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FAAMA - FACULDADE ADVENTISTA DA AMAZÔNIA

SALT - SEMINÁRIO ADVENTISTA LATINO AMERICANO DE TEOLOGIA


BACHAREL EM TEOLOGIA

ADRIANO RICARDO BUZELI

EXEGESE DE 2Pd 1.13-15

BENEVIDES
2015
FAAMA - FACULDADE ADVENTISTA DA AMAZÔNIA
SALT - SEMINÁRIO ADVENTISTA LATINO AMERICANO DE TEOLOGIA
BACHAREL EM TEOLOGIA

Trabalho realizado em cumprimento parcial aos


requisitos da disciplina de Epístolas Universais,
ministrada pelo Prof. Ms. ClodoaldoTavares dos
Santos, do curso de Bacharel em Teologia, pelo
aluno Adriano Ricardo Buzeli.

BENEVIDES
2015
SUMÁRIO
Introdução
Autoria
Destinatários
Datação
Contexto e motivo
Mensagem geral
Mensagens específicas
Perícope
Texto
Original
Análise lexical
Tradução livre
Traduções
Escolha da tradução
Análise literária
Expressões (tabernáculo e partida)
Comentários
Conclusão
Referências bibliográficas
Introdução
O presente estudo pretende discutir o sentido dado às expressões “tabernáculo” e “partir”,
conforme utilizadas em 2Pd 1.13-15.

Autoria
Todo comentário bíblico consultado (HOLMER, 2008; LOPES, 2013; CHAMPLIN, 2002;
GREEN, 1983, KISTEMAKER, 2006…) enfatizou a dificuldade de se precisar a autoria da segunda
epístola de Pedro, muito mais, afirmar que o apóstolo Pedro fora seu autor. Talvez por isso, sua
aceitação no cânon bíblico do Novo Testamento tenha se dado tão tarde – IV d.C. - e, mesmo assim,
ainda venha sendo questionada sua canonicidade ao longo da história. “Não foi senão no século IV
D.C. que esta epístola começou a ser aceita como de autoria petrina. E foi somente no século V
D.C. que ela recebeu reconhecimento geral na igreja” (CHAMPLIN, 2002, p. 172).
Champlin fez um resumo esquemático das posições contrárias e favoráveis à autoria de
Pedro para essa carta e sua consequente canonicidade dizendo que seriam argumentos contra a falta
confirmação dos Pais da Igreja, há dependência literária em relação à epístola de Judas, é muito
distante de 1 Pedro quanto ao estilo literário e conteúdo, fica nítida a ansiedade do autor em
confirmar a autoria como sendo do apóstolo Pedro, o reconhecimento das cartas de Paulo como
sendo canônicas e a referência a heresia gnóstica, típica do século II d.C., as ideias discutidas nessa
carta seriam melhor entendidas num contexto histórico posterior, a referência à volta de Jesus
parece querer manter firme a lembrança da promessa do Senhor e/ou reavivar sua crença, a não
menção à perseguição sofrida pelos cristãos nos dias de Pedro, essa carta seria um plágio da carta de
Judas e que seriam argumentos favoráveis o fato de que o autor se apresenta como sendo o apóstolo
Pedro, há muitas referências dentro da epístola que são marcas da autoria de Pedro, as diferenças de
estilo entre a primeira e a segunda carta podem ser explicadas com o uso de escribas pelo apóstolo
Pedro, como os cristãos foram perseguidos até meados do século IV d.C., não só 2 Pedro, mas todas
as epístolas deveriam fazer menção da perseguição sofrida pelos cristãos, a dependência de 2 Pedro
em relação a carta de Judas seria natural em se considerando a pouca instrução formal de Pedro e o
costume da época, a presumida ansiedade em autenticar a carta como sendo de Pedro não seria
diferente do que foi feito por Paulo, o reconhecimento da canonicidade das cartas de Paulo foi algo
natural dentro do contexto da igreja no primeiro século, a ênfase na volta de Jesus presente no
capítulo 3 de 2 Pedro não foi para reestabelecer essa crença e isso também foi feito por outros
autores apostólicos como Paulo, não só 2 Pedro demorou a entrar no cânon do Novo Testamento ou
ter sua autoria reconhecida pela igreja dos Pais da Igreja (CHAMPLIN, 2002, p. 173). Para uma
explicação mais detalhada desses argumentos, ver GREEN, 1983).
Mesmo consciente dessa discussão, e talvez por isso, considero que “embora haja objeções
[a autoria petrina e a canonicidade de 2 Pedro], elas são compensadas pelas evidências em favor da
afirmação de que o apóstolo Pedro foi o autor desta segunda epístola” (NICHOL, 2014, p. 649).

