Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
SUMÁRIO
1. Apresentação............................................................................................... 05
1.1. Estrutura do Relatório Conclusivo....................................................... 05
1.2. Constituição e composição da CPI “da Pedofilia” e do Enfrentamento à Violência
Sexual Infanto-Juvenil ........................................................ 07
1.3. Estrutura e funcionamento da CPI “da Pedofilia” e do Enfrentamento à Violência
Sexual Infanto-Juvenil......................................................... 09
2. Historiografia da infância e adolescência.................................................... 10
2.1. A sexualidade e a sua tratativa jurídica influenciando no Sistema de Garantia de
Direitos........................................................................................... 15
2.2. Histórico de Iniciativas Nacionais e Internacionais na Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente............................................................... 19
3. Comissão Parlamentar de Inquérito: Conceito e Institucionalidade............ 37
3.1. A história da CPI no Direito estrangeiro.............................................. 37
3.2. A história da CPI no ordenamento jurídico brasileiro.......................... 41
3.3. A CPI a partir da Constituição de 1988................................................ 43
4. A CPI na Câmara Municipal de São Paulo.................................................. 48
4.1. Regimento Interno da Câmara Municipal de São Paulo....................... 51
4.2. Fato Determinado................................................................................. 55
4.3. Histórico de CPIs Municipais na cidade de São Paulo – Temáticas pertinentes à
Infância e Juventude.........................................................57
5. CPI “da Pedofilia” e do Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-
Juvenil.......................................................................................................... 59
5.1. Composição e respeito ao pluralismo político...................................... 59
5.2. Apresentação da Metodologia de Trabalho da CPI: Fases: Diagnóstico, Investigação
e Intervenção................................................................... 61
6. Fase do Diagnóstico.............................................................................. 63
6.1 A Pedofilia e a Violência Sexual de Crianças e Adolescentes: marcos situacionais e
normativos........................................................... ....................... 65
6.1.1 Marcos situacionais............................................................. 67
6.1.2 Marcos Teórico-prático: sanitário e normativo................... 70
6.1.3 Algumas formas de Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes........................................................................ 75
6.1.3.1 Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes.............. 75
6.1.3.2 Exploração Sexual Comercial de Crianças e
Adolescentes............................................................ 83
6.1.3.3 Pornografia Eletrônica de Crianças e
Adolescentes........................................................... 93
6.1.4 Âmbito territorial de atuação desta CPI: o Município de São
Paulo................................................................................... 101
6.1.4.1 Abuso Sexual contra Crianças e Adolescentes....... 102
6.1.4.2 Exploração Sexual Comercial de Crianças e
Adolescentes........................................................... 107
6.1.4.3 Pornografia Eletrônica de Crianças e
Adolescentes........................................................... 118
7. Fase de Investigação................................................................................... 119
7.1 Sessões Investigativas........................................................................... 121
7.1.1 CMESCA............................................................................. 121
7.1.2 CREAS................................................................................ 122
7.1.3 Hospital Pérola Byington.................................................... 123
7.1.4 Projeto Quixote .................................................................. 124
8. Fase de Intervenção.................................................................................... 125
8.1 O Direito à Sexualidade Saudável no Sistema de Garantia de
Direitos.................................................................................................. 125
8.2 Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente............ 126
8.2.1 Promoção de Direitos.......................................................... 130
8.2.2 Defesa de Direitos............................................................... 142
8.2.3 Controle da Efetivação dos Direitos.................................... 153
9. Constatações e Análise Crítica Propositiva ................................................ 157
9.1. Dos aspectos formais da CPI................................................................ 157
9.1.1 Dinâmica da Comissão Parlamentar de Inquérito “da Pedofilia” e do
Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil.............................. 158
9.1.2 Retomada dos preceitos e finalidades de uma CPI no contexto da Comissão
Parlamentar de Inquérito “da Pedofilia” e do Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-
Juvenil.................................................................165
10. Conclusões.................................................................................................. 170
11. Sistematização das Notas taquigráficas.................................................................................
180
12. Bibliografia................................................................................................. 213
13. Legislação Consultada................................................................................ 215
14. Anexos........................................................................................................
14.1. Requerimento de Instalação, nº 0019/2009....................................
14.2. Notas Taquigráficas – Equipe de taquigrafia.................................
14.3. Documentos produzidos no âmbito da CPI – Secretaria das
Comissões/Administrativo..................................................................
14.4. Apresentação da Assessoria Técnica da Câmara Municipal - Secretaria das
Comissões/Assessoria Técnica.....................................................
1) APRESENTAÇÃO
Em seguida há uma historiografia da criança e adolescente que abrange uma análise inicial
sobre a evolução sócio-cultural e jurídica no tratamento do público infanto-adolescente, nacional e
internacionalmente, discorrendo com ênfase na questão relacionada à sexualidade.
Posteriormente a estes tópicos introdutórios nos centramos em tratar do contexto desta CPI
especificamente, que teve a sua funcionalidade determinada por um parâmetro metodológico
bastante inovador a partir de sua divisão em três fases específicas de trabalho: Diagnóstico,
Investigação e Intervenção.
1.2.1 Texto do Vereador Relator (Carlos Alberto Bezerra Junior, retratando suas
expectativas quando da decisão em compor o quadro de Vereadores desta CPI, bem como da
designação como Relator)
“Requer a constituição de CPI, com base no art. 33 da Lei Orgânica do Município, para
averiguar casos de pedofilia, especialmente quanto à existência de rede de pedófilos no
âmbito do Município de São Paulo”
1.2.5 Da Instalação
• Demais membros:
Floriano Pesaro (PSDB)
Juliana Cardoso (PT)
Netinho de Paula (PC do B)
Sandra Tadeu (DEM)
1.2.6 Da aprovação de requerimento para ampliação do foco e alternância do nome desta CPI,
que a partir de 02 de abril, passou a se chamar:
1.3.2 Funcionamento:
b) Periodicidade: quinzenal (às quintas- feira, das 11h00 às 13hs, Plenário - 1º de Maio)
Para não nos afastarmos muito e perdermos o foco das nossas preocupações, porém sem
perder a dimensão das mudanças ocorridas, queremos lembrar que há 500 anos, o infanticídio era
uma prática que carecia de regramentos legais que lhe impusesse limites, o que determinava
claramente que as crianças não tinham nenhuma importância para a sociedade da época, onde
sobreviver era uma fatalidade!
Um fato importante, a título de exemplo, que foi tratado exaustivamente e trazido para o
interior de nossos lares através da mídia, foi a morte, em 1973, da menina de 9 anos, chamada
Araceli Cabrera Crespo, cuja comoção nacional veiculada nas emissoras de grande audiência se
deu especialmente por tratarem-se os violadores de família tradicional. Fato é que este marcante
episódio nos obrigou a espiar nossa omissão frente às inúmeras mortes infantis que acontecem
no Brasil anualmente pela ação violenta dos adultos, o que nos evidencia a preocupação com
uma cultura que ainda não foi rompida totalmente. Devido a este fatídico episódio, e para
contribuir sempre a lembrança nacional sobre tais violações, por intermédio da Lei Federal
9.970/2000, instituiu-se o “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças
e Adolescentes”.
Essas matrizes autoritária e arbitrária, muitas vezes violentas, apesar do grande esforço de
desconstrução iniciado no século XX, acompanha-nos até os dias atuais, somente tendo espaço
em nossa sociedade porque a maioria de nós não tem ainda o entendimento de que existe uma
grande diferença do universo adulto com o universo do infanto-adolescente, cujo público se
encontra em fase especial de desenvolvimento biológico e cognitivo, que necessita de cuidados
múltiplos por parte dos adultos, assim como de um ambiente social saudável, para que o mesmo
possa desfrutar com plenitude e salubridade desta peculiar fase da vida inerente a todos os seres
humanos.
É dentro desse contexto, de descaso e incompreensão em relação ao ser criança e ser
adolescente, que encontramos um tipo especial de violência, objeto de nossos trabalhos nesta
Comissão Parlamentar de Inquérito: Violência de cunho sexual de sobremaneira ofensiva à
sexualidade de meninos e meninas.
Assim, podemos concluir que é nas relações de gênero que identificamos um nebuloso
pano de fundo à violência sexual. Pois, a relação de poder que se estabelece entre um adulto e
uma criança, encontra parâmetro e relativa aceitação social na relação primariamente classificada
entre homem e mulher.
Retomando períodos históricos – fonte principal dos estudos sobre Violência -, através dos
poucos registros encontrados na historiografia da criança, verificamos que na cultura
sacramentada na Bretanha do século XIX, as pessoas eram subjugadas por seu gênero, e, neste
mesmo sentido, valoradas desde o nascedouro. Segundo o historiador Colin Heiwood, quando
nasciam os meninos as igrejas badalavam seus sinos por três vezes e os recebiam com enorme
festa, quando eram meninas que nasciam, badalavam-se por apenas duas vezes seus sinos e a
sua recepção era feita sem muito ânimo, pois eram tidas como “o produto de relações sexuais
corrompidas pela enfermidade, libertinagem ou a desobediência a uma proibição”. (HEYWOOD,
2004)
Certamente, como podemos observar nos dias atuais, migramos bastante de parâmetros
de comportamento, mas, infelizmente, ainda não o suficiente, a ponto de superarmos o paradigma
adultocêntrico e androcêntrico, ainda muito vivo em nossa sociedade.
Outro aspecto relevante a se considerar faz parte do lócus no qual se dá, com maior
freqüência, a violência sexual, em especial, a sua vertente Abuso Sexual, pois, logo,
surpreendentemente, as pesquisas realizadas recentemente indicam que a maior incidência dos
casos ocorre no espaço privado, e, em maior parte, na casa da própria criança abusada.
Percebemos, então, que encontramos um dos cernes de questão importante a ser
compreendida: a violência se configura como um crime de gênero, fruto de uma cultura machista-
patriarcalista, que “permite” que os homens adultos submetam as crianças e adolescentes,
principalmente do sexo feminino, aos seus desejos sexuais. Essa é pedra fundamental das
relações humanas encontrada ao longo da história, e também dos Trabalhos desta Comissão
Parlamentar de Inquérito.
Essas questões têm sido enfrentadas pela sociedade desde o começo do século passado,
a relação de força imposta às mulheres pelos homens passa a ser questionada pela sociedade,
passando em dado momento a ser também condenável não somente esta relação de poder, mas
também a praticada contra as crianças e adolescentes. Este questionamento e engajamento
realizados através de árduas lutas cravaram-se na História com o advento das conquistas dos
direitos das mulheres, os quais repercutiram, entre outras dimensões, na consagração dos direitos
das crianças e adolescentes, a fim de impor limites ao poder estabelecido a partir destas relações.
Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.”
Cabe-nos observar que o ordenamento jurídico vigente não firma e garante o “direito à
sexualidade” das crianças e adolescentes de forma positiva, ou seja, não traz explícita e
objetivamente a sua garantia formal, afirmando-o como um direito humano expressamente
normatizado. A opção político-social feita, naquele momento histórico, foi de tratar deste direito
negativamente, ou seja, preferiu garanti-lo a partir do combate e do enfrentamento à violação do
referido direito.
Esta opção não está alheia ao processo que há séculos vem acompanhando as
concepções referentes à peculiar fase da vida correspondente à infanto-adolescência. Isto porque
o vácuo propositalmente deixado pelo poder público na política direcionada às pessoas menores
de 18 anos foi preenchido significativamente ao longo da história pela instituição religiosa, tendo
este fato uma peculiar influência na negação histórica do debate sobre a sexualidade como um
direito humano das crianças e adolescentes.
Frisa que aqui não queremos tomar partido, mas simplesmente relatar fato historicamente
conhecido, rememorando os subsídios históricos que influenciaram e ainda influenciam na
negação subjetiva e objetiva de direitos, e que indiretamente permeia a política direcionada as
crianças e adolescentes – a qual especialmente nos interessa enquanto objeto de investigação
desta Comissão.
É pertinente chamar a atenção que esta consagração sob o parâmetro negativo do direito
à sexualidade teve, ainda, uma forte conotação combativa punitiva, pois, ao contrário da não
positivação direta do direito à sexualidade, o infrator sexual mereceu referência direta pelo
legislador constituinte (§ 4º do art. 227 da Constituição) – e indireta pelo legislador estatutário (art.
5º do ECA).
(...)
É verdade que este enfoque exacerbado ao infrator, como já dito, deve-se em grande parte
aos nossos antecedentes histórico-cultural, no entanto, é fundamental enfatizarmos que não se
trata esta da única leitura possível do direito à sexualidade da criança e de sua conseqüente
proteção. Neste sentido, devemos lembrar, que tendo como ponto de partida uma outra análise
interpretativa, antes mesmo de firmar o combate à violação dos direitos, a Constituição impele no
caput do art. 227 o dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, com absoluta
prioridade, à criança e ao adolescente, uma série de direitos, dentre os quais incluem-se a
dignidade e à saúde (física e psicológica), colocando-os a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, violência e crueldade. Eis aí o embasamento integral desta Comissão Parlamentar
de Inquérito, que contrariamente a sistemática socialmente consagrada de protagonizar o
criminoso, elegeu a criança como protagonista única de nossas “lentes” parlamentares.
Para reforçar o sentido desta CPI e por entender que os marcos que se seguem neste
tópico foram importantes para se pautar questões relacionadas à garantia dos direitos das
crianças e adolescentes no Parlamento, consignamos aqui uma retrospectiva cronológica de tais
marcos, iniciando com a primeira CPI nacional voltada à discussão da situação da infância.
1975/76
Comissão Parlamentar de Inquérito do Menor Abandonado
Iniciativa: Câmara dos Deputados;
Fator de Mobilização: Dimensão e perigo da marginalização do menor desamparado.
Menores carentes denunciam a realidade brasileira: pobreza, crescimento demográfico (53%
da população na faixa etária de 0-19 anos), processo de distensão política, denuncias.
Questões de Luta: Investigação do problema do menor no país, subsídios às autoridades
públicas, principalmente ao Poder Executivo; conscientização da sociedade para uma ampla
mobilização nacional contra os fatores e efeitos da marginalização social; violência policial e
institucional.
Em meados dos anos 1970, a sociedade civil questionava o sistema de atendimento aos
menores. Devido ao acirramento das desigualdades sócio-econômicas, muitas famílias
partiram em busca de estratégias para sua sobrevivência. A rua foi o espaço encontrado.
Cresceram os índices de abandono e violência contra essa população. Movimentos populares
se organizaram para trabalhar com a questão.
A partir de 1975, têm início experiências alternativas junto às comunidades. Ocorre, no
movimento social, uma fase conhecida como denuncismo, propondo a idéia de defesa jurídica
dos menores e denúncia do modelo oficial. No mesmo ano, é instalada a CPI do Menor
Abandonado, que indicava a falência da PNBEM (Política Nacional do Bem-Estar do Menor) e
a urgente necessidade de atualização do Código Mello Matos.
A proposta era de apenas “atualizar”, e não mudar. Alegava-se que o Brasil não estava
preparado para mudanças. E, também, que os juízes não a autorizariam. Denúncias das
realidades presentes nas instituições para crianças e adolescentes carentes e de abusos nas
FEBEMs (Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor) povoavam a imprensa, com
destaque para o ano de 1975.
O testemunho de Lia Junqueira, na CPI, indignou diversos setores da população. Nele,
mostrou-se o funcionamento das FEBEMs, tomando como exemplo a unidade Sampaio Viana,
na qual 580 crianças de até seis anos eram atendidas por trinta pessoas. Muitas morriam por
falta de cuidado, algumas sufocadas por mamadeiras ou até por travesseiros. Outros autores
adicionavam detalhes às denúncias da CPI. Luppi (MORAIS, 1981) listou 23 formas de tortura
praticadas nas FEBEMs, incluindo lesões com vassouras, isolamento em solitárias sem
circulação de ar, uso de espetos nos órgãos sexuais, uso de tranqüilizantes, afogamentos,
violências sexuais, indução ao suicídio e choques elétricos. A CPI confirmou algumas dessas
denúncias, e as FEBEMs passaram a ser percebidas pelo público não somente como
incompetentes, mas como eivada de métodos autoritários e violentos.
Falta de unidade interna, instabilidade política, disputas pessoais e corporativas e falência
administrativa juntavam-se a rebeliões cada vez mais violentas, promovidas pelos internados.
Estas refletiam rejeição contra maus tratos, superpopulação, falta de atividades e, em alguns
casos, manipulação do comportamento dos jovens, por técnicos e monitores, contra
administrações progressistas (BIERRENBACH, 1987; MORAIS, 1981).
1979
Ano Internacional da Criança
Iniciativa: ONU/UNICEF.
Fator de Mobilização: Revisão das condições gerais de vida da população infantil; avaliação
de serviços e programas; realização de estudos, elaboração de planos, tornar publicas as
questões relativas à situação das crianças; captação de recursos; sensibilização dos países
industrializados para a situação vivida pelos menores nos países em desenvolvimento.
Questões de Luta: Estabelecimento de base de referência para defesa da criança e
conscientização de dirigentes acerca de suas necessidades fundamentais; inclusão da
questão da criança nos planos de desenvolvimento social e econômico.
O ano de 1979 foi proclamado, pelas Nações Unidas, o Ano Internacional da Criança. A
proclamação foi oficialmente assinada no 1º de Janeiro de 1979. Objetivo: voltar as atenções
sociais e governamentais para os problemas que afetavam as crianças em todo o mundo,
como a desnutrição e a falta de acesso à educação.
1979
Promulgação do Código de Menores
Em 10/10/1979, ano que foi escolhido para ser o “Ano Internacional da Criança”, foi
promulgado o “Novo” Código de Menores, cuja aprovação provocou a ampliação do debate
sobre a infância. O Código pautava-se pelo direito assistencial e autoritário e por métodos e
práticas coercitivos.
Nesse período, a Igreja Católica atuou nos espaços de atendimento a criança e adolescente
através das Comunidades Eclesiais de Base e Pastorais Sociais, sendo sua prática alternativa
ao modelo formal, institucional. É criada, então, a Pastoral do Menor.
1979
Pastoral Ecumênica do Menor
Iniciativa: Igreja Católica/CNBB
Fator de Mobilização: Caráter desumano do atendimento institucional; necessidade de novas
alternativas de atendimento; quebra do ciclo perverso gerado pela institucionalização.
