Sie sind auf Seite 1von 57

Guia Introdutório de Ginecologia Autônoma – Torne-se

Especialista em Si Mesma

Copyright © 2019 Mulher Cíclica

Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada


desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação
dos direitos autorais. (Lei 9.610/98)

ORGANIZAÇÃO
Mulher Cíclica

TEXTOS
Jéssica Portes e Raissa Mendes

ILUSTRAÇÕES
Adobe Stock

Para citar este material, utilize a seguinte referência:


PORTES, J.; MENDES, R. Guia Introdutório de Ginecologia
Autônoma – Torne-se Especialista em Si Mesma. Mulher
Cíclica, 2019.
Ainda que as bruxas estejam queimadas, sempre existe
uma luz, e sem medo nos erguemos perante este mundo
fragmentado de filhas órfãs e mães maltratadas. Porque
não perdemos nada no lugar mais profundo e cálido da
memória da carne: o grande ventre que ainda abriga toda
a vida humana. Ali, a serpente ainda dança, os nossos
corpos ainda nos pertencem, ingovernáveis e misteriosos,
ainda capazes de fazer desta vida uma festa e dos nossos
nascimentos todos os orgasmos que merecemos. O
caminho está aberto.

~ Pabla Pérez San Martín


Iniciando a jornada...

Autonomia feminina

Reconhecer o próprio corpo

Vamos para os autoexames?

Para saber mais

Quem somos
Olá, mulher cíclica! Ficamos muito felizes por

você ter chegado até aqui e agora poder acessar esse

livro pelo qual temos tanto carinho.

Aqui você vai encontrar tudo o que precisa para

dar os primeiros passos na linda e transformadora

jornada de autoconhecimento e autocuidado que a

Ginecologia Autônoma e Natural oferece.

Vamos juntas resgatar a autonomia sobre nosso

próprio corpo, reconhecendo cada uma de suas partes

e aprendendo a fazer autoexames que nos permitam

um contato cada vez mais íntimo com esse lugar

sagrado.
Todos os textos foram escritos e tecidos com os

fios da alma Feminina, tendo como pilares as vozes

das mulheres-medicina que dançam no centro de

todas nós, os saberes ancestrais e os presentes da

Natureza.

Sabe-se que algumas mulheres não possuem o

padrão biológico de funcionamento que abordamos

neste material. Algumas não menstruam, outras não

têm útero ou ovários, e há aquelas que não nasceram

em um corpo feminino. Ainda assim, este manual é

voltado para todas aquelas que, tendo ou não um

corpo que siga tal padrão biológico, se identificarem

como mulher e tiverem o desejo de se conhecer e

ganhar cada vez mais autonomia nos cuidados

consigo mesma.

Te convidamos para dar esse mergulho dentro de

você mesma. Vamos juntas?


Por muito tempo, mulheres foram médicas,

anatomistas e farmacêuticas, no papel de parteiras,

curandeiras e raizeiras, que bem conheciam seus

próprios corpos, seus ciclos, os ciclos da natureza e as

medicinas naturais.

Aprendiam o ofício umas com as outras e

passavam o conhecimento para as gerações seguintes.

Elas eram respeitadas nas comunidades onde viviam,

sendo várias vezes a única ajuda médica para as

pessoas mais pobres.

Séculos mais tarde, essas mulheres foram

chamadas de bruxas. Tiveram seus saberes, histórias

e corpos queimados nas fogueiras do patriarcado, em


parte devido a estratégias do Estado e da Igreja para

monopolizar o conhecimento acerca da cura das

doenças, e legitimá-lo por meio das universidades

criadas no Renascimento.

Assim, nascia a Medicina, uma profissão

alicerçada pela autoridade da linguagem técnica e

educação universitária, que se transformou em uma

atividade reservada aos homens, já que nesta época

apenas eles poderiam ter acesso à educação formal.