Destinatários
Apesar de alguns questionamentos (GREEN, 1983, p. 34) na mesma linha daqueles que
questionaram e ainda questionam a autoria de 2 Pedro, evidências internas (2Pd 3.1 e 15) dão a
entender que essa carta foi endereçada aos mesmos leitores da primeira, ou seja, “aos peregrinos da
Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pd 1.1). Cristãos judeus e gentios que
viviam na Ásia Menor (KISTEMAKER, 2006, p. 302) e em outras regiões onde essa carta pudesse
circular (HOLMER, 2008, p. 7).

Datação
Considerando que foi realmente o apóstolo Pedro quem escreveu a epístola em estudo
(NICHOL, 2014, p. 649) e que sua declaração acerca do “deixar o meu tabernáculo” (2Pd 1.14)
fosse seu obituário (LOPES, 2013, p. 16 e KISTEMAKER, 2006, p. 309), só se pode concluir que
ela foi escrita pouco antes de sua morte em 68 d.C. (GREEN, 1983, p. 35), talvez nesse mesmo ano
ou um ano antes (CHAMPLIN, 2002, p. 173), provavelmente em Roma (NICHOL, 2014, p. 649),
conforme indicam as evidências (CHAMPLIN, 2002, p. 174 e KISTEMAKER, 2006, p. 310).

Contexto e motivo
Estando em Roma, numa época onde a igreja estava sendo duramente perseguida pelo
império romano por todo seu território, Pedro escreveu sua segunda carta não para confortar e
fortalecer essa igreja (LOPES, 2013, p. 12), como o fizera na primeira epístola, mas para combater
um inimigo interno, mais sutil e nem por isso menos perigoso, que era uma forma primitiva de
gnosticismo (GREEN, 1983, p. 36), e seus falsos mestres, tão comuns àqueles dias (PEARLMAN,
1987, p. 327 citado por LOPES, 2013, p. 19).
Segundo Champlin (CHAMPLIN, 2002, p. 175), o agnosticismo combatido por Pedro em
sua segunda missiva, especialmente a partir do capítulo 2, era do tipo “libertino” em vez de asceta.
Como os gnósticos acreditavam que a matéria erá intrinsecamente má – incluindo o corpo – essa
deveria ser destruída não importando como. E a licenciosidade era um dos caminhos apontados por
eles e combatido por Pedro. Talvez por isso, muitos dentro da igreja na Ásia Menor estavam
perdendo de vista a volta de Jesus para seus dias e a colocando num futuro distante e de forma
mística – ver 2Pd 3.

Mensagem geral
“O conhecimento completo de Cristo é uma fortaleza contra a falsa doutrina e contra a vida
imoral” (PEARLMAN, 1987, p. 327 citado por LOPES, 2013, p. 19), ou seja, Pedro mantêm o tom
pastoral de sua carta anterior (NICHOL, 2014, p. 649).

Mensagens específicas
Segundo Nichol, em sua segunda carta, Pedro “exorta seus leitores a continuar crescendo em
graça e em conhecimento espiritual”. E Pedro faz isso descrevendo sua própria experiência com as
Escrituras (capítulo 1), advertindo contra os falsos mestres (capítulo 2), reafirmando a certeza da
segunda vinda de Jesus (capítulo 3), na esperança que seus leitores se preparassem para esse grande
evento (NICHOL, 2014, p. 649).

Perícope
Para este trabalho, serão analisadas as expressões “estou neste tabernáculo” (v. 13) e “deixar
este meu tabernáculo” (v. 14), que estão inseridas nos versos supracitados, de 2Pd 1, cuja perícope é
delimitada pela maioria dos autores consultados como estando entre os versos 12 a 15 do referido
capítulo (HOLMER, 2008, p.14; GREEN, 1983, p. 73 e NICHOL, 2014, p. 650).

