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A Conspiracao Aberta H. G. WELLS Diagramas para uma revolucao mundial Traducao de Flavio Quintela “VIDE EDITORIAL A Conspiracao Aberta ~ Diagramas para uma revolugao mundial H. G. Wells I’ edigdo — setembro de 2016 - CEDET Titulo original: The Open Conspiracy. What are we to do with our lives for a World Revolution. Os direitos desta edigao pertencem ao CEDET - Centro de Desenvolvimento Profissional ¢ Tecnolégico Rua Angelo Vicentim, 70. CEP: 13084-060 - Campinas - SP Telefone: 19-3249-0580 e-mail: livros@cedet.com.br Editor Diogo Chinso Editorassistente Thomaz Peroni Tradugavo: Flavio Quintela Revisio: Gustavo Nogy Capa: Bruno Ortega Diagramagao: Virginia Morais Wells, H. G. A Consipiragao Aberta - Diagramas para uma revolugao mundial / H.G Wells; traducao de Flavio Quintela — Campinas, SP: VIDE Editorial, 2016, ISBN: 978-85-67394-97-8 1. Processos sociais. Coordenagio ¢ controle 2. Mérodos normativos 1. Autor Hl. Tieulo CDD ~ 303.3 / 303.37 INDICE PARA CATALOGO SISTEMATICO, 1, Processos sociais. Coordenagao ¢ controle — 303.3 2. Métodos normativos — 303.37 Conselbo editorial: Adelice Godoy César Kyn d?Avila Diogo Chiuso Silvio Grimaldo de Camargo ‘Thomaz Perroni VIDE Editorial ~ www.videeditorial.com.br Reservados todos os direitos desta obza. Proibida toda ¢ qualquer reproducio desta edigao por qualquer meio ou forma, seja ela eletrOnica ou mecinica, fotocépia, gravagio ou qualquer meio, SUMARIO CAPITULO 1 A crise atual dos assuntos humanos * 7 CAPITULO II A idéia da Conspiragao Aberta * 19 CAP{TULO IIT Nés temos que livrar e limpar nossas mentes * 23 CAPITULO IV A revolugao na educagao * 35 CAPITULO V Religidéo no Novo Mundo ¢ 39 CAPITULO VI A religiao moderna é objetiva * §1 CAPITULO VIL O que a humanidade precisa fazer ¢ 59 CAPITULO VII Caracteristicas amplas de um bem piblico cientifico mundial © 67 CAPITULO IX Nenhuma utopia estavel é concebivel no momento * 87 CAPITULO X A Conspiracao Aberta nao deve ser entendida como uma organizacao singular; ela é uma concepgao de vida da qual surgirao esforgos, organizagGes e novas orientagdes * 89 CAP{TULO XI Forgas e resisténcias prevalecentes atualmente nas grandes comunidades modernas, que so antag6nicas a Conspiracao Aberta. A guerra com a tradicio © 99 CAPITULO XII As resisténcias dos povos menos industrializados 4 influéncia da Conspiragao Aberta * 123 CAP{TULO XIII Resisténcias e forgas antagénicas em nossos egos consciente e inconsciente * 137 CAPITULO XIV A Conspiragao Aberta comega como um movimento de discussdo, explicacdo e propaganda © 149 CAPITULO Xv Trabalho construtivo inicial da Conspiragéo Aberta © 159 CAPITULO XVI Movimentos existentes e em desenvolvimento que contribuem para a Conspiragao Aberta e que devem desenvolver uma consciéncia em comum. A parabola da Ilha Provinder ¢ 177 CAPITULO XVII O lar criativo, o grupo social e a escola. O desperdicio atual de vontade idealista © 189 CAPITULO XVIII Desenvolvimento progressivo das atividades da Conspiragao Aberta em um controle e bem publico mundiais. Os perigos da tentativa * 195 CAP{TULO XIX. A vida humana na futura comunidade mundial © 203 CAPITULO I A crise atual dos assuntos humanos mundo esta passando por mudangas imensas. Nunca antes as condigdes de vida mudaram de forma tao rapida, e com tamanha intensidade, como tém mudado para a humanidade nos tltimos cingiienta anos. Nos temos sido levados com a maré — sem meios de medir a rapidez crescente na sucessao dos eventos. Estamos apenas comegando a perceber a forca e o vigor da tempestade de mudangas que nos atingiu. Essas mudangas nao foram trazidas de tora para o nosso mundo. Nenhum meteoro do espago sideral atingiu nosso planeta; nado houve nenhum surto esmagador de violéncia vulcdénica nem do- encas epidémicas; 0 sol nao tem nos aquecido em excesso e nem nos lancado numa era glacial. As mudangas tém sido feitas pelos préprios homens. Um numero bem pequeno de pessoas, negligentes no tocante a conseqiiéncia final de seus atos, um homem aqui e um grupo ali, tém feito descobertas if DUTIUE yr ETE | ft. O. e produzido e adotado invengdes que mudaram todas as condigées da vida social. Estamos apenas comegando a perceber a nature- za dessas mudangas, a encontrar palavras e frases para elas, e a descrevé-las. Primeiro, elas comega- ram a acontecer, e depois notamos que elas esta- vam acontecendo. E s6 agora comegamos a per- ceber como essas mudangas se conectam entre si, ea captar a dimensao de suas conseqiiéncias. Nos estamos clareando nossas mentes a seu respeito de tal forma que logo conseguiremos demonstra-las e explicd-las as nossas criancas, em nossas escolas. Nao € 0 que fazemos no tempo presente. Nés nao damos As nossas criancas uma oportunidade para que elas descubram que vivem num mundo de mu- dangas universais. Essas mudangas de condigées estao se dando sob quais linhas gerais? Sera mais do que conveniente lidar com elas na ordem em foram percebidas e identificadas com clareza, em vez de fazé-lo na ordem em que acon- teceram ou em sua ordem légica. So mudangas mais ou menos interdependentes; elas se sobre- poem e interagem umas com as outras. Foi somente no inicio do século XX que as pes- soas comegaram a perceber o real significado da- quele aspecto de nossas condigées