrente da
consciência pela da experiência: o segundo termo passa a abranger o primeiro. Deste modo
a consciência torna-se uma entidade secundária: nenhuma experiência é em si consciente,
mas assim se torna por suas relações aditivas. Ao contrário dos behavioristas, James apenas
promove apenas uma negação substancial, mas jamais funcional da consciência enquanto
derivada da experiência pura:
Quero dizer que não existe estofo (stuff) primitivo oposto àquele de que objetos materiais são
constituídos, mas existe uma função na experiência que os pensamentos desempenham e para cuja
realização do ser esta qualidade do ser é invocada. esta função é conhecer... Quem quer que retire a
consciência de sua lista de primeiros princípios, deve, contudo, providenciar, de alguma maneira
para que aquele ser da função continue (James, 1904-a: 102).
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experiência, acredito, não tem tal duplicidade interna; e a separação dela em conteúdo e
consciência não se efetua por meio de subtração, mas por meio de adição” (op. cit.: 104). O
que seria somado no caso?
Dessa ... maneira, uma porção não separada da experiência, tomada num contexto de associados
representa o papel do que conhece, de um estado da mente, da “consciência”, enquanto num
contexto diferente a mesma porção não separada da experiência representa a parte de uma coisa
conhecida, de um conteúdo objetivo (op.cit.: 104).
“O grupo geral da experiência que atuam que não só possuem suas naturezas intrinsecamente, mas
usam-nas adjetiva e energeticamente, colocando-as umas contra as outras acaba sendo
inevitavelmente contrastado com um grupo cujos membros, tendo identicamente as mesmas
natureza, falham em se manifestar de maneira “energética”... O fogo mental é o que não queimará
gravetos reais: a água mental é a que não apagará necessariamente (embora possa) mesmo um fogo
mental... Com os objetos reais, ao contrário, sempre resultam conseqüências; e desta forma as
experiências reais são depuradas a partir das experiências mentais, as coisas a partir de nossos
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pensamentos delas, fantasiosos ou verdadeiros, e precipitados juntamente como a parte estável do
caos completo da experiência sob o nome de mundo físico” (op. cit.: 112).
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explicados pelo mesmo princípio, sendo necessário que se descreva o seu processo de
separação.
Contudo, apesar de aplainar as diferenças entre verdade e erro, Bloor, segundo
Latour, teria mantido outras assimetrias através de seu construtivismo, ao reduzir as
diferenças no interior das ciências naturais a dispositivos sociais (Latour, 1993: 256). Aqui
seria processada uma assimetria tão marcante quanto a do naturalismo; nos dois casos,
natureza e sociedade estariam sempre reduzidas a um dos termos. Neste sentido, torna-se
necessário um segundo princípio de simetria mais forte (generalizado), que apague a
separação moderna entre sociedade e natureza e seus respectivos reducionismos; só haveria
uma socio-natureza (Latour, 1994: 9; Latour e Callon, 1990: 35). Se não há mais diferença
essencial entre verdade-erro, ciência-não ciência, não procede mais qualquer posição de
triunfo com relação aos pré-modernos e aos ditos primitivos. Chega-se aqui a uma
antropologia a-moderna, que não opõe o monismo dos primitivos (sem separação entre
sociedade e natureza) ao nosso dualismo civilizado, recoberto pela oposição entre erro e
verdade, que somente nós modernos podemos atingir:
Aqueles que inventam as ciências e descobrem os determinismos físicos não se encontram nunca, a
não ser por puro acidente, nas relações humanas. Os outros possuem apenas representações da
natureza mais ou menos distorcidas ou codificadas pelas preocupações culturais dos humanos, que
os preenchem por inteiro, e apenas por acidente percebem – “como através de uma nuvem”- as
coisas como realmente são (Latour, 1994: 98-99).
A mescla operada pelos primitivos entre natureza e sociedade, tida como equívoco,
e objeto de exame do antropólogo e do historiadorv, não nos separaria mais. De agora em
diante o antropólogo salta o muro e penetra no domínio até então inexpugnável do
epistemólogo. Para Latour, o fim do apartheid epistemológico se reforça ao se constatar
que a tentativa moderna de purificação dos domínios natural e humano fracassa através de
seu efeito colateral mais indesejável: a proliferação de híbridos, como, por exemplo, na
dicussão política sobre a camada de ozônio, a clonagem e o clima (conferir Latour, 1997).
