Sie sind auf Seite 1von 31

Causas do desmatamento da Amazônia:

uma aplicação do teste de causalidade de Granger acerca


das principais fontes de desmatamento nos municípios
da Amazônia Legal brasileira

Marcelo Bentes Diniz Nicolino Trompieri Neto


Professor do PPGECONOMIA/UFPA Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica
do Ceará – IPECE
José Nilo de Oliveira Junior
Professor do PPGECONOMIA/UFPA Márcia Jucá Teixeira Diniz
Professora do PPGECONOMIA/UFPA

Palavras-chave Resumo Abstract


Amazônia; desmatamento; Muitas são os fatores, apontadas pela literatura per- Many are the factors indicated by the pertinent
causalidade. tinente, acerca das causas do desmatamento da literature concerning the causes of deforestation in
Amazônia Legal brasileira. Desde aspectos endó- Brazilian Legal Amazon. From endogenous aspects
Classificação JEL C59, Q23. genos como as condições edafo-climáticas, a as- as the edafo-climatic conditions to aspects related to
pectos relacionados à ação antrópica como os anthropic action, like the population movements,
movimentos populacionais, o crescimento urba- urban growth, and especially, the independent or
no e, em especial, as ações autônomas ou induzi- induced actions of the different public and private
das dos diversos agentes econômicos públicos e economic agents who have acted in the region,
privados que têm atuado na região, configurando historically configuring the processes of
historicamente os processos de ocupação do solo occupation of the land and economic
e aproveitamento econômico do espaço amazô- exploitation of the Amazonian region.
nico. Este artigo tem como objetivo realizar um The objective of this article is to perform a causality
teste de causalidade, no sentido de Granger, nas test, in the Granger sense, in the main variables
principais variáveis sugeridas como importantes suggested as important that explain the
para explicar o desmatamento da Amazônia Le- deforestation of the Legal Amazon,
gal, no período de 1997 a 2006. A metodologia a in the period from 1997 to 2006.
ser empregada se baseia em modelos dinâmicos The methodology to be used is based on dynamic
para dados em painel, desenvolvidos por Holtz- models for the panel data, developed by Holtz-Eakin
Eakin et al. (1988) e Arellano-Bond (1991), que et al. (1988) and Arellano-Bond (1991) who
desenvolveram um teste de causalidade baseado developed a causality test based on the seminal article
no artigo seminal de Granger (1969). Entre os of Granger (1969). Among the main results found is
principais resultados obtidos está a constatação the empirical evidence that there is a bidirectional
Key words empírica de que existe uma causalidade bidirecio- causality between deforestation and the areas of
Amazon; deforestation; causality. nal entre desmatamento e as áreas de culturas permanent and temporary cultures,
permanente e temporária, bem como o tamanho as well as the size of the cattle herd.
JEL Classification C59, Q23. do rebanho bovino.

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


122 Causas do desmatamento da Amazônia

1_ Introdução nas e as partes Central e Oeste


Segundo os dados consolidados do Pro- do Estado do Acre.
jeto de Monitoramento do Desfloresta- Historicamente, são os dois primei-
mento da Amazônia Legal (Prodes), ligado ros macroespaços que possuem uma lógica
ao Instituto Nacional de Pesquisas Espa- econômica baseada em vetores de desma-
ciais, foram desmatados, em 2007, cerca tamento, sendo este último contrabalança-
de 11,5 mil km2 da Amazônia Legal bra- do pelo efeito virtuoso que a Suframa e o
sileira. No acumulado, estimava-se que, Polo Industrial de Manaus têm exercido
até 2004, aproximadamente 18% do ter- sobre o território em sua área de influência
ritório da Amazônia Legal teria sido alte- (Rivas et al., 2008).
rado por algum tipo de ação antrópica Ressalta-se que essa conformação
(MIN e MMA, 2004). territorial (e ocupacional) está relacionada
Todavia, a diversidade interna da direta ou indiretamente aos meios de aces-
Amazônia, tanto em relação as suas carac- so à região e como esses vão servindo de
terísticas naturais quanto ao seu processo canalizadores do processo migratório, do
de ocupação, acabou por ter uma confor- crescimento demográfico e dos adensa-
mação de seu território, que pode ser resu- mentos urbanos decorrentes. O Arco do
mida em três macrorregiões: Povoamento, por exemplo, está diretamen-
1. Arco do Povoamento Adensado, te relacionado ao adensamento de estradas,
que corresponde aos Estados do com um aumento da densidade demográ-
Mato Grosso, de Rondônia e do fica no cinturão que se formou entre 300 e
Tocantins, e as partes do Sudeste 500 quilômetros quadrados de largura para
e do Nordeste do Pará, do Sudes- essas (Becker, 2006).
te do Acre e do Sul do Amapá; Por outro lado, o histórico do desma-
2. Amazônia Central, que compre- tamento pelos números do Ministério da In-
ende o Oeste e o Norte do Esta- tegração Nacional e do Ministério do Meio
do do Pará, o Norte do Estado Ambiente (2004) acompanhou uma traje-
do Amapá e o Vale do Rio Made- tória com diferentes intensidades, com pelo
ira, no Estado do Amazonas; menos dois recortes temporais distintos, a
3. Amazônia Ocidental, que congre- saber: até 1980 e a partir da década de 1980.
ga o Estado de Roraima, todo o No primeiro recorte, o desmatamen-
restante do Estado do Amazo- to auferido está relacionado a um proces-

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 123

so de desbravamento induzido pelo Esta- mento de substituição de áreas de pasta-


do, com a abertura de estradas e os proje- gem para a produção de grãos, em virtude
tos de colonização oficiais.1 E ainda a es- dos altos preços alcançados por algumas
truturação da atividade pecuária aprovei- commodities agrícolas internacionais (Bran-
tando certas vantagens comparativas locais dão et al., 2005). Aqui aparecem, entre ou-
e a conjunção de incentivos fiscais e espe- tros que tiveram um crescimento acentua-
culação fundiária. do de sua área plantada, os Estados do
No segundo recorte, o processo de Pará e do Mato Grosso e, mais recente-
desmatamento ganha caráter espontâneo mente, de Rondônia e do Tocantins.
movido pela lógica da valorização econô- Desta forma, dado o grande núme-
mica do território ocupado e pela maximi- ro de possíveis determinantes do processo
zação dos resultados privados da explora- de desmatamento na região, este artigo tem
ção dos recursos naturais, especialmente como objetivo realizar um teste de causali-
pelas atividades madeireira e pecuária, sen- dade, no sentido de Granger, nas principais
do esta última a de maior escala. Nas três variáveis apontadas como importantes para
últimas décadas, o desmatamento não só explicar o referido processo, segundo a li-
multiplica sua velocidade, mas também a teratura pertinente. Para tanto, foram utili-
sua espacialidade. Nesse período, a inércia zados dados em nível municipal para a
do processo passa a ser basicamente im- Amazônia Legal, no período de 1997 a 2006.
pulsionada pela expansão da pecuária, es- Para alcançar os objetivos acima des-
pecialmente de caráter extensivo. critos, utilizam-se modelos dinâmicos para
Na primeira “etapa”, a região totali- dados em painel, desenvolvidos por Holtz-
zou 300 mil km2 de perda da floresta origi- Eakin et al. (1988) e Arellano e Bond (1991),
nal (6% do território regional), enquanto, que desenvolveram um teste de causali-
1 Para uma retrospectiva na segunda “etapa”, o processo de desma- dade baseado no artigo seminal de Gran-
desse período e seu impacto tamento apresentou números muito supe- ger (1969).
sobre o desmatamento, ver,
riores. Na década de 1980, o desmatamen- Além desta introdução, o artigo é
por exemplo, Becker (1990).
Ainda, segundo Becker, o to atinge cerca de 130 mil km2, enquanto, composto de mais cinco seções. A seção 2
período entre 1966 e 1985 na década de 1990, 150 mil km2, e, só nos trata das evidências empíricas das causas
marca o planejamento efetivo primeiros anos do século XXI, por cerca do desmatamento; a seção 3 traz uma dis-
na região amazônica, em uma
de 120 mil km2 (MIN e MMA, 2004). cussão sobre a causalidade entre as fontes
fase denominada por ela de
“Produção do Espaço Estatal” A dinâmica mais recente, porém, de principais de desmatamento; a seção 4 dis-
(Becker, 2006). ocupação do solo, está ligada a um movi- cute a metodologia do teste; a seção 5 estu-

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


124 Causas do desmatamento da Amazônia

da as variáveis utilizadas; a seção 6 analisa ii. forças direcionais (ou causas) sub-
os resultados empíricos e, por fim, a seção jacentes, que incluem ampla gama
7 traz as considerações finais. de categorias: fatores demográfi-
cos, econômicos, institucionais/
de política, culturais e político-
2_ Os resultados empíricos acerca sociais;
das causas do desmatamento iii. um terceiro grupo de fatores bas-
tante heterogêneos entre si, com
2.1_ As evidências empíricas características distintas que com-
internacionais poriam todos os demais fatores
não incluídos nas duas classifica-
Geist e Lambin (2001), na tentativa de
ções anteriores.
entender o padrão e as mudanças nas taxas
de transformação ambiental em termos Segundo suas conclusões, entre as
das forças impulsionadoras que agem glo- causas primárias mais significativas estariam
balmente, regionalmente e em nível dos a expansão da agropecuária, seja da cultura
tomadores locais de decisão responsá- temporária, seja da cultura permanente, e a
veis por essas transformações, apresentam pecuária de caráter eminentemente exten-
ampla revisão bibliográfica da literatura sivo; a extração da madeira para diversos
internacional acerca dos fatores causais usos e fins comerciais e a infraestrutura
sugeridos como responsáveis pelo des- existente, que permite o acesso, o desloca-
matamento nos mais diferentes países. mento e a fixação dos diferentes agentes
Com base em 152 estudos de casos que integram as atividades econômicas da
nacionais, os autores agrupam as diferentes agropecuária e de exploração florestal, es-
causas (ou forças impulsionadoras) em al- pecialmente de madeira. Neste último caso,
gumas características comuns, das quais re- a infraestrutura e a logística de transporte,
sultam três grandes grupos: bem como as diferentes modalidades de co-
lonização, inclusive os assentamentos popu-
i. causas agregadas primárias (dire-
lacionais, serviriam como fatores de atração
tas) e relacionadas, em número
de contingentes populacionais e poderiam
de três: expansão da agricultura,
ser apontados como causas primárias.
extração de madeira e expansão
As causas subjacentes comporiam o
da infraestrutura;
ambiente econômico, social, cultural e ins-