em constante mudanga, ao qual a frase “a abolicaéo da distan- cia” tem sido aplicada. Por um século inteiro antes disso houve um aumento continuo na velocidade e na seguranca das viagens e dos transportes, e na facilidade e rapidez com que as mensagens podem ser transmitidas, mas esse aumento nao parece ter sido um assunto de grande importancia. Os resul- tados diversos das rodovias, da impulsao a vapor e do telégrafo se fizeram manifestos; cidades cresce- ram e espalharam-se para 0 campo, terras até en- tdo inacessiveis tornaram-se areas de colonizagdo e cultivo, centros industriais comegaram a viver de comida importada, noticias de partes remotas do mundo perderam sua lentidao © se tornaram contemporaneas, mas ninguém saudou essas coi- sas como algo além de “melhorias” das condig6es existentes. Elas nao foram observadas como 0 ini- cio de uma revolugao profunda na vida da huma- nidade. Elas nao chamaram a atengao das pessoas jovens; nenhuma tentativa foi feita, ou considerada necessaria, de se adaptar as instituig6es politicas e sociais a esse crescimento de escala assustador. Até os anos finais do século XIX nao se reco- nheceu o estado real das coisas. Entao, algumas pessoas observadoras comegaram, de um modo um tanto experimental, a chamar atengao ao que estava acontecendo. Elas nao pareciam ser movi- das pela idéia de que algo precisava ser feito so- bre aquilo; simplesmente comentavam, de forma brilhante e inteligente, o que estava acontecendo. E entao perceberam que esta “aboligao da distan- 9 cia” era apenas um aspecto de avancos muito mais extensos. Os homens estavam viajando tao mais rapida- mente e enviando suas comunicag6es instantane- amente pelo mundo porque uma conquista pro- gressiva de forga e substancia estava acontecendo. A melhoria dos transportes foi apenas uma de di- versas conseqiiéncias portentosas dessa conquista; a primeira a ser conspicua e a colocar os homens a pensar; mas nao talvez a primeira em importancia. Ficou muito claro para eles que, nos ultimos cem anos, havia ocorrido um progresso estupendo na obtengao e utilizagao da forga mecdnica, um au- mento vasto na eficiéncia dos mecanismos, € asso- ciado a isso um enorme aumento nas substancias disponiveis para os propésitos do homem, desde a borracha vulcanizada até o ago moderno, do pe- tréleo e da margarina ao tungsténio e ao aluminio. Num primeiro momento, a inteligéncia geral estava disposta a considerar essas coisas como “descobertas” de sorte, resultados de um acaso afortunado. Nao se apreendeu que a torrente de descobertas era sistematica e continua. Escritores famosos falaram sobre essas coisas, mas as tacha- ram inicialmente de “maravilhas” — “maravilhas” como as Piramides, 0 Colosso de Rodes e a Mu- ralha da China. Poucos perceberam que elas eram muito mais do que qualquer “maravilha”. As “Sete Maravilhas do Mundo” mantiveram os homens li- 10 vres para viver, trabalhar, casar e morrer da mesma forma que estavam acostumados desde as eras an- tigas. Se as “Sete Maravilhas” tivessem desapareci- do ou sido triplicadas, isso nado mudaria em nada as vidas de uma grande parte dos seres humanos. Mas essas novas forcas e substancias estavam mo- dificando e transformando — de forma discreta, certeira e inexoravel — os detalhes da vida normal da humanidade. Elas aumentaram a quantidade de producao, bem como seus métodos. Elas possibilitaram os “grandes negocios”, tirando o pequeno produtor e o pequeno distribuidor do mercado. Elas varre- ram fabricas do mapa e trouxeram outras novas. Elas mudaram a face dos campos. Elas trouxeram para a vida diaria, coisa por coisa e dia por dia, luz elétrica e aquecimento, cidades reluzentes a noite, melhor arejamento, novos tipos de roupas e uma limpeza revigorada. Elas transformado o mundo que jamais havia experimentado a sufici- éncia num mundo de potencial abundancia, num mundo de abundancia excessiva. Em suas mentes, apés a percepcao da “abolicao da distancia”, ficou claro que aquela falta de fornecedores também tinha sido abolida e que nao era mais necessario o trabalho cansativo para produzir tudo de ma- terial que o homem pudesse precisar. Apenas nos Ultimos doze anos este fato mais amplo e mais profundo foi compreendido por um ntimero con- i ee | a sideravel de pessoas. A maioria delas ainda tem de estender essa compreens&o um passo além e enxer- gar o quao completa é a revolugao que essas coisas implicam no carater da vida didria. Mas ainda ha outras mudangas fora deste vasto avanc¢o no ritmo e na forga da vida material. As ciéncias bioldgicas tém passado por um desenvol- vimento correspondente. A arte médica tem obti- do um novo nivel de eficiéncia, de modo que em todas as sociedades modernas do mundo a expec- tativa de vida é prolongada, e a despeito de uma grande queda nas taxas de natalidade, um aumen- to alarmante da populagao mundial. A proporgdo de adultos vivos é maior do que jamais fora no passado. Cada vez menos seres humanos morrem jovens. Isto mudou a atmosfera social ao nosso redor. A tragédia das vidas ceifadas e terminadas prematuramente esta se afastando da experiéncia geral. A satide se torna prevalecente. As dores de dente ¢ de cabega, o reumatismo, as nevralgias, tos- ses, gripes ¢ indigestdcs constantes, que foram tao presentes nas breves vidas