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Hidrografi

HIDROGR
AFIA


UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Créditos e Copyright

CASTRO, Maria Glória da Silva.


Hidrografia.  Maria Glória da Silva Castro. Santos: Núcleo
de Educação a Distância da UNIMES, 2015. 86p. (Material
didático. Curso de geografia).
Modo de acesso: www.unimes.br

1. Ensino a distância.  2. Geografia.   3. Hidrografia. 


I. Título
CDD 910

Este curso foi concebido e produzido pela Unimes Virtual. Eventuais marcas aqui
publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários.
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oriunda da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em
qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos.
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GEOGRAFIA
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS


FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PLANO DE ENSINO

 
CURSO: Licenciatura em Geografia
COMPONENTE CURRICULAR: Hidrografia
CARGA HORÁRIA TOTAL: 80h

EMENTA
O ciclo hidrológico. Sistema hidrogeomorfológico. As bacias hidrográficas e sua
função na paisagem. Hidrologia, ambiente e organização do espaço. Recurso
hídrico, fonte de energia, conflitos dos usos e desafios para a conservação.

OBJETIVO GERAL
Importância das águas atmosféricas, oceânicas e continentais nas dinâmicas da
paisagem geográfica. Água enquanto recurso, envolvendo conflitos dos usos e
desafios para a conservação.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Unidade 1
Evidenciar a unidade encontrada no planeta através do ciclo hidrológico.

Unidade 2
Entender o conceito de sistema e o papel da água como agente morfológico.

Unidade 3
Compreender a função de interação territorial representada pela bacia hidrográfica.

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Unidade 4
Desenvolver o ensino da Hidrografia na modalidade Fundamental e Médio através
da observação da paisagem geográfica.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO EM TÓPICOS:

UNIDADE 1 - Paisagem e o ensino de Hidrografia


Observando a paisagem e ensinando Geografia
Dinâmicas naturais e sociais da paisagem

UNIDADE 2 - Dinâmicas naturais da água


Ciclo hidrológico
Precipitação e evaporação
Infiltração e escoamento
Ciclo de erosão fluvial
Águas fluviais
Rios e bacias Hidrográficas

UNIDADE 3 - Bacias hidrográficas


Bacias Hidrográficas
Bacias Hidrográficas no Brasil
Ação integradora das bacias hidrográficas.
Águas Subterrâneas
UNIDADE 4 - Água no planejamento territorial e ensino de Geografia
Desenvolvimento sustentável
Água potável
Consumo de água
Proposta de atividades para o ensino e a pesquisa em hidrografia

GEOGRAFIA
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BIBLIOGRAFIA BÁSICA
MACHADO, P.J.O. e TORRES, F.T.P. Introdução à Hidrogeografia. São Paulo:
Cengage Learning, 2012, 178p.

POLETO, C. Bacias Hidrográficas e Recursos Hídricos. Rio de Janeiro: Editora


Interciência. 249p, 2014.

TUNDISI, J. G. e TUNDISI, T. M. Recursos Hídricos no Século XXI. São Paulo:


Oficina de Textos. 328p. 2011.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
DERISIO, J. C. Introdução ao controle de poluição ambiental. São Paulo: Oficina de
Textos. 232p. 2017

IRITANI, M. A. e EZAKI, S. As Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo.


Cadernos de Educação Ambiental. Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo,
Instituto Geológico, 2009, 104p. Disponível em http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-
content/uploads/publicacoes/sma/aguassubterraneas.pdf Acessado em 28/11/15

NUNES, R., FREITAS, M. e ROSA, L.P. Vulnerabilidade dos Recursos Hídricos no


Âmbito Regional e Urbano. COLEÇÃO MUDANÇAS GLOBAIS VOLUME I, Rio de
Janeiro: Editora Interciência. 212p, 2011.

OLIVEIRA, D. B. Hidrologia. São Paulo: Pearson Education do Brasil. 126p. 2016.

WOLKMER, M.F.S. e MELO, M.P. (org). Crise ambiental, direitos à água e


sustentabilidade: visões multidisciplinares. Caxias do Sul: Edues, 2012, 189 p.
VIRTUAL

GEOGRAFIA
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METODOLOGIA
A disciplina esta dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio
de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e
atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de
textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas,
envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo
ensino/ aprendizagem.

AVALIAÇÃO
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e
apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como
forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte
teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos
específicos, como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e Prova Presencial,
de acordo com a Portaria de Avaliação vigente.

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Sumário

Aula 01_ Ensino da Geografia e estudo da paisagem.................................................9

Aula 02 – Observando a paisagem e ensinando Geografia.......................................12

Aula 03 - Dinâmicas naturais da paisagem................................................................18

Aula 04 - Dinâmicas naturais e sociais da paisagem.................................................23

Aula 05 - Ciclo hidrológico..........................................................................................29

Aula 06 – Ciclo hidrológico: precipitação....................................................................33

Aula 07 – Ciclo hidrológico: evaporação.....................................................................39

Aula 08 - Ciclo hidrológico: infiltração.........................................................................43

Aula 09 – Ciclo hidrológico: escoamento....................................................................46

Aula 10 – Águas no planeta: mares e oceanos..........................................................51

Aula 11 - Correntes oceânicas....................................................................................58

Aula 12 - Poluição dos mares e oceanos...................................................................62

Aula 13 – Águas no planeta: geleiras.........................................................................66

Aula 14 - Geleiras e mudanças climáticas..................................................................69

Aula 15 - Águas no planeta: aquíferos........................................................................73

Aula 16 - Águas Subterrâneas: recarga, descarga e contaminação..........................76

Aula 18 – Ciclo de erosão fluvial.................................................................................86

Aula 19 – Águas no planeta: rios................................................................................92

Aula 20 – Rios e bacias Hidrográficas........................................................................98

Aula 21 – Padrões da rede hidrográfica...................................................................103

Aula 22 – Padrões dos canais fluviais......................................................................108

Aula 23 – Bacias Hidrográficas no Brasil..................................................................117

A quem serve a transposição do São Francisco? Aziz Ab’Saber Aziz.....................124

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Aula 24 – Ação integradora das bacias hidrográficas..............................................126

Aula 25 – Desenvolvimento sustentável...................................................................133

Aula 26 – Disponibilidade hídrica..............................................................................135

Aula 27 – Água potável.............................................................................................138

Aula 28 – Consumo de água.....................................................................................141

Aula 29 – Inundações................................................................................................146

Aula 30 - Prevenindo as inundações........................................................................149

Aula 31 - Refletindo sobre atividades de campo......................................................153

Aula 32 – Proposta de atividades para o ensino e a pesquisa em Hidrografia........156

GEOGRAFIA
Aula 01_ Ensino da Geografia e estudo da paisagem

A disciplina Hidrografia está orientada para contribuir na formação do


professor de Geografia da escola básica, através da análise e interpretação as
dinâmicas naturais e sociais das águas através do olhar geográfico. Entendendo que
a Geografia estuda a realidade em constante transformação através das relações
que a sociedade mantém com a natureza, esta disciplina avaliará a importância da
água no ensino da Geografia através da análise da paisagem.
A observação e a interpretação da paisagem possibilita a compreensão das
dinâmicas naturais, que se recriam permanentemente, possível através de
atividades de campo e com a leitura e interpretação de imagens, especialmente as
fotografias. Imagens obtidas por estudantes em aulas de campo e em locais que
compõem o seu cotidiano, como o estudo da condição dos rios nas imediações da
escola, ganham significado especial na aprendizagem, pela valorização do
conhecimento prévio do estudante relacionado ao lugar de convivência. “A tradição
geográfica elege o ambiente como o laboratório da produção do conhecimento,
sendo ele físico e concreto, e a atividade de campo como meio para aprender e
ensinar sobre a realidade.” (DANTAS e MORAIS, 2007, p. 3) 1.
Na impossibilidade de realização de atividades de campo na escola, a
apresentação de fotografias nas aulas tem se revelado um recurso precioso para
sensibilizar os alunos na compreensão de determinado tema, inclusive
decodificando imagens que eles recebem continuamente pelas redes sociais, já que
as imagens são abundantes na nossa sociedade da informação.
Como rios caudalosos e velozes, as redes de comunicação fluem
persistentemente em nosso cotidiano com suas mensagens aparentemente
desconectadas, nos conduzindo a navegar por enxurrada de dados
descontextualizados e fragmentados. Produto de um mundo moderno mergulhado
em tecnologias e informações, fluxos contínuos de imagens regem nossos sentidos,
exigindo habilidades para se conduzir sem naufragar.

1
DANTAS, E. M. E MORAIS, I. R. D. O Ensino de Geografia e a imagem: universo de possibilidades. In IX Coloquio
Internacional de Geocrítica. Porto Alegre, 28 de mayo - 1 de junio de 2007. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Disponível em http://www.ub.edu/geocrit/9porto/eugenia.htm Acessado em 1/5/17.

GEOGRAFIA
9
Num mundo regido especialmente por imagens, a possibilidade de trabalhar
com fotografias enquanto linguagem no ensino de geografia passa a ser uma
necessidade para a decodificação crítica de seus propósitos e conteúdos pelos
estudantes com apoio do professor.
A iconologia é a área da ciência que estuda os significados das imagens, que
podem ser fotografias, mas também pinturas ou gravuras, e a iconografia
corresponde à representação de temas através da linguagem visual 2. O professor de
Geografia pode elaborar uma iconografia específica para desenvolver determinados
temas em suas aulas através de imagens.
Não é só a iconografia gerada por meio da atividade de campo
que deve interessar ao professor. É a iconografia que precisa
ser incorporada ao seu trabalho, ampliando o universo de
possibilidades para ler, interpretar e interferir no espaço
geográfico. (DANTAS e MORAIS, 2007, p.3)3.
Nesta disciplina, as imagens presentes nas aulas compõem uma iconografia
para o tema hidrografia, abordando a questão da água na atualidade, contribuindo
na formação do professor de Geografia na escola básica, preocupado na
elaboração, com seus futuros alunos, de uma leitura crítica e articulada da realidade.
Ao desconstruir as imagens, o professor e seus estudantes passam a
compreender o propósito de seus autores e restabelecem a leitura geográfica nos
processos que produzem o nosso cotidiano.
A fotografia congela, sem subterfúgios, os processos espaciais
que a geografia analisa, em suas dinâmicas mecânicas e
simbólicas, culturais e materiais. Descongelar o que está
registrado é inventariar as formas de utilização do espaço,
descrever as maneiras como o homem explora e transforma a
natureza em recurso para atender as “necessidades” humanas.
Significa captar o riso e a dor que habitam os interstícios da
cultura; escutar o canto e o silêncio da paisagem; descobrir a
2
Conhecimento Geral. Disponível em https://www.conhecimentogeral.inf.br/iconografia/ Acessado em 17/11/18.

3
DANTAS, E. M. E MORAIS, I. R. D. O Ensino de Geografia e a imagem: universo de possibilidades. In IX Coloquio
Internacional de Geocrítica. Porto Alegre, 28 de mayo - 1 de junio de 2007. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Disponível em http://www.ub.edu/geocrit/9porto/eugenia.htm Acessado em 1/5/17.

GEOGRAFIA
10
festa e as crenças que transformam os espaços em cenários
de comunhão e seletividade social; decodificar os signos e
símbolos que alimentam a condição humana. Na imagem
encontramos a força da natureza e da cultura como um
espetáculo que põe em diálogo a rede simbólica e material se
espraiando em todas as direções. (DANTAS e MORAIS, 2007,
p.6).4

4
Idem.

GEOGRAFIA
11
Aula 02 – Observando a paisagem e ensinando Geografia

Ao observar a paisagem do lugar onde vivemos, podemos encontrar formas


de relevo que foram elaboradas no passado geológico pelos processos naturais,
como pela ação do vento, gelo e água, que são agentes transformadores externos.
Na atualidade, parte das formas é remodelada pela atividade humana.
Em centros urbanos mais densamente ocupados podemos facilmente
encontrar a situação registrada pela Figura 1, onde parte de um bairro do município
de Taboão da Serra (SP) ocupa um morro, revestindo-o com suas construções, o
que não impedem de se perceber esse formato de relevo.

Figura 1 – Morro em Taboão da Serra, São Paulo5

Os morros predominam em Taboão da Serra, que está situado em Domínio


Morfoclimático de Mares de Morros, conhecido também como Domínio de Mata
Atlântica6, como é o caso também do município de Mucurici (ES), registrado pela

5
Disponível em http://barelanchestaboao.blogspot.com.br/p/de-bar-em-bares.html Acessado em 19/10/13.
6
AB'SABER,A.N – Os domínios da Natureza no Brasil, São Paulo : Ateliê Editorial, 2003, 160 p.

GEOGRAFIA
12
Figura 2, que apresenta uma menor densidade de ocupação urbana. Vivem nessas
duas localidades estudantes do nosso curso de Geografia.

Figura 2 – Vista parcial da cidade de Mucurici, situada em domínio de Mares de Morros 7

As formas do relevo, mesmo que alteradas pela ação antrópica, revelam a


dinâmica das águas, como a da chuva, que infiltra no solo, alimentando as plantas e,
mais profundamente, os lençóis freáticos, ou escoam por sobre a impermeabilização
urbana, lavando a cidade e levando para os rios todo tipo de material, que serão por
eles transportados e depositados em outros locais.
Em grandes cidades, boa parte dos rios desapareceu da superfície ao serem
canalizados e retificados, cedendo lugar para amplas vias de circulação. É o caso da
Figura 3 que registra a Avenida Prestes Maia, na cidade de Santo André (SP), que
passa sobre um antigo rio, que perdeu suas nascentes para a impermeabilização,
presente na maior parte da cidade. O rio sob a avenida era afluente do Ribeirão dos
Meninos, que foi retificado para a construção de vias de circulação nas suas antigas
várzeas.

7
Disponível em http://www.cidade-brasil.com.br/municipio-mucurici.html Acessado em 19/10/13.

GEOGRAFIA
13
Figura 3 – Avenida na cidade de Santo André, São Paulo 8

Na imagem de satélite (Figura 4) podemos acompanhar o provável caminho


das águas desse antigo rio em direção ao Ribeirão dos Meninos, que deságua no
Rio Tamanduateí, o mais importante da região industrial do ABC Paulista, que é
afluente do Rio Tietê, o mais importante rio do estado de São Paulo, que é afluente
do Rio Paraná, que, junto com o rio Paraguai, forma a Bacia da Prata, que tem sua
desembocadura entre a Argentina e o Uruguai.

8
Foto do acervo pessoal desta autora.

GEOGRAFIA
14
Figura 4 – Setas indicam o provável curso do sob a Av. Prestes Maia na desembocadura com o
Ribeirão dos Meninos, em Santo André9

Na Figura 5 podemos observar na imagem de satélite o Rio da Prata


desaguando, junto com o Rio Uruguai, no Oceano Atlântico, tendo a cidade de
Buenos Aires (número 1) na margem direita (oeste) e Montevidéu (número 2) na
margem esquerda (leste).
As águas criam seus caminhos, que articulam amplos domínios ambientais
com suas dinâmicas naturais. A vida nas cidades imprime aos seus moradores uma
percepção espacial restrita dos locais de realização do cotidiano, como o lugar de
morar, de se transportar, de trabalhar, de estudar, de lazer, entre outros. As
estruturas das cidades podem esconder os seus rios, entretanto eles estão
presentes, alterando a dinâmica social da cidade, especialmente em eventos
extremos, como quando as precipitações são intensas, provocando as inundações.

9
Adaptado de http://www.google.com.br/intl/pt-PT/earth/ Acessado em 3/11/13.

GEOGRAFIA
15
Imagem de Satélite 2 – Desembocadura do Rio da Prata e Uruguai 10

Nas cidades, a água perdeu seu valor como meio para a vida, transformando-
se em água de torneira, água mercadoria. No passado, a água era compreendida
enquanto meio para a existência de todas as formas de vida e norteou a escolha das
áreas onde civilizações humanas desenvolveram-se, como na Mesopotâmia, entre
os rios Tigres e Eufrates, atual Iraque, e no vale do rio Nilo, no Egito, entre outras.
Nessa época, a relação dessas sociedades com a água revelava o respeito e
temor humano diante das forças naturais. Com o aperfeiçoamento tecnológico, as
sociedades passaram a entender a natureza como recurso disponível para atender
as suas necessidades.
A água como recurso passou a ser entendida como mercadoria, que é
vendida sem causar estranheza no nosso cotidiano. No filme de Akira Kurosawa 11,
Dersu Uzala, personagem que sempre viveu nas Florestas de Coníferas ao norte da

10
Disponível em http://www.guiageo-americas.com/imagens/rio-plata-argentina.jpg Acessado em 3/11/13.

11
KUROSAWA , A. Dersu Uzala [Filme]. Produção de Yoishi Matsue e Nikolai Sizov, direção de Akira Kurosawa. Japão-
Rússia, 1974, DVD, 145 min. color. son.

GEOGRAFIA
16
Mongólia, assustou-se com a vida na cidade, onde morou alguns meses, frustrando-
se ao ‘viver dentro de caixas’ e indignando-se ao comprar água para beber. A
história de Dersu Uzala passa em 1907 e é uma das primeiras obras
cinematográficas a abordar as muitas possibilidades de pensar a questão ambiental.
Para Gonçalves12 “toda sociedade, toda cultura cria, inventa, institui uma
determinada ideia do que seja a natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza
não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens”(12p.). Portanto é
possível mudar a perspectiva atual, de que o homem pode continuar explorando a
natureza sem se responsabilizar pelas consequências, como a extinção de
nascentes e a poluição das águas. O conhecimento acumulado sobre as dinâmicas
naturais e os impactos causados pelas sociedades contemporâneas sedimentam o
principal caminho para a transformação da percepção sobre a relação sociedade-
natureza: a educação.
Esta disciplina estudará as águas no mundo contemporâneo pelo olhar da
Geografia, especialmente dirigida à formação do professor, para atuar em escolas
de ensino Fundamental e Médio.

12
GONÇALVES, C.W.P. Os (des)caminhos do Meio Ambiente, Editora Contexto, São Paulo, 1989,148 p.

GEOGRAFIA
17
Aula 03 - Dinâmicas naturais da paisagem

A observação da paisagem é uma atividade prática muito expressiva no


ensino da Geografia, pois com ela os estudantes percebem que a geografia na
escola valoriza o seu cotidiano, aproximando a teoria das experiências vivenciadas
no dia a dia.
Para Milton Santos13,
[...] tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem.
Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista
alcança. Não é apenas formada de volumes, mas também de cores,
movimentos, atores, sons, etc (p.61).
Portanto, a leitura da paisagem possibilita o desenvolvimento de vários
interesses no ensino de Geografia e vamos destacar a observação a partir dos rios
existentes no lugar de nossa vivência, onde temos vínculos pessoais e afetivos.
As fotografias a seguir registram algumas condições frequentes dos rios no
nosso cotidiano. Qual delas representa melhor as condições dos rios no lugar onde
você vive?
Na primeira fotografia (Figura 1), visualizamos um trecho do Ribeirão
Monjolinho, no município de São Roque, estado de São Paulo. Suas águas límpidas
percorrem um ambiente com mata ciliar ou ripária, que acompanha o curso do rio a
partir de suas margens, protegendo-o de materiais que possam ser transportados
pelas chuvas mais intensas, que poderiam alterar sua dinâmica natural com o
assoreamento do leito, tornando-o mais raso e propenso a inundações. A mata
ripária também favorece a estabilidade das margens, protegendo-as de processos
erosivos. Podemos afirmar que neste rio predominam as dinâmicas naturais,
mantendo o equilíbrio do curso d’água com seu meio ambiente.

13
SANTOS, Milton Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988. 124p.

GEOGRAFIA
18
Figura 1 - Ribeirão Monjolinho, São Roque, São Paulo 14

Na segunda fotografia (Figura 2), percebemos que as águas do rio estão


retirando o solo de uma de suas margens, sendo que esse processo é chamado de
erosão fluvial lateral.

14
Disponível em http://altamontanha.com/Aventura/2713/travessia-da-serra-do-ribeirao Acessado em 26/11/13.

GEOGRAFIA
19
Figura 2 – Erosão lateral no rio Paraná da Trindade, AM15

A fotografia a seguir é do Rio Paraná da Trindade e pertence à pesquisa de


Carvalho e Cunha16 sobre terras caídas, que é um termo usado na Região Norte que
significa erosão fluvial lateral. Nesta pesquisa, os autores constataram que se trata
de um processo de origem natural, decorrente da geometria do curso do rio e do tipo
de material das margens, que apresenta pouca resistência ao fluxo de água.
Combinado a esses fatores naturais ocorreu a retirada da mata ciliar pelos
moradores, que sofrem muitos transtornos, como
(...) a diminuição e desvalorização das propriedades, perda de plantações e
de canoas, necessidade constante de mudança das casas, dificuldade de
embarque e desembarque em razão do barranco íngreme, risco de morte na
margem do rio, principalmente durante lavagem de roupa, entre outras
implicações17. (p.1).

15
CARVALHO, J.A. e CUNHA, S.B. Terras Caídas e consequências sociais na costa do Miracauera, Município de Itacoatiara-
Amazonas, Brasil. In Revista Geográfica da América Latina, Vol 2, No 47E, 2011, 1-16p.Disponível em
http://www.revistas.una.ac.cr/index.php/geografica/article/view/2949 Acessado em 27/11/13

16
CARVALHO, J.A. e CUNHA, S.B. Terras Caídas e consequências sociais na costa do Miracauera, Município de Itacoatiara-
Amazonas, Brasil. In Revista Geográfica da América Latina, Vol 2, No 47E, 2011, 1-16p.Disponível em
http://www.revistas.una.ac.cr/index.php/geografica/article/view/2949 Acessado em 27/11/13

17
CARVALHO, J.A. e CUNHA, S.B. idem.

GEOGRAFIA
20
As águas dos rios têm a capacidade de erodir, transportar e sedimentar
materiais. Assim a erosão é uma ação natural dos cursos de águas superficiais e
sua ocorrência é um indicativo que alterações estão acontecendo no ambiente que
ele percorre.
A erosão fluvial pode ter origem natural ou antrópica e sua duração pode ser
temporária ou permanente. Como origem natural, podemos citar a erosão causada
por chuvas intensas que ocorrem em eventos meteorológicos extremos,
especialmente em climas quentes e úmidos, que provocam movimentação de solo,
enxurradas e inundações em curtos intervalos de tempo.
Esses eventos extremos nem sempre estão relacionados a uma única causa,
mas à combinação de vários determinantes naturais. Alguns desses episódios
extremos, no Sudeste brasileiro, foram vinculados ao fenômeno do El Niño 18, que
está associado à redução da velocidade dos ventos alísios, junto à zona equatorial,
dentre outros fatores.
O El Niño dura alguns meses, alterando a distribuição das precipitações em
várias partes do mundo, entre outras situações meteorológicas. Ao término do El
Niño, as condições da circulação atmosférica retornam à habitualidade, levando o
ambiente a recuperar as suas dinâmicas anteriores, modificando as formas e
condições decorrentes dos eventos extremos, recriando um novo equilíbrio
ambiental.
Segundo Bertrand (2004),
A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados.
É, em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação
dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos
que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um
conjunto único e indissociável, em perpétua evolução 19 (141p.)

18
Aumento temporário das temperaturas na Corrente de Humboldt, no Oceano Pacífico, alterando a distribuição das
precipitações em parte da Austrália e América do Sul.

19
BERTRAND, G. PAISAGEM E GEOGRAFIA FÍSICA GLOBAL. ESBOÇO METODOLÓGICO R. RA´E GA, Editora UFPR :
Curitiba, n. 8, p. 141-152, 2004. Disponível em

http://posgeografiaunir.files.wordpress.com/2011/07/bertrand-paisagem-e-geografia-fc3adsica-global.pdf Acessado em
18/11/13.

GEOGRAFIA
21
Esta concepção apoia o trabalho do professor na observação e interpretação
da paisagem, possibilitando uma leitura sistêmica das dinâmicas naturais que a
recriam continuamente. As atividades humanas podem alterar essas dinâmicas, que
é o assunto que vamos tratar na próxima aula.

GEOGRAFIA
22
Aula 04 - Dinâmicas naturais e sociais da paisagem

Na natureza, a água é um dos componentes que revela os processos


permanentes de transformação, presentes no equilíbrio da paisagem. Nesta aula
vamos conhecer como a ação antrópica pode modificar o equilíbrio ambiental.
A ação antrópica pode alterar diretamente a dinâmica dos rios pela retificação
do canal, construção de barragens ou exploração de minérios do leito, dentre outros
exemplos. Indiretamente, o homem pode interferir na dinâmica natural dos rios
através do desmatamento, aumentando o volume de sedimentos escoados
superficialmente pelas águas das chuvas, que chegam aos rios e são transportados
e depositados conforme a variação da velocidade das suas águas.
A fotografia a seguir (Figura 1) representa um tipo de ação antrópica, que é a
poluição das águas.

Figura 1 – Rio Gravataí, Grande Porto Alegre, Rio Grande do Sul 20

20
Disponível em http://protosfera1.blogspot.com.br/2012/07/rio-gravatai-as-aguas-que-bebemos_11.html
Acessado em 26/11/13

GEOGRAFIA
23
Trata-se do Rio Gravataí, que drena parte dos municípios a leste da Grande
Porto Alegre, como Viamão e Gravataí, conforme podemos verificar no mapa a
seguir, da bacia do Rio Gravataí (Figura 2).

