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ISSN 2237-2547
V. 77 — 2015
SETEMBRO/OUTUBRO
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Bimestral
v. 77 (set./out. 2015)
ISSN 2237-2547
CDU 34(05)
EDITORIAL
Acórdãos
1. STF – Delito Societário. Crime de Autoria Coletiva. Denúncia Genérica.
Inépcia. Inocorrência. Observância do Art. 41 do CPP. Suficiente
Descrição do Fato Tido como Criminoso. Poder de Gestão na Pessoa Jurídica
Rel. Min. Edson Fachin....................................................................................469
2. STF – Tóxicos. Tráfico e Associação. Arts. 33 e 35 da Lei nº 11.343/06.
Prisão Preventiva. Fundamentação Inidônea. Motivação Genérica e
Abstrata. Súmula nº 691/STF. Afastamento. Concessão da Ordem
Relª Minª Rosa Weber.......................................................................................485
3. STF – Permitir ou Entregar Direção de Veículo Automotor a Pessoa Não
Habilitada. Art. 310 do CTB. Crime de Perigo Abstrato. Prescindibilidade
do Resultado Naturalístico
Rel. Min. Dias Toffoli........................................................................................491
4. STF – Homicídio Qualificado. Art. 121, § 2º, do Código Penal. Prisão
Preventiva. Excesso de Prazo Prisional Configurado. Extensão da Ordem.
Art. 580 do Código de Processo Penal
Relª Minª Rosa Weber.......................................................................................496
5. STJ – Estupro de Vulnerável. Elementos do Tipo Penal. Ato Libidinoso.
Menor de 14 Anos. Desclassificação. Inadequação. Constrangimento Ilegal.
Crime Subsidiário. Adequação Típica
Rel. Min. Gurgel de Faria.................................................................................503
6. STJ – Pena. Roubo. Regime Inicial Fechado. Motivação Insuficiente.
Ordem Concedida de Ofício
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz........................................................................507
7. STJ – Pena. Condenação Criminal com Trânsito em Julgado Há Mais de
Cinco Anos. Configuração de Maus Antecedentes. Possibilidade
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca..............................................................511
8. STJ – Furto. Princípio da Insignificância. Inaplicabilidade. Concurso de
Agentes. Alto Grau de Reprovabilidade
Rel. Min. Gurgel de Faria.................................................................................516
9. STM – Furto. Princípio da Insignificância. Inaplicabilidade. Teoria da
Amotio ou Apprehensio. Crime Consumado. Reparação da Res Furtiva.
Desclassificação da Conduta. Incabível
Rel. Min. José Barroso Filho.............................................................................519
10. TRF 1ª R. – Liberdade Provisória. Fumus Commissi Delicti. Periculum
In Libertatis. Embasamento. Custódia Cautelar. Impossibilidade.
Característica Rebus Sic Stantibus da Custódia Provisória
Rel. Des. Fed. Hilton Queiroz............................................................................525
11. TRF 2ª R. – Rádio Comunitária. Ausência de Registros de Interferência
na Aeronavegabilidade da Região durante o Período de Operação.
Princípios da Insignificância e da Intervenção Mínima e da Subsidiariedade
Rel. Des. Antonio Ivan Athié.............................................................................531
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 9
Possibilidade/Impossibilidade..............................................................................621
Violação de Direito Autoral – Exame Externo do Material Apreendido –
Possibilidade/Impossibilidade – Inaplicabilidade do Princípio da Adequação
Social....................................................................................................................622
10 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
LEGISLAÇÃO EM DESTAQUE..........................................................................627
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
Matéria Cível........................................................................................................643
Matéria Criminal..................................................................................................678
AVALIAÇÃO JUDICIAL DA “REPRESENTAÇÃO
ADEQUADA” DAS ENTIDADES LEGITIMADAS PARA AS
AÇÕES COLETIVAS NO BRASIL – ESTUDO DO CASO
JULGADO PELO STJ NO RESP 1.213.614/RJ
RESUMO
No presente trabalho procura-se demonstrar que o nosso sistema jurídico não
autoriza que o juiz, ao receber a petição inicial de uma ação coletiva, realize uma
avaliação do preparo técnico, da capacidade econômica ou de qualquer outra condi-
ção específica para o fim de conferir legitimidade para a propositura da demanda. A
it can deny the legitimacy of the plaintiff’s association. It is correct to affirm that the
appellate decision did not examine the conditions of the plaintiff for defense of the class
interests, as the one filing the suit was not actually an association, but just an entity
formed in an associative way.
Keywords: Class Action. Legitimacy. Legitimized Entity. Objective Requirements.
SUMÁRIO
1 Introdução. 2 Sistema Jurídico Brasileiro Adota Legitimação Ope Legis para as
Ações Coletivas. 3 Necessidade de Preservação dos Interesses Coletivos Impede que
o Processo Seja Extinto por Aspectos Meramente Formais. 4 Pertinência Temática
entre os Interesses Defendidos na Demanda Coletiva e os Fins Institucionais Previstos
no Estatuto da Entidade Autora Não Pode Ser Exigida de Forma Rigorosa. 5 Não
se Pode Extinguir o Processo Coletivo sem Proporcionar que outros Legitimados
Assumam o Polo Ativo da Demanda. 6 Conclusões.
1. INTRODUÇÃO
No dia 8 de outubro deste ano foi divulgada notícia no site do STJ sob o título
“Juiz pode rejeitar ação civil pública proposta por ‘associação de gaveta’”. Na notícia
constava afirmação atribuída ao Ministro Luis Felipe Salomão de que ele lamenta
que a legitimação coletiva venha sendo utilizada de forma indevida ou abusiva por
algumas entidades, taxadas como “associações de gaveta”, que não têm origem na
sociedade civil. A notícia refere-se ao julgamento do REsp 1.213.614/RJ, de relatoria
do eminente Ministro.
Em alguns blogs e grupos de discussão sobre temas jurídicos, a notícia foi
recebida como um indicativo da introdução, por via pretoriana, do controle judi-
cial da “representação adequada” das entidades que promovem ações coletivas. O
acórdão referente ao recurso noticiado só seria publicado semanas depois (em 26
de outubro), talvez por isso tenha ajudado a difundir essa incorreta compreensão
do alcance do julgado.
No entanto, examinando-se com atenção o caso julgado, pode ser melhor
compreendida a lógica de decidir do Ministro-Relator, que apreciou um caso com
circunstâncias peculiares, não se podendo tomá-lo como precedente no sentido de
que o juiz pode e deve, em todo e qualquer caso, fazer um escrutínio das condições
econômicas, da capacidade técnica e da idoneidade da entidade autora da ação
coletiva.
No presente trabalho se procura demonstrar que o nosso sistema jurídico não
autoriza que o juiz, ao receber a petição inicial de uma ação coletiva, realize uma
avaliação do preparo técnico, da capacidade econômica ou de qualquer outra condi-
ção específica para o fim de conferir legitimidade para a propositura da demanda. A
regra continua sendo a de que, para se propiciar o seguimento do processo coletivo,
é preciso o preenchimento de requisitos objetivos (constituição da associação há pelo
menos um ano e finalidade institucional da defesa dos interesses coletivos).
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 13
Observa-se que, no caso julgado pelo STJ, a entidade proponente era despida
de qualquer caráter verdadeiramente associativo, motivo pelo qual o relator teve
que recorrer à regra do art. 125, III, do CPC, que diz que o juiz deve reprimir “ato
atentatório à dignidade da Justiça”, para no caso concreto negar legitimidade à
associação autora.
É certo afirmar que o acórdão não cuidou de examinar as condições da auto-
ra para a defesa dos interesses coletivos, mas de constatar que quem promoveu a
ação não era de fato uma associação, mas apenas um ente constituído sob a forma
associativa.
Adiante, o caso é dissecado em maiores detalhes.
ação coletiva seja aceita, o juiz precisa estar convencido, entre outras coisas, de que
o representante possa representar adequadamente os interesses do grupo em juízo.
Esse é, sem dúvida, o aspecto mais importante das class actions americanas, tanto
do ponto de vista teórico como prático”(1).
Todavia, o instituto da representação adequada não se aplica ao direito processual
coletivo brasileiro, já que a legitimidade é conferida a associações (e outras pessoas
jurídicas). Os requisitos da pré-constituição e da pertinência temática, previstos nos
arts. 82, IV, do CDC e 5º, V, da LACP, não revelam a importação pura da construção
doutrinária alienígena. A esse respeito, discorre Pedro da Silva Dinamarco: “Entre
nós não existe um verdadeiro requisito da representatividade adequada para que os
legitimados possam ajuizar uma ação civil pública, ao contrário do que sustentam
alguns doutrinadores. Dizem eles que as associações teriam de demonstrar essa
qualidade mediante tempo mínimo de constituição e autorização expressa em seus
estatutos ou por deliberação em assembleia. (...) Entretanto, esse requisito nada tem
que ver com a representatividade adequada, que exprime um conjunto de fatores
que demonstrariam concretamente ao juiz, durante todo o curso do processo, ser o
autor pessoa idônea, que irá despender eficazmente todos os esforços necessários
para a defesa dos interesses das pessoas ausentes do processo. Por outro lado, aquela
autorização interna da associação é apenas requisito abstrato para que esteja plena-
mente satisfeita a legitimidade extraordinária em cada caso, não significando que a
entidade irá realmente defender de forma adequada os interesses dos substituídos”(2).
O próprio Ministro Luis Felipe Salomão reconheceu (na ementa e no voto
do REsp 1.213.614/RJ) que, embora constasse do projeto que culminou na Lei nº
7.347/85, a verificação judicial da “representação adequada” foi eliminada do texto
durante a tramitação no Congresso, restando tão somente a verificação de requisitos
objetivos (constituição há pelo menos um ano e finalidade institucional da defesa dos
interesses coletivos) para se propiciar o seguimento do processo coletivo. Confira-se
o seguinte trecho:
“3. É digno de realce que, muito embora o anteprojeto da Lei nº 7.347/85,
com inspiração no direito norte-americano, previa a verificação da represen-
tatividade adequada das associações (adequacy of representation), propondo
que sua legitimação seria verificada no caso concreto pelo juiz, todavia, essa
proposta não prevaleceu, pois o legislador optou por indicar apenas quesitos
objetivos (estar constituída há pelo menos 1 [um] ano e incluir, entre suas
finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem econômica, à livre-concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico). Com efeito, o legislador instituiu referidas
ações visando tutelar interesses metaindividuais, partindo da premissa de que
são, presumivelmente, propostas em prol de interesses sociais relevantes ou,
(1) GIDI, Antonio. A representação adequada nas ações coletivas brasileiras: uma proposta. Disponível em:
<www.abdpc.org.br>.
(2) DINAMARCO, Pedro da Silva. Ação civil pública. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 201-202.
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(3) GRINOVER, Ada Pellegrini. Ações coletivas ibero-americanas: novas questões sobre a legitimação e
a coisa julgada. Revista Forense, n. 301, p. 3-12.
(4) Breves considerações sobre a representatividade adequada e os limites subjetivos da coisa julgada nos pro-
cessos coletivos, artigo publicado no site Jurisway, em 14.04.2010. Disponível em: <http://www.jurisway.
org.br/v2/dhall.asp?id_dh=3900>.
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sócios apenas emprestaram seus nomes para sua constituição, tanto que têm um
único domicílio. O Ministro considerou, assim, que permitir que uma “associação”
com esse nível de aparência artificiosa possa movimentar a máquina judiciária, com
isenção de custas e outros benefícios, atenta contra a dignidade da justiça.
Mas isso não significa, como se disse, que se torne regra, em processos coletivos,
de o juiz fazer uma avaliação prévia das condições da entidade autora, quer seja do
ponto de vista técnico, operacional ou econômico. As condições exigidas pelo nosso
ordenamento jurídico são objetivas, bastando que a associação seja constituída há
pelo menos um ano e que tenha entre seus fins institucionais a defesa de interesses
dos consumidores ou das matérias previstas para o manejo da ação civil pública
(arts. 82, IV, do CDC e 5º, V, da Lei nº 7.347/85).
Por outro lado, a atribuição de poder ao magistrado de dizer, em todo e qual-
quer caso, quem é o legitimado para propor a ação coletiva poderia enfraquecer
o microssistema processual de defesa coletiva de interesses em juízo. Pequenas
associações ou com poucos anos de constituição, ou por qualquer outro motivo,
poderiam ser impedidas de litigar em juízo em defesa de interesses coletivos, o que
redundaria num enfraquecimento do sistema coletivo de defesa de direitos. E não
foi isso o que pretendeu o legislador brasileiro.
A tendência processual, inclusive representada com a aprovação no Congres-
so do novo CPC (Lei nº 13.105/2015), é da facilitação e da ampliação da utilização
das ações coletivas. O novo CPC influencia o minissistema de processo coletivos,
caracterizando-se por uma tendência à coletivização dos processos individuais. Por-
pressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade
essencial.”
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debate por mais que haja a ausência de um dos requisitos necessários à admissibilidade
da demanda, sendo essa uma das formas de superar o formalismo que veda todo e
qualquer acesso ao Judiciário quando os referidos requisitos não estejam totalmente
implementados. (...). Com esse princípio o que se busca é, por toda a importância
das demandas coletivas, dar seguimento às ações coletivas propostas, visando conhecer
seu mérito e toda a discussão, e não simplesmente acabar com a demanda por ausência
de algum dos requisitos necessários à sua admissibilidade, desde que não causem
prejuízo, por lógico. Isso é relevante pela natureza das demandas coletivas, já que
podem ‘salvar’ milhares de consumidores e cidadãos de incorretas cobranças ou, ainda,
de procedimentos incorretos que se passem, ou até pior, de infrações ambientais de alta
gravidade, não devendo, e muito menos podendo, serem essas demandas afastadas por
mero formalismo que poderá ser superado, visto que o mérito da questão debatida é que
será nesse caso relevante, já que a repercussão é social e atingirá, em regra, um grande
grupo determinado de pessoas ou até um grupo indeterminado. Por tudo isso é que esse
princípio apregoa a superação das formalidades desprestigiadoras, para assim buscar
levar ao Poder Público o conhecimento das mais diversas lesões que todos os dias
se dão em um meio social fragilizado e por vezes esquecido”(8).
Fica evidente, assim, em face dos princípios que regem o processo coletivo e
da importância social que as demandas coletivas adquirem, que não se deve realizar
a extinção do processo com fundamentos de ordem estritamente formais. Não é
compatível com a natureza do processo coletivo, por exemplo, extinguir a demanda
diante de uma ligeira discrepância entre as finalidades estatutárias e a natureza do
direito que se procura preservar e, muito menos, invocar-se uma “excessiva gene-
ralidade” do estatuto da associação autora.
Jr., Fredie; MOUTA, José Henrique; MAZZEI, Rodrigo [Coords.]. Tutela jurisdicional
coletiva. 2ª série. Salvador: Juspodivm, 2012. p. 173-174).
A preocupação, portanto, mesmo para aqueles que admitem em caráter excep-
cional a análise judicial da “representação adequada” da entidade autora da deman-
da coletiva, é com a “defesa satisfatória” dos interesses do grupo, para evitar que
associações sem condições técnicas e sem qualquer credibilidade possam terminar
prejudicando a defesa dos interesses coletivos. Não se deve colocar óbices mera-
mente formais à legitimação para atuação ativa em demanda coletiva, extinguindo
o processo e trazendo, com isso, consequências sociais indesejáveis. O que parte da
doutrina admite que pode ser feito, de forma excepcional, é uma análise da capaci-
dade jurídica e técnica da entidade proponente, para a defesa dos direitos tutelados.
Fernando Rubin
Advogado Sócio do Escritório de Direito Social, Especializado em Saúde do Trabalhador;
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com a
distinção da Láurea Acadêmica; Mestre em Processo Civil pela UFRGS; Professor da
Graduação e da Pós-Graduação do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter,
Laureate International Universities; Professor Colaborador da Escola Superior de
Advocacia (ESA/RS); Professor Pesquisador do Centro de Estudos Trabalhistas do Rio
Grande do Sul (IMED-Cetra); Professor Convidado de Cursos de Pós-Graduação Lato
Sensu; Membro do Centro de Estudos Avançados em Processo Civil (CEAPRO) e do
Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP); Colunista e Articulista de Revistas
Jurídicas; Parecerista.
RESUMO
O presente trabalho se propõe a apresentar os principais dispositivos do CPC/73
suprimidos do Novo CPC/2015, propondo interpretação da necessidade de manu-
tenção de muitas das concepções banidas, diante da inexistência de convincente
ratio justificadora do desaparecimento de figuras relevantes ao regular andamento
do processo judicial.
Palavras-Chave: Supressões. CPC/73. Novo CPC/2015. Lei nº 13.105/2015.
SUMÁRIO
I – Apresentação: do Rol de Supressões Encartadas pelo Novo CPC. II – Do
Efeito Translativo do Recurso de Apelação. III – Da Definição das Diferenciações
entre Prazo Peremptório e Prazo Dilatório. IV – Do Princípio da Identidade Física
do Juiz. V – Da Aplicação da Analogia, Costumes e Princípios Gerais do Direito.
VI – Referências Conclusivas. Doutrina Selecionada.
(1) RUBIN, Fernando. A preclusão na dinâmica do processo civil, de acordo com o Projeto do Novo CPC. 2.
ed. São Paulo: Atlas, 2014.
(2) RUBIN, Fernando. Efetividade versus segurança jurídica: cenários de concretização dos dois macro-
CPC”; entendemos que o estudo não teve a profundidade necessária, nem mesmo sendo examinados
com ampliação outros casos, mas mesmo assim é obra propedêutica interessante a ser consultada: Novo
CPC – sistematizado e resumido. São Paulo: Atlas, 2015.
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(4) V.g., reconsideração de decisão pelo próprio prolator no agravo, na apelação de petição inepta e, a
partir da Lei nº 11.277/06, na apelação em face de sentença que julga de plano improcedente a demanda
estritamente de direito sem citação do réu.
(5) É o que ocorre com o juízo originário, diante de recurso de apelação interposto contra a sentença
por ele prolatada, na forma determinada pelo art. 463 do Código Processual.
(6) Caso típico em que há prolação de acórdão, em face de agravo de instrumento manejado contra deci-
são interlocutória gravosa, que passa a substituir o teor desta e impede o magistrado de posteriormente
reabrir o tema na instância inferior – mas, como não poderia deixar de ser, tal vedação se estabelece
nos estritos limites da matéria objeto de recurso, não se cogitando de alteração da situação fática e/ou
probatória (como no caso das liminares).
(7) MARINONI, Tereza Cristina. Sobre o pedido de reconsideração (sucedâneo de recurso?). Revista de
ord.). Estudos em homenagem ao Prof. Galeno Lacerda. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1989. p. 177.
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(9) SARTI, Amir José Finocchiaro. Apelação: efeito devolutivo e preclusão das questões processuais.
Ajuris, n. 70, 1997, 240/249.
(10) WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Omissão judicial e embargos de declaração. São Paulo: RT, 2005. p.
189.
(11) LACERDA, Galeno. Do despacho saneador. Porto Alegre: La Salle, 1953.
(12) DENTI, Vittorio. Questioni rilevabili d’ufficio e contradittorio. Rivista de Diritto Processuale, n. 23,
1968, 217/231.
(13) MITIDIERO, Daniel. A colaboração no processo civil. São Paulo: RT, 2009.
(14) Em sentido contrário, Luis Eduardo Simardi Fernandes expõe que não se entende violada a proibição
da reformatio in pejus quando o Judiciário, ao apreciar o recurso, conhece de questão de ordem pública,
que pode ser examinada de ofício a qualquer tempo e grau de jurisdição: Embargos de declaração – efeitos
infringentes, prequestionamento e outros aspectos polêmicos. 4. ed. São Paulo: RT, 2015. p. 146.
(15) Esta solução, por nós defendida, parece ter sido muito bem captada por Vicente Greco Filho: se é
certo que há decisões irrecorríveis e que, portanto, não precluem no curso do processo, bem como de-
cisões que, por tratarem de ordem pública, podem ser sempre reexaminadas enquanto não transitar em
julgado a sentença que provoca a preclusão máxima, cabe ao recurso (da parte a ser beneficiada) manter
a decisão em condições de ser modificada: Direito processual civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1984. p.
261. v. 2.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 29
(16) ROQUE, André et al. (Org.). Novo CPC: anotado e comparado. São Paulo: Foco Jurídico, 2015. p.
180 e 264.
(17) DONIZETTI, Elpídio. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: Atlas, 2015. p. 770.
(18) Igualmente, na seara executória, até a sentença de extinção da execução, opera-se com robustez o
fenômeno, sendo inúmeros os prazos preclusivos que movem avante o feito para satisfação do crédito.
30 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(19) FERREIRA FILHO, Manoel Caetano. A preclusão no direito processual civil. Curitiba: Juruá, 1991. p. 81.
(20) Vale, ainda, para fins de reforço do entendimento, a transcrição da posição de Barrios de Angelis: “De
ahí que los impulsores del proceso sean las partes, el tribunal y la ley; que haya un impulso de parte, del
oficio y ex lege. Este último se efectúa mediante el decurso automático de los prazos, y la determinación
de las correspondientes preclusiones”: El proceso civil – Código General del Proceso. Montevidéo: IDEA,
1989. p. 224.
(21) ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. 6. ed. São Paulo: RT, 1997. v. 1. p. 454/457.
(22) É a posição compartilhada por Barbosa Moreira: “Apesar de propenso à formulação de definições,
houve por bem o Código, justamente aqui, silenciar quanto aos conceitos de ‘prazo dilatório’ e ‘prazo
peremptório’. Isso tem dificultado a sistematização da matéria e gerado perplexidades entre os intérpretes
e aplicadores da lei”: Sobre prazos peremptórios e dilatórios. In: Temas de direito processual. Segunda série.
2. ed. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 49/60. Sobre o ponto ainda interessante a manifestação de Alcides
Mendonça de Lima, que exemplifica alguns dos mais importantes prazos peremptórios: “Como o Código
não classificou os prazos dilatórios e os peremptórios em dispositivos especiais, não podem os mesmos
ser agrupados arbitrariamente, pela influência que decorre da aplicação dos arts. 181 e 182, pela índole
do prazo de recurso, o mesmo é peremptório, como a da contestação, dos embargos do devedor, etc.”:
Introdução aos recursos cíveis. 2. ed. São Paulo: RT, 1976. p. 283.
(23) THEODORO Jr., Humberto. Curso de direito processual. 38. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. v.
1. p. 220.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 31
não incorre em preclusão temporal, por exceder os prazos que lhe sejam prefixados
– daí dizer-se que recaem sobre o diretor do processo os prazos impróprios (que
são normalmente tidos como “dilatórios” ou “não peremptórios” ou, ainda, “não
preclusivos”)(24).
Pelo Novo CPC, os arts. 181 e 182 não são reeditados na íntegra, havendo tão
só disposição contida no art. 222, § 1º, da Lei nº 13.105/2015, registrando que ao
juiz é vedado reduzir prazos peremptórios sem anuência das partes. Ora, tal “novi-
dade” é absolutamente despicienda, já que se sabe que será raro cenário de acordo
das partes para reduzir prazo peremptório(25).
Por outro lado, o art. 139, VI, do Novo CPC disciplina que o juiz, como
diretor do processo, poderá prorrogar os prazos, especialmente na situação de
requerimento pela parte interessada. Ora, evidente que nem todos os prazos serão
passíveis de prorrogação, mas tão somente os prazos dilatórios(26). Os consagrados
prazos peremptórios, como de apresentar defesa e recurso, devem, a seu turno,
seguir sendo impossíveis de prorrogação pelo juízo, sob pena de restarmos sem
organização nenhuma do procedimento, limite de formalismo necessário ao qual a
preclusão se presta(27).
Portanto, segue sendo necessário distinguirmos os efeitos dos prazos peremp-
tórios e dos prazos dilatórios, que aparecem em maior número no processo e podem
ser prorrogados pelo juiz, a requerimento da parte interessada, mesmo que com
oposição da parte litigante contrária.
(24) Realmente, quanto à nomenclatura utilizada, assevera Dinamarco que “peremptório, na linguagem
do Código (art. 182) significa preclusivo (prazo próprio), e dilatório (art. 181) está por não preclusivo
(prazo impróprio)”, e diz mais: “Voltemos agora aos arts. 153 e 154 do Código italiano e veremos que
o nosso contém, nos arts. 181 e 182, dispositivos substancialmente idênticos àqueles: são suscetíveis de
alteração entre nós os prazos (não preclusivos) a que a lei chama dilatórios (lá, ordinatori) e são insus-
cetíveis os peremptórios (na Itália, perentori)”: Fundamentos do processo civil moderno. 5. ed. São Paulo:
Malheiros, 2000. v. I. p. 196.
(25) Também André Vasconcelos Roque destaca a sua “perplexidade” com relação à referência ao prazo
peremptório, nos termos do art. 222, § 1º, do Novo CPC: Teoria geral do processo – Comentários ao CPC
de 2015. São Paulo: Método, 2015. p. 696.
(26) Em outro recente escrito já havíamos alertado que seria forçoso restringir a novidade destacada no
Projeto (art. 139, VI) à fase instrutória, em que vínhamos admitindo ser o espaço devido em que se po-
deria falar irrestritamente em prazos não sujeitos à imediata preclusão (prazos dilatórios). Sim, porque
se passamos a falar no conceito de prazo fatal (peremptório), inegável reconhecer que o juiz não poderia
dilatar tal prazo, como ocorre, por exemplo, com o prazo contestacional de 15 dias – inegável medida
integrante da fase postulatória e sujeita à rígida regra preclusiva, como historicamente reconhecido pela
jurisprudência: Grandes temas do Novo CPC. Livraria do Advogado: Porto Alegre, maio/2015, p. 85-106.
(27) ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Do formalismo no processo civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2003.
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passíveis de prorrogação, salvo manifestas exceções em que o prazo deve ser com-
preendido como peremptório.
(28) PORTO, Sérgio Gilberto; PORTO, Guilherme Athayde. Lições sobre teorias do processo. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2013. p. 62.
(29) Atrelado a outros princípios inerentes à prova, mantidos pelo Novo CPC, como os seguintes men-
cionados por Bento Duarte e Zulmar de Oliveira Junior – necessidade, ampla defesa e contraditório,
unidade, oralidade, igualdade, imediação, proibição da prova ilícita, lealdade, legalidade e distribuição
do ônus da prova: Princípios do processo civil, com remissões ao projeto do novo CPC. São Paulo: Método,
2012. p. 108/109.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 33
(30) Tesoriere, na Itália, bem trabalhou os conceitos de diferenciação entre ‘técnica’ e ‘princípio’ processual:
Contributo allo studio delle preclusioni nel processo civile. Padova: CEDAM, 1983. p. 14.
(31) MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de processo
Veja-se, por outro lado, que o Novo CPC exige do magistrado ainda maior rigor
na ampla fundamentação de suas decisões, sendo reforçado o comando constitucional
contido no art. 93, IX, da CF/88, a partir especialmente da previsão do art. 489 da
Lei nº 13.105/2015 – parecendo, assim, ir na contramão deste modelo a supressão
de dispositivo processual que desenvolve formas alternativas, mas perfeitamente
aceitas, de julgamento.
Ademais, consagrada é no campo processual a aplicação do “costume” quan-
do da interpretação da prova judicial, ao tempo de prolação da sentença – juízo
de valoração probatória(33). Estamos aqui no campo das máximas de experiência,
previstas no art. 335 do CPC/73, repetido, aqui sim, no art. 375 do Novo CPC com
leve alteração(34).
Trata-se de regra de aplicação do bom senso, regra de experiência comum,
espécie de válvula de escape para o julgador considerar o conjunto probatório, ao
tempo de decidir, aplicando o que ordinariamente acontece. Regra, na parte geral
da teoria das provas, que estabelece um vínculo entre o julgador e a comunidade
em que se irá aplicar o direito.
Estabelece o art. 335 do CPC, ao regular o tópico, que em falta de normas ju-
rídicas particulares, o juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas
pela observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras da experiência
técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial.
De fato, embora o dispositivo infraconstitucional, ao tratar das máximas de
experiência, não indique com clareza se o momento oportuno de sua utilização é ao
tempo de admissão ou ao tempo de valoração da prova, hodiernamente, de acordo
com a exposição contida no parágrafo supra, parece-nos que cabe a sua aplicação ao
tempo de o julgador proferir sua decisão em cognição exauriente(35).
Seja como for, por certo então a existência da previsão da matéria no Novo
CPC ao menos em parte desqualifica a exclusão do art. 126 do Código 1973 no
novel diploma.
Por fim, entendemos que pela desqualificação ampla, da exclusão noticiada,
em razão do art. 1º da Lei nº 13.105/2015, ao prever que o processo civil será or-
denado, disciplinado e interpretado não só de acordo com base na lei, mas também
em valores e normas fundamentais estabelecidas na CF/88, o que nos faz crer que
na prática será plenamente possível ao magistrado seguir aplicando a analogia, os
(33) RUBIN, Fernando. Teoria geral da prova: do conceito de prova aos modelos de constatação da verdade.
vação do que ordinariamente acontece e, ainda, as regras de experiência técnica, ressalvado, quanto a
estas, o exame pericial”.
(35) ROSITO, Francisco. Direito probatório: as máximas de experiência em juízo. Porto Alegre: Livraria
VI – REFERÊNCIAS CONCLUSIVAS
Defendendo a entrada em vigor do novo diploma adjetivo (Lei nº 13.105/2015),
por certo não estamos de forma alguma pleiteando a sua não aplicação, ao passo em
que examinada criticamente algumas supressões realizadas.
Antes de qualquer outra coisa devemos procurar a ratio das exclusões reali-
zadas pelo novo CPC, vindo a enfrentá-las criticamente se não encontrarmos nada
convincente. Foi o que procuramos realizar, mesmo que de maneira incipiente.
Dessa forma, repetimos, não estamos pregando o inconformismo leviano e
superfialista, buscando aplicar no futuro e ad aeternum Código/73 que sabidamente
perderá a sua validade, ultrapassado o período de vacatio legis.
Estamos defendendo, isso sim, que algumas específicas disposições do Código
DOUTRINA SELECIONADA
ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Do formalismo no processo civil. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2003.
(36) O que estaria de acordo com a contemporânea linha de raciocínio processual que prevê a necessidade
de técnicas abertas e atípicas para a tutela adequada, efetiva e tempestiva de direitos, na órbita da juris-
dição do Estado Constitucional (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO,
Daniel. Novo curso de processo civil. São Paulo: RT, 2015. Teoria do processo civil. v. 1. p. 99 e ss.).
(37) MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de conhecimento. 11. ed. São Paulo:
ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. 6. ed. São Paulo: RT, 1997. v. 1.
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TESORIERE, Giovanni. Contributo allo studio delle preclusioni nel processo civile.
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THEODORO Jr., Humberto. Curso de direito processual. 38. ed. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2002. v. 1.
RESUMO
O ensaio analisa crítica e brevemente o instituto do contraditório, sob a pers-
pectiva do novo Código de Processo Civil. Partindo de uma superficial abordagem
dos ideais abraçados pela comissão encarregada da elaboração do projeto, o estudo
avança enfocando a evolução histórica do instituto e a visão atualmente destinada
a ele pela doutrina e pela jurisprudência nacionais, lançando provocações em torno
das atitudes e responsabilidades inerentes aos sujeitos do processo.
Palavras-Chave: Contraditório Colaborativo. Novo Código de Processo Civil.
Sujeitos do Processo. Deveres. Responsabilidades.
TITLE: Collaborative adversary proceeding and the posture of the parties to the
lawsuit: a necessary analysis.
ABSTRACT
This brief text critically analyzes the adversary proceeding from the perspective of
the new Code of Civil Procedure. Based on a superficial approach of the ideals adopted
by the Commission in charge of preparing the Bill, this study goes forward focusing on
the historical evolution of that provision, and the view that Brazilian jurists and courts
currently have about it, scrutinizing the inherent attitudes and responsibilities of the
parties to the lawsuit.
Keywords: Collaborative Adversary Proceeding. New Code of Civil Procedure.
Parties to the Lawsuit. Duties. Responsibilities.
SUMÁRIO
Introdução. 1 Da Evolução Histórica do Contraditório. 2 O Contraditório no
CPC/2015 e a Necessária Mudança de Mentalidade/Postura. Conclusão. Referências.
INTRODUÇÃO
Um novo Código de Processo Civil se encontra prestes a entrar em vigor no
Brasil, consagrando ideias e possibilidades até então inéditas ao sistema.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 39
(4) A título exemplificativo: Declaração Universal de Direitos Humanos, artigo 11.1; Carta Africana
dos Direitos dos Homens e dos Povos (Banjul), art. 7º, 1.c; Declaração Islâmica Universal dos Direitos
Humanos, item V, b; e Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José), artigo 8º, 1.
(5) Para considerações partidas de outro ângulo sobre a origem histórica do contraditório: SOUZA, Artur
César de. Contraditório e revelia. São Paulo: RT, 2003. p. 138-150; e WEDY, Gabriel de J. Tedesco. O
princípio do contraditório como garantia constitucional. Revista Jurídica, n. 350, 2006.
(6) A garantia do contraditório. Revista Ajuris, n. 74, 1998.
(7) GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2007.
v. 1. p. 30-33.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 41
(8) Precisamente nesse sentido: THEODORO Jr., Humberto. Processo justo e contraditório dinâmico.
Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil, n. 33, p. 7.
(9) Curso de direito constitucional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 499.
(10) De acordo com a expressão utilizada na obra Lehrbuch des Deutschen Zivilprozessrechts, de Leo Ro-
senberg. 5. ed. Munchen: Beck, 1951, traduzida para o espanhol em três volumes sob a denominação
Tratado de Derecho Procesal Civil. Buenos Aires: E.J.E.A., 1955.
(11) THEODORO Jr., Humberto. Ob. cit, p. 6.
(12) Fundamentos do processo civil moderno. São Paulo: Malheiros, 1986. p. 85-100.
(13) Sobre a “participação” do juiz no processo civil. In: GRINOVER, Ada Pellegrini (Coord). Participação
plos Rui Portanova(14), Artur César de Souza(15), Carlos Alberto Alvaro de Oliveira(16),
Daniel Mitidiero(17) e Lúcio Grassi de Gouveia(18), criando-se o ambiente ideal para a
aceitação definitiva, se não da própria teoria antes mencionada, das premissas que
serviram de base à sua elaboração.
Não há dúvida de que a potencialização ao máximo do contraditório acaba in-
centivando os direitos de influência e de debate, reforçando, com isso, a credibilidade
no Judiciário, pelo fato de imbuir nos jurisdicionados a crença de que apenas e tão
somente os argumentos submetidos previamente à discussão no curso do processo,
do qual tenham participado ativa e criticamente, foram considerados pelo Estado-
juiz como razões de decidir(19).
Afere-se, por assim dizer, maior legitimidade aos julgados, na medida em que
todos os sujeitos do processo exercem uma verdadeira “atividade cocriadora” das
decisões emanadas do Poder Judiciário(20).
Mas se esse aumento de possibilidades pode ser visto como algo positivo em
um ambiente democrático, seu uso desmedido pode representar abuso, ato ilícito
portanto (CC, art. 185), daí advindo a necessidade de que os profissionais que atuam
no cotidiano forense se engajem no compromisso de exercitar suas mais diversas
situações jurídicas processuais dentro da legalidade estrita.
(14) Princípios do processo civil. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 160-164.
(15) Contraditório e revelia. São Paulo: RT, 2003. p. 137.
(16) Do formalismo no processo civil. São Paulo: Saraiva, 2010; A garantia do contraditório In: CRUZ E
TUCCI, José Rogério (Coord.). Garantias constitucionais do processo civil. São Paulo: RT, 1999; e também
In: O juiz e o princípio do contraditório. Revista de Processo, n. 71, p. 31-37.
(17) Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo: RT, 2009. p. 137.
(18) GOUVEIA, Lúcio Grassi de. O projeto do novo Código de Processo Civil brasileiro (NCPC) e o prin-
cípio da cooperação intersubjetiva. In: DIDIER Jr., Fredie (Coord.). Projeto do novo Código de Processo
Civil. 2ª série. Salvador: Juspodivm, p. 473.
(19) MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo:
é legítima na medida em que assegura a autonomia privada e a autonomia cidadã de seus membros, pois
ambas são cooriginárias; ao mesmo tempo, porém, ela deve sua legitimidade a formas de comunicação
em que essa autonomia pode manifestar-se e comprovar-se” (Direito e democracia: entre facticidade e
validade. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. v. 2. p. 147). De acordo com esse enfoque, o
filósofo defende que o diálogo livre, desprovido de distorções ou contenções ideológicas, aberto, per-
missivo e igualitário representaria o fio condutor para a estruturação do modelo de interação social por
ele denominado de “ação comunicativa”, cuja formatação remete à ideia de complementaridade pelos
cidadãos na elaboração das normas que eles mesmos serão obrigados a cumprir (Era das transições. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. p. 162).
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 43
mesmo antes da entrada em vigor do novo CPC. Mostra disso pode ser extraída do
seguinte julgado:
“1. Mandado de segurança.
2. Cancelamento de pensão especial pelo Tribunal de Contas da União.
Ausência de comprovação da doação por instrumento jurídico adequado.
Pensão concedida há vinte anos.
3. Direito de defesa ampliado com a Constituição de 1988. Âmbito de
proteção que contempla todos os processos, judiciais ou administrativos, e não
se resume a um simples direito de manifestação do processo.
4. Direito constitucional comparado. Pretensão à tutela jurídica que en-
volve não só o direito de manifestação e de informação, mas também o direito
de ver seus argumentos contemplados pelo órgão julgador.
(...)
6. O exercício pleno do contraditório não se limita à garantia de alegação
oportuna e eficaz a respeito de fatos, mas implica a possibilidade de ser ouvido
também em matéria jurídica. Aplicação do princípio da segurança jurídica,
enquanto subprincípio do Estado de Direito.
(...)
10. Mandado de segurança deferido para determinar observância dos
princípios do contraditório e da ampla defesa (CF, art. 5º, LV).” (STF, MS
24.268/MG, Relª Minª Ellen Gracie Nothfleet, DJU 17.09.04)
(21) De
acordo com a expressão utilizada na obra Lehrbuch des Deutschen Zivilprozessrechts, de Leo Ro-
senberg. 5. ed. Munchen: Beck, 1951, traduzida para o espanhol em três volumes sob a denominação
Tratado de Derecho Procesal Civil. Buenos Aires: E.J.E.A., 1955.
44 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(22) Sobreo processo cooperativo, conferir: DIDIER Jr., Fredie. Os três modelos de direito processual:
inquisitivo, dispositivo e cooperativo. Disponível em: <http://www.academia.edu/1771108/Os_tres_mo-
delos_de_direito_processual>. Acesso em: 15, nov. 2015.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 45
que, conforme o caso, elas poderiam ser convidadas pelo órgão decisor para integrar
ou esclarecer suas respectivas alegações (art. 357, § 3º)(23).
A aceleração e a simplificação acarretadas ao procedimento parecem mesmo
incentivar a designação desse ato.
O que chama especial atenção é o fato de que, nesse ponto do procedimento,
o magistrado atua em posição relativamente simétrica às partes, pois sua atuação
se volta muito mais à orientação e à oportunização de debate e esclarecimento dos
pontos porventura duvidosos ou controversos(24).
É dizer: sua relação, nesse instante, apresentaria maior “horizontalização”
para com as partes, sem prejuízo de vir a advertir seriamente ou impor penalidades
àqueles que eventualmente se inclinem pela adoção de comportamento incoerente
com o processo colaborativo.
Longe de representar algo utópico, a criação de um ambiente harmônico pelo
órgão julgador e, sobretudo, a adoção de um comportamento leal pelas partes e seus
respectivos advogados não significariam nada mais do que a contribuição de todos
para a construção do processo colaborativo, pois, mesmo imbuídas do desejo de
fazer valer seus argumentos, estas poderiam perfeitamente compreender que uma
verdadeira comunidade de trabalho depende do posicionamento e especialmente da
reeducação comportamental de todos os seus integrantes, os quais devem assumir
posturas destinadas à obtenção do pronunciamento judicial (preferencialmente de
mérito), para que possam usufruir do fim último do Estado Democrático de Direito,
que é a ideia de os endereçados da norma poderem se considerar também como
(23) O Enunciado nº 298 do Fórum Permanente de Processualistas Civis, inclusive, é no sentido de que
“a audiência de saneamento e organização do processo em cooperação com as partes poderá ocorrer
independentemente de a causa ser complexa”.
(24) Em sentido próximo: MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos
(26) BERALDO, Maria Carolina Silveira. O comportamento dos sujeitos do processo como obstáculo à razoável
colaborem com o juízo e vice-versa, sem que suas respectivas pretensões sejam
abandonadas ou sofram qualquer espécie de concessão.
Esse novo olhar sobre a disputa, com o foco voltado para a resolução da con-
trovérsia e não necessariamente para o acolhimento de uma tese específica, parece
exigir mesmo uma “revolução cultural” preconizada, no particular, por Hermes
Zaneti Júnior(27), para quem,
“para obter-se a decisão judicial mais qualificada, será preciso uma re-
volução cultural, ao mesmo tempo abandonando-se a onisciência dos juízes
(e do legislador), admitindo-se, no mesmo passo, a insuficiência da norma a
priori para fornecer a ‘verdade’ dos fatos isoladamente para levarem à certeza
jurídica. Nestas águas, é de rigor que se discuta direito e fato, buscando-se
uma verdade provável, com alto grau de correção, dependente, justamente, do
elevado contraditório processual e do comprometimento com a decisão justa
e aderente aos problemas discutidos, demonstrando-se a racionalidade desta
‘certeza’ judicial pelo racconto do procedimento utilizado na sua construção.”
Claro que todo “aquele que de qualquer forma participa do processo deve
comportar-se de acordo com a boa-fé” (art. 5º). Portanto, a atividade probatória,
assim como toda e qualquer fase do procedimento, deverá ser desenvolvida sob a
ciência de que qualquer conduta que porventura desalinhe do dever de cooperação
será sancionada na forma da lei.
Encerrados os debates e inexistindo qualquer questão ou dúvida pendente, tal-
(27) In: O problema da verdade no processo civil: modelos de prova e de procedimento probatório. Revista
de Processo, n. 116, p. 347.
48 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
CONCLUSÃO
Sem qualquer outra pretensão que não a de suscitar a reflexão, procurou-se
demonstrar que a visão (e correspectiva aplicação) do instituto do contraditório so-
freu substancial alteração no processo civil brasileiro, abandonando-se a ideia inicial
de mera necessidade de ciência e de possibilidade de manifestação, para a assunção
de um papel essencial à estruturação do processo, pautado, sobretudo, na efetiva
participação em todas as fases do procedimento, no diálogo e na possibilidade de in-
fluência na decisão, guardando maior sintonia com o Estado Democrático de Direito.
Mas, para que se contenham abusos, talvez tenha chegado a hora de superar
velhos paradigmas e implantar novas mentalidade e postura condizentes com as
diretrizes emanadas da Constituição, com o objetivo de que o debate crítico seja a
principal ferramenta de influência do julgador, sem deixar de lado a responsabilidade
individual de cada participante do processo, em prol da construção de um ambiente
efetivamente colaborativo e democrático.
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n. 74, 1998.
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obstáculo à razoável duração do processo. São Paulo: Saraiva, 2013.
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cooperativo. Disponível em: <http://www.academia.edu/1771108/Os_tres_mo-
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(28) LUCHI, José Pedro (Coord.). Linguagem e socialidade. Vitória: Edufes, 2005. p. 179.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 49
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SOUZA, Artur César de. Contraditório e revelia. São Paulo: RT, 2003.
RESUMO
Os conflitos são inerentes às relações interpessoais, principalmente no que tange
às relações de família. Algumas famílias, quando se deparam com conflitos, conse-
guem solucioná-los de forma amigável entre si, porém, quando não se conseguem,
resta procurar as vias judiciais e, nesses casos, surgem verdadeiras batalhas que, além
de se arrastarem por longos períodos, desgastam e produzem traumas muitas vezes
irreparáveis à família. O que se vê atualmente são Varas de Família sobrecarregadas
e despreparadas para solucionar os conflitos, que são, na sua maioria, amenizados,
mas não solucionados. Nesse contexto, surge a mediação como uma alternativa para
a solução de conflitos familiares. Na primeira parte, apresenta-se o conceito que em
síntese define a mediação como um método de pacificação de conflitos, mediante o qual
um terceiro imparcial auxilia as partes através do diálogo para encontrar uma solução
que seja boa para ambas. Também é feita a distinção entre conciliação, arbitragem e
mediação. Na segunda parte, destaca-se a vantagem da aplicação da mediação nos
conflitos familiares, que crescem a cada dia junto com as novas entidades familiares
reconhecidas. Por fim, explica-se a evolução e a legislação específica da mediação,
sua situação atual, além de sua inserção no atual Código de Processo Civil, no qual
obteve maior destaque ao ser inserida como alternativa juntamente com a concilia-
ção. Conclui-se com o entendimento de que a mediação tem ganhado maior espaço
e uma nova roupagem onde se tem obtido um resultado satisfatório, porém, ainda há
um grande campo a ser alcançado, preconceitos a serem quebrados e a necessidade
de seu reconhecimento principalmente pelos operadores do Direito, que devem estar
comprometidos não só com a atuação jurídica como com a atuação social.
Palavras-Chave: Mediação. Família. Solução de Conflito.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 51
1. INTRODUÇÃO
A família sempre foi amparada pelo Estado, com uma estrutura sempre muito
bem definida, sendo formada a partir do matrimônio. Aquela formada fora do pa-
râmetro do casamento ficava à margem da sociedade e também da proteção estatal.
A sociedade mudou, mas a estrutura do Direito das Famílias nem tanto, pois em
muitos aspectos continua rígida e conservadora e, assim, muito aquém das transfor-
mações sociais. No entanto, com o surgimento de novas entidades familiares e com
o seu reconhecimento pelo Judiciário, a flexibilização dessa estrutura é inevitável,
pois a família é dinâmica e o Direito tem se desdobrado para acompanhar sua evo-
lução. A família é sempre permeada por muitos conflitos, que se diversificam com
a evolução da estrutura familiar. A lei procura atender às necessidades humanas,
52 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
mas ocorre que as mudanças são diárias e as leis não conseguem atender a todas as
necessidades solicitadas.
A sociedade continua evoluindo e exigindo do legislador uma atenção especial
aos atuais dilemas familiares, pois os conflitos são frequentes e exigem das famílias
equilíbrio e capacidade de enfrentá-los, mas ocorre que muitas famílias não conse-
guem criar soluções para seus conflitos, e esse desajuste vai parar no Judiciário. O
processo judicial passa ser o meio utilizado para disputas, rancores e ressentimentos,
essas desavenças superlotam as Varas de Família, isso estende-se por longos períodos
e os prejuízos são para a vida toda.
Se o processo judicial colocasse fim ao litígio tudo seria mais fácil, porém, o
conflito continua, pois o processo judicial não consegue resolver o verdadeiro anseio
da família envolvida. Desta forma, percebe-se a necessidade de uma intervenção de
grupo multidisciplinar, pois ainda existe uma incapacidade por parte dos operado-
res do Direito, que, na maioria das vezes, não têm um olhar sensível para as partes
envolvidas no conflito.
No Direito das Famílias é preciso compreender emoções e buscar uma solução
de fato apaziguadora do conflito. Nesse contexto surge a mediação, meio alterna-
tivo que busca soluções satisfatórias para ambas as partes, auxiliando as pessoas a
desenvolverem uma capacidade própria de resolução de conflitos, criando, assim,
uma nova forma de se relacionarem, propiciando um ambiente favorável ao desen-
volvimento afetivo, emocional e físico dos componentes da família.
A metodologia é qualitativa, baseada em obras de autores como Adolfo Braga
Neto, Cristiano Chaves de Farias, Rozane Cachapuz, dentre outros.
como fonte de todos os demais valores. Prioriza a equidade, a boa-fé, a justa causa
e demais critérios éticos” (2006, p. 25).
Todo procedimento da mediação se baseia em critérios éticos, e tais critérios
oferecem suporte para se alcançar um bom resultado. O mediador, por sua vez,
possui um código de ética que o orienta, preceitua e regula suas práticas profissio-
nais e funcionais, embora, atualmente, cada instituição ou casa constituída com a
finalidade de promover a mediação adote um código de ética próprio para zelar pela
reta conduta de seus mediadores, pois não existe um órgão máximo da mediação
que seja competente para impor a adoção de um código de ética ou mesmo para
elaborar um código único a ser observado por todos.
O código de ética tem por função compatibilizar os procedimentos e exercícios
de mediação com a moral, com a prudência, com os bons costumes e com a finalidade
social. Além disso, cabe ressaltar que o código de ética também é responsável por
permitir ao mediador fazer uma reflexão sobre suas ações e conhecer seus direitos,
deveres e a sua relação com outros profissionais e com a entidade credenciada à
realização da mediação.
A mediação se aplica a quase todo aspecto da vida humana; em tese, qualquer
conflito pode ser mediado, inclusive na esfera da Administração Pública. Sem dúvi-
da, existem situações incompatíveis com a mediação, como os casos que tratem de
filiação, adoção, poder familiar, invalidade de matrimônio, interdição, recuperação
judicial, falência, além de casos como o de uma violência física em que a vítima
está tão fragilizada que não seja mais possível qualquer contato. Em casos como
este, dentre outros, o consenso está completamente prejudicado, o que deve ser
identificado pelo mediador no caso concreto.
termo. Por fim, o art. 449 dispõe que o termo de conciliação, assinado pelas partes
e homologado pelo juiz, terá valor de sentença.
Por semelhante modo, o art. 125 do mesmo diploma processual civil estabelece
que, dentre outros, ao juiz compete velar pela rápida solução do litígio e tentar a
qualquer tempo conciliar as partes, inclusive em audiência preliminar (arts. 125, II
e IV, e 331 do CPC). Lília Maia de Morais Sales (2004, p. 38) elucida com exatidão
a diferença entre esses dois institutos: “A diferença fundamental entre a mediação
e a conciliação reside no conteúdo de cada instituto. Na conciliação, o objetivo é
o acordo, ou seja, as partes, mesmo adversárias, devem chegar a um acordo para
evitar um processo judicial. Na mediação, as partes não devem ser entendidas como
adversárias e o acordo é consequência da real comunicação entre as partes. Na
conciliação, o mediador (conciliador) sugere, interfere, aconselha. Na medição, o
mediador facilita a comunicação, sem induzir as partes ao acordo”.
A arbitragem, por sua vez, é uma forma de solução de conflitos, prevista pela
Lei nº 9.307/96, conhecida como “Lei Marco Maciel”, na qual um terceiro igualmente
neutro, especialista na matéria discutida, eleito pelas partes, com poder de emitir
decisões quanto às controvérsias, decide a controvérsia. Sua decisão tem a força
de uma sentença judicial e não admite recurso. Verifica-se, portanto, que o árbitro
emite decisões, não se tratando apenas de conduzir as partes a um acordo. O árbitro
atua com poder decisório relativamente ao mérito da demanda. Carmona (1998, p.
43) conceitua a arbitragem como “o meio alternativo de solução de controvérsias
através da intervenção de uma ou mais pessoas que recebem seus poderes de uma
convenção privada, decidindo com base nela, sem intervenção estatal, sendo a de-
cisão destinada a assumir a mesma eficácia de sentença judicial”.
Mediação e arbitragem não se confundem, pois naquela há a figura do media-
dor, que não tem poder decisório, e nesta há a figura do árbitro, que possui poder
decisório.
Enquanto outras alternativas buscam um meio-termo entre os anseios das
partes, a mediação estimula os envolvidos a buscarem uma solução em que os dois
lados saiam ganhando. Mediação não é meio-termo, mas identifica o que está por
trás das intenções e negocia com base nos interesses.
humano e se adequar aos novos moldes da justiça, pois com isso obteremos melhores
resultados nos acordos, agilidade na resolução de conflitos, além do profissional se
apresentar cada vez mais qualificado para as demandas do mercado atual.
produzidas no curso do procedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim
diverso daquele previsto por expressa deliberação das partes, em razão do dever de
sigilo, inerente às suas funções. O conciliador e o mediador, assim como os mem-
bros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos
oriundos da conciliação ou da mediação.
Admite-se a aplicação de técnicas negociais com o objetivo de proporcionar
ambiente favorável à autocomposição, e a mediação e a conciliação serão regidas
conforme a livre-autonomia dos interessados, inclusive no que diz respeito à de-
finição das regras procedimentais. Os conciliadores, os mediadores e as Câmaras
Privadas de Conciliação e Mediação serão inscritos em Cadastro Nacional e em
Cadastro de Tribunal de Justiça ou de Tribunal Regional Federal, que manterá re-
gistro de profissionais habilitados, com indicação de sua área profissional, uma vez
que preencherem o requisito da capacitação mínima, por meio de curso realizado
por entidade credenciada, conforme parâmetro curricular definido pelo Conselho
Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça.
Os conciliadores e mediadores judiciais cadastrados, se advogados, estarão im-
pedidos de exercer a advocacia nos juízos em que exerçam suas funções. O tribunal
poderá optar pela criação de quadro próprio de conciliadores e mediadores, a ser
preenchido por concurso público de provas e títulos, e as partes podem escolher, de
comum acordo, o conciliador, o mediador ou a câmara privada de conciliação e de
mediação, inclusive este poderá não ser cadastrado junto ao tribunal. Inexistindo
acordo na escolha do mediador ou conciliador, haverá distribuição entre aqueles
cadastrados no registro do tribunal, observada a respectiva formação, e sempre que
5. CONCLUSÃO
O princípio da dignidade humana consagra a importância e o valor do homem
na sociedade. O ser humano deve buscar viver em paz e em equilíbrio, porém, ao
relacionar-se, encontra conflitos quando deveria encontrar harmonia, mas nem
sempre é assim, e são nesses momentos de conflitos que o indivíduo trava suas
maiores batalhas, e essas batalhas muitas vezes são vivenciadas no meio familiar.
No primeiro atrito logo se pensa no litígio, e não se busca no diálogo uma opção
para a solução do conflito. É a partir daí que estruturas familiares são destruídas,
corações machucados, o amor dá lugar ao rancor e a união dá lugar ao individualismo,
os membros da família passam a viver em um ambiente desfavorável e inapropriado
para um bem viver.
A mediação busca, na raiz do conflito, solução para resgatar um ambiente
harmônico, onde a família possa desfrutar de paz e maturidade suficientes para re-
solverem suas questões rotineiras, onde a criança possa, se não desfrutar da presença
constante e afável dos pais, ao menos não viver em meio a brigas, ofensas, e até mesmo
agressões que lhes trazem profundas marcas que refletirão em toda a sua existência.
Se não se consegue viver em amor como antes, deve-se buscar apenas conviver.
Muitos países já abraçaram a mediação, e ela deve ser implantada nas univer-
sidades, pois antes de se aprender litigar deve se aprender a mediar. A mediação
possui um olhar menos técnico e mais humano, ela não será apenas um meio de alívio
para o Judiciário, mas um meio de resgate do ser humano e de famílias dilaceradas
e divididas. Talvez a mediação não seja a solução para os conflitos das famílias que
buscam o Judiciário, mas ela é uma opção, e ter uma opção é como encontrar uma
sombra em um dia quente de sol.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Tânia. A mediação familiar no contexto da guarda compartilhada. Mediare:
diálogos e processos decisórios. RJ, 2 de dezembro de 2008. Disponível em:
<http://www.mediare.com.br/08artigos_16mediacao_familiar.html>. Acesso
em: 12 nov. 2015.
BRAGA NETO, Adolfo. Os advogados, os conflitos e a mediação. In: OLIVEIRA,
Ângela (Coord.). Mediação – métodos de resolução de controvérsias. São Paulo:
LTr, 1999. n. 1.
BRASIL. Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015. Diário Oficial da República Federativa
do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 26 jun. 2015.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 67
RESUMO
Pela Lei nº 13.105/2015, o processo de conhecimento, disciplinado no Novo
CPC a partir do art. 318, manda aplicar a todas as causas o procedimento comum,
salvo as disposições contrárias do Código, aplicando-se este procedimento subsi-
diariamente aos procedimentos especiais e ao processo de execução. Comparando
com o atual CPC, haverá uma simplificação no processo de conhecimento, uma vez
que teremos apenas o procedimento comum e os procedimentos especiais, sendo
que o procedimento sumário não tem previsão no Novo CPC.
Palavras-Chave: Petição Inicial. Novo Código de Processo Civil. Audiência de
Conciliação ou Mediação.
SUMÁRIO
Introdução. Requisitos e Peculiaridades no Procedimento Comum. Possibi-
lidade da Emenda da Petição Inicial. Peculiaridades do Pedido Inicial. Dispensa
da Audiência de Conciliação ou Mediação. Hipóteses do Indeferimento da Petição
Inicial. Recurso Cabível contra o Indeferimento do Pedido Inicial. Improcedência
Liminar do Pedido. Conclusão.
INTRODUÇÃO
Pela Lei nº 13.105/2015, o processo de conhecimento, disciplinado no Novo
CPC a partir do art. 318, manda aplicar a todas as causas o procedimento comum,
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 69
– O juiz poderá retratar-se no prazo de cinco dias (no atual CPC o prazo é de
48h).
– Se o juiz não se retratar, mandará citar o réu para responder o recurso –
contrarrazões – art. 331, § 1º.
CONCLUSÃO
O pedido inicial no procedimento comum no Novo CPC traz alterações que
buscam maior celeridade da justiça, com o aumento de possibilidades de o juiz
indeferir a petição inicial.
São as hipóteses que tratam de demandas que contrariem a jurisprudência domi-
nante nos Tribunais, conforme as hipóteses do art. 332, e com a previsão da audiência
de conciliação e mediação, para todas as ações que versarem sobre direitos disponíveis.
Obviamente que essa maior celeridade dependerá da postura dos conciliadores
e mediadores, que deverão ser submetidos a treinamento sobre técnicas e posturas
que deverão ser adotadas, sob pena de todo o esforço do legislador, privilegiando o
trabalho de tais auxiliares da justiça, restar inoperante.
A CAUSA PETENDI DA AÇÃO RESCISÓRIA
Gisele Leite
Professora Universitária; Mestre em Direito pela UFRJ; Mestre em Filosofia pela UFF;
Doutora em Direito pela USP; Pesquisadora-Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas
Jurídicas; Professora de diversas instituições de ensino privadas; Consultora do
Instituto de Pesquisas e Administração Escolar – IPAE; Colunista e Articulista de
diversos sites e revistas jurídicas; possui o total de 18 obras jurídicas publicadas.
RESUMO
Se não existisse a ação rescisória, triunfariam as injustiças acobertadas pelo
manto da coisa julgada e pela sua eficácia preclusiva, restando imunes para o todo
sempre. Assim, reafirma-se que a rescisória corresponde a um instrumento da justiça
para que a celeridade processual harmonize-se com os valores que contribuam para
o aprimoramento das decisões judiciais.
Palavras-Chave: Ação Rescisória. Desconstituição de Sentença. Acórdão Tran-
sitado em Julgado.
No Brasil, tal remedium iuris, tendo como antecedente histórico mais próximo
o recurso de revista do velho direito lusitano, é a denominada ação rescisória, que
constitui o meio pelo qual se pede a desconstituição da sentença ou acórdão transi-
tado em julgado, com a possibilidade de rejulgamento, ato contínuo, da matéria já
apreciada, isto é, do meritum causae.
Ostenta, assim, a natureza de ação constitutiva, destinada ao pronunciamento
da anulação de ato decisório de mérito.
Em relação à causa petendi da ação rescisória e à distinção entre a quaestio iuris
e a quaestio facti, para Micheli, aquela se refere à cognição do fato normativo, e esta
se refere ao conhecimento do fato histórico. E, por isso, enquanto algumas questões
de direito podem ser apreciadas de ofício pelo órgão jurisdicional, a questão de fato
deve sempre ser alegada pelo interessado.
Os arts. 485 do CPC/73 ou 966 do CPC/2015 elencam as hipóteses que ensejam
a pretensão à rescisão. Cada uma delas corresponde a uma possível causa petendi de
ação rescisória, e, portanto, subordinam-se, em sua totalidade, ao regime reservado
às questões de fato.
Essa asserção inclui, à evidência, a violação de literal disposição de lei ou de
norma jurídica deduzida como fundamento do pedido de rescisão.
Como observa Barbosa Moreira, para averiguar se o fundamento existe e, por-
tanto, se a sentença deve ser rescindida, o órgão julgado tem de partir da análise da
lei que o autor aponta como violada e apreciar questões que, em si mesmas, à luz
do respectivo objeto, seriam classificáveis como questões de direito.
evidente que seja a dita violação, se o órgão julgador rescindir a sentença com base
nela, infringirá o art. 128 do CPC/73 (art. 141 do CPC/2015), ou seja, o fundamento
da decisão estará fora dos limites da lide.
Assevera Moacyr Lobo da Costa que a ação rescisória poderá produzir duplo
julgamento como decorrência da instauração de dois juízos, o rescindente, que
constitui o escopo princípio da demanda, e o rescisório, que são conexos, não
obstante distintos.
Aquele tem por objetivo rescindir a sentença transitada em julgado, arguido de
vício capitulado na lei como motivo de sua insubsistência. O juízo subsequente, a
seu turno, visa promover novo julgamento da causa, uma vez rescindida a decisão.
Infelizmente, nem sempre tem lugar a duplicidade de julgamento. É o caso
de rescisória contra decisão que violou a coisa julgada: o juízo rescisório não teria
cabimento. Do mesmo modo seria na hipótese de incompetência ratione materiae
do órgão prolator da decisão rescindenda.
Em tais situações, como se conclui, delineia-se impertinente o juízo rescisório,
uma vez que o fim colimado com a ação rescisória é atingido no juízo rescindente. Se o
órgão judicial não tinha competência para julgar a causa, não a tem para julgá-la de novo.
Desta forma, é imprescindível que o advogado, ao preparar a inicial da resci-
sória, tenha presente o requisito previsto no inciso I do art. 488 do CPC/73 deter-
minativo da ampliação objetiva da demanda (art. 968 do CPC/2015).
Com efeito, se for o caso, o aludido dispositivo aponta que deverá ser cumulado
ao pedido de rescisão e de novo julgamento da causa. Porém, em algumas ocasiões,
o tribunal tem competência originária para julgar a ação rescisória, contudo, não
está autorizado a reexaminar o mérito da demanda primitiva.
A análise das hipóteses legais, discriminadas no art. 485 do CPC/73, evidencia
que pelo menos em cinco delas a finalidade da ação rescisória já é atingida com o
julgamento de procedência do pedido, ou seja, com a rescisão da sentença.
É o que ocorre nos casos de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz,
impedimento ou incompetência absoluta do juiz, dolo do vencedor em prejuízo do
demandado ou conluio dos litigantes visando fraudar a lei, ofensa à coisa julgada
e descoberta de documento novo em que não há lugar para o juízo rescisório por
manifesta falta de interesse ou impossibilidade lógica, ainda que o respectivo pedido
tenha sido erroneamente cumulado ao rescindente.
Em todas essas situações, a rescisória aflora amparada em única causa petendi,
que servirá para fundamentar apenas e tão somente a pretensão do autor ao juízo
rescindente.
Por outro lado, os permissivos legais, três destes elencados no art. 485, VI,
VIII e IX (vide art. 966, VI, VII e VIII), abrem a via para o desfazimento da sentença,
possibilitando o pedido cumulado não apenas de rescisão, mas também de novo
julgamento da causa pelo mesmo órgão perante o qual a demanda foi ajuizada.
Toda vez que a rescisória se amparar em falsa prova – invalidade da confissão,
renúncia ao direito ou transação, erro de fato –, a respectiva causa de pedir emergirá
necessariamente complexa.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 75
REFERÊNCIAS
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 16. ed. São Paulo:
Atlas, 2012.
MELO, Nehemias D. de (Coord.). Novo CPC: comentado – anotado – comparado.
São Paulo: Rumo Legal, 2015.
RIZZARDO, Arnaldo. Limitações do trânsito em julgado e desconstituição da sentença.
Rio de Janeiro: Forense, 2009.
MARCO INICIAL DO PRAZO DA INELEGIBILIDADE
POR REJEIÇÃO DE CONTAS: RECONSTRUÇÃO DO
SIGNIFICADO DE “DECISÃO IRRECORRÍVEL”
RESUMO
Os direitos políticos afiguram-se, na estrutura dogmática da Constituição, como
princípios de organização do poder soberano do povo. Entrementes, embutido pela
defesa subjacente dos princípios da probidade e da moralidade administrativa, bem
como da normalidade e legitimidade do pleito, foi que a própria Constituição outorgou
cláusula de reserva legal para restrição da capacidade eleitoral passiva, pela criação pelo
legislador infraconstitucional de hipóteses de inelegibilidade. Foi assim que sobreveio
a LC nº 64/90, sofrendo suas disposições ulteriores modificações pela LC nº 135/2010
(denominada Lei da Ficha Limpa), estando lá elencada a inelegibilidade por rejeição
de contas, decorrente de decisão irrecorrível por órgão competente. A toda evidência,
a inelegibilidade por rejeição de contas decorre do fato jurídico prévio da rejeição de
contas por órgão competente, podendo este ser o Poder Legislativo no caso do exame
das contas do Chefe do Executivo ou mesmo o próprio Tribunal de Contas.
Palavras-Chave: Inelegibilidade por Rejeição de Contas. Tribunal de Contas.
Decisão Irrecorrível.
SUMÁRIO
1 Da Introdução no Ordenamento Jurídico da Inelegibilidade por Rejeição de
Contas. 2 Do Contorno Jurídico Geral em Torno da Inelegibilidade por Rejeição de
Contas. 3 Da Jurisdição Constitucional do Tribunal de Contas. 4 Da Reconstrução
do Significado de “Decisão Irrecorrível”. 5 Conclusão. Referências.
(2) Deve ser visto que na doutrina de Friedrich Muller (2003, p. 55-79) a palavra “povo” tem acepções
diversas, sendo que no texto emprega-se o conceito de povo ativo como atribuição de participação política
no Estado.
(3) Apesar de ser esse seu núcleo fundamental.
(4) Na acepção de Robert Alexy (1999, p. 67), os “direitos fundamentais são essencialmente direitos do
pela ausência de intervenção do Estado nas relações sociais, o que a faz também
ser denominada de liberdade negativa. Os direitos de primeira geração têm como
destinatário o indivíduo individualmente considerado. (...) Os direitos de primeira
geração também se preocupam com a participação na vida pública e, nesse senti-
do, também alcançam os direitos políticos. (...) Embora os direitos e garantias de
liberdade apareçam com uma conotação negativa, visando impedir que os Poderes
Públicos interfiram na vontade individual, o conceito de liberdade, próprio do
constitucionalismo, ainda possui uma dimensão positiva, com a liberdade compre-
endendo também a participação na adoção das decisões da comunidade política”.
Entrementes, o conteúdo da liberdade não somente tem natureza individual.
Como a liberdade decorre do poder de autodeterminação, a mesma se estende sob
um aspecto coletivo (ou positivo) como o direito de o indivíduo tomar parte das de-
cisões coletivas que invariavelmente irão influir na sua própria autodeterminação. É
dessa circunstância que emergem os direitos políticos.
Todavia, é indene de dúvidas que não existem direitos absolutos (nem mesmo
os fundamentais!).
Sobre a restrição de direitos fundamentais, é de se colacionar a lição de Dimitri
Dimoulis e Leonardo Martins (2007, p. 145): “(...) pode-se definir a intervenção na
área de proteção de um direito fundamental como ação ou omissão do Estado que:
a) impossibilite, em parte ou totalmente, um comportamento correspondente a um
direito fundamental (comportamento abrangido pela área de proteção do referido
direito); e b) ligue ao seu exercício uma consequência jurídica negativa mediante
uma proibição acompanhada de sanção”.
cláusulas pétreas, previstas no art. 60, § 4º, IV, da CF, insuscetíveis então de abolição
(mas não de restrição), quer seja pela ação do poder constituinte derivado, quer seja
pela atuação do legislador ordinário.
Decorre, por via de consequência, da própria CF a restrição ao sufrágio,
conforme se deflui do art. 14, § 1º, II, letra c(6), e § 2º, como também mitigação à
elegibilidade(7), pelo estabelecimento de hipóteses de inelegibilidade(8) diretamente
na norma fundamental nos §§ 4º usque 8º do art. 14, e ainda pela delegação dessa
restrição à legislação infraconstitucional (a teor do § 9º do art. 14), sendo, por fim,
restringidas ambas as dimensões dos direitos políticos pela própria suspensão destes
nas hipóteses do art. 15.
Nessa toada, a CF/88 estabelece, no seu art. 14, § 9º, que a “lei complementar
estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de
proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato con-
siderada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições
contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo
ou emprego na administração direta ou indireta”; previu, também, a Carta Magna
reserva legal qualificada de restrição ao direito político fundamental do cidadão ser
votado, pelo estabelecimento de hipóteses de inelegibilidade.
Sendo a norma em questão de eficácia limitada(9), cumpriu à LC nº 64/90 a
conformação da restrição normativa da segunda parte do art. 14, § 9º, da CF, sendo
a primeira parte da norma constitucional preenchida pela alteração introduzida pela
LC nº 135/2010, para se estabelecer, de todo modo, a inelegibilidade por rejeição de
contas no seu art. 1º, I, letra g.
cidadão de ser eleito para um cargo político. É assim impedimento de ordem pública, que visa sobretudo
à moralização e ao interesse social, amparando consequentemente a dita ordem pública. Daí a importância
que as Constituições ou as legislações eleitorais lhe atribuem por toda a parte e em diversas épocas”.
(9) Conforme restou reconhecido pelo STF quando do julgamento da ADPC 144/08.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 81
(10) Representada, por exemplo, na doutrina de Antônio Carlos Mendes (1994, p. 109-119), na qual se
faz o recorte metodológico entre elegibilidade e inelegibilidade.
(11) Em que busca o autor fazer a fusão metodológica entre a elegibilidade e a inelegibilidade, para dizer
que esta é o estado jurídico de ausência ou perda daquela (tese de que discordamos, pois na elegibilidade
a própria Constituição estabeleceu apenas condicionantes para o exercício da capacidade eleitoral pas-
siva, ficando também a cargo da legislação infraconstitucional estabelecer em conformidade normativa
os requisitos de registrabilidade, enquanto que na inelegibilidade a Constituição e a sua reserva de lei
qualificada estabeleceram hipóteses de restrição direta dos direitos fundamentais políticos, visando
proteger de todo modo interesses coletivos preponderantes).
(12) E mais, na inteligência de Soares da Costa (2013, p. 179), a inelegibilidade subdivide-se em inata
e cominada, sendo que, “quando o fato jurídico é lícito, estamos diante de uma inelegibilidade inata;
quando se trata de fato jurídico ilícito, de uma inelegibilidade cominada”.
(13) Estrutura da norma jurídica, segundo Norberto Bobbio (2005, p. 169-102).
82 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(14) Como, por exemplo, nos arts. 52, incisos I e II, e 103, inciso I, letra c, da Constituição.
(15) Nesse sentido também Pedro Roberto Decomain (2006, p. 37).
(16) Na lição de José Afonso da Silva (1990, p. 515), os princípios constitucionais sensíveis são aqueles
“que dizem respeito basicamente à organização dos poderes governamentais do Estado”, incluindo o
autor precisamente o controle administrativo externo dentre os princípios orgânicos estruturantes do
Estado.
(17) Não legislativa. Não jurisdicional. Mas, sim, tipicamente administrativa, voltada à atividade de con-
(19) Conforme decidido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Ação Direta de Inconstitucio-
nalidade 3.307.
84 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(20) Competências previstas nos incisos V, VI e VIII do art. 71 da Constituição, ao cabo que tanto no
caso de realização de auditoria/inspeção como no de fiscalização de transferências voluntárias mediante
a pactuação de ajustes administrativos em geral a imposição de penalidade, diante da constatação de
irregularidade administrativa, dar-se-á na forma da jurisdição do inciso II da norma em questão.
(21) Em nossa Lei Eleitoral Comentada (2012, p. 125) fizemos a diferenciação entre contas de gestão e
contas de governo.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 85
(22) InstituiNormas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços
da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.
(23) Na lição de Lafayete Josué Petter (2011, p. 44), orçamento é o “instrumento de que dispõe o Poder
Público (em qualquer de suas esferas de poder) para expressar, em determinado período de tempo, o seu
programa de atuação, discriminando a origem e o montante dos recursos a serem obtidos, bem como os
dispêndios a serem efetuados”.
86 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
ção constitucional do art. 71, II, da CF, ainda que quando da apresentação de suas
contas de gestão anual, para emissão prévia pela Corte de Contas na forma do art.
71, I, da Lei Fundamental. Na síntese de Adriano Soares da Costa (2013, p. 211),
“o Prefeito Municipal se submete a duplo julgamento. Um político, perante o Parla-
mento, precedido de parecer prévio e outro técnico, a cargo do Tribunal de Contas”.
Todavia, a tese não emplacou no âmbito da jurisprudência do TSE(24).
Ao nosso sentir, com razão a Corte Eleitoral, pois a jurisdição constitucional do
Tribunal de Contas disposta no art. 71, I, da Constituição, malgrado afeta ao controle
externo administrativo da conformidade (leia-se, constitucionalidade/legalidade) dos
atos de gestão do Chefe do Executivo, o parecer prévio emitido quando da análise
das contas anuais somente é de caráter auxiliar ao Legislativo(25), órgão dentro da
estrutura constitucional responsável pelo julgamento das contas do Poder Executivo.
Tanto é que seu julgamento pelo Legislativo não é vinculativo(26)-(27), sendo a
decisão do Legislativo sobre as contas anuais do Chefe do Executivo de natureza
jurídica político-administrativa (inteligência de José Nilo de Castro, 2009, p. 33),
garantindo-se, de todo modo, o exercício do contraditório e amplitude de defesa
pelo interessado (princípios finalísticos do inciso LV do art. 5º da CF)(28). Ademais,
sobre a assertiva, deve ser visto que a desconcentração de poder, pela repartição de
competências administrativas internas no âmbito dos órgãos públicos, decorre do
poder hierárquico conferido ao Chefe do Poder Executivo, estabelecendo entre esse
e a autoridade delegada relação de coordenação e subordinação, com a finalidade
subjacente de otimização da prestação do serviço público(29).
No âmbito da União, pela parte orgânica da Constituição, é certo que o Pre-
sidente da República atua administrativamente auxiliado por Ministros de Estado
(art. 84, I), sendo que as competências destes, pela autorização do art. 88, são
regramentadas pela Lei nº 7.739/89, que em seu art. 9º outorga a responsabilidade
por ordenação de despesa a esses últimos.
Segue, em linha de simetria constitucional do art. 25 da norma fundamental,
pela atenção dos princípios constitucionais sensíveis, o disciplinamento dessa mesma
desconcentração de poder no âmbito dos Estados, sendo delegados aos Secretários
de Estado a incumbência da responsabilidade por ordenação de despesa.
(24) Como quando do julgamento do Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral 15.085, Acórdão
de 21.02.2013, Rel. Min. José Antônio Dias Toffoli, Publicação: DJe data 01.04.2013.
(25) De natureza jurídica de ato administrativo, conforme indicamos em artigo: <http://jus.com.br/
artigos/33210/da-possibilidade-juridica-de-revisao-de-acordao-condenatorio-de-tribunal-de-contas>.
(26) STF, ADI 614 MC, Rel. Min. Ilmar Galvão, TP, j. em 14.10.92, DJ 18.05.2001 PP-00062 Ement Vol-
02030-01 PP-00056.
(27) Submetido a quorum qualificado para sua rejeição nos Municípios, a teor do art. 31, § 2º, da Consti-
tuição.
(28) STF, AC 2.085 MC, Rel. Min. Menezes Direito, Primeira Turma, j. 21.10.08, DJe-241 Divulg 18.12.08
(30) Observação essa também feita por Adriano Soares da Costa (2013, p. 211).
(31) Entendimento esse passível de fraude pela singela alteração na Lei Orgânica, sob a provocação do
próprio Prefeito interessado.
(32) Doutrina de José Nilo de Castro (2000, p. 26-37).
(33) Assim se pronuncia de maneira torrencial o TSE: Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral
19.051, Acórdão de 14.02.2013, Rel. Min. José Antonio Dias Toffoli, Publicação: DJe data 25.03.2013.
(34) Identificada irregularidade que resulte prejuízo ao erário, na forma do art. 47 da Lei Orgânica do
(35) Autorizada pelo olhar sistemático do art. 23 da Constituição, que prevê o compartilhamento entre
os entes políticos do Estado Federal das competências executivas relacionadas à promoção do interesse
público primário, escriturados como receita pública decorrente de transferência corrente na forma do
art. 6º, § 1º, da Lei nº 4.320/64.
(36) Nas palavras de Diógenes Gasparini (2008, p. 787), “os convênios e os consórcios não integram a
Administração Pública indireta por serem ajustes, e neles a Administração tem interesse na medida em
que por eles são prestados serviços de interesse público”.
(37) Previsto sua figura nos arts. 71, inciso VI, e 199, § 1º, da Constituição, e ainda art. 116 da Lei nº 8.666/93.
(38) Autorizada sua pactuação pelo art. 241 da Constituição, norma essa regulamentada pela Lei nº
11.107/05.
(39) Assim também registra Pedro Roberto Decomain (2006, p. 215).
(41) STF, MS 30.586, Relª Minª Cármen Lúcia, Segunda Turma, julgado em 04.11.2014, Processo Eletrônico
decisão do Tribunal de Contas que no julgamento das contas imputa multa e/ou débito é formalizada
por meio de acórdão, sendo legítima a prescrição de sistema recursal no curso da jurisdição do Tribunal
de Contas, pois, nas palavras de Jorge Ulisses Jacoby Fernandes (2009, p. 443), “as Cortes de Contas
devem encontrar no próprio desenvolvimento de atividades um modo de expurgar do julgamento o erro,
criando a possibilidade de reapreciação dos fatos, apontando os desacertos da decisão”.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 89
de decisão irrecorrível, acabando por colocar em zona cinzenta sua compreensão para
fins de eleição do marco inicial da inelegibilidade por rejeição de contas.
(44) Não como instrumento normativo do art. 59, inciso VI, da Constituição, mas como forma de exte-
riorização do ato político-administrativo emanado pelo Legislativo. Em doutrina, Diógenes Gasparini
(2008, p. 90) registra que “pelo decreto são instrumentalizados atos concretos”.
(45) Assim já decidiu o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás: TREGO, Recurso de Diplomação 36.440,
Acórdão 14.239, de 31.03.2014, Rel. Marcelo Arantes de Melo Borges, Publicação: DJ – Diário de justiça,
Tomo 060, Data 03.04.2014, p. 4/5.
(46) Princípio segundo o qual a existência dos recursos se subordina à expressa previsão legal (ASSIS,
2007, p. 78).
(47) Malgrado ser possível, em atenção aos princípios constitucionais do art. 37 da Lei Fundamental,
no controle da legalidade de seus próprios atos, o exercício do poder de autotutela (bem delineado na
Súmula nº 473 do STF), para modificação da decisão de rejeição de contas pelo Poder Legislativo, ainda
que de ofício. Nessa esteira se pronunciou o TRE do Estado de Pernambuco: Recurso Eleitoral 3.218,
Acórdão de 23.08.2012, Rel. Virgínio Marques Carneiro Leão, Publicação: PSESS – Publicado em Sessão,
Data 23.08.2012.
(48) Na lição de Adriano Soares da Costa (2013, p. 183), “a inelegibilidade cominada é sempre efeito
de um fato jurídico ilícito, decretada por decisão judicial de eficácia preponderantemente constitutiva
negativa”.
90 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(49) Sobreos efeitos anexos da sentença, que na necessidade de completude do ordenamento jurídico
pode se estender para aqui na jurisdição constitucional do Tribunal de Contas, Rafael Calmon Rangel
(2014, p. 148) indica que são “consequências previstas unicamente em lei, que decorrem da prolatação
de sentença como verdadeiros reflexos automáticos, simplesmente por existir como ato estatal, dos quais
ela opera como elemento de suporte fático”.
(50) Exatamente este é o pensamento de Jorge Ulisses Jacoby Fernandes (2009, p. 490).
(52) De mais a mais, por argumentação, o conceito de coisa julgada administrativa elencado por Diógenis
Gasparini (2008, p. 540) como “quando inexiste, no âmbito administrativo, possibilidade de reforma
da decisão”, deve, na observação de Jorge Ulisses Jacoby Fernandes (2009, p. 466-467), ser visto com
reservas, já que pelo poder de autotutela, em atenção ao princípio da legalidade esculpido no art. 37
da Constituição, bem como pela possibilidade de revisão da decisão do Tribunal de Contas pelo Poder
Judiciário ante a cláusula de inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, inciso XXXV, da Constituição), pos-
sível é a modificação da decisão do Tribunal de Contas, ainda que exauridos os recursos cabíveis no seu
trâmite administrativo.
(53) Seguindo em linha simétrica essa posição a jurisprudência do colendo Tribunal Superior Eleitoral:
Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral 10.402, Acórdão de 08.11.2012, Relª Minª Fátima
Nancy Andrighi, Publicação: PSESS – Publicado em Sessão, Data 08.11.2012.
(54) Em sentido oposto, José Jairo Gomes (2010, p. 170) defende que decisão irrecorrível é a “decisão
final, irretratável, da qual não caiba mais recurso visando sua modificação”.
(55) É exatamente essa a orientação estratificada e torrencial do TSE: Recurso Especial Eleitoral 1.108.395,
Acórdão de 20.10.2011, Rel. Min. Arnaldo Versiani Leite Soares, Publicação: DJE – Tomo 209, Data
04.11.2011, p. 21.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 93
5. CONCLUSÃO
Os direitos políticos afiguram-se, na estrutura dogmática da Constituição,
como princípios de organização do poder soberano do povo, sendo o âmbito de
conformação normativa de seu conteúdo realizado pelo direito de votar (capacidade
eleitoral ativa) e de ser votado (capacidade eleitoral passiva), previstos no art. 14
da Lei Maior.
Entrementes, embutido pela defesa subjacente dos princípios da probidade e
moralidade administrativa, bem como da normalidade e legitimidade do pleito, foi
que a própria Constituição, em seu art. 14, § 9º, outorgou cláusula de reserva legal
para restrição da capacidade eleitoral passiva, pela criação pelo legislador infracons-
titucional de hipóteses de inelegibilidade.