Racham assim todos muros de Berlim que sustentavam nossos dualismos e assimetrias.
Constatado este fracasso da constituição moderna, Latour propõe uma nova
ontologia, um novo pensamento que coroe o princípio de simetria ampliado e a
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impossibilidade de cisão entre natureza e sociedade. Este novo pensamento não se produz
mais a partir dos extremos purificados, como os desejados pela modernidade, que
explicariam todos os demais seres compostos e imperfeitos. Pelo contrário, aplainadas
todas as diferenças, os entes partem agora do centro, dos híbridos, outrora tidos como
acidentais. É através destes quase-objetos, destacados na Teoria Ator-Rede, sem
características de objetos naturais ou humanos, que se sai do debate entre realismo e
construtivismo, definindo relações sociais não socializadas e relações naturais não
naturalizadas (Latour, 1993, p: 260):
O objeto agora emergente é um objeto completamente novo que não tem o clássico traço de
objetividade. Como Serres diz, é um ‘quase-objeto’ porque ele não possui as características de um
objeto natural. Por exemplo, o que é o calor antropogênico? É claro, ele é humano: é socialmente
construído, porque é o calor produzido pela nossa poluição; mas ele tem a escala do planeta, logo é
um fenômeno natural. Sim, nossa poluição humana e o cosmos não-humano estão completamente
relacionados.
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Como visto na seção anterior, os dualismos são os grandes antagonistas dos monismos
pluralistas. É importante vê-los serem combatidos à partir das máquinas de guerra
elaboradas pelas ontologias de Latour e James. No caso, o teatro de guerra onde os
dualismos melhor se perfilariam seria no plano cognitivo: tanto para os modernos quanto
para monistas absolutistas (e racionalistas) o conhecimento se daria através de um salto, em
que o sujeito buscaria estabelecer uma representação especular adequada do objeto natural,
real em si. Além desta cisão entre um plano objetivo e subjetivo, outro dualismo tem longa
história na filosofia: trata-se daquele que opõe verdade e erro, saber e opinião, èpisteme e
doxa. Nesta seção veremos como Latour e James combatem a concepção do conhecimento
enquanto uma representação saltatória e na seguinte a assimetria entre verdade e crença.
Conforme foi destacado anteriormente neste artigo (páginas 4 e 5), James mantém
duas estratégias no trato com a verdade: uma humanista em que esta é uma operação sobre-
empírica em relação à experiência e outra empirista radical, na qual o conhecimento se dá
como um processo intra-empírico. Mas, seja qual for a estratégia que o pragmatista adotar
no combate aos racionalistas e aos monistas absolutistas a verdade sempre será vista como
uma condução: “A verdade duma idéia não é uma propriedade estagnada inerente a ela. A
verdade acontece como uma idéia. A idéia se torna verdadeira, é feita verdadeira pelos
eventos. Sua verdade é de fato um evento, um processo de validação” (James, 1909-a:113).
E esta condução será avaliada pelos mais diversos critérios: integração harmoniosa da
experiência (James, 1908-a: 87); acordo entre verdades novas e antigas (James, 1907-a:
24); produção de satisfação (James, 1908-a: 86-88); ausência de contradição (James, 1904-
c: 220); elegância (James, 1907-a: 78); atividade (1908-a: 83); e utilidade (James, 1907-a:
73)
Neste aspecto, Lapoujade (2000: 272) nos lembra que James opõe dois modelos de
conhecimento: o saltatório e o deambulatóriovi. No primeiro caso “parte-se da imanência de
um sujeito que deve saltar por cima dele mesmo em um Absoluto ou sobre um campo
transcendental, para relacionar o objeto a um sujeito”(op. cit.: 272). Este conhecimento
seria saltatório especialmente porque despreza o papel dos intermediários no processo
veritativo:
Pois esvaziamos primeiro a idéia, o objeto e seus intermediários de todas as suas particularidades
com a finalidade de reter apenas um esquema geral; e assim só consideramos este último na função
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que consiste em dar um resultado, e não em seu caráter de processo... em outros termos, os
intermediários que, em sua particularidade concreta, formam uma ponte, evaporam-se idealmente,
de modo a não ser mais do que um intervalo a ultrapassar (James, 1907-b:125 – tradução de Ana
Lúcia Oliveira em Lapoujade, 2000: 272).