Figura 2 - Mapa da Bacia do Rio Gravataí21, RS.

21
Disponível em http://www.sema.rs.gov.br/conteudo.asp?cod_menu=56&cod_conteudo=6118 Acessado em 26/11/13.

GEOGRAFIA
24
A mata ciliar que acompanha as margens possibilita a interpretação de que se
trata de área com pouca intervenção humana. Entretanto o acúmulo de material
flutuante em suas margens indica problemas graves com a destinação de resíduos
sólidos, cuja disposição adequada deve ser em aterros sanitários, e provavelmente
contaminação das águas por efluentes domésticos, como o esgoto.
A fotografia a seguir é do Rio Tietê (Figura 3), no seu curso superior, ou seja,
mais próximo às suas nascentes, onde o rio percorre alguns municípios da Região
Metropolitana de São Paulo.

Figura 2 – Rio Tietê na Região Metropolitana de São Paulo 22

A ausência de vegetação, a retificação do curso, a impermebilização de suas


margens, o uso das várzeas para a circulação de veículos nas avenidas marginais e
o material flutuante na água ilustram as várias possibilidade da antrópica em um rio.
Considerando Santos23, o cheiro e a cor das águas também contribuem para
compreender a condição da paisagem a partir dos rios em cidades.

22
Disponível em http://transparenciabrasil.com.br/rio-tiete-perdera-o-cheiro-ruim-ate-2015-diz-governo/ Acessado em 26/11/13.
23
SANTOS, Milton Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988. 124p.

GEOGRAFIA
25
As duas próximas fotografias (Figura 3 e 4) registram uma rua na zona sul da
cidade de São Paulo, a José Maria Whitaker.

Fotografia 3 – Avenida José Maria Whitaker, São Paulo 24

Na leitura da imagem não percebemos qualquer vínculo com os rios, mas sob
ela fluem as águas do Córrego Uberaba, que transborda durante os episódios de
chuvas intensas do verão tropical.
Para saber se o alagamento das ruas está relacionado a rios canalizados sob
elas é necessário verificar se as condições do relevo correspondem às formas de
vale, sendo que o alagamento tem origem nas águas dos rios se a rua estiver
localizada nas partes mais baixas do terreno, cujas águas retornam à superfície
pelos bueiros e bocas de lobo, pois sua vazão ultrapassa a capacidade da
canalização realizada.

24
Foto do acervo pessoal desta autora.

GEOGRAFIA
26
Fotografia 4 – Mesma avenida com área de alagamento 25

A leitura da paisagem estimula a interpretação integrada das dinâmicas


naturais e sociais, decorrentes da relação sociedade e natureza. Ao despertar para
os diferentes tipos e formas de estruturas que participam do nosso cotidiano,
passamos a perceber que cada uma delas compõe a paisagem dentro de uma
condição única, com todo um significado a ser desvendado. Trata-se de superar a
aparência que a paisagem possui, buscando a compreensão da sua essência. Esta
disciplina desenvolverá um conjunto de conteúdos que permitirá o estudo integrado
da paisagem a partir das dinâmicas das águas presentes nosso cotidiano.

Resumo da Unidade I - Paisagem e o ensino de Hidrografia

Nesta primeira unidade destacamos a observação da paisagem como um


procedimento que favorece o ensino da hidrografia. A observação dos rios nas
cidades é especialmente importante, pois nelas boa parte dos rios encontra-se
canalizada ou servindo para escoamento de esgoto e dejetos de variadas
qualidades e origens.
25
Disponível em http://jornalzonasul.com.br/prefeitura-nao-iniciou-obra-prometida-contra-enchente/ Acessado em 27/11/13

GEOGRAFIA
27
Avaliamos como a relação da natureza com a sociedade possibilita uma
análise integradora da hidrografia pela geografia no ensino Fundamental e Médio.
Nesta unidade conhecemos alguns dos conteúdos básicos sobre as
dinâmicas naturais, que possibilitam o entendimento sobre parcela das
transformações no ambiente preconizadas pela sociedade.

Referências Bibliográficas da Unidade I

AB'SABER,A.N – Os domínios da Natureza no Brasil, São Paulo : Ateliê Editorial,


2003, 160 p.

BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global. Esboço metodológico R. RA´E


GA, Editora UFPR : Curitiba, n. 8, p. 141-152, 2004. Disponível em
http://posgeografiaunir.files.wordpress.com/2011/07/bertrand-paisagem-e-geografia-
fc3adsica-global.pdf

GONÇALVES, C.W.P. Os (des)caminhos do Meio Ambiente, Editora Contexto, São


Paulo, 1989,148 p.

SANTOS, Milton Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988.


124p.

Aula 05 - Ciclo hidrológico


Nesta aula compreenderemos que a água está presente por toda parte, sendo
essencial para a vida. Ela está em constante mudança de estado, o que permite que
a água flua pelo planeta.

GEOGRAFIA
28
Em razão da distância existente entre a Terra e o Sol, a água encontra-se
naturalmente nos três estados da matéria: sólido (gelo), líquido (água) e gasoso
(vapor). Caso a Terra estivesse mais distante do Sol provavelmente a maior parte da
água presente no planeta estaria em estado sólido e, caso estivesse mais próxima, a
maior parte da água estaria na forma de vapor.
As interações entre as mudanças de estado da água e a sua circulação na
natureza podem ser compreendidas através do ciclo hidrológico (Figura 1), que
representa uma abordagem sistêmica26.
No ciclo hodrológico, a energia solar é usada para evaporar as águas na
superfície do planeta, como nos oceanos, rios, lagos, na camada superficial dos
solos e nos vegetais. No ar, parte do vapor de água condensa, formando as nuvens,
que possibilitam as precipitações, como a chuva. Quando as precipitações atingem a
superfície do planeta, inicia-se o escoamento superficial, que alimenta os rios, lagos
e oceanos, e a infiltração nos solos, que alimentará as plantas e abastecerá as
águas subterrâneas. Parte das águas na superfície evaporará, reiniciando o ciclo
hidrológico.
A Terra, portanto, compõe um sistema fechado com os seus elementos
naturais: atmosfera, biosfera, litosfera e hidrosfera. Neste sistema fechado não há
perda de nenhum elemento, como o caso da água, porém ocorrem transformações
do estado físico que favorecem a sua circulação no planeta. Em outras palavras, a
quantidade de água disponível na Terra não se altera, mas a distribuição da água e
a forma como se apresenta são muito desiguais pelo planeta.

26
Para Christofoletti, a definição de sistema se configura “[...] como o conjunto dos elementos e das relações entre si e entre
seus atributos”. CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo: Edgar Blücher ltda, 1999, 236p.

GEOGRAFIA
29
Figura 1 – Representação do ciclo hidrológico27

As águas distribuídas no planeta formam a hidrosfera e o seu volume total é de


1,386 bilhão de quilômetros cúbicos, distribuído em reservatórios aéreo (atmosfera),
superficiais (oceanos, mares, rios, lagos, lagoas, pântanos e depósitos artificiais) e
de subsuperfície (águas subterrâneas).
O quadro abaixo expressa as quantidades em águas salgadas, congeladas e
doces, de fácil e difícil acesso para consumo.

27
Adaptado de Unid.S.Geological Survey, disponível em http://www.ideariumperpetuo.com/aguas.htm Acessado em
10/12/13.

GEOGRAFIA
30
DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO PLANETA

Localização (em km³) %

Mares e Oceanos 1.351.350.000 97,500

Geleiras, neves eternas e mantos de gelo nas


23.873.850 1,723
áreas polares
Água doce de difícil acesso, como as águas
10.672.200 0,770
subterrâneas, atmosféricas e em pântanos.
Água doce de fácil acesso, como em rios,
106.950 0,007
reservatórios, lagos, etc.

TOTAL DE ÁGUAS NO PLANETA 1.386.000.000 100,000

Quadro 1 – Quantidades e distribuição da água no planeta 28.

Diante da abundância de águas salgadas, alguns países situados em climas


secos buscam transformar a água salgada em água doce e potável, através da
técnica da dessalinização, apesar do alto custo associado a esse procedimento.
Já as águas de fácil acesso, como rios e lagos, correspondem a apenas
0,007% do total da água presente no planeta, significando que a água potável, com
qualidade para consumo humano, é raridade nas terras emersas.
Outra informação importante para se compreender melhor o ciclo hidrológico
é sobre o tempo médio que a água demora em cada fase do ciclo (Quadro 1).

28
REBOLÇAS, A.; BRAGA, B.; TUNDISI, J.G. (orgs.). Águas Doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação. São
Paulo: Escrituras Editora. 2006, 717p.

GEOGRAFIA
31
Tempo de trânsito da água no Ciclo Hidrológico

Oceanos e mares 4.000 anos 4.000 anos

Geleiras e capas de gelo 10 a 1.000 anos 10 a 1.000 anos

Águas subterrâneas 2 semanas a 10.000 anos

Lagos, rios, pântanos e reservatórios 2 semanas a 10 anos

Umidade nos solos 2 semanas a 1 anos

Biosfera 1 semana

Atmosfera 10 dias

Quadro 2 – Tempo de permanência da água nas diferentes etapas do ciclo hidrológico 29.

Os dados indicam que o menor tempo que a água permanece dentro de uma
fase do ciclo é de uma semana circulando na biosfera, que corresponde à utilização
dela pelos seres vivos. O trânsito da água na forma gasosa também é rápido,
correspondendo a cerca de dez dias na troposfera, que é a primeira camada da
atmosfera terrestre.
O maior tempo de permanência ocorre com as águas contidas em aquíferos,
que são rochas com poros e fraturas que têm capacidade de armazenar água por
até 10.000 anos. Esse longo tempo de permanência significa que qualquer
contaminação ou poluição das águas subterrâneas será muito difícil de ser revertida,
exigindo muita atenção com as fontes contaminantes e cuidados com a extração das
águas profundas.
Nos próximos capítulos iremos detalhar as fases do ciclo hidrológico para
compreender melhor a importância da água nas transformações que ocorrem
continuamente no planeta, seja de origem natural ou antrópica.

Aula 06 – Ciclo hidrológico: precipitação


A água presente na troposfera transfere-se à superfície do planeta através da
precipitação como as chuvas, garoas ou nevascas. Nesta aula conheceremos

29
VARNIER, C. Ciclo de Palestras do Museu Geológico Valdemar Lefèvre (MUGEO). Instituto Geológico de São Paulo.
Junho/2008. Disponível em http://www.igeologico.sp.gov.br/downloads/palestras/plstr_aguasubterranea.pdf Acessado em
20/10/2013.

GEOGRAFIA
32
algumas informações para o movimento da água entre a atmosfera e a superfície
terrestre.
A meteorologia conceitua precipitação como:
a quantidade de água resultante da condensação do vapor de água na
atmosfera, que se precipita de forma líquida, dando origem a chuva, ou de
forma sólida, originando neste caso neve ou granizo que se deposita na
superfície terrestre.30
Na troposfera, a primeira camada da atmosfera, as temperaturas diminuem
com a altitude devido ao gradiente térmico, favorecendo a condensação. A
formação das precipitações pode ocorrer por efeito orográfico, frontal ou
convectivo31.
O efeito orográfico ocorre quando o ar encontra uma elevação do relevo,
obrigando-o a ganhar altitude para ultrapassá-lo, conforme a Figura 1. As nuvens e
precipitações de origem frontal são formadas pelo encontro de massas de ar com
características diferentes, como a massa de ar polar e a massa de ar tropical (Figura
2). O processo convectivo ocorre quando o ar passa a se elevar por razão de uma
superfície aquecida, como as cidades (Figura 3).

30
Disponível em: http://conceitosdehidrologia.blogspot.com.br/2009/03/precipitacao.html Acessado em 16/11/18.

31
Os processos de formação de nuvens e precipitações foram estudados no curso durante a disciplina de Climatologia.

GEOGRAFIA
33
Figura 1 – Representação do efeito orográfico na formação de nuvens e precipitações 32.

Figura 2 – Representação de sistema frontal na formação de nuvens e precipitações 33.

32
Adaptado do Manual de Meteorologia para aeronavegantes, produzido pelo Ministério da Aeronáutica em 1969. Disponível
em http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=150 Acessado em 16/11/18.
33
Adaptado de https://www.flickr.com/photos/diogoaze/5784195748/sizes/l/in/photostream/ Acessado em
16/11/18.

GEOGRAFIA
34
Figura 3 – Representação de formação de nuvens e precipitações por efeito convectivo 34

Os maiores volumes de precipitações concentram-se na zona equatorial,


onde a Zona da Convergência Intertropical é o principal fator de geração das
instabilidades atmosféricas, como estudamos nas aulas de Climatologia.
Na Figura 4 é possível verificar que a maior parte dos continentes apresenta
totais anuais de precipitação abaixo de 500 mm, o que indica a localização de clima
desértico ou de semiárido. Significa dizer que nos continentes predominam climas
com precipitação restrita durante o ano, tornando as localidades dependentes dos
rios e águas subterrâneas para o abastecimento da população, sendo necessário o
manejo adequado desses mananciais, protegendo-os das consequências do
desmatamento e ocupações inadequadas, que ocasionem pontos de poluição e
contaminação do meio ambiente.

34
Disponível em https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4299936/mod_resource/content/1/Tipos%20de%20precipita
%C3%A7%C3%A3o.pdf Acessado em 16/11/18

GEOGRAFIA
35
Figura 4 – Distribuição das precipitações anuais no planeta 35

As precipitações estão ligadas aos movimentos atmosféricos, à distribuição dos


continentes e oceanos no planeta. A distribuição da umidade na atmosfera varia de
acordo com as massas de ar que determinam as condições climáticas regionais.
Como vimos, as precipitações ocorrem com a ascensão das massas de ar
influenciadas por convecção térmica, pelo relevo ou pela ação frontal entre elas. A
maior incidência de precipitação ocorre nas regiões equatoriais – Amazônia,
República Democrática do Congo, Indonésia - e em determinadas áreas
montanhosas como a vertente sul da cordilheira do Himalaia.
Nas regiões áridas chove menos de 100 mm por ano, como no deserto do
Saara, no norte da África, ou no deserto Australiano, entre outros.
Nas regiões tropicais úmidas, as precipitações vão além de 2000 mm por ano,
como ocorre na Serra do Mar. No Brasil, a distribuição das precipitações varia
consideravelmente, seja no total pluviométrico anual ou mensal. Existem regiões em

35
Disponível em < http://www.citi.pt/citi_2005_trabs/antonio_carvalho/images/Distribuicao%20da
%20precipitacao.jpg l>Acessado em 19/10/13.

GEOGRAFIA
36
que as precipitações alcançam um nível equilibrado de distribuição durante o ano e
em outras se concentram em determinados meses.
A condição climática atrelada à estrutura geológica possibilita a formação de
uma extensa e densa rede de rios. A exceção ocorre no sertão nordestino, onde
predomina o clima semiárido que ocasiona a escassez de precipitações.
O Brasil conta com 12% do total de água doce no planeta, sendo que 80%
desse valor concentra-se na região Amazônica, a área de menor densidade
demográfica no Brasil. Os demais 20% estão distribuídos nas demais regiões, sendo
que apenas 7% estão disponíveis na Sudeste, que atendem à maior ocupação
humana do país. Portanto considerar que o país não tem problemas com o
abastecimento de água para a população por ser ter 12% do total de água doce no
planeta é mero engano, pois a maior parte dos brasileiro residem em cidades,
ficando sujeitos à precariedade do fornecimento de água potável, especialmente em
anos excepcionalmente secos, como em 2014 na região metropolitana de São
Paulo, quando os reservatórios chegaram aos níveis mínimos, chegando à utilização
do chamado volume morto enquanto as precipitações não se regularizaram (Figura
5).

Figura 5 – Reservatório do Sistema Cantareira, São Paulo, com bombeamento do volume morto em
maio de 201436

36
Jornal o Estado de São Paulo, de 15/5/14 Disponível em https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,agua-do-volume-
morto-comeca-a-ser-captada-e-chega-as-torneiras-domingo,1166767 Acessado em 16/11/18.

GEOGRAFIA
37
Conforme vimos, as informações sobre o ciclo hidrológico comprovam que a
quantidade de água existente na Terra não diminui e nem aumenta, mas sua
distribuição sobre os continentes é irregular, criando a impressão de escassez e de
diminuição em algumas partes do planeta. Além da distribuição desigual, ações
antrópicas modificam essa disposição natural através do desmatamento em áreas
dos mananciais, eliminação de matas ciliares e obras de regularização, como
barragens e retificação de rios, construção de açudes, entre outros.

GEOGRAFIA
38
Aula 07 – Ciclo hidrológico: evaporação

O processo de evaporação é difícil de ser percebido, pois ao se transformar


em vapor a água deixa de ser visível. Nesta aula conheceremos algumas
informações sobre o movimento da água da superfície terrestre para a baixa
atmosfera.
Ao contrário da precipitação, a evaporação é a transformação da água em
vapor como consequência da incidência de raios solares. “Evaporação é o conjunto
dos fenômenos de natureza física que transformam em vapor a água da superfície
do solo, a dos cursos de água, lagos, reservatórios e mares” (56p.) 37.
Para entender como a água evapora é necessário conhecer a força exercida
pelas moléculas de água no ambiente, que é chamada de pressão do vapor. Essa
força ocorre no ar e na superfície líquida, fazendo com que a evaporação aconteça
do meio onde existe a maior pressão do vapor para o de menor.
Como exemplo podemos pensar na superfície do mar, onde a água apenas
evaporará se a pressão do vapor for maior na água do que no ar. Se o ar sobre o
mar estiver muito úmido, portanto com grande quantidade de vapor, não só a
evaporação do mar não ocorrerá, como o vapor no ar condensará, incorporando-se
à água do mar.
A temperatura interfere na evaporação, de modo que quanto mais aquecida
estiver a água, mais fácil será a sua evaporação. “Um aumento de temperatura influi
favoravelmente na intensidade de evaporação, porque torna maior a quantidade de
vapor de água que pode estar presente no mesmo volume de ar” (p.57). 38 Quanto
maior a temperatura da superfície, maior a energia cinética das moléculas e maior o
número de moléculas que escapam da superfície (Figura 1).

37
PINTO, N L S, et al Hidrologia Básica, Ed. Edgard Blücher Ltda.:Rio de Janeiro, 6ª reimpressão, 1998, 278p.

38
GARCEZ, LN. ALVAREZ, G A - HIDROLOGIA - Ed. Edgard Blucher/EDUSP, S. Paulo, 1988, 291p.

GEOGRAFIA
39
Figura 1 – Variação da pressão do vapor segundo a variação da temperatura do líquido 39

O vento e a umidade do ar também interferem na evaporação, sendo que o


vento favorece quando renova “(...) o ar em contato com as massas de água ou com
a vegetação, afastando do local as massas de ar que já tenham grau de umidade
elevado”40. (p.57). Entretanto se o vento trouxer ar úmido, a evaporação será
prejudicada.
Além da evaporação, ocorre a transpiração das plantas, que é
essencialmente igual à evaporação, entretanto, as moléculas de água escapam não
de uma superfície livre, mas sim de estruturas vegetais denominadas estômatos,
que são pequenos orifícios presentes nas folhas 41. Segundo Garcez e Alvarez42, a
transpiração é muito pesquisada para desenvolvimento de projetos de irrigação na
agricultura.
Nas plantas, também ocorre a evaporação da chuva acumulada em folhas,
caule ou galhos, originado o termo evapotranspiração.
Nas estações meteorológicas existem dois equipamentos que medem o
processo de evaporação. O evaporímetro de Piche (Figura 1) é um dos
equipamentos, sendo formado por um tubo cilíndrico e graduado preenchido com
água, cuja abertura fica voltada para baixo e fechada por um pequeno papel poroso
em formato circular, que impede o gotejamento da água para fora do tubo, mas se
mantendo umedecido, o que favorece a evaporação da água no papel. No início do
dia, o meteorologista preenche o tubo com água destilada, medindo durante o dia a

39
Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Press%C3%A3o_de_vapor Acessado em 22/11/18.
40
GARCEZ, LN. ALVAREZ, G A Idem.
41
Adaptado de <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAPUEAH/apostila-evapotranspiracao> Acessado em 15/10/13.
42
GARCEZ, LN. ALVAREZ, G A - HIDROLOGIA - Ed. Edgard Blucher/EDUSP, S. Paulo, 1988, 291p.

GEOGRAFIA
40
diminuição do seu volume, o que representa a capacidade de evaporação da água
presente no ambiente naquele período de observação.

Figura 1 – Evaporímetro de Piche é utilizado nas estações meteorológicas para medir a evaporação
da água43.

O tanque Classe A (Figura 2) também é utilizado para a medida da


evaporação, sendo recipiente metálico aberto, com forma circular, que recebe água
no início do período e a sua diminuição vai sendo registrado pelo observador
meteorológico por uma régua lateral.

43
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Disponível em
https://www.ebah.com.br/content/ABAAAeu8AAG/hidrologia-apostila-cap-6 Acessado em 16/11/18.

GEOGRAFIA
41
Figura 2 – Tanque Classe A é utilizado nas estações meteorológicas para medir a evaporação da
água44.

44
Idem.

GEOGRAFIA
42
Aula 08 - Ciclo hidrológico: infiltração

Ao chegar na superfície do planeta pela precipitação, a água poderá


evaporar, infiltrar ou escoar. Nesta aula conheceremos melhor como a infiltração e o
escoamento interferem nas dinâmicas das águas superficiais e subterrâneas.
A infiltração e o escoamento da água no solo estão relacionados, sendo que
quando a infiltração deixa de ocorrer, o escoamento se inicia. A infiltração é o
processo no qual a água ingressa no solo, podendo ser absorvida pelas plantas. Ela
pode também continuar a infiltrar, alcançando o subsolo abastecendo as águas
subterrâneas.
Para entender a infiltração, é importante saber que os solos são compostos
por matéria orgânica (decorrente da decomposição de animais e plantas) e minerais
(originários da desagregação das rochas pelos processos intempéricos) 45. Seus
poros são preenchidos por ar e água, na proporção apresentada na Figura 1.
Durante a infiltração, os poros com ar serão preenchidos pela água.

Figura 1 – Componentes dos solos46

A infiltração depende da textura e estrutura do solo, cobertura vegetal,


declividade da superfície, intensidade da precipitação e umidade prévia do solo.
45
LEPSCH, I.F.Formação e conservação dos solos. São Paulo : Oficina de textos, 2002, 178p.
46
Disponível em http://www.dct.uminho.pt/pnpg/gloss/solo.html acesso em 3/12/13.

GEOGRAFIA
43
A textura corresponde ao tamanho e arranjo dos grãos que formam o solo,
influindo na sua porosidade e permeabilidade. Quanto mais permeável o solo se
apresentar, maior será a capacidade de infiltração. A estrutura trata do estado de
agregação das partículas do solo, sendo que quanto maior o espaço entre os grãos,
mais rapidamente ocorre a infiltração das águas.
A cobertura vegetal auxilia na preservação do solo e favorece a infiltração,
direcionando os fluxos e preservando a estrutura do solo, sendo que a infiltração
será maior em solo coberto por vegetação do que em solo exposto, sem proteção,
que pode ficar ressequido e endurecido, condição que diminui a capacidade de
infiltração. A vegetação também aumenta a infiltração com as perfurações das
raízes, bem como alguns animais, como a minhoca, que escavam o solo, criando
galerias, por onde o solo respira e a água da chuva infiltra.
A declividade interfere na infiltração, sendo que quanto menor a inclinação do
terreno maior será a condição para a infiltração. Em grandes declividades, a água
escoa rapidamente, diminuindo a infiltração.
A intensidade das precipitações interfere na infiltração, sendo que as chuvas
intensas saturam rapidamente o solo, dificultando a infiltração, ao passo que
chuviscos ou garoas demoradas favorecem. A umidade prévia do solo, dada por
chuva anterior, diminui a capacidade de infiltração da água no solo.
Durante a infiltração, uma parcela da água, sob a ação da força de adesão ou
de capilaridade, fica retida nas partes mais próximas da superfície do solo,
constituindo a zona não saturada. Outra parcela, sob a ação da gravidade, atinge as
zonas mais profundas do subsolo, constituindo a zona saturada (Figura 2).

GEOGRAFIA
44
Figura 2 - Zona saturada e não saturada durante o processo de infiltração 47

A zona não saturada é também chamada de zona de aeração, com pequenas


quantidades de água distribuídas uniformemente, por aderência aos minerais do
solo. Nesta zona ocorre o fenômeno da transpiração pelas raízes das plantas, de
filtração e de autodepuração da água.
A zona saturada fica abaixo da zona não saturada e é constituída por rocha
que tem seus poros ou fraturas totalmente preenchidas pela água. As águas atingem
esta zona por gravidade e se movem em velocidades muito lentas, formando o
manancial subterrâneo propriamente dito. Uma parcela dessa água irá desaguar na
superfície dos terrenos, formando as fontes ou olhos de água. Outra parcela desse
fluxo subterrâneo desaguará nos rios, perenizando-os durante os períodos de
estiagem48. Nesta disciplina teremos aulas exclusivas para desenvolver o tema das
águas subterrâneas.

