Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
[1] In Curso de Processo Penal, São Paulo, Saraiva, Ed. 18ª., p. 79.
[2] TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Manual de Processo Penal, São Paulo,
Ed. Saraiva, 7ª. Ed., p. 26.
[3] MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, vol. II, rev.
atual. por Eduardo Reale Ferrari. 2ª. ed., Campinas: Millenium, 2000, pág. 325.
[4] Op.cit., pág. 330.
[5] MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, vol. II, rev.
atual. por Eduardo Reale Ferrari. 2ª. ed., Campinas: Millenium, 2000, pág. 364.
[6] Idem, ibidem
3.1. A Constituição Federal e os meios de prova.
Meios de prova
Meios de prova são os mecanismos pelos quais as partes
levam aos autos, ao conhecimento do juiz, as provas com as quais pretendem
fundamentar seus argumentos.
Segundo Pontes de Miranda "são as fontes probantes, os meios
pelos quais o juiz recebe os elementos ou motivos de provas"[1].
São admitidos como meios de provas todos aqueles que não são
proibidos por lei, que não ofendam a moral, a ética e os princípios gerais de
direito, ou que não atentem contra a dignidade ou a liberdade da pessoa
humana e os bons costumes.
Ressalte-se que o parágrafo único, do artigo 155, do
Código de Processo Penal, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº
11.690/2008, dispõe que serão observadas as restrições estabelecidas na lei
civil somente com relação ao estado das pessoas. Assim, para se provar que
uma pessoa é casada, por exemplo, não será válida a prova testemunhal,
valendo somente a apresentação da certidão de casamento.
Denílson Feitoza[2] lembra distinção de Germano Marques
da Silva feita com relação ao meio de prova e meio de obtenção de prova, na
qual o segundo seria a maneira pela qual se obtém o primeiro, citando como
exemplo, a realização de uma busca e apreensão, que é o mecanismo para se
obter documentos.
CONCEITO DE PROVA ILÍCITA
A Constituição da República determina que a prova será
proibida quando contrariar as normas legais ou os princípios processuais ou
materiais. Desta forma, não serão admitidas as provas que forem obtidas com a
violação da intimidade, vida privada e honra, como disciplina o art. 5º, X, da
Constituição de 1988; com a violação do domicílio (exceto nos casos previstos
no art. 5º, XI, CF); com a violação de correspondência e telefonemas não
autorizados (art. 5º, XII, CF); e outros meios ilícitos, como a confissão mediante
tortura, a violação do sigilo profissional etc.
Prova ilícita são as obtidas com a violação de normas
materiais e as ilegítimas são as introduzidas no processo contra as
determinações de normas processuais.
O direito à prova não é absoluto, há limites impostos. Estes
limites resultam do princípio da convivência das liberdades, para não atingir de
forma danosa a ordem pública e a liberdade alheia.
Os limites colocados à atividade probatória são maiores no
processo penal, uma vez que a liberdade do indivíduo está sendo colocada em
risco.
O processo penal busca a verdade real, e não apenas impor uma
sanção ao acusado. A verdade deve ser mostrada de maneira legal e moral, de
forma inatacável.
A prova será considerada ilícita se o meio de prova for ilícito, se
esta for produzida de maneira imoral, ou ainda se sua obtenção for ilícita.
As provas de caráter ilegítimo serão atingidas através da
nulidade, porém quando se tratar de prova ilícita, obtida de maneira ilegal,
estas serão desentranhadas dos autos.
3.2. Teoria dos frutos da árvore envenenada.
A teoria dos frutos da árvore envenenada aborda a
questão das provas ilícitas por derivação, que são aquelas que foram colhidas
através de informação ilicitamente obtida.
A doutrina e a jurisprudência já entendiam que a prova obtida
desta maneira é também ilícita, não devendo ser aceita, conforme podemos
destacar pelos julgados abaixo:
HABEAS CORPUS. CRIME QUALIFICADO DE EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO
(CP, ARTIGO 357, PÁR. ÚNICO). CONJUNTO PROBATÓRIO FUNDADO,
EXCLUSIVAMENTE, DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, POR ORDEM
JUDICIAL, PORÉM, PARA APURAR OUTROS FATOS (TRÁFICO DE
ENTORPECENTES): VIOLAÇÃO DO ARTIGO 5º, XII, DA CONSTITUIÇÃO.
(...)
3. As provas obtidas por meios ilícitos contaminam as que são
exclusivamente delas decorrentes; tornam-se inadmissíveis no
processo e não podem ensejar a investigação criminal e, com
mais razão, a denúncia, a instrução e o julgamento (CF, artigo5º,
LVI), ainda que tenha restado sobejamente comprovado, por
meio delas, que o Juiz foi vítima das contumélias do paciente.
4. Inexistência, nos autos do processo crime, de prova autônoma e não
decorrente de prova ilícita, que permita o prosseguimento do processo.
(HC nº 72588/PB, STF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Maurício Corrêa, D. J.
