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O currículo na Educação Infantil: uma análise teórica 
 
 
 
 
Resumo   
O  presente  artigo  faz  uma  análise  teórica  acerca  do  Ana Lucia de Araújo Claro 
currículo  e  sua  construção  na  Educação  Infantil,  discussão  IIESM ‐ Instituto de Ensino Superior Múltiplo 
esta  que  tem  como  aporte  teórico  os  estudos  de  Barbosa  ana.claro13@hotmail.com 
(2009),  Oliveira  (2011),  Sacristán  (2000),  Silva  (2013),  entre   
outros.  Objetiva,  explorar  alguns  conceitos  de  currículo  à   
luz  dos  teóricos  que  discutem  as  teorias  do  currículo,  bem   
como  a  concepção  do  currículo  na  Educação  Infantil  e  na  Simone Francescon Cittolin 
legislação  educacional.  Reflete,  ainda,  sobre  o  papel  do  UTFPR ‐ Universidade Tecnológica Federal do 
professor  enquanto  mediador  na  construção  do  currículo  Paraná 
numa perspectiva emancipatória, ou seja, como construção  sfcittolin@gmail.com 
social. Os estudos realizados apontam a necessidade de dar   
voz às crianças nessa construção do currículo, bem como a 
necessidade de repensar as posturas dos professores nesse 
paradigma  que  se  anuncia,  que  é  “deixar  as  crianças 
falarem”.  Nessa  perspectiva,  os  professores  ouvem  a 
criança,  refletindo  acerca  de  suas  ações  que  podem  ser 
pautadas  em  um  trabalho  de  cooperação  e  de  escuta  das 
vozes infantis, dando ênfase à autoria da criança. 
 
Palavras‐chave: Educação. Currículo. Educação Infantil. 
 
 
 
 
 
 
 

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O currículo na Educação Infantil: uma análise teórica 
 Ana Lucia de Araújo Claro ‐ Simone Francescon Cittolin 

Introdução 
Falar sobre a concepção de currículo não é tão simples, tendo em vista que há uma 
necessidade  de  distinguir  algumas  nomenclaturas  que  foram  consolidadas,  ao  longo  da 
história, na construção do currículo na Educação Infantil. Kramer (1995, p. 12) concebe o 
currículo  como  “[...]  uma  palavra  polissêmica,  carregada  de  sentidos  construídos  em 
tempos  e  espaços  sociais  distintos.”  Por  ser  essa  palavra  carregada  de  sentidos  e 
significados,  ela  vai  sendo  construída  pelo  significado  e  compreensão  que  cada  ator  do 
processo educativo lhe atribui. Nesse sentido, o currículo também é visto por Silva (2013, 
p.  55)  como  “[...]  um  local,  onde  ativamente,  se  produzem  e  se  criam  significados 
sociais”.  Compreende‐se  que  tais  significados  contribuem  para  a  construção  das 
identidades e subjetividades pela mediação das relações intersubjetivas pelos seus pares. 

Nesse  contexto,  pensar  em  um  currículo  que  contemple o  universo  da  Educação 
Infantil implica analisar como as crianças são vistas nas Instituições de Educação Infantil, 
como  também  na  família  e  na  sociedade.  Dessa  forma,  a  elaboração  e  a  construção  do 
currículo  para  a  Educação  Infantil  se  fazem  necessárias.  Contudo,  a  sua  elaboração 
envolve vários aspectos que são importantes, tais como: a formação dos professores, o 
perfil  desses  profissionais  para  a  Educação  Infantil  –  etapa  educacional  que  requer  um 
cuidado e um olhar diferenciado da sua atuação em relação às crianças pequenas. O outro 
aspecto  diz  respeito  às  condições  ambientais  e  organizacionais  das  Instituições  de 
Educação Infantil.  