Texto
2Pd 1.13-15

Original (BGT 2Pd 1.13-15)


13. δίκαιον δὲ ἡγοῦμαι, ἐφ᾽ ὅσον εἰμὶ ἐν τούτῳ τῷ σκηνώματι, διεγείρειν ὑμᾶς ἐν
ὑπομνήσει,
14. εἰδὼς ὅτι ταχινή ἐστιν ἡ ἀπόθεσις τοῦ σκηνώματός μου καθὼς καὶ ὁ κύριος ἡμῶν
Ἰησοῦς Χριστὸς ἐδήλωσέν μοι,
15. σπουδάσω δὲ καὶ ἑκάστοτε ἔχειν ὑμᾶς μετὰ τὴν ἐμὴν ἔξοδον τὴν τούτων μνήμην
ποιεῖσθαι.

Análise léxical
εἰμὶ primeira pessoa do singular do presente indicativo ativo. 1) ser, existir, acontecer, estar
presente.
ἐν preposição primária denotando posição (fixa) (de lugar, tempo ou estado), e (por
implicação) instrumentalidade (mediana ou construtivamente), isto é, uma relação do
descanso. 1) em, por, com, etc. τούτῳ pronome demonstrativo dativo neutro ou
masculino singular de οὗτος. 1)(a ou para) este (ou, isto).
τῷ artigo definido dativo neutro singular de ὁ. 1) o, a.
σκηνώματι, substantivo dativo neutro singular comum de σκήνωμα. 1) tenda, tabernáculo;
a) do tempo como habitação de Deus; b) do tabernáculo da aliança; c) metáfora do corpo
humano como residência da alma.
ἀπόθεσις substantivo nominativo feminino singular comum de ἀπόθεσις. 1) ato de despir
ou por de lado.
τοῦ artigo definido genitivo neutro singular de ὁ. 1) o, a.
μου pronome pessoal genitivo singular de ἐγώ. 1) eu, me, meu, minha, de mim.
μετὰ preposição acusativa de μετά. 1) com, depois, atrás.
τὴν artigo definido acusativo feminino singular de ὁ. 1) ª
ἐμὴν adjetivo possessivo acusativo feminino singular sem grau de ἐμός. 1) minha.
ἔξοδον substantivo acusativo feminino singular comum de ἔξοδος. 1) saída/partida; 2) o fim
da carreira de alguém, o destino final de alguém; 3) saída da vida, morte.

Tradução livre
13. Considero um dever ou responsabilidade em todo o tempo eu sou em este lugar de
habitação/alojamento acordar/despertar você na recordação
14. Saber sobre esse iminente acontecer a remoção a lugar de habitação/alojamento eu como
também o Senhor eu Jesus Cristo revelou a mim
15. Apressar e também sempre ter você com a minha partida/morte nesta recordação faça.

Traduções
Bíblia de Jerusalém, nova edição, revista e ampliada.
13. Entendo que é justo despertar-vos com as minhas admoestações, enquanto estou nesta
tenda terrena,
14. sabendo que em breve hei de despojar-me dela, como, aliás, nosso Senhor Jesus Cristo
me revelou.
15. Assim farei tudo para que, depois da minha partida, vos lembreis sempre delas.

Almeida Revista e Atualizada.


13. Também considero justo, enquanto estou neste tabernáculo, despertar-vos com essas
lembranças,
14. certo de que estou prestes a deixar o meu tabernáculo, como efetivamente nosso
Senhor Jesus Cristo me revelou.
15. Mas, de minha parte, esforçar-me-ei, diligentemente, por fazer que, a todo tempo,
mesmo depois da minha partida, conserveis lembrança de tudo.

Nova Versão Internacional.


13. Considero importante, enquanto estiver no tabernáculo deste corpo, despertar a
memória de vocês,
14. porque sei que em breve deixarei este tabernáculo, como o nosso Senhor Jesus Cristo
já me revelou.
15. Eu me empenharei para que, também depois da minha partida, vocês sejam sempre
capazes de lembrar-se destas coisas.

