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BIOLOGIA DO
DESENVOLVIMENTO
FERRAMENTAS METODOLÓGICAS
PARA O ESTUDO DE PROBLEMAS DE
1
BIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
Vera Lúcia da Silva Valente Gaiesky
Eletroforese ......................................................................................................................................................... 21
As tecnologias do DNA recombinante ............................................................................................................... 24
Hibridação in situ ................................................................................................................................................ 24
Reação em cadeia da polimerase (PCR) ............................................................................................................. 26
Vetores de clonagem e de expressão .................................................................................................................. 26
Transgenia ........................................................................................................................................................... 27
Outros métodos ................................................................................................................................................... 32
lentamente que as menores, assim como algumas formas de ser detectadas por meio de coloração do gel resultante com
moléculas também vão determinar se a migração será mais corantes como o nitrato de prata, que revela um amplo es-
rápida ou mais vagarosa. pectro de proteínas de diferentes pesos moleculares (o que é
Uma vez introduzidas as amostras em ranhuras ou obtido por comparação do padrão de migração da amostra
em posições específicas do meio suporte, um campo elétri- com o de uma outra amostra-controle, cujos tamanhos dos
co é aplicado no gel e as moléculas começam a migrar atra- fragmentos são conhecidos). Por outro lado, essa abordagem
vés do meio, dentro de um período de tempo característico não permite avaliar per se se essas proteínas estão sendo
para cada tipo de amostra. Após esse tempo, sob condições sintetizadas no momento em que as amostras foram proces-
controladas de exposição ao campo elétrico, as moléculas sadas ou se já haviam sido formadas anteriormente; se têm
vão se separar ao longo da chamada zona eletroforética, diferentes meias-vidas ou diferentes taxas de síntese ou degra-
transversalmente ao ponto de aplicação, formando “zonas” dação tecido-específicas. Somente após o desenvolvimento
ou “bandas” distintas de acordo com o seu tamanho, forma de técnicas de marcação de proteínas com isótopos radioati-
e carga (Figura 1.1). vos que as proteínas nascentes naquele momento ou naquele
Quando as proteínas a serem estudadas são enzimá- tecido específico puderam ser detectadas por eletroforese.
ticas, sua revelação é feita usando-se uma solução histoquí- Por essa técnica, o animal ou o tecido isolado é expos-
mica colorante que contém o substrato da enzima acoplado to a uma solução contendo um aminoácido radioativamente
com um co-fator NAD e um sal de tetrazólio que, reduzido, marcado, como a metionina carregada com S35, que vai se
resultará na precipitação de formazan, permitindo a forma- integrar às cadeias polipeptídicas que estão se formando nos
ção de uma mancha ou banda. O substrato da enzima, na ribossomos, mas não às já formadas. Expondo o gel onde as
presença dessas substâncias, será oxidado, e o sal será redu- proteínas radioativamente marcadas migraram a um cassete
zido, formando uma mancha no local, para onde migraram contendo filme de raios X, que será posteriormente revelado
as bandas correspondentes à atividade enzimática. com reagentes comumente utilizados em fotografia, as bandas
Proteínas totais expressas em um determinado tecido aparecerão na região correspondente à sua migração devido
ou em um determinado estágio do desenvolvimento podem à impressão da radioatividade sobre os sais de prata do filme.
NITRO–BT H
(Formazan)
A. Inserção do homogenado PMS H
Piruvato DPN H
DPN
Lactato
D.
B. Eletroforese (+) Músculo cardíaco
DH-I
2
(–) 3
5
(–) -9 -5 -1 +12 +21 Adulto
Figura 1.1 Aplicação de amostras (homogenados de técidos ou órgãos) em gel para eletroforese de proteínas. A) Inserção de uma
amostra no gel. B) Migração das amostras em suas respectivas canaletas sob corrente elétrica. C) Localização da enzima na super-
fície do gel. D) Aspecto das zonas de migração ou “bandas” da lactato desidrogenase de camundongos. (Modificada de Markert e
Ursprung, 1971.)
