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EQUINÓCIO

DE OUTONO
Papa Legba &
Mama Ayizan

Ícaro
Alan
Edan
Nada, absolutamente nada pode ser feito dentro
do Vodou sem que passemos pelo seu aval.
Legba Atibon ou apenas Papa Legba, como ele é
chamado no Haiti e LaBas, como era conhecido na área
de Nova Orleans, pode ser entendido como um Espírito, e
uma família de espíritos, que são parte do que poderia ser
chamado de espíritos conectivos ou interpretativos. São
estes que “abrem as portas” para cada nação ou corrente
espiritual com as quais se deseja trabalhar.
Cada corrente espiritual ou nação (um termo usado para
distinguir agrupamentos de Lwa por sua cultura local, ou
pelas pessoas cujos espíritos eram antes de serem trazidas
para o Haiti como escravos) tem seu próprio espírito de
“abertura de portões”, conhecido como Legba.
Existem muitas divisões correspondentes de Lwa, e cada
uma delas tem seu próprio Legba encarregado de abrir os
portais e permitir que esses espíritos passem. Os Legbas
são espíritos de comunicação e contato, removedores de
barreiras e abridores de portas, que falam todas as línguas
e conhecem todas as formas de comunicação.
Em um culto ou celebração (fete, festa dos espíritos e
deuses), um dos espíritos de Legba está sempre entre os
primeiros espíritos a receberem canções e saudações, mas
Papa Legba não o primeiro necessariamente.
“Dizem os voduístas que se você for até uma Quando o priye ginen (uma ladainha de oração e música
encruzilhada, sozinho, e esperar o momento do que abençoa e inicia todos os cultos) está completo, o
amanhecer, poderá ver um velho sentado lá. primeiro espírito para o qual cantamos é Hountor, o Lwa
Mas mesmo se você não over, poderá sentir um aroma dos atabaques, que traduz nosso discurso e música
suave do tabaco de seu cachimbo, ou apenas ver a modernos para a linguagem tonal dos tambores.
sombra ou as marcas de sua muleta ou, ainda, ouvir sua
risada, alegre e profunda, de vez em quando até Então, cantamos para Grand Chemin, a Grande Estrada
debochada. que une nosso local de cerimônia e a terra onde os
Às vezes ele pode lhe dar coisas; às vezes ele as tira de espíritos residem - uma estrada grande e dourada que os
você. deuses seguem para chegar ao templo, o arco celestial do
Apenas uma coisa é certa: uma vez que você o ver, nunca caminho do Sol (e, muitas vezes, também o poto mitan, o
mais será o mesmo. eixo central do templo pelo qual os espíritos podem
Para alguns, ele é o próprio diabo. andar).
Outros dizem que ele é um anjo enviado do céu. Grand Chemin é em si mesmo um epíteto para o próprio
Alguns, o vêem como alguém no limiar dessas definições, Papa Legba, e é ele mesmo que criará aquela estrada pela
e ainda o chamam de espírito jogador e brincalhão, tal qual todas as outras Lwas poderão vir até o mundo físico,
como o Èsù dos iorubas. para serem cultuadas e trabalharem em prol de seus
Se você o perguntar sobre isso, ele dirá "sim" para todas servos.
as opções. E então ele vai rir para si mesmo, seus olhos
mais brilhantes do que as estrelas em declínio, enquanto Muitas das músicas cantadas para Legba falam sobre
ele sopra em seu cachimbo e o amanhecer se torna o estar na estrada, de abrir passagens e de passar pelos
amanhã”. portões é Legba então, como controlador dos portões do
mundo espiritual e físico, que facilita a comunicação
Papa Legba é um desses mistérios que, quanto entre as Lwas e seus servos.
mais é investigado, mais te instiga a buscá-lo.
Mas, para isso, ele te pede sempre um coração e mente Nenhum espírito pode vir a um chamado sem a permissão
aberta, e o reconhecimento de que não conseguirá abarcar expressa de Legba. Por outro lado, um servo que
tudo somente com o intelecto, e que a vivência direta é eventualmente tenha ofendido Legba será incapaz de se
necessária para realmente conhecê-lo. comunicar com qualquer Lwa, até resolver seu problema
com o guardião das estradas e portais. Sem comunicação,
É o intermediário entre a energia primária e o não há bênçãos, benefícios e proteções. E o próprio
mundo criado. Legba dará um jeito de levá-lo a uma reconciliação.
Os Houngans (Sacerdotes) e as Mambos onde Legba está parado, abrindo e fechando o caminho
(Sacerdotisas) devem dirigir-se primeiro a Legba para de acordo com os planos do universo.
que ele carregue suas orações e exigências para a Lwa
apropriada. Legba também deve ser invocado para Uma característica única de Legba seria a habilidade de
podermos nos comunicar com a nossa Lwa Mèt Tèt se mover através de vários universos simultaneamente.
(Espírito Pessoal Tutelar). Ainda que não saibamos quem Outro dos seus símbolos e um dos mais importantes é o
ela é, Legba sabe sobre todas as coisas e ele é quem pode sol, uma fonte de regeneração e vida.
nos revelar nossa Mèt Tèt. Legba é um deus solar, em voltado qual tudo gira. Muitas
Dada a sua posição no Vodu e seus talentos, não é músicas falam dele como um falo solar, um “Poto” do sol
nenhuma surpresa que Legba também seja o mestre do por onde a Lwa viaja outra alusão à estrada em que os
destino individual, a Lwa da adivinhação e dos oráculos, espíritos se movem.
fonte de todas as escolhas e ações e reações. Este atributo Várias outras características definem Legba. Mas o
é uma influência de sua origem africana, onde é até hoje atributo mais conhecido dele é o bastão, a bengala ou a
associado com o Fa, o espírito da adivinhação. muleta. Ele também carrega um cachimbo de argila e um
Enquanto Fa representa o destino, Legba representa a saco especial chamado “djakout [diacút] de Legba” para
mudança deste. Através de Legba, o destino poderia ser diferenciá-lo da sacola camponesa usada pela Lwa da
mudado, alterando o futuro. Na África, Elegba, assim agricultura Azaka, que é conhecida somente como
como Èsù, servia, e ainda serve como o porta voz do djakout. Normalmente, Legba se veste com jeans, uma
oráculo. Elegba / Èsù respondia traduzindo cada queda camisa de trabalho e um chapéu grande de palha.
dos búzios, cada lance do opele, de forma a guiar as Muitas vezes, ele é acompanhado de cães e caminha pelo
pessoas na sua evolução pessoal. No Vodu, Fá e Legba se mundo continuamente, apoiado em seu bastão, muleta ou
juntaram de alguma forma e moldaram personalidade de bengala.
Papa Legba, que se tornou o próprio oráculo. Legba nan Rada, ou Legba no Rito Rada, isto é, o rito
Uma fusão da divina sabedoria divinatória e do poder que envolve os espíritos mais nobres e ancestrais que
ancestral, solar e fertilizador. vieram da África, é o primeiro dos espíritos de Legba que
Apesar de ter muitos avatares importantes como Avadra é servido, e sua tarefa é abrir o portão da Grande Estrada,
Bowa (que varre o caminho antes de Legba), Katawoulo, a porta que permite que os outros espíritos participem de
