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1. Prisão Penal.

1.1. Conceito e Modalidades.


 
                               Prisão é a privação do direito de
locomoção. A forma como ela se dá pode ser através de
determinação Judicial ou sem a aludida determinação
(prisão em flagrante). 
                                De início, cumpre observar que prisão é
medida extrema excepcional, somente devendo ser
realizada como forma de se estabelecer a segurança
jurídica que a sociedade espera, considerando que tal
medida importa na privação de um bem jurídico muito
valioso, a liberdade de locomoção.  
                               A prisão (encarceramento do indivíduo
ou a impossibilidade de se ausentar de seu domicílio) se dá
de duas formas:
a) como forma de cumprimento de uma decisão judicial
final, tendo natureza de sanção do Estado ante a
condenação da réu pelo cometimento de um ilícito penal;
b) como forma de se garantir a pretensão punitiva do
Estado ao final do processo. 
 
1.2. Prisão Cautelar e Prisão Processual.
 
                               A regra é que uma pessoa somente
possa ser privada do seu direito constitucional de
locomoção após o devido processo legal. Assim, necessário
uma acusação formal, contraditório, ampla defesa e decisão
final por um Juiz de direito.
                               Nesse sentido, após o trânsito em
julgado da decisão final, abre-se ao Estado a pretensão de
executar o comando da sentença, impondo-se a pena que,
no mais das vezes, é privativa de liberdade (prisão). 
                               Contudo, em algumas situações, para se
assegurar as investigações policiais e até mesmo para se
assegurar o cumprimento da pena, se faz necessário a
privação de liberdade do investigado/processado. Dá-se a
esta modalidade de prisão o nome de "Prisão Processual"
ou "Prisão Cautelar", de natureza nitidamente cautelar
(tutela de urgência).
                               Nosso sistema prevê três modalidades
de prisão cautelar:
a) Prisão em Flagrante (CPP, art. 301 e ss.);
b) Prisão Temporária (Lei nº 7.960/89);
c) Prisão Preventiva (CPP, art. 311 e ss).
                               Todas as formas de prisão cautelar
serão estudadas de forma detida nos próximos itens.
 
1.3. Princípios e Legalidade da Prisão.
 
                               Para que a prisão seja válida (prisão-
sanção ou prisão cautelar), necessário é que se observem
todos os princípios e normas legais.
                               Desatendidos este dois parâmetros, a
prisão se mostra ilegal, indevida, gerando-se dano ao preso
com possibilidade de intervenção judicial e indenização.
                               Nesse sentido, o sistema prisional, deve
atender rigorosa noção principiológica e legal.
                               Inicialmente, deve ser respeitado o
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, não podendo a
prisão ser vexatória ou com exposição do preso com
violação da intimidade. Ademais, deverão as condições dos
estabelecimentos prisionais ser adequadas para que a vida
do apenado seja digna, possibilitando-se a sua
ressocialização.
                               Outrossim, informa a Constituição que a
pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de
acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do
apenado (CF, art. 5º, XLVIII).
                               Também deve ser assegurado aos
presos o respeito à integridade física e moral (CF, art. 5º,
XLIX).
                               Importante ser observado o princípio da
publicidade, na medida em que a prisão de qualquer pessoa
deve ser comunicada ao juiz, à família do preso ou pessoa
indicada pelo mesmo (CF, art. 5º, LXII).
                               Destarte, deve ser assegurado ao preso:
- a ciência de seus direitos;
- a possibilidade de permanecer calado;
- a assistência de sua família;
- a assistência de advogado;
- a identificação de quem o prendeu;
                                Note-se que a noção principiológica
constitucional acima exemplificadas, para que a prisão seja
válida, necessário também a observância da lei ordinária,
em especial o Código de Processo Penal e a legislação
extravagante correlata, sendo que a prisão ilegal será
imediatamente relaxada pela autoridade judiciária (CF, art.
5º, LXV).                                              
 
1.4. Prisão em Flagrante.
 
                               A prisão em Flagrante é a primeira
modalidade de prisão cautelar. Com as alterações
legislativas ocorridas a partir de 2011, a prisão em flagrante
deixou de ser considerada como modalidade de prisão
provisória, na medida em que, uma vez operado o
flagrante, ocorrerá o relaxamento da prisão (se ela for
ilegal), a conversão em prisão preventiva (se presentes os
requisitos) ou a concessão de liberdade provisória (se for a
hipótese).
                               A prisão em flagrante vem disciplinada
no CPP, artigos 301/310.
ESPÉCIES DE FLAGRANTE
1) Flagrante próprio: quando o agente é preso cometendo a
infração ou quando acaba de cometê-la (CPP, art. 302, I e
II);
2) Flagrante impróprio: quando o agente é perseguido, logo
após cometer a infração em situação que se faça presumir
ser ele o autor da infração (CPP, art. 302, III);
3) Flagrante presumido (ficto): quando o agente é preso,
logo após cometer a infração, portando objetos que façam
presumir ser ele o infrator (CPP, art. 302, IV);
4) Flagrante preparado: aquele em que a autoridade
provoca o agente a cometer o crime e não impede a
consumação do mesmo. O STF através da súmula 145 já
pacificou a invalidade deste tipo de flagrante;
5) Flagrante retardado: quando a atuação da polícia é
diferida para um momento mais oportuno;
6) Flagrante Obrigatório: aquele em que não há opção
senão a de realizar a prisão (autoridade policial e seus
agentes);
7) Flagrante facultativo: aquele em que há opção pela
prisão (qualquer um do povo);
8) Flagrante forjado: aquele em que os policias criam
provas de um crime inexistente.
 
PESSOAS NÃO SUJEITAS AO FLAGRANTE
 
                               Algumas pessoas, ante a sua condição
especial, não estão sujeitas à prisão em flagrante. São Elas:
a) os menores de 18 anos;
b) diplomatas estrangeiros;
c) o presidente da república;
d) os membros do Congresso Nacional que tenham
cometido crime afiançável;
e) os deputados estaduais que tenham cometido crime
afiançável;
f) os magistrados e membros do MP que tenham cometido
crime afiançável;
g) o agente que pratica crime de trânsito, mas socorre a
vítima;
h) o agente que comete crime de menor potencial ofensivo
e se compromete a comparecer ao juizado;
 
PROCEDIMENTO DO FLAGRANTE
 
                               Uma vez realizada a prisão em
flagrante, a autoridade competente ouvirá o condutor,
ouvirá testemunhas e interrogará o acusado, lavrando-se ao
final o devido auto.
                               Entendendo que existiu a ocorrência de
um crime, a autoridade determinará que o conduzido seja
recolhido à prisão (exceto no caso de livrar-se solto ou de
prestar fiança) e prosseguirá no inquérito ou processo,
sendo entregue ao preso a nota de culpa em até 24 horas.
                               Na falta ou impedimento do escrivão,
qualquer pessoa designada poderá prestar compromisso e
lavrar o auto.
                               Em até 24 horas, a partir da realização
da prisão, o auto de prisão em flagrante será encaminhado
ao juiz competente.
                               Recebido o auto de prisão o juiz tem
três possibilidades (art. 310, CPP):
a) relaxar a prisão, se ela for ilegal;
b) converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, se
presentes os requisitos legais;
c) conceder a liberdade provisória.
 
 
 
 
1.5. Prisão Temporária ou Provisória.
 
                               A prisão temporária é uma espécie de
prisão cautelar que tem por finalidade garantir
investigações.
                               Ela somente tem cabimento durante o
inquérito policial. Sua fundamentação legal está na Lei nº
7.960/89.
                               São hipóteses:
a) quando imprescindível para as investigações do inquérito
policial;
b) quando o indiciado não tiver residência fixa ou fornecer
dados para sua identificação;
c) quando existir fundadas razões da autoria ou
participação em crimes mais graves definidos pela lei
7.960/89.
 
                               Cumpre observar que a doutrina mais
abalizada não é unânime sobre a necessidade da presença
simultânea ou não dos itens acima relacionados para se
operar a prisão temporal.
                               Prazo: a prisão será decretada pela
autoridade judiciária (a pedido da autoridade policial ou do
MP) pelo prazo de 5 dias, prorrogáveis por mais 5 dias
quando houver extrema necessidade. Em se tratando de
crime hediondo ou tráfico de drogas, o prazo é de 30 dias,
prorrogáveis por mais 30 dias.
                               Após o aludido prazo, o preso deverá ser
posto em liberdade, salvo se já tiver sido decretada a prisão
preventiva.
 
1.6. Prisão Preventiva.
 
                               Prisão preventiva é a modalidade de
prisão cautelar, determinada fundamentadamente pela
autoridade judiciária em sede de inquérito policial ou
processo judicial, preenchidos os requisitos legais.
                               A previsão legal está no CPP, artigos
311/316.
                               São pressupostos para a determinação
da prisão preventiva a existência de:
a) "fumus boni juris" ("fumus comissi delicti"), ou seja, a
probabilidade de que o investigado ou réu seja autor ou
partícipe de um ilícito penal.
b) "periculum in mora" ("periculum libertatis"), ou seja, o
perigo de que a liberdade do investigado ou réu possa
acarretar o impedimento das investigações ou a execução
de futura pena imposta.
BINÔMIO DA PRISÃO PREVENTIVA
                               Para que o juiz decrete a prisão
preventiva, necessário o respeito ao binômio:
a) Necessidade (CPP, art. 282, I)
b) Adequação (CPP, art. 282, II)
 
FUNDAMENTOS DA PRISÃO PREVENTIVA
 
a) garantia da ordem pública ou econômica
b) conveniência da instrução criminal
c) assegurar a aplicação da lei penal
 
CONDIÇÕES DE ADMISSIBILIDADE
 
a) Crime doloso com pena privativa de liberdade máxima
maior que 4 anos;
b) Reincidência em crime doloso;
c) Violência doméstica contra mulher ou criança, idoso,
enfermo ou pessoa com deficiência;
d) Dificuldade na identificação do criminoso.
 
TIPOS DE PRISÃO PREVENTIVA
 
a) preventiva subsidiária ou substituta: aquela que substitui
cautelar pessoal descumprida (CPP, art. 282, §4º c/c art.
312, parágrafo único)
b) preventiva convertida ou alterada: decorre da conversão
do flagrante em prisão preventiva (CPP art. 310, II)
c) preventiva autônoma ou originária: decretada no curso
da persecução penal (CPP, art. 312 e 313).
 
PRISÃO PREVENTIVA DOMICILIAR
 
                               Nova medida adotada pelo legislador
para algumas pessoas em condições especiais. Nesse
sentido, a pessoa não cumpre a prisão no sistema
penitenciário e sim em seu domicílio.
                                          Hipóteses (CPP, art. 318):
1) agente maior de 80 anos;
2) agente extremamente debilitado por motivo de doença
grave;
3) quando o agente por imprescindível aos cuidados de
pessoa menor de 6 anos ou com deficiência;
4) quando a agente for gestante a partir do 7º mês de
gravidez ou sendo esta de alto risco.
 
1.7. Prisão por Sentença de Pronúncia.
 
                               A decisão de pronúncia está prevista no
artigo 413 do CPP e encerra primeira fase do rito do
Tribunal do Júri, dando início à segunda fase.
                               O réu será pronunciado se o juiz se
convencer da materialidade e da existência de indícios
suficientes de autoria ou participação em um crime doloso
contra a vida.
                               Se o réu já estiver detido por anterior
decretação de prisão preventiva, o juiz verificará da sua
manutenção, revogação ou substituição da medida
extrema. Caso esteja o acusado solto, o juiz verificará da
necessidade da decretação da prisão preventiva ou outra
medida.
                               Assim, fica claro que a pronúncia não
gera a automática prisão do pronunciado, necessitando-se
de análise concreta de cada caso.
 
1.8. Prisão por Força de Sentença Condenatória Recorrível.
 
                               Similar ao caso acima exposto, quando
o juiz prolata a sentença, deve verificar sobre a
manutenção, revogação ou decretação da prisão do réu.
Assim, a sentença condenatória recorrível não gera a
automática prisão do réu, necessitando-se de análise
concreta de cada caso.
                               A conclusão é a de que poderá o réu
recorrer em liberdade ou não dependendo do caso
concreto. Art. 387, §2º, do CPP.
 
1.9. Prisão por Força de Sentença Condenatória Irrecorrível.
 
                                   A prisão por força de sentença
condenatória irrecorrível tem natureza de pena. Assim, depois
do devido processo penal se o réu for condenado, será
enviado para presídio, onde deverá cumprir sua pena
conforme a Lei de Execução Penal.
                                   Se o réu estiver solto será expedida a
guia de recolhimento com a consequente prisão do
condenado (se a sentença tiver condenado o mesmo a uma
pena privativa de liberdade). Se o réu já estiver preso (por
força da prisão preventiva anteriormente decretada), deverá
continuar preso, alterando-se a natureza da prisão (se a
sentença tiver condenado o mesmo a uma pena privativa de
liberdade).
2. Mecanismos Legais para Restabelecimento da Liberdade.
 
2.1. Liberdade Provisória.
 
                                   A liberdade provisória é o instituto jurídico de direito
processual que garante em determinadas hipóteses que o réu aguarde o
julgamento do processo em liberdade. Pode ela ser com ou sem a prestação de
fiança.
                                   A previsão constitucional do instituto está no art. 5º, LXVI.
 
2.2. Princípios Norteadores do Instituto.
 
                               Os princípios encerram um norte a ser seguido pelo
aplicador do direito. Traçam verdadeiros vetores de interpretação, a fim de
que se possa aplicar corretamente a lei ao caso concreto.
                               Em sede de liberdade provisória ganha destaque o
princípio da legalidade, através do qual "ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".
                               Nesse sentido, se a lei não determina que a pessoa seja
presa, terá a mesma o direito de permanecer em liberdade. Note-se que a
prisão é medida excepcional. Assim, a regra é a liberdade; a exceção é a
prisão, que somente terá lugar quando a lei expressamente a prever.
                               Também merece atenção, o princípio do devido
processo legal (CF, art. 5º, inciso LIV).
                                         Para que seja realizada a tão esperada justiça é
necessário que sejam respeitadas várias regras de natureza principiológica e
de natureza normativa. Exatamente nesta premissa se encontra o “devido
processo legal”.
                                   Nas palavras do prof. Fernando Capez:
“Consiste em assegurar à pessoa o direito de
não ser privada de sua liberdade e de seus
bens, sem a garantia de um processo
desenvolvido na forma que estabelece a lei
(due processo of law – CF, art. 5., LIV). No
âmbito processual garante ao acusado a
plenitude de defesa, compreendendo o direito
de ser ouvido, de ser informado pessoalmente
de todos os atos processuais, de ter acesso à
defesa técnica, de ter a oportunidade de se
manifestar sempre depois da acusação e em
todas as oportunidades, à publicidade e
motivação das decisões, ressalvadas exceções
legais, de ser julgado perante o juiz
competente, ao duplo grau de jurisdição, à
revisão criminal e à imutabilidade das decisões
favoráveis transitadas em julgado.”[1]
 
                                   Em verdade, o princípio ora estudado recebe realce ao se
mostrar como compilação de todos os outros princípios.
                                   Nesse sentido, anote-se a lição:
                          “O devido processo legal, por
óbvio, relaciona-se com uma série de direitos e
garantias constitucionais, tais como presunção
de inocência, duplo grau de jurisdição, direito
de ser citado e de ser intimado de todas as
decisões que comportem recurso, ampla
defesa, contraditório, publicidade, Juiz natural,
imparcialidade do Julgador, direito às vias
recursais, proibição da reformatio in pejus,
respeito à coisa julgada (ne bis in idem),
proibição de provas colhidas ilicitamente,
motivação das sentenças, celeridade
processual, retroatividade da lei penal benigna,
dignidade humana, integridade física, liberdade
e igualdade.”[2]
 
                                   Finalmente, a liberdade provisória tem como norte o
princípio da presunção de inocência (CF, art. 5º, inciso LVII).
                                   A regra é que o réu somente seja considerado culpado
após um devido processo legal onde são apurados elementos formadores da
convicção do juiz. No caso de dúvida, deve o réu ser absolvido (princípio do
“favor rei”).
                                   Assim, uma pessoa, mesmo que condenada, somente
poderá ser considerada culpada após a constatação de não existir mais recurso
hábil contra a decisão (seja em sede de primeira instância ou de instâncias
superiores), ocasião em que poderá ser lançado o nome do réu no rol dos
culpados. Nesse sentido o princípio da presunção de inocência (ou da não
culpabilidade) subsiste durante todo o processo e tem o objetivo de garantir o
ônus da prova à acusação até a declaração final de responsabilidade penal
através de sentença condenatória, da qual não caibam mais recursos.
                               Ora, se uma pessoa é presumidamente inocente, a regra
é que ela seja mantida em liberdade até o final do processo.
 
