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INTENSIVO I

Flávio Tartuce
Direito Civil
Aula 8

ROTEIRO DE AULA

Teoria geral do negócio jurídico (continuação)

4.3. Vícios ou defeitos do negócio jurídico

a) Erro/ignorância (CC, arts. 138 a 144)

I – O erro é a falta de noção e a ignorância é o desconhecimento total.

II – Erro e ignorância são equiparados pela lei. Nos dois casos há um “engano solitário”, ou seja, a pessoa se equivoca
sozinha.

III – O negócio jurídico acometido de erro ou ignorância é anulável (nulidade relativa).

IV – O erro que gera a anulação deve ser substancial (essencial), podendo ser percebido por “pessoa de diligência
normal” (CC, art. 1381).

Questão n. 1: o erro deve ser ainda escusável (justificável)? Não, pois o art. 138 do Código Civil de 2002 adotou o
princípio da confiança (boa-fé) (Enunciado n. 12 – I Jornada de Direito Civil2).

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CC, art. 138: “São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial
que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio”.
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Enunciado n. 12, I JDC: “Na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo
adota o princípio da confiança”.

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V – Hipóteses de erro substancial (“error”) (CC, art. 1393):

• Relacionado à natureza do negócio, ao objeto da declaração ou a alguma de suas qualidades essenciais (“error
in corpore” e “error in substantia”). Exemplo: comprar gato por lebre.
• Relacionado à identidade ou qualidade essencial da pessoa (“error in persona”). Exemplo: casou-se com uma
pessoa viciada em jogos tornando insuportável a vida em comum.
• Relacionado a um direito que, não implicando recusa à lei, for motivo único ou principal do negócio (“error in
iuris”). Exemplo: locatário que celebra contrato mais oneroso pensando que perdeu o prazo da ação
renovatória.

Observação: o inc. III, art. 139, Código Civil, é uma exceção ao art. 3º da LINDB (princípio da obrigatoriedade).

VI – O falso motivo não gera a anulação do negócio jurídico por erro, em regra (CC, art. 1404).

➢ Distinção entre causa e motivo:

• Causa: razão de ser do negócio jurídico. Ela é imutável.


• Motivo: aspecto pessoal ou subjetivo da causa. Ele é mutável/variável.
Causa da compra e venda: transmissão da propriedade mediante pagamento de um preço (sempre a mesma).
Motivos: necessidade de mudança, desejo de um imóvel maior, nascimento de um filho, mudança de emprego,
etc.

➢ Exemplo: um pai compra um veículo para presentear o filho, pensando ser o seu aniversário. Quando ele chega em
casa, descobre que o aniversário é da filha.
Questão n. 2: cabe a anulação da compra do carro por erro? Não, pois houve falso motivo.

VII – Existem hipóteses que são de erro acidental, não gerando anulação do negócio jurídico. Exemplos:
• Erro de cálculo: cabe apenas a retificação da vontade (CC, art. 1435).

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CC, art. 139: “O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a
alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a
declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa
à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico”.
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CC, art. 140: “O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante”.
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CC, art. 143: “O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade”.

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• Erro sanável: presente quando a parte se oferece para corrigir o negócio ou concorda com a correção (CC, art.
1446).
VIII – Também cabe anulação por erro quando o negócio jurídico é celebrado por meios interpostos, sem contato direto
(CC, art. 1417).
Exemplo: contrato celebrado pela internet.

b) Dolo (CC, arts. 145 a 150) (“dolus”)

I – Dolo é o artifício malicioso utilizado pelo negociante ou por terceiro em face do outro negociante. É a “arma do
estelionatário”.

II – O dolo gera a nulidade relativa (anulabilidade) do negócio jurídico se for a sua causa (dolo essencial ou “dolus
causam”).

III - O dolo acidental (não essencial) não gera anulação do negócio jurídico, mas apenas perdas e danos (CC, art. 1468). O
negócio jurídico seria celebrado, mas de outro modo.

Exemplo: na venda de imóveis na planta (“stand”), há um imóvel decorado sem a informação de que os móveis são
feitos sob medida.

IV – Classificações:

➢ Quanto ao seu conteúdo:

• “Dolos bonus” (dolo bom): não prejudica e até beneficia (Exemplo: espelho que emagrece). Nas relações civis,
não anula nem gera perdas e danos; nas relações de consumo, não se admite sequer o dolo bom.
• “Dolos malus” (dolo mau): traz prejuízos. Gera anulação ou perdas e danos.