Foi assim que sobreveio a LC nº 64/90, sofrendo suas disposições ulteriores
modificações pela LC nº 135/2010 (denominada Lei da Ficha Limpa), estando lá
elencada a inelegibilidade por rejeição de contas, decorrente de decisão irrecorrível
por órgão competente. Na trilha da inevitável trajetória entre o direito como fonte
e a norma como produto da atividade interpretativa, foi que para a reconstrução
do significado de decisão irrecorrível foi percorrida a jurisdição constitucional do
(56) Assim
deliberou o TSE: Recurso Especial Eleitoral 5.163, Acórdão de 21.03.2013, Rel. Min. Marco
Aurélio Mendes de Farias Mello, Publicação: DJE – Tomo 099, Data 28.05.2013, p. 37.
94 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
por órgão competente. Isso quer dizer que não é a Justiça Eleitoral, nesse caso, o
órgão competente para a constituição da inelegibilidade.
Por isso é que compete à Justiça Eleitoral, na fase do processo eleitoral em
sentido amplo(57), quando do registro de candidaturas, consoante discriminação
do art. 10 da Lei nº 9.504/97, fazer essa aferição, sendo o conteúdo de sua decisão
eminentemente declaratório(58).
De mais a mais, a mera rejeição de contas não constitui, por si só, a hipótese
de inelegibilidade contida no art. 1º, I, letra g, da LC nº 64/90, cumprindo à Justiça
Eleitoral, quando do registro de candidatura, identificar todos seus requisitos cumu-
lativos(59) a partir da própria decisão de rejeição de contas, definindo, de todo modo,
também o espaço de tempo da não realização da capacidade eleitoral passiva, sendo
a fixação da restrição do direito fundamental (direitos políticos), de modo temporá-
rio, o ponto de harmonização proporcional do limite do limite para sua mitigação.
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ccivil_03/leis/L4320.htm>. Acesso em: 20 jun. 2015.
(57) Sobre as fases do processo eleitoral em sentido latu, indicamos (2013, p. 42-43) que a mesmas se
iniciam com o alistamento eleitoral, finalizando-se com a diplomação dos eleitos, perpassando, ao pró-
ximo início de tudo, ao registro de candidatos.
(58) Nesse sentido é a doutrina de Adriano Soares da Costa (2013, p. 212) e de José Jairo Gomes (2010,
p. 246).
(59) Na lição de Marino Pazzaglini Filho (2014, p. 37), são requisitos cumulativos da inelegibilidade por
rejeição de contas: “1. Rejeição de contas por irregularidade que constitua vício insanável; 2. Vício insa-
nável que configura ato doloso de improbidade administrativa; 3. Irrecorribilidade da decisão proferida
pelo órgão competente; e 4. Inexistência de provimento que anule ou suspenda a inelegibilidade”.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 95
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RESUMO
Este artigo busca um breve estudo sobre a possibilidade de aplicação do ins-
tituto da indignidade, constante no Código Civil brasileiro, aos casos de violência
sexual. Isso porque hoje nossa sociedade se encontra carente de preceitos morais
e éticos, o que enseja a prática de atos indignos. Assim, buscam-se meios para que
seja aplicado o instituto da indignidade por analogia a casos que não estão descri-
tos no art. 1.814 do CC, mas que também são indignos. É sabido que o que causa
indignidade é a prática de atos gravíssimos contra o autor da herança ou contra
pessoa próxima a ele pelo fato de que a indignidade está fundada em valores morais
e éticos relevantes, supondo uma relação de afeto, solidariedade e consideração
entre o autor da herança e o sucessor. Há de se reconhecer, entretanto, que não
teve o legislador como prever até aonde iria a imaginação – ou a crueldade – do
ser humano, prevendo todas as hipóteses possíveis, de modo que não se pode fazer
uma leitura seca da lei, sob pena de cometer injustiças. A violência física ou sexual
contra as mulheres é alarmante. Trata-se de um problema mundial em que não há
distinção de classes sociais, etnias, religiões. Perdem-se mais anos de vida saudável
com incapacidade gerada do que com doenças graves como câncer de mama ou do
colo de útero. Pacientes que sobrevivem aos traumas físicos ou psicológicos gerados
por tais violências não merecem ser chamadas de vítimas, e sim de sobreviventes. A
lei, ao permitir o afastamento do indigno, faz um juízo de reprovação, em função da
gravidade dos atos praticados. É moral e lógico que quem pratica atos de desdoura
contra quem vai lhe transmitir uma herança torna-se indigno de recebê-la. Vale
lembrar aqui dos princípios gerais do direito, da analogia e dos costumes, conforme
preceitua o art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, e de que
na aplicação da lei o juiz deve atender aos fins sociais a que a norma se destina para
que esta cumpra sua verdadeira função social e atenda às exigências do bem comum,
coibindo práticas ilícitas. Neste caso, então, vale salientar a validade da aplicação
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 99
analógica do referido dispositivo legal, que trata dos casos de indignidade de modo
a ampliar sua aplicabilidade para que a justiça prevaleça.
Palavras-Chave: Violência Sexual. Indignidade. Violência de Gênero. Analogia.
Código Civil Brasileiro.
SUMÁRIO
1 Introdução. 2 Um Breve Histórico sobre Violência de Gênero. 3 A Violência
Sexual na Legislação Penal. 4 A Indignidade no Código Civil Brasileiro; 4.1 Princí-
pios que Permeiam o Instituto da Indignidade; 4.2 O Instituto da Indignidade; 4.3
100 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
1. INTRODUÇÃO
A violência física ou sexual contra as mulheres é alarmante. Trata-se de um
problema mundial em que não há distinção de classes sociais, etnias e religiões.
Perdem-se mais anos de vida saudável com incapacidade gerada do que com doenças
graves como câncer de mama ou de colo do útero. Dentre as diversas causas estão:
o reconhecimento social do poder do homem sobre a mulher(1); o condicionamen-
to da mulher a atos de mando, agressões e violências(2); e sua relação aos atos de
prostituição, uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas, gravidez indesejada, aborto,
suicídio, etc. Pacientes que sobrevivem aos traumas físicos ou psicológicos gerados
por tais violências não merecem ser chamadas de vítimas, e sim de sobreviventes,
segundo o médico Jefferson Drezett, um dos maiores estudiosos brasileiros nesta
área (apud RENNÓ Jr., 2010).
Em 2011, o Ministério da Saúde reconheceu a violência sexual como questão
de saúde pública e ainda apontou que uma em cada quatro mulheres no mundo é
vítima de violência de gênero com perda de um ano de vida potencialmente sau-
dável a cada cinco anos(3). No Brasil, 70% dos crimes contra a mulher acontecem
no ambiente doméstico e são praticados, na sua maioria, pelos parceiros íntimos(4).
É necessário enfrentar essa problemática nos âmbitos públicos da segurança,
do direito e da saúde, pois a violência sexual provoca uma gama variada de conse-
quências nas suas vítimas(5). A violência contra a mulher é o retrato da desigualdade
de gênero existente no país, que determina papéis, posições e deveres diferentes do
feminino e do masculino(6).
(1) OLIVEIRA, Celin Camilo de; FONSECA, Rosa Maria Godoy Serpa da. Práticas dos profissionais das
equipes de saúde da família voltadas para as mulheres em situação de violência sexual. Revista da Escola
de Enfermagem da USP, v. 41, n. 4, p. 605-612, 2007.
(2) REIS, J. N. dos et al. Mulheres vítimas de violência sexual: meios coercitivos e produção de lesões
Gimenez. Aspectos psicológicos de mulheres que sofrem violência sexual. Pontifícia Universidade Cató-
lica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo/SP, Brasil, 2013. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.
recli.2013.03.002>. Acesso em: 8 out. 2015.
(4) MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência
sexual contra mulheres e adolescentes: norma técnica. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
(5) VILLELA, W.; LAGO, T. Conquistas e desafios no atendimento das mulheres que sofreram violência
sexual. Caderno de Saúde Pública, v. 23, 2007, p. 471-475. Disponível em: <doi.org/10.1590/S0102-
311X2007000200025>.
(6) DINIZ, D. Fórum violência sexual e saúde. Posfácio Caderno de Saúde Pública, v. 23, 2007, p. 477-478.
(7)
VIGARELLO, Georges. História do estupro: violência sexual nos séculos XVI-XX. Trad. Lucy Magalhães.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 103.
102 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(8) O conceito de violência conjugal é frequentemente usado como fenômeno de violência doméstica ou
violência contra a mulher, por esse tipo de violência ocorrer predominantemente no espaço doméstico e
ser praticado pelo homem (AZEVEDO, 1985; GREGORI, 1993; SAFFIOTI, 2002). Segundo estatísticas,
em 95% dos casos o homem é o agressor e a mulher, a vítima. Neste trabalho, vamos adotar o conceito de
violência de gênero utilizado por Saffioti e Almeida (1995), como uma categoria mais ampla para entender
a dinâmica da violência, que ocorre no âmbito da conjugalidade, entendida aqui como relações afetivas
sexuais-estáveis. Sabemos que a violência de gênero é um fenômeno multicausal, no qual se articulam
as categorias de gênero, classe, raça/etnia, mas, para o propósito deste texto, vamos operar um recorte de
análise priorizando duas categorias centrais – dominação masculina e ordem patriarcal – como fatores
preponderantes na compreensão da violência de gênero.
(9) FÉRES-CARNEIRO, Terezinha. Família & casal: arranjos e demandas contemporâneas. Rio de Janeiro:
(11) <http://www.tjrs.jus.br/site_php/jprud2/ementa.php>.
(12) <http://www.tjrs.jus.br/site_php/jprud3/ementa.php>.
104 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
Daí o fato de que até 1995 o estuprador que casasse com a sua vítima teria a
sua punibilidade extinta. Observa-se claramente a aplicação no que se refere aos
costumes, pois naquele tempo (quando da lei em vigor) a preocupação era com a
desonra da mulher, era com o fato de ter sido aflorada e não “conseguir arranjar
marido”, o que não faz sentido algum para a nossa atual sociedade(13).
Com o advento da Lei nº 12.015, de 2009, que promoveu diversas modifica-
ções no instituto, dentre elas o disposto no título, modificando de “crimes contra
a honra para crimes contra a dignidade sexual”, podemos observar que o nome
do título trazia a ideia de bons costumes, mais ligado à ofensa da honra, e não de
dignidade, como foi introduzido pela Lei nº 12.015/09. Dessa forma, com o novo
diploma legal, houve uma maior preocupação do legislador pela dignidade sexual;
houve uma maior repulsa pelo delito cometido, ao passo que nos crimes contra os
costumes ficava a critério da vítima ou do meio social ao qual pertencia classificá-
los contra os costumes.
Vale ressaltar que no antigo art. 213 do CPB(14), alterado pela Lei nº 12.015, de
2009 , o núcleo do tipo se consubstanciava no verbo constranger mulher a con-
(15)
(13) OLIVEIRA, Guizela de Jesus. Estupro antes e depois da Lei 12.015, de 2009. 2009. Disponível em:
<http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=3296>. Acesso em: 7 out. 2015.
(14) “Art. 213. (...) Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça:
a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015,
de 2009)
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.”
(16) OLIVEIRA, Guizela de Jesus. Estupro antes e depois da Lei 12.015, de 2009. 2009. Disponível em:
(18) DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6. p. 50.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 105
ceder, o excluído perde-a, como pena civil, pela prática de certos atos determinados
pela lei, como danosos à vida, à honra ou à liberdade de testar do autor da herança(19).
Pelo prestígio à dignidade da pessoa humana, princípio maior da Constituição
Federal, elementar razão de ordem ética, quem desrespeita a dignidade do outro
merece ser punido. Quando a afronta se dá entre pessoas que têm vínculo familiar
e afetivo tão estreito, a ponto de ser um herdeiro do outro, a forma encontrada pela
lei para inibir tais ações é de natureza patrimonial. Merece ser alijado da sucessão
o herdeiro que age contra a vida ou a honra do autor da herança ou comete atos
ofensivos contra os membros de sua família. Também se sujeita à mesma penalidade
se obstaculiza a manifestação de vontade do testador(20).
A legislação, ao permitir o afastamento do herdeiro indigno, nada mais faz do
que um juízo de ponderação desaprovando a conduta praticada, levando em consi-
deração sua negativa intensidade(21). Nos moldes hodiernos da sociedade brasileira,
é possível perceber a emergência de fatos individuais e coletivos que revelam uma
dialética em diversos setores sociais, inclusive exigindo a regência normativa im-
prescindível do Direito para legitimar e manter a paz social(22).
Sob esse enfoque, conflui um conjunto de valores morais e princípios jurídi-
cos referentes à pessoa humana que são de observância obrigatória no momento de
subsunção desses fatos às normas jurídicas legais, de tal maneira que formam um
alicerce fundamental para a aplicação do direito, tendo em vista a conservação e o
respeito aos bens jurídicos e humanos(23).
(19) CATEB, Salomão de Araújo. Direito das sucessões. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 57.
(20) DIAS, Maria Berenice. Manual das sucessões. São Paulo: RT, 2008. p. 288.
(21) MARCELINO, Maíra Marques. O instituto da indignidade no ordenamento jurídico brasileiro e as alte-
rações previstas em projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional. Monografia apresentada ao Curso
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(22) SOUSA, Robson Soares. Um enfoque sócio-jurídico sobre o princípio da indignidade. Âmbito Jurídico,
(24) LEITE, Gisele. Esclarecimentos sobre exclusão do direito sucessório por indignidade. 2009. Disponível
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106 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(25) VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito das sucessões. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009. v. 7.
p. 52-53.
(26) MORAES, Fernanda Cristina Rodrigues de. Aplicabilidade da indignidade por analogia. Portal Jurídico
precedentes para a perpetuação desses casos nos arranjos familiares. Isto ocorre
devido ao atual estágio em que se encontra nossa sociedade, pobre e escassa em
preceitos morais, éticos e valores como a solidariedade, fraternidade, respeito ao
próximo, dentre vários outros valores que poderiam aqui ser enumerados.
(27) PORDEUS, Jussara. Indignidade por analogia. 2014. Disponível em: <http://jussarapordeus.blogspot.
com.br/2014/08/indignidade-por-analogia.html>. Acesso em: 8 out. 2015.
(28) MORAES, Fernanda Cristina Rodrigues de. Aplicabilidade da indignidade por analogia. Portal Jurídico
Gimenez. Aspectos psicológicos de mulheres que sofrem violência sexual. Pontifícia Universidade Cató-
lica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo/SP, Brasil, 2013. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.
recli.2013.03.002>. Acesso em: 8 out. 2015.
(31) MATTAR, R. et al. Assistência multiprofissional à vítima de violência sexual: a experiência da Uni-
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(32) DREZETT, Jefferson. Aspectos biopsicossociais da violência sexual. Jornal da Rede Feminista de Saúde,
versidade Federal de São Paulo. Caderno de Saúde Pública, v. 23, 2007, p. 459-464. Disponível em: <doi.
org/10.1590/S0102-311X2007000200023>.
(34) EARLY, E. The raven’s return: the influence of psychological trauma on individuals and culture. Wil-
(35) EARLY,E. The raven’s return: the influence of psychological trauma on individuals and culture. ����
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mette: Chiron Publications, 1993.
(36) LEVINE, P. A. O despertar do tigre: curando o trauma. 4. ed. São Paulo: Summus, 1999.
(37) CHOUDARY, E.; COBEN, J. H.; BOSSARTE, R. M. Gender and time differences in the associations between
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(38) CHEN, L. P. et al. Sexual abuse and lifetime diagnosis of psychiatric disorders: systematic review
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(39) PERILLOUX, C.; DUNTLEY, J. D.; BUSS, D. M. The costs of rape. Arch Sex Behav, 41, 2012. p. 1.099-
1.106.
110 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após este breve estudo sobre a aplicação por analogia do instituto da indignida-
de, bem como sobre as graves consequências de uma violência sexual, como um grave
problema social, foi possível observar que, mesmo com todo o processo evolutivo
sofrido pela legislação, principalmente na seara penal, há que se designar atenção
especial às questões desse instituto que muito deixa a desejar. Não contemplam de
forma efetiva os princípios do direito pátrio e o interesse social, cujos objetivos são
inerentes à própria função do direito.
De tal modo, hoje o instituto da indignidade pode e deve ser aplicado em casos
de violência sexual, pois não seria moral e ético no direito o estímulo a esse ato de
violência para o recebimento de benefícios contratuais simplesmente pelo fato de
que os casos de indignidade não poderiam ser aplicados, por analogia, em relação
ao que está definido no art. 1.814 do Código Civil.
Vale lembrar aqui dos princípios gerais do direito, da analogia e dos costumes,
conforme preceitua o art. 4º da LICC(40), e de que na aplicação da lei o juiz deve
atender aos fins sociais a que a norma se destina para que esta cumpra sua verda-
deira função social e atenda às exigências do bem comum, coibindo práticas ilícitas
repudiadas moral e eticamente.
Nada obsta a aplicabilidade do instituto da indignidade por analogia, pois esta,
apesar de ser uma penalidade, não possuiu natureza jurídica penal, não tendo que
se falar no ramo de direito civil do respeito à tipicidade, que é inerente e própria do
ramo de direito penal, que decorre do princípio da reserva legal absoluta (art. 5º,
XXXIX, da CF/88). Entretanto, é sabido que há posicionamento diverso que entende
que não pode ser aplicado o instituto da indignidade por analogia(41).
Neste caso, então, vale salientar a validade da aplicação analógica do referido
dispositivo legal, que trata dos casos de indignidade de modo a ampliar sua apli-
cabilidade para que a justiça prevaleça. A indignidade é um instituto previsto no
ordenamento jurídico brasileiro e sua função é disciplinar as questões que envolvem
a ética e a moral na sucessão, uma vez que, ao se punir os herdeiros ou legatários
que cometeram os atos ofensivos previstos em lei contra o autor da herança ou de
seus familiares com a exclusão da sucessão, faz-se valer a lógica jurídica no que tange
ao respeito às relações de parentesco que, por si só, pressupõem o vínculo afetivo e
solidário entre o autor da herança e o herdeiro(42).
(40) Lei
nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
“Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.”
(41) MORAES, Fernanda Cristina Rodrigues de. Aplicabilidade da indignidade por analogia. Portal Jurídico
rações previstas em projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional. Monografia apresentada ao Curso
de Graduação de Direito. Universidade Católica de Brasília, 2012. Disponível em: <http://repositorio.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 111
A sociedade demanda ações que coíbam práticas ilícitas e imorais que na maio-
ria das vezes já estão positivados em nosso ordenamento jurídico, faltando apenas
que os instrumentos já existentes sejam postos em prática, como o da aplicação
analógica da lei, dentre outros instrumentos que buscam a realização e promoção
da justiça social(43). Por fim, é necessário analisarmos a possibilidade de aplicação
deste dispositivo legal por analogia para que se possa ter a finalidade social como
escopo a prevalecer a justiça.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RESUMO
O objetivo deste artigo foi discorrer sobre a utilização das técnicas de repro-
dução assistida heteróloga em uniões homoafetivas e a possibilidade da adoção dos
procedimentos de reprodução assistida pelos casais homoafetivos com ênfase na
utilização do útero sub-rogado, a fim de concretizar o desejo de ter filhos. Abordou-
se, ainda, os critérios utilizados para a autorização de realização do procedimento
e suas respectivas implicações. A união homoafetiva, caracterizada como entidade
familiar, faz jus à tutela jurídica, devendo, assim, ter seu direito à filiação também
resguardado. A ausência de regulamentação do tema pelo ordenamento jurídico
brasileiro gera inúmeras controvérsias, pois encontra-se regulamentado atualmente
somente pelo Conselho Federal de Medicina por meio da Resolução nº 2.116/2015.
Concluiu-se que, ao julgar um caso concreto, o magistrado deve observar os prin-
cípios constitucionais que garantem a dignidade da pessoa humana e o direito à
liberdade e à igualdade visando à justa composição da lide. Inclusive, ressalta-se a
importância de garantir também aos casais homoafetivos a facilitação do registro civil
da criança advinda de um procedimento de reprodução assistida que na atualidade
encontra diversos entraves práticos.
Palavras-Chave: Reprodução Humana Assistida. Uniões Homoafetivas. Útero
Sub-Rogado e Dignidade da Pessoa Humana.
SUMÁRIO
1 Considerações Iniciais. 2 Reprodução Humana Assistida; 2.1 Reprodução
Assistida Homóloga; 2.2 Reprodução Assistida Heteróloga; 2.3 Fertilização In Vitro.
3 União Homoafetiva; 3.1 Conceito; 3.2 Reconhecimento da União Homoafetiva
como Entidade Familiar; 3.3 Princípios Constitucionais. 4 Reprodução Humana
Assistida Heteróloga em Uniões Homoafetivas; 4.1 Sobre a Gestação de Substituição;
4.2 Sub-Rogação do Útero em Uniões Homoafetivas. 5 Registro Civil da Criança –
Homoparentalidade; 5.1 Registro Civil. 6 Considerações Finais. Referências.
que, por diversos motivos, não conseguem de modo natural procriar. Ressalta-se a
ausência de normatização referente a esses procedimentos e faz-se uma análise da
portaria do Conselho Federal de Medicina que atualmente regulamenta o assunto.
A seguir, conceitua-se a união homoafetiva discorrendo sobre seu reconhecimento
como entidade familiar e os princípios constitucionais que lhe garantem a tutela
constitucional. No quarto capítulo, discute-se a utilização das técnicas de reprodução
humana assistida por casais homoafetivos e suas implicações jurídicas revelando que
o tão sonhado desejo de procriar é possível também para esses casais. Neste capítulo
aborda-se com maior ênfase a adoção da técnica de reprodução assistida heteróloga
por casais homoafetivos masculinos, analisando a possibilidade da utilização do
útero de substituição de modo a concretizar o tão desejado sonho de ter filhos. No
último capítulo, trata-se do registro civil da criança advinda da utilização de técni-
cas de reprodução assistida e da homoparentalidade, assunto de grande destaque
atualmente no Judiciário.
A reprodução humana assistida em uniões homoafetivas é uma temática
envolta em controvérsias na sociedade contemporânea, motivo pelo qual o Poder
Judiciário frequentemente é acionado no intuito de dirimir os conflitos existentes, o
que confere ao tema grande relevância. Além do mais, o fato de não haver legislação
que regulamente a temática causa ainda mais discussões não somente no cenário
jurídico, mas também no meio social.
A utilização do útero de sub-rogação como meio de possibilitar aos casais ho-
moafetivos masculinos a concretização do desejo de ter filhos se torna um assunto
ainda mais controverso, inclusive no tocante à realização do registro civil da criança
advinda das técnicas de reprodução humana assistida.
Este trabalho foi desenvolvido com um estudo qualitativo de cunho biblio-
gráfico, que tornou possível compreender de que forma se dão procedimentos de
reprodução assistida em uniões homoafetivas, vislumbrando a possibilidade do uso
de um útero de substituição. Para que o referencial teórico transcorresse de forma
positiva e que o desafio proposto se transformasse em aprendizado, houve a neces-
sidade ampla de leitura de livros, revistas e artigos, não obstante a incansável análise
de jurisprudência. O contato com a doutrina existente no que tange ao objeto ora
em estudo foi de grande importância para o conhecimento e o aprendizado sobre o
tema. Foram utilizados autores como Maria Berenice Dias (2013), Silvia da Cunha
Fernandes (2003), Paulo Lôbo (2010), Sílvio de Salvo Venosa (2014), Arnaldo
Rizzardo (2009), entre outros.
3. UNIÃO HOMOAFETIVA
A união homoafetiva, por tratar-se de opção sexual que diverge da tradicional, é
marcada pelo preconceito e considerada por muitos como anormal, fora dos padrões
morais. Apesar de estarem sempre presentes na história da humanidade, as men-
cionadas uniões nunca foram reconhecidas pelo direito (CARVALHO, 2011, p. 7).
É indiscutível a existência da união homoafetiva na sociedade contemporâ-
nea, sendo o assunto discutido abertamente, o que gera reflexos consideráveis no
ordenamento jurídico brasileiro. O direito, que é o instrumento capaz de disciplinar
a convivência comum, deve acompanhar as transformações na família de modo a
alcançar seu objetivo, regrando a vida em sociedade.
no original) (ADI 4.277, Rel. Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, j. 05.05.2011,
DJe-198 Divulg 13.10.2011 Public 14.10.2011 Ement Vol-02607-03 PP-00341
RTJ Vol-00219- PP-00212) (BRASIL, STF, 2011)
Inclusive, insta relatar que a Lei Maria da Penha, Lei nº 11.340/06, em seu art.
2º, ampliou o conceito de família, abarcando neste as uniões homoafetivas. Conforme
menciona Leonardo Barreto Moreira Alves, “a entidade familiar ultrapassa os limites
da previsão jurídica para abarcar todo e qualquer agrupamento de pessoas em que
permeie o elemento afeto” (apud DIAS, 2013, p. 216). Alves ensina ainda que, “no
momento em que as uniões de pessoas do mesmo sexo estão tuteladas na lei de
combate à violência doméstica, isso significa que são reconhecidas como uma famí-
lia, encontrando-se sob a égide do direito das famílias” (apud DIAS, 2013, p. 216).
A ausência de lei que regulamente as uniões homoafetivas não é impedimento
para sua existência, até por que a Constituição em momento algum veda o relacio-
namento entre pessoas do mesmo sexo. Desta forma, preenchidos os requisitos de
afetividade, estabilidade e ostensibilidade e tiverem a finalidade de constituição de
família, as uniões homoafetivas devem ser reconhecidas como entidades familiares
constitucionalmente protegidas (LÔBO, 2010, p. 84). A união entre duas pessoas
do mesmo sexo é, sim, merecedora de proteção pelo direito das famílias, sendo con-
siderada entidade familiar. Segundo o princípio da igualdade formal, vale lembrar
que os casais homoafetivos são iguais aos heteroafetivos perante a lei, devendo ter
resguardados os seus direitos (CARVALHO, 2011, p. 07).
tuição” descrita no item b “não existe relação biológica entre a mulher que deseja
o filho e a criança”, somente parentesco biológico da criança com o pai solicitante.
Já no terceiro caso, descrito no item c, a relação entre o casal solicitante e a criança
seria apenas afetiva, tendo em vista não haver entre eles qualquer relação biológica
(ARAÚJO; CABRAL, 2013, p. 48-49).
A autora Josiane Jung Martins descreve a técnica nas seguintes palavras:
“Nesta técnica requer-se a presença de uma terceira pessoa na relação
para assegurar a gestação quando o útero materno não desenvolve normal-
mente o óvulo fecundado ou quando a gravidez pode apresentar risco para
a mãe genética. Para a realização da gravidez por substituição, é necessária a
utilização de inseminação artificial e fecundação in vitro, que fecundam o óvulo
da mãe biológica (ou até mesma da mãe substituta) com o espermatozoide do
pai biológico (que também pode ser doador anônimo), eliminando, assim, a
necessidade do ato sexual. As possíveis causas necessárias para adotar a técnica
da mãe de substituição são: infertilidade vinculada a uma ausência (congênita
ou adquirida) de útero, uma patologia uterina de qualquer tratamento cirúrgico
ou contraindicações médicas a uma eventual gravidez. Não importa a causa,
uma anomalia de nascença ou a consequência de um problema grave descoberto
na idade adulta que provocou o ‘problema’ no útero, a sanção para a mulher é
severa: absoluta impossibilidade de levar a termo uma gestação.” (2008, p. 14)
Vale recordar que o útero de substituição deve ser utilizado “como recurso
derradeiro, quando todos os demais tratamentos disponíveis tenham se tornado
inócuos para a solução daquele caso de esterilidade” (FERNANDES, 2003, p. 100).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo analisou a utilização do útero sub-rogado pelos casais ho-
moafetivos, que se valem das técnicas de reprodução humana assistida como forma
de realizar o desejo de ter filhos, abordando, inclusive, a necessidade da facilitação
do registro civil da criança advinda dessas técnicas de reprodução assistida. Este
estudo foi de grande relevância jurídica, pois constatou-se que o direito à filiação
também deve ser garantido aos casais homoafetivos que, como entidades familiares,
também fazem jus à tutela jurídica, não devendo ser afastados do mundo do direito.
A inseminação artificial homóloga ocorre quando se utiliza gametas de pessoas
diretamente envolvidas na concepção, ou seja, o material genético utilizado para
o procedimento pertence ao casal solicitante. Já a inseminação artificial heteróloga
ocorre quando o gameta utilizado para inseminação é de uma terceira pessoa que
não o casal solicitante, podendo, inclusive, ser utilizado material genético de duas
pessoas estranhas aos futuros pais.
A utilização do útero sub-rogado consiste em um acordo, no qual a mãe de
substituição gera a criança e quando esta nasce é entregue ao casal solicitante. No
que se refere a sua utilização pelos casais homoafetivos masculinos, esta se apresenta
como uma solução à infertilidade natural existente. Vale ressaltar que tal proce-
dimento, atualmente, deve observar algumas restrições previstas na resolução do
CFM que regulamenta o assunto. É vedada a exploração comercial do útero e deve
o operador do direito, sempre que se deparar com um caso concreto, observar os
princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e os direitos à liberdade
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Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 137
RESUMO
Pretende-se neste trabalho, partindo dos conceitos de justiça de transição,
direito à verdade e à memória, analisar os modernos princípios do processo coletivo
para concluir se é cabível ou não a alteração de nomes de logradouros públicos que
homenageiam membros da ditadura militar acusados de atos contrários aos direitos
humanos através de ações coletivas.
Palavras-Chave: Ação Coletiva. Logradouros Públicos. Alteração de Nome.
Ditadura Militar.
TITLE: Admissibility of class actions for the change of names of public highways
that pay tribute to representatives of the military dictatorship.
ABSTRACT
Based on the concepts of transitional justice and the right to truth and memory,
this article aims at analyzing modern principles of class procedure to find whether the
change of names of public highways that pay tribute to members of the military dicta-
torship who have been accused of acts contrary to the human rights by means of class
actions is admissible.
Keywords: Class Action. Public Highways. Name Change. Military Dictatorship.
SUMÁRIO
Introdução. 1 Justiça de Transição e o Direito à Memória e à Verdade; 1.1
Justiça de Transição e a Busca da Verdade; 1.2 Direito à Memória e à Verdade. 2
Nomes de Logradouros Públicos; 2.1 Simbologia Presente na Definição de Nomes
de Logradouros Públicos; 2.2 Programa Nacional de Direitos Humanos e Comis-
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 139
INTRODUÇÃO
Os principais objetivos de qualquer justiça de transição são a busca pela verdade
e o esclarecimento dos atos atentatórios aos direitos humanos cometidos durante
um período de exceção. Esta busca, além de possibilitar a responsabilização dos
agentes, possui o caráter pedagógico de educar as gerações posteriores numa cultura
democrática e de respeito aos direitos humanos.
As políticas de memória utilizam, dentre outros elementos, o estabelecimento de
espaços que simbolizam e evocam a luta de resistência contra os regimes autoritários.
Uma das práticas mais frequentes destes espaços de memória é a alteração de nomes
de logradouros públicos que homenageiam figuras ligadas aos regimes ditatoriais.
Embora não haja consenso sobre a utilização deste recurso, há recomendação
expressa para sua utilização em nosso país no 3º Programa Nacional de Direitos
Humanos do Governo Federal, de 2009, tendo constado também como recomen-
dação da Comissão Nacional da Verdade, cujo relatório final foi publicado em 2014,
como medida simbólica de rompimento com o passado autoritário e estabelecimento
claro que, caso isso ocorra, a ausência da apropriação dessa experiência social poderá
ser fatal para aqueles que deverão enfrentar esses desafios” (PADRÓS, 2012, p. 80).
A necessidade de amplo conhecimento dos fatos passados, principalmente
aqueles que ocorreram durante períodos autoritários, é unanimidade entre os re-
presentantes das ciências humanas e sociais para que as atuais gerações passem a
conferir maior valor para as instituições democráticas e criem maior consciência
sobre a importância do respeito aos direitos humanos.
Esta busca pela verdade costuma ser desenvolvida através de “políticas de me-
mória”, cujo conceito é abordado por Alexandra Barahona de Brito: “Pode-se definir a
política de memória de duas maneiras. De forma restrita, consiste de políticas para a
verdade e para a justiça (memória oficial ou pública); vista mais amplamente, é sobre
como a sociedade interpreta e apropria o passado, em uma tentativa de moldar o seu
futuro (memória social). Memória social é a criação de ‘comunidades imaginadas’
e a construção de uma ordem moral. As ‘políticas de memória’ sociais e culturais
são parte integral do processo de construção de várias identidades coletivas sociais
e políticas, que definem o modo como diferentes grupos sociais veem a política e
os objetivos que desejam alcançar no futuro. A memória é uma luta sobre o poder
e sobre quem decide o futuro, já que aquilo que as sociedades lembram e esquecem
determina suas opções futuras” (2009, p. 72).
Detalhando melhor o conceito de políticas de memória e relacionando-o com
atitudes práticas voltadas para familiares de desaparecidos políticos e demais vítimas
de regimes ditatoriais, que ainda sentem os efeitos das graves violações de direitos
humanos, Rogério Gesta Leal entende que “a memória aqui opera como condição
de possibilidade à superação destes problemas, compreendendo contextualmente
o ocorrido, já que as feridas se dão em determinado marco histórico. A par disto,
estratégias e políticas de memória usam de recursos locais e mecanismos de enfren-
tamento destas questões, associados a programas com estratégias de reconstrução
identitária e democrática dos vínculos societais. Dentre as ações possíveis, pode-se
destacar: 1) reconstrução do âmbito social e cultural, com a utilização de ativida-
des artesanais, artísticas, educativas, promoção de grupos de autoajuda, grupos de
apoio, etc.; 2) apoio individual e familiar centrado no trabalho em grupo, terapia
individual e familiar, abrindo espaços para que as pessoas possam compartilhar
suas experiências, o que pode ser útil para romper o silêncio; 3) treinamento de
pessoas locais em capacidades de apoio psicossocial para encarar e tratar o impacto
traumático, com apoio e seguimento institucional; 4) grupos de autoajuda, forma-
dos por sobreviventes de conflitos violentos e por familiares dos que morreram ou
desapareceram, gerando espaços seguros e amistosos em que pode haver o compar-
tilhamento de experiências; e 5) importância das formas simbólicas de expressão
do reconhecimento do ocorrido, como cerimônias e rituais, evidenciando ícones
sociais que mantenham vivas as lições dolorosas do passado (memoriais, parques,
placas nas ruas, celebração de aniversários, etc.)” (2012, p. 59).
Historiadores destacam na construção destas políticas de memória a simbologia
presente nos espaços de memória, como no trecho a seguir de Enrique Padrós: “Os
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 143
(1)
STRECK, Lenio Luiz. À guisa de apresentação. O processo constitucional no novo paradigma do
Estado Democrático de Direito. In: Processo constitucional, 2014, p. 12.
150 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
surge uma faculdade para o cidadão e um dever de agir para os servidores públicos
e magistrados.
Para Reale(4), os princípios são verdades fundantes de um sistema de conheci-
mentos evidentes ou comprovados. Para Bonavides(5), possuem uma função indutiva.
O texto legal é uma elaboração linguística da norma, mas a definição, o alcance, a
aplicação e o significado/sentido são definidos pelo julgador. Nesse sentido, tam-
bém se mostra equivocada a r. sentença ao deixar de considerar a revalorização do
direito constitucional e a normatização dos princípios que deixaram de ser apenas
subsídios de julgamento.
Para demonstrarmos o equívoco na r. decisão que extinguiu o processo sem
julgamento de mérito, adotamos os princípios constitucionais do processo coletivo
e os seus conceitos apresentados por Alvim, Thamay e Granado: “devido processo
legal coletivo, acesso à justiça, universalidade da jurisdição, participação da ação,
impulso oficial, economia, instrumentalidade das formas, primazia do conhecimen-
to do mérito, indisponibilidade da demanda coletiva, do microssistema, reparação
integral do dano, não taxatividade e do ativismo judicial” (ALVIM; THAMAY; GRA-
NADO, 2014, p. 357-379).
O princípio do devido processo legal constitucional deve ser entendido como
“devido processo social”, desburocratizante, que mitiga o formalismo desvalorativo e
garante a efetividade do processo. Pelo princípio do acesso à justiça e da universaliza-
ção da jurisdição permite-se que todo cidadão e demais pessoas legitimadas possam
ter acesso à justiça, que as teses jurídicas possam ser analisadas pelo Judiciário para
obtenção da pacificação social, já que nos processos coletivos as soluções atingem o
direito da coletividade. Por força do princípio de participação, o exercício da ação se
dá pelos legitimados que representam os sujeitos do direito, e os resultados positivos
alcançados nas ações coletivas se estendem à coletividade/cidadãos. O princípio da
ação permite que qualquer legitimado ingresse com uma ação e que esta também se
desenvolva pelo princípio do impulso oficial. O princípio da economia tem como
finalidade evitar o desgaste de tempo e de recurso para o deslinde das ações, com
permissão para reunião de processos nos casos de conexão e continência ou encer-
ramento em caso de litispendência e coisa julgada.
Inegável a finalidade do princípio da instrumentalidade das formas, pois, de
acordo com ele, privilegia-se a finalidade do ato em detrimento da sua forma, ou
seja, busca-se a utilização e o aproveitamento dos atos ainda que realizados de for-
ma distinta, mas que podem ser aproveitados ante a ausência de prejuízo, já que se
busca a solução da lide. Dele decorre o princípio da primazia do conhecimento do
mérito do processo coletivo, no qual se busca o julgamento da questão de fundo,
a matéria discutida, mesmo que ausente algum requisito de admissibilidade da
demanda. A questão discutida nas ações coletivas tem repercussão social, portanto,
deve-se privilegiar o julgamento de mérito. Esses princípios se interligam com o
(4) REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 305.
(5) BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 271 e ss.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 153
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ausente. Nota-se que para não julgar o mérito da lide o magistrado fundamentou
se tratar de matéria “política” e de legitimidade do Poder Legislativo; contudo,
deixou de observar que toda sentença é política por trazer em si a possibilidade de
pacificação social e que hodiernamente, ante a existência do princípio do ativismo
judicial, o mérito da ação deveria ser julgado mesmo que se estivesse diante de
uma omissão legislativa. Ao deixar de sentenciar o mérito, o juiz agiu, conforme
Dinamarco (2004, p. 233-234), como “Pilatos”, deixou as coisas acontecerem sem
nada fazer e foi um juiz não ativo.
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ditadura-ainda-e-homenageada-nas-ruas.html>. Acesso em: 12 jun. 2015.
RESUMO
O objetivo do presente artigo é compreender o alcance das sanções previstas na
Portaria RFB nº 1.265/2015, notadamente para investigar se a normativa da Receita
Federal é um compilado da legislação vigente ou se, ao contrário, suas previsões
revelam restrições de direitos sem a necessária correspondência legal. Em nosso
entendimento, as disposições previstas na Portaria estão eivadas de graves incons-
titucionalidades e ilegalidades, na medida em que estabelecem um conjunto de
restrições à livre-iniciativa empresarial, cuja constitucionalidade já seria discutível
se introduzidas pela via legal, quanto mais por meio de portaria.
Palavras-Chave: Portaria RFB nº 1.265/2015. Programas de Parcelamento.
Cobrança Administrativa. Exclusão do Simples Nacional.
SUMÁRIO
1 Introdução. 2 A Portaria RFB nº 1.265/2015; A) Exclusão de Programas de
Parcelamento (Incisos II, III e IV); B) Exclusão do Simples Nacional (Inciso V); C)
Encaminhamento ao Ministério Público de Representação Fiscal para Fins Penais
por Crime de Sonegação Fiscal (Incisos VI e VII); D) Arrolamento de Bens (Inciso
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 159
1. INTRODUÇÃO
É sabido que o Brasil atravessa um cenário político-econômico desfavorável.
As estimativas oficiais apontam um diagnóstico econômico preocupante de esta-
gflação, desemprego, perda de confiança do investidor e do consumidor e déficits
nas contas públicas.
Nesse contexto, o Governo Federal vem promovendo um conjunto de reformas
destinadas a reequilibrar as contas públicas, tanto por meio da redução de despesas
como pelas iniciativas que geram novas fontes de receitas. Exemplos não faltam.
Dentre as iniciativas tendentes a aumentar as receitas federais destacam-se a
majoração da CSLL para instituições financeiras (MP nº 675/2015), o restabelecimen-
to do PIS/Cofins sobre receitas financeiras (Decreto nº 8.426/2015), o aumento da
tributação de IR sobre os juros sobre capital próprio (MP nº 694/2015), o aumento
do IR sobre ganho de capital auferido por pessoa física na alienação de bens e direitos
(MP nº 692/2015) e a volta da CPMF (PEC nº 140/2015).
Por sua vez, as políticas anunciadas pelo Governo para contenção de despesas
envolvem corte de ministérios e cargos comissionados, redução de investimentos
em saúde e educação, suspensão de concursos públicos, adiamento de reajuste aos
servidores públicos e mitigação de direitos trabalhistas (como o seguro-desemprego
(1) Conforme o seu art. 1º, o objetivo do sistema é “aprimorar os procedimentos de recuperação de
créditos tributários (CT) e, consequentemente, promover o aumento e a sustentação da arrecadação dos
tributos federais”.
160 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(2)
Para alguns, a Portaria introduz no ordenamento jurídico graves restrições à livre-iniciativa das
empresas à margem da lei, razão pela qual seu teor está eivado de inconstitucionalidade.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 161
(3) Há, ainda, aquela prevista no inciso XXIV, aplicável somente para as entidades desportivas profissionais
de futebol (cf. arts. 4º e 18 da Lei nº 13.155/2015).
162 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(4) Sem prejuízo de outras igualmente relevantes para setores específicos, como é o caso dos incisos
XXII, XIII e XXIV.
(5) Há, inclusive, diversos entendimentos sumulados do Tribunal Supremo sobre o tema: Súmula nº 70:
“É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança de tributo”; Súmula
nº 323: “É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos”
e Súmula nº 547: “Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas,
despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais”.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 163
(6) Além do limite de faturamento anual, não se admite o benefício, por exemplo, àquelas pessoas jurídicas
de cujo capital participe outra pessoa jurídica, que tenham filial fora do país ou que sejam constituídas
sob a forma de sociedade anônima (art. 3º, § 4º).
(7) Prática de infrações como falta de comunicação de exclusão obrigatória, embaraço à fiscalização,
declara todos os fatos geradores à repartição fazendária, de acordo com a periodicidade exigida em lei,
mas não paga o tributo, não comete crime, mas mero inadimplemento. O crime contra a ordem tributária
pressupõe, além do inadimplemento, alguma forma de fraude, que, na espécie, consubstanciou-se em
omissão de receitas na declaração de renda firmada pelo agravante.” (AgRg no REsp 1.158.834/ES, Relª
Minª Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, j. 19.02.2013, DJe 01.03.2013)
164 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
Ocorre, no entanto, que a legislação penal estabelece como regra geral que a
prática de “crime” depende da comprovação de dolo do autor (art. 15, parágrafo
único, do Decreto-Lei nº 2.848/1940)(9), e dolo jamais se presume: a sua ocorrência
deve ser objeto de prova inequívoca por parte da autoridade fiscal.
Nesse contexto, não basta que o autor pratique o fato jurídico descrito no tipo
penal: para que a conduta seja objeto da sanção penal, é de rigor a verificação da
culpabilidade (dolo, má-fé) do agente. Tão somente se restar demonstrada a inten-
ção fraudulenta do agente é que se poderá imputar o crime de sonegação fiscal. É
justamente no elemento subjetivo da conduta que se diferencia o inadimplemento
da sonegação.
A prevalecer a letra da Portaria, está-se a presumir o dolo do contribuinte!
Exatamente o oposto da garantia constitucional prevista no art. 5º, LVII.
Nesse contexto, resta claro que a Portaria inova na ordem jurídica, presumindo
a má-fé do contribuinte em débito com a Receita Federal ao equiparar o inadimple-
mento à sonegação fiscal.
(9)
“Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão
quando o pratica dolosamente”.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 165
3. CONCLUSÃO
A Portaria RFB nº 1.265/2015 trouxe um conjunto de sanções destinadas a
“aprimorar os procedimentos de recuperação de créditos tributários” federais.
Não obstante algumas das medidas propostas de fato encontrarem correspon-
(10) REsp 1.041.237/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª S., j. 28.10.09, DJe 19.11.09; REsp 839.116/BA, Rel. Min.
Luiz Fux, 1ª T., j. 21.08.08, DJe 01.10.08; e REsp 859.119/SP, Relª Minª Eliana Calmon, 2ª T., j. 06.05.08,
DJe 20.05.08.
(11) ADI 173, Rel. Min. Joaquim Barbosa, TP, j. 25.09.08, publ. 20.03.09.
166 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(12) Disponível
em: <http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/09/1678754-os-ovos-de-ouro-e-os-
impostos.shtml>.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
MANIFESTAÇÃO
Trata-se de recurso extraordinário fundado nas letras a e c do permissivo consti-
tucional interposto contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o qual
aplicou precedente de seu Órgão Especial (Incidente 5001195-22.2011.404.7203/
SC) em que este reconhecia a constitucionalidade do parágrafo único do art. 2º
da Lei nº 6.994/82, ao argumento de que, em se tratando de taxa, o princípio da
legalidade tributária deve ser flexibilizado, ‘sendo suficiente para seu atendimento
que a lei formal indique o seu valor máximo, como feito pelas Leis ns. 6.994, de
1982 (art. 2º, parágrafo único), e 12.514, de 2011 (art. 11), com o que se propicia
seja ele mais adequadamente quantificado pelo órgão regulamentar competente,
baseado em estudos técnicos, atendendo-se melhor aos princípios constitucionais
da proporcionalidade e da capacidade contributiva.
O acórdão restou assim ementado:
“TRIBUTÁRIO. TAXA PARA EMISSÃO DE ANOTAÇÃO DE RESPON-
SABILIDADE TÉCNICA. LEI Nº 6.994/82. CONSTITUCIONALIDADE.
É válida a exigência da taxa para expedição da Anotação de Responsabi-
lidade Técnica, a partir da Lei nº 6.994/82, até o valor de 5 MVR.”
168 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
PRONUNCIAMENTO
“TAXA DE ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA. LEI Nº
6.994/82. LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DECLARADA NA ORIGEM.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA.”
1. O Gabinete prestou as seguintes informações:
“Eis a síntese do que discutido no Recurso Extraordinário 838.284, da
relatoria do Ministro Dias Toffoli, inserido no sistema eletrônico da repercussão
geral em 12 de junho de 2015.
A Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região negou
provimento à apelação cível interposta por empresa de engenharia, mantendo
a decisão mediante a qual se acolheu parcialmente os pedidos formulados na
inicial, para condenar o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia –
CREA/SC a restituir os valores indevidamente cobrados, a partir de 24 de maio
de 2008, a título de Taxa de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), a
ser apurado em liquidação de sentença. Assentou mostrar-se legítima a cobran-
ça do tributo, após a edição da Lei nº 6.994/82, limitada ao valor de 5 MVRs,
máximo, como feito pelas Leis ns. 6.994, de 1982 (art. 2º, parágrafo único), e
12.514, de 2011 (art. 11), com o que se propicia seja ele mais adequadamente
quantificado pelo órgão regulamentar competente, baseado em estudos técni-
cos, atendendo-se melhor aos princípios constitucionais da proporcionalidade
e da capacidade contributiva.
O acórdão restou assim ementado:
‘TRIBUTÁRIO. TAXA PARA EMISSÃO DE ANOTAÇÃO DE RESPONSA-
BILIDADE TÉCNICA. LEI Nº 6.994/82. CONSTITUCIONALIDADE.
É válida a exigência da taxa para expedição da Anotação de Responsabi-
lidade Técnica, a partir da Lei nº 6.994/82, até o valor de 5 MVR.’
O recorrente alega afronta ao art. 150, I, da Constituição e divergência
com a jurisprudência da Corte. Sustenta que o Tribunal Regional, ao reco-
nhecer a constitucionalidade do art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 6.994/82,
entendendo, por decorrência, pela validade da exigência da taxa de ART desde
1982, desde que limitadas a 5 MRV até 31.12.2011, data da edição da Lei nº
12.514, quando o limite passou a ser de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais),
acabou por ferir o princípio da legalidade, pois referida lei teria delegado aos
conselhos a competência para fixar os valores da taxa, mantendo, dessa forma,
os mesmos vícios da Lei nº 6.496/77, já declarada inconstitucional por este
Supremo Tribunal Federal nos autos do RE 748.445/SC, com repercussão geral
reconhecida, de relatoria do Ministro Ricardo Lewandowski.
Se, por um lado, o princípio da legalidade não pode ser ignorado – pelo
contrário, é ele indispensável –, de outro é de se colocar a discussão sobre o tipo
e o grau de legalidade que satisfazem a exigência do art. 150, ����������������
I, �������������
da Constitui-
ção, como fez o órgão especial do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Ou
seja, é de se analisar se o princípio da legalidade é absoluto, ou se o legislador
tributário poderia se valer, em determinadas hipóteses, de cláusulas gerais e
de conceitos indeterminados.
De outro giro, nos autos do RE 704.292, de minha relatoria, com reper-
cussão geral reconhecida, e da ADI 3.408, também de minha relatoria, o tema
da cobrança de anuidades pelos conselhos de categorias profissionais, à luz
do princípio da legalidade, será amplamente debatido, o que torna prudente a
inclusão do presente recurso extraordinário no Plenário Virtual, para o reco-
nhecimento ou não da repercussão geral do tema constitucional e seu eventual
julgamento conjunto no Plenário físico da Corte, considerando-se, inclusive,
a decisão do órgão especial do Tribunal regional.
Diante do exposto, manifesto-me pela existência de matéria constitucional
e pela repercussão geral do tema, submetendo o caso à apreciação dos demais
Ministros da Corte.
Brasília, 9 de junho de 2015.
Ministro Dias Toffoli – Relator’”
2. A controvérsia, a envolver preceitos constitucionais alusivos aos tributos, é
passível de repetir-se em inúmeras situações jurídicas. O fato reclama a manifestação
do Supremo, guarda maior da Constituição Federal.
3. Pronuncio-me no sentido de encontrar-se configurada a repercussão geral.
4. A assessoria, para acompanhar a tramitação do incidente, inclusive quanto a
processos que, versando a mesma matéria, estejam aguardando exame no gabinete.
5. Publiquem.
Brasília – residência –, 28 de junho de 2015, às 18h15min.
Ministro Marco Aurélio
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência da Ministra Rosa Weber, na
conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, em negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 4 de agosto de 2015.
Ministro Luís Roberto Barroso – Relator
RELATÓRIO
O Senhor Ministro Luís Roberto Barroso (Relator):
174 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
VOTO
O Senhor Ministro Luís Roberto Barroso (Relator):
1. O recurso não deve ser provido, tendo em vista que a parte recorrente não
trouxe novos argumentos suficientes para modificar a decisão ora agravada. Nessas
condições, deve-se manter pelos seus próprios fundamentos a decisão recorrida,
assim transcrita:
“(...)
Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão da Sexta
Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
assim ementado:
‘Dano moral. Lei de Imprensa. Deserção. Inocorrência. Falta de depósito
integral da condenação. Art. 57, § 6º, da Lei nº 5.250/67 não recepcionado
pela CF de 1988.
Legitimidade passiva ad causam. Solidariedade entre o entrevistado e a
empresa que veiculou a reportagem considerada ofensiva. Súmula nº 221/STJ.
Imunidade parlamentar. Inviolabilidade relativa. Não se reconhece a imu-
nidade material dos vereadores quando as manifestações não estão inseridas
no âmbito específico e restrito ao exercício da vereança. Inexistência de nexo
etiológico entre o fato e o exercício do mandato político.
Condenação em salário mínimo. Não se reconhece afronta ao art. 7º,
IV, da CF ante a condenação em salário mínimo, porque este foi estabelecido
apenas como critério de cálculo e não como fator de atualização.
Litigância de má-fé. Preclusão. Inocorrência. O dano processual é medida
de ordem pública, não possui natureza reparatória civil.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 175
(...)’
No caso de que se trata, está correta a decisão proferida pelo Tribunal de
origem ao assentar o dever de indenizar, tendo em vista que não há correlação
entre a declaração do parlamentar e as atividades vinculadas ao seu cargo
político.’ Vejam-se trechos do voto condutor do acórdão recorrido:
‘(...)
O programa radiofônico A Voz do Povo veiculou entrevista dos vereadores
Gilsenson e Salomão, onde são tecidas duras críticas à conduta profissional
do autor, tendo-o como açougueiro, na medida em que tratava seus pacientes
como animais, dentre outras imputações.
(...)
Nesse passo, cumpre frisar que a imunidade parlamentar dos vereadores
não representa uma inviolabilidade absoluta e, portanto, não afasta o direito
do cidadão comum de acioná-los pelas ofensas que lhe causaram prejuízo,
mormente considerando-se que os vereadores a inexistência de nexo etiológico
entre o fato e o exercício do mandato político.
(...)’
Nessa linha, veja-se a ementa do RE 606.451 AgR-segundo, Rel. Min.
Luiz Fux:
‘(...)
1. A imunidade parlamentar material, que confere inviolabilidade, nas
esferas civil e penal, a opiniões, palavras e votos manifestados pelo congressista
(CF, art. 53, caput), incide de forma absoluta quanto às declarações proferidas
no recinto do Parlamento.
2. Os atos praticados em local distinto escapam à proteção absoluta da
imunidade, que abarca apenas manifestações que guardem pertinência, por um
nexo de causalidade, com o desempenho das funções do mandato parlamentar.
(...)’
Ademais, a parte recorrente limita-se a postular uma nova apreciação
dos fatos e do material probatório constante dos autos (Súmula nº 279/STF),
procedimento inviável em recurso extraordinário.
Diante do exposto, com base nos arts. 557, caput, do CPC e 21, § 1º, do
RI/STF, nego seguimento ao recurso.
(...).”
2. Diante do exposto, nego provimento ao agravo regimental.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima indica-
das, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na
conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro João Otávio de Noronha (Relator):
Trata-se de agravo regimental interposto por Laboratório Sabin de Analise
Clínicas S.A. contra decisão que conheceu do agravo e deu-lhe provimento, a fim
de afastar a desconsideração da personalidade jurídica da parte agravada.
Em suas razões, a parte agravante alega que a decisão agravada violou o disposto
nas Súmulas ns. 7 e 435 do STJ ao rever a posição do Tribunal de origem acerca da
desconsideração da personalidade jurídica da empresa agravada.
Pleiteia a reforma da decisão.
A impugnação ao agravo regimental foi ofertada por Finance Business e Serviços
Ltda. e outros às fls. 245-247 (e-STJ).
É o relatório.
178 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro João Otávio de Noronha (Relator):
O recurso não merece prosperar.
A decisão agravada não violou as Súmulas ns. 7 e 435 do STJ, visto que levou
em consideração exclusivamente os fundamentos do acórdão recorrido.
Observa-se que o Tribunal de origem desconsiderou a personalidade jurídica
da empresa agravada, tomando por base a presunção de dissolução irregular, já que
esta deixara de funcionar no domicílio fiscal e não possuía bens suficientes para
saldar o débito exequendo. Confira-se trecho do acórdão:
“O agravante-exequente, por sua vez, requereu a realização de pesquisas
por meio do Bacen Jud, do Rena Jud, do ERIDF (Sistema de Registro de Imóveis
Eletrônico) e do Info Jud (fl. 85), que resultaram no bloqueio de R$ 920,25
(fl. 74 e verso), quantia insuficiente para a quitação do débito exequendo.
Nesse contexto, apesar de a sociedade empresarial ter personalidade
jurídica distinta da dos seus sócios, esses devem responder pelas obrigações
sociais, quando a empresa for dissolvida irregularmente, não deixando endereço
nem bens para saldar os débitos, o que caracteriza o abuso da personalidade
jurídica.” (e-STJ, fl. 137)
Ademais, o acórdão recorrido, ao citar a sentença de primeiro grau, registra que
houve mera alteração do endereço da empresa executada e que não foram demons-
trados indícios suficientes de fraude ou má-fé dos sócios, que foram presumidos
ante a errônea aplicação da Súmula nº 435/STJ.
Portanto, a decisão agravada está em consonância com a jurisprudência do STJ
de que a mera dissolução irregular ou insolvência da pessoa jurídica, sem maiores
considerações acerca da peculiaridade do caso, não são motivos suficientes, por si
sós, a ensejar a sua desconsideração, diante da excepcionalidade do art. 50 do CC.
Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados:
“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. ART. 50 DO CC/02.
ABUSO DA PERSONALIDADE. DESVIO DE FINALIDADE OU CONFUSÃO
PATRIMONIAL. REQUISITOS. ENCERRAMENTO IRREGULAR DA SOCIE-
DADE. INSUFICIÊNCIA.
1. A desconsideração da personalidade jurídica é medida excepcional e
está subordinada à comprovação do abuso da personalidade jurídica, caracte-
rizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial.
2. ‘O encerramento das atividades ou dissolução, ainda que irregulares, da
sociedade não são causas, por si sós, para a desconsideração da personalidade
jurídica, nos termos do Código Civil’ (EREsp 1.306.553/SC, Relª Minª Maria
Isabel Gallotti, Segunda Seção, j. 10.12.2014, DJe 12.12.2014).
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 179
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
egrégia Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar
provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs.
Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva (Presidente), Marco Aurélio Bellizze e Moura
Ribeiro votaram com o Sr. Ministro-Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro João Otávio de Noronha.
Brasília, 1º de outubro de 2015 (Data de Julgamento).
Ministro Paulo de Tarso Sanseverino – Relator
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 181
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino (Relator):
Trata-se de agravo regimental interposto por Companhia Geral de Melhora-
mentos em Pernambuco contra a decisão deste Relator, que deu parcial provimento
ao seu recurso especial, cuja ementa está assim redigida:
“RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE
TRÂNSITO. DANO MORAL E MATERIAL POR MORTE. PENSÃO. TERMO
FINAL. PRESCRIÇÃO.
1. Prescrição. Inocorrência. Suspensão. Aplicação do art. 200 do CCB.
2. Acidente de trânsito. Responsabilidade por fato de terceiro. Emprega-
do da ré condenado criminalmente por homicídio culposo. Responsabilidade
objetiva da empregadora. Arts. 932 e 933 do CCB.
3. Pretensão de rediscussão dos pressupostos da responsabilidade civil.
Inviabilidade. Ausência de comprovação de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor. Atração do Enunciado nº 7/STJ.
4. Pensionamento. Alegada falta de comprovação de rendimentos da
vítima e da parcela destinada ao sustento da viúva. Descabimento. Súmulas
ns. 282/STF e 7/STJ.
5. Alteração do dies ad quem do pensionamento para a expectativa de
vida do falecido. Art. 948, II, do CCB.
6. Recurso especial a que se dá parcial provimento.”
Em suas razões recursais, sustentou, uma vez mais: (a) prescrição da pretensão,
para só então ter partido o prazo prescricional, pelo princípio da actio nata’
(REsp 254.167/PI).
5. In casu, versa hipótese de arquivamento de inquérito policial, por isso
que o autor alegou ter sido preso ilegalmente, indiciado, mas não chegou a ser
ajuizada a competente ação penal.
6. Nesta hipótese, o termo a quo da prescrição da pretensão indenizatória
moral conta-se da data do arquivamento do inquérito policial, inaplicando-se,
como evidente, o Código Civil com eficácia retroativa a fatos ocorridos antes
de sua entrada em vigor.
7. Ademais, é diversa a hipótese da ação de indenização calcada em repa-
ração de dano ex delito e ação de dano moral pela veiculação de representação
penal arquivada.
8. Recurso especial a que se nega provimento.’ (REsp 618.934/SC, Rel.
Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. 24.11.04, DJ 13.12.04, p. 239)
‘PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ATO ILÍCITO PRATI-
CADO POR AGENTES DO ESTADO. AÇÃO PENAL. RECONHECIMENTO
DA AUTORIA E DO FATO NO JUÍZO CRIMINAL. PRESCRIÇÃO. TERMO
INICIAL. PRECEDENTES.
1. As jurisdições cível e criminal intercomunicam-se. A segunda repercute
de modo absoluto na primeira quando reconhece o fato ou a autoria. Nesse
caso, a sentença condenatória criminal ou a decisão concessiva de habeas corpus
constituem títulos executórios no cível.
2. O art. 1.525 do Código Civil de 1916 impede que se debata no juízo
cível, para efeito de responsabilidade civil, a ocorrência do fato e a sua autoria
quando tais questões tiverem sido decididas no juízo criminal.
3. O próprio CPC confere executoriedade à sentença penal condenatória
transitada em julgado (art. 548, II). Assim, não se poderia, coerentemente,
obrigar a vítima a aforar a ação civil dentro dos cinco anos do fato criminoso.
Remanesce o ilícito civil.
4. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é uníssona no sen-
tido de que o termo inicial para a propositura da ação indenizatória, em face
de ilícito penal que está sendo objeto de processo criminal, é do trânsito em
julgado da sentença condenatória, ou, no caso, se, reconhecidos a autoria e
o fato no juízo criminal, da suspensão do processo (trânsito em julgado da
decisão concessiva de habeas corpus).
5. Precedentes das Primeira, Segunda e Quarta Turmas desta Corte Su-
perior.
6. Recurso provido, nos termos conclusivos do voto.’ (REsp 622.117/
PR, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, j. 06.05.04, DJ 31.05.04, p. 246)
Com efeito, ajuizada ação penal para apuração do fato e decorrendo dela
a condenação do réu, empregado da ora recorrente, é patente a relação de pre-
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 185
DECISÃO
1. Cuida-se de recurso especial interposto por HSBC Bank Brasil S/A – Banco
Múltiplo, com fundamento no art. 105, III, a e c, da Constituição da República, contra
acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, assim ementado:
“AÇÃO DE COBRANÇA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. APELA-
ÇÃO CÍVEL. SOLIDARIEDADE PASSIVA DO HSBC COM RELAÇÃO AOS DÉ-
190 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Quarta Turma do
Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas taqui-
gráficas, após o voto-vista do Ministro Antonio Carlos Ferreira dando provimento
ao recurso especial, no sentido da divergência, por maioria, dar provimento ao re-
curso especial, nos termos do voto divergente instaurado pelo Ministro Luis Felipe
Salomão, que lavrará o acórdão.
Vencidos o Ministro Marco Buzzi (Relator) e Ministra Maria Isabel Gallotti,
que conheciam parcialmente do recurso e lhe negavam provimento. Votaram com
o Sr. Ministro Luis Felipe Salomão os Srs. Ministros Raul Araújo (Presidente) e
Antonio Carlos Ferreira.
Brasília (DF), 2 de junho de 2015 (Data do Julgamento).
Ministro Luis Felipe Salomão – Relator p/ o Acórdão
198 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Marco Buzzi (Relator):
Cuida-se, na origem, de procedimento especial – consistente em usucapião
especial rural –, proposto por Waldevino Fehlber e Maria Antônia de Aráujo, a fim
de ser declarada a propriedade de imóvel rural, situada na localidade denominada
Barro Preto, na zona rural do Munícipio de Itaguaçu/ES.
Na petição inicial, afirmaram ter exercido, por mais de cinco anos, posse mansa,
pacífica e ininterrupta, com animus domini, do imóvel já mencionado, onde edificaram
uma casa de alvenaria, “além de uma pequena fábrica de caixas para embalagem de
verduras e hortaliças, composta de um barracão com a dimensão de 240 m2 (12x20),
contendo vários maquinários destinados à serragem e ao beneficiamento de madeira
e ainda vêm cultivando a terra com plantio de verduras e hortaliças, criação de aves e
suínos para consumo, com o que mantém sua sobrevivência (...)” (fls. 4 e 6, e-STJ).
O imóvel em questão, aduziram, está inserido em outro de maiores dimensões,
matriculado no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Itaguaçu/ES, sob o
número 5-2609, pertencente a Anízio João Zanotti e sua esposa.
O magistrado singular, ao entender ser juridicamente impossível o pedido
veiculado na demanda, tendo em vista que “a área usucapienda é muito inferior
ao mínimo legal permitido para desmembramento ou divisão de gleba rural, e, na
espécie, não se extrai dos autos qualquer de exceção” (fl. 45, e-STJ), extinguiu o
feito, sem resolução de mérito, nos termos do art. 267, inciso VI, do Código de
Processo Civil.
Inconformados, os autores interpuseram recurso de apelação, ao qual se negou
provimento, monocraticamente (fls. 67-70, e-STJ). Interposto agravo regimental, a
Corte de origem manteve a decisão unipessoal do desembargador-relator, negando
provimento ao recurso, nos termos da seguinte ementa:
“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA APELAÇÃO
CÍVEL. USUCAPIÃO PRO LABORE. ÁREA INFERIOR AO MÓDULO RURAL.
IMPOSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO.
1. Por força do art. 65 da Lei nº 4.504/64 (Estatuto da Terra), é vedada
a divisão do imóvel rural em áreas inferiores ao módulo da propriedade rural,
ou seja, 30.000 m2 (trinta mil metros quadrados).
2. Logo, a usucapião não pode ocorrer em área inferior ao módulo de
propriedade rural. Nos termos do precedente do STJ, ‘caso se admitisse o usu-
capião de tal área, estar-se-ia viabilizando, de forma direta, o registro de área
inferior àquela permitida pela lei daquele Munícipio. Há, portanto, vício na
própria relação jurídica que se pretende modificar com a aquisição definitiva
do imóvel’ (REsp 402.792/SP, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ 06.12.04, p. 316).
Recurso desprovido.” (fl. 94, e-STJ)
Irresignados, os autores interpuseram recurso especial (fls. 105-107, e-STJ),
com fulcro no art. 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal, bem como
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 199
recurso extraordinário (fls. 112-115, e-STJ), este fundamentado no art. 102, inciso
III, alínea a, da Constituição Federal.
Nas razões do apelo extremo (fls. 105-107, e-STJ), apontam os insurgentes a
existência de violação ao art. 1.239 do Código Civil, uma vez que o mencionado
dispositivo, nos termos da norma constitucional que lhe serve de fundamento – art.
191 da Constituição Federal –, não faz qualquer referência à área mínima; assim,
sustentam ser possível usucapir área inferior ao módulo rural.
Houve manifestação do Ministério Público estadual, às fls. 127-128, e-STJ, no
sentido de admissão parcial do recurso especial.
Em juízo provisório de admissibilidade (fls. 130-131, e-STJ), o Tribunal de
Justiça do Estado do Espírito Santo admitiu o processamento do recurso especial,
determinando a remessa dos autos a esta Corte.
Com vista dos autos, o Ministério Público federal, por intermédio do Subpro-
curador-Geral da República, opinou pelo conhecimento e desprovimento do recurso
especial (fls. 141-142, e-STJ).
É o relatório.
VOTO VENCIDO
O Exmo. Sr. Ministro Marco Buzzi (Relator):
O presente recurso merece ser conhecido pela alínea a do permissivo consti-
a família, morando habitualmente, ali construindo seu lar.” (Direito das coisas.
Lei nº 10.406, de 10.01.02. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense. p. 279; grifou-se)
Sob essa mesma perspectiva, isto é, ressaltando o objetivo de fixação do
homem ao campo, ao conferir a propriedade àquele que tornou a terra produtiva,
nela fixando residência, consolidando, enfim, a sua função social, transcreve-se o
seguinte excerto doutrinário:
“A usucapião especial rural, conhecida também como pro labore, está
inserida no capítulo da política agrícola e fundiária da Constituição Federal e
tem nítido escopo de fixar o homem ao campo, conferindo a possibilidade de, em
curto espaço de tempo, atribuir propriedade ao possuidor que pessoalmente deu
função social à gleba rural, tornando-a produtiva e nela fixando moradia. De um
lado, o prazo é exíguo, com fim de estimular essa modalidade de usucapião. De
outro lado, limita-se à categoria destinatária do benefício, mediante a criação
de uma série de requisitos objetivos e subjetivos.” (PELUSO, Cezar [Coord].
Código Civil comentado. Doutrina e jurisprudência. 5. ed. rev. e atual. Barueri:
Manole, 2011. p. 1.240; grifou-se)
Neste particular, também se destacam as razões que deram origem à Lei nº
6.969/81, as quais, segundo assevera José Carlos Moraes Salles, estão consubstan-
ciadas na Mensagem do Executivo que acompanhou o projeto de lei então elaborado.
Nos excertos abaixo transcritos, evidencia-se o caráter social do instituto, destinado
à tutela dos possuidores de imóveis rurais e à denominada “posse-trabalho”, bem
como a preocupação acima já comentada com o módulo rural, consolidada no pa-
rágrafo único do art. 1º da lei em questão:
O conceito de módulo rural, de acordo com o Estatuto da Terra (art. 4º), está
intrinsecamente relacionado à ideia de propriedade familiar, concebida como o
imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e por sua família,
absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social
e econômico.
Nesse sentido é a definição apresentada por Paulo Torminn Borges,
“O conceito de módulo está ínsito no de propriedade familiar, definida
como o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua
família, lhes absorve toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência
e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e
tipo de exploração, e eventualmente contando com a ajuda de terceiros (Esta-
tuto da Terra, art. 4º, II; Decreto nº 55.891, de 31.03.65, arts. 6º, I, e 11 a 23).
O módulo rural é esta área da propriedade familiar, suporte necessário para o
progresso social e econômico do grupo familiar.” (Divisibilidade e indivisibilidade
do imóvel rural. Módulo e fração mínima de parcelamento. Revista da Facul-
dade de Direito da Universidade de Uberlândia, v. 1, n. 2, 1972, p. 57; grifou-se)
Enquanto unidade de medida agrária, consoante as disposições do Decreto
nº 55.891/65, o referido módulo “(...) tem como finalidade primordial estabelecer
uma unidade de medida que exprima a interdependência entre a dimensão, a situ-
ação geográfica dos imóveis rurais e a forma e as condições do seu aproveitamento
econômico”.
Nos termos do art. 11 do Decreto em comento, os elementos a serem conside-
rados para o cálculo do módulo rural são: i) a localização e os meios de acesso do
imóvel em relação aos grandes mercados, ii) as características ecológicas das áreas
em que se situam e iii) os tipos de exploração predominantes na respectiva zona.
Sobre a finalidade do instituto, bem assim das razões que ensejaram sua cria-
ção, destaca Fernando Pereira Sodero o combate à distorção fundiária existente no
Brasil – representada pelo latifúndio e pelo minifúndio –, ao fornecer bases efetivas
para coibir a sua multiplicação. Nas exatas palavras do autor:
“O módulo rural foi criado pelo legislador para fornecer subsídios à po-
lítica agrária do país – entre outras finalidades. Era necessário (...) não apenas
estabelecer diretrizes seguras para um combate frontal à distorção fundiária
representada pelo minifúndio e pelo latifúndio, como, ainda, não permitir
mais sua multiplicação e fixar bases efetivas para o desenvolvimento normal
do setor primário.
O módulo foi uma das medidas encontradas. Conjugado com outras,
possibilitou o Poder Executivo meios para disciplinar de maneira homogênea
a política agrária a ser seguida, dentro de um espírito novo de renovação de
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 207
§ 2º, do Estatuto da Terra, com a nova redação dada pela Lei nº 6.746/79. Por
força deste dispositivo, o módulo fiscal sofre várias influências, tais como: a da
individualidade de cada município do tipo de exploração predominante; a da
renda obtida nesta exploração; a de outras explorações expressivas em função da
renda e da área utilizada; e, por último, a do conceito de propriedade familiar.
(...)
Assim, com as alterações até hoje introduzidas, temos o seguinte quadro:
1. Módulo rural, transformado no instituto da fração mínima de parcelamen-
to (FMP). Justamente para permitir a aplicação do princípio da função social, o
legislador instituiu o módulo rural. Paralelamente estabeleceu a regra que proíbe
o desmembramento do imóvel rural em áreas de dimensão inferior à constitutiva
do módulo da propriedade, visando, com isto, evitar a proliferação de áreas tidas
como antieconômicas para efeito de exploração agropecuária, o que acarreta pro-
blemas e distorção fundiária.
(...)
3. Módulo fiscal como elemento constitutivo de fixação do Imposto
Territorial Rural (ITR), representando aqui a sua função precípua (art. 50 do
Estatuto da Terra, com a nova redação dada pela Lei nº 6.746/79), bem assim,
como elemento constitutivo de fixação da contribuição parafiscal de que trata
o art. 5º do Decreto nº 1.146, de 31 de dezembro de 1970, com a nova redação
do art. 21 do Decreto nº 84.685/80.
fundo agrário, estabelecendo aqueles módulos indivisíveis. No caso dos autos, cada
coproprietário viria a receber menos de 7 ha e menos de 400 laranjeiras, quinhão
tão exíguo que não se conciliaria com a atividade econômica racional. Isso, aliás, já
reconhecia um marxista, como Karl Kautsky, quando analisou a reforma agrária ao
apagar das luzes do século IXI. Dividida a gleba pelos 8 comunheiros, nenhum
dos quais se poderia manter nela, nada impediria a transmissão dos quinhões.
O Estatuto da Terra quer impedir esse fracionamento e, a meu ver, tanto para
a transmissão imediata quanto para a posterior em 2 etapas. O que a lei quer
evitar diretamente, também o quer por via oblíqua.” (grifou-se)
O aresto em comento apresenta a seguinte ementa:
“ESTATUTO DA TERRA – ART. 65 – DIVISÃO DA GLEBA.
1) Ex vi dos art. 65 da Lei nº 4.504/64 e 11, do Decreto-Lei nº 57/66, é
inadmissível a divisão da gleba em quinhões menores do que os módulos, ainda
que para fazer cessar o condomínio entre os coproprietários.
2) O fim da lei, no caso, é o de evitar a proliferação de minifúndios anti-
econômicos, e deve preponderar sobre a literalidade do dispositivo.”
Partindo-se das premissas acima delineadas, procede-se à análise pontual da
controvérsia veiculada neste apelo extremo, qual seja a possibilidade de usucapir
imóvel rural com dimensões inferiores ao módulo rural, ou, consoante já ponderado,
à fração mínima de parcelamento.
Não obstante a existência de desenvolvimentos doutrinários favoráveis à
Esse é a posição defendida por José Carlos Moraes Sales, ao afirmar a possi-
bilidade de instituição de limitações ao direito de propriedade, dentre as quais se
encontra a sua indivisibilidade.
“Diante de tudo quanto foi exposto, em edições anteriores desta obra,
perfilhamos o entendimento acolhido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo
nos arestos supramencionados, não só pelas razões constantes dos acórdãos
aludidos como por nos parecer que a impossibilidade de se usucapir área inferior
ao módulo rural não constituía obstáculo a que o instituto constitucional da usu-
capião especial rural atingisse seu desiderato.
Acrescentamos, então, que, apesar de o direito de propriedade ser assegu-
rado plenamente pela Constituição Federal (art. 5º, ����������������������������
XXII), poderia
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a lei estabe-
lecer limitações a esse direito, como, por exemplo, as limitações administrativas,
as quais são, no dizer de Hely Lopes Meirelles, ‘uma das formas pelas quais o
Estado, no uso de sua soberania interna, intervém na propriedade e nas ativi-
dades particulares. Pelas mesmas razões, não víamos obstáculo em que o Estatuto
da Terra estabelecesse a impossibilidade de divisão de áreas em outras de dimensão
inferior à do módulo de propriedade rural (art. 65), nem víamos impedimento em
que se considerasse que tal indivisibilidade alcançasse, também, as situações de
usucapião pro labore. De fato, se o proprietário atingido pela usucapião já estava
sujeito àquela restrição, por força do disposto no art. 65 do Estatuto da Terra, não
haveria razão para se entender que o art. 191 da Constituição estaria a conceder
ao usucapiente situação mais vantajosa, permitindo-lhe usucapir área inferior à
do módulo rural, com imenso prejuízo aos objetivos visados pelo Estatuto da Terra,
que, no caso, são os de impedir a proliferação de minifúndios.” (Usucapião de bens
imóveis e móveis. 6. ed. São Paulo: RT, 2005. p. 361-362)
Outrossim, destacando a incompatibilidade entre a possibilidade de usucapião
de imóvel com dimensões inferiores ao módulo rural e o princípio da função social
da propriedade, salienta-se:
“Questão controvertida diz respeito à possibilidade de usucapião cons-
titucional agrário sobre área inferior ao módulo rural.
Para o ilustre constitucionalista Celso Ribeiro Bastos, a inadmissibilidade
de usucapião de área inferior ao módulo rural impediria que o instituto cons-
titucional atingisse seu propósito.
No entanto, outro entendimento tem conquistado espaço nos tribunais
e, especialmente, dentre os agraristas.
O caput do art. 65 do Estatuto da Terra prescreve que o ‘imóvel rural não é
divisível em áreas de dimensão inferior à constitutiva do módulo de propriedade
rural’. Módulo rural, nos termos do inciso III do art. 4º, é ‘a área fixada nos
termos do inciso anterior’, que diz ser propriedade familiar ‘o imóvel rural que,
direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e por sua família, lhes absorva
toda a força de trabalho, garantindo-lhe a subsistência e o progresso social e
econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração,
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 213
demanda que versava acerca da viabilidade de usucapir imóvel urbano, cuja área era
inferior à fração de parcelamento prevista pela legislação municipal.
No caso subjacente ao precedente em comento, entendeu-se pela impossibilida-
de se declarar a propriedade de imóvel urbano, por meio da usucapião extraordinária,
ratificando-se os argumentos deduzidos pelo Corte estadual, nos seguintes termos:
“Em última análise, não há como sobrepor o reconhecimento da possibilidade
de usucapião em área cujo registro sem as dimensões mínimas é vedado por lei.
Destarte, precisas as considerações expendidas pela douta Subprocura-
doria-Geral da República, em seu parecer, à fl. 202, da lavra da i. Dra Armanda
Soares Figueiredo, do qual destaco o seguinte trecho, in verbis: ‘A Lei nº 6.766,
de 19 de dezembro de 1979, Lei do Parcelamento do Solo Urbano, prevê em seu
art. 1º, parágrafo único, que: ‘Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão estabelecer normas complementares relativas ao parcelamento do solo
municipal para adequar o previsto nesta Lei às peculiaridades regionais e locais’.
De acordo com o Plano Diretor do Município de Socorro/SP, o módulo
mínimo para parcelamento do solo urbano em imóvel situado no local do
imóvel objeto da ação é de 250 m², de acordo com a resposta do ofício 922/99
G.P. (fl. 135).
Logo, como o imóvel pretendido tem apenas 126 m2, a pretensão do
requerente não pode ser atendida, pois, se tal fosse, haveria burla à Lei do Parce-
lamento do Solo Urbano e à lei municipal que regula o assunto em cada município.
VOTO-VISTA
O Exmo. Sr. Ministro Luis Felipe Salomão:
1. Cuida-se de recurso especial interposto por Waldevino Fehlberg e outro, com
fundamento no art. 105, III, a e c, da Constituição Federal de 1988, contra acórdão
proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, assim ementado:
“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA APELAÇÃO
CÍVEL. USUCAPIÃO PRO LABORE. ÁREA INFERIOR AO MÓDULO RURAL.
IMPOSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO.
1. Por força do art. 65 da Lei nº 4.504/64 (Estatuto da Terra), é vedada
a divisão do imóvel rural em áreas inferiores ao módulo de propriedade rural,
ou seja, 30.000 m2 (trinta mil metros quadrados).
2. Logo, a usucapião não pode ocorrer em área inferior ao módulo de
propriedade rural. Nos termos dos precedentes do STJ, ‘caso se admitisse o
usucapião de tal área, estar-se-ia viabilizando, de forma direta, o registro de
área inferior àquela permitida pela lei daquele município. Há, portanto, vício
na própria relação jurídica que se pretende modificar com a aquisição definitiva
do imóvel’ (REsp 402.792/SP, Rel. Min. Jorge Scartezzi, DJ 06.12.04, p. 316).
“Art. 98. Todo aquele que, não sendo proprietário rural nem urbano,
ocupar por dez anos ininterruptos, sem oposição nem reconhecimento de
domínio alheio, tornando-o produtivo por seu trabalho, e tendo nele sua
morada, trecho de terra com área caracterizada como suficiente para, por seu
cultivo direto pelo lavrador e sua família, garantir-lhes a subsistência, o pro-
gresso social e econômico, nas dimensões fixadas por esta Lei, para o módulo
de propriedade, adquirir-lhe-á o domínio, mediante sentença declaratória
devidamente transcrita.”
Benedito Silvério Ribeiro explica que
“a Constituição de 1967, e mesmo com a modificação advinda com a
Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, não mais reproduziu
o direito à usucapião de terras públicas, relegada, assim, à lei ordinária disci-
plinar a matéria.
Essa modalidade usucapicional, já denominada pro labore, constitucional,
especial, rústica, rural, agrária e pro deserto, deixou de figurar no bojo da Cons-
tituição Federal, sofrendo o processo que se pode chamar desconstitucionali-
zação do instituto.” (RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de usucapião. 8. ed.
rev. e atual com a usucapião familiar. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 2. p. 1.128)
Mais tarde, a matéria voltou a ser objeto de lei ordinária, Lei nº 6.969/81, que
dispôs sobre a aquisição, por usucapião especial, de imóveis rurais e previu em seu
art. 1º:
IV – ������������������������������������������������������������������
exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos traba-
lhadores.”
Na mesma linha, prescreve o Estatuto da Terra, Lei nº 4.504/64:
“Art. 2º É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da
terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei.
§ 1º A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social
quando, simultaneamente:
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela
labutam, assim como de suas famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho
entre os que a possuem e a cultivem.”
A usucapião especial rural é instrumento de aperfeiçoamento da política
agrícola do Estado, cujo fundamento é a função social, ou seja, o legislador cons-
tituinte elegeu a usucapião como instituto promotor/incentivador da função social
da propriedade rural, utilizando-o, ao mesmo tempo, como forma de recompensa
ao possuidor que dá à terra sobre a qual exerce a posse a almejada função social.
A finalidade buscada pelas normas constitucionais, assim como as de direito
agrário, é o incentivo à produtividade da terra, que termina alcançando a função
B.; OPTIZ, Oswaldo. Curso completo de direito agrário. 7. ed. rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 100-101)
De fato, a usucapião prevista nos arts. 191 da Constituição e 1.239 do Código
Civil, regulamentada Lei nº 6.969/81, é caracterizada pelo elemento posse-trabalho.
Serve a essa espécie tão somente a posse marcada pelo trabalho. Para a concretização
do direito ao domínio do imóvel rural, a exploração econômica e racional da terra é
pressuposto impossível de ser afastado, deixando clara a intenção do legislador em
prestigiar o possuidor que confere função social ao imóvel rural.
4. Retomo, pois, o raciocínio para o caso concreto.
Os recorrentes defendem a possibilidade de usucapir imóvel rural, cuja área é
inferior ao módulo rural da região. Argumentam que o art. 65 da Lei nº 4.504/64, que
prevê a impossibilidade de divisão do imóvel rural em áreas inferiores ao módulo,
teria sido derrogado, tendo em vista a previsão do art. 1.239 do Código Civil de 2002
referir-se apenas à extensão máxima do imóvel passível de usucapião.
