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Vigilância do

Câncer
Relacionado ao
Trabalho e
ao Ambiente
Elaboração
Fátima Sueli Neto Ribeiro
Gulnar de Azevedo e Silva Mendonça
Marcelo Moreno dos Reis
Paula Fernandes Brito
Silvana Rubano Barreto Turci
Ubirani Barros Otero
Apoio
Cláudia Gomes — Divisão de Comunicação Social

Agradecimentos
Marco Perez — Coordenação de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde — COSAT/
MS
André Szklo — Divisão de Epidemiologia — CONPREV/INCA
Ronaldo Correa Ferreira da Silva — Divisão de Atenção Oncológica — CONPREV/INCA
Fátima Regina Silva de Souza — Área de Vigilância do Câncer relacionado ao Trabalho
e ao Ambiente — CONPREV/INCA
Bruno dos Santos de Almeida Mariano — Área de Vigilância do Câncer relacionado ao
Trabalho e ao Ambiente — CONPREV/INCA
Gisele Netto da Costa Guimarães Neves — Programa Nacional de Eliminação da Sili-
cose — COSAT/MS — Fundacentro/MTE
Mariana Correa Gonçalves — estagiária UERJ
Silvia Regina dos Santos Gonçalves — estagiária UERJ
Ministério da Saúde
Instituto Nacional do Câncer

Vigilância do Câncer
relacionado ao Trabalho
e ao Ambiente

Rio de Janeiro

2006
Sumário
Apresentação....................................................................... 6
Agrotóxicos......................................................................... 8
I. Introdução.................................................................................................8
1. Definição........................................................................................................ 8
2. Usos mais freqüentes........................................................................................ 8
3. Principais grupos expostos................................................................................. 9
II.Toxicidade dos agrotóxicos............................................................................9
1. Prevalência das intoxicações no país.................................................................. 10
2. Agrotóxicos e câncer....................................................................................... 10
III. Classificação dos agrotóxicos..................................................................... 10
1. Inseticidas.................................................................................................... 11
2. Herbicidas.................................................................................................... 13
IV. Recomendações para o uso de agrotóxicos..................................................... 15
V. Legislação............................................................................................... 15
VI. Sites de interesse.................................................................................... 17
VII. Bibliografia........................................................................................... 18

Amianto............................................................................ 20
I. Introdução............................................................................................... 20
1. Definição...................................................................................................... 20
2. Usos mais freqüentes...................................................................................... 20
3. Exposição ocupacional..................................................................................... 21
II. Efeitos sobre a saúde humana..................................................................... 21
1. Toxicologia................................................................................................... 22
2. Agravos relacionados com a exposição................................................................ 22
3. Carcinogênese............................................................................................... 23
III. Limites de tolerância................................................................................ 24
IV. Medidas de controle................................................................................. 24
V. Legislação............................................................................................... 25
VI. Bibliografia............................................................................................ 27

Sílica................................................................................ 28
I. Introdução............................................................................................... 28
1. Definição...................................................................................................... 28
2. Usos mais freqüentes...................................................................................... 28
3. Exposição ocupacional..................................................................................... 29
II. Efeitos sobre a saúde humana..................................................................... 30
1. Toxicologia................................................................................................... 30
2. Agravos relacionados com a exposição................................................................ 30
III. Limites de tolerância................................................................................ 32
IV. Medidas de controle................................................................................. 32
V. Legislação............................................................................................... 32
VI. Sites de interesse.................................................................................... 33
VII. Bibliografia........................................................................................... 34

Radiação ionizante.............................................................. 36
I. Introdução............................................................................................... 36
1. Definição...................................................................................................... 36
2. Radiação particulada...................................................................................... 36
3. Radiação eletromagnética................................................................................ 36
4. Radioatividade.............................................................................................. 37
II. Fontes de radiação................................................................................... 37
III. Tipos de radiação.................................................................................... 37
1. Radiação não-ionizante................................................................................... 37
2. Radiação ionizante......................................................................................... 37
IV. Percepção da radiação.............................................................................. 38
V. Efeitos sobre a saúde humana...................................................................... 39
1. Carcinogenicidade.......................................................................................... 39
2. Fatores a serem considerados na relação entre radiação e câncer............................. 39
VI. Exposição ocupacional.............................................................................. 40
VII. Medidas de controle................................................................................ 40
VIII. Legislação............................................................................................ 41
IX. Definições.............................................................................................. 41
X. Bibliografia............................................................................................. 43

Radiação solar................................................................... 44
I. Introdução............................................................................................... 44
1. Definição...................................................................................................... 44
2. Fatores ambientais que influenciam o nível de radiação UV..................................... 45
II. Efeitos sobre a saúde humana..................................................................... 46
1. Melanócitos: as células que protegem a pele......................................................... 46
2. Carcinogenicidade.......................................................................................... 46
3. Fatores de risco............................................................................................. 48
III. Prevenção primária (Medidas de controle).......................................................... 48
IV. Conhecendo os filtros solares...................................................................... 49
1. O que significa o valor do FPS?........................................................................... 49
2. Como usar.................................................................................................... 50
V. Prevenção secundária................................................................................ 50
VI. Bibliografia............................................................................................ 52

Benzeno, Xileno e Tolueno..................................................... 54


I. Introdução............................................................................................... 54
II. Benzeno................................................................................................. 54
1. Definição...................................................................................................... 54
2. Exposição humana.......................................................................................... 54
3. Efeitos sobre a saúde humana........................................................................... 55
4. Recomendações.............................................................................................. 57
III. Xileno................................................................................................... 58
1. Definição...................................................................................................... 58
2. Efeitos sobre a saúde humana........................................................................... 58
3. Medidas de segurança..................................................................................... 59
IV. Tolueno................................................................................................. 60
1. Definição...................................................................................................... 60
2. Efeitos sobre a saúde humana........................................................................... 60
3. Medidas de segurança..................................................................................... 61
4. Limites de tolerância...................................................................................... 62
V. Bibliografia............................................................................................. 63
Apresentação

O Ministério da Saúde, por intermédio ro, para o sexo feminino, acompanhando a


do Instituto Nacional de Câncer - INCA, vem mesma magnitude observada no mundo.
desenvolvendo, desde 2004, o fortalecimen-
to da Área de Vigilância do Câncer relacio- Nos ambientes de trabalho podem ser
nado ao Trabalho e ao Ambiente, através da encontrados agentes cancerígenos como
elaboração e execução de projetos que vi- o amianto, a sílica, solventes aromáticos
sam a redução, a eliminação ou ao controle como o benzeno, metais pesados como o ní-
de agentes cancerígenos presentes no meio quel e cromo, a radiação ionizante e alguns
ambiente e nos ambientes de trabalho. agrotóxicos, cujo efeito pode ser potencia-
lizado se for somado a exposição a outros
Dentre os objetivos desta área está o fatores de risco para câncer como a polui-
desenvolvimento de modelos para a imple- ção ambiental, dieta rica em gorduras trans,
mentação de ações sistematizadas na pre- consumo exagerado de álcool, os agentes
venção de câncer relacionado ao trabalho e biológicos e o tabagismo. Os tipos mais fre-
ao ambiente, como a elaboração de material qüentes de câncer relacionados ao trabalho
educativo, manuais, capacitação de profis- são os de pulmão, os mesoteliomas, os de
sionais de saúde e metodologias de treina- pele, os de bexiga e as leucemias.
mento; apoio e subsídios técnicos às Secre-
tarias Estaduais de Saúde; colaboração no O tabagismo aumenta de 3 a 20 vezes o
desenvolvimento de sistemas de informa- risco para os cânceres de boca, faringe, esô-
ção para a efetiva vigilância da exposição a fago, laringe, pulmão, pâncreas, rim e bexiga.
agentes cancerígenos, bem como a realiza- Nas áreas urbanas mais poluídas encontram-
ção de pesquisas sobre estes agentes. se os mais altos coeficientes de mortalidade
por câncer de pulmão. Existe uma relação
No Brasil, as estimativas de câncer entre poluentes atmosféricos e mortalida-
para o ano de 2006 apontam a ocorrência de por doença obstrutiva crônica e de vias
de 472.050 casos novos dessa patologia respiratórias, mais recentemente com inter-
(234.570 casos novos para o sexo mascu- nações hospitalares. O efeito sinérgico entre
lino e 237.480 para o sexo feminino). Os álcool e fumo foi demonstrado para vários
tipos mais incidentes, à exceção de pele não- tipos de câncer, como boca, faringe, esôfago
-melanoma, serão os de próstata e pulmão e laringe. Em relação à radiação ultraviole-
no sexo masculino, e mama e colo do úte- ta, existe uma associação bem estabelecida


com tumores de pele baso e espinocelulares. Dado o peso do câncer entre as do-
Os tecidos mais suscetíveis à carcinogênese enças que mais acometem a população
relacionada à exposição à radiação ionizan- brasileira, foi elaborada pelo grupo de
te são a medula óssea, a mama e a tireóide. trabalho da Área de Vigilância do Cân-
Alguns estudos indicam que os compostos cer relacionado ao Trabalho e ao Am-
organoclorados (DDT e BHC) podem au- biente/Conprev/Inca esta publicação
mentar o risco de câncer de mama. Sobre apresentará informações sobre alguns
os agentes biológicos foram observadas as dos principais fatores de risco de câncer
seguintes associações: HPV e câncer de colo relacionado ao trabalho e ao ambiente:
uterino, vírus de Epstein-Barr e linfoma de poeiras (sílica e amianto), agrotóxicos,
Burkitt, vírus da hepatite B e C e hepatoma solventes (benzeno, tolueno e xileno), ra-
e HTLV1 e leucemia_T do adulto. diação ionizante e radiação solar.

Luiz Antonio Santini Rodrigues da Silva


Diretor Geral do Instituto Nacional de Câncer


Agrotóxicos

I. Introdução
1. Definição
No Brasil, o Decreto Federal nº 4.074 de a partir da Constituição Federal de 1988
04 de janeiro de 2002, que regulamenta a Lei (publicada em 1989), sendo esta modifi-
Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989, em cação fruto de grande mobilização da so-
seu Artigo 1º, Inciso IV, define o termo agro- ciedade civil organizada. Mais do que uma
tóxico como: simples mudança de terminologia, este ter-
mo coloca em evidência a toxicidade desses
Agrotóxicos e afins – produtos
produtos para o meio ambiente e para a
e agentes de processos físicos, quí-
saúde humana (FUNASA, 1998).
micos ou biológicos, destinados ao
uso nos setores de produção, no ar-
Os agrotóxicos possuem ainda diversas
mazenamento e beneficiamento de
denominações genéricas, como “pesticidas”,
produtos agrícolas, nas pastagens,
“praguicidas”, “remédios de planta” e “vene-
na proteção de florestas, nativas ou
no” (Peres et al, 2003).
plantadas, e de outros ecossistemas
e de ambientes urbanos, hídricos e
industriais, cuja finalidade seja al- 2. Usos mais freqüentes
terar a composição da flora ou da
fauna, a fim de preservá-las da ação
A maior utilização dos agrotóxicos é na
danosa de seres vivos considerados
agricultura. São também utilizados na saúde
nocivos, bem como as substâncias
pública (controle de vetores), no tratamento
e produtos empregados como desfo-
de madeira, no armazenamento de grãos e
lhantes, dessecantes, estimuladores
sementes, na produção de flores, no combate
e inibidores de crescimento.
a piolhos e outros parasitas no homem e na
Ou seja: são substâncias utilizadas para pecuária (SVS, 1997).
combater as pragas (como insetos, larvas,
fungos, carrapatos) e controlar o crescimento O Brasil está entre os principais consu-
de vegetação, entre outras funções. midores mundiais de agrotóxicos. Segundo
dados do Sindicato Nacional da Indústria de
O termo agrotóxico, ao invés de defensi- Defensivos Agrícolas - SINDAG, em 2001 o
vo agrícola, passou a ser utilizado no Brasil país consumiu 328.413 toneladas de produ-


tos formulados, correspondendo a 151.523 mente aos trabalhadores, mas à população
toneladas de ingredientes ativos. Desta for- em geral.
ma, o Brasil aparece em 7º lugar no ranking
dos dez principais países consumidores, que
representam 70% do mercado mundial de
agrotóxicos (ANVISA, 2003).
II.Toxicidade
dos agrotóxicos
3. Principais grupos
expostos Os agrotóxicos podem ser absorvidos
através das vias dérmica, gastrointestinal e
Uma das principais formas de exposição a respiratória, podendo determinar quadros de
estas substâncias ocorre no trabalho. Entre os intoxicação aguda, subaguda e crônica.
grupos de profissionais que têm contato com
os agrotóxicos, destacam-se (FUNASA, 1998): Na intoxicação aguda, os sintomas sur-
gem rapidamente, algumas horas após a ex-
trabalhadores da agricultura e pecuária;
posição excessiva e por curto período aos
trabalhadores de saúde pública;
trabalhadores de firmas desinsetizadoras; produtos tóxicos. Os sinais e sintomas clí-
trabalhadores de transporte e comércio nico-laboratoriais são mais facilmente reco-
dos agrotóxicos; nhecidos, o diagnóstico é mais simples de ser
trabalhadores de indústrias de formula- estabelecido e o tratamento melhor definido.
ção de agrotóxicos. Pode ocorrer de forma leve, moderada ou
grave, dependendo da quantidade do agro-
Vale aqui um destaque para os grupos de tóxico absorvido pelo organismo.
agricultores. Nestes, a exposição aos agrotó-
xicos pode ocorrer de diversas formas, desde Na intoxicação crônica, o surgimento
a manipulação direta (preparo das “caldas”, dos sintomas é tardio, podendo levar meses
aplicação dos produtos) ou através de arma- ou anos. Essa forma de intoxicação carac-
zenamento inadequado, do reaproveitamento teriza-se por pequenas ou moderadas expo-
das embalagens, da contaminação da água, sições a um ou a múltiplos produtos, acar-
do contato com roupas contaminadas, etc retando por vezes danos irreversíveis, como
(Garcia & Almeida, 1991; Meyer et al, 2003). paralisias e neoplasias (FUNASA, 1998).

Assim, além da exposição ocupacional, Importante: Muitos sinais e sin-


outros grupos populacionais têm risco au- tomas de intoxicação por agrotóxicos
mentado de intoxicação. Merecem destaque podem ser confundidos com outros
os familiares dos agricultores e os vizinhos problemas de saúde. Assim, a melhor
de locais onde o agrotóxico é aplicado. Além forma para que o profissional de saúde
disso, toda a população tem a possibilidade possa concluir um diagnóstico corre-
de sofrer intoxicação, através da ingestão de to de intoxicação por agrotóxico é es-
água e alimentos contaminados, da utiliza- tar atento para o problema e fazer um
ção de domissanitários, etc. histórico ocupacional e ambiental com
todos os pacientes que apresentarem
Ou seja: os efeitos nocivos dos agrotó- sinais e sintomas sugestivos.
xicos sobre a saúde não dizem respeito so-


1. Prevalência das não ser relacionada ao agente causador no
momento do diagnóstico.
intoxicações no país
O número de intoxicações por uso de Além disso, o câncer caracteriza-se
agrotóxicos pode ser observado a partir por ser de origem multifatorial, e os me-
de dados do Sistema Nacional de Infor- canismos que interferem na carcinogênese
mações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). são muitos. Dentre estes fatores, a exposi-
Este é um sistema coordenado pela Fun- ção aos agrotóxicos pode ser considerada
dação Oswaldo Cruz, que consolida os da- como uma das condições potencialmente
dos provenientes dos Centros de Controle associadas ao desenvolvimento do câncer,
de Intoxicação. Em 2002, a Rede SINITOX por sua possível atuação como iniciadores
contava com 33 Centros, localizados em 18 - substâncias capazes de alterar o DNA de
estados brasileiros. De acordo com dados uma célula, podendo futuramente originar
deste sistema, no ano de 2002, foram noti- o tumor - e/ou como promotores tumorais
ficados no Brasil 7.838 casos de intoxica- - substâncias que estimulam a célula alte-
ção humana por agrotóxicos, respondendo rada a se dividir de forma desorganizada
por aproximadamente 10,4% de todos os (Koifman & Hatagima, 2003).
casos de intoxicação notificados no país.
Do total de intoxicações por agrotóxicos, A Agência Internacional de Pesquisa
71% referiam-se a intoxicações por produ- em Câncer (IARC) vem revisando diversos
tos de uso agrícola e 29% por produtos de produtos, entre eles agrotóxicos, de acor-
uso doméstico (FIOCRUZ, 2005). do com o potencial carcinogênico para a
espécie humana.
Subnotificação: O Ministério da
Saúde estima que, para cada evento de
intoxicação por agrotóxico notificado,
há outros 50 não notificados, o que
III. Classificação
elevaria a contaminação para, aproxi- dos agrotóxicos
madamente, 400.000 casos em 2002.