de nossos avés e avés, desvanecem da experiéncia. Todos podemos viver agora, descobrimos, sem nenhum grande peso de medo, de forma completa e abundante, por tanto tempo quanto permitir 0 desejo de viver que habi- ta em nos. Mas nés nao o fazemos. Toda essa liberdade possivel de movimento, essa forca e abundancia, 12 permanecem para a maioria de nds como uma mera possibilidade. Ha um sentimento de instabi- lidade profunda sobre essas conquistas de nossa raga. Mesmo aqueles que delas desfrutam o fazem sem seguranga, c para a grande multidao nao ha fa- cilidade, nem abundancia e nem liberdade. Tarefas dificeis, insuficiéncia e preocupacées interminaveis com dinheiro ainda perfazem a lida ordinaria da vida. Sobre tudo o que é humano suspende-se a ameaca de uma guerra que o homem jamais viu, armada e reforgada por todos os poderes e desco- bertas da ciéncia moderna. Quando exigimos uma resposta sobre a des- graga ¢ 0 perigo em nossas maos, advindos dessa conquista de poder, obtemos respostas muito insa- tisfatérias. A banalidade favorita do politico que arruma desculpas para as futilidades de seu com- portamento é que “o progresso moral nao andou lado a lado com 0 avango material”. Isso parece satisfazé-lo completamente, mas nado € capaz de satisfazer a nenhuma outra pessoa intcligente. Ele diz “moral” - e deixa a palavra sem explicagao. Aparentemente, seu desejo é transferir a respon- sabilidade para nossos educadores religiosos. O que ele fez, no maximo, foi o mais vago dos gestos em direcdo a uma resposta. Ainda assim, quando a consideramos, mesmo caridosa e simpaticamente, nao parece haver um minimo de realidade numa frase como essa. AGUNOPIRAVAU ADCAIA | A. 6. WELLS O que significa - “moral”? Mores significa mo- dos e costumes. Moralidade € a conduta da vida. E 0 que fazemos com nossas vidas sociais. E como lidamos conosco em relag4o a nossos préximos. E parece haver uma discérdia muito maior ago- ra do que ha algumas centenas de anos entre as idéias predominantes sobre como encarar a vida, as oportunidades e os perigos da época. Estamos enxergando, cada vez mais claramente, que certas tradigdes estabelecidas, que compuseram a estru- tura dos relacionamentos humanos por séculos, nao sao apenas nao tao convenientes quanto eram, mas positivamente prejudiciais e perigosas. E, ain- da assim, nao sabemos como nos livrar dessas tra- digdes, desses habitos do comportamento social que nos dominam. Menor ainda é nossa capaci- dade de afirmar e de colocar em pratica as novas concepcées de conduta e obrigacéo que devem substitui-las. Por exemplo, o governo geral dos assuntos hu- manos tem, até agora, sido distribuido entre um certo ntimero de estados soberanos — ha cerca de setenta deles no momento ~e até recentemente esse era um sistema bastante toleravel de estruturas em que se podia encaixar um modo de vida. O padrao de vida pode nao ter sido tao alto como nosso pa- drao atual, mas a estabilidade social e a seguranga eram maiores. Os jovens eram ensinados a serem leais, respeitadores da lei e patriotas, e um siste- 14 GAPHULUT ma definido de crimes e delitos com sofrimentos, penalidades e repress6es associados, mantinha o corpo social unido. Todos aprendiam uma historia que glorificava seu proprio pais, e o patriotismo era a maior de todas as virtudes. Agora, com mui- ta rapidez, tem acontecido aquela “aboligéo da distancia”, e todos se tornaram vizinhos uns dos outros. Estados que existiram separados, sistemas econ6micos e sociais anteriormente remotos entre si, agora se acotovelam de forma exasperadora. O comércio, sob as novas condig6es, quebra perpetu- amente os limites nacionalistas e cria incursées mi- litantes sobre a vida econémica de outros paises. Isto exacerba 0 patriotismo em que todos fomos treinados e com o qual estamos todos, com raras excegées, saturados. E nesse interim, a guerra, que no passado fora uma disputa lenta e comparativa confinada a um front, tornou-se uma guerra em trés dimens6es; ela chega até o “nado combatente” de forma quase tao perscrutadora como ao com- batente, e exibe armamentos de crueldade e des- trutividade estupendas. No presente, nao existe solucdo para esta situa- cao paradoxal. Estamos continuamente sendo inci- tados por nosso treinamento e tradigdes a antago- nismos e conflitos que empobrecerao, matarao de fome e destruirao tanto nossos antagonistas como nds mesmos. Nés todos somos treinados para des- confiar de estrangeiros e odid-los, saudar nossa 15 AGONSPIRAGAG ABERIA | Hi. . WELLS bandeira, ficarmos eretos e obedientes diante de nosso hino nacional e nos prepararmos para seguir os sujeitinhos de esporas e penachos que posam como lideres de nossos Estados, caminhando para uma destruigéo comum das mais horriveis. Nossas idéias politicas e econdmicas sdo desatualizadas, e encontramos grandes dificuldades para ajustd-las e reconstrui-las a fim de que atendam as demandas gigantescas e vigorosas dos novos tempos. Isso é, de fato, 0 que nossos politicos do gramofone tém em mente — na maneira vaga em que eles tém as coisas em mente — quando tocam aquele disco ja bem gasto sobre o progresso moral nao conseguir acompanhar o ritmo das invengGes materiais. Nos queremos, social e politicamente, um sis- tema revisado de idéias sobre conduta, uma visao atualizada da