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mudou a maneira como a longo da história nossas respostas para elas Covid-19 diferente da
crosta da Terra se move convencional?
Ciência
O feto aprende
Não é só o corpo que se forma durante a gravidez. A personalidade, a inteligência e os
traumas também estão em gestação.
Por Da Redação
31 out 2016, 18h52 - Publicado em 30 jun 1998, 22h00
Imagine como seria passar nove meses trancado em uma sala escura e morna, Recomendado para você por taboola
dormindo 16 horas por dia. O lugar, apertadinho, sem ser desconfortável, é Cientistas transformam ratos
envolvido por uma marcação de tambor constante, que não pára nem durante a altruístas em psicopatas
noite, e por um barulho esquisito de líquidos borbulhando. Você ouve, sem poder
entender, conversas abafadas do lado de fora, nas quais predomina sempre uma
voz feminina clara, que parece vir de todos os lados ao mesmo tempo. Não há O que faz a pneumonia da
muito o que fazer lá dentro além de brincar com o saco transparente que te Covid-19 diferente da
embrulha e beber o líquido quase sempre doce à sua volta. convencional?
Você já passou por isso, é óbvio – durante a sua gestação. E hoje se sabe que
Quem é o segundo paciente
esse período marcou você para sempre, moldando o seu jeito de ser, os seus curado de infecção por HIV
medos e o seu humor. A velocidade daquela batida de tambor, o carinho ou o
desprezo expressos nas vozes difusas, o gosto do líquido e outros estímulos
mais sutis são tudo o que um feto conhece até o parto. Se essa experiência for
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agradável, tudo vai evoluir para uma criança tranqüila e sensível. Se não, a
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gravidez pode provocar distúrbios psicológicos graves, até mesmo esquizofrenia parar de latir?
e autismo. Gadgets Pilot
A sala escura onde você cou trancado é o útero de sua mãe e a batida de tambor é o coração
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dela. Os borbulhos que você ouviu vêm do intestino materno. As vozes abafadas são as
está acabando com as
conversas lá fora, que chegaram até você a partir do quarto mês da gravidez, quando seus
ouvidos começaram a funcionar. A voz que predomina é a da sua mãe, porque alcança seus empresas de relógios caros
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ouvidos por dois caminhos diferentes: vinda de fora, propagada pelo ar, e transmitida pelo corpo,
direto das cordas vocais dela até você.
“Para a criança, essas coisas não são simples estímulos”, diz a psicóloga Vera Iaconeli,
professora da Universidade Paulista (Unip) e especializada em psiquismo fetal. “Aquilo é a vida, é
tudo.” Por isso, se a gestação for desagradável, a criança já vai sair do quarto escuro com uma NAS BANCAS
impressão ruim da própria existência. Segundo estudos recentes, lhos indesejados pela mãe Edição 414 Abril 2020
têm maior chance de nascer esquizofrênicos ou autistas. As duas doenças têm em comum o fato Acesse o índice
de se caracterizarem pela fuga do mundo real. São uma forma de se proteger da hostilidade dos
outros.
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Mas como é que os lhotes percebem que são indesejados? Telepatia? Não. É que eles estão
ligados à mãe pelo cordão umbilical. Se ela ca assustada, libera substâncias que também vão
agir neles. Ansiedade, nervosismo e depressão também são transmitidos quimicamente por
hormônios. “Toda situação de estresse atinge o feto”, resume a neuropsiquiatra infantil Leia também no
Há quem vá ainda mais longe. O médico Eliezer Berenstein, do Hospital Albert Einstein, em São
Paulo, acha que existe memória desde a concepção. “Mesmo antes que haja neurônios, as
células devem ter alguma maneira de registrar quimicamente o que lhes aconteceu”, acredita ele.
“Assim, ajudariam o embrião a não repetir experiências ruins.”
Não são só químicos os estímulos intra-uterinos que podem in uir na personalidade de quem vai
nascer. A partir do quarto mês, já há vários sentidos desenvolvidos, inclusive a audição. No
século passado, os médicos achavam que o útero era uma cápsula acusticamente isolada do
mundo. A criança caria então protegida de qualquer barulho que prejudicasse o seu
desenvolvimento.
Nos anos 70, obstetras colocaram microfones no interior do corpo de gestantes e concluíram que
os sons chegavam, sim, até lá dentro, mas que os barulhos internos da mulher eram tão fortes
que pareciam abafar qualquer ruído externo, a não ser que o volume fosse muito alto. Hoje se
sabe que o inquilino do útero ca bem mais protegido dos ruídos internos do que se imaginava
(na verdade, os resultados anteriores tinham sido obtidos com microfones de má qualidade) e se
encontra mais exposto aos sons que vêm de fora.
Conversas de carinho
Nos últimos anos, surgiram experiências com hidrofones (microfones que funcionam em meios
líquidos). A conclusão foi de que as conversas de fora podem, sim, ser ouvidas, mas atenuadas
pela gordura e pelos tecidos da mãe – um grito lá fora soa como um lamento em voz baixa. Os
resultados apontaram outra novidade: vozes graves, como a masculina, chegam mais fortes que
sons agudos, como a voz feminina.
