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Campus de Presidente Prudente

ARQUITETURA E URBANISMO

ANDRÉ ARAÚJO
ELOAH MARTINS
FERNANDA RÍGOLO

RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARA ANÁLISE DAS OBRAS “HÍPIAS MAIOR” E


REPÚBLICA, DE PLATÃO

PRESIDENTE PRUDENTE

2019
ANDRÉ ARAÚJO
ELOAH MARTINS
FERNANDA RÍGOLO

RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARA ANÁLISE DAS OBRAS “HÍPIAS MAIOR” E


REPÚBLICA, DE PLATÃO

Trabalho realizado com o objetivo


de solucionar questões propostas
pelo docente Marcos Gabriel, para
análise das obras Hípias Maior e
República, de Platão

PRESIDENTE PRUDENTE

2019
1. Expor a analogia entre o visível e o inteligível.

Para compreender a ideia de visível e inteligível e posteriormente a analogia entre


estas, é importante destacar a explicação de Platão, por meio do personagem Sócrates, por meio
da imagem do sol. A imagem do sol é apresentada no Livro VI da República e trata da relação
entre o sensível/visível e o inteligível/visível com os olhos da alma. Desse modo, Sócrates então
explica que a faculdade de ver e ser visto necessita do elemento luz, esta com um valor
inestimável e liga o sentido da visão à faculdade de ver. A partir do exposto, a imagem do sol
se destaca.

- Qual é, dentre os deuses do céu, aquele a quem atribuis a responsabilidade deste


facto, de a luz nos fazer ver de maneira mais perfeita que é possível, e que seja visto
o que é visível? - O mesmo que tu e os restantes; pois é evidente que estás a perguntar
pelo Sol. - Acaso a vista não se encontra na seguinte relação para com o deus? - Qual?
- A vista não é o Sol, nem ela nem o sítio onde se forma, os mais semelhantes ao Sol.
- De longe - E o poder que possuem, que lhes é dispensado por ele, não é como se
transbordasse de lá? - Absolutamente. - Porventura o Sol, que não é a vista, mas sua
causa não é contemplada através desse mesmo sentido? - Assim é - Podes, portanto,
dizer que é o Sol, que eu considero filho do bem, que o bem gerou à sua semelhança,
o qual bem é, no mundo inteligível, em relação à inteligência e ao inteligível, o mesmo
que o Sol no mundo visível em relação à vista e ao visível. 1

Platão relaciona a alma às essências a partir da imagem do sol. Assim, pode-se destacar
que a luz do sol é o elemento que permite a percepção dos objetos sensíveis, de modo que aquilo
que é bom torna-se um elemento propagador para compreender as essências pela alma, ou seja,
quando a alma é sustentada pela verdade, aquela compreende e aponta deter de inteligência,
todavia, se se sustentar no que é obscuro, sua visão fica turva e assemelha-se a alguém
desprovido de inteligência. Nota-se, a analogia entre o olho e a alma, assim como entre a vista
e a inteligência. A partir disso, é possível depreender assim como o sol é a causa da visão, de
maneira análoga, o bem o é da inteligência. Ainda, da mesma forma que a visão depende da
presença do sol, assim também, só haverá inteligência na alma se esta estiver na presença do
bem.

No último trecho da imagem do sol, Sócrates traz, novamente, o sol e o bem e ressalta
a relação analógica entre estes.

- Imagina então – comecei eu – que, conforme dissemos, eles são dois e que reinam,
um na espécie e no mundo inteligível, o outro no visível. Não digo ‹‹no céu››, não vás
tu julgar que estou a fazer etimologias com o nome. Compreendeste, pois, estas duas
espécies, o visível e o inteligível? – Compreendi. 2

1
Platão, República, 508a-c
2
Platão, República, 509d
Com base na citação exposta acima, fica explicito e definido que há duas dimensões,
desiguais, que compõem o todo da realidade: a visível e a inteligível.

No final do livro VI da República escrito por Platão, o personagem Sócrates pede a


Glaúcon que corte uma linha em dois segmentos desiguais, e, posteriormente, corte cada um
destes segmentos em dois seguindo a mesma proporção.

Supões então uma linha cortada em duas partes desiguais; corta novamente cada um
dos segmentos segundo a mesma proporção, o da espécie visível e o da inteligível; e
obterás, no mundo visível, segundo a sua claridade ou obscuridade relativa, uma
secção, a das imagens.2 Chamo imagens, em primeiro lugar, às sombras;
seguidamente, aos reflexos nas águas, e àqueles que se formam em todos os corpos
compactos, lisos e brilhantes, e a tudo o mais que for do mesmo gênero, se estás a
entender-me. 33

Sócrates, então, mostra o gênero visível divido em imagens no sentido de sombras e


aparições produzidas nas superfícies e, aquilo de que são imagens, ou seja, os seres vivos, tudo
o que é plantado, além das espécies que são produzidas pela arte. A partir desta divisão, Sócrates
indica que o visível separou-se a partir do critério verdade e não-verdade, no qual pode-se
compreender que o opinável está para o cognoscível da mesma forma que o semelhante, ou
seja, a imagem, está para aquilo o qual se assemelha, o ser vivo ou objeto. Com base no que foi
fundamentado, de maneira a caracterizar o segmento visível, Sócrates descreve as coisas
expostas anteriormente (imagens, seres vivos, entre outros), e posteriormente afirma que a
opinião se realiza a partir das coisas visíveis, de tal forma que produz no ser humano a
capacidade de emitir opiniões ou julgar. Estabelecendo uma relação analógica, pode-se
enfatizar que a imagem está para o objeto do qual é imagem, assim como a opinião relaciona-
se com o conhecimento ou a ciência, ou seja, a imagem é imagem de algo da mesma forma que
a opinião é a compreensão imperfeita de algo que pode ser conhecido de maneira melhor. “A
opinião é uma potência que se realiza a partir da visibilidade das coisas, o que parece,
produzindo em nós efeitos tais como a imaginação ou a convicção”. (ARAÚJO, 2010)

Sócrates descreve o segmento inteligível a partir do modo como a alma conduz sua
busca e os instrumentos nos quais utiliza para investigar. Daí, deve-se salientar que o segmento
inteligível caracteriza-se pela presença da imagem a partir do movimento da alma na busca por
inteligibilidade. Durante a busca pela inteligibilidade, a alma é levada a criar imagens, campo
em que busca hipóteses que levam a outras hipóteses, gerando deste processo, suas próprias
conclusões. Para exemplificar, Sócrates trata dos geômetras, uma vez que estes criam as