Questões de Luta: Humanização do atendimento, valorização do atendimento não
institucionalizado; atendimento no seio da comunidade; melhoria da qualidade do atendimento
prestado;
1979
Movimento de Defesa do Menor
Iniciativa: Advogados, jornalistas, profissionais liberais e parlamentares
Fator de Mobilização: Denúncias sobre a morte de meninos residentes em bairros da
periferia territorial dos grandes centros urbanos e; a situação de degradação vivida pelos
menores institucionalizados.
Questões de Luta: Enfrentamento à violência policial e institucional sofrida pelos menores.
O Movimento de Defesa do Menor (MDM) foi um aglutinador de forças para lutar pelos direitos
da criança. Este Movimento passou a denunciar qualquer instituição fechada, instituições
totais, quando do uso da violência nas mesmas, compreendendo-se, por fim, que a própria
institucionalização é, em si mesma, um ato de violência.
1979/80
Associação dos Ex-Alunos da FUNABEM (Fundação Nacional para o Bem-Estar do
menor).
Iniciativa: Ex- Internos da FUNABEM
Fator de Mobilização: Organização para reivindicação dos direitos de cidadania
Questões de Luta: Reparação de direitos, mudança na concepção do atendimento; alteração
da estrutura organizacional e política da instituição
Em 1979, a Associação dos ex Alunos da FUNABEM, foi fundada cujo propósito era lutar
contra a discriminação dos ex-alunos e a institucionalização do menor.
1982
Eleições Democráticas Estaduais para Governador
Iniciativa: Partidos incluem em seus programas a questão da infância.
Fator de Mobilização: Pesquisa de opinião levanta ser esta uma das principais preocupações
da população.
Questões de Luta: Fim das instituições totais; revisão das diretrizes dos órgãos responsáveis
pelo atendimento de menores; envolvimento da comunidade.
Em 1982, devido às eleições diretas para governador, os candidatos começam a incluir a
infância em seus programas. As principais propostas foram: fim das instituições totais, revisão
das diretrizes dos órgãos responsáveis pelo atendimento e o envolvimento da sociedade civil.
1982
Projetos Alternativas de Atendimento à Criança e ao Adolescente
A fase pioneira, experimental, da ESR durou cerca de quatro anos, apoiada, entre outros, por
Unicef e Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), que implantaram, em 1982, o
Projeto Alternativas de Atendimento aos Meninos de Rua. Seu principal objetivo: desenvolver
abordagens de intervenção comunitária, a partir da idéia de que uma adequada atenção às
crianças e adolescentes 'de rua' e 'na rua', implicando envolvimento com suas comunidades
de origem. O Projeto consistia na disseminação e avaliação das experiências dos educadores
da Praça da Sé e de alguns projetos de base comunitária, considerados de sucesso, e
principalmente voltados para o problema do desemprego.
1983
Revisão das diretrizes da FEBEM
Iniciativa: Governo Estadual de São Paulo, Secretaria, FEBEM
Fator de Mobilização: Violência Institucional: péssimas condições de atendimento
Questões de Luta: Falência das instituições totais; descentralização, projetos alternativos.
Em decorrência das eleições para governador, as diretrizes das FEBEMs foram sendo
revistas. Houve a criação de programas municipalizados, priorizando o atendimento na
comunidade, com a possibilidade de superar o modelo de atendimento das instituições totais.
1984
I Seminário Latino-Americano de Alternativas Comunitárias a Meninos e Meninas de
Rua
Iniciativa: UNICEF/SAS/FUNABEM
Fator de Mobilização: Busca de alternativas ao atendimento institucionalizado. Conhecer o
trabalho realizado por organizações comunitárias
Questões de Luta: Falência da Política Nacional do Bem Estar do Menor.
Em 1984, o Projeto de Alternativas patrocinou o Primeiro Seminário Latino-Americano de
Alternativas Comunitárias para Crianças de Rua, em Brasília. Nesse Seminário vários grupos
comprometidos com a causa das crianças de rua, reconhecendo que a ESR caracterizava um
movimento político, resolveram oficializar o movimento como tal. Surgiu, aí, uma organização
não-governamental com futuro e promissor reconhecimento na causa da criança e do
adolescente: o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), que
apresentava como um princípio básico o fortalecimento das práticas libertárias que
considerem meninos e meninas de rua como agentes de suas próprias vidas, promotores de
uma nova sociedade justa, fraternal e participativa, em conjunto com todos os segmentos
oprimidos que hoje lutam por sua liberdade.
1985
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua - MNMMR
Iniciativa: Educadores dos Meninos do projeto chamado “Alternativas”.
Fator de Mobilização: Atrasada concepção de criança e adolescente; alteração do
atendimento.
Questões de Luta: Cidadania de crianças e adolescentes; crianças e adolescentes sujeitos
de direitos.
Com a retirada do apoio ao Projeto de Alternativas por parte do Governo Federal, a UNICEF
sugeriu a criação de um grupo/entidade. Em junho de 1985, o Movimento promoveu seu
primeiro encontro nacional, em Brasília. Um ano depois promoveu, também em Brasília, o
Primeiro Encontro de Meninos e Meninas de Rua, patrocinado por Unicef, Funabem e
Misereor. Esse Encontro passou a realizar-se, a cada três anos, em Brasília, com freqüências
de mais de mil crianças e adolescentes de todo o país.
Em 1985, aconteceu o Encontro Nacional de Grupos de Trabalhos Alternativos e, conforme
citado, a criação da organização popular Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua,
composta basicamente de voluntários, que buscavam, através do engajamento e da
participação das próprias crianças e adolescentes, a conquista e a defesa de seus direitos de
cidadania
1985
Frente Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente
Iniciativa: Dirigentes Municipais
Fator de Mobilização: Municipalização dos programas de atendimento ao menor.
Questões de Luta: Descentralização/municipalização das ações; propostas para a
Assembléia Nacional Constituinte e à Nação Brasileira.
Dirigentes municipais pautaram a infância na agenda de reivindicações na Assembléia
Nacional Constituinte. A Frente Nacional era constituída por prefeitos, autoridades
municipais/estaduais e técnicos do Estado considerados progressistas; defendia-se a
municipalização da política para a infância e adolescência.
1986
Campanha Nacional “Diga não a Violência”
Iniciativa: Governo Federal/Unicef
Fator de Mobilização: Violência institucional e Policial.
Questões de Luta: Prevenção e redução da violência contra crianças e adolescentes
1986
Comissão Nacional Criança-Constituinte
Iniciativa: Governo Federal, UNICEF, OMEP, CNDM, OAP, SBP, FENAJ, FNDdC, MNMMR.
Fator de Mobilização: Garantia de espaço específico para a criança na Constituição
Questões de Luta: Ampla participação dos setores interessados na defesa dos direitos da
criança e do adolescente na elaboração de propostas para o texto constitucional.
1987
Fórum Nacional Permanente de Dirigentes dos órgãos Executores de Política de Defesa
dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Iniciativa: Órgãos executores da Política Nacional de Bem Estar do Menor – FEBEMs.
Fator de Mobilização: Pressão da sociedade civil para a mudança dos serviços dirigidos à
criança e adolescente.
Questões de Luta: Violência Institucional; revisão da pratica institucional; descentralização do
atendimento; participação da sociedade no processo de revisão do atendimento e melhoria da
qualidade dos serviços.
Criou-se o Fórum Nacional de Dirigentes Governamentais de Entidades Executoras da Política
de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fonacriad), integrado pelos
presidentes das Fundações da Criança e do Adolescente de todo o País.
1988
Fórum Nacional Permanente de Entidades Não-Governamentais de Defesa dos Direitos
da Criança e do Adolescente.
Iniciativa: Entidades Não-Governamentais de atendimento e defesa dos direitos da criança e
do adolescente
Fator de Mobilização: Mudança na legislação, elaboração de proposta para a Assembléia
Nacional Constituinte.
Questões de Luta: Alteração do panorama legal, articulação no nível nacional das entidades
com atuação na área de defesa e promoção dos direitos da infância e da juventude.
Criou-se o Fórum Nacional DCA, com a composição de atores sociais que atuam na defesa e
promoção dos direitos das crianças e adolescentes brasileiros.
1988
CRAMI - Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância.
Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância do ABCD é uma Organização Não
Governamental com a finalidade social de atendimento psicossocial a crianças e adolescentes
vítimas de violência doméstica e desenvolvimento de ações preventivas que lhes possibilitem
a defesa e proteção incondicional.
1989
II Encontro Nacional do MNMMR
Iniciativa: MNMMR/Fórum Nacional DCA
Fator de Mobilização: Incidência Política para aprovação do projeto de lei que consistia no
Estatuto da Criança e do Adolescente.
Questões de Luta: Regulamentação do art. 227 da CF.
No II Encontro Nacional do MNMMR, centenas de crianças se reuniram no Plenário da
Câmara dos Deputados e votaram, simbolicamente, a aprovação do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Nesta oportunidade houve a entrega de diversos documentos aos
parlamentares.
1989
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança
Iniciativa: ONU
Fator de Mobilização: Situação da Infância no Mundo
Questões de Luta: superação da Situação da infância no mundo
A Convenção Internacional dos Direitos da Criança, aprovada por aclamação na Assembléia
Geral das Nações Unidas, a 20 de Novembro de 1989, correspondeu a um dos sinais de
transformação mais emblemáticos de toda a história das representações da infância. Embora
a modernização da concepção e práticas infantis tenha sido de uma extrema lentidão,
sobretudo no que se refere à designação da criança enquanto sujeito de direitos, a Convenção
de 1989, quase no limiar do século XXI, contempla, acima de tudo, a libertação das crianças.
Até lá, e após uma longa trajetória, os dois textos declaratórios que a precederam (em 1924 e
1959) indicavam que a afirmação dos direitos da criança correspondia mais a uma declaração
de princípios de ordem protecionista e ética.
1990
Fundação Abrinq
Iniciativa: Empresários do Setor de brinquedos
Fator de Mobilização: situação de pobreza vivida pela infância
Questões de Luta: Sensibilização e mobilização do empresariado brasileiro; envolvimento do
empresariado na política de atendimento a infância e adolescência.
A Fundação Abrinq foi criada em 1990 por empresários do setor de brinquedos, ligados à
ABRINQ - Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos. Seu objetivo era promover a
defesa dos direitos e o exercício da cidadania de crianças e adolescente. Suas estratégias de
ação privilegiam a articulação e a mobilização da sociedade civil e do poder público para
transformar a criança e o adolescente em prioridade.
1990
Aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
Iniciativa: Congresso Nacional/Povo Brasileiro
Fator de Mobilização: Situação da Infância no Brasil
Questões de Luta: Superação do paradigma menorista e da situação irregular, doutrina que
regia o trato com a criança no Brasil.
Com o advento do ECA, crianças e adolescentes passam a ter reconhecimento, legalmente,
como cidadãos, sujeitos de direitos civis, sociais e humanos. Superando, assim, a visão
firmada no Código de Menores, que diferenciava a criança do menor. O Estatuto da Criança e
do Adolescente além de não mais os distinguir, exclui, ainda, o termo menor, já que traz
consigo uma concepção de caráter estigmatizante e discriminatório. A distinção de idades
corresponde às relações familiares, escolares, trabalhistas e penais. São crianças, então,
aqueles com idade inferior a 12 anos, e adolescentes, dos 12 aos 18 anos incompletos.
1990
Cúpula Mundial da Criança
Iniciativa: Organização das Nações Unidas.
Fator de Mobilização: Fazer um balanço da situação da infância no mundo.
Questões de Luta: Nos dois dias de sua duração, os representantes de 157 países
comprometeram-se, entre outras coisas, a reduzir em 30% a taxa de mortalidade infantil e
garantir saúde e alimentos a todas as crianças do mundo até o ano 2000.
O Encontro de Cúpula das Crianças, convocado pelas Nações Unidas deu-se em Nova York,
aos 29 de setembro de 1990; estabeleceu as metas em favor do bem-estar da criança para o
ano 2000, dentre as quais: proteção à criança e ao jovem em conflito com a lei; garantia do
desenvolvimento integral da criança; apoio à família, “Escola para Todos” etc.
1993
Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes – CECRIA.
Iniciativa: Militantes e trabalhadores da área da infância.
Fator de Mobilização: violência sexual contra crianças e adolescentes.
Questões de Luta: Centro de pesquisa, capacitação, promoção, formação e articulação, de
ações governamentais e não governamentais, tanto em nível nacional como internacional,
para a defesa dos direitos da mulher, da criança e do adolescente, orientado pela concepção
dos direitos humanos, definido na legislação nacional e normas internacionais
O CECRIA é uma organização da sociedade civil, fundada em 1993. Seu surgimento do
CECRIA caracterizou-se pelo processo de democratização e de garantia formal da cidadania
decorrentes da Constituição de 1988. Neste cenário e, sobretudo, por ser o Brasil um país
inserido na semi-periferia do capitalismo internacional, a questão da violência estrutural e da
violência situacional, torna-se crucial para a consolidação da democracia brasileira e extensão
de cidadania a todos com liberdade e justiça.
1993
A CPI da Prostituição Infantil
Iniciativa: Câmara dos Deputados.
Fator de Mobilização: Exploração Sexual de Meninas
Questões de Luta: Denunciar e enfrentar a Exploração Sexual contra meninas no Brasil.
A CPI denunciou inúmeros casos de violação dos direitos humanos de crianças e
adolescentes, provocando ampla mobilização social.
1995
Seminário sobre Exploração Sexual de Meninas e Adolescentes no Brasil
Iniciativa: CECRIA
Fator de Mobilização: Situação de Exploração Sexual de Meninas
Questões de Luta: Mobilizar e sensibilizar a sociedade brasileira contra a exploração sexual.
O Seminário sobre Exploração Sexual de Meninas e Adolescentes no Brasil, realizado no
Distrito Federal, tratou dos temas: aspectos históricos e conceituais do fenômeno da
prostituição; redes de exploração; leitura jurídica e o papel do Estado, da sociedade civil e dos
meios de comunicação.
1996
Encontro das Américas
Iniciativa: CECRIA
Fator de Mobilização: Enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes.
Questões de Luta: Organização da delegação brasileira para a participação no Primeiro
Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes.
Seminário sobre "Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes nas Américas"; -
Encontro preparatório para o Congresso de Estocolmo;
1996
I Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes
Iniciativa: UNICEF
Fator de Mobilização: Exploração sexual de crianças e adolescentes no mundo.
Questões de Luta: sensibilizar e enfrentar a exploração sexual de crianças e adolescentes.
I Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças foi realizado em
Estocolmo, Suécia, em 1996, tendo como resultado a Declaração de Estocolmo e a Agenda
para a Ação, que foi adotada por 122 países. Esses países comprometeram-se a desenvolver
estratégias e planos de ação com diretrizes combinadas
1998
18 de Maio: Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes.
Iniciativa: End Child Prostitution, Child Pornograply and Traffiking of Children for Senual
Purposes.
Fator de Mobilização: Exploração e Abuso Sexual de Criança e Adolescente, tendo como
exemplo a morte da menina Araceli Cabrera Sanches.
Questões de Luta: mobilizar toda sociedade, com o objetivo de lutar contra esses tipos de
violência.
A data foi escolhida nacionalmente em menção ao crime ocorrido em 18 de maio de 1973, na
cidade de Vitória, Espírito Santo. Araceli, oito anos de idade, foi raptada, entorpecida,
violentada e, já morta, teve o corpo carbonizado por um grupo de jovens da classe média alta
daquela cidade. Apesar da natureza hedionda, o crime prescreveu impune.
A proposta da criação da data partiu da atual Deputada Federal Rita Camata (PMDB/ES),
Presidente da Frente Parlamentar pela Criança e Adolescente do Congresso Nacional, por
intermédio de projeto de lei de sua autoria que, posteriormente, aprovado pelos congressistas
e sancionado pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso, converteu-se na Lei nº.
9.970/2000.
2001
II Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças.
Iniciativa: UNICEF
Fator de Mobilização: Exploração sexual de crianças e adolescentes no mundo.
Questões de Luta: sensibilizar e enfrentar a exploração sexual de crianças e adolescentes.
Em dezembro de 2001, o II Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de
Crianças foi realizado em Yokohama, Japão, resultando no Compromisso Global de
Yokohama. Esse Congresso consolidou as parcerias e reforçou o comprometimento global
pela proteção de crianças contra a exploração sexual, aumentando para 161 o número dos
países comprometidos com a Agenda para a Ação de Estocolmo.
2002
Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.
Iniciativa: Fórum Nacional DCA e CECRIA.
Fator de Mobilização: necessidade de criação de instância nacional representativa da
sociedade, dos poderes públicos e das cooperações internacionais, para monitoramento da
implementação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil.
Questões de Luta: Avaliar a mobilização e a articulação das organizações não-
governamentais e governamentais no processo de implementação do Plano Nacional e
discutir a consolidação e formas de funcionamento do Comitê Nacional.
O Comitê Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes
surgiu de proposta aprovada no Encontro de Natal (RN), em junho de 2000. Nesse encontro,
foi elaborado o Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes. Em julho de 2002, o Fórum Nacional e o Departamento da Criança e do
Adolescente – DCA, com apoio do Centro de Estudos e Pesquisa de Referência da Criança e
do Adolescente - CECRIA, realizaram uma oficina nacional em Brasília (DF), com dois
objetivos: avaliar a mobilização e a articulação das organizações não-governamentais e
governamentais no processo de implementação do Plano Nacional e discutir a consolidação e
formas de funcionamento do Comitê Nacional, criado em 2000.
2003
CPI Mista da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
Iniciativa: Congresso Nacional.
Fator de Mobilização: Exploração Sexual contra crianças e adolescentes.
Questões de Luta: Identificar e Responsabilizar autores de crimes sexuais contra crianças e
adolescentes.
2008
III Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes
Iniciativa: UNICEF, governo brasileiro Ecpat (Articulação Internacional contra Prostituição,
Pornografia e Tráfico de Crianças e Adolescentes) e NGO Group for the Convention on the
Rights of the Child (Grupo de ONG para a Convenção sobre os Direitos da Criança).
Fator de Mobilização: Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
Questões de Luta: sensibilizar e enfrentar a exploração sexual de crianças e adolescentes.