Escolha da tradução
Comparando estas traduções com o original grego analisado e traduzido livremente logo
acima, percebe-se que as expressões εἰμὶ ἐν τούτῳ τῷ σκηνώματι (v. 13), ἀπόθεσις τοῦ
σκηνώματός μου (v. 14) e μετὰ τὴν ἐμὴν ἔξοδον (v. 15) foram traduzidas de maneira
“neutra” do ponto de vista teológico pela Bíblia de Jerusalém e Almeida Revista e
atualizada, além de mais fiéis ao original, do que a Nova Versão Internacional que,
relacionou σκηνώματι/ σκηνώματός ao corpo humano, interpretando em vez de apenas
traduzir, sendo por isso desconsiderada nesse estudo. Por questões puramente práticas, uma
vez que a tradução da Bíblia de Jerusalém e da Almeida Revista e Atualizada façam jus ao
texto original, neste estudo optar-se-á pela tradução da Almeida Revista e Atualizada por
sua popularidade.

Análise literária
Escrever cartas e epístolas era uma prática comum no mundo antigo e, em especial, nos
tempos bíblicos tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Como carta é diferente de epístola,
vale a pena diferenciá-las aqui. Segundo Davi Oliveira “Carta é mais íntima, enquanto a epístola é
um gênero ‘artificial’, escrito mais para ser publicado do que para correspondência”, decorrendo daí
que as epístolas sejam mais comuns do que as cartas na Bíblia, ainda mais no Novo Testamento
(OLIVEIRA, 2015, net).
Interessante que vinte e um dos vinte e sete livros do Novo Testamento sejam epístolas, cujo
conteúdo tenha por objetivo “dirigir, aconselhar e instruir” as igrejas recém-formadas ou auxiliar
seus dirigentes a “pastoreá-las e administrá-las”. Essas epístolas, como os demais livros do Novo
Testamento foram escritas em grego e podem ser classificadas em paulinas (14 – 1 e 2
Tessalonicenses, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemon, 1 e
2 Timóteo, Tito e Hebreus) e universais (7 – Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas).
Como esse estudo é sobre 2 Pedro 1.13-15, é importante apresentar algumas informações a
mais sobre esse grupo de epístolas que começaram a ser chamadas de Universais ou gerais já no
século II, quando ainda estava sendo formado o cânon do Novo Testamento; isso porque, à exceção
de 2 e 3 João que só foram incluídas nesse grupo por sua proximidade autoral com 1 João, tais
epístolas não são dirigidas a um destinatário determinado, mas aos crentes em geral.
Normalmente, pois há exceções, a estrutura literária das epístolas apostólicas pode ser
descritas da seguinte forma:
a) uma saudação inicial, precedida da apresentação do autor e a indicação do
destinatário
b) o texto ou o corpo da carta propriamente dito
c) a despedida, que incluía saudações de pessoas conhecidas do autor e do
receptor e saudações para essas pessoas.
É interessante o fato de que quando foram escritas as epístolas do Novo Testamento uma
prática comum era que “o autor ditasse o texto a um assistente” ou “de um autêntico secretário” o
qual só era informado do assunto a ser tratado na missiva e então, se encarregava de “compor e
redigir a carta do princípio ao fim”. Mas mesmo nesses casos, “ao término do escrito, o próprio
autor acrescentasse, do próprio punho, o seu nome e umas poucas palavras de saudação”. Mesmo
que a carta ou epístola fosse uma pseudoepígrafe (esse parece ter sido o caso de 2 Pedro, conforme
alguns eruditos), como costume nos dias da igreja primitiva, isso não comprometia “em nada” a
realidade da inspiração divina das Escrituras Sagradas ILÚMINA, 2015, net).

