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FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade.

São Paulo: Paz e


terra, 1967.

Por uma pedagogia crítica

David Severo

Atualmente, no Brasil, passamos por um processo de radicalização política que


transformou Paulo Freire (1921-1997) num mártir às avessas. Para seus acusadores, ele
seria o responsável pelo víés esquerdizante do ensino no país, “um crisptocomunista
encapuçado sob a forma de alfaberizador” (HADDAD, 2019, p. 13). Por outro lado, os
admiradores de sua obra destacam o quanto o seu trabalho é reconhecido no Brasil e no
mundo, tendo sido, inclusive, declarado patrono da educação brasileira em 2012.
Primeiro é preciso considerar que, geralmente, quem critica Paulo Freire nunca leu
a obra do autor e desconhecem o “método” de alfabetização que ele desenvolveu desde
meados do século XX. O método Paulo Freire (como ficou conhecida a sua filosofia de
educação) nasceu na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, a partir de 1962 e foi
responsável pela alfabetização de cerca de 300 pessoas que aprenderam a ler em
apenas 40 dias de estudo. A experiência de Angicos foi tão importante que chegou a ser
adotada pelo governo federal em 1964, como ampla campanha de alfabetização pelo
Brasil, só não indo a frente por causa do Golpe Militar que destituiu o presidente João
Goulart1. Após esse episódio, Freire foi exilado no Chile com sua família e é lá, no
exterior, que ele produz a sua primeira obra, em 1967, intitulada Pedagogia como prática
da liberdade, na qual critica o ensino tradicional em que o professor está no centro do
processo de ensino e o aluno é um receptáculo vazio. Nesse trabalho, ele propõe uma
abordagem de alfabetização dialógica, partindo da realidade do próprio alfabetizando para
ressignifcar a maneira de aprender.
Para Freire não existe transferência de conhecimento, pois ensinar é criar as
possibilidades para produção do saber. Isso quer dizer que não há hierarquia de relações,
mas sim um diálogo para a produção de aulas de melhor qualidade. O professor deve
valorizar o conhecimento cultural dos seus estudantes para promover o respeito aos
saberes dos discentes e sua realidade objetiva. Dessa forma, é possível formar sujeitos
com pensamento crítico que reflitam sobre o mundo.

1 Para saber mais sobre a vida do autor, sugiro a leitura da biografia mais recente publicada em 2019 por
Sérgio Haddad sob o título “Educador – um perfil de Paulo Freire”, pela editora Todavia.
Pedagogia como prática da liberdade está dividido em quatro capítulos, mais um
apêndice no qual constam as palavras geradoras que foram utilizadas no processo de
alfabetização em Rio Grande do Norte. Além disso, cumpre destacar o prefácio escrito por
Francisco C. Weffort (ex-ministro da cultura do governo FHC) que aborda a relação
existente entre educação e política no trabalho de Freire, além de uma música do poeta
Thiago de Melo intitulada "Canção para os Fonemas da Alegria" dedicada ao pedagogo
quando ambos se encontaram em exílio no Chile em 1964.
O primeiro capítulo intitulado "A sociedade brasileira em transição" situa a natureza
congênita do homem como um ser de relações, capaz de se integrar à sociedade e não
apenas de se acomodar ou se adaptar a ela (FREIRE, 1967, p. 41). Daí a necessidade
dialógica do homem na interação com os outros. Nessa perspectiva, com o
desenvolvimento de nossa sociedade, cada vez mais as pessoas têm sentido o desejo de
participação na vida da cidade, por isso, destaca o autor, a importância do papel da
educação como um instrumento para responder aos desafios de uma sociedade em
trânsito, que passava do longo período colonial de exploração para a constituição de
nossa república. Nas palavras de Freire “encontrava-se então o povo, na fase anterior de
fechamento de nossa sociedade, imerso no processo”, mas “com a rachadura e a entrada
da sociedade na época do trânsito, emerge. Se na imersão era puramente espectador do
processo, na emersão descruza os braços e renuncia à expectação e exige a ingerência.
Já não se satisfaz em assistir. Quer participar.” (FREIRE, 1967, p. 54).
Contudo, como era de se esperar, as forças do atraso não permitiam que o povo
tivesse participação ativa no processo histórico. É por isso que no capítulo dois,
"Sociedade fechada e inexperiência democrática", Paulo Freire promove uma crítica
consistente a uma sociedade aparentemente democrática. Mesmo com os pequenos
avanços de nossa formação histórico-cultural, a inexperiência democrática brasileira tem
deixado à margem a maioria da população brasileira que, na época de Paulo Freire, era
constituída por quase 50% de analfabetos que, se quer, tinham direito ao voto. Vale a
pena aqui citar um trecho do livro em que Freire afirma que
Realmente o Brasil nasceu e cresceu dentro de condições negativas às
experiências democráticas. O sentido marcante de nossa colonização, fortemente
predatória, à base da exploração econômica do grande domínio, em que o “poder
do senhor” se alongava “das terras às gentes também” e do trabalho escravo
inicialmente do nativo e posteriormente do africano, não teria criado condições
necessárias ao desenvolvimento de uma mentalidade permeável, flexível,
característica do clima cultural democrático, no homem brasileiro. (1967, p. 66)