A conclusão, a meu ver, rogando vênia ao eminente relator e com todo respeito
ao entendimento por ele defendido em precioso voto, não deve ser outra, senão a
viabilidade de aquisição do domínio de área inferior ao módulo rural, por meio da
usucapião pró-labore.
E assim o é porque a Constituição no caput de seu art. 191, cujo texto se faz
idêntico no art. 1.239 do Código Civil, preceitua:
“Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou ur-
bano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de
terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva
por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade.”
Percebe-se a existência de demarcação de área máxima passível de ser usucapida,
não de área mínima. Mais relevante que a área do imóvel é o requisito que precede
a esse, ou seja, o trabalho realizado pelo possuidor e por sua família, que torne a
terra produtiva, dando a ela função social.
Da mesma forma, a regulamentação feita pela Lei nº 6.969/81, anterior à
Constituição, diga-se de passagem, também não previa área mínima em imóvel
rural como condição para a aquisição do direito à propriedade. Nela, inclusive, a
limitação da área máxima era menor, 25 hectares, tendo sido superada pela previsão
constitucional que a sucedeu.
Benedito Silvério Ribeiro, em sua obra Tratado de Usucapião, comenta a questão:
“Erigindo o legislador um instituto no ordenamento jurídico, dando um limite
máximo de área a ser usucapida, presentes todos os requisitos necessários, sem
ressalva de um tamanho mínimo, parece evidenciado que não emerge empecilho
à aquisição usucapicional de imóvel que guarde medida inferior que o módulo
previsto para a região em que se localize.
(...)
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 225
sua posse para que seja possível a usucapião pró-labore, a conclusão natural será pela
impossibilidade de o intérprete discriminar onde o legislador não discriminou.
O Estatuto da Terra, mais especificamente seu art. 4º, III, que prevê a regra do
módulo rural, assim como o art. 65, que trata da indivisibilidade do imóvel rural
em área inferior àquele módulo, ainda que anterior à Constituição Federal de 1988,
buscou inspiração, sem dúvida alguma, no princípio da função social da propriedade.
Não discordam doutrinadores e juristas que o módulo rural previsto no Es-
tatuto da Terra foi pensado a partir da delimitação da área mínima necessária ao
aproveitamento econômico do imóvel rural para o sustento familiar, na perspectiva
de implementação do princípio constitucional da função social da propriedade.
Assim, se o imóvel sobre o qual se exerce a posse trabalhada possui área capaz
de gerar subsistência e progresso social e econômico do agricultor e sua família,
mediante exploração direta e pessoal – com a absorção de toda a força de trabalho,
eventualmente com a ajuda de terceiros –, parece menos relevante o fato de aquela
área não coincidir com o módulo rural da região ou até mesmo ser-lhe inferior.
Essa a interpretação teleológica da norma, capaz de assegurar a tutela do in-
teresse para o qual foi criada.
Com maestria pondera Carlos Maximiliano na obra Hermenêutica e Aplicação do
Direito, valendo a reprodução, ainda que um tanto quanto extensa, de cada palavra
estrategicamente utilizada na formação do texto, que exprime com perfeição o que
se pretende afirmar neste voto:
“Toda prescrição legal tem provavelmente um escopo, e presume-se que
a este pretenderam corresponder os autores da mesma, isto é, quiseram tornar
eficiente, converter em realidade o objetivo ideado. A regra positiva deve ser
entendida de modo que satisfaça aquele propósito; quando assim não se pro-
cedia, construíam a obra do hermeneuta sobre a areia movediça do processo
gramatical.
(...)
162 – Não se deve ficar aquém, nem passar além do escopo referido; o
espírito da norma há de ser entendido de modo que o preceito atinja comple-
tamente o objetivo para o qual a mesma foi feita, porém dentro da letra dos
dispositivos. Respeita-se esta, e concilia-se com o fim (1). Isolado, o elemento
verbal talvez imobilizasse o Direito Positivo, por lhe tirar todo o elastério.
Enquadra, de fato, o último em uma fórmula abstrata, que encerra o escopo
social; porém, este, como elemento móvel, conduzirá o jurista às aplicações
diversas e sucessivas de que a fórmula é suscetível. Deste modo a lei adquire
o máximo de dutibilidade (2).
(...)
163 – Deve o intérprete sentir como o próprio autor do trabalho que estu-
da; imbuir-se das ideias inspiradoras da obra concebida e realizada por outrem.
(...)
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 227
possa ser objeto da usucapião prevista no art. 191 da CF/88, assim como no art. 1.239
do CC/02, cassando o acórdão e a sentença, permitindo regular instrução do feito.
É como voto.
VOTO-VISTA
Exmo. Sr. Ministro Raul Araújo:
A discussão posta no presente recurso especial, analisado sob o prisma do
art. 1.239 do Código Civil de 2002, é bastante oportuna, pois não se têm muitos
precedentes nesta eg. Corte acerca do tema, que trata de aquisição originária de
propriedade, mediante a usucapião especial rural, prevista na Lei nº 6.969, de 10 de
dezembro de 1981, de imóvel com dimensões inferiores ao módulo rural.
O debate apresenta-se ainda mais valoroso e consistente, na medida em que
tal possibilidade aparenta estar em confronto com outras normas de lei federal que
impedem a divisão de imóvel rural em dimensões que possam inviabilizar a con-
cretização da função social da propriedade e aparentando conflito com institutos
jurídicos que concretizam a política agrária nacional de combate ao minifúndio.
O apelo nobre enfrenta v. acórdão estadual, confirmando sentença que enten-
deu pela impossibilidade jurídica do pedido posto na ação de usucapião especial,
uma vez que a área que se pretende usucapir é inferior àquela fixada como módulo
rural. Eis a ementa do julgado:
“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA APELAÇÃO
CÍVEL. USUCAPIÃO PRO LABORE. ÁREA INFERIOR AO MÓDULO RURAL.
objetivo do módulo rural é estabelecer áreas de terras ideais para a perfeita e eficaz
exploração agropecuária pela família, visando coibir o fracionamento dos imóveis
em áreas inferiores àquela necessária para o desenvolvimento produtivo, evitando-
se, assim, a proliferação do minifúndio; c) embora os arts. 191 da Carta Magna e
1.239 do CC/02 não definam área mínima para que o imóvel rural seja passível de
usucapião, não se pode entender viável usucapir área inferior àquela definida como
“módulo rural” ou FMP, pois seria uma afronta aos já mencionados dispositivos
legais, à política agrária e à finalidade perseguida pelos princípios do direito agrário,
em especial o que preceitua a promoção do rurícola e o combate ao minifúndio; d)
possibilitar-se a usucapião no caso em comento, com área muito inferior à definida
como módulo rural, “(...) implicaria a subversão dos critérios técnicos e pressupostos
ideológicos que cumprem ser fixados pelos poderes constitucionalmente incumbidos
para tanto, os quais, legitima e eficazmente os estabeleceram, atentos à função social
do uso da terra e à viabilidade concreta da obtenção de meios para subsistência digna
da unidade familiar, ante a real possibilidade de exploração rural do imóvel garantir
meios efetivos de subsistência”; e e) a usucapião poderia ser utilizada para legalizar
o que a lei não permite, qual seja a divisão do imóvel em unidades inferiores ao
módulo rural ou FMP.
Em meio aos debates, pediu vista dos autos o nobre Ministro Luis Felipe Sa-
lomão. Na continuidade ao julgamento, na sessão de 21.10.2014, veio o voto-vista
inaugurando a divergência, dando provimento ao recurso especial. Após irretorquível
apanhado da evolução legislativa, o entendimento apresentado pode ser assim resu-
mido: a) a usucapião especial rural é instrumento que aperfeiçoa a política agrícola
estatal, cujo fundamento é a função social, recompensando o possuidor que dá à
gleba almejada função social; b) a usucapião especial rural “(...) é caracterizada pelo
elemento posse-trabalho. Serve a essa espécie tão somente a posse marcada pelo
trabalho. Para a concretização do direito ao domínio do imóvel rural, a exploração
econômica e racional da terra é pressuposto impossível de ser afastado, deixando
clara a intenção do legislador em prestigiar o possuidor que confere função social ao
imóvel rural”; c) os arts. 191 da Constituição Federal, 1.239 do Código Civil e a Lei
nº 6.969/81 estabelecem limites máximos da área passível da usucapião, o que leva
à conclusão de que, inexistindo “(...) regra que determine área mínima sobre a qual
deve o possuidor exercer sua posse para que seja possível a usucapião pro labore,
a conclusão natural será pela impossibilidade de o intérprete discriminar onde o
legislador não discriminou” (fl. 10); d) a interpretação teleológica dos arts. 4º, III,
e 65 do Estatuto da Terra leva à conclusão de que, “(...) se o imóvel sobre o qual se
exerce a posse trabalhada possui área capaz de gerar subsistência e progresso social
e econômico do agricultor e de sua família, mediante exploração direta e pessoal –
com a absorção de toda a força de trabalho, eventualmente com a ajuda de terceiros
–, parece menos relevante o fato de aquela área não coincidir com o módulo rural
da região ou ser até mesmo inferior”; e) “(...) possibilitar a divisão do módulo rural
em casos como o que ora se apresenta vai ao encontro do espírito constitucional,
contribuindo sobremaneira para a melhoria da qualidade de vida no campo, dando
dignidade aos trabalhadores. Permitir a usucapião de imóvel cuja área seja inferior ao
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 235
d) Lei nº 6.969/81:
“Art. 1º Todo aquele que, não sendo proprietário rural nem urbano, possuir
como sua, por 5 (cinco) anos ininterruptos, sem oposição, área rural contínua,
não excedente de 25 (vinte e cinco) hectares, e a houver tornado produtiva com
seu trabalho e nela tiver sua morada, adquirir-lhe-á o domínio, independente-
mente de justo título e boa-fé, podendo requerer ao juiz que assim o declare
por sentença, a qual servirá de título para transcrição no Registro de Imóveis.
Parágrafo único. Prevalecerá a área do módulo rural aplicável à espécie, na
forma da legislação específica, se aquele for superior a 25 (vinte e cinco) hectares.”
e) Código Civil/02:
“Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou
urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área
de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva
por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade.”
Como se verifica na legislação transcrita, inexiste vedação à usucapião de
imóvel rural de área inferior ao módulo rural. A regra do art. 65 do Estatuto da Ter-
ra, apontada como impeditiva, está situada na Seção II do Capítulo II daquela Lei,
tratando da colonização (colonização oficial, colonização particular e organização da
colonização). Do mesmo modo, o art. 8º da Lei nº 5.868/72 refere-se à transmissão
para fins de colonização. Então, para fins de colonização, definida na Lei nº 4.504
como “toda a atividade oficial ou particular, que se destine a promover o aproveita-
Nesse contexto, com a devida vênia, o fato de a área ser inferior àquela definida
como módulo rural, por si só, não pode levar ao reconhecimento da impossibilidade
jurídica do pedido, como o fez o v. acórdão estadual, com supedâneo no art. 65 da
Lei nº 4.504/64, sob pena de infringir-se as demais normas invocadas, que, repita-se,
não estabelecem área mínima.
Com essas considerações, rogando vênia ao ilustrado Relator, acompanho a
divergência inaugurada no voto-vista do nobre Ministro Luis Felipe Salomão.
É como voto.
VOTO
Ministra Maria Isabel Gallotti: Senhor Presidente, peço vênia à divergência
iniciada pelo Ministro Luis Felipe Salomão, à qual aderiu V. Exa., mas entendo que
o voto do Relator apreciou com acuidade a interpretação dos diversos dispositivos
de lei ordinária e da Constituição, e que, em se tratando de uma usucapião especial
no prazo de cinco anos, cujo objetivo é a função social da propriedade, presume-se
que essa função social deverá ser realizada no módulo mínimo rural.
A usucapião é instituto que tem em mira não a manutenção da posse simples-
mente, mas é um modo de aquisição originário de propriedade e, assim sendo, como
modo de aquisição de propriedade, não pode prescindir da característica inerente ao
instituto da propriedade, que é o registro imobiliário da área. E, no caso, o Relator
enfatizou que a área é muito menor do que o módulo rural, não é apenas uma pe-
quena diferença, mas uma área bastante inferior ao módulo rural. Se admitirmos a
usucapião de áreas tão pequenas, com impossibilidade de formalização da aquisição
da propriedade por meio do registro imobiliário, que é o instrumento necessário
para que haja domínio, atingir-se-á uma consequência que é exatamente aquela que
o sistema legal procura inibir: o fracionamento da terra em áreas que são incompa-
tíveis com a função social da propriedade, ou seja, tentando alcançar um benefício
para alguns indivíduos se chega a um resultado socialmente nocivo de praticamente
acabar com o módulo rural, com a fração mínima de divisão da propriedade que o
sistema legal concebeu para cada região.
Portanto, peço vênia à divergência e acompanho o voto do Relator.
VOTO-VISTA
O Exmo. Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira: na origem, Waldevino Fehlberg
e sua companheira, Maria Antonia de Araújo, ajuizaram ação de usucapião especial
visando declarar a propriedade do bem imóvel descrito na petição inicial, situado em
área rural do Município de Itaguaçu/ES, afirmando o preenchimento dos requisitos
previstos no art. 1º da Lei nº 6.969/81 (e-STJ, fls. 4/7).
Antes mesmo da citação dos réus, o magistrado de primeiro grau, concluindo
pela impossibilidade jurídica do pedido deduzido pelos autores – porque a área
usucapienda, cuja extensão é inferior ao módulo rural, não poderia ser desmembrada,
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 241
tenta e realizar tudo o que exprime’.” (SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das
normas constitucionais. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. p. 97)
Nesse sentido, o col. Supremo Tribunal Federal – STF, em recente julgamento
para o qual se reconheceu repercussão geral da matéria jurídica debatida, por demais
assemelhada à discussão presente (contudo versando sobre usucapião de imóvel
urbano), assentou o entendimento de que “preenchidos os requisitos do art. 183 da
Constituição Federal, o reconhecimento do direito à usucapião especial urbana não
pode ser obstado por legislação infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos
na respectiva área em que situado o imóvel (dimensão do lote)”. Trata-se do RE
422.349/RS, relatado pelo em. Ministro Dias Tóffoli, julgado em 29/4 p. (resultado
de julgamento publicado no último dia 25/5).
Extraem-se do voto proferido pelo em. Relator (ainda pendente de publicação,
todavia divulgado no sítio da Corte Suprema na rede mundial de computadores
– Internet, com acesso em: <http://www.stf.jus. br/arquivo/cms/noticianoticiastf/
anexo/re_ 422349.pdf��������������������������������������������������������
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usucapiao.pdf.>) oportunas
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considerações acerca da im-
possibilidade de conferir limitação ao dispositivo constitucional que trata desse
meio de aquisição da propriedade. Citando doutrina abalizada, assim ponderou o
em. Ministro-Relator:
“(...) a eventual irregularidade do loteamento em que localizado o imóvel
objeto da usucapião ou a desconformidade de sua metragem com normas e
posturas municipais que disciplinam os módulos urbanos em sua respectiva
área territorial não podem obstar a implementação de direito constitucional-
RELATÓRIO
Por bem relatar os fatos, transcreve-se o relatório constante da decisão a quo:
“Trata o presente processo da cobrança do Imposto de Importação (II) no
valor de R$ 299.464,78, acrescida de multa de ofício no valor de R$ 224.598,59,
e juros de mora no valor de R$ 277.777,15, em virtude de inadimplemento do
Regime Aduaneiro Especial de Drawback, na modalidade suspensão, operação
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 249
VOTO
Conselheiro Suplente José Luiz Feistauer de Oliveira – Redator ad hoc
Por intermédio de despacho, nos termos da disposição do art. 17, III, do
Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – RICARF,
incumbiu-me o Presidente da Câmara a formalizar o acórdão, cujo relator original,
Conselheira Nanci Gama, não integra mais nenhum dos colegiados do CARF.
Desta forma, a elaboração deste voto deve refletir a posição adotada pelo re-
lator original.
Como bem destacou a decisão recorrida, para descaracterizar o adimplemento
do drawback, toma-se necessário demonstrar que a exportação não ocorreu, ou que
os insumos não foram empregados nos produtos exportados, ou que as exportações
não obedeceram ao prazo previsto, etc.
Nesse sentido, não há reparo a fazer na decisão recorrida, que entendeu assistir
razão ao contribuinte por entender que o preenchimento incorreto dos Registros
de Exportação (descumprimento de obrigação acessória), em nenhuma hipótese,
pode ser motivo de exigência dos tributos suspensos, que constituem obrigação
tributária principal. Tratam-se de obrigações de natureza jurídica distinta, que não
se confundem, conforme se observa do CTN.
Assim, o fato de a beneficiária não haver indicado em campo próprio do Regis-
tro de Exportação (RE) a parcela do valor da mercadoria importada sem cobertura
cambial não autoriza a glosa da operação de exportação para efeito de comprovação
do adimplemento do regime.
cobertura cambial, assim como a que ato concessório se refere a exportação em trato
(fls. 150/151, 159/160 e 168/169)”.
Em conclusão, não há como negar que os produtos especificados no RE fo-
ram efetivamente exportados. A simples falha na elaboração do RE, quando muito
prejudica o controle fiscal, e deveria ser punida com penalidade específica. Tal fato,
contudo, não constitui prova suficiente para afirmar que as exportações não teriam
ocorrido.
Ante ao exposto, nego provimento ao recurso de ofício.
E estas são as considerações possíveis para suprir a inexistência do voto.
José Luiz Feistauer de Oliveira – Redator ad hoc
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO
RELATÓRIO
A Exma. Sra. Desembargadora Federal Maria do Carmo Cardoso (Relatora):
Neste agravo de instrumento, interposto com pedido de efeito suspensivo
ativo, a Fazenda Nacional pretende a reforma da decisão proferida pelo Juízo da 2ª
Vara da Seção Judiciária de Rondônia, que, nos autos da Execução Fiscal 15865-
34.2011.4.01.4100, indeferiu o pedido de realização de penhora sobre o montante
de 10% do faturamento mensal, bem como dos bens que guarnecem o estoque da
empresa executada (fl. 11).
A agravante sustenta que “a penhora sobre 10% do faturamento da executada
mostra-se a medida mais adequada neste momento processual, pois a presunção é
de que a executada aufere lucros em decorrência de suas atividades, como se vê do
resultado parcialmente frutífero da última ordem de penhora online”(fl. 8).
254 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
Alega que, “no caso dos autos, presentes todos os requisitos necessários para
o deferimento da penhora do faturamento. A uma porque a empresa executada não
possui outros bens passíveis de penhora (doc. j); a duas porque a exequente indi-
cou como administrador o representante legal da empresa; e, por fim, foi requerido
a penhora de apenas 10% do faturamento da executada, que não é suficiente para
inviabilizar o seu funcionamento” (fls. 9-10).
Requer, assim, a concessão do efeito suspensivo e, ao fim, o provimento do
agravo para que seja determinada a penhora de 10% do faturamento mensal da
executada e, subsidiariamente, dos bens que compõem seu estoque.
É o relatório.
VOTO
A Exma. Sra. Desembargadora Federal Maria do Carmo Cardoso (Relatora):
Primeiramente, apesar de o art. 655-A, § 2º, do CPC dispor que compete ao
executado comprovar que as quantias são impenhoráveis, compete ao exequente
esgotar as diligências para localizar bens passíveis de penhora, especialmente porque
menos gravoso ao executado.
A ordem estabelecida nos arts. 11 da Lei nº 6.830/80 e 655 do Código de Pro-
cesso Civil, que conferem prioridade ao dinheiro para fins de penhora, tem caráter
relativo e deve ser interpretada em consonância com os demais valores albergados
pela legislação processual civil, entre os quais o princípio de que a execução deve
processar-se da maneira menos gravosa para o devedor, de acordo com o art. 620
do CPC.
O faturamento da empresa, que não é igual a dinheiro, configura expectativa de
receita ainda não realizada, somente passível de penhora em situação excepcional,
quando não encontrado outro bem penhorável.
O STJ definiu que a penhora sobre o faturamento da empresa só é admitida
em circunstâncias excepcionais, quando presentes os seguintes requisitos: “(a) não
localização de bens passíveis de penhora e suficientes à garantia da execução ou,
se localizados, de difícil alienação; (b) nomeação de administrador (arts. 677 e se-
guintes do CPC); e (c) não comprometimento da atividade empresarial” (STJ, REsp
903.658/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 13.10.08).
Verifica-se, no caso dos autos, que não foram preenchidos os requisitos neces-
sários para autorizar a penhora sobre do faturamento da pessoa jurídica executada.
In casu, não consta nos autos documentação que comprove uma ampla re-
alização de diligências para localização de bens móveis e imóveis penhoráveis da
executada.
Ademais, a exequente não preencheu os requisitos previstos nos arts. 677 e
678 do CPC. A indicação do representante legal da empresa executada para atuar
como administrador não atende às exigências legais, porquanto se mostra ineficaz
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 255
e inócua. Ora, a função do administrador é um múnus público que não pode ser
compulsoriamente imposto ao executado.
Incabível, portanto, a penhora sobre o faturamento da pessoa jurídica agravada,
uma vez que a supressão do seu capital de giro poderá impedir o regular desenvol-
vimento de suas atividades.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo de instrumento.
É como voto.
RELATÓRIO
Trata-se de recurso de apelação interposto por Al Rifai Roastery, às fls. 316/328,
contra sentença de fls. 298/311, que (i) declarou extinto o processo, com resolução
de mérito, na forma do art. 269, IV, do CPC, pronunciando a prescrição da pretensão
da apelante em adjudicar o registro 818.792.892, referente à marca nominativa “Al
Rifai”, e (ii) julgou improcedente, nos termos do art. 269, I, do CPC, o pedido de ad-
judicação do registro da marca 822.431.998, referente à marca nominativa “Al Rifai”.
Em suas razões recursais, a apelante informa inicialmente ser empresa no-
toriamente reconhecida no ramo alimentício, em especial no segmento de grãos
exóticos, famosa por introduzir e popularizar a castanha-de-caju no Líbano e, a
partir daí, em diversos outros mercados, como Comunidade Europeia, regiões do
Golfo Pérsico, Egito e Canadá, sempre utilizando a marca “Al Rifai”. Posteriormente,
passou a oferecer seus produtos no mercado brasileiro e, anos mais tarde, quando
foi promover o registro de sua marca no Brasil, descobriu a existência dos registros
anulandos, também referentes à marca “Al Rifai”, de titularidades da 1ª apelada
(Maxifour Produtos Alimentícios Ltda.).
Argumenta que, como a 1ª apelada teria sido fundada por um libanês e também
seria dedicada a produtos libaneses, não poderia alegar desconhecimento quanto à
titularidade da marca “Al Rifai”, que também constituiria nome de família da apelante.
Cotejando os arts. 6 bis (1) e (3), 6 septies (1) e (2) e 8, todos da Convenção da
União de Paris (CUP), e 124, V, XV, XXIII, 126, 165 e 166, todos da Lei nº 9.279/96
(LPI), argumenta que a adjudicação de marca também seria cabível nos casos de
VOTO
Conforme relatado, trata-se de recurso de apelação interposto contra sentença
que (i) declarou extinto o processo, com resolução de mérito, na forma do art. 269,
IV, do CPC, pronunciando a prescrição da pretensão da apelante em adjudicar o
registro 818.792.892, referente à marca nominativa “Al Rifai”, e (ii) julgou impro-
cedente, nos termos do art. 269, I, do CPC, o pedido de adjudicação do registro da
marca 822.431.998, referente à marca nominativa “Al Rifai”.
O registro 818.792.892 refere-se à classe 32 (massas alimentícias, farinhas
e fermentos em geral), subclasse 10 (massas alimentícias em geral). Já o registro
822.431.998 refere-se à classificação de Nice NCL(7) 30 (café, chá, cacau, açúcar,
arroz, tapioca, sagu, sucedâneos de café, farinhas e preparações feitas de cereais, pão,
pastelaria e confeitaria, sorvetes, mel, xarope de melaço, levedo, fermento em pó, sal,
mostarda, vinagre, molhos [condimentos], especiarias, gelo), com a especificação
“condimentos, especiarias e essências alimentícias (cereais)”. Ambos os registros
são de titularidade da primeira apelada.
A apelante, por sua vez, afirma ser notoriamente conhecida na comercialização
de grãos exóticos, tais como nozes e castanha-de-caju.
A r. sentença inicialmente verificou que a lide apenas comportava pedido de
adjudicação de marca, nada dispondo acerca de eventual pedido de nulidade. Em
relação ao registro 818.792.892, entendeu que a imprescritibilidade para o cance-
lamento ou para a proibição de uso de marca registrada de má-fé, prevista no art.
6 bis (3) da CUP, apenas seria aplicável às marcas notoriamente conhecidas. Tendo
em vista a ausência de provas em relação à má-fé ou à notoriedade da marca da
apelante, malgrado não haver previsão expressa de prazo prescricional para a de-
manda adjudicatória, na hipótese em tela, entendeu que seria aplicável o prazo de 5
anos para a ação de nulidade marcária, previsto no art. 174 da LPI. Como o registro
818.792.892 fora concedido em 16.08.98 e a presente demanda fora proposta em
13.08.09, o juiz a quo reconheceu a prescrição nesse ponto.
Já em relação ao registro 822.431.998, a r. sentença consignou que o art. 166
da LPI permite a adjudicação do registro de marca se a mesma ocorrer nos termos
previstos no art. 6 septies (1) da CUP, que condiciona aquela à hipótese em que “o
agente ou representante do titular de uma marca num dos países da União pedir, sem
autorização deste titular, o registro dessa marca em seu próprio nome”. Nesse sentido,
a ação adjudicatória apenas seria cabível quando houvesse registro feito de má-fé,
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 259
não sendo possível manejá-la em caso de criação autônoma, ainda que infringente
das hipóteses de irregistrabilidade do art. 124 da LPI. Como no caso dos autos, a
ora apelante não teria logrado demonstrar a má-fé da 1ª apelada, o magistrado a quo
julgou improcedente o pedido de adjudicação em relação ao registro 822.431.998.
Analisando a prova dos autos, entendo que a sentença deve ser mantida por
seus próprios fundamentos.
Inicialmente, verifico que não há pedido de nulidade marcária na petição inicial
de fls. 02/13, mas apenas de adjudicação dos registros 818.792.892 e 822.431.998. A
importância dessa observação reside no fato de que, como será visto posteriormente,
partilho do entendimento de que a nulidade marcária não pode ser reconhecida de
ofício e de “forma incidental”, como pretende a apelante.
No tocante ao registro 818.792.892, observo que o mesmo foi concedido em
16.06.98, ao passo que a presente demanda foi proposta em 13.08.09, de modo
que faz-se necessário avaliar se já ocorreu a prescrição da pretensão adjudicatória.
A LPI é omissa em relação ao prazo prescricional para demanda adjudicatória,
apenas dispondo acerca do prazo da ação de nulidade de registro de marca. À míngua
de previsão legal, duas possíveis soluções surgem: o entendimento de que não há
prazo prescricional, aplicável analogicamente em razão do disposto no art. 6 bis (3)
da CUP, ou a aplicação analógica do prazo prescricional para demandas de nulidade
marcárias, contido no art. 174 da LPI.
Dispõe o art. 6 bis da CUP (grifos adicionados):
“1) Os países da União comprometem-se a recusar ou invalidar o registro,
Nesse ponto, apesar de a ora apelante ter invocado, em sua petição inicial
(fls. 02/13), a proteção à marca notoriamente conhecida, não há nos autos provas
suficientes para caracterizar o notório conhecimento de sua marca no segmento
idêntico ou similar ao que busca proteção, havendo tão somente fôlder publicitário
apresentando os produtos oferecidos (fls. 21/32) e certificados de registro da marca
em outros países.
Com o feito concluso para julgamento, em fls. 363/370 e 372/430, a apelante,
informando fato novo, trouxe documentação teoricamente apta a demonstrar a
notoriedade da marca “Al Rifai” no comércio de grãos.
Entretanto, entendo que tais documentos são irrelevantes para o deslinde da
causa. Isso porque os documentos efetivamente novos apenas poderiam comprovar
a notoriedade superveniente da marca “Al Rifai” em relação ao registro adjudican-
do. Ademais, a apelante promoveu a juntada de documentos após a interposição
de seu recurso de apelação e a apresentação das contrarrazões pela parte adversa
sem justificar porque não foram trazidos aos autos na fase instrutória, perante o 1º
grau de jurisdição.
O art. 397 do CPC somente autoriza a juntada extemporânea de documentos
quando “destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados, ou para
contrapô-los aos que foram produzidos nos autos”. Nenhuma dessas situações ocorre
no caso em tela, motivo pelo qual tais documentos não devem ser considerados no
julgamento da apelação.
Dessa forma, entendo que a apelante não logrou comprovar que a marca da
qual é titular é notoriamente conhecida, razão pela qual deixo de aplicar a impres-
critibilidade prevista no art. 6 bis (3) da CUP, na medida em que seus requisitos são
cumulativos.
Destarte, aplica-se analogicamente ao caso o prazo prescricional previsto no
art. 174 da LPI, abaixo transcrito:
“Art. 174. Prescreve em 5 (cinco) anos a ação para declarar a nulidade
do registro, contados da data da sua concessão.”
Como o registro 818.792.892 foi concedido em 16.06.98 e a presente demanda
adjudicatória foi proposta em 13.08.09, forçoso reconhecer a prescrição da pretensão
autoral em relação a tal registro.
O mesmo não ocorre em relação ao registro 822.431.998, na medida em que
o mesmo foi concedido em 25.02.09, ao passo que a presente demanda foi proposta
em 13.08.09, não tendo ocorrido a prescrição da pretensão autoral.
Passo à análise do mérito da demanda.
No sistema de proteção marcário vigente, a adjudicação é medida excepcional.
A LPI é lacônica e, em seu art. 166, apenas permite a adjudicação na estrita hipótese
do art. 6 septies (1) da CUP, ou seja, quando o agente ou representante do titular de
uma marca fizer, sem autorização deste titular, o registro da marca em seu próprio
nome. Vejamos as referidas normas, com grifos adicionados:
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 261
em tais regiões, equivalendo ao “José da Silva” no Brasil e que nunca tinha ouvido
falar em outras empresas usando a marca “Al Rifai”. Demais disso, afirmou também
nunca ter tido contato com o Sr. Moussa Al Rifai, fundador da apelante, e que nunca
manteve contato comercial com a apelante ou importou nenhum produto da mesma.
Fortalecendo esse entendimento, confira-se trechos do parecer de fls. 170/182,
elaborado pelo Dr. Newton Oliveira e juntado aos autos pela 1ª apelada, que indi-
cam que a expressão “Al Rifai” não é tão exclusiva como pretende fazer a apelante:
“Al Rifai é, antes de mais nada, o nome da mais conhecida e uma das
maiores mesquitas do Cairo, destino de turistas do mundo inteiro, venerada
por todos os cidadãos nascidos ou originários daquela parte do mundo. A
mesquita de Al Rifai foi construída em duas fases durante o período entre 1869
e 1912, quando foi finalmente concluída. Aliás, o nome da mesquita, Al Rifai,
remete a Ahamad Rifai (1182), nascido no Iraque, um reconhecido ‘santo’ da
religião islâmica, fundador da Ordem Al Rifai, um dos poucos, de acordo com
a religião islâmica, tornados professores, pela graça de Allah, para disseminar
seus ensinamentos. Musab Nabil Al Rifai é o nome do mais conhecido jogador
de futebol do mundo árabe. Conhecidíssimo, já atuou nos times Ramtha SC,
Shabab Al Ordon e Al Jazeera, onde se encontra desde 2008. Tariq Al Rifai
é como se chama o Diretor do Islamic Market Index Group, de Dubai, cujas
ações são cotadas no índice Dow Jones.
Hani Al Rifai, ou o Sheikh Hani Al Rifai, é um dos mais proeminentes
religiosos do mundo islâmico, sendo seus ensinamentos recitados pelas mes-
quitas de todo o Islã, e mostrados na internet e disseminados juntamente com
a cultura árabe. O Hino Nacional da Jordânia, As-Salam Al-Malak Al-Urdoni,
ou Viva o Rei da Jordânia, adotado desde 1946, foi escrito por Abdul Monem
Al-Rifai. Fora tudo isso, a presença islâmica existe também muito forte no
Brasil, onde atua a Orde Rifai, originada de Hadrad Shaykh Sayyid Ahmad Al
Rifai, o mesmo em homenagem ao qual foi dado o nome da conhecidíssima
mesquita Al Rifai, antes mencionada Al Rifai é, também, o nome de outro ponto
importante, o da tumba do Grande Sheikh Sayyid Ahmad Al Rifai, que viveu
de 1119 a 1182 e está situada no Iraque. Al Rifai é nome de muitas famílias
naquela parte do mundo, não apenas sobrenome do sócio da autora, mas uma
espécie de ‘Silva’ por aquelas plagas, inclusive que moram em outros países e
até no Brasil. Al Rifai é denominação de um bairro no Cairo, conhecido pelos
seus quitutes, comidas que são servidas na rua. Al Rifai é nome comercial de
empresas em diversas partes do mundo. Al Rifai faz parte da antiga história do
Kuwait e da história do próprio islamismo.” (fls. 176-177)
Dessa forma, entendo que a apelante não se desincumbiu do ônus de comprovar
a má-fé da 1ª apelada, inviabilizando sua pretensão adjudicatória, na medida em que
a má-fé constitui requisito essencial para a caracterização da usurpação da marca.
Note-se que, como consignado inicialmente, o pleito autoral é apenas de adju-
dicação de marca, não dispondo nada acerca de declaração de nulidade dos registros
da 1ª apelada, nem mesmo a título subsidiário.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 263
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
egrégia Sexta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade,
não conhecer da apelação da União Federal e dar parcial provimento à apelação do
contribuinte e à remessa oficial, nos termos do relatório e do voto, que ficam fazendo
parte integrante do presente julgado.
São Paulo, 27 de agosto de 2015.
Desembargador Federal Mairan Maia – Relator
RELATÓRIO
Cuida-se de ação de conhecimento, processada sob o rito comum ordinário,
ajuizada com o objetivo de ser condenada a União Federal a ressarcir valores oriun-
dos de incentivos fiscais decorrentes do aproveitamento de crédito-prêmio de IPI,
incidentes sobre operações de exportação de produtos manufaturados.
Por acórdão de minha relatoria, integrado pelos embargos de declaração, não
foi conhecida a apelação da União Federal, foi negado provimento à apelação do
contribuinte e dado parcial provimento à remessa oficial. Prescrição quinquenal, de
acordo com a regra prevista no Decreto nº 20.910/1932. Não incidência, na espécie, da
prescrição sobre o crédito de IPI materializado nas exportações realizadas no período
compreendido entre 11.01.79 (5 anos precedentes ao ajuizamento da medida cautelar
VOTO
A questão relativa à correção monetária se encontra pacificada pelo Superior
Tribunal de Justiça por meio do regime dos recursos repetitivos, previsto no art.
543-C do CPC. Confira-se:
“RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART.
543-C DO CPC. PROCESSUAL CIVIL. CORREÇÃO MONETÁRIA. INEXIS-
TÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO DO AUTOR DA DEMANDA. MATÉRIA
DE ORDEM PÚBLICA. PRONUNCIAMENTO JUDICIAL DE OFÍCIO. POS-
SIBILIDADE. JULGAMENTO EXTRA OU ULTRA PETITA. INOCORRÊNCIA.
EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. APLICAÇÃO. PRINCÍPIO DA ISONOMIA.
TRIBUTÁRIO. ART. 3º DA LEI COMPLEMENTAR Nº 118/05. PRESCRIÇÃO.
TERMO INICIAL. PAGAMENTO INDEVIDO. ART. 4º DA LC Nº 118/05.
DETERMINAÇÃO DE APLICAÇÃO RETROATIVA. DECLARAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE. CONTROLE DIFUSO. CORTE ESPECIAL.
RESERVA DE PLENÁRIO. JULGAMENTO DO RECURSO ESPECIAL RE-
PRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (RESP 1.002.932/SP). 1. A correção
monetária é matéria de ordem pública, integrando o pedido de forma implícita,
razão pela qual sua inclusão ex officio, pelo juiz ou tribunal, não caracteriza
julgamento extra ou ultra petita, hipótese em que prescindível o princípio da
congruência entre o pedido e a decisão judicial (Precedentes do STJ: AgRg no
REsp 895.102/SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em
15.10.09, DJe 23.10.09; REsp 1.023.763/CE, Relª Minª Eliana Calmon, Segunda
Turma, julgado em 09.06.09, DJe 23.06.09; AgRg no REsp 841.942/RJ, Rel.
Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 13.05.08, DJe 16.06.08; AgRg no
Ag 958.978/RJ, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, Quarta Turma, julgado em
06.05.08, DJe 16.06.08; EDcl no REsp 1.004.556/SC, Rel. Min. Castro Meira,
Segunda Turma, julgado em 05.05.09, DJe 15.05.09; AgRg no Ag 1.089.985/
BA, Relª Minª Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 19.03.09, DJe 13.04.09;
AgRg na MC 14.046/RJ, Relª Minª Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado
em 24.06.08, DJe 05.08.08; REsp 724.602/RS, Relª Minª Eliana Calmon, Se-
gunda Turma, julgado em 21.08.07, DJ 31.08.07; REsp 726.903/CE, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado em 10.04.07, DJ 25.04.07; e
AgRg no REsp 729.068/RS, Rel. Min. Castro Filho, Terceira Turma, julgado em
02.08.05, DJ 05.09.05). 2. É que ‘a regra da congruência (ou correlação) entre
pedido e sentença (CPC, arts. 128 e 460) é decorrência do princípio dispositi-
vo. Quando o juiz tiver de decidir independentemente de pedido da parte ou
interessado, o que ocorre, por exemplo, com as matérias de ordem pública, não
incide a regra da congruência. Isso quer significar que não haverá julgamento
extra, infra ou ultra petita quando o juiz ou o tribunal pronunciar-se de ofício
sobre referidas matérias de ordem pública. Alguns exemplos de matérias de
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 267
VOTO
A decisão que negou seguimento ao agravo de instrumento foi proferida nos
seguintes termos (fls. 200/201):
“Cuida-se de agravo de instrumento interposto por Cotrijui – Cooperativa
Agropecuária & Industrial –, em liquidação, em face da decisão que indeferiu
o pedido de suspensão dos atos expropriatórios da execução fiscal. Eis o teor
da decisão recorrida (fl. 190):
‘Indeferido o pedido das fls. 123/137 formulado pela parte executada, uma
vez que a suspensão pleiteada não incide na regra do art. 76 da Lei nº 5.764/71.
Nesse sentido, colaciono jurisprudência:
‘AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO TRIBUTÁRIO. ICMS. EXE-
CUÇÃO FISCAL. PROCESSUAL CIVIL. COOPERATIVA. LIQUIDAÇÃO.
SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO FISCAL. DESCABIMENTO.
A liquidação extrajudicial de cooperativa não suspende a execução fiscal,
não incidindo, na espécie, o invocado art. 76 da Lei nº 5.764/71 (Lei das Socie-
dades Cooperativas), mas, sim, os arts. 187 do CTN e 29 da Lei das Execuções
Fiscais. Precedentes do STJ e desta Corte. Agravo de instrumento provido
de plano. Aplicação do art. 557, § 1º-A, do CPC.’ (Agravo de Instrumento
70062879358, Segunda Câmara Cível, TJRS, Rel. Ricardo Torres Hermann,
Julgado em 04.12.2014)
Intime-se.’
Alega a agravante, em suma, que não há outro caminho senão a suspen-
são do processo executivo fiscal, de modo que não venha a ser prejudicada a
cooperativa com a expropriação de bens que estejam constritos judicialmente,
enquanto perdurar a fase de liquidação voluntária.
É o relatório. Decido.
De fato, a execução fiscal não se suspende pela superveniência de liqui-
dação extrajudicial de cooperativa. Em que pese o art. 76 da Lei nº 5.764/71
estabelecer que a publicação da ata da assembleia geral da sociedade, que
deliberou sua liquidação, implicará a sustação de qualquer ação judicial
contra a cooperativa, pelo prazo de 1 (um) ano, é certo que a Lei nº 6.830/80
disciplina inteiramente o processo de execução fiscal, devendo prevalecer a
norma segundo a qual ‘a cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública
não é sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência, concordata,
liquidação, inventário ou arrolamento’ (art. 29 da LEF).
Portanto, seja em virtude da aplicação do critério cronológico, seja em
atenção ao disposto no art. 2º, § 1º, da Lei de Introdução às Normas de Direito
Brasileiro, o advento da Lei nº 6.830/80 produziu a revogação tácita do aludido
dispositivo da Lei nº 5.764/71 no concernente às execuções fiscais.
Cito precedentes do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema:
‘EXECUÇÃO FISCAL. FAZENDA PÚBLICA. LIQUIDAÇÃO DO EXE-
CUTADO. SUSPENSÃO. IMPOSSIBILIDADE. LEI Nº 6.830/80.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 271
ACÓRDÃO
Vistos, etc.
Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por una-
nimidade, negar provimento à apelação e à remessa oficial, nos termos do relatório,
voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante
do presente julgado.
Recife, 27 de agosto de 2015 (Data do Julgamento).
Desembargador Federal Rubens de Mendonça Canuto – Relator Convocado
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 273
RELATÓRIO
O Sr. Desembargador Federal Rubens de Mendonça Canuto (Convocado):
Trata-se de apelação e remessa oficial de sentença que julgou procedente pedido
formulado por Édila de Araújo Lira Soares, em ação declaratória de isenção tribu-
tária c/c indenização por danos morais, visando ver reconhecido direito à isenção
tributária de IPI e ICMS, na compra de veículo novo adaptado, nos termos do art.
1º, § 1º, da Lei nº 8.989/95 e do Convênio ICMS nº 03/07, bem como a condenação
do Detran/PE em danos morais.
O douto sentenciante extinguiu a presente demanda quanto ao Detran/PE e ao
Estado de Pernambuco, sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, inciso IV,
do CPC, em face da incompetência absoluta. Julgou procedente o pedido autoral,
isentando a autora do recolhimento do IPI, na compra de um veículo novo adaptado.
Honorários advocatícios arbitrados em R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos do
art. 20, § 4º, do CPC.
Apelação da Fazenda Nacional alegando, em preliminar, falta de interesse de
agir, em virtude de ausência de pedido administrativo à Delegacia da Receita Fede-
ral do Brasil a atestar a ausência de pretensão resistida. No mérito, assevera que o
laudo médico mais recente do Detran concluiu que a autora não era portadora de
deficiência física, não tendo sido feita prova contrária deste fato.
Apesar de devidamente intimada, a apelada não apresentou contrarrazões.
VOTO
O Sr. Desembargador Federal Rubens de Mendonça Canuto (Convocado):
O ponto nodal da presente querela cinge-se ao reconhecimento do direito à
isenção tributária de IPI na compra de veículo novo.
Preambularmente, rechaço a preliminar de falta de interesse de agir, em virtude
da ausência de pedido administrativo à Delegacia da Receita Federal do Brasil. Legí-
tima a propositura da presente demanda diante do laudo de avaliação de deficiência
física, emitido pelo Detran/PE, em 18.05.2010, asseverando não ter a autora neces-
sidade de adaptação veicular. Ademais, a Fazenda Nacional em nenhuma etapa do
processo acostou-se à tese autoral, restando, assim, caracterizada a pretensão resistida.
Alega a autora apresentar problemas de saúde relativos à debilidade funcional
permanente por lesão nervosa após cirurgias realizadas em decorrência de tratamento
de câncer de mama. Em virtude do seu estado de saúde, chegou a ter reconhecido
o direito à aquisição de um veículo automotor adaptado, um HondaFT LX, com a
isenção de IPI e ICMS, nos moldes da legislação de regência. Todavia, por ocasião
274 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
da troca daquele veículo, foi emitido laudo pericial do Detran/PE, asseverando que
não havia necessidade de adaptação veicular para a autora.
Foram carreados aos autos cópias de laudos médicos periciais, todos emitidos
pelo Detran/PE, com conclusões contraditórias. Vejamos trechos dos referidos docu-
mentos: 1) emitido em 29.07.03: “Parecer: Deverá dirigir veículo automático com dire-
ção hidráulica, vidros elétricos e ar condicionado (...)” (fl. 35); 2) emitido em 09.05.05:
“Parecer: Apta dirigir veículo automático” (fl. 40); 3) emitido em 03.04.06: “Parecer:
Apta a dirigir veículo automático. Impossibilidade de dirigir veículo convencional” (fl.
39); e 4) emitido em 18.05.2010: “Não há necessidade de adaptação veicular” (fl. 38).
Ante tais elementos contraditórios, foi deferida pelo Juízo de origem a reali-
zação de prova pericial, para que fossem dirimidas possíveis dúvidas e contradições
existentes quanto ao estado de saúde da requerente.
O laudo acostado aos autos às fls. 166/171, em resposta aos quesitos produzidos
pelas partes, é de compreensão cristalina, asseverando que a autora tem limitações
funcionais. Ademais, ao responder a questionamento se a mesma estaria apta a dirigir
um veículo convencional de câmbio manual sem prejuízo algum à sua saúde e às
suas limitações físicas, foi peremptório ao afirmar que não. Respondendo a outros
quesitos, a perita asseverou, ainda, que a autora apresenta linfedema de membro
superior direito e redução da força no mesmo, necessitando de uma adaptação no
câmbio de marcha para que não realize esforço físico.
Destarte, resta inconteste a necessidade da autora em adquirir um veículo
adaptado, para seu maior conforto e segurança, dado os problemas de saúde que
detém. Vejamos o que preconiza a Lei nº 8.989/95, que dispõe sobre a isenção do
Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, na aquisição de automóveis por
pessoas portadoras de deficiência física.
“Art. 1º Ficam isentos do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI
os automóveis de passageiros de fabricação nacional, equipados com motor de
cilindrada não superior a dois mil centímetros cúbicos, de no mínimo quatro
portas inclusive a de acesso ao bagageiro, movidos a combustíveis de origem
renovável ou sistema reversível de combustão, quando adquiridos por: (Re-
dação dada pela Lei nº 10.690, de 16.6.2003) (Vide art 5º da Lei nº 10.690,
de 16.6.2003)
(...)
IV – pessoas portadoras de deficiência física, visual, mental severa ou
profunda, ou autistas, diretamente ou por intermédio de seu representante
legal; (Redação dada pela Lei nº 10.690, de 16.6.2003)
§ 1º Para a concessão do benefício previsto no art. 1º é considerada
também pessoa portadora de deficiência física aquela que apresenta alteração
completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando
o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraple-
gia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia,
triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, pa-
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 275
VOTOS
O Senhor Desembargador José Divino (Relator):
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
Trata-se de agravo de instrumento da decisão que, nos autos da ação de exe-
cução movida por D.M.L.N., deferiu o pedido de penhora do veículo Ford 7000,
placa XXX-XXXX, ano 1979, de propriedade de G.B.S.
O art. 649, V, do CPC prevê a impenhorabilidade absoluta dos livros, máquinas,
ferramentas, utensílios, instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis
ao exercício de qualquer profissão.
No caso, há indícios de que o bem constrito, um caminhão antigo, da marca
Ford, modelo 7000, é essencial ao desempenho da atividade laboral exercida pelo
agravante.
Com efeito, há informações nos autos de que o agravante é motorista (fl. 130v),
ao passo que o bem penhorado é um caminhão, catalogado como sendo “veículo de
aluguel” (fl. 288), cuja definição legal, nos termos do art. 135 do CTB, é de bem des-
tinado ao transporte de passageiros ou empregados em qualquer serviço remunerado.
Essas características, portanto, permitem deduzir que o agravante realmente
o utiliza como instrumento do seu trabalho, a autorizar a invocação da norma
mencionada.
Nesse sentido:
(1)
Acórdão 814.472, 20130110504816APC, Rel. Sebastião Coelho, Rev. Sandoval Oliveira, 5ª Turma
Cível, j. 20.08.2014, DJE 29.08.2014, p. 132.
278 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
DECISÃO
Conhecido. Provido. Unânime.
(2)
Acórdão 724.707, 20130020170753AGI, Relª Ana Maria Duarte Amarante Brito, 6ª Turma Cível, j.
16.10.2013, DJE 22.10.2013, p. 130.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO
RELATÓRIO
Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão, item 00002 do
anexo, que segue in verbis:
“Fl. 53 – J. Indefiro, eis que a representação do espólio é feita pela pessoa
do inventariante. Daí o porquê faz-se necessário que o termo seja subscrito pelo
próprio inventariante. Cumpra-se o despacho de fl. 52. Intime-se.”
Alega o recorrente, em síntese, que na forma do disposto no art. 38 do Código
de Processo Civil a procuração geral basta para que o patrono possa firmar o termo
de inventariança em nome de seu outorgante, e esta procuração consta dos autos à
fl. 05, inclusive com poderes específicos e especiais; que se faz necessário fazer prova
da presente inventariança junto ao MM. Juízo da 11ª Vara de Órfãos e Sucessões
da Comarca da Capital; processo de inventário de Jose Martins da Costa, 0117225-
87.2012.8.19.0001, o qual se encontra em fase final, eis que já possui a concordância
dos doutos representantes do Ministério Público e da Fazenda Estadual.
Decisão do Relator no item 00012. Petições do agravante, itens 00016 e 00023.
Informações pelo juízo, item 00026, mantendo a decisão agravada e informando que
foi assinado o termo de inventariança. Despacho do Relator, item 00036, para que o
agravante informe se persiste o interesse recursal. Petição pelo agravante no sentido de
que o presente agravo não se encontra prejudicado, pois será necessária a expedição
de novo termo de inventariança com a colheita de nova assinatura do termo. Parecer
pela Procuradoria de Justiça, item 00040, pelo conhecimento e provimento do recurso.
VOTO
O recurso interposto é tempestivo e ostenta os demais requisitos de admissi-
bilidade, razão por que o conheço.
Requer o inventariante que o juízo de origem permita que o termo de inventa-
riança seja assinado por seu patrono, uma vez que não possui condições de se deslocar
até o juízo e que costuma viajar a trabalho e dificilmente se encontra no Município
do Rio de Janeiro durante os dias úteis, tendo, inclusive, outorgado procuração a
seu advogado com termos especiais e específicos para este fim.
Estabelece o art. 38 do Código de Processo Civil que “a procuração geral
para o foro, conferida por instrumento público, ou particular assinado pela parte,
habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para receber citação
inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar
ao direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso”.
Assim, temos que o citado artigo excepciona expressamente os atos que não
estão incluídos nos poderes para o foro em geral, entre eles o de firmar compromisso,
o que engloba o ato de assinar o termo de inventariança. Como há na procuração
conferida ao patrono do agravante, item 00001 do anexo, poder específico para
este fim, temos que não há motivo para que o pedido seja indeferido. Sendo assim,
merece reforma a decisão agravada.
Diante do exposto, voto pelo conhecimento e provimento do recurso para autorizar
que o advogado do agravante assine o termo de inventariança.
Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2015.
Desembargador Cezar Augusto Rodrigues Costa – Relator
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL
RELATÓRIO
CNF Administradora de Consórcios Nacional Ltda. interpôs agravo de ins-
trumento contra a decisão interlocutória proferida na ação de busca e apreensão
convertida em depósito nº 018.10.001576-7, a qual indeferiu o pedido de expedição
de mandado de busca e apreensão (fl. 191).
Sustenta o agravante a possibilidade de cumprimento da liminar anteriormente
concedida, independentemente da conversão da busca e apreensão em depósito.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 285
Pleiteia, dessa feita, a reforma da decisão agravada, a fim de que seja determi-
nada a expedição do mandado para a formalização da apreensão do veículo objeto
da lide (fls. 2-10).
Ausente pedido liminar admitiu-se o processamento do agravo na forma de
instrumento (fl. 198).
Ausente a triangularização processual, o agravado deixou de ser intimado.
Vieram conclusos os autos para julgamento.
Este é o relatório.
VOTO
Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.
Sustenta o agravante ser possível o cumprimento do mandado de busca e
apreensão do veículo alienado fiduciariamente, mesmo após a conversão da ação
em depósito.
Antecipo que razão lhe assiste.
O Decreto-Lei nº 911/69, faculta ao credor, quando frustrada a liminar de busca
e apreensão, a conversão do feito em ação de depósito ou de execução (arts. 4º e 5º).
Essas duas possibilidades visam remediar a ausência do bem para a satisfação
do crédito inadimplido, possibilitando ao credor a execução direta, com a penhora
e alienação de bens, ou a sentença de depósito, com a ordem de entrega do objeto
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento 2180550-
34.2015.8.26.0000, da Comarca de Novo Horizonte, em que é agravante Nabih
Nehmetallah Najm, é agravado Aparecido Donizete Ruiz.
Acordam, em 34ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São
Paulo, proferir a seguinte decisão: “Negaram provimento ao recurso. V. U.”, de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos exmos. Desembargadores Gomes Varjão
(Presidente), Nestor Duarte e Cristina Zucchi.
São Paulo, 30 de setembro de 2015.
Desembargador Gomes Varjão – Relator
288 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(1) STJ, 4ª T., REsp 97.646/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 15.10.96, DJ 18.11.96, p. 44.901.
290 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
nem sequer restou demonstrado nos autos. 3. Ainda que não fosse evidenciada a
coação moral sofrida (CC, art. 151), verifica-se o instituto da lesão, também apto a
justificar a anulação do negócio jurídico, nos termos do art. 171, II, do CC, por conta
da doação universal dos bens sem qualquer reserva, e ocorreu apenas em relação aos
bens do cônjuge virago em favor da sua filha, numa interpretação conjunta com o art.
548 do CC c/c o art. 1º, III, da CF, também autoriza a sua invalidação, eis que não
restou reservado uma parte ou renda suficiente para garantir a subsistência da parte
doadora e não ser possível, destarte, assegurar o mínimo patrimonial necessário a
concretizar a dignidade da pessoa humana. 4. Apelação provida. (TJES; APL 0013819-
49.2012.8.08.0013; 4ª C.Cív.; Rel. Des. Subst. Marcelo Pimentel; DJES 02/10/2015)
77/23 — AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO JURÍDICO. SUCESSIVOS EMPRÉSTI-
MOS TOMADOS JUNTO AOS RÉUS PELA EMPRESA AUTORA. TRANSFERÊNCIA
DA PROPRIEDADE DE BENS MÓVEIS E IMÓVEL NO DECORRER DOS ANOS.
Alegação, deduzida em sede de alegações finais, de que a transferência patrimonial
consubstanciaria pacto comissório. Art. 765 do Código Civil de 1916, com consen-
tâneo no art. 1.428 do Código Civil de 2002. Substrato probatório absolutamente
exíguo e inconclusivo a respeito. Coação tampouco indemonstrada. Incerteza quanto
à entrega voluntária dos bens pela própria devedora, em pagamento das dívidas
repetidamente contraídas. A documentação acostada pelos réus, à exceção do bem
imóvel, sugere a regularidade das obrigações contraídas, com a transferência a eles
dos bens questionados, até porque, como se consignou na sentença, não “é impos-
sível que se descarte que não foram dados em pagamento parcial da dívida, que por
tantos anos (e anos de, notoriamente, altíssima inflação) foi sendo renegociada”.
Marques, Rel. p/ o Ac. Min. César Asfor Rocha, Segunda Turma, DJe 16.03.2012.
2. É subsidiária a responsabilidade do ente municipal pelas obras de infraestrutura
necessárias à regularização de loteamento privado, quando ainda é possível cobrar
do loteador o cumprimento de suas obrigações. 3. Recurso especial não provido.
(STJ; REsp 1.394.701; Proc. 2013/0236369-6; AC; 1ª T.; Rel. Min. Benedito Gonçalves;
DJE 28/09/2015)
77/32 — AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PARQUE DA CIDADE. IRREGULARIDADE
NA EXPLORAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS. 1. O Ministério Público tem a função
institucional de proteção do patrimônio público (CF, art. 129, III), o que lhe autoriza
apurar irregularidades na exploração de área pública. 2. A omissão do Distrito Fe-
deral quanto à exploração de área pública por particular justifica a sua condenação
em obrigação de fazer para a adoção de medidas necessárias à regularização do uso.
(TJDF; APO 2011.01.1.032991-7; Ac. 886.829; 4ª T.Cív.; Rel. Des. Fernando Habibe;
DJDFTE 09/09/2015; p. 192)
77/33 — AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PATRIMÔNIO HISTÓRICO NACIONAL.
TOMBAMENTO. LEI Nº 11.483/07. BEM DA EXTINTA RFFSA. ESTAÇÃO FER-
ROVIÁRIA. CONTROLE JUDICIAL SOBRE DECISÕES ADMINISTRATIVAS. 1. O
patrimônio cultural brasileiro, constituído por bens de natureza material e imate-
rial, é tutelado pela Constituição Federal, conforme preceitua seu art. 216, sendo
de competência comum a todos os entes da federação a proteção aos bens de valor
artístico, histórico e cultural (art. 23, I, III e IV). 2. O tombamento, previsto no
art. 216, § 1º, da Constituição Federal e regulado pelo Decreto-Lei nº 25/1937, é
espécie de intervenção do Estado na propriedade, limitativa do exercício de direi-
luidor e deve reparar os danos causados (arts. 3º, IV, e 14, caput, e § 1º, da Lei nº
6.938/81). 4. Nesse diapasão, é irrelevante a demonstração do status quo ante dos
recursos ambientais, o que há de ser apurado em liquidação. 5. Natureza e comple-
xidade da demanda que autorizam a cominação e honorários de sucumbência em
R$ 10.000,00. 6. Agravo retido e apelo aos quais se nega provimento. (TJRJ; APL
0064056-64.2005.8.19.0001; 3ª C.Cív.; Rel. Des. Fernando Foch de Lemos Arigony da
Silva; DORJ 11/09/2015)
77/39 — AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA COIBIR A PRÁTICA RECORRENTE
DE POLUIÇÃO SONORA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE RECONHE-
CIDA. DANO MORAL COLETIVO. POLUIÇÃO SONORA. OCORRÊNCIA. PRE-
CEDENTES. REDUÇÃO DA INDENIZAÇÃO. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Recurso especial decorrente de ação civil
pública em que se discute danos morais coletivos decorrentes de poluição sonora e
de irregularidade urbanística provocadas por funcionamento dos condensadores e
geradores colocados no fundo do estabelecimento das condenadas. 2. Tratando-se
de poluição sonora, e não de simples incômodo restrito aos lindeiros de parede,
a atuação do Ministério Público não se dirige à tutela de direitos individuais de
vizinhança na acepção civilística tradicional, e sim à defesa do meio ambiente, da
saúde e da tranquilidade pública, bens de natureza difusa. O Ministério Público
possui legitimidade para propor ação civil pública com o fito de prevenir ou cessar
qualquer tipo de poluição, inclusive sonora, bem como buscar a reparação pelos
danos dela decorrentes. Nesse sentido: REsp 1.051.306/MG, Rel. Min. Castro Meira,
Rel. p/o Ac. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, j. 16.10.08, DJe 10.09.2010. 3.
meados de 2004 até o final de 2011, com uma breve interrupção em 2007; devendo
haver a meação do patrimônio adquirido durante esse período. Apelo improvido
à unanimidade. (TJSE; AC 201300217984; Ac. 15768/2015; 1ª C.Cív.; Rel. Des. Ruy
Pinheiro da Silva; DJSE 21/09/2015)
77/61 — AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ESPAÇO PÚBLICO. BAR
QUE SERVE ESCOLA ESTADUAL. TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO. Em se
tratando de imóvel como bem público, decorra a titularidade de direito real ou pes-
soal, e não estando os bens públicos sujeitos à usucapião, deve o espaço utilizado
como bar de escola estadual ser desocupado, para fins de que seja licitada a explo-
ração da área. (TJRS; AC 0180600-84.2015.8.21.7000; 20ª C.Cív.; Rel. Des. Carlos Cini
Marchionatti; DJERS 17/09/2015)
77/62 — AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. CASAMENTO
E DIVÓRCIO REALIZADOS NO EXTERIOR. ASSENTOS REGISTRADOS NO
BRASIL APÓS TRASLADO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA, QUE DECRETOU
O DIVÓRCIO, DEVIDAMENTE HOMOLOGADA PELO E. STJ. PRETENSÃO DE
SUPRESSÃO DO PATRONÍMICO DO EX-MARIDO. POSSIBILIDADE. EXEGESE
DO ART. 32, § 1º, DA LEI Nº 6.015/73. TRASLADO DO ASSENTO DE DIVÓRCIO
NO 1º OFÍCIO DE DOMICÍLIO DO REGISTRADO QUE CONFERIU EFICÁCIA
AO DIVÓRCIO NO TERRITÓRIO PÁTRIO. CONSEQUENTE SURGIMENTO DO
DIREITO DE RENÚNCIA AO USO DO SOBRENOME DO EX-MARIDO (ART.
1.578, § 1º, DO CC). PRETENSÃO QUE NÃO BUSCA ALTERAÇÃO DO QUE
FOI REGISTRADO NO EXTERIOR OU DA TRANSCRIÇÃO DESSE REGISTRO
NO CARTÓRIO COMPETENTE, MAS A PRÁTICA DE NOVO ATO REGISTRAL,
DESVINCULADO DO ANTERIOR. APELO PROVIDO. 1. Nos termos do art. 32, §
1º, da Lei nº 6.015/72 (Lei de Registros Públicos), uma vez concretizado o registro
do divórcio da ora apelante, está apto a produzir os seus mais variados efeitos no
direito pátrio. Dentre estes, destaca-se o estampado pela regra do art. 1.578, § 1º, do
Código Civil, que autoriza ao cônjuge, a qualquer momento, renunciar ao direito de
usar o sobrenome do outro. 2. Pretensão aduzida que não busca a alteração do que
foi registrado no exterior ou da transcrição desse registro no cartório competente,
mas a prática de um novo ato registral, desvinculado do anterior, decorrente dos
próprios efeitos do divórcio registrado. 3. Não subsunção da temática em discus-
são – direito de supressão do nome de casada – às leis estrangeiras, ainda que o
casamento e o divórcio tenham se realizado fora do território pátrio. Regra do art.
7º, caput, do Decreto-Lei nº 4.657/1941 (Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro) no sentido de que a lei do país em que domiciliada a pessoa determina as
regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos
de família. (TJPR; ApCiv 1343319-5; 12ª C.Cív.; Relª Desª Denise Kruger Pereira; DJPR
01/10/2015; p. 277)
77/63 — AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA PARA ACRESCER AO SOBRENOME DA AUTORA O PATRONÍMI-
CO DO MARIDO. AUSÊNCIA DE PRECLUSÃO TEMPORAL PARA O DESIDERATO.
JUSTIFICATIVA IDÔNEA. IDENTIFICAÇÃO PERSONALÍSSIMA DA ENTIDADE
FAMILIAR. INTERPRETAÇÃO CONJUNTA DA REGRA DOS ARTS. 109 DA LEI
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 315
SP, Rel. Des. Morais Pucci, j. 15.05.2014, 27ª Câmara de Direito Privado, public.
16.05.2014. 4. Filio-me ao primeiro entendimento, de que não cabe rescindendo
na sentença meramente homologatória, isto porque este posicionamento já tem o
sustentáculo de precedentes jurisprudenciais, e mais: a adoção da segunda corrente
torna diminuta a utilidade da ação anulatória, pois que naturalmente será pequeno
o espaço de tempo entre a prática de atos como a renúncia à prescrição, ou reco-
nhecimento do pedido, ou a transação, e o trânsito em julgado da sentença que os
homologue, sendo, desta forma, descabidos os fundamentos expostos pelo agravante,
pois que, em verdade, este e. Tribunal sequer poderia analisar a matéria, inclusive
quanto à prescrição, porquanto impossível, ante a necessidade, como já dito, do
aforamento de ação anulatória (art. 486 do CPC). 5. Em ressunta, a sentença que se
pretende rescindir é meramente homologatória do acordo celebrado entre as partes,
sem análise do mérito de direito material controvertido. Cabível a anulação do ato
realizado entre as partes (art. 486 do CPC), não a propositura de ação rescisória (art.
485 e seus incisos), se o vício alegado se refere ao acordo, não à sentença. (TJCE;
AgRg 0031996-23.2013.8.06.0000/50001; C.Cív.Reun.; Rel. Des. Antônio Pádua Silva;
DJCE 08/10/2015; p. 12)
77/81 — AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
AGRAVO. Retenção de recurso extraordinário com base no art. 542, § 3º, do CPC.
Descabimento. Precedentes. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (STF;
ARE-AgR 899560; AL; 2ª T.; Relª Minª Cármen Lúcia; DJE 06/10/2015; p. 32)
77/82 — ALIMENTOS AVOENGOS COMPLEMENTARES. FIXAÇÃO. CABI-
MENTO. QUANTUM REDUZIDO. MARCO FINAL DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.
Recurso especial provido. (STJ; REsp 1.196.699; Proc. 2010/0100418-9; RS; 4ª T.; Rel.
Min. Luis Felipe Salomão; DJE 20/10/2015)
77/93 — COMPETÊNCIA. CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL PARA DIS-
POR SOBRE A TAXA DE JUROS BANCÁRIOS. NÃO REVOGAÇÃO. 1. O Supremo
Tribunal Federal já decidiu pela validade da Lei nº 4.595/64, na parte que outorga
poderes ao Conselho Monetário Nacional para dispor sobre as taxas de juros ban-
cários. Precedente. 2. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental a
que se nega provimento. (STF; RE-ED 582.437; RS; 1ª T.; Rel. Min. Roberto Barroso;
DJE 15/09/2015; p. 49)
77/94 — COMPRA E VENDA. RESCISÃO CONTRATUAL. Relação de con-
sumo. Partes que preenchem os requisitos estabelecidos pelos arts. 2º e 3º do CDC.
Legitimidade passiva quanto à comissão de corretagem. Cabimento. Aplicação do
art. 7º, parágrafo único, do CDC. Ausência de interesse recursal quanto à iniciativa
pela resolução contratual. Aplicação do art. 499 do CPC. MÉRITO. Intermediação.
Stand de vendas montado pela vendedora, com atendimento por corretores por ela
disponibilizados, para a comercialização das unidades. Obrigação de pagamento da
comissão de quem contratou o corretor. Contrato de adesão. Imputar o pagamento
da corretagem e a contratação da taxa Sati ao consumidor, como condição à aqui-
sição do bem é prática abusiva. Venda casada. Devolução das quantias adimplidas.
Percentual de retenção majorado para 20% sobre os valores pagos. Percentual que
se mostra mais adequado à hipótese. Precedente majoritário deste e. Tribunal. Afas-
tamento do enriquecimento sem causa. Inteligência das Súmulas ns. 01 e 02 desta
Corte. Afastamento de ofício de juros de mora sobre o valor do contrato. Consectário
legal que pressupõe mora da ré. Juros moratórios sobre a restituição da comissão de
corretagem e Taxa SATI. Termo a quo. Data da citação. Inteligência do art. 405 do
Código Civil. Recurso não conhecido em parte e, na parte conhecida, parcialmente
provido. (TJSP; APL 4033620-88.2013.8.26.0224; Ac. 8879131; 5ª C.D.Priv.; Rel. Des.
Fábio Podestá; DJESP 09/10/2015)
77/95 — CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS E MATERIAIS DECORRENTES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
LEI Nº 11.340/06. JUIZADO ESPECIALIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FA-
MILIAR CONTRA A MULHER. PRETENSÃO DE NATUREZA EXCLUSIVAMENTE
CÍVEL. 1. A competência cível atribuída pela Lei nº 11.340/06, Lei Maria da Penha,
aos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher se limita à apreciação
das medidas protetivas de urgência de natureza cível e de família. 2. A pretensão de
condenação ao pagamento de indenização por danos morais e materiais, ainda que
decorrentes de ato tipificado na Lei Maria da Penha, tem natureza exclusivamente
cível e não atrai a competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher, posto que não se destina à promoção de quaisquer medidas de proteção
especificadas na Lei. 3. Conflito conhecido e julgado procedente para declarar com-
petente para processar e julgar o pedido de indenização por danos morais e materiais
o Juízo da Vara Cível. (TJDF; CCP 2015.00.2.019272-4; Ac. 897.724; 2ª C.Cív.; Rel.
Des. Carlos Rodrigues; DJDFTE 08/10/2015; p. 99)
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 327
prova dos autos, concluíram que houve falha médica, seja porque o peso do feto
(4.100 gramas) indicava a necessidade de realização de parto por cesariana, seja
porque a utilização da técnica de fórceps não se encontra justificada em prontuário
médico. 4. A comprovação da culpa do médico atrai a responsabilidade do hospital
embasada no art. 932, inciso III, do Código Civil (“são também responsáveis pela
reparação civil: (...) III – o empregador ou comitente, por seus empregados, servi-
çais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;”),
mas permite ação de regresso contra o causador do dano. 5. O Superior Tribunal de
Justiça, afastando a incidência da Súmula nº 7/STJ, tem reexaminado o montante
fixado pelas instâncias ordinárias apenas quando irrisório ou abusivo, circunstâncias
inexistentes no presente caso, em que arbitrada indenização no valor de R$ 80.000,00
(oitenta mil reais). 6. Recurso especial parcialmente provido. (STJ; REsp 1.526.467;
Proc. 2014/0143277-8; RJ; 3ª T.; Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva; DJE 23/10/2015)
77/108 — DESAVENÇA ENTRE VIZINHAS. ANIMAL DE ESTIMAÇÃO
COM NOME IGUAL AO DA VIZINHA. DANO MORAL CONFIGURADO. VALOR
INDENIZATÓRIO REDUZIDO PARA R$ 300,00. 1. Trata-se de recurso inominado
em face da sentença de procedência do pedido indenizatório formulado por Joana
Lino da Piedade ao argumento de que Helane Cavalcante da Silva Ribeiro atribuiu
ao seu animal de estimação (porca) o nome de Joana. 2. Em suas razões, p. 25/28,
a recorrente diz que possui a porca há 9 (nove) meses e que a ela deu no nome de
Fiona, e não Joana. Pugna pela reforma da referida sentença para ser julgado impro-
cedente o dano moral. 3. Verificados os pressupostos de admissibilidade, conheço
do recurso. 4. Em que pese a existência de desavenças anteriores entre as partes,
se nega provimento. (STF; ARE-AgR 787.123; DF; 1ª T.; Rel. Min. Roberto Barroso;
DJE 22/09/2015; p. 44)
77/127 — EXECUÇÃO FISCAL. ADESÃO A PROGRAMA DE PARCELA-
MENTO. PENHORA DE BENS PELO CONVÊNIO BACEN JUD. DESBLOQUEIO.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DESTE TRIBUNAL. 1. A adesão do executado a
programa de parcelamento gera a suspensão da exigibilidade do crédito tributário,
de modo que não mais se justifica a manutenção de bloqueio de valores por meio
do convênio Bacen Jud. Precedentes do TRF da 1ª Região. 2. Agravo regimental não
provido. (TRF 1ª R.; AgRg-AI 0051055-68.2013.4.01.0000; MG; 8ª T.; Rel. Des. Fed.
Marcos Augusto de Sousa; DJF1 02/10/2015)
77/128 — EXECUÇÃO FISCAL. DÍVIDAS TRIBUTÁRIAS DA FILIAL. RES-
PONSABILIDADE DA MATRIZ. POSSIBILIDADE. PESSOA JURÍDICA ÚNICA. 1.
A filial, na condição de espécie de estabelecimento, é um bem, um instrumento,
uma universalidade de fato que integra o patrimônio da sociedade empresária, e
não uma pessoa distinta desta. Destarte, a discriminação do patrimônio da empresa,
mediante a criação de filiais, não afasta a unidade patrimonial da pessoa jurídica,
que, na condição de devedora, deve responder com todo o ativo do patrimônio
social por suas dívidas, à luz de regra de direito processual prevista no art. 591 do
Código de Processo Civil, segundo a qual “o devedor responde, para o cumprimento
de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições
estabelecidas em lei” (REsp 1.355.812/RS, Primeira Seção, Rel. Min. Mauro Cam-
pbell Marques, submetido ao regime do art. 543-C do CPC). 2. Agravo regimental
não provido. (STJ; AgRg-REsp 1.544.571; Proc. 2015/0177535-7; SC; 2ª T.; Rel. Min.
Mauro Campbell Marques; DJE 16/10/2015)
77/129 — EXECUÇÃO FISCAL. EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO À RECEITA FEDE-
RAL. DECLARAÇÃO DE OPERAÇÕES IMOBILIÁRIAS (DOI). APRESENTAÇÃO
DAS TRÊS ÚLTIMAS DECLARAÇÕES DE IMPOSTO DE RENDA (DIR). POSSIBI-
LIDADE. Uma vez esgotadas as diligências na busca de bens passíveis de penhora
e não tendo o exequente logrado êxito, cabível a interferência do judiciário para
determinar a expedição de ofício à Receita Federal, fins de obtenção das declarações
de imposto de renda e operações imobiliárias. Precedentes desta Corte. Ademais, cabe
lembrar que, nos termos do disposto no art. 5º, LXXVIII, da CF, o Poder Judiciário
deve garantir a celeridade no trâmite dos processos judiciais. Recurso provido, por
decisão monocrática. (TJRS; AI 0373770-21.2015.8.21.7000; 2ª C.Cív.; Rel. Des. João
Barcelos de Souza Júnior; DJERS 15/10/2015)
77/130 — EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA ONLINE. CONTA-CORRENTE
CONJUNTA. PENHORA DA TOTALIDADE. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE. 1.
Discute-se nos autos a possibilidade de a penhora online recair sobre a totalidade
dos valores contidos em conta conjunta quando um dos titulares não é responsável
pela dívida. 2. A Segunda Turma do STJ, no julgamento do REsp 1.229.329/SP, de
minha relatoria, em caso semelhante ao dos autos, posicionou-se no sentido de
que, no caso de conta conjunta, cada um dos correntistas é credor de todo o saldo
depositado, de forma solidária. O valor depositado pode ser penhorado em garantia
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 339
da execução, ainda que somente um dos correntistas seja responsável tributário pelo
pagamento do tributo. Agravo regimental improvido. (STJ; AgRg-REsp 1.550.717;
Proc. 2015/0200041-0; RS; 2ª T.; Rel. Min. Humberto Martins; DJE 16/10/2015)
77/131 — EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA. FATURAMENTO DE EMPRE-
SA. ART. 655, INCISO VII, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. REQUISITOS
AUTORIZADORES. PRESENÇA. PERCENTUAL DA PENHORA. REDUÇÃO. 15%
(QUINZE POR CENTO) PARA 5% (CINCO POR CENTO). CASO CONCRETO.
POSSIBILIDADE. RESTRIÇÃO. FILIAL. GERADORA DO TRIBUTO. IMPOSSIBI-
LIDADE. UNIDADE PATRIMONIAL DA PESSOA JURÍDICA. RESP 1.355.812/RS
(ART. 543-C DO CPC). AFIRMAÇÃO. NOMEAÇÃO DE DEPOSITÁRIO. ART. 655-A,
§ 3º, DO CPC. NECESSIDADE. SÓCIO ADMINISTRADOR. RECOMENDAÇÃO.
RECEBÍVEIS. ADMINISTRADORAS DE CARTÕES DE CRÉDITO E DÉBITO. FA-
TURAMENTO. CARACTERIZAÇÃO. PENHORA. POSSIBILIDADE. 1. A incidência
da penhora sobre o faturamento da empresa devedora é possível, conforme expressa
disposição de Lei, constante do art. 655, inciso VII, do Código de Processo Civil. 2.
Recomendando as circunstâncias do caso concreto, haja vista inexistir percentual
fixado pela lei para essa modalidade de penhora, cuidando-se de atribuição afeta ao
julgador caso a caso, é possível reduzir o percentual do faturamento a ser penhorado
de 15% (quinze por cento) para 5% (cinco por cento), encontrando-se este último
em linha com vários precedentes, de vários tribunais pátrios, notadamente deste
TJDFT. 3. O faturamento da empresa, instituto próprio da contabilidade, deve ser
considerado, conforme lição de Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero (Código
de Processo Civil comentado artigo por artigo. 4. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: RT.
do art. 535 do Código de Processo Civil, mas traz somente alegação genérica de
negativa de prestação jurisdicional, é deficiente em sua fundamentação, o que atrai
o óbice da Súmula nº 284 do Supremo Tribunal Federal. 2. A jurisprudência desta
Corte firmou posicionamento no sentido de que não se justifica a remessa dos autos
ao juízo falimentar se a execução promovida contra pessoa jurídica foi direcionada
para atingir os sócios, pois o patrimônio da falida permanece livre de constrição. 3.
Agravo regimental não provido. (STJ; AgRg-AREsp 709.729; Proc. 2015/0108125-6;
RS; 3ª T.; Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva; DJE 08/10/2015)
77/135 — FGTS. CONTRIBUIÇÃO DE CARÁTER NÃO TRIBUTÁRIO. BASE
DE CÁLCULO. NATUREZA DAS PARCELAS PAGAS AO EMPREGADO. INDENI-
ZATÓRIA/REMUNERATÓRIA. IRRELEVÂNCIA PARA FINS DE INCIDÊNCIA DA
CONTRIBUIÇÃO DO FGTS. PRECEDENTES. I – “O FGTS trata-se de um direito
autônomo dos trabalhadores urbanos e rurais de índole social e trabalhista, não pos-
suindo caráter de imposto e nem de contribuição previdenciária. Assim, não é possível
a sua equiparação com a sistemática utilizada para fins de incidência de contribuição
previdenciária e imposto de renda, de modo que é irrelevante a natureza da verba
trabalhista (remuneratória ou indenizatória/compensatória) para fins de incidência
da contribuição ao FGTS” (REsp 1.436.897, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, DJe 19.12.2014). II – À luz da orientação firmada pela e. Corte,
mostra-se irrelevante o debate acerca da natureza da parcela recebida pelo empregado,
se indenizatória ou remuneratória, para fins de incidência da contribuição do FGTS,
uma vez que este não possui caráter tributário, não podendo ser interpretada sua
aplicação/incidência em analogia com a contribuição previdenciária. III – Merece
Idalina Ribeiro é a mesma Idalina Alves de Souza, herdeira de Orozimbo Pinto Ribeiro,
proprietário do denominado Sítio Cambury. Cuida-se de matéria afeta aos autos do
processo principal, limitando-se o presente incidente/recurso à análise da certidão
de casamento (cópia) juntada aos autos. 6. As alegações de eventual impedimento
ou suspeição do julgador de origem devem ser tratadas por via própria. 7. Recurso
conhecido e desprovido. (TJES; AI 0041799-64.2014.8.08.0024; 2ª C.Cív.; Rel. Des.
Subst. Fábio Brasil Nery; DJES 23/09/2015)
77/145 — INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO COM MOTOCICLE-
TA DECORRENTE DE DEFEITOS EM VIA MUNICIPAL. AUSÊNCIA DE SINALI-
ZAÇÃO. ÓBITO DO COMPANHEIRO E PAI DOS AUTORES. RESPONSABILIDADE
CARACTERIZADA. ABALO MORAL. PENSÃO MENSAL. DEVER DE INDENIZAR.
Preliminar de nulidade da sentença por julgamento ultra petita inacolhida. Mérito.
Afastamento da responsabilidade. Rejeição. Excludentes inocorrentes. Evidenciado
o nexo causal entre a conduta omissiva e o evento morte. Dano moral in re ipsa.
Quantum indenizatório. Montante proporcional, razoável e adequado ao sofrimento
experimentado. Pensão mensal devida à companheira e aos filhos menores. Depen-
dência econômica. Juros de mora. Aplicabilidade da Súmula nº 54 do STJ mantida.
Sentença confirmada. (TJSC; AC 2013.017234-9; 4ª C.D.Púb.; Rel. Des. Edemar Gruber;
DJSC 09/10/2015; p. 298)
77/146 — INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE POST MORTEM. PARTE
AUTORA BENEFICIÁRIA DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA. INVERSÃO DO ÔNUS
DA PROVA. TEORIA DA DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA. CA-
BIMENTO. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. DECISÃO MANTIDA. 1.
Segundo a teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova, que vem sendo admitida
pela jurisprudência do colendo STJ e desta Corte de Justiça, atribui-se a respon-
sabilidade pela produção da prova a quem tem melhores condições de produzi-la,
conforme o caso concreto, retirando-se, assim, o peso da carga probatória daquele
que se encontra em evidente debilidade de suportá-lo, repassando-o para quem se
encontra em melhores condições de produzir a prova essencial ao deslinde do litígio.
2. Diante da notória dificuldade da autora/agravada, beneficiária da gratuidade de
justiça, em promover a realização do exame de DNA, a se efetivar por carta rogatória
na França, mediante a colheita de material genético de parentes do falecido e dos
réus/agravantes ou por meio da exumação do cadáver também naquele país, e tendo
em conta o alcance financeiro limitado da Portaria nº 53/2011 desta Corte de Justiça
e o interesse indubitável dos agravantes na produção da referida prova, o que foi
expresso até mesmo nas razões da apelação cível por eles interposta e que ensejou
a cassação da sentença primeva, proferida sem realização do respectivo exame de
DNA, vislumbra-se escorreita a decisão agravada, em que, com base na teoria da
distribuição dinâmica do ônus da prova, promoveu-se a inversão do ônus da prova
para determinar aos réus/agravantes que arquem com os custos de sua realização,
incluindo as despesas de tradução da carta rogatória e demais despesas a serem
incorridas quando do seu cumprimento na França, sob pena de se inviabilizar a
solução da lide, cujo trâmite, aliás, já se arrasta por mais de uma década. Agravo de
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 347
madrasta, suposta agressora, não mais subsistem motivos para que as visitas do
genitor sejam monitoradas durante a visitação, sob pena de restar prejudicada a
reconstrução dos laços com o pai. 3. Durante o período de visitação deve o genitor
zelar pela integridade do filho, adotando a postura de se comprometer a estar atento
aos momentos em que a criança estiver na companhia da madrasta, não delegando
tarefas referentes aos cuidados do infante a terceiro, além de não deixá-lo sozinho
com a suposta agressora. 4. Diante de um quadro de suposto abuso sexual por parte
da companheira do genitor e de ruptura da convivência paterna, as visitas prolon-
gadas demandam um período razoável de adaptação do menor, com a finalidade de
fortalecimento dos laços com o pai, reconstrução do convívio com a família paterna
e, também, para gerar segurança à mãe quanto às visitas por longo período. 5. Não
há que se falar em acolhimento do incidente de alienação parental se o conjunto
probatório não revela nenhum pressuposto de sua eventual prática. 6. Apelação da
autora conhecida e parcialmente provida. Apelação do MPDFT e recurso adesivo
do réu conhecidos e não providos. (TJDF; APC 2015.01.1.013114-4; Ac. 896.461; 1ª
T.Cív.; Relª Desª Simone Lucindo; DJDFTE 07/10/2015; p. 196)
77/162 — RESOLUÇÃO DE CONTRATO PARTICULAR COM PEDIDO DE
REINTEGRAÇÃO POSSESSÓRIA. COMPROMISSO DE VENDA E COMPRA DE
IMÓVEL. REGULARIDADE DO ATO CITATÓRIO PRATICADO. CITAÇÃO POR
HORA CERTA. O simples fato de a epístola descrita no art. 229 do CPC ter sido
recebida por terceira pessoa não autoriza a conclusão de nulidade do ato citatório,
pois, consoante remansoso entendimento, a expedição da carta traduz mera forma-
lidade complementar. Descabimento da exceção de usucapião invocada. Em razão
de elementos que permitam concluir pela falha no serviço público. Vítima que fazia
visitas íntimas frequentes. Falta de provas de que vítima e autor dos fatos estives-
sem sofrendo extorsão por parte do crime organizado. Sentença mantida. Recurso
conhecido e desprovido. (TJSP; APL 1019833-37.2014.8.26.0053; Ac. 8854922; 2ª
C.D.Púb.; Relª Desª Vera Angrisani; DJESP 07/10/2015)
77/171 — RESPONSABILIDADE CIVIL. PRETENDIDA INDENIZAÇÃO EM
DECORRÊNCIA DE ACIDENTE ENVOLVENDO AMBULÂNCIA DE PROPRIEDA-
DE DE MUNICIPALIDADE REFERIDA. ESPOSA DO AUTOR QUE, TRANSPOR-
TADA EM CITADA AMBULÂNCIA, VEIO A FALECER. INDENIZAÇÃO DEVIDA
PELO DANO MORAL CARACTERIZADO. Presunção de culpa do motorista da
ambulância, que bateu na parte traseira de caminhão que seguia à frente, reconhecida.