O III Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
é uma seqüência de dois eventos anteriores realizados em Estocolmo (Suécia) em 1996 e em
Yokohama (Japão) em 2001.
O Congresso teve importante caráter articulador (governos, sociedade civil, especialistas e
adolescentes) e produtor de conhecimentos, apontando possíveis compromissos dos países.
Constituiu-se de mais de 130 delegações de países e público total de 3000 participantes,
incluindo 300 adolescentes.
Tema: Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente e a sua Proteção contra a
Exploração Sexual – Por uma Visão Sistêmica.
Objetivo: Mobilização internacional para garantir o direito de proteção de crianças e
adolescentes:
1- Analisar os novos cenários da exploração sexual na contemporaneidade;
2- Identificar avanços e lacunas no marco legal e na responsabilização;
3- Compartilhar experiências de implementação de políticas intersetoriais;
4- Ampliar parcerias com o setor privado;
5- Definir estratégias e metas possíveis de serem pactuadas em cooperação
internacional.
A partir desse quadro, poderemos traçar alguns comparativos e realizar análises que nos
permitam situar, com maior concretude, a CPI “da Pedofilia” e do Enfrentamento da Violência
Sexual Infanto-Juvenil, suas causas, encaminhamentos e possíveis conseqüências.
Uma vez que iniciaremos o assunto relacionado a esta CPI, vale pontuarmos, brevemente,
conceitos e práticas de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.
Antes de adentrarmos de fato no relato dos trabalhos realizados por esta Comissão
Parlamentar de Inquérito – CPI – da Pedofilia e do Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-
Juvenil, instalada na capital paulista em 05 de março do ano de 2009, entendemos por bem iniciar
o presente relatório fazendo uma retrospectiva histórica a fim de compreendermos o motivo pelo
qual realizamos esse trabalho, bem como de enaltecer a importância do uso deste instrumento
parlamentar em prol do reordenamento legislativo. Esta opção, prioritariamente didática, também
se justifica por estendermos que esta CPI demarca um fato e um momento histórico não somente
na História desta cidade, mas também deste país.
O uso deste importante instrumento começa a se disseminar pelo mundo, tanto que houve
países que o implementaram mesmo antes de haver previsão normativa específica que o
balizasse, fundamentando a sua aplicação a partir da permissibilidade implícita oriunda das
atribuições atinentes aos parlamentares. Assim ocorreu nos Estados Unidos, onde os inquéritos
parlamentares instituíram-se com grande vigor a partir da segunda metade do século XVIII. A
primeira lei versando sobre a temática neste país foi sancionada somente na segunda metade do
século XIX, originada da necessidade de se impor limites aos poderes parlamentares nesta seara,
a fim de se compatibilizar os direitos da pessoa humana com o interesse público. Os Estados
Unidos foram o Estado Ocidental que mais usufruiu deste instrumento inquisitorial parlamentar, e
que influenciou para a ocorrência de sua constitucionalização em solo brasileiro.
Neste país, a preocupação com a limitação aos poderes dos parlamentares em tais
inquéritos sempre se destacara, a ponto de, em caso emblemático decidido pela Corte Suprema
estadunidense em 1881, reconhecer-se o direito à indenização a determinada pessoa compelida a
prestar informações, que, se negando, foi privada de sua liberdade, e, por versar o respectivo
inquérito sobre assunto privado, entendeu-se que não poderia ser objeto de inquérito parlamentar,
por ultrapassar de sobremaneira as respectivas atribuições conferidas a este Poder. Em decisão
posterior a Suprema Corte reconhece a pertinência do inquérito parlamentar no trato de assuntos,
ainda que privados, mas exclusivamente por se tratar de caso com estreita relação à atividade de
membros do Congresso.
“ao servir de instrumento à função legislativa, que cabe ao Congresso, o inquérito não se
limita à verificação de como se executam as leis em vigor, mas pode estender-se à busca
de informações necessárias à formulação de novas leis. Donde justificar-se a instauração
de inquérito para ‘a detecção das insuficiências do nosso sistema social, econômico ou
político, como o objetivo de habilitar o Congresso a remediá-las, assim como se justifica
instaurar inquéritos aos diversos departamentos do Estado Federal para desvendar casos
de corrupção, ineficiência ou desperdício’”. (SPROESSER, 2008: 158)
Na Itália, por sua vez, a efetivação legal dos inquéritos parlamentarem iniciaram-se
somente após a Segunda Guerra Mundial, informando a natureza essencialmente política de seu
uso, o qual se entende que deverá concluir por recomendações diretas ao Governo.
No direito espanhol, apesar de ainda haver questionamentos sobre a efetiva função de tal
instrumento, é fato que desempenha o papel de controle, pois se verifica que sua criação neste
país se funda, em maior ou menor medida, na limitação ou fiscalização direta do parlamento nas
ações do governo.
Foi em 1934 que, pela primeira vez, previram-se as comissões parlamentares de inquérito
em texto constitucional brasileiro, instituto que teve vida curta ante o período ditatorial que se
seguiu.
No entanto, cerca de vinte anos após esta vitória democrática, novo período ditatorial se
instala no país, o que fez retornar a necessidade do controle do poder parlamentar. Dessa forma,
durante o regime militar, através de emenda constitucional e atos institucionais, restringe-se
substancialmente as atribuições e a capacidade da CPI, suprimindo-se seu poder fiscalizatório,
subsistindo, entretanto, seu poder controlador, o que gerou nesta fase uma contração significativa
deste importante instrumento parlamentar.
Tal restrição foi abolida somente a partir do início de novo processo de revigoração
democrática, por intermédio de Lei federal, promulgada em dezembro de 1984, mesmo ano em
que o povo nacional deu históricas mostras da insatisfação com o regime de então, marco que se
deu através do movimento “Diretas Já”, emblematicamente representado no Vale do Anhangabaú,
região central da capital paulista.
“As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas,
serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou
separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração
de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,
encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal
dos infratores”.
Dessa forma, podemos dizer que o poder de investigar, conferido ao Parlamento por
intermédio das CPIs, é conseqüência lógica e instrumental do poder de fiscalizar e controlar
diretamente, sendo esta a principal ferramenta prevista para o exercício direto deste peculiar
poder parlamentar.
Andyara Klopstock Sproesser, por sua vez, com base na lição da constitucionlista Anna
Cândida da Cunha Ferraz, faz a distinção das atribuições do parlamento consistente no controle e
na fiscalização, concluindo que há:
Por outro lado, atentando-nos aos verbos que fundamentam o uso do inquérito no
parlamento, ou seja, fiscalizar e controlar, somados aos poderes extraordinariamente conferidos
às CPIs, que são aqueles inerentes às autoridades judiciais para se proceder com a investigação
que se pretende realizar, concluímos que este instrumento não pode ser entendido e utilizado de
modo a servir como simples colaboradores da respectiva Casa, no sentido de utilizá-lo
unicamente para colher informações a contribuir para o desempenho da função legislativa que
lhe compete. Assim, não se pode confundir:
Neste mesmo sentido, refletindo sobre os motivos constituintes de uma CPI, a partir de
vários entendimentos doutrinários, a mesma doutora, conclui que as CPIs têm como objetivo
primeiro:
Refletindo sobre as finalidades de uma CPI, nos ensina a doutora Andyara que:
“as CPI’s têm por finalidade, direta e especificamente, o controle, lato sensu, de
todos os atos dos Poderes Públicos, inclusive os do próprio Legislativo, entendendo-se
por controle a atividade de investigar possíveis desvios em relação aos ditames
constitucionais e legais, quer como regras de conduta e/ou de organização, quer ainda
como diretrizes político-administrativas.
(...)
Em suma: apurar atos da vida constitucional, para corrigir desvios da atuação, formal ou
material”. (SPROESSER, 2008: 219).
Por fim, podemos concluir que, no ordenamento jurídico brasileiro, as CPIs se destinam a
instrumentalizar o parlamento ao exercício da atribuição correspondente ao controle e fiscalização
dos atos em geral da vida pública, investigando-os de forma adequada e determinada para
reverter que as respectivas ações inadequadas ajustem-se aos ditames constitucionais e legais
determinados pela sociedade.
Agora, colacionando o que realmente nos interessa, dada a circunscrição sobre a qual nos
compete atuar, veremos a institucionalização deste instrumento, que por ora fazemos uso, a partir
da redação de nossa “Constituição”, ou seja, da Lei Orgânica do Município de São Paulo:
Apesar de ser razoável rememorar algumas questões, podemos observar que aqui
também há a relativa reprodução da norma constitucional, especialmente em relação às seguintes
questões: confere-se à CPI a ser promovida pelo Legislativo municipal poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais, submete a sua criação a requerimento de 1/3 (um terço) dos
membros da Câmara Municipal, determina que sua constituição visará à apuração de fato
determinado, impingindo a sua duração à prazo certo, adequado à consecução dos seus fins,
afirmando que, se for caso de que requerer a promoção de responsabilidade civil ou criminal
dos infratores, suas conclusões serão enviadas ao Ministério Público.
Até aqui não há distorção em relação ao que prevê o art. 58, § 3º da Constituição Federal,
no entanto, traz uma novidade, ainda que a reforço de outra norma constitucional correspondente
à repartição das competências legislativas, que é a restrição de atuação, a partir da necessidade
desta CPI instituída na Casa legislativa paulistana, poder versar somente sobre matéria de
interesse do Município.
Embora aqui se afirme uma obviedade, é oportuno se fazer este destaque no sentido de
nos alertarmos sobre a limitação da atuação e do foco de investigação desta Comissão
Parlamentar de Inquérito, restringindo-a aos solos deste município. Pois, é natural que em matéria
sobre a qual tratamos nesta CPI, ou seja, enfrentamento à violência sexual infanto-juvenil,
impetuosamente, sejamos levados a tratar de questões que extravasem nossas competências
territoriais, entretanto, ainda que movidos a partir de sentimentos idôneos e nobres – possível que
queiramos nos compreender com o dever de encerrar com este tipo vil de violência -, o
desatentamento a esta ligeira passagem normativa poderá, sutilmente, levar-nos a resultados que
não sejam totalmente proveitosos à sociedade que representamos. Em outras palavras, qualquer
proposição investigativa ou interventiva desta CPI Paulistana deve ter – e assim o teve esta CPI –,
para a implicação e respeito ao modelo federativo, alcance jurisdicional em âmbito tão-somente
municipal, eis que aí se restringe nossa competência constitucional.
Mas, considerando que tanto a norma constitucional instituidora da CPI quanto a Lei
Orgânica que nos rege reporta-nos ao Regimento Interno do Parlamento, para esmiuçar a sua
tratativa, a nossa análise a seguir se dará com base nesta normativa.
II - Comissão de Representação;
II – o número de membros;
III – o prazo de funcionamento, será de 120 (cento e vinte) dias, podendo ser prorrogado
uma única vez, por igual período.
§ 1º – A Comissão que não se instalar e iniciar seus trabalhos dentro do prazo máximo de
15 (quinze) dias estará automaticamente extinta.
Art. 100 – Só será admitida a formação de Comissões Especiais nos casos expressamente
previstos neste Regimento.
Por serem redigidos a partir da extrema clareza e transparência, não vamos tecer
comentários específicos neste tópico, já que o intuito de trazer o Regimento Interno a este
Relatório visa somente a facilitar o conhecimento daqueles que, por ventura, tiverem acesso ao
presente Relatório e não tiverem intimidade, naturalmente, com os dispositivos regimentais deste
Parlamento.
Assim, podemos concluir que o fato a ser objeto de investigação parlamentar, embora
precise de certo deslinde quando da aprovação do requerimento constituinte, a sua determinação
não pode ser entendida de forma irrestrita, a ponto de “amarrar” a atuação da Comissão. Este
responsável entendimento advém de uma logicidade prática, pois se a Comissão é instituída
justamente para se investigar algo, se o objeto investigativo for perfeitamente conhecido, já no
requerimento nos traz fortes indicativos de que não precisa se proceder com o processo
investigatório, eis que conhecido. Portanto, permite-nos, a partir do entendimento, acobertado de
muita propriedade, do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, inferir que a determinação do
fato está intrinsecamente relacionada à nossa competência legislativa, a partir do que é lícito
investigar “situações para, eventualmente, com os subsídios que daí decorrem, produzir textos
legislativos que venham a intervir naqueles fatos que estão sendo examinados”.
Objetivo: Apurar irregularidades e ilegalidades na construção dos prédios escolares feitos com aço
pré-moldado, popularmente conhecidos como “escolas de lata”, no período de 1998 a 2000.
Sendo assim, particularizemos, daqui em diante, não somente aspectos tangentes, mas
essenciais da CPI “da Pedofilia” e do Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil.
O exercício da vida política no país deve ser realizado a partir do devido respeito ao
princípio constitucional que determina, logo no artigo 1º, V, da Magna Carta, o pluralismo político.
As CPIs são, portanto, instituto da democracia representativa, em que o povo mesmo não
agindo diretamente, deve, ainda assim, refletir a sua vontade manifestada por intermédio deste
modelo democrático consistente na composição parlamentar do último pleito.
“As conclusões do Relatório final de alguma CPI serão mais aceitáveis pela opinião pública
em geral quando nelas tiver havido a colaboração de representantes de mais de uma
corrente de pensamento político, de mais de um interesse religioso, social ou econômico,
de mais de um Partido Político, enfim”. (SPROESSER, 2008: 241).
6) FASE DO DIAGNÓSTICO
Instalou-se a CPI da “Pedofilia”, aos 05 de março de 2009, pelo Presidente Marcelo Aguiar
(PSC-SP), sob o Requerimento anexo, datado de 04 de fevereiro de 2009, destinado a:
A sessão contava com a presença dos Vereadores componentes da Comissão, bem como
dos Deputados Estaduais José Bruno e Major Olímpio.
O segundo apontamento que faria: uma CPI, ainda mais uma CPI que trata de um
tema como este - do enfrentamento da violência sexual contra a criança e o adolescente
na cidade - é um tema que perpassa por vários outros temas, como por exemplo: a
questão do tráfico de drogas, o tráfico de pessoas, a questão da drogadição, prostituição,
enfim, vários temas que são transversais a esse. Então, faço desde já, um apelo para que
tenhamos uma estratégia definida e um foco definido, para que seja mantido o foco. A
tentação durante todos os trabalhos da CPI será enorme, no sentido de desviarmos o foco,
em virtude de tamanha amplitude de problemas que serão adicionados conforme
avançarem as investigações e as discussões.
Então, o que chama a atenção nessa característica do pedófilo? É aquela pessoa que não
tem uma identificação do seu “eu” definido. Ele vai ter um problema muito ligado, dentro da
psicanálise, e eu gostaria aqui de explicar, a questão do narcisismo.
Todo mundo sabe da lenda do Narciso, que era aquela pessoa que se admirava e de tanto
que ele se admirou, ele ficou congelado, ele ficou petrificado, é a fábula dos gregos. O
pedófilo tem uma identificação narcisista com o seu “eu infantil”; então, quando ele está
com essa fixação por uma criança, ele pensa que essa criança vai trazer a
complementação ao seu “eu” que ficou falha. Então, chamando atenção, que dentro das
violências é um distúrbio de conduta, um distúrbio patológico grave e que nem todos os
violentadores sexuais têm esse grau de regressão da sua patologia. Às vezes, a pessoa
comete uma violência sexual e ela segue a vida, depois ela pode esconder isso, ou
realmente não voltar mais a fazê-lo.
O pedófilo tem uma fixação por alguma criança atendendo, por exemplo, sejam crianças
em situação de perícia, sejam crianças em situação de entrevista, se a gente faz uma
sessão conjunta do pai com essa pessoa, com esse abusador, a pedido de um juiz. É
diferente a fixação que esse pai tem pela criança na hora do contato, ali, porque ele está
provavelmente, muitas vezes, impedido de estar perto dessa criança e há uma
necessidade assim realmente diferente, intensa dessa aproximação. Só para dar um
exemplo, um pai assim que terminou a sessão; ele, a mãe e a criança, que era uma
sessão para poder ver essa ligação, ele traz uma pergunta no final, ele não se conteve, ele
dizia assim, ‘eu posso dar um beijo em você?’ Ali, na frente do psicólogo, na frente da
mãe, ele tem a vontade de ter uma aproximação física, apesar da proibição jurídica.”
É premente, na sociedade brasileira, o clamor para o acirramento das leis penais, diante
de qualquer comportamento abusivo contra direitos da pessoa humana. Por vezes, objeto de
grande explicitude midiática, determinado comportamento criminoso toma proporções que chegam
a escondê-lo em sua real dimensão de causas e efeitos. Nesse sentido, é comum a propagação
de sentimentos de cidadania virtual (SALES, 2004), constituinte do fluxo de comunicação midiático
entre os telespectadores das emissoras de grande audiência, fluxo responsável pela emissão de
informações que emolduram e recheiam o saber popular das grandes cidades urbanas, que, por
si, compõem a colcha de retalhos das “opiniões públicas”, haja vista serem as grandes
propulsoras, receptoras e fixadoras de pensamentos naturalizados.
Assim, a Pedofilia não passa ilesa nessa dinâmica que segrega, analisa e julga
comportamentos, lícitos ou ilícitos. Diversas reportagens impressas, televisivas ou eletrônicas
referem-se a “casos de pedofilia”, naturalizando-as, por si, como crimes, ancoradas em periódicas
e chocantes situações de violência sexual contra crianças (em especial) e adolescentes. Exemplo
disso é a gritante explosão de notícias que veicularam fato ocorrido no município de Catanduva
(SP), diante do que espectadores do país afora voltaram sua atenção primeira. As crianças
vítimas e suas famílias tiveram suas histórias devassadas, sem o devido cuidado com alguns
suspeitos, suas vidas foram desmanteladas, e, por fim, pouco do produzido na consciência
popular da cidade foi evidenciado nas mesmas mídias que dispararam o caso, a não ser o alívio
na responsabilização de um ou outro envolvido.
Com isso, não se quer amenizar os efeitos do conflito existente entre gerações e gêneros,
característica da Pedofilia(5). E, menos, ainda, desviar-se do foco da violência extrínseca ao
desejo sexual, somente pretendemos aclarar que este não perfaz o único elemento a merecer a
atenção desta CPI – por isso, a ampliação do foco. Quer-se, logo, analisar o atendimento no
município dos direitos das crianças e adolescentes que tiveram seus direitos sexuais
desrespeitados, por meio de práticas provenientes ou não da volúpia sexual característica da
pedofilia.