A situação das parteiras e curandeiras ameaçava

o monopólio deste saber e, embora a caça às bruxas

não tenha extinguido as parteiras e curandeiras,

conseguiu transformar suas práticas em atividades

das quais as pessoas deveriam desconfiar, dando

crédito exclusivo ao conhecimento médico

universitário.
O saber feminino sobre o corpo e sobre o cuidado

com a saúde, especialmente no que se refere ao corpo

da mulher, passou a ser visto como um inimigo

insurgente frente à posição de poder desse

patriarcado falocêntrico. Precisou ser calado,

invalidado, colocado à prova.

A história da Medicina se desenvolveu, assim,

nos termos de uma sociedade patriarcal, com livros

escritos por grupos majoritariamente masculinos e

uma medicalização cada vez maior sobre o corpo

feminino, sendo utilizados termos técnicos cada vez

mais complicados e desconhecidos pelo público leigo

– e pelas próprias mulheres.

Assim, muitas mulheres já não conhecem mais

seus próprios corpos, já não sabem mais como cuidar

de si mesmas, ficando dependentes desse saber

médico.
Vulnerabilizado pelo poder de uma ciência

médica masculina, o corpo da mulher passou a ser

alvo de diversos abusos e experimentações, um

território a ser controlado e analisado, podado,

regrado. A própria Ginecologia moderna foi

construída às custas de experimentações e torturas

cruéis com mulheres cujos nomes sequer são citados

nos livros de Medicina. Os nomes de seus

torturadores, no entanto, são amplamente divulgados

como “pais” da Ginecologia, e seus sobrenomes são

atribuídos aos órgãos por eles pesquisados.

James Marion Sims, chamado de “pai” da

Ginecologia Moderna, desenvolveu seu trabalho

fazendo experimentos em mulheres afroamericanas

que eram mantidas sob regime de escravidão em

campos de algodão do Alabama (EUA). Pesquise um

pouco sobre ele e você provavelmente vai ficar

chocada ao descobrir que tais experimentos eram


feitos sem qualquer tipo de analgesia e sem o mínimo

de asseio, ocasionando infecções e recuperações

dolorosas e difíceis.

Algumas das torturadas foram Betsey, Anarcha e

Lucy. O caso de Anarcha é um dos mais conhecidos,

mulher na qual Sims fez mais de trinta cirurgias sem

analgesia, como ele mesmo detalhou em seus escritos.

É muito triste saber que muitas mulheres passaram

por tudo isso para que um estudo de nossos corpos

pudesse ser desenvolvido. Mas será que precisava ter

sido dessa forma?

Felizmente esse tipo de experimento não é mais

feito, mas ainda permanece a completa falta de tato

com o corpo feminino frente à ciência médica. Não é

nada incomum o relato de mulheres que necessitam

de ajuda médica ginecológica e obstétrica e são

recebidas com total insensibilidade a respeito a seus


corpos e à região tão sensível e sagrada que é nosso

sistema sexual e reprodutor.

Somos submetidas a exames ginecológicos

doloridos e desconfortáveis, sem sequer nos darem a

oportunidade de nós mesmas entendermos todo o

processo; nos negam e omitem informações

necessárias sobre as pílulas contraceptivas, doenças

ginecológicas e o próprio funcionamento de nossos

corpos; nos cortam o períneo no momento do parto e

nos fazem acreditar que não conseguimos e nem

podemos parir; tentam nos enganar, controlar,

medicalizar.

Por tudo isso, como uma forma de resgate da

autonomia outrora existente, muitas mulheres têm

buscado conhecer e cuidar de seus próprios corpos, de

modo a desmedicalizar o corpo feminino e depender

cada vez menos da Medicina Convencional.


Assim, a Ginecologia Autônoma e Natural

(re)nasce das cinzas das fogueiras que tentaram

queimar os saberes femininos.

Ganhando cada vez mais adeptas, especialmente

na América do Sul, a Ginecologia Autônoma e

Natural prioriza a autonomia, o autoconhecimento e

o autocuidado, sem necessariamente excluir os

métodos convencionais.