04.08.00, provido, por maioria). (grifo nosso)
“De outro lado, a prova colhida conforme procedimento descrito na lei,
só pode ser utilizada na hipótese mencionada no requerimento de
autorização judicial. Ou seja, é imprestável para outro inquérito, outro
processo. Aqui, têm lugar considerações a respeito das consequências da
interceptação telefônica.
Evidente, a observação já foi registrada, a prova é de aplicação restrita,
ou seja, exclusivamente para evidenciar o fato-objeto da investigação e a
qualificação dos investigados.
Nada além dessa extensão poderá ser utilizada. A regra é
severa, inflexível. A propósito, tornou-se famosa a teoria
conhecida como – fruits of the poisonous tree – ou seja, separa
com nitidez, o objeto da investigação, e os fatos (até
desconhecidos) que passam a ser conhecidos durante a
interceptação. Entenda-se: fatos alheios ao objeto da
interceptação.
A Lei nº 9.296/96 foi categórica, no artigo 9º: ‘A gravação que não
interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o
inquérito, a instrução processual ou após esta, em virtude de
requerimento, do Ministério Público ou da parte interessada.
Assim, fatos resultantes da diligência, ainda que caracterizadores de
infração penal não podem ser considerados. Não entram no mundo
jurídico, senão para serem destruídos. Ninguém, nem mesmo o Estado,
poderá utilizá-los para eventual inquérito ou processo.
Desse modo, se a interceptação revelar que, em determinado lugar,
alguém está recolhido, vítima de sequestro, se não foi esse objeto da
interceptação, evidente, a prova não poderá ser considerada, nem
mesmo para dar início a procedimento que tenha por objeto o fato
descoberto. Tais provas são denominadas ilícitas por derivação” (Revista
Forense 350/367)
No mesmo sentido, podemos destacar a lição de Luiz Flávio
Gomes[3], afirmando que “a questão fundamental, agora, é saber se tem ou
não valor uma segunda prova, obtida licitamente, mas em virtude de
informação contida na primeira, alcançada de forma ilícita (autorizada antes da
Lei nº 9.296/96). Soube-se da existência de uma grande quantidade de droga.
Essa apreensão, como prova derivada que é, porque só se tornou possível em
virtude da informação anterior, possui valor jurídico? Uma prova derivada
(decorrente de informação obtida ilicitamente) pode servir de suporte
incriminatório contra o acusado? O Juiz pode valorá-la? Não existe uma única
resposta para tais indagações. A matéria é controvertida, em termos de
doutrina, inclusive internacional. No Brasil, no entanto, o STF adotou uma clara
posição: as provas ilícitas por derivação resultam contaminadas e, portanto,
também são ilícitas e inadmissíveis. O pensamento doutrinário nacional
predominante segue a mesma trilha”. (op. Cit; p. 144)
Contudo, com a recente promulgação da Lei nº
11.690/2008, a aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada vem
prevista no artigo art. 157 do Código de Processo Penal, com a seguinte
redação:
“Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo,
as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais.
§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo
quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou
quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente
das primeiras.
§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os
trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução
criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova."
Como podemos observar da leitura do dispositivo em
questão, excepcionam-se as provas que poderiam ser colhidas de forma lícita,
ou daquelas que têm uma linha tênue de conexão com a informação colhida
ilicitamente.
3.3. Teoria da razoabilidade ou proporcionalidade.
Apesar da teoria dominante não admitir as provas ilícitas, alguns
a aceitam em função da proporcionalidade e equilíbrio nos casos graves,
atenuando esta rigidez da teoria dominante.
A teoria da proporcionalidade surgiu na Alemanha, e ganhou
espaço significativo na Suprema Corte Americana.
Porém, mesmo aqueles que acolhem esta teoria concordam que
esta só deve ser aceita quando, se inadmitida a prova ilícita, pudesse causar
resultado desproporcional ao pretendido.
Quando a prova colhida for pro reo, teremos a aplicação da
teoria da proporcionalidade na defesa, havendo um confronto entre a proibição
pela ilicitude da prova e o direito à ampla defesa, e sendo assim o princípio
constitucional do direito de defesa sobrepõe-se. Além do que se a prova tiver
sido colhida pelo próprio acusado exclui-se a antijuridicidade em favor da
legítima defesa.
Entretanto, há também a possibilidade da acusação se favorecer
com a prova ilícita, e é essa a posição do Tribunal, que tem admitido a validade
tanto de escuta quanto de gravação de conversa telefônica ou pessoal, desde
que haja uma excludente de ilicitude (legítima defesa, p. ex.) Em tais casos, o
STF tem considerado lícita a prova resultante da gravação e, portanto, tem
afastado a regra do art. 5º, LVI, da Constituição, admitindo o uso de tal prova
pela acusação. Nesse sentido, em caso de escuta telefônica, o Tribunal decidiu
no HC 74.678-SP(17), relatado pelo Min. Moreira Alves, em acórdão assim
ementado:
"‘Habeas corpus’. Utilização de gravação de conversa telefônica feita por
terceiro com a autorização de um dos interlocutores sem o conhecimento
do outro quando há, para essa utilização, excludente da antijuridicidade.