3
Platão, República, 509d-510a
imagens matemáticas e em seguida deduzem seus raciocínios a partir destas. A segunda parte
do inteligível caracteriza-se pela ausência da imagem no movimento de busca da alma, a partir
de uma hipótese, de uma conclusão. Novamente, Sócrates exemplifica para Gláucon a atividade
dos geômetras, os quais ao se utilizarem de noções-imagens que levam a deduzir um raciocínio,
chegam a uma conclusão. Assim, torna-se possível afirmar que o investigador se baseia de
formas visíveis, seja direta ou indiretamente, para chegar naquilo que a forma visível tem
semelhança. Sócrates esclarece isto quando cita que os geômetras

Fazem os seus raciocínios por causa do quadrado em si ou da diagonal em si, mas não
daquela cuja imagem traçaram, e do mesmo modo quanto às restantes figuras. 4

A reflexão utiliza a imagem como forma de aproximar daquilo que não pode ser visto
por imagem, nos levando a observar sensivelmente aquilo o qual só pode ser visto pelo olhar
da inteligibilidade. De maneira geral, a reflexão só pode gerar raciocínios se apoiada por
imagens nas quais são recursos criados pela própria reflexão e não as realidades verdadeiras,
promovendo confusão em relação às imagens com aquilo de que são imagens.

Ao interpretar o diálogo, compreende-se que o que difere as duas partes do segmento


inteligível são os modos de processar o conhecimento. A intelecção, contraditoriamente à
reflexão, não utiliza imagens e não adquire hipóteses através de princípios. A segunda parte do
inteligível consiste na ideia da capacidade de ir e vir, na experimentação da inteligibilidade, de
maneira que a alma atravesse de hipótese a hipótese até chegar àquilo que determine ser posto
em condição e por isso princípio das outras hipóteses.

Em suma, Sócrates estabelece as quatro afecções que surgem na alma as quais podem
ser correlacionadas as quatro partes dos dois segmentos (inteligível e visível): a inteligência
como seção súpera, já que seu escopo são os entes inteligíveis, o entendimento como intermédio
entre a opinião e a inteligência entendido como permanente apreensão, por meio da alma, de
uma realidade imutável, a fé, e a suposição afetada por imagens, ordenando-as por analogia,
uma vez que quanto mais participam da verdade, mais possuem clareza. Portanto, em uma
rápida comparação entre a analogia do sol e a correspondência desta com a linha dividida e a
analogia da caverna, pode-se depreender que o fogo está para a caverna, assim como o Sol está
para o dia, o qual implica que o Sol está para o mundo sensível, assim como o Bem está para o

4
Platão, República, 510d-e
mundo inteligível, expondo o que Platão afirma que o Sol é o filho do Bem e que o Bem gerou
o Sol – para o sensível – segundo a sua semelhança – no inteligível.

2. Exponha as diferenças entre o inteligível e o visível, tal como surgem nas


diversas formas do saber.

Para tratar das diferenças entre o inteligível e o visível, Platão utiliza a Alegoria da
Caverna no Livro VII da República, em que narra-se o diálogo de Sócrates com seu amigo
Glauco a respeito de uma das mais poderosas metáforas imaginadas pela filosofia, onde é
descrito a situação geral na qual está inserida a humanidade. Para tratar da questão entre o
visível e o inteligível, Platão utilizou a linguagem alegórica de modo que apresentasse como os
homens estavam presos a imagens, sombras ou preconceitos e superstições, constituindo-se o
mundo visível/sensível. Platão descreve esta situação a partir da imagem de um grupo de
homens que nasceram e passaram parte de suas vidas dentro de uma caverna, imobilizados por
correntes e obrigados a olhar apenas para a parede à sua frente. Devido ao tempo que passaram
dentro da caverna, os homens estavam totalmente acostumados com esta situação, na qual
contemplavam o que pensavam ser o mundo, apenas das sombras refletidas no fundo da caverna
pela pouca luz que havia atrás destes. Em uma certa ocasião, um dos prisioneiros tomou como
decisão a sua libertação e voltou-se para o lado exterior da caverna. Ao sair, ficou cego devido
à intensa luz presente no mundo exterior. Gradativamente, os olhos deste homem foram se
acostumando à claridade e enxergaram um mundo distinto, apresentando imagens notavelmente
distintas da quais enxergava no interior da caverna.

E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham
estado sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar
a vista – e o tempo de se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não
diriam dele que, por ter subido ao mundo superior, estragara a vista, e que não valia a
pena tentar a ascensão? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se
pudessem agarrá-lo e mata-lo, não o matariam? – Matariam, sem dúvida – confirmou
ele. – Meu caro Glaúcon, este quadro – prossegui eu – deve agora aplicar-se a tudo
quanto dissemos anteriormente, comparando o mundo visível através dos olhos à
caverna da prisão, e a luz da fogueira que lá existia à força do Sol. Quanto à subida
ao mundo superior e à visão do que lá se encontra, se a tomares como a ascensão da
alma ao mundo inteligível, não iludirás a minha expectativa, já que é teu desejo
conhece-la. O Deus sabe se ela é verdadeira. Pois, segundo entendo, no limite do
cognoscível é que se avista, a custo, a ideia do Bem; e, uma vez avistada, compreende-
se que ela é para todos a causa de quanto há de justo e belo; que, no mundo visível,
foi ela que criou a luz, da qual é senhora; e que, no mundo inteligível, é ela a senhora
da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para se ser sensato na vida particular
e pública. 5