James (1904-b: 120) esclarece os tipos de salto operados pelos diversos dualismos:
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conceito não é o de se tornar um espelho, mas um roteiro a se conduzir no fluxo da
experiência: “Se tem semelhança sem operar é um sonho; se opera sem se assemelhar é um
erro” (op. cit.: 188). Para James, mesmo que tentemos definir a verdade como
correspondência, ela jamais se reduzirá a idéia de cópia, e sim a uma adição que se produz
do pensamento sobre a realidade: Em um sentido geral, podemos simplesmente somar o
nosso pensamento; e se o objeto sofre adição, e a situação toda se enriquece, o pensamento
passará por verdadeiro”(James: 1904-c: 206).
É neste aspecto que para Lapoujade (1997: 77) o conhecimento em James se dá por
acréscimos, por construções e adições bordadas sobre o tecido fluido da experiência pura:
“O conhecimento deve, ele também construir suas linhas. É o construtivismo próprio ao
empirismo radical, inseparável da hipótese continuísta da experiência”. Ou ainda conforme
James (1904-b): “A noção de conhecimento ainda in transitu e a caminho associa-se àquela
noção de uma experiência pura”. É nesse aspecto que Lapoujade (1997: 80) insiste que o
conhecimento se dá na tessitura de networks e patchworks: “O conhecimento se faz então,
para James, pouco a pouco, pedaço a pedaço, sem que estes pedaços convirjam a uma
unidade final; ele cria suas linhas juntando seus diversos pedaços da experiência. Ele assim
cria seus networks e patchworks”.vii
Essa construção operada nas trilhas da experiência pura tem sido tomada
constantemente como uma metáfora antecipatória do capitalismo globalizado em rede
(network). Contudo, Lapoujade (2000: 276-277) nos lembra que esta deambulação do
filósofo pelas redes em nada se assemelha a do homem de negócios, mas de um
personagem mais nômade da história norte-americana: os Hobos, um conjunto de
trabalhadores migrantes em constante fluxo, atravessando “os Estados Unidos, de Chicago
até a Costa Oeste, em função dos canteiros de obras e dos empregos sazonais, organizando-
se em sociedades provisórias e locais” (op. cit.: 277). Estes personagens em nada se
assemelham por um lado aos pioneiros, pois são produtos dos fluxos da economia
capitalista própria do século XIX com suas expansões e contrações, nem tem a ver por
outro com os operários sedentários e sindicalizados oriundos da industrialização maciça do
século XX. Para Lapoujade (op. cit.: 277) é deste “modo bastante curioso que a filosofia de
James é a filosofia do capitalismo americano”. Por seu nomadismo.
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Latour (1998) concebe em outras palavras, mas nos mesmos termos a questão do
conhecimento (salto ou deambulação) ao propor a pergunta: “Estamos separados da
realidade por filtros ou ligados a ela por mediadores?”. Latour nos dirá que a resposta
predominante nas reflexões sobre a ciência apontam para uma metáfora ótica, onde nosso
conhecimento estaria mediado por diversos filtros. No que tange a existência destes filtros
caberiam duas alternativas: ou devemos eliminá-los para nos aproximarmos das coisas a
serem conhecidas (solução empirista), ou devemos acolher o limite imposto por nossas
categorias (solução kantiana). Mas ambas as alternativas acolheriam a sugestão de que
quanto mais mediadores, mais nos distanciamos das coisas: “juntar intermediários não pode
fazer outra coisa que não enfraquecer o realismo das ciências” (Latour, op. cit.). Trata-se da
velha hipótese saltatória: não mais sobre o abismo entre sujeito e objeto, mas sobre o
conjunto de entulhos na nossa tentativa de alcançar o mundo real.