Embriologia 23
Uma variante dessa técnica é a eletroforese em gel sob paradas por isoeletrofocalização. Entende-se por ponto isoelé-
condições desnaturantes (SDS-eletroforese), que é feita em trico (pI), o pH em que uma proteína é eletricamente neutra
géis de poliacrilamida contendo sódio dodecil sulfato (SDS). e, conseqüentemente, não migra. Com base nesse princípio
O tratamento do homogenado protéico é feito com SDS e simples, inicialmente uma amostra é submetida à eletrofo-
com um agente redutor como β-mecaptoetanol antes da cor- rese em um tubo fino contendo gel de poliacrilamida com
rida eletroforética. O β-mercaptoetanol reduz as pontes um gradiente de pH estável, menor no ânodo e maior no
dissulfídicas, dissocia as subunidades de polipeptídeos e cátodo. Assim, nessa primeira dimensão, as proteínas mi-
afrouxa a estrutura secundária das proteínas, enquanto o SDS gram no gradiente de pH sob corrente elétrica até que atin-
liga-se aos polipeptídeos, formando complexos que migram jam o seu pH, estagnado aí. O tubo com o gel é, então,
à medida que assumem formas uniformes, cuja carga é de- inserido em um gel de poliacrilamida e sujeito à eletroforese
terminada pelo próprio SDS. Submetidos a esse tratamento, horizontal, onde as proteínas, já separadas por ponto isoelé-
todos os polipeptídeos apresentarão proporções de carga/ trico, serão separadas de acordo com o seu peso molecular
massa similares, eliminando-se as diferenças de forma, de (Figura 1.3). Essa é uma técnica poderosa para identificar
modo que apenas o peso molecular é que determinará as proteínas estágio ou tecido-específicas de dentro de uma
diferenças de migração (Figura 1.2). O peso molecular das amostra muito heterogênea.
proteínas migradas é normalmente obtido por intermédio de Quando se está trabalhando com ácidos nucléicos (tan-
comparação das bandas da amostra com um marcador-pa- to DNA como RNA), a separação das suas diferentes fra-
drão colocado a migrar no gel em uma canaleta ao lado da- ções é feita por “filtragem molecular” (molecular sieving),
quelas que contêm as amostras sob estudo (Figura 1.2). já que a proporção carga/massa é praticamente a mesma
Um refinamento dessas técnicas foi desenvolvido poste- para todos os ácidos nucléicos. Assim, pequenas molécu-
riormente (O'Farrel, 1975) e corresponde à chamada eletrofo- las vão migrar mais rapidamente do que grandes molécu-
rese bidimensional. Esse método corresponde à submissão las. Nesse caso, pode-se usar tanto géis de agarose quanto
de uma amostra, que já foi sujeita à eletroforese, a uma se- de poliacrilamida como meios suporte, sendo que esses úl-
gunda migração efetuada sob um novo conjunto de condi- timos permitem uma separação mais acurada, às vezes até
ções e sob nova direção, perpendicular à da primeira dimen- propiciando a resolução de bandas que diferem em um úni-
são. Por esse protocolo, as proteínas são primeiramente se- co nucleotídeo.
83
70
50
32
26
25 37 25 37 25 37 25 37 37 25 25 37
Temperatura (oC)
Figura 1.2 Aspecto de um auto-radiograma de um gel submetido à eletroforese (SDS-PAGE) de proteínas sintetizadas em diferen-
tes temperaturas (25o e 37o C) extraídas da glândula salivar de larvas de Drosophila nebulosa (neb), D. tropicalis (tro), D. willistoni
(wil), D. equinoxialis (equ), D. insularis (ins) e D. paulistorum (pau). As proteínas foram previamente marcadas por incubação das
glânulas com metionina -35S. Os pesos moleculares das proteínas após a migração foram obtidos por comparação com o marcador
de peso molecular aplicado na canaleta à esquerda. (Modificada de Bonorino et al., 1993.)