5
Platão, República, 517a-c
A partir dessa alegoria, Platão divide o mundo em duas realidades: o sensível/visível
no qual consiste no conhecimento obtido através dos sentidos como a visão, audição, olfato,
tato e paladar, podendo ocorrer numa experiência particular de um indivíduo com um objeto na
qual é exposta pelo exemplo de um indivíduo comendo uma maçã, conhecendo-a através de
seus sentidos, ou no diálogo de duas pessoas em que ocorre o conhecimento de ambos. Disso,
é importante observar que as proposições são frutos de experiências subjetivas nos quais devem
ser chamadas de “opiniões” (doxa). Isto fica claro no momento em que comparecem problemas
como “Para qualquer indivíduo a maçã é doce e macia? ” ou “Para qualquer indivíduo tal pessoa
é educada e outra é ansiosa? ”; todavia, a realidade inteligível diferencia-se do sensível/visível
uma vez que o conhecimento é obtido através do intelecto como pensamento, intuição
intelectual, etc. Pode ser tratado como exemplo o caso de uma pessoa leiga (não cientista) sabe
da existência de células-tronco através de uma reportagem cientifica transmitida na televisão
ou publicada em uma revista, mesmo sem ter visto quaisquer células-tronco. Trata-se, portanto,
de um conhecimento objetivo (não subjetivo) comum a qualquer pessoa. Os filósofos gregos o
denominaram de episteme (opinião verdadeira). Em suma, pode-se referir a dois fluentes do
conhecimento – sentido e razão – e, dois objetos do conhecimento nos quais tangem a uma
realidade múltipla material que sujeita-se ao espaço e tempo, objeto da opinião; e a uma
realidade imutável, una e imaterial, transcendente ao sensível e que atribui razão da existência
da diversidade das coisas (MORENTE, 1970 apud MENEGHETTI, 2004). Ainda, tratando do
que foi exposto anteriormente, Platão presumia que a verdade fixa não era alcançada devido a
diversidade e mutabilidade das coisas, como o exige o conhecimento científico (episteme). É
falso e ilusório aquilo que o mundo oferece aos sentidos, diferentemente do inteligível, local
onde se encontram as verdade, entes e realidades em estado de pureza. Portanto, é importante
destacar que cada coisa no mundo sensível tem sua ideia no mundo inteligível. Desse modo, as
ideias são essências que existem das coisas do mundo sensível. Também, Platão acreditava que
a ciência deve ter por objeto as ideias, aquilo que é real, sabendo que o conhecimento resulta
em iluminar a ação e facilitar o esforço para o Bem, este princípio da ciência e da verdade
(PLATÃO, 1973 apud MENEGHETTI, 2004). “Nosso conhecimento consiste em elevar-nos
por meio da dialética do mundo sensível a uma intuição intelectual desse mundo suprassensível,
composto de ideias” (MENEGUETTI, 2004). Um exemplo importante a ser ressaltado são as
ciências matemáticas, que segundo a teoria platônica, encontram-se no mundo inteligível,
contudo em uma região inferior a dialética. O conhecimento do ser e do inteligível adquirido
pela dialética é dissemelhante àquele o qual se tem acesso pelas ciências matemáticas, pois
nestas a alma depende dos originais do mundo visível, ou seja, procede-se a partir de hipóteses
rumo a uma conclusão, fazendo uso do raciocínio, enquanto a dialética traça um movimento
contrário, já que leva a um princípio não hipotético, o Bem, além de ser atingida por meio
exclusivo das ideias tomadas em si próprias sem o auxílio de imagens, aquelas utilizadas pelos
matemáticos.

De modo geral, para Platão, o mundo visível e inteligível são dois mundos
completamente distintos. Para o primeiro é um mundo da aparência, do devir dos contrários (o
mundo dos prisioneiros da caverna), uma cópia ou sombra do mundo verdadeiro e real, diferente
do segundo, que caracteriza o mundo verdadeiro, das essências imutáveis, sem contradições
nem oposições, sem transformações, e nenhum ser passa para o seu contraditório, o mundo da
identidade, da permanência, da verdade, conhecido pelo intelecto puro. O mundo visível é o
mundo das coisas, o mundo do Não-Ser, uma cópia deformada do mundo inteligível das ideias.
O mundo inteligível é o mundo das ideias, o mundo do Ser. A partir das diferentes formas de
saber fundamentadas na separação entre o mundo sensível e o mundo inteligível, deve-se
afirmar que a alma sairia do sensível, este o nível mais básico do conhecimento, a“eikasía”,
caracterizada pelo conhecimento baseado somente nas imagens dos seres, até atingir o mais alto
conhecimento, a episteme. Entre estes conhecimentos encontra-se o conhecimento da doxa e da
diánoia. O homem então sairia do conhecimento mais baixo, aquele baseado somente nas
imagens dos seres. Alcançaria, ainda no mundo visível, o conhecimento da mutabilidade e da
imperfeição, qualificado pelo conhecimento das coisas sensíveis ou materiais. Em um terceiro
momento, o homem ao alcançar o conhecimento matemático, já estaria no mundo inteligível,
pois é um modo de conhecimento abstrato e racional no qual não depende dos sentidos para
atingir a verdade. O último e mais alto estágio do conhecimento é o conhecimento por
excelência, onde o homem atingiria as ideias perfeitas, as formas inteligíveis, as essências das
coisas. Neste último estágio, o homem chegaria no conhecimento de fato. Por fim, deve-se
enfatizar que as ideias ou formas existem em um sistema hierárquico, em que no topo dessa
hierarquia estaria a ideia do Bem, a mais importante de todas as ideias. A passagem de um grau
para outro se dá através da dialética, que resume ao encontro do homem com as contradições
no nível de conhecimento inferior e passa ao grau seguinte. Em relação ao exposto, a educação
ocupa papel fundamental na filosofia platônica, já que é através desta que a alma é direcionada
de modo a contemplar a ideia do Bem.

A educação [...] seria a arte desse desejo, a maneira mais fácil e mais eficaz de fazer
dar a volta a esse órgão, não a de o fazer obter a visão, pois já a tem, mas, uma vez
que ele não está na posição correcta e não olha para onde deve, dar-lhe os meios para
isso. 6

3. O que é o devir?
Devir (do latim devenire, chegar) é um conceito filosófico que significa as mudanças
pelas quais passam as coisas. O conceito de "se tornar" nasceu no leste da Grécia antiga pelo
filósofo Heráclito de Éfeso que no século VI a.C., disse que nada neste mundo é permanente,
exceto a mudança e a transformação. Sua teoria está em oposição com a de Parmênides, outro
filósofo grego que acreditava que as mudanças ônticas ou os "tornar-se" que percebemos com
nossos sentidos é algo enganoso, que há pura perfeição e eternidade por trás da natureza, e que
esta é a verdade suprema. Na filosofia, a palavra "tornar-se" diz a respeito de um conceito
ontológico específico que não deve ser confundido com a filosofia do processo, esta última
indicando uma doutrina metafísica da teologia.