47
BORGHETTI; N.R.B., BORGHETTI, J.R.; ROSA FILHO, E.F.. Aquífero Guarani: a verdadeira integração dos países do
Mercosul. Curitiba, 2004, 214p. Disponível em
WWW.aguassubterraneas.abas.org/asubterraneas/article/download/23239/15350 Acesso em 3/12/13.

48
BORGHETTI; N.R.B., BORGHETTI, J.R.; ROSA FILHO, E.F idem.

GEOGRAFIA
45
Aula 09 – Ciclo hidrológico: escoamento

Conforme nossas aulas anteriores, a água da chuva ao chegar nas diferentes


superfícies do planeta pela precipitação poderá evaporar, infiltrar ou escoar. Nesta
aula conheceremos melhor como o escoamento interferem nas dinâmicas das águas
superficiais.
A água que não infiltrar no solo participará do escoamento direto ou
superficial, que é formado pela precipitação intensa que escoa sobre a superfície do
solo, umedecendo a camada superior, o que reduz a sua capacidade de infiltração.
Os fatores que interferem no escoamento superficial são os mesmos que
influenciam na infiltração, mas com as atribuições invertidas. Os solos com pouca
porosidade dificultam a infiltração, mas favorecem o escoamento em superfície, bem
como a falta de vegetação, a alta declividade do terreno e a umidade prévia do solo.
Os solos podem ter as suas características originais alteradas pelo
escoamento superficial enquanto processo erosivo, como a erosão laminar,
provocada por escoamento difuso das águas de chuva, e pela erosão linear, “(...)
quando devido à concentração do escoamento superficial, resulta em incisões na
superfície do terreno, em forma de sulcos que podem evoluir por aprofundamento,
formando as ravinas”49. As fotografias a seguir apresentam duas formas observadas
na paisagem, originadas por processos erosivos, sendo os sulcos (Figura 1) e
ravinas (Figura 2).

49
TOMINAGA, L.K.; SANTORO, J.;AMARAL, R. (org). Desastres Naturais: conhecer para prevenir. Instituto Geológico, São
Paulo, 2009. 196 p.

GEOGRAFIA
46
Figura 1 - Processo erosivo na forma de sulcos50

Figura 2 - Processo erosivo na forma de ravina, em Sumaré, SP 51

Esses processos erosivos decorrentes do escoamento superficial removem o


solo e os transportam pela força da água até a perda da velocidade, quando o solo
50
TOMINAGA, L.K.; SANTORO, J.;AMARAL, R. idem.
51
TOMINAGA, L.K.; SANTORO, J.;AMARAL, R. idem.

GEOGRAFIA
47
será depositado. Nos rios essa deposição ocasiona o assoreamento do leito dos
rios, deixando-o mais raso e com maior capacidade de alagamento de suas várzeas.
Portanto o assoreamento dos rios é uma das consequências dos processos erosivos
originados pelo escoamento superficial, ilustrado pela fotografia a seguir (Figura 3).

Figura 3 – Processo de assoreamento em Americana, São Paulo 52

Tanto o escoamento superficial como a infiltração são alterados em áreas


com diferentes tipos de superfícies, como os exemplos da Figura 4, onde temos a
infiltração favorecida em áreas com cobertura vegetal, especialmente de florestas,
onde de 80 a 90% da água precipitada será infiltrada no solo e subsolo, enquanto
apenas 20% será escoada em superfície, diretamente para os cursos de água.

52
TOMINAGA, L.K.; SANTORO, J.;AMARAL, R. idem.

GEOGRAFIA
48
Figura 4 – Relação entre o escoamento superficial e a infiltração em diferentes tipos de qualidade
cobertura do solo53

Já em áreas parcialmente impermeabilizadas por construções, mas ainda


com presença de vegetação, a infiltração diminui para 50 a 60%, enquanto o
escoamento aumenta, passado para 40 a 50%. Por último, nas cidades, com o
aumento da área impermeabilizada, a porcentagem de infiltração não passa de 10%,
enquanto o escoamento alcança valores máximos, entre 80 e 90%, removendo
diferentes materiais dispostos nas cidades, como o lixo, e os transporta para os rios,
aumentando o assoreamento, que deixa o leito mais raso, ampliando a ocorrência
de episódios de inundações nas cidades. A fotografia a seguir ilustra a intensa
remoção do solo por escoamento superficial, causando a redução da área para
ocupação e risco para as construções próximas (Figura 5).

53
Fonte: http://aquafluxus.com.br/wp-content/uploads/2011/07/pis2.jpg. Acesso em 28.05.12.

GEOGRAFIA
49
Figura 5 – Erosão causada por escoamento superficial em área urbana 54

Podemos concluir que a diminuição da taxa de infiltração resulta em maior


capacidade de erosão dos solos por águas correntes, sendo que o desmatamento
potencializa o escoamento superficial, bem como a impermeabilização das
superfícies.

Escoamentos superficiais de grande intensidade podem causar enxurradas,


que é um escoamento concentrado e com grande capacidade para o transporte de
materiais, podendo ou não está relacionado a processos fluviais (TOMINAGA,
SANTORO e AMARAL, 2009)55.

54
IGCE – Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP/RC (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
de Rio Claro). Disponível em http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/interacao/inter12.html Acessado em 6/12/13.

55
TOMINAGA, L.K.; SANTORO, J.;AMARAL, R. (org). Desastres Naturais: conhecer para prevenir. Instituto Geológico, São
Paulo, 2009. 196 p. Disponível em http://www.igeologico.sp.gov.br/downloads/livros/DesastresNaturais.pdf Acessado em
20/11/18.

GEOGRAFIA
50
Aula 10 – Águas no planeta: mares e oceanos

Nosso planeta deveria se chamar Planeta Água, pois a maior parte de sua
superfície é coberta pelas águas salgadas dos mares e oceanos, totalizando cerca
de 70% do total.
Ao buscar a diferenciação entre mares e oceanos, podemos afirmar que os
mares são delimitados por terras, mas mantém contato com os oceanos. É o caso
do Mar Vermelho, localizado entre o continente Asiático e o Africano e mantendo
comunicação com o Oceano Índico. O Mar Morto deveria ser chamado de lago,
apesar de ser saldado, pois não mantém qualquer comunicação com um oceano.
Além de suas maiores dimensões, os oceanos se diferenciam dos mares por
apresentarem maiores profundidades, como as áreas de fossas tectônicas. É o caso
das fossas Marianas, no Oceano Pacífico, junto da costa oeste do continente Sul
Americano.
O planeta tem cinco oceanos (Índico, Pacífico, Atlântico, Glacial Ártico e
Glacial Antártico) e centenas de mares. O contato dos mares e oceanos com os
continentes promove a continua transformação das feições da linha de costa,
decorrente da deposição ou erosão de sedimentos pela força das ondas, marés e
correntes oceânicas. A ação antrópica altera esses processos, intensificando-os ou
reduzindo-os.
As ondas são o principal fator determinante na definição da costa, sendo
ondulações formadas na superfície das águas pela força do vento, que mantêm sua
trajetória após serem formadas, mesmo que o vento mude de direção ou
intensidade.
Fatores geológicos ocasionam a formação de ondas, como os terremotos
provocados pela colisão de placas tectônicas no assoalho oceânico, entre outros,
que geram as ondas gigantes, conhecidas como tsunamis, cujo poder destruidor é
exemplo da ação erosiva dos oceanos, como a imagem que registrou o tsunami de
2011 no Japão (Figura 1).

GEOGRAFIA
51
Figura 1 – Tsunami com 10 metros de altura atinge a costa nordeste do Japão em 11 de março de
2011

Combinada às ondas, as marés são importante força de transformação da


costa pela ação das águas oceânicas. Definidas pela força de atração entre Terra,
Lua e Sol e pela força centrífuga, originária do movimento de rotação, as marés
variam durante o dia, geralmente com duas preamares e duas baixa-mares.
Em situações da lua em fase de nova ou cheia, teremos as marés de sizígia
ou vivas, que são mares mais intensas, seja na preamar ou baixa-mar. Já em fase
crescente ou minguante, a maré tem menor intensidade e são chamadas de marés
de quadratura ou mortas. A Figura 2 ilustra a intensidade das marés conforme a fase
do ciclo lunar.

GEOGRAFIA
52
Figura 2 Marés Vivas e Mortas, conforme a fase da Lua 56

As feições do relevo predominantes nas áreas de contato entre os oceanos e


os continentes são as praias e as falésias. A areia das praias é constituída
basicamente por fragmentos de quartzo, que não são deslocados se estiverem na
pós-praia, que é a parte da areia que fica distantes da ação das ondas e marés.
Como as areias são sedimentos não consolidados, elas serão removidas ou
receberão novas porções se estiverem na parte da antepraia, onde a passagem das
ondas movimenta areias de diferentes granulações.
As falésias (Figura 3) são escarpas que terminam no nível do mar,
constituídas de camadas sedimentares e vulcano-sedimentares, que acompanhando
a linha costeira e estão sendo erodidas pela a ação do mar (GUERRA, 1972) 57.

56
Disponível em http://www.poseidon.pt/meteorologia/as-mares/ Acessado em 18/11/18.

57
GUERRA, A.T. Dicionário Geológico e Geomorfológico. Rio de Janeiro: Fundação IBGE. 1972. 439p.

GEOGRAFIA
53
Figura 3 – Falésia na Praia da Pipa, Fernando de Noronha 58

A ação das ondas e das marés podem erodir a linha de costa, atingindo
localidades e comprometendo a sua existência. É o que ocorre na cidade de São
João da Barra, no Norte Fluminense, que vem perdendo seu território para o avanço
do mar, que cobriu 400 metros da cidade em 50 anos, conforme mostram as duas
fotografias a seguir: a foto da esquerda registra a área original com uma linha
vermelha indica a área atual, comprovada pela foto da direita.

Figura 4 – Cidade de São João da Barra, Rio de Janeiro que está perdendo parte de seu território
para a erosão marinha59

58
Disponível em http://terraserumos.com.br/project/praia-da-pipa-fernando-de-noronha/ Acessado em 18/11/18.

59
Disponível em https://g1.globo.com/rj/norte-fluminense/noticia/apos-invasao-do-mar-moradores-de-atafona-rj-se-preparam-
para-alerta-de-ondas-de-ate-25-metros.ghtml Acessado em 18/11/18.

GEOGRAFIA
54
Os processos de erosão marinha podem revelar o passado e surpreender,
como o caso dos restos do vapor encalhado em Santos, por volta de 1909, cujos
destroços com mais de 50 metros de comprimento que foram revelados durante
maré baixa. (Figura 5).

Figura 5 – Restos de navio que encalhou em Santos são revelados durante maré baixa 60

O movimento permanente das ondas e marés pode ser utilizado para a


geração de energia, como o fluxo das águas de um reservatório produzem energia
nas usinas hidrelétricas. Algumas experiências vêm sendo desenvolvidas, mas a
tecnologia para a produção em grande escala ainda não foi encontrada.
A Figura 6 apresenta um modelo instalado na Escócia e que explora o
movimento das marés através do giro de hélices, que estão ligadas a uma turbina,
capaz de gerar 1 megawatts (MW) de eletricidade, que é um valor pequeno quando
comparado a produção da Usina Hidrelétrica de Itaipu (14.000MW). Este modelo é
considerado ecológico, porque o movimento das hélices é mais lento para não afetar
a flora e fauna locais.

60
Disponível em https://www.boatshopping.com.br/mercado/noticias/destrocos-de-navio-encontrados-em-santos/ Acessado
em 18/11/18.

GEOGRAFIA
55
Figura 6 – Modelo para explorar o movimento das marés na produção de eletricidade 61

Na Figura 7 temos um modelo que explora a energia das ondas através de


dois módulos flutuantes, que ao subir e descer pela passagem das ondas acaba
acionando bombas hidráulicas que geram energia. Este modelo foi instalado no
Porto do Pecém, Ceará, em 2012, como um projeto piloto de produção de energia
pelo movimento das ondas de aproximadamente 100 quilowatts (KW)62.

61
Disponível em http://www.usp.br/portalbiossistemas/?p=3216 Acessado em 18/11/18.
62
Fonte: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade São Paulo. Disponível em Disponível em
http://www.usp.br/portalbiossistemas/?p=7953 Acessado em 18/11/18.

GEOGRAFIA
56
Figura 7 – Modelo que produz energia pelo movimento das ondas do mar, instalado no Porto do
Pecém, Ceará63.

63
Disponível em http://www.usp.br/portalbiossistemas/?p=7953 Acessado em 18/11/18.

GEOGRAFIA
57
Aula 11 - Correntes oceânicas
Nesta aula conheceremos como os oceanos se movimentam no planeta,
através da circulação das correntes oceânicas, que, em escala global, está
relacionada ao movimento do ar.
O planeta se aquece a partir da radiação solar, que é mais eficiente para
elevar as temperaturas nas latitudes equatoriais do que nas polares. Assim o ar
passa a se movimentar em função das diferenças térmicas do ar nas diferentes
latitudes. Os movimentos do ar em escala global ainda são influenciados pelo efeito
de Coriollis, que decorrente da forma do planeta e seu movimento de Rotação,
determinando a formação de grandes centros de alta pressão sobre os oceanos,
com ventos que se movimentam no sentido anti-horário no hemisfério sul e horário
no hemisfério norte. Esses ventos geram fricção com a água, levando à formação de
correntes oceânicas de superfície, como no Oceano Atlântico Sul, que tem a
corrente do Brasil, de águas quentes fluindo pela costa brasileira, e a corrente de
Benguela, de águas frias, movimentando-se na costa oeste do continente africano.
Essas correntes também têm influência da maior ou menor concentração de
sais nas águas oceânicas, especialmente em cloreto de sódio. A origem da
salinidade dos mares e oceanos está relacionada, entre outros fatores, na
capacidade que as águas dos rios têm de dissolver os sais presentes nas rochas e
de transportá-los e concentrá-los nos oceanos.
A salinidade varia nos oceanos e será maior nas latitudes e épocas de
congelamento das águas, como nas grandes montanhas e regiões polares,
concentrando maior quantidade de cloreto de sódio por litro de água. A salinidade
será menor quanto maior for a quantidade do degelo que chega aos oceanos.

GEOGRAFIA
58
Figura 1 – Correntes oceânicas superficiais64

A maior salinidade deixa a água mais densa, levando-a a fluir para as partes
mais profundas dos oceanos, enquanto a menor salinidade deixa a água menos
densa e propensa a se manter próxima da superfície.
As temperaturas também interferem na movimentação das correntes, sendo
que as águas mais frias tenderão a se deslocar para as áreas mais profundas do
assoalho oceânico, enquanto as mais quentes, tenderão a se manter próximas à
superfície.
Combinado a temperatura com a salinidade, teremos a circulação
termohalina, com as correntes frias e mais salgadas percorrendo as parcelas mais
profundas dos oceanos e as correntes quentes e menos salgadas permanecendo
mais próximas à superfície. A Figura 2 representa a circulação termohalina no
planeta, sendo que os fluxos de água representados em azul claro são dos fluxos
mais quentes e menos salinas e as em azul escuro são das águas mais frias e
salgadas.
Uma das correntes mais conhecidas nos tempos da colonização do
continente americano pelos europeus era a corrente do Golfo, sendo uma corrente

64
Disponível em https://www.alfaconnection.pro.br/mudancas-climaticas/as-correntes-oceanicas/ Acessado em 18/11/18.

GEOGRAFIA
59
quente que se desloca do Golfo do México para o continente europeu, atravessando
o Oceano Atlântico Norte de sudoeste para nordeste. Se as embarcações que se
dirigissem para a América entrassem nessa corrente, demorariam mais dias para
chegar ao seu destino. A corrente do Golfo é muito importante por amenizar o
inverno na costa oeste do continente europeu (Figura 1).

Figura 2 – Movimentação da circulação termohalina no planeta

Na corrente oceânica do Peru ou de Humboldt ocorrem os fenômenos do El


Niño e da La Niña, que alteram a distribuição das chuvas e variação das
temperaturas em várias partes do mundo. A corrente de Humboldt fica no oceano
Pacífico e contém águas frias que se deslocam de sul para o norte, pela costa oeste
da América do Sul, alterando de direção ao chegar na faixa equatorial, quando
passa a deslocando-se para oeste, orientada pelos ventos alísios 65.
Em anos de El Niño, as águas da corrente junto ao Peru apresentam um
aquecimento em até 3ºC acima do valor médio, aumentando as precipitações no sul
e sudeste brasileiro e intensificando o clima semiárido na região nordeste (Figura 3).

65
Disponível em http://www.expressaogeografica.com.br/2016/01/el-nino-20152016/ Acessado em 18/11/18.

GEOGRAFIA
60
Em anos de La Niña, as temperaturas das águas reduzem até 2ºC, mas os
efeitos nas condições climáticas são menos conhecidos, podendo causar a redução
do volume de precipitações no sudeste brasileiro.

Figura 3 – Registro do fenômeno do El Niño, com o aquecimento das águas no Pacífico Equatorial 66

66
Disponível em http://www.meteoweb.eu/2012/09/sul-pacifico-equatoriale-londa-di-kelvin-che-precede-el-nino- Acessado em
18/11/18.

GEOGRAFIA
61
Aula 12 - Poluição dos mares e oceanos

Nesta aula vamos conhecer os impactos causados nos mares e oceanos


pelas atividades antrópicas.
A vida no planeta teve início nos oceanos, pelas formas simples de bactérias
e algas, porque a água protegia essa vida primária da radiação solar. Essa forma de
vida inicial transformou o planeta ao enriquecer a atmosfera com o oxigênio, gás
formado por dois átomos de oxigênio, produzido pela fotossíntese das algas, que até
hoje garante a renovação desse importante gás na atmosfera.
Com esse oxigênio sendo lançado na atmosfera, foi possível formar a camada
de ozônio, gás constituído por três átomos de oxigênio, que passou a restringir a
chegada da radiação ultravioleta na superfície do planeta, permitindo que a vida
existente nos oceanos passasse a se adaptar para colonizar os continentes,
iniciando com vegetais mais simples. Portanto, os oceanos foram o berço da vida e
são fundamentais para a manutenção da vida pelo contínuo abastecimento do
oxigênio atmosférico.
Infelizmente, os nossos mares e oceanos vem recebendo nos últimos anos
grandes quantidades de efluentes domésticos e industriais, bem como resíduos
sólidos, degradando a qualidade do ambiente e da vida marinha.
Segundo o Ambiente Brasil 67, 77% dos poluentes que são despejados nos
oceanos vêm de atividades antrópicas concentradas nas regiões costeiras,
destacando o resíduo sólido que se deposita nas partes mais profundas dos mares e
oceanos. Nesse resíduo, temos materiais constituídos de plástico, que demora
centenas de anos para se degradar. Os animais marinhos morrem ao consumi-los
pois confundem com alimentos, como a recente campanha contra o uso e descarte
irresponsável de canudinhos de plástico.
Com o crescimento da população moradora junto da faixa litorânea no país,
estão aumentando os problemas ambientais relacionados ao desmatamento da

67
Disponível em
http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/artigos_agua_salgada/poluicao_nos_m
ares.html Acessado em 18/11/18.

GEOGRAFIA
62
restingas e manguezais, a destruição de corais e a poluição das praias e águas, pelo
lançamento do esgoto das cidades costeiras sem qualquer tratamento preliminar.
Esse esgoto oferece grande quantidade de matéria orgânica, que é alimento para
parcela dos microorganismos que existem nas águas, aumentando sua população e
pressionando outras, que ficam com menos oxigênio e nutrientes para sobreviver.
Nesse esgoto existem bactérias e vírus, como os coliformes fecais, que
comprometem a balneabilidade das praias.

Figura 1 – Lixo acumulado próximo à Cidade Universitária, Rio de Janeiro 68

Outra fonte importante da poluição dos mares e zonas costeiras é o petróleo,


que atinge amplas áreas devido a acidentes com a produção e o transporte do
petróleo bruto, causando graves consequências sociais, ambientais, econômicas,
entre outras. Nesses acidentes, grandes quantidades de petróleo ficam flutuando e
são espalhados para outras áreas, causando a morte de aves, peixes, moluscos,
crustáceos, entre outros.

68
Disponível http://www.conexaojornalismo.com.br/audiencia_na_tv/palco-de-
em
competicoes-olimpicas-em-,-baia-de-guanabara-sofre-com-acumulo-de-lixo-86-9434
Acessado em 18/11/18.

GEOGRAFIA
63
Quando as marés negras atingem as zonas costeiras, os seus efeitos tornam-
se ainda mais catastróficos. Além de destruírem a fauna e a flora por contato,
provocam enormes prejuízos à atividade pesqueira e tem um forte impacto negativo
na atividade turística, já que os resíduos petrolíferos, de remoção difícil, impedem
durante muito tempo a utilização das praias. Foi o caso da praia de Tramandaí, no
Rio Grande do Sul, que precisou ser isolada em janeiro de 2012 quando a mancha
de petróleo decorrente de acidente em transbordo da Transpetro, chegou à praia
(Figura 2).

Figura 2 – Petróleo chega à praia de Tramandaí, no Rio Grande do Sul, após acidente da
Transpetro69

Outra fonte de contaminação dos oceanos são as operações de lavagem dos


tanques dos petroleiros em pleno oceano, que, embora sejam proibidas, são de
difícil fiscalização.
Os problemas da poluição do oceano na costa brasileira estão relacionados à
falta de infraestrutura preventiva, como as políticas públicas para a instalação de
sistemas de saneamento básico nas concentrações urbanas ao longo de um litoral,
69
Disponível http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/01/petroleo-
em
derramado-no-mar-chega-beira-da-praia-em-tramandai-rs.html Acessado em 18/11/18.

GEOGRAFIA
64
como importante regiões metropolitanas, de modo que cinquenta por cento de
brasileiros residam a menos de 200 km de distância do mar. 
Um exemplo de políticas públicas de saneamento é o caso do projeto de
despoluição da Praia da Bica, Ilha do Governador, Rio de Janeiro, que recebeu
recursos em 2013 para captar o esgoto em troncos coletores para envio a Estação
de Tratamento de Esgoto da Ilha do Governador. A Figura 3 registra a condição da
praia antes do início das obras. Notícias de 2014 apontam para a melhoria da praia,
com a coleta do esgoto. Esperamos que esse problema tenha sido resolvido
definitivamente.

Figura 3 – Esgoto é lançado sem tratamento na Praia da Bica, Ilha do Governador, Rio de Janeiro,
em 2013

GEOGRAFIA
65
Aula 13 – Águas no planeta: geleiras

A ciência divide o planeta em quatro esferas: a atmosfera, esfera gasosa do


planeta, a litosfera, constituída pelas rochas, hidrosfera, relativa à água, e a biosfera,
formada pelas muitas formas de vida existentes. No caso da hidrosfera, avaliaremos
nesta aula a importância da água no estado sólido, chamada de criosfera, sendo
que o prefixo ‘‘crio’’ vem do grego e significa frio ou gelado.
As geleiras ou glaciares dependem da neve para se formar. A neve decorre
da cristalização do vapor de água presente no ar, que precipita, cobrindo as
superfícies nas regiões mais frias do planeta. A sua acumulação vai formar o gelo e
as geleiras, que são grandes massas de gelo que se acumulam em grandes
altitudes das altas montanhas (4%) (Figura 1) e em áreas situadas nas altas
latitudes, como na Groenlândia (6%) e na Antártica (90%) 70.

Figura 1 – Monte Everest, na cordilheira do Himalaia, com 8.848 metros de altitude 71

O gelo acumulado tem movimento devido à ação da gravidade, a inclinação


dos terrenos e o degelo na base das geleiras. Esse degelo é microscópico e tem

70
Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias (INCT) da Criosfera, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível
em http://www.ufrgs.br/inctcriosfera/Acriosfera.html Acessado em 20/11/18.
71
Disponível em https://www.hipercultura.com/fatos-sobre-o-monte-everest/ Acessado em 20/11/18.

GEOGRAFIA
66
origem na pressão criado pelo volume da geleira, sendo ele que permite o
deslocamento da parte superior da geleira, formando os icebergs, no caso do gelo
chegar ao mar em grandes dimensões. O movimento das geleiras impede o acúmulo
indefinido do gelo em certas regiões do planeta. O derretimento completo das
geleiras alteraria a estabilidade geológica da área onde existia, devido ao alívio da
pressão, além de alterar o nível do mar72.
A geleira tem capacidade de erodir o ambiente por onde passa por conta dos
fragmentos de rochas que mantém em sua estrutura. Os fragmentos localizados na
base da geleira têm a capacidade de erodir, raspando e lixando as estruturas
rochosas dos vales por onde passa, criando novas formas, como os vales em
formato de ‘U’ (Figura 2).

Figura 2 – Vale em formato de “U” devido à passagem de geleiras 73

Esses formatos do relevo, estrias em rochas e depósitos sedimentares, entre


outros, indicam os processos naturais que ocorreram no passado do planeta, como
os períodos de glaciação, que estudaremos na próxima aula.
As geleiras atraem turistas no mundo todo, seja para escalar, esquiar ou
simplesmente admirar as dimensões das geleiras em movimento, como o glaciar
72
SIGEP (Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Serviço Geológico do Brasil) e CPRM (Companhia
de Pesquisa de Recursos Minerais). Glossário Geológico. Disponível em http://sigep.cprm.gov.br/glossario/ Acessado em
20/11/18.

