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DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO
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EXPEDIENTE
Rua Antonio Lumack do Monte, 96, sl 402, Empresarial Center II, Boa Viagem,
Recife, Pernambuco, Brasil – CEP: 51020-350 – Fones: (81) 3327-6994/3463-
0423
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BNDES
Diretora
Beatriz Azeredo
Equipe Técnica
Sonia Lebre Café, Miguel Romualdo de Medeiros, Marcio Antonio Cameron, Paulo
Augusto Kohle, Luiz Fernando Barreto Gomes, Marcelo Goldenstein, Gisele
Ferreira Amaral, Marcos Montagna, Murilo Cabral de Brito.
Colaboração
Ana Lucia de Avellar, Maria de Fatima dos Santos Rosinha Motta, Heloisa Alves
Rossi.
PNUD
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Equipe Técnica
Ana Dolores Valadares Sampaio, Breno Antunes de Araújo, Carlos Eduardo Arns,
Carlos Humberto Osório, Débora da Silva Costa, Gileno Vila Nova Filho, Jeanne
Maria Duarte dos Santos, Jef Benoit, João dos Prazeres Farias, Lilia Fabíola Lima
e Silva, Maria das Graças Correia Almeida, Maria do Socorro Costa Brito, Maria
Teresa Ramos da Silva, Mario Briceño, Paulo César Arns, Pedro Tavares Jofilsan,
Rafael Pinzón, Ronaldo Camboim Gonçalves, Sandra Lúcia de Freitas, Tania
Zapata, Zenaide Bezerra.
Redação e revisão
Andréa Trigueiro, Lúcia Guimarães, Patrícia Paixão.
Está autorizada a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a
fonte.
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Apresentação
Tania Zapata
Coordenadora Executiva
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ÍNDICE
APRESENTAÇÃO.......................................................................
5.BIBLIOGRAFIA.......................................................................
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1. Introdução
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estruturado em bases diferentes, concebendo o desenvolvimento comunitário
como uma pedagogia de participação. Mas o que predominou foi uma concepção
prática de participação e de articulação que tinha como objetivo resultados
estabelecidos que deixavam de fora questões estruturais do desenvolvimento.
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Observando o casulo, o que vemos? Em primeiro lugar que a lagarta não é
apenas um ser rastejante; que ela contém em si a possibilidade do vôo. Em
segundo lugar, que só a lagarta pode transformar-se em borboleta. Ela é o sujeito
da transformação. Nem com toda tecnologia o ser humano pode fazer o trabalho
da lagarta. Em terceiro lugar, esta transformação leva um tempo que tem que ser
completado. Não adianta abrir o casulo para apressar a lagarta, sob pena de
matá-la. E em quarto lugar, sai dali uma borboleta única, cujo colorido e forma
não poderia nunca ser determinado e controlado por outro ser, e que dá asas à
lagarta.
O que queremos dizer com isso sobre desenvolvimento comunitário? No nosso
entender é o processo através do qual a comunidade amadurece em relação a si
mesma e a seus potenciais, rompe seus casulos e se transforma em novas
possibilidades de ser. A comunidade pré-existe ao técnico ou ao programa. Para
o bem e para o mal, sua história, sua trajetória, seus significados, nos precedem,
configurando cada uma delas como ser único.
É nesta trajetória singular que residem suas amarras e suas possibilidades de
vôo, e só a comunidade pode definir e realizar sua própria transformação. Ela é
sujeito de seu processo de desenvolvimento. Esta mudança leva um tempo, que é
diferente do tempo dos programas e das instituições, e este tempo não pode ser
apressado indistintamente, sob pena de matar aquilo que quer produzir.
E, finalmente, os resultados deste processo não nos pertencem nem podem
ser controlados por nós, antes correspondendo ao que de melhor pôde ter lugar
naquele tempo e naquele grupo específico.
E o que faz o Projeto BNDES - Desenvolvimento Local neste processo?