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 125

titucional associados às atividades econô- de aumentar os preços na agricultura e da


micas citadas. Assume destaque aqui todo madeira, incentivando o desmatamento.
o aparato jurídico, incluindo o direito de uso Mais especificamente com relação
da terra (propriedade), bem como as políti- ao que é chamado na literatura de “pobreza
cas públicas direcionadas direta ou indire- ambiental”, isto é, a relação direta entre a
tamente ao espaço e as atividades envolvidas pobreza da população e a degradação am-
com o processo de desmatamento, onde biental, Reardon e Vosti (1995) e Caven-
concorrem ainda os fatores culturais que dish (1999) ratificam essa tese para alguns
moldam de uma maneira ou de outra o países detentores de florestas tropicais.
comportamento dos agentes econômicos Vale ressaltar que, no caso da Amazô-
e mesmo das populações tradicionais. nia, embora Wood e Schmink (1992) tenham
Angelsen e Kaimowitz (1999), na acentuado que, graças à desigual distribui-
análise dos resultados de 140 modelos eco- ção de terras, os pobres são constantemen-
nômicos acerca das causas do desmata- te compelidos a procurar novas fronteiras
mento nos países tropicais, sustentam a re- e, por essa via, promover o desmatamento,
futação de três teses importantes: isso não parece se repetir para anos mais
recentes (Diniz et al., 2007).
i. os modelos oferecem pouco supor-
A rigor, as evidências existentes quan-
te para a tese do crescimento po-
to aos fatores ou causas do desmatamento
pulacional como uma das forças
na Amazônia, na ampla literatura existente
que explicam o desmatamento;
sobre o assunto, apontam na mesma dire-
ii. a relação entre pobreza e desmata-
ção da literatura internacional, conquanto
mento também parece ter pouca
guardadas algumas especificidades do am-
evidência empírica;
biente local, e a lógica da exploração eco-
iii. a tese defendida pelo Banco Mun-
nômica imposta pelos diferentes agentes
dial de que o crescimento econô-
econômicos na região e os diferentes espa-
mico, juntamente com a remo-
ços de ação desses agentes.
ção das distorções de mercado,
Como chama a atenção Fearnside
seria bom para pessoas e flores-
(2007), o desmatamento toma lugar na Ama-
tas não se mostrou verdadeira.
zônia no contexto de uma diversa coleção de
Na realidade, a liberalização econômica e atores com uma grande diferença entre loca-
a desvalorização cambial têm um efeito lização em termos de quem é o responsável.

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


126 Causas do desmatamento da Amazônia

2.2_ As evidências empíricas manejo, representando, portanto,


para a Amazônia um tipo de pastagem com adap-
2.2.1_ O crescimento da pecuária tação singular às características
Nos últimos trinta anos, a pecuária de extensivas da pecuária da região;
corte e a atividade madeireira baseada 2. existência de financiamentos pú-
principalmente na produção em tora, com blicos, em um primeiro momen-
pouca agregação de valor, foram as ativi- to entre as décadas de 1970 e
dades que se mostraram com maiores 1980, particularmente através do
vantagens competitivas para a região, da- sistema Finam/Sudam e, a partir
das as condições de mercado, os custos da década de 1990, pela disponi-
de oportunidade de atividades alternati- bilidade dos recursos do Fundo
vas, inclusive a rentabilidade a curto e Constitucional do Norte (FNO)
médios prazos e mesmo as condições do Basa;2
institucionais de facilidade ao acesso ao 3. a experiência agropecuária do pro-
crédito e a baixa governança quanto à dutor na crença que essa atividade
fragilidade do direito de propriedade, e poderia quebrar o ciclo da po-
os custos ambientais associados. breza. Aqui se apresenta a expe-
Vários são os fatores apontados pe- riência familiar do produtor, não
la literatura que tentam explicar o avanço só das práticas agropecuárias, mas
da pecuária na Amazônia, em especial, no dos valores culturais e sociais já
Pará e no Mato Grosso. atrelados à exploração desse tipo
Piketty et al. (2004) apontam que, na de atividade econômica.
Amazônia Oriental, o ambiente favorável
da expansão da pecuária na região esteve O baixo custo relativo também in-
assentado no tripé: duziu que mesmo produtores de pequena
1. eficiência e adaptação do sistema escala promovessem a conversão de áreas 2 A obrigatoriedade do título
forrageiro baseado na pastagem utilizadas para agricultura de subsistência de propriedade para se pleitear
Brachiaria brizantha, vulgarmente em pasto para criação de boi vivo, o qual os recursos do FNO acabou
chamado de “braquiarão”. Esse era também considerado um símbolo de por não criar uma relação
muita estreita entre os
tipo de forrageira, além de baixo status na região (Serrão e Toledo, 1990), ao financiamentos com esse e o
custo, apresentaria maior resis- mesmo tempo em que possibilitava seu avanço da pecuária em
tência às pragas e eficiência no uso para fins especulativos. algumas áreas da região.

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 127

Anderson (1990) explica que a na- Além disso, a expansão da fronteira


tureza especulativa da terra era um dos fa- agropecuária era motivada pela facilidade
tores que garantiam a rentabilidade do sis- ao crédito propiciada pelos incentivos fis-
tema da pecuária implantado na década de cais, com uma correlação positiva entre
1980 (Hecht et al., 1988), a despeito de sua crescimento econômico, “criação” de cor-
inviabilidade econômica de curto e médio redores de acesso à região, como as rodovi-
prazos (“sua aparente irracionalidade”). De as, a migração, e a especulação fundiária
fato, segundo esse autor, eram duas as mo- (Reis e Margullis, 1991; Young, 1998).
tivações que garantiam a reprodução desse Os incentivos governamentais co-
processo, a saber: mo causa ou estímulo ao desmatamento na
Amazônia são acentuados também por Ma-
1. o valor da terra como investimen- har (1988), reportando-se ao período até
to especulativo em épocas de in- 1980. Segundo ainda esse autor, entre as
flação, que sobrecompensava a décadas de 1960 e 1980, 10 milhões de hecta-
queda de seu retorno produtivo. res da Amazônia foram convertidos em pas-
Como resultado, a maioria do in- to, valendo-se de políticas governamentais.
vestimento regional foi direciona- Ao longo do tempo, são criadas as
da para retorno (lucro) de curto condições favoráveis que permitem aumen-
prazo, que pôde ser gerado tanto to do retorno do investimento na pecuária,
pela simples retirada da cobertura de modo que, já na década de 1990, como
florestal quanto seletivamente pe- mostrou Margulius (2004), a atividade pe-
la extração de seus componentes; cuária de corte na Amazônia Oriental3 ou na
2. a facilidade de estabelecer a posse chamada “fronteira consolidada” se mos-
de largas áreas de terra, uma vez tra altamente rentável do ponto de vista
que elas já tivessem sido conver- privado, apresentando taxas de retorno su-
tidas em pasto, especialmente im- periores às da pecuária nas regiões tradicio-
portante em áreas de conflitos nais do País. A taxa de retorno da pecuária na
crônicos, legalizando, ao mesmo Amazônia estrita (excluindo a venda de ma-
3 Amazônia Oriental
tempo, a expropriação fundiária deira) é consistentemente acima dos 10%, e
comporta os Estados do e o desmatamento da floresta (Oli- esses valores são potencialmente alcançados
Pará, de Rondônia, do Mato
veira, 2005). por pecuaristas estabelecidos e capitalizados
Grosso, do Tocantins
e do Amapá. na fronteira consolidada da Amazônia Ori-

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


128 Causas do desmatamento da Amazônia

ental, sendo até superiores aos obtidos nas por exemplo, eram capazes de construir as
regiões tradicionais (Arima et al., 2005). próprias estradas para o vizinho Estado do
Assim mesmo, sem os incentivos Maranhão, para a extração de madeira e ex-
(subsídios do governo), o que ocorreu a pansão das áreas de fazenda.
partir da interdição da Sudam, em 2002, a Desta feita, na década de 1990, a
lucratividade da pecuária seria o fator de rentabilidade da pecuária, por sua vez, é que
propulsão que alimentou a inércia do pro- levaria a pressão por abertura de estradas
cesso. Entre os fatores que contribuiriam endógenas, criadas pelos próprios pecua-
para essa elevada rentabilidade, estariam: ristas para baratear os custos de transpor-
tes. Ao mesmo tempo, o efeito das estradas
a. condições geoecológicas favorá- exógenas (aquelas surgidas por motivos
veis; em que pesem as altas tem- geopolíticos) tem um efeito considerável
peraturas, a elevada pluviosidade sobre o desmatamento somente a partir da
e a umidade garantem boa pro- mesma lógica da criação das estradas endó-
dutividade das pastagens; genas, de manter em última instância a ren-
b. disponibilidade de terra barata, à tabilidade do setor pecuário.
qual pode ser acrescentada tam- O Gráfico 1 apresenta as taxas de
bém a característica extensiva da crescimento do rebanho abatido para os
criação, que exige pouca mão de principais Estados que são centros de abate
obra, em geral, com baixa quali- no País, no período entre 1998 e 2006, no
ficação, e, portanto, com baixo qual pode ser observado o desempenho dos
custo para o produtor. Estados da Amazônia Legal: Mato Grosso,
Rondônia e Pará. Assim, percebe-se que
Nesse particular, Anderson (1990) esses Estados apresentaram taxas de cres-
sustenta que, até a década de 1980, a con- cimento acima da média nacional, com
versão da floresta em áreas de pastagem na destaque para o Estado de Rondônia, que,
Amazônia brasileira requeria massivos in- no período mais recente desde 2002, apre-
centivos governamentais e uma custosa in- senta uma trajetória de crescimento eleva-
fraestrutura, como a construção e a manu- do, ultrapassando a taxa de 20% já a partir
tenção de estradas. Todavia, já no final da de 2004.
década de 1980, os próprios pecuaristas,
em áreas próximas de Paragominas (PA),

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 129

Gráfico 1_ Variação anual das taxas de crescimento do rebanho abatido nos Estados
de maior rebanho bovino no Brasil
80

60

40

Taxas de crescimento
20

-20
1997/1998 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006 2006/2007

Variação Anual

Brasil Rondônia Pará


Minas Gerais São Paulo Rio Grande do Sul
Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás

Fonte: PPM/IBGE.

