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Instituto de Geociências
Departamento de Geografia
Julho, 2005.
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Instituto de Geociências
Departamento de Geografia
Julho, 2005.
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RESUMO
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................ 10
Objetivos ............................................................................................................... 13
Justificativas ......................................................................................................... 13
Procedimentos metodológicos ............................................................................. 15
Capítulo 1 - A modernização da cidade ......................................................... 23
1.1 A relação entre modernização da cidade e telefonia celular ......... 25
Capítulo 2 - Conhecendo a telefonia celular .................................................. 29
2.1 A origem da telefonia celular ........................................................ 31
2.2 A telefonia celular no Brasil ......................................................... 33
Capítulo 3 - A regulamentação das torres de telefonia celular no Brasil ... 39
3.1 A regulamentação das torres de telefonia celular em Belo
Horizonte ...................................................................................... 44
Capítulo 4 - Os conflitos envolvendo as torres de telefonia celular ............. 45
4.1 Paliativos propostos pelas empresas ............................................. 47
Capítulo 5 - Relações dos moradores com as torres: análise e discussão
dos resultados .............................................................................. 49
Considerações finais ............................................................................................ 53
Referências bibliográficas ................................................................................... 56
Anexo I Mapa da distribuição das antenas de telefonia celular em Belo
Horizonte por Região Administrativa ................................................ 59
Anexo II Mapa da distribuição das antenas de telefonia celular instaladas na
Região Oeste de Belo Horizonte por bairros ..................................... 60
Anexo III Questionário aplicado na Região Oeste ............................................. 61
Anexo IV Questionário aplicado junto a fiscalização e operadoras ................... 62
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LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVEATURAS
Associação Brasileira de Defesa dos Moradores e Usuários
ABRADECEL
Intranqüilos com Equipamentos de Telecomunicações Celular
AMPS Serviço Avançado Móvel Celular (original em inglês)
ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações
CDMA Acesso Múltiplo por Divisão em Código (original em inglês)
CCC Central de Controle e Comando
COMAM Conselho Municipal de Meio Ambiente
CTB Companhia Telefônica Brasileira
CTBC Companhia de Telecomunicações do Brasil Central
CTLAT Câmara Temporária para Licenciamento de Antenas de
Telecomunicações
DENTEL Departamento Nacional de Telecomunicações
DG Distribuição Geral
DI Decreto do Império
EIA Estudo de Impacto Ambiental
EMBRATEL Empresa Brasileira de Telecomunicações
ERB Estação de Rádio Base
GSM Sistema Global de Comunicação Móvel (original em inglês)
GPRS Serviço Geral de Rádio Pacote (original em inglês)
EVU Estudo de Viabilidade Urbanística
ICNIRP Comissão Internacional para Proteção Contra Raios Não-Ionizantes
(original em inglês)
IGC Instituo de Geociências
ITMS Sistema Móvel de Telecomunicações Eficiente (original em inglês)
ITU União Internacional de Telecomunicações (original em inglês)
LGT Lei Federal n.º 9.472 de 17 jul. 1997 – Lei Geral de
Telecomunicações
LI Licença de Implantação
LP Licença Prévia
LO Licença de Operação
ONU Organização das Nações Unidas
PCA Plano de Controle Ambiental
7
Dedicatória
Agradeço
a Professora Dra. Doralice Barros Pereira, minha orientadora, pelo carinho e dedicação
que estão além das fronteiras da prática docente;
a Professora Maria Luíza Grossi Araújo, pelo estímulo e orientação neste trabalho
quando se encontrava ainda rascunhado em poucas folhas de almaço;
INTRODUÇÃO
Durante muitos séculos as cartas em papel foram utilizadas como um seguro meio de
comunicação à distância entre os povos. As poucas pessoas que dominavam a arte da
escrita produziam seus documentos em papel e os enviam para seus destinatários através
de um longo e penoso percurso, que podia durar dias ou meses, dependendo da distância
entre o remetente e o destinatário (BARRADAS, 1996). Assim, por um longo período
ninguém imaginava ser possível a troca de informações à distância de maneira diferente
ao serviço postal tradicional, muito menos de maneira instantânea. Contudo, o telégrafo
surgiu no final do século XIX e permitiu o que era aparentemente impossível: a
comunicação à distância de maneira rápida e eficiente (BARRADAS, 1996). No
entanto, o telégrafo possuía algumas limitações e motivado pelo desenvolvimento
tecnológico, o homem criou em seguida o telefone, o rádio, depois a televisão, o
telefone sem fio e recentemente a rede mundial de computadores (internet). Com o
passar dos anos as inovações das telecomunicações foram se disseminando pelo planeta
e permitindo que os homens pudessem trocar informações à distância, sem que para isto
fosse necessário esperar dias ou até mesmo meses por uma informação.
1
Consulta ao Sistema de Serviços de Telecomunicações da ANATEL em 18 de abril de 2005 disponível
na página da internet http://sistemas.anatel.gov.br/stel.
2
Consulta via correio eletrônico a Gerência da SMMASU da PBH em 17 de janeiro de 2005.
13
OBJETIVOS
Para a realização deste trabalho foram observadas duas considerações principais:
JUSTIFICATIVAS
Considerando este cenário de crise ambiental onde o espaço natural é substituído pelo
aparato técnico artificial, a cidade contemporânea apresenta-se imersa em uma invasão
das redes de tecnologia da informação. Essas em redes chegam até as pessoas através de
suas modalidades reais ou virtuais, mas com a imposição dos objetos tecnológicos sobre
14
Em 1948, o geógrafo Maximilien Sorre citado por SANTOS (1997, p.30) foi criticado
por colegas franceses ao considerar o fenômeno tecnológico em seu estudo acadêmico.
Passadas três décadas, André Fel também citado por SANTOS (1997, p. 30), chegou a
propor uma disciplina denominada geotécnica para compreensão destes fenômenos.
Segundo Fel “os objetos técnicos se instalam na superfície”, e “fazem-no para responder
as necessidades materiais dos homens”, sendo assim passíveis de estudo pela ciência
geográfica.
