Resenha referente ao livro Design para um mundo complexo - Rafael Cardoso, páginas 45 a 71.
Este capítulo “Contexto, memória e identidade: o objeto situado no tempo-espaço”,
trata principalmente da inconstância dos artefatos. O capítulo inicia com um questionamento sobre a existência de objetos imóveis. Logo é feita a diferenciação entre objeto e artefato, deixando claro que a pergunta é se existem artefatos imóveis. A resposta que o autor considera é a de que, pelo senso comum, existem, vide os classificados de casas e apartamentos para vender ou alugar. Porém ele reformula a pergunta, considerando não somente o espaço, mas também o tempo: os artefatos podem ser fixos no espaço, não irem de um lugar para o outro, mas será que são fixos no tempo? Para expor seu ponto de vista, o autor se vale do exemplo dos Arcos da Lapa. Esse artefato passou por uma drástica mudança de função no ano 1896. Além disso, o autor argumenta que todas as características que se pode dar a esse artefato nos dias de hoje são menos significativos que antigamente. Se agora é considerado um monumento grande e imponente, antigamente esse era a maior construção da cidade. É considerado sólido e regular? Pois não é. Teve sua estrutura modificada para a passagem de carros entre os arcos. Todas essas modificações relativizam o conceito de permanência ligado aos Arcos da Lapa. O fato de que hoje eles se parecem com a forma original, não anula o fato de que sofreu diversas transformações ao longo do tempo. Deve-se questionar também o que pode ser considerado original. Qual a versão original dos Arcos, visto que quem viveu no século passado considera aquela a versão original, enquanto atualmente a versão considerada original é a se pode observar de dentro do ônibus a caminho do trabalho ou ao passar uma noite na Lapa com os amigos. O autor afirma sobre isso que é preciso recorrer a fontes históricas e começa a citar e explicar pinturas onde o artefato é protagonista. A conclusão conseguida a partir dessas fontes é que os Arcos de hoje nem se quer são iguais a construção inaugurada originalmente. Das imagens que se tem em registro pode-se perceber também que as cores do artefato de alteram. Ora marrom, ora cinza e ora, finalmente, branco. A partir dessa conclusão o autor passa pelo ponto de que na época que foram feitos esses registros a cor pouco importava, já que as pessoas não conheciam qual era a cor verdadeira, portanto as exigências com relação a verossimilhança eram bem diferentes de como são atualmente. Nos dias de hoje as pessoas são rodeadas de informações imagéticas, onde as cores têm um importante papel nas interpretações de significados. Portanto, o grau de confiabilidade em uma fonte é limitado, já que ela está sujeita a manipulações ou limitações da época em que foi produzida. Após isso, o autor entra em um outro assunto: os fatores condicionantes do significado. São eles: uso, entorno e duração, que estão ligados à situação material do objeto; ponto de vista, discurso e experiência, que estão ligados à percepção que se faz desse objeto. Todos esses fatores dão origem ao significado. O uso, usando o exemplo dos Arcos, é agora a passagem do bonde. Porém já foi o transporte de água. Uso aproxima-se de função, mas não é a mesma coisa. A palavra função costuma limitar o uso de um objeto a apenas uma funcionalidade. O entorno, continuando no mesmo exemplo, é o fato de toda a paisagem do centro do Rio de Janeiro ter mudado, tornando os Arcos menos imponentes perante a grandeza dos prédios que agora os circundam. A duração é o ciclo de vida de um artefato, da sua criação até sua destruição. Quanto mais tempo um artefato consegue resistir maior será a chance de incidirem sobre ele mudanças de uso e entorno. O ponto de vista é o local onde o observador se posta para observar um objeto. Qualquer ponto de vista deve ser válido, porém existem os considerados certos. O autor usa o exemplo de um museu, onde sempre se vê os quadros de frente, nunca o verso. O discurso é a forma como o usuário ou apreciador tenta transmitir sua experiência para outras pessoas, por meio da fala ou visualmente, podendo alterar pontos do objeto baseado na sua percepção pessoal. O último fator, experiência, é o mais íntimo e único. Se uma pessoa acha os Arcos bonitos e outra os acha feios é porque cada uma tem uma experiência diferente e pessoal, condicionada a fatores anteriores com o mesmo artefato ou não. Esses fatores anteriores são o que faz o “eu” de cada um. Todos esses 6 fatores explicados operam juntos, um incidindo sobre o outro. A divisão deles é importante para o entendimento da formação do significado. Esse entendimento fica mais completo quando se adiciona um fator extra, mas não menos importante, chamado tempo. Com a passagem do tempo surgem a história e a memória. O importante é perceber que tudo é passível à mudança do tempo, inclusive os significados. Para explicar essa afirmação o autor usa o exemplo dos quadrinhos do Homem Aranha, que no seu lançamento era vendido por 12 centavos e hoje virou uma relíquia de colecionadores. Outro exemplo são as imagens de Lenin na Revolução Russa, que se transformaram em símbolos de opressão e tirania e foram derrubadas no fim da União Soviética, hoje são colecionadas e vendidas no mercado de leilões. E, por último, a moda. Roupas que estavam no auge a décadas atrás, que passam a ser consideradas cafonas e depois retornam à moda. Conclui-se então que nesse capítulo fica claro que todos os artefatos são inconstantes e condicionados a inúmeros fatores que irão gerar seu significado, que é único de pessoa para pessoa e de época para época.