2.3. Casos em que o Agente se Livra Solto.
 
                                   A doutrina sempre classificou a Liberdade provisória em
Obrigatória, Permitida e Vedada.
                                    A Liberdade provisória obrigatória é aquela em que o réu
tem o direito de liberdade sem a obrigação do pagamento de fiança ou
vinculação ao cumprimento de uma condição imposta pelo Juiz. A esta
possibilidade, se dá o nome de "Livrar-se solto".
                                   As hipóteses legais são:
1) Infrações penais em que não se cominam pena privativa de liberdade, art.
283, §1º, do CPP.
2) Infrações de menor potencial ofensivo, quando a parte se compromete a
comparecer no Juizado, art. 69 Lei 9.099/95.
                                    A liberdade provisória permitida é a que não é
obrigatória, ou seja, aquela na qual o juiz tem a opção de concedê-la ou não.
Aqui, existe a importância do critério do juiz, conforme artigo 321, do CPP.
                                   Finalmente, (apesar da discordância desta modalidade
por parte da doutrina), a liberdade provisória vedada ou proibida é aquela que
não pode ser concedida pelas seguintes razões:
1) Caso seja cabível a prisão preventiva;
2) Caso seja expressamente proibida por lei a sua concessão
 
2.4. Relaxamento da Prisão em Flagrante.
 
                                   Uma vez realizada a prisão em flagrante, os autos
deverão ser encaminhados ao Juiz de direito para a análise do caso concreto
(CPP, art. 306, §1º).
                                   Caso entenda que a prisão não encontra fundamento
legal, deverá realizar o seu relaxamento imediatamente, conforme determina o
artigo 310, do CPP.
                                   Cumpre consignar que a autoridade policial (delegado)
não tem o poder de relaxar a prisão. Poderá não formalizar o auto de prisão em
flagrante se entender que não é o caso liberando o conduzido imediatamente,
mas uma vez realizado o auto, somente o juiz de direito tem o poder acima
informado.
 
2.5. Conversão da Prisão Temporária em Preventiva.
 
                                   Como anteriormente se disse, a prisão temporária tem
natureza de medida cautelar e somente ocorre durante o inquérito policial. O
seu prazo é bastante pequeno (5 ou 30 dias, prorrogáveis pelo mesmo período
dependendo da hipótese) e no mais das vezes insuficiente para o encerramento
das investigações preliminares.
                                   Nesse sentido, é comum pedir e o juiz conceder a prisão
preventiva (se presentes os requisitos legais) antes do término da prisão
temporária, a fim de que o investigado continue preso, operando-se a devida
conversão.
                                   Outra hipótese é a do término da investigação preliminar.
Caso o Ministério Público entenda cabível, poderá pedir a conversão na própria
denúncia (ou anteriormente através de peça distinta) a fim de que o indiciado
continue preso. 
 
2.6. A Liberdade Provisória com ou sem Vinculação.
 
                                    A liberdade provisória será decretada pelo juiz sem a
vinculação de qualquer condição a ser cumprida nos casos de infrações penais
em que não se cominam pena privativa de liberdade, art. 283, §1º, do CPP, e
infrações de menor potencial ofensivo, quando a parte se compromete a
comparecer no Juizado, art. 69, Lei 9.099/95.
                                   A outra possibilidade é a da concessão da liberdade
provisória com a vinculação do cumprimento de determinada condição.
                                   Essa condição poderá ser a imposição das medidas
cautelares previstas no artigo 319, do CPP ou a estipulação de fiança (prestação
de caução).
                                   No que se refere às medidas cautelares do CPP, somente
o juiz tem o condão de determiná-las. Já a fiança poderá ser fixada pela
autoridade policial ou pelo juiz conforme adiante se verá.
                                   A autoridade policial somente poderá conceder fiança
para os crimes cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4
anos, no valor de 1 a 100 salários mínimos. Nos demais casos, a fiança será
decidida pelo juiz. Para os crimes com pena máxima acima de 4 anos o valor da
fiança será de 10 a 200 salários mínimos. A fiança pode ser aumentada,
reduzida ou dispensada, dependendo da hipótese (CPP, art. 322 c/c art. 325).
                                   Cumpre esclarecer que existem crimes que são
inafiançáveis:
a) crime de racismo;
b) crimes hediondos;
c) crime de tortura;
d) crime de tráfico de drogas;
e) crime de terrorismo;
f) crimes praticados por grupos armados contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático.
 
2.7. A Revogação da Prisão Preventiva.
 
                                   No curso da investigação criminal ou do próprio processo,
caso o juiz entenda que desapareceram os requisitos para a concessão da
prisão preventiva, deverá (a lei fala "poderá") revogá-la, conforme determina o
artigo 316, do CPP.
                                   Note-se que é caso de discricionariedade regrada. Se
ausente o motivo para que a prisão subsista, abre-se ao investigado/processado
o direito à liberdade, desafiando habeas corpus.
 
2-A. Considerações preliminares sobre a prova penal.
 
                                   Conforme ensina José Frederico Marques "no complexo
dos atos processuais que integram a instância penal condenatória, dá-se o
nome de atos de instrução àqueles destinados a recolher os elementos
necessários para a decisão da lide."[3] Assim, dentro de um processo, é
necessário que se produzam elementos que possam sustentar e fornecer
elementos para que o juiz possa proferir uma decisão acerca da questão que as
partes discutem em um processo, chegando-se a uma definição. A produção
desses elementos é o que chama de atos de instrução, sendo que referido autor
os divide em atos de prova e alegações, consistindo os primeiros no conjunto
de atos processuais que têm por objeto recolher as provas com que deve ser
decidido o litígio, enquanto que alegações consistiriam na apresentação de
argumentos sobre o direito debatido, bem como sobre os fatos colhidos através
da prova.
                                    As provas vêm disciplinadas no Titulo VII, do Livro I, do
Código de Processo Penal (artigos 155 a 250).
 2-A.1. Conceito de prova.
                                   Prova é o instrumento de que se vale a parte, dentro de
um processo, para demonstrar a legitimidade de sua argumentação de modo a
obter uma sentença favorável do juiz. 
                        Segundo José Frederico Marques, é o "elemento instrumental
para que as partes influam na convicção do juiz, e o meio de que este se serve
para averiguar sobre os fatos em que as partes fundamentam suas
alegações"[4].
 
Finalidade da prova
                                   A finalidade da prova é convencer o magistrado da
verdade dos fatos que estão sob sua análise, propiciando a formação de sua
convicção.
 
Objeto da prova
                                    É o fato, a coisa, o acontecimento que pretende se
demonstrar no processo.
                        Alguns autores dividem o objeto da prova em dois: objeto
abstrato e objeto concreto. O objeto abstrato seria aquilo que se pode provar
em termos gerais, enquanto que objeto concreto refere-se tão-somente àquilo
que somente pode se provar em relação a determinado processo.
                                   Em regra, somente os fatos constituem o objeto de prova
no processo, eximindo-se as partes de provarem o direito, em decorrência do
princípio juri novit curia (o juiz conhece o direito). Excetuam-se as normas
consuetudinárias, estrangeiras, estaduais (desde que de outro ente da
federação), municipais e as elaboradas por autarquias ou outras pessoas de
direito público.
                                   Alguns fatos não são objeto de prova, em decorrência de
sua própria natureza, como se sucede com os fatos notórios, os fatos
impossíveis, os fatos que possuem presunção legal ou absoluta e os fatos
impertinentes ou irrelevantes ao deslinde do processo.
                                   Devemos lembrar que no processo penal  não existe a
figura do fato incontroverso, como ocorre no processo civil, pois aquele se
orienta pela busca da verdade real, também chamada de verdade material ou
substancial, e não pela verdade formal, devendo todos os fatos ser
comprovados, ainda que as partes deles não divirjam.
 
2-A.2. Classificação das provas.
                                   Frederico Marques classifica as provas em históricas ou
críticas e em pessoais ou reais.
Prova histórica – é um fato representativo de outro fato, tal como o
testemunho.
Prova crítica – ao contrário da histórica, não possui função representativa,
mas meramente indicativa. É o caso dos indícios.
Prova pessoal ou subjetiva – é aquela cujo objeto central é constituído por
uma pessoa.
Prova real ou objetiva – é aquele cujo objeto central é uma coisa ou bem
exterior ao indivíduo.
 
                                   Denílson Feitoza elabora uma classificação mais
complexa, dividindo-a com relação: a) ao objeto; b) sujeito ou fonte; c) forma ou
aparência; d) valor ou efeito.
            Com relação ao objeto ela se subdivide em:
1. Direta – diz respeito diretamente ao fato probando.
2. Indireta – diz respeito indiretamente ao fato probando.
 
      Com relação ao sujeito ou fonte ela se subdivide em:
1. Prova pessoal ou subjetiva – é aquela cujo objeto central é constituído por
uma pessoa.
2. Prova real ou objetiva – é aquele cujo objeto central é uma coisa ou bem
exterior ao indivíduo.
 
Com relação à forma ou aparência ela se subdivide em:
1.Testemunhal – é obtida através de uma testemunha
2. Documental – é aquela obtida através de documento
3. Material – é aquela obtida através de exames, vistorias, corpo de delito, etc.
 
Com relação ao valor ou efeito ela se subdivide em:
 1. Plena – aquela que sugere um juízo de certeza
2. Não-plena – aquela que sugere apenas um juízo de probabilidade ou de
credibilidade
 
                        As provas ainda podem ser classificadas com relação à sua
previsão legal, subdividindo-se em:
Provas nominadas ou meios legais de prova – são aquelas previstas em lei.
Provas inominadas – são aquelas que não possuem previsão legal.
 
As provas legais são:
Exame de corpo de delito e perícias em geral
Interrogatório do acusado
Confissão
Perguntas ao ofendido
Testemunhas
Reconhecimento de pessoas e coisas
Acareação
Documentos
Indícios
Busca e apreensão
 
 2-A.3. As fases do procedimento probatório.
 
                                   Lastreado em lição de Jaime Guasp, José Frederico
Marques observa que o procedimento probatório “é o conjunto de todas as
atividades levadas a efeito, no processo, para a prática das provas”[5].
                                   Segue o autor: “Uma vez iniciada a instrução, há que se
distinguir e discriminar, no esquema genérico do procedimento probatório, os
diversos momentos em que ele se desenvolve, e que são os
seguintes: proposição da prova, admissão da prova e execução ou produção da
prova”[6].
                                   O momento para proposição e produção de provas sofreu
alterações com o advento das Leis n os 11.690/08 e 11.719/08. De acordo com a
segunda lei, o acusado deverá indicar as provas que pretende produzir no
momento da apresentação da resposta à acusação, de acordo com o disposto
nos artigo 396 e 396-A do Código de Processo Penal. O momento para a
proposição de prova pela acusação permanece o mesmo, ressalvado as duas
partes o requerimento de diligências em decorrência de necessidade apurada
na instrução, após a realização da audiência de instrução e julgamento,
conforme previsto no artigo 402, do diploma processual penal.
                                   A Lei nº 11.719/08 introduziu o princípio da concentração,
adotado no processo civil, pelo qual todas as provas devem ser produzidas em
uma única audiência de instrução de julgamento, prevista no artigo 400, do
Código de Processo Penal.
                        Exceção ao principio da concentração está previsto no artigo
156, I, do Código de Processo Penal, pelo qual o juiz poderá ordenar, de ofício, a
produção de provas consideradas urgentes e relevantes mesmo antes de
iniciada a ação penal. Ressalte-se, contudo, que é de constitucionalidade
duvidosa tal mudança trazida pela Lei nº 11.690/08, uma vez que confere
verdadeiro poder inquisitivo ao magistrado, que pode determinar a produção de
prova mesmo antes de existir uma ação penal.
 

[1] In Curso de Processo Penal, São Paulo, Saraiva, Ed. 18ª., p. 79.
[2] TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Manual de Processo Penal, São Paulo,
Ed. Saraiva, 7ª. Ed., p. 26.
[3] MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, vol. II, rev.
atual. por Eduardo Reale Ferrari. 2ª. ed., Campinas: Millenium, 2000, pág. 325.
[4] Op.cit., pág. 330.
 
[5] MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, vol. II, rev.
atual. por Eduardo Reale Ferrari. 2ª. ed., Campinas: Millenium, 2000, pág. 364.
[6] Idem, ibidem
 
3.1. A Constituição Federal e os meios de prova.
Meios de prova
                                   Meios de prova são os mecanismos pelos quais as partes
levam aos autos, ao conhecimento do juiz, as provas com as quais pretendem
fundamentar seus argumentos.
                        Segundo Pontes de Miranda "são as fontes probantes, os meios
pelos quais o juiz recebe os elementos ou motivos de provas"[1].
                        São admitidos como meios de provas todos aqueles que não são
proibidos por lei, que não ofendam a moral, a ética e os princípios gerais de
direito, ou que não atentem contra a dignidade ou a liberdade da pessoa
humana e os bons costumes.
                                   Ressalte-se que o parágrafo único, do artigo 155, do
Código de Processo Penal, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº
11.690/2008, dispõe que serão observadas as restrições estabelecidas na lei
civil somente com relação ao estado das pessoas. Assim, para se provar que
uma pessoa é casada, por exemplo, não será válida a prova testemunhal,
valendo somente a apresentação da certidão de casamento.
                                 Denílson Feitoza[2] lembra distinção de Germano Marques
da Silva feita com relação ao meio de prova e meio de obtenção de prova, na
qual o segundo seria a maneira pela qual se obtém o primeiro, citando como
exemplo, a realização de uma busca e apreensão, que é o mecanismo para se
obter documentos.
 