vida social e politica. Nao estamos fazendo algo de efetivo com nossas vidas, estamos a deriva, sendo ludibriados, enganados e corrompi- dos por aqueles que exploram as antigas tradi¢6es. £ absurdo que ainda sejamos seguidos e impor- tunados pela guerra, taxados para as preparacdes da guerra, e ameacados — tanto fisicamente, como em nossas liberdades civis — por essa sobrevivén- cia desnecessdria, exagerada ¢ distorcida do mun- do desunido da era pré-cientifica. E nao é apenas nosso modo politico de viver que nao é melhor do que um defeito e uma ma formagao herdados, mas nossa vida didria — 0 comer e beber, 0 vestir e mo- 16 VAPHULUT rar, e tudo mais — também esta limitada, frustrada e empobrecida, porque nao sabemos como nos li- vrar das coisas antigas e encaixar a vida em geral 4s novas oportunidades. A tensdo toma a forma de um desemprego crescente e de uma desarticu- lacao do poder de compra. Nés nao sabemos se gastamos ou economizamos. Muitissimos de nds encontram-se inexplicavelmente desprovidos de trabalho. Injustamente, irracionalmente. Recons- trugdes colossais sao feitas nos negdcios para au- mentar a produ¢do e acumular lucros, e nesse in- terim os clientes com poder de compra diminuem em ntimero e desvanecem, A maquina econémica range e da sinais de que vai parar, e sua parada sig- nifica a fome e a escassez mundiais. Ela nao pode parar. Precisa haver uma reconstrugdo, uma mu- danga. Mas que tipo de mudanca? Embora nenhum de nés saiba com muita clare- za o modo pelo qual essa grande mudanga deva ser feita, ha um sentimento mundial de que uma gran- de mudanga ou uma grande catastrofe sao iminen- tes. Multidées crescentes participam daquele senti- mento apreensivo de transigao insegura. No curso de uma vida a humanidade passou de um estado de coisas que atualmente nos parece vagaroso, ma- cante, doente e limitado, mas ao menos pitoresco e tranqiiilo, para uma fase de excitag4o, provoca- cao, ameaca, urgéncia e aflicdo reais ou potenciais. Nossas vidas sao parte umas das outras. Nao po- W Pe ee eee Fee on demos escapar disso. Somos itens numa massa so- cial. O que devemos fazer com nossas vidas? CAPITULO II A idéia da Conspiragao Aberta usou um escritor de assuntos sociais e poli- ticos. Essencialmente, sou uma pessoa mui- to comum e indistinta. Tenho um cérebro mediocre, uma inteligéncia mediana, e a maneira pela qual minha mente reage a esses problemas é muito similar 4 que a maioria dos cérebros 0 fazem. Mas, por ser minha ocupagao escrever e pensar sobre essas quest6es, e por conta disso eu poder despender mais tempo e atencao a elas do que a maioria das pessoas, consigo me posicionar a frente de meus iguais e escrever artigos e livros apenas um pouco antes que as idéias que experi- mento se tornem comuns aos milhares, e depois as centenas de milhares, e por fim aos milhdes de outras pessoas. E assim aconteceu, alguns anos atras (por volta de 1927), de eu ficar muito ansioso por polir e dar forma a uma porg¢ao de sugestdes que me pareciam ter em si a solugao para essa charada da adaptacio de nossas vidas 19 AGUNSPINAGAU ADERIA | TG. WELLS as novas e imensas possibilidades e perigos que confrontam a humanidade. Parecia para mim que, em todo o mundo, pesso- as inteligentes estavam acordando para a indigni- dade e o absurdo de estarem em perigo, reprimidas e empobrecidas por uma mera adesao sem sentido critico a governos tradicionais, idéias tradicionais da vida econémica e formas tradicionais de com- portamento, e que essas pessoas inteligentes e ago- ra despertas deviam constituir primeiramente um protesto e depois uma resisténcia criativa a inércia que nos sufocava e ameacava. Eu imaginava que essas pessoas diriam primeiro: “Estamos a deriva; nao estamos fazendo nada de valor com nossas vi- das. Nossas vidas sao enfadonhas e idiotas, e nao sao suficientemente boas.” Entao, elas diriam: “O que devemos fazer com nossas vidas?” E depois: “Vamos nos reunir com outras pessoas como nés e transformar este mundo numa grande civilizagdo mundial, que nos permitira perceber as promessas e evitar os perigos deste novo tempo.” Pareceu-me que, na medida em que nos levan- tassemos, é isso que deveriamos dizer. Comecaria com um protesto, primeiro mental e depois prati- co, depois chegaria a um tipo de conspiragdo nao premeditada e nao organizada contra os governos fragmentdrios e insuficientes e a ganancia, apro- priacao, falta de jeito e desperdicio tao difundidos 20 Arie e em ocorréncia na atualidade. Mas, ao contrario das conspiragées em geral, esta conspiragao-pro- testo cada vez mais ampla contras as coisas esta- belecidas aconteceria, por sua propria natureza, a luz do dia, e estaria disposta a aceitar a partici- pacdo e a ajuda de cada pessoa, de cada bairro, de cada comunidade. Ela se tornaria, na verdade, uma “Conspiragdo Aberta”, uma conspiragao ne- cessaria e naturalmente evoluida para ajustar nos- so mundo deslocado. Eu fiz diversas tentativas de desenvolver esta idéia. Publiquei um pequeno livro chamado A Conspiragao Aberta logo em 1928, no qual colo- quei tudo o que tinha em mente na época. Foi um pequeno livro mediocre mesmo quando o publi- quei; nem incisivo e nem confiante o suficiente, ¢ evidentemente incerto de seus leitores. Eu nao con- segui descobrir como fazer algo melhor na