(...) Afastada a ilicitude de tal conduta – a de, por legítima defesa, fazer
gravar e divulgar conversa telefônica ainda que não haja o conhecimento
do terceiro que está praticando crime - é ela, por via de conseqüência,
lícita e, também conseqüentemente, essa gravação não pode ser tida
como prova ilícita, para invocar-se o artigo5º, LVI, da Constituição com
fundamento em que houve violação da intimidade (art. 5º, X, da Carta
Magna). (...) Habeas corpus indeferido."
Essa decisão foi corroborada por várias outras, em casos de
gravação telefônica(18): HC 75.338-RJ, Rel. Min. Nelson Jobim, RTJ 167/206 e RT
759/507, e Agravo de Instrumento 232.123 (AgRg)-SP, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, RTJ 168/1022. Em casos de escuta telefônica: HC 75.261-MG, Rel.
Min. Octavio Gallotti, RTJ 163/759. E também em casos de escuta ambiental: RE
212.081, Rel. Min. Octavio Gallotti, Informativo do STF nº 104.
3.4. O ônus da prova.
Segundo definição de Gustavo Badaró, conforme citado
por Guilherme de Souza Nucci[4], o ônus da prova é uma "posição jurídica na
qual o ordenamento jurídico estabelece determinada conduta para que o sujeito
possa obter um resultado favorável. Em outros termos, para que o sujeito
onerado obtenha um resultado favorável, deverá praticar o ato previsto no
ordenamento jurídico, sendo que a não realização da conduta implica a
exclusão de tal benefício, sem, contudo, configurar um ato ilícito."
O ônus da prova cabe àquele que alega, conforme disposto no
artigo 156 do código de processo penal, in verbis:
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém,
facultado ao juiz de ofício: (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção
antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a
necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;
II - determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a
realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Isto implica, na prática, que o ônus da prova incumbe à
acusação, tendo em vista que descreve a conduta que pretende provar em
juízo. Todavia, deve-se ressaltar que, no caso de a defesa alegar alguma
excludente de ilicitude ou de antijuridicidade, no que se refere a esta alegação
o ônus da prova lhe incumbe.
Sujeito passivo e o ônus da prova
Cumpre ressaltar que o acusado não é obrigado a produzir prova
contra si mesmo, assim, qualquer prova que foi demandada pelo juiz, e que
implique prejuízo para sua defesa, pode ser negada, como por exemplo, a
realização de exame grafotécnico.
Outro ponto que deve ser destacado, é que na dúvida o
acusado é presumido inocente. Isto implica que, alegando a defesa alguma
excludente, embora não reste devidamente comprovada, existindo dúvidas com
relação à sua ocorrência, a interpretação deve ser feita em favor do réu, ou
seja, acolhendo-a.
Por outro lado, o fato de o ônus da prova sobre determinado
acontecimento alegado pelo acusado lhe incumbir, não implica que acusação
está desonerada de provar a autoria e a materialidade do delito. Pelo contrário,
este deve vir sempre comprovado, pois a mera dúvida implica na absolvição. Ao
acusado somente caberá a prova do fato que alegou.
3.5. Sistemas de apreciação.
Os sistemas de apreciação da prova são basicamente três:
A) sistema da livre convicção;
B) sistema da prova legal; e
C) sistema da persuasão racional.
Sistema da livre convicção também conhecido como
certeza moral do juiz ou íntima convicção, implica em que o julgador não está
obrigado a julgar de acordo com as provas produzidas nos autos e, tampouco,
está obrigado a exteriorizar os motivos pelos quais tomou sua decisão.
Encontramos, atualmente, este sistema, no julgamento realizado
pelo tribunal do júri, onde os jurados não fundamentom as suas decisões e
podem decidir contra a prova produzidas nos autos.
Já no sistema da prova legal, também conhecido por
sistema da certeza moral do legislador ou o sistema da verdade legal, a prova
possui um valor pré-determinado em lei, sendo que cada prova possui um valor.
Historicamente, esse sistema surgiu como reação ao sistema da livre convicção,
pois naquele sistema o processo tornou-se sinônimo de arbítrio.
Na época em que se adotou esse sistema, se considerava nula
com força probatória de um único testemunho e a confissão tinha valor
absoluto.
Guilherme de Souza Nucci[5] aponta como resquício desse
sistema o artigo 158 do Código de Processo Penal, o qual exige a realização de
exame de corpo de delito quando a infração deixar vestígios, não podendo ser
suprido pela confissão.
Já por sistema da persuasão racional, também conhecido por
sistema do livre convencimento motivado ou livre convicção condicionada, o
juiz apesar de estar limitado às provas dos autos é livre para estabelecer o
valor de cada uma, devendo, contudo, motivar sua decisão, exteriorizando os
motivos que o convenceram.