            CONCEITO DE PROVA ILÍCITA
 
                                   A Constituição da República determina que a prova será
proibida quando contrariar as normas legais ou os princípios processuais ou
materiais. Desta forma, não serão admitidas as provas que forem obtidas com a
violação da intimidade, vida privada e honra, como disciplina o art. 5º, X, da
Constituição de 1988; com a violação do domicílio (exceto nos casos previstos
no art. 5º, XI, CF); com a violação de correspondência e telefonemas não
autorizados (art. 5º, XII, CF); e outros meios ilícitos, como a confissão mediante
tortura, a violação do sigilo profissional etc.
                                   Prova ilícita são as obtidas com a violação de normas
materiais e as ilegítimas são as introduzidas no processo contra as
determinações de normas processuais.
                        O direito à prova não é absoluto, há limites impostos. Estes
limites resultam do princípio da convivência das liberdades, para não atingir de
forma danosa a ordem pública e a liberdade alheia.
                        Os limites colocados à atividade probatória são maiores no
processo penal, uma vez que a liberdade do indivíduo está sendo colocada em
risco.
                        O processo penal busca a verdade real, e não apenas impor uma
sanção ao acusado. A verdade deve ser mostrada de maneira legal e moral, de
forma inatacável.
                        A prova será considerada ilícita se o meio de prova for ilícito, se
esta for produzida de maneira imoral, ou ainda se sua obtenção for ilícita.
 
                        As provas de caráter ilegítimo serão atingidas através da
nulidade, porém quando se tratar de prova ilícita, obtida de maneira ilegal,
estas serão desentranhadas dos autos.
 
3.2. Teoria dos frutos da árvore envenenada.
                                   A teoria dos frutos da árvore envenenada aborda a
questão das provas ilícitas por derivação, que são aquelas que foram colhidas
através de informação ilicitamente obtida.
                        A doutrina e a jurisprudência já entendiam que a prova obtida
desta maneira é também ilícita, não devendo ser aceita, conforme podemos
destacar pelos julgados abaixo:
 
HABEAS CORPUS. CRIME QUALIFICADO DE EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO
(CP, ARTIGO 357, PÁR. ÚNICO). CONJUNTO PROBATÓRIO FUNDADO,
EXCLUSIVAMENTE, DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, POR ORDEM
JUDICIAL, PORÉM, PARA APURAR OUTROS FATOS (TRÁFICO DE
ENTORPECENTES): VIOLAÇÃO DO ARTIGO 5º, XII, DA CONSTITUIÇÃO.
(...)
3. As provas obtidas por meios ilícitos contaminam as que são
exclusivamente delas decorrentes; tornam-se inadmissíveis no
processo e não podem ensejar a investigação criminal e, com
mais razão, a denúncia, a instrução e o julgamento (CF, artigo5º,
LVI), ainda que tenha restado sobejamente comprovado, por
meio delas, que o Juiz foi vítima das contumélias do paciente.
4. Inexistência, nos autos do processo crime, de prova autônoma e não
decorrente de prova ilícita, que permita o prosseguimento do processo.
(HC nº 72588/PB, STF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Maurício Corrêa, D. J.
04.08.00, provido, por maioria). (grifo nosso)
 
“De outro lado, a prova colhida conforme procedimento descrito na lei,
só pode ser utilizada na hipótese mencionada no requerimento de
autorização judicial. Ou seja, é imprestável para outro inquérito, outro
processo. Aqui, têm lugar considerações a respeito das consequências da
interceptação telefônica.
Evidente, a observação já foi registrada, a prova é de aplicação restrita,
ou seja, exclusivamente para evidenciar o fato-objeto da investigação e a
qualificação dos investigados.
Nada além dessa extensão poderá ser utilizada. A regra é
severa, inflexível. A propósito, tornou-se famosa a teoria
conhecida como – fruits of the poisonous tree – ou seja, separa
com nitidez, o objeto da investigação, e os fatos (até
desconhecidos) que passam a ser conhecidos durante a
interceptação. Entenda-se: fatos alheios ao objeto da
interceptação.
A Lei nº 9.296/96 foi categórica, no artigo 9º: ‘A gravação que não
interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o
inquérito, a instrução processual ou após esta, em virtude de
requerimento, do Ministério Público ou da parte interessada.
Assim, fatos resultantes da diligência, ainda que caracterizadores de
infração penal não podem ser considerados. Não entram no mundo
jurídico, senão para serem destruídos. Ninguém, nem mesmo o Estado,
poderá utilizá-los para eventual inquérito ou processo.
Desse modo, se a interceptação revelar que, em determinado lugar,
alguém está recolhido, vítima de sequestro, se não foi esse objeto da
interceptação, evidente, a prova não poderá ser considerada, nem
mesmo para dar início a procedimento que tenha por objeto o fato
descoberto. Tais provas são denominadas ilícitas por derivação” (Revista
Forense 350/367)
 
                        No mesmo sentido, podemos destacar a lição de Luiz Flávio
Gomes[3], afirmando que “a questão fundamental, agora, é saber se tem ou
não valor uma segunda prova, obtida licitamente, mas em virtude de
informação contida na primeira, alcançada de forma ilícita (autorizada antes da
Lei nº 9.296/96). Soube-se da existência de uma grande quantidade de droga.
Essa apreensão, como prova derivada que é, porque só se tornou possível em
virtude da informação anterior, possui valor jurídico? Uma prova derivada
(decorrente de informação obtida ilicitamente) pode servir de suporte
incriminatório contra o acusado? O Juiz pode valorá-la? Não existe uma única
resposta para tais indagações. A matéria é controvertida, em termos de
doutrina, inclusive internacional. No Brasil, no entanto, o STF adotou uma clara
posição: as provas ilícitas por derivação resultam contaminadas e, portanto,
também são ilícitas e inadmissíveis. O pensamento doutrinário nacional
predominante segue a mesma trilha”. (op. Cit; p. 144)
                                   Contudo, com a recente promulgação da Lei nº
11.690/2008, a aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada vem
prevista no artigo art. 157 do Código de Processo Penal, com a seguinte
redação:
 
“Art. 157.  São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo,
as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais. 
§ 1o  São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo
quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou
quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente
das primeiras. 
§ 2o  Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os
trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução
criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova."
 
                                   Como podemos observar da leitura do dispositivo em
questão, excepcionam-se as provas que poderiam ser colhidas de forma lícita,
ou daquelas que têm uma linha tênue de conexão com a informação colhida
ilicitamente.
 
3.3. Teoria da razoabilidade ou proporcionalidade.
 
                        Apesar da teoria dominante não admitir as provas ilícitas, alguns
a aceitam em função da proporcionalidade e equilíbrio nos casos graves,
atenuando esta rigidez da teoria dominante.
                        A teoria da proporcionalidade surgiu na Alemanha, e ganhou
espaço significativo na Suprema Corte Americana.
                        Porém, mesmo aqueles que acolhem esta teoria concordam que
esta só deve ser aceita quando, se inadmitida a prova ilícita, pudesse causar
resultado desproporcional ao pretendido.
                        Quando a prova colhida for pro reo, teremos a aplicação da
teoria da proporcionalidade na defesa, havendo um confronto entre a proibição
pela ilicitude da prova e o direito à ampla defesa, e sendo assim o princípio
constitucional do direito de defesa sobrepõe-se. Além do que se a prova tiver
sido colhida pelo próprio acusado exclui-se a antijuridicidade em favor da
legítima defesa.
                       Entretanto, há também a possibilidade da acusação se favorecer
com a prova ilícita, e é essa a posição do Tribunal, que tem admitido a validade
tanto de escuta quanto de gravação de conversa telefônica ou pessoal, desde
que haja uma excludente de ilicitude (legítima defesa, p. ex.) Em tais casos, o
STF tem considerado lícita a prova resultante da gravação e, portanto, tem
afastado a regra do art. 5º, LVI, da Constituição, admitindo o uso de tal prova
pela acusação. Nesse sentido, em caso de escuta telefônica, o Tribunal decidiu
no HC 74.678-SP(17), relatado pelo Min. Moreira Alves, em acórdão assim
ementado:
 "‘Habeas corpus’. Utilização de gravação de conversa telefônica feita por
terceiro com a autorização de um dos interlocutores sem o conhecimento
do outro quando há, para essa utilização, excludente da antijuridicidade.
(...) Afastada a ilicitude de tal conduta – a de, por legítima defesa, fazer
gravar e divulgar conversa telefônica ainda que não haja o conhecimento
do terceiro que está praticando crime - é ela, por via de conseqüência,
lícita e, também conseqüentemente, essa gravação não pode ser tida
como prova ilícita, para invocar-se o artigo5º, LVI, da Constituição com
fundamento em que houve violação da intimidade (art. 5º, X, da Carta
Magna). (...) Habeas corpus indeferido."
                        Essa decisão foi corroborada por várias outras, em casos de
gravação telefônica(18): HC 75.338-RJ, Rel. Min. Nelson Jobim, RTJ 167/206 e RT
759/507, e Agravo de Instrumento 232.123 (AgRg)-SP, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, RTJ 168/1022. Em casos de escuta telefônica: HC 75.261-MG, Rel.
Min. Octavio Gallotti, RTJ 163/759. E também em casos de escuta ambiental: RE
212.081, Rel. Min. Octavio Gallotti, Informativo do STF nº 104.
 
3.4. O ônus da prova.
 
                                   Segundo definição de Gustavo Badaró, conforme citado
por Guilherme de Souza Nucci[4], o ônus da prova é uma "posição jurídica na
qual o ordenamento jurídico estabelece determinada conduta para que o sujeito
possa obter um resultado favorável. Em outros termos, para que o sujeito
onerado obtenha um resultado favorável, deverá praticar o ato previsto no
ordenamento jurídico, sendo que a não realização da conduta implica a
exclusão de tal benefício, sem, contudo, configurar um ato ilícito."
                        O ônus da prova cabe àquele que alega, conforme disposto no
artigo 156 do código de processo penal, in verbis:
 
Art. 156.  A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém,
facultado ao juiz de ofício:  (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção
antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a
necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;
II - determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a
realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
 
                        Isto implica, na prática, que o ônus da prova incumbe à
acusação, tendo em vista que descreve a conduta que pretende provar em
juízo. Todavia, deve-se ressaltar que, no caso de a defesa alegar alguma
excludente de ilicitude ou de antijuridicidade, no que se refere a esta alegação
o ônus da prova lhe incumbe.
 
Sujeito passivo e o ônus da prova
 
                        Cumpre ressaltar que o acusado não é obrigado a produzir prova
contra si mesmo, assim, qualquer prova que foi demandada pelo juiz, e que
implique prejuízo para sua defesa, pode ser negada, como por exemplo, a
realização de exame grafotécnico.
                                   Outro ponto que deve ser destacado, é que na dúvida o
acusado é presumido inocente. Isto implica que, alegando a defesa alguma
excludente, embora não reste devidamente comprovada, existindo dúvidas com
relação à sua ocorrência, a interpretação deve ser feita em favor do réu, ou
seja, acolhendo-a.
                        Por outro lado, o fato de o ônus da prova sobre determinado
acontecimento alegado pelo acusado lhe incumbir, não implica que acusação
está desonerada de provar a autoria e a materialidade do delito. Pelo contrário,
este deve vir sempre comprovado, pois a mera dúvida implica na absolvição. Ao
acusado somente caberá a prova do fato que alegou.
 
 3.5. Sistemas de apreciação.
Os sistemas de apreciação da prova são basicamente três:
A) sistema da livre convicção;
B) sistema da prova legal; e
C) sistema da persuasão racional.
                                   Sistema da livre convicção também conhecido como
certeza moral do juiz ou íntima convicção, implica em que o julgador não está
obrigado a julgar de acordo com as provas produzidas nos autos e, tampouco,
está obrigado a exteriorizar os motivos pelos quais tomou sua decisão.
                        Encontramos, atualmente, este sistema, no julgamento realizado
pelo tribunal do júri, onde os jurados não fundamentom as suas decisões e
podem decidir contra a prova produzidas nos autos.
                                   Já no sistema da prova legal, também conhecido por
sistema da certeza moral do legislador ou o sistema da verdade legal, a prova
possui um valor pré-determinado em lei, sendo que cada prova possui um valor.
Historicamente, esse sistema surgiu como reação ao sistema da livre convicção,
pois naquele sistema o processo tornou-se sinônimo de arbítrio.
                        Na época em que se adotou esse sistema, se considerava nula
com força probatória de um único testemunho e a confissão tinha valor
absoluto.
                        Guilherme de Souza Nucci[5] aponta como resquício desse
sistema o artigo 158 do Código de Processo Penal, o qual exige a realização de
exame de corpo de delito quando a infração deixar vestígios, não podendo ser
suprido pela confissão.
                        Já por sistema da persuasão racional, também conhecido por
sistema do livre convencimento motivado ou livre convicção condicionada, o
juiz apesar de estar limitado às provas dos autos é livre para estabelecer o
valor de cada uma, devendo, contudo, motivar sua decisão, exteriorizando os
motivos que o convenceram.
                                   É o sistema adotado preponderantemente pelo processo
penal brasileiro, previsto no artigo 155 do código de processo penal, e,
inclusive, no artigo 93, inciso IX, da Constituição da República Federativa do
Brasil.
                                   Ressalte-se que, conforme dispõe Guilherme de Souza
Nucci[6], que apesar da liberdade do juiz para apreciação das provas, isto não
significa que "possa fazer a sua opinião pessoal ou vivência acerca de algo
integrar o conjunto probatório, tornando-se, pois, prova."
                        Art. 155.  O juiz formará sua convicção pela livre
apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
 Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal,
disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes
princípios:
(...)
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação;
 
3.6. Princípios da prova penal.
 
Conceito - Por princípio, sinteticamente, podemos definir como a norma que
por sua generalidade e abrangência, informa todo o ordenamento jurídico,
conferindo unidade ao sistema, norteando a aplicação e a interpretação de
outras normas jurídicas.
 
Princípio da busca da verdade real - Trata-se de princípio informador de
todo o processo penal, não se restringindo somente às provas.
                                   Em decorrência deste princípio o juiz não pode se
contentar com a mera verdade formal, que é aquela verdade levada aos autos
pelas partes, ainda que não corresponda à realidade. O magistrado deve buscar
sempre a obtenção da realidade, através da reconstrução histórica dos fatos
noticiados, não podendo tomar por verdadeiros sequer os fatos incontroversos.
É dizer, "trata-se da averiguação judicial da verdade histórica como meta do
procedimento penal, com base no qual se deve fundar a decisão final"[7].
                                   Todavia, este princípio não é absoluto, encontrando
limitação com relação à produção de provas ilícitas no processo penal, princípio
que veremos abaixo detalhadamente.
 
Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos -
Este princípio vem consagrado no artigo 5º, inciso LVI, da constituição federal.
Com edição da lei nº 11.690/2008, tal princípio está expresso no artigo 157 do
CPP.
                                   Decorre deste princípio que as provas obtidas por meios
ilícitos, são provas que não podem ser utilizadas em um processo penal. Parte
da doutrina costuma destacar com exceção a este princípio, a possibilidade de
utilizar-se de prova ilícita desde que seja para absolver o réu.
                                   A doutrina também costuma diferenciar prova ilícita de
prova ilegítima. Prova ilícita é aquela que foi obtida a partir de uma violação de
normas de direito material, como por exemplo através de  degravação
clandestina. Já prova ilegítima é aquela que foi obtida com violação de norma
processual, como no caso de perícia que não foi realizada por perito oficial, que
possua um diploma de curso superior.
 
Princípio nemo tenetur se detegere - tal princípio encontra previsão do
inciso LXIII, do artigo 5º da CF.
 
                                   De acordo com este princípio, ninguém é obrigado a
produzir prova contra si mesmo, já que ninguém é obrigado a se auto-acusar.
Decorre da norma que determina que o ônus da prova incumbe a quem alega, o
que obriga, portanto, a acusação de comprovar suas imputações.
                                   Este princípio permite, por exemplo, que o acusado
permaneça em silêncio durante toda a instrução processual, bem como se
recuse a participar da produção de qualquer tipo de prova, tais como
reprodução assistida ou fornecimento de material para realização de exame de
sangue.
 
princípio do contraditório - Para toda prova produzida por uma das partes
deve existir o conhecimento da parte contrária, admitindo-se e possibilitando-se
sua contrariedade.
                                   Trata-se de decorrência natural do princípio do
contraditório, que informa todo o sistema processual penal, e vem previsto no
art. 5º, inciso LV, da CF.
                                   Sucede, todavia, que em alguns momentos tal princípio
não estará em vigor em sua plenitude, sendo sua oportunidade de contrariação
diferida, como no caso da produção de provas cautelares, a exemplo do que
ocorre com as interceptações telefônicas.
 
Princípio da aquisição ou da comunhão de provas - Também denominado
como princípio da aquisição da prova e princípio da comunidade da prova.
                                   Deste princípio decorre que toda prova produzida afeta a
ambas as partes, podendo ser utilizada tanto pela defesa quanto pela acusação,
pois integra o processo, não pertencendo simplesmente à parte que a produziu.
Ressalte-se que o destinatário final da prova é sempre o juiz.
 
Princípio da oralidade - Por este princípio significa que os atos processuais,
em geral, devem ser realizados oralmente, tais como as vítimas de
testemunhas do ofendido e o interrogatório do acusado.
                                   Como decorrência deste princípio, podemos destacar o
princípio da concentração dos atos.
                                   Note-se que apesar dos atos serem praticados oralmente,
estes devem ser reduzidos a termo.
 
Princípio da concentração - deste princípio decorre que toda a produção
probatória deve se concentrar em uma única audiência.
                                   Este princípio vem consagrado no artigo 400 do C.P.P.,
com a redação que lhe foi dada pela lei 11.719/2008.
 
Princípio da publicidade - Decorre deste princípio que as provas produzidas,
assim como todos os atos processuais, são públicos, excetuadas as hipóteses
em que o interesse social e a defesa da intimidade assim o exigirem.
                                   Tal princípio encontra previsão no artigo 5º, LX, da CF.
 
Princípio da auto-responsabilidade das partes - Por este princípio cada
parte assume a consequência de sua inatividade processual, ou de seus erros
quanto às provas que foram produzidas ou que deveriam produzir.
 
 

[1] Comentários ao Código de Processo Civil, 1947, vol. II, p.


155, apud MARQUES, José Frederico, op.cit., pág. 333.
[2]  Direito Processual Penal – Teoria, Crítica e Práxis. 5ª ed., Niterói: Impetus,
2008, pág. 605.
[3] Luiz Flávio Gomes, Raúl Cervini. Interceptação telefônica: lei 9.296, de
24.07.96, São Paulo: RT, 1997, pág. 144.
[4] Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3ª ed., São Paulo: RT,2007,
página 363.
[5] Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3ª ed., São Paulo: RT, 2007,
página 365.
[6] Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3ª ed., São Paulo: RT, 2007,
página 365.
 
[7] Denilson Feitoza. Direito Processual Penal. 5ª ed., Niterói: Impetus, 2008,
pág.623.

4.1. Exame de Corpo de Delito.


 
Conceito - corpo de delito são os elementos imperceptíveis da infração penal,
isto é, são os vestígios deixados pelo ilícito penal, os elementos através do dos
quais podem ser verificados a ocorrência de um crime. Assim, o exame de
corpo de delito é aquele realizado sobre tais vestígios, visando comprovar a
ocorrência de um crime. É a maneira pela qual se comprova a materialidade do
delito praticado.
                                   Duas são as espécies de exame de corpo de delito: direto
e indireto.
 
a) Exame de corpo de delito direto é aquele realizado pelo perito em
contato direto e imediato com os vestígios do crime.
 
b) Exame de corpo de delito indireto é aquele realizado através da
análise de outros elementos que não propriamente os vestígios deixados
pela prática criminosa.
 
                                   Para efeitos de realização do exame de corpo de delito,
as infrações penais subdividem-se em infrações penais que deixam vestígios
materiais ou infrações penais intranseuntes, e infrações penais que não deixam
vestígios, também chamadas de infrações penais transeuntes.
 
                                   Note-se que por força do artigo 158 do CPP, quando
tratar-se de infrações penais intranseuntes a realização de exame de corpo de
delito será necessária.
 
                                   Questão controvertida surge com relação ao que vem a
ser que o exame de corpo de delito indireto, tendo vista o disposto no artigo
167 do CPP. Com efeito, o referido dispositivo legal dispõe que não sendo
possível o exame de corpo de delito, por haver desaparecido os vestígios, a
prova testemunhal poderá suprir-lhes a falta.
                                   Fernando da Costa Tourinho Filho, ao lado de Espínola
Filho, entende que referido artigo não exige nenhuma formalidade para a
constituição do exame de corpo de delito indireto, sendo o simples testemunho
de que presenciou o crime ou viu seus vestígios suficiente para suprir o exame
direto.
                                   Já para Guilherme de Souza Nucci e Hélio Tornaghi, uma
coisa não se confunde com a outra, sendo que o testemunho é a prova pela
qual os peritos deverão realizar o exame, apresentando suas conclusões.
 
Exames periciais - dispõe o artigo 159 do CPP, com a nova redação que lhe foi
dada pela lei 11.690/2008, que os exames periciais devem ser realizados por
um perito oficial, o qual deve portar diploma de curso superior.
                                   A finalidade da perícia é auxiliar o julgador em questões
situadas fora de sua área de conhecimento profissional, é o juízo de valorização
exercido por um especialista, o perito.
 
Perito - é o auxiliar da justiça, cuja função é fornecer ao juiz dados instrutórios,
de ordem técnica, realizando a verificação e a formação do exame do corpo de
delito.
                                   A legislação prevê dois tipos de perito, o oficial e o não
oficial. O perito oficial é o concursado, com diploma superior. Já o perito não
oficial, é aquele que não integra os quadros da administração pública, e que é
nomeado diante do caso concreto, devendo prestar o compromisso de bem e
fielmente desempenhar a função.
  
Realização das perícias - para a realização da perícia, de acordo com o artigo
161, do CPP, pode ser designado qualquer dia e horário, de acordo com a
necessidade e disponibilidade dos peritos. Ressalte-se, contudo, que o perito
não pode recusar a nomeação e tampouco deixar de comparecer para a
realização do exame, de acordo com o que dispõe os artigos 277 e 278 do CPP,
salvo motivo justificável.
 
Exame necroscópico (autópsia) - É o exame realizado por peritos das partes
internas de um cadáver, tendo como finalidade principal constatar a morte e
sua causa, servindo, contudo, para a verificação de outros aspectos, como por
exemplo, a trajetória do projétil e o número de ferimentos realizados, bem
como os orifícios de entrada e saída dos instrumentos utilizados.
                                   Excepcionalmente, a autópsia pode ser dispensada, nos
termos do parágrafo único do artigo 162 do CPP.
                                   O artigo 162 do CPP determina que a autópsia deverá
esperar pelo menos 6 horas para que possa ser realizada, tempo este
necessário para o surgimento dos sinais tanatológicos, a não ser que o perito,
com base nas evidências da morte, julgue que possa ser realizado antes
daquele prazo, o que deverá constar no auto.
 
Outras perícias - outras perícias vêm discriminadas nos artigos 163 a 175 do
CPP. São elas:
 

 Exumação;
 Exame de corpo de delito em caso de lesões corporais;
 Exame de local;
 Exame laboratorial;
 Perícia furto qualificado e crimes afins;
 Laudo de avaliação;
 Exame de local de incêndio;
 Exame grafotécnico;
 Exame dos instrumentos utilizados nos crimes.

 
4.2. Interrogatório do acusado.
Conceito – Segundo Guilherme de Souza Nucci[1] “é o ato processual que
confere a oportunidade ao acusado de se dirigir diretamente ao juiz,
apresentando sua versão defensiva aos fatos que lhe foram imputados pela
acusação, podendo inclusive indicar meios de prova, bem como confessar, se
entender cabível, ou mesmo permanecer em silêncio, fornecendo apenas dados
de qualificação.”
  
Natureza – Existem quatro posições a respeito da natureza jurídica do
interrogatório.
 
- Meio de prova;
- Meio de defesa;
- Meio de prova e de defesa;
- Meio de defesa, fundamentalmente e indiretamente meio de prova.
 
Oportunidade – O interrogatório pode ser realizado a qualquer momento do
processo, mesmo quando se encontrar em 2ª Instância, caso entenda o
Magistrado haver interesse na inquirição do acusado. Contudo o momento
ordinário para a realização do interrogatório é na audiência de instrução e
julgamento, após a oitiva das testemunhas de acusação e defesa, de acordo
com redação que foi dada ao artigo 400, caput, do CPP, pela Lei nº
11.719/2008.
                                   Note-se que ao determinar que o interrogatório fosse
realizado como o último ato da audiência de instrução, antes das alegações
finais, foi consagrado entendimento de que o interrogatório é primeiramente
um meio de defesa, mas conforme seu conteúdo, pode ser meio de prova.
 
Características – O interrogatório é ato personalíssimo, contraditável e oral.
Personalíssimo, pois somente o acusado é que pode ser interrogado,
contraditável, pois as partes podem dele participar, elaborando perguntas
diretamente ao réu e oral, segundo regra geral do processo penal brasileiro,
embora deva ser reduzido a termo.
 
Formalidades – O interrogatório deve ser realizado na presença de um
defensor, sendo assegurada a entrevista reservada do acusado com seu
defensor.
                                   O parágrafo 1º do art. 185, do CPP, define como regra
geral a realização do interrogatório do réu preso “no estabelecimento prisional
em que se encontrar, em sala própria, desde que estejam garantidas a
segurança do juiz e auxiliares, a presença do defensor e a publicidade do ato”,
porém, tendo em vista a falta de condições da maioria das instituições
prisionais brasileiras, na prática a modalidade pouco tem sido utilizada,
permanecendo a realização do interrogatório nos fóruns. 
                                   O acusado deve ser cientificado previamente dos fatos
que lhe imputam, bem como do direito que possui de permanecer em silencio,
sendo que este não importará em confissão.
                                   Quando o acusado não falar a língua nacional, deverá ser
providenciado intérprete.
                                   Com relação a interrogatório de mudos, surdos ou surdos-
mudos, a previsão é de que a escrita supra a falta de comunicação oral. Na
hipótese de o acusado não saber ler e escrever, será nomeado intérprete.
 
Interrogatório e ampla defesa – Como em todos os demais atos processuais,
no interrogatório deve ser assegurado o direito à ampla defesa e ao
contraditório, ressaltando-se que, como ensina Antonio Scarance Fernandez[2],
não existe, entre ambos, uma relação de derivação, sendo, na verdade,
manifestações da garantia genérica do devido processo legal, intimamente
ligados em decorrência da própria natureza do processo, que exige partes
opostas, e uma em posição de defesa.
                                   Assim, a existência de um processo implica,
necessariamente, na existência da defesa da parte passiva, na relação jurídica
adjetiva, sem nenhum obste que seja este o sujeito ativo na relação material.
Contudo, acrescenta Scarance Fernandes[3] que tal fato não ocorre no processo
penal, pois somente o Ministério Público e o ofendido podem exercer o direito
de ação.
                                   Observa Pontes de Miranda que a ampla defesa constitui:
“direito subjetivo (constitucional) de defesa. Dela nasce direito constitucional a
defender-se ou a ter tido defesa; em conseqüência disto, é nulo o processo em
que não se assegura ao réu a defesa, ainda que tenha o juiz aplicado alguma
lei” (Comentários à Constituição de 1967, 3º ed., tomo V, pág. 233).
 
Confissão – Segundo Nucci[4], é a assunção “contra si, por quem seja suspeito
ou acusado de um crime, tendo pleno discernimento, voluntária, expressa e
pessoalmente, diante da autoridade competente, em ato solene e público,
reduzido a termo, a prática de algum fato criminoso”.
                                   Ressalte-se que a confissão pressupõe a admissão de
algum fato criminoso e não de qualquer fato prejudicial ao acusado.
                                   Outro ponto que merece destaque é que a confissão deve
versar sobre um fato do qual já é suspeito ou acusado, pois caso assim não
seja, tratar-se-á de auto-acusação ou autodenúncia.
 
Confissão qualificada – A confissão qualificada é aquela em que o acusado,
embora reconheça a imputação que lhe fazem, alega circunstância que pode
excluir sua responsabilidade ou atenuar sua pena.

4.3. Do ofendido e da confissão.


                                   Com o advento da Lei 11.690/2008, o legislador
demonstrou maior preocupação com ofendido, mudando inclusive o título do
capítulo, que antes se chamava "das perguntas ao ofendido", ganhando
acepção mais ampla, chamando-se "do ofendido".
                                   A redação do artigo 201, caput, permaneceu idêntica,
dispondo sobre as declarações do ofendido.
 Declarações do ofendido - é o ato pelo qual o ofendido, durante a instrução
processual, é ouvido pelo juiz, após sua qualificação, onde é questionado sobre
circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, e quais
provas pode indicar.
                                   A doutrina é pacífica com relação a facultatividade da
oitiva do ofendido, sendo que sua ausência não acarreta nulidade.
                                   Ressalte-se que o ofendido não presta compromisso de
dizer a verdade, não respondendo por crime de falso testemunho. Contudo,
poderá responder por denunciação caluniosa se der causa a instauração de
inquérito policial ou processo judicial imputando crime contra alguém que sabe
inocente.
 