A proposta é eliminar o raciocínio clínico-médico

como única alternativa para entender os fenômenos

relativos ao processo saúde-doença, especialmente o

que se refere ao corpo feminino.

Significa, ao mesmo tempo, apresentar às

mulheres outras opções de cuidado, de forma mais

natural possível, tendo em mente que diferentes


opções e estratégias podem e devem conviver como

direito de escolha da mulher.

Trata-se de reconectar a mulher com seus ciclos e

compreender de que forma a Natureza poderia

auxiliá-la no cuidado com o próprio corpo. É,

sobretudo, um resgate desse saber que sempre nos foi

de direito.

Afinal, quem sabe melhor de nossos corpos do

que nós mesmas?


Para desmedicalizar e descolonizar nossos

corpos, resgatando nossos poderes, é preciso que os

conheçamos, que tracemos um novo mapa de cada

parte que nos habita.

Somos donas desse corpo, e sem entendermos

como ele funciona não saberemos como dele cuidar e

continuaremos deixando que outros façam dele o que

acharem melhor.

Então vamos reaprender sobre nossas partes e

nosso inteiro?
A nova anatomia e a descolonização do corpo

Desde a infância, somos educadas para um

completo desconhecimento de nossos próprios

corpos. Na escola, aprendemos a nomear os órgãos de

desenhos padronizados nos livros de Biologia, sem

olhar para os nossos próprios. Em casa, raramente

somos acolhidas em nossa curiosidade, e muitas vezes

somos tolhidas quando nos olhamos e nos tocamos.

Crescemos compreendendo que existe um corpo em

formas ideais, sem conhecer as particularidades do

nosso próprio.

De modo a romper com esse desconhecimento

sobre nós mesmas, aqui propomos um exercício:

quando se sentir à vontade, fique nua de frente a um

espelho grande, de modo que seja possível visualizar

seu próprio corpo da cabeça aos pés. Observe e toque

cada detalhe, cada mínima parte, com todos os seus


formatos, cores e texturas. Depois de pelo menos 10

minutos nessa observação, pegue uma folha em

branco e desenhe seu corpo, nomeando as suas partes

mimosas com palavras carinhosas, que façam sentido

para você. Caso deseje, ao lado das palavras

escolhidas por você, escreva também as

nomenclaturas oficiais de cada parte de seu aparelho

genital.

E falando em nomenclaturas oficiais, falemos

também sobre elas, para entendermos aquilo que os

livros descrevem e rompermos com alguns

paradigmas sobre o corpo feminino.

Para começarmos a entender tudo isso, é

importante sabermos que o nosso aparelho genital é

constituído, segundo os conhecimentos da Anatomia

ocidental, basicamente por ovários, tubas uterinas,

útero, vagina, períneo, vulva e clitóris, e ainda as mamas,


sendo que cada uma dessas partes, além de cumprir

papeis extremamente importantes para o

funcionamento harmônico de todo nosso corpo,

também falam muito sobre a sabedoria

essencialmente feminina.

Ovários

Os ovários são os nossos “ninhos de pérolas”, as

gônadas femininas. Suas principais funções são a

formação das células reprodutoras femininas (os


óvulos, nossas “sementes de criação e renovação”) e a

secreção de hormônios sexuais femininos.

Nas mulheres com idade reprodutiva, os ovários

têm uma textura granulosa e geralmente são do

tamanho de uma amêndoa. Contudo, a textura e o

tamanho deles mudam bastante ao longo das fases da

vida e do ciclo menstrual.

A unidade funcional dos ovários é o folículo

ovariano, célula germinativa cercada por células

endócrinas. O folículo fornece nutrientes para o

óvulo, libera-o no tempo devido (na ovulação),

prepara a vagina e as tubas uterinas para ajudar na

fertilização do óvulo por um espermatozoide, prepara

o revestimento interno do útero para a implantação

do óvulo fecundado e mantém a produção de

esteroides para o feto até que a placenta assuma essa

função.
E para além da própria anatomia e funções

fisiológicas, esses nossos “ninhos de pérolas” falam

muito sobre poder de criação e sobre a coragem de ser

quem realmente somos com força e realização. Sua

energia nos mostra o masculino em nós. Neles reside

a fonte de toda energia universal criadora.