Recurso parcialmente provido para julgar a ação procedente em parte. (TJSP; APL
0001453-61.2009.8.26.0019; Ac. 8852838; 4ª C.D.Púb.; Rel. Des. Ferreira Rodrigues;
DJESP 08/10/2015)
77/172 — RESPONSABILIDADE CIVIL EM RAZÃO DE O PRODUTO APRE-
SENTAR UM CORPO ESTRANHO. OBJETO DE METAL NÃO IDENTIFICADO NO
INTERIOR DO BISCOITO. PRODUTO IMPRÓPRIO PARA CONSUMO. Documentos
e provas que corroboraram o exposto na exordial, danos morais configurados, ainda
que o produto não tenha sido ingerido pelo consumidor. Situação irregular do pro-
duto impróprio para consumo caracteriza potencial risco à saúde do consumidor e
provoca sentimentos de insegurança, vulnerabilidade e repugnância, caracterizando
danos morais passíveis de indenização. Constituindo-se prática abusiva a entrega
dos produtos com defeito de fabricação. Frustrando a expectativa lícita criada ao
consumidor impossibilitado de usufruir bens de consumo não duráveis. Dano moral
configurado. Sentença que julgou procedente a queixa da autora. Indenização a título
de danos morais arbitrada no montante de R$ 7.000,00 (sete mil reais). Quantum
arbitrado em valor excessivo. Redução em consonância com o princípio da razoabi-
lidade. Comando sentencial parcialmente reformado para reduzir o valor arbitrado
a título de danos morais de R$ 7.000,00 (sete mil reais) para R$ 2.000,00 (dois mil
reais); e no mais, manter a r. sentença pelos seus próprios fundamentos. Recurso
conhecido e parcialmente provido. Sem custas e honorários advocatícios em razão
de recorrente vencedor. (TJBA; Rec 0000197-80.2014.805.0023-1; 3ª T.R.; Relª Desª
Josefa Cristina Tomaz Martins Kunrath; DJBA 10/09/2015)
77/173 — REVISÃO DE CONTRATO. CHEQUE ESPECIAL. APLICABILIDA-
DE CDC. JUROS. TAXA MÉDIA. CAPITALIZAÇÃO MENSAL. POSSIBILIDADE.
O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos contratos bancários, conforme
pacificado na Súmula nº 297 do STJ, desde que haja relação de consumo, ainda que
por equiparação. Sob a égide do Código de Defesa do Consumidor, adequar-se-á
o princípio pacta sunt servanda, tornando-o relativo, em face da à função social do
contrato e da boa-fé das partes, proporcionando a defesa do consumidor em caso
de pactos abusivos, sem que isso enseje insegurança jurídica. Embora não haja a
limitação dos juros para instituições financeiras, não pode sua taxa ser totalmente
liberada, sem nenhum controle efetivo, devendo ser declarada a abusividade de
cláusula que estipule juros excessivos. A capitalização de juros é lícita se contratada,
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 357
mostra suficiente a gerar um dano moral indenizável, sendo necessário que a postura
do cônjuge infiel seja ostentada de forma pública, comprometendo a reputação, a
imagem e a dignidade do companheiro. 4. Recurso improvido. (TJES; APL 0002963-
55.2010.8.08.0026; 1ª C.Cív.; Rel. Des. Júlio César Costa de Oliveira; DJES 14/10/2015)
77/181 — UNIÃO ESTÁVEL. NÃO CONFIGURAÇÃO. ALEGADO COMPA-
NHEIRO CASADO. IMPEDIMENTO LEGAL E INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA.
1. Embora o relacionamento afetivo do casal tenha perdurado ao longo de 35 anos,
com dois filhos, a autora sempre se manteve residindo na casa de seus pais, e lá
mantinha seus encontros com o agora de cujus. Jamais, portanto, mantiveram vida
em comum sob o mesmo teto. O varão a “ajudava” nas despesas e durante todo esse
tempo sempre preservou a vida em comum com a esposa, e, embora as promessas
que fazia à autora, jamais concretizou a separação – o que era do pleno conhecimento
da autora. Portanto, não há falar em união estável putativa, no caso. 2. Assim, afora
o impeditivo legal à caracterização da união estável – decorrente da constância do
casamento do varão –, a ausência do intuito de constituir família (pois a autora
permaneceu sempre residindo com os pais), não se vê como configurada entidade
familiar entre o casal. Por maioria, deram provimento, vencido o Desembargador
Relator. (TJRS; AC 0253333-48.2015.8.21.7000; 8ª C.Cív.; Rel. Des. José Pedro de
Oliveira Eckert; DJERS 10/09/2015)
77/182 — USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA. OPOSIÇÃO DO MUNICÍPIO.
METRAGEM DO IMÓVEL INFERIOR À PREVISÃO DA LEI MUNICIPAL. IRRE-
LEVÂNCIA. INCIDÊNCIA DE TESE FIXADA EM AUTOS DE REPERCUSSÃO
GERAL. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA QUE NÃO PODE SER OBSTADA POR
admite o destaque de parcela desse direito para fins de transação e disposição, tal
qual se dá na sua registrabilidade enquanto marca, desde que autorizada de forma
expressa e delimitada. 3. A autorização de uso de nome civil ou assinatura mantém
latente, na esfera jurídica do titular do direito de personalidade, o direito de defesa
contra utilização que desborde os limites da autorização ou ofenda a imagem ou
a honra do indivíduo representado. 4. Autorizada a utilização apenas na forma de
assinatura – marca mista –, não pode o autorizatário utilizá-la por qualquer outra
forma – marca nominativa. 5. O registro da marca composta por nome civil ou
assinatura, cuja utilização fora autorizada, ganha autonomia em relação à pessoa a
que alude, passando a vincular-se ao bem ou ao serviço que denomina, com a dupla
finalidade de viabilizar a identificação de sua origem pelos consumidores e resguar-
dar a livre-concorrência. 6. Ademais, o desenvolvimento da marca no segmento de
sua exploração, apesar de ter em si agregado o valor da pessoa representada pelo
nome civil, vincula-se ao bem ou ao serviço, o qual também agrega valor à marca.
7. Diante dessa autonomia, muito embora não seja possível ao cessionário de marca
mista consubstanciada na assinatura do pintor sua utilização por qualquer outra
forma, tampouco será possível nova autorização para exploração por terceiros na
mesma classe. Do contrário, ter-se-ia configurada violação à proteção marcária re-
sultante na confusão dos consumidores quanto à origem do produto, bem como o
desenvolvimento de concorrência parasitária. 8. A cessão de marca é instrumento
apto a transferir os direitos de propriedade da marca transacionada, legitimando
o cessionário ao uso, fruição, disposição e reivindicação e, por consequência, a
opor-se, ainda que preventivamente, à pretensão de registro por terceiro, inclusive
o próprio cedente. 9. Recurso especial parcialmente provido. (STJ; REsp 1.532.206;
Proc. 2015/0105289-5; RJ; 3ª T.; Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze; DJE 13/10/2015)
A DUALIDADE HAVIDA (A VIDA): SERIA O ABORTO
QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA OU DE POLÍTICA
CRIMINAL?*
TITLE: The duality of life: is abortion a matter of public health or criminal policy?
ABSTRACT
Should abortion be treated as a matter of public health or stay in the sphere of
criminal policy? Notwithstanding the interdisciplinarity of the subject (whether it is
related to religion, politics or law), and after this duality and the strong reasons of each
current of thought being examined, the dichotomous question remains.
Keywords: Abortion. Criminal Policy. Public Health.
A interrupção do nascimento, por mais antiga que seja, traduz um tema que
até os dias atuais permanece latente na sociedade – precipuamente por trazer em
seu bojo questionamentos axiológicos e religiosos.
Tal fato, diga-se de passagem, é visualmente perceptível por diversos eventos
recentes que permearam os jornais e as revistas nos últimos anos.
Como exemplo, ilustramos: a) o programa nacional de direitos humanos, que
em maio de 2010 trazia em seu corpo redação alterando, dentre vários pontos, a via-
bilidade de abortamento; b) a revista TPM, de novembro de 2014, com a participação
(*) Tal artigo se trata de uma versão estendida, verticalizada, do artigo Aborto: Questão de Saúde Pública
ou de Política Criminal?, publicado pelo site Empório do Direito (<emporiododireito.com.br>) em 12 de
novembro de 2015.
362 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(1) Ponderação de interesses, fruto do substantive due process (dimensão material do devido processo
constitucional), que se preocupa com uma solução equilibrada.
Para tanto, emergem alguns sub-princípios, muito bem explanados por Teori Albino Zavascki (apud
DIDIER Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento.
10. ed. Salvador: Juspodivm, 2008. v. I. p. 38-39).
Vejamos:
a) (sub)princípio da menor restrição possível, segundo o qual o tribunal deve observar que a mitigação,
que se faça a qualquer um dos bens jurídicos em conflito, seja a menor possível e ocorra dentro da
medida do necessário;
b) umbilicalmente relacionado ao axioma ut retro estudado está o cânone da salvaguarda do núcleo es-
sencial, que se consubstancia na impossibilidade de se debelar um dos bens jurídicos em conflito ou de
retirar de um deles sua substância elementar. Denominado, também, de princípio da escolha do meio
mais suave (das Prinzip der Wahl des mildesten Mittels ou, ainda, Gebot des mildesten Mittels), pela qual,
diante de medidas que servem para a obtenção de um mesmo fim, deve-se eleger aquela menos nociva
aos interesses do cidadão.
c) de mais a mais, há a exigibilidade do (sub)princípio da necessidade (Erforderlichkeit), que legitima a
ponderação sempre que for inviável a convivência concomitante das normas em desarmonia (Erfordern
– exigir lo que se estima necesario. In: QUINTANO, Johanna Heilpern de; RIPOLLES, Antonio Quin-
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 363
tano. Diccionario de derecho comparado [alemán-españo]. Madrid: Editorial Revista de Derecho Privado,
1951. p. 132); e
d) derradeiramente, vislumbra-se o (sub)princípio da pertinência ou aptidão (Geeignetheit), donde se
averigua se a medida empregada é o meio adequado a se atingir o desate colimado.
(2) Conforme denota a pesquisa nacional de aborto, realizada pela Universidade de Brasília em 2010, “a
religião não é um fator importante para a diferenciação das mulheres no que diz respeito à realização do
aborto”. É que, ao se refletir a composição religiosa do país, “a maioria dos abortos foi feita por católicas,
seguidas de protestantes e evangélicas e, finalmente, por mulheres de outras religiões ou sem religião”.
Tal fato é indicativo, nesse passo, de que uma das maiores razões para a prática de tal ato se encontra no
desespero de a gestante ter a responsabilidade de criar uma criança indesejada (como acima pontuado),
agravado, muitas vezes, pelo desaparecimento repentino do pai do feto. De mais a mais, é digno de nota
que em outras situações este desespero é fruto dos costumes em que a gestante se faz inserida: como a
forma de sua criação, etc.
(3) GOMES, Luiz Flávio. Em defesa da vida, o aborto. Porto Alegre: Magister/RS. Publicado em: 22 out.
mulher faz aborto a cada 33 segundos e a prática insegura mata uma delas a cada
dois dias” (O Globo, de 10.10.2010, p. 3)(4).
Id est, deste modo se tutelaria a gestante, fornecendo a ela todo suporte mé-
dico necessário para a concreção do aborto, obstando, nesse passo, vindouras e
plausíveis infecções que sobejariam em seus últimos estertores e lampejos vitais,
ou seja, haveria uma liberação condicionada à provocação por médicos habilitados
e em clínicas especializadas, diminuindo, consideravelmente, o risco à vida ou a
incolumidade da gestante.
Por demais, como questão de saúde pública, ainda haveria maior controle es-
tatístico de quantos abortos, de fato, são realizados em nosso solo e, principalmente,
em quais localidades há uma maior concentração de tais atos. Fato este que, por
si só, auxiliaria na prevenção e, quiçá, na diminuição do índice de abortamentos
concretizados.
Desmiúde, inclusive, a questão de política criminal, pautada na inocuidade
da pena para inibir a sua frequência, bem como no ultrapassado pensar de muitos
profitentes desta tese (oriundo do direito romano) em que “o pequeno ser nada
mais é senão um anexo ocasional do organismo materno, preso em suas entranhas,
de modo que, como parte da mulher ou de suas vísceras, dele a gestante poderia
livremente dispor (...)”(5).
Vale dizer! Para este primeiro elucubrar(6), em vez de rotular/estigmatizar
(labelling approach) a gestante que perpetra o aborto, tratando-a como criminosa,
seria muito mais profícuo o Estado dispensar a ela um maior cuidado (tutelando-a
desde a prática do ato – já que a questão seria de saúde pública) e atenção (uma vez
que as marcas de tal trágica decisão tendem a permanecer até o fim dos dias de sua
vida, sobejando, em algumas situações, a necessidade de tratamentos psicológicos
ulteriores).
Noutra palavra, ter-se-ia com isso medidas mais efetivas e de amparo à gestante
em vez da presença de um mero discurso punitivo estatal.
Reverbere, tão somente, a crítica feita por García Pintos a esse vetusto pensar: “Só por um sofisma – pros-
segue – poderia dizer-se que um continente absorve os direitos do conteúdo” (idem, ibidem). Isso porque
o fato de estar o filho materialmente contido no corpo da mãe não implica que esta possa absorvê-lo
também juridicamente.
(6) Adotado por centenas de mulheres que participaram, no final de maio de 2015, da 5ª Marcha das
Vadias em São Paulo. Nesta manifestação, pleitearam a legalização do aborto e o fim do encarceramento
feminino.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 365
(7) É aparente a adoção, pelo codificador, da teoria natalista, dada sua praticidade. Entrementes, em
virtude da fragilidade dessa corrente, em diversos pontos de nosso codex se reconheceu forte influência
concepcionista, como ao se reconhecer direitos do nascituro (art. 2º, segunda parte, do Código Civil).
(8) Nessa vereda, verbi gratia, “artigo 3º da Declaração Universal de Direitos Humanos, da qual o Brasil
é signatário, segundo o qual ‘todo o ser humano tem direito à vida’, ou a Convenção sobre os Direitos da
Criança da ONU, que afirma que ‘a criança necessita de proteção e cuidados especiais, inclusive a devida
proteção legal, tanto antes quanto após seu nascimento’; o Pacto de São José, do qual o Brasil é também
signatário, cujo artigo 1º estabelece que ‘pessoa é todo o ser humano’, o artigo 3º que ‘tem o direito de
reconhecimento de sua personalidade jurídica’ e o artigo 4º que esse direito deve ser protegido pela lei
‘desde o momento de sua concepção’” (MARTINS, Ives Gandra da Silva. O aborto no direito brasileiro.
Porto Alegre: Magister/RS. Publicado em: 21 out. 2010. Disponível em: <http://www.editoramagister.
com/doutrina_ler.php?id=850>. Acesso em: 24 out. 2010).
(9) PEDROSO, Fernando de Almeida. Direito penal – parte especial, p. 276.
(11) Empregado por inúmeras pessoas na 8ª Marcha Nacional da Cidadania pela Vida, no início de junho
de 2015.
(12) Nesse sentido, ler o artigo ADPF 54 e a Hipostasiação do Poder Judiciário (PEDROSO, Fernando Gentil
Gizzi de Almeida. ADPF 54 e anencefalia: hipostasiação do Judiciário. Revista Jus Navigandi, Teresina,
ano 17, n. 3.211, 16 abr. 2012. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/21520>).
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o único meio para salvaguardar a vida da gestante (art. 128, I, do CP); e, igualmen-
te, no caso de gravidez resultante de estupro (aborto humanitário, sentimental ou
ético – art. 128, II, do CP).
Daí a necessidade de permanecer tratando o aborto como forma de política
criminal, que tende a balancear os direitos do feto com os da gestante, ainda que,
em determinados momentos, traga em seu corpo um maior punitivismo – como ora
se perfaz com o PL nº 5.069.
Isso porque este elucubrar denotaria o respeito havido ao princípio democrá-
tico e, seu corolário, a tripartição das funções de poder, que assegura a existência
(13)
para a punição da morte do feto a perdição do pequeno ser, morto sem haver ingressado pelo batismo
no seio da igreja (BRUNO, Aníbal. Crimes contra a pessoa. 3. ed. Rio de Janeiro: Rio, 1975. p. 157).
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 367
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Edição histórica.
Rio de Janeiro: Rio, 1975.
BRUNO, Aníbal. Crimes contra a pessoa. 3. ed. Rio de Janeiro: Rio, 1975.
DIDIER Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo e processo
de conhecimento. 10. ed. Salvador: Juspodivm, 2008. v. I.
GOMES, Luiz Flávio. Em defesa da vida, o aborto. Porto Alegre: Magister/RS. Pu-
blicado em: 22 out. 2010. Disponível em: <http://www.editoramagister.com/
doutrina_ler.php?id=851>. Acesso em: 24 out. 2010.
MARTINS, Ives Gandra da Silva. O aborto no direito brasileiro. Porto Alegre: Magister/
RS. Publicado em: 21 out. 2010. Disponível em: <http://www.editoramagister.
com/doutrina_ler.php?id=850>. Acesso em: 24 out. 2010.
PEDROSO, Fernando de Almeida. Direito penal – parte especial. São Paulo: Método,
2008.
PEDROSO, Fernando Gentil Gizzi de Almeida. ADPF 54 e anencefalia: hipostasiação
do Judiciário. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3211, 16 abr. 2012.
Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/21520>.
QUINTANO, Johanna Heilpern de; RIPOLLES, Antonio Quintano. Diccionario de
derecho comparado (alemán-español). Madrid: Editorial Revista de Derecho
Privado, 1951.
RESUMO
Nada obstante fazermos sérias e contundentes críticas à participação da vítima
no processo penal, dois aspectos, a meu ver, merecem destaques. Em primeiro lugar,
a composição civil dos danos prevista na Lei dos Juizados Especais Criminais (Lei
nº 9.099/95). Este acordo realizado na esfera penal tem efeito na esfera cível para se
evitar o enriquecimento ilícito. A composição civil dos danos nas infrações penais
de menor potencial ofensivo deverá sempre ser tentada, ainda que se trate de crime
cuja ação penal seja pública incondicionada, ressalvando-se apenas a hipótese da
inexistência de vítima determinada. Em que pese opiniões em contrário, o certo é
que a esta conclusão chegou, salvo engano, a maioria dos doutrinadores. O segundo
aspecto diz respeito à figura do assistente. Com efeito, o Estado, embora titular do
jus puniendi, por vezes concede ao ofendido a faculdade de intervir na relação pro-
cessual penal, seja na condição de titular da ação penal, como ocorre na ação penal
de iniciativa privada, seja como assistente do MP. Na primeira hipótese, o ofendido
figura na relação como parte necessária, atuando como substituto processual, titular
que é do jus accusationis; no outro caso, porém, a vítima não é parte necessária no
processo sendo considerada sujeito secundário da relação processual, parte acessória,
colateral, contingente ou adjunta. A falta do assistente, portanto, não inviabiliza o
início nem a continuidade da relação processual.
Palavras-Chave: Processo Penal. Vítima.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 369
Esse abando em relação à vítima também pode ser visto em outras áreas do
conhecimento. (...)
Segundo Marlet (1995), os primeiros trabalhos sobre vítimas foram feitos
por Hans Gross em 1901. No entanto, consideramos que a sistematização dos
estudos em torno da vítima se deu após a Segunda Guerra Mundial. Benjamin
Mendelsohn e Von Henting foram dois grandes pesquisadores que contribuíram
para a organização dos estudos sobre a vítima. É muito certa a mudança que
pesquisadores como B. Mendelsohn provocaram nos estudos sobre a vítima.
Entender a vítima como parte do crime é uma transformação significativa. (...)
Sabe-se que os estudos sobre a vítima já tinham começado no primeiro
ano do século XX, mas é após a Segunda Guerra que esses estudos são siste-
matizados e a vítima passa a assumir um papel fundamental, inclusive para o
entendimento do crime. Observa-se a notável importância da Segunda Guerra
para os estudos sistemáticos da vítima por B. Mendelshon e Von Henting.
B. Mendelsohn (1900-1998), advogado nacionalizado israelense, passou
a se interessar pelo comportamento das vítimas dos campos de concentração.
Esses campos estavam espalhados pela Europa Ocidental e agregavam milhares
de pessoas presas por Hitler durante a Segunda Guerra. Judeus, homossexuais,
negros e ciganos foram perseguidos e presos nesses campos para servirem
como mão de obra. O comportamento dessas vítimas chamou a atenção do
pesquisador, que passou a buscar entender o motivo pelo qual os prisioneiros,
mesmo frente a sua iminente morte, trabalhavam nesses locais.
Essa relação do nascimento da vitimologia com o pós-Segunda Guerra
Mundial é apontada por Fatolico (2007):
‘A vitimologia nasceu após a Segunda Guerra Mundial, mais especifica-
mente em 1947, dois anos após o seu término, em decorrência do sofrimento
dos judeus pelo Nazismo de Hitler, que teve como resultado milhões de mortos,
feridos e desaparecidos.’
Embora estudos sobre a vítima viessem sendo feitos no início do século
XX, foi em 1947 que o termo ‘vitimologia’ foi cunhado por B. Mendelsohn em
um Congresso em Bucareste, em sua palestra Um Horizonte Novo na Ciência
Biopsicossocial: a Vitimologia. Segundo Piedade Junior (1993), B. Mendelsohn
passou a defender a vitimomologia como uma ciência autônoma. Para o pes-
quisador, tratava-se de uma ciência sobre as vítimas e a vitimização. Por outro
lado, alguns outros pesquisadores viam-na como um ramo da criminologia,
como é o caso de Henry Ellemberger ao afirmar que a vitimologia é ‘um ramo
da criminologia que se ocupa da vítima direta do crime e que compreende o
conjunto de conhecimentos biológicos, sociológicos e criminológicos concer-
nentes à vítima’.
Não é nosso objetivo discutir a cientificidade da Vitimologia nesse mo-
mento. O que queremos é nos ater ao momento em que se deu a sistematização
e organização dos estudos em torno da vítima. Entre muitas contribuições de
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 371
A expressão usada por Marques (2001) ilustra muito bem, em poucas palavras,
a ideia que nós propomos discutir. ‘A grande redescoberta da vítima’ não ignora todo
o conhecimento e estudos anteriores à Segunda Guerra Mundial e mostra que se
trata de um novo momento na história do estudo da vítima. Como desenvolvemos
em nosso texto, havia um quadro muito propício para que os pesquisadores e a
própria comunidade internacional voltassem seus olhos para a vítima, especialmente
quanto ao genocídio provocado por Hitler nos campos de concentração.
Portanto, pensamos que o estudo em torno da vítima é modificado por
todo o contexto que a guerra gerou.
O cenário provocado pela dizimação em massa dos judeus criou um mo-
mento muito favorável para isso. Nota-se uma mudança no entendimento dos
pesquisadores em relação a vítima. Para se estudar e entender como se chegou
à eclosão de um crime, passa a ser considerado o comportamento da vítima. A
Segunda Guerra Mundial escancarou suas portas de terror pelas vítimas que
provocou e da forma que o fez.
Nada de positivo pode ser visto em meio a uma guerra, mas o ser humano
consegue memorá-la através de pesquisas importantes, se levantar em meio ao
caos e enxergar possibilidades de mudar o mundo e a leitura dele, sempre batendo
nas portas das nossas lembranças para que não esqueçamos as vítimas que o breve
século XX fez.” (Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/33290/a-segunda-
guerra-mundial?utm_source=boletim-diario&utm_medium=newsletter&utm_
content=titulo&utm_campaign=boletim-diario_2015-06-15>)
(1) “Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou
privada com fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior
a trezentos e sessenta salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação
civil a que for condenado o infrator.”
(2) “Art. 45. Na aplicação da substituição prevista no artigo anterior, proceder-se-á na forma deste e dos arts.
46, 47 e 48. § 1º A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou
a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um)
salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido
do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários.”
(3) “Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito judicial em
favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto no § 1º do art. 49 do
Código Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do crime. (...) § 3º Na indenização civil
do dano, o valor da multa reparatória será descontado.”
374 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(4) GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados especiais criminais. 2. ed. São Paulo: RT, 1997. p. 129.
(5) Juizados especiais criminais. São Paulo: Atlas, 1997. p. 78.
(6) Neste sentido é o pensamento de Ada et al.: “A composição dos danos civis pode ser parcial. Embora a
transação civil implique, via de regra, quitação recíproca, é possível que haja nela a repartição entre danos
materiais (imediatamente compostos) e danos morais (a serem apurados no juízo civil). A quitação poderá,
assim, ser parcial, ressalvada a controvérsia sobre os danos morais. Mas a composição, conquanto parcial, dos
danos civis importará, de qualquer modo, na renúncia ao direito de representação ou queixa, com a consequente
extinção da punibilidade.” (ob. cit., p. 133).
(7) Para Weber Martins Batista, “nos crimes de ação penal pública incondicionada, ela não impede a
aplicação de pena ao autor do fato, mas não deixa de influir na qualidade e quantidade da pena a ser
imposta, pois a indenização dos danos deve aconselhar um tratamento menos severo do autor do fato”
(Juizados especiais cíveis e criminais e suspensão condicional do processo penal. Rio de Janeiro: Forense,
1996, p. 314).
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 375
5º, caput, da CF), pois a vítima de uma infração de menor potencial ofensivo, cuja
ação penal fosse pública incondicionada, seria tratada diferentemente daqueloutra
que sofrera também uma infração da mesma natureza, porém de ação penal pública
condicionada à representação. Assim, por exemplo, a vítima de uma ameaça teria
direito à composição civil dos danos, enquanto que o ofendido por um constrangi-
mento ilegal não o teria, o que seria um absurdo.
Ademais, note-se que um dos objetivos da lei que criou os Juizados Especiais
Criminais é exatamente a reparação dos danos sofridos pela vítima (art. 62). Como
observam Ada, Scarance, Luiz Flávio e Gomes Filho:
“É a primeira vez, no nosso ordenamento, que a legislação abre tão amplo
espaço à sua proteção jurisdicional, inserindo-se no generoso e atualíssimo
filão que advoga a revisão dos esquemas processuais de modo a dar resposta
concreta à maior preocupação com o ofendido.”(8)
Esta atenção com a vítima no processo penal é tema atual e tem sido motivo de
inúmeros trabalhos doutrinários, como observou o jurista argentino Alberto Bovino:
“Después de varios siglos de exclusión y olvido, la víctima reaparece,
en la actualidad, en el escenario de la justicia penal, como una preocupación
central de la política criminal. Prueba de este interés resultan la gran variedad
de trabajos publicados recientemente, tanto en Argentina como en el extranjero;
(...) mismo porque se señala que con frecuencia el interés real de la víctima
no consiste en la imposición de una pena sino, en cambio, en ‘una reparación
intitulado El Papel de la Víctima en el Proceso Penal Según el Proyecto de Código Procesal Penal de la Nación,
por Santiago Martínez (Fonte: www.eldial.com – 12.08.05).
(11) La vittima nel sistema italiano della giustizia penale: un approccio criminológico. Padova, 1990. p. 144.
Na doutrina estrangeira, também indicamos De los Delitos y de Las Víctimas, obra coletiva com trabalhos
de Claus Roxin, Julio Maier, Nils Christie, dentre outros.
376 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
for infração penal, ou, em sendo, a autoria for desconhecida, ou se não houver justa
causa (lastro probatório mínimo), além da hipótese de extinção da punibilidade. Não
nos parece possível, portanto, pedido de arquivamento de um termo circunstanciado
em que se noticia uma infração penal de ação penal pública incondicionada pelo só
fato de ter havido a composição civil dos danos, quando a lei penal já prevê, como
efeito deste acerto, o arrependimento posterior e a circunstância atenuante.
A mitigação implantada pela lei ora comentada não pode ser interpretada a tal
ponto que infira não ser possível o oferecimento da transação penal quando haja a
composição civil no caso de ação penal pública incondicionada.
Como ensina Afrânio Silva Jardim, “todo o sistema do Código está voltado
para a propositura da ação penal pública. O exercício desta ação é a regra geral,
sendo o arquivamento a exceção, tanto que o legislador não tratou expressamente
das hipóteses de arquivamento, mas, sim, dos casos em que a ação não deve ser
exercitada (art. 43)(14).
É o mesmo autor quem adverte: “É preciso interpretar a Lei nº 9.099/95 dentro
dos postulados dos princípios que informam o nosso sistema processual acusatório,
e não como desejaríamos que o legislador tivesse dito”(15).
Por outro lado, pelo princípio da indisponibilidade da ação penal, que é corolá-
rio da regra da obrigatoriedade, veda-se qualquer manifestação de poder dispositivo
no que concerne à promoção e à movimentação do processo penal, refletindo isto o
interesse público na determinação do conteúdo da causa penal(16).
(14) Ação penal pública: princípio da obrigatoriedade. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense. p. 46.
(15) Boletimdo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCrim. n. 48.
(16) Não desconhecemos que parte da doutrina nega a existência do conceito de pretensão no direito pro-
cessual penal. Por todos, conferir Rogério Lauria Tucci, para quem “os conceitos de pretensão punitiva,
ou, ainda, de pretensão executória, não se adequam ao processo penal, sendo-lhe de todo estranhas”
(Teoria do direito processual penal. São Paulo: RT, 2003. p. 36). Na doutrina estrangeira, leia-se: SOARES,
Fernando Luso. O processo penal como jurisdição voluntária. Coimbra: Almedina, 1981 (citado nas refe-
rências bibliográficas da citada obra do Professor Tucci). Como se evidencia, este autor lusitano chega
ao extremo de denominar o processo penal como de jurisdição voluntária, concepção, nas palavras de
Tucci, de todo inaceitável (p. 46). Tampouco desconhece-se a reação à existência do conceito carneluttiano
de lide no processo penal. Sobre esta matéria, por todos, veja-se a obra indispensável de: COUTINHO,
Jacinto Nelson de Miranda. A lide e o conteúdo do processo penal. Curitiba: Juruá, 1998.
378 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(17) Idem.
(18) Juizado Especial Criminal. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 45.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 379
(19) GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados Especiais Criminais. 2. ed. São Paulo: RT. p. 108.
(20) Lei dos Juizados Especiais Criminais anotada. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 70.
380 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(21) BATISTA, Weber Martins. Juizados Especiais Cíveis e Criminais e suspensão condicional do processo.
Rio de Janeiro: Forense, 1996. p. 313.
(22) Juizados Especiais Criminais. São Paulo: Atlas, 1997. p. 68.
(23) Juizados Especiais Criminais e alternativas à pena de prisão. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
1997. p. 76 e 78.
(24) Teoria e prática dos Juizados Especiais Criminais. Curitiba: Juruá, 1996. p. 44.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 381
Observa-se, a propósito, que a audiência preliminar não tem como fito apenas
a tentativa de composição civil dos danos, mas, como bem advertem Marino Pazza-
glini Filho e outros, “compõe-se de três fases: composição dos danos civis, transação
penal e oferecimento oral de denúncia”(25). Indaga-se: sem o promotor de justiça,
como haverá a transação penal ou o oferecimento de denúncia oral?
É sempre bom relembrar, por outro lado, que a participação do conciliador se
reduz à primeira fase da audiência preambular, visto que, à evidência, não detém
qualquer poder jurisdicional.
Como adverte Mirabete, “o conciliador tem como função apenas presidir,
sob a orientação do juiz, a tentativa de conciliação entre as partes (...), portanto,
função meramente administrativa (...)”, nada impedindo “que o juiz interfira nas
negociações, devendo fazê-lo obrigatoriamente no caso de apurar alguma irregula-
ridade no decorrer das negociações (...), sem obstar, ademais, que o juiz promova
várias audiências concomitantes, a cargo cada uma de um auxiliar, supervisionando
o andamento delas e interferindo apenas quando necessário ou aconselhável”(26).
Sobre esta importante função, assim se pronunciou a Confederação Nacional
do Ministério Público em documento oficial: “Conclusão 11 – A participação dos
conciliadores na audiência prevista pelo art. 72 da lei cessa com o encerramento
da fase de reparação civil dos danos entre ofensor e ofendido, qualquer que seja o
seu resultado”.
Aliás, na conclusão anterior a mesma Confederação deixou assentado: “É
à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. São Paulo: RT, 1995. p. 335.
(28) Ob. cit., p. 336.
382 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(29) O art. 16 da Lei nº 11.340/06 (que criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher) refere-se à retratação da representação, verbis: “Nas ações penais públicas condicionadas
à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante
o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e
ouvido o Ministério Público”. Observe-se que, diferentemente do art. 25 do CPP, a retratação pode ser
feita até o recebimento da denúncia (neste sentido conferir a nossa obra sobre a Lei Maria da Penha, em
coautoria com Isaac Sabbá Guimarães, Salvador: JusPodivm, 2008).
(30) Certamente já terá feito, autorizando a lavratura do termo circunstanciado (art. 5º, § 4º, do CPP).
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 383
(31) Ada, Scarance, Luiz Flávio e Gomes Filho entendem diferentemente, sendo, para eles, “possível, no
entanto, que, apesar de um só dos possíveis ofensores transacionar, a reparação dos danos sofridos pela
vítima seja integral. Nesse caso, haverá renúncia tácita e extinção da punibilidade com relação a todos”
(ob. cit., p. 137).
(32) Como exemplo, podemos citar o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição – ECAD, que é uma
sociedade civil privada instituída pela Lei nº 5.988/73 e mantida nos moldes da atual Lei nº 9.610/98.
(33) ROSA, Inocêncio Borges da. Processo penal brasileiro. Porto Alegre: Globo, 1942. v. 2. p. 202.
(34) Apud TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. v. 2.
p. 498.
384 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(38) SILVA, Germano Marques da. Curso de processo penal. 3. ed. Lisboa: Verbo, 1996. v. 1. p. 308.
(41) Não é possível, porém, arrolar testemunhas, mesmo para completar o número legal, pois a peça
acusatória já foi formulada e precluso estará o direito da acusação de propor este meio de prova (art. 41
do Código de Processo Penal). Tampouco ao assistente cabe aditar a denúncia.
(42) E também ao acusado no interrogatório, tendo em vista o disposto no art. 188 do Código de Processo
peça acusatória, o aluno Rodrigo Souza Britto, hoje colega, complementou, aduzindo que, acaso fosse
permitido também este aditamento, maculado estaria o disposto no art. 129, I, da Constituição Federal.
(44) Ob. cit., p. 514.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 387
(45) Revista
Consultor Jurídico, 8 de agosto de 2006.
(46) GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarance.
Recursos no processo penal. São Paulo: RT, 1996. p. 229.
(47) Comentários ao Código de Processo Civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. v. V. p. 536.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 389
diz que “o prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr imedia-
tamente após o transcurso do prazo do MP” (BRASIL. Coordenadoria de Editoria e
Imprensa do STJ. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.
wsp?tmp.area=398&tmp.texto=107722>. Acesso em: 19 nov. 2012).
Uma observação urge: é sabido que o art. 598 e seu parágrafo único estabelecem
que “o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não se
tenha habilitado como assistente”, tem legitimidade para apelar (além de interesse,
evidentemente) quando, “nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz
singular, da sentença não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo
legal”, deferindo, inclusive, um prazo bem maior para o recurso (15 dias a partir da
data em que terminar o prazo do Ministério Público).
Ora, a doutrina sempre justificou e admitiu este prazo em triplo concedido à
vítima não habilitada como assistente (e aos seus sucessores), exatamente em ra-
zão do ofendido (e aquelas demais pessoas) não terem sido intimados da sentença,
razão pela qual se justificava um prazo maior pela dificuldade de conhecimento da
decisão. Agora, no entanto, estabelecendo a Lei (art. 201, § 2º) que da sentença será
também intimada a vítima, parece-nos, à luz do princípio da igualdade, que o prazo
deve ser o mesmo de cinco dias previsto no caput do art. 593 do CPP, tornando-se
inaplicável o prazo previsto no parágrafo único do art. 598.
Ressalte-se, com Humberto Ávila, que a igualdade (que ele denomina de pos-
tulado) “estrutura a aplicação do direito quando há relação entre dois sujeitos em
(48) Teoria dos princípios. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 131.
(49) O princípio da proporcionalidade no direito penal. São Paulo: RT, 2003. p. 67.
392 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(50) “Reflexiones sobre el significado del principio constitucional de igualdad”, artigo que compõe a obra
coletiva denominada El Principio de Igualdad, coordenada por Luis García San Miguel, Madri: Dykinson,
2000. p. 206.
(51) Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3. ed. 6. tir. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 47.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 393
Se o réu é acusado pela sociedade e essa não tem interesse, qual a razão
para a vítima intervir na ação? Obtive várias vitórias no TJRS, ao ponto de
a Quinta Câmara Criminal, por um determinado período, não mais aceitar
recursos advindos do assistente de acusação. Aliás – para minha satisfação,
essa também era a tese da Defensoria Pública do RS e da União, como se pode
ver no HC 102.085/RS.
Veio uma minirreforma no processo penal e o dispositivo prevendo o
assistente de acusação foi ‘novado’. Logo, já não seria o caso de não recepção
– questão que não demanda(va) incidente de inconstitucionalidade –, e sim
de inconstitucionalidade de uma ‘nova’ lei. Nesse sentido, não encontrei clima
para um incidente. Tentei e fui derrotado.
Passado um tempo, penso que devemos voltar a discutir o tema. Qual
é o sentido da assistência à acusação? A busca da indenização ou (um)a vin-
gança privada? Ou as duas coisas? Ora, só para começar, mesmo que o réu
seja absolvido, isso não impede a ação civil, porque nem todos os dispositivos
que tratam da sentença no Código de Processo Penal conduzem diretamente à
não possibilidade de ação civil (sim, sei que, se a absolvição é por negativa de
autoria ou da inexistência do fato, não cabe indenização; mas, convenhamos,
são as hipóteses radicais de absolvição, pois não?). Elementar isso.
(...)
A questão, agora, assume foros diferenciados, em face de um novo elemen-
do CPP), enquanto que, no habeas corpus, onde não existe sequer acusação,
o MP não desempenha o papel de acusador, e sim de fiscal da lei. Precedentes
jurisprudenciais.’ (RT 666/352, Rel. Min. Assis Toledo – grifei)
Em suma: o assistente de acusação não ostenta a situação jurídica de
parte nas ações de habeas corpus, cujos sujeitos processuais, como já ressal-
tado, são, unicamente, o impetrante, o paciente, a autoridade coatora, o MP
e o próprio juiz.
O assistente de acusação, portanto, é um extraneus na formação da rela-
ção processual penal instaurada com o ajuizamento da ação de habeas corpus.
Não ostentando a condição jurídico-formal de litigante nesse processo não
condenatório, não há como invocar a regra consubstanciada no art. 268 do
CPP, cuja incidência restringe-se ao plano das ações penais condenatórias. Não
custa enfatizar, portanto, que, no processo penal de habeas corpus, o assistente
de acusação não é parte e nem ostenta a condição de litigante. Parte adversa
ao impetrante/paciente é o próprio Estado, cuja atuação administrativa ou
jurisdicional enseja o ajuizamento do writ. Compõem, destarte, a relação pro-
cessual penal instaurada com a impetração do habeas corpus, como litigantes
– e, portanto, como destinatários da garantia do contraditório proclamada pelo
art. 5º, LV, da Constituição –, o impetrante/paciente, de um lado, e a autori-
dade coatora, de outro. Daí a observação de José Frederico Marques (op. cit.,
v. 4/406), no sentido de que o conteúdo do processo de habeas corpus ‘é uma
lide ou litígio entre o que sofre a coação ou ameaça ao direito de ir e vir, e o
Estado, representado pela autoridade coatora’.
O assistente de acusação, na realidade, é terceiro formalmente estranho à
discussão, que, sob a égide do contraditório, se estabelece no processo penal de
habeas corpus entre o paciente e o Estado. Não há como se lhe aplicar a garantia
inscrita no art. 5º, LV, da Constituição, pois, não sendo parte litigante nesse
procedimento penal não condenatório, não pode, o assistente do Ministério
Público, pretender o amparo da cláusula constitucional mencionada.
Cumpre assinalar, ainda, que pertence ao Estado, de modo absoluto, o
direito de punir.
Sendo assim, não há que se cogitar de qualquer direito material titulari-
zável pelo assistente do Ministério Público, cuja intangibilidade possa justificar
o seu chamamento ou a sua intervenção no processo de habeas corpus, em cujo
âmbito um dos sujeitos – o próprio Estado, titular do jus puniendi – já se faz
presente por intermédio da autoridade coatora.
A circunstância de o Ministério Público poder intervir no processo de
habeas corpus, nas condições referidas na legislação processual (CPP, art. 654,
caput, e DL nº 552/69), não traduz, só por si, situação jurídica invocável pelo
assistente da acusação, para legitimar o seu ingresso na relação processual
instaurada com a impetração do writ. Tais situações são absolutamente inas-
similáveis.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 403
RESUMO
A elaboração de acordo de leniência por parte do CADE não se afigura como
uma medida que é dotada de adequação constitucional por desrespeitar a titulari-
dade da ação penal que pertence ao Ministério Público. Não se cogita em violação
ao princípio do venire contra factum propium, uma vez que o acordo de leniência
é elaborado sem a observância de regras constitucionais sobre as atribuições insti-
tucionais do Ministério Público. Logo, não se pode conferir validade a um acordo
elaborado sem a participação do órgão que detém o poder-dever de deflagrar a ação
penal e a chancela do Poder Judiciário.
Palavras-Chave: Acordo de Leniência. Reflexos Penais.
SUMÁRIO
I – Introdução. II – Acordo de Leniência: umas Considerações Pontuais. III
– Os Reflexos Penais do Acordo de Leniência. IV – Conclusões. V – Bibliografia.
I – INTRODUÇÃO
Invariavelmente, os ilícitos praticados contra interesses difusos concitam prá-
ticas exercidas de modo elíptico, oculto, com restrita publicidade e alta lesividade,
o que promove a não descoberta dos mesmos pelo Estado.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 409
(1) CUSTÓDIO FILHO, Ubirajara; SANTOS, José Anacleto Abduch; BERTONCINI, Mateus. Comentários
à Lei 12.846/2013 (Lei Anticorrupção). São Paulo: RT, 2014. p. 233.
410 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(2) Art. 87 da Lei nº 12.529/2011, que diz que “nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei
nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos demais crimes diretamente relacionados à prática de cartel,
tais como os tipificados na Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e os tipificados no art. 288 do Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, a celebração de acordo de leniência, nos termos
desta Lei, determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia
com relação ao agente beneficiário da leniência. Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo
agente, extingue-se automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo”.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 411
instância esvaziamento da função desse poder como aplicador das normas jurídicas,
violando-se o princípio da separação dos poderes (art. 2º da CRFB).
Verificamos que esses acordos não promovem nenhum efeito perante o Mi-
nistério Público, que passa imune a essa extinção da punibilidade pela titularidade,
uma vez que ela foi infensa ao controle do Poder Judiciário, que tem essa função
no art. 61 do CPP.
Lado outro, há a clara verificação de transbordamento dos limites em que esse
acordo poderia, ainda que inconstitucionalmente, ser realizado por beneficiar delitos
que se encontram fora do objeto das infrações administrativas do CADE, por trazer
como imputações passíveis de sofrerem com a extinção de punibilidade, como delitos
contra as licitações (Lei nº 8.666/93) e associação criminosa.
A salvação desses acordos residiria na participação do Ministério Público(3),
no entabulamento dos acordos ou na alusão da projeção penal do mesmo com a
participação do Ministério Público, notadamente, pelos reflexos que transcendem as
raias meramente administrativas, indo além para alcançar situações açambarcadas
por processos de improbidade administrativa ou ações penais(4).
(3) Plínio Antônio Britto Gentil, Charles Hamilton Santos Lima, Roberto Livianu, Márcio Soares Berclaz,
Tiago de Toledo Rodrigues e Gustavo Roberto Costa sustentam que, “antes de enfraquecer o acordo de
leniência ou despotencializá-lo, ao contrário, o interesse e a previsão da possibilidade de manifestação
do Ministério Público somente reforçam a importância e a utilidade do referido instrumento, permitindo
claz, Tiago de Toledo Rodrigues e Gustavo Roberto Costa sustentam: “Definitivamente, não se pode dar
margem ao oportunismo, permitindo que empresários desonestos restem eventualmente impunes ao
ponto de estarem estimulados à primária violação inicial da lei para posterior e descriterioso acerto com
o governo, acordo este que pode abranger, por exemplo, pena de proibição de contratar com o Poder
Público. Não se pode permitir que uma estrutura de governo, eventualmente envolvida e pressionada
por suspeitas de corrupção, acerte-se livremente com uma empresa igualmente suspeita (que pode até
ter sido doadora na sua campanha), podendo buscar, inclusive, a partir disso, financiamentos com os
bancos públicos, sem que haja fiscalização e possibilidade de intervenção pela instituição constitucional-
mente encarregada do primário combate à corrupção e, inclusive, da defesa da ordem jurídica, no caso, o
Ministério Público. O Ministério Público é não só o principal legitimado pela Constituição da República
a defender com independência o patrimônio público (art. 129, III), mas também o titular exclusivo da
ação penal pública (art. 129, I). Não se olvide, também, o impacto e a pertinência que eventuais acordos
de leniência podem produzir no âmbito de ações penais e ações civis públicas de responsabilidade por
ato de improbidade administrativa. Somente a ciência, de modo a permitir, via de consequência, a pre-
sença, o acompanhamento e a intervenção do Ministério Público, permite que esse novo e importante
instrumento seja utilizado de modo responsável e legítimo, mais do que isso, com os controles e os
filtros próprios do Estado constitucional e democrático” (Intervenção do Ministério Público nos acordos
de leniência é imprescindível.., p. 1).
412 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
IV – CONCLUSÕES
À guisa de encerramento deste presente trabalho, temos que a elaboração de
acordo de leniência por parte do CADE não se afigura como uma medida que é
dotada de adequação constitucional por desrespeitar a titularidade da ação penal
que pertence ao MP (art. 129, I, da CRFB).
Não se cogita em violação ao princípio do venire contra factum propium, uma
vez que o acordo de leniência é elaborado sem a observância de regras constitucio-
nais sobre as atribuições institucionais do Ministério Público. Logo, não se pode
conferir validade a um acordo elaborado sem a participação do órgão que detém o
poder-dever de deflagrar a ação penal e a chancela do Poder Judiciário.
A insegurança jurídica trazida pelo acordo de leniência na lei de tutela da
concorrência é corrigida pela atuação dos profissionais em não elaborar o acordo
somente na presença do CADE, mas também com a atuação do Ministério Público
com atribuição para atuar no caso em homenagem ao princípio do promotor natural.
Desta feita, se evitaria a elaboração de acordos de leniência ineficazes perante
o titular da ação penal, expondo a pessoa que forneça as informações a uma situa-
ção de difícil resolução por ter prestado dados relevantes à descoberta de delitos e
posteriormente correr o risco de não ter suas informações gerando benefícios penais
em seu favor, a não ser apenas uma atenuante genérica da confissão.
(9) Anna Carolina Pereira Cesarino Faraco Leny explica: “Conforme a dicção do art. 395, II, do CPP,
a denúncia será rejeitada se for manifestamente inepta, caso careça de um pressuposto processual ou
condição da ação ou em não se observando a justa causa. Com efeito, havendo previsão de extinção da
punibilidade quando da celebração do acordo, consequentemente haverá falta de uma condição da ação,
de maneira que segundo os ditames da economia processual não é coerente a apresentação de denúncia.
Ademais, trazendo para o direito público a teoria do venire contra factum proprium, tradicionalmente
utilizada na teoria dos contratos, o Estado não é obrigado a legislar, mas quando o faz deve cumprir
suas determinações. Tal importação é plenamente possível, eis que o acordo de leniência possui natureza
contratual, de maneira que compromete ambos os lados que o assinam a cumprir sua parte com a devida
boa-fé. Também insta destacar que os entes que regulam o funcionamento do Estado em sua soberania
integram um todo indissolúvel, de modo que a alegação de que o Ministério Público tem a obrigação
de propor a denúncia talvez esconda um ranço de vaidade no sentido de afirmar poder e legitimidade
para o controle da força. Assim, a maneira como vem previsto o acordo de leniência no ordenamento
brasileiro, atrelado à insistência em propor ação penal contra o delator, acaba por ensejar grave quadro
de insegurança jurídica ao proponente, que se encontra em nítida posição de submissão ao arbítrio do
Estado” (LENY, Anna Carolina Pereira Cesarino Faraco. Acordo de leniência no Brasil traz insegurança
jurídica. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2013-ago-09/anna-carolina-lamy-acordo-leniencia-
brasil-traz-inseguranca-juridica>. Acesso em: 15 set. 2015).
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 415
V – BIBLIOGRAFIA
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RESUMO
O presente estudo tem como objetivo analisar, de forma breve e sucinta,
as consequências da aplicação do direito penal na práxis cotidiana, revelando a
necessidade de o jurista guiar-se pelo princípio da dignidade da pessoa humana,
transformando-o em peça-chave da hermenêutica jurídica, a fim de buscar-se a ple-
na concretização dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, bem como a
humanização do aparato repressivo, pautando-o pelos princípios da razoabilidade e
da proporcionalidade. Não obstante, buscar-se-á apontar os limites e as perspectivas
da seara criminal brasileira, a fim de controlar-se o atual desenfreado poder punitivo
que, com a promessa não cumprida de segurança, aflige dor, agonia e sofrimento
para boa parte da população.
Palavras-Chave: Justiça Criminal. Poder Punitivo. Dignidade da Pessoa Hu-
mana.
be guided by the principle of the Dignity of the human person, by transforming it into
key part of legal hermeneutics, in order to seek the full realization of the foundations
of a Democratic State of Law, as well as the humanization of the repressive apparatus,
adhere to the principles of reasonableness and proportionality. Nevertheless, It will seek
to point out the limits and prospects for the Brazilian criminal realm, in order to check
out the current rampant punitive power that with the unfulfilled promise of security,
afflicting pain, agony and suffering a good deal of population.
Keywords: Criminal Justice. Punitive Power. Dignity of the Human Person.
SUMÁRIO
1 Dignidade da Pessoa Humana e Justiça. 2 A Justiça para Além do Positivismo
Reducionista. 3 Perspectivas para a Humanização da Justiça Criminal. 4 Hermenêu-
tica Jurídica e Justiça. 5 Considerações Finais. Bibliografia.
A assertiva mais apropriada para o que acima expusemos é a que reza que
“o homem não possui direitos, ele é o próprio direito”, posto que em nenhuma
hipótese se pode fracionar o conceito de dignidade humana, retirando-o do direito.
A dignidade da pessoa humana é conceito basilar, antecedente e fundamental, que
precede, inclusive, os princípios esculpidos no art. 5º da Magna Carta, sendo a
qualificação que deve permear todas as formas de atuação do Estado-administração,
além de servir como adjetivo indispensável a qualquer forma de pensar do direito
objetivo (normatividade).
Destarte, salutar as palavras de Carvalho (2008, p. 109-110):
“A estrutura do direito e do Estado não é justificada em si mesma, pois o
seu referencial é dirigido à dignidade da pessoa humana. A centralidade da pes-
soa e o respeito pelos direitos humanos determinam os critérios de justificação
externa do poder, delimitando os pressupostos normativos de tolerabilidade
do sistema. Se desde o seu interior direito e Estado são legitimados substan-
cialmente pelos direitos fundamentais, externamente são os direitos humanos
que propiciam os parâmetros avaliativos do seu nível de justiça, servindo de
norte ao próprio conteúdo do pacto social: a Constituição.”
De se consignar, assim, que os fatos sociais e as leis devem andar de braços
entrelaçados, de mãos coladas, caminhar juntos na distribuição equânime da justiça.
É fato, todavia, que a justiça não é um dado objetivo, algo concreto ou palpável
por si só. De tal forma, a busca pela justiça não deve ser reduzida à mera aplicação
das normas jurídicas estatais, vez que estas são apenas resultados de um fenômeno
histórico específico, nascidas em determinadas relações sociais, não necessariamente
ligadas à ideia de justiça.
O apego exagerado à norma e à ordem da maioria dos juristas, na maioria dos
casos, repele qualquer expressão da justiça que esteja além da legislação, esquecendo-
se da velha máxima que apregoa: nem tudo que é legal é justo.
mento aos anseios da sociedade, cada vez mais sedenta e conclamando por justiça,
mas não por qualquer justiça, mas aquela acoimada e tão profundamente buscada,
justiça social, com distribuição de oportunidades, afastamento das iniquidades e
preconceitos seculares.
Para o positivismo jurídico, a questão da justiça está além do direito, tratando-se
de questão metajurídica. O direito hodiernamente identifica-se com a ordem nor-
mativa dominante, produzida e reconhecida pelo Estado, já que traduz segurança
e estabilidade.
Nesse diapasão, imperioso trazer à baila os ensinamentos de Alysson Mascaro
(2008, p. 99-100):
“A legalidade, assim sendo, resta instrumentalizada sempre de maneira
exponencialmente vertical, tendo em vista a fragilidade da resposta das classes
dominadas. (...) As relações internas da própria atividade capitalista nacional
também instrumentalizam a legalidade a benefício da dominação de classe,
seja por meio do controle das instituições e daí manejando as ferramentas da
legalidade de acordo com seus interesses, seja por meio de ações nos limites
da própria legalidade, ou seja por meio da sua recusa. Os privilégios de classe
recebem, assim, ou respaldo legal ou, na efetividade social, ignoram mesmo a
legalidade, no caso da universalidade desta.”
No período de pós-modernidade, com efeito, a liberdade do cidadão reside na
certeza de que cada um tem a sua segurança, de forma a não temer seu semelhante
problemas sociais, com plena consciência de que, muitas vezes, o apego exagerado
à norma, através de seu frio texto, o transformaria em mero instrumento de interes-
ses arbitrários e mesquinhos, um mero robô, enfim, um corpo sem alma e cérebro.
Nesse contexto, devemos ponderar que as nossas leis são produzidas pela elite
política e econômica, quase sempre dissociadas da vontade da maioria do agrupa-
mento social, contagiadas pelo espírito do “levar vantagem”, das consignações de
caráter pessoal ou de grupo, dos enquadramentos preconceituosos e sem qualquer
base na comunidade em que vivemos e labutamos.
Assim, vivemos no Brasil um processo de técnica legislativa equivocada, com
evidente viés demagógico, sem qualquer base ou critério técnico, que não leva em
consideração fenômeno penal de suprema importância, qual seja a da consideração da
prevenção, em nome de uma pretensa segurança e de uma paz falaciosa, muito mais
discursiva do que propriamente efetiva, como bem ensina Ferrajoli (2004, p. 319):
“A segurança e a liberdade de cada um são, com efeito, ameaçadas não
apenas pelos delitos, mas também, e frequentemente, em medida ainda maior,
pelas penas despóticas e excessivas, pelas prisões e pelos processos sumários,
pelos controles arbitrários e invasivos da polícia, vale dizer, por aquele conjunto
de intervenções que se denomina ‘justiça penal’, e que talvez, na história da
humanidade, tenha custado mais dores e injustiças do que todos os delitos
cometidos.”
O caminho de humanização da justiça e do direito, como outrora havia in-
vocado os pensadores mais arejados, é árduo, sendo, contudo, hodiernamente,
inevitável e urgente.
É certo que nos defrontamos com resistências naturais, de índole conservadora.
Não é menos correto, de outro lado, que temos os questionamentos sociais tendentes
a reclamar modificações, principalmente ante o fato de que o direito não é estático,
estando constantemente reclamando alterações, através de uma nova postura, sem
que tal possa redundar em inflação legislativa e leis conflitantes e inócuas do ponto
de vista social.
Necessário ter a compreensão, então, que a função do aplicador do direito, o
Estado-juiz, desta forma, é ajustar a generalidade e abstração dos termos da lei às
peculiaridades dos casos concretos submetidos a exame, com as nuances acima refe-
ridas (circunstâncias, motivação, reação, repercussão, etc., diferentes em cada caso).
Há, por assim dizer, um alto grau de descricionariedade, sempre tendo como
parâmetro o perfil desenhado em lei, para aqueles que atuam perante a jurisdição
criminal, posto que, entre a descrição abstrata e provisória da lei e a aplicação defini-
tiva e concreta realizada pelos magistrados, sempre são encontradas diversas nuances
que dependerão da análise subjetiva do hermeneuta (processo de interpretação).
A norma penal, desta forma, apenas destaca um paradigma (sempre genérico,
abstrato) para servir de base ao início de apreciação pelo Poder Judiciário, o qual,
para chegar a conclusões definitivas, deve percorrer um longo caminho analítico,
desenvolvido de forma dialética, para o qual contribuem necessariamente acusação
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 421
e defesa, dentro do primado mater do devido processo legal, regra basilar do pro-
cedimento penal pátrio.
Conclui-se, sem qualquer esforço, que as condutas humanas submetidas a
julgamento por violação de um preceito abstrato contido na legislação penal estão
sempre sujeitas a critérios amplos e com infinita variedade de soluções.
Da conclusão acima exposta, consideradas a generalidade e a abstração da
norma penal, devemos extrair outra, ou seja, a necessidade de afastarmos mitos, pre-
conceitos, prejulgamentos, iniquidades arraigadas na tradição processual brasileira.
Na verdade, um ordenamento que visa regular a conduta humana de forma
externa, bilateral e coercitiva, nos dizeres de Karl Engish(1), se ocupa da vida.
Em pertinente observação, Maximiliano (1967, p. 73) afirma que
“a vida sociojurídica não é composta de casos gerais, senão de casos
concretos e os mais diversos, dos quais a simples justiça que se supõe existir
na lei nem sempre é suficiente para atender equilibradamente a essa infinita
casuística. Assim, é, por vezes, mister o suprimento do princípio da justiça
contido na lei por intermédio de um outro princípio, àquele semelhante, mas
sob outros aspectos mais extensos e mais altos, o princípio da equidade.”
A missão da justiça criminal, desta forma, mais do que “solucionar conflitos”
é a de proferir a decisão mais razoável possível, dentro do critério do bom senso, na
medida proporcional entre a infração, caso ocorrida, e a pena a ela cominada, dentre
(1) ENGISH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. 6. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1983.
422 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
De se notar, por outro lado, que a finalidade basilar do processo penal é, antes
de tudo e fundamentalmente, a busca da verdade real, erigida como princípio do
sistema, inserido dentro do postulado do due process of law.
Desta forma, para obtenção da verdade, finalidade de qualquer procedimento
penal, devemos considerar as circunstâncias do caso concreto, em atendimento ao
bom senso e à humanidade, como a motivação peculiar, as reações da vítima, o perfil
social dos envolvidos, as consequências sociais da infração, a repercussão do crime
em face dos valores morais existentes, etc.
A jurisprudência justa, mais apropriada ao caso concreto em análise, assim,
é aquela que visa impedir novos delitos, não apenas punir certa e determinada
pessoa, sendo razoável considerar a missão do direito penal como a de possibilitar
a convivência social harmônica, não podendo ficar restritivamente preso na ideia
exclusiva de retribuição.
O discurso punitivista desenfreado, assim sendo, torna-se o grande responsável
por girar os nossos moinhos de gastar gente e verticalizar ainda mais o poder social,
como bem alerta Zaffaroni (2013, p. 32):
“Desde a inquisição até hoje os discursos foram se sucedendo com idêntica
estrutura: alega-se uma emergência como uma ameaça extraordinária que coloca
em risco a humanidade, quase toda a humanidade, a nação, o mundo ociden-
tal, etc., e o medo da emergência é usado para eliminar qualquer obstáculo ao
poder punitivo que se apresenta como a única solução para neutralizá-lo. Tudo
o que se quer opor ou objetar a esse poder é também um inimigo, um cúmplice
ou um idiota útil. Por conseguinte, vende-se como necessária não somente a
eliminação da ameaça, mas também a de todos os que objetam ou obstaculizam
o poder punitivo, em sua pretensa tarefa salvadora.” (grifos do autor)
O poder punitivo, não obstante, necessita ser limitado e usado com parcimô-
nia, sob pena de transformarmos determinados grupos em inimigos portadores de
uma doença mortal e acabarmos vitimados pelos próprios remédios adotados: penas
despóticas e excessivas, prisões e processos sumários e pelo controle autoritário da
polícia.
Nesse ínterim, Antônio Alberto Machado(2) é certeiro ao alertar sobre a ameaça
que a desenfreada repressão penal representa para a efetivação dos direitos humanos:
“A repressão penal, desencadeada preferencialmente contra as classes
populares, é uma repressão seletiva, discriminatória e, portanto, arbitrária.
Logo, atua com sérias restrições aos princípios constitucionais da isonomia,
do contraditório e da ampla defesa, os quais compõem o chamado ‘devido pro-
cesso legal’. A atuação seletiva e, portanto, discriminatória, do processo penal
é já uma forma de agressão aos direitos humanos e configura até mesmo uma
espécie de abuso de poder, isto é, abuso do poder que controla violentamente
(2)
MACHADO, Antônio Alberto. A miséria e as misérias do processo penal. Disponível em: <http://avessoedireito.
com/2011/02/26/a-miseria-e-as-miserias-do-processo-penal/>. Acesso em: 10 jul. 2014.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 423
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O direito penal, do modo como é hoje aplicado, de forma mecânica e desprovido
de maiores considerações de ordem sociológica, longe de solucionar conflitos, atu-
ando de modo meramente burocrático e positivista, acaba por agravar os problemas
sociais, uma vez que, por vezes, chega a uma resposta que não interessa a ninguém,
A intervenção penal merece ser rechaçada, quando revelar ser inadequada, posto
que muito superior ao entendimento do mero castigo, que apenas tem o condão de
excluir e marginalizar pessoas, desumanizando o direito (razoabilidade).
A existência de princípios constitucionais garantidores de direitos fundamen-
tais, com efeito, gera para a população em geral, no âmbito da ética, expectativa
de respeito e cumprimento por parte dos agentes do Poder Público, impondo aos
aplicadores do direito o dever de observância e a busca dos meios necessários para
sua efetiva realização no plano da práxis.
Quando presente condição para a intervenção, por fim, em nome do senso
de justiça, a pena a ser imposta deve guardar correlação com as circunstâncias
concretamente consideradas, afastando-se o hermeneuta da falácia de considerar
apenas abstratamente o conteúdo da norma positivada, posto que, para prevenir, a
reprimenda deve ser proporcional ao fato peculiar, não à letra fria da lei, considerada
na sua generalidade (proporcionalidade).
Enfim, o que propomos e defendemos ao longo do presente trabalho é a hu-
manização da aplicação do direito penal, sempre levando em consideração o que
há de mais relevante para o direito pátrio, ou seja, a adjetivação da dignidade e a
análise prévia dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, inseridos em
um grande número de outros princípios, mesmo que de forma indireta.
O homem e sua racionalidade são, por essência, a razão e a finalidade do
direito, só sendo justificável a intervenção, acoimada de justa, do Estado-juiz para
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______; ______; FERREIRA, Alexandre Cruz Ferreira (Org.). Constituição e cons-
trução da cidadania. Leme: J. H. Mizuno, 2005.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 427
RESUMO
Em tese, a ausência de anotação na CTPS da vigência do contrato de trabalho
é considerada crime de falsificação de documento público. Logo, deve-se analisar
a Justiça competente quanto ao referido delito. Prevalece o entendimento de que a
Justiça do Trabalho, mesmo depois da EC nº 45/04, não tem competência criminal.
Ainda assim defende-se o entendimento de que a matéria em estudo deveria ser
disciplinada e sancionada, de modo pleno e eficaz, nos âmbitos administrativo,
civil e trabalhista, mas não criminal, uma vez que nem todos os ilícitos devem ser
abrangidos pelo direito penal, ao qual se reserva a tutela dos valores essenciais à
vida em sociedade.
Palavras-Chave: Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS. Ausência
de Anotação. Competência Criminal.
TITLE: Labour and social security – annotation absence and criminal jurisdiction
ABSTRACT
In theory, the lack of annotation in the labour and social security the term of the
employment contract is considered a crime of public document falsification. Therefore,
one should analyze the competent Court as to that offense. Prevails the understanding that
the Labor Court, even after the EC no. 45/04, does not have criminal jurisdiction. Still it
defends the understanding that the matter under consideration should be disciplined and
sanctioned, fully and effectively, administrative, civil and labor fields, but not criminal,
since not all offenses should be covered by criminal law, which reserves the protection of
the essential values of life in society.
Keywords: Labour and Social Security – CTPS. Note Absence. Criminal Jurisdiction.
(1) Cf. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Manual de direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2015.
p. 158-161.
430 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
por motivo de salário, férias ou tempo de serviço; perante a Previdência Social, para
o efeito de declaração de dependentes; e para cálculo de indenização por acidente
do trabalho ou moléstia profissional.
Na verdade, a prova do contrato individual do trabalho deve ser feita pelas
anotações constantes da CTPS ou por instrumento escrito, mas pode ser suprida
por todos os meios permitidos em direito (art. 456 da CLT).
Sendo assim, de acordo com a Súmula nº 12 do TST, “as anotações apostas
pelo empregador na carteira profissional do empregado não geram presunção juris
et de jure, mas apenas juris tantum”.
No mesmo sentido, a Súmula nº 225 do STF confirma que “não é absoluto o
valor probatório das anotações da carteira profissional”.
Observados os aspectos acima, discute-se se a ausência de anotação do contra-
to de trabalho na CTPS do empregado configura delito, ou seja, ilícito de natureza
criminal.
O art. 49 da CLT dispõe que para os efeitos da emissão, da substituição ou de
anotação de CTPS, deve-se considerar como crime de falsidade, com as penalidades
previstas no art. 299 do CP: fazer, no todo ou em parte, qualquer documento falso
ou alterar o verdadeiro; afirmar falsamente a sua própria identidade, filiação, lugar
de nascimento, residência, profissão ou estado civil e beneficiários, ou atestar os
de outra pessoa; servir-se de documentos por qualquer forma falsificados; falsificar,
fabricando ou alterando, ou vender, usar ou possuir CTPS que assim tiver sido
alterada; anotar dolosamente em CTPS ou registro de empregado, ou confessar ou
declarar em juízo ou fora dele, data de admissão em emprego diversa da verdadeira.
O art. 299 do CP, ao tipificar o crime de falsidade ideológica, assim prevê:
“Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que
dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa
da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público,
e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
Parágrafo único. Se o agente é funcionário público, e comete o crime
prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento
de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.”
Comprovando-se falsidade, quer nas declarações para emissão de CTPS, quer
nas respectivas anotações, o fato deve ser levado ao conhecimento da autoridade
que houver emitido a carteira, para fins de direito (art. 50 da CLT).
De forma mais específica quanto ao tema em estudo, o CP, no art. 297, dispõe
sobre o crime de falsificação de documento público, com a seguinte redação:
“Art. 297. Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar
documento público verdadeiro:
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 431
(2)
Cf. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito processual do trabalho. 4. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2015. p. 149-151.
432 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
Em consonância com o art. 109, IV, da CR, aos juízes federais compete proces-
sar e julgar “os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de
bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar
e da Justiça Eleitoral”.
Frise-se que a hipótese em estudo não está prevista nos “crimes contra a or-
ganização do trabalho”, conforme arts. 197 a 207 do CP, por se tratar, na verdade,
de “crime contra a fé pública”, mais especificamente de “falsidade documental”.
Anteriormente, a Súmula nº 62 do STJ assim previa: “Compete à Justiça Estadual
processar e julgar o crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho e Previdência
Social, atribuído a empresa privada”.
Pode-se dizer, entretanto, que esse entendimento ficou superado, como se
observa no seguinte julgado:
“CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. ART. 297, §§ 3º, II, E 4º,
DO CP. OMISSÃO DE LANÇAMENTO DE REGISTRO OU DECLARAÇÕES
FALSAS NA CTPS. INTERESSE DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. O agente que omite dados ou faz declarações falsas
na CTPS atenta contra interesse da autarquia previdenciária e estará incurso nas
mesmas sanções do crime de falsificação de documento público, nos termos
dos §§ 3º, II, e 4º do art. 297 do CP. Competência da Justiça Federal. 2. O su-
jeito passivo principal do delito é o Estado, ficando o empregado na condição
de vítima secundária. 3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo
Federal da 5ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Estado de São Paulo, ora
suscitado.” (STJ, 3ª Seção, CC 97.485/SP, Rel. Min. Og Fernandes, DJe 17.10.08)
Não obstante, mais recentemente, o Ministro Marco Aurélio, do STF, em 21 de
setembro de 2015, proferiu a seguinte decisão:
“COMPETÊNCIA. CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÃO. MINIS-
TÉRIO PÚBLICO ESTADUAL E FEDERAL. OMISSÃO DE ANOTAÇÃO DE
DADOS EM CARTEIRA DE TRABALHO. DEFINIÇÃO. 1. O assessor Dr.
Alexandre Freire prestou as seguintes informações: o conflito negativo de atri-
buição concerne a procedimento voltado a apurar a suposta prática de crime
de omissão de anotação de dados relativos a contrato de trabalho na – CTPS
(art. 297, § 4º, do CP). O Ministério Público Federal remeteu os autos ao
Ministério Público do Estado de São Paulo. Este suscitou o conflito negativo,
afirmando incumbir àquele a condução da investigação. A Procuradoria-Geral
da República manifesta-se pela admissão do conflito negativo de atribuição,
para reconhecê-la como sendo do MPF. 2. Preliminarmente, assento cumprir ao
Supremo a solução de conflitos de atribuições entre o MPF e o MP estadual –
Petição 3.528/BA, de minha relatoria, Diário da Justiça de 3 de março de 2006.
Define-se o conflito considerando a matéria objeto do procedimento de origem,
devendo ser levados em conta os fatos motivadores da atuação do Ministério
Público. Quando se trata de investigar prática de possível crime de omissão de
anotação de dados relativos a contrato de trabalho na – CTPS (art. 297, § 4º, do
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 433
(3)
Cf. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito da seguridade social. Rio de Janeiro: Forense,
2015. p. 618-620.
DA CRIMINALIZAÇÃO REGULAMENTAR EM MATÉRIA
DE EFLUENTES AMBIENTAIS
RESUMO
A presente pesquisa teve por finalidade abordar as competências legislativas em
matéria criminal, tendo em vista o exposto na Resolução nº 430/2011 do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), na qual foi criada a criminalização (tipos
penais) pelas práticas previstas na mesma Resolução, utilizando, no entanto, a pu-
nição existente na Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais). Assim, analisam-se,
além da competência legislativa, os princípios penais, a Lei nº 9.605/98 e a própria
Resolução nº 430/2011, para se chegar ao problema, que é o fato de existir ou não
abuso de direito regulamentar na tipificação de condutas pelo Conama. Na realização
deste trabalho foram utilizados o método jurídico-teórico e o raciocínio dedutivo
com técnica de pesquisa bibliográfica, a fim de trazer uma resposta aos anseios dos
pesquisadores e de todos aqueles que se preocupam com a observância da Consti-
tuição brasileira de 1988 (CR/88) e do Estado Democrático de Direito. Concluiu-se
que entre as prerrogativas concedidas ao Conama não existe a possibilidade de tal
órgão legislar em matéria criminal ambiental por violar os princípios da reserva legal
e da taxatividade, por mais louvável que seja a sua intenção, fato que, sem dúvida,
compromete os comandos constitucionais e a segurança jurídica.
Palavras-Chave: Direito Penal. Legislação Ambiental. Competência. Regula-
mentação.
Nacional del Medio Ambiente brasileño (Conama), en que se creó la penalización (tipos
penales) por los hechos contenidos en la misma resolución, utilizando, sin embargo, la
punición existente en la Ley nº 9.605/98 (Ley de los Crimines Ambientales). Así, se ana-
lizó, además de la competencia legislativa, los principios penales, la Ley nº 9.605/98 y la
Resolución nº 430/2011, para llegar al dilema, que es el hecho de existir, o no, el abuso
de derecho reglamentar en la tipificación de conductas por el Conama. En la realización
del trabajo, ha sido utilizado el método jurídico-teórico y el raciocinio deductivo con
técnica de investigación bibliográfica, para presentar una respuesta a los deseos de los
investigadores y de todos que se preocupan con el cumplimiento de la Constitución de la
República de 1988 (CR/88) y con la observancia del Estado Democrático de Derecho. Se
ha concluido que entre las prerrogativas concedidas al Conama no existe la posibilidad de
ese órgano legislar en materia criminal ambiental por violar los principios de la reserva
legal y de la expresa previsión normativa, por más saludable que sea su intención, hecho
que, sin duda, pode en cheque los comandos constitucionales y la seguridad jurídica.
Palabras Clave: Derecho Penal. Legislación Ambiental. Competencia. Reglamen-
tación.
SUMÁRIO
1 Introdução. 2 Competência Legislativa em Matéria Penal. 3 Princípios Penais
Gerais. 4 A Lei nº 9.605/98 e sua Importância e Legalidade. 5 Resolução nº 430/2011
do Conama. 6 Abuso de Direito Regulamentar na Tipificação de Condutas. 7 Con-
siderações Finais. Referências.
(1) Um dos princípios que é aplicado para resolver os conflitos aparentes das normas (GUIMARÃES,
2004, p. 495).
(2) Art. 59 da CR/88.
438 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
punível não por estar previsto em lei distinta, mas, sim, e com base na própria Lei
nº 9.605/98, por seus próprios fundamentos, norma e previsão.
No caso, o agente não terá punição da Lei nº 9.605/98 por ter transgredido
outra norma, mas, sim, por ter transgredido a própria Lei nº 9.605/98. Nesse ponto,
através de uma medida extrema, se aplica a subsidiariedade das normas. Afirma-se
medida extrema por entender que não existe conflito algum, pois a Lei nº 9.605/98
trata de crimes ambientais e a Resolução nº 430/2011 do Conama cuida de formas
de conduta administrativa.
(5) Efluentes são, na maioria das vezes, produtos produzidos por indústrias (líquidos ou gasosos), ou
resultado dos esgotos domésticos urbanos, tendo como depósito final o meio ambiente.
442 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Direito Penal, como apontado inicialmente, é objeto de grande polêmica,
haja vista o reconhecimento dos direitos fundamentais do homem, que em várias
situações são desrespeitados, ou melhor, mitigados, na prática adotada pelo sistema
penal, que é violento. A violência não se restringe à prática da infração, isto é, à
quebra dos ditames da lei penal, mas também se verifica nas formas utilizadas para
se combater ou fazer cumprir uma determinação legal, daí a observância necessária
da CR/88 no momento de se criar leis coercitivas.
Tal argumento é utilizado neste trabalho como um dos motivos da reserva legal,
ou seja, da necessidade de ser a União, de forma privativa, a única a poder legislar
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 443
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Marciley Boldrini
Especialista em Direito Público e Mestranda do Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu (Mestrado) em Direito Processual da Universidade Federal do
Espírito Santo.
RESUMO
Os institutos da preclusão e coisa julgada formal nem sempre são diferenciados
(se é que existe diferença) pela doutrina da teria geral do processo, mormente no
que se refere ao processo civil. Também quanto à coisa julgada material existem
discrepâncias na sua natureza. O estudo procura estudar as diferenças e as coinci-
dências entre os termos “preclusão”, “coisa julgada formal” e material e ainda sobre
a expressão “trânsito em julgado”, que às vezes pode ter mais de uma conotação
dentro dos fenômenos investigados. Por fim, demonstra como, no Processo Penal,
os mesmos termos têm tratamento diversificado do processo civil e que a expressão
“trânsito em julgado” não serve para identificar a coisa julgada material.
Palavras-Chave: Processo Civil. Processo Penal. Preclusão. Coisa Julgada.
Trânsito em Julgado. Recurso. Ação de Revisão Criminal.
TITLE: Reflections and quirks on estoppel, the judged thing and the criminal res
judicata.
ABSTRACT
The estoppel institutes and formal res judicata, are not always differentiated (if
any difference) the doctrine would have overall process, especially with regard to civil
procedure. Also on the res judicata discrepancies exist in nature. The study aims to study
the differences and similarities between the terms “estoppel”, “formal res judicata” and
material still on the phrase res judicata, which can sometimes have more than one con-
notation within the investigated phenomena. Finally, as shown in the criminal procedure,
the same terms have diversified treatment of civil procedure and that the phrase “final
judgment” does not serve to identify the res judicata.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 447
SUMÁRIO
1 Coisa Julgada, Coisa Julgada Formal e a Preclusão. Diferenciação. 2 Trânsito
em Julgado, Preclusão e Coisa Julgada. 3 A Coisa Julgada no Processo Penal. Rela-
tividade. 4 Um Problema Prático: o Trânsito em Julgado e a Prescrição da Pretensão
Executória. 5 Conclusão. Referências.
da coisa julgada, confundindo-se, aliás (...) com aquilo que a doutrina costuma
chamar de coisa julgada formal.” (2008, p. 538/541) (grifo nosso)
A preclusão, segundo a doutrina em geral, pode ser temporal, consumativa
ou lógica e, ainda, existe a preclusão que se aplica ao juiz, a chamada preclusão
projudicato.
A temporal se dá quando não obedecido o prazo previsto em lei para a prática
de determinado ato, como, por exemplo, cinco dias para apelar no processo penal,
não entrando a parte com o recurso nesse prazo, ocorre a preclusão.
A consumativa ocorre quando se dá a extinção da faculdade processual pela
prática do ato validamente. Oferecido o recurso, o próximo passo é o reexame por
outro grau, se for o caso, e, no caso do processo penal público, não pode mais o MP
desistir (indisponibilidade).
A lógica se dá quando a parte pratica ato incompatível, por exemplo, renuncia
ou desiste do recurso, o que no processo penal só se aplica à ação penal privada e
para a defesa aqui não pode seguir o recurso.
A projudicato, por sua vez, como dito, se aplica ao juiz, e é sempre consumativo e,
assim, oferecida pelo juiz a sentença, exaure sua jurisdição, não podendo mais alterar
ou rever a decisão, salvo em caso de embargos de declaração ou, no processo penal, em
reconsideração de recurso em sentido estrito se for uma mera decisão interlocutória.
Já a coisa julgada formal, segundo Marinoni e Arenhart,
“Opera-se em relação a qualquer sentença, a partir do momento em que
Claro que sim, pois, na verdade, a coisa julgada formal é a própria preclusão e
antecede a verdadeira coisa julgada que é a material. A criação doutrinária da cha-
mada “coisa julgada formal” se torna até desnecessária, pois o que interessa mesmo,
em um primeiro momento, é a caracterização de preclusão, já que a coisa julgada
formal é o último efeito desta e com esta se confunde.
E, quanto à diferenciação entre coisa julgada formal e material, de acordo com
Marinoni e Arenhart,
“(...) a coisa julgada formal, como se nota, é endoprocessual, e se vincula
a impossibilidade de se rediscutir o tema decidido dentro da relação jurídi-
ca processual em que a sentença foi prolatada. Já a coisa julgada material é
extraprocessual, ou seja, seus efeitos repercutem fora do processo (...), não
se confunde com a verdadeira coisa julgada (ou seja, com a coisa julgada
material). É, isso sim, uma modalidade de preclusão, a última do processo de
conhecimento, que torna insubsistente a faculdade processual de rediscutir a
sentença nele proferida.” (2008, p. 242-643)
Alexandre Freitas Câmara, por sua vez, diz que “enquanto a imutabilidade do
provimento judicial se chama coisa julgada formal, a imutabilidade de seu conte-
údo (isto é, do ato judicial que resolve o mérito da causa) chama-se coisa julgada
material” (2007, p. 72).
Interessante a distinção proposta, mas a imutabilidade do provimento judicial
se dá justamente pela irrecorribilidade, ou seja, como melhor destaca Marinoni, a
coisa julgada formal nada mais é do que a preclusão.
Aliás, sobre outra visão, Leonardo Greco afirma que os aspectos de coisa jul-
gada formal e da material seriam duas faces de uma mesma moeda, “porque um não
existe sem o outro, de modo que, se a sentença tornou-se imutável no processo no
qual foi proferida, também se tronará imutável em qualquer outro. Por conseguinte,
não há coisa julgada formal sem coisa julgada material, e vice-versa” (2010, p. 367).
Assim, no momento em que se dá a coisa julgada formal (repita-se: que nada
mais é do que a preclusão), abre-se caminho para a coisa julgada material, pois a
imutabilidade no processo específico logo se torna exógena, ou seja, erga omnes.
Logo, nesse exemplo, enquanto o reexame da decisão não tiver sido efetuado
pelo Tribunal, ela não irá transitar em julgado, ainda que tenha havido a preclusão
temporal para uma das partes ou ambas, não restando, assim, dúvidas de que os
institutos não devem ser confundidos. Nota-se que o conceito de trânsito em julgado
adquire contornos próprios, não se restringindo apenas como um efeito da preclusão,
mas, sobretudo, como consequência da legitimidade das decisões jurisdicionais.
