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Elcio O. Vianna
Médico Colaborador da Divisão de Pneumologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo.
CORRESPONDÊNCIA: Dr. Elcio O. Vianna – R. Margarita C. A. Proença, 200 - São Paulo - SP - CEP: 05587-140; Fax: 011-8131752;
E-mail: evianna@uol.com.br
VIANNA EO. Asma brônquica: o presente e o futuro. Medicina, Ribeirão Preto, 31: 229-240, abr./jun. 1998.
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e, como resultado, ressaltaram a importância do trata- pulmonar não retorna a valores normais. As medidas
mento antiinflamatório em detrimento do broncodila- de volume expiratório do primeiro segundo (VEF1)
tador. Iniciativas em todo o mundo, dirigidas à pes- são freqüentemente realizadas antes e depois do uso
quisa, continuam nos ajudando a entender melhor as de broncodilatadores para se confirmar a reversibili-
causas da doença e oferecendo novas modalidades de dade da obstrução. Em raras situações, entretanto, a
tratamento. Muitos países e associações internacio- reversibilidade não é detectada através da espirome-
nais têm programas especiais, reunindo um significa- tria, sendo, então, necessárias as medidas de volumes
tivo número de centros e pesquisadores, o que está pulmonares estáticos, como volume residual, capaci-
proporcionando um ritmo acelerado na busca da cura dade residual funcional e capacidade pulmonar total
da asma. Dos consensos às novas formas de tratamen- ou índices ainda mais sensíveis como: resistência das
to, a maior parte das recentes descobertas é resultado vias aéreas, condutância e condutância específica.
de tal integração científica. Do ponto de vista prático, o diagnóstico de asma
Dentre esses avanços, estão os antagonistas deve se basear em dados obtidos pela história, exame
de receptores dos leucotrienos, inibidores da enzima físico, radiografia e testes de função pulmonar. A pre-
5-lipoxigenase e inibidores seletivos de fosfodieste- sença de hiperreatividade das vias aéreas pode auxi-
rases. Cada uma dessas classes de drogas ainda ne- liar o diagnóstico em diversas situações, apesar de não
cessita mais estudos clínicos e epidemiológicos, an- ser específica para asma. A hiperreatividade brônquica
tes de definirmos seus papéis na terapia da asma. No- pode ser definida como uma resposta exagerada a estí-
vos mediadores são e serão focos de atenção no de- mulos broncoconstrictores que não causariam bronco-
senvolvimento de medicamentos. Por exemplo, blo- espasmo em indivíduos normais. A hiperreatividade
quear a IgE ou as interleucinas, etapas do processo brônquica pode ser medida por testes de broncopro-
inflamatório da asma, pode ser uma futura solução vocação (histamina, metacolina, exercício, etc) ou
para interferir na fisiopatologia da doença. O potencial inferida pela variabilidade circadiana da função pul-
do tratamento genético também poderá influenciar o monar. Nesse caso, a intensidade da piora da asma
tratamento da asma nas próximas décadas. entre o dia e a noite se correlaciona com o grau de
Embora os consensos e suas resultantes diretri- hiperreatividade das vias aéreas.
zes (“guidelines”) não sejam inovações terapêuticas,
é importante entender e seguir essas recomendações 3. FISIOPATOLOGIA
para melhorar o uso de drogas antigas e modernas. As
diretrizes, elaboradas por sociedades científicas, ór- Clinicamente, é possível dividir a asma em
gãos de saúde e governos são cada vez mais freqüen- atópica e não atópica. A asma atópica, ou extrínseca,
tes. A proposta dos organizadores é resumir a litera- caracteriza-se por ocorrer em indivíduos com história
tura médica, chegar a um consenso sobre condutas e familiar da doença, comumente associada a eczema
influenciar a prática clínica. As primeiras diretrizes e/ou rinite alérgica. As crises são desencadeadas por
foram publicadas no começo dos anos 90 e já foram alérgenos ambientais. Os testes de hipersensibilidade
atualizadas em novas edições(1). Poucos estudos têm mediada por IgE são positivos. A dessensibilização
pesquisado o impacto desses consensos na prática co- pode, ocasionalmente, ser bem sucedida. A asma
tidiana e, no caso da asma, esses estudos ainda são brônquica não atópica, ou intrínseca, caracteriza-se
necessários. Um progresso considerável aconteceu em por apresentar etiologia complexa, sem relação com
relação ao conhecimento que os médicos têm sobre o alérgenos ou IgE, sendo incomum a ocorrência de
componente inflamatório da asma. Tal progresso foi eczema ou rinite. A eosinofilia em sangue periférico
dectado pelo aumento do número de prescrições de e em escarro freqüentemente acompanha ambos os ti-
drogas que atuam nesse componente da doença. pos de asma, atópica e não atópica.
