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PARA ONDE CAMINHA A EUROPA

Demetrio Carneiro

Houve, nos primeiros momentos da crise, uma forte percepção por


parte da esquerda européia, mas não só ela, de que as
contradições acabariam levando na direção do projeto socialista.
Em parte, muitos ainda apostam nesta hipótese.

O fundamento está na lógica marxista de que crises aprofundam


contradições e que contradições aprofundadas movimentam a
história na direção do inevitável.

Podemos começar dividindo a Europa em dois campos bem


distintos: a Europa “próspera” da Comunidade Européia e a Europa
“emergente” do Centro e do Oriente.
A Europa emergente é um comboio cuja locomotiva é a Europa
próspera, da mesma forma que o Brasil é um vagão de um
comboio, atrelado que está à locomotiva chinesa.

Nesses tempos de globalização econômica, coube à Europa


emergente acomodar parte dos serviços e indústria que o alto custo
da mão de obra deslocou do centro para a periferia, usando a
antiga, mas ainda funcional linguagem da Teoria da Dependência.
Decidida a divisão de trabalho continental caberia ao centro o novo.
A sociedade do conhecimento, cantada em prosa e verso, teria sua
expressão forte nos investimentos em inovações e novas
tecnologias e o capital principal seria o intangível: a produção desse
conhecimento. Sua distribuição e comercialização uniriam as três
cadeias clássicas da economia.

A crise desacelerou a locomotiva. O comboio perdeu o passo e


hoje a inclinação do voto na Europa Central é mais para a direita do
que na direção da simpatia das esquerdas. Se a crise na Europa
próspera apresenta altos e baixos, alternando bons e maus
momentos, na Europa emergente ela toma aspecto mais complexo,
dado inclusive aos precários mecanismos de proteção social.

Do lado da Europa próspera, parceira dos benefícios da bolha


especulativa americana, aparentemente a solução era simples: a
retomada, cantada em prosa e verso, do projeto keynesiano, com a
finalização do projeto neoliberal.
Enquanto os economistas que alertavam para a necessidade
estratégica de recompor a confiança dos agentes de mercado eram
ignorados, economistas que defendiam o estímulo à demanda
agregada via gasto público, o fortalecimento do aparelho do Estado,
eram incensados. É que para eles o socialismo estava logo ali na
esquina.

O economista Dan Rodrik desenvolveu uma interessante questão,


que chamou de trilema(1): Não haveria como alinhar a integração
econômica, o Estado nacional e a democracia.
Algo como não haver meios de manter a integração econômica
anterior, sem invadir a área de privacidade dos Estados nacionais,
desrespeitando as vontades das populações locais. Manter a
vontade das populações locais implicaria em deter a integração
econômica por conta dos movimentos de defesa das economias
nacionais.

Ele exemplifica a situação com os Estados Unidos: se alguém perde


emprego na Califórnia pode ir para a Flórida buscar oportunidades.
Ou se alguém está desempregado em qualquer ponto do território
americano receberá sempre o seguro-desemprego. Na União
Européia, contrariamente, as barreiras nacionais ainda importam e
muito.

Não parece haver um caminho para que a Europa Ocidental saia


unificada da crise atual, embora tenha parecido que a unificação e
seu aprofundamento seriam a solução.
O fato é que a estratégia macroeconômica keynesiana não trouxe a
esperada solução e acabou gerando uma crise fiscal que, em algum
momento, cobrará a sua conta. Geralmente o custo é o baixo
crescimento. Baixo crescimento em um quadro natural de baixo
crescimento.

Em linhas gerais, a economia mundial parece estar muito longe de


uma recuperação sustentável de longo prazo. Ainda se discute o
padrão, mas certamente a curva não aparenta ter semelhança com
o esperado “V”, quer dizer “crise/depressão/recuperação dos níveis
anteriores”. As indicações, mesmo com flutuações positivas,
apontam mais para o “L”. Enfim: “crise, depressão e recuperação
em padrões bem inferiores”.

Mais do que tudo uma recuperação em “L” irá trazer outro dilema e
não se trata de exercer políticas públicas de garantias sociais ou
não: o “estilo” de consumo da Europa Ocidental é muito semelhante
ao estilo de consumo americano. Europa Ocidental, menos, e EUA
travaram suas economias numa expansão econômica estimulada
por um tipo de consumo além de sua capacidade produtiva.
Transformaram-se em “sociedades de gasto”. Na inexistência de
uma nova bolha, a sustentabilidade dessas economias terá que
passar por uma revisão nos padrões de consumo e na formação de
poupança interna, estatal e familiar. Parece o Brasil?

Da mesma forma, essas economias terão que ser repensadas


quanto ao papel de suas indústrias e serviços. Alemães, por
exemplo, eram os maiores produtores mundiais de células
fotovoltaicas. Não são mais. Os chineses, com pesados
investimentos em tecnologia, desenvolveram painéis solares mais
eficientes e hoje são os maiores produtores mundiais no ramo.

O que se vê na Europa Ocidental são movimentações claras de


fortalecimento do Estado nacional, na direção inversa do esperado
internacionalismo precursor do socialismo.
De momento, o que parece importante para o movimento socialista
não é apenas a defesa das garantias mínimas e do emprego, ação
que fortalece o Estado nacional, embora necessária.
De momento, o que parece também importante é a discussão do
próprio conceito de crescimento e desenvolvimento e sua relação
com a qualidade e a intensidade do consumo das famílias.

Hoje, mais que antes, o socialismo deve debater o futuro de olho


não em formulações conceituais, mas na experiência do presente.
Não é um apelo ao estoicismo auto-punitivo, mas ao emprego mais
racional dos recursos em oposição a um estilo de consumo
perdulário.
É, em síntese, uma questão de coesão, cidadania e democratização
do Estado, também.
Lembra alguma coisa?

(1)
http://www.alternativabrasil.org/2010/05/o-trilema-de-dan-rodrik.html

Texto publicado originalmente na Revista Política Democrática n°27


Julho 2010

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