Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Resumo
Introdução
Com o advento das novas políticas inclusivas e ações afirmativas oriundas de intensos
movimentos sociais e reivindicações no sentido de uma educação como direito de todos.
Instauram-se dispositivos legais visando assegurar o acesso à educação pública em seus
diversos níveis e modalidades, por pessoas com deficiência.
Dentre os dispositivos diversos que perpassam questões como a da acessibilidade na Lei
10.098 (BRASIL, 2000), o reconhecimento e hospitalidade linguística na Lei 10.436 (BRASIL,
1
Mestrando em Educação (UFES), Especialista em Libras (UFU) e em Educação Especial Inclusiva
(FINOM), Professor de Português/Libras do Instituto Federal de São Paulo.
gabriel.nascimento@ifsp.edu.br
2
Mestre em Física Aplicada (UFRPE), e Professor de Física do Instituto Federal de São Paulo.
ivelton.silva@ifsp.edu.br
3
Doutorando em Educação (UNICAMP), Mestre em Educação (UFSCar), Especialista em Ética,
valores e cidadania na escola (USP), Historiador, Pedagogo e Professor de Pedagogia do Instituto
Federal de São Paulo. tassio.acosta@ifsp.edu.br
2002) e o Decreto 5.626 (BRASIL, 2005) caminhamos para um documento maior que sintetiza
demandas e condições diversas por meio da chamada Lei Brasileira de Inclusão, ou Estatuto da
Pessoa com Com Deficiência (BRASIL, 2015).
A partir dele, é possível se ter uma visão geral das especificidades das pessoas com
deficiência para pensarmos os impactos do ingresso desse novo perfil de aluno na rede federal
e o que será demandado para seu acesso e permanência antes mesmo do início do processo
seletivo, isto é, antes que eles possam concorrer às vagas seria preciso que eles tomassem
consciência delas, áreas de interesse, organização da instituição, etapas de seleção e
documentação.
Em um segundo momento seria necessário pensar o acesso ao campus, perpassando as
questões arquitetônicas para livre acesso aos diversos ambientes e estruturas do campus,
materiais presentes, organização dos laboratórios e possibilidades interativas pautadas na
autonomia e liberdade enquanto discente.
Por fim, a organização envolveria o diálogo com os servidores, sejam eles técnicos
administrativos encarregados da operacionalização das ações no campus, gestores no que diz
respeito às decisões administrativas e orçamentárias para acessibilidade ou docentes pensando
em práticas pedagógicas e novos olhares e perspectivas sobre práticas de ensino menos
excludentes.
Ocorre que, apesar dos dispositivos que instituem o imperativo da inclusão nas escolas,
esbarramos na questão da formação e informação acerca das especificidades das pessoas com
deficiência resultante da incipiência de discussões dentro desse campo na educação básica e
formação profissional e que se consolida no discurso “Não temos formação para isso”.
Sobre isso Tardif (2012) afirma que “a experiência nova proporciona aos professores,
progressivamente, ressignificações em relação ao contexto de trabalho”. Esses novos saberes
ultrapassam a mera formação profissional, incidem nas relações humanas com atravessamentos
sobre a própria ética e o modo de se conduzir em sala de aula.
Isso nos põe a pensar que as questões de inclusão e acessibilidade, para além da
formação profissional enfrentam uma questão atitudinal em sua consolidação, que carece de
maior sensibilização no sentido de pensar a prática e o processo de ensino aprendizagem como
parte da formação humana dos sujeitos que irão lidar com as diferenças em seu cotidiano.
Nesse contexto, a presença do Napne como núcleo consultivo e propositivo de ações se
justifica pela necessidade de constante diálogo, formação e busca por novas ferramentas que
possam de fato viabilizar o acesso e permanência de pessoas com deficiência aos institutos
federais. Parte disso, pelo fato do Napne ser integrado por profissionais de diversas áreas e
instâncias o que permite uma discussão mais horizontal em busca de uma compreensão dos
papéis que podem ser desempenhados pelos setores do campus de modo individual e coletivo.
Retomando a questão atitudinal, a inclusão como prática imperativa estabelecida pelas
vias legais resulta, por vezes, em certa resistência por parte dos servidores e docentes que se
ancoram na ausência de formação e informação sobre as diferenças para fundamentar que os
alunos com deficiência poderiam ser deslocados para outros espaços, uma vez que a sua mera
presença resulta em novas formas de organização administrativas e pedagógicas que exige dos
profissionais um esforço de trabalho considerável.