➢ Quanto à conduta das partes:

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CC, art. 144: “O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade
se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante”.
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CC, art. 141: “A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a
declaração direta”.
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CC, art. 146: “O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o
negócio seria realizado, embora por outro modo”.

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• Dolo positivo: decorre de ação ou comissão. Exemplo: publicidade enganosa por ação.
• Dolo negativo: decorre de omissão (silêncio intencional ou omissão dolosa – art. 147, CC9). Exemplo: publicidade
enganosa por omissão.
• Dolo bilateral, recíproco ou enantiomórfico: é o dolo de ambas as partes. Nesse caso, nenhuma das partes
poderá alegá-lo (CC, art. 15010). Há uma espécie de compensação dos dolos (boa-fé).

V – Dolo de terceiro também pode anular o negócio jurídico (CC, art. 14811).

Exemplo: 3º
dolo
• Sabia ou deveria saber do dolo de terceiro: o negócio
jurídico é anulável.
N1 N2
• Não sabia nem deveria saber do dolo de terceiro: o
negócio jurídico subsiste e o terceiro responde por
perdas e danos.
• Negociantes: “N1” e “N2”.
• Houve, por parte de um terceiro, dolo quanto a “N1”.

c) Coação (CC, arts. 151 a 155)

I – Coação (“vis”): trata-se da pressão física ou psicológica exercida pelo negociante ou por terceiro em face do outro
negociante.

II – Partes envolvidas:

• Coator: aquele que exerce a coação.


• Coato, coagido ou paciente.

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CC, art. 147: “Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade
que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado”.
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CC, art. 150: “Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar
indenização”.
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CC, art. 148: “Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele
tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá
por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou”.

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III – Modalidades de coação (2):

• Coação física (“vis absoluta”): retira totalmente a vontade do coato. Ela não está tratada no Código Civil
(“vontade zero”). Exemplo: contrato celebrado por pessoa sedada ou hipnotizada.

Correntes:
✓ Negócio é inexistente (Renan Lotufo).
✓ Negócio é nulo (Maria Helena Diniz).

• Coação moral ou psicológica (“vis compulsiva”): gera no paciente fundado temor de mal considerável e iminente
à sua pessoa, à pessoa de sua família, à pessoa próxima ou aos seus bens. A coação moral está tratada no
Código Civil de 2002 e gera a anulação do negócio jurídico.

IV – Análise “in concreto” da coação (CC, art. 15212): ao apreciar a coação, o juiz deve levar em conta as características
gerais do coato (sexo, idade, condição, saúde e temperamento, entre outras).

Exemplo (TJ/RS – 2011): doações feitas à igreja evangélica de pessoa sob pressão de vários fatores.

“EMENTA - RESPONSABILIDADE CIVIL. DOAÇÃO. COAÇÃO MORAL EXERCIDA POR DISCURSO RELIGIOSO. AMEAÇA DE
MAL INJUSTO. PROMESSA DE GRAÇAS DIVINAS. CONDIÇAO PSIQUIÁTRICA PRÉ-EXISTENTE. COOPTAÇAO DA VONTADE.
DANO MORAL CONFIGURADO. INDENIZAÇÃO ARBITRADA. 1. ANÁLISE DO ARTIGO 152 DO CÓDIGO CIVIL. CRITÉRIOS
PARA AVALIAR A COAÇÃO. A prova dos autos revelou que a autora estava passando por grandes dificuldades em sua
vida afetiva (separação litigiosa), profissional (divisão da empresa que construiu junto com seu ex-marido), e psicológica
(foi internada por surto maníaco, e diagnosticada com transtorno afetivo bipolar). Por conta disso, foi buscar orientação
religiosa e espiritual junto à Igreja Universal do Reino de Deus. Apegou-se à vivência religiosa com fervor, comparecia
diariamente aos cultos e participava de forma ativa da vida da Igreja. Ou seja, à vista dos critérios valorativos da coação,
nos termos do art. 152 do Código Civil, ficou claramente demonstrada sua vulnerabilidade psicológica e emocional,
criando um contexto de fragilidade que favoreceu a cooptação da vontade pelo discurso religioso. 2. ANÁLISE DOS
ARTIGOS 151 E 153 DO CÓDIGO CIVIL. PROVA DA COAÇÃO MORAL. Segundo consta da prova testemunhal e digital, a
autora sofreu coação moral da Igreja que, mediante atuação de seus prepostos, desafiava os fiéis a fazerem doações,
fazia promessa de graças divinas, e ameaçava-lhes de sofrer mal injusto caso não o fizessem. No caso dos autos, o ato
ilícito praticado pela Igreja materializou-se no abuso de direito de obter doações, mediante coação moral. Assim agindo,
violou os direitos da dignidade da autora e lhe casou danos morais. Compensação arbitrada em R$20.000,00 (vinte mil
reais), à vista das circunstâncias do caso concreto. 3. MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ AFASTADA. 4. REDEFINIDA A

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CC, art. 152: “No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do
paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela”.