Logo, em nossa avaliação, as torres de telefonia celular são instaladas nas cidades, e
participam diretamente de um Processo de Cientifização e Tecnização da metrópole
informacional (SANTOS, 1997). Essas estruturas disponibilizam aos usuários dos
telefones móveis a integração com as demais redes de comunicação disponíveis, no
entanto, tal integração depende de uma malha tecnológica disposta sobre grande parte
da cidade. Para tanto, as torres são instaladas em espaços diferenciados (público,
privado, natural, patrimônio histórico, etc.). Assim acatamos a proposição de SANTOS
(1997, p.63) para os geógrafos: “trata-se de reconhecer o valor social dos objetos,
mediante um enfoque geográfico”, no entanto tal “reconhecimento” não é fácil:
“O que faz falta, aliás, seria uma metadisciplina da geografia, que se inspire na
técnica: na técnica, isto é, no fenômeno técnico e não nas técnicas, na tecnologia.”
(SANTOS, 1997, p.39).
Ao leitor deste trabalho cabem ainda outros esclarecimentos, quanto ao nosso histórico
profissional, com formação técnica em eletrônica pelo Colégio Técnico da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) concluída em dezembro de 1993. Desde março 2002,
exercemos também a função de Sargento Especialista de Comunicações da Polícia
Militar de Minas Gerais (PMMG), com participação direta no licenciamento e outorga
das estações de radiocomunicação da PMMG junto a ANATEL.
15
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a realização deste trabalho foram produzidos dois questionários, sendo um desses
aplicados na Regional Oeste e o outro aplicado junto a fiscalização da ANATEL,
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Saneamento Urbano da PBH e operadoras de
telefonia celular. Os procedimentos metodológicos para a aplicação destes questionários
serão descritos a seguir:
Para definição da área de pesquisa para a realização do estudo de caso utilizamos dados
coletados junto a SMMASU da PBH. Esses dados apresentavam, em números absolutos
e logradouros de instalação, as torres de telefonia celular instaladas em Belo Horizonte.
Tais informações foram condensadas em mapa temático das regiões administrativas da
PBH em função do número de torres instaladas (Anexo I). Esse mapa foi produzido com
16
Os motivos que contribuíram para a seleção desta regional referem-se à sua localização
estratégica na cidade e o fluxo clientes do serviço de telefone celular (usuários das
torres). Nesta regional residem aproximadamente 268.124 indivíduos, com grande
diversidade sócio-econômica, segundo dados preliminares do Censo Demográfico 2000.
Assim, foi possível observar seções residenciais de alto padrão (Bairro Buritis), centros
comerciais (Bairro Gutierrez) e aglomerados urbanos (Cabana). A Regional Oeste
interliga as demais regionais com o perímetro central, e dispõe grandes eixos viários,
tais como a Avenida Amazonas, Via Expressa e Anel Rodoviário de acesso viário para
outras cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Existe também na
regional uma transposição da principal linha do metrô da cidade, com três estações de
embarque e desembarque de passageiros (Calafate, Gameleira e Vila Oeste). Esses eixos
viários associados aos pólos comerciais trazem para região um grande fluxo de pessoas,
de diferentes origens, que podem ser consideradas eventuais clientes do telefone celular
e usuários das torres. As pessoas em "trânsito" e longe de um ponto fixo de
comunicação (telefone residencial ou público) utilizarão formas alternativas de
comunicação móvel, neste caso, o telefone celular.
Após a seleção da amostra foi produzido um mapa temático (Anexo II) da região Oeste
de forma a representar nesta área, por bairro, o número de torres instaladas. Nesta
regional, os bairros foram classificados em função do número de torres instaladas,
constituindo cinco classes, cujos intervalos foram calculados a partir de uma média
aritmética simples (GERARDI, 1981, p.43).
Nas áreas selecionadas, por sorteio, foi definida uma rua com torre de telefonia celular
instalada, eqüivalendo ao final, a uma rua por área classificada. Em seguida, por sorteio
(GERARDI, 1981, p.45), foram selecionadas duas ruas com torre de telefonia celular
para aplicação de 20 questionários, e ainda outros 20 questionários em residências
próximas a torre, em um perímetro de até 500 metros, mas em uma rua paralela. Esse
procedimento visava verificar a existência comportamentos diferentes ou semelhantes
17
A visita a campo foi programada após a realização de dois sorteios para seleção das ruas
para aplicação dos questionários. O primeiro sorteio foi para definir uma rua com torre
instalada em cada uma das 5 (cinco) áreas do mapa temático de torres instaladas nos
18
bairros da região Oeste (Anexo II). O segundo sorteio definiu 2 (duas) dessas ruas para
aplicação dos questionários. Para tanto, foram sorteadas as ruas Cid Rebelo Horta e
Josué Menezes (Bairro Gameleira); e Augusto José dos Santos e Braziliana Ferreira de
Melo (Bairro Bethânia); todas essas em destaque no mapa do Anexo II.
Logo, foram aplicados 10 (dez) questionários na rua Cid Rebelo Horta e 10 (dez) na rua
Josué Menezes, ambas no bairro Gameleira, sendo essa última uma rua paralela a torre.
Outros 20 (vinte) questionários foram aplicados utilizando o mesmo critério, sendo
contempladas as rua Augusto José dos Santos e Braziliana Ferreira de Melo no bairro
Bethânia. As residências para aplicação dos questionários foram selecionadas a partir da
contagem da numeração de início do logradouro, e alternância de 5 (cinco) em 5 (cinco)
residências (GERARDI, 1981, p.43). Os moradores que se recusaram a responder os
questionários foram contabilizados, e devem compor os resultados obtidos com a
indicação “Não respondeu – NR” .
A amostra deste trabalho é constituída por um grupo de pessoas formado por 21 homens
e 19 mulheres. Deste grupo 20 pessoas possuíam o ensino médio completo, 12 pessoas
o ensino fundamental, 6 pessoas o ensino superior incompleto e 2 pessoas o ensino
superior. Nesta amostra 28 pessoas moram na região a mais de 10 (dez) anos, 7 pessoas
moram na região de 1 (um) a 10 (dez) anos e 5 pessoas moram na região há até 1 (um)
ano. Desses moradores 29 possuem residência própria e 11 moram de aluguel.