73
Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_glaciar Acessado em 20/11/18.

GEOGRAFIA
67
Perito Moreno, no sul da Argentina. Esse glaciar tem uma frente com cerca de
cinco quilômetros de extensão e sessenta metros de altura, impressionando os
visitantes com a queda dos paredões de gelo na água do lago (Figura 3).

Figura 3 - Geleira Perito Moreno, no sul da Argentina 74

74
Disponível em https://www.tolkeyenpatagonia.com/pt-br/glaciar-perito-moreno-5-3/ Acessado em 20/11/18.

GEOGRAFIA
68
Aula 14 - Geleiras e mudanças climáticas

Nesta aula estudaremos informações sobre as mudanças climáticas e suas


consequências para criosfera.
A água congelada no planeta interfere na entrada da energia solar 75, no ciclo
hidrológico, na circulação das correntes oceânica e no nível dos mares. Atualmente
o gelo cobre dez por cento da superfície do planeta, mas há 18.000 anos atrás as
geleiras cobriam cerca de trinta por cento (Figura 1) do planeta. Os indicativos
dessas extensões estão protegidos nas camadas de gelo das geleiras e mantos de
gelo atuais, que guardam evidências dos paleoclimáticos dos últimos 800 mil anos
(INCT, 2018)76.

Figura 1 – Ilustração das áreas atingidas pela última glaciação no planeta 77

Algumas das hipóteses para explicar a origem das idades do gelo seriam a
diminuição da radiação solar, acúmulo de cinzas vulcânicas na atmosfera, alteração
das correntes marinhas e de vento, deriva dos continentes, entre outras. O gráfico a

75
Devido ao albedo, as superfícies claras e lisas, como as geleiras, refletem mais do que as superfícies escuras, como o
asfalto. Ao refletir mais, a energia disponível para aquecer o ar será menor. Fonte: AYOADE, J.O. - Introdução à climatologia
nos trópicos, Editora Bertrand, Rio de Janeiro, 1988, p.217.
76
Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias (INCT) da Criosfera, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível
em http://www.ufrgs.br/inctcriosfera/Acriosfera.html Acessado em 20/11/18.
77
Disponível em http://www.avph.com.br/glaciacao.php Acessado em 20/11/18.

GEOGRAFIA
69
seguir (Figura 3) representa os períodos glaciais e interglaciais dos último 400.000
anos, com evidências especialmente no hemisfério norte, indicando que vivemos
atualmente em um período interglacial.

Figura 2 – Variação das temperaturas do ar no planeta nos últimos 850.000 anos 78

Se no passado tivemos algumas idades do gelo, atualmente vivemos uma


fase interglacial, com a sociedade causando mudanças climáticas, como o
aquecimento global, causado pelo aumento das concentrações do dióxido de
carbono na troposfera provenientes do uso dos combustíveis e fontes de energia de
origem fóssil. Como consequências temos alterações nas condições ambientais,
com a ocorrência de extremos climáticos, como os anos de secas extremas no
semiárido nordestino nos últimos anos ou os incêndios cada vez mais frequentes na
Califórnia (EUA).
As mudanças climáticas têm causado a diminuição na quantidade dos mantos
de gelo nas altas latitudes, como na Antártica, que concentra 90% do gelo e 70% da
água doce do mundo, que causará, no caso de seu total descongelamento, a
elevação do nível do mar por cerca de sessenta metros do nível atual.

As mudanças climáticas também têm causado a diminuição na quantidade de


gelo acumulado nas montanhas. As fotos a seguir registram a diminuição do volume
da geleira de Muir, no Alasca, sendo que a foto em branco e preto, feita em 1941,

78
AYOADE, J.O. - Introdução à climatologia nos trópicos, Editora Bertrand, Rio de Janeiro, 1988, p.217.

GEOGRAFIA
70
mostra a geleira cobrindo todo o vale, enquanto que na foto mais recente, de 2004,
percebemos uma expressiva redução desse glaciar.

Figura 3. Montagem com fotografias da geleira de Muir, no Alasca, em 1941 e em 200479

Estudos comprovaram que nos últimos quarenta anos a superfície das


geleiras do Himalaia foi reduzida em 13%. Nesse mesmo intervalo de tempo, a
perda na cordilheira dos Andes foi mais grave, com redução de 42%. Populações
locais já vêm sofrendo com essa redução do gelo, dependendo cada vez mais das
precipitações. Outra questão são os problemas de segurança, com a queda de
blocos de gelo que podem atingir vilarejos diretamente ou causar transtornos no
ambiente, como a queda de blocos em lago no Peru, causando o transbordamento
e afetando a população local.
Apesar de não termos geleiras no país, as existentes na Cordilheira dos
Andes garantem a oferta de importantes volumes de água para a bacia Amazônica,
permitindo a produção da energia hidroelétrica e a agricultura, dentre outras
possibilidades. Esses volumes provenientes dos glaciares vizinhos devem reduzir

79
http://g1.globo.com/natureza/noticia/2013/02/nasa-divulga-imagens-que-
Disponível em
mostram-efeitos-do-degelo-no-alasca.html Acessado em 20/11/18.

GEOGRAFIA
71
futuramente devido às mudanças climáticas, comprometendo as dinâmicas naturais
da bacia Amazônica nas próximas décadas.

GEOGRAFIA
72
Aula 15 - Águas no planeta: aquíferos
As fontes de água para abastecimento público estão cada vez mais escassas,
devido aos problemas de conservação dos cursos de água superficiais, como os rios
e lagos. Na visão de boa parte dos Estados nacionais, as águas subterrâneas são a
principal solução às limitações das fontes superficiais, especialmente pela sua
abundância. Entretanto é importante compreender que as águas dispostas em
profundidade precisam de cuidados para evitar a exploração excessiva, bem como a
sua contaminação.
A geografia participa de estudos sobre as águas subterrâneas e como
disciplina escolar pode oferecer novos olhares para a formação de indivíduos,
enquanto parte integrante e ativa das sociedades no que se refere ao tema do uso e
conservação das águas profundas pela sociedade.
A definição de água subterrânea que apresentamos a seguir é utilizada pelo
Ministério do Meio Ambiente:
(...) são as águas que se infiltraram no solo e que penetraram, por
gravidade, em camadas profundas do subsolo, atingindo o nível da zona de
saturação, constituindo-se em um reservatório de águas subterrâneas
(aquíferos), susceptíveis de extração e utilização. A zona saturada pode ser
considerada como sendo um único reservatório ou um sistema de
reservatórios naturais cuja capacidade e volume total dos poros ou
interstícios estão repletos de água80. (146p.).
As águas subterrâneas originam-se e são realimentadas pelas chuvas,
neblinas, neves e geadas, que infiltram no solo e chegam às rochas com capacidade
de retê-las, seja em seus poros ou em fraturas. A maior parte das águas
subterrâneas tem qualidade de água potável, ou seja, qualidade para o consumo
humano, entretanto podem apresentar problemas de contaminação natural. É o caso
registrado em Bangladesh, onde rochas ricas em arsênio contaminam águas
superficiais e subterrâneas, causando o maior envenenamento de uma população,
segundo a Organização Mundial da Saúde 81.
80
MMA - Ministério do Meio Ambiente – Glossário. Disponível em
<http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_proecotur/_publicacao/140_publicacao09062009031310.pdf> Acessado em 28/11/13.

81
FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (2006). Ameaça de arsênio em Bangladesh.
Disponível em <http://www.fao.org/ag/esp/revista/0605sp1.htm> Acessado em 28/11/13.

GEOGRAFIA
73
Elas constituem um recurso natural fundamental para a humanidade e de
geoestratégia inigualável, levando a inúmeros conflitos políticos e econômicos, que
tendem a aumentar cada vez mais.
Desde o início da história da humanidade, as águas subterrâneas são
exploradas pelo homem, através de poços escavados, rasos ou profundos. É
atribuído aos chineses o início da atividade de perfuração de poços, em 5.000 antes
de Cristo. Portanto a humanidade desde cedo sentiu a necessidade do recurso
hídrico além de sua expressão superficial82.
Os aquíferos têm distribuição, profundidade e dimensões variadas, podendo
apresentar de centenas a milhares de metros de extensão, espessura ou
profundidade.
Aquífero são mananciais subterrâneos de água, que podem se chamar de
lençóis freáticos, se a água está depositada em camadas impermeáveis
com pressão normal, ou lençóis artesianos, onde a água se situa entre duas
camadas impermeáveis, sendo submetida a uma pressão superior à
atmosférica83.(146p.).
Os aquíferos podem ser livres, que são os mais superficiais.
O aquífero livre (ou freático) está mais próximo à superfície, onde a zona
saturada tem contato direto com a zona não saturada, ficando submetido à
pressão atmosférica. Neste tipo, a água que infiltra no solo atravessa a zona
não saturada e recarrega diretamente o aquífero84. (p. 20).
Os confinados são mais profundos e encontram-se entre rochas
impermeáveis ou semi-impermeáveis.
O aquífero confinado é limitado no topo e na base por camadas de rocha de
baixa permeabilidade (como argila, folhelho, rocha ígnea maciça etc.). Não
há zona não saturada e, neste caso, o aquífero está submetido a uma
pressão maior que a atmosférica, devido a uma camada confinante acima
dele, que também está saturada de água. Assim, o nível da água tem
pressão para atingir uma altura acima do topo do aquífero, mas é impedida
pela camada confinante. Neste caso, não podemos chamar o nível da água
82
REBOUÇAS, A.C. Água Subterrânea. REBOLÇAS, A.; BRAGA, B.; TUNDISI, J.G. (orgs.). Águas Doces no Brasil: capital
ecológico, uso e conservação. 3ª Edição. São Paulo. Escrituras Editora. 2006, 111-144p.

83
MMA - Ministério do Meio Ambiente – Glossário. Disponível em
<http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_proecotur/_publicacao/140_publicacao09062009031310.pdf> Acessado em 28/11/13.
84
IRITANI, M. A. e EZAKI, S. As Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo. Cadernos de Educação Ambiental. Secretaria
de Meio Ambiente de São Paulo, Instituto Geológico, 2009, 104p. Disponível em http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-
content/uploads/publicacoes/sma/aguassubterraneas.pdf Acessado em 28/11/13.

GEOGRAFIA
74
de freático, pois está submetido a uma pressão maior que a atmosférica 85
(p.20).
A Figura 1 ilustra a disposição de aquífero livre, mais superficial, sobre
aquíferos confinados entre rochas impermeáveis.

Figura 1 – Aquíferos livres e confinados86.

85
IRITANI, M. A. e EZAKI, S. Idem.

86
ABAS – Associação Brasileira de Águas Subterrâneas. Educação. Disponível em <http://www.abas.org/educacao.php>
Acessado em 28/11/13.

GEOGRAFIA
75
Aula 16 - Águas Subterrâneas: recarga, descarga e contaminação
A origem e os tipos dos aquíferos existentes foram tratados na aula anterior,
que depende da sua distribuição entre rochas impermeáveis. Nesta aula trataremos
da entrada das águas nos aquíferos e suas saídas, seja por processos naturais ou
extração para uso antrópico.
As áreas para entrada da água que abastece o aquífero são chamadas de
zona de recarga, como vimos em aulas anteriores, que ocorrem por infiltração das
precipitações, chamada de recarga direta.
A zona de recarga direta corresponde ao abastecimento de aquíferos livres,
que são mais superficiais, facilitando o contato com a precipitação. O abastecimento
por recarga direta ocorre também nos aquíferos confinados, quando parte de suas
camadas de rochas afloram na superfície, em razão geralmente do afundamento da
parte central da bacia e o arqueamento das camadas em suas laterais.
A Figura 1 ilustra a situação de recarga direta de um aquífero livre e um
confinado, cujas camadas estão arqueadas, possibilitando a formação da área de
recarga direta.

Figura 1 -O Aquífero livre e


87
confinado e suas áreas de recarga direta

Zona de recarga indireta é aquela onde o reabastecimento do aquífero


confinado se dá a partir de fluxo subterrâneo indireto, como a troca entre aquíferos.

87
Adaptado de http://bionaturalife.blogspot.com.br/2009_05_01_archive.html Acessado em 28/11/13.

GEOGRAFIA
76
A saída da água do aquífero é chamada de descarga e ocorre quando as
águas alimentam rios e lagos, ou desaguando em mares, oceanos ou outro aquífero.
A captação da água por poços é outra forma de descarga.
Os poços são classificados pelo acesso aos aquíferos livres ou confinados,
sendo chamados de poços comuns aqueles que extraem água de aquíferos livres,
de pouca profundidade, também chamados de poços freáticos ou caipira.
Os poços que extraem água de aquíferos confinados são classificados como
artesianos, sendo mais profundos. As águas dos poços artesianos podem jorrar ou
não, dependendo a posição do poço com relação à zona de recarga.
A água que se encontra em aquífero confinado está sujeita à pressão das
camadas de rochas acima dele, gerando o nível potenciométrico. Como a pressão
no aquífero confinado é maior que a pressão atmosférica, ao sair a água formará o
jorro, significando que o poço localiza-se em altitude abaixo do nível
potenciométrico. Caso o poço esteja acima do nível potenciométrico, o poço não
apresentará jorro. A Figura 3 ilustra a situação de poços artesianos, com e sem jorro
de água, e do poço comum, ou freático, situado em aquífero livre.

GEOGRAFIA
77
Figura 2 - O Aquíferos livre e confinado com descarga através de poços artesianos e poço
freático88.

Os aquíferos livres estão mais expostos às contaminações, podendo


comprometer a qualidade da água extraída pelos poços comuns. Isso leva a
exploração cada vez maior de poços artesianos, que utilizam as águas subterrâneas
para inúmeras finalidades, como o abastecimento público. O aumento da exploração
das águas subterrâneas pode causar o esgotamento dos aquíferos.
A extração contínua e acima dos limites de produção do aquífero provocará a
sua exaustão, que por si só já é uma situação muito alarmante. Entretanto a
exaustão pode provocar o afundamento do solo pela perda de suporte dado pelas
águas no aquífero, como ocorreu em Cajamar, na Região Metropolitana de São
Paulo, cujo buraco destruiu em poucas horas cerca de oito casas em 1987 (Figura
4). Entretanto a contaminação das águas subterrâneas é o principal impacto que
afeta os aquíferos na atualidade.

88
IRITANI, M. A. e EZAKI, S. As Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo. Cadernos de Educação Ambiental. Secretaria
de Meio Ambiente de São Paulo, Instituto Geológico, 2009, 104p. Disponível em http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-
content/uploads/publicacoes/sma/aguassubterraneas.pdf Acessado em 28/11/13.

GEOGRAFIA
78
Figura 3 – Afundamento de solo89

A contaminação atinge as águas superficiais e as subterrâneas através do


esgoto, proveniente de fossas negras, fossas sépticas sem qualquer conservação ou
do lançamento do esgoto coletado, mas não tratado, diretamente nos rios.
A Figura 4 ilustra a situação de contaminação de aquífero livre por fossa
séptica instalada por vizinho na parte mais alta do terreno, mas que não tem
manutenção adequada, que deveria lacrá-la para evitar o transbordamento,
contaminando as águas de aquífero cavernoso cujas águas são extraídas por
vizinho na parte mais baixa do relevo.

89
IGCE – Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP/RC (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
de Rio Claro). Disponível em http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/interacao/inter12.html Acessado em 6/12/13.

GEOGRAFIA
79
Figura 4 – Contaminação de aquífero por fossa séptica sem manutenção 90

O chorume é formado pela lavagem do lixo pela chuva e, se não captado e


tratado adequadamente nos aterros sanitários, ele contaminará rios e solos. O
chorume pode se infiltrar nos aterros que tenham problemas na impermeabilização e
circula sem contenção em lixões, que não tem qualquer preparação para receber os
resíduos sólidos e nem controlam a sua origem. Agrotóxicos usados
inadequadamente na agricultura infiltram no solo e contaminam persistentemente as
águas superficiais e em profundidade, bem como os efluentes de origem industrial.
Além da qualidade da contaminação, outra dificuldade para descontaminar as
águas subterrâneas decorre do tempo de permanência no aquífero. A circulação
muito lenta, que pode variar de semanas a centenas de anos, impossibilita a sua
descontaminação, podendo ficar comprometido definitivamente.. É importante saber
que alguns aquíferos têm águas conatas, que são águas originais, armazenadas
durante o período de constituição do aquífero, o que podem representar mais de dez
mil anos de existência.

Aula 17 – Águas subterrâneas no Brasil

90
Departamento de Recurso Minerais do Serviço Geológico do Rio de Janeiro. Disponível em
http://www.drm.rj.gov.br/index.php/areas-de-atuacao/3-aguassubterraneas Acessado em 17/11/18.

GEOGRAFIA
80
Nas aulas anteriores conhecemos sobre as origens, tipos e processos de
recarga e descarga dos aguíferos das origens, bem os processos relacionados à
contaminação de suas águas. Nesta aula conheceremos os aquíferos existentes no
país, suas localizações e importância para a sociedade.
Segundo a ABAS91, no Brasil existem diversas províncias geologias, que
dispõem de sistemas de aquíferos, representados na Figura 1.

Figura 1 – Principais aquíferos brasileiros 92

Segundo Rebouças93, na província hidrogeológica do Amazonas existem dois


amplos aquíferos, o Solimões e o Alter do Chão, nome de uma formação sedimentar
da Bacia Geológica do Amazonas. As águas vêm sendo extraídas pelas indústrias e
91
ABAS – Associação Brasileira de Águas Subterrâneas. Educação. Disponível em http://www.abas.org/educacao.php>
Acessado em 28/11/13.
92
Idem.

93
REBOUÇAS, A.C. Água Subterrânea. REBOLÇAS, A.; BRAGA, B.; TUNDISI, J.G. (orgs.). Águas Doces no Brasil: capital
ecológico, uso e conservação. 3ª Edição. São Paulo. Escrituras Editora. 2006, 111-144p.

GEOGRAFIA
81
mais recentemente pelas companhias de abastecimento de água de Belém,
Santarém e Manaus, pois são de excelente qualidade, que dispensam tratamento
para consumo humano, que é necessário para o abastecimento público por águas
de superfície.
Na província hidrogeológica do Paraná existem três aquíferos importantes,
sendo a Formação Serra Geral, Bauru e Guarani, sendo este último o mais
conhecido e explorado.
O aquífero Guarani foi formado há 130 milhões de anos de arenito
homogêneo, que garante grande capacidade de armazenar água, abastecendo
várias cidades no interior do estado de São Paulo, como São José do Rio Preto,
Presidente Prudente, Marília, Araçatuba, Ribeirão Preto, Araraquara e São Carlos,
através de milhares de poços, de profundidades variando entre 300 e 1.000 metros,
para atender também à indústria e agricultura. As águas naturalmente potáveis
levam aproximadamente 300 anos para circular no aquífero Guarani, um dos
maiores e mais importantes do mundo94.
O Sistema Aquífero Guarani (SAG) é um corpo hídrico subterrâneo e
transfronteiriço que abrange parte dos territórios da Argentina, do Brasil, do
Paraguai e do Uruguai. Possui um volume acumulado de 37.000 km 3 e área
estimada de 1.087.000 Km2. Na parte brasileira estende-se a oito estados:
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo95.

A Figura 5 apresenta os limites do Aquífero Guarani na América do Sul.


Segundo Ribeiro (2008), apesar de suas amplas dimensões, o Aquífero Guarani não
será capaz de solucionar os problemas de abastecimento dos quatro países que o
compartilham, pois as águas encontram-se a grandes profundidades e, como
qualquer reserva natural, tem limites e precisa ser conservada.

94
IRITANI, M. A. e EZAKI, S. As Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo. Cadernos de Educação Ambiental. Secretaria
de Meio Ambiente de São Paulo, Instituto Geológico, 2009, 104p. Disponível em http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-
content/uploads/publicacoes/sma/aguassubterraneas.pdf Acessado em 28/11/13,
e REBOUÇAS, A.C. Água Subterrânea. REBOLÇAS, A.; BRAGA, B.; TUNDISI, J.G. (orgs.). Águas Doces no Brasil: capital
ecológico, uso e conservação. 3ª Edição. São Paulo. Escrituras Editora. 2006, 111-144p.

95
MMA - Ministério do Meio Ambiente – Glossário. Disponível em
<http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_proecotur/_publicacao/140_publicacao09062009031310.pdf> Acessado em 28/11/13.

GEOGRAFIA
82
Figura 5 – Área de abrangência do Aquífero Guarani96

Como um sistema de águas subterrâneas internacionais, o Aquífero Guarani


precisa ter a sua exploração regulamentada por instância internacional, sendo que o
Mercosul é um importante fórum para tratar da conservação de suas águas. A
estrutura do Mercosul é voltada para facilitar as trocas comerciais entre os países
membros, mas já dispõe de alguns instrumentos jurídicos relacionados à questão
ambiental, embora sem qualquer especificidade para tratar sobre os recursos
hídricos. Ribeiro recomenda a troca de experiências e de informações entre os
gestores dos diferentes países, para a criação da legislação que permita uma gestão
compartimentada do Sistema Aquífero Guarani.

96
Cidades Paulistas, Aquífero Gurani. Disponível em <http://www.cidadespaulistas.com.br/prt/img/mp-aquifero-al.jpg>
Acessado em 29/11/13.

GEOGRAFIA
83
Resumo da Unidade II

Nesta unidade tratamos do ciclo hidrológico. Iniciamos apresentando as


etapas do ciclo hidrológico, sendo precipitação, escoamento, infiltração, evaporação
e transpiração. Estudamos que há uma estreita relação entre a precipitação e o
escoamento das águas, bem como a infiltração e a evapotranspiração são
processos que influenciam diretamente na precipitação.
A partir disso vimos a quantidade, a relação e a condição das águas no
planeta. Avaliamos as condições dos mares e oceanos, bem como a situação das
geleiras, importantes fontes de água doce no planeta, e das águas subterrâneas,
entendidas pela sociedade enquanto fontes de recursos hídricos.

Referências Bibliográficas da Unidade II

BORGHETTI; N.R.B., BORGHETTI, J.R.; ROSA FILHO, E.F.. Aquífero Guarani: a


verdadeira integração dos países do Mercosul. Curitiba, 2004, 214p. Disponível em
WWW.aguassubterraneas.abas.org/asubterraneas/article/download/23239/15350
Acesso em 3/11/18.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia Fluvial. São Paulo: Editora Edgard Blücher,


2ª ed, 1980.

CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo: Edgar


Blücher ltda, 1999, 236p.

GARCEZ, LN. ALVAREZ, G A - HIDROLOGIA - Ed. Edgard Blucher/EDUSP, S.


Paulo, 1988, 291p.

GEOGRAFIA
84
IRITANI, M. A. e EZAKI, S. As Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo.
Cadernos de Educação Ambiental. Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo,
Instituto Geológico, 2009, 104p. Disponível em http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-
content/uploads/publicacoes/sma/aguassubterraneas.pdf Acessado em 21/11/18.

PINTO, N L S, et al Hidrologia Básica, Ed. Edgard Blücher Ltda.:Rio de Janeiro, 6ª


reimpressão, 1998, 278p.

REBOLÇAS, A.; BRAGA, B.; TUNDISI, J.G. (orgs.). Águas Doces no Brasil: capital
ecológico, uso e conservação. São Paulo: Escrituras Editora. 2006, 717p.

SUGUIO, K. e BIGARELLA, J.J. Ambientes fluviais. Florianópolis. Goti da


Universidade, 1990.

TOMINAGA, L.K.; SANTORO, J.;AMARAL, R. (org). Desastres Naturais: conhecer


para prevenir. Instituto Geológico, São Paulo, 2009. 196 p.

GEOGRAFIA
85
Aula 18 – Ciclo de erosão fluvial
Os rios têm capacidade de erodir, transportar e depositar materiais através de
suas águas. Nesta aula vamos conhecer como os rios transformam as paisagens,
buscando um equilíbrio entre esses três trabalhos que realizam.

Os canais fluviais não são formas estáticas ao longo do tempo, processos


de erosão, transporte e deposição podem alterar sua forma e posição por
causa de mudanças ambientais na bacia. Estas mudanças são resultantes
do trabalho do rio, ou seja, dos processos de erosão, transporte e deposição
fluvial97.
Os rios transportam os detritos das rochas intemperizadas de acordo com a
dimensão do material a ser deslocado (Figura 1). Considerando uma vazão fixa, os
detritos que se dissolvem na água são transportados por solução, enquanto
compostos finos como silte e argila são levados por suspensão. Por saltação são
transportados materiais de pequenas dimensões, como a areia e pequenos seixos.
Os fragmentos maiores são transportados no fundo do leito fluvial por rolamento ou
arrastamento.
Além da dimensão dos materiais, a variação das vazões interfere no transporte,
pois o aumento da corrente permitirá que materiais maiores sejam transportados por
suspensão, que é a forma mais comum dos rios transportarem a carga na época de
grandes vazões.