Estes produtos podem ser agrupados


2. Agrotóxicos e câncer de diversas maneiras, e uma das mais uti-
lizadas é a classificação segundo o grupo
O câncer é uma doença que, em geral, químico a que pertencem e o tipo de ação
demanda longo tempo entre a exposição ao (natureza da praga controlada). De acordo
agente cancerígeno e o início dos sintomas com a Fundação Nacional de Saúde (FU-
clínicos. Estabelecer o nexo causal entre a NASA, 1998), esta forma de classificar os
exposição aos agrotóxicos potencialmente agrotóxicos é importante e pode ser útil
cancerígenos e o desenvolvimento de cân- para o diagnóstico das intoxicações e para
cer nem sempre é possível e, em muitos ca- a adoção de tratamento específico, como
sos, a doença instalada pode simplesmente mostra o Quadro 1.

10
Quadro 1 — Principais categorias de agrotóxicos quanto à sua ação e ao grupo
químico a que pertencem.
Tipo de ação (Classe) Principais grupos químicos Exemplos (produtos/substâncias)1
Inseticidas Organofosforados Azodrin, Malathion, Parathion, Nuvacron, Tamaron, Hostation, Lorsban
(controle de insetos,
larvas e formigas) Carbamatos Carbaryl, Furadan, Lannate, Marshal
Organoclorados² Aldrin, Endrin, DDT, BHC, Lindane
Piretróides (sintéticos) Decis, Piredam, Karate, Cipermetrina
Fungicidas Ditiocarbamatos Maneb, Mancozeb, Dithane, Thiram, Manzate
(combate aos fungos) Brestan, Hokko Suzu
Organoestânicos
Dicarboximidas Orthocide, Captan
Herbicidas Bipiridílios Gramoxone, Paraquat, Reglone, Diquat
(combate à
ervas daninhas) Glicina substituída Roundup, Glifosato
Derivados do ácido fenoxiacético Tordon, 2,4-D, 2,4,5-T 3
Dinitrofenóis Bromofenoxim, Dinoseb, DNOC
Pentaclorofenol Clorofen, Dowcide-G

1
Alguns dos produtos/substâncias acima citados estão sendo reavaliados no aspecto toxicológico pela ANVISA ou já
tiveram sua comercialização proibida no país.
2
Seu uso tem sido progressivamente restringido ou mesmo proibido em vários países, inclusive no Brasil.
3
A mistura de 2,4-D com 2,4,5-T representa o principal componente do agente laranja, utilizado como desfolhante na Guerra
do Vietnan.
Fonte: FUNASA, 1998; Peres, 1999; ANVISA, 2005.

Outras classes importantes de agrotó- de 70. No Brasil, somente em 1992, após


xicos compreendem: raticidas (combate aos intensas pressões sociais, foram banidos (o
roedores), acaricidas (combate aos ácaros), BHC, o Aldrin, o Lindano, etc). As restrições
nematicidas (combate aos nematóides) e à sua utilização originam-se da sua grande
molusquicidas (combate aos moluscos, ba- capacidade residual e de uma possível ação
sicamente contra o caramujo da esquistos- carcinogênica (Nunes & Tajara, 1998).
somose) (FUNASA, 1998). Vale ressaltar que
muitos agrotóxicos possuem mais de um tipo Principais características
de ação. Por exemplo: o inseticida organo- São agrotóxicos de lenta degradação,
fosforado “Parathion” é também utilizado com capacidade de acumulação nos seres vi-
como acaricida; o inseticida carbamato “Fu- vos e no meio ambiente, podendo persistir
radan” também possui ação de combate aos por até 30 anos no solo. São altamente lipos-
nematóides (nematicida). solúveis e o homem pode ser contaminado
não só por contato direto, mas também atra-
vés da cadeia alimentar — ingestão de água e
1. Inseticidas alimentos contaminados (Verdes et al, 1990;
Reigart & Roberts, 1999).
1.1. Organoclorados
Por serem altamente lipofílicos, são se-
Estes inseticidas foram utilizados por qüestrados pelos tecidos corporais com alto
várias décadas na saúde pública para o teor lipídico (fígado, rins, sistema nervoso,
controle de vetores de doenças endêmicas, tecido adiposo), onde ficam armazenados.
como a malária (Matos et al, 2002), assim
como na agricultura. O DDT (inseticida) foi São eliminados principalmente através
banido em vários países, a partir da década das vias digestiva e urinária. Outras vias de

11
excreção incluem a saliva, o suor e o leite número de intoxicações e por um grande
materno. Por serem encontrados no leite ma- número de mortes por agrotóxicos no Brasil
terno, representam um risco às crianças em (Trapé, 2005).
fase de amamentação (Forget, 1991).
Principais características
Efeitos sobre a saúde humana A absorção se dá através da pele, sendo
Intoxicação aguda: sintomas no siste- distribuídos nos tecidos do organismo pela
ma nervoso central como irritabilida- corrente sangüínea e sofrem biotransforma-
de, sensação de dormência na língua, ção, principalmente no fígado. A principal
nos lábios e nos membros inferiores, via de eliminação é renal (Matos et al, 2002).
desorientação, dor de cabeça persis-
tente (que não cede aos analgésicos Os inseticidas organofosforados e carba-
comuns), fraqueza, vertigem, náuseas, matos atuam na inibição de enzimas colines-
vômitos, contrações musculares invo- terases, especialmente a acetilcolinesterase.
luntárias, tremores, convulsões, coma Estas enzimas estão presentes na transmissão
e morte. Em caso de inalação, podem de impulsos nervosos em diversos órgãos e
ocorrer sintomas como tosse, rouqui- músculos e, assim, uma contaminação por
dão, edema pulmonar, broncopneumo- estes agrotóxicos pode desencadear uma sé-
nia e taquicardia (SVS, 1997; Matos et rie de efeitos (Trapé, 2005).
al, 2002).
Efeitos sobre a saúde humana
Intoxicação crônica: alterações no sis-
Ambos atuam não só no sistema nervo-
tema nervoso, alterações sangüíneas
so central, mas também nos glóbulos verme-
diversas, como aplasia medular, lesões
lhos, no plasma e em outros órgãos (FUNA-
no fígado, arritmias cardíacas e lesões
SA, 1998).
na pele (SVS, 1997).
Intoxicação aguda: os sinais e sintomas
Carcinogênese: A Agência Internacio-
começam a surgir poucas horas após a
nal de Pesquisa de Câncer (IARC) clas-
absorção do tóxico e podem alcançar
sifica alguns organoclorados como per-
tencentes ao grupo “2B” (possivelmente
cancerígeno para a espécie humana). O
DDT, por exemplo, pertence a este gru-
po por estar associado ao desenvolvi-
mento de câncer de fígado, de pulmão
e linfomas em animais de laboratório.
Outros organoclorados pertencentes ao
grupo 2B são Clordane, Heptacloro, He-
xaclorobenzeno, Mirex (IARC, 2005).

1.2. Organofosforados
e Carbamatos
São agrotóxicos amplamente utilizados
na agricultura e, dentre os inseticidas, os or-
ganofosforados são responsáveis pelo maior

12
seu máximo, inclusive levando a óbi- timulantes do sistema nervoso central e,
to, dentro de algumas horas ou pou- em doses altas, podem produzir lesões no
cos dias (Almeida, 1996). Os principais sistema nervoso periférico (Matos et al,
sinais e sintomas são: suor abundan- 2002; SVS, 1997).
te, salivação intensa, lacrimejamen-
to, fraqueza, tontura, dores e cólicas Efeitos sobre a saúde humana
abdominais, visão turva e embaçada, Intoxicação aguda: os principais sinais
pupilas contraídas – miose, vômitos, e sintomas incluem dormência nas pál-
dificuldade respiratória, colapso, tre- pebras e nos lábios, irritação das con-
mores musculares, convulsões (FUNA- juntivas e mucosas, espirros, coceira
SA, 1998). intensa, manchas na pele, edema nas
conjuntivas e nas pálpebras, excitação
Intoxicação crônica: outros sinais e
e convulsões.
sintomas podem persistir por meses
após a exposição como alterações neu- Intoxicação crônica: Segundo Matos et
rológicas, comportamentais, cognitivas al (2002), não estão descritas evidên-
e neuromusculares (Ecobichon, 1996). cias de toxicidade crônica com o uso
de piretróides. Outros autores, como
Carcinogênese: Alguns organofosfo-
Trapé (2005), citam alguns efeitos de
rados e carbamatos estão presentes na
exposições de longo prazo: neurites
revisão da IARC (2005):
periféricas e alterações hematológicas
• Diclorvós (organofosforado): grupo do tipo leucopenias.
2B (possivelmente cancerígeno para
Carcinogênese: Os piretróides parecem
o homem).
não apresentar potencial cancerígeno
• Malation, Paration (organofosfora- para humanos. Como exemplo, a IARC
dos); Aldicarb, Carbaril, Zectran (car- classifica os agrotóxicos Deltametrina
bamatos). Grupo 3: (não classificado e Permetrina no grupo 3 (não carcino-
como carcinogênico para o homem). gênicos para o homem).

1.3. Piretróides
2. Herbicidas
Tiveram seu uso crescente nos últimos
20 anos e, além da agropecuária, são tam- São usados no combate a ervas dani-
bém muito utilizados em ambientes domés- nhas. Nas últimas duas décadas, esse grupo
ticos (Matos et al, 2002; Trapé, 2005), onde tem tido sua utilização crescente na agricul-
seu uso abusivo vem causando aumento nos tura (FUNASA, 1998). Seus principais repre-
casos de alergia em crianças e adultos (FU- sentantes são:
NASA, 1998). Paraquat: comercializado com o nome
Principais características de Gramoxone®;

São facilmente absorvidos pelas vias Glifosato: Round-up®;


digestiva, respiratória e cutânea. Os sinto-
Pentaclorofenol;
mas de intoxicação aguda ocorrem prin-
cipalmente quando sua absorção se dá Derivados do ácido fenoxiacético: 2,4
por via respiratória. São compostos es- diclorofenoxiacético (2,4 D) e 2,4,5

13
triclorofenoxiacético (2,4,5 T). A mis- 3. Derivados do ácido fenoxiacético
tura de 2,4 D com 2,4,5 T representa Um dos principais produtos é o 2,4 D,
o principal componente do agente la- muito usado no país em pastagens e plan-
ranja, utilizado como desfolhante na tações de cana de açúcar. O 2,4,5 T tem uso
Guerra do Vietnan. O nome comercial semelhante ao 2,4 D, apresentando uma dio-
dessa mistura é Tordon. xina como impureza, responsável pelo sur-
gimento de cloroacnes, abortamentos, além
Dinitrofenóis: Dinoseb, DNOC. de efeitos teratogênicos e carcinogênicos.

A presença de dioxinas como impure-


Principais características
zas nos herbicidas está associada ao de-
Existem várias suspeitas de mutageni- senvolvimento de distúrbios reprodutivos
cidade, teratogenicidade e carcinogenicida- e alguns tipos de câncer, como os linfomas
de relacionados a estes produtos. Dentre os (Trapé, 2005). Foi relatado que o TCDD é o
herbicidas, alguns grupos químicos mere- mais potente carcinogênico até hoje testa-
cem atenção especial pelos efeitos adversos do para roedores. Estudos em animais for-
à saúde, descritos a seguir. neceram evidências conclusivas de que o
TCDD é um carcinógeno de múltiplos está-
Efeitos de alguns herbicidas sobre gios, aumentando a incidência de tumores
a saúde humana em locais distantes dos locais de tratamen-
1. Bipiridilos (Paraquat) to. Em fevereiro de 1997, a Agência Inter-
Este produto é considerado como um nacional de Pesquisa do Câncer reavaliou
dos agentes de maior toxicidade especí- as dibenzo-p-dioxinas policloradas, bem
fica para os pulmões. Pode ser absorvido como os dibenzofuranos policlorados, por
por ingestão, inalação ou contato com a representarem possíveis riscos carcinogê-
pele. Provoca lesões hepáticas, renais e fi- nicos para os seres humanos. “Com base
brose pulmonar irreversível, podendo le- nos mais recentes dados epidemiológicos,
var à morte por insuficiência respiratória em populações humanas expostas, através
em até duas semanas após a exposição, de bioensaios de carcinogenicidade experi-
em casos graves. mental em animais de laboratório e evidên-
cias de apoio sobre mecanismos relevantes
Além disso, são relatados casos de de carcinogênese, a 2,3,7,8-tetraclorodi-
ingestão acidental por crianças (pela co- benzo-p-dioxina (TCDD) foi avaliada como
loração semelhante à dos refrigerantes à sendo carcinogênica para seres humanos
base de cola) e casos de suicídio. (FUNA- — Grupo 1 da IARC (GREENPEACE, 2005).
SA, 1998; Matos et al, 2002).
O quadro de intoxicação aguda dos de-
2. Pentaclorofenol e Dinitrofenóis rivados do ácido fenoxiacético inclui: cefa-
Os principais sintomas de intoxicação léia, tontura, fraqueza, náuseas, vômitos,
aguda por estes produtos incluem dificul- dor abdominal, lesões hepáticas e renais.
dade respiratória, hipertermia, fraqueza, Casos graves podem apresentar convulsões,
convulsões e perda de consciência. O pen- coma e podem evoluir para óbito em 24 ho-
taclorofenol possui em sua formulação ras. Os efeitos crônicos incluem neuropatia
impurezas chamadas dioxinas, substân- periférica, disfunção hepática e maior ris-
cias extremamente tóxicas, cancerígenas co de desenvolver linfomas tipo Hodgkin e
e fetotóxicas (FUNASA, 1998). não-Hodgkin (Matos et al, 2002).

14
• Carcinogênese dos herbicidas Manter as embalagens de agrotóxi-
Estudos epidemiológicos demonstram cos adequadamente fechadas, em local
diversas associações entre o uso de trancado, fora da casa e longe do al-
agrotóxicos e câncer em humanos, in- cance de crianças e animais.
cluindo linfoma não-Hodgkin e câncer
de tireóide (Solomon, 2000). Não reutilizar as embalagens vazias.

As embalagens vazias devem ser enca-

IV. Recomendações minhadas aos estabelecimentos comer-


ciais em que foram adquiridas, obser-
para o uso de vando as instruções de rótulos e bulas.

agrotóxicos
V. Legislação
Não comer, beber ou fumar durante o
manuseio e aplicação do(s) produto(s). A Constituição Federal Brasileira1 atri-
buiu ao Poder Público a obrigação de con-
Utilizar equipamentos de proteção in-
trolar as substâncias que comportem risco à
dividual (EPI), conforme indicação do
vida, à qualidade de vida e ao meio ambien-
produto a ser utilizado.
te, no que se inclui o controle dos produtos
i. Caso não possua EPI, o agricultor fitossanitários.
deve usar roupa destinada somente
para aplicação ou manuseio. Indis- A Lei n° 7. 802, de 11 de julho de 1989,
pensável o uso de luvas impermeá- relativa a produtos fitossanitários e outros
veis e botas de borracha. produtos, instituiu a exigência de que os
mesmos sejam previamente registrados para
ii. Trocar e lavar as roupas de proteção fins de produção, importação, exportação,
separadamente de outras roupas não comercialização e utilização, atendidas as
contaminadas. diretrizes e exigência dos órgãos federais
responsáveis pelos setores da saúde, da agri-
iii. Tomar banho imediatamente após o
cultura e do meio ambiente. Por este ins-
contato com os agrotóxicos.
tituto legal, os setores da saúde e do meio
Não manusear os agrotóxicos com as ambiente possuem a prerrogativa legal de
mãos desprotegidas. avaliar se suas diretrizes e exigências estão
satisfatoriamente atendidas para a conces-
Não desentupir bicos, orifícios e válvu-
são de determinado registro, avaliando in-
las dos equipamentos com a boca.
tegralmente as possíveis repercussões que o
Quando aplicar os agrotóxicos, obser- produto agrotóxico possa ter, e assegurando
var a direção dos ventos (não aplicar à autoridade pública um nível adequado de
contra o vento). Não aplicar os produ- informação sobre as características e nível
tos na presença de ventos fortes. tóxico de cada produto comercializado no
país, de modo a garantir a sua qualidade e
Não aplicar os produtos nas horas mais minimizar seus riscos para a saúde humana
quentes do dia. e para o meio ambiente.