Latour (1999) irá por sua vez endossar a hipótese minoritária dos mediadores, de
resto endossada por James: “Sem instrumento, sem colega, sem artigo, sem corpo, sem
realidades intermediárias, sem mediação, nenhum cientista seria capaz de ascender a
qualquer realidade verificável e durável”. Ninguém diria que estes instrumentos atuam
como filtros que impedem o nosso acesso à realidade. Em alguns trabalhos, Latour (1985)
destaca quais de modo detalhado a atuação destes mediadores: são técnicas de visão e jogos
de interesses que explicariam a excelência da ciência. Nesta perspectiva, o motor da ciência
não será buscado nem no sujeito, nem na mera observação empírica; ele será encontrado na
fenomenotécnica, ou nas pequenas técnicas de inscrição presentes nos laboratórios, em
conjunto com as alianças e os interesses suscitados por cada pesquisa. Todas as
propriedades criativas do espírito científico, que eram atribuídas à infra-estrutura (Marx),
aos neurônios (Changeux), ou às capacidades cognitivas (Piaget), passam, com Latour, a
serem atributos das técnicas de inscrição, no seu poder de serem “móveis imutáveis”, uma
vez que, através do uso das imagens, são possíveis comparações, variações de escala,
recombinações, conservação de dados, convencimento, e, o mais importante: o
estabelecimento de aliados através de seus interesses (Latour, 1985: 19). É neste aspecto
que a análise de Latour se coaduna com multiplicação dos intermediários em James:
trocando uma perspectiva vertical, ascendente do conhecimento por uma horizontal, onde
“os intermediários não são mais os véus diante de nossos olhos que nos impedem de
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apreender a realidade tal como ela é; são traves que estendemos sob nossos pés para
chegarmos ao real” (Latour, 1998). Quanto mais construção, mais se tem um mundo real.
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tem um grande efeito pragmático na produção de entes híbridos, ainda que conceitualmente
interditados: “Chamaremos agora crença, a operação que permite manter uma teoria oficial
o mais longe possível de uma prática oficiosa, sem nenhuma relação entre as duas além
desta preocupação apaixonada, ansiosa, meticulosa para manter a separação. Chamemos
agnosticismo a descrição antopológica desta operação” (op. cit.: 50). Na descrição
minuciosa destes efeitos é que Latour reclamará a necessidade de um pragmatismo
ampliado. Para facultar esta operação, a necessidade de uma “antropologia simétrica” e do
seu operador, o conceito de fe(i)tiche, “que vai ajudá-la a retomar o trabalho de
comparação, mas sem se perder nos dédalos do relativismo cultural e sem mais acreditar na
crença”(op. cit.: 56).
Por outro lado, observamos em James , especialmente em A Vontade de crer (1897-
a) uma vigorosa defesa da crença enquanto crédito fornecido a uma hipótese para que
produza efeitos: “O máximo de vida em uma hipótese significa disposição para agir
irrevogavelmente. Praticamente isso significa crença (grifo meu); há porém, alguma
tendência para acreditar sempre onde houver predisposição para agir afinal”. (op. cit.: 232).
A verdade opera aqui como um crédito (a imagem é de James), uma letra de câmbio cujo
único significado é o compromisso em ser honrada através da ação. Como isto se daria?
“Freqüentemente, o sucesso depende da energia do ato, a energia novamente depende da fé
de que não iremos falhar; e a fé, por seu lado, na fé de que estamos certos – tal fé então
verifica-se por si” (James, 1882: 339). Neste caso a crença não seria nem o antagonista do
conhecimento verdadeiro nem um caso especial deste, mas o seu caso exemplar: se a
verdade é uma condução, uma produção de resultados, porque não experimentar a fé numa
possibilidade para que ela se realize? Nas palavras de James:
Há então, casos onde um fato não pode vir de todo, a não ser que exista uma fé preliminar em sua
vinda. E onde a fé em um fato pudesse criar o fato, seria um lógico insano quem dissesse que a fé
correndo adiante da evidência científica, é a “mais baixa espécie de imoralidade” na qual um ser
humano pode cair. Contudo, essa é a lógica pela qual nossos absolutistas científicos pretendem
regular nossa vida (James, 1897-a: 248).
Poderia ser argumentado que este crédito vertido pelas crenças se aplicaria a
diversas hipóteses religiosas, morais e pessoais, mas jamais à ciência, onde a prudência é
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necessária ao desvio dos erros e ao alcance de verdades provisórias. Mas, o que Thomas
Kuhn chama de paradigma, enquanto conjunto de regras que determina o possível de uma
ciência numa determinada época, não seria um exemplar destes casos “onde a fé cria a sua
própria verificação”(op. cit.: 337)? Sendo a crença condição do que é crido, cabem as
palavras de Bergson (1920:10) sobre a teoria da verdade de James: “A verdade, segundo
William James, não copia qualquer coisa que tenha sido, ou que é: ela anuncia o que será,
ou talvez ela prepare a nossa ação para o que vai ser”. Aqui, conhecimento e fé não se
opõe.