Cerca de 500 a.C. Heráclito escreveu o seguinte: “Tudo flui e nada permanece, tudo
dá forma e nada permanece fixo. Você não pode pular duas vezes no mesmo rio, pois outras
águas e ainda outras, vão fluir”.
Platão tinha interesse em construir sua teoria sobre o "devir" de modo a não anular as
perspectivas de imutabilidade do ser, tudo se passa como se o filósofo tivesse que conhecer
duas posições extremas para poder ultrapassá-las: a de Heráclito para quem tudo o que existe é
conduzido pelo fluxo do devir; e a posição antagônica de Parmênides para quem o ser não
comporta nem o nascimento nem a morte, o devir só pode ser uma ilusão, o ser é imutável ou
não é o ser. Para ele, o ser na dimensão do "tornar-se" implica a causa específica da inteligência
produtora e tudo o que ela postula, o "ser que é sempre" não está sujeito à geração e ao devir,
porque permanece sempre nas mesmas condições; ele é captado pela inteligência por meio
do raciocínio, o devir que continuamente se engendra não é nunca um verdadeiro ser justamente
porque está em contínua mudança, ele é objeto de opinião, ou seja, é captado mediante a
percepção sensorial, distinta da razão.

Nesse contexto cabe ressaltar a contribuição de Aristóteles com a postulação das leis
da lógica.

6
Platão, República, 518d
Segundo tal, nenhum raciocínio absoluto deve possuir em si contradições que o
coloque em dúvida. Para tal, é importante compreender os conceitos de: identidade, não
contradição e terceiro excluído.

O princípio da identidade afirma que tudo é idêntico a si mesmo. Por trás da obviedade
aparente do princípio da identidade, e no âmbito da lógica clássica, jazem dois outros princípios,
o princípio da não-contradição e o princípio do terceiro-excluído.

O princípio lógico fundamental é o princípio da identidade: tudo é idêntico a si mesmo.


Em fórmula, A é A. Por exemplo, podemos dizer a árvore é árvore. Este princípio é por demais
evidente por sua elementaridade e assusta que tenha que ser formulado. Contudo, a ele se
articulam dois outros princípios tidos como a base da lógica clássica e, por extensão, do “bom
raciocínio”: o princípio da não-contradição e o princípio do terceiro-excluído. O primeiro deles,
como o nome indica, afirma que não deve existir contradição no raciocínio: A não é não-A, e a
árvore não é não-árvore. O princípio da não-contradição é, de certa maneira, a forma negativa
do princípio da identidade, ou seja, afirma que algo não pode ser e não ser ele mesmo. O
segundo deles, o princípio do terceiro-excluído, pode ser visto como a forma disjuntiva do
princípio da identidade: uma coisa é ou não é. Entre essas duas possibilidades contraditórias
não há possibilidade de uma terceira que, assim, fica excluída. Formalmente, é assim expresso:
A é B ou A não é B; como exemplo podemos dizer que ou aquilo é árvore ou não é árvore.

4. O que é dialética platônica?


O termo dialética, do grego dialektké, é o método de discussão de ideias opostas com
o objetivo de encontrar a verdade. É uma forma de argumentação lógica, exigindo o debate para
a avaliação sistemática das relações entre conceitos específicos gerais.

A dialética platônica deriva da necessidade de entender a relação entre o um e sua


consequente dispersão fenomênica, poder e ciência necessários para o conhecimento da verdade
do ser, ou seja, método de construir o conhecimento de forma inviolável, transgredindo do
sensível à opinião, aquilo que é relativo, para o saber, a verdade. Ela é apresentada nos livros
VI e VII da República como o procedimento filosófico por excelência e o filósofo é entendido
como dialético, nestes livros também são apresentados os gêneros sensível e inteligível, visível
e invisível. Sua compreensão se dá pelo emprego da circunscrição da figura do filósofo por
oposição aos outros gêneros produtores de discurso, como o poeta, considerado imitador de
aparências.
O radical "di", dois, duas, de dialética propõe que duas ideias possuem duas formas,
tese ou antítese, opostas que se negam e se complementam ao mesmo tempo, e a partir desses
nasce a síntese. O processo de formação de novas sínteses não termina, sendo oposta a outra
ideia (tese vs. antítese). Para Platão quanto mais dialética maior a verdade, porém não é possível
chegar à verdade pura.

Platão faz a síntese de Heráclito e Parmênides, tese e antítese, sintetizando a teoria das
ideias, separação do mundo material do mundo das ideias, onde a ascensão do mundo material
para o das ideias representa a aproximação da verdade, que deve ser feito pelo questionamento
do mundo material e não pelos sentidos.

O “mito da caverna”, apresentado no livro VII da República, é uma interessante


alegoria que mostra o difícil caminho que o filósofo deve percorrer em sua constante busca por
encontrar a verdade. Ele inicia com a apresentação de uma realidade falsa, na qual estavam
mergulhados alguns homens presos no fundo de uma caverna, experimentando apenas as
sombras que podiam ver na parede da caverna, derivadas da imagem do que se passava lá fora,
a partir da luz de um fogo. Porém um destes homens tem oportunidade de se libertar e entrar
em contato com a realidade exterior, levando-o a sofrer uma forte desilusão e descrença, ao
compreender que o que via na caverna não passava de uma ilusão.

Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas
vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para
objetos mais reais? 7

Platão apresenta a figura do homem acomodado a sua ignorância, que não busca
acrescentar conhecimento a sua vida, para este homem as coisas são da maneira que aí se vê,
não há necessidade de buscar uma explicação para suas sensações. Porém quando ele cai em si,
em uma passagem dolorosa e conturbada do mundo sensível para o mundo inteligível, este
homem torna-se capaz de buscar e encontrar o bem desejado, a contemplação das coisas
superiores e, assim, esclarecer-se. Somente esse duro processo de ascensão das coisas mutáveis
para as eternas é capaz de produzir, como resultado, um conhecimento verdadeiro dos conceitos
procurados e, consequentemente, a alegria daquele que se sente liberto da cegueira em que
estava mergulhado.