15
De acordo com os termos da Lei, es- duto, assim como pode elevar a toxicidade
pecialmente no que se refere às situações do agrotóxico, caso não haja um controle
dentro das quais fica proibida a concessão das impurezas presentes.
do registro, e que dizem respeito a aspec-
tos relativos à periculosidade do produto A Portaria Interministerial2 nº 17, de 16
à saúde humana e/ou ao meio ambiente, de março de 2000, assinada pelos Ministros
verifica-se que o registro constitui um pro- da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
cedimento básico de controle, destinado a da Saúde, do Meio Ambiente e pelo Chefe da
impedir que produtos dotados de riscos Casa Civil da Presidência da República, cons-
inaceitáveis sejam produzidos, importados, tituiu uma Comissão Interministerial com a
exportados, comercializados ou utilizados. incumbência de, entre outros propósitos:

Para efeito de verificação e avaliação I - harmonizar e racionalizar procedimen-


das características toxicológicas, ecotoxico- tos no sentido de tornar ágeis e eficientes os
lógicas e agronômicas dos produtos, e dos processos de registro, reavaliação e adapta-
possíveis riscos ao ser humano e ao meio ção de registro de produtos agrotóxicos;
ambiente, as autoridades governamentais
competentes baseiam-se em dados e estu- II - apresentar proposta de procedimentos a
dos apresentados pelas empresas, de acordo adotar com relação ao registro de produtos
com normas e procedimentos estabelecidos, agrotóxicos similares;
que foram fixados visando assegurar a qua-
lidade e a confiabilidade dessas informações III - sugerir ajustes no Decreto nº 98.816, de
e, conseqüentemente, a própria qualidade e 11 de janeiro de 1990, que regulamenta a Lei
confiabilidade da avaliação. dos Agrotóxicos — nº 7.802, de 11 de julho
de 1989.
O estabelecimento de determinados pa-
drões para os produtos é garantia de pro- O Decreto nº 4074, de 04 de janeiro de
teção à saúde pública, ao consumidor e ao 2002, que regulamenta a Lei nº 7.802 de
meio ambiente. A adoção do método de me- 2002, introduziu uma série de modificações
nor rendimento ou menor qualidade pode no atual sistema de registro vigente no Bra-
acarretar a perda de competitividade do pro- sil, com vistas a adequar a legislação nacio-

1
Dentre estas previsões constitucionais encontram-se o Ar-
tigo 225, § 1º, inciso V estabelecendo que: “Todos têm di-
reito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para a presente e futuras gerações.
§1º incumbe ao Poder Público: [....] V- controlar a produ-
ção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e meio ambiente”, e o Artigo 196, que determina:
“A saúde é Direito de todos e dever do Estado, garantida
mediante políticas sociais e econômicas que visem à re-
dução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação”.

2
Portaria Interministerial nº. 17 de 16/03/00, publicada no
D. O.U. de 17 de março de 2000.

16
o assessoramento aos Ministérios da
nal à normativa MERCOSUL, consagrando o
Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
princípio do registro por equivalência, modi-
da Saúde e do Meio Ambiente, incluí-
ficando substancialmente o próprio modelo
da a manifestação sobre concessão de
de registro vigente até aqui, no que se refere
registro para uso emergencial, pedidos
à tramitação dos processos e à intervenção
de terceiros para cancelamento ou im-
dos órgãos envolvidos.
pugnação de registro e a reavaliação de
registro frente a novos dados indicati-
No seu inciso VI, vê-se a criação do
vos de existência de riscos;
Comitê Técnico de Assessoramento para
Agrotóxicos (CTA), composto por repre- o estabelecimento das diretrizes a serem
sentantes dos órgãos federais responsáveis observadas no SIA, o acompanhamento
pelos setores de agricultura, saúde e meio e a supervisão das suas atividades.
ambiente, com o qual se visa à harmoniza-
ção do inter-relacionamento desses órgãos
no que se refere aos procedimentos técnico-
científicos e administrativos concernentes a VI. Sites de interesse
agrotóxicos, seus componentes e afins. São
de sua competência: http://www.anvisa.gov.br/ — Agência Na-
cional de Vigilância Sanitária.
a sistemática proposição de incorpora-
ção de tecnologias de ponta nos proces-
http://www.cetesb.sp.gov.br/ — Companhia
sos de análise, controle e fiscalização,
de Tecnologia de Saneamento Ambiental do
bem como quando relacionadas a outras
Estado de São Paulo.
atividades cometidas aos Ministérios da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
http://www.epa.gov/ — U.S. Environmental
da Saúde e do Meio Ambiente, pela Lei
Protection Agency.
nº 7.802, de 1989;

a análise de propostas de edição e de http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/


alteração de atos normativos e a su- — Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários.
gestão de ajustes e adequações consi-
deradas cabíveis; http://www.fiocruz.br/sinitox/ — Sistema
Nacional de Informações Tóxico-Farmaco-
a elaboração de critérios para a dife-
lógicas.
renciação desses produtos em classes,
em função de sua toxicidade, periculo-
http://www.iarc.fr/ — International Agency
sidade, utilização e modo de ação;
for Research on Cancer.

17
VII. Bibliografia
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Ministério da Saúde. Sistema de informa- Overall evaluations of carcinogenicity to
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18
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(DF): OPAS/MS; 1997. co: Mepetec;1990.

19
Amianto

I. Introdução

1. Definição
O amianto, também denominado asbes- Classificação
to, é uma forma fibrosa dos silicatos mine-
rais. Compõe-se de silicatos hidratados de A Agência Internacional de Pesquisa
magnésio, ferro, cálcio e sódio. Divide-se em Câncer (IARC), da Organização Mundial
da Saúde, classifica o amianto como defi-
em dois grandes grupos: serpentinas, ou
nitivamente carcinogênico para os huma-
crisotila (asbesto branco) e anfibólios, ou
nos, [(Grupo 1) (IARC, 1987)] em qualquer
actinolita, amosita (asbesto marrom), anto- estágio de produção, transformação e uso.
filita, crocidolita (asbesto azul), tremolita De acordo com a Organização Mundial de
ou qualquer mistura que contenha um ou Saúde (OMS), não há nenhum limite seguro
vários destes minerais. de exposição para o risco carcinogênico, de
acordo com o Critério 203, publicado pelo
Origem IPCS (International Programme on Chemical
Fibra de origem mineral, derivada de ro- Safety)/WHO (Organização Mundial da Saú-
de) (WHO, 1998).
chas metamórficas eruptivas, que, por pro-
cesso natural de recristalização, transforma- Propriedades físico-químicas
se em material fibroso (Castro, 2003).
As fibras de asbesto são flexíveis, não se dis-
CAS solvem em água e resistem a altas temperaturas,
[Registro 1332-21-4] ao fogo e à degradação por produtos químicos e
biológicos. Garantem isolamento térmico, acús-
Sinonímia
tico, incombustibilidade, resistência mecânica e
Serpentinas (crisotila ou amianto branco) durabilidade (ASTDR, 2001).

Anfibólios (tremolita, actinolita, anto-


filita, amosita e crocidolita) 2. Usos mais freqüentes
O amianto foi inicialmente empregado para
1
Número de Registro CAS (Chemical Abstracts Service): reforço de utensílios de cerâmica. Com a revolu-
numeração única atribuída pela Sociedade Americana de
Química (American Chemical Society) a uma substância ou ção industrial, passou a ser utilizado como isolan-
composto químico, utilizada internacionalmente. te térmico de máquinas e equipamentos.

20
Devido às suas propriedades físico-químicas, para obtenção de isolamento térmico,
o amianto tem sido muito empregado em diversos acústico e de calor.
produtos,principalmenteemmateriaisdeconstru-
ção e em situações que exijam o uso de materiais
termoresistentes (ASTDR, 2001). 3. Exposição ocupacional

Na atualidade, é ainda muito utilizado como A exposição ocupacional é dada pela ina-
matéria-prima na maioria das indústrias dos paí- lação das fibras de asbesto que causam lesões
ses de economia periférica (Castro, 2003). nos pulmões e em outros órgãos. Muitas vezes
as doenças aparecem depois de muitos anos de
Sua aplicabilidade mais intensa se dá (Kar- exposição. A asbestose causa acúmulo de teci-
jalainen, 1994; Castro, 2003) em: do conjuntivo, diminuindo a complacência pul-
setor de fibrocimento: confecciona caixas monar e, conseqüentemente, as trocas gasosas,
d’água, telhas onduladas e planas, tubu- podendo levar à morte (OSHA,2005).
lações e divisórias, tintas, revestimentos
e isolamentos térmicos e acústicos. Não há níveis seguros para a exposição, e o
intenso uso, no Brasil, exige que a recuperação
produtos de fricção: esta categoria in-
clui guarnições de freios (lonas e pasti- do histórico de contato deva prever todas as si-
lhas), juntas, gaxetas, revestimentos de tuações em que se fez necessário o isolamento
discos de embreagem usados em car- acústico, térmico e a impermeabilização, pois o
ros, caminhões, tratores, metrôs, trens e amianto pode estar presente em qualquer situ-
guindastes. ação como isolante de caldeiras, fornos, isola-
mento de salas, tetos ou cabines.
produtos têxteis: tecidos especiais que
oferecem resistência mecânica, quími-
O Brasil é o quinto maior produtor de
ca, isolantes térmicos elétricos e imper-
meáveis. São utilizados em mangueiras, amianto e é auto-suficiente; 30% do exceden-
forração de roupas e luvas especiais te da produção é exportado. O amianto bra-
para as indústrias siderúrgicas, meta- sileiro é do tipo crisotila, com dimensões que
lúrgicas e petroquímicas. o qualificam, principalmente, para a indústria
do cimento-amianto. São produzidas cerca de
filtros para líquidos de interesse comer- 237.000 toneladas por ano e exportadas, anu-
cial: o amianto possui grande capaci-
almente, 70.000 toneladas (Giannasi, 1997).
dade filtrante, pois não é corrosível, e
possui boa resistência bacteriana.
papéis e papelões: misturados a resi-
nas especiais e depois prensados, são II. Efeitos sobre
produzidos laminados de papéis e pa-
pelões usados em painéis acústicos e a saúde humana
para o transporte de peças frágeis que
necessitam proteção contra choques,
A exposição ao amianto está relacionada à
calor, umidade.
ocorrência de asbestose, enfermidade que causa
produtos de vedação: a partir de teci- inflamação pulmonar seguida de fibrose, além
dos e papelões de amianto, são produ- de estar associada ao aparecimento de câncer
zidas juntas para revestimento e veda- (pulmão e trato gastrointestinal) e mesotelioma
ção, usados pela indústria automotiva (tumor raro e de difícil diagnóstico).

21
1. Toxicologia A absorção de asbesto pelo organismo
depende de alguns fatores:
A ocorrência de placa pleural é consi- tamanho da fibra: basta respirar a poeira
derada um marcador de exposição, estando de amianto que contenha fibras de tama-
mais relacionada ao tempo de latência do nho suficientemente pequeno, que atinjam
que à exposição. os alvéolos (3 micra de diâmetro e de 5 a
200 micra de comprimento), para que se
As lesões mais precoces são encon- inicie o processo de adoecimento.
tradas nos dutos alveolares e nas regiões concentração: quanto maior o número
peribrônquicas, onde as fibras de asbesto de fibras de amianto em proporções
atraem macrófagos alveolares. Os pulmões respiráveis presentes no ambiente,
dos trabalhadores expostos ao asbesto maior será a probabilidade do indi-
mostram lesão inflamatória e fibrótica das víduo em reter estas partículas. Se a
pequenas vias áereas. exposição for freqüente, deve-se levar
em conta o tipo de fibra.
À medida da progressão da doença, o tempo de exposição: estudos demons-
processo fibrótico torna-se extenso e, por fim, tram que o câncer de pulmão ou o me-
envolve todo o pulmão, que perde, até mes- sotelioma se manifestam, em média,
mo, sua arquitetura normal. Nos casos avan- após 15 anos de exposição, como ocorre
çados, os pulmões tornam-se pequenos e rígi- com a maioria dos tumores sólidos.
dos, com fibrose macroscopicamente visível. biopersistência: significa que para provo-
car dano pulmonar a fibra deve penetrar
A primeira anormalidade patológica e permanecer nos alvéolos, o que ocorre
da asbestose é um acúmulo de células in- com mais facilidade se a fibra for do tipo
flamatórias, principalmente macrófagos, anfibólio (rígida e pontiaguda) e com me-
ao redor das fibras. Isso explica por que a nos facilidade, se a fibra for do tipo cri-
exposição ao asbesto reduz o fluxo aéreo sotila (maleável e curva). Nos processos
a baixos volumes pulmonares (Goldman de extração há proporções variáveis dos
& Ausiello, 2005). diferentes tipos das fibras.
susceptibilidade individual: está rela-
Estudos recentes mostram que o desenvol- cionada com a atividade exercida no
vimento da doença pode não estar diretamen- momento da exposição e a característi-
te relacionado com o tempo de exposição e a cas individuais e genéticas.
quantidade inalada. Doenças relacionadas ao
asbesto (Goldman & Ausiello, 2005):
2. Agravos relacionados
lesões pleurais benignas — período de com a exposição
latência de 15 a 20 anos.
Asbestose
asbestose — período de latência de mais
de 10 anos. Os trabalhadores que inalam repetidamen-
te fibras de asbesto podem desenvolver lesões
câncer de pulmão — período de latência que causarão cicatrizes no pulmão e na pleura.
de mais de 30 anos.
Esse tecido perde sua capacidade de contração
mesoteliomas — período de latência de 30 e expansão (complacência) e, por conseguinte,
a 40 anos. a respiração torna-se difícil. Pode haver dimi-

22
nuição do fluxo sangüíneo nos pulmões e isso do 86 trabalhadores da indústria de fibrocimento
causa hipertrofia cardíaca. Essa enfermidade é com mais de 10 anos de exposição, que detectou
denominada asbestose: dificulta a respiração que 25% dos trabalhadores da região de Leme
e tosse é um de seus sintomas. É considerada (SP) apresentavam asbestose. Outro grupo de
uma doença grave e pode levar à morte. É uma pesquisadores de São Paulo, que reuniu profis-
doença majoritariamente laboral, porém, com sionais do Ministério do Trabalho e Emprego, de
a disseminação ambiental, pode afetar pessoas Universidades e Institutos de Pesquisa, realizou
que vivem ou transitam em áreas com altos ní- um estudo que verificou 5% de prevalência de
veis ambientais de asbesto (ASTDR, 2001). asbestose entre os trabalhadores ativos de indús-
trias de fibrocimento. Rodel Speger, em 1995, es-
Estudos epidemiológicos demonstram o tudando os efeitos do amianto do tipo anfibólio
aumento do risco de asbestose em minera- observou que este tipo de asbesto oferece um ris-
dores da fibra, fabricantes de barcos de fibra co 5 vezes maior para câncer de pulmão do que
de amianto, e trabalhadores da indústria de outros tipos.
cimento-amianto (IACR,1987).
2.2. Sinais clínicos da asbestose
2.1. Prevalência da asbestose
O quadro clínico caracteriza-se por
no Brasil
dispnéia de esforço, crepitações nas ba-
Estima-se que a população brasileira ex- ses e baqueteamento digital, este em fases
posta diretamente seja de 500.000 pessoas (Al- tardias. O espessamento pleural, na forma
granti, 2001), sendo 20.000 ligadas à exposição de placas ou espessamento pleural difuso,
ocupacional em mineração e produção de ci- é a doença mais prevalente relacionada
mento-amianto. Há uma porcentagem desco- ao asbesto.
nhecida de trabalhadores engajados na constru-
ção civil, atividade não regulada na exposição
ao asbesto (Castro, 2003). 3. Carcinogênese
Entre os vários segmentos da indústria, na O amianto é considerado uma substân-
mineração são cerca de 25.000 trabalhadores cia de comprovado potencial cancerígeno
expostos. O setor de fibrocimento responde em quaisquer das suas formas ou em qual-
por aproximadamente 85% do amianto utili- quer estágio de produção, transformação e
zado em 30 fábricas, com aproximadamente 8 uso. De acordo com a Organização Mundial
mil trabalhadores expostos (Castro,1996). de Saúde (OMS), a crisotila está relacionada
a diversas formas de doença pulmonar (as-
Estima-se que o pico do adoecimento no bestose, câncer pulmonar e mesotelioma de
Brasil se dará entre 2005-2015, como ocor- pleura e peritônio) (Castro,2003).
reu na Europa e nos Estados Unidos a partir
do final dos anos 60. Na indústria cimento- Há dois tipos de câncer produzidos pela
amianto, registrou-se uma prevalência de exposição a asbesto: câncer de pulmão e
8,9 % de asbestose (Castro, 2003). mesotelioma. Este último caracteríza-se pelo
desenvolvimento de tumor na pleura ou no
Dados de prevalência de asbestose são escas- peritônio. Alguns estudos evidenciam que
sos no Brasil. A revisão de Castro (1996) identifi- o asbesto pode aumentar as possibilidades
ca um estudo feito por Costa em 1983, envolven- de câncer em outras partes do corpo como

23
estômago, intestino, esôfago, pâncreas e rins No Brasil, o limite de tolerância (LT) foi
(ASTDR, 2001). Todavia, não há tipo histo- estabelecido pelo Ministério do Trabalho e
lógico mais prevalente e observa-se maior Emprego na Portaria 3214, norma regula-
prevalência nos casos de asbestose. mentadora 15, anexo 12, em 1991. Nesta,
foi proibido o uso de fibras de anfibólios
A exposição ao asbesto e o tabagismo (crocidolita, amosita, antofilita, tremolita).
agem sinergicamente no desenvolvimento Para as fibras respiráveis de crisotila, esta-
do câncer pulmonar (ASTDR, 2001). belece o limite de tolerância de 2,0 fibras/
cm3. Entende-se por “fibras respiráveis de
As fibras de asbesto parecem causar não asbesto” aquelas com diâmetro inferior a
só lesão tecidual através da estimulação dos 3 micrômetros, comprimento maior que 5
macrófagos alveolares para secretar mate- micrômetros e relação entre comprimento e
riais citotóxicos, quimiostáticos de células diâmetro superior a 3:1.
inflamatórias, mas também ao menos um
fator que estimula a proliferação dos fibro-
blastos. Devido à sua durabilidade, as fibras
podem estimular repetidamente os macró-
IV. Medidas
fagos por vários anos, sem que sejam de-
gradadas. Isto ajuda a explicar a contínua
de controle
progressão da doença induzida pelo asbesto
após ser interrompida a exposição (Goldman A OMS e a OIT (Organização Internacio-
& Ausiello, 2005). nal do Trabalho), reconhecendo o potencial
de risco do amianto, recomendam que sejam
utilizadas outras fibras, sempre que esta al-

III. Limites ternativa existir.

de tolerância O controle da exposição ao amianto deve


seguir o estabelecido na Convenção/OIT nº
139/1974, que trata da Prevenção e Controle
A OSHA (Occupational Safety & Health de Riscos Profissionais causados por Substân-
Administration) estabelece o Limite de Ex- cias ou Agentes Cancerígenos, ratificada pelo
posição Permitido (PEL) para todas as fibras Brasil em junho de 1990, e vigente desde ju-
de asbesto maiores de 5 micra em 0,1 fibra/ nho de 1991, que determina:
cm3, mesmo valor do Limite de Exposição
Recomendado (REL) estabelecido pelo NIO- substituir substâncias e agentes can-
SH (National Institute for Occupational Sa- cerígenos por outros não-cancerígenos
fety and Health). ou menos nocivos.

reduzir não só o número de trabalha-


O Limite de Exposição (TLV-TWA) para
dores expostos, bem como a duração e
todas as formas de asbesto, adotado pela AC-
os níveis de exposição ao mínimo com-
GIH (American Conference of Governmental
patível com a segurança.
Industrial Hygenists) em 1998, é de 0,1
fibra/cm3 (até 1997 era de 0,5 fibra/cm3), prescrever medidas de proteção.
com a observação de que o asbesto deve
ser considerado carcinogênico humano. estabelecer sistema apropriado de registro.

