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Formar nas crianças hábitos de saber ver televisão poderá por vezes significar simplesmente
desligar o televisor: ou porque há coisas melhores a fazer, ou pela consideração devida a outros
membros da família, ou ainda porque ver televisão indiscriminadamente pode ser prejudicial. Os
pais que se servem da televisão de maneira regular e prolongada como de uma espécie de arma
eletrônica para os próprios filhos, renunciam ao papel de serem eles os primeiros educadores. Uma
semelhante dependência da televisão pode privar os membros da família de oportunidades de
interagir uns com os outros através da conversão, de atividades partilhadas e da oração comum. Os
pais sábios também têm consciência de que mesmo os bons programas televisivos deveriam ser
integrados com outras fontes de informação, entretenimento, educação e cultura.
Supervelocidade da TV
a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) realizou recentemente, através do seu Núcleo
de Estudos Psicológicos, um amplo estudo sobre televisão e criança. Desse trabalho resultou um
relatório técnico no qual se salienta o efeito, até mesmo junto ao adulto, da supervelocidade com
que as imagens se sucedem no vídeo.
“A velocidade com qua as imagens são transmitidas e até justapostas, excede normalmente ao
ritmo necessário à percepção consciente. Daí que a mente do telespectador tende a armazenar as
informações valendo-se de catalogação rápida em categorias já preexistentes, uma vez que não há
tempo para examiná-las criticamente, perceber os traços de novidade, hierarquizá-las pela
relevância, coerência ou outros critérios...”
“Também existe o fato, percebido até por leigos, de que a velocidade de apreenção cognitiva de
uma mensagem varia de acordo com o telespectador. Na TV isso não é respeitado, como o é na
leitura, onde o leitor é quem define seu ritmo de apreenção, dando espeço para uma leitura crítica
quando isto se faz necessário”.
Até na França, país culto por excelência, a ameaça vem-se fazendo sentir. Meirelle Chalvon
constata preocupada a frequência com que as crianças telespectadoras se mostram incapazes de
traduzir em palavras aquilo que acabara de ver. E a psicóloga explica a razão: “A TV não propicia
aquisição de linguagem, porque é inútil dar nome àquilo que (simplesmente) se vê... fornecendo
imagens, ela se dirige mais aos sentimentos do que ao espírito, oferecendo mais sensações do que
noções”.
Como a linguagem pede a passagem do concreto para o abstrato, do objeto para o conceito, a
psicóloga se pergunta se as imagens, entregues já prontas pela TV, não correm o risco de estancar a
possibilidade de abstração da criança.