Vye Legba, Legba Gran Chemin e Legba Gwetò, no nossas celebrações e ritos, sem ele (e outros como ele em
Haiti, ele é mais comumente chamado pelo nome Atibon outras culturas), não haveria uma brecha ou um lugar de
Legba (também conhecido como Legba Se). É essa reunião onde nosso mundo e o mundo dos espíritos
manifestação que fica diante do portão do Ginen (Mundo pudessem se tocar.
Espiritual), controlando todo o tráfego de ambos os lados.
A palavra Atibon é de origem Fon e se traduz, grosso
modo, como "a madeira da justiça". Esta é uma alusão ao
poste central, outro símbolo de Legba que é encontrado
em todo templo Vodu.
O potomitan, também escrito comopoteau-mitan, que é a
“estrada” pela qual as Lwas chegam ao Hounfò, isto é, no
templo. Muitas vezes, este poste é simplesmente
chamado como Poto Legba. Legba é o guardião deste
poste central e de todas as outras áreas do templo.
O avatar Legba Bitasyon é o guardião das casas e
historicamente é encontrado “sentado” na porta da frente
sob a forma de um pequeno monte de pedras sobrepostas,
ou então um montículo de terra.
Oferendas, como o óleo de amêndoa, azeite de dendê,
café e água, são servidos neste montículo diariamente
Na linguagem dos símbolos visuais de Vodou, que
para pedir a Legba que abra o caminho para que as
transmitem significado, as imagens usadas para
pessoas da casa tenham um bom dia. Legba tem outros
representar os vários espíritos de Legba sempre
símbolos além do potomitan.
apresentam o símbolo do Poto Mitan de alguma maneira
Um deles é a cruz, que não deve ser vista como um ou forma, pois é a porta na Grande Estrada que Legba
símbolo cristão, mas sim o encontro metafísico de dois controla.
planos de existência. Bem no centro da cruz, entre o reino
No Vodu mais tradicional, que leva em consideração as
físico (braço horizontal) e o espiritual (braço vertical) é
influências cristãs, Legba é sincretizado com Santo
Antônio de Pádua devido às histórias de que o santo pode piadas embaraçosas - mas que também é ao seu modo, o
encontrar coisas perdidas; São Lázaro para as muletas e Poto Mitan e a estrada pela qual os espíritos Ghede
as feridas nas pernas; São Pedro para as chaves do reino viajam.
dos céus; e São Roque – às vezes conhecido como Legba
pequeno - pelas feridas nas pernas. Note que os Legbas não são necessariamente sempre
espíritos da encruzilhada; a maneira como os ritos
Em algumas linhagens Rada Legba “veste” um santo funcionam, a estrada pela qual os espíritos de fogo de
conhecido como Santo Antônio, o Abade (um homem Petro são trazidos para os ritos é conceituada como
jovial e bem alimentado em túnicas marrons, segurando estando em um ângulo de 90 graus com a estrada mais
um cajado, o poto mitan, e parado na porta de uma fria pela qual os Rada entram.
caverna, cercado por animais como porcos e galinhas).
Quando os ritos Petro começam, as canções são cantadas
Legba nan Petro, o Legba que abre a porta para os para Dan (ou Don) Petro (mitologizado como criador do
espíritos mais quentes e mais severos do rito Petro, sistema Petro, mas basicamente a figura do Grand
costuma usar a imagem de São Pedro ou São Lázaro Chemin do novo ângulo de abordagem cosmológico),
(normalmente um homem emaciado e às vezes depois vem o Petwo Legba e depois de mais alguns
machucado andando por meio de muletas, outro espíritos, o ritual chega a Kalfou, o Lwa que é a
substituto simbólico do Poto Mitan). Este caminho de encruzilhada manifestada (Kalfou é uma crioulização do
Legba possui características muito similares ao original Carrefour francês, literalmente encruzilhada).
africano e parece ser idêntico ao gêmeo noturno Kalfou.,
porém deve-se manter em mente que são totalmente Para o Vodou haitiano ou norte-americano, as figuras da
distintos. Legba são guardas protetores de portões e portas, idiomas
e comunicação e os entrecruzamentos destes, mas não a
encruzilhada em sua totalidade, que tem seu comando
dividido comum ser completamente diferente – este seria
o “gêmeo” de Papa Legba, Kalfou.
O Legba Fon é um homem jovem e sexualmente potente,
filho mais novo das divindades criadoras, e combina
idéias que, quando chegassem ao Haiti, se dividiriam na
família de espíritos Legba (além de fornecer a base para
os espíritos de Ghede, à medida que o Legba Fon
mudasse) de um homem mais jovem a um grupo de
homens mais velhos, e como a fronteira entre a vida e a
morte era dividida em vários espíritos, em vez de ser
mantida pelo guardião original, fundindo-se com a
espiritualidade indígena Taino no Haiti, os aspectos
trapaceiro / curandeiro / morte de Legba do Daomé
deram à luz os espíritos de Ghede que mantêm a fronteira
entre os vivos e o cemitério - uma encruzilhada onde os
vivos e os mortos se cruzam, com seu próprio guardião
de encruzilhadas, Met Cimitiere, às vezes visto como
Petro e às vezes visto como dentro da família Ghede.
Mesmo as nações que não compõem os
componentes dos ritos maiores de Rada e Petro também No Haiti, Elegba se transformou em Atibon Legba, um
têm suas figuras de Legba (que podem ou não ser guardião dos portões para casas, aldeias e templos.
membros da família de espíritos Legba... muitas vezes, O Legba do Vodu é "coxo", sua caminhada é manca e
Ogou Ossange, um curandeiro admirado que também é dizem alguns que seus pés são quebrados, mas na verdade
sempre mostrado com muletas, pode servir como o Legba ele manca por andar, simultaneamente, em outros
nan Nago, ou a figura de Legba que abre a porta para os mundos, nos dois lados do espelho.
espíritos da nação Nagô, ou a divisão que mantém os
Ao contrário do Elegba jovem e altamente sexual do
espíritos do povo Nagô, que agora são mais amplamente
antigo reino do Daomé, Papa Legba no Haiti é visto
conhecidos pelo nome de sua língua, iorubá.)
como um velho homem curvado e vestido com trapos,
A família Ghede, os espíritos dos mortos não reclamados mancando ou caminhando com muletas ou bengala e
ou esquecidos, chamados no final de toda celebração de acompanhado por dois cães que lambem suas feridas e
Vodou, também tem seus próprios guardiões dos portais / fazem companhia a ele. Esta aparência de velho apenas
Legbas de seu grupo, e também são conhecidos por esconde seus grandes poderes. Embora a sua virilidade
carregar um Baton Ghede, uma bengala que pode ser tenha desaparecido, os servos no Vodu ainda conhecem
alternadamente a bengala de um cavalheiro ou ser Papa Legba como o falo cósmico, e um bastão ou bengala
colocado entre as pernas do espírito como fonte de muitas torcida, às vezes comum, outras vezes até em forma de
pênis, é mantido no seu altar como uma lembrança visual sacerdotes para manter seu conhecimento e a1 integridade
de seu poder de regeneração e criação. de sua tradição e sistemas; de maneira semelhante, nem
todos os católicos precisam ser sacerdotes, e certamente