24
informar aos trabalhadores sobre os
riscos e as medidas a serem aplicadas.
V. Legislação
garantir a realização dos exames mé- O amianto já foi proibido em 36 países
dicos necessários para avaliar os efei- em todas as suas formas químicas e estrutu-
tos da exposição. rais e teve sua utilização restrita em inúme-
ros outros. A Comissão das Comunidades
As medidas de controle ambiental visam Européias aprovou em 26/7/1999 a Direti-
à eliminação ou à redução da exposição a
va 1999/77/CE, que decidiu pela proibição
níveis próximos de zero por meio de
total do uso do amianto em todos os países
membros da União Européia, a partir de
enclausuramento de processos e iso-
janeiro de 2005. Na América Latina (Cas-
lamento de setores de trabalho;
tro, 2003), Argentina, Chile e El Salvador
umidificação dos processos, onde haja proibiram o uso do amianto.
produção de poeira;
No Brasil, a partir de 1991, o Minis-
normas de higiene e segurança rigo- tério do Trabalho e Emprego publicou no
rosas, colocação de sistemas adequa- anexo 12 da Norma regulamentadora nº
dos e eficientes de ventilação exaus- 15, que
tora local e de ventilação geral; proíbe o uso de amianto do tipo anfi-
bólio e de produtos que o contenham;
monitoramento sistemático das con-
centrações de fibras no ambiente; proíbe a pulverização (spray) de qual-
quer amianto;
mudanças na organização do traba- proíbe o trabalho de menores de 18
lho que permitam diminuir não só o anos nas áreas de produção;
número de trabalhadores expostos,
as empresas (públicas ou privadas) que
bem como o tempo de exposição;
produzem, utilizam ou comercializam
limpeza a úmido ou lavagem com fibras de asbesto e as responsáveis
água das superfícies do ambiente pela remoção de sistemas que contêm
(bancadas, paredes, solo) ou limpeza ou podem liberar fibras de asbesto
para o ambiente deverão ter seus esta-
por sucção, para retirada de partícu-
belecimentos cadastrados junto ao Mi-
las antes do início das atividades;
nistério do Trabalho e da Previdência
medidas de limpeza geral dos am- Social/Instituto Nacional de Segurida-
bientes de trabalho e facilidades para de Social, através de seu setor compe-
tente em matéria de segurança e saúde
higiene pessoal — recursos para ba-
do trabalhador;
nhos, lavagem das mãos, braços, ros-
to e troca de vestuário; antes de iniciar os trabalhos de remoção
e demolição, o empregador e/ou contra-
equipamentos de proteção individual tado, em conjunto com a representação
adequado, em bom estado de conser- dos trabalhadores, deverão elaborar um
vação, devem ser fornecidos pelo em- plano de trabalho onde sejam especifica-
pregador, como medida complemen- das as medidas a serem tomadas, inclusi-
tar à proteção coletiva. ve as destinadas a:

25
1. proporcionar toda a proteção ne- de, sobre as doenças relacionadas e so-
cessária aos trabalhadores; bre as medidas de proteção e controle.

2. limitar o desprendimento da poeira A asbestose, o mesotelioma e o câncer de


de asbesto no ar; pulmão que decorrem da exposição ao amianto
são objeto de notificação nacional ao Ministério
3. prever a eliminação dos resíduos que
da Saúde, de acordo com o regulamentado pela
contenham asbesto.
portaria 777/GM de 28 de abril de 2004, que
determina que as fibras de amianto e dispõe sobre os procedimentos técnicos para a
seus produtos sejam rotulados e acom- notificação compulsória de agravos à saúde do
panhados de “instruções de uso”, com trabalhador em rede de serviços sentinela espe-
informações sobre os riscos para a saú- cífica, no Sistema Único de Saúde (SUS).

26
VI. Bibliografia
Agencia para Substancias Tóxicas y el Re- Giannasi F, Thebaud-Mony A. Occupational
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27
Sílica

I. Introdução
1. Definição
A palavra sílica refere-se aos compos- Sílica amorfa: Aerosil, Celite, Ludox,
tos de dióxido de silício, representado pelo Silcron G-910 (Bon, 2003).
símbolo SiO2. É um mineral duro e o mais
abundante na crosta terrestre: encontra-se Classificação
em rochas e areias. As três formas de sílica Segundo a IARC (International Agency
cristalina são o quartzo, a trimidita e a for Research on Cancer/WHO) da Organi-
cristobalita (NIOSH, 2002). zação Mundial de Saúde, a sílica cristalina
está classificada como Grupo 1, reconheci-
Origem
damente cancerígena para seres humanos
Mineral, biogênica ou sintética.
(IARC,1997).
CAS
[Registro 14808-60-7] Propriedades físico-químicas
Sua composição química corresponde ao
Sinonímia dió­xido de silício, que apresenta as seguintes
Sílica cristalina: coesista, cristobalita, propriedades: é inerte, resistente a altas tempe-
jasper, sílica microcristalina, quartzo, raturas e solúvel em ácido fluorídrico.
quartzito, entre outros.

Sílica amorfa: sílica coloidal, terra 2. Usos mais freqüentes


diatomácia, diatomita, sílica “fumed”
A sílica é largamente utilizada como pro-
sílica fused, opala, sílica gel, sílica ví-
duto final, subproduto ou matéria-prima em
trea, entre outros.
vários processos industriais. Os principais es-
Nome comercial tão descritos no Quadro 1, a seguir.
Sílica cristalina: BRGM, D&D, DQ12,
Min-U-Sil, Sil-Co-Snowit.

28
Quadro 1 – Setor econômico e atividade com exposição típica à sílica cristalina livre
Setor Econômico Atividade
Agricultura Aragem, colheita
Beneficiamento de minério Marmoraria, lapidação e corte de pedra, moinho
Indústria de cerâmica (tijolo, telha, porcelana, Mistura, moldagem, cobertura vitrificada ou esmaltada,
olaria, refratários e vitrificados) rebarbação, carga de fornos e acabamento
Indústria de cimento Processamento de matéria prima como argila, areia, pedras e terra diatomácea
Construção civil Construção pesada (túnel e barragens). Corte, acabamento, escavação, alve-
naria, jateamento, movimentação de terra, demolição
Construção naval Jateamento, manutenção e limpeza
Extração mineral Mineração de subsolo, lavra por explosivo, pefuração, corte, britagem,
moagem, peneiramento e ensacamento, pedreiras
Fundição Fundição da peça, retirada do molde, limpeza, alisamento. Instalação e reparo de fornos
Indústria de mineral não metálico Cerâmica, vidros e fundições
Limpeza com abrasivo Manutenção de materiais que utilizam jateamento com areia ou outro abrasivo
contaminado com areia. Manipulação de jeans em indústria têxtil
Matéria prima Indústrias que utilizam material contendo sílica (quartzito, feldspato, filito, granito,
agalmatolito, bentonita, dolomita, argila e caulim), tais como: de cosmético, de tintas,
de sabões, farmacêuticas, de inseticida, industrias que utilizam terra diatomácea.
Serviços diversos Protéticos, cavadores de poços, artistas plásticos, reparo e manutenção de refratários

Fonte: IARC, 1997.

3. Exposição ocupacional para a população brasileira formalmente


registrada. Os resultados identificam que,
A exposição ocupacional ocorre por meio em média, 5.447.828 trabalhadores (14,6%)
de inalação de poeira contendo sílica livre cris- estão expostos à sílica por mais de 1% da
talizada. O local de deposição das partículas no jornada semanal de trabalho. Acima de
sistema respiratório depende diretamente do ta- 30% da jornada semanal de trabalho são
manho das mesmas (Fundacentro, 2001): 2.065.935 trabalhadores (5,6%) dividos
inaláveis - partículas menores que 100µ; entre homens (prevalência média de 9,1%)
torácicas - partículas menores que 25µ; e mulheres (0,6%) distribuídos conforme o
respiráveis - partículas menores que 10µ. Quadro 2.

O Brasil conta com poucos estudos de A prevalência média de 5,6% dos


avaliação da exposição ocupacional com trabalhadores expostos no Brasil repre-
metodologia confiável que sejam compa- senta uma taxa muito superior aos re-
ráveis entre si. Os dados mais recentes são sultados de estudos similares realizados
de Ribeiro (2004), que estudou a freqüên- na Finlândia (3,8%), República Tcheca
cia da exposição à sílica, estimada por es- (3,4%), Áustria (3,1%), Estônia, Ale-
pecialistas em higiene ocupacional através manha, Grécia e Irlanda (ao redor de
de uma matriz de exposição ocupacional 3%) (Kauppinen, 1998) e na Costa Rica
(2,1%) (Partanen, 2003).

29
Quadro 2. Prevalência de trabalhadores definitivamente expostos* à sílica por
sexo e setor econômico. Brasil, 1985 a 2001

Setor Econômico Anos Homens % Expostos Mulheres % Expostas


Ocupados Expostos Ocupadas Expostas
Administração de serviços 1985 1.732.757 101.468 5,9 560.728 505 0,1
técnicos e pessoal 2001 2.978.415 70.522 2,4 1.318.303 1.505 0,1
Agricultura 1985 485.570 20.051 4,1 93.549 343 0,4
2001 1.759.537 74.984 4,3 295.320 582 0,2
Construção civil 1985 1.261.469 858.121 68,0 56.783 4.632 8,2
2001 2.103.613 1.432.309 68,1 124.246 15.589 12,6
Indústria de borracha, fumo e couro 1985 327.320 11.463 3,5 146.736 5.283 3,6
2001 218.399 5.287 2,4 99.491 3.101 3,1
Indústria de extração mineral 1985 179.110 118.302 66,1 10.427 1.784 17,1
2001 135.103 85.526 63,3 12.251 1.469 12,0
Indústria de mineral não metálico 1985 343.456 179.001 52,1 48.588 26.041 53,6
2001 330.666 186.954 56,5 40.239 17.373 43,2
Metalurgia 1985 666.018 168.590 25,3 78.077 16.919 21,7
2001 583.703 143.553 24,6 70.296 13.324 19,0
Outros setores 1985 11.982.403 12.022 0,1 6.992.765 657 0,0
2001 14.740.490 12.974 0,1 12.089.348 883 0,0
Total 1985 1 6.978.103 1.469.018 8,7 7.987.653 56.164 0,4
2001 22.849.926 2.012.109 8,8 14.049.494 53.826 0,7

Fonte: Ribeiro (2004).


* Freqüência de exposição acima de 30% da jornada semanal de trabalho

II. Efeitos sobre paredes bronquiolares. O organismo tenta


reparar esses danos com a integração de um
a saúde humana tecido conjuntivo fibroso, caracterizando a
fibrose. Esta é responsável pela diminuição
da complacência pulmonar, prejudicando o
1. Toxicologia processo de trocas gasosas. Os sintomas são
Os efeitos tóxicos no organismo hu- tosse e falta de ar progressiva (Fundacen-
mano dependem do tipo de exposição e do tro, 2002).
tipo de resposta orgânica. A poeira de sí-
lica cristalina, quando inalada, estimula a
região traqueobronquial a produzir muco, 2. Agravos relacionados
auxiliando a função ciliar na remoção das com a exposição
partículas. As partículas que chegam aos
alvéolos pulmonares estimulam a chegada
Silicose
de macrófagos e outras células de defesa
como os leucócitos, todos com alta capa- Silicose é uma fibrose pulmonar difu-
cidade fagocitária. Uma vez que as células sa, nodular, intersticial, causada por uma
imunes não possuem mecanismos de diges- reação dos tecidos à inalação do pó de sí-
tão desta substância tóxica, esta começa lica cristalina. Poderá tomar uma forma
a se acumular nos alvéolos. Ademais, elas aguda em situações de exposição intensa,
produzem quimiocinas como interleuci- mas normalmente aparece sob forma crô-
nas, presentes em processos inflamatórios. nica, levando anos para se revelar. O aco-
A sílica é muito reativa em meio aquoso, metimento pela silicose propicia o aumen-
gerando radicais livres capazes de lesar as to do risco de câncer pulmonar e de outras

30
doenças auto-imunes. Classicamente são lulas. Há evidências de que a inflama-
descritas três formas clínicas distintas: ção constante e persistente, bem como
silicose aguda, crônica e subaguda (Divi- derivados oxidantes de células podem
sion of Environmental and Occupational resultar em efeitos genotóxicos no pa-
Health,1998). rênquima pulmonar. A sílica é capaz
de ativar processos inflamatórios que
podem resultar em hiperplasia epitelial
2.1. Prevalência da silicose
associada a neoplasias. Estudos demons-
no Brasil
tram que partículas de quartzo isoladas
A importância da silicose no Brasil não são mutagênicas, porém, em contato
vem sendo descrita desde 1939 e atu- com substâncias oxidativas, assumem tal
almente configura-se a pneumoconiose papel (IARC, 1997).
mais prevalente no país (Algranti, 2001).
A sua dimensão no Brasil não é total- A mortalidade por câncer de pulmão
mente conhecida. Estudos recentes per- possui risco de 2 a 3 vezes maior nos
mitem apenas aproximações pontuais trabalhadores expostos à sílica após o
em algumas atividades industriais. Pre- controle por outros fatores como fumo
valências de silicose definida pela Orga- (Goldsmith, 1995; Smith, 1995; Check-
nização Internacional do Trabalho (OIT) way, 1999; Martin, 2000). Goldsmith
como categoria radiológica OIT 1/1 ou (1995) em estudo americano de morta-
maior, foram encontradas em mais de lidade encontrou risco 2 vezes maior
20% dos trabalhadores da indústria de de câncer em expostos à sílica, quando
construção naval (Comissão técnica es- comparados com a população em geral.
tadual de pneumopatias ocupacionais no
Estado do Rio de Janeiro, 1995), cavado- O risco varia segundo a exposição
res de poços artesianos (Holanda, 1995) e em diferentes setores industriais. Mar-
escultores de pedra (Antão, 2004); 16,3% tin (2000) em estudo de caso controle
em pedreiras (Araújo, 2001); entre 3 e aninhado em coorte de trabalhadores da
5% na indústria de cerâmica (Oliveira, indústria de gás e eletricidade da França
1998) e nas fundições (Polity, 1995). A descreveu risco 2,3 maior de câncer de
partir dos registros da Previdência Social pulmão entre os expostos à sílica. Huges
é possível estimar a prevalência de sili- (2001) encontrou uma razão de mortali-
cose em 2 para 10.000 trabalhadores no dade proporcional de 1,4 para trabalha-
ano de 2003 (Ribeiro, 2005). dores com areia industrial. Tsuda (2002)
descreve um risco de 2,1 para câncer de
O estudo da prevalência da silicose re- pulmão entre trabalhadores da prefeitu-
presenta uma aproximação da dimensão ra de Okayanna, Japão, expostos à sílica.
do câncer associado à sílica, uma vez que Bochmann (2001) discutiu uma revisão
não existem estudos nacionais capazes de de 165 estudos epidemiológicos, entre
permitir estimativas neste sentido. 1963 e 2000, que investigam a relação
entre câncer de pulmão e a exposição à
sílica. No Brasil, Carneiro (2002) des-
2.2. Carcinogênese
creveu dois casos de trabalhadores ex-
A sílica possui poder genotóxico que postos à sílica que desenvolveram cân-
pode afetar diretamente o DNA das cé- cer de pulmão.