A vontade de crer em James não é, pois, nada mais do que o otimismo regulado pela
ação, a confiança como construtora atuante da realidade. E para Lapoujade (1997: 86), a
“confiança” é a condição – ou talvez o germe – de toda crença”. Ela colocaria sua energia
“na região obscura onde a nossa potência de agir ultrapassa o que nós conhecemos” (op.
cit.: 87). Enquanto condição de todo ato de criação, a confiança se coloca enquanto
antagonista do niilismo: “Se a crença deve fazer face ao ceticismo, a confiança deve fazer
face ao niilismo”(op. cit.: 91-92). Aqui, o ceticismo não é a evitação de uma opção escolha
subjetiva: “é uma opção de um certo tipo particular de risco: é melhor arriscar a perda da
verdade do que a possibilidade do erro; essa é a posição exata de quem veta a fé (James,
1897-a: 249). Neste ponto desenha-se um claro antagonismo ao pensamento crítico
denunciado por Latour.
Abordadas as duas estratégias, pode-se perguntar: haveria antagonismo entre as
duas estratégias, entre a denúncia de Latour e o acolhimento de James? Pode-se dizer de
início que, apesar das direções opostas, estas estratégias seguem um mesmo sentido: a
simetria entre conhecimento comum e científico; todos os dois são construídos e mediados
por efeitos reais. Traduzindo nas palavras de Latour poder-se-ia dizer que a “Vontade de
Crer” constrói fe(i)tiches reais. Todos os entes produzido pelo conhecimento entendido
como processo não saltatório seriam ao mesmo tempo reais e construídos. Como já sabiam
os primitivos pré-modernos (Latour, 2002: 22).
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fetiches, entes naturais e humanos tem como efeito pragmático a multiplicação de entes
híbridos, multiplicação esta não captada no plano discursivo e não reconhecida pelas
constituições modernas. O que tornaria possível esta multiplicação efetiva no plano prático
é a presença de uma teoria refinada, porém distante deste campo prático, que se marca
sempre na escolha entre entidades duais: “construção e autonomia, sujeito e objeto, fato e
fetiche” (Latour, 2002.: 49). Estas distinções no plano teórico fazem com que as ciências se
isentem dos efeitos gestados por elas, que assim se multiplicam: “Em frente, tomados de
assalto, outros deverão subitamente ocupar-se das conseqüências – éticas, políticas,
econômicas – desta ação. O pesquisador terá feito ‘apenas ciência’” (op. cit.: 62). Ausente
em grupos pré-modernos, esta distinção entre sujeito e objeto garante a autonomia e
mobilidade das ciências perante a rede social: “Todas as vantagens da crítica no alto; todas
as vantagens da prática embaixo. Todas as vantagens da distinção meticulosa entre os dois
lados. Todas as vantagens da passagem de um lado para outro com todo o conhecimento
(prático)” (op. cit.:62). Este efeito prático, operado “sob as barbas” da teoria implicaria a
necessidade de um pragmatismo forte, capaz de dar conta de todos os efeitos, mesmo os
contraditórios operados por uma abordagem:
Não se sabe bem a qual pragmatismo Latour está se referindo. Mas esta modéstia na
descrição das práticas ou dos efeitos não é própria de James, especialmente quando este se
propõe a avaliar os efeitos de cada doutrina nas forma de vida de seus defensores. Mesmo
que estes efeitos possam contradizer as linhas gerais de suas doutrinas, como opera Latour.
Como exemplo, pode-se destacar duas análises pragmáticas que o filósofo americano
propõe dos efeitos cognitivos: a dos deterministas em oposição aos defensores do livre-
arbítrio, e a dos professores de uma religião monista em oposição aos pluralistas. Para
James (1884:12), no primeiro caso o que está em questão é a existência ou não de
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possibilidades, não podendo a ciência ser chamada a arbitrar pois não se tratam de fatos
consumados:
O que nos divide em homens de possibilidade e homens de anti-possibilidade são fés diferentes
ou... postulados de racionalidade. A este homem o mundo parece mais racional com as
possibilidades nele – àquele homem mais racional com as possibilidades excluídas; e falemos o que
falarmos acerca de nós temos que render às evidências, o que nos faz monistas ou pluralistas,
deterministas ou indeterministas é, no fundo, sempre algum sentimento como este”.