Obviamente, não podemos nos render às notícias veiculadas nas mídias de grande
audiência, como se a verdade viesse somente delas. No entanto, valem como paradigma de
informação a fomentar as produções de subjetividades, desde as conversas de bairro, até mesmo
os atos legislativos de grandes parlamentos, como este do qual se relata, ou o expedido no
Senado Federal, no qual se inaugurou um exemplo de iniciativa de apuração de atos de violência
sexual contra os mais jovens: CPI da Pedofilia, sob condução do Senador Magno Malta, com a
seguinte finalidade:
04.03.2008
Trazemos aqui esta CPI Federal, pois a sua instalação e andamento se dera como divisor
de águas para introduzir e trazer à sociedade, através dos meios midiáticos, a questão da
violência sexual. No entanto, a sua tratativa se deu de forma escancaradamente equivocada em
relação à pedofilia, conceito que fora demasiadamente alargado por esta esfera parlamentar – e
em conseqüência pela mídia – de forma a abarcar todas as situações de violação de direitos
sexuais de crianças e também de adolescentes. A partir de então este modelo – CPI da Pedofilia
– passou a ser copiado por outras Casas Legislativas em todo país, ampliando-se e cristalizando-
se o equívoco, o qual tentamos com muitos esforços e empenho aqui desmistificar, buscando
acertar o caminho e o foco investigativo.
Enfim, partamos para outro ambiente, que se sustenta pelo estudo teórico-prático das
causas e efeitos da violência sexual como um todo.
Para iniciarmos esse capítulo, vale introduzir a temática com breves apontamentos sobre
as naturezas de violências familiares:
“Como fatores individuais, a gente pode ver que às vezes os filhos, também, têm
características que decepcionam esses pais e isso é motivo para uma certa agressão. Por
exemplo: filhos prematuros, deficientes, filhos que têm problemas graves de saúde,
hiperatividade, rebeldia, tudo isso pode levar a uma dificuldade no vínculo. Fatores
situacionais de estresse na família: violência estrutural, pobreza, excesso de filhos,
isolamento social; crises familiares: separação, morte, gravidez indesejada, desemprego.
Fatores socioeconômicos: pouco contato com a família extensa, pouca interação social
na vizinhança, no trabalho e na escola, pouco acesso às instituições de saúde, educação,
lazer, de comunidade, pouca expectativa e mobilidade social. A família se isola porque é
mais fácil ela cometer violência longe dos olhos de toda essa rede. Fatores políticos: a
gente também vê falhas na elaboração e execução de políticas públicas, a gente gostaria
de ter um sistema mais operativo. Fatores culturais: atitude perante a infância de
violência, de castigo, discriminação com mulheres, com a sexualidade, regulamentação
das relações entre sexos e entre gerações.” (Dalka Chaves – s. 26.03)
Nesse excerto, é evidente o trato sobre o tema da violência voltada a atacar o direito à
sexualidade da mulher, elencada, nas estatísticas de violência de gênero, como o alvo-vítima da
maior parte das manifestações de violência física e psicológica. No entanto, assegura o texto que:
O texto, notadamente pela autoria e editoração, pretendeu significar a violência sexual sob
o aspecto sanitário, sem negar, no entanto, outras facetas de sua constituição, pois, acima de
tudo, prevemos que essa Violência tem expressiva natureza “Multicausal”.
incide predominantemente nas pessoas do sexo feminino, sendo que cerca de dois terços
dos casos são de crianças nas faixas etárias abaixo de dezesseis anos. (PAI:02)
Nesse sentido, é o presente Relatório para, além de informar os cidadãos acerca dos
mecanismos de composição de conflitos violentos, mormente anunciados na forma da Violência
Sexual, provocar reflexões sobre a Situação, as Produções Teóricas e Práticas que alimentam e
se alimentam dos comportamentos humanos e institucionais na garantia de direitos. Para tanto,
cabe, no momento, destrincharmos a principais expressões de Violência Sexual, tanto as
tipificadas na legislação em vigor – diante do que se pode proceder ao adequado tratamento
normativo – quanto as vislumbradas na doutrina e na literatura, ausentes das normas legais.
São algumas das formas mais comuns de Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes: o Abuso Sexual, a Exploração Sexual Comercial, o Tráfico de Pessoas para fins de
exploração sexual, o Turismo Sexual, a Pornografia Eletrônica de Crianças e Adolescentes, entre
outros modos de exposição de cunho sexual (voluntário ou involuntário) dos menores de 18 anos.
Quanto à Exploração Sexual Comercial, ainda teríamos uma classificação paralela:
“A gente coloca na ESCCA ainda o turismo sexual, que, como vocês vão verificar
provavelmente ao longo dessa CPI, não é só de turistas estrangeiros; ao contrário, o
turista nacional é um grande consumidor desse tipo de turismo. O problema de falar sobre
informações é que a gente tem informações e a gente não consegue comprová-las por
falta de um diagnóstico mais preciso.” (Glória Maria – s. 26.03)
Glória Maria, na mesma sessão em que enfatiza a falta de Diagnóstico sobre a questão na
cidade paulista, ainda insere a prática de Tráfico de Seres Humanos como uma corriqueira
modalidade de Exploração Sexual Comercial.
Interessa-nos, conforme tratado nas sessões de plenário desta CPI, aprofundar o estudo
sobre o Abuso Sexual, Exploração Sexual Comercial contra Crianças e Adolescentes e
Pornografia Eletrônica de Crianças e Adolescentes.
Uma das particularidades que se deseja explorar é a natureza sigilosa dos atos violentos
contra crianças e adolescentes:
(...)
Ameaça, vergonha, ou humilhação são fatores decisivos para ocultar a violência sexual
sofrida. Há dados consistentes de que o problema da subnotificação se agrava quando o
agressor é conhecido pela vítima, como ocorre no abuso sexual intrafamiliar na infância ou
adolescência. Nesses casos, o perpetrador se vale de sua posição privilegiada no núcleo
familiar, da autoridade e do temor reverencial de que é investido para garantir que o abuso
permaneça crônico e oculto por longo período, mecanismo conhecido por “conspiração do
silêncio” ou “pacto do silêncio (DREZZETT et al., 2004:05)
Dalka Chaves (s. de 26 de março) fez a seguinte observação: “A gente costuma dizer que
essa é a ponta do iceberg, porque existe um manto de silêncio que cobre tudo isso”.
“A maioria dos casos ainda se mantém escondidos (sic), protegidos ou, de certa forma,
ocultados por aquele muro de silêncio, aguardando por vezes apenas o agravamento
crítico da situação para ser percebido. O que aconteceu recentemente em Pernambuco
demonstra o quanto isso é verdadeiro. Se aquela criança de nove anos não tivesse
engravidado do seu padrasto, possivelmente, estaria neste momento sofrendo abuso, sem
que ninguém soubesse. Foi preciso um fato crítico para que aquilo se expusesse ao
conhecimento das pessoas e que pudesse ser feita uma intervenção”
Outro fator importante, quando do empenho solitário da vítima junto aos órgãos do sistema
de justiça, é seu itinerário por diversas instâncias de autoridades públicas, muitas delas nem
sempre sensíveis ou conhecedoras do assunto. A quantidade de interlocutores aos quais a vítima
deve se reportar, bem como a qualidade, por vezes insatisfatória, do atendimento que lhe é
destinado fazem esmorecer seu intento, seja pela ausência de ouvidos atentos, seja pela
ignorância ou preconceito de autoridades judiciais perante a questão, gerando-se na vítima,
inclusive, sentimentos de constrangimento e medo. Isso é característico da interface entre Saúde
e Justiça, pois, se ambos caminham isoladamente de modo razoável, quando unidos em uma
única causa, “não se observa igual desenvolvimento nas relações colaborativas entre os setores
da saúde e do direito” (DREZZETT, 2004: 06).
• O estupro, de forma isolada ou associada a outros crimes, ocorreu em 63,1% dos casos;
• A cronicidade do abuso sexual (...) revela que em 79 casos (90,8%) o abuso sexual foi
praticado duas ou mais vezes em diferentes episódios e pelo mesmo perpetrador;
• Em 87,4% dos casos, o abuso sexual ocorreu dentro de espaços privados, como a
residência da adolescente [66,7%] ou do agressor;
Notório, portanto, um caráter do Abuso Sexual: “Nossos resultados são consoantes com a
literatura, que descreve o abuso sexual na adolescência como fenômeno notadamente
intrafamiliar” (DREZZETTI, 2004: 11)
Glória Maria (s. 26.03) consente, por meio de linguagem mais simples e objetiva:
“Só para resumir, de uma forma mais simplificada, para a gente falar a mesma língua, a
gente considera abuso sexual aquele abuso que acontece em geral dentro da família
de modo genérico, é o intrafamiliar, (...) mas que não envolve remuneração. Então, a
gente trabalha com essa idéia do que seja abuso sexual”.
Essa característica intrafamiliar também é reforçada por Dalka Chaves. No que tange,
especificamente, ao comportamento do portador de Pedofilia, Chaves, a partir de leitura da obra
Abuso Sexual em Crianças(9), aduz que
(...)
“Primariamente, não há prazer, mas alívio de tensão. Excitação e gratificação sexual levam
à dependência psicológica e à negação da realidade. Então, tem uma compulsão à
repetição e sentimento de culpa.”
“É muito comum uma criança, que passa por violência sexual, ter enurese, encoprese.
Consequências físicas – continuando – hemorragias vulvares, anais, presenças de sêmem
na roupa da criança, dor e infecção urinária, vaginais, problema de DST, gravidez precoce.
Conseqüências psicológicas: transtorno do stress pós-traumático, baixa auto-estima,
apatia, agressividade, medo, isolamento, enurese, encoprese. Existe, além de tudo isso,
um despertar dessa criança para, também, se aproximar da questão das drogas, de outro
tipo de prática, ela vai reproduzir a questão que ela está vivendo. E, principalmente, ela
pode ter reações de depressão, agressividade, pode levar ao suicídio. (Dalka Chaves – s.
26.03).
Já no tocante à vítima, sob a perspectiva de gênero, Dalka apela para a atenção que
também se deve destinar aos meninos:
“Eles vão ter dificuldade para buscar ajuda da pessoa protetiva, no caso a mãe não
abusiva, vão ter bloqueio ou exacerbação do seu impulso sexual, confusão na identidade
sexual, agressividade ou apego em relação ao agressor, dificuldades nos adolescentes em
estabelecer uma relação aberta e positiva com as meninas.”
De fato, é significativa a quantidade de casos de abuso sexual intrafamiliar. E, expressiva a
explicação que classifica como Abuso Sexual tal forma de violência: sem remuneração em jogo,
fato é que outras moedas de troca – ou elementos meramente hierárquicos no seio da família ou
vizinhança – são compreendidas nas relações, por vezes afetuosas, entre adultos agressores (ou
coniventes) e crianças e adolescentes vítimas (“quanto mais velho o agressor, mais forte a
hierarquia de poder, mais evidente a fragilidade dessa barreira intergeracional – Dalka Chaves – s
26.03).
Anunciado como mecanismo de proteção da criança e do adolescente no ambiente de
apuração de fatos delituosos, o Depoimento sem Dano vem a ser um instrumento bastante
debatido em nível nacional, eivado de opiniões favoráveis e contrárias:
“E eu sei que esse nome foi extremamente criticado, mas não importa o nome; atualmente
o pessoal está chamando de Depoimento Protegido. O fato é que é uma maneira de
respeitar a Convenção dos Direitos da Criança, da qual o Brasil é signatário, de dar voz
para a criança no Tribunal” (Lucia Cavalcanti – s. 30.04)
Com pouca expressividade nas sessões desta CPI, o instituto do Depoimento sem Dano
(DSD), ainda assim, merece espaço neste Relatório – antes mesmo de sua implementação – nas
discussões sobre possibilidades de se evitar ou amenizar a perpetração de violência institucional
contra crianças e adolescentes vítimas de crimes sexuais.
Implantado, em maio de 2003, na 2ª Vara da Infância e Juventude de Porto Alegre, o DSD
passou a se desenvolver por meio de dispositivos que, em tese, procuram evitar a exposição
física e psicológica dos jovens frente aos atos judiciais de apuração de fatos e instrução criminal.
Atualmente, é alvo de discussões em nível nacional, pelo que o PL nº 4126/2004, atual
PLC 35/2007, de autoria da Deputada Federal Maria do Rosário (RS), já fora objeto de diversas
audiências públicas e plenárias na Câmara dos Deputados.
O Depoimento sem Dano, assim, passa por muitas críticas elogiosas ou depreciativas,
porquanto pretende, de um lado, amenizar, ao menos, o teor violento das inspeções e audiências
criminais; mas, de outro, não discute a real importância dos profissionais escalados para sua
prática, bem como do próprio sistema criminal. Em outras palavras:
Há um consenso de que há que se implementar algo que diminua as situações de
revitimização que violam direitos, mas não há um consenso de que a proposta
apresentada pelo PL seja a melhor possível. Entende-se que o PL que tramita no Poder
Legislativo não ataca algumas causas de sofrimento de crianças e adolescentes vítimas de
violência sexual porque se detém em apresentar uma metodologia e não uma reforma de
um sistema que viola direitos. (ANCED, 2009)
As normas brasileiras, em geral, perfazem dois aspectos cruéis do problema da violência
sexual contra crianças e adolescentes. De um lado, de posse das denúncias e dos dados
sobre a violência, o Estado não promove a proteção da vítima, conduzindo-a a outro
processo de vitimização. Por vezes, no entanto, é dado andamento ao processo, mas sem
o devido cuidado com a vítima, considerando-a tão somente como fonte de informações do
processo penal, maltratando a vítima sob o argumento da necessidade de punir o agressor
ou agressora(10).
É preciso, assim, acautelarmo-nos sobre as discussões referentes ao Depoimento sem
Dano, aperfeiçoando posicionamentos em prol, sempre, dos direitos da criança e do adolescente.
E isso, especificamente, manteve-se a desejar nas sessões desta CPI.
Resta, portanto, atentarmo-nos para a dificuldade dos mecanismos institucionais de
prevenção, bem como de responsabilização, bem como para outras maneiras de proteção familiar
dos mais jovens, estratégias peculiares ao meio de vida das diversas populações brasileiras.
A temática “Exploração Sexual Comercial” vem sendo atendida com intensidade sob o
recorte etário. Tem sido prioridade nas políticas nacionais a exploração de crianças e
adolescentes, para fins econômicos ou não.
Artigo 3.
Para efeitos da presente Convenção, a expressão ‘as piores formas de trabalho infantil’,
abrange:
(...)
De 1999 para 2001, a proporção das crianças que trabalhavam reduziu-se de 2,4% para
1,8%, no grupo de 5 a 9 anos de idade, e passou de 14,9% para 11,6%, no grupo de 10 a
14 anos de idade. Em 1992, este indicador estava em 3,7% para o contingente de crianças
de 5 a 9 anos de idade e em 20,4% para o de 10 a 14 anos de idade.
Constatou-se ainda que o diferencial entre os gêneros foi mantido. De 1999 para 2001, a
proporção de crianças ocupadas no contingente de 5 a 14 anos de idade baixou de 11,8%
para 9,1% entre os meninos, e de 6,0% para 4,5% entre as meninas.
Isso é um exemplo da escassez de estudos e mapeamento que até então se fazia vigente
no campo das políticas públicas de enfrentamento à violência sexual.
É no Encontro Nacional de Natal (RN), em 2000, que diversos atores sociais e públicos
elaboraram o primeiro Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil,
homologado, no mesmo ano – em comemoração aos 10 anos do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) -, pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(CONANDA). Um novo movimento eclodia nas esferas nacionais de articulação política social.
A Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes passa a ser assim definida:
Na exploração sexual comercial (...), há sempre uma remuneração que pode ser em
dinheiro ou pode ser (...) troca de favores. Por exemplo, as crianças que vivem em
situação de rua, que trocam muitas vezes sexo por proteção policial ou que trocam sexo
por uma noite num hotel, ou que trocam sexo por um prato de comida, ou, realmente, uma
coisa de receber dinheiro, receber presentes, coisas assim.
“Nas modalidades que a gente enxerga como de exploração sexual, a gente inclui a
chamada prostituição infantil, que é um termo que a gente não aceita; eu só estou
usando porque é de mais fácil compreensão. A gente não aceita esse termo porque a
gente acha que criança jamais pode ser considerada se prostituindo; ela é, na
verdade, prostituída, ela é usada.
“(...) a grande parte dos abusadores e dos exploradores sexuais não são pedófilos,
eles são simplesmente exploradores sexuais. Quando a gente fala de exploração
sexual, a gente fala também, muitas vezes, de uma rede criminosa, muito bem
organizada, a rede que pega essas crianças, que mantém essas crianças e adolescentes
em locais que eles estabelecem, muitas vezes vivendo como semi-escravos, enfim. Então,
existe uma rede criminosa muito bem organizada (...)” (Glória Maria – s. 26.03).
Esclarecida, mais uma vez, a diferença entre formas de violência sexual, prosseguimos no
diagnóstico técnico-normativo.
a) integrar políticas para a construção de uma agenda comum de trabalho, entre governos,
sociedade civil e organismos internacionais, visando ao desenvolvimento de ações de
proteção a crianças e adolescentes vulneráveis ou vítimas de violência sexual e tráfico
para fins sexuais; e,
c) Diagnóstico Estrutural;
d) Seminário Municipal para Construção do Plano Operativo Local;
e) Capacitação da Rede;
g) Site;
(PAIR, 2008)
O PAIR, portanto, trata-se de uma metodologia de trabalho desenvolvida com especial fim
de articulação política e produção de conhecimento junto às redes sociais e públicas locais das
três esferas federativas brasileiras. Deixa, ainda, a desejar por contemplar um inexpressivo grupo
de municípios, diante da demanda globalizada e generalizada no país.
Entre as conclusões que se pôde extrair do documento oficial (SEDH), temos que:
o fenômeno se distribui por todas as regiões do país, sem qualquer distinção entre cidades
de maior ou de menor concentração populacional; entretanto, pode-se dizer que se
verificar uma crescente interiorização da exploração sexual.