Expressões (tabernáculo e partida)


Importante para este estudo é palavra σκηνώματι (substantivo dativo neutro singular
comum de σκήνωμα), pois sua utilização num sentido figurado, como sendo uma metáfora do
corpo humano como residência da alma, em 2Pd 1.13-15 e 2Co 5.1-4, é uma conclusão
incompatível com a compreensão bíblica do que acontece com o ser humano por ocasião da morte –
ver Crença Fundamental 26. Morte e Ressurreição. Rm 6.23; 1Tm 6.15,16; Ec 9.5,6; Sl 146.3,4; Jo
11.11-14; Cl 3.4; 1Co 15.51-54; 1Ts 4.13-17; Jo 5.28,29; Ap 20.1-10 (SALES, 2011, p. 172) mas,
sim, com uma pressuposição filosófica grega de que “o corpo é o cárcere da alma” (SOUZA, 2015,
net). De qualquer forma, o contexto no qual essa palavra está incluída, 2Pd 1.13-15, aparentemente
favorece essa posição, ainda mais quando comparado com 2Co 5.1-4 (FRITZ, 1995, p. 244). Além
disso, a palavra ἔξοδον (substantivo acusativo feminino singular comum de ἔξοδος), apesar de
significar comumente na Bíblia 1) saída/partida; 2) o fim da carreira de alguém, o destino final de
alguém, também tem sido traduzido como 3) saída da vida, morte (FRITZ, 1995, p. 244), mesmo
que referências a essa tradução inexistam em outras partes da Bíblia.

Comentários
Comentando 2Pd 1.13, apesar de reconhecer que a palavra grega σκηνώματι, podendo ser
traduzida como tenda ou tabernáculo, é usada como metáfora para o corpo mortal do ser humano, o
qual será revestido, não substituído, de imortalidade por ocasião da volta de Jesus (1Co 15.53),
Champlin não economiza esforços em usar essa passagem e outras correlatas (2Co 5.1-10 e Hb 11.9
e 13) para defender a ideia de que este corpo só existe por causa do pecado e, como tal, deixará de
existir um dia, a fim de que a alma, parte imortal e eterna do ser humano, possa então estar livre
para viver com Deus, inclusive relacionando-a as ideias filosóficas de Platão e de Pitágoras que
percebiam o corpo humano como sendo um “cárcere” ou “sepulcro”. Estranho isso, ainda mais
quando se tem em mente que Pedro em sua segunda carta estivesse combatendo uma forma de
gnosticismo, doutrina filosófica que tinha a matéria, incluindo o corpo humano, como sendo
inerentemente mau e totalmente oposto ao espiritual, em sua versão cristã (CHAMPLIN, 2002, p.
185).
Quanto ao termo ἔξοδον significando saída da vida ou morte só pode ser assim entendido
quando comparado com seu correspondente em Lc 9.31, dizendo respeito à morte de Jesus em
Jerusalém e se considerar que tenda ou tabernáculo nos versos precedentes estivessem carregados
do sentido filosófico dado pelos gregos ao corpo humano. Isso é, no mínimo, apenas mais uma
opinião carregada de pressuposições filosóficas, uma vez que a tal “partida” de Jesus que ocorreria
em breve em Jerusalém referia-se muito mais do que somente a Sua morte na cruz, mas também a
Sua ascensão no Olivete. Afirmar que “A morte física é apenas uma transição” em comparação com
o “cessar de existir” (mesmo que seja temporariamente, até a ressurreição) é forçar a barra para
defender a ideia satânica de pecadores “certamente” não morreriam (CHAMPLIN, 2002, p. 186).
Segundo Hendriksen, ao referir-se ao seu corpo, Pedro, assim como Paulo, usa uma
metáfora. Usa a expressão tenda ou tabernáculo, não porque desprezasse o corpo como sendo mau
ou mesmo insignificante, mas apenas para enfatizar a brevidade da vida, em especial, de sua própria
vida. “sua figura de linguagem” esclarece Hendiksen, “transmite uma ideia de temporalidade”, uma
vez que a ocasião para sua morte estaria muito próxima. Por essa razão, “enquanto é fisicamente
capaz, ele dedica seu tempo a reavivar a memória dos crentes”. A opinião de que o “tabernáculo” de
Pedro seria breve e repentinamente “desmontado” e “colocado de lado” estaria mais de acordo com
o ensino bíblico quanto à morte e ressurreição dos seres humanos, uma vez que poderiam ser
retomados numa outra ocasião, a saber a volta de Jesus (KISTEMAKER, 2006, pp. 349, 350). No
entanto, ao comentar o uso da expressão “partida”, Hendriksen, numa aparente contradição, retoma
o estabelecido pressuposto filosófico de que “morte é uma transição dessa vida aqui na terra para
uma vida sem fim com Cristo”, usando para isso a palavra de Irineu (“Porém, depois de sua morte
[partida]…) e Lc 9.31 e Hb 11.22, claramente interpretados de acordo com a referida pressuposição
(KISTEMAKER, 2006, pp. 351, 352).
Uma informação importante para o entendimento do assunto em questão, especialmente o
significado atribuído a σκηνώματι pela maioria dos comentaristas consultados como sendo uma
metáfora para a morte “não se limita a autores helenistas, conforme demonstra sua presença
frequente na Septuaginta” (KISTEMAKER, 2006, p. 353), ou seja, tal significação é proveniente de
autores helenistas e do uso frequente dessa metáfora na tradução grega do Antigo Testamento,
fortemente influenciada pelo referido helenismo. Daí, podemos concluir, a presença quase
onipresente dos pressupostos filosóficos gregos nos comentários e interpretações dadas a esse
assunto do estado do ser humano na morte e de outros assuntos abordados na Bíblia.
Acreditando que outros comentaristas evangélicos disponíveis, como Tenney (TENNEY,
2008, pp. 376-378) ou Carson (CARSON, 1977, pp. 479-484), pouco acrescentariam a essa
discussão, haja vista suas pressuposições, vale a pena mencionar as palavras de Green: “Tem sido
freqüentemente pensado que este tipo de linguagem revela a infecção pelo dualismo grego, com seu
corpo perecível e sua alma imortal. Mas é muito mais provável que os dois escritores [Pedro e
Paulo] foram influenciados pelo tema da peregrinação, que é tão destacado no Antigo
Testamento...” (GREEN, 1983, p. 75)