Todos  esses  elementos  são  essenciais  quando  se  pensa  em  uma  proposta 
pedagógica voltada para as crianças pequenas, uma vez que essa proposta se constituirá 
em  um  espaço  relacional  entre  o  currículo  oficial  e  o  currículo  oculto  que  vai  se 
constituindo pelas culturas de pares. Nesse sentido, tem‐se como objetivo desse estudo 
explorar  alguns  conceitos  de  currículo  à  luz  dos  teóricos  que  discutem  as  teorias  do 
currículo,  bem  como  a  concepção  do  currículo  na  Educação  Infantil  e  na  legislação, 
fazendo  um  diálogo  com  os  teóricos  que  discutem  a  questão  do  currículo.  Em  seguida, 
pretende‐se,  ainda,  refletir  sobre  papel  do  professor  para  mediação  da  construção  do 
currículo em uma perspectiva emancipatória. 

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Conceito de Currículo 
Conforme Pedra (1997), o termo currículo surgiu na literatura educacional a partir 
do  processo  de  industrialização,  no  início  do  século  XX,  nos  Estados  Unidos.  Com  o 
impulso da industrialização, surgiu também a necessidade de mão de obra que atendesse 
aos princípios da industrialização. Dessa forma, o saber artesanal que era produzido em 
escala familiar, passou ao “poder fazer” industrial, bem como os conhecimentos técnicos 
dos operários deveriam atender a uma lógica de produção. O conhecimento, por sua vez, 
fora  transformado  sob  o  ponto  de  vista  da  indústria,  sendo  que  nesse  contexto,  o 
operário  e  a  família  não  detinham  mais  o  saber  fazer  artesanal,  e  esse  se  tornou 
fragmentado e distribuído entre várias “seções” da indústria. 

Foi nesse contexto, segundo Pedra (1997), que se iniciou o primeiro estudo sobre 
o  currículo,  pois  com  o  impulso  da  industrialização,  os  modos  de  produção  foram  se 
aperfeiçoando,  e  consequentemente  influenciando  o  modo  de  pensar  e  de  fazer  o 
currículo. Nessa perspectiva, o currículo não pode ser entendido como “[...] coisas dadas, 
coisas que estão aí, pertencentes à natureza [...]. São, antes disso, produções humanas, e, 
como  tais,  carregam  as  marcas  do  tempo  e  do  espaço  sociais  de  suas  construções” 
(PEDRA,  1997,  p.  37).  Nesse  contexto,  o  currículo  pode  ser  visto  como  uma  construção 
social que influencia e é influenciada pelo poder, pela ideologia e pelo conhecimento que 
permeia o cotidiano das instituições de ensino.  

Pensar  o  currículo  como  uma  construção  social  requer  segundo  Moreira  (1999), 
compreender  as  complexas  conexões  entre  currículo,  cultura  e  poder  na  sociedade 
capitalista.  Nessa  perspectiva,  Pedra  (1997,  p.  38)  concebe  o  currículo  como  “[...]  um 
modo  pelo  qual  a  cultura  é  representada  e  reproduzida  no  cotidiano  das  instituições 
escolares  [...]”,  sendo  que  a  forma  como  essas  culturas  são  representadas  é  que  vai 
constituindo as identidades individuais e coletivas que materializam o currículo. 

Para Giroux (1997, p. 10‐11), “[...] é preciso desenvolver um currículo que cultive o 
discurso  teórico  crítico  sobre  a  qualidade  e  propósito  da  escolarização  e  vida  humana”, 
ou seja, que leve em conta as necessidades sociais e individuais e que as mesmas estejam 
mediadas  sob  uma  perspectiva  de  emancipação  humana.  Corroborando  com  o 

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pensamento  de  Giroux  (1997),  Sacristán  (2000)  considera  que  o  currículo  realizado  por 
meio de uma prática pedagógica, é o resultado de, 

[...]  uma  série  de  influências  convergentes  e  sucessivas,  coerentes  ou 


contraditórias,  adquirindo,  dessa  forma,  a  característica  de  um  objeto 
preparado  num  processo  complexo,  que  se  transforma  e  constrói  no 
mesmo. Por isso, exige ser analisado não como um objeto estático, mas 
como  a  expressão  de  um  equilíbrio  entre  múltiplos  compromissos. 
(SACRISTÁN, 2000, p. 102). 
 
Contudo,  a  construção  desse  currículo  exige  um  tipo  de  intervenção  ativa, 
discutida  em  um  processo  de  deliberação  por  parte  dos  agentes  participantes  como: 
professores,  alunos,  pais,  forças  sociais  e  intelectuais,  para  que  o  mesmo  não  se  torne 
apenas como reprodução de modelações implícitas (SACRISTÁN, 2000). 