Facilitamos o processo de transformação, provocando uma reflexão sobre os
significado e os conhecimentos tácitos construídos em sua trajetória. Criamos um
ambiente favorável ao processo de maturação da comunidade em relação ao seu
próprio projeto de desenvolvimento.
No âmbito do Projeto BNDES-Desenvolvimento Local, o desenvolvimento
comunitário é uma estratégia que atravessa os âmbitos empresariais,
institucionais e da sociedade civil e busca construir o “sentido de comunidade
local”, inicialmente a partir da construção de uma identidade territorial, evoluindo
para a identidade de projeto.
Esta proposição traz em si algumas idéias/conceitos que precisam ser melhor
tratados, como “sentido de comunidade”, “identidade territorial” e “identidade de
projeto”.
a) Sentido de comunidade
O termo comunidade tem sido freqüentemente utilizado por sociólogos para
caracterizar uma forma fundamental de agrupamento primário. Embora haja uma
ampla variedade na compreensão do conceito, ora opondo-o à sociedade
(Tönnies), ora limitando-o a grupos pequenos (Chinoy), ora opondo
espontaneidade à construção racional (Mac Iver), a maioria dos autores se refere
a uma idéia de todo que Weber denomina ‘sentimento de nós’. Para este autor,
comunidade se refere “a uma relação social quando e na medida em que a
atitude na ação social(...) repousa no sentimento subjetivo dos participantes de
pertencer (afetiva ou tradicionalmente) ao mesmo grupo.” ( Weber, 1972, p.25).
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Weber afirma, ainda, que o fato de pertencerem ao mesmo grupo não cria per se
uma comunidade.
Este sentido de comunidade é construído, e embora seja tido em muitas
situações como antítese de luta, o autor lembra que mesmo as mais íntimas
relações comunitárias são marcadas por diferenças e pressões violentas
exercidas sobre as pessoas.
Embora as comunidades não sejam homogêneas ou harmônicas e possam conter
divisões internas, o ‘sentimento de nós’ que as caracteriza lhes proporciona uma
identidade social comum e a obtenção de lealdades que transcendem as
exigências de muitos outros grupos. Compartilhamos com Castells (1999) a idéia
de que a comunidade (este ‘sentimento de nós’) configura uma identidade que é
construída e cujo significado precisa ser desvendado. Este processo de
construção (ou descoberta) está associado à necessidade de ser conhecido, de
modo específico, pelos outros. A mesma comunidade pode conter identidades
múltiplas, e esta pluralidade é a fonte de tensão e contradição, tanto na auto-
representação quanto na ação social. Trataremos aqui de dois tipos de identidade
contidas em nossa idéia de desenvolvimento comunitário.
a) Identidade territorial
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A identidade territorial constitui para Castells uma identidade do segundo tipo,
uma identidade defensiva, na medida em que “constrói trincheiras de
sobrevivência com base em princípios diferentes dos que permeiam a sociedade
ou opostos a estes” (1999, p. 26), mas não transformam a estrutura social nem
redefinem a posição dos atores sociais na sociedade. Como diz Castells, “as
comunidades locais, construídas por meio da ação coletiva e preservadas pela
memória coletiva, constituem fontes específicas de identidade. Estas identidades,
no entanto, consistem em reações defensivas contra as condições impostas pela
desordem global e pelas transformações, incontroláveis e em ritmo acelerado.
Elas constroem abrigos, mas não paraísos.” (1999, p.84)
A passagem do ‘abrigo’ defensivo para o ‘paraíso’ de uma estrutura social
transformada pressupõe uma utopia coletiva capaz de abarcar corações e mentes
das pessoas, e de projetar a comunidade no futuro.(Ortiz, 1997) Pressupõe a
reelaboração da identidade territorial em “identidade de projeto”.
b) Identidade de Projeto
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3. SE AS CONDIÇÕES QUE DERAM ORIGEM AOS PROGRAMAS DE
DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO MUDARAM, QUAL O SENTIDO DE
TRAZER À TONA ESTA TEMÁTICA?