Nesta amostra 24 pessoas possuem telefone celular, dos quais 3 declaram utilizar o
telefone móvel “a todo instante” , 12 afirmam utilizar o telefone regularmente e 9
pessoas “raramente” fazem uso do telefone celular. Para 11 pessoas da amostra o
telefone celular não é importante, 9 atribuem uma importância pequena, 10 pessoas
consideram de importância média o telefone celular, e para 10 pessoas o telefone celular
é imprescindível. Para os 24 usuários do telefone celular nesta amostra, 10 pessoas
fazem uso preferencial do celular para tratar de assuntos de família, 7 pessoas para tratar
19
Para o grupo de pessoas que compõe a amostra, e que possuem o telefone celular, 17
pessoas já se imaginaram sem o aparelho, sendo que para 9 desses usuários a
experiência seria “péssima” , 3 pessoas julgaram ser “ótima” tal situação, e para
5 usuários do celular este fato não faria diferença em sua rotina diária. Segundo
o bancário Edson3, 42 anos, o telefone celular entrou em seu cotidiano, e agora não
tem como sair:
“Antes não fazia falta, agora que surgiu não consigo ficar sem ele. Falo com minha mulher
e minha filha onde estiverem. Se tirar de mim como vai ser? E quando elas estiverem na
rua como vou falar com elas.”(Edson, 42 anos, bancário, morador da Região Oeste).
Ainda segundo esses usuários do telefone celular na amostra, 14 pessoas “não fazem
idéia” como funciona a tecnologia, 5 pessoas declaram conhecer “muito pouco” , 3
pessoas afirmam conhecer o funcionamento “parcialmente” da tecnologia, e 2 pessoas
dizem conhecer plenamente o funcionamento do telefone celular.
Nesta amostra 29 pessoas declaram conhecer uma torre de telefonia celular, mas apenas
5 pessoas afirmam saber plenamente como ela funciona. Dos 29 moradores que
declararam conhecer uma torre de telefonia celular, 18 pessoas são moradores das ruas
com torre instalada Entre as pessoas que declaram conhecer uma torre de telefonia
celular, 12 pessoas “não fazem idéia para que ela serve” , 10 pessoas afirmam saber
“muito pouco” e 7 declaram “conhecer parcialmente” o funcionamento da
torre. Perguntados ainda se já viram alguma torre no bairro, todos aqueles que
declararam conhecer uma torre descreveram locais onde existiram esses artefatos
instalados, tanto no bairro como na cidade.
Para as 29 pessoas que afirmam conhecer uma torre de telefonia celular, 18 pessoas
consideram negativa a imagem de uma torre de telefonia celular, para 3 pessoas tal
imagem não possui significação, e segundo 8 pessoas a imagem da torre é positiva. A
3
Por questão de segurança optamos por utilizar nomes fictícios para preservar o anonimato dos
moradores.
20
imagem positiva da torre para essas pessoas tem o significado associado a modernidade,
o progresso e a inserção no mundo da tecnologia.
Segundo o motorista Geraldo, 42 anos, ele se lembra da torre porque “Passo por torres
todos dias e as vejo”. Para a aposentada Maria de Nazaré, 51 anos, ela se lembra dessas
estruturas metálicas porque “a torre parece com a torre Eifel”. Mas dos 29 moradores
que afirmam conhecer as torres, 15 declaram se lembrar das torres porque elas
representariam uma ameaça ao meio ambiente ou a saúde humana:
“chamam a atenção porque estão instaladas em lugares inusitados (no meio de casas e
perto da população), e por isso chamam a atenção, pois poderiam causar malefícios”.
(Edson, 42 anos, bancário, morador da Região Oeste).
Ainda nesta associação negativa das imagens das torres, para a estudante de pedagogia
Andreia, 30 anos, também moradora de uma rua sem torre instalada, ela lembra-se da
torre porque “representaria um perigo, podendo causar doenças, como o câncer”.
Entre os moradores com torre instalada em sua rua, 11 pessoas lembram-se da torre por
motivos relacionados com o meio ambiente e o receio da tecnologia ser prejudicial a
saúde, 4 pessoas que se lembram por motivos relacionados com o tamanho e a forma, e
3 pessoas porque a torre possibilita ao celular “pegar e falar bem” . Para o comerciante
Francisco, 40 anos, a torre em si já “emite doenças”, por isso o receio, o medo da
tecnologia. No entanto, para a balconista Silvana, 37 anos, ela lembra-se da torre porque
“onde mora o telefone sempre pega bem ”, ou seja, a torre próxima a sua casa lhe
garante o perfeito funcionamento do celular.
Insatisfeitos com os resultados obtidos pela resposta enviada por correio eletrônico,
visitamos a sede da ANATEL, em Brasília, no segundo trimestre de 2005. Fomos
recebidos pela equipe técnica de normatização daquela Agência Reguladora para tratar
de assuntos diferentes deste trabalho. No entanto, aproveitamos a oportunidade, e de
modo informal, verificamos que o licenciamento das antenas é recente, com início em
1998, por motivos fiscais, e sob muita pressão contrária das operadoras.
4
A GELIP está situada à Av. Afonso Pena n.º 4000, 6º andar, em Belo Horizonte. Tel.: (31) 3277-5213.
23
Assim, WIRTH propõe que a cidade “tende a parecer um mosaico de mundos sociais
nos quais é abrupta a transcrição de um para outro”, sendo capazes de moldar o
caráter da vida social, de forma individual ou coletiva7, através de inúmeras e
diferenciadas redes de relacionamento. No entanto, LAUWE8 considera possível a
interpretação da organização social no meio urbano se forem observados os aspectos
econômicos, como fez WEBER, os aspectos sociais, como fez WIRTH, mas
acrescentando ainda estruturas e instituições que contribuem direta ou indiretamente em
sua formação. Neste sentido, os meios de comunicação surgem como elementos chave
na composição da cidade, integrando e criando novas redes de relacionamento:
5
WEBER citado por VELHO, 1976, P.69.
6
Id. 3, p.74.
7
WIRTH citado por VELHO, 1976, p.94.
8
LAUWE citado por VELHO, 1976, p. 128-129.