97
CHRISTOFOLETTI, 1981, SUGUIO e BIGARELLA, 1990 apud LUIZ, E.L. Dinâmica hidrológica do médio vale do rio Amola
Faca, sul de Santa Catarina, Brasil: processos de erosão e deposição no canal. Terr@Plural, Ponta Grossa, v.3, n.2, p.261-
276, jul./dez. 2009. Disponível em http://eventos.uepg.br/ojs2/index.php/tp/article/view/1204 Acessado em 4/12/13.

GEOGRAFIA
86
Figura 1 – Transporte fluvial por suspensão, saltação, rolamento e arrastamento 98

Com a elevação do nível da água, o canal é escavado no sentido horizontal


(margens) e vertical (fundo), mas a diminuição da vazão provocará a deposição de
uma parte da carga, começando pelos mais grossos, que pavimentavam o leito. Na
vazão mínima, grande parte da carga em suspensão é depositada, formando
depósito chamado de aluvião.
As formas do leito dependem das relações entre vazão, carga sólida,
velocidade e declividade. O grau de relacionamento dessas variáveis determina a
intensidade da erosão, transporte ou deposição, logo, à morfologia do leito.
Os estudos de geomorfologia fluvial estabeleceram que os rios, assim como o
relevo, possuem um ciclo de erosão. Com base neste princípio, o desenvolvimento
de um rio passaria por sucessivos estágios (juventude, maturidade e senilidade),
que constituem o processo de contínua transformação de seu curso.
Apesar dos nomes dos estágios estabelecerem uma relação direta com a
ideia de tempo sucessivo, como se o rio tivesse um nascimento, desenvolvimento e
um estágio senil em relação à sua idade, trata-se na verdade de uma analogia à sua
perda contínua de energia ao longo do seu curso. O uso dos termos associados ao

98
Disponível em http://estudante-de-biogeo-11.blogspot.com.br/2009/03/geologia.html Acessado em 4/12/13.

GEOGRAFIA
87
tempo cronológico faz alusão apenas ao processo erosivo do rio, transformando a
paisagem.
Entretanto é muito comum que um mesmo rio esteja ao mesmo tempo nos
três estágios do ciclo de erosão. Assim, na primeira fase, denominada de estágio de
juventude, o rio caracteriza-se pelo excesso de energia e, por isso, transporta e
provoca erosão em profundidade, situação que ocorre tipicamente no curso superior
do rio. É frequente a ocorrência de cachoeiras e corredeiras que estão associadas
ao declive irregular do terreno e a formação de vales em “V” ou vales em garganta.
No Brasil, encontramos essa situação mais comumente na área de serras do
sudeste e sul brasileiro. Se observarmos o fluxo de água e a topografia do relevo na
área da Serra do Mar, no estado de São Paulo, por exemplo, podemos visualizar
esse primeiro estágio do ciclo de erosão do relevo. (Figura 2).

Figura 2 – Rio na Serra do Mar99

Na segunda fase, o estágio da maturidade, o rio não possui tanta energia


como o estágio anterior, dado o declive menor, e por isso o processo erosivo limita-
se ao transporte do material já erodido anteriormente e a erosão superficial.
Geralmente, isso ocorre no curso médio do rio.

99
PIMENTEL, A. Fotografias. Disponível em http://www.panoramio.com/user/4962547/tags/Rodovia%20dos%20Imigrantes
%20e%20Anchieta Acessado em 4/12/13.

GEOGRAFIA
88
Figura 3 – Rio Yangtsé, na China, um dos mais extensos do mundo, em parte do curso em fase de
maturidade100

Como o Brasil é um país de relevo muito antigo, e por isso intensamente


erodido, dizemos que em nosso país predominam as altitudes modestas, próximo a
500m de altitude, e com pequena declividade, exceção feita a áreas de serras,
citadas anteriormente.
No terceiro e último estágio, o da senilidade, a topografia mais plana não
permite o transporte de sedimentos e os meandros se formam em vales amplos e
nas planícies de inundação. Predominam os processos de acumulação de
sedimentos e esse estágio está associado ao curso baixo do rio.
Situação típica dos rios de planície, como os que correm em direção a
planície litorânea brasileira. Se observarmos a calha dos rios que descem a Serra do
Mar e chegam à planície litorânea no município de Cubatão, no estado de São Paulo
(Figura 4), vamos observar os meandros do rio, onde a velocidade é muito menor e
a acumulação de sedimentos forma muitas vezes ilhas no curso d’água.

100
Ríos más largos y caudalosos del mundo. Disponível https://laelectricidad.wordpress.com/category/geografia-rios-
mas-largos-y-caudalosos-del-mundo/ Acessado em 16/11/18.

GEOGRAFIA
89
Figura 4 – Planície Litorânea101

Como se trata de um ciclo, esse processo pode se realimentar através de


uma mudança na topografia do rio, como por exemplo, o que acontece a partir da
orogênese e epirogênese, em que há a subsidência e o soerguimento do relevo,
modificando a declividade.
Em um rio equilibrado, a declividade de um rio é mais fraca a jusante do que a
montante102 e os rios modificam a forma de seu leito por erosão ou deposição, para
manter o equilíbrio entre a energia e a resistência. À medida que a bacia é erodida,
a carga vai diminuindo, até chegar ao momento ideal, no qual a inclinação do leito
seja exatamente suficiente para o escoamento das águas. O rio atingiu então o perfil
de equilíbrio definitivo ou ideal, que não é real, mas teórico. O que existe na
realidade são perfis de equilíbrio provisórios, os quais não ocorrem ao longo de todo
o rio, mas em determinados setores.
Segundo Christofoletti103,
Rio em equilíbrio é aquele que mantém, em um período de anos, as
características de declividade e canal, delicadamente ajustadas para prover,
com vazão disponível, a exata velocidade requerida para o transporte do

101
Novo Milênio. Geografia e Economia de Cubatão. Disponível em http://www.novomilenio.inf.br/cubatao/cubgeo27.htm
Acessado em 4/12/13.

102
A jusante é o lado para onde se dirige a corrente de água e montante é a parte onde nasce o rio.
103
Christofoletti, A. Geomorfologia fluvial. 2ª ed. São Paulo, SP: Edgard Blücher Ltda., 1981, 313p.

GEOGRAFIA
90
suprimento da carga, proveniente da bacia de drenagem. Tal rio é um
sistema em equilíbrio. Sua característica diagnóstica é que qualquer
mudança, em qualquer dos fatores de controle, causará deslocamento do
equilíbrio em uma direção tal que tenderá para a absorção do efeito da
mudança.

GEOGRAFIA
91
Aula 19 – Águas no planeta: rios

Os rios são importantes componentes naturais que estruturaram no passado


as dinâmicas sociais e econômicas, como a civilização egípcia ao longo do rio Nilo.
Ainda hoje o rio Nilo concentra em seu curso ocupações humanas, como podemos
perceber pela imagem de satélite (Figura 1), que registra o curso do rio pela
iluminação noturna, que o acompanha até a desembocadura, em forma de delta, no
Mar Mediterrâneo.

Figura 1 – Visão noturna de parte do Rio Nilo 104.

Nesta aula vamos saber como a geografia estuda os rios, baseando-se nos
processos naturais de formação e transformação dos cursos de água superficiais.
Podemos definir o rio como um curso natural da água superficial, em forma de
canal de escoamento, que surge das fontes ou nascentes e aumenta
progressivamente o seu volume até a desembocadura, que pode ocorrer no mar,

104
Disponível em http://www.desabafaki.net/2012/12/imagens-espetaculares-da-terra-noite.html Acessado em 19/10/13.

GEOGRAFIA
92
lago ou outro rio. Para Suguio e Bigarella 105, “[...] o rio constitui um corpo de água
corrente confinada num canal”. Portanto todo canal de escoamento é um rio, sem
levar em consideração as suas dimensões. Regionalmente os cursos menores
recebem designações próprias como riacho, ribeira(o), córrego, ribeirão, regato,
entre outros. Na Região Sul é comum a população chamar os cursos com menos
volume de água de arroio, enquanto na Região Norte o termo igarapé é mais
frequente. Esses cursos menores são afluentes ou tributários do rio principal, que é
designado de nível de base.
O curso dos rios é dividido, na maior parte dos casos, em três partes: curso
alto ou superior, médio e baixo ou inferior. O que diferencia essas partes é a
capacidade de erodir e transportar sedimentos pelo rio, como vimos anteriormente.
O curso superior é a área de maior altitude, onde se localizam as nascentes,
chamada de montante. Nela os processos erosivos e de transporte são mais
intensos, devido à maior declividade. No curso médio, os processos de erosão,
transporte e depósito de parte dos sedimentos ocorrem concomitantemente,
caracterizando pelo aplainamento do relevo devido à diminuição da declividade e da
altitude. O curso inferior ou baixo é a parte próxima à foz do rio, chamada de
jusante. Nela o relevo é ainda mais plano do que no curso médio, com maior
probabilidade da formação de meandros, que são curvas regulares do curso do rio,
como pode ser observado na fotografia abaixo (Figura 2).
Na foz livre de sedimentos, o rio deságua na forma de um canal, chamado de
estuário. Do contrário, temos a formação de deltas, como o que ocorre na foz do rio
Amazonas, representado na imagem de satélite. (Figura 3).

105
SUGUIO, K. e BIGARELLA, J. J. Ambientes fluviais. 2ª. Ed. Florianópolis: UFPR, UFSC, 1990. 183p.

GEOGRAFIA
93
Figura 2 - Meandros do rio106

Figura 3 – Delta do rio Amazonas107

Outra característica dos rios é o volume de água que escoa pelo canal, que
sofre variações durante o ano, chamadas de regime fluvial. A leitura do nível das

106
Disponível em http://www.panoramio.com/photo/17532741 Acessado em 4/12/13.

107
Fonte: http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br/. Acesso em 10.05.12.

GEOGRAFIA
94
águas é feita pela régua fluviométrica ou por sistema de ultrassom, que permitem o
monitoramento remoto.
O débito ou vazão aumenta conforme o rio aproxima-se de sua foz, mas
depende do regime fluvial, ou seja, da distribuição das precipitações durante o ano.
O período de vazante significa que as águas estão em seu nível mais baixo, em
razão da menor pluviosidade no ano. No período de cheia, o débito é o máximo, com
as águas em seu nível mais alto, quando pode ocorrer a enchente, que são águas
excepcionalmente acima do nível de cheia, levando ao transbordamento do leito,
com as águas alagando as áreas próximas às suas margens.
Com base no regime fluvial, os rios podem ser classificados como efêmeros,
intermitentes ou perenes.
Os rios efêmeros não recebem água do lençol subterrâneo e se formam
somente durante e após as chuvas, ficando os seus leitos secos na maior parte do
ano. É o caso dos rios temporários que se formam quando chuvas fortes atingem
regiões desérticas, formando um fluxo que percorre o leito, antes seco, da superfície
árida, existindo enquanto a precipitação persistir.
Os rios Intermitentes recebem água a partir do lençol subterrâneo, quando
este se encontra em nível de fluir. A água aparece nos seus canais em certa época
do ano e permanecem secos noutra. Este tipo de rio é comum no interior da região
Nordeste, conhecido como sertão ou também denominado oficialmente pelo governo
federal de polígono das secas. Nessa região predomina o clima semi-árido, que
apresenta estações bem marcadas de estiagem, quando os rios secam, e de
precipitações, quando os rios fluem.
Os rios perenes nunca secam, porque recebem água do lençol subterrâneo,
mas apresentam variações do seu nível, decorrente da distribuição das
precipitações durante as estações do ano. No Brasil há a predominância dos rios
perenes devido à elevada precipitação no país, que está associada à dinâmica
climática típica de um país tropical úmido.
Segundo Ab’Saber108, a cor dos rios indica a qualidade dos sedimentos que
estão sendo carregados pelas águas, revelando a qualidade dos ambientes
drenados por ele. Os rios podem ficar temporariamente com a cor marrom
108
Ab’Saber Tipos de Rios e A padronagem das redes fluviais, in Formas do Relevo. FUNBEC:São Paulo, 1975.

GEOGRAFIA
95
avermelhada, com aspecto barrento, durante e após episódio chuvoso intenso,
significando que o solo erodido pela chuva está sendo transportado pela água do rio
para se depositar assim que a vazão diminuir, assoreando partes do leito.
Os rios com cor branca ou amarelada indicam remoção de sedimentos, como
os rios amarelados na China, decorrente da presença de partículas finas em
suspensão, removidas de depósitos eólicos, formados no passado pelo trabalho do
vento, muito comuns naquele país. Neste caso, trata-se de um processo erosivo de
origem natural.
Rios com a cor verde ou preta indicam que os cursos d’água estão
transportando em suspensão material orgânico, retirado dos solos das florestas
drenadas por eles. Muitas vezes o aspecto do rio origina o nome, como é o caso do
rio Negro, na Região Norte. A Figura 4 mostra o encontro das águas do rio Negro
com o Solimões, que transporta sedimentos erodidos da Cordilheira dos Andes,
formando o Rio Amazonas.

Figura 4 – Encontro do Rio Negro e Solimões109

Os rios com águas translúcidas indicam que eles percorrem áreas com rochas
pouco permeáveis, dificultando a erosão e transporte de seus minerais e
fragmentos.

109
Disponível em http://alugueldetemporada.org/rio-amazonas-e-o-encontro-das-aguas-vale-a-pena-conferir/ Acessado em
19/10/13.

GEOGRAFIA
96
Portanto, a cor das águas pode indicar se o rio é autóctone, o que significa
que ele percorreu um único tipo de domínio morfoclimático ao longo do seu curso. É
o caso dos cursos menores, como os pequenos igarapés na Amazônia.
Os rios que percorrem diferentes tipos de domínios ao longo dos seus cursos
são chamados de alóctones, como é o caso do Rio Amazonas que tem parte das
suas nascentes localizadas na Cordilheira do Andes, enquanto sua foz encontra-se
em ambiente equatorial úmido.

GEOGRAFIA
97
Aula 20 – Rios e bacias Hidrográficas

Nas aulas anteriores conhecemos algumas informações que tratam da


dinâmica dos rios, suas peculiaridades e processos, que permitem o entendimento
de como eles transformam a paisagem e por ela são alterados. Nas próximas aulas
conheceremos como os rios se vinculam, gerando as bacias hidrográficas, que
constituem unidades naturais e podem ser usadas no planejamento territorial.

A bacia hidrográfica ou de drenagem é formada pelos rios que confluem


formando um rio principal, drenando todas as terras correspondentes; os rios que
formam o principal são chamados de afluentes. O limite da área abrangida pela
bacia fluvial chama-se perímetro da bacia e é definido pelo divisor de águas.

As bacias hidrográficas são


(...) localidades da superfície terrestre separadas topograficamente entre si,
cujas áreas funcionam como receptores naturais das águas da chuva.
Devido a isso, todo o volume de água captado é automaticamente escoado
por meio de uma rede de drenagem das áreas mais altas para as mais
baixas, seguindo uma hierarquia fluvial, até concentrarem-se em um único
ponto, formando um rio principal.110
A imagem a seguir representa graficamente uma bacia hidrográfica, onde
podemos identificar um rio principal e seus afluentes (Figura 1). Neste caso, trata-se
da bacia do Rio do Peixe, no estado de São Paulo, com seus setenta e quatro
afluentes.

110
Fonte: Estudos sobre Bacias Hidrográficas. Disponível em: http://www.cdcc.sc.usp.br/CESCAR/Conteudos/05-05-
07/Estudos_sobre_Bacias_Hidrograficas.pdf. Acesso em 27.05.12.

GEOGRAFIA
98
Figura 1 – Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe111

A próxima imagem (Figura 2) além de representar graficamente o que é uma


bacia hidrográfica, introduz uma primeira característica importante, que é a
hierarquia fluvial.

Figura 2 – Hierarquia fluvial em bacia hidrográfica112

111
ETCHEBEHERE, M.L.; SAAD, A.R.; FULFARO, V.J. E J.A.J PERINOTTO

Aplicação do índice "Relação Declividade-Extensão - RDE" na bacia do Rio do Peixe (SP) para detecção de deformações
neotectônicas. Geologia USP. Série Científica, vol.4 no.2 São Paulo Oct. 2004. Disponível em
http://ppegeo.igc.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-874X2004000200004&lng=en&nrm=iso&tlng=pt Acessado
em 4/12/13.

112
Santos, D.S. e Dias, F.F. Uso de Anaglifos como Alternativa para Práticas de Estereoscopia em Sensoriamento Remoto. Anuário do
Instituto de Geociências, vol.34 no.2 Rio de Janeiro  2011. Disponível em http://turmalina.igc.usp.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0101-97592011000200010&lng=en&nrm=iso Acessado em 4/12/13.

GEOGRAFIA
99
Os rios de primeira ordem, indicados com o número um, correspondem às
nascentes, localizadas nas áreas de topografia mais elevada e onde o volume de
água ainda é baixo. Os rios de segunda ordem correspondem à junção de dois rios
de primeira ordem e os rios de terceira ordem à junção de dois de segunda, e assim
sucessivamente, formando uma hierarquia. O que podemos concluir é que quanto
maior for a ordem do rio principal, maior será a quantidade de rios existentes e maior
será também sua extensão.
As bacias hidrográficas elaboram estruturas de relevo próprias, como o
interflúvio, que é constituído por duas vertentes que são drenadas por rios que
pertencem a duas bacias hidrográficas diferentes e adjacentes (Figura 3). O divisor
de águas corresponde à linha que liga os pontos de cumeeira ou cumeada, existente
na parte mais elevada do interflúvio.

Figura 3 – Características Físicas de uma bacia hidrográfica 113

Observando as partes mais próximas ao curso de água, temos o terraço que


indica a antiga área de inundação, que não é mais preenchida pelas águas, nem
durante as inundações. Ele revela que no passado existia uma dinâmica natural
diferente, de modo que as suas águas preenchiam os terraços como se fossem as
suas várzeas. Uma explicação para a formação dos terraços é de que no passado o

113
Para entender a Terra. Disponível em http://professoralexeinowatzki.webnode.com.br/hidrologia/bacias-hidrograficas/
Acessado em 4/12/13

GEOGRAFIA
100
rio tinha um volume maior de águas, devido a um paleoclima mais úmido, e que com
a diminuição da pluviosidade, as águas elaboraram um novo leito. Outra
possibilidade é de que o rio, com o mesmo volume de água igual ao atual, era mais
raso e portanto mais largo. Ele foi erodindo e aprofundando o seu leito,
estabelecendo um nível mais baixo na planície de inundação. A tendência do terraço
fluvial é de ser erodido pelos processos atuais de esculturação do relevo (Figura 4).

Figura 4 – Formas presentes nas bacias hidrográficas114

O leito do rio é onde há o escoamento das águas e ele se amplia ou diminui


conforme o regime fluvial. Portanto, o leito fluvial pode adquirir as seguintes
dimensões:

 Leito da Vazante: parte mais baixa da bacia hidrográfica, onde o rio escoa
em época de diminuição do volume das precipitações.
 Leito Menor: é o leito do rio propriamente dito, por ser bem encaixado e
delimitado, caracterizando-se também como a área de ocupação da água em
época de cheia.

114
IGCE – Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP/RC (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
de Rio Claro). Disponível em http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/interacao/inter12.html Acessado em 6/12/13.

GEOGRAFIA
101
 Leito Maior: Denominado também como planície de inundação ou várzea, é
nessa área que ocorrem as cheias mais elevadas, denominadas inundações.

O leito menor é muito transformado nas cidades, onde muitas prefeituras


optaram no passado pela retificação de cursos fluviais e a instalação de vias de
circulação nele, margeando o rio, para oferecer aos munícipes uma melhor
circulação e acessibilidade e incorporando à cidade novas áreas para atividades
econômicas e sociais.

Em boa parte das cidades brasileiras, o leito maior é ocupado por avenidas e
construções, considerando que as chuvas mais volumosas, que poderão inundar
essa área da bacia, ocorrem apenas em alguns meses do ano, ponderando que a
cidade se beneficia com as atividades e vias de circulação lá instaladas durante os
outros meses do ano. Entretanto quando as chuvas de verão impactam o ambiente,
ocasionando grandes transtornos às cidades, o poder público supostamente
surpreso credita as tragédias às causas naturais.

As chuvas com características da estação de verão também ocorrem fora do


calendário, como quando ocorre o fenômeno do El Niño, que, como vimos, ampliam
intensidade e duração das precipitações. Em certas circunstâncias, não são
necessárias chuvas intensa para provocar as inundações, pois as condições de
impermeabilização nas cidades favorecem o escoamento superficial, que
transportará diversos materiais, assoreando os leitos e ampliando a frequência das
inundações.

O conhecimento sobre as dinâmicas fluviais provoca o questionamento pela


população, possibilitando a reflexão sobre as formas de ocupação realizadas até o
momento, avaliando sobre os riscos e prejuízos que a cidade sofre, mesmo que
apenas algumas pessoas sejam atingidas mais diretamente pelas inundações.

GEOGRAFIA
102
Aula 21 – Padrões da rede hidrográfica
Nas bacias hidrográficas, os rios apresentam alguns padrões geométricos que
são conhecidos como rede hidrográfica, sendo que as estudaremos nesta aula para
compreender os fatores envolvidos.
A rede hidrográfica da bacia apresenta formas geométricas relativas à
interferência de fatores de ordem geológica, de modo que esse padrão de drenagem
corresponde ao formato ou ao
(...) aspecto que apresenta o traçado do conjunto dos talvegues115 de uma
bacia hidrográfica. Este padrão ou desenho está intimamente relacionado a
características geológicas e geotectônicas da área, sendo, portanto,
importante elemento diagnóstico e interpretativo 116
Os padrões da rede hidrográfica dependem também da pluviosidade, da
cobertura vegetal e do tipo de solo. As bacias de drenagem podem ser classificadas
de acordo com sua geometria ou padrão de escoamento, podendo ser do tipo
dentrítico ou arborescente, em treliça, retangular, paralelo, radial, anelar e irregular.
O padrão dentrítico ou arborescente apresenta desenvolvimento semelhante
aos ramos de árvores (Figura 1). Ocorre com frequência em rochas sedimentares
horizontais e com menor frequência em rochas de baixo grau metamórfico (ardósias
e filitos) horizontais ou subhorizontais. Pode também ocorrer em alguns derrames de
lavas ou sedimentos de origem vulcânica.

115
Talvegue é a linha de maior profundidade no leito fluvial. Fonte: LOSANO, A. Geomorfologia Fluvial e Hidrografia. São
Cristóvão, SE, 2010. Disponível em Fonteshttp://gen2011urc.files.wordpress.com/2011/11/geomorfologia-fluvial-e-hidrografia-
aula-1.pdf Acessado em 6/12/13.

116
Dicionário Geomorfológico. Disponível em: http://www.dicionario.pro.br/dicionario/index.php/Padr%C3%A3o_de_drenagem.
Acesso em 26.05.12.

GEOGRAFIA
103
Figura 1 – Rede de drenagem com padrão dendrítico 117

Em treliça os rios principais consequentes correm paralelamente e recebem


os rios subsequentes, que fluem transversalmente aos primeiros. É comum em
áreas que sofreram dobramentos.

Figura 2 – Rede de drenagem com padrão treliça118

117
MACHADO, P.J.O. e TORRES, F.T.P. Introdução à hidrogeografia. São Paulo : Cengage Learning, 2012, 178p.
118
Idem.

GEOGRAFIA
104
O padrão retangular é uma variedade da drenagem em treliça, caracterizada
pelo reticulado ortogonal devido a bruscas mudanças em ângulo reto nos cursos
fluviais. Ocorre em rochas que foram submetidas a processos de diaclasamento e
falhamentos. São áreas propícias a erosão e rede de drenagem é condicionada
pelas estruturas das rochas.

Figura 3 – Rede de drenagem com padrão retangular 119

No paralelo, os cursos de água que fluem quase que paralelamente uns aos
outros, em extensão considerável do terreno. Ocorre em áreas onde houve
falhamento intenso em uma única direção e em camadas sedimentares levemente
inclinadas, em regiões de topografia suave, onde os contatos geológicos se
apresentam mais ou menos retilíneos.

119
Idem.

GEOGRAFIA
105
Figura 4 – Rede de drenagem com padrão paralelo 120

No padrão radial as correntes fluviais que se apresentam como o raio de uma


roda em relação a um ponto central. Comum em estruturas vulcânicas ou em áreas
sedimentares soerguidas.

Figura 5 – Rede de drenagem com padrão radial121

120
Idem.
121
Idem.

GEOGRAFIA
106
O padrão anelar é formado por anéis concêntricos. Apresentam áreas
dômicas, muito comum em regiões que foram soerguidas por domos salinos ou
intrusões ígneas.

Figura 6 – Rede de drenagem com padrão anelar122

Um padrão irregular significa que a drenagem ainda não se organizou,


podendo ocorrer em áreas de levantamentos ou sedimentos recentes.

122
Idem.

GEOGRAFIA
107
Aula 22 – Padrões dos canais fluviais

Nesta aula conheceremos alguns dos padrões que os rios apresentam ao


longo do seu curso, sendo classificados pela geometria do seu traçado, como,
dentre os principais tipos, os canais retos, meandrantes e anastomosados.
Os canais retos longos são raros, sendo mais comum que apenas segmentos
do curso sejam retilíneos. Os canais retilíneos podem aparecer em superfícies
homogêneas, fortemente inclinadas ou sob controle tectônico-estrutural. Considera-
se segmento retilíneo o canal reto cuja extensão equivale a dez vezes a largura do
leito normal (Figura 1).