31
III. Limites

limpeza ou manutenção geral
sinalização e rotulagem
de tolerância monitoramento ambiental
proteção respiratória
asseio pessoal
No Brasil, o limite de tolerância (LT) para exames médicos
a sílica cristalina foi estabelecido pelo Mi- limitação do tempo de exposição
nistério do Trabalho e Emprego em 1978, na treinamento.
Portaria 3214, norma regulamentadora 15,
anexo 12. Este limite consiste no cálculo da Estas medidas devem ser adotadas em
porcentagem de sílica na poeira respirável conjunto, segundo as condições da exposi-
do ambiente de trabalho, para jornada de até ção e do processo de trabalho.
48 horas semanais, através da fórmula:
A natureza da poeira de sílica propicia,
além da exposição ocupacional, que o pro-
8 cesso de trabalho também contamine o am-
Poeira respirável: LT = , expresso
% quartzo + 2 em mg/m3 biente no entorno. Neste sentido, o seu ca-
ráter cancerígeno amplia o risco e demanda
novas formas de controle e prevenção.
Em legislações internacionais o limi-
te de exposição descrito pela NIOSH (Na-
tional Institute for Occupational Safety and V. Legislação
Health) e pela ACGIH (American Conference
of Governmental Industrial Hygenists) é de As doenças decorrentes da exposição à
0,05 mg/m3 (quartzo como poeira respirá- sílica, em especial a silicose e o câncer de
vel) para 40 horas de trabalho semanais. pulmão, são objeto de notificação nacional
Pela OSHA (Occupational Safety & Health ao Ministério da Saúde, como regulamenta a
Administration) o limite é de 30mg/m³/2 (% Portaria nº 777/GM, de 28 de abril de 2004,
de quartzo como poeira total + 3) para 8h que dispõe sobre os procedimentos técnicos
de trabalho diário (Patnaik, 2003). para a notificação compulsória de agravos

IV. Medidas
de controle
O controle da exposição ocupacional
deve priorizar, seguindo Neto (1995):
eliminação da substância
mudança de processo ou operação
umidificação
ventilação
enclausuramento
isolamento

32
à saúde do trabalhador em rede de serviços
sentinela específica, no Sistema Único de
VI. Sites de interesse
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http://www.emedice.com/med/topic2127.htm.
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35
Radiação
ionizante

I. Introdução

1. Definição mos a palavra radiação, geralmente pensa-


mos em força nuclear, armas nucleares ou
É a emissão e propagação de energia em tratamentos para câncer. Porém, pode-
no espaço, em forma de ondas e partícu- mos também considerar microondas, rada-
las subatômicas, como α, β, γ ou raios X res, fios de alta tensão, telefones celulares
(Eisler, 2000; Kiefer, 1990). Quando ouvi- e a radiação solar (U.S.EPA, 2004).

(Adaptado de WHO, 2005)

2. Radiação 3. Radiação
particulada eletromagnética
A radiação de natureza particula- A radiação eletromagnética é constitu-
da é caracterizada por sua carga, mas- ída por campos elétricos e magnéticos que
sa e velocidade: pode ser carregada ou variam no espaço e no tempo. É caracteri-
neutra, leve ou pesada, lenta ou rápida. zada pela amplitude (tamanho), freqüência
Prótons, nêutrons e elétrons ejetados de de oscilação ou pelo comprimento de onda.
átomos ou núcleos atômicos são exem- São exemplos de radiação eletromagnética
plos de radiação particulada (Schaberle as ondas de rádio, a luz visível e os raios X
& Silva, 2000). (Schaberle & Silva, 2000).

36
4. Radioatividade 1. Radiação não-ionizante
Apresenta energia suficiente para mo-
3.1. Definição ver átomos em torno de uma molécula ou
para fazê-la vibrar, mas não suficiente para
A radioatividade é a propriedade que alguns remover elétrons. Este tipo de radiação pode
átomos têm de emitir energia espontaneamente também ser capaz de provocar danos bio-
como partículas ou raios. Os átomos que com- lógicos. Como exemplo, podem ser citadas
põem os materiais radioativos são a fonte de ra- as ondas de rádio, a luz solar e microondas
diação. Existem três principais vias de exposição à (U.S.EPA, 2004).
radiação: por inalação, por ingestão ou pela expo-
sição direta (U.S.EPA, 2004).
2. Radiação ionizante

II. Fontes de É aquela que tem energia suficiente


para remover dos átomos, elétrons firme-
radiação mente dispostos, criando então os íons.
Pode ser encontrada na forma de partícu-
las ou radiação eletromagnética. Os íons
As radiações podem ser emitidas por produzidos neste processo permitem a de-
elementos químicos com núcleos atômicos tecção da radiação. Como exemplos po-
instáveis ou por equipamentos construídos dem-se citar as partículas alfa, beta, raios
pelo homem. Os elementos químicos radio- gama, raios X e nêutrons (EPA, 2004, Nu-
ativos podem ser encontrados na natureza Bio/Fiocruz, 2005; IRD, 2003; Schaberle &
(como o urânio natural ou o tório das areias Silva, 2000).
monazíticas) ou produzidos pelo homem
através de reações específicas em acelera- Particulas e ondas
dores de partículas ou reatores nucleares. Os Partículas α - As partículas alfa, por terem
aceleradores de partículas e tubos de raios massa e carga elétrica relativamente maior,
X são fontes de radiação sem a utilização podem ser facilmente detidas, até mesmo por
de elementos químicos radioativos. Quando uma folha de papel. Em geral, não conseguem
desligados, não emitem radiação (Schaberle ultrapassar as camadas externas de células
& Silva, 2000). mortas da pele. Podem, ocasionalmente, pene-
trar no organismo através de um ferimento ou
por inalação, provocando lesões graves (Nu-
Bio/Fiocruz, 2005; IRD, 2003).
III. Tipos de Partículas β - São elétrons emitidos pelo
radiação núcleo de um átomo instável. Têm massa
pequena e podem ter carga positiva ou ne-
gativa (IRD, 2003). São capazes de penetrar
A radiação possui uma gama de energias cerca de um centímetro nos tecidos, oca-
que formam um espectro eletromagnético. sionando danos à pele, mas não aos órgãos
Esse espectro tem duas divisões: radiação internos, a não ser que sejam ingeridas ou
ionizante e não ionizante (U.S.EPA, 2004, inaladas. Podem gerar radicais livres (Nu-
Schaberle & Silva, 2000). Bio/Fiocruz, 2005).

37
Raios X e γ - São ondas eletromagnéticas e a área da medicina até a área da indústria
não possuem massa nem carga. Enquanto o bélica, com a fabricação de armas (U.S.EPA,
raioX é originado por movimento de elétrons 2004; NuBio/Fiocruz, 2000).
entre orbitais, os raios gama têm origem no
núcleo do átomo. Assim como os raios X, os
raios gama, por não terem carga ou massa,
são extremamente penetrantes, sendo deti- IV. Percepção
dos somente por uma parede de concreto ou
metal (IRD, 2003; NuBio/Fiocruz, 2005). Aos da radiação
seres humanos a exposição em altas doses
pode provocar sintomas inespecíficos, tais
como fraqueza, náusea, vômito, eritemas, A radiação pode ser detectada com ins-
dentre outros, podendo culminar no óbito. trumentos de medição bastante precisos. O
homem sempre esteve exposto à radiação
Nêutrons – São obtidos a partir da fissão es- natural. Essa exposição ocorre pelos ele-
pontânea ou de reações nucleares específicas mentos radioativos contidos no solo e ro-
(Schaberle & Silva, 2000).
chas; pelos raios cósmicos que chegam à
Aplicações da radiação ionizante atmosfera; pela incorporação de elementos
radioativos provenientes da alimentação e
respiração (CNEN, 2005a), e, ainda, pelos
elementos radioativos contidos no sangue
e nos ossos, como o potássio-40, carbono-
14 e rádio-226 e pelas diferentes fontes
de exposição a radiações, distribuídas no
ambiente em que vivemos. A figura abai-
xo mostra, em termos percentuais, a dis-
tribuição das diversas fontes de exposição
(Adaptado de NuBio/ Fiocruz, 2005) (WHO, 2005).

Os efeitos da radiação não podem ser con- Água/ Outras (todas as Radônio
fontes produzidas) (exposição
siderados inócuos e a interação com os seres Exposição
alimentos
1% natural
8%
médica
vivos pode levar a alterações teratogênicas 20%
interna)
43%
e até a morte. A radiação apresenta riscos à
saúde e deve ser usada de acordo com os seus
benefícios (NuBio/Fiocruz, 2000).
13%
Raios
Principais usos: Pode-se relatar como cósmicos
15%
Radiação gama (exposição
benefício da radiação ionizante a geração natural externa)

de força elétrica utilizada não só para des- (Adaptado de WHO, 2005)


truir células cancerosas bem como para uso
em muitos processos industriais. Pode ser
útil no tratamento de doenças através de A recomendação adotada, portanto, é
radioterapia, braquiterapia e aplicadores; que se deve evitar toda e qualquer radiação
no diagnóstico, através de radiografia, to- adicional à existente no ambiente, exceto
mografia, mamografia e mapeamento com se os benefícios desse uso o justificarem
radiofármacos. Sua aplicação se dá desde (CNEN, 2005).

38
V. Efeitos sobre 1. Carcinogenicidade
a saúde humana As radiações X e gama foram classifi-
cadas no Grupo I pela Agência Internacio-
nal de Pesquisa em Câncer (IARC), ou seja,
O câncer é considerado por muitos um com evidência epidemiológica suficiente
efeito primário da exposição à radiação. Ge- para carcinogenicidade em humanos e em
ralmente, o processo natural do organismo animais (IARC, 2000, 1999).
controla a taxa em que as células crescem e
são substituídas, reparando o tecido danifi-
cado. O dano pode ocorrer no nível celular 2. Fatores a serem
ou molecular, quando o controle do cres- considerados na relação
cimento é rompido, permitindo o aumento
descontrolado de células cancerosas, uma entre radiação e câncer
vez que a radiação ionizante tem a habili-
dade de quebrar os elos químicos dos áto- O risco de câncer decorrente da expo-
mos e moléculas, produzindo um potente sição a raios X ou gama depende da dose,
carcinógeno (U.S. EPA, 2004). da duração da exposição, do sexo, da ida-
de em que se deu a exposição e de outros
A radiação pode também causar altera- fatores como, por exemplo, a sensibilidade
ções no DNA, denominadas mutações. dos tecidos frente aos efeitos carcinogêni-
cos da radiação (IARC, 2000).
Inicialmente, o processo que assegura
o reparo de uma célula produz uma cópia Estes efeitos têm sido estudados inten-
perfeita da célula original. Algumas ve- sivamente em populações humanas. Em
zes, porém, o corpo falha no reparo dessas epidemiologia, associações entre exposi-
mutações ou mesmo cria mutações duran- ção e doença são freqüentemente aceitas
te este reparo, e as mutações podem gerar como causais quando há consistência com
efeitos teratogênicos ou genéticos (U.S. outros estudos, plausibilidade biológica, e
EPA, 2004). quando a magnitude da associação é for-
te. Outra questão importante é a existên-
A exposição aguda se refere a altos ní- cia de um gradiente dose-resposta, ou seja,
veis de radiação em curto espaço de tem- quanto maior a dose (a exposição) maior
po. Diferentemente do que ocorre com o é o desfecho (nº de casos, taxa, etc). Tais
câncer, de modo geral, os efeitos agudos critérios são satisfeitos quanto à relação
à saúde decorrentes da exposição à radia- radiação ionizante e câncer. Em sobrevi-
ção aparecem muito rápido. Os sintomas ventes de Hiroshima e Nagazaki, expostos
incluem náuseas, fraqueza, perda de cabe- à radiação gama e acompanhados ao lon-
lo, queimaduras na pele, ou diminuição da go de 45 anos após a exposição, o efeito
função orgânica. Pacientes tratados com dose-resposta tem sido observado para vá-
radiação freqüentemente experimentam rias localizações primárias de câncer, como
os efeitos agudos, devido à exposição em leucemia, câncer de mama e outros tipos
altas doses. A radiação pode ainda causar de câncer, uma vez que a dose individual
envelhecimento precoce ou mesmo a mor- recebida pôde ser estimada com acurácia
te. (U.S. EPA, 2004). significativa. (IARC, 2000).

39
Raios X, gama
VI. Exposição
Casos de leucemia e de outros tipos de ocupacional
câncer têm sido observados em pacientes
tratados com raios X e gama. Evidência
importante dessa relação foi relatada em Indivíduos que trabalham na indústria
estudo realizado em mulheres de 15 paí- nuclear ou próximos a equipamentos que
ses com câncer cervical, submetidas a tra- emitem radiação (por exemplo: em insti-
tamento com radioterapia. Foi observado tuições médicas ou em laboratórios), estão
também no Canadá e nos EUA um aumen- expostas à radiação ionizante (IARC, 2000,
to de câncer de mama em pacientes sub- CNEN, 2005). A média anual de dose efeti-
metidas ao tratamento com fluoroscopia va de raios X e gama provenientes de fontes
e com raios X de tórax para tuberculose. naturais é de 0,5-5,0 mSv. Em países de-
Segundo a Agência Internacional de Pes- senvolvidos, os procedimentos médicos re-
quisa em Câncer (IARC), existem mais de sultam em uma dose efetiva anual de 1-2
100 estudos que relacionam a exposição à mSv, dos quais 2/3 são devidos a diagnós-
radioterapia e excesso de casos de câncer. ticos utilizando radiografias. A dose efetiva
anual para trabalhadores monitorados varia
Indivíduos expostos a altas doses de de 1-10 mSv (IARC, 2000).
radiação apresentam um risco cinco vezes
maior para leucemia e câncer de tireói-
de em relação aos não expostos, e o do-
bro do risco para câncer de mama, quando
VII. Medidas
a exposição ocorreu antes da menopausa
(IARC, 2000).
de controle
As outras localizações primárias de A minimização dos efeitos da radiação
câncer relacionadas à exposição a raios X nos trabalhadores deve ser iniciada pela
ou gama, descritas pela IARC, são estômago avaliação de risco, pelo correto planejamen-
e cólon. Em altas doses de exposição a es- to das atividades a serem desenvolvidas,
ses mesmos raios, pode-se observar ainda pela utilização de instalações e de práticas
câncer ósseo, de tecidos moles, do reto, de corretas, de modo a diminuir a magnitude
colo de útero e de pele. A leucemia linfocí- das doses individuais, o número de pesso-
tica crônica (LLC) não tem sido relacionada as expostas e a probabilidade de exposições
à exposição a raios X ou γ (IARC, 2000). acidentais. Devem ser previstas a adoção de
Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) e
Nêutrons de Proteção Individual (EPI), observando a
otimização destas proteções pela elaboração
Ainda não há dados epidemiológicos e execução correta de projeto de instalações
adequados para avaliar se os nêutrons são laboratoriais, na escolha adequada dos equi-
carcinogênicos em humanos, embora a IARC pamentos e na execução correta dos procedi-
os tenha classificado como carcinogênicos, mentos de trabalho (NuBio/Fiocruz, 2005).
grupo 1, tendo por base, entre outras consi-
derações, evidências suficientes para carcino- Algumas medidas de controle que podem
genicidade em animais (IARC, 1999). ser adotadas para reduzir a exposição ocupa-

40
cional, conforme a Organização Internacio-
nal do Trabalho (OIT, 1974) e a Fundação
IX. Definições
Oswaldo Cruz (NuBio/Fiocruz, 2000), são:
A Comissão Nacional de Energia Nuclear
redução do número de trabalhadores
(CNEN, 2005) e o Instituto de Radioproteção
expostos, da duração e dos níveis de
e Dosimetria (IRD, 2003) apresentam algu-
exposição;
mas definições importantes para uma melhor
informação aos trabalhadores sobre os compreensão do tema.
riscos a que estão expostos;
Atividade – A unidade de medida desta gran-
monitoração sistemática do local de uso deza no Sistema Internacional de Unida-
de radiação, bem como de seu entorno; des (SI) é o becquerel (Bq), com valor de 1 /
3,7.1010 curie (Ci). A atividade é definida pela
delimitação e monitoração (vigilância) relação dN/dt, onde dN é o valor médio do
das áreas de trabalho; número de transições nucleares de um estado
de energia e dt é um intervalo de tempo.
monitoração da selagem adequada dos
equipamentos; Dose absorvida - A unidade de medida no Sis-
tema Internacional de Unidades (SI) é o gray
limitação do acesso ao local de uso de (Gy); 1 Gy = 100rad. É expressa pela relação
radiação; dE/dm, onde dE é a energia média deposita-
da pela radiação em um volume elementar de
utilização, pelos trabalhadores de equi-
matéria de massa dm.
pamentos de proteção individual (EPI);
Dose equivalente (ou simplesmente dose) - A
recomendação e garantia de higieniza-
unidade de medida de dose no Sistema In-
ção de mãos e antebraços antes e após ternacional de Unidades (SI) é o sievert (Sv);
o manuseio de materiais radioativos; 1 Sv = 100 rem. É expressa pela relação H =
tratamento dos efluentes contaminados D•Q onde D é a dose absorvida num ponto de
interesse e Q é um fator de qualidade que leva
com elementos radioativos, conforme a
em conta o efeito biológico dos diferentes ti-
legislação vigente;
pos de radiação, estando tabelado em publi-
desestímulo e restrição ao uso de rou- cações técnicas do ramo.
pas de proteção em locais públicos. Dose efetiva - A unidade de medida de dose
no Sistema Internacional de Unidades (SI) é
o sievert (Sv); 1 Sv = 100 rem. É o somatório
VIII. Legislação das doses equivalentes causadas por irradia-
ção externa e contaminação interna, levados
em consideração os diferentes pesos atribuí-
A Comissão Nacional de Energia Nucle- dos aos diversos órgãos ou tecidos, tabelados
ar (CNEN), na Resolução de 17 de dezem- em publicações técnicas do ramo.
bro de 2004, publicada em Diário Oficial
da União (D.O.U. 06/01/2005), descreve as Contaminação radioativa - presença indese-
“Diretrizes Básicas de Radioproteção”. Nes- jável de materiais radioativos em pessoas, ob-
jetos, meios ou locais.
ta resolução pode-se encontrar a determi-
nação de dose individual (dose efetiva e Exposição médica - exposição à radiação io-
dose equivalente) e monitoramento da ex- nizante decorrente de diagnóstico ou trata-
posição ocupacional. mento médico.