Valor probatório - tendo em vista as particularidades de que se reveste as
declarações prestadas pela vítima, esta não possui o mesmo valor probatório
da prova testemunhal, porém a jurisprudência ressalta sua importância nos
crimes que são cometidos às ocultas.
 Procedimento das declarações - o ofendido deve ser intimado para
comparecer perante juiz para prestar suas declarações, sendo que o parágrafo
1º, do artigo 201 do CPP, determina que, se deixar de comparecer sem motivo
plausível, poderá ser conduzido coercitivamente à presença do magistrado.
                                   As inovações da Lei 11.690/2008 ficam por conta dos
próximos parágrafos.
                                   Com efeito, o parágrafo 2º determina que o ofendido
deverá ser comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do
acusado da prisão, bem como a designação de data para audiência, da
sentença e respectivos acórdãos, que mantenham ou modifiquem a decisão, o
que antes não ocorria.
                                   Surge aqui um ponto a ser resolvido pela jurisprudência,
que se trata do prazo para apelação do ofendido não habilitado como assistente
de acusação. É que o prazo para o assistente de acusação habilitado é de 5 dias
a contar da publicação da sentença, sendo que ao ofendido não habilitado,
referido prazo é de 15 dias. Contudo, com a determinação de que o ofendido
deve ser intimado dos atos processuais, resta a questão de que se permanece
ou não o prazo de 15 dias. Ressalte-se que o artigo 598, parágrafo único, do
CPP, o qual disciplina a questão, não foi alterado pela lei 11.690/2008.
                                   Já o parágrafo 3º determina que as comunicações devam
ser feitas pessoalmente, até porque em regra o ofendido não possui advogado
atuante nos autos, salvo hipótese em que está habilitado como assistente de
acusação. Ressalte-se que referido dispositivo legal permite que as
comunicações descritas no parágrafo 2º sejam realizadas no endereço por ele
indicado ou através de meio eletrônico.
 
                                   O parágrafo 4º, confirmando a especial atenção que vem
sendo conferida a vítima, determina que antes do início da audiência e durante
sua realização, deve ser reservado espaço separado. Na mesma esteira o
parágrafo 5º, que faculta ao juiz, caso entenda necessário, a determinação de
encaminhamento da vítima para atendimento multidisciplinar, especialmente
nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, às expensas do
ofensor ou do Estado.
                                   Por fim, o parágrafo 6º determina que o juiz deve tomar
as providências necessárias para preservar a intimidade, vida privada, ou a
imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em
relação a seus dados, depoimentos e demais informações constantes dos autos
a seu respeito, para que, assim, evite-se sua exposição aos meios de
comunicação.
 4.4. Prova testemunhal.
Conceito – Segundo Frederico Marques[5] é a prova “que se obtém com o
depoimento oral sobre os fatos que se contêm no litígio penal (...) por terceiros
chamados a depor, sobre suas percepções sensoriais, perante o juiz”.
 Classificação
 - direta – que versa sobre fatos que teve contato direto;
 - indireta - que versa sobre fatos que teve conhecimento através de terceiros;
 
- própria – que versa sobre o tema os fatos discutidos no processo;
 
- imprópria – ocorre quando a testemunha é convocada a presenciar e
legitimar a prática de algum ato processual ou pré-processual;
 
- numerária – são aquelas previstas dentro do número legal;
 
- extranumerária – são aquelas que estão fora do número legal, que
abrangem:
- informantes – são as pessoas que não prestam o compromisso de dizer a
verdade;
- referidas – é a testemunha mencionada em outro depoimento, não arrolada
anteriormente, e que pode ser ouvida como testemunha do juízo.
características
- oralidade – trata-se de regra contida no artigo 204 do CPP, que determina
que o depoimento da testemunha deve ser feita exclusivamente de maneira
oral, podendo, no máximo, fazer consultas a breves apontamentos por escrito.
Excetuam-se a esta regra as autoridades descritas no artigo 221, § 1º do CPP e
os mudos, os surdos-mudos, conforme o disposto no artigo 223, parágrafo
único, do CPP.
 
- retrospectividade – a testemunha sempre depõe sobre fatos pretéritos,
reconstituindo-os através de sua declaração.
 
- objetividade – a testemunha não deve dar sua opinião sobre os fatos os
quais depõe, que somente pode ser considerado quando inseparável da
narrativa, nos termos do artigo 213 do CPP.
Note-se que é comum nos procedimentos criminais as chamadas testemunhas
de antecedentes, que depõem sobre os antecedentes, caráter, etc, do acusado.
 
- individualidade – de acordo com o artigo 210 do CPP, cada testemunha deve
ser ouvida isoladamente, assegurando-se que não tenham comunicação umas
com as outras, antes e durante a realização da audiência.
 Impedimentos – Em princípio qualquer pessoa, que não for parte do processo,
poderá depor, desde que tenha capacidade para ser testemunha. A capacidade
aqui referida trata-se da capacidade física, isto é, não se tratar de pessoa
debilitada ou com deficiência mental, não se exigindo para figurar como
testemunha capacidade jurídica, pelo que é perfeitamente válido o testemunho
de menores de idade.
 
- Dispensadas – são aquelas testemunhas que não estão obrigadas a depor,
cujo rol encontra-se previsto no artigo 206 do CPP.
 
- proibidas de depor – são aquelas que, em razão de função, ofício, ministério
ou profissão, tenham dever de sigilo e proibidas de depor, conforme reza o
artigo 207 do CPP.
Deveres Das Testemunhas
 - comparecer em juízo – a testemunha tem o dever de comparecer em juízo
no dia e hora designados, para a qual foi notificada, salvo motivo justificável,
sob pena de condução coercitiva, de acordo com o disposto no artigo 218 do
CPP.
De acordo com o artigo 219, além da condução coercitiva, o juiz poderá aplicar
a multa prevista no artigo 453 do CPP, sem prejuízo de eventual processo por
crime de desobediência.
 
- comunicação de mudança de endereço – de acordo com o disposto no
artigo 224 do CPP a testemunha deverá informar ao juiz qualquer mudança de
endereço, dentro de 1 (um) ano, sujeitando-se, pela simples omissão, às penas
do não comparecimento.
 
- dever de depor e dizer a verdade – a testemunha deve depor e dizer a
verdade, sob pena de responder pelo crime de falso testemunho. Questão
relevante surge sobre a possibilidade cometimento de crime de falso
testemunho por testemunha não compromissada, dividindo-se a doutrina a esse
respeito.
Com efeito, segundo André Estefam, Hungria, Magalhães Noronha, Fragoso e
Damásio de Jesus, dentre outros, entendem que mesmo a testemunha não
compromissada responde pelo crime de falso testemunho. Com entendimento
contrário cita Fernando da Costa Tourinho Filho.
Destaca-se, ainda, acórdão proferido pela 6ª Turma do STJ, no REsp
198.426/MG, publicado em 05/11/2001, no qual se entendeu que as
testemunhas que não prestam compromisso não podem ser sujeitos ativos do
crime de falso testemunho.
Valor Probatório – de acordo com o principio da livre valoração da prova, não
há como se estabelecer uma hierarquia entre as espécies de provas
testemunhais, porém é comum a jurisprudência se dividir entre a validade de
prova exclusivamente testemunhal para justificar uma condenação,
principalmente no caso em que as únicas testemunhas são os próprios policiais
que efetuaram a prisão, analisando-se, sempre, o caso concreto. Senão
vejamos:
 “A principal função da polícia, na repressão criminal,
não é testemunhar fatos, mas antes oferecer
elementos de convicção que sustentou a acusação
pública. Entender o contrário e a partir da presunção
de autenticidade dos depoimentos policiais, sem
outras provas concludentes, é desnaturar o princípio
do contraditório e inverter o princípio da inocência
presumida, pois que ao réu, obviamente, não se há
de exigir que prove sua inocência” (TJSP-AP- Rel.
Andrade Vilhena RT 429/385).
 “Depoimento de policial: é absolutamente válido,
devendo eventual parcialidade ser verificada em
cada caso concreto. Nesse sentido: STF, HC n.
72.500/SP, rel. Min, Sidney sanches, DJU de 4.8.1995,
p. 22448; HC n. 73.158/SP, 1ª T., rel. Min. Celso de
Mello, DJU de 18.10.1996, p. 39846; STJ, HC n.
9.314/RJ, rel. Min. Vicente Leal, DJU de 9.8.1999,
p. 176.”
 
Oportunidade Para O Questionamento Da Prova – trata-se da contradita,
disciplinada no artigo 214 do CPP, que é forma adequada para arguir a
suspeição ou inidoneidade da testemunha, cujo momento oportuno para
consignação é logo após a qualificação da testemunha, antes, porém, de
iniciada sua oitiva.
                                          Na verdade, o artigo 214 dispõe sobre dois institutos
distintos: a contradita e a arguição de defeito, sendo que o primeiro é a
denominação que se dá nas hipóteses de a testemunha mentir ou omitir dados
a respeito de sua qualificação ou relações com as partes, com o órgão do
Ministério Público ou com a vítima, enquanto que o segundo refere-se à
hipótese em que a testemunha mente ou omite qualquer outra circunstância
que a torne suspeita de parcialidade ou indigna de fé.
 

[1] Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3ª ed., RT, pág. 389
 
[2] Processo Penal Constitucional, 3ª ed., RT, pág. 267.
[3] PASSOS, Calmon de. Comentário ao Código de Processo Civil, v.III, p.
326, apud  FERNANDES, Antonio Scarance. Processo Penal Constitucional, 3ª
ed., RT, pág. 268.
[4] Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3ª ed., RT, pág. 407.
[5] Elementos de Direito Processual, vol. II, Campinas: Millenium, pág. 403.

5.1. Reconhecimento de Pessoas e Coisas.


 
 Conceito – Trata-se de meio de prova que tem por objetivo
verificar e confirmar a identidade de pessoa ou coisa
eventualmente utilizada para o cometimento da infração ou
objeto desta.
                                   Os requisitos para o reconhecimento de
pessoas estão previstos no artigo 226 do CPP, e, por força do
artigo 227, devem ser aplicadas ao reconhecimento de
objetos, naquilo que for compatível.
 São eles:
 - a pessoa que for fazer o reconhecimento deve ser
convidada a fazer a descrição prévia da pessoa a ser
reconhecida;
- a pessoa cujo reconhecimento se pretende deve ser
colocada, se possível, ao lado de outras pessoas semelhantes;
- se houver razão para recear que a pessoa chamada para o
reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência,
não diga a verdade em face da pessoa que deve ser
reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não
veja aquela;
- do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado,
subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para
proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas
presenciais.
                                   Conforme dispõe o parágrafo único do
art. 226, o inciso III não se aplica na fase da instrução criminal
ou em plenário de julgamento.
                                   Note-se que o reconhecimento de que
trata o CPP somente abrange o reconhecimento pessoal, não
tratando do reconhecimento fotográfico ou realizado de outra
maneira, o que, nas palavras de José Frederico Marques[1]:
 ”se de outra forma efetuar-se o
reconhecimento de pessoa ou coisa, nem
por isso deve o juiz, a priori, recusar-lhe
qualquer valor probatório. Tal orientação
não condiz com os princípios aceitos em
nossa legislação sobre o livre
convencimento.
Assim sendo, não nos parece muito
acertado rejeitar-se, de plano, como
elemento de prova, o reconhecimento
feito diante de fotografias. Tudo
depende, em cada caso, das
circunstâncias que rodearam o
reconhecimento e dos dados que foram
fornecidos pela vitima ou testemunha,
para fundamentar suas afirmativas.”
                        Aqui cabe a ressalva de Denílson Feitoza[2] de
que o reconhecimento fotográfico sem outras provas não é
suficiente para embasar uma sentença condenatória.
                                    Por fim, por força do artigo 228, se
várias forem as pessoas chamadas para realizar o
reconhecimento de pessoa ou objeto, deverão permanecer
isoladas, sem qualquer contato umas com as outras.
 5.2. Acareação.
 
 Conceito – Segundo Denílson Feitoza[3] acareação é o “ato
de natureza probatória, no qual duas ou mais pessoas são
colocadas frente à frente, para elucidarem pontos
controvertidos de suas declarações, quanto a fatos ou
circunstâncias relevantes para a solução da causa”.
                                   O artigo 230 dispõe sobre a acareação
a ser realizada quando somente presentes uma das
testemunhas, que explicará os pontos controvertidos, após ter
conhecimento da versão da outra testemunha. Caso as
divergências permaneçam, a outra testemunha será ouvida
através de carta precatória onde estarão consignados os
trechos controvertidos, bem como o texto do auto onde a
testemunha presente explica as divergências.
                                   Note-se que a realização de acareação
por carta precatória somente deverá ser realizada quando
não importar em demora prejudicial e for conveniente ao
processo.
                        A acareação pode ser determinada tanto pela
autoridade policial quanto pela judicial, e feita:
- entre acusados;
- entre acusado e testemunha;
- entre testemunhas;
- entre acusado e ofendido;
- entres testemunhas e ofendido;
- entre as pessoas ofendidas.
 
5.3. Prova Documental.
 
 
Conceito – prova documental é aquela que tem por base um
documento público ou particular comprobatório de um
determinado fato.
 
Documento – Segundo o artigo 232 do Código de Processo
Penal “Consideram-se documentos quaisquer escritos,
instrumentos ou papéis, públicos ou particulares.”                                      
Podemos perceber pela definição legal que o legislador
utilizou a definição que tradicionalmente liga a ideia de
documento ao escrito em papel ou material semelhante,
porém atualmente tal limitação não é suficiente para definir o
conceito de documento, tendo em vista as novas formas de
documentos que surgiram em decorrência da evolução
tecnológica da sociedade.
                                   Nesse sentido, foi editada a Medida
Provisória 2.200-2/2001 que dispõe sobre os documentos
produzidos em meio eletrônico.
                                   Newton de Lucca[4] faz a ressalva de
que não existe diferença ontológica entre a noção tradicional
de documento e a noção de documento eletrônico, uma vez
que este também é um meio material de representação de
um fato, diferenciando-se somente com relação ao meio
utilizado.
                                   Abrangendo esta ideia, podemos utilizar
a definição de Guilherme de Souza Nucci[5], que define
documento como “toda base materialmente disposta a
concentrar e expressar um pensamento, uma ideia ou
qualquer manifestação de vontade do ser humano, que sirva
para expressar um fato juridicamente relevante”.
 
formas -  Com relação às formas do documento, dividem-se
em:
-->Originais;
-->Cópias.
Veja que com relação às copias, o parágrafo único do CPP
dispõe que:
Parágrafo único.  À fotografia do documento, devidamente
autenticada, se dará o mesmo valor do original.
espécies – Dividem-se em 4 espécies:
 
-->gráficos – quando a ideia ou fato é representado por
sinais gráficos diversos da escrita;
-->diretos – quando o fato representado se transmite
diretamente para a coisa representativa;
-->indiretos – quando o fato representado se transmite
pelo sujeito do fato;
-->eletrônicos ou digitais – quando a ideia ou fato é
representado por meio eletrônico ou magnético;
 
normas procedimentais – As restrições que se aplicam às
provas em geral aplicam-se também às provas documentais,
assim, não poderão ser aceitos os documentos ilícitos, ou que
contenham qualquer tipo de vício em sua origem.
                                   Note-se que o artigo 379 do Código de
Processo Penal Militar, o qual se aplica subsidiariamente ao
Código de Processo Penal, dispõe que sempre que um
documento for apresentado no processo, a parte contrária
deverá ser ouvida.
                                   Conforme dispõe o artigo 231 do CPP,
os documentos podem ser apresentados em qualquer fase do
processo, salvo os casos expressos em lei. Como restrição,
temos o artigo 479 do CPP:
Art. 479.  Durante o julgamento não será permitida
a leitura de documento ou a exibição de objeto que
não tiver sido juntado aos autos com a
antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-
se ciência à outra parte. (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008)
do incidente de falsidade – o CPP define nos artigo 145
a 148 o incidente de falsidade, que deve observar o seguinte
rito:
 
Art. 145.  Arguida, por escrito, a falsidade de
documento constante dos autos, o juiz observará o
seguinte processo:
I - mandará autuar em apartado a impugnação, e
em seguida ouvirá a parte contrária, que, no prazo
de 48 horas, oferecerá resposta;
II - assinará o prazo de 3 dias, sucessivamente, a
cada uma das partes, para prova de suas
alegações;
III - conclusos os autos, poderá ordenar as
diligências que entender necessárias;
IV - se reconhecida a falsidade por decisão
irrecorrível, mandará desentranhar o documento e
remetê-lo, com os autos do processo incidente, ao
Ministério Público.
 