Figura 1 - Canal fluvial retilíneo123

Canais meândricos são aqueles cujo traçado sinuoso leva o rio a se afastar da
sua posição normal para descrever curvas pronunciadas através de processo
contínuo de erosão e deposição. Os meandros são curvas do traçado dos rios,
largas, semelhantes entre si, resultados do trabalho da corrente, de escavação na
margem côncava (zona de maior velocidade da água) e de deposição na margem

123
Fonte: http://no.comunidades.net/sites/pro/profelianageo/index.php?pagina=1548259772. Acesso em 26.05.12

GEOGRAFIA
108
convexa. Na representação a seguir (Figura 2) podemos ver como se forma um
canal meândrico.

Figura 2 – Processo de erosão e deposição na formação dos meandros 124

A margem côncava é cavada cada vez mais, originando o banco de


solapamento, enquanto na margem convexa a corrente, muito lenta para transportar
a sua carga, abandona parte dela, construindo bancos arenosos ou de cascalhos.
Assim, a curva se acentua cada vez mais. Por esse processo a margem côncava se
torna abruta, enquanto a convexa, construída, é baixa.
O canal meândrico se afasta da direção normal do escoamento para voltar à
mesma após ter descrito uma curva pronunciada (Figura 3). O movimento dos rios
para formarem meandros é função da relação entre largura e profundidade do canal
e o tamanho das partículas sedimentares. À medida que a carga em suspensão
cresce, a relação entre largura e profundidade diminui e o canal se estreita e se
aprofunda. Devido a esses ajustes, mais energia é despendida nas margens e
menos no fundo e a sinuosidade do canal aumenta.

124
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_A50z3ZcK1Cc/TKJa0UjP_2I/AAAAAAAAAhQ/dA5wAbd8bTo/s1600/meandros+de+rios+2.jpg acessado em 23 9 11

GEOGRAFIA
109
Figura 3 – Representação do padrão meandrântico 125

Os meandros aumentam o comprimento do canal entre dois pontos,


contribuindo para diminuir a declividade do rio. A declividade influi na velocidade e
na capacidade de transporte, sendo que os meandros são comuns na fase de
senilidade dos rios.
Nem sempre os meandros estão em relação direta com as características
hidrodinâmicas atuais. Na planície aluvial, às vezes destacam-se meandros
abandonados com raio de curvatura muito maior do que os meandros atuais. Trata-
se de rios que tiveram maior volume e maior potência e que sofreram redução na
descarga.
O rio anastomosado tem uma carga excessiva que não é capaz de transportar
ou de prosseguir com a erosão lateral, como o rio meandrante (Figura 4). Por isso o
rio anastomosado é muito bifurcado, com inúmeros canais do mesmo nível. A
deposição do material grosseiro no próprio leito faz com que o rio se ramifique em
numerosos canais secundários. Rios nos quais a carga do leito excede a metade da
carga total, a relação largura/profundidade do leito aumenta e o leito torna-se largo,
raso e cheio de pequenos canais.

125
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-floresta-amazonica/imagens/floresta-amazonica10.jpg acessado
em 23 9 11

GEOGRAFIA
110
Figura 4 – Padrão anastomosado126

O padrão anastomosado pode de formar a partir de processos erosivos, com o


desmatamento e remoção do solo pela água da chuva e transporte pelas águas dos
rios, depositando com a diminuição das forças das águas, o que representa o
assoreamento do leito dos rios. Outra possibilidade é o vazamento de rejeitos de
mineração, como foi o caso de Mariana.
A região de Mariana, Minas Gerais, sofreu no dia 5/11/15 um colapso
socioambiental com o rompimento de duas barragens que continham rejeitos da
exploração de ferro, pertencentes à empresa Samarco. A enxurrada destruiu a maior
parte da pequena cidade de Bento Rodrigues, causando mortes e perdas materiais
aos moradores. A forte corrente barrenta continuou causando impacto nos rios por
onde passou, comprometimento da qualidade ambiental, com o escurecimento das
águas pelo aumento da turbidez. É o caso do rio Doce, cuja biodiversidade aquática
foi prejudicada pelos materiais em suspensão, além das cidades situadas ao logo do
seu curso, que tiveram problemas com o abastecimento público, já que a água turva
prejudica o tratamento adequado para tornar a água potável.

126
Disponível em http://hydrobioloblog.blogvie.com/ Acessado em 2/12/13.

GEOGRAFIA
111
A Samarco, de propriedade Vale e a BHP Billiton, ainda está providenciando da
reconstrução de Bento Rodrigues e ressarcimento econômico das famílias atingidas.
O padrão anastomosado se formou nos leitos dos rios em Mariana, decorrente da
enxurrada de lama e entulho, assoreando e entulhando abruptamente o leito e
várzea dos rios com vários metros de detritos e sedimentos, conforme a figura a
seguir registra.

Figura 5 – Leito de rio com padrão anastomosado após derrame de lama e rejeitos minerais no
município de Mariana.

Os rios podem ser classificados de acordo com a sua desembocadura, podem


ser de ser aberta ou exorreira quando o rio desagua diretamente no mar, como é o
caso do Rio Amazonas, que desemboca diretamente no Oceano Atlântico. A Figura
5 apresenta a desembocadura aberta do Rio São Francisco no Atlântico.

GEOGRAFIA
112
Figura 6 – Desague do Rio São Francisco no Oceano Atlântico como exemplo de desembocadura
aberta ou exorreica127.

Os rios que desaguam suas águas em outro rio ou lago são chamados de rios
com desembocadura fechada ou endorreica, como é o caso da confluência dos rios
Ródano e Arve, na cidade de Genebra, Suíça (Figura 6).

127
Laboratório Georioemar da Universidade Federal de Sergipe e Projeto Águas do São Francisco/ Sergipetec . Disponível
http://www.ufs.br/conteudo/16303 Acessado em 16/11/18.

GEOGRAFIA
113
Figura 7 - Confluência dos rios Ródano e Arve, na cidade de Genebra, Suíça, como exemplo de
desembocadura fechada ou endorreica128.

A desembocadura difusa ou arreica significa que o rio não chega a


desembocar, pois o fluxo d’água perde o volume. É o caso dos rios temporários nos
desertos e por isso não apresenta estruturação hidrográfica. A fotografia a seguir
(Figura 7) apresenta parte da bacia arreica de Rhea, deserto da Líbia, que indica a
passagem da água pela presença da areia mais clara.

128
Disponível https://www.myswitzerland.com/pt/sentier-du-rhone-from-the-city-on-the-rhone-river.html Acessado em
16/11/18.

GEOGRAFIA
114
Figura 8 – Área da bacia de Rhea, no deserto da Líbia, sendo que a parte mais clara da areia indica a
passagem de rio temporário, sendo exemplo de desembocadura difusa ou arreica129.

A desembocadura subterrânea ou criptorreica corresponde à situação onde a


água do rio deixa de percorrer na superfície por ingressar por um sorvedouro ou
sumidouro, presentes em áreas de formações areníticas, com criação das cavernas,
chamado de relevo cárstico. As águas podem surgir posteriormente em fontes ou
juntar-se à drenagem superficial ao sair das cavernas. A próxima figura registra a
queda d’água no Buraco do Padre, Ponta Grossa, que é um sorvedouro para a
entrada de rio superficial que passa a correr dentro da estrutura subterrânea.

129
Disponível https://es.wikipedia.org/wiki/Cuenca_arreica Acessado em 16/11/18.

GEOGRAFIA
115
Figura 9 – Buraco do Padre é um sorvedouro localizado em Ponta Grossa, Paraná, que recebe água
de rio superficial, sendo exemplo de desembocadura criptorreica ou subterrânea 130.

130
Diário dos Campos. Disponível https://www.diariodoscampos.com.br/noticia/acoes-buscam-incentivar-turismo-nos-campos-
gerais Acessado em 16/11/18.

GEOGRAFIA
116
Aula 23 – Bacias Hidrográficas no Brasil

Nesta aula conheceremos as bacias brasileiras, que compartimentam o


território nacional em unidades naturais. Podemos identificar no Brasil oito bacias
hidrográficas, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), localizadas na Figura 1.

Figura 1 – Bacia Hidrográficas do Brasil131


O IBGE também compartimenta o país em bacias hidrográficas e adota o
conceito de Regiões Hidrográficas, articulando os recursos hídricos aos projetos
governamentais de desenvolvimento regional no Brasil.
As bacias hidrográficas brasileiras são consideradas muito densas, pois os
rios destacam-se pela extensão, largura e profundidade (Figura 2). Por conta da
topografia do território, predominam os rios de planalto que apresentam em seu leito

131
Adaptado de ANA – Agência Nacional de Águas. Disponível em
http://blogmurilocardoso.files.wordpress.com/2012/01/bacias_hidrograficas.png Acessado em 6/12/13

GEOGRAFIA
117
rupturas de declive, vales encaixados, entre outras características, que lhes
conferem um alto potencial para a geração de energia elétrica.

Figura 2 – Regiões Hidrográficas do Brasil132

As condições de navegação não são muito interessantes devido ao perfil não


regularizado, exceção feita ao rio Amazonas e o Paraguai que são rios
predominantemente de planície e utilizados para a navegação. Os rios São
Francisco e Paraná são os principais rios de planalto no país.
As nascentes dos rios das mais importantes bacias brasileiras localizam no
Planalto Central Brasileiro, sendo da Amazônica, afluentes da margem direita,
Platina e a do São Francisco. No Planalto das Guianas, localizam as nascentes dos
rios da margem esquerda da bacia Amazônica, que é maior bacia hidrográfica do
mundo.
Os rios brasileiros são majoritariamente perenes, ou seja, são rios que não
secam, com exceção daqueles do semi-árido nordestino, que são intermitentes.
132
Adaptado do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística por Murilo Cardoso. Disponível em
http://blogmurilocardoso.files.wordpress.com/2012/01/bacias_hidrograficas.png Acessado em 6/12/13

GEOGRAFIA
118
Desse modo, os rios brasileiros apresentam o regime pluvial, onde as chuvas são a
fonte principal de suas águas, com períodos de cheias e de secas, vinculado às
condições de distribuição sazonal das precipitações. Entretanto o rio Amazonas e o
Solimões têm regime misto, porque, além das chuvas, parte de suas águas
procedem das neves derretidas durante o verão na Cordilheira dos Andes. Portanto,
o rio Amazonas apresenta regime misto, de origem nival e pluvial.
O Brasil possui poucos lagos, que podem ser agrupados em costeiros,
formados pelo fechamento de uma restinga ou cordão arenoso, como é o caso das
lagoas dos Patos, Mirim e Mangueira, no Rio Grande do Sul; Araruama e Rodrigo de
Freitas, no Rio de Janeiro. Outros lagos têm origem fluviais ou de transbordamento
de cursos fluviais, como os lagos Manacapuru, no Amazonas, e Mandioré e
Cáceres, em Mato Grosso. Existem também os lagos originados de processos
mistos, de origem costeiro e fluvial, como é o caso da Lagoa Feia, no Rio de Janeiro,
e o lago Manguaba, em Alagoas.
A drenagem das bacias fluviais brasileiras é exorréica, isto é, o nível de base
do rio principal corresponde ao nível do mar, onde está a foz ou desembocadura dos
rios principais. A desembocadura da maioria dos rios brasileiros ocorre na forma de
foz estuarina, como é o caso do rio São Francisco. A forma de delta ocorre no rio
Parnaíba, entre os estados do Maranhão e Piauí.
Embora tenham muitos rios navegáveis, as hidrovias representam os meios
de transportes menos utilizados em nosso país, ao contrário do que ocorre em
países de dimensões continentais, pois são os transportes mais baratos e com maior
capacidade de carga.
O Brasil apresenta o terceiro maior potencial hidrelétrico da Terra, visto que a
maioria dos seus rios tem origem no planalto. A exceção é o rio Paraguai, que é de
planície. O maior aproveitamento desse potencial hidrelétrico ocorre no rio Paraná,
exatamente para atender à demanda energética do Sudeste, e no rio São Francisco.
O Quadro 1 apresenta as principais usinas hidrelétricas que exploram o potencial
hidrelétrico disponível no país. Nele podemos constatar que a Usina Hidrelétrica de
Itaipu tem a maior capacidade de produção de eletricidade, seguida da usina de
Tucuruí e Ilha Solteira.
Usina Localização Capacidade
(MW)

GEOGRAFIA
119
Região Norte

Belo Monte Rio Xingú 11.233

São Luiz do Tapajós Rio Tapajós 8.381

Tucuruí Rio Tocantins 3.980

Jirau Rio Madeira 3.300

Santo Antônio Rio Madeira 3.300

Jatobá Rio Tapajós 2.338

Balbina Rio Uatumã 250

Região Nordeste

Xingó Rio São Francisco 3.162

Paulo Afonso Rio São Francisco 2.462

Itaparica Rio São Francisco 1.500

Sobradinho Rio São Francisco 1.050

Moxotó Rio São Francisco 439

Região Sudeste

Ilha Solteira Rio Paraná 3.444

Porto Primavera Rio Paraná 1.854

São Simão Rio Paranaíba 1.715

Água Vermelha Rio Grande 1.380

Emborcação Rio Paranaíba 1.192

Três Irmãos Rio Tietê 808

Nova Ponte Rio Araguari 510

Jaguara Rio Grande 426

Três Marias Rio São Francisco 388

Região Sul

Itaipu Rio Paraná 14.000

Foz do Areia Rio Iguaçu 2.511

Salto Osório Rio Iguaçu 1.050

Capivara Rio Paranapanema 640

GEOGRAFIA
120
Itaúba Rio Jacuí 625

Parigot de Souza Rio Capivari 247

Região Centro-Oeste

Itumbiara Rio Paranaoba 2.080

Jupiá Rio Paraná 1.411

Quadro 1 – Principais usinas hidrelétricas no Brasil 133


A instalação de novas usinas hidrelétricas tem ocorrido na Região Norte e
provocado debate sobre os impactos ambientais e sociais causado em nível local e
regional. Foi o caso da Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, cujo investimento do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pretendia promover o
desenvolvimento social e econômico na Região Norte, especialmente às cidades de
Altamira, Vitória do Xingu e Brasil Novo, no estado do Pará, as mais próximas ao
empreendimento. O discurso do governo valorizou a construção da Usina de Belo
Monte para atender a projetos de desenvolvimento regionais e nacionais, gerando
um discurso na mídia de convencimento sobre a urgência do empreendimento.

133
Disponível em http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/recursos_hidricos/hidreletricas_no_brasil.html Acessado em
17/11/18.

GEOGRAFIA
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Figura 2 – Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu 134.
As populações que foram atingidas diretamente pela barragem, no caso dos
povos indígenas e ribeirinhos, buscaram apoio contra o empreendimento, na medida
em que a energia gerada em Belo Monte é consumida em centros urbanos
distantes, como já ocorreu com Balbina e Tucuruí.
Outra questão atual é a transposição do rio São Francisco, projeto que vem
sendo executado e foi difundida por muitos políticos como a obra capaz de redimir o
sertão nordestino das dificuldades com a falta de chuvas. Parte das águas do rio
será transferida para cursos intermitentes do sertão, como uma solução para os
problemas econômicos e sociais da Região Nordeste.
O geógrafo Aziz Ab’Saber sempre foi contra a transposição e deixou
registradas as suas ideias no texto de 2005, “A quem serve a transposição do Rio
São Francisco?”, onde revela parte do interesses políticos envolvidos na realização
do empreendimento. O autor denuncia a falta de um planejamento baseado na
realidade, que avaliasse a importância da transposição frente aos impactos
socioambientais que serão causados na região.
Ab’Saber preocupava-se com a perda da cultura regional, criada na contínua
adaptação do homem ao meio. atento às dinâmicas naturais do semi-árido, como os
‘vazanteiros’, que cultivam anualmente no leito seco dos rios, abastecendo as feiras
locais. Em contrapartida, os pecuaristas terão água disponível o ano todo para
alimentar o gado.
Ele expõe a fragilidade do rio São Francisco para atender durante os meses
mais secos à demanda de abastecer os rios que receberão as suas águas (Figura 1)
e a produção de energia nas usinas hidrelétricas.
Sendo um texto tão polêmico, ele foi colocado na íntegra na parte final desta
aula, para que possa ser lido, avaliado e adaptado ao aluno do ensino Fundamental
e Médio, permitindo uma melhor análise da transposição do rio São Francisco.

134
Disponível em http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/recursos_hidricos/hidreletricas_no_brasil.html Acessado em
17/11/18.

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Figura 3 – Transposição das águas do rio São Francisco135

A quem serve a transposição do São Francisco?136 Aziz Ab’Saber Aziz

É compreensível que em um país de dimensões tão grandiosas, no contexto da tropicalidade, surjam


muitas idéias e propostas incompletas para atenuar ou procurar resolver problemas de regiões
críticas. Entretanto, é impossível tolerar propostas demagógicas de pseudotécnicos não preparados
para prever os múltiplos impactos sociais, econômicos e ecológicos de projetos teimosamente
enfatizados.Tem faltado a eventuais membros do primeiro escalão dos governos qualquer
compromisso com planificação metódica e integrativa, baseada em bons conhecimentos sobre o
mundo real de uma sociedade prenhe de desigualdades.Nesse sentido, bons projetos são todos
aqueles que possam atender às expectativas de todas as classes sociais regionais, de modo
135
Disponível em http://professormarcianodantas.blogspot.com.br/2012/07/transposicao-das-aguas-do-sao-francisco.html
Acessado em 3/10/12.

136
Disponível em http://www.brasilcidadao.org.br/noticias/textos.asp?id=85 Acessado em 8/12/13.

GEOGRAFIA
123
equilibrado e justo, longe de favorecer apenas alguns especuladores contumazes. Pessoalmente,
estou cansado de ouvir propostas ocasionais, mal pensadas, dirigidas a altas lideranças
governamentais. Nas discussões que ora se travam sobre a questão da transposição de águas do
São Francisco para o setor norte do Nordeste Seco, existem alguns argumentos tão fantasiosos e
mentirosos que merecem ser corrigidos em primeiro lugar.Referimo-nos ao fato de que a transposição
das águas resolveria os grandes problemas sociais existentes na região semi-árida do Brasil. Trata-se
de um argumento completamente infeliz lançado por alguém que sabe de antemão que os brasileiros
extra-nordestinos desconhecem a realidade dos espaços físicos, sociais, ecológicos e políticos do
grande Nordeste do país, onde se encontra a região semi-árida mais povoada do mundo. O Nordeste
Seco, delimitado pelo espaço até onde se estendem as caatingas e os rios intermitentes, sazonários
e exoreicos (que chegam ao mar), abrange um espaço fisiográfico socioambiental da ordem de
750.000 quilômetros quadrados, enquanto a área que pretensamente receberá grandes benefícios
abrange dois projetos lineares que somam apenas alguns milhares de quilômetros nas bacias do rio
Jaguaribe (Ceará) e Piranhas/Açu, no Rio Grande do Norte. Portanto, dizer que o projeto de
transposição de águas do São Francisco para além Araripe vai resolver problemas do espaço total do
semi-árido brasileiro não passa de uma distorção falaciosa.

Um problema essencial na discussão das questões envolvidas no projeto de transposição de águas


do São Francisco para os rios do Ceará e Rio Grande do Norte diz respeito ao equilíbrio que deveria
ser mantido entre as águas que seriam obrigatórias para as importantíssimas hidrelétricas já
implantadas no médio/baixo vale do rio -Paulo Afonso, Itaparica, Xingó. Devendo ser registrado que
as barragens ali implantadas são fatos pontuais, mas a energia ali produzida, e transmitida para todo
o Nordeste, constitui um tipo de planejamento da mais alta relevância para o espaço total da
região.De forma que o novo projeto não pode, em hipótese alguma, prejudicar o mais antigo, que
reconhecidamente é de uma importância areolar. Mas parece que ninguém no Brasil se preocupa em
saber nada de planejamentos pontuais, lineares e areolares. Nem tampouco em saber quanto o
projeto de interesse macrorregional vai interessar para os projetos lineares em pauta. Segue-se na
ordem dos tratamentos exigidos pela idéia de transpor águas do São Francisco para além Araripe a
questão essencial a ser feita para políticos, técnicos acoplados e demagogos: a quem vai servir a
transposição das águas? Uma interrogação indispensável em qualquer projeto que envolve grandes
recursos, sensibilidade social e honestas aplicações dos métodos disponíveis para previsão de
impactos. Os ‘vazanteiros’ que fazem horticultura no leito dos rios que ‘cortam’ -que perdem fluxo
durante o ano- serão os primeiros a ser totalmente prejudicados. Mas os técnicos insensíveis dirão
com enfado: ‘A cultura de vazante já era’.
Sem ao menos dar qualquer prioridade para a realocação dos heróis que abastecem as feiras dos
sertões. A eles se deve conceder a prioridade maior em relação aos espaços irrigáveis que viessem a
ser identificados e implantados.
De imediato, porém, serão os fazendeiros pecuaristas da beira alta e colinas sertanejas que terão
água disponível para o gado, nos cinco ou seis meses que os rios da região não correm. É possível
termos água disponível para o gado e continuarmos com pouca água para o homem habitante do
sertão.Nesse sentido, os maiores beneficiários serão os proprietários de terra, residentes longe, em
apartamentos luxuosos em grandes centros urbanos.Sobre a viabilidade ambiental pouca coisa se
pode adiantar, a não ser a falta de conhecimentos sobre a dinâmica climática e a periodicidade do rio
que vai perder água e dos rios intermitentes-sazonários que vão receber filetes das águas
transpostas. Um projeto inteligente e viável sobre transposição de águas, captação e utilização de
águas da estação chuvosa e multiplicação de poços ou cisternas tem que envolver obrigatoriamente
conhecimento sobre a dinâmica climática regional do Nordeste. No caso de projetos de transposição
de águas, há de ter consciência que o período de maior necessidade será aquele que os rios
sertanejos intermitentes perdem correnteza por cinco a sete meses. Trata-se, porém do mesmo
período que o rio São Francisco torna-se menos volumoso e mais esquálido. Entretanto, é nesta
época do ano que haverá maior necessidade de reservas do mesmo para hidrelétricas regionais.
Trata-se de um impasse paradoxal, do qual, até agora, não se falou. Por outro lado, se esta água tiver
que ser elevada ao chegar a região final de seu uso, para desde um ponto mais alto descer e
promover alguma irrigação por gravidade, o processo todo aumentará ainda mais a demanda regional
por energia. E, ainda noutra direção, como se evitará uma grande evaporação desta água que

GEOGRAFIA
124
atravessará o domínio da caatinga, onde o índice de evaporação é o maior de todos? Eis outro ponto
obscuro, não tratado pelos arautos da transposição. A afoiteza com que se está pressionando o
governo para se conceder grandes verbas para início das obras de transposição das águas do São
Francisco terá conseqüências imediatas para os especuladores de todos os naipes. Existindo dinheiro
- em uma época de escassez generalizada para projetos necessários e de valor certo -, todos julgam
que deve ser democrática a oferta de serviços, se possível bem rentosos. Será assim, repetindo fatos
do passado, que acontecerá a disputa pelos R$ 2 bilhões pretendidos para o começo das obras. O
risco final é que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul
da chapada do Araripe -com grande gasto de energia!-, a transposição acabe por significar apenas
um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, de grande custo, e que
acabaria, sobretudo, por movimentar o mercado especulativo, da terra e da política. No fim, tudo
apareceria como o movimento geral de transformar todo o espaço em mercadoria. (Folha de SP,
20/2)

GEOGRAFIA
125
Aula 24 – Ação integradora das bacias hidrográficas

O desenvolvimento científico e tecnológico tem permitido ao homem tanto


transformar desertos em áreas férteis, como o controle das vazões. Todo esse
domínio das águas depende de obras gigantescas de alto custo. O homem,
inadvertidamente, arrisca-se não somente na agricultura, mas na instalação de
habitações, na formação de cidades, no estabelecimento de indústrias, na criação
de vias de acesso, transformando os períodos de cheias em verdadeiras catástrofes.
Os problemas urbanos como a ocupação desordenada, principalmente em áreas
próximas aos mananciais, tornam-se uma das causas de alterações no ciclo
hidrológico e nos fluxos hídricos. O aumento de construções e a cobertura asfáltica
têm modificado o sistema de drenagem, diminuindo a recarga subterrânea e
provocando enchentes nas áreas urbanas. O desmatamento das cabeceiras e
nascentes e a drenagem de áreas para a agricultura em regiões do entorno urbano
têm favorecido o quadro que afeta muitos municípios de pequeno à grande porte no
Brasil.
Existem dificuldades do tratamento dos recursos hídricos por unidade físico-
naturais, porque os limites políticos e administrativos geralmente não coincidem com
os divisores de águas, que são os limites naturais das bacias hidrográficas. Muitos
rios atravessam ou são limites de mais de um município, de estados e até de países.
Interesses contrastantes acarretam múltiplas interferências na área da mesma bacia,
criando conflitos de uso das águas, de planos e de ações. Nesses casos, a
quantidade e a qualidade das águas de uma bacia hidrográfica são prejudicadas em
virtude da ação antrópica no processo de escoamento e do uso e ocupação
inadequada do solo. Portanto, os desequilíbrios das paisagens se originam, em
maioria, por se desconsiderar o conjunto de elementos dessas paisagens, sejam
eles, naturais ou sociais. A bacia hidrográfica, como unidade integradora, se
constitui na forma de minimizar os impactos ambientais resultante.
A ação do clima e da dinâmica tectônica local fornece energia que é eliminada
por fluxos energéticos através do movimento da água com seus sedimentos e
materiais solúveis. Verificam-se constantes ajustes internos na bacia de drenagem,

GEOGRAFIA
126
tanto nos elementos das formas, quanto nos processos a eles associados, em razão
das mudanças de entrada e saída de energia. O auto-ajuste integra uma visão
conjunta de comportamento das condições naturais e das ações humanas ali
desenvolvidas. Mudanças de comportamento físico e social podem promover
alterações, efeitos e impactos a jusante e nos fluxos energéticos de saída (descarga,
cargas sólidas e dissolvidas). Essas mudanças podem alterar os tipos de leitos e
canais. As bacias de drenagem, pela visão integradora, se constituem excelentes
áreas de estudo para planejamento.
Atualmente o homem tem sido um elemento que potencializa os processos
modificadores e de desequilíbrio da paisagem. Estudos apontam que o
comportamento da descarga e da carga sólida dos rios têm sido alterados pela ação
direta e indireta do homem, modificando canais através de obras de engenharia ou
atividades humanas desenvolvidas nas bacias hidrográficas.
O clima e solos, a geologia e a topografia podem contribuir para a erosão
potencial das encostas e o desequilíbrio ambiental das bacias hidrográficas. Muitas
vezes, os fatores naturais iniciam os desequilíbrios, que serão acelerados pelo
homem e suas atividades na bacia de drenagem. Entretanto a ação humana causa
inúmeros danos ao ambiente, como o caso que será apresentado a seguir, que
expõe a condição da Baixada do Ribeira, que passou por inúmeras transformações
para atender às demandas políticas e econômicas locais.
Segundo Santos137, no início do século XIX, o município de Iguape, litoral sul de
São Paulo, destacava-se na economia regional por produzir o “arroz de Iguape”, que
era consumido em diferentes cidades, especialmente o Rio de Janeiro.
A produção do arroz regional era escoada através do rio Ribeira do Iguape, que
tem o porto fluvial de Iguape, onde canoas eram descarregadas e o arroz
transportado por terra até o porto marítimo de Iguape, percorrendo a distância de
três quilômetros. Alguns produtores preferiam continuar seguindo o rio até a foz,
manobrando para entrar no Mar Pequeno para chegar ao porto marítimo de Iguape.