Reportando-se especificamente so- água potável teriam o papel de frear a ne-


bre a correlação entre a provisão de infra- cessidade de explorar florestas como fonte
estrutura e o crescimento demográfico, Wei- de energia e outros serviços, de modo que
nhold e Reis (2001) concluem que existe o melhoramento da infraestrutura urbana
mais evidência empírica para sustentar que o pode ajudar a mitigar o impacto de áreas
crescimento da população urbana leva ao de- urbanas sobre o meio ambiente, até mes-
senvolvimento da infraestrutura, e não vice- mo com uma redução da população rural.
versa. Muito embora a relação histórica en- Concorrem também de modo po-
tre estradas e desmatamento é acentuada, por sitivo para o aumento da rentabilidade da
exemplo, em Nepstad et al. (2000 e 2001). atividade os progressos alcançados na erra-
Por outro lado, melhoramentos ur- dicação da febre aftosa (condição indis-
banos como a provisão de eletricidade e de pensável para exportação da carne); os me-

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


130 Causas do desmatamento da Amazônia

lhoramentos da saúde animal, a partir do 2.2.2_ O crescimento da produção de grãos

melhoramento genético e de manejo do O crescimento da produção de grãos na


pasto (Arima et. al., 2005), com impactos região amazônica é o resultado de um
sobre ganhos de produtividade do setor; conjunto de fatores que podem ser ditos
bem como o alargamento do sistema de internos, como, por exemplo, a adaptação
rastreamento animal (Nepstad et al., 2008). de novas variedades às características cli-
Além dos efeitos diretos e indiretos máticas da região (Fearnside, 2001), e ou-
das atividades pecuária e madeireira sobre tros externos, afetos às forças de mercado,
o desmatamento, como destacados acima, relacionadas ao crescimento da demanda
outros fatores são sustentados por Fearnsi- externa e ao consequente aumento de
de (2007), como a lógica de desmatar para preços de algumas culturas (Nepstad et
manter a possessão da área e defender o in- al., 2008).
vestimento contra posseiros ou da expro- O Estado do Mato Grosso acom-
priação do governo (como terra devoluta); panha a dinâmica da produção agrícola no
as formas de desmatamento que servem Cerrado brasileiro, centrada na produção
para propósito de lavagem de dinheiro, es- de grãos para exportação, a partir da déca-
pecialmente quando os fundos são deriva- da de 1980, que fez expandir a fronteira
dos de fontes ilegais, como tráfico de dro- agrícola na direção do Centro-Oeste, em
gas, corrupção, venda de áreas roubadas ou função de vários fatores, como os avanços
evasão de impostos; e a perda da cobertura tecnológicos, que possibilitaram, junto com
vegetal “oficial” induzida pelo próprio go- as características edafo-climáticas da região,
verno, como é o caso das inundações pro- que se alcançasse uma produtividade física
vocadas pelas barragens hidroelétricas que por área bastante elevada, os melhoramen-
no Brasil já teriam somado cerca de 10 mi- tos na infraestrutura de transporte e na lo-
lhões de hectares (2% da Amazônia Legal gística de distribuição e de escoamento da
e 3% da porção original da floresta). produção (Diniz, 1995).
Essas variáveis, de certa forma, corro- Além disso, outros fatores positivos
boram aquelas testadas por Andersen et al. para o crescimento especialmente da soja
(2002), em que os autores utilizam dados na região Centro-Oeste foram os baixos
municipais, no período de 1970 a 1996, pa- preços relativos da terra (comparados ao
ra dados do Censo Agropecuário de 1975, da região Sul – região tradicionalmente
1980, 1985 e 1996. produtora), os incentivos financeiros ofici-

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 131

ais e as condições favoráveis de mercado fatores, tanto relacionados ao comporta-


(Wehrmann e Duarte, 2004). mento dos mercados internacionais das
Conquanto interferência direta de commodities agrícolas, como também espe-
projetos e financiamentos decorrentes de lhando elementos de ordem macroeconô-
ação governamentais planejadas, destacam- mica interna.
se o Programa de Desenvolvimento do Cer- Entre 1998 e 2001, a queda persis-
rado (Proceder), de caráter federal, e o Pro- tente dos preços agrícolas, particularmente
jeto de Desenvolvimento Agroambiental a da soja, foi compensada pela mudança da
de Mato Grosso (Prodeagro), desenvolvi- política cambial brasileira, com a conse-
do no âmbito particular daquele Estado. quente desvalorização do câmbio em 1999,
Na comparação do triênio de 1968/ tendo como efeito apenas estabilizar a queda
1970 a 1992/1994, a produção dos cinco dos preços domésticos no período (Bran-
principais grãos (arroz, feijão, milho, soja e dão, 2005).
trigo) teve aumento na participação do Cen-
Assim, a recuperação dos preços in-
tro-Oeste de cerca de 10% para mais de
ternacionais da soja em 2002, tendo a par-
20% do total nacional. A soja, por sua vez,
ticularidade de durar dois anos consecuti-
que foi a cultura que apresentou a melhor
vos, na época de plantio, e a queda da safra
rentabilidade relativa nesse período, teve
americana (maior produtor mundial e cuja
uma elevação de sua participação nacional
safra acaba por regular os preços internacio-
de cerca de 1% na safra 1968/1970 para
nais), entre 2002 e 2003, foram fatores de-
cerca de 39% na safra 1992/1994 (Diniz,
cisivos para estimular o crescimento da
1995), liderado esse crescimento especial-
área plantada.
mente pelo Estado do Mato Grosso.4
Já no período mais recente, nos anos A dinâmica do desenvolvimento da
agrícolas 2001/2002, 2002/2003, 2003/ soja na região amazônica em anos recentes
2004, o crescimento da área plantada no é fruto do avanço da fronteira agrícola na
Centro-Oeste foi cerca de 66%, mudando direção norte a partir do Mato Grosso (Fe-
o padrão de crescimento da produção de arnside, 2006) para os Estados fronteiriços,
4 Segundo Oliveira (2005), na grãos no País, que, na década de 1990, foi como Pará e Amazonas, mas também ou-
década de 1990, o crescimento baseado no incremento de produtividade tros Estados que apresentavam vantagens
da soja no Mato Grosso teve comparativas relevantes, como Rondônia,
crescimento superior a 150%
(Brandão, 2005).
na área plantada, e cerca de Destaque que esse crescimento foi Tocantins, Roraima e Maranhão. A rota de
225% do volume de produção. decorrente de uma conjunção favorável de expansão da soja na região sofre influência

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


132 Causas do desmatamento da Amazônia

direta do reordenamento territorial do pró- inicial do investimento se tornou um fator


prio Estado do Mato Grosso, da atuação atrativo para a entrada dos sojeiros na re-
de grandes grupos econômicos na região, gião, em grande parte oriundos do Mato
até mesmo com a implantação de plantas Grosso e da região Sul do País. É por isso
esmagadoras de maior escala de produção, que alguns autores sustentam que a entrada
e as possibilidades de implantação de pro- da soja na região estaria criando um canal de
jetos de infraestrutura como a Ferronorte financiamento indireto do desmatamento,
(ligando Rondonópolis ao Porto de San- a partir da compra de terras já desmatadas,
tos), o asfaltamento da BR-163 (ligando utilizadas em princípio para a extração da
Cuiabá ao Porto de Santarém) e a constru- madeira e para a pecuária (Puty et al., 2007).
ção do Porto Graneleiro de Itacoatiara, pa- Há de se destacar também um efei-
ra que a produção de soja fosse escoada via to de “demanda derivada” que o cresci-
BR-164 até Porto Velho e desta a Itacoatia- mento de países como a China e o conse-
ra (Oliveira, 2005; Arima et al., 2005). quente aumento do consumo per capita de
Aliada aos fatores acima citados, a seus residentes por carne, principalmente,
expansão da soja na região amazônica foi suína e de aves, fizeram aumentar a deman-
favorecida por outros elementos que con- da por milho e, particularmente, por soja,
correm para a redução de seus custos e o como ração animal, gerando uma pressão
aumento de sua competitividade relativa. altista sobre os preços.
O primeiro deles, a topografia da região, já Concomitantemente, ocorre a ins-
que a mecanização da rodução exige terras talação de unidades de beneficiamento e co-
planas (Puty et al., 2007), o que torna as ter- mercialização, multidimensionais de gran-
ras, como as do Planalto Santareno, por de penetração no mercado, como a Cargill,
exemplo, bem adaptáveis às necessidades a Maggi, a Bunge e a ADM, o que facilitou
do processo produtivo em larga escala. o crédito e a própria comercialização para
Outro fator importante seria o bai- os produtores, inclusive os de pequena es-
xo custo de conversão de outros tipos de cala (Diaz apud Arima et al., 2005).
cultura, como de milho e arroz, e mesmo É importante ressaltar que esse é
da própria pecuária, que engendraram um um processo relativamente novo, a partir
primeiro processo de ocupação do solo na somente do fim da década de 1990 e que
região. Assim, aproveitando-se de terrenos não atinge apenas a Amazônia brasileira
já limpos, ou seja, já desmatados, o custo (Hecht, 2005).

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 133

O Gráfico 2 ilustra o crescimento lo número de cabeças por município e a


da atividade da cultura perene e temporá- densidade dessa na área do município
ria, separando, entretanto, a produção de podem ser pensadas de forma bidirecio-
grãos – arroz, milho e soja –, no qual se ob- nal. De um lado, quanto mais elevado for
serva, a partir de 2002, um crescimento o tamanho do rebanho bovino em termos
muito acentuado da área plantada dessas da área ocupada do município e quanto
culturas, especialmente da soja. maior sua taxa de crescimento, pode-se
esperar uma elevação da pressão acerca
da conversão da floresta em pasto. Por
3_ A causalidade entre fontes
outro lado, quanto maior a área ocupada
principais de desmatamento
com pasto e, portanto, maior o desmata-
3.1_ Efeito da pecuária mento já realizado, maior a dinamização
A direção da causalidade do efeito da pe- dessa atividade, em termos da redução
cuária sobre o desmatamento medido pe- do custo relativo, atraindo novos pecua-
Gráfico 2_ Área plantada de algumas culturas selecionadas nos municípios da Amazônia Legal,
no período de 2000 a 2005

10.000.000 perm
arroz
9.000.000
milho
8.000.000
soja
Área plantada (hectares)

7.000.000 temp. sem gr.