24 Sonia Maria Lauer de Garcia e Casimiro García Fernández
A IEF B
quer genomas, bem como pôde ser decifrada a organização
dos genes que as portam (por exemplo, se elas têm ou não
88 90
71
88 71 73 os sítios reconhecidos pelas enzimas de restrição conser-
73 vados em comparação com o genoma dos organismos ori-
60
ginais de onde o DNA foi extraído).
AC
SDS
Gel
Ânodo
Maior Cátodo
Menor
Filme de raios X
Figura 1.4 Esquema dos passos seguidos para análise de moléculas de DNA de duas amostras pela técnica de Southern blot.
(Modificada de Berg e Singer, 1992.)
26 Sonia Maria Lauer de Garcia e Casimiro García Fernández
VETORES DE CLONAGEM E
A B C
DE EXPRESSÃO
Figura 1.5 Embriões de Tribolium em três estágios de desen- Para a obtenção de várias cópias de uma seqüência iso-
volvimento. As células estão expressando o gene engrailed lada, é necessário fazer uma clonagem molecular. Esse pro-
(hachureado) como uma faixa em cada segmento do corpo, à cesso envolve a ligação enzimática de pedaços do DNA iso-
medida que eles vão se formando. A) No estágio inicial, só par- lado do organismo de interesse com o DNA dos chamados
tes da cabeça são visíveis, como os segmentos gnatais (G1). B) vetores de clonagem (plasmídeos*, vírus e bacteriófagos)
No estágio intermediário, já se formaram os segmentos gnatais,
(G1), torácicos (T1) e abdominais (A1). C) No estágio tardio, to- dotados de seqüências capazes de promover a sua replicação
dos os segmentos já estão formados. br, ant e int correspondem, autônoma dentro das células hospedeiras onde são introdu-
respectivamente, a cérebro, antenas e segmentos intercalares. zidos (normalmente cepas modificadas da bactéria Esche-
(Modificada de Sulson e Anderson, 1996.) richia coli por meio de um processo chamado transforma-
ção). Os plasmídeos, além de se replicarem autonomamente
*Plasmídeo: molécula extracromossômica de DNA circular, que ocorre normalmente no genoma de bactérias e de algumas leveduras.
Embriologia 27
5' 3'
3' 5'
3' 5' 5' 3'
DNA desenrolado
5' + 5'
iniciadores Ciclo 1
5' 5'
3' 3'
DNA-polimerase
5' 5'
3' 3'
+ DNA desenrolado + +
Ciclo 2
3' iniciadores + 3'
5' DNA-polimerase 5'
5' 5'
3' 3'
+ +
3' 3'
5' 5'
+ DNA desenrolado + + Ciclo 3
3' iniciadores + 3'
5' DNA-polimerase 5'
+ +
5' 5'
3' 3'
Figura 1.6 Amplificação de segmentos de DNA através de reação em cadeia da polimerase. (Modificada de Berg e Singer, 1992.)
no genoma das bactérias, estão associados à resistência a E. coli e Bacillus subtilis são vetores adequados, assim como
antibióticos e, assim, o isolamento das bactérias transforma- leveduras cumprem bem a exigência de vetores para expres-
das das não-transformadas em placas de cultura é feito pelo são de genes eucarióticos. A existência de certas caracterís-
uso de antibióticos. As bactérias que não contêm plasmídeo ticas moleculares do plasmídeo, por exemplo, possuir uma
(não-transformadas), portanto sensíveis ao antibiótico, se- seqüência promotora forte, é fundamental para o sucesso da
rão eliminadas, restando e crescendo em cultura apenas aque- expressão do gene nele inserido (Figura 1.7).
las bactérias resistentes, que foram transformadas.