137
SANTOS, A.R. Valo Grande: uma ferida aberta de enorme carga didática. Ambiente Brasil. 17/6/07. Disponível em
http://noticias.ambientebrasil.com.br/artigos/2007/06/19/31786-valo-grande-uma-ferida-aberta-de-enorme-
carga-didatica.html Acessado em 16/11/18.

GEOGRAFIA
127
A dificuldade de acesso ao porto marítimo levou os políticos e empresários locais
a planejar e escavar um canal artificial, chamado de “Valo”, estreito e com cerca de
dois quilômetros de extensão, ligando diretamente o porto fluvial e o porto marítimo.
O canal foi concluído em 1855 e suas dimensões foram lentamente
transformadas pela dinâmica do rio Ribeira do Iguape, que ampliou a largura inicial
de quatro metros e meio para duzentos metros em cinquenta anos de existência, o
que acabou criando uma outra ilha, com parte da cidade de Iguape nela (Figura 1).
O canal passou a ser conhecido como “Valo Grande”
A força erosiva das águas destruiu áreas agrícolas e urbanizadas, sendo que os
sedimentos foram depositados justamente no porto marítimo, inutilizando-o.
Muitas outras alterações foram introduzidas no ambiente, como mudanças na
temperatura e salinidade, modificando a vida aquática, como o desaparecimento de
diferentes espécies de peixes que sustentavam as famílias da região.

Figura 1 – Região do Baixo Ribeira do Iguape, alterada pela construção do Valo Grande 138
A quantidade de águas que desembocava pela foz original do Rio Ribeira
diminuiu a menos de metade do volume inicial, diminuindo as dimensões originais do
estuário. O aumento da vazão do Ribeira do Iguape pelo Valo Grande provocou o
assoreamento do Mar Pequeno, que hoje apresenta novas ilhas.
Atendendo à população local, o governo estadual construiu em 1978 uma
barragem que fechou o Valo Grande, interrompendo o processo de erosão,

138
Adapatado de http://www.google.com.br/intl/pt-PT/earth/ Acessado em 16/11/18.

GEOGRAFIA
128
transporte e deposição de sedimentos do Ribeira do Iguape naquela área. O rio
passou a buscar um novo equilíbrio, ocasionando consequências aos moradores e
às dinâmicas naturais da região.
Como a foz do Ribeira do Iguape havia diminuído de tamanho durante o uso
do Valo Grande, parte de seu curso foi sendo assoreado, criando áreas novas que
não eram inundadas e foram ocupadas pela cultura da banana. Com a barragem,
sucessivas inundações causaram prejuízos enormes aos bananais e a outras partes
da região.
A barragem, que era uma solução, passou a causar as grandes inundações,
sendo rompida precariamente pela própria população, retornando o movimento do
rio no Valo Grande. Uma nova barragem foi proposta, com vertedouros e comportas
que seriam usados para o controle das águas no período chuvoso, controlando as
cheias. Além da barragem, foi proposta a instalação de estruturas para conter o
processo de erosão fluvial em profundidade e nas margens do Valo Grande. As
obras foram terminadas em 1993, mas não concluídas, pois o vertedouro e as
comportas não foram executados por falta de verba. Uma consequência imediata foi
o acúmulo de detritos a montante da barragem, conforme podemos observar nas
imagens e fotografia a seguir.

Figura 2 – Localização da barragem no Valo Grande 139.


139
Adapatado de http://www.google.com.br/intl/pt-PT/earth/ Acessado em 6/12/13.

GEOGRAFIA
129
Figura 3 – Detritos originados a montante do Ribeira do Iguape são acumulados pela barragem no
Valo Grande140.

Figura 4 – Detritos acumulados na barragem em 2008141

140
Adaptado de http://www.google.com.br/intl/pt-PT/earth/ Acessado em 6/12/13.
141
Disponível em http://www.flickr.com/photos/leandrotribeiro/6006973678/ Acessado em 6/12/13.

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130
A estrutura da barragem já está deteriorada, comprometendo qualquer iniciativa
de readaptação da obra, deixando mais este exemplo de descaso com a população
local e a natureza. Em novos episódios de inundações, os debates se inflamam,
entre os agricultores, que atribuem as inundações ao fechamento do valo, e os
ambientalistas, que defendem a manutenção da barragem para a recuperação dos
ambientes do Mar Pequeno às condições anteriores ao Valo Grande.

GEOGRAFIA
131
Resumo da Unidade III

Essa unidade é de fundamental importância para compreender as dinâmicas


das águas superficiais, especialmente os rios, avaliados enquanto agentes
modeladores do relevo a partir do ciclo da erosão fluvial. Estudamos as
peculiaridades dos rios e na sua organização enquanto bacias hidrográficas,
estrutura natural valorizada para sua aplicação em projetos interdisciplinares para
planejamento territorial, pela ação integradora que as bacias apresentam.

Referências Bibliográficas da Unidade III

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia fluvial. São Paulo: Editora Edgard Blücher,


1981.

CUNHA, S. D. da; GUERRA, A. J. T.( Org.) Geomorfologia: exercícios, técnicas e


aplicações. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

SUGUIO, K. e BIGARELLA, J.J. Ambientes fluviais. Florianópolis. Goti da


Universidade, 1990.

GEOGRAFIA
132
Aula 25 – Desenvolvimento sustentável

Muitos processos ambientais ocorrem sem a ação do homem, sendo que para
caracterizar a degradação ambiental é necessário analisar os critérios sociais
direcionados ao uso da terra ou o potencial de diversos tipos de uso. A degradação
progressiva diminui a produtividade de determinada área, exigindo muitas vezes
grandes investimentos para a recuperação.
No Brasil, a produtividade agropecuária é mantida com a ocupação de novas
terras à medida que a degradação avança decorrente da contaminação pelo uso
intensivo dos fertilizantes e defensivos agrícolas.
No primeiro caso, a ocupação de novas terras requer o desmatamento e as áreas
abandonadas dificilmente conseguirão recuperar a biodiversidade que possuíam
antes de serem exploradas. No segundo caso, ocorre a possibilidade de ocorrer a
poluição do ar, das águas superficiais, dos solos e do lençol freático devido ao uso
de produtos químicos.
Os processos naturais como a formação dos solos, lixiviação, erosão,
deslizamentos, modificação dos regimes hidrológicos e da cobertura vegetal, podem
ser intensificados pela ação antrópica. Quando a sociedade desmata, planta,
constrói, transforma o ambiente, ela interfere nos processos naturais, que tendem a
se acentuarem. Nas áreas rurais, as desconsiderações aos limites impostos pela
natureza, tendem a desencadear processos erosivos acelerados. Dessa maneira,
pode-se avaliar que a degradação ambiental tem causas e consequências sociais.
As causas da degradação ambiental comumente são associadas ao crescimento
populacional e à crescente pressão aplicada ao meio físico. Estudos apontam que o
manejo inadequado do solo, seja em áreas rurais ou nas áreas urbanas, se constitui
na principal causa da degradação. A pressão demográfica com a necessidade de
obtenção de mais recursos naturais, associada à inadequação do uso do solo, cria
situações, muitas vezes, complexas e de difícil solução.
As causas naturais, juntamente com a ocupação humana desordenada, podem
acelerar a degradação, como as chuvas intensas, encostas desmatadas e íngremes,

GEOGRAFIA
133
dentre outras, podem desencadear desastres, com prejuízos materiais e perdas de
vidas humanas.
Em áreas rurais, o mau uso da terra, aliado à mecanização intensa e à
monocultura, provoca a erosão laminar, ravinas e voçorocas. Nas áreas urbanas,
uma das principais causas de degradação são os descalçamentos e o corte das
encostas para a construção de casas, prédios e ruas. Fatores naturais podem ser
potencializados devido ao mau uso da terra, provocando a desestabilização das
encostas, como nas construções de casas por população de baixa ou alta renda.
O desmatamento assume importância na degradação ambiental, porém não se
deve simplificar a questão, responsabilizando o desmatamento como causador de
degradação. As áreas agrícolas necessitam desmatar grandes extensões para seu
desenvolvimento e, quando bem executadas, conseguem evitar a erosão dos solos
e os demais processos de degradação. Neste caso, devendo-se deixar intactos os
mananciais, possibilitando a continuação do abastecimento de água e a condição de
refúgio para a fauna.
Preocupada com a degradação ambiental no mundo, a ONU organizou a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio
de Janeiro em 1992.
A Declaração do Rio elaborou um documento com vinte e sete princípios inter-
relacionados, estabelecidos com base no desenvolvimento sustentável em escala
global, fixando direitos e obrigações individuais e coletivos. A Agenda 21 propõe a
melhora da qualidade social, econômica e ambiental dos assentamentos humanos e
das condições de vida e de trabalho de todas as pessoas, especialmente dos pobres
de áreas urbanas e rurais.
Aconselha também a se valer do planejamento ambiental para prevenir a
ocorrência de desastres, incluindo pesquisas sobre riscos pertinentes a habitações,
depósito de resíduos sólidos e outras atividades. Propõe a criação de um organismo
mundial de especialistas em emergência, pois a reabilitação e a reconstrução, após
os desastres, pressupõem uma parceria da comunidade internacional.
Muitas das prospecções da Agenda 21 se configuraram irreais diante da crise
econômica global, no início do século XXI, mas o documento ainda constitui

GEOGRAFIA
134
importante base referencial para ações em todo mundo, no que diz respeito à
configuração do novo paradigma ambiental.

GEOGRAFIA
135
Aula 26 – Disponibilidade hídrica

Nesta aula vamos conhecer a importância da conservação dos mananciais


para garantir a disponibilidade hídrica, especialmente para o abastecimento da
população.
A água doce tem diferentes usos, como o abastecimento público, a geração
de energia, a irrigação pela agricultura, a navegação, entre outros. O aumento do
consumo tem criado um cenário de escassez decorrente da degradação
generalizada dos mananciais, como a perda de fontes ou nascentes, seja pelo
desmatamento em área rurais ou a impermeabilização nas cidades, entre outras
formas. A contaminação das águas por efluentes domésticos, agrícolas ou
industriais, lançados sem tratamento nos cursos de água superficiais, compromem a
qualidade das águas superficiais e subterrâneas para o consumo.
As águas podem ser poluídas e contaminadas por diferentes fontes. A
poluição das águas pode ocorrer pelo lançamento de substâncias ricas em matéria
orgânica, que são alimentos para os microrganismos, favorecendo o aumento de
sua população, que consumirá mais do oxigênio disponível na água. É o caso de
bactérias que se alimentam do esgoto doméstico, usadas inclusive nas estações de
tratamento de esgotos.
O consumo excessivo do oxigênio pelos microrganismos prejudicará outros
seres aquáticos, como os peixes, que morrerão asfixiados na água. Alguns
poluentes exigem uma alta demanda bioquímica de oxigênio ou demanda biológica
de oxigênio (DBO) para biodegradar a matéria orgânica presente na água. Um litro
de esgoto necessita de 300 miligramas de oxigênio para ser degradado. Como um
litro de água tem 10 miligramas de oxigênio, serão necessários 30 litros de água
para tratar um de esgoto.
Substâncias tóxicas lançadas por indústrias e áreas agrícolas, como
inseticidas, herbicidas e fungicidas, persistem nos rios e reservatórios, podendo
sedimentar no leito ou ser consumido por microrganismos e peixes, contaminando a
cadeia alimentar. Foi o caso na Baia de Minamata, Japão, onde mais de duas mil
pessoas morreram contaminadas por mercúrio de origem industrial durante os anos

GEOGRAFIA
136
1950. Os exploradores de ouro no leito dos rios na Amazônia usam mercúrio e a
contaminando de ribeirinhos vem ocorrendo pelo consumo de peixes contagiados. O
mercúrio causa doenças de origem neurológica, sendo que ele se acumula no
organismo de quem o consome.
A coleta e o tratamento do esgoto são muito importantes para prevenir
doenças e garantir a qualidade ambiental, mas no Brasil menos da metade da
população é atendida por esses serviços. Segundo o Ministério das Cidades 142, até
2012, apenas 48% dos brasileiros tinham o esgoto coletado, entretanto 60% do total
de esgoto gerado no país é lançado diretamente nos rios e oceano, sem receber
qualquer tipo de tratamento.
A Constituição Brasileira indica que a função primordial das águas no país é o
abastecimento público, através do acesso à água potável pela população brasileira.
Em qualquer situação de disputa, o abastecimento público é privilegiado na decisão.
A Lei das Águas, de 1997, institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, garantindo o
abastecimento humano e a dessedentação animal em situações de escassez. A lei
prevê também a gestão dos usos da água por bacias hidrográficas, através de
Comitês de Bacias Hidrográficas.
Cada bacia hidrográfica deve ter o seu comitê, que possui atribuições
normativa, deliberativa e consultiva, sendo composto por representantes dos
diferentes setores da sociedade, como a população, as organizações da sociedade
civil e o poder público municipal. Os poderes públicos estaduais e federais
participam dos comitês onde existam conflitos ou interesses nessas instâncias de
governo, como bacias compartilhadas por diferentes estados e municípios.
A agricultura é o setor da economia que mais utiliza a água no mundo, em
cerca de 70% do total. No Brasil não é diferentes, com a agricultura irrigada
consumindo 46% do total disponível, o uso doméstico utiliza 27%, seguido da
indústria e, por último, a pecuária143.

142
Instituto Trata Brasil, disponível em http://www.tratabrasil.org.br/detalhe.php?secao=20 Acessado em 7/12/13.

143
Dados da ANA (Agência Nacional das Águas), disponível em
http://www.dge.apta.sp.gov.br/publicacoes/T&IA/T&IAv1n1/Revista_Apta_Artigo_Agricultura.pdf Acessado em 7/12/13.

GEOGRAFIA
137
Com tantas demandas para o uso da água enquanto recurso natural, não é
difícil questionar sobre a sua efetiva disponibilidade no mundo. Nesse sentido, o
Instituto Internacional de Gerenciamento de Água 144 divulgou, em 2006, um relatório
avaliando a escassez de água no mundo, sendo que a Figura 1 detalha a
distribuição da escassez, que pode ser de dois tipos.

Figura 1 – Escassez de água no mundo.


A primeira é a escassez econômica, decorrente a carência de investimentos
na infraestrutura, de modo a garantir o abastecimento para a população. A segunda
é a escassez física, que ocorre nas regiões situadas em clima árido, onde a
população não dispõe de fontes naturais para atender ao seu consumo. O relatório
chama a atenção para a criação artificial de escassez de água, que ocorre pela
exaustão dos mananciais, mesmo em regiões onde a água é estimada como
abundante.

144
Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas. Disponível
em http://www.gvces.com.br/index.php?r=noticias/view&id=55181&0%5Bidioma_id%5D=&0%5Bidnoticia%5D=&0%5Bidusuario
%5D=&0%5Btitulo%5D=&0%5Btexto%5D=&0%5Bdatacad%5D=&0%5Bdatapub%5D=&0%5Bpublicado%5D=1&0%5Bfonte
%5D=&0 Acessado em 7/12/13.

GEOGRAFIA
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Aula 27 – Água potável

Nesta aula vamos saber que a água precisa passar por um tratamento para
se tornar potável, o que significa ser apropriada para o consumo humano.
Nem toda a população que tem acesso a água potável no Brasil. Segundo
dados do Instituto Trata Brasil 145 de 2016, 83,3%, dos brasileiros recebem água
tratada em suas moradias, fornecida pelo serviço público em áreas urbanas e rurais
do país. Significa que a água consumida pela população passou por tratamento para
torná-la potável, portanto dentro dos parâmetros de qualidade necessários para o
consumo humano. Vamos conhecer os procedimentos aplicados para tratar a água
em Estações de Tratamento de Água (ETA).
O abastecimento público envolve a captação da água em áreas de
mananciais próximas às localidades de consumo, seu bombeamento para a estação
de tratamento de águas (ETA), sua distribuição para os reservatórios e nova
distribuição para o consumidor.
A primeira etapa do tratamento na ETA ocorre no ingresso da água, quando
ainda está agitada (Figura 1), facilitando a mistura dos componentes que serão
adicionados, sendo o cloro, que irá eliminar a matéria orgânica presente na água, e
a cal ou soda, para controlar o grau de acidez (pH) durante o tratamento. Nessa
primeira etapa também é adicionado o coagulante sulfato de alumínio ou cloreto
férrico, que provocará a desestabilização elétrica da sujeira, de modo que ela se
agregará aos pequenos flocos que serão formados pelo coagulante.

145
Instituto Trata Brasil. Disponível em http://www.tratabrasil.org.br/saneamento/principais-
estatisticas/no-brasil/agua Acessado em 18/11/18.

GEOGRAFIA
139
Figura 1 – Agitação das águas em estação de tratamento de água 146
Na segunda etapa, a água terá a sua velocidade reduzida nas chicanas ou
floculadores, favorecendo a formação dos flocos para a aglutinação da matéria em
suspensão (Figura 2). Em seguida, a velocidade da água ficará menor ao passar
pelos tanques de decantação, onde a gravidade levará os flocos a se depositarem
no fundo dos tanques, enquanto a água flui lentamente pela parte superior, seguindo
para a próxima etapa.
Na terceira etapa, a água será filtrada em tanques que simulam as
características do solo, contendo cascalho e areia de granulação fina, média e
grossa, que retêm os últimos traços dos resíduos em suspensão. A água ingressa
pela parte superior do filtro, percorrendo-o por gravidade, e saindo na parte inferior,
sendo que a partir desta fase a água permanecerá reservada em tubulações,
protegida do contato com o ambiente para evitar qualquer contaminação.

146
Disponível em http://bairroeducador.blogspot.com.br/2011/10/ciep-maestro-heitor-villa-lobos-
vista.html Acessado em 7/12/13.

GEOGRAFIA
140
Figura 2 – Água com flocos passando pelas chicanas147
Na etapa final ocorre a correção do pH, para prevenir o desgaste das
tubulações, a desinfecção com cloro, evitando contaminação durante a distribuição,
e a fluoretação, que é a adição de flúor para a prevenção de cáries em crianças e
jovens.
Portanto toda a água que abastece uma cidade ou uma localidade rural deve
ser potável, passando pelo tratamento acima, de forma parcial ou completa, para
atender às especificidades necessárias ao consumo humano.
A boa qualidade inicial da água captada para tratamento determina quais
etapas deverão ser aplicadas, sendo que em ótimas condições ambientais dos
mananciais, apenas o cloro será adicionado para prevenir substâncias tóxicas e
organismos patogênicos, que causam doenças ao serem ingeridos, como a bactéria
da febre tifoide ou o vírus da hepatite infecciosa, entre outros.
É fundamental que a determinação do tipo de tratamento para tornar a água
potável seja feita por equipe técnica com competência para avaliar a qualidade da
água antes e após o tratamento. Do mesmo modo, a qualidade das águas de poços
deve ser avaliada regularmente, evitando os riscos com o consumo de águas
contaminadas por fontes distantes do poço.

147
Disponível em http://www.tratamentodeagua.com.br/r10/Biblioteca_Detalhe.aspx?codigo=355 Acessado em
7/12/13.

GEOGRAFIA
141
Aula 28 – Consumo de água

Nesta aula trataremos do consumo de água no mundo e da questão da


responsabilidade pelo abastecimento público nos países.
O consumo de água vem aumentando nos últimos anos e as projeções
indicam que parte da população no planeta não terá acesso para atender às
necessidades básicas de alimentação e higiene. Segundo a ONU 148, o consumo
aumentou em 2,4 vezes entre 1900 e 1950, passando de 580 para 1400 km³ anuais
de água. Entre 1950 e 2000 o aumento foi de 2,8 vezes, chegando a 4000 km³/ano.
Como já vimos, a distribuição das precipitações no planeta não é homogênea,
privilegiando algumas regiões, sendo que nove países concentram mais da metade
das reservas de água do planeta, sendo Estados Unidos, Canadá, Colômbia, Brasil,
República Democrática do Congo, Rússia, Índia, China e Indonésia. O Brasil possui
a maior parte da água doce superficial do mundo, somando 12% do total, graças às
extensas e volumosas bacias hidrográficas concentradas na Região Norte do Brasil,
como a Amazônica.
Além de prover o aumento no consumo, o abastecimento nas cidades
brasileiras tem desafios com o desperdício, como as perdas por vazamento durante
a distribuição, que pode chegar até 60% do total da água tratada. Outro problema é
o comprometimento dos mananciais decorrente do aumento da periferia das
cidades, causando a impermeabilização e contaminação dos cursos de água
superficiais e subterrâneos.
O cálculo do consumo de água nos países considera o gasto diário de uma
pessoa, sendo que o quadro a seguir apresenta os valores médios dos habitantes
nos doze países que mais gastam água no mundo.

148
Organização das Nações Unidas. A ONU e a água. Disponível em https://nacoesunidas.org/acao/agua/ Acessado em
18/11/18.

GEOGRAFIA
142
Consumo de água em 2012 per capita por dia
(em litros)

1. Estados Unidos -
7. Noruega - 301
575

2. Austrália - 493 8. França - 287

3. Itália - 396 9. Áustria - 250

4. Japão - 374 10. Dinamarca - 210

5. México - 366 11. Alemanha - 193

6. Espanha - 320 12. Brasil - 187

Quadro 1 – Consumo médio diário e individual em doze países 149


Esses países gastam mais água do que a quantidade recomendada pela
ONU, de 110 litros, sendo que a instituição internacional considerou em seu cálculo
o atendimento das necessidades com a alimentação e higiene pessoal. Em países
localizados no deserto do Saara, cada habitante consome diariamente apenas 10
litros.
Os cálculos das médias podem esconder valores maiores de consumo, como
é o caso do quadro a seguir que apresenta informações do Ministério das Cidades
(2013), identificando o consumo em cinco estados que estão acima da média
nacional.

149
Disponível em https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/consumo-agua-no-mundo.htm Acessado em 18/11/18.