Aqui fica claro que a coisa julgada só poderia ser identificada com o “trânsito em
julgado” quando se desse o reexame necessário.
Desse modo, resta claro que a concepção de “trânsito em julgado”, de forma
mais correta, deveria se referir exclusivamente à irrecorribilidade das decisões, seja
para uma ou ambas as partes, sendo, assim, apenas pressuposto para uma futura
formação de uma verdadeira coisa julgada. Mas se confundem na lei, doutrina e
jurisprudência, com a verdadeira coisa julgada material.
O que é certo é que a chamada preclusão recursal ocorrida para uma das partes,
por si só, não é suficiente para a formulação da coisa julgada, já que mesmo que
apenas uma delas tenha recorrido, essa situação já é considerada como suficiente
para uma possível alteração da decisão que está sub judice e, nesse caso, não teríamos
a coisa julgada material. E aqui relembramos: a coisa julgada atinge a decisão, sendo
desimportante a consideração da parte beneficiada ou prejudicada. Assim, não há
dúvidas de que a estabilização da demanda para significar uma coisa julgada material
deve ocorrer simultaneamente para todos os sujeitos processuais.
Nesse sentido, Soares, (2010, p. 88) conclui afirmando que:
trouxe qualquer definição da expressão “coisa julgada”, ainda que faça referência a
ela (mesmo que não diretamente) em algumas passagens.
Dessa forma, na ausência de previsão na legislação específica, somente para
fins de estudo, toma-se por base a definição apresentada pela Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro (DL nº 4.657/1942), a qual dispõe que:
“Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
(...)
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já
não caiba recurso.”
Nota-se um verdadeiro atrelamento do conceito de coisa julgada à imutabi-
lidade e à incontestabilidade da decisão. É a estabilização da demanda, quando o
conteúdo torna-se indiscutível, perpetuando a situação jurídica então resolvida. Mas,
no entanto, no âmbito do processo penal a coisa julgada e as suas características
ganham contornos próprios.
A característica de imutabilidade da coisa julgada não é a mesma no processo
penal, pois a “coisa julgada” na sentença penal é flexibilizada, uma vez que essa toma
contorno secundum eventus litis, já que possui maior consistência e imutabilidade
quando se trata de decisão pro reo do que nos casos em que ela é contra reo. Assim,
as sentenças absolutórias depois que “passam em julgado” sempre asseguram a
imutabilidade absoluta da coisa soberanamente julgada e, ao revés, as sentenças de
condenação se apresentam apenas com a imutabilidade de uma coisa julgada formal
(ou preclusão) e quando muito um especial “trânsito julgado material” especial,
considerado apenas como uma impossibilidade de “recorrer”, ou seja, de se aden-
trar com recurso ordinário ou excepcional, mas, em vista da especial característica
do processo penal, no que se refere ao réu, a qualquer tempo pode ser objeto de
contestação, desde que preenchidos os requisitos legais para tanto (cf. MARQUES,
2009, p. 61).
É que no processo penal a condenação pode ser desconstituída através de uma
ação de impugnação que é a revisão criminal, e talvez por isso o art. 621 do CPP
não fale em coisa julgada como condição para a revisão criminal (ao contrário do
CPC quando prevê a rescisória), mas só se utiliza do termo “processo findo”, ou
seja, para o réu só existe processo “findo”, já que mesmo não tendo possibilidade
de recorrer (ordinária ou extraordinariamente) poderá obter a mutabilidade ou a
desconstituição da condenação através da revisão, tudo em vista do especial caráter
do processo penal e sendo justificável sob o aspecto humanitário a não imposição
de limite temporal para seu manejo.
O simples fato de a lei processual penal se referir a “processo findo” e não à
“coisa julgada” como condição para se adentrar com a revisão criminal (de forma
diversa do CPC) parece já indicar que no processo penal o que teremos é mesmo
somente um processo que esteja findo (ou, em outras palavras, só coberta pela
preclusão para o Estado), pois, na verdade, não existirá a imutável coisa julgada,
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 455
até porque a qualquer tempo poderá o réu ou os seus sucessores obter a revisão do
julgado com base em novas provas. Assim, não existe preclusão para se adentrar
com a ação de impugnação desconstitutiva que é a revisão criminal.
Como salienta Marcelo Cunha de Araújo:
“Mesmo fazendo uso dos meios legais de impugnação da decisão, há um
momento em que impossível se torna outro reexame: é quando se esgotam todas
as instâncias (...); a teor do art. 621 do CPP só é cabível a revisão criminal pro
reo, nunca pro societate. Além disso, por determinação legal (art. 622 do CPP),
‘a revisão criminal poderá ser requerida em qualquer tempo, antes da extinção
da pena ou após’. Verifica-se, portanto, diferentemente da ação rescisória, que a
revisão criminal não tem prazo preclusivo, podendo mesmo ser utilizada após a
extinção da puninbilidade.” (2007, p. 146/147) (grifo nosso)
É certo que, tal como a ação rescisória, poderia se alegar que não se tratando
a ação revisional de um recurso, mas de uma ação de impugnação, não seria um
obstáculo a se reconhecer a soberania e a autoridade da coisa julgada no julgado.
Ocorre que há uma diferença gritante: enquanto só se pode desconstituir a coisa
julgada no cível até o prazo de dois anos, no processo penal para o réu inexiste qual-
quer limite. Assim, não se dá uma coisa julgada material perfeita, ou de uma forma
total para o réu, e não se dando para o réu, não se dará para a própria decisão, pois
é esta que deveria se tornar imutável. Se pode existir uma mutabilidade a qualquer
tempo, mesmo que provocada e em benefício de apenas uma parte, isso também
uma adequação desses conceitos às regras específicas da revisão criminal (art. 5º,
XXXVI, da Carta Magna)” (2000, p. 2.007).
Assim, no processo penal, até por existir um mandamento constitucional (art.
5º, XXXVI), a coisa julgada material é sempre relativa e não absoluta, conforme ob-
servam autores mais atentos a uma teoria geral adequada ao processo penal, como
Rogério Lauria Tucci, que observa que diferentemente do que acontece no processo
civil de caráter contencioso, a exigência de irrevogabilidade do ato decisório de
mérito não se faz absoluta no processo penal, e acrescenta que “há sentenças penais
que transitam em julgado apenas formalmente, podendo ser revogadas em qualquer
tempo ou circunstâncias” (1984, p. 22)
Portanto, deve se indagar se realmente existe a coisa julgada material quando
findo o processo penal, já que esta pressupõe que a decisão seja imutável.
Pelo visto, a rigor, não! Simplesmente porque não se pode transportar do pro-
cesso civil para o penal as mesmas consequências, pois fica sempre aberta a possibi-
lidade de a defesa mudar a decisão e, mudando a decisão, altera-se a coisa julgada.
Consoante Miguel Fenech, “o adjetivo julgada indica a situação em a coisa-
objeto se encontra quando tiver definitivamente resolvida.O efeito da coisa julgada
é o efeito da resolução do processo quando for decidido definitivamente” (1952, p. 528).
E, de acordo com o saudoso Pitombo, em julgado do extinto TASP, só existe
coisa julgada de autoridade absoluta “quando se forma em face de sentença, ou
acórdão, de natureza declaratória ou constitutiva (...). Coisa julgada de autoridade
relativa é adstrita à sentença penal de natureza declaratória, a qual se pode ver revogar
ou modificar a qualquer tempo, seja mediante ação penal de habeas corpus, seja por
via de ação de revisão criminal”(1) (grifo nosso).
Assim, conforme Marcelo de Cunha de Araújo, no processo penal, “se a coisa
julgada é plena nos casos de sentenças de absolvição (a imutabilidade aqui é absolu-
ta), o mesmo não ocorre com a sentença condenatória, que apresenta imutabilidade
relativa, pois pode ser alterada a qualquer tempo (p. 212).
Ora, se uma das partes (a parte ré) não é atingida de forma absoluta pela coisa
julgada ao se findar o processo, é evidente que o que ocorre é somente uma preclusão
recursal para o Estado e para a defesa.
Explica-se: para a parte ré o que existe é uma preclusão para se interpor
recursos, mas não para se interpor a revisão criminal. Se é assim, fica em aberto a
revisão da decisão, e se fica em aberto para uma das partes, em aberto também fica
para a acusação ou para o Estado. Para o Estado ou MP, assim, no processo penal,
também não se poderia tecnicamente se falar em coisa julgada, pois a decisão pode
ser modificada.
Se a decisão pode ser modificada, mesmo que seja por ato apenas da outra par-
te, ela não pode ser considerada imodificável ou intangível, e, assim, só há mesmo
uma preclusão, mesmo que para o MP ou o Estado esta seja mais forte. Novamente
relembrando: a coisa julgada material ou definitiva só se dá quando a decisão é
totalmente imutável.
Por hábito, costuma-se afirmar em obras de processo penal que, nessa área
do direito, “não há coisa julgada material para a defesa, tão só para o MP”. Porém,
como visto, inexiste até mesmo para o MP a coisa julgada material, já que a decisão
pode se alterada, e, se pode, não se deve falar propriamente em coisa julgada. Existe
apenas preclusão recursal, aberta a possibilidade de alteração por ato da defesa, e a
alteração atingirá a decisão e a todos.
Conclui-se que só haveria uma coisa julgada depois da revisão criminal. De
novo a pergunta: será por isso que o legislador do CPP fala somente em “processo
findo” como pressuposto da ação de revisão criminal? E o chamado trânsito em
julgado poderia ser considerado quando ocorre a preclusão ou só quando ocorre a
verdadeira coisa julgada? Todas essas indagações trarão consequências, por exem-
plo, ao se aferir o prazo inicial da chamada prescrição da pretensão executória e da
retroativa, como se verá.
Mas uma coisa parece certa: o termo trânsito em julgado é utilizado mais no
processo penal do que no processo civil. E a explicação parece ser que o termo
“trânsito em julgado” tenha mais afinidade com preclusão do que coisa julgada
material. No processo penal, ao se utilizar o termo “trânsito em julgado”, evita-se o
“inconveniente” de se afastar muito da chamada teoria geral do processo (que é toda
dirigida ao processo civil) e se admitir uma “coisa julgada imutável e soberana”, já
da, e sim em “processo findo” e permite a alteração da decisão em tempo não fixado
para a defesa com a revisão criminal, aliás, com base em mandamento constitucional.
Com o advento da Lei nº 7.209/84, o art. 112 do CP sofreu pequena, mas, no
ponto em exame, muito significativa alteração, passando para a seguinte redação:
“Art. 112. No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr:
I – do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a
acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento
condicional.” (grifo nosso)
Frise-se que o art. 110, § 1º (prescrição retroativa), também se refere a um
“trânsito em julgado para a acusação”.
A partir da alteração legislativa, a doutrina e a jurisprudência passaram a uma
interpretação literal dos dispositivos, admitindo a possibilidade de desmembrar o
momento do trânsito em julgado da sentença penal para as partes, sem que houvesse
maiores preocupações qual o real objetivo da mudança de redação.
O PL nº 1.656/83, que alterou o Código Penal, não trouxe motivo expresso
para justificar o novo texto a respeito da contagem do prazo com base “no trânsito
em julgado para a acusação”, tampouco houve debate sobre o tema ao longo de
todo o trâmite legislativo, sendo o projeto aprovado de forma inquestionável pelos
parlamentares.
Para Franco e Stoco (2007, p. 591), a alteração objetivou consolidar o en-
tendimento jurisprudencial da época que, em prestígio ao princípio da vedação da
majoração da pena, já se considerava a possibilidade de divisão do momento do
trânsito em julgado para as partes, a fim de impedir que a acusação, uma vez inerte,
se insurgisse posteriormente para o recrudescimento da pena.
Destarte, ainda que em um juízo especulativo, pode-se concluir que a suposta
divisão do momento do trânsito em julgado para as partes no âmbito em matéria
penal buscava essencialmente garantir a impossibilidade de reformatio in pejus da
decisão, já que houve um desinteresse do MP em recorrer. É evidente que apenas se
dividiu o momento preclusivo por não mais poder o MP recorrer.
Mas o que é certo é que a redação dada ao citado dispositivo do Código Penal
contribui para aumentar a confusão entres os institutos da preclusão, do trânsito
em julgado e da coisa julgada, culminado com a distorção dos conceitos na esfera
penal. Como já visto, pela teoria geral do processo, trânsito em julgado deveria
tecnicamente se dar de maneira simultânea para todos os sujeitos da ação penal,
estabilizando a demanda e formando o título judicial a partir da formação da verda-
deira coisa julgada, enquanto a preclusão seria apenas capaz de obstar a interposição
de novos recursos pela parte.
Mas não é o que ocorre no processo penal, pois, caso o MP ou o querelante não
recorra da decisão prolatada, estariam diante da preclusão temporal, consubstanciada
na perda do direito de recorrer e na impossibilidade de o réu ter sua situação piorada.
Porém, não seria possível falar em coisa julgada, porquanto a decisão ainda não foi
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 459
estabilizada, pois pode sofrer as consequências de uma eventual ação por parte da
defesa: a revisão criminal e, assim, não seria possível se falar em uma verdadeira
coisa julgada justamente por ausência de uma de suas principais características: a
imutabilidade da decisão.
A posição adotada no direito penal parece partir do simples fato de que, embora
possa a condenação ser reduzida ou desconstituída em face de possibilidade de revisão
criminal, a possibilidade de atuação acusatória já estaria encerrada quando houvesse
o fim do prazo para o recurso da acusação. Daí se falar em “trânsito em julgado para
a acusação”. O que é certo é que, em não havendo recurso do MP, ainda pode restar
o recurso defensivo, quando poderá ter possibilidade de redução da pena ou de ab-
solvição do acusado e mesmo não havendo recurso defensivo, poderá no futuro, em
caso de uma ação de revisão criminal por parte da defesa, haver a redução da pena,
a nulidade ou mesmo a absolvição, o que comprova a situação precária da decisão.
No estudo da teoria geral do processo não se cogita de uma “divisão” da coisa
julgada ou mesmo do trânsito em julgado, considerando-se os sujeitos da deman-
da, e quando muito se fala em formação de coisa julgada de capítulos da decisão,
mas não para partes processuais, porquanto esse fenômeno deve, necessariamente,
convergir para um único momento, qual seja quando mais nenhuma alteração possa
advir para qualquer um dos atores processuais sobre qualquer ponto da sentença.
O que ocorre no processo penal, por suas características especiais, é que o
simples fato de uma ou ambas as partes não terem recorrido não é condição sufi-
ciente para considerar a ocorrência de coisa julgada, ainda que parcial. Isso se dá
(2) Fala-se que isso era necessário, porque a prisão era automática com a condenação.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 461
5. CONCLUSÃO
A discussão deste estudo não se trata de mera ilação acadêmica, pois possui
significativas consequências no curso das ações penais, especialmente no que tange
ao regime de prescrição penal, especialmente no que se refere à prescrição executória
da pena (e também da retroativa).
Em primeiro lugar se demonstra, de forma inequívoca, que a teoria da coisa
julgada deve ser entendida de forma diversa no processo penal, daquela tradicional
visão da teoria geral do processo ou do processo civil.
De outra parte, isso traz efeitos, por exemplo, na área penal no momento de
se considerar o prazo inicial da contagem do prazo prescricional.
A concepção de prescrição nos remete à perda do direito de punir do Estado
pelo não exercício de sua prerrogativa em um determinado espaço de tempo. Trata-
se de causa de extinção da punibilidade.
462 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
absoluta, e sim de forma meramente relativa, já que sempre será possível a alteração
da decisão com base em eventual ação de revisão criminal.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Marcelo Cunha. Coisa julgada inconstitucional. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2007.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Ação rescisória. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui. Código Penal e sua interpretação: doutrina e
jurisprudência. 8. ed. São Paulo: RT, 2007.
FENECH, Miguel. Derecho procesal penal. 2. ed. Barcelona: Labor, 1952.
GRECO, Leonardo. Instituições e processo civil: processo conhecimento. Rio de Ja-
neiro: Gen/Forense, 2010. v. II.
GRINOVER, Ada Pellegini. Eficácia e autoridade da sentença penal. São Paulo: RT/
Centro de Estudos da Procuradoria Geral do Estado, 1978.
GURPILHARES, Giovana. Prescrição da pretensão executória: uma discussão sobre
o trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação. São Paulo:
PUC, 2007.
JESUS, Damásio de. Prescrição penal. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
LIEBMAN, Enrico Tulio. Eficácia e autoridade da sentença e outros trabalhos escritos
Renato Marcão
Jurista; Membro do Ministério Público do Estado de São Paulo; Autor, dentre
outros, dos seguintes livros: Curso de Processo Penal; Curso de Execução Penal;
Lei de Execução Penal Anotada; Execução Penal; Prisões Cautelares, Liberdade
Provisória e Medidas Cautelares Restritivas; Crimes Ambientais; Crimes contra
a Dignidade Sexual; Estatuto do Desarmamento; Crimes de Trânsito; Tóxicos e
Código de Processo Penal Comentado (no prelo).
Rodrigo Tanamati
Juiz de Direito no Estado de São Paulo.
RESUMO
O presente trabalho visa buscar saber se as Comissões Parlamentares de In-
quérito têm poderes para determinar a condução forçada daquele que deixar de
comparecer voluntariamente.
Palavras-Chave: Condução Coercitiva de Testemunha. Comissão Parlamentar
de Inquérito – CPI. Legalidade.
ABSTRACT
This study aims to seek whether the Parliamentary Inquiry Committees have powers
to determine the conduct forced him who fails to appear voluntarily.
Keywords: Coercive Driving Witness. Parliamentary Inquiry Committees. Legality.
SUMÁRIO
1 Introdução. 2 Poderes Constitucionais das Comissões Parlamentares de
Inquérito. 3 Possibilidade Jurídica de Condução Coercitiva de Testemunha Deter-
minada por CPI. 4 Conclusão.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 465
1. INTRODUÇÃO
A atual crise política brasileira tem exigido, mais uma vez, a atuação efetiva do
Congresso Nacional no exercício de seu poder/dever de fiscalizar, por intermédio
das Comissões Parlamentares de Inquérito.
Em episódio ocorrido em um passado recente, uma das Comissões, no trans-
correr das investigações, determinou a condução coercitiva de testemunha que,
intimada, não compareceu à sessão designada para sua oitiva.
De tal proceder decorre a inquietação que constitui objeto do presente trabalho
e que visa buscar saber se as Comissões têm poderes para determinar a condução
forçada daquele que deixar de comparecer voluntariamente.
(1) Código de Processo Penal interpretado. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
466 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
4. CONCLUSÃO
A relevância do papel jurídico-constitucional conferido pela Carta Magna às
Comissões Parlamentares de Inquérito demanda que sejam elas dotadas de instru-
mentos eficientes no desempenho de suas atividades.
Sob esse prisma, é de se admitir que, respeitados os limites impostos pelo
ordenamento jurídico, são amplos os poderes investigatórios das Comissões.
Assim sendo, a possibilidade de determinar condução coercitiva diretamente,
sem intervenção do órgão jurisdicional, é inerente às atribuições constitucionalmente
outorgadas às Comissões, como forma de garantir a celeridade e a efetividade das
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência da Senhora Ministra Rosa
Weber, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por unani-
midade de votos, em não conhecer da impetração, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 1º de setembro de 2015.
Ministro Edson Fachin – Relator
470 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
RELATÓRIO
O Senhor Ministro Edson Fachin (Relator):
Trata-se de habeas corpus, aparelhado com pedido de medida liminar, impe-
trado contra acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, assim ementado:
“HABEAS CORPUS. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA FORMAL DA DENÚN-
CIA. INOCORRÊNCIA. ORDEM DENEGADA.
1. A dificuldade de apuração de certos fatos, tal como os delitos societá-
rios, não é suficiente para afastar a garantia constitucional da personalidade da
responsabilidade penal, mas, a depender da situação, admite temperamentos
ao princípio ortodoxo da individualização da conduta de cada denunciado
(v.g., STF, HC 85.549, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 13.09.05, DJ 14.10.05).
2. Daí que, tratando-se de crimes societários, em que não se verifica, de
plano, que ‘as responsabilidades de cada um dos sócios ou gerentes são dife-
renciadas, em razão do próprio contrato social relativo ao registro da pessoa
jurídica envolvida’, não há inépcia da denúncia pela ausência de indicação
individualizada da conduta de cada indiciado, sendo suficiente a de que ‘os
acusados sejam de algum modo responsáveis pela condução da sociedade sob
ao qual foram supostamente praticados os delitos’ (v.g., STF: HC 85.579, Rel.
Min. Gilmar Mendes, j. 24.05.05, DJ 24.06.05; HC 89.985 AgR, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, j. 05.12.06, DJ 19.12.06; e HC 94.670, Relª Minª Cármen
Lúcia, j. 21.10.08, DJe 23.04.09; STJ: RHC 19.076/MG, Relª Minª Maria The-
reza de Assis Moura, DJ 04.06.09; e HC 111.107/SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, DJe 24.11.08).
3. No caso, enfatizou o Tribunal de origem, com base nos fatos e nas pro-
vas que permeiam a lide, que ‘a denúncia esclarece e comprova com a juntada
de documentos a condição dos acusados como administradores da empresa
em ordem a estabelecer a vinculação dos resultados delitivos com o exercício
das funções de gestão a eles atribuídas’; a circunstância de os pacientes terem
sido denunciados na condição de dirigentes, aos quais cabem, em princípio,
as decisões atinentes ao exercício das atividades da sociedade empresária, deve
ser tida, ao menos, como indício suficiente de autoria, o qual é suficiente para
o recebimento da denúncia.
4. Acrescente-se, por fim, que a denúncia expôs os fatos de modo a per-
mitir a compreensão da imputação e, em consequência, o exercício da ampla
defesa, com a indicação da qualificação dos pacientes, a data e o local dos fatos,
bem como a forma de execução dos crimes, razão pela qual não há falar, no
caso, em inépcia da denúncia.
5. Ordem denegada.” (HC 132.959/SE Rel. Min. Celso Limongi [Des.
Conv. do TJSP], Sexta Turma, j. 19.10.2010, DJe 16.11.2010)
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 471
VOTO
O Senhor Ministro Edson Fachin (Relator): Inicialmente, insta consignar que se
trata de habeas corpus substitutivo de recurso ordinário, sendo que a inobservância ao
desde que seja certo e induvidoso o fato a eles atribuídos. A questão relativa à efe-
tiva comprovação de eles terem agido da mesma maneira é, como logo se percebe,
matéria de prova, e não pressuposto de desenvolvimento válido e regular do processo.
Com efeito, quando se diz que todos os sócios da determinada sociedade,
no exercício da sua gerência e administração, com poderes de mando e decisão,
em data certa, teriam deixado de recolher, ‘no prazo legal, contribuição ou outra
importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento
efetuado a segurados, a terceiros (...) (atual art. 168-A, CP), está perfeitamente
delimitado o objeto da questão penal, bem como a respectiva autoria. Não há, em
tais situações, qualquer dificuldade para o exercício da defesa ou para a correta
capitulação do fato imputado aos agentes.
A hipótese não seria de acusação genérica, mas geral. Acaso seja provado que
um ou outro jamais teria exercido qualquer função de gerência ou administração
na sociedade, ou que cumpria função sem qualquer poder decisório, a solução
será de absolvição, mas nunca de inépcia. É nesse sentido a decisão da Suprema
Corte, no julgamento do HC 85.579/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, 24.05.05
(Informativo STF n. 389, 01.06.05).
Questão diversa poderá ocorrer quando a acusação, depois de narrar
a existência de vários fatos típicos, ou mesmo várias condutas que contri-
buem ou estão abrangidas pelo núcleo de um único tipo penal, imputá-las,
genericamente, a todos os integrantes da sociedade, sem que se possa saber,
efetivamente, quem teria agido de tal ou qual maneira. Nesse caso, e porque
na própria peça acusatória estaria declinada a existência de várias condutas
diferentes na realização do crime (ou crimes), praticadas por vários agentes,
sem especificação da correspondência concreta entre uma (conduta) e outro
(agente), seria possível constatar a dificuldade tanto para o exercício amplo da
defesa quanto para a individualização das penas. A hipótese seria de inépcia
da inicial, por ausência de especificação da medida da autoria ou participação,
por incerteza quanto à realização dos fatos.
O que deve ser observado, pois – e insistimos nisso – é o preenchimento,
pela peça acusatória, das exigências relativas à tutela da efetividade do processo
(correta classificação do fato, pelo juiz) e da ampla defesa.
Somente sob tal perspectiva explica-se a orientação jurisprudencial no sen-
tido de que, tratando-se de crimes de autoria coletiva, é admitida uma imputação
geral aos acusados, reservando-se à fase instrutória a delimitação precisa de cada
uma delas (STF, HC 22.265/BA, DJ I, 17.02.03).” (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli
de. Curso de processo penal. 10. ed. Lumen Juris, 2008. p. 153-154)
Ainda pela aceitação de que a denúncia contenha certo grau de generalidade
na hipótese de crimes de autoria coletiva, colaciono os seguintes precedentes:
“1. Habeas corpus. Crimes contra a ordem tributária (Lei nº 8.137, de
1990). Crime societário. 2. Alegada inépcia da denúncia, por ausência de
indicação da conduta individualizada dos acusados. 3. Tratando-se de crimes
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 477
(...)
Autorizadas as emissões, os títulos foram postos em oferta pública, como
dispõe a Resolução CMN nº 565, de 20.09.79, e a respectiva autorização do
Senado.
Os deságios concedidos pelos Estados quando da colocação dos títulos no
mercado, atingindo até 9,79% a.a., após as negociações day trade, chegavam,
no fim do dia, aos tomadores finais com descontos ainda menores, a maioria
abaixo de 2,0% a.a. No curso das cadeias de compra e venda, a diferença entre
o deságio concedido pelos Estados e o que foi recebido pelos compradores
finais foi distribuída entre as instituições financeiras participantes. Como os
títulos deveriam ser colocados por intermédio de leilão público, nos termos da
Resolução CMN nº 565, de 20.09.79, os Estados publicaram os editais relativos
ao lançamento das letras, onde foi concedido o exíguo prazo de 24 horas para
a apresentação das ofertas. Ao mesmo tempo, foi estipulado um preço mínimo
equivalente ao valor nominal, ou seja, sem qualquer deságio.
Vencido o prazo de 24 horas, os Estados/Municípios publicaram editais
informando que haviam alcançado proposta ao valor nominal do papel. Por
essa divulgação de resultado, induzia-se ao entendimento de que os leilões
efetivamente ocorreram e que os papéis foram colocados ao preço nominal,
sem deságio.
Uma vez concluída essa parte da operação, os Fundos de Liquidez dos
V – DA CAPITULAÇÃO
Pelo exposto, o Ministério Público Federal denuncia os acusados Rafael
José Hasson, José Henrique de Gouvea Guerra, Marco Polo Marques Cordeiro,
Carlos Américo de Arruda Campos, Ederval Rucco, Caio Eduardo Tripoli e
Ricardo Humberto Rocha da Silva, por gerirem fraudulentamente a instituição
Banco Interfinance S/A, como incursos nas penas dos arts. 4º, caput, da Lei nº
7.492 e 7º, inciso II, do mesmo estatuto legal, por negociarem títulos obtidos
fraudulentamente, e, consequentemente, irregularmente registrados; (...) com
a ressalva de que os denunciados Caio Eduardo Tripoli e Ricardo Humberto
Rocha da Silva deverão responder apenas pelas condutas delituosas perpetradas
após 11.04.96 (...).”
Como se vê, a denúncia narra que os pacientes, na condição de dirigentes do
Banco Interfinance S/A, praticaram, “conscientemente, atos ilícitos com o emprego de
fraudes, obtendo vantagens indevidas com a aquisição dos títulos, incorporando-os
ao seu patrimônio. Na condução dos negócios da sociedade, os acusados contra-
taram operações de alto risco com pessoas jurídicas não financeiras, cuja situação
econômica era incompatível com o risco assumido”. Ainda detalha que os pacientes,
“na qualidade de responsáveis legais pelo Banco Interfinance S/A, realizaram diver-
sas negociações de títulos públicos emitidos para o pagamento de precatórios de
forma irregular, porquanto estavam eivados de fraude em sua origem, uma vez que
a emissão especial foi autorizada com base em precatórios irrisórios ou totalmente
inexistentes, obtendo, com a negociação dos mesmos, lucros indevidos da ordem
de R$ 1.515.000,00 (um milhão, quinhentos e quinze mil reais)”.
Ao contrário do sustentando pelos impetrantes, compreendo que a mera alusão
aos pacientes como representantes legais da instituição, quando, na verdade, atua-
vam na condição de representantes contratuais, constitui formalidade irrelevante,
visto que, além de não constituir elemento essencial da imputação, não prejudica a
intelecção de seu conteúdo.
Portanto, não se trata de denúncia que visa à responsabilização penal objetiva,
como quer fazer crer a defesa, visto que o Ministério Público imputou aos pacientes
a prática consciente e efetiva de condutas que entendeu criminosas.
Ademais, a acusação infere, de forma plausível, que o poder de gestão, concen-
trado pelos pacientes, configuraria indício mínimo da autoria das práticas delitivas
realizadas, em tese, por meio da pessoa jurídica. O efetivo exercício de função de
comando pelos administradores e a possibilidade de domínio da situação fática,
contudo, são circunstâncias cuja solução jurídica reclama instrução processual que,
por óbvio, empreende-se após o juízo de admissibilidade da peça incoativa.
Diante disso, não se verifica inépcia da denúncia, pois não se pode depreender,
a partir de sua atenta leitura, o desejo de responsabilização objetiva ou sem con-
duta específica, razão pela qual considero apta a denúncia vergastada. Sendo assim,
a confirmação da tese acusatória constitui tema de mérito, alheio à impetração, já
solucionado pelas instâncias ordinárias, soberanas quanto ao juízo fático.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 483
Pelo exposto, voto pelo não conhecimento do habeas corpus e pela não concessão
da ordem de ofício.
O Senhor Ministro Marco Aurélio – Vossa Excelência me permite?
O Senhor Ministro Edson Fachin (Relator) – Sim.
O Senhor Ministro Marco Aurélio – O Supremo sempre distinguiu a situação
concreta em que desde o início se impugna a denúncia daquela em que, já na fase
recursal, alega-se vício dessa mesma peça. Sedimentou jurisprudência no sentido
de que, no primeiro caso, não há a preclusão, em que pese a existência de título
condenatório.
O Senhor Ministro Edson Fachin (Relator) – Ministro Marco Aurélio, parece-me
exatamente ser a hipótese, por isso passo ao exame dos argumentos e das circuns-
tâncias atinentes à denúncia.
A segunda observação que faria, e a ela voltarei ao final, é que, da tribuna e
também do memorial foi aduzido um argumento que não está na impetração, que é
o julgamento pela esfera administrativa. Para não deixar in albis esse argumento, não
tratei dele no voto, porque não está na impetração, mas a ele voltarei mais adiante.
Cinjo-me, agora, examinar este argumento da alegada inaptidão da denúncia.
VOTO
O Senhor Ministro Luís Roberto Barroso – Presidente, também eu, cumprimen-
VOTO
A Senhora Ministra Rosa Weber (Presidente) – Eu, da mesma forma.
Também haurindo meu voto nos substanciosos fundamentos do eminente
Relator, não visualizo aqui, com todo o respeito, em qualquer dos pacientes, a figura
do Joseph K. de O Processo, de Kafka. Sabiam eles sim, a denúncia possibilitou sim
a apresentação da defesa e sabiam eles do que estavam sendo acusados. Por óbvio,
não podemos examinar os crimes societários com o mesmo olhar que dirigimos
aos crimes perfeitamente subjetivos e atribuíveis aos agentes, na execução, de uma
forma concreta, que permita essa individualização.
Acompanho o eminente Relator.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Primeira Turma, sob a Presidência da Senhora Ministra Rosa
Weber, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por una-
nimidade, em conceder a ordem de habeas corpus para revogar a prisão preventiva,
nos termos do voto da Relatora.
Brasília, 29 de setembro de 2015.
Ministra Rosa Weber – Relatora
486 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
RELATÓRIO
A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Trata-se de habeas corpus, com
pedido de liminar, impetrado por Renan Gonçalves Antunes em favor de Cleyton
Araújo Faria, João Lucas Rodrigues da Silva Siqueira, Luis Henrique Rodrigues da
Silva e Matheus Ferreira Barbosa contra decisão monocrática da lavra da Ministra
Laurita Vaz, no exercício da Presidência do Superior Tribunal de Justiça, que inde-
feriu a liminar no HC 329.235/SP.
Os pacientes foram presos em flagrante delito, em 20.06.2015, e, posteriormen-
te, denunciados pela suposta prática dos crimes de tráfico de drogas e associação para
o tráfico, tipificados nos arts. 33 e 35 da Lei nº 11.343/06. O magistrado de primeiro
grau converteu o flagrante em prisão preventiva forte na garantia da ordem pública,
na conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal.
Inconformada, a defesa impetrou habeas corpus perante o Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, que indeferiu a medida cautelar.
Submetida a questão à apreciação do Superior Tribunal de Justiça no HC
329.235/SP, a Ministra Laurita Vaz indeferiu a liminar.
No presente writ, o impetrante pugna, preliminarmente, pelo afastamento da
Súmula nº 691/STF. Para tanto, assevera a ilegalidade das prisões em flagrante diante
do uso indevido de algemas e da alegada violência perpetrada pelas autoridades
policiais, apontando, como elementos comprobatórios dos fatos alegados, as decla-
rações prestadas pelos moradores do local do flagrante. Alega, ainda, a inexistência
dos pressupostos autorizadores das prisões preventivas e a falta de fundamentação
idônea. Afirma que os pacientes possuem residência fixa, não são reincidentes, nem
possuem maus antecedentes, “salvo João Lucas Rodrigues da Silva Siqueira, que
ostenta, já que tem uma condenação para porte e uso de entorpecentes”. Requer,
em medida liminar e no mérito, a revogação das custódias preventivas ou, suces-
sivamente, a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão (art. 319 do CPP).
Em 07.08.2015 indeferi a liminar.
O Ministério Público Federal, em manifestação da lavra da Subprocuradora-
Geral da República Cláudia Sampaio Marques, opina pelo não conhecimento do
pedido e, sucessivamente, pela denegação da ordem de habeas corpus.
É o relatório.
VOTO
A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): O objeto do presente habeas corpus
diz com a validade da prisão preventiva decretada contra os pacientes.
Extraio do ato dito coator:
“(...)
Cumpre anotar, de início, que o entendimento firmado pelo Supremo
Tribunal Federal e por este Superior Tribunal de Justiça é no sentido de não
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 487
VOTO
O Senhor Ministro Edson Fachin – Acompanho Vossa Excelência, Presidente.
490 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
Do exame que fiz, também concluí por esta pleonasticamente excessiva gene-
ralidade da decisão. Há trechos da decisão que, obviamente, podem estar fundados
em percepções da realidade em geral, mas não contêm a especificidade necessária.
Por exemplo, um dos trechos que está certamente na base da decisão de Vossa Ex-
celência acentua que
“(...) a ação levada a efeito, normativamente qualificada como hedionda,
desencadeia catastróficas consequências coletivas, uma vez que a disseminação
das drogas, além de representar grande prejuízo individual ao usuário, pres-
supõe, inegavelmente, a ocorrência de diversos outros crimes, especialmente
os patrimoniais.”
Não está em discussão que este é um fato sociologicamente verificado e merece-
dor de sanção, mas é fundamental que, no decreto da prisão, haja essa especificidade.
Portanto, acompanho integralmente Vossa Excelência.
O Senhor Ministro Marco Aurélio – Em jogo a liberdade de ir e vir, admito a
impetração e, em passo seguinte, implemento a ordem.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda
Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Senhor Ministro Dias
Toffoli, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unani-
midade de votos, em denegar a ordem, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 22 de setembro de 2015.
Ministro Dias Toffoli – Relator
RELATÓRIO
O Senhor Ministro Dias Toffoli (Relator):
492 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
VOTO
O Senhor Ministro Dias Toffoli (Relator):
Conforme relatado, volta-se a impetração contra ato da Terceira Seção do
Superior Tribunal de Justiça, que proveu o REsp 1.485.830/MG, interposto pelo
Ministério Público estadual, Relator para acórdão o Ministro Rogerio Schietti Cruz.
Narra a impetrante, na inicial, que
“foi impetrado habeas corpus contra ato da 2ª Turma Recursal Criminal,
em favor do acusado Paulo Ferreira Silva, denunciado por violação ao art.
310 do Código de Trânsito Brasileiro, objetivando, com writ, o trancamento
do procedimento criminal.
A liminar foi deferida, conforme decisão de fls. 80/81 (e-STJ, fl. 247).
A Sexta Câmara Criminal concedeu ordem para trancar a ação penal,
por entender que o fato previsto no art. 310 do CTB é atípico, pela ausência
de perigo concreto de dano.
Inconformado da referida decisão, foi interposto recurso Especial por
parte do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, com fundamento no
art. 105, inciso III, alínea a, da Constituição Federal.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 493
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Primeira Turma, sob a Presidência da Senhora Ministra Rosa
Weber, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por unani-
midade de votos, em deferir o pedido de extensão, nos termos do voto da Relatora.
Brasília, 8 de setembro de 2015.
Ministra Rosa Weber – Relatora
RELATÓRIO
A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Trata-se de pedido de extensão
da presente ordem de habeas corpus concedida em favor de Rondinelli Ribeiro do
Nascimento Amaral Ferreira, por esta Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal,
em sessão de julgamento realizada no dia 12.05.2015.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 497
VOTO
A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): O presente habeas corpus diz com
a extensão da ordem deferida por esta Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal
neste HC 126.070/ES.
Em 12.05.2015, esta Primeira
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Turma
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do Supremo Tribunal Federal, por una-
nimidade, concedeu de ofício ordem de habeas corpus em benefício do paciente
Rondinelli Ribeiro do Nascimento Amaral Ferreira, em acórdão assim ementado:
“HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. SÚMULA Nº 691/STF. AFAS-
TAMENTO. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. EXCESSO
DE PRAZO PRISIONAL CONFIGURADO. CONCESSÃO DA ORDEM.
VOTO
O Senhor Ministro Edson Fachin – Eminente Presidente, Senhora Relatora, eu
vou acompanhar o voto de Vossa Excelência, porque, do exame da matéria que fiz,
cheguei a uma conclusão similar. Sem embargo de me permitir apenas registrar que,
em meu modo de ver, a situação dos corréus, do ponto de vista da contribuição e do
grau do envolvimento nesta perpetração de ato ilícito, parece-me bastante distinta.
A Senhora Ministra Rosa Weber (Presidente e Relatora) – É distinta.
O Senhor Ministro Edson Fachin – São cinco corréus. Aquele que já obteve a
soltura estava numa posição que a manifestação do Ministro Barroso, por ocasião
502 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unani-
midade, dar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr. Ministro-
Relator. Os Srs. Ministros Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas, Felix Fischer
e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro-Relator.
Brasília, 13 de outubro de 2015 (Data do Julgamento).
Ministro Gurgel de Faria – Relator
504 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Gurgel de Faria (Relator):
Trata-se de agravo regimental interposto pelo Ministério Público de Goiás
contra decisão da lavra do em. Ministro Moura Ribeiro, proferida às fls. 322/325,
que negou seguimento ao recurso especial por óbice da Súmula nº 7 do STJ.
Às fls. 342/350 há julgamento da e. Quinta Turma não conhecendo do pre-
sente agravo regimental, à vista da ilegitimidade do Parquet estadual para atuar nos
tribunais superiores.
Interposto o extraordinário, o Supremo Tribunal Federal deu provimento ao
recurso para determinar que o agravo regimental fosse analisado (fls. 418/424).
No mérito, pleiteia o MPGO o afastamento do óbice da Súmula nº 7 do STJ
para que, conhecido o recurso, seja dado provimento ao especial, a fim de reformar
o acórdão de apelação e restabelecer a condenação, como delineada na sentença,
pela conduta descrita no art. 217-A do Código Penal.
É o relatório.
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Gurgel de Faria (Relator):
A questão apresentada no presente apelo nobre cinge-se a definir a correta ade-
quação típica da ação delituosa perpetrada pelo recorrente contra a vítima B.R.S.B.,
definida pelo Juízo de origem como estupro de vulnerável e desclassificada pela
Corte de origem para constrangimento ilegal previsto no art. 146 do Código Penal.
Inicialmente, ao contrário do que ficou decidido monocraticamente, entendo
que o deslinde da questão aqui apresentada não implica reexame de fatos e provas.
A matéria ora debatida – eminentemente de direito – versa sobre o enqua-
dramento jurídico adequado das ações criminosas praticadas pelo recorrente, cuja
avaliação não representa reexame de provas, mas, sim, revaloração dos critérios
jurídicos empregados para a tipificação penal do delito.
Condenado o recorrente em primeiro grau à pena de 8 (oito) anos de reclusão,
pelo crime do art. 217-A, do Código Penal (fls. 151/163), a defesa interpôs apela-
ção, provida pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás para afastar a imputação
do delito de estupro de vulnerável, sob a seguinte fundamentação (fls. 241/242):
“Em juízo, a vítima confirma seu depoimento prestado na fase inquisi-
torial e afirma que o ora apelante a encostou na parede e, dizendo ‘vem no
titio!’, apertou seu corpo de encontro ao dela a ponto de a ofendida sentir-lhe
a ereção, constrangendo-a com o mencionado contato físico, traduzindo o
abuso, em sua linguagem infantil, assim:
‘(...) o tio estava vestido com um short fino e passava ‘aquilo’ nela (...)’
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 505
Conta, ainda, que foi surpreendida pelo irmão, que adentrou no quarto
presenciando o acima narrado, momento no qual, ambos conseguiram sair
correndo e esconderam-se no banheiro.
O referido menor Bruno, que salvou sua irmã, irrompendo no quarto sem
aviso, não foi ouvido em quaisquer das fases procedimentais.
A tia da vítima, S.M.B., ouvida em juízo (fl. 102 – mídia), complementa
seu depoimento na fase inquisitorial, assim:
‘(...) confirma os fatos, mas esclarece que os fatos se deram no mesmo
dia em que ficou sabendo e que Erlei não deitou Bruna na cama (...) que Lucas
falou que Erlei havia sentado Bruna no colo; que questionando Bruna ela disse
que ele não a beijou e não passou a mão nas partes íntimas dela; que ele havia
apertado ela sobre suas partes íntimas, e dito ‘vem cá no titio!’ (...) que Bruna
falou que sentiu as partes íntimas dele; que após o ocorrido ela demonstrou
medo e vergonha (...).’
Tem-se dos depoimentos colacionados que o apelante não insistiu, não
se utilizando de força física ou ameaça de mal ao sujeito passivo.
Diante disso, havendo o acusado apenas agarrado a criança e se esfregado
nela, a questão que se apresenta é se os atos perpetrados por ele não carac-
terizariam estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), melhor se encaixando
em outro tipo legal, qual seja o previsto no art. 146 do mesmo diploma legal.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da Sexta Turma, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental,
nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Néfi Cordeiro, Ericson
Maranho (Desembargador Convocado do TJSP), Maria Thereza de Assis Moura e
Sebastião Reis Júnior (Presidente) votaram com o Sr. Ministro-Relator.
Brasília (DF), 20 de agosto de 2015.
Ministro Rogerio Schietti Cruz – Relator
RELATÓRIO
O Senhor Ministro Rogerio Schietti Cruz:
O Ministério Público Federal interpõe agravo regimental contra decisão
monocrática de minha lavra, na qual neguei seguimento à impetração, mas, dada
a evidência da coação ilegal apontada, concedi a ordem, de ofício, para fixar ao
paciente o regime inicial semiaberto de cumprimento de pena.
O agravante afirma que “as instâncias ordinárias corretamente mantiveram
a fixação do regime fechado com base em elementos concretos” (fl. 108) e que “a
508 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
fixação de regime menos gravoso não seria suficiente para assegurar a natureza
preventiva e reeducativa da pena de modo a evitar que o paciente permaneça na
delinquência” (fl. 110).
Requer a manutenção do regime inicial fechado para o desconto da pena.
VOTO
O Senhor Ministro Rogerio Schietti Cruz (Relator):
O agravante não trouxe nenhum argumento novo capaz de infirmar os funda-
mentos da decisão agravada, que deve ser integralmente confirmada.
I – Contextualização
Consoante registrado da decisão agravada, o paciente, que é primário e teve
a pena-base fixada no mínimo legal, foi condenado a 6 anos, 2 meses e 20 dias de
reclusão e ao pagamento de 26 dias-multa, como incurso no art. 157, § 2º, II, na
forma do art. 70, caput, ambos do Código Penal. Em que pesem as considerações
do Ministério Público – sobre o fato de o roubo ter sido perpetrado em via pública
e durante o dia –, o Tribunal de origem, ao negar provimento à apelação defensiva,
fixou o regime inicial mais severo pelos seguintes fundamentos:
“(...)
Por derradeiro, a despeito da primariedade de Josenildo, mantém-se a fixa-
ção do regime fechado para o acusado, já que se cuida de roubo qualificado,
perpetrado na via pública em pleno horário comercial (aproximadamente
às 11h00min), circunstâncias estas que denotam a periculosidade e ousadia do
roubador e indicam a necessidade de segregação no regime mais rigoroso de cum-
primento de pena.” (fl. 68, destaquei).
escolha da justa medida’. Sublinha que, ‘na nova Parte Geral, se faz menção em
vários artigos à necessidade de atenção para a escolha justa da sanção aplicável,
tendo por base os critérios contidos no art. 59’, que ‘em muito difere do art.
42 do Código Penal de 1940, pois o texto atual estabelece com maior precisão
que se deve ter em vista o que se mostra necessário e suficiente para a reprovação
e prevenção do crime’.” (REALE Jr., Miguel. Penas e medidas de segurança no
novo Código. Rio de Janeiro: Forense, 1987. p. 159 e 163)
Com efeito, a escolha justa da sanção necessária e suficiente para reprovação e
prevenção do crime torna “imprescindível que o magistrado liberte-se do fetichismo
da pena mínima para ajustar o quantum da sanção e a sua modalidade, no que en-
tende ser necessário e suficiente a satisfazer a medida de justa reprovação” (REALE
Jr., Miguel, op. cit., p. 164).
A importância desse ponto de vista evidencia-se quando constatamos que a
aplicação da pena no caso concreto repercute na utilidade social que desempenha o
Direito Penal e na sua justificação política, de modo que, ao se individualizar a pena,
age-se não só em função do necessário ao réu, mas para com o necessário à sociedade.
O próprio Código Penal, na redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.07.84, no
seu art. 33, § 3º, dispõe que “a determinação do regime inicial de cumprimento
da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código”.
Assim, independentemente de o juiz haver, ou não, reconhecido circunstâncias
judiciais favoráveis na primeira etapa da dosimetria da pena, poderá justificar a fixa-
como São Paulo, condutas como a desses autos vêm crescendo em progressão
geométrica, em patamar contrário à segurança da coletividade (...).” (fl. 12)
Nesse cenário, deve ser reconhecido o constrangimento ilegal apontado na
impetração, pois a imposição de regime mais severo do que o correspondente à pena
aplicada, com base na gravidade genérica do crime de roubo afronta os princípios
constitucionais da individualização da pena e os enunciados da Súmula nº 440 desta
Corte Superior e das Súmulas ns. 718 e 719, ambas do Supremo Tribunal Federal.
Assim, à míngua de fundamentação idônea, “se a pena é inferior a 8 anos,
o condenado é primário e lhe são favoráveis as circunstâncias judiciais do art. 59
do Código Penal, tanto que fixada a pena-base no mínimo legal, o regime legal é o
semiaberto, conforme a regra do art. 33, § 2º, b, do Código Penal” (HC 302.879/SP,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª T., DJe 25.11.2014).
IV – Dispositivo
À vista do exposto, nego provimento ao agravo regimental.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca (Relator):
Trata-se de agravo regimental interposto por Luciano de Moraes contra decisão
que negou seguimento ao seu habeas corpus, ao fundamento de que, “nos termos
da jurisprudência consolidada nesta Corte, as condenações alcançadas pelo período
depurador de 5 anos, previsto no art. 64, I, do Código Penal, afastam os efeitos da
reincidência, mas não impedem a configuração de maus antecedentes” (e-STJ, fls.
292/297).
No regimental, sustenta o agravante que, “se a pena de prisão não pode ser per-
pétua, tampouco suas consequências podem ser perpétuas” (e-STJ, fl. 305).
512 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
Aponta, ainda, dois julgados do Supremo Tribunal Federal que decidiu o tema
do habeas corpus de maneira diversa (HCs 110.191 e 119.200).
Ao final, requer seja reconsiderada a decisão monocrática, ou que o feito seja
levado à apreciação da Quinta Turma.
É o relatório.
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca (Relator):
Ao negar seguimento ao habeas corpus, assim fundamentei a decisão:
“Busca-se em síntese, o afastamento da valoração negativa dos anteceden-
tes e a fixação da pena-base no mínimo legal, ao fundamento de que é aplicável
ao caso o disposto no art. 64, I, do Código Penal, segundo o qual:
‘Art. 64. Para efeito de reincidência: (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.07.1984):
I – não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento
ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo
superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do
livramento condicional, se não ocorrer revogação;’
A despeito dos relevantes argumentos aduzidos pela defesa, a pretensão
não merece prosperar, pois, nos termos da jurisprudência consolidada nesta
Corte, as condenações alcançadas pelo período depurador de 5 anos, previsto
no art. 64, I, do Código Penal, afastam os efeitos da reincidência, mas não
impedem a configuração de maus antecedentes, permitindo o aumento da
pena-base acima do mínimo legal e a devida individualização das penas.
Nesse sentido, confiram-se os precedentes desta Corte:
‘PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO
DE DROGAS. EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. CONDENAÇÃO ANTERIOR.
DECURSO DO PRAZO PREVISTO NO ART. 64, INCISO I, DO CÓDIGO
PENAL. CONFIGURAÇÃO DE MAUS ANTECEDENTES. POSSIBILIDADE.
REGIME PRISIONAL INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 182 DO STJ.
1. Segundo a jurisprudência deste Superior Tribunal, condenações anteriores
transitadas em julgado, alcançadas pelo prazo depurador de 5 anos do art. 64, I,
do Código Penal, embora afastem os efeitos da reincidência, não impedem a con-
figuração de maus antecedentes, permitindo a exasperação da pena-base acima
do mínimo legal.
2. No que diz respeito ao regime prisional, observa-se que o agravante
não infirmou os fundamentos da decisão agravada, no sentido de que acórdão
proferido em sede de habeas corpus não pode servir de paradigma para fins
de comprovação do dissídio jurisprudencial, ainda que se trate de dissídio
notório, atraindo, assim, a incidência da Súmula nº 182 desta Corte de Justiça.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 513
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unani-
midade, negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Reynaldo Soares
da Fonseca, Newton Trisotto (Desembargador-Convocado do TJSC), Leopoldo de
Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJPE) e Felix Fischer votaram com
o Sr. Ministro-Relator.
Brasília, 20 de agosto de 2015 (Data do Julgamento).
Ministro Gurgel de Faria – Relator
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Gurgel de Faria (Relator):
Trata-se de agravo regimental interposto por A.G.N. contra a decisão de fls.
394/396, que, afastando a aplicação do princípio da bagatela, negou seguimento ao
recurso especial apresentado pela defesa.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 517
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Gurgel de Faria (Relator):
Não obstante os argumentos expendidos, a decisão deve ser mantida por
motivação diversa.
Consoante anteriormente explicitado, na aplicação do princípio da insignificân-
cia, devem ser utilizados os seguintes parâmetros: a) conduta minimamente ofensiva;
b) ausência de periculosidade do agente; c) reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento; e d) lesão jurídica inexpressiva, os quais devem estar presentes,
concomitantemente, para a incidência do referido instituto.
Trata-se, na realidade, de um princípio de política criminal, segundo o qual,
para a incidência da norma incriminadora, não basta a mera adequação do fato ao
tipo penal (tipicidade formal), impondo-se verificar, ainda, a relevância da conduta
e do resultado para o Direito Penal, em face da significância da lesão produzida ao
APELAÇÃO Nº 119-98.2013.7.07.0007-PE
Tribunal Pleno (DJMSTM 15/10/2015)
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os ministros do Superior
Tribunal Militar, em sessão de julgamento, sob a presidência do Ministro Ten. Brig.
Ar William de Oliveira Barros, na conformidade do extrato da ata do julgamento, por
unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso ministerial, para, reformando
a sentença, condenar o ex-Sd. Ex. Adalberto Barros da Rocha Júnior à pena de 4
520 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
(quatro) meses de reclusão, como incurso no art. 240 do CPM, com o benefício do
sursis, na forma do art. 84 da mesma Lei, nas condições estabelecidas no art. 626
do CPPM, excetuada a sua alínea a, com regime inicial prisional aberto, de acordo
com o art. 33, § 2º, alínea c, do CP comum. Por fim, por unanimidade, em declarar
a extinção da punibilidade do ex-Sd. Ex. Adalberto Barros da Rocha Júnior do
crime previsto no art. 240, caput, CPM, pela ocorrência da prescrição da pretensão
punitiva, à luz do art. 123, inciso IV, c/c o art. 125, inciso VII, e o art. 129, todos do
Estatuto Penal Militar.
Brasília, 23 de setembro de 2015.
Ministro José Barroso Filho – Relator
RELATÓRIO
Trata-se de recurso de apelação interposto pelo MPM no tocante à absolvição
de Adalberto Barros da Rocha Júnior, ex-Sd. Ex., do crime previsto no art. 240,
caput, do CPM.
A denúncia imputou ao ex-militar a seguinte prática delituosa (fls. 1/A – 1/D),
in verbis:
“(...)
Consta dos autos do inquérito policial militar que no dia 6 de dezembro
de 2013, Adalberto Barros da Rocha Júnior fora preso em flagrante quando na
posse do aparelho de telefone celular marca Samsung, modelo Galaxy Young
Duos GT-S6313T, subtraído do Soldado de Efetivo Variável Ronaldo Carlos
de Dutra Júnior e, posteriormente, avaliado em R$ 449,00 (quatrocentos e
quarenta e nove reais).
Segundo as peças informativas, no dia 06.12.2013, por volta das 7h20min,
o Sd. Dutra esqueceu seu celular em cima da cama no alojamento e se dirigiu
ao Sargento Ismael Júnior para assinar o cartão de cabelo. Em seginda, entrou
em forma no saguão da Companhia para se dirigir à parada diária. Ao sair da
Companhia, lembrou-se de que havia deixado o celular em cima da cama e
pediu ao Sgto. Rômulo permissão para buscá-lo. Após procurar em cima da
cama, na mochila e em seu armário, Sd. Dutra percebeu que o celular havia
sido subtraído, comunicando o fato ao Sgt. Ismael Júnior.
Foi então realizada uma revista nos pertences dos soldados da guarnição
de serviço, ao mesmo tempo em que se ordenou aos mesmos que pegassem
seus celulares e os deixassem a mostra. Como o Sd. Adalberto não obedeceu
a tal ordem, foi então realizada uma revista em seus bolsos, tendo sido locali-
zado um aparelho celular Samsung Young, reconhecido pelo Sd. Dutra como
sendo de sua propriedade e que, ao ser ligado, exibiu como tela de fundo uma
plaqueta de identificação com o seu nome (do Sd. Dutra).
Ouvido, o ora denunciado confirmou que, por volta das 7h15min daquela
manhã, subtraiu o celular que se encontrava em cima da cama próxima ao
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 521
VOTO
O recurso é tempestivo e atende aos demais pressupostos legais, portanto deve
ser admitido. No mérito, impõe-se o seu provimento, pelas razões abaixo aduzidas.
O presente apelo tem como objeto a condenação do réu pela prática delitiva do
art. 240, caput, do CPM, afastando, assim, a incidência do princípio da insignificância.
O Conselho Julgador evocou jurisprudência da Suprema Corte no tocante
aos vetores a serem observados para a incidência do princípio da bagatela, a saber:
mínima ofensividade da conduta do agente, nenhuma periculosidade social da ação,
reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da
lesão jurídica provocada.
Ao transpor tais critérios para o presente caso, verifica-se a sua não incidência,
pelas razões abaixo expostas.
A conduta do réu se mostrou altamente reprovável sob o ângulo da hierarquia
e da disciplina, da falta de respeito e de camaradagem com o seu colega de caserna.
Aproveitar-se de um descuido de seu colega e se apropriar do aparelho como se
dele fosse mostra total frieza no comportamento do ex-Sd. Ex. Adalberto. E, ao ser
indagado sobre um suposto furto do celular, declarou que não tinha conhecimento
algum, até ser descoberto o aparelho no bolso de seu uniforme.
Não há que se falar em descriminalização da conduta pelo princípio da insig-
nificância, levando-se em conta os contextos econômicos nos quais se encontram
inserido o réu e o ofendido, ambos praças do Exército, cuja remuneração ficaria
comprometida com um desfalque na quantia de R$ 449,00 (quatrocentos e quarenta
e nove reais), valor da avaliação da res furtiva.
A resposta estatal ao infrator deve ser proporcional (necessária, adequada e
sem excesso) ao fato praticado e ao fim almejado com a sanção. Trata-se de verda-
deiro juízo de intensidade (justa medida), em que são colocados meios e fim em
equação mediante um juízo de ponderação, avaliando-se se o meio utilizado é ou
não desproporcional em relação ao fim.
Observa-se que o uso excessivo da repressão penal não garante proteção aos
bens jurídicos, ao contrário, condena o sistema a uma função meramente simbólica,
levando o direito penal ao descrédito, quando se recorre ao aforismo de que o direito
penal é a ultima ratio, isso significa que o poder de criminalizar, em abstrato, uma
determinada conduta, somente será legítimo quando nenhum outro meio de solução
de conflitos tiver como funcionar.
Em outras palavras, a tarefa do legislador de instituir tipos penais deve se
pautar pela intervenção mínima do direito penal na sociedade, entretanto, a partir
do momento em que o Poder Legislativo afirmar que uma determinada conduta
configura crime, ao Estado-Juiz não é dado valorar acerca da oportunidade e da
conveniência de aplicar ou não a lei penal ao caso concreto (Precedente: Apelação
2005.01.050067-7/RS. Ministro-Relator Gen. Ex. Antonio Apparicio Ignacio Do-
mingues).
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 523
ACÓRDÃO
Decide a Turma negar provimento ao recurso, à unanimidade.
Quarta Turma do TRF da 1ª Região – 13.10.2015.
Desembargador Federal Hilton Queiroz – Relator
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Desembargador Federal Hilton Queiroz (Relator):
Trata-se de recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público Federal
(fls. 24/30) contra a decisão de fls. 17/20, da lavra da Juíza Federal Dra. Simone dos
Santos Lemos Fernandes, da 35ª Vara Federal da Seção Judiciária de Minas Gerais,
que deferiu o pedido de liberdade provisória formulado por Leandro Abney dos
Santos, exclusivamente em relação ao delito do art. 289, § 1º, do CP, aplicando 3
(três) medidas cautelares diversas da prisão, nos termos do art. 319 do CPP.
526 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
VOTO
O Exmo. Sr. Desembargador Federal Hilton Queiroz (Relator):
Examinando a comunicação de prisão em flagrante delito de Leandro Abney
dos Santos, em virtude da suposta prática dos crimes previstos nos arts. 289, § 1º,
do CP, 12 da Lei nº 10.826/03 e 28 da Lei nº 11.343/06, decidiu a magistrada nos
seguintes termos:
“Consta no APFD que, após receber ocorrência de repasse de uma cédula
de R$ 100,00 (cem reais) falsa na Drogaria Araújo de Vespasiano/MG, Policiais
Militares compareceram ao local, onde identificaram, através de imagens cap-
tadas pelo sistema de segurança do estabelecimento, o indivíduo responsável
pelo repasse e o veículo que estava utilizando. Após diligências, os policiais
lograram em localizar o aludido veículo, conduzido por Leandro Abney dos
Santos, encontrando em sua posse uma porção de maconha. Ato contínuo, os
policiais se deslocaram à residência de Leandro, onde, após autorização de seus
genitores, efetuaram buscas e localizaram um revólver tipo garrucha antigo,
duas seringas, uma ampola de medicamento com nome ‘Duratestoland’, um
pote contendo comprimidos aparentemente anabolizantes, e mais uma porção
de maconha.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 527
constar a expressa observação de que, quanto aos crimes previstos nos art. 12
da Lei nº 10.826/03 e art. 28 da Lei nº 11.343/06, a regularidade do flagrante
e a sua eventual conversão em prisão preventiva deverão ser analisadas pelo
Juízo Estadual. O alvará de soltura deverá ser acompanhado por termo de
compromisso das cautelares impostas.
Considerando que o expediente forense já se encontra encerrado, enca-
minhe-se cópia integral destes autos, por meio de oficial de justiça, ao i. juiz
plantonista responsável pela Comarca de Lagoa Santa/MG para que delibere
sobre a comunicação da prisão relativamente aos crimes previstos nos art. 12
da Lei nº 10.826/03 e art. 28 da Lei nº 11.343/06, distribuindo-se os autos, em
seguida, àquela Comarca.
Comunique-se, do modo mais célere, à Polícia Federal, para que retifique
os registros relativos a esta comunicação de flagrante e ao IPL 0388/2015-4,
fazendo neles constar apenas o delito do art. 289, § 1º, do Código Penal, bem
como para que remeta os objetos relacionados aos crimes dos art. 12 da Lei nº
10.826/03 e art. 28 da Lei nº 11.343/06 à Justiça Estadual.
Publique-se. Registre-se.
Intimem-se o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União.
Não havendo insurgência recursal, extraia-se cópia da presente decisão
e do alvará de soltura devidamente cumprido, enviando-as à Polícia Federal
para juntada no Inquérito Policial 0388/2015-4.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indica-
das, acordam os membros da Primeira Turma Especializada do Tribunal Regional
Federal da 2ª Região, por maioria, em negar provimento ao recurso, nos termos do
Voto do Relator.
Rio de Janeiro, 30.09.2015 (Data do Julgamento).
Antonio Ivan Athié Desembargador Federal – Relator
RELATÓRIO
Trata-se de apelação criminal interposta pelo Ministério Público Federal, ata-
cando sentença (fls. 183/185) que absolveu Alex Fernandes da Silva da acusação
de ter praticado o crime do art. 183 da Lei nº 9.472/97, nos termos do art. 386, III,
do Código de Processo Penal.
Segundo a denúncia, fls. 107/110, o apelado foi flagrado quando operava uma
rádio clandestina na cidade de Sumidouro/RJ, sem a devida licença da Anatel.
532 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
VOTO
Conheço da apelação, eis que presentes os seus pressupostos.
A sentença bem decidiu a questão, e deve ser mantida. Transcrevo-a, na parte
decisória:
“Analisando o inquérito policial e a ação penal em epígrafe, verifico que
os únicos elementos de prova em desfavor do acusado são os relatórios de fls.
43 e 45 (‘Qualificação de Atividade Clandestina’).
Destarte, constata-se que não foi lavrado qualquer auto de infração ou
elaborado qualquer laudo pericial, decorrente de qualquer diligência realizada
pelos agentes da Anatel ou mesmo pela polícia civil (federal ou estadual).
Neste sentido, vejamos a descaracterização da clandestinidade:
‘PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME CONTRA AS TELECOMUNICA-
ÇÕES. SERVIÇO DE COMUNICAÇÃO MULTIMÍDIA (SCM). INTERNET.
ART. 183 DA LEI Nº 9.472/97. CERCEAMENTO DE DEFESA. INDEFERI-
MENTO DE PERÍCIA. INOCORRÊNCIA. INSIGNIFICÂNCIA. TIPICIDADE.
MATERIALIDADE. AUTORIA. DOLO. (...) A elementar ‘clandestinidade’,
prevista no art. 183 da Lei de Telecomunicações, é caracterizada pela prestação
de serviço sem autorização da agência reguladora competente. A jurisprudência
pátria tem manifestado entendimento de não se configurar a prática ilícita,
quando pleiteada a autorização administrativa antes da lavratura do auto de
infração, pois resta descaracterizada a clandestinidade. Precedentes. Absolvi-
ção, nos termos do art. 386, III, do CPP, com relação ao réu que protocolou
junto à Anatel pedido de regularização do serviço de transmissão de internet,
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 533
VOTO-VISTA
Trata-se de apelação do Ministério Público Federal em face da sentença profe-
rida pelo MM Juiz Federal Substituto da Primeira Vara Federal de Nova Friburgo/RJ
Dr. Eduardo Francisco de Souza, que absolveu o réu pela prática da conduta descrita
no art. 183 da Lei nº 9.472/97, por ter ele desenvolvido atividade de telecomunica-
ções, consistente em operar a rádio comunitária Nova Opção FM, utilizando-se da
frequência 104,9 MHz, sem autorização do órgão competente.
Inconformado, o Ministério Público Federal apelou da sentença, objetivando a
condenação do réu. Em suas razões (fls. 187/190), aduz que o conjunto probatório
534 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
carreado aos autos mostra-se apto a demonstrar a configuração do ilícito penal perpe-
trado pelo réu. Aduz que a confissão do acusado sob o crivo do contraditório, assim
como as qualificações de atividades clandestinas que constam dos autos, lavradas por
agentes de fiscalização da Anatel comprovam claramente a caracterização do delito
e que o crime em exame é de natureza formal, ou seja, sua consumação ocorre no
momento em que o agente desenvolve a atividade clandestina, independentemente
das consequências dela advinda, não elidindo a responsabilidade do réu o fato de a
atividade desenvolvida não acarretar nenhum dano e interferência na aeronavegação.
Contrarrazões do réu às fls. 192/195.
O eminente relator negou provimento à apelação do Parquet, e deu provimento
ao apelo do réu para absolvê-lo, argumentando, em síntese, que a conduta narrada,
apesar de formalmente típica, materialmente não o seria, porquanto incapaz de le-
sar o bem jurídico tutelado pela norma (segurança das telecomunicações), sequer
oferecendo perigo de lesão, apontando, ainda, a inexistência de laudo pericial e de
auto de infração.
Pedi vistas para melhor apreciar a questão. Nesse passo, peço vênia ao eminente
Relator para discordar de seu entendimento.
Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens são, por definição,
prestados diretamente pela União, ou mediante permissão, concessão ou autorização,
consoante dispõem os arts. 21, XII, a, e 223, da Constituição Federal. Assim, se a
atividade de telecomunicação é desenvolvida de forma clandestina, resta configurado
o crime em tela.
A Lei nº 9.472/97 dispõe sobre a organização dos serviços de telecomunicações,
definindo como crime, em seu art. 183, a conduta de quem “desenvolver clandes-
tinamente atividades de telecomunicações”.
A própria lei define os elementos do tipo, estabelecendo os conceitos de ativida-
de clandestina e de telecomunicação, em seus arts. 184, parágrafo único, e 60, § 1º:
“Considera-se clandestina a atividade desenvolvida sem a competente
concessão, permissão ou autorização de serviço, de uso de radiofreqüência e
de exploração de satélite.”
Art. 60, § 1º:
“Serviço de telecomunicações é o conjunto de atividades que possibilita
a oferta de telecomunicações.
§ 1º Telecomunicação é a transmissão, emissão ou recepção, por fio,
radioeletricidade, meio ópticos ou qualquer outro processo eletromagnético,
de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de
qualquer natureza.”
Portanto, o crime praticado pelo acusado se amolda plenamente ao art. 183
da Lei nº 9.472/97.
A materialidade do crime restou devidamente comprovada pelos relatórios de
qualificação de atividades clandestina, emitidos pela Anatel (fls. 43/45), os quais
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 535
atestam que a rádio Nova Opção FM fazia uso indevido da frequência 104,9 MHZ,
sem a autorização do órgão competente, além da própria confissão do réu em juízo
(fls. 148/166).
Em que pese a ausência do laudo pericial ou de auto de infração, estes não são
imprescindíveis para demonstrar a materialidade do tipo, se outros meios foram idô-
neos a fazê-lo. Em que pese tratar-se de crime que deixou vestígios, o que obrigaria
à realização da perícia, a teor do art. 158 do CPP, a jurisprudência tem admitido a
comprovação por outros meios.
Sobre o tema, confira-se:
“PROCESSUAL PENAL E PENAL. PRELIMINAR DE INTEMPESTIVI-
DADE DA APELAÇÃO. REJEIÇÃO. CRIME CONTRA O ORDENAMENTO
URBANO E O PATRIMÔNIO CULTURAL (ART. 63 DA LEI Nº 9.605, DE 1998).
EXAME DE CORPO DE DELITO. DISPENSABILIDADE. COMPROVAÇÃO
DA MATERILIDADE DO DELITO POR OUTROS MEIOS DE PROVA.
1. Conforme entendimento do STF, havendo dúvida quanto à tempestivi-
dade do recurso apresentado pela defesa, devesse decidir a favor de sua admis-
sibilidade, tendo em vista o princípio da pluralidade dos graus de jurisdição. 2.
A ausência de exame de corpo de delito, ainda que o crime tenha deixado vestígios,
não torna nula a sentença condenatória, se esta teve como fundamento outras pro-
vas, como depoimentos de testemunhas, documentação fotográfica e confissão do
réu, que foram suficientes para demonstrar a materialidade do delito. Precedente
TRF da 5ª Região, Segunda Turma, ACR 3.088, Apelação Criminal 200183000193487/PE, Rel. Des.
(1)
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Egrégia Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade,
negar provimento ao recurso em sentido estrito, nos termos do relatório e voto, que
ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
São Paulo, 20 de outubro de 2015.
Juíza Federal Convocada Denise Avelar – Relatora
RELATÓRIO
Trata-se de recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público Fe-
deral em face da decisão que rejeitou a denúncia oferecida contra Marinho Oliveira
da Silva, pela prática do delito previsto no art. 334, caput, do Código Penal.
Narra a inicial acusatória, em síntese, que o réu, agindo com consciência e
vontade, importou mercadorias de procedência estrangeiras, oriundas de Ciudad
Del Leste, Paraguai, iludindo, no todo, o pagamento dos impostos devidos.
540 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
A denúncia foi rejeitada com fundamento no art. 395, inciso III, do Código de
Processo Penal, em razão da aplicação do princípio da insignificância, considerando
que o valor dos tributos não ultrapassou o piso para o ajuizamento de execuções
fiscais, nos termos da Portaria MF nº 75, de 22 de março de 2012 (fls. 65/68).
O Ministério Público Federal interpôs recurso em sentido estrito, alegando a
inaplicabilidade do princípio da insignificância ao caso em tela, considerando que
a Lei nº 10.522/02 prescreve valor inferior aos tributos iludidos neste processo,
bem como salientando a reiteração criminosa do réu em delitos análogos ao ora
apurado (fls. 70/77).
Foram apresentadas contrarrazões (fls.138/144).
O Juízo de primeiro grau manteve a decisão recorrida por seus próprios fun-
damentos (fl. 146).
Na sequência, subiram os autos a esta Corte (fl. 148).
A Procuradoria Regional da República opinou pelo provimento do recurso
(fls. 149/154).
É o relatório.
Dispensada a revisão, nos termos regimentais.
Juíza Federal Convocada Denise Avelar – Relatora
VOTO
O réu foi denunciado como incurso nas penas do art. 334, caput, do Código
Penal, pois, de acordo com a denúncia (fls. 56/58), no dia 27 de dezembro de 2012,
“na Rodovia SP-245, km 445, Município de Regente Feijó/SP, nesta Subseção Ju-
diciária de Presidente Prudente/SP, constatou-se que o imputado Marinho Oliveira
da Silva, agindo com consciência e vontade, importou mercadorias de Ciudad Del
Leste, Paraguai, iludindo, no todo, o pagamento de imposto devido pela entrada dos
produtos em território nacional, sendo as mercadorias de procedência estrangeira,
todas oriundas do Paraguai, como autofalantes, rádios e pen drives, desacompanhadas
de documentação legal e introduzidas clandestinamente em território nacional, con-
forme Auto de Infração e Termo de Apreensão e Guarda Fiscal 0810500/00051/13,
da Receita Federal do Brasil”.
Foram apreendidas, de acordo com o auto de infração e termo de apreensão e
guarda fiscal da Receita Federal (fls. 21/26), mercadorias avaliadas em R$ 37.153,08
(trinta e sete mil cento e cinquenta e três reais e oito centavos), com tributos in-
cidentes estimados na ordem de R$ 18.576,54 (dezoito mil quinhentos e setenta e
seis reais e cinquenta e quatro centavos).
O princípio da insignificância estabelece que o Direito Penal, pela adequação
típica do fato à norma incriminadora, somente intervenha nos casos de lesão de certa
gravidade, atestando a atipicidade penal nas hipóteses de delitos de lesão mínima,
que ensejam resultado insignificante.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 541
II – Muito embora esta não seja a orientação majoritária desta Corte (vide
EREsp 966.077/GO, 3ª Seção, Relª Minª Laurita Vaz, DJE 20.08.09), mas em
prol da otimização do sistema, e buscando evitar uma sucessiva interposição
de recursos ao c. Supremo Tribunal Federal, em sintonia com os objetivos da
Lei nº 11.672/08, é de ser seguido, na matéria, o escólio jurisprudencial da
Suprema Corte.
III – Recurso especial desprovido.” (REsp 1.112.478/TO, de relatoria do
Ministro Félix Fischer, publ. 13.10.09)
Contudo, o art. 1º da Portaria nº 75/2012 do Ministério da Fazenda atualizou
o referido valor para R$ 20.000,00 (vinte mil reais), considerando que até esse nu-
merário não serão ajuizadas execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional.
Nesse sentido, as Turmas desta e. Corte vêm aplicando reiteradamente tal
entendimento:
“PENAL. APELAÇÃO. CONTRABANDO. ART. 334, § 1º, C, CÓDIGO
PENAL. MÁQUINA CAÇA-NÍQUEL. POSSE. MATERIALIDADE E AUTORIA
DELITIVA CONFIGURADAS. ELEMENTO SUBJETIVO PRESENTE. ABSORÇÃO
PELA CONTRAVENÇÃO DE EXPLORAÇÃO DE JOGOS DE AZAR. IMPOSSIBI-
LIDADE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. DESCABIMENTO. APELAÇÃO
NÃO PROVIDA.
1. Materialidade e autoria delitiva devidamente configuradas nos autos.
2. O conhecimento da antijuridicidade dos fatos praticados é corroborado
pela forma dissimulada em que a máquina caça-níquel era disposta no local,
consoante o laudo pericial de fls. 18/23.3. Não há que se falar na aplicação do
princípio da consunção para a absorção do delito de contrabando como crime-
meio para a consumação do mencionada modalidade contravencional, tendo
em vista a disparidade entre a lesividade jurídica de uma e de outra espécie
delituosa, razão pela qual às contravenções é destinado tratamento jurídico
muito mais brando do que é dispensado aos crimes comuns.
3. O reconhecimento do princípio da bagatela se deve à irrelevância da
lesividade ao bem jurídico tutelado, de forma a tornar imerecida a repercussão
penal à conduta formalmente típica, tendo por base os postulados da fragmen-
tariedade e da intervenção mínima do Direito Penal nas relações jurídicas.
4. A adoção de um limite de insignificância nos delitos ofensivos à atividade
tributária aduaneira se justifica pelo desinteresse da Fazenda em cobrar os créditos
tributários de até determinado valor, que atualmente é de R$ 20.000,00 (vinte mil
reais), consoante o disposto na Portaria MF nº 75, de 22 de março de 2012. Nestes
casos, estamos diante do crime de descaminho, cuja objetividade jurídica consiste
no interesse fiscal do Estado em seu aspecto meramente econômico.
5. Diferente é o caso em tela, no qual o enquadramento típico da conduta
se refere ao cometimento de contrabando, espécie criminosa que, conquanto
esteja também prescrita no art. 334, do Código Penal, tem como bem jurídico
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 543
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Egrégia Oitava Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade,
dar provimento ao recurso da acusação readequando o patamar da causa de dimi-
nuição da pena do art. 26 do Código Penal, dar parcial provimento ao recurso da
defesa para afastar circunstâncias judiciais reconhecidas pelo juízo e redimensionar
as penas, nos termos do relatório, dos votos e das notas taquigráficas que ficam
fazendo parte integrante do presente julgado.
Porto Alegre, 14 de outubro de 2015.
Desembargador Federal Leandro Paulsen – Relator
RELATÓRIO
Senhor Desembargador Leandro Paulsen:
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 547
que o lucro fácil é inerente ao tipo penal, não podendo ser valorado negativamente
como motivo do crime. Quanto às consequências, sustenta que a lesão é natural
ao tipo penal, pelo que haveria bis in idem. Com relação ao fato 3, alega que o juiz
feriu a legalidade, pois aumentou a pena em razão da quantidade de vítimas; disse
ainda que o número de vítimas foi considerado para aumento da pena em razão da
continuidade. Postula o prequestionamento do art. 5º, X, e 93, IX, da Constituição
Federal, e art. 59 do CP (fls. 662-688).
Com contrarrazões (fls. 691-693 e 695-698) os autos foram remetidos a este
tribunal.
5. Parecer. PRR opina pelo provimento do apelo da acusação e desprovimento
do recurso da defesa (fls. 703-711).
É o relatório.
À revisão.
Desembargador Federal Leandro Paulsen – Relator
VOTO
O Senhor Desembargador Leandro Paulsen:
1. Materialidade e autoria. O réu foi condenado como incurso nas sanções do
art. 312, duas vezes, e art. 313-A, c/c o art. 71, todos do CP, que preveem:
“Peculato
Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qual-
quer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.
(...)
Inserção de dados falsos em sistema de informações. (Incluído pela Lei
nº 9.983, de 2000)
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de
dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas
informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de
obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: (Incluído
pela Lei nº 9.983, de 2000)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Incluído pela
Lei nº 9.983, de 2000)”
Analisei atentamente todas as provas colacionadas aos autos e entendo que
o magistrado de primeiro grau solveu de maneira plenamente adequada o litígio.
Registro, ainda, que os recursos não versam sobre materialidade e autoria, mas tão
somente a dosimetria. Transcrevo as razões de decidir utilizadas:
“Fato 1.
A materialidade delitiva está consubstanciada pelos documentos de fls.
67/69 que demonstram que no caixa operado pelo réu (código C060258) na
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 549
fato (fl. 620), alegou não se lembrar do mesmo. A defesa técnica por seu turno
nada alegou no arrazoado final.
Por outro lado, toda a prova testemunhal é absolutamente silente sobre
este fato que somente foi discutido nos autos, quando o acusado foi interro-
gado em juízo.
Assim, a prova da responsabilidade penal do réu por este fato repousa
nas conclusões realizadas pela auditoria da empresa pública e que tem na fl.
173 o resumo da prova técnica existente contra o acusado.
Nesse passo, o tem 4.3.34.5.1 da fl. 217 do inquérito policial está a de-
monstrar que o saque em desfavor de Hiroshi Homa foi realizado na estação
financeira operada pelo réu.
Ressalte-se que a prova extrajudicial existente contra o réu neste fato,
possui natureza técnica e ainda que os peritos que a realizaram não sejam do
juízo, a defesa não apresentou argumentos que pusessem em dúvida a con-
clusão do laudo.
Ao contrário do fato 2 imputado ao réu, onde a única prova existente é
um depoimento extrajudicial, aqui, ao contrário, a prova técnica é robusta e
por sua própria natureza ampara um juízo de condenação de forma sólida.”
Passo ao exame das razões recursais.
2. Apelação do MPF. A acusação recorre alegando que a pena, em razão da semi-
imputabilidade, deve ser diminuída em 1/3, não em 1/2, como feito pelo juízo a quo.
Com relação à semi-imputabilidade, dispõe o CP:
“Inimputáveis
Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desen-
volvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.07.1984)
Redução de pena
Parágrafo único – A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.07.1984)”
Nos autos do Incidente de Insanidade Mental 0003143-39.2010.404.7100,
em apenso, a Dra. Andréa Monné, perita nomeada, conclui que o periciando possui
sintomas compatíveis com transtorno antissocial de personalidade, sendo que “é
calmo, planeja minimamente, ludibria as pessoas no intuito de satisfazer suas ne-
cessidades, sem medir as consequências para atingir seus objetivos”. Afirma que os
episódios de furtos e brincadeiras com fogo, relatados pelo periciando, não decorrem
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 551
estas, como analisado acima, majoradas dois meses a mais que os demais fatos.
Considerando que provido o recurso da defesa quanto à circunstância personalidade,
fixo a pena-base em três anos e dois meses.
Não foram reconhecidas agravantes e atenuantes.
Não foi aplicada a causa de aumento do art. 327, § 2º, porquanto o réu não
era ocupante de cargo em comissão ou exercia chefia.
Em razão da semi-imputabilidade, incide a causa de diminuição da pena do
art. 26, parágrafo único, em 1/3 (conforme item 2), resultando uma pena de 2 (dois)
anos, 1 (um) mês e 10 (dez) dias.
Em razão da continuidade delitiva (93 condutas) o juízo aumentou a pena em
1/6. Não havendo recurso da acusação quanto ao ponto, fica mantido o patamar,
contudo, poderia ter sido fixado em patamar superior, tendo em vista o número de
condutas. Torno definitiva a pena de 2 (dois) anos, 5 (cinco) meses e 16 (dezesseis)
dias.
Fixo a pena de multa em 26 (vinte e seis) dias-multa, arbitrados em 1/20 (um
vigésimo) do salário mínimo vigente na data do fato.
4.3. Art. 312 do CP (fato quatro). A pena-base foi elevada em dois anos porquanto
consideradas negativas a personalidade e as consequências do delito. Considerando
que provido o recurso da defesa quanto ao ponto, fixo a pena-base em dois anos.
Não foram reconhecidas agravantes e atenuantes.
Não foi aplicada a causa de aumento do art. 327, § 2º, porquanto o réu não
era ocupante de cargo em comissão ou exercia chefia.
Em razão da semi-imputabilidade, incide a causa de diminuição da pena do
art. 26, parágrafo único, em 1/3 (conforme item 2), resultando uma pena de 1 (um)
ano e 4 (quatro) meses.
Fixo a pena de multa em 10 (dez) dias-multa, arbitrados em 1/20 (um vigésimo)
do salário mínimo vigente na data do fato.
4.4. Resta fixada a pena definitiva em 5 (cinco) anos, 1 (um) mês e 16 (de-
zesseis) dias, e 46 (quarenta e seis) dias-multa, arbitrados em 1/20 (um vigésimo)
do salário mínimo.
Dispositivo.
Ante o exposto, voto por (i) dar provimento ao recurso do MPF para fixar o
patamar da causa de diminuição da pena do art. 26 do CP em 1/3; (ii) dar parcial
provimento ao recurso da defesa para afastar circunstâncias judiciais valoradas
negativamente pelo juízo a quo; e (iii) redimensionar a pena e condenar Michel
Henrique Cardoso como incurso nas sanções do art. 312, duas vezes, e art. 313-A,
ambos do CP, às penas de 5 (cinco) anos, 1 (um) ano e 16 (dezesseis) dias e 46
(quarenta e seis) dias-multa, arbitrados em 1/20 (um vigésimo) do salário mínimo
vigente na data do último fato.