Apesar de sua imagem explicitamente sexual ter sumido não é necessário ser sacerdote para rezar o Rosário na
no Novo Mundo, Legba ainda é freqüentemente invocado oração em casa. Mas para transmitir a fé, os serviços do
e evocado em questões de sexo e tenta sempre ajudar os sacerdócio e a oferta de missa, o clero é necessário.
casais nessa questão, voltando ao seu antigo avatar da
África Ocidental, o Legba da sexualidade. Vodu é muito parecido com o modo como aquele
funciona, e os fiéis, embora sejam capazes de pequenos
Apesar da aparente gravidade dos seus problemas nos pés atos de serviço aos seus espíritos em casa, também
e pernas, e dada a sua avançada idade, Legba geralmente entendem que a fé é uma religião da comunidade que
é amigável e está sempre disposto a ajudar. Ele é muito requer a comunidade de sacerdotes e leigos - celebrações
amado pelas pessoas, que o cumprimentam como "Papá". da comunidade para funcionar em qualquer coisa além de
Muitas peças do Legba Fon (o Legba Raiz, se você seu nível mais básico.
preferir) mudaram com a combinação de muitas religiões Isso, no entanto, não se aplica a bokors ou feiticeiros.
diferentes dos regimes que surgiram no Haiti, em suas Eles normalmente são iniciados por outros membros da
plantações e como resultado da Revolução que fez uma família e trabalham com os Lwa em um sentido
única nação unida de muitos escravos que se rebelaram e estritamente mágico e tendem a trabalhar com os espíritos
forçaram seus senhores franceses a sair da ilha em uma quentes / ardentes, intranqüilos e mortos, bem como com
revolta sangrenta. os djabs familiares ou adquiridos (uma classificação
Sabendo que não havia como retornar ao "lar", sua África separada de espíritos dos Lwa ou Ancestrais).
ancestral, os novos haitianos fundiram suas religiões para O reposoir de Legba, isto é, sua árvore sagrada e na qual
evitar que se perdessem, e nasceram muitas seus altares podem ser erguidos é conhecido no Brasil
manifestações / tradições individuais diferentes do vodu como pinhão roxo (Jatropha gossypiifolia) e em crioulo
haitiano - mas, no processo, muitos espíritos tomaram chamamos de Medecinier Beni.
novos aspectos de suas personalidades e muitas novas
necessidades foram preenchidas pelos espíritos que Ele também gosta da cabaceira e do carvalho.
surgiram. Seu djakout fica pendurado nos galhos de uma árvore,
principalmente uma dessas árvores mencionadas, para
Novas figuras de Legba surgiram para abrir as portas para receber ofertas de seus servos.
espíritos de populações novas e diferentes que se
destacaram entre os outros espíritos do recém-emergente Legba pode receber vários alimentos, principalmente os
e único Vodou haitiano. grelhados. Algumas de suas oferendas favoritas são o pão
de mandioca, arroz, bananas verdes, bananas fritas com
Como os espíritos de Legba governam a comunicação pimenta caiena, batatas assadas com açúcar e canela,
com o restante dos espíritos, TODAS as pessoas são malanga (inhame), espigas de milho grelhado, amendoim
vistas como tendo uma conexão inerente com esses Lwa torrado, abóboras, pipoca, azeite de dendê e carne e
(diferentemente dos outros, que podem ou não estar ossos.
"com" uma pessoa e cuja presença "com" uma pessoa
deve ser determinada por adivinhação). No contexto do Vodu, seus animais sacrificados¹
incluem galos ou galinhas e bodes. Ele gosta de galos
Como todos nós nascemos com a capacidade de servir pretos, manchados ou multicoloridos e galinhas de
aos espíritos que herdamos ou que procuram construir plumagem branca, preta ou manchada. As aves
relacionamentos conosco (aqueles que surgem nessa sacrificadas devem ser abertas pelas costas. Sua cabeça,
adivinhação acima mencionada), todos nós temos acesso asas e pés podem ser colocados no djakout Legba como
aos espíritos de Legba, seja para abrir essas portas ou oferendas.
forjar caminhos de comunicação e respeito, ou por
trabalhar da maneira que serviríamos a qualquer espírito Legba também bebe café preto forte, rum, vodca, "coca-
que servimos. cola" e xarope de orgeat (xarope refinado feito à base de
Como a maioria das religiões tradicionais, o vodu amêndoas).
haitiano exige a observância dos protocolos cerimoniais, No culto doméstico, temporário ou permanente,
regras e hierarquias do vodu haitiano. Não é uma religião utilizamos o chapéu de palha, bengala, três moedas, três
eclética de forma livre, mas que possui um núcleo búzios e notas de dinheiro. Seus elementos podem ser os
cosmológico muito sólido e um corpo associado de ritos,
canções e métodos rituais tradicionais. Nem todo mundo 1
Apesar de muito polêmico, algumas pouquíssimas
precisa se tornar um iniciado para trabalhar com seus
linhagens, em especial do Vodu de Nova Orleans, já se
espíritos na religião, mas a religião é guiada por seus estabeleceram sem a necessidade de sacrifícios animais. É
sabido que ao menos uma destas linhagens não perdeu em
nada a potência por abdicar da imolação animal.
mais simples disponíveis.A
A ele pode ser oferecido tabaco
com um cachimbo quando honrado da perspectiva Rada e
charutos quando o chamamos na nação Petwo.
Os dias de Legba são as quintas-feiras,
feiras, que é o dia
dedicado a todas as Lwas Rada. Mas também pode ser
servido na terça (Petwo), sexta, sábado e segunda.
segunda Esses
dias podem varias de casa para casa, linhagem para
linhagem.
Seus dias de festa anual são 13 de junho, que ele
compartilha com Santo Antonio e 1º de janeiro porque
ele abre o Ano Novo para todos. Aqui, também, há
variância de acordo com casa e linhagem.
Dependendo das preferências e influências do Fungam ou
da Mambo de um suscite em particular, as cores de Legba
podem variar de branco no lado Rada e vermelho e preto Temos aqui um simbolismo rico nessa vévé – a cruz que
no lado de Petwo, para roxo e dourado ou branco e verde. representa a união do céu e da terra, do sol e da lua, do
As escolhas de cores às vezes ecoam as imagens dos vertical e do horizontal, e seu centro equilibrador, onde
santos com quem ele está sincretizado. As danças e se encontra Papa Legba, é onde costuma-se acender sua
toques para louvar Legba são o yanvalou, omayi e o vela.
krabiye. Mas dada a sua importância, todas
odas as danças e Representa também a encruzilhada do equilíbrio perfeito
toques do Vodu também são dedicados a ele. entre os elementos.As estrelas representam a
concordância dos poderes das 4 direções, do alto e de
Se uma pessoa estiver interessada em estabelecer relações baixo, à esquerda e à direita, da posição central de Papa
de trabalho com seus espíritos através das tradições e Legba. O cajado representa o falo solar divino, o poto
paradigmas de Vodu, Legba será aquele com o qual eles mitan, a coluna sagrada que o ajuda a caminhar,
caminhar e que
mais falarão! fica ao centro do templo.