(...)
• Mobilização dos municípios listados para revisão dos dados e dos programas e
serviços locais;
Nesse rumo, aos 11 de outubro de 2007, o Presidente da República Luís Inácio Lula da
Silva decretou a instituição da Comissão Intersetorial de Enfrentamento à Violência Sexual
contra Crianças e Adolescentes, com a “finalidade de articular ações e políticas públicas em
consonância com o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes”, prevendo, como uma das atribuições, “integrar políticas públicas, tendo como
referência o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil aprovado pelo
CONANDA (art. 3º).
Sabe-se que, atualmente, uma das intensas formas de proliferação de imagens dá-se por
meio da Rede Mundial Eletrônica (Internet). Na mesma intensidade é a dificuldade de se mapear e
regularizar determinados fluxos de comunicação indevida. Mais ainda, a partir do momento em
que se dedica a coibir a circulação de materiais proibidos, e, ao mesmo tempo, responsabilizar os
alimentadores conscientes dessa circulação. E as formas de pornografia infanto-juvenil não
escapam à essa dinâmica cibernética.
Alguns elementos trazidos nas sessões desta CPI explicam parte dos resultados
apontados acima. No que tange aos mecanismos de Notificação (que contribui para a própria
classificação do Disque 100 e bancos de dados, como o apresentado pela ONG SaferNet), Dalka
Chaves (s. 26.03) expõe uma barreira subjetiva de conhecimento sobre o acesso e,
posteriormente, envolvimento eletrônico:
“(...) então, a pornografia infantil facilita a sedução sexual de crianças, tanto na internet
quanto fora dela, e a preocupação para a maioria dos pais e adultos é o seu uso para
o aliciamento e abuso sexual de crianças. Então, hoje, os pais têm diante de si, um
problema em sua casa, que é o próprio uso do computador; que é um monitoramento
constante. Se quisermos proteger crianças, é importante que possamos nos colocar
sempre disponíveis para estar supervisionando essas crianças na internet.
“porque nós não temos legislação para puni-los e, segundo [motivo pelo qual o crime
eletrônico ocorre], na inviolabilidade da Internet porque o sujeito que minimamente
conhece o Estatuto da Criança e do Adolescente sabia que os artigos 240 e 241 punem
minimamente.
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio,
cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
§ 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer
modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput
deste artigo, ou ainda quem com esses contracena
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena
de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
II - se o agente comete o crime com o fim de obter para si ou para outrem vantagem
patrimonial.
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por
qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo
ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança
ou adolescente:
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra
forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança
ou adolescente:
§ 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito
referido.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza,
distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material
produzido na forma do caput deste artigo.
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação,
criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso:
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se
exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita.
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito
ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em
atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma
criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais.
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2o desta
Lei, à prostituição ou à exploração sexual:
Gloria, ainda na mesma intervenção, cita o ambiente criado no III Congresso Mundial de
Enfrentamento à Violência (Nov. 2008), no qual
“os especialistas estavam muito preocupados com as novas tecnologias, inclusive com o
uso do celular”.
“a gente tem que ter muito cuidado quando trata disso, porque também a gente não pode
impedir que as nossas crianças e adolescente se manifestem, se expressem da maneira
que eles querem se expressar. Então, o nosso problema não é discutir aqui que a criança
e o adolescente não podem passar mensagem sensual pelo celular. A gente tem que
discutir que tem que haver um tipo de controle sobre quem usa essas imagens.”
Por meio de algumas abordagens interventivas dos expositores, notamos que o principal
motivo de instalação dessa CPI ainda revela o mais amplo desconhecimento para o evitamento
dessas práticas eletrônicas. O grau de tecnologia a se atingir para o controle cibernético – sem
que restrinja negativamente a liberdade de expressão e de conhecimento – é a própria essência
da manipulação eletrônica. Isto é, a dificuldade de se realizar o monitoramento e rastreamento –
sem contar no controle restritivo propriamente dito – da circulação do conteúdo é marca
fundamental do próprio sistema de comunicação.
O Delegado de Polícia convidado pelo CPI destacou, neste aspecto, que as informações
eletrônicas são altamente segregadas dos órgãos de investigação de crimes eletrônicos, diante do
que a difícil relação de fluxo entre setores policiais e provedores de redes eletrônicas gera um dos
mais evidentes complicadores para a resolução de crimes cibernéticos.
Há que se destacar, por fim, que o raso conhecimento produzido sobre esta temática
específica tem relação intrínseca com a nossa incapacidade real em se enfrentar esta
problemática, pois, considerando o nosso âmbito de ação, restritamente municipal, nos torna
minúsculos para promover a solução desta questão, ainda que em especial neste município, visto
que a acessibilidade, introdução e troca de imagens por meios virtuais é de competência
visivelmente mais ampla que a nossa, e justamente por isso depende de uma coligação de forças
de vários setores sociais dentre todas as esferas federativas para ter efetividade na ação.
“darei destaque que no Município de São Paulo de morte por homicídio, a primeira
causa de morte, vai dos 15 aos 34 anos; a segunda causa, dos 35 aos 44 anos; a terceira
causa de morte, de cinco aos 14 anos. Observamos que de modo geral crianças,
adolescentes e jovens a principal causa de morte são as causas externas, como definimos
no setor saúde.
Nítida, portanto, mais uma vez, a importância de se atentar para as violações de direito de
crianças e adolescentes, para que não tomem proporções letais como as apontadas acima, cuja
violação não mais pode ser sanada.
É preciso atualizar o leitor desse Relatório, ademais, sobre o conteúdo produzido nas
sessões ordinárias e extraordinárias: evidentemente, a finalidade de diagnosticar o campo
investigativo demanda bastante conceituação teórica – do que não se pode fugir. Mas também é
imperioso o objetivo de se planificar as teorias nas práticas cotidianas das violações de direito, os
serviços de proteção, dentro do Sistema de Garantia de Direitos. E isso, no geral, com referência
ao Município de São Paulo, ainda foi pouco produzido.
Dados trazidos por Jefferson Drezzetti (s. 30.04), sobre o atendimento no Hospital Pérola
Byington, localizado no centro da cidade paulistana:
“Hoje nós temos em torno de 2.000 casos de abusos sexuais atendidos por ano, dentro da
instituição”.
A partir desse dado, estendemos, em detalhes, outras informações que não podem ser
preteridas:
“Como nas particularidades atualizadas para esse período mais recente, há prevalência
desses casos de abuso e violência sexual sobre o sexo feminino, uma informação, um
dado já esperado, ele é importante, são 17 mil casos entre mulheres, 91% do total das
pessoas que atendemos, e 1.655 casos contra meninos menores de 12 anos na sua
maioria, o que corresponde a 26% do total dos casos das crianças atendidas. Em 2008,
para o fechamento mais recente [registro de 15 anos], para atualizar a importância desses
dados, as crianças corresponderam a quase 50% do total dos atendimentos feitos pela
instituição.” (idem)
“E o tempo de repetição, até que esse ciclo de violência fosse rompido e comunicado,
mostrou que em mais de 60% dos casos esse abuso sexual dura mais que um ano até que
se consiga, de alguma forma, revelar aquilo que acontece e oferecer condições para
romper com esse ciclo de violência.” (idem)
Drezzetti ainda chamou atenção para o fato de que, em 12% dos casos, o abuso sexual
fora permanente por mais de cinco anos. Uma dessas conseqüências é o recurso ao aborto, feito
705 vezes, das quais 27% em crianças e adolescentes. E propõe:
Drezzetti, por fim, lembra que todos esses dados são coletados nos casos de pessoas que
recorrem aos serviços sanitários, o que se estima que corresponda a, no máximo, 15% de todos
os casos de abuso sexual na cidade.
“o primeiro momento, que pode ser às duas horas da manhã, nós não temos,
necessariamente, um psicólogo às duas horas da manhã para esse tipo de atendimento.
Talvez nem seja isso que seja necessário. Esse primeiro momento é um momento em que
ela já passou, possivelmente, pela delegacia, já passou pela própria violência, já passou
por vários locais. Está cansada, está desgastada. Já recebeu atendimento, por exemplo,
do Instituto Médico Legal, já passou pelo serviço de emergência. Não é, exatamente, o
momento para se fazer um psicodiagnóstico, ou para se fazer uma primeira consulta em
psicologia.” (Drezzetti, s. 30.04)
“As crianças ainda são submetidas a fluxos desnecessariamente longos, entrevistas que
não são entrevistas, por vezes são inquéritos, por vezes são questionamentos que sequer
podem ser tratados como entrevistas. São processos longos, desajustados, por vezes
permeados, lamentavelmente, por profissionais que não têm nenhuma capacitação, que
não têm nenhum preparo para fazê-lo. (idem)
Dentre as estratégias de proteção, Mariângela Aoki (s. 30.04) traz a opção de
E explica:
“(..) quando falamos que está plenamente constituída, é quando a região conseguiu
organizar, do setor saúde, dentro dos diversos níveis de complexidade, esse fluxo e
também todo um fluxo, junto com os outros setores. Os outros setores são: Conselho
Tutelar, Promotoria, Delegacia, Serviços Especializados, Assistência Social, Educação, e
aí, existe diferença nas regiões.
Já no que tange à rede social, Dalka expôs os trabalhos do Instituto Sedes Sapientiae:
“Então, existe uma rede criminosa muito bem organizada, e a gente também não consegue
identificar na cidade de São Paulo a atuação dela diretamente. Quer dizer, eu não sou
capaz de dizer para vocês: “Olha, tem uma rede que funciona em tal lugar.”. Mas a gente
sabe que a rede existe.
(...)
“A Pestraf – Pesquisa Sobre o Tráfico de Pessoas, que foi uma pesquisa muito séria feita
pelo Cecria, em parceria com a Secretaria Especial de Direitos Humanos – mostrou que
São Paulo é porta de entrada do tráfico nacional, é porta de saída do tráfico nacional e é
porta de saída do tráfico internacional. Então, isto ficou claro dentro da Pestraf: existe
tráfico de crianças e adolescentes passando por São Paulo.”
“Acho que é importante o envolvimento da sociedade e, aí, acho que a CPI pode atuar
nesse sentido, no sentido de fazer com que haja uma mobilização em São Paulo, que São
Paulo pare de mentir para si mesma, dizendo que aqui não existe, que isso é “coisa de
praia do Nordeste”, e assuma que existe, sim. (idem)
Previsto na linha mestra dos Planos Nacional e Estadual, o Plano Municipal se insere
como um desdobramento do Programa Municipal de Conscientização e Combate à Violência
contra Crianças e Adolescentes:
“O segundo eixo incide sobre a formação e capacitação, que significa qualificar a rede,
os profissionais da rede, não só diretamente envolvidos com o atendimento, mas também
enfatizar a questão da prevenção, que é muito importante que os profissionais sejam
qualificados para prevenir. Principalmente nas escolas. A gente acha muito importante, por
isso que congrega Secretaria de Educação também, nessa Comissão de Enfrentamento.
(...)
Ainda apresentaram os eixos do Plano, sobre o que destacamos, como ponto ausente na
definição do próprio Documento oficial, no eixo Mobilização e Articulação, ações relativas às
campanhas e sensibilização da mídia.
Aqui devemos enfatizar que um importante advento oriundo dos trabalhos quando ainda
em curso esta Comissão Parlamentar de Inquérito, foi uma questão há muito reclamada pela
CMESCA, consistente na publicação do Plano Municipal de Enfrentamento à Violência Sexual
Infanto-Juvenil, pois, a formalidade que estava estacionada no trâmite burocrático municipal foi
resolvida este ano, quando fora finalmente publicado no diário oficial do município, logo após uma
visita dos Vereadores desta CPI à CMESCA. A partir do que o município de São Paulo passa a
assumir oficialmente o reconhecimento e a implementação deste importante documento.
MODELO DE PLANEJAMENTO –
Estrutura com base nas diferentes competências
Tático:
CMESCA – desenvolvimento de
programas e projetos
Operacional:
CMESCA – profissionais que lidam
com o público (vítimas e violadores)
Outra questão não abordada no Plano Municipal, tampouco no Decreto que institui a
CMESCA, é a existência do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) –
como veremos mais adiante –, fundamental na consecução dos fins pretendidos, em especial,
para a proteção da criança e do adolescente vitimizados pelas práticas contra as quais se destina
o Plano. Ocorre que o CREAS ainda constitui uma lacuna na eficácia da normativa, pois, se o
SUAS (Sistema Único da Assistência Social) já vigora há anos nas cidades brasileiras, sua
efetividade não impera.
7) FASE DE INVESTIGAÇÃO
Programada para iniciar aos 28 de maio, a Fase de Investigação fora instalada aos 18 de
junho e, depois de duas sessões, interrompeu-se pelo recesso legislativo, vindo a prosseguir, nos
termos do Requerimento aprovado na sessão do dia 25 de junho, aos 06 de agosto, já sob
prorrogação das atividades desta Comissão Parlamentar de Inquérito.
Nesta fase, recebeu-se o convidado Delegado de Polícia José Mariano de Araújo Filho,
representante da Delegacia de Crimes Eletrônicos, 4ª DIG, uma das Delegacias de Investigação
Geral do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado – DEIC, de São Paulo. Ele
explicou todo o funcionamento dos atendimentos e investigações policiais frente aos crimes
cometidos pela via eletrônica.
• A crescente produção sobre pedofilia ganhou corpo especialmente a partir do advento das
redes mundiais de computadores.
Quanto ao trabalho de equipe, ficou claro que falta entendimento conceitual sobre a
temática e sobre o trabalho que realizam. Reparou-se a falha nas concepções de divisão
conceitual entre formas de violência sexual (abuso/exploração). Essa informação fora, inclusive,
admitida, expressamente, pelo representante do equipamento, ao responder sobre as deficiências
que poderiam nortear os trabalhos da CPI. A supervisão técnica é feita por profissionais
localizados em territórios administrativos da cidade.
Não fora destacado o trabalho em rede, exceto aproximação com órgãos da educação,
saúde, com as Varas da Infância e Juventude e a Defensoria Pública. Alegaram não haver uma
comunicação informatizada entre o CREAS e os outros órgãos de garantia de direitos
estabelecidos dentro do fluxo de atenção. Mostrou-se, ainda, uma significativa ignorância sobre o
papel dos Conselhos Tutelares, muito embora, ao mesmo tempo, denunciaram ato de omissão do
Conselho Tutelar da Sé. Quando da entrada de um caso de violência sexual contra criança ou
adolescente, muitos são os encaminhamentos feitos diretamente para Delegacia de Polícia – para
lavratura do Boletim de Ocorrência -, de modo que somente em seguida, tomam-se outras
providências.
No âmbito da oferta, os representantes alegaram que o convênio foi feito para realizar 120
atendimentos por mês, mas chegam a atender cerca de 50, sendo, dos quais, apenas 06
referentes à violência sexual.
8) FASE DA INTERVENÇÃO
É notório o direito localizado nessa CPI, a partir de sua violação, seja sob o ponto de vista
da conduta do agressor, seja sob a ótica dos programas de proteção especial da Assistência
Social. Trata-se do Direito ao Desenvolvimento Sexual Saudável, isto é, direito de qualquer
pessoa desenvolver seu pensamento e comportamento sexual de modo sadio,
independentemente da faixa etária ou condição reprodutiva.
Nesse sentido, é urgente assentarmos o pressuposto que reconhece esse direito à criança
e ao adolescente. Pela mesma razão, obviamente, é que se estabelecem meio de proteção que
evitem a violação ao direito, ou se o repare.
Por hora, cumpre salientar, entre as reflexões agora trazidas, o panorama operacional das
normativas voltadas aos direitos de crianças e adolescentes. Na medida em que a Constituição
Federal, o ECA, as Leis Orgânicas da Assistência Social e da Saúde e demais normas sociais
foram promulgadas, a intersetorialidade e interdisciplinaridade – dois dos principais princípios
dessas extensas normativas – exigiram, por si, uma articulação das ações programadas nas leis.
Tal combinação de planejamentos e avaliações das ações veio a ser elaborada sob a forma de
Sistemas, cada qual surgido de uma trajetória histórica dos Movimentos Sociais e Conselhos
Setoriais. Exemplo disso é a criação do Sistema de Garantia de Direitos. E, dentro dele, o relatório
trata das produções da CPI com relação ao direito à sexualidade saudável.
I – Constituição Federal;
Observamos, antes de mais nada, que a constituição de um Sistema, seja qual for,
pressupõe a existência de uma série de elementos, todos integrados e articulados entre si, que se
relacionam dentro de uma lógica própria de funcionamento.
Cada um dos eixos referidos congrega diferentes instituições, que possuem atribuições
distintas e específicas. Esta separação se faz somente para haver um entendimento didático
deste sistema, não havendo, portanto, barreiras de separação entre eles, podendo, inclusive,
haver órgãos que exercem funções em mais de um eixo.
Para melhor entendermos as características que marca cada eixo e a função de seus
órgãos, passaremos a tratá-los mais especificamente a seguir.
[grifos do Relator]
Por todas estas considerações, é necessário destacar o papel dos principais atores deste
eixo: os Conselhos de Direitos e os Conselhos Setoriais; para cuja análise nos remeteremos a
nossa esfera de incidência, ou seja, o município de São Paulo. Frisa-se que tais Conselhos não
são executores da política, no entanto, definimos aqui como principais atores, pois são eles que
dão as diretrizes, definido a política neste eixo – e também fiscalizando-a.
Estes Conselhos são órgãos que controlam e deliberam as políticas públicas. Assim, têm
por tarefa monitorar a política de atendimento, em todas as suas linhas, para avaliar como está se
dando o tratamento, isto deve ser feito em conjunto e amparado pelo diagnóstico da situação da
criança e do adolescente no município. Com base nesta análise, com vistas a conhecer e
fiscalizar, desenha-se no município a política adequada para desatar os nós que impedem a
garantia dos direitos dos cidadãos mirins. Isto se faz através da elaboração de planos de ação,
indicando as atividades, os serviços, programas e projetos necessários para a proteção integral
das crianças e adolescentes, os quais objetivam planejar as ações e estabelecer criteriosamente
as prioridades a merecerem atenção especial e alocação prioritária de recursos públicos.