É o sistema adotado preponderantemente pelo processo
penal brasileiro, previsto no artigo 155 do código de processo penal, e,
inclusive, no artigo 93, inciso IX, da Constituição da República Federativa do
Brasil.
Ressalte-se que, conforme dispõe Guilherme de Souza
Nucci[6], que apesar da liberdade do juiz para apreciação das provas, isto não
significa que "possa fazer a sua opinião pessoal ou vivência acerca de algo
integrar o conjunto probatório, tornando-se, pois, prova."
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre
apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal,
disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes
princípios:
(...)
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação;
3.6. Princípios da prova penal.
Conceito - Por princípio, sinteticamente, podemos definir como a norma que
por sua generalidade e abrangência, informa todo o ordenamento jurídico,
conferindo unidade ao sistema, norteando a aplicação e a interpretação de
outras normas jurídicas.
Princípio da busca da verdade real - Trata-se de princípio informador de
todo o processo penal, não se restringindo somente às provas.
Em decorrência deste princípio o juiz não pode se
contentar com a mera verdade formal, que é aquela verdade levada aos autos
pelas partes, ainda que não corresponda à realidade. O magistrado deve buscar
sempre a obtenção da realidade, através da reconstrução histórica dos fatos
noticiados, não podendo tomar por verdadeiros sequer os fatos incontroversos.
É dizer, "trata-se da averiguação judicial da verdade histórica como meta do
procedimento penal, com base no qual se deve fundar a decisão final"[7].
Todavia, este princípio não é absoluto, encontrando
limitação com relação à produção de provas ilícitas no processo penal, princípio
que veremos abaixo detalhadamente.
Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos -
Este princípio vem consagrado no artigo 5º, inciso LVI, da constituição federal.
Com edição da lei nº 11.690/2008, tal princípio está expresso no artigo 157 do
CPP.
Decorre deste princípio que as provas obtidas por meios
ilícitos, são provas que não podem ser utilizadas em um processo penal. Parte
da doutrina costuma destacar com exceção a este princípio, a possibilidade de
utilizar-se de prova ilícita desde que seja para absolver o réu.
A doutrina também costuma diferenciar prova ilícita de
prova ilegítima. Prova ilícita é aquela que foi obtida a partir de uma violação de
normas de direito material, como por exemplo através de degravação
clandestina. Já prova ilegítima é aquela que foi obtida com violação de norma
processual, como no caso de perícia que não foi realizada por perito oficial, que
possua um diploma de curso superior.
Princípio nemo tenetur se detegere - tal princípio encontra previsão do
inciso LXIII, do artigo 5º da CF.
De acordo com este princípio, ninguém é obrigado a
produzir prova contra si mesmo, já que ninguém é obrigado a se auto-acusar.
Decorre da norma que determina que o ônus da prova incumbe a quem alega, o
que obriga, portanto, a acusação de comprovar suas imputações.
Este princípio permite, por exemplo, que o acusado
permaneça em silêncio durante toda a instrução processual, bem como se
recuse a participar da produção de qualquer tipo de prova, tais como
reprodução assistida ou fornecimento de material para realização de exame de
sangue.
princípio do contraditório - Para toda prova produzida por uma das partes
deve existir o conhecimento da parte contrária, admitindo-se e possibilitando-se
sua contrariedade.
Trata-se de decorrência natural do princípio do
contraditório, que informa todo o sistema processual penal, e vem previsto no
art. 5º, inciso LV, da CF.
Sucede, todavia, que em alguns momentos tal princípio
não estará em vigor em sua plenitude, sendo sua oportunidade de contrariação
diferida, como no caso da produção de provas cautelares, a exemplo do que
ocorre com as interceptações telefônicas.
Princípio da aquisição ou da comunhão de provas - Também denominado
como princípio da aquisição da prova e princípio da comunidade da prova.
Deste princípio decorre que toda prova produzida afeta a
ambas as partes, podendo ser utilizada tanto pela defesa quanto pela acusação,
pois integra o processo, não pertencendo simplesmente à parte que a produziu.
Ressalte-se que o destinatário final da prova é sempre o juiz.
Princípio da oralidade - Por este princípio significa que os atos processuais,
em geral, devem ser realizados oralmente, tais como as vítimas de
testemunhas do ofendido e o interrogatório do acusado.
Como decorrência deste princípio, podemos destacar o
princípio da concentração dos atos.
Note-se que apesar dos atos serem praticados oralmente,
estes devem ser reduzidos a termo.
Princípio da concentração - deste princípio decorre que toda a produção
probatória deve se concentrar em uma única audiência.
Este princípio vem consagrado no artigo 400 do C.P.P.,
com a redação que lhe foi dada pela lei 11.719/2008.
Princípio da publicidade - Decorre deste princípio que as provas produzidas,
assim como todos os atos processuais, são públicos, excetuadas as hipóteses
em que o interesse social e a defesa da intimidade assim o exigirem.
Tal princípio encontra previsão no artigo 5º, LX, da CF.