O panorama histórico que Paulo Freire faz nos dois primeiros capítulos de
Pedagogia como prática da liberdade é necessário pois sua preocupação, como
educador, é encontrar resposta no campo da pedagogia às condições da fase de
transição brasileira. Resposta que levasse em consideração o problema do
desenvolvimento econômico, o da participação popular neste mesmo desenvolvimento, o
da inserção crítica do homem brasileiro no processo de “democratização fundamental”,
que nos caracterizava (1967, p. 85). O momento em que vivia o Brasil no início da década
de 1960 exigia do homem uma nova postura frente a realidade objetiva.
Nessa perspectiva, Paulo Freire aborda no terceiro capítulo, “Educação versus
massificação”, a necessidade de se compreender uma educação que fizesse do homem
um ser cada vez mais consciente de sua transitividade, capaz de levá-lo a uma nova
postura diante dos problemas de seu tempo e de seu espaço. Evidentemente, esse
alinhamento entre educação e política não seria bem visto por aqueles que detêm o poder
econômico, já que seus privilégios poderiam ser questionados pelo povo que exigia
participação no destino democrático do país, o qual se apresentava em fase de transição,
conforme já apontamos. Para eles, quanto menos conhecimento for dispensado às
massas, mais possibilidades teriam de manutenção do status quo.
Foi pensando em uma proposta de intervenção que viesse a contribuir com o
desenvolvimento educacional dos milhares de analfabetos espalhados pelo Brasil, que
Paulo Freire criou um método ou filosofia da educação, impulsionada em alfabetização
em larga escala. Desse modo, o quarto e último capítulo do referido livro, em análise,
intitulado “Educação e conscientização” descreve pela primeira vez um sistema de
alfabetização em várias etapas para a aprendizagem não só da leitura e da escrita, mas
da conscientização sobre o mundo.
A primeira inovação do Método Paulo Freire foi produzir materiais específicos para
a alfabetização de adultos, numa época em que as cartilhas eram bem infantilizadas.
Paulo a medologia que agora se dirige a adultos, com palavras para adultos, com uma
problemática social, pensando a educação como cultura e política. Contudo, como afirma
Carlos Brandão (1981), Freire não faz política barata, na medida seu método não ensina
apenas a decodificar palavras, mas tem a intenção de levar a pessoa a ler criticamente a
realidade objetiva.
Como se dar o processo de alfabetização? Como compreender a metodologia de
Paulo Freire ou sua filosofia de educação? Pimeiramente é necessário entender que ela
mexe com a cultura, com o mundo em que o educando vive para ler as palavras.Nesse
método, uma ênfase é a mudança de uma nova consciência para formar novas ações. A
ideia paulofreiriana é fundada no princípio do diálogo, ou seja, não há quem saiba mais ou
saiba menos, mas há saberes diferentes. Paulo Freire nos mostra nesse capítulo que as
palavras geradoras dos círculos de leitura (como eram chamadas as aulas) deveriam ser
selecionadas do próprio contexto social no qual os alfabetizandos estavam inseridos e
não pelo educador em seu gabinete. A alfabetização não deve ser em linha vertical, de
cima para baixo, do educador para o educando, mas do educador com o educando.