As ações destes Conselhos somam-se, cada um tendo o seu foco peculiar de ação, por
isto as deliberações e diretrizes dos Conselhos setoriais (saúde, educação, assistência social,
etc.), naquilo que lhe for específico, prevalecerá sobre o Conselho de Direitos da Criança e
Adolescente. Assim, ao CMDCA, apesar de poder ofertar diretrizes na promoção dos direitos das
crianças e adolescentes, tem que se voltar essencialmente e com grande empenho aquilo que lhe
é específico, ou seja, devendo se empenhar a traçar as diretrizes da cidade para o resgate da
dignidade das pessoas menores de 18 anos que têm os seus direitos humanos ameaçados ou
violados. Portanto, é neste Conselho (CMDCA) que reside a nossa atenção especial dentro do
eixo da promoção – e controle –, pois é a partir de sua ação que deverá se avaliar e dar as
diretrizes da política no município de São Paulo para a garantia dos direitos das crianças e
adolescentes abusados e explorados sexualmente.
II. Montagem do Plano de Aplicação elaborado pelo Conselho de Direitos tendo como
base o Plano de Ação e a Lei de Diretrizes Orçamentárias;
VI. Prestação de contas: o gestor por meio do balancete, presta contas periodicamente ao
Chefe do Executivo Municipal, ao Conselho de Direitos e anualmente ao Poder Legislativo
e ao Tribunal de Contas, juntamente com as contas municipais;
Tais planos devem, como dito, oferecer embasamento às leis orçamentárias(15), que, por
sua vez, deverão ser elaboradas, no que concerte a política voltada para as crianças e
adolescentes, respeitando as diretrizes delineadas pelo Plano de Proteção Integral. Mas, para a
elaboração dos referidos planos, um antecedente necessário assenta-se no mapeamento que
retrate a realidade da situação que estão inseridas as crianças e adolescentes de determinado
território correspondente ao âmbito de atuação do Conselho.
Aliás, também é importante consignar que o Plano de Proteção Integral, instrumento tido
como essencial e balizador da política pública municipal, é algo simplesmente inexistente na
cidade de São Paulo, fato este significativamente preocupante, pois se este órgão – CMDCA –
falha em sua atribuição no sentido de deliberar a política, todo o Sistema de Garantia de Direitos
da criança e do adolescente fica comprometido e consideravelmente deficitário para cumprir a sua
finalidade.
Por outro lado deve-se, ainda, consignar que o CMDCA, contrariando todo o exposto,
publicou no primeiro semestre de 2009, um Plano de aplicação dos recursos FUMCAD (Fundo
Municipal da Criança e do Adolescente). Dizemos que contrariou o fluxo anteriormente
estabelecido uma vez que como dissemos não está embasado no Plano de Proteção Integral e
nem no diagnóstico de fato. Aliás, se tecermos um comparativo de conteúdo poderemos observar
que este “Plano” – se assim poderemos chamar – trata-se da cópia – minimamente alterada – do
“Edital 2008 para seleção de Projetos a serem financiados pelo FUMCAD”.
I – serviços e programas das políticas públicas, especialmente das políticas sociais, afetos aos
fins da política de atendimento dos direitos humanos de crianças e adolescentes;
II – serviços e programas de execução de medidas de proteção de direitos humanos; e
III – serviços e programas de execução de medidas socioeducativas e assemelhadas.
As medidas de proteção, indicada no item II, por outro lado, não possuem caráter
universal, uma vez que se referem às políticas subsidiárias, destinadas as crianças e
adolescentes que não tiveram os seus direitos fundamentais garantidos, pois é somente estas que
deverão ter protegidos os seus direitos humanos, visando garantir a sua dignidade e resgatar os
direitos que lhe foram subtraídos ou simplesmente negados. Estas medidas têm caráter de
atendimento inicial, integrado e emergencial, sendo que além de dever garantir o atendimento
as vítimas imediatamente logo após a ocorrência dessas ameaças e violações dos direitos
humanos de crianças e adolescentes, sempre deverá ser paralelamente desenvolvidas ações
voltadas à prevenção de tais ocorrências. Certamente é aqui que se concentram as atenções
desta Comissão Parlamentar de Inquérito, e é no sentido de identificar as falhas desta política que
se dedicou esta Comissão.
Sendo assim, vale retomar o nível de incidência dessas entidades e dos programas de
governo no contexto de trabalho desta CPI.
• FAROL;
• Instituto Sedes Sapientiae;
• CREAS;
• Projeto Quixote;
Este eixo se dirige a cumprir duas funções: defender os direitos de criança ou adolescente,
ou mesmo um grupo de crianças e adolescentes, que tiveram seus direitos ameaçados ou
violados por ação ou omissão da família, da sociedade, do Estado ou deles próprios, e de
responsabilizar o autor da violação, reparando o dano e, se necessário, aplicando sanções. Aqui
listamos primeiramente a defesa dos direitos, pois é neste ponto que reside a principal atividade
para o enfrentamento da violação de direitos, que certamente só será cessada com a promoção
do direito pleiteado. A responsabilização encontra limitações próprias deste sistema, não se
realizando no sentido de corrigir o problema, por isto mesmo é aqui colocado em segundo plano.
Assim, consideramos que a defesa é o aspecto principal deste eixo, devendo a responsabilização
funcionar somente como instrumento acessório e complementar, afirmar o contrário é admitir e
reproduzir um equívoco histórico que buscamos superar.
Neste sentido foram as considerações feitas por alguns convidados presentes nas sessões
desta CPI, em especial, as colocações feitas por Neide Castanha, membro do Comitê Nacional de
Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil, foram bem direcionadas neste viés, colocando
que considera a necessidade de haver, necessariamente, três objetivos a se buscar no
atendimento das crianças e adolescentes em caso de violência sexual:
1. Cessar a violência;
3. Promover a inclusão social pela cidadania (a ser realizado através das políticas públicas).
VI – polícia militar;
VIII – ouvidorias; e
Como podemos observar este eixo é formado basicamente de órgãos ligados ao poder
público, no entanto, é crucial enfatizar que a sociedade civil, que originariamente representamos
enquanto parlamentares, ocupa papéis fundamentais neste cenário, através dos Conselhos
Tutelares e dos Centros de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Diante disso, o debate tomou o rumo da defesa de qualificação dos trabalhos dos
Conselheiros, ao que Rossini propõe:
“a sugestão que trago aqui é uma coisa muito singela para a Prefeitura fazer, antes das
eleições dos conselhos tutelares, é fazer curso - a Casa pode fazer - um curso para que os
conselheiros tutelares conheçam o Estatuto da Criança e do Adolescente.”
É preciso ressaltar e assegurar que o legislador estatutário não deixou brecha para se
condicionar o trabalho do Conselheiro Tutelar à freqüência e titulação de aulas e cursos técnicos,
muito embora não tenha normatizado de modo contrário ao estabelecimento de mecanismos que
visem à qualificação do conhecimento e prática no cotidiano conselheiro. Desde que, salienta-se,
não seja a condição para a candidatura e/ou a assunção do cargo.
O Vereador Carlos Bezerra, diante disso, na mesma sessão de 25 de junho, fez a seguinte
intervenção:
“Então, nesse sentido eu apontaria duas coisas que acho que seriam importantes
também de constarem no relatório. A questão no tocante ao tema Conselho Tutelar, a
qualificação do processo eleitoral
(...)
Sobre os Conselhos Tutelares na cidade de São Paulo é pertinente salientar que são
estruturados a partir do número de 37, os quais receberam, todos, ofícios desta CPI para
responder a duas questões fundamentais ao bom desenvolvimento de nosso trabalho:
3. Solicitação de informações sobre o andamento dos casos encaminhados via disque 181.
Foi o Conselho Tutelar o órgão que recebeu desta CPI o maior número de ofícios, que
somaram um total de 113, por outro lado, proporcionalmente, também foi este órgão o que em
menor quantidade e insuficientemente respondeu. Do total somente 11 foram respondidos,
nenhum em relação a primeira solicitação, apesar de ter havido reiteração daquele requerimento,
10 em relação a segunda, e 02 em relação a última, sendo que o Conselho Tutelar que
respondeu, localizado na Região da Sé, disse não ter conhecimento do encaminhamento
realizado e do andamento do caso pelo fato de ter este Conselho alterado a gestão. Isto dá
mostras da descontinuidade do trabalho e da ação conselheira na cidade.
Outro ponto tocado nesta CPI, ainda sobre os Conselhos Tutelares, diz respeito a sua
estrutura, que fora considerada insuficiente para que este órgão cumpra com a função típica que
lhe compete.
Uma atribuição que por fim cabe ressaltar dos Conselhos Tutelares, por ser especialmente
importante dentro do Sistema de Garantia de Direitos, refere-se ao assessoramento ao Poder
Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento
dos direitos das crianças e adolescentes, pois já que este é o órgão que atua no sentido de zelar
pelos direitos humanos e que muitas vezes acaba sendo a “porta de entrada” aos diversos tipos
de violações destes mesmos direitos, nada mais coerente que ter a atribuição de assessorar na
elaboração do orçamento voltado ao público infanto-adolescente, uma função que, apesar de ser
essencial à engrenagem deste Sistema, tem infeliz e inapropriadamente ficado alheia à atuação
deste órgão em muitas cidades brasileiras, o que no município de São Paulo não é diferente.
Um instrumento administrativo também tratado pela CPI foi o “Disque 100”. Ao visitarmos a
página eletrônica da Secretaria Especial de Direitos Humanos, órgão executivo responsável pela
idealização e execução do serviço telefônico, conferimos a seguinte definição:
Por meio do 100, o usuário pode denunciar violências contra crianças e adolescentes,
colher informações acerca do paradeiro de crianças e adolescentes desaparecidos, tráfico
de pessoas – independentemente da idade da vítima – e obter informações sobre os
Conselhos Tutelares.
Alterado, em 2006, para o número 100, o Disque-Denúncia tem sido amplamente utilizado.
Mas, ao mesmo tempo, altamente questionado em seu método e na contribuição efetiva para a
resolução de conflitos e proteção de crianças e adolescentes.
• Tráfico de pessoas;
• Abuso sexual, negligência e violência (com lesão corporal, violência física, violência
psicológica, violência com morte).
Muito embora recente notícia(18) da SEDH tenha veiculado a marca de 100 mil denúncias,
desde 2003, não há precisão direta para o conhecimento da real quantidade de fatos violentos. A
maior quantidade de notificações foi categorizada como atos de “Negligência” (35,04%), o que
deixa a dúvida sobre a efetividade da campanha, que enfatiza o destino do Dique 100 às
denúncias relacionadas diretamente à violência sexual. Isso, apesar da procura pelo serviço ter
aumentado em cerca de 625% de 2003 à 2008.
Até o mês fevereiro de 2009, o Estado de São Paulo estava em penúltimo lugar (25,48
denúncias por 100 mil hab.) na recepção de denúncias (ANCED, 2009).
Sobre este serviço algumas considerações importantes foram feitas na última sessão de
trabalho ocorrida nesta CPI a partir da exposição da convidada Neide Castanha, representante do
Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil. Disse ela entender que o
disque 100 teve um papel importante no desvendamento das situações de violência sexual, mas
que neste momento tem que se trabalhar para a descentralização do serviço, repassando a
metodologia, considerada bastante apropriada, para os municípios. Sobre a metodologia informou
ter saído recentemente publicação pela SEDH para dar publicidade à metodologia utilizada no
disque 100.
Dentro deste eixo incluem-se, ainda, as entidades sociais de defesa de direitos humanos,
que atuam com base na prestação da proteção jurídico-social, as quais recebem o nome de
Centros de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDECA), que se diferenciam de
outras instituições da sociedade civil justamente por conta de sua especialização no atendimento
jurídico-social a crianças e adolescentes. Representante do CEDECA Interlagos, presente na da
sessão realizada por esta CPI em 30 de abril, foi o convidado Cláudio Hortêncio.
Um Centro de Defesa não se confunde jamais com uma assistência judiciária, pois a
atividade jurídica que realiza não existe de forma isolada, sendo esta uma estratégia de ação
política, que funciona conjunta e paralelamente com um trabalho social. Além de poder ingressar,
de forma estratégica, em juízo para atender interesse individual, possui permissão estatutária para
ingressar em juízo com ações para a defesa de interesses difusos e coletivos relacionados à
infância e juventude. Portanto seu papel não se resume apenas em representar pessoas perante
o Poder Judiciário, mas se caracteriza por atuar junto aos demais atores do Sistema de Garantia
de Direitos para garantir de maneira ampla os direitos das crianças e adolescentes, assim como a
funcionabilidade adequada deste Sistema. Neste sentido, a via judiciária não é exclusiva, pelo
contrário, compõe, ao lado e em conjunto com outros instrumentos de cunho administrativo e
social, o rol de ações com finalidade política social visando não somente a defesa, mas a
promoção e o controle dos direitos das crianças e adolescentes.
• Conselho Tutelar;
• Ministério Público;
• Polícia Federal;
• Disque Denúncia;
Aqui é importante destacar que apesar deste eixo comportar as instituições da sociedade
civil que tenham em seus objetivos estatutários o trabalho com crianças e adolescentes, somente
considera-se integrante deste eixo se constituir-se de uma ação articulada e integrada em local
próprio, os quais são comumente conhecidos como Fóruns, que são espaço público não-
institucional aberto a toda a sociedade e a toda forma de opinião. Nesta CPI estiverem presentes
na plenária militantes dos Fóruns Municipal e Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente de São Paulo.
Cabe lembrar por fim que o controle também será feito pelo próprio Estado por intermédio
de seus órgãos próprios e dos poderes de controle interno e externo(19).
• CMESCA;
Portanto, dentro de cada eixo, encontram-se os Atores Públicos e Políticos que, por
imprescindível atuação em rede, têm a missão de implementar as políticas públicas, prevenir a
violação de direitos, restituir o direito e, em órbita de monitoramento dos dois eixos (Promoção e
Defesa), controlar o adequado e harmonioso cumprimento de todas essas atribuições. Esse
Sistema vigora a partir de ações categorizadas em programas, projetos e atividades – na seara
governamental -, e por serviços – na seara não-governamental. Ademais, para além da divisão
clássica Governo-Sociedade Civil, temos, por inovação constitucional, os Conselhos Tutelares e
Conselhos de Direitos: o Conselho Tutelar é órgão público de defesa de direitos; o Conselho de
Direitos, órgão de gestão pública, responsável por formular políticas públicas e fiscalizar seu
cumprimento.
Por assim dizer, cabe a essa Relatoria, entre outras finalidades, recuperar ensejos,
insinuações e, propriamente, afirmativas propositivas para dar cabo à Comissão com significativa
contribuição à sociedade paulistana, e, quiçá, ao Brasil.
Acerca dos aspectos formais destacados nessa CPI, temos, como questões mais
impactantes a serem reveladas e repensadas: o formato e a dinâmica de trabalho dos vereadores,
assim como o setor administrativo da Câmara Municipal de São Paulo; a compatibilização dos
trabalhos realizados em todos os 8 meses com a finalidade e competência de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito Municipal.
Nesta fase foram convidados diversos especialistas sobre Violência Sexual, os quais
também em suas explanações conceituais evidenciaram o equívoco na utilização do termo
pedófilo a fim de se referenciar ao abusador ou explorador sexual de crianças e adolescentes,
clareando o fato de que o vocábulo pedofilia tem sido equivocadamente empregado em nossa
sociedade, engano este que, conforme as explicações, não poderia se repetir nesta Comissão,
principalmente por se tratarem, os portadores deste distúrbio de personalidade, um número
significativamente pequeno dentre aqueles que abusam e exploram sexualmente as pessoas
infanto-adolescentes, significando com isto que somente se investigar a partir da relação com a
pedofilia, por conseqüência lógica, estaria se deixando de lado a maior parte dos casos de
violência sexual.
Assim, com base no amadurecimento dos trabalhos, dando mostras de honrosa inclinação
à escuta daqueles que representamos, acolheu-se o anseio da sociedade civil, e esta Comissão
Parlamentar de Inquérito, unanimemente, na sessão do dia 02 de abril deliberou-se pela
ampliação do foco investigativo com a conseqüente ampliação do nome da CPI, que, a partir de
então passou a se chamar “CPI ‘da Pedofilia’ e do Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-
Juvenil”.
“Parece evidente que, se e quando houver conexão razoável entre os fatos, será também
razoável admitir que sejam apurados em uma só e única investigação, realizada pela
mesma CPI, aplicando-se ao caso o princípio da eficiência, ou da economicidade, que
postula o máximo de resultado com o menor dispêndio de atividade, energia ou dinheiro
(CF, art. 37). De sorte que o fato determinado pode desde o início compreender vários
fatos interligados entre si, como pode, no curso mesmo da investigação, estender-se ela
sobre outros, ligados ao principal” (SPROESSER, 2008: 238).
Em outro acórdão:
Com isto podemos, imediatamente, verificar o quanto dos trabalhos nos tomou a parte
correspondente à aquisição de conhecimento a respeito do enfrentamento à violência sexual
infanto-juvenil na cidade de São Paulo, não restando, no primeiro período dos trabalhos desta CPI
(antes da prorrogação), tempo apropriado para adentrar de fato nas outras duas fases conforme
inicialmente acordado, ou seja, na Investigação e na Intervenção. Portanto, justamente por conta
disto, decidiu-se prorrogar os trabalhos para um novo período de 04 meses.
Esse atraso, por certo, reflete uma – entre várias – dificuldade metodológica, com
destaque para o compromisso, dos convidados expositores e dos órgãos públicos solicitados, na
prestação de informações, conforme muito bem enfatizou o Vereador Floriano Pesaro através da
seguinte manifestação:
Faço esse questionamento, Sr. Presidente, porque acho que está na hora, e quero pedir a
atenção do plenário, e estou aqui sugerindo um requerimento, ou pelo menos uma
notificação ao Sr. Prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, para que tome as
providências devidas, porque as informações que foram solicitadas às secretarias
municipais, especialmente à SMADS, do ponto de vista da execução do plano municipal
de enfrentamento à violência sexual e também informações à respeito do Disque 100
cheguem a esta Casa, a esta CPI.