Eles guardam as sementes que podemos utilizar

para criar uma vida (um filho) ou a nossa própria

realidade. Mais adiante falaremos sobre as diferentes

enfermidades relacionadas aos ovários e como

podemos entendê-las como manifestações de

bloqueios da nossa capacidade de criAção.

Tubas uterinas

Esses “caminhos serpenteantes” são dois canais

finos que saem de cada lado do fundo do útero e

terminam com as extremidades próximas aos ovários,

com um comprimento de aproximadamente 10 cm


cada. Elas têm como função o transporte dos óvulos

que romperam a superfície do ovário para a cavidade

do útero e a fecundação desses óvulos.

Como as pontas das tubas ficam próximas aos

ovários, elas conseguem captar o óvulo quando ele é

liberado durante a ovulação. Esse óvulo, por sua vez,

é empurrado em direção ao útero com o auxílio das

contrações das tubas uterinas e do movimento dos

cílios que as forram.

Ainda nas tubas, ocorre a fecundação, dando

origem ao zigoto, que segue multiplicando células e

viajando pela tuba em direção ao útero. Porque a

fecundação ocorre na própria tuba uterina é que na

laqueadura (ou ligação tubária), cirurgia de

esterilização feminina, as tubas são cortadas ou

bloqueadas.
Útero

Localizado no centro da cavidade pélvica, o

útero, ou “útera, nosso lugar sagrado, Fonte e Matriz”,

tem a função biológica de receber o óvulo

previamente fecundado nas tubas uterinas e

desenvolver a gestação.

Geralmente sob a forma de uma pêra invertida, o

útero é formado por tecido muscular e se subdivide

em fundo (parte superior, arredondada, onde se

encaixam as tubas), corpo, istmo (parte estreita onde

se forma o segmento inferior na gravidez – aplicação

na cesárea) e colo (ou cérvix, que se encaixa no final

da vagina).

À parte mais interna do útero dá-se o nome de

endométrio, que sofre modificações com o ciclo

menstrual, preparando-se mensalmente para receber


o óvulo já fecundado. Caso isso não ocorra, apresenta

descamação e é eliminado na menstruação, com o

sangramento.

No colo do útero, há uma abertura por onde

entram os espermatozoides e por onde saem o bebê

no parto vaginal, o sangue durante a menstruação e o

fluido cervical.

O fluido cervical, ao contrário da secreção não

saudável (corrimento, leucorreia), é produzido

naturalmente pelas glândulas de Naboth (ou

glândulas mucosas) no colo do útero, varia ao longo

do ciclo menstrual e está relacionado com a ovulação.

O útero pode mudar a sua posição de acordo com

vários fatores: o aumento da pressão abdominal o

desloca em direção inferior; a pressão digital sobre o

colo do útero o desloca para a cavidade abdominal,


onde pode ser apalpado; o aumento da bexiga o

desloca em direção posterior e a distensão do reto, em

direção anterior. Durante a gravidez, ele cresce para

acomodar o feto, a placenta e a bolsa.

Enquanto a energia gerada pelos ovários fala

sobre o masculino em nós através da ação e da

coragem, a útera nos fala e ensina sobre as nossas

potencialidades mais relacionadas com a energia yin

(feminina), como o cuidado, o acolhimento, a

paciência de gestar a nós mesmas, nossos filhos e

sonhos.

O útero acolhe nossos impulsos criativos, que

quando gestados e nutridos com a fé que possuímos

em nossa capacidade, podem ser paridos. Ele nos

ensina sobre autoestima, acreditar na força que temos

ou que precisamos desenvolver.