Princípio da auto-responsabilidade das partes - Por este princípio cada
parte assume a consequência de sua inatividade processual, ou de seus erros
quanto às provas que foram produzidas ou que deveriam produzir.
Exumação;
Exame de corpo de delito em caso de lesões corporais;
Exame de local;
Exame laboratorial;
Perícia furto qualificado e crimes afins;
Laudo de avaliação;
Exame de local de incêndio;
Exame grafotécnico;
Exame dos instrumentos utilizados nos crimes.
4.2. Interrogatório do acusado.
Conceito – Segundo Guilherme de Souza Nucci[1] “é o ato processual que
confere a oportunidade ao acusado de se dirigir diretamente ao juiz,
apresentando sua versão defensiva aos fatos que lhe foram imputados pela
acusação, podendo inclusive indicar meios de prova, bem como confessar, se
entender cabível, ou mesmo permanecer em silêncio, fornecendo apenas dados
de qualificação.”
Natureza – Existem quatro posições a respeito da natureza jurídica do
interrogatório.
- Meio de prova;
- Meio de defesa;
- Meio de prova e de defesa;
- Meio de defesa, fundamentalmente e indiretamente meio de prova.
Oportunidade – O interrogatório pode ser realizado a qualquer momento do
processo, mesmo quando se encontrar em 2ª Instância, caso entenda o
Magistrado haver interesse na inquirição do acusado. Contudo o momento
ordinário para a realização do interrogatório é na audiência de instrução e
julgamento, após a oitiva das testemunhas de acusação e defesa, de acordo
com redação que foi dada ao artigo 400, caput, do CPP, pela Lei nº
11.719/2008.
Note-se que ao determinar que o interrogatório fosse
realizado como o último ato da audiência de instrução, antes das alegações
finais, foi consagrado entendimento de que o interrogatório é primeiramente
um meio de defesa, mas conforme seu conteúdo, pode ser meio de prova.
Características – O interrogatório é ato personalíssimo, contraditável e oral.
Personalíssimo, pois somente o acusado é que pode ser interrogado,
contraditável, pois as partes podem dele participar, elaborando perguntas
diretamente ao réu e oral, segundo regra geral do processo penal brasileiro,
embora deva ser reduzido a termo.
Formalidades – O interrogatório deve ser realizado na presença de um
defensor, sendo assegurada a entrevista reservada do acusado com seu
defensor.
O parágrafo 1º do art. 185, do CPP, define como regra
geral a realização do interrogatório do réu preso “no estabelecimento prisional
em que se encontrar, em sala própria, desde que estejam garantidas a
segurança do juiz e auxiliares, a presença do defensor e a publicidade do ato”,
porém, tendo em vista a falta de condições da maioria das instituições
prisionais brasileiras, na prática a modalidade pouco tem sido utilizada,
permanecendo a realização do interrogatório nos fóruns.
O acusado deve ser cientificado previamente dos fatos
que lhe imputam, bem como do direito que possui de permanecer em silencio,
sendo que este não importará em confissão.
Quando o acusado não falar a língua nacional, deverá ser
providenciado intérprete.
Com relação a interrogatório de mudos, surdos ou surdos-
mudos, a previsão é de que a escrita supra a falta de comunicação oral. Na
hipótese de o acusado não saber ler e escrever, será nomeado intérprete.
Interrogatório e ampla defesa – Como em todos os demais atos processuais,
no interrogatório deve ser assegurado o direito à ampla defesa e ao
contraditório, ressaltando-se que, como ensina Antonio Scarance Fernandez[2],
não existe, entre ambos, uma relação de derivação, sendo, na verdade,
manifestações da garantia genérica do devido processo legal, intimamente
ligados em decorrência da própria natureza do processo, que exige partes
opostas, e uma em posição de defesa.
Assim, a existência de um processo implica,
necessariamente, na existência da defesa da parte passiva, na relação jurídica
adjetiva, sem nenhum obste que seja este o sujeito ativo na relação material.
Contudo, acrescenta Scarance Fernandes[3] que tal fato não ocorre no processo
penal, pois somente o Ministério Público e o ofendido podem exercer o direito
de ação.
Observa Pontes de Miranda que a ampla defesa constitui:
“direito subjetivo (constitucional) de defesa. Dela nasce direito constitucional a
defender-se ou a ter tido defesa; em conseqüência disto, é nulo o processo em
que não se assegura ao réu a defesa, ainda que tenha o juiz aplicado alguma
lei” (Comentários à Constituição de 1967, 3º ed., tomo V, pág. 233).
Confissão – Segundo Nucci[4], é a assunção “contra si, por quem seja suspeito
ou acusado de um crime, tendo pleno discernimento, voluntária, expressa e
pessoalmente, diante da autoridade competente, em ato solene e público,
reduzido a termo, a prática de algum fato criminoso”.
Ressalte-se que a confissão pressupõe a admissão de
algum fato criminoso e não de qualquer fato prejudicial ao acusado.
Outro ponto que merece destaque é que a confissão deve
versar sobre um fato do qual já é suspeito ou acusado, pois caso assim não
seja, tratar-se-á de auto-acusação ou autodenúncia.