6.000.000

5.000.000

4.000.000

3.000.000

2.000.000

1.000.000

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005

Ano

Fonte: PAM/IBGE.

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


134 Causas do desmatamento da Amazônia

ristas e intensificando essa atividade. Se- de giro (custeio), maior o incentivo ao in-
gundo Hecht e Cockburn (1990), a pe- vestimento “local” e à mobilidade do
cuária tornou-se o definitivo uso da terra investimento “externo”, isto é, o deslo-
na Amazônia brasileira, ocupando mais camento de produtores de outras áreas
de 85% da área desmatada, já na década geográficas do País para realizar empre-
de 1980. endimentos na Amazônia Legal, o que
induz ao crescimento das atividades de-
3.2_ Efeito da agricultura vastadoras. De outro, com o crescimento
(cultura perene e temporária) das atividades econômicas em geral (que
Tanto a agricultura permanente quanto a por suas características cresce desmatan-
temporária reproduzem um efeito bidi- do), aumenta a demanda por crédito, o
recional com o desmatamento. De fato, que cria uma força direcional em senti-
da mesma forma que ocorre com a pe- do contrário.
cuária, o desbravamento da fronteira tem
efeito redutor de custo, atraindo novos 3.4_ PIB "per capita"
produtores, e mesmo levando a que os A análise anterior realizada para as ativi-
antigos tenham acesso a novas áreas an- dades econômicas individualmente tam-
tes com floresta primária. Por sua vez, à bém reforça que a relação entre PIB per
medida que a atividade cresce, enseja pe- capita e desmatamento deve ser bidireci-
los efeitos de escala que novas áreas sejam onal. De fato, o crescimento econômico,
incorporadas, aumentando a área planta- medido pela evolução do PIB per capita,
da e a pressão por desmatamento novo. significa que o conjunto das atividades
Evidentemente, isso que foi falado acima econômicas do Estado está crescendo,
pode ser pensado em termos da variável inclusive aquelas que promovem o des-
área ocupada. matamento e aumentando mais do que o
crescimento populacional. Assim, o ciclo
3.3_ Crédito agrícola de crescimento no município, com uma
A disponibilidade de crédito é uma variá- disponibilidade maior de renda, cria um
vel que também se espera um efeito bidi- efeito indutor a fim de permitir novos in-
recional com o desmatamento. De um la- vestimentos e mesmo atrair investidores
do, quanto maior o crédito (esperado) de outros lugares, para gozar das externa-
para aplicação em capital fixo e de capital lidades criadas por esses próprios inves-

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 135

tidores, incentivando o desmatamento. avança, outras atividades econômicas, como


Mas, além desse efeito, quando o desma- o extrativismo florestal não madeireiro, por
tamento cresce, o avanço de novas áreas exemplo, deixam de ser exploradas, levando
pelos produtores antigos e a atração de os indivíduos a procurarem outras ativida-
novos produtores pela queda do custo des econômicas ou mesmo uma comple-
relativo levam a um efeito posterior de mentação educacional, que os possibilitaria
crescimento das atividades devastadoras a adquirir trabalho que exige habilidades di-
e, por sua vez, do crescimento econômi- ferentes daquelas originalmente requeridas.
co como um todo, medido pelo PIB. No segundo caso, quanto maior o
número de alunos matriculados nos ensi-
3.5_ Educação nos médio e fundamental, menor o núme-
A educação mensurada com base em duas ro de braços disponíveis para, em princí-
proxies – matrícula de adultos e matrícula pio, exercer atividades devastadoras.5
para os ensinos fundamental e médio –
pode ser pensada tendo um efeito bidire- 3.6_ Efeito populacional
cional, no caso da educação de adultos, O crescimento do contingente populaci-
mas unidirecional, no caso da matrícula onal certamente é um fator de pressão
de crianças (ensinos fundamental e mé- sobre o meio ambiente, à medida que é um
dio regulares). elemento de aumento da intensidade de
No primeiro caso, espera-se a prin- uso dos recursos naturais. Assim, quanto
cípio que, quanto maior o contingente de maior o contingente populacional e quanto
adultos matriculados na escola, menor a maior a densidade demográfica, espera-se
disponibilidade de tempo para exercer ati- maior desmatamento da área do municí-
vidades que promovam o desmatamento, pio. Dessa maneira, a priori, também se es-
além do que, valendo-se da informação pera um relacionamento unidirecional en-
obtida com o aumento da escolaridade, se tre o efeito populacional e o desmatamento.
poderia esperar que o adulto tomasse cons-
ciência dos efeitos das atividades degrada- 4_ Teste de causalidade
5 Sabendo-se que parte da
mão de obra ocupada na doras ao meio ambiente. de Granger
agricultura, especialmente Por outro lado, espera-se que exista Nesta seção será descrito o método do
ligada à agricultura familiar, um efeito do desmatamento sobre a educa- teste de causalidade para dados em pai-
é constituída de menores
ção, já que, à medida que o desmatamento nel. Segundo Erdil e Yetkiner (2004), a li-
de 14 anos.

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


136 Causas do desmatamento da Amazônia

m m
teratura geralmente não provê métodos
y t = a 0 + å a i y t - l + å d l x t - l + u t (1)
muito diversificados para dados em painel l =1 l =1
em relação ao teste original proposto por onde os a' s e os d' s são coeficientes da
Granger (1969). De acordo com esses projeção linear de y t na constante e nos
autores, é possível identificar dois tipos valores de y t e x t , e o tamanho do lag, m,
de abordagem. A primeira é proposta é suficientemente grande para garantir
por Holtz-Eakin et al. (1985), na qual uti- que u t seja um ruído branco. Não neces-
lizam um vetor autorregressivo (VAR) sariamente os tamanhos dos lags de y t e
para estimar e realizar o teste de causali- x t serão iguais, entretanto, assume-se
dade para dados em painel e tratam os que sejam.
coeficientes como variáveis. Esse mes- Como em geral dados em painel têm
mo procedimento também pode ser vis- grande número de unidades cross-sectional,
to nos trabalhos de Hsiao (1986 e 1989), onde cada unidade possui poucas observa-
Holtz-Eakin et al. (1988), Weinhold (1996 ções temporais, então, para estimar a equa-
e 1999), Nair-Reichart e Weinhold (2001) ção (1), é preciso impor restrições que ga-
e Choe (2003). Já a segunda corrente é li- rantam a mesma estrutura para cada uma
derada por Hurlin e Venet (2001), Hurlin dessas unidades. Um caminho seria relaxar
(2004a e 2004b), Hansen e Rand (2004), a restrição de pooling em favor de um efeito
que também utilizam um vetor autorre- individual que transcende na prática para um
gressivo (VAR), mas tratam os coeficien- intercepto individual específico. Mudanças
tes como constantes. no intercepto de um vetor autorregressivo
4.1_ Modelo econométrico estacionário correspondem às mudanças nas
A metodologia aqui descrita será baseada médias das variáveis, assim permitindo efei-
na primeira corrente da literatura descrita tos individuais e consequentemente hetero-
acima, mais especificamente em Holtz- geneidade individual no nível das variáveis
Eakin et al. (1988), uma vez que o painel de x e y. Um segundo caminho seria aco-
apresenta uma série temporal relativamen- modar a heterogeneidade individual, per-
te longa, e acredita-se que exista variabili- mitindo a variância da inovação na equação
dade dos coeficientes ao longo do período. (1) variar com a unidade cross-sectional. Mu-
Em um contexto usual de séries dança na variância da inovação de um vetor
temporais, a equação de autorregressão bi- autorregressivo corresponde à mudança na
variada segue a seguinte forma: variância das variáveis, possibilitando, desta

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 137

forma, heterocedasticidade cross-sectional na Dessa maneira, pode-se derivar um


variância da inovação e, por sua vez, per- modelo que relaxe as suposições acima. As-
mitindo heterogeneidade individual na va- suma que existam N unidades no cross-section
riabilidade de x e y. Portanto, assume-se eT períodos de tempo, com i indexando as
tanto efeito individual quanto heterocedas- unidades do cross-section, e t, os períodos.
ticidade nas unidades cross-sectional. Assim, o modelo que permite efeitos indi-
É provável que o nível e a variabilida- viduais e não estacionaridade entre os pe-
de das variáveis sejam importantes fontes de ríodos de tempo é dado da seguinte forma:
heterogeneidade individual, mas também m
se poderia admitir heterogeneidade indivi- y it = a 0t + å a lt y it - l +
dual no padrão da correlação das séries de l =1

tempo de x e y. Entretanto, permitir uma m

heterogeneidade semelhante é complicado, + å d lt x it - l + y t f i + u it (2)


l =1
uma vez que as variáveis do lado direito da
equação (1) são variáveis endógenas defa- com (i = 1, ...., N ; t = 1, ..., T ), onde f i é
sadas. Desta forma, segundo Pakes e Grili- um efeito individual não observado e
ches (1984), fica difícil interpretar os a' s e a 0t , a 1t , ..., a mt ; d 1 , ..., d mt ; y t são coefi-
os d' s como médias dos parâmetros que cientes de projeção linear de y it na cons-
variam aleatoriamente entre os indivíduos tante, valores passados de y it e x it , e no
das unidades cross-sectional, ainda que essa efeito no individual f i .
interpretação seja possível quando essas A especificação da equação (2) como
variáveis são exógenas. uma projeção implica que o termo do erro
Por outro lado, pooling de unidades u it satisfaz a condição de ortogonalidade.
cross-sectional possui certas vantagens. Pri-
meiro, a suposição de estacionaridade pode E[ y is u it ] = E[ x is u it ] =
ser relaxada. A presença de um grande nú- = E[ f i u it ] = 0 , ( s < t ) (3)
mero de unidades cross-sectional torna possível
permitir que os coeficientes defasados va- Essa condição de ortogonalidade
riem no tempo. Segundo, a teoria da distri- pressupõe que as variáveis defasadas de x e
buição assintótica para um grande número y são instrumentos qualificados para a equa-
de unidades cross-sectional não requer que o ção (2).
vetor autorregressivo satisfaça a condição Em um painel estático, o procedi-
usual que exclui a raiz explosiva do processo. mento usual para remoção do efeito indivi-