VÉVÉ DE PAPA LEGBA


Um Veve ou Vévé é um símbolo religioso que
representa uma Lwa (deus Vodu) e é utilizado como um
portal para trazer os deuses à terra durante rituais Vodu.
O Vévé, segundo alguns pesquisadores, originou-se
originou entre
os nativos Taínos e Arawaks que habitavam am a ilha antes
de se tornar Haiti.
A maior parte desses símbolos são bastante semelhantes
aos desenhos dos Zemi, deuses da religião Taína.
Cada Lwa tem seu único e próprio Vévé, embora
diferenças regionais levaram a diferentes Vévés para a
mesma lwa. Sacrifícios e oferendas são normalmente
colocados sobre as Vévés, embora estas sejam também
usadas em quadros no altar, estampadas em lenços e
toalhas, em velas, em roupas e etc.
O Vévé normalmente é desenhado no chão usando talco,
farinha de milho, farinhaa de trigo, cascas de ovos
triturada, tijolo vermelho em pó, carvão em pó ou
pólvora. O material depende inteiramente do rito e da
Loa.a. Uma forma muito popular de se fazer uma Vévé e
amplamente aceita por qualquer Loa e em qualquer rito, é
a Vévé desenhada com farinha de milho, qualquer uma,
inclusive o Fubá.
REZA PARA LEGBA - Crioulo/Creole
“Pou Legba, gadien pòt Lwa soley. Papa ak patron. Mistè
kafou, sous rélasion visib ak

envisib. Poto Mitan ki monté jis nan siè-la. Aksepté ofran’n


nou. Antré nan kè nou, nan

bra nou, nan jam’m nou. Antré vin’n dansé avek nou.”

Pronúncia

“pú Leguá, gadien pót Loá solêi. Papá ák patrôn. Mistê


kafú, sus relasiôn visíb ák

envisíb. Potô Mitã ki montê jís nã siê lá. Akseptê ofrã nú.
Antrê nã ké nú, nã brá nú, nã

jãm nú. Antrê vin dansê avék nú.”

Português

"Para Legba, aquele que guarda a porta. Deus solar, o


resplendor da criação, pai e

patrono. Mistério da encruzilhada, fonte de comunicação


entre o visível e o invisível, o

poste central que se estende do sol até o chão. Aceite nossa


oferta. Entre senhor em

nossos corações, nossos braços, nossas pernas. Entre e


dance com a gente."

REZA 2 - Crioulo/Creole
“Papa Legba ouvre baye pou mwen, ago eh! Papa Legba
ouvre baye pou mwen, ouvre
baye pou mwen, Papa. Pou mwen passe, le’m tounnen
map remesi Lwa yo!”
Pronúncia
“Papá Leguá uvrê baiê pu muen, agô ê! Papá Leguá
uvrê baiê pu muen, uvrê baiê pu
muen, Papá. Pu muen passê, lêm tunên máp remesí Loá
yô!”
Português
"Papa Legba, abre o portão para mim, com sua licença!
Papa Legba, abra o portão
para mim, abra o portão para mim, Papa para que eu
passe, e quando eu voltar,
agradecerei a Loa! " Dado seu papel de senhor dos portais, e aquele que
permite que as Lwa possam vir à manifestação, Papa
Legba tem relações complexas com praticamente todas as
outras deidades do panteão Vodu.
A identidade de sua origem mais antiga, um deus
fálico de transformações, revela uma dinâmica de ligação
com a morte, virilidade, poder fertilizador, arte oracular e
imprevisibilidade.
Estas características, após a travessia da Passagem do
Meio do tráfico escravagista, se refrataram no Haiti em
outras figuras além de Papa Legba, nosso sábio senhor
dos portais, chaves e destinos.

Mama Ayizan

A mais imediata que percebemos neste equinócio


é a conexão com Mama Ayizan, sua parceira, esposa e
Mambo primordial, também esposa de Papa Loko, o
Houngan primordial. Em alguns ritos e linhagens,
antecede Legba na ordem de culto e saudação, e outras
sucede imediatamente àquele.
Idealmente, devem sempre ser servidos juntos.
É o grande poder que dá ainda mais estabilidade e
segurança ao trabalho ritual.

Kalfou

Em intrínseca ligação com ele temos Kalfou, a própria


personificação da encruzilhada, em especial dos seus
aspectos de destruição, caos, de sorte e azar.
Enquanto Papa Legba é o Sol e os pontos cardinais da
encruzilhada, onde há sabedoria, segurança e
estabilidade, Kalfou é a Lua e os pontos diagonais/
colaterais da encruzilhada, e onde se escondem loucura,
perdição, perigos, mas também poder extremo, proteção e
tesouros noturnos.
Enquanto Legba é protetor, muito paciente, diplomático,
humilde e pouco exigente, Kalfou é exigente nos
mínimos detalhes, ameaçador pela simples presença,
emana poder e virilidade constantemente, além de
Fa / Ifá comandar legiões de espíritos variados.
A conexão com a arte oracular e sua profunda
sabedoria sobre o destino dos homens, nos lembra de sua
relação antiga com Fá ou Ifá, e como este Espírito do
Destino foi fundido com a personalidade de Legba / Èsù,
dando origem a Papa Legba.
Alguns dizem que Kalfou é o próprio Legba em sua face Èsù Elegba (conhecido como tal pelos seus devotos da
noturna e mais à “extrema esquerda” da criação, outros mesma maneira que Jesus e Cristo são utilizados de
dizem que são de fato gêmeos, completamente distintos, e maneira intercambiável por cristãos) dos iorubás e nagôs
que onde um estiver, o outro estará presente, ao menos está no centro de um culto bastante sólido, “quente” e
como observador.

“frio”, de dezenas de deidades conhecidas como Orisa.