24
Alguns anos mais tarde SANTOS (1994, p.34-42) salienta o importante papel das redes
de comunicação como instrumento imprescindível para o desenvolvimento da
metrópole informacional. Essas redes promovem as condições gerais de produção
porque permitem o fluxo de informações no mundo contemporâneo, interligando
pessoas e instituições as demais partes do globo. Esse fluxo de informações favorece o
acesso de pessoas e instituições a dados imprescindíveis para circuito produtivo e
consumidor no mundo moderno. Logo, a instalação das redes de comunicação na cidade
apresenta-se como um fator relevante para sua composição e modernização, pois
disponibiliza recursos para a integração das redes preexistentes, sejam essas de
relacionamento social ou comercial, além de incrementar novas formas para a troca
informações.
para a percepção de seu grau de desenvolvimento, bem como para o seu isolamento ou
inserção no mercado mundial.
Para compreensão deste movimento é preciso lembrar que o tempo tem o seu preço na
economia global, cujo valor é dado em função do curso da exploração do espaço
(HARVEY, 1992, p.208). O comércio e a troca necessitam de um movimento espacial,
e o dinheiro e o tempo representam esta dinâmica: “o efeito geral é, portanto, colocar
no centro da modernidade capitalista a aceleração dos processos econômicos e, em
conseqüência, da vida social” (HARVEY, 1992, p.210). Assim, as relações sociais
neste ambiente “moderno” são definidas a partir de um “tempo e um lugar para tudo”
, isto é, a sociedade se organiza de modo eficiente para a extinguir a perda
de tempo/dinheiro. Nesta “economia do tempo” o dinheiro moldou o significado do
tempo e do espaço, e o domínio dessas duas variáveis representam poder na
sociedade capitalista. Neste sentido, comprimir o espaço e o tempo apresenta-se
como um diferencial na competitiva economia mundial, ou seja, é a redução de
barreiras, eliminação de custos e aumento dos lucros.
Além deste impacto GRAHAM (1996, p.189) acrescenta ainda que o fenômeno das
telecomunicações promove também uma “polarização social” decorrente da difusão
desordenada dos meios de comunicação na cidade. Isso ocorreria porque seria utópico
imaginar uma “ideal democrático radical em uma sociedade informacional” (original
em inglês), isto é, o compartilhamento de recursos tecnológicos de maneira ampla e
democrática, sem “exclusão digital”. Neste sentido GRAHAM discorre acerca das
mudanças provocadas pelo avanço dos meios de comunicação nas cidades:
Logo, o telefone celular apresenta-se como uma “tecnologia libertadora” , pois permite
ao homem contemporâneo viver o espaço físico e deslocar-se através do espaço virtual
simultaneamente, ou seja, o indivíduo pode estar deslocando-se pela rua e ao mesmo
tempo falando em sua residência ou trabalho através do telefone celular por meio de
uma rede de torres telecomunicações distribuída pela cidade.
27
Para tanto, Willian Gibson citado por GRAHAM (1996, p.69) propõe o termo
Ciberespaço para denominar este “mundo virtual paralelo” ao espaço e tempo real,
onde as pessoas estabelecem redes não físicas de relacionamento com fins
diferenciados. No entanto, este mundo virtual paralelo não existe de maneira isolada,
mas de maneira convergente e integrada as redes sócio-econômicas estabelecidas no
mundo real. Segundo Willian Gibson citado por WERTHEIM (2001, p.189) acerca de
seu romance Neuromancer (1984), o ciberespaço conecta pessoas através de uma rede
virtual paralela ligada ao mundo real, integrando redes de relacionamento estabelecidas
nas suas diversas esferas sociais e econômicas através de uma infra-estrutura física e
real.
Logo, para o estudo dessas redes, STAPLE citado por GRAHAM (1996, p.69) propõe
uma “telegeografia” (original em inglês) para analise deste espaço virtual integrado ao
espaço real. A telegeografia deve estudar o ciberespaço porque este modifica as
relações sócio-espaciais no mundo real, e por isso deve ser compreendido de forma
ampla, no âmbito de uma ciência social. Este ciberespaço possui ainda ramificações
físicas, isto é, infra-estrutura material e real que dispõe o suporte básico para o mundo
virtual paralelo, como as torres de telefonia celular dispostas pelo território urbano das
grandes cidades, conectando as pessoas através do telefone móvel.
Tempo
Ciberespaço
Banco
Casa Escritório
Espaço Físico
TELEGEOGRAFIA
Deste modo a telefonia celular mudou a rotina das pessoas nas cidades, em um amplo
processo de modernização e integração global, a qual permitiu nestas áreas urbanas
inovadoras condições para a troca de informações. Esses instrumentos apresentam-se
como mecanismos de mobilização de espaços virtuais, como modo alternativo de
comunicação cada vez mais freqüente no cotidiano das pessoas das cidades modernas,
em especial daquelas que se encontram mais distantes de um ponto fixo de comunicação
e no anseio de se conectar a uma rede de relacionamento, seja para o trabalho, lazer,
educação etc.
corporativos criados pelas empresas do setor, proporcionam aos usuários tarifas para
conversação reduzidas e uma cota mensal de assinatura fixa (pós-pago) para os clientes
que necessitam de muitas horas falando ao celular, como profissionais liberais,
executivos, empresários etc. Para aquelas pessoas que utilizam menos o celular, e
possuem um orçamento familiar limitado, os planos pré-pagos são indicados, pois no
final do mês não existe conta a pagar pelos serviços utilizados.
A palavra comunicação tem a sua origem do latim communicare, isto é, tornar comum,
fazer saber, communicatione, ato ou efeito de tornar comum. Ou seja, comunicação é a
transferência de informação entre, no mínimo, dois pontos (BARRADAS, 1995, p.3).