“Quem sabe, não é um recurso da natureza para habituar a criança também à voz do pai?”, se
pergunta Berenstein. “A maioria dos homens não sabe o que fazer durante a gravidez e, com
medo de parecerem desajeitados ou ridículos, evitam conversar com o lho em gestação”,
constata o obstetra. Ele costuma aconselhar seus pacientes a falar constantemente com o futuro
lho, demonstrando carinho. É claro que ele não vai entender o sentido das palavras, mas, assim
como um pequerrucho qualquer, percebe e se incomoda quando os pais estão bravos ou tristes e
gosta de ser tratado com afeto.
A voz da mãe chega com relativa clareza até os ouvidos do lho. “Ele se habitua a ela”, diz a
psicóloga Iaconeli. “Por isso, mesmo um recém-nascido reconhece a fala materna e se acalma
com ela, o que prova que a relação foi construída durante a gestação.”
Massagem precoce
“É importante massagear a barriga, tocá-la sempre, fazer o feto sentir que recebe atenção”,
explica Berenstein. “Na década passada, achava-se que os bebês de proveta eram mais
inteligentes”, conta. “Depois descobrimos o que causava essa impressão: como a gestação deles
é assistida mais de perto por motivos médicos, recebem mais estímulos e se desenvolvem
melhor.”
O ideal é que toda gestação mereça o mesmo cuidado. O psicólogo francês Jean-Pierre Lecanuet,
um dos maiores especialistas mundiais nos sentidos do feto, admitiu à SUPER que “muitas das
coisas que estamos descobrindo agora são uma simples con rmação daquilo que alguns pais
sempre souberam”. Ou seja, que seus lhos precisam de carinho antes mesmo de vir à luz.
Quando o bebê chega aos seis meses de gestação, tem boa parte dos sentidos de um adulto. O
sistema auditivo está completo, ele já percebe diferenças de claridade, tem tato no corpo inteiro,
além de paladar e olfato. Por isso, alguns acontecimentos traumáticos nessa fase podem car
em sua memória inconsciente. “No nal da gestação, o feto é mais esperto do que o recém-
nascido”, diz Vera Iaconeli.
É que, boiando no líquido amniótico, ele consegue se mover com mais facilidade do que depois
de nascer, quando seus membros lhe parecem pesados demais.
Prazer e aversão
“Nessa fase, o bebê suga, chupa o dedo, mexe as pálpebras, soluça, brinca com o cordão
umbilical”, enumera Maria Valeriana, da Unicamp. “Às vezes, ele também chora.” Os modernos
aparelhos de ultra-som descobriram que, além de tudo isso, ele começa a sorrir quando algo o
agrada e demonstra claramente quando sente aversão. Se a mãe come um quitute diferente, com
um toque muito amargo, o líquido amniótico ca amargo também e a sionomia do feto deixa
claro que ele não gostou nada da receita exótica.
O ultra-som também revelou, pelo movimento ocular, que o feto sonha. “Ele passa 16 horas por
dia dormindo e sonha durante 65% desse tempo”, diz o neurologista Rubens Reimão, especialista
em distúrbios do sono. Não se sabe bem com o que ele sonha. Provavelmente, repassa o que
passou durante as breves vigílias. “O nal da gestação é a época em que se estabelece a maior
quantidade de sinapses, as transmissões entre um neurônio e outro”, prossegue Reimão. “E, para
que elas se formem, é preciso estímulo. O sonho é um momento de atividade intensa do cérebro,
que favorece a criação das sinapses.” É uma etapa fundamental para a inteligência – quanto mais
estímulos, melhor.
Ensino acelerado
Quer dizer então que o feto cursa uma espécie de pré-escola na barriga da mãe? Em termos, sim.
“Já foi mostrado que o recém-nascido prefere e se acalma com músicas que ouviu durante a
gestação”, diz Berenstein. “Acredito que a sensibilidade musical possa começar a se formar
dentro do útero.”
Há histórias impressionantes, como a do maestro canadense Boris Brott, que, quando criança,
estranhava a facilidade com que aprendia trechos de algumas obras. Comentou isso com a mãe,
que era violoncelista, e ela lhe disse que esses trechos eram exatamente aqueles que ela tocava
enquanto estava grávida e não voltou a executar depois. Também é possível que a habilidade
lingüística comece a ser adquirida na fase nal da gestação. As mães que conversam com o feto
estariam habituando-o ao ritmo e à musicalidade da língua. “Há relatos de crianças que passaram
a gravidez em um país estrangeiro, onde a mãe falava outro idioma, e depois tinham di culdade
em aprender a língua pátria”, conta Maria Valeriana.
Ainda não se sabe o quanto se pode aprender no útero. Mas não há dúvida de que, ao sair da sua
salinha escura depois de nove meses, você já nasceu sabendo ser o que é. Ao menos um pouco.
Os nervos começam a chegar aos pés, mãos e genitais. O bebê vai ter as primeiras sensações
táteis e começa a sentir o contato com a mãe.
Há neurônios, mas muitos estão isolados uns dos outros. O bebê não ouve nem vê, mas já sofre
com a ansiedade materna.
Boa parte das células nervosas já está formada e transmite impulsos nervosos, como os
produzidos pelo tato e pela audição.
Já há nervos em quase toda a pele. O feto já sente prazer com a massagem de carinho que a
mãe faz na própria barriga.
O bebê tem receptores táteis em toda a pele e em grande quantidade. Já chora e quase sorri.
O cérebro recebe impulsos nervosos vindos de todas as partes do corpo, transmitindo todos os
tipos de sensações.
TUDO SOBRE
BEBÊS
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