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(Enem–1999) Quem não passou pela experiência de estar lendo Você sabe entender
um texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os Tudo bem
textos conversam entre si em um diálogo constante. Esse Você está, você é
fenômeno tem a denominação de intertextualidade. Leia os Você faz, você quer
seguintes textos: Você tem
Você diz a verdade
I. Quando nasci, um anjo torto A verdade é seu dom de iludir
Desses que vivem na sombra Como pode querer que a mulher
Disse: Vai Carlos! Ser gauche na vida Vá viver sem mentir?
VELOSO, Caetano. Disponível em: <http://www.caetanoveloso.com.br/sec_discogra_letra.php?language=pt_BR&id=259>. Acesso em: 10 fev. 2011.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964.
II. Quando nasci veio um anjo safado 02. A releitura da canção de Noel Rosa feita por Caetano Veloso:
O chato dum querubim A) valoriza a infidelidade feminina.
E decretou que eu tava predestinado B) defende a efemeridade contida no discurso feminino.
A ser errado assim C) defende o caráter dissimulado do discurso feminino.
Já de saída a minha estrada entortou D) condena o caráter persuasivo contido no discurso feminino.
Mas vou até o fm. E) condena a astúcia feminina.
BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia das Letras, 1989.
03.“[…] constatemos que a paródia, por estar do lado do novo e do
III. Quando nasci um anjo esbelto diferente, é sempre inauguradora de um novo paradigma. […] Do
Desses que tocam trombeta, anunciou: lado da contra-ideologia, a paródia é uma descontinuidade. […]
Vai carregar bandeira. Enquanto a paráfrase é um discurso em repouso, […] a paródia é o
Carga muito pesada pra mulher discurso em progresso. […] Numa há o reforço, na outra a
Esta espécie ainda envergonhada. deformação. […] É uma tomada de consciência crítica. […] a paródia
PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. é como a lente: exagera os detalhes de tal modo que pode
converter uma parte do elemento focado num elemento
Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em dominante, invertendo, portanto, a parte pelo todo, como se faz na
relação a Carlos Drummond de Andrade, por: charge e na caricatura. […] Ela mata o texto-pai em busca da
A) reiteração de imagens. B) oposição de ideias. diferença.”
SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & Cia. São Paulo: Editora Ática, 1995.
C) falta de criatividade. D) negação dos versos.
E) ausência de recursos. Uma das imagens mais retomadas na história da arte é a Mona Lisa,
de Leonardo da Vinci. A releitura a seguir que se propõe a
Instrução: Textos para a questão 02 parafrasear o quadro em vez de parodiá-lo é:
Texto I
Pra que mentir?
Pra que mentir se tu ainda não tens
Esse dom de saber iludir?
Pra quê?! Pra que mentir
Se não há necessidade de me trair?
Pra que mentir, se tu ainda não tens
A malícia de toda mulher?
Pra que mentir
se eu sei que gostas de outro
Que te diz que não te quer?
Pra que mentir
Tanto assim
Se tu sabes que eu já sei
Que tu não gostas de mim?!
Se tu sabes que eu te quero
Apesar de ser traído
Pelo teu ódio sincero
Ou por teu amor fingido?!
ROSA, Noel. VADICO. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/noel-rosa-musicas/125753/>. Acesso em: 10 fev. 2011.
Texto II
Dom de iludir
Não me venha falar
04.O poema, “Gioconda (Da Vinci)”, de Carlos Drummond de
Na malícia de toda mulher
Andrade, refere-se a uma célebre tela renascentista:
Cada um sabe a dor
O ardiloso sorriso
E a delícia de ser o que é
alonga-se em silêncio
Não me olhe como se a polícia
para contemporâneos e pósteros
Andasse atrás de mim
ansiosos, em vão, por decifrá-lo.
Cale a boca
Não há decifração. Há o sorriso.
E não cale na boca In: Farewell. Rio de Janeiro: Record, 1996. NÃO se pode afirmar que o poema
Notícia ruim
Você sabe explicar A) faz uso de metalinguagem num sentido amplo, pois é uma obra
de arte que fala de outra. Tragar a dor, engolir a labuta,
B) procura se inserir no debate que a tela Gioconda provoca desde Mesmo calada a boca, resta o peito,
a Renascença. Silêncio na cidade não se escuta.
C) mostra que são inúmeros os significados do sorriso da Gioconda. De que me vale ser flho da santa,
D) garante não haver razão alguma para a polêmica, como diz o Melhor seria ser flho da outra,
último verso. Outra realidade menos morta,
E) ilustra a polissemia de obras de arte, inclusive do próprio poema. Tanta mentira, tanta força bruta.
Disponível em: <www.uol.com.br/chicobuarque/>.