Desse modo, o pensamento de Sacristán (2000) vem colaborar com as discussões 
em torno da construção do currículo na Educação Infantil, uma vez que o autor aponta a 
necessidade  da  participação  dos  sujeitos  envolvidos  no  processo  educativo.  Tal 
pensamento  vem  ao  encontro  das  discussões  propostas  para  o  currículo  da  Educação 
Infantil, pautadas na participação dos atores que compõem esse universo.  

Currículo e a Legislação na Educação Infantil 
As  mudanças  ocorridas  na  educação  brasileira,  sobretudo  nas  escolas  nessas 
ultimas  décadas,  sofreram  as  influências  das  diferentes  concepções  das  teorias  do 
currículo, pois tais concepções teóricas influenciaram e ainda influenciam as construções 
das  propostas  curriculares,  inclusive  no  Brasil.  Essas  teorias  trouxeram  mudanças  na 
forma  de  conceber  o  currículo  e  dentre  elas  é  possível  citar  as  teorias  tradicionais,  as 
críticas e as pós‐críticas. 

Segundo Silva (2013), a teoria tradicional concebia o currículo como uma questão 
técnica  e  burocrática.  A  preocupação  centrava‐se  em  como  ensinar  e  como  atingir  as 
melhores  e  mais  eficientes  técnicas,  e  apontava  para  a  questão  da  produtividade, 
organização e desenvolvimento. Já as teorias críticas e pós‐críticas “[...] não se limitam a 
perguntar  “o  que”,  mas  submetem  este  “que”  a  um  constante  questionamento.  Sua 
questão  central  seria,  pois,  não  tanto  “o  que”,  mas  “por  que?”  (SILVA, 

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2013,p.16).Perguntariam por que esse conhecimento e não outro? Por que privilegiar um 
determinado  tipo  de  identidade  ou  subjetividade  e  não  outro?  Dessa  forma,  as  teorias 
críticas  e  pós‐críticas  estariam  preocupadas  com  as  conexões  entre  saber,  identidade  e 
poder. 

Contudo,  tais  discussões  e  debates  em  torno  de  um  dito  “currículo  ideal”  que 
atenda aos anseios da sociedade causam impactos para que mudanças sejam realizadas, 
sobretudo, no que diz respeito à legislação brasileira. A trajetória da construção de uma 
proposta curricular para a Educação Infantil emergiu a partir da nova Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação (LDB) 9394/96, que compreende a Educação Infantil em seu artigo 29, 
“[...]  como  a  primeira  etapa  da  educação  básica  e  tem  como  finalidade  o 
desenvolvimento  integral  da  criança  considerando  o  aspecto  psicológico,  intelectual  e 
social”.  

Já no que refere à organização da educação nacional, o artigo 09 da LDB 9394/96, 
no inciso V diz que devem ser estabelecidas, em colaboração como os estados, o Distrito 
Federal  e  os  municípios,  competências  e  diretrizes  para  a  Educação  Infantil,  que 
nortearão  os  currículos  e  seus  conteúdos  mínimos,  de  modo  a  assegurar  a  formação 
básica comum. 

Nesse percurso de mudanças na legislação nacional, surgiu o Referencial Curricular 
Nacional  para  a  Educação  Infantil,  elaborado  em  1998.  O  referido  documento  é 
considerado  um  parâmetro  para  nortear  as  propostas  pedagógicas  das  instituições  de 
Educação  Infantil,  levando  em  consideração que  as  crianças  são  consideradas como  um 
ser social, histórico e cultural.  

Contudo,  o  marco  importante  na  conquista  da  constituição  desse  espaço  da 
Educação  Infantil  são  as  Diretrizes  Curriculares  Nacionais  para  a  Educação  Infantil 
(DCNEI), criadas pela resolução de n. 05/2009. Sendo que essas diretrizes devem nortear 
as  propostas  de  Educação  Infantil  orientando‐as  sobre  as  questões  da  diversidade 
cultural, religiosa, étnica e racial, bem como a concepção de Educação Infantil, de criança, 
de currículo, e de proposta pedagógica. 