Desembargador Federal Leandro Paulsen – Relator
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO
ACÓRDÃO
Decide a Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por una-
nimidade, dar provimento à apelação criminal, nos termos do voto do relator, na
forma do relatório e notas taquigráficas constantes nos autos, que ficam fazendo
parte integrante do presente julgado.
Recife, 20 de outubro de 2015.
Desembargador Federal Convocado Manuel Maia – Relator
556 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
RELATÓRIO
O Senhor Desembargador Federal Manuel Maia (Convocado): Trata-se de
apelação criminal interposta pela defesa do acusado Hudson Costa Bezerra (fls.
134/152) contra sentença proferida pelo Juízo Federal da 10ª Vara/RN (Natal) – fls.
94/103 –, integrada pela decisão proferida em embargos de declaração (fls. 122/125),
que julgou procedente a denúncia para condená-lo pela prática do crime previsto
no art. 19 da Lei nº 7.492/86 à pena de 3 anos e 10 meses de reclusão, em regime
aberto, e 156 dias-multa.
A pena foi substituída por restritivas de direitos (CP, art. 44, § 2º, segunda parte)
e foi fixado o valor de R$ 831,91 como mínimo para indenização (CPP, art. 387, IV).
Consoante a denúncia, no período de 18.12.03 a 18.12.06, o acusado obteve,
mediante fraude e uso de pessoa interposta, financiamento em instituição financei-
ra credenciada para o repasse de verbas oriundas do Programa de Fortalecimento
da Agricultura Familiar – Pronaf, o que acarretou um prejuízo não atualizado de
R$ 3.200,00 (três mil e duzentos reais).
Giza a denúncia que o acusado aliciou e convenceu Anália Alves Mendonça
dos Santos a contratar o financiamento rural e repassar-lhes os valores liberados.
Para tanto, Anália teria acompanhado o réu até o Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Upanema/RN para entregar documentos pessoais e assinar outros documentos,
tendo, ainda, entregue o cartão e a senha para que o acusado efetuasse os saques.
Nas suas razões recursais a defesa pugna pela reforma da sentença condena-
tória, requerendo:
I – o reconhecimento da prescrição retroativa pela pena em abstrato ou mesmo
virtual ou em perspectiva;
II – nulidade do processo, vez que o Ministério Público não teria legitimidade
para conduzir/presidir inquérito policial de forma unilateral, bem como por cer-
ceamento de defesa ante a ausência de defensor ao investigado na esfera policial;
III – a completa falta de justa causa para a ação penal, vez que inexistem provas
concretas que vinculem o acusado a qualquer empréstimo ou financiamento junto
ao Banco do Brasil;
IV – ofensa
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ao princípio da persuasão racional das provas, pois o juiz de pri-
meiro grau deixou de valorar os depoimentos das testemunhas arroladas; e
V – a absolvição, com esteio no art. 386, III e VII, do CPP, pela aplicação do
princípio da insignificância ou mesmo a atipicidade da conduta ante a ausência de
dolo, o que implicaria na não aplicabilidade da Lei nº 7.492/86, vez que em nenhum
momento o acusado teve a intenção e a vontade de fraudar o Sistema Financeiro
Nacional.
Alternativamente, pede a revisão da dosimetria da pena, alegando:
I – excesso na fixação da pena, vez que o acusado é primário, possui bons
antecedentes, sendo-lhe favorável a personalidade e a sua conduta social; e
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 557
II – que a pena deve ser fixada bem próxima ao mínimo legal e ser levado em
consideração a compensação da atenuante da confissão com a causa de aumento
prevista no art. 19, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86.
Contrarrazões pela acusação (fls. 188/201).
No Parecer de fls. 208/220, o Exmo. Sr. Procurador Regional da República,
Francisco Machado Teixeira, opinou pelo não provimento do recurso de apelação
interposto pela defesa.
É o que havia de relevante para relatar.
Ao eminente Revisor, nos termos do Regimento Interno desta Corte.
É o relatório.
VOTO
O Senhor Desembargador Federal Manuel Maia (Convocado): Consoante rela-
tado, trata-se de apelação criminal interposta pela defesa de Hudson Costa Bezerra,
por meio da qual alega a ocorrência da prescrição retroativa relativamente ao crime
previsto no art. 19 da Lei nº 7.492/86.
Passemos a análise da prejudicial de mérito.
No caso em análise, Hudson Costa Bezerra foi denunciado porque teria se
utilizado de documentos de terceira pessoa para obter financiamento, junto ao
Banco do Brasil, para a utilização de recursos do Programa de Fortalecimento da
ACÓRDÃO
VOTO
Desembargador Doorgal Andrada (Relator):
Trata-se de apelação criminal interposta por L.R.B. em face da r. sentença de fls.
146/150, que julgou procedente a exordial acusatória, para condenar o acusado pela
prática do crime previsto no art. 155, § 4º, II, do Código Penal, à pena de 2 (dois) anos
de reclusão e 15 (quinze) dias-multa em regime inicial semiaberto.
Narra a denúncia que no dia 3 de abril de 2013, o acusado, mediante arrom-
bamento de uma janela, subtraiu vários pertences da residência da vítima F.P.F.
O recorrente busca o decote da qualificadora, tendo em vista o fato de que não
houve prova nos autos do seu cometimento pelo réu (fls. 164/165).
Contrarrazões às fls. 166/167.
A seu turno, a d. Procuradoria de Justiça, instada a se manifestar, pronunciou-
se no sentido do não provimento do apelo (fls. 173/174).
É o relatório.
560 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
RELATÓRIO
Trata-se de embargos infringentes interpostos por Tássio Silva de Brito,contra
o acórdão de pasta 733, no qual a Turma Julgadora, por maioria de votos, desproveu
os apelos defensivos, mantendo a r. sentença de 1º grau (pasta 539).
Em suas razões (pasta 782), pretende o embargante resgatar o voto parcialmente
vencido da eminente Desembargadora Rosita Maria de Oliveira Netto, que reduziu
a fração de aumento das majorantes, na terceira fase da dosimetria, à fração mínima
(1/3), concretizando a pena em 5 anos e 4 meses de reclusão, no regime inicial se-
miaberto, e ao pagamento de 13 dias-multa, no mínimo legal, pela prática do crime
de roubo majorado pelo emprego de arma e em concurso de pessoas (pasta 748).
O recurso foi admitido (pasta 787) e distribuído a esta c. Câmara Criminal
(pasta 791).
Instada a se manifestar, a douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer da
lavra do Dr. Frederico A. R. Canellas, opinou pela rejeição dos embargos infringentes.
Esse é, em síntese, o relatório.
À revisão.
VOTO
Conheço do recurso, porquanto presentes os pressupostos de sua admissibi-
lidade.
Nos termos do art. 609, parágrafo único, do Código de Processo Penal, são
admitidos os embargos infringentes quando não houver decisão unânime do órgão
colegiado, desde que desfavorável ao acusado, limitando-se os embargos ao desa-
cordo parcial que lhe for benéfico, pois o objetivo de tal recurso é resgatar o voto
mais favorável, vencido no julgamento.
In casu, busca a combativa defesa resgatar o voto da lavra da eminente Desem-
bargadora Rosita Maria de Oliveira Netto, que, no julgamento da apelação, votou no
sentido de aumentar a pena dos acusados, dentre eles o ora embargante, em apenas
1/3 (um terço), pela incidência das majorantes relativas ao concurso de pessoas e
emprego de arma (pasta 748).
Depois de analisar com acuidade o v. acórdão embargado, bem como o con-
junto probatório apresentado nos autos, tenho que a pretensão defensiva merece
acolhimento.
Entendo, amparado pela jurisprudência dominante no STJ, que o aumento,
qualquer que seja a fração utilizada, deve ser feito de forma motivada, e não apenas
com base na quantidade das majorantes do caso concreto, consoante a Súmula nº
443 do STJ.
Nesse sentido:
“PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. ROUBO MAJORADO E EXTORSÃO. CON-
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 563
sentido de que o habeas corpus não pode ser utilizado como substituto de
recurso próprio, sob pena de desvirtuar a finalidade dessa garantia constitu-
cional, exceto quando a ilegalidade apontada é flagrante, hipótese em que se
concede a ordem de ofício.
2. A circunstância de o primeiro paciente estar sob o efeito de drogas no
momento em que se utilizou de uma faca para ameaçar a vítima denota a sua
periculosidade mais acentuada no caso concreto, estando, assim, justificada a
elevação da pena-base.
3. No crime de roubo circunstanciado, a fixação acima da fração mínima de
1/3 (um terço), em decorrência da existência de mais de uma causa de aumento,
exige motivação baseada em dados concretos, não servindo de justificativa a mera
quantidade de majorantes.
4. Na hipótese, as instâncias ordinárias utilizaram-se de critério matemá-
tico para justificar a fração de aumento aplicada (3/8), o que configura ofensa à
Súmula nº 443 do STJ.
5. Há de ser fixado o regime semiaberto para o início do desconto da
reprimenda imposta ao segundo paciente, uma vez que se trata de réu pri-
mário, cuja pena-base foi fixada no mínimo legal, porquanto favoráveis todas
as circunstâncias judiciais, sendo a pena definitiva superior a 4 e inferior a 8
anos de reclusão.
6. Habeas corpus não conhecido. Concedida a ordem, de ofício, para
aplicar a fração mínima de 1/3 em razão das majorantes do roubo, redimensio-
nando a pena cominada aos dois pacientes, e para estabelecer o regime inicial
semiaberto para o segundo paciente.” (HC 204.046/SP, Rel. Min. Gurgel de
Faria, Quinta Turma, j. 03.09.2015, DJe 18.09.2015)
No caso concreto, a Juíza de primeiro grau, utilizando o critério quantitativo,
asseverou que,
“(...) na terceira fase da pena, torno a aumentá-la de 3/8 (três oitavos)
pela incidência das duas causas especiais de aumento de pena do concurso de
agentes e do emprego de arma, restando elevada para 5 (cinco) anos e 6 (seis)
meses de reclusão (...).” (pasta 539)
A douta maioria da c. Sexta Câmara Criminal manteve o percentual sob os
seguintes fundamentos:
“(...) Quanto à fração de aumento da pena pela dupla qualificação do
delito, mantém-se os 3/8 (três oitavos), considerando o envolvimento de quatro
agentes no delito e o emprego de pelo menos uma arma de fogo. É o critério
qualitativo se sobrepondo sobre o quantitativo, em plena consonância com o
Verbete nº 443 das Súmulas do STJ.” (pasta 733)
A circunstância de o delito ter sido perpetrado em concurso de quatro agentes so-
mente foi destacada em sede de apelação criminal interposta pelos réus, sendo certo que
a julgadora monocrática não motivou o aumento da reprimenda em 3/8 na terceira fase
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 565
da dosimetria da pena com base naquela circunstância, como se vê dos trechos acima
transcritos, constituindo inadmissível reformatio in pejus.
Dessa forma, uma vez que foi utilizado apenas o critério quantitativo para fins
de exasperação da reprimenda, na terceira fase da dosimetria, em patamar superior
ao mínimo legalmente previsto, tenho que os embargos infringentes e de nulidade
devem ser acolhidos.
A pena do embargante fica concretizada definitivamente em 6 anos, 2 meses
e 20 dias de reclusão, no regime inicial semiaberto, e em 15 dias-multa, no valor
unitário mínimo.
E nos termos do que dispõe o art. 580 do Código de Processo Penal, estendo
os efeitos desta decisão aos corréus Nathan do Valle Carvalho, Rafael Mendonça do
Nascimento e Elton Farias de Almeida.
À conta de tais considerações, acolho os embargos infringentes para resgatar o
voto minoritário, com extensão de efeitos aos corréus, nos termos acima.
É como voto.
Rio de Janeiro, na data constante da assinatura digital.
Desembargador Joaquim Domingos de Almeida Neto – Relator
DECISÃO MONOCRÁTICA
Vistos.
1. Trata-se de habeas corpus impetrado pelo Defensor Público André Iglesias e
Silva Borges em favor de G.S.S., que cumpre condenação criminal cuja pena carce-
rária é de 13 anos, 11 meses e 6 dias de reclusão, no regime inicial fechado, perante
a Vara de Execuções Criminais da Comarca de Lagoa Vermelha. Em 20.08.2015, foi
deferida ao paciente a progressão de regime para o semiaberto, sendo indeferido, na
mesma decisão, o seu pleito de saída temporária.
No presente writ (fls. 02/14), o impetrante afirma a ocorrência de constrangi-
mento ilegal por parte da autoridade impetrada, em face da exigência do cumprimento
do requisito objetivo de cumprimento de 1/4 da pena para a concessão da saída
temporária. Afirma que tal exigência configura evidente constrangimento ilegal,
em razão da ausência de previsão legal neste sentido. Pede liminar de concessão de
saídas temporárias ao paciente/apenado.
2. De plano, conheço do presente habeas corpus em caráter excepcional, em
face da matéria de fundo dizer respeito ao direito de ir e vir do paciente/apenado,
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 567
RELATÓRIO
Trata-se de recurso de agravo interposto por D.B. contra decisão proferida pelo
Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal da Comarca de Blumenau/SC que, nos autos
da Execução Penal 0023052-07.2013.8.24.0008, concedeu em parte o benefício da
remição pelos dias trabalhados no interior do Presídio Regional de Blumenau no
período de maio/2014 (fls. 103-104).
O agravante, em suas razões recursais, alega que de acordo com a fichas de
frequência teria atendido a 55 dias de trabalho referentes aos meses de maio e junho,
na função de “regalia de manutenção”, fazendo jus, portanto, a 10 dias de remição
da pena referente ao mês de maio.
Salienta que, embora o reeducando tenha informado que exercia suas funções
normalmente de segunda-feira a sábado, afirmou que ocorria alguma manutenção
de emergência no Presídio, de forma que era obrigado a trabalhar.
Aduziu, ainda, que na audiência recordou-se ter trabalhados nos últimos do-
mingos, citando pelo menos os três anteriores.
Dessa forma, objetiva o conhecimento e provimento do recurso para reformar,
ou anular, a decisão, a fim de que seja concedido o reconhecimento da remição nos
exatos moldes da grade relacionada pela autoridade prisional (fls. 112-114v).
Em contrarrazões, requereu o agravado o conhecimento e o desprovimento
do presente recurso, mantendo-se incólume a sentença objurgada (fls. 125-127).
Lavrou parecer pela douta Procuradoria-Geral de Justiça o Exmo. Sr. Dr. Raul
Schaefer Filho, manifestando-se pelo conhecimento e provimento do agravo (fls.
131-136).
Este é o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece-se do reclamo e passa-
se à análise do seu objeto.
Trata-se de recurso de agravo interposto pelo representante do Ministério Pú-
blico contra decisão proferida pelo Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal da Comarca
de Blumenau/SC que, nos autos da Execução Penal 0023052-07.2013.8.24.0008, não
reconheceu na integralidade o período de labor do apenado, conforme consta nas
informações enviadas pela autoridade competente para a fiscalização do exercício
de seu trabalho.
Pretende o agravante, em síntese, a reforma da decisão, para que seja homo-
logado os dias laborados nos exatos moldes da grade relacionada pela autoridade
prisional.
A respeito da remição, Julio Fabbrini Mirabete ensina:
“Pode-se definir a remição, nos termos da lei brasileira, como um direito
do condenado em reduzir pelo trabalho prisional o tempo de duração da pena
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 573
ACÓRDÃO
VOTO Nº 34.201
Trata-se de Agravo em Execução interposto pelo sentenciado N.G. contra a
decisão de fl. 21, proferida pelo douto Juízo da Vara das Execuções Criminais da
Comarca de Itapetininga, que indeferiu seu pedido de livramento condicional porque
ausente o requisito objetivo e subjetivo.
578 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
descritas na inicial acusatória, motivo pelo qual seu recebimento é medida que se
impõe. 3. O Ministério Público, como titular da ação penal pública, pode proceder
investigações e efetuar diligências com o fim de colher elementos de prova para o
desencadeamento da pretensão punitiva estatal. Inteligência dos arts. 129, VI e VIII,
da Constituição Federal, 8º da Lei Complementar nº 75/93 e 26 da Lei nº 8.625/93.
De consequência, o requerimento de diligências junto ao Poder Judiciário vai à
contramão da legitimidade conferida ao Parquet de realização por meios próprios.
Precedentes. 4. Denúncia recebida, com rejeição do pedido de diligências formulado
pelo Ministério Público. (TJPI; APN 2014.0001.007240-0; 1ª C.Esp.Crim.; Rel. Des.
Pedro de Alcântara da Silva Macêdo; DJPI 02/09/2015; p. 18)
77/206 — AGRAVO DA EXECUÇÃO (ART. 197 DA LEP). PRISÃO DOMI-
CILIAR SUBSTITUTIVA DO REGIME ABERTO, MEDIANTE CONDIÇÕES (SEM
MONITORAMENTO ELETRÔNICO). POSSIBILIDADE. INSURGÊNCIA MINISTE-
RIAL. As hipóteses do art. 117 da LEP não são exaustivas, devendo verificar-se, caso a
caso, o excepcional cabimento da prisão domiciliar substitutiva, mediante condições,
como forma alternativa de recolhimento de apenado que, sob regime aberto, deveria
estar cumprindo a sua pena carcerária em albergue. No caso, diante da inexistência
de casa de albergado e da situação peculiar retratada nos autos, é de ser mantida a
prisão domiciliar substitutiva concedida ao apenado sob condições, a fim de evitar
que ele cumpra a sua pena carcerária sob condições iguais ou semelhantes àqueles
que devem implementá-la sob regime mais gravoso. Paradigmas consolidados do
Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e desta Corte de Justiça.
Agravo improvido. (TJRS; AG 0281405-45.2015.8.21.7000; 6ª C.Crim.; Rel. Des.
Aymoré Roque Pottes de Mello; DJERS 04/09/2015)
77/207 — APELAÇÃO. RECUSA DE OBEDIÊNCIA. MILITAR PREVIAMEN-
TE DESIGNADO EM ESCALA DE SERVIÇO. ORDEM EMANADA DE SUPERIOR
HIERÁRQUICO. NEGATIVA DE REALIZAR AS FUNÇÕES DE SARGENTO DE
DIA. ASSUNTO AFETADO AO SERVIÇO DA CASERNA. INFRAÇÃO AO PRE-
CEITO INCRIMINADOR DO ART. 163 DO CPM. SENTENÇA CONDENATÓRIA
MANTIDA. Infringe a norma penal militar prevista no art. 163 do CPM, sob a
rubrica de “recusa de obediência”, o militar escalado como sargento de dia, que,
após receber ordem do oficial de dia para assumir o posto e cumprir suas funções,
manifesta pronta negativa, ao argumento insubsistente de que se encontrava na
situação de “agregado”. O descumprimento de ordem relativa à matéria de serviço,
emanada de superior hierárquico, quando lhe era exigível conduta diversa, impõe
a responsabilização criminal do infrator. Apelo defensivo desprovido por decisão
unânime. (STM; APL 213-77.2014.7.01.0201; RJ; Rel. Min. Francisco Joseli Parente
Camelo; DJSTM 21/10/2015)
77/208 — APELAÇÃO DEFENSIVA. ABANDONO DE POSTO. AUTORIA
E MATERIALIDADE COMPROVADAS. CRIME DE MERA CONDUTA. MANU-
TENÇÃO DA SENTENÇA. CRIME DE FURTO DE USO DE ARMAMENTO. AB-
SOLVIÇÃO. CRIME DE FURTO DE USO DE AMBULÂNCIA. CONDENAÇÃO.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE DURANTE O PERÍODO DE PROVA
DO SURSIS. IMPOSSIBILIDADE. Irretocável a Sentença recorrida quanto à con-
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 581
EMENTÁRIO
ÇÃO DO ACUSADO E IMPROVIMENTO DO APELO DA ACUSAÇÃO. I – Sendo
a substância objeto da ação delitiva originária de outro país, tem-se configurada
a sua internacionalização, pelo que é de se firmar a competência da Justiça Fede-
ral. Precedentes. II – Desde que submetidos ao mesmo juízo, pode o magistrado
EMENTÁRIO
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. 5. Se no imóvel
alvo da medida, apesar das características de residenciais, funcionar emissora de
rádio clandestina (Rádio Cristo Vive FM 106.7 MHz), não se pode considerá-lo
abrangido pela proteção constitucional. 6. Para não incorrer em risco de supressão
EMENTÁRIO
processamento e julgamento do feito. 5. Conflito negativo de competência julgado
improcedente. (TJAM; CC 0600005-70.2015.8.04.0030; C.Reun.; Rel. Des. Yêdo Simões
de Oliveira; DJAM 02/09/2015; p. 23)
77/219 — CONTRABANDO DE CIGARROS E QUADRILHA. DENÚNCIA.
EMENTÁRIO
CEITO NORMATIVO DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, PARA FINS PENAIS,
DEFINIDO PELA PRÓPRIA LEI Nº 7.492/86 (ART. 1º E PARÁGRAFO ÚNICO),
QUE ABRANGE, ATÉ MESMO, PARA ESSE EFEITO, PESSOAS NATURAIS OU
ENTIDADES QUE OPEREM SEM AUTORIZAÇÃO DO BANCO CENTRAL DO
EMENTÁRIO
a pedido do Procurador-Geral da República. (STF; Inq 3.128; MT; 1ª T.; Rel. Min.
Luiz Fux; DJE 15/10/2015; p. 52)
77/225 — EMBARGOS INFRINGENTES. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. RE-
EMENTÁRIO
Adolescente 2014.053615-1, de Rio do Sul, Rel. Des. Sérgio Rizelo, j. 09.12.2014).
PLEITO ALTERNATIVO. REDUÇÃO DA MULTA ADMINISTRATIVA. FIXAÇÃO
EM 15 (QUINZE) SALÁRIOS MÍNIMOS NO PRIMEIRO GRAU. VIABILIDADE.
ORIENTAÇÃO DESTA CORTE PARA CASOS ANÁLOGOS. VARIAÇÃO DE 10 (DEZ)
(TRF 3ª R.; RSE 0000234-52.2012.4.03.6107; SP; 2ª T.; Relª Juíza Fed. Conv. Denise
Avelar; DEJF 29/10/2015)
77/230 — ESTELIONATO MAJORADO. PROGRAMA FARMÁCIA POPULAR.
IRREGULARIDADES GRAVES. VANTAGEM INDEVIDA APURADA. PREJUÍZO
CONCRETO AOS COFRES FEDERAIS. EXPEDIENTE FRAUDULENTO CARAC-
TERIZADO. ESTELIONATO CONFIGURADO. SENTENÇA REFORMADA. APE-
LO MINISTERIAL PROVIDO. 1. Tese defensiva de inépcia da denúncia rejeitada.
Preambular acusatória que contém todos os requisitos previstos no ordenamento
para seu recebimento. Pode, evidentemente, restar comprovado ao fim da instrução
processual que os réus não praticaram os atos narrados na exordial acusatória, ou
que os fatos não ocorreram daquela forma. Neste caso, todavia, não se tem caso de
inépcia da denúncia, mas, sim, como é de sabença, de sentença de mérito julgando
improcedente a pretensão punitiva estatal. 2. O Programa Farmácia Popular do
Brasil (PFPB) foi instituído pela União Federal no ano de 2004, com o intuito de
promover a distribuição de medicamentos de uso maciço a preços subsidiados pelos
cofres públicos. Programa que não se voltava à distribuição gratuita e, inclusive, a
proibia, salvo, a partir de 2011, com relação a uma lista restrita de medicamentos.
A contrapartida obrigatória do usuário constituía característica inelidível do PFPB
à época dos fatos, e assim seguiu sendo, ressalvada a exceção já referida. 3. Réus
(proprietários de farmácia que vendia medicamentos no âmbito do aqui tem farmácia
popular) que instruíram funcionária (cadastradora) para ir até residências e, por
vezes, informar que postos de saúde não mais forneceriam os medicamentos de uso
contínuo utilizados pelos moradores do local. Os remédios passariam a ser forneci-
dos, gratuitamente, pela farmácia dos apelados. Caracterizado o ardil instrumental,
na medida em que, por meio deste, propiciava-se a prática da figura típica, consis-
tente na distribuição gratuita de medicamentos sem que a União disso soubesse. 4.
Restou claro que a União pagava o valor total (100%) dos medicamentos, mas que
se declarava que a União estaria arcando com 90% dos valores. Informação falsa
dada pelos proprietários ao ente federal quanto ao real valor de venda na farmácia.
Prejuízo concreto aos cofres públicos caracterizado. Ao distribuir medicamentos
gratuitamente, os réus lesaram o programa farmácia popular e os cofres da União,
obtendo com isso vantagem indevida, qual seja a de expandir sua base de clientes
artificialmente, burlando as regras a que voluntariamente aderiram quando da ade-
são ao “aqui tem farmácia popular”. Tudo isso foi realizado em prejuízo dos cofres
públicos e em detrimento tanto dos concorrentes quanto dos próprios objetivos do
programa farmácia popular, que visa aumentar a oferta de medicamentos à popu-
lação, e não a restringi-la ou criar confusões no processo de oferta dos produtos
de primeira necessidade, e, muito menos, a criar distúrbios de concorrência entre
estabelecimentos do ramo farmacêutico. 5. Elementos convergentes no sentido de
a prática ser reiterada e corriqueira. Nos limites temporais fixados pela denúncia
(período de um mês – julho de 2009), foram individualmente provadas duas práti-
cas contra o ente federal. 6. No caso que envolveu Neide Borges dos Santos, o ardil
envolveu narrativa no sentido de que o posto de saúde da região não mais forneceria
seus medicamentos de uso contínuo, fornecimento este que passaria a ser feito (se
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 593
EMENTÁRIO
perpetrados longe dos olhos e intervenção de terceiros, a palavra da vítima detém
especial relevância, especialmente se não dissonante dos demais elementos probató-
rios, sendo suficiente para a condenação. 2. Apelo conhecido e improvido. (TJAP; APL
0005329-15.2012.8.03.0001; C.Un.; Relª Desª Stella Ramos; DJEAP 01/09/2015; p. 14)
do tipo penal do crime de extorsão com causa de aumento, sequer foram valorados
no procedimento de individualização da pena. Incidência do Enunciado nº 440 da
Súmula desta Corte. 8. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício
para restabelecer o regime inicial semiaberto fixado na sentença proferida nos autos
da Ação Penal 050.03.063909-3, controle 1248/03, da 6ª Vara Criminal da Comarca
de São Paulo. (STJ; HC 293.211; Proc. 2014/0093398-6; SP; 5ª T.; Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca; DJE 08/09/2015)
77/235 — EXTRADIÇÃO INSTRUTÓRIA E EXECUTÓRIA. PRISÃO DE-
CRETADA PELA JUSTIÇA ESPANHOLA. TRATADO ESPECÍFICO. REQUISITOS
ATENDIDOS. CRIMES DE TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOA PARA FIM
DE EXPLORAÇÃO SEXUAL, FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA
FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL E REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À
DE ESCRAVO. DUPLA TIPICIDADE. INOCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO. EX-
TRADIÇÃO DEFERIDA. 1. O pedido formulado pelo Reino da Espanha atende aos
pressupostos necessários ao deferimento, nos termos da Lei nº 6.815/80 e do tratado
de extradição específico, inexistindo irregularidades formais. 2. O Estado requerente
dispõe de competência jurisdicional para processar e julgar os crimes imputados
ao extraditando e para executar a sentença condenatória imposta, conformando-se
o caso ao disposto no art. 78, inciso I, da Lei nº 6.815/80 e ao princípio de direito
penal internacional da territorialidade da lei penal. 3. Requisito da dupla tipicidade
previsto no art. 77, inciso II, da Lei nº 6.815/80 cumprido: fatos delituosos imputa-
dos ao extraditando correspondentes, no Brasil, aos crimes de tráfico internacional
de pessoa para fim de exploração sexual, favorecimento da prostituição ou outra
EMENTÁRIO
forma de exploração sexual e redução à condição análoga à de escravo (arts. 231,
228, caput e § 2º e 149, todos do Código Penal brasileiro). 4. Na extradição, este
Supremo Tribunal Federal não detém competência para examinar o mérito da pre-
tensão deduzida pelo Estado requerente ou o contexto probatório no qual se apoia
EMENTÁRIO
PENA. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
DESFAVORÁVEIS. REPARAÇÃO DE DANOS DO ART. 387, IV, DO CPP. IMPOSSI-
BILIDADE. AUSÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO. RECURSO PROVIDO EM PARTE.
1. O réu foi preso em flagrante, permanecendo custodiado durante todo o processo,
EMENTÁRIO
da acentuada influência política e econômica do acusado na Comarca, a justificar o
desaforamento do julgamento para Belo Horizonte/MG, onde tais iniciativas não têm
reflexos relevantes no corpo de jurados. 4. Ordem não conhecida. (STJ; HC 225.773;
Proc. 2011/0279422-8; MG; 6ª T.; Rel. Min. Rogério Schietti Cruz; DJE 08/09/2015)
EMENTÁRIO
Consequentemente, verificada a prática de uma conduta por um indivíduo capaz
(imputável), presume-se que ele a tenha praticado consciente e voluntariamente. 6.
De modo excepcional, o comportamento humano pode derivar de culpa, que afasta
o dolo. Culpa, segundo conceitua a doutrina, é a inobservância do dever de cuidado
voráveis ao acusado, a pena-base deve ser fixada próxima ao mínimo legal. 2. Não
há necessidade de pedido formal de fixação de valor mínimo para fins de reparação
dos danos causados pela infração, nos termos do art. 387, IV, do CPP. Todavia, este
valor deve ser reduzido quando incompatível com a realidade financeira do réu.
Recurso conhecido e parcialmente provido, para reduzir a pena imposta ao apelan-
te, reduzindo-se o valor estipulado para fins de reparação dos danos causados pela
infração. (TJGO; ACr 0420686-21.2011.8.09.0000; 1ª C.Crim.; Rel. Des. Sival Guerra
Pires; DJGO 29/10/2015; p. 374)
77/252 — JÚRI. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PROVA EMPRESTADA CON-
FIRMADA SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO. ANÁLISE DAS PROVAS. ATRI-
BUIÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA. AUSÊNCIA DE PROVA INEQUÍVOCA.
CADERNO PROCESSUAL SUFICIENTE A INDICAR A PROVA DA MATERIALI-
DADE E INDÍCIOS DA AUTORIA DOS FATOS SUPOSTAMENTE CRIMINOSOS.
IN DUBIO PRO SOCIETATE. IMPERATIVIDADE. RECURSO CONHECIDO E IM-
PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. I – Havendo provas da materialidade e indícios
suficientes da autoria criminosa, a pronúncia se impõe, eis que fundada num juízo
de plausibilidade da acusação, cabendo ao Tribunal do Júri, juízo natural dos crimes
dolosos contra a vida, dirimir qualquer dúvida porventura existente no caderno
processual. II – Em se tratando de processos em que se apuram crimes dolosos
contra a vida, cuja competência é reservada, constitucionalmente, ao Tribunal do
Júri, somente é possível retirar a causa de seu julgamento quando o feito se encontra
de tal maneira preparado que sobejam provas a reclamar uma pronta decisão do
magistrado. III – A testemunha ocular é categórica ao atribuir ao apelante a autoria
do crime, seu testemunho colhido em sede judicial afasta qualquer nulidade, visto
que não houve cerceamento de defesa, na medida em que a prova foi produzida sob
o crivo do contraditório e da ampla defesa. Ademais, a prova emprestada é admitida
no ordenamento jurídico pátrio, salvo se produzida de maneira ilícita, o que não
restou demonstrado in casu. IV – Recurso de crime conhecido e improvido. (TJAL;
RSE 0001059-67.2013.8.02.0056; C.Crim.; Rel. Des. Sebastião Costa Filho; DJAL
03/09/2015; p. 184)
77/253 — JÚRI. HOMICÍDIO QUALIFICADO POR MOTIVO TORPE E RE-
CURSO QUE IMPOSSIBILITA A DEFESA DA VÍTIMA. IRRESIGNAÇÃO QUANTO
À SANÇÃO PENAL APLICADA. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. CULPABILIDADE
E CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. PENA-BASE
REFORMADA. AFASTAMENTO DE AGRAVANTE. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA
DE MOTIVAÇÃO FÚTIL. NÃO ACOLHIMENTO. ELEMENTOS PROBATÓRIOS
JUSTIFICADORES DA MANUTENÇÃO. CONFISSÃO ESPONTÂNEA. PREPON-
DERÂNCIA. PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA. ART. 29, § 1º, DO CP.
AUSÊNCIA DE ALEGAÇÃO NO MOMENTO OPORTUNO. ART. 483, § 3º, DO
CPP. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE NESTA VIA RECURSAL, SOB PENA DE
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. REFORMULAÇÃO DA DOSIMETRIA. APELAÇÃO
CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. I – A fundamentação lançada pelo
magistrado sentenciante para valorar as circunstâncias judiciais relativas à culpabi-
lidade e às consequências do crime está adstrita ao tipo penal, pelo que devem ser
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 603
EMENTÁRIO
NA FASE DA INFORMATIO DELICTI. INSUFICIÊNCIA PARA A CONDENAÇÃO.
AUSÊNCIA DE PROVAS JUDICIALIZADAS. DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA
PARA O CRIME DE FURTO. IMPERATIVIDADE. A limitação moderada em rela-
ção aos elementos informativos colhidos na fase inquisitiva, há muito acolhida na
jurisprudência pátria, faz-se hoje expressamente prevista na legislação processual
EMENTÁRIO
77/260 — NULIDADE DO INTERROGATÓRIO. AUSÊNCIA DE AMPARO
JURÍDICO. MÉRITO CONDIZENTE À REFORMA DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA.
PRETENSÃO DE CONDENAÇÃO NO ART. 251 DO CPM. AUSÊNCIA DE TIPICI-
EMENTÁRIO
regimental improvido. (STJ; AgRg-REsp 1.028.615; Proc. 2008/0019966-3; RS; 6ª T.;
Rel. Min. Nefi Cordeiro; DJE 08/09/2015)
77/267 — PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL. FURTO PRIVILEGIA-
DO. FURTO QUALIFICADO. TENTATIVA. 1. Um fato é penalmente insignificante
EMENTÁRIO
GRAVAÇÃO. INDEFERIMENTO PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CERCEAMENTO
DE DEFESA. ART. 405, § 2º, DO CPP. PRINCÍPIO DA CELERIDADE PROCESSUAL.
RECURSO IMPROVIDO. 1. Não se verifica cerceamento de defesa no indeferimento
do pleito formulado pela Procuradoria de Justiça, de conversão do julgamento em
EMENTÁRIO
5. Nossos Tribunais e doutrinadores se posicionam em dar a máxima efetividade à
norma penal em estudo, procedendo a uma interpretação sistemática e conforme a
Constituição, que não admite a incrementação de condutas que não afetem qualquer
bem jurídico (nulla lex poenalis sine injuris). 6. Na moderna teoria da tipicidade,
EMENTÁRIO
77/282 — ROUBO DE AUTOMÓVEL MAJORADO PELO CONCURSO DE
AGENTES E EMPREGO DE SIMULACRO DE ARMA DE FOGO. Pacientes primá-
rios, sem quaisquer antecedentes policiais ou judiciais e que possuem 19 e 23 anos
EMENTÁRIO
habitualidade. 5. Inexistência de exorbitância na fixação da pena em 2 (dois) anos
e 9 (nove) meses de reclusão, acrescida da multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais)
como determinado na lei. A pena de multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) imposta
ao apelante é definida em lei (art. 183 da Lei nº 9.472/97), em valor fixo, não ha-
haviam sido adquiridas no Rio de Janeiro para ser revendidas, e não consumidas. 2.
Recentemente, as duas turmas do STF mudaram entendimento e decidiram que a
causa de aumento de pena sob enfoque (art. 40, III, da Lei nº 11.343/06) demanda
a venda ou entrega do entorpecente no veículo de transporte público, o que acabou
fazendo com que o STJ igualmente revisse seu posicionamento. 3. Não há que se
falar em aplicação da atenuante da confissão, eis que o réu, apesar de admitir estar
portando as drogas apreendidas, disse que estas seriam para seu próprio consumo,
o que se revelou falso. 4. O redutor buscado (art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06) só
pode incidir nos casos de criminosos primários, de bons antecedentes, que não se
dediquem a atividades criminosas, nem integrem organização criminosa, sendo certo
que o apelante é, assumidamente, reincidente, o que se comprova da FAC anexada
aos autos. 5. Essa reincidência foi considerada na segunda etapa da dosimetria como
agravante genérica e na terceira como impeditivo para o reconhecimento da causa
especial de diminuição, o que não importa em bis in idem, mas, sim, na utilização
de um mesmo parâmetro de referência em momentos e finalidades distintos. 6. O
pleito de gratuidade deve ser formulado junto ao juízo da execução, conforme inteli-
gência da Súmula nº 74 de nosso e. Tribunal. Desprovimento dos apelos. (TJRJ; APL
0010454-40.2014.8.19.0003; 4ª C.Crim.; Rel. Des. João Ziraldo Maia; DORJ 01/09/2015)
77/290 — TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁ-
FICO. PORTE DE MUNIÇÃO. CORRUPÇÃO DE MENORES. LIBERDADE CON-
CEDIDA. Paciente primário, preso em 25 de junho de 2015, pela suposta prática
dos delitos de tráfico ilícito de drogas, associação para o tráfico, porte de munição
EMENTÁRIO
e corrupção de menores. Teriam sido apreendidas, no interior da residência do pa-
ciente, 85 pedrinhas de crack, 10 papelotes de cocaína, 3 munições intactas calibre
9mm, e uma pequena quantidade de maconha – peso insignificante – sem indicação
de peso. A quantidade de droga apreendida, ainda que de naturezas distintas, não
pode ser considerada de monta expressiva – não há indicação de peso. Além disso,
EMENTÁRIO
so. Recurso não provido. (TJSP; APL 0013426-28.2012.8.26.0077; Ac. 8695996; 15ª
C.D.Crim.; Rel. Des. Ricardo Sale Júnior; DJESP 08/09/2015)
77/298 — VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL E DE FALSIFICAÇÃO,
ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE PRODUTOS DESTINADOS A FINS TE-
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL
77/302 ← AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE AVAL EMITIDO POR
PESSOA FÍSICA EM CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. 1. Omissis. 2. Omissis. 3. A
interpretação sistemática do art. 60 do Decreto-Lei nº 167/67 permite inferir que o
significado da expressão “também são nulas outras garantias, reais ou pessoais”, dis-
posta no seu § 3º, refere-se diretamente ao § 2º, ou seja, não se dirige às cédulas de
crédito rural, mas apenas às notas e duplicatas rurais. 4. Alteração do entendimento
desta Terceira Turma quando do julgamento do REsp 1.483.853/MS, sob a relatoria do
e. Ministro Moura Ribeiro, julgado em 04.11.2014, DJe 18.11.2014. 5. Recurso especial
a que se nega provimento por maioria, vencida a relatora. (STJ; REsp 1.440.440; Proc.
2013/0172549-1; RS; 3ª T.; Rel. p/ o Ac. Min. Paulo de Tarso Sanseverino; DJE 18/06/2015)
77/303 ← CÉDULA DE CRÉDITO RURAL EMITIDA POR PESSOA FÍSICA.
GARANTIA DE AVAL PRESTADA POR TERCEIRO. ART. 60, § 3º, DO DL Nº
167/67. VALIDADE. ENTENDIMENTO FIRMADO NO JULGAMENTO DO RESP
1.483.853/MS. TERCEIRA TURMA. 1. As mudanças no DL nº 167/67 não tiveram
como alvo as cédulas de crédito rural. Por isso elas nem sequer foram mencionadas
nas proposições que culminaram com a aprovação da Lei nº 6.754/79, que alterou
o Decreto-Lei referido. 2. A interpretação sistemática do art. 60 do DL nº 167/67
permite inferir que o significado da expressão “também são nulas quaisquer outras
garantias, reais ou pessoais”, disposta no seu § 3º, refere-se diretamente ao § 2º,
ou seja, não se dirige às cédulas de crédito rural, mas apenas às notas e duplicatas
rurais. 3. Vedar a possibilidade de oferecimento de crédito rural direto mediante a
622 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
cliente, sob pena de incorrer em situações que podem até mesmo afetar-lhe perante
a OAB, em procedimento disciplinar. Uma vez tomadas as cautelas necessárias para
preservar a veracidade das informações dadas pelo cliente, sobretudo quanto ao seu
endereço residencial, o advogado estará desobrigado de eventuais consequências
processuais que possam advir. Todavia, caso o advogado tenha ciência desta falácia,
contribuindo direta ou indiretamente para tal diante das informações prestadas
pelo cliente, responde solidariamente por danos processuais e éticos no exercício
funcional, por pactuar com a falsa informação. (OAB/SP-TED; Proc E-4.477/2015;
Rel. Dr. Cláudio Felippe Zalaf; Julg. 19/03/2015)
p. 174/177)
repercussão geral a questão (RE 647.885/RS), situação que não alcançaria os fatos
apurados neste processo, em face do parcial provimento para exclusão da prorroga-
ção da sanção pelas anuidades já fulminadas pela prescrição. 3. Constitui infração
disciplinar deixar o advogado de pagar as contribuições devidas à OAB, depois de
regularmente notificado a fazê-lo, podendo a sanção disciplinar ser prorrogada até
a quitação integral, nos termos do art. 37, § 2º, do EAOAB. 4. Porém, essa prorro-
gação está limitada pela prescrição para a cobrança dos débitos de anuidades, que
segura o prazo do art. 206, § 5º, I, do CC, que determina o prazo de cinco anos para
a cobrança de dívidas fundadas em instrumentos público ou particular. 5. Recurso
parcialmente provido apenas para excluir da condenação a prorrogação da sanção
disciplinar imposta, uma vez que as anuidades objeto do processo disciplinar foram
alcançadas pela prescrição. (OAB/CF; Rec 49.0000.2014.009319-3; Rel. Cons. Fed. Dr.
César Augusto Moreno; DOU 10/12/2014; p. 174/177)
SETEMBRO
03/09/2015
04/09/2015
10/09/2015
11/09/2015
16/09/2015
17/09/2015
21/09/2015
22/09/2015
29/09/2015
30/09/2015
OUTUBRO
01/10/2015
02/10/2015
05/10/2015
06/10/2015
07/10/2015
09/10/2015
13/10/2015
14/10/2015
16/10/2015
19/10/2015
21/10/2015
22/10/2015
23/10/2015
26/10/2015
30/10/2015
LEGISLAÇÃO EM DESTAQUE
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
I – MATÉRIA CÍVEL
—A—
A CAUSA PETENDI DA AÇÃO RESCISÓRIA
— Artigo de Gisele Leite................................................................................................................. 72
A PETIÇÃO INICIAL NO NOVO CPC
— Artigo de Clovis Brasil Pereira.................................................................................................... 68
A VIOLÊNCIA SEXUAL DO GÊNERO É CAUSA DE INDIGNIDADE
— Artigo de Alinne de Souza Marques............................................................................................ 98
AÇÃO ANULATÓRIA
— Acordo. Partilha de bens. Coação moral evidenciada. Doação universal de todos os bens
pertencentes somente à cônjuge virago em favor da sua filha. Ato disposição isolado. Lesão
evidenciada. Ausência de garantia do mínimo patrimonial necessário a assegurar o primado
da dignidade da pessoa humana. Ofensa aos arts. 548 do CC e 1º, III, da CF. Nulidade. TJES
(Em. 77/22)................................................................................................................................ 294
— Ato jurídico. Sucessivos empréstimos tomados junto aos réus pela empresa autora. Transfe-
rência da propriedade de bens móveis e imóvel no decorrer dos anos. Alegação, deduzida em
sede de alegações finais, de que a transferência patrimonial consubstanciaria pacto comis-
sório. Art. 765 do CC/1916, com consentâneo no art. 1.428 do CC/02. Substrato probatório
absolutamente exíguo e inconclusivo a respeito. Coação tampouco indemonstrada. Alegada
quitação do débito indemonstrada. Divergência entre os valores informados pelas partes. TJSC
(Em. 77/23)................................................................................................................................ 295
— Casamento. Recusa em manter relações sexuais com o cônjuge. Sentença que homologou o
acordo celebrado entre as partes e decretou a anulação do casamento. Recurso do MP. Direito
indisponível que não admite transação. Nulidade do processo a partir do protocolo do acordo.
TJSC (Em. 77/42)....................................................................................................................... 305
— Débito fiscal. Isenção tributária. Cobrança indevida de ICMS sobre produtos isentos. Com-
provação. Necessidade de restringir apenas aos produtos hortifrutigranjeiros elencados no
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
anexo VII do D. 3.803/04. TJMT (Em. 77/85)............................................................................ 322
— Multa ambiental. Deposição irregular de resíduos. A área atingida foi devidamente delimitada
e o cálculo da multa obedeceu aos critérios legais. O recorrente era, à época dos fatos, o único
proprietário do imóvel. Aplicação do art. 1.245, § 1º, do CC. TJSP (Em. 77/19)...................... 293
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
— Bem não tombado. Prova do valor histórico. Dever de conservação pelo proprietário. No caso,
está devidamente comprovado que o Moinho Backhaus é relevante para o patrimônio histó-
rico da comunidade de Rolante, devendo os proprietários adotar as medidas de conservação
requeridas na ACP ajuizada pelo MP. TJRS (Em. 77/28)............................................................ 297
— Bem público. Doação. Encargo. Prescrição. Termo inicial. Contagem. Não ocorrência. Julga-
mento antecipado. Teoria da causa madura. Inaplicabilidade. Na doação com encargo em que
não há prazo estipulado para o seu cumprimento, o termo inicial para a contagem do prazo
prescricional surge com a lesão ao direito do doador. TJAC (Em. 77/25).................................. 296
— Dano ambiental. Reparação do dano. Cumulação com indenização. Impossibilidade no caso
concreto. Não sendo irrecuperáveis os danos, não há que se falar no pagamento de indenização.
TJRS (Em. 77/26)........................................................................................................................ 296
— Guarujá. Serra do Guararu. Loteamento Taguaíba. Cancelamento da autorização para desmate
e construção. Ato administrativo. Nulidade. Autotutela. Os agentes constataram intervenções
em APP (proximidade a curso d’água e declividade acentuada), bem como canalização de
córrego sem autorização do DAEE. Ausente a prova pericial, único meio para desconstituir
os motivos que levaram à anulação dos atos administrativos, não há como afastar a decisão
administrativa. TJSP (Em. 77/18)............................................................................................... 293
— Jogos de azar. Bingos, caça-níqueis e afins. Súmula Vinculante 2/STF. Vedação pela Lei 9.981/00.
Inexistência, por ora, de legislação que autorize a atividade. Indenização por dano moral
coletivo. Cabimento. O dano moral coletivo prescinde da comprovação de dor, de sofrimento
644 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
e de abalo psicológico, pois tal comprovação, embora possível na esfera individual, torna-se
inaplicável quando se cuida de interesses difusos e coletivos. STJ (Em. 77/27)........................ 296
— Matadouro público. Condições precárias. Risco de dano ambiental à saúde e à vida da popu-
lação circunvizinha. Realização de obras necessárias. Multa diária. Desproporcionalidade no
valor fixado de R$ 10.000,00 (dez mil reais), limitado ao valor de R$ 200.000,00 (duzentos
mil reais). Reduzo de ofício a multa diária ao valor de R$ 1.000,00 (mil reais), limitado ao
valor de R$ 30.000,00, eis que os valores apresentam-se elevados. Responsabilização pessoal
do agente público. Impossibilidade. TJSE (Em. 77/34).............................................................. 300
— Obras de infraestrutura em loteamento. Liminar que determina a adoção de medidas para
cessar o risco de desabamento em área de risco. Recurso que tenta afastar a responsabilidade
do Município de Manaus. Art. 30, VIII, da CF/88. Impossibilidade. Hipótese de responsabili-
dade solidária dos entes públicos municipal e estadual. Liminar que deve ser mantida. Multa
diária ao ente municipal por descumprimento da decisão. Possibilidade. TJAM (Em. 77/29).. 297
— Obrigação de fazer. Fornecimento de água potável. Convênio entre Funasa e Município.
Descumprimento do prazo. Serviço essencial. Violação aos princípios constitucionais da
eficiência da Administração Pública e da dignidade da pessoa humana. A política nacional
de saneamento básico deve se amoldar às garantias constitucionais, por isso não se identifica
que o julgamento de procedência da ACP, com o fim de garantir o abastecimento de água
potável à população, contrarie a Lei 11.445/07 (art. 2º, I, II e XII, e caput do art. 19). TJAP
(Em. 77/30)................................................................................................................................ 298
— Parcelamento do solo urbano. Regularização de loteamento privado. Responsabilidade
subsidiária do município. Art. 40 da Lei 6.766/79. Procedimento facultativo. É facultativo o
procedimento previsto no art. 40 da Lei 6.766/79, o qual possibilita ao município o ressarci-
mento dos custos financeiros pela realização de obras de infraestrutura em loteamento privado
irregular, quando o loteador não as realiza. É subsidiária a responsabilidade do ente municipal
pelas obras de infraestrutura necessárias à regularização de loteamento privado, quando ainda
é possível cobrar do loteador o cumprimento de suas obrigações. STJ (Em. 77/31)................. 298
— Parque da cidade. Irregularidade na exploração de espaços públicos. A omissão do Distrito
Federal quanto à exploração de área pública por particular justifica a sua condenação em
obrigação de fazer para a adoção de medidas necessárias à regularização do uso. TJDF (Em.
77/32)......................................................................................................................................... 299
— Patrimônio histórico nacional. Tombamento. Lei 11.483/07. Bem da extinta RFFSA. Estação
ferroviária. Controle judicial sobre decisões administrativas. O reconhecimento do valor
artístico, histórico e cultural para o tombamento de determinado bem na esfera estadual
não conduz, necessariamente, a idêntico posicionamento no âmbito federal. Inexistindo
tombamento pelo IPHAN, é inviável a condenação da União Federal e dos demais apelados
à elaboração e à execução de projeto de recuperação do imóvel, a ser submetido à aprovação
da referida autarquia. TRF 2ª R. (Em. 77/33)............................................................................. 299
— Poluição ambiental. Vazamento de óleo de embarcação. Agente marítimo. Legitimidade ad
causam passiva. Tutela antecipatória. Cumprimento. Perda intercorrente de interesse proces-
sual. Inocorrência. Demora na contenção. Responsabilidade objetiva. Procedência. TJRJ (Em.
77/38)......................................................................................................................................... 302
— Poluição sonora. Ministério Público. Legitimidade reconhecida. Dano moral coletivo. Redução
da indenização. STJ (Em. 77/39)................................................................................................ 303
— Proteção de faixa marginal de curso d’água, na qualidade de área de preservação permanen-
te. Decisão interlocutória que deferiu parcialmente as medidas de urgência postuladas pelo
Parquet. Característica própria dos cursos d’água intermitentes, cujas margens são APP. Art.
4º, I, da Lei 12.651/2012. Ausência, ademais, de licenças ambientais. Incidência dos princí-
pios da prevenção e da precaução. Prevalência da proteção ambiental no caso de incerteza
técnica. Paralisação das obras. Medida necessária à conservação do aventado curso d’água e
sua respectiva APP. Publicidade à demanda por meio de averbação na matrícula do imóvel e
colocação de placa indicativa no local. Suficiência da averbação. TJSC (Em. 77/40)................ 304
— Queima da palha da cana-de-açúcar. Pretendida condenação das corrés à obrigação de não fazer
consistente na abstenção da prática de queima da palha da cana-de-açúcar. Impossibilidade.
Prática que não é ilícita quando autorizada pelos órgãos ambientais competentes. Pretendida
condenação ao pagamento de indenização pelos danos ambientais decorrentes da queima.
Impossibilidade. Ausência de demonstração do efetivo dano, apto a dar ensejo à indenização.
TJSP (Em. 77/35)........................................................................................................................ 300
— Tombamento. Conjunto arquitetônico e paisagístico no Município de Santa Cruz Cabrália/
BA. Construção irregular. Pavimento superior. Descaracterização após o tombamento. Con-
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 645
figuração. Laudos técnicos. Poder Público. Ora, se o Poder Público, diante das circunstâncias
concretas da lide, não pudesse adotar as medidas consignadas na sentença recorrida, tal
omissão esvaziaria a eficácia do mencionado dispositivo constitucional e deixaria um flanco
aberto para toda sorte de vulneração ao postulado fundamental de preservação do patrimônio
histórico e cultural do país. TRF 1ª R. (Em. 77/36)................................................................... 301
— Uso excessivo e imotivado de força policial. Comunidades quilombolas e segmentos da so-
ciedade civil. Dano moral coletivo. Cabimento. Responsabilidade civil objetiva do Estado de
Minas Gerais. Na hipótese dos autos, comprovados o nexo de causalidade e o evento danoso,
resultante do uso injustificado de força policial excessiva, por parte de agentes públicos do
EMG, mediante a realização de prisão ilegal, o uso indevido de algemas e a exposição de
membros de comunidades quilombolas à execração pública, com o intuito de intimidar e de
inibir, à margem da lei, a sua atuação, na defesa do exercício do seu direito à posse de terras,
resta caracterizado o dano moral coletivo, do que resulta o dever de indenizar, nos termos do
referido dispositivo constitucional. TRF 1ª R. (Em. 77/37)....................................................... 301
AÇÃO DE COBRANÇA
— Acórdão do STJ – Serviços advocatícios prestados de forma individualizada ao HSBC e ao Ba-
merindus. Solidariedade. Impossibilidade. Não ocorrência de sucessão universal. Necessidade
de delimitação da responsabilidade de cada uma das partes demandadas................................. 189
— ECAD. Direitos autorais. Indenização pela realização de eventos musicais. Comprovação pelo
autor. Fatos impeditivos. Ônus da prova do réu. Litigância de má-fé. Ausência. TJDF (Em.
77/44)......................................................................................................................................... 306
— Hospital em face dos consumidores. Material usado em procedimento que não foi reembolsado
pelo plano de saúde. Inadimplência confessada. Responsabilidade civil configurada. A denun-
ciação da lide deve, até pela aplicação do princípio da celeridade, impor ao réu denunciado
o dever de efetuar o pagamento diretamente aos réus da ação principal, como solidário. TJRJ
(Em. 77/46)................................................................................................................................ 307
— Incorporação imobiliária. Averbação relativa a negócio jurídico que envolve o empreendimento.
Custas e emolumentos. Ato de registro único. Aplicação do art. 237-A, § 1º, da LRP. TJDF
(Em. 77/45)................................................................................................................................ 306
— Prestação de serviços. Contrato verbal. Ausência de prova impeditiva/modificativa do direito
da reclamada. Trata-se no caso de contrato informal de prestação de serviços de empreitada,
inexistindo vínculo empregatício ou de subordinação. TJAC (Em. 77/155).............................. 349
— Seguro de vida. Cobertura para morte por acidente. Segurado que faleceu por queda do avião
que pilotava. Contrato de adesão. Aplicação do CDC que não impede a aplicação de cláusulas
limitativas de direito. Dever de serem redigidas de forma expressa e clara. Prévia cientificação
do consumidor comprovada. TJPR (Em. 77/47)........................................................................ 307
— Seguro de vida. Prestamista. Falecimento da consorciada. Ilegitimidade ativa dos herdeiros.
Não se trata de seguro de vida, mas de proteção financeira (prestamista), que tem por objetivo
garantir a quitação de uma dívida do segurado, no caso de sua morte ou invalidez ou até mesmo
desemprego involuntário. O primeiro beneficiário deste tipo de seguro, até o limite da dívida,
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
será sempre a estipulante, ou seja, a administradora do consórcio. TJMG (Em. 77/175).......... 357
— Seguro de vida em grupo. Empregadora mandatária. Seguro facultativo. Prescrição ânua. A
ação de cobrança da seguradora contra a empregadora-estipulante relativa a prêmios não pagos
de seguro de vida em grupo sujeita-se ao prazo prescricional de um ano. STJ (Em. 77/176).... 357
AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO
— Mútuo imobiliário. Hipótese que, em princípio, era desnecessária a propositura da cautelar
para consignar prestações vencidas no curso da lide principal a fim de afastar a mora. Hipó-
tese, ademais, em que demonstrada a recusa injustificada pelo credor. Pedido consignatório
procedente com a liberação da devedora das prestações do financiamento depositadas nos
autos. TJSP (Em. 77/48)............................................................................................................. 307
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INDIGNIDADE
— Demanda movida em face dos herdeiros de suposto autor de homicídio contra o irmão da
autora, que era seu pai adotivo. Suposto indigno que também já faleceu. Impossibilidade de
extensão dos efeitos da dignidade aos sucessores deste. Exclusão pretendida que tem caráter
pessoal. Inteligência do art. 1.816 do CC (art. 1.599 do CC/1916). TJSP (Em. 77/177)........... 357
AÇÃO MONITÓRIA
— Duplicata prescrita. Prazo prescricional de cinco anos, contados do vencimento da obrigação.
Art. 206, § 5º, I, do CC. STJ (Em. 77/71)................................................................................... 317
646 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
— Entrega de mercadoria. Ausência de liquidez. Nota fiscal sem assinatura do adquirente. Do-
cumento unilateral. Inadmissibilidade. TJAP (Em. 77/151)...................................................... 348
— Juntada de documento com a apelação. Possibilidade. Art. 397 do CPC. É possível a juntada
a posteriori de documentos com a apelação, desde que tais documentos sejam acerca de fatos
já alegados ou para contrapor-se a outros fatos que foram produzidos nos autos, nos termos
do art. 397 do CPC. STJ (Em. 77/72)......................................................................................... 317
AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE
— Vide Negatória de Paternidade.
AÇÃO POPULAR
— Condições da ação. Ajuizamento para combater ato lesivo à moralidade administrativa. Pos-
sibilidade. Reafirmação de jurisprudência. Repercussão geral reconhecida. STF (Em. 77/74).. 318
AÇÃO RESCISÓRIA
— Artigo de Gisele Leite: “A Causa Petendi da Ação Rescisória”.................................................... 72
— Falência ajuizada sob a vigência do DL 7.661/45. Sentença que decretou a falência com
base na nova Lei de Falências e recuperação judicial. Lei 11.101/05. Desobediência ao art.
192 da Lei 11.101/05. Violação à literal disposição de Lei. Art. 485, V, do CPC. Ausência de
documentos necessários à propositura da ação falimentar, ex vi do art. 15 da Lei 5.474/68 e
da Súmula 361/STJ. Interpretação e incidência dos princípios do devido processo legal, do
contraditório e da ampla defesa – CF, art. 5º, LIV e LV – e da regra insculpida no art. 284 do
CPC. Rescisória julgada procedente, em parte. Devolução do valor do depósito previsto no
art. 488, II, do CPC. TJAL (Em. 77/75)...................................................................................... 318
— Sentença meramente homologatória. Divergência doutrinária. Existência de duas correntes.
Filio-me ao primeiro entendimento, de que não cabe rescindendo na sentença meramente
homologatória. Em ressunta, a sentença que se pretende rescindir é meramente homologatória
do acordo celebrado entre as partes, sem análise do mérito de direito material controvertido.
Cabível a anulação do ato realizado entre as partes (art. 486 do CPC), não a propositura de
AR (art. 485 e seus incisos), se o vício alegado se refere ao acordo, não à sentença. TJCE (Em.
77/80)......................................................................................................................................... 320
AÇÃO REVISIONAL
— Alimentos. Maioridade do alimentando. Isonomia na obrigação alimentar. Art. 227, § 6º, da
CF. No caso concreto, embora não se vislumbre o suposto empobrecimento e a incapacidade
financeira do apelante em continuar pagando a obrigação alimentar no importe a um salário
mínimo e meio, a incontroversa nos autos corroborada por documentos, de que o alimentante
paga quantia equivalente a um salário mínimo para outro filho dele, também maior de idade,
e, em situação semelhante do apelado, autoriza a revisão dos alimentos para adequar-se os
valores pagos, para que não se venha a alegar ofensa ao primado constitucional da isonomia
dos alimentos aos filhos. TJAP (Em. 77/174)............................................................................. 357
— Cédula de crédito bancário. Financiamento de veículo. Incidência do CDC. Revisão que é
possível em face da onerosidade excessiva. Arts. 6º, IV e V, e 51, IV, ambos do CDC. “Registro de
contrato”. Cobrança desta despesa que nunca foi vedada. “Serviços de terceiros”. Encargo que,
apesar de pactuado, não está devidamente especificado, desconhecendo-se quais os serviços
prestados ao mutuário. Ilegalidade da cobrança. Nova orientação da Câmara. Repetição do
indébito. Direito assegurado, na forma simples, para o fim de evitar o enriquecimento ilícito
e que independe da prova do erro no pagamento. TJSC (Em. 77/64)........................................ 315
— Contrato bancário. Cheque especial. Aplicabilidade CDC. Juros. Taxa média. Capitalização
mensal. Possibilidade. Sob a égide do CDC, adequar-se-á o princípio pacta sunt servanda,
tornando-o relativo, em face da à função social do contrato e da boa-fé das partes, proporcio-
nando a defesa do consumidor em caso de pactos abusivos, sem que isso enseje insegurança
jurídica. TJMG (Em. 77/173)..................................................................................................... 356
— Contrato bancário. Comissão de permanência. Tarifa de avaliação do bem. Tarifa de serviço
de terceiros. Tarifa de registro de contrato. É possível a cobrança de comissão de permanência,
desde que limitada à soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato,
não podendo sua cobrança ser cumulada com correção monetária, juros remuneratórios e
moratórios e multa contratual. As tarifas de avaliação de bem, de serviços de terceiros e de
registro de contrato figuram-se abusivas, por se tratarem de serviços de exclusivo interesse
da instituição financeira. TJMG (Em. 77/77)............................................................................. 319
— Cooperativa de crédito. Aplicação do CDC. Tarifa de adiantamento de depositante. Repetição
e/ou compensação de indébito. No caso, não há demonstração de contratação explícita entre
as partes, o que afasta a cobrança da tarifa. Compensação. Repetição. TJRS (Em. 77/76)......... 318
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 647
que determina o prazo de cinco anos para a cobrança de dívidas fundadas em instrumentos
público ou particular. OAB/CF (Em. 77/314)............................................................................. 625
— Incompatibilidade e impedimento. Advogados conciliadores e mediadores nos centros judi-
ciários de solução de conflitos e cidadania. Inexistência da primeira e existência da segunda.
Impedimento para atuar como advogado para as partes que atendeu como mediador e con-
ciliador e na vara com a qual colaborou naquela condição, sob pena de configurar captação
de clientela e concorrência desleal. Necessidade de sujeição à cláusula de confidencialidade.
OAB/SP-TED (Em. 77/306)........................................................................................................ 623
— Inviolabilidade do escritório. Recebimento de correspondência de entidade sem fins lucrativos.
Vedação. Exercício de funções independentes por advogado. Endereço profissional. OAB/
SP-TED (Em. 77/310)................................................................................................................. 624
— Pedido revisional. A competência para o julgamento da pretensão revisional é do Conselho
Federal da OAB, quando a decisão de mérito for de sua lavra ou decorrente de processos
disciplinares de sua competência originária. Não conhecimento da pretensão. OAB/CF (Em.
77/312)....................................................................................................................................... 625
— Processo ético disciplinar. Prescrição quinquenal. Inocorrência. Causas interruptivas. A
prescrição está regulada no art. 43, § 2º, I, da Lei 8.906/94 e tem como causas interruptivas a
instauração de processo disciplinar ou pela notificação válida feita diretamente ao represen-
tado. Não tendo ocorrido lapso temporal superior a cinco anos entre a notificação válida e a
decisão condenatória pelo TED, não há que se acolher a perda da pretensão punitiva. OAB/
CF (Em. 77/313)......................................................................................................................... 625
— Sigilo profissional. Testemunho em inquérito policial envolvendo cliente. Invocação de sigilo
profissional. O advogado pode recusar-se a depor em inquérito policial ou processo relacio-
nado com cliente ou ex-cliente. Somente poderá quebrar o sigilo em situações excepcionais,
sempre restritas ao interesse da causa. OAB/SP-TED (Em. 77/315)........................................... 626
AGÊNCIA DE TURISMO
— Dano moral e material. Falha na prestação de serviço. Não configurado. É de responsabili-
dade exclusiva da autoridade consular a concessão ou não do visto solicitado. O serviço ora
contratado constitui-se na assessoria à obtenção do visto, sendo considerado efetivamente
prestado independente do resultado final. TJES (Em. 77/106).................................................. 330
AGRAVO
— Art. 544 do CPC. Aplicação da sistemática da repercussão geral pelo Tribunal de origem (art.
543-B do CPC). Interposição do agravo previsto no art. 544 do CPC. Não cabimento. Prin-
cípio da fungibilidade recursal. Devolução dos autos ao Tribunal de origem para julgamento
do recurso como agravo interno. Cabimento somente para os recursos interpostos antes de
19.11.09. Configuração de erro grosseiro. STF (Em. 77/86)...................................................... 323
ÁGUA POTÁVEL
— Fornecimento. Ação civil pública. Obrigação de fazer. Convênio entre Funasa e Município.
Descumprimento do prazo. Serviço essencial. Violação aos princípios constitucionais da
eficiência da Administração Pública e da dignidade da pessoa humana. A política nacional
de saneamento básico deve se amoldar às garantias constitucionais, por isso não se identifica
que o julgamento de procedência da ACP, com o fim de garantir o abastecimento de água
potável à população, contrarie a Lei 11.445/07 (art. 2º, I, II e XII, e caput do art. 19). TJAP
(Em. 77/30)................................................................................................................................ 298
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
— Acórdão do TJSC – Conversão do procedimento. Busca e apreensão convertida em depósito.
Localização do veículo. É plenamente possível o cumprimento da liminar se o bem é localizado
após a conversão. Inteligência do art. 905 do CPC.................................................................... 284
— Busca e apreensão. Deferida liminarmente. Purgação da mora. Inocorrência. Mora contratual
configurada. Devolução das parcelas pagas. Inadmissibilidade. Devedor tem direito somente
ao crédito remanescente da venda do bem pelo credor. TJSP (Em. 77/43)................................ 306
ALIMENTOS
— Ação revisional. Maioridade do alimentando. Isonomia na obrigação alimentar. Art. 227, § 6º,
da CF. No caso concreto, embora não se vislumbre o suposto empobrecimento e a incapacidade
financeira do apelante em continuar pagando a obrigação alimentar no importe a um salário
mínimo e meio, a incontroversa nos autos corroborada por documentos de que o alimentante
paga quantia equivalente a um salário mínimo para outro filho dele, também maior de idade,
e, em situação semelhante do apelado, autoriza a revisão dos alimentos para adequar-se os
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 649
valores pagos, para que não se venha a alegar ofensa ao primado constitucional da isonomia
dos alimentos aos filhos. TJAP (Em. 77/174)............................................................................. 357
— Avós. Fixação. Cabimento. Valor reduzido. Marco final da obrigação alimentar. Descabimen-
to. A obrigação alimentar avoenga é “subsidiária” ou “complementar”. Hipótese em que vai
mantida a obrigação da avó prestar alimentos à neta. Tratando-se de alimentando maior de
idade e recém formado, não se justifica a manutenção da obrigação alimentar, sem qualquer
termo final, como requerido pela alimentanda. TJRS (Em. 77/82)............................................ 321
— Cônjuges sob o mesmo teto. Alimentos para ex-cônjuges. Requisitos. Não preenchimento.
Cônjuges que permanecem com o vínculo marital e convivem de forma harmoniosa sob o
mesmo teto, com regular prestação do dever de assistência e sustento, não fazem jus à per-
cepção de alimentos. TJDF (Em. 77/79)..................................................................................... 319
— Divórcio. Decisão liminar que indeferiu a fixação de alimentos provisórios. Pedido de an-
tecipação dos efeitos da tutela formulado em impugnação à contestação. Requerimento de
divisão antecipada dos lucros mensais. Divisão de lucros mensais albergada pelo instituto dos
alimentos compensatórios. Distinção entre alimentos decorrentes da relação familiar. Lucros
da empresa que se confundem com os lucros dos sócios. Impossibilidade de divisão de lucros
da maneira pretendida pela agravante. Alimentos compensatórios fixados em R$ 4.000,00.
TJPR (Em. 77/51)....................................................................................................................... 308
— Execução. Penhora. Valores depositados na conta da empresa. Aplicação da disregard doctrine.
Pagamentos in natura. Compensação. Descabimento. Se o devedor possui bens passíveis de
garantir a execução, descabe a aplicação do disposto no art. 50 do CC, não se cogitando de
confusão patrimonial ou desvio de finalidade. TJRS (Em. 77/123)............................................ 336
— Execução. Prisão civil. Devedor de alimentos. Choque de direitos fundamentais. Liberdade
x direito a alimentos. Aparente antinomia. Solução à luz da ponderação de interesses e do
princípio da proporcionalidade. Prisão como medida adequada e necessária, mas, no entanto,
desproporcional. Malefícios superam benefícios. Possibilidade de causar perda do emprego
do paciente. Liberdade como instrumento garantidor do direito de alimentos dos filhos do
impetrante. Ordem concedida. Liminar confirmada. TJAM (Em. 77/136)................................ 341
— Execução. Prisão civil. Pagamento parcial. Irrelevância. Restabelecimento do mandado de
prisão. O adimplemento parcial da dívida não é capaz de elidir a prisão civil do devedor de
alimentos. Liminar revogada. TJAC (Em. 77/124)..................................................................... 337
— Filha menor. Pleito de redução do percentual fixado. No caso, analisada a prova documental
apresentada nos autos, sobretudo os contracheques do apelante, suas despesas e as da me-
nor, tenho que restou demonstrada a impossibilidade de arcar com o valor dos alimentos no
percentual estipulado pelo sentenciante (30%), impondo-se a redução dos alimentos para o
equivalente a 20% de seus rendimentos, o que considero mais condizente com a sua possibi-
lidade e com as despesas regulares da menor demonstradas nos autos. TJSE (Em. 77/83)....... 322
ALIMENTOS GRAVÍDICOS
— Manutenção dos avós paternos no polo passivo da demanda. Manutenção do valor arbitrado
pela magistrada de origem. Valor que reflete as necessidades decorrentes da gravidez e a
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
possibilidade dos genitores. O suposto pai da criança se licenciou do cargo de auditor fiscal
estadual que ocupava, sem percepção de vencimentos, passando a residir nos Estados Unidos,
onde conta com a ajuda financeira de seus pais, que também residem no exterior. Embora a
agravada exerça atividade remunerada, atuando como bancária, os alimentos gravídicos devem
ser suportados não só por um genitor, mas, sim, por ambos, na proporção de seus recursos.
TJES (Em. 77/41)........................................................................................................................ 305
ALIMENTOS PROVISÓRIOS
— Investigação de paternidade cumulada com pedido de alimentos e anulação do registro de
nascimento. Adequação ao trinômio necessidade, possibilidade, razoabilidade. Majoração
devida. Comprovada a privilegiada situação financeira do prestador, bem como a necessidade
presumida da criança e a ausência de estrutura econômica da mãe, merecem ser majorados os
alimentos estabelecidos na decisão proferida pelo julgador singular, evidenciado que aquele
valor é insuficiente à manutenção das despesas mensais ordinárias da menor. TJGO (Em.
77/57)......................................................................................................................................... 312
ALINNE DE SOUZA MARQUES
— Artigo: “A Violência Sexual do Gênero É Causa de Indignidade”.............................................. 98
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
— Educação de Jovens e Adultos – EJA. Aluno cursando o módulo II do ensino médio. Aprova-
ção em vestibular. Ausência de frequência mínima. Não se reconhece o direito do aluno em
650 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
ser submetido à avaliação escolar que lhe permita avançar em nível educacional, quando ele,
matriculado no módulo II, equivalente ao segundo ano do ensino médio da modalidade de
ensino a distância, para a Educação de Jovens e Adultos – EJA, não comprovar o prazo mínimo
de frequência no ensino médio, essencial para a pretensão vindicada. TJDF (Em. 77/179)...... 358
APELAÇÃO
— Juntada de documento com a apelação. Possibilidade. Art. 397 do CPC. É possível a juntada
a posteriori de documentos com a apelação, desde que tais documentos sejam acerca de fatos
já alegados ou para contrapor-se a outros fatos que foram produzidos nos autos, nos termos
do art. 397 do CPC. STJ (Em. 77/72)......................................................................................... 317
— Recebida em seu duplo efeito. Impossibilidade de execução provisória. Art. 521 do CPC.
Necessidade de extinção do procedimento executório e liberação dos valores bloqueados. Em
razão do efeito suspensivo atribuído ao apelo, nenhum ato de constrição pode ser efetuado
antes do julgamento, de forma que deve haver a suspensão do procedimento de execução
provisória. TJAL (Em. 77/70)..................................................................................................... 316
APREENSÃO DE VEÍCULO CICLOMOTOR
— Registro e licenciamento. Competência municipal. Ausência de regulamentação da matéria.
Condução sem habilitação ou autorização. Diárias de depósito limitadas a 30 dias. Apreendido
veículo ciclomotor em razão de condução sem habilitação, em conformidade com o disposto
no art. 162, I, do CTB, cabível a exigência de pagamento de despesas de remoção e diárias de
depósito, estas limitadas em 30 dias. TJRS (Em. 77/148)........................................................... 347
AQUISIÇÃO DE VEÍCULO
— Acórdão do TRF 5ª R. – Portador de deficiência física. IPI. Isenção. Lei 8.989/95, art. 1º, IV,
§ 1º. Possibilidade....................................................................................................................... 272
ARROLAMENTO DE BENS
— União estável post mortem. Decisão que determinou a inclusão da agravada como herdeira
para lhe atribuir o equivalente a 2/3 da herança, caso comprovada a condição de irmã do
de cujus. Insurgência da agravante, companheira do de cujus. Tendo o de cujus deixado uma
irmã, cabe à agravante apenas 1/3 da herança, além do direito à meação sobre o imóvel, como
corretamente decidiu a decisão agravada. TJSP (Em. 77/88)..................................................... 323
ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA
— Acórdão do TJSP – Cumprimento de sentença. Alienação, pelo executado, de bens imóveis
aos filhos após o trânsito em julgado do acórdão que confirmou a sentença condenatória,
reduzindo-o à insolvência. Fraude à execução caracterizada. Imposição de multa por ato
atentatório à dignidade da justiça que atende ao preceito expresso e objetivo do art. 600, I, do
CPC. Penalidade mantida em 20% do valor atualizado do débito, dada a gravidade da conduta
do executado............................................................................................................................... 287
AVAL
— Cédula de crédito rural. A interpretação sistemática do art. 60 do DL 167/67 permite inferir
que o significado da expressão “também são nulas outras garantias, reais ou pessoais”, disposta
no seu § 3º, refere-se diretamente ao § 2º, ou seja, não se dirige às cédulas de crédito rural,
mas apenas às notas e duplicatas rurais. STJ (Em. 77/302)........................................................ 621
— Cédula de crédito rural emitida por pessoa física. Garantia de aval prestada por terceiro. Art.
60, § 3º, do DL 167/67. Validade. Entendimento firmado no julgamento do REsp 1.483.853/
MS. Vedar a possibilidade de oferecimento de crédito rural direto mediante a constituição de
garantia de natureza pessoal (aval) significa obstruir o acesso a ele pelo pequeno produtor
ou só o permitir em linhas de crédito menos vantajosas. STJ (Em. 77/303).............................. 621
— Nulidade. É nulo o aval prestado por terceiro, pessoa física, em cédula de crédito rural emitida
também por pessoa física, nos termos do disposto no art. 60, § 3º, do DL 167/67. TJMS (Em.
77/300)....................................................................................................................................... 621
— Nulidade. É nulo o aval prestado por terceiro, pessoa física, em cédula de crédito rural emitida
também por pessoa física, nos termos do disposto no art. 60, § 3º, do DL 167/67. TJPR (Em.
77/301)....................................................................................................................................... 621
— Nulidade. Outorga uxória. Ausência. Ato anulável. Execução extinta. Preceitua o CC, art. 1.647,
III, que, “ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do
outro, exceto no regime da separação absoluta, prestar fiança ou aval”. TJMG (Em. 77/91).... 325
AVALIAÇÃO JUDICIAL DA “REPRESENTAÇÃO ADEQUADA” DAS ENTIDADES
LEGITIMADAS PARA AS AÇÕES COLETIVAS NO BRASIL – ESTUDO DO CASO
JULGADO PELO STJ NO RESP 1.213.614/RJ
— Artigo de Demócrito Reinaldo Filho........................................................................................... 11
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 651
AVÓS
— Alimentos. Fixação. Cabimento. Valor reduzido. Marco final da obrigação alimentar. Desca-
bimento. A obrigação alimentar avoenga é “subsidiária” ou “complementar”. Hipótese em
que vai mantida a obrigação de a avó prestar alimentos à neta. Tratando-se de alimentando
maior de idade e recém formado, não se justifica a manutenção da obrigação alimentar, sem
qualquer termo final, como requerido pela alimentanda. TJRS (Em. 77/82)............................. 321
— Alimentos gravídicos. Manutenção dos avós paternos no polo passivo da demanda. Manutenção
do valor arbitrado pela magistrada de origem. Valor que reflete as necessidades decorrentes
da gravidez e a possibilidade dos genitores. O suposto pai da criança se licenciou do cargo
de auditor fiscal estadual que ocupava, sem percepção de vencimentos, passando a residir
nos Estados Unidos, onde conta com a ajuda financeira de seus pais, que também residem
no exterior. Embora a agravada exerça atividade remunerada, atuando como bancária, os
alimentos gravídicos devem ser suportados não só por um genitor, mas, sim, por ambos, na
proporção de seus recursos. TJES (Em. 77/41).......................................................................... 305
—B—
BEM DE FAMÍLIA
— Penhora. Embargos. Imóvel rural. Lei 8.009/90. Impenhorabilidade reconhecida na senten-
ça, com exceção da área sem construções, benfeitorias e plantações. Imóvel que possui área
correspondente à pequena propriedade rural, conforme a conceituação que é dada pela Lei
8.629/93. Módulo fiscal estabelecido pela Instrução Especial/INCRA 20, de 28.05.80. Des-
membramento que se mostra inviável, pois resultaria em área inferior ao módulo fiscal do
município. Impenhorabilidade que deve abranger a área total do imóvel. TJSC (Em. 77/118). 334
BEM PÚBLICO
— Ação de desobstrução de logradouro público. Art. 435 do CPC. Comparecimento do perito
em audiência. Prescindibilidade no caso. Nulidade de sentença. Não ocorrência. Quesitos
respondidos. Ausência de prejuízo. STJ (Em. 77/49)................................................................. 308
— Doação com encargo. Finalidade da doação alcançada. Comprovação de atividades religiosas.
Cumprimento do encargo. Vale ressaltar que não foi imposta como condição a utilização
integral do terreno doado, mas apenas a construção do templo religioso no prazo legal e o
exercício da atividade religiosa, motivo pelo qual não há motivo para a revogação da doação.
TJPR (Em. 77/147)..................................................................................................................... 347
— Doação com encargo. Prescrição. Termo inicial. Contagem. Não ocorrência. Julgamento anteci-
pado. Teoria da causa madura. Inaplicabilidade. Na doação com encargo em que não há prazo
estipulado para o seu cumprimento, o termo inicial para a contagem do prazo prescricional
surge com a lesão ao direito do doador. TJAC (Em. 77/25)....................................................... 296
— Parque da cidade. Irregularidade na exploração de espaços públicos. A omissão do Distrito
Federal quanto à exploração de área pública por particular justifica a sua condenação em
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
obrigação de fazer para a adoção de medidas necessárias à regularização do uso. TJDF (Em.
77/32)......................................................................................................................................... 299
BINGOS, CAÇA-NÍQUEIS E AFINS
— Ação civil pública. Jogos de azar. Súmula Vinculante 2/STF. Vedação pela Lei 9.981/00. Inexis-
tência, por ora, de legislação que autorize a atividade. Indenização por dano moral coletivo.
Cabimento. O dano moral coletivo prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo
psicológico, pois tal comprovação, embora possível na esfera individual, torna-se inaplicável
quando se cuida de interesses difusos e coletivos. STJ (Em. 77/27).......................................... 296
BRENDA BANDOLI VIEIRA, HELBER CAMPOS DE OLIVEIRA, CARLOS HENRIQUE
MEDEIROS DE SOUZA E MARGARETH VETIS ZAGANELLI
— Artigo: “Útero Sub-Rogado nas Uniões Homoafetivas”.............................................................. 114
—C—
CABIMENTO DE AÇÕES COLETIVAS PARA A ALTERAÇÃO DE NOMES DE
LOGRADOUROS PÚBLICOS QUE HOMENAGEIAM REPRESENTANTES DA DITADURA
MILITAR
— Artigo de Acir de Matos Gomes e Fábio Cantizani Gomes........................................................ 138
652 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
CADASTRO DE INADIMPLENTES
— Existência de múltiplas inscrições. Autonomia das anotações. Prazo máximo de manutenção.
Possibilidade de postular o cancelamento individual. Existência de interesse de agir. STJ (Em.
77/92)......................................................................................................................................... 325
— Inscrição. Banco. Dano moral. Contrato bancário não reconhecido. Não demonstrada con-
tração por parte do autor. Inscrição imerecida em órgãos de restrições creditórias. TJBA (Em.
77/167)....................................................................................................................................... 355
— Inscrição. Banco. Dano moral. Utilização de documentos pessoais legítimos da autora, por
terceira pessoa, sem o seu consentimento e presença, com a finalidade da contratação de
empréstimo para o financiamento de veículo. Falta de prova da vinculação da autora ao con-
trato inadimplido e que gerou restrição cadastral ao seu nome. Omissão da casa bancária na
apresentação do contrato celebrado e dos documentos pessoais utilizados no ato da celebração
do ajuste. Negligência da instituição financeira evidenciada. Culpa concorrente da autora
evidenciada pelo fato de ter entregue seus documentos pessoais a sua prima, ainda que com
finalidade diversa, que não tem o condão de afastar a responsabilidade do banco, conquanto
sirva de critério delimitador do arbitramento da cifra indenizatória. TJSP (Em. 77/168)......... 355
— Inscrição. Cessão de crédito. Falta de notificação do devedor. Art. 290 do CC/02. Efeitos.