41
Exposição ocupacional (ou de rotina) - fazer diagnóstico através de imagens radio-
exposição à radiação ionizante decorren- lógicas e/ou radiografias.
te das atividades em condições normais
de trabalho. Radionuclídeo - material radioativo.

Fonte de radiação - aparelho ou material que Radioproteção (ou proteção radiológica) -


emite ou é capaz de emitir radiação ionizante. conjunto de medidas que visam proteger o
Fonte radioativa selada - fonte radioativa homem e seu meio ambiente contra possí-
encerrada em cápsula selada, ou ligada to- veis efeitos indesejáveis causados pela radia-
talmente a material inativo envolvente, de ção ionizante, baseado em princípios básicos
tal forma que sua dispersão em condições aceitos internacionalmente.
normais e severas de uso seja impedida.
Radioterapia - especialidade médica em que
Monitoração radiológica - medições de gran- são feitos tratamentos empregando radiação
dezas relativas à radioproteção, para fins de ionizante proveniente de fontes radioativas
avaliação e controle não só das condições seladas, de equipamentos de raios X ou de
radiológicas das áreas de um serviço médico aceleradores de partículas.
ou do meio ambiente, como de exposições
humanas ou de materiais radioativos e ma- Rejeito radioativo - qualquer material resul-
teriais nucleares. tante de atividades humanas cuja reutiliza-
ção seja imprópria ou não previsível e que
Radioativo - qualidade do material, substância
contenha radionuclídeos em quantidades su-
ou fonte, emissores de radiação ionizante.
periores aos limites de isenção estabelecidos
Radiologia médica/odontológica - especiali- na norma CNEN-NE-6.05, ou em outra que
dade que emprega radiações ionizantes para venha a substituí-la.

42
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43
Radiação
solar
I. Introdução
A luz solar é energia eletromagnética 1. Definição
propagada por ondas. As partes mais im-
portantes do espectro eletromagnético da Radiação solar é a energia emitida pelo sol
luz solar são (WHO, 1999): na forma de radiação eletromagnética não-io-
radiação ultravioleta (UV), invisível nizante (IARC, 1997). Os raios UV possuem
aos olhos; comprimento de onda que varia de 100nm a
luz visível; 400nm e podem ser divididos em três ban-
das: UVA (315nm a 400nm), UVB (280nm a
radiação infravermelha, que é a prin-
315nm) e UVC (100nm a 280nm). A radiação
cipal fonte de calor, mas também não
é visível. solar UV que alcança a superfície terrestre é
composta por 95% de radiação UVA e 5% de
Cerca de 5% da radiação solar terres- UVB. A radiação UVC é completamente filtra-
tre é radiação ultravioleta (UV). A radia- da pela atmosfera, e 90% da UVB é absorvida
ção solar é a maior fonte de exposição à pela camada de ozônio, pelo vapor de água,
radiação UV, porém, com o surgimento de pelo oxigênio e pelo dióxido de carbono. A ra-
fontes artificiais de radiação, ocorreu um diação UVA é a menos afetada pela atmosfera.
aumento na chance de exposição adicio- Conseqüentemente, a radiação proveniente da
nal (IARC, 1997). superfície terrestre é amplamente composta

(Adaptado de WHO, 2005)

44
de radiação UVA e um pequeno componente de medidas protetoras (ARPANSA, 2004a).
de UVB (IARC, 1996; NHMRC, 1996; WHO, Há também muitos tipos de fontes ar-
2005; ARPANSA, 2004). tificiais de radiação UV, como as lâmpadas
A radiação solar é a única fonte mais sig- fluorescentes, de vapor de mercúrio e outros
nificativa de radiação UV e pode atingir o ser materiais utilizados na indústria, escritórios
humano de três maneiras: diretamente, dis- e em casa. Durante o trabalho, os soldadores
persa em céu aberto e refletida no ambien- são capazes de produzir e de se exporem a
te. Assim, mesmo que uma pessoa esteja na uma intensa emissão de radiação UV. Estes
sombra, ainda pode estar significativamente trabalhadores poderão sofrer efeitos dano-
exposta à radiação UV através da claridade sos à saúde semelhantes aos que acometem
natural. Também alguns pisos e superfícies trabalhadores expostos diretamente ao sol
são bastante refletores da radiação UV, prin- (ARPANSA, 2004a). Semelhantemente, os
cipalmente os brancos, de cores claras e su- funcionários que trabalham com superfícies
perfícies metálicas. Estas superfícies podem refletoras como o concreto, a água, o aço não-
refletir a radiação UV, na pele e nos olhos. As pintado e o alumínio podem receber radiação
superfícies refletoras podem reduzir o efeito ultravioleta adicional (ELCOSH, 2001).

2. Fatores ambientais que influenciam o nível de


radiação UV
Mais de 90% dos raios UV podem A Organização Mundial de Saúde (WHO,
atravessar nuvens leves.
2005) descreve alguns fatores ambientais ca-
pazes de influenciar no nível de radiação ul-
travioleta. São eles:

altura do sol - quanto mais elevado o sol está no


A neve reflete céu, mais elevado o nível de radiação UV. Esta ra-
mais de 80% da
radiação UV.
diação varia com a hora do dia e o período do ano,
60% da radiação atingindo níveis máximos quando o sol está em
UV é recebida
entre 10h e 14h. sua elevação máxima, por volta do meio-dia (lua
solar), durante os meses de verão.
A radiação UV aumenta
4% para cada 300m de latitude – quanto mais próximo à linha do
aumento na altitude.
equador, mais elevados são os níveis de ra-
diação UV.

Pessoas que
céu encoberto por nuvens – os níveis de ra-
trabalham
em ambientes
diação são mais elevados com céu sem nu-
internos recebem
de 10 a 20%
vens, porém, mesmo com tempo encoberto,
da radiação A sombra pode
reduzir a radia-
os níveis de radiação podem ser elevados de-
ultravioleta
que pessoas que ção UV em 50%
ou mais.
vido à dispersão da radiação pelas moléculas
trabalham ao ar
livre recebem. de água e partículas presentes na atmosfera.

A areia da altitude – em altitudes mais elevadas, há menor


Até 1m de praia reflete
profundidade mais de 15% da filtração da radiação UV através da atmosfera.
a radiação UV
ainda é 40% tão
radiação UV.
A cada aumento de 1000 metros de altitude, os
intensa quanto
na superfície. níveis de UV aumentam em 10% a 12%.
(Adaptado de WHO, 2005)

45
ozônio – o ozônio absorve alguma radiação exposição geralmente aceitáveis podem ser exce-
UV capaz de alcançar a superfície terrestre. didos. Superexposição à radiação UV pode cau-
Os níveis de ozônio variam durante o ano e sar queimaduras, doenças e câncer de pele. Uma
até mesmo durante o dia. pessoa com exposição cumulativa à radiação UV
reflexão – a radiação UV é refletida ou dis- com um número de queimaduras graves rece-
persada amplamente em diferentes superfí- bidas, especialmente durante a infância, tem o
cies. A neve pode refletir até 80% da radia- risco aumentado de desenvolver câncer de pele.
ção UV, a areia da praia reflete cerca de 15% A exposição ao sol faz com que as camadas ex-
e a espuma do mar cerca de 25%. teriores da pele engrossem e a longo prazo pode
causar enrugamento e enrijecimento. Nos olhos
A depleção da camada de ozônio prova- pode causar fotoqueratites, fotoconjuntivites e
velmente agrava os efeitos à saúde causados cataratas (ARPANSA, 2004 a). Os indivíduos lon-
pela exposição à radiação UV. A camada de gamente expostos podem também ter o sistema
ozônio funciona como filtro protetor. Com a imune debilitado (IARC, 1997; ELCOSH, 2001).
depleção, ela fica mais fina e progressiva-
mente reduzida em sua capacidade protetora.
Em conseqüência disto, os seres humanos e o 1. Melanócitos: as células
ambiente ficam expostos à radiação UV em que protegem a pele
níveis mais elevados, especialmente os níveis
de UVB que apresentam maior impacto na São células responsáveis pela prote-
saúde humana, na saúde dos animais, de or- ção da pele à radiação solar. Quanto mais
ganismos marinhos e plantas (WHO, 2005). melanócitos na superfície da pele, maior
proteção aos raios UV. As mudanças na
Radiação UVB distribuição dos melanócitos podem oca-
sionar o desenvolvimento de lesões pre-
cursoras do câncer de pele, nevo displá-
Estratosfera
ozônio sico, melanoma de crescimento radial,
Estratosfera
melanoma de crescimento vertical e me-
Troposfera lanoma metastático. Tanto o nevo mela-
Monte Everest
nocítico benigno quanto o displásico são
considerados marcadores para o melano-
ma e sua presença aumenta o risco de
(Adaptado de WHO, 2005) desenvolvê-lo (Souza et al, 2004).

II. Efeitos sobre 2. Carcinogenicidade


a saúde humana A Agência Internacional de Pesquisa em
Câncer classificou a radiação solar no Grupo
A pele e os olhos são as principais áreas de I, com evidência suficiente de carcinogenici-
risco à saúde, decorrentes da exposição à radia- dade em seres humanos. As radiações UVA,
ção UV, dado que a penetração da radiação UV UVB e UVC, bem como as câmaras de bron-
é muito curta. Em trabalhadores expostos sem zeamento (lâmpadas e camas) foram classi-
proteção adequada ou sem medidas de contro- ficadas no Grupo 2A, provavelmente carci-
le dos níveis de radiação solar UV, os limites de nogênicos em seres humanos. A exposição

46
a lâmpadas fluorescentes, no Grupo 3, não fatores de risco. Episódios de queimaduras
é classificada como carcinogênica para seres solares surgiram como o mais importante
humanos (IARC, 1997). fator de risco associado com melanoma ma-
ligno na amostra da população branca do sul
Há dois tipos de câncer de pele: não-me- do Brasil. O uso de protetor solar apresentou
lanoma, que inclui o carcinoma baso-celular significância progressiva quanto à preven-
e espino-celular e o melanoma maligno. ção, correspondendo ao aumento do FPS. O
melhor escore ocorreu em usuários de FPS-
15 ou mais. (Bakos et al, 2002).
2.1. Câncer de pele
do tipo melanoma
2.2. Câncer de pele tipo
O melanoma é o menos comum, mas é o
não-melanoma (basocelular
mais perigoso tipo de câncer de pele. A in-
cidência de melanoma em homens está cres-
e espino-celular)
cendo rápido, particularmente nos de meia- O carcinoma baso celular é originário da
idade. Surgem com mais freqüência na parte epiderme e dos apêndices cutâneos acima da
superior das costas, cabeça e pescoço. Há ge- camada basal, como os pêlos, por exemplo. Já
ralmente um período entre 10 e 30 anos para o carcinoma epidermóide tem origem no que-
que ocorra a manifestação clínica do câncer. ratinócio da epiderme, podendo também surgir
(ELCOSH, 2001). O pior prognóstico para no epitélio escamoso das mucosas (INCA, 2005
melanomas está associado a idade superior a). Estes tumores ocorrem predominantemente
a 60 anos, sexo masculino, lesões localizadas na face e no pescoço, e estão relacionados à
no tronco, tumores de maior espessura e pa- exposição solar, embora a distribuição de car-
drão sócio-econômico mais baixo (Souza et cinomas baso celulares não esteja estritamen-
al, 2004; Balzi et al, 1998). te relacionada à exposição ao sol como a dos
carcinomas espino-celulares. Existe uma forte
A Austrália tem as mais altas taxas de relação inversa entre a latitude e incidência ou
câncer de pele. Mais de 200.000 novos ca- mortalidade para estes tipos de câncer de pele
sos desses cânceres são relatados a cada ano, e há uma relação positiva entre incidência ou
sendo que mais de 6.000 são potencialmente mortalidade e radiação ultravioleta estimada
melanomas fatais (ARPANSA, 2004 b). ou medida no ambiente (IARC, 1997).

Um estudo caso-controle realizado no Cerca de 2 a 3 milhões de cânceres


Brasil, para avaliar a etiologia do melanoma não-melanomas são diagnosticados a cada
maligno entre 1995 e 1998, no Hospital das ano, mas raramente são fatais e podem ser
Clínicas, Porto Alegre, revelou como fatores removidos cirurgicamente. De 12 a 15 mi-
de risco com força moderada, para melano- lhões de pessoas por ano tornam-se cegas
ma maligno naquela população, pessoas com devido à catarata, dos quais 20% podem
os fototipos de pele I (sempre se queimam e ter essa catarata causada ou agravada pela
nunca se bronzeiam) e II (sempre se queimam exposição ao sol, de acordo com as esti-
e, às vezes, se bronzeiam); com sardas; com mativas da Organização Mundial de Saúde
um grande número de nevos adquiridos, com (WHO, 2005 b).
nevos displásicos e com proteção inadequada
ao sol. A cor dos olhos e cabelo apresenta- Estima-se que no Brasil ocorrerão cerca
ram uma fraca significância estatística como de mais de 116.640 novos casos de câncer de

47
pele não-melanoma no ano de 2006. Obser- menos incidente, mas sua letalidade é mais
va-se que o câncer de pele não-melanoma é elevada. Quando tratado em estágios iniciais,
o mais incidente em nosso país, em homens e é curável (INCA, 2005 b; CDC, 2003).
em mulheres. Embora de baixa letalidade, em
alguns casos pode levar a deformidades físicas Apresenta-se, a seguir, um quadro com-
e ulcerações graves, porém é uma neoplasia parativo entre câncer de pele melanoma e
de excelente prognóstico, com taxas altas de não-melanoma em alguns países, descreven-
cura completa, se tratada de forma adequa- do sua incidência (homens/mulheres), as es-
da e oportuna. O câncer de pele melanoma é tratégias de prevenção e tratamento.
Quadro comparativo entre câncer de pele não-melanoma e melanoma
Não-melanoma H M Melanoma H M
Incidência Brasil 62 60 Brasil 3 3
(p/100.000 hab.) EUA 480 240 EUA 18 12
Canadá 150 100 Canadá 11 12
Austrália 2300 1900 Austrália 50 40
(Adaptado
Estratégiasde
deInternational Journal
prevenção Limitar of Dermatology
a exposição 2004, 43:243-251) Limitar a exposição solar
solar
Detecção precoce Detecção precoce
Tratamento Cirurgia/Radioterapia/Quimioterapia Cirurgia/Radioterapia/Quimioterapia/Imunoterapia

(Adaptado de International Journal of Dermatology, 2004, 43:243-251)

3. Fatores de risco
Deve-se considerar que um mesmo in-
De maneira geral, os fatores de risco divíduo pode estar exposto a vários fatores
bem estabelecidos para câncer de pele me- de risco que interagem entre si, dada a mul-
lanoma e não-melanoma incluem (IARC, ticausalidade da doença. Dentre os fatores
1997; CDC, 2003): não mencionados, devem ser considerados
os que estão relacionados à ocupação, como,
Melanoma maligno e baso celular por exemplo, o desenvolvimento de ativida-
história familiar de câncer de pele des ao ar livre, como acontece com agricul-
pessoas de pele clara, com cabelos rui- tores, pescadores, guardas, etc. Também de-
vos ou loiros vem ser considerados como fatores de risco
propensão a queimaduras e inabilidade residir em áreas rurais e o desconhecimento
para bronzear de que a exposição excessiva ao sol pode
exposição à radiação UV intermitente causar câncer de pele (SBCD, 2005).
Espino-celular
exposição à radiação UV cumulativa
III. Prevenção primária
(Medidas de controle)
Medidas de proteção contra a ra-
diação ultravioleta
Para proteção coletiva (Maia et al, 1995):

uso de tecidos que impedem ou blo-


queiam os raios UV

48
uso de barracas/toldo 20 a 30 minutos antes da exposição ao sol e
uso de guarda-sol reaplicados antes de nova exposição ao sol e
uso de coberturas e janelas de vidro, após nadar, suar e se secar com toalhas (Maia
que funcionam como barreiras físicas et al, 1995; WHO, 2005c).