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SUCUMBÊNCIA. RECURSO DA AUTORA CONHECIDO EM PARTE, E NESSA PARTE, PROVIDO PARCIALMENTE.
PREJUDICADO O RECURSO DA RÉ. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70039957287, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Julgado em 26/01/2011)”.
“EMENTA - RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. DOAÇÃO. PREQUESTIONAMENTO.
AUSÊNCIA. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO E OBSCURIDADE. AUSÊNCIA. NULIDADE. COAÇÃO MORAL. ATO INVÁLIDO.
LEGITIMIDADE ATIVA. AFERIÇÃO. TEORIA DA ASSERÇÃO. INTERESSE. PREJUÍZO. AUSÊNCIA. PROVA TESTEMUNHAL.
LIMITES. NULIDADE DE SENTENÇA. NÃO CONFIGURADA. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. VALOR DE REPARAÇÃO.
RAZOABILIDADE. 1. Ação ajuizada em 03/08/2007. Recurso especial interposto em 28/03/2013 e atribuído a este
gabinete em 25/08/2016. 2. Inviável o reconhecimento de violação ao art. 535 do CPC/73 quando não verificada no
acórdão recorrido omissão, contradição ou obscuridade apontadas pelos recorrentes. 3. A ausência de
prequestionamento das matérias relacionadas no recurso pelo Tribunal de origem impõe a aplicação da Súmula
211/STJ. 4. O Recurso especial não é instrumento apropriado para rever a questão da voluntariedade ou se houve
coação no contrato de doação, se para tanto é necessário a revisão do conjunto fático-probatório dos autos. Incidência
da Súmula n. 7/STJ. Precedentes. 5. Nos termos da jurisprudência do STJ, as condições da ação, entre elas a
legitimidade ativa, devem ser aferidas com base na teoria da asserção, isto é, à luz das afirmações deduzidas na petição
inicial, dispensando-se qualquer atividade instrutória. 6. É admissível a prova testemunhal independentemente do
valor do contrato, quando for existente começo de prova escrita que sustente a prova testemunhal. Inteligência dos
arts. 401 e 402 do CPC/73. 7. A jurisprudência desta Casa entende que, não estando o juiz convencido da extensão
do pedido certo, pode remeter as partes à liquidação de sentença, devendo o art. 459, parágrafo único do CPC, ser
aplicado em consonância com o princípio do livre convencimento (art. 131, do CPC/73). 8. "Formulado pedido certo e
determinado, somente o autor tem interesse recursal em arguir o vício da sentença ilíquida" (Súmula 318/STJ). 9.
Segundo a jurisprudência desta Corte, pode-se definir danos morais como lesões a atributos da pessoa, enquanto
ente ético e social que participa da vida em sociedade. Na hipótese dos autos, tanto a configuração dos danos
morais quanto a valoração de sua reparação estão amplamente fundamentadas, sem a necessidade de qualquer
reparo. 10. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, não provido.” (REsp 1455521/RS, Relatora
Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 27/02/2018, DJe 12/03/2018).

V – Não constituem coação (CC, art. 15313):


• Exercício regular de um direito. Exemplo: se a pessoa deve, é possível informá-la da inscrição do seu nome em
cadastro negativo (CDC, art. 4314).
• Mero temor reverencial. Exemplo: receio de desapontar pessoa querida.

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CC, art. 153: “Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor
reverencial”.
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CDC, art. 43: “O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações existentes em cadastros,
fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes”.

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VI – A coação de terceiro também anula o negócio jurídico nos mesmos moldes do dolo de terceiro (CC, arts. 15415 e
15516).

Exemplo: 3º

coação
• Sabia ou deveria saber da coação de terceiro: o
negócio jurídico é anulável e haverá responsabilidade
solidária (terceiro e N2).
N1 N2
• Não sabia nem deveria saber da coação de terceiro: o
negócio jurídico subsiste e o terceiro responde por
perdas e danos.