Portanto, a dialética platônica é a transição necessária entre o mundo sensível e o


mundo inteligível, cuja contemplação é tão desejada pelo filósofo. Por meio do diálogo, isto é,

7
Platão, República, 515d
da contraposição de ideias e opiniões, pode-se chegar a um conceito verdadeiro e único daquilo
que se busca e, assim, à contemplação do Bem verdadeiro.

5. Exponha a relação entre os caracteres humanos e as formas de prazer. O que


são prazeres puros?

No livro IX da República, o personagem Sócrates defende que os prazeres da pessoa


justa são mais reais do que os da pessoa injusta, o que pode-se depreender que a vida justa é
mais desejável e melhor, além de ser a mais prazerosa.

Sócrates oferece a Glaúcon, três demonstrações em relação aos caracteres humanos e


as formas de prazer. A primeira refere-se à afirmação de que a vida do tirano é infeliz e que
além disso, as cidades se tornam cada vez mais infeliz à medida que se tornam injustas.

- Vamos então contratar um arauto, ou proclamo eu mesmo que o filho de Aríston


julgou que o melhor e o mais justo é o mais feliz, e que esse homem é o mais adepto
da realeza e rei de si mesmo; e que o pior e o mais injusto é o mais desgraçado, e esse,
por sinal o mais tirânico, é o que mais tiraniza a si e à cidade? – Proclama. –
Acrescentarei a esta proclamação que é assim, quer o facto passe despercebido a todos
os homens e deuses, quer não? – Acrescenta.8

A segunda demonstração, por sua vez, se baseia na ideia de que cada parte da alma
tem o seu próprio prazer e que cada prazer corresponde a um tipo de caractere humano.

Uma parte era aquela pela qual o homem aprende, outra, pela qual se irrita; quanto à
terceira, devido à variedade de formas que ostenta, não dispomos de um nome único
e específico, mas designámo-la por aquilo que nela é mais eminente e mais forte:
chamámos-lhe concupiscência, devido à violência dos desejos relativos à comida, à
bebida, ao amor e a tudo quanto o acompanha; e chamámos-lhe amiga do dinheiro,
porque é sobretudo com dinheiro que satisfazem os desejos dessa espécie.9

Assim como exposto na citação acima, os prazeres próprios de cada parte da alma são
o prazer pelo dinheiro, ou seja, a concupiscência, na qual relaciona-se à parte apetitiva da alma;
o prazer pela honra, ou seja, a cólera, na qual diz respeito à parte irascível; e o prazer pela
sabedoria, correspondente a parte intelectual. Sócrates, a partir disso, define então três tipos de
vida correlacionando respectivamente aos três tipos de prazeres descritos anteriormente, sendo,
a vida do amante do dinheiro ou a do interesseiro, a vida do amante da honra ou a do ambicioso
e a vida do amante da sabedoria, isto e, a do filósofo.

8
Platão, República, 580b-c
9
Platão, República, 580d-e
Destes três tipos de vida, pode-se afirmar que a vida do filosofo seria aquele que teve
experiência em todos os tipos de prazeres, enquanto a vida do interesseiro e do ambicioso, ainda
que tentassem, não alcançariam os prazeres do filósofo. Ainda, o filosofo é aquele no qual,
dentre eles, agrega experiência e inteligência, uma vez que o sendo o amante da sabedoria,
aquele que possui o raciocínio como instrumento da atividade que lhe é própria. Somente o
filosofo satisfaz os critérios estabelecidos previamente, sendo o único caractere capaz de julgar
qual das três formas é a mais prazerosa, sendo para o filosofo, a vida filosófica a mais prazerosa,
já que prefere a vida da sabedoria.

Ao tratar de prazer, é possível ressaltar que prazer puro consiste naquele prazer no qual
não se mistura com a dor. Platão propõe a dor como algo contrário ao prazer e ainda, o estado
de alma no qual não se sente nem prazer nem dor, o estado neutro. De modo a exemplificar
isso, podemos ressaltar os doentes que quando sofrem, afirmam que a saúde é o mais agradável
e importante, contudo, antes de ficarem doentes não tinham noção em relação a isso. Ou seja,
quando alguém sofre alguma dor, nada se compara com a cessação desta. Diferentemente, o
prazer quando cessado, o repouso subsequente é a dor. Platão então conclui que prazer e dor
constituem um movimento e quando não há ambos, revela-se o estado intermediário
denominado como estado neutro. Aqueles prazeres provenientes da cessação da dor não são
verdadeiros.

Não vamos então persuadir-nos de que o prazer puro é a libertação da dor, e a dor, a
do prazer.10

Em suma, o prazer puro é aquele não proveniente de nenhuma dor, nem é sucedido por
nenhuma dor. O prazer puro é identificado como o próprio conhecimento e seu exercício, em
que é possível ressaltar, quando Platão afirma, que o filosofo detém dos prazeres mais puros e
verdadeiros, uma vez que agrega experiência e inteligência, sendo o amante da sabedoria.

6. Tomando do Hípias Maior que o belo é o prazer que nos vem pela visão e
audição, poderíamos dizer que esses prazeres são puros?

Não, pois se o belo fosse somente o prazer que nos vem pela visão e audição, então os
demais prazeres não teriam beleza. E segue-se o raciocínio utilizando-se a ideia de grupos,

10
Platão, República, 584c
dizendo que se ambos são belos em conjunto, a beleza teria de vir do fato de ter sido visto ou
ouvido, o que não os tornaria belo em particular. Sócrates ao questionar Hípias no diálogo sobre
o que é belo, ele afirma “não toda espécie de prazer”:

“(...) se denominássemos belo o que nos proporciona prazer, isto é, não toda espécie
de prazer, mas apenas os que alcançamos pela vista e pelo ouvido, de que modo
poderíamos defender-nos? É fora de dúvida, Hípias, que os belos homens, as coisas
variegadas, os trabalhos de pintura e de escultura nos são agradáveis à vista, quando
belos, como também se dá com os belos sons, a música em todas as suas
manifestações, os discursos e a poesia; de forma que, se respondêssemos àquele
sujeito impertinente: O belo, caro amigo, é o que nos deleita por meio da vista e do
ouvido, não te parece que poríamos fim ao seu atrevimento? ” 11

Hípias, com a ajuda de Sócrates, elabora diversas respostas plausíveis sobre o que é o
belo, equivalendo aos termos gregos prepon (conveniente), chrêsimon (utilizável) e hedonê
(prazer), que não constituem a resposta efetiva ao que é o belo na perspectiva socrático-
platônica.