                                   Note-se que por expressa previsão do
artigo 148 do CPP, qualquer que seja a decisão proferida no
incidente instaurado, não fará coisa julgada com relação a
ulterior processo penal ou civil que verse sobre a mesma
falsidade, devendo ser comprovada novamente.
 
5.4. Prova Pericial.
 
das perícias em geral – o Capítulo II, do Título VII, do CPP
(arts. 158 a 184) trata do exame de corpo de delito e das
perícias em geral.
                                   Somente para fins de esclarecimento, o
exame de corpo de delito é a perícia realizada no corpo de
delito, que é o conjunto de vestígios materiais ou sensíveis
deixados pela infração penal.
                                   Note-se que o caput do artigo 159 do
CPP, com a nova redação dada pela Lei nº 11.690/2008,
dirimiu dúvida existente anteriormente, com relação à
quantidade de peritos necessários para a realização dos
exames, pois somente exige  um perito oficial com diploma
superior, o qual pode ser substituído, na impossibilidade ou
inexistência deste, por 02 (duas) pessoas idôneas, portadoras
de diploma de curso superior, preferencialmente na área
específica, dentre as que tiverem habilitação técnica
relacionada com a natureza do exame.
                                   Por fim, cumpre destacar a ressalva
realizada por Denílson Feitoza[6], de que somente o exame
de corpo de delito direto é necessariamente uma perícia, pois
o exame de corpo de delito indireto, como dispõe o art. 158
c.c. art. 167, ambos do CPP, pode ser feito através de outras
provas, podendo ser suprido pela prova testemunhal. Note-se
que a confissão não basta para suprir o exame de corpo de
delito.
 
natureza jurídica – a prova pericial (assim como o exame de
corpo de delito) é um meio de prova
 
conceito – trata-se de prova decorrente de exame realizado
por pessoa que detenha conhecimentos técnicos específicos,
sendo realizado por determinação da autoridade judicial ou
policial.
                                   De fato o artigo 159, § 3º faculta que as
partes indiquem assistente técnico e formulem quesitos, o
que não era previsto até o advento da Lei nº 11.690/2008.
 
importância das perícias –  as perícias atualmente tornam-
se muito importantes para o resultado do processo, pois
inúmeros são os avanços tecnológicos e científicos advindo
com o racionalismo, o que exigem um conhecimento técnico
muito especifico, não se podendo exigir do magistrado que
possua conhecimento especifico, por exemplo, sobre
combinação de produtos químicos aptos a formarem uma
bomba, conhecimento contábil aprofundado para análise de
balanços e outros documentos em delitos econômicos, etc.
Como lembra Sergio Ricardo de Souza[7]:
 
“Apresenta-se inquestionável a grande
relevância que a prova pericial representa
para a demonstração dos aspectos técnicos
que influenciam na tipicidade e em
circunstâncias relacionadas com os tipos
penais, que influenciam diretamente na
própria demonstração da materialidade
daqueles crimes denominados de delicta facta
permanentis, já que naquilo que diz respeito
diretamente aos aspectos técnicos o órgão
julgador ordinariamente se vale da conclusão
da perícia, haja vista que não obstante a
máxima latina de que o juiz é o peritum
peritorum (perito dos peritos), na verdade,
dada a alta complexidade e à diversificação
das técnicas, dificilmente se encontraria, na
época contemporânea , um ser humano de
reunir todas as habilidades necessárias para
julgar as inúmeras causas que são
apresentadas ao Judiciário(...)”
 
valoração da prova pericial – podem ser distinguidos dois
sistemas de apreciação dos laudos perícias:
 
-->vinculatório: o magistrado está vinculado ao
resultado da perícia apresentado no laudo técnico.
 
-->liberatório: o magistrado não está vinculado ao
resultado apresentado no laudo técnico, podendo aceitá-
lo no todo ou em parte, desde que o faça
fundamentadamente. Este foi o sistema adotado pelo
processo penal brasileiro, decorrente do princípio da
persuasão racional ou livre-convencimento do
magistrado.
 
obrigatoriedade da perícia – em alguns crimes é
obrigatória a realização de perícia, tendo em vista sua
natureza. É o que dispõe o art. 158 do CPP, que determina
que se a infração deixar vestígios, será indispensável o exame
de corpo de delito, direto ou indireto.
                                   Assim, nos casos de crimes que deixam
vestígios, é obrigatória a realização de exame pericial, que
pode, contudo, ser suprido pelo exame de corpo de delito
indireto, que, como vimos acima, não é necessariamente um
exame pericial, através do depoimento de testemunhas.
                                   Por fim, anote-se que também não é
obrigatória a realização de outras perícias, embora requeridas
pelas partes, se não forem necessárias ao esclarecimento da
verdade, podendo o juiz ou a autoridade policial indeferi-las,
nos termos do art. 184 do CPP. Desta decisão não cabe
recurso, cabendo à parte, no caso de indeferimento pela
autoridade policial, requerer ao magistrado sua produção, ou
no caso de indeferimento pelo juiz, impetrar mandado de
segurança, ou suscitar a matéria como preliminar de eventual
futuro recurso.
 
[1] Elementos de Direito Processual, vol. II, Campinas:
Millenium, pág. 401.
[2] Direito Processual Penal, Niterói: Impetus, pág. 659.
[3] Op.cit., pág. 660.
[4] De lucca, Newton. Títulos e Contratos Eletrônicos:o
advento da informática e suas conseqüências para a pesquisa
jurídica. In DE LUCCA, Newton; SIMÃO FILHO, Adalberto
(Coords). Direito & Internet. 2. ed. São Paulo: Quartier Latin,
2005, p. 44, apud SOUZA, Sérgio Ricardo de. Manual da Prova
Penal Constitucional pós-reforma de 2008, Curitiba: Juruá, p.
242.
[5] Código de Processo Penal comentado, 2004, p. 459.
 
[6] FEITOZA, Denílson. Direito Processual Penal, Niterói:
Impetus, pág. 636.
[7] SOUZA, Sérgio Ricardo de. Manual da Prova Penal
Constitucional pós-reforma de 2008, Curitiba: Juruá, p. 121.

6.1. Busca e apreensão


            6.1.1. Conceito e objeto
                                   A busca e apreensão é uma medida de
natureza acautelatória que visa impedir o perecimento de
coisas ou pessoas.
                                   A busca é antecedente e a apreensão é
consequente (na hipótese da busca restar positiva,
importando na detenção física). A busca e a apreensão podem
ser realizadas tanto na fase de investigações como durante o
processo.
                                    O objeto desta medida acautelatória
será coisas ou pessoas, conforme previsão no artigo 240, §1º,
do CPP:
"Art. 240.  A busca será domiciliar ou
pessoal.
        § 1o  Proceder-se-á à busca
domiciliar, quando fundadas razões a
autorizarem, para:
        a) prender criminosos;
        b) apreender coisas achadas ou
obtidas por meios criminosos;
        c) apreender instrumentos de
falsificação ou de contrafação e objetos
falsificados ou contrafeitos;
        d) apreender armas e munições,
instrumentos utilizados na prática de
crime ou destinados a fim delituoso;
        e) descobrir objetos necessários à
prova de infração ou à defesa do réu;
        f) apreender cartas, abertas ou não,
destinadas ao acusado ou em seu poder,
quando haja suspeita de que o
conhecimento do seu conteúdo possa ser
útil à elucidação do fato;
        g) apreender pessoas vítimas de
crimes;
        h) colher qualquer elemento de
convicção."
 
                                   Necessário somente se fazer a ressalva
prevista no artigo 243, §2º, do CPP de que não será objeto
desta medida documento em poder do defensor do acusado,
salvo quando constituir elemento do corpo de delito.
                                    A busca poderá ser determinada de
ofício ou a requerimento de qualquer das partes (CPP, art.
242).
 
            6.1.2. Busca Domiciliar
                            A busca domiciliar ocorrerá em
compartimento habitado ou em aposento ocupado de
habitação coletiva ou em compartimento não aberto ao
público, onde alguém exercer profissão ou atividade.
                                   Destarte, a busca domiciliar deverá
atender o princípio da inviolabilidade de domicílio insculpida
no artigo 5º, XI, da CF:
"XI - a casa é asilo inviolável do
indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial" 
                                   Em consonância com o disposto na CF,
o CPP determina que se o morador consentir, poderá a busca
ser realizada a noite (CPP, art. 245).
                                    A busca domiciliar é executada pela
autoridade policial ou pela própria autoridade judiciária,
sendo que no primeiro caso, necessário a existência de
mandado para tanto.
                             Em caso de desobediência, será arrombada
a porta e forçada a entrada. Recalcitrando o morador, será
permitido o emprego de força contra coisas existentes no
interior da casa, para o descobrimento do que se procura.
                                   Finda a diligência, os executores
lavrarão auto circunstanciado, assinando-o com duas
testemunhas presenciais.
         6.1.3. Busca Pessoal
                            A busca pessoal independerá de mandado,
no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que
a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou
papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida
for determinada no curso de busca domiciliar. Nas demais
hipóteses, necessário o mandado.
                                   A busca em mulher será feita por outra
mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da
diligência.
 
6.2. Citações, Intimações e Notificações em Processo Penal.
 
                            O processo tem como conceito o conjunto
de atos tendentes a uma solução definitiva dos conflitos de
interesses.
                                   Destarte, as partes têm o direito à
ciência dos atos processuais a fim de poder exercerem suas
respectivas pretensões (acusação pelo autor e ampla defesa
pelo réu).
                                   Nesse sentido, a fim de respeitar o
princípio constitucional do contraditório, surge a necessidade
da comunicação dos atos processuais, o que se dá através
dos institutos da citação, intimação e da notificação.
            6.2.1. Citação.
                                   A citação é o ato através do qual se dá
ciência à parte de que existe uma demanda contra a mesma.
                                   A citação é dividida da seguinte forma:
1) Citação Real, onde se tem certeza que o citado tomou
conhecimento de que contra si existe uma demanda em
curso;
2) Citação Ficta, onde se presume que o citado tenha tomado
conhecimento de que contra si existe uma demanda em
curso;
 
                                   Por seu turno, a citação real se dará por
mandado a ser cumprido pelo oficial de justiça; já a citação
ficta se dará por edital (realizado através da publicação em
jornal) ou por hora certa (realizada pelo Oficial de Justiça).
CITAÇÃO POR MANDADO
                                   A citação inicial far-se-á por mandado,
quando o réu estiver no território sujeito à jurisdição do juiz
que a houver ordenado.
                                   O artigo 352 estabelece o conteúdo do
mandado de citação:
        "I - o nome do juiz;
        II - o nome do querelante nas ações
iniciadas por queixa;
        III - o nome do réu, ou, se for
desconhecido, os seus sinais
característicos;
        IV - a residência do réu, se for
conhecida;
        V - o fim para que é feita a citação;
        VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora
em que o réu deverá comparecer;
        VII - a subscrição do escrivão e a
rubrica do juiz."
                                   Ademais, necessário a observância dos
requisitos da citação por mandado:
1) - leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da
contrafé, na qual se mencionarão dia e hora da citação;
2) - declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé,
e sua aceitação ou recusa.
 
CITAÇÃO COM HORA CERTA
                                   Nova modalidade de citação,
introduzida no CPP através da Lei 11.719/08, tem como
premissa a aplicação subsidiária do CPC, artigos 252/254.
                                   A citação com hora certa ocorrerá
quando o réu se ocultar para não ser citado (CPP, art. 362).
Nesse sentido, caso o Oficial de Justiça perceba a aludida
ocultação, deverá certificar o ocorrido e proceder conforme
informa o CPC:
“Art. 252. Quando, por 2 (duas) vezes, o
oficial de justiça houver procurado o
citando em seu domicílio ou residência
sem o encontrar, deverá, havendo
suspeita de ocultação, intimar qualquer
pessoa da família ou, em sua falta,
qualquer vizinho de que, no dia útil
imediato, voltará a fim de efetuar a
citação, na hora que designar.
Parágrafo único.  Nos condomínios
edilícios ou nos loteamentos com
controle de acesso, será válida a
intimação a que se refere o caput feita a
funcionário da portaria responsável pelo
recebimento de correspondência.
Art. 253.  No dia e na hora designados, o
oficial de justiça, independentemente de
novo despacho, comparecerá ao
domicílio ou à residência do citando a fim
de realizar a diligência.
§ 1o Se o citando não estiver presente, o
oficial de justiça procurará informar-se
das razões da ausência, dando por feita a
citação, ainda que o citando se tenha
ocultado em outra comarca, seção ou
subseção judiciárias.
§ 2o A citação com hora certa será
efetivada mesmo que a pessoa da família
ou o vizinho que houver sido intimado
esteja ausente, ou se, embora presente,
a pessoa da família ou o vizinho se
recusar a receber o mandado.
§ 3o Da certidão da ocorrência, o oficial
de justiça deixará contrafé com qualquer
pessoa da família ou vizinho, conforme o
caso, declarando-lhe o nome.
§ 4o O oficial de justiça fará constar do
mandado a advertência de que será
nomeado curador especial se houver
revelia.
Art. 254.  Feita a citação com hora certa,
o escrivão ou chefe de secretaria enviará
ao réu, executado ou interessado, no
prazo de 10 (dez) dias, contado da data
da juntada do mandado aos autos, carta,
telegrama ou correspondência eletrônica,
dando-lhe de tudo ciência.”
 