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


138 Causas do desmatamento da Amazônia

dual é o uso do estimador conhecido como 4.2_ Estimação do modelo


within estimator, no qual todas as variáveis
são transformadas, subtraindo-se seus va- A inferência em equações de regressão di-
lores de suas médias temporais (para cada nâmica é tipicamente baseada em grandes
unidade transversal). No entanto, em um amostras assintóticas, isto é, para T ® +¥
contexto dinâmico, graças à presença de onde T indica o número de períodos de
variáveis endógenas defasadas, tal procedi- tempo das variáveis envolvidas na amos-
mento gera estimadores inconsistentes (Nic- tra. Em econometria, o modelo de relaci-
kell, 1981). onamento dinâmico usualmente requer a
Como alternativa, Holtz-Eakin et al. inclusão de defasagens na variável de-
(1988) sugerem diferenciar a equação (2) pendente. Uma observação importante
para retirar f i e então – para evitar a corre- que se faz a esse tipo de modelo é que,
lação entre a primeira defasagem da variá- quando o número de período temporal é
vel dependente e o erro – empregar um es- relativamente pequeno, a aproximação
timador de variáveis instrumentais. Vale padrão assintótica é pobre (Nankervis e
salientar que essa transformação só será Savin, 1987). Em geral, apesar de serem
possível se as variáveis forem estacionárias. consistentes e assintoticamente eficien-
Assim, a equação (2) diferenciada é escrita tes, os estimadores são seriamente viesa-
na forma: dos em pequenas amostras.
m
No caso do modelo de painel dinâ-
y it – y it –1 = a t + å a l ( y it - l – y it - l –1 ) + mico, a aproximação assintótica pode ser
l =1 para T ® +¥ ou N ® +¥ para ou am-
m
bos, onde N indica o número de unidades
+ å d l ( x it - l – x it - l –1 ) + n it (4)
l =1
observadas em cada cross-section para a
amostra longitudinal. Na prática, T é geral-
Onde existem somente 2 m + 1 va- mente muito pequeno, e N é razoavel-
riáveis do lado direito, o que implica que só mente grande. A eficiência de vários tipos
existiram instrumentos suficientes para iden- de estimador em modelos de componente
tificar os parâmetros se t ³ m + 2. No ca- de erro dinâmico e modelos de efeito fixo
so estacionário, será possível obter as es- dinâmico tem sido o tema central de vários
timativas das variáveis defasadas quando estudos teóricos e estudos de Monte Carlo,
T ³ m + 2. como, por exemplo, Balestra e Nervole

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 139

(1966), Nervole (1971), Maddala (1971) e tiva às condições iniciais E[ y i 1e it ] = 0 pa-


Arellano e Bond (1991). A ideia é encon- ra i = 1, 2, ..., N e t = 1, 2, ..., T.
trar o viés para pequenas amostras aplican- As técnicas de estimação tradicio-
do técnicas econométricas em um contex- nais são inapropriadas no caso da equação
to de regressão multivariado dinâmico; ver, (5) em razão de alguns problemas econo-
por exemplo, Kiviet e Phillips (1993 e 1994). métricos. Um exemplo seria a presença dos
A especificação econométrica do efeitos não observáveis dos indivíduos, hi ,
modelo aqui utilizado é baseada na suposi- juntamente com a variável dependente de-
ção de que o quadro corrente que caracte- fasada, y it – l , no lado direito da equação.
riza a variável dependente tende a se perpe- Nesse caso, omitir os efeitos fixos indivi-
tuar e/ou influenciar o desempenho dos duais no modelo dinâmico em painel torna
principais determinantes dessa variável no os estimadores de mínimos quadrados ordi-
futuro. Para levar em consideração esse nários (MQO) enviesados e inconsistentes.
comportamento dinâmico, essa relação é Para corrigir esses problemas, Arel-
investigada por meio de um modelo de re- lano e Bond (1991) propõem um estima-
gressão para dados em painel dinâmico de- dor do método dos momentos generaliza-
finido da seguinte forma: do-diferenciado (MMG-diferenciado). Tal
m método consiste na eliminação dos efeitos
y it = a 0t + å a lt y it – l + fixos através da primeira diferença da equa-
l =1
m ção (5),
+ å d lt x it – l + hi + e it (5) m m
l =1 Dy it = å a l Dy it - l + å d l Dx it - l + De it (6)
onde h representa os efeitos fixos não l =1 l =1

observáveis dos indivíduos, e e it são os onde para uma variável z it qualquer,


distúrbios aleatórios. Em todas as variá- Dz it = z it - z it - 1 .
veis do modelo (5), o subscrito i repre- Observe que, pela construção da
senta a unidade cross-section, e t, o período equação (6), Dy it - l e De it são correlaciona-
de tempo. dos e, portanto, estimadores de MQO para
O modelo acima assume, segundo seus coeficientes serão enviesados e incon-
Ahn e Schmidt (1995), algumas hipóteses, sistentes. Nesse caso, é necessário empre-
tais como: E[ hi ] = E[ e it ] = E[ hi e it ] =0, gar variáveis instrumentais para Dy it - l . O
E[ e it eis ] = 0 para i = 1, 2, ..., N e qual- conjunto de hipóteses adotadas na equação
quer t ¹ s , bem como uma hipótese rela- (5) implica que as condições de momentos

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


140 Causas do desmatamento da Amazônia

E[ Dy it - l De it ] = 0, para t = 3, 4, ...., T e GMM, bem como testar a existência de cor-


l ³ 2, são válidas. Baseados nesses mo- relação serial, em que os referidos autores
mentos, Arellano e Bond (1991) sugerem propõem um teste direto nos resíduos da es-
empregar Dy it - l , para t = 3, 4, ...., T e l ³ 2, pecificação em primeira-diferença que tam-
como instrumentos para a equação (6). Por bém pode ser útil para verificar a consis-
sua vez, esse estimador também permitiria tência do estimador de GMM.6
utilizar como instrumentos a primeira dife- Então, seguindo Holtz-Eakin et al.
rença dos regressores estritamente exógenos. (1988), a existência de causalidade no senti-
Arellano e Bond (1991) derivaram do de Granger é verificada através do teste
duas versões para os estimadores de GMM. de restrições de Wald, aplicado aos parâ-
Na primeira, conhecida como estimador metros estimados pelo método GMM des-
one-step, supõe-se que os termos de erro são crito anteriormente. Partindo-se da equa-
independentes e homocedásticos nas uni- ção (6), estimam-se os seguintes modelos:
dades de cross-section e, ao longo do tempo, m

ao passo que, na segunda, chamada de Dy it = å a 1l D y it - l +


l =1
two-step, os resíduos gerados na primeira m
etapa são empregados para obter uma esti- + å d 1l Dx it - l + De it (7)
mativa consistente da matriz de variância- l =1

covariância, permitindo relaxar as hipóte- m

ses de independência e consistência. Assin- Dx it = å d 2 l Dx it - l +


l =1
toticamente, os dois estimadores são equi- m
valentes, porém o two-step não necessita + å a 2 l D y it - l + Dm it (8)
conhecer a priori a distribuição dos compo- l =1

nentes hi e e it . Todavia, tem sido observa- Dessa forma, haverá causalidade de


do em diversos estudos que essa versão do Granger unidirecional de x para y se nem
estimador de GMM os desvios padrões todos os d 1l ¢ s forem iguais a zero em (7), 6 A ausência de correlação

tendem a ser viesados para baixo em pe- mas todos os a 2 l ¢ s forem iguais a zero em serial está associada à falha em
quenas amostras, recomendando nesse ca- (8). De forma oposta, haverá causalidade rejeitar a hipótese nula de
autocorrelação de segunda
so o uso da versão one-step. no sentido de Granger unidirecional de y ordem, sugerindo nesse caso
Por fim, é recomendada a realização para x se todos os d 1l ¢ s forem iguais a ze- que o estimador de GMM é
de um teste de especificação do modelo e, ro em (7), porém nem todos os a 2 l ¢ s fo- consistente (Arellano
por sua vez, a consistência do estimador rem iguais a zero em (8). Pode haver causa- e Bond, 1991).

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 141

lidade de Granger bidirecional entre x e y Acre, Amapá, Roraima, Pará, Maranhão,


se nem todos d 1l ¢ s e a 2 l ¢ s forem iguais Mato Grosso e Tocantins.
a zero. Por fim, podem ocorrer situações A escolha das variáveis explicativas
em que não há causalidade de Granger en- ficou refém da disponibilidade dos dados
tre x e y, para isso basta que os d 1l ¢ s e to- para o período, pelo menos para os anos de
dos os a 2 l ¢ s sejam iguais a zero. 1997 e 2006. Todavia, foram considerados
como os grandes vetores do desmatamento
dois grandes grupos: o primeiro caracteri-
5_ Descrição das variáveis zando a ocupação do solo – mais especifi-
e dados utilizados camente variáveis que evidenciam o setor
Entre a metade da década de 1990 e 2006, agropecuário – uma vez que, como apon-
o número de municípios criados não foi tado pela literatura, outros fatores como
grande, tal que a comparação espacial em infraestrutura, por exemplo, são facilitado-
nível municipal nesse período não causa res que aumentam a intensidade dos fatores
problemas significativos. Ademais, por causais primários, no caso: pecuária, cultura
deficiência nos dados, como omissão de permanente e cultura temporária. Já o segun-
variáveis, alguns municípios criados no do grupo de variáveis representa as carac-
período foram omitidos na amostra. terísticas socioeconômicas dos municípios.
Assim, os dados utilizados para o Ademais, foram utilizadas as seguin-
modelo compreenderam o período de 1997 tes variáveis que tiveram como principais
a 2006, e algumas séries tiveram dados in- fontes o IPEA/Instituto de Pesquisa Eco-
terpolados para alguns anos. Neste caso, dois nômica Aplicada (http://www.ipea.gov.br),
procedimentos foram utilizados: o cálculo da o IBGE/Instituto Brasileiro de Geografia
variável a partir da média (móvel), com ba- e Estatística (http://www.ibge.gov.br) e o
se nos dados observados (existentes), ou o INEP/Instituto Nacional de Estudos e Pes-
cálculo da variável a partir de sua taxa de quisas Educacionais (http://www.inep.gov.
crescimento. Ao final, foram retirados aque- br), com base na literatura pertinente:
les municípios cujo comportamento esti-
a. Desmatamento = Total de hecta-
mado descrevia um possível “outlier”.
res desmatado por município i;
Assim, o modelo foi estimado com
445 municípios dos Estados integrantes da b. Grupo de variáveis do setor agro-
Amazônia Legal: Rondônia, Amazonas, pecuário:

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


142 Causas do desmatamento da Amazônia

i. Rebanho bovino = Total do re- iii. Matrícula = Número de alunos


banho bovino do município i; matriculados no ensino funda-
ii. Densidade bovina = Total do mental regular no município i,
rebanho do município i dividi- segundo a classificação usual-
do pelo total da área ocupada mente adotada pelo INEP;
do município i em hectare; iv. Crédito agrícola = Total de cré-
iii. Culturas permanentes = Soma- dito agrícola contratado no mu-
tório do total da utilização das nicípio i;
terras em lavouras permanen- v. População = População total re-
tes em hectare do município i; sidente no município i;
iv. Cultura temporária = Somató-
vi. Densidade demográfica = Po-
rio do total da utilização das
pulação total residente no mu-
terras em lavouras temporári-
nicípio i dividido pela área to-
as em hectare do município i;
tal do município i em km2.
v. Área ocupada = Total da área
ocupada do município i com a
agropecuária.
6_ Resultados empíricos
c. Grupo de variáveis socioeconô-
micas: 6.1_ Teste de raiz unitária
i. PIB per capita = Produto Inter- para dados em painel
no Bruto (PIB) do município i Para evitar o problema de regressão es-
dividido pela população total púria na estimação dos modelos em pai-
do município i. Reais de 2.000 nel, faz-se necessária a ausência de pro-
deflacionados pelo deflator im- cesso de raiz unitária em cada variável,
plícito do PIB nacional; isto é, que as variáveis sejam estacionári-
ii. Educação de adultos = Núme- as. Diversos são os testes de raiz unitária
ro de adultos matriculados nos para dados em painéis. Tais testes podem
ensinos fundamental e médio ser classificados em dois grupos. O pri-
no município i, segundo a clas- meiro grupo incorpora aqueles testes que
sificação usualmente adotada assumem a existência de um processo de
pelo INEP; raiz unitária comum, tal que os parâme-

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 143

tros para persistência são idênticos entre pados. A hipótese nula é a de que cada sé-
os cross-sections. Integram esse grupo os rie do painel seja integrada de ordem um,
testes propostos por Levin, Lin e Chu contra a hipótese em que todas as séries se-
(2002) e o de Breitung (2000) e podem jam estacionárias.
ser considerados como um teste de Dic- O outro grupo incorpora os testes
key-Fuller Aumentado (ADF) com da- que permitem a existência de um processo
dos agrupados. A hipótese nula é a de individual de raiz unitária de forma que os
que existe um processo de raiz unitária parâmetros de persistência podem variar li-
comum entre os cross-sections do painel, vremente para cada unidade (grupo). Por
contra a hipótese alternativa de que to- isso, os testes são construídos com base
dos os cross-sections são estacionários. nas estatísticas individuais. Por exemplo, a
Como descrito na seção anterior, é estatística de teste proposta por Im, Pesa-
preciso que as variáveis do painel sejam es- ran e Shin (1997 e 2003) é o resultado de
tacionárias para que se possa trabalhar com uma média das t-estatísticas de Dickey-
as variáveis em primeira diferença e com is- Fuller sobre cada unidade do painel. A hi-
so eliminar os efeitos individuais presentes. pótese nula assume que todos os cross-sections
Diversos são os testes que exploram são não estacionários, enquanto, na hipóte-
a conformação de painéis para o teste de se alternativa, pelo menos um cross-section é
integração de variáveis macroeconômicas. estacionário. O teste adquire a estrutura do
Os testes que são encontrados podem ser ADF ao permitir que as defasagens para a
classificados em dois grupos. O primeiro variável dependente possam ser inseridas,
grupo incorpora aqueles testes que assu- o que possibilita a autocorrelação do erro
mem a existência de um processo de raiz para cada série.
unitária comum, tal que os parâmetros para Foram utilizados, no presente tra-
persistência para cada unidade (ou grupo) balho, os testes propostos por Levin, Lin e
possuem a mesma estrutura autorregressi- Chu (2002), (LLC), e o teste de Im, Pesaran
va (AR (1)), além de permitir a existência e Shin (2003), (IPS). Os testes foram reali-
do efeito individual. Integram esse grupo zados para as séries em nível, utilizando-se
os testes propostos por Levin, Lin e Chu o critério de seleção para o número de de-
(2002) e o de Breitung (2000) e podem ser fasagens de Hannan-Quinn. A Tabela 1
considerados como um teste de Dickey- apresenta os resultados.
Fuller Aumentado (ADF) com dados agru-

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


144 Causas do desmatamento da Amazônia

Tabela 1_ Testes de raiz unitária em painel


(probabilidade)

Levin, Lin e Chu Im, Pesaran e Shin


Variável Com Intercepto Com Intercepto Com Intercepto Com Intercepto
Individual e Tendência Individuais Individual e Tendência Individuais
Desmatamento 0.000 0.003 0.000 1.000
Variáveis agropecuárias
Área Ocupada 0.000 0.000 0.001 0.000
Cult. Permanente 0.000 0.000 0.000 0.000
Cult. Temporária 0.000 0.000 0.000 0.011
Reb. Bovino 1.000 1.000 0.000 0.952
Dens. Bovina 0.000 1.000 0.000 0.174
Variáveis socioeconômicas
Educ. Adulto 0.000 0.000 1.000 0.275
Crédito Agrícola 0.000 0.000 0.000 0.000
Matrícula 0.000 0.000 1.000 0.002
PIB per capita 0.000 0.000 0.000 0.000
População 0.000 0.000 1.000 1.000
Dens. Demográfica 0.000 0.000 1.000 1.000

Fonte: Elaboração dos autores.


Notas: As defasagens para os testes foram determinadas pelo critério de Hannan-Quinn.
As probabilidades para os testes assumem normalidade assintótica.
Teste Levin, Lin e Chu – Hipótese nula: raiz unitária (assume processo de raiz unitária comum).
Teste Im, Pesaran e Shin – Hipótese nula: raiz unitária (assume processo de raiz unitária individual).

Como pode ser observado, todas as Shin, quando se considera o intercepto e a


variáveis consideradas são estacionárias em tendência individual; Rebanho Bovino é
pelo menos um dos testes em um nível de estacionária, considerando o teste de Im,
5% de significância. A variável Desmata- Pesaran e Shin e apenas o intercepto indivi-
mento é estacionária em ambos os testes, dual; Educação de Adultos é estacionária
com exceção do teste de Im, Pesaran e apenas no teste de Levin, Lin e Chu, consi-

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 145

derando tanto o intercepto individual quan- aumenta a pressão sobre as variáveis em


to o intercepto mais tendência individual; questão e vice-versa, como descrito na se-
Matrícula é estacionária em ambos os tes- ção inicial.
tes, com exceção do teste de Im, Pesaran Observa-se também, com relação
and Shin, quando se considera apenas o in- ao grupo de variáveis socioeconômicas, que
tercepto individual; já as variáveis Área Ocu- existe uma causalidade bidirecional com as
pada, Cultura Permanente, Cultura Tem- variáveis Crédito Agrícola, Educação de
porária, Crédito Agrícola e PIB per capita Adultos e Densidade Demográfica. Resul-
são estacionárias em ambos os testes e con- tados também esperados, uma vez que existe
siderando tanto o intercepto individual quan- endogeneidade entre essas variáveis e o
to o intercepto e a tendência individual. processo de desmatamento.
Os resultados também mostraram
6.2_ Teste de causalidade uma relação unidirecional no sentido do
de Granger desmatamento para Matrícula. Esse resul-
Os resultados para o teste de causalidade tado pode ser em decorrência do processo
de Granger para relação entre desmata- de exaustão dos recursos naturais, bem co-
mento e as variáveis explicativas podem mo da baixa remuneração da atividade ex-
ser observados na Tabela 2. Essa traz as trativista, que leva as famílias a procurar
descrições das variáveis, o número de de- qualificar-se na busca de melhores condi-
fasagens utilizadas, a estatística de Wald, ções de vida.
bem como o p-valor para cada uma delas e Por fim, com relação às variáveis
as respectivas hipóteses nulas. Foi consi- PIB per capita e População, o efeito da cau-
derado o nível de significância de 5% e salidade foi unidirecional no sentido dessas
também duas ou três defasagens. para o desmatamento. Esse resultado era
Pode-se observar uma causalidade de esperado já que, à medida que se aumenta
Granger bidirecional entre desmatamen- o grau de atividade econômica, bem como
to e todas as variáveis agropecuárias – Área o contingente populacional do município,
Ocupada, Culturas Permanentes, Culturas se esperava que se intensificasse o processo
Temporárias, Rebanho Bovino e Densida- de desmatamento, visto que essas ativida-
de Bovina. Os resultados foram, de certa des estão, em sua maioria, ligadas a ativida-
forma, esperados, uma vez que, na medida des extrativistas.
que cresce o tamanho da área desmatada,

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


146 Causas do desmatamento da Amazônia

Tabela 2_ Teste de causalidade de Granger em painel entre desmatamento e as variáveis agropecuárias e as socioeconômicas

Defasagem H0: Desmatamento não causa Variável H0: Variável Explicativa não causa
Variável Explicativa Explicativa no sentido de Granger Desmatamento no sentido de Granger
Variáveis agropecuárias
Área Ocupada 3 15.23028 0.0000 12.36575 0.0000
Cult. Permanente 3 16.32561 0.0000 6.215846 0.0003
Cult. Temporária 3 9.865774 0.0000 20.54645 0.0000
Rebanho Bovino 3 12.58753 0.0000 36.52262 0.0000
Densidade Bovina 2 56.36550 0.0000 40.02216 0.0000
Variáveis socioeconômicas
Credito Agrícola 3 28.61936 0.0000 13.18505 0.0000
Educação Adulto 2 25.13541 0.0000 14.99244 0.0000
Matrícula 3 12.80666 0.0000 1.096093 0.3495
PIB per capita 3 1.973909 0.1158 11.88900 0.0000
População 3 0.119835 0.9485 1478.605 0.0000
Dens. Demográfica 2 6.739030 0.0012 55420.98 0.0000
Fonte: Elaboração dos autores.
Obs.: O número de defasagem foi estabelecido de acordo com a maioria dos resultados fornecidos pelos critérios de escolha Akaike, Schwarz, Hannan-Quinn,
FPE (Forecast Prediction Error) e pelo teste likelihood ratio (LR) em um máximo de até três defasagens.