Independentemente do estímulo causador, os
2. DEFINIÇÕES eosinófilos migram para as vias aéreas e podem levar
à hiperreatividade brônquica através da liberação de
A asma brônquica é caracterizada por obstru- mediadores broncoconstrictores, quimiotáxicos e va-
ção de via aérea reversível, inflamação das vias aé- soativos. Os eosinófilos também liberam substâncias
reas e hiperreatividade brônquica. Em alguns pacien- granulares citotóxicas que lesam tecidos das vias aéreas,
tes, a reversibilidade não é completa, ou seja, a função principalmente o epitélio. As principais proteínas
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Asma brônquica: o presente e o futuro
catiônicas que constituem os grânulos eosinofílicos nhecem e respondem aos alérgenos através de aumento
são: a proteína básica principal, a proteína catiônica na produção de IgE. Os neutrófilos, cujo papel na asma
eosinofílica (ECP), a neurotoxina derivada do eosinó- humana não está confirmado, participam ativamente
filo, a peroxidase eosinofílica e a proteína X do eosi- da gênese da asma, em alguns modelos animais(3).
nófilo. Inclusive, a concentração de ECP sérica pode Analisando os mediadores, envolvidos na fisio-
ser um poderoso indicador da gravidade da asma e patologia da asma, temos um número progressivamente
da eficácia do tratamento(2). Do ponto de vista anato- maior de substâncias que podem representar futuras
mopatológico, a presença do eosinófilo também é opções de intervenção terapêutica. As Tabelas I e II
marcante, tendo a asma recebido a designação listam os mediadores mais estudados e mais relacio-
“bronquite crônica descamativa eosinofílica”, ao se nados à asma. Desde a descoberta de um novo media-
descreverem os achados de pacientes que morreram dor até a confirmação de sua relevância para asma,
em crise de asma. Esses achados eram: infiltrado ce- muitas etapas da pesquisa são encaminhadas, visan-
lular, predominantemente eosinofílico, descamação do, um dia, a utilização deste mediador como via de
epitelial, secreção na via aérea, hipertrofia de muscu- tratamento. Inicialmente, os mediadores são encontra-
latura lisa, broncoespasmo e edema. dos em associação com a asma experimental e, de-
Várias outras células inflamatórias são corres- pois, humana; essa associação pode ser a presença ou
ponsáveis pelos fenômemos associados à fisiopatolo- capacidade do mediador em induzir a doença ou par-
gia da asma. Os mastócitos, envolvidos diretamente tes dela. Em etapas seguintes, modos de inibir esses
nos processos alérgicos, são encontrados em quanti- mediadores são testados, em animais e humanos, para
dade aumentada no lavado broncoalveolar de asmáti- que a relevância do mediador seja corroborada. As
cos. Acredita-se que os mediadores mastocitários de- tabelas I e II apresentam informações categorizadas
terminam um broncoespasmo imediato (reação asmá- para vários componentes da fisiopatologia da asma.
tica imediata) e causam migração de outras células
inflamatórias (reação asmática tardia). Os linfócitos 4. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
exercem um papel regulador, participando da infla-
mação brônquica pela liberação de interleucinas que Para o tratamento a longo prazo, é essencial
controlam a atividade dos basófilos, mastócitos e identificar e reduzir a exposição a alérgenos, a irritan-
eosinófilos (Figura 1). Além disso, os linfócitos reco- tes e controlar outros fatores capazes de aumentar os
sintomas ou precipitar crise de asma.
Os fatores são: alérgenos inalatórios,
exposições ocupacionais e desenca-
Células na Fisiopatologia da Asma deantes não alérgicos. Os alérgenos
mais importantes por via inalatória
IgE
YY são antígenos animais, poeira domés-
+ Mastócito tica, baratas, bolor e fungos. Medi-
das para reduzi-los são: remoção de
Linfócitos carpetes, redução da umidade domi-
ciliar para menos de 50% e extermí-
+ Reação aguda
nio das baratas. Para exposições
ocupacionais, também é necessário
Quimiotaxia identificar o agente e interromper o
+
contato. Fatores não alérgicos são
de
irritantes, como fumo e poluição
Eosinófilo Lesão Epitelial (de dentro e de fora de casa), condi-
e ções ou drogas que podem piorar a
Neutrófilo asma: rinite, sinusite, refluxo gas-
Hiperreatividade
Brônquica troesofágico, infecções por vírus, be-
tabloqueadores, sensibilidade a sul-
Figura 1 - Células envolvidas na fisiopatologia da asma. fitos, a aspirina ou a outros antiin-
flamatórios não hormonais.