Inscrição do nome do devedor, “cedido”, em cadastros de proteção ao crédito. Ausência de
impedimento. STJ (Em. 77/68)................................................................................................... 316
— Inscrição. Dano moral. Desnecessidade de prova do prejuízo ou dano. Basta mera comprova-
ção do ato ou conduta ilícita. Inscrição indevida em cadastro de proteção ao crédito. Abalo à
imagem e ao crédito frente ao comércio em geral. Imposição creditícia. TJDF (Em. 77/103)... 329
— Inscrição. Nos casos de inscrição indevida em cadastros de proteção ao crédito, o dano moral
se configura in re ipsa, derivado inexoravelmente do fato danoso. TJSP (Em. 77/169)............. 355
CANA-DE-AÇÚCAR
— Queima da palha. Ação civil pública. Pretendida condenação das corrés à obrigação de não fazer
consistente na abstenção da prática de queima da palha da cana-de-açúcar. Impossibilidade.
Prática que não é ilícita quando autorizada pelos órgãos ambientais competentes. Pretendida
condenação ao pagamento de indenização pelos danos ambientais decorrentes da queima.
Impossibilidade. Ausência de demonstração do efetivo dano, apto a dar ensejo à indenização.
TJSP (Em. 77/35)........................................................................................................................ 300
CARTÃO DE CRÉDITO
— Recebíveis. Administradoras de cartões de crédito e débito. Faturamento. Caracterização.
Penhora. Possibilidade. TJDF (Em. 77/131)............................................................................... 339
CASAMENTO
— Ação anulatória. Recusa em manter relações sexuais com o cônjuge. Sentença que homolo-
gou o acordo celebrado entre as partes e decretou a anulação do casamento. Recurso do MP.
Direito indisponível que não admite transação. Nulidade do processo a partir do protocolo
do acordo. TJSC (Em. 77/42)..................................................................................................... 305
CÉDULA DE CRÉDITO RURAL
— Ação declaratória de nulidade de aval emitido por pessoa física. A interpretação sistemática
do art. 60 do DL 167/67 permite inferir que o significado da expressão “também são nulas
outras garantias, reais ou pessoais”, disposta no seu § 3º, refere-se diretamente ao § 2º, ou
seja, não se dirige às cédulas de crédito rural, mas apenas às notas e duplicatas rurais. STJ
(Em. 77/302).............................................................................................................................. 621
— Emitida por pessoa física. É nulo o aval prestado por terceiro, pessoa física, em cédula de
crédito rural emitida também por pessoa física, nos termos do disposto no art. 60, § 3º, do
DL 167/67. TJMS (Em. 77/300).................................................................................................. 621
— Emitida por pessoa física. É nulo o aval prestado por terceiro, pessoa física, em cédula de
crédito rural emitida também por pessoa física, nos termos do disposto no art. 60, § 3º, do
DL 167/67. TJPR (Em. 77/301).................................................................................................. 621
— Emitida por pessoa física. Garantia de aval prestada por terceiro. Art. 60, § 3º, do DL 167/67.
Validade. Entendimento firmado no julgamento do REsp 1.483.853/MS. Vedar a possibilidade
de oferecimento de crédito rural direto mediante a constituição de garantia de natureza pessoal
(aval) significa obstruir o acesso a ele pelo pequeno produtor ou só o permitir em linhas de
crédito menos vantajosas. STJ (Em. 77/303).............................................................................. 621
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 653
CERCEAMENTO DE DEFESA
— Livre-convencimento motivado (art. 131 do CPC). Prova documental suficiente para o julga-
mento da lide. Desnecessidade de produção de prova testemunhal. Ausência de cerceamento
de defesa. TJPR (Em. 77/147)..................................................................................................... 347
CERTIDÃO DE REGULARIDADE FISCAL
— Expedição. Medida cautelar. Oferecimento de caução idônea. Possibilidade. Exegese do art.
206 do CTN. Desnecessidade de se atentar à ordem do art. 11 da LEF. TJSC (Em. 77/24)....... 295
CERTIDÃO POSITIVA COM EFEITOS DE NEGATIVA
— Caução. Ordem de preferência. Inteligência do art. 11 da Lei 6.830/80. Não configura hipótese
de suspensão da exigibilidade do crédito. TJMT (Em. 77/65)................................................... 315
CESSÃO DE CRÉDITO
— Falta de notificação do devedor. Art. 290 do CC/02. Efeitos. Inscrição do nome do devedor,
“cedido”, em cadastros de proteção ao crédito. Ausência de impedimento. STJ (Em. 77/68)... 316
CITAÇÃO
— Hora certa. O simples fato de a epístola descrita no art. 229 do CPC ter sido recebida por
terceira pessoa não autoriza a conclusão de nulidade do ato citatório, pois, consoante reman-
soso entendimento, a expedição da carta traduz mera formalidade complementar. TJSP (Em.
77/162)....................................................................................................................................... 353
CLOVIS BRASIL PEREIRA
— Artigo: “A Petição Inicial no Novo CPC”................................................................................... 68
COAÇÃO MORAL
— Acordo. Partilha de bens. Doação universal de todos os bens pertencentes somente à cônjuge
virago em favor da sua filha. Ato disposição isolado. Lesão evidenciada. Ausência de garantia
do mínimo patrimonial necessário a assegurar o primado da dignidade da pessoa humana.
Ofensa aos arts. 548 do CC e 1º, III, da CF. Nulidade. TJES (Em. 77/22).................................. 294
COISA JULGADA
— Ação de impugnação da presunção de paternidade julgada extinta, sem resolução do mérito,
ante a coisa julgada formada em anterior ação declaratória de inexistência de filiação julgada
igualmente improcedente. Relativização da coisa julgada. Inaplicabilidade no caso concreto.
Prevalência do princípio da segurança jurídica. TJRS (Em. 77/52)............................................ 309
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA, TARIFA DE AVALIAÇÃO DO BEM, TARIFA DE
SERVIÇO DE TERCEIROS, TARIFA DE REGISTRO DE CONTRATO
— Vide Ação Revisional. Contrato Bancário. Devolução de Valores.
COMPETÊNCIA
— Ação de modificação de guarda acolhida. Pedido de deslocamento da competência para o
domicílio do trabalho dos genitores. Impossibilidade. Competência para processar a ação deve
ser a do domicílio dos pais ou responsáveis. Inteligência do art. 147, I, do ECA. O menor,
representado por sua guardiã legal, pode optar entre o foro comum e o especial, porém tal
circunstância não pode ser imposta àquele. TJDF (Em. 77/120)............................................... 336
— Ação de obrigação de fazer, ajuizada na Comarca de Araçatuba, contra autarquia estadual.
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
Exceção de incompetência não acolhida. Art. 100, IV, d, do CPC. Possibilidade de a ação ser
ajuizada em comarca do interior. STJ (Em. 77/58)..................................................................... 312
— Indenização por danos morais e materiais decorrentes de violência doméstica. Lei 11.340/06.
Juizado especializado de violência doméstica e familiar contra a mulher. Pretensão de natureza
exclusivamente cível. Conflito conhecido e julgado procedente para declarar competente para
processar e julgar o pedido de indenização por danos morais e materiais o Juízo da Vara Cível.
TJDF (Em. 77/95)....................................................................................................................... 326
— Recuperação judicial (Lei 11.101/05). Ação de despejo c/c cobrança de aluguéis. Demanda
ilíquida. Execução. Montante apurado. Habilitação do crédito no juízo da recuperação judicial.
STJ (Em. 77/96).......................................................................................................................... 327
— Taxa de juros bancários. O STF já decidiu pela validade da Lei 4.595/64, na parte que outorga
poderes ao Conselho Monetário Nacional para dispor sobre as taxas de juros bancários. STF
(Em. 77/93)................................................................................................................................ 326
— Rescisão contratual. Intermediação. Stand de vendas montado pela vendedora, com atendimen-
to por corretores por ela disponibilizados, para a comercialização das unidades. Obrigação de
pagamento da comissão de quem contratou o corretor. Contrato de adesão. Imputar o paga-
mento da corretagem e a contratação da taxa Sati ao consumidor como condição à aquisição
do bem é prática abusiva. Venda casada. Devolução das quantias adimplidas. Percentual de
retenção majorado para 20% sobre os valores pagos. TJSP (Em. 77/94).................................... 326
654 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
—D—
DAÇÃO EM PAGAMENTO
— Ação anulatória. Ato jurídico. Sucessivos empréstimos tomados junto aos réus pela empresa
autora. Transferência da propriedade de bens móveis e imóvel no decorrer dos anos. Alegação,
deduzida em sede de alegações finais, de que a transferência patrimonial consubstanciaria
pacto comissório. Art. 765 do CC/1916, com consentâneo no art. 1.428 do CC/02. Substrato
probatório absolutamente exíguo e inconclusivo a respeito. Coação tampouco indemonstrada.
Alegada quitação do débito indemonstrada. Divergência entre os valores informados pelas
partes. TJSC (Em. 77/23)............................................................................................................ 295
DANO MORAL
— Acidente de ônibus. É obrigação da transportadora conduzir o passageiro são e salvo a seu
local de destino. Em tendo sido atingida a incolumidade física do passageiro, deve a apelante
indenizar-lhe os danos morais. TJRJ (Em. 77/165).................................................................... 354
— Acórdão do STF – Imunidade parlamentar. Nexo de causalidade entre a manifestação e o
exercício do mandato. Inexistência. Indenização devida............................................................ 173
— Banco. Contrato bancário não reconhecido. Não demonstrada contração por parte do autor.
Inscrição imerecida em órgãos de restrições creditórias. TJBA (Em. 77/167)............................ 355
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
— Banco. Utilização de documentos pessoais legítimos da autora, por terceira pessoa, sem o
seu consentimento e presença, com a finalidade da contratação de empréstimo para o finan-
ciamento de veículo. Falta de prova da vinculação da autora ao contrato inadimplido e que
gerou restrição cadastral ao seu nome. Omissão da casa bancária na apresentação do contrato
celebrado e dos documentos pessoais utilizados no ato da celebração do ajuste. Negligência da
instituição financeira evidenciada. Culpa concorrente da autora evidenciada pelo fato de ter
entregue seus documentos pessoais a sua prima, ainda que com finalidade diversa, que não
tem o condão de afastar a responsabilidade do banco, conquanto sirva de critério delimitador
do arbitramento da cifra indenizatória. TJSP (Em. 77/168)....................................................... 355
— Cadastro de inadimplentes. Nos casos de inscrição indevida em cadastros de proteção ao
crédito, o dano moral se configura in re ipsa, derivado inexoravelmente do fato danoso. TJSP
(Em. 77/169).............................................................................................................................. 355
— Corpo estranho de metal não identificado no interior do biscoito. Produto impróprio para
consumo. Dano configurado, ainda que o produto não tenha sido ingerido pelo consumidor.
Situação irregular do produto impróprio para consumo caracteriza potencial risco à saúde do
consumidor e provoca sentimentos de insegurança, vulnerabilidade e repugnância, caracte-
rizando danos morais passíveis de indenização. TJBA (Em. 77/172)......................................... 356
— Desavença entre vizinhas. Animal de estimação (porca) com nome igual ao da vizinha. Dano
configurado. Valor indenizatório reduzido para R$ 300,00. TJAC (Em. 77/108)...................... 331
656 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
DEVOLUÇÃO DE VALORES
— Ação revisional. Cédula de crédito bancário. Financiamento de veículo. Incidência do CDC.
Revisão que é possível em face da onerosidade excessiva. Arts. 6º, IV e V, e 51, IV, ambos
do CDC. “Registro de contrato”. Cobrança desta despesa que nunca foi vedada. “Servi-
ços de terceiros”. Encargo que, apesar de pactuado, não está devidamente especificado,
desconhecendo-se quais os serviços prestados ao mutuário. Ilegalidade da cobrança. Nova
orientação da Câmara. Repetição do indébito. Direito assegurado, na forma simples, para
o fim de evitar o enriquecimento ilícito e que independe da prova do erro no pagamento.
TJSC (Em. 77/64)....................................................................................................................... 315
— Alienação fiduciária. Busca e apreensão deferida liminarmente. Purgação da mora. Inocorrência.
Mora contratual configurada. Devolução das parcelas pagas. Inadmissibilidade. Devedor tem
direito somente ao crédito remanescente da venda do bem pelo credor. TJSP (Em. 77/43)...... 306
— Compra e venda. Rescisão contratual. Intermediação. Stand de vendas montado pela vende-
dora, com atendimento por corretores por ela disponibilizados, para a comercialização das
unidades. Obrigação de pagamento da comissão de quem contratou o corretor. Contrato
de adesão. Imputar o pagamento da corretagem e a contratação da taxa Sati ao consumidor
como condição à aquisição do bem é prática abusiva. Venda casada. Devolução das quantias
adimplidas. Percentual de retenção majorado para 20% sobre os valores pagos. TJSP (Em.
77/94)......................................................................................................................................... 326
— Cooperativa de crédito. Aplicação do CDC. Tarifa de adiantamento de depositante. Repetição
e/ou compensação de indébito. No caso, não há demonstração de contratação explícita entre
as partes, o que afasta a cobrança da tarifa. Compensação. Repetição. TJRS (Em. 77/76)......... 318
— Resolução de contrato particular com pedido de reintegração possessória. Descabimento da
exceção de usucapião invocada. Em razão do inadimplemento do preço, tem-se que a posse
exercida pelo compromissário comprador é meramente precária. Ausência de animus domini.
Ocupação do imóvel sem a devida contraprestação, desde outubro de 1996. Perdimento,
excepcional, de todos os valores pagos como compensação pelo uso do bem. Ausência de
violação ao preceito do art. 53 da Lei 8.078/90. Construções realizadas no bem. Acessões.
Necessidade de justa indenização. Direito de retenção da coisa até o efetivo adimplemento.
TJSP (Em. 77/162)...................................................................................................................... 353
DIREITO À INFORMAÇÕES
— Habeas data. Acesso às informações constantes de sistemas informatizados de controle de
pagamentos de tributos. Sistema de Conta-Corrente da Secretaria da Receita Federal do
Brasil – Sincor. Art. 5º, LXXII, da CRFB/88. Lei 9.507/97. Direito subjetivo do contribuinte.
STF (Em. 77/137)....................................................................................................................... 342
DIREITO À VIDA E À SAÚDE
— Astreintes. Fixação contra o Estado. Possibilidade. Indisponibilidade do direito à saúde. Valor
proporcional que não gera enriquecimento indevido. TJAM (Em. 77/111)............................... 332
DIREITO AUTORAL
— Ação de cobrança. ECAD. Indenização pela realização de eventos musicais. Comprovação
pelo autor. Fatos impeditivos. Ônus da prova do réu. Litigância de má-fé. Ausência. TJDF
(Em. 77/44)................................................................................................................................ 306
DIREITO DE VISITAS
— Regulamentação. Suspeita de agressão sexual da madrasta. Processo criminal. Absolvição por
falta de provas. Estudo psicossocial. Indícios. Melhor interesse da criança. Monitoramento
das visitas. Desnecessidade. Desenvolvimento do menor. Maior discernimento. Perda da
convivência paterna. Reconstrução do convívio. Alienação parental. Não ocorrência. TJDF
(Em. 77/161).............................................................................................................................. 352
DISCRIMINAÇÃO RACIAL
— Alegação de ofensas proferidas. Ausência de comprovação suficiente para a demonstração dos
pressupostos ensejadores de danos morais. Ônus que lhe incumbia diante do art. 333, I, do
CPC. TJRS (Em. 77/164)............................................................................................................ 354
DIVÓRCIO
— Alimentos. Decisão liminar que indeferiu a fixação de alimentos provisórios. Pedido de an-
tecipação dos efeitos da tutela formulado em impugnação à contestação. Requerimento de
divisão antecipada dos lucros mensais. Divisão de lucros mensais albergada pelo instituto dos
alimentos compensatórios. Distinção entre alimentos decorrentes da relação familiar. Lucros
da empresa que se confundem com os lucros dos sócios. Impossibilidade de divisão de lucros
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 659
—E—
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
— Aluno cursando o módulo II do ensino médio. Aprovação em vestibular. Ausência de frequência
mínima. Não se reconhece o direito do aluno em ser submetido à avaliação escolar que lhe
permita avançar em nível educacional, quando ele, matriculado no módulo II, equivalente ao
segundo ano do ensino médio da modalidade de ensino a distância, para a Educação de Jovens
e Adultos – EJA, não comprovar o prazo mínimo de frequência no ensino médio, essencial
para a pretensão vindicada. TJDF (Em. 77/179)........................................................................ 358
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
— Contra decisão interlocutória no agravo regimental no agravo de instrumento. Cabimento.
É pacífico no âmbito do STJ o entendimento de que os embargos de declaração podem ser
opostos contra qualquer decisão judicial, interrompendo o prazo para interposição de outros
recursos, salvo se não conhecidos em virtude de intempestividade. TJES (Em. 77/119)........... 335
ENSINO SUPERIOR
— Menor de 18 anos. Requerimento de matrícula em curso supletivo. Realização do exame final
de ensino médio. Certificado de conclusão de curso para matrícula em instituição de nível
superior. Possibilidade. Lei 9.394/96. Art. 208, V, da CF/88. TJDF (Em. 77/149)..................... 348
ESPAÇO PÚBLICO
— Reintegração de posse. Bar que serve escola estadual. Termo de autorização de uso. Em se
tratando de imóvel como bem público, decorra a titularidade de direito real ou pessoal, e não
estando os bens públicos sujeitos à usucapião, deve o espaço utilizado como bar de escola es-
tadual ser desocupado, para fins de que seja licitada a exploração da área. TJRS (Em. 77/61).. 314
ESTABELECIMENTO COMERCIAL
— Regularidade da instalação de letreiro luminoso na fachada. Alegação autoral de adequação
às normas previstas na Lei Municipal 758/85, que trata da instalação de anúncios indicativos
em imóveis edificados. Notificação promovida pelo ente municipal amparada nas disposições
contidas no D. 35.507/2012, que determinou à apelante as competentes providências no
prazo estabelecido, retirada ou adequação do anúncio fixado na fachada de imóvel comercial.
660 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
—F—
FALÊNCIA
— Avocação. Impossibilidade. Processo em trâmite. Justiça trabalhista. Redirecionamento. Sócios.
Negativa de prestação jurisdicional. A jurisprudência desta Corte firmou posicionamento no
sentido de que não se justifica a remessa dos autos ao juízo falimentar se a execução promo-
vida contra pessoa jurídica foi direcionada para atingir os sócios, pois o patrimônio da falida
permanece livre de constrição. STJ (Em. 77/134)...................................................................... 340
FERNANDO RUBIN
— Artigo: “Polêmicas Supressões Encartadas pelo Novo CPC”...................................................... 25
FGTS
— Contribuição de caráter não tributário. Base de cálculo. Natureza das parcelas pagas ao em-
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
—G—
GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO
— Contribuição para o PIS/Pasep. Substituição tributária. Ressarcimento. Prova. O ressarcimento
da contribuição para o PIS paga sob o regime de substituição tributária, na aquisição de gás
liquefeito de petróleo, está condicionado à comprovação de que a contribuição fora efetiva-
mente apurada, retida e recolhida pelo substituto. CARF (Em. 77/100)................................... 328
GISELE LEITE
— Artigo: “A Causa Petendi da Ação Rescisória”............................................................................. 72
GUARDA DE MENOR
— Ação de modificação de guarda acolhida. Pedido de deslocamento da competência para o
domicílio do trabalho dos genitores. Impossibilidade. Competência para processar a ação deve
ser a do domicílio dos pais ou responsáveis. Inteligência do art. 147, I, do ECA. O menor,
representado por sua guardiã legal, pode optar entre o foro comum e o especial, porém tal
circunstância não pode ser imposta àquele. TJDF (Em. 77/120)............................................... 336
—H—
HABEAS DATA
— Acesso às informações constantes de sistemas informatizados de controle de pagamentos de
tributos. Sistema de Conta-Corrente da Secretaria da Receita Federal do Brasil – Sincor. Art.
5º, LXXII, da CRFB/88. Lei 9.507/97. Direito subjetivo do contribuinte. STF (Em. 77/137).... 342
HELIO DEIVID AMORIM MALDONADO
— Artigo: “Marco Inicial do Prazo da Inelegibilidade por Rejeição de Contas: Reconstrução do
Significado de ‘Decisão Irrecorrível’”.......................................................................................... 76
HERANÇA
— Exclusão. Ação declaratória de indignidade. Demanda movida em face dos herdeiros de su-
posto autor de homicídio contra o irmão da autora, que era seu pai adotivo. Extinção do feito
sem resolução do mérito. Inconformismo da autora. Descabimento. Notória falta de interesse
processual. Suposto indigno que também já faleceu. Impossibilidade de extensão dos efeitos
da dignidade aos sucessores deste. Exclusão pretendida que tem caráter pessoal. Inteligência
do art. 1.816 do CC (art. 1.599 do CC/1916). TJSP (Em. 77/177)............................................ 357
— Regime de separação convencional de bens. Herdeiro necessário. Concorrência com descenden-
tes. Possibilidade. Art. 1.829, I, do CC. Admite-se ao cônjuge casado sob o regime de separação
convencional de bens a condição de herdeiro necessário, possibilitando a concorrência com
os descendentes do falecido. STJ (Em. 77/97)............................................................................ 327
HILDELIZA LACERDA TINOCO BOECHAT CABRAL, MICHELLE DUTRA PERES,
CARLOS HENRIQUE MEDEIROS DE SOUZA E VÍVIAN BOECHAT CABRAL CARVALHO
— Artigo: “Mediação de Conflitos no Direito das Famílias”........................................................... 50
HONORÁRIOS DE ADVOGADO
— Acórdão do STJ – Ação de cobrança. Serviços advocatícios prestados de forma individualizada
ao HSBC e ao Bamerindus. Solidariedade. Impossibilidade. Não ocorrência de sucessão uni-
versal. Necessidade de delimitação da responsabilidade de cada uma das partes demandadas. 189
— Exceção de pré-executividade. O acolhimento do incidente de exceção de pré-executividade,
mesmo que resulte apenas na extinção parcial da execução, dá ensejo à condenação na verba
honorária, cujo valor deve ser fixado com observância da equidade pelo julgador. TJMS (Em.
77/300)....................................................................................................................................... 621
— Reclamações trabalhistas. Nos casos em que a contratação dos honorários for ad exitum ou
quota litis, no percentual de até 30%, a cobrança de qualquer outro valor mínimo, ou fixado
na Tabela, fere os princípios da razoabilidade, moderação e da proporcionalidade, constantes
nos arts. 36 e 37 do CED. OAB/SP-TED (Em. 77/309).............................................................. 624
—I—
IMISSÃO NA POSSE
— Alienação de bem imóvel adquirido durante a constância da união estável. Outorga uxória.
Necessidade. Comunhão parcial de bens. Presunção absoluta. Art. 1.725 do CC/02. Direitos
patrimoniais da companheira. Art. 226 da CF/88. Terceiro de boa-fé. Direito à indenização.
Deve-se suspender a imissão na posse determinada pelo juízo a quo em face da ausência de
autorização expressa da agravante para a alienação do bem objeto da lide, resguardando-se
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 663
ao terceiro de boa-fé o direito que lhe assiste de pleitear eventual indenização por danos que
tenha sofrido. TJAL (Em. 77/140).............................................................................................. 344
IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS
— Operação interestadual. Adesão ao simples nacional que não afasta a exigência relativa à
operação interestadual. Art. 13, § 1º, XIII, g, da LC 123/06. Ofensa à anterioridade anual.
Inocorrência. STJ (Em. 77/139).................................................................................................. 343
— Repasse constitucional aos municípios. Retenção pelo Estado. Impossibilidade. STF (Em.
77/141)....................................................................................................................................... 344
IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS
— Acórdão do TRF 3ª R. – Crédito-prêmio. Correção monetária. Índices e expurgos inflacionários
utilizados. Orientação do STJ. Divergência. Retratação.............................................................. 264
— Acórdão do TRF 5ª R. – Isenção. Veículo adquirido por portador de deficiência física. Lei
8.989/95, Art. 1º, IV, § 1º. Possibilidade..................................................................................... 272
— Crédito presumido. Ocorrência da exportação. Aquisição de insumos junto a pessoas físicas
e cooperativas. A aquisição de insumos atrelados ao processo produtivo junto a pessoas
físicas e cooperativas deve ser considerada no cálculo do crédito presumido do IPI. Custos
com energia elétrica. Multas e juros decorrentes de pagamento em atraso e contribuição para
o custeio do serviço de iluminação pública. Inaplicabilidade. Peças de reposição. Máquinas.
Não cabimento. CARF (Em. 77/143)......................................................................................... 344
— Multa regulamentar. DIF-Papel imune. A falta e/ou o atraso na apresentação da Declaração
Especial de Informações Relativas ao Controle de Papel Imune a tributo – DIF-Papel Imune,
pela pessoa jurídica obrigada, sujeita o infrator à multa regulamentar prevista na Lei 11.945/09.
CARF (Em. 77/142).................................................................................................................... 344
IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS
— Arrendamento mercantil. Local da prestação de serviço, assim entendido o local onde se
comprove haver unidade econômica ou profissional da instituição financeira com poderes
decisórios suficientes à concessão e à aprovação do financiamento – núcleo da operação de
leasing financeiro e fato gerador do tributo. TJMG (Em. 77/20)................................................ 293
— Manipulação de medicamentos. Pretensão à declaração de não incidência de ICMS sobre a
atividade (fórmulas). Atividade sujeita ao ISSQN, e não ao ICMS. Tipificação no item 4.07
da lista anexa da LC 116/03. TJSP (Em. 77/66).......................................................................... 315
— Serviço de tapeçaria. Item 14.11 da lista de serviços. Alegação de que a atividade consiste em
comercialização de acessórios de couro para automóveis. Provas documentais que autorizam
a tributação do ISS. TJSP (Em. 77/21)........................................................................................ 294
— Serviços bancários. LC 116/03. Taxatividade dos itens da lista anexa. Possibilidade de inter-
pretação extensiva. Serviços impugnados: tarifa interbancária. Inexistência de prestação de
serviço contratual. Contratação de operações ativas. ISSQN devido pela adequação ao item
15.08 da lista anexa à LC 116/03. Adiantamento a depositantes. Imposto exigível com fun-
damento no item 15.08 da lista anexa à LC 116/03. Multa de 40%. Art. 26 da LC Municipal
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
de Curitiba 40/01. Falta de pagamento do tributo apurado em procedimento administrativo
fiscal. Multa corretamente aplicada. Efeito confiscatório. Vedação relacionada aos tributos, e
não às penalidades pecuniárias. TJPR (Em. 77/115).................................................................. 333
IMUNIDADE PARLAMENTAR
— Acórdão do STF – Dano moral. Nexo de causalidade entre a manifestação e o exercício do
mandato. Inexistência. Indenização devida................................................................................ 173
INCIDENTE DE FALSIDADE DOCUMENTAL
— Sentença de procedência do pedido para declarar a falsidade do documento. Art. 395 do CPC.
Admissão do agravo de instrumento pela aplicação do princípio da fungibilidade. Ausência
do documento original não impede o regular processamento do incidente de falsidade. Depoi-
mento elucidativo do oficial de registro que evidencia a falsidade do documento. Confrontação
dos seus dados com o livro de registro cartorário. TJES (Em. 77/144)...................................... 345
INCOMPATIBILIDADE E IMPEDIMENTO
— Advogados conciliadores e mediadores nos centros judiciários de solução de conflitos e
cidadania. Inexistência da primeira e existência da segunda. Impedimento para atuar como
advogado para as partes que atendeu como mediador e conciliador e na Vara com a qual cola-
borou naquela condição, sob pena de configurar captação de clientela e concorrência desleal.
Necessidade de sujeição à cláusula de confidencialidade. OAB/SP-TED (Em. 77/306)............. 623
664 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA
— Ação de cobrança. Averbação relativa a negócio jurídico que envolve o empreendimento.
Custas e emolumentos. Ato de registro único. Aplicação do art. 237-A, § 1º, da LRP. TJDF
(Em. 77/45)................................................................................................................................ 306
INFRAÇÃO DISCIPLINAR
— Advogado. Inadimplência de anuidades devidas à OAB. Suspensão do exercício profissional.
Prorrogação até a quitação da dívida. Afastamento. Prescrição. Constitui infração disciplinar
deixar o advogado de pagar as contribuições devidas à OAB, depois de regularmente notificado
a fazê-lo, podendo a sanção disciplinar ser prorrogada até a quitação integral, nos termos do
art. 37, § 2º, do EAOAB. Porém, essa prorrogação está limitada pela prescrição para a cobrança
dos débitos de anuidades, que segura o prazo do art. 206, § 5º, I, do CC, que determina o prazo
de cinco anos para a cobrança de dívidas fundadas em instrumentos público ou particular.
OAB/CF (Em. 77/314)................................................................................................................ 625
INELEGIBILIDADE
— Artigo de Helio Deivid Amorim Maldonado: “Marco Inicial do Prazo da Inelegibilidade por
Rejeição de Contas: Reconstrução do Significado de ‘Decisão Irrecorrível’”.............................. 76
INTERDIÇÃO
— Perícia médica concluindo que a interditanda pode gerir seus atos. Ausência de prova tes-
temunhal pela incapacidade. Improcedência dos pedidos iniciais. O fato de a interditanda
encontrar-se nervosa e misturando as palavras em sede de interrogatório não faz presumir
que seja incapaz, até porque é normal que pessoas leigas, diante de um magistrado, fiquem
nervosas, em razão de um certo temor de audiência judicial. TJAL (Em. 77/55)...................... 311
INTERNET
— Serviço. Bloqueio indevido. Caracterizados os danos morais pela falha na prestação do ser-
viço, cabível a indenização pretendida, acrescida de correção monetária pelo IGP-M, a partir
desta decisão, na forma da Súmula 362/STJ, e dos juros moratórios de 1% ao mês, contados
da citação, por se tratar de relação contratual. TJRS (Em. 77/54).............................................. 310
INVENTÁRIO
— Acórdão do TJRJ – Termo de inventariança. Requerimento de assinatura pelo patrono. Ad-
missibilidade. CPC, art. 38. Recurso conhecido e provido para autorizar que o advogado do
agravante assine o termo de inventariança................................................................................. 279
— Arrolamento de bem. União estável post mortem. Decisão que determinou a inclusão da
agravada como herdeira para lhe atribuir o equivalente a 2/3 da herança, caso comprovada a
condição de irmã do de cujus. Insurgência da agravante, companheira do de cujus. Tendo o de
cujus deixado uma irmã, cabe à agravante apenas 1/3 da herança, além do direito à meação
sobre o imóvel, como corretamente decidiu a decisão agravada. TJSP (Em. 77/88).................. 323
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE
— Ação de impugnação da presunção de paternidade julgada extinta, sem resolução do mérito,
ante a coisa julgada formada em anterior ação declaratória de inexistência de filiação julgada
igualmente improcedente. Relativização da coisa julgada. Inaplicabilidade no caso concreto.
Prevalência do princípio da segurança jurídica. TJRS (Em. 77/52)............................................ 309
— Cumulada com pedido de alimentos e anulação do registro de nascimento. Alimentos provi-
sórios. Adequação ao trinômio necessidade, possibilidade, razoabilidade. Majoração devida.
Comprovada a privilegiada situação financeira do prestador, bem como a necessidade pre-
sumida da criança e a ausência de estrutura econômica da mãe, merecem ser majorados os
alimentos estabelecidos na decisão proferida pelo julgador singular, evidenciado que aquele
valor é insuficiente à manutenção das despesas mensais ordinárias da menor. TJGO (Em.
77/57)......................................................................................................................................... 312
— Julgamento monocrático. Possibilidade. Princípios constitucionais. Observância. Paternidade
socioafetiva e biológica. A tese segundo a qual a paternidade socioafetiva sempre prevalece
sobre a biológica deve ser analisada com bastante ponderação e depende sempre do exame
do caso concreto. Afastar a possibilidade de o filho maior pleitear o reconhecimento de pa-
ternidade biológica em seu assento de nascimento, no caso de “adoção à brasileira”, significa
impor-lhe que se conforme com essa situação, criada à sua revelia e à margem da lei. TJGO
(Em. 77/56)................................................................................................................................ 311
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE POST MORTEM
— Parte autora beneficiária da gratuidade de justiça. Inversão do ônus da prova. Teoria da dis-
tribuição dinâmica do ônus da prova. Cabimento. Peculiaridades do caso concreto. Diante da
notória dificuldade da autora/agravada, beneficiária da gratuidade de justiça, em promover a
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 665
realização do exame de DNA, a se efetivar por carta rogatória na França, mediante a colheita
de material genético de parentes do falecido e dos réus/agravantes ou por meio da exumação
do cadáver também naquele país. Inversão do ônus da prova para determinar aos réus/agra-
vantes que arquem com os custos de sua realização, incluindo as despesas de tradução da
carta rogatória e demais despesas a serem incorridas quando do seu cumprimento na França,
sob pena de se inviabilizar a solução da lide, cujo trâmite, aliás, já se arrasta por mais de uma
década. TJDF (Em. 77/146)........................................................................................................ 346
ISENÇÃO
— Ação anulatória. Débito fiscal. Cobrança indevida de ICMS sobre produtos isentos. Compro-
vação. Necessidade de restringir apenas aos produtos hortifrutigranjeiros elencados no anexo
VII do D. 3.803/04. TJMT (Em. 77/85)...................................................................................... 322
— Acórdão do TRF 5ª R. – IPI. Veículo adquirido por portador de deficiência física. Lei 8.989/95,
Art. 1º, IV, § 1º. Possibilidade..................................................................................................... 272
—J—
JUNTADA DE DOCUMENTOS
— Apelação. Possibilidade. Art. 397 do CPC. É possível a juntada a posteriori de documentos com
a apelação, desde que tais documentos sejam acerca de fatos já alegados ou para contrapor-se
a outros fatos que foram produzidos nos autos, nos termos do art. 397 do CPC. STJ (Em.
77/72)......................................................................................................................................... 317
JUROS BANCÁRIOS
— Taxa. Competência. O STF já decidiu pela validade da Lei 4.595/64, na parte que outorga
poderes ao CMN para dispor sobre as taxas de juros bancários. STF (Em. 77/93).................... 326
—L—
LEASING
— Ação revisional. Arrendamento mercantil. Tanto na conclusão quanto na execução dos contra-
tos, as partes devem observar os princípios da probidade e da boa-fé. Perfeitamente cabível a
cobrança da tarifa de cadastro, pois em total consonância com as disposições emanadas pelo
Banco Central e pelo CMN, conforme entendimento do STJ em sede de recurso repetitivo. Não
pode a arrendadora requerer o pagamento de valores sem informar a consumidora, de forma
detalhada e clara, a que se referem. Se o seguro de proteção era facultativo, e a arrendatária
aceitou sua contratação, não há que se falar em cobrança indevida. TJSP (Em. 77/87)............ 323
— ISS. Arrendamento mercantil. Local da prestação de serviço, assim entendido o local onde se
comprove haver unidade econômica ou profissional da instituição financeira com poderes
decisórios suficientes à concessão e à aprovação do financiamento – núcleo da operação de
leasing financeiro e fato gerador do tributo. TJMG (Em. 77/20)................................................ 293
LEGITIMIDADE DE PARTE
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
— Execução. Título judicial formado em mandado de segurança coletivo. Associação. Represen-
tação. Necessidade de autorização expressa dos associados. STF (Em. 77/126)........................ 337
LOCAÇÃO
— Ação de despejo. Denúncia vazia. Contrato de locação não residencial. Prazo indeterminado.
Caso concreto. Matéria de fato. Preenchimento dos pressupostos para a concessão do pedido
liminar. Incidência do inciso VIII do § 1º do art. 59 da Lei do Inquilinato, acrescido pela Lei
12.112/09. TJRS (Em. 77/50)...................................................................................................... 308
— Ação de despejo. Retomada do imóvel. Empresa em recuperação judicial. Suspensão do curso
da ação. Possibilidade. A retomada da posse direta do imóvel locado à sociedade empresária
em recuperação judicial tem aptidão de impactar na continuidade de suas atividades, não se
coadunando com os fins teleológicos almejados por esse instituto. TJDF (Em. 77/110)........... 332
— Fiança. Execução. Interrupção da prescrição do devedor principal prejudica o fiador. Inteli-
gência do art. 204, § 3º, do CC. Declaração de inexistência de débito. Entrega das chaves pelo
fiador. Não responsabilidade pelos fatos posteriores ocorridos. Preservação da boa-fé. Fica
liberado o fiador das obrigações posteriores à entrega das chaves do imóvel, salvo inequívoca
ciência da prorrogação contratual. TJSE (Em. 77/116).............................................................. 334
— Fiança. Falsidade da assinatura atribuída à cônjuge virago. Validade da garantia prestada pelo
varão. Nulidade por inexistência de outorga uxória. Declaração de ofício. Inviabilidade. TJMG
(Em. 77/117).............................................................................................................................. 334
666 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
LOTEAMENTO
— Vide Ação Civil Pública. Uso e Ocupação do Solo. Obras de Infraestrutura. Responsabilidade.
LUCROS CESSANTES
— Acidente de trânsito. Taxista que deixou de laborar enquanto submetido a tratamento médico-
hospitalar. Lucros cessantes devidos. Discussão relativa à base estimativa da remuneração
diária devida e ao termo final dos lucros cessantes. É possível a utilização de declaração de
entidade representativa de classe para cômputo dos lucros cessantes. Termo final modificado,
ante a data da última consulta médica realizada. TJSP (Em. 77/78).......................................... 319
—M—
MANDADO DE SEGURANÇA
— Menor de 18 anos. Requerimento de matrícula em curso supletivo. Realização do exame final
de ensino médio. Certificado de conclusão de curso para matrícula em instituição de nível
superior. Possibilidade. Lei 9.394/96. Art. 208, V, da CF/88. TJDF (Em. 77/149)..................... 348
MANIPULAÇÃO DE MEDICAMENTOS
— Pretensão à declaração de não incidência de ICMS sobre a atividade (fórmulas). Atividade
sujeita ao ISSQN, e não ao ICMS. Tipificação no item 4.07 da lista anexa da LC 116/03. TJSP
(Em. 77/66)................................................................................................................................ 315
MARCO INICIAL DO PRAZO DA INELEGIBILIDADE POR REJEIÇÃO DE CONTAS:
RECONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO DE “DECISÃO IRRECORRÍVEL”
— Artigo de Helio Deivid Amorim Maldonado............................................................................... 76
MATADOURO MUNICIPAL
— Condições precárias. Risco de dano ambiental à saúde e à vida da população circunvizinha.
Realização de obras necessárias. Multa diária. Desproporcionalidade no valor fixado de R$
10.000,00, limitado ao valor de R$ 200.000,00. Reduzo de ofício a multa diária ao valor de
R$ 1.000,00, limitado ao valor de R$ 30.000,00, eis que os valores apresentam-se elevados.
Responsabilização pessoal do agente público. Impossibilidade. TJSE (Em. 77/34)................... 300
MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NO DIREITO DAS FAMÍLIAS
— Artigo de Hildeliza Lacerda Tinoco Boechat Cabral, Michelle Dutra Peres, Carlos Henrique
Medeiros de Souza e Vívian Boechat Cabral Carvalho............................................................... 50
MEDIDA CAUTELAR
— Expedição de certidão de regularidade fiscal. Oferecimento de caução idônea. Possibilidade.
Exegese do art. 206 do CTN. Desnecessidade de se atentar à ordem do art. 11 da LEF. TJSC
(Em. 77/24)................................................................................................................................ 295
MEDIDA PROTETIVA
— Afastamento do lar. Discussão de propriedade do imóvel. Via inadequada. Decisão interlocu-
tória que manteve o cônjuge virago na residência do casal. Dúvida acerca da união estável.
Matéria de competência do juízo cível. Capacidade econômica do cônjuge varão bem superior
à do cônjuge virago. TJES (Em. 77/119).................................................................................... 335
MENOR DE 18 ANOS
— Requerimento de matrícula em curso supletivo. Realização do exame final de ensino médio.
Certificado de conclusão de curso para matrícula em instituição de nível superior. Possibili-
dade. Lei 9.394/96. Art. 208, V, da CF/88. TJDF (Em. 77/149).................................................. 348
MENOR SOB GUARDA
— Pensão por morte. Garantia do princípio integral da criança e do adolescente. Dignidade da
pessoa humana. Os direitos constitucionais, ratificados pelo ECA, asseguram, com efeito, os
direitos previdenciários à criança sob guarda, em que pese o regramento da MP 1.523/96,
posteriormente convertida na Lei 9.528/97. TJAC (Em. 77/150)............................................... 348
MULTA
— Ação anulatória. Deposição irregular de resíduos. A área atingida foi devidamente delimitada
e o cálculo da multa obedeceu aos critérios legais. O recorrente era, à época dos fatos, o único
proprietário do imóvel. Aplicação do art. 1.245, § 1º, do CC. TJSP (Em. 77/19)...................... 293
— Art. 475-J DO CPC. Sentença. Cumprimento. Intimação do executado na pessoa de seu
advogado. Necessidade. Descabida a imposição de multa automaticamente, apenas com a
prolação de despacho para cumprimento do acórdão. TJSP (Em. 77/101)................................ 328
— Autuação pelo Procon. Lojistas. Desconto para pagamento em dinheiro ou cheque em detri-
mento do pagamento em cartão de crédito. Prática abusiva. Cartão de crédito. Modalidade
de pagamento à vista. Pro soluto. Descabida qualquer diferenciação. STJ (Em. 77/90).............. 324
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 667
— IPI. DIF-Papel imune. A falta e/ou o atraso na apresentação da Declaração Especial de In-
formações Relativas ao Controle de Papel Imune a tributo – DIF-Papel Imune, pela pessoa
jurídica obrigada, sujeita o infrator à multa regulamentar prevista na Lei 11.945/09. CARF
(Em. 77/142).............................................................................................................................. 344
— Matadouro público. Condições precárias. Risco de dano ambiental à saúde e à vida da população
circunvizinha. Realização de obras necessárias. Multa diária. Desproporcionalidade no valor
fixado de R$ 10.000,00 limitado ao valor de R$ 200.000,00. Reduzo de ofício a multa diária
ao valor de R$ 1.000,00, limitado ao valor de R$ 30.000,00, eis que os valores apresentam-se
elevados. Responsabilização pessoal do agente público. Impossibilidade. TJSE (Em. 77/34)... 300
MULTA DE TRÂNSITO
— Autos de infração de trânsito lavrados por sociedade de economia mista. Declaração de
nulidade dos AIIMS. Legalidade da lavratura dos autos de infração pela Transerp, desde que
expedidos por policial militar ou equipamento eletrônico (radar). No entanto, no caso dos
autos, as autuações foram promovidas por agente civil de trânsito, padecendo, desse modo,
de nulidade. TJSP (Em. 77/89)................................................................................................... 324
—N—
NEGATÓRIA DE PATERNIDADE
— Exame de DNA. Recusa da mãe que inclusive aponta o nome do pai biológico. Paternidade
socioafetiva. Ausência. Confissão da mãe. Prevalência. Erro no reconhecimento da filiação.
Interesse do menor. Provada a ausência de vínculo afetivo entre o autor e a menor e pela
confissão da mãe, que declara ser a filha de outrem, procede o pedido de negatória de pater-
nidade. TJDF (Em. 77/73).......................................................................................................... 317
NOME DA MULHER
— Vide Patronímico. Registro Civil. Retificação.
NOTIFICAÇÃO PRÉVIA
— Plano de saúde coletivo. Rescisão unilateral. Inadimplemento superior a 60 dias. Possibilidade.
É possível a rescisão unilateral do contrato de plano de saúde quando houver o não pagamento
das mensalidades por mais de 60 dias, consecutivos ou não, e cumulativamente, e houver a
prévia notificação do consumidor. TJDF (Em. 77/154).............................................................. 349
NULIDADE
— Ato administrativo. Autotutela. Autorização para desmate e construção. Os agentes constata-
ram intervenções em APP (proximidade a curso d’água e declividade acentuada), bem como
canalização de córrego sem autorização do DAEE. Ausente a prova pericial, único meio para
desconstituir os motivos que levaram à anulação dos atos administrativos, não há como afastar
a decisão administrativa. TJSP (Em. 77/18)............................................................................... 293
— Aval. É nulo o aval prestado por terceiro, pessoa física, em cédula de crédito rural emitida
também por pessoa física, nos termos do disposto no art. 60, § 3º, do DL 167/67. TJMS (Em.
77/300)....................................................................................................................................... 621
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
— Aval. É nulo o aval prestado por terceiro, pessoa física, em cédula de crédito rural emitida
também por pessoa física, nos termos do disposto no art. 60, § 3º, do DL 167/67. TJPR (Em.
77/301)....................................................................................................................................... 621
— Aval. Outorga uxória. Ausência. Ato anulável. Execução extinta. Preceitua o CC, art. 1.647,
III, que, “ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do
outro, exceto no regime da separação absoluta, prestar fiança ou aval”. TJMG (Em. 77/91).... 325
— Multa de trânsito. Autos de infração de trânsito lavrados por sociedade de economia mista.
Declaração de nulidade dos AIIMS. Legalidade da lavratura dos autos de infração pela Transerp,
desde que expedidos por policial militar ou equipamento eletrônico (radar). No entanto, no
caso dos autos, as autuações foram promovidas por agente civil de trânsito, padecendo, desse
modo, de nulidade. TJSP (Em. 77/89)........................................................................................ 324
—O—
OUTORGA UXÓRIA
— Alienação de bem imóvel adquirido durante a constância da união estável. Outorga uxória.
Necessidade. Comunhão parcial de bens. Presunção absoluta. Art. 1.725 do CC/02. Direitos
patrimoniais da companheira. Art. 226 da CF/88. Terceiro de boa-fé. Direito à indenização.
Deve-se suspender a imissão na posse determinada pelo juízo a quo em face da ausência de
autorização expressa da agravante para a alienação do bem objeto da lide, resguardando-se
668 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
ao terceiro de boa-fé o direito que lhe assiste de pleitear eventual indenização por danos que
tenha sofrido. TJAL (Em. 77/140).............................................................................................. 344
— Ausência. Aval. Ato anulável. Execução extinta. Preceitua o CC, art. 1.647, III, que, “ressalvado
o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no
regime da separação absoluta, prestar fiança ou aval”. TJMG (Em. 77/91)................................ 325
— Execução. Locação. Fiança. Falsidade da assinatura atribuída à cônjuge virago. Validade da
garantia prestada pelo varão. Nulidade por inexistência de outorga uxória. Declaração de
ofício. Inviabilidade. TJMG (Em. 77/117).................................................................................. 334
—P—
PACTO COMISSÓRIO
— Inocorrência. Ação anulatória. Ato jurídico. Sucessivos empréstimos tomados junto aos réus
pela empresa autora. Transferência da propriedade de bens móveis e imóvel no decorrer dos
anos. Alegação, deduzida em sede de alegações finais, de que a transferência patrimonial
consubstanciaria pacto comissório. Art. 765 do CC/1916, com consentâneo no art. 1.428
do CC/02. Substrato probatório absolutamente exíguo e inconclusivo a respeito. Coação
tampouco indemonstrada. Alegada quitação do débito indemonstrada. Divergência entre os
valores informados pelas partes. TJSC (Em. 77/23)................................................................... 295
PARTILHA
— União estável. Ação de reconhecimento e dissolução. Delimitação dos marcos estabelecidos na
sentença. Manutenção. Partilha de imóvel financiado. Valorização posterior. Meação que deve
recair sobre o valor obtido da subtração entre o saldo devedor junto à instituição financeira
e o valor de mercado do bem. TJSE (Em. 77/60)........................................................................ 313
— União estável post mortem. Ação de reconhecimento e dissolução. União estável evidenciada.
Regime de bens aplicável. Reconhecida a união estável, deve ser observado o regime de co-
munhão parcial de bens, nos termos do art. 1.725 do CC. TJGO (Em. 77/59).......................... 313
PATRIMÔNIO HISTÓRICO NACIONAL
— Ação civil pública. Bem não tombado. Prova do valor histórico. Dever de conservação pelo
proprietário. No caso, está devidamente comprovado que o Moinho Backhaus é relevante
para o patrimônio histórico da comunidade de Rolante, devendo os proprietários adotar as
medidas de conservação requeridas na ACP ajuizada pelo MP. TJRS (Em. 77/28).................... 297
— Tombamento. Conjunto arquitetônico e paisagístico no Município de Santa Cruz Cabrália/
BA. Construção irregular. Pavimento superior. Descaracterização após o tombamento. Con-
figuração. Laudos técnicos. Poder Público. Ora, se o Poder Público, diante das circunstâncias
concretas da lide, não pudesse adotar as medidas consignadas na sentença recorrida, tal
omissão esvaziaria a eficácia do mencionado dispositivo constitucional e deixaria um flanco
aberto para toda sorte de vulneração ao postulado fundamental de preservação do patrimônio
histórico e cultural do país. TRF 1ª R. (Em. 77/36)................................................................... 301
— Tombamento. Lei 11.483/07. Bem da extinta RFFSA. Estação ferroviária. Controle judicial
sobre decisões administrativas. O reconhecimento do valor artístico, histórico e cultural
para o tombamento de determinado bem na esfera estadual não conduz, necessariamente, a
idêntico posicionamento no âmbito federal. Inexistindo tombamento pelo IPHAN, é inviável
a condenação da União Federal e dos demais apelados à elaboração e à execução de projeto
de recuperação do imóvel, a ser submetido à aprovação da referida autarquia. TRF 2ª R. (Em.
77/33)......................................................................................................................................... 299
PATRONÍMICO
— Registro civil. Retificação. Casamento e divórcio realizados no exterior. Assentos registrados
no Brasil após traslado da sentença estrangeira, que decretou o divórcio, devidamente homo-
logada pelo STJ. Pretensão de supressão do patronímico do ex-marido. Possibilidade. Exegese
do art. 32, § 1º, da Lei 6.015/73. TJPR (Em. 77/62)................................................................... 314
— Registro civil. Retificação. Inclusão do nome do marido da mãe. Descabimento. É juridicamente
impossível o pedido da parte para que conste no seu registro civil de nascimento os dados
relativos ao marido da sua mãe, com acréscimo do patronímico dele e exclusão dos dados
referentes ao seu pai biológico e registral. Se o pai registral é o pai biológico, então inexiste
possibilidade jurídica de sua exclusão. TJRS (Em. 77/160)....................................................... 352
— Registro civil. Retificação. Sentença de procedência para acrescer ao sobrenome da autora o
patronímico do marido. Justificativa idônea. Identificação personalíssima da entidade familiar.
Interpretação conjunta da regra dos arts. 109 da LRP (Lei 6.015/73) e 1.056 do CC. TJPR
(Em. 77/63)................................................................................................................................ 314
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 669
PENHORA
— Acórdão do TJDF – Veículo. Bem essencial ao exercício da atividade profissional. Nos termos
do art. 649, V, do CPC, são absolutamente impenhoráveis os livros, as máquinas, as ferramen-
tas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de
qualquer profissão...................................................................................................................... 276
— Acórdão do TRF 1ª R. – Faturamento da empresa. Impossibilidade. Art. 620 do CPC. Princípio
da menor onerosidade para o devedor. Art. 649, V, do CPC. A penhora sobre o faturamento
da empresa só é admitida em circunstâncias excepcionais e desde que, entre outros requisitos,
não implique o comprometimento da atividade da pessoa jurídica executada.......................... 253
— Embargos. Imóvel rural. Bem de família. Lei 8.009/90. Impenhorabilidade reconhecida na
sentença, com exceção da área sem construções, benfeitorias e plantações. Imóvel que possui
área correspondente à pequena propriedade rural, conforme a conceituação que é dada pela Lei
8.629/93. Módulo fiscal estabelecido pela Instrução Especial/INCRA 20, de 28.05.80. Desmem-
bramento que se mostra inviável, pois resultaria em área inferior ao módulo fiscal do município.
Impenhorabilidade que deve abranger a área total do imóvel. TJSC (Em. 77/118)...................... 334
— Faturamento de empresa. Art. 655, VII, do CPC. Requisitos autorizadores. Presença. Percentual
da penhora. Redução. 15% para 5%. Caso concreto. Possibilidade. Restrição. Filial. Geradora
do tributo. Impossibilidade. Unidade patrimonial da pessoa Nomeação de depositário. Art.
655-A, § 3º, do CPC. Necessidade. Sócio administrador. Recomendação. Recebíveis. Adminis-
tradoras de cartões de crédito e débito. Faturamento. Caracterização. Penhora. Possibilidade.
TJDF (Em. 77/131)..................................................................................................................... 339
PENHORA ON LINE
— Conta-corrente conjunta. Penhora da totalidade. Possibilidade. O valor depositado pode ser
penhorado em garantia da execução, ainda que somente um dos correntistas seja responsável
tributário pelo pagamento do tributo. STJ (Em. 77/130)........................................................... 338
— Desbloqueio. Execução fiscal. Adesão a programa de parcelamento. Possibilidade. A adesão
do executado a programa de parcelamento gera a suspensão da exigibilidade do crédito tri-
butário, de modo que não mais se justifica a manutenção de bloqueio de valores por meio do
convênio Bacen Jud. TRF 1ª R. (Em. 77/127)............................................................................ 338
PENSÃO POR MORTE
— Menor sob guarda. Garantia do princípio integral da criança e do adolescente. Dignidade da
pessoa humana. Os direitos constitucionais, ratificados pelo ECA, asseguram, com efeito, os
direitos previdenciários à criança sob guarda, em que pese o regramento da MP 1.523/96,
posteriormente convertida na Lei 9.528/97. TJAC (Em. 77/150)............................................... 348
PENSÃO VITALÍCIA
— Acidente de trânsito. Motocicleta do pai e esposo das autoras que colidiu na traseira do
veículo de tração animal (carroça) do requerido, que trafegava sobre a Rodovia Estadual SC-
477. Falecimento do condutor da motocicleta. Dependência econômica da filha menor e da
esposa presumida. Pensão mensal devida no montante equivalente a 2/3 do salário mínimo.
Constituição de capital. TJSC (Em. 77/53)................................................................................. 309
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
— Acórdão do STJ – Acidente de trânsito. Dano moral e material. Pensão. Termo final. Prescrição.
Inocorrência. Suspensão. Aplicação do art. 200 do CCB. Responsabilidade por fato de terceiro.
Empregado da ré condenado criminalmente por homicídio culposo. Responsabilidade objetiva
da empregadora. Arts. 932 e 933 do CCB. Pensionamento. Alegada falta de comprovação de
rendimentos da vítima e da parcela destinada ao sustento da viúva. Descabimento.................. 180
— Responsabilidade civil do Estado. Cirurgia de laqueadura tubária. Posterior gravidez. Réu que
não comprova o cumprimento do dever de informar ao paciente sobre o risco do insucesso da
cirurgia. Art. 37, § 6º, da CF. Dano moral configurado. Comprometimento do planejamento
familiar. Pensão mensal devida. TJRJ (Em. 77/166)................................................................... 354
— Responsabilidade civil do Município. Acidente de trânsito. Defeitos em via municipal. Ausên-
cia de sinalização. Óbito do companheiro e pai dos autores. Responsabilidade caracterizada.
Abalo moral. Dano moral in re ipsa. Pensão mensal devida à companheira e aos filhos menores.
Dependência econômica. Juros de mora. TJSC (Em. 77/145).................................................... 346
PERSONALIDADE JURÍDICA
— Acórdão do STJ – Desconsideração. O encerramento das atividades ou dissolução da sociedade,
ainda que irregulares, não são causas, por si sós, para a desconsideração................................. 177
— Desconsideração. Execução. Alimentos. Penhora. Valores depositados na conta da empresa.
Aplicação da disregard doctrine. Pagamentos in natura. Compensação. Descabimento. Se o
devedor possui bens passíveis de garantir a execução, descabe a aplicação do disposto no
670 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
art. 50 do CC, não se cogitando de confusão patrimonial ou desvio de finalidade. TJRS (Em.
77/123)....................................................................................................................................... 336
— Desconsideração. Execução. Presença de pressupostos para deferimento da medida. Aplica-
bilidade do art. 50 do CC. Indícios de práticas irregulares nas atividades empresariais. Abuso
de personalidade evidenciado. TJPR (Em. 77/125).................................................................... 337
— Desconsideração. Requisitos do art. 50 do CC. O encerramento das atividades ou dissolução
da sociedade, ainda que irregulares, não são causas, por si sós, para a desconsideração da
personalidade jurídica, nos termos do Código Civil. STJ (Em. 77/109).................................... 331
PLANO DE SAÚDE
— Cobertura em hospital não abrangido pela modalidade contratada. Impossibilidade. Manu-
tenção do equilíbrio econômico-financeiro da avença. Se os hospitais indicados pela apelante
são conhecidos nacionalmente pela sua excelência, possuindo tratamento e acomodações dife-
renciadas, não é razoável que a apelante adesiva decida, unilateralmente e fora do seu plano,
se submeter à cirurgia em nosocômio não conveniado, sob pena de inviabilizar o equilíbrio
econômico-financeiro do contrato e causar enriquecimento sem causa. TJMG (Em. 77/152).. 348
— Tratamento. Uso domiciliar. Medicamento. Negativa de cobertura. Cláusula abusiva. Multa
diária. Incidência e valor. Proporcionalidade. TJDF (Em. 77/153)............................................ 349
PLANO DE SAÚDE COLETIVO
— Falecimento do titular. Cancelamento do plano com menos de um mês da data do óbito.
Dependente que, idosa, necessitou contratar novo plano no valor de R$ 1.900,00 mensais.
Cláusulas contratuais que preveem a manutenção do dependente por cinco anos sem paga-
mento das mensalidades em caso de óbito e pagamento de seguro de morte por acidente que
não foram cumpridas pela parte ré. Reativação do plano com o prazo de carência de cinco
anos e devolução em dobro dos valores gastos, além do pagamento do seguro e indenização
por dano moral. Sentença de procedência. TJRJ (Em. 77/133).................................................. 340
— Rescisão unilateral. Inadimplemento superior a 60 dias. Notificação prévia. Possibilidade. É
possível a rescisão unilateral do contrato de plano de saúde quando houver o não pagamento
das mensalidades por mais de 60 dias, consecutivos ou não, e cumulativamente, e houver a
prévia notificação do consumidor. TJDF (Em. 77/154).............................................................. 349
POLÊMICAS SUPRESSÕES ENCARTADAS PELO NOVO CPC
— Artigo de Fernando Rubin.......................................................................................................... 25
POLUIÇÃO AMBIENTAL
— Vazamento de óleo de embarcação. Agente marítimo. Legitimidade ad causam passiva. Tutela
antecipatória. Cumprimento. Perda intercorrente de interesse processual. Inocorrência. Demora
na contenção. Responsabilidade objetiva. Procedência. TJRJ (Em. 77/38)................................ 302
POLUIÇÃO SONORA
— Ministério Público. Legitimidade reconhecida. Dano moral coletivo. Redução da indenização.
STJ (Em. 77/39).......................................................................................................................... 303
PORTA GIRATÓRIA
— Travamento. Dano moral. Agente penitenciário com arma de fogo. Identificação funcional e
porte de arma. Acesso ao interior da agência negado. Ato ilícito. Vexame e humilhação não
comprovados. Exercício regular de direito visando garantir a segurança do estabelecimento e
dos clientes. Inexistente comprovação de excesso. Mero aborrecimento. Ausentes os pressu-
postos caracterizadores do instituto da responsabilidade civil. Dever de indenizar afastado.
TJAC (Em. 77/102)..................................................................................................................... 328
PRESCRIÇÃO
— Seguro de vida em grupo. Empregadora mandatária. Seguro facultativo. Prescrição ânua. A
ação de cobrança da seguradora contra a empregadora-estipulante relativa a prêmios não pagos
de seguro de vida em grupo sujeita-se ao prazo prescricional de um ano. STJ (Em. 77/176).... 357
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE
— Execução. Instrumento particular de confissão e composição de dívida. Processo que ficou
paralisado por mais de 10 anos por desídia do exequente. Ação de execução ajuizada na vi-
gência do CC/1916. Prescrição vintenária que, a partir da entrada em vigor do CC/02, passou
a ser de cinco anos. Aplicação dos arts. 206, § 5º, I, e 2.028, ambos do novo diploma legal.
Manutenção da decisão que extinguiu a ação de execução. TJSC (Em. 77/121)....................... 336
PRISÃO ALBERGUE
— Devedor de alimentos. Prisão civil. Choque de direitos fundamentais. Liberdade x direito a
alimentos. Aparente antinomia. Solução à luz da ponderação de interesses e do princípio da
proporcionalidade. Prisão como medida adequada e necessária, mas, no entanto, despropor-
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 671
—Q—
QUEIMA DA PALHA DA CANA-DE-AÇÚCAR
— Ação civil pública. Pretendida condenação das corrés à obrigação de não fazer consistente na
abstenção da prática de queima da palha da cana-de-açúcar. Impossibilidade. Prática que não
é ilícita quando autorizada pelos órgãos ambientais competentes. Pretendida condenação ao
pagamento de indenização pelos danos ambientais decorrentes da queima. Impossibilidade.
Ausência de demonstração do efetivo dano, apto a dar ensejo à indenização. TJSP (Em.
77/35)......................................................................................................................................... 300
—R—
RAFAEL CALMON RANGEL
— Artigo: “Contraditório Colaborativo e Postura dos Sujeitos do Processo: uma Reflexão Ne-
cessária”...................................................................................................................................... 38
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
— Ação de despejo. Retomada do imóvel. Suspensão do curso da ação. Possibilidade. A retomada
da posse direta do imóvel locado à sociedade empresária em recuperação judicial tem aptidão
de impactar na continuidade de suas atividades, não se coadunando com os fins teleológicos
almejados por esse instituto. TJDF (Em. 77/110)...................................................................... 332
— Ação de despejo c/c cobrança de aluguéis. Lei 11.101/05. Demanda ilíquida. Execução. Mon-
tante apurado. Habilitação do crédito no juízo da recuperação judicial. STJ (Em. 77/96)........ 327
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
— Retenção com base no art. 542, § 3º, do CPC. Descabimento. STF (Em. 77/81)....................... 321
REDIRECIONAMENTO
— Execução fiscal. Sócio que detinha poderes de gestão à época da dissolução irregular da so-
ciedade. Irrelevância da data da ocorrência do fato gerador ou do vencimento da obrigação.
STJ (Em. 77/132)........................................................................................................................ 340
REGIME DE BENS
— União estável post mortem. Ação de reconhecimento e dissolução. União estável evidenciada.
Reconhecida a união estável, deve ser observado o regime de comunhão parcial de bens, nos
termos do art. 1.725 do CC. TJGO (Em. 77/59)........................................................................ 313
REGISTRO CIVIL
— Ação declaratória de inexistência de filiação e anulatória de registro público. Duplo registro
de paternidade. Multiparentalidade. Pai socioafetivo. Ausência de manifestação nos autos.
Demonstração de interesse em figurar na certidão de nascimento do menor. Inocorrência. Dis-
posição futura de bens. Possibilidade. Esta Corte tem entendimento no sentido de ser possível
o duplo registro na certidão de nascimento do filho nos casos de adoção por homoafetivos.
Não se justifica o pedido do MP para registro de dupla paternidade quando não demonstrado
prejuízo evidente ao interesse do menor. STJ (Em. 77/67)........................................................ 315
— Anulação cumulada com investigação de paternidade. Vínculo biológico e liame socioafetivo.
Não merece qualquer reparo a sentença que julgou a ação procedente e, acolhendo o pedido,
desconstituiu o liame registral, para nele constar o nome do pai biológico. É manifestamente
descabida a pretensão dos réus no sentido de que permaneça hígido o registro anterior, apenas
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 673
incluindo o nome do pai biológico, isto é, mantendo também o nome do pai registral, pois
desapareceu o vínculo jurídico deste com a ré. TJRS (Em. 77/84)............................................. 322
— Retificação. Casamento e divórcio realizados no exterior. Assentos registrados no Brasil após
traslado da sentença estrangeira, que decretou o divórcio, devidamente homologada pelo STJ.
Pretensão de supressão do patronímico do ex-marido. Possibilidade. Exegese do art. 32, § 1º,
da Lei 6.015/73. TJPR (Em. 77/62)............................................................................................. 314
— Retificação. Inclusão do nome do marido da mãe. Descabimento. É juridicamente impossível
o pedido da parte para que conste no seu registro civil de nascimento os dados relativos ao
marido da sua mãe, com acréscimo do patronímico dele e exclusão dos dados referentes ao
seu pai biológico e registral. Se o pai registral é o pai biológico, então inexiste possibilidade
jurídica de sua exclusão. TJRS (Em. 77/160)............................................................................. 352
— Retificação. Sentença de procedência para acrescer ao sobrenome da autora o patronímico do
marido. Justificativa idônea. Identificação personalíssima da entidade familiar. Interpretação
conjunta da regra dos arts. 109 da LRP (Lei 6.015/73) e 1.056 do CC. TJPR (Em. 77/63)....... 314
— Suscitação de dúvidas. Criança. Assento. Indicação de paternidade. Procuração outorgada
pelo pai. Princípio do maior interesse do menor. Possibilidade. Definição da circunscrição e
do cartório. Endereço dos pais. O instrumento procuratório possui concordância de ambos
os pais, instrumento este dotado de fé pública, acerca da filiação do menor. Tem-se que nesta
ocasião o pai reconheceu a paternidade do filho, podendo em conjunto ser procedido o assento
da criança com a indicação da paternidade, com a devida averbação. Ademais, inexistente
qualquer vício a obstar a pretensão deduzida nos autos. TJAC (Em. 77/178)........................... 358
REINTEGRAÇÃO DE POSSE
— Espaço público. Bar que serve escola estadual. Termo de autorização de uso. Em se tratando
de imóvel como bem público, decorra a titularidade de direito real ou pessoal, e não estando
os bens públicos sujeitos à usucapião, deve o espaço utilizado como bar de escola estadual
ser desocupado, para fins de que seja licitada a exploração da área. TJRS (Em. 77/61)............. 314
— Resolução de contrato particular com pedido de reintegração possessória. Imóvel. Descabi-
mento da exceção de usucapião invocada. Em razão do inadimplemento do preço, tem-se
que a posse exercida pelo compromissário comprador é meramente precária. Ausência de
animus domini. Ocupação do imóvel sem a devida contraprestação, desde outubro de 1996.
Perdimento, excepcional, de todos os valores pagos como compensação pelo uso do bem.
Ausência de violação ao preceito do art. 53 da Lei 8.078/90. TJSP (Em. 77/162)...................... 353
REPERCUSSÃO GERAL
— Aplicação da sistemática da repercussão geral pelo Tribunal de origem (art. 543-B do CPC).
Interposição do agravo previsto no art. 544 do CPC. Não cabimento. Princípio da fungibilidade
recursal. Devolução dos autos ao Tribunal de origem para julgamento do recurso como agravo
interno. Cabimento somente para os recursos interpostos antes de 19.11.09. Configuração de
erro grosseiro. STF (Em. 77/86)................................................................................................. 323
RESPONSABILIDADE CIVIL
— Acidente de trânsito. Taxista que deixou de laborar enquanto submetido a tratamento médico-
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
hospitalar. Lucros cessantes devidos. Discussão relativa à base estimativa da remuneração
diária devida e ao termo final dos lucros cessantes. É possível a utilização de declaração de
entidade representativa de classe para cômputo dos lucros cessantes. Termo final modificado,
ante a data da última consulta médica realizada. TJSP (Em. 77/78).......................................... 319
— Acórdão do STF – Dano moral. Imunidade parlamentar. Nexo de causalidade entre a mani-
festação e o exercício do mandato. Inexistência. Indenização devida........................................ 173
— Acórdão do STJ – Acidente de trânsito. Dano moral e material. Pensão. Termo final. Prescrição.
Inocorrência. Suspensão. Aplicação do art. 200 do CCB. Responsabilidade por fato de terceiro.
Empregado da ré condenado criminalmente por homicídio culposo. Responsabilidade objetiva
da empregadora. Arts. 932 e 933 do CCB. Pensionamento. Alegada falta de comprovação de
rendimentos da vítima e da parcela destinada ao sustento da viúva. Descabimento.................. 180
— Banco. Dano moral. Contrato bancário não reconhecido. Não demonstrada contração por
parte do autor. Inscrição imerecida em órgãos de restrições creditórias. TJBA (Em. 77/167)... 355
— Banco. Dano moral. Travamento da porta giratória. Agente penitenciário com arma de fogo.
Identificação funcional e porte de arma. Acesso ao interior da agência negado. Ato ilícito.
Vexame e humilhação não comprovados. Exercício regular de direito visando garantir a
segurança do estabelecimento e dos clientes. Inexistente comprovação de excesso. Mero
aborrecimento. Ausentes os pressupostos caracterizadores do instituto da responsabilidade
civil. Dever de indenizar afastado. TJAC (Em. 77/102).............................................................. 328
674 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
— Banco. Dano moral. Utilização de documentos pessoais legítimos da autora, por terceira pessoa,
sem o seu consentimento e presença, com a finalidade da contratação de empréstimo para o
financiamento de veículo. Falta de prova da vinculação da autora ao contrato inadimplido
e que gerou restrição cadastral ao seu nome. Omissão da casa bancária na apresentação do
contrato celebrado e dos documentos pessoais utilizados no ato da celebração do ajuste.
Negligência da instituição financeira evidenciada. Culpa concorrente da autora evidenciada
pelo fato de ter entregue seus documentos pessoais a sua prima, ainda que com finalidade
diversa, que não tem o condão de afastar a responsabilidade do banco, conquanto sirva de
critério delimitador do arbitramento da cifra indenizatória. TJSP (Em. 77/168)....................... 355
— Cadastro de inadimplentes. Inscrição. Dano moral. Desnecessidade de prova do prejuízo ou
dano. Basta mera comprovação do ato ou conduta ilícita. Abalo à imagem e ao crédito frente
ao comércio em geral. Imposição creditícia. TJDF (Em. 77/103)............................................... 329
— Dano moral. Acidente de ônibus. É obrigação da transportadora conduzir o passageiro são e
salvo a seu local de destino. Em tendo sido atingida a incolumidade física do passageiro, deve
a apelante indenizar-lhe os danos morais. TJRJ (Em. 77/165)................................................... 354
— Dano moral. Corpo estranho de metal não identificado no interior do biscoito. Produto im-
próprio para consumo. Dano configurado, ainda que o produto não tenha sido ingerido pelo
consumidor. Situação irregular do produto impróprio para consumo caracteriza potencial risco
à saúde do consumidor e provoca sentimentos de insegurança, vulnerabilidade e repugnância,
caracterizando danos morais passíveis de indenização. TJBA (Em. 77/172).............................. 356
— Dano moral. Discriminação racial. Alegação de ofensas proferidas. Ausência de comprovação
suficiente para a demonstração dos pressupostos ensejadores de danos morais. Ônus que lhe
incumbia diante do art. 333, I, do CPC. TJRS (Em. 77/164)..................................................... 354
— Dano moral. Inexistência de débito. Desconto indevido em conta-corrente. Ausência de
contratação com a editora. Inexistência de autorização do desconto em conta-corrente. Ato
ilícito. Dever de indenizar. TJRS (Em. 77/163).......................................................................... 353
— Dano moral. Nos casos de inscrição indevida em cadastros de proteção ao crédito, o dano
moral se configura in re ipsa, derivado inexoravelmente do fato danoso. TJSP (Em. 77/169)... 355
— Dano moral. Ofensas praticadas em campanha eleitoral. Críticas acirradas contra adversários
políticos que não extrapolam os limites da tolerância. Dever de indenizar refutado. TJCE (Em.
77/105)....................................................................................................................................... 330
— Dano moral. Suposta infidelidade. Ainda que a união estável imponha o dever de fidelidade
recíproca e de lealdade, a violação pura e simples de um dever jurídico familiar não é suficiente
para caracterizar o direito de indenizar. A prática de adultério, isoladamente, não se mostra
suficiente a gerar um dano moral indenizável, sendo necessário que a postura do cônjuge
infiel seja ostentada de forma pública, comprometendo a reputação, a imagem e a dignidade
do companheiro. TJES (Em. 77/180).......................................................................................... 358
— Dano moral e material. Acidente de trânsito. Motocicleta do pai e esposo das autoras que
colidiu na traseira do veículo de tração animal (carroça) do requerido, que trafegava sobre
a Rodovia Estadual SC-477. Falecimento do condutor da motocicleta. Previsibilidade da
ocorrência em razão da movimentação de veículos agrícolas no local. Culpa concorrente dos
envolvidos evidenciada. Dano moral suportado pelas autoras presumido em decorrência da
perda do pai e esposo (in re ipsa). Danos materiais decorrentes das despesas do funeral da
vítima. Pedido de fixação de pensão mensal. Dependência econômica da filha menor e da
esposa presumida. Pensão mensal devida no montante equivalente a 2/3 do salário mínimo.
Constituição de capital. TJSC (Em. 77/53)................................................................................. 309
— Dano moral e material. Demanda proposta contra médico e entidade hospitalar privada. Relação
de consumo. Responsabilidade pelo fato do serviço. Art. 14 do CDC. Responsabilidade do
hospital. Menor internado com infecção respiratória. Pediatra de sobreaviso. Acompanhamento
presencial realizado uma vez ao dia. Prescrição medicamentosa adequada. Estado de saúde que
não exigia atendimento diverso. Tratamento adequado. Remoção do menino para hospital de
outra cidade, durante a madrugada, após desentendimento dos familiares com o facultativo.
Iniciativa exclusiva dos pais. Encaminhamento corretamente realizado pelo médico. Desídia
ou negligência profissional. Inocorrência. TJRS (Em. 77/104).................................................. 329
— Dano moral e material. Erro médico. Parto. Uso de fórceps. Cesariana. Indicação. Não obser-
vância. Lesão no membro superior esquerdo. Médico contratado. Culpa configurada. Hospital.
Responsabilidade subjetiva. Ação de regresso. Procedência. Valor. Razoabilidade. STJ (Em.
77/107)....................................................................................................................................... 330
— Dano moral e material. Falha na prestação de serviço. Agência de turismo. Não configurado. É
de responsabilidade exclusiva da autoridade consular a concessão ou não do visto solicitado.
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 675
—S—
SEGURO DE VIDA
— Ação de cobrança. Cobertura para morte por acidente. Segurado que faleceu por queda do
avião que pilotava. Contrato de adesão. Aplicação do CDC que não impede a aplicação de
cláusulas limitativas de direito. Dever de serem redigidas de forma expressa e clara. Prévia
cientificação do consumidor comprovada. TJPR (Em. 77/47)................................................... 307
— Prestamista. Falecimento da consorciada. Ilegitimidade ativa dos herdeiros. Não se trata de
seguro de vida, mas de proteção financeira (prestamista), que tem por objetivo garantir a
quitação de uma dívida do segurado, no caso de sua morte ou invalidez ou até mesmo de-
676 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
semprego involuntário. O primeiro beneficiário deste tipo de seguro, até o limite da dívida,
será sempre a estipulante, ou seja, a administradora do consórcio. TJMG (Em. 77/175).......... 357
SEGURO DE VIDA EM GRUPO
— Empregadora mandatária. Seguro facultativo. Prescrição ânua. A ação de cobrança da segu-
radora contra a empregadora-estipulante relativa a prêmios não pagos de seguro de vida em
grupo sujeita-se ao prazo prescricional de 1 ano. STJ (Em. 77/176).......................................... 357
SENTENÇA
— Acórdão do TJSP – Cumprimento. Alienação pelo executado, de bens imóveis aos filhos após
o trânsito em julgado do acórdão que confirmou a sentença condenatória, reduzindo-o à
insolvência. Fraude à execução caracterizada. Exegese do Art. 593, II, do CPC. Imposição de
multa por ato atentatório à dignidade da justiça que atende ao preceito expresso e objetivo
do art. 600, I, do CPC. Penalidade mantida em 20% do valor atualizado do débito, dada a
gravidade da conduta do executado........................................................................................... 287
— Apelação. Recebida em seu duplo efeito. Impossibilidade de execução provisória. Art. 521
do CPC. Necessidade de extinção do procedimento executório e liberação dos valores blo-
queados. Em razão do efeito suspensivo atribuído ao apelo, nenhum ato de constrição pode
ser efetuado antes do julgamento, de forma que deve haver a suspensão do procedimento de
execução provisória. TJAL (Em. 77/70)..................................................................................... 316
— Cumprimento. Intimação do executado na pessoa de seu advogado. Necessidade. Multa do
art. 475-J do CPC. Descabida a imposição de multa automaticamente, apenas com a prolação
de despacho para cumprimento do acórdão. TJSP (Em. 77/101)............................................... 328
SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA
— Homologação. Matéria infraconstitucional. O STJ homologou sentença arbitral estrangeira
valendo-se da aplicação da legislação pertinente ao caso, qual seja a Lei 9.307/96 (Lei de
Arbitragem) e o CPC, não havendo que se cogitar de questões constitucionais. STF (Em.
77/138)....................................................................................................................................... 343
SENTENÇA MERAMENTE HOMOLOGATÓRIA
— Ação rescisória. Divergência doutrinária. Existência de duas correntes. Filio-me ao primeiro
entendimento, de que não cabe rescindendo na sentença meramente homologatória. Em res-
sunta, a sentença que se pretende rescindir é meramente homologatória do acordo celebrado
entre as partes, sem análise do mérito de direito material controvertido. Cabível a anulação
do ato realizado entre as partes (art. 486 do CPC), não a propositura de AR (art. 485 e seus
incisos), se o vício alegado se refere ao acordo, não à sentença. TJCE (Em. 77/80).................. 320
SERVIÇOS BANCÁRIOS
— ISS. LC 116/03. Taxatividade dos itens da lista anexa. Possibilidade de interpretação extensiva.
Serviços impugnados: tarifa interbancária. Inexistência de prestação de serviço contratual.
Contratação de operações ativas. ISSQN devido pela adequação ao item 15.08 da lista anexa
à LC 116/03. Adiantamento a depositantes. Imposto exigível com fundamento no item 15.08
da lista anexa à LC 116/03. Multa de 40%. Art. 26 da LC Municipal de Curitiba 40/01. Falta
de pagamento do tributo apurado em procedimento administrativo fiscal. Multa corretamente
aplicada. Efeito confiscatório. Vedação relacionada aos tributos, e não às penalidades pecuni-
árias. TJPR (Em. 77/115)............................................................................................................ 333
SIMPLES NACIONAL
— Adesão. ICMS. Adesão ao simples nacional que não afasta a exigência relativa à operação
interestadual. Art. 13, § 1º, XIII, g, da LC 123/06. Ofensa à anterioridade anual. Inocorrência.
STJ (Em. 77/139)........................................................................................................................ 343
SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA
— Contribuição para o PIS/Pasep. Gás liquefeito de petróleo. Ressarcimento. Prova. O ressarci-
mento da contribuição para o PIS paga sob o regime de substituição tributária, na aquisição
de gás liquefeito de petróleo, está condicionado à comprovação de que a contribuição fora
efetivamente apurada, retida e recolhida pelo substituto. CARF (Em. 77/100)......................... 328
—T—
TAXA PARA EMISSÃO DE ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA
— Acórdão do STF – Lei 6.994/82. Princípio da reserva legal. Fixação de valor máximo. Possui
repercussão geral a matéria alusiva à validade da exigência....................................................... 167
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 677
TOMBAMENTO
— Conjunto arquitetônico e paisagístico no Município de Santa Cruz Cabrália/BA. Construção
irregular. Pavimento superior. Descaracterização após o tombamento. Configuração. Laudos
técnicos. Poder Público. Ora, se o Poder Público, diante das circunstâncias concretas da lide,
não pudesse adotar as medidas consignadas na sentença recorrida, tal omissão esvaziaria a
eficácia do mencionado dispositivo constitucional e deixaria um flanco aberto para toda sorte
de vulneração ao postulado fundamental de preservação do patrimônio histórico e cultural
do país. TRF 1ª R. (Em. 77/36)................................................................................................... 301
TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL
— Cobrança de despesas de sobre-estadia, ante a devolução de contêineres com atraso. Inapli-
cabilidade do CDC. Responsabilidade civil contratual. Cômputo dos juros de mora a partir
da data da citação, e não do vencimento da obrigação. TJSP (Em. 77/99)................................. 327
—U—
UNIÃO ESTÁVEL
— Ação de reconhecimento e dissolução. Delimitação dos marcos estabelecidos na sentença.
Manutenção. Partilha de imóvel financiado. Valorização posterior. Meação que deve recair
sobre o valor obtido da subtração entre o saldo devedor junto à instituição financeira e o valor
de mercado do bem. TJSE (Em. 77/60)...................................................................................... 313
— Alienação de bem imóvel adquirido durante a constância da união estável. Outorga uxória.
Necessidade. Comunhão parcial de bens. Presunção absoluta. Art. 1.725 do CC/02. Direitos
patrimoniais da companheira. Art. 226 da CF/88. Terceiro de boa-fé. Direito à indenização.
Deve-se suspender a imissão na posse determinada pelo juízo a quo em face da ausência de
autorização expressa da agravante para a alienação do bem objeto da lide, resguardando-se
ao terceiro de boa-fé o direito que lhe assiste de pleitear eventual indenização por danos que
tenha sofrido. TJAL (Em. 77/140).............................................................................................. 344
— Companheiro casado. Impedimento legal e insuficiência probatória. Embora o relacionamento
afetivo do casal tenha perdurado ao longo de 35 anos, com dois filhos, a autora sempre se
manteve residindo na casa de seus pais, e lá mantinha seus encontros com o agora de cujus.
Jamais, portanto, mantiveram vida em comum sob o mesmo teto. Assim, afora o impeditivo
legal à caracterização da união estável – decorrente da constância do casamento do varão –,
a ausência do intuito de constituir família (pois a autora permaneceu sempre residindo com
os pais), não se vê como configurada entidade familiar entre o casal. TJRS (Em. 77/181)........ 359
— Dano moral. Suposta infidelidade. Ainda que a união estável imponha o dever de fidelidade
recíproca e de lealdade, a violação pura e simples de um dever jurídico familiar não é suficiente
para caracterizar o direito de indenizar. A prática de adultério, isoladamente, não se mostra
suficiente a gerar um dano moral indenizável, sendo necessário que a postura do cônjuge
infiel seja ostentada de forma pública, comprometendo a reputação, a imagem e a dignidade
do companheiro. TJES (Em. 77/180).......................................................................................... 358
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
— Medida protetiva. Afastamento do lar. Discussão de propriedade do imóvel. Via inadequada.
Decisão interlocutória que manteve o cônjuge virago na residência do casal. Dúvida acerca
da união estável. Matéria de competência do juízo cível. Capacidade econômica do cônjuge
varão bem superior à do cônjuge virago. TJES (Em. 77/119).................................................... 335
UNIÃO ESTÁVEL POST MORTEM
— Ação de reconhecimento e dissolução. União estável evidenciada. Regime de bens aplicável.