Vagina

Algumas pessoas resumem os órgãos genitais

femininos em vagina. No entanto, ela é somente uma

parte dos órgãos internos. O nosso “caminho à Fonte,

à Matriz” trata-se de um canal de aproximadamente 7

a 10 centímetros que se estende do útero à vulva e

serve de passagem para os fluidos do corpo, sangue

menstrual e passagem do bebê.

À membrana que veda parcialmente a vagina dá-

se o nome de hímen. Ele pode variar de forma e

tamanho, podendo romper durante atividades físicas,

sexo com penetração etc., permanecendo apenas

pequenos fragmentos no local, chamados de

carúnculas himenais. Romper o hímen e "perder a

virgindade" são coisas diferentes. Além disso, nem

todo hímen é rompido e alguns podem desaparecer


totalmente ainda no período fetal, antes do

nascimento.

A vagina tem músculos e é possível fortalecê-los

fazendo exercícios como Kegel e Pompoarismo, que

ajudam no parto natural, além de prevenir infecções

urinárias. Além disso, ela costuma ter odor, não

necessariamente ruim, e tem pH ácido quando

saudável (pH abaixo de 7).

Por isso, o uso de sabonetes íntimos na vagina

não é recomendado, já que costumam modificar o pH

natural da vagina e matar fungos e bactérias

importantes para o seu equilíbrio, desprotegendo-a e

deixando a mulher mais vulnerável.

Também é desaconselhado o uso de ducha

vaginal para higienização rotineira, tendo em vista

que a vagina tem um sistema autolimpante. Uma das


funções das secreções vaginais é limpar e retirar

células mortas. Não lavando por dentro, a flora

vaginal não será perturbada. Portanto, lavar

externamente é suficiente, preferencialmente somente

com água ou usando sabonetes naturais.

Períneo

Nossa “ponte do poder” é um grupo muscular

que se localiza na base da pelve, entre a abertura da

vagina e o ânus.

Resistente e flexível, ele é responsável pela

sustentação dos órgãos pélvicos (bexiga, útero, reto,

uretra, vagina e ânus) e pela continência urinária e

fecal. Importante para os ciclos reprodutivos, ele se

estica para permitir a passagem do bebê pela vagina

durante o parto normal.


Vulva

Juntamente com o períneo, a vulva, nosso “mar

de conhecimentos”, corresponde à parte externa do

órgão genital feminino e é composta por monte de

Vênus, lábios externos, lábios internos e abertura da

vagina.
Os lábios externos e internos são dobras de pele e

mucosa que protegem a abertura vaginal. Também

são chamados de grandes e pequenos lábios, mas

muitas vezes os “pequenos” são maiores que os

“grandes”, e é perfeitamente normal. Cada corpo é

único e lindo!

Os lábios externos ficam entre o monte de Vênus,

estendem-se até o períneo e são cobertos por pelos

pubianos após a puberdade – os pêlos protegem a

vulva, o clitóris e a vagina de alguns micro-

organismos; por isso, se você não se incomoda com a

presença deles, não precisa raspá-los! Assuma a sua

natureza selvagem, ame-se, aceite-se, viva o seu

próprio corpo do jeitinho que ele é.

Quanto aos lábios internos, durante o processo de

excitação, ficam intumescidos e aumentam

sensivelmente seu tamanho durante a penetração nas


relações sexuais. Eles têm tamanhos e formas

diferentes e não são perfeitamente simétricos em

nenhuma mulher – aliás, simetria e corpo humano são

coisas que não andam juntas.

Clitóris

O clitóris, nossa “fonte do prazer”, é composto de

tecido erétil (portanto, com excitação e estimulação,

ele incha e fica mais sensível) e se subdivide em

glande, corpo e pernas. A parte mais visível por fora é

a glande, coberta total ou parcialmente pelo prepúcio,

e é extremamente sensível, com cerca de 8 mil

terminações nervosas.

É um órgão feminino que serve basicamente para

uma única coisa: oferecer prazer. A maioria dos

orgasmos femininos são clitorianos, seja por

estimulação externa, seja por estimulação interna,


com pressão nas paredes da vagina e consequente

estimulação do corpo do clitóris.