Essa visão, não raramente conduz uma responsabilização do Napne quanto às ações de
inclusão no campus, na falsa ideia de que pela experiência ou formação diferenciada os
membros de núcleo estariam mais habilitados para lidar com essas questões.
Assim, ao longo deste trabalho, objetivos pontuar afinal, do que se trata a instituição de
um núcleo como o Napne, suas possibilidades de ações, perfil de seus integrantes e limitações.
Situando-o não como responsável pela consolidação da inclusão no Instituto Federal, mas como
potência mediadora desse processo.
A atenção mais específica para as pessoas com necessidades especiais se deu a partir do
decreto 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamentou a Lei n. 7.853, de 24 de outubro
de 1.989, e dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência4. Passou a ser considerada portadora de deficiência qualquer pessoa com
deficiência física, auditiva, visual, mental e deficiência múltipla, aquela associada a duas ou
mais deficiências, de acordo com Art. 4 do referido decreto. Havendo a necessidade de estar
mais bem preparado para lidar com as diferenças, o Instituto Federal de São Paulo, a partir da
Resolução N. 137, de 4 de novembro de 2014, instituiu o NAPNE a partir de cinco objetivos
centrais, são eles:
4
Para saber mais sobre a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva, acessar:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-
nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192
barreiras educacionais e atitudinais, incluindo socialmente a todos por meio
da educação;
II. Prestar apoio educacional aos estudantes com deficiência, com transtorno do
espectro autista e com altas habilidades/Superdotação do campus;
III. Difundir e programar as diretrizes de inclusão dos estudantes com deficiência,
com transtorno do espectro autista e com altas habilidades/Superdotação no
campus;
IV. Integrar os diversos segmentos que compõem a comunidade escolar para
desenvolver sentimento de corresponsabilidade na construção da ação
educativa de inclusão no IFSP;
V. Promover a prática democrática e as ações inclusivas para estudantes com
deficiência, com transtorno do espectro autista e com altas
habilidades/Superdotação como diretrizes do campus.
No caso de um aluno com necessidade especial não ser atendido em sua especificidade
pelo campus em que estuda, ele tem acesso à ouvidoria da própria instituição, assim como
outros meios legais para protocolar uma denúncia, como o próprio Ministério Público Federal.
Caso o aluno não queira protocolar uma denúncia, ele pode requerer o acompanhamento do
sócio pedagógico da instituição para que a sua necessidade seja mais bem atendida pela
instituição.
Ressalta-se, ainda, que, dentre os XIV incisos sobre a competência do NAPNE,
evidencia-se a necessidade de mediação das relações familiares para com o campus e possíveis
instituições especializadas que atendam tais estudantes, o estabelecimento de parcerias do
campus com tais instituições, a proposição, estímulo e acompanhamento de implementações de
melhorias arquitetônicas, atitudinal, comunicacional e pedagógica no campus, o
desenvolvimento de tecnologia assistiva, parcerias com empresas privadas e/ou instituições
para a produção de tecnologia assistiva, promoção de formação continuada na área de educação
inclusiva, socialização dos conhecimentos adquiridos a partir de formações continuadas,
participação do planejamento das atividades didático-pedagógicas e acompanhamento do
processo de aprendizagem de estudantes com necessidades especiais, promover políticas
públicas de inclusão no campus e realizar atividades inclusivas de forma que constem no
calendário oficial anual.
É preciso considerar que o serviço de AEE se estende também aos professores que
trabalham de modo colaborativo com os especialistas na elaboração de novas propostas
didático-pedagógicas que contribuam para prover condições de acesso, participação e
aprendizagem desse aluno no ensino regular de forma plena. Deste modo para que essa
plenitude de participação seja alcançada o professor deve ser assistido de forma conjunta.
Ainda pensando na especificidade dos alunos, a composição do AEE nesse sentido não
será estanque, variando de acordo com as demandas da escola e os recursos empenhados. Dentre
os profissionais especialistas mais frequentes nos atendimentos encontramos: tradutores e
intérpretes de Libras, professores de Língua Portuguesa como segunda língua, professores ou
instrutores de Libras, especialistas em deficiência visual como leitores, transcritores e revisores
de Braille, orientação e mobilidade, soroban, professores de Educação Especial e pedagogos
com formação específica.
A oferta do AEE é realizada de modo obrigatório no contra turno escolar do público
alvo, podendo ser na mesma unidade educacional ou ainda em escolas polos e centro de
atendimento especializados (BRASIL, 2011).