Devotos de Ogun, Sango e Sapana dizem que ele, Èsù, é
seu irmão mais belo, orgulhoso e sexualmente ativo.
Devotos de Osun, dizem que é dela toda a esperteza de
Èsù. Muçulmanos e cristãos iorubás dirão que ele é
simplesmente Satã, o diabo. A tradição oral iorubá, nos
itans e orikis, dá alguma munição para todas essas
interpretações cruzadas.
Papa Ghede
Em um oriki, Èsù é mencionado como “a maior criatura
Ligado profundamente a Papa Legba e sua origem, temos com o maior porrete” e ainda assim, é tão pequeno que
Papa Ghede, o coletivo de espíritos dos mortos, e talvez a precisa “ficar na ponta dos pés para pôr sal na sua sopa”.
própria morte e tudo o que esta representa.
É ao mesmo tempo o primogênito e o caçula, a criança e
Ghede manifesta os aspectos do apetite sexual, dança, o velho, sagaz e inconstante. Como velho ou jovem, ele
gula malandragem e impetuosidade do Legba Fon. desconsidera as regras de conduta e abusa das licenças e
É importante notar, entretanto, que se trata de uma privilégios dos inocentes e idosos, aquele que
linhagem de espíritos totalmente à parte e independente experimenta com tudo quebrando todas as regras. Alguns
da nação Legba. iorubás dizem que é o mais jovem, e ao mesmo tempo o
Inicialmente percebemos Papa Legba como originário de pai de todos.
um culto a um deus fálico, africano, que tem raízes mais A narrativa dos mitos de Èsùé um atestado das constantes
remotas entre as nações Fon (Legba) e Iorubá (Èsù) da recombinações de sua natureza. Apesar de ser a
África Ocidental. contraparte de Ifá, Senhor da Divinação, ajudando a
Para entender melhor o sincretismo haitiano envolvendo manter um tênue e sábio equilíbrio, a maioria dos iorubás
Papa Legba, e como este tem suas refrações em Kalfou e entendem essas mediações com certa ambivalência, que
Ghede, é importante antes entender esse deus fálico pode ser entendida no mito do Gorro Multicolorido de
africano dos panteões Iorubá e Fon. Èsù;
“Um dia Èsù andava por entre duas prósperas fazendas quem deveria se reportar todos os dias, sobre todas as
de dois amigos, que foram auxiliados anteriormente por atividades de deuses e homens:
Èsù, usando um gorro multicolorido (alguns dizem ser
vermelho e branco; vermelho, branco e azul; ou “Legba conhece todas as línguas e idiomas de seus
vermelho, branco, verde e preto). Ele também colocou irmãos e irmãs, e conhece a língua de Mawu-Lisa
seu cachimbo na junção da sua nuca, e também também. Legba é o lingüista divino de Mawu-Lisa. Se um
carregava seu bastão nas costas. Enquanto ele ia e de seus irmãos deseja falar, deve entregar sua mensagem
vinha, os amigos brigavam e brigavam sobre as cores para Legba, pois mais ninguém sabe como se dirigir à
que ele usava, e em qual direção que seguia, até que Mawu-Lisa. É por isso que Legba está em todos os
entraram em forte conflito e findaram a amizade. lugares. (...)Você encontrará Legba mesmo antes das
Mais tarde,quando os agora ex-amigos, o levaram à casas dos vodun (deuses) porque todos os seres, humanos
corte, Èsù confessou seu truque, se gabando: “semear e deuses, devem se dirigir a ele antes de poderem chegar
discórdia é meu maior prazer”. Então fugiu, incendiando à Deus”.
tudo no caminho, misturando e espalhando todas as De outros mitos dos Fon, descobrimos que Legba ganhou
posses do povo local entre eles, que corriam essa vantagem de seu relacionamento com Fa, a
desnorteados. Assim, testando e expondo amizades, personificação da divinação, destino e sabedoria, que em
criando e destruindo riquezas, Èsù deixava a cena em sua forma feminina, Gbadu, senta no topo de uma
meio a gargalhadas”. palmeira, com seus 16 olhos fechados e alheios a tudo,
Adicionado à natureza paradoxal de Èsù está o seu viés exceto ao futuro.
fálico, mas mais preocupado com energia erótica do que Todo dia Legba sobe nessa árvore cósmica e abre esses
com o ato propriamente dito. Isso fica claro em algumas olhos de acordo com o padrão dos caroços de dendê em
imagens que representam sua infantilidade, chupando seu sua mão. Assim, é através de Legba que a humanidade
dedão e com aparência infantil, e às vezes na forma de tem acesso ao sistema de divinação de Fa.
um idoso, ambos representados como responsáveis pela O conto, entretanto, não para por aí, com os olhos de
encruzilhada de espíritos, poderes e deuses. Gbadu. Legba tem relações com ela e desce para ter
relações com sua filha, na Terra.
Furiosa com sua postura licenciosa e irrestrita, Gbadu
leva acusações contra Legba para Mawu-Lisa.
Legba nega tudo perante a corte, mas quando ordenado
para baixar as calças, revela o seu falo incontrolável em
riste.
Furiosa com seu filho desregrado, Mawu-Lisa ordena que
dali em diante, Legba será para sempre fiapo, porém
nunca satisfeito.Insolente e desdenhoso da sentença de
Mawu-Lisa, Legba começa a avançar sobre Gbadu
novamente.
Ao ser repreendido mais uma vez, argumenta que foi ela
mesma, o Grande Deus, que assim determinou que seu
falo nunca cedesse. Este é o mito da insaciabilidade
sexual do Legba dos Fon.
Nesse sentido, um de seus mitos Fon mais complexos é
onde é representado como um músico de cortejo
funerário, viajando com seu irmão e irmã divinos. No
caminho encontram e assassinam três mulheres.
Legba então encontra um jeito de ter relações com seus
corpos, e é representando em outros momentos do mito
O Legba dos Foné de uma natureza mais rude e luxuriosa como um homem que dança com movimentos de cópula.
que o Èsù dos iorubás, e era capaz das transformações É importante buscar apreender a mensagem simbólica por
mais devastadoras, intensas e inconstantes. trás dessa tríade metafísica:

Alegba,Elegba e Legba, o sétimo e filho mais novo dos Morte/fornicação/comunicação, pois cada um desses fios
deuses do céu, Mawu e Lisa, tinha seu papel na mitologia é desenrolado e rebobinado à medida que o Novo Mundo
Fon mais centralizado do que o papel que o Èsù dos Fon recria sua mitologia no desempenho do Vodu no
iorubás gozava. Era o responsável pelas encruzilhadas e Haiti, em especial nas figuras de Kalfou e Ghede.
mensageiro-linguista divino apontado por Mawu-Lisa, a
Legba (Elegba / Ellegua) desempenha um papel central
na sociedade do Daomé, onde era necessário adivinhar ou
consultar o Fa (através de Legba) antes que alguém
fizesse qualquer coisa.
Também encontramos o culto a Legba nos candomblés de
nação Fon, em especial o Jeje Mahi, onde muitos ritos
antigos dos Fon foram preservados e resgatados.