Intelectualmente, o racionalismo invoca o seu princípio de unidade absoluta, como uma base de
possibilidade para os múltiplos fatos. Emocionalmente, vê-lo como um continente e limitador, uma
garantia de que o resultado será bom. Tomado neste sentido, o absoluto torna certo todas as coisas
boas, e impossível todas as coisas más (no eterno, a saber), e pode ser dito que transmuta a
categoria inteira de possibilidades em categorias mais seguras. Vê-se, nesse ponto, que as grandes
diferenças religiosas reside entre homens que insistem que o mundo deve ser e será, e os que são
contentes em acreditar que o mundo pode ser salvo. O choque total da religião racionalista e
empírica depende, pois da validez da possibilidade (1907-a: 102-103).
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insinuada no texto The promises of constructivism (Latour, 2003, p. 37): “a razão dessas
disputas em torno do direito de realidade e construção engatilharem tanta paixão é que elas
são políticas: eles parecem falar sobre epistemologia, mas elas estão realmente falando
sobre como devemos viver juntos”. Ou ainda formulada de modo mais explícito (op. cit., p.
38):
Construtivistas e realistas estão todos engajados no que eu chamo de epistemologia política, a saber
as arenas em que os diversos candidatos que reivindicam habitar o mesmo mundo partilhado por
humanos e não-humanos estão representados em todos os sentidos da palavra. Então, o debate não
deve ser visto como o que demarca a fronteira entre os acadêmicos que objetam a politização da
natureza e os militantes que politizam tudo, incluindo os fatos da natureza para os mais diversos
fins; melhor, ele permite que diferentes facções, partidos e ligas tornem explícita e pública a forma
como supõem distribuir o que é disputável e indisputável, o que é contingente e necessário, o que
deve ser mantido e o que deve ser mudado. Para usar um tradicional conjunto de metáforas, a
epistemologia política não é uma desafortunada distorção de uma boa epistemologia ou de uma boa
política, mas uma tarefa necessária para aqueles que escrevem uma Constituição, distribuindo
poderes nos vários ramos deste vasto governo das coisas, buscando o melhor equilíbrio (checks
and balances).
O mundo unificado é algo do futuro e não do passado. Neste ínterim estamos todos no que James
chamou de pluriverso, e estes cientistas, filósofos, ativistas, cidadãos comuns de todos os tipos que
lutam para fazer isto um estão correndo riscos, e eles podem falhar... A oposição não é entre
contingência e necessidade, mas entre os que desejam ordenar o mundo de uma vez por todas sob o
pretexto barato de que tudo é já um, então eles podem subtrair tudo daí, e aqueles que já pagam o
preço da sua progressiva composição em um, porque ele não podem subtrair nada (op. cit., p. 39).
20
A proximidade com James pode ser visto nesta citação em que ele opõe racionalistas e
pragmatistas (no lugar dos construtivistas e realistas): “O contraste essencial é que, para o
racionalismo, a realidade já está pronta e completa desde toda eternidade, enquanto que
para o pragmatismo está sendo feita, a espera de seu aspecto futuro. Por um lado, o
universo está absolutamente firme, por outro, está perseguindo suas aventuras” (James,
1907-a, p. 93). Aqui, ao invés do martelo nietzscheano vemos que Latour se vale bem mais
do “ramo de oliveira” que James (1909-a) buscou oferecer a seus inimigos na construção de
um mundo comum:
Até quando iremos até a palavra construção não soar mais como um insulto que tenha que tenha
que ser retribuído com sangue ou uma confissão de fraqueza convidando a desconstrução? Até
quando iremos até que esta palavra não seja ouvida como um grito de guerra para tomarmos as
armas e os martelos, mas um apelo de cuidado e caução, um requisito para recolocar a questão:
Como se pode construir da melhor maneira? (op. cit., p. 43).