Neste caso, pressupõe que um desses seja o emissor e o outro receptor. A informação,
por sua vez, pode assumir diferentes formas, seja ela escrita como em um texto, ou
visual como em uma obra de arte. Assim, a comunicação ocorre em sua plenitude
quando o receptor consegue interpretar as informações enviadas pelo emissor. Por
exemplo, em um encontro entre pessoas de origens distintas, sem que ambos conheçam
os idiomas recíprocos, ocorrerá uma tentativa de comunicação pela fala, mas que não
será finalizada com sucesso. Em seguida, esses indivíduos podem tentar outras formas
de comunicação, como gestos, sinais, etc. Neste caso o idioma é um código utilizado
pelo emissor para enviar as suas informações (idéias, desejos, etc.) assim como as
imagens, sons e gestos. Para isso, o ser humano utiliza toda a sua capacidade sensória
para se comunicar, estimulando seus sensores naturais como a visão, audição, olfato,
paladar e o tato.
algumas limitações. Logo, a palavra comunicação recebe o prefixo tele, que significa
distância, para designar o ato de enviar informações a distância. Segundo BARRADAS
(1995) as telecomunicações nas formas em que conhecemos hoje tem a sua origem no
século XVIII, quando o físico italiano Alexandre Volta (1745-1827) criou uma fonte de
energia artificial conhecida como “Pilha de Volta” (1801). No mesmo período o físico
francês Charles Coloumb (1736-1806) realizava importantes estudos relacionados à
“Carga Elétrica”, e o também físico francês André Ampère (1775-1836) atribuí o termo
“Corrente Elétrica” para o fluxo de elétrons em um condutor metálico. George Ohm
(1789-1845), um cientista alemão, proporcionou uma aplicação prática esses conceitos
de eletricidade e descobriu a “Resistência Elétrica”.
Para BARRADAS (1995, p.40), a utilização das ondas eletromagnéticas como veículo
condutor de informações ocorreu em função das pesquisas do rico italiano Guglielmo
Marconi (1874-1937). Marconi conseguiu, em 1901, realizar uma transmissão de
informações sem fio, de forma transoceânica, utilizando o princípio das Ondas de Hertz.
Dentre os feitos históricos de Marconi destacam-se ainda a inauguração a distância da
iluminação da estátua do Cristo Redentor, no Morro do Corcovado, na cidade do Rio de
31
O modo de comunicação full-duplex via rádio permitiu o avanço das comunicações sem
fio, sendo o percursor da telefonia móvel. Segundo BARRADAS (1995, p.173-177) o
sistema de telefonia móvel tem a sua origem na década de 40, isso a partir da evolução
dos antigos sistemas de radiocomunicação para fins militares. No Brasil, um sistema de
telefonia móvel pioneiro e rudimentar foi instalado em Brasília, em 1972, cuja
denominação era Sistema Móvel de Telecomunicações Eficiente (Improved
Telecommunication Mobile System - ITMS), o qual possuía um número de usuários e
acessos restritos. No entanto, foi o engenheiro estadunidense Martin Cooper, da
empresa Motorola Inc. que realizou a primeira ligação de telefone celular, com fins
comerciais, na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, em 3 de abril de 1973. No
entanto, apenas em 1983 que a empresa Motorola disponibilizou seu primeiro aparelho
de telefone celular pessoal, o DynaTAC 8000X, restrito ao mercado estadunidense, pelo
preço aproximado de quatro mil dólares.
32
9
ALVARENGA & MÁXIMO. 1993, p. 842. BARRADAS, 1995, p.44.
33
Anos mais tarde, com o desenvolvimento das comunicações sem fio, no período
republicano, o presidente Getúlio Vargas cria uma Comissão Técnica de Rádio, a partir
do Decreto Federal n.º 20.047, 27 de maio de 1931, para uma gestão setorial das
telecomunicações. Essa comissão era composta de três integrantes, sendo esses
indicados pelo Exército, Marinha e Ministério da Viação e Obras Públicas, conforme
previsto no art. 29 do referido decreto, tendo como pré-requisito mínimo aos membros
dessa comissão a formação técnica em radioeletricidade. Poucos anos depois, é criada a
34
No final dos anos 80 surge o serviço telefônico sem fio, ou seja, a telefonia móvel
celular. Para adequar a legislação em vigor naquela época, em 31 de agosto de 1988, o
Decreto Federal n.º 96.618 modifica o Código Brasileiro de Telecomunicações,
proporcionando as mínimas condições técnicas/jurídicas para a Telecomunicações de
Brasília S/A (TELEBRASÍLIA) obter em 25 de setembro de 1991 a primeira licença de
35
10
Portaria de Outorga 0087/91 publicada no Diário Oficial da União de 25 de julho de 1991.
11
Consulta a página de internet do BNDES em 21 de outubro de 2004, no endereço eletrônico:
http://www.bndes.gov.br/privatizacao/resultados/federais/telecomunicacoes/fedtelec.asp.
36
A TELEMIG CELULAR foi arrematada no leilão por US$ 649 milhões, mas essa
empresa não era mais detentora de um monopólio no estado de Minas Gerais, pois na
região do triângulo mineiro a Companhia de Telecomunicações do Brasil Central
(CTBC Telecom) já prestava serviços de telefonia móvel desde 25 de novembro de
199312, e a empresa MAXITEL tem suas operações inicializadas em 06 de abril de
1998, ou seja, poucos dias antes. Porém, a TELEMIG CELULAR teve sua gênese em
um mercado fechado, sendo detentora de um pequeno monopólio durante seu período
estatal, e possuindo a maior infra-estrutura de telefonia móvel no estado. Em Belo
Horizonte existem 280 ERB dessa empresa licenciadas na ANATEL de um total de
65413 na cidade e 2.558 no estado de Minas Gerais.
O Grupo Telenorte Leste Participações S/A (TNL PCS S/A) é o atual controlador da
operadora do STFC no estado, a empresa TELEMAR, e criou em 2001 uma empresa
concessionária para o segmento de telefonia móvel, a empresa Oi. A empresa Oi
aproveitou a infra-estrutura da TELEMAR, essa formada a partir da fusão da TELEMIG
e outras empresas operadoras regionais do STFC. A empresa TELEMAR possui ainda
no estado inúmeros centros de Distribuição Geral (DG) de linhas telefônicas fixas da
antiga TELEMIG, contribuindo assim, de forma significativa, para que a empresa Oi
instale um grande número de ERB no estado. Em Belo Horizonte são 212 ERB
licenciadas na ANATEL, algumas dessas em antigos DG da TELEMIG.
A empresa MAXITEL, por sua vez, possui apenas 142 ERB licenciadas em Belo
Horizonte, porém essa foi adquirida pela multinacional Telecom Itália Mobile (TIM) no
mesmo ano de sua concessão para operar o serviço de telefonia móvel. Outra empresa
do setor é a NEXTEL, a qual teve suas atividades inicializadas em 25 de novembro de
1993, sendo especializada em serviços de rádio integrados ao sistema de telefonia. O
mercado consumidor da NEXTEL é restrito, sem inserção de massa como ocorre com a
telefonia móvel celular.