Confissão qualificada – A confissão qualificada é aquela em que o acusado,
embora reconheça a imputação que lhe fazem, alega circunstância que pode
excluir sua responsabilidade ou atenuar sua pena.
[1] Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3ª ed., RT, pág. 389
[2] Processo Penal Constitucional, 3ª ed., RT, pág. 267.
[3] PASSOS, Calmon de. Comentário ao Código de Processo Civil, v.III, p.
326, apud FERNANDES, Antonio Scarance. Processo Penal Constitucional, 3ª
ed., RT, pág. 268.
[4] Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3ª ed., RT, pág. 407.
[5] Elementos de Direito Processual, vol. II, Campinas: Millenium, pág. 403.
Por outro lado, o procedimento pode estar previsto fora
do CPP, ad exemplum:
[1] http://www.femparpr.org.br/userfiles/aula-01.pdf
[2] In Manual de Processo Penal, São Paulo, Ed. Saraiva, 7ª. Ed., p. 9.
[3] In Curso de processo Penal, Ed. Saraiva, 19ª. Ed., p 555.
[4] In Direito Processual Penal Esquematizado, Ed. Saraiva, 2014, p. 440.
[5] Que poderá gerar réplica pela acusação, conforme alguns doutrinadores.
8.1. Procedimentos Especiais
Os procedimentos especiais, por questão lógica, utilizam-se
do regramento do rito ordinário de forma subsidiária. Nesse sentido, os
esclarecimentos feitos nos próximos itens se relacionam às normas que os
diferenciam.
8.1.1. Procedimento da competência do Tribunal do Júri
INTRODUÇÃO
O Tribunal do Júri é órgão de importância ímpar no nosso
ordenamento judicial.
A sua previsão é constitucional, artigo 5º, XXXVIII.
São princípios que devem nortear a legislação ordinária:
a) Plenitude de defesa;
b) Sigilo das votações;
c) Soberania dos veredictos;
d) Competência mínima (para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida)
A organização e procedimento do Tribunal do Júri são
previstos no CPP, artigos 406/497.
ORGANIZAÇÃO E CONSTITUIÇÃO DO JÚRI
O Júri é órgão da justiça comum estadual ou federal,
tendo como características:
1) Órgão colegiado (CPP, art. 447):
25 jurados (sendo que 7 formam o conselho de sentença)
1 juiz togado
2) Órgão horizontal: não há hierarquia entre os juízes;
3) Órgão heterogêneo: formado por juízes leigos e juiz togado
4) Órgão temporário: a convocação dos 25 jurados é feita por tempo
determinado.
JURADOS
Requisitos (CPP, art. 436):
a) ser maior de 18 anos
b) ser cidadão
c) ter notória idoneidade
Isenções (CPP, art. 437):
Obrigatória: agentes políticos e servidores que atuam na Justiça, no MP e na
Defensoria
Facultativa: maior de 70 anos
Concedidas pelo juiz: justo impedimento
A função de jurado constitui serviço obrigatório, salvo a
chamada escusa de consciência com sujeição a prestação alternativa (CPP, art.
438).
PROCEDIMENTO
Bifásico 1) Sumário da culpa; 2) Juízo da causa
Sumário da Culpa ("Judicium accusationis") CPP, arts. 406/420
O Sumário da culpa é dividido em:
1) Oferecimento da denúncia ou queixa (CPP, art. 406)
2) Recebimento da denúncia ou queixa (CPP, art. 406 c/c art. 395)
3) Citação (CPP, art. 406)
4) Resposta escrita (CPP, art. 406, §3º c/c art. 408)
5) Réplica da acusação (CPP, art. 409)
6) Despacho saneador (CPP, art. 410)
7) Audiência (CPP, art. 411)
8) Decisão:
- Pronúncia (CPP, art. 413)
Juízo positivo de admissibilidade da acusação, com a submissão do acusado a
júri. Contra cabe R.S.E.
- Impronúncia (CPP, art. 414)
Juízo negativo de admissibilidade da acusação, gerando coisa julgada formal.
Possibilidade de reabertura do processo se existirem provas novas. Contra cabe
Apelação.
-Absolvição Sumária (CPP, art. 415)
Sentença absolutória ante aos quatro fundamentos previstos no artigo. Contra
cabe Apelação.
- Desclassificação (CPP, art. 419)
Quando o juiz entende que ocorreu outro crime que não o crime doloso contra a
vida. Via de regra, o juiz deve remeter o processo para o juiz singular
competente. Contra cabe R.S.E.
Juízo da Causa ("Judicium causae") CPP, arts. 421/497
Operada a preclusão da pronúncia, ocorre o início desta
segunda fase.
O juízo da causa é dividido em:
1) Requerimento de provas pela acusação (CPP, art. 422) no prazo de 5 dias
com rol de testemunhas (no máximo 5 por réu);
2) Requerimento de provas pela defesa (CPP, art. 422) no prazo de 5 dias com
rol de testemunhas (no máximo 5 por réu);
3) Despacho saneador (CPP, art. 423): sanar nulidades; requisitar diligências;
elaborar relatório; designar data do julgamento.