Mamas

As mamas, ou seios, são nossas “montanhas de

vitalidade”, que se transmutam, florescem e se

expandem. Internamente, elas são compostas por

tecido adiposo, ductos, glândulas mamárias, vasos

linfáticos, nervos e outras estruturas. Externamente,

podemos encontrar a aréola e o mamilo.

Como todas as demais partes do nosso corpo, e

tudo o que existe na Natureza, elas não são simétricas,

e se transformam a cada etapa da vida, com mudanças

mais marcantes na puberdade, em cada fase do ciclo

menstrual, na gestação, na lactação e na plenipausa.

São vulcões em constante erupção de vida.


Uma das principais funções das mamas é a

nutrição física e emocional de um bebê/criança, pelo

mas por serem extremamente sensíveis podem

também nos proporcionar bastante prazer.

Infelizmente a indústria pornográfica os coloca em

posição de subjugação, e faz toda uma cultura

acreditar que sua única função é o prazer masculino

(como ocorre com todo o resto do corpo feminino, por

assim dizer).

Simbolicamente, é nos seios que tendemos a

armazenar nossas angústias. Se nos autodepreciamos,

nas mamas guardamos nossas dores. Se não nos

permitimos ao prazer de viver “de peito aberto”, se

não nos deliciamos com aquilo de mais bonito que se

expande em nós, os seios gritam.

É fundamental que direcionemos autoamor,

carinho e cuidado aos seios, para que as intensas


experiências emocionais “mamárias”, que tanto

precisam ser tocadas por nós mesmas, não virem

energia estagnada.
Reconhecendo e renomeando essa corpulência de

vida que manifestamos, somos convidadas a observar

melhor o nosso corpo e a ouvir de forma mais atenta

os sinais dados por ele. Assim, conseguimos

identificar quando estamos saudáveis ou não e

quando estamos férteis, e damos a cada uma de nossas

partes um pouco mais de amor e atenção.

Geralmente, a maioria das mulheres que têm

acesso a consultas médicas recorrem a ginecologistas

para saber quando estão ou não saudáveis. Nas

consultas, a (o) ginecologista deverá realizar uma

anamnese, para verificar se a mulher tem alguma

predisposição ou recorrência de algum desequilíbrio

fisiológico. Logo em seguida, são realizados alguns


exames, como o exame das mamas, o toque vaginal e o

exame especular.

Ainda que muitas vezes eles sejam necessários,

esses exames costumam ser desconfortáveis para boa

parte das mulheres, e nem sempre as (os) profissionais

que os fazem incluem a mulher no processo, de modo

que ela sequer saiba o que está acontecendo.

Com os devidos cuidados e com o conhecimento

necessário, é possível que nós mesmas realizemos

parcialmente tais exames em casa, o que minimiza os

possíveis desconfortos e nos permite ter uma maior

autonomia sobre o nosso corpo.


Exame das mamas

Sem a parte de cima da roupa, de frente para o

espelho, deitada ou durante o banho, coloque a mão

direita atrás da cabeça e deslize os dedos indicador,

médio e anelar da mão esquerda suavemente em

movimentos circulares por toda a mama direita,

verificando se existe algum nódulo ou secreção.

Repita o processo utilizando a mão direita para

examinar a mão esquerda.

O ideal é que o exame das mamas seja realizado

ao menos uma vez por mês, em um dia fixo. Caso

observe a presença de nódulos, secreções ou

quaisquer alterações nas mamas, procure um (a)

profissional especializado (a).


Toque vaginal

Antes de qualquer coisa, encontre um local

confortável (um tapete ou colchão, por exemplo) e

devidamente higienizado.

Com as mãos limpas, de preferência com luvas

(fininhas, como as de látex), e unhas cortadas, sente-

se confortavelmente (ou fique de cócoras). Introduza

dois dedos na vagina e, ao mesmo tempo, coloque a

outra mão sob o baixo ventre, apalpando-o. Assim,

poderá sentir o colo do útero com uma mão e, com a

outra, examinar as trompas e os ovários.