Enquanto os Fon mantiveram a qualidade de Èsù


Elegba como patrono e modelo ideal das comunicações,
eles selecionaram especialmente suas qualidades de
duplicidade (velho/jovem, grande/pequeno, preto/branco,
pueril/fálico) e transformaram pura energia erótica na
específica e aplicada sexualidade masculina do Legba
Fon.
É importante entender esse intercâmbio entre o Èsù dos
Iroubás e o Legba dos Fon, para entender as mudanças e
circunstâncias que propiciaram o surgimento do Papa
Legba haitiano.Percebe-se que os Fon elevaram o
potencial erótico do Èsù iorubá, enquanto os haitianos
reduziram esse potencial, aparentemente, à quase zero.
O Legba do Daomé, um adolescente com libido sem fim
e irrestrita, se torna o ‘impotente” velho Papa Legba do
Haiti.
Legba é uma parte intrínseca da religião do povo Fon do
Daomé (e dos dias modernos do Benin) na África
Ocidental, cuja cosmologia forma a maioria dos
fundamentos metafísicos de Vodou. (Até a palavra
Vodou vem da palavra Fon que significa “espírito”; Lwa
ou Loa, por sua vez, é a palavra Fon / Gbwe para
“senhor”). A religião deles continua muito viva em sua
terra natal, agora geralmente conhecida como Beninois
Vodoun.
Entre o povo Fon, Legba é caracterizado como o filho
mais novo e favorito de Mawu / Lisa (os Criadores /
deuses supremos), responsável pela escrita (Fa ou
destino) da vida de cada homem. No Daomé, no entanto,
o Fa também é um vodun (a palavra "espírito"), a quem
se dirige para se consultar, e Legba é seu servo.
A ela também é atribuído o dom da palavra e da
comunicação e desta forma está estreitamente ligada à
Legba. Tem como regência a fertilidade do solo. Sem
Ayizan, não há cultivo. Contudo, não deve ser
confundida com Nohê Aikunguman (a Mãe Terra), que
apesar de extremamente próximos, este outro é um vodun
interligado à própria criação do mundo.
Para os Fon, é a senhora dos oráculos, assim como Èsú,
respondendo por Fá (vòdún coligado a Òrúnmíllá). Possui
grande relações com os ancestrais (ègúngún e íyámí) e
com suas sociedades e assim nos ritos de Jeje Mahi é a
responsável pela parte de louvação aos ancestrais da casa.
Em sua homenagem os vòdúnsì’s dançam de joelhos na
zàn (esteira).
Considerada a patrona dos grandes mercados, é costume
em todo Benin quando nasce uma criança, levar a mesma
ao mercado e lá fazer os mlenmlen (òríkís) e oferendas à
Áyízàn, pois acreditam que esse ritual dará muita boa
sorte à vida da criança. Esse procedimento também se dá
Mama Ayizan aos casais de noivos. Os familiares das duas partes se
“Antes de existirem templos, existiam sacerdotes e reúnem e vão juntos com os noivos ao mercado. Nos dois
sacerdotisas.Sempre houve uma classe sacerdotal, casos, tanto a criança quanto os noivos trazem para casa
consagrada ao divino.Às vezes eram tidos em alta estima um pouco de terra e a coloca no solo de suas casas para
pela sociedade, às vezes eram marginalizados, buscados que a fartura e a prosperidade façam sempre parte de suas
e consultados quando era absolutamente necessário. vidas. Vòdún Áyízàn tem uma grande família e cada um
Amados ou odiados, eles eram sempre respeitados pelas dos membros reina em uma parte da terra, inclusive o
pessoas que vinham até eles em busca de conselho e mundo ctônico (subterrâneo) e abissal (subterrâneo
conhecimento”. aquático). Sua saudação é Áhò gbò gbòy Àyízàn – muito
similar a sua saudação no vodu haitiano, “Ayibobô”!
A palavra Ayizan, segundo alguns estudiosos, significaria
“Terra Sagrada”, “Esteira da Terra” ou “Nata da Terra”, e Nas casas de Jeje Mahi, encontra-se assentada no portão
seu nome - sem o “Y” - seria o nome dado aos Ancestrais da casa, nos pés de uma palmeira de ráfia, Vodun Ayizan,
mais antigos e Veneráveis, espíritos mais antigos que os que para esta modalidade é um vodun feminino ligada
próprios fundadores das tribos. Essas forças Ancestrais aos ancestrais e a terra, bem assim como a morte.
zelariam pela segurança de casas, templos, espaços
O culto a Ayizan é muito forte no Haiti, onde é a primeira
públicos e mercados. Seu símbolo seria o de um
Mambo, ou seja, a primeira Sacerdotisa e é conhecida
montículo de terra.
como “Lwa Aizan” ou como “Gran Aizan”, a qual se
Esse montículo sagrado era e é colocado no agbassá atribui a pureza ritual iniciática, o comércio e até mesmo
(espaço mais externo ou ante-câmara), ou no agbaji o cemitério.
(espaço mais interno) dos templos. Os objetos de culto a
No sincretismo voduísta é sincretizada com Santa Clara,
Ayizan são compostos por certa quantidade de terra de
Santa Ana e Santa Lucilia, e fortemente celebrada e
variadas procedências, azeite de dendê, folhas litúrgicas e
festejada no Domingo de Ramos.
demais elementos mágicos.
Alguns dizem ser a esposa de Papa Legba; outros dizem
Tudo é misturado formando-se um monte de terra que ela é casada com Papa Loko, o iniciador supremo,