7_ Considerações finais Os resultados empíricos para o gru-


O trabalho teve como objetivo testar a po de variáveis agropecuárias mostraram
relação causal entre Desmatamento e do- que existe causalidade bidirecional entre o
is conjuntos de variáveis: um grupo de desmatamento e todas as cinco variáveis de
cinco variáveis agropecuárias (Área Ocu- referência desse grupo. Esses resultados,
pada, Culturas Permanente e Temporá- de certa forma, são coerentes com a litera-
ria, Rebanho Bovino e Densidade Bovi- tura especializada no tema, uma vez que
na), representando as variáveis ligadas ao essa enfatiza que a intensidade do desmata-
uso do solo e um grupo de seis variáveis mento na região tem forte correlação com
representando o lado socioeconômico da a intensidade do uso do solo (Nepstad et
região da Amazônia Legal, em nível de al., 2001; Mertens et al., 2002; Kaimowitz et
município, no período de 1997 a 2006. al., 2004; Alencar et al., 2004).

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 147

Quanto ao grupo de variáveis soci-


oeconômicos, pode-se observar que, nas
variáveis de educação, ocorreu uma causa-
lidade unidirecional do Desmatamento pa-
ra a variável Matrícula, que corresponde à
matrícula no ensino fundamental regular,
bem como uma causalidade bidirecional
entre o Desmatamento e a Educação de
Adultos. Esse resultado está diretamente li-
gado à dinâmica de ocupação das áreas
desmatadas, visto que essas atraem famílias
com baixo nível de escolaridade e com um
número considerável de crianças com ida-
de escolar, o que pressiona a demanda por
esses serviços.
Quanto às variáveis populacionais,
os resultados mostraram uma causalidade
unidirecional do Total da População para o
Desmatamento, bem como uma bicausali-
dade entre a Densidade Populacional e o
Desmatamento. Já a variável PIB per capita
apresentou uma causalidade unidirecional
dela para o Desmatamento, e a variável
Crédito Agrícola apresentou uma bicausa-
lidade. Estes últimos resultados estão dire-
tamente ligados à intensidade de atividade
econômica dos municípios, como também
estão interligados entre si, o que corrobora
a ideia de que, à medida que a atividade
econômica do município cresce, se intensi-
ficam os atrativos populacionais, bem co-
mo a pressão sobre os recursos naturais.

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


148 Causas do desmatamento da Amazônia

Referências bibliográficas

AHN, S. C.; SCHMIDT, P. ARELLANO, Manuel; BOND, BRANDÃO, A. S. P.; CHOE, J. I. Do foreign direct
Efficient estimation of models for Stephen. Some tests of REZENDE, G. C.; MARQUES, investment and gross domestic
dynamics panel data. 1995. Mímeo. specification for panel data: R. W. C. Crescimento agrícola no investment promote economic
Monte Carlo evidence and an período 1999-2004, explosão da área growth? Review of Development
ALENCAR, A.; NEPSTAD, D.;
application to employment plantada com soja e meio ambiente no Economics, v. 7, p. 44-57, 2003.
MCGRATH, D.; MOUTINHO,
equations. The Review of Economic Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 2005.
P.; PACHECO, P; DEL CHOMITZ, Kenneth (Org.).
Studies, v. 58, n. 2, p. 277-297, (Texto para discussão, 1062).
CARMAN, M.; DIAZ V.; At Loggerheads? Agricultural
Apr. 1991.
SOARES FILHO, B. S. BREITUNG, J. The local power expansion, poverty reduction, and
Desmatamento na Amazônia: indo ARIMA, E.; BARRETO, P.; of some unit root tests for panel environment in the tropical forests.
além da “emergência crônica”. BRITO, M. Pecuária na Amazônia: data. In: BALTAGI, B. (Ed.). World Bank Policy Research
Belém-Pa: IPAM, 2004. tendências e implicações Nonstationary Panels, Panel Report, 2007.
para a conservação ambiental. Cointegration, and Dynamic Panels.
ANDERSEN, Lykke E. DINIZ, Clélio Campolina.
Belém-PA: Instituto Advances in Econometrics. JAI:
Cost-Benefit analysis of deforestation in A dinâmica regional recente da
do Homem e Meio Ambiente Amsterdam, 2000. v. 15,
the Brazilian Amazon. IPEA: Rio economia brasileira e suas perspectivas.
da Amazônia, 2005. p. 161-178.
de Janeiro, 1997. Rio de Janeiro: IPEA, 1995.
BALESTRA, P.; M. NERVOLE. BUCHINSKY, M. Recent (Texto para discussão, 375).
ANDERSEN, Lykke E. et. al. The
Pooling cross-section and advances in quantile regression
dynamics of deforestation and economic DINIZ, Marcelo B.; SANTOS,
time series data in the models – a pratical guideline for
growth in the Brasilian Amazon. Ricardo B. N.; DINIZ, Márcia J.
estimation of a dynamic model: empirical research. Journal of
Cambridge, UK: Cambridge T.; PUTY, Cláudio, C. B.;
the demand for natural gas. Human Resources, v. 33,
University Press, 2002. RIVERO, Sérgio L. de M. A
Econometrica, v. 34, p. 88-126, 1998.
Amazônia (Legal) brasileira:
ANGELSEN, A.; KAIMOWITZ, p. 585-612, 1966.
CAVENDISH, William. Empirical evidências de uma condição de
D. Rething the causes of
BECKER, Bertha K. Amazônia. regularities in poverty-environment armadilha da pobreza?
deforestation: lessons from
São Paulo: Ática, 1990. (Série relationship of African Rural In: Encontro Nacional de
economic models. The World
Princípios). Households. WPS 99-21, Economia, 35., 2007, Recife.
Research Observer, v. 14, n. 1,
Sept. 1999. Anais... Recife-PE: ANPEC, 2007.
p. 73-98, Feb. 1999. BECKER, Bertha K. Amazônia:
geopolítica na virada do III CEPAL. Análise Ambiental e de DURLAUF, S. N.; JOHNSON,
ANDERSON, A. B. (Ed.).
milênio. Rio de Janeiro: Sustentabilidade do Estado do P. Multiple regimes and
Alternatives to deforestation: steps
Garamond, 2006. Amazonas. Santiago, jun. 2007. cross-country growth behaviour.
towards sustainable utilization of
202p. (Publicações das Journal of Applied Econometrics,
Amazon forest. New York:
Nações Unidas). v. 10, n. 4, p. 365-384, 1995.
Columbia University Press, 1990.

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 149

DURLAUF, S. N., GARCIA, Ricardo Alexandrino; HAYASHI, Fumio. Econometrics. HURLIN, C. Testing Granger
KOURTELLOS, A.; MINKIN, SOARES-FILHO, Britaldo Princeton New Jersey, USA: causality in heterogeneous
A. The local solow growth model. Silveira; MORO, Sueli. Princeton University Press, 2000. panel data models with fixed
European Economic Review, v. 45, Modelagem espacial do coefficients. University Orléans,
HECHT, S. Soybean production,
n. 4-6, p. 928-940, 2001. desmatamento amazônico. In: 2004a. Miméo.
development and conservation on
Encontro da Associação de
ERDIL, Earkan; YETKINER, I. an Amazon Frontier. Development HURLIN, C. A note on causality
Estudos Populacionais, 15., 2006,
Hakan. A panel data approach and Change, v. 36, n. 2, 2005. tests in panel data models with random
Caxambú. Anais... Campinas :
for income-health causality. p. 375-404. coefficients. University Orléans,
ABEP, 2006. p. 1-19.
Hamburg University, 2004. 2004b. Miméo.
HECHT, S; COCKBURN A. The
(FNU – 47). GEIST, Helmut J.; LAMBIN,
fate of the forest. Developers, HURLIN, C.; VENET, B. Granger
Eric F. What drives tropical
FEARNSIDE, Phillipe. Efeitos destroyers and defenders of the causality tests in panel data models with
deforestation? Land-Use and
de uso de terra e manejo florestal Amazon. Harper Collins, 1990. fixed coefficients. University Paris
Land-Cover Change (LUCC);
no ciclo de carbono na Amazônia 357 p. IX, 2001. Miméo.
International Human Dimensions
brasileira. In: FLEISCHRESSER,
Programme on Global HECHT, S.; NORGAARD, R. B.; IM, K. S.; PESARAN, M. H.;
V. (ed.) Causas e dinâmica do
Environmental Change POSIO, G. The economics of SHIN, Y. Testing for unit roots in
desmatamento na Amazônia.
(IHDP); International cattle ranching in eastern heterogeneous panels. University of
Brasília, DF, Brasil: Ministério do
Geosphere-Biosphere Programme Amazonia. Interciencia, v. 13, Cambridge, 1997. (DAE Working
Meio Ambiente, 2001.
(IGBP), LUCC Report Series n. 4. p. 233-240, 1985. Papers Amalgamated Series,
p. 173-196.
Louvain-la-Neuve, 2001. 9526).
HOLTZ-EAKIN, D.; NEWEY,
FEARNSIDE, Philip. M.
GRANGER, C. W. J. W.; ROSEN, H. Implementing IM, K. S.; PESARAN, M. H.;
Desmatamento na Amazônia:
Investigating causal relations by causality tests with panel data, with an SHIN, Y. Testing for unit roots in
dinâmica, impactos e controle.
econometric models and example from local public finance. heterogeneous panels. Journal of
Manaus, Acta Amazônia, v. 36,
cross-spectral methods. 1985. (NBER Technical Paper Econometrics, v. 115,
n. 3, 2006.
Econometrica, v. 37, Series, 48). p. 53-74, 2003.
FEARNSIDE, Philip. M. p. 424-438, 1969. HOLTZ-EAKIN, D.; NEWEY, INSTITUTO BRASILEIRO DE
Amazon Forest maintenance
GUILHOTO, J. J. M. et al. PIB da W.; ROSEN, H. S. Estimating GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
as a source of environmental
agricultura familiar: Brasil-Estados. vector autoregression with panel – IBGE. Censo Agropecuário
services. Annals of the Brazilian
Brasília: MDA, 2007. (NEAD data. Econometrica, v. 56, 1975. Rio de Janeiro: IBGE, 1976.
Academy of Sciences, v. 80, n. 1,
Estudos, 19). p. 1371-1396, 1988.
p. 101-114, 2007. INSTITUTO BRASILEIRO DE
HANSEN, B. E. Sample splitting HSIAO, C. Analysis of panel data. GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
FERREIRA, L. V.;
and threshold estimation. Cambridge University Press: – IBGE. Censo Agropecuário
VENTICINQUE, E.;
Econometrica, v. 68, n. 3, Cambridge, 1986. 1980. Rio de Janeiro: IBGE, 1982.
ALMEIDA, S. O desmatamento
p. 575-603, 2000. HSIAO, C. Modeling ontario INSTITUTO BRASILEIRO DE
na Amazônia e a importância das
áreas protegidas. Estudos HANSEN, H.; RAND. On the regional electricity system demand GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
Avançados, v. 19, n. 53, causal links between FDI and growth using a mixed fixed and random – IBGE. Censo Agropecuário
p.157-166, 2005. in developing countries. Development coefficients approach. Regional 1985. Rio de Janeiro: IBGE, 1991.
Economics Research Group Science and Urban Economics,
INSTITUTO BRASILEIRO DE
(DERG), Institute of Economics, v. 19, p. 565-587, 1989.
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
University of Copenhagen, – IBGE. Censo Agropecuário
2004. Miméo. 1995/1996. Rio de Janeiro:
IBGE, 1998.