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Atualmente se preconiza que o paciente e sua entes como cuidar da asma. Os pacientes devem tam-
família assumam conjuntamente o tratamento farma- bém receber e aprender a usar um diário escrito com
cológico, as estratégias de controle ambiental, a iden- um plano de detecção e de ação para as exacerbações.
tificação e auto-tratamento das exacerbações e a co- É especialmente importante fornecer o plano, por es-
municação apropriada com o sistema de saúde. A edu- crito, para pacientes com asma persistente, moderada
cação em asma é o mecanismo pelo qual os pacientes e grave, ou história de crises graves. A aderência deve
aprendem a realizar essas tarefas. A educação deve ser estimulada através da comunicação livre e aberta,
começar no momento em que a asma é diagnosticada individualizando, revendo e ajustando os planos na
e deve estar integrada a todas as etapas do tratamento medida do necessário; enfatizando os objetivos e os
da asma. As instituições responsáveis por saúde pre- resultados obtidos e incentivando a participação da
cisam sistematicamente ensinar e rever com os paci- família.
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Asma brônquica: o presente e o futuro
5. DISFUNÇÃO DAS CORDAS VOCAIS multicêntricos (4). Além da toxicidade por absorção
sistêmica, outros problemas potenciais devem ser men-
A disfunção das cordas vocais (DCV) é uma cionados, como tolerância ao efeito broncodilatador,
causa de obstrução das vias aéreas que pode mimetizar tolerância ao efeito broncoprotetor, aumento da reativi-
a asma. Um perfil comum, mas não obrigatório, de dade das vias aéreas e aumento da mortalidade.
pacientes com essa síndrome é mulher, entre vinte (20)
e quarenta (40) anos, com educação de nível superior,
trabalhadora do sistema de saúde e acima do peso ide-
al. Geralmente, os pacientes são erroneamente diag- Tabela III - Efeitos colaterais dos agonistas β2-adre-
nosticados como asmáticos, não responsivos a trata- nérgicos
mento, usam grande quantidade de medicamentos, têm
Efeitos colaterais Mecanismos
história de internações hospitalares, visitas a pronto-
socorro e entubação orotraqueal. Em alguns pacien- Tremor Estímulo do receptor β2-adre-
tes, o exercício físico pode desencadear a obstrução. nérgico no músculo esque-
A laringe é apontada como a área da obstrução que lético
não melhora com broncodilatadores, mas melhora com
Taquicardia e arritmias Vasodilatação com taquicardia
inalação da mistura de hélio e oxigênio (70% e 30%,
reflexa e estímulo do receptor
respectivamente). O diagnóstico definitivo se dá pela
β2-adrenérgico no coração
observação das cordas vocais que apresentam um
movimento paradoxal de adução durante a inspiração. Queda da PO2 Vasodilatação em áreas de va-
soconstricção pulmonar com-
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salmeterol e formoterol, não se associa a mudanças da da droga. Tudo isso e a ênfase na abordagem antiin-
inflamação de vias aéreas, descartando, nesse caso, um flamatória colocaram a teofilina como droga de ter-
papel antiinflamatório relevante desses agonistas. ceira linha, no tratamento da asma (Figura 2).
Na asma aguda, os β-agonistas são drogas de Concentrações séricas excessivas podem ser
primeira escolha. Geralmente, o início do tratamento resultantes de erro do sistema de saúde, erro do paci-
consiste de inalações de agonistas de curta duração ente ou conseqüência de interações com doenças
(salbutamol, fenoterol ou terbutalina) até três vezes (insuficiência cardíaca, hepática, febre) ou drogas.