Com base nesses dados, é possível depreender que a começar pela composição, Napne
e AEE muito se diferem em organização e objetivos, uma vez que o primeiro é constituído por
servidores de diversos setores dos institutos federais com ou sem formação específica, mas
empenhados a pesquisas, discutir, propor, encaminhar e orientar práticas inclusivas a partir das
demandas dos campi, inclusive a viabilidade de organização de um AEE no campus será
apontada pelo Napne, bem como as orientações sobre quais profissionais são demandados e
processos relativos.
Não obstante, Napne e AEE continuam a ser confundidos e não raramente as práticas
inclusivas dentro dos campi acabam por serem direcionadas ao Napne, sob a ótica de que as
pessoas que o compõe se configurariam em especialistas da área quando raramente o são, mas
contribuem a partir da sua perspectiva de atuação de formas diversas para assegurar o acesso e
permanência de pessoas com deficiência nas escolas. Para compreendermos melhor o escopo
de atuação do Napne, poderíamos compará-lo a um tabuleiro de xadrez em que diferentes peças
(profissionais) com diferentes habilidades (formação) colocam em movimento estratégias que
confluem para práticas inclusivas sob diferentes perspectivas de análise.
Percurso metodológico
Será, então, justamente por essas marcas às subjetividades que a escola se torna um local
de construção de valores, sobretudo pelo entendimento de que o aluno ali presente já tem a sua
história, a sua cultura e o seu entendimento sobre a sociedade, fazendo com que a escola seja
mais um pilar de formação da cidadania, sobretudo quando há a identificação de que um
determinado aluno tem práticas intolerantes e discriminatórias.
Neste entendimento, o Napne tem possibilidades diversas de atuação para a promoção
dos Direitos Humanos e fortalecimento das relações interpessoais, assim como na valorização
de que uma sociedade plural a partir da socialização de culturas, conhecimentos e olhares. Para
Jacy (2010), "a inclusão advém de um conceito de complexidade, por envolver a inserção entre
as diferenças humanas. Para fazer a diferença é necessário reconhecer e valorizar a escola, que
se pauta pela igualdade de oportunidades. De fato, somos diferentes; é necessário que o sejamos
de direito".
Dentre as possibilidades de atuação do Napne, reconhece-se que a realização de
atividades em calendário anual é de extrema importância não apenas para dar visibilidade às
pessoas com necessidades especiais, como também pelo entendimento de que a escola é um
espaço para a construção do respeito às diferenças e promoção de Direitos Humanos; em
consonância a isso, pode-se realizar eventos, feiras, palestras e outras atividades que estejam
referenciadas nestes valores pois entende-se que a escola é um local para ampla construção da
cidadania.
Estimular a promoção aos Direitos Humanos é fazer com que o espaço escolar seja
plural, que as diferenças não sejam silenciadas e muito menos invisibilizadas e possibilitar que
haja as mais diversas formas de expressões. Entende-se, ainda, que a existência do Napne é de
fundamental importância para que uma escola estimule e valorize as diferenças, que busque
cada vez mais estar preparada para trabalhar com outras formas de ensinar e que promova
resistências às normatizações sociais.
Considerações finais
Referências
ACOSTA, Tássio. Morrer para nascer travesti: escolaridades, performatividades e a pedagogia
da intolerância. Dissertação de Mestrado. UFSCar, 2016.
__________, Lei. nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais.
Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm >. Acesso em: 11
de nov. 2018.
__________, Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Dispõe sobre a Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13146.htm >. Acesso em: 11 de nov. 2018.
DIAS, Adelaide Alves. A escola como espaço de socialização da cultura em direitos humanos.
In: ZENAIDE, Maria de Nazaré Tavares; SILVEIRA, Rosa Maria Godoy; DIAS, Adelaide
Alves. (Org.). Direitos Humanos: capacitação de educadores - Fundamentos culturais e
educacionais da Educação em Direitos Humanos - Vol. 2. 1ªed.João Pessoa: Editora
Universitária da UFPB, 2008, v. 2, p. 155-160.
GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Scipione, 1989.
JACY, Maria Auxiliadora. A inclusão de pessoas com necessidades específicas nos cursos de
extensão do NAPNE/CEFET - MG: possibilidades de trabalho e emprego. Dissertação de
Mestrado em Ciências Sociais. PUC-SP, 2010
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar de deficientes mentais: contribuições para
o debate. In.: MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Ser ou estar, eis a questão: explicando o déficit
intelectual. Rio de Janeiro: WVA, 1997