Reconhecida a união estável, deve ser observado o regime de comunhão parcial de bens, nos
termos do art. 1.725 do CC. TJGO (Em. 77/59)........................................................................ 313
— Arrolamento de bem. Decisão que determinou a inclusão da agravada como herdeira para
lhe atribuir o equivalente a 2/3 da herança, caso comprovada a condição de irmã do de cujus.
Insurgência da agravante, companheira do de cujus. Tendo o de cujus deixado uma irmã, cabe à
agravante apenas 1/3 da herança, além do direito à meação sobre o imóvel, como corretamente
decidiu a decisão agravada. TJSP (Em. 77/88)........................................................................... 323
UNIÃO HOMOAFETIVA
— Artigo de Brenda Bandoli Vieira, Helber Campos de Oliveira, Carlos Henrique Medeiros de
Souza e Margareth Vetis Zaganelli: “Útero Sub-Rogado nas Uniões Homoafetivas”.................. 114
UNIÃO HOMOAFETIVA: ÚTERO SUB-ROGADO NAS UNIÕES HOMOAFETIVAS
— Artigo de Brenda Bandoli Vieira, Helber Campos de Oliveira, Carlos Henrique Medeiros de
Souza e Margareth Vetis Zaganelli.............................................................................................. 114
678 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
—V—
VEÍCULO
— Acórdão do TJDF – Penhora. Bem essencial ao exercício da atividade profissional. Nos termos
do art. 649, V, do CPC, são absolutamente impenhoráveis os livros, as máquinas, as ferramen-
tas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de
qualquer profissão...................................................................................................................... 276
VICTOR HUGO MARCÃO CRESPO
— Artigo: “Considerações sobre o Regime de Cobrança Administrativa Especial da Portaria RFB
nº 1.265/2015”............................................................................................................................ 158
II – MATÉRIA CRIMINAL
—A—
A DUALIDADE HAVIDA (A VIDA): SERIA O ABORTO QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA
OU DE POLÍTICA CRIMINAL?
— Artigo de Fernando Gentil Gizzi de Almeida Pedroso............................................................... 361
A VÍTIMA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO
— Artigo de Rômulo de Andrade Moreira...................................................................................... 368
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 679
ABANDONO DE POSTO
— Autoria e materialidade comprovadas. Crime de mera conduta. O crime tipificado no art. 195
do CPM, por ser de mera conduta e de perigo presumido, consuma-se instantaneamente com
a saída do agente. STM (Em. 77/208)......................................................................................... 580
ABORTO
— Artigo de Fernando Gentil Gizzi de Almeida Pedroso: “A Dualidade Havida (a Vida): Seria o
Aborto Questão de Saúde Pública ou de Política Criminal?”..................................................... 361
ABSOLVIÇÃO
— Estupro de vulnerável. Ausência de comprovação da deficiência mental da vítima compro-
metedora do discernimento para o ato. Vulnerabilidade relativa. In dubio pro reo. TJAP (Em.
77/232)....................................................................................................................................... 593
— Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios.
Aplicação a terceiros, por profissionais da medicina, da toxina fine tox. Inexistência de registro
pela Anvisa. Produto de origem estrangeira. Art. 109, IV, da CF. Súmula 122/STJ. Competência
da Justiça Federal. Não demonstração de que tal produto tem, em tese, aptidão para provocar
prejuízo à saúde humana. Ausência de tipicidade. Mesmo em se tratando de crime de perigo
abstrato o delito tipificado no art. 273, §§ 1º e 2º, do CP, a sua configuração não se manifesta
pela só ausência de registro do medicamento na Anvisa, havendo, igualmente, a necessidade
da demonstração de uma probabilidade de lesão, por mínima que seja, isto é, que o produto
em causa seja idôneo, em tese, para ofender o bem jurídico tutelado pelo ordenamento, con-
sistente na saúde humana. TRF 5ª R. (Em. 77/209)................................................................... 581
— Injúria real. Crime militar. Elemento subjetivo do dolo não comprovado. No caso, o Sargento
ordenou a submersão de soldado em cocho destinado à hidratação de equinos, em razão de o
militar não ter cumprido ordem de serviço a contento. O crime de injúria real, para sua con-
figuração, pressupõe a índole, o dolo, a intenção de aviltar e denegrir a imagem do ofendido.
Elemento subjetivo do tipo não configurado nos presentes autos, impondo-se a manutenção
do decreto absolutório. STM (Em. 77/248)................................................................................ 600
— Lesão corporal qualificada. Versão acusatória não corroborada pelos elementos de prova
produzidos nos autos. Não passando de mera suspeita a imputação do crime ao acusado, não
tendo o MP se desincumbido de provar o excesso do réu ao repelir a agressão injusta praticada
pela vítima, tudo comprovando tratar-se de ato praticado em legítima defesa, a manutenção
da absolvição é medida de rigor, na forma do art. 386, VI, do CPP. TJMG (Em. 77/256).......... 604
— Tóxicos. Tráfico. Absolvição e desclassificação mantidas. Não demonstrada autoria e mate-
rialidade da traficância, impõe-se a absolvição. Evidenciada a posse para uso, imperiosa a
desclassificação, de ofício, e a manutenção quanto ao corréu. TJGO (Em. 77/287).................. 615
— Violação de direito autoral. Falsificação, adulteração ou alteração de produtos destinados a
fins terapéuticos ou medicinais previstos nos arts. 184, § 2º, e 273, § 1º-B, I, na forma do art.
69, todos do CP. Julgado parcialmente procedente os pedidos contidos na denuncia para con-
denar os réus Paulo Cesar e Ana Paula na forma da denuncia e o réu Carlos Alberto somente
pelo delito previsto no art. 184, § 2º, do CP, absolvendo-o do delito previsto no art. 273, §
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
1º, do CP por precariedade de prova. Mandados de busca e apreensão cumpridos de forma
ilegítima e sem a observância das normas legais. Violação ao art. 564, IV, do CPP. Absolvição
que se impõe, igualmente ante a ausência de lesão ao bem jurídico tutelado quanto ao delito
previsto no art. 273 do CP e com relação ao art. 184, § 2º, do CP a absolvição se impõe, uma
vez que a denuncia não identificou os lesados cujas obras tiveram o direito autoral violado.
Atipicidade da conduta que se reconhece. TJRJ (Em. 77/298)................................................... 619
— Violação de direito autoral. Necessidade. Para comprovar a materialidade do delito descrito
no art. 184, § 2º, do CP, o expert não pode se limitar ao exame externo dos CDs e DVDs arre-
cadados, pois, ainda que se verifique uma falsidade, a violação dos direitos do autor somente
se configura com a certeza de que houve reprodução de alguma obra, ou seja, que existe uma
gravação não autorizada. TJMG (Em. 77/304)........................................................................... 622
— Violação de direito autoral. Venda de CDs e DVDs falsificados (art. 184, § 2º, do CP). Mate-
rialidade delitiva não demonstrada. Laudo pericial lacunoso. TJSP (Em. 77/297).................... 619
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA
— Resposta à acusação. Ausência de fundamentação. Nulidade. Ocorrência. Compreende esta
Turma que o constitucional dever de motivação exige que seja a denegação da absolvição
sumária fundamentada, ainda que concisamente, apreciando as teses relevantes e urgentes
apresentadas na resposta à acusação, consignando mesmo aquelas dependentes de instrução
essa condição. STJ (Em. 77/291)................................................................................................ 617
680 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
—C—
CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA
— Declarações proferidas em ambiente eleitoral e para fins de propaganda eleitoral. Emendatio
libelli. Desclassificação. Ilegitimidade ativa ad causam não reconhecida. Mérito favorável ao
acusado. Incidência do princípio do favor rei. Figuras públicas. Declarações tematicamente
pertinentes à dialética eleitoral. Atipicidade de conduta. Rejeição da queixa-crime. STF (Em.
77/213)....................................................................................................................................... 583
— Imputação ofensiva à reputação da vítima. Propagação em rede nacional. Crime continuado.
Divulgação em território de diversas jurisdições. Fixação pela prevenção. Competência do
juízo suscitado. TJAP (Em. 77/217)........................................................................................... 584
CARTEIRA DE TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL – AUSÊNCIA DE ANOTAÇÃO E
COMPETÊNCIA CRIMINAL
— Artigo de Gustavo Filipe Barbosa Garcia.................................................................................... 428
CERCEAMENTO DE DEFESA
— Prova oral gravada em meio audiovisual. Apelação. Ministério Público. Pedido de conversão
em diligência para degravação. Indeferimento pelo Tribunal de Justiça. Não se verifica cer-
ceamento de defesa no indeferimento do pleito formulado pela Procuradoria de Justiça, de
conversão do julgamento em diligência, para degravação de prova oral, consoante se extrai
do art. 405, § 2º, do CPP, segundo o qual os registros por meio audiovisual não requerem a
respectiva transcrição. STJ (Em. 77/274)................................................................................... 609
COISA JULGADA
— Artigo de Marcellus Polastri Lima e Marciley Boldrini: “Reflexões e Particularidades sobre a
Preclusão, a Coisa Julgada e o Chamado ‘Trânsito em Julgado’ Penal”...................................... 446
COMPETÊNCIA
— Artigo de Gustavo Filipe Barbosa Garcia: “Carteira de Trabalho e Previdência Social – Ausência
de Anotação e Competência Criminal”...................................................................................... 428
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 681
bível. A devolução imediatamente após o ocorrido, por si só, não autoriza a desclassificação
da conduta delitiva, mas faculta ao Juiz a redução da pena........................................................ 519
— Fuga após acidente de trânsito. Rejeição de denúncia. Desconstituição da decisão de primeiro
grau. Princípio do in dubio pro societate. Na fase preliminar, de recebimento da exordial, cabe
ao Juiz apenas verificar se foram preenchidos os requisitos exigidos pelos arts. 77 e 78 do
CPPM. Denúncia que se encontra revestida das formalidades legais. STM (Em. 77/237)......... 595
— Fuga de preso. Forma culposa. Delito delineado e provado. Provimento do apelo do MPM.
Art. 179 do COM. Declaração da extinção da punibilidade do acusado, em face da ocorrência
da prescrição da pretensão punitiva estatal, com base na pena concretizada na decisão. STM
(Em. 77/238).............................................................................................................................. 596
— Furto de uso. Conduta moldada na apropriação temporária de arma com devolução em ato
contínuo. Materialidade e autoria confessadas no interrogatório. Acervo probatório harmônico.
Desclassificação para o crime de furto de uso por adequação ao tipo do art. 241 do CPM. STM
(Em. 77/260).............................................................................................................................. 605
— Furto de uso de ambulância. Condenação. Prestação de serviço à comunidade durante o
período de prova do sursis. Impossibilidade. STM (Em. 77/208)............................................... 580
— Furto de uso de armamento. Absolvição. É indispensável que o sujeito ativo tenha subtraído
a coisa daquele que lhe tinha a posse ou a propriedade, retirando-a, sub-repticiamente, de
sua esfera de vigilância e disponibilidade. STM (Em. 77/208)................................................... 580
— Injúria real. Elemento subjetivo do dolo não comprovado. Absolvição. No caso, o Sargento
ordenou a submersão de soldado em cocho destinado à hidratação de equinos, em razão de o
militar não ter cumprido ordem de serviço a contento. O crime de injúria real, para sua con-
figuração, pressupõe a índole, o dolo, a intenção de aviltar e denegrir a imagem do ofendido.
Elemento subjetivo do tipo não configurado nos presentes autos, impondo-se a manutenção
do decreto absolutório. STM (Em. 77/248)................................................................................ 600
— Patrocínio indébito. Art. 334 do CPM. Materialidade do delito. Indícios de autoria demons-
trados. Princípio do in dubio pro societate. Existindo prova de fato que constitua crime e
indícios de quem o cometera, deve ser apresentada a denúncia, conforme determina o art. 30
do CPPM. STM (Em. 77/279)..................................................................................................... 612
— Recusa de obediência. Militar previamente designado em escala de serviço. Ordem emanada
de superior hierárquico. Negativa de realizar as funções de sargento de dia. Assunto afetado
ao serviço da caserna. Infração ao preceito incriminador do art. 163 do CPM. Sentença con-
denatória mantida. STM (Em. 77/207)....................................................................................... 580
— Tóxicos. Adequação ao tipo legal previsto no art. 290, caput, do CPM, na modalidade “trazer
consigo”. Réu confesso. Impossibilidade de aplicação dos princípios da insignificância e da
proporcionalidade. Não incidência da Lei 11.343/06. STM (Em. 77/258)................................. 604
—D—
DA CRIMINALIZAÇÃO REGULAMENTAR EM MATÉRIA DE EFLUENTES AMBIENTAIS
— Artigo de Magno Federici Gomes e Fernando Marques Khaddour............................................ 434
DANO AO PATRIMÔNIO E APOLOGIA À FACÇÃO CRIMINOSA
— Autoria e materialidade comprovadas. Prova segura com base no relato dos agentes de segurança
penitenciária e confissão do sentenciado. Danos caracterizados por registros fotográficos, ade-
mais. Perda de 1/3 dos dias remidos. Compatibilidade com as circunstâncias do caso concreto.
Falta disciplinar que constitui marco interruptivo de benefício. TJSP (Em. 77/236)................ 595
DEFESA PRELIMINAR DEFICITÁRIA
— Prejuízo não demonstrado. Art. 563 do CPP. Súmula 523/STF. Inexistência de nulidade. STF
(Em. 77/243).............................................................................................................................. 598
DENÚNCIA
— Ação penal. Diplomação do acusado como deputado federal subsequente ao recebimento da
denúncia no primeiro grau. Imputação do crime previsto no art. 316 do CP. Inexistência de
quaisquer das hipóteses arroladas no art. 397 do CPP. Regular prosseguimento da ação penal.
Pedidos de rejeição da denúncia e de absolvição sumária do acusado indeferidos. STF (Em.
77/203)....................................................................................................................................... 579
— Contra deputado federal. Crime de falsidade ideológica eleitoral, art. 350 do Código Eleito-
ral. Posterior pedido de desclassificação para o crime do art. 299 do CP. Alegada omissão de
informações na prestação de contas eleitorais. Afastamento das preliminares de prescrição
em perspectiva e inépcia da denúncia. Alegada falta de justa causa para o prosseguimento da
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 683
DENÚNCIA GENÉRICA
— Acórdão do STF – Inépcia. Inocorrência. Delito societário. Crime de autoria coletiva. Obser-
vância do art. 41 do CPP. Suficiente descrição do fato tido como criminoso. Poder de gestão
na pessoa jurídica. Há diferença entre denúncia genérica e geral. Enquanto naquela se aponta
fato incerto e imprecisamente descrito, na última há acusação da prática de fato específico
atribuído a diversas pessoas, ligadas por circunstâncias comuns, mas sem a indicação minu-
dente da responsabilidade interna e individual dos imputados.................................................. 469
DESACATO
— Induvidosa existência e autoria da infração imputada a denunciado que, abordado, veio irrogar
ofensas aos policiais militares. TJRS (Em. 77/227)..................................................................... 590
DESAFORAMENTO
— Júri. Dúvida quanto à parcialidade dos jurados configurada. Preterição das comarcas mais
próximas. Possibilidade. STJ (Em. 77/245)................................................................................ 599
DESCAMINHO
— Acórdão do TRF 3ª R. – Princípio da insignificância. Aplicabilidade. Existência de outros
processos penais anteriormente ajuizados, bem como habitualidade extraída de autuações
fiscais. Irrelevância...................................................................................................................... 539
DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME
— Furto qualificado. Desclassificação do furto consumado para tentado. Viabilidade. Redução da
pena imposta. Cabível. Alteração do cumprimento de pena. O crime de furto não se consuma
se a res furtiva não chega a sair da esfera de vigilância do dono, impondo-se a desclassificação
do delito de furto consumado para a sua forma tentada. TJPE (Em. 77/239)............................ 596
— Latrocínio. Participação na morte da vítima. Prova fulcrada exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na fase da informatio delicti. Insuficiência para a condenação. Ausência
de provas judicializadas. Desclassificação da conduta para o crime de furto. Imperatividade.
TJMG (Em. 77/254).................................................................................................................... 603
— Lesão corporal qualificada. Deformidade permanente. Júri. Desclassificação. Decisão mani-
festamente contrária à prova dos autos. Inexistência. Lastro probatório suficiente. Soberania
dos veredictos. Erro ou injustiça na dosimetria. Pena privativa de liberdade reduzida. Sanção
pecuniária não prevista no tipo. Abstrações, expressões genéricas e dados integrantes da
própria conduta típica são inidôneos para exasperar a pena-base. TJPB (Em. 77/257)............. 604
DIREÇÃO INABILITADA DE VEÍCULO
— Acórdão do STF – Permitir ou entregar direção de veículo automotor a pessoa não habilitada.
Crime de perigo abstrato. Prescindibilidade do resultado naturalístico..................................... 491
—E—
EMBARGOS INFRINGENTES
— Ação penal originária. Necessidade de que haja, pelo menos, quatro “votos divergentes”
favoráveis ao réu e, assim mesmo, convergentes no sentido de sua absolvição. Inocorrência,
na espécie, de tal situação. Os EI do julgado proferido pelo STF em sede de processo penal
originário ainda subsistem em nosso ordenamento positivo, eis que a norma inscrita no art.
333, I, do RISTF foi recebida pela vigente CR com força e eficácia de lei. Distinção necessária,
para os fins do parágrafo único do art. 333 do RISTF, entre votos minoritários de conteúdo
absolutório em sentido próprio e aqueles que meramente declaram consumada a prescrição
penal. STF (Em. 77/225)............................................................................................................ 589
— Tóxicos. Tráfico de drogas minorado. Abrandamento do regime prisional e modificação das
penas restritivas de direitos. Necessidade. Embargos acolhidos. Tendo as penas dos réus
sido fixadas no mínimo legal e reduzidas na fração máxima prevista no art. 33, § 4º, da Lei
11.343/06, sendo a reprimenda privativa de liberdade substituída por restritivas de direitos,
imperiosa a mitigação do regime carcerário para o semiaberto, em observância ao art. 33, §
3º, do CP. TJMG (Em. 77/226)................................................................................................... 590
EMBRIAGUEZ AO VOLANTE
— Denúncia rejeitada sob o fundamento de ausência de justa causa necessária à propositura da
ação penal. A peça de denúncia em nenhum momento trouxe como ponto válido a ocorrên-
cia de um perigo concreto, pautando-se nesse contexto fático a assertiva de uma evidente
ausência de justa causa. Ademais, o bafômetro não mede o nível de álcool no sangue, mas,
sim, o metabolismo do álcool nos pulmões, o que, por si só, já vai de encontro ao princípio
da legalidade. Tal afirmação é corroborada por especialistas no assunto. O teste do bafômetro,
isoladamente, não é suficiente para determinar a embriaguez, porque este teste mede o produto
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 685
de transformação do álcool, sem o álcool estar presente, ainda. O citado professor esclarece
também que “o jejum prolongado ou o diabetes não tratado podem dar positividade no teste
do bafômetro”. TJRJ (Em. 77/278)............................................................................................. 611
— Lesão corporal na direção de veículo. Condenação. Irresignação. Alegação de inexistência de
comprovação da materialidade do delito. Argumento infundado. Ausência de teste de alcoole-
mia. Inexigibilidade. Delito cometido sob a égide da Lei 11.760/2012. Estado etílico evidente
através da comprovação de outros meios legalmente previstos na lei. TJPB (Em. 77/255)........ 603
— Praticado o fato depois do advento da Lei 12.760/2012, afigura-se viável a demonstração da
infração prevista no art. 306, caput, do CTB por meio de prova outra que não a verificação do
índice de alcoolemia, através da realização de teste com etilômetro. Caso em que o estado de
embriaguez do acusado vem demonstrado pela prova oral coligida, mormente pelas declarações
prestadas pelos agentes policiais, bem assim pelo exame clínico, constatando que apresentava
o recorrente, na oportunidade, vestes desalinhadas, equilíbrio alterado, hálito etílico, atividade
eufórica e face de coloração ruborizada. TJRS (Em. 77/227)..................................................... 590
ESTELIONATO
— Alienação de lote concedido pelo INCRA. Rejeição da denúncia mantida. Não restou compro-
vada a prática do crime de estelionato, tampouco prejuízo em desfavor da autarquia federal,
mas tão somente a violação ao disposto no art. 21 da Lei 8.629/93, cabendo, na hipótese
vertente, sanções cíveis. TRF 3ª R. (Em. 77/229)....................................................................... 591
ESTELIONATO QUALIFICADO
— Programa farmácia popular. Irregularidades graves. Vantagem indevida apurada. Prejuízo
concreto aos cofres federais. Expediente fraudulento caracterizado. Estelionato configurado.
Réus (proprietários de farmácia que vendia medicamentos no âmbito do aqui tem farmácia
popular) que instruíram funcionária (cadastradora) para ir até residências e, por vezes, infor-
mar que postos de saúde não mais forneceriam os medicamentos de uso contínuo utilizados
pelos moradores do local. Pena. Dosimetria. Primeira fase da dosimetria. Circunstância do
crime desfavorável aos agentes. Realizada a substituição da pena privativa de liberdade por
penas restritivas de direitos. TRF 3ª R. (Em. 77/230)................................................................ 592
ESTUPRO
— Companheira no âmbito da convivência. Palavra da vítima não dissonante dos demais ele-
mentos probatórios. Autoria e materialidade comprovadas. TJAP (Em. 77/231)...................... 593
ESTUPRO CONTRA VULNERÁVEL
— Absolvição. Ausência de comprovação da deficiência mental da vítima comprometedora do
discernimento para o ato. Vulnerabilidade relativa. In dubio pro reo. TJAP (Em. 77/232)......... 593
— Acórdão do STJ – Elementos do tipo penal. Ato libidinoso. Menor de 14 anos. Desclassificação.
Inadequação. Constrangimento ilegal. Crime subsidiário. Adequação típica. Hipótese em que
a conduta do réu constitui efetivo contato lascivo, voluptuoso e corpóreo, de libidinagem,
com o propósito de satisfação de sua lascívia............................................................................. 503
EVASÃO DE DIVISAS E GESTÃO FRAUDULENTA
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
— Crimes contra o SFN. Conceito normativo de instituição financeira, para fins penais, de-
finido pela própria Lei 7.492/86 (art. 1º e parágrafo único), que abrange, até mesmo, para
esse efeito, pessoas naturais ou entidades que operem sem autorização do Banco Central do
Brasil. Pretendido reconhecimento da atipicidade penal do delito de gestão fraudulenta, que,
alegadamente, só poderia ser praticado por instituição financeira regularmente constituída e
autorizada pelo Banco Central do Brasil. Fundamento inadmissível. Autonomia jurídica dos
crimes de gestão fraudulenta de instituição financeira (Lei 7.492/86, art. 4º) e de operação
de instituição financeira não autorizada (Lei 7.492/86, art. 16). Consequente possibilidade
da prática de ambos os delitos, que podem ser cometidos em concurso. Tipicidade penal do
crime de evasão de divisas (Lei 7.492/86, art. 22). STF (Em. 77/223)....................................... 587
EXCESSO DE PRAZO
— Acórdão do STF – Prisão preventiva. Homicídio qualificado. Excesso de prazo prisional
configurado. Extensão da ordem. Art. 580 do CPP.................................................................... 496
— Prisão preventiva. Configuração. Homicídio qualificado. Prolação de pronúncia. Súmula 21/
STJ. Hipótese de afastamento. No caso, não obstante a incidência hipotética, da Súmula 21/
STJ, porquanto proferida decisão de pronúncia, verifica-se que o mencionado entendimento
é de ser afastado. Não há o que justifique a manutenção de uma prisão preventiva há mais de
quatro anos sem ter havido um pronunciamento definitivo do Poder Judiciário, não tendo a
defesa em nada contribuído para tal demora, configurando, portanto, tal situação, odioso e
686 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
—F—
FALSIDADE IDEOLÓGICA ELEITORAL
— Denúncia contra deputado federal. Art. 350 do Código Eleitoral. Posterior pedido de des-
classificação para o crime do art. 299 do CP. Alegada omissão de informações na prestação
de contas eleitorais. Afastamento das preliminares de prescrição em perspectiva e inépcia da
denúncia. Alegada falta de justa causa para o prosseguimento da ação penal. Acolhimento.
Ausência de indícios suficientes de autoria e materialidade delitivas. Rejeição da denúncia.
STF (Em. 77/249)....................................................................................................................... 600
— Prestação de contas eleitoral. Prejudicial. Prescrição pela pena em abstrato. Inocorrência.
Natureza pública, e não privada, do documento. Omissão de informação com fim de alterar
a verdade sobre fato juridicamente relevante. Narrativa fática obediente ao disposto no art.
41 do CPP. Demonstração mínima da prática da conduta e do especial fim de agir. Existência
de justa causa para o início da ação penal. Denúncia recebida contra os acusados Paulo Salim
Maluf e Sérgio Stefanelli Gomes. STF (Em. 77/250).................................................................. 600
FALSIFICAÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE PRODUTOS DESTINADOS A
FINS TERAPÉUTICOS OU MEDICINAIS
— Julgado parcialmente procedente os pedidos contidos na denuncia para condenar os réus
Paulo Cesar e Ana Paula na forma da denuncia e o réu Carlos Alberto somente pelo delito
previsto no art. 184, § 2º, do CP, absolvendo-o do delito previsto no art. 273, § 1º, do CP por
precariedade de prova. Mandados de busca e apreensão cumpridos de forma ilegítima e sem
a observância das normas legais. Violação ao art. 564, IV, do CPP. Absolvição que se impõe,
igualmente ante a ausência de lesão ao bem jurídico tutelado quanto ao delito previsto no
art. 273 do CP e com relação ao art. 184, § 2º, do CP a absolvição se impõe, uma vez que a
denuncia não identificou os lesados cujas obras tiveram o direito autoral violado. Atipicidade
da conduta que se reconhece. TJRJ (Em. 77/298)...................................................................... 619
FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE SUBSTÂNCIA OU
PRODUTOS ALIMENTÍCIOS
— Aplicação a terceiros, por profissionais da medicina, da toxina fine tox. Inexistência de registro
pela Anvisa. Produto de origem estrangeira. Art. 109, IV, da CF. Súmula 122/STJ. Competência
da Justiça Federal. Não demonstração de que tal produto tem, em tese, aptidão para provocar
prejuízo à saúde humana. Ausência de tipicidade. Mesmo em se tratando de crime de perigo
abstrato o delito tipificado no art. 273, §§ 1º e 2º, do CP, a sua configuração não se manifesta
pela só ausência de registro do medicamento na Anvisa, havendo, igualmente, a necessidade
da demonstração de uma probabilidade de lesão, por mínima que seja, isto é, que o produto
em causa seja idôneo, em tese, para ofender o bem jurídico tutelado pelo ordenamento, con-
sistente na saúde humana. TRF 5ª R. (Em. 77/209)................................................................... 581
FALTA GRAVE
— Acórdão do TJSP – Interrupção do prazo aquisitivo para concessão de novos benefícios. Nos
termos do pacificado e sumulado entendimento do STJ, a prática de falta grave não interrompe
o prazo aquisitivo e o reinício da contagem do lapso temporal para concessão de livramento
condicional................................................................................................................................. 577
— Prescrição. Inocorrência. Ausência de prazo prescricional previsto na LEP. Adoção, por analo-
gia, daquele fixado pelo art. 109, VI, do CP. Perda de 1/3 dos dias remidos. Compatibilidade
com as circunstâncias do caso concreto. Falta disciplinar que constitui marco interruptivo de
benefício. TJSP (Em. 77/236)..................................................................................................... 595
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 687
FEMINICÍDIO
— Paciente preso em flagrante e ulteriormente denunciando pela prática, em tese, do crime de
feminicídio. Prisão em flagrante convertida em preventiva. Pleito libertário interposto pela
defesa que restou indeferido. Irresignação defensiva que alega ausência de motivação e de
fundamentação idônea na decisão, além de excesso de prazo. Constrangimento ilegal confi-
gurado. Ordem que se concede. TJRJ (Em. 77/261)................................................................... 605
FERNANDO GENTIL GIZZI DE ALMEIDA PEDROSO
— Artigo: “A Dualidade Havida (a Vida): Seria o Aborto Questão de Saúde Pública ou de Política
Criminal?”.................................................................................................................................. 361
FLÁVIO AUGUSTO MARETTI SGRILLI SIQUEIRA
— Artigo: “Acordo de Leniência e seus Reflexos Penais”............................................................... 408
FUGA DE PRESO
— Forma culposa. Delito delineado e provado. Provimento do apelo do MPM. Art. 179 do CPM.
Declaração da extinção da punibilidade do acusado, em face da ocorrência da prescrição da
pretensão punitiva estatal, com base na pena concretizada na decisão. STM (Em. 77/238)...... 596
FURTO
— Acórdão do STJ – Princípio da insignificância. Inaplicabilidade. Concurso de agentes. Alto
grau de reprovabilidade no comportamento do acusado e esmaece a circunstância do diminuto
valor do objeto furtado............................................................................................................... 516
— Acórdão do STM – Princípio da insignificância. Inaplicabilidade. Teoria da amotio ou ap-
prehensio. Crime consumado. Devolução da res furtiva. Desclassificação da conduta. Incabível.
Devolução imediata após o ocorrido, por si só, não autoriza a desclassificação da conduta
delitiva, mas faculta ao Juiz a redução da pena.......................................................................... 519
— Prova da autoria e da materialidade lastreada nas provas produzidas. Havendo robusto con-
junto probatório a demonstrar, sem sombra de dúvida, a prática delitiva, de rigor o decreto
condenatório. TJSP (Em. 77/242)............................................................................................... 598
FURTO DE USO
— Ambulância. Condenação. Prestação de serviço à comunidade durante o período de prova do
sursis. Impossibilidade. STM (Em. 77/208)................................................................................ 580
— Arma. Conduta moldada na apropriação temporária de arma com devolução em ato contínuo.
Materialidade e autoria confessadas no interrogatório. Acervo probatório harmônico. Desclas-
sificação para o crime de furto de uso por adequação ao tipo do art. 241 do CPM. STM (Em.
77/260)....................................................................................................................................... 605
— Armamento. Absolvição. É indispensável que o sujeito ativo tenha subtraído a coisa daquele
que lhe tinha a posse ou a propriedade, retirando-a, sub-repticiamente, de sua esfera de vigi-
lância e disponibilidade. STM (Em. 77/208).............................................................................. 580
FURTO QUALIFICADO
— Acórdão do TJMG – Rompimento de obstáculo. Quebra de vidro de janela para acessar o
imóvel. Inclusão da qualificadora com base na prova pericial. Mantida.................................... 559
— Desclassificação do furto consumado para tentado. Viabilidade. Redução da pena imposta.
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
Cabível. Alteração do cumprimento de pena. O crime de furto não se consuma se a res furtiva
não chega a sair da esfera de vigilância do dono, impondo-se a desclassificação do delito de
furto consumado para a sua forma tentada. TJPE (Em. 77/239)................................................ 596
— Pena. Réu reincidente. Regime inicial semiaberto. Possibilidade. Ao réu reincidente condenado
à pena inferior a quatro anos é possível a fixação do regime semiaberto como inicial para o
cumprimento da pena, desde que ausentes circunstâncias judiciais desfavoráveis, de acordo
com a Súmula 269/STJ. É de se manter a custódia cautelar quando decretada para a garantia da
ordem pública para evitar a reiteração criminosa, adequando-a, contudo, ao regime semiaberto
de cumprimento da pena. TJAC (Em. 77/240)........................................................................... 597
— Princípio da insignificância. Furto privilegiado. Tentativa. Um fato é penalmente insignificante
quando, para os personagens nele envolvidos ou para a comunidade que o recepciona, nada
de mais expressivo representou em suas vidas ou em suas preocupações. A versão privilegia-
da não é tecnicamente incompatível com as versões qualificadas do furto. Aliás, imperioso
registrar o atual entendimento do STJ reafirmando a possibilidade de aplicação do privilégio
em casos de furto qualificado, desde que presentes os requisitos legais (Súmula 511). TJSP
(Em. 77/267).............................................................................................................................. 607
— Rompimento de obstáculo. Fraude. Concurso de a gentes. Dispositivos “pescadores”. Retenção
de envelopes de depósito bancário. CEF. Autoria e materialidade do delito comprovadas. Crime
impossível não configurado. Continuidade delitiva. Dosimetria da pena. Pena-base acima do
688 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
mínimo legal. Circunstâncias judiciais desfavoráveis. Reparação de danos do art. 387, IV, do
CPP. Impossibilidade. Ausência de pedido expresso. TRF 3ª R. (Em. 77/241).......................... 597
—G—
GESTÃO FRAUDULENTA E EVASÃO DE DIVISAS
— Crimes contra o SFN. Conceito normativo de instituição financeira, para fins penais, de-
finido pela própria Lei 7.492/86 (art. 1º e parágrafo único), que abrange, até mesmo, para
esse efeito, pessoas naturais ou entidades que operem sem autorização do Banco Central do
Brasil. Pretendido reconhecimento da atipicidade penal do delito de gestão fraudulenta, que,
alegadamente, só poderia ser praticado por instituição financeira regularmente constituída e
autorizada pelo Banco Central do Brasil. Fundamento inadmissível. Autonomia jurídica dos
crimes de gestão fraudulenta de instituição financeira (Lei 7.492/86, art. 4º) e de operação
de instituição financeira não autorizada (Lei 7.492/86, art. 16). Consequente possibilidade
da prática de ambos os delitos, que podem ser cometidos em concurso. Tipicidade penal do
crime de evasão de divisas (Lei 7.492/86, art. 22). STF (Em. 77/223)....................................... 587
GUSTAVO FILIPE BARBOSA GARCIA
— Artigo: “Carteira de Trabalho e Previdência Social – Ausência de Anotação e Competência
Criminal”.................................................................................................................................... 428
—H—
HABEAS CORPUS
— Ação penal. Trancamento da ação penal em sede de HC. Possibilidade. Ausência de justa causa
e inépcia da exordial acusatória. STJ (Em. 77/220).................................................................... 586
HOMICÍDIO CULPOSO
— Médica(o). Inobservância de regra técnica de profissão. Trancamento de ação penal. Des-
cabimento. Inépcia da inicial não caracterizada. Hipótese em que a denúncia descreve ter a
paciente, na condição de médica plantonista, incorrido em negligência ao deixar de realizar
os exames clínicos aptos a diagnosticar a razão das dores abdominais da vítima, que veio a
falecer, dias depois de ser novamente atendida por outro profissional, de “choque séptico por
abdômen agudo perfurativo” em razão de apendicite aguda perfurada. STJ (Em. 77/244)....... 598
HOMICÍDIO QUALIFICADO
— Acórdão do STF – Prisão preventiva. Excesso de prazo prisional configurado. Extensão da
ordem. Art. 580 do CPP.............................................................................................................. 496
— Motivo fútil e por recurso que dificultou a defesa do ofendido. Pronúncia. Ausência de funda-
mentação. Nulidade. A decisão de pronúncia se caracteriza pela cognição sumária e superficial
dos elementos probatórios, a teor do que dispõe o art. 413 do CPP, devendo conter a devida
fundamentação, conforme determina o art. 93, IX, da CF, porém, a decisão questionada não
apresenta motivação concreta em relação às qualificadoras, o que impõe a declaração de
nulidade desta. TJGO (Em. 77/247)........................................................................................... 599
—I—
INDULTO
— Comutação. Decreto Presidencial 7.873/2012. Impossibilidade. Falta grave consistente em
fuga cometida após pedido de benefício. Efeitos do reconhecimento de falta grave, que torna
ilógica a concessão de indulto, ainda que parcial, ao sentenciado. TJSP (Em. 77/214)............. 584
— Comutação. Decreto Presidencial 8.380/2014. Possibilidade. Base de cálculo. Comutação con-
cedida com base em período de pena remanescente. A base de cálculo deve ser o período de
pena já cumprido, uma vez que tal intervalo é superior ao período remanescente de desconto
da reprimenda. Observância do art. 2º, § 1º, do Decreto. TJSP (Em. 77/215)........................... 584
INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA
— Adolescente que ingressou em motel desacompanhada e sem a autorização de seus responsá-
veis. Sentença condenatória. Fixação de multa em 15 salários mínimos. Pretensa aplicação do
princípio in dubio pro reo. Impossibilidade. Materialidade e autoria devidamente comprovadas.
Prova testemunhal. Infante que entrou no motel representado acompanhada de um adulto.
Depoimento da menor coerente e verossímil. Inexistente fundamento concreto que justifique
a exasperação da pena de multa pela infração administrativa do art. 250 do ECA, ela deve ser
fixada em 10 salários mínimos, o equivalente ao mínimo antes previsto no preceito secundário
da norma. TJSC (Em. 77/228).................................................................................................... 590
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 689
INJÚRIA REAL
— Crime militar. Elemento subjetivo do dolo não comprovado. Absolvição. No caso, o Sargento
ordenou a submersão de soldado em cocho destinado à hidratação de equinos, em razão de o
militar não ter cumprido ordem de serviço a contento. O crime de injúria real, para sua con-
figuração, pressupõe a índole, o dolo, a intenção de aviltar e denegrir a imagem do ofendido.
Elemento subjetivo do tipo não configurado nos presentes autos, impondo-se a manutenção
do decreto absolutório. STM (Em. 77/248)................................................................................ 600
INQUÉRITO
— Crime de falsidade ideológica em prestação de contas eleitoral. Prejudicial. Prescrição pela
pena em abstrato. Inocorrência. Natureza pública, e não privada, do documento. Omissão de
informação com fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Narrativa fática
obediente ao disposto no art. 41 do CPP. Demonstração mínima da prática da conduta e do
especial fim de agir. Existência de justa causa para o início da ação penal. Denúncia recebida
contra os acusados Paulo Salim Maluf e Sérgio Stefanelli Gomes. STF (Em. 77/250)............... 600
— Denúncia contra deputado federal. Crime de falsidade ideológica eleitoral, art. 350 do Código
Eleitoral. Posterior pedido de desclassificação para o crime do art. 299 do CP. Alegada omissão
de informações na prestação de contas eleitorais. Afastamento das preliminares de prescrição
em perspectiva e inépcia da denúncia. Alegada falta de justa causa para o prosseguimento da
ação penal. Acolhimento. Ausência de indícios suficientes de autoria e materialidade delitivas.
Rejeição da denúncia. STF (Em. 77/249)................................................................................... 600
INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES
— Acórdão do TRF 4ª R. – Pena. Peculato (art. 313-A do CP). Semi-imputabilidade. Art. 26,
parágrafo único, do CP. Circunstâncias judiciais. Personalidade. Consequências do crime...... 546
INTERNAÇÃO
— Medida socioeducativa. Ato infracional análogo ao homicídio. Pedido de desclassificação para
reconhecimento do ato infracional análogo ao homicídio na modalidade culposa. Impossibi-
lidade. Adolescente que confessou apontar arma de fogo para a vítima assumindo o risco de
matar. TJRN (Em. 77/211).......................................................................................................... 582
INTERROGATÓRIO
— Nulidade. Ausência de amparo jurídico. A preliminar de nulidade do interrogatório arguida
pela DPU, em sede de apelo do MPM, a pretexto de aplicação do art. 400 do CPP, com reda-
ção imposta pela Lei 11.719/08, não encontra amparo na jurisprudência do STM, em face do
princípio da especialidade do direito penal militar. STM (Em. 77/260)..................................... 605
—J—
JÚRI
— Desaforamento. Dúvida quanto à parcialidade dos jurados configurada. Preterição das comarcas
mais próximas. Possibilidade. STJ (Em. 77/245)........................................................................ 599
— Homicídio qualificado. Motivo torpe e recurso que impossibilita a defesa da vítima. Irresignação
quanto à sanção penal aplicada. Circunstâncias judiciais. Culpabilidade e consequências do
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
crime. Fundamentação inidônea. Pena-base reformada. Afastamento de agravante. Alegação
de ausência de motivação fútil. Não acolhimento. Elementos probatórios justificadores da
manutenção. Confissão espontânea. Preponderância. Participação de menor importância. Art.
29, § 1º, do CP. Ausência de alegação no momento oportuno. Art. 483, § 3º, do CPP. Impos-
sibilidade de análise nesta via recursal, sob pena de supressão de instância. Reformulação da
dosimetria. TJAL (Em. 77/253).................................................................................................. 602
— Homicídio qualificado. Pena. Redução. Viabilidade. Impossibilidade de exclusão da inde-
nização fixada a título de reparação pelos danos sofridos pela família da vítima. Quando as
circunstâncias judiciais forem, na quase totalidade, favoráveis ao acusado, a pena-base deve
ser fixada próxima ao mínimo legal. Não há necessidade de pedido formal de fixação de valor
mínimo para fins de reparação dos danos causados pela infração, nos termos do art. 387, IV,
do CPP. TJGO (Em. 77/251)....................................................................................................... 601
— Homicídio qualificado. Prova emprestada confirmada sob o crivo do contraditório. Análise
das provas. Atribuição do Conselho de Sentença. Ausência de prova inequívoca. Caderno
processual suficiente a indicar a prova da materialidade e indícios da autoria dos fatos supos-
tamente criminosos. In dubio pro societate. Imperatividade. A testemunha ocular é categórica
ao atribuir ao apelante a autoria do crime, seu testemunho colhido em sede judicial afasta
qualquer nulidade, visto que não houve cerceamento de defesa, na medida em que a prova
foi produzida sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. Ademais, a prova emprestada
690 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
é admitida no ordenamento jurídico pátrio, salvo se produzida de maneira ilícita, o que não
restou demonstrado no caso. TJAL (Em. 77/252)...................................................................... 602
—L—
LATROCÍNIO
— Participação na morte da vítima. Prova fulcrada exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na fase da informatio delicti. Insuficiência para a condenação. Ausência de provas
judicializadas. Desclassificação da conduta para o crime de furto. Imperatividade. TJMG (Em.
77/254)....................................................................................................................................... 603
LENIÊNCIA
— Artigo de Flávio Augusto Maretti Sgrilli Siqueira: “Acordo de Leniência e seus Reflexos Pe-
nais”............................................................................................................................................ 408
LESÃO CORPORAL QUALIFICADA
— Deformidade permanente. Júri. Desclassificação. Decisão manifestamente contrária à prova dos
autos. Inexistência. Lastro probatório suficiente. Soberania dos veredictos. Erro ou injustiça
na dosimetria. Pena privativa de liberdade reduzida. Sanção pecuniária não prevista no tipo.
Abstrações, expressões genéricas e dados integrantes da própria conduta típica são inidôneos
para exasperar a pena-base. TJPB (Em. 77/257)......................................................................... 604
— Versão acusatória não corroborada pelos elementos de prova produzidos nos autos. Não pas-
sando de mera suspeita a imputação do crime ao acusado, não tendo o MP se desincumbido de
provar o excesso do réu ao repelir a agressão injusta praticada pela vítima, tudo comprovando
tratar-se de ato praticado em legítima defesa, a manutenção da absolvição é medida de rigor,
na forma do art. 386, VI, do CPP. TJMG (Em. 77/256).............................................................. 604
LIBERDADE PROVISÓRIA
— Acórdão do STF – Tóxicos. Tráfico e associação. Arts. 33 e 35 da Lei 11.343/06. Prisão preven-
tiva. Fundamentação inidônea. Motivação genérica e abstrata. Súmula 691/STF. Afastamento.
Concessão da ordem. Substituição da prisão preventiva por medidas cautelares previstas no
art. 319 do CPP, a serem fixadas pelo juízo de primeiro grau.................................................... 485
— Acórdão do TRF 1ª R. – Fumus commissi delicti. Periculum in libertatis. Embasamento. Custódia
cautelar. Impossibilidade. Característica rebus sic stantibus da custódia provisória................... 525
— Roubo qualificado. Princípio da insignificância. Inaplicabilidade. Valor significante do bem
subtraído. Atenuante genérica do art. 66 do CP. Não reconhecimento. Recorrer em liberda-
de. Não cabimento. Motivação per relationem. Fundamentação arrolada na lei processual
penal. Garantia da ordem pública. Condições pessoais favoráveis. Irrelevância. TJMG (Em.
77/284)....................................................................................................................................... 614
— Tóxicos. Tráfico. Associação para o tráfico. Porte de munição. Corrupção de menores. Liber-
dade concedida. Paciente primário, preso em 25 de junho de 2015, pela suposta prática dos
delitos de tráfico ilícito de drogas, associação para o tráfico, porte de munição e corrupção
de menores. Teriam sido apreendidas, no interior da residência do paciente, 85 pedrinhas de
crack, 10 papelotes de cocaína, 3 munições intactas calibre 9mm e uma pequena quantidade
de maconha – peso insignificante – sem indicação de peso. A quantidade de droga apreendida,
ainda que de naturezas distintas, não pode ser considerada de monta expressiva – não há
indicação de peso. Não restou demonstrada, no caso concreto, a efetiva necessidade da prisão
preventiva, medida extrema e excepcional. Ordem concedida. Liminar ratificada. TJRS (Em.
77/290)....................................................................................................................................... 617
— Uso de documento falso. Prisão preventiva. Motivação insuficiente para manutenção. Se o réu
é primário, não ostenta registros criminais e o contexto fático que permeou a ação criminosa
a ele imputada não extrapola a gravidade inerente ao próprio tipo penal, em tese violado,
inexistindo justificativa objetiva para sua permanência sob custódia, concede-se a liberdade
provisória. TJGO (Em. 77/294).................................................................................................. 618
— Violência doméstica. Ameaça e descumprimento de medidas protetivas. Liberdade concedida.
Imposição de medida protetiva. Paciente primário, preso em 15 de julho de 2015, pela suposta
prática do delito de ameaça e pelo descumprimento de medidas protetivas. A prisão preventiva
decorrente do descumprimento de medidas protetivas ou em situação de violência à mulher
no âmbito da Lei Maria da Penha não pode ser abusiva, ou exagerada no tempo, porque tem
por finalidade justamente assegurar o cumprimento das medidas protetivas. Ocorre que,
transcorrido mais de um mês desde a prisão preventiva do paciente, não foi realizada – nem
ao menos designada – audiência com vistas a examinar alternativa diversa da prisão. Nesse
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 691
— M—
MAGNO FEDERICI GOMES E FERNANDO MARQUES KHADDOUR
— Artigo: “Da Criminalização Regulamentar em Matéria de Efluentes Ambientais”..................... 434
MARCELLUS POLASTRI LIMA E MARCILEY BOLDRINI
— Artigo: “Reflexões e Particularidades sobre a Preclusão, a Coisa Julgada e o Chamado ‘Trânsito
em Julgado’ Penal”...................................................................................................................... 446
MEDIDA SOCIOEDUCATIVA
— Internação. Ato infracional análogo ao homicídio. Pedido de desclassificação para reconhe-
cimento do ato infracional análogo ao homicídio na modalidade culposa. Impossibilidade.
Adolescente que confessou apontar arma de fogo para a vítima assumindo o risco de matar.
TJRN (Em. 77/211)..................................................................................................................... 582
MULTA
— Infração administrativa. Adolescente que ingressou em motel desacompanhada e sem a autori-
zação de seus responsáveis. Sentença condenatória. Fixação de multa em 15 salários mínimos.
Pretensa aplicação do princípio in dubio pro reo. Impossibilidade. Materialidade e autoria
devidamente comprovadas. Prova testemunhal. Infante que entrou no motel representado
acompanhada de um adulto. Depoimento da menor coerente e verossímil. Inexistente funda-
mento concreto que justifique a exasperação da pena de multa pela infração administrativa do
art. 250 do ECA, ela deve ser fixada em 10 salários mínimos, o equivalente ao mínimo antes
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
—N—
NULIDADE
— Pronúncia. Homicídio qualificado. Motivo fútil e por recurso que dificultou a defesa do
ofendido. Ausência de fundamentação. A decisão de pronúncia se caracteriza pela cognição
sumária e superficial dos elementos probatórios, a teor do que dispõe o art. 413 do CPP,
devendo conter a devida fundamentação, conforme determina o art. 93, IX, da CF, porém, a
decisão questionada não apresenta motivação concreta em relação às qualificadoras, o que
impõe a declaração de nulidade desta. TJGO (Em. 77/247)....................................................... 599
—O—
OBTER, MEDIANTE FRAUDE, FINANCIAMENTO EM INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
— Acórdão do TRF 5ª R. – Recursos do programa de fortalecimento da agricultura familiar –
Pronaf. Utilizados documentos de terceira pessoa para obtenção, configurou-se a conduta
típica prevista no art. 19 da Lei 7.492/86. Crime formal, prescindindo da efetiva liberação
das parcelas................................................................................................................................. 555
692 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
—P—
PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA
— A participação de menor importância do agente na empreitada criminosa (art. 29, § 1º, do CP)
é matéria afeta ao crivo dos jurados e aplicada à dosimetria da pena, realizada na hipótese de
condenação pelo Conselho de Sentença. TJGO (Em. 77/272)................................................... 608
PATROCÍNIO INDÉBITO
— Crime militar. Art. 334 do CPM. Materialidade do delito. Indícios de autoria demonstrados.
Princípio do in dubio pro societate. Existindo prova de fato que constitua crime e indícios de
quem o cometera, deve ser apresentada a denúncia, conforme determina o art. 30 do CPPM.
STM (Em. 77/279)...................................................................................................................... 612
PAULO JOSÉ FREIRE TEOTÔNIO, LUÍS AUGUSTO FREIRE TEOTÔNIO, LUAN
GUILHERME DIAS E LUÍS AUGUSTO FREIRE TEOTÔNIO JÚNIOR
— Artigo: “Limites e Perspectivas para a Justiça Criminal”............................................................ 416
PECULATO
— Acórdão do TRF 4ª R. – Pena. Inserção de dados falsos em sistema de informações (Art.
313-A do CP). Semi-imputabilidade. Art. 26, parágrafo único, do CP. Circunstâncias judiciais.
Personalidade. Consequências do crime.................................................................................... 546
PENA
— Acórdão do STJ – Roubo. Regime inicial fechado. Motivação insuficiente. Ordem concedida
de ofício. Deve ser mantida a fixação do regime semiaberto ao paciente primário, condenado
a seis anos, dois meses e 20 dias de reclusão e sem registro de circunstâncias judiciais desfa-
voráveis, a teor do art. 33, § 2º, b, do CP................................................................................... 507
— Acórdão do STJ – Sentença com trânsito em julgado há mais de cinco anos. Configuração de
maus antecedentes. Possibilidade. Embora não possa ser utilizada para configurar a reinci-
dência (art. 64, I, do CP), pode ser considerada como maus antecedentes............................... 511
— Acórdão do TJRJ – Roubo qualificado. Emprego de arma e em concurso de pessoas. Divergência.
Voto vencido. Fração relativa às causas de aumento da pena. Redução para o menor patamar
(1/3). Resgate. Possibilidade. Extensão de efeitos aos corréus. A fração eleita para majoração
da reprimenda em razão das causas de aumento da pena deve ser motivada quanto ao caso
concreto, e não somente em relação à quantidade de majorantes (Súmula 443 do STJ)........... 561
— Acórdão do TJRS – Regime semiaberto. Benefícios externos. Inexigibilidade de preenchimento
do requisito objetivo de 1/4 de cumprimento da pena privativa de liberdade........................... 566
— Acórdão do TJSC – Remição. Declarando remidos 51 dias referente aos meses de maio e junho
de 2014. Alegação de que desempenhava funções aos domingos. Possibilidade. Necessidade
de considerar como trabalhado o maior número possível de dias.............................................. 571
— Acórdão do TRF 4ª R. – Peculato. Inserção de dados falsos em sistema de informações (Art.
313-A do CP). Semi-imputabilidade. Art. 26, parágrafo único, do CP. Circunstâncias judiciais.
Personalidade. Consequências do crime.................................................................................... 546
— Atentado violento ao pudor. Tentativa. Reconhecida a forma tentada do delito de atentado
violento ao pudor, reduzindo-se a pena em 1/3. Pena-base. Reduzida a pena-base para o míni-
mo legal. Reincidência. Inocorrente a reincidência, posto que não caracterizada, afastando-se
o aumento pertinente à agravante. Regime carcerário. O regime carcerário é o aberto. TJRS
(Em. 77/210).............................................................................................................................. 582
— Embriaguez ao volante. Lesão corporal na direção de veículo. Condenação. Irresignação.
Alegação de inexistência de comprovação da materialidade do delito. Argumento infun-
dado. Ausência de teste de alcoolemia. Inexigibilidade. Delito cometido sob a égide da Lei
11.760/2012. Estado etílico evidente através da comprovação de outros meios legalmente
previstos na lei. TJPB (Em. 77/255)............................................................................................ 603
— Estelionato qualificado. Programa farmácia popular. Irregularidades graves. Vantagem indevida
apurada. Prejuízo concreto aos cofres federais. Expediente fraudulento caracterizado. Este-
lionato configurado. Réus (proprietários de farmácia que vendia medicamentos no âmbito do
aqui tem farmácia popular) que instruíram funcionária (cadastradora) para ir até residências
e, por vezes, informar que postos de saúde não mais forneceriam os medicamentos de uso
contínuo utilizados pelos moradores do local. Primeira fase da dosimetria. Circunstância do
crime desfavorável aos agentes. Realizada a substituição da pena privativa de liberdade por
penas restritivas de direitos. TRF 3ª R. (Em. 77/230)................................................................ 592
— Extorsão qualificada. Participação de menor importância. Matéria de prova. Causa especial
de aumento da pena. Afastamento. Supressão de instância. Regime prisional. Tratando-se de
paciente primário, com todas as circunstâncias judiciais favoráveis, condenado à pena privativa
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 693
de liberdade superior a quatro anos de reclusão e que não exceda a oito, é cabível o regime
inicial semiaberto, consoante dispõe o art. 33, § 2º, b, do CP. STJ (Em. 77/234)....................... 594
— Fraude à licitação. Utilização de certidão de conteúdo inverídico e indevida habilitação de
concorrente de tomada de preços. Prática de outro expediente que implica em frustração ao
caráter competitivo de licitação. Vetorial consequência do crime. Caracterização do delito
independe de obtenção de vantagem econômica indevida ou prejuízo ao erário, tratando-se
de crime formal. Na dosimetria da pena, não existindo o prejuízo apontado pela sentença,
deve a vetorial consequência do crime ser reputada neutra. TRF 4ª R. (Em. 77/296)............... 619
— Furto qualificado. Desclassificação do furto consumado para tentado. Viabilidade. Redução da
pena imposta. Cabível. Alteração do cumprimento de pena. O crime de furto não se consuma
se a res furtiva não chega a sair da esfera de vigilância do dono, impondo-se a desclassificação
do delito de furto consumado para a sua forma tentada. TJPE (Em. 77/239)............................ 596
— Furto qualificado. Réu reincidente. Regime inicial semiaberto. Possibilidade. Ao réu reincidente
condenado à pena inferior a quatro anos é possível a fixação do regime semiaberto como inicial
para o cumprimento da pena, desde que ausentes circunstâncias judiciais desfavoráveis, de
acordo com a Súmula 269/STJ. É de se manter a custódia cautelar quando decretada para a
garantia da ordem pública para evitar a reiteração criminosa, adequando-a, contudo, ao regime
semiaberto de cumprimento da pena. TJAC (Em. 77/240)........................................................ 597
— Furto qualificado. Rompimento de obstáculo. Fraude. Concurso de gentes. Dispositivos
“pescadores”. Retenção de envelopes de depósito bancário. CEF. Autoria e materialidade do
delito comprovadas. Crime impossível não configurado. Continuidade delitiva. Dosimetria
da pena. Pena-base acima do mínimo legal. Circunstâncias judiciais desfavoráveis. Reparação
de danos do art. 387, IV, do CPP. Impossibilidade. Ausência de pedido expresso. TRF 3ª R.
(Em. 77/241).............................................................................................................................. 597
— Júri. Homicídio qualificado. Motivo torpe e recurso que impossibilita a defesa da vítima.
Irresignação quanto à sanção penal aplicada. Circunstâncias judiciais. Culpabilidade e
consequências do crime. Fundamentação inidônea. Pena-base reformada. Afastamento de
agravante. Alegação de ausência de motivação fútil. Não acolhimento. Elementos probatórios
justificadores da manutenção. Confissão espontânea. Preponderância. Participação de menor
importância. Art. 29, § 1º, do CP. Ausência de alegação no momento oportuno. Art. 483, §
3º, do CPP. Impossibilidade de análise nesta via recursal, sob pena de supressão de instância.
Reformulação da dosimetria. TJAL (Em. 77/253)...................................................................... 602
— Lesão corporal qualificada. Deformidade permanente. Júri. Desclassificação. Decisão mani-
festamente contrária à prova dos autos. Inexistência. Lastro probatório suficiente. Soberania
dos veredictos. Erro ou injustiça na dosimetria. Pena privativa de liberdade reduzida. Sanção
pecuniária não prevista no tipo. Abstrações, expressões genéricas e dados integrantes da
própria conduta típica são inidôneos para exasperar a pena-base. TJPB (Em. 77/257)............. 604
— Progressão ao regime aberto indeferida pelo Tribunal a quo, com base na gravidade abstrata
do delito e na longa pena a cumprir. Constrangimento ilegal evidenciado. HC não conhecido.
Ordem concedida de ofício. Fatores relacionados ao crime praticado são determinantes da
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
pena aplicada, mas não justificam diferenciado tratamento para a progressão de regime. STJ
(Em. 77/233).............................................................................................................................. 593
— Progressão de regime. Processo administrativo disciplinar em andamento. Insurgência minis-
terial. Requisitos objetivos e subjetivos do benefício preenchidos. Impossibilidade de utilizar
PAD em andamento para impedir a progressão de regime. TJAC (Em. 77/270)........................ 608
— Progressão de regime. Saída especial. Cômputo da pena. O período em que o apenado perma-
neceu com o benefício excepcional deverá ser computado como pena cumprida. TJRS (Em.
77/285)....................................................................................................................................... 614
— Progressão de regime. Segunda progressão. Insurgência defensiva. Utilização de fração para
progressão de regime em 1/6. Impossibilidade. Para a concessão da progressão de regime
a reeducandos condenados por crimes hediondos, deve-se ter cumprido 2/5 da pena, se o
réu é primário, e 3/5 da pena, se o réu é reincidente, independentemente da quantidade de
progressões concedidas. TJAC (Em. 77/269)............................................................................. 608
— Progressão de regime. Semiaberto. Requisitos atendidos. Trabalho externo e saídas tempo-
rárias. Benefícios não recomendados pelo exame criminológico. Permanecem indeferidos
os benefícios do trabalho externo e das saídas temporárias, até que haja parecer favorável a
respeito. TJMG (Em. 77/271)..................................................................................................... 608
— Reconversão. Pena restritiva de direitos em privativa de liberdade. Descumprimento injustifi-
cado da alternativa. Possibilidade. Se o condenado descumpre as regras impostas pelo juízo,
694 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
estar portando as drogas apreendidas, disse que estas seriam para seu próprio consumo, o
que se revelou falso. TJRJ (Em. 77/289)..................................................................................... 616
— Violação de direito autoral. Sentença condenatória. Quadro suficiente para evidenciar a respon-
sabilidade penal do réu. Firmou-se a jurisprudência do STJ no sentido de que a caracterização
do delito de violação de direito autoral (art. 184, § 2º, do CP) não reclama a identificação
das vítimas (titulares dos direitos autorais violados), bem como a perícia em todos os bens
apreendidos. A perícia pode restringir-se às características externas do material apreendido
Penas que comportam pequena alteração. TJSP (Em. 77/305)................................................... 622
PERMITIR OU ENTREGAR DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR A PESSOA NÃO
HABILITADA
— Acórdão do STF – Crime de perigo abstrato. Prescindibilidade do resultado naturalístico....... 491
PERTURBAÇÃO DA TRANQUILIDADE
— Lei Maria da Penha. Medida protetiva. Desnecessidade. Do relato da ofendida não se evidencia
risco à sua segurança que justifique a concessão da medida. TJRS (Em. 77/265)...................... 607
PRECLUSÃO
— Artigo de Marcellus Polastri Lima e Marciley Boldrini: “Reflexões e Particularidades sobre a
Preclusão, a Coisa Julgada e o Chamado ‘Trânsito em Julgado’ Penal”...................................... 446
PREFEITO MUNICIPAL
— Crime contra as finanças públicas. Assunção de obrigação no último ano do mandato. Art.
359-C do CP. Complementação da resposta escrita fora do prazo legal. Inviabilidade. Denúncia
recebida. TJRS (Em. 77/204)...................................................................................................... 579
— Crime de responsabilidade. Não apresentação de contas municipais (art. 1º, VII, do DL
201/67). Denúncia recebida, com rejeição do pedido de diligências formulado pelo MP. TJPI
(Em. 77/205).............................................................................................................................. 579
PRESCRIÇÃO
— Crime contra a ordem tributária. O termo inicial da prescrição da ação dos crimes materiais
previstos no art. 1º da Lei 8.137/90 é a data da consumação do delito, que, conforme a ju-
risprudência do STF, corresponde à data da constituição definitiva do crédito tributário. STF
(Em. 77/222).............................................................................................................................. 587
— Falta grave. Inocorrência. Ausência de prazo prescricional previsto na LEP. Adoção, por ana-
logia, daquele fixado pelo art. 109, VI, do CP. Perda de 1/3 dos dias remidos. Compatibilidade
com as circunstâncias do caso concreto. Falta disciplinar que constitui marco interruptivo de
benefício. TJSP (Em. 77/236)..................................................................................................... 595
— Marco interruptivo. Art. 117, IV, do CP. Sentença ou acórdão condenatórios. O acórdão con-
firmatório da condenação não constitui marco interruptivo da prescrição. STJ (Em. 77/266).. 607
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
— Acórdão do STJ – Furto. Inaplicabilidade. Concurso de agentes. Alto grau de reprovabilidade no
comportamento do acusado e esmaece a circunstância do diminuto valor do objeto furtado... 516
— Acórdão do STM – Furto. Inaplicabilidade. Teoria da amotio ou apprehensio. Crime consu-
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
mado. Devolução da res furtiva. Desclassificação da conduta. Incabível. Imediatamente após
o ocorrido, por si só, não autoriza a desclassificação da conduta delitiva, mas faculta ao Juiz
a redução da pena....................................................................................................................... 519
— Acórdão do TRF 2ª R. – Rádio comunitária. Ausência de registros de interferência na aero-
navegabilidade da região durante o período de operação. Princípios da insignificância e da
intervenção mínima e da subsidiariedade................................................................................... 531
— Acórdão do TRF 3ª R. – Descaminho. Aplicabilidade. Existência de outros processos penais
anteriormente ajuizados, bem como habitualidade extraída de autuações fiscais. Irrelevância. 539
— Furto privilegiado. Furto qualificado. Tentativa. Um fato é penalmente insignificante quando,
para os personagens nele envolvidos ou para a comunidade que o recepciona, nada de mais
expressivo representou em suas vidas ou em suas preocupações. A versão privilegiada não é
tecnicamente incompatível com as versões qualificadas do furto. Aliás, imperioso registrar o
atual entendimento do STJ reafirmando a possibilidade de aplicação do privilégio em casos de
furto qualificado, desde que presentes os requisitos legais (Súmula 511). TJSP (Em. 77/267). 607
PRISÃO DOMICILIAR
— Irresignação ministerial. Adolescente filha da apenada supostamente exposta à situação de
risco. Hipótese não prevista na legislação. Ausência de comprovação da imprescindibilidade
da presença da apenada para proteção da adolescente. Excepcionalidade não demonstrada.
Prisão domiciliar cassada. TJSC (Em. 77/268)........................................................................... 607
696 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
—Q—
QUEIXA-CRIME
— Calúnia, difamação e injúria. Declarações proferidas em ambiente eleitoral e para fins de
propaganda eleitoral. Emendatio libelli. Desclassificação. Ilegitimidade ativa ad causam não
reconhecida. Mérito favorável ao acusado. Incidência do princípio do favor rei. Figuras pú-
blicas. Declarações tematicamente pertinentes à dialética eleitoral. Atipicidade de conduta.
Rejeição da queixa-crime. STF (Em. 77/213)............................................................................. 583
698 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
—R—
RÁDIO COMUNITÁRIA
— Acórdão do TRF 2ª R. – Ausência de registros de interferência na aeronavegabilidade da região
durante o período de operação. Princípios da insignificância e da intervenção mínima e da
subsidiariedade........................................................................................................................... 531
— Apreensão de equipamentos. Radiodifusão. Funcionamento sem autorização. Busca e apre-
ensão. Via adequada. Ordem judicial. Possibilidade. Imóvel comercial que não se enquadra
na definição de casa do art. 150 do CP. TRF 1ª R. (Em. 77/212)................................................ 582
RECEPTAÇÃO
— Conduzir veículo que sabe ser produto de crime. Materialidade e autoria suficientemente
provadas. Diante do dolo direto do agente no recebimento e condução de bem de origem
ilícita, configura-se o crime de receptação. TJSP (Em. 77/242)................................................. 598
RECLAMAÇÃO
— Execução de pena privativa de liberdade. Remição. Cometimento de falta grave. Perda dos
dias remidos. Recepção do art. 127 da LEP (na redação dada pela Lei 12.433/2011) pela
vigente ordem constitucional. Súmula Vinculante 09/STF. Reclamação julgada procedente. É
dispensável o encaminhamento do processo à Procuradoria-Geral da República, para parecer,
se esta, em causas anteriores, já se pronunciou, definitivamente, sobre idêntica controvérsia
jurídica. Em ocorrendo tal situação, a ausência de pronunciamento do Ministério Público
não constituirá hipótese de nulidade processual. STF (Em. 77/276)......................................... 610
— Recebimento de denúncia na justiça de primeiro grau. Conexão e continência com delitos
apurados perante o STF. Imputação de crime à autoridade detentora de foro privilegiado. Ino-
corrência. Posterior cisão das investigações por determinação do STF. Ausência de usurpação
de competência desta Corte. STF (Em. 77/275)......................................................................... 609
RECUSA DE OBEDIÊNCIA
— Militar previamente designado em escala de serviço. Ordem emanada de superior hierárquico.
Negativa de realizar as funções de sargento de dia. Assunto afetado ao serviço da caserna.
Infração ao preceito incriminador do art. 163 do CPM. Sentença condenatória mantida. STM
(Em. 77/207).............................................................................................................................. 580
REFLEXÕES E PARTICULARIDADES SOBRE A PRECLUSÃO, A COISA JULGADA E O
CHAMADO “TRÂNSITO EM JULGADO” PENAL
— Artigo de Marcellus Polastri Lima e Marciley Boldrini............................................................... 446
REINCIDÊNCIA
— Furto qualificado. Pena. Regime inicial semiaberto. Possibilidade. Ao réu reincidente con-
denado à pena inferior a quatro anos é possível a fixação do regime semiaberto como inicial
para o cumprimento da pena, desde que ausentes circunstâncias judiciais desfavoráveis, de
acordo com a Súmula 269/STJ. É de se manter a custódia cautelar quando decretada para a
garantia da ordem pública para evitar a reiteração criminosa, adequando-a, contudo, ao regime
semiaberto de cumprimento da pena. TJAC (Em. 77/240)........................................................ 597
RENATO MARCÃO E RODRIGO TANAMATI
— Artigo: “Condução Coercitiva em CPI: a Legalidade da Condução Coercitiva de Testemunha,
Determinada por Comissão Parlamentar de Inquérito”............................................................. 464
REPARAÇÃO DE DANOS
— Impossibilidade de exclusão da indenização fixada a título de reparação pelos danos sofridos
pela família da vítima. Não há necessidade de pedido formal de fixação de valor mínimo para
fins de reparação dos danos causados pela infração, nos termos do art. 387, IV, do CPP. TJGO
(Em. 77/251).............................................................................................................................. 601
RÔMULO DE ANDRADE MOREIRA
— Artigo: “A Vítima no Processo Penal Brasileiro”......................................................................... 368
ROUBO
— Acórdão do STJ – Pena. Regime inicial fechado. Motivação insuficiente. Ordem concedida de
ofício. Deve ser mantida a fixação do regime semiaberto ao paciente primário, condenado a
seis anos, dois meses e 20 dias de reclusão e sem registro de circunstâncias judiciais desfavo-
ráveis, a teor do art. 33, § 2º, b, do CP....................................................................................... 507
ROUBO DUPLAMENTE QUALIFICADO
— Pena. Terceira fase da dosimetria. Aplicação de fração superior a 1/3. Fundamentação concreta.
Súmula 443/STJ. Não aplicação. Ausência de fundamentação concreta para a fixação de regime
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 699
inicial mais gravoso. Súmulas 440/STJ, 718 e 719/STF. Concessão da ordem, de ofício, para
fixar o regime inicial semiaberto. STJ (Em. 77/283).................................................................. 613
ROUBO QUALIFICADO
— Acórdão do TJRJ – Emprego de arma e em concurso de pessoas. Divergência. Voto vencido.
Fração relativa às causas de aumento da pena. Redução para o menor patamar (1/3). Resgate.
Possibilidade. Extensão de efeitos aos corréus. A fração eleita para majoração da reprimenda
em razão das causas de aumento da pena deve ser motivada quanto ao caso concreto, e não
somente em relação à quantidade de majorantes (Súmula 443 do STJ)..................................... 561
— Automóvel. Concurso de agentes e emprego de simulacro de arma de fogo. Pacientes primá-
rios, sem quaisquer antecedentes policiais ou judiciais e que possuem 19 e 23 anos de idade,
respectivamente. Ausência de violência real e periculosidade que permite a substituição da
prisão preventiva pelas medidas cautelares previstas no art. 319, I, III e IV, do CPP. TJRS (Em.
77/282)....................................................................................................................................... 613
— Faca e concurso de agentes. Na hipótese, a faca utilizada pelo recorrente para ameaçar a vítima
para entregar o celular representa inegavelmente uma ameaça grave e a toda evidência é um
artefato que, por sua natureza, possui notória capacidade lesiva, podendo ser considerada
arma imprópria, justificando a configuração da majorante. De igual modo, não assiste razão
à defesa quando pede que seja reconhecida a tentativa. TJRJ (Em. 77/281).............................. 613
— Pena. Terceira fase da dosimetria. Majoração acima do mínimo legal. Critério quantitativo.
Constrangimento ilegal evidenciado. Regime inicial fechado. Fundamentação insuficiente.
Ilegalidade. Ordem concedida, de ofício, e fixação do regime semiaberto, confirmando-se os
efeitos da liminar anteriormente deferida. STJ (Em. 77/280)..................................................... 612
— Princípio da insignificância. Inaplicabilidade. Valor significante do bem subtraído. Atenuante
genérica do art. 66 do CP. Não reconhecimento. Recorrer em liberdade. Não cabimento. Mo-
tivação per relationem. Fundamentação arrolada na lei processual penal. Garantia da ordem
pública. Condições pessoais favoráveis. Irrelevância. TJMG (Em. 77/284)............................... 614
—S—
SAÍDA ESPECIAL
— Cômputo da pena. O período em que o apenado permaneceu com o benefício excepcional
deverá ser computado como pena cumprida. TJRS (Em. 77/285).............................................. 614
SERVIÇO DE COMUNICAÇÃO MULTIMÍDIA
— Transmissão irregular de sinal de internet a terceiros via radiofrequência. Caracterização como
serviço de telecomunicação suscetível de autorização da Anatel. Subsunção da conduta do
denunciado ao disposto no art. 183 da Lei 7.492/97. Desclassificação para o crime do art. 70
da Lei 4.117/62. Impossibilidade. Legalidade na dosimetria da pena. Inexistência de exorbi-
tância na fixação da pena em dois anos e nove meses de reclusão, acrescida da multa de R$
10.000,00 como determinado na lei. TRF 5ª R. (Em. 77/286)................................................... 614
—T—
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
TÓXICOS
— Acórdão do STF – Tráfico e associação. Arts. 33 e 35 da Lei 11.343/06. Prisão preventiva.
Fundamentação inidônea. Motivação genérica e abstrata. Súmula 691/STF. Afastamento.
Concessão da ordem. Substituição da prisão preventiva por medidas cautelares previstas no
art. 319 do CPP, a serem fixadas pelo juízo de primeiro grau.................................................... 485
— Adequação ao tipo legal previsto no art. 290, caput, do CPM, na modalidade “trazer consigo”.
Réu confesso. Impossibilidade de aplicação dos princípios da insignificância e da proporcio-
nalidade. Não incidência da Lei 11.343/06. STM (Em. 77/258)................................................. 604
— Pena. Tráfico de drogas minorado. Abrandamento do regime prisional e modificação das penas
restritivas de direitos. Necessidade. Embargos acolhidos. Tendo as penas dos réus sido fixadas
no mínimo legal e reduzidas na fração máxima prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06,
sendo a reprimenda privativa de liberdade substituída por restritivas de direitos, imperiosa
a mitigação do regime carcerário para o semiaberto, em observância ao art. 33, § 3º, do CP.
TJMG (Em. 77/226).................................................................................................................... 590
— Tráfico. Absolvição e desclassificação mantidas. Desclassificação para uso. Não demonstradas
autoria e a materialidade da traficância, impõe-se a absolvição. Evidenciada a posse para uso,
imperiosa a desclassificação, de ofício, e manutenção quanto ao corréu. TJGO (Em. 77/287). 615
— Tráfico. Art. 33, caput, da Lei 11.343/06. Sentença condenatória. Pena fixada no mínimo legal
de cinco anos. Aplicação da minorante do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas. Pena definitiva
700 Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015
de um ano e oito meses de reclusão. Apelação provida para retirar a minorante. Fundamento.
Paciente dedicado ao tráfico. Grande quantidade de entorpecente. Premissa não condizente
com a realidade dos autos. 25,80g de cocaína acondicionada em 26 invólucros. Quantidade
inapta a induzir à traficância reiterada (fundamento para decotar a minorante). Primariedade,
bons antecedentes, residência fixa e vários registros de emprego na CTPS. Traficante eventual
movido pelas circunstâncias. Constrangimento ilegal. Ordem de HC concedida de ofício (art.
654, § 2º, do CPP). STF (Em. 77/288)....................................................................................... 615
— Tráfico. Associação para o tráfico. Porte de munição. Corrupção de menores. Liberdade con-
cedida. Paciente primário, preso em 25 de junho de 2015, pela suposta prática dos delitos de
tráfico ilícito de drogas, associação para o tráfico, porte de munição e corrupção de menores.
Teriam sido apreendidas, no interior da residência do paciente, 85 pedrinhas de crack, 10
papelotes de cocaína, três munições intactas calibre 9mm, e uma pequena quantidade de
maconha – peso insignificante – sem indicação de peso. A quantidade de droga apreendida,
ainda que de naturezas distintas, não pode ser considerada de monta expressiva – não há
indicação de peso. Não restou demonstrada, no caso concreto, a efetiva necessidade da prisão
preventiva, medida extrema e excepcional. Ordem concedida. Liminar ratificada. TJRS (Em.
77/290)....................................................................................................................................... 617
— Tráfico em transporte público. Autoria. Pleito desclassificatório que não se acolhe. Necessi-
dade de traficância no coletivo. Confissão parcial que não faz incidir a atenuante. Privilégio.
Reincidência. Não configuração de bis in idem. Gratuidade. Juízo da execução. Depoimentos de
policiais têm o mesmo valor de qualquer outro testemunho, desde que aufiram credibilidade,
e, na hipótese vertente, ambos foram uníssonos em suas narrativas, afirmando, com absoluta
certeza, que o réu, ao ser preso em flagrante, admitiu que as drogas apreendidas haviam sido
adquiridas no Rio de Janeiro para ser revendidas, e não consumidas. Não há que se falar em
aplicação da atenuante da confissão, eis que o réu, apesar de admitir estar portando as drogas
apreendidas, disse que estas seriam para seu próprio consumo, o que se revelou falso. TJRJ
(Em. 77/289).............................................................................................................................. 616
TRABALHO EXTERNO
— Acórdão do TJRS – Pena. Regime semiaberto. Benefícios externos. Inexigibilidade de preen-
chimento do requisito objetivo de 1/4 de cumprimento da pena privativa de liberdade........... 566
TRABALHO EXTERNO E SAÍDAS TEMPORÁRIAS
— Pena. Progressão de regime. Semiaberto. Requisitos atendidos. Benefícios não recomendados
pelo exame criminológico. Permanecem indeferidos os benefícios do trabalho externo e das
saídas temporárias, até que haja parecer favorável a respeito. TJMG (Em. 77/271).................. 608
TRANSMISSÃO IRREGULAR DE SINAL DE INTERNET
— Terceiros via radiofrequência. Caracterização como serviço de telecomunicação suscetível de
autorização da Anatel. Subsunção da conduta do denunciado ao disposto no art. 183 da Lei
7.492/97. Desclassificação para o crime do art. 70 da Lei 4.117/62. Impossibilidade. Legalidade
na dosimetria da pena. Inexistência de exorbitância na fixação da pena em dois anos e nove
meses de reclusão, acrescida da multa de R$ 10.000,00 como determinado na lei. TRF 5ª R.
(Em. 77/286).............................................................................................................................. 614
—U—
UNIFICAÇÃO DE PENAS
— Crime continuado. Ausência de nexo de continuidade entre os delitos praticados. Condições
de tempo, lugar e maneira de execução que indicam apenas a habitualidade criminosa do
agravante. Inaplicabilidade. TJSP (Em. 77/292)......................................................................... 618
— Regime semiaberto. Superveniência de condenação à pena restritiva de direitos. Incompatibi-
lidade de cumprimento simultâneo das reprimendas. Unificação, de rigor. Conversão da pena
restritiva de direitos em privativa de liberdade. Art. 111, parágrafo único, da Lei 7.210/84.
Inaplicabilidade do art. 76 do CP. TJSP (Em. 77/263)................................................................ 606
USO DE DOCUMENTO FALSO
— Apresentado perante órgão federal. Crime impossível não verificado. Competência da Justiça
Federal. Uma vez que o documento contrafeito possui mínima potencialidade de ludibriar a
fé pública, impossível concluir por sua absoluta impropriedade do objeto e crime impossível.
TRF 2ª R. (Em. 77/295).............................................................................................................. 618
— Prisão preventiva. Motivação insuficiente para manutenção. Se o réu é primário, não ostenta
registros criminais e o contexto fático que permeou a ação criminosa a ele imputada não ex-
trapola a gravidade inerente ao próprio tipo penal, em tese violado, inexistindo justificativa
Revista Jurídica LEX Nº 77 — Set-Out/2015 701
objetiva para sua permanência sob custódia, concede-se a liberdade provisória. TJGO (Em.
77/294)....................................................................................................................................... 618
— Restando devidamente comprovadas a existência do crime e a sua autoria, resta afastado o
pleito por absolvição. Não realização dos exames de praxe para obtenção da carteira de ha-
bilitação, cujo recebimento se deu mediante pagamento a terceiro. Falsidade conhecida pelo
agente. TJPE (Em. 77/293)......................................................................................................... 618
—V—
VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL
— Absolvição. Necessidade. Para comprovar a materialidade do delito descrito no art. 184, §
2º, do CP, o expert não pode se limitar ao exame externo dos CDs e DVDs arrecadados, pois,
ainda que se verifique uma falsidade, a violação dos direitos do autor somente se configura
com a certeza de que houve reprodução de alguma obra, ou seja, que existe uma gravação
não autorizada. TJMG (Em. 77/304).......................................................................................... 622
— Julgados parcialmente procedentes os pedidos contidos na denuncia para condenar os réus
Paulo Cesar e Ana Paula na forma da denuncia e o réu Carlos Alberto somente pelo delito
previsto no art. 184, § 2º, do CP, absolvendo-o do delito previsto no art. 273, § 1º, do CP por
precariedade de prova. Mandados de busca e apreensão cumpridos de forma ilegítima e sem
a observância das normas legais. Violação ao art. 564, IV, do CPP. Absolvição que se impõe,
igualmente ante a ausência de lesão ao bem jurídico tutelado quanto ao delito previsto no
art. 273 do CP e com relação ao art. 184, § 2º, do CP a absolvição se impõe, uma vez que a
denuncia não identificou os lesados cujas obras tiveram o direito autoral violado. Atipicidade
da conduta que se reconhece. TJRJ (Em. 77/298)...................................................................... 619
— Sentença condenatória. Quadro suficiente para evidenciar a responsabilidade penal do réu.
Firmou-se a jurisprudência do STJ no sentido de que a caracterização do delito de violação
de direito autoral (art. 184, § 2º, do CP) não reclama a identificação das vítimas (titulares
dos direitos autorais violados), bem como a perícia em todos os bens apreendidos. A perícia
pode restringir-se às características externas do material apreendido. Penas que comportam
pequena alteração. TJSP (Em. 77/305)....................................................................................... 622
— Venda de CDs e DVDs falsificados (art. 184, § 2º, do CP). Materialidade delitiva não demons-
trada. Laudo pericial lacunoso. Absolvição. TJSP (Em. 77/297)................................................ 619
VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO
— Apreensão de equipamentos. Radiodifusão. Rádio comunitária. Funcionamento sem autori-
zação. Busca e apreensão. Via adequada. Ordem judicial. Possibilidade. Imóvel comercial que
não se enquadra na definição de casa do art. 150 do CP. TRF 1ª R. (Em. 77/212)..................... 582
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
— Ameaça e descumprimento de medidas protetivas. Liberdade concedida. Imposição de medida
protetiva. Paciente primário, preso em 15 de julho de 2015, pela suposta prática do delito
de ameaça e pelo descumprimento de medidas protetivas. A prisão preventiva decorrente do
descumprimento de medidas protetivas ou em situação de violência à mulher no âmbito da
ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO
Lei Maria da Penha não pode ser abusiva, ou exagerada no tempo, porque tem por finalidade
justamente assegurar o cumprimento das medidas protetivas. Ocorre que, transcorrido mais
de um mês desde a prisão preventiva do paciente, não foi realizada – nem ao menos desig-
nada – audiência com vistas a examinar alternativa diversa da prisão. Nesse contexto, viável
a concessão da liberdade. Determinação de expedição de alvará de soltura na origem. TJRS
(Em. 77/299).............................................................................................................................. 620
— Competência. Incidência da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) não configurada. Violência
baseada no gênero. Relação de superioridade do agressor e inferioridade da vítima. Inocorrên-
cia. Competência da Quarta Vara Criminal da Capital (juízo suscitante), para processamento
e julgamento do feito. TJAM (Em. 77/218)................................................................................ 585
— Medidas protetivas contra a paciente, determinando o afastamento do lar, e a proibição de
contato e de aproximação com a ofendida. Impossibilidade de acesso aos bens que se encon-
tram na residência. Concede-se, em parte, a ordem, confirmando-se a liminar que autorizou
o ingresso da paciente no imóvel, acompanhada por Oficial de Justiça, para resgatar seus
pertences, documentos pessoais e móveis, a fim de que o imóvel seja oferecido à locação.
TJDF (Em. 77/259)..................................................................................................................... 605