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específicas.” Castells, (1999,p.27). Neste sentido, o “empoderamento dos
espaços locais” passa por um processo de construção através do qual a
sociedade civil se articula e se fortalece de modo a influir nos destinos mais gerais
do seu território.
É neste contexto que a dimensão comunitária do desenvolvimento se revela
em toda sua importância. Uma vez que a base da ação reativa é o espaço
compartilhado no cotidiano, é necessário que este se constitua em nova fonte de
significado para as pessoas que o habitam, reconstruindo sua identidade em torno
do território, e prolongando-a para a identidade de projeto, que, na sociedade em
rede, só se origina a partir da resistência comunal (Castells,1999).
A busca de reconstituição do tecido social é sentida pelo crescente aumento
do número de ONGs, espaço de organização diferente do empresarial e do
governamental que estrutura as comunidades em torno de interesses difusos e
transindividuais. Embora de natureza essencial ao processo de recuperação da
cidadania, a maioria destas organizações fica circunscrita ao exercício de ações
locais que não produzem uma nova forma de gestão social do desenvolvimento.
Constituem núcleos de identidade defensiva, mas não de projeto.
Neste contexto, a estratégia de desenvolvimento comunitário deve incluir, além
do processo de fortalecimento do senso de identidade local, o fortalecimento das
estruturas organizacionais de caráter comunitário e a qualificação das mesmas no
que diz respeito à instrumentalização para o exercício de novas práticas de
gestão local.
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4. O QUE VEM A SER ORGANIZAÇÕES DE CARÁTER COMUNITÁRIO?
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Uma vez que se defina, no Levantamento Preliminar, o território imaginado
para a intervenção, este deve ser construído e reconstruído com os diversos
atores, para que o espaço de intervenção tenha algum sentido de identidade para
a população e suas organizações. Isto pode ser feito por aproximações
sucessivas nas fases de articulação institucional e de mobilização, culminando no
primeiro Ambiente-Oficina , envolvendo todo o território.
Na fase de articulação, pode-se fazer uma primeira aproximação localizando
coletivamente no mapa do município ou região a atuação das diversas
instituições, seu raio de ação e as interconexões existentes entre elas. Assim,
além da interação entre os representantes institucionais, inicia-se um processo de
percepção territorial que extrapola a atuação de cada órgão. Permite desenvolver
uma visão de totalidade com relação ao espaço local, e possibilita criar um
espaço em torno do qual se desenvolva um sentido de pertença entre as
instituições.
Durante a fase de mobilização da comunidade, a visão do território pode ser
trabalhada a partir do espaço imediatamente percebido, ampliando a localização
deste para um contexto mais amplo. É interessante pedir aos produtores que
desenhem o mapa da localidade. Freqüentemente, eles representarão as casas
de seus vizinhos, os pontos d’água, e outros elementos significativos do seu
cotidiano, sem, contudo, estender sua visão com relação ao município ou à
região. Esta localização deve ser feita passo a passo, de modo a reconstruir no
grupo um novo referencial de território e diminuir os campos de anonimato.
O Ambiente-oficina deverá concretizar esta percepção, não só através do
encontro de pessoas das diversas localidades, mas de uma análise do mapa
territorial, no qual se integrem as diferentes facetas de cada localidade e
diferentes programas institucionais. Este momento é crucial para dar visibilidade e
ritualizar o território, base de reconstrução da identidade coletiva local.
A estruturação do mapa territorial é um elemento fundamental para construir o
“sentido de nós” através do qual se formará o capital social do território. Neste
sentido, vale dizer que a escolha do território não pode ser feita de forma
aleatória, seguindo apenas os interesses institucionais, mas deve considerar os
elementos de identidade pré-existentes, sejam eles um rio, uma reserva
ambiental, uma história comum, traços culturais compartilhados ou outro
qualquer, de modo que a escolha do território faça sentido para a população e as
instituições locais.