Quando além de se desejar clonar o gene, também quer-
se analisar o seu produto, são necessários os chamados veto- TRANSGENIA
res de expressão (pró e eucariotos, dependendo da natureza
e da complexidade da seqüência que foi clonada). Por exem- Animais (e plantas) geneticamente modificados pela
plo, para expressão em procariotos, normalmente as bactérias inclusão de um gene clonado de outro indivíduo (da mesma
28 Sonia Maria Lauer de Garcia e Casimiro García Fernández
A Origem da replicação
Inserto do gene
estranho
Gene estranho
Divisão celular
B
Promotor da
β-galactosidade cDNA do gene
que se quer
expressar
mRNA
Gene para
resistência à
ampilicina
Origem do
plasmídeo
Figura 1.7 Vetores de clonagem e de expressão. A) Plasmídeos bacterianos usados como vetores para multiplicação de insertos
de DNA estranho. B) Características de um vetor de expressão: a seta grande indica o gene estranho que se quer expressar.
(Modificada de Berg e Singer, 1992.)
espécie ou não) constituem os chamados organismos transgêni- O sucesso da transgenia depende de que a inserção de
cos. A transgenia, por sua vez, é uma maneira poderosa para um gene clonado em um embrião hospedeiro integre-se e se
se testar in vivo a função de seqüências gênicas as mais variadas replique nas sucessivas divisões celulares e passe a ser reco-
e a sua conservação funcional entre organismos diferentes, nhecido e regulado pela células hospedeiras. Se a transfor-
resolver problemas relacionados com a regulação da expressão mação (inserção bem-sucedida do gene estranho no DNA
de certos genes de interesse para o desenvolvimento, assim das células hospedeiras) ocorrer nas células que vão origi-
como para identificar suas seqüências regulatórias e codificado- nar a linhagem germinativa do embrião, o transgene passará
ras, além de sondar os domínios de expressão de vários genes. para as gerações seguintes. Cruzando-se o organismo transgê-
Embriologia 29
nico com outro organismo de uma linhagem que não porta o germinativa. As células-tronco embrionárias em cultura, por
transgene, pode-se monitorar o seu efeito no desenvolvimento sua vez, podem ser geneticamente manipuladas de forma a
das gerações subseqüentes. se induzir mutações nos genes de desenvolvimento sob escru-
Em camundongos, genes que condicionam mutações tínio, introduzir doses a mais ou a menos desses genes, além
no desenvolvimento são comumente introduzidos em um de produzir mutações que façam com que a seqüência original
embrião selvagem na fase de blastocisto para que venham a do gene perca completamente a sua função (nocaute ou knock
fazer parte de células tronco embrionárias. Essas células são out do gene original). Assim, a expressão do(s) transgene(s)
obtidas de culturas permanentes derivadas de embriões no embrião transformado (quimera*) vai depender de quantas
mutantes (muitos deles letais embrionários) e, quando intro- células transformadas se inserirem corretamente no embrião
duzidas em um embrião selvagem inicial, vão contribuir para hospedeiro, promovendo variações de natureza quantitativa
formar tanto os seus tecidos somáticos, quanto a sua linhagem na atividade desse gene (Figura 1.8).
Ovo fertilizado
DNA do gene de
interesse
Pró-núcleo
DNA microinjetado
no pró-núcleo
DNA integra-se no
genoma e os pró-
núcleos são
fusionados
Camundongos
transgênicos
transplantes transplantes
sem sucesso bem-sucedidos
*Quimera é um animal constituído de células de duas ou mais fontes diferentes (pares de genitores diferentes), sendo, portanto, constituído de
uma mistura de células geneticamente diferentes.