Então, é imperativo que esta Casa, esta CPI, sob o seu comando, nobre Presidente
Marcelo Aguiar, possa solicitar o encaminhamento de todos os requerimentos do plano
municipal, das ações da SMADS, da Secretaria de Direitos Humanos e de outras
envolvidas e do Disque 100 para o Sr. Prefeito para que possamos contar com a
colaboração, que tenho absoluta certeza de que será pronta, do Sr. Prefeito de São Paulo.
(...)
Assim, a partir dos trabalhos desta CPI identificou-se com muita evidência que a cidade de
São Paulo não possui um diagnóstico global sobre a situação de violação de direitos das crianças
e adolescentes. O que transparece um enorme empecilho ao enfrentamento à violação dos
direitos sexuais de crianças e adolescentes na cidade, pois sem tem minimamente o
conhecimento preciso – ou parcial – da situação, como se poderá planejar as metas no sentido de
se combater tais violações?
No entanto, ainda que os trabalhos tenham se dado sem o amparo – pela inexistência – do
referido diagnóstico, um grande nó ao respeito à dignidade e à garantia dos direitos da criança e
do adolescente em São Paulo foi identificado no desenvolvimento da fase Investigativa: o fluxo de
atendimento. Neste verificou-se a completa inadequação, seja pela inexistência de um fluxo claro
e preciso de atendimento às vítimas, pela revitimização que lhe é marca, ou pela secundarização,
no que concerne a preocupação, da criança em relação ao agressor.
Acreditamos não haver dúvidas quanto à qualidade ímpar dos trabalhos e das temáticas
desenvolvidas nesta CPI, que muita serventia e proveito trouxe a esta cidade, mas também é fato
que problemas sérios permearam – e de certa forma obstruíram – o desenvolvimento desta
Comissão. Algo essencialmente importante que acabou se perdendo na dinâmica dos trabalhos,
refere-se a ponto relacionado à metodologia acordada nesta Comissão, conforme consta da
“Apresentação” deste Relatório, especialmente em relação a reconhecida – ainda que de
sobremaneira desatendida – necessidade da elaboração do plano de ação por CPI. A ausência
real deste plano de ação acabou por fim a fazer com que as ações fossem tomadas muitas vezes
sem o planejamento adequado para se chegar ao uso mais adequado, correto e proveitoso
possível deste inquérito parlamentar.
Por derradeiro, é preciso consignar que o resultado de uma gama de dificuldades que
tenham prejudicado a qualidade de algumas das sessões também ficou por fim localizado e
refletido no Relatório desta CPI. É evidente que, em primeiro plano, a ausência ou insuficiência de
informações comprometeu o bom andamento das sessões seguintes. Mais evidente ainda é, em
segundo plano, o efeito no Relatório da Comissão, documento de organização de todos os
registros necessários para eternizar os trabalhos desta Casa do Povo, bem como, para os fins da
política pública, contribuir, externamente, na efetivação da Doutrina da Proteção Integral.
Vale a pena apontar uma ressalva, essencial aqui retomar – também como uma alerta ao
parlamento de todo país que muitas vezes se equivoca quanto ao uso deste instrumento
parlamentar –, da inadequação de quaisquer Casas Legislativas municipal ou Estadual em se
apurar crimes, exceto se estes tiverem diretamente relacionados com a atuação da Administração
Pública do mesmo âmbito territorial de sua competência, o que verificamos não ser o caso desta
CPI. Isto porque a competência legislativa na área penal é de exclusividade do Congresso
Nacional.
Neste sentido, nada mais coeso, conforme fomos direcionados pelos trabalhos, de termos
centrado grandes esforços para se investigar a política pública municipal a partir do fluxo
estabelecido no município para o atendimento das crianças e adolescentes vítimas de violência
sexual, o que demonstrou que esta CPI foi direcionada pela luz da garantia e defesa dos direitos
das pessoas menores de 18 anos com morada em São Paulo.
“Sem interromper, queria só insistir numa questão, a gente insiste, nós estamos
trabalhando muito com o foco no fluxo, na rede, na fragilidade da rede, porque
nossa idéia como Vereadores que compõem essa CPI, é construirmos um relatório
que observe as fragilidades dessa rede, os pontos vulneráveis dessa rede, e
efetivamente aponte caminhos e alternativas, enfim, é nesse sentido que vai a minha
questão” (s. 25.06).
Consoante a essa intervenção, algumas exposições, ao longo do primeiro quadrimestre,
também apontaram para a necessidade de se investigar as falhas no fluxo de atendimento para se
criar e aperfeiçoar os mecanismos de qualificação dos serviços em geral.
Além disso, ainda temos reflexões que aportaram a comunicação com a População como
método de qualificação das políticas. A comunicação, vale lembrar, é elemento intrínseco à boa
política pública, vez que determinante à intersecção entre as linhas de ação e os atores do
Sistema de Garantia de Direitos.
Fomos, assim, levados a empreender energia mais intensa nas questões referentes aos
serviços de proteção direta aos direitos da criança e do adolescente, visto durante os trabalhos –
tendo restado ao final confirmado – serem insuficientes e/ou falhos neste Município.
Por todo exposto aqui e no tópico anterior, podemos concluir que ainda que muito pouco
esta CPI tenha conseguido avançar, da forma devida e esperada na Fase do Diagnóstico – ainda
que esta fase tenha tomado conta da maior parte dos trabalhos realizados por esta Comissão
Parlamentar de Inquérito –, no que se refere ao número, mesmo que aproximado de violações aos
direitos sexuais existentes na capital paulista, prestou, ainda assim, crucial contributo à política
municipal ao desvendar ser o diagnóstico da situação de violação de direitos um faltante absoluto
deste município e de se aperceber as inescusáveis falhas encontradas no fluxo de atendimento
destinado às vítimas de qualquer tipo de violência sexual. Esta identificação, no entanto, nos
aponta, por fim, a uma questão fundamental: a necessidade de dar urgentemente cumprimento
cabal ao Plano Municipal de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil.
CONCLUSÕES
Sendo assim, fora mais do que acertado o acolhimento da proposta da sociedade civil de
ampliação do foco e conseqüente mudança da nomenclatura que intitula esta Comissão: a
precariedade das políticas sociais de desenvolvimento de crianças e adolescentes não está
restrita à persecução penal realizada, incessantemente, aos agressores, mas, mais do que isso,
presente nas políticas básicas e especiais de promoção e proteção do público vitimizado.
Vitimização, diga-se de passagem, gerada não somente pelo fato delituoso individual, mas ainda
pelo insuficiente e insatisfatório repertório de programas governamentais e não-governamentais,
característica maior de um Estado Brasileiro que ainda não firmou políticas de Estado, e sim,
quando muito, políticas de governo.
Nesse passo, reforça-se, em modo conclusivo, a evidência resultante das ações dessa
CPI: a imperiosidade de se oxigenar as instituições de Estado – Ministério Público, Defensoria
Pública, Órgãos de Tribunais de Justiça, Conselhos de Direitos etc -, instituições de governo –
prefeitura municipal e suas secretarias e regiões administrativas – e instituições da sociedade civil
– de atendimento, pesquisa, controle e defesa de direitos humanos.
É nítida a disputa de poder estabelecida entre setores da sociedade civil e governo, seja
do ponto de vista meramente partidário, como também ideológico. Por essa razão, as instituições
de Estado, em tese, acima do binômio mencionado, devem ser fortalecidas no campo dos Direitos
Humanos, sob a perspectiva da garantia universal de desenvolvimento de todas as crianças e
adolescentes. Pois são as instituições de Estado as justificadoras e protetoras do equilíbrio
democrático arduamente construído na República Federativa do Brasil, enquanto assim se o
desejar.
A primeira questão importante a ser tratada nessa CPI foi o conceitual entendimento de
Pedofilia, de modo que, automaticamente, debateu-se sobre a definição da nomenclatura que
intitula a Comissão. Diante dessa definição, foi conseqüente o prenúncio sobre a definição do
foco. Essa questão foi colocada desde o início pelo Vereador Relator Carlos Alberto Bezerra,
aduzindo, claramente, sobre a incongruência entre a proposta de uma CPI (apuração de fato
determinado e, eventualmente, tipificado como crime) e o que estava sendo proposto, já que a
Pedofilia trata-se de uma Patologia, portanto não passível da ação de uma Comissão, que só
alcança sentido com a ampliação da nomenclatura para manifestações de violência sexual,
reconhecidamente, o implícito objeto de investigação desta CPI. Segue trecho desta sessão:
O segundo apontamento que faria: uma CPI, ainda mais uma CPI que trata de um
tema como este - do enfrentamento da violência sexual contra a criança e o adolescente
na cidade - é um tema que perpassa por vários outros temas, como por exemplo: a
questão do tráfico de drogas, o tráfico de pessoas, a questão da drogadição, prostituição,
enfim, vários temas que são transversais a esse. Então, faço desde já, um apelo para que
tenhamos uma estratégia definida e um foco definido, para que seja mantido o foco. A
tentação durante todos os trabalhos da CPI será enorme, no sentido de desviarmos o foco,
em virtude de tamanha amplitude de problemas que serão adicionados conforme
avançarem as investigações e as discussões.
Sessão de 19 de Março
• Cronograma de ações da CPI: cronograma interno que inclui, entre outras atividades, as
reuniões, e um externo, de visitas e oitivas;
Vale salientar, ainda, que mais de 100 (cem) instituições(20) elaboraram e apresentaram
um Manifesto direcionado aos Vereadores da CPI, defendendo a ampliação do foco e,
conseqüentemente, do nome, pois, segundo o documento, somente assim seria possível, de fato,
alcançar o objetivo de enfrentar as principais formas de violência sexual contra crianças e
adolescentes. Seguem algumas das intervenções citadas:
“Glória Maria Motta Lara (Entidade FAROL) – ‘Para nós, que atuamos na área, faz
diferença, porque distinguimos a questão da pedofilia da questão da exploração da
violência sexual. O pedófilo, na minha opinião, na opinião da minha entidade, é uma
pessoa que deve ser tratada, mas deve também ser responsabilizada’.”
“Lúcia Toledo (Entidade FAROL) – ‘Quem que essa CPI de fato quer se preocupar?
Quando deixa claro que o nome é do pedófilo no universo de pessoas que abusam e
exploram sexualmente crianças e adolescentes uma parcela pequena são pedófilos. E
além, disso você não dialoga com a sociedade de que aquele que leve e trás, que
fotografa, que explora, que permite que naquele hotel tenha criança sendo explorada, etc
(...) Toda aquela rede de aliciadores se identifique (sic) com essa CPI. Só vai identificar
quem de fato for. E que geralmente trabalha silenciosamente. Tem de deixar claro para a
sociedade com quem que vocês querem dialogar.’”
Ainda nessa sessão, ensaiavam-se sugestões para elaboração das linhas de ação, como
profere o Vereador Presidente:
A primeira sugestão é que seja uma linha de trabalho que abranja a parte educacional e
sociológica, assim como a parte legal e jurídica, e que façamos audiências públicas para
que possamos levar às esferas estadual e federal até mesmo uma alteração da
Constituição como idéia, como informação, como conteúdo. Outra sugestão é que essa
linha de trabalho também abranja um trabalho na área da saúde física e mental, assim
como um trabalho na área de investigação e de assistência social, assim como um site,
que possa estar ligado a alguns órgãos que já hoje em dia fazem um trabalho de
acompanhamento na cidade de São Paulo.
A respeito da CPI Federal (Senado Federal), fez, ainda, um convite aos demais
Vereadores para irem, todos, à Brasília, em visita ao Presidente daquela Comissão, de modo a se
recolher cópias dos documentos de apuração de fatos relacionados a São Paulo.
Sessão de 26 de março
O esforço das primeiras sessões da CPI foi voltado para trazer reconhecidos especialistas
de evidente contribuição aos trabalhos dos membros parlamentares, de modo a se compreender
melhor os conceitos em discussão.
a Organização Mundial da Saúde fala que nessa última década milhões de crianças
sofreram abusos e negligências nas mãos de seus pais e cuidadores. Então, uma coisa
que chama atenção neste tema, é que a grande maioria dos casos acontecem dentro da
própria casa.”. Dalka, ainda, observa que a violência sexual direta não é de titularidade
masculina, embora a maior parte das práticas seja atribuída ao homem. Explica, em
seguida, o que podemos denominar como Pedofilia e como abordamos seu alcance mental
e manifesto. Faz de todos os conceitos uma abordagem prática, em especial a partir de
sua atuação no Instituto que representa nessa sessão. E na prática que utiliza como
contexto, traz outras formas de violência contra criança e adolescente – trabalho infantil e
tráfico de seres humanos – para denotar uma cultura, segundo ela, “adultocêntrica” e
“falocêntrica”.
Com mais detalhes, Dalka explanou sobre sintomas e manifestações das vítimas de abuso
sexual, o que nos faz olhar com afinco para essa violência intradomiciliar. Encerrou sua fala
tratando da rede de proteção da criança (em especial, o fluxo de atendimento) em face da relação
desta com seus responsáveis, entre eles, o próprio agressor. Nota-se que a contribuição de Dalka
Chaves, nesta fase de Diagnóstico, enfatiza – pela própria experiência do Instituto Sedes
Sapientiae – a produção de violência no âmbito doméstico e familiar, com destaque para o abuso
sexual contra crianças e adolescentes.
Glória Maria, por sua vez, trouxe uma importante contribuição do ponto de vista do Direito,
ampliando o foco da violência sexual, agregando elementos do cotidiano, na militância e no
atendimento aos direitos de crianças e adolescentes explorados e abusados sexualmente.
Introduz o assunto pelo viés da Violência Sexual, atribuindo, acima de tudo, o caráter de
violação de direito fundamental. Conceituou a violência pelo Abuso Sexual, expandindo-se para as
questões relativas à Exploração Sexual Comercial, na qual inclui o Turismo Sexual e o Tráfico de
Pessoas na modalidade pertinente. Expôs a amplitude e a variedade de manifestações de
violência, que chegam, pela via da tecnologia virtual, à Pornografia Eletrônica infanto-juvenil.
E ataca:
O que a gente sabe mais sobre São Paulo? Que os serviços são insuficientes. Por
exemplo, do serviço especializado, do antigo Sentinela, a gente tem cinco para atender
toda a cidade de São Paulo. A gente sabe que é muito pouco, a gente sabe que esse
pessoal do atendimento – tem a Dalka, tem mais gente, tem pessoal da Rede Criança – se
mata para tentar atender a uma demanda e sabem que não vão dar conta, pois o grupo é
muito pequeno.
Glória, por fim, traz uma percepção segundo a qual o pedófilo suspeito – na observação
comum -, por vezes, pode não carregar tal diagnóstico, mas ser um membro da rede de
exploração sexual comercial, tamanha a quantidade de interfaces existentes nas diversas
maneiras de manifestação da violência sexual. Retrata, ainda, as perspectivas de enfrentamento à
exploração sexual, afirmando que as forças meramente repressivas não têm condições de bastar
as práticas violentas, muito embora se deva qualificar o trabalho policial para o fim investigativo,
de extrema importância na apuração e mapeamento dessas práticas. E adverte, localizando parte
da responsabilidade:
Enfim, de fazer esse diagnóstico da situação em São Paulo, de tentar obrigar o Poder
Executivo a capacitar os seus servidores para que eles possam fazer esse atendimento de
forma adequada
Sessão de 02 de abril
Nesta sessão, a exposição seria conduzida por Miriam Tronnolone. No entanto, Rony Lins,
assessor pessoal do Senador da República Magno Malta, atual presidente da CPI da Pedofilia do
Senado Federal, pediu voz para apresentar dados de suposta ação de pedófilos. Objetivou, com
isso, a sensibilização dos vereadores para tornar o foco principal à Pedofilia, o que suscitou
novamente debate sobre a mudança ou não do nome da CPI.
Miriam trouxe algumas informações sobre a execução dos programas, mas ressaltou que,
de acordo com as informações que obteve sobre sua ida à CPI, não dispunha de dados
detalhados em mãos, mas adiantou alguns fatos da Administração. Fez menção à dificuldade que
a Secretaria encontra em realizar pesquisas de diagnósticos, atribuindo a responsabilidade,
sobretudo, ao fluxo de atendimento e defesa das vítimas. Mas, alertou que a CMESCA tem
estudado os dados ofertados pelos serviços diretos e indiretos, bem como os estabelecidos na
SMADS, de modo a se subsidiar para o aperfeiçoamento do Plano Municipal. Outros dados
informou:
Por fim, uma senhora de identificação protegida sob comando da presidência da CPI
trouxe fato relacionado à violência sexual cometida contra seus filhos pelo pai dos mesmos. Fato
que despertou o interesse dos Vereadores, tanto em acompanhar o desenvolvimento das
investigações – elegendo-o como um primeiro caso da CPI – quanto em saber o que motivou a
denunciante ir à CPI. Ela respondeu que estivera, dias antes, com o Vereador Presidente Marcelo
Aguiar, sob condução do Sr. Rony Lins, que se pronunciou neste mesmo dia de Sessão, dizendo
ser membro da assessoria do Senador Magno Malta, presidente da CPI homônima do Senado.
Enfatiza que direito à sexualidade não se resume – nem deve se destacar – no direito a
manter relações sexuais, pois, antes de tudo, adverte que a criança e o adolescente devem ser
reconhecidos como sujeitos que possuem desejos, incluindo os sexuais. O que não significa
valorar suas práticas, conforme o modo e a relação estabelecida.
Claudio Hortencio aponta, ainda, no aspecto da organicidade das políticas, para o Sistema
de Garantia de Direitos – conceituando-o – como um ambiente, regulamentado pelo CONANDA
(Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), a estratificar e classificar os atores
sociais, públicos e políticos responsáveis pela promoção, defesa de direitos e controle da
efetivação desses direitos. Nesse sentido, é preciso concentrar atenção na macro-organização de
proteção dos direitos da criança e do adolescente, sob pena de não se atingir as finalidades caso
a caso. Em resposta às necessidades de Vereadores de serem orientados sobre os possíveis
rumos da CPI, Claudio Hortêncio chegou a suscitar os Fluxos – a exemplo dos realizados pela
ABMP (Associação Brasileira de Magistrados e Promotores de Justiça) – como ferramentas que
viabilizam a compreensão do Atendimento, no aspecto da proteção.