12
Portaria de Outorga 1690/93 publicada no Diário Oficial de União de 25 de novembro de 1993.
13
Consulta ao Sistema de Serviços de Telecomunicações da ANATEL em 03 de março de 2005,
disponível na página da internet http://sistemas.anatel.gov.br/stel.
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chegou a receber a licença para prestar o Serviço Móvel Pessoal (SMP), designação
atribuída ao sistema de telefonia celular, mas desistiu no início de 2004. Contudo, as
empresas NEXTEL e Vésper compartilham sua infra-estrutura (torres, edificações para
ERB, etc.) com outras empresas de telefonia celular. Este procedimento está previsto na
Resolução da ANATEL n.º 274, de 05 de setembro de 2001, a qual regulamenta o
compartilhamento de infra-estrutura entre prestadoras de serviço de telecomunicações.
TABELA 1
NÚMERO DE CELULARES NO BRASIL POR TECNOLOGIA
Número de celulares
70.000.000
60.000.000
50.000.000
40.000.000
30.000.000
20.000.000
10.000.000
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
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A ANATEL não disponibiliza dados anteriores a 2002 para consulta pública em sua página de internet
e nos informou por correio eletrônico que não dispõe de outro meio para esse tipo de consulta (Registro
de solicitação n.º 29.777/05 respondido em 11/02/05 pela Assessoria de Relações com Usuários da
ANATEL).
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No entanto, não existem parâmetros nacionais para o licenciamento ambiental das torres
de telecomunicações no país. A legislação municipal de cada cidade que define os
procedimentos necessários para a instalação das torres de telecomunicações e a
obtenção da licença ambiental, de maneira independente e sem uma padronização
nacional em âmbito regional ou nacional. Contudo, a normatização municipal das torres
de telecomunicações no país está presente apenas nas grandes cidades, pois nessas áreas
existem grupos sociais organizados, que em defesa do patrimônio histórico, cultural ou
ambiental, questionam a expansão das torres na cidade. Porém, tais normas locais
seguem critérios técnicos duvidosos, sem o rigor necessário para regulamentar esta
tecnologia, preservando o meio ambiente, o patrimônio histórico e cultural, e mantendo
as perspectivas de desenvolvimento econômico do setor.
40
Em Belo Horizonte, onde existe uma legislação que contempla o equilíbrio do avanço
da tecnologia aliado a proteção do meio ambiente, o Código de Posturas promulgado
através da Lei Municipal n.º 8.616 de 14 de julho de 2003, reserva o Capítulo III para
tratar apenas da regulamentação das antenas de telecomunicações na cidade,
indistintamente ao serviço ofertado (telefonia celular, internet via rádio, enlaces, etc.):
Art. 1º - Parágrafo Único – Para efeito desta lei, as estruturas verticais com altura
superior a 10 metros são consideradas como estrutura similar à de torre.(Lei Municipal
de Belo Horizonte n.º 8.201/01)
Nesta Lei também está previsto um instrumento de gestão que deverá ser implementado
a longo prazo pelas empresas proponentes, sendo definido no art. 10 como Plano de
Controle Ambiental (PCA). Portanto, as empresas concessionárias dos serviços de
telecomunicações deverão manter um PCA segundo critérios a serem definidos pela
SMMASU da PBH. Contudo, o prazo para implantação desses artefatos é alongado
devido às análises processuais necessárias para o licenciamento, contribuindo
significativamente para o aumento dos custos das empresas proponentes com a
montagem e manutenção das torres inoperantes. Apesar desse rigor, as áreas de
conservação ambiental são resguardadas deste tipo de empreendimento em Belo
Horizonte:
15
Prática TELEBRÁS n.º 201-200-700 que define as Especificações Gerais para o Serviço Móvel
Celular, de 02 de abril de 1991.
42
Art. 2º - Parágrafo Único – O proprietário do imóvel locado para instalação das torres
de telefonia celular igualmente terá responsabilidade solidária objetiva em conjunto
com a operadora de telefonia móvel. (Lei Municipal de Santo André n.º 4.248/01)
43
Em Belo Horizonte a Lei Municipal n.º 8.201/01 contempla todas as estruturas com
mais de 10 metros de altura utilizadas para fins de telecomunicações, em estrutura de
torre ou similar. Essa lei corrobora ainda com a legislação federal e internacional, pois
em seu art. 3º sugere que a PBH deve seguir as recomendações da ANATEL e da
Comissão Internacional para Proteção Contra Raios Não-Ionizantes (ICNIRP), entidade
vinculada a União Internacional de Telecomunicações (ITU), que por sua vez está
subordinada a Organização das Nações Unidas (ONU).
TABELA 2
REQUISITOS PARA O LICENCIAMENTO AMBIENTAL DAS TORRES
DE TELECOMUNICAÇÕES EM B ELO HORIZONTE
Descrição Parâmetro
Distância entre torres 500 metros
Distância entre edifícios com torres 100 metros
Distância entre a antena emissora e edificação mais próxima 30 metros
Distância entre a torre e o limite do imóvel 5 metros
Projeção vertical Maior que 1,5 metros
Em harmonia estética, sem
Fachada de Prédio
direcionamento para a edificação
FONTE: Adaptado da Lei Municipal de Belo Horizonte n.º 8.201/01.
(LP) deve ser concedia após a análise do EIA/RIMA acompanhado do projeto técnico
de instalação, com prazo previsto em lei de 45 a 60 dias para a sua emissão, dependendo
da infra-estrutura a ser utilizada e aprovação da CTLAT. A emissão da Licença de
Operação (LO), etapa final do trâmite de licenciamento ambiental, deve ocorrer após
realização de um laudo radiométrico, o qual consiste em medições da emissão das ondas
eletromagnéticas das antenas do sítio com equipamentos ora em funcionamento, ora
desligados, isso para efeito comparativo.