30 Sonia Maria Lauer de Garcia e Casimiro García Fernández
Outra maneira de gerar camundongos transgênicos con- elas serão inseridas ao acaso no genoma hospedeiro, mas se
siste em injetar um fragmento de DNA contendo o gene cuja forem geneticamente engenheiradas para conterem, além do
função deseja-se conhecer diretamente no núcleo do ovo re- seu próprio gene de mobilização (que codifica uma enzima
cém-fertilizado. A vantagem de se trabalhar com células- chamada transposase), os genes de interesse que se quer es-
tronco embrionárias, entretanto, além da sua maior viabili- tudar por meio de um processo conhecido como transforma-
dade, é a possibilidade de se selecionar na cultura aquelas ção mediada por elemento P, o embrião produzirá uma mos-
células que foram previamente transformadas, aumentar seu ca transgênica (Figura 1.9). Se o elemento P geneticamente
número e, então, introduzi-las no estágio de blastocisto do modificado for inserido na parte posterior do embrião, para
embrião selvagem. onde muito cedo vão migrar as células polares que originarão
A construção de moscas transgênicas do gênero as gônadas, as células germinativas conterão o gene que se
Drosophila também tem contribuído de forma marcante para deseja estudar, transmitindo-o às gerações subseqüentes e
o progresso da biologia do desenvolvimento animal. Mos- permitindo o estudo da sua segregação. Freqüentemente, as
cas transgênicas do gênero Drosophila são construídas pela seqüências inseridas portam um gene marcador de uma carac-
inserção de uma seqüência de DNA conhecida diretamente terística morfológica visível, como o alelo selvagem white+,
nos cromossomos do embrião hospedeiro por meio de um que condiciona olhos vermelhos. A inserção do transgene
vetor, no caso uma seqüência genética móvel, ou transposon*. em um embrião mutante para esse gene (white-) que condi-
Essas seqüências, aparentadas com os vírus, ocorrem natu- ciona olhos brancos em homozigotos, por sua vez, pode ser
ralmente no genoma de certas linhagens e têm a notável ca- monitorada pelo aparecimento da cor vermelha (que indica
pacidade de mudarem de lugar ao longo dos cromossomos. que o inserto foi incorporado com sucesso) ou branca (que
Se introduzidas no genoma de linhagens que não os portam, indicará a não-incorporação do inserto) nos olhos das mos-
Gene clonado
com o elemento P
Elemento P
Microinjeção no
embrião da mosca
Cromossomos da mosca
Transferência do elemento P
portando o gene clonado
Cromossomo
Figura 1.9 Produção de moscas transgênicas pela modificação da linhagem germinativa de embriões pela inserção de um ele-
mento P, portando um gene que se quer estudar. O gene carregado pelo elemento P é funcional e o do genoma hospedeiro é uma
forma mutante, não-funcional. O aparecimento da forma selvagem do gene na prole das moscas transformadas indica que o proces-
so foi bem-sucedido. (Modificada de Wolpert et al., 1998.)
*Transposon é uma seqüência de DNA que possui a capacidade de se inserir em um local diferente do cromossomo ou pela inserção de uma cópia
da seqüência original ou pela sua excisão e reinserção em outro local do genoma (mobilização).
Embriologia 31
cas adultas da geração seguinte. Com essa metodologia, pode efeitos de modificações bruscas da temperatura do meio) per-
ser avaliado o efeito de doses extras de genes, a sua expressão mite que se induza a expressão dos genes a ele adjacentes
sob influência de seqüências regulatórias selvagens ou mu- simplesmente aumentando a temperatura da câmara de cul-
tantes, além de o efeito de novos genes (ou genes cognatos tivo do organismo.
ao que se quer avaliar). O impacto causado pelo sucesso dos sistemas de trans-
Uma variante dessa técnica consiste em usar um gene ferência de genes em mamíferos e em leveduras também
marcador bioquímico acoplado ao elemento P engenheirado contribuiu para o desenvolvimento de tecnologias para pro-
que vai transformar o embrião hospedeiro. Esse marcador, dução de plantas transgênicas, cuja aplicabilidade ao ren-
também chamado de gene-repórter, vai ter sua expressão re- dimento das plantas de lavoura foi imediato.