época, e ele parecia dizer, 4 sua maneira, alguma coisa so- bre o interesse atual e de se viver, e por isso 0 pu- bliquei — mas eu acertei as coisas para que pudesse retird-lo em mais ou menos um ano. Foi o que fiz, e este livro é uma versdo altamente revisada, muito mais clara e explicita. Desde aquela primeira pu- blicagdio temos avangado de forma surpreenden- te. Os eventos apressaram os pensamentos ¢ tém sido apressados por estes. A idéia de reorganizar os assuntos do mundo numa escala bastante gran- de, algo “utopico” em 1926 e 1927, ¢ ainda “arro- 21 AGUNOPIRAQAY ADCRIA | 1.0. WELLS jado” em 1928, espalhou-se agora pelo mundo a ponto de ser abragada por quase todos. Ela surgiu em todos os lugares, em grande parte gracas ao estimulo mental do Plano Qitingiienal Russo. Cen- tenas de milhares de pessoas, em todos os lugares, estéo agora pensando nas mesmas linhas previs- tas por meu A Conspiragdo Aberta, nao porque tenham ouvido falar do livro, mas porque essa foi a maneira pela qual o pensamento se espalhou. O primeiro A Conspiragdo Aberta transmitiu a idéia geral de um mundo reconstruido, mas foi muito vago a respeito do modo particular pelo qual essa ou aquela vida individual poderia ser vi- vida em relacdo a essa idéia geral. Ele deu uma resposta geral a questao “O que nds devemos fazer com nossas vidas?”, que foi “Ajude a criar o Novo Mundo por meio das confusdes do Velho.” Mas quando a pergunta era “O que eu devo fazer com minha vida?”, a resposta era muito menos satisfa- toria. Os anos de pensamento e experiéncia que se su- cederam tornam possivel, agora, trazer essa idéia geral de um esforco reconstrutivo, uma tentativa de construir um novo mundo dentro dos perigos e desarmonias de nosso estado atual de coisas, numa relagdo muito mais préxima e explicita ao “Conspirador Aberto” individual. Nés podemos apresentar a coisa sob uma luz aprimorada e lidar com ela de forma mais precisa. 22 CAP{TULO II Nos temos que livrar e limpar nossas mentes gora, uma coisa é bastante evidente para a maioria de nés, que esta acordando para a necessidade de viver a propria vida de uma nova maneira e de reformar o Estado, que é a es- trutura de nossas vidas, para que atenda as novas demandas que lhe so feitas: precisamos colocar nossas mentes em ordem. Por que acordamos so- mente agora para a crise nos assuntos humanos? As mudangas no progresso tém acontecido com uma acelerag4o regular por dois séculos. Parece cla- ro que devemos estar todos muito desatentos, que o conhecimento que a nés chegou deve ter sido muito mal arrumado em nossas mentes, e que nosso modo de lidar com ele deve ter sido nebuloso e confuso, ou entao certamente terfamos acordado ha muito tempo para as necessidades imensas que nos desa- fiam no momento. E se esse for 0 caso, se levou dé- cadas para que nos levantassemos, é bem provavel que ainda ndo estejamos completamente acordados. 23 a oe eee oe Mesmo hoje pode ser que ainda nao tenhamos percebido o trabalho que nos aguarda em sua di- mensao completa. Pode ser que ainda tenhamos muito que clarear em nossas mentes, e certamente temos muito que aprender. Uma tarefa primaria e permanente, portanto, é continuar com nosso pen- samento e pensar o melhor que pudermos sobre o modo pelo qual pensamos e sobre as maneiras pe- las quais adquirimos e utilizamos conhecimento. Fundamentalmente, a Conspiragéo Aberta deve ser um renascimento intelectual. O pensamento humano é muito confuso pela imperfeicdo das palavras e de outros simbolos que emprega, e as conseqiiéncias desse pensamento confuso sao muito mais sérias e extensas do que se costuma perceber. Nés ainda vemos 0 mundo através de uma névoa de palavras; apenas as coi- sas relacionadas diretamente a nds é que sao fa- tos diretos. Através de simbolos, e especialmente das palavras, 0 homem se elevou acima do nivel do macaco e conquistou um dominio consideravel de seu universo. Mas cada etapa de sua ascensao mental envolveu um emaranhamento com esses simbolos e palavras que ele usava; eles eram ao mesmo tempo titeis e muito perigosos e ilusérios. Uma grande parte de nossos assuntos — sociais, po- liticos, intelectuais — esta atualmente num estado perplexo e perigoso por conta de nosso uso solto, acritico e desleixado das palavras. 24 eT Por todo o final da Idade Média houve grandes disputas entre os académicos sobre 0 uso de pala- vras e simbolos. Ha uma disposigao estranha na mente humana para pensar que simbolos, palavras e dedugdes légicas sao mais verdadeiros do que experiéncias reais, e essas grandes controvérsias deveram-se a luta entre a inteligéncia humana e essa disposicao. De um lado estavam os Realistas, chamados assim porque acreditavam, de fato, que nomes sao mais reais do que fatos. Do outro esta- vam os Nominalistas, que de inicio foram impreg- nados por uma suspeita em relagdo a nomes e pa- lavras em geral; que pensaram que poderia existir algo oculto nos processos verbais, e que trabalha- ram gradualmente para verificar essa possibilidade por experimentos, que é o fundamento da ciéncia experimental — ciéncia experimental que deu ao mundo humano todos esses poderes e possibilida- des imensos que nos seduzem e nos amea¢gam nos dias de hoje. Essas controvérsias entre estudiosos foram de importancia extrema para a humanida- de. O