na primeira hora e, depois, uma vez por hora. Tal tra- Sessler avaliou cinco mil quinhentos e cinqüenta e sete
tamento pode ser dado continuamente até que uma (5557) medidas de teofilinemia no pronto-socorro. Dez
resposta clínica adequada seja obtida ou efeitos por cento apresentava-se acima de 20 µg/ml, com
colaterais limitem a continuação (p. ex.: taquicardia, 2,8 % acima de 30 µg/ml. Os fatores associados aos
arritmias ou tremores). Os agonistas de ação prolon- níveis elevados estão demonstrados na Tabela IV. Os efei-
gada não devem ser usados no tratamento da crise tos colaterais mais comuns foram manifestações gas-
asmática. trointestinais, neurológicas (tremores e nervosismo),
cardiovasculares e metabólicas. Convulsões ocorreram
6.2. Broncodilatadores – Teofilina em 6 % dos casos(6).
Os mecanismos de ação da teofilina, ainda in- O uso de teofilina de maneira tempo-dependente
determinados, podem se dever ao aumento de AMPc é melhor do que de maneira homeostática, ou seja,
no músculo liso brônquico e à inibição de fosfodies- a concentração sérica constante, durante as vinte e
terases. Provavelmente, a inibição de isoenzimas da quatro (24) horas, não é tão benéfica quanto em altos
fosfodiesterase tem efeitos benéficos que vão além da e baixos, nas horas adequadas. Martin et al.(7) mostra-
broncodilatação, como efeitos antiinflamatórios e ram que níveis séricos constantes, em torno de 11 a
imunomoduladores. A teofilina e outras xantinas têm 14 µg/ml, não são tão eficazes como níveis menores
um potencial tóxico maior do que o de qualquer outra durante o dia (7 a 8 mg/ml) e maiores durante a
medicação para asma. A toxicidade é dose dependen- noite, 16 a 18 µg/ml. Na asma aguda, refratária ao
te e o risco aumenta quando a concentração sérica ul- tramento convencional e que pode levar à morte, a
trapassa 20 µg/ml. Isso torna o uso de teofilina mais aminofilina deve ser usada em infusão lenta com
complicado, exigindo dosagens séricas e atenção es- monitorização constante e medida da concentração
pecial para os fatores que interferem nos níveis séricos sérica.
Figura 2 - Medicações usadas, para asma, por médicos nos EUA. Cada segmento representa a proporção do total de medica-
ção prescrita para aquela respectiva categoria de droga. Dados do National Drug Therapeutic Indes, IMS America LTD., 1994.
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Asma brônquica: o presente e o futuro
6.4. Corticoesteróides
Tabela IV - Fatores associados à intoxicação por teofilina
Os corticoesteróides (CS) reduzem a
em 116 casos
reatividade brônquica e recuperam a integri-
Fatores associados Porcentagem
dos casos dade das vias áereas. Entretanto, o mecanis-
mo de ação que leva a esses efeitos ainda não
Erro do paciente 29
foi completamente esclarecido. As moléculas
- Tomou dose extra para alívio dos sintomas 17
entram na célula por difusão passiva, através
- Recebeu dose extra dos pais ou responsável 8 da membrana. No citoplasma, ligam-se a re-
- Tomou a dose ou medicação incorreta 3 ceptores específicos para os glucocorticóides.
- Ingestão acidental por uma criança 1 A translocação para o núcleo e a ligação ao
Erro médico ou hospitalar 21 DNA são os próximos passos para os CS exer-
- Dose excessiva foi prescrita 16 cerem seus efeitos. Essas etapas são controla-
- Duas receitas contendo teofilina 4 das por mediadores chamados fatores de trans-
- Medicação identificada incorretamente 1 cripção (Figura 3).
A eficácia clínica é, em grande parte,
Defeito do metabolismo de teofilina 20
decorrente dos efeitos inibitórios sobre o re-
- Insuficiência cardíaca congestiva 14
crutamento de leucócitos para as vias aéreas.