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organizações comunitárias para o processo de gestão social do
desenvolvimento .
Ainda neste bloco de objetivos vale notar que, além de possibilitar a
participação qualificada dos atores nos processos de tomada de decisão, é
necessário também ampliar os espaços onde esta participação se exerce, para
que a vida social seja efetivamente democratizada. Isto significa criar ou fortalecer
espaços de tomada de decisões estratégicas a respeito do desenvolvimento do
território, da transformação da realidade e da construção do “Projeto Comum”.
Dentro desta estratégia, vale a pena ressaltar o papel das conferências
municipais. Estas conferências, que podem constituir uma base para a formação
dos conselhos, têm por objetivo reunir os principais atores e agentes de um
determinado segmento em torno da definição de políticas gerais para o território
em um setor específico (saúde, educação, transporte, meio ambiente, etc ).
c) Desenvolvimento do “Projeto”
A utopia que extrapola o território não pode se desenvolver nos limites dos
segmentos nem do próprio território (embora deva se estruturar a partir deste
último), tornando-se necessário que os diversos grupos existentes no local
integrem e articulem suas estratégias particulares em torno de um projeto
coletivo de desenvolvimento. A construção deste Projeto consiste no terceiro
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bloco de objetivos a ser perseguido pela estratégia metodológica do
desenvolvimento local como um todo, embora nesta construção, que
concretiza a passagem dos sujeitos individuais para a formação de um sujeito
coletivo, o desenvolvimento comunitário adquira sua expressão máxima.
O “Projeto” poderá se constituir, articulando os interesses dos atores
produtivos e os programas e projetos institucionais, a partir de oficinas
territoriais, nas quais se trabalhe a vinculação dos diversos seminários-
oficinas, das diferentes temáticas e segmentos, e se visualize a relação entre
o local e os demais espaços de fluxos nos quais aquele se insere (Estado,
Região, Nação, Mundo). Este Projeto se materializa na forma de um Plano
Referencial de Desenvolvimento, que orientará as tomadas de decisões
futuras no território.
É através da construção deste “Projeto” que deverá se desenvolver a força
organizacional capaz de negociar e implantar as estratégias de
desenvolvimento local desenhadas. É importante que estas oficinas territoriais
gerem alguma estrutura organizacional própria, a exemplo de um Comitê de
Desenvolvimento, que possibilite a continuidade do processo de gestão social.
Esta institucionalidade, assim como as demais estruturas criadas durante o
processo de desenvolvimento local, deverá passar por um processo de
acompanhamento através do qual as novas institucionalidades deverão
aprender a funcionar cotidianamente. Isto envolve uma assessoria de
animadores e facilitadores na preparação e estruturação de reuniões, na
organização de planos de trabalho, nas estratégias de articulação e
negociação de pequenos projetos e na elaboração de propostas de captação
de recursos.
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Geralmente, a ação das organizações comunitárias é muito centrada nas
necessidades imediatas e nas demandas que surgem a cada minuto. O que se
pretende nesta fase do trabalho é criar um espaço para que a organização seja
pensada coletivamente pelos seus membros, de modo a definir as idéias
norteadoras sobre as quais se pautará a ação da organização. Nestes eventos,
procura-se resgatar a missão da entidade e fazer um exercício de projeção de
imagem desejada que possibilite ao grupo experimentar emocionalmente sua
capacidade desejante. Os exercícios são feitos levando em conta a esfera
individual da missão, da visão e dos valores, para em seguida construir estes
conteúdos de forma compartilhada. Além de estreitar os laços existentes entre os
integrantes da organização, esta oficina inicia um movimento na construção do
raciocínio estratégico.
c) Planejamento Estratégico
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criticadas pelo grupo.
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BIBLIOGRAFIA
CHINOY, Ely. Sociedade: Uma Introdução à Sociologia. São Paulo, Cultrix, 1967.
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