mundo moderno nao poderia comegar sua exist@ncia até que a mente humana se libertasse do modo de pensar verbalista e estreito empregado pelos Realistas. Mas, em toda a minha vida escolar, jamais re- cebi uma explicagdo sobre esse assunto. A Univer- sidade de Londres insinuou que eu era um jovem muito bem educado ao me dar uma graduacao 25 AGUNSPIRAGAU ABEAIA | HU. WELLS com honras de primeira classe e a liberdade de ad- quirir e vestir uma toga elegante, e a Faculdade Londrina de Preceptores deu a mim e ao mundo as mais altas garantias de que eu estava apto a educar e treinar as mentes de meus semelhantes, e mesmo assim eu tive de descobrir que um Realista nao era um romancista que imprimia um apelo mais sexu- al aos seus livros, e que um Nominalista nao era nada em particular. Mas algo crescia em minha mente conforme aprendia sobre a individualidade em meu traba- lho bioldgico e sobre légica e psicologia em minha prepara¢ao como o preceptor perfeito, a nogao de que algo muito importante e essencial estava sen- do deixado para tras e que eu nao estava, de modo algum, “bem equipado”, como diziam meus diplo- mas; nos anos seguintes eu encontrei tempo para tirar esse assunto a limpo, de forma minuciosa. Nao fiz nenhuma descoberta maravilhosa - tudo 0 que descobri ja era conhecido; nao obstante, tive que descobrir um pouco dessas coisas por mim mesmo, repetidamente, de uma maneira inédita; a narrativa completa do pensamento humano era algo inacessfvel a um homem comum que quisesse levar sua mente a uma condigao adequada de tra- balho. E isso nao significava que eu tivesse perdido algum refinamento oculto e precioso da filosofia; meu pensamento fundamental, na propria raiz de minha conduta politica e social, estava errado. Eu 26 Ca Sa ane estava numa comunidade humana, e aquela comu- nidade — e eu com ela — que pensava em fantasmas e fantasias como coisas reais e viventes, num deva- neio de ilusdes estava tateando de forma cega, des- leixada, hipnotizada, basica e ineficaz num mundo extremamente bonito e extremamente perigoso. Eu decidi — e tomei providéncias — para me ree- ducar, e posteriormente busquei a pratica da escrita através de diversos panfletos, ensaios ¢ livros. Nao ha necessidade de citar esses livros aqui. A esséncia do assunto esta exposta em trés compilagGes, as quais devo citar novamente quase que de imedia- to. Sao eles, O Esbogo da Histéria’ (Cap. XX], § 6, e Cap. XXXIIL, § 6), A Ciéncia da Vida (Livro VIII, Sobre o Pensamento e o Comportamento)? e Trabalho, Riqueza e Felicidade da Humanidade? (Cap. II, § 1-4). No ultimo, é mostrado claramente como o homem teve que lutar para dominar sua mente, como descobriu somente depois de gran- des controvérsias 0 uso adequado e efetivo de suas 'The Outline of History, obra de H. G. Wells sem tradugio para a lingua portuguesa. A traducao livre do titulo, “O Esbogo da Historia”, seré usada sempre que esta obra for mencionada. N.T. The Science of Life, obra dos autores H. G. Wells, Julian Huxley e G. P. Wells sem tradugio para a lingua portuguesa. A traducao livre do titulo, “A Ciéncia da Vida”, sera usada sempre que esta obra for mencionada, bem como a do livro VIL (About Thought and Behaviour), “Sobte 0 Pensamento ¢ 0 Comportamento”. N.T. The Work, Wealth, and Happiness of Mankind, obra de H. G. Wells sem tradugio para a lingua portuguesa. A traducao livre do titulo, “Trabalho, Riqueza e Felicidade da Humanidade”, ser usada sempre que esta obra for mencionada. N.T. 27 ACONSPIRAGAG ABERTA | fi. 6. WELLS: ferramentas intelectuais, e como teve de aprender a evitar certas armadilhas bem disseminadas an- tes que conseguisse alcancgar o dominio presente sobre a matéria. Pensar de forma clara e efetiva nao é algo que vem naturalmente. Cacar a verdade é uma arte. Nos nos perdemos, naturalmente, em milhares de generalizagdes enganadoras e falsos processos. Ainda assim, h4 quase nenhum treina- mento mental inteligente feito nas escolas do mun- do de hoje. Nés precisamos aprender esta arte se queremos pratica-la. Nossos professores nao tém, eles mesmos, 0 treinamento adequado; eles dese- ducam por exemplo e por preceito, de tal forma que nossas discussGes atuais estéo mais para um tumulto improvisado de mentes cegas e surdas do que uma troca inteligente de idéias. Que tolices se lé! Que premissas apressadas e imprudentes! Que inferéncias imbecis! Mas reeducar-se, trazer a mente de volta a sat- de, exercita-la e treina-la para pensar apropriada- mente é apenas 0 inicio da tarefa anterior ao des- pertar do Conspirador Aberto. Ele nao tem apenas que pensar com clareza, mas precisa ver que sua mente esta equipada com as idéias gerais adequa- das 4 formagao de uma estrutura real para scus julgamentos e decisées de cada dia. Foi a Grande Guerra que me fez ver, pela pri- meira vez, 0 quao ignorante eu era e quao doente e desarrumada era minha mente, e isso é uma das 28 GAPIULU HT coisas mais importantes da vida. O desperdicio de- sastroso de vida, matéria e felicidade, j4 que fora algo praticamente mundial, foi o resultado mani- festo dos processos que constituem o nticleo da historia, e mesmo assim eu descobri que nao co- nhecia — e ninguém mais parecia conhecer — a his- toria de maneira tal que pudesse explicar como se chegou a Grande Guerra ou o que se