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 Ainda  de  acordo  com  o  DCNEI  (2009),  os  currículos  devem  atender  também  as 
crianças  indígenas,  afrodescendentes,  quilombolas  e  da  educação  do  campo, 
respeitando,  assim,  suas  particularidades  e  suas  singularidades.  Devem,  também,  estar 
presentes os princípios éticos, políticos e estéticos, que vão constituindo as identidades 
das crianças pequenas. No contexto das DCNEI, o currículo é visto como: 

Um  conjunto  de  práticas  que  buscam  articular  as  experiências  e  os 
saberes  das  crianças  com  os  conhecimentos  que  fazem  parte  do 
patrimônio  cultural,  artístico,  ambiental,  científico  e  tecnológico,  de 
modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos 
de idade. (BRASIL, 2009, MEC/SEF) 
 
Em  se  tratando  das  DCNEI/2009,  segundo  Oliveira  (2010),  pode‐se  pontuar  como 
um  dos  avanços  a  ampliação  da  Educação  Infantil  para  além  do  território  urbano  e  a 
preocupação  em  garantir  às  populações  do  campo  e  indígena,  e  aos  afrodescendentes 
uma  educação  que  contemple  os  saberes  de  cada  comunidade,  levando  em  conta  a 
identidade cultural e regional, bem como a questão da linguística e da religiosidade. 

Concepção de Currículo na Educação Infantil 
Para  Oliveira  (2011,  p.  183),  a  construção  de  uma  proposta  pedagógica  para  a 
Educação  Infantil  deve  estar  vinculada  à  realidade  cotidiana  da  criança,  bem  como  à 
realidade social mais ampla. Isso implica, segundo a autora, conhecer as concepções, os 
valores  e  os  desejos,  assim  como  suas  necessidades  e  os  conflitos  vividos  em  seu  meio 
próximo.  Destarte,  faz‐se  necessário  ouvir  dos  profissionais  suas  concepções 
educacionais para a construção dessa proposta, além de reconhecer e inserir as famílias 
como  interlocutoras  e  parceiras  desse  processo  de  construção.  Dessa  forma,  é  preciso 
compreender, também, que o currículo não pode ser entendido,  

[...]  como  um  plano  individual  predeterminado.  É  um  projeto  coletivo, 


uma  obra  aberta,  criativa  e  apropriada  para  “aqui  e  agora”  de  cada 
situação  educativa.  Ocorre  com  base  na  análise  dessa  situação,  no 
estabelecimento  de  metas  e  de  prioridades,  no  levantamento  de 
recursos, na definição de etapas e atividades básicas, na reconstrução do 
projetado  na  interação  (inter‐ação)  com  as  crianças,  na  verificação  de 
aspectos do seu comportamento que se vão modificando no decorrer do 
processo.  Envolve  sensibilidade  e  uma  visão  de  criança  como  alguém 
competente e com direitos próprios. (OLIVEIRA, 2011, p. 183). 

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Conforme  Oliveira  (2011),  isso  implica  repensar  um  currículo  que  atenda  aos 
interesses  e  às  necessidades  dos  alunos  e  da  comunidade,  sendo  essencial  inserir  a 
comunidade  nesse  planejamento  e  na  avaliação  permanente  do  que  está  sendo 
construído  nas  instituições.  Desse  modo,  com  a  elaboração  das  Diretrizes  Curriculares 
Nacionais  para  Educação  Infantil  de  2009,  o  currículo  é  visto  e  construído  sob  outros 
olhares que levam em conta o contexto interno e externo em que se situa a instituição, 
bem como as relações que são construídas e mediadas pelas culturas de pares, pois ao se 
relacionar com seus pares, as crianças criam conhecimentos a partir das experiências que 
são compartilhas com o coletivo. 

 Segundo  Barbosa  (2009),  o  currículo,  nessa  perspectiva,  precisa  estar  articulado 


às  práticas  culturais  de  determinado  grupo  social.  Devem  estar  presentes,  também,  os 
contextos  sociais  e  familiares  em  que  se  inserem  essas  crianças,  sendo  que  essa 
articulação  se  faz  necessária  para  que  haja  uma  compatibilidade  de  valores  e  uma 
compreensão em torno das transformações dos valores.  