Ao contrário do que ocorre em Criciúma e Porto Alegre cuja legislação municipal coíbe
a instalação de torres de telecomunicações nas proximidades de escolas, creches e
hospitais17, em Belo Horizonte a LO está condicionada a apenas a medição radiométrica
nestes locais, os quais são pontos de medida obrigatória, conforme disposto no art. 11 §
7º da Lei Municipal de Belo Horizonte n.º 8.201/01.
Apesar de existirem lacunas jurídicas que permitem a instalação das torres de telefonia
celular em locais sensíveis, tais como escolas e hospitais, a legislação municipal de Belo
Horizonte representa uma avanço dentre as demais existentes no país. Esse avanço se
deve a exigência de Planos de Controle Ambiental a longo prazo e da produção de
EIA/RIMA para instalação das torres, uma exigência que não ocorre em outras cidades.
Embora esse avanço exista na capital mineira, tal procedimento não ocorre nas demais
cidades que integram a RMBH, muito menos no estado.
16
Site ou sítio de repetição - Designação dada pelos profissionais de telecomunicações ao local onde se
instala a ERB.
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uma torre ao lado de sua casa, e do outro, as empresas que desejam distribuir suas ERB
pela cidade sem encontrar obstáculos para instalação de sua infra-estrutura.
Assim, para as empresas, o melhor local para instalação de uma ERB está relacionado
com o grande número de usuários que poderão ser atendidos, o que poderá ocorrer a
partir da instalação de suas antenas em local de altitude privilegiada nas proximidades
de seus clientes. Os potenciais usuários do telefone celular são pessoas que estão
distantes de um ponto fixo de comunicação ou em pleno deslocamento (nas ruas, dentro
de veículos, fazendo compras, etc.). Definido o perfil e o número de usuários de uma
determinada localidade, a instalação da torre deverá ocorrer em um ponto elevado e
próximo a esse grupo de clientes, o que estará garantindo a maior área de abrangência
da célula de comunicação. Para tanto, os locais de grande concentração de usuários
podem ser encontrados em um centro comercial, escola, estação do metrô, hospital,
parque, shopping center, universidade, etc. Logo, o local de instalação da torre deverá
ocorrer em área de até 5Km de raio a partir do ponto de concentração de usuários
(BARRADAS, 1995), esteja este ponto na cobertura de uma edificação ou em um morro
elevado, que pode estar localizado em uma área preservação ambiental.
Neste sentido, DODE (2003) sugere que as torres de telefonia celular podem abalar a
relação entre o homem e o meio ambiente. Para essa autora, tal receio deve-se em
função dos diferentes padrões de segurança e procedimentos técnicos (nacionais e
internacionais) adotados para a medição das ondas eletromagnéticas emitidas pelos
aparelhos de telefone celular e de suas ERB. Esses critérios técnicos divergem quanto
17
Em Criciúma disposto no art.1 º § 1º da Lei n.º 4.248/01 e em Porto Alegre no art. 3º da Lei n.º
8.896/02.
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Essa tecnologia que a princípio poderia representar uma solução parcial para um destes
“efeitos colaterais” na cidade, foi severamente criticada por MOTTA & SOARES
(2002), sendo esses um engenheiro agrônomo e outro arquiteto respectivamente, ambos
funcionários da UFMG. Para eles o fato representa um tipo de propaganda enganosa ou
“Falsidade ideológica” . No entanto, esses profissionais aprovariam a instalação de uma
torre convencional.
Neste capítulo serão discutidos os resultados obtidos com a aplicação dos questionários
(Anexo III), analisando os comportamentos dos moradores da Região Oeste acerca das
torres de telefonia celular. Para tanto, iniciaremos a discussão a partir da informação
que expressa 27,5% da amostra, ou seja 11 pessoas, que afirmaram desconhecer uma
torre de telefonia celular.
Primeiramente é preciso dizer que este dado não expressa o grau de desinformação da
população acerca da tecnologia, uma vez que parte dessas pessoas poderiam ter
dificuldade de associar a imagem do artefato a denominação dada no questionário. Para
algumas pessoas desta amostra, todas as torres de telecomunicações seriam iguais,
sejam essas de rádio, telefonia celular, televisão, etc. Logo, o fato de declararem que
não conhecem uma torre de telefonia celular não significa que elas nunca tenham visto
tal artefato, isto é, para essas pessoas não foi possível associar a imagem mental ao
significado dado no questionário. Esta lacuna foi prevista neste trabalho durante a
elaboração dos questionários, no entanto, não poderíamos entrar neste mérito de
detalhamento pois não teríamos prazo suficiente para a apuração dos resultados obtidos.
No entanto, outro aspecto ainda deve ser lembrado, e está relacionado com o fato do
18
indivíduo “perceber” o artefato tecnológico em seu cotidiano urbano. As imagens de
torres de telecomunicações tornaram-se tão comuns nos grandes centros urbanos, que
para algumas pessoas essas estruturas não despertariam interesse suficiente para serem
“percebidas” em sua rotina diária. Desta maneira, para algumas pessoas, a imagem da
torre de telecomunicações no espaço urbano tornou-se tão comum na paisagem elas não
“percebem” a existência desta estrutura na cidade. Contudo, entre as 11 pessoas que
declararam não conhecer uma torre de telefonia celular, existem pessoas que realmente
18
TUAN, 1977.
50
não a conhecem, ou sequer viram uma torre de telefonia celular em seu bairro ou na
cidade.
Assim, os motivos que levam as pessoas a se lembrar das torres podem estar
relacionados com diferentes elementos de sua rotina diária. Deste modo, para algumas
pessoas que dependem do telefone celular, seja para trabalho, lazer ou família, é preciso
estar sempre “procurando” as torres para que seu aparelho possa “pegar e falar bem”
. Mas existe ainda um grupo de pessoas na Regional Oeste que acreditam que
essas estruturas possam fazer mal para a saúde e por isso é preciso “ficar sempre
vigilante” . No entanto, também existem moradores que acham que as torres deixam a
cidade “mais feia”, diferentemente de outras pessoas que acham que as torres tornam a
cidade “mais bonita e moderna”. Logo, reproduzimos abaixo as citações dos
moradores da Região Oeste que sintetizam estas argumentações:
“Chamam a atenção porque estão instaladas em lugares inusitados (no meio de casas e
perto da população), e por isso chamam a atenção, pois poderiam causar malefícios”.