Vá observando, ao tocar o colo do útero ou ao

sentir externamente os ovários e tubas uterinas, se

você sente algum incômodo, se alguma secreção sai,

que tipo de secreção você percebe (se tem odor, que

textura e cores tem etc.). Com esse exame, também é


possível verificar a altura e abertura do colo do útero.

O que quer que seja observado, anote.

O ideal é que realize o toque vaginal somente

quando sentir algo estranho em seu corpo. Em caso

negativo, faça a cada 1 ano ou quando for praticar

algum método de percepção da fertilidade.


Exame especular

Assim como no toque vaginal, para realizar o

exame especular você deverá estar em um local

confortável e higienizado.

Você precisará de um espéculo devidamente

limpo, um espelho pequeno e uma lanterna pequena.

Caso sinta qualquer desconforto por falta de

lubrificação vaginal, poderá, também, utilizar óleo

vegetal (semente de uvas, coco, gergelim etc.) em

volta do espéculo antes de introduzi-lo, para facilitar

a entrada.

Com as pernas abertas, sentada sob uma

superfície plana, coloque o espelho de frente para o

canal vaginal e introduza o espéculo “deitado” (com

o parafuso para cima ou para baixo), ainda fechado, e

vá girando o parafuso aos poucos, abrindo-o, até


conseguir ver o colo do útero com a ajuda do espelho

e da lanterna.

Para retirar, tome cuidado para não machucar:

retire sempre com o espéculo levemente aberto, sem

fechar bruscamente.

No Brasil, espéculos descartáveis são facilmente

encontrados, são baratos e podem ser adquiridos em

lojas de artigos para Enfermagem e Medicina. Você

pode reutilizar o seu espéculo por até 5 anos, se

devidamente higienizado após cada uso (depois que

usar, sempre lave com água e sabão neutro).

Com esse tipo de exame, você conseguirá

verificar se o colo do útero está saudável

(normalmente apresenta coloração rosada

homogênea), se apresenta inflamações (com cores


mais escuras, bastante avermelhadas) ou quaisquer

desequilíbrios (corrimentos, feridas, caroços etc.).

No exame especular, também é possível realizar

a inspeção visual com o auxílio de vinagre de maçã e

um cotonete ginecológico. Recomenda-se que, ao

visualizar o colo do útero com a ajuda do espéculo,

você mergulhe a ponta do cotonete no vinagre e passe

no colo do útero, limpando-o. Em poucos minutos,

será possível verificar se ele permanece com a

coloração normal (rosada) ou se há alguma infecção

ou indícios de HPV. Quando há algum desequilíbrio,

talvez você veja pequenas manchinhas brancas no

colo do útero. Caso isso aconteça, a sugestão é que um

(a) ginecologista seja consultado (a), para que exames

mais específicos sejam realizados.


Autorressonância íntima

Examinar o corpo físico sem examinar as

emoções que nele se expressam de nada adianta.

Muito daquilo que se manifesta em nosso corpo físico

pode estar associado às nossas emoções e, por esse

motivo, observá-las, compreendê-las e acolher cada

uma delas é fundamental para que se consiga

estabelecer um equilíbrio conosco mesmas.

Assim sendo, você pode realizar um exercício,

uma espécie de “exame”, conhecido como

autorressonância íntima, cuja proposta é mapear

emoções, sensações e memórias relacionadas ao nosso

corpo.

Para isso, você precisará de uma folha de papel,

lápis de cor e uma caneta. Na folha de papel, desenhe

o seu ventre, representando principalmente seu útero,


ovários e vagina. Se desejar, poderá também desenhar

outras de suas partes íntimas, internas e externas.

Com a folha de frente para você, feche os olhos,

respire profundamente e devagar, e visualize cada

parte desenhada.

Responda a si mesma: que cores percebo em cada

parte? Que temperatura? Alguma textura? Consigo

perceber alguma emoção ou sentimento? Que

memórias moram aqui? Consigo relacionar cada parte

a meus/minhas ancestrais (mãe, pai, avós)?