Entre novas iniciativas de proteção da Criança e julgamento penal dos casos, Claudio
Hortêncio citou a prática do Depoimento sem Dano, contextualizando-o a partir do reconhecimento
do direito de fala, da criança.
Acusa, por fim, a incapacidade preventiva real dos trabalhos de proteção dos jovens,
denunciando que boa parte dessas práticas se dá no nível terciário da prevenção, o que ainda se
mostra insuficiente.
Sessão de 30 de Abril
Convidados: Mariângela Aoki, representante da Secretaria Municipal de Saúde, Jefferson
Drezzetti, médico representante do pioneiro Hospital Pérola Byington paulistano; Ivan Mello, Vice-
Presidente do Instituto Zero a Seis; e Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams, do Hospital das
Clínicas.
Aoki destinou-se a informar os dados estatísticos que a SMS abriga, traçando, em seguida,
reflexões e conclusões sobre o sistema de proteção de crianças e adolescentes, sobretudo, no
que toca ao fluxo de atendimento Vale destacarmos alguns dados trazidos por ela.
Trouxe vários slides, mas só darei destaque que no Município de São Paulo de morte por
homicídio, a primeira causa de morte, vai dos 15 aos 34 anos; a segunda causa, dos 35
aos 44 anos; a terceira causa de morte, de cinco aos 14 anos. (...)
De 2005 a 2008, na verdade, a Secretaria, antes disso, já tem colocado essa questão
dentro da agenda da saúde, porque até então a violência era mais no campo da
Segurança, e agora a gente trabalha com a violência, também, como uma questão de
saúde pública, temos a capacitação de mais de 1.400 profissionais, produzimos material
de apoio, uma revista e um vídeo Tecendo Redes de Paz; Cadernos de Violência
Doméstica Sexual, voltada para a criança e adolescente, para a mulher e para a pessoa
idosa, e um álbum seriado de prevenção à violência para fazer trabalhos educativos de
prevenção. (...)
Temos, na rede municipal, oito hospitais de referência para a violência sexual, sendo que
cinco que fazem aborto legal. (...)
Então posso citar o Hospital do Jabaquara, Hospital de Campo Limpo, Hospital do M’Boi,
do Tatuapé que organizam o núcleo, o Hospital do Servidor Público Municipal tem um
núcleo. Então se chega lá num pronto socorro e é identificada uma situação de violência,
são feitos todos os cuidados necessários em saúde e isso é encaminhado para esse
núcleo que é composto por uma equipe multiprofissional de assistente social, psicólogo
para poder fazer todo o cuidado necessário.
A partir daí, a orientação é que ele referencia esse caso para a unidade básica para dar
prosseguimento ao cuidado. Um exemplo, a rede aqui da região da Vila Mariana-
Jabaquara, que está constituída, essas situações, esses casos são encaminhados, são
discutidos nessa rede para poder, além do cuidado em saúde, quais são os outros
cuidados necessários, seja do ponto de vista da educação, da assistente social, às vezes
precisa de um abrigamento, isso é um caso que não precisa de um... se a criança está
correndo algum tipo de risco mas não implica, não precisa de uma internação, mas a
orientação que é dada no hospital é que essa criança aciona o Conselho Tutelar e a partir,
acionando o Conselho Tutelar essa criança ela pode ficar, provisoriamente, afastada da
família até remover esse risco.
Jefferson Drezzetti reforçou alguns dados coletados a partir das práticas hospitalares e
detalhou o fluxo de atendimento das crianças e adolescentes violadas em seus direitos, realizado
no interior do Hospital Perola Byington. Advertiu, ainda, sobre os aspectos da violência e as
dificuldades a serem superadas. Parte majoritária dos dados que revelou está contida em
documentos extras que enviara para a CPI. E explica, com pormenores, a natureza jurídica do
Hospital:
O Hospital Pérola Byington, que não é unidade do Instituto Médico Legal da Secretaria de
Segurança Pública que está alocada dentro do Pérola Byington, não tem – e digo que não
tem, porque sou coordenador do serviço há 15 anos – nenhum tipo de limitação a qualquer
tipo de atendimento. Homens ou mulheres de qualquer idade, em qualquer situação de
abuso suspeito ou confirmado, em qualquer grau de complexidade, são admitidos pela
Instituição. E eu não tenho referência – pelo menos que tenha me chegado até hoje; não é
possível acompanhar pessoalmente os 18 mil casos, mas não há antecedente na
Instituição de que nós temos uma negativa de atendimento na transferência para outro
hospital, salvo situações muito particulares por período muito curto. Portanto, não há
limitação. Se hoje, nesse momento, chegar uma pessoa de 18 anos de idade do sexo
masculino, ela receberá atenção, sim. E não há limitação do atendimento hospitalar.
Já Lúcia Williams, trouxe alguns dados sobre a ação desenvolvida no município de São
Carlos (interior de SP), e a preocupação do entendimento do abuso praticado contra criança, bem
como o preconceito e tabu pelos quais o tema está envolvido. Inaugura, nesta CPI, o tema do
Depoimento sem Dano, ou, como preferiu, “Depoimento Protegido”, firmando posicionamento
favorável à prática, independentemente da nomenclatura que a refere.
Sessão de 14 de maio
Convidada: Leila Paiva – Governo Federal – Enfrentamento à Violência Sexual contra crianças e
adolescentes.
O Senador refletiu sobre sua história pessoal, seu alcance profissional e sua dedicação à
questão da infância, particularmente pela empreitada nacional assumida na frente da CPI da
Pedofilia federal. Com constantes recortes de contextos, o pano de fundo de sua explanação, de
tom alta, e predominantemente punitivo, é a responsabilidade efetiva do pedófilo enquanto
desejoso de algo proibido, maléfico às crianças e adolescentes. Apontou para mecanismos em
estudo, como a Difusão Vermelha – segundo o Senador, espécie de permissão internacional de
cumprimento de ordem de prisão – e a “Castração Química”, ambos por ele apoiados.
Não tenho estatística de São Paulo, não tenho estatística do Rio, não tenho estatística de
lugar nenhum.
Em outras palavras, ele não abordou eventuais investigações da CPI Federal sobre casos
e situações referentes ao Município de São Paulo.
Sessão de 21 de maio
Lúcia Toledo explicou, com detalhes, a composição e atribuições da CMESCA, bem como
trouxe, brevemente, um histórico da produção dos Planos de Enfrentamento, que culminou na
elaboração do Plano Municipal. Observou que a criação da CMESCA teve contribuição do
Vereador Carlos Alberto Bezerra (PSDB), cujo projeto de lei municipal, segundo ela, “institui o
programa de enfrentamento à violência sexual, programa de conscientização”, que, “na verdade, e
além disso, ela é instituída a partir do Decreto Municipal 48.358, de 17 de maio de 2007.
Bethania Rezende, por sua vez, detalhou os elementos constituintes do Plano Municipal de
Ações Integradas (Plano de Enfrentamento), seus eixos, ações e parceiros. Advertiu, ademais,
que, no que tange ao Plano, encontra-se para publicação; já sobre a CMESCA, pretende-se
elaborar um planejamento bienal para sua atuação e manter as reuniões ordinárias mensais, que,
por sinal, enfatizou, são abertas ao público.
Sessão de 18 de junho
“É a única Delegacia especializada no Estado de São Paulo, e a sua atribuição legal é justamente
tratar de todo e qualquer tipo de crime, cujo emprego da tecnologia o caracterize. Ou seja, o meio
utilizado para a prática ou a tentativa da prática criminosa seja o meio tecnológico.”
Isso quer dizer que a Delegacia não se encerra somente nos crimes praticados contra
crianças e adolescentes, tampouco nos crimes eletrônicos de violência sexual, dois recortes que,
por sua complexidade, demandam um aperfeiçoamento do funcionamento da Delegacia, bem
como de todo o aparato público de investigação policial:
“Gostaria, até, de ressaltar que esse trabalho de investigação do crime praticado por meio
eletrônico é justamente um trabalho no qual todos aqueles que estão envolvidos, devem ter uma
característica de conhecimento técnico e, também, o conhecimento operacional daquilo que a
Polícia pode realizar.”
“existem dois instrumentos com o qual a Polícia Civil de São Paulo trabalha. É o instrumento da
investigação preliminar e o instrumento, efetivo, que se chama inquérito policial. O inquérito
policial, o que justifica a sua instauração é a existência de indícios suficientes de uma autoria ou
para uma determinação de autoria e prova da materialidade delitiva.”
Ainda adiantou que é parte do planejamento anual 2009 a criação de um portal eletrônico
de facilitação da comunicação entre os cidadãos e a Delegacia de Polícia, para que as denúncias
possam ser realizadas.
O Delegado destacou outro óbice às investigações, não mais ligadas aos equipamentos de
políticas sociais, mas ao fluxo de informações eletrônicas que contêm conteúdo pornográfico
infantil. Segundo ele, em nome do sigilo de dados pessoais, provedores e outras empresas –
como a Google – dificultam, ao máximo, o acesso pelos investigadores policiais, diante do que se
deve recorrer ao Juízo, que, por mais rápido que se situe nesse conjunto de procedimentos, não
responderá, muitas vezes, ao tempo que a demanda estabelece. Ressaltou que, nesse caso, o
tempo pode ser de até oito meses. Mas, ao mesmo tempo, alertou para a existência de diversas
parcerias com empresas responsáveis por manter bancos de dados de serventia às investigações,
como no caso de bancos financeiros.
Perguntado sobre os provedores existentes com sede na cidade de São Paulo, o Delegado
respondeu que tem a lista de concessionárias inscritas em funcionamento e que providenciaria à
Câmara Municipal as informações pertinentes. Disse, ainda, ser possível localizar a origem dos
dados e seu computador, pelo sinal de “IP” instalado em cada máquina.
Sessão de 25 de junho
Neste último dia de sessão, conforme Regimento Interno da Casa do Povo, esteve
presente o Promotor de Justiça Augusto Eduardo de Souza Rossini, em nome do Ministério
Público.
Rossini abordou três pontos fundamentais para essa CPI: A atuação dos atores do
Sistema de Justiça, particularmente, do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPESP); a
atuação dos Conselhos Tutelares (CT) na cidade paulistana; a comunicação estabelecida no fluxo
de atendimento dentre os serviços de proteção. Ou seja, aportou temáticas relacionadas as
funções fundamentais do eixo de Defesa de Direitos do Sistema de Garantia de Direitos.
Cumpre destacar o teor de Carta elaborada pela Promotoria de Justiça dos Direitos
Difusos e Coletivos da Infância e Juventude:
Ofício 1949/09
Carmen Lúcia de Mello Cornacchioni; Dora Martin Strilicherk e Laila Said Abdel Qader
Shukair, Promotoras de Justiça”.
Sessão de 06 de agosto
Sessões seguintes
Sessão de 05 de novembro
Neide Castanho fora convidada e, entre outras informações, trouxera os seguintes dados,
que sintetizam a situação do fluxo de denúncias no Brasil:
As tabelas abaixo apresentam os tipos de violências registradas nas denúncias recebidas pelo
serviço Disque Denúncia Nacional do Brasil, em São Paulo (estado e capital), no período de maio
de 2003 a outubro de 2009, no ano de 2008 e no ano de 2009 de janeiro a outubro.
Período: 2008
Pornografia 280 52 22
Pornografia 141 20 6
Tipo de Violência Registrada 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 (até 10/11)
Exploração 0 0 8 45 59 62 41
Sexual com
Intermediários
Exploração 1 0 7 1 48 104 79
Sexual sem
Intermediários
Prostituição 0 0 6 0 0 0 0
Pornografia Ao Vivo 0 0 1 0 1 1 0
Impresso 0 0 0 3 3 8 2
Internet 2 0 5 3 13 10 6
Vídeo 0 0 1 3 9 10 2
Tráfico de Internacional 0 0 0 2 3 1 0
Crianças e/ou
Adolescentes Nacional 0 0 0 0 4 3 0
Não Informado 0 0 0 1 1 0 0
A tabela abaixo apresenta os tipos de violências registradas nas denúncias recebidas pelo
serviço Disque Denúncia Nacional em São Paulo (capital), no ano de 2009, mês a mês:
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov (até dia 10)
Exploração Exploração 2 2 6 4 5 2 2 7 6 4 1
Sexual Sexual com
Comercial Intermediários
Exploração 9 3 9 8 14 7 8 6 10 3 2
Sexual sem
Intermediários
Negligência 90 73 114 73 81 62 60 46 51 39 13
Pornografia Impresso 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0
Internet 0 0 0 1 0 2 0 0 3 0 0
Vídeo 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0
Violência Física 69 56 88 58 64 44 53 35 41 36 15
Violência 78 64 95 70 58 32 28 33 34 30 11
Psicológica
Abuso Sexual 30 24 37 37 38 19 20 31 15 12 12
Notas
(1) Artigo escrito por Carlos Nicodemos e Fabiana Pereira de Oliveira, intitulado “Proteção jurídico-
social do direito humano à sexualidade: caminhos alternativos para uma verdadeira
responsabilização”. in ANCED, Associação Nacional dos Centros de Defesa. A Defesa de
Crianças e Adolescentes vítimas de violências sexuais – reflexões sobre a responsabilização a
partir de dez situações acompanhadas por Centros de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente no Brasil, São Paulo, SP, 2009, p. 151-152.
(4) Diz o artigo 1º, parágrafo único da Constituição Federal que “Todo o poder emana do povo,
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
(7) Souza CM, Adesse L. Violência sexual no Brasil: perspectivas e desafios. Brasília, Ipas Brasil e
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2005. 188p
(9) Segundo Dalka Chaves, obra de autoria de Christiane Sanderson, editora “M. Books”.
(12) Fonte: Secretaria Especial de Direitos Humanos – Subsecretaria de Promoção dos Direitos
da Criança e do Adolescente (SEDH-SPDCA)
(15) Se, por ventura, no processo de elaboração das leis orçamentárias, descumprirem-se as
deliberações do CMDCA, este poderá e deverá representar ao Ministério Público para que se
tomem as providências cabíveis (o art. 210 do ECA arrola outros órgãos e entidades com
legitimação para demandar em Juízo neste sentido).
(16) Auad, Denise. Conselhos e Fundos dos Direitos da Criança e Adolescente: uma opção pela
Democracia Participativa. FDUSP, São Paulo, 2007, p. 141 -142.
(18) 15.07.09 - Disque 100 atinge a marca de 100 mil denúncias registradas em 6 anos – Fonte:
SEDH
(19) Tais órgão e poderes encontram-se descritos nos artigos 70 a 75 da Constituição Federal.
(20) A maior parte das entidades subscritoras do Manifesto está representada em documento
assinado pela mandatária do CNRVV/Instituto Sedes Sapientiae, Dalka Chaves, bem como pelo
Movimento Nossa São Paulo.
BIBLIOGRAFIA
LEGISLAÇÃO CONSULTADA
PROPOSIÇÕES do Vereador-Relator
Justificativa: Nos termos da Lei 4.320/64, Fundo Especial é destinado a financiar atividades e
projetos complementares. Na nova concepção de fundos sociais, adiciona-se a característica da
inovação concebida no bojo das ações a serem executadas pelo financiado. Outra marca de
importante destaque é o financiamento de setores da sociedade civil, ao contrário das rubricas
específicas destinadas à execução pelo próprio agente público. Por isso, o Fundo da Assistência
Social deve abrigar orçamento voltado às ações complementares executadas por segmentos civis,
e não pelos órgãos do governo – como a SMADS -, que, ademais, são financiados por grande
parte dos recursos previstos no Fundo.
4) Realização de Audiência Pública, quando da elaboração das leis orçamentárias, para tratar
da temática específica dos Fundos Municipais.
Justificativa: A lei 11.123/91 dispõe sobre a política municipal de atendimento aos direitos da
criança e do adolescente, sendo que o seu capítulo I traz de forma muito singela e insuficiente as
disposições gerais sobre este atendimento. Portanto, precisa de revisão para oferecer um maior
subsídio normativo à cidade no que tange o atendimento e a garantia dos direitos das crianças e
adolescentes.
Justificativa: Foi observado, em visita realizada por Vereadores desta CPI ao CREAS, o nível de
precariedade estrutural e humana. Todavia, antes disso, as discussões parlamentares verificavam
a insuficiente quantidade desses equipamentos. Nesse sentido, duas devem ser as metas
relacionadas à política de assistência de média complexidade: aumento da quantidade de
CREAS, bem como qualificação estrutural e de recursos humanos dos mesmos.
Justificativa: Significante avanço teve esta CPI a partir da publicação do referido Plano, no
entanto, a sua execução somente será viabilizada a partir da disponibilização de recursos
específicos.
Justificativa: Uma vez criado o Plano Municipal mencionado, deve haver um órgão de controle
externo para verificar e avaliar sua efetiva implementação. De outro lado, o Poder Legislativo
apresenta duas atribuições genéricas: elaborar leis e fiscalizar a efetivação de suas normas. É
premente, assim, coadunar a necessidade de criação de órgão de controle com a atribuição
parlamentar de fiscalização.
12) Realizar interlocução com a Mesa da Câmara Municipal, para que esta planeje ações para
2010, visando à produção de material relacionado à violência sexual contra crianças e
adolescentes, escrito, sob responsabilidade do Centro de Comunicação Institucional da Câmara, e
áudio-visual pela TV Câmara.
Justificativa: Sabe-se que a comunicação é crucial para a garantia dos direitos humanos das
crianças e adolescentes. Especialmente em relação à violência sexual, reside aí um grande aliado
ao seu enfrentamento.
14) Representação junto o Ministério Público do Estado de São Paulo, para celebração de
Termo de Ajustamento de Conduta perante o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CMDCA) de São Paulo para que este se comprometa a elaborar o Plano de
Proteção Integral (PPI), nos termos do art. 260 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
15) Representação junto ao Ministério Público do Estado de São Paulo, para celebração de
Termo de Ajustamento de Conduta perante o Executivo Municipal para que se comprometa a
efetivar o Plano Municipal de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil.
Justificativa: Verificou-se ser o referido plano de suma importância para se promover na cidade o
enfrentamento à violência sexual. No entanto, de nenhuma valia terá este documento se não
assumido e colocado em prática pelo governo municipal.