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


150 Causas do desmatamento da Amazônia

KAIMOWITZ, D; MERTENS, MERTENS, B.; POCCARD- NEPSTAD, D. C.; STICKLER, PIKETTY, M-G.; VEIGA, J. B.;
B; WUNDER, S AND CHAPUIS, R.; PIKETTY, M. C.; ALMEIDA, O. T. TOURRAND, J-F.; ALVES, A.
PACHECO, P. Hamburger G.; LACQUES, A. E. Globalization on the Amazon soy M.; POCCARD-CHAPUIS, R.;
connection files Amazon destruction. VENTURIERI, A. Crosssing and beef industries: opportunities THALES, M. C.; HOUSTIOU,
Bangon, Indonesia: Center spatial analyses and livestock for conservation. Conservation N.; VENTURIERI A. Por que a
for International Forest economics to understand Biology, v. 20, p. 1595-1603, 2006. pecuária está avançando na
Research, 2004. deforestation process Amazônia Oriental? In:
NEPSTAD, Daniel; STICKLER,
in Brazilian Amazon: the case SAYAGO, D.; TOURRAND,
KIVIET, J. F.; PHILLIPS, G. D. Claudia; ALMEIDA, O. T.
of São Felix do Xingu in South J-F.; BURZSTYN, M. (Org.).
A. Alternative bias approximation Managing the tropical agriculture
Pará. Agricultural Economics, n. 27, Amazônia; cenas e cenários.
in regressions with a lagged revolution. Journal of Sustainable
p. 269-294, 2002. Brasília: Universidade
dependent variable. Forestry, 2008.
de Brasília, 2004.
Econometric Theory, v. 9, MINISTÉRIO DA
NERVOLE, M. Further Evidence
p. 62-80, 1993. INTEGRAÇÃO PUTY, C.; ALMEIDA, O. T.;
on the Estimation of dynamic
NACIONAL/MINISTÉRIO DO RIVERO, S. L. M. A produção
KIVIET, J. F.; PHILLIPS, G. D. economic relations from a Time
MEIO AMBIENTE. Plano mecanizada de grãos e seu
A. Bias assessment and reduction Series of Cross-Sections,
Amazônia Sustentável – PAS. impacto no desmatamento
in linear error-correction models. Econometrica, v. 39,
Diagnóstico e Estratégia, v. 1, amazônico. Ciência Hoje, v. 40,
Journal of Econometrics, v. 63, p. 359-387, 1971.
Brasília, 2004. p. 44-48, 2007.
p. 215-243, 1994.
NICKELL, S. Biases in
NAIR-REICHERT, U.; REARDON, Thomas; VOSTI,
LEVIN, A.; LIN, C. F.; Chu, C. dynamics models with fixed
WEINHOLD, D. Causality tests for Stephen A. Links between rural
Unit root tests in panel data: effects. Econometrica, v. 49,
cross-country panels: a new look at poverty and environment in
asymptotic and finite-sample p. 1399-1416, 1981.
FDI and economic growth in developing countries: asset
properties. Journal of Econometrics,
developing countries. Oxford OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino cetegories and investment
v. 108, p. 1-24, 2002.
Bulletin of Economics and de Oliveira. BR-163 poverty. World Development,
MADDALA, G. S. The use of Statistics, v. 63, p. 153-171, 2001. Cuiabá-Santarém: geopolítica, v. 23, n. 9, p. 1495-1506, 1995.
variance components models in grilagem, violência e
NANKERVIS, J. S.; SAVIN, N. REIS, E.; MARGULLIS, S.
pooling cross-section and time mundialização. In: TORES,
E. Finite sample distributions of t Options for slowing Amazon
series Data. Econometrica, n. 39, Maurício (Org.). Amazônia
and F statistics in an AR(1) model jungle clearing. In:
p. 341-358, 1971. revelada: os descaminhos ao longo
with an exogenous variable. DORNBUSCH, R.; POTERBA,
da BR-163. Brasília:
MAHAR, D. J. Deforestation in Econometric Theory, v. 3, J. (Ed.). Economic policy responses to
CNPq, 2005.
Brazil´s Amazon region: magnitude, p. 387-408, 1987. global warming. Cambridge: MIT
rate and causes. New York: The PARKES, Ariel; GRILICHES, Press, 1991.
NEPSTAD Daniel et. al. Road
World Bank, 1988. Zvi. Estimating distributed lags in
paving, fire regime feedbacks, RIVAS, A. A. F.; MOTA, J. A.;
short panels with an application
MARGULIUS, Sérgio. Causas do and the future of Amazon forests. MACHADO, J. A. Impacto virtuoso
to the specification of
desmatamento da Amazônia brasileira. Forest Ecology and Management, do Polo Industrial de Manaus sobre a
depreciation patterns and capital
Brasília: Banco Mundial, 2004. n. 154, p. 395-497, 2001. proteção da floresta amazônica:
stock constructs. Review of
MARINHO, E.; LINHARES, F.; discurso ou fato? Manaus-AM:
NEPSTAD, D.; CAPOBIANCO, Economic Studies, v. 51,
CAMPELO, G. Os programas de Instituto Piatam, 2008.
A. C. B.; CARVALHO, G.; p. 243-262, 1984.
transferências de renda do governo (Resumo executivo).
MOUTINHO, P.; LOPES, U;
impactam a pobreza no Brasil? LEFEBVRE, P. Avança Brasil: os
Laboratório de Estudo da custos ambientais para a
Pobreza, CAEN-UFC, 2007. Amazônia. Belém: Alves, 2000.

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009


Marcelo Bentes Diniz_José Nilo de Oliveira Junior_Nicolino Trompieri Neto_Márcia Jucá Teixeira Diniz 151

RODRIGUES, Ricardo Leonardo WEINHOLD, D. A dynamic ‘fixed Email de contato dos autores:
mbdiniz@ufpa.br
Vianna. Causas do desmatamento da effects’ model for heterogeneous panel
josenilo@ufpa.br
Amazônia brasileira. Tese data. London School of trompieri@bol.com.br
(Doutorado) – COPPE/UFRJ, Economics, 1999. mjucadiniz@hotmail.com.br
Rio de Janeiro, 2004. (unpublished manuscript).
SERRÃO E. A. S.; TOLEDO J. WEINHOLD, D.; REIS E. Model
M. The search for sustainability in avaluation and causality testing in short Artigo recebido em dezembro de 2008;
aprovado em maio de 2009.
Amazonian pastures. In: panels; the case of infrastructure
ANDERSON, A. B. (Ed.). provision and population growth
Alternatives to deforestation: steps in the Brasilian Amazon,
towards sustainable utilization of (1975-1985), 2001.
Amazon forest. New York:
WOOD, C.; SCHMINK; M.
Columbia University Press, 1990.
Contested frontiers in Amazonia.
p. 195-214.
New York: Columbia University
TEJADA, C. A. O.; JACINTO, P. Press, 1992.
A.; SANTOS, A. M. A.; SOUSA,
WOOLDRIDGE, Jeffrey M.
E. A. Saúde e pobreza no Brasil:
Econometric analysis of cross-section
uma análise de causalidade de
and panel data. Cambridge,
Granger com dados em painel. In:
Massachusetts: The MIT
Encontro Nacional de Economia
Press, 2002.
Regional, 5., 2007, Recife. Anais...
Recife : Editora da UFPE, 2007. WOOLDRIDGE, Jeffrey M.
Introductory econometrics: a modern
WALKER, R. T. Land use
approach-2E. Maison, Ohio:
transition and deforestation
Thomson South –
in developing countries.
Western, 2003.
Geographical Analysis, v. 19, n. 1,
p. 18-30, 1987. WUNDER, Sven. Poverty alleviation
and tropical forests – What scope for
WEHRMANN, M. E. S. de F.;
synergies? World Development,
DUARTE, L. M. G. O que há em
v. 29, n. 11, p. 1817-2001, 2001.
comum entre a Região das
Missões e Lavrados de Roraima YOUNG, C. Public Policies and
ou os percursos da soja até a Deforestation in the Brazilian
Amazônia Legal. In: SAYAGO, Amazon. Planejamento e Políticas
D.; TOURRAND, J-F.; Públicas, n. 18, Rio de janeiro,
BURZSTYN, M. (Org.). IPEA, p. 201-222, 1998.
Amazônia; cenas e cenários.
Brasília: Universidade
de Brasília, 2004.
WEINHOLD, D. Investment,
growth and causality testing in
panels. Economie et Prevision,
v. 126, p. 163-175, 1996.

n ova Economia_Belo Horizonte_19 (1)_121-151_janeiro-abril de 2009

Das könnte Ihnen auch gefallen