                                   Por final, após realizada a citação por
hora certa, caso o acusado não compareça em juízo para
exercitar a ampla defesa, será nomeado defensor dativo para
tal mister.
CITAÇÃO POR EDITAL
                                   A citação por edital se dará na hipótese
do réu não ser encontrado.
                                   O prazo do edital é fixado pela lei: 15
dias (CPP, art. 361).
                                   Ademais, o edital indicará (Art. 365):
        "I - o nome do juiz que a
determinar;
        II - o nome do réu, ou, se não for
conhecido, os seus sinais característicos,
bem como sua residência e profissão, se
constarem do processo;
        III - o fim para que é feita a citação;
        IV - o juízo e o dia, a hora e o lugar
em que o réu deverá comparecer;
        V - o prazo, que será contado do dia
da publicação do edital na imprensa, se
houver, ou da sua afixação"
                                   Finalmente, determina o CPP que o
edital "será afixado à porta do edifício onde funcionar o juízo
e será publicado pela imprensa, onde houver, devendo a
afixação ser certificada pelo oficial que a tiver feito e a
publicação provada por exemplar do jornal ou certidão do
escrivão, da qual conste a página do jornal com a data da
publicação" (parágrafo único do art. 365).
                                   Importante consignar que se o acusado
for citado por edital e não constituir advogado nem
comparecer em juízo, o processo não poderá prosseguir.
                                   Nessa hipótese o processo deverá ficar
suspenso (e também o curso da prescrição, pelo máximo da
pena cominada). Contudo, poderá o juiz proceder de duas
formas:
a) determinar a realização de diligências para produção
antecipada de provas urgentes;
b) decretar a prisão preventiva do réu, se presentes os
requisitos ensejadores da mesma.
OBSERVAÇÕES SOBRE A CITAÇÃO
                                   Cumpre encerrar o tema com as
seguintes observações:
a) A citação de militar far-se-á por intermédio do chefe do
respectivo serviço;
b) Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado;
c) No caso de citação de funcionário público, o seu chefe
deverá ser notificado para que o mesmo proceda a
substituição por outro funcionário, quando o réu tiver que se
ausentar para o comparecimento em juízo;
d)  Quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juiz
processante (com endereço conhecido), será citado mediante
precatória;
e) Quando o réu estiver no estrangeiro (com endereço
conhecido), a citação se dará através de carta rogatória.
f) As citações que houver de ser feitas em legações
estrangeiras (embaixadas e consulados) serão efetuadas
mediante carta rogatória.  
         6.2.2. Intimação.
                               A intimação é o ato através do qual se dá
ciência à parte da existência de um ato (antecedente) para
que possa praticar outro ato (consequente).
                                   A intimação terá lugar quando o juiz
proferir nos autos um despacho, decisão ou sentença, bem
como o Tribunal, através de órgão colegiado, prolatar
acórdão.
                                   A intimação deverá observar as
seguintes regras:
1) aplicação das regras previstas para a citação;
2) a intimação deverá ser do réu e do seu defensor;
3) a intimação do MP e do Defensor Público será pessoal;
4) A intimação do defensor constituído, do advogado do
querelante e do assistente far-se-á por publicação no órgão
incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca,
incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado. 
5) Caso não haja órgão de publicação dos atos judiciais na
comarca, a intimação far-se-á diretamente pelo escrivão, por
mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou
por qualquer outro meio idôneo. 
6) Se o réu estiver na comarca onde o processo corre, será
intimado por mandado;
7) Se o réu estiver fora da comarca onde o processo corre,
será intimado por carta precatória;
8) Se o réu estiver fora do território nacional, será intimado
por carta rogatória.
 
         6.2.3. Notificação.
                            "A notificação é a comunicação à parte, ou
outra pessoa, do dia, lugar e hora de um ato processual a que
deva comparecer ou praticar. Diferenciando-se, por
conseguinte, da intimação, porquanto se refere a um ato
futuro, enquanto esta alude a ato já praticado, ato
passado"[1].
 

[1] Capez, Fernando, Curso de Processo Penal, Ed. Saraiva,


2012, p. 588.
 
7.1. Processo e procedimento em matéria penal
 
            7.1.1. Pressupostos Processuais
 
                            Pressupostos processuais são requisitos necessários para
existência e validade de um processo. Note-se que sem a presença deles no
caso concreto, o processo ou é inexistente ou é inválido, sendo que em
qualquer uma das duas hipóteses, o processo não alcançará o seu desiderato.
                                   Apesar da grande falta de sintonia da doutrina sobre o
tema, é possível se classificar os pressupostos processuais penais da seguinte
forma[1]:
PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA
1) órgão dotado de jurisdição: juiz ou tribunal
2) pedido realizado pela acusação
3) partes: autor e réu
PRESSUPOSTOS DE VALIDADE:
1) competência e imparcialidade do juiz
2) capacidade das partes:
            a) capacidade para ser parte;
            b) capacidade para estar em juízo (capacidade processual);
            c) capacidade postulatória: para agir em juízo.
3) citação válida do réu
4) intervenção do Ministério Público (como parte ou como fiscal da lei)
5) existência de defesa (através de defensor dativo ou constituído)
6) procedimento adequado
7) ausência de pressupostos negativos de litispendência e coisa julgada
 
         7.1.2. Formas procedimentais
 
                                   O processo pode ser considerado como o conjunto de
atos tendentes à solução definitiva do conflito de interesses.
                                   Através do processo, o juiz exerce a função jurisdicional
(aplicação da lei ao caso concreto). Assim, fácil perceber que o processo é a
instrumentalização da ação penal.
                                   O procedimento por sua vez não se confunde com o
processo, pois aquele é a ordem concatenada e prevista em Lei com a qual os
atos processuais se realizam no curso deste.
                                   A previsão do procedimento na lei se faz necessária para
que os sujeitos do processo (juiz, acusador e defensor) saibam como os atos se
sucederão, podendo realizar seu mister de forma à implementar a justiça.
Outrossim, como a realização da justiça é de interesse da sociedade, as normas
que regem o procedimento são de ordem pública, devendo as partes e o juiz
zelar pelo seu cumprimento, assim como previsto.
                                   No sentido acima esposado, é a lição do prof. Fernando
da Costa Tourinho Filho:
“Visto dessa maneira, o processo não passa de
uma série de atos visando à aplicação da lei ao
caso concreto. A palavra “ato”, do latim actum,
do verbo egere, significa feito. Logo, “ato” é
aquilo que é feito pelo homem: um bilhete, um
livro, uma pergunta, tudo são atos. Quando o
ato tem importância para o processo ele se diz
ato processual: a denúncia, seu recebimento, a
citação, o interrogatório etc. Entre o ato inicial
(denúncia), exercício do direito de ação, e a
decisão final sobre o mérito, numerosos atos
são realizados, de acordo com as regras e
formalidades previamente traçadas e esses
atos vão avançando até atingir o ponto
culminante do processo, que é a decisão sobre
o meritum causae, quando, então, o Juiz dirá se
procede ou improcede a pretensão punitiva.”[2]
 
                                   O procedimento, previamente previsto em lei, pode estar
dentro ou fora do Código de Processo Penal.
                                   Conforme o CPP, os procedimentos se dividem em
comum ou especial:
1 - Procedimento comum:
 
a)Ordinário: quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima
cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de
liberdade (v.g. crimes de extorsão, estupro, roubo, latrocínio, furto,
receptação, incêndio, concussão, peculato);
 
b)Sumário: quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada
seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade e superior a
2 anos (v.g. crimes de apropriação indébita, corrupção, homicídio
culposo, tentativa de furto);
 
c)Sumaríssimo: para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na
forma da Lei 9.099/95.
 
2 – Procedimento especial:
 

a. Procedimento relativo aos processos da competência do Tribunal do Júri:


para crimes dolosos contra a vida;
b. Procedimento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos:
para os crimes em que o réu seja funcionário público;
c.  Procedimento dos crimes de calúnia e injúria: relativo aos crimes contra
a honra, incluindo-se também o crime de difamação;
d. Procedimento dos crimes contra a propriedade imaterial: relativo aos
crimes que tenham como objeto a propriedade imaterial.

 
                                   Por outro lado, o procedimento pode estar previsto fora
do CPP, ad exemplum:
 

a. Tráfico de drogas, previsto na Lei n. 11.343/2006;


b. Crimes falimentares, previsto na Lei n. 11.101/2005;
c. Procedimento contra organizações criminosas Lei n. 9.034/95;
d. Abuso de autoridade Lei n. 4898/65;

                                   Importante consignar que o próprio CPP determina que as


disposições do procedimento ordinário aplicam-se de forma subsidiária aos
processos especial, sumário e sumaríssimo. Assim, na ausência de regra
determinada para situação específica processual, deve-se aplicar a regra
prevista para o rito ordinário que é mais completo que os demais.
 
         7.1.3. Procedimento comum
 
ORDINÁRIO
                               O procedimento ordinário tem previsão no CPP, artigos
395/405 e tem as seguintes fases:
 
FASE POSTULATÓRIA
 
1) Oferecimento da denúncia ou queixa
*Requisitos do artigo 41 e 44 do CPP;
*Rol de testemunhas (até 8 testemunhas).
 
2) Recebimento ou rejeição da denúncia ou queixa
* Rejeição (CPP, art. 395)
a) inépcia da petição inicial;
b) falta de condições da ação ou pressupostos processuais;
c) falta de justa causa (ausência de materialidade ou indícios de autoria).
 
3) Citação do acusado
* Citação real ou citação ficta
 
4) Resposta escrita
* Prazo de 10 dias do ato de citação ou comparecimento da parte/advogado, se
por edital;
* Natureza obrigatória;
* Rol de testemunhas (até 8 testemunhas).
 
5) Réplica da acusação
* Quando na defesa escrita for juntado documento ou arguida preliminar (CPP,
art. 409, por analogia).
                                   Cumpre notar que é discutível a existência de réplica no
processo comum ordinário. Nesse sentido, é a lição de Fernando Capez[3]:
“A ausência de previsão legal faltante gerará
discussões, podendo surgir posicionamento no
sentido de que o art. 409 do CPP deve ser
aplicado analogicamente ao procedimento
ordinário, tendo em vista que a ausência de
oitiva do Ministério Público violaria o princípio
da paridade de armas”
                                   Também sobre o tema se manifestaram os profs.
Alexandre Cebrian Araújo Reis e Victor Rios Gonçalves[4]:
 “A acusação não se manifesta após o
oferecimento da resposta escrita, salvo se for
apresentado documento novo (princípio do
contraditório)”
 
6) Decisão do Juiz
* Após a fase anterior, o juiz tem as seguintes opções:
a) Julgamento antecipado da lide (art. 397) pela absolvição sumária:
I - por atipicidade;
II - por excludente de ilicitude;
III - por excludente de culpabilidade;
IV - por extinção da punibilidade;
 
b) Designação de audiência.
 
FASE DE INSTRUÇÃO DEBATES E JULGAMENTO
 
Audiência em até 60 dias (nesta ordem):
1) Declaração da vítima;
2) Testemunhas de acusação;
3) Testemunhas de defesa;
4) Esclarecimento do perito, acareações e reconhecimentos;
5) Interrogatório do réu;
6) Debates orais;
* 20 minutos prorrogáveis por mais 10 para as partes (prazo individual se
existirem dois ou mais réus). Assistente de acusação tem 10 minutos,
prorrogando-se por igual período o tempo de defesa.
* Se houver complexidade, o juiz autoriza as alegações finais por escrito
(memoriais) no prazo de 5 dias sucessivamente. Após, o juiz terá 10 dias para
proferir sentença.
7) Sentença do juiz (art. 381 e ss, CPP).
 
OBS: aplica-se o princípio da identidade física do juiz: o juiz que presidiu a
instrução deverá proferir a sentença.
                       
SUMÁRIO
 
                                   O procedimento sumário tem previsão no CPP, artigos
531/538. Por infeliz técnica do legislador o rito sumário está dentro do capítulo
dos procedimentos especiais, apesar de não o ser.
                                   Este rito é usado para os casos em que tiver por objeto
crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena
privativa de liberdade e superior a 2 anos (v.g. crimes de apropriação indébita,
corrupção, homicídio culposo, tentativa de furto).
 Fases deste procedimento:

1. Oferecimento da denúncia ou queixa;


2. Recebimento da denúncia ou queixa (ou sua rejeição, contra a qual cabe
recurso em sentido estrito);
3. Citação do acusado;
4. Resposta escrita[5];
5. Decisão da absolvição sumária ou prosseguimento do feito com
designação de audiência;
6.             Audiência para oitiva de testemunhas, interrogatório, debates e
julgamento.                    

                        Como se pode perceber, o procedimento sumário é bastante


semelhante ao ordinário tendo como diferencial:
a) Rol de testemunhas: número máximo de 5;
b) Audiência marcada no prazo de até 30 dias;
c) Impossibilidade de pedido de novas diligências ao término da instrução;
d) Impossibilidade de conversão dos debates orais em memoriais com a
posterior prolação da sentença.
 
SUMARÍSSIMO
 
                                   O Rito sumaríssimo é aplicado às infrações penais de
menor potencial ofensivo, com o julgamento no Juizado Especial Criminal como
regra.
                                   Por sua vez, tais infrações são definidas pela Lei
9.099/95:
"Art. 61.  Consideram-se infrações penais de menor
potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as
contravenções penais e os crimes a que a lei comine
pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada
ou não com multa."
                                   O procedimento no Juizado Especial Criminal é dividido
nas seguintes fases:
I - FASE PRELIMINAR
1)         A autoridade policial (que será via de regra um oficial da polícia militar)
que tomar conhecimento da ocorrência, lavrará termo circunstanciado e o
encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
2)         Designada audiência preliminar, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade
da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de
pena não privativa de liberdade.
3)         Se houver composição dos danos civis (transação civil) será reduzida a
escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível e terá eficácia de
título a ser executado no juízo civil competente.
4)         Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao
ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será
reduzida a termo.
5)         Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser
especificada na proposta, o que recebe o nome de transação penal.
OBS: Não se admitirá a proposta de transação penal se ficar comprovado:
            a) ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena
privativa de liberdade, por sentença definitiva;
            b) ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos,
pela aplicação de pena restritiva ou multa (transação penal anterior);
            c) não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e
suficiente à adoção da medida.
6)         Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida
à apreciação do Juiz e homologada (se presentes os requisitos legais).
OBS: STF súmula vinculante 35: "A homologação da transação penal prevista no
artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas
suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério
Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de
denúncia ou requisição de inquérito policial.".
7)         Contra a decisão que homologou a transação penal cabe recurso de
apelação.
 
II - PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO
1)      No caso de ação penal de iniciativa pública, o Ministério Público oferecerá
ao Juiz denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.
No caso de ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa
oral.
 OBS: Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a
formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o
encaminhamento das peças existentes, para o juízo comum onde o processo
correrá pelo rito sumário. Este procedimento também é adotado se a ação
penal for privada e houver complexidade.
 2)       Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-se
cópia ao acusado, que com ela ficará citado.
3)        No dia e hora designados para a audiência de instrução e julgamento,
haverá a tentativa de transação civil e penal (se já não tiver ocorrido
anteriormente).
4)        Não sendo a hipótese de transação, será dada a palavra ao defensor
para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou
queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de
acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-
se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.
5)        Contra a sentença (que não terá relatório) caberá o recurso de apelação
no prazo de 10 dias. O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no
mesmo prazo.
OBS: A apelação é julgada pelo chamado colégio recursal, composto por turma
de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do
Juizado.
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
                                   A lei 9.099/95 trouxe ao ordenamento jurídico importante
instituto que visa a despenalização, qual seja a "suspensão condicional do
processo". O regramento é previsto no artigo 89, da citada lei:
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada
for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por
esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
poderá propor a suspensão do processo, por dois a
quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo
processado ou não tenha sido condenado por outro
crime, presentes os demais requisitos que
autorizariam a suspensão condicional da pena (art.
77 do Código Penal)."
                                   Uma vez aceita a proposta pelo acusado e seu defensor,
na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo,
submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:
        I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
        II - proibição de frequentar determinados lugares;
        III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
Juiz;
        IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades.
 