- Doença hepática 6 Quase todas as células que participam da fisio-
Interação medicamentosa 5 patologia da asma, incluindo linfócitos, eosi-
- Eritromicina 2,5 nófilos, neutrófilos, macrófagos, monócitos,
- Cimetidina 2,5 mastócitos e basófilos, são susceptíveis à ini-
Infecção por vírus 3 bição pelos CS. A administração terapêutica
desses fármacos proporciona redução dos parâ-
Tentativa de auto-intoxicação 10
metros inflamatórios no lavado broncoalveo-
Causa desconhecida 26 lar, escarro e tecidos, concomitantemente à
Adaptado de Sessler (6). Em alguns casos, mais de um fator
redução da hiperreatividade brônquica. Efei-
esteve associado. tos positivos na reatividade brônquica foram
observados tão cedo quanto após três (3) se-
manas de tratamento com CS inalatórios. In-
6.3. Broncodilatadores – Anticolinérgicos felizmente, a interrupção do tratamento resulta no re-
São antagonistas da acetilcolina, específicos torno dos sintomas dentro de semanas a meses, após a
(8). Portanto, os CS inalatórios inibem os
para o receptor muscarínico e semelhantes à atropina. interrupção
Portanto, aliviam a broncoconstricção mediada pelo mecanismos subjacentes da asma e causam remissão
sistema nervoso autônomo colinérgico. Apenas depois dos sintomas, no entanto, sem curar a doença.
da introdução do brometo de ipratrópio, essa classe Os CS inalatórios para uso em asma são: beclo-
de drogas teve algum papel no tratamento da asma. O metasona, flunisolida, triancinolona, budesonida e flu-
brometo de ipratrópio tem mínima absorção sistêmi- ticasona. A vantagem dessas drogas reside na propor-
ca, quando administrado por via inalatória, o que per- ção da droga inalada que atinge a célula alvo, compa-
mite seu uso. Efeitos colaterais incluem secura da oro- rada à proporção que atinge a circulação sistêmica. A
faringe, gosto desagradável após inalação, tosse, ner- relação entre potência tópica/sistêmica é 0,1 para be-
vosismo e irritação pelo aerossol. O uso clínico de clometasona; 0,05 para flunisolida e triancinolona; 1,0
tais agentes, na asma crônica, se limita a substituir para budesonida; e (ainda maior) 25,0 para a flutica-
os agonistas β2-adrenérgicos, quando o paciente não sona. Outra característica desejável para tais corticói-
pode fazer uso destes e nem da teofilina, geralmente, des é o rápido metabolismo e eliminação da porção
por causa de efeitos colaterais. Na asma aguda, os que atinge a circulação sistêmica. Após inalação,
estudos clínicos têm sido contraditórios. Enquanto 80-90% da dose se deposita na boca e orofaringe e é
alguns descrevem os efeitos broncodilatadores do ipra- deglutida. A porção fica, então, disponível para ab-
trópio, outros relatam falta de benefícios adicionais sorção, pelo trato gastrointestinal. A fluticasona e a
ao β-agonista. budesonida são sujeitas a grande depuração, na
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Receptores de glucocorticóides
Dexametasona GR (receptor)
Dexa
Dexa
primeira passagem pelo sistema porto-hepático, res- osteoporose, catarata, ganho de peso, hipertensão ar-
tando, portanto, menos para efeitos sistêmicos. Os efei- terial sistêmica, miopatia, intolerância à glicose, he-
tos sistêmicos são também influenciados pelo método matomas, insuficiência adrenal, disfunções imunoló-
de inalação empregado. Desde a escolha entre pó ou gicas e várias alterações do humor e comportamento.
spray até a técnica correta de uso, muitos fatores in- Os CS inalatórios são, atualmente, a primeira
fluenciam a relação entre efeito tópico e sistêmico. linha no tratamento de pacientes que precisam de bron-
Os supostos efeitos colaterais dos CS inalatórios codilatador quase diariamente. A dose a ser usada no
são supressão adrenal, desmineralização óssea, alte- início do tratamento ainda não está definida. Dois es-
rações do metabolismo dos carboidratos e redução do quemas têm sido propostos: iniciar com dose baixa e
crescimento linear de crianças. Os dados disponíveis aumentar ou iniciar com dose elevada e diminuir. En-
sugerem que doses menores de 400 µg/dia, em crian- quanto novos estudos são esperados para definir a
ças, e de 800 µg/dia, em adultos, são consideradas melhor abordagem, doses elevadas devem ser reser-
seguras ou de pouco risco para a supressão do eixo vadas para pacientes com asma mais grave. Em ter-
hipotalâmico-hipofisário-adrenal. Os efeitos sobre mos de freqüência, a administração em quatro (4) ve-
mineralização óssea e metabolismo dos carboidratos zes ao dia pode ser reservada aos pacientes com
são considerados pouco importantes do ponto de vis- asma mais grave, porque, com apenas duas (2) toma-
ta clínico, enquanto o crescimento peripuberdade é das ao dia, a maior parte dos pacientes mostra resulta-
mais vulnerável aos CS inalatórios. Portanto, doses dos satisfatórios. Alguns estudos recentes, envolven-
mínimas devem ser usadas em jovens. Efeitos locais do cronoterapia com CS, adicionaram informações im-
dependem do método de inalação usado, dose e fre- portantes nesse assunto.