Hípias observa que a beleza não pode se dar sem implicar diretamente uma sensação
de prazer, e que, portanto, não poderia conceber a beleza senão como o prazer evocado pela
visão e pela audição. Tal ideia havia sido sugerida em questionamento de Sócrates para Hípias,
e logo é refutada, pois existem também prazeres incontestáveis proporcionados pelo olfato, pelo
tato e pelo paladar, assim como pode existir beleza sem prazer sensível.

O belo enquanto prazer é a última instância da apresentação por Hípias de uma


concepção do belo enquanto sensação (particular e relativa), aparência (fornecida pela
conveniência ou adequação ao momento) e potência (em função da utilidade).

Ao fim do diálogo, Hípias passa a pensar no belo não enquanto sensação particular,
mas em sua apreensão absoluta, não enquanto aparência, mas como ser, e não enquanto
potência, mas enquanto conhecimento.

Platão, através de Sócrates, afirma apenas que a beleza não pode ser encontrada sob
nenhum desses signos da aparência, que ela não se identifica nem como uma coisa específica,
nem com o conveniente, nem com o utilizável e muito menos com a sensação de prazer evocada
pela audição e pela visão.

Para Platão, o Belo está pautado na noção de perfeição, de verdade, a Beleza existe em
si mesma, no mundo das ideias, separada do mundo sensível, as coisas seriam mais ou menos
belas a partir de sua participação nessa ideia suprema de Beleza, independentemente da

11
Platão, Hípias Maior, 298 a.
interferência ou do julgamento humano. O belo não necessita de ser útil para ser belo. A beleza
é fim de si mesma.

Vale ressaltar que Hípias Maior é um diálogo aporético; expõe um problema, mas não
o resolve. Como finaliza Sócrates:

“Uma coisa, pelo menos, Hípias, presumo haver aproveitado em vossa companhia:
imaginar que compreendo o significado do provérbio: O belo é difícil. ” – Hípias
Maior 12

7. Escreva sobre a multiplicidade do visível e a unicidade da ideia.

O livro X possui três objetivos, sendo estes, esclarecer a natureza da mimesis, esta
como base da educação grega; mostrar que os poetas não detêm do conhecimento verdadeiro
daquilo que eles falavam e iludiam os cidadãos por meio da poesia; e mostrar a poesia como a
pior parte da alma, a qual prejudica o racional.

Estabelecendo o método de busca da verdade, o personagem Sócrates pergunta quem


é o imitador e o que seria a imitação, supondo que seja o poeta e a poesia respectivamente, pois
considera que o poeta não trata da verdade e, segundo Platão, não deve ficar incumbido de
educar os cidadãos da cidade. De modo a esclarecer a ideia, Sócrates traz como exemplo os
objetos cama e mesa e como personagens, Deus, num primeiro nível de reflexão, marceneiro,
aquele que fabrica as coisas num segundo nível de imitação e pintor, aquele que imita a cama
ou mesa num terceiro nível de reflexão, ou seja, a imitação da imitação. É importante salientar
que o trabalho do artista imitativo pode ser comparado ao reflexo passivo de um espelho,
repetindo a imagem das coisas sensíveis.

Assim, ao longo da passagem, Deus é o autor da cama real, como objeto essencial,
uno. O marceneiro é o artífice da cama, porém, inspirada naquela desenvolvida por Deus. Já o
pintor, também é considerado como artífice, contudo, reconhecido como imitador daquilo que
os outros são artífices.

Considera então o seguinte: relativamente a cada objeto, com que fim faz a pintura?
Com o de imitar a realidade, como ela realmente é, ou a aparência, como ela aparece?
É imitação da aparência ou da realidade? – Da aparência. – Por conseguinte, a arte de
imitar está bem longe da verdade, e se executa tudo, ao que parece, é pelo facto de
atingir apenas uma pequena porção de cada coisa, que não passa de uma aparição. Por
exemplo, dizemos que o pintor nos pintará um sapateiro, um carpinteiro, e os demais
artífices, sem nada conhecer dos respectivos ofícios. Mas nem por isso deixará de
ludibriar as crianças e os homens ignorantes, se for bom pintor, desenhando um

12
Platão, Hípias Maior, 304 e.
carpinteiro e mostrando-o de longe com a semelhança, que lhe imprimiu, de um
autêntico carpinteiro. 13

Com base na citação anterior, pode-se compreender que os poetas aparentam ser
aqueles que dominam todo tipo de oficio através de suas obras, como o pintor citado no diálogo
acima, onde se mostram imitadores de tudo o que existe e o que é a arte de outro, por meio de
frases, sem entende-las, apenas imitando-as.

A poesia imitava a forma humana, através do modo como era utilizada. Na cidade, a
poesia imitava a aparência e elevava as piores partes da alma, a concupiscível e irascível,
dominando a alma e assumindo a função do racional.

Fazendo uso do pintor para referir-se a qualquer tipo de imitador, Sócrates diz que

[...] o imitador não tem conhecimentos que valham nada sobre aquilo que imita, mas
que a imitação é uma brincadeira sem seriedade; e os que se abalançam à poesia
trágica em versos iâmbicos ou épicos, são todos eles imitadores, quanto se pode ser. 14

O exemplo utilizado para se referir aos imitadores explica o problema da verdadeira


essência das coisas, ou seja, para cada classe material há uma forma imaterial, existente apenas
no mundo inteligível, o mundo das ideias. Dessa forma, a pintura da cama seria então, a
representação da realização material de uma cama única, estando afastada em três graus da
verdade.

“A verdade da poesia, enquanto sensibilidade, só pode ser atingida na filosofia. Não é


só o rei que precisa se transformar em filósofo na República, mas também o poeta”
(OLIVEIRA, ABREU; 2015)

8. O que são imitações, imagens ou aparências?

Imitações, imagens ou aparências são termos que remetem a mimese, o termo faz
alusão à ação de produzir uma cópia, imitação, onde, a partir de um modelo anterior, cria-se
uma reprodução, parecida, semelhante com o modelo em que se ancora.