• Negociantes: “N1” e “N2”.


• Houve, por parte de um terceiro, coação quanto a “N1”.

d) Estado de perigo (CC, art. 15617) (“Meu reino por um cavalo” - Texto José Fernando Simão. Veja na internet)

I – No estado de perigo há:


• Situação de perigo que atinge o próprio negociante, pessoa de sua família ou pessoa próxima. Essa situação é
conhecida da outra parte; e

• Onerosidade excessiva (desproporção negocial).


II – O negócio é anulável (nulidade relativa) (CC, art. 17118). Tem-se entendido pela possibilidade de revisão do negócio
jurídico, aplicando-se, por analogia, o art. 157, §2º, CC19. Nesse sentido, há o Enunciado 148, III Jornada de Direito Civil20
(princípio da conservação do negócio jurídico).

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CC, art. 154: “Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a
parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos”.
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CC, art. 155: “Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela
tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver
causado ao coacto”.
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CC, art. 156: “Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de
sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as
circunstâncias”.

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III – Frase símbolo: “Meu reino por um cavalo” (ver texto de José Fernando Simão21).

IV – Exemplos:

• N. 1 (Maria Helena Diniz): alguém tem pessoa da família sequestrada e o valor do resgate é R$ 20.000,00. Um
vizinho sabe do sequestro e oferece R$ 20.000,00 por uma joia da família que vale R$ 100.000,00. A joia é
vendida, podendo o negócio jurídico ser anulado por estado de perigo.
• N.2 (Toscano): alguém tem um filho atropelado e vai até uma clínica particular. O médico de plantão resolve
cobrar R$ 100.000,00 pela cirurgia, que é realizada. Nesse caso, o melhor caminho é a revisão do negócio
jurídico.
• N. 3 (Carlos Roberto Gonçalves): cheque-caução exigido em hospitais para internações, em casos de
emergência.

e) Lesão (CC, art. 15722)

I – Na lesão há:

• Premente necessidade ou inexperiência; e


• Onerosidade excessiva (desproporção negocial).

II – Expressões símbolo: “negócio da China” ou “golpe de mestre”.

III – Conforme o art. 171, CC, o negócio jurídico é anulável, mas o art. 157, § 2º,CC, prevê a possibilidade de revisão. Na
literalidade, a revisão é por oferecimento do réu.

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CC, art. 171: “Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: II - por vício resultante
de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores”.
19
CC, art. 157, §2º: “§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte
favorecida concordar com a redução do proveito.”
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Enunciado 148, III JDC: “Ao "estado de perigo" (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2º do art. 157.”
21
Texto disponível em: http://professorsimao.com.br/ricardoIII.htm
22
CC, art. 157: “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a
prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1º: Aprecia-se a desproporção das
prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. § 2º: Não se decretará a
anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do
proveito”.

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IV – Enunciados (podem ser aplicados ao estado de perigo por analogia):
• A regra é a revisão e não a anulação (princípio da conservação do negócio jurídico) (Enunciado n. 149 – III
Jornada de Direito Civil23).
• O lesionado pode ingressar diretamente com a ação de revisão contra o lesionador (Enunciado n. 291 – IV
Jornada de Direito Civil24).

Observação:
• Prazo decadencial para anulação: quatro anos (CC, art. 17825).
• Prazo para revisão: prazo prescricional de 10 anos (CC, art. 20526).

V – “A lesão prevista no art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento” (Enunciado n. 150 – III Jornada de
Direito Civil).

VI – Lesão usurária (Dec.-Lei n. 22.626/1933): presente quando há cobrança de juros abusivos, acima do dobro da taxa
legal (1% ao mês). Observações:
• Gera nulidade absoluta27.
• Exige o dolo de aproveitamento.

VII – Exemplo: contratos de aquisição de imóveis na planta. Envolvem direito à moradia (CF, art. 6º) (premente
necessidade). Geralmente, esses contratos trazem inúmeras abusividades – exemplo: SATI (serviço de assessoria
técnico-imobiliária).

f) Simulação (CC, art. 16728)

23
Enunciado 149, III JDC: “Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá
conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado
incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de 2002”.
24
Enunciado 291, IV JDC: “Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode o lesionado optar por não
pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à revisão judicial do negócio por
meio da redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço”.
25
CC, art. 178: “É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: (...)
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;
(...)”.
26
CC, art. 205: “A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor”.
27
Dec.-Lei n. 22.626/1933, art. 11: “O contrato celebrado com infração desta lei é nulo de pleno direito, ficando
assegurado ao devedor a repetição do que houver pago a mais”.