qüência da administração. O mais comum é a disfonia Para pacientes com asma que piora à noite, a
(1/3 dos pacientes) que, como a candidíase, pode ser farmacoterapia deve intensificar seus efeitos nas ho-
facilmente tratada. Por outro lado, efeitos colaterais ras de sono. Mas, mesmo no tratamento do asmático sem
dos CS sistêmicos são reconhecidamente problemáti- piora noturna, deve-se procurar o melhor momento para
cos, na clínica pneumológica, e incluem: fraturas por a administração das drogas a fim de se obter a melhor
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Asma brônquica: o presente e o futuro
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O segundo estudo teve um protocolo semelhante trabalhos clínicos. Outra abordagem visando, ini-
com doses diferentes (337,5 e 450 mg), sendo que bir a produção de LTs, é o bloqueio da 5-lypoxygena-
ambas causaram aumento do VEF1 a curto prazo. Os se-activating protein (FLAP), um cofactor residente
aumentos no VEF1 matinal variaram de 70 a 170 ml na membrana nuclear, que apresenta o aracdonato
com 337,5 mg e 190 a 300 ml com 450 mg, durante as para a 5-LO. Nessa classe de drogas, encontramos
quatro (4) semanas de tratamento. A melhora dos sin- em desenvolvimento o MK-0591, LADRE x 1005 e
tomas foi significativa na quarta semana para os pa- MK-886.
cientes com 450 mg. Nenhuma reação adversa gra-
ve ou inesperada foi atribuída ao tratamento (14). Os 6.6.1. Zileuton
resultados obtidos por esses estudos confirmaram Em estudos clínicos, o tratamento com zileuton
dados prévios, embora estudos em execução defini- proporcionou melhora da função pulmonar, redução
rão melhor o papel do pranlukast no tratamento da dos sintomas, redução do uso de β-agonistas e das exa-
asma. cerbações de asma. Israel et al.(16) estudaram o efeito
de três (3) meses de tratamento com 400 e 600 mg/d
6.5.3. Montelukast
de zileuton, em asma moderada. Apenas 6% dos cento
Montelukast (MK-0476) é um dos mais poten- e trinta e dois (132) pacientes que receberam a dose
tes antagonistas. Um estudo com diversas doses, alea- mais alta apresentaram crise de asma, contra 16% dos
tório, cruzado e comparado com placebo foi realizado cento e trinta e cinco (135) pacientes que receberam
para avaliar a tolerabilidade e eficácia clínica do mon- placebo. Além disso, o VEF1 e a qualidade de vida
telukast, em pacientes com asma crônica (recebendo e melhoraram no grupo recebendo 600 mg. Elevações
não recebendo CS inalatórios). Vinte e nove (29) as- em testes de função hepática foram uma preocupação
máticos receberam montelukast, 200 mg, três vezes importante no tratamento com zileuton(16). Outro estu-
por dia, durante dez (10) dias. Um total de onze (11) do, para avaliar a eficácia a longo prazo e segurança
pacientes relatou vinte (20) efeitos colaterais, enquanto do zileuton, mostrou, novamente, broncodilatação agu-
tomavam montelukast; porém, foram vistos números da, duas (2) a cinco (5) horas depois da dose inicial
semelhantes quando o placebo foi administrado. Dois (400 ou 600 mg). No 36o dia, o VEF1 melhorou 16%
pacientes abandonaram o estudo por causa de eventos em pacientes tratados com 600 mg. As mudanças de
adversos: infecção respiratória e erupção cutânea. Es- VEF1 para pacientes tratados com 400 mg não foram
sas complicações não foram consideradas como rela- significantes(17).