velada por coloração histoquímica, indicando que o inserto As plantas, pela sua maior plasticidade desenvol-
ao qual ele está acoplado inseriu-se com sucesso no genoma vimental, oferecem muitas facilidades para a obtenção de
hospedeiro, sinalizando pela coloração revelada, a região, o embriões transgênicos. Vários métodos são atualmente dis-
tecido ou as células embrionárias onde o gene de interesse poníveis para transformação de plantas. A maneira mais
está se expressando (Figura 1.10). O uso de genes repórteres “natural” possível de obtenção de plantas transgênicas con-
tem sido amplamente utilizado em embriões de camundon- siste na transfecção de células vegetais em cultura com a
gos e de outros animais. bactéria Agrobacterium tumefasciens, que é capaz de for-
Entre os genes-repórteres mais freqüentemente empre- mar tumores em forma de galhas bem-conhecidas nas plan-
gados para a construção de animais transgênicos está o lacZ tas. Esse processo, que também ocorre na natureza, foi uti-
(que codifica a enzima bacteriana β-galactosidade). A reve- lizado pelos melhoristas para a produção controlada de plan-
lação da atividade enzimática desse gene marcador colore tas transgênicas à medida em que contém um plasmídeo-
de azul as células, os tecidos e os órgãos do embrião que ex- Ti, que possui os genes necessários à proliferação das célu-
pressam o transgene. las responsáveis pela formação do “calo” (callus). Se genes
Também tem sido comumente utilizada em Drosophila, de interesse agronômico, por exemplo o que confere resis-
a seqüência promotora de genes de resposta a estresses físi- tência a uma determinada doença, ou um gene importante
cos e químicos (heat shock), que são chamados de promoto- para o desenvolvimento precoce da floração de uma plan-
res “fortes”, pois induzem a expressão dos genes a eles adja- ta, for inserido no Ti e a bactéria que o porta for induzida a
centes sem a ajuda de seqüências enhancers (ou aumenta- infectar uma cultura de células vegetais, ele vai funcionar
doras), comuns em genes de eucariotos. O uso de transgenes como um vetor de transformação muito eficiente. Uma vez
acoplados a um promotor de heat shock (já que foram des- que células diferenciadas em culturas de tecidos vegetais
cobertos em genes condicionadores de proteção contra os podem originar uma planta adulta completa devido à con-
servação da sua totipotência, as células geneticamente mo-
dificadas podem originar plantas transgênicas com suas
células transformadas pela infecção com o Agrobacterium,
inclusive na sua linhagem germinativa, permitindo a ob-
tenção de cultivares transgênicos estáveis.
Cabe salientar, entretanto, que esse método tem a sua
potencialidade máxima para plantas dicotiledôneas, não
sendo o ideal para monocotiledôneas. Nesses casos, de-
vem ser feitos ajustes metodológicos ou usar outros méto-
dos de transformação (Draper e Scott 1991).
Outra abordagem bastante atual, entre várias outras dis-
poníveis para produzir plantas transgênicas, usa o recurso
da chamada biobalística, que consiste no bombardeamento
de células de plantas em cultura, com partículas recobertas
com seqüências do DNA que se quer inserir e estudar na
planta receptora. Essas partículas, que consistem de peque-
nas esferas de tungstênio ou ouro, são carregadas com DNA-
vetor (a “construção”) e espalhadas na superfície de uma
placa móvel ou de uma “bala” plástica (“macroprojétil”).
Submetido ao impacto de uma bomba de vácuo, o “ macro-
projétil” é disparado contra uma placa de retenção, permitindo
que seja desacelerado e que os “microprojéteis” (as esferas
Figura 1.10 Embrião de camundongo transgênico de 12 dias.
A parte hachureada corresponde à expressão do gene myoD, por com o DNA vetor) sejam arremessados contra a superfície
meio do gene repórter bacteriano β-galactosidade sob controle das células vegetais a serem transformadas, penetrando no
da seqüência enhancer nos mioblastos. (Modificada de Golhamer seu interior.
et al., 1995.)
32 Sonia Maria Lauer de Garcia e Casimiro García Fernández