21
experiência pura. O que conta é a estratégia de recusa aos dualismos. Dentro desta
estratégia é importante ainda destacar a Teoria da Enação de Francisco Varela (2003), que
busca no campo das Ciências Cognitivas a postulação de uma construção de si e do mundo
nas malhas de nossa experiência e no seio das nossas redes neurais. Experiência que irá
buscar descrever buscando apoio no budismo e mesmo na fenomenologia de Edmund
Husserl e de Maurice Merleau-Ponty em paralelo com as pesquisas das Neurociências.
Podemos nos perguntar aqui se esta busca de descrição de uma experiência pura e acentrada
não encontraria eco nas descrições jamesianas do Empirismo Radical e na Teoria da Rede
de Bruno Latour. Quanto mais mediadores e intercessores melhor.
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Artmed.
i
Em homenagem a Deleuze a Teoria Ator-Rede de Latour também é designada como Atuante/Rizoma,
“porque é uma ontologia, e é sobre atores-atuantes, e sobre rizomas [...] ‘Rizoma’ é uma palavra perfeita para
rede”(Latour, 1993: 261). Para Kastrup (1997: 38), a rede seria a versão empírica do rizoma.
ii
Lapoujade (2002: 267) assim se refere a experiência pura, enquanto termo básico do Empirismo Radical: “É
o nome em que o plano de imanência recebe em William James”. Para aproximar o trabalho de James com o
de Deleuze & Guattari, remete-se a designação do primeiro como um monista vago (James, 1905-a/
Lapoujade 2000: 271) e toma a citação dos segundos em O que é a filosofia, para os quais só se pode falar de
um plano de imanência em um empirismo radical (Deleuze & Guattari, 1991:48/ Lapoujade, 2000: 267).
iii
Lapoujade (2000: 274) lembra que esta definição do pragmatismo como patchwork também foi esboçada
por Deleuze em Crítica e Clínica em seu estudo sobre Herman Melville (1997: 100), onde destaca que a
colcha de retalhos “é a invenção americana por excelência”.
iv
Esta e outras versões para o português de fontes bibliográficas em línguas estrangeiras são de
responsabilidade do autor deste artigo.
v
É curioso assinalar como estas duas assimetrias (verdade/erro & natureza/sociedade) são tão simétricas,
posto que, se a verdade é produzida pelas ciências naturais e estudada pela epistemologia e história das
ciências, o erro seria o alvo das ciências humanas e socias: “O erro podia ser explicado socialmente, mas a
verdade continuava a ser sua própria explicação”(Latour, 1994, pp.91-92). Mesmo quando as ciências sociais
e humanas se devotam a estudar aspectos de nossa sociedade ocidental moderna, trata-se justamente do que
escapa à perspectiva vencedora, e se reúne sob a marca de senso comum, ideologia ou crença. Esta crítica à
noção de crença em Latour será vista no ítem 5 deste artigo.
vi
Na verdade, esta distinção, como nos mostra James (1907-c: 154) remonta ao professor J. B. Pratt.
vii
Lapoujade (2000: 273) entende que esta concepção do conhecimento como percurso de uma série também
se encontraria em Deleuze & Guattari, quando estes sugerem no texto sobre As Máquinas de Guerra no Mil
Platôs (volume 5 da tradução brasileira) que “no artesão a relação matéria/forma não é a de modelagem, mas
ele segue uma materialidade que ele modula”.
viii
Fe(i)tiche é uma tradução de um jogo de palavras possível em língua francesa combinando fait (fato) e
fétiches (fetiches), mostrando a indistinção entre a construção e a realidade dos objetos científicos e dos
nossos fetiches.
ix
Sobre as duas últimas cisões, uma interessante citação de Latour (2002: 76-77): “Crença e saber navegam
no mesmo barco; eles seguiriam o mesmo rumo. Como o mundo estava abarrotado de causas objetivas,
conhecíveis ou conhecidas, mas que alguns primitivos, arcaicos, infantis, inconscientes, obstinam-se em
povoá-la com seres fetiches inexistentes, era preciso colocar em algum lugar estas fantasias produzidas por
cabeças vazias. Onde enfiá-las? Nas cabeças vazias, justamente. Mas elas estão cheias! Pouco importa, vamos
esvaziá-las! Inventemos a noção de uma interioridade preenchida por sonhos vazios, sem referência nenhuma
à realidade conhecida pelas ciências exatas ou sociais”.
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