*OBSERVAÇÕES:
- O Juiz poderá especificar outras condições que ficam subordinadas à
suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
 - A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser
processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação
do dano.
 - A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no
curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição
imposta.
- Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
- Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
- As principal súmula que se aplica ao instituto é a STF 696: "REUNIDOS OS
PRESSUPOSTOS LEGAIS PERMISSIVOS DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO, MAS SE RECUSANDO O PROMOTOR DE JUSTIÇA A PROPÔ-LA, O JUIZ,
DISSENTINDO, REMETERÁ A QUESTÃO AO PROCURADOR-GERAL, APLICANDO-SE
POR ANALOGIA O ART. 28 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.".
 

[1] http://www.femparpr.org.br/userfiles/aula-01.pdf
[2] In Manual de Processo Penal, São Paulo, Ed. Saraiva, 7ª. Ed., p. 9.
[3] In Curso de processo Penal, Ed. Saraiva, 19ª. Ed., p 555.
[4] In Direito Processual Penal Esquematizado, Ed. Saraiva, 2014, p. 440.
[5] Que poderá gerar réplica pela acusação, conforme alguns doutrinadores.
 
 
8.1. Procedimentos Especiais
                            Os procedimentos especiais, por questão lógica, utilizam-se
do regramento do rito ordinário de forma subsidiária. Nesse sentido, os
esclarecimentos feitos nos próximos itens se relacionam às normas que os
diferenciam.
 
8.1.1. Procedimento da competência do Tribunal do Júri          
INTRODUÇÃO
                                   O Tribunal do Júri é órgão de importância ímpar no nosso
ordenamento judicial.
                                   A sua previsão é constitucional, artigo 5º, XXXVIII.
                                   São princípios que devem nortear a legislação ordinária:
a) Plenitude de defesa;
b) Sigilo das votações;
c) Soberania dos veredictos;
d) Competência mínima (para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida)
                                   A organização e procedimento do Tribunal do Júri são
previstos no CPP, artigos 406/497.
ORGANIZAÇÃO E CONSTITUIÇÃO DO JÚRI
                                   O Júri é órgão da justiça comum estadual ou federal,
tendo como características:
1) Órgão colegiado (CPP, art. 447):
            25 jurados (sendo que 7 formam o conselho de sentença)
            1 juiz togado
2) Órgão horizontal: não há hierarquia entre os juízes;
3) Órgão heterogêneo: formado por juízes leigos e juiz togado
4) Órgão temporário: a convocação dos 25 jurados é feita por tempo
determinado.
 
JURADOS
Requisitos  (CPP, art. 436):
a) ser maior de 18 anos
b) ser cidadão
c) ter notória idoneidade
Isenções (CPP, art. 437):
Obrigatória: agentes políticos e servidores que atuam na Justiça, no MP e na
Defensoria
Facultativa: maior de 70 anos
Concedidas pelo juiz: justo impedimento
                                   A função de jurado constitui serviço obrigatório, salvo a
chamada escusa de consciência com sujeição a prestação alternativa (CPP, art.
438).
PROCEDIMENTO
Bifásico 1) Sumário da culpa; 2) Juízo da causa
Sumário da Culpa ("Judicium accusationis") CPP, arts. 406/420
                                   O Sumário da culpa é dividido em:
1) Oferecimento da denúncia ou queixa (CPP, art. 406)
2) Recebimento da denúncia ou queixa (CPP, art. 406 c/c art. 395)
3) Citação (CPP, art. 406)
4) Resposta escrita (CPP, art. 406, §3º c/c art. 408)
5) Réplica da acusação (CPP, art. 409)
6) Despacho saneador (CPP, art. 410)
7) Audiência (CPP, art. 411)
8) Decisão:
- Pronúncia (CPP, art. 413)
Juízo positivo de admissibilidade da acusação, com a submissão do acusado a
júri. Contra cabe R.S.E.
- Impronúncia (CPP, art. 414)
Juízo negativo de admissibilidade da acusação, gerando coisa julgada formal.
Possibilidade de reabertura do processo se existirem provas novas. Contra cabe
Apelação.
-Absolvição Sumária (CPP, art. 415)
Sentença absolutória ante aos quatro fundamentos previstos no artigo. Contra
cabe Apelação.
- Desclassificação (CPP, art. 419)
Quando o juiz entende que ocorreu outro crime que não o crime doloso contra a
vida. Via de regra, o juiz deve remeter o processo para o juiz singular
competente. Contra cabe R.S.E.
Juízo da Causa ("Judicium causae") CPP, arts. 421/497
                                   Operada a preclusão da pronúncia, ocorre o início desta
segunda fase.
                                   O juízo da causa é dividido em:
1) Requerimento de provas pela acusação (CPP, art. 422) no prazo de 5 dias
com rol de testemunhas (no máximo 5 por réu);
2) Requerimento de provas pela defesa (CPP, art. 422) no prazo de 5 dias com
rol de testemunhas (no máximo 5 por réu);
3) Despacho saneador (CPP, art. 423): sanar nulidades; requisitar diligências;
elaborar relatório; designar data do julgamento.
* OBS: DESAFORAMENTO (CPP, art. 427/428): É o ato pelo qual o julgamento da
causa é submetido a um foro estranho ao do delito. O Desaforamento prorroga
a competência. A decisão sobre o desaforamento é do Tribunal de Justiça ou do
Tribunal Regional Federal.
Hipóteses:
            a) Dúvida da imparcialidade dos jurados;
            b) Risco à segurança do réu;
            c) Interesse da ordem pública;
            d) Transcorrer mais de 6 meses da preclusão da pronúncia;
4) Sessão de Julgamento.
                                   A sessão de julgamento é dividida em:
a) Instalação da sessão:
- pedidos de adiamento e dispensa dos jurados;
- conferência das 25 cédulas;
- chamada dos jurados (presença mínima de 15 jurados);
- verificação das presenças (do réu, advogado, promotor, querelante, assistente
e testemunhas).
b) Formação do conselho de sentença:
- advertência aos jurados sobre a incomunicabilidade e sobre as
incompatibilidades;
- sorteio dos 7 jurados: com possibilidade de recusas imotivadas (3 no máximo)
e as motivadas. Primeiro a defesa e depois a acusação;
- compromisso dos jurados.
c) Instrução (CPP, art. 473/475):
- declarações do ofendido;
- testemunhas de acusação;
- testemunhas de defesa;
- leitura de peças;
- interrogatório do réu;
d) debates orais:
- acusação 1:30h;
- defesa 1:30h;
- réplica 1:30h;
- tréplica 1:30h;
*OBS: Se tiver mais de um réu, ao tempo da acusação e da defesa será
acrescido uma hora e a réplica e tréplica será dobrado o tempo (CPP, art. 477,
§2º).
e) julgamento:
                                   Após os debates, o juiz deve perguntar aos jurados se os
mesmos têm alguma dúvida e se estão habilitados (CPP, art. 480, §1º):
- leitura dos quesitos (CPP, art. 482/483): somente através de proposições
afirmativas levando em conta a pronúncia e as decisões posteriores que
julgaram admissível a acusação, os debates e o interrogatório do réu;
- votação em sala especial: presença do juiz, MP, jurados, defensor e
serventuários;
- pronunciamento da votação;
- sentença:
1 - condenação: dosimetria da pena e júri julga eventual crime conexo;
2 - absolvição: julga-se conforme o art. 386, do CPP e  júri julga eventual crime
conexo;
3 - desclassificação: juiz presidente julga o crime desclassificado e também
eventual crime conexo.
 
            8.1.2. Crimes de responsabilidade dos funcionários públicos
                            Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos
também são conhecidos como "crimes funcionais".
                                   São aqueles em que a condição de funcionário público
figura como elementar ou circunstância do tipo penal. No Código Penal se
encontram a partir do artigo 321.
                                   Em sede de CPP, a matéria está normatizada nos artigos
513/518.
                                    Inicialmente, o artigo 513 determina a "informatio
delicti", o que em nada difere dos demais crimes:
"Art. 513.  Os crimes de responsabilidade dos
funcionários públicos, cujo processo e julgamento
competirão aos juízes de direito, a queixa ou a
denúncia será instruída com documentos ou
justificação que façam presumir a existência do
delito ou com declaração fundamentada da
impossibilidade de apresentação de qualquer dessas
provas."
                                   Já o dispositivo seguinte traz regra nova, qual seja a da
necessidade da chamada defesa prévia:
"Art. 514.  Nos crimes afiançáveis, estando a
denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará
autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para
responder por escrito, dentro do prazo de quinze
dias."
                                   Assim o procedimento deverá observar a seguinte
sequência:
1) Oferecimento de denúncia ou queixa;
2) Defesa preliminar nos crimes afiançáveis antes do recebimento;
3) Recebimento da denúncia (e passa a correr pelo procedimento comum
ordinário ou sumário) ou rejeição da denúncia (com a extinção do processo)
 
OBSERVAÇÕES
- A defesa preliminar não se estende ao particular que esteja sendo julgado
junto;
- O STJ entende que se a acusação vier com peças informativas precisa da
defesa preliminar; se a acusação vier com inquérito policial não é necessário a
defesa preliminar (Súmula 330).
- A falta de defesa preliminar gera a nulidade relativa.
 
         8.1.3. Crimes de calúnia e injúria, de competência do juiz singular.
                                  
                                   Inicialmente cumpre esclarecer que, apesar do CPP
indicar o procedimento somente para a calúnia e a injúria, o entendimento é de
que a difamação também está incluída, não existindo diferença procedimental
(guardadas as suas respectivas especialidades) para os três crimes contra a
honra.
                                   A ação penal deve ser iniciada conforme as situações
abaixo indicadas:
1) Regra: mediante queixa (ação penal privada);
2) Exceções:
a) Ação penal pública condicionada à representação:
                        a.1. crime contra a honra de funcionário público (STF 714);[1]
                        a.2. injúria qualificada pelo preconceito (CP, art. 140, §3º);
b) Ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça (crimes
contra altas autoridades);
c) Ação penal pública incondicionada (injúria real - CP, art. 140, §2º).
 
                                   Em sede de CPP, a matéria está normatizada nos artigos
519/523.
                                   O procedimento tem de diferente:
1) Audiência de conciliação entre o querelante e o querelado (só para a ação
privada):
"Art. 520.  Antes de receber a queixa, o juiz
oferecerá às partes oportunidade para se
reconciliarem, fazendo-as comparecer em juízo e
ouvindo-as separadamente, sem a presença dos seus
advogados, não se lavrando termo."
 
2) Exceção de verdade nos casos em que caiba:
"Art. 523.  Quando for oferecida a exceção da
verdade ou da notoriedade do fato imputado, o
querelante poderá contestar a exceção no prazo de
dois dias, podendo ser inquiridas as testemunhas
arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele
prazo, em substituição às primeiras, ou para
completar o máximo legal."
 
3) Anteriormente ao ajuizamento da ação, cabe pedido de explicação (art. 144,
CP):
"Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se
infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga
ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele
que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as
dá satisfatórias, responde pela ofensa."
 
                                   No mais o procedimento deve ser igual ao comum.
                  
         8.1.4. Crimes contra a propriedade imaterial.
 
                                   Os crimes contra a propriedade imaterial estão contidos
no artigo 184 do Código Penal.
                                   Procede-se mediante: 
a) queixa, nos crimes previstos no caput do art. 184 do CP; 
b) ação penal pública incondicionada, nos crimes previstos nos §§ 1 o e 2o do art.
184 do CP; 
c) ação penal pública incondicionada, nos crimes cometidos em desfavor de
entidades de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de
economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público; 
d) ação penal pública condicionada à representação, nos crimes previstos no §
3o do art. 184 do CP. 
                                   O procedimento deve adotar subsidiariamente o rito
comum, guardando especialidade as seguintes características principais:
1) No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será
recebida se não for instruída com o exame pericial dos objetos que constituam
o corpo de delito.
2) A diligência de busca ou de apreensão será realizada por dois peritos
nomeados pelo juiz, que verificarão a existência de fundamento para a
apreensão, e quer esta se realize, quer não, o laudo pericial será apresentado
dentro de 3 (três) dias após o encerramento da diligência. Encerradas as
diligências, os autos serão conclusos ao juiz para homologação do laudo.
3) Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida queixa com
fundamento em apreensão e em perícia, se decorrido o prazo de 30 dias, após a
homologação do laudo.
4) Nos casos das infrações previstas nos §§ 1o, 2o e 3o do art. 184 do Código
Penal, a autoridade policial procederá à apreensão dos bens ilicitamente
produzidos ou reproduzidos, em sua totalidade, juntamente com os
equipamentos, suportes e materiais que possibilitaram a sua existência, desde
que estes se destinem precipuamente à prática do ilícito.
5) Subsequente à apreensão, será realizada, por perito oficial, ou, na falta
deste, por pessoa tecnicamente habilitada, perícia sobre todos os bens
apreendidos e elaborado o laudo que deverá integrar o inquérito policial ou o
processo.
6) O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, poderá determinar a destruição
dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos e o perdimento dos
equipamentos apreendidos, desde que precipuamente destinados à produção e
reprodução dos bens, em favor da Fazenda Nacional, que deverá destruí-los ou
doá-los aos Estados, Municípios e Distrito Federal, a instituições públicas de
ensino e pesquisa ou de assistência social, bem como incorporá-los, por
economia ou interesse público, ao patrimônio da União, que não poderão
retorná-los aos canais de comércio. 
 
         8.1.5. Restauração de autos extraviados ou destruídos
        
                            O procedimento de restauração de autos está previsto nos
artigos 541/548, do CPP.
                                   Em verdade este procedimento é um mero incidente,
necessário para que se dê andamento ao processo.
                                   As principais ocorrências deste procedimento são:
- Iniciativa de ofício ou por provocação;
- O escrivão certifica o estado do processo e reproduz o quanto for possível;
- Requisitam-se cópias em repartições públicas e outras;
- As partes são citadas;
- Em audiência as partes mencionam em termo circunstanciado os pontos de
acordo e exibem e conferem certidões e mais documentos produzidos;
- Diligências determinadas pelo juiz;
- Decisão em 10 dias
- Recurso de apelação
*OBS:
1) Serão restaurados os autos tanto em primeira como em segunda instância;
2) Proceder-se-á à restauração na primeira instância, ainda que os autos se
tenham extraviado na segunda;
3) Com a sentença de restauração os novos autos passam a ser considerados;
4) Poderão também ser inquiridas sobre os atos do processo que deverá ser
restaurado, as autoridades, os serventuários, os peritos e mais pessoas que
tenham nele funcionado
5) Os causadores de extravio de autos responderão pelas custas, em dobro,
sem prejuízo da responsabilidade criminal.
6) Se no curso da restauração aparecer os autos originais, nestes continuará o
processo, apensos a eles os autos da restauração.
 

[1] Neste caso, também poderá ser privada, conforme a súmula 714, do STF.

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