(Edson, 42 anos, bancário).
Verificamos deste modo argumentos que podem refletir a satisfação plena, indiferença,
a repulsa, e até mesmo o desconhecimento das pessoas quanto as torres de telefonia
celular. A condição técnica que permite ao telefone celular “pegar e falar bem”
51
“Antes não fazia falta, agora que surgiu não consigo ficar sem ele. Falo com minha mulher
e minha filha onde estiverem. Se tirar de mim como vai ser? E quando elas estiverem na
rua como vou falar com elas.” (Edson, 42 anos, bancário).
Desta maneira, existe uma parcela de moradores que tem medo ou receio das torres por
questões voltadas ao meio ambiente ou a saúde. Isso ocorre porque acreditam que as
torres possam emitir um algum tipo radiação, mas ao mesmo tempo, não abrem mão de
utilizar o telefone celular, e não observam no aparelho o mesmo risco existente nas
torres. Analisando os depoimentos obtidos nos questionários, para essas pessoas a
tecnologia do aparelho seria “mais segura” que a das torres, o que não é verdade. Tanto
as torres quanto os aparelhos móveis utilizam a mesma tecnologia, a qual não possui
estudos científicos isentos capazes de comprovar a segurança plena do sistema (DODE,
2002).
52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho verificamos que o telefone celular está presente em grande parte das
residências da Região Oeste como um importante meio de comunicação. Também
observamos a existência de uma rede de Estações de Rádio Base (ERB) distribuídas por
esta região formando células de comunicação, como portais eletrônicos por onde as
pessoas se conectam com seus telefones móveis. As ERB integram os telefones
celulares às demais redes de relacionamento do mundo moderno (internet, chat, e-mail,
comércio eletrônico, etc.), e permitem ainda que as pessoas circulem pelo espaço virtual
da cidade. Por meio desta rede de torres fluem as informações, bits e bytes em um
ambiente virtual, comprimindo o espaço e o tempo entre as pessoas que se falam
(HARVEY, 1992).
Neste trabalho, verificamos também que as estruturas camufladas não representam uma
solução plena para a insatisfação daqueles moradores da Região Oeste que repudiam as
torres. Em nosso entendimento, algumas pessoas não gostam das torres não apenas por
sua aparência, mas também, e principalmente, porque elas poderiam “emitir doenças”
com a sua irradiação. Logo, tal fato continuaria a ocorrer estando a torre em seu formato
padrão ou camuflado, independentemente de sua forma ou aparência externa, seja esta
tradicional ou disfarçada de elemento natural. No entanto, acreditamos que as torres
camufladas podem atenuar, mesmo que parcialmente, os reflexos negativos da
instalação das torres na cidade, e a sua ampla implementação poderia ser discutida no
futuro.
Ainda nesta temática, outras linhas de pesquisa poderiam discutir também a fiscalização
de meio ambiente integrada na RMBH, ou a viabilidade de uma padronização nacional
para licenciamento ambiental das torres de telecomunicações. Em nosso entendimento
(e sugestão da GELIP/PBH também), os geógrafos poderão ainda apresentar novas
contribuições para esta discussão. Neste movimento poderiam surgir, por exemplo,
representações cartográficas que não foram contempladas neste trabalho por limitação
de tempo ou tecnologia (software, dados, etc.). Essas contribuições poderiam discutir a
localização das torres em outras regionais com o perfil sócio-econômico diferente da
Região Oeste, ou ainda, a localização dessas estruturas em áreas de preservação
ambiental, patrimônio histórico e cultural, etc.
Assim, mesmo que a discussão sobre as torres de telefonia celular e o espaço geográfico
não esteja totalmente esgotada neste trabalho, destacamos um cenário de crise ambiental
na metrópole informacional, neste caso retratada pela amostra da Região Oeste.
Constatamos tal fato ao verificar que as torres de telefonia celular não são absorvidas no
55
espaço urbano de maneira passiva. Pelo contrário, estes artefatos são intrusos, e a
população percebe a sua alocação no meio urbano. As torres de telefonia celular
destacam-se na paisagem de modo artificial, além de expor a população e o meio
ambiente urbano a uma irradiação de segurança duvidosa, ou que ainda não é uma
unanimidade no meio acadêmico e científico. Todavia, vislumbramos um processo de
desenvolvimento tecnológico irreversível na cidade. As comunicações móveis integram
o modo de produção que está alicerçado na compressão do espaço e do tempo na
sociedade contemporânea, em uma dinâmica que não tem retorno no mundo globalizado
(HARVEY, 1992).
Destarte, acreditamos que este trabalho possa ter contribuído de maneira modesta para a
compreensão deste momento histórico em nossa sociedade. Esperamos também
despertar nas pessoas um sentimento de cautela e prudência para com os fenômenos
técnicos sobre o espaço geográfico. Não devemos agir de modo “medieval” e coibir as
inovações tecnológicas de modo radical e irracional, no entanto, o princípio científico
da precaução deve ser observado. A incerteza é uma variável que não pode ser ignorada,
principalmente no caso das torres de telefonia celular, pois estão presentes no cotidiano
urbano. Deste modo, enquanto houver a mínima probabilidade de risco, a sociedade
deve ficar de sobreaviso.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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de Janeiro: 1996, p.141-156.
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SANTOS, Milton. Por uma economia política da cidade: o caso de São Paulo. São
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2000.
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desmantelamento da TELEBRÁS.
MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES. Portaria de Outorga n.º 1.690. Diário Oficial,
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ZAHAR Editores, 1976, p.68-89.
WIRTH, Louis. In: GULHERME VELHO, Otávio. O fenômeno urbano. Rio de Janeiro:
ZAHAR Editores, 1976, p.90-113.
59
5 Estudante (curso)
6 Endereço
Outros
9 Profissão
BLOCO 2
Você sabe para que ela serve? Não faz Conhece o Pleno
18 idéia
Muito pouco Parcialmente
funcionamento domínio
25 Você acha importante este tipo de pesquisa? SIM NÃO NÃO RESPONDEU
/ /05 às :
Local de aplicação Número seqüencial
V.4/2005
62
01 ambiental da torres de
telecomunicações em Belo
Horizonte?
03 momento de produção do
EIA/RIMA p/ o licenciamento?