cuidadosamente erguido junto às praças dos mercados mas o fato é que os três estão sempre juntos.
mais movimentados e importantes comercialmente. Estes
Devido à sua ligação primordial com a fertilidade da
ajuntamentos de terra são libados com azeite de dendê e
terra, e a Legba e Loko, Ayizan é associada aos ritos
decorado com dezan (palmas ainda verdes e desfiadas de
iniciáticos. Por isso, os cânticos em sua louvação são
dendezeiro) rodilhas feitas de folhas de palmas desfiadas
sempre entoados no início dos rituais e das festividades.
e em cima de tudo, são postos jarros com pequenos
Ela é percebida como alguém com bolsos “profundos”,
furinhos.
onde muitas riquezas materiais e espirituais existem.
Em frente aos montículos de terra sagrados, os Também é conhecida por dominar os segredos de
comerciantes e clientes fazem ainda mais oferendas a proteção e banimento contra forças negativas, maldições,
Ayizan, compostas de cereais da colheita e azeite de malícia, inveja e magia maléfica de todo tipo. Tem
dendê. profundo desprezo e pune severamente exploradores de
todo o tipo; poderosos contra os fracos, adultos contra
crianças, homens contra mulheres, maridos contra Ela o ajudará a direcioná-lo para o lugar que você precisa
esposas. Se você se percebe em posição de abuso e estar e manterá você longe de pessoas que o
opressão, Ayizan pode te ajudar. Agora, se estiver no machucariam ou tirariam vantagem de você. Você pode
outro lado, como abusador, o ideal seria nem se queimar uma vela amarela para Loko e uma vela branca
aproximar de Ayizan. Por isso, ela é representada por para Ayizan e pedir aos dois para cuidarem de você. Por
todas as árvores cujas folhas são denominadas “zan” na serem um antigo casal de iniciadores, terão prazer em
língua fon, tais como a ráfia, o dendezeiro e outros tipos trabalhar juntos para garantir que você receba a educação
de palmeiras – tradicionalmente ligadas a ações de espiritual que merece.
proteção e limpeza espiritual.
Ayizan seria "A grande memória", o coletivo, plural, a
É uma Lwa muito benéfica e protetora por sua própria que se lembra do primeiro vodunsi ao último, por isto
presença, que traz a cura especialmente pelas plantas e dizemos que Ayizan é a superfície da terra, a "nata da
concede proteção e poder aos iniciados, secretamente terra". É Ayizan quem nos protege nesta e em outras
ajudando todos aqueles que transmitem conhecimento vidas.
sobre o vodu. Ela também comunica seu conhecimento
aos Sacerdotes e Sacerdotisas, concedendo-lhes um
presente de cura. VÉVÉ DE AYIZAN
Aqueles que procuram ganhar o apoio de Ayizan-
Veleteke, outro epíteto que reafirma o significado “terra
sagrada”, irão presenteá-la com frutase vegetais simples,
palmito, coco verde, tâmaras, batata doce,frutos amarelos
como bananas, com exceção de abacaxis, e claro, folhas
de palmeira.
No Togo, Ayizan é festejada à época da colheita de feijão
e durante a festividade do inhame – então estes são itens
particularmente apreciados.Não se oferecem bebidas
alcoólicas para Ayizan, seria desrespeitoso.Aprecia água
mineral pura, azeite de dendê e licores não-alcoólicos
doces.
No Vodu de Nova Orleans, um espírito semelhante à
Ayizan-Veleteke é cultuado pelo nome de Vériquitéestá
no lugar de Ayizan. Ela assume a aparência de uma
mulher idosa, o que lhe confere precedência em
cerimônias em que recebe as ofertas imediatamente após
as oferecidas a Legba. Como Lwa de pureza, está
presente nas cerimônias de iniciação, particularmente no
“Ayizan Chire”, um ritual de purificação da tradição Jêje.
Seu culto se dá com a cor branca, cor típica e tradicional
dos Lwa Rada, para tecidos e velas e, às vezes, com
poucos detalhes em dourado em homenagem a Logo.
Seu emblema é a folha de palmeira real, que é um símbolo
Não podem faltar as folhas de palmeiras, em geral duas, de pureza, clareza de missão e foco de devoção.
postas em vasos brancos, cruzando o local de culto.
Outros elementos de culto, para altares temporários ou
permanentes são sua Vèvè, símbolo de poder, em retrato
ou feito em farinha de milho, uma pedra branca de cor
homogênea, Pòt Ayi – um potinho de barro com tampa
contendo terra de bancos, feiras, mercados, e comércios
variados, e flores, em especial as brancas.
Seu reposoir, isto é, sua planta ritual de repouso e
fundamento é a palmeira, todos os tipos, em especial a
ráfia e o dendezeiro, que também podem ser utilizados
para disposição adequada de suas oferendas.
Seu metal é a prata, pela sua relativa incorruptibilidade.
Assim como Loko, você pode solicitar assistência à
Ayizan se estiver procurando por um professor.
Reza para Ayizan - Crioulo/creole
“Pou Ayizan, Lwa rasin’n, zansèt nou. Manman tout
Manbo, nap chèché ou nan tout
kalfou maché koté ou kaché Ayizan. Ayizan bom kè,
aksepté ofran’n nou. Antré nan kè
nou, nan bra nou, nan jam’m nou. Antré vin’n dansé avek
nou!”