* OBS: DESAFORAMENTO (CPP, art. 427/428): É o ato pelo qual o julgamento da
causa é submetido a um foro estranho ao do delito. O Desaforamento prorroga
a competência. A decisão sobre o desaforamento é do Tribunal de Justiça ou do
Tribunal Regional Federal.
Hipóteses:
a) Dúvida da imparcialidade dos jurados;
b) Risco à segurança do réu;
c) Interesse da ordem pública;
d) Transcorrer mais de 6 meses da preclusão da pronúncia;
4) Sessão de Julgamento.
A sessão de julgamento é dividida em:
a) Instalação da sessão:
- pedidos de adiamento e dispensa dos jurados;
- conferência das 25 cédulas;
- chamada dos jurados (presença mínima de 15 jurados);
- verificação das presenças (do réu, advogado, promotor, querelante, assistente
e testemunhas).
b) Formação do conselho de sentença:
- advertência aos jurados sobre a incomunicabilidade e sobre as
incompatibilidades;
- sorteio dos 7 jurados: com possibilidade de recusas imotivadas (3 no máximo)
e as motivadas. Primeiro a defesa e depois a acusação;
- compromisso dos jurados.
c) Instrução (CPP, art. 473/475):
- declarações do ofendido;
- testemunhas de acusação;
- testemunhas de defesa;
- leitura de peças;
- interrogatório do réu;
d) debates orais:
- acusação 1:30h;
- defesa 1:30h;
- réplica 1:30h;
- tréplica 1:30h;
*OBS: Se tiver mais de um réu, ao tempo da acusação e da defesa será
acrescido uma hora e a réplica e tréplica será dobrado o tempo (CPP, art. 477,
§2º).
e) julgamento:
Após os debates, o juiz deve perguntar aos jurados se os
mesmos têm alguma dúvida e se estão habilitados (CPP, art. 480, §1º):
- leitura dos quesitos (CPP, art. 482/483): somente através de proposições
afirmativas levando em conta a pronúncia e as decisões posteriores que
julgaram admissível a acusação, os debates e o interrogatório do réu;
- votação em sala especial: presença do juiz, MP, jurados, defensor e
serventuários;
- pronunciamento da votação;
- sentença:
1 - condenação: dosimetria da pena e júri julga eventual crime conexo;
2 - absolvição: julga-se conforme o art. 386, do CPP e júri julga eventual crime
conexo;
3 - desclassificação: juiz presidente julga o crime desclassificado e também
eventual crime conexo.
8.1.2. Crimes de responsabilidade dos funcionários públicos
Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos
também são conhecidos como "crimes funcionais".
São aqueles em que a condição de funcionário público
figura como elementar ou circunstância do tipo penal. No Código Penal se
encontram a partir do artigo 321.
Em sede de CPP, a matéria está normatizada nos artigos
513/518.
Inicialmente, o artigo 513 determina a "informatio
delicti", o que em nada difere dos demais crimes:
"Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos
funcionários públicos, cujo processo e julgamento
competirão aos juízes de direito, a queixa ou a
denúncia será instruída com documentos ou
justificação que façam presumir a existência do
delito ou com declaração fundamentada da
impossibilidade de apresentação de qualquer dessas
provas."
Já o dispositivo seguinte traz regra nova, qual seja a da
necessidade da chamada defesa prévia:
"Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a
denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará
autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para
responder por escrito, dentro do prazo de quinze
dias."
Assim o procedimento deverá observar a seguinte
sequência:
1) Oferecimento de denúncia ou queixa;
2) Defesa preliminar nos crimes afiançáveis antes do recebimento;
3) Recebimento da denúncia (e passa a correr pelo procedimento comum
ordinário ou sumário) ou rejeição da denúncia (com a extinção do processo)
OBSERVAÇÕES
- A defesa preliminar não se estende ao particular que esteja sendo julgado
junto;
- O STJ entende que se a acusação vier com peças informativas precisa da
defesa preliminar; se a acusação vier com inquérito policial não é necessário a
defesa preliminar (Súmula 330).
- A falta de defesa preliminar gera a nulidade relativa.
8.1.3. Crimes de calúnia e injúria, de competência do juiz singular.
Inicialmente cumpre esclarecer que, apesar do CPP
indicar o procedimento somente para a calúnia e a injúria, o entendimento é de
que a difamação também está incluída, não existindo diferença procedimental
(guardadas as suas respectivas especialidades) para os três crimes contra a
honra.
A ação penal deve ser iniciada conforme as situações
abaixo indicadas:
1) Regra: mediante queixa (ação penal privada);
2) Exceções:
a) Ação penal pública condicionada à representação:
a.1. crime contra a honra de funcionário público (STF 714);[1]
a.2. injúria qualificada pelo preconceito (CP, art. 140, §3º);
b) Ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça (crimes
contra altas autoridades);
c) Ação penal pública incondicionada (injúria real - CP, art. 140, §2º).