“Do grego mímesis, “imitação” (imitatio, em latim), designa a ação ou faculdade de


imitar; cópia, reprodução ou representação da natureza, o que constitui, na filosofia
aristotélica, o fundamento de toda a arte. ” 15

13
Platão, República, 598b-c
14
Platão, República, 602b
15
Carlos Ceia, Mímesis ou Mimese, 2010
A mimese é compreendida como tendência da alma, responsável pela formação, e
como modo de elocução do mito, contraposto a diégesis. A imitação, enquanto uma tendência
da alma, fundamenta toda a proposta paidêutica inicial centrada no ambiente sensível.

O termo é combatido por Platão e defendida por Sócrates, para Platão ela engana, para
Aristóteles ela educa. Para Platão, a imagem seduz as partes mais fracas de nossa alma, para
Aristóteles, ela é eficaz, justamente pelo prazer que essa sedução proporciona. A única imagem
válida, para Platão, é a imagem “natural” (reflexo ou sombra) que é a única passível de se
transformar em ferramenta filosófica. O estilo imitativo é apresentado por Sócrates como
portador de um grande poder formador, poder que é a causa da sua desqualificação enquanto
modo de elocução.

Em alguns diálogos de Platão, como Os Sofistas e A República, a mimese é


compreendida através do seu poder de produzir imagens, a partir deste sentido ela é dividida
em dois modos de aparição: a cópia (eikastike) e o simulacro (phantastiké). A cópia é exposta
como uma forma positiva de imagem à medida que se pauta no modelo, e por isso guarda uma
relação com a verdade. Já o simulacro é desqualificado, pois é direcionado a observadores
desfavoravelmente colocados, e desse modo perde a fidelidade da cópia.

A imitação movimenta-se no âmbito da produção, e esta produção precisa ser tomada


de maneira totalmente ampla, todo processo de produção que pretende dar origem a algo
semelhante a um modelo pré-existente se encaixa na experiência abarcada pela palavra grega
mímesis em seu sentido platônico, remetendo ao fazer humano de modo geral.

A mimética aparece relacionada principalmente à arte em sua variedade de formatos:


a ação do ator, do dançarino, do músico e do pintor. No contexto do pensamento platônico,
também encontramos uma variação na abordagem da mimética.

No Livro X de A República, a mimese é criticada e os poetas e pintores são exilados


do modelo de cidade platônico, acusados de serem imitadores (mimetés), produtores de imagens
(eikón) distantes três graus da natureza (phýsis) e da verdade (alétheia).

As produções dos imitadores não passam de aparência, carecem de existência real, não
possuem um saber restrito, podem mimetizar qualquer coisa, tal qual um espelho, que ao ser
devidamente posicionado dá origem ao todo do real.

Os imitadores são acusados, no diálogo, de corromperem o claro entendimento dos


homens, criam imagens associadas à porção do nosso íntimo mais afastado da razão e em que
nada se encontra de são e verdadeiro. As acusações são baseadas no fato das imagens
originadas, na poesia e pintura, não serem as coisas mesmas, apesar de no aparecimento se
assemelharem a tal. Segundo Sócrates, a imagem pictórica de uma flauta não é uma flauta real,
não possui sua função (érgon) sonora específica. A imagem de flauta nos permite vê-la através
de cores e linhas. A pintura, assim como a poesia, e a arte, de modo geral, têm o poder de iludir,
enganar a multidão ao mostrarem uma imagem como sendo a própria coisa.

A representação mimética é atravessada por um problema da filosofia: a questão da


verdade. A imagem é apresentação e aparência, cuja representação procura ser verdadeira, ou
seja, parcialmente correspondente às condições do objeto representado. A imitação é
essencialmente lógica, pois supõe uma transformação segundo um modelo verdadeiro da
realidade. Platão via no mundo uma imagem, mesmo que deformada, da ordem divina e
verdadeira, a imagem é um grau de processo do conhecimento, com o mundo sendo composto
por três níveis hierárquicos: formas intelectuais e perfeitas, mundo sensível, que copia, e as
cópias de cópias.

Platão condena não a peça poética propriamente dita, mas a experiência que a arte
imprime nos cidadãos. A condenação do filósofo é em relação à poesia enquanto meio de
formação e pensamento de um povo.

9. O que é propriamente real e verdadeiro na experiência possível do homem?


Exponha as duas hierarquias de três produtos e três produtores.

A verdade, segundo Platão, precisa estar sempre sendo buscada. A verdade não é algo
palpável, não é algo concreto. Não se pode dizer dela: essa, a verdade. Ou a verdade das
verdades. Tudo é relativo. Ainda segundo Platão, o real é o natural, ou seja, é o que existe
independente do ser. A verdade é tida como algo concebido ao homem, mas que ele esqueceu,
portanto, por meio da natureza, ele consegue ter acesso, visto que esta já está impregnada nele,
pois o homem também pertence ao meio natural.

Portanto a verdade na experiência possível do ser corresponde a um retorno à natureza,


retomada de um contato daquilo que já foi dado pelo simples fato de existirmos, sair de uma
zona de esquecimento.

Vejamos parte da narrativa platônica denominada “O mito da caverna”:


Sócrates –“ Agora, meu caro Glauco, é só aplicares com toda exatidão essa imagem
da caverna e tudo o que antes havíamos dito. A caverna subterrânea é o mundo visível.
O fogo que ilumina é a luz do sol. O acorrentado que se eleva à região superior e a
contempla, é a alma que se eleva ao mundo inteligível. É esse pelo menos meu modo
de pensar (minha verdade pessoal) que só a divindade pode saber se é verdadeiro
(relatividade da verdade com relação a divindade). Quanto a mim é como posso dizer-
te. Nas ultimas fronteiras do mundo inteligível está a ideia do bem criador da luz e do
sol no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível sobre a
qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos levantados para agir com sabedoria nos
negócios individuais e públicos”16

Se o homem permanece passivo no olhar, apenas nas aparências das coisas, nas
sombras destas, este morre na ignorância conhecendo apenas a superfície sombria das
aparências. Portanto para conhecer a verdade é necessário agir, caminhar, voltar-se em busca
do conhecimento, da luz. As sombras são toda a realidade e toda a verdade para aqueles que
não saem da caverna e se concentram em acreditar nelas. Se toda verdade é relativa, essa
relatividade mostra que verdades anteriores a um conhecimento mais amplo se mostram
sombrias quando se alcança um conhecimento mais abrangente e atual. Portanto, o ser necessita
movimentar-se em direção a essa amplitude.