Ainda  para  Barbosa.  (2009,  p.  52),  o  currículo,  portanto,  não  poderá  “[...]  ser 
compreendido como prescrição, mas como ação produzida entre professoras e crianças, 
na escola tendo por base os princípios educativos”. Ao ser considerado como uma ação 
produzida  nesse  coletivo  é  preciso  propiciar  esses  encontros  entre  famílias,  crianças  e 
docentes,  sendo  preciso  estar  atento  às  formas  como  essas  relações  são  construídas 
nesses espaços, observando suas emoções, seus desejos, como seus saberes se articulam 
com suas culturas e seus conhecimentos.  

Nessa  perspectiva,  o  currículo  não  pode  ser  visto  apenas  pelo  que  está  explícito 
nas práticas pedagógicas, pois também reflete o que está oculto. Para Barbosa (2009, p. 
51), “[...] o currículo oculto ensina muito não só as crianças, mas também os adultos, do 
que aquilo que já vem definido em planos e programas”, uma vez que a educação envolve 
sentimentos,  emoções  e  linguagens,  inseridas  nessa  construção  de  apropriação  do 
conhecimento. Esse sentimento não se traduz em uma prescrição, mas na ação humana 
entrecruzada  e  permeada  pelas  subjetividades  e  intersubjetividades.  Uma  vez  que, 
segundo Kramer (2003, p. 15), ao se propor a desenvolver um currículo, faz‐se necessário 

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levar  em  conta  o  contexto  de  vida  das  crianças,  suas  características  específicas,  assim 
como a dos profissionais e das instituições de Educação Infantil. Para isso requer, 

[...] reconhecer que as crianças são diferentes e tem especificidades, não 
só  por  pertencerem  as  classe  diversas  ou  por  estarem  em  momentos 
diversos  em  termos  de  desenvolvimento  psicológico.  Também  os 
hábitos, costumes e valores presentes na sua família e na localidade mais 
próxima  interferem  na  sua  percepção  do  mundo  e  na  sua  inserção.  E, 
ainda, também os hábitos, valores e costumes dos profissionais que com 
elas convivem no contexto escolar (professores, serventes, supervisores 
etc.) precisam ser considerados e discutidos. (KRAMER, 2003, p. 22). 
 
Conforme a autora, esse reconhecimento cultural e social dos sujeitos envolvidos 
nesse  processo  educativo  precisa  ser  considerado  como  elemento  indispensável  na 
construção de uma proposta curricular que de fato atenda de forma concreta aos anseios 
das crianças pequenas, respeitando, assim, as peculiaridades de cada criança para que os 
objetivos  sejam  alcançados  independentemente  de  quaisquer  condições.  Contudo,  tal 
reconhecimento  não  deve  ser  visto  de  forma  depreciativa  ou  se  constituir  em  práticas 
discriminatórias em relação às diferenças e às condições socioconômicas ou culturais das 
crianças.  

O Papel do Professor na Mediação do Currículo 
O currículo como elemento articulador para nortear as propostas pedagógicas na 
Educação  Infantil  deve  ser  pensado  nas  várias  dimensões  que  fazem  parte  do  processo 
educativo. Nesse caso, é importante repensar as formas como esse currículo vem sendo 
articulado nas relações pedagógicas, ou seja, como o professor o vem construindo com 
as crianças pequenas, uma vez que a relação pedagógica é permeada pelas subjetividades 
entre  seus  pares.  Dessa  forma,  esse  professor  precisa  ter  uma  formação  sólida  que  lhe 
possibilite uma reflexão contínua sob sua ação pedagógica, compreendendo os sentidos 
e  os  significados  da  ação  docente.  Tendo  em  vista  que  o  professor,  segundo  Sacristán 
(2000), tem o papel mediador, 

[...]  para  que  os  alunos  obtenham  resultados  e  significados  concretos, 


[...] pela significação que atribui ao currículo em geral e ao conhecimento 
que  transmite  em  particular  e  pelas  atitudes  que  tem  para  o 

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conhecimento  ou  para  com  uma  parcela  especializada  do  mesmo. 


(SACRISTÁN, 2000, p. 177). 
 