Conclusão
Segundo o Comentário Bíblico Adventista, “Pedro está pensando”, ao usar a expressão
“tabernáculo”, “no corpo mortal e físico, como algo temporário, que a seu tempo será substituído
por um imortal (1Co 15.50-53 cf. 2Co 5.1)” (NICHOL, 2014, p. 656), o que é muito mais coerente
com o ensino bíblico acerca do estado do ser humano na morte, conforme apresentado acima. Isso
também esclarece o sentido da expressão “partida”.

Referências Bibliográficas
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Brasil. 2 ed. Barueri - SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
Bible Works 8.0.013z.1. BGT BibleWorks Greek LXX/BNT. Acesso em 03/09/2015 às 11:03.
Bíblia de Jerusalém: nova edição revista e ampliada. Tradução em língua portuguesa diretamente
dos originais. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia Sagrada: nova versão internacional. [traduzida pela comissão de tradução da Sociedade
Bíblica Internacional]. 9ª Edição - São Paulo.
CARSON, D. A. Introdução ao Novo Testamento. Tradução Márcio Loureiro Redondo. - São
Paulo: Vida Nova, 1977.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo: Volume
6: Tiago,1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João, Judas, Apocalipse. 1ª Edição. São Paulo: Hagnos,
2002.
FRITZ, Rienecker. Chave linguística do Novo Testamento grego. Tradução de Gordon Chown e
Júlio Paulo T. Zabatiero. - São Paulo: Vida Nova, 1995.
GREEN, Michael. Segunda Epístola de Pedro e Judas. Série Cultura Bíblica. Tradução Gordon
Chown. 1ª Edição. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1983.
HOLMER, Uwe. Segunda Carta de Pedro. Comentário Esperança. Tradução Werner Fuchs. -
Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 2008.
ILÚMINA GOLD. In: <http://www.vivos.com.br/297.htm> com acesso em 03/09/2015 às 9:26.
KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento: 1Pedro, 2Pedro e Judas; [tradução
Susana Klassen]. - São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
LOPES, Hernandes Dias. 2Pedro e Judas: quando os falsos profetas atacam a igreja. São Paulo:
Hagnos, 2013.
Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia/ tradução Ranieri Sales. - 21. ed. - Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2011.
NICHOL, Francis D. (ed.). Comentário bíblico Adventista do Sétimo Dia. 1. ed. - Tatuí, SP: Casa
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