cionadas à droga em teste. Dois casos de anormalida-
des laboratoriais foram descritas: subida passageira e 6.7. Uso clínico dos antileucotrienos
moderada da bilirrubina e, em outro paciente, da ALT. Da informação atualmente disponível, parece
Por outro lado, montelukast proporcionou melhor que os antileucotrienos melhoram a função pulmonar
VEF1 nos dias um (1) e onze (11) do tratamento, di- e diminuem os sintomas, a freqüência das crises e a
minuição dos sintomas diurnos e do uso de β-agonista. necessidade de broncodilatadores. A maioria dos
O estudo também demonstrou que os benefícios clíni- estudos selecionou asma leve ou moderada, mas es-
cos, observados em pacientes tomando montelukast, sas drogas podem funcionar melhor na asma modera-
aconteceram independentemente do uso concomitan- da-para-grave. Embora tenha sido sugerido que os an-
te de CS inalatório(15). tileucotrienos sejam uma alternativa para substituir os
CS inalatórios, incluindo pacientes que não conseguem
6.6. Inibidores de síntese de leucotrienos
usar medicação por via inalatória, não há prova de
Uma abordagem também promissora para o tra- que isto é correto. A experiência clínica, em maior
tamento de asma é diminuir a formação dos leucotrie- escala, poderá estabelecer um papel mais específico
nos. Os cisteinil-LTs são derivados do metabolismo para essas drogas na terapia de asma. É importante
do ácido aracdônico pela 5-lipoxigenase (5-LO). Vá- ressaltar que esses agentes podem ser a primeira linha
rias drogas que inibem a ação da 5-LO estão em de- para o tratamento de algum subtipo de asma. É o caso
senvolvimento e testes, por exemplo ZD-2138 e ABT- da asma induzida por aspirina (AIA). Pacientes com
761. O zileuton está disponível para o uso clínico e é AIA apresentam boa resposta terapêutica aos antileu-
o inibidor da 5-LO mais estudado, incluído em vários cotrienos (antagonistas de receptores ou zileuton).
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Asma brônquica: o presente e o futuro
VIANNA EO. Bronchial asthma: today and tomorrow. Medicina, Ribeirão Preto, 31: 229-240, apr./june
1998.
ABSTRACT: Asthma is characterized by reversible obstruction, inflammation, and hyperreac-
tivity of the airways. The diagnosis is based on clinical information and pulmonary function tests.
Eosinophils are a main feature of the asthma pathophysiology. They produce bronchoconstrictor,
chemotactic, and vasoactive products that lead to hyperreactivity. Also, they damage surrounding
tissue, by releasing their cytotoxic granule content.
The recommendations for the treatment of asthma were organized around four components of
effective asthma management: use of objective measures of lung function to assess the severity of
asthma and to monitor the course of therapy; environmental control measures to avoid or eliminate
factors that precipitate asthma symptoms or exacerbations; comprehensive pharmacologic therapy
for long-term management designed to reverse and prevent the airway inflammation characteristic
of asthma as well as pharmacologic therapy to manage asthma exacerbations; and, patient educa-
tion that foster a partnership among the patient, family, and clinicians.
The β2-adrenergic agonists are the most commonly used class of drugs for the treatment of
asthma. Using this drug on an as-needed basis is now more frequently accepted and recommended.
In acute asthma, a β2-adrenergic agonist is still the medication of choice. Long-acting, salmeterol
and formoterol, administered only twice daily, can decrease symptoms of asthma during day and
nighttime. Theophylline, whose use has been limited by the potential for serious toxicity, may regain
an important position in the asthma treatment with the development of the knowledge about its
antiinflammatory actions. Dosing theophylline on a time-related basis also improves the risk/benefit
ratio and makes theophylline a useful drug for nocturnal asthma. Ipratropium bromide, an anticho-
linergic drug, still awaits a defined role in the treatment of asthma. Corticosteroids, including in-
haled forms, have measurable effects on symptoms, lung function, bronchial responsiveness, and
inflammation associated with asthma. Side-effects of chronic use limit systemic administration, but
not inhaled administration. Newer preparations, like budesonide, flunisolide, and fluticasone de-
crease the incidence of possible side-effects related to inhaled steroids by having better ratio of
topical to systemic potency.
Newly released medications include anti-leukotrienes (LTs) agents which function either by block-
ing the interaction of LTs with receptors (receptor antagonists) or by inhibiting leukotriene synthesis
(synthesis inhibitors). Representatives of the antagonists discussed here are zafirlukast, pranlukast,
and montelukast. Pranlukast, the first leukotriene receptor antagonist to be marketed, improves
lung fuction and symptons when 450 mg b.i.d. is used. Zileuton, a leukotriene synthesis inhibitor,
has been shown to improve lung fuction, reduce symptoms, reduce use β−agonists and asthma
exacerbations. These positive effects are dose dependent and liver function abnormalities seem to
be a relevant issue during zileuton use in some patients.
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