Pronúncia
Pú Aizán, Loá rassín, zãsét nu. Mãmã tút Mambô náp
chechê u nã tút kalfú machê kotê
u kachê Aizán. Ayizan bõ ké, akseptê ofrã nú. Antrê nã ké
nu, nã brá nu, nã jam nu.

Antrê vin dansê avek nu!

Português
"Para Ayizan, a Lwa raiz, nossa Ancestral.
Mãe de todas as Mambos que inicia pelo ramo desfiado
da palmeira.
Buscamos você na encruzilhada dos mercados.
Você está escondida nas mercadorias do mercado.
Ayizan de coração puro, aceite nossas oferendas.
Entre em nossos corações, nossos braços, nossas pernas.
Entre e dance com a gente!"
Mawu-Lisa Papa Loko
Devido à sua profunda ancestralidade, Ayizan é ligada, No entanto, ao contrário de seu também esposo e
em especial, aos Deuses Supremos Mawu-Lisa, e à Nanã Sacerdote Primordial, Papa Loko, Mama Ayizan fica
Buruku. contente em dividir suas bençãos com não-iniciados.

Também está ligada ao mistério leopardo Agassou, o


mítico herói mágico que trouxe seu culto ao Benin.

Agassou

Ayizan não possui inimizades evidentes no culto, e


Nana Buruku costuma ser profundamente respeitada por todas as
correntes espirituais, ligadas ou não ao processo
Legba e à Loko, ambos ligados aos processos iniciáticos
iniciático.
e de conexão com a fertilidade.
De acordo com a lenda dos povos Ewè/Fon, Nanã Buruku No Brasil, seu culto, embora raro, sobrevive ainda em
em conjunto com Aido Wedo e Dangbala criaram o algumas Casas de tradição Jêje e Mina.
mundo e deram vida aos animais, a flora e aos minerais.
Após a criação do mundo, Nanã deu origem aos gêmeos No Jeje Mahi, os Voduns são divididos em famílias e
Mawu-Lisa e determinou que eles criassem o homem panteões, e dentre eles, Ayizan se encontra no panteão da
para povoar a Terra. terra (Sakpata) onde se agrupam os voduns da terra, das
riquezas e das doenças, ligados a vida e a morte.
A partir da criação dos gêmeos Mawu-Lisa, foi criado o
equilíbrio no mundo e aos seres vivos. Nestes cultos, Ayizan é o vodun que reconhece todos os
Mawu é o princípio feminino, a fertilidade, a suavidade, a filhos de Jeje, sendo que uma pessoa só poderá se dizer
compreensão, a ponderação, a reconciliação e o perdão. Jeje se Ayizan o aceitar. Em Ayizan está contido todo o
Lisa é o princípio masculino, o julgador, a impaciência, a legado do povo Jeje, por isto quando tiver a iniciação
força cósmica que castiga os homens errados e os corrige, devemos nos apresentar a Ayizan, seguindo os preceitos:
a seriedade. Ele está sempre atento para que as leis de Amãkìkè - rasgar, desfiar as folhas com o wun (espinho)
Mawu sejam cumpridas. do atinsá de Ayizan colhido no dia específico para isto.
Nanã ao perceber que Lisa não seguia as doutrinas de Vodundazãme - colocar as folhas novas no Vodun.
Mawu em mudar seu gênio, resolveu separá-los.
Enviou Mawu à lua para ser a luz e iluminar a Terra no Amãtite - colocá-las (as folhas) uma a uma no Vodun.
período noturno e suavizar os sofrimentos dos seres,
Jihan - Entoar aos cânticos de Ayizan.
projetando a fé e o amor sobre o planeta.
Feito isto, temos de passar pela zanza, ser enrolado na
Lisa foi enviado ao sol para poder ver mais claramente os
zan, e apresentado ao Vodun, só a partir daí Ayizan te
erros humanos e julgar antes de castigá-los. Lisa recebeu
reconhecerá como Vodunsi, e o vodunsi fará parte da
a ordem de andar pela Terra uma vez por ano para
memória de Ayizan.
conviver e conhecer de perto as necessidades dos
humanos, ajudando-os e corrigindo-os. Nessas Por ter todos estes atributos, Ayizan não poderá ser feita
caminhadas pela Terra, Lisa deixou alguns descendentes na cabeça de ninguém, e como respeito todo odohozan,
que se tornaram divinizados. ou seja, ordem de saudação, deverá começar louvando
Ayizan, antes mesmo de Legba, pois Ayizan se lembra de
A partir da separação dos gêmeos, Mawu e Lisa passaram
Legba.
a se encontrar quando ocorre um eclipse e, nessa ocasião,
geram mais Voduns para ajudar os humanos.
Antes de a concretização da separação, os gêmeos
reuniram seus filhos e os enviaram à Terra para serem os
primeiros habitantes e para que esses os ajudassem a
governá-la, cada um com sua atribuição.
Segundo o mito, após a criação de Mawu e de Lisa, Nanã
criou Ayizan, vodum que vive no tempo, em uma esteira,
vendo a eternidade passar.
O culto de Ayizan é muito antigo, de origem hwedá e é
forte sobretudo na região de Uidá, Benim – área de
predominância Fon. Seu culto é de tradição Jêje, com
origem na cidade de Alladá. A devoção a Ayizan chegou
ao Benin por força da cultura hwedá, trazido por
Adjahuto, filho ou neto de Agassu (este também uma
Lwa hoje em dia),considerado o fundador de origens
mágicas da linhagem Aladá-Tadonu,quando este chegou
de Tado, uma aldeia do Togo próxima ao rio Mono.
Outros afirmam que Ayizan já se encontrava na região
antes de sua chegada.
Ayizan é encontrada no mercado de grandes cidades, tais
como Abomé e Ouidah.
Ela é a guardiã, ou mais exatamente, a senhora do
mercado, protetora da cidade e dona da terra.
Certas famílias têm uma Ayizan particular, que as apóia,
as dirigem e castiga o mau procedimento dos filhos.
É uma espécie de ancestral, "a terra”.
Papa Legba e Mama Ayizan se apresentam como suas manifestações variadas, e que os ciclos irão se
as deidades deste Sabá de Equinócio de Outono, para nos cumprir, invariavelmente.
apresentar uma narrativa e a dinâmica da própria
Natureza – a do Sol que caminha em direção ao seu Não importa qual instância, de nascimento, vida,
declínio. vigor, declínio ou morte, Ayizan está presente,
testemunhando tudo e todos, e mesmo Legba é
O paralelo egípcio, por exemplo, fala da cerimônia anual testemunhado por ela. Ela mesma é como Ísis, aquela
do equinócio de outono chamada “A Natividade da que recebe e levanta o Sol de seus ciclos, sempre.
Muleta do Sol”, uma cerimônia derivada da ideia que o
Sol, agora fraco e impotente, precisa de uma muleta para
andar. O velho sol morre e descende ao submundo.
Após o equinócio de outono, as forças da escuridão
tornam-se progressivamente mais intensas, e aumenta seu
aparente domínio sobre o Sol, o que culmina no Solstício
de Inverno. O antigo sol morre e surge a criança solar.
O próprio Papa Legba, outrora uma criança Solar, viveu
seu fértil primor do meio-dia, na África, e agora um Sol
idoso, com sua bengala, constante e vagarosamente,
segue para o submundo de Ghede, o mestre do abismo
onde o Sol descende, e já no espelho escuro das regiões
inferiores aparece o primeiro contorno sombrio de seu
reflexo invertido, pois o Sol, se pondo em águas escuras,
pode aparecer como uma nova Lua, escura e nascente.
Se Legba era o tempo, então Ghede é a figura eterna em
preto, colocada na encruzilhada atemporal em que todos
os homens e até o sol chegam um dia.
Mas o sol a cada ano renasce. Papa Legba nos pede isso:
que compreendamos os fins de ciclos e seus novos
inícios, que tudo se transforma, e nada em absoluto é
perdido, apenas transfigurado.
Se Kalfou é a morte noturna que assiste a cada dia, Ghede
é o Sol Noturno, a vida que está eternamente presente,
mesmo nas trevas. O abismo cósmico é ao mesmo tempo
tumba e útero.
Então, de certa forma, Ghede é o Legba que cruzou o
limiar do submundo, pois Ghede agora é tudo o que
Legba já foi na promessa e no auge de sua vida.
Se Legba fora o Senhor da Vida, Ghede é agora o Senhor
da Ressurreição.
Pode-se enxergar paralelamente, o declinar de Legba,
como o declínio do povo africano ao adentrar, contra a
própria vontade, no Novo mundo – deixaram para trás o
amanhecer e o meio-dia do próprio destino, a promessa e
poder da sua história.
“Papa Legba sempre está de mãos dadas com Kalfou, o
qual está de mãos dadas com Ghede.”

Mama Ayizan, a Memória Ancestral, quase imutável, a


própria face da Terra mais próxima de nós, é estável, tudo
testemunha, e ela mesma dá a Papa Legba a firmeza no
passo e a certeza de sua descida – o Sol que atravessa o
grande arco celestial, o Gran Chemin, e aparenta
descender no horizonte, “entrando” na Terra Sagrada.
Ayizan vem nos lembrar da importância de reverenciar
nossa ancestralidade e de respeitar a própria Natureza em
Referências Bibliográficas:

- Andreia Camargo, “O Livro dos Deuses Vodum”

- Milo Rigaud, "Secrets of Voodoo"

- Karen McCarthy Brown, “Mama Lola: A Vodou Priestess


in Brooklyn”

- Monique Joiner Siedlak, “Haitian Vodou”

- Maya Deren, “Divine Horsemen: The Living Gods of


Haiti”

- Houngan Alexandhros, Houngan Sasse e Mambo Aveline,


“Ninho da Serpente – Sosyete Vodu Deka”

- Donald Cosentino, “Who Is That Fellow in the Many-


Colored Cap? Transformations of Eshu in Old and New
World Mythologies, The Journal of American Folklore Vol.
100, No. 397 (Jul. - Sep., 1987), pp. 261-275”

- Kenaz Filan, “The Haitian Vodou Handbook: Protocols


for Riding with the Lwa”

- Zora Neale Hurston, “Tell My Horse”

- Mary Alicia Owen, Charles Godfrey Leland, “Old Rabbit,


The Voodoo and Other Sorcerers”

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