Para proteção individual (ARPANSA, 2004 c; Os trabalhadores expostos ao ar livre de-


CDC, 2003 b) vem usá-lo durante o dia e em conjunto com
evitar horários de pico solar (entre 10 chapéus e roupas protetoras, utilizando-o em
da manhã e 16h da tarde) todas as partes expostas ao sol, incluindo ore-
manter-se na sombra nas horas mais lhas, costas, ombros, e a parte de trás dos joe-
quentes do dia lhos e pernas (WHO, 2005c).
evitar bronzeamento artificial
usar chapéu com abas largas
usar blusas de mangas longas 1. O que significa
usar calças compridas
o valor do FPS?
usar óculos
usar cremes e/ou loções com filtro solar FPS significa Fator de Proteção Solar.
superior a 15 FPS. Todo filtro solar tem um número que pode
variar de 2 a 60 (até agora, nos produtos co-
mercializados no Brasil). O FPS mede a pro-
IV. Conhecendo os teção contra os raios UVB responsáveis pela
queimadura solar, mas não medem a proteção
filtros solares contra os raios UVA.

Os filtros solares são preparações para A linguagem utilizada nos rótulos dos fil-
uso tópico que reduzem os efeitos deletérios tros solares muitas vezes deixa o consumidor
da radiação ultravioleta. Deve-se, porém, to- confuso na hora da compra. Abaixo, o signi-
mar cuidado porque nem todos os filtros sola- ficado dos termos mais freqüentemente utili-
res oferecem proteção completa para os raios zados (CDC, 2003a):
UV-B e raios UV-A. Além disso, podem ter anti UVA e UVB: filtros que protegem
um efeito enganoso, pois, por suprimirem os contra os raios ultravioleta A e ultravio-
sinais de excesso de exposição ao sol, como leta B.
as queimaduras, fazem com que as pessoas se
exponham excessivamente às radiações que hipoalergênico: filtro que utiliza subs-
eles não bloqueiam, como a infravermelha. tâncias que geralmente não provocam
Criam, portanto, uma falsa sensação de se- alergias.
gurança e encorajam as pessoas a se exporem livre de PABA ou “PABA Free”: filtros
ao sol por mais tempo (ARPANSA, 2004 c). É que não contêm a substância PABA, que
importante lembrar, também, que o real fator tem alto poder de causar alergias.
de proteção varia com a espessura da camada
livre de óleo ou “oil free”: filtros cujos
de creme aplicada, a freqüência da aplicação,
veículos não contêm substâncias oleo-
a transpiração e a exposição à água. É reco-
sas. São os mais indicados para pessoas
mendado que durante a exposição ao sol se-
de pele oleosa ou com tendência à for-
jam usados filtros com FPS-15 ou mais. Os
mação de cravos e espinhas.
filtros solares devem ser aplicados sempre de

49
não comedogênico: filtros que não obs-
truem os poros, evitando assim a for-
V. Prevenção
mação de cravos. São também indicados secundária
para pessoas de pele oleosa e com ten-
dência à formação de cravos e espinhas.
Conheça o seu corpo

2. Como usar O auto-exame da pele é um método sim-


ples para detectar precocemente o câncer de
Tem sido apresentado o uso de pro- pele, incluindo o melanoma. Se diagnosti-
tetor solar para a prevenção de câncer de cado e tratado enquanto o tumor ainda não
pele não-melanoma do tipo espino-ce- invadiu profundamente a pele, este câncer
lular. Contudo, a evidência do efeito do pode ser curado. Ao fazer o auto-exame re-
protetor solar na prevenção do melanoma gularmente, você se familiarizará com a su-
maligno ainda é inconclusiva. O protetor perfície normal da sua pele. É útil anotar as
solar que bloqueia a radiação ultraviole- datas e a aparência da pele em cada exame
ta-A (UVA) e ultravioleta-B (UVB) pode (Garbe & Buettner, 2000; INCA, 2005c).
ser mais efetivo na prevenção do câncer
espino-celular e seus precursores do que O que procurar?
aqueles que bloqueiam somente a radia- Sinais ou pintas que mudam de tama-
ção UVB. Apesar disso, as pessoas que nho, forma ou cor
usam somente o protetor solar, poderiam Manchas pruriginosas (que coçam),
ter o risco de melanoma aumentado, caso descamativas ou que sangram
prolongassem o tempo de permanência ao
Feridas que não cicatrizam em 4
sol por estarem usando aquele protetor
semanas
(ARPANSA, 2004 c).
Mudança na textura da pele ou dor.
Um estudo caso-controle, realizado
para investigar os fatores preditores do Deve-se ter em mente o ABCD da
uso do protetor solar em pacientes da Eu- transformação de uma pinta em melano-
ropa Central, revelou que os mais velhos e ma, como descrito abaixo:
do sexo masculino tendem a não usá-lo. Os
jovens, as mulheres e os que permaneciam
mais tempo expostos ao sol, tenderam a
usar protetor solar com mais freqüência,
acreditando que, com isso, poderiam estar
protegidos adequadamente, o que é uma
falsa impressão (CDC, 2002).

As recomendações das principais or-


ganizações internacionais com pesquisas
desenvolvidas na área do câncer para pre-
venção primária e secundária do câncer de
pele serão apresentadas no próximo item.

50
A - assimetria - uma metade diferente da outra 3) Examine as partes da frente, detrás e dos
lados das pernas, além da região geni-
B - bordas irregulares - contorno mal definido
tal.
C - cor variável - várias cores numa mesma
lesão: preta, castanho, branca, avermelhada 4) Sentado, examine atentamente a
ou azul planta e o peito dos pés, assim como
os espaços entre os dedos.
D - diâmetro - maior que 6 mm.
5) Com o auxílio de um espelho de mão
Como fazer? e de uma escova ou secador, examine
o couro cabeludo, pescoço e orelhas.
1) Em frente a um espelho, com os braços
levantados, examine seu corpo de frente, 6) Finalmente, ainda com auxílio do espelho
de costas e os lados direito e esquerdo. de mão, examine as costas e as nádegas.
2) Dobre os cotovelos e observe cuida-
dosamente as mãos, antebraços, bra-
ços e axilas.

Recomendações de Organizações Internacionais


ACS[1] CDC/MMWR [2] CCA[3]
Prevenção Primária Limitar a exposição ao sol Evidências insuficientes Evitar a exposição ao sol
(10-16h) para recomendar ou não o nos períodos de maior
aconselhamento rotineiro intensidade
Evitar a exposição ao sol pelo clínico para prevenção
do câncer de pele Adotar medidas de proteção
Adotar medidas de proteção da da pele à exposição solar
pele (óculos, chapéu, roupas)
Permanecer na sombra e
Utilizar protetor solar sempre que possível utilizar
(FPS 15 ou +) protetor solar (FPS 30 ou +)

Prevenção Secundária Rastreamento individual ou Sem evidência de redução da Auto-exame para detecção
populacional para indivíduos incidência de melanoma ou precoce
de alto risco de melhores resultados com
o auto-exame Rastreamento oportunístico
Não definida a periodicidade
do rastreamento

[1] American Cancer Society - ACS: CA CANCER J CLIN 1998:48: 229-231 e 232-235
[2] Center of Disease Control (CDC)/ Morbidity and Mortality Weekly Report (MMWR). October 17, 2003/Vol.52/No. RR-15
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53
Benzeno, Xileno
e Tolueno

I. Introdução
Comumente os hidrocarbonetos ben- 2. Exposição humana
zeno, tolueno e xileno são chamados de
BTX. São considerados os principais com- No ambiente, o benzeno pode ser encon-
ponentes da gasolina e usados amplamen- trado no ar, água e solo. Uma das caracterís-
te como solventes pela indústria química. ticas mais importantes desta substância, com
grande repercussão na contaminação atmos-
férica, é seu alto poder de volatilização, devi-
do à alta pressão de vapor, da ordem de 95,2
II. Benzeno mmHg, a 25ºC (IPCS, 1993).

[Registro CAS n.º 71-43-2] A liberação do benzeno para o ambiente


pode ser feita através de fontes naturais e/ou
antropogênicas. O fato de ser um componen-
1. Definição te do petróleo faz com que seja naturalmente
encontrado nas proximidades de depósitos
O benzeno, cuja fórmula molecular é naturais de petróleo e gás natural, na concen-
C6H6, é um hidrocarboneto aromático que, tração aproximada de 0,8 µg/L. A ocorrência
nas condições normais de temperatura e de queimadas em florestas também contribui
pressão (CNTP), se apresenta sob a forma para sua presença no ambiente (IPCS, 1993;
líquida e incolor (FUNDACENTRO, 1995). IIA, 1998). Já a contribuição das fontes an-
É um composto orgânico volátil (COV) al- tropogênicas, estimada em mais de 90%, é
tamente inflamável, possui odor caracte- proveniente da exaustão e do abastecimento
rístico possível de ser identificado no ar de veículos, das emissões industriais e da fu-
em concentrações da ordem de 1,5 - 4,7 maça do cigarro (IPCS, 1993; ATSDR, 1997a;
ppm e na água a 2,0 ppm (ATSDR, 1997a). IIA, 1998).
O gosto de benzeno na água pode ser sen-
tido por muitas pessoas em concentrações A exposição humana ao benzeno se dá
que podem variar entre 0,5 a 4,5 ppm principalmente através do ar, sendo a via
(ATSDR, 1997a). respiratória a responsável por mais de 99%
da quantidade de benzeno presente no corpo
humano. A população, de uma forma geral,

54
se expõe ao benzeno, principalmente, pela 3. Efeitos sobre
fumaça de cigarro e pela inalação de ar con-
taminado, em áreas com intenso tráfego de
a saúde humana
veículo e ao redor de postos de combustíveis
(Wallace, 1996; IIA, 1998). Na atmosfera, o 3.1. Intoxicação aguda e crônica
nível de benzeno varia de 0,2 µg/m3, em áre-
as rurais, a 349 µg/m3, em centros industriais A exposição ao benzeno pode causar
(CETESB, 2001). O uso de água contamina- intoxicação aguda e crônica. É um agen-
da para cozinhar, para o banho etc., também te mielotóxico regular, leucemogênico e
pode configurar uma fonte de exposição pela cancerígeno, mesmo em baixas doses. Não
via respiratória em função da capacidade de existem sinais e sintomas característicos
volatilização do benzeno na água (Giardino ou típicos da intoxicação pelo benzeno, que
& Wireman, 1998; IIA, 1998). A exposição permitam diagnosticá-la e distingui-la de
ao benzeno também pode resultar da inges- outras moléstias.
tão de alimentos ou água contaminados.
O quadro clínico de toxicidade ao benzeno
Além da exposição ambiental, que aco- pode-se caracterizar pelo comprometimen-
mete a população geral, a exposição também to do sistema hematopoiético, sendo a causa
pode se dar ocupacionalmente, em ambien- básica de diversas alterações hematológicas.
tes industriais que utilizam a substância em Vários estudos têm demonstrado a associação
seus processos produtivos. entre a exposição ao benzeno e a ocorrência
de vários tipos de leucemia (IARC, 1987).
Várias indústrias utilizam benzeno como
intermediário da síntese de outras substân- Os sinais e sintomas mais freqüentes (em
cias químicas, como estireno, cumeno, ciclo- aproximadamente 60% dos casos) de intoxi-
hexano. O benzeno é ainda usado, ainda, nas cação por benzeno e derivados são: astenia,
indústrias de detergentes, de explosivos, far- mialgia, sonolência, tontura, infecções repe-
macêuticas, de inseticidas, de fotogravura, tidas. Os dados hematológicos mais relevan-
de borracha, de couro, de adesivos e colas, tes são: neutropenia, leucopenia, eosinofilia,
de plástico, de solventes e removedores de linfocitopenia, monocitopenia, macrocitose,
tintas, siderúrgicas, metalúrgicas, etc. (ATS- pontilhado basófilo, pseudo Pelger e plaque-
DR, 1997a; ATSDR, 1997b; Michel, 2000; topenia (MS, 2005). Nos estágios iniciais de
CETESB, 2001). Na indústria do petróleo é tais alterações hematológicas estes efeitos
usado em forma pura nos laboratórios, para parecem ser reversíveis. As exposições a al-
análise, e está presente como contaminante tas doses por longos períodos podem levar à
em diversos derivados, como gasolina, hexa- pancitopenia, resultante da aplasia da medu-
no, querosene, tolueno, entre outros. Encon- la óssea, sendo considerado um estágio irre-
tra-se presente em diversos outros produtos, versível da doença.
como tintas, colas e vernizes (Michel, 2000).
O diagnóstico da intoxicação pelo benzeno,
A população exposta ocupacionalmente de natureza ocupacional, é eminentemente
experimenta uma exposição ao benzeno bem clínico e epidemiológico, fundamentando-se
superior, em magnitude, àquela observada na história de exposição ocupacional e na
para a população geral. observação de sinais e sintomas clínicos

55
e laboratoriais. Em pessoas expostas a al- Portaria do Ministério da Saúde nº 776/
guma concentração de benzeno, todas as GM, de 28/04/2004: institui a Norma de
alterações hematológicas devem ser valo- Vigilância à Saúde dos Trabalhadores
rizadas, investigadas e justificadas (MS, expostos ao benzeno nos processos de
trabalho que produzem, utilizam, trans-
2005).
portam, armazenam ou manipulam
benzeno e, ou suas misturas líquidas.
Inúmeros estudos foram desenvolvi-
dos para a determinação dos efeitos dele- Portaria do Ministério da Saúde nº
térios do benzeno sobre a saúde humana. A 777/GM, de 28/04/2004: regulamenta
grande maioria foi realizada, considerando a notificação compulsória de agravos
a exposição ocupacional, invariavelmen- à saúde do trabalhador, contemplando
a notificação dos casos de intoxica-
te maior que a exposição ambiental. Esses
ção exógena, por substâncias quími-
estudos encontram-se referenciados em di- cas, e de casos de câncer relacionados
versas publicações que tratam dessa subs- ao trabalho.
tância, como Toxicological Profile for Ben-
zene (ATSDR, 1997a), Carcinogenic Effects Portaria Interministerial (Ministérios
of Benzene: An Update (US EPA, 1998), da Saúde e do Trabalho e Emprego)
nº 775/GM, assinada em 28/04/2004:
Environmental Health Criteria n.º 150 -
contribui para a redução da exposição
Benzene (IPCS, 1993), Paper Position Ben- humana ao benzeno, proibindo, em
zene (IIA, 1998), Air Quality Guidelines for todo o Território Nacional, a comer-
Europe (WHO, 2000), que, além de estudos cialização de produtos acabados que
epidemiológicos, apresentam também estu- contenham “benzeno” em sua compo-
dos toxicológicos. Estes estudos evidenciam sição, admitindo, porém, a presença
os efeitos tóxicos do benzeno, relacionados desta substância, como agente con-
à sua carcinogenicidade, hematotoxicida- taminante, em percentuais determi-
de, mielotoxicidade, neurotoxicidade, imu- nados. Esta Portaria estabelece ainda
notoxicidade, bem como os efeitos agudos a obrigatoriedade de que o rótulo de
qualquer produto acabado que con-
devido às exposições a altas concentrações
tenha mais de 0,01%, em volume, de
(Reis, 2003).
benzeno, indique a presença e a con-
centração máxima deste aromático.
Portaria do Ministério da Saúde nº
3.2. Carcinogenicidade 518/GM, de 25/03/2004: dispõe sobre
os procedimentos e responsabilidades
A Agência Internacional de Pesquisa em relativos ao controle e à vigilância da
Câncer (International Agency for Research on qualidade da água para consumo hu-
Cancer – IARC/OMS) classifica o benzeno no mano. Esta Portaria preconiza o valor
Grupo 1, ou seja, como uma substância quími- máximo permitido de benzeno na água
ca com evidências suficientes de carcinogenici- igual a 5 µg/L, a fim de garantir o seu
dade em seres humanos (IARC, 1987). padrão de potabilidade.

Dispositivos legais relacionados à exposição Portaria do Ministério do Trabalho e


humana ao benzeno Emprego nº 14, de 20/12/1995: a le-
gislação brasileira para a exposição
São dispositivos legais nacionais, em vi- ocupacional ao benzeno, instituída
gência, que dispõem sobre a exposição hu- pela Secretaria de Segurança e Saúde
mana ao benzeno: no Trabalho, do Ministério do Trabalho

56
e Emprego, considerando a inexistên- a seis casos de leucemia para cada um mi-
cia de limite seguro para a exposição lhão de pessoas expostas à referida con-
à substância, dada sua comprovada centração de benzeno durante toda a sua
carcinogenicidade, instituiu o Valor de vida. As concentrações de benzeno no ar,
Referência Tecnológico (VRT) como:
associadas a um caso de leucemia para
“... a concentração de benze- 10.000, 100.000 e 1.000.000 de expostos
no no ar considerada exeqüível do são, respectivamente, 17, 1,7 e 0,17 µg/m3
ponto de vista técnico, definido em (WHO, 2000).
processo de negociação tripartite. O
VRT deve ser considerado como re- A Agência Americana de Proteção Am-
ferência para os programas de me- biental (U.S.EPA) adota o mesmo conceito
lhoria contínua das condições dos da OMS e estima o risco de adoecimento
ambientes de trabalho. O cumpri- por leucemia da ordem de 2,5 x 10-6 a 7,1
mento do VRT é obrigatório e não x 10-6, para a exposição humana continu-
exclui risco à saúde.”(Segurança e ada ao benzeno à concentração de 1µg/m3
Medicina do Trabalho, 2002:211). (U.S.EPA, 1998; IIA, 1998).