A verdade para Platão é que o conhecimento exige movimento, superação da


passividade. A busca da verdade sugere que o ser pode afastar-se do lugar sombrio no qual ela
se reflete enquanto sombra, é preciso, demitir-se de uma intimidade representativa da interação
com os objetos e da apropriação aparente deles, confundindo-se com eles. A centelha da luz do
conhecimento, uma vez saída a pessoa do mundo limitado das sombras, sugere uma série de
infinitas descobertas, esse caminhar rumo as novas interações com a realidade, significa a
superação da sombra da realidade anterior.

A pergunta a respeito do que é verdadeiramente possível na experiência do homem


também passa por compreender duas hierarquias cognitivas: a primeira relacionada com três
produtos: o modelo, a cópia, e a imagem.

Mais abaixo dessa hierarquia encontra-se a imagem, produto estritamente relacionado


com a imitação, produzida pelos pintores e pelos poetas, que possuem o dom da imitação e,
portanto, são considerados, produtores da aparência.

A cópia está relacionada com o produto que provem da mão do artesão, ou seja, trata-
se de algo que possui desempenho, a grande diferença entre a cópia e a imagem é justamente o

16
Platão, República, 517b-c
fato da primeira possuir palpabilidade, ou seja, quando um marceneiro constrói uma mesa, este
visa o seu uso, ou seja, a cópia possui desempenho no devir natural.

O último produto e que se encontra no topo da hierarquia é o modelo: trata-se da ideia


imutável, constituída pelos deuses e que não passa por nenhuma alteração no decorrer do tempo.
Portanto é o produto que possui mais verdade por ser imperecível e incorruptível.

A segunda hierarquia está relacionada com os produtores, trata-se do produtor, usuário


e do imitador.

Essa hierarquia refere-se aos homens. Assim sendo, o produtor refere-se ao artesão
que possui a crença certa, ou seja, capaz de realizar a reprodução intelectual do modelo em algo
que possui desempenho. Não faz o modelo, porém produz produtos que relembram o modelo,
ou seja, as coisas reais. A decorrência disso é uma lista fechada de ocorrências, ideia de que o
homem não cria nada novo, algo contraditório atualmente.

O usuário é aquele que conhece e sabe tudo que algo pode ser e, dessa forma, consegue
utiliza-lo.

Já o imitador trata-se do artista que possui a opinião certa, detém uma imagem mental
certeira capaz de reproduzir imitações coerentes. Vale frisar que o imitador está duas vezes
afastado da verdade, visto que produz uma imagem degradada a partir da cópia. Enquanto o
artesão fixa o olhar no modelo para criar seus produtos, o artista fixa-se na cópia, por isso duas
vezes afastado da verdade. Platão negava a transcendência por meio da arte, para ele, a arte
tinha o objetivo de confundir e seduzir, ocasionando o engano. Enquanto o artesão se debruça
na realidade das coisas, o artista preocupa-se com a aparência, portanto não é capaz de produzir
coisa alguma. Enquanto uma mesa produzida por um marceneiro pode ser usada, a mesa pintada
por um artista trata-se apenas de uma mera aparência.

10. Qual tem mais verdade? O usuário, o artesão ou o pintor?

Dentro da hierarquia dos produtores, aquele que detém mais verdade é o usuário, visto
que o usuário conhece tudo que algo pode ser no tempo (suas várias possibilidades de
desempenho). O usuário entende do desempenho, que nada mais é a passagem entre o modelo
inteligível e a cópia, ou seja, o aparecimento real das coisas no mundo sensível. Assim sendo,
como exemplo, o usuário da flauta retira melodias que estavam lá e que correspondem à ideia
da flauta: um instrumento de sopro, que toca melodias com uma sonoridade determinada.
Essa passagem permanente entre a ideia e a sua passagem para o mundo sensível é
compreendida pelo usuário e, apesar do artesão mirar o modelo para produzir seu produto, este
não conhece o desempenho, e até mesmo esse contemplar do modelo passa pelas instruções
dadas pelo usuário.

Portanto, o usuário é que detém mais verdade.

11. No plano moral, o que é a necessidade?

A noção de necessidade é alética (do grego aleteia, verdade) caracteriza o modo de


uma proposição ser verdadeira - o de ser verdadeira em todos os mundos possíveis, distingue-
se em três grupos de verdades necessárias: lógica, metafísica e a física.

Num sentido geral, designa o caráter indispensável e natural de algumas ações, tais
como as necessidades de causa fisiológica, como a alimentação e a dependência do ser vivo em
relação a outras coisas ou seres, no que diz respeito à vida ou a quaisquer interesses. Qualquer
tipo ou forma possível de relação entre o homem e as coisas, ou entre o homem e os outros
homens, pode ser considerado sob o aspecto da necessidade, implicando que o ser humano
depende dessas relações.

Pode-se distinguir dois tipos de necessidades, as necessidades inatas e as necessidades


adquiridas ou culturais. As necessidades inatas ou naturais são de ordem fisiológica e, a longo
prazo, indispensáveis à manutenção da vida. As necessidades culturais são de ordem social ou
psicológica e derivam do ser humano e sua complexidade.

De acordo com Aristóteles a necessidade é algo que tem de ser assim e não pode ser
de outra forma, é algo imprescindível à vida; condição de alcançar o bem e evitar o mal, é
imposto ao Homem sem a sua vontade. Necessidade é uma “condição à priori”, é o que não
deixa a opção de não existir. É necessário, por exemplo, que o triângulo tenha três lados, para
ser um triângulo, é necessário que o homem seja dotado de razão, para ser um ser racional.

No campo moral, necessidade opõe-se à liberdade. O determinismo é a doutrina que


afirma a necessidade das ações morais. Portanto, necessidade é compreendido como o conjunto
de consequências inelutáveis que, no mundo sensível, impõem limites severos a toda intenção
racional. A “necessidade” que Platão descreve laboriosamente no Timeu apresenta um duplo
composto que a aparenta ao mito: ela é indissociável da temporalidade e aparece como um ser
vivente sobre o qual se pode agir pela persuasão. Uma tal forma de criar múltiplas contradições,
as quais denuncia Aristóteles, e que levarão os platônicos médios a interpretar o Timeu como
um drama.
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