deveria tirar dela. “Versalhes”, como todos parecem concordar hoje em dia, foi algo tolo, mas como Versalhes poderia ser algo além do que foi em vista de um conhecimento hist6rico imperfeito e assimétrico, e da suspeita, emocao e preconceito conseqiientes daqueles que 14 se juntaram? Eles nao sabiam me- lhor que o resto de nds 0 que era a guerra; como poderiam saber 0 que deveria ser a paz? Eu percebi que estava no mesmo caso que todas as outras pessoas, e decidi — acima de tudo para guiar a mim mesmo ~ fazer um resumo de toda a histéria e chegar a um tipo de mapa para conclu- s6es mais titeis sobre o estado politico da humani- dade. Este resumo resultou no livro O Esbogo da Historia, uma compilagio e arranjo desavergonha- dos dos fatos principais da historia mundial, escri- to sem um toque de arte ou elegancia, composto numa pressa ¢ excitacdo consideraveis; e suas ven- das, que j4 chegaram ao terceiro milhao, mostram © quanto eu tinha em comum com a grande mul- tidao dispersa de pessoas comuns, todas querendo 29 ACONSPIRAGAO ABERTA | H. 6. WELLS conhecer, todas enojadas pelas fofocas patridticas, litigiosas e tolas que lhes haviam sido entregues como histéria por seus professores e professoras, ¢ que as tinham levado ao desastre da guerra. O Esbogo da Histéria nao é uma historia com- pleta da vida. Seu tema principal é 0 crescimento da intercomunicagao humana e das comunidades humanas e suas regras e conflitos, a histéria de como e€ por que as miriades de pequenos sistemas tribais de dez mil anos atras lutaram e se aglutina- ram nos sessenta ou setenta governos esquisitos de hoje, e estao agora se esforgando e trabalhando sob o controle de forgas que devem em breve alcangar sua unissonancia final. E mesmo quando comple- tei O Esbogo..., percebi que havia deixado de fora de seu escopo campos de conhecimento mais am- plos, fundamentais e proximos que eu ainda teria de obter para meus préprios objetivos praticos e para os de pessoas semelhantes que quisessem fa- zer um uso efetivo de suas vidas, para que minha existéncia pudesse escapar da futilidade. Eu percebi que nao sabia o suficiente sobre a vida em meu corpo e suas relacées com o mundo de vida e matéria fora dele para conseguir chegar a decisdes adequadas sobre diversos assuntos urgen- tes — desde conflitos raciais, controle de natalidade e minha vida privada até 0 controle publico de sat- de e a conservacao de recursos naturais. E também descobri que eu era incrivelmente ignorante sobre 30 GAPTTOLU HT os assuntos didrios da vida, o como e o porqué de o mineiro que fornecia 0 carvao que aquece 0 meu jantar, do banqueiro que tomava meu dinheiro em troca de um taldo de cheques, do lojista do qual eu comprava coisas, e do policial que mantinha as ruas em ordem para mim. Ainda assim, eu votava por leis que afetavam minhas relagdes com essas pessoas, pagando-as direta ou indiretamente, dis- tribuindo minhas opinides ignorantes a seu respei- to e geralmente contribuindo com meu comporta- mento para sustentar e afetar suas vidas. Assim, com a ajuda e direcionamento de dois bi- 6logos muito competentes, eu me dispus a trabalhar para obter uma afirmacao tao direta e clara quanto possivel sobre o que se conhecia das fontes e da na- tureza da vida, das relages entre espécies, individu- os e outras espécies, e do processo de consciéncia e pensamento. Isto foi publicado como A Ciéncia da Vida. E enquanto isso acontecia, eu me propus a tarefa de fazer uma revisao de todas as atividades humanas relacionadas umas as outras, o trabalho das pessoas e suas necessidades, cultivo, manufatu- ra, comércio, direcdo, governo e tudo mais. Esta foi a parte mais dificil desta tentativa de obter um re- lato racional do mundo moderno, e exigiu a ajuda eo conselho de uma grande variedade de pessoas. Eu tive que fazer a pergunta e descobrir alguma res- posta geral: “O que estao fazendo os mais de no- vecentos milhdes de seres humanos que est4o vivos 31 ACUNSPIRAGAU ABERTA | A. 6. WELLO hoje, e como e por que 0 estado fazendo?” Era, na verdade, um esboco da ciéncia econdmica, social e politica, mas como desde O Esbogo da Histéria a palavra “esbogo” ja tinha sido bastante usada por diversas editoras, resolvi chama-lo de Trabalho, Ri- queza e Felicidade da Humanidade. Creio que, ao trazer essas trés compilag6es cor- relatas 4 existéncia, eu finalmente, ainda que de forma um tanto crua, juntei um sistema comple- to de idéias com base nas quais um Conspirador Aberto pode agir. Antes que alguém pudesse ter a esperanga de uma resposta diretiva pratica a per- gunta “O que devemos fazer com nossa vida?”, era necessdrio saber 0 que era nossa vida — A Ci- éncia da Vida; 0 que a tinha levado ao padrao pre- sente — O Esbogo da Historia; e este terceiro livro, para dizer 0 que estavyamos realmente fazendo e o que deverfamos estar fazendo com nossa vida no tempo presente. Quando terminei esses livros, senti que tinha algo realmente sdlido e abrangente para seguir em frente, uma “ideologia”, como di- zem, com a qual seria possivel pensar a construgao de um novo mundo sem surpresas fundamentais e, mais ainda, que eu tinha desnudado minha men- tc, c limpando-a de muitas ilusdes e maus habitos, para que ela pudesse lidar com a vida com uma certeza que eu jamais havia conhecido. Nao ha nada de