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I – É um vício social do negócio jurídico (Maria Helena Diniz, Venosa, Pamplona, Pablo Stolze).

II - Ocorre quando há uma discrepância entre a vontade interna e a vontade manifestada: a aparência discrepa da
essência.

III – Expressão símbolo: “parece, mas não é”.

IV – Atenção: a simulação gera nulidade absoluta do negócio jurídico (ordem pública).

V – Modalidades de simulação:

➢ Simulação absoluta:

• Na aparência, há um determinado negócio jurídico; na essência, não há negócio jurídico algum. O negócio é
nulo.
• Exemplo: um pai transmite sua empresa ao filho, mas continua exercendo plenamente a administração.
• Há quem entenda que o caso é de negócio inexistente (casal Nery).

➢ Simulação relativa (art. 167, CC):

• Na aparência, há um determinado negócio jurídico (simulado); na essência, há um outro negócio jurídico


(dissimulado).

• De acordo com a lei:

✓ Negócio jurídico simulado: nulo.


✓ Negócio jurídico dissimulado: será válido se apresentar os requisitos mínimos de validade (art. 104,
CC29).

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CC, art. 167, “caput”: “É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na
substância e na forma”.
29
CC, art. 140: “A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.”

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• Exemplo: contrato de comodato de imóvel celebrado para encobrir locação:

✓ Negócio jurídico simulado: comodato (nulo).


✓ Negócio jurídico dissimulado: locação (válida).

VI – A simulação relativa é assim subclassificada (CC, art. 167, § 1º30):

• Simulação relativa objetiva: o problema está no conteúdo ou objeto do negócio. Exemplos: cláusula ou
declaração não verdadeira; instrumentos particulares antedatados ou pós-datados; e fazer escritura de imóvel
pelo valor menor que o valor real de mercado.
• Simulação relativa subjetiva: a pessoa com quem se negocia não é a verdadeira. Exemplo: contratos celebrados
com “laranja”, “testa de ferro”, “cítrico” ou interposta pessoa.

Observação n. 1: art. 167, §2º, CC31 - Inoponibilidade do ato simulado frente a terceiros de boa-fé.
A boa-fé vence a simulação.
Exemplo:

= Simulação
A Vendeu um imóvel

Vendeu o mesmo
Boa-fé do C:
B imóvel C
funciona como
“escudo” protetivo.

Observação n. 2: “Toda a simulação, inclusive a inocente, é invalidante” (Enunciado 152, III Jornada de Direito Civil).

Observação n. 3:
Enunciado 294, IV Jornada de Direito Civil32: uma parte pode alegar simulação contra a outra.

30
CC, art. 167, § 1º: “Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou
transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados”.
31
CC, art. 167, §2º: “Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico
simulado.”

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O art. 104 do Código Civil de 1916 vedava essa alegação. Entretanto, esse dispositivo não foi reproduzido no CC/2002.

Observação n. 4:
Enunciado 578, VII Jornada de Direito Civil33: a simulação prescinde de alegação em ação própria. Assim, cabe alegação
incidental.

Observação n. 5:
Reserva mental ou reticência – “blefe” (art. 110, CC)

“Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que
manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.”

➢ Duas situações:

• Se a outra parte do negócio jurídico não tiver conhecimento da reserva mental, o negócio jurídico subsiste.
• Se a outra parte do negócio jurídico tiver conhecimento da reserva mental:

✓ O negócio jurídico é inexistente (casal Nery).


✓ O negócio jurídico é nulo por simulação (Maria Helena Diniz, Venosa, Villaça) (posição que prevalece).

Exemplos (casal Nery):


• Exemplo 1: declaração de um autor de que o produto da venda dos livros será destinado à instituição de
caridade (o que não é verdade).
• Exemplo 2: estrangeiro que está em situação irregular no Brasil casa-se com brasileira, jurando amor (o que não
é verdade).

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Enunciado, 294, IV JDC: “Sendo a simulação uma causa de nulidade do negócio jurídico, pode ser alegada por uma das
partes contra a outra.”
33
Enunciado 578, VII Jornada de Direito Civil: “Sendo a simulação causa de nulidade do negócio jurídico, sua alegação
prescinde de ação própria.”

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