GEOGRAFIA
143
Cinco estados com maior
consumo de água per capita
diária (em litros)

Rio de Janeiro 253

Maranhão 231

Amapá 195

Distrito Federal 190

São Paulo 188

Quadro 1 – Consumo médio diário e individual em cinco estados brasileiros 150

Práticas para a redução de consumo e do desperdício auxiliam na


conservação da água, diminuindo os gastos e resultando na conservação do recurso
hídrico. Os projetos de novas moradias poderiam prever o reuso da água de pias
para o vaso sanitário, bem como a coleta da chuva para utilização em lavagens de
pátios ou manutenção de áreas verdes. Boa parte das indústrias já utiliza água de
reuso para resfriamento, limpeza e manutenção de equipamentos.
No Brasil, todas as etapas do abastecimento público são de responsabilidade
dos governos municipais, bem como a ampliação da rede para o atendimento da
população e a redução dos elevados índices de desperdício por vazamento.
Também é de sua responsabilidade a conservação das áreas de mananciais, para
garantir a manutenção da quantidade e qualidade das águas captadas para o
abastecimento local, assegurando a saúde da população.
Diante de projeções catastróficas da falta de água no mundo nos próximos
anos, estrategistas defendem o controle da natalidade como solução, mas o Banco
Mundial acredita que o aumento do preço da água resultará na redução de
consumo, recomendando a privatização do abastecimento para a população.
No Brasil, a nossa conta de água inclui os gastos por todas as etapas do
abastecimento e o esgotamento sanitário (coleta da água servida e esgoto), bem
como a manutenção e ampliação das estruturas necessária. Portanto não pagamos
150
Disponível em https://exame.abril.com.br/brasil/onde-mais-se-consome-agua-no-brasil/ Acessado em 18/11/18.

GEOGRAFIA
144
pela água consumida, propriamente, mas pelos serviços envolvidos no seu
fornecimento. Para superar a precariedade do serviço público, gestores da área
propõem a privatização do setor, que, em tese, seria muito mais eficiente,
oferecendo um serviço melhor e mais barato.
Na maior parte da Europa, o serviço é realizado pelo Estado, sendo que as
privatizações têm causado muita polêmica. A privatização na Grã-Bretanha ocorreu
na década de 1980, sob a lógica de um serviço eficiente com custos baixos para o
consumidor. Entretanto o Estado precisou intervir em 1994, criando um sistema de
regulamentação dos preços, pois mais de dois milhões de famílias britânicas não
conseguiam pagar as suas contas de água.
Na França, as empresas Veolia Water, Suez Lyonnaise des Eaux e Saur
controlam 80% do mercado de água, sendo que os outros 20% pertencem ao setor
público. O valor da conta da água fornecida pelo setor privado custa cerca de 13% a
mais que a do setor público, o que tem levado à re-municipalização do serviço em
várias localidades francesas.
O exemplo sul-americano mais famoso é o de Cochabamba, na Bolívia, onde
um consórcio multinacional, liderado pela americana Bechtel Corporation, passou a
fornecer a água tratada a partir de janeiro de 2000. Como o valor da conta ficou
muito elevado, a população protestou e pressionou o governo a rescindir o contrato,
levando o setor público a assumir o abastecimento, que ainda se mantém precário
na maior parte da cidade.
Além da água consumida diretamente, é importante refletir sobre a sua
utilização na produção de várias mercadorias de uso e consumo constante, como
alimento e roupas. Trata-se da água de consumo indireto, chamada de água virtual,
sendo que as primeiras pesquisas foram feitas por Tony Allan 151, em 1993, que
estimou as quantidades de água necessárias para a produção de qualquer bem ou
produto, seja de origem animal, vegetal ou mineral. Os resultados são
surpreendentes e indicam, por exemplo, que um quilo de carne bovina precisa de
quinze mil litros de água virtual para chegar ao consumidor, enquanto um quilo de
arroz exige dois mil e quinhentos litros e uma calça jeans, precisa de mais de dez

151
Conceito sobre água virtual alerta sobre escassez. Disponível em http://www.webioenergias.com.br/artigos/1850/conceito-de-
agua-virtual-alerta-sobre-escassez.html Acessado em 10/12/13.

GEOGRAFIA
145
mil. Confira no quadro a seguir o gasto com outros produtos presentes no nosso
cotidiano.
PRODUTOS CONSUMO DE ÁGUA
VIRTUAL (em litros)
Um carro de passeio  14.800
Um litro de etanol  7.700
Um litro de suco de laranja  3.700
Um quilo de salsicha  11.535
Um quilo de carne de porco 6.309
Uma camiseta de algodão 2.900
Um hambúrguer  2.400
Um copo de cerveja 75
Um quilo de carne frango 3.918
Um quilo de queijo fresco 3.094
Um quilo de feijão 359
Um quilo de banana 859
Quadro 2 – Consumo de água virtual em alguns produtos 152

Os pesquisadores Arjen Hoekstra e Mesfin Mekonnen 153 calcularam a média


de consumo global por pessoa, que considera a água virtual. O consumo em 2013
era de 1.385 m³/ano de água (cerca de 3.794 litros por dia), sendo que ele varia
conforme o poder de consumo das populações, sendo de 2.842 m³/ano nos Estados
Unidos e 552 m³/ano República Democrática do Congo. Esse consumo é chamado
de pegada hídrica e no Brasil o consumo é de 2.027 m³/ano por habitante.
Ainda sobre o consumo virtual da água, a maior porcentagem do comércio da
água virtual concentra-se nos vegetais, correspondendo a 76% do total, sendo que
os produtos de origem animal e industrializados dividem igualmente os 24%
restantes. Portanto ao exportar frutas tropicais, por exemplo, o Brasil está
exportando também uma parte em água virtual.

1522.Idem.

153
Manual da Pegada Hídrica. Disponível em http://www.waterfootprint.org/downloads/ManualDeAvaliacaoDaPegadaHidrica.pdf
Acessado em 6/12/13.

GEOGRAFIA
146
Aula 29 – Inundações

Inundação é um evento natural que ocorre com periodicidade nos cursos


d’água, frequentemente deflagrados por chuvas fortes e rápidas ou de longa
duração, sendo o transbordamento de um canal de drenagem, atingindo as áreas
marginais, como a área de várzea. (TOMINAGA, SANTORO e AMARAL, 2009)154.
A inundação é diferente da enchente, pois esta tem o aumento do nível de
água do rio pela maior vazão, mas sem extravasar para a área de várzea. Outro
termo usado com muita frequência como sinônimo de inundação e enchente é o
alagamento, mas este é um acúmulo da precipitação nas ruas por problemas no
sistema de drenagem local. A Figura 1 ilustra a diferença entre inundações,
enchentes e alagamento.

Figura 1 – Ilustração das diferenças entre os termos inundação, enchente e alagamento 155
As inundações estão relacionadas com o volume e a força das precipitações,
capacidade de infiltração da precipitação no solo e características da bacia
hidrográfica, agravadas pela ocupação antrópica, como nas cidades, com a
impermeabilização do solo e o assoreamento dos rios.

154
TOMINAGA, L.K.; SANTORO, J.;AMARAL, R. (org). Desastres Naturais: conhecer para prevenir. Instituto Geológico, São
Paulo, 2009. 196 p. Disponível em http://www.igeologico.sp.gov.br/downloads/livros/DesastresNaturais.pdf Acessado em
20/11/18.

155
Serviços Geológico do Brasil CPRM. Disponível em https://defesacivil.es.gov.br/Media/defesacivil/Capacitacao/Material
%20Did%C3%A1tico/CBPRG%20-%202017/Processos%20Hidrol%C3%B3gicos%20%20-%20Inunda%C3%A7%C3%B5es,
%20Enchentes,%20Enxurradas%20e%20Alagamentos%20na%20Gera%C3%A7%C3%A3o%20de%20%C3%81reas%20de
%20Risco.pdf Acessado em 20/11/18.

GEOGRAFIA
147
Considerada como um desastre natural, a inundação é o fenômeno com
maior ocorrência no mundo. A ilustração a seguir representa os países mais sujeitos
a episódios de inundações no mundo, sendo que o Brasil apresentou mais de
sessenta eventos por ano no período estudado.

Figura 2 – Eventos de inundação ocorridos entre 1970 e 2011156


Segundo Tominaga, Santoro e Amaral (2009) 157, algumas caraterísticas no
ambiente favorecem a ocorrência das inundações, como a forma do vale dos rios.
Nos vales com formato em “V”, de declives acentuados, a água escoará
superficialmente com maior rapidez, ocasionando inundações em pouco tempo após
o início de precipitação intensa, podendo ocasionar graves problemas para a
população residente.
Já nos vales mais abertos, as amplas várzeas favorecem que a velocidade da
inundação seja mais lenta devido ao menor declive de suas vertentes.

156
JHA, A.K., BLOCK, R. e LAMOND, J. Cidades e Inundações: Um guia para a Gestão Integrada do risco de inundação
urbana para o Século XXI. Um Resumo para os Formuladores de Políticas. 2012. Disponível em
http://mi.gov.br/pt/c/document_library/get_file?uuid=3c3b9a72-9358-415f-9efe-89fad4cbb381&groupId=10157 Acessado em
20/11/18.

157
TOMINAGA, L.K.; SANTORO, J.;AMARAL, R. (org). Desastres Naturais: conhecer para prevenir. Instituto Geológico, São
Paulo, 2009. 196 p. Disponível em http://www.igeologico.sp.gov.br/downloads/livros/DesastresNaturais.pdf Acessado em
20/11/18.

GEOGRAFIA
148
Figura 3 – Vale em formato “V” favorece a ocorrência de inundações rápidas e intensas 158

158
Disponível em http://www.flickriver.com/photos/28939418@N00/2230946529/ Acessado em 20/11/18.

GEOGRAFIA
149
Aula 30 - Prevenindo as inundações

Na aula anterior nós conhecemos sobre os processos naturais envolvidos na


ocorrência das inundações e nesta aula vamos conhecer algumas medidas para
preveni-la.
Como já tratamos na aula sobre escoamento, as tempestades intensas ou
chuvas de longa duração facilitam o encharcamento do solo, dificultando a
infiltração, favorecendo o escoamento superficial e as inundações. Áreas com
florestas ajudam a proteger o solo do impacto das precipitações, favorecendo a
infiltração, reduzindo o escoamento superficial e consequentemente as inundações.
Segundo Tominaga, Santoro e Amaral (2009) 159, a ocupação humana altera
as dinâmicas naturais, com estudamos nas aulas anteriores, principalmente quando
se instalam nas várzeas e junto aos rios, alterando as características originais da
bacia, retificando e canalizando os rios, intensificando a erosão de solos e o
consequente o assoreamento dos leitos dos rios.
A ocupação em áreas de risco deve ser evitada, pelos riscos que oferecem
aos moradores, mas a disputa por moradias em regiões metropolitanas leva as
populações mais carentes a construírem precariamente suas moradias em áreas
com riscos para movimentos de massa, inundações, entre outros desastres
ambientais. As comunidades que vivem em áreas de risco devem tomar algumas
precauções quando se aproximam o período chuvoso, como evitar o acúmulo de lixo
e entulho junto aos rios (Figura 4), que devem ser retirados pela prefeitura como
medida preventiva.
Em períodos da chuva contínua, os moradores devem ter contato com a
defesa civil de seu município denunciando a elevação do nível dos rios e buscando
orientação para enfrentar possível inundação.

159
TOMINAGA, L.K.; SANTORO, J.;AMARAL, R. (org). Desastres Naturais: conhecer para prevenir. Instituto Geológico, São
Paulo, 2009. 196 p. Disponível em http://www.igeologico.sp.gov.br/downloads/livros/DesastresNaturais.pdf Acessado em
20/11/18.

GEOGRAFIA
150
Figura 4 – Acumulação de entulho junto ao rio, favorecendo a inundação 160

A defesa civil orienta aos moradores que busquem por terrenos mais
elevados e seguros em caso da inundação se aproximar das residências, mas no
caso das águas invadirem as casas, não é recomendado andar nas partes
inundadas, buscando segurança na parte mais alta da casa, onde devem ficar os
alimentos e objetos de valor.
Ao andar no meio da inundação, as pessoas correm o risco de afogamento,
levarem choques elétricos e adoecerem posteriormente por contato com água
contaminada. As doenças também podem ser transmitidas ao utilizar objetos e
alimentos que entraram em contado com a inundação, como as caixas d’água, de
modo que todos os materiais devem ser lavados e desinfetados antes de seu uso.
No caso dos poços, é fundamental não consumir as suas águas depois da
inundação, devendo ferver qualquer água antes do consumo por no mínimo cinco
minutos.

160
Serviços Geológico do Brasil CPRM. Disponível em https://defesacivil.es.gov.br/Media/defesacivil/Capacitacao/Material
%20Did%C3%A1tico/CBPRG%20-%202017/Processos%20Hidrol%C3%B3gicos%20%20-%20Inunda%C3%A7%C3%B5es,
%20Enchentes,%20Enxurradas%20e%20Alagamentos%20na%20Gera%C3%A7%C3%A3o%20de%20%C3%81reas%20de
%20Risco.pdf Acessado em 20/11/18.

GEOGRAFIA
151
Para prevenir as inundações recomenda-se a utilização de materiais nas
cidades que favoreçam os processos de infiltração da chuva, como pavimentos
porosos (Figura 5) e criação de telhados verdes. Recomenda-se remoção de
entulhos pela prefeitura de rios (Figura 6) e a limpeza das bocas de lobo antes do
período chuvoso, entre outras medidas preventivas.

Figura 5 – Materiais porosos favorecem a infiltração da chuva 161

161
Idem.

GEOGRAFIA
152
Figura 6 – Limpeza preventiva de lixo e entulhos das margens dos rios como medida preventiva
contra as inundações162

Uma medida preventiva importante nas cidades é o aumento das áreas


verdes, com o aumento de áreas públicas, com finalidade de oferecer lazer à
população, e da arborização das ruas e várzeas dos rios, favorecendo a qualidade
do ambiente urbano, com maior oferta de umidade para o ar, diminuição do efeito
das ilhas de calor, aumento da infiltração e a diminuição dos episódios com
inundações.

162
Idem.

GEOGRAFIA
153
Aula 31 - Refletindo sobre atividades de campo

Nesta aula refletiremos sobre os significados da atividade de campo no


ensino de Geografia, pois o estudo da paisagem deve possibilitar a interpretação
dos elementos que a compõem, buscando desvendar o seu significado e a origem
de suas formas, vinculando-o ao ensino da geografia.
O trabalho de campo é uma oportunidade única de interação com os
estudantes e com o lugar de estudo. Alguns professores tiveram oportunidades de
organizar seus trabalhos de campo e registraram suas experiências em artigos,
refletindo sobre o processo de preparação, realização e avaliação de seus
significados para os estudantes, professores e escola.
Lacoste (1985)163 destaca a importância dos trabalhos de campo para o
levantamento de dados originais no desenvolvimento de pesquisas inéditas em
Geografia, reforçando sobre a importância de os resultados dos estudos serem
divulgados nas comunidades analisadas, captando possível compreensão e
aprovação das pesquisas, ou sua rejeição e questionamento.
Tomita (1999)164 compreende o trabalho de campo como uma das diferentes
técnicas existentes para dinamizar o ensino de Geografia. A autora entente que a
atividade incentiva a compreensão e a leitura do espaço, estreitando laços entre a
teoria e a prática, motivando o professor a buscar atualização e aperfeiçoamento
pelo enfrentamento de novos desafios durante a organização e realização de
trabalhos de campo.
Pontuschka (2004)165 avalia que o estudo do meio vem perdendo a sua
importância enquanto atividade pedagógica, especialmente quando organizado por
empresa que destaca o significado do entretenimento, posicionando o professor
como mero monitor da prática. Desse modo, se perde a possibilidade de refletir
sobre o estudo do meio como uma condição fundamental para a transformação da
163
LACOSTE, Y. A pesquisa e o trabalho de campo: um problema político para os pesquisadores, estudantes e cidadãos. São
Paulo, AGB/SP, n.11, 1-23, agosto de 1985.
164
TOMITA, L. M. S. Trabalho de campo como instrumento de ensino em Geografia. Geografia (Londrina) v. 8, n. 1, p. 13-15,
jan./ jun. 1999.
165
PONTUSCHKA, N. N. O conceito de estudo do meio transforma-se... em tempos diferentes, em escolas diferentes, com
professores diferentes. In: Vesentini, J. W. (Org.). O ensino de geografia no século XXI. Campinas, SP: Papirus, 2004, p.
249-288.

GEOGRAFIA
154
realidade. A autora considera que o termo meio tem o significado de um complexo
de realidades, que agem sobre o sujeito e que leva esse sujeito a agir, sendo o
estudo do meio um método de estudo para a formação transformadora dos
estudantes.
Para Lopes e Pontuschka (2009) 166, a saída a campo é um método de ensino
interdisciplinar, com o meio envolvendo os participantes, estudantes e professores,
no desafio de interpretar e compreender um determinado espaço geográfico, através
da pesquisa e produção do conhecimento. O estudo do meio pode revelar ao
observador os elementos que na paisagem indicam a contradição da aparente
normalidade do cotidiano. Portanto não é um evento para se esgueirar da rotina
escolar, mas uma condição única para desenvolver coletivamente o ensino e a
pesquisa, valorizando o trabalho educativo da escola.
Cordeiro e Oliveira (2011) 167 entendem as aulas de campo como uma
metodologia dentro do processo do ensino-aprendizagem, dinamizando o trabalho
do professor e incentivando o estudante a apreende o conhecimento a partir do meio
onde está inserido, bem como reforçando os conteúdos trabalhados em sala de
aula.
Albuquerque, Angelo e Dias (2012) 168 elaboraram o estudo do meio a uma
usina hidrelétrica como ponto central para a escolha de temas que seriam estudados
pelos alunos e professores na escola ou em outros ambientes de ensino e
aprendizagem. Combinado ao estudo do meio, os autores desenvolveram a aula de
campo, que comprova temas trabalhados em sala de aula, pela aproximação dos
estudantes à realidade estudada, sem o propósito de memorização. Esta
metodologia tem o propósito de confirmar em campo os temas estados
anteriormente, mas pode ser ampliada, abrindo a possibilidade de discutir o tema,
ampliando abordagens e avaliações.
Os autores concordam com a realização de atividade de campo que
possibilitem o contato com os temas de estudo através da realidade que os contêm.

166
LOPES, Claudivan S.; PONTUSCHKA, Nídia N. Estudo do meio: teoria e prática. Geografia (Londrina) v. 18, n. 2, 2009.
167
CORDEIRO, J. M. P.; OLIVEIRA, A. G. A aula de campo em Geografia e suas contribuições para o processo de ensino-
aprendizagem na escola. Geografia, Londrina, v. 20, n. 2, p. 99-114, maio/ago. 2011.
168
ALBUQUERQUE, M. A. M. de; ANGELO, M. D. L.; DIAS, A. M. de L. Propostas de aula de campo e estudo do meio no
complexo Xingó. Geotemas. Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v 2, n. 1, p. 111-128, jan./jun., 2012.

GEOGRAFIA
155
Estudo do meio, aula de campo ou trabalho de campo são opções para que os
professores de Geografia criem vínculos com colegas e estudantes para elaborarem
um trabalho coletivo e significativo no processo de ensino e aprendizagem,
transformando a escola em espaço de produção do conhecimento.

GEOGRAFIA
156
Aula 32 – Proposta de atividades para o ensino e a pesquisa em Hidrografia
As atividades práticas em Geografia promovem a curiosidade, o entendimento
e o aprendizado dos estudantes. Na Geografia, o estudo do meio e o trabalho de
campo colaboram com a formação dos alunos em vários níveis de conhecimento,
sendo estimulado por diferentes áreas da ciência geográfica 169.
Os trabalhos de campo em hidrografia podem ser realizados nas localidades
de convivência dos alunos, estreitando os laços entre teoria e prática através da
geografia enquanto ciência que interpreta e explica o nosso cotidiano.
O roteiro propõe atividades que desenvolvem a pesquisa sobre dois pontos
da disciplina hidrografia: abastecimento público e qualidade ambiental dos rios.

Abastecimento público

Como já foi explicado, o abastecimento público é a função primordial da água


no nosso país, o que significa dizer que antes da água ser usada pela indústria ou
pela agricultura, por exemplo, ela deve servir ao abastecimento da população. Assim
vamos conhecer um pouco sobre a água nos municípios onde vivemos.
O objetivo da atividade é estimular a leitura e a consulta a instituições, seja
administrativa ou acadêmica, para conhecer sobre a qualidade da água que chega
aos moradores da localidade de vivência dos alunos.
Oriente os estudantes a pesquisar na internet 170 e na prefeitura sobre as
seguintes questões:
1. Existe uma Estação de Tratamento de Água (ETA) que trata a água na sua
cidade? Como chama e onde ela fica?
2. De onde vem a água tratada pela ETA?
3. Qual o tipo de tratamento que é executado na ETA?
4. É possível visitar a ETA?

169
VENTURI, L A B (org), Praticando a geografia: técnicas de campo e Laboratório em geografia e análise ambiental, São
Paulo: Oficina de Textos, 2005, 239p. 

170
Orientamos aos professores que cuidem para que os alunos avaliem as fontes que venham a consultar, evitando sites
descomprometidos com a veracidade das informações que apresentam. 

GEOGRAFIA
157
5. Como a água tratada na ETA chega até a sua casa? Existe algum
reservatório no bairro?
Outra possibilidade é estudar sobre as águas subterrâneas no município,
avaliando a situação de poço existente na casa de algum estudante ou conhecido.
Estimule os alunos a pesquisar e responder as seguintes questões:
1. O poço tem quantos metros de profundidade?
2. Qual o nome do aquífero livre ou confinado no município?
3. Sua água é consumida? É empregado algum procedimento para torná-la
potável? A água já foi analisada, avaliando a sua qualidade físico-química?
4. O nível da água dentro do poço varia durante o ano? Qual o comportamento?

Qualidade ambiental dos rios em cidades

Para avaliar as condições ambientais das águas na localidade, é importante a


observação da paisagem percorrida pelas águas do rio estudado, procurando
perceber se existem lançamentos de substâncias em suas águas através de
canalizações. As substâncias podem ser esgoto, águas servidas ou efluentes
industriais, sendo importante identificar e localizar ao longo do rio estudado se
existem indústrias, moradias, comércio, entre tipos de usos no espaço urbano.
Observando o rio ou reservatório, oriente seus alunos a pesquisa e responder
as seguintes questões:
a. Qual é o nome do rio ou reservatório?
b. Você sente algum odor desagradável exalado pelo curso d’água?
c. Existe lixo acumulado em suas margens? De que tipo é?
d. Existe mata ciliar junto do rio?
e. Percebe a presença de peixes?
f. Identifique as funções que o rio ou reservatório executam:
 Abastecimento público
 Escoamento de detritos urbanos e industriais
 Fornecimento para a indústria
 Comunicação e transporte
 Geração de energia
 Lazer e diversão

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158
 Irrigação
 Fonte de alimentação
Os alunos devem ser orientados a fotografar as condições do rio e da
paisagem, ajudando a relacionar o que foi pesquisado com os aspectos percebidos
na leitura da paisagem. Em algumas situações é possível entrevistas moradores,
especialmente aqueles que moram no bairro a muito tempo, para saber das
transformações ocorridas na paisagem durante esse tempo.
Segue um quadro que ajuda na organizar uma avaliação mais completa das
condições do curso do rio e suas águas, através de nota que é dada para cada item
avaliado, sendo que quanto maior a nota, melhor as condições ambientais.

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Quadro 1 – Indicadores da qualidade ambiental durante observação dos rios 171

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SOS Mata Atlântica. Observando o Tietê. São Paulo, Núcleo União Pró-Tietê. 111p. Disponível
em http://redeagua.files.wordpress.com/2013/05/livro_sos.pdf  Acessado em 8/12/13.

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Resumo da Unidade IV

Estudamos que a degradação ambiental é uma consequência da ocupação


antrópica sem planejamento, como as que atingem áreas de mananciais,
ocasionando a perda de nascentes pelo desmatamento e a impermeabilização
urbana, entre outras formas. Compreendemos que a contaminação das águas por
efluentes domésticos, agrícolas ou industriais compromem a qualidade das águas,
comprometendo o abastecimento público.
Avaliamos a questão da escassez de água decorrente da degradação dos
mananciais e contaminação dos cursos d’águas por efluentes domésticos, agrícolas
ou industriais. Aprendemos nesta unidade que boa parte dos brasileiros tem acesso
à água tratada e conhecemos os procedimentos nas estações de tratamento.
Compreendemos que o consumo por água vem aumentando no mundo, seja o
consumo direto ou o virtual. Compondo com os desafios anteriores, tratamos da
inundação que é um evento natural que mais afeta os brasileiros nos períodos
chuvosos do ano.
Os futuros professores foram estimulados nesta unidade a promover a
curiosidade e o aprendizado de seus estudantes por meio de estudo do meio, que
devem ser realizados nas localidades de convivência dos alunos, com a observação
das condições dos corpos d’água no seu cotidiano.

Referências Bibliográficas da Unidade IV

ALBUQUERQUE, M. A. M. de; ANGELO, M. D. L.; DIAS, A. M. de L. Propostas de


aula de campo e estudo do meio no complexo Xingó. Geotemas. Pau dos Ferros,
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pesquisadores, estudantes e cidadãos. São Paulo, AGB/SP, n.11, 1-23, agosto de
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Geografia (Londrina) v. 18, n. 2, 2009.

TOMITA, L. M. S. Trabalho de campo como instrumento de ensino em Geografia.


Geografia (Londrina) v. 8, n. 1, p. 13-15, jan./ jun. 1999.

PONTUSCHKA, N. N. O conceito de estudo do meio transforma-se... em tempos


diferentes, em escolas diferentes, com professores diferentes. In: Vesentini, J. W.
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para prevenir. Instituto Geológico, São Paulo, 2009. 196 p. Disponível em
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