Um exemplo prático utilizado pelo autor ocorre quando se coloca a palavra
“trabalho” ou a palavra “salário” para serem desdobradas 2; elas não estão ali ao acaso.
Nesse contexto, se reflete sobre a consciência do educando por meio de
questionamentos, tais como: qual é o trabalho que nós vivemos? Quem é que fica com a
maior parte do bem do trabalho que nós desenvolvemos de manhã à noite? por que vivo
numa sociedade onde aquele que trabalha, em meio rural, sobretudo, de sol a sol com a
enxada, fica, às vezes, com menos que precisa para sobreviver, enquanto aquele que
nunca pegou numa enxada, mas tem o capital, tem o dinheiro e tem o poder, se apropria
de todo o fruto do trabalho. Evidentemente, isso não seria uma questão de consciência
revolucionária, mas conduz o educando à reflexão, a tomar consciência do ser humano e
do mundo em que para vive transformá-lo em um mundo melhor. É por isso que para
Paulo Freire, alfabetizar é formar uma nova consciência social.
Na prática, conforme afirmamos, o processo de alfaberizção ocorre a partir da
elaboração de algumas fases ou passos, a saber: a) o levantamento do universo
vocabular dos grupos com quem se trabalhará; b) a escolha das palavras selecionadas do
universo vocabular pesquisado; c) a criação de situações existenciais típicas do grupo
com quem se vai trabalhar e; d) a elaboração de fichas-roteiro que auxiliem os
coordenadores de debate no seu trabalho. É preciso destacar que as palavras
selecionadas eram retiradas do contexto de vida dos alfabetizandos pela equipe de Paulo
Freire em um trabalho de pesquisa na comunidade, antes mesmo da ministração dos
círculos de cultura.
Freire cita ainda que numas das experiências que teve no Nordeste, desdobrou-se
a palavra tijolo (ta-te-ti-to-tu / ja-je-ji-jo-ju / la-le-li-lo-lu) e a partir dela eram juntados os
fonemas para formas mais palavras. Nesse processo de formar mais palavras, um
educando tomou o pincel e formou no quadro negro uma frase crítica já em seu primero
encontro: tu já le (num bom português – tu já lês). A experiência de alfabetização
desenvolvida por Paulo Freire revela que o processo de aprendizagem é mais significativo
quando ele parte do conhecimento que os estudantes já tem, a fim de adquirir o
conhecimento que ainda eles precisam aprender.

2 Na obra em análise, Paulo Freire insere um apêndice no qual explica detalhadamente 17 palavras
geradoras que foram utilzadas nos círculos de cultura pelo país.
E esse movimento não deveria ser desvinculado da realidade política e social do
estudante, pois ensinar, naquele contexto de 1960, precisava desenvolver o pensamento
crítico dos sujeitos envolvidos no processo de alfabetização. O método de Paulo Freire
nunca foi tão atual e necessário para os dias em que estamos vivendo de estranho
obscurantismo, em que se prega a falsa ideia de que a escola deve se preocupar apenas
em passar conteúdos escolares e não discutir política, democracia, dentre outros temas
transversais.

Referências

BRANDÃO, Carlos. O que é o método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 1981.
HADDAD, Sérgio. O educador – um perfil de Paulo Freire. São Paulo: Todavia, 2019.

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