maravilhoso sobre essas mi- nhas compilagdes. Qualquer escritor regular, de 32 UAPTULU HL inteligéncia mediana, com a mesma vontade e os mesmos recursos, e que pudesse dedicar nove ou dez anos A tarefa e conseguir a ajuda adequada, poderia té-las feito. E algo que pode ser feito, que sem dtivida esta sendo feito de novo e de novo por outras pessoas, para si mesmas e talvez para ou- tros, de forma muito mais bela e adequada. Mas obter essa quantidade de visio e conhecimento, alcangar aquele arranjo e compreensao gerais, era uma condi¢do necessaria que tinha de ser satisfeita antes que qualquer resposta a pergunta “O que de- vemos fazer com nossas vidas?” pudesse ser dada, e antes que alguém pudesse se tornar, efetivamen- te, um Conspirador Aberto. Nao ha nada indispensavel, mesmo agora, eu repito, sobre esses trés livros em particular. Eu os conheco e me refiro a eles porque os escrevi, e por isso sdo praticos para mim, para que eu possa me explicar. Mas a maioria de seu contetido pode ser extraido de qualquer boa enciclopédia. Outras pessoas fizeram diagramas semelhantes da hist6- ria, leram e se instruiram amplamente, captaram os principios fundamentais da biologia e se atraca- ram coma literatura atual da ciéncia dos negdcios, endo precisam nem um pouco de meu resumo em particular. No que diz respeito a hist6ria e a bio- logia, ha livros paralelos que sao tao bons e titeis quanto. Os livros de Van Loon, por exemplo. Ain- da assim, mesmo para pessoas com alto nivel de 33 AUUNOPIRAYAU ABERIA | 1.6. WELLS educagao formal, esses resumos podem ser tteis por trazerem coisas conhecidas com graus dife- rentes de profundidade ao plano geral. Eles fazem correlag6es e preenchem lacunas. Eles, entre si, co- brem as bases; e, de alguma maneira, essas bases tém de ser cobertas antes que a mente do cidadao moderno esteja preparada para lidar com os pro- blemas que a confrontam. Caso contrario, ele sera um cidadao incapaz, nao sabera onde esta e onde esta o mundo e, caso seja alguém rico ou influente, pode se tornar um cidadao muito perigoso. Logo havera compilagdes muito melhores para atender a essa necessidade, ou talvez a esséncia de todas as trés divis6es do conhecimento, concentradas e mais claras ¢ atrativas, que poderao estar disponi- veis como estrutura intelectual da educagéo mo- derna em todo o mundo, um tipo de “Relato Geral da Vida” que deve ser dado a todas as pessoas. Mas, certamente, nenhuma pessoa pode chegar a viver de forma adequada e satisfatoria a nao ser que saiba o que ela é, quem ela é e como ela reage as pessoas e coisas ao seu redor. 34 CAP{TULO IV A revolucao na educagao 4 passou da hora de se fazer algum tipo de avaliacdo da quantidade de pessoas prepara- das para 0 novo mundo que desperta diante de nés em contraste com a situacao das escolas, faculdades e de todo 0 aparato da educagiio for- mal. Como um corpo, os formalmente educados nao estao recebendo nada daquele Relato da Vida que é necessdrio para dirigir nossa conduta neste mundo moderno. E de um absurdo ululante, no mundo de hoje, que essas instituigdes passem pela maratona sole- ne de preparar a nova geragdo para a vida e que entao, depois disso, uma minoria de suas vitimas, descobrindo que esta preparacao os deixou quase que totalmente despreparados, tenham que se li- bertar, com suas prdoprias forgas, da massa de men- tes famintas e distorcidas para obter algum tipo de educagao real. O mundo nao pode ser tocado so- mente por uma minoria de mentes libertas e reedu- cadas, com todo o resto da massa contra si. Nossas 35 ALUROPIRAYAY ADERIA | HU. WELLS necessidades demandam a inteligéncia e os servi- cos de cada um que possa ser treinado para da-los. O novo mundo demanda novas escolas, portanto, que possam dar a todos um treinamento mental sadio e minucioso, e equipar todos os alunos com idéias claras sobre a histéria, sobre a vida e so- bre as relagdes politicas e econdmicas, em vez do contetido podre que prevalece no tempo presente. Os professores e escolas do velho mundo tém de ser reformados ou substituidos. Um movimento vigoroso de reforma educacional surge como uma expressdo natural e necessdria do Conspirador Aberto. Uma revolucao na educacao é a parte mais imperativa e fundamental da adaptacao da vida as suas novas condig6es. Esses diversos compéndios de conhecimento que constituem um Relato Moderno da Vida, sobre os quais falamos na segao anterior, esses suplementos ao ensino, que agora sao produzidos e lidos fora do aparato educacional formal ja estabelecido (e alvejados por sua hostilidade manifesta), surgem por causa do atraso deste aparato, e conforme este permitir a pressao do novo espirito, ainda que len- tamente, eles permearao e substituirao os livros didaticos e desaparecerao como uma classe sepa- rada de livros. A educacao exigida por esses novos tempos perigosos em que vivemos deve comecar agora, do inicio, e nado deve haver nada a ser subs- tituido ou reaprendido sobre ela. Antes que possa- 36 GAPITULU I mos falar de politica, financas, negdcios ou moral, precisamos nos certificar de que temos os habitos mentais corretos e os fundamentos certos de fatos percebidos. Nao ha muito que possa ser feito com nossas vidas até que cheguemos a esse ponto. 37

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