Em sede de CPP, a matéria está normatizada nos artigos
519/523.
O procedimento tem de diferente:
1) Audiência de conciliação entre o querelante e o querelado (só para a ação
privada):
"Art. 520. Antes de receber a queixa, o juiz
oferecerá às partes oportunidade para se
reconciliarem, fazendo-as comparecer em juízo e
ouvindo-as separadamente, sem a presença dos seus
advogados, não se lavrando termo."
2) Exceção de verdade nos casos em que caiba:
"Art. 523. Quando for oferecida a exceção da
verdade ou da notoriedade do fato imputado, o
querelante poderá contestar a exceção no prazo de
dois dias, podendo ser inquiridas as testemunhas
arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele
prazo, em substituição às primeiras, ou para
completar o máximo legal."
3) Anteriormente ao ajuizamento da ação, cabe pedido de explicação (art. 144,
CP):
"Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se
infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga
ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele
que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as
dá satisfatórias, responde pela ofensa."
No mais o procedimento deve ser igual ao comum.
8.1.4. Crimes contra a propriedade imaterial.
Os crimes contra a propriedade imaterial estão contidos
no artigo 184 do Código Penal.
Procede-se mediante:
a) queixa, nos crimes previstos no caput do art. 184 do CP;
b) ação penal pública incondicionada, nos crimes previstos nos §§ 1 o e 2o do art.
184 do CP;
c) ação penal pública incondicionada, nos crimes cometidos em desfavor de
entidades de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de
economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público;
d) ação penal pública condicionada à representação, nos crimes previstos no §
3o do art. 184 do CP.
O procedimento deve adotar subsidiariamente o rito
comum, guardando especialidade as seguintes características principais:
1) No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será
recebida se não for instruída com o exame pericial dos objetos que constituam
o corpo de delito.
2) A diligência de busca ou de apreensão será realizada por dois peritos
nomeados pelo juiz, que verificarão a existência de fundamento para a
apreensão, e quer esta se realize, quer não, o laudo pericial será apresentado
dentro de 3 (três) dias após o encerramento da diligência. Encerradas as
diligências, os autos serão conclusos ao juiz para homologação do laudo.
3) Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida queixa com
fundamento em apreensão e em perícia, se decorrido o prazo de 30 dias, após a
homologação do laudo.
4) Nos casos das infrações previstas nos §§ 1o, 2o e 3o do art. 184 do Código
Penal, a autoridade policial procederá à apreensão dos bens ilicitamente
produzidos ou reproduzidos, em sua totalidade, juntamente com os
equipamentos, suportes e materiais que possibilitaram a sua existência, desde
que estes se destinem precipuamente à prática do ilícito.
5) Subsequente à apreensão, será realizada, por perito oficial, ou, na falta
deste, por pessoa tecnicamente habilitada, perícia sobre todos os bens
apreendidos e elaborado o laudo que deverá integrar o inquérito policial ou o
processo.
6) O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, poderá determinar a destruição
dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos e o perdimento dos
equipamentos apreendidos, desde que precipuamente destinados à produção e
reprodução dos bens, em favor da Fazenda Nacional, que deverá destruí-los ou
doá-los aos Estados, Municípios e Distrito Federal, a instituições públicas de
ensino e pesquisa ou de assistência social, bem como incorporá-los, por
economia ou interesse público, ao patrimônio da União, que não poderão
retorná-los aos canais de comércio.
8.1.5. Restauração de autos extraviados ou destruídos
O procedimento de restauração de autos está previsto nos
artigos 541/548, do CPP.
Em verdade este procedimento é um mero incidente,
necessário para que se dê andamento ao processo.
As principais ocorrências deste procedimento são:
- Iniciativa de ofício ou por provocação;
- O escrivão certifica o estado do processo e reproduz o quanto for possível;
- Requisitam-se cópias em repartições públicas e outras;
- As partes são citadas;
- Em audiência as partes mencionam em termo circunstanciado os pontos de
acordo e exibem e conferem certidões e mais documentos produzidos;
- Diligências determinadas pelo juiz;
- Decisão em 10 dias
- Recurso de apelação
*OBS:
1) Serão restaurados os autos tanto em primeira como em segunda instância;
2) Proceder-se-á à restauração na primeira instância, ainda que os autos se
tenham extraviado na segunda;
3) Com a sentença de restauração os novos autos passam a ser considerados;
4) Poderão também ser inquiridas sobre os atos do processo que deverá ser
restaurado, as autoridades, os serventuários, os peritos e mais pessoas que
tenham nele funcionado
5) Os causadores de extravio de autos responderão pelas custas, em dobro,
sem prejuízo da responsabilidade criminal.
6) Se no curso da restauração aparecer os autos originais, nestes continuará o
processo, apensos a eles os autos da restauração.
[1] Neste caso, também poderá ser privada, conforme a súmula 714, do STF.