Findada a visualização, pinte cada parte íntima

desenhada com as cores que visualizou e escreva, no

desenho feito, palavras que representem aquilo que

conseguiu observar no exercício, suas emoções,

sentimentos, memórias, temperaturas e texturas

observadas, relações com seus/suas ancestrais etc.


É interessante que se realize a autorressonância

íntima sempre que tiver qualquer queixa

ginecoemocional ou sempre que sentir necessidade,

juntamente com o autoexame ginecológico.


E se aprofundar nesse universo, participe de

nossos cursos online e presenciais e acesse nossas

redes:
Consulte também algumas referências

maravilhosas que separamos para este e-book:

DINIZ, S. Fique amiga dela: dicas para entender a

linguagem de suas partes mimosas. São Paulo:

Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, 2003.

EHRENREICH, B.; ENGLISH, D. Witches, midwives

& nurses: a history of women healers. Nova Iorque,

Estados Unidos da América: Feminist Press, 2010.

MIAU: movimiento insurrecto por la autonomía de

una misma. Disponível em:

<www.vimeo.com/118763092>. Acesso em: 2 de

fevereiro de 2018.

NISSIM, R. Manual de ginecología natural para

mujeres. Barcelona, Espanha: ICARIA Editorial, 1988.


NORTHRUP, C. Cuerpo de Mujer, Sabiduría de

Mujer. Barcelona: Urano, 1999.

SAN MARTÍN, P. P. Manual de introdução à

ginecologia natural. Chile: Ginecosofía, 2018.

VIEIRA, E. M. A medicalização do corpo feminino.

Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.


A Mulher Cíclica é uma teia de saberes, sentidos

e cuidados com as mulheres em todos os seus ciclos,

gestada, parida e nutrida por nós, Jéssica Portes e

Raissa Mendes, duas amigas e irmãs de jornada que

decidiram juntar suas aspirações para auxiliar outras

mulheres e incentivar o autocuidado, a autonomia e a

saúde feminina por meio de atendimentos, cursos,

rodas e vivências que promovem o bem-estar

feminino.
Jéssica Portes

Sou mulher sagitariana, mãe

da Maria Cecília e da Maria

Flor, co-fundadora

da Mulher Cíclica, além de

doula, educadora perinatal e

terapeuta em Ginecologia

Natural.

Minha jornada em busca de autoconhecimento

existe desde que me entendo por gente. Fui uma

criança apaixonada pela Natureza e pela cura natural,

uma adolescente comprometida com a cura do

planeta e uma mulher que descobriu através da

maternidade toda Sacralidade que reside no Ser

Mulher.
Através do trabalho amoroso que venho

desenvolvendo como doula, educadora e terapeuta de

mulheres, busco levar a Medicina do Sentir às irmãs

que chegam até mim, auxiliando e orientando cada

uma para que todas estejam em contato com sua

verdade mais profunda e essencial, e dessa forma

logrem sua própria cura física, emocional e espiritual.


Raissa Mendes

Sou mulher libriana, mãe

da Céu e da Luna, co-

fundadora da Mulher

Cíclica, além de psicóloga,

doula e educadora

perinatal. Também sou co-

fundadora, alquimista e aromaterapeuta da

Apotecários da Floresta.

Meu trabalho é baseado na psicologia junguiana,

no estudo dos arquétipos femininos e ecologia

feminina. Estou imersa no movimento de integração e

resgate do Feminino Sagrado e dos saberes ancestrais,

de práticas de autoconhecimento e de meios de vida

mais harmônicos com a Natureza interna e externa.


Sou, antes de mais nada, uma mulher cíclica, e

reconhecendo minha própria ciclicidade tenho

a missão de levar os saberes e sentidos da ciclicidade

feminina a todas as mulheres que por mim passarem,

para que se conectem consigo mesmas, cuidem de si

mesmas de uma forma mais amorosa e se

empoderem.

Das könnte Ihnen auch gefallen