Os valores a serem adotados No Brasil, os padrões de qualidade do


pelas empresas correspondem a ar, estabelecidos pelo Conselho Nacional do
2,5 ppm, para as indústrias side- Meio Ambiente (CONAMA), através da Re-
rúrgicas, e 1,0 ppm, para as quí- solução nº 003, de 28 de junho de 1990, de-
micas e petroquímicas (Segurança finem as concentrações de poluentes atmos-
e Medicina do Trabalho, 2002). féricos que, quando ultrapassadas, poderão
afetar a saúde, a segurança e o bem-estar
Instruções Normativas do Ministério do da população, bem como ocasionar danos
Trabalho e Emprego nº 01 e nº 02, de à flora e à fauna, aos materiais e ao meio
20/12/1995: definem, respectivamente, ambiente em geral. Esta Resolução não de-
critérios para Avaliação das Concen-
fine qualquer valor para a exposição não-
trações de Benzeno em Ambientes de
ocupacional ao benzeno.
Trabalho e de Vigilância da Saúde dos
Trabalhadores na Prevenção da Expo-
sição Ocupacional ao Benzeno.
4. Recomendações
Com relação à legislação internacional,
a Organização Mundial da Saúde (OMS), Ações efetivas devem ser desenvolvi-
em suas diretrizes para a qualidade do ar das para que haja eliminação da exposição.
na Europa, reconhece que o benzeno é uma Mas é sabido que a eliminação de alguns
substância carcinogênica para os humanos compostos dos ambientes de trabalho nem
e que nenhum limite seguro de exposição sempre é possível. Nestes casos, o impor-
pode ser recomendado. Preconiza, então, o tante é a adoção de medidas de redução da
cálculo de risco estimado por Crump, em exposição, além das medidas de proteção
1994, cuja média geométrica das estima- individual e coletiva (Rego, 2002). Uma ou-
tivas do excesso de risco de leucemia em tra medida importante é a informação de-
populações expostas, durante toda a vida, talhada para os trabalhadores acerca dos
a uma concentração atmosférica de 1µg/m3 efeitos deletérios que possam advir da ex-
de benzeno, é de 6,0 x 10–6. Isto equivale posição ao benzeno.

57
III. Xileno gasolina, tintas, removedores, vernizes e lí-
quidos que previnem a ferrugem; ao tomar
[Registro CAS 1330-20-7] água contaminada ou inspirar o ar próximo
a locais de descarte ou solo contaminado com
xileno. A quantidade de xileno nos alimentos
1. Definição é pequena (ATSDR, 1996).
O xileno é um líquido incolor, de odor doce,
facilmenteinflamável.Encontra-senaturalmen- A principal via de absorção do xileno
te no petróleo, no carvão e é também produzido é a inalação. Uma outra via importante é a
durante as queimadas. É possível sentir o xileno absorção do líquido através da pele. Porém,
no ar a 0,08-3,7 ppm e o seu gosto na água a apenas pequenas quantidades de xilenos não
0,53-1,8 ppm (ATSDR, 1996). são excretadas ou metabolizadas, podendo
permanecer no tecido adiposo. As exposi-
Existem três tipos de xilenos que são os ções repetidas podem causar acúmulo no
isômeros orto, para e meta, parte do grupo dos sangue (Patnaik, 2002).
hidrocarbonetos aromáticos, também chama-
dos de alquilbenzenos. São mononucleares, ou
seja, compostos por um único anel aromáti- 2. Efeitos sobre
co (Klaassen, 1996; Patnaik, 2002; CETESB, a saúde humana
2005). O xileno comercializado consiste tipi-
camente de 20% de o-xileno, 44% de m-xileno As propriedades tóxicas dos isômeros do
e 20% de p-xileno e cerca de 15% de etilben- xileno são semelhantes às do tolueno e do etil-
zeno (Klaassen, 1996). benzeno. Os órgãos alvo são o sistema nervoso
central, olhos, trato gastrintestinal, rins, fígado,
As indústrias químicas produzem o xile- sangue e pele (Patnaik, 2002). Níveis elevados
no a partir do petróleo. É um dos 30 principais de exposição por curtos períodos (14 dias ou
elementos químicos produzidos nos EUA, em menos) ou longos períodos (mais de 12 meses)
volume. É utilizado como solvente nas indús- podem causar dores de cabeça, falta de coorde-
trias de tintas, vernizes, revestimentos, borra- nação motora, tonteira, confusão e mudanças
cha e couro. É também utilizado como produto no senso de equilíbrio. A exposição a eleva-
de limpeza. Pode ser encontrado em pequena dos níveis de xileno em períodos curtos pode,
quantidade nos combustíveis utilizados em avi- também, causar irritação na pele, olhos, nariz
ões e na gasolina (ATSDR, 1996). Os isômeros e garganta; dificuldade de respirar; problemas
do xileno são usados na fabricação de corantes, pulmonares; retardamento; dificuldades de me-
drogas, pesticidas e muitos intermediários or- mória; desconforto estomacal e possibilidade de
gânicos, como o ácido tereftálico e andidrido alterações no funcionamento do fígado e rins.
ftálico (Patnaik, 2002). Em níveis elevados pode causar perda da cons-
ciência e até mesmo a morte (ATSDR, 1996;
O xileno evapora rapidamente quando ATSDR, 2004).
descartado no solo ou na superfície da água.
As pessoas podem ser expostas ao xileno Existem ainda estudos que relatam que
através do ar no ambiente de trabalho ou solventes como o benzeno, tolueno, xileno
através do exaustor do carro ao inspirar o ar dentre outros, podem afetar a capacidade
contaminado durante a manipulação de pro- reprodutiva feminina e masculina (Klaas-
dutos com xileno em sua composição, como sen, 1996).

58
2.1. Carcinogenicidade O carvão ativado pode ser usado para
indução de vômito, mas aumenta o ris-
A Agência Internacional de Pesquisa em co de aspiração pulmonar. Geralmente,
Câncer – IARC, classifica o xileno no grupo esta manobra não é recomendada.
3, ou seja, não carcinogênico para seres hu-
Exposição pela via respiratória
manos (IARC, 1999a).
Descontaminação: remover o pacien-
te para um lugar arejado. Monitorar a
2.2. Avaliação laboratorial respiração. Caso esteja tossindo ou com
dificuldades respiratórias, avaliar se há
Testes de laboratório podem detectar o obstrução no trato respiratório, irrita-
xileno ou produtos resultantes de sua quebra ção, bronquite ou pneumonia. Admi-
no ar exalado, sangue ou urina. A amostra de nistrar 100% de oxigênio umidificado
urina deve ser analisada rapidamente após o como suplementação.
contato com xileno e a exposição estimada
Os eletrólitos e os fluidos devem ser
pela análise dos metabólitos, ácidos metilhi-
monitorados. Em caso de intoxicação
púricos na urina, usando-se Cromatografia por xileno inalado pode haver hipoca-
Líquida de alta resolução (HPLC), colorime- lemia e acidose.
tria, ou Cromatografia Gasosa (GC) (Patnaik,
2002; ATSDR, 1996). CUIDADO: A hipocalemia pode influir
no fluxo corpóreo e na manutenção do
equilíbrio eletrolítico.
2.3. Tratamento
Recomendações pertinentes no caso de
contaminação humana por xileno (Ruma- 3. Medidas de segurança
ck, 2000)

Exposição pela via digestória. As principais medidas de segurança para a


saúde dos trabalhadores que se expõem ocupa-
Lavagem gástrica pode ser indicada cionalmente ao xileno, são o uso de luvas, bo-
para pacientes que ingeriram mais do tas e roupas de polietileno clorado, neoprene,
que 5ml de xileno, ou foram expostos a poliuretano e máscara facial panorâmica, com
uma grande concentração de benzeno. filtro contra vapores orgânicos. Como medidas
O potencial tóxico aumenta e pode ha-
preventivas, deve-se evitar contato com o lí-
ver risco de aspiração pulmonar. Deve
quido e o vapor, manter as pessoas afastadas,
ser considerado, também, se está ha-
vendo risco de vida por envenenamen- chamar os bombeiros em caso de vazamento
to por ingestão de xileno nas primeiras no meio ambiente (CETESB, 2005).
horas. O paciente deve ficar em posição
decúbito lateral para, se for o caso, fazer 3.1. Limites de tolerância
intubação endotraqueal.
100 ppm (~434 mg/m3) – American Conferen-
No caso de haver perda dos reflexos, ou ce of Governmental Industrial Hygienists (AC-
diminuição da consciência, o paciente GIH), MSHA e Occupation Safety Health Ad-
não deve ser intubado. ministration (OSHA)

Pacientes com risco de hemorragia ou máximo 200 ppm/10min – National Institute


de perfusão gastrintestinal não deverão for Occupational Safety and Health (NIOSH)
ser intubados. IDLH 1000 ppm – NIOSH

59
IV. Tolueno 2. Efeitos sobre
a saúde humana
[Registro CAS 108-88-3]
A toxicidade aguda do tolueno é seme-
lhante à do benzeno. As vias de exposição
1. Definição são inalação, ingestão e absorção através
da pele. Os órgãos afetados por esta expo-
O tolueno é um líquido incolor, com um sição são o sistema nervoso central, fíga-
odor aromático característico, não corrosi- do, rins e pele. É narcótico em altas con-
vo, inflamável, insolúvel em água, mas so- centrações (Patnaik, 2002; ATSDR, 2001;
lúvel em muitos solventes orgânicos (Pat- OSHA, 1996).
naik, 2002; ATSDR, 2004).
A exposição aguda ao tolueno decor-
É derivado do alcatrão, do carvão e do rente da inalação pode causar fadiga, sono-
petróleo. Ocorre na gasolina e em muitos lência, dores de cabeça, náusea, confusão,
outros solventes de petróleo. É utilizado falta de apetite. Estes sintomas geralmente
para produzir trinitrotolueno (TNT), tolue- desaparecem quando a exposição é inter-
no dissocianato e benzeno. É usado também rompida. A inalação em níveis elevados
como um ingrediente para corantes, drogas em períodos curtos pode causar tonteira
e detergentes e como um solvente indus- ou sonolência. Pode, igualmente, causar
trial para borrachas, tintas, revestimentos perda da consciência e mesmo a morte.
e óleos (Patnaik, 2002; ATSDR, 2004; CCO- Níveis elevados podem afetar os rins (Pat-
HS, 1999). O maior uso do tolueno é como naik, 2002; U.S. EPA, 2000; ATSDR, 2001;
uma mistura adicionada à gasolina (U.S. OSHA, 1996).
EPA, 2000).
Tem sido relatada a ocorrência de de-
Sinônimos: metilbenzeno, fenilmetano, to- pressão do sistema nervoso central em de-
luol, metilbenzol. corrência da exposição crônica. Os sinto-
mas incluem sonolência, tremores, atrofia
O tolueno é utilizado ainda, na produ- cerebral, movimentos involuntários dos
ção de polímeros de uso comum como o olhos, distúrbios da fala, da audição e da
nylon, plásticos e garrafas, poliuretanos, visão. Distúrbios comportamentais têm sido
produtos farmacêuticos, tinturas, esmaltes observados em trabalhadores ocupacional-
de unhas e sínteses de químicos orgânicos. mente expostos. Foram observados casos
Está presente também na fumaça do cigar- de irritação do trato respiratório superior,
ro (U.S. EPA, 2000). olhos, garganta, tonteira, dor de cabeça e
insônia (U.S. EPA, 2000).
As pessoas são expostas ao tolueno
quando inspiram o ar contaminado em seu
local de trabalho ou através de emissão 2.1. Carcinogenicidade
veicular; trabalham com gasolina, quero-
sene, óleo aquecido e tintas; consomem A Agência Internacional de Pesquisa em
água contaminada ou residem próximo Câncer – IARC (1999), classificou o tolue-
a locais contaminados por esse líquido no no Grupo 3, ou seja, não carcinogênico
(ATSDR, 2004). para seres humanos.

60
2.2. Avaliação laboratorial Inalação
Se vapores de tolueno forem inalados,
O tolueno é metabolizado em ácido ben- deve-se remover a vítima para um ambien-
zóico e em ácido hiúrico e benzoíla-glicurô- te aberto e chamar um médico logo que
nico. Estes dois últimos são excretados na possível. Se a vítima não estiver respirando,
urina junto com pequenas quantidades de promover a ressuscitação cardiopulmonar;
cresol, formados pela hidroxilação direta do se a respiração estiver difícil, dar oxigênio.
tolueno. A exposição crônica pode causar Manter a vítima aquecida e quieta até o au-
algum acúmulo de tolueno em tecidos gor- xílio médico chegar (OSHA, 1996).
durosos, podendo ser eliminado após algum
tempo (Patnaik, 2002). Ingestão
Não induzir o vômito. Se o tolueno ou
2.3. Tratamento a solução contendo tolueno for ingerido,
deve-se dar à vítima vários copos de água.
Os trabalhadores expostos a riscos quí- Procurar um médico imediatamente. Manter
micos devem ser monitorados e receber in- a vítima aquecida e quieta até a ajuda che-
formações sobre os riscos relacionados ao gar (OSHA, 1996).
trabalho, detecção precoce dos efeitos ad-
versos à saúde e sobre locais de referência Socorro
capacitados para o diagnóstico e tratamen- Afaste o trabalhador incapacitado para
to. As avaliações médicas devem ser reali- fora do local da exposição e implemente os
zadas antes da contratação, periodicamente procedimentos de emergência apropriados
durante o exercício da função (identificar (OSHA, 1996).
efeitos adversos do tolueno no sistema ner-
voso central ou pele), e no momento da Métodos efetivos no controle da exposição
transferência ou término da função. Deve- ao tolueno no local de trabalho (dependendo
se comparar a última avaliação do estado de da viabilidade) (OSHA, 1996).
saúde com o do primeiro exame realizado As fontes de emissão, na medida do
(OSHA, 1996). possível, devem ser enclausuradas.

Olhos Os ambientes de trabalho devem ser


providos de sistemas de ventilação ge-
Se o tolueno ou uma solução contendo
ral e de exaustão.
tolueno cair nos olhos, eles devem ser la-
vados com uma quantidade grande de água A utilização do equipamento de prote-
corrente, no mínimo por 15 minutos. Se a ção individual (EPI) deve ser garantida.
irritação persistir, deve-se procurar assistên-
cia médica, o mais rápido possível (OSHA,
1996). 3. Medidas de segurança
Pele As roupas contaminadas com tolueno
Se houver contato com a pele, deve-se devem ser removidas imediatamente. As
lavar a pele com água corrente por pelo me- pessoas que lavarão as roupas devem ser
nos 15 minutos, seguindo-se uma lavagem informadas sobre os riscos do tolueno, par-
com água e sabão. Se a irritação persistir, o ticularmente sobre seu potencial em causar
médico deve ser consultado (OSHA, 1996). danos à pele (OSHA, 1996).

61
Um trabalhador que manipula o tolue- Os grandes derramamentos serão conti-
no deve lavar com intensidade as mãos e o dos em diques para contenção do líqui-
antebraço. Deve lavar, também, o rosto com do de/com tolueno e posterior descarte.
água e sabão antes de se alimentar, fumar ou
usar o banheiro (OSHA, 1996).
3.2. Equipamento de proteção
individual
Os trabalhadores não devem comer, be-
ber ou fumar em áreas onde o tolueno ou Os trabalhadores que têm contato com o to-
solução com tolueno está sendo manipulada, lueno devem utilizar roupas específicas de prote-
processada ou estocada (OSHA, 1996). ção, para evitar o contato com a pele. As roupas
devem ser feitas com polivinil álcool, teflon e
viton, que fornecem proteção por períodos supe-
3.1. Procedimentos relacionados
riores a 8 horas. Para proteção entre 4 e 8 horas,
a acidentes: vazamentos e
podem-se usar roupas com mistura de polietile-
derramamentos no/etileno vinil álcool (OSHA, 1996).

Como proceder (OSHA, 1996) Óculos e protetores faciais devem ser


utilizados durante as operações em que o
Não toque no material derramado; in-
tolueno pode ter contato com os olhos (ex.
terrompa o vazamento se for possível
fazê-lo sem riscos. através dos esguichos da solução). Lentes de
contato não devem ser utilizadas.
Notifique a equipe de segurança.

Remova as fontes de inflamáveis e de 4. Limites de tolerância


calor. 100 ppm (~ 375 mg/m3) – American Confe-
rence of Governmental Industrial Hygienists
Ventile a área.
(ACGIH), MSHA e Occupation Safety Health
Borrifos de água podem ser utilizados Administration (OSHA)
para reduzir o vapor, mas não previnem 200 ppm/10min (~750 mg/m) – OSHA
o risco de fogo em locais fechados.

Os pequenos derramamentos devem ser Segundo manual publicado pela CETESB


cobertos com areia ou outro material (2005), valores de 300 ppm causam irritação
absorvente não combustível e que pos- nos olhos e sintomas de mal estar; a 1000
teriormente será colocado em containe- ppm = 3830 mg/m3, 60 min, causa efeitos
res fechados, para posterior descarte. tóxicos severos.

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