Nesse sentido, um dos desafios dos profissionais da educação das instituições de 
Educação  Infantil  é  compreender  como  se  dá  essa  dinâmica  das  propostas  das 
DCNEI/2009, e compreender como as categorias: criança, currículo, proposta pedagógica, 
princípios, diversidade cultural, práticas pedagógicas e Educação Infantil se inserem nessa 
proposta  e  se  entrecruzam  nas  relações  pedagógicas,  constituindo  a  mediação  entre  o 
currículo oculto e o currículo oficial. 

Nessa  perspectiva,  é  preciso  estar  atento  aos  modos  como  as  crianças  vão 
construindo  seus  saberes  e  como  elas  se  situam  nesses  espaços,  como  pensam  e 
solucionam seus problemas. Também, nesse espaço de construção, é preciso observar as 
linguagens que são construídas pelas crianças nas mediações com as culturas infantis. No 
entanto,  para  que  a  criança  compreenda  essa  construção,  o  professor  precisa  propiciar 
situações que estimulem esses saberes, colocando a criança no centro da aprendizagem. 

Para  isso,  o  professor  precisa  superar  a  visão  de  sua  prática  centrada  na  sua 
autoria,  dando  ênfase  agora  à  autoria  do  aluno;  a  questão  é  não  fazer  pelo  aluno,  mas 
com o aluno, colocando‐o como sujeito dessas construções. Tais posturas adotadas pelos 
professores irão, portanto, contribuir para o desenvolvimento das crianças, uma vez que 
é  por  meio  das  relações  sociais  que  as  crianças  vivenciam  suas  experiências  com  os 
professores e outras crianças, e vão construindo, assim, as suas identidades.  

Destarte, a construção do currículo deve estar articulada à ação docente, pois é a 
partir dessa interação que serão mediados o conhecimento, as percepções e as emoções 
dos  sujeitos  envolvidos  nesse  processo  educativo,  que  sofre  influências  dos  fatores 
internos  e  externos,  e  que  permeiam  o  processo  de  ensino  e  de  aprendizagem.  Essas 
relações podem agora ser vistas sob outra ótica: a criança é convidada a se fazer presente 
nessas discussões, pois sendo consideradas como sujeitos de direitos, elas precisam ser 
ouvidas, escutadas, precisam fazer parte da construção desse currículo. 

Silva (2013, p. 55), ao citar um dos conceitos trabalhados na obra de Giroux (1997), 
traz um termo interessante para esta discussão que é a questão da “voz”, que ressalta a 

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importância  da  construção  de  um  espaço  em  que  os  anseios,  os  desejos  e  os 
pensamentos dos estudantes possam ser ouvidos e atendidos. Sendo que para Giroux, a 
ausência desse espaço dificultará a efetivação do currículo e, consequentemente, pouco 
contribuirá para uma educação emancipatória. 

Embora  não  se  referindo  especificamente  às  vozes  infantis,  o  pensamento  de 
Giroux (1997) vem colaborar com os pesquisadores que discutem a questão da educação 
da  infância,  sobretudo,  em  um  livro  elaborado  pelo  BRASIL/MEC/2011,  que  traz  como 
tema a questão: “Deixa eu falar”. O livro, segundo Mumme (2011, p. 3), tem por objetivo 
favorecer o diálogo com as crianças. Nesse sentido, para ouvirmos as vozes infantis, faz‐
se  necessário,  como  salienta  Oliveira  (2010),  superar  alguns  desafios  para  a  elaboração 
curricular, bem como sua efetivação no cotidiano escolar, assim, a proposta pedagógica, 

[...]  deve  transcender  a  prática  pedagógica  centrada  no  professor  e 


trabalhe, sobretudo, a sensibilidade deste para uma aproximação real da 
criança,  compreendendo‐a  do  ponto  de  vista  dela,  e  não  do  ponto  de 
vista do adulto. (OLIVEIRA, 2010, p. 6). 
 
Enfim,  criar  e  dar  vida  ao  currículo  na  Educação  Infantil  requer  uma  mudança  de 
paradigmas nas relações do professor, pois para efetivar os princípios éticos, políticos e 
estéticos propostos pelas DCNEI/2009 é preciso sair da condição de autoritarismo para a 
cooperação  de  abordagem  proposta  por  Devries  e  Zan  (2004,  p.  326):  “Faça  o  que  eu 
digo”,  para  a  proposta:  “Vamos  trabalhar  juntos”.  De  acordo  com  as  autoras,  os 
professores podem melhorar suas ações pedagógicas, desde que se propunham a sair da 
condição  de  autoria  da  ação  docente  e  criar  um  ambiente  cooperativo.  Isso  implica, 
segundo  Devries  e  Zan  (2004,  p.  51),  “[...]  criar  uma  atmosfera  sociomoral  cooperativa, 
consultando  as  crianças  e  dando  a  elas  uma  significativa  quantidade  de  poder  para 
determinar o que ocorre em sala de aula”. Além dessa consulta às crianças, o professor 
deve  fazer  um  questionamento  constante  sobre  as  atividades  propostas:  se  as  mesmas 
estão possibilitando a construção da autonomia das crianças. 

Uma vez que o currículo, segundo Devries e Zan (2004), pode ser examinado por 
meio  das  ações  e  das  palavras  das  crianças,  sendo  assim,  pode‐se  fazer  os  seguintes 
questionamentos: As atividades continuam a despertar o interesse das crianças? O que as 
crianças  estão  aprendendo  a  fazer?  Essa  proposta  de  participação  ativa  dos  sujeitos  na 

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construção  do  currículo,  na  visão  de  Sacristán  (2000),  é  um  elemento  fundamental  nos 
processos das deliberações, para que essa não seja uma mera reprodução de decisões e 
modelações  implícitas.  Nesse  sentido,  ainda  segundo  Sacristán  (2000),  o  professor  tem 
um papel decisivo nessa construção do currículo, uma vez que ele será o mediador entre 
o aluno, a cultura e a significação que atribui ao currículo, bem como pelas suas atitudes 
diante da construção do conhecimento (SACRISTÁN, 2000, p. 177). 

Considerações Finais 
Ao  discorremos  sobre  a  construção  do  currículo,  consideramos  importante 
pontuar  alguns  elementos  importantes  na  sua  construção:  um  desses  elementos  é  a 
compreensão  do  que  vem  a  ser  currículo,  entendendo  que  esse  não  se  constrói  como 
uma  prescrição  de  normas  e  preceitos,  e  que  o  mesmo  deve  ser  elaborado,  ou  seja, 
construído,  levando  em  conta  o  contexto  em  que  se  insere  a  instituição  de  Educação 
Infantil. Contudo, essa construção pode acontecer de forma participativa e dinâmica, com 
os atores do processo educativo. 

Com  a  construção  das  diretrizes  curriculares  podemos,  portanto,  vislumbrar  um 


currículo  que  está  atento  às  diversidades  e  às  singularidades  das  crianças  pequenas. 
Podemos  perceber  que  há  uma  preocupação  política  e  ética  com  o  bem  estar  dessas 
crianças, uma vez que as próprias DCNEI (2009) possibilitam uma abertura flexível para a 
construção das propostas pedagógicas nas instituições de Educação Infantil, enfatizando 
que essas devem se constituir com a participação de todos os atores, professores, pais, 
crianças e comunidade.  

Dessa  forma,  os  professores  devem  estar  abertos  aos  seus  anseios,  às  suas 
emoções, ao seu jeito de ser e de estar no mundo. No entanto, os professores precisam 
sair da condição de elementos centrais do fazer pedagógico e passarem a considerar as 
crianças como atores principais desse processo educativo. 

Por fim, acreditamos que essa postura seja um salto positivo nessa construção do 
currículo.  Outro  aspecto  importante  na  construção  do  currículo,  de  acordo  com  os 

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estudos realizados, é que se faz necessário dar voz às crianças, para que elas participem 
desse processo de construção, isto é, é preciso ouvi‐las.  

Rerefências 
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_______. MEC/SEF. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: introdução, v.1, 
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_______. Lei das diretrizes e bases da educação, n. 9394 de 20 de dezembro de 1996. 
MEC/Brasília. 
 
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DEVRIES, Retha; ZAN, Betty. O currículo construtivista na educação infantil: práticas e 
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GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais. Porto Alegre: Artmed, 1997. p. 43‐53. 
 
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MUMME, Mônica. Deixa eu falar! Ministério da Educação‐Secretaria de Educação 
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